Veja aqui! - Laura Muller
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Veja aqui! - Laura Muller
ENTREVISTA A POLIVALENTE LAURA MULLER ESBANJA SIMPATIA EM FOCO MARCELO MUSSI - CURITIBANO BOM DE PRATO REDES SOCIAIS COMO FAZER SUA EMPRESA APARECER NA WEB LÍNGUAS ESTRANGEIRAS SÓ FALAR INGLÊS FICOU PARA TRÁS VIAGEM A BELEZA E O CHARME DE NOVA IORQUE GOURMET BACALHAU E O SABOR DAS GRANDES NAVEGAÇÕES AGOSTO/SETEMBRO 2011 l VILA OLÍMPIA CONSUMER MAGAZINE l 1 ENTREVISTA Laura MülleR Da TV ao divã: Laura MUller esbanja versatilidade Assim que acabou de gravar seu quadro do programa Altas Horas, da Rede Globo, Laura Müller nos atendeu em seu camarim com um belo sorriso no rosto. Lá, pudemos conferir que não é apenas o seu papo descontraído sobre sexo que chama a atenção. Seu olhar intenso e sua simpatia também atraem a todos ao redor. Cumprimenta cada pessoa que passa por ela, atende a ligações, continua dando a entrevista, bebe um copo de água e não perde a postura um minuto sequer. Profissional centrada, ela vai da introspecção de uma psicóloga no consultório à extroversão de uma comunicadora em um programa de televisão para jovens em apenas um minuto. Mas, assume que não é tão fácil assim. Confira a seguir a entrevista com essa multiprofissional (ela é sexóloga, psicóloga, palestrante e jornalista!), e aproveite para tirar suas dúvidas sobre sexo e relacionamento. Por Sabrina Generali Fotos Juliana Asdurian Antes de trabalhar com educação sexual, você era jornalista. Isso. Eu comecei minha carreira como jornalista. Trabalhei em 1990 ou 1991 na extinta Folha da Tarde e na Folha de São Paulo. De lá, eu fui para a revista Cláudia, quando surgiu uma vaga de editora de sexualidade. Era a primeira vaga nessa área, em 1996 mais ou menos. A gente não tinha muito como editar essa área. Era uma época em que as revistas estavam reposicionando o conteúdo editorial para falar mais de sexo. Então, eu pensei “como vou fazer isso? Eu preciso saber um pouco mais sobre esse assunto”. Aí, resolvi me especializar: fiz uma pós-graduação em educação sexual. Esse curso me permitia falar em público e também trabalhar com mídia. É uma área em que se pode ser pedagogo, comunicador social como eu, agente de saúde... Várias áreas podem ser direcionadas para a educação sexual. Comecei a fazer palestras. Foi um sucesso danado, deu um monte de entrevistas. Foi bem bacana. Foi uma época que teve um boom e, logo que eu terminei a pós, lancei o livro 500 perguntas sobre sexo, em 2001. A partir de então, começaram a me chamar muito para falar em programas de TV e rádio, e eu comecei a dar muitas palestras sobre esse tema: sexo do homem, da mulher, do adulto, do jovem. Ao final delas, muitas pessoas me pediam para atendê-las no consultório. Foi quando eu resolvi fazer Psicologia, para poder atender essa demanda. Hoje, eu integrei essas áreas. Então, sou psicóloga especialista em sexualidade, atendo em consultório, mas também trabalho muito com mídia e continuo com as palestras por todo o Brasil, uma área que gosto muito de atuar. Na área de mídia, trabalho em programas, escrevo colunas para revistas, jornais, internet e para o meu site. Antes de você ter seu quadro fixo no Altas Horas não houve outra pessoa que falasse sobre sexo há tanto tempo e com essa periodicidade na TV brasileira, houve? 32 l VILA OLÍMPIA CONSUMER MAGAZINE l AGOSTO/SETEMBRO 2011 Acho que não. No Altas Horas, o Serginho teve a ideia de criar um quadro para falar sobre sexo. A produção dele entrou em contato comigo e me chamou para fazer uma entrevista. Eu tinha acabado de lançar o meu segundo livro, 500 perguntas sobre sexo do adolescente. Eram respostas para jovens, educadores e pais. Tinha a ver com o programa, deu certo e o quadro ficou. Mesmo já tendo escrito e falado sobre sexo antes de começar a trabalhar na TV, qual foi a sensação da primeira vez em que falou sobre sexo em rede nacional? Eu acho que, na verdade, eu tive um treino ao passar por salas de aula e palestras. Antes de colocar a cara na TV, eu já dava palestras há algum tempo e a sala de aula do adolescente e do pré-adolescente é um local que ensina muita coisa, porque, assim como no Altas Horas, eu recebia perguntas de todo o tipo. É uma loucura, um agito e eu gosto muito de trabalhar com isso. Nessas situações se aprende a AGOSTO/SETEMBRO 2011 l VILA OLÍMPIA CONSUMER MAGAZINE l 33 Dessas atividades, qual você mais gosta? Eu não sei dizer, porque são bem diferentes. No consultório, estou num espaço para fazer uma análise profunda. É uma modalidade muito bacana. No Altas Horas muda vertiginosamente. Em um estou muito mais ouvindo e analisando e, no outro, falando sem parar. São áreas que se complementam. Numa palestra, falo 1h30 sem parar, dou risada etc. Já para escrever, de novo, preciso fazer uma introspecção. Elas foram surgindo, são possibilidades de trabalhar os conteúdos da Psicologia e da Sexualidade, que vão compondo o meu dia a dia. ter jogo de cintura, a ouvir a pergunta, a responder de forma mais sintética, a fazer o trabalho de educação sexual de acordo com cada público. Eu acabei usando essa experiência na TV. O cenário muda um pouco por causa da câmera, mas é como um grande bate-papo, semelhante ao de uma palestra. Essa passagem, de certa forma, foi tranquila. E tem o detalhe de que eu gosto de trabalhar com o jovem. Então, quando se gosta de conversar com esse público, facilita o papel do educador, abrese uma porta. Também gosto de trabalhar com mídia, meu começo foi no Jornalismo, o que acabou sendo um casamento legal. Quem procura seus serviços e que tipo de problemas você costuma solucionar no consultório? Varia muito. Eu atendo adolescentes, adultos, pessoas da terceira idade. Mas, por mais que eu trabalhe muito com a população jovem, quem acaba indo para o consultório são mais os adultos. Quem procura o psicólogo especialista em sexualidade é uma população que está vivendo uma dificuldade sexual: casais vivendo baixa de desejo, homens com dificuldade de ereção ou ejaculação, mulheres que têm dificuldade de chegar ao orgasmo ou que sentem dores na penetração e já foram ao ginecologista e viram que não têm nada de errado no corpo, mas que há fundos emocionais. Essas são algumas das questões que chegam ao consultório de um psicólogo especialista em sexualidade. Mas não é só isso. Chegam também outras questões de psicologia: gente casando, separando, casos de depressão, de problemas no trabalho. São dificuldades variadas. Casos de pedofilia e abuso sexual são frequentes? Esses casos vão chegando para psicólogos em geral. Os casos que chegam são de sofrimento. Quando uma pessoa sofre, acaba buscando o consultório. Eu sou psicóloga junguiana, trabalho com psicologia analítica e, nessa perspectiva, fazer terapia, na verdade, é um processo para a pessoa se conhecer melhor, não só no sexo, mas na vida como um todo, e aprender a lidar melhor com sua essência, sofrimentos e dificuldades. Essa é a demanda que chega ao consultório. Não são só queixas sexuais. Os mais novos, por exemplo, chegam com dificuldade escolar, casos de abuso de drogas ou de dificuldade de relacionamento... Hoje, percebe-se que as pessoas estão adquirindo a consciência de que também é necessário estar saudável mental e emocionalmente. Por conta disso, tem aumentado a demanda dos psicólogos? As pessoas estão mais abertas, sim. Mas, quando rola uma crise financeira, muitas vezes, cortam a terapia e, em alguns momentos, era uma coisa que não se poderia cortar, porque justamente ela daria o suporte para encontrar saídas e pensar melhor em possibilidades. Hoje, as pessoas já estão muito mais abertas do que há 34 l VILA OLÍMPIA CONSUMER MAGAZINE l AGOSTO/SETEMBRO 2011 algumas décadas, buscam mais a terapia e entendem melhor o sentido da psicologia, que é essa forma de se conhecer mais profundamente. Mas ainda há preconceito. Ainda tem muita gente que fala que psicólogo é médico de louco, ou acha que não tem problemas na vida, então, não precisa de uma consulta, só em caso de um grande problema. Não é assim... A psicologia trabalha o caminho para que a pessoa se conheça mais profundamente. Como você concilia todos seus trabalhos: jornalismo, palestras, consultório? É uma loucura (risos)! Minha vida é bem agitada. Agora eu tenho a Vanessa, minha assistente, para ajudar a atualizar meu site. A gente vai contando com pessoas e acaba formando uma equipe. Eu vou tentando administrar da forma que dá. Dedico alguns dias só para os atendimentos em consultório. Então, minha cabeça fica focada nisso. Tem o dia da gravação do Altas Horas, que é uma vez por semana, e, os outros dias, eu divido para escrever minhas colunas e conseguir dar conta de livros. Eu comentei de dois deles, mas também lancei um terceiro, que foi inspirado no programa Altas Horas, chamado Altos papos sobre sexo. Agora, estou escrevendo o quarto, para o ano que vem. O Altos papos lida com um público de 12 a 80 anos. Faltou a faixa das crianças, que é o que eu estou planejando agora. Tem um monte de coisas que eu vou encaixando. O tema “sexualidade” está cada vez mais comum, e as pessoas têm mostrado mais coragem para tocar no assunto em público. Você acha que casos de abuso e assédio sexual têm aumentado por conta disso ou as ocorrências independem dessa mudança comportamental? Eu não tenho uma pesquisa sobre isso, mas, ao fazer uma análise sobre o que essa abertura sexual trouxe para nós, eu diria que vivemos uma época muito diferente da época dos nossos avôs, por exemplo. Antes, as mulheres não tinham direito ao prazer, que era cheio de repressões e dificuldades, mas houve uma grande mudança: hoje os casais vivem melhor a sexualidade, homens e mulheres também individualmente, as práticas sexuais hoje são muito mais variadas – sexo oral, anal, penetração vaginal –, sem tanto tabu. Isso tudo foi uma liberação muito bacana. Aprendemos também que podemos ser homossexuais, heterossexuais, bissexuais e que isso não é doença, mas ainda há muito preconceito. Estamos caminhando para deixar esses preconceitos de lado e entender nossa sexualidade da forma que for mais adequada. Isso é um grande avanço, muito positivo. O outro lado é que também há a banalização, uma falta de limites, um extrapolar de limites. Às vezes, a pessoa acha que pode se lançar a várias práticas sexuais porque está na moda e isso não é legal. E qual seria o limite de uma prática sexual? É aquele que não fere a pessoa nem física, nem emocionalmente. “Uma pergunta comum é o que é sexo, A gente pode responder a uma criança que sexo é uma prática do mundo adulto ou, com outra linguagem, afirmar que sexo é coisa para gente grande fazer, para os pequenininhos ainda não.“ Pensando em relacionamentos interpessoais no âmbito profissional, como agir quando a atitude de alguém passa a incomodar? Os psicólogos sempre costumam receber esses casos. Como colocar limites no outro? Colocando mesmo, da forma que for possível. A gente precisa dizer não. Isso vale para os casos de abuso ou violência sexual e pedofilia. Quando eu dou palestra para crianças e adolescentes, toco nesse assunto polêmico: ninguém pode tocar ou usar o nosso corpo, o adulto não pode ter “brincadeiras sexuais” com crianças e adolescente. Nas palestras eu lanço uma pergunta: “o que a gente faz quando não quer alguma coisa?”. Quando um bebê não quer alguma coisa, ele esperneia e chora. É isso que se deve fazer. No caso da criança e do adolescente, ele também deve procurar um adulto de confiança e falar. A ocorrência não é culpa dele. A criança e o adolescente são vítimas. É preciso ensinar a colocar esse limite desde pequenininho e, na fase adulta, aliviando um pouco esse peso, quando um casal está vivendo suas práticas sexuais e um não gosta de fazer algo, deve-se compreender que não há a necessidade de ser feito. Sexo é para ser prazeroso. Não sei se vale à pena ceder só para agradar o outro. A educação sexual é sempre ofertada como disciplina nas escolas? Não é uma totalidade das escolas que dão educação sexual. Há boas escolas particulares e públicas que ainda não oferecem. Essa gestão dos parâmetros curriculares nacionais exige, desde 1997, que as escolas ofereçam o conteúdo sexualidade como transversal no ensino, desde os sete anos de idade, em qualquer disciplina. Mas, isso não acontece em todo o Brasil. Não sei nem se isso acontece em todas as escolas da Vila Olímpia. Não há dados afirmando que a totalidade das escolas está aplicando esse conteúdo. Como, quando e de que maneira os pais devem dar início a esse diálogo? O que eu indico para os pais é que fiquem abertos, porque as perguntas virão mesmo, de todas as idades, desde criancinhas. À medida que eles vão crescendo os questionamentos vão ficando mais aprimorados. Não tenha medo, apenas adéque a resposta e a linguagem à faixa etária da criança, sem contar mentiras. Uma pergunta comum é “o que é sexo?”. A gente pode responder a uma criança que sexo é uma prática do mundo adulto ou, com outra linguagem, afirmar que sexo é coisa para gente grande fazer, para os pequenininhos ainda não. Que é um namoro para gente grande, como o papai e a mamãe. Ponto. Já respondeu alguma coisa. “E o que é camisinha?”. É uma coisa que gente grande usa para esse namoro. Então, você pode responder isso para uma criança de dois ou três anos. Contar mentira e história da carochinha AGOSTO/SETEMBRO 2011 l VILA OLÍMPIA CONSUMER MAGAZINE l 35 não vale à pena. É legal ir evoluindo a resposta na medida em que as dúvidas vão aumentando. Quando essa criança chegar aos dez anos, talvez até um pouquinho antes, a gente já precisa entrar com explicações mais abrangentes, falando sobre as mudanças dos corpos femininos e masculinos. No livro Altos papos sobre sexo, eu começo a falar dos 12 anos e as pessoas me questionavam se essa idade seria condizente. Doze anos é uma idade muito precoce para se iniciar sexualmente, mas é por volta dessa faixa etária que temos um “empurrão” hormonal, quando acontece a primeira menstruação nas meninas e a primeira ejaculação espontânea nos meninos. Isso significa que os genitais estão amadurecidos e que eles podem engravidar. Então, já está mais do que na hora para a gente explicar para esse pessoalzinho o que aconteceu com seus corpos. Eles já podem engravidar, mas não quer dizer que devam fazê-lo. Ainda é uma fase muito precoce e, talvez, explicar que o momento de iniciar a sexualidade é quando eles estiverem mais amadurecidos e preparados para isso. Você tem filhos, sobrinhos ou filhos de amigos que ficam no seu pé querendo tirar dúvidas de sexo? Não tenho filhos, nem sobrinhos porque sou filha única. Mas eu tenho algumas amigas com filhos adolescentes que, assim que eu chego a casa, já têm uma patotinha que senta em volta da mesa e começa a fazer perguntas e a gente conversa bastante. O pessoal acaba abordando muito. Às vezes, eu estou num restaurante, na rua ou na praia e as pessoas querem fazer perguntas. Não são só adolescentes, tem gente de todas as idades. Alguma dessas situações já te deixou “sem jeito”? Não... Eu acho bacana, porque é o reconhecimento do meu trabalho. É sinal de que as pessoas sentem confiança ao conversar comigo e de que a gente precisa trabalhar, cada vez mais, esse conteúdo da sexualidade de uma forma mais aberta. 36 l VILA OLÍMPIA CONSUMER MAGAZINE l AGOSTO/SETEMBRO 2011 Apesar de falar abertamente sobre sexo, você aparenta ser uma pessoa reservada e, por estar na televisão, isso estimula ainda mais a curiosidade sobre sua vida. Como você consegue impor esse limite? Eu não respondo, porque contar o jeito como eu vivo a sexualidade ou as coisas que eu faço na cama não é a forma certa de trabalhar os conteúdos de educação sexual. A sexualidade é um assunto privativo e cada pessoa vive seu sexo da forma que preferir. Não sei se é legal ficar colocando isso nos jornais e nas revistas, contando tudo. Talvez, a gente precise se preservar um pouco mais. Mas, conversar sobre sexo, esclarecer dúvidas, esse papo franco é muito bom. O que eu faço não tem ligação, porque eu não sou um modelo. O que eu faço é trabalhar os conteúdos da psicologia e da sexualidade. Essa é uma ciência. O objetivo é conversar um pouco sobre possibilidades de como viver a sexualidade, não há um único modelo ou regra. Você tira dúvidas sobre sexo de muita gente. E as suas, ainda surgem? Aonde você procura as respostas para suas perguntas? Surgem, sim. A gente sempre tem dúvidas. Eu participo de grupos de estudo, vou a congressos, leio muito. Nós, psicólogos e sexólogos, estudamos a vida inteira. Os psicólogos fazem análise pessoal, para entender mais sobre si mesmo e trabalhar suas questões. Fazemos grupos de supervisão e estamos o tempo todo trabalhando os conteúdos da psicologia e da sexualidade, ou seja, conteúdos dos seres humanos de variadas formas. Você passou uma situação inusitada no Altas Horas, que foi a história da Thamires, a garota que mandou um e-mail para a produção do programa dizendo estar apaixonada por você. Como você se saiu da situação? O que a gente tem a dizer sobre isso? Quando eu coloco a cara na TV, estou em um momento que é um recorte do meu jeito de ser. Estou tirando dúvidas, como educadora, de forma acolhedora. Então, às vezes, a gente se apaixona por essa imagem que está na TV. Mas, fora dela, a pessoa tem muitas outras áreas que podem não ser tão apaixonantes assim. É natural nos apaixonarmos por um professor, um artista ou um personagem, e esse profissional precisa entender que é comum que isso aconteça, mas que é por causa desse recorte. Então, eu estou ali, mostrando a minha versão de educadora sexual num programa de TV. A Laura no consultório também é um recorte, mas não é a vida como um todo. A Thamires se apaixonou por um recorte. Depois disso, o Serginho Groisman lançou a campanha “Vem Thamires”, para que ela fosse até o programa conversar com você. Finalmente, ela apareceu? (Risos) Não, ela acabou não vindo, talvez porque seria muita exposição. Mas foi interessante para poder falar sobre esse assunto à população em geral. Acontece de se apaixonar, mas é por um recorte da vida da gente. No dia, inclusive, eu brinquei dizendo que o conjunto da obra não é tão apaixonante assim (risos). AGOSTO/SETEMBRO 2011 l VILA OLÍMPIA CONSUMER MAGAZINE l 37 não está afim daquele tipo de transa ou tem várias transas sem prazer... Enfim, tem vários problemas “extracama” que podem influir na sexualidade. E eu estou contando toda essa história para que se entenda que nem sempre vai ter uma pílula milagrosa para trazer o prazer sexual, e que a gente vai precisar olhar nossas questões sexuais de uma forma mais aprofundada, olhar para nossos limites, possibilidades, gostos, desejos, prazeres e relações, porque, talvez, esse seja o caminho para encontrar essa maior felicidade. O tema “homossexualismo” está em alta por diversos motivos: um deles é a questão da legalização da união civil entre pessoas do mesmo sexo no Brasil, e outro é a criminalização do homossexualismo em Uganda. Em um mundo tão informado, integrado e globalizado ainda há atitudes fortemente discriminatórias quanto ao relacionamento de pessoas do mesmo sexo. O que cada pessoa poderia fazer para reduzir a prática do preconceito? A gente precisa de uma coisa muito simples: entender que a homossexualidade, que é sentir desejo erótico por alguém do mesmo sexo, a bissexualidade, que é sentir desejo por pessoas de ambos os sexos, ou a heterossexualidade, que é sentir desejo por pessoas de outro sexo, são apenas formas de viver a sexualidade. Se a gente começar a entender que cada pessoa tem o direito de viver a sexualidade dela da forma que quiser e achar que é conveniente para ela, as coisas vão ficar mais leves. Também é preciso entender que não tem um ser humano no mundo igual ao outro. Nem gêmeos idênticos são idênticos no temperamento, por exemplo. Nós temos que praticar o respeito ao diferente. A gente precisa começar a ter tolerância com essas diferenças. Com a legalização da união estável entre homossexuais, tende-se à adoção de crianças por dois pais ou duas mães. Como você prevê a sociedade brasileira lidando com essa mudança? Isso já está acontecendo. Esse movimento não é só de agora. Precisamos começar a pensar que tem várias formas de constituir uma família, vários núcleos. Esse é o nosso cenário atual. As pessoas precisam ver em qual possibilidade se encaixam e, o tempo todo, usar a palavra “respeito”. Você acredita em uma mudança comportamental breve? A gente já vive uma mudança de costumes, uma maior liberação sexual. Não sei se as coisas mudam da noite para o dia, mas já está acontecendo um movimento. Um fator que aponta para essa mudança é a chegada do “Viagra feminino” ao mercado, anunciada para os próximos anos. Como o Viagra foi a primeira droga “próssexual”, pioneira, que chegou ao Brasil em 1998, em vários momentos a gente usa o nome “Viagra” como sinônimo de medicamento para o prazer. Mas, hoje, a gente não tem muitos medicamentos para a sexualidade feminina. O que há hoje, que funciona, e que há milhões de pesquisas comprovando, são os medicamentos para ereção. Só que é preciso entender que o Viagra e as drogas “próssexuais” são indicadas para homens com dificuldades orgânicas na ereção. Ela vai agir quando o homem tiver uma dificuldade física no 38 l VILA OLÍMPIA CONSUMER MAGAZINE l AGOSTO/SETEMBRO 2011 mecanismo de ereção. E se o problema for emocional? Então essa droga não é a mais indicada. Ele vai precisar trabalhar os conteúdos emocionais com um psicólogo. A sexualidade tem o lado físico, mas tem todo o lado emocional que pode complicar as coisas. Entre as principais dificuldades sexuais femininas está a dificuldade de orgasmo, que, na maioria dos casos, não é física, mas emocional, de aprendizado, de como se entregar naquela transa... E, para tudo isso, não há um medicamento que dê jeito. Outra grande dificuldade sexual feminina é a dor na penetração e, aí, tem que ver os dois lados: a dor física, em geral, é tratada no consultório do ginecologista, porque ela pode ter uma doença sexualmente transmissível que atrapalhe a lubrificação, ou outra dificuldade relacionada à penetração. Mas, às vezes, essa dificuldade é corrigida e a mulher continua sentindo dor, que pode ser da contração involuntária dos músculos da vagina, e isso é uma questão emocional que deverá ser trabalhada. A baixa de desejo também é uma dificuldade sexual, que pode ser tanto feminina quanto masculina. As pessoas acham que é só tomar o remédio que dará mais desejo. Não necessariamente. O desejo pode ter a ver com uma questão hormonal. Mas, se os níveis hormonais forem controlados e a pessoa continuar sem desejo, qual é a questão? Muitas vezes, a resposta está no dia a dia, é uma questão emocional, ou de relacionamento, porque o casal já não está mais se dando bem. Pode ser o significado que a pessoa dá para o sexo, às vezes a pessoa está cheia de mágoas, Como você acha que a questão de “tempo é dinheiro” influencia na vida sexual dos casais? Hoje, muitos casais não têm tempo para viver o sexo, nem para deixar o desejo vir. Alguns casais chegam ao consultório e se questionam sobre essa falta de desejo. E, quando você vai ver, é que eles não abriram espaço para viver a sexualidade. A gente precisa entender que o corpo da gente tem um ritmo e que o desejo não vem com hora marcada. Não quer dizer que só porque eu tenho tempo para transar no sábado a noite que eu terei desejo nessa hora. Não é assim. O desejo vem se a gente abrir as portas, se estiver em climas sexuais e um tempo para se entregar. Mas, pode ser que, um dia, você chegue em casa cansado, muito estressado ou cheio de preocupações na cabeça e, mesmo tendo um super clima, o desejo não venha. A gente precisa entender que o ritmo interno de cada pessoa, às vezes, não combina com essa aceleração no mundo externo. Como explicar para o parceiro que você passou por um dia estressante e que não está em um bom dia para a relação? Essa é uma informação útil que a gente pode dar, porque o sexo vai além da cama. Cansaço, estresse e preocupações influem no pique. Isso não quer dizer que uma pessoa não sinta desejo pela outra. É que, naquele momento, ela não está bem para transar com quem quer que seja. As pessoas devem ter esse tipo de conversa e se informar um pouco mais. Quem não estiver afim naquele dia, também precisa “bancar” essa história e não transar só por transar para agradar o outro. Isso também é respeito aos nossos limites. O trabalho pode influenciar positivamente no sexo? Não só o ato de trabalhar, mas ter vida própria influi positivamente, não só na sexualidade, mas também no relacionamento. Quando a gente sai um pouco do terreno do sexo em si e fala da vida a dois como um todo, a gente começa a pensar que cada pessoa precisa ter seu trabalho, seus outros interesses, sua rotina, seus cuidados com a saúde, suas preocupações. Quando a gente está bem com a nossa vida, individualmente, fica muito mais fácil estar bem a dois e poder viver a sexualidade. Como isso influencia na cama? Totalmente. A gente não tira nosso emocional e pendura num cabide e vai transar. A gente vai para a cama com toda nossa história de vida, o nosso dia a dia, como a gente pensa, como a gente se sente na vida como um todo, e vai transar desse jeito. AGOSTO/SETEMBRO 2011 l VILA OLÍMPIA CONSUMER MAGAZINE l 39