fontes de potássio na adubação complementar à fertirrigação em café

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fontes de potássio na adubação complementar à fertirrigação em café
FONTES DE POTÁSSIO NA ADUBAÇÃO COMPLEMENTAR
À FERTIRRIGAÇÃO EM CAFÉ
Mellis, E. V. 1; Quaggio, J. A. 1; Teixeira, L. A. J. 1
1Instituto
Agronômico de Campinas
*Autor correspondente: [email protected]; Instituto Agronômico de Campinas, Centro de Solos e Recursos
Ambientais, Avenida Barão de Itapura, 1481, CEP 13020-902, Campinas, Estado de São Paulo, Brasil, fone: (55019)
2137-0756.
RESUMO
A deficiência acentuada de magnésio e enxofre tem ocorrido freqüentemente em cafés
fertirrrigados, devido à excessiva acidificação do bulbo, provocada pela aplicação de altas doses
de KCl como fonte de K. Para minimizar esse efeito, a adubação sólida convencional
complementar à fertirrigação com K-Mag tem sido empregada, porém esta alternativa apresenta
restrições quanto ao custo por parte dos cafeicultores. O objetivo deste estudo foi avaliar os
efeitos da adubação sólida complementar com mistura de grânulos em diferentes porcentagens de
KCl e K-Mag, na produtividade e qualidade da bebida em um cafeeiro fertirrigado. O experimento
foi realizado em um Argissolo Vermelho, em uma lavoura implantada dois anos antes da
instalação, sendo usada a cultivar Mundo Novo, em sistema de fertirrigação, sob o delineamento
estatístico de blocos inteiramente casualizados com quatro repetições por tratamento. Foi aplicado
o equivalente a 120 kg ha -1 de K2O de forma complementar a fertirrigação em dose única no mês
de dezembro com as seguintes proporções de KCl e K-Mag: 100:0; 75:25; 50:50; 25:75; 0:100 %.
Observou-se que a substituição de KCl por K-Mag na adubação sólida em cafeeiro diminuiu os
teores de Cl no solo, nas folhas e nos grãos de café. A aplicação sólida complementar combinada
de K-Mag com KCl na proporção de 75:25 % respectivamente, pode aumentar a produtividade e
melhorar a qualidade do café fertirrigado.
PALAVRAS-CHAVES
Coffea arábica L.; nutrição vegetal; potássio
INTRODUÇÃO
Os consumidores de café no mundo tem-se tornado cada vez mais, no que se refere à
qualidade do produto. Grãos que proporcionam bebidas de má qualidade têm mercado restrito,
enquanto os de boa bebida têm grande mercado. A influência de fatores como a composição
química de grãos, determinada por fatores genéticos, ambientais e culturais, os métodos de
colheita, processamento e armazenamento, são importantes por afetarem diretamente a qualidade
da bebida do café. Dentre esses fatores a adubação potássica do cafeeiro, destaca-se como um
dos mais importantes fatores que influenciam o estado nutricional do cafeeiro e a composição
química dos grãos de café (NOGUEIRA et al., 2001). Em geral, altos teores de K estão
associados com colheitas elevadas (MALAVOLTA, 1993). As respostas à aplicação de K, com
efeitos positivos estão em torno de 150 a 400 kg ha-1 de K2O (GUIMARÃES, 1986).
Quanto à qualidade da bebida, a influência da fonte de K foi demonstrada por Silva et al.
(1999). Estes autores concluíram que uso de sulfato de potássio (K2SO4) na adubação do
cafeeiro, proporcionou aumentos na atividade da polifenoloxidase, no índice de coloração e na
quantidade açúcares totais e diminuiu a acidez titulável em comparação com plantas adubadas
com cloreto de potássio (KCl). A partir da observação de Gouny (1973), o qual associou aumentos
no teor de água das plantas com teores elevados de cloro (Cl), Silva et al. (1999) apontaram que
com mais umidade haveria maior proliferação de microrganismos, os quais, ao fermentarem os
grão de café, depreciariam a qualidade da bebida. A elevação no conteúdo de Cl também
causaria diminuição na atividade da enzima polifenoloxidase, a qual, segundo Carvalho et al.
(1994), é um índice quantitativo da qualidade da bebida de café. Embora os resultados positivos
do uso de sulfato de potássio na produção e qualidade do café sejam conhecidos, esta fonte de K
ainda tem custo elevado, o que restringe o seu uso pelos produtores.
Além do Cl ser prejudicial à qualidade da bebida, em áreas fertirrigadas a utilização de KCl
contribui consideravelmente para a acidificação da solução do solo, o que aumenta a lixiviação de
bases, provocando desbalanço nutricional nas plantas (MOTA et al., 2001). Souza et al. (2006),
verificaram em experimento com citros sob sistema fertirrigado, que o íon cloreto (Cl-) foi
responsável por aproximadamente 35% da lixiviação dos cátions, ou seja, cerca de 35% da acidez
da solução do solo, foi devida ao Cl- contido no KCl. Esta observação ratifica a importância de se
buscar fontes de K alternativas ao cloreto visando ganhos de qualidade da bebida e diminuir o
impacto do Cl- na acidificação do solo. Em cultivos de café fertirrigados, frequentemente observase deficiência acentuada de magnésio, devido às doses elevadas de K e à excessiva acidificação
do bulbo, condições que favorecem a lixiviação do íon Mg. Esta situação é mais grave em
cafezais que recebem altas doses KCl como fonte de K. Portanto, é preciso buscar outras fontes
de K que possam proporcionar alta produtividade com boa qualidade e com o menor custo
possível.
O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos da adubação sólida complementar com
mistura de grânulos em diferentes porcentagens de KCl e K-Mag, na produtividade e qualidade da
bebida em um cafeeiro fertirrigado.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado em um Argissolo Vermelho na Fazenda Cambuhy, localizada
no município de Matão-SP, de dezembro de 2009 a agosto de 2010. A lavoura utilizada foi
plantada dois anos antes da instalação do experimento, no espaçamento de 3,8 x 0,75 m, sendo
usada a cultivar Mundo Novo, em sistema de fertirrigação. Antes da instalação do experimento o
solo apresentava condições de fertilidade adequadas para o desenvolvimento do cafeeiro (Tabela
1).
Tabela 1- Atributos químicos do Argissolo Vermelho antes da instalação do experimento.
Prof.
M.O.
cm
g dm-3
0-20
12
pH
P
mg dm-3
6,1
8
K
Ca Mg H+Al
S.B.
C.T.C. V% S
--------------mmolc dm-3------------1,3 38
17
16
56,3
72,7
B
Cu Fe
Mn
Zn
Cl
%
-------------mg dm-3-------------
77
4 0,8 0,9 27 18,3 1,9 2,8
Prof.: profundidade amostrada; pH em CaCl2; P, K, Ca e Mg extraídos por resina trocadora de íons; S extraído com
Ca(H2PO4)2; B em água quente; Cu, Fe, Mn e Zn extraídos por DTPA; Cl extraído com água.
O delineamento estatístico empregado foi de blocos inteiramente casualizados com quatro
repetições por tratamento. Cada unidade experimental foi constituída por três linhas de 12
árvores, sendo consideradas 10 plantas da linha do meio como a área útil de cada parcela. Os
tratamentos foram aplicados em dose única no mês de dezembro, época em que se substitui a
fertirrigação pela adubação convencional devido à pluviosidade abundante no período, e foram
constituídos pelas seguintes proporções de mistura das fontes de potássio, KCl e K-Mag: T1 (100
% KCl e 0% KMAG); T2 (75 % KCl e 25% KMAG); T3 (50 % KCl e 50% KMAG); T4 (25 % KCl e
75% KMAG); T5 (0 % KCl e 100% KMAG); que forneceram o equivalente a 120 kg ha
-1
de K2O,
Também de forma complementar a fertirrigação, foi fornecido o equivalente a 175 kg ha -1 de N na
forma de nitrato de amônio para todas as parcelas. Na fertirrigação foram aplicados anualmente
250 kg ha-1 de N e 200 kg ha-1 de K20 sob a forma de nitrato de amônio e KCl, respectivamente.
Para avaliar o estado nutricional das plantas foram coletadas em meados de fevereiro de
2010, 30 folhas +3 (terceiro par de folhas contado da ponta do ramo para a base) das plantas da
área útil de cada parcela. As análises de folhas foram realizadas conforme os procedimentos
descritos por Bataglia et al.(1983). A produtividade e a qualidade dos frutos foram avaliadas em
maio de 2010, por meio de derriça no pano dos frutos das 10 plantas centrais de cada parcela,
quando se estimou aproximadamente, a presença média de 5% de frutos verdes na área total.
Depois de colhidas, as amostras de café foram pesadas, lavadas, despolpadas e em seguida
secadas em terreiro até cada uma delas atingir 12% de umidade, sendo novamente pesadas e
beneficiadas, determinando-se a produtividade das parcelas. A qualidade da bebida foi
determinada através da análise sensorial (prova da xícara), para isso foram utilizados 500 gramas
das amostras beneficiadas referentes a cada parcela. Também foram realizadas as análises
químicas dos grãos beneficiados segundo metodologia proposta por Bataglia et al. (1983).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Efeito na nutrição das plantas
Após a aplicação dos tratamentos em dois anos consecutivos, observou-se resposta
significativa para Mg e Cl nos teores foliares em amostras de folha coletadas na safra 2009/2010
(figura 1). Com a aplicação das maiores porcentagens de K-Mag, o teor de Mg aumentou
linearmente, passando de 2,8 no tratamento 100% KCl, para 3,3 no tratamento 100% K-Mag
(Figura 1). Em relação aos teores de Cl, ocorreu uma diminuição significativa no acúmulo desse
elemento nas folhas do cafeeiro a medida que aumentou-se a porcentagem de K-Mag aplicada
(Figura 1). Os teores de Cl nas folhas passaram de 2,7 g/kg, com 100% da adubação potássica
via KCl para 1,8 g/kg com a substituição da fonte por K-Mag.
3,0
Mg=2,82+0,0052X
R2=0,86
3,4
2,8
3,2
2,6
2,8
2,2
2,6
2,0
Mg foliar (g/kg)
Cl foliar (g/kg)
3,0
2,4
2,4
1,8
2,2
Cl=2,68-0,0083X
1,6
R2=0,85
2,0
0
25
50
75
100
K-Mag na adubação potássica (%)
Figura 1. Efeito do percentual de K-Mag contido na adubação potássica via solo complementar à fertirrigação no teor de
Mg(●) e de Cl(▲) das folhas de cafeeiro coletadas em fevereiro de 2010.
O Cl é pouco móvel na planta e se acumula nos tecidos com o tempo, sendo que a
translocação desse elemento das folhas mais velhas para as mais novas é pouco evidente (Eaton,
1966). Conforme Silva (1999), a faixa crítica para cafeeiro encontra-se entre 1,1 a 2,7 g/kg de Cl
determinada nas folhas diagnósticas (3o e 4o par de folhas). Para Snoeck et al. (1986), a aplicação
de KCl por vários anos tem efeito cumulativo de Cl nos cafezais e deve ser monitorada. Essa
observação ficou evidente no presente estudo, pois nos tratamentos que receberam as maiores
proporções de KCl o teor de Cl aumentou consideravelmente (figura 1). Apesar do Cl ser
essencial, quando presente em elevados teores pode ser tóxico ao cafeeiro.
Efeito na produção e qualidade da bebida
Os maiores ganhos de produtividade foram observados nas tratadas com as maiores
proporções de K-Mag, tratamentos: T3 (50% de K-Mag e 50 % de KCl), T4 (75% de K-Mag e 25 %
de KCl) e T5 (100 % de K-Mag). Verifica-se na tabela 2 que em média a produtividade de café nos
tratamentos T4 e T5 foi de 44 sacas por hectare, 16 sacas de café a mais que no tratamento T1
(100 % KCl). No tratamento T3, a produtividade média foi de 39 sacas por hectare, ou seja, com a
substituição de 50 % do KCl por K-Mag, foram produzidas em média 11 sacas de café a mais. O
tratamento T2 (25% de K-Mag e 75 % de KCl) também aumentou a produtividade em relação ao
tratamento T3, porém o efeito foi intermediário, não diferindo estatisticamente tanto do tratamento
T1, quanto dos demais tratamentos, o que significa que a adubação potássica, usando como fonte
o K-Mag na proporção de 25:75 % da dose total de K aplicada, pode não aumentar a
produtividade significativamente.
Em relação à qualidade de bebida, com a aplicação de maiores porcentagens de K-Mag
observou-se melhora significativa (Tabela 2). Verificou-se que com a introdução do K-Mag,
mesmo em pequenas proporções, a bebida passou a ser classificada de duro verde para duro
para melhor. Conforme Gouny (1973), em plantas que recebem Cl aumenta-se o conteúdo de
água, o que pode favorecer a proliferação de microrganismos, que, segundo Leite (1991), pode
provocar a diminuição da atividade da enzima polifenoloxidase, diminuindo sua ação antioxidante
sobre os aldeídos, facilitando, consequentemente, a oxidação dos mesmos. Esta diminuição pode
vir a favorecer a fermentação dos grãos e consequentemente depreciar a qualidade da bebida.
Tabela 2- Efeito dos tratamentos na produção e qualidade de bebida da safra 2009/2010.
Tratamento
Rendimento
T1
T2
T3
T4
T5
Média
CV (%)
Sacas ha-1
28 b
37 ab
39 ab
44 a
44 a
37,3
16,3
Qualidade de Bebida
nota
71ab
76a
72a
76a
63b
71,8
4,4
classificação
duro verde
duro para melhor
duro
duro para melhor
duro fermentado
CV: Coeficiente de variação em %; médias numa mesma coluna seguidas por letras diferentes indicam efeito
significativo pelo Teste Tukey (p>0,05).
Verifica-se na Tabela 3, que apesar da diferença não ter sido estatisticamente
significativa, os teores de Cl diminuíram nas amostras de grãos que receberam a aplicação de KMag.O menor teor de Cl nos grãos foi observado nas amostras tratadas com 100% de K-Mag,
porém, essas amostras foram classificadas na prova de bebida como duro fermentado. Isso
ocorreu provavelmente devido à maturação antecipada dos grãos de café das parcelas tratadas
apenas com K-Mag. Como a tomada de decisão de colheita foi feita através de amostragem do
talhão, essas amostras haviam passado um pouco do ponto de colheita, prejudicando a qualidade
da bebida.
Tabela 3- Efeito dos tratamentos nos teores de nutrientes nos grãos do cafeeiro coletados em 2010.
Tratamento
N
K
P
Ca
Mg
S
------------------- g.kg-1 ---------------
B
Cu
Fe
Mn
Zn
Cl
--------------------- mg.kg-1 -----------------
T1
22,7
16,8
1,6
2,1
1,8
1,5
3,2
11,1
34,9
29,5
6,2
44,3
T2
21,9
16,5
1,5
2,1
1,9
1,5
2,4
10,7
36,4
30,5
6,4
38,1
T3
23,2
16,5
1,5
2,3
1,9
1,5
2,8
10,7
36,5
27,3
6,0
38,6
T4
21,3
16,8
1,5
2,3
1,9
1,6
3,0
11,5
35,6
27,5
6,1
39,0
T5
23,3
16,1
1,5
2,1
1,9
1,5
1,9
10,4
36,7
28,7
5,6
36,0
Média
22,5
16,6
1,5
2,2
1,9
1,5
2,7
10,9
36
28,7
6,1
39,2
CV (%)
8,2
4,8
10
17,4
4,1
5,9
35,7
10,6
7,3
47,6
11,7
16,3
CV (%): Coeficiente de variação em %; médias numa mesma coluna seguidas por letras diferentes indicam efeito
significativo dos tratamentos a 5% de probabilidade pelo Teste Tukey.
CONCLUSÕES
A substituição de KCl por K-Mag na adubação sólida em cafeeiro diminui os teores de Cl
nas folhas e nos grãos de café.
A aplicação sólida complementar combinada de K-Mag com KCl na proporção de 75:25 %
respectivamente, pode aumentar a produtividade e melhorar a qualidade do café fertirrigado.
AGRADECIMENTOS
A Mosaic Fertilizantes, pelo financiamento do projeto e à Fazenda Cambuhy, pela
concessão da área e todo apoio para a execução do projeto.
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