Ma voix rauque (slam)
Transcrição
Ma voix rauque (slam)
Ma voix Rauque Pedro de Grammont e Souza [email protected] Audio ♪ © MP3 www.gerflint.eu Synergies Brésil n° 9 - 2011 pp. 149-151 La ville qui maintenant vous parle est la ville qui m’a appris. La ville qui m’a pris et qui me prend toujours. Ma cité. Pleine d’expériences culturellement garnies. Je ne sais pas si vous la connaissez, mais, s’il vous plaît, venez ici. Prenez un café pour le stress, asseyez-vous, je vous en prie. Écoutez-moi, mes amis. Je viens d’un temps où tout-le-monde dit connaître tout. Où les cultures, à cause de la globalisation, sont presque perdues. Où acheter et avoir sont des verbes bienvenus, où l’altruisme n’est pas compris. Je me sens perdu. Mais ne pensez pas que je sois pessimiste, dans mon corps il y a un choeur qui dit tous les jours : artiste, ne te cache pas. Prends la main des gens pour faire de beaux rêves, pas de cauchemars. Partons tous! On avance! Liberté! Pas de violence! Soyez agapes, accueillants! Soyez cordée, exprimants! Donnons les mains, Égalité! On doit aimer, réseauter! Soyez complices, soyez avec. Je dis ça aux vieux, aux enfants, aux filles, aux mecs. Si les portes sont fermées, si le monde est fatigué, si quand même on est foncé, Il faut que je vous dise un mot : changez ! Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda peão Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda peão Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda peão Je veux entendre ma voix rauque à cause du temps, Ce temps qui part pour tous, tout-ce-temps qui est déjà parti, qui est déjà perdu Mais que l’on ne perd pas, il est caché en nous. 149 Synergies Brésil n° 9 - 2011 pp. 149-151 Pedro de Grammont e Souza Il se fait présent dans nos histoires et nos amours. De « Notre-Dame », Iemanjá, Piaf et Ceci. De Redentores, Macunaíma, Napoleón et Peri. Exprimer le RAP, sentir le Slam, toucher le chant. Écouter des orchestres ou des sambas jusqu’au lendemain. La main sur le fil de la guitarre, Le rire, parler à tous partout, nulle part Dans ce monde, qui roule, qui ne s’arrête pas Qui me fait harmonieusement dançar Uai ouais zé, c’est presque fini Sô, son, sang, Minas Paris Coeur, cor, corps, prends ton fil Rajoute-le au mien, donne-moi la main, Finalement, égalité pour notre esprit. A música para mim (la musique et moi) A música para mim é a forma de expressar, perceber e agir no mundo. Se você se encontra em um contexto onde pode se permitir sentir, você com certeza está inserido em um universo musical. A música não está unicamente relacionada com o ouvido. Escutar é só uma das mais diversas formas de se perceber o som. Temos, dentro de nós, uma diversidade incontável de movimentos - os neurônios que se ligam, o coração que bate, o fluxo de cada órgão, cada célula interior ao ser humano e também em qualquer outra coisa - estamos conectados com a música e, consequentemente, com o mundo. Essa percepção de que tudo é música me faz ter um sentimento diferente quanto aos gêneros musicais. Não consigo mais separar o que gosto de escutar. De Guinga a Jacques Brel, de Claudinho e Bochecha a Tryo. Enquanto existir o som - seja ele de pássaros, geladeiras, fábricas, expressões culturais, expressões verbais - que me dá uma nova perspectiva de escutar e perceber o mundo, eu vou sempre me sentir mais confortável. O que tem acontecido atualmente com a música e as diferentes vozes produzidas pela caixa de som humana é só uma espécie de testamento da abrangência e poder destas vozes. Pense nas linguagens humanas ao redor do mundo e em todos os diferentes sons que a voz humana pode produzir. É incrível! Uma das coisas que mais me interessa é o som das diferentes linguagens, muito mais que os instrumentos. Ver o alcance de produção musical que uma entonação vocal culturalmente diferente pode ter é algo muito intenso, que nos faz crescer musicalmente. Por que não inverter essa ordem? Há, sim, uma reciprocidade nesse meio de troca. A busca por uma musicalidade insere no indivíduo processos de percepção dos sons que interferem de forma positiva na aprendizagem da língua. Minha cultura oral da língua francesa se desenvolveu de forma muito mais dinâmica graças a essa busca da musicalidade. 150 Ma voix Rauque - La ville qui maintenant vous parle est la ville qui m’a appris. O slam que foi produzido por mim teve, em seu cerne, uma busca da inserção cultural brasileira - tanto linguística quanto musical - em seus versos e ritmos. Estou sempre em busca de criar algo que tenha uma relação de troca entre diversas culturas. Por isso me inseri no Cordado, meu grupo musical, que faz o fundo da música e é formado por um violino, um violoncelo e dois violões com vozes alternadas. Uma formação que, por si só já mescla a cultura erudita com a cultura popular de forma a explorar o ritmo mesmo sem instrumentos de percussão. A troca que produzimos pode ser observada tanto no fundo musical, que tem ritmos de samba e também inversões mais eruditas. Como também na letra, que tem influências de palavras regionais, como o “uai” e o “sô” (expressões culturais de Minas Gerais), a mescla de termos que tem uma musicalidade semelhante - como o “uai” mineiro e o “ouais” francês - e a mostra de que existem muitas palavras que têm uma semelhança sonora, e o mesmo significado - como o “dançar” e o “danser” - de forma a fazer com que uma pessoa que não tem entendimento das duas líguas aproxime seus significados. O jeito de falar tem influências rítmicas do RAP, como no excerto em que eu falo: “Je ne sais pas si vous la connaissez, mais, s’il vous plaît, venez ici”, a forma métrica das palavras e da disposição dos sons de “P” e “S” cria uma sensação rítmicas muito forte. A temática é exatamente a mudança, o movimento, que é a minha forma de, atualmente, pensar a música e o mundo. 151