escrotos
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escrotos
ODE TRIUNFAL (Fernando Pessoa) À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! Em fúria fora e dentro de mim, Por todos os meus nervos dissecados fora, Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, De vos ouvir demasiadamente de perto, E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso De expressão de todas as minhas sensações, Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas! Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical — Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força — Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro. Porque o presente é todo o passado e todo o futuro E há Platão e Virgíllo dentro das máquinas e das luzes eléctricas Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão, E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinqüenta, Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem, Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes, Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando, Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma. [...] HÍPICA Saltos records Cavalos da Penha Correm jóqueis de Higienópolis Os magnatas As meninas E a orquestra toca Chá Na sala de cocktails (Oswald Andrade) AS MENINAS DA GARE Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis Com cabelos mui pretos pelas espáduas E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas Que de nós as muito bem olharmos Não tínhamos nenhuma vergonha (Oswald de Andrade) ARROMBOU A FESTA Ai, ai meu Deus O que foi que aconteceu Com a música popular brasileira Todos falam sério Todos eles levam a sério Mas esse sério me parece brincadeira Benito lá de Paula Com o amigo Charlie Brown Revive em nossos tempos O velho e chato Simonal Martinho vem da Vila Lá do fundo do quintal Tornando diferente Aquela coisa sempre igual Um tal de Raul Seixas Vende disco voador E Gil vai refazendo Seu xodó com muito amor Dez anos e Roberto Não mudou de profissão Na festa de arromba Ainda está com seu carrão Parei pra pesquisar... (Refrão) O Odair José É o terror das empregadas Distribuindo beijos Arranjando namoradas Até o Chico Anysio Já bateu pra tu bater Pois faturar em música É mais fácil que em TV Celly Campelo Quase foi parar na rua Pois esperavam dela Mais que um banho de lua E o mano Caetano Tá pra lá de Teerã De olho no sucesso Da butique da irmã. Bilu, bilu fá, fá Faró, faró, tetéia Severina e o filho da veia A música popular brasileira A música popular... Sou a garota papo firme Que o Roberto falou A música popular... O tico-tico lu, o tico-tico tu O tico-tico tá rolando no... A música popular... Olha que coisa mais linda Mais cheia de... Música popular... Mamãe eu quero Mamãe eu quero Mamãe eu quero a ... Música popular brasileira Pega, mata e come. BICHOS ESCROTOS (Titãs) Bichos! Saiam dos lixos Baratas! Me deixem ver suas patas Ratos! Entrem nos sapatos Do cidadão civilizado... Pulgas! Que habitam minhas rugas Onçinha pintada Zebrinha listrada Coelhinho peludo Vão se fuder! Porque aqui Na face da terra Só bicho escroto É que vai ter... Bichos Escrotos Saiam dos esgotos Bichos Escrotos Venham enfeitar Meu lar! Meu jantar! Meu nobre paladar!... Bichos! Saiam dos lixos Baratas! Me deixem ver suas patas Ratos! Entrem nos sapatos Do cidadão civilizado... Pulgas! Que habitam minhas rugas Onçinha pintada Zebrinha listrada Coelhinho peludo Vão se fuder! Porque aqui Na face da terra Só bicho escroto É que vai ter... Bichos! Baratas! Ratos! Cidadão civilizado Pulgas! Onçinha pintada Zebrinha listrada Coelhinho peludo Vão se fuder! Porque aqui Na face da terra Só bicho escroto É que vai ter... Bichos Escrotos Saiam dos esgotos Bichos Escrotos Venham enfeitar Meu lar! Meu jantar! Meu nobre paladar MELÔ DO TIÃO (paródia de Whiskey a Go-Go – Roupa Nova) Fui numa festa com os meus amigos Tava estreando a Kombi que eu comprei A meia-noite vi uma loirona Aquela mina que eu sempre sonhei Senti no corpo muita adrenalina Quando ela me chamou lá no salão A noite toda fiquei excitado O tempo todo eu fiquei doidão E bem de madrugada Um beijo na boca ela me deu Na minha Kombi nova Saímos juntos ela e eu... Eu a abraçava todo sorridente Ela dizia: “não seja indecente [...] cuidado amor, você dirige tão mal!” E numa rua escura bem deserta Numa calçada a Kombi encostei A meia-luz do poste da esquina A sua roupa quase eu tirei Senti nos dedos uma coisa estranha Quando alisei seu corpo com a mão O peito dela era cabeludo Cismei na onda e foi um carreirão Quase morri de susto Quando ela disse: “Meu nome é TIÃO!” (2x) Eu perguntava pelo amor de Deus Alguém me explique o que aconteceu E o Tião falava: “Vem cá, meu bem, cê é meu!” ESTOU ENVERGONHADO (paródia de Estoy Enamorado) Eu sou corno, sou corno sou... Eu quero ser um corno alegre e manso Como se fosse um bode na caatinga Quero curtir meu chifre alegremente Sem pensar na vida E todo dia bem de madrugada Sair de casa com o pressentimento Que o Ricardão vai chegar de mansinho Nesse atendimento Estou envergonhado com esse trem tão pequeno Estou envergonhado, “Oh padim!” com esse sofrimento (Refrão e versos 03 e 04) E se alguém pensar que eu tô errado Provavelmente nunca percebeu Que o Ricardão é uma coisa boa e um amigo seu. (repete os versos 10 e 11) Ele só quer o bem para a sua amada E por isso, amigo, não saia de casa Sem deixar no freezer... CERVEJA GELADA (refrão) FUGA N° II (Os Mutantes) Hoje eu vou sair de casa Vou levar a mala cheia de ilusão Vou deixar alguma coisa velha Esparramada toda pelo chão Vou correr no automóvel enorme e forte A sorte a morte a esperar Vultos altos e baixos Que me assustavam Só em olhar Pra onde eu vou, Ah!... Pra onde eu vou, venha também Pra onde eu vou, venha também Pra onde eu vou... (Refrão) Faróis altos e baixos que me fotografam A me procurar Dois olhos de mercúrio iluminam meus passos A me espionar O sinal está vermelho e os carros vão passando E eu ando, ando, ando... Minha roupa atravessa e me leva pela mão Do chão, do chão, do chão... (Refrão)