DPOC - gesep
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DPOC - gesep
Pneumologia 2 Semiologia - GESEP DPOC Dr. Ivan Paredes Objetivos 1.Saber o que é DPOC. 2.Diferenciar bronquite crônica de enfisema 3.Saber classificar o DPOC baseado na clínica e na espirometria 4.Identificar um quadro de DPOC exacerbado e seus principais fatores descompensadores Como defino DPOC? Doença pulmonar obstrutiva crônica ou DPOC é uma doença usualmente progressiva caracterizada por obstrução do fluxo aéreo das vias aéreas, a qual não é totalmente reversível e é ocasionada primariamente pelo tabagismo e, muito embora atinja significativamente o pulmão, também poderá ter conseqüências sistêmicas. Tanto a bronquite crônica quanto o enfisema de pulmão fazem parte do espectro do DPOC. Na prática, é comum o paciente ter ao mesmo tempo os dois. Como ocorre? Ocorre uma inflamação crônica nas vias aéreas centrais e periféricas, além dos alvéolos e dos vasos pulmonares causando dispnéia, aumento d e s e c re ç ã o b rô n qu i c a e h i p e rt e n s ã o pulmonar. No enfisema, a inflamação ocasiona comprometimento da elastina do alvéolo e por consequência perda de sua integridade. Na bronquite crônica, a inflamação desencadeia disfunção ciliar, dilatação dos bronquíolos e acúmulo de secreções. Ocorre então obstrução brônquica, aumento da resistência das vias aéreas e limitação do fluxo expiratório, ocasionando hiperinsuflação pulmonar. Em ambas situações, as mudanças são progressivas e usualmente não reversíveis, ao contrário da asma, que geralmente é reversível. Esta figura é bem ilustrativa pois resume bem as diferentes apresentações do DPOC. Os ilustrados em verde tem de fato DPOC. O retângulo denota obstrução das vias aéreas. Observem que a asma faz obstrução de vias aéreas mas geralmente é reversível. Os números 7, 8 ou 9 traduzem um componente asmático do DPOC (broncoespasmo). Já o 1, 2, 3 e 11 têm enfisema, bronquite ou ambos ou mesmo asma, mas sem nunca terem apresentado obstrução das vias aéreas (portanto, assintomáticos). Quais são os sintomas e sinais? A tosse freqüentemente é o principal sintoma. Esta geralmente ocorre pela manhã e se torna constante a medida que a doença progride. Geralmente é produtiva e a cor do catarro pode mudar com as exacerbações da doença. Outro sintoma importante é a dispnéia, que ocorre geralmente ao exercício mas que pode progredir até o repouso com a progressão da doença. No exame físico podemos encontrar aumento do diâmetro ântero-posterior, hiperssonoridade à percussão e abafamento do murmúrio vesicular (pela hiperinsuflação secundária à expiração incompleta). Expansibilidade diminuída (pela perda da elasticidade pulmonar), roncos, sibilos e crepitações grossas (pela inflamação e acúmulo de secreções, além de resistência das vias aéreas), cianose (pela dificuldade de realizar as trocas gasosas com hipóxia, hipercapnia e cor pulmonale). Taquipnéia e tiragem intercostal nas exacerbações. Asterixis (por hipercapnia, sugerindo insuficiência respiratória), engurgitamento jugular (pelo aumento da pressão intra-torácica e cor pulmonale). Edema de membros inferiores (sugerindo cor pulmonale e hipertensão Pneumologia Semiologia - GESEP pulmonar secundária). Fadiga (pelas freqüentes interrupções do sono secundárias à tosse noturna, hipóxia e hipercapnia). Cefaléia (por vasodilatação decorrente da hipercapnia). P2 hiperfonética e hepatomegalia (devido à hipertensão pulmonar como complicação do cor pulmonale). Baqueteamento digital que geralmente não ocorre até uma perda severa da função pulmonar. Alguns autores, para serem mais didáticos dividem os sintomas de DPOC em aqueles que são vistos mais freqüentemente na bronquite crônica, daqueles que são prevalentes no enfisema de pulmão. Assim, por exemplo: Bronquite (“Blue Bloater”) Gordo, brevilíneo Fácies “dorminhoco” Dispnéia discreta Não utiliza ponto de ancoragem Muita tosse com expectoração Edema e ICC ↑CO2, ↓O2, ↑HCO3, ↑VG Pouca obstrução Classe VEF1 Sx I - Leve ≥ 80% +/- II - Mod 50-80% +/- 30-50% +/- < 30% +/- < 50% + sx IR III - Grave IV - Muito Grave VEF1/CVF < 70% Sx: sintomas. + com sintomas; - sem sintomas IR: insuficiência respiratória. Enfisema (“Pink Puffer”) Magro, longilíneo Fácies “angustiada” Dispnéia intensa Utiliza ponto de ancoragem Pouca tosse com expectoração Edema e ICC raros Gasometria normal VG não tão alto Obstrução grave ICC: insuf. cardíaca congestiva. VG: volume globular. CO2: gás carbônico. PO2: oxigênio. HCO3: bicarbonato. Que outros exames podem ser úteis? A oximetria de pulso geralmente é verificada nas exacerbações da doença e uma saturação entre 88 e 90% pode ser aceitável em pacientes portadores de DPOC. Na gasometria arterial geralmente solicitada nas exacerbações, uma PaCO2 > 50mmHg e uma PaO2 < 60 mmHg sugerem insuficiência respiratória. Geralmente os pacientes DPOC quando compensados beiram o padrão “50/50” (PaO2/PaCO2) Como faço o diagnóstico? O melhor exame é a espirometria. Uma relação entre o volume expiratório forçado e a capacidade vital forçada (VEF1/CVF) < 70%, ou um VEF1 < 80% sem reversibilidade com o broncodilatador inalado são diagnósticos. A classificação mais usada é a de GOLD (The Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease) O raio x de tórax é útil para afastar outras patologias associadas ou complicações como pneumonia e pneumotórax. No entanto em um paciente DPOC podem ser vistos aumento do diâmetro ântero-posterior, aumento do espaço retro-cardíaco e retro-esternal, retificação do diafragma, aumento dos espaços intercostais e hipertransparência pulmonar, diminuição dos vasos periféricos e “coração em gota”. O hemograma pode mostrar uma poliglobulia (indicativo de hipóxia crônica) bem como leucocitose nas exacerbações (geralmente ocasionada por infecções de vias aéreas). Pneumologia O eletrocardiograma (ECG), pode evidenciar hipertrofia ventricular direita, arritmias e isquemia. Semiologia - GESEP A dosagem de alfa-1-antitripsina é indicada em casos atípicos de DPOC (pacientes jovens e não fumantes e com história familiar positiva). No DPOC tabágico estará normal. Como sei que o paciente está com uma exacerbação? A piora da dispnéia, o aumento da quantidade de catarro e a sua mudança de coloração são os principais sintomas em uma exacerbação aguda. Se os 3 estiverem presentes então é uma exacerbação grave, se 2 estiverem presentes, é moderada e se apenas 1 estiver presente ou é uma exacerbação leve ou outro diagnóstico deve ser procurado. Também podem ocorrer febre, dor torácica, taquipnéia, cianose, etc. Na maioria das vezes a exacerbação ocorre por infecção das vias aéreas (S. pneumoniae; B. catarrhalis; H. influenzae) porém outras vezes pode ser secundário a uma insuficiência cardíaca, embolia de pulmão, pneumotórax, neoplasia ou uso de determinados medicamentos como os inibidores da enzima conversora da angiotensina - IECA e os betabloqueadores. Que outras doenças podem se confundir com DPOC? A cultura do escarro geralmente é solicitada nas exacerbações e geralmente é positivo para bactéria, mas a valorização do germe será útil apenas quando o tratamento empírico com antibiótico falhar. A tomografia de tórax pode mostrar hiperinsuflação pulmonar, graus variáveis de dano pulmonar e formação de bolhas, estas geralmente nos lobos superiores (ao contrário quando o DPOC é ocasionado por deficiência de alfa-1-antitrpsina, onde as bolhas são mais freqüentes nos lobos inferiores) Algumas doenças podem confundir o diagnóstico como asma (porém esta é resposnde significativamente ao broncodilatador inalado), insuficiência cardíaca, bronquiectasias, tuberculose, bronquiolite, refluxo gastroesofágico, câncer de pulmão, sinusite crônica e uso de inibidores da IECA. Quais são suas complicações? O DPOC pode se complicar com anemia ou poliglobulia, pneumotórax e insuficiência respiratória além de cor pulmonale, depressão e pneumonias recorrentes. Bibliografia 1. CHUMLEY, H. The Color Atlas of Family Medicine, McGraw Hill, 2009 2. RENNARD, S.I. N Engl J Med 2004; 350:965-966 3. SHARIFABAD, M.A et al. Best Practice, BMJ, 2011 Pneumologia Semiologia - GESEP Leitura Complementar Baqueteamento Digital A origem do baqueteamento permanece desconhecida. Geralmente é bilateral. O ângulo normal entre a unha e o dedo é de 160º, já no baqueteamento temos ângulos próximos a 180º. Podemos também verificar a presença do sinal de Schamroth que é a perda do formato de diamante visível quando se aproximam as unhas de ambos dedos. Quando achamos baqueteamento temos que pensar em causas secundárias. Causas secundárias Pulmonares: neoplasias, pneumoconiose, DPOC, fibrose pulmonar, bronquiectasia, fibrose cística. Cardíaca: insuficiência cardíaca congênita, endocardite, má-formações atrioventriculares ou fístulas. Gastrintestinais: doença inflamatória intestinal, cirrose, doença celíaca.