ciclo reprodutivo, reprodução assistida
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ciclo reprodutivo, reprodução assistida
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde Departamento de Medicina Veterinária Curso de Medicina Veterinária em Betim Simone Vieira de Oliveira Malheiros CICLO REPRODUTIVO, REPRODUÇÃO ASSISTIDA E CONTRACEPÇÃO EM PRIMATAS NÃO HUMANOS: VISANDO A CONSERVAÇÃO DAS ESPÉCIES Revisão da Literatura Betim 2013 Simone Viera de Oliveira Malheiros CICLO REPRODUTIVO, REPRODUÇÃO ASSISTIDA E CONTRACEPÇÃO EM PRIMATAS NÃO HUMANOS: VISANDO A CONSERVAÇÃO DAS ESPÉCIES Revisão da Literatura Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária em Betim da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Medicina Veterinária. Orientadora: Drª Maria Isabel Vaz de Melo Betim 2013 Simone Vieira de Oliveira Malheiros CICLO REPRODUTIVO, REPRODUÇÃO ASSISTIDA E CONTRACEPÇÃO EM PRIMATAS NÃO HUMANOS: VISANDO A CONSERVAÇÃO DAS ESPÉCIES - Revisão da Literatura Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária em Betim da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Medicina Veterinária. ____________________________________________ Maria Isabel Vaz de Melo (orientadora) – PUC Minas ____________________________________________ Bruno Garzon Oliveira Camara – PUC Minas ____________________________________________ Regina Bueno – PUC Minas Betim, 20 de Junho de 2013. Dedico este trabalho a minha mãe, ao meu esposo, aos familiares e amigos que incentivaram-me nessa caminhada. Ao querido gorila Idi Amin, eterno em minhas memórias. AGRADECIMENTOS À Deus, por toda inspiração e direção no desenvolvimento deste trabalho, por renovar minhas forças todos os dias não me deixando desanimar. À minha querida orientadora Profª. Drª. Maria Isabel Vaz de Melo pela amizade e confiança em mim depositada. Por seu comprometimento e seriedade, pelas ideias e reflexões comigo compartilhadas que muito contribuíram para a realização deste trabalho. Pela dedicação, carinho, palavras de incentivo e ânimo, meu muito obrigada. Aos professores do curso de Medicina Veterinária da PUC Minas – Betim que disponibilizaram seu tempo me auxiliando na elaboração deste trabalho. Aos amigos e funcionários do Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros, por compartilharem comigo seus conhecimentos e experiências e por estarem sempre dispostos a ajudar. Enfim, pelo carinho, descontração e acolhimento durante minha estadia na cidade de Sorocaba. Aos amigos e funcionários da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, pelos conhecimentos compartilhados e pela oportunidade de aprender um pouco mais sobre os animais selvagens. Enfim, aos familiares e amigos que sonharam comigo e que estiveram sempre ao meu lado me apoiando e incentivando a prosseguir. E criou Deus os animais selvagens de acordo com as suas espécies, os rebanhos domésticos de acordo com as suas espécies, e os demais seres vivos da terra de acordo com as suas espécies. E Deus viu que ficou bom. Gênesis1:25 RESUMO Os primatas não humanos são espécies que apresentam particularidades e que demonstram grande adaptabilidade em diversos ambientes e situações, respondendo aos desafios da evolução com múltiplos sistemas de acasalamento (monogâmico, poligínico, poliândrico e poligâmico), diferentes tipos de ciclos reprodutivos (ciclos ovarianos estrais ou menstruais), mecanismos de controle populacional e hábitos sociais complexos. Sabe-se que alguns primatas não humanos encontram-se ameaçados de extinção e que o desempenho reprodutivo dos mesmos, em cativeiro, na maioria das vezes, é consideravelmente baixo reforçando a necessidade do estudo e emprego das técnicas de reprodução assistida neste contexto. Dessa forma, é necessário compreender a biologia reprodutiva, os processos fisiológicos e endócrinos das diversas espécies, já que existem variações significativas que podem determinar o sucesso ou não da reprodução assistida em primatas não humanos. Assim, as biotecnologias da reprodução assistida como: inseminação artificial, criopreservação do sêmen, fertilização in vitro, transferência de embriões, entre outras, podem auxiliar na preservação e manutenção de populações biologicamente viáveis. Entretanto, em situações de aumento excessivo de densidade populacional ou mesmo do desequilíbrio da fauna, visando inclusive, a sanidade e o bem estar de primatas não humanos, que são mantidos ou não em confinamento (zoológicos, criatórios autorizados, centros de pesquisas e reservas ambientais), a esterilização ou contracepção podem ser opções favoráveis, como forma de manutenção do equilíbrio destes ambientes, desde que, tais espécies não se encontrem em risco de extinção. O presente trabalho tem como objetivo realizar revisão bibliográfica com o intuito de fazer o levantamento dos ciclos reprodutivos e das técnicas, com potencial para serem empregadas na reprodução assistida e no controle populacional de primatas não humanos, com ênfase nas espécies criadas ou originadas no Brasil. Palavras-chave: Primatas não humanos. Ciclo reprodutivo. Tecnologias da reprodução assistida. Contracepção. ABSTRACT Non-human primates are species which have distinct features and display great adaptability to diverse environments and situations, responding well to the challenges of evolution with multiple mating systems (monogamy, polygyny, polyandry, polygamy), reproductive cycles (ovarian, estrous and menstrual), mechanisms of population control and complex social habits. It is known that some non-human primates are threatened with extinction and that their reproductive performance in captivity is, most of the time, considerably low, which reinforces the need to research and employ assisted reproductive techniques within this context. For this reason, it is necessary to understand the reproductive biology, physiological and endocrine systems of the several species as there are significant variations that can dictate the success of failure of assisted reproduction in non-human primates. Therefore, assisted reproduction techniques such as artificial insemination, cryopreservation of semen, in vitro fertilization, embryo transfer, among others, can help to preserve and maintain biologically viable populations. However, in situations of population density overgrowth or fauna imbalance, and with a view to assuring the health and well-being of non-human primates, whether or not captive (zoos, authorized breeders, research centers, and nature reserves), sterilization or contraception can be favorable options as a way to keep the balance of these environments, given that these species are not threatened with extinction. The aim of this paper is to review bibliography in order to survey reproductive cycles as well as techniques with a potential to be used in assisted reproduction and population control of non-human primates, with a focus on species bred or originated in Brazil. Key words: Non-human primates. Reproductive cycles. Assisted reproduction technology. Contraception. LISTA DE QUADROS QUADRO 1 - Lista de Primatas Novo Mundo (grupo dos Platyrrhini)..................... QUADRO 2 - Algumas espécies de Primatas Velho Mundo (grupo dos Catarrhini), criadas no Brasil ................................................................................. QUADRO 3 - 22 Sistemas de acasalamentos descritos em algumas espécies de primatas não humanos....................................................................... QUADRO 4 - 20 34 Quadro sintético com dados reprodutivos e biotecnologias da reprodução assistida, pesquisadas em alguns Primatas do Velho Mundo.................................................................................................. QUADRO 5 - 40 Quadro sintético com dados reprodutivos e biotecnologias da reprodução assistida, pesquisadas em alguns Primatas do Novo Mundo..................................................................................................... 41 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Divisão do ciclo reprodutivo em primatas não humanos.. .................. FIGURA 2 - Genêro de primatas do velho mundo (PVM - grupo dos Catarrhini) e 24 primatas do novo mundo (PNM - grupo dos Platyrrhini), que apresentam ciclo ovariano do tipo menstrual ...................................... FIGURA 3 - 26 Gênero de primatas do novo mundo (PNM - grupo dos Platyrrhini) que apresentam ciclo ovariano do tipo estral, descritos na literatura.. 30 LISTA DE TABELAS TABELA 1 TABELA 2 - Resultados da avaliação do diluidor de sêmen (Sapajus apella)(ACP ®118) a 5% e 7% de glicerol - a base de água de coco em pó.. 47 Resultados da avaliação do diluidor de sêmen (Sapajus apella) (ACP ®118) a 3% de glicerol - a base de água de coco em pó .......... 48 LISTA DE ABREVIATURAS ACP – Água de coco em pó. CR - Criticamente em Perigo. DIU - Dispositivos intrauterinos. DMSO – Dimetilsulfóxido. EM - Em Perigo. FIV – Fertilização in vitro. FOPA – Folículos pré-antrais. FSH - Hormônio folículo estimulante. hCG - Gonadotrofina coriônica humana. hFSH – Hormônio folículo estimulante humano. hMG – Gonadotrofina menopausal humana. IA – Inseminação Artificial. LH – Hormônio luteinizante. mA – Miliampère. MIV – Maturação oocitária in vitro. mg – miligrama. MT – Motilidade. MP – Movimentos progressivos. PIVE – Produção in vitro de embriões. PNM – Primatas do Novo Mundo. PVM – Primatas do Velho Mundo. pH – potencial hidrogênico. RIE – Radioimunoensaio. SOP – Síndrome do ovário policístico. TE - Transferência de embriões. TES - ácido NTrishidroximetil-metil-2-aminometanosulfônico. TRIS - Tris-hidroximetil-aminometano. TTR – teste de termo resistência. UI – Unidades internacionais. VU - Vulnerável. LISTA DE SIGLAS BIREME – Biblioteca virtual em saúde. CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. CITES - Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora. CPB – Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros. IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente. ICMBio - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade IVIS – International Veterinary Information Service. MMA – Ministério do Meio Ambiente. PUBMED - US National Library of Medicine National Institutes of Health. RPPN - Reservas Particulares do Patrimônio Natural. SCIELO - Scientific Electronic Library Online. UC - Unidades de Conservação. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15 2. METODOLOGIA ................................................................................................. 17 2.1 A pesquisa ........................................................................................................... 17 2.2 População de amostra ........................................................................................ 17 2.3 Estratégias de ação ............................................................................................ 17 3. REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................... 19 3.1 Ciclo reprodutivo de primatas não humanos ................................................ 22 3.1.1 Ciclo ovariano menstrual ............................................................................. 25 3.1.2 Ciclo ovariano estral .................................................................................... 29 3.2 Sistemas de acasalamento .............................................................................. 32 3.3 Biotecnologias da reprodução assistida .......................................................... 39 3.3.1 Métodos de coleta de sêmen .......................................................................... 42 3.3.2 Métodos de conservação do sêmen ............................................................... 44 3.3.2.1 Criopreservação de sêmen .......................................................................... 45 3.3.2.2 Diluentes para sêmen de primatas não humanos ..................................... 45 3.3.3 Fertilização in vitro.......................................................................................... 50 3.3.4 Transferência de embriões ............................................................................ 51 3.3.5 Coleta e manipulação de oócitos e folículos antrais .................................. 52 3.3.6 Estimulação hormonal ................................................................................. 53 3.3.7 Métodos não invasivos de monitoramento hormonal ................................. 54 3.3.8 Clonagem......................................................................................................... 56 3.3.9 Conservação das espécies e controle populacional em primatas não humanos.................................................................................................................... 56 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 60 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 62 ANEXOS .................................................................................................................. 67 ANEXO A – Diluidores utilizados na criopreservação de primatas não humanos. .............. 67 ANEXO B – Lista das espécies de primatas ameaçadas de extinção no Brasil e respectivas categorias de ameaça - Ministério do Meio Ambiente. Instrução Normativa nº3, de 27 de maio de 2003. CR: (Criticamente em Perigo); EN (Em Perigo); VU (Vulnerável). ............................. 68 15 1. INTRODUÇÃO As espécies pertencentes à Ordem Primates apresentam grande variação tanto nos aspectos morfológicos fenotípicos, quanto nos comportamentais e endócrinoreprodutivos. Neste amplo espectro de variações encontramos desde espécies de hábitos noturnos com ciclo ovariano estral, que utilizam sistemas de acasalamento dispersos, como do tipo antropoides, com hábitos diurnos, ciclo ovariano menstrual e sistemas poligâmicos de acasalamento. Entre estes dois extremos encontramos, espécies que vivem em sistemas monogâmicos estáveis, com ciclos ovarianos do tipo estral, porém acasalando em qualquer fase do ciclo (GUIMARÃES, 2007). A ordem Primates contém ao todo treze famílias, que estão divididas em duas subordens Prosimii e Antropoidea. A subordem Antropoidea, que será abordada nesta revisão de literatura, é dividida em dois grandes grupos: os Platyrrhini - grupo de primatas do Novo Mundo, ou primatas Neotropicais, (Saguis, Macaco-prego, Micoleão, Mico-de-cheiro, Bugio, Muriqui, Macaco-da-noite, Macaco-barrigudo, Macacoaranha, entre outros) e os Catarrhini - grupo de primatas do Velho Mundo (Babuínos, Mandril, Gibão, Orangotango, Chimpanzé e Gorila). Os primatas não humanos, assim como as demais espécies selvagens, em face das dificuldades de reprodução que o sistema de cativeiro impõe, necessitam que pesquisas sejam desenvolvidas com o intuito de viabilizar o conhecimento da sua biologia reprodutiva e o desenvolvimento de biotecnologias que, aplicadas à reprodução, possam auxiliar na preservação e manutenção de uma população biologicamente viável (SOUZA-ARAÚJO, 2012). O emprego de biotecnologias reprodutivas, normalmente envolve a coleta, manipulação e armazenamento de material biológico, com o objetivo de avaliar as características reprodutivas e, por conseguinte, melhorar a sua eficiência. Dentre as biotecnologias já empregadas na reprodução assistida de primatas não humanos estão: coleta de sêmen, lavagem vaginal, vibroestimulação peniana, coleta de oócitos, produção de embriões in vitro, fertilização in vitro, criopreservação de embriões e pesquisas aplicadas à reprodução de primatas neotropicais. Assim, a utilização da inseminação artificial (IA), por meio da coleta, processamento e armazenamento de espermatozoides na utilização de bancos de sêmen, constitui-se importante ferramenta no processo de repovoamento de espécies ameaçadas. Na atualidade, essas técnicas 16 incluem a utilização de métodos não invasivos de monitoramento hormonal (SOUZAARAÚJO, 2012). O conhecimento gerado a partir desses estudos possibilita a introdução de programas de manejo para a conservação que asseguram o bem-estar animal, a compreensão dos ciclos reprodutivos e reflete, em linhas gerais, as necessidades de cada espécie (SOUZA-ARAÚJO, 2012). Entretanto, em algumas localidades, o foco consiste no controle populacional, visando o equilíbrio ambiental. O presente trabalho tem como objetivo realizar revisão bibliográfica com o intuito de fazer levantamento dos ciclos reprodutivos e das técnicas com potencial para serem empregadas na reprodução assistida e no controle populacional de primatas não humanos, nos últimos 21 anos, com ênfase nas espécies criadas ou originadas no Brasil. 17 2. METODOLOGIA 2.1 A Pesquisa A pesquisa, objeto deste estudo, caracteriza-se como uma Revisão da Literatura, sendo constituída por releitura de textos publicados nos últimos 21 anos, na literatura nacional e internacional, sobre o tema tratado - Ciclo reprodutivo, reprodução assistida e contracepção em primatas não humanos. 2.2 População e amostra A população envolvida neste estudo compreenderá toda a literatura disponível sobre o tema proposto: Ciclo Reprodutivo, Reprodução Assistida e Contracepção em Primatas Não Humanos. A amostra será arbitrada e caracterizada pelo conjunto de autores que publicaram sobre o tema em questão, de 1992 até 2013. 2.3 Estratégias de ação Realizar buscas bibliográficas em base de dados (SCIELO, IVIS, CAPES, PUBMED, BIREME, Royal Society Publishing – Biological Sciences) e em sites oficiais do Ministério do Meio Ambiente, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) e da Fundação Biodiversitas, para atender aos seguintes itens: Conhecer as variações no ciclo reprodutivo de primatas não humanos. Listar espécies de primatas criadas e originadas no Brasil. Listar as biotecnologias da reprodução empregadas em primatas não humanos, criados ou originados no Brasil, como: inseminação artificial; criopreservação de sêmen e embrião; produção in vitro de embriões; fertilização in vitro; esterilização e contracepção populacional, entre outras, publicadas nas últimas décadas. para controle 18 Sistematizar por espécie de primata criada ou originada no Brasil um banco de informações sintético, para direcionamento inicial no emprego de técnicas de reprodução assistida em criatórios ou reservas ambientais. Estabelecer cronograma de atendimento com o orientador. Ler e analisar as publicações selecionadas de 1992 a 2013, para coletar dados. Elaborar a revisão da literatura. Elaborar o Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) Final, parte escrita e apresentação. Apresentação e defesa da pesquisa efetuada frente à banca de avaliação do TCC. 19 3. REVISÃO DA LITERATURA As espécies pertencentes à Ordem Primates apresentam grande variação tanto nos aspectos morfológicos fenotípicos, quanto nos comportamentais e endócrinoreprodutivos (GUIMARÃES, 2007). A ordem Primates contém ao todo treze famílias, que estão divididas em duas subordens Prosimii e Antropoidea. A subordem Antropoidea, que será abordada nesta revisão de literatura, é dividida em dois grandes grupos: os Platyrrhini - grupo de primatas do Novo Mundo (PNM) e os Catarrhini - grupo de primatas do Velho Mundo (PVM) (AURICCHIO, 1995; CATÃO-DIAS; NUNES, 2006; GUIMARÃES, 2007; KINDLOVITS, 2009; SOUZA-ARAÚJO, 2012). No grupo dos Platyrrhini - primatas do Novo Mundo, ou primatas Neotropicais, são reconhecidas cinco famílias (Callitrichidae, Cebidae, Aotidae, Pithecidae e Atelidae) e 19 gêneros (Alouatta, Aotus, Ateles, Brachyteles, Cacajao, Callibella, Callimico, Callithrix, Callicebu, Cebuella, Cebus, Chiropotes, Lagothrix, Leontopithecus, Mico, Pithecia, Saguinus, Saimiri e Sapajus), com ampla distribuição geográfica, desde a América Central, até a América do Sul (AURICCHIO, 1995; PISSINATI; VERONA, 2006; GUIMARÃES, 2007; KINDLOVITS, 2009; SOUZAARAÚJO, 2012). Sabe-se que no Brasil há 139 espécies e subespécies de PNM (Quadro 1), conforme lista taxonômica atualizada recentemente e utilizada no Processo de Avaliação do Estado de Conservação de Primatas Brasileiros entre os anos de 2009 a 2013 (CPB; ICMBIO; MMA,2013). 20 Quadro 1 - Lista de Primatas Novo Mundo (grupo dos Platyrrhini) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 Espécies e subespécies de Primatas Brasileiros Alouatta belzebul 41 Callicebus hoffmannsi Alouatta caraya 42 Callicebus lucifer Aloutta discolor 43 Callicebus lugens Aloutta guariba clamitans 44 Callicebus melanochir Aloutta guariba guariba 45 Callicebus moloch Alouatta juara 46 Callicebus nigrifrons Alouatta macconnelli 47 Callicebus pallescens Alouatta nigerrima 48 Callicebus personatus Alouatta puruensis 49 Callicebus purinus Alouatta ululata 50 Callicebus regulus Aotus azarae azarae 51 Callicebus stephennashi Aotus infulatus 52 Callicebus torquatus Aotus nancymaae 53 Callicebus vieirai Aotus nigriceps 54 Callimico goeldii Aotus trivirgatus 55 Callithrix aurita Aotus vociferans 56 Callithrix flaviceps Ateles belzebuth 57 Callithrix geoffroyi Ateles chamek 58 Callithrix jacchus Ateles marginatus 59 Callithrix kulli Ateles paniscus 60 Callithirx penicillata Brachyteles arachnoides 61 Cebuella pygmae niveiventris Brachyteles hypoxantus 62 Cebuella pygmae pygmae Cacajao ayresi 63 Cebus albifrons Cacajao calvus calvus 64 Cebus cuscinus Cacajao calvus novaesi 65 Cebus kaapori Cacajao calvus rubicundus 66 Cebus olivaceus castaneus Cacajao calvus ucayalii 67 Cebus olivaceus olivaceus Cacajao hosomi 68 Cebus unicolor Cacajao melanocephalus 69 Chiropotes albinasus Callibella humilis 70 Chiropotes chiropotes Callicebus baptista 71 Chiropotes sagulatus Callicebus barbarabrownae 72 Chiropotes satanas Callicebus bernhardi 73 Chiropotes utahickae Callicebus brunneus 74 Lagothrix cana cana Callicebus caligatus 75 Lagothrix logothricha Callicebus cinerascens 76 Lagothrix poeppigii Callicebus coimbrai 77 Leontopithecus caissara Callicebus cupreus 78 Leontopithecus chrysomelas Callicebus donacophilus 79 Leontopithecus chrysopygus Callicebus dubius 80 Leontopithecus rosalia 21 (continua) 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 Espécies e subespécies de Primatas Brasileiros Mico acariensis 111 Saguinus labiatus labiatus Mico argentatus 112 Saguinus labiatus rufiventer Mico chrysoleucos 113 Saguinus labiatus thomasi Mico emiliae 114 Saguinus martinsi martinsi Mico humeralifer 115 Saguinus martinsi ocharaceus Mico intermedius 116 Saguinus midas Mico leucippe 117 Saguinus mystax mystax Mico manicorensis 118 Saguinus mystax pileatus Mico marcai 119 Saguinus mystax pluto Mico mauesi 120 Saguinus niger Mico melanurus 121 Saguinus nigricollis nigricollis Mico nigriceps 122 Saguinus weddelli melanoleucus Mico rondoni 123 Saguinus weddelli weddelli Mico saterei 124 Saimiri boliviensis Pithecia albicans 125 Saimiri cassiquiarensis Pithecia irrorata irrorata 126 Saimiri collinsi Pithecia irrorata vanzolinii 127 Saimiri macrodon Pithecia monachus monachus 128 Saimiri sciureus Pithecia pithecia chrysocephala 129 Saimiri ustus Pithecia pithecia pithecia 130 Saimiri vanzolinii Saguinus bicolor 131 Sapajus apella Saguinus fuscicollis avilapiresi 132 Sapajus cay Saguinus fuscicollis cruzlimai 133 Sapajus flavius Saguinus fuscicollis fuscicollis 134 Sapajus libidinosus Saguinus fuscicollis mura 135 Sapajus macrocephalus Saguinus fuscicollis primitivus 136 Sapajus nigritus cucullatus Saguinus fuscus 137 Sapajus nigritus nigritus Saguinus imperator imperator 138 Sapajus robustus Saguinus imperator subgrisescens 139 Sapajus xanthosternos Saguinus inustus - Fonte: Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros – CPB; Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio; Ministério do Meio Ambiente – MMA, 2013. Já no grupo dos Catarrhini - primatas do Velho Mundo, as famílias mais estudas são Cercopithecidae, Hylobatidae, Pongidae e Hominidae. Estando distribuídas geograficamente nas regiões da África e da Ásia, em habitat natural. Porém, tais espécies podem ser encontradas em vários países do mundo, na maioria 22 das vezes sendo criadas em zoológicos, inclusive no Brasil (CATÃO-DIAS; NUNES, 2006; GUIMARÃES, 2007; KINDLOVITS, 2009). Assim, de acordo com dados e informações fornecidos durante visitação e estágios em alguns zoológicos (Fundação Zoo-botânica de Belo Horizonte/MG; Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros – Sorocaba/SP; Fundação Parque Zoológico de São Paulo/SP; Zoológico e Complexo Ambiental Cyro Gervaerd – Balneário Cambúriu/SC; Zoológico Beto Carrero World - Centro de Primatologia– Itajaí/SC e Fundação Jardim Zoológico de Brasília- DF), constatou-se a presença de algumas espécies de PVM que estão sendo criadas no Brasil. (Quadro 2). Quadro 2 - Algumas espécies de Primatas Velho Mundo (grupo dos Catarrhini), criadas no Brasil Primatas Velho Mundo Erythrocebus patas Gorilla gorilla gorilla Macaca fasciculares Macaca fuscata Macaca nemestrina Mandrillus sphinx Pan troglodytes 1 2 3 4 5 6 7 8 Papio anubis 9 Papio hamadryas 10 Pongo pigmaeus Fonte: Elaborado pela autora. 3.1. Ciclo reprodutivo de primatas não humanos Nos primatas não humanos, conforme Fernandes (1982) citado por Rodrigues (2010), assim como ocorre em várias outras espécies, a sequência durante a vida reprodutiva de uma fêmea corresponde à ovulação, copulação, gestação, nascimento e lactação. Este ciclo reprodutivo geralmente, não recomeça até que a prole da gestação anterior se desenvolva, embora sejam vistas exceções para algumas espécies. De acordo com Carlson (2002) em Rodrigues (2010), o comportamento reprodutivo em muitas espécies de animais pode ser influenciado por vários fatores importantes, tais como: a oferta de recursos alimentares, as mudanças na cor da genitália feminina e, principalmente, pelos níveis dos hormônios sexuais. 23 Os órgãos reprodutores em todos os primatas consistem de: dois ovários, duas tubas uterinas, um útero simples, vagina e genitália externa (VERAS, 2004). Sendo que, no ovário existem duas principais unidades funcionais: o folículo e o corpo lúteo. Estes têm diferentes funções, são transitórios e aparecem em diferentes fases do ciclo reprodutivo. De forma geral, conforme Hodges (1987) citado por Brasil (2008), a dinâmica hormonal e o ciclo ovariano de primatas não humanos ocorrem de modo cíclico e compreendem uma sequência de eventos que refletem o crescimento folicular, a ovulação de um oócito maduro e a formação do corpo lúteo. Funcionalmente o ciclo ovariano pode ser dividido em três fases: 1- Fase folicular ou proliferativa: que compreende eventos que levam ao desenvolvimento de um folículo pré-ovulatório e este dependerá da ação do hormônio folículo estimulante (FSH), determinando qual dos folículos será o dominante (destinado à ovulação); 2- Fase ovulatória: que tem início com o pico de hormônio luteinizante (LH) e que culmina com a ruptura folicular e extrusão de um oócito maduro; 3- Fase luteal ou secretória: que inicia após a ovulação e se estende até o início da luteólise. Contudo, para Asa (1996) citato por Rodrigues (2010), em primatas não humanos de ciclo ovariano menstrual, existe uma quarta fase chamada de menstrual, que de acordo com Hernández-López et al. (1998), ocorre colapso e parcial destruição do endométrio, seguida de descamação do mesmo. As diferenças entre os ciclos estral e menstrual são que no ciclo estral o acasalamento está limitado ao período do cio, que coincide com a ovulação, enquanto em espécies de ciclo menstrual a relação sexual não está restrita ao período periovulatório, ou seja, a relação sexual pode ocorrer em qualquer época do ciclo, e a ovulação acontecerá na metade do ciclo menstrual (HAFEZ, 1995). O ciclo estral estende-se de uma ovulação a outra, enquanto o menstrual delimita-se entre uma menstruação e outra, assim, Nagle et al. (1979 e 1980) citados por Brasil (2008), afirmam que o primeiro dia da fase menstrual é considerado o primeiro dia do ciclo. O sangramento característico que ocorre no ciclo estral é decorrente do aumento do estrógeno e acontece no proestro (HAFEZ, 1995), determinando aumento da permeabilidade vascular com extravasamento. Já no ciclo menstrual, o sangramento dá-se pela diminuição das concentrações de estrógeno e progesterona que ocorrem durante a luteólise (HERNÁNDEZ-LÓPEZ et al., 1998). decorre devido a isquemia com descamação do endométrio. Neste o sangramento 24 Os PVM (FIG. 1-A) vão apresentar na sua maioria, ciclos ovarianos do tipo menstrual (alterações hormonais e reprodutivas), semelhante ao descrito na mulher, com ovulações espontâneas e comportamento de cópula ocorrendo em qualquer fase do ciclo e em qualquer época do ano (DOMINGUES; CALDAS-BUSSIERE, 2006; LINN, 2006; GUIMARÃES, 2007; KINDLOVITS, 2009). Nos PNM (FIG. 1-B) encontramos tanto ciclos ovarianos do tipo menstrual, como no macaco-prego (FRAGASZY; ADAMS-CURTIS, 1998), quanto ciclos ovarianos do tipo estral, como nos saguis e nas espécies Callithrix jacchus (ABBOTT; HEARN, 1978). Conforme Domingues e Caldas-Bussiere (2006), em Saimiri sciureus também foi registrado o ciclo ovariano estral, e segundo registros de Gould et al. (1973) citados por Brasil (2008), este mesmo ciclo esta presente nas espécies Leontopithecus rosalia, L. chrysomelas e L. chrysopygus. Porém, os saguis podem copular em qualquer fase do ciclo e inclusive realizar cópulas férteis no período pósparto e durante a lactação. Ainda, entre espécies de PNM (calitriquídeos) encontramos a supressão social da reprodução, onde aspectos sociais regulam os mecanismos endócrinos, promovendo inibição da ciclicidade ovariana de fêmeas subordinadas, pela presença de fêmeas dominantes - reprodutoras (SANTOS, 2003; GUIMARÃES, 2007; BRASIL, 2008; KINDLOVITS, 2009; OLIVEIRA, 2009). Figura 1 - Divisão do ciclo reprodutivo em primatas não humanos. A B Fonte: Elaborado pela autora. 25 Segundo Hertig et al. (1971 e 1976) em Veras (2004), a maior parte dos estudos voltados para primatas não humanos, trata de animais utilizados em pesquisas biomédicas, portanto de famílias e gêneros diferentes. Fato que ajuda a explicar a escassez da literatura referente aos ciclos reprodutivos de primatas não humanos. 3.1.1. Ciclo ovariano menstrual A menstruação segundo Carosi, Linn e Visalberghi (2005) citados por Rodrigues (2010), é uma indicação da maturidade reprodutiva. Em Cebus spp. e Sapajus spp. o ciclo menstrual, quando comparados aos dos PVM e humanos se correlacionam em parâmetros morfológicos e endócrinos (ORTIZ et al., 2005). De acordo com Aires (1999) em Rodrigues (2010), na mulher o ciclo menstrual é caracterizado por modificações cíclicas através de hormônios sexuais no ovário, na camada interna do útero e no miométrio. O LH e o FSH estimulam o crescimento dos folículos ovarianos e induzem a ovulação, que inicia com a formação do corpo lúteo. As gonadotrofinas estimulam a formação de estrógenos, progesterona e inibina, que agem nos órgãos reprodutores femininos e no eixo hipotálamo-hipofisário. O LH age conjuntamente com o FSH durante o período de desenvolvimento dos folículos ovarianos. O FSH também é responsável pelo processo de ovulação que ocorre aproximadamente na metade do ciclo sexual e também pelo estímulo da síntese de outro esteroide sexual, a progesterona. Antes da ovulação a progesterona é sintetizada nas células do estroma ovariano, e depois da ovulação, no corpo lúteo. Esses esteroides, basicamente, estimulam as funções secretoras do endométrio e inibem a contratilidade uterina, ações, portanto, muito relacionadas à manutenção do feto no útero. Porém, segundo Fernandes (1982) citado por Rodrigues (2010), se o ovócito não for fecundado, haverá uma diminuição de estrógeno no sangue cessando a secreção hipofisária de LH. Na ausência do LH, o corpo lúteo (regride) deixa de sintetizar progesterona resultando no espessamento da parede uterina ocorrendo assim, à descamação dessa estrutura, o que é conhecido como menstruação. Conforme Nagle et al. (1979) citados por Brito (2011), a descrição das fases do ciclo menstrual em Sapajus apella pode ser obtida, pela determinação das concentrações plasmáticas de hormônios ovarianos, assim como, pela utilização de 26 citologia vaginal, por parâmetros comportamentais segundo Linn et al. (1995) citados por Brito (2011) e mais recentemente pela ultrassonografia (ORTIZ et al. 2005). Em fêmeas de PVM (FIG. 2), a ovulação coincide com um aumento da temperatura e modificações externas, tais como, edema e alteração na cor da vulva que pode indicar a fase fértil (OLIVEIRA, 2009). Figura 2 - Genêro de primatas do velho mundo (PVM - grupo dos Catarrhini) e primatas do novo mundo (PNM - grupo dos Platyrrhini), que apresentam ciclo ovariano do tipo menstrual. Fonte: Elaborado pela autora. De acordo com Santos (2003), as fêmeas também podem ser capazes de emitir pistas olfativas, através de feromônios – que conforme Brown (1994) citado por Santos (2003) são mensagens químicas voláteis que agem em outros indivíduos, normalmente da mesma espécie, através de receptores olfativos ou gustativos, alterando o comportamento ou o sistema neuroendócrino – que conforme Santos (2003), são produzidos durante a ovulação e que informariam ao macho sua condição 27 reprodutiva. Assim, para Naiper (2000) citado por Rodrigues (2010), através dos receptores olfativos, que cedem informações sobre o ciclo reprodutivo das fêmeas, o macho tem percepção do estro feminino. Contudo Napier (2000) citado por Rodrigues (2010), afirma que o comportamento sexual das fêmeas é alterado durante a fase fértil, na qual elas tornam-se mais ativas e solicitam o acasalamento próximo a ocorrência da ovulação. Segundo Carnegie, Fedigan e Ziegler (2005), na fase peri-ovulatória, foi verificado para Cebus capucinus que embora as fêmeas não forneçam pistas morfológicas ou comportamentais de que a ovulação está ocorrendo, os machos são capazes de detectá-la. Nesse caso, de acordo com Rodrigues (2010), o melhor indicador da fase do ciclo pareceu ser um aumento na expressão de comportamentos sexuais do macho dirigidos às fêmeas no período peri-ovulatório. Conforme Fragaszy (2004) citado por Rodrigues (2010); Freeser e Oppenheimer (1981) citados por Bicca-Marques et al. (2011), nos gêneros Cebus e Sapajus os machos atingem maturidade sexual entre 7 e 8 anos de idade, já as fêmeas atingem a maturidade sexual entre 0 e 4 anos de idade (sendo que, para tais autores a maturidade sexual acontece concomitantemente ao amadurecimento das estruturas reprodutivas, havendo inclusive mudanças hormonais e morfológicas, porém, entendese que tal conceito esta relacionado a puberdade e não a maturidade sexual), dessa forma, as fêmeas dificilmente se reproduzem pois precisam atingir inteiramente o seu peso adulto, e isso geralmente ocorre em torno dos cinco anos de idade. Sabe-se que o ciclo menstrual, de ambas as espécies, dura entre 15 a 21 dias e é acompanhado de um sangramento muito discreto (DOMINGUES, 2006). Sendo assim, durante o ciclo menstrual a concentração do hormônio estrógeno, aumenta gradativamente e o mesmo alcança seu pico entre o dia 7 - 10 do ciclo; já a ovulação de um único folículo ocorre dentro de 10 - 24h após o pico estrogênico, ou seja, entre o dia 8 – 11 do ciclo; e a fase luteal subsequente possui 12 - 13 dias. Lembrando que, conforme Neagle et al. (1979 e 1980) citados por Domingues (2006), a concentração de progesterona é baixa durante toda a fase folicular e que após 12h do pico estrogênico ela então, começa a aumentar até que no sexto dia após o pico estrogênico ela atinge seu valor máximo. Dando então sequência ao ciclo, um dia antes da menstruação (caso a fêmea não tenha se tornado gestante), ocorrerá um declínio abrupto da concentração plasmática da progesterona e do estrógeno, que retomam seus valores basais, conforme Neagle et al. (1980) citados 28 por Domingues (2006). Já a fase ou período menstrual em Cebus e Sapajus é descrita com duração de 1 - 8 dias conforme Wright e Bush (1977) citados por Domingues (2006), ou de 1 - 5 dias segundo Neagle et al. (1979 e 1980) citados por Domingues (2006). Sendo que, durante a menstruação, são observados os menores valores plasmáticos de estrógeno e progesterona de acordo com Neagle et al.(1979) citados por Domingues (2006). A descrição das fases do ciclo menstrual em primatas não humanos podem ser realizadas pela utilização de citologia vaginal conforme Wright e Bush (1977); Linn et al.(1995); Martins (2004) citados por Domingues (2006); por parâmetros comportamentais, segundo LINN et al. (1995) citados por Domingues (2006); pela determinação das concentrações plasmáticas de hormônios ovarianos de acordo com Nagle et al. (1979) citados por Domingues (2006) e mais recentemente, como já foi dito, pela ultrassonografia (ORTIZ et al., 2005). Tratando-se ainda do gênero Sapajus, sabe-se que tanto na natureza como em cativeiro, fêmeas da espécie Sapajus apella se reproduzem sazonalmente ou apresentam picos de nascimento dos filhotes entre os meses de outubro e fevereiro, coincidindo com a época de maior disponibilidade de frutos e insetos de acordo com Bicca e Gomes (2005) citados por Rodrigues (2010) e Bicca-Marques et al. (2011). Em estudos citológicos realizados para determinar o tipo de ciclo da fêmea de Sapajus apella, os autores Wright e Bush (1977); Neagle et al. (1979 e 1980) e Linn et al.(1995) citados por Domingues (2006), constataram que o sangramento, apesar de não ser pronunciado, ocorre logo após a fase luteal e não no período peri-ovulatório, como acontece em fêmeas do ciclo estral. Esclarecendo ainda que, o pequeno sangramento durante a fase menstrual nos PNM (FIG. 2) é decorrente da presença de arteríolas uterinas retas ao invés de espiraladas (HERNADEZ LOPES et al., 1998; DOMINGUES, 2006). Pois, nas espécies em que a menstruação ocorre, a vascularização endometrial é caracterizada por arteríolas espirais, com anastomose e formação de lagos venosos (CUNNINGHAN, 1993). De acordo com Guimarães (2001) em Kugelmeier (2005), em PVM a menstruação é precedida de vasoconstrição das arteríolas, resultando em necrose dos tecidos e lesões epiteliais nos vasos. Consequentemente, assim que ocorrer o relaxamento de tais vasos ocorrerá o sangramento. Contudo nas espécies de PNM, também já foi verificado sangramento 29 menstrual (HERNADEZ-LOPES et al., 1998). Porém, Guimarães (2001) citado por Kugelmeier (2005), esclarece que estes sangramentos vão ocorrer de forma discreta devido à ausência de arteríolas espirais no endométrio de PNM. Comparando com outras espécies de (PNM), Catellanos e Maccombs (1968), citados por Veras (2004), verificaram que durante o ciclo reprodutivo de Cebus albifrons o sangramento menstrual não pode ser observado macroscopicamente (assim como também ocorre em outras espécies de PNM) e o fluxo é recorrente em intervalos específicos: em média 17-20 dias em Cebus spp.,. 3.1.2. Ciclo ovariano estral O ciclo estral foi dividido conforme Stabenfeldt (1992) citado por Brasil (2008), classicamente em estádios que representam eventos comportamentais e/ou gonadais. As terminologias utilizadas para identificar cada um dos estádios são: estro para o período de receptividade sexual; metaestro - para o período de desenvolvimento inicial do corpo lúteo; diestro - para o período da fase madura do corpo lúteo; proestro - período de desenvolvimento folicular, subsequente à regressão lútea que termina no estro. Diferentemente da maioria dos PVM, os PNM (FIG. 3), durante o ciclo reprodutivo não apresentam modificações externas tais como edema e alteração na cor da vulva, de acordo com Hampton (1977); Epple e Katz em (1983) citados por Moraes (2004), sangramento menstrual (BRAND, 1981), ou mesmo um comportamento estral notável ao associado com a fase peri-ovulatória do ciclo conforme Rothe (1977); Hearn (1983) citados por Moraes (2004). Como exemplo, podemos citar as fêmeas da família Callitrichidae que não menstruam, nem exibem sinais visuais na genitália, que indiquem seu momento de receptividade sexual. Entretanto, há alterações no comportamento afiliativo (catação, cheirar e/ou lamber os pelos do parceiro) e sexual entre o casal ao longo do ciclo ovariano estral (SANTOS, 2003). Segundo estudos de Kendrick e Dixson (1983) citados por Santos (2003), durante a fase peri-ovulatória (dias que circundam a ovulação), machos e fêmeas de Callithrix jacchus exibem com maior frequência expressões faciais específicas (projeção da língua para fora e para dentro, interpretada como convite sexual) antes e durante a cópula. Coincidindo com as expressões faciais, as montas e cópulas também 30 foram mais frequentes durante a fase peri-ovulatória que na fase não ovulatória. Enfatizando que, nas espécies Callithrix jacchus e C. kuhlii, os convites sexuais exibidos entre machos e fêmeas, durante o período peri-ovulatório, tem sido associados ao aumento de cópulas . Figura 3 - Genêro de primatas do novo mundo (PNM – grupo dos Platyrrhini) que apresentam ciclo ovariano do tipo estral, descritos na literatura. Fonte: Elaborado pela autora. Em callitriquídeos as fêmeas costumam emitir mais convites sexuais que os machos. Assim, parece que a exibição de convites sexuais pelas fêmeas, especificamente durante o período peri-ovulatório, poderia estar associada à motivação da fêmea em interagir sexualmente com seu parceiro (SANTOS, 2003). Segundo Santos (2003), o papel das informações químicas (feromônios) também parece ser responsáveis pelo aumento das interações socio-sexuais. As fêmeas são mais atrativas para os machos, durante o período peri-ovulatório, que durante o não ovulatório. Sendo assim, a fim de testar a capacidade de ambos os sexos em discriminar possíveis sinais de feromônios emitidos pelas fêmeas ao longo do ciclo ovariano, Ziegler (1993) citado por Santos (2003), delineou um interessante experimento com Saguinus sp., onde amostras de marcações de cheiro de urina de fêmeas desconhecidas foram coletadas no interior dos viveiros e, através das dosagens de hormônios luteinizantes (LH) foram determinados os períodos não ovulatórios e 31 peri-ovulatórios. Segundo Santos (2003), durante o estudo de Ziegler, foi possível observar diferentes reações comportamentais dos casais, quando amostras coletadas de marcação de cheiro foram introduzidas em locais estratégicos dentro dos viveiros. As amostras contendo informações do período peri-ovulatório de uma fêmea desconhecida foram, significativamente, mais investigadas pelas fêmeas do que as amostras provenientes de outros dias do ciclo ovariano. Os machos, por sua vez copularam com suas parceiras e exibiram ereções do pênis, enquanto estiveram expostos a marcações de cheiro e urina provenientes das amostras peri-ovulatórias. Através deste experimento Ziegler concluiu que a fêmea pode ser capaz de emitir pistas olfativas, através de feromônios produzidos durante a ovulação que informariam ao macho sua condição reprodutiva. Sendo assim, a estimulação dos hormônios ovarianos e hipotalâmicos pode possibilitar a emissão de pistas comportamentais e de feromônios pelas fêmeas. Juntas essas pistas poderiam tornar a fêmea mais atrativa para o macho, resultando em um aumento na frequência das montas e das cópulas. E dessa forma, o comportamento do macho em associação com o aumento do número de cópulas poderia maximizar as chances de fertilização da parceira (SANTOS, 2003). De forma geral, o ciclo ovariano estral na família Callitrichidae, ocorre a cada 14 a 24 dias, conforme Kleiman (1977); Hearn (1978) citados por Moraes (2004), podendo ter variações em alguns gêneros como em: Saguinus que ocorrerá a cada 15 18 dias segundo Hampton (1977) citado por Moraes (2004), com existência de pico de estrogênio de acordo com Epple e Katz (1983); em Leontopithecus acontece em média a cada 19 dias (entre 14 e 31 dias) - também ocorrendo ciclo estrogênico conforme French e Striibley (1985) citados por Moraes (2004). Porém, nos Leontopithecus chrysomelas o ciclo ovariano estral pode variar entre 18 e 25 dias com fase folicular durando de 3 a 7 dias e uma fase luteal com duração de 14 a 18 dias, de acordo com De Vleeschouwer et al. (2000) citados por Moraes (2004). Segundo Herrick et al. (2000) em Kugelmeier (2005), a duração do ciclo estral em fêmeas de Alouatta spp. de vida livre é de 29,5 ± 1,5 dias, de acordo com os níveis de progesterona na urina. Porém, em estudos anteriores através de citologia vaginal e análise microscópica dos ovários, conforme Colillas e Coppo (1978) citados por Kugelmeier (2005) a duração do ciclo ovariano estral de Alouatta spp. seria de 19,7 ± 1,0 dias (variação de 17 a 24 dias), com uma fase folicular de aproximadamente 9 dias e fase lútea de 7 dias. 32 Já Savage et al. (1995) em Kugelmeier (2005), relataram em Pithecia spp., ciclos ovarianos estrais com duração de 16,9 ± 1,6 dias. Da mesma maneira Campbell et al. (2001) em Kugelmeier (2005), registraram em Ateles spp., um ciclo ovariano estral de aproximadamente 20 dias com uma fase folicular curta de 2 a 3 dias para fêmeas em cativeiro. Em fêmeas de vida livre a duração do ciclo foi de 22, 7 dias e a fase folicular durou de 4 a 8 dias. Através da extração e dosagem de esteroides fecais da espécie de vida livre Brachyteles hypoxantus, Strier e Zielgier (1997) citados por Kugelmeier (2005), verificaram um ciclo ovariano estral com duração de 21,0 ± 5,4 dias. Segundo Baldwin (1985) em Domingues (2006), a espécie Saimiri sciureus pode conceber a primeira vez aos 2,5 anos de idade. O S. scireus apresenta ciclo estral de 8 a 9 dias, sendo que leva de oito a dez dias entre um pico e outro de estrógeno, sendo assim, Wolf et al. (1977); Ghost et al. (1982) citados por Domingues (2006), observaram pico da concentração de estrógeno aproximadamente no dia 4 do ciclo, sendo acompanhado pelo pico de LH. De acordo com Dukelow (1970 e 1978); Wolf et al. (1970) em Domingues (2006), diferentemente de outras espécies de PNM, os S. sciureus apresentam uma sazonalidade bem definida. Já segundo Hearn (1983) citado por Domingues (2006), tal sazonalidade parece estar relacionada ao período de estação seca e não ao fotoperíodo. Na natureza, tal espécie se reproduz de julho a setembro, com nascimentos acontecendo em dezembro, conforme dados de Dukelow (1985) citado por Domingues (2006). 3.2 Sistemas de acasalamento De acordo com Strier (2000) em Decanini (2006), a definição tradicional de sistemas de acasalamento (Quadro 3) leva em consideração o número de machos e fêmeas reprodutoras. Dessa maneira, grupos de primatas não humanos que incluem um macho e uma fêmea nesse papel são definidos como monogâmicos, os grupos constituídos de um macho e várias fêmeas reprodutoras são considerados poligínicos. Aqueles, com uma fêmea reprodutora e vários machos são definidos como poliândricos, enquanto grupos com múltiplos machos e fêmeas são poligâmicos. No 33 entanto, o conhecimento sobre as organizações socias em primatas não humanos mostrou que o número de machos e fêmeas reprodutores no grupo não é padronizado para as espécies. O número de reprodutores pode variar entre grupos de uma mesma espécie, de acordo com diferenças em habitat e condições demográficas. Entre os PVM, o acasalamento de um único par durante a estação de acasalamento parece se restringir às espécies do gênero Hylobates (Gibão) e às espécies Cercopithecus neglectus (Macaco-de-brazza) e Presbytis potenziani (SANTOS, 2003). Na natureza, o Papio hammadryas hammadryas (Babuíno-sagrado) geralmente vive em grupos constituídos por machos “solteiros” com haréns de fêmeas que se juntam com outros grupos à noite para dormir, enquanto as espécies Papio hammadryas anubis (Babuíno-verde) (LINN, 2006) e Pan troglodytes (Chimpanzé) vivem em grupos “promíscuos” - multi-macho / multi-fêmea, ou seja, poligâmicos onde os machos adultos copulam, dentro da mesma comunidade, com qualquer fêmea, e as fêmeas receptivas copulam com vários machos (CARVALHO, 2008). Os Pan troglodytes (Chimpanzé) apresentam dimorfismo sexual, onde os machos adultos pesam cerca de 40 kg, enquanto as fêmeas adultas pesam 30 kg (LINN, 2006). Já em PNM – os calitriquídeos – além de alguns Cebidae, Sapajus (Macacoprego), Aotus (Macaco-da-noite) e Callicebus (Zogue-zogue) têm sido considerados monogâmicos em função da exibição de um conjunto de comportamentos característicos do sistema monogâmico de acasalamento. Por exemplo, a exibição de padrão de ligação sócios-sexual de longo prazo; cuidado cooperativo dos filhotes, com participação ativa do macho reprodutivo; agressividade dos dominantes em relação aos demais membros do grupo, especialmente entre fêmeas ou indivíduos que imigram para o grupo (SANTOS, 2003). Porém, para Schaffner e French (2004) em Decanini (2006) e para Santos (2003), o sistema monogâmico tem sido frequentemente registrado em calitriquídeos criados em cativeiro, pois, na natureza, o sistema de acasalamento dos mesmos, é variável, podendo ocorrer em uma mesma espécie tanto a poligínia, quanto a monogamia ou a poliandria. 34 Quadro 3: Sistemas de acasalamentos descritos em algumas espécies de primatas não humanos. TIPOS DE ACASALAMENTO DEFINIÇÃO PRIMATAS VELHO MUNDO Hylobates (Gibão); Incluem um macho MONOGÂMICO e uma fêmea Cercopithecus zogue) (SANTOS, 2003); Callithrix (Saguis)(DECANINI, 2006);Callimico neglectus (Macaco-de- (Mico de Goeldi) Garber (2005) em Bicca-Marques et al. (2011); Cebuella brazza) e Presbytis (DECANINI, 2006). potenziani (Macaco-cabeludo) Kinzey (1997) em Bicca-Marques et al. (2011); (SANTOS, 2003). Chiropotes (Cuxiú) Ayres (1981) em Bicca-Marques et al. (2011); Papio hammadryas Callithrix (Saguis) (DECANINI, 2006); Saguinus fuscicollis fuscicollis macho e várias fêmeas reprodutoras sagrado) (LINN, (DECANINI, 2006). 2006). Brachyteles (Muriqui) Strier (1999) em Bicca-Marques et al. (2011); Alouatta (Bugios) Steele (1989) em Kugelmeier (2005); Callithrix (Saguis) (DECANINI, 2006); Mico (Micos); Leontopithecus uma fêmea (Micos-leão) Baker et al. (2002) em Bicca-Marques et al. (2011); Callimico ------- reprodutora e vários (Mico de Goeldi) Garber (2005) Bicca-Marques et al. (2011); Cebuella machos (Sagui-leãozinho) Soini (1993) em Bicca-Marques et al. (2011); Saguinus (DECANINI, 2006). POLIGÂMICO (Sagui-leãozinho) Soini (1993) em Bicca-Marques et al. (2011); Pithecia hammadryas (Babuíno- (Sagui) Calegaro-Marques (1995); em Bicca-Marques et al. (2011); Constitídos com POLIÂNDRICO Sapajus (Macaco-prego); Aotus (Macaco-da-noite); Callicebus (Zogue- reprodutores Constituídos de um POLIGÍNICO PRIMATAS NOVO MUNDO (Sagui) Sussman e Garber (1987) em Bicca-Marques et al. (2011); Papio hammadryas Alouatta (Bugios) Neville et al. (1988) em Kugelmeier (2005); Brachyteles Grupos com anubis (Babuíno- (Muriqui) Strier (1999) em Guedes (2008); Lagothrix (Macaco-barrigudo) múltiplos machos e verde) (LINN, 2006); Di Fiori (1997) em Bicca-Marques et al. (2011); Saimiri sciureus (Macaco fêmeas Pan troglodytes de cheiro) Emmons E Feer (1997) em Branco et al. (2010); Sapajus apella (DECANINI, 2006). (Chimpanzé) (Macaco-prego) Rowe (1996) em Oliveira (2010); (CARVALHO, 2008); Fonte: Elaborado pela autora. Segundo Stevenson e Rylands (1988) em Decanini (2006), os PNM pertencentes ao gênero Callithrix, apresentam uma estrutura social organizada, geralmente, em torno de um casal reprodutor dominante em relação aos demais membros do grupo. No entanto, para Goldizen (1987); Stevenson e Rylands (1988) em Decanini (2006), não há uma clara hierarquia linear nos grupos e a ocorrência de poliginia e poliândria neste gênero podem indicar uma estrutura hierárquica mais complexa. Sendo assim, é importante conhecer o comportamento e os aspectos de socialidade dos machos calitriquídeos, pois conforme, Schaffner e French (2004) citados por Decanini (2006), a presença de machos adultos, potencialmente reprodutivos em grupos selvagens de calitriquídeos nos leva a questionar sobre as 35 relações desses machos com a fêmea dominante e o papel que tais machos cumprem dentro do grupo. Segundo, Van Schaik (1994); Van Hooff (1994 e 2000) em Decanini (2006), a presença de machos adultos no grupo está, em geral, ligada à incapacidade do macho dominante de expulsar os rivais, ou no benefício que esses outros machos podem trazer. Dessa forma, tais grupos podem apresentar tanto um sistema de acasalamento monogâmico, como poliândria facultativa. Sendo que, os custos energético de criação dos filhotes seriam um fator chave para levar à aceitação de mais de um macho no grupo. Assim, de acordo com Baker et al. (1999); Schaffner e French (2004) em Decanini (2006), machos não aparentados em Callithrix kuhlli e Callithrix jacchus demonstraram disputas agressivas para acesso às fêmeas reprodutoras e os animais subordinados costumam ter acesso reduzido às fêmeas do grupo ou são impedidos. Em grupos poliândricos com machos aparentados, no entanto, não há clara disputa de dominância entre os machos. Já a reprodução das fêmeas de Callithrix jacchus, conforme Lazaro-Perea et al. (2000) citado por Decanini (2006), geralmente é relacionada ao status de dominância. A fêmea dominante recebe pouca ou nenhuma agressão, desenvolve função ovariana completa e sua prole sobrevive mais do que a de fêmeas subordinadas - que por acaso venham a reproduzir, pois, ainda há a possibilidade de fêmeas dominantes matarem os filhotes das subordinadas. Segundo Albuquerque et al. (2001) em Decanini (2006), a competição social pelo status reprodutivo pode ocorrer entre fêmeas em grupos de calitriquídeos selvagens e as fêmeas podem ter sua dominância contestada em consequência da diminuição do sucesso reprodutivo da dominante pela presença de outra fêmea reprodutora. Ao que parece, assim como tem sido descrito nos trabalhos realizados com calitriquídeos criados em cativeiro, fatores que podem estar relacionados com o baixo sucesso reprodutivo das fêmeas não dominantes, tais como a redução da expressão dos hormônios ovarianos e a agressividade da fêmea dominante direcionada às demais fêmeas, também podem ser disparados em grupos selvagens (SANTOS, 2003). Outros aspectos, tais como, a saturação de calitriquídeos e o isolamento da 36 mata, são fatores que tendem a reduzir a dispersão e aumentar a incidência de poliginia. Em cativeiro, a ocorrência de acasalamentos de duas fêmeas de calitriquídeos com um mesmo macho já foi registrada em Callithrix jacchus e Callithrix kuhlii, e estaria relacionada, principalmente, com a introdução de um macho não aparentado no grupo. Várias hipóteses têm sido formuladas a respeito dos mecanismos pelos quais a fêmea dominante poderia provocar mudanças fisiológicas nas demais fêmeas, tendo sido citada a influência de fatores feromonais, sociais e a “barreira da endogamia” (para a manutenção da fertilidade de uma única fêmea no grupo, o que evitaria a procriação consanguínea entre parentes). Entretanto, não poderíamos descartar a possibilidade desses fatores atuarem conjuntamente (SANTOS, 2003). Segundo Stevenson e Rylands (1988) em Bicca-Marques et al. (2011), os PNM pertencentes ao gênero Mico vivem em grupos de 5 a 15 indivíduos com mais de dois adultos, mas, normalmente, com apenas uma fêmea reprodutora, que suprime a ovulação das fêmeas subordinadas, características essas que indicam um sistema de acasalamento poliândrico. Igualmente Baker et al. (2002) em Bicca-Marques et al. (2011), afirma que o gênero Leontopithecus (PNM) também apresenta um sistema de acasalamento poliândrico, onde os grupos são compostos de 2 a 14 indivíduos – sendo formado por mais de um macho adulto, jovens de diferentes idades e, geralmente, por única fêmea reprodutora. Já Porter (2001); Garber (2005) em Bicca-Marques et al. (2011), afirmam que os PNM do gênero Callimico vivem em grupos 2 a 12 indivíduos, contendo uma ou duas fêmeas reprodutoras, sendo assim, podem apresentar tanto acasalamentos monogâmicos como poliândricos. Da mesma forma, Soini (1988 e 1993) em Bicca-Marques et al. (2011), afirma que o gênero Cebuella (PNM) vive em grupos compostos por 2 a 9 indivíduos contendo uma fêmea reprodutora, um macho adulto e suas crias, sendo a fêmea reprodutora dominante sobre todos os membros do grupo, podendo inclusive copular com mais de um macho (quando presente) sugerindo uma possível poliandría. De acordo com Sussman e Garber (1987) em Bicca-Marques et al. (2011), o gênero Saguinus (PNM), também apresenta sistema de acasalamento poliândrico, 37 porém, estudos de Calegaro-Marques (1995); Terborgh e Goldizen (1985) citados por Bicca-Marques et al. (2011), registraram a ocorrência de uma ou duas fêmeas reprodutoras em um grupo de Saguinus fuscicollis fuscicollis, existindo assim a possibilidade de acasalamentos poligínicos. Entretanto, o gênero Aotus - único gênero de PNM com hábitos noturnos apresenta sistema de acasalamento monogâmico vivendo em grupos familiares de 2 a 5 indivíduos, compostos por um casal de adultos e sua prole, conforme afirmação de Wright (1981) citado por Bicca-Marques et al. (2011). Da mesma maneira, para Buchanan et al. (1981); Deffler (2004); Kinzey (1997) e Robinson et al. (1987) citados por Bicca-Marques et al. (2011), o gênero Pithecia muitas vezes é considerado monogâmico, devido a formação de pequenos grupos que normalmente inclui um casal de adultos, alguns juvenis e muitas vezes um único filhote. Porém, há controvérsias, já que, para Ayres (1996) e Rosenberger et al. (1996) citados por Bicca-Marques et al. (2011), alguns aspectos de comportamento reprodutivo, como a presença de um indivíduo adulto de cada sexo nos grupos e a falta de evidência no cuidado parenteral pelos machos, podem indicar que estes PNM não seguem o padrão típico de monogamia. Outros gêneros de PNM que apresentam sistema de acasalamento monogâmico e que vivem em grupos familiares compostos por um casal de adultos e sua prole (um ou dois filhotes) é o gênero Chiropotes, segundo observações de Ayres (1981) citado por Bicca-Marques et al. (2011), e o gênero Callicebus, segundo afirmação de Kinzey (1981); Robinson et al. (1987) citados por Bicca-Marques et al. (2011). De acordo com Di Fiori (1997) e Strier (1999) em Bicca-Marques et al. (2011), o gênero Brachyteles (PNM) apresenta sistema de acasalamento poligâmicopoligínico, no qual fêmeas receptivas acasalam com mais de um macho durante único período de estro. Segundo Strier (1999) em Guedes (2008), os muriquis (Brachyteles hypoxantus), espécie pertencente ao grupo dos PNM, similarmente aos Babuínos (Papio cinocephalus) e aos Chimpanzés (Pan troglodytes) vivem em grandes grupos de sexo-misto, ou seja, poligâmicos, mas diferentemente desses, vivem em uma sociedade igualitária com baixas taxas de agressividade entre os indivíduos do grupo. Strier (2001 e 2002); Guimarães (2001) em Guedes (2008) complementam 38 ainda que, para primatas não humanos que vivem em grupos grandes de sexo-misto com sociedade de hierarquia e dominância, como Chimpanzés e Babuínos, as fêmeas que possuem filhotes dependentes tendem a se unir e se distanciar dos outros indivíduos do grupo, para que ao mesmo tempo em que diminuam a competição durante a alimentação possam ter acesso às fontes alimentares de alta qualidade nutricional e fornecer proteção aos filhotes. Se as fêmeas não precisam competir para ter acesso aos recursos e se os filhotes não correm o risco de serem agredidos por outros membros do grupo, provavelmente as fêmeas não precisem se unir para ter acesso aos recursos e para evitar a competição durante o forrageamento. Trabalhos anteriores de Strier (1999, 2001 e 2002) citados por em Guedes (2008), mostram que fêmeas muriquis dormem juntas provavelmente para que os filhotes tenham oportunidade de brincarem; e que os filhotes raramente são avistados próximos aos machos, já que, as mães cuidam sozinhas dos filhotes, durante aproximadamente 2,5 anos - quando recomeçam a copular, podendo estender a amamentação até o final do segundo ano pós-parto, quando filhotes completam 2 anos de idade, segundo afirmação de Strier e Ziegler (2005); Rimoli (1998) citados por em Guedes (2008). Portanto, pode se dizer que as fêmeas muriquis com filhotes dependentes também fiquem próximas uma das outras, mas provavelmente por motivos diferentes das fêmeas de Chimpanzés e Babuínos (GUEDES, 2008). De acordo com Di Fiori (1997) em Bicca-Marques et al. (2011), o gênero Lagothrix vive em grupos sociais grandes, compostos por 20 a 50 indivíduos, estáveis e que contêm muitos machos e fêmeas adultos. Porém, ao contrário do observado em Brachyteles spp., os indivíduos adultos parecem evitar a proximidade de outros adultos do mesmo sexo. Sendo assim, as fêmeas adultas com filhotes se associam preferencialmente com indivíduos juvenis. O sistema de acasalamento do gênero Lagothrix também é do tipo poligâmico, já que, muitos machos costumam acasalar com uma mesma fêmea - receptiva durante o período de estro. Segundo Steele (1989) em Kugelmeier (2005), o gênero Alouatta apresenta sistema de acasalamento poligínico. Entretanto Neville et al. (1988) em Kugelmeier (2005), afirma que tal gênero também pode apresentar acasalamentos poligâmicos, já que, a mesma fêmea pode acasalar-se com vários machos do grupo. O gênero Saimiri sciureus, conforme Emmons e Feer (1997) citados por Branco et al. (2010), também apresenta sistema da acasalamento poligâmico, 39 entretanto, um ou dois machos copulam com mais frequência dentro do mesmo grupo. Da mesma forma, a espécie Sapajus apella, conforme Emmons (1990) e Rowe (1996) citados por Oliveira (2010), apresenta acasalamentos poligâmicos e as fêmeas do grupo reproduzem-se referencialmente com o macho dominante. 3.3 Biotecnologias da reprodução assistida Tanto no grupo de PVM quanto no grupo de PNM, encontramos espécies ameaçadas de extinção, principalmente devido à destruição e fragmentação do ambiente natural e à exploração comercial de muitas delas. Sendo estes, os principais fatores afetando as populações de primatas não humanos, aliados ao baixo desempenho reprodutivo em cativeiro de algumas espécies, torna-se urgente que sejam desenvolvidas técnicas de reprodução assistida. (GUIMARÃES, 2007). Segundo Wolf (2009), a utilização de biotecnologias aplicadas à reprodução de animais silvestres vem sendo proposta como ferramenta na conservação de espécies em ameaça de extinção ou com linhagens de alto valor para pesquisa biomédica. Portanto, o conhecimento e a compreensão das múltiplas características comportamentais e endócrino-reprodutivas dos primatas não humanos são essenciais para que possamos desenvolver e aplicar com sucesso técnicas de reprodução assistida como: a inseminação artificial (IA), a fertilização in vitro (FIV), a transferência de embriões (TE) e mesmo a clonagem, em casos específicos (GUIMARÃES, 2007). Assim, buscando facilitar a compreensão a respeito das biotecnologias da reprodução assistida empregadas em primatas não humanos, criados ou originados no Brasil, sintetizamos as informações sobre os PVM e PNM nos (Quadros 4 e 5). 40 Quadro 4 – Quadro sintético com dados reprodutivos e biotecnologias da reprodução assistida, pesquisadas em alguns PVM. ESPÉCIE Cercopithecus spp. Cercopithecus aethiops Erythrocebus patas Gorilla gorilla CICLO REPRODUTIVO Menstrual Menstrual Menstrual SISTEMA ACASALAMENTO ................... ................... ................... Menstrual ............... Gorilla gorilla gorilla Macaca spp. Macaca speciosa Macaca mulatta Macaca fascicularis Macaca fuscata Macaca thibetana Menstrual Menstrual Menstrual Menstrual Menstrual Menstrual Menstrual Pan paniscus Menstrual Pan troglodytes Menstrual ............. ............. ............ ............. ............ .............. ........ ............ Poligâmico Fonte: Elaborado pela autora. BIOTECNOLOGIA DA REPRODUÇÃO Fertilização in vitro; Criopreservação de sêmen; Criopreservação de sêmen; Coleta de sêmen (vagina artificial); criopreservação de sêmen; monitoramento hormonal não invasivo; Fertilização in vitro; IA; Fertilização in vitro; Criopreservação de sêmen; Criopreservação de sêmen; Criopreservação de sêmen; Criopreservação de sêmen; Criopreservação de sêmen; Monitoramento hormonal não invasivo Coleta de sêmen (vagina artificial; micropunção da cabeça e cauda de epidídimo pos mortem); criopreservação de sêmen; implantes subdérmicos (Implanon®). 41 Quadro 5 – Quadro sintético com dados reprodutivos e biotecnologias da reprodução assistida, pesquisadas em alguns PNM ESPÉCIES CICLO REPRODUTI VO SISTEMA ACASALAMENTO Alouatta caraya Estral Políginico / Poligâmico Coleta de sêmen (eletroejaculação); monitoramento hormonal não invasivo; vasectomia; Diluentes (TES - Ringer-lactato); Ateles sp. Estral ....... Coleta de sêmen (eletroejaculação); criopreservação de sêmen; FIV; PIVE; MIV; isolamento de folículos pré-antrais (tissue chopper); monitoramento hormonal não invasivo; Ateles paniscus Estral ....... Criopreservação de sêmen; Diluentes (TRIS - TES); Ateles marginatus Estral ....... Criopreservação de sêmen; Diluentes (TRIS - TES); Brachyteles spp. Estral Políginico / Poligâmico Monitoramento hormonal não invasivo; Monogâmico Monitoramento hormonal não invasivo; Estral Monogâmico/ Poligínico / Poliândrico Monitoramento hormonal não invasivo; Callithrix jachus Estral Monogâmico/ Poligínico / Poliândrico Callimico goeldi ............... Monogâmico / Poliândrico Monitoramento hormonal não invasivo; Cebus sp. Menstrual Monogâmico Monitoramento hormonal não invasivo; Estral Poliândrico Estral Poliândrico Pithecia pithecia Estral Monogâmico Monitoramento hormonal não invasivo; Saimiri boliviensis Estral .................. Coleta de sêmen (eletroejaculação); Saimiri sciureus Estral Poligâmico Saguinus sp. Estral Poliândrico IA; FIV; Estimulação hormonal (FSH-hCG);ICSI (intracitoplasmatic sperm injection); monitoramento hormonal não invasivo; Monitoramento hormonal não invasivo; Saguinus fuscicolis Estral Políginico Monitoramento hormonal não invasivo; Sapajus sp. Menstrual Monogâmico Monitoramento hormonal não invasivo; Poligâmico Coleta de sêmen (eletroejaculação); criopreservação de sêmen; FIV; PIVE; MIV; isolamento de folículos pré-antrais (tissue chopper); monitoramento hormonal não invasivo; Água de coco in natura; tripsina; hialuronidase; TES - TRIS a 2,5% e 3,5 % de glicerol; ACP ®118) adicionado de 3%, 5% e 7% de glicerol; Callicebus moloch Callithrix spp. Leontopithecus spp. Leontopithecus chrysomelas Sapajus apella Menstrual BIOTECNOLOGIA DA REPRODUÇÃO Coleta de sêmen (eletroejaculação; lavagem vaginal; micropunção da cabeça e cauda de epidídimo pos mortem); criopreservação de sêmen; PIVE; FIV; ICSI (intracitoplasmatic sperm injection); cultivo de folículos pré-antrais; MIV; Diluentes (TRIS - TES); Monitoramento hormonal não invasivo; Coleta de sêmen (eletroejaculação) Fonte: Elaborado pela autora. 42 3.3.1 Métodos de coleta de sêmen A coleta de sêmen de PNM tem sido realizada, com maior frequência, pelo método de eletroejaculação. Essa técnica tem sido utilizada em várias espécies de PNM, como Sapajus apella, Callithrix jacchus, Alouatta caraya, Ateles sp., Leontopithecus chrysomelas, Saimiri boliviensis. Outros métodos de coleta de sêmen têm sido descritos nos PNM, como: lavagem vaginal e a vibroestimulação peniana (SOUZA-ARAÚJO, 2012). Ainda para primatas não humanos, existem outras opções para realização da coleta seminal que são: o uso da vagina artificial, masturbação peniana e a punção do epidídimo (OLIVEIRA, 2010). Sendo que, a eletroejaculação é considerada por Sonksen e Ohl (2002) citados em Oliveira (2010), uma importante técnica de coleta, possuindo vantagens de ter boa aceitação clínica por não requerer cirurgia (somente a contenção química) além de permitir que até 90% do sêmen obtido permaneça com seu DNA intacto, por não ser uma técnica destrutiva para o espermatozoide. Contudo, uma vez que a maioria das espécies de PNM não possuem um protocolo definido de estímulos elétricos, a sequência de estímulos utilizados para uma espécie, pode ser repetida em outras espécies correlacionadas (OLIVEIRA, 2010). De acordo com Oliveira (2010), a eletroejaculação tornou-se uma técnica importante como método de indução da ejaculação também na espécie Sapajus apella devido ao seu volume corpóreo e comportamento agressivo, fatores que predispõem contenção química para o manuseio seguro dos animais e que dificultam a utilização de outras técnicas de coleta seminal nesta espécie. Barnabe et al. (2002) em Oliveira (2010), descreveram um protocolo para Sapajus apella, em que são realizadas 5 séries de 20 estímulos cada, em um nível progressivo de intensidade, de 50 a 300 mA. Contudo, Araújo et al. (2009) citado por Oliveira (2010), demonstraram que é possível induzir a ejaculação com estímulos que variaram de 12,5 mA a 100 mA, com intervalos de 30 segundos entre cada série de estímulos. Sendo que, o processo de ejaculação durante os intervalos de cada série é otimizado, ocorrendo à obtenção de frações de sêmen líquidas e coaguladas. Para Oliveira (2010), esse protocolo foi considerado vantajoso por oferecer menor risco de injúrias aos indivíduos, em consequência das baixas amperagens empregadas. 43 Já Hernández-López et al. (2002) em Oliveira (2010), aplicou estímulos de 1 volt e 10mA até 7 volts e 100mA, em Ateles sp., aumentado 1 volt a cada 2 ou 3 tentativas sucessivas, além de realizar a estimulação manual do pênis. Da mesma forma, Valle et al. (2004) em Oliveira (2010), utilizaram estímulos de 0 a 8 volts em Alouatta caraya com aumentos subsequentes de 0,5 volt a cada série de 30 estímulos, que duravam cerca de 2 a 3 segundos com intervalo de 1 a 2 segundos. Entretanto, Lang (1967) em Oliveira (2010), alcançou bons resultados na coleta seminal de Saimiri sciureus, ao utilizar um intervalo de voltagem de 0,95-1,15 volts, obtendo tempo médio para ejaculação entre 2 e 3 minutos. A eletroejaculação também pode ser utilizada, conforme Valle (2002) citado por Kugelmeier (2005), para estudar as características físicas e morfológicas do sêmen. Dessa forma, através da coleta de sêmen de Alouatta caraya pela técnica de eletroejaculção, obtiveram-se os seguintes resultados: o volume do ejaculado de Alouatta caraya foi de 0,09 ± 0,05 ml; a concentração média foi de 649,5 ± 926,7 x 106 espermatozoides por mililitro. Sendo que, ao comparar dados de machos acasalados e de machos não acasalados, encontrou-se diferenças significativas para a concentração espermática (maior para os machos não acasalados) e nos defeitos maiores (maior para os machos acasalados). Sugerindo então, que a concentração espermática mais baixa e maior percentual de anormalidades, não necessariamente implicam em infertilidade da espécie estudada. A vagina artificial, conforme Gould, Martin e Warner (1985) citados por Oliveira (2010), também é uma opção para realização da coleta de sêmen de algumas espécies de primatas não humanos como em: Gorilla gorilla (Gorila) e Pan troglodytes (Chimpanzé) de acordo com Young, Smithwick e Gould (1995) citados por Oliveira (2010). Sendo que, a vagina artificial e a masturbação são métodos de coleta seminal que conforme Valle (2002) citado por Oliveira (2010) eliminam a necessidade de contenção química, diminuindo as interferências na qualidade do ejaculado, porém requerem condicionamento do animal, uma vez que é necessário realizar o estímulo pelo animal (vagina artificial) ou permitir que ele o faça (masturbação). 44 Segundo Kuederling, Morrel e Nayudu (1996) em Valle (2002) e em Oliveira (2010), outra técnica que pode fornecer sêmen de boa qualidade é a lavagem vaginal, e esta já foi testada em Callithrix jacchus. A micropunção de cabeça e cauda de epidídimo trata-se de um método usualmente empregado em animais recém-mortos (post mortem). Estudos indicam que os espermatozoides devem ser recuperados imediatamente devido aos efeitos deletérios da degeneração do tecido. A degeneração tecidual pode, entretanto, ser retardada pelo resfriamento, e os espermatozoides da cauda do epidídimo são os mais resistentes às lesões oriundas de choque frio e também apresentam maior potencial de fertilidade (OLIVEIRA, 2010). Conforme Young et al. (1994) em Filho (2004), a técnica de coleta de sêmen através de micropunção de cabeça e cauda de epidídimo (em animais recém-mortos), já foi aplicada em Pan troglodytes (Chimpanzé ) e em Callithrix jacchus (Saguis), conforme Morrell et al. (1997) citado por Filho (2004). 3.3.2 Métodos de conservação do sêmen De acordo com Gould et al. (1978); Sankai et al (1994); Thomson et al (1992); Tollner et al (1990) e Valle (2002) em Valle (2003), um dos problemas que dificultam o desenvolvimento de técnicas para a reprodução assistida é a conservação do sêmen. Além disto, o sêmen da maioria dos PNM coagula durante ou logo após a ejaculação, prejudicando, ou até mesmo impedindo sua análise e criopreservação, além de dificultar a posterior utilização para fecundação. Desta forma, conforme Filho (1978) em Valle (2003), deve-se procurar diminuir a atividade dos espermatozoides, a fim de impedir que estes esgotem a reserva natural presente no sêmen e venham sofrer uma autointoxicação, consequente de seu trabalho metabólico. Esta redução de atividade se obtém, essencialmente, na prática da conservação pelo resfriamento do sêmen. Entretanto, neste processo, é importante que o choque térmico seja evitado, devendo o sêmen ser mantido nas temperaturas de conservação indicadas, após ser submetido ao resfriamento gradativo. 45 3.3.2.1 Criopreservação de sêmen O princípio dessa biotécnica, conforme England (1993) citado por Oliveira (2010), é congelar o espermatozoide diminuindo, reversivelmente, a sua atividade metabólica, permitindo o seu armazenamento por tempo indeterminado, o que possibilita o emprego desse sêmen congelado em programas de inseminação artificial. A criopreservação inclui inicialmente uma etapa de resfriamento, que consiste na redução progressiva da temperatura do sêmen diluído, baseado no princípio de que o frio é o agente mais eficaz na diminuição das atividades metabólicas dos espermatozoides, podendo ser conservado em estado líquido por várias horas com taxas de fertilidade aceitáveis, conforme observado por Mies Filho (1987) citado por Oliveira (2010). De acordo com Mckinnon (1996) em Oliveira (2010), quando os espermatozoides são armazenados a 5ºC, as necessidades metabólicas decrescem a aproximadamente 10% daquelas que teriam se estivessem à temperatura de 37ºC. A criopreservação de sêmen de alguns primatas não humanos tem sido descrita nas seguintes espécies de PVM: Cercopithecus aethiops; Erythrocebus patas; Macaca speciosa; Macaca mulata; Pan troglodytes, conforme Roussel e Austin (1967); Papio anubis, segundo Kraemer e Vera Cruz (1969); Macaca fascicularis, conforme Mahone e Dukelow (1978); Macaca fuscata, conforme Sankai et al. (1997); Gorilla gorila, segundo Lambert et al. (1991) e Macaca thibetana de acordo com Chen et al. (1994); e em espécies de PNM: Callithrix jacchus, segundo Morrell et al. (1997) e Saimiri sciureus, de acordo com Denis et al. (1976) citados por Oliveira (2010), assim como, todos os outros referenciados neste parágrafo. Contudo, Li et al. (2005) em Oliveira (2010), afirma que somente para cinco dessas espécies foi relatado sucesso após inseminação artificial com sêmen descongelado. 3.3.2.2 Diluentes para sêmen de primatas não humanos Segundo Rota (1998) em Oliveira (2010), a composição do diluente é de extrema importância e deve ser específica para cada espécie. Devendo ser constituído por determinadas substâncias para ser completo e eficiente, tais como: agentes 46 crioprotetores; substâncias tampão para assegurar o controle do pH (TRIS - Trishidroximetil-aminometano, TES - ácido NTrishidroximetil-metil-2- aminometanosulfônico); ringer lactato; água de coco; citrato ; fosfato de sódio; fonte de energia (frutose ou inusitol) e antibióticos. Sendo que, os diluentes utilizados na criopreservação de sêmen de primatas não humanos geralmente contêm gema de ovo, açúcares, glicerol ou DMSO (Dimetilsulfóxido) em proporções variadas, conforme Morrel e Hodges (1998) citados por Oliveira (2010). Porém, segundo Oliveira (2010) , diferentes diluidores, como glutamato de sódio ou TES-TRIS têm sido utilizados na criopreservação de sêmen de primatas não humanos, conforme dados do (ANEXO A). Dessa forma, os diluentes contendo TRIS e TES já foram utilizados na criopreservação do sêmen de espécies de PNM, como Callithrix jacchus, segundo Morrell et al. (1998) citado por Oliveira (2010), Ateles paniscus e Ateles marginatus, de acordo com Silva (2005) citado por Oliveira (2010). Com relação à espécie Sapajus apella, Araújo et al. (2009) em Oliveira (2010), demonstraram que a solução à base de água de coco in natura é eficiente na conservação da viabilidade espermática, mantendo aproximadamente 87% de espermatozoides vivos, em banho-maria a 37°C, por até 7 horas após a coleta do sêmen. Este diluente apresentou também vantagens em relação a outros diluidores contendo enzimas proteolíticas para dissolução do coágulo, como a tripsina e a hialuronidase, que além da queda da motilidade e do vigor espermático, podem causar danos à membrana espermática impedindo o sucesso da criopreservação, conforme Hernández-López et al. (2002); Paz et al. (2006) citados por Oliveira (2010). Na congelação de sêmen de primatas não humanos, diversos tipos de diluidores e seus efeitos crioprotetores têm sido testados na espécie Sapajus apella, com a finalidade de buscar melhor protocolo para a manutenção da viabilidade espermática. Entretanto, somente um trabalho relata a criopreservação de sêmen de S. apella utilizando água de coco in natura e TES - TRIS a 2,5% e 3,5 % de glicerol, respectivamente (OLIVEIRA et al., 2011). Porém, Leão (2011) e Leão et al (2011), avaliaram a criopreservação do sêmen de Sapajus apella em diluidor a base de água de coco em pó (ACP ®118) adicionado 47 de 3%, 5% e 7% de glicerol, com objetivo de recuperar a motilidade espermática de S. apella, após o descongelamento. Sendo assim, as coletas de sêmen em S. apella, foram realizadas por eletroejaculação com probe retal, após a contenção química dos animais. O sêmen obtido foi diluído na fração A do ACP ®118 (5,84 g de ACP ®118 e 50 ml de água ultrapura) e mantido em banho-maria a 37°C. Após a dissolução do coágulo, o mesmo, foi acrescentado à fração B do diluidor (80 ml da fração A, 20 ml de gema de ovo e 3%, 5% ou 7% de glicerol). Posteriormente o sêmen foi envasado em palhetas, resfriado em geladeira a 4°C por 90 minutos e posteriormente congelado (-196°C) em nitrogênio líquido. Após uma semana as palhetas foram descongeladas a 36°C por 30 segundos. Esclarecendo que, a motilidade, o vigor, o percentual de espermatozoides vivos foram analisados antes e após a criopreservação. O vigor e a motilidade foram avaliados de forma subjetiva, já o percentual de espermatozoides vivos foi avaliado por meio de coloração eosina-nigrosina. Desta forma, conforme os resultados obtidos (Tabela 1 e 2) os autores, afirmam que o diluidor ACP ®118, nas concentrações de glicerol adotadas é capaz de manter espermatozoides vivos com motilidade após a criopreservação do sêmen de S. apella, sem adição de ativadores espermáticos, como a cafeína. Que é descrita por Mahony et al. (1996) citados por Oliveira (2010), como um inibidor de fosfodiesterase capaz de aumentar e manter a respiração e a motilidade espermática. TABELA 1 - Resultados da avaliação do diluidor (ACP ®118) a 5% e 7% de glicerol - a base de água de coco em pó - sêmen (Sapajus apella) Resultados Espermatozoides vivos Antes da criopreservação * 80,8 ± 12 Motilidade 76,6 ± 12,9 Vigor 4 ± 0,8 * 5% de glicerol 7% de glicerol (após a (após a descongelação) descongelação) 61 ± 4,5 * 14 ± 8 * * 3,3 ± 0,5 * *valores em percentuais Fonte: LEÃO; GUIMARÃES;MIRANDA, 2011 57,3 ± 2 * 8,3 ± 5,7 * 3,3 ± 0,5 * 48 TABELA 2 - Resultados da avaliação do diluidor (ACP ®118) a 3% de glicerol - a base de água de coco em pó - sêmen (Sapajus apella) Resultados Antes da criopreservação 3% de glicerol (após a descongelação) Espermatozoides vivos 80,5 ± 12,1* 56,3 ± 16* Motilidade Vigor 80,5 ± 14,6* 4 ± 0,9* 38 ± 24* 3 ± 0,5* *valores em percentuais Fonte: LEÃO, 2011. De acordo com Valle (2003), a espécie Alouatta caraya, além de ser utilizada em pesquisas biomédicas, serve de modelo em estudos reprodutivos para que possa ser utilizada como referência para espécies ameaçadas de extinção. Sendo assim, estudos com o diluente TES e RINGER foram realizados em 5 machos da espécie Alouatta caraya mantidos em cativeiro. Foram colhidas 31 amostras de sêmen pela técnica de eletroejaculação por via retal, com o animal anestesiado e contido sobre um suporte de madeira (VALLE, 2003). Após pré-diluição em solução de Ringer Lactato (100 ml), conforme Valle (2002) citado por Valle (2003), com o intuito de evitar a coagulação, foram confeccionadas lâminas para as avaliações. Em todas as análises, foi utilizada uma gota de sêmen em lâmina pré-aquecida, sobre mesa térmica à 37ºC, sendo usada uma lamínula, também pré-aquecida, para recobrir a gota de sêmen. Segundo Valle (2003), foram realizadas análises iniciais (T0) de motilidade (MT) e movimentos progressivos (MP) em microscopia ótica com objetiva de 40x. Depois da diluição e análise inicial, as amostras colhidas foram divididas em duas porções, na primeira adicionou-se o diluente TES, e na segunda, conforme Mota (2002) citado por Valle (2003) utilizou-se diluente RINGER, na proporção de 1:1. As amostras permaneceram por 30 min. à temperatura ambiente (26oC) até que fossem levadas para o refrigerador. Entretanto, neste experimento, houve uma adaptação do teste de termo resistência (TTR) Resfriado aplicado para sêmen de equinos, alterando a temperatura de resfriamento de 5oC para 4oC, pois o aparelho refrigerador utilizado no laboratório de análises do local estabilizava-se nesta temperatura, e a avaliação, que foi realizada a cada 30 minutos ao invés de 60 minutos como no teste de sêmen 49 equino. Dessa forma, o TTR consistiu no seguinte protocolo: sujeição do sêmen sob resfriamento à 4oC, verificando-se a manutenção da MT e MP pós-colheita, a cada 30 minutos, nos dois diluidores por um período de 5 horas ou até que se extinguissem os movimentos. Os resultados foram uma diminuição da motilidade inicial, de 81% na análise inicial (T0) para 74% e 71% em T30 para TES e RINGER, respectivamente e de 74% em T0 para 65% e 63% nos movimentos progressivos também para TES e RINGER, respectivamente, essa diminuição pode ter ocorrido em função da diluição do sêmen nos dois crioprotetores. Na avaliação dos movimentos progressivos dos espermatozoides em cada uma das amostras, a manutenção da viabilidade espermática foi constatada pela média de 65% no TES e 63% no RINGER, após 30 minutos sob refrigeração à 4ºC e 36% no TES e 33% no RINGER, após 5 horas nas mesmas condições. Neste estudo, 33% dos espermatozoides apresentavam motilidade, que conforme o COLEGIO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL (2002) citado por Valle (2003) classificam a viabilidade considerando o sêmen apto ou não para sua posterior utilização. Baseados nos resultados Valle (2003) considerou que os diluentes TES e RINGER demonstraram eficácia comprovada na manutenção da viabilidade espermática no sêmen sob refrigeração à 4oC, na espécie Alouatta caraya, sendo que, o diluente RINGER, demonstrou ser uma alternativa eficaz e vantajosa, por se tratar de um diluente de menor custo. As avaliações entre TES e RINGER para os parâmetros motilidade e movimentos progressivos, demonstraram que a técnica é viável e permitirá que outros tipos de avaliações sejam realizadas. Da mesma forma, o protocolo de TTR aplicado foi satisfatório para avaliar a viabilidade espermática nas condições do estudo. Contudo, o autor sugere que para determinar a capacidade de movimentação espermática, apenas um dos parâmetros, MT ou MP possa ser utilizado em avaliações futuras. Porém, de acordo com Valle (2003) o seu estudo inicial demonstra a necessidade de se avançar nas análises da qualidade espermática e seus crioprotetores, pois, apesar dos dados obtidos revelarem a eficiência do protocolo testado, a inclusão de outros parâmetros de avaliação da viabilidade espermática do sêmen de primatas não humanos, como análise da integridade acrossomal, patologias espermáticas pré e após a diluição, são necessárias para o desenvolvimento de outras pesquisas em biotecnologias de reprodução assistida. 50 3.3.3 Fertilização in vitro Na fertilização in vitro (FIV), os espermatozoides são misturados em um meio de cultura com oócitos (que foram aspirados diretamente dos ovários das fêmeas, através de uma agulha guiada por fibra ótica ou ultrassom). A FIV tem sido relatada em diversos gêneros de primatas não humanos como: Cercopithecus, Macaca e Papio pertencentes ao grupo de PVM (FILHO, 2004). Da mesma forma nos PNM, a produção in vitro de embriões (PIVE) tem sido estudada em Callithrix jacchus por meio da FIV, conforme Grupen et al. (2007) citado por Domingues et al. (2011), e da ICSI (intracitoplasmatic sperm injection) em Callithrix jacchus, Saimiri sciureus, de acordo com Kuehl e Dukelow (1979) citado por Domingues et al. (2011). Lima (2011) em Domingues et al. (2011), recentemente descreveu a primeira FIV em Sapajus apella sendo esse, o primeiro relato de PIVE em uma espécie silvestre e em um PNM no Brasil. Vale ainda ressaltar que em Sapajus apella foi desenvolvido um protocolo de maturação oocitária in vitro (MIV), como alternativa ao emprego da estimulação hormonal ovariana (DOMINGUES et al., 2010). Segundo Loskutoff et al. (1991) em Filho (2004), através da FIV nascimentos de diversas espécies de primatas não humanos vem sendo registrados, incluindo o nascimento de um gorila das planícies ocidentais (Gorilla gorilla gorilla) conforme Pope et al. (1997) citados por Filho (2004). De acordo com Filho (2004), o Zoológico de Cincinnati localizado nos Estados Unidos da América, notificou o nascimento de um gorila da planície ocidental (Gorilla gorilla gorilla) após FIV e transferência de embrião de uma fêmea multípara de 21 anos que foi tratada com hormônio folículo estimulante humano (hFSH) e gonadotrofina coriônica humana (hCG). Dessa forma, após 35 horas do hCG, folículos foram aspirados por sucção controlada guiada por ultrassom transvaginal. Em 21 horas pós-FIV, finalmente, 8 óvulos estavam no estágio de duas células, sendo que, 5 foram criopreservados e 3 foram colocados em meio de cultura - até alcançarem o estágio de 6 a 8 células e antes de realizarem a transferência uterina trans-cervical, que ocorreu em 47 horas pós-FIV. O exame de ultrassom revelou um feto com 15 semanas pós- 51 transferência e o parto não assistido de um filhote (fêmea) de 1,37 kg ocorreu com 29 semanas. Este estudo sugere que a gonadotrofina menopausal humana (hMG) e o hCG são efetivas em estimular a atividade ovariana em gorilas não reprodutores e que os oócitos recuperados são capazes de serem fertilizados in vitro. 3.3.4 Transferência de embriões Na transferência de embriões (TE), óvulos fertilizados ou embriões precoces (geralmente no estágio de cerca de 8 células) são removidos do trato reprodutivo da fêmea doadora e transferidos para o trato de uma mãe “adotiva”, que é quem “carrega” os embriões ao termo e produzem os filhotes vivos. Os procedimentos de TE em espécies não domésticas, são frequentemente realizados em conjunto com protocolos de estimulação ovariana, permitindo assim, que grande quantidade de embriões seja coletada, tanto para o uso imediato, como para a realização do congelamento (FILHO, 2004). A TE apresenta muitas vantagens como técnica de reprodução, pois, aumenta o número de ninhadas por fêmea; previne a transmissão de doenças entre populações; promove a possibilidade de filhotes adquirirem imunidade passiva da mãe “adotiva” (via sangue da placenta ou através da amamentação); permite facilmente o transporte de embriões em tubos de ensaio e possibilita que embriões sejam congelados, para posteriormente serem transferidos para fêmeas receptoras (FILHO, 2004). A realização da coleta de embriões é geralmente aplicada no estágio de blastocisto expandido, é feita durante a primeira semana de desenvolvimento e pode ser feita tanto por técnicas cirúrgicas como não cirúrgicas. E geralmente, são criopreservados por congelamento lento ou por vitrificação. Sendo que, a sobrevivência de óvulos / embriões criopreservados difere, não somente entre os métodos de criopreservação, mas também da espécie envolvida, do estágio de maturação / desenvolvimento e até mesmo da qualidade do óvulo / embrião. Óvulos não fertilizados são mais sensíveis à criopreservação do que os embriões. Igualmente embriões formados in vitro são mais sensíveis à criopreservação do que os embriões fertilizados in vivo (FILHO, 2004). 52 3.3.5 Coleta e manipulação de oócitos e folículos antrais De acordo com Souza-Araújo (2012), a coleta e manipulação de oócitos para a produção de embriões in vitro é uma biotécnica que permite o implante do embrião produzido in vitro direto em fêmea receptora, após a punção folicular da fêmea doadora, seguida da fertilização in vitro. Possibilitando também, a criopreservação desse embrião por tempo indeterminado, contribuindo efetivamente no processo de manutenção da sobrevivência da espécie. As biópsias de tecido ovariano, punções foliculares, ovariectomias são técnicas descritas para a obtenção de oócitos provenientes de folículos ovarianos pré-antrais e antrais, sendo que, as duas primeiras técnicas citadas, podem ser conduzidas com o emprego de ultrassonografia, laparoscopia e laparotomia, não sendo necessária a remoção do ovário (DOMINGUES et al., 2007). Segundo Domingues et al.(2011), os oócitos provenientes de folículos antrais podem ser congelados ou utilizados imediatamente, em protocolos de maturação e fecundação in vitro. Em Sapajus apella, foi descrito o isolamento de folículos pré-antrais (FOPA) utilizando-se um tissue chopper. A partir desta técnica, foi possível obter 500.000 folículos pré-antrais com diâmetro variando de 11,6 a 27,8 μm. Estes folículos préantrais, se forem devidamente cultivados in vitro, podem disponibilizar uma grande quantidade de oócitos para estudos de maturação oocitária in vitro (MIV) e FIV, e conforme Domingues et al. (2003) citados por Domingues et al. (2011), evitando-se assim, o uso de técnicas invasivas como a laparotomia e laparoscopia (DOMINGUES et al., 2011). Nayudu et al. (2003) em Domingues et al. (2011), relataram pela primeira vez protocolos de cultivo de folículos pré-antrais em PNM, a partir de fragmentos de córtex ovariano e folículos isolados de Callithrix jacchus. Após o cultivo dos folículos pré-antrais, os que formaram antro in vitro foram puncionados, e os oócitos recuperados foram submetidos à maturação oocitária in vitro (MIV). Nos oócitos obtidos após o cultivo dos folículos pré-antrais isolados, ocorreu o rompimento da vesícula germinativa e extrusão do primeiro corpúsculo polar. 53 Os protocolos de MIV visam aumentar a quantidade de oócitos obtidos por punção folicular, sendo o método utilizado com mais frequência para as várias técnicas de produção in vitro de embriões de primatas não humanos (DOMINGUES et al., 2011). No entanto, os primatas não humanos submetidos a tratamentos utilizando a superovulação, conforme Gilchrist e Thompson (2007) citados por Domingues et al.(2011), podem não responder aos estímulos hormonais ou podem sofrer hiperestimulação, resultando na síndrome do ovário policístico (SOP) (DOMINGUES et al., 2011). 3.3.6 Estimulação hormonal Um dos principais fatores limitantes das biotécnicas aplicadas à reprodução é a obtenção de oócitos viáveis. Dentro deste contexto, estudos com fêmeas de Saimiri sciureus têm sido desenvolvidos envolvendo indução da ovulação e estimulação hormonal ovariana. A estimulação ovariana em S. sciureus é obtida por diversos protocolos de estimulação hormonal. De modo geral, os trabalhos baseiam-se no prétratamento com progesterona, seguido pela associação de hormônio folículo estimulante e gonadotrofina coriônica humana (FSH-hCG). Outros protocolos utilizam somente o hCG ou hFSH (DOMINGUES, 2006). Para maiores esclarecimentos Pierce et al. (1993) em Domingues (2006), testaram os seguintes protocolos: a) controle: FSH (1mg) por quatro dias consecutivos, e uma única dose de hCG (250 UI); b) citrato de clomifeno (2mg, 4mg e 6mg) associado com hCG (250 UI); c) FSH, prostaglandina E1 (2 mg) e hCG (250 UI); d) somente prostaglandina E1 (2 mg). Entretanto, o grupo controle apresentou os melhores resultados em relação à média de folículos antrais pequenos, médios e grandes por animal, que foram de 8,3; 3,6 e 1,1; respectivamente. Já a associação citrato de clomifeno (6mg) e hCG (250 UI) apresentou resultados similares aos do grupo-controle, em relação à média de folículos antrais por animal. Portanto, independente do protocolo de estimulação ovariana utilizado, alguns aspectos da fisiologia de S. sciureus devem ser levados em consideração, como a curta duração do ciclo estral, a sazonalidade e a alta concentração plasmática de esteroides quando comparada com outras espécies. 54 Assim como vários protocolos de estimulação hormonal ovariana têm sido descritos em S. sciureus, a aspiração folicular por laparoscopia ou laparotomia também foram descritas e o número de oócitos obtidos por animal variou de dois a seis. Com os oócitos obtidos de S. sciureus, após a estimulação hormonal e punção folicular, estudos visando à fertilização in vitro (FIV) têm sido realizados. Ressalta-se que S. sciureus foi à primeira espécie de PNM na qual a inseminação artificial (IA) foi empregada, conforme Bennett (1967) citado por Domingues (2006). 3.3.7 Métodos não invasivos de monitoramento hormonal Pesquisas aplicadas à reprodução de PNM na atualidade incluem a utilização de métodos não invasivos de monitoramento hormonal, baseado na investigação de metabólitos de hormônios esteroides, liberados pela urina e fezes (SOUZA-ARAÚJO, 2012). A dosagem não invasiva de metabólitos de hormônios esteroides permitiu o estudo da endocrinologia reprodutiva e o conhecimento das diferenças em várias espécies de primatas não humanos (KUGELMEIER, 2005). Entre os PVM encontramse Gorilla gorilla, conforme Myiamoto et al. (2001); Pan paniscus (Bonobo), segundo Heistermann et al. (2001) e Papio cynocephalus de acordo com Heistermann (1996), sendo que, todos os autores referenciados anteriormente também foram citados por Kugelmeier (2005). Já, entre as espécies de PNM foram estudadas Ateles sp., conforme Campbell et al. (2001); Brachyteles spp., segundo Strier, Ziegler e Wittwer (1999); Callicebus moloch, de acordo com Valeggia et al. (1999); Callimico goeldi, conforme Pryce, Schwarzenberger e Dobeli (1994); Callithrix spp. e Saguinus sp., de acordo com Lottker et al. (2004); Cebus sp. e Sapajus sp., segundo Carosi, Heistermann e Visalbergui (1999); Leontopithecus spp., conforme Chaoui e HaslerGallusser (1999); Pithecia pithecia, segundo Savage et al. (1995); e Saimiri sciureus, de acordo com Moorman et al. (2002), sendo que todos os autores que constam neste parágrafo são citados por Kugelmeier (2005). Em Alouatta caraya, Moreland et al. (2001) citado por Kugelmeier (2005), estudaram a fisiologia reprodutiva de machos através da colheita e análise do sêmen e dosagem de testosterona fecal. Os autores verificaram que as características do sêmen foram similares entre machos de diferentes idades e os níveis de testosterona nas fezes foram constantes ao longo do ano. 55 Um dos protocolos utilizados para extração de hormônios encontrado na literatura foi descrito por Kugelmeier (2005), na espécie Alouatta caraya, onde uma alíquota de 0,5g de fezes úmidas foram adicionadas 5,0 ml de solução metanol a 70% (metanol : água destilada). Posteriormente a solução foi misturada em aparelho vortex (homogeneizador de sangue) durante 30 segundos ou até que as fezes estivessem totalmente partidas. Em seguida foram homogeneizadas em misturador mecânico por um período de 12 horas. A mistura foi então centrifugada a 2500 r.p.m. (rotações por minuto) durante 15 minutos. O sobrenadante foi transferido para micro tubos de polipropileno e armazenado em freezer a (– 20oC), até a realização das dosagens. Segundo Kugelmeier (2005), os metabólitos fecais de estrógenos e progestinas foram dosados pela técnica de radioimunoensaio (RIE) em fase sólida, por meio de conjunto diagnóstico comercial, desenvolvido para dosagem de estradiol e progesterona no soro humano. Pryce et al. (1994) em Kugelmeier (2005), descreve que o período de elevação das concentrações de metabólitos fecais de estrógenos foi, em média, um dia maior do que o período de elevação das progestinas fecais. O pico de estrógenos fecais ocorreu no meio da elevação das concentrações de metabólitos fecais de progestinas, entre dois e nove dias após o inicio da elevação. Em Callimico goeldi as concentrações de estrona fecal atingiram valores de pico apenas três a cinco dias após o suposto momento da ovulação. Ziegler et al. (1996) em Kugelmeier (2005), encontraram maiores níveis de estradiol do que o hormônio estrona nas fezes de Saguinus sp. e Callithrix jacchus. Adicionalmente, os autores observaram que a maioria do estradiol fecal é encontrada na forma de di – ou tri-conjugados derivados de estrona. Entre as espécies de PNM estudas por meio de dosagem não invasiva de hormônios esteroides sexuais onde este padrão foi descrito encontram-se Ateles sp., conforme Campbell et al. (2001); Brachyteles spp., segundo Ziegler (1997); Pithecia pithecia, de acordo com Shideler et al., (1994); Callimico goeldi, conforme Pryce, Schwarzenberger e Dobeli (1994); Callithrix spp., Saguinus fuscicolis, segundo Ziegler et al.(1989), esclarecendo que todos os autores referenciados no paragráfo acima foram citados por Kugelmeier (2005). 56 3.3.8 Clonagem Da mesma forma como ocorre nos outros mamíferos, a produção de primatas não humanos clonados ainda continua bastante limitada, sendo observada uma elevada taxa de mortalidade embrionária e fetal, conforme Mitalipov et al.(2001) citados por Domingues et al.(2011). Segundo Zhou et al. (2006) em Domingues et al.(2011), para garantir a eficiência da transferência nuclear nos primatas não humanos, é necessário compreender mais detalhadamente as funções nucleares e citoplasmáticas das células utilizadas neste processo em cada espécie. 3.3.9 Conservação das espécies e controle populacional em primatas não humanos O aquecimento global, a destruição ou fragmentação de habitats, a introdução de espécies exóticas nos ecossistemas, a caça ilegal ou outras pressões antrópicas têm causado a extinção de muitas espécies animais. Número expressivo de espécies, (26) estão ameaçadas nacionalmente (ANEXO B), o que representa quase um terço (26,5%) das espécies com ocorrência no Brasil. As espécies de todos os PNM são listados na Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora (CITES) como vulneráveis à extinção (BRASÍLIA, 2008; DOMINGUES et al., 2011). Para a sobrevivência e perpetuação de uma espécie, é necessário que se mantenham populações mínimas viáveis, sendo muitas vezes necessárias medidas de proteção de seus habitats naturais (in situ), manejo das populações na natureza ou em cativeiro, para que seja proporcionada a garantia mínima de variabilidade genética, demográfica e ecológica. A conservação in situ consiste em uma das mais eficazes estratégias de conservação, no entanto, dependendo da quantidade de áreas naturais disponíveis para determinada espécie, a conservação in situ pode se tornar inviável, em curto prazo. Por isso, atualmente, é de suma importância lançar mão de biotécnicas de reprodução como estratégia complementar às ações de conservação in situ, uma vez que essas podem auxiliar na recuperação e preservação do potencial genético de animais, mesmo após a sua morte (DOMINGUES et al., 2011). 57 Atualmente, existem diversas formas de se realizar o resgate de gametas em animais convalescentes ou post-mortem (DOMINGUES et al., 2011). Uma dessas formas, já descrita em tópicos anteriores, é utilizando a técnica de coleta de sêmen através da micropunção de espermatozoides de cabeça e cauda de epidídimo. Segundo Domingues et al. (2011) os oócitos provenientes de folículos antrais podem ser congelados ou utilizados imediatamente em protocolos de maturação e fecundação in vitro. Lembrando que esses gametas são arsenal valioso na formação de bancos de germoplasma e na a produção in vitro de embriões, contribuindo, assim, para a preservação ex situ (fora do ambiente natural – criatórios ou zoológicos) de patrimônio genético essencial para a manutenção das espécies. Iniciativas governamentais importantes, seja nas esferas estaduais ou em âmbito nacional, têm produzido resultados relevantes, especialmente com a criação de novas Unidades de Conservação (UC’s) e a implantação de outras que de fato abrigam importantes populações de primatas ameaçados de extinção. Essa iniciativa governamental, seguida de perto por iniciativas do poder privado (como a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPN’s), tem garantido a salvaguarda de populações significativas de espécies Criticamente em Perigo, como é o caso do muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus). Outras espécies ameaçadas, como os micos-leões (Leontopithecus caissara, Leontopithecus chrysopygus e Leontopithecus rosalia), têm recebido apoio fundamental de organizações não governamentais (BRASÍLIA, 2008). Além disso, vários estudos sobre distribuição geográfica, hábitos alimentares e outros estudos ecológicos de longa duração realizados com as espécies mais ameaçadas têm proporcionado grande avanço no conhecimento biológico de cada uma, o que permite a aplicação de ações conservacionistas mais precisas e eficazes, como a translocação de animais de uma área para outra, a criação em cativeiro para reprodução e reintrodução futura, entre outras ações importantes. Trabalhos constantes de educação ambiental nas regiões de ocorrência desses primatas e projetos de geração de renda para as populações carentes, de um modo geral, minimizam os impactos à fauna e flora locais, viabilizando a permanência dessas populações em longo prazo (BRASÍLIA, 2008). Entretanto, por outro lado, em algumas situações para se evitar a endogamia e hibridação, é necessário recorrer a diferentes estratégias de gestão aplicadas em 58 zoológicos - geralmente empregadas para o controle de populações animais. Como, por exemplo, a intervenção cirúrgica que será adequada se a esterilização permanente for desejável, podendo ser realizada através da castração, vasectomia ou ovariohisterectomia, dependendo da espécie e da dinâmica do grupo (GOODMAN, 2002; TEIXEIRA, 2003). A vasectomia foi descrita em machos de Sapajus apella, por Teixeira (2003) sendo realizada com um corte único na linha alba, com acesso ao cordão espermático direito e esquerdo, o ducto deferente foi isolado (após pequena incisão na túnica vaginal), ligado com fio de algodão 2.0 e posteriormente foi seccionado. Sugerindo que, o período de 105 dias após a cirurgia de vasectomia, é suficiente para determinar a condição estéril, dentro dos parâmetros propostos, para todos os exemplares de S. apella estudados. Sendo que, tal resultado também serve de parâmetro para o manejo reprodutivo da espécie estudada, orientando sobre o tempo necessário, após a realização da vasectomia, para se permitir o contato dos machos com as fêmeas férteis. Considerando ainda que são necessários três resultados negativos para células espermáticas consecutivos para assumir que o animal esteja “esterilizado”. Os dispositivos intra-uterinos (DIU), e contraceptivos têm sido testados em alguns grupos. Os contraceptivos têm suas vantagens, pois, são reversíveis e não invasivos, porém tem duração limitada e podem causar efeitos colaterais indesejáveis. As pílulas anticoncepcionais costumam ser eficazes, mas não são confiáveis, pois os primatas não humanos nem sempre aceitam engolir os comprimidos; já os implantes de hormônio sub-dérmico (contendo levonorgestrel), que em seres humanos tem a duração de até cinco anos, em primatas não humanos tem duração menor e não há informações se podem ser usados em pequenos primatas, como, por exemplo, nos calitriquídeos (GOODMAN, 2002). Segundo Goodman (2002), três fêmeas de Chimpanzés - Pan troglodytes, do Zoológico de Edimburgo localizado no Reino Unido, receberam implantes subdérmico Implanon®, após serem anestesiadas com uma combinação medetomidina e cetamina, administrada por dardo. Os implantes sub-dérmico Implanon® são constituídos por uma haste contendo 68 mg de etonogestrel (3ª geração progestágeno). Sendo o núcleo constituído por copolímero de etileno-acetato de vinilo (46 mg) e a pele de copolímero de acetato de vinilo etileno 15mg. O implante foi colocado de acordo com as instruções do fabricante: devendo este ser inserido no interior do braço 59 superior 6-8cm acima da prega do cotovelo no sulco entre os bíceps e os tríceps. O local de inserção foi devidamente desinfetado e cortado e, posteriormente, injetado 2 ml de lidocaína (1%) sob a pele ao longo do local da inserção do implante. Sendo a mesma esticada, com o polegar e o dedo indicador em relação ao local de inserção. A agulha foi introduzida sob a pele e a agulha foi inserida em toda a sua extensão. Uma vez que o implante foi colocado e o aplicador removido, uma gota de cola de tecido deve ser colocada no local de inserção. Dessa forma, os resultados obtidos por Goodman (2002) foram: 1) Chimpanzé I: Relatado último ciclo novamente em junho de 2000, após 3 anos de parida. A contracepção oral foi iniciada em julho com Loestrin 20A (20micrograms etinilestradiol e acetato de noretisterona 1mg). No dia 22 de outubro, ela recebeu a pílula final e no dia 25 de outubro de 2000, o Implanon® através de anestesia geral. Não sendo observados inchaços da genitália desde então; 2) Chimpanzé II: Os últimos ciclos menstruais foram relatados em abril de 2000. Sendo que, no mesmo mês, iniciou o uso do contraceptivo oral (Loestrin 20). No dia 28 de junho de 2000, o implante Implanon® foi colocado (após 7 dias do uso de anticoncepcional oral), recebeu anestesia geral. Não sendo observados inchaços da genitália desde então; 3) Chimpanzé III: Inchaço da genitália foi anotado no dia 23 de fevereiro de 2001. No dia 14 de março, um implante Implanon® foi colocado em seu braço. Ficou sob efeito de anestesia geral. O peso foi estimado em 35 kg. Não sendo observados inchaços da genitália desde então. Esclarecendo que, de acordo com instruções do fabricante o implante deve ser inserido preferencialmente no dia seguinte da ingestão do último comprimido de anticoncepcional oral. E os animais devem ser considerados férteis durante pelo menos 2 semanas após a colocação do implante no caso da presença de folículos no início do tratamento. Tais resultados mostram que métodos contraceptivos similares ao Implanon®, podem ser usados e foram positivos para as espécies de PVM, porém, mais estudos voltados para os PNM são necessários, inclusive por que o Brasil abriga a maior parte de espécies pertencentes a este grupo de primatas não humanos. 60 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A revisão da literatura sobre aspectos da reprodução de primatas não humanos apresentados neste trabalho, possibilitou esclarecer alguns dos questionamentos a respeito das variações que ocorrem nas espécies de primatas não humanos pertencentes, à ordem Primates, sobre sua morfologia, comportamento, aspectos endócrino-reprodutivos, assim como, verificar a ocorrência de diferentes ciclos reprodutivos e diversos sistemas de acasalamento. Estas informações permitiram compreender melhor quando e como são aplicadas as biotecnologias da reprodução assistida, na espécie tratada, e quais dessas biotecnologias tem potencial para serem empregadas em espécies de PVM ou de PNM. Grande parte dos estudos realizados com primatas não humanos estão voltados para pesquisas biomédicas ligadas à área humana, auxiliando como modelo experimental em estudos que envolvem fisiologia humana e comportamento humano, porém, tais pesquisas têm ênfase maior em aspectos reprodutivos (técnicas reprodutivas, ciclo ovariano, citologia vaginal, ciclo menstrual e hormônios sexuais), já que, os primatas não humanos possuem similaridades anatômicas, fisiológicas, endócrinas e comportamentais em relação aos humanos. Devido ao crescente número de espécies de primatas não humanos ameaçados de extinção no mundo, muitos estudos utilizando as espécies como modelos reprodutivos começaram a ser vistos como estratégias de conservação, manutenção, sobrevivência e perpetuação das espécies. Entretanto, a maioria dos estudos, mesmo os voltados para conservação de espécies, continuam sendo aplicados e desenvolvidos apenas em unidades de pesquisa como, por exemplo, em centros de primatas. Portanto, considera-se ainda que poucas pesquisas têm sido desenvolvidas e praticamente nenhuma biotecnologia da reprodução assistida vem sendo aplicada em primatas não humanos nos criatórios particulares, ou públicos (zoológicos e/ou centros de conservação) e, quando os mesmos realizam algum tipo de monitoramento hormonal ou de ciclo reprodutivo, na maioria das vezes, os objetivos não são a reprodução em si, mas sim o controle populacional, que é realizado muitas vezes através do manejo separando machos e fêmeas - ou através de métodos contraceptivos, sendo o último necessário em alguns casos, para evitar a endogamia e garantir mínima variabilidade genética dentro da espécie, ou ainda, para diminuir comportamentos agressivos - 61 brigas dentro dos recintos - visando assim, o bem-estar animal. Contudo, compreende-se que o uso de biotecnologias da reprodução assistida em primatas não humanos ainda é muito recente, necessitando que novas pesquisas sejam desenvolvidas. Entretanto, muitas das biotecnologias da reprodução assistida já foram testadas em primatas não humanos - principalmente em Sapajus apella, Saimiri sciureus e Alouatta spp. – sendo essas as mais estudas e que também podem ser utilizadas como modelo em estudos reprodutivos visando à conservação de espécies ameaçadas de extinção. Sendo assim, entendemos que o uso de biotecnologias da reprodução assistida apresenta muitas vantagens, pois, de forma geral aumenta o desempenho reprodutivo das espécies em cativeiro; proporciona maior número de gestações positivas; proporciona maior variabilidade genética; pode auxiliar na diminuição de intervalo entre partos, nas espécies que ciclam mesmo durante o pósparto e/ou durante a lactação; auxilia na prevenção de doenças entre populações, inclusive prevenindo a endogamia e hibridação. 62 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBOT, D.H; HEARN, J.P.. Physical, hormonal and behavioral aspects of sexual development in the marmoset monkey, Callithrix jacchus. J. 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São Paulo. 2003. p.7. 67 ANEXO A – Diluidores utilizados na criopreservação de primatas não humanos. Fonte: OLIVEIRA, 2010. 68 ANEXO B - Lista das espécies de primatas ameaçadas de extinção no Brasil e respectivas categorias de ameaça - Ministério do Meio Ambiente. Instrução Normativa nº3, de 27 de maio de 2003. CR: (Criticamente em Perigo); EN (Em Perigo); VU (Vulnerável). Fonte: Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção – Mamíferos - MMA, 2008.