XXX TEMPO ORDINÁRIO – 24 outubro 2010 O COBRADOR DE
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XXX TEMPO ORDINÁRIO – 24 outubro 2010 O COBRADOR DE
XXX TEMPO ORDINÁRIO – 24 outubro 2010 O COBRADOR DE IMPOSTOS VOLTOU PARA CASA JUSTIFICADO, O FARISEU NÃO - Comentário de Pe. Alberto Maggi (OSM) ao Evangelho Lc 18,9-14 Para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola: "Dois homens subiram ao Templo para rezar; um era fariseu, o outro era cobrador de impostos. O fariseu, de pé, rezava assim no seu íntimo: 'Ó Deus, eu te agradeço, porque não sou como os outros homens, que são ladrões, desonestos, adúlteros, nem como esse cobrador de impostos. Eu faço jejum duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda'. O cobrador de impostos ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu, mas batia no peito, dizendo: 'Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!' Eu declaro a vocês: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva, será humilhado, e quem se humilha, será elevado." Deus não olha os méritos das pessoas, e sim as suas necessidades. O Senhor não é atraído pelas virtudes de poucos, mas pelas necessidades de muitos. É este o significado da parábola, sem dúvida, a mais enigmática que encontramos no Evangelho de Lucas, capítulo 18, versículos 914. Vamos ver. “Jeus contou esta parábola para alguns...” - vamos ver quem são os destinatários desta parábola - “... que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros”. Estes que acreditam de ser justos e, de acordo com suas virtudes e com sua santidade de vida, se arrogam o direito de desprezar os outros, neste evangelho, são os fariseus. Portanto o argumento de Jesus, a sentença final de Jesus e o ensinamento de Jesus são dirigidos aos fariseus. De fato, o evangelista escreve: "Dois homens subiram ao Templo para rezar; um era fariseu, o outro era cobrador de impostos”. A palavra fariseu, já o sabemos, significa ‘separado’. Separado do que? Separado do povo. O fariseu era quem conseguia por em prática, na vida cotidiana, todos os 613 preceitos que resumiam a lei de Moisés. Além disso, ficava meticulosamente atento para não transgredir nenhuma das 1.521 proibições de trabalhos que não podiam ser executados em dia de sábado e, sobretudo, o fariseu tinha uma atenção maniacal a respeito do que era puro e do que era impuro. Este era o fariseu: um profissional do sagrado e da religião: cumpridor perfeito da lei. Portanto Jesus nos apresenta os dois opostos no que diz respeito da lei: o extremo cumpridor e o que, 1 pelo contrário, ignora a lei ou não se importa. Um era fariseu, então, e outro cobrador de impostos. “Cobrador de imposto” – traduzido também com “publicano”. “Publicano” explica até melhor, por que vem de “público” que significa “coisa pública”. Trata-se dos que cobravam os impostos, dos que ganhavam a empreitada para a receita das taxas do imposto e depois podiam cobrar e aumentar como queriam. Eram eles ladrões profissionais, trapaceiros e criminosos e assim eram tão impuros que, mesmo se quisessem um dia se converter, não podiam se salvar. Por quê? Eles nunca poderiam devolver o que tinham roubado a inúmeras pessoas que tinham enganado. Portanto aqui o evangelista nos apresenta a pessoa que já tem no bolso a completa santidade (o fariseu) e o outro (o publicano) que, mesmo se um amanhã quisesse se converter, não podia porque vivia numa condição de vida da qual não tem saída ”O fariseu, de pé...” - a oração nesta atitude serve para dar o exemplo, para se mostrar “rezava assim no seu íntimo”. O evangelista escreve literalmente ‘olhando a si mesmo’. A tradução é “no seu íntimo”, mas em grego é ‘em direção a si mesmo’. Na realidade ele não ora ao Senhor, mas sim está satisfeito consigo mesmo. Seu louvor não é dirigido a Deus, mas sim é um elogio dirigido a si próprio. É um monólogo gostoso e satisfeito sobre suas próprias virtudes, seus próprios méritos e sua santidade. Como já foi dito no início, a trave: esta santidade, esta certeza de ser justo, o impede de ver a realidade e por isso despreza os outros “O fariseu, de pé, rezava assim no seu íntimo (em direção a si mesmo): 'Ó Deus, eu te agradeço, por que...” - eis a certeza da santidade que conduz ao desprezo pelos outros “...não sou como os outros homens”. Portanto o fariseu se separa (se diferencia) do resto do povo todo. Os outros são “ladrões, desonestos, adúlteros”. Na realidade Jesus é muito irônico. De fato o próprio Jesus tinha acusado os fariseus de serem ladrões. De fora parecem perfeitos santos, mas por dentro “são cheios de roubos e cobiça” (Mt 23,25). Eles são os justos! E, no que diz respeito ao adultério... O adultério é uma imagem com a qual os profetas se referiam à idolatria. Pois bem o fariseu é um idólatra, por que o seu louvor não é dirigido a Deus, mas ele mesmo faz de si um ídolo com o qual comprazer-se e ao qual recorrer. E depois eis como ele joga um olhar de nojo para o outro personagem. “... Nem como esse cobrador de impostos”. E quais são os méritos que enumera este fariseu? “Eu faço jejum duas vezes por semana”. O jejum, por si só, era exigido uma vez por ano, o dia da expiação, e mais quatro vezes na memória das tragédias que se abateram sobre o povo de Israel. Mas os fariseus sempre quiseram fazer muito mais do que era estabelecido, muito mais do que todos os outros cumpriam. Então “duas vezes por semana”. Exatamente quinta e segunda2 feira, em memória da subida e da descida de Moisés do Monte Sinai, “dou o dízimo” – não só sobre o que estabelecido, mas “de toda a minha renda”. Portanto se vangloria em fazer coisas sobre as quais, depois, S. Paulo, que também foi um fariseu, irá afirmar: “Não servem para nada, são coisas inúteis”. Na carta aos Colossenses, capítulo 2, versículo 23, S. Paulo faz esta declaração: “Tais regras de piedade, humildade e severidade com o corpo têm ares de sabedoria, mas na verdade não têm nenhum valor, a não ser a satisfação da carne”, ou seja: para satisfazer a si mesmo. São coisas inúteis. Mas já antigamente, por meio dos profetas, como o profeta Oseías, o Senhor manifestou que não quer sacrifícios, e sim misericórdia (Os 6,6). Portanto todas estas coisas são coisas que o Senhor não exigiu. O cobrador de impostos, o pecador que vive em um estado irremediável de pecado, fora da lei: “ficou à distância”, ‘à distância’ é um termo técnico, segundo o evangelista, para indicar os pagãos, ou seja, os que são mesmo excluídos pelo Senhor, “e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu”, - céu é imagem de Deus- “mas batia no peito”. Sinal de profunda dor, verdadeiro arrependimento; porém por uma situação tal da qual, mesmo se quisesse, não podia mais sair. “Dizendo: 'Meu Deus, tem piedade de mim” e aqui o verbo usado não é tanto “tem piedade de mim” e sim “seja indulgente”, quer dizer seja misericordioso para comigo “que sou pecador”. Aqui o pecador, o cobrador de impostos revela ter uma magnífica fé. Ele sabe que o amor de Deus é tão grande que até mesmo a ele, pecador, o demonstrará. Sabe que a amor de Deus não pára em frente a nada. O amor de Deus é incondicional. Pois bem o evangelista nos apresenta dois personagens que são, os dois, fechados a Deus e longe Dele. Porém apenas um, o cobrador de impostos, é consciente disso. O fariseu é fechado a Deus por que ele vê apenas a si mesmo e só louva a si mesmo, o cobrador de impostos é fechado a Deus por que vive uma vida de pecado, de engano e de fraude, porém só o cobrador de impostos está consciente da sua situação. E eis a sentença inesperada! Por isso falávamos que esta é a parábola, sem dúvida, a mais enigmática deste Evangelho de Lucas: “Eu declaro a vocês: este último” - o cobrador de impostos – “voltou para casa justificado” – isto é perdoado, em boas relações com o Senhor, “o outro não”. “Pois quem se eleva, será humilhado, e quem se humilha, será elevado." Este é o final descorcentante desta parábola. Quais culpas têm o fariseu para não merecer a justificação, quer dizer o perdão, estar em sintonia com Deus e quais os méritos têm o cobrador de impostos para obter o amor e o perdão de Deus? Nada de tudo isso, mas o Deus de Jesus - como falamos inicialmente - não olha os méritos das pessoas, e sim as suas necessidades, não as virtudes e sim a precisão. 3