Miola 2012 - artigo ABCP EM ARIAL
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Miola 2012 - artigo ABCP EM ARIAL
8º Encontro da ABCP 01 a 04/08/2012, Gramado, RS Área Temática 01: Comunicação Política e Opinião Pública Em pauta, a Empresa Brasil de Comunicação: Deliberação mediada sobre a regulação da radiodifusão pública Edna Miola PPGCOM-UFMG Em pauta, a Empresa Brasil de Comunicação: Deliberação mediada sobre a regulação da radiodifusão pública Edna Miola1 Resumo: O jornalismo desempenha papel de reconhecida importância nas democracias contemporâneas, especialmente por sua prerrogativa de agendar as questões que merecem a atenção do público e também do campo político. Nesse processo, as instituições jornalísticas estão longe de se manterem alheias aos interesses em jogo, apresentando-se, assim, como atores importantes nas dinâmicas de formação da opinião pública e da decisão política. Dito isso, este artigo investiga a deliberação mediada em torno da criação da Empresa Brasil de Comunicação a partir da análise da cobertura nacional realizada por dois jornais diários e duas revistas semanais (Folha de S. Paulo, O Globo, Carta Capital e Veja) durante a tramitação do projeto no Congresso (out. de 2007 a abr. de 2008). No trabalho são analisadas as características do contexto mediático assim como a articulação do debate público a partir dos argumentos que alcançaram a esfera de visibilidade pública. Palavras-chave: Deliberação mediada; Jornalismo; Radiodifusão pública; Empresa Brasil de Comunicação 1 Introdução Em 2006, uma articulação entre o Governo, especialmente o Ministério da Cultura, e grupos relacionados às emissoras educativas, universitárias, comunitárias, legislativas, além de certos movimentos sociais e associações de classe, possibilitou um fórum de debate onde uma porta para a discussão das políticas de radiodifusão foi aberta: o I Fórum Nacional de TVs Públicas. Nos meses seguintes a intenção de se propor algo novo na área de TV pública parecia estar em desenvolvimento dentro do Governo Federal. Com o passar dos meses, e algumas controvérsias pelo caminho, surgiu a Empresa Brasil de Comunicação – que não tinha o desenho institucional que imaginaram os participantes do Fórum e tampouco percorreu caminho tradicional de proposição de um projeto de lei ao Congresso. A discussão sobre a criação da Empresa Brasil de Comunicação foi apressada pelo caráter de urgência da medida provisória e não proporcionou espaços de participação da sociedade, tais como audiências e consultas públicas. Nem mesmo as comissões parlamentares discutiram o projeto, pois ele seguiu para a votação em plenário em um prazo muito curto de tempo. 1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais. Integrante do Grupo de Pesquisa em Mídia e Esfera Pública. Bolsista CAPES. É claro que isso não quer dizer que a radiodifusão pública, como de resto, a comunicação de massa, não fosse objeto de outros projetos apresentados desde a Constituição de 1988. A questão é que dificilmente projetos nessa área entram na pauta de discussões, pois apenas os líderes parlamentares ou o próprio governo são capazes de lhes dar prioridade. E essa foi a justificativa apresentada pelo Governo para burlar a regulamentação das medidas provisórias, que abrangem temas de urgência ou relevância, e lançar a EBC. Parlamentares de esquerda, mesmo discordando de alguns pontos, admitiram que, de outro modo, um projeto dessa natureza levaria muitos anos para chegar à pauta do Congresso, se é que um dia seria debatido. Os argumentos levantados pelos opositores do Governo apresentavam, porém, outra explicação plausível para a urgência atribuída ao projeto: dada a situação de alegada animosidade entre os grandes veículos de comunicação e o Governo, uma TV de abrangência nacional controlada pelo Presidente da República só poderia representar mais um exemplo de autoritarismo dos governantes brasileiros. A profusão de discursos tornados disponíveis nos media noticiosos, na internet, no plenário do Congresso, entre outras oportunidades, a tratar da criação da EBC – a seu favor ou criticando-a – proporcionou uma tematização da radiodifusão pública brasileira como raramente se viu. Considerando essas características, acredita-se que o caso da criação da EBC constitui um exemplo de questão de interesse público que passou por um processo característico do sistema deliberativo: a partir dos fluxos comunicativos entre diversas esferas, especialmente dos inputs da esfera civil, uma política pública foi gestada no seio das instituições políticas. Parte do sistema deliberativo, os media desempenham papel fundamental ao tornar visíveis as questões e os atores, além de participar da formulação das demandas. Esse papel democrático atribuído, especialmente, ao campo do jornalismo é amplamente reconhecido. A literatura sobre a comunicação política reconhece também que o tratamento dos noticiários varia de acordo com os temas em tela – o posicionamento dos media frente a questões controversas depende diretamente do tema abordado: sejam os direitos infantis, a criminalização do aborto, a liberalização do consumo de drogas, seja a reforma agrária ou a democratização da comunicação. No sistema democrático, as instituições jornalísticas estão longe de se manterem alheias aos interesses em jogo, apresentando-se, assim, como atores importantes nas dinâmicas de formação da opinião pública e da decisão política. Essa consideração instiga o problema abordado neste artigo. Considerando que as empresas de comunicação acabam por desempenhar esse dúbio papel de representar informalmente o interesse público (ou assim afirmar) ao mesmo tempo em que perseguem a manutenção econômica de seu negócio, como age o campo do jornalismo quando a formulação de uma política pública pode gerar impactos sobre sua própria atividade? Para responder esse questionamento, o trabalho se orienta por uma perspectiva democrática deliberacionista, como já indicado acima. Na primeira parte, é relatada brevemente a criação da Empresa Brasil de Comunicação e suas características mais controversas. A seguir, discute-se, a partir dos valores ligados à teoria deliberativa, as características do debate público mediado pela imprensa nacional a respeito dessa política de radiodifusão pública. 2 Políticas públicas de comunicação e a criação da EBC A avaliação do panorama regulatório nacional do campo da comunicação apresenta uma séria tendência ao anacronismo e à incongruência. Em primeiro lugar, anacrônico em razão do atraso entre a implementação e utilização de dispositivos tecnológicos midiáticos e sua respectiva regulação. As origens da incongruência característica do sistema legal brasileiro também se encontram nas primeiras décadas do século XX, quando a tentativa de se conciliar um Estado autoritário com uma economia capitalista resultou em decisões que privilegiaram os interesses privados de agentes dos campos econômico e político. É frequente na literatura a constatação de que os movimentos para a ordenação jurídica do setor de radiodifusão foram motivados pelo autoritarismo dos governos brasileiros de então – primeiro com Vargas, depois, com os governos militares, e até a atualidade – ou pelo privilégio da exploração comercial da radiodifusão (Brittos et al. 2009; Jambeiro 2002; Locatelli 2009; Pieranti; Zouain 2006). É também possível identificar a ocorrência do anacronismo regulatório não apenas na radiodifusão, mas também nas mais variadas atividades do setor: não apenas a utilização do rádio precedeu sua regulamentação, como também a instalação das TVs por assinatura (por cabo ou por satélite), a distribuição de conteúdos audiovisuais pelas empresas de telecomunicações e a implementação das várias tecnologias de internet banda larga se deram sob a ausência de definições legais. Quando se trata da incongruência que marca a o arcabouço regulatório existente, percebe-se que leis fundadas em princípios vagos e pouco regulamentadas por leis ordinárias têm sido insuficientes para intervir no mercado de radiodifusão. Um a exemplo desse fato consiste na própria finalidade educativa das emissoras de rádio e TV – inclusive aquelas comerciais. Embora sempre preservado nos decretos que versavam sobre a radiodifusão, esse princípio educativo nunca delimitou de fato a natureza da programação (Jambeiro 2002). Percorrer a legislação que regeu a radiodifusão pública brasileira ao longo do século XX não contradiz as constatações desses autores. Desde a criação das concessões de televisão educativa (em 1967) até a modificação no seu sistema de concessão, pelo governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), passando pela Constituição de 1988, percebe-se uma disputa constante entre o interesse público e os interesses privados – com larga vantagem para os últimos. As expectativas de alterações nesse panorama prosperaram a partir da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), não sem motivo. Maciçamente apoiado por movimentos sociais, juntamente com Lula foi eleito um projeto de intervenção na comunicação social, observável já nos programas de governo lançados nas campanhas de 2002 e 2006. O texto apresentado em 2002 já previa, mesmo difusamente, que a democratização cultural brasileira só estaria completa se acompanhada da democratização dos meios de comunicação (Coligação... 2002). Já o programa de 2006 (quando da reeleição) continha a mesma menção à democratização da comunicação, mas ia além: trazia um tópico especial para a comunicação social onde o presidente/candidato expunha um conjunto de compromissos afinados com as demandas dos movimentos sociais ligados ao tema (Coligação... 2006). Há, no campo da pesquisa, muitas críticas ao desempenho do governo Lula nesse setor (Brittos et al. 2009). Alguns exemplos de iniciativas de regulação que foram minadas após forte resistência da oposição no Congresso e também na imprensa abrangem, por exemplo, (1) adoção do padrão de TV Digital desenvolvido nacionalmente; (2) criação da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual; (3) instituição do Conselho Federal de Jornalismo; (4) a inclusão de dispositivos sobre a comunicação social no Plano Nacional de Direitos Humanos (Barros 2009; Bolaño; Brittos 2008; Brittos; Nazário 2005; Dalmonte 2011). Por outro lado, algumas medidas foram levadas a cabo – lançando mão de diferentes estratégias de articulação política e com resultados também variados. Dentre essas iniciativas, destacam-se (1) o processo de criação da “Nova Lei da TV por Assinatura”, que propôs uma cota mínima semanal de três horas e meia, no horário nobre, de conteúdo nacional independente para todas as emissoras de TV paga; (2) a realização da Conferência Nacional de Comunicação; (3) a criação do Plano Nacional de Banda Larga (Brittos et al. 2010; Dantas 2010; Presidência 2011). Dentre essas iniciativas, está a criação da Empresa Brasil de Comunicação, que é discutida em maiores detalhes adiante. A construção de um sistema público de radiodifusão Embora a Empresa Brasil de Comunicação seja uma entidade jurídica recente (foi criada em 2007), sua criação é fruto de uma reorganização das emissoras de rádio e televisão que são de domínio da União. Formada pela fusão da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (ACERP) e da Radiobrás, a EBC teve, de início, o desafio de conciliar empresas com filosofias bastante diversas. Ao congregar emissoras de natureza pública e emissoras de cunho estatal, o projeto da EBC reforçava uma indefinição que seria uma das principais controvérsias a permearem os debates sobre sua criação. A criação da Empresa Brasil de Comunicação – EBC partiu da iniciativa do governo federal que, motivado pela realização do I Fórum das TVs Públicas entre 2006 e 2007, propôs a criação de uma rede pública de radiodifusão. O I Fórum das TVs Públicas reuniu movimentos ligados às lutas de democratização da comunicação, representantes de entidades ligadas ao setor da radiodifusão, além de órgãos governamentais como o Ministério da Cultura, a Secretaria Geral da Presidência da República, o Ministério da Ciência e Tecnologia e o Ministério das Comunicações, para debater a radiodifusão pública, buscando “definições e um melhor entendimento sobre o que é o setor público de comunicação” (I Fórum... 2006; 2007; 2007b). Para Bolaño e Brittos (2008), a criação da EBC é parte dos movimentos conjunturais promovidos pelo Governo Lula no setor da comunicação (juntamente com o lançamento da TV Digital e a tentativa frustrada de lançar uma Lei de Comunicação Social2) que acabaram por reforçar o sectarismo do Estado com relação aos movimentos sociais envolvidos no debate desses temas. Do ponto de vista estrutural, dizem os autores, a criação da EBC não sanaria as incongruências que marcam a distribuição dos canais de radiodifusão nas redes aberta e fechada, seus modos de financiamento e seus modelos de produção (Bolaño; Brittos 2008:9). Mas a análise de 2 Essa seria, na avaliação dos autores, uma lacuna na regulamentação causada pela desvinculação dos setores da Comunicação e das Telecomunicações, promovida em 1997 com a Lei Geral de Telecomunicações, que alterara o Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT), de 1962 (Bolaño; Brittos 2008). alguns pontos introduzidos na lei aprovada abre precedentes para algumas alterações importantes na forma de atuação das emissoras de caráter público. A avaliação dos posicionamentos apresentados quando da votação no Congresso demonstra, por exemplo, que houve apoio para o projeto do Governo, ainda que falhas no projeto fossem constantemente explicitadas (Lobato 2007). Afinal, a criação da EBC atendia parcialmente às recomendações dos participantes do I Fórum Nacional de TVs Públicas (I Fórum... 2007b) e parecia ser o mais próximo que se poderia esperar de um projeto submetido às negociações características da produção da decisão política. A ementa da Medida Provisória nº 398 (MP 398), além de autorizar a constituição da EBC, propunha também “os princípios e objetivos dos serviços de radiodifusão pública explorados pelo Poder Executivo ou outorgados a entidades de sua administração indireta”. Em outras palavras, havia uma evidente disposição do governo em estabelecer os parâmetros não apenas para o funcionamento da empresa em processo de criação, mas o início de uma regulamentação da radiodifusão pública – apenas uma promessa desde a Constituição de 1988, que criou a complementaridade dos sistemas público, estatal e privado3. Ao longo do curto prazo destinado à apresentação de sugestões de alterações no texto, foram propostas 131 emendas ao projeto4. O trabalho de analisar as propostas e sugerir um texto final para a votação na Câmara coube ao relator do projeto, o Deputado Walter Pinheiro (PT-BA), que tinha em seu histórico uma grande atuação na Comissão de Ciência e Tecnologia nas discussões sobre o setor da Comunicação Social. Uma vez que diversas Medidas Provisórias estavam na fila para serem apreciadas pelo Congresso, houve uma prorrogação do prazo de tramitação da medida pelo Congresso Nacional até 21/03/2008. Com o fim da sessão legislativa5 o projeto só voltou à pauta em fevereiro do ano seguinte. A primeira discussão ocorreu efetivamente em 14/02, quando foi apresentado o parecer do relator (embora este se encontrasse ausente do plenário naquele momento). Pinheiro concluiu que a MP 398 atendia os pressupostos constitucionais de relevância e urgência da proposta; constitucionalidade, juridicidade e técnica legislativa; adequação financeira e orçamentária6 e, por ter promovido 3 Essa disposição do Governo não causa estranhamento, uma vez observada a intenção original dos participantes do I Fórum Nacional de TVs Públicas (I Fórum... 2007b). 4 Lembrando que o processo de tramitação das Medidas Provisórias, caracterizado pelo regime de urgência, elimina a possibilidade de que elas venham a ser discutidas e apreciadas nas Comissões Parlamentares, seguindo diretamente para a pauta do Plenário. 5 Cada sessão legislativa coincide com o ano e abrange os períodos de 15/02 a 30/06 e 01/08 a 15/12 nos quais há as sessões ordinárias. 6 Informações do site da Câmara dos Deputados. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/default.asp>. Acesso em 30/03/2011. alterações no texto original, esta passou a tramitar como Projeto de Lei de Conversão7. Os debates e a votação final na Câmara foram encerrados no dia 26/02 e, assim, a MP 398 seguiu para o Senado Federal com o prazo original de 45 dias esgotado e com a prorrogação concedida pelo Congresso a expirar em duas semanas. Pressionado pelo tempo, o Senado aprovou o projeto com pouco debate e o encaminhou para a sanção presidencial. O presidente Lula acolheu algumas demandas de grupos de parlamentares e vetou parcialmente alguns dispositivos (tais como a cessão de direitos de transmissões esportivas de interesse nacional às TVs públicas). Quando finalmente se tornaram oficiais, a EBC e a TV Brasil já completavam quatro meses de atuação efetiva através dos canais que antes transmitiam as emissoras da ACERP. Principais controvérsias Como dito acima, o texto apresentado pelo Poder Executivo para a aprovação do Congresso Nacional abrangia um conjunto de dispositivos que alterariam de modo significativo o funcionamento das empresas públicas de radiodifusão a partir do posicionamento da TV Brasil (emissora de caráter público da EBC), em comparação com as demais emissoras educativas em funcionamento até então. Sobre esses pontos, que não sem razão representam as principais controvérsias sobre o projeto, discorre-se a seguir. No lançamento, a MP trouxe em seu texto: a criação de uma nova empresa de comunicação (embora as discussões realizadas até então dessem conta de uma emissora de televisão pública) formada por duas empresas existentes sob administração do Poder Executivo (a ACERP e a Radiobrás) e vinculada à Secretaria de Comunicação da Presidência (SECOM); a definição dos objetivos e princípios do serviço de radiodifusão pública com os quais a nova empresa se comprometeria; o modelo de gestão a ser aplicado (Diretoria Executiva, Conselho de Administração, Conselho Curador, este, composto por membros do governo e da sociedade); e definição das origens das receitas que financiariam as emissoras (dotação orçamentária, prestação de serviços, publicidade institucional, patrocínios) (Brasil 2007). 7 De acordo com o site da Câmara dos Deputados, “Quando é alterada pelo relator, a medida provisória passa a tramitar como projeto de lei de conversão. (...) As alterações feitas à MP são submetidas ao presidente da República, que tem poder de veto”. Disponível em: <http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/70158.html>. Acesso em 20/08/2011. No intuito de manter a clareza do objeto em discussão, permanece neste trabalho a denominação de MP 398 e não Projeto de Lei de Conversão. As críticas ao projeto, inicialmente, concentraram-se em três pontos: (1) no método de criação da empresa (via MP), levantada pela oposição no Congresso; (2) na vinculação da empresa à SECOM e à composição e indicação do Conselho de Administração e também do Conselho Curador, originada internamente e também vocalizada por grupos organizados da sociedade; e (3) na admissão de publicidade institucional, da parte das entidades associadas aos interesses das empresas privadas de comunicação (Valente 2009). No relatório final de Pinheiro constavam, dentre as mais relevantes, as seguintes alterações: criação de uma Ouvidoria; instituição da Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública (proveniente de 10% de um fundo já existente, o FISTEL, pago pelas empresas que exploram os serviços de telecomunicações,); delimitação da veiculação de publicidade institucional e apoio cultural; inclusão de percentual de produção regional e independente na grade de programação; e o fim da exclusividade dos direitos de transmissão de eventos esportivos quando não houver pretensão da emissora detentora de veiculá-los em rede aberta. Essas controvérsias foram o gatilho para os debates em torno da criação da EBC e da TV Brasil. Tais debates aconteceram em várias esferas, desde os movimentos sociais ligados ao tema da comunicação, até o Congresso Nacional. Os media, principalmente o jornalismo, por suas características e funções, também abrigou e fomentou o debate sobre essa política. O próximo tópico discute o conceito de deliberação mediada e apresenta operadores para a análise empírica dos processos argumentativos no âmbito da imprensa. 3 Deliberação mediada e seus operadores analíticos A discussão do conceito de deliberação mediada faz parte dos desdobramentos da ideia de sistema deliberativo. Como um conceito relativamente recente, ainda há diferentes interpretações sobre o que caracterizaria a deliberação mediada. A percepção dos mass media como instância a abrigar ou fomentar a deliberação está associada ao papel que lhe é atribuído de arena de visibilidade pública, mas também por sua capacidade de viabilizar debates públicos – na forma de uma esfera pública abstrata (Gomes 2004; Gomes; Maia 2008; Maia 2007). Os meios de comunicação de massa constituiriam, por suas características próprias, um “‘lócus’ para a deliberação e para a troca pública de argumentos” (Maia, 2008, p. 50). Os trabalhos na área reconhecem as contribuições de Benjamin Page, um dos primeiros pesquisadores a investigar o conceito, que buscou em três estudos de caso caracterizar as práticas de debate nos media e investigar a existência de uma deliberação mediada. Logo de início, Page afirma que “a deliberação pública é (e provavelmente deve ser) em grande parte mediada, com profissionais da comunicação, em vez de cidadãos comuns falando uns aos outros e ao público através dos mass media” (Page 1996:1, destaque no original)8. No entanto, o conceito de deliberação mediada do autor não é suficientemente claro a respeito do funcionamento desse processo (Barabas 2005), uma vez que se restringe a identificar a importância do campo dos media para os processos políticos contemporâneos. Nessa linha de pensamento, é possível mencionar uma série de autores, muitos dos quais inicialmente apresentaram suspeitas quanto aos benefícios democráticos da comunicação de massa (Bohman 1998; Chambers 2007; Habermas 2005; 2006). Com o refinamento das reflexões quanto ao campo da comunicação, os juízos sobre os impactos que os media poderiam produzir na comunicação política também progrediram. Habermas, por exemplo, passou a afirmar que a deliberação pode ser favorecida pela comunicação de massa sob certas condições: O modelo comunicativo de política deliberativa que desejo apresentar enfatiza duas condições críticas: a comunicação política mediada na esfera pública pode facilitar processos de legitimação deliberativa em sociedades complexas somente se um sistema mediático auto-regulador adquire independência com relação a seu ambiente social, e se audiências anônimas garantem um feedback entre o discurso informado da elite e uma sociedade civil responsiva (Habermas 2008:9-10). Tal como admite Chambers, “A deliberação na esfera pública é amplamente mediada. A comunicação das opiniões e das informações atravessa e é enquadrada pelos media noticiosos, especialmente pela a televisão” (2007:1, destacado no original)9. Para Habermas, as funções desempenhadas pelos media incluem a mobilização e agregação das questões relevantes, fornecendo informações e interpretações; o processamento discursivo dessas contribuições, formulando os argumentos favoráveis e contrários (e gerando posicionamentos dentro dessas alternativas) (Habermas 2006). Muito embora seja possível exemplificar a deliberação mediada através de algumas manifestações episódicas (e inconfundíveis) tais como os debates televisivos, os 8 No original: ““public deliberation is (and probably must be) largely mediated, with professional communicators rather than ordinary citizens talking to each other and to the public through the mass media”. 9 No original: “Deliberation in the broad public sphere is highly mediated. The communication of opinions and information passes through and is framed by the news media and especially television”. pesquisadores tendem a buscar o processo deliberativo em espaços de tempo mais alargados e, muitas vezes, considerando diferentes veículos, meios e formatos. (...) essa responsabilidade é melhor entendida se aplicada ao sistema dos media como um todo, em lugar de um produtor individual, muito menos uma peça individual de informação ou de um único programa. [...] Por analogia, uma dieta saudável inclui frutas, legumes, grãos e alimentos ricos em proteínas, mas ninguém quer consumir uma gororoba multivitamínica que mistura todos esses nutrientes para formar um mingau sabor desagradável. Então, tudo que devemos esperar é que os produtores de conteúdo forneçam um material nutritivo e delicioso que contribua para uma dieta mediática que é, no todo, deliberativa (Gastil 10 2008) . Para Maia, há um conjunto de características que marcam o campo da comunicação que podem vir a favorecer a deliberação pública. Os media em si não podem ser compreendidos como uma esfera pública, como Habermas, ambiguamente, sugere e alguns de seus seguidores assumem expressamente. Para evitar esse equívoco, é fundamental fazer a distinção entre "espaço midiático de visibilidade" — aquilo que é disponibilizado para o conhecimento comum — e "esfera pública" — o locus da argumentação (Gomes, 1999). [...] Os media podem, assim, ajudar o público a deliberar, isto é, adquirir informações necessárias, especificar interpretações, processar argumentos favoráveis e contrários à determinada matéria e, assim, gerar atitudes racionalmente motivadas (Kim, Wyatt e Katz, 1999; Gamson, 2001; Bennett e Entman, 2001; Scheufele, 2000) (Maia 2007). Há, entretanto, considerações a respeito da atuação das instituições da comunicação de massa quanto à deliberação pública que devem ser destacadas. Como identifica Maia (2008:88), há um paradoxo que marca os processos de deliberação mediada, haja vista a atuação dos media ora como participantes ativos (ou “falantes comprometidos”), ora como moderadores, que agenciam as vozes dos demais atores sociais. Sem dúvida, quando participantes ativos, os atores do campo da comunicação têm espaço privilegiado, as falas dos próprios jornalistas têm mais destaque que as citações por eles concedidas aos demais atores sociais. O fato é que, para terem voz, agentes políticos ou membros da sociedade precisam seguir a gramática dos media. (...) os atores cívicos precisam ter capacidade para engajar-se em interações comunicativas que têm como base o poder, isto é, as relações em que os agentes buscam controlar os outros, fazendo-os agir segundo a própria vontade e, para tanto, devem reconhecer quando e como estabelecer compromissos, ter ciência de ocasiões em que se está sendo manipulado, pressionado ou ameaçado. Além disso, é preciso assumir que os atores cívicos, para terem sucesso na argumentação, precisam ser capazes de empregar e apelar para as regras de 10 No original: “this responsibility is best understood as applying to the media system as a whole, rather than an individual producer, let alone an individual piece of reporting or a single program. […] By analogy; a healthy diet includes fruits, vegetables, grains, and protein-rich foods, but nobody wants to subsist on a multivitamin-style glop that blends all these nutrients together into a nasty-tasting gruel. So all we should ask is that content producers provide nutritious and delicious content that contributes to a media diet that is, on the whole, deliberative”. publicidade, de razoabilidade e de generalidade, em seus esforços de convencer públicos mais amplos (Maia 2007:20). Ao tratar da deliberação mediada, é interessante retomar as reflexões de Peters, que demanda interpretações, prescrições e ilustrações empíricas a sustentarem argumentos consistentes. Meras declarações ou relatos factuais, apenas apresentados como tal, sem suporte argumentativo ou reação às questões antecipadas ou reais, não são de deliberação. Assim como a maioria do que é comumente denominado com notícias ou reportagens ou informações tampouco é deliberação. Nem o são julgamentos, avaliações ou propostas sem sustentação, ou expressões de sentimentos pessoais, sensações ou 11 experiências (Peters 2008:78-9) . A operacionalização empírica de tais conceitos e prescrições normativas leva a um conjunto de variáveis que expressam os requisitos para que um debate público mediado seja caracterizado como deliberativo. Para Maia (2006; 2008), é importante considerar (1) a estrutura de oportunidades de acesso à visibilidade mediática e (2) como os media organizam e retratam as controvérsias favorecendo ou não o aperfeiçoamento dos argumentos e a revisão das posições. Neste trabalho, a deliberação mediada é entendida enquanto parte de um sistema deliberativo que envolve diferentes momentos: a articulação discursiva de movimentos sociais por meio de seus próprios veículos (jornais impressos, sites etc.); as campanhas eleitorais (seus debates televisionados, as propagandas do horário gratuito de propaganda eleitoral, as entrevistas concedidas a veículos jornalísticos); a apropriação das plataformas de comunicação em rede da internet (de forma individualizada ou massiva); a cobertura jornalística dos fatos e eventos de interesse público; entre outras tantas situações. A pesquisa aqui desenvolvida se dedica a refletir sobre o papel da imprensa nesse sistema heterogêneo levando em conta quais são os valores, as características e as limitações que se colocam na consecução de uma deliberação mediada pelo campo noticioso impresso. Do confronto entre as expectativas normativas e a prática jornalística é possível perceber que há traços nos mass media que favorecem, em diferentes medidas, a consecução do debate público, tais como a visibilidade oriunda da ampla distribuição dos discursos, a possibilidade de desenvolver uma argumentação justificada adaptada 11 No original: “Mere factual statements or reports, just presented as such and without argumentative support, or reaction to anticipated or real questions, are not deliberation. So most of what is commonly called news or reports or information is not yet deliberation. Neither are unsupported judgements, evaluations or proposals, nor expressions of personal sentiments, feelings or experiences”. às diferentes linguagens, gêneros e formatos e o valor conferido pelo próprio campo à exposição de perspectivas controversas. O processamento das informações à luz da lógica empresarial produz, no entanto, um discurso que, no todo, pode vir a desfavorecer certas perspectivas ou atores, privilegiar determinados enquadramentos em detrimento de outros, e ser até utilizado em favor do próprio campo comunicativo em lugar do interesse público. Essas características intervêm no modo como se forma a opinião pública, mas também deixam marcas no processo de introdução de demandas na agenda dos atores políticos e na percepção geral sobre as decisões tomadas no centro do poder político. Sendo assim, este trabalho desenvolve uma reflexão sobre duas dimensões caras à deliberação mediada pela imprensa. A primeira delas aborda aspectos contextuais, que acabam por caracterizar o objeto aqui estudado como um dos momentos deliberativos acima citados. A segunda dimensão avaliada se trata das dinâmicas deliberativas, em seus aspectos formais e substantivos. Nota metodológica A pesquisa procurou avaliar a deliberação mediada pelo jornalismo impresso a propósito da criação da Empresa Brasil de Comunicação. Para tanto, o período analisado compreende todo o processo de tomada da decisão política e se inicia com o lançamento da Medida Provisória nº 398 de 10/10/2007 e se encerra em 07/04/2008, data da sanção presidencial da Lei 11.652. Foram analisadas matérias publicadas em quatro veículos: duas revistas semanais (Carta Capital e Veja) e dois jornais diários (O Globo e Folha de S. Paulo) de relevância nacional. A seleção das notícias se deu por meio de busca eletrônica por palavras-chave nos acervos digitais online de cada veículo12. A unidade de análise selecionada foi o argumento. Isso quer dizer que cada argumento foi localizado nos textos, compilado, categorizado e analisado de acordo com as variáveis pertinentes ao estudo da deliberação mediada. Adicionalmente, para cada argumento, informações contextuais e sobre os atores sociais também foram coletadas13. 12 A busca digital não foi aplicada na coleta da revista Carta Capital – nesse caso, a busca foi manual. As palavras-chave buscadas foram: “Empresa Brasil de Comunicação”; “EBC”; “TV Brasil”; “TV do Lula”; “TV pública”; “televisão pública”; “TV educativa”; “televisão educativa”; “radiodifusão pública”. 13 Este trabalho apresenta recortes da análise empreendida a propósito da pesquisa de doutorado em curso pela autora. A pesquisa completa abrange um período de tempo mais alargado e outras variáveis, além de envolver também o debate parlamentar. Uma vez que o propósito da pesquisa é investigar o embate de posicionamentos e razões apresentados pelos media ao debaterem sobre a criação da EBC, nos resultados apresentados adiante, os valores significam o número e o percentual de argumentos encontrados para cada veículo e variável (e não o número de matérias). Tabela 1. Corpus empírico: recorte argumentativo Número de matérias selecionadas na busca por palavras-chave Veículos Carta Capital Veja O Globo Folha de S. Paulo Total analisado 2 11 109 153 Número de matérias com argumentação (analisadas) 1 4 30 75 110 % 50% 36% 28% 49% Número total de argumentos 3 13 58 148 222 4 Resultados Momento deliberativo: Aspectos contextuais da cobertura A partir de uma localização espacial e temporal, é possível pensar em uma distribuição da deliberação marcada por características bem distintas (Goodin 2005; Neblo 2005; Parkinson; Bavister-Gould 2009). No caso aqui analisado, as características espaciais envolvem tanto os aspectos condicionantes do campo do jornalismo, com sua deontologia e suas práticas profissionais, quanto os diferentes papeis assumidos por cada empresa jornalística enquanto agente com interesses e perspectivas particulares (Marques; Miola 2010). Já a respeito das características temporais é importante destacar que o período de implementação de uma política pública envolve uma proposição e discussão desta e a tomada de decisão – ou seja, é quando acontece o ápice das disputas argumentativas. Neste período a oferta de argumentos e enquadramentos na esfera de visibilidade pública tende a ser grande, alimentada pelas discussões no Congresso e pela repercussão na sociedade. As expectativas, portanto, são de que o volume e a pluralidade de argumentos encontrados na imprensa sejam significativos. Primeiramente, uma análise das características da cobertura de cada veículo demonstra comportamentos distintos entre os periódicos. A totalidade dos argumentos encontrados em revistas semanais foi publicada nas seções de opinião (Tabela 2), enquanto que nos jornais a argumentação sobre a EBC teve espaço equilibrado entre a opinião ou informação (Folha de S. Paulo) ou quase totalmente como gênero informativo (O Globo). Tabela 2. Gênero jornalístico * Veículo Crosstabulation Veículo Carta Capital Veja O Globo Folha de S. Paulo Total Gênero jornalístico Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % Informativo 0 0% 0 0% 49 84% 70 47% 119 54% Opinativo 3 100% 13 100% 9 16% 78 53% 103 46% Total 3 100% 13 100% 58 100% 148 100% 222 100% Ao aprofundar essa análise (Tabela 3), percebe-se que o jornal O Globo realmente lançou mão de suas reportagens para apresentar os posicionamentos e suas razões a respeito da EBC e da radiodifusão pública (79%). De forma semelhante fez a Folha de S. Paulo, dando visibilidade a argumentos principalmente por meio de reportagens (46%) – embora o espaço de colunismo desse jornal tenha também contribuído significativamente (20%). No caso das revistas, nas quais os argumentos apareceram exclusivamente nas seções de opinião, há uma postura oposta entre Carta Capital e Veja no que diz respeito aos espaços opinativos utilizados para debater a política em questão: enquanto a Carta Capital apresenta os argumentos em uma coluna (assinada por um profissional do veículo), a Veja dá espaço para que personagens públicas ou leitores exponham os argumentos (além dos posicionamentos da própria empresa jornalística). O detalhamento da autoria das matérias confirma esse padrão (Tabela 4). Tipo de notícia Artigo Aspas Cartas dos Leitores Coluna Editorial Entrevista Notas Reportagem Total Autor - categoria Jornalista Colunista Não assinado Colaborador Leitor Total Tabela 3. Tipo de notícia * Veículo Crosstabulation Veículo Carta Capital Veja O Globo Folha de S. Paulo Total Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % 0 0% 6 46% 0 0% 14 9% 20 9% 0 0% 4 31% 2 3% 0 0% 6 3% 0 0% 3 23% 2 3% 4 3% 9 4% 3 100% 0 0% 5 9% 29 20% 37 17% 0 0% 0 0% 0 0% 8 5% 8 4% 0 0% 0 0% 3 5% 23 16% 26 12% 0 0% 0 0% 0 0% 2 1% 2 1% 0 0% 0 0% 46 79% 68 46% 114 51% 3 100% 13 100% 58 100% 148 100% 222 100% Tabela 4. Autor - categoria * Veículo Crosstabulation Veículo Carta Capital Veja O Globo Folha de S. Paulo Total Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % 0 0% 0 0% 46 79% 81 55% 127 57% 3 100% 0 0% 4 7% 33 22% 40 18% 0 0% 10 77% 6 10% 18 12% 34 15% 0 0% 0 0% 0 0% 12 8% 12 5% 0 0% 3 23% 2 3% 4 3% 9 4% 3 100% 13 100% 58 100% 148 100% 222 100% A Tabela 4 mostra também outras disparidades entre jornais e revistas no que diz respeito à autoria das matérias. Nos jornais, os textos assinados por jornalistas concentram o maior volume de argumentação (O Globo, 79%; Folha de S. Paulo, 55%), enquanto que, na revista Veja a preponderância é dos textos não assinados, ou seja, onde a empresa jornalística assume qualquer posicionamento que venha a ser anunciado. Dinâmicas argumentativas – aspectos formais Há uma dimensão argumentativa nas práticas políticas e na ação da imprensa que é fundamental para a constituição e interpretação dos problemas e justificação dos posicionamentos sobre questões de interesse público. Esses discursos de cunho argumentativo correspondem em maior ou menor grau às expectativas normativas da ética do discurso e também desvelam em graus diferentes os interesses públicos e privados que subjazem os posicionamentos e as decisões políticas. Este tópico analisa como se deu o debate mediado – se há tomada de posição na apresentação dos argumentos, se há espaço para a controvérsia e qual é o nível de aprofundamento das justificativas apresentadas14. O primeiro aspecto das dinâmicas argumentativas a se ressaltar se trata da explicitação dos posicionamentos a respeito da criação da EBC (e da radiodifusão de um modo geral). A expressão dos posicionamentos, quando acompanhados das razões e justificativas para tal é positivo para a deliberação (embora possa parecer um contrasenso no jornalismo dito imparcial). Por outro lado, é importante para a pluralidade do debate que não haja barreiras para a expressão de qualquer argumento publicamente justificável. O que se defende, assim é a garantia do acesso à esfera de visibilidade a, virtualmente, todas as razões disponíveis sobre determinada questão. Nesse caso, prejudicial é a total ausência de um ou outro posicionamento. No debate mediado pela imprensa nacional, percebe-se uma posição mais crítica de ambos os jornais, onde é claro o equilíbrio da distribuição de argumentos favoráveis e contrários à criação da EBC (Tabela 5). Mas, mais importante, é a presença 14 Os níveis de justificação foram analisados de acordo com a proposta do Discourse Quality Index, apresentado por Steiner et al. (2004:57). Para esses autores, a qualidade das justificações pode ser avaliada de acordo com a seguinte classificação: (1) sem justificação – na ausência de razões, apenas apresentação de posicionamentos; (2) justificação inferior – a oferta de razões com inferências incompletas ou justificações baseadas apenas em ilustrações; (3) justificação qualificada – a exposição completa de razões; (4) justificação sofisticada: a apresentação de, pelo menos, duas justificações completas são oferecidas (para a mesma demanda ou para duas demandas diferentes). Neste trabalho, em razão do recorte argumentativo (apenas proferimentos argumentativos foram analisados e a unidade de análise foi o argumento), apenas duas dessas classificações foram adotadas: a justificação inferior e a justificação qualificada. significativa de posicionamentos críticos que reconhece que a política pública em debate (avaliada como positiva ou como negativa) pode ser aperfeiçoada (Posicionamentos neutros ou apoiando com reservas, 24% e 32%). A Tabela 5 mostra também que as revistas assumem lados opostos dentro das possibilidades de posicionamento sobre a EBC. Enquanto a totalidade dos argumentos da Carta Capital foi favorável à criação da EBC, a Veja citou apenas um argumento favorável à criação da empresa de radiodifusão (8%). Posicionamento Tabela 5. Posicionamento * Veículo Crosstabulation Veículo Carta Capital Veja O Globo Folha de S. Paulo Total Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % Contrário à EBC Favorável à EBC Neutro ou apóia com reservas Total 0 3 0% 100% 12 1 92% 8% 18 26 31% 45% 42 59 28% 40% 0 3 0% 100% 0 0% 13 100% 14 58 24% 100% 47 148 32% 100% 72 89 32% 40% 61 27% 222 100% Dois outros aspectos da cobertura contribuem para a avaliação da qualidade da deliberação. São a presença de contra-argumentos e os níveis de justificação dos posicionamentos apresentados. A presença de contra-argumentos demonstra a pluralidade interna das matérias. Se a deliberação mediada é um processo que deve ser avaliado transversalmente, de modo que seja possível apreender os processos de reflexividade e revisibilidade dos posicionamentos ao longo do tempo e no sistema dos media, por outro lado, a presença de contra-argumentos internamente às notícias facilita a percepção de posições contraditórias e conduz o próprio leitor à reflexão. A preponderância de matérias a ignorar os contra-argumentos leva à conclusão que, muitas vezes, os media abrem mão de retratar o contraditório. Há que se reconhecer que os jornais reconhecem a diversidade de posicionamentos sobre a radiodifusão pública e a criação da EBC. Tanto O Globo quanto a Folha de S. Paulo, apresentam uma significativa presença de argumentos contraditórios, sendo que em mais de um terço desses casos, os a validade desses contra-argumentos foi reconhecida (38% e 39%). Ainda assim, um percentual ainda maior de matérias manteve silêncio sobre o agonismo que marcou a questão (45% e 40%). Em associação com os achados sobre as revistas, isso produz um diagnóstico pessimista sobre o conjunto da imprensa. Enquanto a Carta Capital apenas mencionou os argumentos contrários para refutá-los (100%), a Veja se dividiu entre a desvalorização dos contra-argumentos (46%) e a sua completa omissão (54%). Contra-argumentos Ignorados Tabela 6. Contra-argumentos * Veículo Crosstabulation Veículo Folha de S. Carta Capital Veja O Globo Paulo Total Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % 0 0% 7 54% 26 45% 59 40% 92 41% Neutro Refutados 0 3 0% 100% 0 6 0% 46% 4 6 7% 10% 0 32 0% 22% 4 47 2% 21% Validados 0 0% 0 0% 22 38% 57 39% 79 36% Total 3 100% 13 100% 58 100% 148 100% 222 100% Quanto aos níveis de justificação, observa-se que, em geral, há a predominância da baixa qualidade da justificação das razões. Em outras palavras, os posicionamentos foram acompanhados de um argumento simples, sem complexidade ou completude de raciocínio ou carecendo de uma relação explícita entre problemas e soluções, causas e consequências. Na Tabela 7, percebe-se que todos os veículos investigados apresentaram mais do que 70% de argumentos simples, sem profundidade ou acompanhada de mais de uma justificativa – sendo que a revista Carta Capital, que discutiu o tema apenas em uma coluna em todo o período, não apresentou nenhuma justificação qualificada. Quando se trata de citações, é provável que a edição das falas das fontes tenha suprimido partes importantes do raciocínio que os atores desenvolveram ao serem consultados pelos jornalistas desses veículos. Isso é necessário dadas as limitações que a produção jornalística impõe, mas é uma característica prejudica de sobremaneira que a efetivação de uma deliberação mediada. Tabela 7. Nível de justificação * Veículo Crosstabulation Veículo Nível de justificação Inferior Qualificada Total Total Carta Capital Veja O Globo Folha de S. Paulo Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % 3 100% 10 77% 45 78% 105 71% 163 73% 0 0% 3 23% 13 22% 43 29% 59 27% 3 100% 13 100% 58 100% 148 100% 222 100% Dinâmicas argumentativas – aspectos substantivos A segunda análise das dinâmicas argumentativas envolve a compreensão sobre o que se discute nos media sobre a criação da EBC. Isso é feito neste trabalho a partir de três elementos: o nível de generalização dos argumentos sobre a política pública, os eixos interpretativos e as temáticas sob os quais se inscrevem os argumentos. Problematizar o nível de generalização dos argumentos apresentados sobre a criação da EBC significa reconhecer que o debate político não deve se restringir a aspectos pontuais orientados por uma lei específica. Embora uma iniciativa legislativa seja importante para a resolução de determinados problemas, um projeto de lei pode favorecer a tematização pública das questões co-relatas e oportunizar o debate mais amplo sobre políticas para aquele setor. Esse é o caso da criação da EBC, que, embora trate da criação de uma empresa de radiodifusão, pode envolver uma argumentação sobre a radiodifusão pública e até mesmo sobre o papel do Estado na regulação da comunicação de massa. A análise dos níveis de generalização de cada argumento publicado nas revistas e jornais demonstra que houve uma concentração em torno da criação da EBC e da TV Brasil (Tabela 8). Em regra, discutiu-se o projeto de lei, suas características e seus impactos diretos. Um destaque apenas à Folha de S. Paulo e à Carta Capital, veículos nos quais a argumentação alcançou uma abrangência maior, com respectivamente 30% e 100% dos argumentos problematizando a radiodifusão em geral. Tabela 8. Maior nível da argumentação * Veículo Crosstabulation Veículo Total Carta Capital Veja O Globo Folha de S. Paulo Níveis de generalização da Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % Freq. % Política Pública Bastidores da política 0 0% 1 8% 4 7% 11 7% 16 7% Detalhes do Projeto 0 0% 0 0% 14 24% 16 11% 30 14% EBC e TV Brasil Radiodifusão pública e Mercado da Comunicação Total 0 0% 10 77% 36 62% 77 52% 123 55% 3 3 100% 100% 2 13 15% 100% 4 58 7% 100% 44 148 30% 100% 53 222 24% 100% Por fim, cabe analisar o conteúdo dos argumentos apresentados pelos veículos (Tabela 9). Partiu-se de um método indutivo para coletar os argumentos que versavam sobre a EBC e a radiodifusão pública15. A estratégia adotada para lidar com o volume e variedade de argumentos encontrados foi agrupá-los por afinidade. Em primeiro lugar, os argumentos semelhantes foram agrupados em temáticas. A seguir, essas temáticas foram classificadas de acordo com os eixos interpretativos – que é uma proposta livremente inspirada na classificação de tipos de argumentos elaborada por Berhard Peters (Peters et al. 2008)16. A distribuição dos argumentos em temáticas e eixos interpretativos é apresentada na Tabela 9. 15 As listagens iniciais de argumentos foram feitas a partir da coleta em matérias jornalísticas e também discursos parlamentares (que não fazem parte deste artigo, mas compõem o corpus da pesquisa em andamento). 16 Os autores, investigando a argumentação no jornalismo, propõem seis tipos de argumentos possíveis na cobertura política: (1) o argumento empírico; (2) o argumento pragmático; (3) o argumento ético; (4) o argumento estético/avaliativo; (5) o argumento legal; e, finalmente (6) a metacomunicação (Peters et al. 2008:153-8). Eixos interpretativos Tabela 9. Eixos Interpretativos/Temáticas * Veículo Crosstabulation Veículo Folha de S. Carta Capital Veja O Globo Paulo Temáticas Disputas entre Governo e Oposição 1. Decision-making Disputas entre Executivo e Process e Bastidores Legislativo da política (Metacomunicação): Formato do projeto 7% (Medida Provisória) 2. Regulamentação da Comunicação (Legal) 8% 0 0% 0 0% 2 3% 1 1% 3 1% 0 0% 0 0% 2 3% 5 3% 7 3% 0 0 0% 0% 1 0 8% 0% 1 4 2% 7% 5 2 3% 1% 7 6 3% 3% 0 0 0 0 1 0% 0% 0% 0% 33% 0 0 0 1 6 0% 0% 0% 8% 46% 0 1 4 0 13 0% 2% 7% 0% 22% 4 6 8 5 34 3% 4% 5% 3% 23% 4 2% 7 3% 12 5% 6 3% 54 24% 1 33% 0 0% 13 22% 20 14% 34 15% 1 33% 0 0% 1 2% 3 2% 5 2% 0 0 0 0 0% 0% 0% 0% 1 0 1 1 8% 0% 8% 8% 3 2 1 6 5% 3% 2% 10% 17 6 4 13 11% 4% 3% 9% 21 8 6 20 9% 4% 3% 9% Sede da emissora 0 0 0 0% 0% 0% 2 0 0 15% 0% 0% 4 0 1 7% 0% 2% 14 1 0 9% 1% 0% 20 1 1 9% 0% 0% Total 3 100% 148 100% 222 100 % Constitucionalidade da Lei Regulamentação da Radiodifusão Pública Direitos de Transmissão Programação Ibope Estatal X Pública 3. Caráter público e Valores da Radiodifusão Pública (Ético) 65% Participação da Sociedade (Conselhos e Ouvidoria) Democratização da Comunicação (acesso à informação e à produção) Funções políticas, educativas, culturais e econômicas da Radiodifusão Pública Veiculação de publicidade Exemplos internacionais Ônus do investimento 4. Técnicoadministrativo (Pragmático) 18% Total Estrutura de distribuição do sinal Digitalização 13 100% 58 100% Observa-se uma clara sobre-representação dos argumentos pertencentes ao Eixo 3, sobre Caráter Público e Valores da Radiodifusão Pública, em todos os veículos investigados. O percentual geral de argumentos nesse eixo soma 65%. O Eixo 3, de fato, é o mais importante para a discussão do projeto de criação da EBC e mesmo para as políticas públicas de radiodifusão, dado que reúne argumentos em torno das funções desempenhadas pelas emissoras de rádio e TV e também discussões a respeito dos diferentes modelos de radiodifusão previstos para o sistema nacional (emissoras privadas, públicas e estatais). Uma mirada sobre as temáticas do Eixo 3 e seus percentuais, contudo, demonstra que a distribuição entre essas questões importantes são desigualmente distribuídas. A preocupação da maioria dos argumentos que foram publicados se concentrou nas afirmações e questionamentos sobre o caráter público ou estatal que marcaria a atuação da nova empresa. Como um desdobramento desse tema, também é discutido, pela revista Carta Capital e pelo jornal O Globo, o papel que os instrumentos de participação criados para a EBC, tais como o Conselho Curador e a Ouvidoria, teriam na definição desse caráter público ou estatal. Outro eixo que resultou em argumentação relevante foi o Eixo 4, sobre aspectos técnicos ou administrativos a respeito da EBC. A preocupação central nesse eixo diz respeito ao financiamento da nova empresa, com proferimentos sobre o seu possível impacto sobre as contas do Estado e/ou sobre os contribuintes e sobre a relevância do investimento em comunicação pública dadas as dificuldades de estabelecer políticas públicas eficientes em áreas prioritárias como saúde e educação (9% no índice geral). Observa-se que todos os veículos, com exceção da Carta Capital, publicaram argumentos sob essa temática. Funcionando frequentemente como exemplo da ineficiência da empresa ou precariedade das emissoras públicas em geral, os argumentos sobre a estrutura física de distribuição do sinal da TV Brasil, constituíram 9% do total. Tais argumentos foram predominantemente justificados pela ausência de um canal de transmissão para a TV pública na cidade de São Paulo. Quando se trata das questões sobre a regulamentação estatal da radiodifusão publicas e de atividades relacionadas à comunicação de massa (Eixo 2), apenas os dois jornais investigados apresentaram argumentos. Nesse eixo teve mais destaque as asserções sobre dois pontos específicos: os questionamentos sobre a constitucionalidade da medida provisória (uma vez que esse tema não requer caráter de urgência para a tramitação) e indagações sobre uma possível cessão dos direitos de transmissão de partidas esportivas de interesse nacional17. Argumentos sobre a regulamentação da comunicação propriamente dita foram publicados apenas na Folha de S. Paulo. 5 Conclusões Em primeiro lugar, a comparação entre o número de notícias que mencionavam a EBC, a TV Brasil ou a radiodifusão pública foi muito superior ao volume de argumentos que de fato foi apresentado. Essa observação é explicada por uma investigação prévia que constatou a predominância da cobertura sobre os bastidores dos processos de tomada de decisão em comparação com a abordagem substantiva das políticas públicas em formulação (Miola 2011). Isso quer dizer que uma parcela excessivamente grande das notícias não contribui efetivamente para o debate público apresentando interpretações, 17 Esse ponto foi acrescentado ao projeto pelo Relator Walter Pinheiro (PT-BA) a partir de uma emenda apresentada pelo deputado Silvio Torres (PSDB-SP). Ao sancionar a Lei, o Presidente Lula vetou o referido artigo. posicionamentos e justificativas sobre as questões de interesse geral. Feita essa consideração, seguem os apontamentos reflexivos sobre os achados. A avaliação da imprensa no período de implementação da Empresa Brasil de Comunicação como um momento deliberativo demonstrou que há certos padrões que se confirmam. Em primeiro lugar, é possível fazer claras distinções entre os dois grupos de meios impressos: as revistas semanais, de um lado, e os jornais diários, de outro. Esses grupos se diferiram (1) no volume argumentativo, sendo que os dois jornais apresentaram um número muito mais alto de argumentos do que as revistas; (2) no gênero, dado que as revistas apresentaram os argumentos em suas seções opinativas, enquanto que nos jornais houve equilíbrio (Folha de S. Paulo) ou predominância do gênero informativo (O Globo); e (3) no posicionamento manifesto, uma vez que ambos os jornais publicaram argumentos favoráveis, contrários ou neutros, e as revistas privilegiaram um ou outro lado. Se a primeira constatação pode ser explicada pela própria especificidade dos meios impressos – uma revista semanal publica muito menos conteúdo do que um jornal diário – os outros dois achados podem ser avaliados como contra-intuitivos. As revistas semanais, no entanto, deveriam ganhar em profundidade da abordagem dos temas, uma vez que contam com mais tempo para a produção das matérias. Esse raciocínio justificaria também esperar também uma maior pluralidade argumentativa nas revistas. Isso seria ignorar, contudo, o próprio posicionamento político sustentado por essas duas revistas analisadas. Elas assumem claramente posturas opostas naquelas questões que ainda cabem no espectro político-ideológico entre direita e esquerda – e esse antagonismo é demonstrado também quanto à EBC: a Veja, por meio dos argumentos de seus colaboradores ou de seus próprios, definiu a TV Brasil como uma estratégia de propaganda do governo Lula; a Carta Capital argumentou sobre o caráter público e democratizante da emissora, principalmente em razão dos mecanismos de participação criados para gerir a EBC. Contrariamente ao que se possa pensar, essa tomada de posição não é necessariamente prejudicial ao debate público. Desde que as diversas razões sejam tornadas disponíveis ao público, é possível a consecução de um embate do tipo deliberativo18. 18 É reconhecida uma possível assimetria de poder entre as duas revistas, considerando a posição hegemônica ocupada pela Veja (revista de maior tiragem no país) em relação à modesta penetração da Carta Capital. Nos termos de um sistema deliberativo, no entanto, o importante é que os argumentos apresentados por um veículo de baixa audiência não sejam excluídos a priori da esfera pública – como não o são. Mas não é apenas isso que garante o caráter deliberativo do debate público. O frequente silêncio sobre os conflitos entre os argumentos, ou a recusa em reconhecer sua validade (verificada pelo indicador presença de contra-argumentos), prejudica um dos valores importantes da deliberação que é o aperfeiçoamento das razões a partir da reflexividade. Apenas os jornais apresentaram a validação de uma parcela dos contraargumentos. No que se refere ao conteúdo dos argumentos, a imprensa retrata uma das grandes questões que envolvem o trabalho dos legisladores e dos pesquisadores da atividade: as dificuldades de se definir o caráter público das emissoras de radiodifusão. Certamente, a sugestão de um aparato institucional que preveja a participação da sociedade coloca em questão também o modelo administrativo centralizado assumido por boa parte das emissoras educativas até o momento. Outro tema fundamental que ganha visibilidade é o financiamento e os problemas de estrutura das emissoras. Ademais, a discussão sobre as funções políticas, educativas e culturais da radiodifusão pública leva a pensar também naquilo que se quer da comunicação eletrônica em geral. E, pelos argumentos apresentados, o que se desenha é o fortalecimento de uma imagem positiva das emissoras públicas de rádio e televisão – ainda que seu desempenho ante os índices de audiência seja altamente criticado. Por fim, percebe-se que as expectativas quando à capacidade deliberativa dos mass media podem ser satisfeitas em alguns aspectos – favorecida pela tentativa de apresentar ao público uma cobertura equilibrada (postura assumida pelos jornais analisados) e de reportar ao público o que se passa no campo político. No entanto, a carência de justificações qualificadas e o alto índice de omissão dos contra-argumentos deixam a impressão de que há potencial para a deliberação mediada – só não há o interesse dos media em deliberar sobre si mesmos. Referências BARABAS, Jason. Virtual Deliberation: Knowledge from Online Interaction Versus Ordinary Discussion. In: SHANE, Peter (ed.). Democracy Online: The Prospects for Political Renewal Through the Internet. New York, Routledge, 2004. BARROS, Chalini. Radiodifusão e telecomunicações: o paradoxo da desvinculação normativa no Brasil. Salvador, Edufba, 2010. BOHMAN, James. Survey Article: The Coming of Age of Deliberative Democracy. 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