Estudo da Influência Mútua de Harmônicos e Cargas Não
Transcrição
Estudo da Influência Mútua de Harmônicos e Cargas Não
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CENTRO TECNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA ESTUDO DA INFLUÊNCIA MÚTUA DE HARMÔNICOS E CARGAS NÃO-LINEARES EM SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA AUTOR: MARCOS ANDRÉ BARROS GALHARDO TM - 02 - 2002 UFPA/CT/PPGEE CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO GUAMÁ BELÉM - PARÁ - BRASIL FEVEREIRO DE 2002 ii UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CENTRO TECNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA ESTUDO DA INFLUÊNCIA MÚTUA DE HARMÔNICOS E CARGAS NÃO-LINEARES EM SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA DISSERTAÇÃO SUBMETIDA À BANCA EXAMINADORA APROVADA PELO COLEGIADO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA DO CENTRO TECNOLÓGICO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ, COMO REQUISITO PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ENGENHARIA ELÉTRICA NA ÁREA DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA. AUTOR: MARCOS ANDRÉ BARROS GALHARDO UFPA/CT/PPGEE CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO GUAMÁ BELÉM - PARÁ - BRASIL FEVEREIRO DE 2002 iii UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CENTRO TECNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA ESTUDO DA INFLUÊNCIA MÚTUA DE HARMÔNICOS E CARGAS NÃO-LINEARES EM SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA DISSERTAÇÃO SUBMETIDA À BANCA EXAMINADORA APROVADA PELO COLEGIADO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA DO CENTRO TECNOLÓGICO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ, COMO REQUISITO PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ENGENHARIA ELÉTRICA NA ÁREA DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA. APROVADA EM: 22/02/02. BANCA EXAMINADORA: ________________________________________________ Prof. Dr. -Ing. João Tavares Pinho (DEEC/UFPA) Orientador ________________________________________________ Prof. Dr. Jurandyr Nascimento Garcez (DEEC/UFPA) ________________________________________________ Prof. Dr.Tadeu da Mata Medeiros Branco (DEEC/UFPA) Membro ________________________________________________ Prof. Dr. Ubiratan Holanda Bezerra (DEEC/UFPA) Membro ________________________________________________ Prof. Dr. Roberto Célio Limão de Oliveira Coordenador do PPGEE/CT/UFPA iv AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus e a todas as pessoas que contribuíram para a realização desta dissertação. Ao Prof. Pinho, por sua orientação, boa vontade e o aprendizado adquirido ao longo dos anos. Aos membros da banca examinadora. Aos membros do GEDAE, pela ajuda. Ao CNPq, pela concessão da bolsa de estudos. Aos meus pais e minha família. v RESUMO Este trabalho apresenta um estudo sobre a influência mútua de harmônicos e cargas não-lineares em sistemas de energia elétrica. São apresentados os principais problemas de harmônicos de tensão e/ou corrente, causados por cargas não-lineares, em um sistema elétrico e também alguns conceitos pertinentes, quando componentes harmônicas estão presentes no sistema. Apresenta-se também um estudo das cargas não-lineares e seus modelos, com ênfase nas de fontes chaveadas e com o destaque ao desenvolvimento de um modelo utilizando série de potências para expressar a resposta (corrente) das cargas não-lineares em função da excitação (tensão). Para exemplificar o estudo, são feitas medições em cargas não-lineares isoladas e combinadas com outras cargas lineares e não-lineares, utilizando diferentes formas de onda da tensão de alimentação. Dessas medições, analisam-se os casos da influência do conteúdo harmônico de tensão sobre uma carga não-linear; do conteúdo harmônico da corrente proveniente de uma carga não-linear na tensão de alimentação; e da influência entre cargas não-lineares. vi ABSTRACT This work presents a study on the mutual influence of harmonic and nonlinear loads in electric power systems. The main problems of voltage and/or current harmonics, caused by nonlinear loads in an electric system are presented, together with some concepts due when harmonic components are present in the system. Also a study of the nonlinear loads and their models is presented, with emphasis on those containing switched-mode power supplies, and stressing the development of a model using power series to express the output (current) of the nonlinear loads as a function of the input (voltage). To exemplify the study, some measurements are conducted in nonlinear loads, both isolated and combined with other linear and nonlinear loads, using different waveforms for the voltage source. From these measurements, the cases of the influence of voltage harmonic content on a nonlinear load; of current harmonic content of a nonlinear load in the source voltage; and the influence between nonlinear loads are analysed. vii SUMÁRIO Resumo ...................................................................................................................................... v Abstract .................................................................................................................................... vi Sumário ...................................................................................................................................vii Lista de Figuras ....................................................................................................................... ix Lista de Tabelas .....................................................................................................................xiii Introdução ................................................................................................................................. 1 Capítulo 1 - HARMÔNICOS EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA................. 3 1.1 - Definição de Harmônicos ......................................................................................... 3 1.2 - Harmônicos em Sistemas Elétricos de Potência (Causas e Efeitos) ........................ 6 1.2.1 - Efeitos de Harmônicos de Corrente e/ou Tensão sobre os Componentes do Sistema Elétrico ...................................................................................... 7 1.3 - Ressonância Harmônica.......................................................................................... 11 1.4 - Interferência em Circuitos de Comunicações ......................................................... 12 1.5 - Padrões de Emissão de Harmônicos ....................................................................... 12 Capítulo 2 - CONCEITOS DE DISTORÇÃO E NÃO-LINEARIDADES........................ 14 2.1 - Distorções Não-Lineares......................................................................................... 14 2.2 - Definição de Valor rms........................................................................................... 15 2.3 - Potência Ativa e Reativa......................................................................................... 16 2.4 - Definição de Potência Aparente ............................................................................. 17 2.5 - Definição de Impedância Harmônica ..................................................................... 19 2.6 - Exemplos dos Conceitos Apresentados .................................................................. 20 viii 2.7 - Taxa de Distorção (em Relação a uma Senóide Pura)............................................ 29 2.8 - Definição de Fator de Potência............................................................................... 30 2.9 - Tensão não Senoidal Alimentando uma Carga Não-Linear ................................... 33 Capítulo 3 - CARGAS NÃO-LINEARES E SEUS MODELOS ........................................ 37 3.1 - Equipamentos Eletrônicos ...................................................................................... 37 3.1.1 - Corrente em Função da Tensão para Aparelhos Eletrônicos ..................... 42 3.2 - Saída em Função da Entrada para Cargas Não-Lineares ........................................ 51 3.3 - Equipamentos de Descarga a Arco e Equipamentos com Componentes Saturáveis................................................................................................................ 62 Capítulo 4 - INFLUÊNCIA MÚTUA ENTRE CARGAS NÃO-LINEARES COM DIFERENTES FORMAS DE ALIMENTAÇÃO.......................................... 64 4.1 - Influência da Forma de Onda de Alimentação em Cargas Não-Lineares............... 64 4.1.1 - Inversor de Onda Quadrada (LARK 300 W) ............................................ 65 4.1.2 - Inversor de Onda Quadrada Modificada (STATPOWER 800W) ............. 70 4.1.3 - Inversor de Onda Quadrada Modificada (STATPOWER 1.500W) .......... 71 4.1.4 - Inversor de Onda Senoidal (TRACE SW4048 4 kW) ............................... 76 4.1.5 - Comentários................................................................................................ 82 4.2 - Influência da Corrente Harmônica na Tensão de Alimentação .............................. 83 4.3 - Influência Mútua entre Cargas em Paralelo............................................................ 88 4.3.1 - Cargas Alimentadas por Tensão Senoidal.................................................. 88 4.3.2 - Cargas Alimentadas por Tensão Não-Senoidal.......................................... 99 4.4 - Comentários Finais................................................................................................ 103 Conclusões ............................................................................................................................. 105 Referências Bibliográficas ................................................................................................... 107 ix LISTA DE FIGURAS Capítulo 1 Figura 1.1 - Tensão de saída de um inversor de onda quadrada modificada.............................. 4 Figura 1.2 - Menu do programa desenvolvido neste trabalho .................................................... 4 Figura 1.3 - Espectro harmônico de amplitude e fase da tensão da figura 1.1 ........................... 5 Figura 1.4 - Composição da forma de onda por série de Fourier ............................................... 5 Figura 1.5 - Harmônicos ímpares múltiplos de 3 em um transformador trifásico.................... 10 Capítulo 2 Figura 2.1 - Carga não-linear.................................................................................................... 14 Figura 2.2 - Tensão x corrente.................................................................................................. 14 Figura 2.3 - Representação das impedâncias harmônicas ........................................................ 20 Figura 2.4 - Tensão e corrente medidas em um ventilador ...................................................... 21 Figura 2.5 - Forma de onda de tensão quadrada e corrente de uma carga RL linear ............... 22 Figura 2.6 - Formas de onda: (a) tensão e (b) corrente ............................................................ 23 Figura 2.7 - Espectro de amplitude e fase da tensão da figura 2.6 ........................................... 24 Figura 2.8 - Espectro de amplitude e fase da corrente da figura 2.6 ........................................ 24 Figura 2.9 - Espectro da potência ativa .................................................................................... 25 Figura 2.10 - Espectro da potência reativa ............................................................................... 25 Figura 2.11 - Espectro da potência aparente direta .................................................................. 26 Figura 2.12 - Fonte monofásica alimentando uma lâmpada incandescente por meio de um “dimmer” ................................................................................................. 27 Figura 2.13 - Formas de onda de tensão e corrente .................................................................. 28 Figura 2.14 - Espectro harmônico da tensão da figura 2.13 ..................................................... 28 Figura 2.15 - Espectro harmônico de corrente da figura 2.13 .................................................. 29 Figura 2.16 - Fator de potência real máximo em função da TDi.............................................. 33 Figura 2.17 - Corrente harmônica fluindo pela impendância série do sistema, resultando em uma tensão harmônica na carga ................................................. 34 Figura 2.18 - Formas de onda: (a) tensão; (b) corrente ............................................................ 34 Figura 2.19 - Espectro da tensão: (a) amplitude; (b) fase......................................................... 35 Figura 2.20 - Espectro da corrente: (a) amplitude; (b) fase...................................................... 35 x Capítulo 3 Figura 3.1 - Retificador a fonte chaveada................................................................................. 38 Figura 3.2 - Formas de onda de tensão e corrente de um computador alimentado por um inversor de onda senoidal ..................................................................................... 39 Figura 3.3 - Espectro de amplitude da corrente de entrada de um microcomputador.............. 40 Figura 3.4 - Formas de onda de tensão e corrente de um computador alimentado por um inversor de onda quadrada modificada ................................................................. 40 Figura 3.5 - Espectro de amplitude da corrente da figura 3.4 .................................................. 41 Figura 3.6 - Característica tensão versus corrente.................................................................... 42 Figura 3.7 - Formas de onda de tensão e corrente (televisão) .................................................. 43 Figura 3.8 - Regressão linear (em vermelho) da curva da figura 3.6 ....................................... 44 Figura 3.9 - Modelo de carga utilizado na regressão linear...................................................... 44 Figura 3.10 - Corrente da televisão medida (azul) e modelada (vermelho) ............................ 45 Figura 3.11 - Retificador monofásico com filtro capacitivo .................................................... 45 Figura 3.12 - Tensão de entrada (azul), tensão sobre o capacitor (preto), e corrente de entrada (vermelho) de um retificador com filtro capacitivo .............................. 46 Figura 3.13 - Corrente de entrada do retificador, medida (azul) e modelada (vermelho) ........ 47 Figura 3.14 - Corrente em função da tensão............................................................................. 48 Figura 3.15 - Tensão de entrada (azul), tensão sobre o capacitor (preto) e corrente de entrada (x20) (vermelho) de um retificador com filtro capacitivo .................... 49 Figura 3.16 - Corrente de entrada (transitório)......................................................................... 49 Figura 3.17- Tensão sobre o capacitor e resistor (transitório) ................................................. 50 Figura 3.18 - Corrente de entrada (azul) e corrente modelada (vermelho) do retificador........ 50 Figura 3.19 - Representação de uma carga não-linear: Entrada: tensão; saída: corrente ......... 51 Figura 3.20 - Formas de onda de tensão e corrente medidas.................................................... 57 Figura 3.21 - Espectros de amplitude e fase da corrente .......................................................... 57 Figura 3.22 - Correntes medida (azul) e modelada (vermelho) ............................................... 58 Figura 3.23 - Formas de onda de tensão e corrente medidas.................................................... 60 Figura 3.24 - Espectro de amplitude e fase da corrente ........................................................... 61 Figura 3.25 - Correntes medida (azul) e modelada (vermelho) ............................................... 61 Figura 3.26 - Modelo de máquina de indução considerando a saturação................................. 62 xi Capítulo 4 Figura 4.1 - Esquema da bancada de medições ........................................................................ 65 Figura 4.2 - Tensão e corrente rms ao longo do tempo, para 10 lâmpadas PL ........................ 65 Figura 4.3 - (a) Tensão de alimentação quadrada; (b) corrente nas 4 lâmpadas ...................... 66 Figura 4.4 - Espectro de amplitude (a) e fase (b) da tensão da figura 4.2 ................................ 66 Figura 4.5 - Espectro de amplitude (a) e fase (b) da corrente da figura 4.2 ............................. 67 Figura 4.6 - Espectro da potência ativa .................................................................................... 67 Figura 4.7 - Espectro da potência reativa ................................................................................. 68 Figura 4.8 - Tensão e corrente rms de 10 lâmpadas PL ao longo do tempo............................. 70 Figura 4.9 - Tensão e corrente rms de 6 lâmpadas PL ao longo do tempo............................... 71 Figura 4.10 - Formas de onda de tensão (azul) e corrente (vermelho) .................................... 71 Figura 4.11 - Espectro da tensão: (a) amplitude; (b) fase da figura 4.9 ................................... 72 Figura 4.12 - Espectro da corrente: (a) amplitude; (b) fase da figura 4.9 ................................ 73 Figura 4.13 - Espectro da potência ativa .................................................................................. 73 Figura 4.14 - Espectro da potência reativa ............................................................................... 74 Figura 4.15 - Variação dos valores rms de tensão e corrente ................................................... 77 Figura 4.16 - Formas de onda de tensão (azul) e corrente (vermelho) .................................... 77 Figura 4.17 - Espectro da tensão: (a) amplitude; (b) fase da figura 4.15 ................................. 78 Figura 4.18 - Espectro da corrente: (a) amplitude; (b) fase da figura 4.15 .............................. 78 Figura 4.19 - Espectro da potência ativa .................................................................................. 79 Figura 4.20 - Espectro da potência reativa ............................................................................... 79 Figura 4.21 – Carga conectada ao circuito do secundário do “varivolt”.................................. 83 Figura 4.22 – Tensão medida a vazio ....................................................................................... 84 Figura 4.23 - Espectro da tensão a vazio: (a) amplitude; (b) fase ............................................ 85 Figura 4.24 – Formas de onda medidas de tensão (a) e corrente (b) nas 4 lâmpadas .............. 85 Figura 4.25 - Espectro da tensão nas 4 lâmpadas: (a) amplitude; (b) fase ............................... 86 Figura 4.26 - Espectro da corrente nas 4 lâmpadas: (a) amplitude; (b) fase. ........................... 86 Figura 4.27 - Formas de onda de tensão e corrente das 4 lâmpadas (isoladas). ....................... 88 Figura 4.28 - Espectro harmônico de amplitude da tensão da figura 4.26. .............................. 89 Figura 4.29 - Espectro harmônico de amplitude da corrente da figura 4.26. ........................... 89 Figura 4.30 - Formas de onda de tensão e corrente das 4 lâmpadas (computador em paralelo)................................................................................... 90 Figura 4.31 - Espectro harmônico de amplitude da tensão da figura 4.29. .............................. 90 xii Figura 4.32 - Espectro harmônico de amplitude da corrente da figura 4.29. ........................... 90 Figura 4.33 - Formas de onda de tensão e corrente das 4 lâmpadas (ventilador em paralelo). ..................................................................................... 91 Figura 4.34 - Espectro harmônico de amplitude da tensão da figura 4.32. .............................. 91 Figura 4.35 - Espectro harmônico de amplitude da corrente da figura 4.32. ........................... 92 Figura 4.36 - Formas de onda de tensão (azul) e corrente (vermelho) de 2 lâmpadas PL (isoladas)................................................................................ 96 Figura 4.37 - Formas de onda de tensão (azul) e corrente (vermelho) de 2 lâmpadas PL (TV em paralelo). ................................................................... 96 Figura 4.38 – Espectro de amplitude da corrente de 2 lâmpadas (isoladas)............................. 97 Figura 4.39 – Espectro de amplitude da corrente de 2 lâmpadas (TV em paralelo). ............... 97 Figura 4.40 – Espectro de amplitude da tensão de 2 lâmpadas (isoladas)................................ 98 Figura 4.41 – Espectro de amplitude da tensão de 2 lâmpadas (TV em paralelo). .................. 98 Figura 4.42 - Formas de onda de tensão e corrente de um microcomputador (isolado). ....... 100 Figura 4.43 - Formas de onda de tensão e corrente de um microcomputador (ventilador em paralelo)..................................................................................... 101 Figura 4.44 - Espectro de amplitude da corrente do microcomputador (isolado). ................. 101 Figura 4.45 - Espectro de amplitude da corrente do microcomputador (ventilador em paralelo).................................................................................... 101 Figura 4.46 - Espectro de amplitude da tensão do microcomputador (isolado). .................... 102 Figura 4.47 - Espectro de amplitude da tensão do microcomputador (ventilador em paralelo).................................................................................... 102 Figura 4.48 – Comparação dos espectros da corrente nas 2 lâmpadas, para diferentes ajustes da imagem da TV em paralelo .................................... 104 xiii LISTA DE TABELAS Capítulo 2 Tabela 2.1 - Resultados obtidos por meio de simulação .......................................................... 26 Tabela 2.2 - Valores medidos de algumas cargas residenciais monofásicas............................ 32 Tabela 2.3 - Inversor de onda quadrada alimentando computador e 4 lâmpadas PL............... 36 Capítulo 3 Tabela 3.1 - Comparação entre fonte linear e fonte chaveada.................................................. 39 Tabela 3.2 - Valores calculados para módulo e fase do coeficiente k̂ n ................................... 59 Tabela 3.3 - Valores calculados para módulo e fase do coeficiente k̂ n ................................... 61 Capítulo 4 Tabela 4.1 - Valores calculados no domínio da freqüência para a alimentação do tipo quadrada .............................................................................................................. 69 Tabela 4.2 - Valores calculados no domínio da freqüência para a alimentação do tipo quadrada modificada ........................................................................................... 75 Tabela 4.3 - Características técnicas dos inversores de onda quadrada modificada utilizados 76 Tabela 4.4 - Característica técnicas do inversor TRACE......................................................... 76 Tabela 4.5 - Luminosidade das lâmpadas, temperatura do reator e eficiência luminosa ......... 80 Tabela 4.6 - Valores calculados no domínio da freqüência para a alimentação do tipo senoidal.................................................................................................... 81 Tabela 4.7 - Perdas em mW/m em um cabo de 4mm2 ............................................................. 82 Tabela 4.8 – Valores no domínio da freqüência da tensão (azul) (a vazio e com 4 lâmpadas), corrente (vermelho) e potência (preto). ................. 87 Tabela 4.9 - Tensão na carga (VL)............................................................................................ 93 Tabela 4.10 – Corrente nas 4 lâmpadas.................................................................................... 94 Tabela 4.11 - Variação percentual da amplitude da tensão nas 4 lâmpadas (comparando com a tensão medida nas lâmpadas isoladas)............................... 95 Tabela 4.12 - Variação percentual da amplitude da corrente nas 4 lâmpadas (comparando com a corrente medida nas lâmpadas isoladas) ........................... 95 Tabela 4.13 - Corrente nas 2 lâmpadas PL............................................................................... 99 Tabela 4.14 - Corrente no microcomputador.......................................................................... 103 1 INTRODUÇÃO Atualmente, uma das grandes preocupações do setor elétrico é o uso da energia elétrica de uma forma cada vez mais racional e otimizada, tendo em vista a dificuldade de expandir a oferta de energia, por falta de recursos financeiros. Diante da necessidade de se ter ganhos em eficiência e produtividade, os consumidores tendem a buscar por equipamentos mais modernos que propiciem esses fatores, associados à redução das perdas. Porém, esses equipamentos são mais sensíveis às falhas e distúrbios do sistema elétrico de potência e, por outro lado, devido à suas características nãolineares, constituem as próprias fontes de problemas e deterioram a qualidade do suprimento elétrico. Com isso, tem-se criado uma situação complexa no setor elétrico, pois, muitas das medidas de conservação, apesar de serem atrativas, se não forem estudadas e implementadas de forma conveniente, podem resultar em vários problemas relacionados à qualidade de energia elétrica. Dentre esses problemas, a poluição harmônica produzida por cargas nãolineares aparece em grande destaque. Com a conexão de cargas com características não-lineares à rede elétrica, há circulação de correntes com conteúdo harmônico, provocando a distorção da onda senoidal de tensão em diversos pontos. A presença de harmônicos na tensão e/ou na corrente pode ocasionar danos aos componentes da rede elétrica e aos próprios equipamentos de uma instalação. Problemas com harmônicos desviam-se das regras convencionais de projeto e operação de equipamentos, que são baseadas na consideração de que existe somente a freqüência fundamental na forma de onda de tensão e/ou corrente. Torna-se necessário, então, estudos quando harmônicos de tensão e/ou corrente estão presentes, bem como a definição de grandezas elétricas nessa situação e o desenvolvimento de modelos para as cargas nãolineares, causadoras de poluição harmônica. Neste trabalho é desenvolvido um estudo sobre a influência mútua de harmônicos e cargas não-lineares em sistemas de energia elétrica. O Capítulo 1 apresenta uma abordagem sobre harmônicos, as causas mais freqüentes da poluição harmônica em um sistema elétrico de potência, e os efeitos da tensão e/ou corrente com conteúdo harmônico nos componentes do sistema. 2 No Capítulo 2 faz-se um estudo das distorções não-lineares, sendo apresentados definições e exemplos relacionados a grandezas elétricas, quando a tensão e/ou corrente apresentam conteúdo harmônico. O Capítulo 3 mostra um estudo de cargas não-lineares, principalmente as de fontes chaveadas monofásicas, e apresenta modelos para essas cargas na tensão e freqüência de operação. No Capítulo 4 são feitas análises, por meio de medições realizadas, da influência do conteúdo harmônico de tensão em cargas não-lineares, do conteúdo harmônico de corrente na tensão de suprimento, e da influência do conteúdo harmônico entre cargas não-lineares. Para as simulações realizadas ao longo dos capítulos, foi desenvolvido um programa em MATLABTM, com a finalidade de avaliar, no domínio da freqüência, uma variedade de parâmetros relacionados às grandezas medidas. 3 CAPÍTULO 1 HARMÔNICOS EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA Neste capítulo apresenta-se de maneira sucinta o que são harmônicos, o que pode causar a poluição harmônica em um sistema elétrico de potência e os efeitos dessa poluição sobre os componentes do sistema. 1.1 – Definição de Harmônicos Uma função periódica pode ser representada por uma soma infinita de funções senoidais (série de Fourier), cada uma com uma determinada amplitude e fase, mais uma componente de freqüência zero. A freqüência das funções senoidais da série infinita é um múltiplo inteiro (k), ou harmônico, da freqüência da função periódica, que é chamada de freqüência fundamental (ω0). ∞ x(t ) = X 0 cos φ 0 + ∑ X k cos( kω 0 t + φ k ) (1.1) k =1 onde: X 0 = | Cˆ 0 | ; X k = 2. | Cˆ k | ; φ 0 = fase(Cˆ 0 ) (0º ou 180º); φ k = fase(Cˆ k ) ; 1 Cˆ 0 = ∫ x(t ).dt ; TT 1 Cˆ k = ∫ x(t ).e − jkω t .dt (coeficiente complexo); TT 0 As vantagens de se utilizar a série de Fourier são: [1] - utilidade para o estudo de redes elétricas que contém correntes e/ou tensões não senoidais; - a freqüência das componentes é um múltiplo inteiro (harmônico) da freqüência fundamental; - em uma rede linear, cada componente harmônica pode ser tratada separadamente (princípio da superposição) usando análise fasorial (domínio da freqüência) e então combinam-se os resultados e converte-se de volta para o domínio do tempo. 4 A figura 1.1 apresenta a forma de onda de tensão medida na saída de um inversor de onda quadrada modificada (StatPower 1500, 60 Hz).[2] A amostragem da forma de onda da figura 1.1 foi feita por um equipamento (Fluke 43 – “Power Quality Analyser”) que fornece 256 pontos em 4 períodos. Os dados medidos no domínio do tempo foram passados a um programa desenvolvido em MATLABTM, onde se tem a possibilidade, por meio de um menu (figura 1.2), de visualizar o espectro harmônico de amplitude, fase, real e imaginário, obtidos por meio do cálculo dos coeficientes complexos da série de Fourier da forma de onda amostrada. A figura 1.3 mostra o espectro de amplitude e fase até o 25o harmônico (25x60 Hz = 1,5 kHz) da forma de onda da figura 1.1. Sinal Perió dico, v(t) 200 150 100 Amplitude (V) 50 0 -50 -100 -150 -200 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 Tempo (seg) Figura 1.1 - Tensão de saída de um inversor de onda quadrada modificada. Figura 1.2 – Menu do programa desenvolvido neste trabalho. 5 Espectro de Amplitude da tensã o 200 A m plitude 150 100 50 0 0 5 10 15 Nú mero do Harmô nico (k) Espectro de Fase 20 25 0 5 10 15 Nú mero do Harmô nico (k) 20 25 Fase (graus) 200 100 0 -100 -200 Figura 1.3 - Espectro harmônico de amplitude e fase da tensão da figura 1.1. A figura 1.4 mostra, em azul, a forma de onda periódica de tensão formada pelo somatório de ondas senoidais até o 25o harmônico e, em vermelho, para fins de visualização, as formas de onda dos 5 primeiros harmônicos. 200 150 100 Amplitude (V) 50 0 -50 -100 -150 -200 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 Tempo (seg) Figura 1.4 - Composição da forma de onda por série de Fourier. Geralmente, os harmônicos de ordem elevada (acima de 25) são desprezíveis para a análise, devido a possuírem amplitudes muitos pequenas em relação à fundamental, não 6 causando, assim, danos aos componentes do sistema de potência, mas podendo causar interferência em dispositivos eletrônicos de baixa potência. Quando os meios ciclos, positivo e negativo (em relação ao nível DC), de uma forma de onda têm o mesmo formato, a série de Fourier contém somente harmônicos ímpares. Muitos dispositivos de sistemas elétricos de potência, quando excitados por uma forma de onda senoidal de tensão, respondem com uma forma de onda de corrente com um mesmo formato em ambas as polaridades. A presença de uma amplitude de um harmônico par significativa é indício de que há algo errado, ou com a carga, ou com o equipamento utilizado para a medição. Porém, há exceções como, por exemplo, os retificadores de meia-onda e fornos a arco, quando o arco é aleatório. Embora distúrbios transitórios contenham componentes em alta freqüência, transitórios e harmônicos são fenômenos diferentes.[3] Harmônicos, por definição, ocorrem em regime permanente e são múltiplos inteiros da freqüência fundamental. A forma de onda com conteúdo harmônico está continuamente presente, ou pelo menos por vários ciclos, enquanto que transitórios desaparecem em poucos ciclos, sendo associados a mudanças no sistema (tal como o chaveamento de um banco de capacitores), e as freqüências contidas nesse fenômeno não são necessariamente harmônicas. 1.2 – Harmônicos em Sistemas Elétricos de Potência (Causas e Efeitos) A presença de harmônicos em sistemas elétricos de potência não é um fenômeno novo. Esforços para limitar o conteúdo de harmônicos para proporções aceitáveis já eram uma preocupação de engenheiros da área de potência no início do século passado.[4] Naquela ocasião, a distorção era causada tipicamente pela saturação magnética de transformadores, ou por certas cargas industriais, como fornos a arco ou soldadores a arco. As principais preocupações eram os efeitos dos harmônicos em máquinas síncronas, de indução, interferência na telefonia e falhas em bancos de capacitores. Hoje, porém, métodos adicionais para lidar com harmônicos são necessários por três razões principais: - a proliferação do uso de conversores estáticos de potência; - o aumento das possibilidades de ressonâncias na rede elétrica; - a presença de equipamentos e cargas do sistema de potência com maior sensibilidade a harmônicos. 7 As principais fontes de harmônicos em um sistema elétrico são provenientes de equipamentos com características não-lineares. As fontes clássicas de harmônicos são: - equipamentos com componentes saturáveis (transformadores, máquinas elétricas, reatores, etc.); - lâmpadas de descarga de gás; - fornos a arco; - equipamentos de eletrônica de potência (conversores comutados pela linha, conversores PWM (Pulse-Width Modulated), cicloconversores, compensadores estáticos de reativos (SVC), outros dispositivos de eletrônica de potência). Atualmente, tem-se constatado, no setor elétrico, uma popularização do uso da eletrônica de potência e controles microprocessados no setor doméstico, onde se tem presenciado um crescente aumento de aparelhos cada vez mais sofisticados e funcionais.[5] Esses eletrodomésticos possuem, em sua grande maioria, conversores eletrônicos, tendo como conseqüência uma forma de onda de corrente distorcida em comparação à forma de onda fornecida pelo sistema de distribuição. Os principais problemas causados por harmônicos são: [6] - Aumento das perdas por histerese e correntes parasitas, com aquecimento adicional em máquinas elétricas, transformadores, cabos, condutores, conectores, etc; - Aumento das solicitações dielétricas, com possíveis falhas no isolamento dos equipamentos; - Imprecisão e instabilidade na operação de sistemas de controle, proteção e medição; - Interferência em sistemas de comunicação; - Redução da vida útil de equipamentos; - Ressonância harmônica. No Capítulo 3 são apresentados com mais detalhes alguns equipamentos que produzem harmônicos no sistema elétrico. 1.2.1 - Efeitos de Harmônicos de Corrente e/ou Tensão sobre os Componentes do Sistema Elétrico Os efeitos de harmônicos são divididos em três categorias gerais: [4] - efeitos sobre o próprio sistema elétrico; - efeitos sobre a carga do consumidor; 8 - efeitos sobre circuitos de comunicação. O grau com que harmônicos podem ser toleradas em um sistema de alimentação depende da susceptibilidade da carga (ou da fonte de potência). Os equipamentos menos sensíveis, geralmente, são os de aquecimento (carga resistiva), para os quais a forma de onda de tensão não é relevante.[7] Os mais sensíveis são aqueles que, em seu projeto, assumem a existência de uma alimentação senoidal como, por exemplo, equipamentos de comunicação e processamento de dados. No entanto, mesmo para as cargas de baixa susceptibilidade, a presença de harmônicos (de tensão ou de corrente) pode ser prejudicial, produzindo maiores esforços nos componentes e isolantes. 1.2.1.1 - Cabos de alimentação O efeito pelicular provoca mudanças nos parâmetros de um condutor devido à nãouniformidade da corrente conduzida pelo mesmo, que tende a fluir sobre a superfície do condutor, e esse efeito aumenta com a freqüência. A conseqüência do efeito pelicular é um aumento na resistência do condutor e uma diminuição de sua indutância interna, sendo que o efeito pelicular indutivo é geralmente desprezível.[8] A equação a seguir pode ser derivada da teoria de campos para uma resistência AC, levando em consideração o efeito pelicular: [9] jµω J z (r ) R = Re ⋅ 2πa ∂J z ( r ) / ∂r | r =a , (1.2) onde J z (r ) é a densidade de corrente e a é o raio externo do condutor. Devido ao efeito pelicular, os cabos de alimentação têm um aumento de perdas devido as componentes harmônicas de corrente em freqüência elevada. Além do efeito pelicular, tem-se o chamado "efeito de proximidade", o qual relaciona um aumento na resistência do condutor em função do efeito dos campos magnéticos produzidos pelos demais condutores colocados nas adjacências. Além disso, caso os cabos sejam longos e os sistemas conectados tenham suas ressonâncias excitadas pelas componentes harmônicas, podem aparecer elevadas sobre-tensões ao longo da linha, podendo danificar o cabo. 1.2.1.2 - Máquinas elétricas (motores e geradores) O maior efeito dos harmônicos em máquinas rotativas (indução e síncrona) é o aumento do aquecimento devido ao aumento das perdas no ferro e no cobre. Afeta-se, assim, 9 a eficiência e o torque disponível. Além disso, tem-se um possível aumento do ruído audível, quando comparado com a alimentação senoidal de tensão. Outro fenômeno é a presença de harmônicos no fluxo magnético, produzindo alterações no acionamento, como componentes de torque que atuam no sentido oposto ao da fundamental, como ocorre com o 5º, 11º, 17º, etc. harmônicos em máquinas balanceadas. O sobre-aquecimento que pode ser tolerado depende do tipo de rotor utilizado. Rotores bobinados são mais seriamente afetados do que os de gaiola. Os de gaiola profunda, por causa do efeito pelicular, que implica numa redução da área efetivamente condutora à medida que se eleva a freqüência da corrente, produzem maior elevação de temperatura do que os de gaiola convencional. O efeito cumulativo do aumento das perdas reflete-se em uma diminuição da eficiência e da vida útil da máquina. A redução na eficiência é indicada na literatura como de 5 a 10% dos valores obtidos com uma alimentação senoidal.[7] Este fato não se aplica a máquinas projetadas para alimentação a partir de inversores, mas apenas àquelas de uso em alimentação direta da rede. Algumas componentes harmônicas podem estimular oscilações mecânicas em sistemas turbina-gerador ou motor-carga, devido a uma potencial excitação de ressonâncias mecânicas. Isto pode levar a problemas industriais como, por exemplo, na produção de fios, em que a precisão no acionamento é elemento fundamental para a qualidade do produto. 1.2.1.3 - Transformadores Os transformadores são projetados para atender às exigências de potência de uma determinada carga com um mínimo de perdas na freqüência fundamental. Quando há presença de conteúdo harmônico na tensão e/ou corrente há também um aumento nas perdas. Harmônicos na tensão aumentam as perdas no ferro, enquanto harmônicos na corrente elevam as perdas no cobre. A elevação das perdas no cobre deve-se principalmente ao efeito pelicular. Normalmente as componentes harmônicas possuem amplitude reduzida, o que contribui para não tornar excessivos esses aumentos de perdas. No entanto, podem surgir situações específicas (ressonâncias, por exemplo) em que surjam componentes de alta freqüência e amplitude elevada. Além disso, o efeito das reatâncias de dispersão fica ampliado, uma vez que seu valor aumenta com a freqüência. 10 Associado à dispersão existe ainda outro fator de perdas que se refere às correntes induzidas pelo fluxo disperso. Esta corrente manifesta-se nos enrolamentos, no núcleo, e nas peças metálicas adjacentes aos enrolamentos. Essas perdas crescem proporcionalmente ao quadrado da freqüência e da corrente. Tem-se ainda uma maior influência das capacitâncias parasitas (entre espiras e entre enrolamento) que podem realizar acoplamentos não desejados e, eventualmente, produzir ressonâncias no próprio dispositivo. Em um sistema trifásico balanceado, a presença de harmônicos ímpares múltiplos de 3 (“triplen”) da corrente pode ocasionar aquecimento excessivo do condutor neutro, para uma ligação estrela aterrada, e uma corrente circulatória confinada nos enrolamentos do transformador quando o mesmo estiver ligado em triângulo. Esse caso é mostrado na figura 1.5, para um transformador ligado em estrela-triângulo. Como o sistema é balanceado, os harmônicos ímpares múltiplos de 3, inclusive o próprio 3o harmônico, contidos na corrente são de seqüência zero, adicionando-se no neutro, e a corrente induzida por eles fica confinada nos enrolamentos do transformador no lado delta. Figura 1.5 – Harmônicos ímpares múltiplos de 3 em um transformador trifásico. 1.2.1.4 - Relés de proteção e fusíveis Um aumento da corrente eficaz devido a harmônicos sempre provocará um maior aquecimento dos dispositivos pelos quais circula a corrente, podendo ocasionar uma redução em sua vida útil e, eventualmente, sua operação inadequada. Em termos dos relés de proteção, não é possível definir completamente as respostas devido à variedade de distorções possíveis e aos diferentes tipos de dispositivos existentes. 1.2.1.5 - Banco de capacitores Um grande problema que pode ocorrer em um banco de capacitores é a ressonância excitada pelos harmônicos, podendo produzir níveis excessivos de corrente e/ou de tensão. 11 Como a reatância capacitiva diminui com o aumento da freqüência, tem-se uma atração das correntes harmônicas presentes no sistema elétrico. As correntes de alta freqüência, que encontrarão um caminho de menor impedância nos capacitores, elevarão as perdas ôhmicas e o aumento da solicitação dielétrica sobre os capacitores, diminuindo a vida útil do capacitor. 1.2.1.6 - Aparelhos de medição Aparelhos de medição e instrumentação em geral são afetados por harmônicos, especialmente se ocorrerem ressonâncias que afetam a grandeza medida. Dispositivos com discos de indução, como alguns tipos de medidores de energia, são sensíveis a componentes harmônicas, pois são projetados e calibrados para medir grandezas baseadas na forma de onda senoidal de tensão e corrente na freqüência fundamental, podendo apresentar erros positivos ou negativos de medição, dependendo do tipo de medidor, devido a torques produzidos pelos harmônicos presentes. Considerando a legislação e os modelos tarifários presentes no Brasil, os resultados obtidos na referência [10], onde se faz uma avaliação de medidores eletromecânicos e eletrônicos instalados em grandes consumidores de cada tipo de atividade econômica, mostram que os desvios na fatura de energia são pequenos. Assim sendo, no contexto em que os dados foram obtidos, nem as concessionárias e nem os consumidores parecem sofrer prejuízos por utilizarem medidores convencionais em ambientes com presença de conteúdo harmônico. 1.2.1.7 - Equipamentos eletrônicos Alguns equipamentos podem ser muito sensíveis se a forma de onda de tensão contiver harmônicos. Por exemplo, se um aparelho utiliza os cruzamentos com o zero (ou outros aspectos da onda de tensão) para realizar alguma ação, alterações na forma de onda de tensão podem modificar, ou mesmo inviabilizar, seu funcionamento. Caso os harmônicos penetrem na alimentação do equipamento por meio de acoplamentos indutivos e capacitivos (que se tornam mais efetivos com a aumento da freqüência), eles podem também alterar o bom funcionamento do aparelho. 1.3 - Ressonância Harmônica Todos os circuitos contendo capacitores e indutores possuem uma ou mais freqüências naturais. Quando uma dessas freqüências for a mesma que está sendo produzida no sistema 12 elétrico haverá ressonância, podendo levar a valores muito altos de tensão e/ou corrente se essa freqüência continuar a persistir. Este é o motivo de muitos problemas quando há conteúdo harmônico no sistema elétrico. Ressonâncias séries (capacitor em série com indutor) apresentam um caminho de baixa impedância para as correntes harmônicas, enquanto que ressonâncias paralelas (capacitor em paralelo com o indutor) apresentam um caminho de alta impedância. Um efeito da ressonância paralela é a geração de sobretensões que excedem o nível de isolamento de bancos de capacitores. Esse problema é agravado pela tendência nos últimos anos de se instalarem bancos de capacitores para melhorar o fator de potência ou controlar o nível de tensão.[4] 1.4 – Interferência em Circuitos de Comunicações Correntes harmônicas em um sistema de distribuição ou dentro de uma instalação elétrica do consumidor podem criar interferência em circuitos de comunicações, se a tensão induzida devido a essas correntes estiver dentro da largura de faixa da comunicação normal de voz. Harmônicos entre 540 Hz (nono harmônico) e 1.200 Hz (vigésimo harmônico) são particularmente destrutivos [3] . As correntes harmônicas no sistema estão acopladas com o circuito de comunicação ou por indução (blindagem não adequada) ou por condução direta (compartilhamento do circuito terra). 1.5 - Padrões de Emissão de Harmônicos Os padrões americanos relativos a harmônicos foram colocados pelo IEEE na recomendação 519 (“IEEE Recommended Practices and Requirements for Harmonic Control in Electric Power Systems”).[11] A proposta do IEEE 519 é recomendar limites sobre conteúdo harmônicos de acordo com dois critérios distintos: 1- Há uma limitação da quantidade de corrente harmônicas que um consumidor pode injetar na rede da concessionária. 2- É estabelecida uma limitação sobre o nível de tensão harmônica que uma concessionária pode fornecer a um consumidor. Para esta recomendação, não interessa ao sistema o que ocorre dentro de uma instalação, mas sim o que ela reflete para o exterior, ou seja, para os demais consumidores ligados à mesma rede de alimentação. 13 A norma IEC 1000 é referência mundial para as medições do nível de harmônicos em sistemas de distribuição.[6] A IEC 61000-3-2 provê limites para a emissão de componentes harmônicas de corrente em equipamentos (agrupados em classes) com corrente eficaz inferior a 16 A (por fase). Para equipamentos com correntes superiores a 16 A por fase, a norma IEC recomenda a aplicação da IEC 61000-3-4. A norma européia EN50160 fornece as principais características da tensão, inclusive de tensões harmônicas, no ponto de entrega ao consumidor em baixa e média tensão sob condições normais de operação.[12] A recomendação do GCOI/GCPS (Eletrobras) apresenta limites (globais e individuais) de conteúdo harmônico de tensão fase-terra para sistemas de tensão inferiores e superiores a 69 kV.[6] Os limites admissíveis e correntes harmônicas devem ser estabelecidos de forma a evitar que o conteúdo harmônico de tensão seja excedido no ponto de entrega. No Brasil, ainda não há uma norma definida quanto à geração de harmônicos, mas há uma tendência em adotar-se a IEEE 519 e/ou a IEC 61000-3-2. A norma IEC 61000-3-2 está sendo sugerida para aplicação, já existindo regulamentação a vigorar em 02/2002 para o setor de reatores eletrônicos para iluminação fluorescente acima de 60W (NBR 14418).[13] Como visto neste capítulo, a poluição harmônica pode apresentar efeitos danosos aos componentes do sistema elétrico, e essa poluição tende a crescer em todos os setores (residencial, comercial e industrial) com o aumento da utilização de cargas com características não-lineares. Portanto, para que se mantenha a qualidade no suprimento de energia em um sistema elétrico de potência, torna-se necessária a monitoração dos padrões estabelecidos relativos a harmônicos e o desenvolvimento de técnicas que auxiliem na redução ou eliminação do conteúdo harmônico no sistema. 14 CAPÍTULO 2 CONCEITOS DE DISTORÇÃO E NÃO-LINEARIDADES Neste capítulo apresentam-se alguns conceitos que serão utilizados ao longo do trabalho e nas simulações realizadas. 2.1- Distorções Não-lineares Um sistema é dito linear se a forma de onda de saída é diretamente proporcional à de entrada. A presença de uma característica não-linear leva à distorção da forma de onda, conhecida como distorção não linear. A figura 2.1 ilustra esse conceito; para uma tensão senoidal aplicada à carga não-linear tem-se como resposta uma corrente distorcida. A tensão e a corrente variam de acordo com a curva mostrada na figura 2.2. Figura 2.1 - Carga não-linear. Figura 2.2 - Tensão x corrente. Neste exemplo: i(t ) = k1v(t ) + k 2 v 2 (t ) + k3v 3 (t ) ; v (t ) = 127 2 cos(ω 0 t ) ; 15 k1 = 0,0111; k 2 = 1,55.10-5 ; -7 k3 = 6,904.10 . Os efeitos da característica não linear de um sistema são, basicamente, o aparecimento, na forma de onda de saída, de harmônicos, produtos de intermodulação, no caso de mais de um sinal de entrada, e modulação cruzada no caso de sinais de entrada modulados.[14] O fato de uma forma de onda não ser senoidal não quer dizer que ela esteja distorcida, como por exemplo um resistor alimentado por uma tensão com forma de onda quadrada produzirá também uma forma de onda quadrada de corrente, não caracterizando uma distorção. Portanto não se deve confundir não senoidal com distorcida. Em um sistema não-linear não se aplica o princípio da superposição, a corrente resultante de duas cargas não-lineares em paralelo alimentadas por uma forma de onda de tensão, por exemplo, é diferente da soma das correntes das cargas alimentadas individualmente pela mesma forma de onda da tensão. A distorção é um efeito que ocorre na forma de onda da resposta, quando o seu formato é modificado em relação à excitação. Um deslocamento vertical da forma de onda da resposta (mudança do nível DC), um deslocamento horizontal (mudança de fase igual para todas as componentes harmônicas), uma atenuação ou uma amplificação do sinal de entrada não caracterizam uma distorção. Porém, em alguns casos o nível DC pode ser considerado uma distorção, quando o mesmo for um efeito indesejado na forma de onda da resposta. 2.2 - Definição de Valor rms O valor médio quadrático (rms – “root mean square”) ou eficaz de uma forma de onda periódica, x(t ) = ∞ ∑ X k cos(kω 0 t + φ k ) , é definido como: k =0 1/ 2 1 X rms = ∫ x 2 (t )dt T T , (2.1) ou, X rms 2 1 ∞ = ∫ ∑ X k cos( kω 0 t + φ k ) dt T T k =0 1/ 2 ⋅ (2.2) Separando-se os produtos diretos e cruzados, obtém-se: 1/ 2 ∞ 1 ∞ ∞ 1 2 2 X rms = X k cos (kω0t + φk )dt + X r X s cos(rω0t + φr ) cos(sω0t + φs )dt . (2.3) T T T r=0 s=0 T k=0 s≠r ∫∑ ∫ ∑∑ 16 Calculando o primeiro termo da integral da equação (2.3): ∞ 1 ∞ 1 2 2 2 2 cos ( ω φ ) cos φ X k t + dt = X + X k 2 cos 2 (kω 0t + φk ) dt = ∑ ∑ k 0 k 0 0 ∫ ∫ T k =0 T k =1 T T = 1 T 2 2 ∞ ∞ 2 X cos2 φ + ∑ X k (1 + cos(2kω t + 2φ ) )dt = X 2 cos2 φ + ∑ X k . 0 0 0 0 k ∫ 0 2 k =1 2 k =1 T Calculando o segundo termo da integral da equação (2.3): 1 ∞ ∞ ∑ ∑ X r X s cos(rω0t + φr ) cos(sω0t + φs )dt = 0 . T ∫ r = 0s = 0 T s≠r Logo: 1/ 2 ∞ X 2 X rms = X 0 2 cos 2 φ0 + ∑ k k =1 2 . (2.4) Como φ0 é igual a 0º ou 180º, portanto: 1/ 2 ∞ X 2 X rms = X 0 2 + ∑ k 2 k =1 . (2.5) Ou, em termos dos valores rms de cada componente: X rms 1/ 2 ∞ 2 = X k rms k =0 ∑ . (2.6) O valor rms pode ser interpretado, por exemplo em termos de corrente, como o valor constante de uma corrente que, no mesmo intervalo de tempo, produz a mesma quantidade de calor numa resistência que uma corrente variável i(t). O nível DC de uma forma de onda deve ser incluído no cálculo do valor rms; porém a maioria dos autores não considera o nível DC. 2.3 - Potência Ativa e Reativa A teoria convencional de potência ativa e reativa tem sua validade fisicamente confirmada apenas para sistemas operando em regime permanente e sem distorção, no caso monofásico. No caso de um sistema trifásico, o sistema deve ser ainda balanceado (essa teoria considera o sistema trifásico como se fosse composto por três sistemas monofásicos independentes, desconsiderando o acoplamento entre as fases). É verdade que na maioria dos casos o sistema elétrico apresenta aproximadamente essas características.[15] No entanto, em alguns sistemas especiais é comum a alimentação ser feita com uma ou duas fases, 17 caracterizando um sistema desbalanceado. Também, o uso generalizado de retificadores e conversores baseados em chaves semicondutoras tem aumentado muito o número de cargas que, além de gerarem correntes com alto conteúdo de harmônicos, geram também desequilíbrios entre as fases e correntes de neutro. Um fato importante de ser mencionado é que a teoria convencional foi toda derivada com base em fasores e valores eficazes, o que caracteriza uma técnica desenvolvida para uma freqüência apenas. Assim, ela não é adequada quando o sistema for não-linear, tendo mais de uma freqüência presente no sistema. A potência ativa, ou o valor médio da potência instantânea, define o quanto de energia está sendo consumida ou está sendo entregue pela carga (funcionando como fonte de potência) em cada freqüência. P= ∞ 1 v(t ).i(t ).dt = ∑Vk ,rms .I k ,rms . cos(θ vk − θ ik ) = P0 + P1 + P2 + P3 + ... + P∞ ∫ TT k =0 (2.7) Vê-se pela equação (2.7) que tanto a componente fundamental quanto os harmônicos podem produzir potência ativa, desde que existam as mesmas componentes espectrais na tensão e na corrente, e que sua defasagem não seja 90 graus. A potência reativa presente em cada freqüência harmônica, é conhecida como potência reativa de Budeanu, e é definida como: [16] ∞ Q = ∑Vk ,rms .I k ,rms . sen(θ vk − θ ik ) = Q1 + Q2 + Q3 + ... + Q∞ (2.8) k =1 Para um valor de Q positivo em uma determinada freqüência, a carga não-linear se comporta como um indutor e para um valor de Q negativo, a carga se comporta como um capacitor naquela freqüência. Mas isso não significa que exista fisicamente um indutor ou um capacitor para a determinada freqüência. Será visto mais tarde que pode existir ou não o elemento reativo causador desse efeito. Portanto, o resultado do somatório da equação (2.8) perde o significado físico, podendo somente avaliar a dominância do efeito capacitivo ou indutivo da carga. 2.4 - Definição de Potência Aparente A potência aparente é calculada pelo produto dos valores rms de tensão e corrente; ela define a capacidade requerida do sistema elétrico para transportar as potências ativas e reativas. [3] 18 A potência aparente é composta por quatro componentes: DC, fundamental, harmônica e cruzada, que são descritas a seguir: ∞ ∞ V 2 I 2 S 2 = (Vrms .I rms )2 = V02 + ∑ k . I 0 2 + ∑ k . 2 2 k =1 k =1 V2 ∞ I 2 ∞ 1 ∞ ∞ S 2 = V02 I 0 2 + 0 ∑ I k 2 + 0 ∑Vk 2 + ∑ ∑Vk 2 I r 2 . 2 k =1 2 k =1 4 k =1r =1 (2.9) (2.10) Separando na equação (2.10), os produtos de mesma freqüência dos produtos de diferentes freqüências entre tensão e corrente, obtém-se: 2 2 2 2 S 2 = S 0 + S1 + S h + S x . (2.11) componente DC: S 0 = V0 I 0 . (2.12) componente da freqüência fundamental: 1 S1 = V1 I1 . 2 (2.13) componente das freqüências harmônicas: 1 ∞ S h = ∑ Vk 2 I k 2 2 k =2 1/ 2 . (2.14) componente das freqüências cruzadas (interação entre diferentes freqüências): 2 V Sx = 0 2 ∞ 2 ∑ Ik + k =1 S 0 , S1 e S h 2 ∞ I0 2 ∑ Vk 2 k =1 1 2 2 + ∑ ∑ Vk I r 4 k =1 r =1 r ≠k ∞ ∞ 1/ 2 . (2.15) contêm somente as componentes diretas. Sx contém somente as componentes cruzadas; representa uma interação entre tensão e corrente em diferentes freqüências. Sx só existirá quando a tensão e a corrente forem não senoidais e/ou quando contiverem um nível DC. Em termos de valores rms: S12 = V1,rms 2 I 1,rms 2 . ∞ S h 2 = ∑ Vk ,rms 2 I k ,rms 2 . (2.16) (2.17) k =2 S x2 = ∞ ∞ ∑ ∑ Vk ,rms 2 I r ,rms 2 . k =0r =0 r ≠k (2.18) 19 Sabe-se que: S 0 2 = P0 2 . (2.19) Pode-se expressar S1 e Sh em termos da potência ativa e reativa em cada harmônico: S1 = P1 + Q1 . 2 2 ∞ 2 (2.20) ( ) S h 2 = ∑ Pk 2 + Qk 2 . k =2 Logo Sx será: [ S x = S 2 − P0 − S1 − S h 2 2 ( (2.21) ] 2 1/ 2 ) 2 ∞ 2 2 = S x S − ∑ Pk + Qk k =0 . (2.22) 1/ 2 . (2.23) Sx não contém somente parte reativa, mas possui também componentes ativas. Por exemplo, para uma onda não senoidal de tensão alimentando um resistor haverá Sx. [ Muitos autores definem “potência de distorção” como: D = S 2 − P 2 − Q 2 ] 1/ 2 , afirmando que D representa todos os produtos cruzados de tensão e corrente em diferentes freqüências. Porém, D não representa todos os produtos cruzados, porque em P 2 e Q 2 há produto cruzado. D pode ser expresso em termos das componentes de pico de tensão e corrente como: ∞ ∞ ∞ 1 D = [ (V0 2 ∑ I k 2 +I 0 2 ∑ Vk 2 ) − V0 I 0 cos θ v 0 cos θ i 0 ∑ Vk I k cos(θ vk − θ ik ) + 2 k =1 k =1 k =1 ∞ ∞ 1 ∞ ∞ + ( ∑ ∑ Vk 2 I r 2 − ∑ ∑ Vk I k Vr I r cos(θ vk − θ vr + θ ir − θ ik ))]1 / 2 . 4 k =1r =1 k =1 r =1 r ≠k (2.24) r ≠k 2.5 – Definição de Impedância Harmônica A impedância harmônica de uma carga é definida pela relação entre a tensão aplicada ao terminal da carga e a corrente da carga na mesma freqüência da tensão. V e jθ vk Zˆ k = R k + jX k = k jθ ik . Ike (2.25) Logo a potência ativa total será: P = R0 I 0 2 + 1 ∞ 2 ∑ Rk I k , 2 k =1 e a potência reativa total será: (2.26) 20 Q= 1 ∞ 2 ∑ X k Ik . 2 k =1 (2.27) Um modelo para impedância harmônica pode ser representado pela figura 2.3, que apresenta componentes de uma carga com um sinal de tensão com conteúdo harmônico sobre a mesma. Devido aos filtros, somente a tensão na freqüência k existe sobre a carga Zk,, excitando uma corrente de mesma freqüência. Figura 2.3 – Representação das impedâncias harmônicas. Nota-se que Ẑ k está relacionada somente com os produtos diretos entre tensão e corrente. Em um sistema linear RL série, as impedâncias existentes no sistema serão somente as impedâncias harmônicas dadas por: 1 Zˆ k = = R + jkωL . Yˆk (2.28) Na equação 2.28 considera-se que R e L não variam com a freqüência. Logo, a corrente harmônica será dada por: Ike jθ ik = Vk e jθ Zˆ k e vk jθ . (2.29) z Como o sistema é linear, pode-se trabalhar na forma fasorial em cada freqüência e depois juntar as componentes harmônicas em uma série de Fourier. 2.6 – Exemplos dos Conceitos Apresentados Os exemplos a seguir têm a finalidade de esclarecer os conceitos apresentados: Exemplo 2.1: Carga RL alimentada por forma de onda quadrada de tensão. 21 Para exemplificar esse tipo de carga fez-se uma medição em um ventilador de 120 W, que é considerado uma carga RL linear, alimentado por um inversor de onda quadrada (LARK 300W, 60 Hz). A tensão e a corrente medidas são mostradas na figura 2.4. Figura 2.4 – Tensão (azul) e corrente (vermelho) medidas em um ventilador. Verifica-se que com esse tipo de alimentação há a impossibilidade do equipamento atingir sua potência máxima (potência ativa medida = 90 W) e uma alimentação freqüente desse tipo de tensão poderá causar a redução da vida útil do aparelho (ver efeito de harmônicos sobre máquinas elétricas). Para modelar essa carga, fez-se uma medição com essa carga alimentada por uma forma de onda senoidal e os valores encontrados para R e L foram 50 Ω e 100 mH, respectivamente. Conhecidos os valores de R e L, fez-se a simulação para a carga alimentada por uma forma de onda quadrada de tensão com amplitude de 100 V. As formas modeladas de tensão e corrente na carga são mostradas na figura 2.5. A corrente foi obtida pela equação 2.29, conhecendo-se o espectro de amplitude e fase da tensão e o valor de cada impedância harmônica (nesse caso, somente a reatância varia com a freqüência), e depois passada para o domínio do tempo. Os valores calculados para D e Sx, na simulação, foram 45,8649 VA e 66,3131 VA, respectivamente. 22 Figura 2.5 - Forma de onda de tensão quadrada e corrente de uma carga RL linear. Nas figuras 2.4 e 2.5, verifica-se a mudança na forma de onda de corrente (resposta) em relação à forma de onda de tensão (excitação), mas isso não caracteriza uma distorção nãolinear. Esse é um caso em que D existe quando não há distorção não-linear. Em outras simulações realizadas eliminou-se a resistência ou a indutância da carga RL linear alimentada por uma forma de onda quadrada, obtendo-se os seguintes resultados: Para R = 50 Ω , L = 0 : D = 0; Sx = 112,5939 VA. Para R = 0 , L = 100 mH : D = 79,1399 VA; Sx = 105,3377 VA. D será nulo para uma onda quadrada de tensão alimentando um resistor. Porém, alimentando um indutor linear, D não será nulo, pois haverá uma distorção na forma de onda da corrente, que não é caracterizada como uma distorção não-linear. Exemplo 2.2: Tensão e corrente não senoidais de mesma freqüência, porém sem distorção. A figura 2.6 mostra as formas de onda quadradas de tensão e de corrente defasadas de -30º. Os valores rms são, respectivamente, 100 V e 2 A. logo a potência aparente é de 200 VA. Os valores rms das componentes fundamentais de tensão e corrente são, respectivamente, 90,0136 V e 1,8006 A. A defasagem entre elas também é de 30 graus (ver figuras 2.7 e 2.8). Se o cálculo da potência ativa for feito considerando apenas essas componentes, o valor obtido será de 140,3640 W. No entanto, a potência média obtida pelo 23 produto ponto a ponto das figuras 2.6 (a) e 2.6 (b), e que corresponde à potência ativa, é de 133,2800 W. O motivo da discrepância é devido ao valor da potência ativa, calculado pela equação (2.7), produzido por cada componente harmônica. O espectro da potência ativa é mostrado na figura 2.9. Valores médios negativos são possíveis desde que a defasagem entre os sinais seja superior a 90 graus. É o que ocorre neste exemplo, levando a uma potência ativa menor do que aquela que seria produzida se apenas as componentes fundamentais de tensão e corrente estivessem presentes. Também são apresentados nas figuras 2.10 e 2.11 os espectros da potência reativa, dado pela equação (2.8), e da potência aparente direta, calculado pelas equações (2.12), (2.13) e (2.14). Figura 2.6 – Formas de onda: (a) tensão e (b) corrente. 24 Espectro de Amplitude da tensã o Amplitude 150 100 50 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 16 18 20 Nú mero do Harmô nico (k) Espectro de Fase 0 Fase (graus) -20 -40 -60 -80 -100 0 2 4 6 8 10 12 14 Nú mero do Harmô nico (k) Figura 2.7 - Espectro de amplitude e fase da tensão da figura 2.6. Espectro de Amplitude da corrente Amplitude 3 2 1 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 16 18 20 Nú mero do Harmô nico (k) Espectro de Fase Fase (graus) 200 100 0 -100 -200 0 2 4 6 8 10 12 14 Nú mero do Harmô nico Figura 2.8 - Espectro de amplitude e fase da corrente da figura 2.6. 25 Espectro de potê ncia ativa 160 140 120 Potê ncia (W ) 100 80 60 40 20 0 -20 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 18 20 Nú mero do harmô nico (k) Figura 2.9 - Espectro da potência ativa. Espectro de potê ncia reativa 90 80 70 Potê ncia (VAr) 60 50 40 30 20 10 0 -10 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Nú mero do harmô nico (k) Figura 2.10 - Espectro da potência reativa. 26 Espectro de potê ncia aparente direta 180 160 140 Amplitude (VA) 120 100 80 60 40 20 0 0 2 4 6 8 10 12 14 Nú mero do harm ô nico (k) 16 18 20 Figura 2.11 - Espectro da potência aparente direta. Na tabela 2.1 são listados os parâmetros relacionados à potência no domínio da freqüência, calculados em um programa desenvolvido neste trabalho em MATLABTM: Tabela 2.1 – Resultados obtidos por meio de simulação. componentes P (W) Q (VAr) Sdireto (VA) |Zn| (Ω Ω) θzn (graus) Rn (Ω Ω) Xn (Ω Ω) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 TOTAL 0 140,3216 0 -0,0113 0 -5,6169 0 -2,8616 0 0,0038 0 1,1614 0 0,8291 0 -0,0023 0 -0,4866 0 -0,3879 0 132,9493 0 81,1048 0 18,0224 0 3,2453 0 -1,6505 0 -1,9949 0 -0,6623 0 0,4856 0 0,7236 0 0,2816 0 -0,2233 0 99,3323 0 162,0745 0 18,0224 0 6,4870 0 3,3035 0 1,9949 0 1,3369 0 0,9608 0 0,7236 0 0,5622 0 0,4475 0 0 49,9921 0 49,9529 0 49,9607 0 50,0550 0 50,1416 0 50,0857 0 49,8969 0 49,7649 0 49,8664 0 50,1492 0 - 0 30,0276 0 90,0360 0 149,9821 0 -150,0252 0 -89,8917 0 -29,6959 0 30,3580 0 90,1792 0 149,9391 0 -150,0684 0 - 0 43,2824 0 -0,0314 0 -43,2594 0 -43,3599 0 0,0948 0 43,5078 0 43,0552 0 -0,1556 0 -43,1591 0 -43,4604 0 - 0 25,0169 0 49,9529 0 24,9939 0 -25,0085 0 -50,1415 0 -24,8123 0 25,2179 0 49,7646 0 24,9790 0 -25,0227 0 - O valor da potência aparente cruzada calculada para este exemplo é de 108,2983 VA e o valor calculado de D é de 104,1140 VA. 27 Observa-se que o módulo de Ẑ k em todos os harmônicos ímpares é aproximadamente igual a 50 Ω (amplitude da forma de onda da tensão dividida pela amplitude da forma de onda da corrente), devido à proporção existente entre as amplitudes de tensão e corrente em cada harmônico (sinais com o mesmo formato). Foram feitas várias simulações modificando somente o defasamento entre tensão e corrente; nelas observou-se que a impedância harmônica é dada por: V Zˆ k = k e jkα , Ik (2.30) onde, α = Defasamento entre tensão e corrente. Vk = Amplitude da forma de onda da tensão. Ik = Amplitude da forma de onda da corrente. k = Inteiro ímpar. Esse tipo de carga, embora fictícia, pode ser modelado por essa equação, porque na freqüência em que a tensão existe a corrente também existe. Exemplo 2.3: Um outro problema na teoria convencional é que o conceito de potência reativa surgiu em conexão direta com os elementos indutivos e capacitivos, estando inclusive o nome “reativo” relacionado com o termo “reatância”. Tomando-se o exemplo[15] de um de um circuito muito simples e comum, como um controlador de lâmpada incandescente (“dimmer”) mostrado na figura 2.12, e suas respectivas formas de onda de tensão e corrente mostradas na figura 2.13, verifica-se que existe uma defasagem entre as componentes fundamentais da corrente e da tensão (figuras 2.14 e 2.15), apenas por causa da operação dos tiristores, sem que existam elementos reativos (armazenadores de energia). Figura 2.12 – Fonte monofásica alimentando uma lâmpada incandescente por meio de um “dimmer”. 28 Os valores utilizados na simulação foram: R=100 Ω; ângulo de disparo dos tiristores = π/2; Vs = 127 2 cos(ω 0t ) . v(t) 200 Amplitude (V) 100 0 -100 -200 0 1 2 3 4 5 6 7 5 6 7 w0 x tempo (rad) i(t) Amplitude (A) 2 1 0 -1 -2 0 1 2 3 4 w0 x tempo (rad) Figura 2.13 – Formas de onda de tensão e corrente. Espectro de Amplitude da tensã o 200 Amplitude 150 100 50 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 16 18 20 Nú mero do Harmô nico (k) Espectro de Fase Fase (graus) 1 0.5 0 -0.5 -1 0 2 4 6 8 10 12 14 Nú mero do Harmô nico (k) Figura 2.14 - Espectro harmônico da tensão da figura 2.13. 29 Espectro de Amplitude da corrente Amplitude 1.5 1 0.5 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 16 18 20 Nú mero do Harmô nico (k) Espectro de Fase Fase (graus) 50 0 -50 -100 0 2 4 6 8 10 12 14 Nú mero do Harmô nico Figura 2.15 - Espectro harmônico da corrente da figura 2.13. Os valores obtidos nesta simulação foram: P1 = 80,6611 W, Q1 = 51,3402 VAr, S = Vrms.Irms = 114,0607 VA, S = 112,9032 VA (calculado pelo espectro de tensão e corrente, utilizando a equação 2.5), Sx = 60,0424 VA. Defasagem entre a componente fundamental da tensão e da corrente = -32,4713º Neste exemplo R1= 142,3527 Ω, X1 = 90,5883 Ω, logo Ẑ1 = 168,7322 Ω .e j32,4713º, que é o circuito linear equivalente na freqüência fundamental, formado pelos tiristores e pelo resistor. 2.7 – Taxa de Distorção (em Relação a uma Senóide Pura) Uma medida de uso freqüente do nível de conteúdo harmônico, conhecida como taxa de distorção harmônica (TDH), é dada pela relação dos valores rms dos harmônicos sobre a valor rms da fundamental, vezes 100 %, No presente trabalho são usados os termos TD (taxa de distorção) e TDH. Na equação da TD é incluído o nível DC, para poder avaliar a amplitude das componentes com freqüência fora da fundamental de uma forma de onda. A maioria dos autores não considera o nível DC, mas somente as freqüências harmônicas, porque a maioria das cargas convencionais não o apresentam. Porém, se o nível DC for produzido por uma nãolinearidade, ele deve ser levado em consideração. Uma corrente DC significativa pode levar 30 um transformador à saturação e ocasionar a corrosão eletrolítica de eletrodos de aterramento e de outros conectores. A taxa de distorção em relação à uma senóide pura é então definida como: ∞ ∑ X 2 k , rms TD X = k =0 k ≠1 (2.31) .100% X 1, rms 2.8 - Definição de Fator de Potência O fator de potência é definido como a razão entre a potência média (ativa) e a potência aparente: [17] ∆ FP = P = S 1 v(t ).i (t ).dt T ∫ T . (2.32) Vrms .I rms Quando há presença de harmônicos em regime permanente, a tensão e a corrente podem ser expressas por séries de Fourier, da forma: ∞ v(t ) = ∑ Vk . cos(kω 0 t + θ vk ) , (2.33) k =0 i (t ) = ∞ ∑ I k . cos(kω 0 t + θ ik ) . (2.34) k =0 As TDs de tensão e corrente são, respectivamente: ∞ ∑V 2 k , rms TDV = k =0 k ≠1 V1, rms ∞ ∑I TDI = .100% , (2.35) .100% . (2.36) 2 k , rms k =0 k ≠1 I1, rms Expressando o valor rms de tensão e corrente em termos da TD: 2 Vrms = V1,rms TD 1+ V , 100 I rms = I 1,rms TD 1+ I . 100 (2.37) 2 (2.38) 31 Logo: P0 + P1 + P2 + P3 + ... + P∞ FP = 2 V1,rms .I 1,rms TD TD 1+ V . 1+ I 100 100 . (2.39) 2 Fazendo as seguintes considerações: [17] 1) Vrms ≈ V1,rms 2) P ≈ P1 FP ≈ P1 . V1,rms .I 1,rms (tensão de alimentação senoidal) 1 TD 1+ I 100 2 = FPdesloc .FPdistorc (2.40) Para a consideração feita acima definem-se dois fatores de potência, um relacionado com a freqüência fundamental (fator de potência deslocado) e outro relacionado com as demais freqüências (fator de potência de distorção). As técnicas utilizadas para correção do fator de potência podem ser basicamente classificadas em dois tipos: [18] Correção Passiva A correção passiva é realizada por um filtro (geralmente passa-baixas), que contém a combinação adequada de componentes passivos (capacitores, indutores e resistores). São volumosos e pesados devido à baixa freqüência de corte do filtro envolvido. Apresentam custo elevado. Caracterizam-se pela robustez, simplicidade e facilidade de implementação e operação. Correção Ativa Utiliza componentes ativos, tais como transistores (chaves controladas) e passivos, com a finalidade de melhorar a forma de onda da corrente de entrada (aproximar de uma senóide) e regular a tensão de saída. Operam, em geral, com elevada freqüência de chaveamento. Quando comparada à correção passiva, a ativa possui maior eficiência, menor volume e maior complexidade. Não se pode, em geral, compensar um baixo fator de potência de distorção adicionando capacitores em paralelo (“shunt”). Somente o fator de potência deslocado pode ser melhorado por meio de capacitores. Esse fato é importante em áreas onde predominam 32 cargas eletrônicas monofásicas, as quais tendem a ter um alto fator de potência deslocado e um baixo fator de potência de distorção. Nesse caso, a adição de capacitores “shunt” provavelmente piorará o fator de potência pela indução de ressonâncias e um alto nível de harmônicos. A melhor solução é adicionar filtros ativos ou passivos para remover os harmônicos produzidos pelas cargas não-lineares, ou utilizar cargas com alto fator de potência de distorção. A tabela 2.2 fornece valores medidos de algumas cargas residenciais monofásicas comuns, alimentadas com tensão puramente senoidal. Vale ressaltar novamente que FPdistorc é definido somente quando essa situação for existente. Os valores da tabela 2.2 foram calculados a partir das formas de onda de tensão e corrente medidas. Tabela 2.2 - Valores medidos de algumas cargas residenciais monofásicas. Tipo de Carga Potência Nominal (W) TDHi (%) TDi (%) FP desloc FP distorc FP verdadeiro Ventilador Forno microondas Microcomputador Televisão 2 Lâmpadas fluorescente com reator magnético 4 Lâmpadas compactas PL 120 1520 100 50 2x40 + 22 1,17 26,7 108,09 118,35 35,53 2,13 26,92 108,18 118,35 35,53 0,660 0,921 0,999 0,962 0,942 1,000 0,966 0,682 0,645 0,904 0,660 0,890 0,681 0,621 0,852 4 x 25 140,54 140,59 0,953 0,580 0,552 Apesar dos valores de TDH e TD na tabela 2.2 serem próximos, podem haver situações em que o nível DC seja significativo. Utilizando a equação 2.40, é mostrado na figura 2.16 o máximo fator de potência real que uma carga pode possuir em função do aumento da taxa de distorção da corrente. Geralmente, as cargas eletrônicas, especialmente as monofásicas, possuem fator de potência deslocado próximo de 1 e fator de potência de distorção menor que 0,707.[17] 33 1 Fator de Potê ncia Má ximo 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 TDi (%) Figura 2.16– Fator de potência real máximo em função da TDi. A literatura técnica pouco tem apresentado relatos de formas de ondas das correntes injetadas por uma residência, das correntes resultantes no secundário dos transformadores de distribuição e da importância da recuperação das perdas devidas a reativos e harmônicos associados a esses consumidores de pequenas potências. As residências têm sido consideradas pelas concessionárias, cargas de natureza linear e fator de potência unitário. [19] 2.9 – Tensão Não-Senoidal Alimentando uma Carga Não-Linear Dividindo o sistema elétrico de potência em elementos série e elementos “shunt”, como na prática convencional, a maioria das não-linearidades no sistema são encontradas nos elementos “shunt”, isto é, nas cargas pertencentes ao sistema.[3] A figura 2.17 mostra que a tensão sobre a impedância série linear do sistema de distribuição (impedância de curto-circuito entre a fonte e a carga) apresenta conteúdo harmônico, devido ao fato da corrente proveniente da carga não-linear originar harmônicos. Embora a fonte de tensão contenha somente a tensão na freqüência fundamental, a corrente que passa através da impedância série linear, originada pela carga não linear, ocasiona nessa impedância uma queda de tensão em cada harmônico contido na corrente. Essa queda de tensão dependerá do valor da impedância e da corrente. 34 Figura 2.17 – Corrente harmônica fluindo pela impendância série do sistema, resultando em uma tensão harmônica na carga. Assim, se a corrente IL for não senoidal, Vg também o será. Nos sistemas com alta capacidade de curto-circuito (impedância série baixa) a tensão da carga é menos susceptível à contaminação por harmônicos; já naqueles com baixa capacidade de curto-circuito, a tensão sobre a carga tende a sofrer mais contaminação harmônica, como é o caso de sistemas de pequeno porte, onde a demanda é próxima à potência gerada. Exemplo 2.4 – Tensão não senoidal alimentando carga não-linear Neste exemplo, tem-se uma tensão quadrada (inversor LARK 300 W) alimentando um microcomputador e 4 lâmpadas PL de 25 W. A figura 2.18 apresenta as formas de onda de tensão e corrente resultante dessas duas cargas em paralelo. A forma de onda de corrente é semelhante à forma de onda de corrente de um resistor de 55,2 Ω (tensão de pico sobre corrente de pico) caso o mesmo fosse alimentado pela forma de onda quadrada de tensão. As figuras 2.19 e 2.20, apresentam os espectros de tensão e corrente, respectivamente, obtidos por meio das formas de onda da figura 2.18. (a) Tensã o (V) 100 50 0 -50 -100 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03 0.035 0.04 0.045 0.05 0.035 0.04 0.045 0.05 Tempo (s) (b) Corrente (A) 4 2 0 -2 -4 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03 Tempo (s) Figura 2.18 – Formas de onda: (a) tensão; (b) corrente. 35 (a) Amplitude (V) 150 100 50 0 0 5 10 15 20 25 20 25 Nú mero do Harmô nico (k) (b) Fase (graus) 200 100 0 -100 -200 0 5 10 15 Nú mero do Harmô nico (k) Figura 2.19 - Espectro da tensão: (a) amplitude; (b) fase. (a) Amplitude (A) 2.5 2 1.5 1 0.5 0 0 5 10 15 20 25 20 25 Nú mero do Harmô nico (k) (b) Fase (graus) 200 100 0 -100 -200 0 5 10 15 Nú mero do Harmô nico (k) Figura 2.20 - Espectro da corrente: (a) amplitude; (b) fase. Os valores calculados, a partir das formas de onda de tensão e corrente são: Vrms = 94,0400 V, Irms = 1,7036 A, Potência ativa = 159,4116 W, S = 160,2053 VA, FP = 0,9950. Na tabela 2.3 apresentam-se os valores calculados no domínio da freqüência. Nessa situação, a carga apresenta um valor de D pequeno (4,9328 VA), valores de taxa de distorção de tensão e corrente próximos (TDv = 40,2952 % e TDi = 41,6974 %) %) e um fator de potência próximo de 1, devido à forma de onda da corrente originada pela combinação dessas cargas não-lineares, quando alimentadas por uma forma de onda quadrada de tensão. Tabela 2.3 – Inversor de onda quadrada alimentando computador e 4 lâmpadas PL. Componente Freqüência (Hz) 0 0 Amplitude (V) 2,207 Amplitude (%) 1,836 Fase (graus) 180 Amplitude (A) 0,067 Amplitude (%) 3,117 Fase (graus) 180 P (W) 0,149 Q (VAr) 0 |Zn| (Ω Ω) 32,8199 θzn (graus) 0 1 60 120,200 100 53,577 2,159 100 58,178 129,3378 -10,408 55,6752 -4,6009 2 120 3,399 2,828 95,824 0,054 2,520 105,282 0,091 -0,015 62,4645 -9,4578 3 180 38,979 32,429 -17,050 0,723 33,474 -11,412 14,017 -1,384 53,9383 -5,6379 4 240 4,107 3,417 30,649 0,072 3,330 41,837 0,145 -0,029 57,0955 -11,1871 5 300 21,223 17,657 -86,183 0,396 18,360 -80,419 4,185 -0,422 53,5408 -5,7633 6 360 3,601 2,996 -25,132 0,068 3,168 -14,585 0,121 -0,023 52,6395 -10,5475 7 420 12,779 10,631 -158,570 0,234 10,820 -152,105 1,483 -0,168 54,7029 -6,4649 8 480 2,528 2,103 -85,227 0,051 2,376 -75,905 0,064 -0,011 49,3347 -9,3216 9 540 8,346 6,944 124,965 0,153 7,068 131,637 0,633 -0,074 54,6915 -6,6714 10 600 1,603 1,333 -167,650 0,035 1,612 -152,731 0,027 -0,007 46,0522 -14,9191 11 660 6,044 5,028 49,884 0,112 5,174 55,808 0,336 -0,035 54,1204 -5,9236 12 720 1,722 1,433 89,660 0,029 1,325 106,386 0,024 -0,007 60,2487 -16,7252 13 780 3,976 3,308 -12,383 0,077 3,566 -5,964 0,152 -0,017 51,6563 -6,4190 14 840 2,078 1,729 30,226 0,031 1,445 40,933 0,032 -0,006 66,6008 -10,7066 15 900 1,916 1,594 -62,290 0,042 1,941 -53,735 0,040 -0,006 45,7019 -8,5548 16 960 1,674 1,393 -12,825 0,029 1,343 3,485 0,023 -0,007 57,8183 -16,3096 17 1020 0 0 0 0 0 0 0 0 - - 18 1080 0 0 0 0 0 0 0 0 - - 19 1140 0 0 0 0 0 0 0 0 - - 20 1200 0 0 0 0 0 0 0 0 - - 21 1260 0 0 0 0 0 0 0 0 - - 22 1320 0 0 0 0 0 0 0 0 - - 23 1380 0 0 0 0 0 0 0 0 - - 24 1440 0 0 0 0 0 0 0 0 - - 25 1500 1,284 1,068 56,654 0 0 0 0 0 - - 36 37 CAPÍTULO 3 CARGAS NÃO-LINEARES E SEUS MODELOS Harmônicos são causados, principalmente, por cargas não-lineares presentes na rede elétrica. Os conversores eletrônicos são a maioria da fonte de harmônicos em um sistema elétrico de potência. Existem conversores que trabalham com alta potência, como por exemplo, conversores de 1.000 MW (inversores para linha de transmissão de alta tensão em corrente contínua - HVDC) e conversores de baixa potência, tipo retificador de 70 W, encontrados em aparelhos de televisão. Outras fontes não-lineares causadoras de harmônicos incluem dispositivos a arco, como fornos a arco, equipamentos saturáveis, como motores e transformadores. A maioria das aplicações de conversores estáticos está no acionamento de velocidade ajustável para controle de um motor.[4] Esses dispositivos estáticos são usados hoje em todos os tipos de motores industriais, oferecendo melhor eficiência, melhor controle de velocidade e ausência de manutenção, quando comparados com outros acionadores convencionais de motores. Os conversores usam dispositivos de chaveamento de estado sólido para converter a potência de uma freqüência para outra (geralmente entre AC e DC). Esses dispositivos chaveadores podem ser diodos, tiristores, GTO’s (Gate Turn-Off: tiristor desligado pelo “gate”) e outros dispositivos de eletrônica de potência. A indústria não tem alternativa quanto ao uso de cargas ou equipamentos não-lineares, devido aos avanços tecnológicos e à necessidade de economizar energia. [20] Uma grande ironia consiste em que a maior parte das cargas não-lineares são cargas eletrônicas, muitas delas altamente sensíveis à qualidade do suprimento elétrico, mas que, por outro lado, injetam poluição harmônica na rede elétrica. 3.1 - Equipamentos Eletrônicos O fornecimento convencional de energia elétrica é feito a partir de uma rede de distribuição em corrente alternada, devido, principalmente, à facilidade de adaptação do nível de tensão por meio de transformadores. Em muitas aplicações, em geral aparelhos eletrônicos, a carga alimentada exige uma tensão contínua, sendo a conversão AC-DC realizada por meio de retificadores. Dois tipos principais de retificadores monofásicos são comuns. Tecnologias antigas usam o método de controle de tensão no lado AC, tal como transformadores, para reduzir a 38 tensão ao nível requerido pelo barramento DC. A indutância do transformador provê um efeito benéfico por suavizar a forma de onda de corrente, reduzindo o conteúdo harmônico. A nova tecnologia, retificadores com fontes chaveadas, usa a técnica de conversão DC/DC para alcançar uma tensão DC de saída livre de ondulações, utilizando componentes elétricos de peso e tamanho reduzidos. A ponte de diodos é conectada diretamente à linha AC, conforme mostrado na figura 3.1, eliminando o transformador. Isso resulta em uma tensão DC regulada pelo capacitor que ainda apresenta um nível alto e com muita ondulação. A tensão DC é então convertida novamente para AC em uma freqüência muito alta pelos dispositivos chaveadores e mais uma vez retificada.[3] Em uma fonte chaveada, o elemento regulador é um transistor que trabalha como chave e, portanto, na região não-linear. Sendo a freqüência de chaveamento elevada, os elementos do filtro de saída são proporcionalmente reduzidos, contribuindo para a obtenção de altas densidades de potência. A Modulação por Largura de Pulso (MLP, ou PWM – “Pulse Width Modulation”) é o método mais utilizado no comando de fontes chaveadas.[21] Atualmente, quase que universalmente, microcomputadores, impressoras, copiadoras, lâmpadas fluorescentes com reator eletrônico, aparelhos de TV, vídeo cassete, aparelhos de fax e outros equipamentos eletrônicos monofásicos possuem fontes chaveadas. As principais vantagens são: peso e tamanho reduzidos, eficiência de operação, baixo custo, e ausência do transformador na entrada AC. Esses equipamentos podem tolerar uma ampla variação na tensão de entrada. Figura 3.1 – Retificador a fonte chaveada. [3] Considerando dispositivos chaveadores ideais, a eficiência das fontes chaveadas é próxima de 100%, enquanto o valor típico para fontes lineares é de 50%. Pode-se definir uma fonte chaveada como aquela na qual o fluxo de potência é gerado, controlado e regulado por meio de um dispositivo chaveador. Considerando uma fonte linear e uma chaveada para fornecer a mesma potência, pode-se estabelecer alguns itens de comparação entre ambas, apresentando valores típicos, como mostrado na tabela 3.1. 39 Tabela 3.1 - Comparação entre fonte linear e fonte chaveada. [21] Característica \ Tipo Eficiência Ondulação (para iguais capacitores) Densidade de potência (por peso) Densidade de potência (por volume) Interferência RF Rejeição a transitórios Chaveado 80% a 95% 20 mV a 50 mV 2 kW/kg 0,1 W/cm3 alta alta Linear 25% a 50% 5 mV 0,5 kW/kg 0,02 W/cm3 desprezível baixa A forma de onda da corrente de entrada (I1) da figura 3.1 é muito diferente de uma senóide, apresentando pulsos de corrente nos momentos em que o capacitor é carregado (a cada meio ciclo), pois não há uma indutância alta no lado AC. O capacitor C1 carrega-se com a tensão de pico da entrada menos a queda de tensão em L1 (desprezando a queda nos diodos). Quando a tensão de entrada menos a queda em L1 torna-se menor do que a tensão no capacitor os diodos ficam bloqueados e a corrente I2 é fornecida exclusivamente pelo capacitor, o qual vai se descarregando, até que, novamente, a tensão de entrada fique maior, recarregando o capacitor. Quando a tensão de alimentação é senoidal, esse tipo de circuito produz na rede correntes de forma impulsiva centradas aproximadamente no pico da onda senoidal de tensão. A figura 3.2 mostra as formas de onda de tensão e corrente medidas em um microcomputador alimentado por um inversor de onda senoidal e a figura 3.3 mostra o espectro de amplitude de corrente. Uma característica desse tipo de carga, quando a alimentação é senoidal, é a alta componente de 3o harmônico de corrente (81,1 % em relação à fundamental, para essa carga). Tensão = 118 V rms Corrente = 1,177 A rms Figura 3.2 - Formas de onda de tensão e corrente de um computador alimentado por um inversor de onda senoidal. 40 Figura 3.3 – Espectro de amplitude da corrente de entrada de um microcomputador. A figura 3.4 mostra as formas de onda de tensão e corrente medidas para a mesma carga (microcomputador) alimentada agora por um inversor de onda quadrada modificada. Nota-se que os picos de corrente não estão mais centrados com a forma de onda de tensão, ocorrendo no momento do chaveamento da onda de tensão. Esses pulsos são mais estreitos que no caso anterior e, conseqüentemente, de maior amplitude, devido à potência solicitada pela carga. Tensão = 117 V rms Corrente = 1,166 A rms Figura 3.4 - Formas de onda de tensão e corrente de um computador alimentado por um inversor de onda quadrada modificada. A figura 3.5 apresenta o espectro de amplitude da forma de onda da corrente da figura 3.4. 41 Figura 3.5 – Espectro de amplitude da corrente da figura 3.4. Comparando-se os dois espectros de amplitude, verifica-se que ocorreu uma significativa diminuição da amplitude do 3o harmônico e aumento das amplitudes dos harmônicos ímpares a partir do 9o. Das curvas das correntes de um microcomputador observa-se nesse tipo de carga uma característica fortemente não-linear. O uso de microcomputadores tem se tornado cada vez mais corriqueiro em todos os setores da sociedade e, em particular, naquele em que se situam os consumidores que recebem energia em média tensão, com destaque à indústria de pe queno e médio porte, ao comércio, e às entidades de prestação de serviços. [22] A pressão da competitividade do mercado torna imprescindível o aprimoramento da qualidade na produção e da agilidade nos trâmites administrativos e comerciais. Estes fatores contribuem para uma enorme evolução do uso de microcomputadores. Com aumento do número de equipamentos eletrônicos que utilizam fonte chaveada, especialmente em prédios comerciais (predominância de computadores e lâmpadas fluorescentes com reator eletrônico) e residências (predominância de aparelhos de TV e lâmpadas fluorescentes compactas), há um aquecimento adicional no cabo de alimentação e aumenta-se a possibilidade de aquecimento no transformador e do condutor neutro (especialmente em instalações antigas, onde o condutor neutro é dimensionado em bitola menor que os cabos fase). 42 3.1.1 - Corrente em Função da Tensão para Aparelhos Eletrônicos Um sistema contendo elementos não-lineares não pode ser descrito por uma função de transferência. Em vez disso, os valores instantâneos de entrada e saída são relacionados por uma curva ou função y(t) = f{x(t)}, comumente chamada característica de transferência.[14] Esse relacionamento entre entrada e saída pode ser descrito teoricamente por meio de várias formas como, por exemplo, os modelos matemáticos não-lineares, as séries de potência e de Fourier, ou as de Volterra.[23] As cargas que possuem fonte chaveada apresentam uma curva característica de corrente versus tensão semelhante a figura 3.6. A carga, neste exemplo, é uma televisão de 20”, com 50 W de potência nominal. A figura 3.7 apresenta as formas de onda medidas de tensão e corrente. Figura 3.6 – Característica tensão versus corrente. 43 Carga: televisã o 200 Tensã o (V) 100 0 -100 -200 0 0.01 0.02 0.03 0.04 Tempo (s) 0.05 0.06 0.07 0 0.01 0.02 0.03 0.04 Tempo (s) 0.05 0.06 0.07 Corrente (A) 4 2 0 -2 -4 Figura 3.7 – Formas de onda de tensão e corrente (televisão). Os valores calculados no domínio do tempo por meio das formas de onda da figura 3.7 são: Vrms = 115,6081 V, Irms = 0,9393 A, Potência ativa = 61,6112 W (ajuste da imagem no máximo), S = 108,5933 VA, FP = 0,5674. O valor da potência ativa medido acima da nominal, foi devido ao ajuste dos controles de imagem da TV estarem nas posições máximas. Fazendo a regressão linear da curva da figura 3.6, como mostrado na figura 3.8, obtém-se: Para v(t) >152 V: V = 2,1092 .I + 155,9015 Para v(t) < -152 V: V = 2,3098.I -155,8718 Para –152 V < v(t) < 152 V está se considerando I = 0; embora isso não seja verdade, porque a subida da reta da figura 4.6 de –152 V para 152 V não é vertical (90o de inclinação). 44 200 150 100 Tensã o (V) 50 0 -50 -100 -150 -200 -4 -3 -2 -1 0 Corrente (A) 1 2 3 4 Figura 3.8 – Regressão linear (em vermelho) da curva da figura 3.6. As figuras 3.9 e 3.10 mostram o comportamento da carga de acordo com o valor instantâneo da tensão: Para valores instantâneos da tensão maiores que 152 V, a chave se fecha em Z1, circulando a seguinte corrente: I= V - 155,9015 2,1092 (desconsiderar os valores negativos de I). Para valores maiores que -152V e menores que 152 V, considera-se Z2 infinito, I = 0 (circuito aberto). Para valores menores que –152 V, a chave se fecha em Z3, circulando a seguinte corrente: I= V + 155,8718 2,3098 (desconsiderar os valores positivos de I). Figura 3.9 – Modelo de carga utilizado na regressão linear. 45 4 3 2 Corrente (A) 1 0 -1 -2 -3 -4 0 0.01 0.02 0.03 0.04 Tempo (s) 0.05 0.06 0.07 Figura 3.10 - Corrente da televisão medida (azul) e modelada (vermelho). Observando-se o destaque na figura 3.6, como o pulso da corrente na subida não é exatamente igual ao da descida, tem-se que modelar para esses dois casos, apresentando no total quatro retas da corrente em função da tensão e, conseqüentemente, 6 impedâncias. Modelo de Retificadores com Filtro Capacitivo Conforme já foi visto, grande parte dos equipamentos eletrônicos possui um estágio de entrada constituído por um retificador monofásico com filtro capacitivo. Esse tipo de circuito produz na rede correntes de forma impulsiva, centrada aproximadamente no pico da onda senoidal. O circuito, simulado no MATLABTM, está mostrado na figura 3.11. Figura 3.11 – Retificador monofásico com filtro capacitivo. 46 Na figura 3.12 tem-se as formas de onda obtidas pela simulação da tensão de entrada, da tensão sobre o capacitor, e da corrente de entrada (multiplicada por 20 para fins de vizualização). Os parâmetros utilizados na simulação foram: C = 470 µF, L = 500 µH, R = 100 Ω, Vs = 127 Vrms (senóide pura); e para o circuito equivalente do diodo: Ron = 0,01 Ω, Lon = 1 µH, Von = 0,7 V, Rs = 1 kΩ e Cs = 10 nF. 150 100 Amplitude 50 0 -50 -100 -150 -200 0.1 0.11 0.12 0.13 0.14 0.15 0.16 Tempo (s) Figura 3.12 - Tensão de entrada (azul), tensão sobre o capacitor (preto), e corrente de entrada (vermelho) de um retificador com filtro capacitivo. De acordo com a curva mostrada na figura 3.12, a corrente pode ser expressa como uma função da tensão da forma: i (t ) = kv n (t ) , (3.1) onde k define a amplitude e n a largura do pulso. O seguinte procedimento, para o cálculo dos valores de k e n, é válido quando o pulso de corrente estiver centrado com o pico da tensão e o mesmo for simétrico na subida e na descida: - supondo que a tensão e a corrente foram medidas, tem-se que conhecer os seus valores de pico; - calcula-se o espectro de amplitude da corrente e observa-se até que harmônico ímpar é significativo. Esse valor será n; - o valor de k é calculado como: 47 k= valor de pico da corrente (valor de pico da tensão )n (3.2) Para a tensão de alimentação, v (t ) = 127 2 sen(ω 0 t ) , da figura 3.12, obteve-se a corrente de entrada: i (t ) = 14,1787 (127 2 ) 39 v 39 (t ) . Verifica-se que a corrente modelada apresenta componentes harmônicas até a 39a ordem. A figura 3.13 mostra a comparação entre as formas de onda das correntes de entrada do retificador, medida (azul) e modelada (vermelho). 15 10 corrente (A) 5 0 -5 -10 -15 0.1 0.11 0.12 0.13 0.14 tempo(s) 0.15 0.16 Figura 3.13 – Corrente de entrada do retificador, medida (azul) e modelada (vermelho). Expressando a corrente modelada (resposta) em função da tensão de entrada, obtém-se a curva da figura 3.14. 48 15 10 corrente (A) 5 0 -5 -10 -15 -200 -150 -100 -50 0 tensã o (V ) 50 100 150 200 Figura 3.14 - Corrente em função da tensão. Nota-se, pela curva da figura 3.14, que a corrente pode ser aproximada como: i = c. senh( av ) , (3.3) onde, a é o fator de forma da curva requerida para i, c define a amplitude de i. Para modelar i como função de v, normaliza-se v e aplica-se o fator de forma na curva da corrente. Quanto maior o valor de a mais estreito será o pulso de i, que, conseqüentemente, terá maior amplitude. Para se diminuir a amplitude de i tem-se que reduzir o valor de c. Com a finalidade de diminuir o pico da corrente de entrada, aumentou-se o valor da indutânia L para 10 mH; o efeito observado foi o deslocamento do pico da corrente em relação ao da tensão. A figura 3.15 mostra as curvas da tensão de entrada (azul), tensão sobre o capacitor (preto), e corrente de entrada (vermelho), multiplicada por 20 para fins de visualização. As figuras 3.16 e 3.17 mostram a corrente de entrada e a tensão sobre o capacitor e resistor em regime transitório, respectivamente. 49 Figura 3.15 - Tensão de entrada (azul), tensão sobre o capacitor (preto) e corrente de entrada (x20) (vermelho) de um retificador com filtro capacitivo. 35 30 25 corrente (A) 20 15 10 5 0 -5 -10 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 tempo(s) 0.12 0.14 0.16 0.18 Figura 3.16 - Corrente de entrada (transitório). 50 300 250 tensã o (V ) 200 150 100 50 0 -50 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 tempo(s) 0.12 0.14 0.16 0.18 Figura 3.17- Tensão sobre o capacitor e resistor (transitório). Neste caso, o pulso de corrente não está centrado com o pico de tensão e a corrente modelada foi: i (t ) = 5,3564 (127 2 ) 7 cos 7 (ω0t − 27,9376 º ), onde -27,9376º é o desfasamento entre tensão e corrente. Observa-se na corrente de entrada, que a ordem máxima dos harmônicos diminuiu, pois foi reduzida a ordem do polinômio em i(t) com a alteração da indutância. A figura 3.18 apresenta as correntes de entrada (azul) e modelada (vermelho) do retificador. Figura 3.18 – Corrente de entrada (azul) e corrente modelada (vermelho) do retificador. 51 Com o aumento da indutância, a maior ordem dos harmônicos diminui de 39 para 7 e observou-se a assimetria do pulso da corrente na subida com o da descida. Porém, a forma de onda da corrente expressa pela equação (3.1) sempre apresenta um pulso simétrico (ver figura 3.18). Portanto, faz-se necessário um modelamento mais complexo para representar situações desse tipo. 3.2 - Saída em Função da Entrada para Cargas Não-Lineares O modelamento desenvolvido neste trabalho utiliza coeficientes complexos em uma série de potências, para expressar a resposta de uma carga não-linear como função da entrada. Considerando a excitação sobre uma carga não-linear, x(t), como a entrada, e a resposta a essa excitação, y(t), a saída (figura 3.19), pode-se expressar y(t) em função de x(t) como um polinômio. Figura 3.19 – Representação de uma carga não-linear. Entrada: tensão; saída: corrente. Considerando que a entrada (tensão aplicada a carga) como sendo senoidal, tem-se: { } x (t ) = A cos(ω 0 t + φ ) = Re Ae jφ e jω t . 0 (3.4) Pode-se expressar x(t) no domínio da freqüência como: X(f ) = A jφ A e δ ( f − f 0 ) + e − jφ δ ( f + f 0 ) . 2 2 (3.5) Aplicando a transformada de Fourier na forma complexa da entrada obtém-se: { } { } F Ae j (ω 0t +φ ) = F Ae jφ e jω 0t = Ae jφ δ ( f − f 0 ) . (3.6) Para uma excitação x(t), a saída y(t) (corrente com conteúdo harmônico) é expressa como: ∞ y (t ) = Re ∑ yˆ (kf 0 ).e jk 2πf 0 t , k = −∞ (3.7) 52 onde: yˆ (kf 0 ) = 1 T ∫ y (t )e − jk 2πf 0 t dt (coeficiente complexo da série de Fourier). (3.8) T Aplicando a transformada de Fourier na equação 3.7: Y( f ) = ∞ ∑ yˆ (kf 0 ).δ ( f − kf 0 ) . (3.9) k = −∞ Observando-se a corrente de diversas cargas não-lineares, principalmente as que possuem fonte chaveada, conclui-se que ela pode ser expressa em função da tensão aplicada na carga como um polinômio, da forma: N y (t ) = kˆ0 cos α0 + ∑ kˆn . An cosn (ω0t + φ + αn ) , (3.10) n =1 onde kˆn = kˆn e jα n , é um coeficiente complexo. Chamando ( ω0 t + φ + α n ) de θ n em 3.10: N y (t ) = kˆ0 cos α 0 + ∑ kˆn . An cos n (θ n ) , (3.11) n =1 e aplicando a transformada de Fourier na equação 3.11: { N } Y ( f ) = kˆ0 cosα 0 + ∑ kˆn An F cosn (θ n ) . n =1 (3.12) Expressando-se a equação (3.10) em termos da entrada: N n y (t ) = kˆ0 cos α 0 + ∑ kˆn .[A cos(ω0t + φ + α n )] , (3.13) n =1 e desenvolvendo a soma dos argumentos do cosseno na equação 3.13: N n y (t ) = kˆ 0 cos α 0 + ∑ kˆ n .[ A cos( ω 0 t + φ) cos α n − A sen( ω 0 t + φ) sen α n ] . (3.14) n =1 Derivando a equação 3.4 em relação ao tempo: dx(t ) = − Aω 0 sen(ω 0t + φ ) , dt (3.15) 53 substituindo as equações 3.4 e 3.15 em 3.14, obtém-se a saída como uma função de característica não-linear: n N . 1 dx(t ) ˆ ˆ y (t ) = k 0 cos α 0 + ∑ k n . x(t ) cos α n + sen α n ω 0 dt n =1 (3.16) Procedimento para o cálculo dos coeficientes k̂ n . Sabe-se que [24]: cos n v = cos nv + C 2 cos n − 2 v sen 2 v − C 4 cos n − 4 v sen 4 v + C 6 cos n −6 v sen 6 v − ..... , n n n (3.17) onde: C n representa a combinação de n de i em i. i Simplificando a equação (3.17) em termos de harmônicos: 1) se n for ímpar: 1 cos n v = 2 n −1 (C 0 cos nv + C 1 cos(n − 2)v + C 2 cos(n − 4)v + .... + C r cos v) ; n n n n (3.18) 2) se n for par: 1 cos v = n 2n −1 (C cos nv + C cos(n − 2)v + C cos(n − 4)v + .... + C 2 n n n 0 1 2 n r sendo r a parte inteira de n/2 (despreza-se o que está após a vírgula). Exemplificando as equações 3.18 e 3.17 obtém-se: 1 (1 + cos 2v ) ; 2 cos 2 v = 1 cos3 v = (3 cos v + cos 3v) ; 4 cos 4 v = 1 (3 + 4 cos 2v + cos 4v ) ; 8 cos 5 v = 1 (10 cos v + 5 cos 3v + cos 5v ) ; 16 cos 6 v = 1 (10 + 15 cos 2v + 6 cos 4v + cos 6v ) ; 32 cos 0v) ; (3.19) 54 cos 7 v = 1 (35 cos v + 21 cos 3v + 7 cos 5v + cos 7v ); 64 cos 8 v = 1 (35 + 56 cos 2 x + 28 cos 4 x + 8 cos 6 x + cos 8 x ); 128 cos9 v = 1 (126 cos v + 84 cos 3v + 36 cos 5v + 9 cos 7v + cos 9v ); 256 e assim por diante. Pode-se escrever a notação de forma simplificada como: 1) se n for par: cos n v = bn ,0 cos 0v + bn , 2 cos 2v + bn , 4 cos 4v + ... + bn , n cos nv (3.20) 2) se n for ímpar: cos n v = bn ,1 cos1v + bn,3 cos 3v + bn ,5 cos 5v + ... + bn ,n cos nv (3.21) onde, bn , p = coeficiente do somatório (que converge para cosnv) que influencia na freqüência p. Logo, uma função Acos v , elevada aos expoentes de 1 até N, será: ( A cos v)1 = A1 (0 + b1,1 cos1v + 0 + 0 + ... + 0) ; ( A cos v) 2 = A2 (b2 ,0 cos 0v + 0 + b2, 2 cos 2v + 0 + ... + 0) ; . . . 1) se N for par: (3.22) (3.23) ( A cos v) N = A N (bN ,0 cos 0v + 0 + bN ,2 cos 2v + 0 + bN , 4 cos 4v + ... + bN , N cos Nv) (3.24) 2) se N for ímpar: ( A cos v) N = A N (0 + bN ,1 cos1v + 0 + b N ,3 cos 3v + ... + bN , N cos Nv) (3.25) 55 Voltando para a transformada de Fourier de cos n (θ n ) , e substituindo v por θ n , tem-se para um expoente n par: { } F [ Acos(θ n )]n = An [bn,0 e j0.(φ +α )δ ( f − 0. f 0 ) + bn,2 e j 2.(φ +α )δ ( f − 2. f 0 ) + ... + bn,n e jn.(φ +α )δ ( f − n. f 0 )], (3.26) n n n e para um expoente n ímpar: { } F [ A cos(θ n )]n = An [bn,1e j1.(φ +α )δ ( f − 1. f 0 ) + bn,3e j3.(φ +α )δ ( f − 3. f 0 ) + ... + bn,n e jn.(φ +α )δ ( f − n. f 0 )]. (3.27) n n n No caso de N, a maior ordem do polinômio, ser par, obtém-se a saída no domínio da freqüência como: Y( f ) = kˆ0 e jα0 δ( f − 0 f 0 ) + kˆ1 A1b1,1e j1(φ+α1 ) δ( f −1 f 0 ) + kˆ2 A2 [b2,0 e j 0(φ+α2 ) δ( f − 0 f 0 ) + b2,2 e j 2(φ+α2 ) δ( f − 2 f 0 )]+ + ...+ kˆN AN [bN ,0 e j 0(φ+αN ) δ( f − 0 f 0 ) + bN,2 e j 2(φ+αN ) δ( f − 2 f 0 ) + bN,4 e j 4(φ+αN ) δ( f − 4 f 0 ) + ...+ bN, N e jN(φ+αN ) δ( f − Nf0 )] (3.28) Agrupando os termos de mesma freqüência da equação 3.28: Y( f ) = ( kˆ0 e jα + kˆ2 A2b2,0e j0α + kˆ4 A4b4,0e j0α +....+ kˆN−2 AN−2bN−2,0e j0α + kˆN ANbN,0e j0α )e j0φδ ( f − 0 f0 ) + 0 2 N −2 4 N ( kˆ1 A1b1,1e j1α + kˆ3 A3b3,1e j1α + kˆ5 A5b5,1e j1α + .... + kˆN −3 AN −3bN −3,1e j1α 3 1 5 N −3 (0 + kˆ2 A2b2, 2 e j 2α + kˆ4 A4b4, 2e j 2α + .... + kˆN −2 A N −2bN −2, 2e j 2α 2 4 + (0 + kˆ3 A3b3,3e j 3α + kˆ5 A5b5,3e j 3α + .... + kˆN −3 A N −3bN −3,3e j 3α 3 5 + (0 + 0 + kˆ4 A4b4, 4 e j 4α + .... + kˆN − 2 A N − 2bN − 2, 4 e j 4α 4 . . . + (0 + 0 + 0 + .... + kˆN −2 A N − 2bN − 2, N −2 e j ( N −2 )α N −2 N −2 N −3 N −2 + kˆN −1 AN −1bN −1,1e j1α )e j1φ δ ( f − 1 f 0 ) + N + kˆN A N bN , 2e j 2α )e j 2φ δ ( f − 2 f 0 ) N + kˆN −1 A N −1bN −1,3e j 3α )e j 3φ δ ( f − 3 f 0 ) N −1 + kˆN A N bN , 4 e j 4α )e j 4φ δ ( f − 4 f 0 ) + N + kˆN A N bN , N − 2 e j ( N − 2 )α )e j ( N − 2 )φ δ ( f − ( N − 2) f 0 ) N + (0 + 0 + 0 + .... + 0 + kˆN −1 A N −1bN −1, N −1e j ( N −1)α )e j ( N −1)φ δ ( f − ( N − 1) f 0 ) N −1 + (0 + 0 + 0 + .... + 0 + kˆN A N bN , N e jNα )e jNφ δ ( f − Nf 0 ) n (3.29) 56 No caso de N ser ímpar: Y( f ) = kˆ0 e jα δ ( f − 0 f0 ) + kˆ1 A1b1,1e j1(φ+α )δ ( f −1f0 ) + kˆ2 A2[b2,0e j0(φ+α )δ ( f − 0 f0 ) + b2,2e j2(φ+α )δ ( f − 2 f0 )]+ 0 1 2 2 + ...+ kˆN AN [bN,1e j1(φ+α )δ ( f −1f0 ) + bN,3e j3(φ+α )δ ( f − 3 f0 ) + bN,5e j5(φ+α )δ ( f − 5 f0 ) + ...+ bN,Ne jN(φ+α )δ ( f − Nf0 )] N N N N (3.30) Agrupando-se os termos de mesma freqüência da equação 3.30: Y( f ) = ( kˆ0 e jα + kˆ2 A2b2,0e j 0α + kˆ4 A4b4,0e j 0α + .... + kˆN −3 A N −3bN −3,0e j 0α 0 2 4 N −3 + kˆN −1 A N −1bN −1,0e j 0α )e j 0φ δ ( f − 0 f0 ) + N −1 ( kˆ1 A1b1,1e j1α + kˆ3 A3b3,1e j1α + kˆ5 A5b5,1e j1α + .... + kˆN − 2 A N − 2bN − 2,1e j1α 1 3 5 (0 + kˆ2 A2b2, 2 e j 2α + kˆ4 A4b4, 2 e j 2α + .... + kˆN −3 A N −3bN −3, 2 e j 2α 2 4 N −3 + (0 + kˆ3 A3b3,3e j 3α + kˆ5 A5b5,3e j 3α + .... + kˆN −2 A N −2bN −2,3e j 3α 3 5 + (0 + 0 + kˆ4 A4b4,4 e j 4α + .... + kˆN −3 A N −3bN −3, 4 e j 4α 4 + . . . + (0 + 0 + 0 + .... + kˆN −2 A N −2bN −2, N −2e j ( N −2)α N −2 N −3 N −2 N −2 + kˆN A N bN ,1e j1α )e j1φ δ ( f − 1 f 0 ) + N + kˆN −1 A N −1bN −1, 2 e j 2α )e j 2φ δ ( f − 2 f 0 ) N −1 + kˆN A N bN ,3e j 3α )e j 3φ δ ( f − 3 f 0 ) N + kˆN −1 A N −1bN −1, 4 e j 4α )e j 4φ δ ( f − 4 f 0 ) N −1 + kˆN A N bN , N −2e j ( N −2)α )e j ( N −2)φ δ ( f − ( N − 2) f 0 ) N + (0 + 0 + 0 + .... + 0 + kˆN −1 AN −1bN −1, N −1e j ( N −1)α )e j ( N −1)φ δ ( f − ( N − 1) f 0 ) N −1 + (0 + 0 + 0 + .... + 0 + kˆN A N bN , N e jNα )e jNφ δ ( f − Nf 0 ) . N (3.31) Y ( f ) também é expresso pela série exponencial de Fourier: Y ( f ) = yˆ (0 f 0 )δ ( f − 0 f 0 ) + yˆ (1 f 0 )δ ( f − 1 f 0 ) + yˆ (2 f 0 )δ ( f − 2 f 0 ) + .... + yˆ ( Nf 0 )δ ( f − Nf 0 ) . (3.32) Comparando-se a equação 3.30 ou 3.31 com a equação 3.32, dependendo do valor de N, calculam-se os valores dos coeficientes k̂ n , começando com o de ordem mais alta até o de ordem mais baixa. A equação (3.16) é uma maneira de expressar y(t) em função da entrada, conhecida a série de Fourier de y(t). As equações (3.30),(3.31) e (3.32) possuem espectros idênticos, 57 devido à comparação estabelecida entre elas. Como geralmente os harmônicos de ordem par são iguais a zero, os valores de k̂ n quando n for par, também serão iguais a zero. Como exemplo, fez-se uma medição em uma carga de característica fortemente nãolinear, microcomputador, alimentada por uma tensão senoidal. A tensão de alimentação e a corrente medidas estão mostradas na figura 3.20. A figura 3.21 apresenta os espectros de amplitude e fase da corrente da figura 3.20. v(t) 200 Amplitude (V) 100 0 -100 -200 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.05 0.06 0.07 Tempo (s) i(t) Amplitude (A) 4 2 0 -2 -4 0 0.01 0.02 0.03 0.04 Tempo (s) Figura 3.20 – Formas de onda de tensão e corrente medidas. Os valores calculados no domínio do tempo das formas de onda medidas foram: Tensão rms = 118,8875 V, corrente rms = 1,2213 A, e potência ativa = 95,6004 W. Espectro de Amplitude da corrente Amplitude 1.5 1 0.5 0 0 5 10 15 20 25 20 25 Nú mero do Harmô nico (k) Espectro de Fase Fase (graus) 200 100 0 -100 -200 0 5 10 15 Nú mero do Harmô nico Figura 3.21 - Espectros de amplitude e fase da corrente. 58 Para o cálculo dos valores de k̂ n , usou-se N = 25 (truncando no 25o harmônico) e normalizou-se as formas de onda de tensão e corrente pelo máximo valor que cada uma assume. Depois de calculados os k̂ n , traçou-se a função definida pela equação (3.16) e multiplicou-se a mesma pelo valor utilizado na normalização. Os valores medidos nas formas de onda de tensão e corrente foram: A = 168,1716 V (amplitude da fundamental da tensão), Valor máximo de corrente = 3,53 A (ampères). As formas de onda da corrente medida (azul) e modelada (vermelho) são apresentadas na figura 3.22. 4 3 2 Amplitude (A) 1 0 -1 -2 -3 -4 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 Tempo (s) Figura 3.22 – Correntes medida (azul) e modelada (vermelho). O valor rms calculado da forma de onda de corrente do modelo foi de 1,2149 A e os valores de k̂ n são apresentados na tabela 3.2. 59 Tabela 3.2 – Valores calculados para módulo e fase do coeficiente k̂ n . n 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 k̂ n (x108) 0,2545 3,3524 0,2450 2,4502 0,1635 1,5701 0,1026 0,9723 0,0630 0,5947 0,0385 0,3623 0,0233 0,2232 0,0150 0,1366 0,0093 0,0876 0,0056 0,0499 0,0028 0,0265 0,0010 0,0091 0,0002 0,0015 α n (graus) 180 162,5558 -79,8935 -49,0565 34,1022 30,3198 -27,1629 -19,7059 15,1625 17,0058 -17,2347 -12,0130 8,9928 11,8766 -12,7218 -8,2585 -5,0771 8,5797 9,7432 -5,5866 -2,3132 5,7191 7,4347 -3,8426 -0,8041 3,8157 Como outro exemplo, fez-se uma medição em 2 lâmpadas fluorescentes de 40 W com reator eletromagnético, modelando-se a resposta, corrente das lâmpadas, como um polinômio da forma da equação 3.16. A figura 3.23 apresenta as formas de onda de tensão e corrente medidas. 60 100 0 -100 Amplitude (A) Amplitude (V) v(t) 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03 Tempo (s) i(t) 0.035 0.04 0.045 0.05 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03 Tempo (s) 0.035 0.04 0.045 0.05 1 0 -1 Figura 3.23 - Formas de onda de tensão e corrente medidas. Os valores calculados por meio das formas de onda da figura 3.23 são: Vrms = 127,0310 V. Irms = 0,7380 A. Potência ativa = 83,3616 W. Observa-se pelo espectro harmônico da corrente (figura 3.24), que pode-se fazer a truncagem no 5o harmônico. A figura 3.25 apresenta a comparação entre a corrente medida e a corrente expressa em função da entrada por um polinômio de 5a ordem (modelo), cujos coeficientes são apresentados na tabela 3.3. O valor rms calculado a partir da corrente modelada foi igual a 0,7348 A. 61 Espectro de Amplitude da corrente 1 Amplitude (A) 0.8 0.6 0.4 0.2 0 0 2 4 6 8 10 12 14 Nú mero do Harm ô nico (k) Espectro de Fase 16 18 20 0 2 4 6 8 10 12 14 Nú mero do Harm ô nico 16 18 20 200 Fase (graus) 100 0 -100 -200 Figura 3.24 - Espectro de amplitude e fase da corrente. 1.5 1 Amplitude (A) 0.5 0 -0.5 -1 -1.5 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03 0.035 0.04 0.045 0.05 Tempo (s) Figura 3.25 – Correntes medida (azul) e modelada (vermelho). Tabela 3.3 – Valores calculados para módulo e fase do coeficiente k̂ n . n k̂ n 0 1 2 3 4 5 0,0476 3,3181 0,0464 2,7302 0,0650 1,4146 α n (graus) 180,0000 171,6548 -44,0893 -31,9926 28,2921 24,3656 62 3.3 – Equipamentos de Descarga a Arco e Equipamentos com Componentes Saturáveis A categoria de equipamentos de descarga a arco inclui fornos a arco, soldadores a arco e lâmpadas de descarga a arco (fluorescentes, vapor de sódio, vapor de mercúrio) com reator magnético. Os harmônicos produzidos por um forno de arco, usado na produção de aço, são imprevisíveis, devido à variação aleatória do arco. A corren te do arco não é periódica e sua análise revela um espectro contínuo, incluindo harmônicos (ordem inteira) e interharmônicos (ordem fracionária). Entretanto, medições indicam que componentes harmônicas inteiras entre a 2a e a 7a predominam sobre as demais, sendo que sua amplitude decai com a ordem. [7] Quando o forno atua no refino do material, a forma de onda se torna simétrica, desaparecendo os harmônicos de ordem par. Na fase de fusão, tipicamente, as componentes harmônicas apresentam amplitude de até 8% da fundamental, enquanto no refino valores típicos são em torno de 2%. A categoria de equipamentos com componentes saturáveis inclui máquinas elétricas e transformadores. Os materiais ferromagnéticos utilizados na fabricação de transformadores e máquinas elétricas são solicitados constantemente em condições que diferem daquelas previstas para o regime permanente, seja pela ocorrência de transitórios elétricos ou pela presença de harmônicos de tensão, que são cada vez mais freqüentes em instalações industriais.[25] As formas de onda das tensões nos enrolamentos primário e secundário e o fluxo magnético são puramente senoidais quando um transformador opera na região linear da curva de magnetização (indutância de magnetização constante). Contudo, devido ao fenômeno da saturação magnética, a condição anterior já não é verdadeira, ou seja, as formas de onda sofrem uma deformação, tornando-se não senoidais. Um modelo de máquina de indução considerando a saturação é apresentado na figura [26] 3.26. Ds . X s − s Rs X s − ns Vs Is Dr . X r − s X r − ns Xm Ir Rr s Figura 3.26 – Modelo de máquina de indução considerando a saturação. Onde, 63 Para I ≤ I sat ; D = 1, Para I ≥ I sat ; D = γ= I sat I = 2 −1 γ + γ 1− γ2 , tg π 1− γ Corrente no qual começa a saturação . Corrente passando pela indutância de dispersão Pode-se também empregar o modelamento utilizando série de potências, por meio das medições de tensão e corrente em cada fase da máquina de indução. 64 CAPÍTULO 4 INFLUÊNCIA MÚTUA ENTRE CARGAS NÃO-LINEARES COM DIFERENTES FORMAS DE ALIMENTAÇÃO Neste capítulo apresentam-se, por meio de medições realizadas, a influência do conteúdo harmônico de tensão em cargas não-lineares, do conteúdo harmônico de corrente na tensão de suprimento, e a influência do conteúdo harmônico entre cargas. 4.1 - Influência da Forma de Onda de Alimentação em Cargas Não-Lineares Os inversores de onda quadrada modificada são muito usados em sistemas fotovoltaicos de pequeno porte, para atendimento de pequenas cargas em comunidades isoladas, sejam individuais ou comunitárias, como iluminação de escolas, igrejas ou centros comunitários. Esses inversores apresentam custo menor que os de onda senoidal. A orientação, quando um sistema desse tipo é instalado, é para economizar energia utilizando lâmpadas mais econômicas, tendo em vista as limitações do sistema de geração em função da intermitência da fonte primária (solar). A utilização de equipamentos que consomem menos energia elétrica e executam a mesma função, quando comparados com outros de maior consumo, torna-se imprescindível para o aumento da confiabilidade do sistema e diminuição dos seus custos de implantação. Como é visto mais adiante, o inversor de onda quadrada pode ser melhor para esse tipo de aplicação (sistemas fotovoltaicos de pequeno porte) do que um inversor de onda quadrada modificada, pois apresenta menor corrente rms nos cabos de alimentação, menor potência reativa, menor corrente de pico, menor taxa de distorção da corrente, e fator de potência próximo de 1. Foram realizados testes com inversores de onda quadrada, quadrada modificada e senoidal, com a finalidade de analisar seus desempenhos e a influência da forma de onda da tensão de alimentação em lâmpadas fluorescentes compactas (PL). Para isso, utilizou-se um conjunto formado por 10 lâmpadas PL em paralelo, sendo 8 lâmpadas de 25 W (DynacomEconolite) e 2 de 10 W (Siclux). O aparelho de medição utilizado foi um osciloscópio digital (ScopeMeter® Fluke 123 Industrial) com opções de amostragem de 252 ou 1000 pontos em 3 períodos e o esquema da bancada de medições é mostrado na figura 4.1. 65 Figura 4.1 – Esquema da bancada de medições. 4.1.1 - Inversor de Onda Quadrada (LARK 300 W) A figura 4.2 mostra os valores rms de tensão e corrente de 10 lâmpadas PL ao longo do tempo, ocorrendo, nesse período, várias partidas. Observa-se um alto valor de tensão a vazio (138 Vrms) e a queda de tensão no momento da partida das lâmpadas. A corrente de partida registrada das 10 lâmpadas foi de 2,8 A. O valor rms da tensão após a partida das lâmpadas 160 8.0 140 7.0 120 6.0 100 5.0 80 4.0 60 3.0 40 2.0 20 1.0 0 Corrente (A) Tensão (V) ficou em torno de 98 V. 0.0 0 30 60 90 Tempo (s) Figura 4.2 – Tensão e corrente rms ao longo do tempo, para 10 lâmpadas PL. A seguir é mostrado o desempenho desse inversor ao alimentar 4 lâmpadas PL de 25 W cada. A figura 4.3 apresenta as formas de onda de tensão e corrente medidas em 4 lâmpadas PL, alimentadas por uma forma de onda quadrada de tensão, e as figuras 4.4 e 4.5 mostram os espectros de amplitude e fase da tensão e da corrente, respectivamente. 66 Figura 4.3 – (a) Tensão de alimentação quadrada; (b) corrente nas 4 lâmpadas. Os valores calculados por meio da definição de valor rms no domínio do tempo para tensão e corrente foram: Vrms = 110,0819 V e Irms = 0,6791 A. A potência ativa calculada, dada pelo valor médio da potência instantânea, foi de 73,5463 W (valor abaixo do nominal) e a potência aparente calculada pelo produto do valor rms entre tensão e corrente foi 74,7614 VA; logo, o fator de potência é igual a 0,9839. Nota-se uma semelhança entre as formas de onda de tensão e corrente, como também entre seus espectros de amplitude e fase, o que torna, para esse tipo de alimentação, o fator de potência próximo de 1. Figura 4.4 – Espectro de amplitude (a) e fase (b) da tensão da figura 4.3. 67 Figura 4.5 – Espectro de amplitude (a) e fase (b) da corrente da figura 4.3. As figuras 4.6 e 4.7 mostram os espectros de potência ativa e reativa, respectivamente. Nota-se uma parcela significativa dos harmônicos no consumo total da potência ativa. Espectro de potê ncia ativa 60 50 Potê ncia (W ) 40 30 20 10 0 0 5 10 15 20 Nú mero do harm ô nico (k) Figura 4.6 - Espectro da potência ativa. 25 68 Espectro de potê ncia reativa 1 0 Potê ncia (VAr) -1 -2 -3 -4 -5 -6 0 5 10 15 Nú mero do harmô nico (k) 20 25 Figura 4.7 - Espectro da potência reativa. Os valores calculados pelo espectro das figuras 4.4 e 4.5 são: P = 72,4606 W, Q = -8,7538 VAr, S = 73,4649 VA, D = 8,3620 VA, Sx = 42,5579 VA, FP = 0,9863, TDv = 44,8127 %, TDi = 52,5973 %. Observa-se a baixa TD da corrente das lâmpadas quando a alimentação é do tipo quadrada, quando comparada com os outros tipos de alimentação utilizados neste trabalho. Na tabela 4.1 são apresentados os valores calculados no domínio da freqüência pelo programa desenvolvido neste trabalho, bem como os valores de impedância harmônica. Tabela 4.1 – Valores calculados no domínio da freqüência para a alimentação do tipo quadrada. Componente 0 Freqüência (Hz) 0 Amplitude (V) 0 Amplitude (%) 0 20.log(Vn/V1) (dB) - Fase (graus) 0 Amplitude (A) 0,024 Amplitude 20.log(In/I1) Fase (%) (dB) (graus) 2,800 -30,871 180 P (W) 0 10.log(Pn/P1) Q (dB) (VAr) 0 1 60 141,394 100 0 56,437 0,839 100 0 61,436 59,110 0 2 120 1,467 1,037 -39,68 51,007 0,016 1,859 -34,3928 -16,148 0,004 3 180 48,092 34,012 -9,36716 -9,228 0,308 36,709 -8,70422 5,514 4 240 2,882 2,038 -33,8147 18,636 0 0 - 0 5 300 28,140 19,902 -14,0221 -72,674 0,201 23,889 -12,4113 6 360 3,302 2,335 -32,6331 -13,475 0,020 2,335 7 420 18,029 12,751 -17,8892 -138,230 0,140 16,728 8 480 2,722 1,925 -34,3109 -50,859 0,024 9 540 12,546 8,873 -21,0385 150,451 0,104 10 600 1,442 1,020 -39,8293 -73,705 11 660 10,752 7,604 -22,3788 75,681 12 720 0 0 - 13 780 9,964 7,047 14 840 1,547 1,094 15 900 8,628 16 960 17 1020 18 |Z| 0 Fase (graus) 0 -5,170 168,4706 -4,9990 -41,696 0,011 67,1552 7,165 -9,16445 -1,885 156,0993 -14,7412 0 - -58,165 2,731 -13,3534 -0,707 140,3740 -14,5087 -32,4546 30,609 0,023 -34,0993 -0,023 168,6205 -44,0844 -15,5527 -123,172 1,222 -16,8459 -0,329 128,4223 -15,0577 2,800 -30,871 -27,317 0,029 -33,0926 -0,013 115,8432 -23,5418 12,367 -18,1346 167,715 0,622 -19,7787 -0,193 120,8979 -17,2640 0,018 2,192 -33,3698 -73,594 0,013 -36,5772 0,086 10,223 -19,7853 94,268 0,437 -21,3118 0 0,009 1,096 -39,3904 -108,200 0 - -23,0399 11,435 0,075 8,984 -20,974 29,193 0,358 -22,1778 -39,2188 18,382 0 0 - 0 0 - 6,102 -24,2904 -45,593 0,068 8,066 -21,8251 -37,221 0,289 -23,1076 -0,043 127,4428 2,450 1,732 -35,2253 -8,747 0,019 2,240 -32,9002 16,721 0,021 -34,4944 -0,010 130,1320 -25,4677 6,324 4,473 -26,9888 -102,609 0,061 7,208 -22,7686 -88,869 0,186 -25,0215 -0,045 104,5639 -13,7404 1080 2,470 1,747 -35,1547 -43,204 0,022 2,574 -31,6268 -29,205 0,026 -33,5669 -0,006 114,5365 -13,9982 19 1140 3,913 2,767 -31,1584 -170,069 0,039 4,647 -26,6539 -153,256 0,073 -29,0834 -0,022 100,2318 -16,8124 20 1200 1,830 1,294 -37,7596 -74,188 0,017 2,073 -33,8663 -81,630 0,016 -35,6754 0,002 105,2503 21 1260 2,900 2,051 -33,7607 103,198 0,029 3,431 -29,2273 129,900 0,037 -32,0346 -0,019 100,6354 -26,7021 22 1320 0 0 - 0 0 0 - 0 0 - 23 1380 3,430 2,426 -32,3027 26,444 0,028 3,360 -29,5321 51,313 0,044 -31,2821 24 1440 0 0 - 0 0 0 - 0 0 - 25 1500 3,770 2,666 -31,4818 -27,561 0,032 3,801 -28,3722 -8,074 0,057 -30,1579 0 0 93,7960 0 78,4871 0 -0,1103 -0,147 125,2680 -18,5867 0 0 0 -0,115 132,1069 -17,7584 0 0 0 0 0 -8,3719 7,4415 0 -0,020 121,7814 -24,8691 0 0 0 -0,020 118,1587 -19,4871 69 70 4.1.2 - Inversor de Onda Quadrada Modificada (STATPOWER 800W) Esse inversor não consegue dar partida nas 10 lâmpadas, devido à alta corrente de pico das mesmas quando a alimentação é do tipo quadrada modificada. A corrente de partida registrada das 10 lâmpadas foi de 5,25 A (máximo da corrente registrado no instante em que a 10.0 140 120 100 80 60 40 20 0 -20 -40 -60 -80 -100 -120 -140 9.0 8.0 7.0 6.0 5.0 4.0 3.0 Corrente (A) Tensão (V) tensão cai para zero), quando a potência entregue pelo inversor se torna nula (figura 4.8). 2.0 1.0 0.0 10 25 40 55 70 Tempo (s) Figura 4.8 – Tensão e corrente rms de 10 lâmpadas PL ao longo do tempo. O pulso de corrente da figura 4.8 é formado pela união, por meio de uma reta, de um ponto amostrado com outro. A amostragem dos valores rms de tensão e corrente é feita de 0,5 em 0,5 segundo, podendo não corresponder à corrente máxima ocorrida. O máximo de lâmpadas PL que esse inversor consegue dar partida simultaneamente são 6, com potência menor ou igual a 135 W (5x25 + 1x10). Porém, esse inversor alimenta as 10 lâmpadas, dando primeiro a partida nas 6 lâmpadas e depois ligando as outras 4. Se a partida nas 6 lâmpadas for dada ao desligar e ligar em poucos segundos o interruptor de alimentação das mesmas (figura 4.9), elas não partem, devido a estarem aquecidas. Portanto, essas lâmpadas, quando aquecidas, fornecem uma corrente de pico maior do que na condição desligadas por muitos segundos. Isto deve-se à prováv el alteração na impedância de carga das lâmpadas, inclusive nas freqüências dos harmônicos, entre os estados “aquecido” e “frio” das mesmas. 110 9.0 70 7.5 30 6.0 -10 4.5 -50 3.0 -90 1.5 -130 Corrente (A) Tensão (V) 71 0.0 8 30 52 74 96 Tempo (s) Figura 4.9 – Tensão e corrente rms de 6 lâmpadas PL ao longo do tempo. A corrente de partida registrada foi de 4,28 A e a corrente máxima registrada no chaveamento rápido do interrutptor foi de 4,58 A. Como é apresentado a seguir, a corrente de pico na partida é muito alta e também operando em regime, quando comparado aos outros tipos de alimentação, devido ao alto consumo de energia reativa quando a alimentação é desse tipo. 4.1.3 - Inversor de Onda Quadrada Modificada (STATPOWER 1.500W) Apesar da potência de suprimento elevada, comparada com a potência das lâmpadas, esse inversor também não é capaz de dar partida às 10 lâmpadas simultaneamente. Esse inversor consegue dar partida em 6 lâmpadas com potência menor ou igual a 150 W (6x25), apresentando curva semelhante à da figura 4.9. A figura 4.10 mostra as medições de tensão e corrente em regime, para 4 lâmpadas PL. Figura 4.10 - Formas de onda de tensão (azul) e corrente (vermelho). 72 Os valores calculados no domínio do tempo são: Vrms = 117,4697 V, Irms = 1,4431 A, Potência ativa = 90,5111 W, S = 169,5205 VA, FP = 0,5339. Nota-se a diminuição do fator de potência devido ao aumento do valor rms da corrente, quando comparado com a alimentação quadrada. Os espectros de amplitude e fase de tensão e corrente e os das potências ativa e reativa são apresentados nas figuras 4.11 a 4.14. Figura 4.11 – Espectro da tensão: (a) amplitude; (b) fase da figura 4.10. 73 Figura 4.12 - Espectro da corrente: (a) amplitude; (b) fase da figura 4.10. Espectro de potê ncia ativa 80 70 60 Potê ncia (W ) 50 40 30 20 10 0 -10 0 5 10 15 Nú mero do harmô nico (k) 20 Figura 4.13 – Espectro da potência ativa. 25 74 Espectro de potê ncia reativa 5 0 Potê ncia (VAr) -5 -10 -15 -20 -25 -30 0 5 10 15 20 25 Nú mero do harmô nico (k) Figura 4.14 - Espectro da potência reativa. Para esse tipo de carga, observa-se um valor negativo da potência ativa no 3o e 9o harmônicos, quando a alimentação é do tipo quadrada modificada. Os valores calculados no domínio da freqüência (espectros das figuras 4.11 e 4.12) são: P = 87,7150 W, Q = -47,6534 Var, S = 154,1789 VA, D = 117,5005 VA, Sx = 129,9728 VA, FP = 0,5689, TDv = 31,2686 %, TDi = 148,7375 %. Os valores calculados de tensão, corrente, potência ativa e reativa e impedância harmônica, para cada freqüência, são apresentados na tabela 4.2. As características técnicas dos inversores de onda quadrada modificada são mostradas na tabela 4.3: [2] Tabela 4.2 – Valores calculados no domínio da freqüência para a alimentação do tipo quadrada modificada. Componente 0 Freqüência (Hz) 0 Amplitude (V) 0 Amplitude (%) 0 20.log(Vn/V1) (dB) - Fase (graus) 0 Amplitude (A) 0,108 Amplitude (%) 10,359 20.log(In/I1) (dB) -19,6889 1 60 157,643 100 0 92,416 1,042 100 0 2 120 0 0 - 0 0,022 2,093 -33,5089 3 180 13,241 8,399 -21,5151 -83,082 0,419 40,255 4 240 0 0 - 0 0,017 1,594 5 300 37,149 23,565 -12,5546 -78,307 0,472 45,305 6 360 0 0 - 0 0,021 7 420 13,912 8,825 -21,0857 -72,899 0,523 8 480 0 0 - 0 0 9 540 12,399 7,865 -22,0858 110,585 0,461 10 600 0 0 - 0 11 660 16,010 10,156 -19,8657 115,721 12 720 0 0 - 13 780 1,808 1,147 14 840 0 0 15 900 10,438 6,621 Fase (graus) 180 P (W) 0 10.log(Pn/P1) Q (dB) (VAr) 0 |Z| 0 Fase (graus) 0 113,316 76,699 0 -14,006 0 - 0 -7,91307 74,888 -2,573 - -1,041 -35,7484 -109,874 0 - 0 0 0 -6,87851 -8,937 3,088 -13,9511 -8,203 78,7239 -69,3698 2,035 -33,913 114,093 0 - 0 0 0 50,173 -5,98732 -60,839 3,555 -13,3395 -0,759 26,6204 -12,0593 0 - 0 0 - 0 0 0 44,259 -7,08334 - -2,543 0,018 1,728 -35,2519 19,698 0 - 0 0 0 0,541 51,949 -5,69341 155,002 3,353 -13,5936 -2,742 29,5871 -39,2811 0 0 0 - 0 0 - 0 0 0 -38,8095 128,723 0,496 47,609 -6,44772 87,096 0,335 -23,5974 0,298 3,6469 41,6270 - 0 0 0 - 0 0 - 0 0 0 -23,5811 -56,618 0,472 45,276 -6,87851 10,188 0,969 -18,9847 -2,262 22,1336 -66,8064 -132,274 -1,304 -29,287 151,3422 -20,8993 0 0 31,5808 -157,9705 26,8938 -117,1405 16 960 0 0 - 0 0,022 2,103 -33,5089 98,720 0 - 0 0 0 17 1020 7,862 4,987 -26,0428 -48,994 0,433 41,542 -7,6276 -53,786 1,695 -16,5562 0,142 18,1696 4,7925 18 1080 0 0 - 0 0,024 2,295 -32,7531 100,333 0 - 0 0 0 19 1140 2,685 1,703 -35,3746 126,665 0,390 37,414 -8,53606 -128,786 -0,131 - -0,506 6,8919 -104,5486 20 1200 0 0 - 0 0,012 1,114 -38,7737 0,381 0 - 0 0 0 21 1260 7,863 4,988 -26,0417 139,597 0,386 37,087 -8,62561 162,466 1,399 -17,3897 -0,590 20,3515 -22,8691 22 1320 0 0 - 0 0 0 - 0 0 - 0 0 0 23 1380 3,303 2,095 -33,5753 150,425 0,365 35,071 -9,1115 99,392 0,379 -23,0615 0,469 9,0435 51,0337 24 1440 0 0 - 0 0 0 - 0 0 - 0 0 0 25 1500 4,104 2,603 -31,6893 -36,973 0,328 31,461 -10,0399 31,499 0,247 -24,9209 -0,626 12,5240 -68,4722 75 76 Tabela 4.3 - Características técnicas dos inversores de onda quadrada modificada utilizados. MODELO PW 800 W – 24V PW 1.500 W – 12V 900 W 1.000 W 800 W 1.800 2.000 1.500 ½HP ¾HP 115 V AC RMS ±5% 60 Hz ± 0,01% 20 a 30 V DC 115 V AC RMS ±5% 60 Hz ± 0,01% 10 a 15 V DC 21,5 V DC 10,7 V DC 20 V DC 10 V DC ≈ 85-90% < 0,3 A ≈ 85-90% < 0,5 A CARACTERÍSTICAS Potência de saída: 30 minutos 10 minutos Continuamente Capacidade de surto (partida para motores) Tensão de saída Freqüência de saída Tensão de entrada Bateria com carga baixa (alarme) Bateria com carga baixa (interrupção) Eficiência Corrente de consumo 4.1.4 - Inversor de Onda Senoidal (TRACE SW4048 4 kW) A tabela 4.4 apresenta as características técnicas do inversor de onda senoidal utilizado. Tabela 4.4 – Características técnicas do inversor TRACE.[27] MODELO SW4048 4.000 W Potência de saída 120 V AC Tensão de saída Forma de onda de Senoidal saída 60 Hz Freqüência de saída 44 a 66 V DC Tensão de entrada Eficiência ≈ 95% Corrente máxima 78 A de saída Taxa de distorção 3a5% harmônica de tensão (TDHv) Variação de ± 0,04% freqüência Variação de tensão ± 2% INTERRUPÇÕES Freqüência Tensão Abaixo Acima 58 Hz 62 Hz 108 V AC 132 V AC Na alimentação senoidal, a corrente de partida das 10 lâmpadas registrada foi 6,1 A, e o valor rms da tensão ao longo do tempo ficou em torno de 119 V (figura 4.15). 77 140 8.0 120 7.0 Tensão (V) 5.0 80 4.0 60 3.0 40 Corrente (A) 6.0 100 2.0 20 1.0 0 0.0 0 30 60 90 Tempo (s) Figura 4.15 – Variação dos valores rms de tensão e corrente. A figura 4.16 exibe as formas de onda de tensão e corrente para a alimentação senoidal das 4 lâmpadas. Observa-se que o pulso dura cerca de 2,5 ms e, com isso, o valor da corrente é zero em grande parte do tempo (cerca de 14 ms). Figura 4.16 - Formas de onda de tensão (azul) e corrente (vermelho). Os valores calculados no domínio do tempo são: Vrms =117,2714 V, Irms = 1,5594 A, Potência ativa = 96,9035 W, S = 182,8730 VA, FP = 0,5299. As lâmpadas PL alimentadas por uma forma de onda senoidal de tensão apresentam um fator de potência baixo. A redução do fator de potência é devida ao elevado valor eficaz de corrente, causado pela natureza pulsada da forma de onda de corrente das lâmpadas. 78 As figuras 4.17 a 4.20 mostram os espectros de amplitude e fase da tensão e da corrente e os espectros de potência ativa e reativa, respectivamente. Figura 4.17 – Espectro da tensão: (a) amplitude; (b) fase da figura 4.16. Figura 4.18 – Espectro da corrente: (a) amplitude; (b) fase da figura 4.16. 79 Espectro de potê ncia ativa 100 80 Potê ncia (W ) 60 40 20 0 -20 0 5 10 15 20 25 Nú mero do harmô nico (k) Figura 4.19 – Espectro da potência ativa. Espectro de potê ncia reativa 0 -5 Potê ncia (VAr) -10 -15 -20 -25 -30 -35 -40 0 5 10 15 Nú mero do harmô nico (k) 20 25 Figura 4.20 – Espectro da potência reativa. Os valores calculados por meio dos espectros de amplitude e fase da tensão e da corrente são: P = 96,5912 W, Q = -36,2218 VAr, S = 180,8149 VA, D = 148,4997 VA, Sx = 148,3608 VA, FP = 0,5342, TDv = 1,0028 %, TDi = 143,5375 %. 80 A tabela 4.6 apresenta os valores calculados no domínio da freqüência para a alimentação do tipo senoidal. Com a finalidade de avaliar, para cada tipo de alimentação, o nível da luminosidade emitida por 4 lâmpadas e o aquecimento do reator, foi realizada a medida da luminosidade em um plano próximo às lâmpadas com auxílio de um luxímetro e também foi medida a temperatura média no reator das lâmpadas após 3,5 minutos. Esses dados foram coletados quando o nível emitido pelas lâmpadas já estava estabilizado. As medidas obtidas são apresentadas na tabela 4.5, bem como o cálculo da eficiência luminosa das lâmpadas. Tabela 4.5 – Luminosidade das lâmpadas, temperatura do reator e eficiência luminosa. Forma de onda de tensão do inversor Quadrada Quadrada modificada (800 W) Quadrada modificada (1.500 W) Senoidal Luminosidade (lux) 350 431 436 438 Temperatura média Eficiência luminosa (ºC) (lm/W) 33,6 59,802 32,8 61,155 31,8 60,533 32,9 56,9035 O menor nível de luminosidade apresentado pelas lâmpadas foi para a alimentação do inversor de onda quadrada. Porém, para essa alimentação, as lâmpadas apresentaram eficiência luminosa maior do que para a alimentação senoidal, devido à potência ativa consumida pelas mesmas em cada alimentação. Os reatores das lâmpadas obtiveram praticamente o mesmo aquecimento no período de medição. A tabela 4.7 mostra os valores das perdas em mW/m em um cabo de seção de 4 mm2, para cada tipo de inversor alimentando as 4 lâmpadas PL, com base nas correntes fornecidas 2 pelas tabelas 4.1, 4.2 e 4.4, e na resistividade do cobre ( ρ Cu = 1 . Ω ⋅ mm ). [28] 58 m Devido à freqüência do maior harmônico considerado e do diâmetro do cabo utilizado, o efeito pelicular não exerce influência considerável, sendo portanto desprezado. Tabela 4.6 – Valores calculados no domínio da freqüência para a alimentação do tipo senoidal. Componente 0 Freqüência (Hz) 0 Amplitude (V) 0 Amplitude (%) 0 20.log(Vn/V1) (dB) - Fase (graus) 0 Amplitude (A) 0,035 Amplitude 20.log(In/I1) (%) (dB) 2,788 -31,0707 Fase (graus) 0 P (W) 0 1 60 165,103 100 0 87,992 1,252 100 0 2 120 0 0 - 0 0 0 - 0 0 - 0 0 0 3 180 1,656 1,003 -39,9739 -156,879 1,145 91,430 -0,77598 -34,688 -0,505 - -0,802 1,4464 -122,1906 4 240 0 0 - 0 0 0 - 0 0 - 0 0 0 5 300 0 0 - 0 0,960 76,653 -2,30666 -177,277 0 - 0 0 0 6 360 0 0 - 0 0 0 - 0 0 - 0 0 0 7 420 0 0 - 0 0,748 59,720 -4,47405 39,880 0 - 0 0 0 8 480 0 0 - 0 0 0 - 0 0 - 0 0 0 9 540 0 0 - 0 0,520 41,526 -7,63202 -105,296 0 - 0 0 0 10 600 0 0 - 0 0 0 - 0 0 - 0 0 0 11 660 0 0 - 0 0,301 24,073 -12,3808 107,645 0 - 0 0 0 12 720 0 0 - 0 0 0 - 0 0 - 0 0 0 13 780 0 0 - 0 0,119 9,505 -20,4411 -39,164 0 - 0 0 0 14 840 0 0 - 0 0 0 - 0 0 - 0 0 0 15 900 0 0 - 0 0 0 - 0 0 - 0 0 0 16 960 0 0 - 0 0 0 - 0 0 - 0 0 0 17 1020 0 0 - 0 0,075 5,966 -24,4509 -141,932 0 - 0 0 0 18 1080 0 0 - 0 0 0 - 0 0 - 0 0 0 19 1140 0 0 - 0 0,109 8,722 -21,2036 71,530 0 - 0 0 0 20 1200 0 0 - 0 0 0 - 0 0 - 0 0 0 21 1260 0 0 - 0 0,125 9,960 -20,0139 -64,634 0 - 0 0 0 22 1320 0 0 - 0 0 0 - 0 0 - 0 0 0 23 1380 0 0 - 0 0,127 10,168 -19,876 149,220 0 - 0 0 0 24 1440 0 0 - 0 0 0 - 0 0 - 0 0 0 25 1500 0 0 - 0 0,111 8,850 -21,0456 10,839 0 - 0 0 0 108,034 97,096 10.log(Pn/P1) Q (dB) (VAr) 0 0 |Z| 0 Fase (graus) 0 -35,420 131,8709 -20,0416 81 82 Tabela 4.7 - Perdas em mW/m em um cabo de 4mm2. Componente 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 TOTAL Quadrada 0,00248 1,51707 0,00055 0,20445 0,00000 0,08707 0,00086 0,04224 0,00124 0,02331 0,00070 0,01594 0,00017 0,01212 0,00000 0,00997 0,00078 0,00802 0,00104 0,00328 0,00062 0,00181 0,00000 0,00169 0,00000 0,00221 1,93763 Quadrada Modificada 0,05028 2,34001 0,00104 0,37836 0,00062 0,48014 0,00095 0,58950 0,00000 0,45802 0,00070 0,63078 0,00000 0,53021 0,00000 0,48014 0,00104 0,40407 0,00124 0,32780 0,00031 0,32111 0,00000 0,28712 0,00000 0,23186 7,51531 Senoidal 0,00528 3,37824 0,00000 2,82548 0,00000 1,98621 0,00000 1,20583 0,00000 0,58276 0,00000 0,19526 0,00000 0,03052 0,00000 0,00000 0,00000 0,01212 0,00000 0,02561 0,00000 0,03367 0,00000 0,03476 0,00000 0,02655 10,34230 4.1.5 - Comentários O inversor de onda quadrada, de 300 W, utilizado, consegue dar partida simultânea em 10 lâmpadas PL (8x25 W e 2x10 W). Já o de onda quadrada modificada de 800 W não consegue dar partida nas 10 lâmpadas PL, nem mesmo o de maior potência (1.500 W potência de suprimento 5 vezes maior comparada com a potência do de onda quadrada). Quando as lâmpadas PL são alimentadas por um inversor de onda quadrada, que apresenta maior TDH de tensão entre os inversores testados, observam-se menores valores de energia ativa e reativa, menor TDH de corrente, fator de potência próximo de 1, menor valor rms de corrente, e menor corrente de pico. Porém, para esse inversor, as lâmpadas apresentaram menor nível de luminosidade. O pior desempenho apresentado é quando a alimentação das lâmpadas PL é feita por uma forma de onda quadrada modificada de tensão, devido à alta corrente de partida e em regime. Então, deve -se atentar para esse fato quando um sistema fotovoltaico de pequeno porte utilizando um inversor de onda quadrada modificada for destinado a alimentar lâmpadas fluorescentes compactas. No momento de ligá- 83 las, elas podem não acender, o que pode levar à conclusão errônea de que a instalação do sistema de geração foi feita de maneira incorreta. O baixo fator de potência apresentado pelas lâmpadas quando a forma de onda de tensão é quadrada modificada ou senoidal, leva a uma elevação da circulação de reativos, que contribui para o aumento do tamanho e do custo do sistema de fornecimento de energia elétrica. Perdas adicionais nos cabos de distribuição são inseridas, devido ao alto valor eficaz da corrente de entrada, se o ponto de consumo estiver distante da geração. Para o nível de tensão aplicado em cada tipo de alimentação, as lâmpadas em tensão senoidal apresentaram maior valor de corrente rms, devido à largura do pulso ser maior do que quando as lâmpadas são alimentadas por tensão quadrada modificada. Um estudo semelhante pode ser feito com esses inversores alimentando cargas nãolineares com fontes chaveadas (apresentam a forma de onda de corrente semelhante às lâmpadas fluorescentes compactas), como computador, televisão, etc. 4.2 – Influência da Corrente Harmônica na Tensão de Alimentação Em sistemas com baixa capacidade de curto-circuito, como os de pequeno porte, a entrada de um bloco de carga provoca a queda da tensão de geração, devido ao aumento da corrente solicitada. Com a finalidade de simular um sistema desse tipo, utilizou-se um transformador variável tipo “varivolt” (220 V/110 V) com capacidade de 2,64 kW, onde se observou uma queda de tensão a cada vez que eram conectadas cargas na saída do mesmo. A figura 4.21 apresenta o circuito do secundário de um “varivolt” fornecendo uma tensão VL a uma carga não-linear ZL. Como explicado no capítulo 2, haverá a circulação de corrente harmônica através da impedância Zs, produzindo em VL uma tensão com conteúdo harmônico. Figura 4.21 – Carga conectada ao circuito do secundário do “varivolt”. 84 Antes de ser conectada uma carga no secundário do “varivolt”, mediu-se a tensão a vazio, obtendo-se 127,6806 Vrms. Logo em seguida, ligou-se 4 lâmpadas PL e verificou-se a queda do valor rms de tensão para 126,9572 V (tensão VL). As figuras 4.22 e 4.24 (a) mostram a tensão na saída do “varivolt” a vazio e alimentando a carga não-linear, e a figura 4.24 (b) apresenta a forma de onda da corrente medida. Apesar da queda do valor rms, observa-se um aumento da tensão de pico de 189 V para 195 V com a conexão da carga, devido à mesma produzir componentes harmônicas na tensão VL. Isso é mostrado nas figuras 4.23 e 4.25. Observa-se nessas figuras que a tensão a vazio já apresentava uma componente no 5o harmônico. Com a entrada da carga, a amplitude da componente fundamental diminuiu, a amplitude da componente no 5o harmônico aumentou (houve uma redução de cerca de 17o em sua fase) e surgiram novas componentes harmônicas na tensão (3a, 7a , 9a, 11a). A TD de tensão a vazio é de 3,30 % e com as 4 lâmpadas é de 5,02 %. A figura 4.26 apresenta o espectro de amplitude e fase da corrente e a tabela 4.7 fornece uma melhor visualização dos valores calculados no domínio da freqüência a partir das formas de onda medidas e, também, o cálculo da potência ativa e reativa em cada componente harmônica. Observa-se na tabela 4.8 que a potência ativa é negativa nas freqüências em que surgiram os harmônicos de tensão. Sinal Perió dico, v(t) 200 150 100 Amplitude 50 0 -50 -100 -150 -200 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03 0.035 0.04 Tempo (seg) Figura 4.22 – Tensão medida a vazio. 0.045 0.05 85 Figura 4.23 - Espectro da tensão a vazio: (a) amplitude; (b) fase. (a) Tensã o (V) 200 100 0 -100 -200 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03 0.035 0.04 0.045 0.05 0.035 0.04 0.045 0.05 Tempo (s) (b) Corrente (A) 5 0 -5 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03 Tempo (s) Figura 4.24 – Formas de onda medidas de tensão (a) e corrente (b) nas 4 lâmpadas. 86 Figura 4.25 - Espectro da tensão nas 4 lâmpadas: (a) amplitude; (b) fase. (a) Amplitude (A) 1.5 1 0.5 0 0 5 10 15 20 25 20 25 Nú mero do Harmô nico (k) (b) Fase (graus) 200 100 0 -100 -200 0 5 10 15 Nú mero do Harmô nico (k) Figura 4.26 - Espectro da corrente nas 4 lâmpadas: (a) amplitude; (b) fase. Tabela 4.8 – Valores no domínio da freqüência da tensão (azul) (a vazio e com 4 lâmpadas), corrente (vermelho) e potência (preto). A vazio 4 lâmpadas Componente Freqüência (Hz) Amplitude (V) Fase (graus) 20.log(Vn/V1) (dB) Amplitude (V) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 0 60 120 180 240 300 360 420 480 540 600 660 720 780 840 900 960 1020 1080 1140 1200 1260 1320 1380 1440 1500 0 180,1102 0 0 0 5,9468 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 98,4704 0 0 0 121,1304 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 -29,625 - 0 178,962 0 3,523 0 7,105 0 2,995 0 2,336 0 1,839 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Fase 20.log(Vn/V1) Amplitude (graus) (dB) (A) Fase (graus) 20.log(In/I1) (dB) P (W) Q (VAr) 0 98,332 0 -158,335 0 104,097 0 -101,555 0 111,473 0 -60,006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 180 103,304 -125,812 -49,290 111,602 158,044 0 4,638 167,529 -149,433 42,982 54,461 -120,557 -106,315 0 82,681 0 -144,599 0 -6,894 0 -177,334 0 10,733 0 158,052 -19,244 0 -37,730 -0,648 -38,973 -2,004 -4,141 -38,329 -7,134 -38,973 -11,258 -37,169 -16,849 -26,134 -30,881 -32,308 -32,624 -33,647 -37,169 0 102.971 0 -0.616 0 1.916 0 -0.299 0 -0.094 0 -0.120 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 -8,958 0 -1,785 0 -2,632 0 -1,030 0 -0,586 0 -0,265 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 -34,117 -28,024 -35,527 -37,686 -39,764 - 0,126 1,155 0,015 1,072 0,013 0,917 0 0,717 0,014 0,508 0,013 0,316 0,016 0,166 0 0,057 0 0,033 0 0,028 0 0,027 0 0,024 0 0,016 87 88 4.3 – Influência Mútua entre Cargas em Paralelo Nesta seção são apresentados casos em que ocorrem influências entre cargas ligadas em paralelo, mantidas as amplitudes do espectro da tensão e conseqüentemente, sem variar o valor rms da tensão. Essa influência que ocorre entre cargas pode ser positiva (redução, proporcional ou não, da amplitude da componente harmônica), ou negativa (aumento, proporcional ou não, da amplitude da componente harmônica). 4.3.1 – Cargas Alimentadas por Tensão Senoidal Usando a alimentação com o “varivolt” e com o medidor de corrente nas 4 lâmpadas, foram inseridas outras cargas em paralelo. Sabendo-se da queda de tensão que ocorreria com a inserção das cargas, manteve-se o valor rms de tensão constante pelo ajuste do “tap” regulável do aparelho a cada nova inserção de carga, com a finalidade de avaliar a influência das cargas na forma de onda de alimentação e na forma de onda da corrente das 4 lâmpadas. A figura 4.27 mostra as formas de onda de tensão e corrente das 4 lâmpadas alimentadas isoladas com tensão de 127 Vrms, e nas figuras 4.28 e 4.29 são mostrados os espectros de amplitude da tensão e corrente, respectivamente. Figura 4.27 - Formas de onda de tensão e corrente das 4 lâmpadas (isoladas). 89 Figura 4.28 - Espectro harmônico de amplitude da tensão da figura 4.27. Figura 4.29 - Espectro harmônico de amplitude da corrente da figura 4.27. Na figura 4.30 é vista a alteração da forma de onda da corrente nas 4 lâmpadas com a inserção de uma carga não-linear em paralelo (microcomputador – 100 W). Nas figuras 4.31 e 4.32 são apresentados os espectros de amplitude da tensão e corrente das formas de onda da figura 4.30. Foi observado um aumento de 44,28 % na amplitude do 3o harmônico e a redução de 40,01 % na amplitude do 9o harmônico de tensão. Comparando-se os espectros das figuras 4.29 e 4.32, verifica-se a redução das amplitudes do 5o ao 9o harmônico da corrente, o aumento da amplitude do 3o harmônico, e um aumento significativo das amplitudes do 13o harmônico em diante. O valor rms da corrente continuou praticamente o mesmo, porém a TDH da corrente foi reduzida de 153,24 % para 140,96 %. 90 Figura 4.30 - Formas de onda de tensão e corrente das 4 lâmpadas (computador em paralelo). Figura 4.31 - Espectro harmônico de amplitude da tensão da figura 4.30. Figura 4.32 - Espectro harmônico de amplitude da corrente da figura 4.30. 91 Com a inserção de uma carga linear (ventilador – 120 W) em paralelo, e retirando o microcomputador, verifica-se pela figura 4.33 que não houve mudança significativa na forma de onda da corrente, quando comparada com a da figura 4.27 e, conseqüentemente, não houve alteração no formato do espectro da corrente (figura 4.35), assim como no da tensão (figura 4.34). Observa-se o aumento do valor rms da corrente de 1,374 A para 1,544 A. Figura 4.33 - Formas de onda de tensão e corrente das 4 lâmpadas (ventilador em paralelo). Figura 4.34 - Espectro harmônico de amplitude da tensão da figura 4.33. 92 Figura 4.35 - Espectro harmônico de amplitude da corrente da figura 4.33. Essas medições foram feitas várias vezes sucessivas e não se verificou a alteração dos parâmetros medidos. Para melhor visualização dos resultados medidos são colocados nas tabelas 4.9 e 4.10 os valores de amplitude e corrente, respectivamente, calculados utilizando a transformada rápida de Fourier (FFT), pelo programa “FlukeView® Scopemeter” do aparelho de medição. Nas tabelas 4.11 e 4.12 são feitas as comparações das variações percentuais das amplitudes de tensão e corrente, respectivamente, em relação às 4 lâmpadas isoladas. 93 Tabela 4.9 - Tensão na carga (VL). n 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Amplitude (V) f (Hz) 0 60 120 180 240 300 360 420 480 540 600 660 720 780 840 900 960 1020 1080 1140 1200 1260 1320 1380 1440 1500 Valores percentuais das amplitudes em relação à fundamental 4 lâmpadas 4 lâmpadas e computador 4 lâmpadas e ventilador 4 lâmpadas 4 lâmpadas e computador 4 lâmpadas e ventilador 0,052 179,192 0,101 3,819 0,149 9,138 0,146 2,415 0,136 2,407 0,021 2,099 0,037 1,398 0,116 0,431 0,110 0,273 0,078 0,441 0,018 0,399 0,060 0,403 0,022 0,338 0,079 179,190 0,029 5,510 0,094 8,778 0,112 2,460 0,034 1,444 0,112 0,326 0,122 1,354 0,091 1,542 0,067 0,888 0,050 0,340 0,019 0,301 0,042 0,471 0,052 0,411 0,002 179,193 0,170 4,021 0,030 9,770 0,153 2,706 0,061 2,470 0,163 2,124 0,036 1,229 0,073 0,363 0,040 0,210 0,092 0,210 0,027 0,591 0,033 0,349 0,049 0,133 0,03 100,00 0,06 2,13 0,08 5,10 0,08 1,35 0,08 1,34 0,01 1,17 0,02 0,78 0,06 0,24 0,06 0,15 0,04 0,25 0,01 0,22 0,03 0,22 0,01 0,19 0,04 100,00 0,02 3,07 0,05 4,90 0,06 1,37 0,02 0,81 0,06 0,18 0,07 0,76 0,05 0,86 0,04 0,50 0,03 0,19 0,01 0,17 0,02 0,26 0,03 0,23 0,00 100,00 0,09 2,24 0,02 5,45 0,09 1,51 0,03 1,38 0,09 1,19 0,02 0,69 0,04 0,20 0,02 0,12 0,05 0,12 0,02 0,33 0,02 0,19 0,03 0,07 94 Tabela 4.10 – Corrente nas 4 lâmpadas. n 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 f (Hz) 0 60 120 180 240 300 360 420 480 540 600 660 720 780 840 900 960 1020 1080 1140 1200 1260 1320 1380 1440 1500 Isoladas 0,065 1,061 0,000 0,985 0,005 0,861 0,007 0,703 0,005 0,516 0,002 0,342 0,004 0,190 0,003 0,080 0,006 0,017 0,002 0,034 0,005 0,038 0,003 0,023 0,002 0,020 Amplitude (A) Computador em paralelo Ventilador em paralelo 0,068 1,111 0,002 0,988 0,002 0,791 0,001 0,590 0,001 0,425 0,003 0,354 0,003 0,300 0,006 0,241 0,004 0,161 0,003 0,095 0,003 0,048 0,001 0,030 0,003 0,035 0,068 1,208 0,007 1,124 0,005 0,968 0,003 0,776 0,007 0,563 0,006 0,361 0,004 0,185 0,003 0,072 0,003 0,021 0,001 0,040 0,003 0,043 0,003 0,028 0,003 0,017 Valores percentuais das amplitudes em relação à fundamental Isoladas Computador Ventilador em paralelo em paralelo 6,14 100,00 0,01 92,84 0,44 81,16 0,64 66,31 0,51 48,67 0,16 32,20 0,36 17,89 0,31 7,52 0,55 1,61 0,17 3,24 0,49 3,62 0,24 2,18 0,16 1,93 6,14 100,00 0,22 88,99 0,22 71,19 0,06 53,09 0,11 38,23 0,28 31,91 0,28 27,06 0,53 21,73 0,34 14,49 0,28 8,59 0,30 4,32 0,07 2,68 0,29 3,12 5,61 100,00 0,59 93,00 0,43 80,08 0,24 64,23 0,56 46,61 0,48 29,86 0,31 15,29 0,25 5,97 0,25 1,75 0,11 3,29 0,27 3,56 0,25 2,28 0,27 1,41 Tabela 4.11- Variação percentual da amplitude da tensão nas 4 lâmpadas (comparando com a tensão medida nas lâmpadas isoladas). Tabela 4.12 - Variação percentual da amplitude da corrente nas 4 lâmpadas (comparando com a corrente medida nas lâmpadas isoladas). n f (Hz) Computador em paralelo Ventilador em paralelo n f (Hz) Computador em paralelo Ventilador em paralelo 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10* 11 12* 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24* 25 0 60 120 180 240 300 360 420 480 540 600 660 720 780 840 900 960 1020 1080 1140 1200 1260 1320 1380 1440 1500 51.92 0.00 -71.29 44.28 -36.91 -3.94 -23.29 1.86 -75.00 -40.01 433.33 -84.47 229.73 -3.15 -21.55 257.77 -39.09 225.27 -35.90 -22.90 5.56 -24.56 -30.00 16.87 136.36 21.60 -96.15 0.00 68.32 5.29 -79.87 6.92 4.79 12.05 -55.15 2.62 676.19 1.19 -2.70 -12.09 -37.07 -15.78 -63.64 -23.08 17.95 -52.38 50.00 48.12 -45.00 -13.40 122.73 -60.65 0 1 2* 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 0 60 120 180 240 300 360 420 480 540 600 660 720 780 840 900 960 1020 1080 1140 1200 1260 1320 1380 1440 1500 4,65 4,68 2087,15 0,35 -48,34 -8,18 -90,19 -16,19 -76,67 -17,77 89,17 3,75 -20,96 58,33 77,28 202,55 -34,32 840,18 70,23 177,54 -35,51 25,00 -70,43 28,89 95,00 69,43 3,95 13,90 6239,31 14,10 11,43 12,38 -57,12 10,34 24,40 9,07 251,73 5,61 -4,53 -2,67 -8,89 -9,52 -47,86 23,45 -25,61 15,75 -36,51 12,09 19,70 19,03 98,20 -16,68 * harmônico não significativo. * harmônico não significativo. 95 96 No 2o exemplo, tem-se 2 lâmpadas PL (2x 25 W) em paralelo com uma televisão (Sharp 20” - 50 W) alimentadas por uma forma de onda senoidal. Nesse caso, está sendo monitorada a corrente nas 2 lâmpadas PL. A corrente das 2 lâmpadas isoladas e com a inserção da TV em paralelo são mostradas nas figuras 4.36 e 4.37, respectivamente. Figura 4.36 - Formas de onda de tensão (azul) e corrente (vermelho) de 2 lâmpadas PL (isoladas). Figura 4.37 - Formas de onda de tensão (azul) e corrente (vermelho) de 2 lâmpadas PL (TV em paralelo). Observa-se uma mudança significativa na forma de onda da corrente quando a TV é colocada em paralelo, notando-se a redução de certas ondulações na corrente. Pelos espectros de amplitude da corrente das figuras 4.38 e 4.39, ver-se que a TV tem uma influência positiva na corrente das 2 lâmpadas (atenuação das amplitudes dos harmônicos ímpares do 3o ao 11o), tendo o valor rms sido reduzido de 0,709 A para 0,651 A; a amplitude na freqüência 97 fundamental foi amplificada de 0,576 A para 0,582 A, e a TDH da corrente foi reduzida de 142,54 % para 122,31 %. A tabela 4.13 fornece os valores no domínio da freqüência das amplitudes da corrente nas 2 lâmpadas e apresenta a variação percentual das amplitudes das componentes em cada freqüência, com a inserção da TV em paralelo. Figura 4.38 – Espectro de amplitude da corrente de 2 lâmpadas (isoladas). Figura 4.39 – Espectro de amplitude da corrente de 2 lâmpadas (TV em paralelo). 98 As figuras 4.40 e 4.41 apresentam os espectros de amplitude da tensão medidos sem e com a TV, respectivamente. Figura 4.40– Espectro de amplitude da tensão de 2 lâmpadas (isoladas). Figura 4.41 – Espectro de amplitude da tensão de 2 lâmpadas (TV em paralelo). 99 Tabela 4.13 - Corrente nas 2 lâmpadas PL. n f (Hz) Isoladas (A) 0 1 2 3 4* 5 6 7 8 9 10* 11 12 13 14 15 16* 17 18 19 20* 21 22 23 24* 25 0 60 120 180 240 300 360 420 480 540 600 660 720 780 840 900 960 1020 1080 1140 1200 1260 1320 1380 1440 1500 0,031 0,576 0,004 0,478 0,003 0,396 0,005 0,363 0,004 0,280 0,003 0,155 0,004 0,058 0,003 0,054 0,001 0,032 0,003 0,053 0,003 0,075 0,003 0,073 0,002 0,057 TV em paralelo (A) 0,034 0,582 0,003 0,462 0,008 0,321 0,005 0,235 0,006 0,185 0,011 0,129 0,004 0,124 0,006 0,126 0,005 0,099 0,004 0,081 0,009 0,077 0,002 0,063 0,005 0,049 Isoladas (%) 5,33 100,00 0,73 83,09 0,46 68,83 0,94 63,02 0,75 48,62 0,46 26,88 0,65 10,05 0,47 9,33 0,23 5,52 0,56 9,23 0,45 13,10 0,60 12,69 0,34 9,91 TV em paralelo (%) 5,78 100,00 0,48 79,45 1,40 55,18 0,80 40,40 0,95 31,86 1,95 22,12 0,75 21,24 1,02 21,63 0,81 17,09 0,65 13,98 1,51 13,27 0,38 10,84 0,82 8,50 Variação % da amplitude 9,508 1,125 -33,532 -3,305 210,241 -18,922 -13,836 -35,166 28,171 -33,746 325,165 -16,791 16,120 113,742 121,958 134,511 252,679 212,828 16,217 53,201 241,313 2,412 -36,954 -13,657 140,683 -13,274 * harmônico não significativo. Nessa medição, ligou-se a TV em paralelo com as 2 lâmpadas e esperou-se a corrente das lâmpadas atingir o valor de regime, pois a mesma decai com o tempo, desde o momento da partida. Após estabilizada, mediu-se a corrente nas lâmpadas. Observou-se que sua forma de onda não alterava com o tempo e nem o seu valor rms. Feita a medição, desconectou-se a TV e logo em seguida mediu-se a corrente nas lâmpadas. Esse procedimento foi repetido várias vezes, sempre esperando a corrente das lâmpadas ficar estável, tendo o cuidado de repetir as mesmas condições de medições para evitar eventuais dúvidas. A TV foi ajustada com brilho, cor, nitidez, e contraste, na posição máxima e na condição “mute”. 4.3.2 - Cargas Alimentadas por Tensão Não-Senoidal Neste exemplo, tem-se um microcomputador (100 W) em paralelo com um ventilador, alimentados por uma forma de onda quadrada modificada de tensão (fornecida pelo inversor PROwatt de 1.500 W). Nesse caso, faz-se a monitoração da corrente do computador com e 100 sem o ventilador em paralelo. O espectro da tensão não apresentou variação nessas duas situações medidas, apresentando a forma de onda da tensão, 117 Vrms e 152 Vpico, com uma TDHv em torno de 30,48 %. Observando as figuras 4.42 e 4.43, quase não se nota alteração das formas de onda da corrente medidas no computador isolado e com um ventilador em paralelo, a não ser pelo aumento da corrente de pico. Porém, comparando os espectros da amplitude da corrente no computador isolado (figura 4.44) e no computador com um ventilador em paralelo (figura 4.45), verifica-se um aumento não proporcional das amplitudes dos harmônicos ímpares e conseqüentemente o valor rms da corrente aumentou de 1,104 A para 1,306 A, resultando em um aumento de 103,47 % para 125,71 % na TDH da corrente, com a inserção do ventilador em paralelo. Nessa situação, o ventilador exerce uma influência negativa na corrente do computador (aumento das amplitudes dos harmônicos) quando os dois são colocados em paralelo e alimentados por uma forma de onda quadrada modificada de tensão. As figuras 4.46 e 4.47 mostram os espectros de amplitude da tensão medidos sem e com o ventilador, respectivamente. Observa-se que não houve alteração do padrão das amplitudes do espectro de tensão. Figura 4.42 - Formas de onda de tensão e corrente de um microcomputador (isolado). 101 Figura 4.43 - Formas de onda de tensão e corrente de um microcomputador (ventilador em paralelo). Figura 4.44 - Espectro de amplitude da corrente do microcomputador (isolado). Figura 4.45 - Espectro de amplitude da corrente do microcomputador (ventilador em paralelo). 102 Figura 4.46 - Espectro de amplitude da tensão do microcomputador (isolado). Figura 4.47 - Espectro de amplitude da tensão do microcomputador (ventilador em paralelo). Essas medições foram repetidas várias vezes, e observou-se que sempre permaneciam as mesmas características das figuras 4.44 e 4.45 para o espectro da corrente sem e com o ventilador em paralelo, respectivamente. Para fins de visualização, na tabela 4.14 são fornecidos os valores no domínio da freqüência das amplitudes da corrente do microcomputador, bem como a variação percentual das amplitudes das componentes em cada freqüência, com a inserção do ventilador em paralelo. 103 Tabela 4.14 - Corrente no microcomputador. n f (Hz) Isolado (A) 0 1 2 3 4 5 6 7 8* 9 10* 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20* 21 22 23 24* 25 0 60 120 180 240 300 360 420 480 540 600 660 720 780 840 900 960 1020 1080 1140 1200 1260 1320 1380 1440 1500 0,194 1,068 0,019 0,408 0,019 0,480 0,009 0,396 0,005 0,333 0,004 0,348 0,011 0,259 0,003 0,264 0,012 0,232 0,009 0,199 0,001 0,200 0,012 0,173 0,003 0,151 Ventilador em paralelo (A) 0,190 1,138 0,022 0,639 0,008 0,601 0,008 0,502 0,009 0,437 0,019 0,426 0,006 0,371 0,005 0,333 0,006 0,317 0,013 0,243 0,010 0,265 0,007 0,215 0,012 0,187 Isolado (%) 18,13 100,00 1,75 38,23 1,82 44,91 0,83 37,06 0,43 31,22 0,39 32,58 0,99 24,24 0,33 24,67 1,09 21,74 0,84 18,60 0,13 18,73 1,14 16,22 0,30 14,13 Ventilador em paralelo (%) 16,66 100,00 1,93 56,13 0,73 52,82 0,70 44,11 0,82 38,42 1,67 37,40 0,56 32,58 0,44 29,25 0,53 27,82 1,14 21,35 0,90 23,29 0,61 18,92 1,06 16,45 Variação % da amplitude -2,069 6,514 17,503 56,361 -57,582 25,277 -10,616 26,775 102,919 31,080 355,524 22,284 -40,307 43,116 43,999 26,290 -47,911 36,306 44,019 22,249 629,626 32,460 -42,915 24,299 279,535 24,002 * harmônicos não significativos 4.4. – Comentários Finais Nesse trabalho não foram feitas medições com cargas de potência mais elevada em um circuito totalmente isolado (alimentação por um inversor, livre das influências de outras cargas que por ventura poderiam interferir na medição e da oscilação do valor rms da tensão), devido à queda de tensão no inversor e ao descarregamento do banco de baterias, que nesse caso seria mais rápido. Observa-se que existe uma influência entre cargas não-lineares e entre cargas nãolineares e lineares, dependendo do tipo da alimentação. Por meio da alteração de um ou vários parâmetros de uma carga essa influência pode ser mais significativa. É o que se observa na corrente medida das lâmpadas quando se alteram as condições da imagem da TV. Com essa alteração, observou-se uma pequena variação nas amplitudes de alguns harmônicos da corrente. Para ilustrar isso, a figura 4.48 mostra a superposição dos espectros de amplitude dos harmônicos de ordem ímpar da corrente medida nas 2 lâmpadas em 2 situações com a TV em 104 paralelo: contraste 50 % e outros parâmetros da imagem na posição máxima (espectro azul); todos os parâmetros de imagem em 50 % (espectro verde). Figura 4.48 – Comparação dos espectros da corrente nas 2 lâmpadas, para diferentes ajustes da imagem da TV em paralelo. 105 CONCLUSÕES Em virtude da popularização de cargas não-lineares em todos os setores, tendo como objetivo o uso cada vez mais eficiente da energia, o problema da injeção de harmônicos no sistema elétrico tem se tornado mais crítico. O conhecimento da resposta dessas cargas é importante para que se busquem soluções que visem a melhoria da qualidade da energia. Alguns conceitos apresentados ainda não são habituais para muitos engenheiros eletricistas e ainda não existe um consenso entre os mesmos, quanto à definição das componentes de potência. Neste trabalho, a potência aparente foi decomposta em 4 componentes: DC, fundamental, direta e cruzada. As três primeiras, relacionadas com o produto direto de tensão e corrente de mesma freqüência, e a componente cruzada, com a interação entre diferentes freqüências da tensão e da corrente. Na presença de componentes harmônicas de tensão e/ou corrente, alguns conceitos da teoria convencional de potência ativa e reativa não são válidos. Por exemplo, o fator de potência de uma carga não é expresso como o “cosseno do defasamento entre a tensão e corrente”, como é observado em algumas cargas não-lineares, que apresentam fator de potência baixo, embora o pico da forma de onda de corrente esteja centrado com o pico da forma de onda da tensão senoidal de alimentação. No presente trabalho, incluiu-se o nível DC nas análises, embora em muitos casos ele apresente-se desprezível. Também foi introduzido um termo mais geral, o qual inclui o nível DC, para a avaliação da distorção de uma determinada forma de onda (TD - taxa de distorção em relação a uma senóide pura). Mostrou-se que a forma de onda da tensão de alimentação em uma carga não-linear tem influência significativa no fator de potência e na taxa de conteúdo harmônico de corrente da mesma. Para o caso observado das 4 lâmpadas PL utilizadas (Econolite 25 W), elas apresentaram um fator de potência alto quando alimentadas por uma forma de onda quadrada de tensão e também uma baixa taxa de distorção de corrente, em comparação com alimentação por uma tensão senoidal. A corrente com conteúdo harmônico produzida por cargas não-lineares influencia na tensão de alimentação, introduzindo componentes harmônicas na tensão, mesmo que o gerador não produza essas componentes. Essa influência é maior, por exemplo, em sistemas de geração a diesel de pequeno porte, pois esses geradores possuem uma impedância interna mais alta, quando comparada com a geração da concessionária. 106 Apresentou-se o desenvolvimento de modelos para cargas não-lineares de fontes chaveadas, os quais apresentam a forma de onda de corrente pulsada quando a tensão de alimentação é senoidal. Nos modelos desenvolvidos, a corrente é expressa em função da tensão. Todos os modelos foram desenvolvidos para a tensão e freqüência de operação da carga. Dentre esses modelos, a série de potências com coeficientes complexos foi a que se mostrou mais precisa. Devido às não -linearidades desses tipos de cargas, quando elas são colocadas em paralelo, ocorre a influência de umas sobre as outras. Essa influência foi exemplificada por medições realizadas. Há ainda uma variedade de assuntos para explorar no estudo de cargas não-lineares em sistemas de energia elétrica, devido à abrangência do mesmo. Sugestões para trabalhos futuros A influência entre cargas pode eventualmente ser usada como uma maneira de atenuar harmônicos indesejáveis. Uma modelagem mais robusta (resposta às várias condições de excitação) para as cargas não-lineares pode ser implementada em um programa computacional, para o estudo de compensação harmônica em sistemas elétricos. O programa desenvolvido em MATLABTM pode ser implementado em linguagem orientada a objeto, para se ter um programa executável com mais interação com o usuário, podendo-se adicionar a esse programa um recurso de comunicação com um transdutor em tempo real, para que os parâmetros relativos às grandezas elétricas medidas sejam logo visualizados pelo usuário. Recomenda-se a montagem de uma bancada para ser utilizada nas medições de cargas não-lineares, que possa ser usada também como bancada didática, acoplada ao programa a ser desenvolvido em linguagem orientada a objeto. A modelagem de cargas não-lineares alimentadas por tensão trifásica e a realização de medições em instalações residenciais, comerciais e industriais, com a finalidade identificar o perfil da carga do consumidor para a aplicação de modelos, também poderão ser objeto de trabalhos futuros. 107 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] – G. W. Chang, “Harmonics Theory”, Tutorial on Harmonics Modeling and Simulation; IEEE PES Winter Meeting 1998. [2] – PROwatt TM 1500/12 volt - Power Inverter - Owner’s Manual. [3] – R. C. Dugan, M. F. McGranaghan e H. W. Beaty, “Electrical Power System Quality”, McGraw-Hill, 1996. [4] – T. A. Short, “Harmonics and IEEE 519”; (Prepared for the Electric Council of New England - September 17, 1992). http://www.pti-us.com/pti/consult/harmonics.htm [5] – E.L. Soares, “Uma Investigação dos Consumidores Residenciais sob o Enfoque da Qualidade de Energia Elétrica”, Uberlândia, UFU, 12 de março 1999. [6] – J. N. Garcez, apostila do curso “Qualidade de Energia”, promovido pelo Núcleo de Engenharia em Supervisão e Controle de Sistemas de Energia (NESC) da Universidade Federal do Pará (UFPA), agosto/2000. [7] – J. A. Pomilio, apostila do curso de extensão "Influência dos Harmônicos nas Instalações Elétricas Industriais", promovido pelo Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, junho/1997. [8] – J. Arrilaga, D.A. Bradley, e P.S. Bodger, “Power System Harmonics”; John Wiley & Sons, 1985. [9] – R. A. Chipman, “Theory and Problems of Transmission Lines”; McGraw-Hill; New York, 1968. [10] – L. Siqueira, P. A. M. Vale e M. Oliveira, “Efeito das Distorções Harmônicas nas Medições de Energia Elétrica”; III Seminário Brasileiro sobre Qualidade da Energia Elétrica, 1997. Pags 34-39. [11] – IEEE Standard 519-1992, "Recommended Practice for Harmonic Control in Electric Power Systems", Piscataway, N.J., 1992. [12] – Study Committee 36 Collquium and Meetings, Monitoring Voltage Quality European Standart, Equipament and The Danish Monitoring Programme, Foz do Iguaçu, Brasil, May, 1995. [13] – C. A. Canesin, Seminário: “A Crise de Energia Elétrica no Brasil”, Palestra 1: Conceitos de Qualidade da Energia Elétrica, UNESP/FEIS/Laboratório de Eletrônica de Potência, 2001. [14] – J. T. Pinho, “Efeito das Não-linearidades de Transistores de Efeito de Campo em Amplificadores de Microondas”; Dissertação de Mestrado, PUC/RJ, fevereiro/1984. 108 [15] – E.H. Watanabe e M. Aredes, “Teoria de Potência Ativa e Reativa Instantânea e Aplicações - Filtros Ativos e FACTS”, tutorial do Laboratório de Eletrônica de Potência COPPE/EE/UFRJ. [16] – S-L. Lu, C. E. Lin e C-L Huang, “Suggested Power Definition and Measurement Due to Harmonic Load”, Electric Power System Research 53 (2000); pp. 73-81. [17] – W.M. Grady e R.J. Gilleskie, “Harmonics and how they relate to power factor”, EPRI Power Quality Issues & Opportunities Conference, 1993. [18] – http://diana.ee.pucrs.br/~fdosreis/ftp/mestrado/ [19] – E.L. Soares, A.C.V. Ribeiro, A. Oliveira e S.F. de Paula, “Uma Análise do Impacto Técnico e Econômico Devido aos Harmônicos Gerados por Consumidores Residenciais”, III Seminário Brasileiro sobre Qualidade da Energia Elétrica, 1997. Pags 363370. [20] - O. F. Affonso, R. Marconato, A. M. Andrade e M. Yogui, “Estudo da Utilização de Filtros Ativos e Amplificadores PWM para Correção de Distorções de Corrente em Linhas de Distribuição”, Seminário Brasileiro sobre Qualidade da Energia Elétrica (SBQEE), 1997. [21] – Apostila do Laboratório de Eletrônica Industrial (EE 832) – FEEC/UNICAMP, Experiência 5: Fontes Chaveadas. [22] - Â. Stano Jr, D. F. Bernardes, J. C. G. Rodrigues e J. M. E. Vicente, “O Impacto do Uso de Microcomputadores na Qualidade da Energia Elétrica”, Seminário Brasileiro sobre Qualidade da Energia Elétrica (SBQEE), 1997. [23] – E. Bedrosian e S. O. Rice, “The Output Properties of Volterra Systems (Nonlinear Systems with Memory) Driven by Harmonic and Gaussian Inputs”, Proceedings of IEEE, Vol.59, No. 12, december 1971. [24] – I. N. Bronstein e K. A. Semendjajew, “Taschenbuch der Mathematik”, Verlag Harri Deutsch – Thun und Frankfurt/Main.1987 (pg 181). [25] – S.H. L. Cabral, T. I. Mustafá, A. Carvalho e J. B. N. Coral; “Modelagem Estática e Dinâmica do Comportamento de Materiais Magnéticos sob Regimes Senoidais Puro e com Harmônicos”, Seminário Brasileiro sobre Qualidade da Energia Elétrica (SBQEE), 1997. [26] – P. Kundur, “Power System Stability and Control”, McGraw Hill Inc., 1983. [27] – “Owner’s Manual”, TRACE ENGINEERING - Modelo SW4048. [28] – H. Creder, “Instalações Elétricas”, 14a edição, Livros Técnicos e Científicos, 2000.