O trabalho que dá produzir o Jeans Moderno
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O trabalho que dá produzir o Jeans Moderno
Esfarrapado sob medida O trabalho que dá produzir o jeans moderno: rasgado, esgarçado e, se possível, meio sujo Fotos Sacha Hochstetter Os detalhes que fazem a diferença: remendos acompanhadosde cintos e patchwork costurado pelo lado de fora, sem cós nem bainha Vitrines em guerra: spray lavado para dar cara de velho e sujo, forro vermelho aparecendo pelo desfiado e o detonado "exclusivo" da Zoomp Até uma geração atrás, tudo o que o jeans precisava ser era uma calça velha, azul e desbotada. Para chegar a esse resultado, os fabricantes davam uma mãozinha, e o passar dos anos fazia o resto. Com a radicalização da estética do quanto-mais-detonado-melhor, o tempo virou um aliado lento demais. A solução? Tecnologia. Hoje, a maior parte das calças jeans não chega ao consumidor sem antes passar por um intrincado processo de envelhecimento instantâneo, feito em grande escala em lavanderias industriais. Intermediárias entre as fábricas e as lojas, elas viraram uma espécie de corredor polonês que transforma reluzentes peças recém-cortadas em modelos glamourosamente esfrangalhados – e com saída garantida nos shopping centers e butiques de luxo. Antonio Milena Destruidores em ação: enzimas em pontos estratégicos criam o encardido "Ninguém mais quer uma calça com cara de zero-quilômetro", resume Fábio Leme dos Santos, diretor da Comask, uma das maiores beneficiadoras (se se pode dizer assim) de jeans do país, na cidade de Sorocaba, São Paulo. Lá, dezenas de operários, munidos de instrumentos que vão de lixa de pedreiro a broca de dentista, têm por função fazer com que uma pilha de calças deixe a linha de montagem com o mesmo rasguinho no joelho e o mesmíssimo esgarçado na bainha. Os procedimentos não são só artesanais. Prensas e fornos de alta temperatura amassam e produzem vincos variados em jeans novinhos. Outro sofisticado processo de destruição é o banho de enzimas que, ao produzir tingimentos localizados, resulta no desejado efeito, assim, meio sujo. Isso mesmo: além de velho e arrebentado, pressupõe-se que um jeans de estimação seja também um pouco encardido. "Roupa com cara de velha dá para o usuário aquele ar de displicência, de quem está muito confortável e não faz força nenhuma para ser elegante", teoriza o professor de moda e estilista Mário Queiroz. A nova demanda multiplicou o trabalho dos fabricantes. Antigamente, uma calça não demorava mais que meia hora para ficar pronta, entre moldagem, corte e costura. Hoje, sua finalização pode levar até doze horas – incluindo sucessivas lavagens, tingimentos, descosturas e desgastes. A diversidade das peças aumentou na mesma proporção. Há dez anos, a grife Zoomp lançava cerca de quarenta modelos por coleção. Atualmente, não produz menos que 130, por exigências da necessidade de diversificar e individualizar as roupas tanto quanto possível, uma tendência chamada customização, aportuguesamento da expressão sob medida em inglês. Para quem suspeita que customização em escala industrial é apenas um rótulo novo para a velha massificação, a marca achou uma solução: a partir do mês que vem, lança modelos de tiragem limitadíssima. Por um preço quatro vezes mais alto que o normal, o consumidor ganha o direito a rabiscos de tinta e navalhadas que quase ninguém mais tem. Fonte..: Revista Veja Moda