Feio Terenas, entre Froebel e Comte
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Feio Terenas, entre Froebel e Comte
Cidadania Republicana: Feio Terenas, entre Froebel e Comte António dos Santos Pereira [email protected] Resumo Fazemos aqui um percurso pela vida de mais um político beirão distinto, cujos interesses coincidiram com os que atualmente cultivamos, as bibliotecas, a imprensa periódica, as ideias republicanas, o ensino e a aprendizagem e que se movimentou nos mesmos espaços entre a Covilhã, por Coimbra, e Lisboa, onde viria a cumprir o essencial da sua vida profissional como funcionário superior das bibliotecas municipais e do Parlamento. Não é fácil fazer uma biografia, que seja atraente para o maior número de leitores e não apenas para os habituais investigadores porque estes sempre a podem refazer para consumo pessoal. Um professor deve escrever no sentido da formação dos seus alunos, preocupar-se tanto com os seus objetivos como os meios para os atingir. Obviamente, não entraremos na velha polémica da história exemplar, mas deixaremos o nosso método e a preocupação por destacar um conjunto de valores, mais ou menos cumpridos pelas figuras que forem aparecendo, a cidadania no preceito da honra é um deles. Este texto foi preparado para o lançamento do livro de Regina Gouveia e Sandra Terenas, Feio Terenas: O Idealista Convicto, editado pela Fonte da Palavra, em 2012. Nele, colhemos preciosas informações que constam adiante. Palavras-Chave Biografia, Geração de 70, Cidadania, republicanismo. Cidadania Republicana por António dos Santos Pereira 75 Abstract We do here the reconstitution of the life of a politician, Feio Terenas, born in Covilhã. He has cultivated the same matters that we developed along the years: the libraries, the periodical press, and the Republican ideas. In the capital of the country, he completed a career as director of municipal libraries and secretary general of the Parliament. It is not easy to do a biography, that it be appealing as much to the largest public as for the usual researchers. These can developed the same for personal consumption. A teacher should write for the training of their students and care so much about their objectives and the means to achieve them. Obviously, we will not go into the old controversy of exemplary story, but let our method and concern by highlighting a set of values, more or less affected by the figures that are appearing, citizenship is one of them. This text was prepared for the launch of the book of Regina Gouveia and Sandra Terenas, Feio Terenas: O Idealista Convicto, edited by Fonte da Palavra, in 2012. Keywords Biography, Generation 70, Citizenship, Republicanism. Introdução Como se deve fazer uma biografia? Em que quadrante navegar no mar alto da vida de alguém? Como traçar o nosso rumo na descoberta das estrelas que serviram de guias às figuras de outros tempos? Descobrir-nosemos melhor no confronto de opções? Como precisar em universo infindo as nossas e as outras estrelas, as daqueles que olharam o céu em tempos passados? Antes de mais, hoje, sabemos que importa fazer a constelação das pessoas que viveram com a figura que centraliza a nossa atenção e segui-las ajuda a explicar os seus atos, as suas preferências e algumas decisões individuais. Obviamente, de acordo ao seu percurso escolar, também importa sempre muito conhecer as leituras que alguém fez, portanto, saber como formou o seu ideário e as suas motivações. Estamos aqui perante um homem de vivência de coletivos: a família, a biblioteca, o templo maçónico, a redação do jornal e, na última década, o Parlamento, numa carreira pública em crescendo, portanto, conseguida. Assim se faz o que se chama, mais do que uma biografia, a prosopografia. Fabuloso e complexo é o saber histórico! A história recorre a todas as ciências para seguir o homem no tempo e demonstra quão limitados somos os que a cultivamos. Por vezes, para esclarecer uma dúvida, o historiador fica anos à procura de um papel velho, de um pequeno pergaminho para estabelecer uma data ou encontrar um lugar. De facto, as datas e os lugares são referências do seu saber, mas pouca coisa no todo da verdade da vida humana. Os historiadores deviam sobretudo descobrir ideias, grandes 76 Revista UBILETRAS n4 ideias. A história é a revelação da ideia no tempo, de acordo a Hegel. Havemos de percebê-la no plural em que esta se revela, como o Homem, nos homens, e encontrar-lhe o sentido. Mesmo que desconheçamos alguns pormenores da vida de uma figura, sempre podemos captar a sua imagem na obra que nos deixou. Começamos a procura de sentido para a vida de Feio Terenas entre dois tempos que nos são caros, o da Geração de Setenta do século XIX e o da Renascença Portuguesa, da segunda década do século XX, a apontar a modernidade, mais moderna ou modernista, e faremos uma ideia dela a partir dos textos que nos deixou. Uma vida, entre a Geração de Setenta e a Renascença Portuguesa, a Biblioteca e a Tribuna, a Maçonaria e a Imprensa Periódica, para mudar o País e o Mundo Começamos pelo fim, quando a matéria de nós mesmos se esgota na poeira cósmica, finda a existência positiva. Dizem que o funeral é o espelho da vida. Meditamos e percebemos que nem sempre. No entanto, o funeral de Feio Terenas foi uma “imponente manifestação“ ao “velho republicano”, ao lutador denodado, bibliotecário, secretário do Congresso, diz a Ilustração Portuguesa, dedicando-lhe duas páginas (16 de fevereiro de 1920, n.º 730: 136-137). Notamos, de imediato, a forma laica do mesmo ou, colocando-nos na devida esfera, a sua liturgia maçónica e a insistência no seu imortal caráter. Já percorremos outras vidas nas três gerações que aquele viveu entre 1847 e 1920, com maior ou menor intervenção política, cívica, literária e cultural. Deixamos, em texto recente, a de Adolfo Coelho (Pereira 2012a) e, em síntese mais antiga, as de Antero de Quental, Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Teófilo Braga e outros (Pereira 2008: 107-138). Seguimos agora os caminhos de Feio Terenas. Como no mar da Nazaré, no mar largo das ideias, o pico das ondas, só acontece de vez em quando. A História da Cultura Portuguesa é um mar em que nós multiplicamos as ilhas em arquipélago que aumenta com o tempo e nos permite aprofundar algumas delas. As ilhas são as memórias que ficam. São pontos fixos no mar para além dos picos das ondas que se desfazem nas praias do tempo. Um dos pontos mais altos neste mar fundo que navegamos foi atingido pela dita Geração de Setenta, do século XIX, composta por literatos, juristas, filósofos, economistas, médicos, um arquipélago fabuloso. A crista da onda saiu magnífica, tão alta, que ainda hoje esconde todo o mar encapelado da expressão da Portugalidade. Jorrou da Sala dos Capelos em Coimbra e desaguou nas praias inteligentes do país, que então ia muito para além das sebentas e alargava o espaço público pela via das conferências, dos jornais e dos livros, que chegavam mais depressa e em maior número pelos caminhos de ferro que ligavam o mundo. O comprimento da onda maior foi todo percorrido por Antero de Quental. O açoriano era quartanista em 1862/1863 e navegou aquela em mar de aplausos, sobretudo juvenis, em dezembro daquele ano. Um Cidadania Republicana por António dos Santos Pereira 77 covilhanense de nome estranho, caloiro atrevido, bateu palmas e assinou a presença. Chamava-se Francisco Inácio Ima Scevola. Feio Terenas era então um adolescente e quando passados alguns anos este lhe contou a história da onda grande de Coimbra pôs-se a caminho da cidade do Mondego. Em Coimbra, já havia outros nomes grandes covilhanenses, o maior era António dos Santos Viegas Júnior, lente de Física, quando Feio Terenas para lá se dirigiu. Curiosamente, Santos Viegas devia ser primo do nosso Feio Terenas pelo lado paterno pois a sua mãe era Máxima Carolina Gomes Barata Feio. Porque o mundo é pequeno, sempre dizemos que Antero era sobrinho de Filipe do Quental, lente de Medicina e também poeta. Entretanto, Antero percorria a Europa, aprendia alemão, assistia aos congressos da Internacional Socialista. Por seu turno, Feio Terenas frequentava a loja maçónica, fundava jornais, dirigia bibliotecas e era sobretudo republicano. Acreditamos, no entanto, na sua sensibilidade aos mais sérios problemas sociais. Quem na sua geração fosse culto e, mesmo que não tivesse lido Proudhon, teria certamente percebido as vítimas de uma sociedade injusta que transparecia na melhor Literatura do Tempo para além do que via ao seu redor, se atento. Feio Terenas seguramente leu Les Misérables de Victor Hugo e percebeu em Fantine que “la souffrance social commence a tout âge” (Hugo 1862: 261), quer dizer, na meninice, e o seu empenho no lançamento de um sistema escolar deriva também daí. Notamos que a edição em português desta obra de Victor Hugo acontece em Portugal logo em 1862. Depois do espaço covilhanense e coimbrão, o essencial da vida de Feio Terenas decorrerá em Lisboa, ainda que com a frequência dos centros mais cultos das cidades do Litoral, desde a Póvoa do Varzim e o Porto, pela Figueira da Foz e Coimbra, até Setúbal, a Faro. Sabemos que já estava viúvo em 1911 (AAR, Verbete in Gouveia 2012: 22), mas apoiar-se-ia na filha Ester e no filho que lhe herdou o nome e, sempre, na loja maçónica. Antero depois do seu percurso nortenho parou na solidão assassina da ilha verde, depois de onda tão alta e longa, frustrado, desligado da realidade real, no escuro túnel do isolamento. Os sons sempre repetidos do mar dão demasiada profundidade à solidão, particularmente nas noites longas. O futuro luminoso de uma humanidade mais justa e feliz, que descobrira e apregoara, não se cumpriria pelas vias da metafísica, mas na revolução social, que falhara. Tudo falha na solidão. Entretanto, sempre agarrado ao seu grupo, Feio Terenas cruzava a História acompanhava a onda mais branda, que se espraiava na espuma do país, transformada em republicanismo: o templo maçónico disciplinaralhe os ideais, mas também pode ter-lhe coartado os voos literários, que confere a imortalidade aos homens de talento como Antero, e desligara-o das mais vastas preocupações sociais, que só a solidão deixa ver. Com efeito, Feio Terenas nunca cavalgou a onda de forma radical, mesmo na imprensa. Nunca ficou sozinho, antes solidificou as relações com os mais moderados dos republicanos que não abandonaram os quadros do Estado ainda monárquico como clamavam os Republicanos Federalistas Radicais, entre eles, Carrilho Videira. De facto, a Democracia Monárquica nunca 78 Revista UBILETRAS n4 questionou também a situação de os membros contrários ao regime serem por este sustentados, o melhor exemplo era o de Elias Garcia, que sempre protegeu Feio Terenas e lhe deu o lastro da realidade real. Nós notamos uma certa simpatia dos monárquicos oposicionistas depois da vitória republicana para com ele. Não podiam acusá-lo de falta de coerência ou de vira-casacas que é a norma depois das revoluções. Voltemos à Covilhã da viragem para a segunda metade do século XIX. Feio Terenas nasceu aqui em 5 de Novembro de 1847 (AAR, Verbete in Gouveia 2012: 22). O testemunho é seguro pois é dado por ele mesmo. Não localizámos o seu registo de batismo, mas encontramos o registo de casamento de seus pais. O pai, José Maria de Moura Barata Feio, natural da Covilhã, filho de José Pedro de Moura Barata Feio e de Rosa Joana Delfina Saraiva também da Covilhã, tinha casado com a sua mãe Maria Rosa Adelaide (Terenas), viúva de Manuel José de Azevedo, por procuração da contraente, em 26 de Junho de 1847, portanto, já grávida do nosso biografado. O casamento fora celebrado na igreja de Valverde do concelho do Fundão, porventura, para evitar falatórios dada a gravidez da viúva (ANTT, RP, Livro de Registo de Casamentos de Santa Maria Maior da Covilhã, 1843-1859, fl. 11v, microfilme 185 do distrito de Castelo Branco). Decerto, Barata Feio fez a instrução primária na Covilhã. Para este nível de ensino, era razoável a oferta no centro urbano e nas freguesias envolventes. Aquele covilhanense deve ter entrado na Aula de Gramática Portuguesa, Francesa e Latim e Latinidade que, em 1865, ainda seguia os modelos pombalinos com as naturais mazelas e a concorrência do ensino particular. De facto, não sabemos se prosseguiu os estudos nesta, ou nos liceus da Guarda ou de Castelo Branco ou mesmo no Colégio de S. Fiel. A crer em Artur de Moura Quintela que fornece tal informação ainda em vida de Feio Terenas, este já era Bacharel em direito em 1869, quando fazia parte da redação do jornal regenerador Echo Operário na Covilhã, juntamente com Francisco Ima Scevola e João da Costa Terenas (Quintela 1899: 208). Não podemos duvidar do espírito empreendedor de Feio Terenas. Depois de falhar o projeto do Echo Operário, seu ou do seu pai, encontrá-lo-emos em Coimbra como diretor da Companhia Edificadora e Industrial em 1877 (Relatório 1877). Esta tinha sido fundada no ano anterior a partir de deliberação da Loja Perseverança para construir casas com boas condições higiénicas para os operários e integrar os desenvolvimentos tecnológicos na atividade industrial do país (Catroga 1988-1989: 274-275). Ainda em Coimbra, encontrou a loja e o prelo, os jornais e os livros, um grupo de amigos e nunca mais se desligou deles. A ligação a estes implicou o abandono da política regeneradora de Vaz Preto (Pereira 2002: 239-244) e a sua opção definitiva pela republicana. Decerto, o bacharel João da Costa Terenas (1836-?) era familiar, porventura tio, de Feio Terenas, homem abonado, autor de alguns projetos editoriais até 1898. São-lhe atribuídos os livros: Sociedades Anonymas: Clausulas Penaes: Memorial Respeitosamente Offerecido à Honrada Magistratura Portugueza (1885) e Na Turkestina: Cidadania Republicana por António dos Santos Pereira 79 Aventuras de Fajardo (1898), que veremos adiante. Tinha casado com Elisiária Matilde de Avelar Quintino em 1861 na freguesia de S. João em Lisboa (ANTT, RP, Freguesia de S. João de Lisboa, Livro 5, fl. 33) e era filho de António da Costa Terenas. Um outro João da Costa Terenas foi provedor da Misericórdia da Covilhã em 1850/1851. Aquele colaborava no jornal O Mundo, expondo o método de aprendizagem das letras da criação de João de Deus como se pode notar no espólio de Teófilo Braga em Ponta Delgada (BPARPD/PSS/TB/212/015) e financiava as edições da Cartilha Maternal ou Arte de Leitura. Morava aos Restauradores em Lisboa e era proprietário em outros pontos do país (ANTT, Cartório Notarial de Lisboa, n.º 1 (antigo 12B), livro de notas n.º 1108, fólios 32v a 33v de 22 de dezembro de 1896). Não oferece dúvida a relação de amizade entre João da Costa Terenas e João de Deus. João da Costa Terenas figura como amigo na capa da edição da Cartilha levada a cabo na Imprensa Nacional em 1878. Todavia não foram boas as relações deste funcionário superior do Ministério das Obras Públicas com o ministro Elvino de Brito (1851-1902), que retrata em folhetos, um deles intitulado Na Turkestina: Aventura de Fajardo, que chegará a ser apreendido pela polícia (Notícias Políticas. República, Pará – Belém, 9 de maio de 1899, ano 1. n. 73: 2). João da Costa Terenas fora secretário de Saraiva de Carvalho tal como aquele, que depois de ministro, comentava-se no jornal Rezistência de Coimbra, “tem rastejado perante o 1º oficial do seu ministério …por motivos que os dois sabem” (Carta de Lisboa. Rezistência, 18 de dezembro de 1898, n. 399). Este funcionário superior do Ministério das Obras Públicas teria influenciado a integração nos quadros deste de dois familiares, António Costa Terenas, porventura filho, e Joaquim de Azevedo Terenas, irmão de Feio Terenas (ANTT, MOPCI/DEPFM/01-01-01. 6/14). Joaquim de Azevedo Terenas já estava inativo em 22 de junho de 1911 como se conclui da lista publicada pelo Ministério do Fomento nesta data. A influência a favor de um familiar, que mesmo nos mais impolutos se manifesta, pode conferir-se no postscriptum de carta de Feio Terenas a José António Simões Raposo que indicia o pedido de um favor para uma sobrinha, porventura, filha de Joaquim de Azevedo Terenas (FMS, Pasta, 04501.0002.049 – 1902 Junho 30). Confirmamos, pois, que o nosso biografado foi sempre um homem de família e, percebemo-lo, também, amigo de amigos. São estes que nos agarram à onda da vida. Feio Terenas encontrou muitos entre as redações dos jornais, as reuniões partidárias e as lojas da maçonaria e vê-los-emos adiante. Sem eles, por mais que o talento individual brilhe e aponte a imortalidade, fica-se exposto como Antero de Quental à fúria da morte insólita no suicídio. Antecipamos as duas figuras maiores em que apostou a sua amizade em duas fases distintas da vida: Elias Garcia e Bernardino Machado. As grandes ideias não são deste mundo e a frustração de não as realizar reenvia-nos para fora do tempo antes de tempo. Todavia, no período em causa, percebemos que a carreira do nosso biografado se fazia 80 Revista UBILETRAS n4 entre a loja maçónica e a redação do jornal. Feio Terenas beneficiou ainda, através de Elias Garcia, da alavanca do município de Lisboa onde criou, dirigiu e deixou as suas marcas: as bibliotecas municipais e as escolas. Como mudar o mundo? Obviamente, mudando o homem e dando condições a este para realizar a sua humanidade nos melhores valores. A geração portuguesa de Feio Terena ainda admirava o esplendor de outros povos. Tardou a adivinhar o embate que iria acontecer entre os mais progressivos civilizacionalmente na tragédia das mais ingentes guerras destruidoras que iriam ser travadas na primeira metade do século XX. Ele viveu ainda a primeira até ao fim. Admirando, pois, o mundo mais avançado, mas suficientemente patrióticos, os membros desta geração em que se integra o nosso biografado apontaram a escola e a biblioteca e o fórum ou a política para entrar na via do progresso. Deviam ser estes os principais lugares de atuação, frustrada a ideia industrial, que deixara na primeira fase da vida em Coimbra. Feio Terenas cumpriu em todos os espaços. A inspiração colheu-a em Froebel e em Comte, daí o título, mas também em João da Costa Terenas e, por ele, em João de Deus e João de Deus Ramos, pai e filho. Obviamente a Alemanha e a França eram os modelos. Decerto, para os republicanos, mais ainda esta, particularmente depois da implantação da dita “terceira república francesa”. A geração de Feio Terenas não teria conquistado a “primeira república portuguesa” se aquela não tivesse sido vitoriosa. O ponto simbólico foi o do encontro em 1905 com o Presidente da República Francesa. Feio Terenas fez parte da delegação maçónica que se encontrou com este. Quando nos finais da década de setenta do século XIX, Feio Terenas chegou a Lisboa, decerto, encontrou apoio em João da Costa Terenas, que com João de Deus iniciara a campanha da Alfabetização divulgando o seu método. O Partido do Povo, periódico que Feio Terenas representa, assumia, entretanto, o seu lugar na imprensa lisboeta. A comemoração do centenário da morte de Camões auxiliou a sua missão no reconhecimento de todo o meio jornalístico da capital do país. Ali trabalha com Alfredo Ansur. Com efeito, notaremos o covilhanense entre os grandes nomes da imprensa de então reunidos na Sociedade de Geografia em Lisboa para programar as comemorações do terceiro centenário da morte do nosso épico (Silva 1888: t. 15, doc 8, p. 27). As comemorações camonianas foram decisivas para encontrar rumo profissional até aos finais da Monarquia, por cerca de trinta anos, Feio Terenas tornar-se-á o grande Bibliotecário Geral do Município de Lisboa. Apenas deixará este cargo em 1911 para tomar posse de Diretor Geral da Câmara dos Senhores Deputados, em que faleceu. Feio Terenas acompanha, portanto, o Partido Republicano Português (PRP), desde a sua fundação e esteve presente nos momentos altos do seu desenvolvimento: particularmente ainda apenas como jornalista em Cidadania Republicana por António dos Santos Pereira 81 1880. A ascensão dentro do partido é rápida. Em 1887, era então membro do seu Diretório e presidia à assembleia em que viria a ser discutida a lei orgânica daquele. Em maio de 1889, secretaria o comício da Quinta da Torrinha, presidido por Teófilo Braga. O triunfo do regime republicano no Brasil, em novembro do mesmo ano, dá um fôlego extraordinário ao republicanismo em Portugal, além se sedeando alguns dos periódicos mais críticos da situação lusa durante a Monarquia. Não sabemos o seu posicionamento na comemoração do centenário do nascimento de Santo António em 1895, todavia o seu confrade maçon e companheiro de lides jornalísticas, Francisco Gomes da Silva, empenhouse decididamente contra o Congresso Católico que a propósito se realizou e participou em outro de teor anticlerical que teve lugar na mesma data. Notamos a repercussão literária das comemorações de tal centenário em Amanhã (1902) de Abel Botelho. Neste combate, distinguia-se um dos jornais, que Feio Terenas virá a dirigir, A Vanguarda, então sob a batuta de Alves Correia. À comemoração das datas religiosas e dos seus santos, este jornal contrapunha algumas alternativas: o Marquês de Pombal, Joaquim António de Aguiar e José Estêvão. Em simultâneo, incluía em números sucessivos uma crónica intitulada “O que Santo António é para a Igreja – Prova de que o centenário religioso é uma consagração burlesca de insignes disparates – Os milagres do santo, segundo um reverendo cronista” (A Vanguarda, de 12 de junho de 1895). No entanto, com a seriedade que punha em tudo, Teófilo Braga publicava, a 13 de Junho, um magnífico editorial sobre a figura histórica daquele santo e o significado etnológico para o povo português intitulado “Santo António e o Centenário” (A Vanguarda, de 13 de junho de 1895). Entre os jornalistas apontados como principais líderes de oposição a estas comemorações, contavam-se Gomes da Silva, Alves Correia e Feio Terenas (Ventura 1996-1997: 379). Motivava-os o combate pela afirmação dos valores laicos e integradores da sociedade no seu todo. Destes, Feio Terenas assume desde sempre os que informam a Ordem Maçónica: a Justiça, a Verdade e a Solidariedade. Repete tal ideário, em 1908, no congresso da Figueira da Foz onde participa como um dos mais altos responsáveis e invoca-o em simultâneo com os pressupostos da liberdade de consciência e da laicidade, ao exigir a necessidade do registo civil: “o Estado não é católico, nem judeu, nem protestante, nem livre-pensador” (Neto 2010:25). Para além da retórica que os publicistas republicanos cultivaram, Feio Terenas foi um deles, todos repetem, desde cedo, a urgência da instrução obrigatória e gratuita: “o mais obrigatória e o mais verdadeiramente gratuita” (O Republicano, 1869, n. 2: 13). Seguramente frustrado, também pela falta de adequação do sistema de ensino às necessidades do país, Feio Terenas cedo tentou obter respostas, em autor de gabarito internacional, para perceber as melhores teorias e encontrar as práticas mais adequadas para inverter aquela situação. Participará na fundação 82 Revista UBILETRAS n4 da Froebel. Revista de Instrução Primária (1882-1884). Aqui, veremos algumas mulheres distintas em colaboração ativa de forma original: Carolina Amélia R. de Carvalho, Helena Elisa Teles de Meneses, Maria J. S. Canuto. Comemorava-se o centenário do nascimento do pedagogo alemão, Friedrich Froebel (1782-1852). O nosso autor percebeu que para mudar o mundo se deve começar pela instrução das crianças. Sabemos que o mundo culto de língua portuguesa se deixou marcar pela data. No Brasil, Raul Pompéia cita Froebel no seu romance O Ateneu, publicado pela primeira vez em 1888. Traduzidas do alemão para francês as obras do educador germânico chegam às bibliotecas portuguesas e influenciam os pedagogos portugueses entre eles, João de Deus, particularmente em 1880-1882. O movimento era oportuno. Os números testemunham o enorme afastamento da situação portuguesa no setor em relação aos principais países europeus na entrada para a última década de Oitocentos no tocante ao número de professores por habitantes (Cipolla 1969: 28-29). QUADRO N.º 1 Professores por 10. 000 habitantes (cerca de 1890) País Número de Professores França 37 Inglaterra e Países Baixos 35 Suíça 31 Suécia 27 Bélgica e Espanha 20 Itália 19 Áustria-Hungria 18 Portugal 8 O primeiro artigo da revista que lhe é dedicada em Portugal no centenário do seu nascimento, intitulado “Vida e Obras de Frederico Froebel”, é assinado por F. Adolfo Coelho, um dos membros mais ativos da Geração de 70, a quem Feio Terenas recorre quando precisa de peças de maior peso e com quem deve ter aprendido muito. Estávamos então longe da ideia de Boaventura de Sousa Santos de um Portugal semiperiférico que já abordamos em outro lugar (Pereira 2012b). Vingava a perspetiva de um Cidadania Republicana por António dos Santos Pereira 83 Portugal de retaguarda, muito longe dos países da vanguarda ocupada pelos países do progresso. Os níveis de Instrução eram a medida. No estudo de Froebel, empenhavam-se então os docentes da Escola Normal de Lisboa e o município fundava o seu primeiro Jardim-de-Infância no modelo do Kindergarten daquele dedicado às mulheres. As mulheres entravam na História da Educação em força em Portugal como tinham entrado havia quarenta anos antes na Alemanha pela mão daquele intelectual. Notamos a inspiração de Camões também aqui. Foi durante as festas da comemoração do terceiro centenário da sua morte que a inspiração desta iniciativa aconteceu. Um dos amigos de Feio Terenas, José Elias Garcia, é o responsável por esta informação e outras que vêm adiante em outros números da revista em causa. O primeiro Jardim-de-Infância situou-se no Passeio da Estrela, ainda lá está. O projeto da escola modelo, dos três aos catorze anos, proposto por F. Adolfo Coelho, foi lançado em 1882 com os incentivos de Feio Terenas e os seguintes níveis: • I Jardim de Infância – 3 a 6 anos, meninos e meninas; • II Escola Intermédia – 6 a 7 anos, meninos e meninas; • III Escola Elementar 7 a 10-12 anos; • IV Escola Superior 10-12 aos 14 anos. Nesta Escola, haveria: • Jardim; • Espaço livre para exercícios de ginástica e militares; • Tanque para aprendizagem de natação; • Museu e biblioteca escolares. A Escola n.º 6 de Lisboa já tinha Museu Pedagógica e Biblioteca Anexa em 1883. O plano do Museu foi organizado pelo já dito Adolfo Coelho. Como primeiro responsável da revista, Feio Terenas assumiu a obrigação de uma História do Ensino em Portugal, cujas primeiras peças aparecem no segundo número da mesma, publicado em 15 de maio de 1882, sob os títulos “Legislação”, “Estatística” (Terenas 1882: 10-13). Além das preocupações com o Ensino Primário, outras, que perpassam a revista Froebel, concernem a fundação de bibliotecas populares e a promoção de conferências pedagógicas, institucionalizadas desde 1878 (n. 14 de 1883). A revista n. 15, de 1883, publica o discurso que profere na qualidade de Bibliotecário Geral do Município de Lisboa por ocasião da inauguração da Biblioteca Municipal Central. O ano de 1883 foi ano de fundação de 84 Revista UBILETRAS n4 bibliotecas em Lisboa, três ao todo, pois à “Biblioteca Central” acrescem duas “Populares”. Nos números seguintes, escreve sobre o museu, as bibliotecas e as excursões escolares, tudo o que é importante para a instrução das crianças, a Geografia, a Matemática, e a Pedagogia em outros países. Realçamos a precocidade do pensamento de Feio Terenas. Um século depois, na antevéspera da integração na CEE, nós concluiremos que, numa Europa com um ensino pré-escolar aos níveis mais elevados, Portugal ficava-se em 15 % da respetiva população atingida por uma rede daquele nível que tardava. Ainda que alguns tivessem perfilhado o federalismo, não encontramos republicanos que não se confessassem patriotas. A pátria era uma ideia inefável, a que se aderia sem explicação. O bom republicano assume-se não raramente como o proponente de uma boa nova de salvação para a pátria humilhada. As odes à república abrem a maioria das publicações com exemplos romanos quase sempre. A retórica republicana cansa por tanta manifestação de virtude dos seus arautos. Não podemos negar a Feio Terenas, além da retórica, as boas práticas. As primeiras publicações portuguesas republicanas ainda remetem aos exemplos antigos positivos e negativos romanos, mas os melhores paradigmas de sinal avançado do seu tempo apontavam para o outro lado do Atlântico: Washington, Lincoln, Grant (O Republicano, 1969). Quando Barata Feio Terenas aprofunda a sua formação política, nos finais da década de sessenta, os republicanos proclamavam como seus autores preferidos: “Proudhon, Michelet, Fenebach, Quinet, Vogt, Tyndall, Litré, Ferrari e Bournonf ” (A República, Jornal da Democracia Portuguesa, 1870, n.º 1: 1). A maçonaria forneceu às elites portuguesas de Oitocentos os espaços de formação e os meios de intervenção no espaço público: a loja e o jornal. Já alinhámos os bons princípios daquela ordem noutro espaço (Pereira 2008: 179). De facto, o Grande Oriente Lusitano organiza-se em período em que Feio Terenas chega à ribalta e se descobre como consciência crítica do que há e faz-se advogado do futuro a haver. Nunca mais alterará a sua atitude, mesmo quando se encontrou como defensor do novo regime triunfante em 1910. Percebemos que a concretização do ideal federal, que informou as lojas maçónicas, lhe deu um poder extraordinário ao ligar estas na segunda metade do século XIX. Já vimos a importância de Elias Garcia no entrosamento junto da elite que disputava o poder municipal em Lisboa. A integração no Partido do Povo, um título frequente, em tempos de mudança, não é feita no sentido da resolução da questão social em geral, deixada para um futuro mais distante, apesar da dignificação que já vimos da condição operária. Concordamos com Fernando Catroga: esta elite, em que Feio Terenas se insere, pretende resolver a questão educativa e a política ou de regime e espera que, pela solução destas, a questão social se resolva por si. Nós sabemos que tal não acontece. Acreditamos mesmo que os Republicanos tiraram partido da agudização da crise financeira para Cidadania Republicana por António dos Santos Pereira 85 derrubar a monarquia não na forma como os seus patriarcas pretendiam, mas na forma violenta que os mais jovens aceleraram com a adesão das massas descontentes e a mobilização da carbonária. No entanto, colocamos Feio Terenas na linha da frente dos que acreditavam na inevitabilidade da República sem violência e na possibilidade de através da cultura e da educação melhorar a situação da classe operária. Vê-lo-emos empenhado na criação de Associações Operárias com tal fim e já observámos como quis melhorar as condições da habitação. Na linha dos influentes que nos fornece Fernando Catroga, falta apenas o covilhanense, todos seus são conhecidos, alguns muito próximos: “Manuel Emídio Garcia, José Falcão, Consiglieri Pedroso, Teófilo Braga, Carrilho Videira, Teixeira Basto” (Catroga 2010: 98). A estes, deve-se acrescentar o faialense Manuel Arriaga, que, em 1870, fazia a revolução através da poesia que publicava no primeiro número de A República. Jornal da Democracia Portuguesa. Com raras exceções, no entanto, porventura, só a de Miguel Bombarda, a maioria dos teóricos mais progressistas do tempo mantinha posições dualistas tanto na conceção do homem, corpo/alma, como da sociedade, apesar do ideal federal que informava alguns. O povo era um corpo e o sentimento de nação é que era a alma. A facilidade da queda em um perigoso nacionalismo adivinhava-se. Entre 1873 e 1875, ainda em Coimbra, Feio Terenas colabora no Jornal do Iniciado, na Democracia Popular e em O Reformador. Conhece então José Elias Garcia da geração anterior à sua. Ainda em Coimbra, relaciona-se como o republicano Sebastião de Magalhães Lima (1850-1928) que se inscrevera na Universidade em 1870 e com António Augusto Carvalho Monteiro, o célebre Monteiro dos Milhões (1850-1920), também estudante ao tempo, que construiu o célebre e simbólico Palácio da Quinta da Regaleira, em estilo, neomanuelino. Notamos que estes companheiros de Barata Feio tinham vindo do Brasil. É mais fácil estabelecer relações com quem vem de fora. Há de participar no célebre banquete em casa daquele milionário em Lisboa em 1876. Toda a vida de Feio Terenas esteve ligada à imprensa periódica como redator e fundador de jornais e defensor da liberdade de imprensa. Não podemos ligá-lo de imediato ao Echo Operário que se publicava na Covilhã em 1869, quando completava vinte e dois anos, e que indica como redatores Francisco Ima Scevola e José Maria de Moura Barata Feio, decerto, o seu pai. Não se trata de um jornal republicano e pouco nos sobra dele. O Jornal não perfilha a ideologia republicana nem o iberismo. É um jornal operário, mas, em política, regenerador. Contou 47 números entre 11 de Abril de 1869 e 6 de março de 1870. Notamos que Francisco Ignacio Ima Scevola era filho de Joaquim Ignacio Ima e era natural da Covilhã, Rua dos Penedos. Frequentara Direito em Coimbra: estava no primeiro ano em 1862/1863 (Relação 1865: 9); no segundo ano, em 1863/1864 (Relação 1865: 13); no terceiro ano, em 1864/1865 (Relação 1865: 15), no quarto 86 Revista UBILETRAS n4 ano, em 1865/1866 e no quinto ano, em 1866/1866 (Anuário 1866: 56). Francisco Ignácio Ima Scevola era colega de curso de Joaquim Teófilo Braga. Tinha subscrito o manifesto da Universidade de Coimbra de que era primeiro subscritor Antero de Quental em 1862/1863 depois da evacuação da Sala dos Capelos (A Rezistência, de 28 de Abril de 1907). Porventura, por influência de Francisco Ima Scevola, José Maria de Moura Barata Feio Terenas rumou a Coimbra, onde então tudo se passava, embora a onda do “Tumulto Mental” provocado pelos membros da Geração de Setenta se espraiasse. Francisco Ima Scevola fora pai de Artur Caldeira Scevola, ainda em Coimbra em 1866. Este era aluno do segundo ano do curso médico da Faculdade de Filosofia, em 1893-1894 (Anuário 1894:135) e desempenhava as funções de Comissário Geral da Polícia no Porto em 1916 (ADP. Registo do Bilhete de Identidade, n.º 63), sendo alvo das invetivas dos monárquicos reacionários (O Thalassa 1913-1914: passim). Curiosamente o mesmo jornal cita com ironia o protesto solene de Feio Terenas junto do Ministro do Interior contra o assalto levado a cabo pelos “carbonários da Covilhã” ao jornal Democracia (O Thalassa 21 de abril de 1913) observando que “o velho republicano” não beneficiava das graças do Governo de então. O sentido da liberdade de imprensa de Feio Terenas há de levá-lo, depois da Revolução de 1910, a ter de defender os jornais com ideários diferentes dos do poder que apoiava. Já durante a governação de Afonso Costa, em 1913, em sessão do Senado levanta a voz contra a proibição de circulação do jornal O Socialista (O Algarve. Semanário Independente, 25 de maio de 1913). Com o nome Vítor Hugo, Feio Terenas integra a loja maçónica Federação e logo a Perseverança, em 1871, com Manuel Emídio Garcia (A. Comte). Era venerável desta loja Abílio Roque de Sá Barreto (Lafayette) e contava como obreiros Olímpio Nicolau, Adelino Neves e Melo, António Zeferino Cândido, Bernardino Machado e Sebastião Magalhães Lima (João Huss). Feio Terenas foi redator do jornal A Federação da respetiva loja maçónica. Em 1901, cerca de trinta anos depois de ter integrado a Ordem Maçónica, o covilhanense atinge o grau 33, Soberano Grande Inspetor-Geral, afinal como Gomes da Silva, nos anos seguinte, em carreira paralela. Em 1904, assume o cargo de Grande Secretário-Geral da Ordem (Maçonaria) e informa acerca da unificação dos maçons portugueses sob a obediência do Grande Oriente. Por que terá escolhido o nome Victor Hugo para a sua qualidade de maçon? Talvez pelo motivo simples de o romântico francês ter preenchido o seu ideário juvenil e nele ter descoberto a missão de convencer e persuadir as gentes, através da palavra, para os grandes ideais humanísticos e assim transformar o mundo em sentido positivo. Nós tentamos perceber esta decisão na idiossincrasia e reação idênticas face à religião institucionalizada por amor à liberdade, ainda que sempre tenha mantido a crença em um Deus e na imortalidade da alma, em adesão estética a uma religião, que inspira todas as artes e cria os mais belos monumentos. Não precisamos quando Feio Terenas trocou a Bíblia Cidadania Republicana por António dos Santos Pereira 87 pelo manual e pela biblioteca maçónicos, mas sabemos que bebeu os melhores ideais em Victor Hugo. Ele acreditou sempre na luz natural que ilumina o proceder do homem (Hugo 1862: 146). Perante a ignorância e o analfabetismo, quantas vezes não terá repetido a frase de Victor Hugo no quarto capítulo do primeiro volume de Les Misérables: “la société est coupable de ne pas donner l’instruction grátis” (Hugo 1862: 26). Nesta súmula civilizacional do romântico francês, cuja figuração principal é a consciência humana, encontramos em poucas linhas o programa dos republicanos portugueses e o instante da ‘estrada para Damasco’ de Feio Terenas nas palavras do revolucionário da Convenção, identificado com G.: “J’ai voté la fin du tyran. C’est-à-dire la fin de la prostituition pour la femme, la fin de l’esclavage pour l’homme, la fin de la nuit pour l’enfant. En votant la république, j’ai voté cela. J’ai voté la fraternité, la concorde, l’aurore! J’ai aidé à la chute des préjugés e des erreurs. Les écroulements des erreurs et des préjugés font de la lumière“ (Hugo 1862: 68). Em 1878, era redator do Partido do Povo em Coimbra e conhecia Francisco Gomes da Silva, cuja biografia fará em 1883 e com quem se encontrará em Lisboa pois, tal como ele, fazia parte do grupo de Elias Garcia. Afirma-se então apaixonado pela emancipação social e encontra como antagonista do lado republicano aquele redator da Democracia em Lisboa. Entretanto, o Partido do Povo, que fora fundado em 6 de fevereiro de 1878 transferese para Lisboa em 1 de novembro de 1879. Este jornal terminará em 1 de janeiro de 1881, com o número 263. Conhece através dele a elite republicana, onde se distinguem já algumas mulheres progressistas, como Angelina Vidal (1853-1917) e Beatriz Neves, da sua geração. No final do ano de 1879, funda A República: Biblioteca Republicana, com decurso nos dois anos imediatos e vários projetos anexos, em que já teve a colaboração de Gomes da Silva, entre estes, O Sr. Bordallo. O ano de 1880 foi o ano cimeiro da sua figura como jornalista e o mais decisivo do projeto republicano. Entretanto, multiplica as colaborações em vários periódicos. Em O Comércio da Figueira, diário democrata da Figueira da Foz, insere o artigo intitulado As Festas Nacionais. Como já notámos, motivo da glória maior de Feio Terenas é a direção da Froebel. Revista de Instrução Primária, de frequência quinzenal, com A. Ferreira Mendes e Caetano Pinto entre 1882 e 1884. Publica aqui artigos para a História do Ensino em Portugal. Em 1882, traça a biografia de José Cipriano da Costa Goodolphim em Galeria Republicana, n.º 12. Adverte que as relações com ele eram recentes: tinham-se autoapresentado. Todavia, a ligação entre ambos é feita por uma figura de relevo, Magalhães Lima. No mesmo ano, colabora no n.º 20 de A Independência: Liberdade e Justiça. Instrução e Progresso, da Póvoa do Varzim, de 8 de maio de 1882, comemorativo do centenário da Morte do Marquês de Pombal. Francisco Gomes da Silva merece-lhe o retrato na Galeria Republicana, n.º 41, de 1883. Conhecia o pai deste e traça a 88 Revista UBILETRAS n4 vida daquele com alguma literariedade. A proximidade explica tantos encómios, podendo nós ver nele um paradigma do jornalista do tempo: palavra ardente, medida, elegante, colorida, capaz de voar pelas dilatadas regiões da idealização diante dos fenómenos grandiosos da natureza, estilo superabundante, impetuoso como um rio, romântico, mas observador dos factos. A propósito cita Alfred de Vigny (1797-1863). Em 1887, colabora no almanaque A Vitória da República que se publicava desde o ano anterior e elabora a biografia de Elias Garcia de quem era amigo e ainda a de José Jacinto Nunes (1839-1931). Os anos imediatos são de atividade intensa. Participa na edição, promovida pelo Clube Escolar José Estêvão, em 1889, de um número comemorativo da inauguração de monumento em Aveiro. O contexto revolucionário de 1891 leva-o a colaborar em periódicos de curta duração como A Revolução de Janeiro: jornal republicano da noite. Insere no último número um artigo sobre a liberdade de imprensa. Voltará à liça contra Mariano de Carvalho de quem fora companheiro no Diário Popular. Ainda, em 1891, dirige A Tribuna: Diário Republicano da Tarde e o mais simbólico, A Batalha: Diário Republicano da Tarde, que resiste até 1895. Em 1893, colabora em O Alferes Malheiro, que se publica no Porto e, em 1895, em O Gabinete dos Repórteres: Politica Independente, Literatura e Serviço Especial de Noticiário, que dura até ao final de Oitocentos. Na última década do regime monárquico, as relações próximas com Bernardino Machado permitem-lhe uma maior intervenção de apoio junto de periódicos republicanos estratégicos como O Norte, que se publicava no Porto (FMS, Pasta: 06701.095). Já o dissemos, o Vintém das Escolas foi um dos mais interessantes projetos dos republicanos no final da monarquia e ele assumiu, a contento do seu ideário, responsabilidades nele propugnando por um ensino laico. Com efeito, Em 1902, por ordem do Conselho Maçónico cabe-lhe a direção da edição daquele. Não deixa de ser curioso o empenho da Maçonaria na esfera económica em toda a parte do país, como notamos, em 1876, com a fundação da Companhia Edificadora e Industrial de Coimbra e, em 1902, com o apoio à Cervejaria Melo Abreu, de Ponta Delgada. No âmbito da Maçonaria, Feio Terenas debater-se-á entre a questão do público e do privado, devendo ser dado o devido destaque à tese que ele desenvolve a partir da hipótese lançada em 1906: “Se a maçonaria procura realizar aperfeiçoamentos morais, materiais e intelectuais no indivíduo, na família, na pátria e na humanidade (Const. Art. 2.º), deverá a sua ação manter-se no isolamento dos seus trabalhos secretos, ou, pelo contrário, dar-lhes a maior publicidade, já pelo salutar exemplo da prática das virtudes sociais e privadas, já pela propaganda dos grandes ideais de justiça, verdade e solidariedade?”. A qualidade de mestre-de-cerimónias que desempenhou na maçonaria há de prepará-lo para Secretário do futuro parlamento republicano, tendo Cidadania Republicana por António dos Santos Pereira 89 assumido sempre a maior discrição e sentido das responsabilidades, merecendo o respeito de todos como já notamos nos noticiários a propósito dos seu funeral em 1920. QUADRO 2 Lugares e forma de Intervenção de Feio Terenas fora de Lisboa Lugar Data Forma Aveiro 1887 Colabora no almanaque A Vitória da República Aveiro 1889 Colabora ema edição promovida pelo Clube Escolar José Estêvão Coimbra 1871 Integra loja Maçónica e é redator de Federação Coimbra 1873 Batiza a filha Coimbra 1904 Acompanha Bernardino Machado Figueira da Foz 1906 Participa no Congresso Maçónico Nacional, realizado na Figueira da Foz de 14 a 16 de Setembro Setúbal 1908 É eleito deputado por Setúbal Setúbal 1910 Nas últimas eleições monárquicas é eleito por Setúbal Porto 1893 Colabora em O Alferes Malheiro Porto 1904 Acompanha Bernardino Machado Porto 1906 Faz parte da Mesa do Congresso Republicano em 29 de Junho Vila Franca de Xira 1902 Discursa em Comício Republicano com Alexandre Braga e João Chagas Conclusão Cumprimos com alguns elementos para uma biografia mais completa e documentada de Feio Terenas por nós ou outros no futuro. As fontes que nos chegaram não nos permitem deixar aqui o verso e o reverso, a luz e as sombras. Com efeito, se propugnou pelos valores mais elevados da justiça da liberdade e da solidariedade, também louvou o militarismo da época, aderindo à proposta dos batalhões escolares (Froebel, 1885, abril, p. 45). Mesmo assim não podemos duvidar que realizou o paradigma dos 90 Revista UBILETRAS n4 republicanos do seu tempo, os que ainda viveram sob o regime monárquico e com créditos firmados mesmo junto dos oposicionistas ao novo regime depois de 5 de Outubro de 1910. Ele era um dos velhos republicanos, um homem de caráter e não um vira casacas como a grande maioria depois daquela data. Tal como ele fez com as figuras que biografou, também nós aqui deixamos sobretudo os seus momentos de luz, de criação. Para ir mais além, necessitávamos de outras fontes. Não desmerecemos o seu idealismo, mas também não esquecemos o seu pragmatismo que o fez assentar uma carreira no coletivo partidário, na ação empresarial e política, sempre junto dos mais influentes e na família, que tanto a maçonaria como a civilização cristã, que o fez batizar a sua filha em 1873, propõem nos seus melhores valores. Cronologia 1847 junho 26 – Casamento dos pais de José Maria de Moura Barata Feio Terenas em Valverde (concelho do Fundão). 1847 novembro 5 – Nascimento na Covilhã, filho de José Maria de Moura Barata Feio e D. Maria Rosa Adelaide Terenas (?-1912) e meio irmão de Joaquim Azevedo Terenas (1843-1911 Agosto 16). 1866 – Autor do drama Abençoado Amor que não localizámos. 1869 – Publica-se o Echo Operário na Covilhã e nele consta o nome de José Maria de Moura Barata Feio em cabeçalho como um dos diretores. 1871 – Com o nome Vítor Hugo, Feio Terenas integra a loja maçónica Perseverança com Manuel Emídio Garcia (A. Comte). Era venerável desta loja Abílio Roque de Sá Barreto (Lafayette) e contava como obreiros Olímpio Nicolau, Adelino Neves e Melo, António Zeferino Cândido, Bernardino Machado e Sebastião Magalhães Lima (João Huss). É redator de A Federação, em Coimbra, jornal publicado na Imprensa do País. Conhece António Augusto Carvalho Monteiro, o célebre Monteiro dos Milhões (1850-1920). 1873-1875 – Colabora em Jornal do Iniciado, Democracia Popular e O Reformador. Conhece José Elias Garcia da geração anterior à sua. 1873 janeiro 4 – Nasce a filha de Feio Terenas, que foi batizada a 6 de Março. 1876 – Participa em banquete em casa do já referido Monteiro dos Milhões. 1876 – Fundação da Companhia Edificadora e Industrial de Coimbra que virá a ser liquidada em 1884 (AUC. Tabelião Simão Maria de Almeida. Livro de Notas nº 22. Cit. in Fernando Catroga (1988-1989: 274-275). Cidadania Republicana por António dos Santos Pereira 91 1877 – Juntamente como Nicolau Ruy Fernandes e Francisco Pedro da Silva, Feio Terenas é diretor da Companhia Edificadora e Industrial de Coimbra, que apresenta um ativo de 202.690.966 rs. e um passivo de 2.690.966 rs. 1878 – É redator do Partido do Povo em Coimbra e conhece Gomes da Silva, cuja biografia fará em 1883. 1879 novembro 1 – Foi redator em Coimbra, até esta data, do jornal O Partido do Povo, que fora fundado em 6 de fevereiro de 1878. Este periódico transferese para Lisboa e encerra em 1 de Janeiro de 1881, com o número 263. Conhece Angelina Vidal (1853-1917) e Beatriz Neves da sua geração. 1879 final do ano – Funda A República, onde teve a colaboração de Gomes da Silva. Com este jornalista, colabora no Tempo e no Democracia Portuguesa em 1883. 1880 abril 8– Identificado como Moura B. Barata Feio Terenas participa em reunião da Comissão da Imprensa, composta de um representante de cada publicação periódica lisbonense, sem distinção de partido e matéria política ou literária na Sociedade de Geografia de Lisboa em representação do seu jornal Partido do Povo. A ordem do dia tinha como ponto central a forma como se devia concorrer para as festas do tricentenário da morte de Camões 1880 a 1911 – É Bibliotecário Geral do Município de Lisboa, cargo que deixará para tomar posse de Diretor Geral da Câmara dos Senhores Deputados. 1880 – Colabora em O Comércio da Figueira, diário democrata da Figueira da Foz, com artigo intitulado As Festas Nacionais. 1880 – É diretor de A Republica: Bibliotheca Republicana: Jornal Político e de Propaganda Dedicada ao Partido Republicano Portuguez. 1880-1881. O centenário de Camões é o motivo da criação, mas também a união das diferentes correntes políticas dentro do republicanismo. Cumpre ainda as funções de redator de O Sr. Bordallo: Secção Satyrica Bibliotheca Republicana Jornal Político e de Propaganda. 1881 – É admitido no cargo de Bibliotecário Geral de Lisboa. 1882- 1884 – Dirige Froebel: Revista de Instrução Primária, de frequência quinzenal, com A. Ferreira Mendes e Caetano Pinto. Publica artigos para a História do Ensino em Portugal. 1882 julho – Publica a biografia de José Cipriano da Costa Goodolphim em Galeria Republicana, n.º 12. 92 Revista UBILETRAS n4 1882 – Colabora em A Independência: Liberdade e Justiça. Instrução e Progresso da Póvoa do Varzim, no n.º 20, de 8 de maio de 1882, número comemorativo do centenário da Morte do Marquês de Pombal. 1883 setembro – Publica a biografia de Francisco Gomes da Silva na Galeria Republicana, n.º 41. 1887 – Colabora no almanaque A Vitória da República que se publicava desde 1886 elaborando as biografias de Elias Garcia e de José Jacinto Nunes (18391931). Preside à assembleia que viria a discutir a lei orgânica do PRP. Era então membro do Diretório. 1889 – Colabora na publicação José Estêvão: Commemorativo da Inauguração do Monumento em Aveiro, do Club Escolar José Estevão, n.º único. 1889 maio – Secretariou comício, na Quinta da Torrinha, presidido por Teófilo Braga. 1889 novembro 15 – Triunfo da República no Brasil. 1891 – Colabora em A Revolução de Janeiro: Jornal Republicano da Noite de que se publicaram 48 números (A. 1, n. 1 (1 junho 1891) - a. 1, n. 48 (28 julho 1891). Colabora no último número com artigo sobre a liberdade de imprensa. Voltará à liça contra Mariano de Carvalho de quem fora companheiro no Diário Popular. 1891 – Dirige a A Batalha: Diário Republicano da Tarde [A. 1, n. 1 (9 Nov.1891) - a. 5, n. 1281 (10 Out. 1895)]. 1891 - Dirige A Tribuna: Diário Republicano da Tarde [1, n. 1 (3 Set. 1891) - a. 1, n. 42 (21 Out. 1891)]. 1893 – Colabora em O Alferes Malheiro, Porto, Typographia da Empreza Litteraria e Typographica, 1893. 1895 – Colabora em O Gabinete dos Repórteres: Politica Independente, Litteratura e Serviço Especial de Noticiário (1894-1899). 1895 – O Centro Republicano Português do Rio de Janeiro edita o n.º 1 do periódico Republica Portuguesa em 1 de junho de 1895. 1890 – Empenha-se no projeto jornalístico O Norte, diário republicano do Porto, dirigido por Augusto da Silva e Castro. 1897 – Escreve a Bernardino Machado sobre as ações detidas na empresa de O Norte (FMS, Pasta: 06701.095). Cidadania Republicana por António dos Santos Pereira 93 1901 – Feio Terenas atinge o grau 33 da maçonaria (Soberano Grande Inspetor-Geral). 1902 – O Conselho da Maçonaria decidiu a publicação de um periódico O Vintém das Escolas. Feio Terenas foi incumbido de solicitar artigos a Teófilo Braga e não só. 1903 – Integra o Supremo Conselho dos Grandes Inspetores Gerais da Maçonaria. 1904 janeiro 25 – O bissemanário Rezistência que se publicava em Coimbra às quintas e domingos anuncia que uma comitiva presidida por Bernardino Machado regressa do Porto e teve viva receção com saudações aos principais republicanos. Feio Terenas compunha a comitiva com França Borges e Heliodoro Salgado. 1904 fevereiro 4 – Escreve a Bernardino Machado sobre matéria política (FMS, Pasta: 07009.023). 1904 setembro 20 – É Secretário-Geral do Grande Oriente Lusitano e escreve a Bernardino Machado para lhe conceder a condição de membro honorário com o grau 33 (FMS, Pasta: 06747.180) 1904 dezembro 22 – Na qualidade de Grande Secretário-Geral da Ordem (Maçonaria) informa acerca da unificação dos maçons portugueses sob a obediência do Grande Oriente. 1905 – Faz parte da delegação maçónica de receção ao presidente francês Loubet. 1906 – Participa no Congresso Maçónico Nacional, realizado na Figueira da Foz de 14 a 16 de setembro com uma tese que confronta o privado e o público sendo ele partidário da publicidade da prática das virtudes sociais e privadas e dos grandes ideais de Justiça, Verdade e Solidariedade. 1906 – Faz parte da Mesa do Congresso Republicano, reunido no Porto, em 29 de junho, como secretário ao lado de Antunes Viana e sob a presidência do matemático Azevedo de Albuquerque (Rezistência, Domingo, 1 de julho de 1906) 1906 julho 19 – Escreve a Bernardino Machado sobre os trabalhos eleitorais em subscrito com o timbre do PRP (FMS, Pasta: 06747.204). 1906 setembro 18 - Escreve a Bernardino Machado sobre a política interna do PRP, depois de regressar da Figueira, onde terá estado em Férias. (FMS, Pasta: 07011.173). 94 Revista UBILETRAS n4 1907 – Tinha sido eleito pelo círculo eleitoral de Setúbal pelos republicanos. Gomes da Silva traça-lhe a súmula das virtudes ao escrever sobre Elias Garcia (Archivo Democrático, n. 3). Neste ano é diretor do Archivo Democrático. Será substituído em 1908 por Augusto José Vieira, ainda que neste mesmo ano o proprietário Victor de Sousa acumule a direção. 1907 março 16 – Escreve a Bernardino Machado sobre a homenagem que lhe tinha sido prestada em sessão em Alcântara onde não esteve (FMS, Pasta: 07011.172). 1907 maio 17 – Escreve a Bernardino Machado por causa da situação financeira do jornal O Norte de Augusto de Castro e Silva (FMS, Pasta: 06679.189). 1907 agosto 22 – Escreve a Bernardino Machado e informa-o que aceitou o convite para dirigir o Archivo Democrático. Pede-lhe a fotografia para reproduzir na Alemanha em formato de publicação (FMS, Pasta: 08047.045). 1907 agosto 29 – Escreve a Bernardino Machado sobre a publicação de fotografia, autógrafo e biografia (FMS, Pasta: 08047.046). 1908 – Citado em carta de Augusto de Castro e Silva a Bernardino Machado, dadas as dificuldades financeiras de O Norte (Fundação Mário Soares, Pasta: 07004.042). Bernardino Machado subscreve ações do jornal (Fundação Mário Soares, Pasta: 06679.100). 1908 março 16 – Escreve a Alzira Machado a agradecer as informações sobre a saúde de Bernardino Machado (FMS, Pasta: 06674.129). 1908 março 31 – Escreve a Bernardino Machado. Diz que o documento político que este tinha elaborado produziu bom efeito político em Setúbal e comenta as estratégias eleitorais (FMS, Pasta: 06679.187). 1908 – Eleito deputado por Setúbal toma posse em 5 de Abril. 1908 maio 7 – Solicita a Bernardino Machado a sua influência na admissão de um empregado (FMS, Pasta: 06679.188). 1908 maio 11 – Escreve a Bernardino Machado a dizer-lhe que o filho José vai a casa dele buscar o livro sobre o Ensino Primário (FMS, Pasta: 06701.096. 1908 maio 15 – Membro da Comissão de Recrutamento do Parlamento. 1908 junho 8 – Apresenta no Parlamento projeto de lei sobre o registo civil obrigatório. 1908 junho 21 – Com o timbre do Grémio Lusitano escreve a Bernardino Machado sobre a publicação no Porto do periódico O Vintém das Escolas e sobre Cidadania Republicana por António dos Santos Pereira 95 a Federação das Escolas do Ensino Livre particularmente em Lisboa (FMS, Pasta: 07011.174). 1908 julho 15 – Apresenta no Parlamento projeto-de-lei sobre a cedência de terreno à Associação A Voz do Operário. 1908 julho 28 – Apresenta no Parlamento projeto-de-lei sobre a concessão aos empregados administrativos do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa do direito de aposentação. 1908 agosto 17 – Membro da Comissão Interparlamentar de Pescarias. 1908 agosto 29 – Apresenta no Parlamento projeto-de-lei sobre a concessão de drawback de 18 réis em cada quilograma de óleo importado para a indústria de conserva de peixe em latas. 1908 agosto 29 – Apresenta no Parlamento projeto-de-lei sobre a construção do caminho-de-ferro do Vale do Sado e outro sobre a isenção e o pagamento de impostos diretos e indiretos dos barcos e produtos de pesca. 1908 setembro 8 – Apresenta no Parlamento projeto-de-lei sobre a instituição de bibliotecas escolares. 1908 dezembro 1 – Recebe diploma de Venerável como Irmão Vitor Hugo e obediência aos veneráveis Sebastião de Magalhães Lima (João Huss), Bernardino Machado (Littre), José Pinheiro de Melo (Pelayo), Luís Filipe da Mata (Mariua), Afonso Costa (Platão). 1909 setembro – O Centro Eleitoral Democrático de Lisboa organizou uma excursão a Abrantes e nela participou José Maria de Moura Barata Feio Terenas, com Joaquim Camacho Rodrigues, Soares Guedes, Manuel Martins Cardoso, Urbano Rodrigues, Justiniano Raimundo e outros. Era chefe do partido republicano local Ramiro Guedes que se responsabilizou pela manutenção da Ordem de acordo ao administrador substituto do concelho. 1910 março 9 – Membro da Comissão de Petições. 1910 maio 5 – Publicada biografia no Arquivo Republicano sobre Feio Terenas da autoria de Eduardo de Carvalho. 1910 agosto 28 – É eleito deputado pelo círculo de Setúbal com 5398 votos. 1910-1911 – É Diretor de A Democracia: Diário Republicano da Manhã. 1911 abril 23 – Assume a direção de A Vanguarda que mantém até 22 de Outubro do mesmo ano e lhe é confiada pelo velho amigo Magalhães Lima. 96 Revista UBILETRAS n4 1911 maio 3 – É Presidente da Comissão Republicana do Distrito de Lisboa. 1911 maio 24 – Nomeado Diretor Geral da Secretaria da Assembleia Nacional Constituinte. 1911 maio 5 – Empossado como Diretor Geral da Secretaria do Congresso da República cargo que manteve até 1920. Fora Bibliotecário Geral da Câmara Municipal de Lisboa. 1911 julho 26 – Membro da comissão do Regimento. 1911 Dezembro 4 – Membro da Comissão de Legislação Operária. 1912 março 27 - Ofício sobre um requerimento do senador José Maria de Moura Barata Feio Terenas que solicita informações discriminadas sobre vários funcionários do Ministério do Interior (ANTT, Ministério do Interior, Secretaria Geral, mç. 567, lv. 1, n.º 153). 1912 dezembro 5 – Membro da Comissão de Instrução. 1912 dezembro 9 – Membro da Comissão de Verificação de Poderes. 1913 abril 1 – Presidente da Comissão de Pensões do Parlamento. 1912 abril 16 – Com Anselmo Xavier e Ladislau Piçarra, apresenta no Parlamento projeto de lei sobre a concessão de pensões a vítimas da Revolução de 5 de outubro. 1912 julho 8 – Apresenta no Parlamento projeto de lei sobre trabalhos tipográficos do Congresso. 1915 março 10 – Como Diretor Geral da Secretaria do Congresso, testemunha requerimento de procedimento criminal por parte do Presidente da Câmara dos Deputados contra O Presidente da República, O Presidente do Ministério e Ministro de Guerra, Joaquim Pereira Pimenta de Castro, o Ministro do Interior, Pedro Gomes Teixeira, o Governador Civil de Lisboa, Cassiano Neves, etc, por terem atentado contra o Poder Legislativo ao terem impedido a sua abertura em 4 de março de 1915 depois de terem fechado o Parlamento em 11 de janeiro com essa promessa. 1916 – Passa o mês de agosto e setembro nas termas de Unhais da Serra. 1920 janeiro 29, Lisboa. Falece Feio Terenas, fundador de O Partido do Povo, da Revolução de Janeiro, da Tribuna e de Batalha e redator de O Norte e diretor de Democracia e da Vanguarda: “Feio Terenas foi um lutador denodado. Elias Garcia nomeou-o bibliotecário municipal, a república fê-lo deputado e diretor Cidadania Republicana por António dos Santos Pereira 97 geral da secretaria do Congresso” (Ilustração Portuguesa: 16 de fevereiro de 1920, n.º 730: 136-137). Fontes e Bibliografia AAR (Arquivo da Assembleia da República). Verbete da Direcão Geral da Secretaria do Congresso da República publicado in Regina Gouveia e Sandra Terenas (2012). ADP (Arquivo Distrital do Porto). Registo do Bilhete de Identidade, n.º 63. C/4/10/4-22.66 ANTT, Cartório Notarial de Lisboa, n.º 1 (antigo 12B), livro de notas n.º 1108, fólios 32v a 33v de 22 de Dezembro de 1896: venda da concessão pela Comissão Liquidatária da “Companhia Exploradora de Terrenos Salgados no Algarve” a favor de Manuel Maria de Menezes, João da Costa Terenas e António Júlio Machado, constituídos em sociedade para esta aquisição. João da Costa Terenas desfar-se-á da sua cota em 1899 a favor da firma Mattos e Silva. Cf. Equinostrum: Clube Equestre e de Lazer de Faro. ANTT, Ministério do Interior, Secretaria Geral, Ofício sobre um requerimento do senador José Maria de Moura Barata Feio Terenas que solicita informações discriminadas sobre vários funcionários do ministério do interior em 27 de Março de 1912, mç. 567, lv. 1, n.º 153 ANTT, MOPCI/DEPFM/01-01-01. 6/14: nomeação de pagadores António Costa Terenas, Aires Barreto Martins Oliveira, Joaquim de Azevedo Terenas, José Barreto e outros para serviço desta inspeção. ANTT, RP (Registos Paroquiais), Freguesia de S. João de Lisboa, Livro 5, fl. 33. ANTT, RP, Livro de Registo de Casamentos de Santa Maria Maior da Covilhã, 1843-1859, microfilme 185. BPARPD/PSS/TB/212/015. FMS (Fundação Mário Soares), Pasta: 04501.002.042 – 1902 junho 8, Feio Terenas escreve a José António Simões Raposo sobre as dificuldades na preparação da publicação de O Vintém das Escolas. FMS, Pasta: 04501.002.044 – 1902 junho 16, Feio Terenas informa José António Simões Raposo sobre as provas do artigo de Coelho. 98 Revista UBILETRAS n4 FMS, Pasta: 04501.002.048, 1902 junho 27, Feio Terenas informa José António Simões Raposo que passou o dia a fazer a revisão de provas do primeiro número do periódico O Vintém das Escolas. FMS, Pasta, 04501.0002.049 – 1902 junho 30: carta de Feio Terenas sobre a receção do Conselho da Ordem e O Vintém das Escolas a José António Simões Raposo. FMS, Pasta: 06674.129, 1908 março 16 – Escreve a Alzira Machado a agradecer as informações sobre a saúde de Bernardino Machado. FMS, Pasta: 06679.100, 1908 – Citado em carta de Lisboa de Augusto de Castro e Silva a Bernardino Machado, dadas as dificuldades financeiras de O Norte. FMS, Pasta: 06679.187, 1908 março 31 – Escreve a Bernardino Machado. Diz que o documento político que este tinha elaborado produziu bom efeito político em Setúbal e comenta as estratégias eleitorais. FMS, Pasta: 06679.188, 1908 maio 7 – Solicita a Bernardino Machado a sua influência na admissão de um empregado. FMS, Pasta: 06679.189, 1907 maio 17 – Escreve a Bernardino Machado por causa da situação financeira do jornal O Norte de Augusto de Castro e Silva FMS, Pasta: 06701.095 - 1897 – Feio Terenas escreve a Bernardino Machado sobre as ações detidas na Empresa de O Norte. FMS, Pasta: 06701.096, 1908 maio 11 – Escreve a Bernardino Machado a dizer-lhe que o filho José vai a casa dele buscar o livro sobre o Ensino Primário. FMS, Pasta: 06747.180, 1904 setembro 20 – É Secretário-Geral do Grande Oriente Lusitano e escreve nessa condição a Bernardino Machado para lhe conceder a condição de membro honorário com o grau 33. FMS, Pasta: 06747.204 - 1906 julho 19 – Escreve a Bernardino Machado sobre os trabalhos eleitorais em subscrito com o timbre do PRP. FMS, Pasta: 07004.042. Bernardino Machado subscreve ações do jornal O Norte. FMS, Pasta: 07009.023, 1904 fevereiro 4 – Escreve a Bernardino Machado sobre matéria política. Cidadania Republicana por António dos Santos Pereira 99 FMS, Pasta: 07011.172, 1907 março 16 – Escreve a Bernardino Machado sobre a homenagem que lhe tinha sido prestada em sessão em Alcântara onde não esteve. FMS, Pasta 07011.173 - 1906 setembro 18 - Escreve a Bernardino Machado sobre a política interna do PRP, depois de regressar da Figueira, onde obviamente terá estado em férias. FMS, Pasta: 07011.174, 1908 junho 21 – Com o timbre do Grémio Lusitano escreve a Bernardino Machado sobre a publicação no Porto do periódico O Vintém das Escolas e sobre a Federação das Escolas do Ensino Livre particularmente em Lisboa. FMS, Pasta: 08047.045, 1907 agosto 22 – Escreve a Bernardino Machado e informa-o que aceitou o convite para dirigir o Archivo Democrático. Pedelhe a fotografia para reproduzir na Alemanha em formato de publicação. FMS, Pasta: 08047.046, 1907 agosto 29 – Escreve a Bernardino Machado sobre a publicação de fotografia e autógrafo e biografia. Fontes impressas Anuário da Universidade de Coimbra, Ano Letivo de 1866-1867. Coimbra. 1866. Anuário da Universidade de Coimbra, Ano Letivo de 1893 - 1894. Coimbra, 1894. Estatutos de O Vintém das Escolas. 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