Maio de 2012 -N 426 - Agência de Comunicação da UFSC
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Maio de 2012 -N 426 - Agência de Comunicação da UFSC
A reabertura do Museu Arqueológico e Etnográfico Oswaldo Rodrigues Cabral e a inauguração do Pavilhão Expositivo Sílvio Coelho dos Santos reuniu na UFSC duas gerações de museólogos e antropólogos. O espaço também trará ao público a obra de Franklin Cascaes, que não podia ser exibida por falta de condições adequadas. Exposição Ticuna em dois tempos pode ser vista até 25 de outubro p. 10 Foto: Cláudia Reis Museu para o mundo Impresso Especial 991295/2006-DR/SC UFSC CORREIOS Jornal Universitário Universidade Federal de Santa Catarina - Maio de 2012 - Nº 426 “A UFSC que queremos” toma posse EdUFSC Romance e surpresa p. 4 Nova reitoria promete administrar com ética e diálogo permanente p. 2, 6 e 7 Foto: Wagner Behr Biodiversidade Sinal vermelho p. 8 A comunidade vê o que a Universidade faz Obesidade A Ciência se mexe p. 9 Show Paul une gerações p. 12 Alvaro Prata transmite o cargo para Roselane Neckel em cerimônia concorrida no Centro de Cultura e Eventos Cultura Aplicação inspira jovens cientistas I Mostra de Projetos de Iniciação Científica do Ensino Médio do Colégio de Aplicação apresentou 31 trabalhos sobre diversos temas; bolsistas são orientados por profes- sores do Colégio, têm currículos inscritos na plataforma Lattes e apresentem relatórios de pesquisa periódicos p. 5 Janela para a poesia p. 11 Caiu na cesta Do Editor Ética & transparência Família unida. Roselane Neckel foi muito aplaudida ao apresentar pai, mãe, filha, marido e Francisco, o filho de quatro anos que subiu ao palco na hora do discurso. A reitora também foi muito ovacionada quando chamou para dentro das universidades os movimentos sociais. “Querido Paraná”. O ex-reitor Alvaro Prata, que assume secretaria no MCTI, fez uma referência toda especial ao seu vice, Carlos Alberto Justo da Silva. Moacir Loth Comunicação parceira. A equipe da Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional da Universidade Federal do Ceará (UFC) deflagrou uma cooperação com a Agecom/UFSC, cuja direção conheceu, in loco, o belo trabalho que vem realizando a instituição parceira. Voz ativa. A dirigente do DCE limitou-se, na Mesa, a cumprimentar a reitora eleita. Ignorou Prata e até a ministra Ideli, mas citou Florestan Fernandes. Parceria. A Revista História Catarina, editada há seis anos em Lages, tem sido uma parceira preciosa da UFSC. Seu editor, Cláudio Rodrigues da Silveira, vem abrindo espaço permanente à comunidade acadêmica. os contatos podem ser feitos via e-mail: [email protected]. 51. O deputado federal Pedro Uczai provocou risos ao propor uma cachacinha em comemoração à posse. Ações afirmativas. As cotas nas universidades venceram de goleada no STF: 10 votos a zero. Inclusão. O pessoal de Libras deu um show à parte. A UFSC é referência na área. Ironia. Chargista Wagner Behr, da Agecom, ganhou de presente o livro Confesso que bebi, do cartunista Jaguar. A fila de empréstimo é grande... Governabilidade. A governabilidade, na opinião da vice-reitora Lúcia Pacheco, deve ser amparada pelo respeito aos princípios éticos e à responsabilidade social da Administração que ora assume a UFSC. Ponderado. Celso Ramos Martins (Sintufsc) surpreendeu com discurso político e articulado. Incentivo. A ministra Ideli Salvatti encorajou a reitora a vencer os enormes desafios que terá pela frente. Na retaguarda. Mais adjuntos, os servidores técnico-administrativos minguaram no primeiro escalão da nova Reitora. Cultura. O Madrigal fez chorar entoando o Hino da UFSC. Educação. Vaias abafaram o discurso do Secretário de Estado da Educação, Eduardo Deschamps, que não fez feio representando o governador Colombo. Carta ao Convivência. Caso o destino do prédio do Centro de Convivência for mesmo a implosão, é bom avisar antes para que não caia em cima dos Correios que ali resistem e funcionam bem. Memória Morreu no dia 29 de abril o ex-professor Carlos Raul Borenstein, de 59 anos, formado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e que lecionou na UFSC de 1976 a 2000, quando se afastou para o tratamento de um câncer. Além de dar aulas nos departamentos de Energia Elétrica e de Automação, ele coordenou o curso por 10 anos e participou do Conselho de Pesquisa da instituição. Deixou mulher e uma filha. Não se trata exatamente de uma guerra, mas a prefeitura já fez a primeira vítima no debate sobre a cessão do terreno da UFSC para ampliação da Rua Deputado Antônio Edu Vieira: a verdade. Ora, o próprio vice-prefeito manifestou a necessidade da ampliação para uso exclusivo de transporte público em ofício ao conselheiro que elaborou um dos pareceres sobre o processo. Esta opinião embasou o parecer que suspende (sem negar!) a cessão até que se tenha elaborado um projeto consistente de via exclusiva para ônibus ou outra destinação que priorize o transporte público em detrimento do automóvel. Não se entende, portanto, onde está o interesse na celeuma criada pela PMF contra a universidade. Para piorar o ataque à seriedade da postura da UFSC, surge a proposta absurda do deputado Marcos Vieira de encaminhar à Alesc um projeto de lei revertendo a doação do campus da Trindade que o Estado fez à UFSC! Incidentalmente, o vice-prefeito gosta de citar meu nome quando diz que na “academia” eu seria o único a defender sua visão de BRTs para a cidade. O homem da rua e a ruiva do homem tisfazendo exatamente carências jurídicas encontradas nas abundantes, dinâmicas e defeituosas normas que regem as relações das IFES com suas apoiadoras. Proporcionam segurança jurídica, frente aos constantes questionamentos e demandas dos Órgãos de Controle, aperfeiçoamento e simplificação dos procedimentos e instrumentos de avenças e mais agilidade na resolução dos processos. Enfim, transmitem a certeza da presença de uma efetiva advocacia pública capaz e preparada não apenas para prestar consultoria e assessoramento jurídicos, como também para promover defesa junto aos Órgãos de Controle e ao Poder Judiciário. Creio que todos quantos tiveram necessidade dos serviços da Procuradoria Federal junto à UFSC encontraram sempre presentes, acessíveis e à disposição o procurador-chefe, os demais procuradores e os servidores técnicos, administrativos e de apoio. Perceberam grande esforço no sentido de bem atender. E receberam, por certo, pronto atendimento, soluções adequadas e respostas concretas que satisfizeram plenamente. Ou seja, a Procuradoria desempenha sua função, sem favor algum. Cumpre seu dever. Por essa razão, tem sido destaque incontestável nesses últimos quatro anos. Quem o viu pregado ao mesmo chão por tantos anos, não ousou tirar-lhe dali para apregoá-lo à outra serventia. O homem da rua, cordial pela prudência do tempo, justificava a mesmice da sua moradia pela descoberta de onde, nele, a mesmice morava. Respirava com a ardência e a expectativa de um paciente a livrar-se da alta. Ardia e passava a língua pela poeira dos calçados amarrotados dos homens de casa que volta e meia voltavam e não o despertavam. Ardia pelo estômago o refugo do ar que o tinha sobrado ou que, por piedade, tinham lhe deixado. O que restava, a mancha do estômago libado, servia-o pela mesma utilidade que a mancha dum borro numa xícara de café. O que restava era sair da pequena estância para despedir-se da sua companhia. Não suportava, e era natural que fosse assim, ter o próprio corpo como cúmplice e própria alma como castigo. Era preciso mandar-se embora para se conhecer assim como era preciso esperar o sono para acordar. Da mania de esconder-se por debaixo dos pés ou por detrás das portas, descobriu que se fazia existir pelas costas dos olhos. Só através dele se encontrara. Observava-o com veracidade, e não havia maior nudez do que fechar os olhos copiosamente. Assim, vestia-se como queria e se escondia como pudera. A livrar-se das suas manias. O homem da rua, cordial pela cumplicidade do trajo, disfarçava a verdade para admiti-la. Arrancou-lhe a roupa do peito como quem rasga a página de um livro, sem hesitar, sem tempo para arrependimento. Com o tempo, iria arrancar os dentes para agarrar as desculpas entre a boca e arrastar a saudade pela calçada. O homem da rua desinfetava-se da personagem do engano, decidia-se pelo bem me quer de cada cílio, arrancando-os um de cada vez. E descobria que cruzar os braços sobre o peito, como quem debruçasse os cotovelos numa janela – feito do coração um resguardo – era o único jeito de receber um abraço. Ardia, pastava do medo, fingia falar grego para denunciar sua tragédia e ria, caçoava, gargalhava nas costas da dor. Explicar-se na língua nativa, lembrar-se da voz, é desmaiar de olhos arregalados. O homem da rua, cordial pela benevolência dos sentidos, tinha da memória um incômodo. A voz perdia-se dele como de um traço de lápis, apagava-se com o tempo. Primeiro, a voz. A primeira a se apartar da lembrança. Depois a imagem, a escrita, o gesto, o cheiro. Mas antes de tudo, a voz. O homem ressoava num canto a busca do tom desperdiçado pelo abandono. Moldava a mandíbula, a laringe, os pulmões. Buscava as formas do rosto de quem lembrasse para imitar a voz, queria era mesmo, ouvir-se noutro corpo. Já havia esquecido, e era natural que fosse assim, onde, nele, as vozes moravam. O homem da rua, cordial por obediência, despertava de um corpo pronto para ir embora. E a alma, cheia de torpor, pronta para jamais lhe dizer adeus. O homem, da rua cordial, queria descobrir em que parte do seu corpo e onde, nele, a ruiva morava. Nilto Parma Ex-chefe da Procuradoria Federal/UFSC Ricardo Pessetti Bolsista de Jornalismo na Agecom Estranhamente, quando a voz do egrégio Conselho Universitário é no sentido de priorizar projetos para transporte por ônibus, o vice-prefeito vem a público acusar a UFSC de negar o bem-estar à população. Lamentavelmente, a súbita mudança de postura em favor de projetos viários imediatistas traz prejuízos à verdade e à construção de uma alternativa moderna e sustentável de mobilidade urbana com transporte público de qualidade. Werner Kraus Jr. Professor da UFSC Foto: Wagner Behr Jornal Universitário II. Além das dificuldades de distribuição, só não é mais lido porque o hábito da leitura, no campus, é crítico! No Fórum, a crítica ao JU não foi sentida. Soou como incentivo, até porque quase 1.500 exemplares são enviados para leitores da comunidade externa! Tempo. Tem razão Octavio Paz: “O presente é fruto no qual vida e morte se fundem”. “ Frase Consideramos que a UFSC tem um papel fundamental de intervenção social e um dever com a sociedade de difundir o conhecimento-- Roselane Neckel, reitora da UFSC A professora Neide Almeida Fiori, que trabalhou durante 23 anos na Universidade Federal de Santa Catarina (Departamento de Sociologia e Ciências Políticas), onde se aposentou em 1999, morreu no dia 4 de maio em Florianópolis. Mestre em Ciências Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e doutora em Sociologia pela UFSC, ela tinha 77 anos e le- cionava no curso de Mestrado em Educação da Unisul. Publicou dezenas de artigos e escreveu seis livros durante a carreira, entre eles “Santa Catarina de todas as gentes: história e cultura”, que foi adotado pela rede estadual de ensino. Também desenvolveu muitos projetos de pesquisa com apoio do CNPq, tendo sua Bolsa de Produtividade em Pesquisa alcançado o nível IA. Expediente Elaborado pela Agecom - Agência de Comunicação da UFSC . Campus Universitário - Trindade - Caixa Postal 476 . CEP 88040-970, Florianópolis - SC. www.agecom.ufsc.br, [email protected] Fones: (48) 3721-9233 e 3721-9323. Fax: 3721-9684 Diretor e Editor Responsável: Moacir Loth - SC 00397 JP . Coord. de Divulgação e Marketing/Redação: Alita Diana (Jornalista), Ana Luisa Funchal (Bolsista), Arley Reis (Jornalista), Artemio R. de Souza (Jornalista), Carla Isa Costa (RP), Isadora Ruschel Castanhel (Bolsista), Laura Tuyama (Jornalista), Mateus Bandeira Vargas (Bolsista), Margareth Rossi (Jornalista), Murici Francisco Pansera Balbinot (Bolsista), Nayara Oliveira (Bolsista), Paulo Clóvis Schmitz (Jornalista), Paulo Fernando Liedtke, Ricardo Pessetti (Bolsista) . Fotografia: Brenda Thomé (Bolsista), Dayane Ros (Bolsista), Wagner Behr . Arquivo Fotográfico: Aldy Maingué, Ledair Petry . Editoração e Projeto Gráfico: Cláudia Schaun Reis (Jornalista) . Divisão de Gestão e Expediente: João Pedro Tavares Filho (Coord.), Beatriz S. Prado (Expediente), Rogéria D´El Rei S. S. Martins, Romilda de Assis (Apoio) . Impressão: Arte Brasilis UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 2 A verdade atropelada Jornal Universitário I. O JU é uma referência entre as universidades brasileiras. Por aqui ganhou ou foi finalista de quatro prêmios de jornalismo, disputando com os jornalões. “ Realizados em três expedientes nos dias 2, 3 e 4 de maio, no auditório principal do Centro de Cultura e Eventos, o Fóruns de Planejamento da gestão “A UFSC que queremos”(2012/2016) podem ter inaugurado uma nova era na cultura administrativa da universidade. Bem divulgados e abertos à comunidade interna e externa, focaram as áreas e setores essenciais para o bom funcionamento de uma instituição comprometida com a sociedade e a nação. A participação abaixo das expectativas não comprometeu os conteúdos e a qualidade dos debates e propostas. Os diagnósticos produzidos pelas equipes de transição são preliminares e carecem de aperfeiçoamento, mas constituem uma base sólida para a administração Roselane Neckel-Lúcia Pacheco dar os primeiros passos à frente do maior patrimônio público dos catarinenses. Superando nas eleições a chapa Carlos Alberto Justo da Silva (Paraná) e Vera Bazzo, que representaram a Administração na sucessão do professor Alvaro Toubes Prata, as novas reitoras assumem o desafio de dar conta dos compromissos inadiáveis com a transparência, a pluralidade, a responsabilidade administrativa, a valorização das pessoas, a profissionalização da gestão, o fortalecimento da democracia interna e a sustentabilidade. A tarefa é complexa, porém plenamente exequível com o engajamento e a participação de toda a comunidade universitária. A solenidade de posse, no dia 10 de maio, encheu o auditório do Centro de Eventos, ficando marcada como um evento democrático, emocionante e representativo. O diálogo franco e aberto, exercido diuturnamente com os três segmentos da universidade, será com certeza um divisor de águas nas relações de poder na universidade. A gestão do reitor Diomário de Queiroz representou uma fratura ideológica na UFSC em 1992 e, de quebra, colocou na vice-reitoria uma mulher, a professora Nilcea Lemos Pelandré. Na última eleição, aconteceu uma revolução de gênero. Duas mulheres, pela primeira vez, comandam a UFSC. Roselane, entre outros fatores, foi favorecida pelo bom desempenho das Ciências Humanas, pelo contexto político, pelas alianças estratégicas (Irineu Manoel de Souza e Carlos Righi), pelos atos falhos dos adversários e pela facilidade do discurso. Na abertura do Fórum, a reitora repetiu o que já havia frisado na campanha: a comunicação é essencial para o equilíbrio e o funcionamento de qualquer instituição, pois envolve diálogo, respeito, ética, além da arte de saber ouvir. É, portanto, espaço legítimo para o exercício da democracia e da liberdade de expressão. A comunicação pública, sublinhou a reitora, vai respaldar as ações e reflexões, isto é, está na base da Gestão e no conceito da Administração. A Lei de Acesso à Informação, vigente a partir do dia 16 deste mês, vai corroborar com a disposição da Reitoria. A Política Pública de Comunicação da UFSC é detentora do principal prêmio de Jornalismo Científico do País (o José Reis, do CNPq). Conversar, dialogar, mediar, educar, avaliar e compartilhar são verbos conjugados na Agecom. Comunicação pública não é sinônimo de Política Pública. Eis a questão! A comunicação cuida da saúde da instituição Artigos Uma Procuradoria presente A Procuradoria Federal junto à UFSC, a partir do nosso comando e com o nosso compromisso, passou a percorrer o caminho mais curto para a eficiência, e estabeleceu, com sucesso, verdadeiras parcerias, na prática. Na mais importante e visível, a atual Administração da UFSC não tem medido esforços no sentido de dotar a Procuradoria e seus Procuradores de excelentes condições de trabalho para proporcionar melhor desempenho das funções: espaço físico e equipamentos de qualidade invejável; biblioteca composta de títulos dos mais importantes juristas da atualidade, suficientes à boa pesquisa no ramo de atividade da Procuradoria; cursos de capacitação; meios para realização e participação de eventos; inserção no Plano de Saúde; alocação de pessoal técnico, administrativo e de apoio; alocação de estagiários de direito e de informática. De sua parte, a Procuradoria tem sido incansável no atendimento pessoal e por telefone aos componentes da Administração da UFSC; na manifestação aos mais de três mil processos administrativos anuais e mais de novecentas demandas em processos judiciais; no assessoramento a inúmeros processos de licitações, de contratos, de convênios e de acordos de parceria; na análise e consideração das demandas por repactuação; na elaboração e revisão de instrumentos de convocação, no encaminhamento e na assistência aos diversos procedimentos disciplinares; no ofereci- mento de palestras e cursos de capacitação aos servidores da UFSC; na participação em reuniões promovidas pela Administração da UFSC; e em eventos internos e externos, especialmente representando a UFSC e a Procuradoria Federal. Outras parcerias no campus envolvem necessariamente as Fundações de Apoio, as quais, não se pode deixar de reconhecer, têm estado diariamente ao lado da Procuradoria. Destaque especial para a Fapeu, a qual, inclusive, abriga a Procuradoria Federal em suas instalações, gentil e graciosamente, mas sem qualquer interferência. São as Fundações de Apoio, aliás, que proporcionam condições à UFSC de executar com destacado e notório sucesso os projetos de pesquisa, extensão, ensino e desenvolvimento. Para tanto, seus serviços mostram-se ágeis, sempre prontos, com pessoal preparado. Geram eficácia. A cada dia compreende-se mais a importância que representam as Fundações de Apoio para as Instituições Federais de Ensino Superior. Sem elas, a execução dos projetos fica um pouco órfã, um tanto desamparada, sujeita ao tratamento comum atribuído no serviço público aos processos administrativos em geral. Aliás, nesse aspecto, seus expressivos e incontestáveis resultados positivos desmentem os céticos e os contrários. E essas parcerias entre a Procuradoria Federal e as Fundações de Apoio vêm sa- UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 3 Glauber Rocha volta à cena com reinvenção do romance Colégio de Aplicação estimula pesquisa desde cedo Editora da UFSC lança, em parceria com Itaú Cultural, nova edição de Riverão Sussuara, obra literária única e definitiva do cineasta I Mostra de Projetos de Iniciação Científica do Ensino Médio do Colégio de Aplicação apresentou 31 trabalhos sobre diversos temas Foto: Raquel Wandelli Raquel Wandelli Jornalista na SeCArte O diretor da EdUFSC, Sérgio Medeiros, também é o editor da obra Conhecido por sua rebeldia intelectual e por uma obra cinematográfica admirada e incompreendida, Glauber Rocha também atravessou com inventividade o deserto da literatura. No aniversário de 30 anos de sua morte, a Editora da UFSC resgata a dívida do Brasil com a obra literária de um dos seus mais criativos artistas e intelectuais, que revolucionou o cinema e reinventou a língua portuguesa. Riverão Sussuarana, o único e definitivo romance do mentor do Cinema Novo, esgotado há mais de três décadas, ganhou em abril uma nova edição, publicada em parceria com o Instituto Itaú Cultural. Polêmico, vociferante, ousado, erudito e transgressor, Glauber sempre será um marco na cultura brasileira. Para dar visibilidade a esse acontecimento, o lançamento da obra, na Fun- dação Cultural Badesc, começou com uma mesa redonda sobre a importância de Riverão Sussuarana. Os professores Jair Fonseca, do Curso de Literatura da UFSC, e a professora Dirce Waltrick do Amarante, do Curso de Artes Cênicas, discutiram as relações do cinema e da literatura de Glauber com James Joyce e Guimarães Rosa. Fonseca, que assina o posfácio do livro com o ensaio “Guimarães Rocha e Glauber Rosa”, mostrou a influência de Rosa sobre os “filmes sertanejos” de Glauber, a exemplo de Deus e o diabo na Terra do Sol, de 1964, enquanto Dirce falou principalmente sobre as aproximações de linguagem com o escritor irlandês. Ao abrir a mesa redonda, o professor salientou o grau de experimentação e ousadia com que o diretor de Deus e o diabo na Terra do Sol e Terra em transe brinca com os mitos sagrados da cultura brasileira, como a figura do sertanejo e o próprio significado emblemático de Guimarães Rosa, autor de Grande sertão: veredas, que vira personagem da desnovela do cineasta tropicalista. “O romance é uma injeção de estímulo nos dias de hoje, quando a literatura brasileira se tornou tão careta”. Ao seu modo tropicalista e antropofágico de criação, Glauber processa as diversas contribuições dos grandes nomes da cultura moderna e pós-moderna com gênio crítico e inventivo, inovando na trama e na linguagem, crivada de neologismos e palavras-valise (onde vários vocábulos compõem um só). Marcada pelo memorialismo, pela autobiografia e pela autoficção, a obra teve um impacto estético e cultural silencioso, mas profundo, alcançando, como o cinema premiado de Glauber, admiradores no exterior. Além de uma espécie de alucinado making off sobre o romance feito pelo próprio autor, a edição traz duas resenhas analíticas assinadas por Fonseca e o crítico Mário Câmara. Renovela, desnovela, recordel Depois de dois anos de negociação com a família do cineasta, Riverão... volta às livrarias envolto em duas capas sobrepostas: a original, desenhada pela viúva Paula Gaettan, na publicação da Record de 1978, sobreposta pela atual, da artista gráfica catarinense Lúcia Iaczinski, de modo que é possível ler nesse palimpsesto as tendências estéticas e políticas de diferentes períodos históricos da cultura brasileira. A intersecção pela linguagem e pela travessia do sertão entre os dois autores brasileiros, que dividem, além das iniciais, uma intertextualidade com a obra de James Joyce, outro inovador da linguagem narrativa, foi aprofundada pela professora Dirce. “Sua obra subverte as classificações de gênero, misturando novela, jornalismo, literatura de cordel, teatro, romance, poesia, música”, explica a professora. Glauber extrapola as classificações de gênero, como o próprio autor explica em entrevista em 1981: “O livro é ao mesmo tempo um manifesto literário e estético. A teoria e a prática daquele livro são transferidas para a música, para o cinema, qualquer tipo de arte. [...] Incorpora uma espécie de renovela, de desnovela, de recordel”. Para ilustrar o painel, alunos do Curso de Artes Cênicas dirigidos por Dirce apresentaram uma divertida leitura performática da peça de teatro que integra o romance da página 119 a 137, interrompendo a narrativa épica com o que o autor chama de “um teatrinho sertanejo”. Jacqueline Kremer, Marina Vershagem, Angélica Mahfuz, Márcio Cabral, Lourenço Lombardi, Robson Walkowski e Eduardo Stahelin deram vida aos personagens sertanejos, coronéis e jagunços de Glauber, de modo que os 30 anos de sua morte foram bem marcados em Florianópolis. Surpresa marca Concurso Rogério Sganzerla Trinta e quatro anos separam a confecção das duas capas; a original (acima) foi concebida pela viúva de Glauber, Paula Gaettan, e a atual é criação de Lúcia Iaczinski, artita gráfica da EdUFSC da EdUFSC, Sérgio Medeiros, o vencedor compareceu à Editora em seguida para combinar a publicação das peças. “Com certeza temos uma revelação da dramaturgia aí”, assinalou Medeiros. “Duas criações premiadas de um mesmo autor mostram talento e consistência”. Ator do grupo Dearaque Cias, que participou da Maratona Cultural com a peça Medo de morrer longe de ti, André diz que as duas peças são suas primeiras experiências de autoria completa com roteiro para teatro. Já assinou, contudo, algumas adaptações e está concluindo um terceiro roteiro chamado A distância, que deverá também dirigir depois de retornar da Argentina, onde concluirá e defenderá sua dissertação. A alegria da notícia aumentou quando o dramaturgo se soube triplamente vencedor: no mesmo dia, seu grupo de teatro também ganhou o Edital Nelson Rodrigues, da Funarte, com uma peça em comemoração ao centenário de nascimento do autor. Como prêmio, André terá seus roteiros publicados ainda este ano em forma de livro junto com a biografia do autor e ainda três ensaios comentando suas peças assinados pelos integrantes do Júri, as professoras Clélia Mello, do Curso de Cinema da UFSC, Dirce Waltrick do Amarante, do Curso de Artes Cênicas, e Márcio Markendorf, do Curso de Literatura. Por considerar as peças de André superiores às demais inscritas, entre um total de 15 roteiros O diretor da EdUFSC elogiou André: “Duas criações para teatro e cinema, a comissão premiadas de um mesmo autor mostram talento e decidiu premiar duas obras do consistência”. mesmo gênero. Clélia conta que se surpreendeu com a escrita distinta e Rogério Sganzerla em uma área carente de das peças vencedoras, Suéter laranja, mais profissionais em Santa Catarina, conforme leve e tragicômica, e Não sempre, mais explica o diretor da Editora, Sérgio Medeiros. dramática. “Pareciam duas personalidades Em 2010, o catarinense Sganzerla, que permuito distintas e não o mesmo autor. Essa tenceu ao grupo de jovens cinemanovistas maleabilidade mostra que existe aí um artis- liderados por Glauber e Júlio Bressane, ta de fato”, comentou a presidente do Júri. também teve sua obra ensaística reunida O Concurso de Roteiros busca incentivar na obra Edifício Rogério, mais uma parceria o surgimento de talentos como o de Glauber entre EdUFSC e Itaú Cultural (R.W.) UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 4 O vídeo falava de lembranças, e uma delas fez com que as crianças e os adolescentes pensassem em como se relacionam com os símbolos de exaltação da pátria: a professora de Letras da UFSC, Alai Garcia Diniz, registrou que, durante a ditadura brasileira (1964-1985), permaneceu cerca de um mês presa, sendo obrigada a cantar o hino nacional várias vezes todos os dias. Das tantas cicatrizes da época, a docente guarda a convicção de que seu sentimento patriótico tornou-se vazio e nunca mais entoou a canção oficial. Resultado final do trabalho intitulado “Ditadura Militar: olhares do passado e do presente”, de Ana Luiza Shimomura Spinelli, 16 anos, o vídeo foi apresentado durante a I Mostra de Projetos de Iniciação Científica (Pibic) do Ensino Médio do Colégio de Aplicação (CA) da UFSC, realizada em 18 de abril, no próprio CA. Ao todo, foram 31 trabalhos sobre os mais diversos temas desenvolvidos em 2011. “A Mostra comprova que a pesquisa é possível, viável e muito importante na formação dos alunos”, defende o professor Manoel Teixeira dos Santos, coordenador de pesquisa e extensão do Colégio e orientador de Ana Luiza. Além de ressaltar a sensibilidade que os estudantes desenvolveram durante o trabalho de campo, com os entrevistados, o professor entende que o evento, como finalização de todo o processo, atingiu seu objetivo. “Constatamos nas apresentações que os estudantes dominaram os temas abordados, e a Mostra foi fundamental para que compartilhassem essas novas informações com os colegas, estimulando os bolsistas deste ano a avançarem em suas pesquisas”. Lina Ribeiro Venturi, 16 anos, estuda clarinete, e Otto Henrique Thiel, 17, piano. Os dois decidiram entender o porquê da exclusão da mulher na história da música erudita. A partir do trabalho, produziram vídeo com passagens da vida de algumas musicistas, como Maria Anna Mozart – irmã de Wolfgang Amadeus –, entrevistas com professores do CA e profissionais da área. A pesquisa apontou que, antes do século XIX, as mulheres eram consideradas incapazes de produzir música de qualidade; peças com vozes agudas eram executadas por meninos, que, não raro, eram castrados – a fim de evitar a produção dos hormônios que tornam a voz dos rapazes mais grave a partir da puberdade – se quisessem continuar a cantar. Isis Shandra Santos, 15 anos, também utilizou a bolsa Pibic para buscar respostas a questões do seu dia a dia. Integrante de uma família de vegetarianos, nunca tinha entendido muito bem porque a mãe insistia em utilizar cosméticos que não são testados em animais. Depois da pesquisa, a estudante percorreu o campus com lista de empresas que testam seus produtos e outra das que não testam em mãos. “Eu perguntava a marca do rímel que as mulheres usavam, então lhes contava como os testes eram aplicados nos bichos”. Hoje ela diz que seu entendimento sobre a questão mudou. “Tenho outro olhar sobre as empresas; se as pessoas pararem de consumir, os processos serão modificados, evitando o sofrimento de muitos animais”. Isis quer cursar Biologia, mas pensa também em Direito, para se “especializar na área ambiental e defender os animais”. O próximo tema que pretende pesquisar é a influência que a mídia exerce nos jovens. Fotos: Wagner Behr Os bolsistas têm Currículo Lattes, são orientados por profesores do CA e apresentam relatórios de pesquisa; na foto de baixo, Ana Luíza e o professor Manoel Pibic do Ensino Médio e PIP-CA Desde o Fundamental Desde 2010 o Colégio de Aplicação oferece anualmente 34 bolsas Pibic Ensino Médio a seus alunos. Com duração de 12 meses, o projeto do governo federal, vinculado ao CNPq e oferecido pela Pró-Reitoria de Ensino de Graduaçao (PREG) e pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão (PRPE), estipula que seus bolsistas sejam orientados por professores do CA, tenham currículos inscritos na plataforma Lattes e apresentem relatórios de pesquisa no decorrer do processo. Para concorrer às bolsas os estudantes têm seus boletins avaliados e realizam entrevista com os orientadores. Devido à grande procura, em 2012 o CA criou o Programa de Iniciação à Pesquisa (PIP-CA), abrindo mais 18 vagas e mantendo as especificações do Pibic – incluindo aí o valor das bolsas, de R$100 mensais. Antes de chegar ao Ensino Médio, porém, os alunos já têm contato com a pesquisa: na oitava série do Ensino Fundamental cursam a disciplina de Iniciação Científica, que é atrelada ao projeto Pé na Estrada do Conhecimento, instituído no CA há doze anos. A partir do projeto, os estudantes realizam viagens de estudo, conhecendo lugares como a barragem de Itá, onde entrelaçam diversas áreas do conhecimento, estudando a ocupação histórica, a geologia do local e a produção de energia. Por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) em parceria com o CNPq, o Colégio mantém também o Pibic Junior, que oferece duas bolsas de pesquisa para alunos do Ensino Fundamental. Mais informações com o professor Manoel: [email protected]. Foto: Fernanda Canto Resultado confere ao jovem André Felipe Costa Silva os dois prêmios do concurso promovido pela Editora da UFSC Um novo talento da dramaturgia catarinense foi revelado pelo Concurso Rogério Sganzerla de Roteiros para Cinema e Teatro, promovido pela Secretaria de Cultura e Arte e Editora da UFSC. Sob os pseudônimos Ariosto Montanha e Moreno Auc, André Felipe Costa Silva foi duplamente vencedor do concurso, para surpresa do público e do júri, que esperava dois primeiros colocados. Na noite de lançamento de Riverão Sussuarana, de Glauber Rocha, em 18 de abril, o público conheceu a decisão unânime da comissão julgadora, que premiou André duas vezes com os roteiros para teatro Suéter laranja em dia de luto e Não sempre. Formado em Artes Cênicas pela Udesc em 2009 e mestrando em dramaturgia pelo Instituto Universitário Nacional Del Arte, de Buenos Aires, o jovem dramaturgo não estava presente na cerimônia e recebeu a notícia do resultado na manhã do dia seguinte por telefone. “Fiquei muito surpreso e feliz”, diz o artista, que completou 25 anos no dia 14 de abril. A convite do diretor Cláudia Schaun Reis Jornalista na Agecom Prevenção do câncer na mira de pesquisadores mirins Ana Luísa Funchal Bolsista de Jornalismo na Agecom Os fatores genéticos têm papel importante na incidência do câncer, mas já está comprovado que adotar hábitos mais saudáveis pode diminuir a ocorrência da doença. As alunas do Colégio de Aplicação da UFSC Júlia Ceccon Ortolan e Heloisa Marques Baumgratz escolheram o tema “Câncer e hábitos de vida: como viver de forma preventiva” para sua pesquisa de iniciação científica, apresentada na I Mostra de Iniciação Científica do Ensino Médio. O objetivo das estudantes foi estudar outros fatores, não os hereditários, e como uma mudança de postura pode influenciar na prevenção à doença. Orientadas pela professora Mariana Borsa, utilizaram estatísticas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e dados do livro “O Anticâncer: Prevenir e Vencer Usando Nossas Defesas Naturais”, do médico frânces David Servan Schreiber, morto em julho do ano passado, e que há 20 anos lutava de forma alternativa contra um câncer no cérebro. Além de explicarem as diferenças entre um tumor benigno e maligno, como ocorre a metástase (disseminação de células cancerígenas através do sistema sanguíneo ou linfático no organismo) e quais são os tipos de câncer de maior incidência entre mulheres, homens e etnias, as alunas apresentaram um cardápio ideal. Júlia e Heloisa ressaltam que os legumes são importantes. No entanto, é preciso saber qual a procedência, já que a maioria é tratada com agrotóxicos, agentes que podem causar diversos tipos de câncer. A preferência é pela ingestão de alimentos orgânicos ou pela compra em mercados variados, para que não sejam consumidos sempre os mesmos alimentos, tratados com as mesmas substâncias, evitando o acúmulo no organismo. As estudantes também abordaram o consumo de gorduras trans. Presente em produtos industrializados, além de ser desnecessária para o organismo e aumentar as taxas do colesterol ruim, pode duplicar as chances de desenvolvimento de câncer de mama. E alertaram sobre cereais refinados, que perdem suas propriedades nutritivas após o processo industrial, aumentam as taxas de insulina e podem causar câncer em diversas partes do corpo, como o fígado, rim, pele e colo-retal. Por esse motivo, é preferível a ingestão de cereais integrais. Entre as fontes de proteína, a preferência é para os peixes. Defumados, presuntos e bacon apresentam alcatrão, substancia cancerígena, que também está presente no cigarro. O tabagismo e a alta ingestão de álcool estão entre os hábitos de risco estudados pelas alunas Júlia Ceccon e Heloisa Marques. O sedentarismo é outro vilão na luta pela prevenção. Realizar atividades físicas pode diminuir em 11% as chances UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 5 de desenvolvimento do câncer de mama. “Um sistema imunológico fragilizado facilita o desenvolvimento de neoplasias (alterações celulares ou crescimento exagerado das células)”, explica Júlia sobre a importância de uma vida mais calma e de evitar o estresse. Como produto final da pesquisa, as alunas elaboraram uma cartilha de prevenção. “Ela é quase uma provocação para questionar os hábitos de vida atuais das pessoas”, conta Heloísa. O estudo é um dos 31 trabalhos integrados ao Projeto de Iniciação Científica do Ensino Médio do Colégio Aplicação. “A pesquisa no Ensino Médio é muito importante para formação, uma oportunidade privilegiada. Ela consolida a pesquisa no Colégio Aplicação. A parceria com o CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] dá um respaldo para o colégio”, explica Manoel Teixeira dos Santos, coordenador de pesquisa e extensão do CA. A UFSC sob nova direção Posse da primeira reitora da UFSC lotou Centro de Cultura e Eventos; Roselane Neckel reforçou o comprometimento de posicionar a UFSC a serviço do Estado e do País Foto: Wagner Behr Foto: João Neto/MEC Paulo Clóvis Schmitz Jornalista na Agecom Muito emocionada, e agradecendo a formação recebida dos pais, moradores do interior de Santo Amaro da Imperatriz, a professora Roselane Neckel foi empossada no dia 10 deste mês como a primeira reitora mulher da Universidade Federal de Santa Catarina. Ela e a vice-reitora Lúcia Helena Martins Pacheco, vencedoras do segundo turno da eleição realizado em 30 de novembro de 2011, receberam os cargos do reitor Alvaro Toubes Prata e prometeram trabalhar para que “a instituição não cometa os erros do passado e ajude na construção de um Brasil melhor”. Elas vão comandar os destinos da UFSC até maio de 2016. Desde o momento em que subiu ao palco para compor a mesa, a nova reitora foi muito aplaudida, especialmente pelos estudantes, que foram essenciais para a sua vitória no pleito do ano passado. Após a solenidade, que contou com a presença da secretária de Relações Institucionais da presidência da República, Ideli Salvatti, do deputado federal Pedro Uczai e do secretário de Educação do Estado, Eduardo Deschamps, além de representantes de alunos, servidores e de outras entidades da área da educação, a reitora anunciou os nomes dos pró-reitores e ocupantes dos demais cargos que farão parte de sua equipe. As manifestações mais fortes do discurso de Roselane Neckel foram no sentido de colocar a UFSC a serviço do Estado e do País. “Devemos ser um espaço de construção de sujeitos cidadãos”, afirmou. “Temos o direito de sonhar com um Brasil melhor e superar desigualdades sociais que nos atingem de norte a sul”. Ela também ressaltou a importância de continuar sendo humilde, mesmo investida num cargo de tamanha relevância, e destacou que de pouco valem os títulos se não houver o compromisso com a ética e a seriedade na postura pessoal e profissional. Entre os compromissos que assumiu estão a ado- ção de uma política de permanência dos estudantes, reduzindo a evasão acadêmica, a potencialização do uso dos recursos públicos e uma postura pró-ativa e propositiva frente aos governos federal, estadual e municipal. Também houve manifestações críticas à política federal na área da educação, por parte do representante do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos (Sintufsc) da Universidade, Celso Ramos Martins, e da representante do Diretório Central dos Estudantes (DCE). O deputado Pedro Uczai destacou o governo federal na expansão dos Institutos Federais de Educação e a criação da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), com sede em Chapecó. E a ministra Ideli Salvatti valorizou a presença crescente das mulheres na direção de universidades no país, já que na mesma semana o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, empossou Roselane Neckel e mais duas reitoras em Brasília. Em seu pronunciamento, o reitor Alvaro Prata afirmou que saía com o sentimento do dever cumprido, mas ressaltou que “a universidade está sempre inacabada”. “Se mais não fizemos”, disse, “foi por não ter conseguido superar obstáculos de uma instituição complexa como a nossa”. Homenagem – Um dia antes da posse, a professora Roselane Neckel foi homenageada pelos servidores técnico-administrativos, professores e estudantes do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da universidade, onde desenvolveu a maior parte de sua carreira. Nos discursos, foi lembrada a sua trajetória, desde quando lecionava, passando pela direção do Centro, até tornar-se reitora da instituição. No final da cerimônia, ela recebeu flores, um cartão e uma placa para registrar a despedida. Roselane agradeceu e enfatizou que seu trabalho só foi possível pelo apoio recebido do CFH. “Várias pessoas sempre pensam melhor do que uma e nós só chegamos até aqui graças ao trabalho de todos”, disse. Os novos pró-reitores e seus adjuntos Posse em 8 de maio, no MEC; em seu discuso, Roselane Neckel disse que irá priorizar a extensão Foto: Wagn er Behr Festa surpresa de despedida e de aniversário de Roselane, no CFH. “Só chegamos até aqui graças ao trabalho coletivo de todo o Centro” O momento de transmissão do cargo: a nova reitora agradeceu a formação recebida dos pais . . . . . . . . . . . . Durante a cerimônia de transmissão de cargo, Roselane empossa a vice-reitora, Lúcia Martins Pacheco Chefia de Gabinete Carlos Antonio Oliveira Viera e Elci Terezinha de Souza Junckes Pró-Reitoria de Graduação Roselane Fátima Campos e Rogério Luiz de Souza Pró-Reitoria de Pós-Graduação Joana Maria Pedro e Juarez Vieira do Nascimento xo Foto: Velho Bru Pró-Reitoria de Pesquisa Jamil Assereuy Filho e Heliete Nunes O filho Francisco também subiu ao palco para prestigiar a posse da mãe Pró-Reitoria de Extensão Edison da Rosa e Maristela Helena Zimmer Bortolini Pró-Reitoria de Planejamento e Orçamento Luiz Alberton e Izabela Raquel Pró-Reitoria de Administração Antônio Carlos Montezuma Brito e Irvando Luiz Speranzini Foto: Wagner Behr Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis Beatriz Augusto de Paiva e Simone Matos Machado Secretaria Especial de Aperfeiçoamento Institucional Airton Lisle Cerqueira Leite Seelaender e Jeanine Nicolazzi Philippi Secretaria de Cultura Paulo Ricardo Berton e Luiz Fernando Pereira Secretaria de Relações Internacionais Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho Secretaria de Gestão de Pessoas Neiva Aparecida Gasparetto Cornelio e Suzana da Rosa Tolfo Foto: Wagner Behr Os Fóruns e o debate democrático Foram realizados entre os dias 2 e 4 de maio, no Centro de Cultura e Eventos, os Fóruns de Planejamento para a Nova Administração da UFSC, gestão 2012-2016, com nove sessões temáticas. O objetivo era apresentar para a comunidade o diagnóstico realizado pela Equipe de Transição, debatendo com o público, de forma franca, crítica e O Centro de Cultura e Eventos ficou lotado durante a cerimônia histórica propositiva, as políticas para a administração da reitora Roselane Neckel e da vice-reitora Lúcia Helena Martins Pacheco, que assumiram no dia 10 de maio. O Fórum também recebeu sugestões e propostas das comissões que cuidaram das políticas para a extensão e para as áreas do planejamento, infraestrutura e patrimônio. Assuntos estudantis Pesquisa e Pós-graduação Hospital Universitário Entre as necessidades apresentadas pela Comissão de Políticas Estudantis apareceram a revisão dos critérios de concessão da Bolsa Permanência (hoje atrelada unicamente ao fator socioeconômico), a ampliação de vagas na Moradia Estudantil em Florianópolis e a construção de edificações destinadas à residência dos alunos nos campi de Joinville, Curitibanos e Araranguá. Também foram sugeridos o fortalecimento da assistência à saúde dos estudantes e o incentivo às práticas esportivas por meio de programas e projetos institucionais. Na área da Pesquisa e Pós-graduação, a criação de uma política institucional que inclua, além destas áreas, a inovação, reforçada pelo estímulo à implantação de projetos cooperativos com pesquisadores de outros países, foi objeto de propostas feitas durante os Fóruns de Planejamento. Também foi sugerida a articulação com autoridades para colocar o conhecimento a serviço de políticas públicas. Não menos relevantes foram as ideias de ampliar o papel das câmaras, aumentar o número de bolsas PIBIC e de pós-graduação e investir na melhoria da comunicação organizacional para facilitar o fluxo de informações. As recomendações incluíram a criação de um setor para acompanhar os projetos de ensino, pesquisa e extensão, a oficialização da carga horária de 30 horas semanais e a revisão da estrutura do HU, dimensionando com equidade a questão dos CDs e FGs. Também foram citados a criação de um setor de auditoria interna, a inclusão de um representante do HU no Conselho Universitário, a melhoria da segurança dos pacientes e servidores, a valorização do Conselho Diretor do hospital (completando a sua composição) e um estudo das necessidades de pessoal, considerando os cargos vagos em função da expansão e também do aumento do número de aposentadorias. Novos campi Em relação aos novos campi da UFSC, o Fórum ouviu sobre a necessidade de superar deficiências como a falta de autonomia administrativa e orçamentária, de estrutura organizacional, de laboratórios de ensino, de funcionários e de segurança. Os representantes dos campi de Joinville, Curitibanos e Araranguá também propuseram a ampliação do foco de cada campus para além dos municípios sede, o acercamento das áreas e a implantação de melhor iluminação para abrir a possibilidade de turmas noturnas. UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 6 O Fórum também recebeu sugestões e propostas das comissões que cuidaram das políticas para a extensão e para as áreas do planejamento, infraestrutura e patrimônio. Comunicação institucional Uma das propostas é a criação do Comitê Gestor de Comunicação, que trabalhe pelo estabelecimento de diretrizes estratégicas e princípios norteadores para uma política institucional no setor. Outra ideia é conferir autonomia, sobretudo financeira, aos setores envolvidos com a comunicação. No fórum, Graduação a comunidade sugeriu que dar maior visibilidade ao conhecimento produzido na Universidade, melhorar a comunicação interna (entre os setores), trabalhar a comunicação institucional em um nível estratégico (dando a ela um status executivo de secretaria) e utilizar as redes sociais para a divulgação científica. Cultura e arte Nesta área, que ganhou status de secretaria e maior visibilidade na última gestão, há a necessidade de remover o problema de falta de pessoal e de equipe preparada para a busca de recursos via editais em alguns setores. A SeCArte conta com orçamento próprio, porém o Departamento Artístico Cultural e o Museu de Arqueologia e Etnologia Professor Oswaldo Rodrigues Cabral têm suas atividades prejudicadas pela falta de recursos. Entre as propostas apresentadas estão as de aparelhar melhor o teatro, restaurar exemplares do patrimônio (como a Igrejinha), investir no Centro de Cultura e Eventos, concluir as obras do Centro de Convivência e implantar projetos mais intensos e contínuos na área da cultura e arte. Relações institucionais Melhorar a interação da universidade com os governos municipal, estadual e federal, qualificar a relação entre as instituições e fundações públicas e privadas vinculadas à UFSC e criar um canal de comunicação com os órgãos externos fazem parte do rol de propostas para a área das relações institucionais apresentadas no Fórum de Planejamento. No âmbito das relações internacionais, um dos desafios é melhorar a estrutura para auxiliar os jovens que vêm do exterior para estudar na universidade. Outra proposta é agilizar o trabalho dos departamentos e coordenações de cursos para adaptar disciplinas e o quadro de horário a esses estudantes. A preocupação com a evasão acadêmica fez parte dos debates relativos ao ensino de graduação, porque, mesmo tendo caído de 1.670 para 664 em quatro anos (de 2008 a 2011), as desistências ainda precisam ser reduzidas na universidade. Com ampla participação da plateia, a sessão discutiu outros temas importantes para a graduação, como a aproximação da pró-reitoria com os novos campi, a integração entre os ensinos a distância e presencial e a valorização das licenciaturas. Gestão de pessoas Identificar com clareza os objetivos dos diferentes setores que compõem a instituição, suas atividades e estruturas, facilitando que se chegue a definições sobre “por que fazer, para que fazer, como fazer”, é um dos desafios da universidade na área de gestão de pessoas. A comissão que trabalhou esse tema no Fórum identificou que diversos setores têm atribuições semelhantes, que são executadas de formas distintas, quando poderiam ter maior qualidade em processos sistematizados e padronizados. O público presente também levantou questões relevantes como a capacitação dos futuros gestores e elevada carga de trabalho e suas implicações sobre a saúde dos trabalhadores (P.C.S). UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 7 Biodiversidade marinha em alerta Crianças: alimentação X atividade física Rede Nacional de Pesquisa em Biodiversidade Marinha comprova redução de peixes no litoral do Brasil Projeto do Departamento de Nutrição beneficiará estudantes de sete a dez anos Arley Reis Jornalista na Agecom Resultados preliminares da Rede Nacional de Pesquisa em Biodiversidade Marinha (Sisbiota Mar) confirmam cientificamente cenário conhecido na prática por pescadores e comunidades litorâneas brasileiras: a quantidade de peixes na costa está muito menor do que em ambientes mais protegidos, como as ilhas oceânicas. Nestas ilhas, a biomassa marinha chega a ser quatro vezes maior do que nas localizadas próximo ao litoral. Os dados que resultam de censos visuais subaquáticos, realizados em expedições marinhas, serão apresentados na Austrália, no mês de julho, em um dos mais importantes eventos científicos na área de pesquisa marinha, o 12th International Coral Reef Sympo- sium (ICRS 2012). “As ilhas oceânicas estão muito mais preservadas do que as da costa, pois no litoral a pressão é muito maior. Era um dado já esperado e agora documentado”, informa o professor do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC Sergio Floeter, coordenador da Rede Nacional. O apoio financeiro direcionado ao Sisbiota-Mar pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e CNPq já permitiu a realização de expedições ao Atol das Rocas, Barreirinhas e Maracajaú (no estado do Rio Grande do Norte); a Tamandaré e ao arquipélago de Fernando de Noronha (Pernambuco); a Maragogi (Alagoas); a Ilhas de Guarapari (Espírito Santo) e Baía de Todos os Santos (Bahia). Quatro quilômetros quadrados em baixo d´água Em cada uma das saídas de campo, censos visuais possibilitaram o levantamento da biomassa. Esse dado representa a média de peixes em quilogramas, em áreas demarcadas de 40 metros quadrados. As informações são registradas pelos pesquisadores em mergulhos, com estimativas sobre quantidade e tamanho dos peixes. De acordo com Floeter, essa é uma metodologia adotada por pesquisadores da vida marinha há mais de 20 anos. A Rede já realizou levantamentos de cerca de 100 amostras de 40 metros quadrados em cada ilha ou local da costa (o que representam aproximadamente quatro quilômetros quadrados investigados em baixo d’água em cada expedição). Dados que já haviam sido obtidos em estudos anteriores e sua comparação com os atuais revelam grandes diferenças entre os ambientes. Em relação a ilhas de Santa Catarina, por exemplo, o ambiente oceânico de Atol das Rocas (também uma Reserva Biológicas Marinhas, assim como a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo) tem biomassa quatro vezes maior (12.9 kg/40m² documentados no Atol e 3,3 kg/40m² em ilhas de Santa Catarina). Fotos: Projeto Sisbiota/Mar A quantidade de peixes na costa está quatro vezes menor do que em ambientes mais protegidos, como as ilhas oceânicas Há esperança para a Arvoredo De acordo com Floeter, a Ilha da Trindade, localizada cerca de 1.200 quilômetros a leste de Vitória, é outro local em que foi documentada grande biomassa. “Não é um parque ou reserva, mas é muito distante, por este motivo fica mais preservada”, avalia o biólogo que integra o Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFSC e já orientou diversos trabalhos de graduação e pós-graduação sobre as comunidades de peixes no litoral catarinense. No caso das ilhas de Santa Catarina, com estudos realizados pela equipe de Floeter desde 2006 e que incluem ambientes da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo, os dados não são bons. “Mas a biomassa dentro da Reserva é ainda assim bem melhor do que fora dela”, ressalta o pesquisador, otimista com o trabalho proporcionado pela pesquisa em rede, que integra estudiosos de oito universidades brasileiras (UFSC, UFRGS, USP, UFF, UFRJ, UFES, UFC e UFRPE), envolve 15 programas de pós-graduação, 15 Pesquisadores de Produtividade do CNPq e jovens pesquisadores. Ana Luísa Funchal Bolsista de Jornalismo na Agecom Uma pesquisa anual divulgada pelo Ministério da Saúde indica que o Brasil mantém uma tendência ao aumento do excesso de peso e obesidade entre adultos. A preocupação envolve também crianças, pois cerca de um terço entre cinco e nove anos estão com excesso de peso e 14% estão obesas, segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2010 do IBGE. Um projeto do Departamento de Nutrição da UFSC vai ajudar a monitorar o problema entre estudantes de sete a dez anos. Com recursos do Fundo Nacional de Saúde, ligado ao Ministério da Saúde, está sendo desenvolvido um sistema de vigilância online para acompanhar o consumo alimentar e a atividade física nesta faixa etária. O projeto coordenado pela professora Maria Alice Altenburg de Assis é pioneiro no Brasil. “Outros programas de monitoramento já existem junto ao Ministério da Saúde, como um para estudo de comportamentos de risco em adultos (Vigitel), que abrange o consumo de álcool e tabaco, e a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), que monitora comportamentos de risco em sobre vendas de alimentos e oferta de adolescentes matriculados no nono ano merenda. do ensino fundamental. Mas o sistema Para a validação do sistema, a que estamos desenvolvendo é o único expectativa da equipe é de que entre que estudará o consumo alimentar e as outubro e novembro deste ano os aluatividades físicas nos da Escola Luiz entre o segundo Cândido da Luz, e o quinto ano no bairro Vargem do ensino funGrande, em Floriadamental, prinnópolis, respondam Finalizada a etapa cipalmente em online perguntas relação à obesisobre o que comede validação, dade”, explica o ram durante o dia, o sistema será doutorando Fiquais atividades testado em 35 lipe Ferreira da realizaram e qual Costa, que partio grau de satisfaescolas públicas de cipa do trabalho. ção do alimento Florianópolis que A proposta ingerido. Finalizada atendem cerca de é coletar dados a etapa de valianualmente no dação, o sistema 6.300 crianças meio digital. Os será testado em 35 resultados podeescolas públicas de rão ser acessaFlorianópolis que dos por escolas atendem cerca de ou municípios, como um suporte ao 6.300 crianças na faixa etária abordada. Programa Nacional de Alimentação “Nosso objetivo é testar o sistema de Escolar (PNAE) e a outras iniciativas monitoramento apostando em alcançar que busquem a promoção de atividade uma abrangência maior no futuro”, física e alimentação saudável. O sistema complementa Filipe, sobre a possibilitambém poderá colaborar com o acom- dade de o sistema ser integrado a todas panhamento da eficiência da legislação as escolas públicas do país (A.R). Os frutos da bromélia nativa da Mata Atlântica combatem doenças respiratórias Foto: Flora SBS Arley Reis Jornalista na Agecom suporte científico dos peixes antidade e tamanho timativas sobre qu es m co s, lho rgu me pesquisadores em o registradas pelos As informações sã UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 8 Os dados serão coletados anualmente, e os resultados poderão ser acessados por escolas ou municípios Aproveitamento sustentável do caraguatá Estratégias para Ao longo de três anos, devem ser aplicados quase R$3 milhões em pesquisas que vão gerar suporte científico para estratégias de conservação da biodiversidade marinha nacional e conhecimento sobre o potencial farmacológico dos biomas marinhos. Nos dias 26 e 27 de março, pesquisadores da Rede se reuniram em Vitória (ES), para integração e compartilhamento dos estudos. De acordo com Floeter, a equipe já processa também resultados promissores sobre espécies marinhas que podem contribuir com o desenvolvimento futuro de fármacos, mas que levarão ainda algum tempo para serem divulgados. Foto: Brenda Thomé “A espécie mostra potencial econômico e seu uso pode ser estimulado com a utilização em programas de diversificação ou de incremento de renda para comunidades rurais e semi-urbanas” - Samantha Filippon “Seus frutos são ingeridos tanto in natura como em preparados, como remédio contra a tosse, com ação expectorante nas infecções respiratórias, recomendados para o tratamento de asma e de bronquite. Os mesmos frutos são considerados antihelmínticos, sendo que seu sumo tem ainda efeito sobre tecidos decompostos, deixando feridas completamente limpas”. A descrição do potencial da Bromelia antiacantha, publicada pelo padre pesquisador Raulino Reitz no fascículo da Flora Ilustrada Catarinense Bromeliáceas e a malária - bromélia endêmica permanece como estímulo a novos estudos. Um deles é a tese Uso e manejo de Caraguatá (Bromelia antiacantha) no Planalto Norte Catarinense: está em curso um processo de domesticação?, em desenvolvimento junto ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais da UFSC. O trabalho da bióloga Samantha Filippon com a bromélia nativa da Mata Atlântica é uma continuidade dos estudos iniciados em seu mestrado, orientado no mesmo programa pelo professor Maurício Sedrez dos Reis (e agora com coorientação do professor Nivaldo Peroni). A pesquisa é realizada em áreas da Floresta Nacional de Três Barras, UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 9 administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A floresta é localizada no planalto norte de Santa Catarina, entre os municípios de Três Barras e Canoinhas. O trabalho envolve a comunidade de Campininha, que participa da “Rede para geração do conhecimento na conservação e utilização sustentável dos recursos florestais não madeiráveis da Floresta Ombrófila Mista”, financiada e coordenada pela Embrapa. A meta é esclarecer aspectos sobre o manejo do caraguatá nas paisagens com maior interferência humana, principalmente na confecção das cercas vivas. O projeto vai buscar informações sobre a seleção das plantas, de onde vêm as mudas, quem faz as cercas e por que – pois ainda que não sejam mais utilizados os antigos mangueirões, ainda são feitas cercas com a bromélia. “Essa espécie mostra potencial econômico e seu uso pode ser estimulado com a utilização em programas de diversificação ou de incremento de renda para comunidades rurais e semi-urbanas”, considera a bióloga. “Mas são necessários mais estudos para avaliação do impacto da extração sobre a diversidade genética e a regeneração natural, assim como sobre sua disponibilidade para a fauna, o que pode auxiliar o estabelecimento de estratégias sustentáveis de manejo”, complementa. UFSC inaugura o maior museu arqueológico do Sul do País A edificação tem três grandes salas de exposição com controle de temperatura e umidade, acessibilidade, terraço, laboratório, café, salas para atividades educativas e conferências Fotos: Cláudia Reis Raquel Wandelli Jornalista da SeCArte O Museu Universitário da UFSC é hoje uma das maiores estruturas museológicas do país em tamanho e excelência Duas gerações de antropólogos e museólogos se encontraram na noite de terça, 24 de abril, para celebrar a evolução do Museu Universitário em cinco décadas de história. A instituição que começou a funcionar em uma estrebaria adaptada, na antiga Fazenda Assis Brasil, onde a UFSC se instalou na década de 60, passa agora a ostentar uma das maiores estruturas museológicas do país em tamanho e excelência. O encontro ocorreu durante a reabertura do Museu Arqueológico e Etnográfico Oswaldo Rodrigues Cabral e inauguração do Pavilhão Expositivo Sílvio Coelho dos Santos, que agora poderá expor coleções arqueológicas e indígenas de valor cultural inestimável, além da obra de Franklin Cascaes, que não podiam ser exibidas por falta de espaço adequado de conservação. A primeira exposição, denominada “Ticuna em dois tempos”, uma herança de Sílvio Coelho, abriu no dia 9 de maio (veja box). Com a inauguração do pavilhão, o museu reabre suas portas após uma década em que se manteve fechado ao público, concentrando-se apenas no trabalho de pesquisa. Ao abrir a cerimônia, o reitor Alvaro Prata disse estar entregando à comunidade de Santa Catarina um prédio construído inteiramente com recursos próprios (R$ 5 milhões) dentro do que há de excelência em matéria de museu e acessibilidade. Prata acrescentou que a universidade precisará do apoio das instituições de fomento cultural e da comunidade catarinense para equipar e mobiliar a obra, com um total de 2.400 metros quadrados, seguindo o seu padrão internacional. A então secretária de Cultura e Arte, Maria de Lourdes Borges, afirmou que o museu será uma referência na América Latina, pela importância do seu acervo que agora poderá ser conhecido. Cerca de 300 pessoas, entre estudantes, professores, pró-reitores, diretores de centro, ex-reitores, jornalistas, parlamentares, dirigentes de instituições culturais do estado participaram da primeira visita ao Pavilhão, composto por cinco andares com elevadores, sendo dois mezaninos, três grandes espaços expositivos e um terraço para exposição de grandes objetos e apresentações artísticas, além de salas para atividades culturais e educativas, laboratórios de restauração, café e sala de estar. O grande homenageado da noite foi o antropólogo Sílvio Coelho dos Santos, ex-pró-reitor de Ensino e de Pesquisa e Pós Graduação da UFSC, e um dos fundadores do museu ao lado de Oswaldo Rodrigues Cabral, Walter Piazza e Anamaria Beck. Representado pela esposa, Alair Santos, o filho Paulo e a neta Júlia, bióloga, Silvio Coelho deixou antes de morrer, em 2008, coleções de objetos das etnias indígenas de Santa Catarina de grande importância histórica e cultural e também dos índios Ticuna, de Manaus. Diretoras de três períodos diferentes do museu participaram da solenidade: Anamaria Beck, Neusa Bloemer e Teresa Fossari, a atual dirigente. Uma das fundadoras do antigo Instituto de Antropologia, que deu origem ao museu, Anamaria Beck fez um relato sobre os desafios que ela e Sílvio Coelho dos Santos enfrentaram para criar a instituição e fomentar os acervos e confessou: “Pensei que não fosse suportar a emoção quando vi o seu nome na entrada do pavilhão”. Revolução na concepção e filosofia de atuação Com três grandes salas de exposições totalizando 1.900 metros quadrados, todas apresentando condições ideais de climatização, iluminação, controle de umidade e um eficiente sistema de segurança monitorado, a nova construção vai dar vazão ao trabalho de pesquisa que o museu manteve durante todas essas décadas. “Nossas coleções são peças-chave para compreender a formação do povo catarinense”, salientou Teresa Fossari. A diretora disse também que o prédio possibilitou a mudança de estatuto e nome do Museu Universitário para Museu de Arqueologia e Etnologia Professor Oswaldo Rodrigues Cabral (MArquE). “Agora temos um padrão de conservação apto Ticuna em dois tempos: homenagem ao amor e ao conhecimento Foto: Wagner Behr Acervo foi reunido no final dos anos 60 em plena selva amazônica para receber qualquer acervo do mundo em circulação pelo país”, lembrou Fossari, que agradeceu o empenho de toda a equipe. Até mesmo a manifestação de uma turma de estudantes de Geologia, que aproveitou a inauguração para protestar contra a falta de professores, entrou no espírito de congraçamento em torno da conquista. Garantindo que a reitoria está envidando todos os esforços para que o Congresso Nacional aprove a contratação de mais professores, o reitor considerou justa e procedente a manifestação dos alunos, que espontaneamente recolheram as faixas e cartazes e participaram em harmonia do evento e da visita ao novo museu. Desde a vivência com os Ticuna (Túkuna, na grafia original) até o dia de sua morte, em outubro de 2008, de câncer, Sílvio Coelho dos Santos dedicaria sua inteligência e energia física à compreensão do modo de ser índio. No dia 9 de maio o MArquE apresentou pela primeira vez ao público a coleção com 53 objetos recolhidos entre os Ticuna e os registros de campo, compostos por 135 diapositivos (slides) e dois diários produzidos pelo antropólogo catarinense no coração da selva amazônica. Desde que retornou da expedição, no final dos anos 60, esse legado esteve depositado na Reserva Técnica da antiga sede do Museu Universitário, do qual ele foi um dos fundadores, aguardando as condições de climatização e conservação que um acervo dessa natureza e importância exige para ser exposto. A exposição “Ticuna em dois tempos”, que fica aberta ao público até 25 de outubro, traz à tona essa história de Padrão para qualquer acervo do mundo amor ao conhecimento e homenagem a mais numerosa nação indígena da Amazônia brasileira e também do país. Cruza dois olhares de duas épocas distintas em duas coleções produzidas com critérios e objetivos diferentes sobre a mesma etnia. De um lado, o olhar do historiador e antropólogo catarinense representado no material coletado durante a sua participação no Curso de Especialização em Antropologia no Museu Nacional (da antiga Universidade do Brasil), no Rio de Janeiro, na década de 1960. Integram o conjunto de Sílvio Coelho adornos pessoais, cerâmicas, cestos e utensílios domésticos, bonecas esculpidas em madeira, estatuetas em madeira de macaco prego, esculturas antropozoomorfas, mantas, remos, indumentárias completas, brinquedos infantis, um tambor e principalmente bastões cerimoniais, máscaras e outros objetos ritualísticos utilizados na Festa da Moça Nova, além de slides de figuras UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 10 humanas e paisagens. De outro lado, está o olhar estético do artista plástico Jair Jacmont, que formou sua coleção na década de 1970, adquirindo os objetos dos próprios índios, na cidade de Manaus. São mais 135 peças, entre esculturas antropomorfas e bastões de ritmo usados para danças e rituais, além de uma considerável quantidade de máscaras esculpidas em madeira. Sob a guarda do Museu Amazônico da Universidade Federal da Amazônia desde 1994, essa coleção veio para Florianópolis como parte de uma parceria com a Rede de Museus do Instituto Brasil Plural (IBP). Explica a diretora do MArquE Teresa Fossari que a exposição conjunta é um projeto alimentado há longa data pelas duas instituições de extremos opostos do Brasil, com o objetivo de promover o diálogo entre esses dois reveladores olhares para a mesma cultura (R.W.). Foto: Dayane Ros Ombudsman A saúde da instituição Vou subverter a ordem e começar a análise da edição n° 425 de trás pra frente, do mesmo jeito que se deveria sempre viver a história do mundo, olhando para trás para recolher as histórias do passado. O que passou é tesouro bruto a ser refinado. Dando-lhe o devido valor é possível detectar certos cacos antigos que insistem no presente. E percebê-los e recolhê-los nos livra de cortar os pés andando pela rua no futuro. E também, na verdade, sempre li o jornal de trás pra frente. Cultura de família do Sul... Boa matéria da contracapa, e melhor ainda é o fato em si. Alunos de Farmacologia fazendo intervenções poéticas nos frios banheiros e corredores da sua Faculdade. Tomar tal atitude é levar quem lê à sinergia, é dar cores a pensamentos cansados do cotidiano, é transformar mentes estressadas em almas inquietas pela surpresa da arte. É aplicar em quem passa, e em si mesmo, o conhecimento adquirido, com a emoção de compartilhar a ânsia da própria alma, e o gosto de ser e viver a universidade. A foto da matéria ilustra bem isso: ambiente insípido onde até o mais tímido sorriso é colorido. São 52 anos de uma Universidade que pulsa! Idosos na academia se gabando da idade mínima de 80 anos, a Instituição exibindo com orgulho autores de obras catarinenses singulares. Produção de cultura, produção de conhecimento, assistência e legitimação de comunidades distantes. São transformações realizadas com a única base possível para uma real mudança de vida e na vida: o conhecimento. É certo que esta é a missão da Universidade: produzir conhecimento, assim como divulgá-lo. Veículos como o JU são fundamentais nas duas proposições. Quem escreve divulga e abre o saber a novas descobertas: a descoberta do outro que lê e também a própria. Inestimável o papel do JU e dos que estão aqui para divulgar e defender os seus: perscrutar a esfera pública da vida acadêmica. Todos os que trafegam nessa esfera merecem ser ouvidos, a própria Instituição, os servidores, os colaboradores, os alunos, a comunidade que nutre e é nutrida por ela. A matéria sobre a duplicação da rua Edu Vieira deixa isso muito claro. Como pode um governo fazer exatamente a mesma proposta indecente de anos atrás que já tinha sido recusada por motivos óbvios de ineficiência? Brava UFSC, que exige participação em todo o processo de rearranjo urbano na região. Ninguém mais qualificado e com interesses reais de melhoria do espaço do que a própria Instituição, que tem as comunidades todas, exceto a política, ao seu lado. O JU e sua equipe refletem isso: aqui não estão a fazer política e nem acordos financeiros, aqui estão pelo bem maior: o interesse pelo público, a dedicação ao próximo (que mesmo distante lhe é próximo), o debate, o empenho em estimular o aprendizado e o ensino. Sábia frase da coluna de Moacir Loth: a comunicação cuida da saúde da instituição! A fase na comunidade acadêmica é de mudança de diretrizes, enquanto a Instituição, com seus alunos e docentes, segue a transitar pelas premiações e importantes colocações na pesquisa científica. São 52 anos de pesquisa, de formação de cidadãos, são 52 anos de sonhos e de lutas por uma sociedade melhor. São homens e mulheres de pulso firme e punhos cerrados peleando por educação, saúde, comunicação, cultura e dignidade. Universidade é lugar de experiência e liberdade. Os textos podem se soltar mais e criar novas gramáticas, pois alguns parecem obedecer as restrições de linguagem da grande mídia, que não precisam nem devem constranger os bravos profissionais da UFSC. Mas caminhando no exercício dessa liberdade, o JU revela os cacos da história cotidiana, informa, ensina e encanta! Julia Gazzola Jornalista Transparência também no site Além de estar sendo distribuído pelo campus, também se encontra disponível na página da Agecom o Relatório 4 anos de Gestão (2008-2012). O documento resume as ações da gestão Prata-Paraná, e soma-se aos outros três já publicados a cada ano da Administração da Universidade do Século XXI. Os relatórios podem ser acessados em agecom.ufsc. br/relatorios-de-gestao. Imagem Era para ser apenas uma jornada de atividades em homenagem ao Dia Internacional da Dança. Mas a força dessa arte acabou tomando as praças, teatros e palcos ao ar livre do campus universitário de domingo a domingo, em horas de chuva e de sol. Foram oito dias de workshop, cursos, conferências, oficinas, performances e mostras que atraíram um público aproximado de mil pessoas durante a I Semana da Dança na UFSC, realizada no fim de abril. Certamente, como falou o bailarino e coreógrafo internacional Martin Kravitz em sua participação no evento, “o mundo seria melhor se mais pessoas dançassem”. Caminhada profissional A jornalista Elaine Tavares lançou no dia 10 de abril, na pizzaria San Francesco, em Florianópolis, o livro Em busca da utopia – Os caminhos da reportagem no Brasil dos anos 50 aos anos 90. Funcionária da Agecom/UFSC, ela analisa textos de revistas que fizeram história no país, como Cruzeiro e Realidade, e outras mais contemporâneas, casos de Veja e Época, para “desvelar sob quais influências veio se construindo o pensamento teórico acerca do jornalismo e da reportagem no Brasil”. Num segundo momento, investiga nessa trajetória as marcas da utopia, a partir de reflexões sobre a própria caminhada profissional, iniciada na década de 70. O mar não cabe nas palavras O poeta Alcides Buss, ex-diretor da Editora da UFSC, lançou o livro Janela para o Mar. Os poemas foram escritos ao longo dos últimos 15 anos e são uma celebração ao mar. A publicação é dividida em capítulos: O “Mar de Dentro”, subjetivo, o “Mar de Fora”, a imagem da praia, o ruído, o “Mar de Amar”, do amor. O livro ainda contém os blocos “Língua do Mar”, “Música do Mar, “Foriamar: ficções”, “Mar Inúmero”. Criado em pequenas cidades do interior de Santa Catarina e do Paraná, Alcides somente foi conhecer o mar aos 18 anos. Ficou tão impressionado, que exclamou: “Nossa, o mar é tão grande que não cabe nas palavras!” Vivendo há bastante tempo na Ilha de Santa Catarina e cercado de mar por todos os lados, mergulhou em sua diária presença, nunca igual à da véspera. Daí tirou lições e entregou-se às imagens subjetivas de sua grandeza. O livro vem apresentado e recomendado pelo poeta e tradutor, membro da Academia Brasileira de Letras, Ivan Junqueira: “Buss é, acima de tudo, um lírico, mas um lírico que não se esgota no lirismo estrito e autocompla- UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 11 cente do subjetivismo pessoal. Há nele, além de uma adesão autêntica e orgânica ao tema que elegeu, uma viva preocupação por aquilo que entendemos como o mistério da existência, esse mistério de que o mar, com suas profundezas abissais, é mensageiro privilegiado.” Professor universitário, durante dezessete anos Alcides Buss dirigiu a Editora da Universidade Federal de Santa Catarina, substituindo o romancista Salim Miguel. Além das traduções e edições acadêmicas, manteve sempre viva uma coleção destinada a novos escritores. Garantiu ainda a edição de uma revista para estímulo e iniciação literária dos estudantes, a Poité. Após duas dezenas de títulos, entre eles dois infantis sempre reeditados (A poesia do ABC e Pomar de palavras), e inúmeros prêmios, Alcides Buss oferece aos leitores agora esse Janela para o mar (Caminho de Dentro Edições, 128p, R$ 20). Livro temático, explora o mar enquanto entidade fabulosa e inesgotável: o mar de dentro, o mar de fora, o mar enquanto música, o mar inúmero como o de Cacaso: “Mar de mineiro / é Minas”. Chuva e lágrimas embalam gerações Brenda Thomé Bolsista de Jornalismo na Agecom Foi só ele aparecer no palco que começou a chover, e não parou mais. Sir Paul McCartney começou seu show no dia 25 de abril com a esperada pontualidade britânica, às 21h30. Os primeiros acordes de Magical Mistery Tour levaram à loucura as 30 mil pessoas que esperavam ansiosas para ver um pedacinho do que restou dos Beatles no estádio da Ressacada, em Florianópolis. E que espera! Teve gente aguardando na fila por dias, horas, viajando muitos quilômetros e acampando por uma chance de ver o ídolo mais de perto. Para passar o tempo valia tudo: escrever um cartaz para chamar a atenção do cantor, tocar violão e até ler um livro no meio da multidão barulhenta. Mas para aqueles que, como eu, decidiram ir mais tarde, o trânsito estava uma maravilha: era só pegar um ônibus no centro para chegar rapidamente ao sul da ilha. Considerado o 11º melhor cantor de todos os tempos e uma das pessoas mais influentes na história do rock, o veterano McCartney, do alto dos seus 70 anos, apresentou um show enérgico e longo, recheado de canções dos Beatles compostas por ele, músicas românticas da carreira solo e muitas homenagens. Os clássicos como Hey Jude, Yesterday e Let it Be foram os momentos catárticos do show, assim como as homenagens que fez para sua esposa Nancy Shevell, a ex-esposa Linda McCartney e os amigos e ex-companheiros de Beatles, John Lennon e George Harrison. O público composto por várias gerações emocionou-se tanto nas quase três horas de show, que ao final já não sabia se estava mais molhado pela chuva ou pelas próprias lágrimas. Uma menina nas costas do pai fazia um coração com a mão e jogava beijos para Paul. Marcelo, um rapaz com deficiência visual, veio de Curitiba só para estar no show. “Foi tão lindo que até chorei!”, disse ele agarrado ao braço de um homem que o ajudava a voltar para a rodoviária. Senhoras realizavam um sonho da adolescência. Entre elas estava Iraci Trentini, servidora aposentada da UFSC, que foi ao estádio com duas amigas. Para ela, foi uma chance de ver um pouquinho dos Beatles, conhecer um ídolo, relembrar a sua juventude e as músicas dos anos 60. Sua sobrinha de 15 anos também estava lá para conferir o show. Afinal, como disse Iraci, “Boa música não tem idade e não dá para desperdiçar a chance de ver ao vivo clássicos como esses dos Beatles na voz de um deles.” Na saída, encharcado e com frio, o público esperou até três horas na fila para pegar ônibus e voltar para casa. Foi um caos de transportes lotados, muitos turistas sem saber para onde ir, desrespeito aos cadeirantes e pouca gente para orientar os caminhos. Nada resume melhor o resultado da noite do que a fala de um turista de Lages, que estava em um ônibus com a família:“Paul mostrou tanto respeito por todos fazendo um show lindo desses e homenageando pessoas importantes para ele. Agora a organização nos trata como cachorros na saída. Só não pode deixar isso estragar a lembrança de uma festa tão bonita”. Público não quis perder a chance de assistir aos clássicos dos Beatles na voz de um deles Fotos: Brenda Thomé A beleza do show de Paul McCartney acabou maculada com o caos produzido pela “organização” na saída *Brenda foi credenciada do JU no show. UFSC - Jornal Universitário - Nº 426 - Maio de 2012 - PÁG 12