South of the Border
Transcrição
South of the Border
22 a 28 de Outubro de 2009 Colin Gordon O mundo pode aprender com a América Latina", Tariq Ali, escritor de "South of the Border" Tariq Ali, juntamente com Oliver Stone no Festival de Veneza O autor do roteiro do documentário que trata do momento atual na América Latina conversou com o Brazilian News sobre o filme, claro, e inevitavelmente sobre sua visão política. “South of Border”, dirigido por Oliver Stone, foi bastante comentado por sua estréia no Festival de Veneza deste ano, já que contou com a participação do presidente venezuelano Hugo Chávez. Por: Colin Gordon Tradução: Marcelo Mortimer T ariq Ali é um historiador britânico-paquistanês, escritor, cineasta e ati- vista político. Conseguiu destaque na Grã-Bretanha quando liderou a manifestação maciça em Londres contra a guerra do Vietnã, em outubro de 1968. Participa da redação da revista política da entitulada “nova esquerda” New Left Review e é autor de mais de uma dúzia de livros, incluindo "Piratas do Caribe" e "O Eixo da Esperan- ça" (2006), um trabalho que lida com a expansão da revolução bolivariana na Venezuela. Ele também escreveu o roteiro do mais recente documentário de Oliver Stone, South of the Border, que lida com as mudanças radicais que estão ocorrendo na região. Nesta entrevista para o Brazilian News, ele ressaltou que os Estados Unidos "não devem ser subestimados", já que eles "não desistiram da América Latina". A primeira exibição de "South of the Border" foi realizada no Festival de Cinema de Veneza, em 7 de setembro de 2009. O presidente venezuelano, Hugo Chávez assistiu à estréia, e de acordo com a CBS News, teve uma recepção de “astro de cinema”. O presidente disse à multidão de repórteres que Oliver Stone conseguiu "capturar com suas câmeras e seu gênio o renascimento da América Latina". Certamente, o diretor fez um grande trabalho, já que não somente entrevistou a Chávez, mas também os presidentes do Brasil, Bolívia, Argentina, Paraguai, Equador e Cuba. "Eles todos parecem dizer a mesma coisa. Eles querem controlar a sua própria riqueza, fortalecer os laços regionais, querem ser tratados como iguais com os E.U. e ser financeiramente independentes do Fundo Monetário Internacional (FMI)”, Stone argumentou. O filme já foi descrito pela revista Time como "uma visão idealizada de Chávez, que ignora a sua violação dos direitos humanos e a repressão contra os seus adversários." Oliver Stone foi ferido duas vezes no Vietnã e condecorado com a Estrela de Bronze por bravura. Essa experiência influenciou profundamente sua carreira no cinema. Ele ganhou quatro Oscars, um para "Nascido em 4 de julho", dois para "Platoon" e um para o roteiro de "Midnight Express". Apesar destes antecedentes admiráveis, ele está bem ciente da enorme quantidade de obstáculos que encontrará para distribuir o documentário nos E.U.. "A maioria Ele escreveu inúmeros livros sobre o imperialismo e faz palestras pelo mundo. Colin Gordon 22 a 28 de Outubro de 2009 O presidente Hugo Chávez no Festival de Veneza dos filmes que tratam com honestidade os problemas da América Central ou do Sul encontram esse bloqueio”, disse recentemente à agência de notícias Reuters. Tariq Ali admitiu ao Brazilian News que "South of the Border" poderia enfrentar um problema semelhante no Reino Unido. A 53ª. Edição do Festival de Londres de Cinema, o BFI London Film Festival, que está acontecendo até o dia 29 de outubro ia contar com a participação do filme, mas as negociações não tiveram sucesso. Por isso, Tariq afirma que a exibição acontecerá, mesmo que de outra maneira: "Vamos organizar um especial de lançamento no Salão Bolívar ou noutro local conhecido pela comunidade latinoamericana”. Salientou ainda que, embora o público da América Latina seja fundamental, "o que está acontecendo na Venezuela é de grande interesse para os países árabes, a China e outras partes da Ásia” e assegura que o filme será visto em todo o mundo: "Não é apenas sobre Chávez. Há mudanças fundamentais que ocorrem na América Latina, e a Europa e o resto do mundo podem aprender com isso". Tariq admite que existem diferentes pontos de vista, que alguns irão concordar e outros não. "Na Venezuela, por exemplo, não há meio termo. E isto está se generalizando na região". Mas explica que nos principais jornais do México, "Chávez tem uma cobertura muito hostil. Quem sabe o impacto que o filme terá?", conclui o escritor e autor. Tariq Ali se envolveu com o documentário de Oliver Stone, quando este entrou em contato com ele depois de ler "Piratas do Caribe". Sua primeira visita à América do Sul foi em 1967, quando participou do julgamento na Bolívia, de Regis Debray, o intelectual francês que foi condenado por ser parte do grupo de guerrilha de Che Guevara e foi liberado em 1970 sob a pressão de figuras internacionais como o presidente De Gaulle, o Papa Paulo VI e o filósofo JeanPaul Sartre. Tariq Ali voltou com freqüência ao território latino-americano nos últimos dez anos e tem visto "como eles desenvolveram grandes movimentos sociais". As oligarquias, quando questionadas, "respondem com a repressão", explica, "mas então emergem novas forças políticas para fazer frente". Ele considera que, no mundo de hoje, não importa se um presidente é democraticamente eleito, porque para a ordem hegemônica ocidental, "se ele leva a cabo um programa radical, eles o consideram como se fosse um ditador, pois, existe apenas uma única re- gra econômica e política realmente aprovada, autorizada e elogiada". O desempenho do novo presidente dos E.U., na sua opinião, tem sido "fraco". O U. S. State Department (sob o comando de Hillary Clinton) prevaleceu em Honduras e a Casa Branca não pode fazer nada sobre isso. "O que Obama não entende é que a forma de lutar não é proferir discursos insípidos na televisão e mostrar que é bom conciliador. Você tem que mobilizar seus seguidores para as ruas". Também acredita que o ex-presidente George Bush (pai) adotou uma postura mais dura em relação a Israel do que Obama tem mostrado até agora. Tariq também acredita que a distinção dos EUA entre o esquerdista "bom" (Lula da Silva) e "ruim" (Hugo Chávez) está "desaparecendo". Lula molestou as multinacionais ao anunciar que 50% da propriedade e dos lucros das reservas de petróleo descobertas no Brasil vão para os estados para investir em saúde e educação. Assim, Lula logo será classificado como "não tão bonzinho de esquerda". Em conclusão, o escritor deixou uma pérola brilhante em sua entrevista ao Brazilian News: "Aqueles que pensavam que com a queda da União Soviética o império americano deixaria de existir, tiveram um choque. Há agora mais bases militares americanas em diferentes partes do mundo (por exemplo, Colômbia), que durante a Guerra Fria. Infelizmente, a América é ainda é a potência dominante, tanto militarmente e ideologicamente”.