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C8 Caderno 2 %HermesFileInfo:C-8:20131009: O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 9 DE OUTUBRO DE 2013 ROBERTO DAMATTA SEGUNDA-FEIRA LÚCIA GUIMARÃES A ida e a volta E les toparam um com o outro num congresso mundial em Viena. A Viena das valsas onde, ao contrário do que os seus amigos previram, não ouviram uma só música, pois passaram horas discutindo diferenças e semelhanças entre sociedades e culturas porque estavam num encontro de antropólogos profissionais e, naquela época, o figurino era o estudo da organização sociopolítica daqueles sistemas marginais, conhecidos somente por quem os descrevia e analisava. Entre uma sala e outra de um palácio onde se improvisaram auditórios, eles se encontraram e, como haviam estudado seus respectivos trabalhos, juntaram o interesse intelectual com o pessoal. A tal ponto que a competição, a inveja de alguma frase ou argumento brilhante contra o outro, foi superada TERÇA-FEIRA ARNALDO JABOR QUARTA-FEIRA ROBERTO DAMATTA com o qual as teses eram apresentadas e defendidas. Mas as teses inexoravelmente inimigas arrefeciam quando, no final das sessões, os guerreiros se serviam de um delicioso vinho branco alemão em taças de cristal ao lado de canapés orientais. Ao término das discussões, os mes- pelo que chamamos de “simpatia”. Essa ponte inesperada que, num mundo de indivíduos concebidos como discretos e autônomos, faz com que haja iluminações relacionais entre subjetividades. O gosto do encontro os fez passar ao largo de suas divergências teóricas. Pois um defendia que o “Homem” tinha uma natureza imutável e o outro se filiava de corpo, alma e coração à tese oposta: a “Humanidade” não tinha nenhuma natureza, instinto ou rumo e, por isso precisava de livros de mitos e de receituários legais e religiosos que se mostravam como costumes, crenças e rituais, mas que, lidas de dentro, faziam parte das possibilidades que permeiam modos de ser neste mundo. Esse debate foi o ponto alto (ou baixo...) do Congresso. Ele lembrava um Fla-Flu pelo entusiasmo radical As teses inimigas arrefeciam quando, no final, os guerreiros se serviam de vinho branco tres inimigos surgiam sorridentes e, como generais em trégua, promoviam a paz entre seus combatentes menores, cujas feridas cicatrizavam por meio daquela simpatia cordial e amorosa que despe as pessoas de suas convicções, fazendo com que elas sejam novamente razoáveis, inseguras, abertas e dispostas a serem QUINTA-FEIRA LUIS FERNANDO VERISSIMO SEXTA-FEIRA IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO MILTON HATOUM pontes em vez de trincheiras. Agora, eles bebiam juntos com duas colegas.Um acusavao outrode “essencialista” e “radical”, mas o vinho os fazia sorrir em vez de rosnar. As colegas se aproximaram para felicitá-los pelo brilho de suas falas. A francesa resolvia o dilema propondo uma fórmula; a outra moça que, se não me falha a memória, era alemã, dizia que ali havia um caso de conflito irreconciliável. São posicionamentos incomensuráveis, disse num bom inglês revelando aos pesquisadores uma boca perfeita. Neste instante, eles estão na mesa de uma escura boate. Continuam bebendo e, na ausência das colegas que retocam o batom, o Professor Pedro Babalú diz ao amigo: eu estou muito inclinado a ficar com a francesa porque a alemã, tirando os lábios, é feinha... Certo, respondeu o Dr. Raimundo Matos, mas o problema é que eu também estou partindo para a gaulesa. Afinal, sou um levistraussiano nato evocê, não.Mas isso não te dá nenhum direito, respondeu Babalú, nervoso. Em seguida, pronunciou uma frase in- SÁBADO LAURA GREENHALGH MARCELO RUBENS PAIVA SÉRGIO AUGUSTO DOMINGO VERISSIMO JOÃO UBALDO RIBEIRO HUMBERTO WERNECK FÁBIO PORCHAT trigante: quem não foi, não volta – é preciso ir para poder voltar! **** Diante do espanto, o professor Babalúexplicaosentidodafraseenigmáticaparaoamigo.Noanopassado,diz, eu estive em Portugal numa bolsa de estudosquepermitetudo,inclusiveestudar. Era louco para conhecer o Porto e, estando em Coimbra, fui à estação de trem comprar uma passagem. – O que deseja? – Uma passagem de ida e volta para o Porto. – Só podemos vender a ida! – E por que não ida e volta? – Porque, se o senhor não foi, como vai voltar? **** Passou o tempo e os dois se falam pelo telefone. Ambos sabem o valor desses encontros que constroem a vida. Lembra daquele congresso? — pergunta o sempre aflito dr. Matos. Sem dúvida, disse Babalú. No final, ninguémficou com ninguém. Claro, arremata o Prof. Babalú numa rara gargalhada: quem não foi, não volta! Visuais Patrimônio MAC recebe quatro pinturas de Volpi Obras apreendidas pela Justiça e avaliadas em R$ 12 milhões foram depositadas em comodato na nova sede do museu Antonio Gonçalves Filho Quatro telas do pintor Alfredo Volpi(1896-1988)foramdepositadas em comodato na nova sededoMuseudeArteContemporânea (MAC-USP)no Ibirapuera por iniciativa do Instituto Alfredo Volpi de Arte Moderna, que faz a catalogação de sua obra e de outros quatro artistas falecidos(Aldo Bonadei,Ernesto de Fiori, Flávio de Carvalho e Yolanda Mohalyi). Apreendidas pela Justiça no ano passado, as obras estavam na casa do pintor, no bairro do Cambuci, hoje ocupada por sua neta, Mônica Volpi. Segundo Pedro Mastrobuono, advogado do Instituto Alfredo Volpi, as telas fazem parte da coleção privada do pintor, 47 obras que integram seu espólio, das quais 38 estão desaparecidas. Nove delas foram recuperadas e quatro são mantidas em mãos de colecionadores, considerados depositários fiéis. “Essesquadrosestavam guardadosnacasadeVolpi,semcondições de segurança ou proteção contra incêndio ou furto”, diz o advogado, justificando sua solicitação à Justiça de que asobrasfossemtransferidas para o museu, onde deverão permanecer em comodato por cinco anos. A decisão, segundo Mastrobuono, foi aprovada por consenso entre seus herdeiros eajuízaVivianWipfli,responsável pelo espólio de Volpi, que produziu mais de 3 mil obras. O Instituto Volpi catalogou 2.239obras suas,mas setemnotícia da existência de outras 800 ou até mil, avalia Mastro- buono, isso sem contar trabalhosempapeleazulejosdoartista. “As telas que estavam guardadas em sua casa pertencem a uma seleção feita pelo próprio pintor, ou seja, estão entre as melhores por ele produzidas”. A proposta inicial de comodato deixaria essas quatro telas apenas por um ano no MAC, mas, a pedido do museu, esse prazo foi dilatado para cinco anos, suficiente para que as pinturas possam ser vistas em futuras exposições. Uma delas está em curso no MAC com curadoria do pintor Paulo Pasta, reunindo 18 das 21 telas de Volpi pertencentes ao acervo do museu, a maioria doada pelo crítico, colecionador e psicanalista de origem turca Theon Spanudis (1915-1986). As quatro telas cedidas ao DIVULGAÇÃO Santo. Retrato de Dom Bosco já pode ser visto a partir de hoje MAC em comodato não pertencem a uma mesma série. Há um nu de Judite, que foi mulher de Volpi, um retrato do religioso Dom Bosco (1815-1888), sacerdote italiano canonizado em 1934, um retrato da chargista e ilustradoradeorigemalemãHildeWeber(1913-1994), queestudou cerâmica e trabalhou na Osirarte, desenhando azulejos ao lado de Volpi na fábrica de Rossi Osir (1890-1959), e uma tela abstrata ainda sem título. Duas telas estavam infestadas de cupins (o nu de Judite e a abstrata, que parece representar leques) e foram encaminhadaspara higienização. O retrato de Dom Bosco poderá ser visto a partir de hoje no museu. As quatro telas ficaram anos sob a guarda dde Maria Eugênia Volpi Pinto, uma das filhas do pintor e inventariante até 2010, quando foi destituída pela juíza Vivian Wipfli por irregularidades no espólio. Em dezembro do ano passado, a Justiça apreendeu nove telas, quatro com a ex-inventariante. Das obrasqueaindaestãodesaparecidas, o advogado Mastrobuono destaca três madonas e um São Bernardo, que ele classifica de “muito importantes”. Ministério da Cultura e Instituto Alfa de Cultura apresentam em PUZ/ZLE © Koen Broos Sidi Larbi Cherkaoui 25 a 27 de outubro Pela primeira vez no Brasil, o aclamado coreógrafo Sidi Larbi Cherkaoui em espetáculo surpreendente e intrigante. Confira a programação no site. Participações especiais do grupo vocal A Filetta, da Córsega, da cantora libanesa Fadia Tomb El-Hage e do músico japonês Kazunari Abe. R. Bento Branco de Andrade Filho, 722 – Santo Amaro Bilheteria: 11 5693.4000 e 0300 789 33 77 www.teatroalfa.com.br | /teatroalfa @teatroalfa Faça a escolha certa. Conheça o Balcão de Anúncios do Estadão no Bairro do Limão e anuncie! apoio: patrocínio: realização: Horário de atendimento: Segunda à quinta - 8h30 às 19h Sexta-feira - 8h30 às 20h Estacionamento no local