perto de si - Instituto Politécnico de Tomar

Transcrição

perto de si - Instituto Politécnico de Tomar
Migrações
www.esta.ipt.pt
s à volta do m
o
t
n
e
un
im
do
Fundição quer sair
do Rossio de Abrantes
Placas de cortiça têm
mercado no exterior
Mo
v
D i r e c to r a: H á l i a co s ta s a n to s
Suplemento de 8 páginas
N.º 14 . Ano 5 . sexta-Feira, 29 de junho de 2007
P4a7
Esforço para
diminuir incêndios
O Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios está em marcha no distrito de Santarém. Paulo Fonseca, Governador Civil, aposta na
sensibilização e evidencia os novos meios. Uma actuação concertada pode ser a chave para prevenir e resolver muitos dos problemas causados
P 10
pelos fogos. Abrantes e Sardoal adoptam programas de voluntariado jovem para evitar cenários vistos em anos anteriores.
joão alves
Tomar prepara-se para
a Festa dos Tabuleiros
P 17
Miúdos do 1.º ciclo
produzem animação
P 14 e 15
Paulo Sousa promove
hábitos de leitura
P 22
Praia em Abrantes
P 12
Lusitano: marcas de
um cavalo de sempre
P 13
•
•
•
•
•
Abrantes
Alferrarede
F. Zêzere
Leiria
Tomar
perto de si
| ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007
esta
J O R N A L
um cartoon
Vera Inácio
“O mar”, o filme
e os outros
Hália Costa Santos
editor ial
Abrantes está diferente e o ESTAJornal não podia deixar
passar em branco um grande passo que está a ser dado
nesta cidade: “o mar”. O açude insuflável é uma obra que
marca definitivamente a cidade, a região e até o país. Os
milhões que se gastaram são agora irrelevantes, porque é
destas iniciativas que as cidades do interior podem e devem
viver. Abrantes apareceu nos órgãos de comunicação social
nacionais pelos bons motivos. E isso tem um valor. Mas
valor maior terá a vida dos abrantinos e amigos, que podem
e devem usufruir de um novo espaço, com potencialidades
que dificilmente se encontram noutras cidades ribeirinhas.
Enquanto desenvolve as suas potencialidades naturais, a
região aposta também numa prevenção eficaz dos incêndios.
O Governador Civil da Santarém deu o seu contributo ao
ESTAJornal, explicando a forma como o distrito
está a operacionalizar um programa desenvolvido
a nível nacional. Prevenir será sempre o melhor
remédio e esta edição, com este trabalho, quer
deixar essa marca e esse sinal de alerta. Por mais
que se fale no assunto, parece que é sempre pouco.
Esta edição do ESTAJornal dá também destaque
a uma iniciativa que merece todo o carinho e
atenção. Com a organização dos Espalhafitas, um
grupo de alunos da Escola do 1º Ciclo do Rossio
ao Sul do Tejo produziu uma animação sobre uma
das tradições antigas da região: “O Mar da Palha”.
O resultado é também um exemplo daquilo que
se pode fazer, sem necessidade de grandes meios.
Haja uma ideia, espírito criativo e vontade de
trabalhar.
Mas o trabalho de fundo, o que mais representa um esforço
de equipa, foi aquele que se vê nas páginas de destaque. A
redacção do ESTAJornal quis assinalar os movimentos de
pessoas pelo mundo, numa altura em que Portugal dá os
primeiros passos na integração estruturada de estrangeiros.
Entre os preparativos da Festa dos Tabuleiros e as sempre
presentes actividades dos estudantes, esta edição traz
também um outro elemento de elevada qualidade: o
suplemento de Economia, produzido pelos alunos do
4º ano do curso de Comunicação Social, orientados por
Helena Garrido, docente de Jornalismo Económico.
O tecido empresarial da região foi visto com outros
olhos. Os candidatos a jornalistas descobriram estórias
verdadeiramente interessantes, para a comunidade e não só.
Tudo isto sem esquecer o desporto. Numa vertente, o
ESTAJornal destaca uma jovem que, em pouco mais de
um ano de contacto com um novo desporto, se sagrou
campeã nacional e regional de light contact. Numa
perspectiva educativa, é incontornável a prestação de Paulo
Sousa. Futebolista conceituado, veio a Abrantes usar a sua
notoriedade da melhor forma. Ou seja, cativando os miúdos
para a leitura. E o ESTAJornal esteve lá.
O E stajornal errou
- O artigo sobre o CRIA, pág. 12, paginado sem assinatura, é
da autoria de Ângela Filipe
- Por lapso os créditos da foto do artigo “Não se pode desistir” foram atribuídos a Rosa Patrício, quando deveriam ter
sido a Ângela Filipe (pág. 21)
- Esclarecimento Eco-Museu – ao contrário do anunciado
na pág. 21 a exposição “As Escolas do Souto“ não se realizou
em Maio de 2007, mas sim no ano anterior
E statuto
Editorial
•
O ESTA é um jornal de Escola, de pendor
assumidamente regional, mas que nem por isso
abdica da dimensão de um órgão de grande
informação ou da ambição de conquistar o
público para além do meio universitário.
•
O ESTA Jornal adopta como lema e norma
critérios de rigor, de absoluta independência
e de pluralismo dos pontos de vista a que dá
expressão.
•
O ESTA Jornal aposta, por isso, numa informação
plural e diversificada, procurando abordar os
mais diversos campos de actividade numa
atitude de criatividade e de abertura perante
a sociedade e o Mundo.
•
O ESTA Jornal considera como parte da sua
missão contribuir para a formação de uma
opinião pública informada, emancipada
e interveniente - condição fundamental da
democracia e de uma sociedade aberta e
tolerante.
•
A democracia participativa e entendida para
além da sua dimensão meramente institucional,
o pluralismo, a abertura e a tolerância são os
valores primaciais em que se alicerça a atitude
do ESTA Jornal perante o Mundo.
•
O ESTA Jornal considera-se responsável única
e exclusivamente perante a ambição e a
exigência dos seus redactores, alunos do Curso
de Comunicação Social da Escola Superior de
Tecnologia de Abrantes e perante o público a
que se dirige.
O ESTA Jornal está por isso plenamente disponível e
empenhado com os leitores, comprometendose a manter canais de comunicação abertos
com quantos connosco queriam partilhar as
suas ideias e inquietações.
Fundado a 13 de Janeiro de 2003
propriedade da escola superior de
tecnologia de abrantes
Morada: Rua 17 de agosto de 1808
2200-370 abrantes
telefone: 241361169
fax: 241361175
E-mail: [email protected]
esta
J O R N A L
direc tora: Hália Costa Santos
Direc tora-adjunta: Raquel botelho
redacç ão: Ana maragrida Batim, Ana
luísa nascimento, Ana rosa patrício,
Ana torres, Ângela Filipe, dayana
delgado, diana rocha, fátima vieira,
joão alves, joão oliveira, josé pinto,
nelson ferreira, Telma lento,Tiago
Lopes, Vânia Costa e Vera inácio
editores: nelson ferreira e josé pinto
secretárias de redacç ão: Ana rosa e
fátima vieira
Editor de fotografia: Tiago lopes
Colaboradores: Ana Maria Ribeiro, helena
garrido, liliano pucarinho, luize te
santos e miguel geraldes
revisão: Maria Romana
Departamento comercial: florbela Rocha
e ROSA MATOS
Projec to gráfico e paginaç ão: joão
pereira
impressão/gráfic a: gráfica do instituto
politécnico de tomar
tiragem: 5000 exemplares
29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | Opinião
O 25 de Abril à luz da Educação
O
Ana Margarida Batim
“
Saber é sempre
evoluir para
um futuro
melhor
despontar da liberdade ocorreu em
24 de Abril de 1974 e foi logo desde
os primeiros raios da madrugada
chamada de Revolução dos Cravos.
Com ela afirma-se uma Juventude
controversa, mas também arrojada ao ponto de
concretizar o impensável, o inconcebível.
Os acontecimentos sucediam-se vertiginosamente e, ainda mal saído da obscuridade de 48
anos de opressão, o povo veio para a rua e cantou,
gritou “Liberdade!” e colocou nos canhões e espingardas os cravos vermelhos, como o sangue
que lhe corria nas veias.
Desde a primeira hora, o povo colocou-se ao
lado dos Capitães de Abril e fez desse dia o marco
que haveria de mudar a História do meu país.
Foi uma atitude curiosa, pois ninguém esperava
que o povo se unisse tão repentina e organizadamente para lutar e derrubar o regime que tanto
os oprimira.
Quebraram-se as correntes! Dentro das prisões
de Caxias e Peniche foram libertados os presos
políticos, aqueles que no sofrimento moral e
físico construíram, dia após dia, hora após hora,
a liberdade tão ansiada e que já se começava a
vislumbrar. Liberdade essa que teve como pano
de fundo canções bastante expressivas como “Gaivota”, “Grândola, Vila Morena”.
Quebram-se as correntes, abrem-se algemas
neste País por tantos anos amordaçado, neste
País de marinheiros, poetas e cantores tantas
vezes calados. Os rostos cansados não estavam
mais cansados; neles sorriam lágrimas que agora
podiam sorrir sempre, porque eram realmente
livres.
No entanto, esta descrição viva, talvez mesmo
poética, do maior acontecimento do século XX no
meu País é muitas vezes esquecida, mal explicada.
Estaremos, de facto, a esquecer Abril?
Descrever Abril é muito mais do que palavras
elaboradas numa folha de papel. Tratava-se da
vida de um povo, da sua História, da sua Alma.
Constato, pelo meu percurso escolar, que pouco se fala deste acontecimento, que são muitos
os alunos que saem do Ensino Secundário e não
sabem concretamente o que foram estes momentos tão intensos, apesar de vividos à distância
de 33 anos. É sempre mais fácil explicar quem,
realmente, passou por todas aquelas mudanças,
por cada dia em que não havia nada para comer,
por cada dia em que um pão seria dividido por
uma família, por mais um dia em que, de pés
descalços, se percorria, mais uma vez, o caminho
para o laboro.
Penso que não se concluiu Abril, que não se
soube passar a mensagem às gerações seguintes.
Os próprios manuais escolares deveriam descrever detalhada e intensamente esses momentos
históricos, mas não o fazem. É uma vergonha
que os jovens não saibam qual é a sua História,
qual a História do seu País, País pelo qual tão
orgulhosamente erguem a bandeira quando há
um jogo de futebol da Selecção Nacional. É uma
vergonha que não haja interesse por parte dos
nossos representantes, tantos que viveram e lutaram para que fosse possível hoje vivermos em
liberdade, em passar essa mensagem, na minha
opinião, tão importante como saber o que Vasco
da Gama descobriu ou em que Guerras interveio
Portugal, um Portugal aclamado vitorioso e patriótico, mas que de patriótico não me parece que
tenha alguma coisa. Ninguém dá a verdade, o que
sabemos são apenas palpites. Tantas perguntas e
tanta coisa por explicar. Por mais repostas que
tenha, a dúvida é maior.
Porque só quando se festeja mais um ano de
liberdade se fala em como foi, se fazem documentários e se levam pessoas que viveram na primeira
pessoa tudo isto? Porque não revolucionar os
meios de comunicação social de hoje em prol
de um maior esclarecimento? Temos direito à
nossa História! Temos direito a querer aprender
na escola a descobrir-nos como portugueses!
Queremos saber, e saber é sempre evoluir para um
futuro melhor. Queremos percorrer os caminhos
já trilhados outrora de forma informada e séria,
sem excessos ou apatias!
Não se pode conceber o futuro de um país se
não se tiver conhecimento do passado, e o passado
é a nossa História, a alma do Povo Português.
Onde estás… coerência?
Associativismo juvenil
P
Q
rivar um pai ou uma mãe de ver
o seu filho crescer é, para mim,
um dos crimes mais hediondos
do planeta e cuja sanção deveria
estar para além daquilo que vem
nos livros. Várias crianças, cuja verdadeira
morada ninguém sabe, entram pelas nossas
casas e até começam a fazer parte das nossas
conversas no café, ao almoço e no autocarro.
Estes jovens, por algum motivo, saíram ou
foram retirados das suas vidas pacatas. As
suas cidades ficaram mais pobres, os seus
amigos mais tristes e os seus familiares mais
certos que as suas vidas nunca mais serão
as mesmas. Certos também que uma parte
muito importante de si vagueia pelo mundo
ou, quem sabe, já descansa para sempre.
O caso Madeleine McCann é, sem sombra
de dúvidas, o tema que assola a actualidade. A loirinha de olhos azuis fala a mesma
língua que Sua Majestade, tem quatro anos
e desapareceu há mais de um mês. Mais de
um mês passou e as forças para encontrar a
menina não cessam, nem por parte dos pais,
nem pelas autoridades portuguesas. Mesmo
assim, quer a polícia quer a imprensa têm
sido alvo de duras críticas.
O que poderá fazer a imprensa nestes casos?
Divulgá-los? Já o fez e, diga-se de passagem,
com muito mérito e empenho. Criar meios
para que os tesourinhos sejam encontrados?
Creio que não será possível oferecer mais
meios de busca. Comparar a actuação dos
meios de comunicação hoje com a sua actuação há anos atrás, em casos semelhantes?
Parece-me absurdo tentar fazer comparações.
Obviamente que a Polícia Judiciária e mesmo
a imprensa não têm os mesmos meios hoje
que tinham outrora, mas tenho a certeza que
tudo o que foi possível ser feito, foi: divulgação, investigação, busca, enfim.
Ângela Filipe
“
CS que dizer
Comunicação
Social...
Há um pormenor que a maioria das pessoas
descarta, mas eu explico. Quando se fala
em PJ fala-se em Polícia Judiciária e não
em “podem julgar”. Cada um exerce a sua
função na sociedade; os especialistas precisam de tempo. Outra coisinha, para os mais
distraídos, CS que dizer Comunicação Social
e não “comecem a sancionar” ou “crime
solucionado”. Eu percebo as confusões, é o
tempinho livre a mais, não é?
ual a real função de uma associação de estudantes?
Festas? Recepção aos Caloiros?
ou uma voz de revolta dos estudantes?
A história do associativismo em Portugal já data
de quase dois séculos, e mais e antiga e importante Associação é a Associação Académica de
Coimbra. Em 1836 surge o primeiro momento
relevante: os estudantes viram-se impossibilitados de representar uma peça no antigo teatro de
Santa Cruz, um dos poucos espaços existentes
em Coimbra para esse efeito.
Entre varias crises e lutas, os estudantes, após o
25 de Abril de 1974, tiveram uma voz preponderante na construção do Ensino Superior.. Mais
uma vez, a liderança deste movimento coube
à AAC, como mais prestigiada Associação de
Estudantes em Portugal.
A década de 90 ficou marcada na história do país
pelo despoletam da luta dos estudantes pela defesa da gratuitidade do Ensino Superior e contra
os sucessivos aumentos do valor das propinas.
A AAC foi das associações que sempre esteve à
frente deste combate dando voz e representatividade aos estudantes de todo o país. Quem não
se lembra da geração, intitulada “rasca”? Aquela
que lutou e parou Coimbra?
Mais recentemente, o dia 20 de Outubro de 2004
não mais será esquecido por todos os estudantes.
Este dia marcou um dos mais difíceis períodos
da luta estudantil contra uma Lei de Bases de
Financiamento do Ensino Superior que além de
aumentar brutalmente o valor das propinas, responsabilizou as instituições de Ensino Superior
pela fixação do valor máximo. Impedindo por
sua vez que milhares de jovens sejam afastados
da Universidade, única e exclusivamente, por
razões de carácter socio-económico.
A lei ignora que a Educação é um direito consagrado pela Carta dos direitos Humanos da
Ana Rosa Patrício
ONU e que a progressiva gratuitidade do ensino está inscrita na Constituição da República
Portuguesa.
E nós?
A Escola superior de Tecnologia de Abrantes, devemos compactuar com o aumento das
propinas, com a falta de condições, nas nossas
infra-estruturas, com todas as vertentes do processo de Bolonha? A Associação de Estudantes
da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes
tem assegurado o bem-estar dos Estudantes
nos seus sete anos de existência. É realmente
entristecedor que após tanto esforço para a
nossa independência face à Associação tomarense, à qual pertencemos institucionalmente,
fosse necessário chegar à emergência do fim da
AEESTA para que os alunos se interessassem a
lutar por todos nós.
As eleições foram feitas, ficaram os resultados
e uma nova direcção. Não posso deixar de manifestar o meu desagrado com alguns números:
num universo de 636 alunos, votaram na primeira volta somente 213.
Seremos nós, um espelho da realidade e desânimo na luta académica em Portugal?
Eu espero sinceramente que não.
| ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007
Destaque
Migrações com origens e destinos diferentes
Os que vão e os que vêm
Os portugueses continuam a emigrar. Ao longo da década de 90 os destinos preferenciais alteraram-se: para além da França, Alemanha e Suíça,
os Estados Unidos e o Brasil voltam a ser atractivos para os portugueses. E o Reino Unido também. Por outro lado, a partir dos anos 90 Portugal
passou a caracterizar-se também como um país de imigração. Dados do Governo revelam que hoje os imigrantes são já 9% da população
activa e 4.5% da população nacional. O ESTAJornal apresenta números e alguns dos aspectos de uma lei inovadora – o Plano de Integração dos
Imigrantes. E também conta casos de gente que foi e de gente que veio.
Nha Hermengarda, professora aposentada que conhece bem um bairro de imigrantes
Nha Hermengarda. “Há ali boa gente, mas como bairro de imigrantes, estão sujeitos a sentimentos de discriminação.”
refúgio para muitas das crianças?
Em certo ponto sim, pois muitos dos
pais levantavam-se de madrugada para
trabalhar e não tinham tempo para as
crianças. Na escola eles encontravam a
estima, a instrução e a educação. O ensino pode ser encarado como o “segredo”
para alterar a realidade vivida e conhecida
do bairro?
Claro que o ensino é um bom meio,
mas chega a uma altura em que não
há nada a fazer.
Este facto deve-se à transição que os
alunos fazem da mono-docência para
vários professores. No primeiro caso, há
um professor que se subdivide e acompanha o aluno durante muito tempo.
Aqui ganha-se em afectividade e carinho.
No segundo caso, não há sequer tempo
para manter relações. É a partir daqui
que se perde em motivação e se ganha
em absentismo.
Qual é o “clima” diário de um bairro
como este?
Como segunda casa para mim, considero que a escola passa ao lado da realidade que se vive no bairro. As crianças
não se abstraem da realidade do bairro,
pois é lá que vivem, mas também não o
transportam para dentro da escola, pois
a doçura prevalece.
A realidade de “entre portas” é diferente da realidade que se conhece “fora
de portas”?
A realidade é mesmo muito diferente.
Há uma imagem fictícia do que é a Cova
da Moura.
Qual o peso da comunicação social na
ideia que se tem da Cova da Moura?
A comunicação social leva tudo de arrasto. Há ali boas famílias, boa gente, mas
como bairro de imigrantes, estão sujeitos a
sentimentos de discriminação e xenofobia.
A opinião pública é uma consequência dos
artigos que se vêem e se publicam.
Voltaria a repetir a mesma experiência
de leccionar estes anos todos?
Claro que sim e tenho mesmo muitas
saudades.
Pensa que deixou algo por fazer?
Foi um trabalho de continuidade e,
como tal, as minhas colegas encarregamse de o fazer.
O que mudaria “hoje”, se pudesse voltar
atrás?
Penso que não haveria nada para mudar, mas sim para continuar.
A ideia generalizada que existe
entre vida selvagem e vida em sociedade acentua-se a partir da organização política do grupo em si, das
pessoas que assim o decidiram fazer.
No entanto, não quer dizer que sejam
dois mundos isolados e singulares.
Senão vejamos. Somos confrontados todos os dias com a diferença,
com subjectividade e complexidade
que se limitam a observar o mundo
sem sentido crítico. Deixa-se então transparecer que é um passinho
muito curto, este entre as sociedades
e as selvas. Até quando vamos dizer
o “outro”? Quando passaremos a
dizer “nós”? Esses dias, infelizmente,
parecem longínquos para os inúteis,
mas não para quem acredita num
Mundo melhor.
“A escola é tudo”
José Pinto
A expressão “Cova da Moura” é, quase
sempre, entendida como sinal de perigo, de
criminalidade, de degradação e de pobreza.
Mas, lá, por entre as esconsas ruas e as casas
que mal se aguentam na encosta de vistas
largas, há gente. E a gente é assim mesmo:
contraditória. Por isso, paredes-meias com
a droga, o lixo, a agressão e o medo, há
também sonhos e desejos de mudança.
As escolas são essa oportunidade. É aí que
as crianças podem provar, contra todos
os estigmas, a curiosidade, a inteligência
e a criatividade. É aí que têm espaço para
crescer, sem terem de lutar por água, por
alimentos, por um remédio nos dias de
febre, por um sorriso apaziguador ou um
ralho na hora certa. Essa é a escola de excelência: a que deixa e faz a criança crescer,
ensinando-a a viver com os outros, a brincar, a acreditar em si, proporcionando-lhe
bem-estar e saber. No bairro da Cova da
Moura, há muitos anos que os professores
sabem isso. Nha Hermengarda, natural de
Cabo Verde e de nacionalidade portuguesa,
leccionou durante 12 anos na Escola Básica
e Jardim de Infância da Cova da Moura.
Em entrevista ao ESTAJornal, explica a
realidade que ali viveu.
Como e quando começou a leccionar
na Cova da Moura?
Comecei a leccionar desde 1992. Na altura, estava a leccionar numa escola mais
deslocada e, por intermédio de concurso,
cheguei à Cova da Moura.
Qual a primeira impressão que teve no
seu primeiro dia de trabalho?
Na primeira impressão gostei logo,
pois foi uma oportunidade de confraternizar com “os patrícios”, pois havia mais
gente Cabo Verdiana. No fundo, foi um
reviver de tempos passados pois, desde
que cheguei a Portugal, nunca mais tive
oportunidade de me relacionar, profissionalmente, com gente das minhas raízes.
Quais foram os aspectos que mais a
sensibilizaram?
Foi, de facto, um impacto muito forte,
pois deu a sensação que estava em Cabo
Verde.
Por vezes, em pé de conversa, acabava
por chorar de emoção.
De que forma foi recebida?
Da parte das colegas, ainda hoje penso
que poderia ter sido melhor recebida.
Mas o facto de falar crioulo com aos alunos, depressa se tornou uma mais valia
na excelente relação que mantinha com
as crianças e com os pais.
Pensou logo no início que iria ser uma
experiência duradoura?
No princípio eu pensei logo: “É aqui
que vou acabar a minha carreira”.
A relação mantida entre a professora e
o aluno sempre foi formal, ou não existia qualquer tipo de formalidade?
Era uma relação amistosa e de companheirismo. Isto aconteceu mediante um
processo gradual, pois quando cheguei
àquele espaço deparei-me com crianças
que não estavam habituadas a manter
laços de afectividade ou a receber gestos
de carinho. No fundo, foi uma construção
que se fez. As crianças, quando deparadas
com os professores, fixavam os olhos
no chão. Rapidamente fiz perceber às
minhas colegas que aqueles gestos não
eram de má educação, mas sim sinal de
respeito.
Que significado tem a escola para uma
criança nascida nesse bairro social?
A escola é tudo. Havia crianças que
só tinham aulas durante a manhã, mas
voltavam à tarde para jogar à bola com os
outros meninos. Era o espaço mais próximo que conheciam de brincadeira e de
lazer. Isso vinha provar que os meninos
gostavam da escola.
A professora era vista como uma segunda mãe?
O termo é esse mesmo, pois os pais depositavam toda a confiança nos professores.
Alguma vez sentiu que a escola era um
José pinto
Opinião
Placebo
social
José Pinto
das coisas em si, mas no entanto
parece que todos os dias são poucos para o rejeitarmos e tomarmos
como parte integrante de um mesmo
espaço, de uma mesma realidade social. A ideia de xenofobia e racismo
parecem ideias submundistas, só
de existência teórica nas sociedades
desenvolvidas, mas está bem presente a cada virar de página de jornal,
em cada telejornal, em cada aperto
de mão que nunca existiu, em cada
cumprimento, em cada negligência
diária, em cada palavra de apreço
que teima em sair. De facto, vivemos
hoje num mundo desenvolvido, mas
que está paredes-meias com fenómenos como a infoexclusão, a “selvajaria” informativa que alimenta
e produz ideias erróneas, naqueles
29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | Destaque
Imigração em Portugal
De acordo com um relatório da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE),
divulgado pelo Alto Comissariado para a Imigração
e Minorias Étnicas (ACIME), em Novembro de 2006,
o número de imigrantes ucranianos que entraram
em Portugal legalmente diminuiu 98% em quatro
anos, passando de 45 mil e 200 entradas em 2001,
para 700 em 2004.
O mesmo documento, citado pela revista da AMI,
revela que vivem em Portugal cerca de 500 mil
estrangeiros, na sua grande maioria provenientes
do Brasil (66.700), Ucrânia (65.800) e Cabo Verde
(64.300). No seu conjunto, estes países representam
4,5% da população total portuguesa.
2001
Segundo dados avançados pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, recolhidos no final de 2001,
existiam em Portugal 223.602 cidadãos de nacionalidade estrangeira com estatuto legal de residência
em Portugal.
Relativamente à distribuição por sexos da população estrangeira legalmente residente em Portugal
em 2001, existe um ligeiro ascendente dos estrangeiros masculinos – 125.868 (56,3%) face aos 97.734
(43,7%) do sexo feminino.
Verificando as nacionalidades da população estrangeira, assume especial relevo o continente africano
com 106.978 indivíduos (47,8%), o continente europeu com 66.973 indivíduos (30,0%) e, por último,
o continente americano com 39.214 indivíduos
(17,5%). No seu conjunto, estas nacionalidades
representam 95,3% da população estrangeira legalmente residente em Portugal.
2002
Segundo dados fornecidos pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, recolhidos no final de 2002, existiam 238.746 cidadãos de nacionalidade estrangeira
com estatuto legal de residência em Portugal.
Considerando a distribuição por sexos, da população estrangeira legalmente residente em Portugal,
em 2002, verifica-se novamente uma ligeira predominância dos estrangeiros do sexo masculino.
Tendo por referência as nacionalidades da população estrangeira, merecem novamente particular
destaque as do continente africano com 114.193
indivíduos (47,8%), do continente europeu com
72.121 indivíduos (30,2%) e, por último, do continente americano com 40.787 indivíduos (17,1%).
Todas estas nacionalidades representaram em conjunto 95,3% da população estrangeira legalmente
residente em Portugal.
2003
Segundo dados fornecidos pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, recolhidos no final de 2003,
residiam legalmente em Portugal 250.697 cidadãos
de nacionalidade estrangeira.
Considerando a distribuição por sexos, do total de
estrangeiros com estatuto de residente em Portugal, 138.046 eram do sexo masculino e 112.651 do
sexo feminino.
À semelhança dos últimos anos, também em 2003,
merecem particular destaque os nacionais de países
do continente africano e do continente europeu,
que representavam 47,3% e 30,7% do total de estrangeiros residentes.
2005
Segundo dados fornecidos pelo SEF, recolhidos no
final de 2005, eram titulares de uma autorização
de residência em Portugal 275.906 cidadãos de
nacionalidade estrangeira.
Considerando a distribuição por sexo dos estrangeiros titulares de autorização de residência em 2005,
verifica-se que o número de homens era superior
ao de mulheres.
As comunidades mais representativas foram a
Ucrânia e o Brasil, responsáveis por 35,8% e 19,4%,
respectivamente.
Fonte – INE/SEF
João Oliveira
Uma visão positiva da imigração
Até 2009, o sistema nacional de saúde português deverá integrar 100 médicos imigrantes. O Governo
assegurará, também, a tradução em todos os momentos de interacção dos imigrantes com o sistema judicial.
Estes são apenas dois exemplos das 123 medidas que Portugal definiu para acolher cidadãos estrangeiros.
Um “salto qualitativo e eficaz nas
políticas de acolhimento e integração dos imigrantes”. Este objectivo do
Governo português foi recentemente
consagrado, com força de lei. A 3 de
Maio saiu, em Diário da República, o
Plano para a Integração dos Imigrantes (PII), que pretende sistematizar as
metas e os compromissos do Estado
português, para acolher e integrar os
imigrantes que nos procuram.
Para ser executado até ao final da
presente legislatura, o PII pretende ser
um programa de referência, que deverá ser abraçado pelo próprio Estado
português e também pela sociedade
civil. Por isso, do documento constam
123 medidas que envolvem 13 ministérios. Numa perspectiva transversal,
são enunciadas metas que abrangem
questões como o racismo e a discriminação, a igualdade de género e a
cidadania.
Que objectivos foram traçados e
que caminhos se pretende seguir? O
documento que sustenta o PII engloba um quadro onde claramente
se definem medidas, indicadores,
responsáveis e metas. As medidas dividem-se em 18 grandes áreas. Nelas
se incluem questões essenciais como
o acolhimento, o trabalho, emprego e
formação profissional, a habitação, a
saúde e a educação.
Um caso concreto? “Melhoria do
atendimento ao público pelo Serviço
de Estrangeiros e Fronteiras (SEF)”.
Como? Atingindo quatro metas. Entre
elas, a “abertura de um novo Posto de
Atendimento do SEF na Estação de
Caminhos-de-Ferro da Reboleira e
presença nas novas Lojas do Cidadão
de Odivelas e de Faro”.
Trabalho, Emprego e Formação Pro-
fissional? Nove medidas. Entre
elas, “facilitar a entrada no ensino superior português de
estudantes que tenham
frequentado o ensino
superior estrangeiro
e simplificar o reconhecimento de
graus superiores
estrangeiros em
conjunto com a
introdução de
um serviço específico de
atendimento
para
este
f i m ”.
Que metas propõe o Governo para se atingir este objectivo?
“Cinco gabinetes abertos em universidades e/ou institutos politécnicos
(até ao fim de 2009)” e “crescimento
de 15% do número de equivalências
concedidas em 2006”.
Em questões de habitação também
há novidades significativas. Por exemplo, a “sensibilização do sistema bancário para maior abertura ao acesso
ao crédito por parte de imigrantes”.
Para isso, todos os anos se realizará
uma conferência, dirigida às instituições financeiras. No caso dos jovens
pretenderem alugar casa, o PII prevê
o “aperfeiçoamento do acesso aos mecanismos de apoio ao arrendamento”.
Para isso o prazo de aprovação do Incentivo ao Arrendamento Jovem (IAJ)
deverá ser reduzido para três meses.
Com a concretização desta medida, o
Governo espera que, em 2007, 100 jovens imigrantes sejam abrangidos pelo
IAJ.
Em matéria de saúde,
o PII pretende, por exemplo,
“promover o acesso dos
imigrantes aos serviços de saúde”. Dando
formação aos profissionais e criando instrumentos como o Manuela
de Procedimentos Administrativos
para a inscrição de imigrantes, independentemente do seu estatuto,
são dois caminhos apontados para se
atingir metas importantes. Nomeadamente, face ao total de inscrições no
ano anterior, um aumento de 8% de
inscritos, um aumento de 10% de cobertura vacinal e um aumento de 5%
de mulheres imigrantes nas consultas
de saúde reprodutiva dos Centros de
Saúde.
Ainda na área da saúde, o PII dá
indicações para criação de um
“programa de integração
profissional de
imigrantes
com licenciatura em
medicina”, com
o objectivo de
incluir, até
2009, 100
imigrantes
médicos no
sistema de
saúde português.
Ao nível da
educação, para
além de diversas
medidas no âmbito da formação
de professores para
a interculturalidade, do
apetrechamento das escolas
com materiais apropriados e da
colaboração entre os diferentes
intervenientes, o PII pretende
“aprofundar a formação e a investigação no domínio da educação intercultural”. Por isso, estabelece como meta
a produção de dez teses de mestrado
sobre o tema.
No campo da justiça, entre as diferentes medidas previstas destacam-se
a “garantia do serviço de tradução e
interpretação em todos os momentos de interacção dos imigrantes e
do sistema judicial”, assim como se
propõe uma “avaliação de eventuais
distorções na aplicação da justiça a
estrangeiros”.
O que o Governo pretende com
estas e outras medidas é acolher com
qualidade, mas também construir
“uma visão positiva da imigração”.
Uma estadia de longa duração
telma lento
“Estava um bonito dia de sol”. É
desta forma que Olesya Nezhdanova
descreve o primeiro dia que pisou o
solo português. O seu país de origem
é a Alemanha e a vinda para cá surgiu
de uma forma espontânea: “A minha
mãe veio para Portugal sozinha apenas para visitar uma pessoa conhecida
e também conhecer o país. Depois
gostou do modo de vida cá, do povo
português e arranjou um emprego e
uma casa.” Olesya, passado um ano,
veio ter com a mãe e faz já cinco anos
que vive em Tomar. A adaptação foi
um pouco difícil, principalmente para comunicar com as pessoas. “Não
sabia uma única palavra. O que me
ajudou muito foi o meu conhecimento
de inglês.” Todavia, eram poucas as
pessoas que falavam inglês. Estudar
cá também não foi fácil. “No início
estava nas aulas sem perceber nada”
– conta Olesya. Foi o auxílio de um
Olesya Nezhdanova. “Já me habituei a vida cá, aos hábitos portugueses”
dicionário, que trazia como amuleto
para onde quer que fosse, e a força de
vontade que a fez passar horas e horas
a estudar português. Chegou também
a ter umas aulas de apoio aos estrangeiros, que ajudaram a adaptar-se
à língua. Hoje em dia, está a tirar o
curso superior de Gestão Turística e
Cultural, no Instituto Politécnico de
Tomar, e aos fins-de-semana tem um
part-time para ajudar nas despesas.
Viver em Portugal é diferente. “O
clima, a comida, algumas tradições,
o sistema de saúde e a educação são
bastante discrepantes”, mas Olesya
não deixa de se mostrar satisfeita.
“Já me habituei à vida cá, aos hábitos
portugueses”. Um dos seus objectivos,
por agora, é continuar a construir a
sua vida por Portugal. No entanto,
“a vida dá muitas voltas e ninguém
sabe o que vai acontecer” – conclui
Olesya. V.C.
| ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007
Destaque
“Melhores condições de vida”
Maria Palmira Filipe emigrou para o
Luxemburgo em 2004. Foi “à procura de
uma vida melhor” e conseguiu. Trabalha
no sector de hotelaria. Embora não se
arrependa de ter tomado esta decisão,
diz que “foi muito difícil”. Em Portugal
ficaram as filhas – uma com 17 e outra
com 23 –, entregues ao cuidado da avó
(ver texto em baixo).
Apesar de conseguir ser feliz no estrangeiro, aquilo de que Maria Palmira
mais sente falta é “o carinho das filhas”.
Talvez por elas, mas também porque
o Luxemburgo não substitui Portugal,
pensa regressar para o seu país. A vantagem de permanecer, por enquanto,
no país que a acolheu é sobretudo financeira, o que proporciona “melhores
condições de vida”.
Uma outra emigrante portuguesa no
Luxemburgo explicou ao ESTAJornal,
através de email, que quando chegou
àquele país se sentiu “muito desiludida”.
Considera que existe um bom espírito
entre a comunidade portuguesa e, talvez
por isso, frise que foi bem recebida pelos compatriotas. A vida que leva nesse
pequeno país não substitui a vida que
levava em Portugal, mas a opção é clara
e tem um fundamento de peso: “Ganhase mais”.
O ESTAJornal também quis saber
como reagem os luxemburgueses aos
portugueses e como observam a sua
forma de organização. E há quem tenha
uma visão negativa sobre a forma como
os portugueses se relacionam entre si.
Para um luxemburguês contactado pelo
ESTAJornal, o segredo do seu país é que
“oferece mais oportunidades, condições
de vida melhores, melhor assistência
médica e ajuda social”. Por outro lado,
“não há tantas injustiças”. Segundo ele,
os nativos do seu país ainda têm uma
mais-valia em relação aos que para lá
emigram: “Mais portas abertas para os
empregos do Estado”. Onde se ocupam,
então, os portugueses? Os homens, sobretudo “nas construções”.
Não será, pois, de estranhar que o Luxemburgo seja o país da OCDE com maior
percentagem de estrangeiros. Os dados
mais recentes disponibilizados, em 2006,
pelo ACIDI (Alto Comissariado para a
Imigração e Desenvolvimento Intercultural) remontam a 2002 e indicam que, nesse
ano, 38% da população do Luxemburgo
era imigrante. Nesse ano, Portugal tinha
apenas 4% de imigrantes. E se falarmos em
população activa, os estrangeiros representavam, no Luxemburgo, 62% da força
trabalhadora. Em Portugal eram apenas
pouco mais de 5%.
“Grande orgulho na minha mãe”
ana margarida batim
Ana Torres
Ao princípio a tristeza e o a mágoa
instalam-se, mas isso é uma fase.
Ângela Filipe, aluna de Comunicação
Social da ESTA, confessa que sentiu
“uma grande revolta” quando soube
que a mãe ia emigrar: “Só me disse que
se ia embora uma semana antes. Fiquei
muito triste muito desiludida, mas tudo
passou”. José Pinto, colega de turma,
afirma que, perante a ida dos seus pais
para França, reagiu como qualquer
criança reagiria por sentir que os seus
pais estavam a ir embora.
Estes dois jovens são um exemplo de
centenas de filhos que têm que ficar com
outros familiares, pois os seus pais são
obrigados a emigrar.
Foi em 2004 que Ângela viu a sua mãe
rumar ao Luxemburgo, um ano de viragem, uma vez que também foi nessa
altura que entrou para o ensino superior.
A mãe sem possibilidades de a manter a
estudar, decidiu emigrar para poder dar
a Ângela o que tinha dado à filha mais
velha: um curso superior.
A jovem confessa que na sua vida mudou muita coisa. Acostumada ao seu
agregado familiar composto pela sua
mãe, avó e irmã, viu-se confrontada com
o facto de ter que viver com a sua avó: “A
minha irmã já tinha terminado o curso
e ia-se casar, a minha mãe foi-se embora.
Eu ia passar a morar com uma pessoa
mais velha do que eu 50 anos e com uma
mentalidade diferente.” José, que passou a
viver com os avós maternos. Afirma que
teve necessidade de crescer mais rápido.
Conta que foi “educado a maneira antiga”,
mas concorda com muitos dos valores
que lhe foram incutidos.
Ângela refere que não se colocou a hipótese de ir para o Luxemburgo pelo facto de
estar a estudar, mas se se tivesse colocado,
dificilmente daria para ela acompanhar a
mãe. “A minha mãe, quando foi, já tinha
na ideia que ia logo ter trabalho, porque já
estavam lá a trabalhar pessoas conhecidas
e havia a promessa de trabalho. O que se
verificou não foi isso”.
Filhos. Ângela e José ficaram com os avós enquanto os pais emigraram
Apesar de se colocar a hipótese de viajar para junto dos pais quando as condições estivessem reunidas para os acolher,
para José, os amigos e o percurso escolar
dificultaram um pouco esta decisão. “Foi-se sempre adiando. A minha irmã não
quis ir e eu também não”. No entanto,
afirma que pretende no futuro emigrar,
pois gostaria muito de viver em França.
Desde os seus sete anos que José visita
os pais, mas desde que, em 2003, entrou
para o ensino superior, que se tornou
“um bocadinho mais difícil”. Mas, mesmo
assim, todos os anos, em Setembro, vai lá
passar um mês; os pais vêm em Agosto e
no Natal. “O contacto no resto do ano é
feito todos os dias por via telefónica.”
Ângela nunca visitou a sua mãe no
Luxemburgo. Também é em Agosto e
no Natal que a mãe a visita, mas o contacto telefónico entre ambas é regular.
“A minha mãe tem quase 50 anos, é de
origem humilde e nunca teve acesso as
novas tecnologias, ela não sabe utilizar
muito a Internet.”
Estes dois jovens, apesar de se encontrarem longe dos pais, sentem orgulho neles.
Ângela é peremptória: “A minha mãe está
a fazer um grande esforço para estar no
Luxemburgo, mas estou muito contente.
Ela teve muita coragem e é por isso que
tenho grande orgulho na minha mãe.”
Emigração em Portugal
1996
No ano de 1996, cerca de 29 mil
portugueses emigraram. Este número
abrange os emigrantes permanentes
(indivíduos que se ausentaram do
país por um período superior a um
ano) e os emigrantes temporários
(indivíduos que deixaram Portugal
por um período igual ou inferior a um
ano). Em 1996, a taxa de emigração
temporária foi de 67%, enquanto
que a emigração permanente atingiu
somente 33%.
Os principais países de destino da
emigração portuguesa em 1996
foram a França, a Alemanha e a Suíça.
No total, estes países acolheram
cerca de 23 mil emigrantes o que
perfaz 79% do total. Refira-se que em
1996, tendo em conta os resultados
segundo a distribuição geográfica
de residência dos emigrantes, a
zona do país que registou um maior
número de situações de emigração
permanente foi a região Centro.
Por seu lado, a Região Norte com
51,2% em 1996, registou a taxa mais
elevada de emigração temporária.
1998
Em 1998, emigraram cerca de 22
mil pessoas. Tendo em conta os
tipos de emigração (permanente e
temporária), em 1998 a emigração
temporária alcançou os 64,3%,
superando deste modo a emigração
permanente que perfez apenas
35,7%.
Os principais destinos da emigração
portuguesa foram novamente
a França, a Alemanha e a Suíça,
que receberam cerca de 15 mil
emigrantes, representando 68,1%
do total. Contudo, na emigração
permanente em 1998, a Alemanha
perde relevo, surgindo os Estados
Unidos da América como um dos
principais destinos da emigração
portuguesa. Saliente-se que cerca de
85% das pessoas que emigraram em
1998, tinham entre 15 e 44 anos.
No que diz respeito aos resultados
segundo a distribuição geográfica de
residência dos emigrantes, verificase que em 1998, o maior número de
situações de emigração permanente
teve origem na região Norte (71%),
enquanto que na emigração
temporária as regiões do Centro e
de Lisboa e Vale do Tejo, assumem
especial relevo.
1999
Em 1999, emigraram cerca de 28 mil
pessoas, significando um aumento de
26,5% relativamente ao ano transacto.
Destas 28 mil pessoas, 71,7% eram
do sexo masculino, e 28,3% do sexo
feminino.
Relativamente aos tipos de
emigração, em 1999, a emigração
temporária registou 85,5%, enquanto
que a emigração permanente
ficou-se pelos 14,5%. Os principais
destinos da emigração portuguesa
foram, à semelhança dos anos
anteriores, a França, Alemanha e
Suíça, que receberam cerca de 20 mil
emigrantes, representando 72,6% do
total da emigração.
Note-se que 86% dos emigrantes em
1999 tinham entre 15 e 44 anos.
2001
Em 2001, emigraram cerca de 20.500
indivíduos. Destes, 76,6% eram do
sexo masculino, e 23,4% do sexo
feminino.
Quanto aos resultados dos dois tipos
de emigração, em 2001, a emigração
temporária registou 72%, enquanto
que a emigração permanente chegou
aos 28%. A França, a Alemanha e a
Suíça voltaram a ser os principais
destinos da emigração portuguesa,
recebendo cerca de 72% do total
da emigração. Cerca de 72% dos
indivíduos que emigraram neste ano
situavam-se na faixa etária dos 20 aos
44 anos.
2002
Em 2002, emigraram cerca de 27 mil
pessoas. A emigração permanente
alcançou os 32,2%, sendo superada
pela emigração temporária que
assinalou 67,8%.
Neste ano verifica-se novamente
que a Suíça e a França continuam a
ser os principais países de destino
da emigração portuguesa, contudo,
surge uma alteração. Saliente-se que a
Alemanha perdeu importância neste
ano, aparecendo agora a Espanha
como um dos principais países de
destino da emigração portuguesa.
O Brasil também apareceu como um
dos principais países de destino.
Em 2002, à semelhança do que
ocorrera nos anos transactos, a
maioria dos emigrantes nacionais
pertencem às camadas mais jovens.
Em 2002, o grupo etário que vai dos
0 aos 29 anos de idade representava
63% do total da emigração.
As pessoas que mais emigraram em
2002 são oriundas do Norte do País,
do Centro e da região de Lisboa e Vale
do Tejo.
2003
Em 2003, emigraram cerca de 27.000
pessoas. Relativamente aos tipos de
emigração, em 2003 a emigração
temporária representa 75,2% e a
emigração permanente registou
24,8%. Neste ano emigraram mais
homens do que mulheres, 76,3% e
23,7% respectivamente, sendo esta
disparidade visível sobretudo na
emigração temporária. Todavia, esta
diferença é anulada no que se refere
à emigração permanente. Neste tipo
de emigração, 51,1% são homens e
48,9% são mulheres.
Em 2003, a França, a Suíça e o Reino
Unido são os principais países de
destino dos emigrantes portugueses,
que, no seu conjunto, acolheram 16
mil emigrantes, representando mais
de 59% do total nesse ano.
No que diz respeito à distribuição
geográfica tendo em conta a
residência, a maioria dos emigrantes
são provenientes do Norte do país.
A região de Lisboa e Vale do Tejo e
a região Centro destacam-se nas
posições seguintes.
Quanto à faixa etária, 45% dos
emigrantes desse ano tinham uma
idade compreendida entre os 15 e os
29 anos de idade.
Fonte: Instituto Nacional de Estatística
(INE)
João Oliveira
29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | Destaque
miguel geraldes
“Alargar horizontes”
glo-saxónico foi difícil: “Fui para lá sem
falar a língua inglesa, mas gostei imenso. Estudei inglês durante dois anos, depois fiz uma pós-graduação e comecei
a dar aulas num instituto. Depois uma
segunda pós-graduação comecei a dar
aulas numa Universidade. Mais tarde
fiz o mestrado e actualmente estou a
fazer o doutoramento. A adaptação foi
difícil, mas a continuidade dos estudos
e os ganhos académicos que obtive, de
certeza que em Portugal não os teria
conseguido num tão curto espaço de
tempo”. Luís Geraldes salienta, ainda,
“os ganhos económicos”.
O artista que emigrou acentua como
principais diferenças, “a metodologia
dos países anglo-saxónicos, o sentido
“15 anos em África,
dez em Portugal
e 22 na Austrália”
Miguel Geraldes
Pintor conceituado, Luís Geraldes,
nascido em 1957 numa pequena aldeia
beirã, foi levado aos três anos para Angola. Aí iniciou um percurso que lhe
veio a moldar a veia artística que um
dia viria abraçar a tempo inteiro.
Regressa de Angola após a Revolução,
em 1975, permanecendo em Portugal
até 1985, de onde parte por vontade
própria para a Austrália. Aí inicia um
trajecto que o tornou no artista que
é hoje. Para além dos vários estudos
adquiridos, leccionou em Institutos
e Universidades de grande prestígio,
tendo ainda inúmeras exposições in-
dividuais divididas entre Portugal e
Austrália, e exposições colectivas um
pouco por todo o mundo.
Como o próprio afirma, “foram 15
anos em África, dez em Portugal e 22 na
Austrália. O que perfaz 50 anos. Uma
mistura de cheiros, sabores, religiões,
de experiências vividas em todos os
continentes. Toda esta mescla de expe-
O sonho de ser médica
Diana Sofia de Melo Canhoto, para atingir o seu objectivo profissional, decidiu ir
estudar medicina para o país vizinho: “O
meu maior sonho sempre foi ser médica, uma razão pouco original, mas a mais
verdadeira e a única por que vim para Espanha”.
Então, com as malas feitas, partiu para
Espanha em Setembro de 2003 e, presentemente, está no 4º ano de Medicina na
Faculdade Medicina Ciências da Saúde, que
pertence à Universidade Rovira i Virgili.
Quando decidiu ir para Espanha estudar, o
maior apoio foi, segundo Diana, da família,
especialmente do pai, “que já sabia que
só seria feliz se seguisse o sonho de fazer
medicina”.
A adaptação não foi fácil, pois Diana
encontrou-se sozinha num país que não
era o seu, com uma língua diferente da
sua. Conta que “a alimentação foi uma
das adaptações mais difíceis”. E recorda “o
episódio mais engraçado”: “Foi quando, no
primeiro dia, ao almoço, trazem um prato
de arroz e mais nada, e mais tarde, como
segundo prato, trazem unicamente um
bife. Pensei que estavam a gozar comigo”.
Tão perto, mas tão distante em termos
de cultura. Diana refere que “as maiores diferenças são a nível de recursos, de
transportes e comunicações”, sublinhando
ainda que “não há crise económica como
em Portugal”.
Ficar em Espanha é uma possibilidade.
“Não me importava de ficar aqui porque fui muito bem recebida, mas quando
terminar o curso estou consciente que
existirão factores novos que me levarão a
considerar o regresso”. Mesmo assim, Diana faz questão de lembrar “a mágoa” que
muitas vezes se tem em relação “a um país
que não nos apoiou nos nossos sonhos”,
por oposição ao sentimento de “dívida
para com um outro que nos aceitou”.
Se pudesse voltar atrás no tempo, não
pensaria duas vezes e tomaria a mesma
decisão, pois “todas as experiências que
vivi seriam impossíveis se tivesse ficado em
Portugal”. Ana Luísa Nascimento
DR
Diana Canhoto. Chegou a Espanha sozinha e rapidamente fez amigos
riências fez o pintor que sou hoje”.
O porquê de ter escolhido a Austrália, onde já adquiriu cidadania australiana, teve a ver com a semelhança com
Angola: “Um país grande, de horizontes, onde também pensei em alargar
os meus na minha vida profissional.
Como veio a suceder.”
Recorda que a adaptação ao país an-
metódico destes, em contraste com a
anarquia dos países latinos”. “Há ainda
a disparidade abismal geograficamente,
sendo a Austrália um país com grandes
horizontes, muitos desertos e cordilheiras montanhosas, com um mar de corais
lindíssimo. Um país do tamanho da Europa, só com 20 milhões de pessoas.”
De Portugal sente saudades da sua
beleza, da língua, dos sons e da gastronomia. Vê o nosso país ainda com deficiências económicas, com dificuldades
de governação, com alguma anarquia e
corrupção. Mas, “tal como a nossa mãe,
é a única que temos, temos de gostar
dela como ela é”, diz.
Sobre um regresso em definitivo
ao país de Camões e Pessoa, relembra
que, neste momento, passa seis meses
em Portugal e outros seis na Austrália. “Com o tempo é bem possível que
venha a residir permanentemente em
Portugal, mas neste momento ainda
não contemplo viver em Portugal definitivamente.”
Vir para Portugal
era “voltar para trás”
Vera Inácio
Eurico Hernâni Covas é emigrante
há 25 anos em França, onde trabalha
como guia-turístico. Tem família em
Portugal e viaja, de tempos a tempos,
para visitar os seus entes queridos.
Voltou de Angola em 1975. Passou por
Portugal, mas não gostou do estado do
país. Por isso emigrou.
Ao ser questionado sobre os motivos da emigração para França, Eurico,
num desabafo, lamenta ter encontrado
em Portugal um país em que a forma
de pensar continuava a ser muito limitada. Não encontrou dificuldades
na emigração, porque era uma época
de grandes mudanças em França. Talvez fosse mais difícil uma mudança
de Bragança para Lisboa do que para
fora do país.
“Mesmo vindo de Angola achei mais
de 30 anos de atraso, os mesmos que
hoje se verificam em Portugal”, admite,
quando fala das maiores diferenças que
sentiu entre culturas. Eurico é um dos
poucos portugueses que não faz planos
de voltar definitivamente para terras
lusas, isto porque, como o próprio, diz
“isso seria voltar para trás”.
“Mesmo vindo de
Angola, achei 30
anos de atraso”
Perguntando-se, numa perspectiva
fantasiosa, sobre quem apoiaria no
decorrer de um jogo de futebol entre
Portugal e França, Eurico Hernâni Covas, responde que não torceria nem
Portugal nem por França. Argumentando que o futebol é o mal do nosso
país, ou seja, a droga do povo.
| ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007
Entrevista
António Serzedelo, membro do Movimento da Acção Homossexual Revolucionária
“As pessoas em Portugal
não querem sair do armário”
Tiago Lopes
Membro do Movimento da Acção Homossexual
Revolucionária, fundador e ex-presidente da Opus
Gay, presidente do Movimento Vidas Alternativas,
António Serzedelo é um dos homens mais activos,
em Portugal, no que toca a questões de luta pelos
direitos iguais das minorias sexuais. O ESTA Jornal conversou com o homem que censura os gays
portugueses porque “não são capazes de sobreviver
fora do armário”!
Em Portugal os movimentos homossexuais começaram, com força, em 1990. A que se deve este
atraso português em relação aos outros países
europeus?
Este atraso português deve-se ao periférico que
o país é, e à marginalidade que o país sofre relativamente à Europa. Não é só a este nível que acontece
isto! Outros movimentos sociais e outros movimentos culturais chegam cá também com atraso.
Por outro lado, Portugal é um país, nestas questões,
muitíssimo conservador. Hipócrita e conservador.
Falando da hipocrisia portuguesa, em Março,
a revista homossexual norte-americana Out!
publicou um artigo no qual exortava várias personalidades públicas a saírem do armário. Este
tipo de iniciativas é possível em Portugal?
É possível fazer uma lista; não deve ser é denunciada essa lista. As pessoas em Portugal não querem sair
do armário. Há uma psicologia do armário e elas já
se “armariaram” e não são capazes de sobreviver fora
do armário, de tal forma se viciaram. É claro que uma
nova geração poderá viver fora do armário. Eu tenho
um slogan que diz: ‘Saí do armário, logo existo’.
Segundo William Naphy, a Homofobia está ligada
às religiões monoteístas, por estas afastarem o
sexo do prazer e o associarem exclusivamente à
procriação. Tendo isto por base, como pode um
cristão ser homossexual?
Os cristão são homossexuais, têm é dificuldade
em compaginar essa sua sexualidade com os ditames
normais das suas igrejas. Na verdade, há muitas
igrejas cristãs que já toleram, que já aceitam e que
já não criticam e comentam a homossexualidade,
particularmente igrejas protestantes. Na Igreja Católica houve sempre esta grande conflitualidade
entre o sexo e a religião, porque têm uma visão da
sexualidade exclusivamente reprodutiva. Isto tanto
se diz relativamente ao homem com homem, como
se diz relativamente ao homem com mulher. A Igreja
condena o preservativo nas relações heterossexuais,
a interrupção voluntária da gravidez, a inseminação
artificial.
Os movimentos homossexuais portugueses aparecem sempre nos jornais como as vítimas. Este
sentimento de vítima é real, ou, é já, também, um
pouco ficcionado?
O sentimento de vítima está muito auto-instalado em alguns membros da nossa comunidade.
É a altura de sairmos da situação de vítima para a
situação de sobrevivente, o que é diferente. A vítima
está sempre a lamentar-se, está sempre a querer ser
coitadinha, é sempre objecto de tristeza, de pobreza
e de caridade pelas outras pessoas. É preciso que
esta comunidade dê um passo em frente e saia da
vitimização e entre numa situação de luta e de sobrevivência, que é a verdadeira situação para poder
lutar em pé de igualdade, contra a homofobia. Não
é lamentarmo-nos, é corajosamente enfrentarmos a
situação. É uma situação que existe, não só no nosso
país como em muitos países do mundo.
Estarão os portugueses preparados para aceitar a
introdução social da homossexualidade?
Sendo uma questão cultural e ideológica, na
minha perspectiva, esta é também uma questão que
tem a ver com a economia. Enquanto o país se mantiver rural, não estiver integrado numa economia
global e não estiver integrado na cidadania europeia
vai sempre haver estes problemas da homofobia. A
sociedade global significa uma maior individualidade, significa uma maior autodeterminação, significa
uma maior liberdade interior e todas essas coisas
são compaginadas com a tolerância e, por isso, com
a homossexualidade. Tolerância não significa que
todas as pessoas que estão nessa onda se tornem
homossexuais. Não!
Quais são verdadeiramente as reivindicações
da comunidade homossexual, uma vez que as
associações GLBT não se entendem?
As associações não se entendem porque algumas
não querem que haja esse entendimento. E não querem esse entendimento, porque querem o prestígio
exclusivo das reivindicações. Nas reivindicações da
comunidade gay podemos falar em alargamento das
uniões de facto, porque elas da forma que existem
são pindéricas. E são pindéricas para os homossexuais e para os heteros. As uniões de facto deveriam
ser alargadas, pelo menos ao instituto testamentário.
As pessoas, no caso de haver uma morte, poderem
deixar testamento. A questão da adopção prende-se
com a questão do casamento. É preciso que se fale
em todo o país, que faça um debate alargado, para
que isso não seja uma questão fracturante. Não
basta fazer três ou quatro colóquios, com algumas
pessoas muito sábias, em universidades de prestígio
em Lisboa e pensar que está o caso resolvido.
Associações britânicas defendem que a luta não
se faz pela igualdade de direitos, porque a marca
dos movimentos GLBT é a diferença. A causa da
luta reside nos direitos iguais. Qual é a sua opinião: igualdade de direitos ou direitos iguais?
Nós lutamos pela diferença, para ter direito à
indiferença. De facto, ninguém reivindica ter mais
direitos do que os outros. Mas também não podemos criar comunidades de gueto, vivendo ao lado
uns dos outros sem nos entendermos. Nós somos
portugueses de boa ou de má cepa, como são todos
os outros portugueses. Temos que nos entrosar na
sociedade portuguesa e a sociedade portuguesa tem
que se entrosar em nós. Esse jogo linguístico não
interessa! O que interessa são os aspectos culturais.
A lei pode reconhecer direitos, mas se a cultura não
os reconhecer estruturalmente eles dificilmente
vigoram. Nós temos uma excelente Constituição
em Portugal, a vários níveis, e nós sabemos que
muitos dos direitos que esta Constituição consigna
não são aplicados.
nelson ferreira
António Serzedelo. “Enquanto o país se mantiver rural e não estiver integrado numa economia global e na cidadania europeia vai sempre haver homofobia”
Razões de ordem
cultural explicam
sucesso ou fracasso
das paradas gay
A Parada Gay de Lisboa é um dos eventos que marcam o calendário das associações
GLBT. Contudo, a debilidade da mesma tem
levantado alguns protestos. Para Serzedelo,
“ela continua a justificar-se em Portugal, talvez
noutros moldes que poderíamos saber quais
seriam, se nos sentássemos todos à mesma
mesa e discutíssemos”.
O sucesso das paradas gay no estrangeiro,
para Serzedelo, prende-se com razões de ordem
cultural. “No Brasil eles adoram paradas, eles
adoram mascarar-se, eles adoram festa. Os
espanhóis têm muito o hábito de ir para a rua,
de dar a cara, de confrontar o poder”.
António Serzedelo crítica os gays portugueses pela sua falta de “vontade de ir para a frente.
Os homossexuais portugueses vivem, a maior
parte, em vários armários. Saíram do armário
dos amigos, entraram no armário da família.
Saíram do armário do emprego, entraram no
armário dos amigos, e por isso não podem
surgir em público numa parada com medo de
serem reconhecidos”.
As razões do insucesso da parada não são
exclusivas da comunidade homossexual. António Serzedelo considera que “os heterossexuais
ainda não assimilaram esta luta da igualdade
de direitos, como sendo também uma luta sua”.
O fundador da Opus Gay lembra que “a luta
contra o racismo é tanto dos brancos como dos
pretos”. Só que “os heterossexuais em Portugal
ainda não vão para uma manifestação sobre
homossexualidade, por medo de serem topados como homossexuais. E os homossexuais
não vão como medo de serem vistos!”, satiriza
Serzedelo. T.L.
Uma vida pela causa
António Serzedelo é um dos membros mais
activos e polémicos da comunidade GLBT
portuguesa. Mas o que quer dizer GLBT? A
sigla GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transsexuais) surge no final da década de 80, tendo
sido criada pela comunidade homossexual
anglo-saxónica. É, hoje em dia, utilizada pelos
movimentos de defesa dos direitos das minorias sexuais.
Quanto ao currículo de Serzedelo, os seus
primeiros passos enquanto activista foram no
Movimento da Acção Homossexual Revolucionária. Conhecido como MAHR (analogia
fonética feita com a palavra Mar), foram o
primeiro grupo de reivindicação dos direitos dos homossexuais portugueses. Surgido
em 1974, ano em que assinaram o primeiro
manifesto homossexual português, durariam
poucos meses.
A Opus Gay é, em certa medida, uma herdeira
do MAHR. Fundada em 1997 por António Serzedelo, membro do MAHR, é actualmente uma
das Associações de defesa dos direitos GLBT
mais activas de Portugal. Conta com delegações
em Lisboa, Porto e Coimbra. António foi Presidente da Opus Gay até há pouco tempo.
O Movimento Cívico Vidas Alternativas foi
a última das iniciativas de António Serzedelo.
Este movimento, ao contrário do MAHR e
da Opus Gay, congrega em si todas as forma
de diferença e não somente as diferenças de
sexualidade. O Vidas Alternativas conta com
um programa de rádio disponibilizado on-line,
cujo locutor é António Serzedelo, acumulando
esta função com o cargo de Presidente do Movimento Cívico. T.L.
29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | Gente
Amor e cuidados
O lado humano da vida
Uma empresa com um perfil especial surgiu em Abrantes. Uma mulher, preocupada com os mais velhos, decidiu fornecer serviços de apoio
domiciliário. O que for preciso: lavar, alimentar, garantir que os medicamentos são tomados e, também fazer um pouco de companhia. Chama-se
“Amor e Cuidados” a empresa que ainda não dá lucros, mas que já atingiu uma meta importante: os sorrisos que marcam a diferença.
Ana Luísa Nascimento
e Ana Margarida Batim
São 8h00 e o sol já vai bem alto. Seguimos de carro com Ana Cristina Gravelho,
directora da empresa “Amor e Cuidados”, para mais uma visita de apoio do
domicílio, uma rotina diária. No meio
do silêncio matinal começam-se a ouvir
alguns cães a ladrar, animais que fazem
companhia à D.Virgínia, de 74 anos, nove
filhos, a primeira utente deste serviço.
À entrada da casa, um gato branco mia
deitado no pequeno sofá da sala. Mesmo
em frente está a D.Virgínia, deitada, num
quarto pequeno, cheio de roupas, quadros e santinhos nas paredes, onde espera
ansiosa pela chegada de Ana Cristina.
Sempre com um sorriso contagiante
nos lábios, Ana Cristina cumprimenta a
senhora, que retribui carinhosamente. O
trabalho começa apenas iluminado pela
luz de um candeeiro. Enquanto trata da
higiene desta senhora, Cristina afirma
que casos como estes são muito complicados, pois “esta «menina» é diabética e
não pode ficar muito tempo sem comer”.
E a verdade é que já não tem muita gente
que a ajude diariamente e a tempo inteiro
como era necessário. Durante a higiene,
Ana Cristina trata-a por nomes carinhosos
como “querida”, “minha linda” e “princesa”,
notando-se um carinho recíproco entre as
duas, já cúmplices de muitas histórias.
As queixas de D. Virgínia começaram
a surgir em relação ao serviço prestado
anteriormente por outra pessoa do apoio
ao domicílio: “Antes vinha cá uma rapariga, mas não gostava dela porque me
lavava à pressa e havia partes do corpo
que nem lavava, não é como esta menina”.
Ao terminar, faz um carinho na cara de
Cristina. Esta, depois de a limpar, põelhe cremes, “porque a pele tem de estar
sempre hidratada”, e aplica-lhe de seguida
um creme para as dores, pois “estão muito
tempo imobilizadas e a pressão do corpo
na cama faz dores e feridas”.
Apesar de não poder contar com muita
ajuda a tempo inteiro, D. Virgínia diz que
não quer ir para um lar. “Para um lar
não, porque não estou em minha casa”. E
acrescenta ainda que “toda a gente devia
ter uma pessoa carinhosa e meiga, como
eu tenho”.
Já “limpinha” e “cheirosa”, tal como
refere Cristina, D.Virgínia é colocada
na cadeira de rodas para ir passear um
pouco com o seu filho. Despede-se com
um sorriso maroto nos lábios e deseja
“muita saúde e bons namoros”.
Seguimos, então, para a segunda utente
de Ana Cristina. Pelo caminho, explica-nos que “é preciso gostar do que se
faz”. E afirma: “Eu gosto muito”. Apesar
de ainda não ter lucros com a sua nova
actividade, esta profissional não quer
transformar a sua empresa numa “igual
às já existentes”. Por isso, sublinha aquilo
que considera essencial: “É preciso estar
pelo menos uma hora com os idosos para
eles ficarem bem limpinhos e, quanto
mais idosos tiver, menos tempo tenho
para cada um deles”.
Chegamos à casa da segunda e última
utente deste dia. Encontramos uma casa
maior e com mais condições do que a
anterior, isto porque nesta casa há uma
pessoa a tempo inteiro a cuidar da D. Lucinda, uma senhora que está acamada há
14 anos, com Parkinson. As dificuldades
desta senhora são facilmente notadas:
mal se consegue mexer e falar, mas a
esperança da sua fiel companheira, Maria
José, sua filha, e de Ana Cristina nunca
morre. Todos os dias, depois de limpa e
Ana Margarida Batim
Carinhos. Para Ana Cristina Gravelho , na sua actividade profissional, “conquistar um sorriso é uma vitória diária”
arranjada, fazem-lhe uns pequenos movimentos de pernas e braços para que a sua
mobilidade física não desapareça de vez.
A “princesa” de Ana Cristina olha para
nós com um olhar meio perdido, confuso.
Tenta dizer algo, mas fica perdida entre
a realidade e o mundo onde vive devido
à doença.
Começa-se a higiene da idosa, momento que a sua filha não perde, até porque, como a senhora está completamente imóvel,
a sua ajuda é bem-vinda a Ana Cristina.
Também nesta casa são feitas algumas
queixas às raparigas que antecederam
Cristina. Maria José, revoltada por ter
visto a mãe ser maltratada, refere que
“já aqui estiveram uma meninas de uma
instituição, mas elas só querem é o dinheiro, porque não limpavam a minha
mãe. Agora não, ela já fala um pouco e
já consegue mexer as mãos com a ajuda
da Cristina”.
A senhora, deitada na cama, tenta dizer
algumas palavras, mas nada sai com sentido. Todavia, a filha ri para ela com amor.
Este é um dos casos que, na ausência da
família, Ana Cristina vai mais vezes por
dia lá a casa para ajudar no que for preciso. “Quando estavam cá as outras nem
comida lhe davam, eu deixava a comida
para o tempo que estava fora e elas não
lhe davam a comida. Quando chegava
estava a comida estragada e espalhada
pela casa”.
Terminada a higiene, D. Lucinda pede,
com esforço, um beijo a Ana Cristina.
Deu-lhe um beijo na bochecha e, carinhosamente, levanta a mão e acena,
dizendo-nos adeus.
O dia para Ana Cristina foi mais uma
vitória conquistada. Sempre que vê um
sorriso na cara de um dos seus idosos,
sente-se realizada e é isso que a motiva
para todos os dias prestar o mesmo serviço às suas “princesas”.
Cuidados com 21% de IVA
Ana Margarida Batim
A empresa “Amor e Cuidados” surgiu
da ideia de querer ajudar os idosos de
uma forma diferente, dar-lhes mais do
que as necessidades básicas necessárias
a cada um. Faz serviços domiciliários
ao nível da higiene e, quando necessário, da alimentação. Ana Cristina
explica os seus objectivos: “Não pretendo ter uma grande empresa, quero
é dar-lhes o necessário”. O nome surgiu
das iniciais do seu próprio nome: Amor
é o que realmente quer dar, quer tratar
daqueles a quem ternamente chama as
“minhas pessoas”, e Cuidados porque
“é o que eles mais precisam”. A parte
gráfica ficou toda ao seu próprio encargo, desde o logótipo, as cores, até
à imagem que aparece no cartaz. “É
uma fotografia dos meus pais, porque
eles têm 85 anos os dois, mas são uns
jovens que me deram muito apoio, daí
eu querer fazer esta homenagem”. A
empresa trabalha apenas num raio de
15 quilómetros à volta de Abrantes
porque, sendo mais do que isso, Ana
Cristina “não tinha dinheiro nem tempo para ir a todo o lado”.
A sua apresentação oficial foi no Edifício Pirâmide, no dia 26 de Março,
mas poucas pessoas apareceram. No
entanto, Ana Cristina, optimista, afirma: “Não vou deixar de lutar”. O único
apoio que teve foi através do Centro de
Emprego, que apostou na empresa dando-lhe um apoio monetário “que serviu
para comprar um portátil, a carrinha
para as deslocações e duas cadeiras de
rodas”. Era necessário muito mais para
que este trabalho chegasse a mais gente
e da forma correcta, “mas, de momento, ainda não é possível”, porque Ana
Cristina está por sua própria conta. A
Atenção. Maria José está finalmente satisfeita com o tratamento dado à mãe
empresária realça ainda que se sente
descontente com o facto de ser obriga-
da a cobrar mais aos utentes devido ao
elevado IVA que tem de pagar. “O que
eu acho mal é ter de exigir às famílias
21% do IVA, porque isto é um bem
essencial, mas o maior bem que tenho
é conseguir arrancar um sorriso destes
idosos, é uma conquista, para mim”.
Apesar do grande esforço físico que
faz diariamente, esta mulher determinada não aceita qualquer pessoa para
sua colaboradora. Pretende “pessoas
que gostem do que fazem e não apenas interessadas no dinheiro.” Das 37
pessoas que já a contactaram, apenas
uma ficou. “Tive uma que, quando foi
mudar a fralda a uma idosa, desistiu.
É preciso gostar realmente do que se
faz e faz-se muito e vê-se muita coisa”.
Ana Cristina acrescenta, com muita
força e coragem, que “isto é uma utopia
da minha parte, mas quero dar-lhes a
melhor qualidade de vida possível”.
A.L.N. e A.M.B.
10 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007
Incêndios
Governador Civil de Santarém garante
que distrito está preparado para o Verão
dr
Vânia Costa
Uma actuação concertada
Os fogos são uma realidade que nos
surge no pensamento quando ouvimos
tocar a sirene nos dias quentes de Verão.
Mas a prevenção e o combate não cabem
só às equipas especializadas que vão para o terreno, dizem respeito a cada um
de nós. “Existem pequenos gestos que,
por mais banais que possam parecer à
primeira vista, contribuem em grande
escala para a diminuição de ignições e
de incêndios”, refere Paulo Fonseca, Governador Civil do distrito de Santarém,
dando exemplos concretos: “a realização
de queimadas durante o Verão, o lançamento de foguetes ou atirar restos de
cigarros para o chão”.
O Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PNDFCI) foi
feito para dar resposta ao sucedido em
anos anteriores. Com ele extingue-se a
chamada época de incêndios, alarga-se o
período de actuação e prevenção e incluise um maior número de entidades para
o pôr em prática.
É uma estratégia de prevenção que abrange todo o território. Em anos anteriores nem
sempre foi assim, como afirma o governador
civil: “Contávamos, apenas, com os mecanismos e directivas de combate aos incêndios,
direccionados para os Bombeiros, pelo que
não existia qualquer política consistente em
termos de prevenção”.
De acordo com este novo plano contra
incêndios, em cada concelho do país
O Plano Nacional de Defesa da Floresta
contra os Incêndios está estruturado em
cinco eixos estratégicos de actuação:
1. Aumento da resiliência do território aos
incêndios florestais:
• Rever e integrar políticas e legislação;
• Promover a gestão florestal e intervir
preventivamente em áreas estratégicas;
2. Redução da incidência dos incêndios:
• Educar e sensibilizar as populações;
• Melhorar o conhecimento das causas dos
incêndios e das suas motivações;
3. Melhoria da eficácia do ataque e da
gestão dos incêndios:
• Articulação dos sistemas de vigilância
e detecção com os meios de primeira intervenção;
• Reforço da capacidade do ataque ampliado;
• Melhoria da eficácia do rescaldo e vigilância após rescaldo;
• Melhoria das comunicações;
• Melhoria dos meios de planeamento,
previsão e apoio à decisão;
• Melhoria das infra-estruturas e logística
de suporte à DFCI;
4. Recuperar e reabilitar os ecossistemas.
5. Adaptação de uma estrutura orgânica
e funcional eficaz:
• Estruturar o Centro Nacional de Operações de
Socorro (CNOS), a nível nacional e distrital
• Organizar o Serviço Municipal de Protecção Civil
• Avaliação do PNDFCI
Paulo Fonseca. Pequenos gestos ajudam na diminuição dos incêndios
são criadas as comissões Municipais de
Defesa Contra Incêndios e os respectivos planos Municipais de Defesa Contra
os Incêndios. “No distrito de Santarém,
quase todas as autarquias têm já estas
premissas cumpridas”, acrescenta Paulo
Fonseca.
As Zonas de Intervenção Florestal
(ZIF´s) que o Estado coloca à disposição dos proprietários e produtores florestais tiveram pouca adesão no distrito
de Santarém.
Por este motivo, é preciso passar a
mensagem de como estas zonas de intervenção são importantes pois, como
menciona o governador Paulo Fonseca, “a
associação de propriedades permite uma
gestão mais rentável da massa florestal,
com proveitos para todos, e, consequentemente, criar condições para uma cada
vez melhor protecção da floresta contra
os fogos”.
O distrito de Santarém encontra-se
preparado para o combate aos incêndios
contando, este ano, “com o reforço significativo de bombeiros e de meios aéreos,
com a Força Especial de Bombeiros, vulgarmente conhecidos como Canarinhos”,
refere Paulo Fonseca.
Este plano vem realçar o papel de todos
nós na prevenção contra os fogos e no
auxílio daqueles que, por nós, arriscam
a vida. “Estes serão os últimos responsáveis, pois arriscam a própria vida para
salvar os outros e os bens alheios”, remata
Paulo Fonseca.
Autarquias previnem incêndios
A Câmara de Abrantes e a Câmara do
Sardoal aderiram ao Programa de Voluntariado Jovem para as Florestas, promovido pelo IPJ – Instituto Português
da Juventude, que visa a preservação
das florestas por jovens voluntários que
vão vigiar, inventariar as áreas ardidas,
limpar e reflorestar as florestas portuguesas. O programa, dirigido a jovens
com mais de 18 anos que residam em
Portugal, decorre no período de Junho
a Setembro.
Em comunicado, o município de
Abrantes explica que o seu projecto
visa a constituição de duas equipas de
jovens voluntários por quinzena. Cada
equipa será constituída por quatro ele-
mentos. Pretende-se que uma das equipas faça vigilância fixa, sendo que o seu
posto ficará localizado no Castelo da
cidade (abrangendo a zona do jardim),
permitindo uma visão de 360º em torno da cidade e com alcance até alguns
concelhos vizinhos. A outra equipa
circulará de moto pelo concelho, com
incidência nas zonas onde se localizam
as manchas florestais mais densas e
que urge preservar, tendo como tarefas
acções de limpeza e manutenção de algumas áreas problemáticas, caminhos e
parques de merendas, designadamente
a zona envolvente ao Parque Urbano de
Abrantes (S. Lourenço).
De acordo com a nota de imprensa
do município do Sardoal, os voluntários que aderirem a este programa
terão direito a uma bolsa diária de 12
euros, a um seguro de acidentes pessoais e ao equipamento necessário para
a execução das tarefas que lhes forem
incumbidas.
Os jovens interessados em participar neste programa, em Abrantes,
podem fazer a inscrição, até 14 de Setembro, junto do Serviço Municipal de
Protecção Civil, localizado na Praça
Raimundo Soares, ou para o telefone 241 330 200. No caso do Sardoal, as
inscrições estão abertas até 31 de Agosto, no Gabinete Técnico Florestal desta
Autarquia, sito no quartel dos Bom-
beiros Municipais. Mais informações
sobre este programa também podem
ser recolhidas junto das delegações do
IPJ ou em http://juventude.gov.pt/Portal/IPJ. Para Abrantes, esta iniciativa é
apenas uma das vertentes de um plano
mais geral que abrange, por exemplo,
um processo de contratação, a termo
resolutivo certo, de dez elementos que
irão integrar o quadro de efectivos dos
Bombeiros Municipais de Abrantes durante seis meses. Para além do reforço
dos efectivos, este processo permite
que os dez elementos desempenhem
funções a tempo inteiro.
Por outro lado, a Câmara de Abrantes está a desenvolver um conjunto
de acções que visam a sua protecção
contra incêndios: acções de sensibilização, acções de prevenção e acções
de combate.
No âmbito da sensibilização, foi
desencadeada uma acção pedagógica
junto da população, com a colaboração
da imprensa, mediante divulgação de
alguns conselhos e cuidados básicos
sobre como preservar a floresta e como
actuar em caso de incêndio.
Foi ainda realizada uma campanha
publicitária junto das duas rádios do
concelho e foi distribuído em casa de
cada munícipe um folheto informativo
sobre o que deve e o que não deve fazer
em matéria de incêndios florestais.
Técnicos
Oficiais de
Contas
Projectos
Económicos
Trabalhos de
Computador
Praça Barão da Batalha, N.º8
2200-365 ABRANTES
Telefone e Fax
241 361 096
29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 11
Publireportagem
Bosch comemora 25 anos
As expectativas foram superadas, o saldo é positivo! Este foi o balanço do Dia do Desporto na Robert Bosch Travões que decorreu no passado dia
20 de Maio. Foi o primeiro dia dedicado às comemorações do 25º Aniversário da Bosch em Abrantes. No dia 15 de Setembro será realizada uma
actividade aberta a toda a comunidade; todos aqueles que desejem conhecer a fábrica poderão fazê-lo no Dia de Portas Abertas. A cerimónia
Oficial dos 25 anos decorrerá no dia 21 de Novembro.
As expectativas criadas em relação a
este evento foram superadas e decorreu
com uma exelente adesão por parte de
todos os participantes. Foram cerca de
220 os funcionários Bosch que se deslocaram ao Kartódromo de Abrantes
para realizarem actividades desportivas.
Entre elas o Karting, Paintball, Gincana
e Maratona. Os mais novos também não
foram esquecidos: os filhos dos colaboradores tiveram à sua disposição um insuflável e um painel de pintura. O lema
do Dia do Desporto foi “25 anos com a
sua família”. Esta extensão do evento à
família permitiu ilustrar que “a família
é o mais importante das nossas vidas”,
confessa José Pacheco.
O dia do desporto foi inteiramente dedicado aos colaboradores .“Cremos que
este tipo de eventos aumenta a interacção
entre colaboradores de diversos sectores
e departamentos que, normalmente ao
longo do ano, não têm muitos contactos
directos” - refere José Pacheco, Director
Geral da Robert Bosch.
Durante todo o dia as crianças tiveram
à sua disposição uma lona onde puderam
pintar o painel, para além de brincarem no
insuflável. Para os mais crescidos a manhã
começou com uma maratona; foi a acção
que contou com menos participantes.
Seguidamente houve o pequeno--almoço
que antecedeu o Karting, a grande atracção da manhã de domingo. Depois do
almoço as actividades recomeçaram com
uma gincana e o paintball, actividade que
teve adesão total dos participantes do dia
do desporto da Bosch.
A actividade que suscitou mais interesse foi o Karting, onde a vontande de
ganhar foi notória. Esta foi a acção que
contou com o maior número de participantes. O Paintball foi também um
sucesso, tendo despertado a motivação
dos menos interessados, que participaram como verdadeiros especialistas. A
Gincana e a Maratona foram as actividades que tiveram menos participação mas,
apesar da pouca adesão, proporcionaram
momentos de bom convívio e diversão.
Os insufláveis presentes e a pintura
de painel existente para os mais novos
foram as actividades preferidas das
crianças, que demonstraram grandes
talentos. “Gostaria de destacar o trabalho estupendo das crianças que nos
presentearam com a pintura de um
painel, que agora pode ser admirado
no interior das nossas instalações” - diz
José Pacheco.
A Direcção da empresa sempre se empenhou em apoiar diversas actividades com
vista à promoção de uma sã convivência
entre colaboradores. Exemplo disto é a
participação de um colaborador da Robert
Bosch numa prova desportiva de BTT,
onde durante 24 horas se irá peladar sem
interrupção no Parque de Monsanto em
Lisboa. Esta participação está subordinada
ao tema “25 anos em 24 horas”. “Da parte
do colaborador”- acentua José Pacheco“assistimos a uma demostração do espírito de tenacidade em associar-se mais de
perto às comemorações dos 25 anos de
actividade.”
Comemorações a realizar
em Setembro
As próximas actividades a decorrer no
âmbito dos 25 anos da Robert Bosch Travões terão um cariz mais institucional,
viradas para a mostra da actividade da
fábrica.
O Dia das Portas Abertas será no dia
15 de Setembro. Este ano será a primeira
vez que as portas serão abertas também à
comunidade local, para além dos colaboradores e convidados. A evolução da empresa irá ser ilustrada numa brochura que
estará disponível nas instalações da Bosch
Travões, com a história da empresa, fotos,
testemunhos de personalidades da história da fábrica, demonstrando o registo
histórico da evolução da empresa.
Dia oficial dos 25 anos
O dia oficial das comemorações dos 25
anos realizar-se-á no dia 21 de Novembro,
também terá um caracter institucional e,
será assinalada com uma cerimónia formal,
seguida de uma apresentação da empresa,
do trabalho realizado e das condições que
oferece aos seus colaboradores.
12 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007
Região
joão alves
A maior obra de sempre do concelho
Açude. Com uma tecnologia de ponta japonesa, a estrutura que deu origem ao “mar de Abrantes” tem despertado a curiosidade de investigadores e alunos de vários pontos do país
João Alves
Pouco passava das 11h00 do dia 23 de
Abril quando foi anunciado que se iria
insuflar a última das quatro comportas.
“Vai demorar pelo menos uma hora a encher”, vaticinava alguém. Mas 15 minutos
bastaram para que o açude começasse a
represar a água do rio, dando vida ao novo “mar de Abrantes”. Um processo lento,
até pela dimensão do espaço a inundar,
mas que ao final do dia estaria concluído,
atingindo a cota máxima.
“Queríamos uma obra de grande dimensão, que transformasse esta zona
num pequeno mar - o “mar de Abrantes
- à nossa disposição, da região e do País”
– diz Nelson de Carvalho, presidente da
autarquia.
A obra começou em Novembro de
2004 e os 240 metros de comprimento
do açude estendem-se já sobre o Tejo. A
última das quatro comportas insufláveis
foi instalada no dia 15 de Abril. O mês
de Junho fica marcado para o momento
da inauguração.
Trata-se da maior obra de sempre,
numa única empreitada, adjudicada
no concelho de Abrantes. O Açude é
o elemento estruturante do Aquapolis
– Parque Urbano Ribeirinho.
Com características únicas no País, o
açude fica localizado a cerca de um quilómetro a jusante da ponte rodoviária
de Abrantes e permite a criação de um
espelho de água, vital para o desenvolvimento de espaços destinados à prática de
desportos náuticos e actividades de lazer.
É constituído por cinco vãos e caracteriza-se, sobretudo, pela utilização de
comportas insufláveis com altura não
superior a 3,20 metros. O comprimento,
de margem a margem, é de aproximadamente 240 metros. O açude integra
também uma passagem de peixes que
se localiza na margem esquerda sobre a
plataforma rochosa aí existente, permitindo a circulação de diversas espécies
piscícolas.
Foi realizado um estudo de avaliação
de incidências ambientais, dirigido no
sentido de minimização de impacto ambiental, com relevo para a análise da necessidade de integração duma passagem
de peixes e para a análise relacionada com
a vertente sedimentológica do transporte
sólido no Rio Tejo.
Foi Fernando Rente, engenheiro responsável pelo acompanhamento da obra,
que explicou como funcionam as comportas insufláveis “feitas à base de borracha e pela Bridgestone”, um dos maiores
fabricantes mundiais de pneus: “As comportas estão ligadas a um autómato que
insufla ou desinsufla conforme o nível do
caudal do rio.” As descargas a montante,
provenientes da barragem de Belver, são
uma das responsáveis pela variação dos
caudais. Quando estes atingem a cota 24
(cota máxima) o autómato acciona o dispositivo de desinsuflação das comportas.
“Com as comportas clássicas o processo
seria muito mais complicado, pois teriam
de ser fixas. No Inverno, teriam de ser
retiradas com uma grua para voltarmos
a colocá-las na Primavera”, explica.
Terminaram no dia 30 de Abril os ensaios gerais de funcionamento das comportas do Açude Insuflável no Tejo, que
decorreram com normalidade, tendo sido
atingida na albufeira a cota de referência
(22,85), o que permitiu a criação de um
plano de água muito perto do real
O açude insuflável construído no rio
Tejo na zona de Abrantes, um investimento na ordem dos 10,5 milhões de
euros, resultado de um esforço financeiro
repartido pelo Município, Governo e
União Europeia, está a despertar a curiosidade de muita gente de norte a sul do
País. Os departamentos de engenharia e
hidráulica de várias universidades enviaram ali técnicos e estudantes para analisar
esta obra, que se tornou um verdadeiro
“case-study”.
Desde estudantes de Engenharia Civil
até entidades políticas da região, várias
pessoas têm passado para admirar a obra.
“É que comportas insufláveis não existem
em lado nenhum”, diz Nelson de Carvalho, presidente da câmara Municipal de
Abrantes. “Estas são as únicas insufláveis
em todo o País”, afirma, sem esconder
uma ponta satisfação.
Muitos são os grupos que até ali se mobilizam, interessados em ver o resultado
de requalificações e as dinâmicas que
estão a ser geradas. Amantes do desporto
náutico e também especialistas do ramo
da hidráulica são outros dos interessados,
movidos pela curiosidade de apreciar a
obra e a tecnologia aplicada à mesma.
Tecnologia de ponta que a autarquia
abrantina importou do Japão.
de animação das principais praças, artistas como os Cubanitos, Ferro e Fogo,
Kwantta, Estatuna, Assemblent, Banda
Kalumba, Jimmhell, Perfect Sin, Spencer
Group, Declínios, Phil Case e The Doll &
The Puppets, entre outros.
Contudo, a animação não ficou por
aí, sendo que, no âmbito das festas da
cidade, também se realizaram actividades
de projecção de filmes de animação e
documentários, cinema mudo, garraiadas, jogos lúdicos, exposições e o XVI
encontro de coros do Ribatejo, entre outras actividades. As ruas repletas de gente
eram a prova viva de que este género de
iniciativas vem assim criar um ambiente
apelativo, promotor de diversão de todas
as faixas etárias.
O desporto foi também um importante
componente na dinâmica das festas da
cidade. O voleibol, o futebol de praia, o
futebol de salão, o festival de canoagem,
o downhill urbano, a milha urbana João
Campos, o Grande Prémio de Carrinhos
de rolamento, os torneios de pesca e a
mega-aeróbica foram apenas algumas
das actividades das quais os residentes e
visitantes de Abrantes puderam desfrutar
durante esta animada semana repleta de
alegria e cor.
A responsabilidade pela organização
ficou a cargo da Câmara Municipal de
Abrantes e da Associação Centro Comercial de Ar Livre de Abrantes, em parceria
com associações e grupos do concelho e
arredores. V.I.
Festas de Abrantes 2007
fátima vieira
Teve lugar na cidade florida mais uma
edição das Festas de Abrantes, entre 8 e
14 de Junho. Uma semana de festas em
que a Abrantes ganha ainda mais cor,
vida e animação, com a apresentação
de um conjunto de actividades variadas
e festividades em mais de dez lugares
diferentes por toda a cidade.
As calmas ruas, praças, largos, e até os
espaços à beira-rio, sofrem a transformação influenciada por este certame. Os
espaços enchem-se de gente, artesanato,
apresentações e produtos tradicionais,
de regiões dos mais diversos pontos do
país. Assim como os típicos cheiros a
farturas e algodão doce, característicos
das feiras.
Encabeçaram, por estes dias, o cartaz
Animação. Os grupos musicais constituem uma das fortes apostas do município
29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 13
Região
Cavalo Lusitano
Filhos do vento
Desde a idade do ferro, em que povos eram conquistados por outros povos, em que sangue era derramado em nome da sede de espaço e da
conquista de território, que é reconhecido o valor nobre do cavalo, um dos mais fiéis companheiros do homem.
Vânia Costa
José Pinto
Dizem os entendidos que houve uma
espécie de mistura de cavalos trazidos
por povos como os Fenícios, os gregos
ou os cartagineses, que em tempos habitaram a península ibérica.
No entanto, não terá sido o suficiente
para influenciar o cavalo existente na
Hispânia, o Cavalo Ibérico. Este era o
cavalo sobre o qual se contavam histórias, sobre o qual se fizeram lendas.
Os Gregos chamavam-lhe “filho do
vento”.
Eram os cavalos da Lusitânia, conhecidos pela sua velocidade e astúcia.
O nome Lusitano vem dos povos que
habitavam a parte Oeste da península
Ibérica, mais tarde (em 27 A.C.) foi
criada a provincia “Lusitânia”, uma região administrativa Romana que se
situava entre-os-rios Douro e Guadiana. Mais tarde, os árabes seguiram os
visigodos na Península e trouxeram
com eles cavalos Árabes e cavalos Berberes que se cruzaram com os cavalos
existentes na altura na Península.
Portugal foi fundado no século XII
num tempo em que os cavalos tinham
um papel muito importante no campo
de batalha, onde era usado de duas
formas: “Gineta”, em que o cavaleiro
necessita de um cavalo não necessariamente grande mas rápido e ágil que
lhe permita o arremesso e a luta com
espada e escudo; “Brida”, uma forma
de combate trazida dos cavaleiros do
Norte da Europa, em que o cavaleiro
tem uma armadura pesada e uma lança
comprida e era usado o poder de choque do cavalo para investir. Neste caso
era importante um cavalo de grandes
dimensões.
Temperamento. Nobre, forte, generoso e trabalhador, o cavalo lusitano é sempre dócil
Mais tarde, com o desenvolvimento
das armas de fogo, uma nova forma de
montar foi necessária em que novamente o importante era ter um cavalo
rápido e ágil.
Em 1885, Bernardo Lima, no seu livro
sobre raças de cavalos Portuguesas, usa
o termo Lusitano para cavalos nascidos
e criados em Portugal. Em 1889 foi cria-
do o Stud Book Português. Em 1942, os
veterinários da Coudelaria Nacional
decidiram usar o nome Lusitano para
cavalos nascidos em Portugal e com
características que os permitiam serem
inscritos no Stud Book Português. A
raça Lusitana começou oficialmente
apenas em 1967. Nasce então o cavalo
Lusitano, o Cavalo de Portugal.
Características do cavalo lusitano
Com um peso próximo dos 500 kg, sub--convexilínio (de formas arredondadas) e de
silhueta inscrítivel num quadrado, o cavalo lusitano tem uma altura média ao garrote
de cerca de 1,60 m. Com pelagem habitualmente ruça e castanha, este cavalo é
ágil e tem uma tendência natural para a concentração, com grande predisposição
para exercícios de Alta Escola e grande coragem e entusiasmo nos exercícios da
gineta (combate, caça, toureio, maneio de gado, etc.). O cavalo lusitano tem um
temperamento nobre, generoso e ardente, mas é sempre dócil e sofredor.
Pedro Pereira Marques, sócio-gerente do centro equestre de Abrantes
Vânia costa
Há quanto tempo cuida de “cavalos lusitanos”?
Há pouco menos de um ano, que foi quando
integrei este projecto do centro hípico. No fundo a
minha história “nestas andanças” é muito recente.
Sempre foi o que quis fazer?
No fundo esta actividade surgiu a partir do momento que decidi criar uma empresa de actividades
e lazer. Havia um grande interesse em cavalos e, no
fundo, juntou-se o útil ao agradável. Sempre estive
ligado aos animais.
Há diferenças no tratamento entre as diversas
raças?
Não existem grandes diferenças. Tudo depende da
função ou da adaptabilidade de cada cavalo. Aqueles
que exercem funções diárias, exigem mais trabalho.
O cavalo Lusitano é um cavalo utilizado mais a nível
de lazer. No fundo, é comparar uma pessoa que faz
desporto de competição e os que o fazem por lazer.
No processo educativo, quais são as principais
dificuldades?
Há diferentes exigências. Um cavalo, para começar
a ser montado, passa por um período muito importante, que é o de debaste. Aqui o cavalo faz uma aprendizagem, e é aqui que explicamos ao cavalo aquilo que
queremos. Há métodos mais duros para o cavalo, pois
Pedro Pereira Marques. “A cabeça do lusitano é muito fácil de ensinar”
são muito exigentes, mas também há métodos em que
se utilizam brincadeiras para se ensinar.
O cavalo lusitano relaciona-se bem com o criador?
O lusitano é um cavalo extremamente afectuoso,
muito ligado às pessoas e não um cavalo distante do
criador. O cavalo lusitano é muitas vezes utilizado
em “cruzamentos”, para dar mais carácter e inteligência à raça que dali sair. Essa é a razão pela qual o
Lusitano é conhecido em todo o Mundo.
Qual a postura do cavalo em competição?
A obediência é uma das qualidades desta raça.
Sendo a “cabeça do lusitano” muito fácil de ensinar, essa postura vai, obrigatoriamente, reflectir-se
também em competição, embora o lusitano não seja
muito utilizado para esse fim.
Como são as condições em Portugal para se praticar hipismo?
Penso que temos excelentes condições, inclusivamente climatéricas. Há países do norte da Europa
que têm excelentes cavaleiros e excelentes selecções
que, durante os meses frios, vêm treinar-se a Portugal. Para nós essa é uma mais valia.
É o que pensa fazer para sempre?
O futuro é incerto, mas logo se vê.
14 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007
Iniciativa
Filme de animação sobre Palha
de Abrantes feito por crianças
luize te santos
O filme em
números
Dayana Delgado
O Rio Tejo e a Palha de Abrantes serviram de inspiração a um filme de animação com características muito especiais.
A ideia partiu dos Espalhafitas e quem
a concretizou foram alunos da Escola
Básica 1, do Rossio ao Sul do Tejo. O resultado foi o “Mar da Palha”, uma história
animada, contada por miúdos. Através de
sequências de desenhos contam como,
noutros tempos, a palha de Abrantes
descia o Tejo até Lisboa.
Tudo começou com a realização de um
workshop sobre animação, organizado
pelos Espalhafitas. A iniciativa contou
com a presença de dois realizadores do
Fundão, Rodolfo Pimenta e Nelson Fernandes. Maria de Lurdes, da direcção
dos Espalhafitas, conta que os dois realizadores “trazem na bagagem uma vasta
experiência em animação, tendo ganho
vários prémios fora do país, inclusive na
Finlândia”. E esta experiência foi também
aproveitada para desenvolver o projecto
com os miúdos, uma vez que estes dois
realizadores assumiram a formação dos
pequenos artistas.
Na escola foram escolhidas crianças
com idades compreendidas entre os seis
e os dez anos. Os seleccionados estiveram, durante um mês, no período da
manhã, em contacto com os formadores.
Aperfeiçoaram a pintura e o desenho.
Descobriram a mesa de luz. Aprenderam
como se faz um desenho animado, na
teoria e na prática.
Dentro de uma sala de aula, comum e
igual a qualquer outra, mas munida de
equipamentos próprios para montagem
do filme, todos os dias, das 9h00 às 12h30,
as crianças dedicam-se a dar asas à sua ca-
• Participaram 19 alunos no projecto;
• As crianças passaram 13 manhãs das
9h00 às 12h30 a desenhar e a pintar;
• Foram precisos aproximadamente
5.100 euros para realização do produto
final;
• O filme tem uma duração de 2 minutos e 50 segundos;
• Foram 800 crianças à ante-estreia,
acompanhados por professores;
• Utilizaram 1.500 desenhos para a realização do filme;
• Foram necessárias 120 canetas para as
crianças pintarem os desenhos;
• Compraram 2.000 folhas que são indispensáveis para desenhar.
Projecto. “Aprendi que para se ter um segundo de movimento são precisas 24 ou 25 imagens”
pacidade artística, elaborando vários desenhos. Inquietas, activas e muito alegres, as
crianças dedicam o seu talento a desenhar
e a colorir os desenhos por eles outrora
feitos. Contagiados pela alegria dos mais
pequenos, os formadores dedicam o seu
tempo a ensiná-los a desenhar, a pintar e
como se trabalha com os equipamentos.
Mas, afinal, em que consiste o projecto?
Rodolfo Pimenta responde: “O nosso
projecto consiste num fotograma 25 em
que um dos objectivos é fazer com que
as crianças retenham como funciona
um fotograma, isto é, como se faz os de-
senhos animados. O projecto acaba por
ser o resultado final do trabalho realizado
pelas crianças na escola, onde pomos em
prática as experiências que temos, com as
delas.” Nelson Fernandes observa que “a
orientação da realização do filme é nossa,
mas a iniciativa é do grupo Espalhafitas
de Abrantes, que nos convidou”.
Ainda sem saber muito bem como é
que o Espalha Fitas teve conhecimento da
actividade dos dois realizadores, Rodolfo
Pimenta admite que tenha sido “talvez
por causa dos resultados dos trabalhos”
que já têm vindo a desenvolver no Fun-
dão. Assegura que, também em Abrantes,
“um dos objectivos é o resultado final do
filme, tendo em conta as histórias e as
lendas que as crianças aprendem sobre a
cidade”. Mas não é só: “ Ao mesmo tempo
estão a descobrir o cinema”.
Muito inquietas, as crianças andam de
um lado para o outro, com os desenhos,
os lápis de cor, canetas de filtro, lápis de
cera na mão, tentando colorir o máximo
de desenhos para o filme. Entre a balbúrdia das crianças, ouve-se Diana, de
nove anos, a dizer: “Eu já desenhei vários
peixes, várias palhas de Abrantes e o rio”.
Centro Comercial Millenium
Gabinete 2.11 - Abrantes
Telef. / Fax: 241 106 399
Tm.: 96 658 76 98
E-mail: [email protected]
Ap. 27 - Alferrarede
2204 - 906 ABRANTES
Logo de seguida, Rodrigo de seis anos,
realça: “Eu já desenhei o sol, a margem do
rio e a relva.” Rodrigo ainda explica que
acha “o rio bonito, onde os pescadores
vão pescar os peixes para comermos”.
Entre as crianças, ouvem-se comentários que indicam que os amigos ficaram
zangados por não terem sido escolhidos.
Mariana, aluna do 4º ano, de nove anos,
apresenta provas dos conhecimentos adquiridos: “Aprendi a desenhar, a copiar
os desenhos na mesa de luz e também
aprendi que, para se ter um segundo de
movimento, ésãoprecisas 24 ou 25 imagens, e com dois desenhos enrolados num
lápis posso ver as imagens em movimento
se mexer rápido o lápis”.
A antestreia do filme foi no dia 24 de
Maio, no Cine-Teatro São Pedro, e contou com a presença de 800 crianças que
foram acompanhados dos respectivos
professores. A estreia foi no sábado seguinte e contou com a presença de aproximadamente 120 pessoas, havendo várias
actividades. Por exemplo, a exposição de
outros filmes feitos por crianças de outras
escolas do país, assim como a apresentação
do “making of” do filme feito no Rossio.
Posteriormente, foi exibido o filme e, no
final, as crianças tocaram a banda sonora
do filme em bilhas de plásticos.
As pessoas aplaudiram e esperam que
iniciativas do género sejam cada vez mais
frequentes.
29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 15
Iniciativa
Animaio, um presente para a cidade
luize te santos
Blandina Machado
Levar novos públicos ao cinema e dar a
oportunidade de se verem novas linguagens
cinematográficas tem sido a ideia principal levada a cabo, desde o início, pelos
Espalhafitas. Este Cineclube de Abrantes
promoveu, pela segunda vez, o Animaio,
conjunto de iniciativas em torno do cinema
de animação. Maria de Lurdes, um dos elementos do grupo, explica que “é importante
que se faça uma coisa diferente, para além
das sessões alternativas de quarta-feira, que
trazem necessariamente os filmes que não
passam em cinema comercial e que não
passariam aqui de outra forma”.
Em Abrantes, o público mostrou-se receptivo ao projecto Animaio, tendo muitas
escolas levado os seus meninos a ver os
filmes de animação. Mas esta linguagem cinematográfica ainda é vista como algo que
apenas serve um público infantil, quando
é muito mais abrangente. “As pessoas não
aparecem por isso”, constata Paula Dias, dos
Espalhafitas. “Mesmo assim, houve uma
boa adesão à exibição, sobretudo no filme
concerto”, refere Maria de Lurdes.
O Animaio decorreu ao longo de uma
semana com a projecção de vários filmes, de
curtas-metragens premiadas no Cinanima,
do filme/concerto “Curtas da Walt Disney”
pela banda “Heart of Trio” e do filme “O
Mar da Palha” (ver texto ao lado). A possibilidade de produzir um filme de animação
entre uma turma de jovens realizadores foi
uma experiência vivida pela primeira vez
no concelho.
Os Espalhafitas há cinco anos que vêm
presenteando, com as suas exibições de
cinema alternativo às quartas-feiras, a cidade abrantina. A ideia de fazer o Animaio
é já antiga, mas foi posta em prática no
ano passado pela primeira vez. “No quarto
aniversário d’Os Espalhafitas, com o Animaio 2006, fizemos um workshop com
uma oficina de animação. Tivemos muita
adesão por parte das escolas e verificámos
que havia um campo que se podia trabalhar.
Novidade. Alunos do Rossio ao Sul do Tejo aprenderam as técnicas da animação e a preparação de um fotograma
HiperMed
Representação de Material Médico, Lda.
Praça Barão da Batalha, 40 – 1º
2200-365 Abrantes
Tel: 241 362 369
Fax: 241 377 101
www.hipermed.pt
E-mail: [email protected]
Brocas, Implantes, Endo Mecanizada, Suturas, Branqueamento,
Instrumental Clínico e Cirúrgico, Compósitos, etc.
Mas no ano passado fizemos apenas uma
mostra de filmes feitos por grandes realizadores. Sabíamos que este era um projecto
capaz de resultar.” Maria de Lurdes salienta
ainda que este ano o objectivo era fazer uma
obra completa: “Queríamos passar uma
experiência, em que todas as técnicas são
utilizadas”. A ideia foi prontamente acolhida
por Américo Pereira, professor da Escola
Básica 1 do Rossio ao Sul do Tejo.
Em cinco anos, os Espalhafitas têm vindo
a apostar em várias actividades, tendo já
lançado os workshops de fotografia e de
vídeo, assim como este projecto de animação. Apesar da dificuldade de serem poucos
elementos na organização e com os poucos
recursos de que dispõem, têm lutado por
levar a bom porto os projectos a que se propõem, tendo para isso o apoio do ICAM e
da Câmara Municipal de Abrantes, que lhes
cede o espaço – o Cine Teatro S. Pedro.
Embora tenham já conquistado um
público residente, a crise que se sente na
cultura também se faz sentir no cinema.
A divulgação também falha muitas vezes,
como confessa Maria de Lurdes: “Nós não
temos capacidade de investir em publicidade e a comunicação social da terra não
valoriza”. Por outro lado, a adesão por parte
das pessoas não é a que se desejaria, como
Carlos Coelho, outro elemento dos Espalhafitas, faz notar: “Em cinco anos não
ganhámos o público que queríamos e, por
isso, começámos a pensar em função do
público que já temos. A ideia é começar a
acarinhar esse público”.
Novas apostas estão em cima da mesa:
“Fazer ciclos sobre História do Cinema, um
arquivo de imagem, cinema nas aldeias,
animação de verão, e o projecto Documentar, que parte da discussão que envolve
várias entidades e parcerias”.
16 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007
Região
“Não há sistemas
de armas perfeitos”
O Edifício Pirâmide em Abrantes fardou-se a preceito testadas na fábrica austríaca da Steyer, a mobilidade das
para receber um dia inteiro de palestras sobre as novas Pandur permitirá desenvolver “operações de estabilização
viaturas Pandur, que irão reequipar o Exército Português. de regiões de onde podem emanar ameaças terroristas, ou
O Coronel Tiago Vasconcelos foi o anfitrião deste dia que cuja instabilidade pode torná-las mais propícias à geração
ficou também marcado pela presença do Tenente General de ameaças terroristas”, aclara o Coronel Vasconcelos.
José Carlos Cadavez.
As novas viaturas já estão a ser utilizadas pelo exército
“Terrorismo” foi a palavra que mais se destacou na apresen- norte-americano, daí a deslocação de um “oficial do exército
tação das novas viaturas do Exército Português, no passado dos Estados Unidos, que veio da Alemanha (onde está em
dia 12 de Abril em Abrantes. A recente aquisição representa missão) de propósito a Abrantes fazer a sua comunicação
“um salto qualitativo muito grande para o nosso exército”, sobre uma brigada americana que está equipada com este
frisou o Tenente General Cadavez. Tiago Vasconcelos, Co- tipo de viaturas”, referiu Tiago Vasconcelos. Segundo o
ronel à frente da Escola Prática de Cavalaria de Abrantes, Coronel Vasconcelos, de Espanha, onde estas viaturas
lembrou que “não há sistemas de armas perfeitos”, mas “estas modernas já são usadas, veio “um oficial do exército esviaturas são as mais sofisticadas e as mais avançadas, para panhol, directamente a Abrantes, também para fazer a sua
cumprir as missões que lhe
comunicação”.
estão destinadas”.
Num país em contenção
dr
São cerca de 260 as viaturas
de despesas, o Tenente Geque irão reequipar o exército
neral Cadavez não teme o
português. Para o Tenente
incumprimento do plano de
General Cadavez, que marreequipamento do Exércicou presença em Abrantes,
to, mas admite que “poderá
estas “são viaturas altamente
haver alguma dilação”. O
móveis, tácticas, dotadas de
Tenente General clarificou
rodas e não de lagartas, mais
que os contratos prevêem
viradas para a rede urbana
“cláusulas penalizadoras se,
de estradas”. As Pandur vêm
porventura, houver algum
substituir as viaturas Chaiconstrangimento”. Resta esmite, ao serviço do Exército
perar para ver se o plano de
Português desde 1967.
reequipamento será integralConstruídas e inicialmente Pandur. Viatura que vêm substituit as Chaimite
mente cumprido. T.L.
12º ano.
E agora?
João Alves
O ESTAjornal elaborou um inquérito
para os alunos do 12º ano de escolaridade da Escola Secundária Dr. Solano
de Abreu e Dr. Manuel Fernandes. O
objectivo era saber quais as perspectivas dos alunos que estão a finalizar o
ensino secundário em relação ao ensino
superior e às perspectivas que têm para
o futuro, agora que uma nova etapa se
aproxima.
Dos 106 alunos inquiridos (55% do
sexo feminino) das diferentes áreas, e
após a análise dos dados, verificamos
que 85% dos alunos que estão a acabar
o ensino secundário pretende continuar os estudos.
Ao concluírem o 12º ano de escolaridade os alunos deparam-se com uma
questão pertinente e decisiva para as
suas vidas: que curso devo escolher e
para onde é que vou estudar?
Os estudantes das escolas secundárias de Abrantes parecem que pouco
ou nada têm a decidir à excepção de
alguns casos. A maioria destes alunos
já decidiu o curso em que pretendem
ingressar. A maior parte (70%) dos
alunos pretende ingressar nos cursos de
Engenharia, principalmente no curso
de Engenharia Mecânica, Gestão, Direito e Enfermagem.
Uma das questões do inquérito prendia-se com as razões da escolha do estabelecimento de ensino que os alunos vão
escolher para estudar. Mais de 95% dos
alunos fizeram as suas escolhas tendo
em conta que consideravam ser um bom
estabelecimento de ensino e porque tem
o curso pretendido, não havendo uma
percentagem significativa em relação às
médias e ao valor das propinas.
Lisboa, Aveiro, Coimbra e Santarém
são as cidades de eleição. Dos alunos
inquiridos mais de metade optou por
estas cidades. Habituados à calma cidade de Abrantes, estes jovens prestes
a serem caloiros, optaram assim por
cidades de grande dimensão e mais
desenvolvidas.
Poucos são os alunos que escolheram
Abrantes como cidade para estudar
futuramente. Muitos deles preferem
sair da sua área de residência.
Uma nova etapa se aproxima e muitas perspectivas em relação ao ensino
superior.
29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 17
Tradição
Festa dos Tabuleiros
Animação e cor voltam a Tomar
Nelson Ferreira
A poucos dias de mais uma edição da
Festa dos Tabuleiros o EstaJornal esteve
à conversa com João Vital, mordomo da
edição deste ano. A Festa dos Tabuleiros ou Festa do Divino Espírito Santo
é uma das manifestações culturais e
religiosas mais antigas de Portugal. A
tradição continua ainda hoje, tal como
muitas das suas cerimónias. A principal
característica da Festa dos Tabuleiros
é o Desfile ou Procissão, com um número variável de tabuleiros, em que
estão representadas as 16 freguesias
do concelho.
Para mostrar um pouco a sua grandeza podemos referir que, na última
edição, segundo algumas estatísticas,
estiveram presentes cerca de 800 mil
visitantes durante toda a semana. Na
presente edição tudo aponta para que
este número volte a ser atingido, visto
que ao nível dos hotéis e estalagens as
vagas para essa semana já são muito
poucas ou quase nulas.
Tal como João Vital nos revelou, a
Festa dos Tabuleiros caracteriza-se
como “uma festa essencialmente de
cor, pela beleza e pela forma como os
tabuleiros e as ruas são decoradas. Mas
obviamente também não podemos esquecer o seu cariz religioso”.
A edição deste ano irá decorrer de 30
de Junho a 9 de Julho. Nestes dias não
irá faltar animação em Tomar, cidade
onde os habitantes unem esforços de
quatro em quatro anos, para que tudo
corra bem, e se enchem de orgulho por
ver o seu enorme esforço e dedicação
premiados com a vinda de milhares
de visitantes.
João Vital reforça esta ideia: “O povo
tomarense sente-se orgulhoso por esta
ser uma tradição que lhes pertence e
que protagoniza uma enorme união
entre os seus habitantes. Tem-se notado igualmente uma maior adesão por
parte da população mais jovem, o que
é espectacular”.
Cada edição da Festa dos Tabuleiros é composta por um programa de
animação cultural, sendo que nos dias
da festa passam por Tomar nomes conhecidos do panorama musical, entre
outras actividades, com o objectivo de
animar a cidade.
Pelas ruas da cidade…
Ao passearmos pelas ruas da cidade
nas semanas que antecedem a festa,
Flores l Nas semans que antecedem o ponto alto da festa
ficamos com um pouco do perfume
daquilo que é a Festa dos Tabuleiros.
Regista-se o Cortejo das Coroas, que
simboliza o primeiro acto solene da
Festa dos Tabuleiros e que se destinava,
antigamente, a anunciar à população a
próxima celebração da sua Festa maior.
Aí as ruas estão decoradas com colchas coloridas nas janelas e o chão com
verdura, para que o povo vá lançando
flores à passagem do Cortejo, criando
assim um efeito de cor ímpar e o clima
de alegria que se vive sempre em anos
de Festa dos Tabuleiros.
Começam-se a ver os primeiros tabuleiros, mas tudo ainda muito superficial, pois trata-se apenas de pessoas
a treinar, ficando a ementa principal
guardada para o dia do cortejo. Observamos as primeiras flores a serem
colocadas nas ruas, e toda uma agitação
que pauta por um lado a preocupação
para que tudo esteja pronto a tempo,
por outro lado a enorme alegria da
chegada de mais uma festa, e de verem o seu esforço e dedicação serem
valorizados.
Com a Festa dos Tabuleiros a cidade
de Tomar ganha cor e alegria, e uma
inegável beleza, a que ninguém consegue ficar indiferente.
Uma cidade em movimento
Manuel Mendes
Comandante da corporação
dos Bombeiros de Tomar, 52 anos
O que significa para si a Festa dos Tabuleiros?
A Festa dos Tabuleiros representa um marco importante na vida de todos os habitantes
tomarenses, uma vez que é uma festa com
grande tradição que dinamiza todas as pessoas da cidade. As pessoas começam seis meses
antes da festa a trabalharem para fazerem
flores e todos os preparativos que dizem respeito à festa, para que tudo esteja pronto no
início da festa, para que a tradição e o espírito
se mantenham.
Vai haver algum plano de acção especial,
com vista à Festa dos Tabuleiros, ou vai decorrer tudo dentro do plano normal?
Vamos ter que alargar a segurança, pois
normalmente são dias de muito calor, o que
provoca indisposições em algumas pessoas,
muitas delas devido ao longo tempo de exposição solar. Como tal, nestes dias temos sempre
que ter especial atenção, porque o trabalho
aumenta e desta forma a segurança tem que
aumentar também e são por isso necessários
mecanismos de resposta.
É habitual fazer-se uma estimativa de quantos visitantes a cidade poderá receber em
cada edição da Festa dos Tabuleiros?
Não tem sido necessário. Normalmente
sabemos que nesses dias, nas edições anteriores, desenvolvemos cerca de 50 a 60 serviços,
e a partir daí só temos que aplicar os meios
necessários para que tudo corra bem.
Como funciona o quartel nesses dias?
Nesses dias o quartel funciona na sua máxima força. Tentamos ter o maior número de
elementos disponíveis, sendo que cerca de
60% do pessoal anda nas ruas, para poder
prestar auxílio o mais rapidamente possível às
situações que possam acontecer.
Como tem sido nas edições anteriores?
Sabemos quais as dificuldades que temos
tido nos anos anteriores, por isso temos
vindo a melhorar alguns aspectos de edição
para edição. A PSP (Polícia Segurança Pública) presta-nos o devido apoio, deixandonos alguns corredores livres o que facilita
o nosso trajecto até ao hospital, e também
dentro da cidade.
Jesuína Vinita
Padeira, 43 anos
O que significa para si a Festa dos
Tabuleiros?
Na minha opinião a Festa dos
Tabuleiros é, acima de tudo, uma
tradição que nunca devia acabar,
pois é das principais coisas que a
nossa cidade tem, e que une toda a
população tomarense nos preparativos da festa.
É uma festa de grande valor no
nosso país e tem a grande particularidade de ser só nossa, o que para
mim a torna muito especial. Além
disso é, sem dúvida, um motivo de
orgulho para a nossa cidade e para
todos os nossos habitantes.
Quais as implicações da Festa dos
Tabuleiros no seu trabalho?
Ao nível do meu trabalho posso
considerar que o torna um pouco
mais cansativo, em grande parte
devido aos acessos à cidade estarem muito congestionados no
Café
Portugal
~
Praça Raimundo Soares
RUA MONTIERO DE LIMA, 12
200-428 ABRANTES
Telef. 241 363 248
Fax 241 372 462
fim-de-semana do cortejo, para
além de muitas das ruas em que
passo todos os dias se encontrarem
fechadas. Mas não me importo,
porque a festa é realmente muito
bonita e sem dúvida nenhuma que
vale o esforço redobrado a que
tenho que recorrer.
Nesses dias vende mais ou são
poucas as diferenças?
Em todas as edições o ritmo de
trabalho e as vendas aumentam
significativamente, pois a cidade
é invadida por milhares de visitantes, vindos de vários pontos
do país.
O que aumenta em muito as
vendas, principalmente nos cafés,
e a edição deste ano não vai ser
excepção. Mas ao compararmos
o ritmo de vendas actual com o
das edições anteriores, as coisas já
estão mais perto do ritmo normal,
porque cada vez está mais difícil
trabalhar com as leis que nos são
impostas.
18 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007
ESTA
Alunos da ESTA ganham
prémio internacional
Dayana Delgado
Depois de tanto esforço e dedicação, enfim a vitória!
Davide Carvalho e Bruno Silva, alunos do 2º ano de
Engenharia Mecânica da ESTA, ganharam o 1º prémio
do concurso internacional de Solid Works, realizado
nos Estados Unidos da América, que se traduz em 500
dólares. Trata-se do reconhecimento de um projecto
de design, que venceu na categoria “modelos”.
Bruno Silva explica que este projecto “é uma maisvalia” para o seu currículo, abrindo-lhe portas para o
mercado de trabalho. O seu colega de equipa, Davide
Carvalho, realça que o programa que utilizaram para
concretizar o projecto “é uma ferramenta muito
boa” que vai ser útil quando acabar o curso, “pois é
muito utilizado por empresas na realização de vários
projectos de desenho”.
O concurso contou com vários participantes internacionais, desde escolas secundárias, escolas
profissionais, universidades, politécnicos e várias empresas ligadas a diferentes áreas de design 3D. “Creio
que fomos a única equipa portuguesa a participar
este ano” - afirma Luís Ferreira, docente da ESTA e
responsável pelo acompanhamento dos alunos que
desenvolveram o projecto vencedor.
O professor conta que, no início do concurso, “não
havia distinção entre escolas e empresas, mesmo
sabendo que se trata de dois tipos de organização
completamente diferentes”. Por isso, fez uma reclamação e admite a possibilidade de não ter sido o
único a fazê-lo. “Não se pode comparar o nível de
conhecimento e disponibilidade das indústrias com
a dos alunos”.
Perante a reclamação de Luís Ferreira, “a organização do concurso decidiu dividir os participantes
em dois grupos: empresas e educação (escolas)”. E
foi então que surgiu a boa notícia: “Arrecadámos
o 1º prémio correspondente à categoria principal
desse grupo (modelos), sendo as restantes imagem
fotográfica e animação.”
A participação de Davide e Bruno não foi isenta
de dificuldades. A falta de equipamentos, nomeadamente computadores com mais capacidades,
tornaram o projecto um pouco difícil. Os pequenos
pormenores do projecto, tais como peças de pequena
dimensão, foram também um desafio a superar.
“Chegámos ao cúmulo de termos perdido uma
parte do trabalho pelo simples facto de o computador
se ter desligado, mas nunca pensámos em desistir.
Também houve noites em que ficamos acordados até
tarde para podermos acabar o projecto na sua fase
final, devido ao material disponível não ser o mais
adequado” – conta Bruno.
Luís Ferreira, satisfeito com o resultado dos dois
Iniciativas
com novas
preocupações
estudantes, já pensa no futuro: “Espero que haja
mais alunos com iniciativa para participar. Estarei
sempre disponível para ajudar aqueles que queiram
pôr a sua ideia em prática, mas as pessoas têm que
vir com garra e determinação. Nós participamos para
ganhar, participar por participar não vale a pena. Já
houve outros alunos que tentaram fazer este trabalho
e acabaram por desistir. Este trabalho tem que ser
feito pelo aluno e não pelo professor, mas temos que
orientá-los quando eles precisam”.
Davide e Bruno contam agora com o elemento
de prestígio no seu currículo. Vencer um concurso
desde não é para qualquer um e, graças a eles, a ESTA ganhou mais um prémio. Luís Ferreira não tem
dúvidas: “O nosso projecto foi o melhor, mereceu
ganhar e, na minha opinião, foi claramente superior
aos outros”.
ana torres
Equipa. O trabalho desenvolvido ao longo de meses deu resultados e funciona como estímulo
As energias do futuro foram o assunto de maior
destaque na VII Semana de Engenharia, que se realizou na ESTA, em Abril. O assunto está na ordem do
dia, uma vez que os veículos eléctricos e híbridos têm
sido alvos de grande interesse, apresentando-se como
uma nova solução para os transportes terrestres. As
grandes empresas começam, assim, a criar carros de
acordo com as preocupações mundiais, apostando
nos automóveis híbridos. Por exemplo, o Toyota
Prius, o Citroen C4, o Mercedes-Benz Sprinter, o
Toyota FCHV, o Ford FCV e o Honda FCV.
O aparecimento de novos combustíveis e de novas energias, amigas do ambiente, é também uma
das grandes preocupações de hoje em dia, visto
que os transportes são os que mais contribuem
para a poluição: o CO2 duplicou em 2003, face a
1999, e tende a aumentar cada vez mais.
Simultaneamente começa a aumentar a importância dos combustíveis alternativos. Exemplo disso é o bietanol de primeira geração, utilizado como
aditivo da gasolina, e obtido através de cereais,
óleos vegetais, gorduras de animais, óleos usados
em frituras e outros materiais. O processo HBIO,
que transforma o óleo de origem não mineral em
óleo diesel, começa também a ter um maior uso,
No futuro os combustíveis poderão ser de segunda geração, ou seja, combustíveis sintéticos,
no caso do bietanol. Deixa de ser utilizada apenas
10% da cultura cerealífera para se passar a utilizar
a totalidade da planta.
“A Galp vai apostar na produção de biocombustiveis de segunda geração. Ao avançar para
esta nova tecnologia, a empresa dá um contributo
decisivo para a concretização dos objectivos de
incorporação de 10% dos combustíveis em 2010.”
– afirma Ana Cristina Oliveira, investigadora
auxiliar do INETI, presente na ESTA para debater
este tema. F.V.
Design em debate na
ESTA pela primeira vez
Nada detém
os finalistas da ESTA
O primeiro encontro de Design e Desenvolvimento de Produtos teve lugar no mês de Maio,
na ESTA. A divulgação deste evento na região de
Santarém foi grande e a adesão de alunos de todos
os cursos da instituição, e de outras escolas do país,
foi bastante positiva.
Segundo Mário Barros, docente da ESTA, responsável pela iniciativa, este encontro reuniu diferentes
profissionais de Design, desde “free-lancers” a designers
de grandes empresas – com um tipo de formação mais
técnica e especializada – permitindo aos estudantes um
maior contacto com as novas realidades do Design.
Rute Gomes, artista plástica e designer de produto,
mostrou novos tipos de objectos, a pensar especialmente no utilizador, juntamente com o designer Rui
Enquanto a chuva molhava os rostos gelados
e cansados dos estudantes, cobertos pelas capas
preta, o vento agitava as fitas carimbadas de
saudade. Cinzento, mas com um olhar feliz, foi
assim o dia 27 de Maio em Abrantes. Cerca de
40 estudantes da ESTA davam agora um passo
em frente na profissão, e na vida, assinalando
o final do curso.
Jornalismo, Comunicação Empresarial, Engenharia Mecânica e Engenharia e Gestão Industrial são áreas que agora podem contar com
jovens ambiciosos e com sede de experiência.
Nesse dia Abrantes recebeu pais, familiares e
amigos dos estudantes que, orgulhosos, escondiam lágrimas de emoção. Depois de encherem
os restaurantes da cidade, num almoço familiar,
os finalistas chegaram à igreja de S. Vicente.
Entre cânticos e orações, foram poucos os que
conseguiram reprimir os sentimentos e o prazer
de ver concluída mais uma etapa.
Mesmo ainda a recuperar do baile de finalistas da noite anterior, os novos licenciados
fizeram promessas, agradecimentos e algumas constatações. “Sabemos que daqui para
a frente as dificuldades serão ainda maiores e
os obstáculos mais persistentes. Mas também
sabemos que a nossa insistência e vontade de
vencer terá que ser indestrutível... Em Abrantes,
Palma. Para além de explicarem a maneira como se
trabalha nesta área, estes profissionais abordaram
uma questão decisiva: o medo do plágio de trabalhos
ou projectos em concursos.
A conferência sobre Desenho e Propriedade Industrial contou com a presença de Isabel Borges, do
Centro Português de Design e do Gabinete de Apoio
de Design Industrial, que falou sobre como registar
um desenho ou diferenciar a propriedade intelectual
da propriedade industrial. Este foi um dos temas que
suscitou debate, com maior participação dos alunos,
que se mostraram especialmente interessados em
saber como proteger os seus trabalhos em concurso
ou na apresentação de um portofólio.
Na conferência apresentada por Tiago Araújo,
sobre a temática do lado industrial do Design, foi
abordada a relação entre designer e engenheiro.
Neste processo, as ideias de um concretizam-se com
as técnicas de outro. Neste painel foi ainda tema de
debate o projecto que os alunos da ESTA estão a
desenvolver para o desenho de uma salamandra.
Na conferência sobre Desenho Cerâmico, André
Figueiredo abordou o contexto geral do sector de
revestimento de pavimentos em Portugal. Este especialista explicou como é o caminho entre a inovação
e a tendência e abordou mais uma questão sensível:
como as empresas pequenas podem copiar outras
empresas, de maior dimensão e com mais meios.
entre muitas coisas, aprendemos que o poder
da amizade reside na verdade, que o alimento
do sucesso é o trabalho e que o caminho para
a glória é feita de simplicidade e humildade.
Queremos ser profissionais competentes, e em
constante aprendizagem, por isso seremos eternos estudantes em busca, não da perfeição mas
da nossa satisfação…” – ouvia-se no discurso
da acção de graças.
Depois de um grito académico que ecoava
a despedida, apesar da chuva, nada deteve
os participantes, que prosseguiram para os
claustros do convento de S. Domingos. Lá,
os estudantes receberam o seu diploma e
fizeram os seus agradecimentos, perante o
olhar atento de todos aqueles que lhes são
queridos. Entre discursos cómicos, e discursos de retrospectiva e saudade, escapam
lágrimas e sorrisos.
“É um dia muito emotivo. É o culminar não
só de um sonho e expectativas que se concretizaram como também todo um conjunto de
vivências. Ter aqueles que amamos num dia tão
importante como este é algo extraordinário e
que nos dá força de vontade para daqui a uns
meses desempenharmos num novo mundo, que
é o do trabalho” – menciona Miguel Geraldes,
um dos finalistas. F.V.
29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 19
ESTA
Tunas animam Abrantes
Ao longe, pela cidade entoa o bater do bombo, o estalar da pandeireta…
As tunas entram na cidade… Começou o VIII fESTA. Tunos e tunantes vão entoando
canções, espalhando alegria por todas as ruas.
Fátima Vieira
Fátima Vieira
Vão-se encontrando amigos que, apesar
de envergarem trajes diferentes, sentem-se
como se à mesma tuna pertencessem. Vive-se assim o espírito académico em pleno.
“É uma grande animação porque todas as
tunas se conhecem. É como se fossemos
todos um grupo de amigos”, refere Pedro
Nicolau, elemento da Estatuna.
A praça Raimundo Soares começa a
ficar repleta de capas negras. Consigo
trazem símbolos e instrumentos, como se
de um legado se tratasse. Começou assim
o VIII fESTA, Festival da Escola Superior
de Tecnologias de Abrantes, organizado
pela ESTATUNA.
Deste fESTA fazem parte a Tuna Médica de Lisboa, a INSTITUNA de Leiria,
a Tum´Acanénica também de Leiria e a
TAISCTE de Lisboa.
O fESTA decorreu durante os dias
27, 28, 29 de Abril. Teve início na sexta-feira à noite com as serenatas, na praça
Raimundo Soares, onde todas as tunas
entoaram baladas, como quem tentava
conquistar a amada…
O dia de sábado começou tarde, tal como tinha acabado tarde o dia de sexta,
ou será que era o mesmo dia? Ninguém
soube dizer muito bem. Depois de todos
Actuação. Tuna Médica de Lisboa anima o cine-teatro S. Pedro, em Abrantes
terem já almoçado e recobrado energias
para mais um longo dia, começou o “passa
calles”, que teve lugar nas principais praças
da cidade florida de Abrantes. Aí as tunas
iam cantando e encantando os abrantinos
que paravam para ver e apreciar todas as
melodias e brincadeiras com as quais os
tunos nos iam presenteando.
Após todas as tunas terem feito o “passa calles”, cada qual à sua maneira, a praça
Raimundo Soares, como ponto de chegada, ia ficando novamente engrandecida
pelo espírito e convívio dos estudantes,
tunos ou não. Todos quiseram fazer parte
desta festa na qual se envolveu toda a
cidade, jovens ou velhos, não importa.
Aqui o mais importante é mesmo a alegria que se pode dar e receber.
Copos de imperial na mão, capas que
iam sendo estendidas pelo chão amortecendo o corpo que já se tinha levantado
fatigado. Os instrumentos, esses, não
tinham hora de descanso, os acordes
continuavam a ser feitos, as músicas continuavam a ser cantadas, mesmo quando
as gargantas já davam de si deixando a
voz do cansaço falar mais alto.
Com a noite, chegou também a parte
mais séria do festival, a actuação. Após
a ESTATUNA ter exibido o vídeo de
abertura, era hora de dar protagonismo
a todas as tunas presentes. Cada tuna
subiu ao palco, cantando e encantando
toda a plateia do cine-teatro S. Pedro.
Primeiro a Tuna Médica de Lisboa, a
Tum´Acanénica, e Instituna e por fim
a TAISCTE.
Mas o momento mais esperado era a
actuação da ESTATUNA, a tuna da casa,
e a entrega dos prémios, reconhecimento do trabalho feito por todas as tunas
presentes.
Depois da actuação da ESTATUNA, o
nervosismo e a ansiedade começavam a
instalar-se na plateia. Após serem feitos
todos os agradecimentos e entregues os
prémios de participação, foram distribuídos os prémios a concurso. O prémio de
melhor “passa calles” foi para a Instituna,
o prémio de Melhor Pandeireta de Segunda Melhor Tuna e de Melhor serenata
foi entregue à Tuna Médica de Lisboa,
a Tum´Acanénica conseguiu o prémio
de Tuna Tais Tuna, à TAISCTE coube o
prémio de Melhor Tuna e Melhor Porta
Estandarte.
No domingo, a seguir ao almoço chega a hora do adeus, e de fazer o balanço
de todo o fim-de-semana. “ O festival
não podia ter corrido melhor. Muito
bem organizado, muita animação, muita imperial, boas comidas, muitas ruas
estreitas com uns “cai bem” pelo meio.
Mas o que levo de melhor é o espírito
acolhedor da Estatuna”, menciona Inês
Fernandes tunante da Tuna Económicas de Lisboa, que veio para Abrantes
não para participar no concurso, mas
para participar de todo o convívio que
é o festival.
Softball
em Abrantes
“As lobas” é a mais recente aposta
desportiva em Abrantes. Foi o nome
escolhido por unanimidade e em
consonância com o nome da equipa
de basebol, os Lobos. Criar a equipa
de softball fazia parte do projecto
de desenvolvimento do basebol em
Abrantes. “Hoje em dia não entro
em nenhum projecto que não tenha escalões de formação”, menciona António Nadais, o treinador.
A maioria das jogadoras é aluna da
ESTA e vêm para os treinos com
bastante entusiasmo e sempre bem
dispostas. Estão a treinar há cerca
de três meses e ainda este ano, se
houver possibilidade, vão participar
num torneio com as outras três equipas que existem em Portugal. Paula
Pires estuda Engenharia Mecânica
na ESTA e teve conhecimento da
formação da equipa de softball através de uma amiga. Jogar softball foi
aprender do zero.“Não sabia como
funcionava, nem as regras, só sabia
que tinha um taco”, refere Paula. O
incentivo de Sandra Sousa veio nas
férias desportivas de Verão. “Disseram que estava cá um treinador que
iria montar uma academia”. A união
entre os elementos da equipa é muito
importante “Somos todas unidas e
amigas”, acrescenta Sandra. V.C.
20 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007
Desporto
“Mesmo a brincar
era sempre a competir”
Fernando Alpalhão, de 42 anos de idade, destaca-se na pesca de rio. Já conquistou as faixas de todos os escalões nacionais de pesca, tendo a
última sido alcançada em 2006, sagrando-se campeão nacional da 1ª divisão. Em Setembro, vai participar no Campeonato do Mundo Individual,
na Hungria. Representa Portugal, mas também Abrantes. Para ele, esta cidade “é capaz de ter como desporto mais representativo a pesca”.
nelson ferreira
João Oliveira
Como e quando surgiu o gosto pela pesca?
Eu nasci no Tramagal, a cerca de 500 metros do
Rio Tejo, e o meu pai era pescador. Por incrível que
pareça, foi campeão nacional no ano em que eu nasci,
em 1965. O meu pai levava esta actividade um pouco
a sério. Com este vício dentro de casa, e morando tão
perto do rio, fica-se com uma “pica” destas logo desde
pequenino: foi só pesca, pesca, pesca. Passava o dia
no Tejo, conhecia os pesqueiros, conhecia os peixes
todos, se havia carpas se havia barbos. Era uma vocação. Sempre que podia fugia para o Tejo.
As técnicas adquirem-se através da experiência?
Existe uma capacidade inata para se ser mais
eficaz, melhor. Ser capaz de perceber que hoje apanhei menos por isto ou apanhei mais por aquilo.
Perceber se os anzóis devem ser mais pequenos
ou se devem ser maiores. Compreender que ali se
pesca mais grosso, portanto teria mais hipótese,
fazia mais quilos. Ou fazia menos peixe, mas fazia
mais quilos.
Sempre praticou pesca desportiva de competição?
Desde pequeno que essa necessidade da competição está comigo. A vida, toda ela, é uma competição e
isso nasceu comigo. Eu pratiquei sempre a competir.
Mesmo a brincar era sempre a competir. Mesmo
com os colegas era sempre a “doer”. Se formos três
amigos à pesca existe logo o desafio de quem apanha mais.
Qual é o seu percurso como pescador?
Estive nos juniores e nos seniores no Tramagal
e evolui bastante. Quando evolui muito, e estava já
em muito boa forma, não tinha a disponibilidade
financeira para ter os melhores materiais. Em 1993
surgiu uma oportunidade de representar uma equipa
nacional, uma equipa de fábrica, que se chamava Team Vega. Nessa equipa disputámos os campeonatos
regionais de clubes, 1ª e 2ª divisão regional de clubes,
fizemos um apuramento para o nacional e fomos
campeões nacionais. Estamos a falar do período
entre 1993 até 1996. Fomos também representar
Portugal no Campeonato do Mundo de Clubes a
França, onde alcançámos o 11º lugar. No Tramagal
era impossível haver condições financeiras para um
patamar destes.
Posteriormente o Team Vega acabou, porque o
projecto era ser-se campeão nacional e conseguir
começar a fabricar canas com a bandeira nacional.
Entretanto, regressei ao Tramagal e montei vida em
Abrantes, nomeadamente a loja de pesca que ainda
hoje tenho. Depois foi necessário enquadrar melhor
as coisas. Abrantes é uma cidade, não é Tramagal, é
mais abrangente, tem um clube de pesca, o Amadores de Pesca de Abrantes (APA), do qual sou presidente, que é um clube fortemente representativo da
pesca portuguesa. É um clube de grande referência
nacional, não é um clube super competitivo ao nível
da competição, mas é um clube de alta referência em
relação à formação da pesca em Portugal.
Fui ficando pelo APA, o currículo a nível individual foi crescendo, fui campeão nacional da 2ª divisão
B (que é hoje a terceira) em 2003, da 2ª Divisão em
2005, e em 2006 fui campeão nacional de absolutos
da 1ª Divisão. Foi a cereja no topo do bolo. A nossa
Fernando Alpalhão. “Eu sou mais conhecido como atleta do que como comerciante”
Associação tem 800 pescadores, representa três
distritos (Santarém, Castelo Branco e Évora), e não
tinha o campeão nacional desde 1984. Já há muitos
anos que andávamos atrás deste objectivo.
A pesca é uma actividade dispendiosa?
Acho que é uma actividade extremamente dispendiosa. Normalmente, associar as despesas a um atleta
requer sempre vários enquadramentos. Um pescador
que tenha material nobre e riquíssimo não implica que
ele seja bom pescador. O que acontece normalmente é
uma combinação de dois factores: a parte daquilo que
o atleta realmente é capaz, evoluindo tecnicamente e,
ao mesmo tempo, a capacidade que tem de ir acompanhando com o material, de acordo com o patamar
em que está. Agora, se estamos a falar de dinheiro, é
de facto muito dispendiosa.
Existem prémios monetários quando se ganham
provas?
Em Portugal já se vai utilizando essa moda, não
muito, mas no mundo inteiro é assim. Em Inglaterra
é sempre em dinheiro, em Itália é sempre em dinheiro. Em Espanha, numa prova internacional na qual
participei, o primeiro prémio no domingo era de 15
mil euros. No sábado ao todo estavam 60 mil euros
em prova. As provas internacionais compensam.
Em Portugal não se praticam prémios monetários?
Pratica-se, em pequena escala. 100 euros, eventualmente uma prova de 250 euros já é muito. Existem
outros prémios significativos, o mais vulgar é uma
televisão ou uma libra de ouro. Nos campeonatos
“Hoje não se deixa
um miúdo de 14 anos
ir sozinho para o rio”
isso não existe. Só existe a perseguição da classificação de Ranking e a faixa de campeão. Não há
mais prémios.
Tendo um negócio de pesca, desde que é campeão
nacional sente que as pessoas o procuram e vão
à sua loja por ser campeão nacional e pedem-lhe
conselhos?
Campeonatos para todos
As provas internacionais que existem todos os
anos são três: Campeonato das Comunidades
Europeias (CE), Campeonato da Europa e Campeonato do Mundo. Neste último caso, há duas modalidades. Fernando Alpalhão explica que o clube
que for campeão nacional representa Portugal,
no Campeonato Mundial de Clubes. Outra prova
é o Campeonato do Mundo Individual, onde os
melhores a nível individual (os seis primeiros classificados do Campeonato Nacional) vão representar Portugal como Nação.
Fernando Alpalhão pertence a um núcleo de 12
atletas, que são os melhores de Portugal. Desse
núcleo têm sempre que sair seis pessoas para disputar as provas. “A escolha faz-se através da Fede-
ração, juntamente com o seleccionador nacional
e o capitão de equipa e todos têm que participar.
Normalmente diz-se que o Campeonato do Mundo é para uns e o Campeonato da Europa é para
os outros”. Por vezes há atletas que disputam
mais do que uma destas provas, como é o caso
de Fernando Alpalhão. Devido ao facto de se ter
sagrado campeão nacional, irá obrigatoriamente
disputar o Campeonato do Mundo a nível individual em Setembro. Fernando Alpalhão disputou
nos dias 19 e 20 de Maio, em Veneza, Itália, o Campeonato das Comunidades Europeias. Obteve no
primeiro dia, o segundo lugar, e no dia seguinte o
quarto lugar. No conjunto dos dois dias, Portugal
alcançou o quinto lugar. J.O.
Eu sou mais conhecido como atleta do que como
comerciante. Os comerciantes funcionam muito a
nível local. No sentido global, a nível da pesca, não
faz sentido, porque é um mercado muito diminuto.
Mas é lógico que dentro do meu núcleo de amigos,
que é vasto, a nível nacional e dois ou três além
fronteiras, é lógico que por vezes surgem coisas
que acontecem a nível do comércio através da minha loja, que se não fosse campeão nacional, não
existiam. Mas não é por aí que se vende mais ou se
comercializa mais.
Há pessoas que dizem que pescam porque esta
actividade lhes transmite calma…
A esse nível sem dúvida nenhuma que é um desporto social, leva-se a família, dá para fazer um dia
de campo, dentro do núcleo de amigos. Digamos que
é um desporto muito conciliador com a vida quotidiana e com a natureza, e que permite uma calma,
uma abrangência diferente em relação à vida.
Como apresentava ou descreveria esta modalidade a uma pessoa que nunca tenha pescado?
Hoje já se apresenta a modalidade de um modo diferente da de antigamente. No meu tempo
chamava-se de verdadeiras “mortandades”. Íamos
à pesca e aprendia-se, mas aprendia-se a matar,
pois os peixes morriam sempre. Hoje já não. É
apresentado como uma modalidade desportiva.
As pessoas percebem a orgânica da actividade.
Tem o espírito de ir pescar. Outras têm o espírito
de pescar e competir ao mesmo tempo. Percebem
as espécies, os habitats, tentam proteger, tentam
sempre enquadrar aquilo que é o não estragar, o
estar bem com a natureza, o não sujar, ou seja, o
não poluir.
Uma pessoa que não nasça com este gosto pela
pesca, torna-se difícil recomendar-lhe esta actividade?
Hoje terá de ser através de pessoas que tenham
como actividade profissional a pesca, ou através de
associações desportivas cujo objecto seja a pesca.
A forma de se poder aconselhar, tentar praticar,
se não for através de uma forma organizada logo
de raiz, dificilmente consegue ter o sucesso que se
tinha antigamente.
Eu antigamente ia para o rio Tejo com seis, sete
anos sozinho. Hoje não se deixa ir um miúdo de 14
anos sozinho para o rio. A vida mudou, as coisas
estão alteradas, as seguranças, a forma de ver, o
acompanhamento dos pais. Todas estas situações
hoje não podem surgir naturalmente como surgia
antigamente. Hoje tudo se processa de uma forma
mais acompanhada, mais cuidada, mais regrada,
organizada. As pessoas têm que estar acompanhadas,
senão não vão.
Que objectivos gostava ainda de cumprir?
Ainda há muitos objectivos. O enquadramento
que eu tenho em relação à cidade e ao concelho,
agora com o açude que temos, a minha actividade,
a projecção que tenho, permite-me mobilizar as
federações, as associações, as pessoas e as marcas.
Estou numa posição que julgo que tenho obrigação
e anseio para que o nosso concelho forme jovens,
consiga através da nova pista que vai surgir em
Abrantes cativar novos valores, mas impulsionar
também aquilo que é a apreensão dos outros em
relação a este desporto. Porque Abrantes é capaz
de ter como desporto mais representativo a pesca,
nomeadamente a pesca desportiva.
29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 21
Desporto
1º Master Fitness de
Tomar foi um sucesso
Decorreu no passado dia 14 de Abril o 1º Master Fitness de Tomar, no Pavilhão
Desportivo da Cidade. O principal objectivo foi promover a actividade física junto da
população.
e se as mesmas foram ou não superadas.
“O encontro foi um sucesso. Estávamos
à espera de 20 a 30 pessoas por aulas, e
tivemos cerca de 100 participantes por
aula, o que foi muito bom e, assim sendo, as expectativas foram largamente
superadas”, revelou.
Entre os participantes era unânime a
satisfação e registava-se um ambiente
muito agradável, com conversas animadas durante os intervalos das aulas.
Nelson ferreira
Nelson Ferreira
O encontro decorreu entre as 11h00
horas da manhã e as 19h00 horas da
tarde, sem interrupção para almoço,
uma vez que os participantes é que decidiam quais as aulas em que desejavam
participar. As opções iam do Hip-Hop,
ao Combat, Ragga, Aeróbica, Latina e
Cycling, entre outras surpresas.
Foi um sucesso a todos os níveis,
tendo registado um grande número de
participantes. Eram de várias idades, e
de diferentes zonas do país, mas, como
era de esperar, os habitantes de Tomar
compareceram em peso.
À conversa com Luís Ricardo, aluno do curso de Desporto – Variante
Condição Física, da Escola Superior
de Desporto de Rio Maior (Instituto
Politécnico de Santarém) e o organizador deste evento, o ESTAJornal ficou a
saber quais eram as expectativas iniciais
Um grupo
na base do
sucesso
O ESTAJornal conversou com João
Graça, 25 anos, actual mestre do Sporting
Clube de Tomar em Full - Contact.
“O Full – Contact é mais um desporto
de combate do que uma arte marcial, e é
para ser jogado num ringue, com o objectivo de haver um vencedor, funcionando
como um desporto de competição”, resume João Graça, que está ligado a este
desporto há mais de 13 anos.
O seu percurso foi sempre como aluno,
mas a partir de agora vai ser como aluno
e mestre.
Questionado acerca da classe que
orienta neste momento, afirma ser uma
classe constituída por elementos todos
eles novos, que praticam o desporto há
mais ou menos dois anos. Nem todos o
frequentam com o objectivo de competir, mas sim de aprender. Considera o
grupo fantástico, muito aplicado e com
elementos que revelam aptidões para
competir, e que começam já a obter alguns resultados.
Em combate existem duas vertentes,
Full – Contact, uma vertente mais dura,
e Light – Contact, modalidade na qual o
Sporting Clube de Tomar aposta para os
atletas mais jovens. No Light – Contact
não pode haver excesso de potência, os
golpes desferidos têm que ser dentro do
normal, dando dessa forma para todas
as idades. João Graça salienta ainda o
facto de, contrariamente ao que se diz,
o Full – Contact não ser um desporto
violento e revela que “em dois anos não
tivemos nenhuma lesão grave, o que é
fantástico”.
Movimento. Todos os participantes vibraram imenso no decorrer das aulas
Havia participantes muito jovens, mas
também algumas pessoas de meiaidade. Dina Lima, 22 anos de idade,
resumiu: “O encontro está muito bem
organizado, e a as aulas estão a ser muito interessantes”.
Uma das razões de sucesso reside
nos apoios com que esta iniciativa contou. Apoios vindos da Câmara Municipal de Tomar, mais especificamente do
núcleo de desporto, da revista Mens’s
Health, e parcerias estabelecidas com
alguns ginásios desportivos de Tomar
(Trybal Gym e Stress Off), que tinham
inclusive no recinto do Master Fitness
uma exposição dos seus serviços e
produtos. Outra das razões do sucesso está na preparação do evento
que, segundo o organizador, levou de
cerca de dois meses, em que se uniram
esforços para que tudo corresse da
melhor maneira.
O encontro viria a terminar por volta
das dezanove horas, mas o programa
não acabaria aqui, tendo sido realizada
uma festa especial no Rio Bar, uma
discoteca da cidade de Tomar, em que
marcaram presença alguns convidados especiais ligados à actividade do
Fitness.
Ainda à conversa com Luís Ricardo,
fica no ar a ideia de continuidade do
evento. “Pela forma como tudo decorreu, quer a nível organizativo, quer ao
nível da adesão, penso que estão reunidas as condições para que no próximo
ano aqui estejamos novamente”, revelou
visivelmente satisfeito no fim do dia.
Ana Patrícia, Campeã Nacional e Regional de Light – Contact – 55 kg
Começou tarde, mas bem a tempo
nelson ferreira
Ana Patrícia, 21 anos, actual Campeã
Nacional e Regional de Light – Contact
- 55, define-se como uma pessoa dedicada, assídua, mas não muito confiante.
Defende que nunca é tarde para começar,
pois ela em menos de dois anos chegou
à rota dos títulos de que é actualmente
detentora, e lança o apelo a todos aqueles
que pensam ser tarde demais para começar a praticar um desporto.
Quando começou a praticar este desporto?
Comecei a praticar em 2006.
Como surgiu a hipótese de se dedicar
a este desporto?
Nunca tinha pensado na hipótese de
vir a praticar este desporto, mas gostava
do desporto em si, embora não lhe desse
especial atenção. Entretanto ouvi falar e
decidi vir experimentar com um colega
meu. Vim, gostei e aqui continuo.
Quanto tempo dedica a este desporto
por semana?
São cerca de três treinos por semana,
tendo cerca de uma hora de duração cada
um deles, dedicando um pouco mais
de tempo nos fins-de-semana em que
existem provas.
Pensa continuar neste desporto por
muito tempo?
Se conseguir e se o futuro assim o
proporcionar, irei continuar. Vamos ver
por quanto tempo, mas está nos meus
horizontes a ideia de continuar a praticar. Posso mesmo afirmar que, neste
Treino. Um requisito indispensável para quem procura ter sucesso
momento, não me imagino a deixar de
praticar, pois para além das provas, adoro
os treinos e os meus colegas.
Existem sacrifícios a que tem que obedecer em prol da tua carreira?
Sim existem. Posso referir aquele por
que passei recentemente, em que tive
que proceder a vários cuidados com a
alimentação, de forma a perder alguns
quilos para poder participar na categoria
– 55. Custou um pouco, pois tive que
deixar de comer pão, entre muitos outros
cuidados que fui obrigada a ter.
Como se sente quando está em prova?
Sinto-me bem, para além de serem
muitos os rapazes em prova existem
também muitas raparigas a participar, o
que me deixa um pouco mais tranquila.
Quais são os seus objectivos para o
futuro?
Não tenho objectivos claramente definidos. O meu objectivo é sem dúvida
evoluir e participar nas provas que puder,
dando o meu melhor.
Pensou alcançar este sucesso tão ra-
pidamente?
Sem dúvida que não. Nunca me tinha
passado pela cabeça competir, nem continuar a praticar este desporto por muito
tempo. Não imaginava conseguir ganhar
o que já consegui ganhar até aqui. Decorreu tudo de uma forma muito rápida.
Como tem sido o apoio da família?
Tem sido espectacular. O meu pai no
início não levava isto muito a sério, pensava que era apenas uma ocupação, mas
agora que comecei a obter alguns resultados ele está muito orgulhoso. N.F.
22 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007
Leitura
Para ser campeão é preciso ler muito
A iniciativa do Agrupamento de Escolas Abrantes Oeste, inserida no Plano Nacional de Leitura, campanha lançada pelo governo de forma a
incentivar este hábito, trouxe a Abrantes, mais concretamente à Escola António Torrado, situada na Encosta da Barata, o ex-futebolista Paulo
Sousa, que actuou em clubes como o Benfica, Sporting, Juventus e Borussia de Dortmund. O desportista contou uma história e fez questão de
sublinhar a importância da leitura.
nelson ferreira
João Oliveira
Eram dez horas da manhã. As crianças
estavam vestidas com as camisolas do
seu clube favorito, ou com a camisola da
selecção nacional de futebol, outras agitavam cachecóis e utilizavam outro tipo
de adereços ligados ao desporto-rei. Não
conseguiam conter a sua alegria enquanto
aguardavam na parte exterior da escola.
Paulo Sousa estava quase a chegar. Irrequietas, corriam de um lado para o outro,
dificultando a tarefa dos professores, que
se viam incapazes de controlar a euforia.
Ao microfone um dos professores pedia
a todas as crianças que se acalmassem e
transmitia-lhes as últimas informações.
Ultimavam-se os preparativos.
Paulo Sousa acabara de entrar no parque de estacionamento da escola, dentro de um automóvel. As crianças não
conseguem “segurar” o entusiasmo. À
medida que Paulo Sousa se dirigia para
estas ouve-se a música “Força”, de Nelly
Furtado, que serviu de talismã à selecção
nacional no último campeonato mundial de futebol, e as crianças começam a
cantar o refrão. Paulo Sousa, sorridente,
vai passando por todas as crianças, cumprimentando uma a uma. Cerca de três
dezenas de pessoas, que se encontravam
para lá das redes que cercam a escola,
assistiam a todo este momento. Paulo
Sousa acenava-lhes.
Chegara o momento de recolher ao
interior da escola, pois esta visita tinha
um propósito: incentivar e despertar o
interesse das crianças pela leitura. Era
esse o motivo da vinda de Paulo Sousa.
Já no interior da escola, todas as crianças
aguardavam sentadas no chão que se iniciasse a sessão. O ruído que se fazia sentir
era grande. A sessão inicia-se com uma
pequena história. A história conta a vida
de Paulo Sousa, desde a sua nascença até
ao seu percurso profissional. Reteve-se o
mais importante desta história: para se
ser campeão não basta dar uns chutos
numa bola. É preciso muito mais. Para
se ser campeão é preciso ler.
Após o término desta história inicial, as
crianças gritavam fervorosamente “Portugal, Portugal, Portugal”, e de seguida foi
colocada uma pergunta a Paulo Sousa.
Como tinha sido o seu percurso com os
livros? Este responde que inicialmente
não foi muito famoso, principalmente
devido à profissão que seguiu, o futebol,
que não lhe permitia ter o tempo necessário para ler, realçando que, apesar disso,
ao longo da sua carreira foi percebendo
que a leitura era muito importante, essencialmente para conhecer e descobrir
coisas novas.
De seguida, Paulo Sousa iria contar
a história da “Menina que detestava
livros”. Atenciosamente, contou a história, sempre com a preocupação de
que o que era lido fosse compreendido
por todos. No final, chamou para perto
de si algumas crianças para que estas
contassem o que tinham percebido da
história. Na memória ficou a história da
menina que inicialmente detestava ler,
mas que, no final, ganhou o gosto pela
leitura. A mensagem fora transmitida.
Ler é importante. Uma promessa ficou
feita. Se todos lessem diariamente uma
história, e escrevessem depois sobre qual
mais gostaram, Paulo Sousa regressaria a
Abrantes para ouvi-las.
Depois das histórias, chegara o momento de Paulo Sousa distribuir a cada
uma das crianças um contrato de leitura.
Este contrato destina-se sobretudo a
envolver os pais no processo de leitura
dos seus filhos. Algumas das condições exigidas por este contrato era a de
que os pais marcassem cinco minutos
por dia para ler com os seus filhos, que
deixassem os filhos escolher um livro,
perguntassem se os seus filhos queriam
ler uma história com eles, entre outras
coisas. Paulo Sousa considera este contrato “uma ideia fabulosa, porque estes
miúdos não vão esquecer. Com certeza
que vão chegar a casa hoje com esses
mesmos contratos e vão incentivar os
próprios pais e envolvê-los na importância da leitura”, salientando ainda que
este acaba por se tornar uma espécie de
“compromisso”.
Paulo Sousa está convicto de que as
crianças “vão conseguir, de uma forma ou
de outra, aumentar a vontade de leitura,
e depois vão apanhar o gosto, e depois
de ter o gosto pela leitura, vão devorar
livros”. Paulo Sousa destaca ainda que
“estas são idades certas para incentivar
a leitura” e que “o futebol é um veículo
importante para passar todas as mensagens, principalmente as importantes”. No
final, ficou o repto. Para se ser campeão
é preciso ler, ler muito.
29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 23
Cultura
Carlos do Carmo em Abrantes
“Voltar aos palcos foi
maravilhoso, foi excelente!”
Antes de subir ao palco do Cine-teatro S. Pedro, a única expectativa que Carlos do Carmo tinha era agradar aos abrantinos. Antes de actuar, não
pediu nada de especial. Só fruta. O fadista português que gosta de cantar em Espanha defende, em entrevista ao ESTAJornal, que “é difícil fazer
sucesso no estrangeiro se não se for legitimado aqui em Portugal”.
Fátima Vieira
Carlos do Carmo, um dos maiores
fadistas portugueses, é dos artistas que
certamente já viu muitos dos seus objectivos cumpridos. Já cantou nos cinco
continentes e são inúmeros os prémios e
honrarias recebidos até hoje. Exemplos
dessas distinções são o título do Cidadão
Honorário da cidade do Rio De Janeiro,
o Globo de Ouro SIC de Mérito e da
Excelência e o Prémio da Consagração
de Carreira da Sociedade Portuguesa de
Autores. Entre os seus sucessos musicais
destacam-se os temas “Duas lágrimas
de orvalho”, “Bairro Alto”, “Gaivota”, “Os
Putos” e “Lisboa Menina e Moça”. No
dia 27 de Abril deu mais um concerto,
desta vez no Cine Teatro S. Pedro, em
Abrantes.
Ainda se sente nervoso antes de entrar
em palco?
Sim, sem dúvida, e cada vez mais.
O facto de a sua mãe ser artista foi um
grande impulso para a sua carreira?
Foi um grande estímulo, sobretudo.
Acha que os fadistas têm maior reconhecimento no estrangeiro do que em
Portugal?
Não creio. Creio que é na nossa terra
que as coisas acontecem. Até diria que é
difícil fazer sucesso no estrangeiro se não
se for legitimado aqui em Portugal. Tem
de ser legitimado no país onde nascemos
e no país onde nos identificamos. Depois
levamos isso para outros países; sendo legitimado na nossa terra tem mais peso.
Tem alguma música especial, ou que
goste mais de cantar?
Não tenho uma, tenho várias, que ao
longo da vida me dão prazer cantar.
Há alguma actuação a nível internacional que o tenha marcado mais?
É difícil distinguir uma em especial,
porque felizmente tenho várias, diria
mesmo que tenho muitas. Mas há países
que me marcam, como a Espanha. Madrid é uma cidade onde sou muito bem
recebido e a imprensa espanhola é de
uma grande generosidade para comigo.
Se não tivesse seguido a carreira de
fadista, qual seria a sua profissão?
Aquela que me preparei para ter: sou
licenciado em Hotelaria, estive a estudar
na Suíça vários anos. Hotelaria e línguas,
essas seriam seguramente as áreas em que
exerceria a minha profissão.
Esteve parado algum tempo. Como foi
o regressar aos palcos?
Foi óptimo! Estive parado por circunstâncias de força maior, por motivos de saúde, de uma grande complexidade, o que implicou, para além da intervenção cirúrgica,
uma enorme convalescença. Mas voltar aos
palcos foi maravilhoso, foi excelente!
ângela filipe
Receptividade. “Há países que me marcam, como a Espanha. Madrid é uma cidade onde sou muito bem recebido e a imprensa espanhola é de uma grande generosidade para comigo”
Há
“saberes”
que só
alguns
sabem
Vânia Costa
“Saberes” foi o nome escolhido para a
primeira peça, do grupo de teatro amador
de Porto de Mós, que teve a sua estreia
no dia 3 de Junho de 2007, no âmbito de
um projecto regional de teatro amador,
intitulado “O animador”. O nome da peça
está relacionada com um livro, que foi
editado pela Santa Casa da Misericórdia
de Porto de Mós, onde estão muitas das
tradições desta região, incluindo as que
passaram “de boca em boca” e de geração
em geração.
O projecto “O animador” surgiu de
uma parceria estabelecida entre a As-
sociação de Desenvolvimento da Alta
Estremadura (ADAE), o Teatro de Grupo
“O Nariz”e as Câmaras Municipais da
Batalha, Leiria, Marinha Grande, Ourém
e Porto de Mós, contando ainda com o
apoio do Programa LEADER+/ADAE.
Este projecto vem incentivar a criação
de grupos de teatro na região.
Para além das acções de animação,
este projecto integrou um concurso de
textos para teatro, em que o vencedor
seria a base para a encenação da peça do
grupo. Com ou sem experiência, os candidatos foram escolhidos, por ordem de
inscrição. O fundamental era que, através
da formação, que durou cerca de nove
meses, o grupo de teatro amador fosse
cimentado, de forma a dar continuação
ao projecto.
A formação foi dividida em três partes. A primeira baseou-se em jogos e
pequenas representações, para que os
candidatos a actores se adaptassem uns
aos outros e ganhassem mais confiança.
O segundo módulo consistiu na aprendizagem dos textos para as peças. O terceiro
e último módulo constou na preparação
da peça final.
Antes do início da peça, os “actores”
encontravam-se espalhados pelos espaços amplos, do Cine-Teatro de Porto
de Mós. Entre as várias tradições re-
presentadas, estava o artesanato, uma
brincadeira entre miúdos aldeãos, a
olaria e o jogo do pau. A peça centrou-se em histórias com uma moral
intrínseca. O palco estava repleto de folhas, pilhas, árvores para fazer lembrar
a natureza. Os actores apresentavam
vestes de animais, como o galo, a rã, o
coelho, o porco, o carneiro, o pato, mas
também camuflados por um tronco ou
por um cogumelo. A peça terminou
com cantares populares da zona. Fica
a esperança, que o projecto continue a
dar frutos e que esta seja a primeira de
muitas peças, feita pelo grupo de Teatro
de Porto de Mós.
24 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007
Criatividade
Valeu a pena
um conto por Liliano pucarinho
-S
ão mesmo fortes aquelas
trepadeiras! – exclamava
Matilde a caminho de casa.
Na sua frente casas velhas e
altas, todas cobertas por um
verde musgo viscoso. Algumas trepadeiras.
Fora à feira das velharias e Matilde comprara
tudo o que a sua carteira lhe permitira: uns
cortinados beges, mesmo a condizer com uma
carpete de pêlo que tinha lá por casa; dois quadros robustos, onde se podiam apreciar corpos
nus envolvidos em danças de prazer.
O vento levantava-lhe a aba do chapéu escarlate que fazia um circulo de dois palmos em
torno da sua cabeça.
Não usava espartilhos. Uma saia rodada vermelha talhava-lhe as formas e dava-lhe uma
alegre imagem de juventude e malandrice. Sobre
os seios, uma camisa rendada que embrulhava a
sua pele sedosa, deixando qualquer um a olhar
para cada buraquinho da sua vestimenta.
Aos pontapés nas pedras com as suas alpercatas negras raspava-lhe, pouco a pouco, a tinta
que ainda restava.
Pelo Tejo caminham casais apaixonados de
uma Lisboa antiga. De mãos dadas.
Ao longe, o sol alinhava-se com o horizonte
formando bolas avermelhadas nas águas sujas do
rio. Matilde esgueirava-se por entre uma e outra
gaivota que por ali pousava. Alegre.
O caminho foi longo. Alfama não perdoara
a seus pés as escadinhas íngremes de pedras
brancas da calçada. Descalçou-se.
As gaivotas sobrevoam o rio uma última vez
antes de o dia acabar. Com os seus bicos tentavam salvar a última refeição, ao mesmo tempo
que, lutavam com as suas asas para não se deixarem cair. Sorria para elas e lhes falava:
- Natalia, anda cá!!
- Ai Caetano deixa-a pescar, não vês que ela
é mais pequena que tu?... – gritava preocupada.
Por vezes as gaivotas acudiam á orla do Tejo
como se a entendessem.
Lisboa cumprimentava os lampiões acesos
pelos pirilampos de Lisboa. Com o seu varão
de luz davam de comer a cada candeia da cidade que, agora, acordava para a noite. O ruído
aumentava a cada instante.
Na Lisboa boémia, abriam as tascas, os bares
nocturnos e os locais habituais de prostituição.
Mundanos.
As luzes vermelhas anunciavam entradas gratuitas para um prazer distinto. Nas ruas mais
fechadas, um cheiro nauseabundo, misturava-se
com o perfume barato das boémias mulheres
de rua. Do alto alguém gritava: - água vai...! – e
logo começou a pingar uma chuva miudinha e
amarelada. O cheiro era intenso. Alguns fugiam a
rir tropeçando nas pedras levantadas da calçada.
Um coxo que por alli passava, fora atingido na
cabeça retribuindo com cuspo para a porta da
descuidada.
Eram pescadores e marinheiros, doutores,
juizes e advogados. Todos saíam para a rua pelas
dez da noite, numa tertúlia masculina em direcção à Casa da Ponte.
“Quem por amor se perdeu, não chore não
tenha pena, uma das Santas do Céu, foi Maria
Madalena” – ecoava o fado vadio de uma viela
de Alfama. Seriam letras que marcaram o fado,
no corpo e na alma, de uma jovem que agora
apertava o xaile para junto do peito.
A jovem Matilde vivia na Casa da Ponte. Dava
o corpo a qualquer marinheiro que dos sete mares fosse andarilho. Os seus braços já se fecharam
em muitos homens e mataram muitas saudades
de casa. Sempre que um barco aportava, lá estava
ela a caminhar para o cais com as suas sandálias
negras. A sola de madeira fazia lembrar uma
cavalaria que por ali passava.
Bastava um sorriso e um aceno de mão para
logo se ver uma farda a deslocar-se mais depressa. Depois, atrás de umas caixas de madeira,
os braços cruzavam-se como se tivessem sido
namorados em outra vida. Caminhavam juntos para o fundo do armazém e aí trocavam-se
beijos intensos e acalmavam-se os calores de
outra paixão.
À noite sempre voltava para casa para receber
os homens que, por sorteio, lhe eram dados para
gozar, ou para gozarem dela.
Sobre a perna direita, uma saia levantada
fazendo prega logo debaixo da anca. Uma liga vermelha marcava o terrritório do prazer e
chamava os olhos a adora-la. Estava pronta para
mais uma noite.
A Casa da Ponte era o bordel mais concorrido
de Alfama. Casa típica e bairrista. Azulejos azuis
com motivos florais cobriam a parte frontal do
beco. Quatro janelas paralelas e duas portas
nas restantes paredes. Para entrar no beco, um
arco de pedra com não mais de metro e meio,
obrigava qualquer um a vergar-se para entrar.
Tal poder e tamanha vénia, não a conseguiram
muitos reis ou importantes governadores.
Cada janela ostentava lençóis brancos. Um
deles, aquele ali do lado esquerdo tinha um furo
do tamanho de uma moeda. Algum cliente o
terá queimado com a ponta de um cigarro. A
porta frontal dava acesso à velha Sé de Lisboa.
Apenas um gradeamento separava o beco da
igreja. Debaixo da janela esquerda, uma porta
estreita, com um postigo e sem puxador. Todos
sabiam que bastavam três pancadas com o bastão
para que ela se abrisse.
As paredes exteriores eram comidas de tinta.
Ao canto direito um tanque de água acizentado
servia de encosto a uma mulher do diabo. Esperava por um sacristão mundano, acompanhada
de uma cigarrilhe comprida. Sei que o esperava
porque em outras noites a tenho espreitado. As
suas tranças pretas, que deixara crescer desde
pequena, chamavam ao desejo. As duas apontavam para um sol que se escondia na estrada
dos seios.
Matilde descera a escadaria do interior da Casa da Ponte. Cheia de porpurinas e carregada de
maquilhagem barata. Havia homem na costa.
Desta vez era especial não se aprumava tanto para os outros como se apromou para este.
Conhecera-o porque uma vez lhe pagou uma
bugiganga na feira da ladra, pois esquecera-se
da carteira. O rapaz prometera-lhe passar em
sua casa um dia, para cobrar de alguma forma
o empréstimo.
A D. Dona, responsável pelo negócio, tinha-o
anunciado.
No fundo das escadas, o rapaz esperava-a
impaciente. Nervoso e com um fraque sujo
nos ombros de um sabão azul e branco que
lhe provocara caspa, sacudia à pressa tamanha
nódoa de imagem. A cara tinha-lha chupado a
fome. Mas mesmo asssiim o sorriso nos lábios
dava-lhe um ar nobre.
Tinha apanhado o eléctrico. O 28 que desce do
Castelo tinha ficado com as flores que roubou a
uma varanda para ofertar a Matilde. Esquecidas
em um banco.
Nas mão trazia uma pequena boina preta que
apertava e martirizava com as suas mãos.
Da glória não descia o elevador, mas Matilde
em direcção a ele.
- como está?- com ar valtivo e nariz a apontar
para um castiçal, Matilde assim se aproximou.
- beee..beem... bem! E a Senhora? – respondia
nervoso com uma gagez á altura da beleza de
Matilde.
- Ohh.. Senhora?!? Menina, que a Senhora
está no céu... hahah – riu em alto tom logo de
seguida.
29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 25
Criatividade
Trocaram-se olhares de imediato, beberam-se
copos de negro tinto de uma adega tradicional.
Sentaram-se no centro da sala.
Por ali caminhavam almas perdidas que aliciavam com o seu poder de mulher as almas mais
piedosas. A sala era de um vermelho escarlate a
condizer com as alcatifas. Matilde sentou-se ao
colo de Armando, o nome com a qual o rapaz
se apresentou.
Fugia a todas as questões que Matilde lhe
colocava, só lhe respondeu que morava perto
do Miradouro de Santa Luzia. Ao som de uma
fadista engeitada, atrevida mulher, meteu-lhe
a mão em um dos bolsos. Acariciando-o fazia
o seu convite para um momento mais a só, no
seu quarto. O rapaz atrapalhado levantou-se
de imediato mostrando a todos o corar da sua
cara. No fundo da sala, um barrigudo juiz ria da
embaraçosa situação.
Matilde levou-o mais tarde para o seu quarto.
Subiram a escadaria entre assobios e piropos.
O quarto tinha apenas uma cama protegida
com uma rede mosquiteira; uns cortinados beges e uma alcatifa peluda que cobria o chão.
As paredes vazias faziam o quarto parecer o
quarto ainda mais cheio. Debaixo da janelas,
encostados à parede, estavam os quadros que
comprara na feira.
A porta bateu e logo se abraçaram carinhosamente. Já alguma roupa espalhada pelo chão.
O forte amasso de paixão fazia tremer todo o
quarto. Deitaram-se na cama e estenderam-se
ao comprido. Não falaram. Quando virados um
para o outro, sentiram o coração a bater mais
depressa. Desta vez seria diferente. Matilde
parecera não estar pronta para este homem.
Sentiu um aperto no coração, uma ansiedade
diferente. Reagindo ao mesmo instinto Armando percorre o seu corpo branco com as pontas
dos seus dedos. Fechou-lhe os olhos com a
mão e fazendo uma estrada para os lábios de
Matilde, beijou-a. Não falaram. Estiveram horas
tardias enrolados um no outro, com suores de
um intenso prazer. Unidos num só alcançaram
o gozo que nenhum deles sentiria antes. Cumplicidade, amor, felicidade, chamem-lhe nomes
feios se quiserem.
Matilde jurou nunca mais largar Armando e
que amanhã mesmo fugiria desta vida de mulher de rua.
Adormeceram abraçados.
O galo acordava Alfama. Só cacarejou uns
segundo porque um gato vadio atirou-se a ele
de rajada. Serviram estes para acordar Matilde
adormecida.
Levemente num bater de pestanas acordou.
Apenas o lençol cobria as suas formas. O branco
transparente deixava para o desejo a decisão
se esta imagem seria de prazer se de ternura.
Vestiu-se depressa pois Armando já não estava
naquele quarto. Umas alpercatas velhas, um
vestido preto e um xaile para se cobrir da manhã
de nevoeiro. No beco ainda gordos homens se
riam por terem enfrentado o vinho que lhes tirou
toda a firmeza.
Matilde correu Alfama. Passou pelo Miradouro onde Armando lhe dizia que morava mas
ninguém o conhecera. Por ela passava um rapaz
de camisola verde, negra madeixa ao vento e uma
boina de marujo ao lado. Perguntou-lhe por
Armando descrevendo-o ao rapaz que, a correr,
lhe respondeu que não o viu. Correu.
As escadinhas, becos e ruelas, ruas e travessas
não avistaram tal pessoa.
[pausa]
Passou demasiado tempo. O sol já marcava o
meio dia e Matilde chorava junto a um vaso de
malvas que lhe escondiam a cara. Mesmo sem
nada no estômago levantou-se corajosa e carre-
gando as alpercatas nas mãos. Suspirou.
Teria sido o amor da sua vida, mas quis o
destino que fosse levado como que pelo vento.
É eterno o amor e a saudade. Rezou por ele e
pela sua volta, de joelhos frente a um nicho que
acolhia o Santo António.
O final da tarde trazia a procissão da Senhora
da saúde. Decidiu acompanhá-la. Cada passo
que dava uma lágrima salgada.
Havia crianças a rir entre si. Algumas delas
já com as suas asinhas de anjo a cair. Matilde
rezou também por elas para que tenham sempre
a mesma alegria.
Atrás vinha o sacristão mundano que segurava a cruz sagrada. Um toque fúnebre dava
ambiente ao cenário. Se fosse de noite várias
velas se acenderiam. Para matilde, o desejo era
de voltar a ver e viver o homem que a fez sentir
como se não fosse uma qualquer. Se ele a amava
ainda não vos poderei dizer.
Voltou para casa da ponte cansada e cheia de
fome. Subiu as escadas ao toque de gargalhadas
de outras mulheres que limpavam o salão escarlate. Ao entrar no quarto, uma saudade que
enchia as paredes brancas. Pensou que nunca
conheceria o amor verdadeiro. Conheceu-o
quando menos esperava mas, se não o pudesse
viver outra vez, morreria. De saudade?
No porto chegavam marinheiros. Matilde não
estava lá desta vez. Acostada na sua almofada de
penas desejou acabar com a sua vida, tamanha
angustia da perda. Levantou-se da cama e dirigiu-se ao seu tocador. Penteou o seu cabelo. Cada
fio com o mesmo cuidado. Sorrindo e chorando.
Atirou a escova para cima da cama. Amarrou o
xaile negro ao seu peito. Junto à janela sentou-se
no parapeito com os pés voltados para dentro do
quarto. Olhou tudo ao pormenor, cada quadro,
cada milímetro de chão. Recordou a curta vida
e a quem nunca disse o quanto gostava. Pensou
em tudo o que ficou por fazer e dizer. Mas não
valera a pena.
Abriu os braços e, com o xaile colocado sobre
as costas e as pontas nas mãos, parecendo um
anjo de negras asas, sorriu levemente e, acompanhando o escorrer de uma lágrima, deixou-se
cair para fora da janela.
Lá em baixo gritavam varinas aflitas, beatas e
senhoras de respeito ao ver tamanha tragédia.
Muitas delas abandonaram logo o beco da tragédia comentando que : - é mais uma daquelas,
também não fazia cá falta....
O chão manchava-se de salpicos de sangue
vermelho de uma intensa cor rubra. Os lençóis
que se diziam brancos ficaram manchados de
vermelho criando um leve padrão. Da porta
gradeada saiu o sacristão mundano que, surpreendido, mas consciente da sua posição religiosa,
lhe concedeu a ultima benção.
Só quem senti o mesmo que Matilde encontrará razão para este acto. Todos os outros nem
se aproximarão da resposta.
E Lisboa vive.
De um misto de saudades marinheiras e de
mares-amores não naufragados, todos estamos
fadados.
Um fado que será repetido para todo o sempre.
Diz-se que há quem se perca por amor…
Talvez um dia Matilde seja recordada na voz
de uma cantadeira ou disposta em um painel
de azulejos. Em azul e branco, como o céu. A
tradição o dita.
Um chapéu percorre as margens do Tejo, bailando com as fúrias do vento. As gaivotas vêem
beijar a água mais uma vez. Devem ter fome.
No 28 murcham rosas vermelhas num banco
que chora lágrimas de espuma.
|suspiro|... acho que ele a amava.
O
25 de Abril
visto por “nós”
Telma Lento
Comemorações do 25 de Abril? Que significado? Contributos para a sociedade? Que
participação? Os alunos do 3º ano de Comunicação Social da ESTA decidiram organizar
um debate interno sobre estes assuntos,
conjungando-os com questões como a dos
direitos e deveres. Todos os alunos fizeram
questão de dar a sua opinião sobre um tema
tão histórico e ao mesmo tempo tão pouco
explícito.
Existiu um consenso por parte dos alunos
ao afirmarem que o 25 de Abril é uma data
mal explicada. Segundo Tiago Lopes, “parece que sabemos tudo, mas não sabemos
nada; sabemos apenas que é um acto de heroísmo”. Posição tomada também por Ângela
Filipe, que afirma: “A nossa geração e as anteriores não sabem nada sobre o 25 de Abril,
ninguém explicou de uma forma apelativa
esta questão e se excluirmos as pessoas que
estavam em Lisboa, na altura, ninguém sabe
nada sobre esta data”.
Outro ponto em que os alunos estavam
de pleno acordo é a maneira pouco eficaz
como o 25 de Abril é leccionado nas escolas.
Existe pouca informação dada aos alunos
acerca desta data tão importante na história
do nosso país. “ As pessoas não conhecem a
História”, tal como afirma Tiago Lopes.
Um dos pontos do debate foi a comparação do ensino antes e pós 25 de Abril, e os
alunos concluíram que se perdeu muito a
ideia de respeito, principalmente pela figura
do professor. Segundo Ângela Filipe, nas escolas existe uma falta de rigor e de um punho
de ferro; a escola perdeu o sentido que tinha
antes da revolução. Para Fátima Vieira, foi
retirada a função de educador aos professores e, nos tempos que correm, os pais não
prestam atenção à educação dos filhos.
A falta de liberdade antes do 25 de Abril ou
o excesso de liberdade pós 25 de Abril também
foi um tema discutido. Para Nelson Ferreira,
há liberdade a mais e uma falta de regras. Opinião partilhada também por Ângela Filipe: “
Uma das coisas que a revolução trouxe foi uma
má noção de liberdade, nenhum de nós sabe
o que é passar por privações, mas todos nós
sabemos o que é o excesso de liberdade”.
Tiago Lopes vai mais longe e afirma mesmo que não podia ter nascido antes do 25
de Abril. “Depois de nascer já estava a ser
preso” - ironiza. “A liberdade de ser tudo
aquilo que sou é graças ao 25 de Abril, temos a liberdade de escolher tudo aquilo que
queremos ser, assim sendo, tenho que dar à
Sociedade toda a criatividade que tenho”.
A opinião de Ana Luísa Nascimento vai ao
encontro da dos seus colegas, já que para a
aluna mais liberdade significa mais responsabilidade.
Numa sociedade que atravessa tantas
dificuldades tanto a nível económico como
social, será que para os alunos o antes 25 de
Abril era uma época melhor? Para Fátima
Vieira, nem tudo era mau na época de Salazar: “Ele percebeu que era necessário evoluir
em termos económicos”. Para Vera Inácio,
Salazar “pretendia melhorar o país, só que
não o fez da melhor maneira, já que não pensou nas pessoas”.
Aos olhos dos alunos, o nosso país anda
muito atrás dos outros. Segundo Fátima
Vieira, as pessoas neste momento estão
muito desanimadas com tudo o que se
passa.Antigamente “eram mais humildes
e tinham orgulho no pouco que tinham”.
Transmitir a noção de valor é algo que,
para Tiago Lopes, é necessário: “Hoje em
dia as pessoas esquecem-se da noção de
“Uma das coisas que a
revolução trouxe foi uma
má noção de liberdade”
- defendem os jovens
trabalhar para ter algo, querem alguma
coisa, têm de mostrar valor para o alcançarem. Temos de ter orgulho no que somos”.
Rosa Patrício é da opinião que existe um
pessimismo excessivo e que as pessoas não
valorizam o que têm.
E será que os alunos fazem com a sua liberdade algo que pode melhorar a sociedade?
Para Rosa Patrício, o facto de frequentar um
curso de Comunicação Social pode melhorar
a sociedade, já que pode levar a informação a
todos os outros. Já João Alves faz vigia às florestas e Fátima Vieira faz apoio social. Para
Ana Margarida Batim, temos que ter uma
consciência social, não somos só nós, não
podemos ser egoístas.
Este debate contou com a presença da aluna Dayana Delgado, cabo verdiana, que para
espanto de todos os presentes, relatou que
em Cabo Verde não se falava do 25 de Abril.
Verdadeira informação só obteve já em Portugal, numa na televisão no noticiário no dia
da comemoração do 25 de Abril. Antes de vir
para Portugal só sabia que a data significava
a Revolução dos Cravos.
Este debate teve como objectivo partilhar
opiniões acerca do 25 de Abril, e discutir o
que seria possível melhorar para que esta
data não seja esquecida. Em suma, os alunos
defendem que é na escola que esta data deve
ser relembrada e estudada, para que todos
saibam o que levou à liberdade de que hoje
todos nos orgulhamos.
26 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007
Criatividade
Na prisão
da alma
Tiago Lopes
O sol raia lentamente. É o primeiro
dos indício do começo do dia É surpreendente reparar nas cores que o céu faz,
nas sombras que os raios solares formam,
no combate celestial que trava com a
lua, agora que estou aqui dentro. Agora
que sou como uma jóia, guardada num
cofre. Todos sabem que estou aqui, mas
ninguém me quer ver…
Se tu, Ana, pudesses ler-me. Não
deves sofrer por mim. Esquece as lá-
grimas e a vida que pensávamos ter.
Entrega-te a um novo homem… A
dois… A três novos homens. Sê livre e feliz. Aproveita para ires onde
eu nunca quis. Para fazeres o que eu
nunca faria contigo. Para usares aquele
vestido ou aquele batom, que tanto
me enervava.
A rotina conforta-me. Sei com o que
posso contar. À medida que as horas
avançam e que a minha estadia entre os
vivos recua, só a rotina me traz algum
conforto. É a rotina que me tranquiliza;
que me permite quase prever, como se
fosse um adivinho.
Daniela, não tarda muito, entrará no
espaço que compartilho com Carla e distribuirá os pequenos-almoços. Depois do
nascer sol, é Daniela o segundo sinal do
começo do dia. Deveria odiá-la? Talvez!
De que me serve a raiva, se os dias, com
ou sem Daniela, continuarão a passar? De
nada me vale o grito, quando a garganta
se calar.
Ana, não quero que leias nada do que
escrevo, para não teres a tentação de querer recuperar aquilo que nunca chegou a
ser teu. Não quero que leias o que escrevo,
mas és tu quem me inspira. Cada detalhe
do teu corpo, gravado nos meus sentidos,
é um impulso novo a redigir mais uma
ou duas linhas.
Não ambiciono ser recordado, até
porque todos já me esqueceram! A euforia dos primeiros segundos, os gritos
histéricos dos jornalistas, os aplausos e
os apupos da multidão, os dedos acu-
satórios, já não recordam o meu nome.
Pouco mais do que um número, é aquilo
que sou, para uma ou duas secretárias em
fim de carreira.
Só elas me recordarão, involuntariamente, até que morram. No dia dos seus
funerais todos chorarão pelas grandes
mulheres que o mundo perdeu; pelas
mães fabulosas, pelas avós prestimosas,
pelas amigas valiosas. O dia dos seus
funerais será o dia do meu esquecimento
como número. Porque como pessoa o
funeral já aconteceu.
A vida que levei traria o meu Destino
até este ponto. Era inevitável, tal e qual
um rio corre para o mar. E, no entanto,
os rios secam… Poderia eu ter fugido?
Poderia ter fugido? Quis ser ousado,
viver por um minuto, e agora pagarei
por isso.
conseguir perceber por que é que um
dirigente desportivo e um presidente do
conselho de arbitragem gostam tanto de
jantar juntos. Cheira-me a modernice.
De qualquer modo, qual bênção divina, agradeço o facto de os cinemas
ainda não terem cheiro, isto porque
ver a senhora dona Carolinha a aparar
os pelos dos ouvidos do seu cônjuge,
assim como a cortar-lhe as unhas, ultrapassa a minha noção de realismo
cinematográfico. Mas a melhor de todas
é a táctica da Carolininha de disfarçar
os “descuidos” do seu amor com um
cigarrinho, tinha toda uma dimensão
diferente, com cheiro, claro está!
(Este excerto faz parte do romance “Escada da Alma”, de Tiago Lopes)
Uma rosa azul
Eu queria uma rosa azul só para mim,
Que as pétalas desfolhasse ao meu passar,
E que entre as demais rosas do jardim,
Me fizesse recordar o teu olhar!
Azul, como é o azul do Céu com essa luz,
Que por ser tão azul até magoa,
Azul, como o laço de fita que hoje pus,
Quando, inquieta, por ti esperava à toa!
E entre as rosas que há no meu jardim,
Nasceu uma rosa azul só para mim,
A lembrar que é sempre Primavera,
Que importa que a rosa seja uma ilusão,
Um faz de conta, um bem-querer no coração,
Se a vida não é mais que uma quimera!
por: Ana Maria Ribeiro
Ai eu! E a Carolina
Vera Inácio
Ora viva, hoje é um dia feliz! O momento pelo qual eu e a grande massa
cultural portuguesa esperávamos, finalmente, chegou! O país está em êxtase!
Eis que vindo da bruma, tal qual Dom
Sebastião, nasce a proposta da criação
do melhor momento cultural português.
Estão criadas as condições para uma
nova era de enriquecimento cultural.
Finalmente vamos poder ver nas telas
de cinema um filme inspirado no fantástico livro de Carolina Salgado.
Mal posso esperar! Finalmente vou
Depois disto, possivelmente vou ter
de imigrar. Não me parece que a frase
“há que limpá-lo” se refira a um duchezito, mas não estou muito preocupada. A
Rússia é já ali ao lado, e enquanto lá tiver
especado o belo do cartaz do All Garve, a
par do Kremlin, sentir-me-ei em casa.
Boas Algarviadas.
29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 27
Fotolegenda
Foto por João Alves
Foram cerca de 700 crianças de escolas
do 1º ciclo e jardins-de-infância do concelho de Abrantes que participaram no
Desfile da Flor pelas ruas do Centro Histórico, dia 27 de Abril, a partir das 9h30,
dando cor e alegria à Festa da Primavera.
Tal como aconteceu nos anos anteriores,
as crianças apresentaram-se com fatos
alusivos à Primavera, entoando cantigas
próprias da estação. Algumas vestidas
com adereços de espantalhos, as crianças construíram o “Muro da Paz”, colocando flores numa estrutura montada
para o efeito em pleno coração do centro
histórico, no Largo Ramiro Guedes. As
turmas, de pequenos estudantes, presentearam a cidade com espantalhos,
que foram espalhados pelas ruas.
Depois do desfile foi a altura de um espectáculo de animação na Praça Barão
da Batalha. A praça estava prenchida de
cor alegria. Entre muitas palmas, risos
e gargalhadas, as crianças assistiram à
apresentação do “Circo Maribondo” que
as presenteou com música ao vivo (bateria e percussão, saxofones e realejo),
malabarismos, magia cómica, acrobacia,
palhaços e muita interacção com o público jovem.
João Alves
Foto por Vânia Costa
“Só têm que fazer no campo o que fazem
nos treinos”. É desta forma que António
Nadais, o treinador da equipa os Lobos,
comenta o primeiro jogo da época, que
ocorreu no passado dia 15 de Abril, contra o Académica de Coimbra. Apesar de
estarem conscientes que o adversário
era forte, em campo deram o seu melhor
e apoiaram-se uns aos outros, pois cada
ponto era uma vitória. O primeiro jogo
alongou-se e talvez tenha batido o recorde: foram cerca de três horas mas, para
Pedro Lázaro, o tempo não é desculpa
para se cometerem enganos. “Não foi o
cansaço que levou aos erros”, defende.
Sempre atento a todos os movimentos,
Pedro Ferreira vê com espírito crítico os
erros cometidos. “Fizeram-se erros que
nos treinos não eram normais cometermos, como por exemplo bolas pelo ar
(flyballs), rollings e deixar cair as bolas”,
mas com grande orgulho o esforço e
motivação dos colegas “no ataque estivemos bem e marcámos alguns pontos”.
O jogo termina e faz-se um balanço.
“Foi um jogo bom, perdemos mas teve
um saldo positivo”, refere Tiago Matos.
Para lá da rede passaram muitas caras
curiosas e atentas que não deixaram
de gratificar o desempenho da equipa.
Foram já vários os jogos em que os jogadores mostraram o que aprenderam
nos treinos e o principal objectivo foi
conseguido: “entrar em competição, no
Campeonato Nacional de Basebol, ainda
este ano”, afirma António Nadais com
orgulho.
Vânia Costa
ÚLTIMA
DO OUTRO LADO DA HISTÓRIA
Sexta-Feira, 29 de Junho de 2007
O Rui nascera. Os carrinhos, as roupinhas azuis, os traços que de uma virilidade paternal vinham (seguramente!). No quarto ao lado tinha nascido a
Margarida. Bonecas de cabelos longos e
uma perfusão de tecidos rosas cobriam
a delicadeza da sua pele de menina. No
piso superior nascia João. Compraramlhe carrinhos, vestiram-na de verde, não
lhe impuseram dogmas!
Ao Rui estava reservada uma vida no
meio dos carros, dos tons azulados, dos
amigos, das descomunais noitadas, das
namoradas intermináveis (inclusive as
que se inventavam!), dos jogos de futebol, das brigas e dos queixos partidos.
Uma vida de Homem, como manda a
tradição.
Margarida, por seu lado, estava confinada
às bonecas, ao eterno cor-de-rosa, às
NÓS POR CÁ
grandes amigas, aos dias de compras, aos
namorados infiéis (porque fiéis é complicado!), às receitas culinárias, às intrigas e
mexeriques, à ironia das palavras. Uma
vida de Mulher, como tem que ser.
E o João? O João pode crescer por si.
Flutuar pela masculinidade dos carrinhos e dos jogos de futebol; dançar pela
feminilidade das românticas noites de
lua cheia e da poesia romântica. Não se
impuseram rotas, nem pré-programações
sociais porque só o João, crescido e amadurecido, podia saber qual a sua cor. O
Azul do Rui? Ou o Rosa da Margarida?
Confuso, por certo! A sociedade, ritualista e estratificada, separa-nos, desde que
nascemos e rotula-nos logo no primeiro
segundo de vida. “É menina!” Como podem saber… Os filósofos jainitas indianos
entendiam que o Masculino e o Feminino
não existiam. Eram somente concepções
sociais. Cabia aos indivíduos escolher
qual a sua cor. O Azul do Rui? O Rosa da
Margarida? Ou o Verde do João?
Chamavam-se hrijas. Eram considerados
o terceiro sexo. Nascidos biologicamente
homens, sentiam-se psiquicamente mulheres. Compunham uma nova classe
sexual, que fundia características das outras duas. Vestiam-se como homens, mas
privavam com as mulheres. Não eram
recriminados socialmente! Os berdache
ameríndios também gozavam deste tipo
de simbiose.
Os Católicos, reformadores e conquistadores, chegaram e arruinaram a diversidade. Impuseram a sua visão dualista,
preconceituosa, estereotipada e simplista.
É tão mais fácil viver num mundo de
Azuis e Rosas! Tudo o resto são desvios
que devemos evitar! Mas e os Verdes e
os Laranjas? No Ano Europeu para a
Igualdade há que olhar respeitosamente
para o arco-íris. Será mais mulher a Margarida (biológica) do que o João (que é
psiquicamente Joana)?
►► ►
Um bocadinho de alcatrão
para o Chafariz, por favor!
Vânia Costa
A rubrica é recente no ESTAJornal, mas
já começou a dar frutos. Abrantes deu mãos
à obra e a situação descrita no artigo “uma
flor de podridão” está em transformação.
Este artigo é pois um apelo aos incógnitos
que deambulam por Abrantes, pois entre
eles, há quem esteja atento à paisagem mais
hostil da Cidade Florida.
Estacionar em Abrantes torna-se quase
vânia costa
J O R N A L
►► ►
Eles, elas e os outros...
Tiago Lopes
esta
impossível quando a rua a que se pretende
ir tem o nome de Tapada do Chafariz. É sem
dúvida o beco sem saída mais movimentado
de Abrantes. Quando não há estacionamento
na rua, opta-se por uma de duas soluções: ou
se desiste e volta-se para trás; ou arrisca-se
a um estacionamento de linhas imaginárias
com o piso de terra batida. O percurso até
lá altera-se como da noite para o dia. As
flores são substituídas pela erva daninha, o
alcatrão pela terra batida, e o piso liso por
inúmeros buracos. Para além de todos estes
inconvenientes, esta travessa é estreita, só
passa um carro de cada vez, depois de todos
os milímetros calculados. Quem passa pela
Tapada do Chafariz na “hora de ponta” dá de
caras com um cenário calamitoso: carros parados na estrada, arrumados nos sítios mais
avarentos e uma confusão de circulação para
trás e para frente. A solução, neste momento,
a um lugar num estacionamento em que a
roda da frente tem que ficar em cima do passeio, é um percurso íngreme e desnivelado
até ao paraíso das ervas daninhas.
Previsões por Tiago Lopes
Rá (Deus do Sol)
16 de Julho a 15 de Agosto
Carta: Louco
Férias! Descanse agora e reponha as energias, porque Setembro
traz desafios gigantescos. Cuidado com a forma como conduz as
suas relações amorosas. Leia mais!
Neit (Deusa da Caça)
16 de Agosto a 15 de Setembro
Carta: Cobiça
Querer sempre mais é uma coisa boa se for com moderação... Não
deixe que os seus impulsos sejam a razão de todas as suas acções.
Admita os seus erros!
Maat (Deusa da Verdade)
16 de Setembro a 15 de Outubro
Carta: Aprendizagem
Olhe para os seus erros e retire todas as lições! Não repita erros por
pura teimosia. Passe mais e melhor tempo com os seus familiares.
Cuidado com a sua saúde!
Osíris (Deus da Renovação)
16 de Outubro a 15 de Novembro
Carta: Tranquilidade
A sua vida amorosa está numa fase conturbada? Antes de
procurar a sua cara-metade, por que é que não pensa em procurar
estabilidade pessoal? Ame-se, antes de querer amar…
Hator (Deusa da Adivinhação)
16 de Novembro a 15 de Dezembro
Carta: Pensamento
Aposte fortemente na evolução do seu currículo e em novos
projectos. Não desperdice a sua criatividade, por não ter autoestima. Mime a sua cara-metade!
Anúbis (Guardião dos Mortos)
16 de Dezembro a 15 de Janeiro
Carta: Condescendência
Mais do que castigar, o que torna os nativos de Anúbis poderosos
é o poder de perdoar. Não retire a razão aos seus amigos. Você não
está sempre correcto/a!
Bastet (Deusa Gato)
16 de Janeiro a 15 de Fevereiro
Carta: Carro
Os nativos de Bastet estão a ter um 2007 pleno de momentos
bons e estas próximas semanas irão manter o bom ritmo. Não se
desleixe nas suas relações familiares…
Tauret (Deusa da Fertilidade)
15 de Fevereiro a 15 de Março
Carta: Viajante
Procure outros locais, para poder pensar! Fuja da rotina que está a
atrofiar o seu sentido criativo. Os seus amigos serão decisivos nas
próximas semanas. Estime-os!
Sekhmet (Deusa da Guerra)
16 de Março a 15 de Abril
Carta: Infidelidade
Não faça aos outros, o que não gostava que lhe fizessem a si. As
suas pulsões sexuais deverão ser travadas pela sua consciência.
Não se deixe dominar…
Ptah (Criador Universal)
16 de Abril a 15 de Maio
Carta: Descoberta
Perceber quem somos torna-nos pessoas melhores. Os nativos de
Ptah estão a meio do caminho… Não descobriram quem são, mas
já se sentem melhores!
Tot (Deus da Escrita)
16 de Maio a 15 de Junho
Carta: Justiça
Não critique, não julgue, não teça comentários desagradáveis.
Quem lhe deu o poder de julgar? Antes de criticar os outros olhe,
com olhos de ver, para si! Reflicta!
Ísis (Deusa da Magia)
16 de Junho a 15 de Julho
Carta: Dificuldades
Os nativos de Ísis irão sentir algumas dificuldades em adaptar-se
às mudanças que estão para chegar. Tente manter a calma e verá
que tudo é bastante simples!
O calendário egípcio é composto por 360 dias distribuídos por 12 meses
e 3 estações, mais 5 dias chamados “acrescentados”. Há uma lenda que
explica a origem dos 5 “acrescentados”: Os cinco dias acrescentados foram
conseguidos pelo “Deus da Sabedoria” Tot, num jogo de xadrez Universal contra
Rá. Só nesses cinco dias Tot poderá estar com a sua amante, Nut, Deusa da Lua
e legitima esposa de Rá.