perto de si - Instituto Politécnico de Tomar
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Migrações www.esta.ipt.pt s à volta do m o t n e un im do Fundição quer sair do Rossio de Abrantes Placas de cortiça têm mercado no exterior Mo v D i r e c to r a: H á l i a co s ta s a n to s Suplemento de 8 páginas N.º 14 . Ano 5 . sexta-Feira, 29 de junho de 2007 P4a7 Esforço para diminuir incêndios O Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios está em marcha no distrito de Santarém. Paulo Fonseca, Governador Civil, aposta na sensibilização e evidencia os novos meios. Uma actuação concertada pode ser a chave para prevenir e resolver muitos dos problemas causados P 10 pelos fogos. Abrantes e Sardoal adoptam programas de voluntariado jovem para evitar cenários vistos em anos anteriores. joão alves Tomar prepara-se para a Festa dos Tabuleiros P 17 Miúdos do 1.º ciclo produzem animação P 14 e 15 Paulo Sousa promove hábitos de leitura P 22 Praia em Abrantes P 12 Lusitano: marcas de um cavalo de sempre P 13 • • • • • Abrantes Alferrarede F. Zêzere Leiria Tomar perto de si | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007 esta J O R N A L um cartoon Vera Inácio “O mar”, o filme e os outros Hália Costa Santos editor ial Abrantes está diferente e o ESTAJornal não podia deixar passar em branco um grande passo que está a ser dado nesta cidade: “o mar”. O açude insuflável é uma obra que marca definitivamente a cidade, a região e até o país. Os milhões que se gastaram são agora irrelevantes, porque é destas iniciativas que as cidades do interior podem e devem viver. Abrantes apareceu nos órgãos de comunicação social nacionais pelos bons motivos. E isso tem um valor. Mas valor maior terá a vida dos abrantinos e amigos, que podem e devem usufruir de um novo espaço, com potencialidades que dificilmente se encontram noutras cidades ribeirinhas. Enquanto desenvolve as suas potencialidades naturais, a região aposta também numa prevenção eficaz dos incêndios. O Governador Civil da Santarém deu o seu contributo ao ESTAJornal, explicando a forma como o distrito está a operacionalizar um programa desenvolvido a nível nacional. Prevenir será sempre o melhor remédio e esta edição, com este trabalho, quer deixar essa marca e esse sinal de alerta. Por mais que se fale no assunto, parece que é sempre pouco. Esta edição do ESTAJornal dá também destaque a uma iniciativa que merece todo o carinho e atenção. Com a organização dos Espalhafitas, um grupo de alunos da Escola do 1º Ciclo do Rossio ao Sul do Tejo produziu uma animação sobre uma das tradições antigas da região: “O Mar da Palha”. O resultado é também um exemplo daquilo que se pode fazer, sem necessidade de grandes meios. Haja uma ideia, espírito criativo e vontade de trabalhar. Mas o trabalho de fundo, o que mais representa um esforço de equipa, foi aquele que se vê nas páginas de destaque. A redacção do ESTAJornal quis assinalar os movimentos de pessoas pelo mundo, numa altura em que Portugal dá os primeiros passos na integração estruturada de estrangeiros. Entre os preparativos da Festa dos Tabuleiros e as sempre presentes actividades dos estudantes, esta edição traz também um outro elemento de elevada qualidade: o suplemento de Economia, produzido pelos alunos do 4º ano do curso de Comunicação Social, orientados por Helena Garrido, docente de Jornalismo Económico. O tecido empresarial da região foi visto com outros olhos. Os candidatos a jornalistas descobriram estórias verdadeiramente interessantes, para a comunidade e não só. Tudo isto sem esquecer o desporto. Numa vertente, o ESTAJornal destaca uma jovem que, em pouco mais de um ano de contacto com um novo desporto, se sagrou campeã nacional e regional de light contact. Numa perspectiva educativa, é incontornável a prestação de Paulo Sousa. Futebolista conceituado, veio a Abrantes usar a sua notoriedade da melhor forma. Ou seja, cativando os miúdos para a leitura. E o ESTAJornal esteve lá. O E stajornal errou - O artigo sobre o CRIA, pág. 12, paginado sem assinatura, é da autoria de Ângela Filipe - Por lapso os créditos da foto do artigo “Não se pode desistir” foram atribuídos a Rosa Patrício, quando deveriam ter sido a Ângela Filipe (pág. 21) - Esclarecimento Eco-Museu – ao contrário do anunciado na pág. 21 a exposição “As Escolas do Souto“ não se realizou em Maio de 2007, mas sim no ano anterior E statuto Editorial • O ESTA é um jornal de Escola, de pendor assumidamente regional, mas que nem por isso abdica da dimensão de um órgão de grande informação ou da ambição de conquistar o público para além do meio universitário. • O ESTA Jornal adopta como lema e norma critérios de rigor, de absoluta independência e de pluralismo dos pontos de vista a que dá expressão. • O ESTA Jornal aposta, por isso, numa informação plural e diversificada, procurando abordar os mais diversos campos de actividade numa atitude de criatividade e de abertura perante a sociedade e o Mundo. • O ESTA Jornal considera como parte da sua missão contribuir para a formação de uma opinião pública informada, emancipada e interveniente - condição fundamental da democracia e de uma sociedade aberta e tolerante. • A democracia participativa e entendida para além da sua dimensão meramente institucional, o pluralismo, a abertura e a tolerância são os valores primaciais em que se alicerça a atitude do ESTA Jornal perante o Mundo. • O ESTA Jornal considera-se responsável única e exclusivamente perante a ambição e a exigência dos seus redactores, alunos do Curso de Comunicação Social da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes e perante o público a que se dirige. O ESTA Jornal está por isso plenamente disponível e empenhado com os leitores, comprometendose a manter canais de comunicação abertos com quantos connosco queriam partilhar as suas ideias e inquietações. Fundado a 13 de Janeiro de 2003 propriedade da escola superior de tecnologia de abrantes Morada: Rua 17 de agosto de 1808 2200-370 abrantes telefone: 241361169 fax: 241361175 E-mail: [email protected] esta J O R N A L direc tora: Hália Costa Santos Direc tora-adjunta: Raquel botelho redacç ão: Ana maragrida Batim, Ana luísa nascimento, Ana rosa patrício, Ana torres, Ângela Filipe, dayana delgado, diana rocha, fátima vieira, joão alves, joão oliveira, josé pinto, nelson ferreira, Telma lento,Tiago Lopes, Vânia Costa e Vera inácio editores: nelson ferreira e josé pinto secretárias de redacç ão: Ana rosa e fátima vieira Editor de fotografia: Tiago lopes Colaboradores: Ana Maria Ribeiro, helena garrido, liliano pucarinho, luize te santos e miguel geraldes revisão: Maria Romana Departamento comercial: florbela Rocha e ROSA MATOS Projec to gráfico e paginaç ão: joão pereira impressão/gráfic a: gráfica do instituto politécnico de tomar tiragem: 5000 exemplares 29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | Opinião O 25 de Abril à luz da Educação O Ana Margarida Batim “ Saber é sempre evoluir para um futuro melhor despontar da liberdade ocorreu em 24 de Abril de 1974 e foi logo desde os primeiros raios da madrugada chamada de Revolução dos Cravos. Com ela afirma-se uma Juventude controversa, mas também arrojada ao ponto de concretizar o impensável, o inconcebível. Os acontecimentos sucediam-se vertiginosamente e, ainda mal saído da obscuridade de 48 anos de opressão, o povo veio para a rua e cantou, gritou “Liberdade!” e colocou nos canhões e espingardas os cravos vermelhos, como o sangue que lhe corria nas veias. Desde a primeira hora, o povo colocou-se ao lado dos Capitães de Abril e fez desse dia o marco que haveria de mudar a História do meu país. Foi uma atitude curiosa, pois ninguém esperava que o povo se unisse tão repentina e organizadamente para lutar e derrubar o regime que tanto os oprimira. Quebraram-se as correntes! Dentro das prisões de Caxias e Peniche foram libertados os presos políticos, aqueles que no sofrimento moral e físico construíram, dia após dia, hora após hora, a liberdade tão ansiada e que já se começava a vislumbrar. Liberdade essa que teve como pano de fundo canções bastante expressivas como “Gaivota”, “Grândola, Vila Morena”. Quebram-se as correntes, abrem-se algemas neste País por tantos anos amordaçado, neste País de marinheiros, poetas e cantores tantas vezes calados. Os rostos cansados não estavam mais cansados; neles sorriam lágrimas que agora podiam sorrir sempre, porque eram realmente livres. No entanto, esta descrição viva, talvez mesmo poética, do maior acontecimento do século XX no meu País é muitas vezes esquecida, mal explicada. Estaremos, de facto, a esquecer Abril? Descrever Abril é muito mais do que palavras elaboradas numa folha de papel. Tratava-se da vida de um povo, da sua História, da sua Alma. Constato, pelo meu percurso escolar, que pouco se fala deste acontecimento, que são muitos os alunos que saem do Ensino Secundário e não sabem concretamente o que foram estes momentos tão intensos, apesar de vividos à distância de 33 anos. É sempre mais fácil explicar quem, realmente, passou por todas aquelas mudanças, por cada dia em que não havia nada para comer, por cada dia em que um pão seria dividido por uma família, por mais um dia em que, de pés descalços, se percorria, mais uma vez, o caminho para o laboro. Penso que não se concluiu Abril, que não se soube passar a mensagem às gerações seguintes. Os próprios manuais escolares deveriam descrever detalhada e intensamente esses momentos históricos, mas não o fazem. É uma vergonha que os jovens não saibam qual é a sua História, qual a História do seu País, País pelo qual tão orgulhosamente erguem a bandeira quando há um jogo de futebol da Selecção Nacional. É uma vergonha que não haja interesse por parte dos nossos representantes, tantos que viveram e lutaram para que fosse possível hoje vivermos em liberdade, em passar essa mensagem, na minha opinião, tão importante como saber o que Vasco da Gama descobriu ou em que Guerras interveio Portugal, um Portugal aclamado vitorioso e patriótico, mas que de patriótico não me parece que tenha alguma coisa. Ninguém dá a verdade, o que sabemos são apenas palpites. Tantas perguntas e tanta coisa por explicar. Por mais repostas que tenha, a dúvida é maior. Porque só quando se festeja mais um ano de liberdade se fala em como foi, se fazem documentários e se levam pessoas que viveram na primeira pessoa tudo isto? Porque não revolucionar os meios de comunicação social de hoje em prol de um maior esclarecimento? Temos direito à nossa História! Temos direito a querer aprender na escola a descobrir-nos como portugueses! Queremos saber, e saber é sempre evoluir para um futuro melhor. Queremos percorrer os caminhos já trilhados outrora de forma informada e séria, sem excessos ou apatias! Não se pode conceber o futuro de um país se não se tiver conhecimento do passado, e o passado é a nossa História, a alma do Povo Português. Onde estás… coerência? Associativismo juvenil P Q rivar um pai ou uma mãe de ver o seu filho crescer é, para mim, um dos crimes mais hediondos do planeta e cuja sanção deveria estar para além daquilo que vem nos livros. Várias crianças, cuja verdadeira morada ninguém sabe, entram pelas nossas casas e até começam a fazer parte das nossas conversas no café, ao almoço e no autocarro. Estes jovens, por algum motivo, saíram ou foram retirados das suas vidas pacatas. As suas cidades ficaram mais pobres, os seus amigos mais tristes e os seus familiares mais certos que as suas vidas nunca mais serão as mesmas. Certos também que uma parte muito importante de si vagueia pelo mundo ou, quem sabe, já descansa para sempre. O caso Madeleine McCann é, sem sombra de dúvidas, o tema que assola a actualidade. A loirinha de olhos azuis fala a mesma língua que Sua Majestade, tem quatro anos e desapareceu há mais de um mês. Mais de um mês passou e as forças para encontrar a menina não cessam, nem por parte dos pais, nem pelas autoridades portuguesas. Mesmo assim, quer a polícia quer a imprensa têm sido alvo de duras críticas. O que poderá fazer a imprensa nestes casos? Divulgá-los? Já o fez e, diga-se de passagem, com muito mérito e empenho. Criar meios para que os tesourinhos sejam encontrados? Creio que não será possível oferecer mais meios de busca. Comparar a actuação dos meios de comunicação hoje com a sua actuação há anos atrás, em casos semelhantes? Parece-me absurdo tentar fazer comparações. Obviamente que a Polícia Judiciária e mesmo a imprensa não têm os mesmos meios hoje que tinham outrora, mas tenho a certeza que tudo o que foi possível ser feito, foi: divulgação, investigação, busca, enfim. Ângela Filipe “ CS que dizer Comunicação Social... Há um pormenor que a maioria das pessoas descarta, mas eu explico. Quando se fala em PJ fala-se em Polícia Judiciária e não em “podem julgar”. Cada um exerce a sua função na sociedade; os especialistas precisam de tempo. Outra coisinha, para os mais distraídos, CS que dizer Comunicação Social e não “comecem a sancionar” ou “crime solucionado”. Eu percebo as confusões, é o tempinho livre a mais, não é? ual a real função de uma associação de estudantes? Festas? Recepção aos Caloiros? ou uma voz de revolta dos estudantes? A história do associativismo em Portugal já data de quase dois séculos, e mais e antiga e importante Associação é a Associação Académica de Coimbra. Em 1836 surge o primeiro momento relevante: os estudantes viram-se impossibilitados de representar uma peça no antigo teatro de Santa Cruz, um dos poucos espaços existentes em Coimbra para esse efeito. Entre varias crises e lutas, os estudantes, após o 25 de Abril de 1974, tiveram uma voz preponderante na construção do Ensino Superior.. Mais uma vez, a liderança deste movimento coube à AAC, como mais prestigiada Associação de Estudantes em Portugal. A década de 90 ficou marcada na história do país pelo despoletam da luta dos estudantes pela defesa da gratuitidade do Ensino Superior e contra os sucessivos aumentos do valor das propinas. A AAC foi das associações que sempre esteve à frente deste combate dando voz e representatividade aos estudantes de todo o país. Quem não se lembra da geração, intitulada “rasca”? Aquela que lutou e parou Coimbra? Mais recentemente, o dia 20 de Outubro de 2004 não mais será esquecido por todos os estudantes. Este dia marcou um dos mais difíceis períodos da luta estudantil contra uma Lei de Bases de Financiamento do Ensino Superior que além de aumentar brutalmente o valor das propinas, responsabilizou as instituições de Ensino Superior pela fixação do valor máximo. Impedindo por sua vez que milhares de jovens sejam afastados da Universidade, única e exclusivamente, por razões de carácter socio-económico. A lei ignora que a Educação é um direito consagrado pela Carta dos direitos Humanos da Ana Rosa Patrício ONU e que a progressiva gratuitidade do ensino está inscrita na Constituição da República Portuguesa. E nós? A Escola superior de Tecnologia de Abrantes, devemos compactuar com o aumento das propinas, com a falta de condições, nas nossas infra-estruturas, com todas as vertentes do processo de Bolonha? A Associação de Estudantes da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes tem assegurado o bem-estar dos Estudantes nos seus sete anos de existência. É realmente entristecedor que após tanto esforço para a nossa independência face à Associação tomarense, à qual pertencemos institucionalmente, fosse necessário chegar à emergência do fim da AEESTA para que os alunos se interessassem a lutar por todos nós. As eleições foram feitas, ficaram os resultados e uma nova direcção. Não posso deixar de manifestar o meu desagrado com alguns números: num universo de 636 alunos, votaram na primeira volta somente 213. Seremos nós, um espelho da realidade e desânimo na luta académica em Portugal? Eu espero sinceramente que não. | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007 Destaque Migrações com origens e destinos diferentes Os que vão e os que vêm Os portugueses continuam a emigrar. Ao longo da década de 90 os destinos preferenciais alteraram-se: para além da França, Alemanha e Suíça, os Estados Unidos e o Brasil voltam a ser atractivos para os portugueses. E o Reino Unido também. Por outro lado, a partir dos anos 90 Portugal passou a caracterizar-se também como um país de imigração. Dados do Governo revelam que hoje os imigrantes são já 9% da população activa e 4.5% da população nacional. O ESTAJornal apresenta números e alguns dos aspectos de uma lei inovadora – o Plano de Integração dos Imigrantes. E também conta casos de gente que foi e de gente que veio. Nha Hermengarda, professora aposentada que conhece bem um bairro de imigrantes Nha Hermengarda. “Há ali boa gente, mas como bairro de imigrantes, estão sujeitos a sentimentos de discriminação.” refúgio para muitas das crianças? Em certo ponto sim, pois muitos dos pais levantavam-se de madrugada para trabalhar e não tinham tempo para as crianças. Na escola eles encontravam a estima, a instrução e a educação. O ensino pode ser encarado como o “segredo” para alterar a realidade vivida e conhecida do bairro? Claro que o ensino é um bom meio, mas chega a uma altura em que não há nada a fazer. Este facto deve-se à transição que os alunos fazem da mono-docência para vários professores. No primeiro caso, há um professor que se subdivide e acompanha o aluno durante muito tempo. Aqui ganha-se em afectividade e carinho. No segundo caso, não há sequer tempo para manter relações. É a partir daqui que se perde em motivação e se ganha em absentismo. Qual é o “clima” diário de um bairro como este? Como segunda casa para mim, considero que a escola passa ao lado da realidade que se vive no bairro. As crianças não se abstraem da realidade do bairro, pois é lá que vivem, mas também não o transportam para dentro da escola, pois a doçura prevalece. A realidade de “entre portas” é diferente da realidade que se conhece “fora de portas”? A realidade é mesmo muito diferente. Há uma imagem fictícia do que é a Cova da Moura. Qual o peso da comunicação social na ideia que se tem da Cova da Moura? A comunicação social leva tudo de arrasto. Há ali boas famílias, boa gente, mas como bairro de imigrantes, estão sujeitos a sentimentos de discriminação e xenofobia. A opinião pública é uma consequência dos artigos que se vêem e se publicam. Voltaria a repetir a mesma experiência de leccionar estes anos todos? Claro que sim e tenho mesmo muitas saudades. Pensa que deixou algo por fazer? Foi um trabalho de continuidade e, como tal, as minhas colegas encarregamse de o fazer. O que mudaria “hoje”, se pudesse voltar atrás? Penso que não haveria nada para mudar, mas sim para continuar. A ideia generalizada que existe entre vida selvagem e vida em sociedade acentua-se a partir da organização política do grupo em si, das pessoas que assim o decidiram fazer. No entanto, não quer dizer que sejam dois mundos isolados e singulares. Senão vejamos. Somos confrontados todos os dias com a diferença, com subjectividade e complexidade que se limitam a observar o mundo sem sentido crítico. Deixa-se então transparecer que é um passinho muito curto, este entre as sociedades e as selvas. Até quando vamos dizer o “outro”? Quando passaremos a dizer “nós”? Esses dias, infelizmente, parecem longínquos para os inúteis, mas não para quem acredita num Mundo melhor. “A escola é tudo” José Pinto A expressão “Cova da Moura” é, quase sempre, entendida como sinal de perigo, de criminalidade, de degradação e de pobreza. Mas, lá, por entre as esconsas ruas e as casas que mal se aguentam na encosta de vistas largas, há gente. E a gente é assim mesmo: contraditória. Por isso, paredes-meias com a droga, o lixo, a agressão e o medo, há também sonhos e desejos de mudança. As escolas são essa oportunidade. É aí que as crianças podem provar, contra todos os estigmas, a curiosidade, a inteligência e a criatividade. É aí que têm espaço para crescer, sem terem de lutar por água, por alimentos, por um remédio nos dias de febre, por um sorriso apaziguador ou um ralho na hora certa. Essa é a escola de excelência: a que deixa e faz a criança crescer, ensinando-a a viver com os outros, a brincar, a acreditar em si, proporcionando-lhe bem-estar e saber. No bairro da Cova da Moura, há muitos anos que os professores sabem isso. Nha Hermengarda, natural de Cabo Verde e de nacionalidade portuguesa, leccionou durante 12 anos na Escola Básica e Jardim de Infância da Cova da Moura. Em entrevista ao ESTAJornal, explica a realidade que ali viveu. Como e quando começou a leccionar na Cova da Moura? Comecei a leccionar desde 1992. Na altura, estava a leccionar numa escola mais deslocada e, por intermédio de concurso, cheguei à Cova da Moura. Qual a primeira impressão que teve no seu primeiro dia de trabalho? Na primeira impressão gostei logo, pois foi uma oportunidade de confraternizar com “os patrícios”, pois havia mais gente Cabo Verdiana. No fundo, foi um reviver de tempos passados pois, desde que cheguei a Portugal, nunca mais tive oportunidade de me relacionar, profissionalmente, com gente das minhas raízes. Quais foram os aspectos que mais a sensibilizaram? Foi, de facto, um impacto muito forte, pois deu a sensação que estava em Cabo Verde. Por vezes, em pé de conversa, acabava por chorar de emoção. De que forma foi recebida? Da parte das colegas, ainda hoje penso que poderia ter sido melhor recebida. Mas o facto de falar crioulo com aos alunos, depressa se tornou uma mais valia na excelente relação que mantinha com as crianças e com os pais. Pensou logo no início que iria ser uma experiência duradoura? No princípio eu pensei logo: “É aqui que vou acabar a minha carreira”. A relação mantida entre a professora e o aluno sempre foi formal, ou não existia qualquer tipo de formalidade? Era uma relação amistosa e de companheirismo. Isto aconteceu mediante um processo gradual, pois quando cheguei àquele espaço deparei-me com crianças que não estavam habituadas a manter laços de afectividade ou a receber gestos de carinho. No fundo, foi uma construção que se fez. As crianças, quando deparadas com os professores, fixavam os olhos no chão. Rapidamente fiz perceber às minhas colegas que aqueles gestos não eram de má educação, mas sim sinal de respeito. Que significado tem a escola para uma criança nascida nesse bairro social? A escola é tudo. Havia crianças que só tinham aulas durante a manhã, mas voltavam à tarde para jogar à bola com os outros meninos. Era o espaço mais próximo que conheciam de brincadeira e de lazer. Isso vinha provar que os meninos gostavam da escola. A professora era vista como uma segunda mãe? O termo é esse mesmo, pois os pais depositavam toda a confiança nos professores. Alguma vez sentiu que a escola era um José pinto Opinião Placebo social José Pinto das coisas em si, mas no entanto parece que todos os dias são poucos para o rejeitarmos e tomarmos como parte integrante de um mesmo espaço, de uma mesma realidade social. A ideia de xenofobia e racismo parecem ideias submundistas, só de existência teórica nas sociedades desenvolvidas, mas está bem presente a cada virar de página de jornal, em cada telejornal, em cada aperto de mão que nunca existiu, em cada cumprimento, em cada negligência diária, em cada palavra de apreço que teima em sair. De facto, vivemos hoje num mundo desenvolvido, mas que está paredes-meias com fenómenos como a infoexclusão, a “selvajaria” informativa que alimenta e produz ideias erróneas, naqueles 29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | Destaque Imigração em Portugal De acordo com um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), divulgado pelo Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME), em Novembro de 2006, o número de imigrantes ucranianos que entraram em Portugal legalmente diminuiu 98% em quatro anos, passando de 45 mil e 200 entradas em 2001, para 700 em 2004. O mesmo documento, citado pela revista da AMI, revela que vivem em Portugal cerca de 500 mil estrangeiros, na sua grande maioria provenientes do Brasil (66.700), Ucrânia (65.800) e Cabo Verde (64.300). No seu conjunto, estes países representam 4,5% da população total portuguesa. 2001 Segundo dados avançados pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, recolhidos no final de 2001, existiam em Portugal 223.602 cidadãos de nacionalidade estrangeira com estatuto legal de residência em Portugal. Relativamente à distribuição por sexos da população estrangeira legalmente residente em Portugal em 2001, existe um ligeiro ascendente dos estrangeiros masculinos – 125.868 (56,3%) face aos 97.734 (43,7%) do sexo feminino. Verificando as nacionalidades da população estrangeira, assume especial relevo o continente africano com 106.978 indivíduos (47,8%), o continente europeu com 66.973 indivíduos (30,0%) e, por último, o continente americano com 39.214 indivíduos (17,5%). No seu conjunto, estas nacionalidades representam 95,3% da população estrangeira legalmente residente em Portugal. 2002 Segundo dados fornecidos pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, recolhidos no final de 2002, existiam 238.746 cidadãos de nacionalidade estrangeira com estatuto legal de residência em Portugal. Considerando a distribuição por sexos, da população estrangeira legalmente residente em Portugal, em 2002, verifica-se novamente uma ligeira predominância dos estrangeiros do sexo masculino. Tendo por referência as nacionalidades da população estrangeira, merecem novamente particular destaque as do continente africano com 114.193 indivíduos (47,8%), do continente europeu com 72.121 indivíduos (30,2%) e, por último, do continente americano com 40.787 indivíduos (17,1%). Todas estas nacionalidades representaram em conjunto 95,3% da população estrangeira legalmente residente em Portugal. 2003 Segundo dados fornecidos pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, recolhidos no final de 2003, residiam legalmente em Portugal 250.697 cidadãos de nacionalidade estrangeira. Considerando a distribuição por sexos, do total de estrangeiros com estatuto de residente em Portugal, 138.046 eram do sexo masculino e 112.651 do sexo feminino. À semelhança dos últimos anos, também em 2003, merecem particular destaque os nacionais de países do continente africano e do continente europeu, que representavam 47,3% e 30,7% do total de estrangeiros residentes. 2005 Segundo dados fornecidos pelo SEF, recolhidos no final de 2005, eram titulares de uma autorização de residência em Portugal 275.906 cidadãos de nacionalidade estrangeira. Considerando a distribuição por sexo dos estrangeiros titulares de autorização de residência em 2005, verifica-se que o número de homens era superior ao de mulheres. As comunidades mais representativas foram a Ucrânia e o Brasil, responsáveis por 35,8% e 19,4%, respectivamente. Fonte – INE/SEF João Oliveira Uma visão positiva da imigração Até 2009, o sistema nacional de saúde português deverá integrar 100 médicos imigrantes. O Governo assegurará, também, a tradução em todos os momentos de interacção dos imigrantes com o sistema judicial. Estes são apenas dois exemplos das 123 medidas que Portugal definiu para acolher cidadãos estrangeiros. Um “salto qualitativo e eficaz nas políticas de acolhimento e integração dos imigrantes”. Este objectivo do Governo português foi recentemente consagrado, com força de lei. A 3 de Maio saiu, em Diário da República, o Plano para a Integração dos Imigrantes (PII), que pretende sistematizar as metas e os compromissos do Estado português, para acolher e integrar os imigrantes que nos procuram. Para ser executado até ao final da presente legislatura, o PII pretende ser um programa de referência, que deverá ser abraçado pelo próprio Estado português e também pela sociedade civil. Por isso, do documento constam 123 medidas que envolvem 13 ministérios. Numa perspectiva transversal, são enunciadas metas que abrangem questões como o racismo e a discriminação, a igualdade de género e a cidadania. Que objectivos foram traçados e que caminhos se pretende seguir? O documento que sustenta o PII engloba um quadro onde claramente se definem medidas, indicadores, responsáveis e metas. As medidas dividem-se em 18 grandes áreas. Nelas se incluem questões essenciais como o acolhimento, o trabalho, emprego e formação profissional, a habitação, a saúde e a educação. Um caso concreto? “Melhoria do atendimento ao público pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF)”. Como? Atingindo quatro metas. Entre elas, a “abertura de um novo Posto de Atendimento do SEF na Estação de Caminhos-de-Ferro da Reboleira e presença nas novas Lojas do Cidadão de Odivelas e de Faro”. Trabalho, Emprego e Formação Pro- fissional? Nove medidas. Entre elas, “facilitar a entrada no ensino superior português de estudantes que tenham frequentado o ensino superior estrangeiro e simplificar o reconhecimento de graus superiores estrangeiros em conjunto com a introdução de um serviço específico de atendimento para este f i m ”. Que metas propõe o Governo para se atingir este objectivo? “Cinco gabinetes abertos em universidades e/ou institutos politécnicos (até ao fim de 2009)” e “crescimento de 15% do número de equivalências concedidas em 2006”. Em questões de habitação também há novidades significativas. Por exemplo, a “sensibilização do sistema bancário para maior abertura ao acesso ao crédito por parte de imigrantes”. Para isso, todos os anos se realizará uma conferência, dirigida às instituições financeiras. No caso dos jovens pretenderem alugar casa, o PII prevê o “aperfeiçoamento do acesso aos mecanismos de apoio ao arrendamento”. Para isso o prazo de aprovação do Incentivo ao Arrendamento Jovem (IAJ) deverá ser reduzido para três meses. Com a concretização desta medida, o Governo espera que, em 2007, 100 jovens imigrantes sejam abrangidos pelo IAJ. Em matéria de saúde, o PII pretende, por exemplo, “promover o acesso dos imigrantes aos serviços de saúde”. Dando formação aos profissionais e criando instrumentos como o Manuela de Procedimentos Administrativos para a inscrição de imigrantes, independentemente do seu estatuto, são dois caminhos apontados para se atingir metas importantes. Nomeadamente, face ao total de inscrições no ano anterior, um aumento de 8% de inscritos, um aumento de 10% de cobertura vacinal e um aumento de 5% de mulheres imigrantes nas consultas de saúde reprodutiva dos Centros de Saúde. Ainda na área da saúde, o PII dá indicações para criação de um “programa de integração profissional de imigrantes com licenciatura em medicina”, com o objectivo de incluir, até 2009, 100 imigrantes médicos no sistema de saúde português. Ao nível da educação, para além de diversas medidas no âmbito da formação de professores para a interculturalidade, do apetrechamento das escolas com materiais apropriados e da colaboração entre os diferentes intervenientes, o PII pretende “aprofundar a formação e a investigação no domínio da educação intercultural”. Por isso, estabelece como meta a produção de dez teses de mestrado sobre o tema. No campo da justiça, entre as diferentes medidas previstas destacam-se a “garantia do serviço de tradução e interpretação em todos os momentos de interacção dos imigrantes e do sistema judicial”, assim como se propõe uma “avaliação de eventuais distorções na aplicação da justiça a estrangeiros”. O que o Governo pretende com estas e outras medidas é acolher com qualidade, mas também construir “uma visão positiva da imigração”. Uma estadia de longa duração telma lento “Estava um bonito dia de sol”. É desta forma que Olesya Nezhdanova descreve o primeiro dia que pisou o solo português. O seu país de origem é a Alemanha e a vinda para cá surgiu de uma forma espontânea: “A minha mãe veio para Portugal sozinha apenas para visitar uma pessoa conhecida e também conhecer o país. Depois gostou do modo de vida cá, do povo português e arranjou um emprego e uma casa.” Olesya, passado um ano, veio ter com a mãe e faz já cinco anos que vive em Tomar. A adaptação foi um pouco difícil, principalmente para comunicar com as pessoas. “Não sabia uma única palavra. O que me ajudou muito foi o meu conhecimento de inglês.” Todavia, eram poucas as pessoas que falavam inglês. Estudar cá também não foi fácil. “No início estava nas aulas sem perceber nada” – conta Olesya. Foi o auxílio de um Olesya Nezhdanova. “Já me habituei a vida cá, aos hábitos portugueses” dicionário, que trazia como amuleto para onde quer que fosse, e a força de vontade que a fez passar horas e horas a estudar português. Chegou também a ter umas aulas de apoio aos estrangeiros, que ajudaram a adaptar-se à língua. Hoje em dia, está a tirar o curso superior de Gestão Turística e Cultural, no Instituto Politécnico de Tomar, e aos fins-de-semana tem um part-time para ajudar nas despesas. Viver em Portugal é diferente. “O clima, a comida, algumas tradições, o sistema de saúde e a educação são bastante discrepantes”, mas Olesya não deixa de se mostrar satisfeita. “Já me habituei à vida cá, aos hábitos portugueses”. Um dos seus objectivos, por agora, é continuar a construir a sua vida por Portugal. No entanto, “a vida dá muitas voltas e ninguém sabe o que vai acontecer” – conclui Olesya. V.C. | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007 Destaque “Melhores condições de vida” Maria Palmira Filipe emigrou para o Luxemburgo em 2004. Foi “à procura de uma vida melhor” e conseguiu. Trabalha no sector de hotelaria. Embora não se arrependa de ter tomado esta decisão, diz que “foi muito difícil”. Em Portugal ficaram as filhas – uma com 17 e outra com 23 –, entregues ao cuidado da avó (ver texto em baixo). Apesar de conseguir ser feliz no estrangeiro, aquilo de que Maria Palmira mais sente falta é “o carinho das filhas”. Talvez por elas, mas também porque o Luxemburgo não substitui Portugal, pensa regressar para o seu país. A vantagem de permanecer, por enquanto, no país que a acolheu é sobretudo financeira, o que proporciona “melhores condições de vida”. Uma outra emigrante portuguesa no Luxemburgo explicou ao ESTAJornal, através de email, que quando chegou àquele país se sentiu “muito desiludida”. Considera que existe um bom espírito entre a comunidade portuguesa e, talvez por isso, frise que foi bem recebida pelos compatriotas. A vida que leva nesse pequeno país não substitui a vida que levava em Portugal, mas a opção é clara e tem um fundamento de peso: “Ganhase mais”. O ESTAJornal também quis saber como reagem os luxemburgueses aos portugueses e como observam a sua forma de organização. E há quem tenha uma visão negativa sobre a forma como os portugueses se relacionam entre si. Para um luxemburguês contactado pelo ESTAJornal, o segredo do seu país é que “oferece mais oportunidades, condições de vida melhores, melhor assistência médica e ajuda social”. Por outro lado, “não há tantas injustiças”. Segundo ele, os nativos do seu país ainda têm uma mais-valia em relação aos que para lá emigram: “Mais portas abertas para os empregos do Estado”. Onde se ocupam, então, os portugueses? Os homens, sobretudo “nas construções”. Não será, pois, de estranhar que o Luxemburgo seja o país da OCDE com maior percentagem de estrangeiros. Os dados mais recentes disponibilizados, em 2006, pelo ACIDI (Alto Comissariado para a Imigração e Desenvolvimento Intercultural) remontam a 2002 e indicam que, nesse ano, 38% da população do Luxemburgo era imigrante. Nesse ano, Portugal tinha apenas 4% de imigrantes. E se falarmos em população activa, os estrangeiros representavam, no Luxemburgo, 62% da força trabalhadora. Em Portugal eram apenas pouco mais de 5%. “Grande orgulho na minha mãe” ana margarida batim Ana Torres Ao princípio a tristeza e o a mágoa instalam-se, mas isso é uma fase. Ângela Filipe, aluna de Comunicação Social da ESTA, confessa que sentiu “uma grande revolta” quando soube que a mãe ia emigrar: “Só me disse que se ia embora uma semana antes. Fiquei muito triste muito desiludida, mas tudo passou”. José Pinto, colega de turma, afirma que, perante a ida dos seus pais para França, reagiu como qualquer criança reagiria por sentir que os seus pais estavam a ir embora. Estes dois jovens são um exemplo de centenas de filhos que têm que ficar com outros familiares, pois os seus pais são obrigados a emigrar. Foi em 2004 que Ângela viu a sua mãe rumar ao Luxemburgo, um ano de viragem, uma vez que também foi nessa altura que entrou para o ensino superior. A mãe sem possibilidades de a manter a estudar, decidiu emigrar para poder dar a Ângela o que tinha dado à filha mais velha: um curso superior. A jovem confessa que na sua vida mudou muita coisa. Acostumada ao seu agregado familiar composto pela sua mãe, avó e irmã, viu-se confrontada com o facto de ter que viver com a sua avó: “A minha irmã já tinha terminado o curso e ia-se casar, a minha mãe foi-se embora. Eu ia passar a morar com uma pessoa mais velha do que eu 50 anos e com uma mentalidade diferente.” José, que passou a viver com os avós maternos. Afirma que teve necessidade de crescer mais rápido. Conta que foi “educado a maneira antiga”, mas concorda com muitos dos valores que lhe foram incutidos. Ângela refere que não se colocou a hipótese de ir para o Luxemburgo pelo facto de estar a estudar, mas se se tivesse colocado, dificilmente daria para ela acompanhar a mãe. “A minha mãe, quando foi, já tinha na ideia que ia logo ter trabalho, porque já estavam lá a trabalhar pessoas conhecidas e havia a promessa de trabalho. O que se verificou não foi isso”. Filhos. Ângela e José ficaram com os avós enquanto os pais emigraram Apesar de se colocar a hipótese de viajar para junto dos pais quando as condições estivessem reunidas para os acolher, para José, os amigos e o percurso escolar dificultaram um pouco esta decisão. “Foi-se sempre adiando. A minha irmã não quis ir e eu também não”. No entanto, afirma que pretende no futuro emigrar, pois gostaria muito de viver em França. Desde os seus sete anos que José visita os pais, mas desde que, em 2003, entrou para o ensino superior, que se tornou “um bocadinho mais difícil”. Mas, mesmo assim, todos os anos, em Setembro, vai lá passar um mês; os pais vêm em Agosto e no Natal. “O contacto no resto do ano é feito todos os dias por via telefónica.” Ângela nunca visitou a sua mãe no Luxemburgo. Também é em Agosto e no Natal que a mãe a visita, mas o contacto telefónico entre ambas é regular. “A minha mãe tem quase 50 anos, é de origem humilde e nunca teve acesso as novas tecnologias, ela não sabe utilizar muito a Internet.” Estes dois jovens, apesar de se encontrarem longe dos pais, sentem orgulho neles. Ângela é peremptória: “A minha mãe está a fazer um grande esforço para estar no Luxemburgo, mas estou muito contente. Ela teve muita coragem e é por isso que tenho grande orgulho na minha mãe.” Emigração em Portugal 1996 No ano de 1996, cerca de 29 mil portugueses emigraram. Este número abrange os emigrantes permanentes (indivíduos que se ausentaram do país por um período superior a um ano) e os emigrantes temporários (indivíduos que deixaram Portugal por um período igual ou inferior a um ano). Em 1996, a taxa de emigração temporária foi de 67%, enquanto que a emigração permanente atingiu somente 33%. Os principais países de destino da emigração portuguesa em 1996 foram a França, a Alemanha e a Suíça. No total, estes países acolheram cerca de 23 mil emigrantes o que perfaz 79% do total. Refira-se que em 1996, tendo em conta os resultados segundo a distribuição geográfica de residência dos emigrantes, a zona do país que registou um maior número de situações de emigração permanente foi a região Centro. Por seu lado, a Região Norte com 51,2% em 1996, registou a taxa mais elevada de emigração temporária. 1998 Em 1998, emigraram cerca de 22 mil pessoas. Tendo em conta os tipos de emigração (permanente e temporária), em 1998 a emigração temporária alcançou os 64,3%, superando deste modo a emigração permanente que perfez apenas 35,7%. Os principais destinos da emigração portuguesa foram novamente a França, a Alemanha e a Suíça, que receberam cerca de 15 mil emigrantes, representando 68,1% do total. Contudo, na emigração permanente em 1998, a Alemanha perde relevo, surgindo os Estados Unidos da América como um dos principais destinos da emigração portuguesa. Saliente-se que cerca de 85% das pessoas que emigraram em 1998, tinham entre 15 e 44 anos. No que diz respeito aos resultados segundo a distribuição geográfica de residência dos emigrantes, verificase que em 1998, o maior número de situações de emigração permanente teve origem na região Norte (71%), enquanto que na emigração temporária as regiões do Centro e de Lisboa e Vale do Tejo, assumem especial relevo. 1999 Em 1999, emigraram cerca de 28 mil pessoas, significando um aumento de 26,5% relativamente ao ano transacto. Destas 28 mil pessoas, 71,7% eram do sexo masculino, e 28,3% do sexo feminino. Relativamente aos tipos de emigração, em 1999, a emigração temporária registou 85,5%, enquanto que a emigração permanente ficou-se pelos 14,5%. Os principais destinos da emigração portuguesa foram, à semelhança dos anos anteriores, a França, Alemanha e Suíça, que receberam cerca de 20 mil emigrantes, representando 72,6% do total da emigração. Note-se que 86% dos emigrantes em 1999 tinham entre 15 e 44 anos. 2001 Em 2001, emigraram cerca de 20.500 indivíduos. Destes, 76,6% eram do sexo masculino, e 23,4% do sexo feminino. Quanto aos resultados dos dois tipos de emigração, em 2001, a emigração temporária registou 72%, enquanto que a emigração permanente chegou aos 28%. A França, a Alemanha e a Suíça voltaram a ser os principais destinos da emigração portuguesa, recebendo cerca de 72% do total da emigração. Cerca de 72% dos indivíduos que emigraram neste ano situavam-se na faixa etária dos 20 aos 44 anos. 2002 Em 2002, emigraram cerca de 27 mil pessoas. A emigração permanente alcançou os 32,2%, sendo superada pela emigração temporária que assinalou 67,8%. Neste ano verifica-se novamente que a Suíça e a França continuam a ser os principais países de destino da emigração portuguesa, contudo, surge uma alteração. Saliente-se que a Alemanha perdeu importância neste ano, aparecendo agora a Espanha como um dos principais países de destino da emigração portuguesa. O Brasil também apareceu como um dos principais países de destino. Em 2002, à semelhança do que ocorrera nos anos transactos, a maioria dos emigrantes nacionais pertencem às camadas mais jovens. Em 2002, o grupo etário que vai dos 0 aos 29 anos de idade representava 63% do total da emigração. As pessoas que mais emigraram em 2002 são oriundas do Norte do País, do Centro e da região de Lisboa e Vale do Tejo. 2003 Em 2003, emigraram cerca de 27.000 pessoas. Relativamente aos tipos de emigração, em 2003 a emigração temporária representa 75,2% e a emigração permanente registou 24,8%. Neste ano emigraram mais homens do que mulheres, 76,3% e 23,7% respectivamente, sendo esta disparidade visível sobretudo na emigração temporária. Todavia, esta diferença é anulada no que se refere à emigração permanente. Neste tipo de emigração, 51,1% são homens e 48,9% são mulheres. Em 2003, a França, a Suíça e o Reino Unido são os principais países de destino dos emigrantes portugueses, que, no seu conjunto, acolheram 16 mil emigrantes, representando mais de 59% do total nesse ano. No que diz respeito à distribuição geográfica tendo em conta a residência, a maioria dos emigrantes são provenientes do Norte do país. A região de Lisboa e Vale do Tejo e a região Centro destacam-se nas posições seguintes. Quanto à faixa etária, 45% dos emigrantes desse ano tinham uma idade compreendida entre os 15 e os 29 anos de idade. Fonte: Instituto Nacional de Estatística (INE) João Oliveira 29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | Destaque miguel geraldes “Alargar horizontes” glo-saxónico foi difícil: “Fui para lá sem falar a língua inglesa, mas gostei imenso. Estudei inglês durante dois anos, depois fiz uma pós-graduação e comecei a dar aulas num instituto. Depois uma segunda pós-graduação comecei a dar aulas numa Universidade. Mais tarde fiz o mestrado e actualmente estou a fazer o doutoramento. A adaptação foi difícil, mas a continuidade dos estudos e os ganhos académicos que obtive, de certeza que em Portugal não os teria conseguido num tão curto espaço de tempo”. Luís Geraldes salienta, ainda, “os ganhos económicos”. O artista que emigrou acentua como principais diferenças, “a metodologia dos países anglo-saxónicos, o sentido “15 anos em África, dez em Portugal e 22 na Austrália” Miguel Geraldes Pintor conceituado, Luís Geraldes, nascido em 1957 numa pequena aldeia beirã, foi levado aos três anos para Angola. Aí iniciou um percurso que lhe veio a moldar a veia artística que um dia viria abraçar a tempo inteiro. Regressa de Angola após a Revolução, em 1975, permanecendo em Portugal até 1985, de onde parte por vontade própria para a Austrália. Aí inicia um trajecto que o tornou no artista que é hoje. Para além dos vários estudos adquiridos, leccionou em Institutos e Universidades de grande prestígio, tendo ainda inúmeras exposições in- dividuais divididas entre Portugal e Austrália, e exposições colectivas um pouco por todo o mundo. Como o próprio afirma, “foram 15 anos em África, dez em Portugal e 22 na Austrália. O que perfaz 50 anos. Uma mistura de cheiros, sabores, religiões, de experiências vividas em todos os continentes. Toda esta mescla de expe- O sonho de ser médica Diana Sofia de Melo Canhoto, para atingir o seu objectivo profissional, decidiu ir estudar medicina para o país vizinho: “O meu maior sonho sempre foi ser médica, uma razão pouco original, mas a mais verdadeira e a única por que vim para Espanha”. Então, com as malas feitas, partiu para Espanha em Setembro de 2003 e, presentemente, está no 4º ano de Medicina na Faculdade Medicina Ciências da Saúde, que pertence à Universidade Rovira i Virgili. Quando decidiu ir para Espanha estudar, o maior apoio foi, segundo Diana, da família, especialmente do pai, “que já sabia que só seria feliz se seguisse o sonho de fazer medicina”. A adaptação não foi fácil, pois Diana encontrou-se sozinha num país que não era o seu, com uma língua diferente da sua. Conta que “a alimentação foi uma das adaptações mais difíceis”. E recorda “o episódio mais engraçado”: “Foi quando, no primeiro dia, ao almoço, trazem um prato de arroz e mais nada, e mais tarde, como segundo prato, trazem unicamente um bife. Pensei que estavam a gozar comigo”. Tão perto, mas tão distante em termos de cultura. Diana refere que “as maiores diferenças são a nível de recursos, de transportes e comunicações”, sublinhando ainda que “não há crise económica como em Portugal”. Ficar em Espanha é uma possibilidade. “Não me importava de ficar aqui porque fui muito bem recebida, mas quando terminar o curso estou consciente que existirão factores novos que me levarão a considerar o regresso”. Mesmo assim, Diana faz questão de lembrar “a mágoa” que muitas vezes se tem em relação “a um país que não nos apoiou nos nossos sonhos”, por oposição ao sentimento de “dívida para com um outro que nos aceitou”. Se pudesse voltar atrás no tempo, não pensaria duas vezes e tomaria a mesma decisão, pois “todas as experiências que vivi seriam impossíveis se tivesse ficado em Portugal”. Ana Luísa Nascimento DR Diana Canhoto. Chegou a Espanha sozinha e rapidamente fez amigos riências fez o pintor que sou hoje”. O porquê de ter escolhido a Austrália, onde já adquiriu cidadania australiana, teve a ver com a semelhança com Angola: “Um país grande, de horizontes, onde também pensei em alargar os meus na minha vida profissional. Como veio a suceder.” Recorda que a adaptação ao país an- metódico destes, em contraste com a anarquia dos países latinos”. “Há ainda a disparidade abismal geograficamente, sendo a Austrália um país com grandes horizontes, muitos desertos e cordilheiras montanhosas, com um mar de corais lindíssimo. Um país do tamanho da Europa, só com 20 milhões de pessoas.” De Portugal sente saudades da sua beleza, da língua, dos sons e da gastronomia. Vê o nosso país ainda com deficiências económicas, com dificuldades de governação, com alguma anarquia e corrupção. Mas, “tal como a nossa mãe, é a única que temos, temos de gostar dela como ela é”, diz. Sobre um regresso em definitivo ao país de Camões e Pessoa, relembra que, neste momento, passa seis meses em Portugal e outros seis na Austrália. “Com o tempo é bem possível que venha a residir permanentemente em Portugal, mas neste momento ainda não contemplo viver em Portugal definitivamente.” Vir para Portugal era “voltar para trás” Vera Inácio Eurico Hernâni Covas é emigrante há 25 anos em França, onde trabalha como guia-turístico. Tem família em Portugal e viaja, de tempos a tempos, para visitar os seus entes queridos. Voltou de Angola em 1975. Passou por Portugal, mas não gostou do estado do país. Por isso emigrou. Ao ser questionado sobre os motivos da emigração para França, Eurico, num desabafo, lamenta ter encontrado em Portugal um país em que a forma de pensar continuava a ser muito limitada. Não encontrou dificuldades na emigração, porque era uma época de grandes mudanças em França. Talvez fosse mais difícil uma mudança de Bragança para Lisboa do que para fora do país. “Mesmo vindo de Angola achei mais de 30 anos de atraso, os mesmos que hoje se verificam em Portugal”, admite, quando fala das maiores diferenças que sentiu entre culturas. Eurico é um dos poucos portugueses que não faz planos de voltar definitivamente para terras lusas, isto porque, como o próprio, diz “isso seria voltar para trás”. “Mesmo vindo de Angola, achei 30 anos de atraso” Perguntando-se, numa perspectiva fantasiosa, sobre quem apoiaria no decorrer de um jogo de futebol entre Portugal e França, Eurico Hernâni Covas, responde que não torceria nem Portugal nem por França. Argumentando que o futebol é o mal do nosso país, ou seja, a droga do povo. | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007 Entrevista António Serzedelo, membro do Movimento da Acção Homossexual Revolucionária “As pessoas em Portugal não querem sair do armário” Tiago Lopes Membro do Movimento da Acção Homossexual Revolucionária, fundador e ex-presidente da Opus Gay, presidente do Movimento Vidas Alternativas, António Serzedelo é um dos homens mais activos, em Portugal, no que toca a questões de luta pelos direitos iguais das minorias sexuais. O ESTA Jornal conversou com o homem que censura os gays portugueses porque “não são capazes de sobreviver fora do armário”! Em Portugal os movimentos homossexuais começaram, com força, em 1990. A que se deve este atraso português em relação aos outros países europeus? Este atraso português deve-se ao periférico que o país é, e à marginalidade que o país sofre relativamente à Europa. Não é só a este nível que acontece isto! Outros movimentos sociais e outros movimentos culturais chegam cá também com atraso. Por outro lado, Portugal é um país, nestas questões, muitíssimo conservador. Hipócrita e conservador. Falando da hipocrisia portuguesa, em Março, a revista homossexual norte-americana Out! publicou um artigo no qual exortava várias personalidades públicas a saírem do armário. Este tipo de iniciativas é possível em Portugal? É possível fazer uma lista; não deve ser é denunciada essa lista. As pessoas em Portugal não querem sair do armário. Há uma psicologia do armário e elas já se “armariaram” e não são capazes de sobreviver fora do armário, de tal forma se viciaram. É claro que uma nova geração poderá viver fora do armário. Eu tenho um slogan que diz: ‘Saí do armário, logo existo’. Segundo William Naphy, a Homofobia está ligada às religiões monoteístas, por estas afastarem o sexo do prazer e o associarem exclusivamente à procriação. Tendo isto por base, como pode um cristão ser homossexual? Os cristão são homossexuais, têm é dificuldade em compaginar essa sua sexualidade com os ditames normais das suas igrejas. Na verdade, há muitas igrejas cristãs que já toleram, que já aceitam e que já não criticam e comentam a homossexualidade, particularmente igrejas protestantes. Na Igreja Católica houve sempre esta grande conflitualidade entre o sexo e a religião, porque têm uma visão da sexualidade exclusivamente reprodutiva. Isto tanto se diz relativamente ao homem com homem, como se diz relativamente ao homem com mulher. A Igreja condena o preservativo nas relações heterossexuais, a interrupção voluntária da gravidez, a inseminação artificial. Os movimentos homossexuais portugueses aparecem sempre nos jornais como as vítimas. Este sentimento de vítima é real, ou, é já, também, um pouco ficcionado? O sentimento de vítima está muito auto-instalado em alguns membros da nossa comunidade. É a altura de sairmos da situação de vítima para a situação de sobrevivente, o que é diferente. A vítima está sempre a lamentar-se, está sempre a querer ser coitadinha, é sempre objecto de tristeza, de pobreza e de caridade pelas outras pessoas. É preciso que esta comunidade dê um passo em frente e saia da vitimização e entre numa situação de luta e de sobrevivência, que é a verdadeira situação para poder lutar em pé de igualdade, contra a homofobia. Não é lamentarmo-nos, é corajosamente enfrentarmos a situação. É uma situação que existe, não só no nosso país como em muitos países do mundo. Estarão os portugueses preparados para aceitar a introdução social da homossexualidade? Sendo uma questão cultural e ideológica, na minha perspectiva, esta é também uma questão que tem a ver com a economia. Enquanto o país se mantiver rural, não estiver integrado numa economia global e não estiver integrado na cidadania europeia vai sempre haver estes problemas da homofobia. A sociedade global significa uma maior individualidade, significa uma maior autodeterminação, significa uma maior liberdade interior e todas essas coisas são compaginadas com a tolerância e, por isso, com a homossexualidade. Tolerância não significa que todas as pessoas que estão nessa onda se tornem homossexuais. Não! Quais são verdadeiramente as reivindicações da comunidade homossexual, uma vez que as associações GLBT não se entendem? As associações não se entendem porque algumas não querem que haja esse entendimento. E não querem esse entendimento, porque querem o prestígio exclusivo das reivindicações. Nas reivindicações da comunidade gay podemos falar em alargamento das uniões de facto, porque elas da forma que existem são pindéricas. E são pindéricas para os homossexuais e para os heteros. As uniões de facto deveriam ser alargadas, pelo menos ao instituto testamentário. As pessoas, no caso de haver uma morte, poderem deixar testamento. A questão da adopção prende-se com a questão do casamento. É preciso que se fale em todo o país, que faça um debate alargado, para que isso não seja uma questão fracturante. Não basta fazer três ou quatro colóquios, com algumas pessoas muito sábias, em universidades de prestígio em Lisboa e pensar que está o caso resolvido. Associações britânicas defendem que a luta não se faz pela igualdade de direitos, porque a marca dos movimentos GLBT é a diferença. A causa da luta reside nos direitos iguais. Qual é a sua opinião: igualdade de direitos ou direitos iguais? Nós lutamos pela diferença, para ter direito à indiferença. De facto, ninguém reivindica ter mais direitos do que os outros. Mas também não podemos criar comunidades de gueto, vivendo ao lado uns dos outros sem nos entendermos. Nós somos portugueses de boa ou de má cepa, como são todos os outros portugueses. Temos que nos entrosar na sociedade portuguesa e a sociedade portuguesa tem que se entrosar em nós. Esse jogo linguístico não interessa! O que interessa são os aspectos culturais. A lei pode reconhecer direitos, mas se a cultura não os reconhecer estruturalmente eles dificilmente vigoram. Nós temos uma excelente Constituição em Portugal, a vários níveis, e nós sabemos que muitos dos direitos que esta Constituição consigna não são aplicados. nelson ferreira António Serzedelo. “Enquanto o país se mantiver rural e não estiver integrado numa economia global e na cidadania europeia vai sempre haver homofobia” Razões de ordem cultural explicam sucesso ou fracasso das paradas gay A Parada Gay de Lisboa é um dos eventos que marcam o calendário das associações GLBT. Contudo, a debilidade da mesma tem levantado alguns protestos. Para Serzedelo, “ela continua a justificar-se em Portugal, talvez noutros moldes que poderíamos saber quais seriam, se nos sentássemos todos à mesma mesa e discutíssemos”. O sucesso das paradas gay no estrangeiro, para Serzedelo, prende-se com razões de ordem cultural. “No Brasil eles adoram paradas, eles adoram mascarar-se, eles adoram festa. Os espanhóis têm muito o hábito de ir para a rua, de dar a cara, de confrontar o poder”. António Serzedelo crítica os gays portugueses pela sua falta de “vontade de ir para a frente. Os homossexuais portugueses vivem, a maior parte, em vários armários. Saíram do armário dos amigos, entraram no armário da família. Saíram do armário do emprego, entraram no armário dos amigos, e por isso não podem surgir em público numa parada com medo de serem reconhecidos”. As razões do insucesso da parada não são exclusivas da comunidade homossexual. António Serzedelo considera que “os heterossexuais ainda não assimilaram esta luta da igualdade de direitos, como sendo também uma luta sua”. O fundador da Opus Gay lembra que “a luta contra o racismo é tanto dos brancos como dos pretos”. Só que “os heterossexuais em Portugal ainda não vão para uma manifestação sobre homossexualidade, por medo de serem topados como homossexuais. E os homossexuais não vão como medo de serem vistos!”, satiriza Serzedelo. T.L. Uma vida pela causa António Serzedelo é um dos membros mais activos e polémicos da comunidade GLBT portuguesa. Mas o que quer dizer GLBT? A sigla GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transsexuais) surge no final da década de 80, tendo sido criada pela comunidade homossexual anglo-saxónica. É, hoje em dia, utilizada pelos movimentos de defesa dos direitos das minorias sexuais. Quanto ao currículo de Serzedelo, os seus primeiros passos enquanto activista foram no Movimento da Acção Homossexual Revolucionária. Conhecido como MAHR (analogia fonética feita com a palavra Mar), foram o primeiro grupo de reivindicação dos direitos dos homossexuais portugueses. Surgido em 1974, ano em que assinaram o primeiro manifesto homossexual português, durariam poucos meses. A Opus Gay é, em certa medida, uma herdeira do MAHR. Fundada em 1997 por António Serzedelo, membro do MAHR, é actualmente uma das Associações de defesa dos direitos GLBT mais activas de Portugal. Conta com delegações em Lisboa, Porto e Coimbra. António foi Presidente da Opus Gay até há pouco tempo. O Movimento Cívico Vidas Alternativas foi a última das iniciativas de António Serzedelo. Este movimento, ao contrário do MAHR e da Opus Gay, congrega em si todas as forma de diferença e não somente as diferenças de sexualidade. O Vidas Alternativas conta com um programa de rádio disponibilizado on-line, cujo locutor é António Serzedelo, acumulando esta função com o cargo de Presidente do Movimento Cívico. T.L. 29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | Gente Amor e cuidados O lado humano da vida Uma empresa com um perfil especial surgiu em Abrantes. Uma mulher, preocupada com os mais velhos, decidiu fornecer serviços de apoio domiciliário. O que for preciso: lavar, alimentar, garantir que os medicamentos são tomados e, também fazer um pouco de companhia. Chama-se “Amor e Cuidados” a empresa que ainda não dá lucros, mas que já atingiu uma meta importante: os sorrisos que marcam a diferença. Ana Luísa Nascimento e Ana Margarida Batim São 8h00 e o sol já vai bem alto. Seguimos de carro com Ana Cristina Gravelho, directora da empresa “Amor e Cuidados”, para mais uma visita de apoio do domicílio, uma rotina diária. No meio do silêncio matinal começam-se a ouvir alguns cães a ladrar, animais que fazem companhia à D.Virgínia, de 74 anos, nove filhos, a primeira utente deste serviço. À entrada da casa, um gato branco mia deitado no pequeno sofá da sala. Mesmo em frente está a D.Virgínia, deitada, num quarto pequeno, cheio de roupas, quadros e santinhos nas paredes, onde espera ansiosa pela chegada de Ana Cristina. Sempre com um sorriso contagiante nos lábios, Ana Cristina cumprimenta a senhora, que retribui carinhosamente. O trabalho começa apenas iluminado pela luz de um candeeiro. Enquanto trata da higiene desta senhora, Cristina afirma que casos como estes são muito complicados, pois “esta «menina» é diabética e não pode ficar muito tempo sem comer”. E a verdade é que já não tem muita gente que a ajude diariamente e a tempo inteiro como era necessário. Durante a higiene, Ana Cristina trata-a por nomes carinhosos como “querida”, “minha linda” e “princesa”, notando-se um carinho recíproco entre as duas, já cúmplices de muitas histórias. As queixas de D. Virgínia começaram a surgir em relação ao serviço prestado anteriormente por outra pessoa do apoio ao domicílio: “Antes vinha cá uma rapariga, mas não gostava dela porque me lavava à pressa e havia partes do corpo que nem lavava, não é como esta menina”. Ao terminar, faz um carinho na cara de Cristina. Esta, depois de a limpar, põelhe cremes, “porque a pele tem de estar sempre hidratada”, e aplica-lhe de seguida um creme para as dores, pois “estão muito tempo imobilizadas e a pressão do corpo na cama faz dores e feridas”. Apesar de não poder contar com muita ajuda a tempo inteiro, D. Virgínia diz que não quer ir para um lar. “Para um lar não, porque não estou em minha casa”. E acrescenta ainda que “toda a gente devia ter uma pessoa carinhosa e meiga, como eu tenho”. Já “limpinha” e “cheirosa”, tal como refere Cristina, D.Virgínia é colocada na cadeira de rodas para ir passear um pouco com o seu filho. Despede-se com um sorriso maroto nos lábios e deseja “muita saúde e bons namoros”. Seguimos, então, para a segunda utente de Ana Cristina. Pelo caminho, explica-nos que “é preciso gostar do que se faz”. E afirma: “Eu gosto muito”. Apesar de ainda não ter lucros com a sua nova actividade, esta profissional não quer transformar a sua empresa numa “igual às já existentes”. Por isso, sublinha aquilo que considera essencial: “É preciso estar pelo menos uma hora com os idosos para eles ficarem bem limpinhos e, quanto mais idosos tiver, menos tempo tenho para cada um deles”. Chegamos à casa da segunda e última utente deste dia. Encontramos uma casa maior e com mais condições do que a anterior, isto porque nesta casa há uma pessoa a tempo inteiro a cuidar da D. Lucinda, uma senhora que está acamada há 14 anos, com Parkinson. As dificuldades desta senhora são facilmente notadas: mal se consegue mexer e falar, mas a esperança da sua fiel companheira, Maria José, sua filha, e de Ana Cristina nunca morre. Todos os dias, depois de limpa e Ana Margarida Batim Carinhos. Para Ana Cristina Gravelho , na sua actividade profissional, “conquistar um sorriso é uma vitória diária” arranjada, fazem-lhe uns pequenos movimentos de pernas e braços para que a sua mobilidade física não desapareça de vez. A “princesa” de Ana Cristina olha para nós com um olhar meio perdido, confuso. Tenta dizer algo, mas fica perdida entre a realidade e o mundo onde vive devido à doença. Começa-se a higiene da idosa, momento que a sua filha não perde, até porque, como a senhora está completamente imóvel, a sua ajuda é bem-vinda a Ana Cristina. Também nesta casa são feitas algumas queixas às raparigas que antecederam Cristina. Maria José, revoltada por ter visto a mãe ser maltratada, refere que “já aqui estiveram uma meninas de uma instituição, mas elas só querem é o dinheiro, porque não limpavam a minha mãe. Agora não, ela já fala um pouco e já consegue mexer as mãos com a ajuda da Cristina”. A senhora, deitada na cama, tenta dizer algumas palavras, mas nada sai com sentido. Todavia, a filha ri para ela com amor. Este é um dos casos que, na ausência da família, Ana Cristina vai mais vezes por dia lá a casa para ajudar no que for preciso. “Quando estavam cá as outras nem comida lhe davam, eu deixava a comida para o tempo que estava fora e elas não lhe davam a comida. Quando chegava estava a comida estragada e espalhada pela casa”. Terminada a higiene, D. Lucinda pede, com esforço, um beijo a Ana Cristina. Deu-lhe um beijo na bochecha e, carinhosamente, levanta a mão e acena, dizendo-nos adeus. O dia para Ana Cristina foi mais uma vitória conquistada. Sempre que vê um sorriso na cara de um dos seus idosos, sente-se realizada e é isso que a motiva para todos os dias prestar o mesmo serviço às suas “princesas”. Cuidados com 21% de IVA Ana Margarida Batim A empresa “Amor e Cuidados” surgiu da ideia de querer ajudar os idosos de uma forma diferente, dar-lhes mais do que as necessidades básicas necessárias a cada um. Faz serviços domiciliários ao nível da higiene e, quando necessário, da alimentação. Ana Cristina explica os seus objectivos: “Não pretendo ter uma grande empresa, quero é dar-lhes o necessário”. O nome surgiu das iniciais do seu próprio nome: Amor é o que realmente quer dar, quer tratar daqueles a quem ternamente chama as “minhas pessoas”, e Cuidados porque “é o que eles mais precisam”. A parte gráfica ficou toda ao seu próprio encargo, desde o logótipo, as cores, até à imagem que aparece no cartaz. “É uma fotografia dos meus pais, porque eles têm 85 anos os dois, mas são uns jovens que me deram muito apoio, daí eu querer fazer esta homenagem”. A empresa trabalha apenas num raio de 15 quilómetros à volta de Abrantes porque, sendo mais do que isso, Ana Cristina “não tinha dinheiro nem tempo para ir a todo o lado”. A sua apresentação oficial foi no Edifício Pirâmide, no dia 26 de Março, mas poucas pessoas apareceram. No entanto, Ana Cristina, optimista, afirma: “Não vou deixar de lutar”. O único apoio que teve foi através do Centro de Emprego, que apostou na empresa dando-lhe um apoio monetário “que serviu para comprar um portátil, a carrinha para as deslocações e duas cadeiras de rodas”. Era necessário muito mais para que este trabalho chegasse a mais gente e da forma correcta, “mas, de momento, ainda não é possível”, porque Ana Cristina está por sua própria conta. A Atenção. Maria José está finalmente satisfeita com o tratamento dado à mãe empresária realça ainda que se sente descontente com o facto de ser obriga- da a cobrar mais aos utentes devido ao elevado IVA que tem de pagar. “O que eu acho mal é ter de exigir às famílias 21% do IVA, porque isto é um bem essencial, mas o maior bem que tenho é conseguir arrancar um sorriso destes idosos, é uma conquista, para mim”. Apesar do grande esforço físico que faz diariamente, esta mulher determinada não aceita qualquer pessoa para sua colaboradora. Pretende “pessoas que gostem do que fazem e não apenas interessadas no dinheiro.” Das 37 pessoas que já a contactaram, apenas uma ficou. “Tive uma que, quando foi mudar a fralda a uma idosa, desistiu. É preciso gostar realmente do que se faz e faz-se muito e vê-se muita coisa”. Ana Cristina acrescenta, com muita força e coragem, que “isto é uma utopia da minha parte, mas quero dar-lhes a melhor qualidade de vida possível”. A.L.N. e A.M.B. 10 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007 Incêndios Governador Civil de Santarém garante que distrito está preparado para o Verão dr Vânia Costa Uma actuação concertada Os fogos são uma realidade que nos surge no pensamento quando ouvimos tocar a sirene nos dias quentes de Verão. Mas a prevenção e o combate não cabem só às equipas especializadas que vão para o terreno, dizem respeito a cada um de nós. “Existem pequenos gestos que, por mais banais que possam parecer à primeira vista, contribuem em grande escala para a diminuição de ignições e de incêndios”, refere Paulo Fonseca, Governador Civil do distrito de Santarém, dando exemplos concretos: “a realização de queimadas durante o Verão, o lançamento de foguetes ou atirar restos de cigarros para o chão”. O Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PNDFCI) foi feito para dar resposta ao sucedido em anos anteriores. Com ele extingue-se a chamada época de incêndios, alarga-se o período de actuação e prevenção e incluise um maior número de entidades para o pôr em prática. É uma estratégia de prevenção que abrange todo o território. Em anos anteriores nem sempre foi assim, como afirma o governador civil: “Contávamos, apenas, com os mecanismos e directivas de combate aos incêndios, direccionados para os Bombeiros, pelo que não existia qualquer política consistente em termos de prevenção”. De acordo com este novo plano contra incêndios, em cada concelho do país O Plano Nacional de Defesa da Floresta contra os Incêndios está estruturado em cinco eixos estratégicos de actuação: 1. Aumento da resiliência do território aos incêndios florestais: • Rever e integrar políticas e legislação; • Promover a gestão florestal e intervir preventivamente em áreas estratégicas; 2. Redução da incidência dos incêndios: • Educar e sensibilizar as populações; • Melhorar o conhecimento das causas dos incêndios e das suas motivações; 3. Melhoria da eficácia do ataque e da gestão dos incêndios: • Articulação dos sistemas de vigilância e detecção com os meios de primeira intervenção; • Reforço da capacidade do ataque ampliado; • Melhoria da eficácia do rescaldo e vigilância após rescaldo; • Melhoria das comunicações; • Melhoria dos meios de planeamento, previsão e apoio à decisão; • Melhoria das infra-estruturas e logística de suporte à DFCI; 4. Recuperar e reabilitar os ecossistemas. 5. Adaptação de uma estrutura orgânica e funcional eficaz: • Estruturar o Centro Nacional de Operações de Socorro (CNOS), a nível nacional e distrital • Organizar o Serviço Municipal de Protecção Civil • Avaliação do PNDFCI Paulo Fonseca. Pequenos gestos ajudam na diminuição dos incêndios são criadas as comissões Municipais de Defesa Contra Incêndios e os respectivos planos Municipais de Defesa Contra os Incêndios. “No distrito de Santarém, quase todas as autarquias têm já estas premissas cumpridas”, acrescenta Paulo Fonseca. As Zonas de Intervenção Florestal (ZIF´s) que o Estado coloca à disposição dos proprietários e produtores florestais tiveram pouca adesão no distrito de Santarém. Por este motivo, é preciso passar a mensagem de como estas zonas de intervenção são importantes pois, como menciona o governador Paulo Fonseca, “a associação de propriedades permite uma gestão mais rentável da massa florestal, com proveitos para todos, e, consequentemente, criar condições para uma cada vez melhor protecção da floresta contra os fogos”. O distrito de Santarém encontra-se preparado para o combate aos incêndios contando, este ano, “com o reforço significativo de bombeiros e de meios aéreos, com a Força Especial de Bombeiros, vulgarmente conhecidos como Canarinhos”, refere Paulo Fonseca. Este plano vem realçar o papel de todos nós na prevenção contra os fogos e no auxílio daqueles que, por nós, arriscam a vida. “Estes serão os últimos responsáveis, pois arriscam a própria vida para salvar os outros e os bens alheios”, remata Paulo Fonseca. Autarquias previnem incêndios A Câmara de Abrantes e a Câmara do Sardoal aderiram ao Programa de Voluntariado Jovem para as Florestas, promovido pelo IPJ – Instituto Português da Juventude, que visa a preservação das florestas por jovens voluntários que vão vigiar, inventariar as áreas ardidas, limpar e reflorestar as florestas portuguesas. O programa, dirigido a jovens com mais de 18 anos que residam em Portugal, decorre no período de Junho a Setembro. Em comunicado, o município de Abrantes explica que o seu projecto visa a constituição de duas equipas de jovens voluntários por quinzena. Cada equipa será constituída por quatro ele- mentos. Pretende-se que uma das equipas faça vigilância fixa, sendo que o seu posto ficará localizado no Castelo da cidade (abrangendo a zona do jardim), permitindo uma visão de 360º em torno da cidade e com alcance até alguns concelhos vizinhos. A outra equipa circulará de moto pelo concelho, com incidência nas zonas onde se localizam as manchas florestais mais densas e que urge preservar, tendo como tarefas acções de limpeza e manutenção de algumas áreas problemáticas, caminhos e parques de merendas, designadamente a zona envolvente ao Parque Urbano de Abrantes (S. Lourenço). De acordo com a nota de imprensa do município do Sardoal, os voluntários que aderirem a este programa terão direito a uma bolsa diária de 12 euros, a um seguro de acidentes pessoais e ao equipamento necessário para a execução das tarefas que lhes forem incumbidas. Os jovens interessados em participar neste programa, em Abrantes, podem fazer a inscrição, até 14 de Setembro, junto do Serviço Municipal de Protecção Civil, localizado na Praça Raimundo Soares, ou para o telefone 241 330 200. No caso do Sardoal, as inscrições estão abertas até 31 de Agosto, no Gabinete Técnico Florestal desta Autarquia, sito no quartel dos Bom- beiros Municipais. Mais informações sobre este programa também podem ser recolhidas junto das delegações do IPJ ou em http://juventude.gov.pt/Portal/IPJ. Para Abrantes, esta iniciativa é apenas uma das vertentes de um plano mais geral que abrange, por exemplo, um processo de contratação, a termo resolutivo certo, de dez elementos que irão integrar o quadro de efectivos dos Bombeiros Municipais de Abrantes durante seis meses. Para além do reforço dos efectivos, este processo permite que os dez elementos desempenhem funções a tempo inteiro. Por outro lado, a Câmara de Abrantes está a desenvolver um conjunto de acções que visam a sua protecção contra incêndios: acções de sensibilização, acções de prevenção e acções de combate. No âmbito da sensibilização, foi desencadeada uma acção pedagógica junto da população, com a colaboração da imprensa, mediante divulgação de alguns conselhos e cuidados básicos sobre como preservar a floresta e como actuar em caso de incêndio. Foi ainda realizada uma campanha publicitária junto das duas rádios do concelho e foi distribuído em casa de cada munícipe um folheto informativo sobre o que deve e o que não deve fazer em matéria de incêndios florestais. Técnicos Oficiais de Contas Projectos Económicos Trabalhos de Computador Praça Barão da Batalha, N.º8 2200-365 ABRANTES Telefone e Fax 241 361 096 29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 11 Publireportagem Bosch comemora 25 anos As expectativas foram superadas, o saldo é positivo! Este foi o balanço do Dia do Desporto na Robert Bosch Travões que decorreu no passado dia 20 de Maio. Foi o primeiro dia dedicado às comemorações do 25º Aniversário da Bosch em Abrantes. No dia 15 de Setembro será realizada uma actividade aberta a toda a comunidade; todos aqueles que desejem conhecer a fábrica poderão fazê-lo no Dia de Portas Abertas. A cerimónia Oficial dos 25 anos decorrerá no dia 21 de Novembro. As expectativas criadas em relação a este evento foram superadas e decorreu com uma exelente adesão por parte de todos os participantes. Foram cerca de 220 os funcionários Bosch que se deslocaram ao Kartódromo de Abrantes para realizarem actividades desportivas. Entre elas o Karting, Paintball, Gincana e Maratona. Os mais novos também não foram esquecidos: os filhos dos colaboradores tiveram à sua disposição um insuflável e um painel de pintura. O lema do Dia do Desporto foi “25 anos com a sua família”. Esta extensão do evento à família permitiu ilustrar que “a família é o mais importante das nossas vidas”, confessa José Pacheco. O dia do desporto foi inteiramente dedicado aos colaboradores .“Cremos que este tipo de eventos aumenta a interacção entre colaboradores de diversos sectores e departamentos que, normalmente ao longo do ano, não têm muitos contactos directos” - refere José Pacheco, Director Geral da Robert Bosch. Durante todo o dia as crianças tiveram à sua disposição uma lona onde puderam pintar o painel, para além de brincarem no insuflável. Para os mais crescidos a manhã começou com uma maratona; foi a acção que contou com menos participantes. Seguidamente houve o pequeno--almoço que antecedeu o Karting, a grande atracção da manhã de domingo. Depois do almoço as actividades recomeçaram com uma gincana e o paintball, actividade que teve adesão total dos participantes do dia do desporto da Bosch. A actividade que suscitou mais interesse foi o Karting, onde a vontande de ganhar foi notória. Esta foi a acção que contou com o maior número de participantes. O Paintball foi também um sucesso, tendo despertado a motivação dos menos interessados, que participaram como verdadeiros especialistas. A Gincana e a Maratona foram as actividades que tiveram menos participação mas, apesar da pouca adesão, proporcionaram momentos de bom convívio e diversão. Os insufláveis presentes e a pintura de painel existente para os mais novos foram as actividades preferidas das crianças, que demonstraram grandes talentos. “Gostaria de destacar o trabalho estupendo das crianças que nos presentearam com a pintura de um painel, que agora pode ser admirado no interior das nossas instalações” - diz José Pacheco. A Direcção da empresa sempre se empenhou em apoiar diversas actividades com vista à promoção de uma sã convivência entre colaboradores. Exemplo disto é a participação de um colaborador da Robert Bosch numa prova desportiva de BTT, onde durante 24 horas se irá peladar sem interrupção no Parque de Monsanto em Lisboa. Esta participação está subordinada ao tema “25 anos em 24 horas”. “Da parte do colaborador”- acentua José Pacheco“assistimos a uma demostração do espírito de tenacidade em associar-se mais de perto às comemorações dos 25 anos de actividade.” Comemorações a realizar em Setembro As próximas actividades a decorrer no âmbito dos 25 anos da Robert Bosch Travões terão um cariz mais institucional, viradas para a mostra da actividade da fábrica. O Dia das Portas Abertas será no dia 15 de Setembro. Este ano será a primeira vez que as portas serão abertas também à comunidade local, para além dos colaboradores e convidados. A evolução da empresa irá ser ilustrada numa brochura que estará disponível nas instalações da Bosch Travões, com a história da empresa, fotos, testemunhos de personalidades da história da fábrica, demonstrando o registo histórico da evolução da empresa. Dia oficial dos 25 anos O dia oficial das comemorações dos 25 anos realizar-se-á no dia 21 de Novembro, também terá um caracter institucional e, será assinalada com uma cerimónia formal, seguida de uma apresentação da empresa, do trabalho realizado e das condições que oferece aos seus colaboradores. 12 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007 Região joão alves A maior obra de sempre do concelho Açude. Com uma tecnologia de ponta japonesa, a estrutura que deu origem ao “mar de Abrantes” tem despertado a curiosidade de investigadores e alunos de vários pontos do país João Alves Pouco passava das 11h00 do dia 23 de Abril quando foi anunciado que se iria insuflar a última das quatro comportas. “Vai demorar pelo menos uma hora a encher”, vaticinava alguém. Mas 15 minutos bastaram para que o açude começasse a represar a água do rio, dando vida ao novo “mar de Abrantes”. Um processo lento, até pela dimensão do espaço a inundar, mas que ao final do dia estaria concluído, atingindo a cota máxima. “Queríamos uma obra de grande dimensão, que transformasse esta zona num pequeno mar - o “mar de Abrantes - à nossa disposição, da região e do País” – diz Nelson de Carvalho, presidente da autarquia. A obra começou em Novembro de 2004 e os 240 metros de comprimento do açude estendem-se já sobre o Tejo. A última das quatro comportas insufláveis foi instalada no dia 15 de Abril. O mês de Junho fica marcado para o momento da inauguração. Trata-se da maior obra de sempre, numa única empreitada, adjudicada no concelho de Abrantes. O Açude é o elemento estruturante do Aquapolis – Parque Urbano Ribeirinho. Com características únicas no País, o açude fica localizado a cerca de um quilómetro a jusante da ponte rodoviária de Abrantes e permite a criação de um espelho de água, vital para o desenvolvimento de espaços destinados à prática de desportos náuticos e actividades de lazer. É constituído por cinco vãos e caracteriza-se, sobretudo, pela utilização de comportas insufláveis com altura não superior a 3,20 metros. O comprimento, de margem a margem, é de aproximadamente 240 metros. O açude integra também uma passagem de peixes que se localiza na margem esquerda sobre a plataforma rochosa aí existente, permitindo a circulação de diversas espécies piscícolas. Foi realizado um estudo de avaliação de incidências ambientais, dirigido no sentido de minimização de impacto ambiental, com relevo para a análise da necessidade de integração duma passagem de peixes e para a análise relacionada com a vertente sedimentológica do transporte sólido no Rio Tejo. Foi Fernando Rente, engenheiro responsável pelo acompanhamento da obra, que explicou como funcionam as comportas insufláveis “feitas à base de borracha e pela Bridgestone”, um dos maiores fabricantes mundiais de pneus: “As comportas estão ligadas a um autómato que insufla ou desinsufla conforme o nível do caudal do rio.” As descargas a montante, provenientes da barragem de Belver, são uma das responsáveis pela variação dos caudais. Quando estes atingem a cota 24 (cota máxima) o autómato acciona o dispositivo de desinsuflação das comportas. “Com as comportas clássicas o processo seria muito mais complicado, pois teriam de ser fixas. No Inverno, teriam de ser retiradas com uma grua para voltarmos a colocá-las na Primavera”, explica. Terminaram no dia 30 de Abril os ensaios gerais de funcionamento das comportas do Açude Insuflável no Tejo, que decorreram com normalidade, tendo sido atingida na albufeira a cota de referência (22,85), o que permitiu a criação de um plano de água muito perto do real O açude insuflável construído no rio Tejo na zona de Abrantes, um investimento na ordem dos 10,5 milhões de euros, resultado de um esforço financeiro repartido pelo Município, Governo e União Europeia, está a despertar a curiosidade de muita gente de norte a sul do País. Os departamentos de engenharia e hidráulica de várias universidades enviaram ali técnicos e estudantes para analisar esta obra, que se tornou um verdadeiro “case-study”. Desde estudantes de Engenharia Civil até entidades políticas da região, várias pessoas têm passado para admirar a obra. “É que comportas insufláveis não existem em lado nenhum”, diz Nelson de Carvalho, presidente da câmara Municipal de Abrantes. “Estas são as únicas insufláveis em todo o País”, afirma, sem esconder uma ponta satisfação. Muitos são os grupos que até ali se mobilizam, interessados em ver o resultado de requalificações e as dinâmicas que estão a ser geradas. Amantes do desporto náutico e também especialistas do ramo da hidráulica são outros dos interessados, movidos pela curiosidade de apreciar a obra e a tecnologia aplicada à mesma. Tecnologia de ponta que a autarquia abrantina importou do Japão. de animação das principais praças, artistas como os Cubanitos, Ferro e Fogo, Kwantta, Estatuna, Assemblent, Banda Kalumba, Jimmhell, Perfect Sin, Spencer Group, Declínios, Phil Case e The Doll & The Puppets, entre outros. Contudo, a animação não ficou por aí, sendo que, no âmbito das festas da cidade, também se realizaram actividades de projecção de filmes de animação e documentários, cinema mudo, garraiadas, jogos lúdicos, exposições e o XVI encontro de coros do Ribatejo, entre outras actividades. As ruas repletas de gente eram a prova viva de que este género de iniciativas vem assim criar um ambiente apelativo, promotor de diversão de todas as faixas etárias. O desporto foi também um importante componente na dinâmica das festas da cidade. O voleibol, o futebol de praia, o futebol de salão, o festival de canoagem, o downhill urbano, a milha urbana João Campos, o Grande Prémio de Carrinhos de rolamento, os torneios de pesca e a mega-aeróbica foram apenas algumas das actividades das quais os residentes e visitantes de Abrantes puderam desfrutar durante esta animada semana repleta de alegria e cor. A responsabilidade pela organização ficou a cargo da Câmara Municipal de Abrantes e da Associação Centro Comercial de Ar Livre de Abrantes, em parceria com associações e grupos do concelho e arredores. V.I. Festas de Abrantes 2007 fátima vieira Teve lugar na cidade florida mais uma edição das Festas de Abrantes, entre 8 e 14 de Junho. Uma semana de festas em que a Abrantes ganha ainda mais cor, vida e animação, com a apresentação de um conjunto de actividades variadas e festividades em mais de dez lugares diferentes por toda a cidade. As calmas ruas, praças, largos, e até os espaços à beira-rio, sofrem a transformação influenciada por este certame. Os espaços enchem-se de gente, artesanato, apresentações e produtos tradicionais, de regiões dos mais diversos pontos do país. Assim como os típicos cheiros a farturas e algodão doce, característicos das feiras. Encabeçaram, por estes dias, o cartaz Animação. Os grupos musicais constituem uma das fortes apostas do município 29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 13 Região Cavalo Lusitano Filhos do vento Desde a idade do ferro, em que povos eram conquistados por outros povos, em que sangue era derramado em nome da sede de espaço e da conquista de território, que é reconhecido o valor nobre do cavalo, um dos mais fiéis companheiros do homem. Vânia Costa José Pinto Dizem os entendidos que houve uma espécie de mistura de cavalos trazidos por povos como os Fenícios, os gregos ou os cartagineses, que em tempos habitaram a península ibérica. No entanto, não terá sido o suficiente para influenciar o cavalo existente na Hispânia, o Cavalo Ibérico. Este era o cavalo sobre o qual se contavam histórias, sobre o qual se fizeram lendas. Os Gregos chamavam-lhe “filho do vento”. Eram os cavalos da Lusitânia, conhecidos pela sua velocidade e astúcia. O nome Lusitano vem dos povos que habitavam a parte Oeste da península Ibérica, mais tarde (em 27 A.C.) foi criada a provincia “Lusitânia”, uma região administrativa Romana que se situava entre-os-rios Douro e Guadiana. Mais tarde, os árabes seguiram os visigodos na Península e trouxeram com eles cavalos Árabes e cavalos Berberes que se cruzaram com os cavalos existentes na altura na Península. Portugal foi fundado no século XII num tempo em que os cavalos tinham um papel muito importante no campo de batalha, onde era usado de duas formas: “Gineta”, em que o cavaleiro necessita de um cavalo não necessariamente grande mas rápido e ágil que lhe permita o arremesso e a luta com espada e escudo; “Brida”, uma forma de combate trazida dos cavaleiros do Norte da Europa, em que o cavaleiro tem uma armadura pesada e uma lança comprida e era usado o poder de choque do cavalo para investir. Neste caso era importante um cavalo de grandes dimensões. Temperamento. Nobre, forte, generoso e trabalhador, o cavalo lusitano é sempre dócil Mais tarde, com o desenvolvimento das armas de fogo, uma nova forma de montar foi necessária em que novamente o importante era ter um cavalo rápido e ágil. Em 1885, Bernardo Lima, no seu livro sobre raças de cavalos Portuguesas, usa o termo Lusitano para cavalos nascidos e criados em Portugal. Em 1889 foi cria- do o Stud Book Português. Em 1942, os veterinários da Coudelaria Nacional decidiram usar o nome Lusitano para cavalos nascidos em Portugal e com características que os permitiam serem inscritos no Stud Book Português. A raça Lusitana começou oficialmente apenas em 1967. Nasce então o cavalo Lusitano, o Cavalo de Portugal. Características do cavalo lusitano Com um peso próximo dos 500 kg, sub--convexilínio (de formas arredondadas) e de silhueta inscrítivel num quadrado, o cavalo lusitano tem uma altura média ao garrote de cerca de 1,60 m. Com pelagem habitualmente ruça e castanha, este cavalo é ágil e tem uma tendência natural para a concentração, com grande predisposição para exercícios de Alta Escola e grande coragem e entusiasmo nos exercícios da gineta (combate, caça, toureio, maneio de gado, etc.). O cavalo lusitano tem um temperamento nobre, generoso e ardente, mas é sempre dócil e sofredor. Pedro Pereira Marques, sócio-gerente do centro equestre de Abrantes Vânia costa Há quanto tempo cuida de “cavalos lusitanos”? Há pouco menos de um ano, que foi quando integrei este projecto do centro hípico. No fundo a minha história “nestas andanças” é muito recente. Sempre foi o que quis fazer? No fundo esta actividade surgiu a partir do momento que decidi criar uma empresa de actividades e lazer. Havia um grande interesse em cavalos e, no fundo, juntou-se o útil ao agradável. Sempre estive ligado aos animais. Há diferenças no tratamento entre as diversas raças? Não existem grandes diferenças. Tudo depende da função ou da adaptabilidade de cada cavalo. Aqueles que exercem funções diárias, exigem mais trabalho. O cavalo Lusitano é um cavalo utilizado mais a nível de lazer. No fundo, é comparar uma pessoa que faz desporto de competição e os que o fazem por lazer. No processo educativo, quais são as principais dificuldades? Há diferentes exigências. Um cavalo, para começar a ser montado, passa por um período muito importante, que é o de debaste. Aqui o cavalo faz uma aprendizagem, e é aqui que explicamos ao cavalo aquilo que queremos. Há métodos mais duros para o cavalo, pois Pedro Pereira Marques. “A cabeça do lusitano é muito fácil de ensinar” são muito exigentes, mas também há métodos em que se utilizam brincadeiras para se ensinar. O cavalo lusitano relaciona-se bem com o criador? O lusitano é um cavalo extremamente afectuoso, muito ligado às pessoas e não um cavalo distante do criador. O cavalo lusitano é muitas vezes utilizado em “cruzamentos”, para dar mais carácter e inteligência à raça que dali sair. Essa é a razão pela qual o Lusitano é conhecido em todo o Mundo. Qual a postura do cavalo em competição? A obediência é uma das qualidades desta raça. Sendo a “cabeça do lusitano” muito fácil de ensinar, essa postura vai, obrigatoriamente, reflectir-se também em competição, embora o lusitano não seja muito utilizado para esse fim. Como são as condições em Portugal para se praticar hipismo? Penso que temos excelentes condições, inclusivamente climatéricas. Há países do norte da Europa que têm excelentes cavaleiros e excelentes selecções que, durante os meses frios, vêm treinar-se a Portugal. Para nós essa é uma mais valia. É o que pensa fazer para sempre? O futuro é incerto, mas logo se vê. 14 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007 Iniciativa Filme de animação sobre Palha de Abrantes feito por crianças luize te santos O filme em números Dayana Delgado O Rio Tejo e a Palha de Abrantes serviram de inspiração a um filme de animação com características muito especiais. A ideia partiu dos Espalhafitas e quem a concretizou foram alunos da Escola Básica 1, do Rossio ao Sul do Tejo. O resultado foi o “Mar da Palha”, uma história animada, contada por miúdos. Através de sequências de desenhos contam como, noutros tempos, a palha de Abrantes descia o Tejo até Lisboa. Tudo começou com a realização de um workshop sobre animação, organizado pelos Espalhafitas. A iniciativa contou com a presença de dois realizadores do Fundão, Rodolfo Pimenta e Nelson Fernandes. Maria de Lurdes, da direcção dos Espalhafitas, conta que os dois realizadores “trazem na bagagem uma vasta experiência em animação, tendo ganho vários prémios fora do país, inclusive na Finlândia”. E esta experiência foi também aproveitada para desenvolver o projecto com os miúdos, uma vez que estes dois realizadores assumiram a formação dos pequenos artistas. Na escola foram escolhidas crianças com idades compreendidas entre os seis e os dez anos. Os seleccionados estiveram, durante um mês, no período da manhã, em contacto com os formadores. Aperfeiçoaram a pintura e o desenho. Descobriram a mesa de luz. Aprenderam como se faz um desenho animado, na teoria e na prática. Dentro de uma sala de aula, comum e igual a qualquer outra, mas munida de equipamentos próprios para montagem do filme, todos os dias, das 9h00 às 12h30, as crianças dedicam-se a dar asas à sua ca- • Participaram 19 alunos no projecto; • As crianças passaram 13 manhãs das 9h00 às 12h30 a desenhar e a pintar; • Foram precisos aproximadamente 5.100 euros para realização do produto final; • O filme tem uma duração de 2 minutos e 50 segundos; • Foram 800 crianças à ante-estreia, acompanhados por professores; • Utilizaram 1.500 desenhos para a realização do filme; • Foram necessárias 120 canetas para as crianças pintarem os desenhos; • Compraram 2.000 folhas que são indispensáveis para desenhar. Projecto. “Aprendi que para se ter um segundo de movimento são precisas 24 ou 25 imagens” pacidade artística, elaborando vários desenhos. Inquietas, activas e muito alegres, as crianças dedicam o seu talento a desenhar e a colorir os desenhos por eles outrora feitos. Contagiados pela alegria dos mais pequenos, os formadores dedicam o seu tempo a ensiná-los a desenhar, a pintar e como se trabalha com os equipamentos. Mas, afinal, em que consiste o projecto? Rodolfo Pimenta responde: “O nosso projecto consiste num fotograma 25 em que um dos objectivos é fazer com que as crianças retenham como funciona um fotograma, isto é, como se faz os de- senhos animados. O projecto acaba por ser o resultado final do trabalho realizado pelas crianças na escola, onde pomos em prática as experiências que temos, com as delas.” Nelson Fernandes observa que “a orientação da realização do filme é nossa, mas a iniciativa é do grupo Espalhafitas de Abrantes, que nos convidou”. Ainda sem saber muito bem como é que o Espalha Fitas teve conhecimento da actividade dos dois realizadores, Rodolfo Pimenta admite que tenha sido “talvez por causa dos resultados dos trabalhos” que já têm vindo a desenvolver no Fun- dão. Assegura que, também em Abrantes, “um dos objectivos é o resultado final do filme, tendo em conta as histórias e as lendas que as crianças aprendem sobre a cidade”. Mas não é só: “ Ao mesmo tempo estão a descobrir o cinema”. Muito inquietas, as crianças andam de um lado para o outro, com os desenhos, os lápis de cor, canetas de filtro, lápis de cera na mão, tentando colorir o máximo de desenhos para o filme. Entre a balbúrdia das crianças, ouve-se Diana, de nove anos, a dizer: “Eu já desenhei vários peixes, várias palhas de Abrantes e o rio”. Centro Comercial Millenium Gabinete 2.11 - Abrantes Telef. / Fax: 241 106 399 Tm.: 96 658 76 98 E-mail: [email protected] Ap. 27 - Alferrarede 2204 - 906 ABRANTES Logo de seguida, Rodrigo de seis anos, realça: “Eu já desenhei o sol, a margem do rio e a relva.” Rodrigo ainda explica que acha “o rio bonito, onde os pescadores vão pescar os peixes para comermos”. Entre as crianças, ouvem-se comentários que indicam que os amigos ficaram zangados por não terem sido escolhidos. Mariana, aluna do 4º ano, de nove anos, apresenta provas dos conhecimentos adquiridos: “Aprendi a desenhar, a copiar os desenhos na mesa de luz e também aprendi que, para se ter um segundo de movimento, ésãoprecisas 24 ou 25 imagens, e com dois desenhos enrolados num lápis posso ver as imagens em movimento se mexer rápido o lápis”. A antestreia do filme foi no dia 24 de Maio, no Cine-Teatro São Pedro, e contou com a presença de 800 crianças que foram acompanhados dos respectivos professores. A estreia foi no sábado seguinte e contou com a presença de aproximadamente 120 pessoas, havendo várias actividades. Por exemplo, a exposição de outros filmes feitos por crianças de outras escolas do país, assim como a apresentação do “making of” do filme feito no Rossio. Posteriormente, foi exibido o filme e, no final, as crianças tocaram a banda sonora do filme em bilhas de plásticos. As pessoas aplaudiram e esperam que iniciativas do género sejam cada vez mais frequentes. 29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 15 Iniciativa Animaio, um presente para a cidade luize te santos Blandina Machado Levar novos públicos ao cinema e dar a oportunidade de se verem novas linguagens cinematográficas tem sido a ideia principal levada a cabo, desde o início, pelos Espalhafitas. Este Cineclube de Abrantes promoveu, pela segunda vez, o Animaio, conjunto de iniciativas em torno do cinema de animação. Maria de Lurdes, um dos elementos do grupo, explica que “é importante que se faça uma coisa diferente, para além das sessões alternativas de quarta-feira, que trazem necessariamente os filmes que não passam em cinema comercial e que não passariam aqui de outra forma”. Em Abrantes, o público mostrou-se receptivo ao projecto Animaio, tendo muitas escolas levado os seus meninos a ver os filmes de animação. Mas esta linguagem cinematográfica ainda é vista como algo que apenas serve um público infantil, quando é muito mais abrangente. “As pessoas não aparecem por isso”, constata Paula Dias, dos Espalhafitas. “Mesmo assim, houve uma boa adesão à exibição, sobretudo no filme concerto”, refere Maria de Lurdes. O Animaio decorreu ao longo de uma semana com a projecção de vários filmes, de curtas-metragens premiadas no Cinanima, do filme/concerto “Curtas da Walt Disney” pela banda “Heart of Trio” e do filme “O Mar da Palha” (ver texto ao lado). A possibilidade de produzir um filme de animação entre uma turma de jovens realizadores foi uma experiência vivida pela primeira vez no concelho. Os Espalhafitas há cinco anos que vêm presenteando, com as suas exibições de cinema alternativo às quartas-feiras, a cidade abrantina. A ideia de fazer o Animaio é já antiga, mas foi posta em prática no ano passado pela primeira vez. “No quarto aniversário d’Os Espalhafitas, com o Animaio 2006, fizemos um workshop com uma oficina de animação. Tivemos muita adesão por parte das escolas e verificámos que havia um campo que se podia trabalhar. Novidade. Alunos do Rossio ao Sul do Tejo aprenderam as técnicas da animação e a preparação de um fotograma HiperMed Representação de Material Médico, Lda. Praça Barão da Batalha, 40 – 1º 2200-365 Abrantes Tel: 241 362 369 Fax: 241 377 101 www.hipermed.pt E-mail: [email protected] Brocas, Implantes, Endo Mecanizada, Suturas, Branqueamento, Instrumental Clínico e Cirúrgico, Compósitos, etc. Mas no ano passado fizemos apenas uma mostra de filmes feitos por grandes realizadores. Sabíamos que este era um projecto capaz de resultar.” Maria de Lurdes salienta ainda que este ano o objectivo era fazer uma obra completa: “Queríamos passar uma experiência, em que todas as técnicas são utilizadas”. A ideia foi prontamente acolhida por Américo Pereira, professor da Escola Básica 1 do Rossio ao Sul do Tejo. Em cinco anos, os Espalhafitas têm vindo a apostar em várias actividades, tendo já lançado os workshops de fotografia e de vídeo, assim como este projecto de animação. Apesar da dificuldade de serem poucos elementos na organização e com os poucos recursos de que dispõem, têm lutado por levar a bom porto os projectos a que se propõem, tendo para isso o apoio do ICAM e da Câmara Municipal de Abrantes, que lhes cede o espaço – o Cine Teatro S. Pedro. Embora tenham já conquistado um público residente, a crise que se sente na cultura também se faz sentir no cinema. A divulgação também falha muitas vezes, como confessa Maria de Lurdes: “Nós não temos capacidade de investir em publicidade e a comunicação social da terra não valoriza”. Por outro lado, a adesão por parte das pessoas não é a que se desejaria, como Carlos Coelho, outro elemento dos Espalhafitas, faz notar: “Em cinco anos não ganhámos o público que queríamos e, por isso, começámos a pensar em função do público que já temos. A ideia é começar a acarinhar esse público”. Novas apostas estão em cima da mesa: “Fazer ciclos sobre História do Cinema, um arquivo de imagem, cinema nas aldeias, animação de verão, e o projecto Documentar, que parte da discussão que envolve várias entidades e parcerias”. 16 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007 Região “Não há sistemas de armas perfeitos” O Edifício Pirâmide em Abrantes fardou-se a preceito testadas na fábrica austríaca da Steyer, a mobilidade das para receber um dia inteiro de palestras sobre as novas Pandur permitirá desenvolver “operações de estabilização viaturas Pandur, que irão reequipar o Exército Português. de regiões de onde podem emanar ameaças terroristas, ou O Coronel Tiago Vasconcelos foi o anfitrião deste dia que cuja instabilidade pode torná-las mais propícias à geração ficou também marcado pela presença do Tenente General de ameaças terroristas”, aclara o Coronel Vasconcelos. José Carlos Cadavez. As novas viaturas já estão a ser utilizadas pelo exército “Terrorismo” foi a palavra que mais se destacou na apresen- norte-americano, daí a deslocação de um “oficial do exército tação das novas viaturas do Exército Português, no passado dos Estados Unidos, que veio da Alemanha (onde está em dia 12 de Abril em Abrantes. A recente aquisição representa missão) de propósito a Abrantes fazer a sua comunicação “um salto qualitativo muito grande para o nosso exército”, sobre uma brigada americana que está equipada com este frisou o Tenente General Cadavez. Tiago Vasconcelos, Co- tipo de viaturas”, referiu Tiago Vasconcelos. Segundo o ronel à frente da Escola Prática de Cavalaria de Abrantes, Coronel Vasconcelos, de Espanha, onde estas viaturas lembrou que “não há sistemas de armas perfeitos”, mas “estas modernas já são usadas, veio “um oficial do exército esviaturas são as mais sofisticadas e as mais avançadas, para panhol, directamente a Abrantes, também para fazer a sua cumprir as missões que lhe comunicação”. estão destinadas”. Num país em contenção dr São cerca de 260 as viaturas de despesas, o Tenente Geque irão reequipar o exército neral Cadavez não teme o português. Para o Tenente incumprimento do plano de General Cadavez, que marreequipamento do Exércicou presença em Abrantes, to, mas admite que “poderá estas “são viaturas altamente haver alguma dilação”. O móveis, tácticas, dotadas de Tenente General clarificou rodas e não de lagartas, mais que os contratos prevêem viradas para a rede urbana “cláusulas penalizadoras se, de estradas”. As Pandur vêm porventura, houver algum substituir as viaturas Chaiconstrangimento”. Resta esmite, ao serviço do Exército perar para ver se o plano de Português desde 1967. reequipamento será integralConstruídas e inicialmente Pandur. Viatura que vêm substituit as Chaimite mente cumprido. T.L. 12º ano. E agora? João Alves O ESTAjornal elaborou um inquérito para os alunos do 12º ano de escolaridade da Escola Secundária Dr. Solano de Abreu e Dr. Manuel Fernandes. O objectivo era saber quais as perspectivas dos alunos que estão a finalizar o ensino secundário em relação ao ensino superior e às perspectivas que têm para o futuro, agora que uma nova etapa se aproxima. Dos 106 alunos inquiridos (55% do sexo feminino) das diferentes áreas, e após a análise dos dados, verificamos que 85% dos alunos que estão a acabar o ensino secundário pretende continuar os estudos. Ao concluírem o 12º ano de escolaridade os alunos deparam-se com uma questão pertinente e decisiva para as suas vidas: que curso devo escolher e para onde é que vou estudar? Os estudantes das escolas secundárias de Abrantes parecem que pouco ou nada têm a decidir à excepção de alguns casos. A maioria destes alunos já decidiu o curso em que pretendem ingressar. A maior parte (70%) dos alunos pretende ingressar nos cursos de Engenharia, principalmente no curso de Engenharia Mecânica, Gestão, Direito e Enfermagem. Uma das questões do inquérito prendia-se com as razões da escolha do estabelecimento de ensino que os alunos vão escolher para estudar. Mais de 95% dos alunos fizeram as suas escolhas tendo em conta que consideravam ser um bom estabelecimento de ensino e porque tem o curso pretendido, não havendo uma percentagem significativa em relação às médias e ao valor das propinas. Lisboa, Aveiro, Coimbra e Santarém são as cidades de eleição. Dos alunos inquiridos mais de metade optou por estas cidades. Habituados à calma cidade de Abrantes, estes jovens prestes a serem caloiros, optaram assim por cidades de grande dimensão e mais desenvolvidas. Poucos são os alunos que escolheram Abrantes como cidade para estudar futuramente. Muitos deles preferem sair da sua área de residência. Uma nova etapa se aproxima e muitas perspectivas em relação ao ensino superior. 29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 17 Tradição Festa dos Tabuleiros Animação e cor voltam a Tomar Nelson Ferreira A poucos dias de mais uma edição da Festa dos Tabuleiros o EstaJornal esteve à conversa com João Vital, mordomo da edição deste ano. A Festa dos Tabuleiros ou Festa do Divino Espírito Santo é uma das manifestações culturais e religiosas mais antigas de Portugal. A tradição continua ainda hoje, tal como muitas das suas cerimónias. A principal característica da Festa dos Tabuleiros é o Desfile ou Procissão, com um número variável de tabuleiros, em que estão representadas as 16 freguesias do concelho. Para mostrar um pouco a sua grandeza podemos referir que, na última edição, segundo algumas estatísticas, estiveram presentes cerca de 800 mil visitantes durante toda a semana. Na presente edição tudo aponta para que este número volte a ser atingido, visto que ao nível dos hotéis e estalagens as vagas para essa semana já são muito poucas ou quase nulas. Tal como João Vital nos revelou, a Festa dos Tabuleiros caracteriza-se como “uma festa essencialmente de cor, pela beleza e pela forma como os tabuleiros e as ruas são decoradas. Mas obviamente também não podemos esquecer o seu cariz religioso”. A edição deste ano irá decorrer de 30 de Junho a 9 de Julho. Nestes dias não irá faltar animação em Tomar, cidade onde os habitantes unem esforços de quatro em quatro anos, para que tudo corra bem, e se enchem de orgulho por ver o seu enorme esforço e dedicação premiados com a vinda de milhares de visitantes. João Vital reforça esta ideia: “O povo tomarense sente-se orgulhoso por esta ser uma tradição que lhes pertence e que protagoniza uma enorme união entre os seus habitantes. Tem-se notado igualmente uma maior adesão por parte da população mais jovem, o que é espectacular”. Cada edição da Festa dos Tabuleiros é composta por um programa de animação cultural, sendo que nos dias da festa passam por Tomar nomes conhecidos do panorama musical, entre outras actividades, com o objectivo de animar a cidade. Pelas ruas da cidade… Ao passearmos pelas ruas da cidade nas semanas que antecedem a festa, Flores l Nas semans que antecedem o ponto alto da festa ficamos com um pouco do perfume daquilo que é a Festa dos Tabuleiros. Regista-se o Cortejo das Coroas, que simboliza o primeiro acto solene da Festa dos Tabuleiros e que se destinava, antigamente, a anunciar à população a próxima celebração da sua Festa maior. Aí as ruas estão decoradas com colchas coloridas nas janelas e o chão com verdura, para que o povo vá lançando flores à passagem do Cortejo, criando assim um efeito de cor ímpar e o clima de alegria que se vive sempre em anos de Festa dos Tabuleiros. Começam-se a ver os primeiros tabuleiros, mas tudo ainda muito superficial, pois trata-se apenas de pessoas a treinar, ficando a ementa principal guardada para o dia do cortejo. Observamos as primeiras flores a serem colocadas nas ruas, e toda uma agitação que pauta por um lado a preocupação para que tudo esteja pronto a tempo, por outro lado a enorme alegria da chegada de mais uma festa, e de verem o seu esforço e dedicação serem valorizados. Com a Festa dos Tabuleiros a cidade de Tomar ganha cor e alegria, e uma inegável beleza, a que ninguém consegue ficar indiferente. Uma cidade em movimento Manuel Mendes Comandante da corporação dos Bombeiros de Tomar, 52 anos O que significa para si a Festa dos Tabuleiros? A Festa dos Tabuleiros representa um marco importante na vida de todos os habitantes tomarenses, uma vez que é uma festa com grande tradição que dinamiza todas as pessoas da cidade. As pessoas começam seis meses antes da festa a trabalharem para fazerem flores e todos os preparativos que dizem respeito à festa, para que tudo esteja pronto no início da festa, para que a tradição e o espírito se mantenham. Vai haver algum plano de acção especial, com vista à Festa dos Tabuleiros, ou vai decorrer tudo dentro do plano normal? Vamos ter que alargar a segurança, pois normalmente são dias de muito calor, o que provoca indisposições em algumas pessoas, muitas delas devido ao longo tempo de exposição solar. Como tal, nestes dias temos sempre que ter especial atenção, porque o trabalho aumenta e desta forma a segurança tem que aumentar também e são por isso necessários mecanismos de resposta. É habitual fazer-se uma estimativa de quantos visitantes a cidade poderá receber em cada edição da Festa dos Tabuleiros? Não tem sido necessário. Normalmente sabemos que nesses dias, nas edições anteriores, desenvolvemos cerca de 50 a 60 serviços, e a partir daí só temos que aplicar os meios necessários para que tudo corra bem. Como funciona o quartel nesses dias? Nesses dias o quartel funciona na sua máxima força. Tentamos ter o maior número de elementos disponíveis, sendo que cerca de 60% do pessoal anda nas ruas, para poder prestar auxílio o mais rapidamente possível às situações que possam acontecer. Como tem sido nas edições anteriores? Sabemos quais as dificuldades que temos tido nos anos anteriores, por isso temos vindo a melhorar alguns aspectos de edição para edição. A PSP (Polícia Segurança Pública) presta-nos o devido apoio, deixandonos alguns corredores livres o que facilita o nosso trajecto até ao hospital, e também dentro da cidade. Jesuína Vinita Padeira, 43 anos O que significa para si a Festa dos Tabuleiros? Na minha opinião a Festa dos Tabuleiros é, acima de tudo, uma tradição que nunca devia acabar, pois é das principais coisas que a nossa cidade tem, e que une toda a população tomarense nos preparativos da festa. É uma festa de grande valor no nosso país e tem a grande particularidade de ser só nossa, o que para mim a torna muito especial. Além disso é, sem dúvida, um motivo de orgulho para a nossa cidade e para todos os nossos habitantes. Quais as implicações da Festa dos Tabuleiros no seu trabalho? Ao nível do meu trabalho posso considerar que o torna um pouco mais cansativo, em grande parte devido aos acessos à cidade estarem muito congestionados no Café Portugal ~ Praça Raimundo Soares RUA MONTIERO DE LIMA, 12 200-428 ABRANTES Telef. 241 363 248 Fax 241 372 462 fim-de-semana do cortejo, para além de muitas das ruas em que passo todos os dias se encontrarem fechadas. Mas não me importo, porque a festa é realmente muito bonita e sem dúvida nenhuma que vale o esforço redobrado a que tenho que recorrer. Nesses dias vende mais ou são poucas as diferenças? Em todas as edições o ritmo de trabalho e as vendas aumentam significativamente, pois a cidade é invadida por milhares de visitantes, vindos de vários pontos do país. O que aumenta em muito as vendas, principalmente nos cafés, e a edição deste ano não vai ser excepção. Mas ao compararmos o ritmo de vendas actual com o das edições anteriores, as coisas já estão mais perto do ritmo normal, porque cada vez está mais difícil trabalhar com as leis que nos são impostas. 18 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007 ESTA Alunos da ESTA ganham prémio internacional Dayana Delgado Depois de tanto esforço e dedicação, enfim a vitória! Davide Carvalho e Bruno Silva, alunos do 2º ano de Engenharia Mecânica da ESTA, ganharam o 1º prémio do concurso internacional de Solid Works, realizado nos Estados Unidos da América, que se traduz em 500 dólares. Trata-se do reconhecimento de um projecto de design, que venceu na categoria “modelos”. Bruno Silva explica que este projecto “é uma maisvalia” para o seu currículo, abrindo-lhe portas para o mercado de trabalho. O seu colega de equipa, Davide Carvalho, realça que o programa que utilizaram para concretizar o projecto “é uma ferramenta muito boa” que vai ser útil quando acabar o curso, “pois é muito utilizado por empresas na realização de vários projectos de desenho”. O concurso contou com vários participantes internacionais, desde escolas secundárias, escolas profissionais, universidades, politécnicos e várias empresas ligadas a diferentes áreas de design 3D. “Creio que fomos a única equipa portuguesa a participar este ano” - afirma Luís Ferreira, docente da ESTA e responsável pelo acompanhamento dos alunos que desenvolveram o projecto vencedor. O professor conta que, no início do concurso, “não havia distinção entre escolas e empresas, mesmo sabendo que se trata de dois tipos de organização completamente diferentes”. Por isso, fez uma reclamação e admite a possibilidade de não ter sido o único a fazê-lo. “Não se pode comparar o nível de conhecimento e disponibilidade das indústrias com a dos alunos”. Perante a reclamação de Luís Ferreira, “a organização do concurso decidiu dividir os participantes em dois grupos: empresas e educação (escolas)”. E foi então que surgiu a boa notícia: “Arrecadámos o 1º prémio correspondente à categoria principal desse grupo (modelos), sendo as restantes imagem fotográfica e animação.” A participação de Davide e Bruno não foi isenta de dificuldades. A falta de equipamentos, nomeadamente computadores com mais capacidades, tornaram o projecto um pouco difícil. Os pequenos pormenores do projecto, tais como peças de pequena dimensão, foram também um desafio a superar. “Chegámos ao cúmulo de termos perdido uma parte do trabalho pelo simples facto de o computador se ter desligado, mas nunca pensámos em desistir. Também houve noites em que ficamos acordados até tarde para podermos acabar o projecto na sua fase final, devido ao material disponível não ser o mais adequado” – conta Bruno. Luís Ferreira, satisfeito com o resultado dos dois Iniciativas com novas preocupações estudantes, já pensa no futuro: “Espero que haja mais alunos com iniciativa para participar. Estarei sempre disponível para ajudar aqueles que queiram pôr a sua ideia em prática, mas as pessoas têm que vir com garra e determinação. Nós participamos para ganhar, participar por participar não vale a pena. Já houve outros alunos que tentaram fazer este trabalho e acabaram por desistir. Este trabalho tem que ser feito pelo aluno e não pelo professor, mas temos que orientá-los quando eles precisam”. Davide e Bruno contam agora com o elemento de prestígio no seu currículo. Vencer um concurso desde não é para qualquer um e, graças a eles, a ESTA ganhou mais um prémio. Luís Ferreira não tem dúvidas: “O nosso projecto foi o melhor, mereceu ganhar e, na minha opinião, foi claramente superior aos outros”. ana torres Equipa. O trabalho desenvolvido ao longo de meses deu resultados e funciona como estímulo As energias do futuro foram o assunto de maior destaque na VII Semana de Engenharia, que se realizou na ESTA, em Abril. O assunto está na ordem do dia, uma vez que os veículos eléctricos e híbridos têm sido alvos de grande interesse, apresentando-se como uma nova solução para os transportes terrestres. As grandes empresas começam, assim, a criar carros de acordo com as preocupações mundiais, apostando nos automóveis híbridos. Por exemplo, o Toyota Prius, o Citroen C4, o Mercedes-Benz Sprinter, o Toyota FCHV, o Ford FCV e o Honda FCV. O aparecimento de novos combustíveis e de novas energias, amigas do ambiente, é também uma das grandes preocupações de hoje em dia, visto que os transportes são os que mais contribuem para a poluição: o CO2 duplicou em 2003, face a 1999, e tende a aumentar cada vez mais. Simultaneamente começa a aumentar a importância dos combustíveis alternativos. Exemplo disso é o bietanol de primeira geração, utilizado como aditivo da gasolina, e obtido através de cereais, óleos vegetais, gorduras de animais, óleos usados em frituras e outros materiais. O processo HBIO, que transforma o óleo de origem não mineral em óleo diesel, começa também a ter um maior uso, No futuro os combustíveis poderão ser de segunda geração, ou seja, combustíveis sintéticos, no caso do bietanol. Deixa de ser utilizada apenas 10% da cultura cerealífera para se passar a utilizar a totalidade da planta. “A Galp vai apostar na produção de biocombustiveis de segunda geração. Ao avançar para esta nova tecnologia, a empresa dá um contributo decisivo para a concretização dos objectivos de incorporação de 10% dos combustíveis em 2010.” – afirma Ana Cristina Oliveira, investigadora auxiliar do INETI, presente na ESTA para debater este tema. F.V. Design em debate na ESTA pela primeira vez Nada detém os finalistas da ESTA O primeiro encontro de Design e Desenvolvimento de Produtos teve lugar no mês de Maio, na ESTA. A divulgação deste evento na região de Santarém foi grande e a adesão de alunos de todos os cursos da instituição, e de outras escolas do país, foi bastante positiva. Segundo Mário Barros, docente da ESTA, responsável pela iniciativa, este encontro reuniu diferentes profissionais de Design, desde “free-lancers” a designers de grandes empresas – com um tipo de formação mais técnica e especializada – permitindo aos estudantes um maior contacto com as novas realidades do Design. Rute Gomes, artista plástica e designer de produto, mostrou novos tipos de objectos, a pensar especialmente no utilizador, juntamente com o designer Rui Enquanto a chuva molhava os rostos gelados e cansados dos estudantes, cobertos pelas capas preta, o vento agitava as fitas carimbadas de saudade. Cinzento, mas com um olhar feliz, foi assim o dia 27 de Maio em Abrantes. Cerca de 40 estudantes da ESTA davam agora um passo em frente na profissão, e na vida, assinalando o final do curso. Jornalismo, Comunicação Empresarial, Engenharia Mecânica e Engenharia e Gestão Industrial são áreas que agora podem contar com jovens ambiciosos e com sede de experiência. Nesse dia Abrantes recebeu pais, familiares e amigos dos estudantes que, orgulhosos, escondiam lágrimas de emoção. Depois de encherem os restaurantes da cidade, num almoço familiar, os finalistas chegaram à igreja de S. Vicente. Entre cânticos e orações, foram poucos os que conseguiram reprimir os sentimentos e o prazer de ver concluída mais uma etapa. Mesmo ainda a recuperar do baile de finalistas da noite anterior, os novos licenciados fizeram promessas, agradecimentos e algumas constatações. “Sabemos que daqui para a frente as dificuldades serão ainda maiores e os obstáculos mais persistentes. Mas também sabemos que a nossa insistência e vontade de vencer terá que ser indestrutível... Em Abrantes, Palma. Para além de explicarem a maneira como se trabalha nesta área, estes profissionais abordaram uma questão decisiva: o medo do plágio de trabalhos ou projectos em concursos. A conferência sobre Desenho e Propriedade Industrial contou com a presença de Isabel Borges, do Centro Português de Design e do Gabinete de Apoio de Design Industrial, que falou sobre como registar um desenho ou diferenciar a propriedade intelectual da propriedade industrial. Este foi um dos temas que suscitou debate, com maior participação dos alunos, que se mostraram especialmente interessados em saber como proteger os seus trabalhos em concurso ou na apresentação de um portofólio. Na conferência apresentada por Tiago Araújo, sobre a temática do lado industrial do Design, foi abordada a relação entre designer e engenheiro. Neste processo, as ideias de um concretizam-se com as técnicas de outro. Neste painel foi ainda tema de debate o projecto que os alunos da ESTA estão a desenvolver para o desenho de uma salamandra. Na conferência sobre Desenho Cerâmico, André Figueiredo abordou o contexto geral do sector de revestimento de pavimentos em Portugal. Este especialista explicou como é o caminho entre a inovação e a tendência e abordou mais uma questão sensível: como as empresas pequenas podem copiar outras empresas, de maior dimensão e com mais meios. entre muitas coisas, aprendemos que o poder da amizade reside na verdade, que o alimento do sucesso é o trabalho e que o caminho para a glória é feita de simplicidade e humildade. Queremos ser profissionais competentes, e em constante aprendizagem, por isso seremos eternos estudantes em busca, não da perfeição mas da nossa satisfação…” – ouvia-se no discurso da acção de graças. Depois de um grito académico que ecoava a despedida, apesar da chuva, nada deteve os participantes, que prosseguiram para os claustros do convento de S. Domingos. Lá, os estudantes receberam o seu diploma e fizeram os seus agradecimentos, perante o olhar atento de todos aqueles que lhes são queridos. Entre discursos cómicos, e discursos de retrospectiva e saudade, escapam lágrimas e sorrisos. “É um dia muito emotivo. É o culminar não só de um sonho e expectativas que se concretizaram como também todo um conjunto de vivências. Ter aqueles que amamos num dia tão importante como este é algo extraordinário e que nos dá força de vontade para daqui a uns meses desempenharmos num novo mundo, que é o do trabalho” – menciona Miguel Geraldes, um dos finalistas. F.V. 29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 19 ESTA Tunas animam Abrantes Ao longe, pela cidade entoa o bater do bombo, o estalar da pandeireta… As tunas entram na cidade… Começou o VIII fESTA. Tunos e tunantes vão entoando canções, espalhando alegria por todas as ruas. Fátima Vieira Fátima Vieira Vão-se encontrando amigos que, apesar de envergarem trajes diferentes, sentem-se como se à mesma tuna pertencessem. Vive-se assim o espírito académico em pleno. “É uma grande animação porque todas as tunas se conhecem. É como se fossemos todos um grupo de amigos”, refere Pedro Nicolau, elemento da Estatuna. A praça Raimundo Soares começa a ficar repleta de capas negras. Consigo trazem símbolos e instrumentos, como se de um legado se tratasse. Começou assim o VIII fESTA, Festival da Escola Superior de Tecnologias de Abrantes, organizado pela ESTATUNA. Deste fESTA fazem parte a Tuna Médica de Lisboa, a INSTITUNA de Leiria, a Tum´Acanénica também de Leiria e a TAISCTE de Lisboa. O fESTA decorreu durante os dias 27, 28, 29 de Abril. Teve início na sexta-feira à noite com as serenatas, na praça Raimundo Soares, onde todas as tunas entoaram baladas, como quem tentava conquistar a amada… O dia de sábado começou tarde, tal como tinha acabado tarde o dia de sexta, ou será que era o mesmo dia? Ninguém soube dizer muito bem. Depois de todos Actuação. Tuna Médica de Lisboa anima o cine-teatro S. Pedro, em Abrantes terem já almoçado e recobrado energias para mais um longo dia, começou o “passa calles”, que teve lugar nas principais praças da cidade florida de Abrantes. Aí as tunas iam cantando e encantando os abrantinos que paravam para ver e apreciar todas as melodias e brincadeiras com as quais os tunos nos iam presenteando. Após todas as tunas terem feito o “passa calles”, cada qual à sua maneira, a praça Raimundo Soares, como ponto de chegada, ia ficando novamente engrandecida pelo espírito e convívio dos estudantes, tunos ou não. Todos quiseram fazer parte desta festa na qual se envolveu toda a cidade, jovens ou velhos, não importa. Aqui o mais importante é mesmo a alegria que se pode dar e receber. Copos de imperial na mão, capas que iam sendo estendidas pelo chão amortecendo o corpo que já se tinha levantado fatigado. Os instrumentos, esses, não tinham hora de descanso, os acordes continuavam a ser feitos, as músicas continuavam a ser cantadas, mesmo quando as gargantas já davam de si deixando a voz do cansaço falar mais alto. Com a noite, chegou também a parte mais séria do festival, a actuação. Após a ESTATUNA ter exibido o vídeo de abertura, era hora de dar protagonismo a todas as tunas presentes. Cada tuna subiu ao palco, cantando e encantando toda a plateia do cine-teatro S. Pedro. Primeiro a Tuna Médica de Lisboa, a Tum´Acanénica, e Instituna e por fim a TAISCTE. Mas o momento mais esperado era a actuação da ESTATUNA, a tuna da casa, e a entrega dos prémios, reconhecimento do trabalho feito por todas as tunas presentes. Depois da actuação da ESTATUNA, o nervosismo e a ansiedade começavam a instalar-se na plateia. Após serem feitos todos os agradecimentos e entregues os prémios de participação, foram distribuídos os prémios a concurso. O prémio de melhor “passa calles” foi para a Instituna, o prémio de Melhor Pandeireta de Segunda Melhor Tuna e de Melhor serenata foi entregue à Tuna Médica de Lisboa, a Tum´Acanénica conseguiu o prémio de Tuna Tais Tuna, à TAISCTE coube o prémio de Melhor Tuna e Melhor Porta Estandarte. No domingo, a seguir ao almoço chega a hora do adeus, e de fazer o balanço de todo o fim-de-semana. “ O festival não podia ter corrido melhor. Muito bem organizado, muita animação, muita imperial, boas comidas, muitas ruas estreitas com uns “cai bem” pelo meio. Mas o que levo de melhor é o espírito acolhedor da Estatuna”, menciona Inês Fernandes tunante da Tuna Económicas de Lisboa, que veio para Abrantes não para participar no concurso, mas para participar de todo o convívio que é o festival. Softball em Abrantes “As lobas” é a mais recente aposta desportiva em Abrantes. Foi o nome escolhido por unanimidade e em consonância com o nome da equipa de basebol, os Lobos. Criar a equipa de softball fazia parte do projecto de desenvolvimento do basebol em Abrantes. “Hoje em dia não entro em nenhum projecto que não tenha escalões de formação”, menciona António Nadais, o treinador. A maioria das jogadoras é aluna da ESTA e vêm para os treinos com bastante entusiasmo e sempre bem dispostas. Estão a treinar há cerca de três meses e ainda este ano, se houver possibilidade, vão participar num torneio com as outras três equipas que existem em Portugal. Paula Pires estuda Engenharia Mecânica na ESTA e teve conhecimento da formação da equipa de softball através de uma amiga. Jogar softball foi aprender do zero.“Não sabia como funcionava, nem as regras, só sabia que tinha um taco”, refere Paula. O incentivo de Sandra Sousa veio nas férias desportivas de Verão. “Disseram que estava cá um treinador que iria montar uma academia”. A união entre os elementos da equipa é muito importante “Somos todas unidas e amigas”, acrescenta Sandra. V.C. 20 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007 Desporto “Mesmo a brincar era sempre a competir” Fernando Alpalhão, de 42 anos de idade, destaca-se na pesca de rio. Já conquistou as faixas de todos os escalões nacionais de pesca, tendo a última sido alcançada em 2006, sagrando-se campeão nacional da 1ª divisão. Em Setembro, vai participar no Campeonato do Mundo Individual, na Hungria. Representa Portugal, mas também Abrantes. Para ele, esta cidade “é capaz de ter como desporto mais representativo a pesca”. nelson ferreira João Oliveira Como e quando surgiu o gosto pela pesca? Eu nasci no Tramagal, a cerca de 500 metros do Rio Tejo, e o meu pai era pescador. Por incrível que pareça, foi campeão nacional no ano em que eu nasci, em 1965. O meu pai levava esta actividade um pouco a sério. Com este vício dentro de casa, e morando tão perto do rio, fica-se com uma “pica” destas logo desde pequenino: foi só pesca, pesca, pesca. Passava o dia no Tejo, conhecia os pesqueiros, conhecia os peixes todos, se havia carpas se havia barbos. Era uma vocação. Sempre que podia fugia para o Tejo. As técnicas adquirem-se através da experiência? Existe uma capacidade inata para se ser mais eficaz, melhor. Ser capaz de perceber que hoje apanhei menos por isto ou apanhei mais por aquilo. Perceber se os anzóis devem ser mais pequenos ou se devem ser maiores. Compreender que ali se pesca mais grosso, portanto teria mais hipótese, fazia mais quilos. Ou fazia menos peixe, mas fazia mais quilos. Sempre praticou pesca desportiva de competição? Desde pequeno que essa necessidade da competição está comigo. A vida, toda ela, é uma competição e isso nasceu comigo. Eu pratiquei sempre a competir. Mesmo a brincar era sempre a competir. Mesmo com os colegas era sempre a “doer”. Se formos três amigos à pesca existe logo o desafio de quem apanha mais. Qual é o seu percurso como pescador? Estive nos juniores e nos seniores no Tramagal e evolui bastante. Quando evolui muito, e estava já em muito boa forma, não tinha a disponibilidade financeira para ter os melhores materiais. Em 1993 surgiu uma oportunidade de representar uma equipa nacional, uma equipa de fábrica, que se chamava Team Vega. Nessa equipa disputámos os campeonatos regionais de clubes, 1ª e 2ª divisão regional de clubes, fizemos um apuramento para o nacional e fomos campeões nacionais. Estamos a falar do período entre 1993 até 1996. Fomos também representar Portugal no Campeonato do Mundo de Clubes a França, onde alcançámos o 11º lugar. No Tramagal era impossível haver condições financeiras para um patamar destes. Posteriormente o Team Vega acabou, porque o projecto era ser-se campeão nacional e conseguir começar a fabricar canas com a bandeira nacional. Entretanto, regressei ao Tramagal e montei vida em Abrantes, nomeadamente a loja de pesca que ainda hoje tenho. Depois foi necessário enquadrar melhor as coisas. Abrantes é uma cidade, não é Tramagal, é mais abrangente, tem um clube de pesca, o Amadores de Pesca de Abrantes (APA), do qual sou presidente, que é um clube fortemente representativo da pesca portuguesa. É um clube de grande referência nacional, não é um clube super competitivo ao nível da competição, mas é um clube de alta referência em relação à formação da pesca em Portugal. Fui ficando pelo APA, o currículo a nível individual foi crescendo, fui campeão nacional da 2ª divisão B (que é hoje a terceira) em 2003, da 2ª Divisão em 2005, e em 2006 fui campeão nacional de absolutos da 1ª Divisão. Foi a cereja no topo do bolo. A nossa Fernando Alpalhão. “Eu sou mais conhecido como atleta do que como comerciante” Associação tem 800 pescadores, representa três distritos (Santarém, Castelo Branco e Évora), e não tinha o campeão nacional desde 1984. Já há muitos anos que andávamos atrás deste objectivo. A pesca é uma actividade dispendiosa? Acho que é uma actividade extremamente dispendiosa. Normalmente, associar as despesas a um atleta requer sempre vários enquadramentos. Um pescador que tenha material nobre e riquíssimo não implica que ele seja bom pescador. O que acontece normalmente é uma combinação de dois factores: a parte daquilo que o atleta realmente é capaz, evoluindo tecnicamente e, ao mesmo tempo, a capacidade que tem de ir acompanhando com o material, de acordo com o patamar em que está. Agora, se estamos a falar de dinheiro, é de facto muito dispendiosa. Existem prémios monetários quando se ganham provas? Em Portugal já se vai utilizando essa moda, não muito, mas no mundo inteiro é assim. Em Inglaterra é sempre em dinheiro, em Itália é sempre em dinheiro. Em Espanha, numa prova internacional na qual participei, o primeiro prémio no domingo era de 15 mil euros. No sábado ao todo estavam 60 mil euros em prova. As provas internacionais compensam. Em Portugal não se praticam prémios monetários? Pratica-se, em pequena escala. 100 euros, eventualmente uma prova de 250 euros já é muito. Existem outros prémios significativos, o mais vulgar é uma televisão ou uma libra de ouro. Nos campeonatos “Hoje não se deixa um miúdo de 14 anos ir sozinho para o rio” isso não existe. Só existe a perseguição da classificação de Ranking e a faixa de campeão. Não há mais prémios. Tendo um negócio de pesca, desde que é campeão nacional sente que as pessoas o procuram e vão à sua loja por ser campeão nacional e pedem-lhe conselhos? Campeonatos para todos As provas internacionais que existem todos os anos são três: Campeonato das Comunidades Europeias (CE), Campeonato da Europa e Campeonato do Mundo. Neste último caso, há duas modalidades. Fernando Alpalhão explica que o clube que for campeão nacional representa Portugal, no Campeonato Mundial de Clubes. Outra prova é o Campeonato do Mundo Individual, onde os melhores a nível individual (os seis primeiros classificados do Campeonato Nacional) vão representar Portugal como Nação. Fernando Alpalhão pertence a um núcleo de 12 atletas, que são os melhores de Portugal. Desse núcleo têm sempre que sair seis pessoas para disputar as provas. “A escolha faz-se através da Fede- ração, juntamente com o seleccionador nacional e o capitão de equipa e todos têm que participar. Normalmente diz-se que o Campeonato do Mundo é para uns e o Campeonato da Europa é para os outros”. Por vezes há atletas que disputam mais do que uma destas provas, como é o caso de Fernando Alpalhão. Devido ao facto de se ter sagrado campeão nacional, irá obrigatoriamente disputar o Campeonato do Mundo a nível individual em Setembro. Fernando Alpalhão disputou nos dias 19 e 20 de Maio, em Veneza, Itália, o Campeonato das Comunidades Europeias. Obteve no primeiro dia, o segundo lugar, e no dia seguinte o quarto lugar. No conjunto dos dois dias, Portugal alcançou o quinto lugar. J.O. Eu sou mais conhecido como atleta do que como comerciante. Os comerciantes funcionam muito a nível local. No sentido global, a nível da pesca, não faz sentido, porque é um mercado muito diminuto. Mas é lógico que dentro do meu núcleo de amigos, que é vasto, a nível nacional e dois ou três além fronteiras, é lógico que por vezes surgem coisas que acontecem a nível do comércio através da minha loja, que se não fosse campeão nacional, não existiam. Mas não é por aí que se vende mais ou se comercializa mais. Há pessoas que dizem que pescam porque esta actividade lhes transmite calma… A esse nível sem dúvida nenhuma que é um desporto social, leva-se a família, dá para fazer um dia de campo, dentro do núcleo de amigos. Digamos que é um desporto muito conciliador com a vida quotidiana e com a natureza, e que permite uma calma, uma abrangência diferente em relação à vida. Como apresentava ou descreveria esta modalidade a uma pessoa que nunca tenha pescado? Hoje já se apresenta a modalidade de um modo diferente da de antigamente. No meu tempo chamava-se de verdadeiras “mortandades”. Íamos à pesca e aprendia-se, mas aprendia-se a matar, pois os peixes morriam sempre. Hoje já não. É apresentado como uma modalidade desportiva. As pessoas percebem a orgânica da actividade. Tem o espírito de ir pescar. Outras têm o espírito de pescar e competir ao mesmo tempo. Percebem as espécies, os habitats, tentam proteger, tentam sempre enquadrar aquilo que é o não estragar, o estar bem com a natureza, o não sujar, ou seja, o não poluir. Uma pessoa que não nasça com este gosto pela pesca, torna-se difícil recomendar-lhe esta actividade? Hoje terá de ser através de pessoas que tenham como actividade profissional a pesca, ou através de associações desportivas cujo objecto seja a pesca. A forma de se poder aconselhar, tentar praticar, se não for através de uma forma organizada logo de raiz, dificilmente consegue ter o sucesso que se tinha antigamente. Eu antigamente ia para o rio Tejo com seis, sete anos sozinho. Hoje não se deixa ir um miúdo de 14 anos sozinho para o rio. A vida mudou, as coisas estão alteradas, as seguranças, a forma de ver, o acompanhamento dos pais. Todas estas situações hoje não podem surgir naturalmente como surgia antigamente. Hoje tudo se processa de uma forma mais acompanhada, mais cuidada, mais regrada, organizada. As pessoas têm que estar acompanhadas, senão não vão. Que objectivos gostava ainda de cumprir? Ainda há muitos objectivos. O enquadramento que eu tenho em relação à cidade e ao concelho, agora com o açude que temos, a minha actividade, a projecção que tenho, permite-me mobilizar as federações, as associações, as pessoas e as marcas. Estou numa posição que julgo que tenho obrigação e anseio para que o nosso concelho forme jovens, consiga através da nova pista que vai surgir em Abrantes cativar novos valores, mas impulsionar também aquilo que é a apreensão dos outros em relação a este desporto. Porque Abrantes é capaz de ter como desporto mais representativo a pesca, nomeadamente a pesca desportiva. 29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 21 Desporto 1º Master Fitness de Tomar foi um sucesso Decorreu no passado dia 14 de Abril o 1º Master Fitness de Tomar, no Pavilhão Desportivo da Cidade. O principal objectivo foi promover a actividade física junto da população. e se as mesmas foram ou não superadas. “O encontro foi um sucesso. Estávamos à espera de 20 a 30 pessoas por aulas, e tivemos cerca de 100 participantes por aula, o que foi muito bom e, assim sendo, as expectativas foram largamente superadas”, revelou. Entre os participantes era unânime a satisfação e registava-se um ambiente muito agradável, com conversas animadas durante os intervalos das aulas. Nelson ferreira Nelson Ferreira O encontro decorreu entre as 11h00 horas da manhã e as 19h00 horas da tarde, sem interrupção para almoço, uma vez que os participantes é que decidiam quais as aulas em que desejavam participar. As opções iam do Hip-Hop, ao Combat, Ragga, Aeróbica, Latina e Cycling, entre outras surpresas. Foi um sucesso a todos os níveis, tendo registado um grande número de participantes. Eram de várias idades, e de diferentes zonas do país, mas, como era de esperar, os habitantes de Tomar compareceram em peso. À conversa com Luís Ricardo, aluno do curso de Desporto – Variante Condição Física, da Escola Superior de Desporto de Rio Maior (Instituto Politécnico de Santarém) e o organizador deste evento, o ESTAJornal ficou a saber quais eram as expectativas iniciais Um grupo na base do sucesso O ESTAJornal conversou com João Graça, 25 anos, actual mestre do Sporting Clube de Tomar em Full - Contact. “O Full – Contact é mais um desporto de combate do que uma arte marcial, e é para ser jogado num ringue, com o objectivo de haver um vencedor, funcionando como um desporto de competição”, resume João Graça, que está ligado a este desporto há mais de 13 anos. O seu percurso foi sempre como aluno, mas a partir de agora vai ser como aluno e mestre. Questionado acerca da classe que orienta neste momento, afirma ser uma classe constituída por elementos todos eles novos, que praticam o desporto há mais ou menos dois anos. Nem todos o frequentam com o objectivo de competir, mas sim de aprender. Considera o grupo fantástico, muito aplicado e com elementos que revelam aptidões para competir, e que começam já a obter alguns resultados. Em combate existem duas vertentes, Full – Contact, uma vertente mais dura, e Light – Contact, modalidade na qual o Sporting Clube de Tomar aposta para os atletas mais jovens. No Light – Contact não pode haver excesso de potência, os golpes desferidos têm que ser dentro do normal, dando dessa forma para todas as idades. João Graça salienta ainda o facto de, contrariamente ao que se diz, o Full – Contact não ser um desporto violento e revela que “em dois anos não tivemos nenhuma lesão grave, o que é fantástico”. Movimento. Todos os participantes vibraram imenso no decorrer das aulas Havia participantes muito jovens, mas também algumas pessoas de meiaidade. Dina Lima, 22 anos de idade, resumiu: “O encontro está muito bem organizado, e a as aulas estão a ser muito interessantes”. Uma das razões de sucesso reside nos apoios com que esta iniciativa contou. Apoios vindos da Câmara Municipal de Tomar, mais especificamente do núcleo de desporto, da revista Mens’s Health, e parcerias estabelecidas com alguns ginásios desportivos de Tomar (Trybal Gym e Stress Off), que tinham inclusive no recinto do Master Fitness uma exposição dos seus serviços e produtos. Outra das razões do sucesso está na preparação do evento que, segundo o organizador, levou de cerca de dois meses, em que se uniram esforços para que tudo corresse da melhor maneira. O encontro viria a terminar por volta das dezanove horas, mas o programa não acabaria aqui, tendo sido realizada uma festa especial no Rio Bar, uma discoteca da cidade de Tomar, em que marcaram presença alguns convidados especiais ligados à actividade do Fitness. Ainda à conversa com Luís Ricardo, fica no ar a ideia de continuidade do evento. “Pela forma como tudo decorreu, quer a nível organizativo, quer ao nível da adesão, penso que estão reunidas as condições para que no próximo ano aqui estejamos novamente”, revelou visivelmente satisfeito no fim do dia. Ana Patrícia, Campeã Nacional e Regional de Light – Contact – 55 kg Começou tarde, mas bem a tempo nelson ferreira Ana Patrícia, 21 anos, actual Campeã Nacional e Regional de Light – Contact - 55, define-se como uma pessoa dedicada, assídua, mas não muito confiante. Defende que nunca é tarde para começar, pois ela em menos de dois anos chegou à rota dos títulos de que é actualmente detentora, e lança o apelo a todos aqueles que pensam ser tarde demais para começar a praticar um desporto. Quando começou a praticar este desporto? Comecei a praticar em 2006. Como surgiu a hipótese de se dedicar a este desporto? Nunca tinha pensado na hipótese de vir a praticar este desporto, mas gostava do desporto em si, embora não lhe desse especial atenção. Entretanto ouvi falar e decidi vir experimentar com um colega meu. Vim, gostei e aqui continuo. Quanto tempo dedica a este desporto por semana? São cerca de três treinos por semana, tendo cerca de uma hora de duração cada um deles, dedicando um pouco mais de tempo nos fins-de-semana em que existem provas. Pensa continuar neste desporto por muito tempo? Se conseguir e se o futuro assim o proporcionar, irei continuar. Vamos ver por quanto tempo, mas está nos meus horizontes a ideia de continuar a praticar. Posso mesmo afirmar que, neste Treino. Um requisito indispensável para quem procura ter sucesso momento, não me imagino a deixar de praticar, pois para além das provas, adoro os treinos e os meus colegas. Existem sacrifícios a que tem que obedecer em prol da tua carreira? Sim existem. Posso referir aquele por que passei recentemente, em que tive que proceder a vários cuidados com a alimentação, de forma a perder alguns quilos para poder participar na categoria – 55. Custou um pouco, pois tive que deixar de comer pão, entre muitos outros cuidados que fui obrigada a ter. Como se sente quando está em prova? Sinto-me bem, para além de serem muitos os rapazes em prova existem também muitas raparigas a participar, o que me deixa um pouco mais tranquila. Quais são os seus objectivos para o futuro? Não tenho objectivos claramente definidos. O meu objectivo é sem dúvida evoluir e participar nas provas que puder, dando o meu melhor. Pensou alcançar este sucesso tão ra- pidamente? Sem dúvida que não. Nunca me tinha passado pela cabeça competir, nem continuar a praticar este desporto por muito tempo. Não imaginava conseguir ganhar o que já consegui ganhar até aqui. Decorreu tudo de uma forma muito rápida. Como tem sido o apoio da família? Tem sido espectacular. O meu pai no início não levava isto muito a sério, pensava que era apenas uma ocupação, mas agora que comecei a obter alguns resultados ele está muito orgulhoso. N.F. 22 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007 Leitura Para ser campeão é preciso ler muito A iniciativa do Agrupamento de Escolas Abrantes Oeste, inserida no Plano Nacional de Leitura, campanha lançada pelo governo de forma a incentivar este hábito, trouxe a Abrantes, mais concretamente à Escola António Torrado, situada na Encosta da Barata, o ex-futebolista Paulo Sousa, que actuou em clubes como o Benfica, Sporting, Juventus e Borussia de Dortmund. O desportista contou uma história e fez questão de sublinhar a importância da leitura. nelson ferreira João Oliveira Eram dez horas da manhã. As crianças estavam vestidas com as camisolas do seu clube favorito, ou com a camisola da selecção nacional de futebol, outras agitavam cachecóis e utilizavam outro tipo de adereços ligados ao desporto-rei. Não conseguiam conter a sua alegria enquanto aguardavam na parte exterior da escola. Paulo Sousa estava quase a chegar. Irrequietas, corriam de um lado para o outro, dificultando a tarefa dos professores, que se viam incapazes de controlar a euforia. Ao microfone um dos professores pedia a todas as crianças que se acalmassem e transmitia-lhes as últimas informações. Ultimavam-se os preparativos. Paulo Sousa acabara de entrar no parque de estacionamento da escola, dentro de um automóvel. As crianças não conseguem “segurar” o entusiasmo. À medida que Paulo Sousa se dirigia para estas ouve-se a música “Força”, de Nelly Furtado, que serviu de talismã à selecção nacional no último campeonato mundial de futebol, e as crianças começam a cantar o refrão. Paulo Sousa, sorridente, vai passando por todas as crianças, cumprimentando uma a uma. Cerca de três dezenas de pessoas, que se encontravam para lá das redes que cercam a escola, assistiam a todo este momento. Paulo Sousa acenava-lhes. Chegara o momento de recolher ao interior da escola, pois esta visita tinha um propósito: incentivar e despertar o interesse das crianças pela leitura. Era esse o motivo da vinda de Paulo Sousa. Já no interior da escola, todas as crianças aguardavam sentadas no chão que se iniciasse a sessão. O ruído que se fazia sentir era grande. A sessão inicia-se com uma pequena história. A história conta a vida de Paulo Sousa, desde a sua nascença até ao seu percurso profissional. Reteve-se o mais importante desta história: para se ser campeão não basta dar uns chutos numa bola. É preciso muito mais. Para se ser campeão é preciso ler. Após o término desta história inicial, as crianças gritavam fervorosamente “Portugal, Portugal, Portugal”, e de seguida foi colocada uma pergunta a Paulo Sousa. Como tinha sido o seu percurso com os livros? Este responde que inicialmente não foi muito famoso, principalmente devido à profissão que seguiu, o futebol, que não lhe permitia ter o tempo necessário para ler, realçando que, apesar disso, ao longo da sua carreira foi percebendo que a leitura era muito importante, essencialmente para conhecer e descobrir coisas novas. De seguida, Paulo Sousa iria contar a história da “Menina que detestava livros”. Atenciosamente, contou a história, sempre com a preocupação de que o que era lido fosse compreendido por todos. No final, chamou para perto de si algumas crianças para que estas contassem o que tinham percebido da história. Na memória ficou a história da menina que inicialmente detestava ler, mas que, no final, ganhou o gosto pela leitura. A mensagem fora transmitida. Ler é importante. Uma promessa ficou feita. Se todos lessem diariamente uma história, e escrevessem depois sobre qual mais gostaram, Paulo Sousa regressaria a Abrantes para ouvi-las. Depois das histórias, chegara o momento de Paulo Sousa distribuir a cada uma das crianças um contrato de leitura. Este contrato destina-se sobretudo a envolver os pais no processo de leitura dos seus filhos. Algumas das condições exigidas por este contrato era a de que os pais marcassem cinco minutos por dia para ler com os seus filhos, que deixassem os filhos escolher um livro, perguntassem se os seus filhos queriam ler uma história com eles, entre outras coisas. Paulo Sousa considera este contrato “uma ideia fabulosa, porque estes miúdos não vão esquecer. Com certeza que vão chegar a casa hoje com esses mesmos contratos e vão incentivar os próprios pais e envolvê-los na importância da leitura”, salientando ainda que este acaba por se tornar uma espécie de “compromisso”. Paulo Sousa está convicto de que as crianças “vão conseguir, de uma forma ou de outra, aumentar a vontade de leitura, e depois vão apanhar o gosto, e depois de ter o gosto pela leitura, vão devorar livros”. Paulo Sousa destaca ainda que “estas são idades certas para incentivar a leitura” e que “o futebol é um veículo importante para passar todas as mensagens, principalmente as importantes”. No final, ficou o repto. Para se ser campeão é preciso ler, ler muito. 29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 23 Cultura Carlos do Carmo em Abrantes “Voltar aos palcos foi maravilhoso, foi excelente!” Antes de subir ao palco do Cine-teatro S. Pedro, a única expectativa que Carlos do Carmo tinha era agradar aos abrantinos. Antes de actuar, não pediu nada de especial. Só fruta. O fadista português que gosta de cantar em Espanha defende, em entrevista ao ESTAJornal, que “é difícil fazer sucesso no estrangeiro se não se for legitimado aqui em Portugal”. Fátima Vieira Carlos do Carmo, um dos maiores fadistas portugueses, é dos artistas que certamente já viu muitos dos seus objectivos cumpridos. Já cantou nos cinco continentes e são inúmeros os prémios e honrarias recebidos até hoje. Exemplos dessas distinções são o título do Cidadão Honorário da cidade do Rio De Janeiro, o Globo de Ouro SIC de Mérito e da Excelência e o Prémio da Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores. Entre os seus sucessos musicais destacam-se os temas “Duas lágrimas de orvalho”, “Bairro Alto”, “Gaivota”, “Os Putos” e “Lisboa Menina e Moça”. No dia 27 de Abril deu mais um concerto, desta vez no Cine Teatro S. Pedro, em Abrantes. Ainda se sente nervoso antes de entrar em palco? Sim, sem dúvida, e cada vez mais. O facto de a sua mãe ser artista foi um grande impulso para a sua carreira? Foi um grande estímulo, sobretudo. Acha que os fadistas têm maior reconhecimento no estrangeiro do que em Portugal? Não creio. Creio que é na nossa terra que as coisas acontecem. Até diria que é difícil fazer sucesso no estrangeiro se não se for legitimado aqui em Portugal. Tem de ser legitimado no país onde nascemos e no país onde nos identificamos. Depois levamos isso para outros países; sendo legitimado na nossa terra tem mais peso. Tem alguma música especial, ou que goste mais de cantar? Não tenho uma, tenho várias, que ao longo da vida me dão prazer cantar. Há alguma actuação a nível internacional que o tenha marcado mais? É difícil distinguir uma em especial, porque felizmente tenho várias, diria mesmo que tenho muitas. Mas há países que me marcam, como a Espanha. Madrid é uma cidade onde sou muito bem recebido e a imprensa espanhola é de uma grande generosidade para comigo. Se não tivesse seguido a carreira de fadista, qual seria a sua profissão? Aquela que me preparei para ter: sou licenciado em Hotelaria, estive a estudar na Suíça vários anos. Hotelaria e línguas, essas seriam seguramente as áreas em que exerceria a minha profissão. Esteve parado algum tempo. Como foi o regressar aos palcos? Foi óptimo! Estive parado por circunstâncias de força maior, por motivos de saúde, de uma grande complexidade, o que implicou, para além da intervenção cirúrgica, uma enorme convalescença. Mas voltar aos palcos foi maravilhoso, foi excelente! ângela filipe Receptividade. “Há países que me marcam, como a Espanha. Madrid é uma cidade onde sou muito bem recebido e a imprensa espanhola é de uma grande generosidade para comigo” Há “saberes” que só alguns sabem Vânia Costa “Saberes” foi o nome escolhido para a primeira peça, do grupo de teatro amador de Porto de Mós, que teve a sua estreia no dia 3 de Junho de 2007, no âmbito de um projecto regional de teatro amador, intitulado “O animador”. O nome da peça está relacionada com um livro, que foi editado pela Santa Casa da Misericórdia de Porto de Mós, onde estão muitas das tradições desta região, incluindo as que passaram “de boca em boca” e de geração em geração. O projecto “O animador” surgiu de uma parceria estabelecida entre a As- sociação de Desenvolvimento da Alta Estremadura (ADAE), o Teatro de Grupo “O Nariz”e as Câmaras Municipais da Batalha, Leiria, Marinha Grande, Ourém e Porto de Mós, contando ainda com o apoio do Programa LEADER+/ADAE. Este projecto vem incentivar a criação de grupos de teatro na região. Para além das acções de animação, este projecto integrou um concurso de textos para teatro, em que o vencedor seria a base para a encenação da peça do grupo. Com ou sem experiência, os candidatos foram escolhidos, por ordem de inscrição. O fundamental era que, através da formação, que durou cerca de nove meses, o grupo de teatro amador fosse cimentado, de forma a dar continuação ao projecto. A formação foi dividida em três partes. A primeira baseou-se em jogos e pequenas representações, para que os candidatos a actores se adaptassem uns aos outros e ganhassem mais confiança. O segundo módulo consistiu na aprendizagem dos textos para as peças. O terceiro e último módulo constou na preparação da peça final. Antes do início da peça, os “actores” encontravam-se espalhados pelos espaços amplos, do Cine-Teatro de Porto de Mós. Entre as várias tradições re- presentadas, estava o artesanato, uma brincadeira entre miúdos aldeãos, a olaria e o jogo do pau. A peça centrou-se em histórias com uma moral intrínseca. O palco estava repleto de folhas, pilhas, árvores para fazer lembrar a natureza. Os actores apresentavam vestes de animais, como o galo, a rã, o coelho, o porco, o carneiro, o pato, mas também camuflados por um tronco ou por um cogumelo. A peça terminou com cantares populares da zona. Fica a esperança, que o projecto continue a dar frutos e que esta seja a primeira de muitas peças, feita pelo grupo de Teatro de Porto de Mós. 24 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007 Criatividade Valeu a pena um conto por Liliano pucarinho -S ão mesmo fortes aquelas trepadeiras! – exclamava Matilde a caminho de casa. Na sua frente casas velhas e altas, todas cobertas por um verde musgo viscoso. Algumas trepadeiras. Fora à feira das velharias e Matilde comprara tudo o que a sua carteira lhe permitira: uns cortinados beges, mesmo a condizer com uma carpete de pêlo que tinha lá por casa; dois quadros robustos, onde se podiam apreciar corpos nus envolvidos em danças de prazer. O vento levantava-lhe a aba do chapéu escarlate que fazia um circulo de dois palmos em torno da sua cabeça. Não usava espartilhos. Uma saia rodada vermelha talhava-lhe as formas e dava-lhe uma alegre imagem de juventude e malandrice. Sobre os seios, uma camisa rendada que embrulhava a sua pele sedosa, deixando qualquer um a olhar para cada buraquinho da sua vestimenta. Aos pontapés nas pedras com as suas alpercatas negras raspava-lhe, pouco a pouco, a tinta que ainda restava. Pelo Tejo caminham casais apaixonados de uma Lisboa antiga. De mãos dadas. Ao longe, o sol alinhava-se com o horizonte formando bolas avermelhadas nas águas sujas do rio. Matilde esgueirava-se por entre uma e outra gaivota que por ali pousava. Alegre. O caminho foi longo. Alfama não perdoara a seus pés as escadinhas íngremes de pedras brancas da calçada. Descalçou-se. As gaivotas sobrevoam o rio uma última vez antes de o dia acabar. Com os seus bicos tentavam salvar a última refeição, ao mesmo tempo que, lutavam com as suas asas para não se deixarem cair. Sorria para elas e lhes falava: - Natalia, anda cá!! - Ai Caetano deixa-a pescar, não vês que ela é mais pequena que tu?... – gritava preocupada. Por vezes as gaivotas acudiam á orla do Tejo como se a entendessem. Lisboa cumprimentava os lampiões acesos pelos pirilampos de Lisboa. Com o seu varão de luz davam de comer a cada candeia da cidade que, agora, acordava para a noite. O ruído aumentava a cada instante. Na Lisboa boémia, abriam as tascas, os bares nocturnos e os locais habituais de prostituição. Mundanos. As luzes vermelhas anunciavam entradas gratuitas para um prazer distinto. Nas ruas mais fechadas, um cheiro nauseabundo, misturava-se com o perfume barato das boémias mulheres de rua. Do alto alguém gritava: - água vai...! – e logo começou a pingar uma chuva miudinha e amarelada. O cheiro era intenso. Alguns fugiam a rir tropeçando nas pedras levantadas da calçada. Um coxo que por alli passava, fora atingido na cabeça retribuindo com cuspo para a porta da descuidada. Eram pescadores e marinheiros, doutores, juizes e advogados. Todos saíam para a rua pelas dez da noite, numa tertúlia masculina em direcção à Casa da Ponte. “Quem por amor se perdeu, não chore não tenha pena, uma das Santas do Céu, foi Maria Madalena” – ecoava o fado vadio de uma viela de Alfama. Seriam letras que marcaram o fado, no corpo e na alma, de uma jovem que agora apertava o xaile para junto do peito. A jovem Matilde vivia na Casa da Ponte. Dava o corpo a qualquer marinheiro que dos sete mares fosse andarilho. Os seus braços já se fecharam em muitos homens e mataram muitas saudades de casa. Sempre que um barco aportava, lá estava ela a caminhar para o cais com as suas sandálias negras. A sola de madeira fazia lembrar uma cavalaria que por ali passava. Bastava um sorriso e um aceno de mão para logo se ver uma farda a deslocar-se mais depressa. Depois, atrás de umas caixas de madeira, os braços cruzavam-se como se tivessem sido namorados em outra vida. Caminhavam juntos para o fundo do armazém e aí trocavam-se beijos intensos e acalmavam-se os calores de outra paixão. À noite sempre voltava para casa para receber os homens que, por sorteio, lhe eram dados para gozar, ou para gozarem dela. Sobre a perna direita, uma saia levantada fazendo prega logo debaixo da anca. Uma liga vermelha marcava o terrritório do prazer e chamava os olhos a adora-la. Estava pronta para mais uma noite. A Casa da Ponte era o bordel mais concorrido de Alfama. Casa típica e bairrista. Azulejos azuis com motivos florais cobriam a parte frontal do beco. Quatro janelas paralelas e duas portas nas restantes paredes. Para entrar no beco, um arco de pedra com não mais de metro e meio, obrigava qualquer um a vergar-se para entrar. Tal poder e tamanha vénia, não a conseguiram muitos reis ou importantes governadores. Cada janela ostentava lençóis brancos. Um deles, aquele ali do lado esquerdo tinha um furo do tamanho de uma moeda. Algum cliente o terá queimado com a ponta de um cigarro. A porta frontal dava acesso à velha Sé de Lisboa. Apenas um gradeamento separava o beco da igreja. Debaixo da janela esquerda, uma porta estreita, com um postigo e sem puxador. Todos sabiam que bastavam três pancadas com o bastão para que ela se abrisse. As paredes exteriores eram comidas de tinta. Ao canto direito um tanque de água acizentado servia de encosto a uma mulher do diabo. Esperava por um sacristão mundano, acompanhada de uma cigarrilhe comprida. Sei que o esperava porque em outras noites a tenho espreitado. As suas tranças pretas, que deixara crescer desde pequena, chamavam ao desejo. As duas apontavam para um sol que se escondia na estrada dos seios. Matilde descera a escadaria do interior da Casa da Ponte. Cheia de porpurinas e carregada de maquilhagem barata. Havia homem na costa. Desta vez era especial não se aprumava tanto para os outros como se apromou para este. Conhecera-o porque uma vez lhe pagou uma bugiganga na feira da ladra, pois esquecera-se da carteira. O rapaz prometera-lhe passar em sua casa um dia, para cobrar de alguma forma o empréstimo. A D. Dona, responsável pelo negócio, tinha-o anunciado. No fundo das escadas, o rapaz esperava-a impaciente. Nervoso e com um fraque sujo nos ombros de um sabão azul e branco que lhe provocara caspa, sacudia à pressa tamanha nódoa de imagem. A cara tinha-lha chupado a fome. Mas mesmo asssiim o sorriso nos lábios dava-lhe um ar nobre. Tinha apanhado o eléctrico. O 28 que desce do Castelo tinha ficado com as flores que roubou a uma varanda para ofertar a Matilde. Esquecidas em um banco. Nas mão trazia uma pequena boina preta que apertava e martirizava com as suas mãos. Da glória não descia o elevador, mas Matilde em direcção a ele. - como está?- com ar valtivo e nariz a apontar para um castiçal, Matilde assim se aproximou. - beee..beem... bem! E a Senhora? – respondia nervoso com uma gagez á altura da beleza de Matilde. - Ohh.. Senhora?!? Menina, que a Senhora está no céu... hahah – riu em alto tom logo de seguida. 29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 25 Criatividade Trocaram-se olhares de imediato, beberam-se copos de negro tinto de uma adega tradicional. Sentaram-se no centro da sala. Por ali caminhavam almas perdidas que aliciavam com o seu poder de mulher as almas mais piedosas. A sala era de um vermelho escarlate a condizer com as alcatifas. Matilde sentou-se ao colo de Armando, o nome com a qual o rapaz se apresentou. Fugia a todas as questões que Matilde lhe colocava, só lhe respondeu que morava perto do Miradouro de Santa Luzia. Ao som de uma fadista engeitada, atrevida mulher, meteu-lhe a mão em um dos bolsos. Acariciando-o fazia o seu convite para um momento mais a só, no seu quarto. O rapaz atrapalhado levantou-se de imediato mostrando a todos o corar da sua cara. No fundo da sala, um barrigudo juiz ria da embaraçosa situação. Matilde levou-o mais tarde para o seu quarto. Subiram a escadaria entre assobios e piropos. O quarto tinha apenas uma cama protegida com uma rede mosquiteira; uns cortinados beges e uma alcatifa peluda que cobria o chão. As paredes vazias faziam o quarto parecer o quarto ainda mais cheio. Debaixo da janelas, encostados à parede, estavam os quadros que comprara na feira. A porta bateu e logo se abraçaram carinhosamente. Já alguma roupa espalhada pelo chão. O forte amasso de paixão fazia tremer todo o quarto. Deitaram-se na cama e estenderam-se ao comprido. Não falaram. Quando virados um para o outro, sentiram o coração a bater mais depressa. Desta vez seria diferente. Matilde parecera não estar pronta para este homem. Sentiu um aperto no coração, uma ansiedade diferente. Reagindo ao mesmo instinto Armando percorre o seu corpo branco com as pontas dos seus dedos. Fechou-lhe os olhos com a mão e fazendo uma estrada para os lábios de Matilde, beijou-a. Não falaram. Estiveram horas tardias enrolados um no outro, com suores de um intenso prazer. Unidos num só alcançaram o gozo que nenhum deles sentiria antes. Cumplicidade, amor, felicidade, chamem-lhe nomes feios se quiserem. Matilde jurou nunca mais largar Armando e que amanhã mesmo fugiria desta vida de mulher de rua. Adormeceram abraçados. O galo acordava Alfama. Só cacarejou uns segundo porque um gato vadio atirou-se a ele de rajada. Serviram estes para acordar Matilde adormecida. Levemente num bater de pestanas acordou. Apenas o lençol cobria as suas formas. O branco transparente deixava para o desejo a decisão se esta imagem seria de prazer se de ternura. Vestiu-se depressa pois Armando já não estava naquele quarto. Umas alpercatas velhas, um vestido preto e um xaile para se cobrir da manhã de nevoeiro. No beco ainda gordos homens se riam por terem enfrentado o vinho que lhes tirou toda a firmeza. Matilde correu Alfama. Passou pelo Miradouro onde Armando lhe dizia que morava mas ninguém o conhecera. Por ela passava um rapaz de camisola verde, negra madeixa ao vento e uma boina de marujo ao lado. Perguntou-lhe por Armando descrevendo-o ao rapaz que, a correr, lhe respondeu que não o viu. Correu. As escadinhas, becos e ruelas, ruas e travessas não avistaram tal pessoa. [pausa] Passou demasiado tempo. O sol já marcava o meio dia e Matilde chorava junto a um vaso de malvas que lhe escondiam a cara. Mesmo sem nada no estômago levantou-se corajosa e carre- gando as alpercatas nas mãos. Suspirou. Teria sido o amor da sua vida, mas quis o destino que fosse levado como que pelo vento. É eterno o amor e a saudade. Rezou por ele e pela sua volta, de joelhos frente a um nicho que acolhia o Santo António. O final da tarde trazia a procissão da Senhora da saúde. Decidiu acompanhá-la. Cada passo que dava uma lágrima salgada. Havia crianças a rir entre si. Algumas delas já com as suas asinhas de anjo a cair. Matilde rezou também por elas para que tenham sempre a mesma alegria. Atrás vinha o sacristão mundano que segurava a cruz sagrada. Um toque fúnebre dava ambiente ao cenário. Se fosse de noite várias velas se acenderiam. Para matilde, o desejo era de voltar a ver e viver o homem que a fez sentir como se não fosse uma qualquer. Se ele a amava ainda não vos poderei dizer. Voltou para casa da ponte cansada e cheia de fome. Subiu as escadas ao toque de gargalhadas de outras mulheres que limpavam o salão escarlate. Ao entrar no quarto, uma saudade que enchia as paredes brancas. Pensou que nunca conheceria o amor verdadeiro. Conheceu-o quando menos esperava mas, se não o pudesse viver outra vez, morreria. De saudade? No porto chegavam marinheiros. Matilde não estava lá desta vez. Acostada na sua almofada de penas desejou acabar com a sua vida, tamanha angustia da perda. Levantou-se da cama e dirigiu-se ao seu tocador. Penteou o seu cabelo. Cada fio com o mesmo cuidado. Sorrindo e chorando. Atirou a escova para cima da cama. Amarrou o xaile negro ao seu peito. Junto à janela sentou-se no parapeito com os pés voltados para dentro do quarto. Olhou tudo ao pormenor, cada quadro, cada milímetro de chão. Recordou a curta vida e a quem nunca disse o quanto gostava. Pensou em tudo o que ficou por fazer e dizer. Mas não valera a pena. Abriu os braços e, com o xaile colocado sobre as costas e as pontas nas mãos, parecendo um anjo de negras asas, sorriu levemente e, acompanhando o escorrer de uma lágrima, deixou-se cair para fora da janela. Lá em baixo gritavam varinas aflitas, beatas e senhoras de respeito ao ver tamanha tragédia. Muitas delas abandonaram logo o beco da tragédia comentando que : - é mais uma daquelas, também não fazia cá falta.... O chão manchava-se de salpicos de sangue vermelho de uma intensa cor rubra. Os lençóis que se diziam brancos ficaram manchados de vermelho criando um leve padrão. Da porta gradeada saiu o sacristão mundano que, surpreendido, mas consciente da sua posição religiosa, lhe concedeu a ultima benção. Só quem senti o mesmo que Matilde encontrará razão para este acto. Todos os outros nem se aproximarão da resposta. E Lisboa vive. De um misto de saudades marinheiras e de mares-amores não naufragados, todos estamos fadados. Um fado que será repetido para todo o sempre. Diz-se que há quem se perca por amor… Talvez um dia Matilde seja recordada na voz de uma cantadeira ou disposta em um painel de azulejos. Em azul e branco, como o céu. A tradição o dita. Um chapéu percorre as margens do Tejo, bailando com as fúrias do vento. As gaivotas vêem beijar a água mais uma vez. Devem ter fome. No 28 murcham rosas vermelhas num banco que chora lágrimas de espuma. |suspiro|... acho que ele a amava. O 25 de Abril visto por “nós” Telma Lento Comemorações do 25 de Abril? Que significado? Contributos para a sociedade? Que participação? Os alunos do 3º ano de Comunicação Social da ESTA decidiram organizar um debate interno sobre estes assuntos, conjungando-os com questões como a dos direitos e deveres. Todos os alunos fizeram questão de dar a sua opinião sobre um tema tão histórico e ao mesmo tempo tão pouco explícito. Existiu um consenso por parte dos alunos ao afirmarem que o 25 de Abril é uma data mal explicada. Segundo Tiago Lopes, “parece que sabemos tudo, mas não sabemos nada; sabemos apenas que é um acto de heroísmo”. Posição tomada também por Ângela Filipe, que afirma: “A nossa geração e as anteriores não sabem nada sobre o 25 de Abril, ninguém explicou de uma forma apelativa esta questão e se excluirmos as pessoas que estavam em Lisboa, na altura, ninguém sabe nada sobre esta data”. Outro ponto em que os alunos estavam de pleno acordo é a maneira pouco eficaz como o 25 de Abril é leccionado nas escolas. Existe pouca informação dada aos alunos acerca desta data tão importante na história do nosso país. “ As pessoas não conhecem a História”, tal como afirma Tiago Lopes. Um dos pontos do debate foi a comparação do ensino antes e pós 25 de Abril, e os alunos concluíram que se perdeu muito a ideia de respeito, principalmente pela figura do professor. Segundo Ângela Filipe, nas escolas existe uma falta de rigor e de um punho de ferro; a escola perdeu o sentido que tinha antes da revolução. Para Fátima Vieira, foi retirada a função de educador aos professores e, nos tempos que correm, os pais não prestam atenção à educação dos filhos. A falta de liberdade antes do 25 de Abril ou o excesso de liberdade pós 25 de Abril também foi um tema discutido. Para Nelson Ferreira, há liberdade a mais e uma falta de regras. Opinião partilhada também por Ângela Filipe: “ Uma das coisas que a revolução trouxe foi uma má noção de liberdade, nenhum de nós sabe o que é passar por privações, mas todos nós sabemos o que é o excesso de liberdade”. Tiago Lopes vai mais longe e afirma mesmo que não podia ter nascido antes do 25 de Abril. “Depois de nascer já estava a ser preso” - ironiza. “A liberdade de ser tudo aquilo que sou é graças ao 25 de Abril, temos a liberdade de escolher tudo aquilo que queremos ser, assim sendo, tenho que dar à Sociedade toda a criatividade que tenho”. A opinião de Ana Luísa Nascimento vai ao encontro da dos seus colegas, já que para a aluna mais liberdade significa mais responsabilidade. Numa sociedade que atravessa tantas dificuldades tanto a nível económico como social, será que para os alunos o antes 25 de Abril era uma época melhor? Para Fátima Vieira, nem tudo era mau na época de Salazar: “Ele percebeu que era necessário evoluir em termos económicos”. Para Vera Inácio, Salazar “pretendia melhorar o país, só que não o fez da melhor maneira, já que não pensou nas pessoas”. Aos olhos dos alunos, o nosso país anda muito atrás dos outros. Segundo Fátima Vieira, as pessoas neste momento estão muito desanimadas com tudo o que se passa.Antigamente “eram mais humildes e tinham orgulho no pouco que tinham”. Transmitir a noção de valor é algo que, para Tiago Lopes, é necessário: “Hoje em dia as pessoas esquecem-se da noção de “Uma das coisas que a revolução trouxe foi uma má noção de liberdade” - defendem os jovens trabalhar para ter algo, querem alguma coisa, têm de mostrar valor para o alcançarem. Temos de ter orgulho no que somos”. Rosa Patrício é da opinião que existe um pessimismo excessivo e que as pessoas não valorizam o que têm. E será que os alunos fazem com a sua liberdade algo que pode melhorar a sociedade? Para Rosa Patrício, o facto de frequentar um curso de Comunicação Social pode melhorar a sociedade, já que pode levar a informação a todos os outros. Já João Alves faz vigia às florestas e Fátima Vieira faz apoio social. Para Ana Margarida Batim, temos que ter uma consciência social, não somos só nós, não podemos ser egoístas. Este debate contou com a presença da aluna Dayana Delgado, cabo verdiana, que para espanto de todos os presentes, relatou que em Cabo Verde não se falava do 25 de Abril. Verdadeira informação só obteve já em Portugal, numa na televisão no noticiário no dia da comemoração do 25 de Abril. Antes de vir para Portugal só sabia que a data significava a Revolução dos Cravos. Este debate teve como objectivo partilhar opiniões acerca do 25 de Abril, e discutir o que seria possível melhorar para que esta data não seja esquecida. Em suma, os alunos defendem que é na escola que esta data deve ser relembrada e estudada, para que todos saibam o que levou à liberdade de que hoje todos nos orgulhamos. 26 | ESTA JORNAL • 29 de Junho de 2007 Criatividade Na prisão da alma Tiago Lopes O sol raia lentamente. É o primeiro dos indício do começo do dia É surpreendente reparar nas cores que o céu faz, nas sombras que os raios solares formam, no combate celestial que trava com a lua, agora que estou aqui dentro. Agora que sou como uma jóia, guardada num cofre. Todos sabem que estou aqui, mas ninguém me quer ver… Se tu, Ana, pudesses ler-me. Não deves sofrer por mim. Esquece as lá- grimas e a vida que pensávamos ter. Entrega-te a um novo homem… A dois… A três novos homens. Sê livre e feliz. Aproveita para ires onde eu nunca quis. Para fazeres o que eu nunca faria contigo. Para usares aquele vestido ou aquele batom, que tanto me enervava. A rotina conforta-me. Sei com o que posso contar. À medida que as horas avançam e que a minha estadia entre os vivos recua, só a rotina me traz algum conforto. É a rotina que me tranquiliza; que me permite quase prever, como se fosse um adivinho. Daniela, não tarda muito, entrará no espaço que compartilho com Carla e distribuirá os pequenos-almoços. Depois do nascer sol, é Daniela o segundo sinal do começo do dia. Deveria odiá-la? Talvez! De que me serve a raiva, se os dias, com ou sem Daniela, continuarão a passar? De nada me vale o grito, quando a garganta se calar. Ana, não quero que leias nada do que escrevo, para não teres a tentação de querer recuperar aquilo que nunca chegou a ser teu. Não quero que leias o que escrevo, mas és tu quem me inspira. Cada detalhe do teu corpo, gravado nos meus sentidos, é um impulso novo a redigir mais uma ou duas linhas. Não ambiciono ser recordado, até porque todos já me esqueceram! A euforia dos primeiros segundos, os gritos histéricos dos jornalistas, os aplausos e os apupos da multidão, os dedos acu- satórios, já não recordam o meu nome. Pouco mais do que um número, é aquilo que sou, para uma ou duas secretárias em fim de carreira. Só elas me recordarão, involuntariamente, até que morram. No dia dos seus funerais todos chorarão pelas grandes mulheres que o mundo perdeu; pelas mães fabulosas, pelas avós prestimosas, pelas amigas valiosas. O dia dos seus funerais será o dia do meu esquecimento como número. Porque como pessoa o funeral já aconteceu. A vida que levei traria o meu Destino até este ponto. Era inevitável, tal e qual um rio corre para o mar. E, no entanto, os rios secam… Poderia eu ter fugido? Poderia ter fugido? Quis ser ousado, viver por um minuto, e agora pagarei por isso. conseguir perceber por que é que um dirigente desportivo e um presidente do conselho de arbitragem gostam tanto de jantar juntos. Cheira-me a modernice. De qualquer modo, qual bênção divina, agradeço o facto de os cinemas ainda não terem cheiro, isto porque ver a senhora dona Carolinha a aparar os pelos dos ouvidos do seu cônjuge, assim como a cortar-lhe as unhas, ultrapassa a minha noção de realismo cinematográfico. Mas a melhor de todas é a táctica da Carolininha de disfarçar os “descuidos” do seu amor com um cigarrinho, tinha toda uma dimensão diferente, com cheiro, claro está! (Este excerto faz parte do romance “Escada da Alma”, de Tiago Lopes) Uma rosa azul Eu queria uma rosa azul só para mim, Que as pétalas desfolhasse ao meu passar, E que entre as demais rosas do jardim, Me fizesse recordar o teu olhar! Azul, como é o azul do Céu com essa luz, Que por ser tão azul até magoa, Azul, como o laço de fita que hoje pus, Quando, inquieta, por ti esperava à toa! E entre as rosas que há no meu jardim, Nasceu uma rosa azul só para mim, A lembrar que é sempre Primavera, Que importa que a rosa seja uma ilusão, Um faz de conta, um bem-querer no coração, Se a vida não é mais que uma quimera! por: Ana Maria Ribeiro Ai eu! E a Carolina Vera Inácio Ora viva, hoje é um dia feliz! O momento pelo qual eu e a grande massa cultural portuguesa esperávamos, finalmente, chegou! O país está em êxtase! Eis que vindo da bruma, tal qual Dom Sebastião, nasce a proposta da criação do melhor momento cultural português. Estão criadas as condições para uma nova era de enriquecimento cultural. Finalmente vamos poder ver nas telas de cinema um filme inspirado no fantástico livro de Carolina Salgado. Mal posso esperar! Finalmente vou Depois disto, possivelmente vou ter de imigrar. Não me parece que a frase “há que limpá-lo” se refira a um duchezito, mas não estou muito preocupada. A Rússia é já ali ao lado, e enquanto lá tiver especado o belo do cartaz do All Garve, a par do Kremlin, sentir-me-ei em casa. Boas Algarviadas. 29 de Junho de 2007 • ESTA JORNAL | 27 Fotolegenda Foto por João Alves Foram cerca de 700 crianças de escolas do 1º ciclo e jardins-de-infância do concelho de Abrantes que participaram no Desfile da Flor pelas ruas do Centro Histórico, dia 27 de Abril, a partir das 9h30, dando cor e alegria à Festa da Primavera. Tal como aconteceu nos anos anteriores, as crianças apresentaram-se com fatos alusivos à Primavera, entoando cantigas próprias da estação. Algumas vestidas com adereços de espantalhos, as crianças construíram o “Muro da Paz”, colocando flores numa estrutura montada para o efeito em pleno coração do centro histórico, no Largo Ramiro Guedes. As turmas, de pequenos estudantes, presentearam a cidade com espantalhos, que foram espalhados pelas ruas. Depois do desfile foi a altura de um espectáculo de animação na Praça Barão da Batalha. A praça estava prenchida de cor alegria. Entre muitas palmas, risos e gargalhadas, as crianças assistiram à apresentação do “Circo Maribondo” que as presenteou com música ao vivo (bateria e percussão, saxofones e realejo), malabarismos, magia cómica, acrobacia, palhaços e muita interacção com o público jovem. João Alves Foto por Vânia Costa “Só têm que fazer no campo o que fazem nos treinos”. É desta forma que António Nadais, o treinador da equipa os Lobos, comenta o primeiro jogo da época, que ocorreu no passado dia 15 de Abril, contra o Académica de Coimbra. Apesar de estarem conscientes que o adversário era forte, em campo deram o seu melhor e apoiaram-se uns aos outros, pois cada ponto era uma vitória. O primeiro jogo alongou-se e talvez tenha batido o recorde: foram cerca de três horas mas, para Pedro Lázaro, o tempo não é desculpa para se cometerem enganos. “Não foi o cansaço que levou aos erros”, defende. Sempre atento a todos os movimentos, Pedro Ferreira vê com espírito crítico os erros cometidos. “Fizeram-se erros que nos treinos não eram normais cometermos, como por exemplo bolas pelo ar (flyballs), rollings e deixar cair as bolas”, mas com grande orgulho o esforço e motivação dos colegas “no ataque estivemos bem e marcámos alguns pontos”. O jogo termina e faz-se um balanço. “Foi um jogo bom, perdemos mas teve um saldo positivo”, refere Tiago Matos. Para lá da rede passaram muitas caras curiosas e atentas que não deixaram de gratificar o desempenho da equipa. Foram já vários os jogos em que os jogadores mostraram o que aprenderam nos treinos e o principal objectivo foi conseguido: “entrar em competição, no Campeonato Nacional de Basebol, ainda este ano”, afirma António Nadais com orgulho. Vânia Costa ÚLTIMA DO OUTRO LADO DA HISTÓRIA Sexta-Feira, 29 de Junho de 2007 O Rui nascera. Os carrinhos, as roupinhas azuis, os traços que de uma virilidade paternal vinham (seguramente!). No quarto ao lado tinha nascido a Margarida. Bonecas de cabelos longos e uma perfusão de tecidos rosas cobriam a delicadeza da sua pele de menina. No piso superior nascia João. Compraramlhe carrinhos, vestiram-na de verde, não lhe impuseram dogmas! Ao Rui estava reservada uma vida no meio dos carros, dos tons azulados, dos amigos, das descomunais noitadas, das namoradas intermináveis (inclusive as que se inventavam!), dos jogos de futebol, das brigas e dos queixos partidos. Uma vida de Homem, como manda a tradição. Margarida, por seu lado, estava confinada às bonecas, ao eterno cor-de-rosa, às NÓS POR CÁ grandes amigas, aos dias de compras, aos namorados infiéis (porque fiéis é complicado!), às receitas culinárias, às intrigas e mexeriques, à ironia das palavras. Uma vida de Mulher, como tem que ser. E o João? O João pode crescer por si. Flutuar pela masculinidade dos carrinhos e dos jogos de futebol; dançar pela feminilidade das românticas noites de lua cheia e da poesia romântica. Não se impuseram rotas, nem pré-programações sociais porque só o João, crescido e amadurecido, podia saber qual a sua cor. O Azul do Rui? Ou o Rosa da Margarida? Confuso, por certo! A sociedade, ritualista e estratificada, separa-nos, desde que nascemos e rotula-nos logo no primeiro segundo de vida. “É menina!” Como podem saber… Os filósofos jainitas indianos entendiam que o Masculino e o Feminino não existiam. Eram somente concepções sociais. Cabia aos indivíduos escolher qual a sua cor. O Azul do Rui? O Rosa da Margarida? Ou o Verde do João? Chamavam-se hrijas. Eram considerados o terceiro sexo. Nascidos biologicamente homens, sentiam-se psiquicamente mulheres. Compunham uma nova classe sexual, que fundia características das outras duas. Vestiam-se como homens, mas privavam com as mulheres. Não eram recriminados socialmente! Os berdache ameríndios também gozavam deste tipo de simbiose. Os Católicos, reformadores e conquistadores, chegaram e arruinaram a diversidade. Impuseram a sua visão dualista, preconceituosa, estereotipada e simplista. É tão mais fácil viver num mundo de Azuis e Rosas! Tudo o resto são desvios que devemos evitar! Mas e os Verdes e os Laranjas? No Ano Europeu para a Igualdade há que olhar respeitosamente para o arco-íris. Será mais mulher a Margarida (biológica) do que o João (que é psiquicamente Joana)? ►► ► Um bocadinho de alcatrão para o Chafariz, por favor! Vânia Costa A rubrica é recente no ESTAJornal, mas já começou a dar frutos. Abrantes deu mãos à obra e a situação descrita no artigo “uma flor de podridão” está em transformação. Este artigo é pois um apelo aos incógnitos que deambulam por Abrantes, pois entre eles, há quem esteja atento à paisagem mais hostil da Cidade Florida. Estacionar em Abrantes torna-se quase vânia costa J O R N A L ►► ► Eles, elas e os outros... Tiago Lopes esta impossível quando a rua a que se pretende ir tem o nome de Tapada do Chafariz. É sem dúvida o beco sem saída mais movimentado de Abrantes. Quando não há estacionamento na rua, opta-se por uma de duas soluções: ou se desiste e volta-se para trás; ou arrisca-se a um estacionamento de linhas imaginárias com o piso de terra batida. O percurso até lá altera-se como da noite para o dia. As flores são substituídas pela erva daninha, o alcatrão pela terra batida, e o piso liso por inúmeros buracos. Para além de todos estes inconvenientes, esta travessa é estreita, só passa um carro de cada vez, depois de todos os milímetros calculados. Quem passa pela Tapada do Chafariz na “hora de ponta” dá de caras com um cenário calamitoso: carros parados na estrada, arrumados nos sítios mais avarentos e uma confusão de circulação para trás e para frente. A solução, neste momento, a um lugar num estacionamento em que a roda da frente tem que ficar em cima do passeio, é um percurso íngreme e desnivelado até ao paraíso das ervas daninhas. Previsões por Tiago Lopes Rá (Deus do Sol) 16 de Julho a 15 de Agosto Carta: Louco Férias! Descanse agora e reponha as energias, porque Setembro traz desafios gigantescos. Cuidado com a forma como conduz as suas relações amorosas. Leia mais! Neit (Deusa da Caça) 16 de Agosto a 15 de Setembro Carta: Cobiça Querer sempre mais é uma coisa boa se for com moderação... Não deixe que os seus impulsos sejam a razão de todas as suas acções. Admita os seus erros! Maat (Deusa da Verdade) 16 de Setembro a 15 de Outubro Carta: Aprendizagem Olhe para os seus erros e retire todas as lições! Não repita erros por pura teimosia. Passe mais e melhor tempo com os seus familiares. Cuidado com a sua saúde! Osíris (Deus da Renovação) 16 de Outubro a 15 de Novembro Carta: Tranquilidade A sua vida amorosa está numa fase conturbada? Antes de procurar a sua cara-metade, por que é que não pensa em procurar estabilidade pessoal? Ame-se, antes de querer amar… Hator (Deusa da Adivinhação) 16 de Novembro a 15 de Dezembro Carta: Pensamento Aposte fortemente na evolução do seu currículo e em novos projectos. Não desperdice a sua criatividade, por não ter autoestima. Mime a sua cara-metade! Anúbis (Guardião dos Mortos) 16 de Dezembro a 15 de Janeiro Carta: Condescendência Mais do que castigar, o que torna os nativos de Anúbis poderosos é o poder de perdoar. Não retire a razão aos seus amigos. Você não está sempre correcto/a! Bastet (Deusa Gato) 16 de Janeiro a 15 de Fevereiro Carta: Carro Os nativos de Bastet estão a ter um 2007 pleno de momentos bons e estas próximas semanas irão manter o bom ritmo. Não se desleixe nas suas relações familiares… Tauret (Deusa da Fertilidade) 15 de Fevereiro a 15 de Março Carta: Viajante Procure outros locais, para poder pensar! Fuja da rotina que está a atrofiar o seu sentido criativo. Os seus amigos serão decisivos nas próximas semanas. Estime-os! Sekhmet (Deusa da Guerra) 16 de Março a 15 de Abril Carta: Infidelidade Não faça aos outros, o que não gostava que lhe fizessem a si. As suas pulsões sexuais deverão ser travadas pela sua consciência. Não se deixe dominar… Ptah (Criador Universal) 16 de Abril a 15 de Maio Carta: Descoberta Perceber quem somos torna-nos pessoas melhores. Os nativos de Ptah estão a meio do caminho… Não descobriram quem são, mas já se sentem melhores! Tot (Deus da Escrita) 16 de Maio a 15 de Junho Carta: Justiça Não critique, não julgue, não teça comentários desagradáveis. Quem lhe deu o poder de julgar? Antes de criticar os outros olhe, com olhos de ver, para si! Reflicta! Ísis (Deusa da Magia) 16 de Junho a 15 de Julho Carta: Dificuldades Os nativos de Ísis irão sentir algumas dificuldades em adaptar-se às mudanças que estão para chegar. Tente manter a calma e verá que tudo é bastante simples! O calendário egípcio é composto por 360 dias distribuídos por 12 meses e 3 estações, mais 5 dias chamados “acrescentados”. Há uma lenda que explica a origem dos 5 “acrescentados”: Os cinco dias acrescentados foram conseguidos pelo “Deus da Sabedoria” Tot, num jogo de xadrez Universal contra Rá. Só nesses cinco dias Tot poderá estar com a sua amante, Nut, Deusa da Lua e legitima esposa de Rá.