centro universitário do maranhão pró-reitoria de pós
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO MARANHÃO PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA PARASITÁRIA RONALDO DOERING MOTA AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE PRODUTOS OBTIDOS A PARTIR DA POLPA DA SACCHARUM OFFICINARUM (CANA DE AÇÚCAR) São Luís 2014 RONALDO DOERING MOTA AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE PRODUTOS OBTIDOS A PARTIR DA POLPA DA SACCHARUM OFFICINARUM (CANA DE AÇÚCAR) Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Parasitária como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Biologia Parasitária. Orientadora: Profª. Drª. Patrícia de Maria Silva Figueiredo Co-orientadora: Profª. Drª. Cristina de Andrade Monteiro São Luís 2014 AGRADECIMENTOS A todos que contribuíram direta ou indiretamente com este trabalho. Aos professores e colegas do UNICEUMA, especialmente Andréia e Professora Cristina pela paciência e colaboração. Aos colegas de turma, especialmente Roseane, Martina e Patrícia pela amizade. À Professora Patrícia pelo apoio incondicional nos momentos mais difíceis. Aos meus grandes amores Neon, Ronaldo, Neia, Diego e Fernando. “A humildade exprime uma das raras certezas de que estou certo: a de que ninguém é superior a ninguém”. Paulo Freire RESUMO A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) é uma planta que produz, em curto período, um alto rendimento de matéria verde, energia e fibras, sendo considerada uma das plantas com maior eficiência fotossintética. Seu plantio em larga escala é tradicional em vários países das regiões tropical e subtropical para a produção de açúcar, álcool e outros subprodutos. O objetivo deste trabalho foi verificar a atividade antimicrobiana de três fórmulas farmacêuticas (óvulo, creme e solução) manipuladas provenientes do extrato etanólico (EE) da polpa da cana-de-açúcar, sobre bactérias e fungos de interesse clínico. Inicialmente foi realizado um teste de triagem em Agar com os produtos manipulados A partir desde resultado, foi utilizado o produto com maior atividade antimicrobiana e o extrato etanólico (EE) para a determinação da concentração inibitória mínima (CIM), concentração bactericida mínima (CBM), concentração fungicida mínima (CFM) e a capacidade de degradação de biofilme formado pelos microrganismos analisados (10 amostras de bactérias e 10 amostras de fungos). A solução foi o produto que apresentou melhor atividade antimicrobiana no teste de triagem, pois todas as amostras bacterianas analisadas (Escherichia coli ATCC 2592, Streptococcus agalactiae ATCC 13813, Pseudomonas aeruginosa ATCC 27883, K. pneumoniae ATCC 700.003 e Staphylococcus aureus ATCC 25923) foram sensíveis a ela. As amostras de S. pyogenes, K. pneumoniae e S. aureus foram sensíveis ao creme e nenhuma das amostras foi sensível ao óvulo. Em relação à solução, a menor CIM encontrada foi de 7 mg/mL para os isolados clínicos de Candida rugosa, Trichosporon mucoides e Candida parapsilosis. A CFM da solução foi de 370 mg/mL para os seguintes patógenos: Candida glabrata, Candida parapsilosis, Cryptococcus laurentii (amostras 1 e 2), Trichosporon mucoides, Trichosporon asahii, Candida albicans (ATCC 18804) e Candida rugosa. A menor CBM para a solução foi de 750 mg/mL para os seguintes patógenos: MRSA - Staphylococcus aureus resistente à meticilina (ATCC 343602), Staphylococcus aureus, S. pyogenes e K. pneumoniae. Foi verificada uma atividade na degradação do biofilme formado nas cepas de MRSA, Pseudomonas aeruginosa e nas amostras clínicas de Acinetobacter baumannii, Stenotrophomonas maltophilia e Trichosporon mucoides tanto pela solução quanto pelo EE. Esse grande espectro de ação e sua atuação no biofilme formado de cepas multiressistentes mostram a importância da utilização dos produtos derivados do extrato de S. officinarum contra as bactérias e fungos de interesse clínico testados. Palavras-chave: Antimicrobiano; Biofilme; Saccharum officinarum; Extrato etanólico. ABSTRACT The sugarcane (Saccharum officinarum) is a plant that produces, in short, a high yield of green energy and fiber material, is considered one of the plants with higher photosynthetic efficiency. Its large-scale planting is traditional in many countries of the tropical and subtropical regions for the production of sugar, ethanol and other by products. The objective of this study was to investigate the antimicrobial activity of three pharmaceutical formulations (ovule, cream and solution) manipulated from the ethanol extract (EE) of pulp sugarcane against bacteria and fungi of clinical interest. Initially a screening test with modified products was conducted and it was verified that the solution showed the best antimicrobial activity, because all bacterial samples (Escherichia coli ATCC 2592, Streptococcus agalactiae ATCC 13813, Pseudomonas aeruginosa ATCC 27883, K. pneumoniae ATCC 700003 and Staphylococcus aureus ATCC 25923) were sensitive to it. The samples of S. pyogenes, S. aureus and K. pneumoniae were sensitive to the cream, and none of the samples was sensitive to ovule. As a result from the EE and the solution was used for the determination of minimum inhibitory concentration (MIC), minimum bactericidal concentration (MBC), minimum fungicidal concentration (MFC) and the ability to degrade the biofilm formed by microorganisms (10 bacteria samples 10 and fungi samples ). In relation to the solution, the lowest MIC was 7 mg / mL for the clinical isolates of Candida rugosa, Candida parapsilosis and Trichosporon mucoides. A CFM solution was 37 mg / mL for the following pathogens: Candida glabrata, Candida parapsilosis, Cryptococcus laurentii (samples 1 and 2), Trichosporon mucoides, Trichosporon asahii, Candida albicans (ATCC 18804) and Candida rugosa. The lowest MBC for the solution was 75 mg / mL for the following pathogens: MRSA - methicillin-resistant Staphylococcus aureus (ATCC 343602), Staphylococcus aureus, K. pneumoniae and S. pyogenes. An activity was observed in the degradation of the biofilm formed in strains of MRSA, Pseudomonas aeruginosa and clinical samples the A. baumannii, Stenotrophomonas maltophilia and Trichosporon mucoides the solution as both the EE. This broad spectrum of action and its performance in the biofilm of multiresistant strains show the importance of using products derived from this EE against these bacteria and fungi of clinical interest. Keywords: Antimicrobial; Biofilm; Saccharum officinarum; Ethanol extract. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Formação do halo de inibição sobre a P. aeruginosa pela técnica de difusão em meio sólido pelo óvulo (O), creme (C) e solução (L) obtidos do extrato etanólico da S. officinarum .................................................................................................... 35 Figura 2 - Degradação do biofilme formado em vidro pelo extrato etanólico e pela solução 45 Figura 3 - Degradação do biofilme formado em vidro pelo extrato etanólico e pela solução 45 Figura 4 - Biofilme em vidro da amostra de Pseudomonas aeruginosa ................................ 46 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Classes de metabólitos analisados na prospecção fitoquímica do extrato da polpa da cana-de-açúcar ........................................................................................................... 28 Tabela 2 - Prospecção fitoquímica do extrato etanólico da polpa da cana-de-açúcar................. 33 Tabela 3 - Halo de inibição formado pelo extrato etanólico e pela solução sobre microrganismopela técnica de difusão em meio sobre cepas padrão e isolados clínicos de bactérias ................................................................................................. 34 Tabela 4 - Formação de halo de inibição pelo extrato etanólico da S. officinarum e da solução sobre cepas padrão e isolados clínicos de bactérias no teste de difusão em meio sólido ....................................................................................................................... 36 Tabela 5 - Formação de halo de inibição pelo extrato etanólico da S. officinarum e da solução em cepas padrão e isolados clínicos de fungos no teste de difusão em meio sólido 37 Tabela 6 - Concentração inibitória mínima in vitro do extrato etanólico da Saccharum officinarum e da solução sobre cepas padrão e isolados clínicos de bactérias ........ 39 Tabela 7 - Concentração inibitória mínima in vitro do extrato etanólico da polpa da Saccharum officinarum e da solução sobre cepas padrão e isolados clínicos de fungos ...................................................................................................................... 40 Tabela 8 - Concentração bactericida Mínima (CBM) do extrato etanólico da polpa da S. officinarum e da solução .......................................................................................... 42 Tabela 9 - Concentração Fungicida Mínima (CFM) do extrato etanólico da polpa da S. Officinarum e da solução fitoterápica ........................................................................ 43 Tabela 10 - Após degradação do biofilme formado em poliestireno pelo EE da cana-de-açúcar e solução derivada deste extrato ................................................................................. 44 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ATCC - American Type Culture Collection BHI - Brain Heart Infusion DMSO - Dimetilsulfóxido EDTA - Etilenodiamina-tetra ácido acético EE - Extrato Etanólico ELISA - Enzyme-linked Immunosorbent Assay CBM - Concentração Bactericida Mínima CFM - Concentração Fungicida Mínima CIM - Concentração Inibitória Mínima MRSA - Staphylococcus aureus resistente à meticilina PBS - tampão salina fosfato (phosphate buffered saline) PCR - Reação em cadeia de polimerase (Polimerase Chain Reaction) pH - potencial hidrogeniônico SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 12 2 REFERENCIAL TEORICO ..................................................................................... 16 2.1 Biodiversidade ............................................................................................................. 16 2.2 Plantas Medicinais ...................................................................................................... 16 2.3 Atividade antimicrobiana .......................................................................................... 17 2.4 Resistência antimicrobiana ........................................................................................ 20 2.5 Métodos para determinação da atividade antimicrobiana ..................................... 21 2.6 A cultura de cana-de-açúcar ...................................................................................... 23 3 OBJETIVOS ............................................................................................................... 26 3.1 Geral ........................................................................................................................... 26 3.2 Específicos ................................................................................................................... 26 4 METODOLOGIA ....................................................................................................... 27 4.1 Tipo de estudo e local da pesquisa............................................................................. 27 4.2 Material Botânico ....................................................................................................... 27 4.3 Obtenção do Extrato Etanólico ................................................................................. 27 4.4 Estudo Fitoquímico do Extrato Etanólico ................................................................ 27 4.5 Manipulação dos produtos obtidos a partir do EE.................................................. 28 4.6 Cepas bacterianas e fúngicas ..................................................................................... 28 4.7 Preparo das suspensões microbianas ........................................................................ 29 4.8 Triagem pelo Método de difusão em Agar ............................................................... 29 4.9 Método de difusão do EE e da solução em Agar ...................................................... 30 4.10 Concentração Inibitória Mínima (CIM) do EE e da solução ................................. 30 4.11 Concentração Bactericida Mínima (CBM) ou Concentração Fungicida Mínima (CFM) do EE e da solução ............................................................................................ 31 4.12 Degradação do Biofilme pelo EE e solução .............................................................. 31 4.12.1 Análise da degradação do biofilme formado em poliestireno ...................................... 31 4.12.2 Análise da degradação do biofilme formado em vidro ................................................. 31 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................ 33 5.1 Análise fitoquímica do EE.......................................................................................... 33 5.2 Triagem pelo Método de difusão em Agar ............................................................... 34 5.3 Método de difusão do EE e da solução em Agar ...................................................... 35 5.4 Concentração Inibitória Mínima (CIM) .................................................................. 38 5.5 Concentração Bactericida Mínima (CBM) e Concentração Fungicida Mínima (CFM) .......................................................................................................................... 41 5.6 Degradação do Biofilme ............................................................................................. 43 5.6.1 Análise da degradação do biofilme formado em poliestireno ...................................... 43 5.6.2 Análise da degradação do biofilme formado em vidro ................................................. 44 6 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 47 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 48 ANEXO ........................................................................................................................ 54 12 1 INTRODUÇÃO O Brasil possui entre 15 e 20% de toda a biodiversidade mundial, sendo considerado o maior do planeta em número de espécies. Dados estatísticos indicam ainda que existam 55 mil espécies de plantas, 517 anfíbios (294 endêmicos), 1622 aves (192 endêmicas), 524 mamíferos (cerca de 130 endêmicos), 468 répteis (172 endêmicos), 3000 espécies de peixes de água doce e cerca de 15 milhões de insetos, muitos completamente desconhecidos. No entanto o maior produto de exportação comercial do país refere-se a espécies de plantas exóticas, que foram introduzidas como, por exemplo, laranja, soja, canade-açúcar e eucalipto (BARREIRO; BOLZANI, 2009). A biodiversidade desempenha papel fundamental na manutenção de processos ecológicos. Além disso, o valor econômico ou utilitário da biodiversidade se apoia na dependência do homem sobre seus recursos, por exemplo, na madeira, fibras, resinas, produtos químicos orgânicos, genes, assim como conhecimento para aplicação em biotecnologia, incluindo medicamentos e subprodutos cosméticos. A biodiversidade compreende também a regulação do clima, habitats alimentares e reprodutivos para a pesca comercial e alguns organismos que contribuem para a fertilidade do solo por meio de ciclos interativos complexos, com a participação de organismos do solo (minhocas, cupins, bactérias, fungos) que atuam na ciclagem de nitrogênio, fósforo e enxofre, tornando-os disponíveis para serem absorvidos pelas plantas. Estes são alguns dos benefícios fornecidos indiretamente da função dos ecossistemas naturais (ALHO, 2008). Fungos, plantas, insetos, organismos marinhos e bactérias são fontes importantes de substâncias biologicamente ativas, sendo que a maioria dos fármacos em uso clínico ou são de origem natural ou foram desenvolvidos por síntese química planejada a partir de produtos naturais (BARREIRO; BOLZANI, 2009). Muitos metabólicos secundários ou especiais se notabilizam como matérias primas valiosas para a produção de inúmeros medicamentos contemporâneos. Com isto, torna-se extremamente importante a colaboração entre grupos multidisciplinares, os quais se destacam a fitoquímica, farmacologia, microbiologia, toxicologia, farmacotécnica e outras áreas afins (CECHINEL FILHO; YUNES, 1998). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), planta medicinal é "todo e qualquer vegetal que possui, em um ou mais órgãos, substâncias que podem ser utilizadas com fins terapêuticos ou que sejam precursores de fármacos semissintéticos" (VEIGA JUNIOR; PINTO; MACIEL, 2005). 13 O uso de plantas medicinais no tratamento de diversas patologias tem aumentado devido ao fato das plantas apresentarem um menor custo de tratamento, da aceitação da população por terapias não convencionais e também pelo aumento da divulgação de trabalhos científicos demonstrando a sua eficácia. Na década de 1990, 65% a 80% da população em países desenvolvidos já utilizavam plantas medicinais como única alternativa de cuidados básicos de saúde (BUTLER, 2008). O governo federal aprovou a Política Federal de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, composta por políticas publicas de saúde, meio ambiente, desenvolvimento econômico e social, por meio do Decreto Presidencial n° 5.813, de 22 de junho de 2006. O objetivo dessa política é “garantir à população brasileira o acesso seguro e uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional” (COUTO et al., 2010). Cerca de 50% dos medicamentos empregados mundialmente na clínica médica são obtidos de produtos naturais e seus derivados. Isto demonstra a importância e o grande potencial químico das plantas medicinais. Sabe-se, porém que somente 15% das espécies do mundo foram estudas fitoquimicamente e 6% biologicamente (GURIB-FAKIM, 2006). Com o passar dos anos também tem sido observado um aumento na utilização de terapias alternativas ou complementares por parte da população. Vários compostos naturais sejam de origem vegetal ou animal tem apresentado atividade biológica relevante, possibilitando que estes se tornem potenciais candidatos ao desenvolvimento de novos medicamentos (RASKIN et al., 2002; NIERO et al., 2010). A utilização de substâncias antibióticas ou antimicrobianas representa talvez um dos maiores avanços da farmacoterapia. Estas substâncias estão entre os fármacos mais utilizados em ambulatórios e hospitais e têm reduzido drasticamente a incidência de muitas doenças infecciosas (FRANCO et al., 2007). Uma das principais causas de mortalidade no mundo têm sido as doenças infecciosas, representando em alguns países metade dos casos de óbitos. Este quadro é mais comum entre os países em desenvolvimento, embora também se tenha observado um aumento no número de óbitos por infecções em países desenvolvidos. O Brasil é o país que mais apresenta mortes por sepse grave, ocupando o 1° lugar no ranking mundial. Na maioria destes casos as infecções são adquiridas dentro do próprio ambiente hospitalar (BELLA CRUZ et al., 2010). A adesão bacteriana à superfície de um biomaterial é um processo em que a bactéria se liga firmemente à superfície e pode ser descrita como um processo de duas fases, sendo a primeira, a fase física, instantânea e reversível e a segunda, a fase molecular e celular, 14 dependente do tempo é irreversível. Tais características, na presença de substrato, resultam por fim na formação de microcolônias embebidas em uma matriz de polímeros extracelulares (exopolissacarídeos - EPS), o biofilme. Este tipo de disposição é vantajosa a qualquer espécie de micro-organismo, por ocasionar proteção contra adversidades como desidratação, colonização por bacteriófagos e antimicrobianos (MUKHERJEE, 2005). Um biofilme maduro pode tolerar os antibióticos, em concentrações de 10-1000 vezes mais do que os necessários para controlar as bactérias. Bactérias em biofilmes são resistentes à fagocitose, tornando biofilmes extremamente difíceis de erradicar a partir de hospedeiros vivos. Bactérias organizadas em biofilmes colonizam uma grande variedade de dispositivos médicos, como cateteres, marca-passos cardíacos artificiais, válvulas cardíacas protéticas e aparelhos ortopédicos, e está associada a várias doenças humanas, como a endocardite, infecções de feridas e queimaduras, otite média crônica com efusão e fibrose cística (LEWIS, 2001). O crescente número de pacientes imunocomprometidos, sobretudo transplantados, eleva o grau de atenção a infecções causadas por leveduras patogênicas oportunistas. Em sua maioria, estes patógenos são do gênero Candida sp. Dados revelam que 60% das espécies de leveduras isoladas de pacientes com infecções por fungos, são da espécie C. albicans, o que torna a infecção por este microrganismo a mais prevalente dentre os fungos. Estas infecções são particularmente sérias, pois as células organizadas em biofilme são resistentes a antifúngicos. A resistência a antifúngicos é adquirida no início da formação do biofilme, e aparentemente é regida por diferentes mecanismos em biofilme novo e maduro. Sendo assim, novas terapias são necessárias para eliminar o biofilme (MUKHERJEE, 2005). Os microrganismos em geral possuem habilidade genética de adquirir resistência aos fármacos utilizados como agentes terapêuticos. O problema desta resistência vem aumentando e a perspectiva para o uso de antibióticos é indefinida. Sendo assim, pesquisas voltadas para o estudo e avaliação de produtos naturais como terapêuticos e principalmente com atividade antibiótica devem ser estimulados no intuito de criar novas drogas ou adaptar as já existentes para que voltem a ter atividade (COUTINHO et al., 2004). Para que o tratamento de uma doença infecciosa seja bem sucedido, deve-se primeiramente escolher o antimicrobiano adequado para o micro-organismo causador da patologia. O uso inadequado ou abusivo de agentes antimicrobianos é o principal causador de microrganismo resistente (POWERS, 2004). Pesquisas com plantas têm comprovado seu potencial antimicrobiano no tratamento de várias doenças infecciosas (LIMA et al., 2006). Como principais responsáveis pela atividade antimicrobiana de plantas medicinais têm-se os flavonóides, taninos, alcalóides, 15 saponinas e terpenos (SOUZA et al., 2007). Os flavonóides são uma classe muito extensa de produtos naturais distribuída no reino vegetal. Estão presentes em todas as partes das plantas, desde as raízes até as flores e frutos, sendo encontrados nos vacúolos das células. Essa ampla classe de substâncias de origem natural, cuja síntese não ocorre na espécie humana, possui importantes propriedades farmacológicas que atuam sobre o sistema biológico, tais como ação antioxidante, anti-inflamatória, antialérgica, antiviral e anticarcinogênica (YAO, 2004). As classes de flavonóides mais abundantes na cana-de-açúcar são as flavonas e seus derivados metilados e glicosilados, estando presentes tanto os O-glicosídeos como os C-glicosídeos (HARDY, 2000). Estudos de Vila (2006) mostraram que polpa da cana-de-açúcar possui atividade antioxidante, porém não há registros na literatura a cerca da atividade antimicrobiana da polpa da cana-de-açúcar e não há relatos do seu uso na medicina popular. Desta forma, o presente trabalho foi feito no intuito de determinar a atividade antimicrobiana de produtos obtidos da polpa da cana de açúcar (Saccharum officinarum) frente a uma seleção de microrganismo de interesse clínico e cepas de referência (ATCC) organizados na forma planctônica e biofilme. 16 2 REFERENCIAL TEORICO 2.1 Biodiversidade Considerando a biodiversidade genética do Brasil, as plantas superiores surgem como importante fonte de novos fitoterápicos. O potencial terapêutico da flora brasileira vem sendo comprovado pelo número de publicações em revistas científicas na área de produtos naturais, atingindo destaque em relação aos países da América Latina (CALIXTO, 2005). O Cerrado e a Mata Atlântica são de grande importância devido a grande biodiversidade e pelas imensas áreas de matas destruídas pelo avanço da ocupação humana e suas atividades exploratórias A Floresta Amazônica é o bioma brasileiro com maior destaque nacional e internacional, devido à diversidade biológica, e principalmente pela grande área territorial e reserva de água doce (VIEIRA; MARTINS, 2002). Diversas plantas vêm sendo empregadas na medicina popular devido ao esperado poder curativo e preventivo a elas atribuídos, e para tal, diversas pesquisas são realizadas até que sejam disponibilizadas para o consumo como medicamento (LANGLEY, 2000). A utilização de produtos naturais pelo homem é tão antiga quanto sua própria história. Seu uso se dava tanto para fins nutricionais como para fins terapêuticos. Produtos naturais de algumas plantas, fungos, bactérias e outros organismos continuam a ser usados em preparações farmacêuticas, e em composto puro ou extratos (ARAUJO, 2001). 2.2 Plantas Medicinais A descoberta de novos compostos farmacologicamente ativos a partir da pesquisa com plantas medicinais têm apresentado grande sucesso, levando a um aumento no faturamento das indústrias farmacêuticas (NIERO, 2010). Além de que a diversidade molecular dos produtos naturais é muito superior àquelas derivadas de produtos sintéticos (NOVAIS et al., 2003). Isto é devido principalmente ao baixo poder aquisitivo da maioria da população que procura uma medicina alternativa a menores custos, preocupações ecológicas e a confirmação da eficácia das mesmas, comprovadas em estudos experimentais, clínicos e pré-clínicos (BUTLER, 2008). Somente por meio de um estudo químico e de um estudo detalhado de suas propriedades biológicas, é possível a confirmação da eficácia, qualidade e segurança na terapêutica das plantas medicinais. No entanto o uso indiscriminado pode promover efeitos 17 adversos relacionados à presença de algumas substâncias nocivas, ou até mesmo a possibilidade de ocorrer algumas interações medicamentosas entre planta e fármaco comercial (GOBBO-NETO; LOPES, 2007). Surge assim, a necessidade do desenvolvimento de métodos de otimização e padronização de preparações vegetais, na tentativa de obter um material apropriado para o consumo, buscando investigar a qualidade, segurança, eficácia, pureza, identidade e estabilidade (CRAGG; NEWMAN, 2007). 2.3 Atividade antimicrobiana Antimicrobianos são produtos elaborados durante o metabolismo microbiano capazes de inibir parcial ou totalmente a multiplicação de microrganismos. Estas substâncias são classificadas como antibióticos (substâncias químicas produzidas por microrganismos) e como quimioterápicos (substâncias sintetizadas ou produtos microbianos modificados estruturalmente em laboratório). O uso dessas substâncias químicas revolucionou a abordagem das infecções e o seu sucesso gerou grande otimismo em relação à prevenção e ao tratamento dos processos infecciosos. Entretanto, a prescrição nem sempre criteriosa ou racional desses antimicrobianos, rapidamente gerou dificuldades para seu uso, devido à progressiva resistência bacteriana a essas drogas (MONTELLI, 2001). Em 1940, ocorreu o primeiro caso de resistência antimicrobiana relatado com o uso das penicilinas. A resistência antimicrobiana tem causado vários problemas terapêuticos, visto que algumas bactérias apresentam resistência intrínseca a vários antimicrobianos e também sofrem mutações genéticas causando problemas ainda mais graves de resistências (BUSH, 2004). Novas tecnologias são necessárias para o combate das infecções, especialmente frente ao microrganismo resistentes, como o desenvolvimento de novos antimicrobianos mais eficazes que possibilitem a prospecção de novas classes de moléculas naturais e/ou sintéticas capazes de neutralizar ou de danificar o patógeno-alvo ao invés de inviabilizá-lo geneticamente, inibindo assim o desenvolvimento de resistência (GIBBONS, 2005). Devido ao elevado numero de casos de doenças infecciosas, a grande quantidade de efeitos colaterais dos antimicrobianos disponíveis na clínica e a resistência antimicrobiana tornam-se extremamente importante a busca por novos agentes antimicrobianos (BELLA CRUZ et al., 2010). Rice (2008) cria um conjunto que seis microrganismos multirresistentes, dentre eles o S. aureus, K. pneumoniae, A. baumannii e P. aeruginosa, enfatizando duas 18 características que lhes são comuns, capacidade de persistência no meio ambiente em condições adversas e tratamento difícil. A espécie A. baumannii tem sido foco de atenção da comunidade médica e científica. A sua permanência em ambientes hospitalares, a relação que estabelece com o hospedeiro e a multirresistência a quase todas as classes de antimicrobianos, exibindo taxas sempre crescentes de resistência, converteu-a num dilema para a saúde pública, agravado pela falta de opções terapêuticas. O gênero Staphylococcus compreende cerca de 40 espécies e está associado a uma ampla variedade de doenças, sendo que aproximadamente 20 delas são responsáveis por causar infecções oportunistas. As principais espécies causadoras de doenças são S. aureus, S. epidermidis e S. saprophyticus (TRABULSI et al., 2005). S. aureus é uma bactéria de grande importância na clínica, visto que esta apresenta grande potencial em desenvolver resistência bacteriana e é responsável por diversas patologias como infecções cutâneas, intoxicação alimentar e até infecções sistêmicas fatais (XAVIER et al., 2007). Dentre as infecções causadas pelo S. aureus tem-se a osteomielite, bacteremia, endocardite, pneumonia, artrite bacteriana e meningite. Estas infecções geralmente ocorrem em pacientes que sofreram algum tipo de trauma físico, queimadura ou ainda que estejam com baixa imunidade (SILVA et al., 2007). O S. pyogenes se destaca devido à frequência e diversidade de infecções que causa. Adere e infecta as células do trato respiratório e da pele, podendo desenvolver faringotonsilite, piodermite, algumas vezes disseminar-se entre os tecidos e desenvolver doenças invasivas graves como pneumonia, meningite, fasceíte necrosante, ou ainda desencadear doenças de caráter autoimune como febre reumática e glomerulonefrite aguda. A febre reumática é em geral debilitante, de alto custo para o sistema de saúde em todo o mundo e suas complicações ocasionam problemas socioeconômicos relevantes, principalmente em países em desenvolvimento (MUSSER et al., 2009) A E. coli é um habitante normal do trato intestinal de da espécie humana e animais e exerce um efeito benéfico sobre o organismo, suprimindo a multiplicação de bactérias prejudiciais e sintetizando uma considerável quantidade de vitaminas. Dentre as cepas de E. coli, entretanto, há um grupo capaz de provocar doenças em indivíduos humanos, coletivamente chamadas de E. coli enteropatogênicas. Essas cepas ocupam hoje o segundo lugar entre os principais agentes de doenças de origem alimentar nos Estados Unidos (OLSEN et al., 2000). A infecção por E. coli é geralmente transmitida por meio do consumo de água ou alimentos contaminados, tais como produtos de carne mal cozida e leite cru. 19 O S. agalactiae é causador de infecção em neonatos que pode ocasionar quadros de septicemia, pneumonia e meningite. O risco de infecção precoce e dez a quinze vezes maiores em recém-natos prematuros, particularmente, aqueles de baixo peso onde ocorre o favorecimento da multiplicação rápida do EGB com evolução fulminante da doença (GRASSI et al., 2001). As bactérias Gram-positivas, Gram-negativas e fungos são responsáveis por diferentes processos patológicos tanto em pacientes imunocompetentes quanto em pacientes imunodeprimidos (ANTUNES, 2006). A E. coli é uma bactérias gram-negativa responsável por causar infecções no trato urinário e bacteremia em pacientes hospitalizados (TIBA; NOGUEIRA; LEITE, 2009). O reino Fungi, compreende cerca de 50.000 espécies de fungos (JAWETZ; MELNICK; ADELBERG, 2000). Devido as suas características existe a dificuldade de se elaborar novas estratégias terapêuticas específicas contra o microrganismo e inerte para o hospedeiro, visto que as células fúngicas apresentam grande semelhança às células do hospedeiro (SCHAECHTER et al., 2002). A grande maioria dos fungos é benéfica aos seres humanos, sendo responsáveis pela produção de alimentos e bebidas alcoólicas, além de apresentar características essenciais para o incremento da medicina, como o desenvolvimento de fármacos, agentes imunossupressores e metabólitos bioativos úteis. No entanto, também existem os fungos patogênicos, que causam as infecções fúngicas, conhecidas também como micose (JAWETZ; MELNICK; ADELBERG, 2000). As micoses superficiais e cutâneas são infecções fúngicas mais comuns e acometem principalmente pele, cabelos e unhas. As micoses superficiais acometem as camadas superiores queratinosas da pele e cabelos e são infecções assintomáticas. Já as micoses cutâneas são causadas principalmente pela Candida sp e são sintomáticas afetando, e muitas vezes destruindo, as camadas epidérmicas (FISCHER; COOK, 2001). A C. albicans é um fungo normalmente encontrado no corpo humano sem, contudo, ocasionar um processo patológico em indivíduos saudáveis. Este microrganismo pode facilmente ser recuperado da mucosa oral, trato gastrointestinal, vagina e pele. Entretanto, em certas circunstâncias, este microrganismo pode causar uma infecção, conhecida como candidose, que acomete principalmente pacientes imunodeficientes, podendo evoluir para infecção sistêmica (SENEVIRATNE, 2008). Além disso, a incidência de infecções hospitalares por fungos tem aumentado expressivamente nas últimas décadas. Até 60% dos óbitos oriundos de infecções hospitalares são causadas por fungos. Neste contexto, as espécies do gênero Candida têm sido os agentes 20 mais frequentemente encontrados, correspondendo à cerca de 80% das infecções fúngicas de origem hospitalar e são a quarta causa de infecção da corrente sanguínea (precedida apenas pela estafilococus coagulase-negativa, S. aureus e enterococus), conduzindo ao óbito em torno de 25 a 38% dos pacientes que desenvolvem candidemia. A capacidade da levedura em aderir, infectar e causar doença em conjunto é definida como potencial de virulência ou patogenicidade. Um dos principais mecanismos de virulência deste fungo é a sua versatilidade de adaptação, e capacidade de adesão em sítios variados. Principalmente a formação, em uma superfície, de comunidades microbianas denominadas biofilme (TAMURA, 2007). 2.4 Resistência antimicrobiana A resistência antimicrobiana é fenômeno complexo e refere-se a cepas de microrganismos que são capazes de multiplicar-se em presença de concentrações de antimicrobianos maiores do que das doses terapêuticas dadas a humanos (TAVARES, 2008). Tem sido motivo de preocupação em todo o mundo, principalmente no ambiente hospitalar. Dados publicados em estudos realizados nos Estados Unidos, Europa e América Latina mostram um número crescente de resistência bacteriana nos hospitais (ALVAREZ et al, 2006). A luta dos seres humanos contra os microrganismopatogênicos existe durante toda a história da humanidade. Como exemplos têm-se a peste bubônica, tuberculose, malária e mais recentemente, a síndrome de imunodeficiência adquirida, causando um grande número de mortes em todo o mundo. Um avanço no desenvolvimento de agentes antimicrobianos ocorreu no século XX, porém este sucesso no tratamento de infecções durou pouco tempo, uma vez que as bactérias logo desenvolveram mecanismos de resistência. Sendo assim, a resistência bacteriana torna-se um fator importante e preocupante à sociedade, visto que os mecanismos de resistências desenvolvidos pelos patógenos estão cada vez mais complexos (TENOVER, 2006). Os avanços relacionados aos procedimentos clínicos e o aparecimento de microrganismomultirresistentes aos antimicrobianos usados rotineiramente na prática médica tornaram as infecções hospitalares um grave problema de saúde pública. Estudos realizados nos Estados Unidos pelo Center for Disease Control and Prevention (CDC) mostraram que as infecções hospitalares aumentam consideravelmente as taxas de morbimortalidade e prolongam a permanência de um paciente no hospital (SILVA et al., 2007). Tem-se observado na última década um aumento acentuado de infecções, contribuindo com o aumento da taxa de mortalidade em pacientes imunocomprometidos (CANTON; VIUDES; PEMÁN, 2001). A 21 utilização de substâncias antimicrobianas representa talvez um dos maiores avanços da farmacoterapia. Estas substâncias estão entre os fármacos mais utilizados, tanto em ambulatórios quanto em hospitais, e têm reduzido drasticamente a incidência de muitas doenças infecciosas. Muitas infecções causadas por microrganismo emergentes ou multirresistentes, principalmente infecções fúngicas, permanecem sem opções terapêuticas efetivas, aliado aos sérios efeitos colaterais produzidos pela farmacoterapia (TAVARES, 2008). O uso indiscriminado de antibióticos e quimioterápicos antimicrobianos, e a facilidade dos microrganismo em desenvolver resistência natural e causar doenças oportunistas em pacientes imunodeprimidos, torna necessária a permanente investigação de novos fármacos com potencial antimicrobiano que não sejam tóxicos em doses fisiologicamente aceitas. A atividade antimicrobiana de extratos vegetais é avaliada através da determinação de uma pequena quantidade da substância necessária para inibir o crescimento do microrganismo-teste; esse valor é conhecido como Concentração Mínima Inibitória (CIM). Um aspecto bastante relevante na determinação da CIM de extratos vegetais é a preocupação em relação aos aspectos toxicológicos, microbiológicos e legais pertinentes aos compostos naturais ou suas combinações (PINTO; KANEKO; OHARA, 2003). 2.5 Métodos para determinação da atividade antimicrobiana A determinação da atividade antimicrobiana de um composto geralmente é realizada através ensaios in vitro. Os microrganismos testados são cepas padrões ou isolados de materiais biológicos (RIOS; RECIO, 2005). A Organização Mundial de Saúde (OMS) incentiva, desde 1977, a busca por novos produtos de origem natural com atividade antimicrobiana, principalmente contra microrganismo resistentes aos fármacos utilizados na clínica (BELLA CRUZ et al., 2010). Atualmente existem diversas técnicas de triagem para definir se o extrato de uma determinada planta ou substância possui atividade antimicrobiana, desde as mais simples, que podem ser realizadas rotineiramente, até as mais sofisticadas, que muitas vezes se tornam indisponíveis em alguns laboratórios (ALVES et al., 2008). Os mais difundidos incluem método de difusão em ágar, método de macrodiluição e microdiluição (OSTROSKY et al., 2008). Os procedimentos para determinar a atividade inibitória podem ser realizados tanto pelas técnicas de diluição em caldo ou em ágar. Os agentes antimicrobianos são geralmente testados em diluições consecutivas, e a menor concentração capaz de inibir o crescimento de um organismo é considerada como a CIM (PHILLIPS, 1991; PIDDOCK, 1991). 22 As variações referentes à determinação da CIM de extratos de plantas podem ser atribuídas a vários fatores. Dentre eles podemos citar a técnica aplicada, o microrganismo e as cepas utilizadas no teste, à origem da planta, época da coleta, se os extratos foram preparados a partir de plantas frescas ou secas e a quantidade de extrato testada. As CIMs são consideradas excelentes ferramentas para determinar a susceptibilidade dos organismos aos antimicrobianos e, portanto, usadas para julgar o desempenho de todos os outros métodos de susceptibilidade. Nos laboratórios de diagnóstico, as CIMs são também usadas como uma ferramenta de pesquisa para determinar a atividade in vitro de novos antimicrobianos (PHILLIPS, 1991; PIDDOCK, 1990). Vários fatores podem interferir nos resultados da determinação da CIM para determinado antimicrobiano. Como exemplos, tem-se o tipo de meio de cultura utilizado, a forma de diluição do fármaco, a padronização do inóculo bacteriano e a temperatura de incubação (ALDERMAN; SMITH, 2001). A temperatura pode alterar a estabilidade dos agentes antimicrobianos, a fisiologia e metabolismo bacteriano e as bases genéticas de regulação e expressão gênica (MICHEL; BLANC, 2001). Adicionalmente, isolados de uma mesma espécie bacteriana, adaptados diferencialmente a climas tropicais ou temperados podem apresentar características distintas de crescimento in vitro (ALDERMAN; SMITH, 2001). Os órgãos regulamentadores exigem para que um novo composto seja aceito no tratamento de patologias, que este seja tão eficiente quanto os que já estão disponíveis na clínica. (BELLA CRUZ et al., 2010). Para a classificação da atividade antimicrobiana, de extratos e/ou seus produtos de fracionamento podem ser empregados os seguintes critérios: CIM entre 10 e 100 μg/mL, é considerado como boa; entre 100 e 500 μg/mL como atividade moderada; entre 500 e 1000 μg/mL como fraca atividade; e quando a concentração for maior que 1000 μg/mL esses produtos podem ser considerados como inativos (MACHADO et al., 2009). Embora ainda seja um critério discutível, ele se baseia no fato de que a grande maioria dos antimicrobianos de uso clínico disponível apresenta atividade contra microrganismos sensíveis em concentração de até 10μg/mL (RIOS; RECIO, 2005), bem como também se leva em consideração que os extratos e frações de produtos naturais geralmente possuem composição complexa, e muitas vezes os compostos ativos estão presentes em quantidades muito pequenas (BELLA CRUZ et al., 2010). A forma de como a preparação do extrato, fracionamento ou composto é obtido podem influenciar nos testes de atividade antimicrobiana. Isto se deve ao fato de que dependendo do tipo de solvente empregado para a obtenção dos extratos, bem como os procedimentos de extração e fracionamento utilizados, é possível se alcançar melhores índices 23 de extração dos princípios ativos ou o contrário. Consequentemente isto interfere nos resultados da avaliação da atividade (COS et al., 2006). É importante lembrar que para os testes de atividade antimicrobiana os extratos, frações e compostos devem estar totalmente isentos de solventes utilizados durante sua obtenção, bem como também devem ser mantidos protegidos da luz, umidade e temperatura excessiva antes do teste (BELLA CRUZ et al., 2010). Diversos são os fatores que afetam a suscetibilidade do método de difusão e de diluição. Há assim, a necessidade do conhecimento das condições experimentais e padronização rigorosa na execução do teste. Os aspectos importantes a serem considerados são: meios de cultura, pH, disponibilidade de oxigênio, inóculo, condições de incubação, soluções diluentes, entre outras (ALDERMAN; SMITH, 2001). De acordo com o Órgão Internacional de Padronização (International Standard Organization), ISO 10993, o ensaio de citotoxicidade in vitro é o primeiro teste para avaliar a biocompatibilidade de qualquer material para uso em dispositivos biomédicos e depois de comprovada a sua não toxicidade é que o estudo da biocompatibilidade do produto pode ter continuidade realizando-se os ensaios necessários em animais de laboratório. Preconiza-se que novos produtos ou produtos de ação ainda desconhecida devem ser analisados quanto a sua citotoxicidade, por meio de estudos in vitro de cultivo celular – o mais utilizado para testes de toxicidade – e de experimentos em animais para, em seguida, serem aplicados clinicamente em humanos (FRESHNEY, 2000). 2.6 A cultura de cana-de-açúcar A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) é um vegetal semiperene que pode ser cultivada em áreas subtropicais, entre 15° e 30° de latitude e pertence à seguinte classificação botânica (CASTRO; KLUGE, 2001): divisão: Magnoliophyta; subdivisão: Angiosperma; classe: Liliopsida; subclasse: Commilinidae; família: Poaceae (Graminae); tribo: Andropogonae; subtribo: Saccharininae e gênero: Saccharum. A cana-de-açúcar apresenta pelo menos seis espécies, cultivada comercialmente, um híbrido multiespecífico, recebendo a designação Saccharum sp.. É uma cultura que produz, em curto período, um alto rendimento de matéria verde, energia e fibras, sendo considerada uma das plantas com maior eficiência fotossintética. Seu plantio em larga escala é tradicional em vários países das regiões tropical e subtropical para a produção de açúcar, álcool e outros subprodutos. Entretanto, a presença de plantas com características 24 desfavoráveis nas plantações pode reduzir drasticamente o rendimento da cultura (ENRIQUEZ-OBREGÓN, 1998). Planta herbácea de raiz geniculada e em parte fibrosa; colmo arqueado na base, cilíndrico, simples, articulado e um pouco mais grosso nos internós, carnoso e com epiderme lenhosa de cor amarelada, verde ou violácea; folhas amplexicantes, dísticas, planas, lineares, ápice agudo, ásperas, nervura central saliente e bainha espinescente; espiguetas com flores pequenas, hermafroditas; fruto do tipo cariopse ovóide (DI STASI, 2002). A origem da cana de açúcar ainda é muito discutida, porém, alguns pesquisadores consideram que ela seja nativa das ilhas do Arquipélago da Polinésia (CESNIK, 2004). As variedades de cana são usadas na indústria na produção de açúcar, álcool, aguardente, cachaça ou forragem (ANDRADE, 2003). Os subprodutos da cana (bagaço, vinhaça e tona de filtro) são de grande importância socioeconômica na geração de energia, ração animal, aglomerados, fertilizantes, entre outros. A primeira espécie de cana-de-açúcar introduzida no Brasil foi Saccharum officinarum L., que foi trazida da ilha da madeira, em 1502. Essa espécie era uma cana conhecida como nobre ou cana tropical, caracterizada pelo seu alto teor de açúcar, porte elevado, colmo grosso e pouco teor de fibras. Devido a essas características S. officinarum foi cultivada nos três primeiros séculos da colonização, provavelmente uma única variedade, que no século XlX recebeu o nome de cana “Creoula” ou “Mirim” ou ainda “Cana da terra”, para distinguir dos novos cultivares importados que começaram a chegar no país (LIMA, 1984). Segundo Miocque e Machado Junior (1977), o ciclo da creoula estendeu-se desde 1532 a 1810 e por ser pouco rústica e susceptível a várias doenças, seu cultivo estava limitado a terras virgens com alta fertilidade. A substituição por híbrido interespecífico do gênero Saccharum se deu em função do sucessivo cultivo. Dessa forma, cultivares dessa espécie começou a sofrer problemas com doenças, pragas e falta de adaptações ambientais. Nunes Junior (1987) relata que a variedade Creoula começou a ser substituída pela cana Caiana a partir do ano de 1810, nos principais Estados produtores (Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro). Por ser uma variedade mais produtiva e rica em sacarose, proporcionou ganhos significativos para a indústria açucareira no Brasil, tendo sido considerada como o principal fator que levou este segmento á expansão. O ciclo da caiana durou até próximo do ano de 1880 quando essa variedade foi submetida a um severo ataque de Gomose, doença causada por Xanthomonas axonopodis, nas principais regiões canavieiras do país. A partir da criação do PROALCOOL, década dos anos setenta do século 20, um novo ciclo de pesquisa se iniciou dando suporte a expansão da cultura no país. Em poucos 25 anos, as áreas plantadas com a cana-de-açúcar triplicaram, invadindo áreas consideradas menos aptas principalmente nas regiões de cerrados. Para enfrentar os novos desafios advindos dessa expansão iniciaram-se os programas de melhoramento genético visando à obtenção de novas variedades (MACHADO, 2009). A safra de cana-de-açúcar (2010/2011) foi de 629 milhões de toneladas processado pelo setor sucroalcooleiro, representando um aumento de 10% do obtido na safra 2009/2010. A região Centro-Sul produziu aproximadamente 90% do total nacional, ou seja, 550 milhões de toneladas de cana de açúcar. Do total produzido no Brasil, 44,7% foi destinada à fabricação de açúcar e 55,3% a produção de álcool, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2013). Os cálculos apontam que entre 1975 a 2008, o álcool substituiu 280,88 bilhões de litros de gasolina no Brasil, ou 1,77 bilhões de barris, o que correspondente a 13% das reservas de petróleo do País. As receitas com exportações de açúcar, álcool e melaço em 2008 somadas à gasolina substituída geraram divisas de US$ 18,7 bilhões. Assim, fica evidente a importância econômica da cana-de-açúcar para o Brasil. 26 3 OBJETIVOS 3.1 Geral Avaliar a atividade antimicrobiana de produtos manipulados obtidos a partir do extrato etanólico da polpa da cana de açúcar (Saccharum officinarum) 3.2 Específicos a) Comparar a atividade antimicrobiana do extrato etanólico da polpa da cana-deaçúcar com os produtos obtidos do mesmo; b) Determinar a concentração inibitória mínima (CIM) do produto com melhor atividade antimicrobiana no teste de triagem; c) Analisar a atividade antimicrobiana do melhor produto no teste de triagem, através da determinação da concentração bactericida mínima (CBM) e concentração fungicida mínima (CFM). d) Analisar a ação na degradação do biofilme formado em poliestireno e vidro pelo EE e pelo melhor produto com atividade antimicrobiana no teste de triagem. 27 4 METODOLOGIA 4.1 Tipo de estudo e local da pesquisa O presente trabalho consistiu em um estudo experimental descritivo, realizado no Laboratório de Microbiologia Médica da Universidade CEUMA, São Luís, MA, Brasil. 4.2 Material Botânico A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) usada para a elaboração do EE foi catalogada e identificada no herbário botânico Rosa Mochel da Universidade Estadual do Maranhão sob a numeração (4026). 4.3 Obtenção do Extrato Etanólico O extrato etanólico (EE) bruto da polpa da Saccharum officinarum (cana de açúcar) foi obtido a partir da planta fresca pelo processo de maceração a frio. Para tanto, foram utilizados 0,3 g/mL na concentração de extrato bruto que foram obtidos a partir de 300g da planta e 1000 mL de álcool (99,9%). Inicialmente, a polpa foi devidamente selecionada, higienizada, cortada, pesada em balança eletrônica, e acondicionada em vidros com tampa rosqueada e protegido da luz com papel alumínio por sete dias com o solvente extrator, sendo agitados periodicamente. Após esse período, o mesmo foi filtrado e o extrato bruto obtido foi colocado em estufa (40ºC) para secagem, obtendo-se um peso seco de 140,031g, sendo acondicionado em recipientes apropriados de vidro âmbar. O preparo dos extratos foi realizado no Laboratório de Alimentos do Instituto Florence de Ensino Superior e encaminhado ao laboratório de Microbiologia Médica e de Alimentos – Núcleo de Doenças Endêmicas e Parasitárias da Universiddade- UNICEUMA, para os testes da atividade antimicrobiana. O processo de obtenção deste EE, e assim como os produtos obtidos deste extrato teve a patente requerida pelo n° BR 10 2013 029245 1. 4.4 Estudo Fitoquímico do Extrato Etanólico 28 A triagem fitoquímica qualitativa foi realizada segundo o método descrito por Matos (2009), conforme Tabela 1. Este tente possui a finalidade de detectar a presença de classes de metabólitos secundários. Para identificar o grupo de estreróides e triterpenos foi usada a reação de Lieabermann-Buchard; na classe dos fenóis e taninos foi usada a reação com solução alcoólica de cloreto férrico; para as classes de antocianinas, antocianidinas, flavonóides, leocoantocianianidinas, catequinas, flavonóis, xantonas e flavononas foi usado a mudança de pH. Para a reação com cloreto férrico foi adicionado de 3 a 5 gotas de solução aquosa de cloreto férrico 1% em 1 mL do extrato aquoso. O desenvolvimento de coloração azul ocorre na presença de taninos; coloração verde, na presença de flavonóides; e coloração marrom na presença de poli fenóis. A reação de Libermann Bouchard em evaporar 30 mL do EE em banho-maria até a secura. Dissolver os resíduos em 5 mL de clorofórmio e filtrar. Com o auxílio de uma pipeta, levar, de cada uma das frações, as seguintes quantidades a três tubos de ensaio diferentes: 0,1 mL; 0,5 mL; 1,0 mL. Em seguida, completar os volumes com clorofórmio até 2 mL. Em capela, adicionar 1 mL de anidrido acético e 2 mL de ácido sulfúrico (H2SO4) concentrado. A mudança da coloração do extrato para rósea ou azul indica a presença de esteróides ou triterpenos com função carbonila (C=O) no carbono 3 e dupla ligação entre os carbonos 5 e 6 da estrutura. Foram transferidos 2 mL do EE para cinco tubos de ensaio e procedeu-se à pesquisa de alcaloides adicionando 2 gotas dos seguintes reativos: reativo de Mayer (mercúrio tetraiodeto de potássio) e reativo de Dragendorff (tetraiodeto bismuto de potássio). Observouse se houve a formação de precipitado branco ou leve turvação branca para o reativo de Mayer e precipitado de cor tijolo para o reativo de Dragendorff. 29 Tabela 1 – Classes de metabólitos analisados na prospecção fitoquímica do extrato da polpa da cana-de-açúcar. METABÓLITOS SECUNDÁRIOS TESTES Fenóis Teste com o cloreto férrico Taninos hidrolisáveis Teste com o cloreto férrico Taninos condensados Teste com o cloreto férrico Antocianidina, antocianina e flavonóides Teste de mudança de pH (pH 3; 8,5 e 11) Flavonas, flavonóis e xantonas Teste de mudança de pH (pH 3; 8,5 e 11) Chaconas e auronas Teste de mudança de pH (pH 3; 8,5 e 11) Leucoantociacianidinas, catequinas Teste de mudança de pH (pH 3; 8,5 e 11) Esteróides Teste de Libermann-Bouchard Triterpenóides Teste de Libermann-Bouchard Alcalóides Teste com Dragendorff, Mayer e Hager 4.5 Manipulação dos produtos obtidos a partir do extrato etanólico Foram manipulados três produtos a partir do EE: uma solução, um creme e um óvulo. Os produtos foram preparados em uma farmácia de manipulação de São Luís. 4.6 Cepas bacterianas e fúngicas As amostras bacterianas são oriundas do Laboratório de Microbiologia Médica do UNICEUMA e as amostras fúngicas do Laboratório de Micologia Médica do UNICEUMA. Para realização dos testes foi utilizados cepas padrão (ATCC) e isolados clínicos. As amostras bacterianas testadas foram: Staphylococcus aureus (25923), MRSA - Staphylococcus aureus resistente à meticilina (ATCC 343602), Streptococcus pyogenes (ATCC 13613), Streptococcus agalactiae (ATCC 13813), Pseudomonas aeruginosa (ATCC 27883), Escherichia coli (ATCC 2592) e Klebsiella pneumoniae (ATCC 700.003). As amostras multirresistentes oriundas de isolados clínicos são: Stenotrophomonas maltophilia (amostra sanguínea), Acinetobacter baumannii (secreção traqueal) e B. cepacia. (amostra sanguínea). As amostras fúngicas testadas foram: Candida albicans ATCC (18804) e amostras clínicas de: Candida albicans, Candida parapsilosis, Candida glabrata, Candida rugosa, Candida tropicallis, Trichosporon asahii, Trichosporon mucoides e duas amostras de Cryptococcus laurentii. As amostras de Trichosporon asahii, T. mucoides e as duas amostras 30 de Cryptococcus laurentii foram provenientes da lesão de pele de pacientes infectados com AIDS. 4.7 Preparo das suspensões microbianas Os microrganismos foram inicialmente reativados a partir das suas culturas originais e mantidos em meio líquido BHI (Brain Heart Infusion) a 37°C por 24h. Posteriormente, as amostras foram cultivadas em placas de Ágar Nutriente a 37°C por 18-24 horas. Colônias isoladas foram então ressuspendidas em 3 mL de solução fisiológica (NaCl 0.9 %) estéril até atingir uma turbidez equivalente na escala 0,5 de McFarland (1,5 x 108 UFC/mL). 4.8 Triagem pelo Método de difusão em Agar Para a realização deste teste foram utilizadas as seguintes amostras bacterianas P. aeruginosa (ATCC 27883), E. coli (ATCC 2592), K. pneumoniae (ATCC 700003) e S. aureus (ATCC 25923). O potencial antimicrobiano da solução, creme e óvulo foram inicialmente avaliados pela técnica da difusão em meio Müller Hinton. Os poços foram identificados, e adicionou-se com o auxílio de pipeta 30 µL de cada uma das três formas (CLEELAND; SQUIRES, 1991). Como controle positivo foi usado o cloranfenicol (0,01g/mL) e como controle negativo o álcool 50% e o DMSO. Em seguida o material foi levado à estufa a 35°c por 24 horas. No dia seguinte, mediu- se os halos formados em milímetros com auxílio de um paquímetro. Dentre os três produtos testados (solução, creme e óvulo), escolheu-se o que melhor obteve resultado para dar prosseguimento aos demais testes. Após o teste de triagem, para todos os demais testes foram utilizadas as seguintes amostras: S. aureus (ATCC 25923), MRSA - Staphylococcus aureus resistente à meticilina (ATCC 343602), S. pyogenes (ATCC 13613), S. agalactiae (ATCC 13813), P. aeruginosa (ATCC 27883), E. coli (ATCC 2592), K. pneumoniae (ATCC 700.003), Stenotrophomonas maltophilia, Acinetobacter baumannii, Burkholderia cepacia, C. albicans (ATCC 18804), C. albicans, C. parapsilosis, C. glabrata, C. rugosa, C. tropicallis, T. asahii, T. mucoides e duas amostras de Cryptococcus laurentii. 4.9 Método de difusão do extrato etanólico e da solução em Agar 31 O potencial antimicrobiano do EE e da solução foram avaliados pela técnica de difusão em meio Müller Hinton (CLEELAND; SQUIRES, 1991), conforme descrito no item 4.8. 4.10 Concentração Inibitória Mínima (CIM) do extrato etanólico e da solução A determinação da CIM foi feita através da técnica de Macrodiluição (PHILLIPS, 1991; PIDDOCK, 1990). Para isto, cada suspensão bacteriana e fúngica foi homogeneizada em caldo BHI na proporção 1:1000 (v/v), onde foi obtido uma concentração bacteriana em torno de 1-2 x 105 UFC/mL. A diluição dos tubos de vidro estéreis foram preparados com 5 mL de diluições seriadas de razão 2 do EE e da solução. Após a diluição, 5 µL de cada inóculo foram transferidos para os tubos. Foi utilizado como controle positivo o meio BHI e como controle negativo o etanol 99,9%. Os tubos foram em seguida homogeneizados com auxílio de um vórtex em baixa velocidade e incubados nas mesmas condições descritas anteriormente. A CIM foi a menor concentração do extrato ou da solução onde não houve crescimento bacteriano ou fúngico visível. 4.11 Concentração Bactericida Mínima (CBM) ou Concentração Fungicida Mínima (CFM) do EE e da solução Utilizaram- se os tubos incubados para determinação da CIM em meio líquido para determinação da CBM ou CFM (PHILLIPS, 1991; PIDDOCK, 1990). Uma alíquota (1 mL) de cada tudo foi inoculada em placas de Ágar Müeller Hinton e posteriormente estas placas foram incubadas em ambiente à 37°C por 18-24h. As CBM ou CFM foram consideradas para a menor concentração do extrato ou da solução onde não houve crescimento celular sobre a superfície do ágar inoculado (99,9% de morte microbiana). 4.12 Degradação do Biofilme pelo EE e solução 4.12.1 Análise da degradação do biofilme formado em poliestireno Após preparo da suspensão conforme item 4.7, uma amostra foi adicionada em microplacas com 96 poços com fundo em U, em volume de 200 μL/cavidade, depois de preenchidas as placas foram incubadas a 37°C por 24 horas em estufa. Após tempo de 32 incubação, as placas foram lavadas por três vezes com tampão PBS e deixadas à temperatura ambiente, então o extrato bruto e o produto manipulado foram adicionados aos poços para análise da ação antimicrobiana nos biofilmes formados e novamente as placas incubadas a 37°C por 24 horas. Após esse período adicionou-se às placas 200μL/cavidade de cristal violeta, que foram incubadas por 15 minutos a temperatura ambiente e depois foram lavadas com água destilada por três vezes, e deixadas secar em temperatura ambiente. As placas coradas com cristal violeta foram submetidas à espectrofotometria com filtro de 540nm para aferir as respectivas absorbâncias (Ab) de cada poço. Em que uma maior absorbância relaciona-se com uma maior formação de biofilme. Como controle negativo foi utilizado o meio de cultura BHI e como controle positivo o fluconazol (0,00128g/mL) para as amostras fúngicas e o cloranfenicol (0,01g/mL) para as amostras bacterianas segundo a metodologia de Stepanovic et al., com alterações (2004). Todos os testes foram realizados em triplicata, em dias diferentes. 4.12.2 Análise da degradação do biofilme formado em vidro Para a análise da degradação do biofilme em vidro, foi utilizado a metodologia de Garcia et al. (2002 apud MORAES, 2013), com algumas modificações. Lamínulas redondas de vidro foram colocadas em poços de microplacas (24 poços) contendo BHI. Posteriormente, os poços foram inoculados com 40μL da suspensão bacteriana previamente crescida em BHI, em cada poço e a placa foi incubada por 24 h à37 ºC. Decorrido este período, as placas foram lavadas três vezes com PBS (pH 7,2) e então adicionado 600μL do extrato e do produto manipulado nos poços para analise da ação antimicrobiana nos biofilmes formados e novamente incubadas a 37°C. Após 24 horas de incubação as placas foram coradas por cristal violeta por 10 minutos e então lavada novamente com PBS (pH 7,2), as lamínulas foram retiradas e fixadas em lâminas para serem examinadas por microscopia de luz. 33 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Análise fitoquímica do EE A análise fitoquímica fornece informações relevantes a cerca da presença de metabólitos secundários nas plantas, para que assim possa chegar ao isolamento de princípios ativos importantes na produção de novos fitoterápicos. Os resultados são classificados em positivo fraco (+), positivo moderado (++) e positivo forte (+++). A análise fitoquímica do EE mostrou a presença de Flavonas, Flavonóides e Xantonas, classificados como fraco positivo, conforme mostrado na Tabela 2. Tabela 2 - Prospecção fitoquímica do Extrato etanólico da polpa da cana-de-açúcar. Metabólitos Secundários Resultado 1 Fenóis - Taninos hidrolisáveis - Taninos condensados - Flavonas, flavonóis e xantonas + Chaconas e auronas - Leucoantociacianidinas, catequinas - Esteróides - Triterpenóides - Alcalóides - 1 + ++ fortemente positivo, ++moderadamente positivo, +positivo, -negativo Os flavonóides são classificados em 10 classes de compostos, de acordo com seu processo de formação: antocianinas, leucoantocianidinas, flavonóis, flavonas, glicoflavonas, biflavonilas, chalconas, auronas, flavanonas e isoflavonas. Possuem propriedades químicas dos fenóis, sendo relativamente solúveis em água, principalmente quando possuem moléculas de açúcares ligadas à sua estrutura (YAO et. al. 2004). Dentre os interesses farmacêuticos, os flavonóides têm lugar de destaque devido às propriedades antitumorais, antialérgicos, intiinflamatórios e antivirais, sendo atualmente estudados no combate à AIDS (PEREIRA, 2002). As classes de flavonóides mais abundantes na cana-de-açúcar são as flavonas e seus derivados metilados e glicosilados, estando presentes tanto os O-glicosídeos como os Cglicosídeos (MCGHIE, 1993). Cowan (1999) sugere que as classes de compostos presentes 34 na cana-de-açúcar –flavonas – sejam responsáveis pela potencial atividade contra vírus, bactérias e fungos. Este resultado foi encontrado também por Leme et al. (2010), em que a abordagem fitoquímica da cana de açúcar mostrou a presença de flavonóides, estes responsáveis pela atividade antimicrobiana. Resultados de Vila et al. (2006) sugerem que a polpa da cana-de-açúcar apresenta uma quantidade relevante de flavonóides, vários com atividade antioxidante. Em um estudo realizado por Lorenze (2002), foi encontrado que o EE da espécie Cymbopogon citratus (Capim-limão) da família Poaceae, da mesma família da cana-de-açúcar, apresentou-se positiva para taninos, flavonóides e alguns ácidos fenólicos. Porém, um estudo de Schuck (2001), analisou-se a atividade antimicrobiana dos EE de C. citratus sobre os microrganismos: S. aureus, E. coli e C. albicans, onde o EE não apresentou nenhum efeito sobre os microrganismo testados. Estudo de Oliveira (2010) mostrou que a grande atividade antifúngica e o baixo potencial citotóxico das flavonas, classe predominante na cana-de-açúcar, revelam esta classe de compostos químicos promissora para desenvolvimento de novos antifúngicos. 5.2 Triagem pelo Método de difusão em Agar A solução, o creme e o óvulo derivados do EE foram testados em ágar. A formação de halo de inibição está apresentado na Tabela 3. Nota-se a sensibilidade das amostras de E. coli, P. aeruginosa, K. pneumoniae e S. aureus à solução. Devido a essa maior atividade do produto na forma de solução, esta foi selecionada para o prosseguimento com os demais testes de atividade antimicrobiana. A solução teve uma maior ação inibitória do que o creme provavelmente devido a melhor difusão da molécula ativa constituinte do EE (flavonóides) em meio líquido, já que a concentração do EE é a mesma no creme e na solução. A ação antimicrobiana do óvulo foi menor do que o creme e da solução provavelmente porque a concentração do EE no óvulo é menor do que a do creme. Como controle negativo, foram utilizados os componentes usados na manipulação da solução, creme e óvulo: Álcool a 50% e o DMSO. Como padrão ouro foi usado o cloranfenicol (0,01g/mL). A figura 1 destaca a formação do halo de inibição pela solução. 35 Tabela 3 - Atividade inibitória dos subprodutos do extrato etanólico da S. officinarum contra cepas de referência através do teste de difusão em ágar. Amostra Halo de inibição (mm) Cloranfenicol1 1 Óvulo2 Creme2 Solução2 E. coli 18 - - 8 P. aeruginosa 15 - - 8 K. pneumoniae 35 - 11 15 S. aureus 33 - 10 25 Controle Positivo: Cloranfenicol (0,01g/mL), 2 Produto obtidos do extrato etanólico da polpa da S. officinarum. Figura 1 – Atividade antimicrobiana da Pseudomonas aeruginosa pela técnica de difusão em meio sólido pelo óvulo (O), creme (C) e solução (L) obtidos do extrato etanólico da S. officinarum. 5.3 Método de difusão do EE e da solução em Agar Verificou-se atividade antimicrobiana da solução em meio sólido em cinco das dez amostras bacterianas utilizadas (Tabela 4). As amostras bacterianas sensíveis à solução foram: S. aureus, S. agalactiae, P. aeruginosa, E. coli e K. pneumoniae Em relação ao EE, as amostras sensíveis foram as de E. coli, K. pneumoniae, S. aureus e S. agalactiae. 36 Tabela 4 – Atividade inibitória do extrato etanólico da S. officinarum e da solução contra cepas de referência e contra isolados clínicos de bactérias através do teste de difusão em ágar. Microrganismos Halo de inibição (mm) Extratoa Soluçãob CNc Staphylococcus aureus 8 22 0 Streptococcus pyogenes 0 0 0 Streptococcus agalactiae 9 20 0 Stenotrophomonas maltophilia 0 0 0 MRSA 0 0 0 Acinetobacter baumannii 0 0 0 Pseudomonas aeruginosa 0 7 0 Burkholderia cepacia 0 0 0 Escherichia coli 8 8 0 Klebsiella pneumoniae 15 13 0 a b Extrato etanólico da polpa da S. officinarum, Solução obtida do extrato etanólico da polpa da S. officinarum, Controle negativo-etanol 50%. c Dentre os fungos, verificou-se atividade antimicrobiana da solução e do EE em nove das dez amostras estudadas, todas as amostras fúngicas foram sensíveis tanto ao EE quanto a solução com exceção da C. glabrata (Tabela 5). 37 Tabela 5 - Atividade inibitória do extrato etanólico da S. officinarum e da solução contra cepa de referência e contra isolados clínicos de fungos através do teste de difusão em ágar. Micro-organismos Halo de inibição (mm) Extratoa Soluçaob CNc Candida glabrata 0 0 0 Candida albicans 13d 15 0 Candida parapsilosis 13 15 0 Candida tropicalis 10 8 0 Cryptococcus laurentii (amostra 1) 10 15 0 Cryptococcus laurentii (amostra 2) 18 10 0 Trichosporon mucoides 10 10 0 Trichosporon asahii 10 8 0 Candida albicans ATCC 18804 20 10 0 Candida rugosa 8 12 0 a b Extrato etanólico da polpa da S. officinarum, Solução obtida do extrato etanólico da polpa da S. officinarum, Controle negativo-etanol 50%. c De acordo com Martins et al (2010) os extratos de plantas frequentemente possuem baixas propriedades de difusão, ressaltando que a técnica de diluição em caldo é a melhor maneira de estabelecer a real potencia de um composto. Este fato não verificado com o nosso EE e com a solução, vista que houve a formação de halo de inibição na maioria das amostras testadas. 5.4 Concentração Inibitória Mínima (CIM) Em relação à solução, a menor CIM encontrada foi de 14 mg/mL para as amostras de MRSA, S. aureus e S. pyogenes. Para as bactérias S. agalactiae, P. aeruginosa, B. cepacia, A. baumannii, Stenotrophomonas maltophilia e K. pneumoniae, a CIM foi de 28 mg/mL. A CIM do ciprofloxacino pode chegar até 0,004 mg/mL, essa diferença de CIM do medicamento de referência e da solução pode ser explicada pelo fato de que na solução o principio ativo não estar de forma isolada. Estudos futuros são necessários para a determinação da CIM dos princípios ativos isolados encontrados na polpa da cana-de-açúcar. 38 Os resultados da CIM estão descritos na Tabela 6. Quanto ao EE, a menor CIM encontrada foi de 187 mg/mL para as amostras de MRSA, S. aureus e S. pyogenes, demonstrando uma ação antimicrobiana maior da solução para as bactérias Gram positivas. Tabela 6 - Concentração inibitória mínima in vitro do extrato etanólico da Saccharum officinarum e da solução sobre cepas de referência e isolados clínicos de bactérias. Microrganismo CIM (mg/mL) Extrato1 Solução2 CN3 Staphylococcus aureus 187 14 0 Streptococcus pyogenes 187 14 0 Streptococcus agalactiae 1500 28 0 Stenotrophomonas maltophilia 750 28 0 MRSA 187 14 0 Acinetobacter baumannii 750 28 0 Pseudomonas aeruginosa 375 28 0 Burkholderia cepacia 375 28 0 Escherichia coli 750 112 0 Klebsiella pneumoniae 750 28 0 1 Extrato etanólico da polpa da Saccharum officinarum, officinarum, 3 Controle negativo – etanol 50%. 2 Solução obtida do EE da polpa da Saccharum Quanto as amostras fúngicas, os dados estão exibidos na Tabela 7, em que a CIM encontrada para o EE foi de 187 mg/mL para o isolado clínico de T. mucoides. Enquanto, para as amostras de C. glabrata, C. albicans, C. parapsilosis, C. tropicalis, C. albicans ATCC e C. rugosa a CIM encontrada foi de 375 mg/mL. Para a solução, a menor CIM encontrada foi de 7 mg/mL para os isolados clínicos de C. rugosa e T. mucoides. Para as amostras de C. laurentii (amostra 2), T. asahii e C. albicans ATCC a CIM encontrada foi de 14 mg/mL. Valor esse maior que a CIM do fluconazol, que pode chegar a 0,016 mg/mL. 39 Tabela 7 - Concentração inibitória mínima in vitro do extrato etanólico da polpa da Saccharum officinarum e da solução contra cepas de referencia e isolados clínicos de fungos. Microrganismo CIM (MG/mL) Extrato 1 Solução 2 CN3 Candida glabrata 375 28 0 Candida albicans 750 112 0 Candida parapsilosis 375 7 0 Candida tropicalis 375 28 0 Cryptococcus laurentii (amostra 1) 750 28 0 Cryptococcus laurentii (amostra 2) 750 14 0 Trichosporon mucoides 187 7 0 Trichosporon asahii 375 14 0 Candida albicans ATCC 18804 375 14 0 Candida rugosa 375 7 0 1 Extrato etanólico da polpa da Saccharum officinarum, 2 Solução obtida do EE da polpa da Saccharum officinarum, 3 Controle negativo – etanol 50%, 4 Concentração mínima para inibição de 50% do crescimento microbiano em mg/mL Observa-se a diminuição da CIM da solução em relação EE para uma mesma amostra. Essa redução foi observada em todas as amostras de fungos e bactérias estudados, com exceção da C. albicans. De acordo com estudos de Duarte (2005) a atividade antimicrobiana de vários compostos frente aos diversos microrganismos foram propostos valores que têm sido considerados como referência e que seguem a seguinte interpretação: inibição alta - CIM até 5 mg/mL; inibição moderada- CIM entre 6 e 15 mg/mL; inibição baixa – CIM acima de 16 mg/mL (DUARTE, 2005). Baseado neste estudo, a solução possui uma inibição moderada para as amostras bacterianas: MRSA, S. aureus, S. pyogenes e K. pneumoniae; e inibição baixa para as demais amostras. Em relação aos fungos, a solução possui inibição moderada para as amostras de: C. glabrata, C. parapsilosis, C. laurentii (amostra 2), T. mucoides, T. asahii, C. albicans ATCC e C. rugosa. Para as demais amostras de fungos, a inibição da solução foi baixa. Em relação ao EE, a inibição foi baixa para todas as amostras bacterianas e fúngicas. No entanto a real eficácia de uma planta medicinal pode não ser devido a um 40 componente ativo principal, mas a ação combinada de diferentes compostos originalmente na planta. Em estudos para análise de antibacterianos foi observado que as interações menores in vitro podem não resultar em efeito significativo in vivo, mas podem fazer a diferença para a duração de um efetivo nível do fármaco in vivo e podem muito facilmente ocorrer em extratos de plantas naturais (NENAAH, 2010). Existem estudos na literatura a respeito do efeito sinérgico entre extratos com potencial antioxidante juntamente com antibióticos, onde há um aumento na eficácia clínica destes antibióticos por parte dos extratos (OKUSA et al., 2007). Sabe-se que a cana-de-açúcar é rica em antioxidantes, conforme mostrou Vila (2006). Fato este demonstra a importância de estudos futuros no intuito de selecionar uma mistura sinérgica de ativos com as melhores propriedades terapêuticas do EE. 5.5 Concentração Bactericida Mínima (CBM) e Concentração Fungicida Mínima (CFM) Para a solução, a menor CBM encontrada foi de 750 mg/mL para as seguintes bactérias: MRSA, S. aureus, S. pyogenes, K. pneumoniae e E. coli (Tabela 8). A menor CBM do EE foi de 750 mg/mL para as amostras de MRSA, S. aureus, S. pyogenes e Eschericha coli. Destaca-se a ação bacteriostática nas amostras de isolados clínicos multirresistentes de S. maltophilia, B. cepacia e A. baumannii. Mostrando a importância desta solução como uma possível opção terapêutica, visto que estas bactérias são de alta prevalência entre as bactérias multirresistentes encontradas em ambiente hospitalar. Um estudo de Andrade (2006) mostrou que entre as bactérias multirresistentes encontradas em UTI, 14,3% eram A. baumannii, 10,2% de Klebsiella sp. e 6,1% de Stenotrophomonas maltophilia. 41 Tabela 8 - Concentração bactericida Mínima do extrato etanólico da polpa da S. officinarum e da solução. Microrganismo CBM (mg/mL) Extrato1 Solução2 CN3 Staphylococcus aureus 750 750 0 Streptococcus pyogenes 750 750 0 Streptococcus agalactiae 1500 1500 0 Stenotrophomonas maltophilia >1500 >1500 0 Burkholderia cepacia >1500 >1500 0 Acinetobacter baumannii >1500 >1500 0 Pseudomonas aeruginosa 1500 1500 0 MRSA 750 750 0 Escherichia coli 750 750 0 Klebsiella pneumoniae 1500 750 0 1 Extrato etanólico da polpa da Saccharum officinarum, Saccharum officinarum, 3 Controle negativo – etanol 50%. Fonte: Elaborado pelo autor (2013) 2 Solução obtida do extrato etanólico da polpa da Em relação aos fungos, a CFM da solução foi de 370 mg/mL para os seguintes patógenos: C. glabrata, C. parapsilosis, T. mucoides, T. asahii, C. albicans (ATCC 18804), C. rugosa e as duas amostras de C. laurentii (Tabela 9). Destacando a ação fungicida sobre as amostras isoladas de lesões de pele de pacientes com AIDS (T. mucoides, T. asahii e as duas amostras de C. laurentii) devido à dificuldade de tratamento desses pacientes e a alta porcentagem de falha terapêutica. Este resultado mostra a atividade antimicrobiana contra fungos e bactérias desta solução, possuindo grande potencial para utilização comercial além da sua viabilidade econômica. Os dados mostram o aumento do espectro de ação da solução quando comparado ao extrato bruto. 42 Tabela 9 - Concentração Fungicida Mínima do extrato etanólico da polpa da S. officinarum e da solução fitoterápica Microrganismo CFM (mg/mL) Extrato1 Solução2 CN3 Candida glabrata >1500 3704 0 Candida albicans >1500 750 0 Candida parapsilosis 1500 370 0 Candida tropicalis >1500 >1500 0 Cryptococcus laurentii (amostra 1) 1500 370 0 Cryptococcus laurentii (amostra 2) 1500 370 0 Trichosporon mucoides 750 370 0 Trichosporon asahii 750 370 0 >1500 370 0 750 370 0 Candida albicans ATCC 18804 Candida rugosa 1 Extrato etanólico da polpa da Saccharum officinarum, 2 Solução obtida do extrato etanólico da polpa da Saccharum officinarum 3 Controle negativo – etanol 50%. Nas amostras fúngicas, somente para C. tropicalis não se obteve uma CFM da solução, mostrando que a solução tem efeito fungicida para todos os outros fungos. Durante a realização dos experimentos não foram encontrados dados similares na literatura sobre atividade antibacteriana ou antifúngica do EE da polpa da cana-de-açúcar, por esse motivo foi dada entrada em um pedido de patente relacionado ao modo de preparação do extrato e dos produtos obtidos do mesmo com fins antimicrobianos. 5.6 Degradação do Biofilme 5.6.1 Análise da degradação do biofilme formado em poliestireno Observa-se no Gráfico 1, uma atividade da solução e do EE na degradação do biofilme nas cepas de MRSA, Pseudomonas, Acinetobacter, Stenotrophomonas e T. mucoides. Sendo que na amostra de MRSA, a degradação do biofilme pelo EE e pela solução foi superior ao medicamento de referência. Nas demais amostras não se verificaram ação na degradação do biofilme. Novamente observa-se a ação da solução sobre o biofilme formado por cepas multirresistentes de MRSA, A. baumannii e Stenotrophomonas maltophilia, uma ação 43 semelhante ao do medicamento de referência. Gráfico 1 - Degradação do biofilme formado em poliestireno, onde se tem: controle positivo (CP) representado pelo cloranfenicol (0,01g/mL) para bactérias e fluconazol (0,00128g/mL) para fungos; extrato etanólico (EE) da polpa da Saccharum officinarum, (0,3g/mL); solução - obtida do EE da polpa da Saccharum officinarum; controle negativo (CN) – etanol 50%. 100 80 60 40 20 0 MRSA P. aeruginosa CN A. baumannii CP S. maltophilia Solução T. mucoides EE 5.6.2 Análise da degradação do biofilme formado em vidro Na análise macroscópica evidenciou a diminuição do biofilme formado (Figuras 2 e 3). Resultado este comprovado pela microscopia óptica (Figura 4). Foi feito um controle somente com o EE e outro com a solução. Biofilmes são notoriamente difíceis de erradicar e é fonte de infecções crônicas. De acordo com o Instituto Nacional de Saúde, biofilmes são clinicamente importantes, representando mais de 80% das infecções microbianas do corpo (LEWIS, 2001). Sabe-se que o biofilme é uma das causas de falha terapêutica, e o resultado deste estudo mostra a importância da solução manipulada, pois a mesma teve eficiência tanto na bactéria ou fungos na forma planctônica quanto atuando na degradação de biofilme formado podendo ser usado como antibiótico isolado ou em terapia conjugada. Há a necessidade de pesquisas futuras para melhor esclarecimento a cerca do mecanismo de ação do EE e da solução. 44 Figura 2 – Análise da degradação do biofilme formado em vidro pelo extrato etanólico e pela solução. Linha A - Pseudomonas aeruginosa, Linha B - Burkholderia cepacia, Linha C - Acinetobacter baumannii, Linha D - Stenotrophomonas maltophilia, Coluna 1 - controle negativo na formação do biofilme formado em 48h, Coluna 4 – biofilme obtido após 24h sem o EE e posteriormente 24h em contato com o EE, Coluna 5 - biofilme obtido após 24h sem a solução e posteriormente 24h em contato com a solução. Figura 3 – Degradação do biofilme formado em vidro pelo extrato etanólico e pela solução. Linha A - E. coli, Linha B - K. pneumoniae, Linha C - Candida glabrata Linha C - Candida albicans, Coluna 1 –controle negativo na formação do biofilme formado em 48h, Coluna 4 – biofilme obtido após 24h sem o EE e posteriormente 24h em contato com o EE, Coluna 5 - biofilme obtido após 24h sem a solução e posteriormente 24h em contato com a solução. Figura 4 - Biofilme formado em superfície vítrea da amostra de Pseudomonas aeruginosa. Em A, temos o controle da formação do biofilme em vidro após 48h e em B a degradação do 45 biofilme formado após 24h de formação do biofilme seguido de 24h em contato com a solução. Aumento 1000x. A B 46 6 CONCLUSÃO a) Dos produtos obtidos do EE da polpa da cana-de-açúcar, a solução apresenta melhor ação antimicrobiana no teste de triagem. b) A menor CIM da solução é de 14 mg/mL para as amostras de MRSA, S. aureus e S. pyogenes. Para as amostras fúngicas, a menor CIM é de 7 mg/mL para os isolados clínicos de C. rugosa e T. mucoides e C. parapsilosis c) A menor CBM da solução é de 750 mg/mL para as seguintes bactérias: MRSA, S. aureus, S. pyogenes e K. pneumoniae. A menor CFM da solução foi de 370 mg/mL para os seguintes fungos: C. glabrata, C. parapsilosis, T. mucoides, T. asahii, C. albicans ATCC 18804, C. rugosa e as duas amostras de C. laurentii. d) Observa-se a ação da solução na degradação do biofilme formado em poliestireno por cepas multirresistentes de MRSA, Acinetobacter baumannii e Stenotrophomonas maltophilia. Mostrando ação da solução no biofilme formado por cepas causadoras de infecção hospitalar. 47 REFERÊNCIAS AIYEGORO, O. A.; AFOLAYAN, A. J.; OKOH, A. I. Synergistic interaction of Helichrysum pedunculatum leaf extracts with antibiotics against wound infection associated bacteria. Biological Research, v. 42, n. 3, p. 327-338, 2009. ALDERMAN, D. J.; SMITH, P. 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