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passoapasso Abril| Maio 2013|| Ano XIX | Nº 145 passoapasso Abril | Maio 2013 | Ano XIX | Nº 145 PASSO145_CAPA para GRÁFICA DEL REI_PASSO A PASSO CAPA 03/05/2013 01:35 Page 1 EE-0057-13C-AD PRATICAS SUSTENTAVEIS17.5x25.5_Alta.pdf Cada vez mais, mulheres empreendedoras conquistam o mercado BOM SUCESSO E IBITURUNA: CHITÃO VIRA OBRA DE ARTE AGLOMERADO DA SERRA: EMPREENDEDORES FORMALIZAM SEU NEGÓCIO CARTA AO LEITOR Desenvolvimento regional O A A QUE PARTICIP TODA EMPRES O. TÃ ANÁLISE DE GES RECEBE UMA A MAIS PREPARAD UMA EMPRESA S FORTE E SE TORNA MAI O MERCADO. COMPETITIVA N “Ao alavancar o desenvolvimento regional, considerando suas características e potencialidades sociais, econômicas, políticas, culturais e ambientais, podemos contribuir para a melhoria dos indicadores econômicos e sociais de Minas Gerais” Sebrae Minas reforça suas ações em favor dos pequenos negócios no interior do Estado. Em 2013, inauguramos quatro Centros de Serviços nas cidades de Divinópolis, Ubá, Santa Rita do Sapucaí e Nova Serrana, um novo modelo de atendimento capaz de contribuir para o fortalecimento das micro e pequenas empresas nos arranjos produtivos locais. Ao alavancar o desenvolvimento regional, considerando suas características e potencialidades sociais, econômicas, políticas, culturais e ambientais, podemos contribuir para a melhoria dos indicadores econômicos e sociais de Minas Gerais. Nesta edição da Passo a Passo, mostramos alguns exemplos de produtores e empresários do interior que conseguiram ampliar suas vendas por meio do associativismo. Em Alfredo de Vasconcelos, região Leste do Estado, a produção de morangos movimenta R$ 3,5 milhões por ano. O negócio é a principal fonte de renda dos produtores da cooperativa. Na Zona da Mata, no Campo das Vertentes e no Sul de Minas, empresários de lojas de construção também se organizaram para fazer compras em conjunto e enfrentar a competitividade acirrada do setor. Hoje, unidos sob a mesma marca, comemoram resultados e planejam expansão. Nesta edição, a matéria de capa é dedicada às empreendedoras. Cerca de 13 milhões de mulheres se destacam à frente das empresas no país. As brasileiras estão entre as que mais empreendem no mundo, de acordo com a última edição da pesquisa GEM (Global Entrepreneurship Monitor). Conheça algumas histórias de dedicação e sucesso dessas mulheres. Boa leitura! NCEDORAS AS EMPRESAS VE RÊNCIA FE SE TORNAM RE E TÊM TO EM SEU SEGMEN CIONAL. NA TO RECONHECIMEN LÁZARO LUIZ GONZAGA Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae-MG Inscreva-se até 31 de julho pelo site www.premiompe.sebrae.com.br ou procure o Ponto de Atendimento do Sebrae Minas mais próximo. Apoio estadual: Apoio institucional: Patrocinadores nacionais: Realização: www.sebraemg.com.br 3 0800 570 0800 / www.sebraemg.com.br PASSO A PASSO Passo a Passo é uma publicação do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae-MG). Registro no Cartório Jero Oliva nº 931. Pág. 6 ARTESANATO Mulheres de Bom Sucesso e Ibituruna investem no artesanato têxtil Pág. 44 CAPA Mulheres ganham destaque no comando do próprio negócio Conselho Deliberativo do Sebrae-MG: BB, BDMG, CDL-BH, CEF, Cetec Ciemg, Faemg, Fapemig, Fecomércio-MG, Federaminas, Fiemg, Indi, Ocemg, Sebrae e Sede. Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae-MG: Lázaro Luiz Gonzaga Superintendente: Afonso Maria Rocha Diretor Técnico: Luiz Márcio Haddad Pereira Santos Diretor de Operações: Fábio Veras Conselho editorial: Albertino Corrêa, Aline de Freitas, Andrea Avelar, Luciana Patrícia Rezende, Rodrigo Patrocínio Mazzei, Daniela Toccafondo, Danielle Fantini, Edelweiss Petrucelli, Gustavo Moratori, Jefferson Ney Amaral, José Márcio Martins, Karinne Mendes, Carlos Vieira Pinto, Denise Sapper, Március Marques Mendes, Paulo César Barroso Veríssimo, Regina Vieira, Alex Pena e Daniele Brito. Gerente de Comunicação: Teresa Goulart Jornalista responsável: Andrea Avelar - MTb 06017/MG Produção editorial: Rede Comunicação de Resultado Edição: Jeane Mesquita e Licia Linhares Reportagem: Bárbara Fonseca, Beatriz Debien, Glória Paiva, Hellem Malta, João Luís Chagas, Kátia Resende, Laura Conrado, Rita Cardoso, Roberto Ângelo e Tarsis Murad Revisão: Liza Ayub Projeto gráfico e diagramação: Brava Design | Janette Sá, Junius Vilela Fotografia: Agência i7, Gláucia Rodrigues, Mauro Marques, Ronaldo Guimarães e Ronaldo Lopes Foto capa: Pedro Vilela/Agência i7 Ilustrações: Claúdio Duarte e Quinho Impressão: Del Rey Periodicidade: bimestral Tiragem: 15 mil exemplares Redação [email protected] Av. Barão Homem de Melo, 329 Nova Granada – Belo Horizonte Minas Gerais – CEP 30.431-285 08005700800 www.sebraemg.com.br Prêmio Aberje Vencedor nacional Categoria mídia impressa 4 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 Pág. 38 CONSTRUÇÃO CIVIL Rede Construir consolida parcerias e planeja expansão Pág. 51 EDUCAÇÃO Cursos técnicos capacitam jovens para os desafios do mercado Pág. 12 RODADA DE NEGÓCIOS Empreendedores descobrem novas oportunidades de negócios e parcerias Pág. 16 COOPERATIVISMO Produtores de morango investem em logística e vendas conjuntas Pág. 22 GESTÃO DO CONHECIMENTO Informações estratégicas colaboraram para expansão dos negócios Pág. 26 AGRONEGÓCIO Universitários participam de Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira Pág. 31 MOBILIDADE Projeto fortalece potencial de Uberlândia no cenário tecnológico Pág. 36 ARTIGO No mesmo barco, por Paulo Rocha Pág. 72 TURISMO DE NEGÓCIOS Uberlândia e Juiz de Fora fortalecem turismo de negócios com captação de eventos Pág. 78 CONSULTORIA Aprenda como escolher o nome de sua empresa e a divulgar o seu negócio sumário Pág. 57 NOTAS PÁG. 61 EMPREENDEDORISMO Moradores do Aglomerado da Serra se formalizam como Empreendedores Individuais Pág. 81 É BOM SABER Quem são os clientes do Sebrae Minas Pág. 66 CRÉDITO Oficina mostra a empreendedores melhores formas de acesso a serviços financeiros Pág. 68 ENTREVISTA | Gustavo Caetano, CEO da Samba Tech, mostra como uma ideia inovadora pode revolucionar o mercado de startups www.sebraemg.com.br 5 Fotos: Pedro Vilela / Agencia i7 ARTESANATO O chitão ficou chique Mulheres de Bom Sucesso e Ibituruna resgatam a história e a cultura locais por meio do artesanato têxtil Duas pequenas cidades do Sul de Minas guardam pequenos tesouros por trás de suas montanhas. Bom Sucesso e Ibituruna, essa última considerada o primeiro “aglomerado” populacional do Estado, são morada de gente de muito talento para o artesanato. Utilizando o tecido chitão e a técnica de patchwork (arte de emendar retalhos), 22 artesãs honram as tradições de suas terras e contam histórias em cada bordado, arremate, emenda e costura. A Associação de Artesãos de Bom Sucesso, cujo expoente é o grupo Chitão Arte, e a Associação de Artesãos de Ibituruna, com destaque para a identidade Berço de Minas, compõem um arranjo regional organizado pelo Sebrae Minas, visando promover, conjuntamente, o artesanato têxtil dessas duas localidades. 6 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 Em termos estratégicos, o objetivo principal do projeto Artesanato Têxtil, em Bom Sucesso e Ibituruna, é aumentar o faturamento das artesãs em 35% até dezembro de 2014, ampliando o mercado para diversos estados. Hoje, as peças são vendidas, sobretudo, para as cidades de Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Brasília (DF) e Olinda (PE). Outro objetivo é crescer a produção, o que envolve a melhoria dos processos, design, gestão, associativismo, diminuição de custos, qualificação, adequação de infraestrutura e fortalecimento de imagem via ações de marketing. O públicoalvo são as classes A e B, que têm poder de aquisição maior para itens que não são considerados de “primeira necessidade”. Maria Francisca, conhecida como Chiquinha vê em pequenos objetos a inspiração para a arte do chitão O INÍCIO DE TUDO | Uma bonita casa localizada no centro de Bom Sucesso, perto da praça principal, abriga a Associação de Artesãos. Dentro, a beleza se amplia. Bolsas, almofadas, flores, jogos americanos e muitos outros produtos dão ideia da capacidade inventiva das 12 artesãs que fazem parte do grupo. No início, em 2004, eram 63 integrantes, entre homens e mulheres. Nessa época, houve participação do Sebrae Minas com a aplicação do Programa Sebrae de Artesanato (PSA), que visa promover o setor artesanal de forma integrada (veja mais na página 11). “Mas não tínhamos ainda uma identidade específica: vendíamos diferentes mercadorias, uma verdadeira mistura”, conta a artesã e professora aposentada, Maria Francisca Vieira de Almeida, a Chiquinha. Ela se lembra das feiras na praça de Bom Sucesso. “No início, conseguimos atrair atenção e acreditávamos num retorno financeiro rápido – produzir e ganhar dinheiro. Sofríamos de excesso de otimismo”, brinca. Mas, com o passar do tempo, virou rotina, e a população não dava mais importância à feirinha. Visando reverter essa situação, o Sebrae Minas disponibilizou, entre 2005 e 2006, a consultoria de uma designer, que estimulou o grupo a descobrir o que tinha de melhor. “Começamos a ver, com outros olhos, coisas que, até então, passavam despercebidas, como costumes e, até mesmo, jardins e construções. Sem saber, estávamos despertando nossa sensibilidade para a arte.” Nascia ali o Chitão Arte, que utilizaria o tecido, muito característico da região, nas peças confeccionadas. Em 2007, o grupo participou da Feira Nacional de Artesanato, em Belo Horizonte. “Vendemos tudo o que levamos e ainda trouxemos muitas encomendas. Fomos muito bem-aceitas e elogiadas, o que nos motivou a seguir em frente e crescer cada vez mais”, diz Chiquinha. Nos anos seguintes, a participação em eventos se ampliou, e as artesãs marcaram presença nas famosas Fiaflora e Paralela Gift, em São Paulo. Em 2010, foi criada a identidade regional. www.sebraemg.com.br 7 As irmãs Conceição (a dir.) e Celeida levam a tradição da costura e do bordado há duas gerações QUEM FAZ HISTÓRIA | Na Associação de Bom Sucesso, 47 anos separam a integrante mais jovem da mais idosa do grupo. Conceição Almeida Silva, professora aposentada, tem 82 anos. Sua energia e vitalidade contagiam a todos. Apaixonada pelo artesanato, ela conta que sua mãe era costureira, o que a despertou cedo para a costura e o bordado. Mas, há alguns anos, parou o trabalho por um problema oftalmológico, não podia mais forçar a visão. “Por isso, entrei na Associação e faço flores de chitão com a minha irmã.” A irmã é Celeida Almeida Moraes, professora aposentada e diretora da Associação de Pais e Amigos do Excepcional (Apae) de Bom Sucesso. Ela é a idealizadora da entidade e foi a articuladora das reuniões iniciais. Junto com Conceição, é expert em flores e revela o segredo dessa arte complexa e delicada. “A flor de tecido é engomada com polvilho para ficar durinha. Riscamos e cortamos as pétalas uma a uma. Depois, frisamos e montamos na haste de bambu.” As próprias irmãs fazem o corte do bambu, que, segundo ela, deve ser na “lua certa”. O miolo do tecido é contornado com sisal. Para fazer uma única flor, é necessário mais de um dia. A artesã Edna de Lourdes Resende Monteiro completa a linha de flores e utiliza os retalhos para fazer cravinhos e flores em botão. “Temos consciên8 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 cia de que os nossos produtos não são essenciais. O nosso artesanato é, acima de tudo, apreciação e sentimento”, declara Celeida Moraes. Outra artesã, Maria Léa Alves Lopes, é professora aposentada, assim como suas colegas de trabalho. Foi lecionando no antigo primário que aprendeu a fazer embalagens, cartazes e lembrancinhas para utilização nas datas comemorativas. Para ela, a Associação se resume a amizade. “A nossa integração, a alegria e o carinho são transmitidos em cada peça, e quem compra sempre tem uma boa impressão da gente”, acredita. A costureira Francisca Maria Oliveira também se encontrou no grupo. “Tinha loucura por tecido, linha e agulha. Aos poucos, isso se tornou meu ofício.” De natureza mais retraída, a artesã enfatiza que, com as colegas, consegue se comunicar melhor. “Trabalho por prazer e amor, que são muito mais importantes que qualquer dinheiro.” BERÇO DE MINAS | Instalada numa escola desativada, a Associação de Artesãos de Ibituruna dá vida a um lugar aparentemente abandonado. Dez artesãs se encontram diariamente para dar vazão a seus talentos. São colchas, centros de mesa, pesos de porta e até itens mais modernos, como capas para notebook, tablets e iphones. Tudo muito primoroso e bem-feito, agradando aos mais exigentes consumidores. A história do grupo começou em 2007, quando a Prefeitura Municipal teve a iniciativa de estimular o artesanato local e contratou uma professora para ensinar os interessados. Ainda naquele ano, a Secretaria Municipal de Cultura viu a necessidade de contatar o Sebrae Minas, que aplicou o programa Sebrae de Artesanato e permitiu que houvesse uma ampliação de horizontes. “No começo, eram 40 pessoas, entre homens e mulheres. Essas ficariam a cargo do artesanato. Os homens se dedicariam à confecção de móveis em madeira de café. Mas o tempo passou, e somente o trabalho das artesãs permaneceu”, relembra Isabel Cristina de Andrade Coelho, mais conhecida como Bebel, artesã e professora aposentada. A consultoria do Sebrae Minas continuou e, entre 2008 e 2009, houve o apoio de uma designer para a consolidação da identidade da Associação. Foi detectado que a população de menor renda fazia peças com restos de pano, remendando-os. O chitão era muito utilizado por ser mais barato que os outros tecidos. “Pensamos: por que não unir a técnica do patchwork com o chitão? Ficou decidido que esta seria a identidade, uma costura de retalhos que liga e dá sentido às nossas vidas”, explica Bebel. O nome Berço de Minas foi uma homenagem à cidade. Em 2010, houve a junção das Associações de Artesãos de Bom Sucesso e Ibituruna. “Confesso que demoramos a entender o que significaria a união dos grupos. Mas essa parceria trouxe o chitão, definitivamente, para a nossa realidade. Podemos dizer que eles trabalham o chitão rebordado, e nós, o remendado”, esclarece a artesã. Hoje, a entidade se dedica à produção e comercialização dos produtos em feiras. Das vendas, 50% do valor arrecadado vão para as artesãs e 50% para compra de material. Há a cultura de estocagem de produtos para não haver sobrecarga de trabalho em épocas de pico. A renda das mulheres não é fixa, e o retorno financeiro aparece somente quando os eventos acontecem. Por isso, a atividade é, para muitas, complementar. O desejo da maioria delas, no entanto, é que, em um futuro breve, possam viver somente do artesanato e ser autossustentáveis. “Sonhamos com o fortalecimento e a consolidação do grupo, com “Esta parceria (entre as Associações de Artesãos de Bom Sucesso e Ibituruna) trouxe o chitão, definitivamente, para a nossa realidade. Podemos dizer que eles trabalham o chitão rebordado, e nós, o remendado” Isabel Cristina de Andrade Coelho, artesã www.sebraemg.com.br 9 Resgate da tradição um ponto fixo de venda, divulgação em catálogo, folders e até um site. Queremos essa profissionalização para ampliar o nosso mercado e atingir locais nunca antes imaginados”, completa Bebel. SENTIMENTO REVELADO | Maria Madalena da “Vim para o grupo pelo gosto da arte e para quebrar a rotina com algo que me dá prazer. Cada vez que vejo uma peça acabada, olho pra ela e tenho uma sensação indescritível de satisfação” Josefa Adelaide Pereira de Aguiar, artesã 10 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 Silva Pereira é uma das artesãs de Ibituruna apaixonada pelo artesanato. “Na Associação me sinto bem. O trabalho é uma verdadeira terapia”, confessa. O mesmo vale para Maria da Conceição. “Aqui sou feliz, me sinto útil.” A colega Josefa Adelaide Pereira de Aguiar, aposentada em serviços gerais, revela: “Vim para o grupo pelo gosto da arte e para quebrar a rotina com algo que me dá prazer. Cada vez que vejo uma peça acabada, olho pra ela e tenho uma sensação indescritível de satisfação”. A artesã Maria Perpétua Sutani Machado, de 77 anos, é a mais idosa da entidade, mas sua disposição para o trabalho é exemplar. Desde criança, gostava de bordado, ponto de cruz e crochê, até conhecer o patchwork. “Foi amor à primeira vista. Hoje, dou meu carinho pra cada peça, e quem leva sente isso. A pessoa sempre acaba voltando e comprando mais”, declara. Para Bebel, não há nada mais gratificante do que “a arte de emendar paninho”. “Essa união faz muito sentido no nosso trabalho, porque o patchwork nada mais é que a união de retalhos. Quem adquire uma peça nossa leva um pedaço da nossa história” logia e estímulo à cultura da cooperação, com a finalidade de promover o setor artesanal de forma integrada. Consequentemente, torna-se necessário um maior conhecimento sobre gestão financeira. Para isso, foi criado o módulo Educação Financeira para o Artesanato, iniciado em 2013, com a capacitação de 16 horas, envolvendo organização de finanças e conhecimento de produtos e serviços oferecidos pelas instituições financeiras. “Isso possibilitará ao artesão adquirir conhecimento sobre controles financeiros e alternativas de crédito, a fim de que ele tome as decisões corretas para sua atividade“, explica a analista da área de Artesanato do Sebrae Minas, Cyliane Oliveira. Segundo ela, todos os grupos de projetos envolvendo o artesanato passarão por essa capacitação. As Associações de Artesãos de Bom Sucesso e Ibituruna farão o módulo no segundo semestre deste ano. “A capacitação permitirá aos participantes identificar, no mercado, as oportunidades de crédito que possibilitarão investimentos em seu negócio”, completa o analista de Crédito do Sebrae Minas, José Márcio Martins. A GRANDEZA DO ARTESANATO MÉDIA DE IDADE DAS ARTESÃS MÉDIA DE RENDA PER CAPITA ANUAL 60anos R$1.871 MÉDIA DE PEÇAS VENDIDAS POR ARTESÃ/ANO COMPOSIÇÃO EM GÊNERO 165 100% MULHERES A artesã Maria da Conceição se diz satisfeita e útil em poder trabalhar na associação O projeto de artesanato surgiu em 2010, da proposta do Sebrae Minas de unir as cidades de Bom Sucesso e Ibituruna por meio de uma tipologia comum. “Os artesãos não tinham noção de mercado de uma maneira abrangente, apesar de terem potencial de produto”, lembra a analista do Sebrae da Regional Sul, Glaucya Jerusa Souto Vale. Foi um tempo de negociações, com foco na priorização de uma identidade para trabalhar. Decidiu-se pelo chitão, em Bom Sucesso, e pelo patchwork, com detalhes em chitão, em Ibituruna. Em 2011, deu-se início à execução das ações propostas. Também houve, nesse ano, a criação do Programa Design para o Artesanato (PDA), voltado à gestão mercadológica e de processos. O ano de 2012 foi marcado pela participação em feiras de porte nacional, e o de 2013, pelo plano comercial, que prioriza a identidade visual, peças gráficas e divulgação das marcas Chitão Arte e Berço de Minas. A principal contribuição do Sebrae Minas foi proporcionar às associações a abertura de mercado. “Viabilizamos o espaço para expor, comercializar e gerar renda. A partir disso, focamos no crescimento e na rentabilidade da atividade”, destaca Glaucya Vale. Sobre as peças produzidas, a analista se refere a elas como produtos primorosos e significativos. “Quem compra esse tipo de artesanato resgata, de certa forma, tradições e histórias que remetem à infância, às avós, a um tempo que não volta mais. Esse é o grande diferencial.” O Programa Sebrae de Artesanato tem uma série de atividades, como diagnósticos, capacitações, consultorias, ações de acesso ao mercado e à tecno- www.sebraemg.com.br 11 Empresários fortalecem o relacionamento com futuros fornecedores durante a Rodada de Negócios Conversando, empresas se entendem Rodada de Negócios promove oportunidades nos mercados nacional e internacional Já pensou em micro e pequenas empresas do interior de Minas Gerais exportando produtos e vendendo serviços para grandes empresas de outros estados e do exterior? Essa é uma das oportunidades criadas por meio da Rodada de Negócios do Sebrae. “Nossa intenção é promover uma dinâmica comercial mais objetiva e aproximar os compradores dos fornecedores, com apresentações de negócios direcionadas aos interesses dos empresários”, explica Plácido Otoni Prates, analista do Sebrae Minas. Somente em 2012, foram realizados 16 encontros no Estado, reunindo 1.831 empresas com mais de R$ 915 milhões em perspectivas de transações. “Nem sempre os negócios são fechados durante o evento, mesmo porque os encontros são rápidos. A ideia é fazer o primeiro contato de aber12 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 tura de relacionamento comercial entre o empreendedor e o futuro cliente”, completa. A Rodada de Negócios, inserida pelo Sebrae em 1993, pode ser setorial ou multissetorial, com abrangência regional, nacional ou internacional, dependendo dos segmentos envolvidos. Desde a sua criação, o evento passou a ser compartilhado e realizado em várias regiões do Brasil. Em Minas Gerais, apenas em 2011 e 2012, foram organizados 25 encontros, dos quais se destacam: Rodada de Negócio Brasil Central, Rodada de Negócios de Belo Horizonte e região e Rodada de Negócios do Sul de Minas. Juntos, os três eventos tiveram a participação de 1.707 empresas - 29 estrangeiras e consideradas entre as principais da América Latina - e somaram R$ 1,340 bilhão em expectativas de negócios. A organização começa na identificação da necessidade e do espaço para a realização da Rodada de Negócios. Em paralelo, os empreendedores locais são convidados a apresentar seus produtos e serviços para uma seleção de possíveis interessados. De outro lado, as empresas demandantes, também chamadas de âncoras, indicam o produto ou serviço em que têm interesse de compra. Com o cruzamento destas informações, é criada a agenda da Rodada de Negócio. Os participantes organizam sua apresentação por horários, de modo que um mesmo ofertante possa ter a oportunidade de conversar e conhecer diferentes compradores no mesmo dia, otimizando sua participação. Os encontros duram de 20 a 30 minutos. “Cada empresário recebe sua agenda antecipadamente para que possa se programar e, após a realização das reuniões, ele ganha um catálogo com informações sobre compradores e fornecedores, seus produtos e serviços”, comenta o analista do Sebrae Minas. Devido à dinâmica do evento, o ofertante, caso identifique alguma oportunidade além de sua agenda, pode encaixar outras reuniões no período. “Outra vantagem é que, muitas vezes, uma negociação acontece também entre ofertantes, e não apenas com empresas-âncoras”, observa Plácido Prates. “Temos a consciência de que, sem o encontro setorial, provavelmente não teríamos conhecido esses empresários (norte-americanos). É uma iniciativa que abre possibilidades para fora do nosso eixo” Fernando Romeiro de Cerqueira, diretor-presidente da Coocafé Pedro Vilela / Agencia i7 Divulgação Sebrae RODADA DE NEGÓCIOS GANHANDO FORÇA | De acordo com a gerente da Unidade de Mercado e Relações Institucionais, Mônica Segantinni, os benefícios gerados pela Rodada de Negócios são muitos - troca de conhecimento, parceria com compradores de médio e grande porte, realização de acordos de cooperação entre os participantes, expansão de mercados, acesso a novos fornecedores e ampliação do networking empresarial. Foi para abrir portas e conquistar o mercado da América Latina que a Biquad, empresa de Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas, participou da Rodada de Negócios do Sul de Minas, realizada na cidade de Varginha, em outubro de 2011. “Enxergamos nossa participação como uma excelente oportunidade de colocar em prática o plano de expansão de vendas para outros países. Dentre as empresas-âncoras, havia uma em especial que se encaixava dentro do nosso mercado de atuação, a chilena Sercom Broadcast Intelligence”, conta Diego de Campos Tomaz, analista de Marketing da Biquad. De acordo com ele, o contato frente a www.sebraemg.com.br 13 Divulgação Scamg frente com o potencial cliente foi decisivo para o fechamento do contrato. “Depois do encontro, representantes da Sercom quiseram conhecer as estruturas e a tecnologia que disponibilizamos.” Com o relacionamento mais próximo, a Biquad – que atua no mercado de radiodifusão há 13 anos, fornecendo equipamentos e acessórios para emissoras e estúdios de gravação - identificou um novo nicho de atuação. “Eles estavam interessados em uma adaptação do nosso produto carro-chefe, o DAP4 FM, equipamento processador de áudio-digital para emissoras de rádio e TV. A adequação seria para uma versão mais simples para emissoras e difusoras de pequeno porte”, lembra Diego Tomaz. Frente à demanda, a Biquad desenvolveu o Dap Uno e conquistou o cliente chileno, expandindo sua presença no mercado latino-americano. Outra grande oportunidade proporcionada pela Rodada de Negócios são as vendas diretas para o governo, como ocorre no evento Fomenta, em que os participantes são incentivados a se aproximar de grandes estatais e de empresas privadas fornecedoras do poder público. Assim que percebeu o mercado governamental como um potencial cliente para otimizar o rendimento de seu negócio, Flávio da Rocha Miranda, proprietário da Gemapel Papéis, em Juiz de Fora, resolveu ingressar na Fomenta. “A primeira vez que participei do encontro foi em 2009, na cidade de 14 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 “Nosso trabalho envolve processos e tecnologias diferentes dos usados no plantio, na colheita, no beneficiamento e no armazenamento do café comum. Tivemos a oportunidade de apresentar essas características para um público específico, que busca um produto diferenciado e com qualidade garantida” Sérgio D'Alessandro, diretor da SCAMG Ouro Preto, e, depois, estive presente em mais duas Rodadas de Negócios. Com isso, consegui aumentar o meu faturamento em 30% e me tornar fornecedor de universidades, do exército brasileiro e de hospitais, entre outras entidades públicas”, revela. O empresário esclarece que já prestava alguns serviços para empresas públicas, mas de forma terceirizada. “Nas Rodadas de Negócios, vi que o jogo podia virar a meu favor. Hoje, as licitações contam com processos que envolvem tecnologia digital várias delas são feitas por meio do uso de sites. Isso permite que qualquer empresa interessada possa participar. É preciso entender esse processo e buscar as melhores formas de apresentar os produtos.” ECONOMIA SETORIAL | O desenvolvimento específico dos setores da economia também é buscado pelos empreendedores e pelas empresas-âncoras. A Rodada de Negócios do Café das Matas de Minas foi realizada nesses moldes em 20 de março, na cidade de Manhuaçu, na Zona da Mata, e contou com a presença de sete compradores e 37 estabelecimentos ofertantes. Os representantes da Associação de Cafés Especiais de Minas Gerais (SCAMG), também de Manhuaçu, fizeram parte deste grupo. “Nosso trabalho envolve processos e tecnologias diferentes dos usados no plantio, na colheita, no beneficiamento e no armazenamento do café comum. Tivemos a oportunidade de apresentar essas características para um público específico, que busca um produto diferenciado e com qualidade garantida”, relata Sérgio D'Alessandro, diretor da SCAMG. Com um total de 76 reuniões, o evento arrecadou mais de R$ 315 mil em negociações efetivas e R$ 17,5 milhões em expectativas de venda e compra. Apenas a SCAMG garantiu três negócios efetivos que geraram R$ 500 mil. Diretor-presidente da Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé), Fernando Romeiro de Cerqueira, também esteve presente na Rodada de Negócios do Café das Matas de Minas. A sua participação resultou na visita de dois clientes norte-americanos interessados na compra das sementes. “Temos a consciência de que, sem o encontro setorial, provavelmente não teríamos conhecido esses empresários. É uma iniciativa que abre possibilidades para fora do nosso eixo, e essa é uma das missões da cooperativa: buscar novos mercados”, explica. Mas não são apenas os empreendedores que saem ganhando. As empresas-âncoras também somam bons resultados. A Ale Combustíveis, que conta com mais de 1.750 postos de abastecimento espalhados no Brasil, foi convidada a integrar o grupo de compradores da Rodada de Negócios Multissetorial de Belo Horizonte, ocorrida em agosto de 2012. “Estávamos organizando nosso setor de Compras com o cadastro de novos fornecedores. O encontro foi uma boa oportunidade para conhecer o mercado e estabelecer um relacionamento com as possíveis empresas prestadoras de serviços”, relata Ubirajara Teodoro da Silveira Júnior, analista de Compras. Na ocasião, ele buscou conhecer empreendimentos de diferentes setores importantes para o negócio, como obras, manutenção predial e limpeza. “A possibilidade de estar frente a frente com diferentes empresários, num único momento, foi de grande valia e facilitou muito a contratação de serviços. Hoje, contamos com algumas dessas empresas em nosso quadro de fornecedores”, enfatiza. AGENDA DE NEGÓCIOS 2013 26 de junho III Rodada de Negócios Multissetorial do Sudeste Mineiro Local: Juiz de Fora 8 de agosto Rodada de negócios/Fomenta Estadual Local: Varginha 25 de setembro III Rodada de Negócios Multissetorial do Centro-Oeste Mineiro Local: Pará de Minas 26 de setembro II Rodada de Negócios de Uberaba e Região Local: Uberaba 21 de novembro Rodada Internacional do Sul de Minas Local: Pouso Alegre www.sebraemg.com.br 15 iStock COOPERATIVISMO A Produção de morangos em Alfredo Vasconcelos movimenta R$ 3,5 milhões por ano e a principal fonte de renda de produtores Doce e lucrativo 16 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 cor é de encher os olhos. O sabor, único. O negócio, promissor. O morango traz benefícios que vão além da mesa do consumidor. Ele é rico em vitamina C e em antioxidantes e possui propriedades medicinais e nutricionais. Por esses e outros motivos, o seu cultivo atrai cada vez mais o interesse dos agricultores. No Brasil, a produção de morango é direcionada ao mercado in natura e, segundo dados da Embrapa Informação Tecnológica, a rentabilidade da cultura pode chegar a 224%. Mas, apesar de os números serem atrativos, o país ainda compra a fruta produzida em países vizinhos, como Argentina, Chile e Uruguai – o que demonstra que o mercado tem potencial para aumentar a produção. Os produtores de Alfredo Vasconcelos, no interior de Minas Gerais, estão aproveitando a oportunidade. A fruta se adaptou bem ao clima fresco da região – tão bem que cerca de 80% da população de sete mil habitantes sobrevive da atividade agrícola, o que torna a cidade referência na produção de morangos. Com tanta expertise, a Cooperativa Agropecuária de Alfredo Vasconcelos (Cooprav), que reúne agricultores locais, faturou, em 2012, cerca de R$ 207 mil por mês. Antes de se integrarem à Cooperativa, os produtores criaram uma associação. Cerca de 80 deles levavam o morango à Ceasa, de forma independente. Porém, o processo nem sempre era vantajoso, pois os agricultores saíam da cidade às 5 horas e esperavam até às 11 horas para a comercialização. Com isso, eles deixavam de se dedicar à lavoura e não tinham como expandir ou melhorar a produção. Neste processo, o morango, uma fruta muito delicada, também sofria danos. “Era hora de deixarmos de ser simples agricultores para nos profissionalizarmos e nos tornarmos empresários”, conta Leandro Rodrigues, agricultor e presidente da Cooprav. Para isso, buscaram auxílio do Sebrae Minas. Eles participaram de palestras motivacionais, capacitações gerenciais e fizeram uma visita técnica ao polo produtor do Sul de Minas e Atibaia, no interior de São Paulo, visando ao desenvolvimento tecnológico. Para solucionar o problema da logística de comercialização, eles também criaram, em 2010, a Central de Negócios, em parceria com o Sebrae Minas. O objetivo foi organizar o processo de vendas coletivas por meio da implantação da Central – que, mais tarde, se tornaria a cooperativa. Por meio dessa iniciativa, os produtores receberam informações acerca de finanças, marketing, formalização, associativismo e relações jurídicas. Atualmente, cerca de 90% do que eles colhem é comercializado pela Cooprav. “Sem a preocupação de como vender a produção, os agricultores se concentram no campo e na busca pela inovação”, ressalta Eduardo Dilly, analista do Sebrae Minas em Barbacena. CONQUISTANDO O MERCADO | “Produzir morango, muitos já o faziam. Tínhamos que ter nosso diferencial”, recorda Leandro Rodrigues. Seguindo esse caminho, o Sebrae Minas, em parceria com os agricultores, investiu em marketing do produto. Assim, nasceu a Frutano Morango, que passou a ser vendida a grandes distribuidores e comercializada em supermercados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Para dar identidade à marca e difundir seu crescimento no mercado, o Sebrae Minas realizou estudos envolvendo desde o produtor até o consumidor final. “Descobrimos, por exemplo, que os clientes não gostavam da caixa em que a fruta era vendida, pois não conseguiam avaliar a qualidade de todas elas”, conta o presidente da Cooprav. A partir daí, foram desenvolvidas novas embalagens, em parceria com os estudantes do curso de design da Universidade Estadual de Minas Gerais. Hoje, a Frutano vende morangos em cartelas de plástico transparente, com 12 unidades cada. Quantidades maiores são entregues em recipientes de papelão identificados com a marca. “Quem compra o nosso produto tem a garantia da qualidade”, ressalta Leandro Rodrigues. Com o crescimento do negócio, estuda-se a possibilidade de expansão e comercialização da marca – que deve se chamar Frutano Hotifruti. Outra meta dos cooperados é a compra do próprio terreno em Alfredo Vasconcelos, em proporções condizentes com a Cooperativa. O próprio presidente da Cooprav é um exemplo de mudança. Antes da cooperativa, não plantava em terras próprias e dividia todo o lucro com o dono do terreno. Hoje, ele cuida da sua própria lavoura e ainda aluga parte dela para outros produtores. “Antes, plantava, no máximo, 10 mil pés de moranwww.sebraemg.com.br 17 Fotos: Agência i7/Uarlen Valério André Araújo conta com o trabalho de oito produtores no plantio e na colheita de 80 mil pés de morangos go. Agora, já estou com 27 mil e planejo chegar a 32 mil mudas ainda este ano”, diz Leandro Rodrigues, que produz mil caixas de morango por semana. A colheita soma R$ 24 mil brutos por mês. CUSTOS | Nascido e criado no campo, o agricultor Antônio Carlos Violeti, conhecido como Tinena, se diz satisfeito com os resultados conquistados com a Cooprav. Antes, ele vendia o morango por meio de atravessadores que não estabeleciam previamente a margem de lucro. A prática é comum nas atividades agrícolas, porém não favorece o produtor - como não há contrato formal, os atravessadores pagam quanto querem. Hoje, porém, assim que a produção é entregue na Cooperativa, há uma previsão do que cada agricultor irá receber. “Não tem nem como comparar o que ganho agora com o pouco que recebia antes de me associar à Cooperativa”, diz Tinena. No ano passado, o pequeno produtor contabilizou quatro mil caixas de morango, totalizando cerca de R$ 20 mil. Apesar de o negócio estar indo bem, ele precisou ajustar as contas, visto que o custo desse tipo uma plantação ainda é alto. “O lucro vem do segundo ano em diante.” Outro benefício gerado aos cooperados se refere à compra de insumos agrícolas. Como ela é realizada em grande quantidade para atender a todos, é possível negociar prazo de pagamento e conseguir um bom desconto. Fertilizantes, adubos e demais materiais utilizados na lavoura, como os plásticos de proteção dos morangos, são repassados aos agricultores com 20% de desconto. 18 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 “O mercado aceita bem qualquer tipo de produção. Nenhum médico diz para o paciente consumir gordura; ele o orienta a comer fruta” André Araújo, vice-presidente da Cooprav Além disso, com o ingresso na Cooprav, os associados tiveram condições de planejar suas finanças: 3% de tudo que recebem ficam na Cooperativa, como taxa administrativa, e 2% do lucro correspondem à integralização de cota, uma reserva de capital que o cooperado tem durante o período de um ano. “A fatia que era deixada para terceiros comercializarem o produto agora é injetada na própria empresa e ainda gera um fundo pessoal”, explica o agricultor. Caso o produtor queira se aposentar ou se desligar da Cooperativa, ele recebe o valor da integralização corrigido. “É a valorização do nosso trabalho. Conseguimos uma melhor qualidade de vida para o produtor e sua família”, completa Tinena. SUPORTE TÉCNICO | André Araújo é vice-presidente da Cooprav e agricultor conhecido da região. Atualmente, conta com o auxílio de oito pessoas que o ajudam no plantio e na colheita dos 80 mil pés de morangos e 400 de goiaba – número que espera aumentar para três mil nos próximos meses. Nascido em família de agricultores, o empresário afirma que quem investe no cultivo de fruta tem grande chance de obter lucro. “O mercado aceita bem qualquer tipo de produção. Nenhum médico diz para o paciente consumir gordura; ele o orienta a comer fruta”, pontua. As terras de André Araújo, que trabalha em parceria com o cunhado Laessiter Cássio, produzem uma média de 700 caixas de morango por semana, possibilitando o faturamento bruto de, aproximadamente, R$ 5 mil por mês. A expectativa é de que a goiaba comece a gerar receita ainda este ano. “Durante a entressafra, fazemos tratamento para florear a produção. Indicamos o plantio de mais de uma variedade de morango, o que permite a colheita o ano inteiro” Lázaro Elias das Chagas, técnico agropecuário da Cooperativa www.sebraemg.com.br 19 Ele e todos os cooperados recebem a orientação do técnico agropecuário da Cooperativa, Lázaro Elias das Chagas, que visita, por dia, de quatro a cinco plantações, escutando as dúvidas, identificando dificuldades e orientando quanto ao uso de defensores agrícolas e nutrientes para a plantação. “Sou o médico da lavoura”, costuma brincar. “A orientação técnica que passo aos agricultores os ajuda na padronização dos morangos da marca Frutano. Assim, todos mantêm a qualidade final.” O técnico conta que a fase mais complicada para produzir morangos é durante o verão, uma vez que o cultivo é favorecido com o tempo seco e frio. “Durante a entressafra, fazemos tratamento para florear a produção. Indicamos o plantio de mais de uma variedade de morango, o que permite a colheita o ano inteiro”, explica. Todo o processo de cultivo das frutas, da plantação à colheita, passa pela sua orientação. Depois que os morangos são selecionados e armazenados, as caixas seguem para a câmara fria. Os produtos que sofrem algum dano mecânico e não são selecionados para venda são armazenados em um contêiner. “Eles são vendidos às indústrias de polpa para virar suco e outros alimentos. Aqui nada é desperdiçado”, pontua o profissional. Segundo André Araújo, a contratação de um técnico para atender à Cooprav é uma forma de tornar o cultivo de morangos mais eficaz. “Há alguns anos, plantávamos apenas uma variedade da fruta, e a irrigação era feita por meio de um canhão de água. Hoje, cultivadas mudas importadas do Chile e da Patagônia, a irrigação ocorre por gotejamento e são usados túneis e plásticos de proteção. A marca Frutano tem um padrão de qualidade que temos de seguir.” Cooprav em números COOPERADOS EM 2009 COOPERADOS EM 2013 VALOR MÉDIO DA CAIXA DE MORANGO COMERCIALIZADA COM ATRAVESSADOR VALOR MÉDIO DA CAIXA DE MORANGO COMERCIALIZADA PELA COOPERATIVA 32 52 R$ 4,50 R$ 6 Faturamento em 2012 Total: R$5milhões sendo que R$ 3,5 se referem à venda de morangos, e R$ 1,5, às vendas de outros produtos e revenda de insumos. A produtividade média por estado (em toneladas por hectare) Rio Grande do Sul Espírito Santo São Paulo Minas Gerais Paraná 32,7 34 34 25,2 21,3 Fonte: Pesquisa do Embrapa Informação Tecnológica Certificação A fim de aumentar o potencial competitivo, os produtores de Alfredo Vasconcelos trabalham para a certificação da marca. A Produção Integrada de Frutas (PIF) faz parte do programa Profruta do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que concede o selo de qualidade aos agricultores. Para o presidente da Cooprav, Leandro Rodrigues, a certificação PIF será um diferen20 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 cial. “Será possível ao consumidor o rastreamento das informações da produção do morango, com garantia da procedência da fruta, da data de validade e de quais defensivos agrícolas foram usados, o que também facilita a exportação e maior aceitação dos frutos”, acredita. São pré-requisitos para a certificação características como: qualidade, proteção ao meio ambiente, condições de trabalho e viabilidade econômica. Assim, os cooperados terão de fazer registro das etapas dos processos de produção, desde o preparo do solo até o tipo de defensivo usado. A adequação às normas de produção estabelecidas pelo Ministério da Agricultura e, consequentemente, a certificação devem ocorrer em 2015. www.sebraemg.com.br 21 Juliana Flister / Agencia i7 GESTÃO DO CONHECIMENTO Reinaldo Lobato registra os problemas e as soluções adotadas na manutenção dos veículos Inteligência empresarial Gestão do Conhecimento ajuda a melhorar a performance do negócio Para uma empresa se manter competitiva no mercado, é preciso aliar organização, planejamento, investimento e, por que não, Gestão do Conhecimento. Esse processo, difundido na década de 1990, tem como foco o desenvolvimento das competências essenciais para o fortalecimento do negócio, tais como capital intelectual, aprendizagem organizacional, inteligência empresarial e educação corporativa. Na visão de George Leal Jamil, pós-doutorando em Inteligência de Mercado e Gestão do Conhecimento pela Universidade do Porto, em Portugal, a implantação da Gestão do Conhecimento nas empresas auxilia na concepção de produtos e serviços que atendam, ao máximo, às expectativas dos clientes. “O empresário passa a 22 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 compreender os hábitos, o comportamento e as necessidades do consumidor”, afirma. “Outra vantagem é colaborar com a estruturação da gestão financeira por meio do conhecimento explícito do processo de administração de recursos financeiros empresariais, transformando-o em um valioso recurso estratégico.” Segundo o especialista, por meio da adoção de práticas que visam à criação, à captura, ao armazenamento, à disseminação, ao uso e à proteção do conhecimento, as informações estratégicas são organizadas e passam a colaborar para a expansão e consolidação da empresa. Um exemplo é a criação de um banco de dados que ofereça as características e o perfil de cada cliente. A partir dessas informações, o empreendedor ela- bora uma série de ações de acordo com suas necessidades e objetivos comerciais, o que contribui para a fidelização. A Gestão do Conhecimento se materializa por meio de práticas, como aprendizagem organizacional, banco de ideias, benchmarking, fórum de discussão, grupos de estudos, lições aprendidas, páginas amarelas, reuniões periódicas e melhores práticas. O empresário Reinaldo Dallariva Lobato está atento a esses processos. À frente da Engecar, prestadora de serviços de manutenção mecânica em veículos leves, em Belo Horizonte, ele põe em exercício ações direcionadas à geração de conhecimento e busca otimizar a performance de sua empresa e equipe, que, atualmente, é formada por três mecânicos e uma secretária. “Mantenho os processos internos da empresa mapeados e registrados para facilitar a execução; além disso, possuo uma agenda com o registro dos problemas mais complexos ocorridos na manutenção dos veículos e as soluções adotadas. A partir daí, sempre que necessário, consulto o banco de dados, que me permite verificar situações semelhantes e buscar saídas que ofereçam a realização de um bom trabalho. Ganho tempo e mais agilidade”, declara o empresário. Essa prática é identificada na Gestão do Conhecimento como mapeamento de processos e lições aprendidas. Outra preocupação é o investimento na capacitação técnica dos funcionários, a partir da identificação dos conhecimentos críticos que são imprescindíveis para o negócio, com foco na melhoria do atendimento aos clientes. Essa ação é conhecida como mapeamento de conhecimentos críticos e aprendizagem organizacional. “Após a adoção dessas práticas, a Engecar ganhou em eficiência, produtividade e agilidade, gerando maior valor agregado ao serviço prestado e, consequentemente, mais satisfação da clientela”, relata Reinaldo Lobato. Na opinião dele, a parceria mantida com empresas especializadas em disseminação de informações técnicas e a formação de grupos de estudos com os funcionários são atividades que consolidam a Gestão do Conhecimento em seu negócio. “Ao ter acesso a esses dados, consigo promover o aprendizado e a atualização do conhecimento da equipe de forma contínua”, enfatiza. “Aprimorar o momento de lançamento de produtos, implementar rotinas de gestão, não depender de improvisos ou de arremedos e saber identificar os pontos fortes são resultados de uma Gestão de Conhecimento bem-estruturada” George Jamill, doutorando em Inteligência de Mercado e Gestão do Conhecimento pela Universidade do Porto MAPA DO CONHECIMENTO | Para compreender o que é Gestão do Conhecimento, é preciso entender os conceitos sobre dado, informação e conhecimento. O primeiro se refere ao registro estruturado de transações, uma descrição exata de algo ou de algum evento. Os dados sozinhos não têm relevância, porém são a matéria-prima para a criação da informação. Essa, por sua vez, é uma mensagem que envolve dados, significado e propósito. Já o conhecimento deriva da informação e pode ser considerado uma mistura de elementos estruturados e intuitivos. “A partir disso, há várias definições do que é Gestão do Conhecimento. Particularmente, vejo como um processo que visa tratar do conhecimento no ambiente organizacional em geral, lembrando que uma empresa é um tipo de organização, não a única. É constituído de subprocessos de geração e obtenção, registro, disseminação, valorização, monitoramento estratégico e alguns fatores ambientais, como os ligados à cultura do setor e ao ambiente de trabalho ou produção”, explica George Jamil. Para ele, a metodologia é uma das formas de ver o processo, e não um método a ser imposto com a finalidade de controlar a informação em todos os seus aspectos. “Aprimorar o momento de lançamento de produtos, implementar rotinas de gestão, não depender de improvisos ou de arremedos e saber identificar os pontos fortes são resultados de uma Gestão de Conhecimento bem-estruturada.” www.sebraemg.com.br 23 Bernardo Salce / Agencia i7 Divulgação Brasil Kirin “Ao investirmos no desenvolvimento de pessoas e no compartilhamento da comunicação, criamos a conexão entre a empresa e seus públicos e, assim, alcançamos os resultados esperados” Sandra Valéria Gilberti Prenstteter, executiva da Brasil Kirin Leonardo Dicker investe na formação de seus 60 funcionários, tornando o conhecimento como estratégia do negócio É em busca destes benefícios que Sandra Valéria Gilberti Prenstteter atua, há 10 anos, na Brasil Kirin, rede de bebidas pertencente à Kirin Holdings Company. Até o final de 2012, a empresa pertencia ao Grupo Schincariol, uma organização nacionalmente conhecida. Apesar de envolver um grande negócio, o processo de transição foi bem-sucedido. “Tudo aconteceu de forma tranquila e alinhada. Trabalhamos a informação nas equipes, e elas entenderam o cenário e os benefícios da mudança. A Gestão do Conhecimento foi um dos aspectos que certamente contribuíram para isso”, enfatiza Sandra Prenstteter. Responsável pelas áreas de cultura, clima organizacional, educação corporativa e liderança da empresa, ela acredita que a valorização do capital humano é a vertente responsável pelos processos de criar, recolher, organizar, difundir, usar e explorar o conhecimento dos funcionários. “Ao investirmos no desenvolvimento de pessoas e no compartilhamento da comunicação, criamos a conexão entre a empresa e seus públicos e, assim, alcançamos os resultados esperados.” Prova deste investimento foi a criação, em 2002, da Academia Brasil Kirin, localizada na cidade de Itu, em São Paulo. “Nesse espaço, promo24 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 vemos a capacitação das equipes e construímos o conhecimento necessário para atender o negócio. Os próprios profissionais da empresa ou especialistas de organizações parceiras ministram treinamentos com temas voltados para o desenvolvimento de competências técnicas e de gestão”, conta a executiva. Apenas em 2012, foram abordados 280 temas em 500 mil horas de treinamento. DO OUTRO LADO | Mas o que fazer com o conhecimento gerado? George Jamil responde. “Essa é uma questão comum nas empresas. O primeiro passo é proteger o conhecimento adquirido e, possivelmente, fazer futuros negócios com os dados e as informações acumuladas.” É aí que entram os serviços e produtos oferecidos por empreendedores como Leonardo Dicker. Proprietário da EAC Software, empresa mineira especializada no desenvolvimento de sistemas automatizados de gestão para empreendimentos de varejo no país, ele está, há 20 anos, no mercado. Hoje, conta com 60 funcionários e uma carteira de clientes de renome. “Sabemos que as empresas precisam organizar sua base de dados para, consequentemente, gerir as informações e absorver o conhecimento produzido em suas atividades”, pontua. “Por isso, tivemos a ideia de organizar o conhecimento de forma estratégica. Facilitamos a coleta e a compreensão das informações levantadas pelo cliente, e ele, por sua vez, enobrece suas relações com os seus funcionários e o mercado de atuação.” No modelo de Gestão de Conhecimento, essa prática é chamada de repositório de informação. Para que os conceitos da metodologia sejam absorvidos pela equipe da EAC Software, ela tem acesso às plataformas wiki que permitem a interatividade com os clientes, que podem, eles mesmos, alterar ou completar os números na base de dados do sistema, a fim de deixá-la o mais correta possível, o que gera mais agilidade e clareza dos processos. Em outras palavras, os profissionais executam o compartilhamento dentro da Gestão do Conhecimento. Porém, antes de chegar ao consumidor, é preciso fazer o dever de casa. “Meus colaboradores também precisam compreender os objetivos do cliente e o conteúdo com o qual trabalham”, observa Leonardo Dicker. Para isso, ele realiza uma série de iniciativas - campanhas internas, treinamentos e processos de imersão - a fim de firmar o conhecimento como valor estratégico em seu próprio negócio. DISSEMINANDO A INFORMAÇÃO O Sebrae Minas promoveu, no dia 4 de abril, em Belo Horizonte, o evento Gestão de Conhecimento na Prática. O objetivo foi sensibilizar os empresários e demais participantes para a importância da Gestão do Conhecimento nas empresas. Na programação, George Jamil ministrou a palestra “Gestão do conhecimento aplicada - aprimorando o empreendedorismo”, e Sandra Prenstteter apresentou o case da Brasil Kirin. Os participantes tiveram a oportunidade de trocar experiências e tirar suas dúvidas com os especialistas. “A partir da desmitificação deste termo, mostramos que conhecimento é um recursochave para a competitividade de qualquer negócio”, relata Sílvia Lobato, analista do Sebrae Minas. www.sebraemg.com.br 25 AGRONEGÓCIO Aula na fazenda Fotos: Uarlen Valério / Agencia i7 Universitários de Viçosa, dos cursos de Agronomia, Veterinária e Zootecnia, são profissionais disputados pelo mercado 26 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 Para Antônio Maria, o PDPL é uma troca de experiência e conhecimento entre produtores e universitários H á 25 anos, nascia uma iniciativa que revolucionaria a pecuária de leite na região de Viçosa e seria reconhecida estadual e nacionalmente como uma das mais bem-sucedidas ações do agronegócio leiteiro. O Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira da Região de Viçosa (PDPL-RV) nasceu por meio de um convênio celebrado entre Universidade Federal de Viçosa (UFV), Nestlé/DPA e Fundação Arthur Bernardes (Funarbe) e avançou ainda mais com a entrada do Sebrae Minas e da Itambé, formando uma parceria público-privada de muito sucesso. O PDPL-RV busca alcançar dois principais objetivos: oferecer estágios para estudantes da UFV dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia, a partir do 5º período, e prestar assistência técnica e econômica a produtores que tenham suas fazendas a um raio de 60 Km de Viçosa. O estágio oferecido acontece em três fases, sendo as duas primeiras realizadas na Unidade de Pesquisa Ensino e Extensão em Gado de Leite (UEPEGL/UFV), e a terceira, nas próprias fazendas dos produtores assistidos. Durante a primeira etapa, o estagiário desenvolve atividades práticas sobre a produção de leite, como contenção de animais, vacinação, ensilagem, limpeza das instalações e dos utensílios, “Nem sempre o máximo produtivo equivale ao máximo econômico. Esse equilíbrio que incutimos na formação de nossos estagiários é que vai fazer a diferença entre os que são do ramo. Entregamos um profissional com uma visão mais holística e menos cartesiana” Christiano Nascif, coordenador técnico do PDPL e consultor do Sebrae www.sebraemg.com.br 27 "Por meio do PDPL, conseguimos cumprir a verdadeira prática da extensão, estimulando o desenvolvimento de tecnologias e levando-as à sociedade” Gumercindo Souza Lima, pró-reitor de Extensão e Cultura da UFV 28 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 entre outras. Na segunda fase, é preciso lidar com planejamento da atividade leiteira, balanceamento de dietas, registros técnicos, econômicos e indicadores de eficiência. Já na terceira e última etapa, o aluno trabalha como um profissional, orientando sobre o modo correto de conduzir a produção leiteira, incluindo os aspectos técnicos, de administração, financeiros e ambientais, num intercâmbio de experiências entre o produtor e o estagiário. O primeiro contribui com a experiência e, o segundo, com os conhecimentos adquiridos em sala de aula e por meio dos coordenadores do programa. Antônio Maria Silva Araújo, da Fazenda Nô da Silva, no município de Cajuri, é parceiro do PDPL-RV desde o início. Para ele, a iniciativa é, sobretudo, uma troca. “Ofereço a fazenda para que os estudantes possam aprender com a realidade. Em contrapartida, eles me atualizam com dados econômicos e dão suporte técnico e executivo”, observa. O resultado é notório: “Saímos de uma produção diária de 100 L em 1988 para 4000 L atualmente. O mérito é da nossa parceria”. O coordenador técnico do PDPL e consultor do Sebrae, Christiano Nascif, explica que as fazendas participantes têm que, necessariamente, comercializar leite para algum laticínio sob inspeção, seja municipal estadual ou federal. E ressalta: “Não importa o tamanho da fazenda. Basta que os produtores tenham vontade de mudar e espírito para sempre buscar melhores resultados”. Quanto aos alunos, ele reserva um precioso ensinamento. “Nem sempre o máximo produtivo equivale ao máximo econômico. Esse equilíbrio que incutimos na formação de nossos estagiários é que vai fazer a diferença entre os que são do ramo. Entregamos um profissional com uma visão mais holística e menos cartesiana”. O pró-reitor de Extensão e Cultura da UFV, Gumercindo Souza Lima, é um entusiasta do programa, considerando-o de importância extrema. “Por meio dele, conseguimos cumprir a verdadeira prática da extensão, estimulando o desenvolvimento de tecnologias e levando-as à sociedade.” Para ele, a oportunidade de capacitação e formação de milhares de alunos, via PDPL, oferece estímulo e visibilidade à instituição de ensino, assim como à bem-sucedida parceria do setor público com o privado. RESULTADOS EM NÚMEROS | Em 1988, início da atuação do Programa, a produção de leite dos participantes correspondia a 3% da produção regional. Só para se ter uma ideia do crescimento, em 2012, o percentual subiu para 20%. Em outras palavras, a produção do PDPL-RV aumentou sete vezes mais que a regional no período. Em relação ao número de estagiários, esses somavam mais de 1500, de 1988 a 2012, sendo responsáveis, nesse período, pelo atendimento a 141 produtores. Em 2012, 134 estagiários participaram do PDPL-RV, sendo 24 na primeira fase, 45 na segunda e 65 na terceira. Os resultados alcançados confirmam a excelência das atividades realizadas: as 46 propriedades assistidas apresentaram dados expressivos na atividade leiteira, como a produção média de leite de 838,25 L por dia e a produção por vaca em lactação de 17,91 litros por dia. Os indicadores financeiros também foram animadores: o preço médio do leite foi de R$ 0,9296 por litro, sendo o custo operacional efetivo de R$ 0,7145 por litro. Em relação ao mercado de trabalho, o coordenador do PDPL afirma que a empregabilidade dos egressos também é crescente. “É um termômetro que nos indica que a atividade está dando certo. No máximo seis meses após a formatura, cerca de 80% dos egressos estavam empregados. No último ano, o nível subiu para 90%”, informa Christiano Nascif. Mateus Lobato de Castro, responsável pelo Setor de Fomento da Embaré, laticínio sediado em Lagoa da Prata, justifica o sucesso dos exalunos do Programa. “Os profissionais do PDPL já chegam com embasamento e preparo para a execução do trabalho e a tomada de decisões. Eles entram com maturidade, conhecimento e domínio de tecnologia, proporcionando à empresa resultados imediatos.” Dos seis técnicos contratados pela Embaré, quatro são egressos do PDPL-RV. EGRESSOS NO MERCADO | Muitos dos ex-estagiários participantes conquistaram cargos de destaque em grandes empresas. Um exemplo é Armindo José Soares Neto, hoje gerente-geral de Suprimento de Leite da Itambé. Aluno de Agronomia na UFV, concluiu um estágio de dois anos “Além de complementar a aprendizagem técnica e gerencial, a iniciativa me permitiu vivenciar um ambiente profissional com cobranças, responsabilidades e respeito aos produtores” Bruno Lucchi, assessor técnico da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA no PDPL e logo foi absorvido pelo mercado. “Considero o PDPL a única iniciativa do país que se propõe a formar especialistas em pecuária leiteira e obtém êxito com ela. É motivo de orgulho fazer parte do grupo de profissionais que passaram pelo Programa e manter, mesmo após 16 anos de formado, contato com seus técnicos e coordenadores”, ressalta. Mesmo sendo egresso, Armindo Neto vê a iniciativa com objetividade. “A diferença entre o perfil profissional de um ex-estagiário do PDPL-RV em relação aos que não tiveram a oportunidade de estagiar é grande. Isso ocorre porque os alunos são expostos a um ambiente muito próximo do que vão encontrar no mercado de trabalho em relação às responsabilidades assumidas, à competição e ao cumprimento de prazos.” Segundo o gerente, quem se destaca chega ao mercado de trabalho em condição vantajosa em relação aos demais. www.sebraemg.com.br 29 EVOLUÇÃO NA PRODUÇÃO DE LEITE FAZENDAS ATENDIDAS PELO PDPL Inovação em mobilidade <BRAVADESIGN> Empresas especializadas são responsáveis pela criação de soluções em Tecnologia da Informação, atendendo diferentes setores da economia Outro ex-participante que prosperou no mercado é Bruno Lucchi, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) na Comissão Nacional de Pecuária de Leite. Para ele, o PDPL teve um peso muito grande em sua formação profissional. “Além de complementar a aprendizagem técnica e gerencial, a iniciativa me permitiu vivenciar um ambiente profissional com cobranças, responsabilidades e respeito aos produtores”, conta. Assim que se formou, ele foi trabalhar na Central de Processamentos de Dados do Educampo, projeto do Sebrae Minas de Consultoria Gerencial, inspirado na assistência técnica do PDPL. Em 2009, assumiu seu atual cargo na CNA, onde ainda mantém contato com os profissionais do PDPL e também do Educampo – iniciativa que visa à capacitação gerencial de produtores rurais vinculados às atividades de leite, café e fruta. 30 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 SEBRAE APOIA O PDPL O Sebrae Minas é um dos apoiadores do PDPL-RV. Mas os benefícios de tal parceria têm via de mão dupla. “Ao mesmo tempo que contribuímos para uma formação de qualidade dos estudantes, com a certeza de que eles estão sendo preparados para serem profissionais de destaque, temos a oportunidade de indicá-los para atuarem como consultores no Educampo”, declara a gerente de agronegócios do Sebrae Minas, Priscilla Lins. Além disso, para melhorar a gestão econômico-financeira, a metodologia do Educampo é utilizada, com muito sucesso, pelo PDPL-RV há mais de 15 anos. À frente do site Via Principal, Marcos Valim (a dir.) e Dervanil Júnior oferecem informações estratégicas sobre imóveis www.sebraemg.com.br 31 Fotos: Pedro Vilela / Agencia i7 MOBILIDADE A cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, abriga centenas de empresas na área de Tecnologia da Informação (TI). Para fomentar o negócio, só em 2012, o Sebrae Minas investiu, por meio do projeto Desenvolvimento do Negócio de Mobilidade Empresarial, R$ 1,3 milhão em 70 empreendimentos que desenvolveram e aperfeiçoaram softwares e aplicativos em diferentes ramos, como segurança, gestão, agronegócio, educação, trânsito e saúde. Juntos, eles movimentaram R$ 300 milhões no ano e empregaram quase três mil funcionários. De acordo com Fabiano Alves, analista do Sebrae Minas em Uberlândia, esta iniciativa surgiu após a aplicação da metodologia Foco Competitivo - que identifica tendências de negócios sustentáveis para uma determinada região produtiva no segmento de TI da cidade, há três anos. “Já trabalhávamos com cerca de 30 empresas especializadas no desenvolvimento de softwares. Mas, com essa ferramenta, conseguimos envolver um número maior de estabelecimentos no projeto, que vem crescendo ano a ano”, afirma. Com a participação mais assídua do setor, foi feito um estudo que apontou a mobilidade empresarial como tendência futura do ramo de tecnologia. Esse cenário estimulou a criação do Polo de Mobilidade (www.polomobilidade.com.br) e a formação de redes entre micro e pequenas em- presas, universidades, governo e demais instituições locais. A integração, fomentada pelo Sebrae Minas, já gerou resultados significativos. “Fizemos uma Rodada de Negócios interna, na qual os participantes do grupo puderam se apresentar, dividir expectativas e buscar a criação compartilhada de novas soluções”, conta Fabiano Alves. “As empresas pararam de se ver como adversárias e perceberam que podem ser parceiras em vários produtos, o que já tem acontecido.” Marcos Caixeta Valim encontrou, nas reuniões do Polo de Mobilidade, a oportunidade de que precisava para colocar o seu projeto em prática. Depois de gastar tempo e dinheiro em busca de um apartamento que o atendesse, ele teve a ideia de criar um site com foco em inteligência imobiliária. O Via Principal entrou no ar há cerca de dois meses e tem a finalidade de ser um espaço que, além de reunir ofertas de imóveis para compra e locação, oferece informações estratégicas para o mercado imobiliário. “Geralmente, as pessoas interessadas contratam uma empresa de marketing para fazer essa pesquisa. Com nossa base de dados, poderemos oferecer informações com precisão e um custo mais baixo”, explica o empresário. Ao fim do primeiro mês de veiculação, o Via Principal oferecia 50 imóveis cadastrados, mas a meta é fechar 2013 com mil ofertas. Para isso, estão sendo estabelecidas parcerias com imobiliá- “O mercado imobiliário envolve sonhos e movimenta muito dinheiro, mas as ferramentas que apoiam o setor são incipientes. Por isso, a coleta de dados do site se faz importante neste momento” Robson Xavier, diretor executivo da Zillion 32 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 César Amorim (a dir.) investiu na criação de um software que classifica e padroniza o volume de grãos, gerando mais assertividade e rapidez rias e corretores independentes de Uberlândia. “Eles irão usar o site como uma vitrine para as suas vendas”, acredita Marcos Valim. O plano de crescimento, porém, não se restringe ao número de imóveis cadastrados. Segundo Dervanil Júnior, responsável pela parte técnica do Via Principal, a infraestrutura do site já foi criada para suportar uma expansão maior. “O Via Principal também é o primeiro site de inteligência imobiliária que interage com as mídias sociais. O usuário escolhe o apartamento e o compartilha em suas mídias pessoais. Apresenta uma única versão disponíveltanto para o computador quanto para dispositivos móveis.” A ideia inovadora encontrou,no próprio Polo de Mobilidade,o investimento de um empresário experiente. Robson Xavier, diretor executivo da Zillion, é administrador e trabalha, há 30 anos, no ramo de tecnologia. Por meio de sua empresa, especializada em serviços em nuvem, é possível ter acesso a dados empresariais, como e-mails, arquivos e calendários compartilhados em bases de grandes provedores, de qualquer computador ou dispositivo móvel habilitado. Atualmente, a Zillion conta com mil clientes ativos em todo Brasil e cresce cerca de 20% ao ano, comfaturamentode R$ 3 milhões anuais. “O mercado imobiliário envolve sonhos e movimenta muito dinheiro, mas as ferramentas que apoiam o setor são incipientes. Por isso, a coleta de dados do site se faz importante neste momento”, acredita Robson Xavier. “O uso da inteligên- cia imobiliária com uma base de informações valerá muito mais do que os imóveis anunciados.” APOIO À INOVAÇÃO | Para fortalecer o potencial de Uberlândia no cenário tecnológico e gerar novos negócios para as micro e pequenas empresas, o Sebrae Minas de Uberlândia criou o Edital Sebraetec, que prevê investimentos em novas tecnologias. A periodicidade do Edital varia conforme o planejamento do Polo de Mobilidade e atende somente as empresas que participam da iniciativa. De 2012 para cá, já foram atendidos 46 estabelecimentos, com investimentos na ordem de R$ 2 milhões. No primeiro trimestre deste ano, o resultado não foi diferente. “Soltamos um novo edital em fevereiro. As 50 empresas inscritas tiveram os projetos aprovados”, conta Fabiano Alves. Segundo ele, até março, 20 delas já haviam sido contempladas no projeto. O ideal é que, nos próximos meses, as demais organizações sejam beneficiadas. “Isso mostra a alta capacidade de inovação do Polo de Mobilidade”, observa. Uma das soluções beneficiadas pelo Sebraetec foi o Agroeyes, desenvolvido pela Kyros, empresa de tecnologia que presta serviço de desenvolvimento de software. O empreendimento integra o Polo de Mobilidade e, atualmente, mantém um crescimento médio de 8% ao ano e atende, aproximadamente, 120 clientes nos estados de Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Goiás e Rio de Janeiro. Segundo César Borges Amorim, diretor comerwww.sebraemg.com.br 33 A INDÚSTRIA DE TI NO MUNDO PARTICIPAÇÃO NO MERCADO DE SOFTWARE E SERVIÇOS: Fonte: IDC, 2007 cial da Kyros, o projeto foi elaborado a partir da uma demanda da área agrícola, que necessitava de um sistema para classificar volume de grãos. Ao perceber que muitas sementes eram selecionadas de forma manual, o empresário investiu na criação de um software que permitisse padronizar essecritério e aperfeiçoar o trabalho. “Com a nova ferramenta, é possível ter um padrão de seleção com mais assertividade e rapidez. O Agroeyes também permite a documentação e o registro do histórico das informações”, diz César Amorim. O software é direcionado aos agricultores e às empresas que desenvolvem e produzem sementes, bem como àquelas que compram grãos para monitoramento da qualidade. A expectativa é que o produto possa ser comercializado até o primeiro semestre de 2014. CAPACITAÇÃO | Para aumentar a competitividade das empresas que compõem o Polo de Mobilidade, foram realizadas diversas atividades junto aos empreendedores, como Agendas de Relacionamento com Compradores Avançados, Rodadas de Negócios,Missões, Capacitações e Fóruns Nacionais eInternacionais, além de ações institucionais como a estruturação da Governança regio- PAÍS Movimentação (em bilhões de dólares) Participação (em %) 339,6 71,7 67,1 62,6 49,8 19,8 15,2 14,67 38,9 8,21 7,69 7,17 5,71 2,27 1,74 1,68 1 EUA 2 Japão 3 Reino Unido 4 Alemanha 5 França 6 Espanha 7 China 8 Brasil <BRAVADESIGN> Miguel Lima efetua os pedidos do cliente por meio do Landix Flex. Agora, os processos de venda e compra são mais dinâmicos e eficientes nal e o lançamento de um parque tecnológico. Segundo Miguel Correia Lima, presidente da Landix, o crescimento organizado de sua empresa se deu, principalmente, em função deste auxílio prestado pelo Sebrae Minas. “Chegamos ao ponto que tínhamos medo de crescer, pois os gastos também aumentariam e não conseguiríamos ir adiante,” conta. Devido ao grande fluxo do trabalho, as atividades da empresa não conseguiam ser planejadas no tempo adequado. Com a orientação dos consultores, os processos foram organizados, melhorando a produtividade – que pode crescer em 30%, caso haja demanda, sem riscos à administração - e garantindo um crescimento linear. Fundada em 2000, a Landix nasceu com foco no desenvolvimento de um softwate de mobilidade, somente nos três últimos anos, cresceu, em média, 23%, com o faturamento de R$ 2,2 milhões anuais. Parte desse resultado se deve ao desenvolvimento do software Landix Flex, que permite que empresas tenham mais agilidade em pedidos realizados fora da loja física. Através dele, vendedores externos efetuam os pedidos por meio de um aparelho. De imediato, a solicitação chega à área de faturamento, dinamizando as vendas. “Antes, o vendedor tinha que voltar à empresa, faturar o pedido e enviá-lo novamente. Agora, há uma comunicação eficaz entre o sistema da loja e o do aparelho usado pelo vendedor”, argumenta Miguel Lima. A prestação do serviço também melhorou. Foi desenvolvido um sistema em que o cliente, de qualquer parte do mundo, pode abrir uma ocorrência sobre suas dúvidas, críticas ou sugestões e enviá-la diretamente aos técnicos. “Mesmo a distância, o colaborador da empresa resolve um problema sem burocracia e com rápida reparação de erro”, observa o empresário. Outra grande vantagem do investimento é a diminuição de erros e o uso inteligente da frota do cliente, uma vez que a logística de vendas está completamente informatizada e o pedido é faturado no ato da venda, sendo possível planejar a entrega de acordo com outras solicitações. O Landix Flex é utilizado por grandes empresas de todo país, como Coca-Cola, Grupo Super Mix, Loja Elétrica e Real Moto Peças. Algumas delas já estão na quinta versão da tecnologia. MAIORES COMPRADORES DE SOFTWARE E SERVIÇOS NOBRASIL Indústria Finanças Serviços Outros Comércio Governo Óleo e gás Agroindústria A INDÚSTRIA DE TI NO BRASIL 25,4% 21,3% 15,7% 12,1% 10,3% 7,9% 5,6% 1,7% 67% 84% 83,9% das empresas estão na região Sudeste são empresas de pequeno porte das empresas de TI do país possuem menos de 10 anos de mercado Fonte: Observatório Softex, 2008 Fonte: Série de Estudos de Mercado Sebrae/ESPM 2008 34 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 www.sebraemg.com.br 35 Indo para uma feira de negócios, dois empresários, um industrial e outro de serviços, sentaram lado a lado no avião. Conversa vai, conversa vem, um deles disse: “Ah, se eu soubesse que ter uma indústria grande era tão complicado, eu criaria uma empresa de serviços”. O colega de serviços estranhou: “Se eu soubesse que lidar com gente era tão difícil, eu montaria uma indústria”. Os dois começaram a rir e contaram suas histórias. “O começo“ – disse o industrial – “foi muito difícil, o dinheiro era curto. Peguei a minha indenização de 10 anos de casa, vendi o carro e consegui comprar a primeira máquina, usada, mas em bom estado. Minha mulher cuidava da produção, e eu, das compras da matéria-prima e das vendas. A gente trabalhava dia e noite, sete dias por semana, mas valia a pena. Depois que pagamos a máquina, compramos outra, depois outra, e a minha esposa contratou mais seis pessoas para trabalhar. Como os preços da matéria-prima oscilavam muito, resolvi criar um local para estocagem. Precisei contratar alguém para tomar conta e fazer as compras. Passei a me dedicar quase que exclusivamente às vendas. Com muito trabalho e dedicação, a empresa foi crescendo. Rapidamente, atingimos 100 funcionários. Aí começaram os meus problemas, que, muitas vezes, me fazem sentir saudades do tempo em que só eu e minha mulher tocávamos o negócio.” Após o jantar, o empresário do ramo de serviços fez algumas considerações, e a história do industrial continuou. “Alguns da velha guarda não conseguiram acompanhar o crescimento da empresa, e eu tive que ajeitar um lugar para eles trabalharem; em outros, a promoção subiu à cabeça, e as brigas começaram. O que era resolvido diretamente agora era feito por meio de intermináveis reuniões, nas quais as pessoas mais se defendiam e atacavam os colegas do que resolviam problemas ou, o que era mais importante, planejavam. Numa ocasião, eu 36 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 me aborreci e chamei todos de médicos legistas, pois só estavam ali para fazer autópsias e procurar os motivos da morte do faturamento, da margem e dos clientes. Aqueles que outrora eram amigos e ajudavam uns aos outros tornaram-se inimigos mortais: o responsável por vendas culpava a produção pela demora na entrega dos pedidos; esta, por sua vez, se defendia, atacando o setor de vendas por comercializar o que não tinha no estoque e deixar de vender o que estava mofando na expedição. O estoque agora compromete a saúde financeira da empresa, que precisa recorrer a bancos para pagar as contas. Por fim, eu, que estava querendo delegar poder, tive que assumir tudo novamente. Na realidade, estou indo para esta feira mais para espairecer do que por necessidade propriamente dita.” mos nossa primeira concorrência e, junto com ela, um tsunami de problemas. O faturamento aumentou, mas, com a dificuldade de receber as faturas e de seguir rigorosamente o orçamento, precisamos recorrer aos bancos para saldar as contas. Por esse e outros motivos, a margem despencou. Nunca soube se o erro foi da área de orçamentos ou da operação, elas se acusavam mutuamente. Dei um basta quando concluí que estávamos pagando para trabalhar. Como você percebeu, estamos no mesmo barco. Entretanto, meu caro colega, alguns amigos me disseram que resolveram essas questões incorporando nas suas empresas um conceito chamado Sincronismo Organizacional, que, se eu entendi bem, é o alinhamento da estratégia que representa a vontade do dono com os processos organizacionais e, principalmente, tudo isso com as pessoas. Acho que, assim que voltar desta viagem, vou cuidar deste assunto.” Se você se enxerga neste episódio, vale a pena esperar o próximo capítulo. *Professor da Fundação Dom Cabral e do Instituto Mauá de Tecnologia www.sebraemg.com.br 37 Quinho Sincronismo organizacional pode ser a saída O outro empresário, que atuava há mais de 20 anos no ramo de serviços, escutou atentamente o desabafo do colega e, ao final, soltou uma bela gargalhada. Em seguida, explicou: “Meu caro amigo, os problemas são comuns a todos nós, empresários, independentemente do tipo de produto, serviço ou ramo de atividade. O meu caso é pior. Eu não tenho máquinas, só gente, e trabalhar com gente é complicado. Você tem que aprender a lidar com vaidades, egos, não é fácil. Eu continuei um negócio que foi do meu pai e do meu tio. A grande dificuldade foi conviver com os meus primos, que não tinham nenhuma vontade de trabalhar, só queriam usufruir da empresa. O problema só foi resolvido quando ela foi dividida e cada um foi para o seu lado. Tornamo-nos, assim, concorrentes. Não demorou muito e comprei a parte deles – mais por insistência do meu avô do que por necessidade. Passada a transição, contratamos um diretor comercial e um de marketing, e eu fiquei mais focado na operação. Por um tempo, as coisas ficaram sob controle, mas, com a crise do setor privado, resolvemos entrar no setor público. Ganha- Fotos: Pedro Vilela / Agencia i7 CONSTRUÇÃO CIVIL Rede de negócios Empresários da Zona da Mata, Campo das Vertentes e Sul de Minas unem esforços para fortalecer lojas de materiais de construção A competitividade no mercado varejista de material de construção, cada vez mais acirrada, exige dos empresários soluções para enfrentar os desafios no dia a dia dos negócios. O segredo para conquistar o mercado e superar a concorrência é enxergar oportunidades de melhoria e crescimento nesses desafios. Foi com esse pensamento que donos de lojas de materiais de construção nas regiões da Zona da Mata, Campo das Vertentes e Sul de Minas procuraram o Sebrae Minas, em 2011, com o intuito de organizar um grupo para participar do programa Central de Negócios – uma consultoria baseada em modelo associativo que permite compras, vendas e ações de marketing em conjunto. A partir da Central de Negócios, o grupo – hoje formado por 14 empresários e 16 estabelecimentos – fundou a Associação das Lojas de Materiais de Construção da Zona da Mata, Sul e Vertentes de Minas Gerais (Alomata), em novembro de 2011. Localizadas nas cidades de Arantina, Barroso, Bom Jardim de Minas, Carvalhos, Juiz de Fora, Leopoldina, Lima Duarte, Matias Barbosa, Rio Pomba, São João Nepomuceno, "Fazer parte da Rede Construir traz inúmeras vantagens para os associados da Alomata. Temos assessoria em marketing, maior poder de negociação junto aos fornecedores, mais rentabilidade e visibilidade no mercado e formação de pessoal” Paulo César Pains, gestor regional de Negócios da Alomata/Rede Construir Após aderir à Rede Construir, a loja de Evaldo Saudati ganhou novo layout, com prateleiras e gôndolas para organizar os produtos 38 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 www.sebraemg.com.br 39 "O cliente tem confiança ao comprar em uma loja da Rede Construir. Além disso, temos vantagens como bons descontos junto aos fornecedores e entrega mais rápida da mercadoria" Emanuel Piazzi, dono da Conquista Materiais de Construção 40 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 São Vicente de Minas e Ubá, as empresas têm, em média, 20 anos de mercado e empregam 300 funcionários. “Quando um grupo de empreendimentos do mesmo setor se une, ele consegue explorar os benefícios das negociações em escala e tem maior poder de barganha junto ao fornecedor”, diz Marcelo Rother, analista do Sebrae Minas em Juiz de Fora. Visando ao crescimento das lojas e a viabilização de recursos, os empresários decidiram se associar, em fevereiro de 2012, à Rede Construir – a maior no ramo de material de construção da América Latina, presente em oito estados brasileiros (SP, RJ, MG, ES, RS, PR, CE e PE), com mais de 250 estabelecimentos. “Fazer parte da Rede Construir traz inúmeras vantagens para os associados da Alomata. Temos assessoria em marketing, maior poder de negociação junto aos fornecedores - que são de marcas conceituadas -, mais rentabilidade e visibilidade no mercado e formação de pessoal, cujo treinamento é oferecido pelos próprios fornecedores”, enumera Paulo César Pains, gestor regional de Negócios da Alomata/Rede Construir. O espírito associativo, segundo ele, é o requisito mais importante para se integrar à Rede Construir, que também exige que a empresa tenha, pelo menos, dois anos de atuação no mercado, área de 100 a 150 m² para exposição de pro- dutos e faturamento mínimo entre R$ 100 mil e R$ 150 mil por mês. Além disso, é feita uma avaliação da saúde financeira do estabelecimento para verificar se não há endividamentos que o impeçam de se desenvolver. Em seguida, o nome do novo lojista precisa ser aprovado em assembleia da Alomata. Os aprovados pagam uma taxa de admissão, no valor de R$ 2.400, uma mensalidade de R$ 300 e precisam fazer a adequação visual do empreendimento em até 180 dias. A frota de veículos, o uniforme dos funcionários e o layout da loja, incluindo a sinalização e exposição dos produtos, recebem identidade visual padronizada. “Periodicamente, fazemos um levantamento para saber se os associados estão em dia com as obrigações fiscais e comerciais. A Rede Construir trabalha em parceria com os fornecedores de produtos, que visitam os lojistas e vendem de acordo com a quantidade que cada um precisa”, explica Paulo Pains. Os empresários Edson Luiz dos Santos e Evaldo Bonato Saudati, proprietários da Ferragens Crisol, em Juiz de Fora, foram os fundadores da Alomata. Após formar o grupo – que começou com 22 empresas – e aderir à marca Rede Construir, sua loja ampliou o espaço físico de 40 m² para 360 m². “O layout mudou completamente. Comprei uma nova estrutura metálica de prateleiras e gôndolas para colocar os produtos de forma mais organizada, em um espaço menor, e melhor expostos para os clientes”, conta Evaldo Saudati. Os 14 funcionários receberam qualificação para personalizar o atendimento e conhecer os produtos dos novos fornecedores. O acesso do empresário às ações de marketing ficou mais fácil, além de ele ter melhorado seus conhecimentos comerciais e em recursos humanos. “A troca de experiências entre os lojistas da Rede Construir é o principal ganho desse projeto. É como se você tivesse acesso à caixa-preta de todas as lojas, pois, a todo momento, recebemos informações reais sobre tudo que está acontecendo. Isso nos permite tomar decisões como aumentar o preço com base em dados verdadeiros”, destaca Edson dos Santos. O diversificado mix de produtos da Ferragens Crisol, que conta com oito mil itens, tem contribuído para o faturamento mensal de R$ 200 mil. Antes, esse valor era de R$ 64 mil por mês. “Eu já tinha uma meta de crescimento, mas, para atingir o atual fatu- “A cultura do associativismo é importante para o empresário entender e confiar no modelo de atuação coletiva com foco na geração de negócios. Isso traz ganhos em competitividade.” Marcelo Rother, analista do Sebrae Minas em Juiz de Fora ramento, a Alomata contribuiu com 35%”, observa o empresário. O carro-chefe de vendas são os materiais elétrico e hidráulico, ferramentas e tintas, sendo que a média diária de atendimento é de 240 clientes. MARCA CONSOLIDADA | A marca Rede Construir já está consolidada no mercado há mais de 15 anos, o que proporciona mais visibilidade para os lojistas mineiros. Os clientes atendidos pelo grupo Alomata são das classes A, B e C e vão desde o consumidor que está reformando a casa até as grandes construtoras. Os principais produtos vendidos pelos lojistas são cimento, areia, ferragens (material bruto), cerâmicas, azulejos e revestimento (material de acabamento), ferramentas, tubos, conexões, esquadrias metálicas, fechaduras, material elétrico, hidráulico, metais, sanitários, pias de inox e granito, tintas, pincéis, entre outros. “A união dos empresários faz com que sejamos vistos como uma grande empresa. Isso tem um simbolismo muito forte para todos os efeitos administrativos e comerciais, pois o respeito das indústrias parceiras, dos clientes e colaboradores fica mais acentuado. Acreditamos que o sucesso da Alomata é responsabilidade do Sebrae Minas, pois, sem a participação da instituição, não teríamos criado a associação e nem entrado na Rede Construir”, ressalta Edson dos Santos. Entretanto, a resistência de alguns empresários em abrir mão da própria marca para usar o nome www.sebraemg.com.br 41 EM NÚMEROS ❚ 14 empresários com 16 lojas; ❚ média de 20 anos de atuação das empresas no mercado; ❚ 300 colaboradores empregados pelo grupo; ❚ faturamento anual de R$ 31 milhões em 2012; ❚ média de vendas mensais de cada lojista no valor de R$ 161 mil; ❚ 2.100 clientes atendidos por mês pelo grupo; ❚ 280 m² é a média da área de exposição de produtos nas lojas. Rede Construir foi a principal dificuldade encontrada pela Alomata. “O processo de transição para uma rede tem que ser feito com cuidado, principalmente nos ativos da marca. Não é interessante abandonar um nome já consolidado e trocar por outro sem planejamento“, pontua Marcelo Rother. De acordo com ele, os lojistas que participaram da Central de Negócios e permaneceram na associação desenvolveram a visão coletiva. “A cultura do associativismo é importante para o empresário entender e confiar no modelo de atuação coletiva com foco na geração de negócios. Isso traz ganhos em competitividade.” EXPANSÃO | Entre os principais resultados alcançados pela Alomata estão a formalização de parcerias com mais de 20 fornecedores de materiais de construção que trabalham com produtos de maior rentabilidade e giro no mercado e a rea42 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 IMAGEM FORTALECIDA | Para fortalecer no mercado a imagem da Conquista Materiais de Construção, o empresário Emanuel Piazzi Francisco, de Matias Barbosa, decidiu se associar à Alomata em 2011. “Unidos somos mais fortes do que sozinhos”, acredita. Há seis anos no mercado de materiais de construção, ele conta que, após participar do programa Central de Negócios, aperfeiçoou os conhecimentos na área de compras, e seu negócio ficou mais lucrativo. “Tenho maior poder de compra e consigo vender os produtos dentro do valor de mercado, com uma margem de lucro mais satisfatória. Diante desse fortalecimento, os fornecedores veem a nossa loja com outros olhos e têm mais confiança na hora de negociar o prazo de pagamento.” Entre os ganhos proporcionados pela união dos lojistas, Emanuel Francisco destaca a melhor padronização dos produtos no estoque, o novo layout e a imagem repassada para o consumidor final. “O cliente tem confiança ao comprar em uma loja da Rede Construir. Além disso, temos vantagens como bons descontos junto aos fornecedores e entrega mais rápida da mercadoria adquirida”, ressalta. Com duas lojas e 22 funcionários, sendo 18 na matriz de Matias Barbosa e quatro na filial em Juiz de Fora, o empresário tem um faturamento anual O CENÁRIO DO SETOR DE CONSTRUÇÃO CIVIL em torno de R$ 2,5 milhões (média de R$ 210 mil por mês). Antes de entrar para a Alomata, esse valor era de R$ 1,7 milhão por ano. Ele conta com seis mil itens na cartela de produtos, que vão desde areia, brita, cimento e material de acabamento até utilidades para casa, como lustres e fechaduras. “Além das cidades onde possuo lojas, vendo para clientes de Santos Dumont e Simão Pereira, municípios da região. Tenho cinco caminhões, um para buscar a mercadoria no fornecedor e os outros quatro para fazer entregas.” Fonte: Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco) e Instituto Data Popular 8% do PIB do setor é representado pelo comércio de materiais de construção, o que equivale a 0,5% do PIB do país 77% do PIB pertencente ao comércio de materiais de construção (8%) se deve às lojas de pequeno e médio porte <BRAVADESIGN> ALOMATA lização de campanhas de marketing em jornais de ofertas e no rádio. “A ferramenta de marketing com grande retorno é o jornal de ofertas. Por mês, cada loja distribui, no mínimo, três mil publicações para os clientes e a população local. Este ano, também pretendemos veicular propagandas na TV”, diz Paulo Pains. O faturamento dos lojistas em 2012 foi de R$ 31 milhões, 40,9% maior em relação aos R$ 22 milhões somados em 2009, ano em que a associação ainda não existia. Em 2013, uma das metas do plano de expansão da Alomata é ter 30 lojas associadas na região da Zona da Mata. Para isso, a Comissão de Expansão do grupo tem realizado visitas a outros estabelecimentos do ramo para convidar novos empresários a participar da iniciativa. “Em março, a Rede Construir Nacional esteve presente na Feira Internacional da Construção, em São Paulo, onde o foco foi o crescimento do negócio. As regionais trabalharam no estande da feira para atrair novos associados”, pontua o gestor regional. Em sua avaliação, a boa gestão do negócio é o segredo para conquistar espaço no mercado. “A Central de Negócios ajudou os empresários a trabalhar em grupo e a ver o outro lojista como parceiro, ao invés de um concorrente. Hoje, as lojas da Alomata são mais reconhecidas pelos clientes. E, para aperfeiçoar a gestão, os associados vão participar, a partir de abril, do Sebrae Integra, que prevê consultorias, diagnósticos e plano de melhorias para a gestão financeira, de pessoas e indicadores de desempenho.” 138MIL LOJAS DEMATERIAL DE CONSTRUÇÃO NO BRASIL www.sebraemg.com.br 43 Pedro Vilela / Agencia i7 CAPA Q ELAS NA LIDERANÇA COM TALENTO, PERSISTÊNCIA E UMA BOA DOSE DE CORAGEM, AS MULHERES FAZEM A DIFERENÇA NO COMANDO DOS PRÓPRIOS NEGÓCIOS 44 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 uando se entra em uma oficina mecânica, o que se espera encontrar são carros, peças automotivas, graxa, mecânicos, entre outros itens bem masculinos. A presença do dono, também no masculino, é fundamental. Mas, e se, ao invés de um dono, você depara com a dona da oficina, no feminino mesmo? Pois, em Belo Horizonte, esse cenário é real. Trata-se da Segmento Mecânica, a famosa “Oficina das Meninas”. No comando, as três irmãs: Laura Furtado dos Reis, proprietária e responsável pelo atendimento ao cliente e pela administração financeira; Lilian Garcia dos Reis Silva, gerente e consultora técnica; e Adriane Garcia Macedo, que trabalha com orçamentos e cotação de peças. Desde 2008, esse trio mostra o que muitas pesquisas e empreendedoras brasileiras vêm confirmando: lugar de mulher é na liderança. No Brasil, a força feminina no negócio é um dos destaques da Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2012) – Empreendedorismo no Brasil / Relatório Executivo, pesquisa conduzida pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBPQ), com a parceria técnica e financeira do Sebrae e o apoio do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O estudo, que entrevistou 10 mil pessoas, nas cinco regiões brasileiras, mostrou que o empreendedorismo feminino vem aumentando a cada ano no país. A última edição identificou que 49,6% dos que iniciam carreira empresarial são mulheres. Em 2002, esse percentual era de 42%. “As brasileiras estão entre as que mais empreendem no mundo. Cerca de 13 milhões estão à frente das empresas no país”, enfatiza a analista do Sebrae Minas, Michelle Chalub Cossenzo. De acordo com ela, do total de pessoas atendidas pelo Sebrae Minas em 2012, 43% eram do sexo feminino. Em Minas Gerais, não é diferente. Os resultados da pesquisa Empreendedorismo Feminino, divulgada pelo Sebrae Minas em março deste ano, mostram que dos 1.228 entrevistados, em oito regiões do Estado, 33% são mulheres que comandam Micro e Pequenas Empresas (MPE). O estudo também destaca que 44% dos estabelecimentos administrados pelas mineiras faturam entre R$ 60 mil e R$ 180 mil por ano e têm, em média, cinco funcionários, enquanto, nos dos homens, a média é de 7. www.sebraemg.com.br 45 Ronaldo Lopes “O mercado mudou, as oportunidades são muitas e a mulher empreendedora possui diferenciais, como jogo de cintura, sensibilidade aguçada, capacidade de equilibrar firmeza e um tratamento mais humanizado na liderança, o que fortalece o comprometimento dos funcionários com os resultados da empresa”, avalia Michelle Chalub. Laura Reis e sua “Oficina das Meninas” mostram que isso é verdade. A Segmento Mecânica foi fundada pelo seu marido, Lúcio, junto com um sócio, em 1987. Alguns anos mais tarde, ele resolveu vendê-la, para comprá-la de volta em 1995. “A minha irmã Lilian, mesmo ainda jovem e sem entender de carros, assumiu a gerência na época. Paralelamente, eu e Lúcio continuamos com nossos empregos”, lembra a empreendedora. A atuação dela no setor automobilístico é antiga – trabalhou 18 anos em concessionárias e se consagrou mestre de vendas de uma importante marca global do setor. Após ser desligada da empresa, passou a atuar na oficina do casal e, paralelamente, comprava e vendia carros. “Era um so- PRÊMIO SEBRAE MULHER DE NEGÓCIOS nho antigo do Lúcio que comandássemos juntos a empresa, que vinha crescendo a cada dia.” No entanto, em 1998, o marido foi assassinado na porta da garagem de casa. “Não tive tempo de pensar. Ele era o coração e a alma do nosso negócio. Dois dias depois, tínhamos 19 carros para entregar, sem saber se tocaríamos o empreendimento sem o Lúcio”, recorda. As irmãs reuniram a equipe no pátio da oficina e, todos, incluindo os quatro mecânicos que as acompanham até hoje, decidiram juntos dar continuidade ao trabalho. “Concluímos que tudo dependeria do nosso empenho. Cada um foi para sua posição como se fosse o dono da empresa. Esse apoio foi e continua sendo muito importante.” Hoje, o negócio possui mais de 3.500 clientes – são mais de 80 novas pessoas atendidas a cada três meses –, nove funcionários e um faturamento médio de R$ 60 mil por mês. “Temos o respeito da equipe, a confiança dos clientes, e a credibilidade da oficina é cada dia mais forte no mercado”, orgulha-se a empresária. C riado em 2004, o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios visa destacar histórias de superação e sucesso de empreendedoras que fazem a diferença no comando das MPE do país. Podem participar mulheres com mais de 18 anos, donas de empresas que faturam até R$ 3,6 milhões ao ano. O Prêmio é dividido em duas etapas: estadual e nacional. As candidatas podem concorrer nas categorias Pequenos Negócios, Produtora Rural e Microempreendedora Individual. Em 2012, foram 5,4 mil inscrições em todo o Brasil e 195 em Minas Gerais. O Prêmio Sebrae Mulher de Negócios é uma iniciativa do Sebrae, em parceria com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, a Federação das Associações de Mulheres de Negócios Profissionais do Brasil (BPW) e a Fundação Nacional da Qualidade (FNQ). DATA DE INSCRIÇÃO: ATÉ 31 DE JULHO INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES: WWW.MULHERDENEGOCIOS.SEBRAE.COM.BR 46 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 CONHECER PARA CRESCER | De acordo com o consultor financeiro Erasmo Vieira, um dos pontos que contribuem para o crescimento das mulheres no negócio é a busca constante pelo conhecimento. “Elas estão abertas para a orientação especializada e valorizam a formação acadêmica e a capacitação empresarial. Essa atitude gera amadurecimento na performance empresarial, contribuindo para que obtenham sucesso nos negócios e conquistem seu espaço no mercado”, acredita. A pesquisa conduzida pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade, em 2012, mostra que 36% das mulheres empreendedoras possuem curso superior ou pós-graduação, percentual que supera o dos homens, de 31%. Carina Vieira de Martins, proprietária da Selecionata Alimentos – Soluções em Lanches para Coletividades –, em Conselheiro Lafaiete, vem somar a este grupo. Além de nutricionista, ela se capacitou em gestão pelo Instituto de Desenvolvimento Empresarial do Brasil (IDE Brasil), em Auditoria de Alimentação e Nutrição pelo Instituto Racine (São Paulo), fez o Empretec, entre outros cursos concluídos na área de gestão de negócios e alimentação. Em suas palavras, “conhecimento é poder, e poder é capacidade de agir”. Com tantas informações e conhecimentos na bagagem, hoje, a empreendedora lidera uma das principais empresas especializadas no fornecimento de kits de lanches e sanduíches de ATM (atmosfera modificada que aumenta a validade do alimento), em serviços de gestão de contratos, auditorias em alimentação e nutrição e no desenvolvimento de soluções para lanches coletivos em organizações da região. Os 14 funcionários produzem, por ano, 336 mil kits de lanches para 18 cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo, o que possibilita um faturamento de R$ 3,5 milhões. No primeiro ano de operação, em 2010, a produção diária cresceu 580%, passando de 85 para 500 kits. Entre 2011 e 2012, esse volume aumentou 186% – de 500 para 930 unidades. O empreendedorismo de Carina Martins está no sangue. Aos 10 anos, junto com as irmãs, já dava duro no restaurante da família, o Panela de Pedra. “Comecei descascando batatas. Minha principal escola foi trabalhar com minha mãe, Maria de Lourdes. Com ela, incorporei valores básicos para o sucesso, como determinação, persistência e “Crescemos dez vezes em dois anos. Defendo a ideia de que, primeiro, a gente tem que ser para fazer e, depois, ter. Acredito que já somos. Agora, vamos fazer o mercado, para ter no futuro” www.sebraemg.com.br 47 transparência”, diz, ao resgatar a história da matriarca que, sozinha, criou os quatro filhos e administrou o negócio que foi o embrião do grupo composto pelas duas empresas da família. A Selecionata Alimentos surgiu por uma necessidade. Para não perder um contrato, o Panela de Pedra precisou aceitar uma demanda de preparo de kits de lanche. “Eu não queria, era muito diferente do nosso negócio, mas precisávamos manter o cliente. Minha mãe pediu para eu assumir e me ajudou a abrir a empresa”, recorda. A empreendedora montou, em sua casa, uma pequena cozinha de 30 m². “Fiz tudo com muito capricho e zelo, customizando os produtos e serviços conforme o foco do cliente. Tomei gosto pelo negócio.” Após um ano, este comprador propôs à empresária padronizar o fornecimento dos kits e ampliálo para atender outras localidades de atuação, em um raio de 900 km. “Assumi o projeto, cujo foco era garantir os produtos para todas as unidades, no mesmo horário e com a mesma gramatura, marca e qualidade”, observa Carina Martins. A expansão do negócio fez com que a empreendedora se transferisse para um galpão de 700 m², em outubro de 2012. Assim, a produção da Selecionata Alimentos foi multiplicada por dez, passando de cem para mil lanches por dia. Os resultados e a performance empresarial foram reconhecidos como faixa bronze na etapa estadual no Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2012 (veja mais informações na pág. 46). “Crescemos dez vezes em dois anos. Defendo a ideia de que, primeiro, a gente tem que ser para fazer e, depois, ter. Acredito que já somos. Agora, vamos fazer o mercado, para ter no futuro”, ensina. Erasmo Vieira concorda com a visão de crescimento da empresária. Segundo ele, o mercado está aberto para todos, mas não admite amadores e erros, pois uma nova empresa já precisa nascer competitiva. “O crescimento econômico e o aumento das oportunidades obrigam o empreendedor a se preparar para uma gestão focada na consolidação e no desenvolvimento do negócio. É preciso boa administração, custo baixo e competitividade para uma empresa se manter. Daí a importância do conhecimento, do planejamento e da disciplina na gestão”, enfatiza o consultor. Carina Martins sabe como é importante gerar melhorias constantes na prestação de serviços ao cliente, bem como na criação de novos produtos. Por isso, ela está investindo em inovações, como o ELAS NO BRASIL sanduíche de ATM, e na patente de uma máquina para distribuição e medição automática dos lanches em organizações. A empresária espera aumentar sua produção em 752% – sete mil kits de lanche por dia – até o final de 2013. “Que Zeca Pagodinho me desculpe, mas não deixo a vida me levar, sou eu quem a levo. Sei onde, como, quando e por que quero chegar lá. Com minhas habilidades, talento e persistência, escolho a estrada que vou seguir.” DIFERENTES PAPÉIS | Mesmo conquistando cada vez mais espaço na economia, o grande desafio das mulheres ainda é conciliar o seu lado empresarial com as suas diferentes atuações na sociedade. Alessandra Ferreira da Silva vive esse dilema. Mãe de quatro filhas e proprietária de duas lojas de bijouteria – uma na Savassi e outra no Barro Preto -, ela precisou abdicar de alguns momentos com as meninas para investir no crescimento do negócio. “A ausência é inevitável, não tenho como estar 100% em casa. Mas procuro dedicar todas as horas livres a elas. O domingo é sempre um momento nosso e, quando acordo inspirada, encaro até o almoço ou as levo para um passeio diferente”, conta. Na visão de Erasmo Vieira, a capacidade da na- ELAS EM MINAS Fonte: GEM 2012 tureza feminina em saber administrar os vários papéis de mulher, mãe, esposa, dona de casa, e ainda manter o bom desempenho empresarial, é uma das principais características que contribuem para o fortalecimento do sexo feminino no mercado. “Essa é uma vantagem competitiva para as mulheres, pois conseguem lidar com um grande volume de atividades e possuem sensibilidade na gestão de conflitos e de pessoas”, avalia. Quando tinha 17 anos, Alessandra da Silva acreditava já ter traçado seu futuro profissional. Estudante de um curso técnico de contabilidade e estagiária em uma empresa de sapato, ela se preparava para ser a contadora do negócio de curtume do pai. Mas engravidou de gêmeas e precisou aprender a conciliar a vida profissional com a familiar. A atual empresária passou a fazer presilhas de cabelo com restos de couro e camurça que sobravam da produção de jaquetas da mãe. “As pessoas ficavam encantadas com as peças. Comecei a vender aos poucos. Uma vizinha, que tinha uma barraca na Feira Hippie de Belo Horizonte, me pediu para fazer algumas dúzias para vender. Em meia hora, as peças acabaram”, recorda a empresária. A matéria-prima vinha do descarte de grifes fa- Fonte: Pesquisa Empreendedorismo Feminino / Sebrae Minas 2013 33% das MPE são comandadas por mulheres. 36% dos empreendedores com graduação ou pós-graduação são mulheres, e 31%, homens. 52% dos empreendedores com idade entre 31 e 50 anos 52% dos empreendedores que adotam ações de controle milhões DE MULHERES ABRIRAM NEGÓCIOS EM 2012. 51,8% do 49,6% dos 44% dos empreendedorismo feminino concentram-se no Sul e Nordeste. empreendedores iniciais (TEA) são mulheres, e 50,4%, homens. empreendedores estabelecidos (TEE) são mulheres, e 56%, homens. administrativo são mulheres, e 50%, homens. 44% dos empreendedores que faturam entre R$ 80 mil e <BRAVADESIGN> são mulheres, e 54%, homens. R$ 180 mil por ano são mulheres, e 43%, homens. 64,5% dos que empreendem por oportunidade são mulheres, e 73,9%, homens. 48 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 www.sebraemg.com.br 49 50 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 Juliana Flister / Agencia i7 Juliana Flister / Agencia i7 “Transformei muito lixo de grife em acessórios de luxo” EDUCAÇÃO mosas, clientes do pai. “Comprava a um valor irrisório. Conseguia uma infinidade de cores e texturas inimagináveis, ninguém conseguia me copiar. Transformei muito lixo de grife em acessórios de luxo”, diverte-se. A mesma vizinha percebeu o potencial da jovem e a apresentou a outro comerciante da Feira Hippie, que tinha espaço para dividir na barraca. A empresária passou a vender suas peças. As vendas não paravam de crescer, e ela ficou conhecida por comerciantes de outras cidades mineiras e estados brasileiros, que compravam os produtos no atacado. Uma exportadora a descobriu, e as presilhas foram parar na Itália. Por 15 anos, a jovem empreendedora mostrou seu talento na famosa feira mineira de rua, como artesã e empreendedora. Porém, o destino deu-lhe uma rasteira, e denúncias provocaram sua retirada da feira por fiscais, por ela não ser proprietária da barraca. Alessandra da Silva não desanimou e investiu em um ponto no Barro Preto, polo de atacado da moda na capital mineira. Soube da construção de uma Feira Shop na região e alugou dois boxes. Nessa época, amadureceu a ideia de montar uma loja de rua e criar uma marca própria. “Descobri uma loja em construção, mas o dono não botava fé em mim. Ele resistiu e fechou o aluguel com outra mulher. Meu santo é tão forte que ela desistiu na última hora, e a loja veio para mim”, comemora. Assim, nasceu a Monopólio, em 2006, com cara de loja de shopping. “O que investi retornou no primeiro mês. Um sucesso!”, conta, faceira. Uma das filhas mais velhas, Bruna, que está se formando em Administração, entrou no negócio. Ela a convenceu a investir em uma loja na Savassi, inaugurada há três anos, e mudou os produtos para atender um novo público, assumindo a produção e a administração do estabelecimento. “A Bruna se revelou na criação das peças, fez a última coleção de inverno sozinha e já planeja nossa loja virtual”, orgulha-se a mãe. Hoje, a Monopólio conta, além das duas lojas, com uma fábrica e 16 funcionários, responsáveis pela criação para o atacado e varejo. Os números de faturamento, Alessandra da Silva não revela. Afirma apenas que as vendas dobraram entre 2011 e 2012 e que o volume de peças comercializadas chega a sete mil por mês. Este ano, a marca participou, pela primeira vez, do Minas Trend, famoso evento de moda da capital mineira. Empreendedorismo para a vida Curso técnico estimula a formação de jovens capazes de conduzir os rumos de sua história O dia de Frederico Amorim começa cedo. Aos 22 anos, ele acorda às 6 horas para preparar os lanches e doces que serão vendidos. Desde novembro, o jovem é proprietário da Mix Lanche, empresa de tele-entrega de sanduíches idealizada e fundada por ele. Segundo conta, a realização do sonho de ser dono do próprio negócio começou a se tornar realidade graças a sua passagem pelo Núcleo de Empreendedorismo Juvenil (NEJ) do Sebrae Minas, que funciona dentro do Plug Minas - Centro de Formação e Experimentação Digital do Governo de Minas Gerais. O desejo de se tornar um empresário já acompanhava Frederico Amorim há alguns anos. “Minha primeira ideia era criar uma pequena empresa especializada em doces para casamentos”, revela. Porém, o custo da iniciativa era alto - aproximadamente R$ 30 mil de investimento inicial. “Ao ingressar no NEJ, comecei a perceber as movimentações do mercado e, assim, o que era doce virou salgado”, brinca. A partir daí, o empreendedor começou a desenhar a sua empresa de lanches naturais. “O investimento no ramo de san- Frederico Amorim viu no NEJ a oportunidade para investir, ao mesmo tempo, na criação de seu próprio negócio e na realização de um sonho www.sebraemg.com.br 51 TOTAL 2012 2011 2010 Atuação do NEJ 142 152 168 462 FORMADOS FORMADOS FORMADOS CERTIFICADOS JOVENS 52 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 ciplinas de matemática financeira, logística, contabilidade gerencial e noções de direito completam o perfil técnico do plano curricular. A empresa de Frederico Amorim funciona na casa onde mora com a mãe, no Aglomerado Morro das Pedras, região Oeste de Belo Horizonte. A cozinha foi adaptada para seguir à risca os padrões de qualidade e higiene. Ao fixar o seu empreendimento na região onde nasceu e cresceu, o rapaz acredita estar contribuindo para a melhoria da comunidade. “Não vou negar que, em muitos momentos, eu pensei que a vida de crimes seria o meu destino. Foram muitos os amigos que seguiram esse caminho e se perderam. Mas, ainda bem, uma possibilidade nova se abriu para mim”, comemora. CONSTRUINDO UM NOVO CAMINHO | O objetivo principal da formação oferecida pelo NEJ é que o aluno consiga se tornar protagonista de sua própria história. “Trabalhamos com o conceito de ‘empreendedorismo para a vida’, ou seja, mesmo que depois o participante opte por não investir na carreira empresarial, ele estará apto a tomar decisões de forma mais consciente e madura, seja na escolha de uma carreira, seja na convivência social”, argumenta a coordenadora. A metodologia de ensino do NEJ e boa parte dos seus educadores são oriundos da Escola Técnica de Formação Gerencial (ETFG), que funciona na sede do Sebrae Minas, na capital mineira. As diferenças são as cargas horárias - no NEJ, a formação técnica não é concomitante com o Ensino Médio - e, o mais importante, o custo. No Núcleo, o curso é completamente gratuito. “Como nas outras áreas de atuação do Plug Minas, os gastos com transporte e alimentação dos estudantes são custeados pelo projeto”, conta Fátima dos Santos. Atualmente, o NEJ está formando a sua quarta turma, sendo que o número de alunos formados está subindo a cada ano (confira no quadro ao lado). CONHECIMENTO NA PRÁTICA | Além do plano curricular robusto, o curso técnico em Administração oferece uma variedade de atividades práticas. Dentre elas, destaca-se o projeto Tutoria, em que os jovens têm a oportunidade de vivenciar o dia a dia das empresas. “Graças à iniciativa, eu pude conhecer o cotidiano de uma agência que oferece atividades de mergulho. Aprendi as estra- Juliana Flister / Agencia i7 duíches se revelou mais em conta, algo em torno de R$ 3 mil. Hoje, sou o primeiro delivery de sanduíches naturais do Brasil”, orgulha-se. Criado em 2010, o NEJ oferece curso técnico em Administração, com ênfase em Gestão de Negócios e Empreendedorismo, para alunos matriculados ou formados em escolas da rede pública de ensino do Estado. Além de ter entre 14 e 24 anos, os candidatos precisam estar cursando ou ter concluído o 3º ano do Ensino Médio. No último processo seletivo, realizado nos meses de novembro e dezembro de 2012, foram ofertadas 210 vagas. No total, o curso possui 800 horas/aula, divididas em três módulos, e tem duração de um ano. Além do conteúdo teórico próprio da gestão de negócios, a formação do NEJ dá atenção especial ao comportamento de seus estudantes. “O curso me surpreendeu ao incentivar o aprimoramento pessoal. Antes eu não sabia nem como conversar de forma adequada e só falava gírias”, revela o agora empresário Frederico Amorim. Segundo Fátima dos Santos Pinto, coordenadora do NEJ, “a formação técnica é amparada por disciplinas que exploram a formação intelectual e a comunicação empresarial”. Dessa forma, os jovens têm aulas de desenvolvimento humano, gestão de pessoas e português instrumental. As dis- tégias utilizadas pelo empresário para vender um produto que, aparentemente, é complicado de ser comercializado em uma cidade sem mar. Muito do que vi eu apliquei no meu próprio empreendimento”, recorda Frederico Amorim, cuja empresa apresenta um aumento de faturamento de 58% ao mês desde a sua criação. Fátima dos Santos explica que a iniciativa é desenvolvida logo no primeiro módulo da formação, para permitir que os alunos já se familiarizem com o mercado de trabalho e o ambiente profissional. “Durante um trimestre, eles frequentam uma empresa e conhecem todos os seus processos. Um aspecto importante é que a responsabilidade de encontrar os tutores é deles”, conta. Apesar de não ter como objetivo o encaminhamento ao mercado de trabalho, a coordenadora revela que não é raro receber notícias de exestudantes que conseguiram boas colocações em empresas. “Temos certeza de que, ao sair daqui com o certificado, que é reconhecido pelo Ministério da Educação, eles se tornam aptos a pleitear qualquer vaga que peça por um técnico em Administração. Recentemente, tive a notícia de um aluno que foi contratado pelo empresário que foi o seu tutor.” “Temos certeza de que, ao sair daqui com o certificado, que é reconhecido pelo Ministério da Educação, os alunos se tornam aptos a pleitear qualquer vaga de técnico em Administração” Fátima dos Santos, coordenadora do NEJ www.sebraemg.com.br 53 Pedro Vilela / Agencia i7 Sua veia literária se manifesta por meio do Sarau Vira-Lata, um movimento itinerante de leitura de poesias, que acontece em espaços públicos da cidade, criado por ele e mais alguns amigos em 2011. Até hoje, já foram realizados mais de 30 saraus, que reuniram, em média, 400 pessoas. O jovem ainda encontra tempo para trabalhar como educador no projeto Fica Vivo, onde dá aulas de literatura marginal e de cordel para adolescentes de comunidades carentes. Recentemente, ele ingressou no grupo de teatro de bonecos Giramundo, onde atua como manipulador. “Motivado pela formação no NEJ, contratei uma pessoa para atuar como meu produtor e ajudar na condução da minha carreira”, explica. Em maio, o jovem empresário lança mais um CD e, no segundo semestre, publica seu primeiro livro de poesias. “O empreendedorismo é uma arte incrível. É preciso ter criatividade, ousadia e saber correr riscos”, acredita. BAZAR DAS PLUGAS | Uma atividade que mo- Ao final da capacitação, os jovens devem entregar um Plano de Negócios, que é considerado o trabalho de conclusão da formação. “Eles escrevem um projeto completo de criação e implantação de uma empresa. Todas as informações precisam estar amparadas em dados reais. Logo depois, são avaliados por uma banca”, detalha Fátima dos Santos. Foi baseado no Plano de Negócios escrito no NEJ que Frederico Amorim deu partida para a criação de sua empresa de lanches. “Eu apenas fiz uma adaptação no tipo de produto que queria vender.” EMPREENDEDORISMO É ARTE | Envolvido na atividade artística desde a adolescência, o músico e poeta Carlos Eduardo Costa dos Anjos, mais conhecido como Kdu dos Anjos, se interessou pelo empreendedorismo em 2009, durante uma conversa com amigos artistas. “O estalo veio quando eles se definiram como empreendedores. Um deles me deu a dica sobre o curso oferecido pelo NEJ, e eu corri atrás”, conta o músico, que ingressou no Núcleo em 2011. 54 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 “O empreendedorismo é uma arte incrível. É preciso ter criatividade, ousadia e saber correr riscos” Kdu dos Anjos, artista e participante do NEJ Mesmo não sendo uma iniciativa específica de empreendedorismo musical, o jovem desenvolveu um método pessoal interessante para absorver, ao máximo, as lições oferecidas nas aulas. “Sempre que falavam em produto, eu imaginava como sendo a minha música. Quando o tema era mercado de trabalho, para mim, era cenário cultural. Descobri que a adaptação foi perfeita.” Ao ingressar no NEJ, o artista já tinha um CD gravado com composições próprias. Ele afirma que as aulas de logística o ensinaram a fazer a distribuição do trabalho e a criar algumas técnicas. “Aprendi a apresentar o CD para possíveis patrocinadores como um cartão de visitas. Desenvolvi também maneiras de fazer vendas em pacotes. Eu organizava um show, e o ingresso era a compra do CD, por exemplo”, lembra. Hoje, com apenas 22 anos, Kdu dos Anjos consolida o seu nome como uma das mais proeminentes forças do cenário cultural de Belo Horizonte. Na área musical, ele já tem três trabalhos lançados que somam, ao todo, 12 mil cópias vendidas, um feito notável para um artista independente. vimenta todos os alunos e que acontece nos meses finais do curso, no NEJ, é o Bazar das Plugas. Nas semanas que antecedem o evento, os jovens se dividem em setores, como em uma empresa. Mobilizam-se para receber doações de produtos usados. Roupas, eletrodomésticos, livros e discos são bem-vindos, desde que estejam em bom estado. Depois, o gerente, juntamente com os setores de logística, RH e marketing, mobiliza os demais para separar os itens em categorias, colocar preços, fazer a divulgação, treinar vendedores e caixas e, por fim, trabalhar nas vendas. “O Bazar foi um grande projeto. É nesse momento que temos que aplicar todos os conceitos que vimos ao longo do ano e, sobretudo, provar que somos capazes de desenvolver um bom trabalho em equipe”, explica Sarah Luiza Valgas, ex-aluna do NEJ. As barraquinhas de venda são montadas na portaria principal do Plug Minas, e toda a comunidade é convidada. Uma parte da renda obtida serve para custear a cerimônia de formatura dos jovens. “O restante é doado para uma creche municipal que fica nas imediações do Plug Minas”, conta a ex-aluna. Antes de ingressar no NEJ, Sarah Valgas tinha dúvidas sobre qual caminho profissional dewww.sebraemg.com.br 55 Ronaldo Guimarães veria seguir, uma indecisão natural para uma jovem de 18 anos. “Meu pai tinha planos de começar um negócio próprio, creio que, por isso, ele me aconselhou a cursar uma graduação em Administração”, explica. A possibilidade de fazer um curso técnico antes da faculdade foi, segundo ela, a oportunidade ideal para aprender um pouco mais sobre a área. “Foi a confirmação que eu precisava para investir na minha carreira. Hoje, já estou me preparando em um curso pré-vestibular e planejo entrar na faculdade ainda este ano”, revela. Paralelo ao curso preparatório, Sarah Valgas tem a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos no NEJ na empresa criada pelo seu pai, dedicada à fabricação de bolsas e outros assessórios em couro. Ela conta que o ajudou na formalização do negócio por meio do registro de microempreendedor individual junto ao Governo Federal. “Eu o auxilio na parte administrativa, enquanto ele cuida da produção. Estamos começando, mas parece bastante promissor. Fechamos algumas vendas consignadas para sacoleiras e estamos buscando parcerias com lojas especializadas”, finaliza, orgulhosa. O PLUG MINAS NOTAS Inaugurado em 2009, o Plug Minas – Centro de Formação e Experimentação Digital do Governo de Minas Gerais – funciona no espaço que abrigava a antiga Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor (Febem) do bairro Horto, em Belo Horizonte. A área foi totalmente recuperada, e os diversos blocos, transformados em núcleos de ensino, em diferentes áreas, como música, teatro, fotografia, inglês, espanhol e técnico em Administração. Todos os cursos são gratuitos, e as refeições são oferecidas em um grande refeitório, que foi batizado pelos jovens de Plug Rango. Assim como o Sebrae Minas é o mantenedor do NEJ, os demais núcleos contam com parceiros e mantenedores privados. O processo seletivo acontece duas vezes ao ano, e as inscrições são feitas pelo site do projeto no endereço www.plugminas.mg.gov.br. Pedro Vilela / Agencia i7 Sebrae premia jornalistas No dia 23 de abril, aconteceu, em Belo Horizonte, a cerimônia de entrega do Prêmio Sebrae de Jornalismo – etapa estadual, que homenageia os melhores trabalhos jornalísticos referentes às micro e pequenas empresas. O Sebrae Minas recebeu 84 matérias inscritas - número superior a 2012, quan- do foram selecionadas 56 reportagens – nas categorias Mídia Impressa, Rádio, TV e Webjornalismo. Os ganhadores estaduais seguem agora para a fase regional do concurso, que ocorre no dia 6 de junho, em Brasília (DF), onde os finalistas nacionais serão selecionados. VENCEDORES ETAPA ESTADUAL / 2012/2013 Sarah Valgas trabalha com o pai na confecção de bolsas. Com sua formação, ela pretende investir no crescimento do negócio 56 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 JORNALISMO IMPRESSO TELEJORNALISMO Sertão Grande Estado de Minas Autores: Paulo Henrique Lobato e Luiz Ribeiro Fotógrafo: Alexandre Guzanshe Sobrevivência das empresas Rede Minas/Planeta Autores: Simone Pio Viana e Marina Cunha Mendes Cinegrafistas: Wagner Marzagão, Daniel Diniz e Dirceu Alves RADIOJORNALISMO WEBJORNALISMO Empreender Brasil - O sonho começa aqui Rádio UFMG Educativa Autores: Paula Alkmim e Vanessa Bugre Internet: trampolim para boas ideias O Tempo Online Autores: Letícia Silva e Anderson Rocha 57 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 www.sebraemg.com.br 57 Divulgação Portal do retorno A decisão de retornar ao Brasil, após anos morando no exterior como imigrante, não é simples. Muitos fatores devem ser levados em consideração – trabalho, família, finanças, entre outros. Para ajudar as pessoas que estão nessa situação, o Ministério das Relações Exteriores criou o Portal do Retorno (retorno.itamaraty.gov.br). O site traz informações sobre documentação, mercado de trabalho, previdência social, empreendedorismo, programas e serviços de apoio ao retornado. O conteúdo foi elaborado com a contribuição do Sebrae, do Ministério do Trabalho e Emprego, do Ministério da Previdência Social, da Secretaria de Políticas para as Mulheres, da Secretaria da Receita Federal e da Caixa Econômica Federal. Arquivo Sebrae Desafio de empreendedorismo Equipes lideradas por alunos da Escola Técnica de Formação Gerencial do Sebrae (ETFG), em Belo Horizonte, conquistaram o 2º e o 3º lugares do desafio internacional de empreendedorismo, o Global Business Challenge. Thiago Pimenta Meinberg fez parte da equipe que levou o segundo lugar no desafio, e Marina Vaz de Melo Gomes integrou o grupo que ganhou o terceiro lugar na competição. Outros cinco alunos da ETFG-BH participaram do evento. São eles: Bruna Froes Moreira, Hugo Procópio Calazans, Luisa Maia Coppe, Mariana Gonzaga Prado e Marina Lisboa Bacha. GLOBAL BUSINESS CHALLENGE PRÊMIOS CONQUISTADOS PELOS MINEIROS QUATRO PRIMEIROS LUGARES (2008 / 2009 / 2010 / 2012) DOIS SEGUNDOS LUGARES (2010/2013) TRÊS TERCEIROS LUGARES (2009/2010/2013) UM QUARTO LUGAR (2011) UM QUINTO LUGAR (2011) Foco na inovação Os gestores do Sebrae Minas, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e do Sebrae Nacional participaram, em março, de um encontro com o núcleo do Sebraetec – programa que facilita o acesso das Micro e Pequenas Empresas (MPEs) a conhecimentos tecnológicos – na capital mineira. Os participantes tiveram a oportunidade de conhecer a iniciativa do Sebrae Minas que deverá ser a base para a construção de uma estratégia nacional de estímulo para o uso da Linha Inovação do Sebraetec pelos MPEs, direcionada ao desenvolvimento de produtos inovado58 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 res subsidiados pelo Sebrae Minas. Em 2012, dos 90 projetos executados na Linha Inovação, 70 pertenciam ao estado mineiro. “O sucesso do programa do Sebrae Minas despertou a atenção de outras localidades. Nós mostramos que, com um investimento R$ 90 mil, é possível que os micro e pequenos empreendedores desenvolvam produtos inovadores. Por isso, executamos tantos projetos”, ressalta a gestora do Sebraetec do Sebrae Minas, Andréa Almeida. “Nos outros estados, a crença comum era a de que o valor era insuficiente. Mudamos essa visão.” MPE Brasil A Fazenda dos Patos, na Serra do Salitre, Triângulo Mineiro, é a vencedora nacional, na categoria Agronegócios, do Prêmio MPE Brasil. O anúncio foi feito no início de abril, em Brasília (DF). Outras nove empresas foram premiadas nas categorias Indústria, Comércio, Serviços, Turismo, Tecnologia da Informação, Saúde e Educação, além de dois destaques: Boas Práticas de Responsabilidade Social e Inovação. Selecionadas entre 127 finalistas que conquistaram as etapas estaduais do Prêmio, as empresas vencedoras foram avaliadas em um universo total de 83 mil inscritas. O Prêmio de Competitividade para Micro e Pequenas Empresas - MPE Brasil é promovido pelo Sebrae, Movimento Brasil Competitivo (MBC), Gerdau e Fundação Nacional da Qualidade (FNQ). www.sebraemg.com.br 59 Juliana Flister / Agencia i7 EMPREENDEDORISMO Divulgação Inspiração francesa PII Funed O Sebrae Minas e a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SectesMG) lançaram a 14ª edição do Programa de Incentivo à Inovação (PII). Vinte estudos inovadores que possuam apelo mercadológico serão selecionados e receberão consultoria técnica do Sebrae Minas para a elaboração de estudos de viabilidade técnica, econômica, comercial, social e ambiental. Dos 20 projetos, nove passarão para as próximas etapas, que incluem a criação do protótipo e o desenvolvimento de um plano de negócios. O PII foi criado pelo Sebrae Minas juntamente com a Sectes-MG, universidades e institutos científicos de Minas Gerais, com o propósito de que pesquisas não ficassem restritas ao ambiente acadêmico. 60 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 ideias para o seu negócio. Uma delas é a pantufa thermo-relaxante. “Ela pode ser aquecida no forno micro-ondas e retém o calor por um período de duas horas”, explica o empreendedor. O segredo está no seu interior: o calçado é preenchido por sementes de trigo, que permitem a manutenção do calor por um período maior. O volume de vendas do produto ainda não é expressivo, mas o empreendedor ressalta que ele ajuda a reforçar a imagem inovadora da Chinelos Puff. “As pantufas contribuíram positivamente para a imagem da empresa, tornando-se um atrativo de vendas. Conquistei clientes pela curiosidade.” Empreendedores do Aglomerado da Serra, na capital mineira, são orientados a formalizar o seu negócio, contribuindo para o fomento da economia local Gláucia Rodrigues Durante 11 dias, o empreendedor e proprietário da Chinelos Puff, em Muriaé, Adão Rúbio, conheceu a capital mundial da moda – Paris, na França. A viagem fez parte da missão organizada pelo Sebrae Minas para promover a troca de experiências entre os empresários mineiros e a indústria francesa da moda. “Visitei centros comerciais, pontas de estoque, lojas, escolas de moda e a feira têxtil Première Vision, uma das principais do setor no mundo, além de aprender processos importantes, como a montagem de vitrines. Foi uma grande experiência de imersão”, conta o empresário. Na mala, Adão Rúbio trouxe da Europa inspiração e novas Para começar bem Marina Coelho, dona de uma loja de acessórios, é uma das 1.200 pessoas cadastradas no programa BH Negócios www.sebraemg.com.br 61 Juliana Flister / Agencia i7 T Pedro Vilela / Agencia i7 er um CNPJ e poder emitir a própria nota fiscal eram possibilidades que não passavam pela cabeça de Marina Cândida Coelho. “Para mim, isso era um ‘bicho de sete cabeças’ e estava muito longe da minha realidade”, conta. Dona de uma loja de acessórios, ela é uma das 1.200 pessoas cadastradas no programa BH Negócios, iniciativa da Federação das Associações de Microempresas e Empresas de Pequeno Porte de Minas Gerais (Femicro-MG) em parceria com o Sebrae Minas, a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e o Instituto Centro Cape. Lançada em 2011, a ação está promovendo o desenvolvimento da economia do Aglomerado da Serra, Região Centro-Sul da capital, por meio da formalização e do apoio aos empreendedores locais. A aptidão para o comércio acompanha Marina Coelho desde a sua adolescência. Aos 13 anos, ela já prestava serviços para um escritório, e bastou um curto período para saber que essa não era sua vocação. “Fiz um curso técnico em Contabilidade e passei a atuar na área. Mas logo percebi que não gostava do trabalho, já que preferia vender e conversar com as pessoas”, recorda. A ideia de montar o próprio negócio surgiu quando a empreendedora constatou uma carên- 62 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 “A princípio, nós vamos até os empreendedores para conhecer a sua situação. Apresentamos as vantagens de se formalizarem e explicamos como o procedimento é feito. A partir daí, passamos a acompanhá-los durante o processo de inscrição no CNPJ” Angelino Petinelli Moura, agente de desenvolvimento econômico “Não achava que tinha perfil de empresária, mas, depois que assisti ao vídeo do Sebrae, mudei minha visão e fiquei animada novamente” Elzeni Alves Pereira Reis, proprietária de uma loja de lingerie cia presente na região. “Próximo ao Aglomerado da Serra tem muitas lojas de roupas que vendem um ou outro acessório, mas ainda não havia uma que focasse isso”, diz. Logo que soube do BH Negócios, não hesitou em buscar orientação para pôr o plano em prática. “Quando eu falava com as pessoas que queria ter uma empresa e me formalizar, era desencorajada. Todos diziam que o processo era complicado e que iria me trazer problemas. Mas, quando conheci o programa, vi que ter um CNPJ é muito simples e vantajoso.” Entre os benefícios da formalização, Marina Coelho cita a possibilidade de comprar mercadorias com preços mais atrativos e conseguir empréstimos em bancos para poder investir no negócio. “Outro ponto que destaco é o acesso à máquina de cartão de crédito. Hoje em, dia todo mundo paga com cartão, e isso não deixa de ser um diferencial da minha loja.” Acessórios como cintos, relógios, adornos para os cabelos, colares, dentre outros, são comprados duas vezes ao mês em um grande centro comercial de São Paulo (SP). A variedade de produtos também contribui para o aumento da popularidade da loja entre os moradores do Aglomerado da Serra, com um faturamento mensal em torno de R$ 6 mil. “Esse resultado mostra que estamos no caminho certo. O BH Negócios é uma iniciativa-piloto para fomentar a economia local a partir da qualificação do empreendedor e de seu negócio”, ressalta o presidente da Femicro-MG, Márcio Kilson. VISÃO | Para orientar os empresários locais, o BH Negócios concentra suas atividades no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) do Aglomerado da Serra, localizado na Vila Marçola, uma das oito que compõem a comunidade. O trabalho é feito pelos agentes de desenvolvimento econômico, que atuam não só na orientação, mas também na condução dos processos relacionados à formalização. “A princípio, nós vamos até os empreendedores para conhecer a sua situação. Apresentamos as vantagens de se formalizarem e explicamos como o procedimento é feito. A partir daí, passamos a acompanhá-los durante o processo de inscrição no CNPJ”, explica o agente Angelino Petinelli Moura. Assim que se cadastram no programa, os empreendedores recebem o DVD Aprendendo a Empreender, elaborado pelo Sebrae. Com 40 horas de duração, os vídeos oferecem informações nas áreas de comércio, serviços, indústria e empreendedorismo. “São apresentadas situações reais relacionadas a esses setores. Depois, o empreendedor preenche um formulário com suas considerações e dúvidas e nos envia. Damos o feedback e encaminhamos-lhe o certificado”, explica a analista do Sebrae Minas, Márcia Valéria Cota Machado. “Temos o cuidado de oferecer aos participantes não apenas a formalização, mas as bases para que eles entendam e deem continuidade ao negócio de forma economicamente rentável e viável.” O material didático foi um incentivo para Elzeni Alves Pereira Reis, moradora da Vila Santawww.sebraemg.com.br 63 Juliana Flister / Agencia i7 Juliana Flister / Agencia i7 na do Cafezal. Com 20 anos dedicados à confecção de lingerie, a costureira andou desanimada com o negócio, que, até então, caminhava na informalidade. “Depois de ficar cinco anos ociosa, a equipe do BH Negócios me procurou e me incentivou a formalizar o meu empreendimento. Não achava que tinha perfil de empresária, mas, depois que assisti ao vídeo do Sebrae, mudei minha visão e fiquei animada novamente.” A loja, ainda sem nome, foi montada em sua casa e ganhou cara nova após a formalização. As araras receberam produtos diferenciados, a máquina de cartão substituiu o caderno de anotações com “as vendas fiadas” e o CNPJ lhe possibilitou comprar tecidos de qualidade superior e com preços mais baixos. Dado o pontapé inicial, Elzenir Reis, que trabalha sozinha, agora já pensa em ampliar o negócio e contratar um funcionário. Outra meta é fazer um curso voltado para o controle financeiro e a organização das contas. Esta demanda, de acordo com o agente Angelino, é comum à grande parte dos empreendedo- Maurício vende 100 espetinhos de churrasco em um dos pontos mais movimentados da comunidade do Cafezal 64 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 res do Aglomerado da Serra. “Eles não têm muito controle do que entra e do que sai e acabam não sabendo a dimensão certa dos lucros. Por isso, mais que formalizar, buscamos consultorias e indicamos capacitações para suprir essas carências.” RESULTADOS | A formalização do negócio também ampliou os horizontes de Josiane Alves Pereira e Maurício Souza Silva. Há três anos, o casal decidiu se dedicar a um estabelecimento próprio. Mesmo sem experiência no ramo, eles apostaram na produção e venda de espetinhos e se tornaram uma referência na comunidade do Cafezal, no Aglomerado da Serra. No começo, os churrasquinhos do Maurício Espetinhos eram vendidos na porta de casa. Hoje, o casal os comercializa em um dos pontos mais movimentados da vila e ainda trabalha com teleentrega e venda do espetinho pré-pronto para restaurantes e eventos particulares. “Depois que formalizamos o nosso CNPJ, pudemos partir para outras áreas e comprar carne de melhor qualidade, com preços menores. Também construímos nossa rede de fornecedores fixos, o que torna o negócio mais fácil e ágil”, comenta Josiane Pereira. Por dia, o Espetinho do Maurício vende cerca de 100 churrasquinhos, a R$ 2,50 cada, mas o número chega a 250 dependendo do período do ano. Para atender aos pedidos feitos pelo telefone, o casal acaba de adquirir uma moto, financiada com empréstimo do Programa Nacional do Microcrédito (Crescer), apresentado pelos agentes do BH Negócios. Com o CNPJ em mãos, o casal também tratou de comprar uma máquina para vendas com cartão, o que impulsionou o comércio de espetos pré-prontos para outros estabelecimentos. Em 2012, Josiane e Maurício romperam os limites do Aglomerado da Serra. Por meio de um convite, eles conseguiram espaço para montar uma barraca durante o Savassi Festival, tradicional evento de jazz realizado no bairro nobre da capital mineira. Para Josiane Pereira, poder atender outro tipo de público, além de ser uma forma de divulgação, é um estímulo ao aperfeiçoamento contínuo. “Depois que participamos deste evento, fomos contratados para festas particulares e começamos a pesquisar novos produtos e cardápios. Isso está me motivando a buscar um curso de gastronomia e a querer crescer cada vez mais.” Para abrir sua loja, Kátia Moreira se capacitou em cursos com foco no empreendedorismo INCENTIVO | O programa BH Negócios, além de versificação de seus produtos. O objetivo é expanincentivar o empreendedor a buscar a formalidade do negócio, se tornou um ponto de referência para os empresários que querem aperfeiçoar e expandir o empreendimento, como é o caso de Kátia Barros Moreira. Depois de ser funcionária em diversas lojas, ela percebeu que tinha potencial para assumir o papel de proprietária. “No meu último trabalho, os patrões tinham muita confiança em mim, e eu acabei desempenhando funções da dona do estabelecimento. Foi nessa época que pensei: se tenho condições de fazer isso e ganhar como funcionária, é melhor ter o meu negócio.” Em abril de 2012, Kátia Moreira abriu a loja de presentes Habytós, na Vila Nossa Senhora de Fátima. “Foquei esse ramo por ser algo que a região ainda não oferecia.” Por conta própria, ela pesquisou quais os requisitos necessários para se formalizar, se registrou e se capacitou em cursos com foco no empreendedorismo. “Só pelo Sebrae Minas foram 15 cursos online”, recorda. Ela também se matriculou em um de coaching para começar a prestar consultoria a outras pessoas do Aglomerado da Serra. No futuro, pretende contratar um funcionário. Para atrair a clientela, a empresária prioriza a di- BH NEGÓCIOS EM NÚMEROS* dir o negócio, que, atualmente, tem faturamento de R$ 1.500, em média, com a venda de brinquedos, porta-retratos, acessórios, roupas, adornos para a casa, dentre outras peças úteis para dar de presente. Contudo, mesmo estando preparada, sempre surgem algumas dúvidas, que Kátia Moreira esclarece com a equipe do BH Negócios. “É muito bom contar com essa orientação, porque não me sinto sozinha e permaneço motivada, mesmo nos meses em que o movimento é mais fraco.” MOBILIZAÇÃO MOVIMENTA COMUNIDADE Como parte das atividades do BH Negócios, o Sebrae Minas vai promover, nos dias 24 e 25 de julho, em Belo Horizonte, uma série de palestras, oficinas e consultorias gratuitas aos empreendedores e interessados em abrir o próprio negócio. O Sebrae em Ação será realizado na Praça do Cardoso, onde haverá um espaço com cinco salas e um auditório. Serão abordados desde temas gerais, como formalização e atendimento ao cliente, até tópicos específicos para os segmentos mais expressivos na região do Aglomerado da Serra, como beleza e alimentos. *Referentes a 2012 1.136 958 904 783 406 647 423 EMPREENDEDORES EMPREENDEDORES VISITADOS CADASTRADOS VISITAS DEVOLUTIVAS VISITAS-RETORNO EMPREENDEDORES EMPREENDEDORES CAPACITADOS FORMALIZADOS ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS www.sebraemg.com.br 65 CRÉDITO Crédito para crescer Oficina prepara empreendedores a identificar como, onde e quando podem buscar recurso financeiro Não há como um negócio prosperar e expandir sem investimento. No entanto, as micro e pequenas empresas ainda têm dificuldade para acessar o crédito, em razão da burocracia e da falta de informação. Para mudar esse cenário, o Sebrae Minas elaborou a oficina Plano de Acesso a Crédito para sua Empresa com o objetivo de ensinar os empreendedores a identificar como, onde e quando podem ter acesso aos recursos. “A iniciativa educa financeiramente o empresário para ele saber quanto, quando e o que precisa para investir em seu negócio”, explica o analista do Sebrae Minas, José Márcio Martins. A primeira etapa da oficina – a mais importante – trata de gestão. Nessa fase, o empreendedor é incentivado a questionar as práticas adotadas no dia a dia da empresa. “Antes de ir atrás das instituições financeiras, o empresário precisa entender se é realmente necessário recorrer ao crédito”, alerta o analista do Sebrae Minas, Clayton Albuquerque. “É muito comum que ele contraia dívidas para sanar problemas relacionados à gestão do seu negócio. Corrigir os erros pode salvar a empresa ou eliminar a necessidade de crédito”, completa. Em seguida, o empreendedor é apresentado a algumas práticas e ferramentas fundamentais que vão auxiliá-lo na rotina administrativa, como o fluxo de caixa. A finalidade principal é controlar a entrada e a saída de dinheiro da empresa, mas uma análise um pouco mais aprofundada permite verificar se os recursos financeiros são suficientes para a manutenção do negócio, se o recebimento das vendas cobre os gastos e se a empresa trabalha com folga ou aperto financeiro. Outro instrumento de gestão abordado no curso, e também na cartilha, é o Demonstrativo de Resultado Gerencial – um resumo ordenado das receitas e despesas. Com ele, é possível ver os números do negócio durante um período determinado. Há, ainda, na cartilha, uma lista com uma série de problemas gerenciais e possíveis soluções. O empreendedor Airton Lima só conseguiu identificar os erros cometidos em dois negócios – que não deram certo – depois de participar da oficina. “Hoje, eu faço contas para ver o que é mais vantajoso. Antes me preocupava apenas com o valor da prestação. Não havia nenhum planejamento, trabalhava pensando no próximo mês”, lembra. Airton cometeu o erro mais comum entre os empreendedores iniciantes: a falta de planejamento. Por isto, antes de avançar em busca do crédito, para financiar uma expansão ou um investimento, é preciso se planejar. O empreendedor precisa ter clareza e conhecer profundamente os números atuais de seu negócio para traçar os objetivos do plano de investimentos. Airton Lina aprendeu que o planejamento é a chave para o sucesso. Hoje ele é um dos proprietários da AS Tecnologia, que comercializa computadores e softwares no Norte de Minas Gerais. Atualmente, a empresa tem 180 clientes em cinco munícipios, mas o empreendedor já planeja expandir o negócio. “Terei que recorrer ao crédito para poder crescer. Nesse ponto, vou começar a construir o meu plano de investimentos.” E ele não é pequeno. Airton Lima pretende fechar o ano de 2014 atendendo 300 clientes de nove cidades, número quase 70% maior que o atual. Para isso, está presente, em seu planejamento, a aquisição de mais um veículo comercial, treinamento dos funcionários e a contratação de, pelo menos, mais quatro. Depois de reorganizar as finanças e elaborar um plano de investimento, é chegada a hora de buscar o crédito. Para conseguir taxas de juros mais atraentes e prazos condizentes com o negócio, é preciso desenvolver um bom relacionamento com as instituições financeiras. A movimentação de uma conta corrente empresarial, a pontualidade com os compromissos e a utilização de produtos financeiros ajudam na construção do bom relacionamento. Para conseguir taxas mais baixas, os empreendedores também devem dedicar um tempo à pesquisa. “Geralmente, eles não pesquisam quais as linhas de crédito disponíveis no mercado”, conta Leonardo Oliveira, analista do Sebrae Minas. Ele explica também que é possível encontrar várias linhas voltadas para investimentos específicos. “Algumas têm condições bem atrativas, e muitos empreendedores desconhecem.” INFORME-SE Acesse o site do Sebrae Minas (www.sebraemg.com.br) e saiba onde e quando vão ocorrer as próximas oficinas Plano de Acesso a Crédito para sua Empresa. SIGA OS PASSOS Cláudio Duarte 1 Reflita sobre as práticas gerenciais da empresa. Quando usado para cobrir gastos decorrentes de uma administração inadequada, o crédito tende a piorar a situação. 66 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 2 Faça o diagnóstico das contas da empresa. Use ferramentas de controle gerencial, como o fluxo de caixa, para saber como anda a saúde financeira de seu negócio. A biblioteca do site do Sebrae Minas possui várias cartilhas sobre como usar e implantar essas ferramentas. 3 Use o diagnóstico para corrigir os erros. 4 Planeje. Elabore um plano de investimentos que indique onde, como e quando a empresa vai atingir as metas propostas. 5 Procure as instituições financeiras. Faça pesquisas em diferentes bancos, compare as taxas e saiba quanto, realmente, vai pagar de juros. O bom relacionamento com o banco e a reputação da empresa no mercado contribuem para o crescimento dos negócios. www.sebraemg.com.br 67 Fotos: Bernardo Salce / Agencia i7 ENTREVISTA C om apenas 30 anos, Gustavo Caetano, mineiro da cidade de Araguari, acumula a função de CEO da Samba Tech, uma das mais bem-sucedidas startups digitais do país, e de presidente da Associação Brasileira de Startups. Formado em Marketing pela ESPM, Gustavo Caetano ainda era estudante quando decidiu abrir a Samba Mobile em 2004, uma revendedora de jogos para celular, em parceria com a Brainstorm, na Inglaterra. Em 2008, resolveu mudar o rumo dos negócios e investir em uma tecnologia de distribuição de vídeos online, que hoje é a Samba Tech. Esta capacidade de enxergar uma oportunidade e criar uma solução para atender a uma demanda bem antes dos outros ajudou o jovem empresário a se tornar uma referência nacional em empreendedorismo e inovação. Com vários prêmios na prateleira, Gustavo Caetano também estudou inovação no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e na Gerência de Produtos no Vale do Silício, com o fundador do Netscape. Disseminador de estratégias para startups, o empreendedor ministra palestras sobre o assunto em diversas cidades do país e apoia projetos que nascem dentro de sua própria empresa. Nesta entrevista para a revista Passo a Passo, Gustavo Caetano fala sobre a sua trajetória, o segredo para se criar e manter uma startup de sucesso e o mercado brasileiro em empreendimentos de economia criativa. A inovação de cada dia Mesmo sem formação em tecnologia, Gustavo Caetano fundou a maior distribuidora de vídeos online do país. O segredo: enxergar as oportunidades 68 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 O que levou você a ser um empreendedor? Eu ainda estava na faculdade quando surgiu a oportunidade. Trabalhava em uma empresa que vendia seguros de saúde e comprei um celular colorido. Na época, quando quis adquirir jogos online para colocar no aparelho, percebi a falta de oferta deste tipo de recurso. Foi esta demanda por jogos de celular que me fez criar a Samba Mobile em 2004. Eu decidi montar a empresa, consegui um investidor-anjo, fiz parcerias internacionais, e as coisas foram acontecendo. Você não tem formação em Tecnologia. Isso foi um empecilho para montar a empresa? Não. De forma alguma. O que eu achei interessante neste caso foi que a minha formação em “É necessário apresentar um projeto, um plano de negócios bem construído ou mesmo um protótipo, pois o investidor-anjo não tem condições de bancar a sua ideia sem garantias” Negócios é que me fez enxergar melhor os problemas que a tecnologia poderia solucionar. Muita gente acha que é necessário ter o conhecimento técnico, mas a verdade é que enxergar o problema e, a partir dele, encontrar a solução é o mais importante. Graças a minha formação em Negócios, eu tenho esta capacidade de perceber as oportunidades. Em que momento você percebeu que o negócio da Samba Tech iria dar certo? Foi ainda na Samba Mobile, com os jogos para celular. A Samba era apenas revendedora de uma empresa inglesa, e a tendência era que as pessoas comprassem os jogos diretamente nas operadoras. O cenário estava transformando. Então, em 2008, mudamos o rumo. Decidimos oferecer ao mercado todo o processo de transmissão e armazenamento de vídeos pela internet. Hoje, conquistamos grandes empresas, como TV Globo, SBT, Grupo Abril, O Boticário, Samsung, TIM Brasil e Anhanguera. Elas perceberam como o vídeo é importante na comunicação. Ficou bem mais fácil produzi-los, e a Samba Tech ajuda a distribuí-los. Apesar de ter grandes clientes, a Samba Tech mantém uma estrutura bem enxuta, com 80 profissionais ao todo. A intenção é continuar assim ou crescer? Queremos crescer ainda mais. No final deste ano, nossa expectativa é de termos uma equipe de 100 profissionais. Além disso, a Samba Tech www.sebraemg.com.br 69 apresentar um projeto, um plano de negócios bem construído ou mesmo um protótipo, pois o investidor-anjo não tem condições de bancar a sua ideia sem garantias. Por que você escolheu Belo Horizonte para montar o seu negócio? Sou de Araguari, no interior de Minas Gerais, e estudei no Rio de Janeiro. Eu escolhi Belo Horizonte porque precisava fazer o capital inicial render. Queria montar a empresa em uma cidade com mão de obra qualificada e custo de vida razoável. não é apenas uma, mas três empresas. As ideias empreendedores que nascem dentro da nossa equipe têm espaço para se tornarem negócios próprios, como foi o caso da Samba Ads. Hoje, ela é uma empresa independente, que vende publicidade online nos vídeos transmitidos. Esse é um exemplo de como investimos nas ideias que nascem dentro do nosso grupo. Hoje, você trabalha como um investidor-anjo ou ainda pretende atuar? Como vê esse personagem dentro de um empreendimento? Não atuo como investidor-anjo para projetos de fora da Samba Tech. Nós investimos nas ideias que vêm de dentro da empresa. Mas o papel do investidor-anjo é crucial para uma startup hoje no Brasil e no mundo. Não adianta um empreendedor ter uma ideia se não tem capital para começar o seu negócio. Veja o meu exemplo. Eu estava na faculdade e fazia estágio. Neste cenário, sem um investidor-anjo, nunca teria chance. Meu pai me apresentou a um amigo, empresário de Florianópolis (SC), que me deu o primeiro aporte de R$ 100 mil para começar a Samba Tech. Mas é importante lembrar que não adianta nada ter uma boa ideia, sem preparação. É necessário 70 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 “A Samba Tech atraiu profissionais bem qualificados e conta com tecnologia de ponta. Isso faz toda a diferença. Acho que o nosso maior diferencial é que pensamos globalmente. Pensamos para fora, ampliamos nosso pensamento” A cidade tem condições de se tornar um polo de tecnologia? Belo Horizonte tem, sim, grandes chances. A cidade possui um ecossistema muito bom para empresas digitais e conta com várias outras startups que deram certo, como o Buscapé, que já investiu em uma empresa por aqui. Além disso, conta com muitos profissionais qualificados querendo trabalhar no município, dotados de muita força de vontade. Coisa que não é muito fácil, admito. Imagina sair de uma grande empresa para ir trabalhar em uma com apenas três funcionários. Tem que ter força de vontade. E isso, BH tem de sobra. Em sua área, especialmente, é preciso saber inovar. Como a Samba Tech faz para estimular a criatividade em sua equipe? A Samba Tech já ganhou vários prêmios de inovação no Brasil, na China e nos Estados Unidos. O que fazemos para estimular a inovação? Acreditamos em nossos profissionais e em suas habilidades. Temos um programa interno que se chama Hack Week, em que uma equipe multidisciplinar pode desenvolver um projeto. Vale tudo: um produto, um sistema ou um serviço. Os profissionais têm uma semana para criar e desenvolver a ideia e, depois, apresentar para uma banca de avaliadores formada por representantes de outras empresas, do Google e de parceiros. O bacana é que a criação não precisa estar necessariamente ligada a um negócio. O Samba Ads nasceu de um Hack Week, mas temos exemplos de projetos que apenas melhoraram o dia a dia do escritório. Por exemplo, a sede da Samba Tech fica na região da Pampulha, e temos poucas opções de restaurante para almoçar. Uma equipe criou um robô que faz os pedidos de almoço para toda a empresa. Funciona assim: o usuário escolhe o que quer, marca no robô, e ele faz a solicitação automaticamente. Este é um exemplo de inovação que não se tornou um produto, mas sim uma melhoria em nosso dia a dia. Como avalia o mercado brasileiro dentro da perspectiva de economia criativa? O que tenho visto é que o Brasil está crescendo muito neste setor, principalmente, na descentralização geográfica dos projetos. Vejo muitas startups nascendo fora do eixo Rio-São Paulo, como em Recife e Porto Alegre. O governo federal está se movimentando neste sentido. Recentemente, a presidenta Dilma Rousseff criou um programa de incentivo a startups, chamado StartUp Brasil, em que a principal discussão é o papel das aceleradoras no amadurecimento das empresas. Como é o caso do Sebrae, que dá o suporte necessário ao empreendedor brasileiro. As aceleradoras dão a base necessária para o sucesso de um negócio, pois apenas tecnologia ou talento ou uma boa ideia não são o suficiente. O Brasil vem evoluindo bem neste cenário. Quais são as vantagens que a Samba Tech tem em relação a outras startups no Brasil e no mundo? A Samba Tech atraiu profissionais bem qualificados e conta com tecnologia de ponta. Isso faz toda a diferença. Acho que o nosso maior diferencial é que pensamos globalmente. Pensamos para fora, ampliamos nosso pensamento. Temos muitas parcerias internacionais estratégicas, como, por exemplo, com o MIT, uma das mais importantes instituições do mundo, que escolheu a Samba Tech para participar de um programa que leva estudantes de MBA da instituição para dentro da empresa uma vez ao ano. Você já se sente realizado? Ou ainda quer conquistar mais? De forma alguma. Tenho apenas 30 anos e quero conquistar muito mais. Meu plano é mudar a cabeça de uma geração inteira. Faço muitas palestras por todo o mundo e sempre falo da necessidade de pensar grande, ir além e querer mais. www.sebraemg.com.br 71 Mauro Marques Mauro Marques TURISMO DE NEGÓCIOS Nova rota Com a profissionalização do setor de turismo de negócios, Uberlândia e Juiz de Fora contam com eventos de pequeno e grande porte para os próximos anos A meta para 2013, segundo Luiz Gustavo Fernandes, é captar 20 eventos em Uberlândia 72 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 H ospitalidade, boa infraestrutura, localização privilegiada e oportunidades de negócios são características de cidades com vocação para o turismo de negócios e eventos, um dos segmentos mais recentes e lucrativos da atividade turística. Mas essas características são suficientes para atrair pessoas e atender às expectativas de um público tão diferenciado e criterioso? A experiência vivida por empresários de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, mostra que também é importante pensar no perfil do turista e na organização do destino. Isso para transformar a vocação da cidade em uma atividade estruturada, capaz de beneficiar a economia da região. Com modernos centros de convenções, o segundo maior parque hoteleiro de Minas Gerais – com aproximadamente cinco mil leitos em todas as categorias – e dois grandes complexos esportivos, Uberlândia possui uma estrutura capaz de receber eventos de pequeno, médio e grande porte. A avenida Rondon Pacheco, um corredor gastronômico com diversos tipos de restaurantes, oferece opções de alimentação para todos os gostos e exigências. Empresas especializadas na prestação de serviços e produtos também não faltam no município, e sua localização estratégica é outro ponto a favor – em um raio de 600 quilômetros, estão as principais capitais do Brasil. “Com sua grande diversidade econômica e característica empreendedora, Uberlândia atrai grandes oportunidades, o que contribui para o fomento do turismo de negócios e eventos”, explica Luísa Vidigal, analista do Sebrae Minas em Uberlândia. Para ela, no entanto, faltava organizar e capacitar a cadeia produtiva ligada ao segmento com uma estratégia sólida, capaz de sustentar um fluxo permanente de novos empreendimentos. O Projeto Turismo de Negócios e Eventos do Sebrae Minas, realizado, desde 2009, em parceria com o Uberlândia Convention & Visitors Bureau e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Uberlândia, tem contribuído para a definição das estratégias de qualificação do empresariado local. De acordo com Nayara Bernardes, analista do Sebrae Minas, Uberlândia e Juiz de Fora foram definidos como dois dos destinos prioritários para a implantação da iniciativa justamente por possuírem um histórico de realização de grandes acon- “Já estou aplicando alguns conhecimentos com a equipe, ensinando às atendentes os fundamentos da atuação no setor de captação e realização de eventos” Lilian Curcino, empresária e membro da Comissão de Captação de Eventos www.sebraemg.com.br 73 Mauro Marques Mauro Marques tecimentos direcionados ao fomento de novos negócios. “Tentamos organizar uma governança que inclui iniciativa privada, poder público e as entidades empresariais, para que eles possam se articular e conseguir captar mais eventos”, explica. O projeto começa com uma análise de mercado para identificar as prioridades e características principais das atividades adequadas para o perfil da cidade. Depois são formados grupos locais de trabalho, que passam por uma capacitação sobre o segmento. Essa rede é composta por empresários das áreas de alimentação, hotelaria, organização e espaço para eventos e prestação de serviços. São identificados, então, os chamados “embaixadores” – profissionais, empresários ou líderes reconhecidos em suas respectivas áreas de atuação. São porta-vozes capazes de influenciar seus colegas de associações, setores econômicos ou meios universitários, na promoção de uma cidade como sede de conferências, congressos, convenções, exposições, assembleias gerais, reuniões e outros grandes acontecimentos. “O objetivo é elevar o número de eventos captados nos destinos, a fim de ampliar os negócios, distribuindo as oportunidades entre as empresas da cidade e consolidando a imagem do local como destino turístico de negócios e eventos. O ideal é que os espaços sejam utilizados 100% do tempo, com cada vez menos períodos de ociosidade, como já acontece em cidades como São Paulo”, pontua Nayara Bernardes. Os benefícios para a região são expressivos - toda a cadeia produtiva cresce e se desenvolve. CAPTAÇÕES DÃO RESULTADO | Desde 2012, a fase de captação tem sido o foco principal do projeto Turismo de Negócios e Eventos em Uberlândia, e os resultados já começaram a aparecer. O processo de captação de um evento até a sua realização pode ultrapassar dois anos. Por isso, a agenda na cidade, até 2015, já começou a ser preenchida. A Comissão de Captação de Eventos, formada por 15 empresários uberlandenses e coordenada pelo Uberlândia Convention & Visitors Bureau, possui uma lista de 70 eventos potenciais para o município e conseguiu captar, efetivamente, seis eventos nos últimos quatro meses. Congressos e seminários, que vão da área de saúde até o ramo de ensino, de pequeno (até 500 pessoas) e grande porte (mais de mil convidados), serão realizados entre 2013 e 2015. 74 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 alguns conhecimentos com a equipe, ensinando às atendentes os fundamentos da atuação no setor de captação e realização de eventos”, relata. Outro benefício do engajamento dos empresários é o próprio contato com o cliente organizador do evento, informa Lilian Curcino. “Quando visitamos os organizadores desde o início, eles já nos conhecem e acabam nos procurando como prestadores de serviços.” Uberlândia Convention & Visitors Bureau tem estrutura e tecnologia para receber os maiores eventos da cidade O maior desses encontros previstos será o Congresso Brasileiro de Informática na Educação, daqui a dois anos, com previsão de público de 1,5 mil pessoas. A iniciativa busca promover e incentivar as trocas de experiências entre as comunidades científica, acadêmica, profissional, governamental e empresarial na área de Informática na Educação, em nível nacional e internacional. Presidente do Uberlândia Convention & Visitors Bureau e um dos empresários participantes do projeto, Luiz Gustavo Fernandes explica que a meta para 2013 é que sejam captados 20 eventos. Segundo ele, em 2009, a cidade sediou 12 congressos e seminários. “Nos anos anteriores, as captações eram trabalhadas apenas pelo bureau e o Center Convention, maior espaço de eventos do município. Com a criação da comissão, essa realidade mudou, por isso temos uma expectativa maior”, destaca. E muito se deve à implantação do projeto do Sebrae Minas, responsável por munir o empresariado local de um know-how que está se revelando essencial na sustentabilidade do segmento. “Anteriormente, a captação era feita com base no feeling, na experiência do executivo. Agora, estamos treinando equipes, profissionalizando o empresariado e difundindo o conhecimento das técnicas de captação para, verdadeiramente, dar continuidade à atividade”, observa Luiz Gustavo. O compartilhamento do aprendizado, aliás, é uma das tendências deste processo. Segundo a empresária Lilian Curcino, que também faz parte da Comissão de Captação de Eventos, as técnicas aprendidas estão sendo usadas também em sua empresa, que tem atuação no ramo de aluguel de equipamentos tecnológicos. “Já estou aplicando IMPACTO ALÉM DO SEGMENTO | A qualificação do empresariado ligado ao turismo de negócios e a conscientização sobre a vocação da cidade para o setor começaram a despertar o interesse de diversas entidades e segmentos. É o caso das escolas de inglês e de outros centros de capacitação em Uberlândia, conforme cita a empresária e diretora da Comissão de Captação de Eventos, Mara Rúbia Gama. “A iniciativa estimulou outras ações. Na área de serviços, os profissionais que lidam com atendimento ao público estão buscando se qualificar. Existe uma mobilização perceptível nesse sentido. A cidade sente que precisa se preparar. Estrutura nós já temos, agora precisamos capacitar as pessoas para receber os grandes eventos”, observa Mara Gama, que atua, há 12 anos, no setor. Para a diretora de Desenvolvimento de Turismo da Secretaria de Desenvolvimento e Turismo de Uberlândia, Marise Carrijo, as perspectivas da parceria com o Sebrae Minas e o Uberlândia Convention & Visitors Bureau são animadoras para o município, que, segundo ela, já concorre com localidades como Brasília e Belo Horizonte na atração de feiras, congressos e exposições. “Temos mão de obra capacitada, equipamentos de qualidade e grandes espaços, com boa estrutura. Essa união fortalece a economia local e regional, pois, além de estimular os negócios envolvidos diretamente, a atividade permite criar roteiros turísticos no entorno, fomentando também o turismo de lazer”, avalia. De acordo com Luísa Vidigal, a continuidade no trabalho será essencial para sustentar o incremento na qualificação do empresariado e a atração de negócios e eventos. “Este ano, iremos priorizar atividades que contemplem organização de eventos técnicos – científicos, capacitação gerencial, seminário com foco nos grandes eventos esportivos esperados, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, e consultoria tecnológica”, finaliza. “Existe uma mobilização perceptível nesse sentido. A cidade sente que precisa se preparar. Estrutura nós já temos, agora precisamos capacitar as pessoas para receber os grandes eventos” Mara Gama, empresária e diretora da Comissão de Captação de Eventos www.sebraemg.com.br 75 Divulgação Expominas de Juiz de Fora COMISSÃO DE CAPTAÇÃO DE EVENTOS Juiz de Fora: 10 membros Uberlândia: 15 membros EVENTOS JÁ CAPTADOS EM UBERLÂNDIA Simpósio Hemominas de Transfusão Sanguínea 2013 Local: Center Convention Expectativa de público: 400 pessoas Congresso Brasileiro de Custos 2013 Local: Universidade Federal de Uberlândia Campus Santa Mônica Expectativa de público: 400 pessoas Congresso Nacional de Engenharia Mecânica 2013 Local: a definir Expectativa de público: 1.000 pessoas Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica 2014 O Expominas de Juiz de Fora tem capacidade para receber 13 mil pessoas, 1.100 veículos e até seis eventos distintos Local: Center Convention Expectativa de público: 1.000 pessoas Destino diferenciado Além da posição privilegiada da cidade, próxima ao Rio de Janeiro e São Paulo, o Expominas de Juiz de Fora – com capacidade para 13 mil pessoas, 1.100 veículos e a opção de realizar até seis eventos distintos – foi um dos aspectos que levaram o Sebrae Minas a escolher a cidade como um dos destinos prioritários para a implantação do projeto Turismo de Negócios e Eventos. “O ponto de partida foi uma iniciativa estruturadora do Governo do Estado que envolve cidades onde já existia um fluxo natural de eventos e negócios”, explica Nayara Bernardes, analista do Sebrae Minas. Uma profusão de outros espaços com capacidades que variam de 200 a 5 mil convidados, e perfil adaptável a feiras, congressos, seminários e exposições, apenas reforça o potencial de Juiz de Fora para atividades ligadas ao segmento. Por isso, o processo de diagnóstico deste cenário, treinamento e capacitação, formação de uma rede de empresários e captação de eventos seguiu, na cidade, o mesmo roteiro vivenciado em Uberlândia. Segundo o analista do Sebrae Minas, Gustavo Magalhães, os esforços já resultaram em um encontro estratégico para 60 “embaixadores” – pes76 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 soas ligadas à organização dos eventos, identificadas como sendo influenciadoras no processo de escolha dos destinos. Em junho, um novo encontro semelhante será realizado em São Paulo. “Após capacitar e estruturar a rede de empresários ligados ao turismo de negócios na cidade, estamos articulando outras visitas a professores, empresários e organizadores de eventos, dando início ao processo de captação. Estamos prontos”, destaca Gustavo Magalhães. Segundo ele, a rede de empresários é heterogênea, sendo composta por representantes de todo o trade da cadeia turística, e se beneficia da troca de experiências e de aprendizados cruciais para a gestão de seu próprio negócio. “Para captar um evento nacional, internacional ou regional, além da boa apresentação da capacidade do município, é preciso que as empresas demonstrem a solidez necessária para recepcionar este turista”, detalha. Em Juiz de Fora, o processo de capacitação transcorreu até o final de 2012, e a própria organização do encontro com os “embaixadores”, para apresentar os atrativos da cidade, revelou-se um teste para os empresários envolvidos. Foram Simpósio Brasileiro de Ensino de Física 2015 convidados membros da comunidade técnicocientífica, sociedades médicas e entidades de classe de diversos segmentos considerados referências em seus setores. Este ano, o grupo composto por 10 empresários prevê, ainda, a participação em feiras de turismo de negócios em outras cidades brasileiras. Segundo o analista, Juiz de Fora, por todas as suas características, tem boas perspectivas neste setor. “Eventos de pequeno e médio porte estão se deslocando para centros menores, em função de uma disputa de espaço com os grandes eventos nas capitais. Os congressos técnico-científicos, por exemplo, começam a migrar para o interior”, explica. Este movimento se traduz em mais benefícios tanto para cidades como Juiz de Fora quanto para os organizadores e participantes deste negócio. “Os prestadores de serviços têm custos mais acessíveis, e o público ganha um atendimento diferenciado à medida que o evento gera um interesse maior da comunidade em geral”, observa Gustavo Magalhães. Juiz de Fora já é destino permanente de encontros de saúde, agropecuária, moda, gastronomia e de estudantes. Local: a definir Expectativa de público: 500 pessoas Congresso Brasileiro de Informática na Educação 2015 Local: a definir Expectativa de público: 1.500 pessoas EVENTOS JÁ CAPTADOS EM JUIZ DE FORA ■ Salão do Imóvel de JF e Feirão Caixa da Casa Própria: 18 e 19 de maio Local: La Rocca Expectativa de público: 20.000 pessoas ■ Liquida Moda Inverno: 04 a 07 de julho Local: La Rocca Expectativa de público: 5.000 pessoas ■ É Festa: 30 e 31 de agosto e 1º de setembro Local: La Rocca Expectativa de público: 6.000 pessoas ■ Fashion Days Kids: 05 e 06 de outubro Local: La Rocca Expectativa de público: 10.000 pessoas ■ Feira do Estudante: 24, 25 e 26 de outubro Local: La Rocca Expectativa de público: 5.000 pessoas ■ Liquida Moda Natal: 28, 29, 30 de novembro e 1º de dezembro Local: La Rocca Expectativa de público: 35.000 pessoas www.sebraemg.com.br 77 CONSULTORIA O primeiro passo para a escolha do nome de uma empresa, assim como para a concepção do negócio, é ter uma definição clara de qual é o segmento de atuação, nicho de mercado, valores, diferenciais e público-alvo. Essas questões precisam constar na elaboração do plano de negócios do novo empreendimento, pois trazem direcionamentos importantes para a definição do nome – o qual deve transmitir os valores e diferenciais da empresa e dialogar de forma clara com o público-alvo. Empreendimentos com foco em segmentos populares, com nomes na língua nativa e que trazem clara referência ao segmento de atuação tendem a apresentar a empresa e seu negócio de forma simples e direta, facilitando a compreensão do público sobre a atividade, produtos e serviços. Essa estratégia também se mostra válida para quem atua no varejo, como drogarias e empresas do ramo de eletros, nos quais a comunicação deve gerar estímulos de compra imediata. Para esse perfil de negócio, é importante escolher um nome que seja capaz de transmitir e reforçar uma mensagem mais direta e objetiva possível. No caso de empresas que atuam junto a públicos mais elitizados ou têm produtos e serviços com ritos de consumo estimulados por status e estilo de vida (alimentação saudável, fitness, estética, sustentabilidade), nomes lúdicos e que exploram os conceitos e diferenciais são bem-aceitos. Para esses negócios, expressões e palavras em outros idiomas também corroboram para a diferenciação da marca, como as expressões “gour78 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 met” e “fit”, muito exploradas em nomes de empresas ligadas à área de alimentação e saúde. Os novos empreendedores também devem ficar atentos a questões legais. É importante pesquisar a disponibilidade do nome escolhido junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), nas juntas comerciais em todos os estados e no Registro.br (vinculado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br). Após essa checagem, basta providenciar o registro do nome e da marca no INPI. Há empresas especializadas que podem ajudar nessa empreitada. Por fim, a marca precisa se tornar conhecida e, a partir daí, cuidar bem de sua imagem. Para isso, o nome e a marca do empreendimento devem estar sempre acompanhados de boas estratégias de marketing, divulgação e de uma reputação baseada no bom atendimento e no respeito aos consumidores e aos valores da empresa. Fonte: Bruno Gressi Campos – diretor de Atendimento da Inovate Inteligência em Comunicação Como divulgar seu negócio? S ão muitas as opções para dar visibilidade a uma empresa no mercado. O segredo é não errar no momento da divulgação, seja no formato da mensagem, seja na escolha do veículo de comunicação. A definição exata do público que se pretende atingir, aliada a um objetivo claro a ser alcançado, também é fundamental para o sucesso de qualquer ação de divulgação. É necessário planejar todas as etapas do processo de propaganda. Inicialmente, por exemplo, é importante definir a verba disponível e decidir qual o momento exato para dar início ao processo. Muitas empresas gastam recursos preciosos com ações malsucedidas, podendo até mesmo causar um impacto negativo na imagem institucional. Quando algo dessa natureza acontece, é possível concluir que não houve um planejamento criterioso ou que ocorreram falhas na implementação das ações. Atitudes pontuais, como distribuição de panfletos e carros de som, realizadas de forma isolada, demonstram resultados restritos, com retorno próximo a 1% em incremento de vendas. Os meios de divulgação vão desde o panfleto, o flyer, o backbus – conhecido como traseira de ônibus –, o outdoor e a mídia indoor até TVs, jornais, sites, blogs e mídias sociais. Todos podem gerar bons resultados em visibilidade institucional ou alavancagem de vendas. No entanto, é preciso avaliar qual o veículo mais adequado para atingir o objetivo que se pretende. O ideal é trabalhar com um planejamento semestral ou anual, evitando ações de última hora que não ganham expressão no mercado, não geram positivação de receita de vendas ou não consolidam a marca da empresa do ponto de vista institucional. Hoje, os meios digitais, como a internet, são bastante relevantes. Um site de fácil navegação, contendo, por exemplo, testemunhos autorizados de clientes satisfeitos, vídeos informativos de curta duração e uma boa dose de criatividade costuma causar bastante impacto e chamar a atenção do cliente ávido por novidades e experiências de compras. Existem, ainda, ferramentas de otimização de busca, como o Google Adwords e outros, que facilitam o acesso ao seu site no mundo virtual. Mídias sociais, desde que bem-administradas, podem gerar grande volume de acessos e negócios lucrativos e com grande credibilidade. Lojas em redes sociais já não são novidades. Ainda assim, muitos lojistas desconhecem que podem contar com esse recurso para ampliação dos canais de vendas, a um custo-benefício bastante atrativo. Fonte: Antônio Augusto Gonçalves de Abreu analista do Sebrae Minas Cláudio Duarte Como escolher o nome da sua empresa? www.sebraemg.com.br 79 É BOM SABER Quem são eles? E m 2012, o Sebrae atendeu 1,6 milhão de empresas em todo o Brasil. Desse total, 172 mil foram recebidas pelo Sebrae Minas, que também marcou o ano com 5409 palestras, oficinas e seminários para micro e pequenos em- Conheça os clientes do Sebrae Minas presários mineiros, 1098 cursos e 1,38 milhão de acessos ao portal da entidade. Os empreendedores procuram o Sebrae Minas não apenas para abrir seu negócio, mas também para aprimorar ou expandir. Veja o perfil de alguns deles. SAIBA MAIS | RESULTADOS SEBRAE MINAS 2012 5.409 PALESTRAS, OFICINAS E SEMINÁRIOS 1.098 47.059 CURSOS 61.997 480 16 CONSULTORIAS MISSÕES E CARAVANAS EMPRESARIAIS RODADAS DE NEGÓCIOS 13 28 211 FEIRAS PROMOVIDAS E OUTRAS VISITADAS FEIRAS PROMOVIDAS E OUTRAS PARTICIPANTES EM CURSOS, OFICINAS E PALESTRAS www.sebraemg.com.br 81 NÚMERO DE EMPRESAS ATENDIDAS 2011 ........132.897 2012 ........172.916 NÚMERO DE PEQUENAS EMPRESAS ATENDIDAS 2011 ..........11.276 2012..........13.882 EMPREENDEDORES INDIVIDUAIS FORMALIZADOS 2011 ........109.801 2012 ........111.253 419.222 277 CLIENTES ATENDIDOS PROJETOS DE ATENDIMENTO (INDIVIDUAL E COLETIVO) SAIBA MAIS EM: WWW.SEBRAEMG.COM.BR 82 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013 POTENCIAL EMPRESÁRIO É o cliente que ainda não tem um negócio próprio ou que já o tem, mas ainda não está registrado no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) ou inscrição estadual. É o foco principal dos produtos PRÓPRIO, IPGN (Iniciando um Pequeno e Grande Negócio) e IDEIAS DE NEGÓCIO. MICROEMPREENDEDOR INDIVIDUAL (MEI) Com faturamento máximo anual de R$ 60 mil, geralmente faz a opção pelo Simples Nacional e não tem participação em outras empresas, nem como sócio. Seu negócio emprega apenas um profissional, que recebe um salário mínimo ou o piso salarial da categoria. Para esses clientes, é desenvolvido um produto específico: SEBRAE PARA EMPREENDEDOR INDIVIDUAL (SEI). MICROEMPRESA Estão nessa categoria empresas brasileiras com faturamento anual de até R$ 360 mil – valor referente ao máximo permitido para adesão ao Simples Nacional. Um dos produtos mais indicados para as microempresas é o NA MEDIDA. EMPRESAS DE PEQUENO PORTE Nesse grupo, estão presentes as que faturam, anualmente, mais de R$ 360 mil e menos de R$ 3,6 milhões. As empresas exportadoras que optam pelo Simples Nacional e faturam até R$ 3,6 milhões no exterior também integram o grupo. Os principais produtos disponibilizados são: SEBRAE MAIS e SEBRAETEC. PRODUTOR RURAL Agricultores, pecuaristas ou piscicultores que não alteram as características naturais dos seus produtos e têm inscrição estadual, declaração de aptidão no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura (Pronaf), CNPJ ou registro no Ministério da Pesca e faturamento anual menor que R$ 3,6 milhões. Esses empreendedores poderão, em breve, ter acesso ao NO CAMPO - novo produto do Sebrae em fase final de desenvolvimento.