Caderno de Resumos - chamada para publicação na revista da
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Caderno de Resumos - chamada para publicação na revista da
CONFERÊNCIAS Culturas shakespearianas: poética da emulação e a obra de arte sem aura João Cezar de Castro Rocha (UERJ / CNPq) O tema deste XIV Congresso Internacional da ABRALIC, “Fluxos e Correntes: trânsitos e traduções literárias”, não deixa de oferecer um comentário, crítico, à própria disciplina “Literatura Comparada”, especialmente no primeiro momento de sua história institucional. O viés tradicional, dominante no século XIX e nas décadas iniciais do século XX, restringiu a riqueza dos fluxos e trânsitos de obras e autores à régua e compasso da busca de influências e filiações. No entanto, após a superação desse modelo, permaneceu inalterada a assimetria das trocas simbólicas. A pergunta incontornável de Edward Said acerca das traveling theories conheceu respostas as mais diversas, porém, um ponto reuniu os interlocutores: as teorias, sim, viajam – e ainda mais quando circulam em inglês. Aqui, correntes e traduções são dois modos de dizer o mesmo: a hegemonia cultural depende menos da qualidade intrínseca deste ou daquele autor do que do idioma no qual seus textos são escritos. Nesta conferência, os conceitos de culturas shakespearianas e poética da emulação serão apresentados a fim de sugerir uma reflexão alternativa sobre uma circunstância especial: a existência de sistemas simbólicos que, para recordar o ensaio célebre de Walter Benjamin, são definidos por uma arte radicalmente desauratizada. (Mais ou menos como produzir teoria escrevendo em português.) Da cordialidade à "brega": o veneno-remédio das culturas periféricas em Sérgio Buarque de Holanda, José Miguel Wisnik e Arcadio Díaz-Quiñones Pedro Meira Monteiro (Princeton University) O espaço periférico, feito de “fluxos e correntes”, engendra fantasias poderosas, algumas delas capazes de converter a periferia num centro produtor de alternativas para os descaminhos do mundo moderno. Reagindo ao otimismo exacerbado dessa visão, pretendo flagrar, em três momentos da produção crítica moderna e contemporânea, no Brasil e no Caribe, como os espaços periféricos podem criar práticas sociais e culturais que resistem ao poder esterilizante da norma, sem no entanto entregar-se à anomia. Longe de um elogio simplista das sociedades “híbridas” ou “mestiças”, pretendo perguntar, com Holanda, Wisnik e Díaz-Quiñones, pela noção de sujeito que emerge das experiências marginais. O que fazer de um sujeito “não épico”, para quem o campo de batalha é a lida diária com os limites de uma autonomia lesada? Mas não será a noção mesma de autonomia que já não serve a entender a política? Que sujeito é este que ganha sempre a meias, e para quem a vitória talvez se resuma a saber onde e como perder? Da forma mentis à poética comparada (relação entre as obras de Osman Lins e de André Gide) Sandra Nitrinni (USP) André Gide foi um dos autores lidos meticulosamente pelo jovem escritor Osman Lins, conforme demonstram anotações em suas cadernetas dos anos de 1950. Fato este com desdobramentos em sua forma mentis, no que se refere à literatura. Ambos se unem numa obstinada busca da arte de escrever e entendem que cultivar o já estabelecido não corresponde ao verdadeiro ato de criar literatura. Pretende-se mostrar o que Osman Lins tem em comum com Gide, ideias e poética, para compreender seu processo de criação e localizá-lo na cartografia do romance do século XX bem como na tradição dos escritores, que refletem sobre o ato de escrever, explicitam suas preocupações teóricas e as integram em sua ficção. MESAS-REDONDAS A dimensão nacional e internacional da literatura brasileira: algumas reflexões heterodoxas Arnaldo Saraiva (Universidade do Porto) Preocupados com as questões nacionais da literatura brasileira, os seus estudiosos e historiadores do sec.XX não prestaram, em geral, a devida atenção às suas implicações internacionais, fossem as de ordem estética ou temática fossem até as da sua recepção ou repercussão. E curiosamente não resolveram questões ainda longe de concitarem a unanimidade, como a do começo ou do fundador da literatura brasileira, e até esqueceram ou desvalorizaram o enorme continente da literatura oral e popular. De qualquer modo, a produção literária brasileira, que trabalha com uma das mais faladas línguas do planeta, não pode continuar a ser secundarizada num espaço e num tempo de competitividade global, e, depois de Machado, de Clarice ou de Guimarães Rosa – talvez o mais espantoso exemplo no sec.XX do sucesso da aliança entre o regional e o universal, entre o popular e o culto –, não tem só para propor aos leitores brasileiros e estrangeiros os atrativos do local, do folclórico, do exótico, ou da identidade nacional, pois lhes propõe também os do aprofundado questionamento dos mundos psíquicos e da condição ou da identidade humana. «Infelici tribù» ou «belve feroci»? O Indianismo dos italianos Giorgio des Marchis (Università degli Studi Roma Ter) Que papel ocupa na cultura italiana oitocentista o índio brasileiro? Para responder a esta pergunta, a comunicação vai apresentar uma análise da receção do Indianismo brasileiro em Itália ao longo do século XIX, refletindo sobre os processos de manipulação cultural que envolvem as obras de Santa Rita Durão, Gonçalves de Magalhães e José de Alencar. Poetas, romancistas, tradutores, muitos são os intelectuais italianos que participam na definição duma imagem do índio que, contudo, não deixa de ser bastante precária e instável. Quais as razões duma completa inversão de sentido? É provável que, não mudando os indígenas brasileiros, a reviravolta do índio reflita principalmente as mudanças sociais e políticas que caraterizam a história de Itália do século XIX. Hermes, a tartaruga e a lira Alberto Pucheu (UFRJ) A apresentação tomará por base o Hino Homérico a Hermes, no qual consta a criação da lira pelo respectivo deus. Nesse nascimento, portanto, da lírica, existe uma dependência inata entre ela e o animal, a tal ponto que, não fosse este último, não haveria o canto com a lira. Juntando a contemporaneidade a uma anacronicidade, como ler o mito desde hoje? Em nosso tempo, crítico e pósmítico, o caminho do canto ou do poema leva o cantor a se descobrir, ele mesmo, também um animal? A escritura na sua toca: Notas para uma etologia do animal literário Eduardo Pellejero (UFRN) Em 1947, Julio Cortázar afirmava que a literatura é um recinto fechado, com os seus princípios e os seus fins, mas ao mesmo tempo notava que, no seu âmbito, tem lugar uma busca extralivresca. Alguns anos mais arde, Maurice Blanchot praticava uma reformulação da questão que a literatura é para si, e encontrava novamente o ponto de partida da sua investigação no gesto de recolhimento radical ao qual se encontra associado o espaço literário. O presente trabalho pretende interrogar criticamente esse singular comportamento que associamos ao que para nós significa escrever. Literatura sem ensino: o letramento literário de jovens para além da escola Rildo Cosdon (Ceale-UFMG) Partindo da experiência de leitura literária de jovens em círculos de leitura, tais como os jogos de RPG e grupos de jovens góticos, realizamos uma revisitação de pares de termos tradicionalmente relacionados à didática ou metodologia do ensino da literatura, tais como disciplina escolar/história da literatura, livro/obra literária, formação do leitor/cânone para colocar em discussão os caminhos que se apresentam para o letramento literário em uma sociedade pós-literária. LITERATURA COMPARADA NA AMÉRICA LATINA: RUMOS E PERSPECTIVAS Eduardo F. Coutinho (UFRJ) Levando-se em conta o que hoje se entende por “novo comparatismo”, isto é, uma Literatura Comparada que não se atém apenas nem aos estudos de caráter binário entre obras, autores e movimentos literários, nem ao cânone da tradição ocidental, mas que se encontra aberto a todo tipo de expressão literária e cultural e receptivo a contribuições de outras áreas do conhecimento, teceremos neste trabalho uma reflexão sobre as relações entre este novo tipo de comparatismo e a produção literária e teórico-crítica latino-americana . Buscaremos investigar as transformações que têm ocorrido nas últimas décadas nas relações entre o pensamento latino-americano e as contribuições provenientes do contexto euronorte-americano e discutiremos a possibilidade de constituição do que vem sendo designado de “geocultura latino-americana”. OBRA PROPONENTE: (RE)LEITURAS DO TEXTO TEATRAL André Luís Gomes (UNB) Em Obra Aberta Umberto Eco (1971) defende que “a obra se coloca intencionalmente aberta à livre reação do fruidor (...), carregando-se das contribuições emotivas e imaginativas do intérprete” e Barthes, em O rumor da língua, assevera que o “texto é um tecido de citações, saídas dos mil focos da cultura”. Neste sentido, propomo-nos a pensar a dramaturgia com suas aberturas e tessituras para a leitura e montagem teatral, esta, geralmente, concebida a partir das relações dialógicas, das contribuições criativas e emotivas que se estabelecem entre diretor, intérpretes (atores/atrizes), cenógrafos, iluminadores, sonoplastas etc. Se “o espaço em branco em torno da palavra, o jogo tipográfico, a composição espacial” impregna o texto poético de “mil sugestões diversas”, como afirma Eco, o texto dramatúrgico, além de variadas sugestões, constrói-se como obra proponente de outras possíveis leituras interpretativas e cênicas. Na medida em que a peça teatral evidencia suas aberturas e sugestões e se constrói permeado pelas fissuras do subtexto, a leitura e a transmutação cênicas podem (re)criar ou aprofundar outros possíveis sentidos do/para o texto. Neste sentido, nosso objetivo é pensar a dramaturgia como obra proponente a partir de leituras cênicas realizadas no projeto Quartas Dramáticas, atividade de extensão realizada na Universidade de Brasília, e de transmutações fílmicas de textos teatrais. O estatuto da palavra poética na ficção em prosa e no teatro: caminhando para o novo Suzi Frankl Sperber (UNICAMP) Desde o começo dos tempos o ser humano luta para exprimir o inexprimível. O que é este inexprimível? É a percepção funda da morte e a busca de explicações para ela. É a alegria com cada vida que vem ao mundo, com cada situação de quase morte em que, apesar de tudo, vence a vida. Desde o relato de mitos (como a Teogonia, de Hesíodo), tragédias e comédias, as epopeias, os relatos fantásticos, ou dramatúrgicos constituíam a literatura. A partir do início do séc. XX, o cansaço com encenações com atores que tendiam à repetição de gestualidade, a apresentações mecanizadas, à banalização promovida pela cultura de massa, a linguagem não poética decorrente do domínio de técnica não renovada e mesmo o impacto dos regimes políticos totalitários e das guerras, tudo isso levou à crise das grandes narrativas e ao desejo de mudanças substanciais no teatro. Os trabalhos de Stanislavski, Meyerhold, Jerzy Grotowski, o entrelaçamento de dança e teatro, mesmo as reflexões e propostas de Artaud levaram a que os atores passassem a exercitar seus corpos e vozes, de maneira a que o teatro passasse a tender a dispensar os textos dramatúrgicos clássicos e modernos. A tendência forte passou a ser a criação de espetáculos sem o prévio roteiro de um autor afastado no tempo e no espaço da produção do próprio espetáculo. Meyerhold, já na primeira fase do seu trabalho, afirmava que “as palavras não dizem tudo” e que “a verdade das relações humanas está determinada pelos gestos, poses, olhares e silêncios”. O novo teatro passou a explorar as tensões e contradições entre a expressão verbal e a corporal. O corpo deveria aprender ou reaprender a se expressar, já que a palavra já não satisfazia. A consequência foi que poucos textos contemporâneos veem sendo encenados, os textos clássicos são frequentemente reformulados e o trabalho colaborativo leva a que grupos de atores – ou atores isolados - adaptem contos, romances, biografias, e outros textos. Falarei sobre estes aspectos e o que me interessa sobremaneira é a palavra experimentada tanto na ficção em prosa como na dramaturgia do presente. Os experimentos são capazes de isolar palavra por palavra, de modo a inserir entre as palavras um vazio, um espaço que acolhe vibrações, tonalidades, ritmos. A partitura teatral passa a não ser temática, mas vocabular. As palavras isoladas se expandem. Tal busca da expressão através da escolha e jogos das palavras – e do silêncio – será tematizada na literatura e no teatro, chegando até um experimento mais novo. Na perspectiva da tradução Michel Riaudel (Universidade de Poitiers - FR) Porque recorrer à tradução, se é melhor ler o texto na língua de origem? Revisitar esse dilema dos estudos comparados leva a sair de uma concepção funcional da tradução, concebida como uma tentativa de equivalência sempre inferior ao original porém ersatz necessário a quem não domina as cerca de 6 000 línguas ainda hoje existentes no mundo, para pensá-la em seus potenciais poético, analítico e epistemológico. Em tempo, a tradução Mauricio Mendonça Cardozo (UFPR/CNPq) Se pararmos um pouco para pensar nos sentidos da expressão "em tempo", comum no registro mais formal das atas e em diversos atos dos campos notarial e jurídico, podemos dizer que, em seu uso corrente, convivem tanto a ideia de algo que se deu por concluído ─ é justamente porque algo foi dado por concluído que nos valemos dessa espécie de cláusula ─ quanto a ideia de algo que ainda pode ter lugar, algo que ainda deve ter lugar, algo que, pela possibilidade ou necessidade de um acréscimo, coloca em suspensão, ao menos por um instante clausular, aquele estatuto de conclusão que a própria expressão evidencia. Em outras palavras, resguardadas as especificidades de seu uso técnico, que não nos cabem discutir aqui, é possível dizer que essa expressão evidencia algo que se deu por dado e, nesse mesmo gesto, põe também em questão o "dar por dado" desse algo. Tomando por base as implicações teóricas desse mote, esta apresentação tem por objetivo problematizar algumas das figurações tradicionais do tempo no pensamento sobre a tradução ─ a exemplo das noções de datação, efemeridade, extemporaneidade, etc. ─, tendo em vista a discussão de suas implicações poéticas e críticas para a tradução literária. Introdução do realismo no Brasil: o controle das representações Tânia Pellegrini (UFSCar) A comunicação discute alguns aspectos históricos e sociais no interior dos quais o realismo, transplantado da Europa, chegou ao Brasil, passando de estrutura de sentimento a ideia dominante, adequando-se às condições locais, de modo a poder desempenhar funções particulares ditadas pelo novo contexto. Tais funções têm ligação essencial com a construção de uma ideia específica de nação, que incluía o controle das representações sociais por meio da literatura. O narrador como corpo em cena e a teatralização de seu olhar e voz implicados na auto-biografia Ismail Xavier (USP) A palestra tem como objetivo discutir as questões postas pela adaptação de romances narrados em “primeira pessoa” (narrador auto-diegético na formulação de Gérard Genette) para meios audiovisuais, tendo em vista que o caráter multifocal de cinema e televisão, com canais simultâneos de diálogo com o espectador, amplia as opções e também os problemas a superar na definição de um caminho de leitura da obra literária, notadamente no atinente aos efeitos de sentido e valores implicados na modulação do foco narrativo. A atenção se concentra na obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, traduzido na mini-série de TV, Capitu (2008-09, TV Globo), dirigida pelo cineasta Luiz Fernando Carvalho, havendo referências ao filme Capitu (1967), de Paulo Cesar Saraceni. Trânsito de linguagens, transmigrações conceituais João Manuel dos Santos Cunha (UFPEL) O tema das relações entre literatura e cinema tem se constituído num dos tópicos mais explorados no âmbito de um recente e indisciplinado comparatismo: bastaria uma leitura em transversal do temário de eventos da área e de sumários de revistas acadêmicas para que se confirmasse a incidência desse fato. Amplamente pensados como constructos textuais diferençados, livro e filme são naturalmente aproximados como produtos de linguagem. A discussão, de uma forma geral, ampara-se em paradigmas apropriados do campo dos estudos de linguística e de teorias da inter e da transtextualidade (Kristeva, pós-Bakhtin; Genette, pós-Kristeva). A migração de conceitos inicialmente elaborados para a abordagem de texto e discurso no plano da linguagem verbal faz-se, assim, de forma natural e vem a propósito de um comparatismo que não considera qualquer territorialização disciplinar. Para o bem (a abertura para outros textos, literários ou não) e para o mal (a neófita e ingênua insistência na relação binária entre os dois processos), as reflexões geradas nesse contexto, ainda que em sua grande maioria centradas na análise das chamadas “adaptações”, têm possibilitado articulações consequentes. É fato também que, em outros campos teóricos, a partir de padrões estabelecidos para o estudo comparado das artes (“interartes”) ou da teoria das mídias (“intermidialidade”), por exemplo, a investigação tem mobilizado ideias produtivas no que tange à ineludível transmigração conceitual. Do ponto de vista do pensamento que tem sustentado metodologicamente a estratégia comparatista, o que se verifica é que o tema das relações de produção e recepção de textos transcendeu o campo específico dos estudos linguísticos ou literários. Localizando-se no domínio dos saberes cooperativos, essa ocorrência permitiu que se invocasse a intersecção com outras disciplinas e campos nocionais. É nesse carrefour de ideias, ponto congestionado do atual debate sobre a relação entre mídias, meios e suportes, línguas e linguagens, paradigmas teóricos e contextos discursivos diversos, que ainda seria possível demarcar espaço rentável para discussão. Privilegiando a natureza incontornavelmente textual da literatura e do cinema, bem como reconhecendo a sua condição de linguagem (METZ, 1969), examinamos a questão, justamente, a partir dessa qualidade inerente aos dois meios, enfocando particularmente afetações e contaminações havidas a partir de deslocamentos operados na múltipla via dos trânsitos entre a linguagem literária e a fílmica. Sob essa perspectiva, uma panorâmica retrovisora sobre a história do pensamento teórico-crítico, enquadrando e recuperando conceitos fundacionais estatuídos desde Serguei Eisenstein ([1929], 1980), passando por Pier Paolo Pasolini ([1965], 1982), Christian Metz ([1968, 1971], 1972), Peter Wollen (1984) e André Gaudreault (1989) e chegando a Robert Stam (2003) e, mais recentemente, a Evando Nascimento (2002, 2013), pode revelar aspectos relevantes sobre o tema. A leitura de romances: um elo de união entre letrados europeus e brasileiros Márcia Abreu (UNICAMP) O trabalho apresenta a reação de letrados brasileiros, portugueses, franceses e ingleses aos romances, entre o final dos anos de 1780 e os de 1830. Examina-se a maneira como o gênero e seus leitores eram encarados, verificam-se os critérios empregados para avaliação nos quatro lugares e analisam-se as razões que podem ter conduzido à impressionante identidade nas opiniões de homens que viviam em lugares tão distintos. "Do bom uso da lentidão" em poesia Ida Alves (UFF/CNPq) Trata-se de pensar a questão da aceleração na experiência urbana cotidiana, como aborda Hartmut Rosa (trad.francesa de 2010; edição alemã de 2005) e seu enfrentamento na escrita poética contemporânea. Para isso, abordaremos em alguma poesia portuguesa e brasileira certos eixos analítico-críticos que marcam essa produção como o questionamento da subjetividade, os percursos da memória e dos espaços vividos, as paisagens em movimento e as práticas de deslocamento. Pensa-se numa geografia das emoções que questiona a existência política e cultural no agora, marcada pela intensificação técnica e tecnológica. O reflexo desses temas na construção do texto poético a partir da ideia "Du bon usage de la lenteur", título de obra de Pierre Sansot (2000). “O outro avanza sombre mim”: dimensões da vida anônima e impessoal na cultura latino-americana Florencia Garramuño (Universidade de San Andrés / CONICET) Sustentado na análise de materiais heterogêneos, o texto aspira a construir um marco de leitura para uma série de práticas culturais latino-americanas que pensam a experiência para além do prisma da consciência individual, pensando a vida na sua densidade anônima e impessoal. O trabalho se sustenta na hipótese de que várias transformações sobre os modos de se conceber a subjetividade, a escrita, e a comunidade podem ser apreendidas a través de práticas culturais cada vez mais numerosas que registram a transformação de uma paisagem social onde os deslocamentos, o nomadismo, e a contingencia das relações pessoais são cada vez mais numerosas. Algumas intervenções radicais na cultura latino-americana contemporânea apontam para uma desconstrução da categoria de pessoa que exploram formas do impessoal ou anônimo e insistem em interrogar a intensidade de uma experiência que é irredutível a um eu ou individuo. Trabalharemos com textos e práticas de Mario Bellatin, Diamela Eltit, Teixeira Coelho, Sylvia Molloy, Rosangela Rennó e Nuno Ramos. LITERATURA PAN-AMAZÔNICA: INVESTIGAÇÕES Allison Leão (UEA) Esta intervenção visa levantar algumas questões relativas à possibilidade da existência de um quadro literário a que se possa chamar pan-amazônico. Tratase de uma nomenclatura utilizada com cada vez mais frequência no ambiente acadêmico do Norte brasileiro, o que se nota pelas diversas proposições de simpósios nos últimos encontros da ABRALIC que partiram dessa noção como pressuposto. Além disso, novas cátedras intituladas “Literatura Pan-amazônica” têm se estabelecido nos cursos de Letras, em algumas universidades da região. É um problema iminentemente comparatista, e assim deverá ser nossa abordagem. O comparatismo pode ampliar e aprofundar o debate, buscando compreender variáveis importantes da questão, entre as quais se destacam: a dinâmica entre o nacional e o internacional (uma vez que, em termos geográficos, a Pan-Amazônia ultrapassa limites nacionais); o caráter linguístico complexo; os componentes de sua poética; além de elementos decisivos como a história, a política, o mercado e a cultura. Palavras-chave: Literatura comparada; Geografias literárias; Amazônia. Os Trânsitos Literários nas Fronteiras Amazônicas Simone de Souza Lima (UFAC) Com este trabalho pretendemos discutir os fluxos e os trânsitos literários nas fronteiras amazônicas tendo como mote alguns textos críticos de Uma literatura nos trópicos, Silviano Santiago. Também lançaremos mão de textos críticos de Milton Santos, Bessa Freire e Mia Couto. Nosso ponto de partida será uma reflexão sobre a diversa estrutura física, linguística, histórica e social das fronteiras amazônicas, que envolvem diferentes territorialidades desde o Brasil, Peru, Bolívia, Suriname, Guiana, Guiana Francesa, Equador, Colômbia, Venezuela. Nosso interesse pela diversidade cultural amazônica vai além do artefato literário na sua configuração de escrita fixa. Interessa-nos especialmente a oralidade, a memória, as línguas e os imaginários forjados e referenciados desde as crônicas dos viajantes, contos, poemas e romances produzidos na e/ou sobre a região. As línguas, “formas de expressão tão velhas quanto a história, nascidas da interação com o espaço da vida” – segundo Milton Santos , e destacamos aqui as línguas indígenas, desde o longo e traumático processo de colonização passaram por silenciamentos diversos, chegando, inúmeras vezes, ao completo extermínio. Sabemos nós o que representa para uma sociedade a perda de suas línguas? Reflitamos sobre a questão a partir da contribuição de José Ribamar Bessa Freire e Mia Couto. José Ribamar Bessa Freire postula que ao tempo em que (res) guardam – as línguas carregam conhecimentos, pensamentos, afetos, história, memória, narrativas, mitos, cantos, poesia. Nesse caso, morta a língua, desaparecem com ela sua cultura e todos os bens simbólicos inerentes a ela, decorrendo daí considerável pobreza cultural, social, linguística e histórica à nação. Conforme a precisa consideração do moçambicano Mia Couto : “(...) As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas ‘servem’. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser”. Como seres de linguagem, existimos nela [língua], por ela somos atravessados a todo tempo. A partir daí construímos e cadenciamos nossa existência, nos traduzimos, enfim. Ainda como contribuição à indagação feita, traremos para nossa reflexão as palavras de Mia Couto, a nos relembrar que “os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos ” dispersos socialmente. Nesse sentido, é que “as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica ”. Esta compreensão nos leva a compreender as reais e complexas dimensões da perda e da imposição linguística empreendida pela empresa colonizadora, ontem, e o desrespeito e preconceito linguístico presente na sociedade brasileira, hoje. Não nos move ainda a fraterna compreensão do sociólogo indiano André Béteille (descrita por Mia Couto em E se Obama fosse africano?), quando afirma que “Conhecer uma língua nos torna humanos; sentirmo-nos à vontade em mais que uma língua nos torna civilizados ”. Arremata Mia Couto: “Se isto é verdade, os africanos [como os indígenas amazônicos] – secularmente apontados como os não-civilizados – poderão estar mais disponíveis para a modernidade do que eles próprios pensam. Grande parte dos africanos [e dos indígenas das fronteiras amazônicas] dominam mais de uma língua e, além disso, falam uma língua europeia. Aquilo que é geralmente tido como problemático pode ser, afinal, uma potencialidade para o futuro ”. Falta-nos, portanto, essa visão das línguas [indígenas] como potência, como diferencial enriquecedor de uma comunidade, estado ou nação. A discussão aqui aventada seguirá a linha teórico/metodológica acima referida. Palavras-chave: Trânsitos. Fronteiras. Literatura. Língua. Amazônia. A LITERATURA COMPARADA NO BRASIL: CURIOSIDADE E PRAZER Myriam Correa de Araújo Ávila (UFMG) A vocação da pesquisa brasileira em Letras para a Literatura Comparada evidencia-se, entre outras coisas, pelo crescimento e fortalecimento da ABRALIC, instituição que conheceu rápido e constante sucesso desde sua fundação. A atração que a Literatura Comparada exerce sobre os jovens pesquisadores não é, porém, em princípio, resultado de uma ação institucional e não é diminuída pela dificuldade de definição do âmbito da disciplina. A força da ABRALIC e da Literatura Comparada no Brasil depende do equilíbrio entre a institucionalização da disciplina e a liberdade metodológica. É nesse espaço híbrido que se pode construir um rigor alimentado necessariamente pela curiosidade e o prazer, matérias-primas a partir das quais se modela, através da formação profissional, o quadro das pesquisas na área. Guimarães Rosa lido em Angola: notas sobre a escrita de Ruy Duarte de Carvalho e sua leitura de Grande sertão: veredas Anita Martins Rodrigues de Moraes (UFF) Pretendo, nesta apresentação, tratar do fecundo diálogo de Ruy Duarte de Carvalho com a obra de Guimarães Rosa, diálogo este tecido na própria escrita do autor angolano. Meu interesse será lidar com a representação literária de modos de ser e de falar alheios (estranhos) àqueles que se apresentam como normais (familiares e adequados) no mundo ocidental ou ocidentalizado. Trata-se de refletir sobre a mimesis, ou seja, sobre a representação do outro e de sua fala, em contextos de confronto cultural, atentando para as instâncias da autoria, da voz narrativa e da representação da fala das personagens (fictícias ou não). Darei destaque para Desmedida: crônicas do Brasil (2006), para momentos da trilogia Os filhos de Próspero (Os papéis do inglês, 2000; As paisagens propícias, 2005; A terceira metade, 2009), de Ruy Duarte de Carvalho, e para Grande sertão: veredas (1956), de Guimarães Rosa. Buscarei sugerir, recorrendo a uma abordagem comparatista, que a leitura feita por Ruy Duarte de Carvalho da ficção rosiana impregna a configuração de suas próprias estratégias de composição literária. A IDEIA DE ROMANCE: ALGUMAS CONCEPÇÕES ANTEMODERNAS Roberto Acízelo de Souza (Uerj / CNPq / FAPERJ) Tornou-se usual afirmar-se que o romance teria sido completamente ignorado pelos estudos literários antigos e clássicos, por tratar-se de gênero marginal e desimportante até o século XVIII, se não inexistente até então. Essa generalização, contudo, não resiste a exame mais cuidadoso, não sendo difícil demonstrar sua inconsistência. Na suposição, no entanto, de que em geral são pouco conhecidos textos antemodernos dedicados à questão do romance, selecionamos alguns deles para análise. Constituímos assim um pequeno corpus, passível naturalmente de expansão, integrado por um hino em prosa do século II d.C., um diálogo português da primeira metade do século XVII e uma cartatratado francesa da segunda metade do mesmo século. Suplementarmente, teremos ainda em conta quatro compêndios escolares brasileiros, produzidos nos séculos XIX e XX, mas nitidamente fundamentados em tradições anteriores à modernidade. A musa sertaneja: Bernardo Guimarães e o romance do sertão Eduardo Vieira Martins (USP) O objetivo desta comunicação é discutir alguns problemas relacionados à construção do sertão como um espaço de romance no século XIX. Tomando por base a análise de O ermitão do Muquém, especialmente do episódio inicial, ambientado em Vila Boa, pretende-se verificar como a narrativa incorporou uma matéria lendária e de transmissão oral, e procurou adequá-la ao romance, um gênero moderno, destinado a ser consumido pelo público leitor urbano. Por compreender o sertão como um espaço dúplice, que congregava a maravilha e o horror, o sublime e o grotesco, Bernardo Guimarães buscou criar um estilo, por assim dizer, alusivo, que lhe permitisse abordar temas baixos sem romper o decoro devido aos leitores da cidade, sobretudo ao público feminino, fiel consumidor de romances e folhetins. Simultaneamente, para garantir o decoro interno da narrativa, procurou adequar o estilo às situações vivenciadas pelo herói, desenhando uma linha ascendente que deveria partir do que o prólogo do livro denomina de “realismo”, perspectiva empregada no relato do episódio transcorrido em Vila Boa, passar ao “idealismo” das cenas ambientadas entre os índios e, por fim, atingir a “ideal sublimidade” utilizada para tratar da temática cristã. Originalmente divulgado na forma de folhetins, entre 1866 e 1867, O ermitão do Muquém foi publicado em livro em 1869, e pode ser lido como indicativo de um movimento traçado pelo romance romântico ao longo do decênio de 1870, quando o indianismo iria refluir e ceder espaço para um novo mito, o mito do sertão, para o estabelecimento do qual Bernardo Guimarães contribuiu decisivamente. THE LOCATION OF WORLD LITERATURE Galin Tihanov (Queen Mary University of London) In this lecture, I seek to locate the Anglo-Saxon discourse of ‘world literature’ visà-vis three major reference points: time, space, and language. In the first part, I examine the position of ‘world literature’ on the axis of time by asking the question of whether ‘world literature’ can be conceived of solely as an offspring of globalization and transnationalism, or should it rather be seen as having always been there (but, if so, how do we write its history?), or merely as a pre-modern phenomenon that dissipates with the arrival of the nation state and national cultures. In the second part, my main concern is with the notion of ‘circulation of texts’ currently deployed to formulate the subject of ‘world literature’ as a field. In the final part, I analyze the complex relationship between the discourse of ‘world literature’ and language, which also has important consequences for how we interpret the dissipated legacy of modern literary theory. Estudos de literatura comparada e teoria da tradução: questões de literatura e filosofia Evando Nascimento (UFJF) Abordagem de uma teoria contemporânea dos estudos de literatura comparada em suas relações com uma teoria da tradução. Pretende-se analisar como a tradução é um processo tanto literário quanto amplamente cultural, envolvendo sempre mais de uma língua e, consequentemente, mais de uma cultura. A invenção literária como ato tradutório. Tradução e leitura do curto texto de Kafka “Vor dem Gesetz” (“Diante da lei”), a fim de relacioná-lo aos elementos teóricos levantados, tendo como referência as interpretações de Jacques Derrida e de Giorgio Agamben sobre a ficção kafkiana. Análise igualmente comparatista de algumas relações entre Literatura e Filosofia, por meio da categoria de uma literatura pensante, a fim de pensar hoje um conceito expandido e inclusivo de literatura. Para isso, intenta-se refletir também sobre a pertinência do recurso à expressão “obra literária” depois de todos os questionamentos realizados a partir do texto (Barthes). A conquista da cidade pela escrita, ou o local na literatura brasileira contemporânea Regina Dalcastagnè (UNB) Pretende-se discutir, a partir da leitura de romances brasileiros recentes, a preocupação renovada de autores vindos das periferias das grandes cidades com a demarcação de um território próprio, local. Na contramão de narrativas que reivindicam o espaço internacional como lugar de enunciação, suas obras trazem o desafio da conquista da cidade pela escrita. Muito longe do apego regionalista à terra ou à nação, esses textos explicitam as implicações das diferenças de classe, raça, gênero e nacionalidade na construção do espaço literário e apontam para uma revitalização de nossa literatura. O objetivo, então, é entender estratégias, limitações e possibilidades dessas escolhas narrativas, especialmente quando colocadas em contraponto com obras que buscam chamar atenção para a universalidade da experiência de suas personagens (com seus deslocamentos pelo exterior e seu modo de vida cosmopolita). Amazônia contra o Estado Pedro Mandagará (UERR) Imagens da resistência do território amazônico às incursões do Estado nacional são frequentes em obras ficcionais sobre a região, de Inferno verde, de Alberto Rangel, a filmes como Fitzcarraldo, de Werner Herzog, ou Iracema, uma transa amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna. Este trabalho procura investigar a Amazônia como espaço de resistência partindo da leitura de trechos pouco lembrados de Em câmara lenta, de Renato Tapajós. O romance é muito lembrado por sua chocante cena de tortura final e por sua narrativa da guerrilha urbana, mas raramente se faz referência ao enredo paralelo que trata da “guerrilha rural” no Alto Rio Negro. Este esquecimento da fortuna crítica espelha múltiplos esquecimentos da Amazônia na historiografia literária, cultural e política. A relação conflitiva do estado nacional com o território amazônico perpassa a história da região e do país, chegando às recentes tentativas, por parte do governo central, de reencenar o projeto colonizador na região, a partir da construção de novas usina hidrelétricas, linhas de transmissão e rodovias. Bem me quer, mal me quer: Leituras da crítica sobre a literatura brasileira contemporânea Rachel Esteves Lima (UFBA/CNPq) O trabalho tem como objetivo analisar as diferentes posições assumidas pela crítica literária frente à literatura brasileira contemporânea. Oscilando entre a apreciação apologética e a apocalíptica, alguns nomes da crítica brasileira vêm se enfrentando nos espaços de divulgação da literatura contemporânea (suplementos culturais, revistas impressas e eletrônicas, programas de internet, etc). Nomes como Alcir Pécora, Paulo Franchetti, Flora Süssekind, Leyla PerroneMoisés, Nelson de Oliveira, Beatriz Rezende, Alberto Pucheu, Karl Erik Shollhammmer, dentre outros, vêm se manifestando a favor ou contra a nova produção literária, num embate no qual se percebe não apenas os transtornos causados pela crise das mediações frente aos novos meios de comunicação de massa, mas também a dificuldade em lidar com o contemporâneo a partir de critérios de valoração artística já ultrapassados. O ensaio a ser apresentado busca discutir esse mal-estar no campo crítica, com o intuito de apontar algumas propostas para a sua superação. Teoria Literária e Estudos da Tradução: afinidades (s)eletivas Andréia Guerini (UFSC/CNPq) Esta comunicação pretende verificar em que medida as disciplinas Teoria e Literária e Estudos Tradução dialogam a partir da análise de algumas das grandes correntes da Teoria Literária e dos Estudos da Tradução, circunscrevendo eventuais afinidades eletivas ou seletivas. A História da Literatura – ascensão, queda ou ressurreição? Regina Zilberman (UFRGS) Resumo: Desde a emergência dos estudos estruturalistas e pós-estruturalistas, nos anos 1960-1970, a História da Literatura perdeu espaço no campo literário. Na ocasião, Hans Robert Jauss buscou, por intermédio da proposta de uma Estética da Recepção, resgatar a História da Literatura, considerando-a base de uma renovada ciência da literatura. Na sequência, a ascensão dos Estudos Culturais abriram novas fronteiras de investigação, oferecendo alternativas à constituição da História da Literatura. Cabe refletir de que História e de que Literatura se trata, bem como quais são suas consequências no âmbito da pesquisa e do ensino. Gênero entre culturas e línguas diversas: traduzindo pertencimentos Liane Schneider (UFPB/ DLEM/PPGL/CNPq) Ao longo do presente trabalho propomos discutir como marcas de gênero são traduzidas de um original em língua inglesa para a língua portuguesa e vice versa; no primeiro caso, a fim de ilustrar esse viés da tradução, serão destacados exemplos retirados do romance Americanah, de Chimananda Adichie, do texto em inglês (texto original) para o texto em português (texto traduzido). De forma semelhante, ilustraremos nossa discussão com o romance Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo e os caminhos percorridos do original (português) até sua tradução para a língua inglesa. O que nos interessa é verificar quais os impactos no que se refere ao gênero quando esses textos produzidos por autoras afrodescendentes adentram outros territórios linguístico-culturais. Apoiaremos as observações em autores/as como Behrouz Karoubi e Lori Chambarlain, buscando costurar observações sobre a prática tradutória, a representação do sistema no qual o gênero está inserido e o peso ideológico das escolhas feitas. JOGO DOS BICHOS E POESIA NEFELIBATA: EM TORNO DE UMA SÁTIRA DE OLAVO BILAC Alvaro Santos Simões Junior (UNESP/CNPq/FAPESP) Pretende-se nesta palestra analisar e interpretar o texto “Um poema”, publicado por Fantasio, pseudônimo de Olavo Bilac, na Gazeta de Notícias em 5 de abril de 1895. No interior do texto, encontra-se transcrito um poema que se atribui a Jaime de Ataíde, pseudônimo com que o poeta parnasiano assinou, juntamente com Carlos Magalhães de Azeredo, o romance Sanatorium, publicado de 11 de novembro a 12 de dezembro de 1894 no jornal já mencionado. Os versos zombam de João Batista Viana Drummond, o barão de Drummond, inventor do jogo do bicho, que poucos dias antes perdera contrato com o Prefeitura, o que inviabilizaria a manutenção das atividades do Jardim Zoológico por ele dirigido. No entanto, o poema, além de sátira, é também uma paródia, como faz questão de insinuar Fantasio ao apresentá-lo: “São versos sugestivos, que lembram a nova maneira de Guerra Junqueiro no volume dos Simples.” Como se procurará demonstrar, as afiadas farpas da paródia não se dirigiam apenas ao poeta português, mas também ao brasileiro Cruz de Sousa, que publicara os seus Broquéis um ano e oito meses antes. Talvez esse fosse um dos episódios da surda batalha entre parnasianos e simbolistas no entresséculos. A poesia e a crítica (notas sobre alguns poetas e poemas contemporâneos) Pablo Simpson (UNESP/ São José do Rio Preto) Esta comunicação tem como objetivo percorrer alguns livros de poetas brasileiros contemporâneos, como Marília Garcia, Marcos Siscar, Pedro Marques, Érico Nogueira e Ricardo Domenecq, a partir do questionamento de uma espécie de permeabilidade que essa poesia instaura com relação a diferentes discursos críticos, assumidos pelos próprios poemas. Trata-se de investigar um modo de manifestação daquilo que Marcos Siscar apontou recentemente como um “discurso da crise” (Poesia e Crise, 2010), menos pelo viés de um desprestígio ou anacronismo da poesia, frente aos quais ela responderia, tanto quanto a literatura, pela encenação de um sacrifício ou por uma “experiência exemplar do colapso” (idem, p. 52), desde Baudelaire e Mallarmé, do que pelo apelo a uma capacidade crítica, de “constituir-se como discurso sobre a verdade”, como no poema “Wille zur Wahrheit” de Pedro Marques (Clusters, 2010, p. 36), menção a uma “vontade de verdade” e referência ao Zaratustra de Nietzsche, ou como em Marília Garcia, cujo livro Um teste de resistores traria em seu poema final, em diálogo com Célia Pedrosa, mencionada textualmente, uma resposta à pergunta “a poesia é uma forma de resistência?” (2014, p. 116). Catálogo dos mortos: a cultura latino-americana contemporânea e os inventários do horror Gustavo Silveira Ribeiro (UFBA) O texto procura compreender, a partir da obra de quatro escritores e artistas específicos (o argentino Juan Carlos Romero, o chileno Roberto Bolaño e os brasileiros Nuno Ramos e André Vallias), a presença e os significados que os inventários, os catálogos e as listas assumem na cultura latino-americana das últimas décadas, em especial a ligação que esses elementos mantêm com a reflexão sobre a violência que atravessa, enforma e constitui parte significativa dessa mesma cultura. Trata-se, quem sabe, de um processo de apropriação e ressignificação formal, uma vez que, à parte todas as diferenças discursivas e históricas que se pode apontar, a presença de listas e enumerações era já marcante na cultura da América Latina dos séculos XVIII e XIX, especialmente na literatura produzida por colonizadores e viajantes que, percorrendo os vastos territórios do continente procuraram registrar tudo o que viam e imaginavam por meio de inventários narrativos do exótico e do desconhecido, do maravilhoso e do estranho que se encontrava nesse novo mundo que, da sua perspectiva, quedava por conquistar e cartografar. No âmbito contemporâneo, entretanto, o que se vai observar é mais do que apenas uma tendência estética (que de resto não é exclusiva ao contexto em questão), mas uma (re)invenção política da linguagem, a emergência de outras listas, agora verdadeiros inventários do horror: diante do insuportável da violência, do esquecimento e da morte que se espalham, a arte e a literatura elaboram os seus catálogos da dor e da revolta, criando formas narrativas e expositivas baseadas na repetição e na acumulação, em textos que vão participar, reencenando-a como um ritual fúnebre ao mesmo tempo individual e coletivo, da infinita tarefa da memória e do luto. Serão comentados, em particular, as seguintes obras: as instalações Violencia (1977/2011), de Romero, e 111 (1992), de Ramos; o romance 2666 (2004) de Bolaño, e o poema visual Totem (2013) de Vallias. Pensando nuestras culturas: procesos de formación Ana Pizarro (Universidade do Chile) Una nueva mirada a la conformación de nuestras culturas brasileña e hispanoamericana así como caribeña nos llevan a diferentes observaciones respecto de los elementos y procesos que las constituyen así como de los movimientos con que ellas adquieren su perfil. Nuestra indagación privilegia la multiplicidad en una valoración propia de la modernidad tardía.Esto nos lleva a una revisión de la noción tal vez demasiado utilizada de "transculturación", que consideramos un hallazgo en su momento, que fue un concepto bastante productivo, pero también proclive a la simplificación explicativa de fenómenos mas complejos. Hoy poseemos nuevas perspectivas, que nos llevan a su revisión. COMUNICAÇÕES Átila Silva Arruda Teixeira TITULO: SERTÃO E MODERNIDADE EM HUGO DE CARVALHO RAMOS E BERNARDO ÉLIS RESUMO: A representação do sertão na literatura brasileira é marcada por construções antitéticas: ora ele é apresentado como lugar de homizio, ora como uma espécie de paraíso perdido. Figurando sempre como um espaço singular, exótico, o sertão pertencia geograficamente ao país, mas a ele não estava organicamente integrado. Iniciado no período colonial, através dos textos dos cronistas e dos viajantes que se aventuraram pelo interior do país, essa tradição prolonga-se no Brasil Império, com a Corte assumindo o olhar inventariante da antiga metrópole e chega até o limiar do período republicano. Entretanto, nos primeiros anos do século XX, principalmente após a publicação de Os sertões, de Euclides da Cunha, em 1902, essa região passa a ser paulatinamente considerada não pelo viés do estranho, do insólito, mas sim como desprovida das condições básicas de sobrevivência e cerne de uma “brasilidade”. A proposta dessa comunicação é perquirir como dois dos maiores escritores da literatura brasileira produzida em Goiás, Hugo de Carvalho Ramos (em Tropas e boiadas, de 1917) e Bernardo Élis (em Ermos e gerais, de 1944), rompem com a visão estereotipada do sertão e esteticamente representam a organicidade desse espaço e da sociedade goiana nele instalada, concomitantemente à denúncia das precárias condições de vida do sertanejo. Se o primeiro constrói uma linguagem literária que evidencia a transição artística existente no início do século XX para retratar uma região ainda integrada ao ciclo do gado, com patrões e vaqueiros em aparente harmonia, o segundo configura sua obra se valendo das conquistas estéticas do primeiro momento modernista de 1922 e revela as contradições do processo de modernização desse espaço, metonimicamente exemplada no maquinário nele inserido, reorganizando as estruturas sociais do sertão de Goiás. PALAVRAS-CHAVE: Sertão e Modernidade; Hugo de C. Ramos; Bernardo Élis. Ângela Beatriz de Carvalho Faria TITULO: "O DESEJO DA EXPERIÊNCIA DESMESURADA DO OBSCURO E DO AUSENTE", EM 'A DAMA E O UNICÒRNIO', DE MARIA THERESA HORTA RESUMO: As reflexões filosóficas presentes nos ensaios "Artepensamento" (Org. Adauto Novaes), em "O que vemos, o que nos olha"; "A imagem sobrevivente: história da arte e dos fantasmas de Amy Warburg", de Georges Didi-Huberman e em "Histórias e fantasmas para gente grande", de Amy Warburg iluminam o caminho crítico da Comunicação proposta e nos permitem estabelecer um diálogo com a poesia de Maria Theresa Horta, "A Dama e o Unicórnio", pontuada pela música profana de António Sousa Dias (CD incluído no livro) (Portugal: Publicações Dom Quixote, 2013). O fascínio causado pela contemplação da série de tapeçarias medievais, expostas no Musée de Cluny, levam a autora, no viés de Diderot, a "levantar a ponta de um véu e mostrar aos homens um lado ignorado ou antes esquecido do mundo que habitam". Ao deparar-se com diferentes formas de expressão (gestos, desenhos,lãs, fios, linhas e cores), reproduzidas no espaço textual, a poeta procura, através de palavras, ir além do que vê e desnudanos a realidade oculta do pensamento das personagens revisitadas, pleno de promessas recônditas, deslizantes e eróticas, o que a leva a indagar: "A Dama seduz/Ou o Unicórnio entrega-se?"; "No jogo da sedução/Quem usa a taça e a seta?" Manifesta-se, assim, um processo de apropriação de uma imagem sobrevivente e luminosa do passado que virá a ser ressemantizada no presente da escrita. "Formas e linguagens, que se apresentam no domínio da exterioridade" "O bordado dos vestidos/com motivos/de romã" "de rubi e ritual" - "remetem ao domínio da interioridade, aos movimentos e paixões da alma" - "cabem sonhos desavindos/os desejos calcinados/os prazeres não resguardados". O caráter do engrama (memória social coletiva metamorfoseada) refletirá a articulação do dionisíaco com o apolíneo. PALAVRAS-CHAVE: A Dama e o Unicórnio; Maria Theresa Horta; Imagem sobrevivente. Ângela Maria Dias TITULO: LIMIARES E PARADOXOS ENTRE IMAGEM E TEXTO: A ESTÉTICA DE VALÊNCIO XAVIER RESUMO: A estética de almanaque concebida pela obra de Valêncio Xavier, em sua intrigante bricolage de imagens e palavras, experimenta uma espécie de clímax, na última coletânea publicada pelo autor em vida, Rremembranças da menina de rua morta nua e outros livros, de 2006. Nela a inusitada combinação entre desenhos e ilustrações recolhidos em fontes diversas, acrescida de fotografias de variada autoria, para a criação de histórias curtas e surpreendentes, causa certa perplexidade no leitor, colhido pela rede intersemiótica de correlações entre os escritos minimalistas, de feitio e fonte bastante diversificados, e o aparato visual, capaz de incluir também, materiais ínfimos e cotidianos, desde recortes de jornal sensacionalistas, até embalagens e pornografia. O formato alegórico do conjunto de relatos, em suas “combinações de visível e legível”, na medida em que “o visível tem sua leitura”, assim como “o legível tem seu teatro” (Deleuze, 1991, p. 187), convoca o leitor ao trabalho incerto da interpretação, dificultada pelo caráter risível e pelo o nonsense de determinadas passagens, urdidas entre sensacionalismo obsceno e alusividade melancólica. A presente comunicação se propõe a examinar o trânsito entre as ilustrações e o texto, em sua complexidade alusiva, e caracterizar a rede de contrastes e conexões, entre semelhanças e estranhamento que tal intercâmbio produz. PALAVRAS-CHAVE: alegoria; rede intersemiótica; limiar. Aída Maria Jorge Ribeiro TITULO: ESCRITAS DE SI: O PAPEL DA MEMÓRIA RESUMO: Escritas de si: o papel da memória. Aída Maria Jorge Ribeiro (UFF/IFF) Ao considerar o caráter psicológico da memória, é automática a ideia de que se “lembrar” de algo requer a existência de um acontecimento e de um ator. A atriz aqui é a escritora antilhana Maryse Condé que, em Victoire, les saveurs et les mots (2006), transforma os rastros memoriais de sua avó, sociais, coletivos em escrita pessoal, individual; em La vie sans fards (2012) e em Le coeur à rire et à pleurer (1999), mistura sua vida a eventos históricos marcantes nas Antilhas, França e países da África; Condé constrói sua identidade através de um processo que mescla experiências vividas e vivências interiores, mas para isso é preciso lembrar-se. Espera-se alcançar diálogos frutíferos em torno da intricada relação entre a memória e a literatura de onde decorre a confusão deliberada entre o romanesco e os índices do real, com referências diretas à “pessoa física” da autora, onde o gesto literário se mostra não para dizer dele, mas da prática que o define. Segundo Philipe Lejeune, “essa zona ‘mista’ é muito freqüentada (...) muito propícia à criação” (LEUJENE, 2008, p. 108); a construção narrativa, enquanto encenação ficccional da memória da narradora, admite para si – justamente por essa ambiguidade – a liberdade inventiva da escritora, que com seu gesto preenche os silêncios, delineia as imprecisões, preenche os buracos. Referências bibliográficas CONDÉ, Maryse. . La vie sans fards. Paris: J.C. Lattès, 2012. ______________. Le coeur à rire et à pleurer. Paris: Robert Laffont, 1999. _____________.Victoire, les saveurs et les mots. Paris: Mercure de France, 2006. HALBWACHS, Maurice. Memória coletiva. Tradução Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro, 2006. LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: de Rousseau à internet. Tradução de Jovita Maria Gerheim Noronha e Maria Inês Coimbra Guedes. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008. Aïcha Agoumi de Figueiredo Barat TITULO: TRAÇOS DE NEGRITUDE: POÉTICAS E REPRESENTAÇÕES DO NEGRO EM CAPAS DE DISCO DA MÚSICA BRASILEIRA (1960-1980) RESUMO: A música, no Brasil, age como uma das mais fortes e abrangentes expressões da cultura, e o disco é ponto inicial e crucial no processo de comunicação do artista com o grande público. A partir dos anos 60, vemos como a questão negra penetra a obra musical de vários artistas brasileiros e passa a ser exposta nas capas de seus discos. Ao pensar a diáspora negra, vemos que se constitui um repertório comum de referências – passadas, presentes e futuras – que levam os africanos e seus descendentes a constituir uma identidade e uma plasticidade próprias, que provêm da memória e da identificação com o ancestral e o contemporâneo. Assim, predominam significantes derivados de experiências e memórias de escravidão, colonialismo, exílio, exclusão racial, práticas religiosas e legados africanistas que contribuem não só para a elaboração de um imaginário,mas também para a construção de uma identidade, de um Brasil negro. Para pensar o diálogo destes objetos com a africanidade e suas representações, usarei Stuart Hall (2001) e o que chama de “repertório cultural negro”. Tomarei como exemplo diversos casos nos quais a capa cristaliza tanto uma poética própria quanto uma mise-en-scène corporal do artista negro. Quando em cena, o corpo é superfície de inscrição e potência de encenação, e é dotado de um compromisso ético-estético. Por carregarem fortes simbologias e mitologias, as capas tornam-se obra de um pensar e fazer artístico. Para além de serem simples invólucros de discos, é interessante notar como elas são terreno fértil para a expressão de uma africanidade enquanto parte de um projeto musical maior e como se apropriam de fortes símbolos, construindo mitologias (Barthes, 2003) e identidades e dialogando com o mercado fonográfico. PALAVRAS-CHAVE: capa de disco; diáspora; representação. Adeítalo Manoel Pinho TITULO: A CRÍTICA LITERÁRIA HOJE: DESAFIOS TEÓRICOS CONTEMPORÂNEOS ENTRE LITERATURA DE JORNAL E DIVERSIDADE CULTURAL RESUMO: No Brasil, a literatura sempre esteve relacionada ao jornal. Tanto os textos de literatura foram publicados e divulgados nas páginas grandes, quanto os poetas e romancistas exerceram alguma atividade no ambiente periódico. Este trabalho propõe apresentar questões relacionadas ao estreito vínculo entre estas duas atividades. Para tanto, recortaremos as atividades em alguns periódicos contemporâneos, como A Tarde, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, etc. Tais atividades serão confrontadas com discussões teóricas contemporâneas ligadas ao estudos literários e aos estudos de periódicos. As seguintes questões serão emitidas: O periódicos ainda é local para criação e divulgação de literatura? Que gêneros e tipos de literatura ainda são encontrados em suporte periódico? A crítica literária ainda exerce papel relevante em ambiente periódico? As emergências de diversidades culturais foram capazes de modificar a literatura feita em periódico? Serão estudados pesquisadores da competência de Regina Zilberman, Maria Eunice Moreira, Hugo Hachugar, Antonio Dimas, Heidrun K. Olinto, João César Castro Rocha, Luis Bueno, Siegfried Schmidt, Itamar EvenZohar, Etore Finaze Agró. Esta proposta de trabalho faz parte das atividades do projeto ‘A nova história da literatura: teorias contemporâneas e meios periódicos’, que por sua vez está vinculado ao projeto maior Escritas contemporâneas: desafios teórico-críticos (PROCAD/CAPES PUCRio, UEFS, UNEB, PUC-Goiás). PALAVRAS-CHAVE: Literatura contemp.; Literatura de Jornal; História literatura. Adolfo José de Souza Frota TITULO: A NATUREZA E O SENTIDO DE ESPAÇO EM THE MAN WHO RODE MIDNIGHT , DE ELMER KELTON E GOODBYE TO A RIVER, DE JOHN GRAVES RESUMO: O projeto de pesquisa pós-doutoral tem como proposta central o estudo comparativo de dois romances norte-americanos: Goodbye to a River, de John Graves e The Man Who Rode Midnight, de Elmer Kelton. Com base nas pesquisas do New Western History e da ecocrítica, o projeto discute a concepção de natureza por esses dois autores, preocupados com as transformações que estavam ocorrendo no Texas, na segunda metade do século XX. A contraposição ao desenvolvimento tecnológico, que acelera a destruição dos recursos naturais, se torna o principal argumento de defesa ambiental dos dois romancistas na elaboração das narrativas e na construção de um discurso ecológico voltado para a criação de um sentido de espaço, onde homem explora, de forma equilibrada e sem prejuízo, a natureza à sua volta. PALAVRAS-CHAVE: New Western; Ecocrítica; Espaço. Adriana Carolina Hipolito de Assis TITULO: OLHARES: A VANGUARDA DUCHAMPIANA COMO TRADUÇÃO DO CORPO RESUMO: O olhar anuncia para além do campo fenomenológico a crítica e a arte como tradução. O corpo estético vanguardista de Marcel Duchamp ganhou mundialmente força ao reatualizar a tradição poética com ironia, com paródia, com pastiches retirados de seus espaços habituais. O museu perde a aura e a arte se reconstrói como réplica da grande comédia da vida privada. O olhar se virtualiza diante da vitrine, do Carrefour de colagens, todos (clássico e popular) enfileirados na mesma prateleira: Bombril vendido por Monalisa. O olhar do ensaísta mexicano Octávio Paz, assim como da poesia concreta, sobre esse contexto é um olhar que buscou traços de semelhança com a vanguarda duchampiana com intuito de marcar a crítica e a poética latina dentro da ruptura dos readymade como proposta de liberdade e de transgressão estética. Octavio Paz. Poesia Concreta. PALAVRAS-CHAVE: Octavio Paz; M. Duchamp; Poesia Concreta. Adriana da Costa Teles TITULO: FLUXOS E TRÂNSITOS MACHADIANOS: REPERCUSSÕES DE DOM CASMURRO NA CONTEMPORANEIDADE RESUMO: Machado de Assis criou, em Dom Casmurro, uma das maiores representações, na literatura brasileira, de um amor envolvente, mas permeado pelo ciúme, um sentimento que escraviza e, em certo sentido, destrói a vida dos envolvidos. A mulher amada, como a própria vida, é enigmática e incompreensível e o narrador, distanciado cronologicamente dos fatos e diretamente envolvido com eles, planta a dúvida e faz com que o leitor renuncie à postura de testemunha crédula. Dom Casmurro ocupa um lugar privilegiado no cânone literário brasileiro, disponível aos escritores contemporâneos, que, consciente ou inconscientemente, muitas vezes dele se valem para representar as torturas de um amor que é felicidade e perdição, dando continuidade a uma tradição de amores interrompidos e da figura feminina apaixonante e ambígua. O objetivo dessa comunicação é discutir algumas repercussões desse romance de Machado na atualidade. Para tanto, selecionamos duas narrativas que exploram temática de alguma maneira semelhante à que vemos em Dom Casmurro, que são Leite derramado (2009), de Chico Buarque, e Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios (2005), de Marçal Aquino. Falaremos, também, ainda que de passagem, dos chamados “textos de homenagem” ao escritor, publicados em Capitu mandou flores (2008). O foco de nossa discussão será justamente a representação de um amor que perturba e acaba por despedaçar a vida dos envolvidos. PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; Literatura Comparada; Contemporâneo. Adriana de Fátima Barbosa Araújo TITULO: UM ESTUDO DE CONTO BARROCO OU UNIDADE TRIPARTITA: A APROXIMAÇÃO ENTRE ESTÉTICA E BASE SOCIAL RESUMO: Esta comunicação busca estudar as relações entre estética, história e política na narrativa Conto Barroco ou Unidade Tripartita, do livro Nove, Novena, publicado, por Osman Lins, em 1966. A história contada e a forma de contar a história entram numa sintonia tão bem afinada e brilhante, cheia de dourados e brilhos que provocam ao mesmo tempo um encantamento e também um choque (interação dos contrários própria do barroco) causado pelo teor de violência social envolvida na matéria narrada. Nossa proposta é estudar algumas das mediações que podem ser pensadas a partir do todo narrativo – o um só do texto em que seus muitos fios tramam de maneira genial conteúdo e forma. Estão presentes, na narrativa, processos artísticos do barroco mineiro e resquícios sociais do período colonial brasileiro, vividos no destino dos personagens e concretizados na forma narrativa. Há elementos na composição que provocam uma reflexão sobre o racismo e a exclusão do povo pobre e negro especialmente o lugar da mulher negra na sociedade, assim como a ausência do estado o que caracteriza uma comunidade sem lei. Com relação à estética barroca, a organização narrativa estabelece uma multiplicidade de planos trazidos para uma frontalidade no modo de narrar que se materializa na justaposição num mesmo plano de fases e acontecimentos tripartitos. A ideia é explicar por meio do estudo dos elementos compositivos como foi realizada a interação de elementos estéticos, históricos e políticos, pois na composição artística da narrativa não há apenas um retorno à estética do barroco, mas também ao escravismo, ao clientelismo e ao patriarcalismo coloniais presentes na base social sobre a qual o Barroco se desenvolveu em Minas Gerais e muito presentes na sociedade da década de 1960 e na nossa atualidade. Não é à toa que a história acontece em Congonhas, Ouro Preto e Tiradentes. PALAVRAS-CHAVE: Osman Lins; Barroco; Estética e Política. Adriano da Rosa Smaniotto TITULO: LEMINSKI E A DIVERSIDADE: ALGUNS ASPECTOS VALORIZAÇÃO DA CULTURA NEGRA PRESENTES EM SUA OBRA DE RESUMO: Este trabalho pretende aproximar a obra de Paulo Leminski às discussões recentes presentes na literatura ibero-americana, principalmente no que diz respeito à valorização de elementos da cultura negra. Sabe-se que o poeta escreveu vários poemas valorizando a mestiçagem, a fusão de culturas e símbolos. Além disso, sua bagagem cultural é marcada pela reunião de vários aspectos: ascendência polonesa por parte de pai; negra por parte de mãe; formação eclesiástica na adolescência; aproveitamento da tradição japonesa por meio do haicai e do judô; além do vasto conhecimento de outros idiomas e saberes. Este saber eclético e diversificado do ponto de vista cultural propicia uma poética marcada pela diversidade e pelo relativismo, construídos por meio da mistura de elementos aparentemente não conciliáveis como o saber erudito e a linguagem coloquial, o tom de vanguarda e a influência pop, a síntese vocabular e o prosaico, ou ainda, a poesia e as outras artes. No intuito de caracterizar esta mestiçagem, são comuns expressões como a cunhada por Leyla Perrone-Moisés, "Samurai Malandro", ou mesmo, "O bandido que sabia latim", esta escolhida por Toninho Vaz para a biografia de Leminski. Desse modo, o objetivo é analisar poemas em que se faça menção à questão afrodescendente, ou mesmo, aqueles em que a cultura negra seja valorizada de forma sutil. Pode-se pensar, ainda, num tratamento da questão da negritude ainda pouco explorado, bem como numa presença de fundo do elemento negro no repertório leminskiano. Por fim, a própria biografia que Leminski escreve de Cruz e Sousa, aponta para uma valorização por parte do poeta da cultura afro e propõe o devido lugar que a poesia e a diversidade ibero-americana requerem. PALAVRAS-CHAVE: Paulo Leminski; Poesia Negra; Literatura Ibero-Ame. Adriano Lima Drumond TITULO: JOSÉ GUILHERME MERQUIOR E A PEDAGOGIA DA POLÊMICA RESUMO: Na ampla maioria dos textos dedicados seja a compreender o pensamento de José Guilherme Merquior (1941-1991), seja a noticiar as recentes edições de sua obra, o que se verifica é a recorrência de o considerarem um notório polemista. Com efeito, a imagem merquioriana ainda hoje, quase 25 anos após a morte do autor de "Saudades do carnaval", é associada a polêmicas travadas, sobretudo, em jornais e revistas, assim como a uma postura ideológica e a envolvimentos políticos que configuraram, no imaginário de muitos, um homem polêmico. Nossa comunicação objetiva abordar aspecto diferente da polêmica em Merquior, desviando-se de registros biográficos ou anedóticos em torno desse crítico das ideias. A proposta é de compreender as características discursivas de sua obra, que, plasmada via de regra em forma ensaística e marcada pela discussão de grandes nomes e correntes do pensamento da segunda metade do século XX, num verdadeiro afã de diálogo e de circulação das ideias, resultaria no que pretendemos denominar de pedagogia da polêmica. Isto é, o fim último da polêmica como estruturação da escrita merquioriana não consistiria em argumentar em favor de uma suposta verdade única, mas em, pedagogicamente, condicionar e estimular debates que poderiam aprimorar o conhecimento científico. PALAVRAS-CHAVE: Merquior; Polêmica; Pedagogia. Afonso Teixeira Filho TÍTULO: AS TRADUÇÕES DE PARADISE LOST RESUMO: De agosto de 2013 a agosto de 2014, realizamos na Katholieke Universiteit Leuven, Bélgica, uma pesquisa bibliográfica com o propósito de identificar as traduções existentes do poema heroico de John Milton, Paradise Lost. Identificamos 230 traduções para 36 línguas. A maior parte delas foi feita no século XIX, quando houve uma revitalização de Milton pelos românticos. O interesse pelo autor e seu poema decaiu no século XX, mas voltou a crescer nos últimos anos. Esse crescimento se deve não tanto a um renovado interesse pelo autor, nem ao crescimento do mercado editorial, mas a um interesse pela disciplina da tradução. Traduzir Milton é um desafio, e o desafio tornou-se motivação para os tradutores contemporâneos, sobretudo devido ao surgimento da Tradutologia ou Estudos da Tradução. O interesse dos tradutores contemporâneos por Milton e pelo Paradise Lost deve-se, em parte, ao ensaio de Antoine Berman, “Chateaubriand traducteur de Milton”, ensaio que trata da tradução do Paradise Lost feita pelo romântico francês François-René de Chateaubriand. Berman define a tradução de Chateaubriand como uma retradução, ou seja, uma tradução que é feita quando já existem outras traduções da mesma obra, mas traduções que serviram apenas para tornar a obra conhecida entre os leitores de sua língua. A retradução passa a servir de crítica a outras traduções e ao próprio original e passa a valer como referência para todas as outras traduções a serem feitas. A retradução é sempre uma tradução literal, a qual Berman define como uma tradução que procura traduzir o maior número possível de elementos: poéticos (assonâncias, aliterações, metáforas, rimas, número de sílabas, etc.), semânticos e sintáticos. Para este XIV Congresso Internacional da Abralic, procuraremos mostrar em que sentido evoluíram as traduções do poema de Milton no decorrer dos séculos; em que medidas foram influenciadas pelas ideologias da época em que foram feitas, pelas escolas literárias, pelas novas técnicas e conceitos de tradução e pelo crescimento do mercado editorial. Agnaldo Rodrigues da Silva TITULO: ENTRE LITERATURA, TEATRO E CINEMA: O POEMA TRADUZIDO PARA OUTRAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS RESUMO: O cinema é uma manifestação cultural que pressupõe a arte da representação e do espetáculo, aspectos inerentes à literatura e ao teatro, respectivamente. As relações entre a literatura, o teatro e o cinema são históricas, pois elas apresentam, em vários momentos, uma intersecção que constrói laços de continuidade sobre determinado tema. O cinema é uma ciência, cujo produto atinge um grande público, pois o filme popularizou-se pela televisão, atingindo um número significativo de espectadores. O teatro e o cinema recorreram diversas vezes à literatura para gerar a ideia fundadora de seus roteiros, pois muitas peças foram adaptadas de narrativas ou poemas, do mesmo modo como filmes foram resultados de traduções de obras literárias. Para discutir este tema, vamos tomar como corpus o filme “O vestido” (2003), dirigido por Paulo Thiago, com roteiro de Haroldo Marinho. Trata-se de uma obra cinematográfica baseada no poema de Carlos Drummond de Andrade, intitulado "Caso do vestido". O poema de Drummond apresenta características teatrais que criam a dinamicidade das cenas, com diálogos não muito comuns em textos poéticos. Nessa direção, o filme e o poema serão confrontados, sob a perspectiva dos estudos literários, teatrais e cinematográficos, a fim de investigar a ideia de adaptação e tradução, a partir da transposição de uma arte para outra. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Teatro; Cinema. Agnes Danielle Rissardo TITULO: O ENIGMA DA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA NA FRANÇA: RECEPÇÃO, VISIBILIDADE E LEGITIMAÇÃO RESUMO: A atual década tem sido decisiva para o estabelecimento de uma política de exportação da literatura brasileira. Pouco difundidas no exterior até cinco anos atrás, as obras ficcionais de nossos autores contemporâneos vêm ganhando espaço no mercado editorial internacional, impulsionadas pelas bolsas de tradução concedidas pela Fundação Biblioteca Nacional. Com o crescente número de obras traduzidas e publicadas por editoras estrangeiras, a presença dos próprios autores em grandes eventos literários internacionais, sobretudo aqueles que tiveram o Brasil como país homenageado – a Feira do Livro de Frankfurt (2013) e o Salão do Livro de Paris (2015) –, veio reforçar a estratégia de conquista de uma maior visibilidade literária no exterior. Ainda desconhecidos do grande público na França, pode-se dizer que, ao menos no meio acadêmico e na mídia local daquele país, tais autores avançam na luta por legitimar o seu lugar no espaço literário mundial. A partir dos pressupostos de visibilidade literária pensados por Pascale Casanova e Franco Moretti em torno da língua e do espaço geocultural, e de questões de legitimação e luta pelo reconhecimento dentro do espaço literário com teóricos como Jacques Rancière e Axel Honnet, propomos uma discussão sobre o enigma da recepção da literatura brasileira contemporânea na França: de um lado, os escritores-chave de um cosmopolitismo exportável, cujas ficções ambientadas em um “local deslocado” representam um novo momento de uma literatura que se quer cosmopolita. De outro, autores que, de certa forma, atualizam o imaginário europeu sobre a violência urbana e a favela no Brasil. Que características unem ou diferenciam Luis Ruffato, Tatiana Salém Levy, Paloma Vidal, Adriana Lisboa, Ferréz, Paulo Lins e Milton Hatoum, entre outros autores, todos recentemente publicados em francês e participantes de debates este ano no Salão do Livro de Paris e nas universidades Sorbonne Paris 3 e Paris 4? E o que, efetivamente, esperam o leitor e a crítica francesa da literatura brasileira? PALAVRAS-CHAVE: Recepção no exterior; Legitimação; Espaço literário. Aiana Cristina Pantoja de Oliveira TITULO: A PROSA ALEGÓRICA DE HAROLDO MARANHÃO RESUMO: “Os cacos da vida, colados, formam uma estranha xícara”. O presente verso de Carlos Drummond de Andrade antecede as páginas de A estranha xícara, primeiro livro de Haroldo Maranhão, escritor paraense. A epígrafe tem consonância com o fazer literário pós-modernista, onde o autor articula uma prosa alegórica que torna presente o duplo. Irrompendo recorrentemente a cena, a personagem que se assemelha a outra, alude ao caráter provisório da identidade na pós-modernidade. Como consequência das limitações artísticas provocadas por essa nova fase de expansão do capital, a obra haroldiana ainda desconstrói textos da tradição literária e da historiografia oficial e os remonta como um puzzle em suas formas e conteúdos semânticos. A técnica, que atinge seu auge em Memorial do fim: a morte de Machado de Assis e em O tetraneto Del-Rei, aponta a desolação da arte literária devido à perda de seu caráter aurático e insere a obra de Haroldo Maranhão no trabalho de luto da ficção latino-americana que busca alternativas para a sobrevivência da literatura na conjuntura cultural pósmoderna. PALAVRAS-CHAVE: Pós-modernismo; Alegoria; Identidade. Alan Victor Flor da Silva TITULO: O NATURALISMO NO BRASIL SOB SUSPEIÇÃO RESUMO: O Naturalismo no Brasil foi um estilo literário relegado a um lugar periférico no âmbito da História da literatura brasileira. Enfáticos em seus comentários e muitas vezes sem eufemismos ou cordialidades, os críticos, de modo geral, não pouparam esforços a fim de estigmatizá-lo, pois não perdoaram o modo como os romances escritos à maneira naturalista foram idealizados pelos nossos romancistas brasileiros. A descrição minuciosa das relações sexuais e das cenas de obscenidades entre as personagens, a falsificação da arte e a má assimilação do modelo naturalista francês foram alguns dos principais argumentos utilizados pela crítica para depreciar esse estilo literário do final do final do século XIX. O Naturalismo no nosso país, no entanto, foi avaliado quase exclusivamente pela perspectiva das obras e da crítica literária. O nosso objetivo, portanto, é construir um diálogo a partir do olhar não apenas dos críticos, mas também dos próprios romancistas acerca da estética naturalista. Para analisarmos o ponto de vista desses escritores, tomaremos como base fontes primárias, como os prefácios que esses ficcionistas escreveram para suas próprias obras e os artigos jornalísticos que publicaram em periódicos que circularam pelas mais diversas províncias do território brasileiro. Sobre a instância da crítica, consideraremos sobretudo os julgamentos de José Veríssimo, Sílvio Romero e Araripe Júnior, pois foram esses os principais críticos que escreveram sobre o nosso Naturalismo durante sua vigência. Assim, poderemos oferecer não apenas uma reflexão, mas também uma visão mais ampla acerca desse período literário que teve grande repercussão no nosso país entre os leitores, os críticos e os romancistas. PALAVRAS-CHAVE: Naturalismo; Crítica literária; Romance naturalista. Alberione da Silva Medeiros TITULO: DAS MARGENS DO EXPERIMENTAL À RELAÇÃO ENTRE VANGUARDA E CULTURA DE MASSA NOS POEMAS DE MOACY CIRNE RESUMO: O Poema/Processo é um movimento de vanguarda que surgiu de um grupo de estudiosos da poesia concreta, na década de 60. Os poetas têm suas produções voltadas para a arte do experimental e revolucionário (anti) literário, em desfavor dos movimentos institucionalizados e acadêmicos da época. Participou de movimentos de massa, além dos ditos “marginais” em busca do Neoconreto - através de procedimentos semióticos de produção - advindos do pensamento do movimento vanguardista, numa premissa de relação direta com a cultura de massa, em que obras foram publicadas e exposições realizadas no Brasil e na América Latina. Diante disso, este artigo pretende desenvolver um estudo analítico dos poemas de Moacy Cirne (Poeta/Processo) em consonância com teorias que fudamentem as novas técnicas de produção apresentadas pelo poema/processo no seu manifesto em 1967. Entre os principais pontos discutidos aqui, enfatizaremos as analises dos poemas na ótica da Literatura Comparada, com o objetivo de encontrar relações hibrídas e análogas entre o marginal do Poema/Processo, as culturas de massa, e as inovações da produção poética de Moacy Cirne de encontro com teorias vanguardistas pós-modernas nas obras presentes na bibliografia e integrantes das análises dos poemas neste artigo. Palavras chave: Poema/Processo, Vanguarda e Cultura. PALAVRAS-CHAVE: Poema/Processo; Vanguarda; Cultura. Alberto Emiliano Mastache Ramírez TITULO: FILOSOFIA PARMÊNIDES COMO PERFORMANCE: UMA LEITURA DE RESUMO: Nesta comunicação, proporemos uma leitura de Parmênides com base nas funções da linguagem, tal como definidas por Roman Jakobson em celebre ensaio. Especialmente privilegiaremos a função performativa do discurso, buscando identificar uma contradição latente no "Poema" de Parmênides: ao mesmo tempo em que Parmênides afirma a filosofia como único caminho discursivo aceitável, a letra de seu texto não dispensa o que poderíamos denominar elemetnos performativos em sua elaboração. PALAVRAS-CHAVE: Filosofia; Performance; Discurso. Alcebiades Diniz Miguel TITULO: ENCENAÇÃO IMAGINÁRIA DO GRAND-GUIGNOL (O FANTÁSTICO E AS FÓRMULAS TEATRAIS NA FICÇÃO DE REGGIE OLIVER) RESUMO: Os discursos literários próximos ao fantástico possuem grande multiplicidade de possibilidades e estratégias. Entre outras estratégias uma das mais produtivas seria trabalhar com elementos obscuros, indiretos e inacabados, que levam à projeções imaginárias complexas. Nesse sentido, o uso do diálogo e da conversação estilizada em moldes teatrais e de uma descrição atmosférica e cenográfica surgem como poderosas ferramentas para a construção de um universo no qual a aparição do sobrenatural é possível. Trata-se daquilo que poderíamos denominar "grand guignol" imaginário, uma especialidade do autor britânico contemporâneo Reggie Oliver que consegue perscrutar, nas fraturas do discurso cotidiano, novas e temíveis possibilidades de se ultrapassar as fronteiras que demarcam o razoável, o lógico e o material. PALAVRAS-CHAVE: Fantástico; Encenação; Narrativa. Alcione Correa Alves TITULO: "HABLAR DE LAS ANCESTRAS": A MEMÓRIA COMO PROBLEMA TEÓRICO NAS LITERATURAS FEMININAS NEGRAS AMERICANAS RESUMO: Em prolongamento a uma trajetória já iniciada no II Congreso Internacional El Caribe en sus Literaturas y Culturas, este texto visa a, a partir do conceito de ancestra, tal como proposto pela escritora e ensaísta portorriquenha Yolanda Arroyo Pizarro em artigo no primeiro número da Revista Cruce, discutir o lugar da memória em escritas femininas negras americanas contemporâneas. A leitura do corpus partirá da hipótese do Caribe como prefácio às Américas, conforme o ensaio Introduction à une poétique du Divers (GLISSANT, 1996), apropriada de modo a pensar a obra de Arroyo Pizarro, especificamente seu romance Las negras (2012), enquanto prefácio a uma noção mais ampla de literaturas negras caribenhas, desde o lugar de uma escrita negra feminina. Esta pesquisa tem sido gestada no âmbito do Projeto de Pesquisa Teseu, o labirinto e seu nome, vigente no Mestrado em Letras da Universidade Federal do Piauí. PALAVRAS-CHAVE: memória; literaturas negras; prefácio. Alcir de Vasconcelos Alvarez Rodrigues TITULO: A FIGURA DO ESTRANGEIRO NOS ROMANCES CHOVE NOS CAMPOS DE CACHOEIRA E LINHA DO PARQUE RESUMO: O propósito fundamental deste trabalho é estudar o contexto narrativo no qual se insere a figura do estrangeiro nos romances Chove nos campos de Cachoeira e Linha do Parque, de Dalcídio Jurandir (1909-1979), enfocando mais de perto a tríade autor-narrador-personagem, com ênfase no “olhar daquele que narra” e as estratégias fabulativas que usa para tal. O autor, considerado como o Romancista da Amazônia, escreveu dez obras que compõem um ciclo romanesco, o Ciclo do Extremo-Norte, em que as ações dos personagens transcorrem ancoradas no espaço ficcional da Amazônia paraense (Marajó, Belém e Baixo Amazonas), nas décadas iniciais do século XX. Por ser o primeiro da série, Dalcídio chamou Chove nos campos de Cachoeira de “romance-embrião”, de onde desaguarão os outros nove, dele se nutrindo e amplificando e aprofundando as temáticas nele contidas. Linha do Parque compõe solitariamente o Ciclo do Extremo-Sul, romanceando a história de operários (marítimos, portuários, tecelãs, proletários em geral) no Porto do Rio Grande, sob encomenda do PCB, seguindo, de modo geral, os pressupostos do Realismo Socialista. Nesses dois corpora de análise, o interesse da pesquisa se volta para quem seria o estrangeiro (‘o outro’, o forasteiro, ‘o que vem de fora’). Em Chove nos campos de Cachoeira, é o Dr. Lustosa, latifundiário e político ganancioso, sedento pelas rédeas do poder. Já em Linha do Parque, trata-se de Iglezias, revolucionário anarquista espanhol, que deixou sua pátria para não ser perseguido, preso, torturado, ou assassinado, fixando-se no Rio Grande, em 1895, passando a ser uma das lideranças da União Operária. Referências Bibliográficas: JURANDIR, Dalcídio. Chove nos campos de Cachoeira: [apresentação Rosa Assis]. [Nova e definitiva ed.]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2011.JURANDIR, Dalcídio. Linha do Parque. – Edição especial−Santarém: Clube de Autores, 2013. KRISTEVA, Julia. Estrangeiros para nós mesmos. RJ: Rocco, 1994. PALAVRAS-CHAVE: Chove nos Campos de; Linha do Parque; estrangeiro. Alemar Silva Araujo Rena TITULO: DA MARGEM À MULTIDÃO, A CENTRALIDADE E O ÊXODO DOS POBRES RESUMO: Propomos nesse artigo refletir sobre as relações entre a produção linguística do pobre e as condições sociais dessa produção por um ângulo não ancorado ao dualismo margem/centro, mas ao conceito de multidão, de Hardt e Negri (2005). Em seu livro seminal sobre a literatura marginal contemporânea, Érica Peçanha (2009) nota que o termo "marginal" indica, por um lado, o conteúdo que tais obras "marginais" apresentam, e, por outro, a situação territorialmente periférica de seus autores. Todavia, se quando falamos da multidão falamos, conforme a proposta de Hardt e Negri, do pobre como expressão comum de toda a atividade criativa, "encarnando a condição ontológica não apenas da resistência, mas também da própria vida produtiva", precisamos reconhecer que o marginal não é de modo algum marginal em todos os sentidos, e por um certo ângulo configura-se como o próprio paradigma da riqueza comum, informando e conectando outras formas de resistência, dentro e fora da periferia. Propomos pensar os processos criativos detonados por esses agenciamentos periféricos como centrais e inspiradores por mobilizar uma produção linguística que não precisa ser "incluída" para se legitimar, que olha para o lado, mais do que para o alto ou para o centro, que se materializa e se legitima transversalmente e restitui a política à palavra. Esta atitude vai ao encontro do movimento de êxodo que, segundo Hardt e Negri, torna-se estratégia central de resistência diante daquele poder global e em rede que chamarão de Império. Buscar na comunidade o lugar do discurso, enquanto sentido e meio de sua realização, significa, em última instância, refutar o confronto direto ou mesmo o desejo por ocupar o espaço "público" e massivo da narração que, de maneira cada vez mais efetiva, pela engrenagem hegemônica do biopoder vampiriza, objetifica e mercantiliza a riqueza da multidão. PALAVRAS-CHAVE: multidão; comunidade; literatura marginal. Alessandra Brandão TITULO: DE AFETOS E VIAGENS: A CANÇÃO POPULAR NO FILME DE ESTRADA BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO RESUMO: Essa proposta pretende analisar a relação que o filme de viagem brasileiro contemporâneo estabelece com a música popular, buscando ressaltar a espessura histórica que as canções ensejam nesses filmes como construções de memória tanto coletiva quanto afetiva. Trata-se, pois, de pensar a potência da música - mais especificamente a canção popular - como geradora de ‘imagens' que se somam ou se sobrepõem - e mesmo extrapolam - àquelas que constituem o próprio aspecto visual dos filmes, estendendo-se, portanto, para além da dimensão diegética da narrativa fílmica. É no diálogo entre o dentro e o fora do filme que a música se expande e se contrai como imagens ondulantes que entoam uma simultaneidade de presente (o do filme) e passado (as vozes do rádio, por exemplo) dada nas canções que sobrevivem como afetos cantantes. São as vozes do passado (Gumbrecht) que ressurgem na experiência fílmica como fantasmas do rádio e das gravações em disco ressignificadas no cinema. Assim, no percurso de leitura de filmes como Terra estrangeira (1996), Cinema, Aspirinas e Urubus (2006) e Viajo porque preciso, volto por que te amo (2009), por exemplo, recorrese a uma visão de sobrevivência (Didi-Huberman e Warburg), em que a própria viagem da narrativa se confunde com a viagem da música no tempo. PALAVRAS-CHAVE: Filme de estrada; música populara; afetos. Alessandra da Silva Carneiro TITULO: SOUSÂNDRADE EM NOVA YORK: O CANTO X D’O GUESA E A PRESENÇA DO OURO RESUMO: Esta apresentação discutirá o Canto X do poema épico O Guesa, do poeta brasileiro Sousândrade (1832-1902). Focaremos as estrofes que antecedem e sucedem a passagem conhecida como O Inferno de Wall Street, que é ambientada na região da bolsa de valores de Nova York (NYSE). Os pesquisadores da obra de Sousândrade apontam que o Canto X critica o capitalismo do período da expansão econômica americana da década de 1870. Contudo, nosso objetivo é mostrar como essa suposta crítica ao capitalismo no referido Canto é relativa, uma vez que Sousândrade, nas passagens que discutiremos, também realiza o elogio ao ouro, que é metonímia de dinheiro. No poema sousandradino, a exaltação do capital nos Estados Unidos da segunda metade do século XIX parece afinar-se com o éthos protestante do trabalho e acúmulo material do qual nos fala Max Weber, pois para o poeta brasileiro o dinheiro fruto do trabalho árduo é bem- vindo, ao contrário dos ganhos oriundos de atividade que não figurassem como símbolo do labor dedicado a Deus, como jogos e apostas financeiras. Por isso os robber barons, que construíam suas fortunas em transações na bolsa de valores, são no poema associados ao mal e ao inferno (hell). Assim, é possível aproximar Sousândrade de autores americanos do mesmo período que escreveram sobre a NYSE conduzidos pela concepção puritana de pecado, que condenava o enriquecimento por meio de especulações e fraudes na bolsa de valores (Westbrook, 1980), como foi o caso de Edmund C. Stedman (1833-1908) no poema Israel Freyer’s Bid for Gold. PALAVRAS-CHAVE: Literatura Comparada; Sousândrade; Século XIX. Alex Martoni TITULO: MAGIA E TECNOLOGIA: RITMO, PERFORMANCE E O ESTUPOR DA CEGUEIRA EM “SÃO MARCOS”, DE GUIMARÃES ROSA RESUMO: Esta comunicação tem como objetivo refletir sobre a construção de ambiências na literatura a partir do conto “São Marcos”, de Guimarães Rosa. Por ambiências, aqui, não designamos as relações quase simbióticas entre personagens e espaços ficcionais, como a narratologia as consagrou, mas o modo como a dimensão material da literatura, em especial a sua prosódia, influi sobre as nossas modulações afetivas, nossas Stimmungen. Para Hans Ulrich Gumbrecht, ler com a atenção voltada às Stimmungen significa “prestar atenção à dimensão textual das formas que nos envolvem, que envolvem nossos corpos, enquanto realidade física” (GUMBRECHT: 2014, p.14). Desse modo, os sentidos que construímos ao longo da leitura de “São Marcos” não decorrem somente de operações de natureza hermenêutica, mas também do modo como a própria dimensão técnica do texto cataliza uma espécie de continuum, de afinação, entre o corpo da literatura – sua prosódia – e o corpo do leitor – seus afetos; tendo em vista que, como nos lembra Paul Zumthor, “Você pode ler não importa o quê, em que posição, e os ritmos sanguíneos são afetados” (ZUMTHOR: 2007, p.33.) Dentro dessa perspectiva, propomos pensar o ato da leitura como performance; isto é, como meio que consiga colocar em ação tudo aquilo potencialmente presente no texto de Rosa: o sotaque do norte de Minas, as variações entoacionais, a fala coloquial, a tonalidade irônica e as sugestões rítmicomelódicas. Assim, os efeitos da prática de feitiçaria não se constituem somente como o mote do enredo de “São Marcos”, mas também como resultado das operações técnicas empregadas por Guimarães Rosa para nos fazer imergir na ambiência do conto. A propósito, foi o próprio autor mineiro que afirmou, certa vez, que a importância de sua literatura se dá, sobretudo, no potencial que ela apresenta para deflagrar uma “sensação mágica” (UTÉZA: 1994, p.29) nos leitores. PALAVRAS-CHAVE : Leitura; Ritmo; Performance. Alex Santos Moreira TITULO: A CRÍTICA LITERÁRIA AOS ROMANCES CHOVE NOS CAMPOS DE CACHOEIRA, MARAJÓ E TRÊS CASAS E UM RIO NA IMPRENSA DO RIO DE JANEIRO RESUMO: Desprestigiada como modelo crítico, a crítica impressionista até a primeira metade do século XX dominou no Brasil o debate literário e sua atuação era hegemônica nos jornais, em revistas, semanários e suplementos literários. Sabe-se ainda que, durante muito tempo, ela foi a principal fonte de orientação dos leitores, revelando chaves de leitura, clareando enredos, interpretando personagens e além de tudo isso era também o ligamento vivo responsável pelo vínculo da obra com o leitor e da literatura com a vida cotidiana. Diante disso, este trabalho estuda as críticas literárias publicadas na imprensa da cidade do Rio de Janeiro acerca dos três primeiros romances do escritor paraense Dalcídio Jurandir (1909-1979). Mostraremos como as obras Chove nos Campos de Cachoeira (1941), Marajó (1947) e Três Casas e um Rio (1958), no seu contexto imediato de publicação, foram lidas pela crítica considerada impressionista. Com isso, pretendemos reconhecer como foram consolidados os sentidos acerca desses livros, elucidar os procedimentos críticos dos primeiros avaliadores de Dalcídio Jurandir e levantar hipóteses novas que auxiliem as novas leituras desses romances a irem além do que está posto pelo atual sistema crítico. PALAVRAS-CHAVE: crítica literária; Imprensa; Dalcídio Jurandir. Alexandre Bebiano de Almeida TITULO: "SENTIMENTOS FILIAIS DE UM PARRICIDA": UMA CRÔNICA DE MARCEL PROUST SOBRE OS DRAMAS FAMILIARES RESUMO: Na tarde de 24 de janeiro de 1907, Henri van Blarenberghe, um senhor de quarenta anos, engenheiro, membro do Conselho de Administração da Companhia "Chemins de Fer du l’Est", residente na rua Bienfaisance, no. 48, em Paris, matou a tiros sua mãe e suicidou-se. No dia seguinte, o caso vira notícia nos jornais. O episódio ocupa uma coluna na página três do "Figaro", recebendo aí a seguinte chamada: “Un drame de folie” [Um drama de loucura]. Outro quotidiano, "Le matin", de maior circulação, é menos contido e estampa em sua primeira página: “Il tue sa mère et se suicide” [Matou sua mãe e se suicidou]. Uma crônica que Marcel Proust redige para a primeira página do "Figaro", em 1o de fevereiro de 1907, comenta o drama passional que está na origem dessas notícias sensacionalistas. O artigo, “Sentiments filiaux d’un parricide” [Sentimentos filiais de um parricida], foi recolhido pelo próprio escritor em sua coletânea "Pastiches et mélanges" [Pastiches e miscelâneas], que será publicada em 1919. Mas por que uma história de sangue como essa pôde interessar tanto ao escritor que já começava a redigir os sete volumes que vão compor o "roman-fleuve" "Em busca do tempo perdido"? Eis a pergunta que tentamos aqui responder. Chamaremos a atenção, de início, para o emprego que Proust faz das convenções da crônica, gênero a meio termo entre o ensaio e a conversação. Veremos, em seguida, de que maneira sua crônica desmascara certos implícitos – e mesmo certos preconceitos – difundidos pelas pequenas reportagens sobre crimes. Finalmente, analisaremos a serventia das referências literárias, principalmente da tragédia grega de "Édipo-Rei", para o desenvolvimento argumentativo da crônica, que termina por endereçar a seguinte pergunta psicológica e existencial a seus leitores: à medida que envelhecemos, não somos obrigados todos nós a matar nossos pais? PALAVRAS-CHAVE: crônica; jornal; Proust. Alexandre de Assis Monteiro TITULO: DOM CASMURRO: OLHARES E ESCUTAS DISSIMULADAS RESUMO: Uma enorme parcela da crítica que se faz à história contada no livro Dom Casmurro, de Machado de Assis, aplica-se à microssérie Capitu, de Luís Fernando Carvalho. É possível afirmar que entre a obra escrita e a audiovisual existem muito mais consonâncias do que dissonâncias: a segunda consegue preservar, sem repetir, as nuances que flagram desde o caráter de Bento até a ausência manipulada da voz de Capitu. Isso ocorre porque em termos de enredo, de ação, existe uma aproximação absoluta entre as narrativas. Essa aproximação fica clara na fala do diretor da microssérie que afirma que o nome “Capitu”, ao contrário do que se poderia supor, veio “num estalo, sem nenhum processo racional” e não significa necessariamente uma mudança na estrutura narrativa, como em outros filmes advindos de adaptações do romance de Machado. Para substanciar nosso estudo acerca da natureza das narrativas, especialmente do fator tempo, dos processos de construção e de leitura/espectação, fazemos uma abordagem dos textos com base na fortuna crítica das duas obras, além de buscarmos apreender os sentidos da imagem e do tempo sobre a teleficção, sobre o processo de adaptação e sobre os movimentos artísticos da modernidade, que encontram reflexo no percurso da transmutação da narrativa de um suporte radicado no código verbal para um suporte radicado num código verbal-visualsonoro. Intentamos, portanto, verificar as estratégias utilizadas para a preservação e elaboração estética que garantiriam as aproximações entre as duas linguagens, no processo de adaptação das obras. PALAVRAS-CHAVE : Dom Casmurro; Capitu; Adaptação. Alexandre Montaury Baptista Coutinho TITULO: O COMUM E A IMUNIDADE RESUMO: A comunicação propõe uma sistematização preliminar do quadro de relações literárias e culturais formadas entre artistas e intelectuais angolanos, brasileiros, moçambicanos e portugueses no âmbito das lutas políticas da modernidade do século XX. Partindo do pressuposto de que essas relações geraram um campo cultural específico que configurou e reconfigurou sentidos de comunidade nestes espaços, pretende-se reconstituir a formação de algumas redes intelectuais que, à margem das instituições oficiais, no plano da escrita literária ou da intervenção cultural, se posicionaram frente a desafios políticos comuns nas últimas. PALAVRAS-CHAVE: Comunidades; Literatura e Polític; comparativismo. Alexandre Villibor Flory TITULO: FORMA LITERÁRIA E SOCIEDADE NO TEATRO BRASILEIRO DO SÉCULO XIX: O TRIBOFE, DE ARTUR AZEVEDO, E CAIU O MINISTÉRIO!, DE FRANÇA JR. RESUMO: A literatura dramática recebe pouca atenção nos cursos de Letras porque se considera, entre outros motivos, que ela seria subsidiária à cena como, também, porque não haveria textos dramáticos à altura dos clássicos de nossa prosa e poesia. Essa situação é daquelas profecias que se auto-realizam, visto que a aceitação tácita desse estado de coisas leva ao desprezo pela literatura dramática, seu apagamento e esquecimento, aniquilando uma rica e importante tradição. Em primeiro lugar, o teatro é uma arte que opera pela dialética produtiva entre texto e cena, entre o fixo e o efêmero, entre a produção e a recepção, e não pela subsunção de um a outro. Em segundo lugar, apenas o desconhecimento afiançado pela falta de uma recepção e transmissão cultural adequadas deixam de atestar a decisiva contribuição do teatro e da literatura dramática para a arte brasileira - e para a discussão sobre o Brasil. Como se sabe, esses apagamentos não são desinteressados, e no caso em questão contribui tanto a desvalorização do teatro no cenário burguês (ante o crescimento do romance) justamente quando o Brasil formava seu sistema literário, como também a desvalorização da comédia e das formas que fugiam ao drama burguês ou à peça bem-feita, tangenciando os mais diversos campos da vida social, característica do melhor de nosso teatro no final do século XIX. Faz-se necessário, portanto, uma revisitação crítica dessa história do teatro e da literatura dramática brasileiras, projeto esse em curso tanto no âmbito da Universidade quanto pelo trabalho de vários grupos no Brasil. Nessa comunicação, queremos discutir esses pontos pela mediação entre forma literária e processo social em duas peças-chave do nosso teatro no século XIX: O Tribofe, revista de ano de 1891 escrita por Artur Azevedo, e a comédia de costumes Caiu o ministério!, de França Jr, de 1882. PALAVRAS-CHAVE: Teatro brasileiro; Teatro e sociedade; Comédia brasileira. Alfeu Sparemberger TITULO: A HISTÓRIA COMO NOSTALGIA NA ATUAL FICÇÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA RESUMO: Esta comunicação analisa aspectos da produção romanesca portuguesa e africana de língua portuguesa recente como pautada pelas coordenadas da chamada pós-modernidade. Entre os autores selecionados podemos indicar Gonçalo M. Tavares, Ondjaki e Valter Hugo Mãe. A produção ficcional destes autores tem como uma de suas mensagens essenciais, admitindose, obviamente, o fim de um mundo e de um estilo singular e único expresso no momento do “modernismo clássico”, a falência da arte e da estética, a falência de um processo novo e o inevitável aprisionamento do passado. Trata-se de um produto, posto que constitutivo da lógica do mercado, que exclui de sua fatura o extrato histórico (motivo central do chamado romance histórico), em nome da presença do passado – de referenciais e referenciação da História, não como o real, mas como imagem – enquanto um “modo nostálgico” de narrar. Assim, não ocorre a reinvenção de uma imagem do passado como uma “totalidade vivida”, mas sim o reacender – fruto daquela referenciação – de um “sentido do passado”. O estudo desta inclinação para o nostálgico no romance, perceptível em cenários, espaços, personagens, objetos, parece indicar a impossibilidade que temos em não “focar o nosso próprio presente, como senos tivéssemos tornado incapazes de alcançar representações estéticas e de nossa própria experiência atual. Mas, se assim é, então estamos diante de uma imposição do próprio capitalismo de consumo – ou, ao menos, de um sintoma alarmante e patológico de uma sociedade que se tornou incapaz de lidar com o tempo e a história” (Jameson, 2006, p. 29). Referência JAMESON, Fredric. A virada cultural: reflexões sobre o pós-modernismo. Trad. Carolina Araújo. Ver. Téc. Danilo Marcondes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. PALAVRAS-CHAVE 1: Pós-Modernidade; História; Ficção. Alfredo Cesar Barbosa de Melo TITULO: A INTERNACIONALIZAÇÃO DA CULTURA BRASILEIRA E O SUL GLOBAL RESUMO: Em decorrência do paradigma antropofágico, os letrados brasileiros vêem frequentemente a cultura brasileira como uma força transfiguradora dos modelos advindos da Europa, mas pouco teorizam sobre a inserção da cultura brasileira em outros países, sobretudo os países do Sul. Na presente comunicação, descrevemos como a presença da cultura brasileira ajudou a estruturar a ficção e o pensamento social de países da África lusófona ( o caso da influência rosiana em Mia Couto e o do ensaio de Gilberto Freyre no Grupo Claridade de Cabo Verde). Esta comunicação se propõe a compreender a literatura brasileira a partir de uma moldura interidentitária (sendo, ao mesmo tempo, transfiguradora de modelos estrangeiros e também modelo para outros países), e tirar as devidas consequências desse passo analítico para a representação que temos da cultura brasileira. PALAVRAS-CHAVE: Sul Global; Literatura comparada; literatura mundial. Alice Áurea Penteado Martha TITULO: PROCEDIMENTOS NARRATIVOS E RENOVAÇÃO DO DISCURSO EM LUÍS DILL RESUMO: O reconhecimento da literatura juvenil por instâncias legitimadoras diversas permite-lhe reivindicar um lugar na sistematização dos estudos literários e parece consenso, entre grande parte de agentes que compõem o sistema de produção, circulação e consumo da literatura para jovens, que, como matéria prima da produção artística contemporânea, acontecimentos e emoções, recriados esteticamente, podem propiciar aos leitores o reconhecimento e a superação de momentos cruciais da existência. Com tal propósito, emergem obras cujos narradores tratam de temas atraentes aos jovens leitores, com linguagem muito próxima à do uso cotidiano e, entre tantos outros, destacamos, nesta comunicação, as narrativas do gaúcho Luís Dill, cujas marcas formais e temáticas diversificadas, apropriadas à faixa etária de seus leitores e inerentes ao contexto sociocultural em que transitam autores e receptores, revelam construção diferenciada do mundo narrado, com o emprego de técnicas mais complexas de narrar e o enfoque de assuntos como violência, crises de identidade, escolhas, perdas, sexualidade e afetividade, responsáveis também pela aproximação com os leitores mais jovens. PALAVRAS-CHAVE: Luís Dill; narrativa; renovação. Alice Maria de Araújo Ferreira TITULO: LUGARES CONTRADITÓRIOS DO ESTRANHAMENTOS E ESCRITURA DA DIFERENÇA. TRADUTOR: RESUMO: Várias questões de tradução e suas dualidades tradicionais platônicas supõem um lugar na elaboração do projeto de tradução. Um lugar entre dois: ou um ou outro. Esse pensamento estabelece dois sujeitos: o autor e o leitor. O tradutor tendo como objetivo criar o encontro entre eles. Para os projetos de traduções colonialistas e mercadológicas, a boa tradução é aquela que se apaga, que apaga o estrangeiro, que não causa estranhamento ao leitor, que se parece com ele (tradução narcísica). É comum o tradutor se colocar no lugar do leitor. Enquanto leitor da língua estrangeira, sendo intérprete. Na Poética do traduzir (1999), Meschonnic faz uma crítica à concepção de tradução como interpretação e traz o tradutor para o lugar do escritor. As múltiplas e cambiantes identidades do sujeito fazem o tradutor ocupar os dois lugares, de leitor e escritor. É um sujeito que conhece as duas línguas, é leitor de uma e escritor de outra. Qual sua relação com cada uma delas? Qual sua relação com o estranho, o estrangeiro? Quer apaga-lo? Abrir-se a ele? Essas questões e reflexões surgiram ao traduzir a peça de teatro À petites pierres (2007) de Gustave Akakpo, dramaturgo togolês que mora na França. Durante esse fazer deparei-me com diversos estranhamentos: do discurso, das línguas, do gênero. Mas, deparei-me sobretudo com questões históricas, éticas e poéticas. Com Berman (1984) e sua crítica às traduções etnocêntricas, vários estudos sobre os ditos textos e/ou literaturas póscoloniais são temas de congressos e simpósios. A questão histórica adjetivou essas produções artísticas, pós-coloniais. De que lugar? Por quê tradução póscolonial, e não tradução colonialista? Imperialista? Propomos então, pensar a tradução no terreno movediço dos dois lugares gerando contradições criadoras nos passos de Edward Said em Reflexões sobre o exílio (2003). PALAVRAS-CHAVE: estranhamento; texto pos-colonial; projeto de tradução. Aline Alves Arruda TITULO: A ESCRITA ARQUEÓLOGICA DE CAROLINA MARIA DE JESUS RESUMO: Carolina Maria de Jesus (1914-1977) é um exemplo de escritora arqueóloga. Seus diários "Quarto de despejo" (1960), "Casa de Alvenaria" (1961) e "Meu estranho diário" (1996) são amostras de obras literárias em que o cotidiano é desvelado através da própria existência. Sua escrita é veículo de denúncia, memória individual e coletiva e de um olhar de dentro também sobre os resquícios da vida, especialmente a urbana, os “restos” que permeiam nossa existência e que, no caso de Carolina, entremeiam a sua. A autora, nascida em Sacramento, Minas Gerais, morou a maior parte da vida em São Paulo, por muitos anos na extinta favela do Canindé, onde se tornou escritora. Era catadora de dejetos, especialmente papéis, os quais tornaram-se testemunhas de sua rotina e experiência narradas nos diários. Esta comunicação pretende desenvolver a ideia de escritor arqueólogo em Carolina de Jesus, através dos textos de Walter Benjamin (1989), Jacques Rancière (2005 e 2009) e Italo Calvino (2009). PALAVRA-CHAVE 1: escritor arqueólogo; diários; restos. Aline Bezerra da Silva TITULO: ESTUDOS DA MEMÓRIA: DIÁLOGOS POSSÍVEIS ENTRE WALTER BENJAMIN E GRACILIANO RAMOS RESUMO: A ruptura da perspectiva habitual da memória e a constatação do caráter não-linear dela encontram-se diretamente relacionados à substituição de uma concepção cronológica por uma concepção messiânica de história, com a proposição de uma percepção qualitativa, uma visão descontínua da temporalidade. Nesse esteio, as críticas de Benjamin ao historicismo, e sua visão contínua, progressiva e linear, ignorando as lutas de classes e reproduzindo a história dos vencedores, encaminham para a defesa de outro conceito-ação, a necessidade de escovar a história a contrapelo, que traz consigo a exigência de rememoração do passado, o que não implica a restauração dele, mas uma metamorfose do presente tal que o passado seja retomado e transformado. Nos anos trinta, período de propaganda varguista de harmonia entre classes, à memória ágil e amontoada salve salve de uma marcha em progresso opõem-se a memória esgarçada e os lapsos, forma graciliânica de resistir aos imperativos ideológicos hegemônicos de seu tempo, forma não panfletária de recordar para discordar, forma de revelar a gama de personagens afligidos pela angústia, todos aprisionados muito antes da privação da liberdade real de seu criador. Nessa linha de pensamento, concebe-se a obra em um processo de recriação de fatos que importam mais pela forma como são relembrados, conforme se verá nos estudos das obras Caetés, São Bernardo e Angústia, de Graciliano Ramos. Pretende-se, assim, ampliar as possibilidades de estudos sobre memória na obra do autor alagoano, percorrendo caminho diverso do relacionado à escrita autobiográfica. PALAVRAS-CHAVE : memória; Walter Benjamin; Graciliano Ramos. Aline Stefânia Zim TITULO: O CONTO E O BAIRRO COMO UNIDADES NARRATIVAS URBANAS. RESUMO: O ensaio propõe uma abordagem sobre o espaço literário e o espaço arquitetônico a partir da livre comparação entre duas unidades narrativas distintas: o conto, enquanto unidade narrativa literária, e o bairro, enquanto unidade narrativa urbana. Inicialmente, apresenta-se uma breve exposição da teoria do conto com base em alguns textos da crítica literária em Vladimir Propp, Edgar Alan Poe e Julio Cortázar. Em seguida, desenvolve-se o conceito de “bairro” a partir de Pierre Mayoul e Michel de Certeau em “A invenção do cotidiano 2 – morar e cozinhar”, investigando argumentos comparativos entre as duas unidades – o conto e o bairro - a partir das suas semelhanças enquanto unidades narrativas urbanas. Os elementos mais significativos do bairro podem ser também os seus constituintes, como o acontecimento central é no conto. O conto é uma bolha tênue de tensões e efeitos que fazem o leitor se embriagar em menos de uma hora de leitura, assim como o bairro apresenta o seu espaço reconhecível em uma caminhada, no deslocamento do pedestre. Fora desse espaço, ou no limite dele, a cidade se tranforma e confunde os sentidos, porque se perdem as referências familiares e cotidianas e, consequentemente, o espaço reconhecível. Desse modo, o conto é semelhante ao bairro, assim como a sua extensão, o romance, é semelhante à escala urbana. A intensidade que prende o leitor no conto pode, no espaço urbano, ser traduzida como proximidade e acolhimento. O “próximo” e o “distante” não são propriamente mensuráveis em distâncias físicas, mas podem ser compreendidos pelos conceitos de acessibilidade, acolhimento, familiaridade, recognocibilidade e apropriação. Envolvido por sua bolha de sabão, o conto tem seu espaço máximo e tênue de tensão narrativa, onde deve flutuar, autômato, antes que esse limite se rompa. REFERÊNCIAS: BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009. __________. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1989 (Obras escolhidas vol 1). __________. Charles Baudelaire: um lírico no auge do Capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1989 (Obras escolhidas vol 3). CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como prática estética. São Paulo: Ed. Gilli, 2013. CERTEAU. Michel. A invenção do Cotidiano: 1. Artes do fazer. Petrópolis: Editora Vozes, 1994. ________________ A invenção do Cotidiano: 2. Morar, cozinhar. Petrópolis: Editora Vozes, 1994. CORTÁZAR, Julio. Valise de Cronópio. Trad. De Davi Arrigucci Júnior. São Paulo: Perspectiva, 1974. PROPP, Vladimir. Morfologia do Conto. Trad. De Jaime Ferreira e Vítor Oliveira Lisboa, Editorial Vega, 1978. GOTLIB, Nádia Batella. Teoria do Conto. São Paulo: Ática, 1985. PALAVRAS-CHAVE 1: narrativas urbanas; conto; bairro. Alinnie Oliveira Andrade Santos TITULO: A NARRADORA SUBVERSIVA EM PASSAGEM DOS INOCENTES, DE DALCÍDIO JURANDIR RESUMO: O romancista brasileiro Dalcídio Jurandir escreveu dez obras ambientadas na Amazônia paraense, os quais compõem o conjunto denominado Ciclo do Extremo Norte. Nessas narrativas, podemos perceber a presença marcante de mulheres que, quer assumindo o protagonismo ou não, contribuem de forma decisiva para o desenvolvimento da narrativa. Em Passagem dos Inocentes (1963), quinto romance da obra, temos a presença de D. Cecé, que ao tomar o lugar do narrador em terceira pessoa, conta parte da história de sua vida – a fuga da Ilha do Marajó quando jovem –, mostrando assim como nesse momento subverteu a ordem social em que estava inserida. Este trabalho, portanto, pretende analisar a voz narrativa de D. Cecé, observando o seu papel como subversiva na sociedade marajoara. As faces femininas retratadas por Dalcídio Jurandir desvelam um universo social brasileiro do princípio do século XX, sobretudo de luta por sua emancipação. Além disso, a representação feminina elaborada pelo autor paraense nos leva a compreender melhor sua obra que tem a denúncia social como traço marcante. PALAVRAS-CHAVE: narradora; subversão; feminino. Almir Pantoja Rodrigues TITULO: PROSA DE FICÇÃO PORTUGUESA NO DIÁRIO DE BELÉM (18601870) RESUMO: Após o grande sucesso adquirido na Europa, a moda de publicar textos em jornais chega ao Brasil, em 04 de janeiro de 1839, por meio do Jornal do Commercio. A novidade foi assimilada nas demais províncias brasileiras e após percorrer as páginas dos jornais cariocas, conquistou outras dimensões geográficas ao circular em outras regiões do Brasil, a exemplo da Província do Grão-Pará. Em Belém, esse modismo instaurou-se a partir da segunda metade do século XIX, período considerado de grande efervescência cultural e intelectual da cidade, proporcionada, sobretudo, pelo comércio da borracha. Considerando este contexto, objetivamos analisar a circulação de textos em prosa de ficção portuguesa no jornal Diário de Belém (1860-1870) a fim de recuperar uma história de vida cultural a partir desse período, considerando as relações da Literatura Brasileira e Portuguesa. Para dar sustentação teórica a esta pesquisa recorremos, inicialmente, aos estudos de Germana Salles, José Ramos Tinhorão, Marlise Meyer e Socorro Pacífico Barbosa. Metodologicamente o presente estudo consiste em pesquisa bibliográfica e investigação de fontes documentais históricas disponíveis nos acervos da cidade de Belém do Pará e na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. PALAVRAS-CHAVE: Prosa de ficção; Jornal; Seculo XIX. Alvany Rodrigues Noronha Guanaes TITULO: O combate ao Complexo de Borboleta: a sexualidade e a subjetividade femininas em literaturas indígenas norte-americanas RESUMO: O Complexo de Borboleta é a conformidade a um rígido padrão estético exposto nas narrativas literárias eurocêntricas como premissa à subjetividade e à sexualidade das personagens femininas. Tal conceito nasceu de minha observação às personagens de alguns romances como, por exemplo, O Colecionador de John Fowles, no qual o misógino Frederick cobiça a linda e delicada Miranda como se ela fosse uma borboleta de sua coleção. Semelhantemente, em outros romances canônicos ocidentais as personagens femininas sujeitos de desejo e dotadas de agência são aquelas metamorfoseadas em um ideal alusivo ao arquétipo da fragilidade e da beleza, como as borboletas. Nesse raciocínio, o complexo em questão fundamenta-se no consenso subreptício literário da perfeição física equivocadamente atrelada à subjetividade e à sexualidade feminina. Ainda que em alguns romances as heroínas sejam epítomes de espíritos livres e dotadas de inteligência, qualquer divergência a um rígido padrão estético codifica-se numa condescendência narrativa forçosa de outros atributos para compensar as imperfeições físicas devidamente destacadas. Em contrapartida a representação das mulheres em narrativas indígenas é fundamentada na força sociopolítica das personagens, independentemente de suas aparências físicas, derrubando rígidas fronteiras simbólicas limitadoras da formação do eu feminino. Em vista do exposto, o presente trabalho propõe uma discussão acerca da construção da sexualidade e da subjetividade femininas nas literaturas indígenas, resignificadas por corpos transgressores de padrões de beleza e de conduta passiva prescritivos, combativas portanto ao Complexo de Borboleta. Para tal, proponho uma análise das personagens femininas nas narrativas de Leslie Marmon Silko, Maria Campbell, Lee Maracle e Beatrice Culleton Mosionier. PALAVRAS-CHAVE: sexualidade feminina; Literatura indígena; Complexo Borboleta. Alvaro Santos Simões Junior TITULO: A polêmica dos novos (1890-1891) RESUMO: De setembro de 1890 a junho de 1891, esboçou-se nos jornais cariocas uma polêmica em torno dos escritores novos, que, com Oscar Rosas à frente, formulavam críticas desassombradas às obras de medalhões consagrados como, por exemplo, Sílvio Romero. Sendo, em sua maioria, apenas colaboradores eventuais de periódicos, os novos foram por sua vez ridicularizados pelos chamados velhos, que zombavam da sua petulância leviana de autores inéditos. Talvez seja de algum interesse examinar os vestígios dessa polêmica, pois podem revelar a formação de um grupo de intelectuais que logo a seguir, em torno de Cruz e Sousa, tentaria inovar a literatura brasileira sob o influxo das ideias decadentistas-simbolistas de proveniência francesa e também portuguesa. PALAVRAS-CHAVE: Decadentismo; Simbolismo; Vida literária. Amanda da Silveira Assenza Fratucci TITULO: O discurso fantástico em "Arria Marcella", de Théophile Gautier RESUMO: Segundo Pierre-Georges Castex (1962), a literatura fantástica francesa se divide em dois períodos: um romântico e outro simbolista. O primeiro, em meados do século XIX, é o do Romantismo, em que o gosto pelo sobrenatural, pelo mistério e a procura pelo absoluto deram abertura a grande produção de contos fantásticos que teve uma grande influência de E.T.A. Hoffmann. Na esteira de Hoffmann, Théophile Gautier se revela, em seus contos fantásticos, um escritor rico em imaginação, capaz de fazer surgir discursos grandiosos ou inquietantes, mas também cheios de emoção. A presença do amor ligado à morte se faz notar em vários textos de Gautier, tema este recorrente na literatura fantástica do século XIX. Seus textos fantásticos são muito representativos e mostram a evasão romântica na utilização do sonho, que duplica a vida. Esse discurso onírico é um instrumento do qual Gautier faz uso a fim de expressar a intenção de busca de um mundo ideal procurado pelos românticos, em que aparece um “eu” que se vê incapaz de resolver sozinho os problemas em relação à sociedade e que, portanto, se lança à evasão. O objetivo deste trabalho é, portanto, analisar o discurso fantástico no texto "Arria Marcella", de Théophile Gautier, bem como perceber a presença do mito na narrativa. PALAVRAS-CHAVE: Romantismo francês; Fantástico; Mito. Amanda Reis Tavares Pereira TITULO: "O que se diz e o que se entende": Cecília Meireles, Vieira da Silva e a infância como souvenir RESUMO: Originalmente veiculado em capítulos pela revista portuguesa Ocidente entre os anos de 1938 e 1940, “Olhinhos de gato”, de Cecília Meireles (1901-1964), foi publicado pela primeira vez no Brasil em 1980. Comumente associado à literatura infantil, trata-se, na verdade, da união de “memórias da infância” reunidas sob um “inventário lírico”, de acordo com a própria autora. Temática cara à poeta, cronista, educadora e folclorista brasileira, a infância registrada em “Olhinhos de Gato” se difere de outras obras suas voltadas para o público infantil, como o livro de poemas “Ou isto ou aquilo”, pela linguagem, cujo lirismo dificilmente seria apreendido com facilidade por esse público. Essa ponderação nos faz reler o livro, com vistas a uma reflexão sobre a narrativa moralística a respeito da infância e dos possíveis diálogos que ela estabelece com as concepções da autora acerca da educação, da família e da cultura material na formação do indivíduo. Na coleção da artista plástica portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), pertencente à Fundação Vieira da Silva - Arpad Szenes, em Lisboa, há uma série de seis trabalhos (cinco desenhos feitos à tinta da china e um guache sobre papel) intitulados “Souvenir de Cecília”, datados de 1940-1947. É conhecida sua relação pessoal e profissional com Cecília Meireles, que a acolheu durante os sete anos de exílio no país (1940-47), devido à origem judaica de seu marido, o também artista plástico Arpad Szenes. Para Cecília ou por intermédio dela, Vieira da Silva realizou vários trabalhos no Brasil. A temática da série “Souvenir de Cecília”, que prontamente remete a personagens e cenários de “Olhinhos de Gato”, instiga-nos algumas reflexões, a partir da relação entre imagem e texto, sobre a relação entre esses olhares que se voltam para a infância como memória (souvenir) e discurso. PALAVRAS-CHAVE: Ilustração; Infância; Memória. Amarílis Macedo Lima Lopes de Anchieta TITULO: Conto “The Madman” de Chinua Achebe: uma leitura da guerra. RESUMO: A obra do escritor nigeriano Chinua Achebe é aclamada e traduzida no mundo inteiro. Assim como outros de sua geração, Achebe tornou-se referência incontornável no que concerne a construção e a consolidação da literatura nigeriana. Achebe tem uma vasta produção como teórico e pensador de questões não só literárias, como também coloniais. Achebe não queria ser considerado um autor universal, sob os critérios do centro, como se classifica usualmente. Criticava, inclusive, a busca pelo universal em obras africanas. Sua obra é extremamente relevante para um estudo da situação pós-indepêndencia da Nigéria, do ponto de vista histórico, e principalmente do ponto de vista literário/ linguístico. Para a investigação da dialética universal x particular, analisaremos o conto “The Madman”, de 1971, presente na antologia de doze contos, Girls at War and Other Stories. Será analisado a partir da posição em que ocupa na produção literária do autor, pois esse conto é escrito num período em que a sua produção ficcional deAchebe se torna mais rara literária, após a deflagração da guerra separatista do Biafra (1967 – 1970). Demonstra, com isso, características peculiares no acervo do trabalho do autor. Para propor um caminho de análise do conto, propomos realizar um tradução crítica do conto. Com a proposta dessa tradução, espera-se também esboçar possibilidades para uma tradução dita "póscolonial" e investigar como a tradução pode apresentar caminhos para os elementos particulares dessa escrita. PALAVRAS-CHAVE: Chinua Achebe; Tradução; Guerra. Amilton José Freire de Queiroz Henrique Silvestre Soares TITULO: DES)(RE)TERRITORIALIZAÇÕES TRANSATLÂNTICAS REPRESENTAÇÕES DA ZONA DE CONTATO EM TERRA SONÂMBULA, DE MIA COUTO RESUMO: Narrativa içada pela cartografia dos resíduos, rastros e vestígios do reencontro entre pátrias imaginárias, Terra Sonâmbula (1992), de Mia Couto, trança solidariedades e cooperações entre África, Ásia e Europa, cartografando a experiência de personagens que rompem as fronteiras da Índia, Portugal e Arábia Saudita para (des)(re)territorializar olhares que rasgam o manto de invisibilidade jogado sobre a superfície das localidades, territorialidades e paisagens moçambicanas. O texto miacoutiano será lido a partir do horizonte teóricometodológico de estudiosos como Homi Bhabha, Eduard Said, Boaventura de Sousa Santos, Mary Louise Pratt, Walter Mignolo, Julia Kristeva, Tzvetan Todorov, Tania Carvalhal, Zilá Bernd, Maria Zilda Cury, Luis Alberto Brandão e Marli Fantini. Com o auxílio dessa sintaxe crítica, espera-se mapear os deslocamentos de personagens que saem de terras natais e se alojam na comarca cultural moçambicana para traduzir as territorialidades internas de seu imaginário híbrido. Inscrito na estrada de repactualizações embaladas pelo mapeamento dos rizomas da voz que veleja nas águas do próprio e alheio, o narrador-mediador de Terra Sonâmbula estampa o percurso de seres nômades, errantes diaspóricos que (re)escalam as muralhas do tempo pedagógico para registrar, performatizando, o encontro de vidas cujas saliências identitárias escorregam pelas brechas do olhar que cartografa traços da paisagem moçambicana – um estuário da poética da relação a partir do qual se promove o colóquio disjuntivo de latitudes reposicionadas para além da viagem à própria geografia, trançando múltiplos (e)ventos da polifonia da diferença disseminada entre espaços dialógicos cujas fricções e atritos com o outro chancelam o mapa do outro na territorialidade literária miacoutiana. PALAVRAS-CHAVE: Representação; Zona de contato; Literatura. Ana Amália Alves da Silva TITULO: A RECEPÇÃO DE CLARICE LISPECTOR NOS PERIÓDICOS ACADÊMICOS BRITÂNICOS: 1985-2013 RESUMO: Nesta comunicação, analiso as formas pelas quais a obra de Clarice Lispector foi recebida pelos principais períodicos do Reino Unido nas áreas de estudos literários e culturais sobre a América Latina e o Brasil. Trata-se do entendimento de sua recepção no contexto acadêmico britânico em perspectiva histórica, partindo da publicação do primeiro artigo sobre sua obra (Senna, 1986) e finalizando nos últimos textos publicados até 2013, quando essa análise, parte de minha dissertação de mestrado, foi concluída. Em um primeiro momento, temas como a legitimação de seu tradutor em língua inglesa, questões relacionadas à sua condição feminina e ao seu contexto de origem, entre outros, guiam a recepção de Lispector nessa comunidade interpretativa (Machor & Goldstein, 2001). Com o passar dos anos, vemos que esses focos de interesse se intensificam ou modificam e acabam por revelar o papel de Lispector, “the most celebrated Brazilian woman writer” (Williams, 2005), como protagonista nos processos de formação e desenvolvimento da área de estudos literários e culturais sobre o Brasil, a América Latina e a Lusofonia dentro do contexto acadêmico britânico. PALAVRAS-CHAVE: Recepção; Clarice Lispector; História. Ana Beatriz Matte Braun TITULO: MOÇAMBIQUE: TRÂNSITO E TERRITORIALIDADES NA OBRA DE JOÃO PAULO BORGES COELHO RESUMO: A obra do moçambicano João Paulo Borges Coelho, historiador e ficcionista, afirma-se a partir da articulação de três vertentes: a geografia (a territorialidade, o trânsito), a história (a memória, as formas de narrar o passado) e a etnografia (entendimento do ‘outro’). A relação entre os três elementos é (inter)mediada por narradores em terceira pessoa, oniscientes, que assumem para si a tarefa de contar histórias, em um fazer literário que mescla a tradição da narrativa ancestral com a erudição discursiva. É por meio de uma perspectiva elevada, até mais próxima do leitor do que da ação propriamente dita, que o narrador expõe os dilemas e paradoxos construídos pelo sistema colonial. Segundo João Paulo Borges Coelho (2009), entender o tempo e o espaço é tarefa do escritor africano em contexto pós-colonial. Em particular, porque o escritor existe dentro de um sistema de indefinição no qual adotam-se determinadas heranças deixadas pelos colonizadores. Ao mesmo tempo, busca uma expressão própria, já que o paradigma colonial deve ser superado em prol da construção de uma identidade própria. Borges Coelho destaca que, nesse contexto, conjugamse ética e estética: há consciência de que a literatura desempenha um papel político de resgate da memória histórica. Em vista disso, desejo apresentar um panorama da obra do autor a partir da recorrência do trânsito e da noção de territorialidade. Como ferramenta de suporte para a análise, faço uso de minha própria experiência como estrangeira em Moçambique. PALAVRAS-CHAVE: literatura moçambica; trânsito; Moçambique. Ana Carla Vieira Bellon TITULO: CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS SOBRE O FANTÁSTICO NA OBRA LITERÁRIA E FOTOGRÁFICA DE CARROLL OU POR UMA TEORIA PERPLEXA DOS EFEITOS DE SENTIDO EM SUA OBRA RESUMO: As considerações que envolvem a presença do fantástico na obra literária de Lewis Carroll a partir de teorias, inevitavelmente, sistematizadoras resultam em um cobertor curto que, cobrindo a cabeça, descobre os pés e, cobrindo os pés, descobre a cabeça. Obviamente, a velha necessidade de categorização e/ou sistematização de conceitos, a qual, muitas vezes, engole as reflexões teóricas, sempre rondará a teoria, mas a corrida entre essa e a obra artística sempre terá uma vantagem da última. O diálogo entre a obra fotográfica e a literária de Lewis Carroll parece exigir uma reflexão perplexa e desafiadora: transgredir a categorização sem ficar em cima do muro, mas manter o demônio da perplexidade como única moral, conforme nos desafiou Antonie Compagnon (2010, p.256). Esta pesquisa que se inicia não se propõe, portanto, a esgotar o sentido da produção de Carroll, mas quer oferecer ferramentas para construir um novo caminho teórico, já que, emprestando a nomenclatura de Marta Alkimin (2004, P.15), “mobilidade, diversidade, flutuação e desestabilização” são categorias de uma nova teoria da ficção e, principalmente, do modo fantástico. Questões como “quais os caminhos para compreender os efeitos dos textos verbal e não-verbal de Lewis Carroll sem enquadrá-los totalmente?” ou “Quais são os diálogos pertinentes entre o texto literário de Carroll e suas fotografias através do fantástico?” rondam este artigo. Mais do que nunca, este estudo comparatista intermidiático entre imagem do texto e texto da imagem, e vice-versa, tenta por em prática aquilo que Gama-Khalil (2013, p.30) chama de “alargar o enfoque analítico” sobre a literatura que traz o elemento insólito, ou seja, quer encontrar, paradoxalmente, os desvios necessários para compreender de que maneira o fantástico se constrói nas obras em questão e que efeitos esta construção desencadeia… mas este é só o início. PALAVRAS-CHAVE: Fantástico; Intermídia; Lewis Carroll. Ana Carolina Cernicchiaro TITULO: POÉTICAS AMERÍNDIAS NA CINEMATOGRÁFICA CONTEMPORÂNEA ESTÉTICA LITERÁRIA E RESUMO: A proposta deste trabalho é refletir sobre experiências interculturais que se abrem para as imagens, as narrativas, a poética, a estética e a ontologia ameríndia - como as oficinas para cineastas indígenas do projeto "Vídeo nas Aldeias", o trabalho de reunião e publicação de cantos ameríndios do núcleo de pesquisa "Literaterras", a restauração do mito tupinambá em "Meu destino é ser onça", de Alberto Mussa, ou ainda a descentralização do cânone literário brasileiro em "Poesia.br", que desvia o marco inicial de nossa história literária ao iniciar sua antologia de dez volumes com um tomo intitulado Cantos Ameríndios, onde estão reunidos cantos de seis etnias indígenas na tradução de poetas brasileiros contemporâneos. São experimentos que evidenciam a necessidade de uma abertura na história capaz de liberar o murmúrio dos vencidos sob a história oficial e que afetam a literatura e o cinema brasileiro do presente, cavando uma língua-menor, até então emudecida, na estética contemporânea. Projetos que assumem a tarefa da arte de, seguindo a lição deleuzeana, contribuir para a invenção de um povo, de construir uma comunidade por vir, onde as formas da arte são as formas da vida coletiva, segundo a expressão de Rancière. Não mais uma comunidade do consenso, do como-um, onde, nos lembra Badiou, a ideologia ética parece aquela do civilizado conquistador (“Torna-te como eu e respeitarei tua diferença”), mas uma comunidade do sentir, do co-sentir, uma comunidade de afetação infinita e múltipla. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Cinema; Mitologia ameríndia. Ana Carolina Macena Francini TITULO: A PERTURBADORA PRESENÇA ANIMAL: A ‘REPRESENTAÇÃO’ DO OUTRO DA NOSSA CULTURA, EM "VOLAMOS", DE ANTONIO DI BENEDETTO RESUMO: Em As palavras e as coisas, Michel Foucault tece reflexões sobre a “mesmidade”, uniformidade, do pensamento ocidental, ordenado pela linguagem, ou melhor, por suas ruínas. Entretanto é interessante notar que é a partir da perturbação causada pelo conto fantástico “O idioma analítico de John Wilkins”, de Jorge Luis Borges, que Foucault inicia sua trajetória de perscrutar as ruínas da linguagem que outrora deram sustentação ao conhecimento e suas taxonomias, desdobrando-se numa discussão inerente à modernidade sobre a capacidade da linguagem de nomear as coisas e os seres viventes do mundo ao confiná-los em categorias. Para o filósofo francês, "uma certa enciclopédia chinesa", citada no relato de Borges, causa riso e perturbação, já que a tentativa de classificação dos animais por meio da ordem alfabética delata as limitações do pensamento racional de abarcar o ‘outro’ e remete ao impensável, à desordem e ao caos. Por sua vez, o intento de classificação no conto borgiano, na verdade, interpela exatamente sobre a impossibilidade dessa ordenação por meio da linguagem, do discurso racional, que somente pode fazê-la forjando categorias. Daí seja possível pensar o discurso literário - neste caso, o conto fantástico- como espaço privilegiado para sondar o “outro” de nossa cultura, ao “escavar” a linguagem, descentralizando os sentidos e desestabilizando o sistema de categorias, como faz o texto de Borges. Este também será o percurso deste trabalho que apresenta um estudo do conto "Volamos", presente no livro Mundo Animal (1953), do argentino Antonio Di Benedetto, publicado no pós-guerra, período em que as concepções dominantes sobre o humano entram em crise e nota-se um inegável interesse em problematizar os conceitos sobre humanidade e animalidade, por meio da ficção. A análise desse conto, considerado pertencente ao modo fantástico da literatura, indaga sobre como o sentimento perturbador que caracteriza esse estilo pode surgir da (estranha e ao mesmo tempo familiar) presença animal, uma presença não totalmente ‘pensável’ pela racionalidade humana confinada no Mesmo, porém repleta de sentido. PALAVRAS-CHAVE: Di Benedetto; Animalidade; Fantástico. Ana Carolina Mesquita TITULO: AUTOTEXTUALIDADE COMO ESTRATÉGIA NARRATIVA MODERNA: ASPECTOS DA CRIAÇÃO EM VIRGINIA WOOLF E CLARICE LISPECTOR RESUMO: As obras de Virginia Woolf e Clarice Lispector suscitam reflexões sobre a autotextualidade (JENNY, 1979) e a intertexualidade enquanto estratégias narrativas da modernidade, especialmente no tocante ao fragmento – uma poética que recorre à reescrita e recombinação de textos, ou, se quisermos, à escritura como repetição. O reemprego e/ou citação dos próprios textos na criação de “novos” textos caracteriza o recurso autotextual, que integra o complexo processo literário de diversos autores da modernidade, como Joyce e Proust. Aqui examinaremos os casos da inglesa Virginia Woolf e da brasileira Clarice Lispector, duas das autoras mais importantes do século XX, pois, em que pesem suas diferenças, ambas se valem do jogo autorreferencial para empreender uma busca pela literatura entre realidade e ficção – procedimento vanguardista que se intensificaria apenas mais tarde, na pós-modernidade. Nelas, o autotextual problematiza tanto o fato de que nos processos de linguagem inexiste qualquer “discurso original” (ao menos não além do ponto de vista metafísico) quanto o fato de a própria subjetividade encontrar-se limitada por um mundo dialógico de discursos e contextos que se repetem e se modificam por iterabilidade (DERRIDA, 1982). A narrativa torna-se, assim, espaço do sujeito que busca a si mesmo mas que, ao fazê-lo, vê-se em confronto com o “drama da linguagem” (NUNES, 1995): a única coisa que ele alcança é o próprio ato de (se) escrever. Para ilustrar esta análise, mostraremos a criação de Mrs. Dalloway à luz dos diários de Woolf, que funcionavam como experimentação e matriz para outros textos, e, de modo semelhante, a relação genética de A paixão segundo G.H. com textos clariceanos anteriores. DERRIDA, Jacques. Différance. Chicago: University of Chicago Press, 1982. JENNY, Laurent. A estratégia da forma. In: DALLENBACH, L. et al. Intertextualidades. Coimbra: Almedina, 1979. NUNES, Benedito. O drama da linguagem. São Paulo: Ática, 1995. PALAVRAS-CHAVE: Autotextualidade; Clarice Lispector; Virginia Woolf. Ana Carolina Sampaio Coelho TITULO: MIGUEL RIO BRANCO: GRITO, RESTO E PODER RESUMO: O presente trabalho procura discutir algumas questões que atravessam a exposição “Gritos surdos”, de Miguel Rio Branco, incorporando outros movimentos presentes em grande parte de sua obra. A partir da criação de narrativas que misturam procedimentos da pintura, da fotografia e do cinema, Miguel Rio Branco expõe perspectivas de leitura da imagem entre corpo, violência e poder. Assim, primeiro, nos interessa pensar sobre as formas que ele arma em seu trabalho, numa espécie de “arqueologia” do registro de algumas marcas do homem, quando todo resto e toda sobra surgem em torno de uma projeção do rastro. É possível ler nesse trabalho uma ideia de ruína e do “caráter destrutivo” de Walter Benjamin quando o artista evidencia imagens contra o olho, aquilo que não se quer ver. Depois, procura-se estabelecer um diálogo entre os procedimentos de Miguel Rio Branco e o de Evgen Bavcar que, mesmo distintos, parecem trazer para a arte uma fuligem das formas em processo. PALAVRAS-CHAVE: artes visuais; poder; Miguel Rio Branco. Ana Cláudia e Silva Fidelis TITULO: DA POSSIBILIDADE DE LETRAMENTO LITERÁRIO: ANÁLISE DE PRÁTICAS DE LEITURA E DE PRODUÇÃO TEXTUAL RESUMO: O presente trabalho pretende analisar um projeto de leitura e produção textual de alunos do Ensino Fundamental II de uma escola particular de Campinas que promove um momento de compartilhamento de leituras escolhidas livremente pelos alunos, bem como de produções que representem esse momento de leituras, garantindo a sua circulação no ambiente escolar. Coordenado e supervisionado pelos professores da área de linguagem, o projeto pretende promover não apenas o incentivo à leitura como abrir espaço para que os alunos coloquem-se no lugar de protagonistas do processo de leitura. Esse exercício, considerando as reflexões empreendidas nos últimos anos acerca de práticas de letramento, de leitura literária e de letramento literário, parece salutar como forma de colocar em perspectiva as leituras feitas no ambiente escolar e as praticadas fora do ambiente escolar, de modo a analisar de que forma o modo com que a escola ensina o aluno a ler marca os protocolos de leitura extraescolares. Assim, este estudo procura examinar se o projeto coloca em operação mecanismos coerentes para que os alunos construam critérios efetivos para suas escolhas, a partir dos conhecimentos prévios adquiridos pelo trabalho com a grade curricular do curso, e qual natureza de livros/textos literários que passam a circular no ambiente escolar. Além disso, pretende aferir de que modo as atividades propostas para os encaminhamentos dessa leitura possibilitam que os alunos apropriem-se dos conteúdos estudados na grade curricular e operacionalizem-nos em suas produções, em geral, para apresentação para a comunidade escolar. PALAVRAS-CHAVE: Letramento literário; Leitura literária; Práticas escolares. Ana Cláudia Veras Santos TITULO: MANOEL DE BARROS E PAULO LEMINSKI: UMA APROXIMAÇÃO POÉTICA ATRAVÉS DA INQUIETAÇÃO PELA PALAVRA RESUMO: Em tempos cuja palavra apresenta-se a serviço do discurso, seja político, econômico, social ou logocêntrico, temos na contramaré, poetas como Manoel de Barros e Paulo Leminski, questionadores da ordem, priorizam a linguagem em sua essência. O primeiro atribuindo-lhe valores que fogem ao ajuste semântico e sintático, o segundo dando-lhe rigor formal associado à liberdade. Manoel desconfigura a ordem das coisas, pelo prazer de poetizar o que a maioria estabelecida considera apoético, atribui à criança, ao andarilho e aos passarinhos o teor de suas “inutilidades”. Leminski diz que a razão de ser da sua poesia é ela fazer parte das coisas inúteis da vida que não se justificam. Aqui revelamos nosso trabalho, pois pretendemos demonstrar a realização literária de ambos poetas, cuja primazia é dada ao “nada” da poesia, a partir do pensamento de teóricos como Compagnon (1996). O material empírico escolhido da obra manoelina tem concentração específica em Matéria de poesia, 1970, enquanto de Leminski, destacamos seu último trabalho publicado em vida Distraídos venceremos, 1987 e o póstumo La vie en close, 1991. Pensamos demonstrar um olhar acerca desses fazeres poéticos e a partir daí tentarmos acompanhar a construção literária/artística desses poetas, ornadas de transgressão e compostas por “estranhos devires”. Salientamos que o conjunto da obra de Manoel é alimentado por imagens, recurso que utiliza com primazia, incorporando a ela certa racionalidade onírica, talvez surrealista ao primeiro instante, entretanto não fugindo a um substrato ético profundo. Já em Leminski, percebemos uma autorreflexão poética constante associada à visão de crença de santidade da linguagem. Em ambos, encontramos um fazer metapoético, com os poetas debatendo a própria criação artística e a inquietação que dela provém, fragmentando e recriando universos nem sempre particulares. A palavra na obra desses autores parece perder a função de representação para criar outras concepções de realidade. PALAVRAS-CHAVE: Construção poética; Inutilidades; Inquietação. Ana Claudia da Silva TITULO: CECÍLIA E CAROLINA _ A REPRESENTAÇÃO DAS AVÓS EM LUANDINO VIEIRA E MIA COUTO RESUMO: A historiadora Nancy D’Alessio Magalhães (2009), em pesquisa desenvolvida junto a estudantes angolanos da Universidade de Brasília e jovens moradores de um território quilombola nas imediações da Capital, percebeu a relevância da presença das avós nas memórias evidenciadas pelos relatos dos jovens, especialmente entre os angolanos. O relato dessa experiência nos levou a indagar sobre a presença das avós nas literaturas africanas de língua portuguesa e sobre a forma como são representadas por diferentes autores. Nesta comunicação, aproximamos, para essa verificação, as representações de avós presentes nos contos “Vavó Xíxi e seu neto Zeca Santos”, de Luandino Vieira (1962), e “Sangue da avó, manchando a alcatifa”, de Mia Couto (1988). Ainda considerando que as narrativas estão situadas em contextos políticos diversos – pré e pós-independência, respectivamente; que suas protagonistas, Cecília e Carolina, percorrem diferentes trajetos sociais; que pertençam a sistemas literários distintos (de Angola e Moçambique), ambas aproximam-se tanto pelo trabalho intenso de seus autores com a língua portuguesa, nos sentido de dar-lhe uma feição nacional, quanto por ocuparem as obras de ambos os autores lugares de destaque no panorama das literaturas africanas. A comparação entre narrativa de Vieira e Couto vem sendo realizada há muito nos estudos comparados do macrossistema das literaturas de língua Portuguesa (ABDALA JUNIOR, 1998), embora nenhum dos estudos dos quais temos notícia aborde diretamente a figura das avós, que permanecem como tais marginalizadas no conjunto das personagens dos autores, tando no âmbito literário, como no extra-literário, de sua fortuna crítica. PALAVRAS-CHAVE: Avós; Mia Couto; Luandino Vieira. Ana Cristina Bezerril Cardoso Claudia Borges de Faveri TITULO: MÁRIO LARANJEIRA TRADUZINDO LA FONTAINE RESUMO: Há muitas traduções brasileiras de La Fontaine. Elas começaram a ser realizadas no século XIX. A primeira obra no país a conter fábulas traduzidas do autor francês foi a Collecção de Fabulas imitadas de Esopo e de La Fontaine de Justiniano José da Rocha, publicada em 1852. Ainda no século XIX, o Barão de Paranapicaba traduziu a obra fabulística completa de La Fontaine. Já no século XX, Eugênio e Milton Amado traduziram as 240 fábulas do fabulista francês. Mesmo não traduzindo a integralidade das fábulas, vários foram os poetas e escritores brasileiros que reescreveram La Fontaine. Entre eles podemos citar Machado de Assis, Monteiro Lobato, Ferreira Gullar, Leonardo Fróes e Mário Laranjeira. Em 2004, a editora Estação Liberdade publicou uma coletânea de 43 fábulas de La Fontaine traduzidas por Mário Laranjeira com ilustrações de Marc Chagall. O presente trabalho visa apresentar essa coletânea assim como mostrar o fazer tradutório de Mário Laranjeira nas fábulas lafontainianas. PALAVRAS-CHAVE: Tradução; Fábulas; Mário Laranjeira. Ana Cristina Marinho TITULO: EDITORES E HERDEIROS EM DISPUTA: HISTÓRIAS DO VERDADEIRO, ÚNICO E PRIMEIRO REPORTÓRIO BORDA D´ÁGUA RESUMO: Apresento nessa comunicação os resultados parciais de pesquisas realizadas em impressos publicados entre 1850 e 1908 e arquivados na Biblioteca Nacional do Porto – Portugal. Busquei acompanhar a trajetória do “Reportório Borda D’Água”, um dos mais antigos almanaques publicados em Portugal, na tentativa de evidenciar questões que interessam aos estudos das práticas de escrita em folhetos, com periodicidade anual e forte apelo popular e, em especial, as relações entre editores, autores e publico leitor ou ouvinte. Os almanaques e reportórios são importantes fontes de estudos para o conhecimento dos “saberes, em particular destinados a públicos com pouco acesso a outras leituras.” (Lisboa, 2002) A pesquisa revelou a instigante, e por vezes deliciosa, querela entre editores que publicaram, durante mais de meio século, os “verdadeiros”, “mais verdadeiros”, “únicos”, “primeiros” Reportórios, Lunários e Prognósticos Diários do Borda D’Água, escritos pelo astrônomo lusitano Antonio de Souza e, após a sua morte, seus discípulos e amigos; ou ainda em nome da viúva, filhos e herdeiros. Os prognósticos, que organizavam o tempo, o espaço, as atividades e a coletividade, nos ajudam a entender os mapas culturais desenhados em Portugal, em especial nas cidades do Porto e Coimbra, a partir da segunda metade do século XIX e primeira década do século XX. PALAVRAS-CHAVE: impressos populares; cultura escrita; almanaques. Ana Gomes Porto TITULO: A PRODUÇÃO DE UMA CULTURA MIDIÁTICA NO BRASIL DE FINAIS DO SÉCULO XIX RESUMO: Aluísio Azevedo se tornou um escritor canônico, especialmente com a publicação de O Cortiço, romance que se tornou leitura obrigatória como referência do naturalismo brasileiro. Contudo, o escritor teve uma publicação extensa de romances na época em que escrevia nos jornais do Rio de Janeiro sob a forma de folhetim. Um deles, Mattos, Malta ou Matta?, foi publicado n’A Semana no início de 1885, sem nenhuma indicação de autoria na época. A história se inspirava em um caso de desaparecimento e foi baseada em notícias da imprensa nos meses finais de 1884. O “Caso Castro Malta”, que forneceu material para o romance, obteve grande circulação nas folhas sob a forma de notícias, mas também em crônicas e em revistas hebdomadárias. A intenção desta comunicação será explorar este “caso” a partir da perspectiva de que foi uma notícia de grande sucesso que gerou assunto para editores de jornais, escritores e cronistas emitirem opiniões sobre um fato concreto que ocorria naquela sociedade. Partindo do princípio de que a imprensa era um veículo de comunicação importante, como entender as repercussões em torno do “caso Castro Malta”? Em especial, como foram as apropriações em torno deste “caso” no que se refere à produção de romances, crônicas e comentários jocosos? A ideia, portanto, será retomar uma notícia de grande repercussão com a intenção de compreender como se construía uma cultura midiática naquele momento específico da sociedade brasileira. PALAVRAS-CHAVE 1: imprensa; Aluísio Azevedo; caso Castro Malta. Ana Julia Perrotti Garcia TITULO: DR JEKYLL AND MR HYDE EM LÍNGUA PORTUGUESA: HISTORIOGRAFIA DAS TRADUÇÕES DA OBRA PRIMA DE ROBERT LOUIS STEVENSON RESUMO: Publicado originalmente em 1886, o conto The Strange case of Dr Jekyll and Mr Hyde, do escritor escocês Robert Louis Stevenson foi publicado em Portugal em 1933 já com o título de O Médico e o Monstro, e chega ao Brasil pela Livraria do Globo, em sua Revista mensal de literatura (e sem seu título ser sequer citado na capa da publicação). Jekyll e Hyde são personagens imortalizados na mente de pessoas que, em alguns casos, nem sequer leram o livro ou tiveram acesso a seu conteúdo. Em língua portuguesa, em mais de 120 anos de existência, o texto passou por muitas traduções e adaptações, totalizando quase 100 publicações catalogadas (sem contar reimpressões, atualizações e reedições, apenas novos textos) na forma de livro, revista, fotonovela ou gibi (quadrinhos), para diferentes públicos (jovem, adulto, infanto-juvenil). Este estudo analisa as obras publicadas e o tratamento tradutório dado a cada uma delas (texto de origem, texto de chegada, estratégias) à luz da linguística de corpus. Para a análise dos diferentes textos produzidos em português, a partir do texto original de Robert Louis Stevenson, utilizamos os conceitos de tradução, adaptação, apropriação e reescritura sintetizados por John Milton (1998, 2002) como base para a análise das diferentes manifestações da obra Jekyll and Hyde, tanto em português quanto em inglês. Concluímos que muitas das publicações contemporâneas deram mais atenção à apresentação visual e gráfica (obras “enlatadas”, capa dura, ilustradores célebres) do que ao texto propriamente dito, com problemas de tradução sendo frequentes em algumas das obras analisadas, principalmente no formato quadrinhos. PALAVRAS-CHAVE: Tradução; O Médico e o Monstro; Stevenson. Ana Maria César Pompeu TITULO: O OBSCENO ESCATOLÓGICO NA TRADUÇÃO MATUTA DO PRÓLOGO DA COMÉDIA "A PAZ", DE ARISTÓFANES RESUMO: Em nossa pesquisa fazemos um estudo comparativo dos protagonistas aristofânicos do campo, entre a paz particular de Diceópolis, defendida numa “trigédia”, ‘canto ao vinho novo’ ou ‘comédia’ em Acarnenses, de 425 a.C., e a de Trigeu, ‘o vindimador’, que resgata a deusa Paz, na peça homônima, para todos os gregos. Estabelecemos uma equiparação dos rituais dionisíacos agrários com as festas juninas do nordeste brasileiro, pelo reconhecimento dos seus traços estruturais comuns, na forma de festivais agrários de fertilidade e manifestações espetaculares. A concretização da pesquisa será feita pela tradução da comédia Paz de Aristófanes, do texto original grego de 421 a. C., com a versão matuta cearense dos camponeses aristofânicos, em consonância com a leitura e tradução de Acarnenses, de 425 a.C., já estabelecidas por nós, no reconhecimento da forte inspiração da Musa da comédia na cultura cearense. A primeira parte de Paz, em que a Guerra reina no lugar dos deuses olímpicos, é caracterizada por alimentos impróprios e mal cheirosos: o escaravelho é um besouro que come fezes, Pólemos, a Guerra, prepara uma mistura de todas as cidades gregas, a serem trituradas em um pilão. Depois que a deusa Paz é libertada, todos os alimentos são agradáveis assim como os cheiros. Bowie (1996, p.136) observa que o escaravelho inverte sua situação, pois passa a puxar o carro de Zeus e a comer a ambrosia de Ganimedes (722-4), da mesma forma que a situação da Grécia, que era dominada pela guerra, que é vista como sinônimo de morte, passa a ser de alegrias da bebida, da comida, da fartura no campo, do sexo, enfim, da vida. Apresentaremos a tradução matuta com os comentários e notas do prólogo de Paz. PALAVRAS-CHAVE: Aristófanes; A Paz; tradução matuta. Ana Maria Leal Cardoso TITULO: ALINA PAIM E LOBATO: ENTRE A MAGIA E A EDUCAÇÃO RESUMO: O trabalho apresenta uma leitura comparada entre a obra infanto juvenil da escritora sergipana Alina Paim e a obra de Monteiro Lobato, destacando como esses autores priorizam a formação do leitor a partir da dinâmica entre magia e educação. Em ambos tanto os personagens, que quase sempre se repetem, quanto o espaço, centrado no rural, estruturam a narrativa. Encontra-se iluminada pelas teorias de Todorov, Caroline Marinho, Nelly Coelho, Regina zilberman, entre outros, por entendermos que permitem uma melhor compreensão da dinâmica formadora do leitor mirim. PALAVRA-CHAVE 1: literatura; magia; Alina Paim. Ana Paula Macedo Cartapatti Kaimoti TITULO: O ENCONTRO ENTRE OS CANTOS MBYA GUARANI E O POETA E TRADUTOR DOUGLAS DIEGUES: CANTEMOS SEMPRE BELAS PALAVRAS RESUMO: Ao assumir o papel de mediadora entre culturas, a obra do poeta brasiguaio Douglas Diegues vaga por regiões e comunidades precárias, excluídas do jogo das relações de consumo, lugares – como a fronteira Paraguai-Brasil – que experimentam o outro lado da cidadania moderna, aquele que cria desigualdade, injustiça e indignidade. Na obra Kosmofonia Mbya Guarani (2006), Diegues traduz para o português, juntamente com os indígenas, os cantos dessa etnia, a partir da coleta e edição desse material, realizada pelo etnomusicólogo paraguaio Guillermo Sequera. Sua participação nesse trabalho é relevante tanto como tradutor, quanto como organizador e autor de vários textos que procuram refletir sobre a poética do povo Mbya, na língua inventada pelo autor, o portunhol selvagem. Além disso, a obra apresenta comentários de estudiosos brasileiros, entre outros, sobre as textualidades indígenas e o trabalho de Diegues e Sequera. Partindo do pressuposto que "a tradução é, simultaneamente, comunicação e obstáculo, uma vez que as línguas nunca se refletem umas nas outras como em um espelho” (SARLO, 2002, p. 50), é preciso considerar como a obra em questão articula culturas incomensuravelmente – no sentido de que não possuem medidas e referências em comum – diferentes – a letrada e a oral, a do homem branco e a do indígena sul-americano, articulação que é parte da obra poética de Diegues como um todo. Desse modo, ao tomar essa produção nesse contexto, no qual a tradução é ferramenta fundamental, em sentido amplo, procuramos esmiuçar o quanto o contato com o repertório das textualidades indígenas torna-se um lugar de reflexão crítica e estética a partir do qual Diegues compõe seu projeto artístico. Nesse sentido, levando em conta as contradições inerentes ao processo de produção e recepção da obra Kosmofonia Mbya Guarani, discutimos também seu potencial crítico e renovador no que se refere à proposta de uma noção extraocidental de literatura e de poesia. PALAVRAS-CHAVE: Cantos indígenas; poesia brasileira; Douglas Diegues. Ana Paula Silva TITULO: VIOLÊNCIA E TRAUMA EM COMISSÃO DAS LÁGRIMAS, DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES RESUMO: A escrita do testemunho em "Comissão das lágrimas" No romance de António Lobo Antunes, Comissão das lágrimas, publicado em 2011, é Cristina a personagem mediadora das vozes que trazem os testemunhos da violência no contexto pós-independência de Angola, ex-colônia africana, após treze anos de Guerra Colonial. Neste período, o país africano vivia experiências de violência, miséria, perseguições, fugas, enfim traumas diversos. O título da obra remete a uma comissão, com fama de ser muito violenta, que teria sido instalada com o objetivo de perseguir possíveis opositores ao partido que estava no poder em Angola. Pretendemos estudar, neste romance, a configuração da escrita de caráter testemunhal da experiência traumática nesse período. Cristina não vivenciou as experiências traumáticas narradas, apenas assume a função de mediadora do testemunho das vozes que surgem no romance, em que se entrelaçam tempos e espaços, numa tessitura de narrativas múltiplas que apresentam sentimentos e ressentimentos obscuros encerrados na memória dos sujeitos. Essa passagem do real para o relato contribui para a reconfiguração das identidades aniquiladas pela violência. Comissão das lágrimas, como um tecido de histórias narradas, potencializa, assim, na escrita do testemunho, a refiguração dessas identidades, tanto individuais, quanto coletiva. Quanto à coletividade, tem-se a referência à identidade nacional,basilada no mito de nação imperial, tocando também cotidianamente problemas como o dos “retornados”. Como aporte teórico, utilizamos autores como Paul Ricoeur, Beatriz Sarlo, Seligman-Silva, Bakhtin, bem como diversas contribuições da fortuna crítica do escritor. PALAVRAS-CHAVE: Comissão das lágrima; António Lobo Antunes; testemunho. Ana Paula Veiga Kiffer TITULO: ESCRITAS EFÊMERAS DO CORPO / ESCRITA DE CORPOS EFÊMEROS RESUMO: O trabalho pretende repensar a noção de performance vista sob a perspectiva das relações e tensões entre as escritas e os corpos no ambiente crítico contemporâneo. Interessa, desse modo, rever alguns projetos iniciados na segunda metade do século XX que ajudem a repensar a potência da performance hoje e, nesse sentido é que o trabalho quer pensar: deslocando-se da performance enquanto especificidade, conceito ou valor para o campo da arte contemporânea e aproximando-se das ações ou gestos performáticos enquanto potência do transitório, do móvel e do movente, que se manifesta como escrita efêmera do corpo, e também escrita de corpos efêmeros, quase que tecendo um conjunto de atos preparatórios que inflexionam, provocam, divergem e por isso mesmo abrem novos espaços do comum no seio das experiências e manifestações político e culturais. PALAVRAS-CHAVE: contemporâneo; corpo escrito; performance. Anderson Bastos Martins TITULO: A LITERATURA DO BRASIL NOS TEMPOS DO IMPÉRIO RESUMO: A comunicação aqui proposta busca estabelecer diálogos preliminares entre três campos teóricos, políticos e estéticos que buscam espaço nas reflexões sobre as sociedades contemporâneas afetadas cada vez mais pelo impacto da globalização em suas diversas vertentes. Os primeiros participantes desse diálogo são as noções de Império, Multidão e Bem-Comum conforme o pensamento influente e controverso de Antonio Negri e Michael Hardt, especialmente em seus questionamentos da relevância e da atualidade da teoria pós-colonial para a dinâmica intelectual que a contemporaneidade exige. O segundo integrante do diálogo se faz representar pela reação de Peter J. Kalliney ao que considera como uma leitura enviesada que Hardt e Negri realizam de um campo que os dois autores abordam de maneira inconsciente de seus próprios pontos cegos. Por fim, o diálogo se completa com a proposta feita por Silviano Santiago de uma leitura da literatura brasileira, de ontem e de hoje, sem o véu que por décadas mantevea apartada de suas próprias vertentes pós-coloniais. O objetivo da comunicação é iniciar as pesquisas do autor num projeto mais amplo de abordagem ao mesmo tempo pós-colonial e global da literatura brasileira contemporânea. PALAVRAS-CHAVE: Império; globalização; teoria pós-colonial. Anderson Luis Nunes da Mata TITULO: O ENSINO COMO DÊIXIS E OS LIMITES DA PROVA: A LEITURA LITERÁRIA NO ENEM RESUMO: Se a educação para a leitura literária é mais um gesto dêitico do que transmissivo, de acordo com a formulação de Hans Ulrich Gumbrecht, como é possível avaliar as competências e habilidades de leitura de poemas, crônicas, contos e romances em provas objetivas, como o Exame Nacional do Ensino Médio-ENEM? Na medida em que o ENEM se transforma no principal exame para o acesso ao ensino superior, há uma tendência de que os modos de abordar o texto literário praticados no exame pautem parte considerável das práticas de letramento literário no Ensino Médio. Esta comunicação pretende, portanto, refletir criticamente sobre as habilidades referentes à leitura literária apresentada na Matriz de Referência para o ENEM, contrastando-a com as questões que efetivamente figuraram na prova de 2012 a 2014, de modo a tanto compreender os construtos teóricos que orientam a relação entre o leitor e o texto literário preconizadas pelo exame, quanto os limites das propostas de leitura apresentadas na prova. PALAVRAS-CHAVE: ensino; ENEM; leitura. Anderson Soares Gomes TITULO: HUMANIDADES EM DESARRANJO: A UBIQUIDADE ENTRÓPICA EM UBIK, DE PHILIP K. DICK RESUMO: Grande parte da obra de Philip K. Dick, um dos mais célebres autores da chamada "New Age" da ficção científica, se caracterizam pela investigação metafísica sobre a natureza do ser e da realidade. Essa temática de profundo teor ontológico se faz presente especialmente na sequência de romances publicados a partir da década de 1960, onde se destaca uma das mais perturbadores narrativas existenciais do século XX: Ubik. Publicado em 1969, Ubik problematiza o futurismo que permeia a ficção científica desde suas origens ao mesmo tempo que questiona os limites da humanidade em um contexto onde máquinas e objetos passam a ditar o entendimento sobre a consciência, o desejo e a morte. A partir de uma missão fracassada de um grupo de agentes anti-psi (cujo talento é neutralizar a força de indivíduos com poderes psíquicos), os personagens percebem que o tempo começa a retroceder, especialmente através de objetos de última geração que se tornam instantaneamente analógicos e ultrapassados. A chave para esse desarranjo talvez esteja em uma lata de aerosol misteriosa chamada Ubik. Através de uma complexidade narrativa que esvanece os limites entre o ser e a realidade (futura e passada) que o cerca, Dick chama a atenção para a crescente esfera entrópica que se infiltra na existência de cada indivíduo, uma ubikuidade da desordem e do caos que se estabelece como uma das principais características da vivência na contemporaneidade. PALAVRAS-CHAVE: Ficção Científica; Passado; Entropia. André Barbugiani Goldfeder TITULO: COISA-MAPA PARA HOMENS CEGOS. ATRAVESSAMENTO NA OBRA DE NUNO RAMOS FORMAS EM RESUMO: A comunicação apresentará alguns tópicos atualmente em desenvolvimento na pesquisa de doutorado “Coisas-mapa para homens cegos. Cenografias da voz e materialidades cruzadas em Nuno Ramos”. Inicialmente, será exposta uma abordagem cruzada do funcionamento da voz no livro de estreia do escritor e artista plástico Nuno Ramos (1960), Cujo (1993), e da problematização das operações de determinação do material performada na produção plástica do período. Neste movimento, ainda, serão mencionadas dificuldades teóricas levantadas pela obra no que toca à conceituação em torno da ideia de informe e à caracterização dos diferentes regimes de atravessamentos de materialidades que trazem à tona a desestabilização da questão da “especificidade dos meios”. Em seguida, será feita menção a trabalhos plásticos produzidos por Ramos a partir de 2004, que introduzem o trabalho linguageiro sob a forma de vozes autorais ou da vocalização de materiais culturais, como Morte das casas (2004) e Vai,vai (2006). A partir dessa breve menção, serão apontados possíveis rendimentos comparativos extraídos dessas obras, no que se refere a um pacto de recepção fundado na literalidade e em certa “inexpressividade” reivindicada pelo autor e a um outro modo de fricção entre voz e concretude material, que coloca em pauta questões do domínio da teatralidade. Finalmente, um fecho será buscado em um breve esboço de exploração de um léxico da indeterminação e da opacidade no campo político. Referências bibliográficas DOLAR, Mladen. A Voice And Nothing More. Cambridge e Londres: The MIT Press, 2006. DUNKER, Christian Ingo Lenz Dunker. Mal-estar, sofrimento e sintoma: releitura da diagnóstica lacaniana a partir do perspectivismo animista. Tempo Social vol. 23 no.1, (ed. on-line), São Paulo, 2011. GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. RAMOS, Nuno. Cujo. São Paulo: Ed. 34, 1993. SISCAR, Marcos. Da Soberba da Poesia: distinção, elitismo, democracia. São Paulo: Lumme Editor, 2012. PALAVRAS-CHAVE: Nuno Ramos; Artes plásticas; Contemporâneo. André Cabral de Almeida Cardoso TITULO: O “EU” SOMBRIO: O DUPLO NA DISTOPIA RESUMO: A certa altura do conto “Learning to Be Me”, de Greg Egan, o narrador em primeira pessoa parece se cindir. Nas últimas páginas da narrativa, descobrimos que ele não é a pessoa cuja vida vinha sendo rememorada ao longo do relato, mas sim uma cópia de sua personalidade, gravada num cérebro artificial que duraria para sempre. “White Christmas”, episódio da série de televisão britânica Black Mirror, emprega uma premissa semelhante: uma mulher cria uma cópia de sua própria mente que se encarrega de administrar sua casa como uma inteligência artificial escravizada. Em ambos os casos, a noção de identidade e do que significa ser humano é problematizada. Ao mesmo tempo, esse questionamento da identidade ocupa uma posição central nas imagens de sociedades distópicas delineadas nas duas narrativas. Desse modo, o pesadelo distópico se associa de forma indissolúvel ao pesadelo do duplo. O objetivo desta comunicação é examinar por que motivos – e de que formas – a figura do duplo acaba concentrando em si um conjunto de ansiedades relacionadas à instrumentalização do indivíduo, à ética envolvida nas relações sociais, à capacidade de empatia com o outro, ao autoestranhamento e à alienação. Ao mesmo tempo, tomando como base a noção do “inquietante” de Freud e sua retomada pela crítica recente, procurarei examinar até que ponto o jogo de familiaridade/estranhamento acionado pelo duplo é uma peça essencial da noção moderna de identidade. PALAVRAS-CHAVE: identidade; distopia; pós-humanismo. André Dias TITULO: RISO E DISSONÂNCIA EM PIRANDELLO E CAMPOS DE CARVALHO RESUMO: O trabalho examina como Luigi Pirandello, na Itália do início do século XX, e Campos de Carvalho, no Brasil do final dos anos 50 e início dos 60 do mesmo período, através dos seus discursos literários, empreenderam questionamentos sociais e existenciais significativos. Ao desenvolverem tais questionamentos os autores se constituíram como vozes dissonantes em relação aos padrões hegemônicos presentes em suas respectivas sociedades. Dessa maneira, a partir da leitura e análise dos romances, Um, nenhum e cem mil (1926), de Pirandello e O Púcaro Búlgaro (1964), de Campos de Carvalho serão avaliadas as seguintes questões: o humor como mecanismo de desestruturação das certezas individuais e coletivas; o problema da constituição da identidade dos sujeitos e o papel da palavra alheia; os sentidos de loucura e lucidez no âmbito da sociedade; ordem social e fragmentação do indivíduo; o diapasão iconoclasta como possível força motriz da realização literária dos escritores em questão. Por fim, serão avaliadas a atualidade e a pertinência dos discursos literários produzidos pelos autores em destaque no presente estudo. PALAVRAS-CHAVE: Dissonância; Humor; Literatura Comparada. André Luís Gomes TITULO: DE ESPECTALEITORES A LEIATORES RESUMO: Desde 2010, realizamos, na Universidade de Brasília o projeto Quartas Dramáticas em que leituras cênicas são concebidas e apresentadas por alunos de diferentes cursos e coordenadas por professores e alunos, majoritariamente, do curso de Letras. As apresentações nos levaram a refletir sobre o processo e a prática da concepção e da encenação das leituras cênicas e a pensá-las como estratégia e metodologia de ensino/aprendizagem. O que se observa é que a leituras são concebidas de forma coletiva e colaborativa, em que a troca de experiências se constrói e se desenvolve num processo criativo e dialógico. O objetivo desta comunicação é compartilhar essa experiência e discutir o papel dos leiatores e dos espectaleitores e as especificidades desse método de leitura do texto teatral. PALAVRAS-CHAVE: Leitura cênica; inovação; ensino. André Luís Mourão de Uzêda TITULO: USANDO PALAVRAS DE AVE PARA ESCREVER: O TEXTO POÉTICO DE MANOEL DE BARROS EM AULAS DE LITERATURA NO ENSINO FUNDAMENTAL RESUMO: A seguinte proposta de comunicação pretende apresentar o trabalho desenvolvido durante um trimestre com a poesia de Manoel de Barros em uma turma de 7º ano do Ensino Fundamental nas aulas de Literatura. Tomando como base as provocações de Tzvetan Todorov (2010), quando propõe que o ensino escolástico e historicista expõem a literatura ao “perigo”, acreditamos que o trabalho com o texto poético no Ensino Fundamental propicie um escape à prática adotada pelo ensino de literatura no Médio, em que a periodização literária se sobrepõe ao próprio texto. Em outra via, o trabalho com literatura no Fundamental permite resgatar a obra para o centro da análise, sem que seja necessária a sua mediação pela historiografia, pela crítica, pela biografia do autor ou por correntes teóricas. Para além disso, a escolha do gênero também é proposital: o texto poético, comumente apresentado em coletâneas reunindo os poemas mais ilustrativos de determinado estilo de época, é lido por seu contexto, sem que se considere seu caráter estético e simbólico como agente de conhecimento sobre o mundo. Fugindo dessa perspectiva, selecionamos a poética de um único autor, Manoel de Barros, e propusemos adotar a leitura de um livro de poemas, Menino do mato, para apresentar sua visão de mundo. Sem nos determos a dados biográficos ou históricos, os alunos mergulharam na poesia do autor e puderam experienciar o texto literário à luz da sua poética: transvendo o mundo. Imersos na simbologia de Manoel de Barros, os alunos foram ainda convidados a sair de sua zona de conforto, abrindo margem para o leitor fazer-se também produtor. Assim, criaram seus próprios poemas dialogando com o universo do poeta. Com isso, reivindicamos ainda o espaço criador nas aulas de literatura e produção de texto, tantas vezes preso à rigidez da dissertação argumentativa, formato exigido pelos vestibulares. PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Literatura; Manoel de Barros; Poesia. André Luis Bento Dos Santos TITULO: O EMPREGO DE GRUPOS DO FACEBOOK PARA O ENSINO DA LITERATURA RESUMO: Este trabalho de pesquisa pretende sinalizar como os professores da disciplina de Literatura podem recorrer ao Facebook, para melhorar o desempenho dos alunos em sala de aula. Neste sentido, trazemos a público o estudo de caso desenvolvido com nove alunos do ensino fundamental do Colégio Militar do Recife. Como metodologia, disponibilizamos links para conteúdos relacionados a obras literárias, inclusive adaptações audiovisuais com licençapadrão do YouTube, para, em seguida, propormos atividades de leitura e produção. Para tanto, adotamos como suporte a ferramenta “grupo” do Facebook, ao qual denominamos Amantes dos Livros. Diante do desafio de reunir em um só estudo áreas tão distintas como as redes sociais da internet, a literatura e a educação, resultaram três exigências. Primeira: a escolha por uma rede social específica, no caso, o Facebook; segunda: a delimitação da nossa visão de literatura a partir de uma perspectiva intersemiótica, daí a nossa opção por Uma Teoria da Adaptação, de Linda Hutcheon (2013); e terceira: a adesão ao conceito de aprendizagem ubíqua de que trata Lucia Santaella (2013), em Comunicação Ubíqua, proposta inovadora em termos de educação. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Facebook; Aprendizagem ubíqua. André Luis Mitidieri TITULO: A PODEROSA É VOCÊ: EVITA SOB A BIOGRAFEMÁTICA HOMOERÓTICA RESUMO: Nesta comunicação, comparamos dois textos escritos por escritores homossexuais argentinos – o ensaio Eva Perón ¿ aventura o militante? – produzido e editado por Juan José Sebreli, em 1966 e o “pornoconto” El fiord, de Osvaldo Lamborghini, escrito em 1967 e publicado em 1969. 1966 foi o ano do golpe que levou o general Juan Carlos Onganía à presidência da Argentina, assinalando período ditatorial, a ser interrompido brevemente pela eleição do peronista Héctor Cámpora em 1973, à qual se seguiu o retorno de Perón ao país após longo exílio e novo pleito, do qual esse sairia vitorioso, governando até o próximo ano, quando morre. Torna-se significativo que, no contexto em foco, os autores em estudo arremessem a imagem de Eva Perón, cada um à sua maneira, contra o Estado castrador e autoritário. Assim, amparados em metodologia qualitativa de cunho bibliográfico, damos continuidade ao projeto de identificar, em diversas representações de Evita, a incidência do que denominamos “biografemas homoculturais”, conceito relacionado a uma abordagem pormenorizada e não totalizante, vinculada e/ou reapropriada pela homocultura. Neste caso, desenvolvemos e buscamos fixar a noção de “biografema homocultural da dama poderosa”, como possibilidade de articular política e escrita homoerótica, com base no seguinte ferramental teórico: Roland Barthes (1971; 1980); Steiner; Boyers (1985); Kraniauskas (2000); Motta (2004); Lopes; Bento; Aboud; Garcia (2004); Barcelos (2006); Mitidieri (2013; 2014). PALAVRAS-CHAVE: Homocultura; Eva Perón; Espaço biográfico. André Luiz Alves Caldas Amóra TITULO: “MAS HÁ MESMO LOJAS DE BELCHIOR?”: CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PROBLEMAS METAFÍSICOS EM IDEIAS DE CANÁRIO RESUMO: O conto Ideias de Canário, de Machado de Assis, presente em Páginas Recolhidas, publicado em 1899, apresenta em sua estrutura um tom fabular. Vê- se a presença de um cientista, o ornitólogo Macedo, que se depara com um canário falante em uma loja de objetos antigos e fica impressionado com a sua linguagem. O conto citado, além de tecer críticas ao passionalismo científico do ornitólogo, apresenta a construção de conceitos, por meio das falas do pequeno pássaro, sobre o que poderia ser o mundo. As diferentes visões de mundo expostas pelo canário no referido conto podem ser vistas como uma metáfora da aquisição de algo, o qual, segundo Aristóteles, é desejado por todos os seres humanos: o conhecimento. Tendo como fios condutores a teoria platônica das ideias e a metafísica aristotélica, buscar-se-á, dessa forma, a abordagem dos conceitos de realidade/verdade, de sensível/inteligível e de experiência/conhecimento. O presente estudo, portanto, terá como objetivo aproximar o conto machadiano do pensamento metafísico, explorando e discutindo a ideia de mundo e do próprio ser. PALAVRAS-CHAVE: Realismo; Filosofia; Metafísica. André Luiz dos Santos Vargas TITULO: CARLOS SELVAGEM: LITERATURA COMO FUNDAMENTO IDEOLÓGICO DE UMA POLÍTICA COLONIAL NACIONALISTA EM PORTUGAL (1925) RESUMO: Em 1925, o militar e escritor Carlos Selvagem proferiu na União Intelectual Portuguesa a conferência “Literatura Portuguesa de Ambiente Exótico”, publicada no ano seguinte no Boletim Geral das Colónias. A tese defendida por Selvagem é a de que inexistia em Portugal uma literatura colonial consolidada, o que explicaria a decadência do país e a crise nas colônias, em contraste a outras metrópoles que investiam na produção literária de temas coloniais. Segundo ele, países como Inglaterra e França consolidaram-se como potências coloniais sobretudo por investir na produção de uma literatura de "ambiente exótico", a qual atiça imaginações jovens acerca da vivência nas colônias, estimulando a migração de colonos. A literatura seria então o alicerce ideológico de uma prática colonial bem sucedida: não haveria como formar um império colonial sem uma literatura específica no tema. Portugal passava por crises administrativa e econômica nas colônias. Como um nacionalista militar alinhado à direita mais autoritária, Carlos Selvagem defendeu que a culpa dessa desorganização e falta de uma literatura colonial era dos liberais, da monarquia à república, que governaram Portugal. Culpar os liberais pela crise era a tendência que aglutinou movimentos (conservadores, fascistas, integralistas e monarquistas) que em 28 de Maio de 1926 derrubaram a república liberal e parlamentar para instaurar a Ditadura Militar. Com a ideia de que o império é a razão de ser da nacionalidade portuguesa, Selvagem lamenta a falta de uma literatura colonial e diz que, para o país se colocar no patamar das grandes metrópoles e fugir à decadência, deveria se recorrer às "èlites pensantes" (intelectuais) que construiriam o gênero literário nacional para que daí se formasse uma consciência colonial tipicamente portuguesa. Disso, para o conferencista, sairia uma organização centralizadora da política colonial do império português. Essa ideia animou, por exemplo, o militar Henrique Galvão, que foi administrador colonial exercendo cargos importantes por ser considerado um especialista na área, e levou adiante a ideia de Carlos Selvagem - produzir uma literatura colonial tipicamente portuguesa, com objetivos ideológicos de propaganda e exaltação nacionalista na reprodução de uma "mística colonial" como alicerce de uma política imperial sólida e tipicamente portuguesa. PALAVRAS-CHAVE: Literatura Colonial; Carlos Selvagem; Portugal. André Vinícius Pessôa TITULO: A CRÍTICA POÉTICA DA POESIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA: ALGUNS PERCURSOS RESUMO: Entre a necessidade da produção da poesia contemporânea brasileira ser analisada e criticada, como atentou Renato Rezende em Poesia Contemporânea Brasileira: crítica e política (2014) e a defesa de “um pensamento poético-teórico a partir da literatura não ser cinzento, mas tão verdejante e áureo, tão colorido, quanto a obra que ele aborda”, realizada por Alberto Pucheu no texto “Pelo colorido, para além do cinzento (quase um manifesto)” (2007), alguns exercícios recentes de teoria e crítica literária produzidos por poetas, como os já mencionados acima, além de Antonio Cícero, Marcos Siscar, Paulo Franchetti, Sérgio Cohn, entre outros, quando não percorrem os caminhos da crítica tradicional, tensionam as suas crenças mais elementares e se arriscam numa perspectiva excêntrica aos moldes consagrados. Ao fazer girar a roda da crítica da poesia contemporânea, oxigenam o debate sobre o seu destino e a conduzem a um diálogo permanente entre pares. Nesse comércio amplo de perspectivas, alguns limites são experimentados e rompidos, como as ultrapassagens das fronteiras da poesia (em verso) e da prosa crítica, dirigidas (ou não) por uma intenção desafiadora e, em alguns casos mais específicos, contaminadas livremente por discursos híbridos. A presente comunicação pretende passear pelos bosques da recente crítica literária brasileira realizada por poetas para observar como as fronteiras entre a crítica e poesia hoje se apresentam, num tempo em que é valorizada cada vez mais a emergência de novos suportes para literaturas e poéticas. Também verificar se essas escritas se vêem associadas ou dissociadas da tradição do poeta-crítico, reconhecida e ao mesmo tempo marginalizada em relação ao senso comum do que se entende por crítica literária no Brasil e a função específica de quem exerce esse modo de escrita. PALAVRAS-CHAVE: poesia contemporânea; crítica literária; poeta-crítico. Andréa Antonieta Cotrim Silva TITULO: AS REPRESENTAÇÕES SENSÍVEIS DO SER FÍLMICO, PERMEADAS PELA ESTÉTICA DA VIOLÊNCIA: QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS E DE GÊNERO EM “DJANGO LIVRE” E “HISTÓRIAS CRUZADAS” RESUMO: O cinema irá sempre representar o que entende por real, por meio de uma determinada estética. Visamos problematizar a questão da (ir)representação fílmica, ou seja, daquilo que é representado no cinema ou deixa de sê-lo, mormente por meio da estética da violência; isto é, a obra que – como diria BAZIN (1989) – se desenvolve sob o signo da violência e da crueldade. Pretendemos discutir duas produções hollywoodianas do final da Era Obama, a saber: Django Livre (2013) e Histórias Cruzadas (2011) – a primeira do diretor Quentin Tarantino e a segunda de Tate Taylor, ambos norte-americanos. Pensamos que o estudo do(s) método(s) de representação, na figuração de personagens - cujo gênero, a classe social, a cor da pele ou a linha de pensamento sofrem algum tipo de exclusão - possa ser de extrema utilidade para compreendermos a extensão dessas representações na sociedade. Para nossa análise, apoiar-nos-emos na teoria de Jacques Rancière, mais especificamente, no conceito de partilha dos sentidos. PALAVRAS-CHAVE: cinema; violência; representação. Andréa Cesco TITULO: A TRADUÇÃO DE RECURSOS HUMORÍSTICOS NOS SUEÑOS DE QUEVEDO RESUMO: Para Guerrero Salazar (2002) a fórmula mais frequente como fonte de humor consiste em desenvolver uma série de engenhosas relações entre os componentes do signo linguístico para degradar o objeto imaginário descrito, invertendo as categorias estabelecidas na linguagem. E uma vez estabelecidas estas relações entre os componentes do signo linguístico, ocorrem fenômenos chamados de jogos de palavras, através da paronomásia, da homonímia, da polissemia, entre outros. Os jogos de palavras, recurso humorístico mais utilizado por Francisco de Quevedo y Villegas (escritor do Século de Ouro), apresenta uma grande regularidade na obra Sueños (1993) ? composta por cinco narrativas ? pois o autor satiriza certos vícios sociais da época ou determinados grupos sociais em um cenário ultratumba. E o conceito no discurso satírico, segundo Lia Schwartz (1983), é construído sobre o jogo de palavras ou metáforas (ou uma combinação destas com outras figuras) com o propósito de produzir riso no leitor e, ao mesmo tempo, convidá-lo a refletir sobre a terrível realidade que se apresenta naquele momento na Espanha. Assim, busca-se, tendo como aporte teórico Berman, mostrar e comentar estratégias utilizadas pela tradutora Liliana Raquel Chwat para o português do Brasil (Os sonhos. 2006), na tradução de alguns recursos humorísticos ? e aqui me limito à paronomásia, homonímia e polissemia ? na obra Sueños (1993), oferecendo também novas possibilidades de tradução. PALAVRAS-CHAVE: Tradução; Literatura; Quevedo y Villegas. Andréa Correa Paraiso Müller TITULO: OS PERIÓDICOS E OS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DE ROMANCES NO SÉCULO XIX RESUMO: Os periódicos e os critérios de avaliação de romances no século XIX Andréa Correa Paraiso Müller (UEPG) A imprensa oitocentista constitui um importante acervo de fontes primárias para os pesquisadores da literatura do século XIX, sobretudo do romance. Tomar os periódicos como fontes primárias para a pesquisa permite evitar certos anacronismos em que muitas vezes incorrem as histórias literárias quando se baseiam em critérios do presente para elencar os autores e obras mais significativos de uma determinada época, desconsiderando a leitura no período do qual pretendem tratar. A imprensa possibilita ao pesquisador conhecer elementos que as histórias literárias, não raro, negligenciam, tais como as preferências dos leitores do passado e os critérios de avaliação crítica da produção artística. Neste trabalho temos por objetivo refletir sobre os critérios de avaliação de romances em meados do século XIX a partir da circulação e da recepção crítica de um romance brasileiro (A filha da vizinha, de Antonio José Fernandes dos Reis) festejado na época de seu aparecimento e, posteriormente, esquecido. Tal romance destoa dos critérios por meio dos quais passou-se a avaliar romances a partir de fins do século XIX e início do XX. No entanto, o sucesso que obteve junto aos críticos que se expressavam na imprensa na época de sua primeira publicação em um jornal (foi publicado no Correio da Tarde, em 1859) indica que estava em perfeita consonância com os parâmetros que norteavam a apreciação de romances naquele momento, tendo, inclusive, sido recomendado em detrimento de romances hoje canônicos. Estudar a recepção que teve esse romance na imprensa de seu tempo proporciona o conhecimento desses parâmetros e uma melhor compreensão do universo letrado de meados do Oitocentos, assim como da leitura de romances naquele período. PALAVRAS -CHAVE: leitura; romances; periódicos. Andrés Suárez Rico TITULO: LA DISLOCACIÓN DE LA IDENTIDAD Y EL RECONOCIMIENTO DE LA ALTERIDAD EN LOS AUTORES DE LA NARRATIVA VANGUARDISTA HISPANOAMERICANA RESUMO: La presente disertación tiene como objeto analizar, dentro del relegado género narrativo de la vanguardia, los procesos constitutivos de la identidad hispanoamericana que, frente a los discursos producidos en el convulso orden histórico, social y político de la primera mitad del siglo XX, manifiestan las filiaciones y desavenencias con los movimientos artísticos y estéticos de Europa. En este contexto, esta investigación sostiene que los relatos de Felisberto Hernández, Pablo Palacio, Juan Emar, Luis Vidales y Julio Garmendia, Martín Adán, propulsan una fragmentación en la subjetividad del yo narrador y de sus personajes que obedece no solo a la necesidad de desvirtuar el relato realista decimonónico y de concebir, de otra manera, la literatura, sino también al deseo de entender al sujeto hispanoamericano desde el ensalzamiento del otro, desde la alteridad que reclama un espacio en ese circunscrito panorama de la sociedad del capital. En este sentido, esta investigación ahonda en los problemas de la representación que, en su oposición al significante unívoco, se produce sobre el gesto binario de un otro (doble, contra-espejo u opuesto) que cuestiona su identidad y su realidad exhibiendo, desde el seno mismo de la ficción y la anomalía, las disparidades entre su propia naturaleza y las imposiciones coercitivas de su contexto. En la búsqueda comprensiva de la alteridad de este tipo de doble se analizarán las perspectivas psicoanalíticas de Freud y Lacan en torno a los diferentes estadios de la teoría del espejo –ambivalencia, proyección, narcisismo y castración-, que plantea la formación del “yo” sobre la conjunción de demandas múltiples, contradictorias y ambivalentes. A partir de estos postulados psicoanalíticos, exponemos que en nuestros autores la identidad abierta, la identidad diferida (a excepción de Felisberto Hernández), expresa un carácter político que, en su negación definitoria, manifiesta los problemas de la modernidad frente al choque de las imposiciones occidentales en el contexto latinoamericano. Basados en los planteamientos de Stuart Hall sobre la identidad abierta, diferida y en devenir, que explica desde la teoría derrridiana, analizaremos de qué modo el encuentro con el otro, fundado en el doble subjetivo, simultáneo y latente, devela una preocupación por no erigir una identidad omniabarcativa y excluyente, sino por encumbrar la diferencia que no suprime subjetividades y que se construye desde la multiplicidad del nosotros. Bajo esta incapacidad para superponerse al otro, para borrarlo y para anexionarlo, consideramos que los problemas de irresolución y diferimiento identitario tienen implicaciones políticas, estéticas e ideológicas que responden a una ruptura con el ideal regulatorio de occidente y al efecto de las modernidades en el contexto latinoamericano. Así, las exploraciones con las alteridades patentizan las idea de que no “existe una única vivencia prototípica de ella” (Brunner 176), sino que existen diversas manifestaciones subjetivas que ponen en entredicho esa pretendida unívoca modernidad. PALAVRAS-CHAVE: Alteridad; Identidad; Narrativa vanguardis. Andrea C. Muraro TITULO: DO CADERNO DO AUTOR: UM VÉRTICE AMERICANO EM UM ROMANCE ANGOLANO RESUMO: Esta comunicação propõe uma breve análise de alguns intertextos (de M. Twain, R. Burton, B. Cendrars, P. Theroux, B. Chatwin) presentes na composição do romance A terceira metade (2009), do angolano Ruy Duarte de Carvalho. Interessa relacionar tais inserções, em convergência com eventos históricos situados na zona austral africana e sul-americana. A questão que se coloca é pensar que tais convergências não figuram apenas como um roteiro de viagem transcrito dos cadernos do autor, mas que os intertextos literários e históricos são ali reelaborados tanto para alicerçar a estrutura do romance, como também para discutir as dinâmicas e tensões recuperadas de diferentes espaços. PALAVRAS-CHAVE: Literatura Angolana; História; Romance. Andrea Cristiane Kahmann TITULO: MA BELLE LEMEBEL: PROPOSTA DE TRADUÇÃO ESTRANGEIRIZADORA PARA UM SUDACA POBRE E MARICÓN NO BAILADO ENTRE A DITADURA E A DEMOCRACIA RESUMO: Esta comunicação apresentará comentários à tradução de Manifiesto (Hablo por mi diferencia), de autoria de Pedro Lemebel e lido por ele como intervenção num ato político de esquerda em 1986, em Santiago do Chile. Tratase de um texto a meio caminho entre a crônica e os versos brancos para o qual se encontram diferentes traduções em sites e blogs esparsos no mundo virtual, mas que nunca foi incluído em edição em papel no Brasil. Neste trabalho, o objetivo é não apenas traduzi-lo ao português brasileiro, mas fazê-lo de modo estrangeirizador (Venuti, 2002) e crítico quanto às perdas de cadência, imagens e sugestões, e enfatizando o respeito ao texto-de-partida com seu tom coloquial e engajado. Assim, busca-se apresentar uma tradução “ética, poética e pensante” (Berman, 2007) e, para tanto, considerar-se-á o contexto histórico e social a ser traduzido, pois o texto está sempre sujeito às formas coletivas a partir das quais o autor (e também o tradutor) poderá criar (Venuti, 2002). Nesse sentido, esta proposta aproxima-se dos postulados de Spivak (2012) e da ética envolvida na missão de falar pelo subalterno: neste caso, um periférico não apenas no aspecto geográfico (porque sul-americano), mas porque oriundo de estratos sociais e econômicos desfavorecidos, e, mais que tudo, porque homossexual - ou, na voz do próprio Lemebel em seu manifesto, “porque ser pobre y maricón es peor”. Nesse percurso, o comentário confere visibilidade e teoriza o processo de tradução que acaba pondo em evidência reflexões não só sobre uma língua da qual se traduz, mas sobre uma língua que se traduz (Spivak), com toda sua carga de violência e vulnerabilidade. E, portanto, a tradução que está sendo construída e seus comentários buscam, como em geral fazem as traduções pensantes, conferir novo fôlego e novas possibilidades de leitura ao original. PALAVRAS -CHAVE: ética em tradução; poética queer; vulnerabilidade. Andrea Czarnobay Perrot TITULO: NARRATIVA CONTEMPORÂNEA EM LÍNGUA PORTUGUESA: A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE EM INÊS PEDROSA (PORTUGAL) E PAULINA CHIZIANE (MOÇAMBIQUE) RESUMO: O trabalho visa a analisar como se dá o processo da construção das subjetividades femininas em A instrução dos amantes (1992), de Inês Pedrosa, e em Niketche: uma história de poligamia (2002), de Paulina Chiziane. Cláudia, protagonista de Pedrosa, passa de uma subjetividade pós-moderna a uma condição feminina tradicional. Ela representa, dessa forma, a não-consciência dessa permanência do papel tradicional da mulher. Portanto, assume um papel de submissão. Já Rami, protagonista de Chiziane, de uma subjetividade “tradicional” na sociedade moçambicana, passa a uma condição “moderna” frente às tradições. Representa o esboço da consciência de uma nova mulher africana, assumindo um papel de subversão. Perpassando essas construções, o amor aparece como fio condutor das duas narrativas, e sua presença nas vidas dessas mulheres será definidora dos caminhos percorridos por essas personagens. Além disso, o trabalho visa analisar também a questão da modernidade e da pósmodernidade atuando no fazer, no pensar e no sentir de Claudia e Rami. PALAVRAS-CHAVE: subjetividade; feminino; modernidade. Andrea de Barros TITULO: O ESPELHO ÀS AVESSAS: REALISMO EM DOSTOIÉVSKI E MACHADO DE ASSIS RESUMO: Esta comunicação tem como objetivo apresentar o atual estágio da pesquisa de pós-doutoramento “O espelho às avessas: realismo em Dostoiévski e Machado de Assis”, que está em desenvolvimento atualmente no Departamento de Literatura e Crítica Literária da PUC/SP, sob supervisão da Profa. Dra. Maria Aparecida Junqueira. Propõe-se a realização de uma análise crítica dos pressupostos nos quais críticos e estudiosos das obras de Dostoiévski e Machado de Assis basearam-se para classificá-las nos moldes do movimento realista, assim como da visão dos próprios escritores a respeito do posicionamento de seus projetos estético-literários no contexto do realismo. Objetiva-se traçar um quadro desses pressupostos críticos, do século XIX aos dias atuais, verificando seu papel na classificação canônica de Dostoiévski e de Machado de Assis no âmbito do movimento realista; investigar a leitura dos próprios escritores em relação ao realismo e às formas de diálogo de suas obras com esse movimento; estimular a reflexão crítica sobre a classificação das obras de Machado de Assis e de Dostoiévski como realistas, já que a classificação delas nos moldes do realismo suscita uma série de questões ainda em aberto. PALAVRAS-CHAVE 1: Realismo; Dostoiévski; Machado de Assis. Andreia Guerini Andreia Riconi TITULO: OS PENSIERI DE GIACOMO LEOPARDI: COMENTADA E ANOTADA (RE)TRADUÇÃO RESUMO: Giacomo Leopardi é um dos mais importantes escritores do século XIX italiano e europeu. Dentre as suas principais obras, temos os Canti, as Operette moralie o Zibaldone di pensieri. Podemos citar também os Pensieri, uma coletânea de 111 pensamentos escolhidos, escritos provavelmente entre os anos de 1835 e 1838, que apresenta algumas máximas e aforismos baseados nas reflexões do autor acerca do homem e do mundo. Esta obra teve sua primeira e única tradução para o português brasileiro feita por Vera Horn e publicada em 1996, na coletânea “Giacomo Leopardi – Poesia e prosa”, organizada por Marco Lucchesi. O objetivo desta comunicação é apresentar reflexões acerca da atividade de retradução comentada e anotada dos Pensieri para o português brasileiro, com base nos pressupostos teóricos de Yves Gambier, Antoine Berman e Henri Meschonnic. PALAVRAS -CHAVE: Leopardi; Pensieri; retradução brasileir. Andresa Fabiana Batista Guimaraes TITULO: A FICÇÃO PÓS-MODERNA: SARAMAGO E VALTER HUGO MÃE UM DIÁLOGO ENTRE JOSÉ RESUMO: Para Hutcheon (1991), um dos principais desafios do discurso pósmoderno refere-se justamente à noção tradicional de perspectiva. O questionamento a respeito da natureza da subjetividade tem como consequência o fato de o narrador não ser mais uma entidade coerente e geradora de significados, ao contrário, na ficção pós-moderna os narradores passam a ser múltiplos e difíceis de localizar ou deliberadamente provisórios, limitados e, muitas vezes, enfraquecidos no que se refere à própria onisciência. Partindo desta perspectiva, objetivamos neste trabalho tecer uma comparação entre a escrita saramaguiana partindo da análise do romance Levantado do chão (1980) e a máquina de fazer espanhóis (2011), do angolano Valter Hugo Mãe. O fio condutor para a análise está centrado nas peculiaridades do narrador, bem como na questão das identidades minoritárias na construção dos personagens. PALAVRAS-CHAVE: Pós-moderno; Valter Hugo Mãe; José Saramago. Anita Martins Rodrigues de Moraes TITULO: A LITERATURA PARA ALÉM DO NACIONAL: IDEIAS EM TORNO DE UM NOVO COMPARATIVISMO RESUMO: Nesta comunicação, pretendo abordar duas fecundas contribuições teóricas : a elaborada por Marcos Natali no artigo “Além da literatura” (2006) e a de Marília Librandi-Rocha desenvolvida no artigo “A Carta Guarani Kaiowá e o direito a uma literatura com terra e das gentes” (2014). Meu interesse será recuperar a reflexão desenvolvida pelos autores acerca do que seria (ou pode vir a ser) a própria literatura, com atenção para alguns de seus qualificativos – mundial, nacional. Natali recupera duas definições basilares de literatura mundial, a de Goethe e a de Marx. Já Librandi-Rocha se empenha em renovar a definição de literatura, recorrendo, para tanto, a contribuições de Luiz Costa Lima. Tanto Librandi-Rocha como Natali debatem proposições de Antonio Candido, particularmente considerando seus ensaios “Literatura e subdesenvolvimento” (1970) e “O direito à literatura” (1988). Pretendo, em diálogo com Natali e Librandi-Rocha, problematizar certos pressupostos do pensamento de Candido tendo em vista a perspectiva de um novo comparativismo no Brasil. Neste diálogo, noções como popular e erudito, universal e particular, mundial e nacional, localismo e cosmopolitismo, síntese e sistema, serão colocadas em questão. PALAVRAS-CHAVE: literatura e justiça; comparativismo; sistema literário. Anna Olga Prudente de Oliveira TITULO: AS MORALIDADES DOS CONTOS DE CHARLES PERRAULT: UMA ANÁLISE DE POEMAS INSERIDOS NA ESCRITA DO AUTOR FRANCÊS E NAS REESCRITAS DE MÁRIO LARANJEIRA, IVONE BENEDETTI E KATIA CANTON RESUMO: Na área de literatura infantojuvenil (LIJ), os contos de fadas passaram ao longo do tempo por diversos tipos de recepção na cultura ocidental, desde uma crítica radical a sua (in)adequação ao mundo infantil até o entendimento, possibilitado pela análise psicanalítica, da relevância dessas histórias para o desenvolvimento e a formação das crianças. Os contos de fadas emergem como gênero literário na França do século XVII, tendo sido Charles Perrault o primeiro a elaborar uma obra com diversos contos retirados da tradição oral, Histórias ou Contos do tempo antigo, com moralidades ou Contos de Mamãe Gansa, publicada em 1697. Em suas narrativas, Perrault insere um elemento — as moralidades — que tornam seus contos peculiares, refletindo os objetivos que tinha com a escrita de histórias como A Bela Adormecida no Bosque e Barba Azul, dentre outras. Assim, os oito contos em prosa inseridos na obra apresentam ao final da história uma ou duas moralidades em verso. Em pesquisa acerca das reescritas brasileiras dos contos de Perrault, procuro analisar como a obra do autor francês tem sido apresentada ao público leitor brasileiro, tanto no período inicial de desenvolvimento da LIJ nacional, com traduções de Monteiro Lobato, como no presente, já no século XXI, em que tradutores e adaptadores de grande relevância na área da tradução ou mesmo da LIJ têm publicado novas reescritas, com propostas por vezes distintas. Neste trabalho apresento uma análise dos poemasmoralidades inseridos nos dois contos mencionados acima e em duas traduções brasileiras desses contos, realizadas por Mário Laranjeira (2007) e Ivone Benedetti (2012), e comento ainda a adaptação desses poemas feita por Katia Canton (2005). Essa análise busca assim trazer uma contribuição a uma pesquisa mais ampla acerca das reescritas brasileiras dos contos de Charles Perrault. PALAVRAS-CHAVE: contos de fadas; Charles Perrault; reescritas. Annita Costa Malufe Silvio Ferraz TITULO: UMA IDEIA DE MÚSICA NAS POÉTICAS DE TARKOS E APERGHIS RESUMO: A presente comunicação busca evidenciar uma ideia de música que estaria presente em certos modos de manifestação da literatura e da composição musical contemporâneas. Para tanto, toma por ponto de partida as propostas da música concreta e do serialismo integral, experiências radicais da música no séc. XX, como base para a leitura das poéticas de Christophe Tarkos – poeta e performer francês – e Georges Aperghis – compositor, poeta, dedicado ao que ele define por um "teatro musical". Tais propostas apresentam traços que nos levam a encontrar uma tendência comum, na concepção musical apoiada no trabalho com a voz falada: a leitura do texto que se abre à sua materialidade acústica e temporal, realçando a ideia de uma musicalidade ligada à voz enquanto matéria modulável e moldável. A voz enquanto envelope sonoro – ou uma “pastapalavra”, se nos remetermos ao conceito cunhado pelo próprio Tarkos. Tal aspecto é evidenciado pela ciclicidade com que suas escritas se valem, ambas operando com a repetição enquanto procedimento privilegiado de escrita. PALAVRAS -CHAVE: Voz; Poética; Música. Anselmo Peres Alós TITULO: HOMOSSEXUALIDADE, LITERATURA E MASCULINIDADES SUBALTERNIZADAS: “SARGENTO GARCIA”, DE CAIO FERNANDO ABREU RESUMO: A lacuna existente, na produção crítica sobre a literatura e as artes visuais brasileiras, de estudos que entrecruzem as questões de gênero, raça e sexualidade sob um viés comparatista, tomando como objeto de estudo corpora de natureza transdisciplinar, ainda encontra-se longe de ser devidamente preenchida com o trabalho da crítica literária. O interesse aqui é o de, partindo de um conjunto de pressupostos teóricos, seguido da análise do corpus, buscar uma poética do corpo e da subjetividade, isto é, verificar que apostas são feitas, nestes artefatos culturais, como modo de atuar na constituição de capital cultural através da representação dos usos do corpo, do exercício dos prazeres e da busca por afeto. Para tanto, parte-se da hipótese de que há uma teoria implícita subjacente aos objetos artísticos, algo como uma poética que oferece resistência às premissas heteronormativas. Em nenhum momento pretende-se esgotar as obras ou as poéticas autorais a partir da reflexão teórica desenvolvida; a intenção, muito mais do que a de alcançar o esgotamento do corpus a partir do constructo teórico mobilizado, é alcançar tal poética a partir de uma teoria implícita subjacente ao corpus. Como corpus de análise deste trabalho foi eleito o conto “Sargento Garcia”, de Caio Fernando Abreu, publicado pela primeira em Morangos mofados (1982). Cabe ressaltar ainda que este trabalho é um dos resultados parciais do projeto de pesquisa "Poéticas da masculinidade em ruínas, ou: o amor em tempos de AIDS", que conta com o apoio financeiro do CNPq. PALAVRAS-CHAVE: masculinidades. homossexualidade(s); Caio Fernando Abreu; Antônio Fernandes Góes Neto TITULO: O NOVO TESTAMENTO EM NYENGATU (1973): UM CAPÍTULO NA HISTÓRIA DAS TRADUÇÕES BÍBLICAS PARA LÍNGUAS INDÍGENAS RESUMO: Precedido pelo Novo Testamento em Baniua, o Novo Testamento em nyengatu (1973), produzido pela Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), é uma das primeiras traduções protestantes feitas no Brasil. Quais os possíveis impactos sociais da tradução de um livro bíblico para uma língua indígena? Este trabalho, pertencente à linha de pesquisa Tradução e Recepção, que discute as implicações sociais, históricas e éticas na análise da prática tradutória, propõe uma análise do texto supracitado, na qual será elencado um conjunto de problemáticas referentes à obra em questão, com vistas à investigação dos efeitos produzidos no nheengatu, falado em São Gabriel da Cachoeira (AM). A análise dessas traduções realizadas fornece dados históricos sobre um dos textos mais presentes na escrita das línguas indígenas, a saber, as escrituras bíblicas. Quais deslocamentos semânticos e quais metodologias se destacam em seus processos de tradução? Questões como estas serão desenvolvidas, considerando-se a proposta simétrica de Latour (130:1994), por meio da qual serão levantados os diferentes actantes envolvidos na rede a que o Novo Testamento em nyengatu está articulado. As propostas de Pym (1998) e Pym (2005), referentes à História da Tradução e à explicitação serão utilizadas para a observação das fontes primárias e secundárias e os estudos de Milton (2009), acerca dos agentes da tradução, articulará os aspectos linguísticos, históricos e sociais destas traduções. PALAVRAS-CHAVE: História da tradução; Tradução bíblica; Línguas indígenas. Antônio Máximo von Söhsten Gomes Ferraz TITULO: A NARRATIVA COSMOFÂNICA DO “RETÁBULO DE SANTA JOANA CAROLINA”, DE OSMAN LINS RESUMO: A obra Nove, Novena (1966), de Osman Lins, traz como temática fundamental a questão do sagrado. E isto já se percebe a partir de seu título. Suas nove narrativas compõem uma novena, vinculando a experiência literária a uma liturgia na qual a linguagem deixa de ser um mero instrumento de comunicação, tal qual costuma ser concebida em nossa época, e passa a tomada, em dizeres do próprio autor pernambucano, como “o sopro na argila” – a dimensão cosmofânica em que o mundo surge e ganha sentido. Em meio às nove narrativas da obra, “Retábulo de Santa Joana Carolina” ocupa um lugar especial, pois resgata poeticamente a experiência de um cosmos sacralizado, unindo a tradição da arte medieval e a modernidade literária. Na narrativa, nos é contada a existência, do nascimento à morte, de uma simples professora do primário que vive em uma cidade do interior pernambucano. Ela luta contra imensas dificuldades, tanto por causa de sua condição social quanto pelo fato de ser mulher, em um ambiente dominado pelo coronelismo. A santificação de Joana, a que assistimos na obra, não é o instituído por qualquer instituição religiosa, e, sim, o que alcança toda e qualquer vida que faz da doação e do sacrifício o seu sentido. Na comunicação proposta, procurar-se-á compreender a dimensão crítica que subjaz à narrativa, demonstrando que a hierofania ali encenada constitui uma reação contra a fragmentação do conhecimento no mundo contemporâneo e contra a instrumentalização da vida, da natureza e da linguagem. PALAVRAS-CHAVE: Cosmofania; Retábulo; Sagrado. Antônio Rodrigues da Silva TITULO: E AGORA, LEITOR? O SEQUESTRO DA REFERENCIALIDADE EM JOSÉ, DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE RESUMO: As orientações curriculares nacionais para o ensino médio, marco legal no contexto das reformas educacionais, preconiza a adoção do cânone literário como meio de garantir maior acesso a uma forma de produção cultural pouco divulgada fora dos muros escola, principalmente em se tratando da realidade de alunos da escola pública. A evidência de que, pela complexidade dos seus textos, há um distanciamento dos leitores em relação principalmente aos poetas (Bordini, 2009), não pode servir de argumento para afastar o aluno daquela literatura já consagrada pela crítica especializada e que forma a tradição literária da nossa cultura letrada. Sabemos que a poesia moderna representa um desafio ainda maior na comunicabilidade, exigindo do leitor um certo esforço para lograr êxito na aventura estética propiciada pela leitura. O propósito deliberado da lírica moderna de expressar a desilusão com a nova ordem de valores da sociedade burguesa, caracterizada na dissonância formal, na despersonalização( Friedrich, 1991), tem como consequência o hermetismo, sintoma também do afastamento de conteúdos descritivos que remetem ao que se chama realidade, criando um grau maior na tentativa de compreensão. A seleção de poemas da literatura brasileira que se prestem a uma ilustração desse tipo de recorrência deve compor as orientações metodológicas destinadas a habilitar o aluno do ensino médio a identificar e contornar esse obstáculo à leitura. Propomos aqui uma leitura de José, de Carlos Drummond de Andrade, poema paradigmático no sentido de fugir a qualquer tipo de análise que se ampare na referencialidade extraliterária, mesmo como recurso provisório de aproximação, ou seja, a qualquer tentativa de tradução discursiva do texto para o plano referencial. PALAVRAS-CHAVE: Poesia; Referencialidade; Metodologia. Antoneli de Farias Matos TITULO: ANIMUS, ANIMA RESUMO: Há nuances na escuridão. O escuro é domínio dos cegos, de alguns animais, dos loucos, dos bebês e das crianças bem pequenas. O corpo infantil deixa-se afetar pela luz; alguns animais dela prescindem ou a produzem em seus corpos profundos; os loucos se apaixonam pela escuridão. As crianças guardam esse desafio de relação com a luz. A literatura de Clarice Lispector para crianças pode ser atravessada por esse desafio não só por relativizar a primazia da visão em livros como O mistério do coelho pensante, mas por exaltar o olfato que sente, que pensa, dá a ver e a saber: “Nessa hora é que virava mesmo um coelho pensante. Foi olhando as coisas que seu nariz adivinhou, por exemplo, que a Terra era redonda.” Em sua obra infantil, destacamos uma dimensão artística que, através do animal, eleva o olfato, rompe a imagem convencional que privilegia uma figuração animal e infantil: “Outra coisa que o nariz dele descobriu é que as nuvens se mexem devagar e às vezes formam coelhões no céu.” São narrativas que encarnam o animal. A associação entre animal e infância nos livros infantojuvenis é tão comum que se pode esquecer a natureza figurativa dessa aliança. Procurarmos explorar o que há de comum nessa aliança que acaba por conferir certo suporte à ordem dominante nesse campo literário do infanto-juvenil, mas também investigar elementos que são capazes de subvertê-la. Em algumas rotas etimológicas, animal (animus, anima) está associado a intelecto, consciência, sensibilidade e a sopro, respiração, alma, que designou aquilo que é animado, rota que possivelmente muitos escritores para crianças utilizam para antropomorfia de animais, plantas, objetos e coisas. Esse artigo abordar alguns aspectos que acentuam a potência inovadora na experiência da poética clariciana para crianças. PALAVRAS -CHAVE: Clarice Lispector; Literatura infantil; Animal. Antonia Costa de Thuin TITULO: AS MÚLTIPLAS HISTÓRIAS DA ÁFRICA RESUMO: A produção africana contemporânea é contaminada pelo biográfico como forma de lidar com a sua narrativa. Os autores José Luandino, Ruy Duarte de Carvalho, Chimanandah Ngozi Adichie, TJ Dema, entre outros, ao seu modo produzem textos que se colocam em um limiar entre a biografia, o relato pessoal, e a ficção. Usam isso para de certa forma colocar em questão o que Chimanandah chama de história única, um relato único que definiria todo um continente. Relatos pessoais se misturam aos documentos históricos e criam histórias singulares de uma África que não depende mais do que se fala sobre ela. Luandino em seus últimos romances fala de documentários em uma ficção, misturando os domínios, Ruy Duarte faz do relato de viagem sua forma de contar uma história, Chimanandah em suas palestras nos coloca em questão que história quer contar e TJ Dema cria um ambiente em seu blog de relato do dia a dia, usando fotografias e vídeos, bem como seu corpo, para deixar essa linha ainda mais tênue. Nessa comunicação pretendo apresentar um esboço da análise de como esses autores lidam com essas fronteiras borradas. PALAVRAS-CHAVE: África; Escrita Biográfica; Contemporâneo. Antonia Torreão Herrera TITULO: ENTRECRUZAMENTOS: A LÍRICA NAS LINHAS DA CRÍTICA E A CRÍTICA LITERÁRIA NO ENCALÇO DA LÍRICA RESUMO: O projeto coletivo O escritor e seus múltiplos: migrações, do qual faço parte, tem como primeiro e constante objeto de pesquisa a produção literária de Judith Grossmann e seu perfil de escritor múltiplo. Entre livros de poesia, de contos e de romances éditos, depoimentos, entrevistas, conferências, encontramse livros organizados e inéditos e uma exímia contribuição de crítica em periódicos, notadamente no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil (SDJB), no qual apresentou e analisou textos literários de língua inglesa, a maioria com tradução própria, em uma secção por ela denominada Approach. Faremos um cruzamento dessa sua atividade crítica no SDJB, na parte referente à poesia, com sua produção poética reunida em “Vária navegação: mostra de poesia”, para estabelecermos linhas do pensar/fazer lírico de Judith Grossmann e suas escolhas. Como o SDJB foi importante catalisador da atividade crítica e literária vigente no período (décadas de 50 e 60 do século XX) e difusor de impacto das vanguardas artísticas e literárias do cenário internacional no âmbito da intelectualidade brasileira, a contribuição de Judith Grossmann, apresentando a um público mais amplo alguns poetas que revolucionaram a lírica, reverbera em sua dicção poética e em sua mirada crítica. A interlocução com o mundo, os objetos, os tipos, a tradução intersemiótica, a fina percepção da atualidade da poesia de Chaucer (século XIV), são elementos presentes em sua poesia e em sua crítica. A mão é dupla: ela escolhe poetas que estão alinhados ao seu pensamento poético e faz poesia e crítica numa dicção similar. Do metafísico John Donne (séc. XVI) a e. cummings, Marianne Moore, William Carlos William, Yeats, Wallace Stevens e outros, sua análise crítica vai mapeando uma linhagem poética na qual ela, poeta brasileiro, se inclui. Esse é o veio que pretendemos seguir nessa leitura comparativa dos corpora selecionados. PALAVRAS -CHAVE 1: Lírica; Crítica literária; Judith Grosmmann. Antonio Augusto Nery TITULO: QUANDO O PADRE NÃO É SIMILAR A AMARO RESUMO: Embora Eça de Queirós tenha realizado modificações de várias ordens tanto na segunda (1876) quanto na terceira versão (1880) de O crime do Padre Amaro, a intensidade crítica do discurso anticlerical, presente nas narrativas, permaneceu praticamente igual ao constatado na primeira versão do texto, publicada em folhetins na Revista Ocidental durante o ano de 1875. Na verdade, a obra é tida como uma espécie de “marco”, ou “exemplo maior”, do modo como inúmeras vertentes do pensamento anticlerical, vigentes em Portugal no Século XIX, foram veiculadas na literatura de ficção. A virulência crítica quase sempre conduz o leitor, de qualquer uma das três versões, à conclusão de que o romance explicita, unicamente, a principal e corriqueira meta do anticlericalismo: o rechaçado enfático à Instituição religiosa e seus representantes. O objetivo deste trabalho é averiguar em que medida tal concepção pode ser questionada, considerando já a primeira versão do texto. Para tanto, analisarei a atuação da personagem Cónego Silva, que figura apenas nos folhetins de 1875, desaparece na segunda versão do romance e constitui-se uma espécie de “esboço” de Abade Ferrão, personagem importante da terceira e definitiva edição da narrativa. Se Ferrão é de maneira explícita uma espécie de contraponto às posturas do clero deplorável de Leiria, a meu ver a figuração de Cónego Silva, também um “religioso exemplar”, problematiza a maneira com que comumente se compreende o anticlericalismo difundido por Eça de Queirós, não somente em O crime do Padre Amaro, mas também em outros de seus primeiros escritos, desenvolvidos na efervescência da Geração de 70, como as crônicas publicadas em As farpas. PALAVRAS -CHAVE: Eça de Queirós; Anticlericalismo; Crítica social. Antonio Eduardo Soares Laranjeira TITULO: ROCK AND CONTEMPORÂNEA ROLL E SUBJETIVIDADE NA LITERATURA RESUMO: O discurso literário pop é compreendido a partir da convergência entre literatura e outras linguagens, mais especificamente, as artes plásticas, representadas pela pop art. Segundo Evelina Hoisel (1980), em estudo sobre José Agrippino de Paula, a arte pop se baseia nos aspectos cotidianos da sociedade de consumo, implicando a interpenetração das técnicas e temáticas dos meios de comunicação com a cultura erudita. Pretende-se refletir sobre as relações entre literatura e rock and roll, a partir da leitura de dos romances Alta fidelidade, de Nick Hornby e Álbum Duplo – um rock romance, de Paulo Henrique Ferreira e da coletânea de contos Rock book, organizada por Ivan Hegen. Dois aspectos fundamentais inscrevem o romance de Ferreira no debate a respeito do discurso literário pop: a princípio, o escritor propõe para a narrativa uma trilha sonora, distribuída ao longo de cada capítulo e disponibilizadas num website; além disso, as canções desempenham, ao lado de outras referências culturais - populares ou eruditas (cinematográficas e literárias), um papel crucial na configuração da subjetividade das personagens. De acordo com o sociólogo Simon Frith (1998), ao refletir sobre o problema do valor nos estudos culturais, a cultura pop pode ser compreendida como um meio de socialização. Para Frith, a música pop oferece ao indivíduo formas de ser e estar no mundo. Considerando-se o tópico foucaultiano da estética da existência e percebendo o sujeito pós-moderno, representado nos romances e contos em questão, é possível discutir como se representam os modos de subjetivação que se processam na contemporaneidade e o papel desempenhado pela cultura pop na produção de identidades. PALAVRAS-CHAVE: Rock and roll; Literatura pop; subjetividade. Aparecida Fátima Bueno TÍTULO: QUEM VAI À GUERRA: A MULHER NO ESPAÇO COLONIAL RESUMO: África no feminino, livro de Margarida Calafate Ribeiro, publicado em 2007, reúne depoimentos de mulheres portuguesas que estiveram nas excolônias durante a guerra, a maioria delas acompanhando os maridos que cumpriam serviço militar em África. Quem vai à guerra, de Marta Pessoa, de 2011, “é um filme de guerra de uma geração, contado por quem ficou à espera, por quem quis voluntariamente ir ao lado e por quem foi socorrer os soldados às frentes de batalha. Um discurso feminino sobre a guerra”, conforme está descrito na divulgação do DVD do documentário produzido por Rui Simões. Se, desde os anos de 1980, a narrativa portuguesa tem dado espaço para vozes femininas, que emergiram da violência do colonialismo e da guerra mal assumida por Portugal contra o independentismo das suas ex-colônias, os depoimentos de quem viveu o trauma e o silenciamento, e foi testemunha de um dos períodos mais traumáticos da história portuguesa do século XX, levou mais de trinta anos para vir a público. Discutir esse cenário e refletir sobre essas vozes que precisam ser ouvidas, para que uma versão mais precisa dos acontecimentos venha à tona, é o objetivo dessa comunicação. Aparecido Donizete Rossi TITULO: A NEKYIA EM HOMERO E VIRGÍLIO RESUMO: A partir de uma breve definição do conceito grego de nekyia — um rito por meio do qual as almas dos mortos eram conjuradas para serem questionadas sobre o futuro — e da aproximação de tal conceito ao entendimento atual de necromancia, pretendemos, nesta comunicação, apresentar uma análise de duas cenas constantes em textos clássicos da tradição literária grega e latina: a cena em que o herói Odisseu abre uma passagem para o mundo dos mortos no canto XI da Odisséia, de Homero; e a cena em que o herói Enéias adentra o mundo dos mortos, com a ajuda da Sibila, no canto VI da Eneida, de Virgílio. Intentamos, com a análise de tais cenas, reafirmar o que defendemos no artigo “Antes de Otranto: apontamentos para uma pré-história do gótico na literatura” (Revista Soletras, v. 1, nº 27, p. 11 – 31, 2014), qual seja a idéia de que há uma “préhistória” da ficção gótica expressa em textos literários anteriores à publicação de O castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole, considerado a obra que funda o gênero. PALAVRAS -CHAVE 1: Nekyia; Homero; Virgílio. Ariane Kercia Benício de Sá Barreto TITULO: ENTRE A DOR E A GLÓRIA: A (RE)CONSTITUIÇÃO DA MEMÓRIA E DA IDENTIDADE NEGRA NA NARRATIVA DE LUIZA/KEHINDE EM UM DEFEITO DE COR RESUMO: No romance “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves, que conta a história não-oficial dos afrodescendentes, Luiza, de sobrenome Mahin, narra sua própria história de resistência e autorreconhecimento. E no encontro de si, não apenas revela a identidade de uma mulher negra, como também (re)constrói em seu discurso o coletivo negro como um todo. Nessa perspectiva, considerando a não dissociabilidade entre memória e identidade na construção das narrativas de vida, nosso interesse parte da relação entre memória, identidade e literatura, que permite ampliar a compreensão sobre os indivíduos, seja em seu processo psicológico, social, antropológico, histórico ou cultural. Essa amplitude ótica permitida pelos estudos culturais erigiu os objetivos desta pesquisa que propôsse a investigar o processo de (re)constituição da identidade individual e coletiva por meio das memórias de Luiza/Kehinde, na narração de sua história de vida como personagem principal de “Um defeito de cor”. As discussões serão amparadas sob concepções oriundas dos estudos culturais, absorvidas por meio dos temas que consolidam os estudos da Literatura afro-brasileira e da contribuição teórica de autores como Benjamim (1994), Bosi (1994), Duarte (2009), Fanon (2008), Halbwachs (1995), Hall (2000, 2006), Munanga (2006), entre outros. A narrativa de Kehinde lança nova perspectiva sobre a identidade afrodescendente desenhada na expansão coletiva de seu próprio mundo, pois nos concede espaço para a investigação de um novo olhar sobre a identidade feminina negra, que não se constitui pelo outro, pelo olhar do branco ou do homem, mas pelo olhar da própria negra, que consente ao narrar a evidência transparente ora da dor e ora da glória de uma história que divide em coletividade. PALAVRAS-CHAVE: Afrobrasilidade; Memória; Identidade Aristóteles de Almeida Lacerda Neto TITULO: A FRATURA DO SER: AS RESSONÂNCIAS DO TRAUMA EM “OS SOBREVIVENTES”, DE CAIO FERNANDO ABREU, E “ O CONDOMÍNIO”, DE LUIS FERNANDO VERISSIMO RESUMO: A ditadura militar no Brasil foi marcada pela brutal perseguição e tortura em face dos subversivos. Tal fato foi retratado – mormente pelo prisma da ficção – por inúmeros autores, dentre os quais, destacam-se: Caio Fernando Abreu e Luis Fernando Verissimo. O presente trabalho objetiva analisar a violência traumática nas narrativas “Os sobreviventes”, de Abreu, e “O condomínio”, de Verissimo, contrastando-as. Com base na categoria psicanalítica do trauma, verificar-se-á que a fragmentação da linguagem plasma os influxos da experiência violenta, imposta aos sujeitos-alvo desta ação, quais sejam, os protagonistas dos contos mencionados. Como corolário, tem-se a cisão do ser, a partir da insígnia do trauma, reverberada sobretudo pelos hiatos e avessos da memória. PALAVRAS -CHAVE: Trauma; Ditadura militar; Conto contemporâneo. Aroldo José Abreu Pinto TITULO: RICARDO RAMOS: UM CONTISTA DENTRO E FORA DA ESTAÇÃO PRIMEIRA RESUMO: As reflexões ora propostas procuram dar conta do modo de representação e do conteúdo representado em Estação Primeira (São Paulo: Scipione, 1996), coletânea de contos dirigida ao público juvenil, mas que é resultado de uma seleção de textos ficcionais publicados anteriormente pelo escritor Ricardo Ramos em obras voltadas ao público adulto. Nossa intenção não será discutir o público indicado e a adjetivação sugerida à publicação, em sua grande maioria, por questões mercadológicas. O intuito é demonstrar, à luz da teoria literária, que o escritor parece sentir a necessidade de provocar uma reação, produzir um efeito no leitor com esse modo próprio de representação e com os conteúdos representados que desnudam a essência mesma da condição humana, sem, no entanto, abrir mão do caráter estético e, por isso mesmo, exigindo uma participação ativa do leitor no processo de interação com o texto ficcional e projetando as reflexões para muito além de discussões mais pontuais como a sua destinação. PALAVRAS-CHAVE: conto; Ricardo Ramos; literatura juvenil. Artur Almeida de Ataíde TITULO: O ESPLENDOR DO SIGNUM SENSUALE: LEITURA E TRADUÇÃO DE UMA BALADA DE DANTE RESUMO: Como exemplo prático de como a todo ato tradutório subjaz um indissociável ato crítico, cujos fundamentos teóricos e metas artísticas implicados o paratexto pode aclarar, o presente trabalho vem apresentar não apenas a tradução de uma das muitas composições das Rime de Dante, a balada “Voi che savete ragionar d’amore”, mas um comentário que, buscando aproximar do texto o leitor, explicita tanto alguns contextos peculiares do original, a exemplo de sua posição na evolução temática da lírica de Dante, quanto a luz sob a qual é agora lido e traduzido. O aprendizado colhido na obra de metricistas italianos como Avalle, Fasani e Menichetti, ou mesmo em Pirandello, bem como em teóricos e praticantes da tradução poética como Britto e Laranjeira, deixa-se complementar por algumas premissas gerais de composição, buscadas no De vulgari eloquentia e no Convivio, premissas perseguidas no trabalho tradutório. Como elemento de destaque, no entanto, figuraria um conjunto de sutis relações intertextuais, que conectaria a balada com outros textos tanto da obra de Dante quanto de outros stilnovisti: trata-se de sutis procedimentos a um só tempo rítmicos e metafóricos, encenados também na tradução, e por nós estudados numa pesquisa de doutorado concluída em 2013, bem como no estágio de pós-doutorado agora em curso. PALAVRAS -CHAVE: Tradução poética; versificação; Dante Alighieri. Atilio Bergamini Junior TITULO: FIGURAS DA LEITURA E DA ESCRITA EM MEADOS DO SÉCULO XIX BRASILEIRO: PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES RESUMO: O trabalho apresenta, desde a perspectiva da história cultural, a representação de leitores e leituras em obras de ficção (poemas de Luiz Gama; peças do teatro realista; o romance Úrsula; contos publicados no Jornal das Famílias) e em anúncios publicados na página quatro do Jornal do Comércio, do Diário do Rio de Janeiro e do Correio Mercantil. Elabora, assim, uma lista das posições sociais que, de acordo com os anúncios, podiam e deviam ler em meados do século XIX no Brasil: feitores, caixeiros, donas-de-casa, estudantes, tipógrafos. Em seguida, tenta dar a ver, nas obras ficcionais, práticas de leitura apresentadas como típicas de certas posições sociais. Nesse momento, propõe reflexão em torno das continuidades e descontinuidades entre esses dois tipos de representação. Por fim, estabelece um esboço de figuras talvez úteis para pensar leituras e leitores do século XIX brasileiro e discute brevemente um interdito, tanto dos anúncios quanto da ficção: a questão dos escravos e ex-escravos leitores e escritores. PALAVRAS-CHAVE: História da leitura; Século XIX; Escravidão. Aurora Gedra Ruiz Alvarez TITULO: A POESIA NA MÍDIA ELETRÔNICA RESUMO: A literatura como todas as artes é um produto semiótico. Ela transforma a sociedade e é transformada por ela; ela se constrói na amálgama das relações culturais e nessa interação ganha novos feitios em sua produção, constituição e recepção. Neste trabalho, o foco será centrado na poesia brasileira contemporânea, com o objetivo de examinar algumas das transformações pelas quais ela tem passado desde o surgimento da poesia concreta, dos poemóbiles, da poesia sonora, da poesia performática, dos holopoemas e dos videopoemas. Dentre estas formas poéticas, pretende-se dar especial atenção ao exame da videopoesia, investigar de que sistemas intersemióticos ela se constitui, como se dá o cruzamento de mídias nesse artefato e, em cotejo com a tradição, verificar o que essas mudanças implicam no processo de criação e de leitura. No estudo dessas manifestações culturais, serão convocados não apenas os fundamentos da Teoria da Literatura, como também os da Intermidialidade, para dar sustentação à análise do texto. Será oportuno examinar, por um lado, o quanto a convergência do verbal com o visual, o cinético, o performático, é decisiva para essa nova poiesis se legitimar e propor outro paradigma; por outro, não será menos instigante atentar para o quanto a combinação de diferentes formas de expressão (afluentes de outras práticas mediáticas) produz efeitos de sentido que desestabilizam o leitor acostumado com as práticas literárias da tradição e cobram dele outro modo de interação com o objeto estético. PALAVRAS-CHAVE 1: Videopoesia; Criação; Recepção. Avani Souza Silva TITULO: A LITERATURA INFANTIL E JUVENIL CABO-VERDIANA E A LEI 10.639/2003 RESUMO: A literatura infantil e juvenil cabo-verdiana é relativamente jovem, compondo atualmente um acervo aproximado de 50 títulos, datando suas primeiras publicações a partir de 1975, ano da Independência Nacional de Cabo Verde do governo colonial português. Anteriormente, a literatura infantil caboverdiana era expressa em crioulo ou língua cabo-verdiana por um conjunto de narrativas orais, contadas às crianças, jovens e adultos, como uma atividade comunitária que ainda sobrevive em áreas rurais do arquipélago, tendo uma ocorrência menor nas áreas urbanas em decorrência de outros interesses da infância e juventude no mundo globalizado. Não obstante, consideramos como a primeira obra de literatura infantil e juvenil cabo-verdiana o romance “Chiquinho”, de Baltasar Lopes, publicado em 1949, em Lisboa, embora excertos da obra tenham sido publicados na Revista Claridade – de Artes e Letras, em 1936, em Cabo Verde. Ressaltamos as dificuldades do acesso às obras publicadas no Arquipélago devido a não circulação e distribuição dessas obras no exterior. Entretanto, destacamos a publicação no nosso país, pela Editora 34, de dois títulos de literatura infantil e juvenil cabo-verdiana, do escritor cabo-verdiano diaspórico Jorge Araújo: Comandante Hussi e Cinco balas contra a América. Analisaremos o primeiro, baseados na noção de identidade postulada por Stuart Hall (2006), derivando na proposta de sua abordagem, a partir a partir da 5ª. série do Ensino Fundamental, como instrumento didático-pedagógico para cumprimento das disposições da Lei 10.639/2003. Referida obra, pela multiplicidade de aspectos culturais que abarca e ainda pelo fato de seu espaço ficcional ser a Guiné-Bissau, traz uma grande contribuição para o estudo não só dos seus aspectos literários, mas também de seus componentes sócio-históricos e geográficos, sendo por isso de interesse não só de Língua Portuguesa, mas também de História, Geografia e Estudos Sociais. PALAVRAS-CHAVE 1: Comandante Hussi; Jorge Araújo; Cabo Verde. Bairon Oswaldo Vélez Escallón TITULO: MIRÓ CABRAL: O PRIMEIRO A VÊ-LO E A VIR RESUMO: Resumo: esta comunicação propõe uma leitura do procedimento de composição da poesia de João Cabral de Melo Neto, singularmente dos livros publicados no período 1949-1955, à luz da leitura que, em ensaio de 1949, o poeta pernambucano fez da pintura de Joan Miró. Com isso, o trabalho pretende mostrar a maneira em que Cabral –longe da vontade de ruptura do Modernismo de 22, e afastado tanto do exotismo implícito no paradigma da viagem modernista de “descobrimento do Brasil” quanto das suas possíveis reverberações de uma dialética da colonização– elabora a sua poesia como uma potência anacrônica da imaginação, em que os acontecimentos, para além da sua transcendência, se escrevem como comoções contingentes que tendem a multiplicar as origens, ao invés de meramente registrá-las. Finalmente, a comunicação pensará a singular composição do poema cabralino como uma montagem, ou remontagem, de temporalidades heterogêneas, uma meditação areal ou um fazer poesia com “coisas” em que a simultaneidade, antes que garantir a sincronia temporal com o presente, reclama a contemporaneidade ou sobrevivência de vozes silenciadas por uma historia catastrófica. Palavras-chave: João Cabral de Melo Neto; Joan Miró; viagem modernista; poesia brasileira; anacronismo; montagem. PALAVRA-CHAVE 1: João Cabral de Melo; Joan Miró; viagem modernista. Beatriz da Silva Lopes Pereira TITULO: "DE PERNAS PARA O AR": O TEATRO DE REVISTA NO CONTEXTO PEDAGÓGICO RESUMO: Este estudo tem como eixo de reflexão a relação entre dramaturgia, teatro e ensino, considerando as potencialidades pedagógicas -textuais, dramatúrgicas e cênicas-do teatro musicado, em seu gênero revista, a partir da revitalização dos elementos básicos de sua estrutura e convenções. Com o objetivo não só de “reabilitar” o estudo crítico de uma prática teatral de uma época, em que alquimia cultural operada nos palcos brasileiros, se fazia a partir das assimilações sobre o nacional, o popular, a identidade brasileira, os tipos sociais e os variados discursos anunciadores da crítica ao cotidiano da cidade, à política e aos costumes da sociedade, em sua efervescente condição de “espelho” da realidade brasileira, mas também oferecer uma abordagem desse fenômeno cultural, como uma prática artística não mais comandada pela lógica do texto escrito, conjugando elementos de linguagem que configuram um palco polifônico, em que várias “vozes” se relacionam na estruturação do discurso teatral. Nesse sentido, “De pernas para o ar” situa-se numa perspectiva pedagógica em que os sentidos do cômico, da paródia, dos elementos textuais, musicais e cênicos, da crítica social e da fixação no presente estabelecem um diálogo fértil entre o resgate de um gênero historicamente determinado, relegado pela crítica literária e teatral, e a necessidade de dinamizar a inserção do teatro no contexto pedagógico de nossas escolas e cursos de letras, articulando-os a uma concepção de arte e de sociedade em que se crie um espaço de experimentação e liberdade. Para tanto, explicita-se nessa abordagem, as origens, fórmulas e convenções do gênero, tomando-se como objeto analítico-interpretativo, o texto inédito Tudo Preto, de De Chocollat e direção musical de Pixinguinha, apresentado no Rio de Janeiro, São Paulo e outras cidades brasileiras, entre 1926 e 1927, e encontrado nos arquivos da 2ª divisão de Polícia, no acervo histórico do Arquivo Nacional/ RJ. PALAVRAS-CHAVE: Teatro de Revista; Prática Pedagógica; "Tudo Preto". Bene Martins Fábio Limah TITULO: SONHO DE UMA NOITE DE INVERNO: ONÍRICA ENCENAÇÃO RESUMO: Sonho de uma noite de inverso: onírica encenação MARTINS, Bene LIMAH, Fábio Este texto versará sobre a concepção criativa da primeira montagem da peça Sonho de uma Noite de Inverno, do dramaturgo paraense Nazareno Tourinho, realizada em Belém do Pará no ano de 2014, pelo grupo teatral Os Varisteiros. A tessitura dramática permitiu ao grupo, inovar em certa medida. Embora fiéis ao texto, alteraram falas de uma personagem, acrescentaram “cena de talentos”, nas quais trouxeram ao palco referência a outras peças teatrais, Esperando Godot, Pastorinhas, Romeu e Julieta, além de referência a cenas de filmes e a programa de auditório. Destaca pontos sobre a originalidade e o conteúdo filosófico do texto, detalhamento do processo de descoberta de caminhos singulares para a onírica encenação proposto pelo diretor Marcelo Andrade, em parceria com os atores do grupo e equipe técnica. Tais enfoques foram delineados a partir de conceitos-chave de autores das artes cênicas, como Patrice Pavis, Jean-Jacques Roubine, Beatriz Ângela Viveira Cabaral, entre outros. Registra e dialoga com depoimentos dos profissionais envolvidos na construção do espetáculo (atores, iluminadores, sonoplasta, direção e dramaturgo). A montagem, além de levar ao público texto inédito, reuniu referenciais teóricos diversos, o que reiterou, na prática, o caráter indiscutível das artes cênicas, o de ser ou de proporcionar resultados inter(trans)disciplinares. O espetáculo resultou num exercício criativo entre texto e atuação, para além da mera representação. A junção do necessário mergulho na obra, requer conhecimento do contexto social e caracterização dos personagens. O texto Sonho de uma noite de inverno, proporcionou ao grupo, vários encontros de reflexão sobre ações e questões existenciais apresentadas na trama cênica. Além do belo resultado do espetáculo, elogiado pelo autor do texto, Nazareno Tourinho e pelo público. PALAVRAS-CHAVE: Dramaturgia; Trabalho em grupo; inovação cênica. Benedita de Cássia Lima Sant' Anna TITULO: A LITERATURA NA REVISTA ILUSTRADA, APÓS 13 DE MAIO DE 1888: CONSIDERAÇÕES RESUMO: De janeiro de 1876 até a data em que a Lei Áurea foi sancionada, a Revista Ilustrada, publicação satírica, política e abolicionista, idealizada pelo caricaturista ítalo-brasileiro Ângelo Agostini, propagou as teses liberais que defendia (a proclamação da República, a separação entre a igreja e o Estado, o incentivo ao desenvolvimento do setor industrial e à lavoura), dedicou parte significativa das matérias nela impressas a causa dos negros: denunciou abusos cometidos por comerciantes, fazendeiros, políticos e policiais escravocratas, bem como a politicagem, ou seja, as manobras políticas cometidas por integrantes do governo. Em suas páginas pouco ou nenhum espaço foi reservado à literatura. Entretanto, a partir da vitória abolicionista ocorrida em 13 de maio de 1888, a revista passou a divulgar número significativo de textos literários (contos, poemas, capítulos de romances, crônicas teatrais etc). Esta comunicação tem por objetivo refletir sobre alguns desses textos, verificando as temáticas neles tratadas, as relações que podem ser estabelecidas entre os autores dos textos literários disseminados na revista e o idealizador da mesma, ademais, apresentar aos leitores e estudiosos atuais um pouco do segmento literário divulgado pela Revista Ilustrada a seu público, entre os anos de 1888 a 1898. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Revista Ilustrada; século XIX. Benedito Antunes TITULO: O IMIGRANTE ITALIANO COMO METÁFORA LITERÁRIA RESUMO: Em decorrência do processo de industrialização acelerado, São Paulo recebeu, no início do século XX, grandes levas de imigrantes, principalmente de origem italiana. A convivência desses imigrantes entre si e com os nativos gerou diversas manifestações culturais, particularmente no teatro e na imprensa, marcadas pela mistura de aspectos linguísticos e culturais. Ao lado de caricaturas, observa-se uma profusão de experimentos de linguagem em que se imitava, com intenção cômica e mesmo crítica, o vozeio ouvido nos bairros habitados por imigrantes. Alexandre Ribeiro Marcondes Machado (1892-1933), que se tornou conhecido como Juó Bananére, incorporou o linguajar do imigrante italiano para criar um estilo original, que se refletiu na renovação estética do Modernismo. A máscara do imigrante funciona, assim, como uma espécie de metáfora que permite representar um dos principais momentos históricos do País, quando se procura atrair estrangeiros para substituir a mão de obra escrava acenando com grandes oportunidades de ascensão social. Servindo-se da imagem e do discurso de personagens que mantinham pouca relação com a língua culta, Bananére escapou da tradição erudita e instaurou uma perspectiva inusitada para abordar diversos conflitos, no plano cultural, social e político. À vista desses aspectos, a comunicação propõe-se discutir os princípios constitutivos do estilo macarrônico, considerando a figura do imigrante italiano como recurso para a representação literária nas primeiras décadas do XX. PALAVRAS-CHAVE: Imigração italiana; língua macarrônica; metáfora. Bento Matias Gonzaga Filho TITULO: CENAS EM CANÇÕES: IMAGÉTICA CINEMÁTICA NAS LETRAS DE CHICO BUARQUE DE HOLLANDA RESUMO: A sociedade contemporânea está repleta da cultura da imagem, fenômeno, que no meu modo de entender, se deve principalmente a narrativa fílmica. BENJAMIN (1994, p.169) afirma que “o modo pelo qual se organiza a percepção humana, o meio em que ele se dá, não é apenas condicionado naturalmente, mas também historicamente”. Essa condição natural e histórica, que nos propiciou a leitura de mundo e da própria arte pela imagem, abre-nos um leque de grandes possibilidades interpretativas e críticas, uma delas está na leitura de poemas e suas relações com a cultura da narrativa fílmica. A proposta desta comunicação é investigar e discutir a imagética cinemática, que, como tese, acredito estar presente nas letras das canções, do compositor brasileiro Chico Buarque de Hollanda. Utilizo a expressão imagética cinemática com o intuito de explicitar que as análises a serem feitas estarão voltadas para a percepção de cenas de cinema na poesia do artista. Para XAVIER (1983, p. 15) “a experiência do cinema, em suas diferentes matizes e peculiaridades, constitui talvez a matriz fundamental de processos que ocupam hoje o pesquisador dos “meios” ou o intelectual que interroga a modernidade e pensa as questões estéticas do nosso tempo”. Como se manifesta a leitura das coisas do mundo com olhos cinematográficos? Como a imagética cinemática pode habitar a poesia? São questionamentos que fundamentam o entendimento e a resposta do problema principal da tese. PALAVRAS-CHAVE: Imagética; Cinemática; Chico Buarque. Bonfim Queiroz Lima TITULO: LEITURAS LITERÁRIAS E FORMAÇÃO DE LEITORES NAS ESCOLAS DE ENSINO MÉDIO EM XINGUARA - PARÁ: INFLUÊNCIAS E MEDIAÇÕES RESUMO: Este trabalho apresenta parte dos resultados de uma pesquisa sobre a escolarização da literatura nas escolas de Ensino Médio do município de Xinguara no estado do Pará. A abordagem metodológica utilizada, o estudo de caso, permitiu que se utilizasse uma variedade de instrumentos metodológicos, técnicas e procedimentos, típicos de estudos qualitativos, entre eles a entrevistas e a análise do material didático. Neste recorte, buscou-se verificar se nas escolas pesquisadas é desenvolvido algum projeto que estimule a leitura de obras literárias e, por extensão, que vise à formação de leitores literários. Investigou-se também quais critérios são adotados para a escolha das obras a serem lidas pelos alunos e como são feitas as avaliações a respeito dessas leituras. A partir da análise dos dados, constatou-se que os PPP das escolas pesquisadas não contêm projetos de incentivo a leitura e a formação do leitor de literatura e que a principal influência na escolha dos conteúdos e das leituras literárias são os processos seletivos, destinados ao ingresso nas universidades do estado. PALAVRAS-CHAVE: Escolarização; Leitura literária; Mediação docente. Braz Pinto Junior TITULO: O TEATRO COMO TRADUÇÃO OU A TRADUÇÃO COMO TEATRO: CONSIDERAÇÕES E METÁFORAS SOBRE O TRABALHO DO TRADUTOR RESUMO: A reflexão sobre o processo de tradução do texto dramático requer certa atenção, sobretudo devido a certas características intrínsecas dessa modalidade de texto que deve ser considerado para além da relação sugerida pelo senso comum de causa e efeito com relação à sua concretização cênica. O texto dramático, porém, não deve ser entendido apenas como base para uma encenação futura que o potencialize, nem como um processo de “transposição” para o palco à medida que lhe sejam “acrescentados” ou “extraídos” significados que o façam “ganhar vida” na forma da representação teatral. Na verdade, devemos pensar nele como uma obra de arte dotada de uma existência própria embora possua relações de interdependência com o mise-en-scène. A questão do trabalho do tradutor-dramaturgo proposta por Pavis (2007) levantada pelo autor em O Teatro no Cruzamento de Culturas é foco desse estudo que pretende servir de base para uma pesquisa de doutorado em andamento no Programa de PósGraduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina (PGET/UFSC), sob orientação do professor Dr. Sergio Luiz Rodrigues Medeiros que pretende levar em conta também a teoria de Antoine Berman. PALAVRAS-CHAVE 1: Patrice Pavis; Tradução Teatral; Tradutor-Dramaturgo. Brena Suelen Siqueira Moura TITULO: THE YEARS: UMA VIA NEGATIVA PARA COMPREENSÃO DA ESTÉTICA DO ROMANCE MODERNO DE VIRGINIA WOOLF RESUMO: Virginia Woolf foi uma das precursoras do romance moderno. Ela é conhecida pelo seu experimentalismo narrativo no qual explorou as técnicas da prosa moderna. Em To the lighthouse (1927), temos a dupla representação da personagem Mrs. Ramsay, na escrita e em seu retrato a óleo que a personagem Lily Briscoe compõe no decorrer do romance. Essa duplicidade enfatiza todo potencial woolfiano em agregar a estética pós-impressionista à sua obra moderna. Já em The Waves, de 1931, temos o ápice de sua estética modernista por causa dos fluxos de consciência extremos. The Years, penúltimo romance da escritora, publicado em 1937, não segue a mesma trajetória de transgressão das regras do romance realista de representação. Este romance relata a história de uma família inglesa entre as décadas de 1880 e 1930. Parece-nos que há o recuo quanto ao uso das técnicas vanguardistas em sua reprodução da realidade ficcional. Pode parecer uma obra controversa em relação à trajetória laboral woolfiana. Cabe-nos investigar The Years como uma via negativa para compreender a estética do romance moderno de Virginia Woolf devido ao possível recuo no experimentalismo narrativo proposto e efetivado em To the lighthouse. Teremos como suporte teórico os conceitos que circundam o romance realista e moderno a partir de Auerbach. É necessário entendermos também o processo no qual se deu a crise do romance, bem como do narrador, com Schiller, Lukács, Benjamin e Adorno. Por fim, refletiremos acerca dos conceitos da estrutura narrativa woolfiana com Ann Banfield, James Naremore, entre outros. Nosso objetivo é perquirir se The Years poderia ser uma obra prima da estética modernista de Virginia Woolf. Obra possivelmente desconsiderada pela crítica por não ter explorado de forma tão radical os recursos da prosa moderna. Seria o aprimoramento do que ela chamava de “um mundo visto sem o eu”? PALAVRAS-CHAVE: Representação; Romance Moderno; Teoria Literária. Brenda Carlos de Andrade TITULO: O INCOMUNICÁVEL COMO REPETIÇÃO EM JUAN JOSÉ SAER EXPERIÊNCIA: SILÊNCIO E RESUMO: A literatura de viagem em sua origem parece ter surgido como um elemento fundamental de comunicação de uma experiência, que pode ser primordialmente pessoal e indicar conhecimento de si mesmo ou mais externa quando revela prioritariamente os espaços e os novos elementos descobertos. Nos dois casos, a experiência revelada ou comunicada é um ponto fundamental nesses relatos. Nos séculos XX e XXI, no entanto, percebe-se o surgimento de relatos de viagem, especialmente os ficcionais, que lidam com a incomunicabilidade da experiência vivida. De alguma forma, existe algo nessa situação que ecoa a incomunicabilidade da experiência entre ex-combatentes sugerida por Benjamin em seu ensaio “O narrador” (1985). A exacerbação da violência como parte da cultura contemporânea poderia ratificar essa ideia de Benjamin. O objetivo desse trabalho, no entanto, é propor a partir da análise de El entenado, de Juan José Saer, que, apesar da violência evidente, não há uma incomunicabilidade da experiência, mas um modelo diferente de expressão dessa experiência. O livro de Saer narra a história de um grumete de uma expedição espanhola pelo Rio da Prata no século XVI, que cai nas mãos de uma tribo indígena e vê todos seus companheiros devorados. Ele sobrevive e, sem entender uma palavra do que falavam os índios, parece resumir seus anos de experiência entre eles no reviver periódico do ritual antropofágico. A narração segue o modelo das crônicas do período colonial. A mudez do personagem, porém, sugere uma impossibilidade comunicação, mas a descrição minuciosa dos rituais antropofágicos denota que a experiência de viagem vivida talvez não possa ser exprimida em palavras, mas através dos fragmentos superpostos dessa imagem de aparente violência. É como se a ausência de palavras e concentração descritiva em uma única lembrança constante – no caso do livro, a antropofagia – fossem a experiência da contemporaneidade. PALAVRAS-CHAVE: Violência; Lit contemporânea; Narrativa viagem. Bruna Carolina de Almeida Pinto TITULO: MEMÓRIA, ESPAÇO E PROJEÇÃO DO EU: O TEMA DA DECADÊNCIA EM FOGO MORTO (1943) E ILHÉU DE CONTENDA (1978) RESUMO: Este trabalho pretende tecer considerações a respeito de dois romances que têm na decadência um tema central: Fogo morto (1943), do escritor paraibano José Lins do Rego, e Ilhéu de contenda (1978), do escritor foguense Henrique Teixeira de Sousa. Embora tais obras tenham sido produzidas em tempos e espaços distintos, os procedimentos estéticos desenvolvidos em ambas as aproximam enquanto esforço de síntese das sociedades às quais pertenceram os seus autores. Assim, nossa proposta é analisar os processos que envolvem a representação de um espaço social e de uma memória (ou de memórias) que determinam a configuração das personagens centrais de cada uma dessas obras de modo a conduzi-las a uma existência problemática e às vezes paradoxal. PALAVRAS-CHAVE: Decadência; Fogo morto; Ilhéu de contenda. Bruno Barretto Gomide TITULO: AS DUAS FEBRES (OU: SOB O SIGNO DE STALINGRADO) RESUMO: A literatura russa é um dos melhores termômetros das flutuações políticas da era Vargas. Ela foi especialmente sensível às pressões do Estado Novo, um regime, afinal, cuja ideologia lastreava-se, em grande medida, na recusa ao comunismo soviético. A forma como os atores políticos e culturais se relacionaram com o “texto russo”, mobilizando paixões pró e contra, permite traçar a história do anti-comunismo no Brasil – história que já foi analisada por diversos ângulos, mas nunca exclusivamente pelo da literatura russa. A ficção russa estava vinculada à discussão política, acompanhando o ritmo nervoso do tempo e sendo apropriada de modos radicalmente diferentes para fins bastante práticos. Entretanto, podia ser tratada também através de uma perspectiva universalizante, que a tornava cada vez mais canônica, “clássica” e apolítica, ligada aos grandes temas eternos da condição humana. O objetivo desta comunicação é apresentar a conexão entre política e literatura russa no período de 1930 a 1945, arco de tempo que começa e termina com uma “febre” russa: a primeira, de 1930 a 1935; e a segunda, de 1943 a 1945. PALAVRAS-CHAVE: Literatura russa; Estado Novo; Intelectuais. Bruno Ferrari TITULO: A ESCRITA DE SI NO CENÁRIO DA FICÇÃO BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA RESUMO: Um dos traços mais característicos do projeto literário brasileiro é ter se definido por muitos anos, desde o século XIX até o século XX, pela busca de um sentimento nacional. Na contemporaneidade, entretanto, com os efeitos da globalização, o que vemos é a perda de importância do fator nacional em detrimento a múltiplas questões e traços distintivos. O objetivo deste trabalho é discutir a preponderância da chamada 'escrita de si' como traço distintivo na literatura brasileira contemporânea. É cada vez mais notório o número de escritores brasileiros que dedicam espaço em suas obras para narrarem o eu, por meio diferentes estratégias e posicionamentos em relação aos pactos autobiográfico e ficcional. Para tanto, analisaremos obras de ficção contemporâneas, baseando-nos em postulados de Gasparini (2009), Klinger (2006) e Alberca (2013), além de discutirmos as múltiplas formas como tais obras problematizam categorias como autoria, autobiografia, narrador, personagem, memória e ficção. PALAVRA-CHAVE: Escrita de si; Contemporaneidade; Ficção Brasileira. Bruno Gonçalves Zeni TITULO: ENTRE A FAMÍLIA E A CIDADE: MARGINALIDADE, ARTE E INSERÇÃO SOCIAL EM JOÃO ANTÔNIO RESUMO: A obra do escritor João Antônio (1937-1996), autor de Malagueta, Perus e Bacanaço (1963), é um marco da literatura marginal brasileira do século XX. Escrevendo num momento de industrialização e de crescimento urbano, seus contos retratam personagens de origem social desfavorável, divididos entre a sociedade instituída e a marginalidade, entre o trabalho e o ócio, a malandragem e as artes. A leitura de um de seus primeiros contos, “Afinação da arte de chutar tampinhas”, escrito na passagem das décadas de 1950 para 1960, permite apreender um movimento recorrente na trajetória de seus personagens: a oscilação entre a origem familiar, a que os personagens se veem aferrados, e o fascínio da deambulação pelo espaço urbano, que marca o distanciamento do universo da família. Essa contradição, que ocorre em diversos outros contos do autor, especialmente nos seus textos sobre a malandragem e o crime, aparece neste texto figurado na imagem a um só tempo lírica e dura da “arte de chutar tampinhas”, que consubstancia uma série de elementos favoráveis à análise de toda a sua literatura, como a noite, a flânerie, a sensibilidade artística, a vagabundagem, os relacionamentos afetivos e as relações entre origem familiar e espaço urbano. PALAVRAS-CHAVE: literatura marginal; espaço urbano; malandragem. Bruno Silva de Oliveira TITULO: A RELAÇÃO ENTRE ESPAÇO E INSÓLITO EM OS PECADOS DA TRIBO, DE JOSÉ J. VEIGA RESUMO: O espaço é o conjunto de elementos constituídos a partir das paisagens exteriores e/ou interiores, não sendo apenas um mero acessório narrativo, onde acontecem as ações da diegese, mas um elemento deveras importante, pois influencia diretamente os acontecimentos da narrativa e as ações dos personagens. A referência ao espaço em uma obra acarreta uma infinidade de informações socioculturais sobre o texto e as personagens; pensar e refletir sobre esse elemento diegético em uma obra literária é deveras importante para a caracterização e compreensão de um texto classificado como pertencente aos domínios da Literatura Fantástica. Sabe-se que este modo literário, segundo Todorov (2008), se aloja em uma brecha, a da incerteza, entre o estranho e o maravilhoso, entre o produto da imaginação e o real regido por leis diferentes. O crítico búlgaro narra um fato que transgride as leis físicas e organizacionais do mundo real, não podendo ser explicado por essas mesmas leis. Baseado nos estudos de Todorov (2008) e Roas (2014), compreende-se que o espaço na obra fantástica deve ser familiar ao do leitor para que a interferência do elemento insólito abale sua estabilidade. Levando em consideração as concepções apresentadas anteriormente, este estudo se propõe a debater se o espaço na obra Os pecados da tribo, de José J. Veiga possibilita a instauração da aura insólita e/ou fantástica na narrativa. PALAVRAS-CHAVE: Modo Fantástico; Espaço; José J. Veiga. Cássia Dolores Costa Lopes TITULO: O CORPO EM LIBERDADE: UMA LEITURA DA OBRA O AFRICANO RESUMO: O trabalho pretende debruçar-se sobre a obra O africano, do escritor J. M.G Le Clézio, tendo como móvel de análise a reflexão que este escritor traz sobre o corpo. Considerando-se que o autor nigeriano oferece destaque a este tema em seu livro, examina-se o declínio da dicotomia entre natureza e cultura, talvez uma das dicotomias mais enraizadas nas teorias sociais vigentes no mundo ocidental, bem como se avalia como o corpo é colocado em movimento em seu livro, na maneira como é envolvido nos relatos que faz e constrói no jogo da escrita de si, tornando-se mais descritível quanto mais aprende a ser afetado por outros elementos da cultura. Numa fronteira entre a ficção e a biografia, serão examinadas também algumas fotografias presentes no livro, extraídas do arquivo do próprio autor, e a multiplicidade de sentidos que as imagens agregam, bem como a função que estas ganham no decorrer dos capítulos, numa articulação entre vida e obra. PALAVRAS-CHAVE: corpo; biografia; pós-colonialismo. Célia Maria Domingues da Rocha Reis TITULO: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM LITERATURA RESUMO: Neste trabalho apresento reflexões sobre as dificuldades, função e perspectivas de realização do Estágio Supervisionado em Literatura, no âmbito de um ensino de literatura que, no ensino fundamental, coloca-se na dependência dos conteúdos de Língua Portuguesa; no ensino médio é feito apressadamente por meio do estudo dos estilos literários, suas características e contexto, que geralmente precedem ou substituem a leitura das obras, informando com antecedência e objetividade aspectos de sua conformação, um “receituário” (BOSI, 1992, p. 312), redutor de sua natureza polissêmica, dos debates, das reflexões individuais e coletivas, que desenvolvem o espírito crítico; leitura de fragmentos de obras literárias, ou resumos, visando o conhecimento de seu enredo como fator de preparação para exames vestibulares e outros; poucas e fragmentadas leituras teóricas, que abreviam e obstaculizam a leitura de obras integrais, descontextualizando a trajetória de pesquisa dos autores, das questões investigadas; a aferição de leitura feita por provas, por vezes o único momento de efetiva produção escrita do aluno na disciplina; na graduação, que adota também o estudo da literatura pelo viés da periodização, dos estilos literários, mantendo o procedimento instrumental e um tanto distanciado da ideia de fruição de arte, embora com um pouco mais de detença e, quiçá, profundidade. PALAVRAS-CHAVE: Estágio; Ensino de literatura; Estilos literários. Célia Sebastiana Silva TITULO: SAGRADO E PROFANO NO UNIVERSO SEM FRONTEIRAS DA FICÇÃO DE RULFO RESUMO: O presente trabalho pretende apresentar uma leitura dos contos do escritor mexicano Juan Rulfo, em cuja ficção ocorre um "descarnamento" dos traços pitorescos que adquirem universalidade, por transfigurados e subvertidos que são os contornos humanos das personagens de seus contos e as paisagens que neles figuram. Será mostrado, para tanto, como, na produção do referido escritor mexicano e de alguns outros escritores latinoamericanos, como Guimarães Rosa, os espaços, embora sejam "marcos em ruínas da História" (Arrigucci, 1987, p.168), não se delimitam por fronteiras específicas, bem demarcadas e bem situadas, pois se situam fora do tempo histórico. Explorar, portanto, um pouco da matéria ficcional rulfiana, evidenciando como o escritor consegue abolir as fronteiras entre o local e o universal; o trágico e o cômico; o sagrado e o profano; a vida e a morte; o oral e o escrito para criar a densidade de sua atmosfera poética constitui o objetivo deste trabalho. De forma específica, será mostrada, a partir de uma leitura do conto "Talpa", o modo como Juan Rulfo justapõe os opostos, desde a dimensão universal que dá aos seus temas, ainda que partindo de uma motivação local até a abordagem mítico-religiosa do sagrado e do profano, da culpa e do perdão, de Deus e do diabo. 1-ARRIGUCCI JÚNIOR, Davi. Juan Rulfo: pedra e silêncio. In: Enigma e comentário. Sobre literatura e experiência. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. 2-RULFO, Juan. Pedro Páramo e Planalto em chamas. ( trad. Eliane Zagury). Rio de Janeiro: Paz e terra, 1977. 214 p. PALAVRAS-CHAVE: Juan Rulfo; local-universal; sagrado-profano. Cícera Antoniele Cajazeiras da Silva TITULO: O FANTÁSTICO COMO EXPRESSÃO METAFICCIONAL NOS CONTOS DE JULIO CORTÁZAR RESUMO: A obra de Julio Cortázar – sobretudo os contos – é comumente associada à literatura fantástica. Embora essa associação seja verdadeira, cabe refletir sobre a natureza do aspecto fantástico na obra do autor; buscar a compreensão de suas formas de construção e suas implicações para a significação do texto e para a forma de se conceber a literatura. O fantástico cortazariano transcende a manifestação de eventos e/ou personagens insólitos/ sobrenaturais, suscitando significados que se referem também à questão do fazer literário. Se o fantástico traz consigo uma ruptura com o universo até então construído pela narrativa, ele também pode ser responsável por questionar os meios pelos quais essa suposta realidade se constrói e se sustenta, demonstrando assim a consciência do criador diante dos artifícios literários – aspectos que apontam a manifestação do discurso metaficcional. O presente trabalho busca investigar a forma de construção do fantástico nos contos As babas do diabo e A autoestrada do sul e como esse recurso se evidencia como forma de expressão metaficcional. PALAVRAS-CHAVE: fantástico; metaficção; Cortázar. Cícera Rosa Segredo Yamamoto TITULO: “CORUMBÁ REVISITADA”: A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA NA POÉTICA DE MANOEL DE BARROS RESUMO: “Corumbá revisitada”: A construção da memória na poética de Manoel de Barros. Cícera Rosa Segredo Yamamoto (Dinter UPM/UFMS) As pesquisas acadêmicas que versam sobre a poética de Manoel de Barros, sob diversas perspectivas e posições teóricas, ressaltam, entre outros aspectos, o trabalho do poeta na recriação, a partir da memória, do Pantanal, das minudências, dos seres simples e despojados de bens materiais, das descrições de espaços rupestres da cidade de Corumbá – ladeiras, casas, comércios – assim como de pessoas que fazem parte dessa paisagem. Na poesia de Barros tudo é recordado e revivido pela memória. Ao trazer para o poético os elementos do passado da sua infância, o poeta produz imagens (fatos, acontecimentos, cenas, personagens, espaço) dentro de uma realidade poética em que podemos identificar a própria identidade do autor. Para Hume (2009) a memória produz e revela nossa identidade. Isso nos mostra que a identidade se faz em um percurso histórico e social do indivíduo enquanto ser existente e observador dessa existência. Assim, este trabalho tem por objetivo mostrar – a partir da análise do poema “Corumbá revisitada”, de Memória inventadas: A terceira infância (2008) – como Manoel de Barros articula a memória como ferramenta para produzir sua poesia, e que ao realizar suas lembranças, poeticamente, revela seu passado, presentifica seu presente e evidencia a sua identidade. Dentro desse contexto trazemos para a discussão a questão do sujeito empírico, lírico e autobiográfico dentro do campo fictício da literatura. Para tanto, nosso referencial teórico se dará, entre outros, em torno de Hume (2009), Bosi (1994), Benjamin (1994). Referências: BOSI, Ecléia. Memória e sociedade: lembranças dos velhos. 3. ed. São Paulo: Companhia das letras, 1994. HUME, David. Tratado da natureza humana. Trad. Déborah Danowski. 2. ed. São Paulo: Unesp, 2009. BENJAMIM, Walter. A imagem de Proust. In: _____. Magia e técnica, arte e política: Ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 36-49. PALAVRAS-CHAVE: Reminiscência; Identidade; Poesia contemporânea. Cíntia Paula Andrade de Carvalho Nancy Rita Ferreira Vieira TITULO:QUANDO “EU” SOU TAMBÉM O “OUTRO”: O DILEMA DA DUPLANACIONALIDADE EM CUNHATAÍ RESUMO: O romance Cunhataí (2003), da escritora cuiabana Maria Filomena Bouissou Lepecki (1961-), além de atentar para um segmento pouco representado na historiografia e, inclusive, na literatura voltada aos eventos da Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), com a representação da mulher na contenda e a interpretação do conflito sob a ótica feminina, utiliza outro estratagema para rasurar a noção de nação e seus desdobramentos: a dupla nacionalidade. Tratase do dilema enfrentado por Ângelo, a quem Micaela, protagonista da história, desposa na trama. Filho de um brasileiro com uma paraguaia, o oficial convive em um bólido de heranças étnicas e culturais que o perturba dada a sua perigosa atuação como espião dos paraguaios, infiltrado no Exército imperial do Brasil. Fala em português ou espanhol, mas sonha em guarani. A comunicação tem como objetivo pensar a respeito da condição ambivalente de Ângelo no cenário bélico como um exemplo de deslizamento de identidades sobrepostas e negociadas que rivalizam com a perspectiva essencialista de identidade nacional. Referências: ANDERSON, Benedict R. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. ______. A identidade cultural na pós-modernidade. 7. ed. Rio de Janeiro: DP&A Ed., 2003. VERDERY, Katherine. Para onde vão a “nação” e o “nacionalismo”? In: BALAKRISHNAN, Gopal (Org.). Um mapa da questão nacional. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000, p. 239-247. PALAVRAS-CHAVE: Cunhataí; Nação; Dupla nacionalidade. Cacio José Ferreira TITULO: O CHÃO DE BARRO E AS PAREDES DE ADOBE: O VISITANTE, A MEMÓRIA E A CRIAÇÃO RESUMO: Esta comunicação trata de algumas considerações sobre o refúgio da memória do indivíduo, reduzido e isolado no seu próprio contexto e de fragmentos rápidos que se assemelham à construção de um mundo completo. A tentativa de incorporar o lugar estranho, a partir de distorções simbólicas e da reconstituição de lembranças, se apresenta como indícios necessários para a criação e a arquitetura de um mundo fugidio. A rede tecida nas narrativas de La Paz existe? e 1Q84 entrelaça com elementos advindos de outros lugares, que a ela aderem tão perfeitamente, já que não é possível encará-la como um mero conjunto de informações necessárias à construção textual, mas como algo que instiga a reflexão sobre a relação entre a memória e o conteúdo, entre a leitura e a escrita, entre o real e a ficção. Nessa perspectiva, o relato de viagem de Osman Lins e Julieta de Godoy e o romance de Haruki Murakami sustentam o movimento da lembrança que distorce o sentido de espaço consolidado no senso comum. Da mesma forma, a imperfeição espacial pode trazer à baila a modificação da realidade, a alteração de si e do ser sem causar modificação da essência. Assim, o trabalho em questão comparará as representações edificadas nas narrativas para a construção da vida satisfatória do indivíduo deslocado no espaço e tempo, que busca sentido e agregação de valor à sua origem, criando representações cristalizadas no tempo da memória. PALAVRAS-CHAVE: Memória; Tempo e espaço; Criação. Caio Vinicius de Souza Brito Roberto Rodrigues Campos TITULO: TRABALHANDO COM OS CONTOS DE BEEDLE, O BARDO NA SALA DE AULA RESUMO: O uso de um conto de fadas como instrumento pedagógico está ligado principalmente ao desenvolvimento da literatura infantil como parte de um projeto para reafirmar a identidade cultural das crianças, ensinar-lhes lições sociais, morais e/ou religiosas. Os contos de fadas alimentam a imaginação dos jovens leitores e usam uma forma indireta de apresentar situações de modelos a serem seguidas. Este estudo apresenta a experiência de uso do livro Os Contos de Beedle, o Bardo, da escritora britânica J. K. Rowling, como algo que tem contribuído na constituição de leitores e que desperta o interesse no processo de escrita de contos. Essa prática está embasada na concepção de que ler, além de implicar nos atos de reapropriar e reinterpretar os textos, possibilita que esse leitor tenha contato direto com as marcas textuais do gênero. Os resultados dessa experiência, aplicada nos anos finais do Ensino Fundamental II, têm apresentado mudanças no comportamento dos adolescentes envolvidos no processo, pois eles, compreendendo melhor as marcas textuais do gênero trabalhado, acabam por incorporar o hábito da leitura no seu cotidiano e, consequentemente, são postos em contato com os valores morais contidos nas obras lidas. PALAVRAS-CHAVE: Leitura literária; Formação de leitores; Contos de fada. Camila Machado Burgardt Socorro de Fátima Pacífico Barbosa TITULO: A PROSA DE FICÇÃO NOS OITOCENTISTAS: PRÁTICAS DE ESCRITA PERIÓDICOS PARAIBANOS RESUMO: A produção literária na Paraíba teve, no século XIX, como principal suporte a imprensa periódica, fonte que vem sendo, cada vez mais, utilizada por historiadores da literatura, com o objetivo de investigar e contribuir para os estudos sobre a leitura e escrita literárias, como práticas sociais e culturais. Seguindo essa perspectiva, este artigo tem por objetivo apresentar as primeiras análises de nosso projeto de doutorado Prosa de ficção na Paraíba oitocentista: uma (re)construção das práticas de escrita literária (1822-1889), no qual pretendemos investigar acerca da constituição da prosa de ficção enquanto oficina experimental para os escritores de narrativas naquele momento, nos jornais paraibanos, observando um modo de escrita em ascensão – a narrativa de ficção. Entre os jornais paraibanos selecionados, até o momento, estão os que circularam no período entre 1826 e 1889. Entre os jornais selecionados podemos citar ? A Ordem (1850-1851); A Regeneração (1861-1862); O Governista Paraibano (1850-1851); O Reformista (1849-1850); O Publicador (1864-1869) entre outros, por se tratarem de jornais que trazem, entre as tipologias textuais que circulavam na época, a prosa de ficção. Para tais análises, partimos dos estudos de Abreu (2003), Araújo (1985), Barbosa (2006;2007;2011), Cândido (1983), Luca (2005), Pinheiro (1862) entre outros. PALAVRAS-CHAVE: Prosa de ficção; Jornais paraibanos; Século XIX. Camila Marcelina Pasqual TITULO: LIMA BARRETO: UM PINGENTE ENTRE A LITERATURA E A REALIDADE RESUMO: O artigo, intitulado Lima Barreto: um pingente entre a literatura e a realidade, examina a forma como o escritor João Antônio retrata a vida do povo do subúrbio tentando resgatar a "voz" dos excluídos da periferia das grandes metrópoles e como tal tentativa de resgate determina a dinâmica de sua literatura. Ao mesmo tempo, avalia como a obra do romancista carioca Lima Barreto influenciou a produção literária do contista paulistano, levando este a escolher retratar o mundo dos excluídos dos subúrbios: prostitutas, jogadores de sinuca e malandros, a partir da visão de mundo destes. Para tanto, o artigo utiliza as contribuições de autores como Antonio Candido, no que diz respeito à questão da literatura engajada, e Antonio Arnoni Prado para avaliar a influência de Lima Barreto sobre a produção contista de João Antônio. Prado também contribui para a análise da “herança” barretiana de João Antônio. O artigo recorre também às contribuições de Alfredo Bosi, sobre a afinidade de João Antônio e Lima Barreto para com as “classes excluídas”. PALAVRAS-CHAVE: João Antônio; Exclusão Social; Subúrbio. Camila Soares López TITULO: MERCURE DE FRANCE: CRÍTICA LITERÁRIA E COSMOPOLITISMO (1890-1898) RESUMO: O século XIX francês caracterizou-se pelo amplo desenvolvimento da imprensa. Diversos periódicos surgiram nesse momento de intensa efervescência. Da Presse de Girardin às revistas especializadas, eles foram via de difusão de informação e, também, de literatura. A partir dos anos de 1880, surgiram as petites revues, folhas que abrigavam a produção daqueles que buscavam uma reação contra os órgãos da grande imprensa e propunham novas incursões literárias. De tais revistas, destaca-se o Mercure de France. Fundado em 1890 e dirigido por Alfred Vallette, o Mercure continha em suas páginas poemas, contos e, entre outros textos, crítica literária. Este trabalho, resultado de pesquisa de Doutorado financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e intitulada “O Simbolismo no Mercure de France (1890-1900)”, visa à apresentação das especificidades dessa crítica, refletindo, igualmente, sobre as práticas de sociabilidade estabelecidas entre seus autores e os escritores da época, e as demais revistas e editoras. Consideramos, ainda, o caráter cosmopolita de tal publicação e sua presença no cenário literário brasileiro do fim do século XIX, bem como aspectos das transferências culturais entre Brasil e França. PALAVRAS-CHAVE: Petites revues; Crítica literária; Cosmopolitismo. Carina Adriele Duarte de Melo TITULO: HISTÓRIA, MEMÓRIA E ARQUIVO EM AS TRÊS VIDAS RESUMO: Em Kafka e seus precursores, Jorge Luis Borges (1999) medita sobre o imaginário ao contar que leitura da obra de Kafka modifica sua interpretação de passado e do futuro. Ler o escritor de Praga o faz reinterpretar os precursores e vice-versa, em diálogo movediço que jamais se interrompe ou se repete. Pensando questões parecidas, porém, com relação à história, Walter Benjamin (1994), em Sobre o conceito de história, assegura que esta ciência é uma construção cujo resultado não é a configuração de um passado homogêneo e congelado, mas sim um lugar, espaço em que passado e presente se contaminam mutuamente. Tais proposições, para o campo dos estudos literários que se pretende mobilizar aqui, representam certa forma de olhar para o passado que se deseja empregar para investigar estratégias de narrativas plausíveis em As três vidas (2010), do escritor português João Tordo. O que se pretende é investigar como, na narrativa de As Três Vidas, a experiência presente do assistente que lê os arquivos recria a história ao mesmo tempo em que inventa um presente (e inevitavelmente um futuro) para o narrador. Como, ao organizar os arquivos, o narrador organiza (?) a própria história? A tentativa que se propõe aqui é a de qualificar, conhecendo de antemão a precariedade do inventário, as influências identificáveis entre narrador e narrativas, para se perguntar, como preocupação maior e ancestral, quando uma coleção de gestos, obras ou fatos necessita de um testemunho para não morrer? Como arquivos conversam na memória? O objetivo deste trabalho é investigar tais e outras questões em As três vidas. PALAVRAS-CHAVE: História; Memória; Arquivo. Carla da Silva Miguelote TITULO: “VOCÊ ESTÁ LEVANDO MUITO TEMPO PARA CAMINHAR ATÉ MIM”: O MUSEU COMO DURAÇÃO A SER ATRAVESSADA RESUMO: O trabalho propõe uma reflexão sobre alguns vetores da arte contemporânea, tomando como ponto de partida a exposição “Círculo mágico”, da artista brasileira Rosângela Rennó. Intermidialidade, articulação entre palavra e imagem, reconfigurações do espaço do museu e utilização de materiais pré-existentes, provenientes do patrimônio artístico e cultural, são alguns desses vetores. A exposição, de 2104, faz parte do Projeto Respiração que, desde 2004, convida artistas a fazerem intervenções na casa museu Eva Klabin. Rosângela Rennó escolhe dezesseis objetos entre as duas mil peças que compõem a coleção. Desloca esses objetos de lugar, criando novas vizinhanças, e lhes dá voz. A partir de um dispositivo sonoro-luminoso, acionado quando o observador se aproxima, os objetos “falam”, em primeira pessoa, evocando suas memórias e comentando sobre seus lugares na coleção. Como observa Anne Cauquelin, na arte contemporânea, o savoir-faire manual é preterido em prol de um saber-escolher do artista, cuja atividade se reduz a deslocar objetos, mudando-o de lugar e de temporalidade. O artista não fabrica mais um objeto, mas lhe acrescenta algo, um coeficiente de arte. Tal acréscimo, lembra Cauquelin, pode vir de uma nova montagem, mas também de um aporte verbal. Rennó faz as duas coisas. Ao dar voz a objetos mudos, a artista se aproxima da tradição da ekphrasis, que, em tempos de intermidialidade, pode ter seu campo de atuação ampliado. Problematiza-se, assim, a distinção feita por Lessing, entre a pintura, arte do espaço, e a narrativa, arte do tempo. Trata-se, em última instância, de pensar uma reconfiguração contemporânea do museu que, como apontam autores como Hans Belting e Nicolas Borriaud, tende a se desespacializar e a se temporalizar, apresentando-se como duração a ser atravessada. PALAVRAS-CHAVE: arte contemporânea; palavra e imagem; Rosângela Rennó. Carla de Figueiredo Portilho TITULO: TANGOS, LABIRINTOS E UM DETETIVE ACIDENTAL: OS CAMINHOS DA MEMÓRIA EM O CANTOR DE TANGO, DE TOMÁS ELOY MARTINEZ RESUMO: A partir dos conceitos de detetive metafísico (HOLQUIST, 1971) e ontológico (GOMEL, 1995), caracterizados pelo questionamento sobre a natureza da realidade e os limites do conhecimento, propõe-se discutir o romance O Cantor de Tango como uma narrativa que busca resgatar a memória, a cultura e a história recentes da Argentina. O protagonista, Bruno Cadogan, doutorando que pesquisa a história do tango, viaja a Buenos Aires em busca de um cantor mítico, Julio Martel, cujas apresentações, sempre de surpresa e em locais improváveis, o levam a empreender uma busca pela cidade, a fim de compreender a lógica que as norteia. Como um pesquisador, Bruno se aproxima do perfil do detetive metafísico / ontológico que, ao investigar, descobre muito mais sobre si próprio e o mundo a sua volta do que sobre o seu objeto de pesquisa inicial. Suas caminhadas por Buenos Aires o levam a empreender um trabalho de construção da memória recente da Argentina, com base nos locais e fatos históricos descobertos em seu percurso, marcando que o ato de caminhar equivale, simbolicamente, a narrar. Ao perder-se no labirinto do Parque Chas, Bruno percebe que as ruas circulares do bairro equivalem às narrativas concêntricas dos personagens que o ligam a Martel e que desvendam o mistério da escolha dos locais das apresentações. Citando um dos personagens do romance, que diz que a forma de um labirinto não está nas paredes, mas no espaço entre elas, vemos que o mesmo se dá com a narrativa e, por conseguinte, com a construção da memória, uma vez que o seu significado não está no que é dito, mas nas entrelinhas, no que o leitor deve, por sua própria conta, apreender e interpretar. PALAVRAS-CHAVE: memória; detetive metafísico; detetive ontológico. Carla Lavorati TITULO: DESDOBRAMENTOS DA MEMÓRIA EM "OS ANEIS DE SATURNO", DE W. G SEBALD RESUMO: Nascido em 1944, em Wertach, na Alemanha, W. G Sebald, começa sua carreira de escritor com um livro de poesias, mas ganha reconhecimento a partir da publicação de suas ficções em prosa. Suas obras trabalham de modo recorrente com temas como: violência, guerra, abandono, trauma, memória, esquecimento. Em “Os anéis de Saturno”, objeto desse estudo, o narrador é uma espécie de alter ego do autor, relacionado que está às experiências vividas por W. G Sebald em agosto de 1992, ao empreender uma viagem a pé pela costa leste da Inglaterra. Nesse movimento de quem caminha e observa o seu entorno, o narrador de “Os anéis de Saturno” reflete sobre as marcas no presente que remontam a um passado traumático, ligado a movimentos de destruição em massa ocorridos no século XX. Dessa forma, é uma narrativa que oferece aspectos interessantes para observações sobre os rumos tomados pela literatura do pósguerra, as novas perspectivas aplicadas ao narrador, autor, enredo, e ao próprio processo representacional da linguagem e da memória na contemporaneidade. Desse modo, o objetivo da análise é observar aspectos da memória na narrativa de “Os anéis de Saturno”, com atenção especial para os desdobramentos da memória individual e histórica no texto. PALAVRAS-CHAVE: História; memória; trauma. Carlos Alberto de Negreiro Tânia Maria de Araújo Lima TITULO: ESCRITURA FEMININA NEGRA E ESCRITA-LUGAR: SUBJETIVIDADES E TERRITORIALIDADES EM MARIA FIRMINA, CAROLINA DE JESUS E CONCEIÇÃO EVARISTO RESUMO: O escopo deste trabalho é o de analisar o processo da escrita em três autoras n, que se localizam em três momentos históricos diferentes da história da literatura brasileira: Maria Firmina dos Reis (1825-1917), no conto “A escrava”, (por volta de 1859); Carolina Maria de Jesus (1914-1977), em “Quarto de despejo”(1960) e Conceição Evaristo (1946-), com “Ponciá Vicêncio”(2003). A singularidade da escritura indica como cada autora expressa um ponto de vista interno, e um universo por meio de relatos e histórias, configurando-se em narrativas de si e narrativas do outro. A investigação busca destacar uma escritora negra, que escreve em pleno séc. XIX; a outra que exerce necessidade de mostrar o ponto de vista de quem mora na favela; e a terceira que se incube de erigir uma memória para uma construção identitária. Tudo o que essas escritoras viveram e cresceram e espelham um lugar na escrita e todas finalizam para ver essa matéria se concluir tratada em um “livro”. O aspecto literário aqui incide em uma provocação, visto que a priori o texto não ambiciona pretensões estéticas ou literárias dentro do ponto de vista convencional, ou seja, da Literatura tradicional, percebemos, então, como um “constituinte literário” ao considerar o espaço e seu cenário enunciativo em que a obra se insere. Relacionamos, para isso, as considerações de “instituição literária” e o “discurso constituinte” (MAINGUENEAU, 2006); a ideia de “corpo educado” (LOURO, 2013); o feminismo e a “subversão da identidade” (BUTLER, 2014). As narrativas configuram as subjetividades das escritoras inseridas nesse contexto de periferia, tanto os que são narrados com seus relatos, como se narram as próprias autoras do livro. PALAVRAS-CHAVE: Escritura-feminina; Escrita-lugar; Identidades. Carlos André Pinheiro TITULO: O ESPAÇO COMO UMA FORMA DE RESISTÊNCIA NA NARRATIVA DE MIA COUTO RESUMO: O esforço para constituir um registro da memória cultural africana é um dos procedimentos mais recorrentes na obra de Mia Couto. Abordado sob múltiplas perspectivas, o tema parece adquirir uma roupagem diferenciada a cada novo volume publicado. No romance "A varanda do frangipani" (1996), o autor faz uma leitura do período em que já começava a esfriar a guerra civil que sucedeu à libertação de Moçambique do domínio português. Tendo como cenário uma fortaleza isolada na costa moçambicana, esse espaço figura como representação das condições vividas pelos países africanos escravizados. O romance narra a trajetória de um inspetor de polícia enviado pela Nação para investigar a morte do diretor da fortaleza. Deslocado da terra natal, pode-se dizer que a sua percepção do espaço alheio constitui uma forma de reescrever a história daquele povo. Como a estrutura do romance alterna a voz do narrador com os relatos dos personagens, esse livro acaba por comprovar que o espaço é construído antes por um fenômeno perceptivo e pelo tecido mnemônico do que por segmentos meramente físicos e materiais. O objetivo deste trabalho, portanto, é fazer uma análise do romance "A varanda do frangipani", tomando como ponto de partida a sua configuração espacial. Amparado nas teorias de Lefèbvre, Foucault, Bachelard e Merleau-Ponty, pretende-se evidenciar o modo como visões divergentes da realidade agem na composição do espaço. Depois, planeja-se mostrar que o microespaço delineado na obra revela dados substanciais acerca da paisagem cultural e da sociedade africana, que aparecem estruturadas em uma espécie dialética da construção (marcada pela presença da cultura ancestral e pela esperança de um mundo livre) e da destruição (centrada na imagem do espaço em ruínas e do sentimento de medo diante da guerra). PALAVRAS-CHAVE: Teoria do espaço; Memória cultural; Mia Couto. Carlos Augusto Nascimento Sarmento-Pantoja TITULO: CINEMA-TESTEMUNHO OU DOCUMENTÁRIO TESTEMUNHAL: PERLABORAÇÕES SOBRE A DITADURA NO DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO RESUMO: Pensamos sobre a criação das categorias cinema-testemunho e documentário testemunhal para possibilitar uma melhor compreensão da produção audiovisual contemporânea brasileira que se debruçou sobre a temática da ditadura civil-militar brasileira. Para isso, recorremos ao conceito de documentário performático, desenvolvido por Bill Nichols, caracterizado como aquele que “sublinha a complexidade de nosso conhecimento do mundo ao enfatizar suas dimensões subjetivas e afetivas” (2005, p. 169), pois a combinação entre o imaginário e o real frutifica o modo performático no documentário. Desse modo, nas minúcias entre o real e o imaginário estão o cinema-testemunho e o documentário testemunhal, como formas de audiovisual que esgarçam a realidade e transformam o filme em documentos e testemunhos de uma realidade. Nesse sentido, a produção cinematográfica brasileira desde a ditadura militar apresentar uma proposição de um cinema-testemunho, que busca denunciar mazelas sociais e problemas culturais vividos, principalmente, fora dos grandes centros urbanos. De outro modo, contemporaneamente, os documentários promovem o debate sobre a natureza testemunhal de produções como: No olho do furacão (2002), de Renato Tapajós e Tony Venturi; Hércules 56 (2006), de Sílvio Da-Rim; e Cidadão Boileisen (2009), de Chaim Litewski. PALAVRAS-CHAVE: Cinema-testemunho; documentário; testemunho. Carlos Eduardo Brefore Pinheiro TITULO: AS FIGURAS FEMININAS DE CLARICE LISPECTOR: A "TRAGÉDIA DO TÉDIO DA REPETIÇÃO" RESUMO: Clarice Lispector escreve em seu romance “Um sopro de vida”: “O quotidiano contém em si o abuso do quotidiano: o quotidiano tem a tragédia do tédio da repetição”. Esse tema, o da repetição que condiciona a vida do ser humano, será um dos pilares que alicerçará a obra de Lispector e uma marca constante na trajetória de muitos de seus personagens (sobretudo das figuras femininas). Assim, pensar numa abordagem em que se focalize o mecanismo de “repetição”, presente nos textos dessa autora, unindo a teoria literária à teoria psicanalítica, é uma forma de dar ao público uma nova possibilidade de leitura de sua obra. Analisar os procedimentos de “repetição” no texto literário, retomando as teorias freudianas presentes em estudos como “Recordar, repetir, elaborar”, “O estranho” e “Além do princípio de prazer”, bem como a leitura do conceito de “repetição” que fazem os comentadores de Freud, é uma forma de retirar das obras de Clarice possíveis significados com base naquilo que a própria autora declarou como sendo a “tragédia do tédio da repetição” no cotidiano. Este trabalho tem como base, então, perceber a maneira pela qual tal procedimento interfere na trajetória das figuras femininas dos romances “Perto do coração selvagem”, “O lustre”, “A paixão segundo G.H. “Água viva”, “A hora da estrela” e “Um sopro de vida”, bem como nas dos contos “A imitação da rosa”, “Amor”, “Feliz aniversário”, “Os obedientes”, “Miss Algrave”, “O corpo”, “A fuga” e “Um dia a menos”. Feitas estas considerações, desenvolvidas as análises, comprovadas as hipóteses, poderemos chegar a um patamar interpretativo a respeito dos fundamentos que nortearam a autora na elaboração das obras elencadas para este estudo, no que diz respeito às tendências estéticas que trilhou, sem perder de vista o diálogo aberto pela artista, avivando relações entre cultura, arte e sociedade. PALAVRAS-CHAVE: Clarice Lispector; repetição; feminino e cotidiano. Carlos Eduardo Galvão Braga TITULO: O SÍMILE EM MADAME BOVARY RESUMO: A escrita de Flaubert, tanto a ficcional quanto a epistolar, é intensamente marcada pela presença das comparações. O recurso ao símile como procedimento estilístico caracteriza, em particular, a escrita de "Madame Bovary" (1857), livro com que Flaubert estreou na literatura, e cuja escrita assinala a prevalência definitiva, em sua obra, do “desenho” sobre a “vibração”, propósito que ele perseguia desde, pelo menos, 1847, quando redigia, com seu amigo Maxime du Camp, "Pelos campos e pelas praias", relato da viagem que ambos haviam feito à Bretanha. Tratava-se, em outras palavras, para Flaubert, de encontrar uma maneira de escrever capaz de realçar a “cor” e o “relevo” do que ele chamava de “objetivo”, em contraposição ao investimento emocional do texto, sua vibração. A primazia do desenho o conduzirá, anos mais tarde, na época da redação de "Madame Bovary", à concepção de uma literatura “expositiva”, cujo modelo lhe é fornecido pelas ciências naturais: a ambição de Flaubert é descrever, sob a forma de quadros, o real em sua totalidade. Um de seus princípios é a (controvertida e, certamente, improvável) impessoalidade: o escritor deve se limitar a expor, com os meios de que dispõe, o fruto da sua prospecção do real, sem, no entanto, opinar sobre o exposto. Esse empenho expositivo da literatura, que o símile flaubertiano serve e reforça, visa combater o caráter dogmático, impositivo e totalitário da opinião. Em "Madame Bovary", a altíssima frequência do símile confere à escrita do romance uma visibilidade em que se consuma um traço distintivo, segundo o próprio Flaubert, da grande obra literária: a capacidade de “fazer ver” para “fazer sonhar”. PALAVRAS-CHAVE: Flaubert; símile; Madame Bovary. Carlos Junior Gontijo Rosa TITULO: O CRIADO CARNAVALIZADO: A PERSONAGEM-TIPO DO GRACIOSO RESUMO: O criado é uma personagem-tipo fortemente marcada, recorrente no âmbito cômico da arte teatral desde as primeiras comédias, escritas na Grécia antiga. O gracioso é uma adaptação feita pelos autores do Século de Ouro espanhol para esta personagem-tipo, de acordo com o gosto do seu público coetâneo. Tipicamente espanhol, este personagem chega a Portugal junto com as representações de companhias espanholas em digressão pela Península Ibérica e aí também se firma no gosto do público. Nos textos do português Antônio José da Silva, apesar do crescimento das referências à ópera italiana ao longo de seu amadurecimento enquanto dramaturgo, a figura do gracioso ganha destaque poucas vezes antes visto na intriga principal. Para os estudiosos espanhóis nossos contemporâneos, o gracioso distingue-se dos demais criados que figuram no teatro espanhol por apresentarem uma visão burlesca do mundo do galán ou herói. Esta carnavalização presente no texto dramático é empreendida por Antônio José de forma ímpar, enquanto último baluarte da preceptiva aurissecular espanhola. PALAVRAS-CHAVE: Personagem; Teatro Português; Carnavalização. Carlos Mateus da Costa Castello Branco TITULO: UM UÍSQUE PARA O REI SAUL: O MONÓLOGO E SUA FORÇA POLÍTICA RESUMO: A comunicação se destina à análise do texto de César Vieira, Um Uísque para o Rei Saul, escrito em 1968, e montado no mesmo ano. Para isso são observadas as teorias do teatro político e do teatro do absurdo. Pretende-se a reflexão sobre a força do monólogo em tempos de exceção no país, a ditadura militar a partir do ano de 64, como estratégia de combate a falta de fomento para obras com teor contestatório no Brasil. Também verifica-se a estreia da obra no conturbado contexto político da época e seu significado para a construção da cena teatral em Brasília por ter sido montada na cidade no ano de 68. Por fim é analisada a criação do diálogo dentro do monólogo e seus desdobramentos cênicos e como opera a censura a partir das características do texto. A intertextualidade é vista como elemento de diálogo-crítico no texto dramático, bem como a percepção das questões sociais pela dramaturgia e os elementos que possibilitam o engajamento por meio da obra literária igualmente é preocupação desta reflexão. PALAVRAS-CHAVE: Teatro; Polítco; Monólogo. Carolina Geaquinto Paganine TITULO: SOBRE “TALES” E “SKETCHES”: VOZES E GÊNEROS NARRATIVOS EM TRADUÇÃO RESUMO: Quando se traduz, trabalha-se com a premissa de que cada gênero textual necessita de uma maneira de traduzir própria, assim como as estratégias para se traduzir um autor não são as mesmas aplicadas a outro. De fato, como nos lembra Antoine Berman, “o espaço da tradução é babélico, isto é, recusa qualquer totalização” (2013, p. 27) e estabelecer regras ou métodos universais é algo que se aproxima da impossibilidade. Mas como lidar com a multiplicidade de gêneros e vozes textuais em uma mesma obra de um mesmo autor? Esta comunicação discutirá essas questões em relação à minha tradução das narrativas curtas intituladas A Few Crusted Characters (1894) de Thomas Hardy. Inserida no livro de contos Life’s Little Ironies, essa obra é uma coletânea de nove “sketches” construídos sob uma moldura narrativa em que os passageiros de uma condução rumo ao interior de Wessex relatam fatos curiosos e histórias de seus conhecidos a um nativo que emigrara há muitos anos. Cada “sketch” se constitui como uma narrativa com características diversas, sejam temáticas – Hardy flerta com as histórias tradicionais, fantasiosas e cômicas, além dos seus conhecidos enredos trágicos –, sejam textuais – as vozes narrativas apresentam distinções de acordo com o perfil do narrador em primeira pessoa e, às vezes, há mais de um narrador para a mesma história, que variam entre o registro formal e informal. Todos esses pontos pedem que o movimento de traduzir acompanhe esse percurso variado e múltiplo de vozes e gêneros, trazendo para os comentários sobre a tradução a tentativa de retextualizar em português aquilo que Berman chamou de “a proliferação babélica das línguas na prosa” (Idem, p. 66). PALAVRAS-CHAVE: Tradução comentada; Thomas Hardy; Gêneros narrativos. Carolina Natale Toti TITULO: MELANCOLIA, GENIALIDADE E LOUCURA EM TORQUATO TASSO DE GOETHE: UMA LEITURA SCHOPENHAUERIANA RESUMO: Melancolia, genialidade e loucura em Torquato Tasso de Goethe: uma leitura schopenhaueriana Carolina Toti (UEL) Considerado por Schopenhauer como um texto excepcionalmente esclarecedor das relações entre melancolia, genialidade e loucura, o drama Torquato Tasso (1999) de Goethe é usado pelo filósofo alemão como modelo para se pensar a conexão entre estes três estados. A peça expõe, além da alternância entre genialidade e loucura, a melancolia inerente ao gênio. O distanciamento da realidade, o êxtase alienante da imaginação produz um desdobramento, a contradição entre o real e o ideal, fratura que é uma manifestação da melancolia. Modo particular de relação com o mundo, este exílio da existência prosaica é um estado íntimo comum ao louco, ao melancólico e ao gênio: estas são três expressões distintas de um mesmo conflito. No presente trabalho, pretende-se elucidar a articulação entre melancolia, genialidade e loucura. Para isto, retomam-se as considerações de Schopenhauer acerca desses três estados. Em seguida, analisa-se o drama de Goethe a fim de aproximar e problematizar as representações que os pensadores alemães fazem do gênio louco e melancólico de Torquato Tasso. PALAVRAS -CHAVE: Melancolia; Gênio; Loucura. Cecília Paiva Ximenes Rodrigues TITULO: HISTÓRIA, FICÇÃO E TESTEMUNHO EM VALENTIA (2012), DE DEBORAH K. GOLDEMBERG: RECONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA COLETIVA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA RESUMO: O romance Valentia (21012), da antropóloga Deborah K. Goldemberg, reconstrói a memória acerca da revolta da Cabanagem (1835-1840), insurreição que ocorreu no estado do Grão-Pará durante o Império brasileiro. Utilizando estratégias associadas ao testemunho (Beverley 1993) e ao novo romance histórico brasileiro (Menton 1993; Sinder 2000), Goldemberg emprega múltiplas temporalidades e fios narrativos para alternar entre o relato ficcional de um líder da revolta e os testemunhos ficcionalizados de moradores da região amazônica da atualidade. Ao conceder agência a diferentes vozes, o romance resgata a memória coletiva acerca da revolta na medida em que traz à luz a perspectiva dos vencidos, cujas vozes são compostas de indígenas, afro-brasileiros e caboclos. Baseando-se no conceito de memória coletiva (Halbwachs 1980) e sua fecunda interseção com a história e o testemunho, esta apresentação analisa como várias vozes individuais não só tecem uma rica e complexa tapeçaria no intuito de recuperar aspectos histórico-culturais desvanecidos da Amazônia como também, no processo de narrar contra a amnésia, revelam uma identidade liminar traspassada por diferentes valores, crenças e geografias. PALAVRAS-CHAVE: Memória Coletiva; Testemunho; História. Cecília Rosas Mendes TITULO: A CORRESPONDÊNCIA ENTRE MARINA TSVETÁIEVA E BORIS PASTERNAK RESUMO: O começo da troca de cartas entre Marina Tsvetáieva e Boris Pasternak data de 1922, quando Pasternak, depois de ler os versos de sua contemporânea, decidiu enviar para ela um de seus livros. Fruto de uma relação intensa, a correspondência se estende pelo intervalo de 14 anos, entre 1922 e 1936. Além disso, ela conta com uma interessante participação de Rainer Maria Rilke em meados de 1926. Por ordem de Tsvetáiva, apenas em 2004 as cartas foram reunidas e publicadas na Rússia. Ao longo da troca, os dois escritores foram desenvolvendo uma relação profunda e complexa, na qual convivem o relato das duras condições de vida que enfrentavam, reflexões sobre arte e efusivas manifestações de afeto. Como tiveram poucos encontros em vida, as cartas constituem uma relação que se estabeleceu essencialmente no plano da linguagem. Esta comunicação propõe discutir questões de tradução da obra e iluminar os pontos de convergência entre as cartas e as obras dos dois autores. PALAVRAS-CHAVE: literatura russa; Boris Pasternak; Marina Tsvetáieva. Christian Rodrigues Fischgold TITULO: ANGOLA-PORTUGAL-BRASIL: REPRESENTAÇÕES LITERÁRIAS EM RUY DUARTE DE CARVALHO RESUMO: O objetivo desta comunicação é apresentar os resultados de uma pesquisa acerca das representações literárias contidas nas obras Os papéis do inglês (2000) e Desmedida (2007) , do antropólogo, poeta e romancista angolano Ruy Duarte de Carvalho (1941-2010). A obra do autor é frequentemente associada aos estudos pós-coloniais desenvolvidos nas últimas décadas do século XX. De caráter híbrido, sobrepondo narrativas de viagens, relatos etnográficos, discursos históricos, escrita ficcional e poesia, o autor opera uma descentralização não hierarquizada dos diversos discursos presentes, tanto os produzidos na antiga metrópole colonial, quanto os discursos nacionalistas produzidos sob o manto das guerras por independência. Em Os papéis do inglês, evidenciaremos as representações do discurso colonial português e do discurso anti-colonial dos movimentos de auto-determinação surgidos no continente africano e na diáspora, refletindo sobre as relações entre esses discursos e as alterações ocorridas na antropologia do século passado. Por fim, destacaremos o papel ambíguo que intelectuais brasileiros tiveram no contexto histórico específico ao colonialismo português, seja fornecendo a retórica luso-tropicalista, que seria repetida em vários tons nas décadas de 1960 e 1970, seja com autores que serviram de inspiração para a resistência anti-colonial dos intelectuais africanos, como Jorge Amado, Euclides da Cunha e Guimarães Rosa. Estes autores são citados nominalmente na obra Desmedida. O livro é uma narrativa de viagem pelo sertão brasileiro em que a experiência da travessia – outra característica marcante nas obras do autor – será partilhada em diálogo contínuo com relatos de viajantes estrangeiros como Blaise Cendrars e Richard Burton, e de autores brasileiros, como Gilberto Freyre e Sergio Buarque de Holanda. A intertextualidade entre literatura, antropologia e história proposta na escrita de Ruy Duarte de Carvalho oferece contribuições que abrem caminhos para alternativos modos de compreender as relações contidas no espaço dos países de lingua oficial portuguesa, mais especificamente no âmbito Angola-BrasilPortugal. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Pós-colonialismo; Antropologia. Christy Beatriz Najarro Guzmpan TITULO: REVISITAÇÃO DA MEMÓRIA HISTÓRICA SALVADORENHA EM EL SOL SE BEBE LA TARDE DE LUIS RONALD CALDERÓN RESUMO: Ao entender a palavra como aquilo que viabiliza a configuração da identidade e da memória história, através da articulação de discursos, pode-se propor uma reflexão sobre um processo inverso, isto é, a palavra como uma força destruidora do centro de gravidade das identidades que, entre outros sentidos, seria uma (re)arranjo da configuração de uma memória histórica nacional. Nesse sentido, poderíamos afirmar que a história da nação se apresenta como uma narrativa que, como tal, depende de escolhas discursivas de quem a elabora. Nessa perspectiva, e lembrando as reflexões de Michael Foucault, tudo o que é produzido numa sociedade, oral ou escrito, corresponde a uma elaboração discursiva que, atrelada a uma ideologia dominante, delimita um campo específico de saber, como a história, a literatura e, principalmente, o conceito de nação. Isso está conectado com as reflexões de Hommi Bhabha, Stuart Hall, Seymour Menton, entre outros, que propõem uma revisão do conceito de nação e da história da nação no mundo pós-moderno, através da literatura do pós-guerra, pós-ditaduras, pós-colonialismos. No contexto Latino-americano, esse imaginário coletivo foi elaborado a partir da relação existente entre a prosa de ficção e os projetos políticos do poder hegemônico, conforme aponta Doris Sommer no seu livro Ficções de fundação: os romances nacionais da América Latina (2004). No caso de El Salvador, esse ideário foi arquitetado no começo do século XX durante a ditadura militar que recém iniciava (1932-1979) e da qual foram “cúmplices” os escritores clássicos deste país, segundo as considerações de Rafael Lara-Martínez, haja vista que foram eles que criaram a literatura do mito de fundação do país. Levando isso em consideração, esta pesquisa pretende refletir sobre o modo pelo qual a literatura engajada de ficção da segunda metade do século XX evidencia a falseabilidade do discurso histórico oficial de El Salvador, a partir do romance El sol se bebe la tarde (1995) de Luis Ronald Calderón. PALAVRAS-CHAVE: El Salvador; Literatura; Memória. Cicero Cunha Bezerra TITULO: CLARICE SACRALIDADE LISPECTOR E MARK ROTHKO: NEGAÇÃO E RESUMO: A obra plástica de Mark Rothko e a escrita de Clarice Lispector trazem, como característica comum, a experiência negativa frente ao mundo e ao divino. Pintar, assim como escrever, conduzem o observador-leitor a uma vivência em que o textual e o visual convergem na negação da redução da verdade à lógica da objetividade. Para esse nosso trabalho, nos pautaremos na comparação entre o escrito sobre arte redigido por Mark Rothko intitulado "Filosofia da arte" em comparação com três romances centrais de Clarice Lispector (A paixão segundo G.H, Água Viva e um Sopro de vida) visando, com isso, estabelecer uma ponte capaz de justificar o que nomeamos de "estética apofática". No que se refere a análise comparativa da obra plástica do artista com o texto literário, nos serão de fundamental importância o confronto entre as chamadas "pinturas negras" de Mark Rothko e algumas passagens centrais dos romances acima citados. PALAVRAS-CHAVE: Apofaticismo; Abstração; Clarice Lispector. Cielo Griselda Festino TITULO: GOA: DO LOCAL AO GLOBAL RESUMO: O lugar é constituído pela maneira que seus habitantes ou aqueles conectados com ele interagem. Nesse sentido, o lugar pode ser entendido como uma experiência. Cresswell (2004:11) faz a seguinte observação sobre o lugar: “Lugar é uma maneira enxergar, conhecer e entender o mundo. Quando olhamos ao mundo como um mundo constituído por lugares enxergamos coisas diferentes. Vemos relações e conexões entre pessoas. Vemos mundos de experiência”. Muitas vezes esse mundo de experiências se materializa na forma de narrativas que problematizam a relação de uma comunidade com um determinado local. Nesse contexto, o objetivo desta comunicação é fazer uma leitura da antologia Inside/Out. New Writings from Goa (2011) do Goa Writers Group composta por contos, sketches, narrativas de vida, poemas, ensaios e fotografias. Como Goa é o referente comum de todas as narrativas da coleção elas serão interpretadas conforme a definição de Sandra Zagarell (1988:499) de narrativas de comunidades: “narrativas que consideram a vida da comunidade como seu centro e recriam o cotidiano em todos os seus aspectos o que, por sua vez, ajuda a manter a comunidade como uma entidade”. Nessa leitura o nosso eixo será considerar a maneira como as narrativas em Inside/Out afirmam ou problematizam a visão de Goa como um paraíso, um lugar sossegado, e ao assim o fazer como elas reescrevem o conceito de comunidade. PALAVRAS-CHAVE: Local; narrativas de lugar; Goa. Cilaine Alves Cunha TITULO: MACHADO DE ASSIS: A RESIGNAÇÃO DO HERÓI INDOMÁVEL RESUMO: Este trabalho discute a polêmica que um conto de juventude de Machado de Assis trava com Camilo Castelo Branco. Machado apropria-se de elementos formais e temáticos de Amor de perdição, traçando um balanço do romance sentimental. Figura o herói romântico indomável como um tipo resignado e submisso. PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; Herói indomável; romance sentimental. Cinthia Lopes de Oliveira TITULO: A CONSTRUÇÃO LITERÁRIA DE LÚCIO CARDOSO ENTRE CORES E CONFISSÕES RESUMO: A literatura que se abre em leques transmidiáticos perpassa pela obra de Lúcio Cardoso (1912 – 1968), escritor mineiro cuja obra compreende além de poemas, romances, novelas e contos, a escrita de diários, roteiros para cinema, a direção de um filme deixado inacabado e os desenhos e as pinturas de telas. Cardoso mesclou seu trabalho jornalístico às experiências literárias e estas às artes plásticas. Criou um diário de experiências e sensações, de crítica literária e expressão de si, amalgamando a construção literária ao estudo de sua narrativa. Nesse diário renega os fatos e privilegia experiências e as vivências desses acontecimentos moldando um gênero hibrido entre a autobiografia e a autoficção. A representação de suas personagens, por vezes sombrias e cindidas pela luta entre o bem e o mal se faz presente nas cores e traços, tanto da sua linguagem pictórica quando da simbologia de suas pinturas. Em Cardoso, as paisagens interagem com o espaço físico e o estado emocional das personagens. O estudo comparativo entre os diários cardosianos e seus romances traz elementos para a compreensão e o desvelamento do projeto artístico-literário desse importante representante da literatura brasileira. PALAVRAS-CHAVE: Autocrítica; Escrita confessional; Projeto literário. Cintia Camargo Vianna TITULO: LITERATURA AFRO-BRASILEIRA: UMA ALTERNATIVA PARA AS NARRATIVAS TRADICIONAIS DE NACIONALIDADE RESUMO: Este trabalho pretende discutir a possibilidade de compreensão da produção de Literatura Afro-Brasileira como a produção de uma narrativa de nacionalidade alternativa àquela produzida pelo Modernismo brasileiro. Nesse sentido, assumo que as representações para nacionalidade produzidas principalmente nos anos 1910 e 1920 seriam fruto de um processo de resgate e revitalização da intenção nacionalizadora que definiria de certa maneira as manifestações do Romantismo no Brasil, momento no qual é possível verificar a intelectualidade brasileira envidiando esforços para alcançar representações de nacionalidade quer fosse por intermédio da língua, quer fosse por intermédio das artes. No Romantismo do século XIX, faz-se uma escolha pelo apagamento ou pela sujeição do sujeito negro e de sua cultura que, grosso modo, quando figuram na ficção é para ratificar as posições ou papéis aos quais são socialmente relegados naquele momento, fortalecendo assim, representações como, por exemplo, as de negros como subalternos, negros como sujeitos menores, negros como passivos diante de sofrimento ou injustiças. No Modernismo, o que se verifica é um resgate do intento nacionalizante romântico, evidentemente com suas bases de ação redefinidas, o resgate de uma preocupação fundacional com questões como, por exemplo, níveis de civilização, modernidade, desenvolvimento. Nesse sentido, o objetivo é investigar como no mesmo período dois intelectuais brasileiros, Mário de Andrade, um dos grandes nomes da nacionalização das artes brasileiras e Lino Guedes, intelectual afro-descendente, militante pelas causas negras, se posicionam sobre a questão da nacionalidade nas artes e da composição das narrativas de nacionalidade no Brasil. Para tanto, investigarei nas publicações O Getulino, da qual Lino Guedes era um dos principais editores e Klaxon, da qual Mário de Andrade foi um dos principais colaboradores quais as formulações propostas para literatura e artes relacionadas às ideias de nação, nacionalidade, cultura e negritude. PALAVRAS-CHAVE: Afrobrasileira; Lino Guedes; Mário de Andrade. Cláudia da Cruz Cerqueira TITULO: FORMAS DE CONSENTIMENTOS: CONTRA O INDIZÍVEL, O EXERCÍCIO APAZIGUADOR DA TOLERÂNCIA NA NARRATIVA DE O VENTO ASSOBIANDO NAS GRUAS , DE LÍDIA JORGE RESUMO: Na obra literária da autora portuguesa Lídia Jorge, O vento assobiando nas gruas (2002), percebe-se que a representação da experiência traumática - seu testemunho autoconsciente? – configura-se como resultado da experiência imigratória de cabo-verdianos em Portugal. Essa alegoria revela-se importante ao imaginário português e mundial, porque testemunharia algumas possíveis imagens de violências extremas, morais e psíquicas; então humanas. Observa-se, nesse contexto, a revelação de uma lesão aberta comum às das duas nações: a diáspora dos cabo-verdianos a partir de 1975, época de sua independência de Portugal, e o ano de 1974 com a revolução de Abril em Portugal. Nesse quadro em movimento, a luta pela sobrevivência cristaliza-se e concretizase nas perspectivas dessa obra de Lídia Jorge. Diante da iminência fantasmática da memória da fúria, da opressão e da tirania, a autora constrói o destino de seu ato narrar e de sua reivindicação contemporânea a problemas inadiáveis da cultura colonizadora portuguesa. Paradoxalmente, pois vindo de uma portuguesa, a autora flagra a condição daqueles que preferem abafar a fisgada recorrente da memória das violações sofridas pelos sujeitos fadados a ser estrangeiros e expatriados naquela sociedade. Essa estadia tem um preço: afastar-se do confronto, desviar-se de suas sequelas, esquivar-se do embate. Eis o diálogo mantido por Lídia Jorge com o fora da obra. PALAVRAS-CHAVE: Pós-Colonial; Contemporaneidade; autoconsciência. Cláudia Maria Ceneviva Nigro TITULO: ONDE SE ENCONTRAM OS POEMAS “MINORITÁRIOS” NA LITERATURA AMERICANA? DE GRUPOS RESUMO: A imaginação popular nos Estados Unidos é bem marcada e associada a políticas que atendem a interesses impostos por uma fatia da população que se nomeia maioria. A população majoritária, entretanto, é subdividida em variadas minorias: chineses, italianos, negros, latinos, entre outros. Para esses são permitidos os espaços de exclusão. No entanto, essa população, por meio de ações afirmativas, consegue não só o direito de frequentar a universidade, mas também um espaço nas editoras e, consequentemente, a oportunidade de serem lidos. Nos textos se representam, se inscrevem. Se for a partir do uso com que o outro faz das palavras que concepções são tecidas, é a partir desse uso que alguns escritores afro-americanos fazem esculpir no corpo de personagens a construção de identidades de gênero, de raça, entre outras, culturalmente modeladas. Sustentada em estudos da crítica subalterna, com críticos como Ramón Grosfoguel e Walter Mignolo, leremos os corpos inscritos como Arte, cuja diversidade identitária não é construída sobre padrões de uniformidade, mas não os isenta da humanidade. A proposição desse trabalho, portanto, constitui-se na discussão sobre as relações de gênero e raça representadas em escritoras afroamericanas como Camile Dungy e Maya Angelou. Considerando, com Butler, que o gênero é o índice linguístico da oposição política entre os sexos, vemos a reivindicação por meio de uma poesia discursiva com enfoque em “personagens” como possibilidade de nomear distintas configurações. Entre feminilidades e masculinidades, as práticas poéticas criam-se nos desejos dos corpos políticos. Conforme b. Hooks, quando diz do desafio de enfrentamento do sexismo na vida negra, o peso da tradição pode causar também um compromisso imposto na virilidade e na violência dos versos. Assim, pretendo mostrar como as duas poetas/escritoras escolhem problematizar na contemporaneidade, pela forma que tem asas e não se assenta, o peso social refletido em práticas de poesias reveladoras. PALAVRAS-CHAVE: Gênero; Raça; Afro-americana. Cláudio do Carmo Gonçalves TITULO: TEORIAS DA MEMÓRIA E RELAÇÕES LITERÁRIAS RESUMO: Esta comunicação se ocupa de investigação que busca na arquitetura da memória e as relações no âmbito da literatura um ponto de congruência. Para tanto, procede-se a uma revisão crítica das operações relacionadas à memória desde sua materialização mais sintomática em fins do século XIX. Em seguida, mapeada as teorias que dão sustento à memória, busca-se estabelecer as relações estabelecidas no constructo literário, seja na forma textual, seja no conteúdo subjacente aos textos literários. Nesse sentido, a geografia do texto literário, caracterizada pelo lugar de interseção entre espaços empíricos constituídos e aqueles imaginados, constitui o entre-lugar que produz relatos e representações das mais constantes, emergindo e fazendo emergir daí, uma memória de contornos imprecisos. A literatura, assim, é entendida como registro de campo, na acepção tomada a Pierre Bourdieu , cujo sentido se estabelece a partir de um pertencimento e propicia que a prática literária, como cultura, conforme Fredric Jameson, interfira na construção, refutando a crença numa reflexão passiva e mesmo determinista. O estudo parte da narrativa “Fim” de Fernanda Torres; cuja temática traça a ideia de geração e a precisão fronteiriça entre memória e identidade. Tal obra parece traduzir realidades, cuja competência discursiva a transforma não somente em representação urbana como lugar de vivência ficcional, ou seja, espaço de encenação real ficcionalizado, mas também como lugar imaginado que se faz real a partir da ficção, na medida em que “interpela” este mesmo real. Desse modo a literatura é o território do encontro, o entre-lugar de tempos e espaços (Benjamin) que expõe a condição da memória em sua dramatização. Vale dizer, há um encontro entre as teorias que informam a memória e suas formulações literárias, estejam elas nos textos, nos autores, na estética dos livros, na vida literária. PALAVRAS-CHAVE: memória; literatura; contemporaneidade. Clara Carolina Souza Santos TITULO: JORNAL E MERCADO LIVREIRO: ANÚNCIOS DA LIVRARIA E PAPELARIA A. L. GARRAUX NAS PÁGINAS DO CORREIO PAULISTANO (1862) RESUMO: Em 1862 o negociante Anatole Louis Garraux criava as condições para a prosperidade da Livraria e Papelaria A. L. Garraux, sediada na província de São Paulo. Esta loja seria muito lucrativa para o negociante parisiense em um período menor do que dez anos. Em pouco tempo a Livraria e Papelaria A. L. Garraux contaria com a atuação conjunta dos negociantes Anatole Louis Garraux, Jean Baptiste Guelfe de Lailhacar e Rafael Soares, facilitadores do trânsito de livros e itens entre o território brasileiro e europeu, unidos na companhia Garraux & Lailhacar. Em pouco tempo após a abertura, em 1863, o espaço da Casa Garraux seria amplamente reconhecido como uma loja propícia para adquirir itens refinados e para o convívio social. Para aproximar compradores e leitores o negociante testava jeitos para apresentar nas páginas do periódico Correio Paulistano os itens disponíveis na loja para compra por atacado e por varejo. Observamos no primeiro semestre de 1862 quais seriam as iniciativas do negociante para divulgar os itens, quem eram os principais concorrentes anunciantes e como itens eram anunciados pela Livraria e Papelaria A. L. Garraux e por seus concorrentes anunciantes. A lista de livros anunciada pelo negociante Anatole Louis Garraux era variada. Para observar mais a apresentação de romances observamos qual era a variedade de livros listados nos anúncios, em quais línguas os anúncios estavam escritos, quais eram os autores mais divulgados, quais eram as línguas dos romances e quais os autores mais anunciados por língua. Estes dados mostram a difusão de itens e livros e, ao mesmo tempo, revela a demanda dos compradores das províncias com as quais a Livraria e Papelaria A. L. Garraux mantinha negócios. PALAVRAS-CHAVE: Romance; Jornais; Anatole L. Garraux. Clarissa Loureiro Marinho Barbosa TITULO: A RELEVÂNCIA DOS DISCURSOS ÉPICO E PICTÓRICO PARA A FORMAÇÃO DE UM HERÓI NOS PERFIS DO MAJOR TORÍBIO E DE CAPITÃO RODRIGO COMO PERSONAGENS REPRESENTATIVOS DA IDENTIDADE GAÚCHA NA SAGA O TEMPO E O VENTO RESUMO: Este artigo pretende discutir como na saga de Erico Verissimo, O Tempo e o vento, o discurso épico e o pictórico participam do seu processo de estruturação estética e significativa, tornando-se elementos internos do enredo relevantes para a formação perfis de Rodrigo Cambará e Toríbio Terra Cambará como heróis representativos da exaltação dos feitos bélicos gaúchos no seu processo de construção identitária. Assim, confrontam-se os capítulos Um certo capitão Rodrigo de O Continente com Um certo Major Rodrigo de O Arquipélago a fim de se observar como ações bélicas são retratadas por imagens plásticas que recriam o comportamento do bisavô Rodrigo no século XIX, depois resgatadas e reinventadas pelo bisneto Toríbio no século XX, buscando-se uma continuidade e, ao mesmo tempo, uma renovação entre gerações dentro da mesma família Terra Cambará, enquanto metáfora do Rio Grande do Sul. Deste modo, estudase como o discurso épico e o pictórico tornam-se elementos estéticos de constituição da narrativa, alterando-se e adequando-se à formação do romance para expressar a evolução do povo gaúcho de um passado mítico associado ao capitão a uma situação contemporânea de dúvidas e fragilidades do homem moderno do século XX, referente à morte de Toríbio. A intenção, portanto, é que se estude O Tempo e vento como um romance dialógico no qual o discurso épico cruza-se com a linguagem pictórica para a construção identitária do riograndense. PALAVRAS-CHAVE: Pintura; dialogismo; dialogismo. Clarissa Prado Marini TITULO: VARIANTES TRADUTIVAS E SUA RELAÇÃO COM A RECEPÇÃO DO TEXTO ESTRANGEIRO: ANÁLISE DE TRADUÇÕES DE TERMOS DE WALTER BENJAMIN RESUMO: A tradução é antes de tudo uma relação com a alteridade. A leitura de um outro que o tradutor apresenta para os seus (BERMAN, 2013, p. 95). Como nas palavras de Walter Benjamin (2010, p. 225), o tradutor tem como papel revelar a relação mais íntima que há entre as línguas, a “pura língua(gem)” que consiste no encontro das línguas, na reunião delas, manifestada na própria atividade tradutória. Todo tradutor se depara com escolhas e paradigmas em sua atividade tradutória e estas estão ligadas a questões subjetivas. A própria linguagem tem um caráter intrinsicamente intersubjetivo por se tratar da comunicação entre pessoas e, ultrapassando esse ponto para chegar à questão intersubjetiva da tradução, a relação entre o tradutor e o original, vemos que esta leva à possibilidade, e existência, de várias traduções de um mesmo texto. Lembrando que não há a tradução de uma língua, mas sim de um discurso, ou seja, do que o autor fez com aquela língua (MESCHONNIC, 2007, p. 58). Como parte do trabalho de pesquisa da dissertação de mestrado “Glossário de Leituras de ‘Die Aufgabe des Übersetzers’ de Walter Benjamin: Uma contribuição para a História Contemporânea da Tradução” foi feita uma análise das escolhas de tradução de cinco termos fundamentais propostos por Benjamin em seu texto, conhecido no Brasil como “A tarefa do tradutor”, que inaugura a Teoria da Tradução Contemporânea. Dentre as várias reflexões suscitadas pelas análises das variantes tradutivas dos termos benjaminianos, acreditamos que a recepção do texto e dos conceitos fundamentais apresentados por ele será determinada (também) pelas escolhas do tradutor ao introduzir numa nova comunidade linguística (e especializada) este texto estrangeiro. BENJAMIN, Walter. A tarefa do tradutor. Tradução de Susana Kampff Lages. In: Antologia Bilíngue – Clássicos da Teoria da Tradução – alemão-português. HEIDERMANN, Werner. vol. 1. 2ª ed. Florianópolis: Núcleo de Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina, 2010. BERMAN, Antoine. A tradução e a letra ou o albergue do longínquo. Tradução de Marie-Hélène C. Torres, Mauri Furlan, Andreia Guerini. Revisão de tradução: Luana Ferreira de Freitas, Marie-Hélène Catherine Torres, Mauri Furlan, Orlando Luiz de Araújo. 2ª ed. Tubarão: Copiart; Florianópolis: PGET/UFSC, 2013. MESCHONNIC, Henri. Éthique et politique du traduire. Paris: Verdier, 2007. PALAVRAS-CHAVE: Tradução; Variantes tradutivas; Walter Benjamin. Claudia Lorena Vouto da Fonseca TITULO: O HOMEM QUE O MENINO SERIA E ASSIM NÃO FOI POR NÃO PODER TER SIDO – LITERATURA PORTUGUESA E ORFANDADE RESUMO: O Romance português floresce de maneira acentuada nos anos 70 do século passado, no contexto específico do fim do salazarismo, paradoxo histórico em que o Portugal, e o português, ao mesmo tempo em que se vê liberto, se vê órfão, desamparado face à constatação do esfacelamento de sua identidade. Diante da desconstrução, inclusive literária, do mito que o português criou, esse ser que se crê herdeiro dos navegadores, se vê como que impedido de exercer sua função primeira. A questão agora é: quem somos e o que restou de nós? A história – cultuada - de Portugal foi sempre uma história de partidas e regressos (e de não regressos). O regressado volta modificado e isso fica mais explícito na narrativa contemporânea, ainda debitária dos seus modelos. E é nesse contexto que Antonio Lobo Antunes, ele mesmo um retornado, vai produzir Os cus de Judas, inserindo-o em uma tradição contemporânea também pelo que diz respeito à forma. Portanto, a partir também do confronto com outros textos, mais especificamente o poema Mensagem, de Fernando Pessoa, é isso que queremos demonstrar. Trata-se, aqui, de um trabalho de literatura comparada que utiliza os princípios do comparatismo, não para pensar um sistema literário confrontando-o a outro, nem uma linguagem a outra, mas para nos permitir um novo olhar sobre um mesmo sistema, um comparativismo que se dobra sobre a própria nação. Algo que nos permita dizer que Lobo Antunes vai preencher um espaço que Pessoa deixa em aberto, um espaço ainda por se fazer e ser dito. PALAVRAS-CHAVE: Antonio Lobo Antunes; Identidade; Romance Português. Claudia Maia TITULO: HOMEM COMUM EM TERRA ALHEIA: ESTIVE EM LISBOA E LEMBREI DE VOCÊ, DE LUIZ RUFFATO RESUMO: Estive em Lisboa e lembrei de você (2009), do mineiro Luiz Ruffato, é resultado do projeto editorial “Amores Expressos”, que levou escritores para diversas cidades do mundo com o objetivo de escrever um romance. Em Lisboa, Ruffato decide contar a história de Serginho, também mineiro de Cataguases. Na nota que antecede a narrativa, o escritor explica que o que se segue é o depoimento “minimamente editado” de Sérgio de Souza Sampaio, “gravado em quatro sessões, nas tardes de sábado dos dias 9, 16, 23 e 30 de julho, nas dependências do Solar Galegos, localizado no alto das escadinhas da Calçada do Duque, zona histórica de Lisboa”. Este trabalho pretende discutir a questão do “homem comum” na narrativa de Ruffato, cujo protagonista decide viajar para a capital portuguesa em busca de maiores oportunidades de trabalho, um protagonista marginal que em terra alheia vive a luta diária pela sobrevivência. Ruffato, no “depoimento editado” de um homem que vive a solidão urbana, acaba por problematizar, além da questão do deslocamento geográfico, o homem comum e sua relação com o espaço próprio e o alheio, relação que caracteriza a própria narrativa, uma vez que o escritor se vale da voz alheia para escrever o texto. O referencial teórico a ser utilizado abrange os estudos de Walter Benjamin, Giorgio Agamben, Jacques Rancière e Peter Pál Pelbart sobre o comum, a comunidade e a vida ordinária. PALAVRAS-CHAVE: homem comum; deslocamento; Luiz Ruffato. Cláudia Maria Fernandes Corrêa TÍTULO: O CORPO NEGRO FEMININO COMO UM LUGAR DE MEMÓRIA RESUMO: “De qual perspectiva?” O questionamento é posto pela escritora afrocaribenho-canadense Marlene NourbeSe Philip (1989) ao questionar sob qual rubrica os africanos teriam “cabelos duros e nariz achatado”. Philip traz à baila um assunto que vai além de questões de binarismos como, por exemplo, colonizado e colonizador. Num nível mais profundo, ainda que a presença da autoridade colonial tenha sido retirada das ex-colônias a noção de colonialidade (Quijano, 2005; Grosfoguel 2012) sustenta e ratifica a estereotipia e inferiorização. Entendemos por colonialidade a matriz europeia presente em diversas instâncias, entre elas, na construção das Ciências que construíram os discursos de exclusão pela ‘raça’. Neste sentido, não apenas geograficamente a dominação ocorreu. A autoridade colonial se amplia para o corpo negro feminino como extensão das plantations. Desta forma, nesta comunicação, acompanharemos a construção do corpo negro feminino e sua inscrição na literatura como parte integrante do processo de colonização. PALAVRAS-CHAVE: Corpo; Memória; Colonialidade. Claudia Pellegrini Drucker TITULO: MAIAKÓVSKI EM PAULO LINS: A REVISÃO DA RELAÇÃO ENTRE ARTE POPULAR E ARTE DE VANGUARDA RESUMO: Em Desde que o samba é samba, o romance de Paulo Lins de 2012, há uma citação direta e nominal de Maiakóvski: “o século XXX vencerá”. Trata-se de um verso, na tradução brasileira (e parcial), do poema Pro eto, de 1923, às vezes traduzido literalmente por “Sobre isto”. O sentido idiomático da expressão pro eto é algo como: “essa é a minha arte, isso é o que tenho a dizer do mundo, sem nenhuma chance de retratação”. Em português, é o correspondente da expressão “é isso aí”. O tratamento dado ao poema de Maiakóvski, na sua tradução brasileira seletiva intitulada “O amor”, já foi questionado por Boris Schnaiderman, por excessivamente esperançoso. Precisamente o tratamento talvez equivocado justifica a citação feita por Paulo Lins. Desde que o samba é samba é um romance histórico sobre o nascimento das escolas de samba no Rio de Janeiro em 1929. O olhar retrospectivo sobre a arte de vanguarda aponta para uma redefinição do que ela foi, de modo a incluir especificamente o surgimento das escolas de samba. A arte de vanguarda brasileira, calcada na vanguarda europeia, tomou a arte popular como depositário de tradições primitivas, enquanto Lins faz do samba já uma síntese entre moderno e antigo. PALAVRAS-CHAVE: samba; poesia russa; arte brasileira. Claudicélio Rodrigues da Silva TITULO: VAMOS FALAR COM LITERATURA E NÃO SOBRE LITERATURA RESUMO: O título da comunicação é uma provocação. Diante da necessidade do redesenho do currículo do Ensino Médio (diretrizes curriculares de 2013) a fim de que se privilegiem as marcas do espaço em que a escola está inserida, sem fechá-la, é claro, a outros espaços, o que se espera do futuro professor? Qual o lugar da prática de ensino da Literatura nos cursos de licenciatura em Letras? Para ensinar a ensinar Literatura é necessário partir de uma didática que coloque no centro da aula o texto literário e não sua historiografia, suas teorias e a crítica. Além disso, em meio a uma infinidade de críticas ao modelo de ensino da Literatura que não parte do privilégio dos saberes e das experiências do leitor, como propor um currículo cujo foco seja o texto, sem negar sua tradição crítica? É possível pensar na formação do leitor crítico a partir de uma metodologia que apresente as obras literárias em temáticas e gêneros? Esses questionamentos fundamentarão minha reflexão, sobretudo apresentando os impasses como professor de literatura brasileira e de prática de ensino da Literatura na Universidade Federal do Ceará nos últimos dois anos. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Ensino Médio; Currículo. Claudio Vescia Zanini TITULO: SADISMO, DESUMANIZAÇÃO E O GÓTICO EM JOGOS MORTAIS RESUMO: O final dos anos 70 e a década de 80 brindaram espectadores com incontáveis litros de sangue derramado. Freddy, Jason e Michael Myers fizeram inúmeras vítimas em suas franquias de filmes, embora poucas delas sejam memoráveis. Uma das franquias de maior sucesso no horror do novo milênio, Jogos Mortais (2004-2010) apresenta novos paradigmas dentro do cinema de horror, especialmente no que tange às formas de submissão, tortura e morte das vítimas. O objetivo desta proposta é identificar tais mudanças e verificar de que formas a série de filmes se afilia ao gótico através da desumanização e consequente monstrificação do ser humano. Parte-se da hipótese que a vítima deixa de ser apenas mais um corpo que será devidamente localizado ao final da narrativa, para ser um indivíduo mais facilmente percebido como ser humano por parte do espectador. O objetivo é justamente estabelecer tal característica para que ela seja revertida depois, uma vez que as torturas físicas e psicológicas a que os jogadores são submetidos são calcadas em princípios da doutrina sádica e de desumanização. PALAVRAS-CHAVE: Gótico; Desumanização; Pós-modernidade. Cleide Lúcia Gaspar da Assunção Paulo Jorge Martins Nunes TITULO: MPB E RESISTÊNCIA NO ROMANCE O MINOSSAURO, DE BENEDICTO MONTEIRO RESUMO: Benedicto Monteiro, escritor paraense nascido na cidade de Alenquer, escreveu sua Tetralogia Amazônica, um conjunto de quatro romances que tratam do universo amazônico e estão ambientados durante o período de ditadura militar: Verde vagomundo (1972), O minossauro (1975), A terceira margem (1983) e Aquele um (1985). Sua segunda obra romanesca, O minossauro, apresenta uma multiplicidade de vozes, o que caracteriza a polifonia, entendida aqui como uma metodologia, na qual se dá voz a muitas vozes, objetivando representar o mesmo objeto. Dentre essas enunciações, destacam-se as vozes de compositores/cantores da Música Popular Brasileira (MPB), como Caetano Veloso, Chico Buarque de Holanda e Geraldo Vandré. Esta pesquisa analisa canções desses autores (respectivamente, Como dois e dois, Construção e Para não dizer que não falei das flores), compreendendo o efeito político-estético que agregam ao romance em questão. Para isso, utiliza-se, entre outros, estudos sobre enunciação e MPB, feitos por Cabral (1996), Homem (2009) e Santiago (1989). PALAVRAS-CHAVE: Voz; MPB; Romance. Cleuma de Carvalho Magalhães TITULO: O SUJEITO FEMININO NA OBRA DE FLORBELA ESPANCA E ADÍLIA LOPES RESUMO: Com base nas reflexões de teóricas feministas como Simone de Beauvoir e Virginia Woolf acerca do papel da mulher na sociedade, este trabalho tem como propósito analisar a construção do sujeito feminino na obra das escritoras portuguesas Florbela Espanca e Adília Lopes. A produção poética de Florbela Espanca vem à luz nas primeiras décadas do século XX, tendo início com Livro de mágoas (1919), seguido pelo Livro de Sóror Saudade (1923) e pelo póstumo Charneca em flor (1931). Adília Lopes, poetisa contemporânea, inicia sua atividade literária em 1985 com a obra Um jogo bastante perigoso. Seus livros de poesia publicados até maio de 2014 estão reunidos na antologia intitulada Dobra (2014). A ligação entre as duas escritoras dá-se especialmente pela abordagem da questão do feminino. Cada uma à sua maneira, e Adília Lopes a distorcer e, por vezes, negar a voz de Florbela Espanca, ambas constroem uma imagem feminina que foge aos padrões impostos pela sociedade portuguesa, negando o seu papel de submissão, assumindo o desejo que habita o seu corpo e afirmando-se como sujeito. PALAVRAS-CHAVE: Florbela; Adília; sujeito feminino. Cristhian Andrés Torres Hurtado TITULO: LA POÉTICA DEL HABITANTE: DIMENSIONES DE LA POESÍA DE HÉCTOR ROJAS HERAZO RESUMO: La poética del habitante, que es el nombre de la propuesta de lectura que defendemos, logra articular los aciertos de las investigaciones anteriores (Cárdenas, Bustos, Ferrer, García Santos, Castro) en torno a la poesía de Héctor Rojas Herazo (HRH) a través de un tejido polisémico que goza de una afortunada ambigüedad y que propone una lectura “tridimensional” de la obra poética del autor colombiano. Habitar significa, en términos rojasheracianos, crear, construir, trazar “señales” y “garabatos” que, al mismo tiempo, crean al habitante y a sus lugares: cuerpo, casa, infancia, mitología, memoria. Se trata de un concepto indeterminable como la vida; móvil, mutable. Así mismo, tiene la capacidad de enriquecerse y dialogar con las concepciones filosóficas que se han formulado anterior y posteriormente sobre él mismo. No es un concepto cerrado y no busca tampoco la comprensión absoluta, la explicación racional sobre el fenómeno poético. Es hijo de la poesía y, como tal, sabe que cada revelación abre un universo infinito y poblado de más preguntas e interpretaciones. Así entendida, la poética del habitante plantea tres dimensiones semánticas para recorrer la obra poética – y quizá también la obra narrativa – de HRH. Estos caminos de regreso, de anábasis, apenas esbozados en estas líneas y las que preceden este ensayo/ponencia, son: 1. La afirmación del cuerpo – en tanto la animalidad, devenir y vida – como ruptura y apuesta estética; 2. El exilio – y en él el destierro, la desesperanza y la orfandad – como la condición del habitante moderno latinoamericano; 3. Habitar – el origen y la memoria, la infancia, el cuerpo, la tradición cultural, los mitos, el devenir, la imaginación, la escritura (las señales, los garabatos), la utopía – como resistencia contra las lógicas destructivas del progreso técnico y de la guerra en Colombia. PALAVRA-CHAVE: habitar; hábitat; utopia. Cristian Souza de Sales TITULO: EESMERALDA RIBEIRO E MIRIAM ALVES: DUAS PERFORMANCES INTELECTUAIS AFRO-BRASILEIRAS REESCREVENDO O CORPO RESUMO: O presente artigo tenciona refletir como duas performances intelectuais afro-brasileiras contemporâneas agenciam discussões sobre a escrita literária de autoria negra e as formas de escrita do corpo. O trabalho apresenta a emergência desses discursos literários que se insurgem no campo cultural, social e político, munidos de um engajamento intelectual frente às demandas e situações de desigualdade experimentadas historicamente por grupos considerados minoritários. São textualidades produzidas fora do ângulo da visão tradicional de abordagem artística que abalam o estatuto do sublime, do belo, do inatingível, da autoridade e da legitimidade instituídas pelo cânone literário. Para tanto, através dos textos poéticos de Esmeralda Ribeiro e Miriam Alves, busco utilizar o conceito de performance como operador analítico, pois me interessa compreender teoricamente como uma postura crítico-reflexiva engajada e assumida nas produções de escritoras negras e seus gestos performativos, potencializa tensões e deslocamentos nos modos de representação hegemônica construídos para o(s) corpo(s) negro(s). Nele, serão utilizados os seguintes referenciais teóricos: Schmidt (1995), Hooks (1996), Dallery (1997), Duarte (2011), Hall (2003), Setenta (2008), Carlson (2010), entre outros. PALAVRAS-CHAVE: Poesia afro-brasilei; Corpo; Performance. Cristiane Antunes Rosani Úrsula Ketzer Umbach TITULO: A REPRESENTAÇÃO DA IDENTIDADE LÉSBICA NA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA RESUMO: Este trabalho tem como objetivo questionar e analisar a representação da figura homossexual feminina na literatura contemporânea brasileira de autoria feminina, especialmente nas obras Todos nós adorávamos caubóis, de Carol Bensimon, e Ciranda de pedra, de Lygia Fagundes Telles. Nesse intuito, serão entrecruzados pressupostos da narratologia, dos estudos de gênero e identidades e dos queer studies. A problemática da literatura de autoria feminina que traz, em sua construção estética, personagens homossexuais femininas, engloba, inevitavelmente, a questão político-social dessas categorias. A mesma invisibilidade (ou pouca visibilidade) da figura homossexual feminina percebida na sociedade, nas discussões sobre sexualidade feminina, e no próprio feminismo, é evidente na literatura brasileira contemporânea. Homossexuais, desde sempre, em nossa sociedade, foram miscigenados, excluídos e marginalizados; no contexto da literatura não é diferente. Foi possível perceber, na construção do presente trabalho, que a representação da mulher lésbica não é comum e, quando acontece, é uma representação repleta de estranheza. A figura homossexual feminina ainda parece ser uma espécie de ser exótico e inexplorado na literatura brasileira. As obras supracitadas, que trazem, em sua composição, personagens homo e bissexuais, mostram-se terreno fértil para análise das especificidades literárias e técnicas narrativas utilizadas e dos modos de representação, através da construção das personagens, desses grupos. Percebemos a pertinência do questionamento de noções como heteronormatividade na construção dessas personagens, compreender as implicações históricas e sociais dessa representação; da mesma forma, ficou evidente a importância de explorar e trazer à luz as eventuais particularidades de uma estética que apresenta tema tão negligenciado (ou destorcido) pela tradição literária. PALAVRA-CHAVE: Homossexualidade; Contemporâneo; Representação. Cristiane Felipe Ribeiro de Araujo Côrtes TITULO: MACABÉA E PONCIÁ VICÊNCIO: O SILÊNCIO COMO RESISTÊNCIA AOS PROCESSOS HISTÓRICOS DE OPRESSÃO RESUMO: O Espaço Literário pode agregar a comunicação e sua impossibilidade mesmo que num gesto paradoxal que reúne elementos próprios da experiência do impossível para a humanidade. É nessa esteira que este trabalho se encontra, objetivando levantar as possibilidades para a leitura de textos de autoria feminina que traduzem as relações históricas de gênero e subalternidade para uma linguagem literária marcada por não ditos, ausência ou fragmentos. O que nos será caro é justamente perceber, no espaço literário, a capacidade de subversão da lógica da fala/ discurso e suas relações de poder na sociedade. Os desdobramentos do período da escravidão e da migração nordestina são nosso leitmotiv para se pensar, à luz das discussões de, entre outros, Foucault, Spivak e Agambem, em que medida o silêncio das personagens de Clarice Lispector e Conceição Evaristo, Macabéa e Ponciá Vicêncio, respectivamente, pode ser lido como contra-discurso, resposta a uma perspectiva histórica opressora. Pretendemos evidenciar a particularidade com que essas narrativas lidam com o fragmentado, performatizando as relações de subalternidade presentes na sociedade e revertendo a perspectiva de silêncio como subserviência. A hora da estrela e Ponciá Vicêncio, são, nesta ótica, obras que podem subverter a noção de subalternidade ligada ao silêncio por apresentarem, em suas personagens, um silêncio nauseabundo, desestabilizador. PALAVRAS-CHAVE: Gênero; Subalternidade; História. Cristiane Marques Machado TITULO: TRANSFAVELA: A FÅBULA DO LUGAR NO SAMBA RESUMO: O presente estudo analisa, sob o viés da Geografia Cultural, Humanística e Fenomenológica, e a partir do estudo de letras de samba, um fenômeno geográfico brasileiro contemporâneo que completa mais de 100 anos na cidade do Rio de Janeiro: a favela. Na fábula cantada pelo sambista (sujeito nacional), a favela é simbolizada, dessimbolizada e ressimbolizada, transformando-se em uma transfavela que, como parte da paisagem carioca, brasileira, nos representa, sim, sem contudo deixar de transgredir a própria geografia, expandido-nos para além dos limites do local e do nacional e redesenhando os morros cariocas com as tonalidades de fábula do lugar (BESSIÈRE, 1999). Se, na literatura, temos escritores que contribuíram para a composição de fábulas de cidades, regiões e/ou países, tornando indissociável sua relação com os lugares (como no caso de Dublin/Joyce, Sertão/Guimarães, Trópicos/Lévi-Strauss, Praga/Kafka e Lisboa/Pessoa), também é possível afirmar que se revela intrínseca a relação entre o espaço da favela e a produção musical dos sambistas. Do mesmo modo que ocorre na literatura, nas letras de samba, imaginário e realidade encontram-se extremamente imbricados. Nesse sentido, é possível afirmar que, se certos autores se tornaram autores de suas cidades, também os sambistas podem ser considerados autores da favela. Em sua fábula cantada ao som de cavaco, pandeiro e tamborim, pressupõe-se a impossiblidade da fixidez do lugar, uma vez que, por intermédio do samba, a favela se desloca e empreende travessias que vão do periférico ao centro, estabelecendo-se sua reinvenção e transmutação em Favela-Mundi, que repica, no ouvido do mundo, a voz dos bambas que nela vivem ou viveram de fato ou poeticamente. PALAVRAS-CHAVE: samba; transfavela; geografia. Cristiane Navarrete Tolomei TITULO: EÇA DE QUEIRÓS NA DÉCADA DE 1980 RESUMO: O estudo apresentado nesta comunicação intitulada “Eça de Queirós na década de 1980” é o resultado parcial da pesquisa de pós-doutoramento vinculada à linha de pesquisa "Fontes Primárias e História Literária" do Programa de Pós-Graduação em Letras da Faculdade de Ciências e Letras – campus Assis e tem por objetivo analisar as seções "Ensaio", "Entrevista" e "Resenha" no periódico de Lisboa denominado Jornal de Letras, Artes e Ideias _JL_, para avaliar como uma publicação literária e cultural de grande circulação divulga a imagem de Eça de Queirós de 1981 a 2014, observando a frequência, variações no conteúdo das críticas com a mudança no quadro de colaboradores (críticos, escritores, pesquisadores) e contexto sócio-político-cultural. Para a presente comunicação, apresentaremos as perspectivas críticas que percorreram as páginas do JL entre 1981 e 1989, observando as intenções dos colaboradores à luz da história literária queirosiana e apresentando o diálogo entre as publicações sobre Eça neste importante periódico português com as mais renomadas críticas queirosianas visando a comprovar o valor dos textos do JL, verificando como eles dão continuidade à tradição crítica sobre Eça ou inovam em relação ao que já foi produzido a respeito do escritor português. PALAVRAS-CHAVE: Eça de Queirós; Periódico; Crítica. Cristiane Rodrigues de Souza TITULO: O FAZER POÉTICO DE MÁRIO DE ANDRADE COMO FORMA DE DISSONÂNCIA MODERNISTA RESUMO: O modernismo brasileiro surge como voz dissonante, no início do século XX, ao questionar a produção literária vigente, concebendo, por meio da deglutição antropofágica das vanguardas europeias, formas de fazer literário mais apropriadas à época moderna. Ao mesmo tempo, o Modernismo voltou o olhar para o interior do Brasil, valorizando as expressões populares e incorporando-as ao próprio discurso. A linguagem literária formada da mistura do primitivo, recolhido em meio ao povo, e das inovações modernas, índice da identidade brasileira, é a maneira encontrada por eles para modificar o cenário do século XX. No entanto, a procura da identidade brasileira e da forma que a traduza ultrapassa o primeiro momento modernista, como se pode perceber por meio do estudo de poemas da época madura de Mário de Andrade. Os grupos de poemas de amor dessa fase, como “Poemas da negra” e “Girassol da madrugada”, retomam a estrutura musical das danças dramáticas populares, estudadas pelo poeta-pesquisador, aproximando-se das etapas do mito da procura que marcam esses bailados. Assim, os versos amorosos do poeta confundem-se com a procura da definição da face complexa e musical do país, cujos ritmos populares são absorvidos pelo poeta erudito. Além disso, os poemas de amor, assim como o grupo de poemas “Rito do irmão pequeno”, deixam transparecer reflexões sobre o fazer artístico, já que a busca da fusão de opostos, elemento das danças dramáticas, indica a procura da totalidade dada pela obra de arte, conforme Schiller. A percepção de afinidades entre a criação poética e a entrega amorosa nos versos do poeta enseja o estudo de aspectos relevantes de grupos de poemas da fase madura – “Poemas da negra”, “Girassol da madrugada” e “Rito do irmão pequeno” – que conduz à compreensão da poética mariodeandradiana, dissonante em relação ao seu tempo. PALAVRAS-CHAVE: Mário de Andrade; amor; criação poética. Cristiano Camilo Lopes TITULO: CRÔNICAS DE NÁRNIA DO TEXTO PARA A TELA: UM ESTUDO COMPARADO ENTRE A LITERATURA JUVENIL E O CINEMA RESUMO: O objetivo desta comunicação é comparar o livro Crônicas de Narnia, de C. S. Lewis, e sua adaptação fílmica, sob o estudo da personagem Aslam. O intuito é verificar as escolhas estéticas para o conjunto de semelhanças e diferenças verificadas na passagem do livro ao filme. Operando-se com dois campos narrativos diversos, e que possuem, cada qual, formas específicas de linguagem, é central, nesta reflexão, procurar entender como se configura o discurso teológico (que se sabe próprio do escritor) no livro e que tipo de releitura promovida pelo filme vai mobilizar modificações (ou não) no que diz respeito à construção desse mesmo discurso. Para Lewis, os contos de fada foram a melhor forma encontrada para falar das questões inerentes ao homem e sua vivência (entre elas o sagrado). Seu objetivo foi despir questões do sagrado veiculadas ao universo religioso para dotá-las no universo ficional de seu aspecto potencial mitológico: "O homem imaginativo que existe em mim é mais arcaico, mais continuamente operativo, e nesse sentido mais básico do que o escritor ou crítico religioso” (LEWIS, 1982) Assim, a partir dessas considerações, esta comunicação se desenvolverá em torno das seguintes problematizações: 1. Como o discurso teológico proposto pelo autor se configura no livro e no filme?; 2. Como se dá a construção desse discurso por meio da análise da personagem Aslam da obra literária e da obra fílmica? Entendendo-se que cada produção dialoga com sua época, com seu público, pretende-se verificar se alguns temas apontados pela fortuna crítica do autor estão (e como estão) presentes no filme PALAVRAS-CHAVE: Literatura juvenil; C. S. Lewis; adaptação. Cristiano Moreira TITULO: A EPÍGRAFE COMO BRECHA: OSMAN LINS LEITOR DE POESIA RESUMO: O crítico italiano Alfonso Berardinelli e, seu livro Da poesia à prosa acusa a crescente separação entre a prosa e a poesia ao longo do século XX, do lado da poesia, o mito e do lado da literatura, as ideias. Para Theodor Adorno a não transparência é uma característica da lírica moderna. Ainda assim essas fronteiras acabam por ser borradas à medida em que o século avança. Por sua vez, Walter Benjamin, influenciado pela leitura de Baudelaire associa as manifestações da natureza à linguagem poética motivada pelas semelhanças dando potência às imagens, mas do que às mensagens. A produção literária de Osman Lins é bastante estudada por inúmeros pesquisadores que se debruçam sobre o romanesco, o teatral e o ensaísmo. Por meio das semelhanças e potencialidades das imagens em Osman Lins tomamos a figura do arado como emblema para ler o Osman Lins leitor de poesia. A partir da aparição de Deolindo Tavares e de textos sobre poetas nordestinos como Mauro Mota, Zila Mamede e Acenso Ferreira, recuperamos a importância da poesia na produção narrativa do autor de Avalovara. A epígrafe funciona aqui como uma espécie de juízo final, a poesia presenta na obra de Osman Lins mas que não é vista, camuflada pela prosa. PALAVRAS-CHAVE: Poesia; Narrativa; Nordeste. Cristina Carneiro Rodrigues TITULO: OS TRADUTORES DA COLEÇÃO BIBLIOTECA HISTÓRICA BRASILEIRA RESUMO: A coleção Biblioteca Histórica Brasileira, idealizada pelo editor José de Barros Martins, foi publicada de 1940 a 1952 pela Livraria Martins Editora, de São Paulo, e tinha como objetivo a divulgação de obras sobre história, geografia e sociedade brasileiras. Relatos de viajantes estrangeiros considerados mais significativos em relação a esses aspectos foram selecionados e incluem Debret, Saint-Hilaire, Léry, Kidder. Foram apenas 19 os títulos editados, 17 deles traduções, muitas delas apresentadas por Rubens Borba de Moraes, o editor da coleção até seu décimo quinto volume. São edições bem cuidadas gráfica e editorialmente, e a maior parte delas tem prefácios e notas dos tradutores ou de especialistas no assunto. Neste trabalho vou apresentar os tradutores dessas obras, alguns intelectuais de prestígio na época, como Sérgio Milliet, Sérgio Buarque de Holanda, Gastão Penalva, Afonso Arinos de Melo Franco e o próprio Rubens Borba de Moraes, tendo como foco específico como eles se manifestaram em prefácios e notas. PALAVRAS-CHAVE: Biblioteca Histórica; História da Tradução; Tradutor. Cynthia Agra de Brito Neves TITULO: LETRAMENTO LITERÁRIO E GÊNEROS POÉTICOS EM TRAVESSIA NAS SALAS DE AULA DO BRASIL E DA FRANÇA RESUMO: Este trabalho baseia-se em uma pesquisa contrastiva entre currículos e avaliações oficiais do Brasil e da França, em especial, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e o Baccalauréat (bac), atentando para o tipo de formação literária que se almeja dos alunos nessa faixa de escolaridade cá e lá. Observamos ainda um total de 90 horas de aulas de Língua Materna (LM) em classes de dois lycées de Grenoble, na França, e de três escolas (pública e particulares) de ensino médio no interior de São Paulo, Brasil, acompanhando atividades que envolviam práticas de leitura em voz alta e escrita de gêneros poéticos em sala de aula, com o objetivo de buscar, sob esta perspectiva, heranças e influências da pedagogia francesa no ensino-aprendizagem de literatura no ensino médio nacional. Constatamos que, por detrás dos muros dos lycées franceses e das escolas brasileiras, há muito mais semelhanças nas práticas pedagógicas que diferenças. Tanto cá quanto lá, os alunos procuram burlar os formalismos poético e institucional ao se interessarem pela pessoa do poeta, ao soltarem a voz no rap de protesto, ao interpretarem Rimbaud à sua maneira, ao escreverem poesias com palavras vulgares, enfim, ao se deixarem tocar pelo discurso poético, seja na leitura ou na escrita poéticas, os alunos (re)encontram sua posição de sujeito, sua dignidade, sua condição humana, sua cidadania, um trabalho quase-psicanalítico na (re)construção de si; os alunos-leitores-escritores de poesias ao (se) ler, (se) dizer, (se) escrever, se colocam no mundo. Por isso defendemos que os gêneros literários e poéticos devam ocupar o centro e não a periferia do processo educacional. PALAVRAS-CHAVE: letramento literário; gêneros poéticos; Bac-Enem. Débora da Silva Chaves Gonçalves TITULO: LUGARES REINVENTADOS: TRÂNSITO E MEMÓRIA EM O IRMÃO ALEMÃO, DE CHICO BUARQUE RESUMO: A narrativa contemporânea apresenta uma série de possibilidades que configuram um mapeamento em torno da memória. Essa experiência faz com que haja uma troca simbólica que vai de lugares reais a lugares imaginados, criando uma espécie de transfiguração artística da história que, ao que parece, confunde e instiga o leitor, fazendo com que ele tenha a falsa impressão de dominar os lugares que são usados como cenários, e ainda, como forma de legitimar a narrativa. Sendo assim, este artigo analisa o papel da memória a partir dos deslocamentos e dos trânsitos que se materializam em seus personagens, usando como objeto de estudo o livro O irmão Alemão, de Chico Buarque de Holanda. O objetivo dessa proposta é pensar os meios utilizados pelo escritor, mostrando sua construção no texto, a partir de uma abordagem que transita entre a realidade e a ficção, que converge para um diálogo entre a memória, a história e as identidades. PALAVRAS-CHAVE: lugares; memória; O irmão Alemão. Déborah Scheidt TITULO: JOSÉ DE ALENCAR, HENRY LAWSON E O NACIONALISMO LITERÁRIO NO BRASIL E NA AUSTRÁLIA RESUMO: A segunda metade do século XIX se caracteriza como importante fase de transição e intensa movimentação política no Brasil e na Austrália. Também é nesse período que se acentuam os esforços para a criação de uma literatura emancipatória nos dois países. Ao utilizar técnicas narrativas específicas, organizar temática e formalmente os universos literários de modo a fazer com que brasileiros e australianos comecem a enxergar a si mesmos nos enredos e produzir uma vasta obra crítica como jornalistas, ensaístas e comentaristas políticos e sociais, os autores José de Alencar (1829-1877) e Henry Lawson (18671922) se destacam como figuras altamente comprometidas com a criação do que Benedict Anderson chama de “comunidades imaginadas”. Quanto aos meios de comunicação com os leitores, ambos fazem hábil uso da imprensa – principalmente nas modalidades jornal e revista – para atrair a adesão popular necessária para a consolidação da percepção de nação. Entretanto, as concepções de ordem social nos dois autores são quase que diametralmente opostas. Para Alencar, noções de progresso e do bom funcionamento da sociedade são baseadas, de modo ambivalente, tanto na rejeição de padrões portugueses quanto na observância “cordial” de uma hierarquia tradicionalmente portuguesa e residuária do Brasil colonial, como se observa em seu romance O sertanejo. Os contos de Lawson, tais como “The union buries its dead” e “Send round the hat”, por outro lado, rejeitam as relações de hegemonia de classe e de subalternidade herdadas da Grã-Bretanha, elegendo o igualitarismo e o companheirismo masculinos como regras de convivência básicas e uma espécie de antídoto contra os rigores do meio, as grandes distâncias e a solidão do interior australiano. Mais do que figuras meramente representativas do “espírito dos tempos”, Alencar e Lawson contribuíram voluntária e ativamente para configurar o seu tempo e tornaram-se figuras seminais da pós-colonialidade em seus países. PALAVRAS-CHAVE: José de Alencar; Henry Lawson; Nacionalismo. Décio Torres Cruz TITULO: TRADUZINDO POESIA MEDIEVAL EM CINEMA: REPRESENTAÇÃO DE GÊNERO EM "THE CANTERBURY TALES" DE CHAUCER RESUMO: Este trabalho irá abordar o modo como sexualidade e questões de gênero foram traduzidas da obra The Canterbury Tales [Os contos de Cantuária] (1478) do escritor inglês Geoffrey Chaucer para a linguagem cinematográfica. Este longo poema narrativo escrito em inglês médio (fase posterior ao inglês antigo) teve diferentes adaptações para o cinema e televisão. Centraremos nossa discussão nas adaptações de Pier Paolo Pasolini (1972) e na versão de animação produzida pela BBC do País de Gales. Existem ainda uma adaptação de 1944 para o cinema, A Canterbury Tale, dirigida por Michael Powell e Emeric Pressburger e Canterbury Tales (2003), uma adaptação da BBC para a televisão. Por questões metodológicas, não abordaremos essas duas últimas. PALAVRAS-CHAVE: The Canterbury Tales; cinema e literatura; poesia e cinema. Daniel Christovão Balbi TITULO: A ESCRITA DE UMA TRADIÇÃO: VIANINHA PROPÕE UMA HISTÓRIA RECENTE PARA TEATRO NACIONAL RESUMO: A história da dramaturgia moderna no Brasil é anterior ao surgimento de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, não obstante parte da crítica teatral brasileira conferir-lhe todos os louros do pioneirismo e ineditismo. Em perspectiva materialista, todavia, pensando as vicissitudes da formação do sistema literário – descontinuidades, rupturas, soluções arrojadas etc. –, a história de uma forma estética proeminente, que tenha força de estilo e se imponha como parâmetro, reclama mais rigor. Desse modo, pode-se dizer que, desde o início do século XX, a reorganização das trupes itinerantes, o estabelecimento de algumas companhias amadoras nos grandes centros, o enfraquecimento, aliás, da oposição entre profissionalismo e amadorismo, no contexto da perda da relativa importância que o teatro apresentava como entretenimento urbano e público, apontam para uma transformação da forma que se processa ao longo de décadas, do qual fazem parte tanto as produções de Nelson Rodrigues como os resultados do TBC e as conquistas experimentais do ARENA. Vianinha viveu o teatro como problema, no sentido do empenho na construção de um material que fosse nacional, engajado, instrumental, universal e esteticamente autônomo, tudo o que, dentro daquilo que as teorias e historiografias da arte costumam registrar, é tido como contraditório. Viveu o teatro como problema também em virtude de ter atuado no e pelo teatro, desempenhando as funções de ator, escritor, produtor, organizador de categoria, propositor de um espaço cultural estável. Dessa forma, procura-se analisar como, ao longo de sua extensa produção teórica e crítica sobre o teatro brasileiro, Vianinha propõe a sua história recente, sobretudo investigando qual a pertinência do relevo que atribui ao ARENA na formação e consolidação do teatro moderno. Isto significa investigar os pressupostos que consubstanciam a historiografia dessa companhia que Vianinha nos apresenta, suas relações históricas e ideológicas estruturantes, tomando como base artigos escritos entre 1958 e 1965. PALAVRAS-CHAVE: Vianinha; Arena; Historiografia. Daniel Conte TITULO: O PAÍS DO ESPETÁCULO OU A DESFRONTEIRA DO HUMANO EM TERRA AVULSA DE ALTAIR MARTINS RESUMO: Em entrevista publicada na Revista Nacional de Estudios Literarios de la Universidad Nacional Autónoma de Nicaragua, em 2010, Altair Martins aceita a hipótese de que a cidade é imagem e cenografia fundamentais em suas obras. Faz essa referência como se estivesse surpreso com a contundência da questão, assim, a tiro curto. E de fato é isso que ocorre. Se lançarmos um olhar em sua poética, perceberemos, desde Como se Moesse Ferro (1999), Dentro do olho dentro (2001), Se choverem pássaros, (2002) e Enquanto água (2011) obras que reúnem narrativas curtas ou, ainda, A Parede no Escuro (2008) e Terra Avulsa (2014), que o labirinto urbano oferece a seus atores uma condição única de edificação. O sujeito histórico representado pelos e nos narradores de suas obras representam um não-tempo que evidencia problemas que estão incrustados em qualquer sitio que se pretenda urbano: o excesso do espaço físico que transborda nas ruas – o ser humano e o excesso do espaço subjetivo que transborda no vazio – a solidão. Tudo isso que invariavelmente em algum lugar no espaço ou no tempo será elemento balizador, recorrente e irresolúvel, gesta fronteiras no/para o sujeito. Esta investigação pretende lançar olhares sobre as fronteiras do humano que se desenham na urbe, a partir de Terra Avulsa. Bachelard, Baudrillard, David Riesmann, Erwing Goffman, Lewis Munford, Lynch e Pesavento servirão de base teórico-crítica. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Sujeito; memória. Daniel Marinho Laks TITULO: MODERNISMOS E AUTOCONSCIÊNCIAS DA MODERNIDADE: UMA RELAÇÃO ENTRE AS PROPOSTAS ESTÉTICAS DE MÁRIO DE ANDRADE E ALMADA NEGREIROS RESUMO: Estudos comparativos sobre modernismo brasileiro e modernismo português tradicionalmente espelham-se nas relações com modernismos produzidos em centros europeus que vivenciaram anteriormente uma experiência de modernidade. Essa ideia parte da concepção de que modernismo é a resposta cultural à vivencia da modernidade, entendida como uma linha contínua de avanços tecnológicos ligados à expansão capitalista. O modernismo brasileiro e português é pensado enquanto um discurso tecnicamente inovador, produzido em outros lugares e aplicado em países periféricos. Assim, as propostas estéticas de autores como Mário de Andrade e Almada Negreiros são interpretadas a partir de relações de influência de movimentos como o futurismo italiano em detrimento de suas particularidades e especificidades. O presente trabalho se propõe a repensar as relações entre modernidade e modernismo a partir da proposta estabelecida por Perry Anderson (1984), de que um estado irregular de modernidade seria um dos pré-requisitos fundamentais para o desenvolvimento do modernismo. O surgimento de diferentes focos modernistas ao longo do tempo comporia, dessa forma, um complexo mapa geopolítico com coordenadas específicas, que dialogam umas com as outras e com suas necessidades internas. Pretendemos assim, discutir as produções estéticas de Mário de Andrade e Almada Negreiros enquanto estetizações das formas de vida, a partir de uma autoconsciência particular de pertencimento a um período de viragem de época, que gerou necessidades interiores até então inexistentes. Esta noção de autoconsciência da modernidade foi mediada, tanto no caso dos dois artistas quanto ao longo de diferentes épocas, por uma determinada compreensão histórica, frequentemente diferente das compreensões históricas anteriores. Pretendemos, portanto, diferenciar a autoconsciência histórica de pertencimento à modernidade de Mário de Andrade e Almada Negreiros de outros períodos onde se experimentou uma experiência de viragem temporal, para estabelecer um improvável confronto de singularidades ao privilegiar o estudo da produção estética desses dois escritores, aparentemente incomparáveis porque radicalmente individuais. PALAVRAS-CHAVE: Mário de Andrade; Almada Negreiros; Consciência moderna. Daniel Vecchio Alves TITULO: QUESTÕES ACERCA DO “IRREALISMO LITERATURA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA CULTURAL” NA RESUMO: Desde Herculano, Garret e a Geração de 70 difundiu-se a leitura crítica de um Portugal doente, de vida coletiva embebida no imaginário épico. Tal imaginário é uma herança cultural da era das navegações ultramarinas que serviu a políticos e escritores ufanistas dos séculos subsequentes, para disfarçar a decadência político-econômica vivida durante longo tempo no país. O que nos importa salientar aqui é que os mesmos imaginários de outrora foram determinantes na vida lusitana ao longo dos séculos XX e início do XXI. Dessa forma, nos concentraremos nos estudos críticos de Eduardo Lourenço e Miguel Real que, além de constatarem a presença de “um irrealismo cultural existente entre o discurso oficial do Estado, dominante na imprensa escrita” (REAL, 2012, p.91), concordam na representação desse aspecto no discurso literário, marcando presença em muitos romances portugueses. Na atual literatura portuguesa, a modelação alegórica específica desse farsante código consiste em uma reposição formalmente mais complexa dos cenários da história oficial de Portugal, marcada pela quebra do regime de silêncio dessa história, tendo por base um acentuado fluxo de consciência de seus anti-heróis. Exploraremos a representação literária desse “irrealismo cultural”, que em algumas obras resulta em uma provocante alegoria de efeito irônico, tendo como principal finalidade representar um presente impregnado de misticismo e subitamente pleno de personagens e aventuras oníricas. Reescreve-se, assim, a história portuguesa, colocando em xeque a mentalidade épica ainda tão divulgada e compartilhada no país. Observaremos, portanto, que diante de uma discussão cultural de tão longa data na cultura portuguesa, torna-se evidente haver o imaginário exercido grande influência na formação de sua nacionalidade. Nesse viés, nos ateremos à leitura de duas obras literárias produzidas em Portugal: a Peregrinação de Barnabé das Índias (1998) do portuense Mário Cláudio, e a O Conto da Ilha Desconhecida (1997) de José Saramago. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; História; Alegoria. Daniela Maria Segabinazi TITULO: TURMA DA MÔNICA JOVEM EM “OS CLÁSSICOS ESTÃO SEMPRE NA MODA” RESUMO: A literatura juvenil contemporânea tem apresentado uma riqueza de qualidade em sua produção, especialmente, nos conteúdos temáticos que abarcam um olhar multifacetado da sociedade atual. Além disso, tem explorado um conjunto de aspectos, como a linguagem e o projeto gráfico, que somam para o elevado teor estético das obras. Entretanto, as obras clássicas e já renomadas na crítica literária, bem como já consolidadas nas leituras dos leitores juvenis, ainda permanecem com vigor nas publicações contemporâneas, inclusive, recebendo contornos e novas roupagens a partir de adaptações, sejam para o cinema, para o teatro e para as histórias em quadrinhos, entre outros modos e suportes. Em visto disso, o presente trabalho objetiva abordar e analisar a adaptação da obra Alice no país da maravilhas, de Lewis Carroll, para o gibi em estilo mangá da Turma da Mônica Jovem, de Maurício de Sousa. Nessa perspectiva, de (re)criações, de diálogo e interfaces entre o passado e o presente, buscamos reconhecer as mudanças necessárias ao processo de (re)escrita e (re)leitura da obra original, configuradas no contexto e texto da HQs, bem como a representação da personagem Alice e Mônica, o que resulta na renovação e consagração do texto original a partir de novos sentidos. Busco, assim, discutir os diversos entendimentos teóricos e críticos a respeito de intertextualidade e adaptação (AMORIM, 2005; CARVALHO, 2006; CECCANTINI, 2004; DIONÍSIO, 2012; FORMIGA, 2009; STAM, 2006) que circulam, no âmbito acadêmico a respeito das adaptações literárias, que passam a ser compreendidas, como: recriação, paráfrase, paródia, reescritura, vislumbrando uma [nova] nomenclatura para esses textos. PALAVRAS-CHAVE: Adaptação; História Quadrinhos; Intertextualidade. Daniela Palma TITULO: O LOCUS DO OLHAR E O ARQUIVO DA PALAVRA: O SERTÃO DE ROSA PELAS EQUIVALÊNCIAS FOTOGRÁFICAS DE MAUREEN BISILLIAT RESUMO: Cordisburgo, Curvelo, Corinto, seguindo pelos Gerais até Januária. O roteiro que a fotógrafa inglesa Maureen Bisiliatt percorreu em quatro viagens, compreendidas entre 1962 e 1964, fora rabiscado, um pouco antes da primeira jornada, pelo próprio Rosa. Era o primeiro trabalho em que Bisilliat propunha fotografar em diálogo explícito com a literatura, um expediente que ela mesmo chamou de “equivalências fotográficas”. A proposta da comunicação é ler a relação intermidiática entre fotografia e literatura, a partir da obra de Bisilliat, no diálogo que suas imagens e textos (fragmentos, frases, sintagmas que a fotógrafa retira da obra de Rosa e remonta em versos que acompanham as fotografias) estabelecem com o romance. A proposta não recai em interpretações de “Grande Sertão:Veredas” em si, mas na recriação fotográfica de Bisilliat. Exploramos o romance como texto-fonte, ressaltando a noção de fonte (a partir de Benjamin, Derrida, Didi-Huberman), como o que não se situa em um ponto espaçotemporal fixo e preciso, mas justamente como as possibilidades de entrelaçamentos de espaços e tempos que atuam como potência poética. Assim, por essa noção de fonte, o romance funciona também como arquivo para a fotógrafa, um arquivo formado de palavras com potencial constante de gerar imagens. Como interpretação da palavra literária, as imagens de Bisilliat serviriam de reforço ao movimento, já iniciado no romance, de magicização da palavra – movimento de imaginação (Flusser). Esse arquivo é também um mapa, uma vez que o percurso tradutório é também um percurso espacial, é viagem. Para fotografar, o acesso físico é imprescindível. Partia, então, a fotógrafa estrangeira a conhecer o país pelas entranhas, a percorre o sertão, conduzida, através de tempos e espaços – ou melhor, de tempos que fazem espaços –, pelas palavra recordatória de Teobaldo e pelas visões de Rosa. PALAVRAS-CHAVE: intermidialidade; literatura; fotografia de viagem. Daniela Silva da Silva TITULO: UMA HISTÓRIA CULTURAL DA POLÊMICA NO JORNAL GAZETA DO POVO: UM ESTUDO DE CASO DAS BIOGRAFIAS RESUMO: Como os leitores dão sentido aos textos dos quais se apropriam? Enquanto meio de comunicação, podemos olhar para um jornal como uma representação de uma comunidade de leitores? Em seu livro, A história ou a leitura do tempo (2010), o historiador francês Roger Chartier recorda que “a leitura também tem uma história (e uma sociologia), e que o significado dos textos depende das capacidades, das convenções e das práticas de leitura próprias das comunidades que constituem, na sincronia, ou na diacronia, seus diferentes textos” (p. 37). A sociologia dos textos, segundo Chartier, “insiste na materialidade do texto e na historicidade do leitor com uma dupla intenção” (p.38). Sendo assim, o presente trabalho, tem por objetivo estudar como a polêmica em torno da publicação ou não das biografias circulou no jornal paranaense Gazeta do Povo, no Caderno G. Para tanto, recortamos três matérias, uma envolvendo Ruy Castro (2013), outra Domingos Pelegrini (2013) e uma terceira acerca de Paulo César de Araújo (2014). Como leitor dessas polêmicas que sociologia da cultura o jornal constrói? Segundo Carlos Süssekind de Mendonça, (1938) “era a polêmica, então, o entretenimento predileto dos intelectuais do Recife”, no século XIX. Há uma coincidência histórica, em temos sincrônicos e/ou diacrônicos, ou ressonâncias entre o ato de polemizar no século XXI e o que acontecia no oitocentos? O modo como os fatos sociais são lidos pelo jornal formulam um significado para cultura, e para o próprio ato de ler, por meio de uma comunidade que se apropria desse fato e o interpreta à luz de molduras histórias, o que nos permite discutir como a cultura escrita propõem, no tempo, uma ideia de sociedade, que como a nossa, guardadas as devidas proporções, de um lado, permite a aparição das celebridades, ao mesmo tempo em que se comporta como um censor. ___ Referências. BURKE, Peter. O que é história cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. BURKE, Peter. A escola dos Annales (1929–1989). A Revolução Francesa da historiografia. São Paulo: UNESP, 1997. BURKE, Peter. Variedades de história cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma história social da mídia. De Gutenberg à internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. CHARTIER, Roger. A história ou a leitura do tempo. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. CHARTIER, Roger Formas e sentido: cultura escrita, entre distinção e apropriação. Campinas, SP: Mercado de Letras : Associacao de Leitura do Brasil, 2003. 167 p. LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: UNICAMP, 1996. LIMA, Luiz Costa. A aguarrás do tempo. Rio de Janeiro: Rocco, 1989. MENDONÇA, Carlos Süssekind de. Sílvio Romero. Sua formação intelectual, 1851-1880. Brasiliana, série 5ª., vol. 114, disponível em: http://www.brasiliana.com.br/obras/silvio-romero-suaformacao-intelectual-1851-1880. Acessado em: 15 de abr. 2015. PALAVRAS-CHAVE: História; Cultural; Jornal. Daniela Silva de Freitas TITULO: O RAP, A PERIFERIA E O BRASIL RESUMO: A redemocratização no Brasil não foi capaz de garantir à parcela mais pobre da população o acesso à cidadania e a oferta de melhores condições de vida. Frente à emergência de uma diferença social fortemente marcada, impedidos de se imaginar como membros da Nação, jovens de periferias brasileiras se voltaram para a cultura de rua negra americana em busca de novas práticas culturais que se opusessem às representações (tão comuns ao samba e à chamada música popular brasileira) do Brasil como uma sociedade racialmente democrática e cordial, diversa, mas não-conflitual. É neste contexto que o rap se populariza no Brasil nos anos 1990. Este trabalho ambiciona analisar como rappers brasileiros – os Racionais MC’s, Sabotage, Criolo, Emicida, Gog, Mc Marechal, Renan Inquérito e Rael da Rima – denunciam a violência, a exclusão e o racismo nas grandes cidades e como eles representam e re-imaginam um Brasil cuja realidade é frequentemente mantida à sombra da representação. PALAVRAS-CHAVE: música; perifeira; representação. Daniele Ribeiro Fortuna TITULO: EMOÇÃO E RESISTÊNCIA NA LITERATURA DE CAROLINA MARIA DE JESUS RESUMO: O objetivo desta comunicação é apresentar os resultados iniciais da pesquisa “Carolina Maria de Jesus, Maura Lopes Cançado e Walmir Ayala: corpos e emoções nos diários”, contemplada no edital da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) “Jovem Cientista do Nosso Estado”, em 2014. O projeto busca analisar e comparar os diários dos escritores Carolina Maria de Jesus, Maura Lopes Cançado e Walmir Ayala, tendo como o foco seus corpos e suas emoções. Estes autores escreveram seus diários na mesma época, na década de 1950, e fizeram de seus textos espaço de expressão de suas emoções, de resistência e sobrevivência às dificuldades que tiveram que enfrentar. Carolina Maria de Jesus escrevia para se sobrepor à miséria e às dificuldades que enfrentava na favela. Maura Lopes Cançado escrevia para resistir à loucura. E Walmir Ayala, para lidar com a sua homossexualidade. A análise utiliza como escopo teórico estudos sobre discurso (principalmente, Foucault, Lejeune, Arfuch e Gusdorf), Antropologia das Emoções (Le Breton e Rezende e Coelho) e corpo (Le Breton). Nesta comunicação, será apresentada a fase inicial da pesquisa que se concentra na literatura de Carolina Maria de Jesus. O foco da discussão será o diário de Carolina como testemunho de uma época, espaço de resistência e de expressão das emoções. PALAVRAS-CHAVE: Emoção; Resistência; Testemunho. Danielle Cristina Mendes Pereira TITULO: A INFÂNCIA COMO ESTRATÉGIA ESTÉTICA RESUMO: O trabalho pretende refletir sobre as relações de convergência entre as modulações da memória e do fazer literário, muito especificamente no que toca à produção de imagens relativas à infância, durante o Modernismo brasileiro, na produção lírica de Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e Carlos Drummond de Andrade. A partir dessa percepção intenta-se compreender a construção de uma ideia de infância que se arvora como uma estratégia estética, especialmente a partir do Modernismo, no lastro das configurações emergentes, que impunham uma nova sensibilidade em torno da pluralidade, fragmentação e descontinuidade do pensamento, da linguagem e do sujeito. A noção de infância como estratégia estética fundamenta-se nesse contexto e diz respeito à organização de um discurso artístico de experimentação que impacta e é impactado pela produção de novas leituras da realidade, apoiadas pelo enfrentamento de códigos inovadores instaurados pelas configurações de um mundo moderno. Como instância cultural, a infância assume discursos diversos, frente a momentos e grupos sociais específicos. Diante do contexto em tela, intentamos investigar a sua representação na lírica brasileira modernista, assumindo a infância como uma categoria discursiva e situada para além de um mero enquadramento referencial e temporal; isto implica em compreendê-la como uma categoria discursiva que se constrói como metáfora para os processos de subjetividade e de experimentação literária, instaurados a partir do Modernismo, em meio ao apelo pela autonomia estética e à busca de novas identidades e expressões poéticas, que se tecem em torno das ideias de “novidade” e de “invenção”, por exemplo. Postulamos, assim, uma conceituação de infância que transcende o resgate do passado – recuperação intranquila e dilacerada - e que se postula como promessa, como latência de possíveis descobertas e transgressões, enfrentando a problemática da memória e de seus vãos, limites e potências. PALAVRAS-CHAVE: Memória; Literatura; Infância. Danielle Grace de Almeida TITULO: OS DESLOCAMENTOS DO ESPAÇO POÉTICO NA ESCRITA DE FRANCIS PONGE RESUMO: Francis Ponge, no poema “Raisons d’écrire”, que compõe Proêmes (1948), ao expor os motivos que impulsionariam a prática da escrita poética, parece propor um deslocamento dos conceitos sobre a poesia vigentes em sua época. Vivendo em um contexto político e literário peculiar da história francesa, em que, por um lado, a voz de Jean-Paul Sartre ressoava forte como uma convocação do escritor ao engajamento, e, por outro, todo um discurso da arte pela arte se articulava, Ponge acaba por desarranjar, rearranjar os modos de ver e sentir a realidade. Nesse livro e em outros como Le Parti pris des choses, em que os objetos são ressignificados na relação com o espaço e a memória, o poeta constrói uma escrita que irrompe as fronteiras então dicotômicas entre poesia e prosa para assim destruir também os limites entre criação e crítica. O objetivo dessa comunicação é discutir de que modo a poesia pongiana deposita nas veias abertas da modernidade outras vias de sentido da relação do homem com o mundo. PALAVRAS-CHAVE: Francis Ponge; poesia moderna; poesia e crítica. Danilo Almeida Patrício TITULO: ESTILHAÇOS ASTUTOS – INQUIETUDES E TEMPORALIDADES EM CORPO DE BAILE, DE GUIMARÃES ROSA RESUMO: Um livro em sete pedaços. Os visíveis, à primeira vista, anunciados pelos índices como “novelas”, “romances” ou “poemas”. Um situar possível para Corpo de Baile, de Guimarães Rosa. Em 1956 as 7 novelas são lançadas em 2 volumes, agregadas em volume único na 2ª edição de 1960. A partir da 3ª edição, em 1964, seguindo até hoje, seguem as “Estórias” (que narram história) em 3 volumes que, estilhaçando a (suposta) unidade fragmentária como livro - um Corpo, em dança – ganham novos nomes, por onde se espalham os enredos: “Manuelzão e Miguilim”, “No Urubuquàquà, No Pinhém” e “Noites do Sertão”. Em vez de fronteiras, na imposição de limites, existem no limiar político tecido em repertórios artísticos da “Literatura Vida” (LORENZ, 1973, p. 318), como lugar pulsante de História, na sua inquietude brincante (BENJAMIN, 2002). De seu lugar iniciático, “Campo Geral”, o livro (?!) é disparado com a trajetória do menino Miguilim, onde se joga também o artista Rosa, derramando-se no movimento, também político, de tocar outros lugares como os bichos, plantas e personagens incômodos, carregados no tempo, fazendo possíveis no rastro de migalhas narrativas, em astúcias ante ao risco de monumentalização dos poderes, como os afetos das fazendas e principalmente o progresso, em promessas e técnicas ecoadas a partir das cidades. Tentativas de capturas, como a que mira um (suposto) sertão essencialista, explodidas, em tensão de conflitos, pelas vias da criação, inventiva. Como no cinema, não estritamente a técnica, mas em perspectiva narrativa de mostrar/esconder a dizer que sempre ocorre algo ao lado, anterior e depois do que é crivado como escrita, expandindo o que seria um acontecer ao querer incessante que se joga às leituras, para ser usado, apropriado, remexendo no tempo o que seria apenas definido, como se pudesse esquecer as “ignorâncias” (ROSA, 2001, p. 246) em movimento. PALAVRAS-CHAVE: Guimarães Rosa; Corpo de Baile; Limiar. Danilo de Oliveira Nascimento TITULO: REPRESENTAÇÃO OU SIMULAÇÃO DO TRÁGICO NA LITERATURA BRASILEIRA RESUMO: A comunicação pretende discorrer sobre a representação do fenômeno trágico na literatura brasileira, tema de pesquisa que venho desenvolvendo há um ano, tal pesquisa considera as perspectivas teóricas de Albin Lesky (2006), Eduardo Lourenço (1994), Gerd A. Bornheim (1975), Glenn W. Most (2001), George Steiner (2006), Hans Ulrich Gumbrecht (2001), Rachel Gazolla (2001), entre outros sobre tragédia, trágico e tragicidade. A aproximação com tais estudiosos da tragédia e do trágico pretende confirmar a dificuldade de conceituar fenômeno trágico, assim como de entender apropriadamente as tragédias áticas do século V enquanto paradigmas do drama e da literatura trágica, desse modo, aceitamos a afirmação consensual entre tais estudiosos de que o que se discute na verdade são formas de representação do trágico ou formas de pensá-lo. A discussão em torno da representação literária do fenômeno trágico implica outras discussões tais como o intertexto, a intenção autoral, o gênero dramático, o contexto, a relação entre mensagem e stimulus, que permitem identificar a natureza trágica de uma determinada obra literária e “classificá-la” ou “rotulá-la” de trágica. Considerando que os termos “tragédia” e “trágico” são utilizados ora como “substantivo” ora como “adjetivo”, sustentamos a hipótese de que na prosa ficcional e na poesia brasileiras, o fenômeno trágico se manifesta ou se simula ou através do espaço ou através das relações amorosas, sobretudo aquelas cujos desfechos são crimes passionais. PALAVRAS-CHAVE: Trágico; Representação; Literatura Brasil. Danusa Depes Portas TITULO: PROTOGRAFIAS – FORMAS QUE PENSAM RESUMO: Como pensar o mundo contemporâneo buscando a potencia do seu devir-imagem? A crescente tendência nos estudos das ciências humanas e sociais pela dimensão transnacional do tráfico e da produção de imagens acompanha o deslocamento da imagem até o centro dos debates sobre o papel da representação nas culturas globais. Estas questões poderiam cumprir-se em dois problemaschave fundamentais: a hibridação dos campos disciplinares do cinema, da literatura, da fotografia, da arte etc.; a relação entre a imagem e o arquivo, com respeito à memória, à história. Nesse horizonte de problemas, o objetivo desse trabalho será distinguir o papel constitutivo do operador-imagem na dinâmica da imaginação ocidental e as funções políticas dos agenciamentos memorialísticos de que se revelam portadores, valendo-se do projeto 'Protografias' do artista colombiano Oscar Muñoz como intercessor. Muñoz tem mantido uma relação estreita com a disciplina fotográfica, todavia, uma relação tangencial, nunca a utiliza como o resultado final do processo. 'Protografias' mais que ilustrar uma interpretação pré-existente sobre a transmissão de imagens oferece uma matriz visual para démultiplier suas demandas possíveis de interpretação. A sua obra nos interpela acerca do mistério da imagem como resíduo da vida. Sobre esse estado de imagem, aquilo em que o Outrora encontra o Agora em um instante de luz. Esta vontade de história é construída sobre si mesma e tonificada como uma interrupção. O que vem dessa dobra dialética é o que Walter Benjamin chama uma 'imagem' - montagens de significados e temporalidades heterogêneas. Uma dialética da imagem que libera toda uma constelação, como um fogo de artifício de paradigmas, aparecendo no umbral do figurado. Trata-se de uma construção do pensamento capaz de não se fechar nas estritas categorias lógico-discursivas e jogar anacronicamente para desmontar, montar e remontar (nossas) imagens de modo a criar, a partir da visibilidade e da temporalidade, sua legibilidade. PALAVRAS-CHAVE: cultura visual; imagem dialética; agenciamento. Darío de Jesús Gómez Sánchez TITULO: LITERATURA COLOMBIANAS E MEMÓRIA NAS CIVILIZAÇOES PRÉ- RESUMO: Muito do que hoje conhecemos das denominadas civilizações antigas é devido a sua criação literária, que é, assim, uma forma de permanência, de memória de uma cultura. Mas também acontece que a história, a mitologia, a religião, a memória mesma dessas civilizações acabou convertida em literatura. Essa dupla relação entre memória e literatura acaba configurando a identidade de uma cultura e pode ser ilustrada com o que hoje denominamos literaturas pré- colombianas: registro privilegiado da existência de grandes civilizações na América antes da chegada dos espanhóis e transformação das práticas socioculturais dessas civilizações em literatura durante o período da Conquista. No caso da literatura como memória, e seguindo a Jan Asman, poderíamos falar de uma memória comunicativa, fundamentada na interação social e nas lembranças compartilhadas por indivíduos que vivem numa época determinada. No caso da memória convertida em literatura partimos do conceito de memória cultural, também de Asman, a qual está cimentada na lembrança de objetivações solidamente estabelecidas e que contribuem para constituir uma identidade. Mas tendo presente o processo de transculturação acontecido durante a colônia que permitiu o registro de muito do que hoje conhecemos por literaturas précolombinas, tal vez seja possível falar, além da memória social e cultural, de uma memória imposta ou alucinada. PALAVRAS-CHAVE: literatura; memória; pré-colombiano. Davi Pessoa Carneiro Barbosa TITULO: BEATO ANGELICO: O BEATO PROPAGANDISTA DO PARAÍSO TAMBÉM TOMBA RESUMO: A tumba de Beato Angelico (1395-1455), em Roma, na Igreja de Santa Maria sopra Minerva, traz um vestígio paradoxal: o pintor das "semelhanças dissemelhantes" é retratado em seu túmulo sob o regime da semelhança, seu rosto feito a partir de sua máscara mortuária. A morada eterna do Beato é a morada do paradoxo: o artista que passou a vida pintando figuras que operam uma reversão do olhar, o qual não se encontra mais centrado numa figuraaspecto, imóvel pela própria imobilidade da representação mimética, torna-se alvo do figurativo. O que antes era tropologia, ciência dos tropos (das figuras), isto é, dos desvios de sentidos, torna-se o lugar da morada da História. No entanto, encontramo-nos diante das tumbas implicados na presença de um acontecimento singular, pois aquele que nos era tão próximo, tão semelhante, passa a ser, com a mesma força, dissemelhante. Portanto, estar face a face com uma tumba nos permite pensar o impensável: a morte, ou a vida da morte. Georges Didi-Huberman destaca o impensável – a morte em vida – que as tumbas nos permitem pensar. Encontrar-se diante de uma tumba é um acontecimento singular: a morte não está situada em um além, reservada ao espaço exclusivo do morto. Quando somos lançados no mundo ocorre uma experiência radical, pois é também o momento – e cada vez mais em nossos dias, com todas as estratégias biopolíticas a que estamos submetidos – em que nos distanciamos de nosso corpo. Portanto, o desafio passa a ser o de operar uma dobra na própria soleira, em que o interior toca o exterior e vice-versa. Assim, para confrontar tal discussão, o percurso de leitura da comunicação passa por textos de Elsa Morante, Roberto Longhi, Giulio Carlo Argan, Yves Bonnefoy, Dante Alighieri, Giorgio Vasari e Georges Bataille. PALAVRAS-CHAVE: arte; figura; tropologia. Davi Santana de Lara TITULO: RECEPÇÃO E LUGAR DE CAETÉS, DE GRACILIANO RAMOS RESUMO: Este trabalho realiza uma leitura de Caetés (1933), o primeiro romance do autor alagoano Graciliano Ramos, tendo em vista a questão do lugar que lhe é atribuído pela crítica tanto na história da literatura brasileira quanto na tradição da literatura mundial. Num primeiro momento, buscamos analisar o desenvolvimento da fortuna crítica do romance em questão com um olhar panorâmico e, a partir desta análise, duas questões capitais para a compreensão da obra são destacadas. A essas questões são reservadas duas diferentes subseções: “Caetés e o romance mundial” e “Caetés e a tradição interna”, cujo objetivo central é contextualizar a obra em questão dentro destas duas tradições, que, embora sejam estudadas separadamente, se inter-relacionam de forma dialética. No primeiro ponto, destacamos a inserção de Caetés com a tradição do chamado romance de província e observamos que, diferentemente da opinião de parcela significativa da crítica, essa inserção é mais problemática do que se supunha. No segundo, analisamos em especial a exclusão do romance do Romance de 30, buscando observar até que ponto essa exclusão se baseou em juízos críticos apressados sobre o romance e sobre o romance produzido no decênio de 1930. Durante todo o trabalho, como o próprio tema sugere, buscamos travar um diálogo franco com os comentadores da obra de estreia de Graciliano Ramos, concordando ou discordando deles, conforme o caso, mas buscando sempre avançar na compreensão da obra a partir do que ela tem de singular. PALAVRAS-CHAVE: Graciliano Ramos; Caetés; Recepção crítica. Dayana Crystina Barbosa de Almeida Raphael Jonatham de Oliveira Soares TITULO: “AND YOU, TOO, 'STOCK'”: AS APROPRIAÇÕES DE OBRAS DE OBRAS DE SHAKESPEARE POR ROBERT STOCK RESUMO: O poeta Robert Stock, um norte americano radicado no Brasil e que circulou intensamente entre poetas e escritores, na década de 1950, em Belém, tomou como modelo para sua própria obra o Pound da “Homage to Sextus Propertius” (de 1917). Para Pound, sua Homage era uma obra autônoma, em que revivia o poeta latino para o contexto da Inglaterra de seu tempo, com a finalidade de comparar, segundo o próprio autor, “a imbecilidade inefável do Império Romano, com a inefável imbecilidade do Império Britânico”. De modo muito similar, o autor em estudo vai se utilizar de temas e passagens do inglês Shakespeare (do período elizabetano) para estabelecer críticas ao comportamento social e militar de seu próprio tempo e país. O presente trabalho analisa dois poemas de Stock, “And You, Too, Brutus” e “Shakespeare in Vietnam”, e as apropriações que o autor faz das peças de Shakespeare (Júlio César/Julius Caesar e Henrique V/Henry V, respectivamente) em sua obra poética, com a finalidade de pensar seu próprio tempo e país. PALAVRAS-CHAVE 1: Shakespeare; Tradução; Apropriação. Deivis Jhones Garlet Bonaldo Lucas da Cunha Zamberlan TITULO: O ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ, DE JOSÉ SARAMAGO: UMA ARQUITETÔNICA DIALÉTICA E UM POSTULADO DEMOCRÁTICO RESUMO: Este trabalho pretende uma reflexão crítica e analítica da obra Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago, no âmbito da crítica sociológica e dos estudos comparados em literatura. Partindo de determinados conceitos da teoria bakhtiniana (sobremaneira os conceitos de meio ideológico; de reflexo e de refração do ato estético) e da ciência política (como democracia e poder), efetuamos um diálogo com o objeto de pesquisa com o intuito de elucidar a hipótese de que a arquitetura narrativa é essencialmente dialética, do incipit ao explicit, tanto nas partes quanto no todo da obra, desde as categorias narrativas ou recursos de estilo, até a relação que perpassa toda a ficção e estabelece o movimento: o conflito, a tensão entre governantes e governados. Percebendo a dialética como princípio estético, poderemos harmonizar forma e conteúdo, ou seja, a forma realizando um conteúdo político valorizador da democracia e de atitudes pautadas pela cidadania, instaurando um posicionamento axiológico no interior do plano narrativo em conexão recíproca com a realidade concreta, com o contexto de produção da obra, edificada, então, como um objeto-signo. Desse modo, esclarecer a arquitetura dialética da narrativa é condição sine qua non para a compreensão da totalidade da obra de maneira satisfatória, evitando o escorregar para explicações sociológicas impostas ao texto literário. Para lograr êxito em nossa proposta, tomamos como referência teórica, na área literária, textos bakhtinianos (Bakhtin, Volochínov e Medviédev), de Antonio Candido e de Bourneuf e Oullet; na área da ciência política serão imperiosos os trabalhos de Giorgio Agamben e de Norberto Bobbio, entre outros. REFERÊNCIAS AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Tradução: Iraci Poleti. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2004. BAKHTIN, M; VOLOCHÍNOV. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico da linguagem. Tradução de Michel Laud et al. 13.ed. São Paulo: Hucitec, 2012. BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Tradução: Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Paz e Terra, 2000. ___. Estado, Governo, Sociedade: por uma teoria geral da política. Tradução: Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. BOURNEUF, R; OULLET, R. O universo do romance. Tradução de José Pereira. Coimbra: Almedina, 1976. CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade: Estudos de Teoria e História Literária. 11.ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2010. MEDVIÉDEV, P. O método formal nos estudos literários: introdução crítica a uma poética sociológica. Tradução de Sheila Camargo e Ekaterina Américo. São Paulo: Contexto, 2012. SARAMAGO, José. Ensaio sobre a lucidez. São Paulo: Cia das Letras, 2004. PALAVRAS-CHAVE: Dialética; Democracia; Literatura. Delma Pacheco Sicsú TITULO: LEITURAS LITERÁRIAS COMPARTILHADAS: UMA PROPOSTA DE ENSINO E PRÁTICA DA LEITURA LITERÁRIA COM ALUNOS DA EJA DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE PARINTINS RESUMO: Literatura é conhecimento; conhecimento de outras épocas; de outros contextos históricos e culturais que atravessa a história da humanidade e a ajuda o Homem a enxergar a sua realidade com mais clareza e criticidade. A contribuição da literatura na formação intelectual, pessoal e até mesmo afetiva do homem, pode se dar por meio das narrativas que contam histórias de diferentes épocas, de diferentes espaços, mas trazem como fundo de pano de seus enredos, temáticas que estão na história da humanidade, levando o leitor a manter uma relação dialógica entre o texto literário e a sua realidade. O presente trabalho busca aliar o ensino à extensão no sentido de compartilhar com alunos da Educação de Jovens e Adultos de Parintins leitura e análise de diferentes narrativas literárias abarcando obras da literatura brasileira, amazonense, portuguesa e africana contribuindo assim na formação leitora, intelectual, cultural e pessoal desses alunos. Propõe-se, portanto, desenvolver as atividades com alunos da EJA no sentido de suscitar-lhes o gosto pela literatura e a compreensão de que essa arte, pelo seu caráter atemporal, universal e plural pode levá-los fazer uma leitura mais significativa e mais crítica da sua própria realidade. As análises das narrativas são sustentadas na Teoria da Literatura, tratando do plano de expressão e de conteúdo às luz da Teoria da Recepção e de outras correntes críticas literárias Para dar sustentação teórica ao projeto tomase os estudos de Culler (1999), Tavares (2002), Filho(2001), Picchio (2004), Tinoco (2010), Eco (1994), Calvino (1990), Stuart Hall (2011) e outros que possam contribuir para o desenvolvimento teórico do tema em questão. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Prática; Teoria; Denise Almeida Silva TITULO: LITERATURA NEGRA: BRASILEIRA: QUILOMBISMO, TEORIA E PRAXIS RESUMO: Em 1980, no II Congresso de Cultura Negras das Américas, no Panamá, Abdias Nascimento apresentou a comunicação “Quilombismo”, em que recordava como a memória do afrodescendente brasileiro tem, historicamente, sido agredida pelas estruturas de poder hegemônica, distorcida e apagada. Daí por que os negros buscaram, nos quilombos, “genuínos focos de resistência física e cultural.” A essa prática de afirmação humana, étnica e cultural, a qual gera leva à uma prática liberatatória e à assunção do comando da própria história, Nascimento denomina de quilombismo. O ideal de resistência quilombola tem estado no cerne da pratica ativista e práxis literária negra, como fica evidente, por exemplo, já na denominação do mais consistente e persistente coletivo negro, o Quilombhoje, responsável pela manutenção dos Cadernos negros há mais de 30 anos, já na teoria e práxis de escritores negros brasileiros, na qual recorrem a figura emblemática de Zumbi e o ideal de uma práxis literária quilombola. Esta submissão propõe-se a estudar a práxis dessa escrita de resistência, lugar transgressivo de manutencão e difusão da memória e identidade negra a partir do olhar do negro sobre o negro a partir de textos teóricos de, principalmente, Abdias Nascimento, Conceição Evaristo e Miriam Alves, exemplificando-a através de exemplos selecionados da ficcção afro-brasileira contemporânea. PALAVRAS-CHAVE: Quilombismo; litratura; resistência. Denise Dias Maria Teresinha Martins do Nascimento TITULO: O CAMINHO DA MULHER EM MAR MORTO E CAPITÃES DA AREIA, DE JORGE AMADO: CARACTERÍSTICA DA IDENTIDADE E REPRESENTAÇÃO RESUMO: Este trabalho analisa os procedimentos estéticos literários através dos processos de hibridização nos romances: Mar morto e Capitães da areia, de Jorge Amado. As relações de identidades, de representações são elucidadas pela contribuição sociológica na ótica da teoria de hibridismo de Homi K. Bhabha, Mikail Mikhailovitch Bakhtin, Nestor Canclini, Stuart Hall e, da teoria literária, de Antonio Candido, Alfredo Bosi, Irlemar Chiampi, entre outros. Observado principalmente, no que se refere à construção das personagens femininas das obras escolhidas, Lívia e Dora, respectivamente, levando em conta a condição da mulher na década de 1930. A metodologia de natureza qualitativa apoia-se no raciocínio por dedução. A reflexão leva à percepção de que a narrativa constrói um universo literário mesclado, híbrido, que estimula a leitura profunda das identidades brasileiras contemporâneas e, para interpretá-las é necessária uma ação intercultural, e interdisciplinar aproximando-as do reflexo da realidade social, da miscigenação, e do hibridismo cultural. PALAVRAS-CHAVE: identidade; Jorge Amado; representação. Denise Regina de Sales TITULO: A TEORIA LITERÁRIA RUSSA E A SUA TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS: REFLEXÕES A PARTIR DE “COMO É FEITO O CAPOTE DE GÓGOL” RESUMO: Nesta comunicação, serão apresentados um estudo de termos-chave de textos russos da área da teoria literária e uma análise de suas traduções para o português do Brasil. Leitura obrigatória de pesquisadores interessados tanto na obra de Nikolai Vassílievitch Gógol (1809-1852) quanto no pensamento da Escola Formalista russa, o artigo “Kak sdielana chiniel Gogolia”, de Boris Mikháilovitch Eikhenbaum (1886-1959), consistiu no principal objeto de pesquisa. Com base na leitura das traduções brasileiras e de seu cotejo com o original e levando em conta considerações feitas por dois autores russos contemporâneos em seus respectivos livros sobre tradução literária, elaboramos uma lista de termos e expressões que consideramos essenciais para a compreensão do artigo de Eikhenbaum e de outros textos dedicados aos estudos de literatura. Em seguida, numa abordagem descritiva, listamos as traduções encontradas em obras publicadas no Brasil. Depois tecemos algumas considerações sobre o contexto, a situação de uso e as peculiaridades dos originais e de suas respectivas traduções. PALAVRAS-CHAVE: TRADUÇÃO; LITERATURA RUSSA; FORMALISMO RUSSO. Dennys da Silva Reis TITULO: E AS TRADUTORAS DO SÉCULO XIX? (UMA POLIANTEIA HISTORIOGRÁFICA) RESUMO: As mulheres tradutoras são mencionadas, majoritariamente, nos estudos historiográficos de tradução apenas no século XX. Quando lembradas no século XIX, associamo-las ao consumo das traduções de folhetins realçando ainda mais os estereótipos da mulher brasileira oitocentista: pertencente a uma família patriarcal, alheia à vida e aos problemas do país, limitada à função procriadora, às atividades domésticas e às saídas à igreja e aos lazeres sociais. Este estudo almeja mostrar que, além de mulheres leitoras, existiam no Brasil do século XIX as mulheres escritoras e, dentre estas, as tradutoras. Apoiando-nos em quatro estudos importantes sobre mulheres de letras brasileiras (Dicionário Mulheres do Brasil – de 1500 até a atualidade de Schuma Schumaher e Érico Brazil; Dicionário crítico de Escritoras Brasileiras de Nelly Coelho; Escritoras Brasileiras do século XIX de Zahidé Muzart; Mulheres de Ontem? Rio de Janeiro – século XIX de Maria Thereza Bernardes), objetivamos mostrar quem são essas tradutoras, o que traduziram, onde traduziam, para quem traduziam, suas contribuições mais relevantes e seu legado. Estabelecido o processo, o produto e o perfil destas tradutoras, o estudo visa estabelecer uma polianteia historiográfica a fim de criticar a invisibilidade e a minimização da agente feminina de tradução no século XIX, assim como evidenciar o estudo historiográfico sexista que é desenvolvido sobre História da Tradução no Brasil no período Oitocentista. PALAVRAS-CHAVE: Tradutoras; Historiografia; Século XIX. Derneval Ferreira TITULO: MAYOMBE E NOITES DE VIGÍLIA: LIMITES E FRONTEIRAS ENTRE HISTÓRIA, LITERATURA E MEMÓRIA RESUMO: MAYOMBE E NOITES DE VIGÍLIA: LIMITES E FRONTEIRAS ENTRE HISTÓRIA, LITERATURA E MEMÓRIA Derneval Andarde Ferreira (Doutorando do Programa de Pós-graduação em Estudos Étnicos e Africanos/ UFBA – Bolsista FAPESB). Orientadora: Profª. Dra. Maria de Fátima Maia Ribeiro) Pretende-se demonstrar de que forma os escritores angolanos Pepetela com o romance Mayombe e Boaventura Cardoso, com a obra Noites de Vigília, relacionam literatura, história e memória, evocando vozes capazes de desvelar alguns dos sentidos criados pela história oficial. Assim, por meio de histórias, vivências e experiências vários personagens proporcionam uma reconstituição do passado, permitindo a (re)construção de novos discursos sobre o sistema colonialista e anticolonialista, assim como da própria formação histórica de Angola. Dessa forma, história e ficção parecem cruzar planos, promovendo uma releitura do passado histórico do povo angolano e os processos memoráveis identificados nas narrativas podem ajudar na reinterpretação e ressignificação de fatos, criando novas imagens e linguagens capazes de (re)ensinar e (re)traçar os caminhos genuínos em direção aos costumes tradicionais como formas de resistência cultural, política e social de Angola. Apresentando temáticas muito similares, muito embora com abordagens distintas, as obras mencionadas apresentam, em grandes partes das narrativas, um regresso ao passado em movimento da memória a fim da incansável busca pela angolanidade e a favor da concretização da identidade nacional. Se por um lado Mayombe tenta abordar o movimento que antecede a independência de Angola, tendo como foco principal as ações de guerrilhas, Noites de Vigília nasce como uma espécie de revisionismo desse movimento, proporcionando uma releitura de fatos e acontecimentos a partir de diferentes olhares e de discursos que não são tomados pelo princípio da contraditoriedade, apenas apresentam as duas faces de um período que marcou cultural e politicamente a sociedade angolana. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Memória; História. Diógenes André Vieira Maciel TITULO: A DRAMATURGIA EM QUESTÕES DE VESTIBULARES NA PARAÍBA: AVALIAÇÕES E PROBLEMATIZAÇÃO RESUMO: Propõe-se uma reflexão em torno de questões encontradas em dois concursos vestibulares para as universidades públicas da cidade de Campina Grande, na Paraíba, em torno de textos dramatúrgicos, a saber, Judas em Sábado de Aleluia (Martins Pena) e As velhas (de Lourdes Ramalho). Justifica-se a proposta pela necessidade de se refletir, mais detidamente, sobre como as provas destes concursos articulam os textos dramatúrgicos mediante dimensões interpretativas ou concernentes a dimensões estéticas e históricas da tradição da literatura brasileira, com vistas a uma avaliação de conhecimentos do candidato egresso do Ensino Médio. Pretende-se, mediante esta análise, abrir um questionamento sobre a focalização nestes instrumentos para textos relevantes a um entendimento de trânsitos interdisciplinares (relevantes aos PPCs dos cursos de Letras e para a compreensão de áreas interartísticas), contraditoriamente, muitas vezes relegados a um lugar marginal nos currículos (tanto do Ensino Médio quanto das Licenciaturas neste Estado). Assim, se poderá colocar em perspectiva, pela leitura crítica dos documentos oficiais para a educação e dos próprios Cursos de Letras das instituições em foco, os impasses verificados por uma reavaliação necessária de certezas meramente provisórias e tão amplamente cristalizadas em livros e/ou esquemas didáticos. PALAVRAS-CHAVE: dramaturgia; avaliação; vestibular. Diógenes Buenos Aires de Carvalho TITULO: DO CORAÇÃO DE TELMAH, DE LUIS DILL: DIALÓGOS ENTRE O IMPRESSO E O DIGITAL RESUMO: A produção cultural contemporânea proporciona à criança e ao jovem o contato com uma série de objetos culturais que, por um lado, são criados no campo da cultura impressa; por outro lado, são produzidos na esfera da cibercultura. Por conseguinte, observa-se que esse diálogo se concretiza a partir de percursos realizados do oral ao eletrônico, concretizando possibilidades de uma literatura eletrônica para o leitor infantojuvenil, e do virtual ao impresso, expondo as estratégias da literatura infantojuvenil contemporânea para interagir com o leitor do século XXI ao trazer para o interior do livro impresso ambientes virtuais. Em vista disso, objetiva-se analisar a obra Do Coração de Telmah: uma história em 500 tweets, de Luis Dill (2009), que é exemplar no segundo caminho, ao explorar o jogo narrativo através da interação virtual entre jovens através do gênero digital tweets, tendo como fundamentação teórica os pressupostos de Antonio (s/d), Chartier (1991, 1999, 2002), Santaella (1996, 2004), Yoo (2007) e Zilberman (2008). PALAVRAS-CHAVE: Literatura juvenil; Cibercultura; Cultura impressa. Dilce Pio Nascimento TITULO: LITERATURA NO PALCO: DO TEXTO LITERÁRIO AO TEATRO EM SALA DE AULA RESUMO: Este artigo faz uma reflexão sobre o estudo do texto literário a partir de leituras dramáticas, em sala de aula, fazendo dela um espaço democrático e dinamizador de diferentes habilidades artísticas. A sala de aula oportuniza alunos e professores a estarem sempre receptivos para aprenderem coisas novas. Na cidade de Parintins, no Baixo Amazonas, a experiência de leituras dramáticas vendo sendo desenvolvida, nas escolas públicas, através do projeto “Literatura no Palco”, tendo como objetivos, no primeiro momento, aplicar oficinas de textos literários, utilizando romances, narrativas orais e contos amazônicos; no segundo momento, trabalhar a performance oral do texto a partir de leituras dramáticas e desenvolver nos alunos técnicas de criação e produção de roteiros para, posteriormente, apresentar o texto no teatro. No amazonas existe uma produção teatral formal bem como inúmeras peças informais, sem registros como ocorre em várias partes do Brasil. Mesmo sem ambiente apropriado para representação teatral verifica-se que cidades do Baixo Amazonas como Parintins, promove festivais e mostra de teatro. As oficinas passam a despertar o gosto pela leitura, proporcionando aos alunos momentos de criação, exploração do seu eu, o reconhecimento de si mesmo com suas limitações e desejos, pois cada um passa a contextualizar o objeto em estudo ressignificando-o na vida prática. Em meio a tantas situações que envolvem o cotidiano escolar, trabalhar os conteúdos literários em forma de teatro tornou-se uma possibilidade real de aprendizagem tanto para acadêmicos de Letras quanto para alunos e professores da rede pública de ensino. PALAVRAS-CHAVE: teatro; Literatura no palco; Prática docente. Dimas Evangelista Barbosa Junior TITULO: POÉTICAS DO ÍNTIMO EM CENA: DIALÓGOS ENTRE DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA, DE PLÍNIO MARCOS, E O ASSALTO, DE JOSÉ VICENTE. RESUMO: Plínio Marcos é considerado pela crítica especializada como um dos responsáveis por sacudir as coordenadas do teatro nacional no começo dos anos 1960. Além de representar o marginal no palco brasileiro, ele desenvolveu uma linguagem dramática que promovia a investigação do íntimo das suas personagens. Criaturas desprovidas de consciência política e do anseio revolucionário, traços privilegiados até então. Sua escrita influenciou uma geração posterior de dramaturgos, como Leilah Assunção, Consuelo de Castro, Isabel Câmara, José Vicente etc. Nesta comunicação, escolhemos a obra O assalto (1969), de José Vicente, para propor um estudo comparado com Dois perdidos numa noite suja (1966), do escritor santista. O objetivo basilar é averiguar quais técnicas da linguagem dramática dão complexidade aos personagens, levando em conta que ambos os textos configuram, cada qual à sua maneira, uma espécie de desnudamento do espaço interior das mesmas. O assalto rompe com alguns limites do gênero dramático, acrescentando traços épicos e líricos. Isso nos faz refletir sobre as possibilidades de inovação que o teatro pode promover. Possuindo réplicas, monólogos, diálogos, conversações e, às vezes, o abandono da quarta parede italiana, a peça produz no leitor/espectador o “efeito de estranhamento”. Já em Dois perdidos numa noite suja predomina-se o conflito interpessoal, favorecendo o “efeito de ilusão” que é causado tanto pela força apelativa do seu léxico coloquial quanto pela construção formal que deixa entrever insinuações psicológicas. Estas, apesar de não serem claramente articuladas pelos diálogos, deles provêm. Especialmente no protagonista Paco cujas motivações explícitas e implícitas se contradizem. Apesar das diferenças, as duas obras apresentam, a nível artístico, uma discussão sobre papéis sociais e a desconstrução deles. Como embasamento teórico e crítico, utilizaremos os textos de Ana Lúcia Vieira de Andrade (2005), Peter Szondi (2001), Décio de Almeida Prado (1967), Jean-Pierre Sarrazac e Paulo Roberto Vieira de Melo (1993). PALAVRAS-CHAVE: Teatro brasileiro; Plínio Marcos; Teatros íntimos. Dionisio David Marquez Arreaza TITULO: A REPRESENTAÇÃO ROMANESCA DO ESTADO EM "TRILOGÍA SUCIA DE LA HABANA" DE PEDRO JUAN GUTIÉRREZ E "BICENTENAIRE" DE LYONEL TROUILLOT RESUMO: O presente trabalho estuda nos romances Trilogía sucia de La Habana (Pedro Juan Gutiérrez, 1998) e Bicentenaire (Lyonel Trouillot, 2010) a interação entre personagem e espaço urbano que, no caso cubano, torna visível a carência material enquanto a escrita reproduz o discurso falocrático oficial e, no caso haitiano, oscila entre o engajamento nacional e a transfiguração do sonho de amor. Os antagonismo sociais em cada contexto nacional serão interpretados ou “reescritos”, no sentido de Fredric Jameson em The Political Unconscious, como a representação do fracasso do estado onipresente cubano e do estado repressor haitiano a partir de grupos excluídos de forma social ou partidarista que oscilam entre a indignação nacional e/ou o apelo à democracia. A partir de uma perspectiva comparatista, se trata de apreciar o contraste, em cada contexto nacional, entre o ideário constitucional vindo da independência política e, ao mesmo tempo, apreciar a viva concorrência pela hegemonia da cultura e, pela sua vez, da política nacional. PALAVRAS-CHAVE: romance; estado; América Latina. Divanize Carbonieri TITULO: PÓS-COLONIALIDADE E DECOLONIALIDADE EM GRACELAND DE CHRIS ABANI E CIDADE DE DEUS DE PAULO LINS RESUMO: Tenho como objetivo neste trabalho estabelecer uma comparação entre os romances GraceLand do nigeriano Chris Abani e Cidade de Deus do brasileiro Paulo Lins. Um importante paralelo entre as duas obras é que elas retratam protagonistas adolescentes vivendo vidas marginais nas favelas de Lagos e do Rio de Janeiro. O cenário da favela constitui o cronotopo pós-colonial e decolonial no qual se estabelecem duas narrativas que questionam a continuidade da colonialidade do poder e da opressão nos dias de hoje. Elvis, em GraceLand, e Busca-Pé, em Cidade de Deus, tentam superar a pobreza e resistir à tentação de cometer crimes para sobreviver. No cenário distópico e heterotópico dos guetos nigerianos e brasileiros, é possível perceber o desenrolar de narrativas de restauração e redenção, nas quais a arte desempenha um papel significativo, uma vez que Elvis é um dançarino e imitador e Busca-Pé é um fotógrafo. Ambos os romances reconstroem o passado para lançar as bases para um futuro mais promissor. Crescer nas favelas é, então, a experiência que os torna mais fortes e, ironicamente, mais capazes de resistir à opressão, incluindo a enxurrada neocolonial de produtos, imagens e valores culturais americanos. Os romances urbanos de gueto que se passam em espaços afrodiaspóricos como Nigéria e Brasil também podem ser entendidos como narrativas de situações fronteiriças, segregando e interconectando realidades diferentes, tais como a cidade e a favela, o centro e a periferia, o crime e a redenção, a violência e o amor, o passado e o presente. Entendendo as fronteiras como espaços geográficos ou metafóricos, pretendo focalizar os modos como Abani e Lins exploram todas as restrições e atravessamentos relacionados à experiência de se viver nelas. Também investigarei como uma complexa interrogação decolonial do poder é envolvida na condição de se viver nas favelas a partir de um ponto de vista situado no futuro. PALAVRAS-CHAVE: decolonialidade; favela; afrodiáspora. Duílio Pereira da Cunha Lima TITULO: A FORMAÇÃO DE UM MODERNO TEATRO NA PARAÍBA E A QUESTÃO DA FORMAÇÃO DO ARTISTA: RELAÇÕES ENTRE DRAMATURGIA, TEATRO E ENSINO NA EXPERIÊNCIA DO GRUPO PIOLLIN. RESUMO: Partindo das reflexões sobre a formação de um moderno teatro brasileiro em que a implantação de um renovado projeto estético e artístico implicava na proposição de um novo modelo de atuação e aprendizado dos seus artistas, discute-se nesse trabalho como as relações entre teatro e ensino não se restringem ao espaço da sala de aula tradicional, que o aprendizado de grande parte desses artistas modernos não aconteceu nas escolas de artes cênicas e que o fazer teatral dos grupos também envolve uma proposição pedagógica. De modo mais específico, buscaremos refletir como na experiência do Grupo de Teatro Piollin, coletivo teatral com atuação na cidade de João Pessoa/PB desde o ano de 1977, desenvolvem-se as relações entre o fazer artístico, a formação do artista e pensar pedagógico a partir de conceitos como Pedagogia do Teatro, ArtistaDocente e Encenador-Pedagogo. Essas proposições, inerentes às práticas dos principais formuladores das vanguardas teatrais ao longo do século XX, redimensionam os campos de interação entre dramaturgia, teatro e ensino, ao tempo em que podem ajudar a refletir sobre nossas práticas cotidianas seja como artistas e/ou docentes. Referências bibliográficas: DESGRANGES, Flávio. Pedagogia do teatro. São Paulo: Hucitec, 2006. HADERCHPEK, Robson Carlos. A poética da direção teatral: o diretor-pedagogo e a arte de conduzir processos. Tese (Doutorado em Artes) – Doutorado em Artes do Instituto de Artes da UNICAMP, Campinas, SP, 2009. PRADO, Décio de Almeida. O teatro brasileiro moderno. São Paulo: Perspectiva, 1996. REINALDO, Maria Rejane. Processos criativos em grupos teatrais. Revista Repertório, Salvador, nº 17, p. 96-126, 2011.2. TELLES, Narciso. Pedagogia do teatro – Práticas contemporâneas na sala de aula. Campinas: Papirus, 2013. PALAVRAS-CHAVE: Pedagogia do Teatro; Teatro Moderno; Dramaturgia. Dudlei Floriano de Oliveira TITULO: RECRIANDO EDGAR ALAN POE NO BRASIL DO SÉCULO XXI RESUMO: Edgar Allan Poe é um dos grandes nomes da literatura por ter trabalhado com elementos góticos e românticos que, ainda hoje, conseguem dialogar com um público amplo e diversificado. Este diálogo pode ser observado pelo fato de que diversos elementos da obra de Poe continuam a ser constantemente apropriados para diversos filmes, músicas e programas de televisão, produzidos pelos mais diferentes estúdios, focados nos mais diversos públicos. Entre estas releituras está a produção televisiva brasileira CONTOS DO EDGAR, produzida por Fernando Meirelles. Este programa consiste em cinco episódios baseados em contos de Poe, todos transpostos para a cidade de São Paulo durante o século XXI. Assim como Poe adapta elementos góticos presentes na literatura europeia, para o contexto norte-americano da época, Fernando Meirelles também consegue realizar a adaptação da obra de Poe para o atual contexto brasileiro. Esta releitura vai além da simples relação de adaptação da narrativa para elementos mais amplos e universais, como os medos e perigos coletivos pelos quais a atual população urbana brasileira passa. De acordo com Linda Hutcheon em UMA TEORIA DA ADAPTAÇÃO, esta série pode ser vista como uma adaptação, uma vez que a mesma é (1) um produto independente e autônomo resultante de uma transposição de outras obras e (2) um processo de criação, na qual os processos de (re-)interpretação e (re-)criação por parte de Fernando Meirelles e sua equipe interpretam e dão novo significado à obra de Poe. Ainda citando Hutcheon, pode-se afirmar que esta série passa por um processo de Adaptação Transcultural por contextualizar a obra de Poe em outro cenário temporal, cultural e geográfico, onde questões culturais e sociais são distintas das existentes na obra literária de Poe, exigindo cuidados em sua transposição que vão além da simples relação entre linguagem literária e audiovisual. Assim, o objetivo desta comunicação é o de discutir a relação intertextual existente entre os diversos elementos da obra de Poe e desta produção televisiva, e como esta consegue discutir com o público do século XXI os mesmos temas discutidos por Poe no século XIX. PALAVRAS-CHAVE: CONTOS DO EDGAR; Gótico; Adaptação literária. Edelcio Americo TITULO: OSTAP BENDER - HERÓI OU VILÃO RESUMO: Ostap Bender – herói ou vilão? Ao fazermos qualquer referência à prosa russa do início do período soviético, logo pensamos em nomes como Zoshchenko, Bulgákov, Katáev, Platónov, e tantos outros, que, apesar de tantas diferenças em seus estilos de criação, tinham em comum, além de um elevado nível cultural, a preocupação constante com a sociedade da época e com a natureza humana. No período em questão, predominava a sátira, que tinha como um dos seus principais alvos o regime, a burocracia e as condições de vida em um período rigidamente totalitário onde não havia classes sociais definidas, apenas o poder e a servidão. Junto aos autores supramencionados, os anos 20 -30 do século XX foram os anos do surgimento da coautoria de Ilif e Petrov que rendeu ao menos duas obras primas: “As doze cadeiras” e “O bezerro de ouro”. Em “As doze cadeiras”, os autores buscam criar seu herói a partir de um representante do “romance picaresco”, ou seja, a figura de uma espécie de herói “malandro” oriundo de uma classe social baixa, que vive por conta de sua astúcia em uma sociedade corrupta. A ideia principal da comunicação é tentar classificar a figura do “Grande maquinador”, Ostap Bender, como figura avessa ao conformismo e à servidão; talentoso, criativo, independente, que conhece as leis para burlá-las, sabe que não precisa chantagear ou intimidar quem as aplica, mas sim minar os pontos fracos da lei e das pessoas (fraquezas, medos, ignorância). Bender é um artista, um filósofo andante, que aprecia “a beleza do jogo” em busca de seu ideal e dos sonhos, entre eles o de andar de calças brancas nas praias do Rio de janeiro. “Ninguém gosta da gente, exceto o Departamento de investigação criminal, que também não gosta.” Ostap Bender. PALAVRAS-CHAVE: Ostap Bender; herói "picaresco"; sátira soviética. Edilane Ferreira da Silva TITULO: “ENTRE FADAS E ECOFEMINISMO”: MULHERES, NATUREZA E RESISTÊNCIAS EM CONTOS DE FADAS DE MARINA COLASANTI RESUMO: O gênero conto de fada caracteriza-se, entre outras questões, pela essência mítica. A sua narrativa distingue-se, especialmente, pela presença de magias, de personagens-tipo, de metamorfoses e do binarismo homem-mulher. Entre os mais de 50 livros de autoria da escritora Marina Colasanti, nos gêneros crônica, (mini)contos, ensaios, artigos, infantil/juvenil e poesia, seis são classificados como contos de fadas. No entanto, eles são considerados modernos, renovadores e transgressores, sobretudo nas representações do feminino, que não se curva diante das opressões exercidas por reis, príncipes e cavaleiros, sejam eles pais, companheiros ou estranhos. Os contos, além disso, apresentam uma curiosa metamorfose envolvendo mulheres e animais, quando da resistência às tentativas de colonização – delas e deles - pela figura masculina, o que demonstra, apensar da narrativa atemporal, uma profunda ligação com as discussões (pós)modernistas em torno dos gêneros e da ecologia, num contexto (pós)colonial. Este trabalho objetiva, portanto, investigar essas resistências a partir da perspectiva ecofeminista, analisando as relações entre as tentativas de outrização dirigidas às mulheres e à natureza, protagonizadas por personagens masculinos. Os escritos de Maria Mies e Vandana Shiva (1993), de Karem J. Warren (2000), de Patrick D. Murphy (1995) e de Greta Gaard e P. D. Murphy (1998) são a base teórica para essa crítica ecofeminista em cinco contos de fadas da escritora: Entre as folhas do verde O; Debaixo da pele, a lua; De torre em torre; Poça de sangue em campo de neve e Vermelho, entre troncos, respectivamente, publicados nas obras Uma ideia toda azul (1979), Longe como o meu querer (1997) e Do seu coração partido (2009). Considera-se que os contos não possuem um viés apenas feminista, mas ecofeminista, já que a crítica não se limita à opressão patriarcalista centrada na mulher; questiona a exploração de outros seres vivos, reconhecendo intersecções entre mulheres e natureza. PALAVRAS-CHAVE: Ecofeminismo; Contos de Fadas; Resistência. Edimara Ferreira Santos TITULO: MRS. DALLOWAY: A DESCENTRALIDADE PSICOLÓGICA DOS PERSONAGENS RESUMO: O referido trabalho tem como objetivo discutir a ideia de descentralidade psicológica a partir das categorias polifonia e pluripessoal mencionadas por ADORNO (2003) e AUERBACH (1987). Para isso, o romance Mrs Dalloway (1925), de Virgínia Wollf, se insere no contexto de mudanças da construção do romance moderno e do mundo, pois personagens como Clarissa Dalloway, Septimus e Peter Walsh, apresentam-se como sujeitos abalados, fragmentados, em “pedaços”; inseridos em um jogo simultâneos de tempo/espaço. Esse jogo destaca a problemática da posição do narrador na obra literária do século XX, pois “a nova reflexão é uma tomada de partido contra a mentira da representação, na verdade contra o próprio narrador, que busca, como um atento comentador dos acontecimentos, corrigir sua inevitável perspectiva” (ADORNO, 2003). Assim, a descentralidade psicológica desses personagens, por um lado, questiona o papel do narrador incluso na referida obra que desencadeia, consequentemente, a crise do romance psicológico; por outro lado, essa discussão demonstra a relação do homem com o mundo (o mundo como substância); a subjetividade; a interioridade e as várias identidades construídas pelo homem moderno. PALAVRAS-CHAVE: Mrs. Dalloway; Descentralidade; Homem moderno. Édimo de Almeida Pereira TITULO: A PRESENÇA DE MULHERES NO COMÉRCIO DO ATLÂNTICO NEGRO NA ESCRITA DE ANTONIO OLINTO E DE ANA MARIA GONÇALVES RESUMO: Entre os séculos XVII e XIX uma intensa relação comercial se estabeleceu entre o Brasil e a Costa Ocidental da África. Não constitui novidade que grande parte dos produtos que transitavam entre essas fronteiras do Atlântico Negro era constituída principalmente de mão de obra africana escravizada. Esta fatia do comércio de carga humana foi ampla e exclusivamente explorada por homens, que chegaram até mesmo a assumir postos de comando no continente africano, os então denominados “Chachás”. A abordagem a respeito deste capítulo da História do Brasil e da África ganha novos contornos na prosa trazida a efeito por Antonio Olinto, em seu festejado romance A casa da água (1969) e, anos mais tarde, por Ana Maria Gonçalves, nas linhas do romance histórico Um defeito de cor (2007). Em evidente processo de inter-relação da ficção literária com relatos históricos que nos permite refletir não só a respeito da constituição da população brasileira, como também sobre a influência de brasileiros na constituição de populações de países africanos da Costa do Benim, os autores colocam suas respectivas personagens – “Mariana”, a matriarca da narrativa olintiana, e “Kehinde”, a heroína surgida da lavra ficcional de Ana Maria Gonçalves – em posição de comerciantes de importância para as comunidades em que são inseridas. Levando em conta que a autora de Um defeito de cor enumera entre as referências em que se baseou para a escrita de seu romance a referida obra de Antonio Olinto, esta comunicação pretende, num exercício comparativo, estabelecer as relações de proximidade e de afastamento entre as duas personagens. Neste viés, pretendemos também adentar a discussão acerca da eventual diferença no delinear de cada personagem, investigando se as cores utilizadas pelo escritor ubaense para dar forma à protagonista de sua narrativa seriam em muito diferenciadas daquelas de que Ana Maria Gonçalves fez emprego. PALAVRAS-CHAVE : Gênero; História; Literatura comparada. Edir Augusto Dias Pereira TITULO: FIGURAS DE ESPAÇO NA LITERATURA PORTUGUESA: ENTRE FERNANDO PESSOA E GONÇALO M. TAVARES RESUMO: O presente artigo volta-se para análise das representações espaciais inscritas nos textos dos escritores portugueses Fernando Pessoa e Gonçalo M. Tavares a partir de uma perspectiva geográfica. Abordamos figuras de espaço como paisagem, mundo, natureza e cidade, particularmente no Livro do Desassossego (Fernando Pessoa) e no livro Uma Viagem à Índia (Gonçalo M. Tavares), estabelecendo uma reflexão sobre os dispositivos moderno-coloniais que constituem um regime de representação do espaço constitutivo da literatura moderna portuguesa desde o início do século XX. Exploramos a forma paradoxal, intervalar e intersticial de representação do espaço no texto literários desse autores, através da ambivalência que com empregam e que imprimem as categorias dualistas e fixas da modernidade. Os autores rasuram a separação/distinção entre objetivo e subjetivo, interior e exterior, pensar e sentir, ver e imaginar, alma (espírito) e corpo, real e imaginário, cultura e natureza etc., na representação do espaço. O espaço assume nesses textos uma posição estratégica na construção de sentidos através da criação literária, mostrando as vinculações entre as mudanças epistemológicas, políticas e materiais que se estendem desde o século XVI com as grandes navegações. O motor da "conquista" e da "descoberta" inscritas na construção do sujeito moderno como dotado de um "olhar viajante" transforma as noções de paisagens, associado à ideia de natureza, em dispositivos de poder/saber e subjetivação/sujeição do "imaginário modernocolonial" (MIGNOLO, 2005) que desde então impõem uma regime de representação espacial dominante. Os textos desses autores, ainda que separados por anos, se unem pela linguagem e pela pátria (portuguesa), pelo lócus de enunciação geopolítico ocidental moderno, constituindo meios de materialização de figuras de espaço que definem nossa maneira de ver/dizer e viver o espaço geográfico. PALAVRAS-CHAVE: Espaço; Modernidade; Paisagem. Edma Cristina Alencar de Góis TITULO: UMA MOLDURA PARA A OBRA: ZONAS DE CONTATO ENTRE LITERATURA E PINTURA NO ROMANCE MENINO OCULTO RESUMO: Em “Relatos de Espaço”, Michel de Certeau lembra que, na Atenas contemporânea, os transportes coletivos se chamam metaphorai. “Para ir para o trabalho ou voltar para casa, toma-se uma “metáfora” – um ônibus ou um trem”. A partir disso, o autor diz que os relatos poderiam igualmente ter este nome, porque todo dia “atravessam e organizam lugares; eles os selecionam e os reúnem num só conjunto, deles fazem frases e itinerários. São os percursos do espaço” (CERTEAU, 2008, p.199). Se as estruturas narrativas têm valor de sintaxes espaciais, significa dizer que todo texto é uma prática de espaço, promovendo uma viagem a quem a ele tiver acesso. A comunicação proposta, uma metaphorai aos ouvintes, trata do romance Menino oculto (2005), de Godofredo de Oliveira Neto, obra que reúne espacialidades em dois planos narrativos: nos relatos do protagonista, Aimoré e nos quadros por ele pintados. O livro traz duas geografias de ações, a primeira delas a partir da narração do personagem principal, e a segunda instaurada nos quadros falsificados por ele, o mais conhecido, espécie de “obra-prima” do falsário, Menino Morto (1955) de Candido Portinari (19031962). Ele vende cópias desta obra no exterior, alegando sempre se tratar do “verdadeiro quadro”. Também falsifica obras de Iberê Camargo. Tudo te é falso e inútil é pintado pelo protagonista 38 vezes, Mesa com cinco carretéis “umas dez vezes”. Neste romance, nos deparamos com espaços bem delimitados, porém que se tocam por meio do hibridismo próprio das artes contemporâneas. De um lado, os espaços da vida do protagonista. Por outro, a geografia dos quadros, cujas espacialidades silenciosas são possíveis no campo da arte. Pensando na dicção própria da contemporaneidade, este trabalho tem como objetivo investigar as zonas de contato entre diferentes manifestações artísticas, pensando hibridismo e espaço como conceitos de eleição. PALAVRAS-CHAVE: hibridismo; espaço; interartes. Edna Carlos de Almeida Holanda Marcela Magalhães de Paula TITULO: ORALIDADE E MEMÓRIA NOS CONTOS POPULARES DO BRASIL E DE PORTUGAL: UMA ABORDAGEM COMPARATIVA ENTRE OS CONTOS DE EXEMPLO DE CÂMARA CASCUDO E ADOLFO COELHO RESUMO: A literatura oral, segundo Ayala & Ayala (1995), se nutre de um processo de mescla e hibridização onde seus componentes mais duradouros se refletem na cultura popular de um povo, por meio de uma prática lúdica – o contar de histórias - utilizada pelas camadas mais subalternas da sociedade, construindo um conhecimento genérico, conservado pelo povo, que passa a fazer parte da memória social de uma comunidade. Do mesmo modo, Halbwachs (1990) reforça que as histórias com base oral fazem parte de uma memória coletiva que recompõe magicamente o passado. Assim, neste trabalho, buscaremos apresentar uma análise comparativa entre a questão da memória, a oralidade e o legado cultural dos contos populares do Brasil e de Portugal, através do exame de alguns “contos de exemplo” extraídos das obras Contos tradicionais do Brasil, de Câmara Cascudo, e Contos populares portugueses, de Adolfo Coelho. Os “Contos de Exemplo”, de acordo com Cascudo (2000), são estórias em que há um dolo contra uma norma de caráter social em que o desfecho conduz para uma lição de moral, sendo geralmente textos estruturados pelo antagonismo Bem versus Mal. PALAVRAS-CHAVE: Oralidade; Brasil; Portugal. Edna da Silva Polese TITULO: RECONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA PELA VIA FICCIONAL: A REVOLTA DOS ALFAIATES NO ROMANCE O TOURO DO REBANHO RESUMO: O chamado Romance Histórico desde a sua origem clássica (Lukács) se predispõe a reconstruir, a partir da ficção, as realizações humanas que marcaram época e sociedade. O modelo se modificou e novos formatos de realização ficcional tentam estabelecer a reconstrução do passado. Personagens históricos que não fazem parte da história oficial ou são secundários nesse contexto, ganham voz e rosto por meio da construção ficcional. O romance O touro do rebanho cujo subtítulo se apresenta nesses termos: “Memória da sedição dos alfaiates de 1798 na Bahia, onde se deduz as elementares razões para a pena de enforcamento e esquartejamento de quatro pobres homens do povo, proferida por uma corte devassa e corrupta” – debruça-se sobre a famosa Revolta dos Alfaiates que se configura em mais um momento importante na história nacional ainda pouco conhecida. De modo a lembrar Carlo Ginzburg em O queijo e os vermes, o autor de O touro do Rebanho, Krishnamurti Góes dos Anjos, apresenta, no corpo do texto ficcional, a reprodução de trechos de cartas, ofícios e requerimentos. Ao final da obra, há um anexo onde estão expostos esses documentos oficiais utilizados pelo autor do romance, material encontrado na Biblioteca do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa. Assim, ergue-se a reconstrução do espaço da Bahia do século XVIII onde os ventos da revolução e a realidade de um país escravocrata se confrontaram. Nessa Babel residencial, para citar uma imagem do próprio autor, um narrador em primeira pessoa nos narra os fatos. Esse trabalho se propõe a apresentar as particularidades do romance O touro do Rebanho e sua configuração como reconstrução da memória nacional. PALAVRAS-CHAVE: Ficção Histórica; Memória; O touro do rebanho. Edson Flávio Santos TITULO: UTOPIA E CRÍTICA SOCIAL NA POESIA DE PEDRO CASALDÁLIGA E AGOSTINHO NETO RESUMO: Os poemas selecionados de Pedro Casaldáliga, religioso espanhol que escreve em Mato Grosso desde a década de 60, e do poeta angolano Agostinho Neto (1922 – 1979), que ora encontram-se na presente comunicação, foram analisados a luz das reflexões advindas dos escritos de Benjamim Abdala Junior (A Escrita Neo-Realista, 1981 ; Vôos e Ilhas: Literatura e comunitarismos, 2003 e Geocrítica, marcas eurocêntricas e comparativismo literário, 2012) e de Ernst Bloch (Princípio Esperança, 2005). As constatações a serem discutidas aqui parecem reforçar a ideia de que na construção do fazer literário e linguístico destes escritores, podemos perceber o poder da palavra que se lê para além da estrutura formal. A reflexão crítica dessa informação pode nos revelar que os autores em questão, utilizam-se de seu ofício de poeta lutando pelos direitos do homem (direito a vida, direito a terra, direito a liberdade...) que sofre as mazelas de uma sociedade capitalista e exploradora. PALAVRAS-CHAVE: Comparativismo; Utopia; Crítica Social. Eduardo Ferraz Felippe TITULO: APONTAMENTOS SOBRE O DISCURSO SEGUNDO RESUMO: Tenciono nessa comunicação fazer apontamentos acerca da atualidade de um “discurso segundo”, o ensaio. Não se trata de dar a formulação de um conteúdo cristalizado do que se quer debater por um caminho conceitual, mas reflito acerca da peculiaridade de discursos segundos como prática discursiva. De forma imediata, todo o leitor pode se remeter ao conteúdo metahistórico que o levaria a uma matriz de gênero iniciado com Montaigne, apesar de David Hume também ter reafirmado as ligações entre ensaio e ceticismo. A memória recente o associa aos seus vínculos com as Ciências Sociais, por meio do seu hibridismo entre Arte e Ciência. Contudo, a escolha se sustenta por meio da afirmação de uma tipologia de escrita que se transformou ao longo dos séculos, mas que contém a particularidade de emergir por meio do diálogo com textos outros. Não necessariamente uma polêmica, mas que pode polemizar, a demanda por uma referência primeira abre espaço para o vínculo com o tema da experiência e do sentido. A partir da leitura de alguns ensaios latinoamericanos, trata-se de desenvolver, mesmo que de forma inicial, um valor para esse discurso segundo, após a herança de comentários no século XX, e as categorias que em geral articula (intuição, imaginação, originalidade) por meio de disputas específicas, em contraposição a outras práticas discursivas historicizadas como primeiras. Desse modo, acredito poder contribuir para pensar a “literatura entre discursos”, especialmente no que se refere ao século XX, em seus modos de entender o passado. PALAVRAS-CHAVE: Ensaio; experiência; sentido. Eduardo Gerdiel Batista Graça TITULO: O CONTRÁRIO DE UM PÁSSARO: A EPISTEME DAS OPOSIÇÕES BINÁRIAS E AS ALTERNATIVAS RIZOMÁTICAS DA LITERATURA PÓSCOLONIAL RESUMO: O objetivo deste trabalho é abordar os entrelugares conceituais de transnaturalidade, transculturalidade e trans-historicidade com base em romances anglófonos contemporâneos que integram um cânone literário póscolonial. Para tanto, discutiremos o próprio conceito de pós-colonialismo; a epistemologia ocidental moderna e sua organização por oposições binárias; e as alternativas epistemológicas rizomáticas que permeiam o material narrativo de Through the Arc of the rainforest (1990), The Ragdoll Plagues (1992) e Midnight Robber (2000). Se a episteme estabelecida pelo imperialismo ocidental moderno se fundamentou em oposições binárias como modernidade/primitivismo, cultura/barbarismo, cristianismo/paganismo, estagnação rural/avanço industrial, cientificismo/misticismo, entre outras, movimentos de sincretismo, hibridismo, assimilação seletiva, reapropriação e adaptação por parte dos povos e culturas subalternas produziram entrelugares imprevistos pelo binarismo globalizante moderno, e propiciaram uma multiplicidade de padrões políticos e culturais que, ao resistirem à modernidade ocidental sem confrontá-la antagonicamente, podem ser compreendidas em termos de modernidades alternativas. Tais modernidades alternativas, manifestadas pelas adaptações locais e subjetivas dos povos invadidos, escravizados, desterrados e subjugados pelo imperialismo ocidental e desqualificados e demonizados pela episteme moderna, constituem a matéria-prima de uma produção cultural minoritária que, se por um lado, denuncia a iniquidade política e a violência social prevalecentes na contemporaneidade neocolonial, por outro, evidencia a pluralidade de forças, valores e discursos contra-hegemônicos que emergem das margens dos interesses dominantes. PALAVRAS-CHAVE: rizoma; entrelugar; pós-colonial. Eduardo Henrique Cirilo Valones TITULO: O ESTUDO DO TEXTO DRAMÁTICO E DAS PEÇAS O AUTO DA COMPADECIDA E O BERÇO DO HERÓI RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo apresentar o projeto “O estudo do texto dramático”, elaborado para o O Programa de Iniciação Científica da UEPB, campus III, em Guarabira-PB. O referido projeto visa fazer estudos de textos teatrais brasileiros, com o intuito de promover a participação do discente no processo de produção científica, bem como o início de sua formação como pesquisador, através de participações em eventos científicos, apresentando trabalhos e contribuindo, dessa forma, nas discussões sobre o tema com outros pesquisadores. A atuação do referido projeto será na área de Literatura, uma vez que abordaremos o estudo do texto teatral enquanto obra literária. No Brasil, a reflexão crítica sobre a arte dramática cresceu consideravelmente nas últimas décadas. As discussões teóricas sobre o teatro e seus diferentes aspectos vêm começando a ganhar um sentido mais aprofundado, através de algumas teses universitárias e de alguns estudos críticos por parte de especialistas. Com base nesse fato, percebemos em nosso campus uma carência de estudos específicos em dramaturgia, uma vez que lá se encontram graduandos em Letras ansiosos para desenvolver estudos nessa área, visto que se trata de uma nova perspectiva de encarar a análise literária. Nosso projeto conta, inicialmente, com dois pesquisadores, um bolsista e outro voluntário, cada um com um subprojeto em que analisarão os textos teatrais brasileiros O auto da compadecida, de Ariano Suassuna e O Berço do herói, de Dias Gomes. PALAVRAS-CHAVE: Dramaturgia; O auto da compadecid; O Berço do herói. Eduardo Marks de Marques TITULO: PANEM E O REVERSO DA DISTOPIA: A POLÍTICA DA CRUELDADE NA SOCIEDADE DO ENTRETENIMENTO NA TRILOGIA JOGOS VORAZES RESUMO: A partir da sistematização dos estudos de literatura distópica, na segunda metade do século XX, baseadas nas distopias clássicas de Huxley e Orwell, convencionou-se, de forma errônea e superficial, que a distopia era apenas o polo oposto da utopia. Se esta caracteriza-se por construir uma sociedade supostamente ideal e justa para todos os seus membros, aquela deveria ser opressora e cruel com todos os cidadãos. No entanto, a partir das noções dos estudos de utopia crítica, pode-se enxergar que toda distopia foi criada -- e assim se mantém, ao menos para alguns grupos -- para ser uma utopia. O presente trabalho busca examinar as confluências e intersecções entre utopia e distopia na trilogia Jogos Vorazes, de Suzanne Collins, em que os Estados Unidos são rebatizados de Panem e divididos entre 12 distritos a partir de suas relações com o fornecimento de matérias-primas para abastecer a opulência da Capital, que mantém seu poder lançando mão de uma construção de sociedade do entretenimento na figura dos Jogos Vorazes, um reality show onde um casal de adolescentes de cada distrito é sorteado anualmente e lançado em uma arena de onde apenas uma pessoa pode sair viva. Nos três romances, pode-se perceber as nuances de uma construção social em que as noções marxistas de infraestrutura e superestrutura são essenciais para a manutenção de uma sociedade distópica para uns, mas utópica para outros. PALAVRAS-CHAVE: Jogos Vorazes; distopias e utopias; marxismo. Eduardo Neves da Silva TITULO: ANTÔNIO JOSÉ DA SILVA E O BRASIL: O DEBATE DE IDEIAS NO TEATRO ROMÂNTICO DE GONÇALVES DE MAGALHÃES RESUMO: Pretendemos, neste trabalho, discutir a importância da peça Antônio José ou o Poeta e a Inquisição (1838), de Gonçalves de Magalhães, tendo em vista não apenas o seu caráter inaugural no contexto do Romantismo no Brasil, mas também a intencionalidade pedagógica e o espírito nacionalista que animava o autor. Considerada pelo próprio Magalhães, como “a primeira tragédia escrita por um brasileiro e única de assunto nacional”, a obra em questão — para além de certos arroubos de melodramáticos — carrega, em sua metateatralidade, um claro propósito de revalorização do fenômeno teatral em nosso país, revelando a consciência do autor acerca da eficácia do teatro enquanto veículo de divulgação e de debate de ideias. Dentro do “projeto” nacionalista de Magalhães, é inserida ficcionalmente a figura de Antônio José da Silva (1705-1739), que nasceu no Brasil, mas viveu a maior parte de sua vida em Portugal, compondo peças cômicas de grande sucesso na década de 30 do século XVIII. Nesse sentido, caberá ainda examinarmos em que medida tratar da vida e da obra de um escritor mais português que brasileiro de fato constituiria um “assunto nacional”. PALAVRAS-CHAVE: teatro brasileiro; romantismo; nacionalismo. Eduardo Sinkevisque TITULO: A POLÊMICA COMO HISTÓRIA DE LONGA CICERONIANOS E ANTI-CICERONIANOS DO SÉCULO XVII DURAÇÃO: RESUMO: A comunicação demonstra que a questão dos estilos ciceroniano/anticiceroniano concernidos à oratória e à escrita da história, nos séculos XVI/XVII, pode ser definida como uma polêmica de longa duração, ou longuíssima, em virtude de atualizar, singularmente, um tipo de debate travado desde a Antiguidade romana (século I da Era cristã), passando pelo Humanismo, até a Modernidade. Após definir polêmica como gênero, definir ciceronianismo/anticiceronianismo, a comunicação discutirá exemplos de usos do debate estilístico e de poder das representações discursivas em alguns dos historiadores, retores e preceptistas mais significativos do século XVII ibérico-italiano, como Cabrera de Córdoba (1619), Manuel Severim de Faria (1624), Frei Vicente do Salvador (1630), Famino strada (1632) e Agostino Mascardi (1636). Neste sentido a polêmica seiscentista do estilo agudo em história repõe a querela antiga dos estilos ático/asiático, dos três genera dicendi que a comunicação também explicará. PALAVRAS-CHAVE: polêmica; estilo agudo; ciceronianismo. Edvânea Silva TITULO: A MELANCOLIA DE JACOBO EM IMAGENS HUMANAS, DEMASIADAMENTE HUMANAS DE WHISKY RESUMO: A arte desvela o ser das coisas. O cinema, assim como a literatura, pode dar a conhecer o nosso ser. Em Whisky (2003), filme de Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll, na única cena em que a palavra é desveladora – Cabrón, la puta madre que te parió, porque no metes na bandera en el broto, hijo de puta?! –, o pouco que é dito está longe do dizer da câmera que narra tempos mortos, imagens de não-acontecimentos, de uma vida cheia de nada. Selecionadas e combinadas, as imagens possibilitam leituras significativas, reveladoras da condição humana. Este trabalho propõe-se a analisar a melancolia a partir de imagens silenciosas, humanas, demasiadamente humanas, com certo ar de abandono, que expressam o “estado de alma” de Jacobo; dizendo de outro modo, expressam a solidão do protagonista. O que está por trás dos sentimentos de melancolia e solidão? PALAVRAS-CHAVE: melancolia; solidão; silêncio. Edvaldo Santos Pereira Suellen Monteiro Batista TITULO: EIS O VERBO: NOTAS SOBRE A CRÍTICA DE BENEDITO NUNES À OBRA DE CLARICE LISPECTOR RESUMO: Na obra de Clarice Lispector a palavra adquire um tom que vai além do relatar; ela permite que os textos configurem-se, segundo Antonio Candido (1988), como construções verbais que não imitam o mundo, mas como elaborações que trazem o mundo em seu bojo. Tal aspecto da escritura de Lispector desloca o olhar do narrado para o dito, por estarmos diante de uma escrita cuja aproximação ora tende ao ensaio,Crítica ora à filosofia. Destaca-se dentre seus críticos/leitores o professor Benedito Nunes como um dos mais importantes analistas de sua obra. Ele é o responsável por uma análise filosófica à produção clariciana, desde a publicação de O mundo de Clarice Lispector, em 1966, estudo que se tornou notório quando republicado em O dorso do tigre, de 1969, e produziu desdobramentos que culminaram em outras obras como, Leitura de Clarice Lispector (1979) e O drama da linguagem (1989). Com base nessas considerações, lança-se aqui a proposta de uma análise da recepção crítica do tema da palavra fundadora, com enfoque no conto “O ovo e a galinha” e no romance A paixão segundo GH. Nosso objetivo consiste em traçar um panorama da crítica produzida por Nunes à obra de Lispector, pontuando os conceitos fundamentais elencados pelo autor para análise da escritura das narrativas, sob o princípio de que a função da ficção “não está em oferecer respostas concretas, mas sim em servir de ponto de orientação da práxis vital e alheia” (STIERLE, 2001, p. 180). PALAVRAS-CHAVE: Crítica filosófica; Clarice Lispector; Benedito Nunes. Égide Guareschi TITULO: (N)OS LIMITES DA PALAVRA: POESIA E FRATURAS EM CAPRONI E DRUMMOND RESUMO: Égide Guareschi (UFSC/UTFPR) A expressão poética é um terreno de múltiplas possibilidades, em que ressoam as palavras, os fonemas, os versos, as Estéticas e os seus limiares, na fronteira entre a imagem e a palavra. Nessa perspectiva, este trabalho tem como objetivo refletir sobre alguns aspectos da poesia de Giorgio Caproni (1912-1990) e de Carlos Drummond de Andrade (19021987). O primeiro autor vê o poeta como um Pastore di parole e as temáticas de seus poemas mostram um movimento oscilante entre sentimentos, sensações físicas, espirituais e oníricas. Caproni talhou as palavras e os seus sulcos, como um pastor a zelar pelas ovelhas, com acuro e empenho. Os seus poemas de linguagem fragmentada, entrecortada, trazem palavras deslocadas do seu uso “comum”, as quais formam imagens, cuja força reverbera fraturas, embates, traumas e subjetividades que evocam a dor e a beleza do/no trabalho com a linguagem. Suas palavras transparecem também os estilhaços de um homem que viveu a/na guerra e que sentiu as tensões políticas e ideológicas do início do século XX. Nessa mesma esteira está o poeta Drummond, contemporâneo de Caproni e que leu o seu “tempo presente”, em meio aos abalos daquilo que ruiu com a guerra, ruínas que ainda hoje ecoam no limiar das diferentes manifestações históricas, literárias e artísticas. Referências: AGAMBEN, Giorgio. La fine del poema. In: Categorie italiane-studi di poetica e di letteratura. Bari: Laterza, 2010. ANDRADE, Carlos Drummond. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007. BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. 8ª. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. CAPRONI, Giorgio. L’opera in versi. Milano: Mondadori, 2009. PAZ, Octavio. O arco e a lira. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 1984. TESTA, Enrico. Dopo la lirica – Poeti italiani 1960-2000. Torino: Einaudi, 2005. PALAVRAS-CHAVE 1: poesia; fraturas; limites. Egle Pereira da Silva Henriqueta do Coutto Prado Valladares TITULO: ARQUEOLOGIA DE UMA COREOGRAFIA POÉTICA RESUMO: A presente comunicação tem como ponto de partida o pensamento de Michel Foucault, mais precisamente, sua noção de literatura – ato de escrever; invenção moderna; nem obra, nem linguagem (um terceiro termo diferente destes e exterior a eles); espaço vazio; brancura essencial onde a questão “O que é a literatura?” se origina; oco aberto em si mesmo e não obra de uma consciência crítica complementar; fábula dita em linguagem de ausência, assassinato, duplicação, negação, transgressão, simulacro – para analisar um corpus literário contemporâneo específico que nos permite entender um certo de tipo de texto hoje chamado literatura, a saber: ‘White Spaces’ (1980), “Espaços Brancos”, obra pouco conhecida do escritor norte-americano Paul Auster, definido pelo próprio como de gênero inidentificável e texto-ponte entre a poesia e a prosa. Ao modo de uma composição musical, o autor institui uma rítmica que permite um triplo olhar: sobre a historicidade emergente no século XIX, no campo da literatura; os sinais indicativos desta; o potencial teórico da ficção de Auster, ainda ignorado por seus críticos, e muito próximo do entendimento de Foucault acerca da manifestação literária. Posto isto, delineia-se o objetivo do trabalho: a leitura comparativa de dois discursos, o filosófico de Michel Foucault e o literário-teórico de Paul Auster – construído a partir de lentos e progressivos andamentos musicais – ambos tomados como paradigmas do que é a literatura, em termos conceituais e ficcionais. PALAVRAS-CHAVE: Michel Foucault; Paul Auster; Literatura. Ekaterina Volkova Americo TITULO: LITERATURA RUSSA NA OBRA DE IÚRI LOTMAN RESUMO: Pretendemos abordar, nessa apresentação, a presença da literatura russa na obra do semioticista e estudioso da litetratura e cultura russa Iúri Lotman (1922-1993). Se, por um lado, as questões literárias são um dos principais objetos de estudos lotmanianos, por outro elas servem como uma base para conclusões teórico-filosóficas de caráter mais amplo. A grande parcela dos trabalhos lotmanianos é dedicada à literatura russa dos séculos XVIII-XIX, sendo que ele destaca o Iluminismo como uma época chave, graças a qual se tornaram possíveis todas as conquistas literárias posteriores. Em se falar do século XIX em que a literatura russa alcançou o seu auge, o "século de prata", Lotman divide os escritores russos desse período em os que seguiram, em sua obra, o modelo binário e outros que preferiram o ternário. Pretendemos elucidar esses conceitos. Além disso, o próprio processo literário aparece como uma alternância ininterrupta entre os elementos centrais e periféricos, sendo que esse esquema baseia-se no modelo de automatização-desautomatização sugerido nos anos 1920 por Iúri Tynianov. PALAVRA-CHAVE: Iúri Lotman; literatura russa; crítica literária. Elaine Amélia Martins TITULO: UMA POÉTICA DO COMUM NAS MEMÓRIAS "A IDADE DO SERROTE", DE MURILO MENDES RESUMO: Não sou meu sobrevivente, e sim meu contemporâneo. Assim o poeta Murilo Mendes (1901-1975), já radicado na Itália do pós-guerra e do boom econômico dos anos 1950-1960, arremata o texto de abertura de sua obra reunida em "Poesias (1930-1955)", editada em 1959 no Brasil. A década de 1960 marcaria, porém, o início de experimentações poéticas que podem a representar o que Edward Said considera “produção tardia”. Uma mostra dessa produção são as memórias "A Idade do Serrote" (1968), o primeiro livro em prosa do poeta-crítico agora prosador-crítico. Nelas, desfilam-se episódios e personagens que compuseram o cenário da infância e adolescência do poeta, uma verdadeira galeria humana num universo de experiências cotidianas recriadas na idade madura. Logo no sumário, leem-se títulos com nomes de pessoas, animais, lugares ou elementos cotidianos; “Pessoas são frases”, lê-se num dos capítulos. Isso instiga reflexões acerca das figurações do comum. Pretende-se, pois, à luz de teóricos como Walter Benjamin, Georges Didi-Huberman, Giorgio Agamben, e Jacques Rancière, uma leitura da prosa poética muriliana a partir de reflexões envolvendo a escrita criativa e suas relações em torno da experiência, do comum e seus afins. Essas reflexões e leitura esbarram-se na relação entre tradição e modernidade e se potencializam neste momento em que a obra completa de Murilo Mendes começa a ser reeditada no Brasil, figurando nas estantes da produção literária contemporânea. PALAVRAS-CHAVE: Murilo Mendes; A Idade do Serrote; Comum. Elaine Brito Souza TITULO: A CRISE DO SUJEITO NA MEMORIALÍSTICA DE LIMA BARRETO RESUMO: Nesta comunicação, pretendo apresentar resultados parciais de minha pesquisa de doutorado. O objetivo de minha tese é pensar a memorialística de Lima Barreto sob a perspectiva da crise do sujeito e da sua representação nas primeiras décadas do século XX. Compõem o objeto de estudo o Diário íntimo, o Diário do hospício e O cemitério dos vivos, considerado uma autobiografia inacabada. Nas três obras, o autor questiona a concepção tradicional de sujeito, com consequências para as formas autobiográficas. O resultado é uma escrita íntima que traz inovações na maneira de falar de si. Nesta comunicação, entretanto, dedico especial atenção ao Diário íntimo, pois através dele é possível pensar a memória como fragmento, e não como narrativa. Não por acaso, os manuscritos que deram origem ao Diário íntimo estão arquivados na Biblioteca Nacional sob o título Retalhos, dado pelo próprio autor. Considerando que Lima Barreto era leitor de Nietzsche, crítico severo da subjetividade moderna, partimos de considerações do filósofo sobre sujeito e memória para traçarmos pontos de contato com a diarística limabarretiana. PALAVRAS-CHAVE: sujeito; representação; memória. Elaine Cristina Carvalho Duarte TITULO: LITERATURA VIRTUAL E A MANIFESTAÇÃO DOS SENTIDOS RESUMO: McLuhan atesta que os textos impressos são uma forma de se privilegiar o individualismo, uma vez que cada um lê só e para si mesmo. Já o ciberespaço é o ambiente da coletividade, do compartilhar, da retribalização. Nesse sentido a literatura eletrônica estabelece uma nova relação com o leitor, de interatividade, propiciando um processo de reagrupamento por meio de sites que buscam partilhar a produção literária de maneira pública, coletiva e interativa. Assim, é possível discutir e vivenciar o fazer literário de maneira mais totalizante, aguçando todos os sentidos e explorando os desejos do corpo de vivenciar a poesia em sua plenitude. O corpo é a materialização de algo que é próprio do homem, é ele que propicia vivenciar a realidade e estabelece nossa relação com o mundo. O texto impresso suprimiu o corpo e todos os seus sentidos do processo de leitura, e valorizou apenas a visão, os demais sentidos ficaram adormecidos, anestesiados, desejosos de participar do ato de ler. Por essa razão, mesmo quando lemos silenciosamente um texto impresso, nosso corpo deseja se manifestar, ele requer a performance do corpo e da voz. Recorremos aos sons, e ao ritmo dos textos, mesmo que mentalmente apenas, para suprir essa necessidade do corpo de viver o texto poético. As tecnologias audiovisuais modificaram essa postura de leitura de maneira relevante. É pelo desejo de união dos sentidos, de integração do corpo com todas as suas potencialidades, que a poesia contemporânea digital tem buscado percorrer caminhos que explorem os processos sinestésicos. PALAVRAS-CHAVE: Poesia eletrônica; Interatividade; Sentidos. Eleonora Ziller Camenietzki TITULO: CACASO EM PROSA E VERSO RESUMO: Esse estudo pretende abordar a poesia de Cacaso a partir de uma perspectiva de nossa série literária que inaugura no século XX uma ampla pesquisa sobre a formalização da fala, da experimentação radical e por vezes ingênua dos primeiros anos de Modernismo, até a consolidação dessa vertente em Drummond. Com o principal de sua produção concentrada nos anos de exceção ( seu primeiro livro é 1967, "A palavra cerzida", e por último, em 1982, publica ”Mar de mineiro”), pretende-se examinar os modos e impasses que alcança essa formalização no contexto brasileiro, assim como os limites de uma "poesia marginal" diante do processo de modernização conservadora que vivia o país naqueles anos. PALAVRAS-CHAVE: Cacaso; poesia brasileira; poesia marginal. Eliana Pires de Almeida TITULO: UMA HISTORIOGRAFIA DO COLÉGIO ESTADUAL PAES DE CARVALHO E A EDUCAÇÃO DOS SABERES AMAZÔNICOS PARA ALÉM DA CIDADE DAS MANGUEIRAS RESUMO: “Uma historiografia do Colégio Estadual Paes de Carvalho e a educação dos saberes amazônicos para além da cidade das mangueiras” é um desdobramento da dissertação intitulada “O lugar dos saberes amazônicos no ensino da disciplina Literatura”. Pesquisa vinculada à linha dos Saberes Culturais e Educação na Amazônia, desenvolvida no mestrado em Educação na Universidade do Estado do Pará, defendida no ano de 2012. Um dos objetivos da pesquisa foi mapear a historiografia da disciplina literatura, incluindo a literatura amazônica, no Colégio Estadual Paes de Carvalho ao longo de sua história. A instituição escolar é a mais antiga do estado e a segunda mais antiga do Brasil, foi criada em 28 de junho de 1841, originalmente chamada de Lyceu Paraense. Sua criação atendendo uma diretriz política de descentralização do ensino do governo central. O ensino de Letras e Humanidades sempre foi uma vocação da instituição secular, que seguia uma política educacional rígida e voltada para jovens abastados da sociedade paraense. O referido trabalho teve ainda como mote, o mapeamento e a identificação da produção literária Amazônica com vista a uma cartografia literária, aplicado à educação. Com base nos dados coletados, chegamos a uma experiência didático-pedagógica exitosa na década de 80, com o livro “Texto e Pretexto – Experiência de educação contextualizada a partir da literatura feita por autores Amazônicos”. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Saberes Amazônicos; Educação. Eliane Aparecida Galvão Ribeiro Ferreira TITULO: LITERATURA BRASILEIRA E AFRICANA EM DIÁLOGO: REFLEXÕES ACERCA DA REPRESENTAÇÃO DA INFÂNCIA NAS OBRAS "MEU PÉ DE LARANJA LIMA", DE JOSÉ MAURO DE VASCONCELOS, E "COMANDANTE HUSSI", DE JORGE DE ARAÚJO RESUMO: Objetiva-se neste texto, a partir de estudos teóricos centrados em formação do leitor crítico, exploração do imaginário e da fantasia na produção cultural destinada ao jovem, refletir acerca do diálogo que se estabelece entre os livros Meu pé de laranja lima, do brasileiro José Mauro de Vasconcelos (19201984), e Comandante Hussi, do cabo-verdiano Jorge Araújo (1959-), ilustrado pelo angolano Pedro Sousa Pereira (1966-). Para a consecução desse objetivo, constrói-se a hipótese de que as duas obras possuem, na representação da infância, potencialidades emancipatórias para seu leitor, permitindo-lhe ampliar seus horizontes de expectativa. Justifica-se esta reflexão, pois ambas narrativas apresentam uma estrutura de apelo que explora a ternura, a dor e o sofrimento. Além disso, ambas exploram elementos alegóricos na representação do imaginário de seus protagonistas. Para a análise dessas obras, os pressupostos teóricos da Estética da Recepção, bem como os princípios da literatura comparada serão utilizados, visando reconhecer como seus autores representam a infância na constituição de seus protagonistas e como projetam seu leitor implícito. Pela análise da materialidade discursiva de seus enredos, pretende-se, ainda, compreender como a elaboração artística e literária de ambas efetiva-se, sobretudo em uma articulação com a formação do leitor estético. PALAVRAS-CHAVE: Diálogo entre textos; Formação do leitor; Literatura juvenil. Eliane Fazolo Freire TITULO: PRÁTICAS LITERÁRIAS NA ESCOLA A PARTIR DA LEITURA DE ITALO CALVINO RESUMO: RESUMO Este trabalho concebe a leitura como experiência formadora da constituição do sujeito, ou seja, em sua dimensão formadora que ultrapassa os limites do tempo do ler provocando a ação de pensar e refletir criticamente o que está para além do texto. Estas reflexões se fazem necessárias quando se fala do homem como um ser social imerso na cultura, produtor de linguagem, construtor de sua história que, não raramente, se apropria de duas formas de aquisição da leitura: uma leitura formal, feita sistematicamente, que tem por objetivo o acesso aos códigos da língua materna e uma forma de apropriação da leitura que é feita no mundo, na vida, nas relações próprias de cada um com os textos diversos que encontramos durante o correr da vida. São estas formas de apropriação que, na realidade, interessam neste texto. As maneiras próprias de cada um ler o mundo e a literatura buscando resignificar, transformar, reformar a própria experiência. É a dimensão formadora da leitura; uma leitura que ultrapassa os limites do tempo do ler; a leitura feita para além dela própria, feita para além do tempo estabelecido. É o comentário, a viagem interna, a certeza da mudança após cada texto. É a visita a sentimentos até então adormecidos pela vida da modernidade, fundamentais para o homem. É a sensação do compartilhar, dividir para somar, ler com mesmo que seja apenas com o autor e mesmo que apenas internamente. Procura visualizar o lugar da narrativa na vida moderna e a possibilidade de se aprender com a literatura ao invés de pela literatura, focalizando a leitura não como informação, mas sim como formação que leva à trans-formação. O referencial teórico é delineado com base nos trabalhos de Oswald, Benjamin e Larossa a partir da obra do autor literário Italo Calvino. Palavras chave: Leitura; Literatura; Narrativa PALAVRAS-CHAVE: Leitura; Narrativa; Literatura. Elielson de Souza Figueiredo TITULO: DIZER O OUTRO: TAREFA DA FICÇÃO RESUMO: Minha contribuição para este simpósio se volta para os Contos do Imigrante (1956), de Samuel Rawet. Estou convencido de que Rawet construiu um conjunto de textos em torno de um tema central para a filosofia de Emmanuel Lévinas: o da responsabilidade com o outro. Corresponder às demandas do outro depois da shoah tornou-se aspiração irrealizável, ao mesmo tempo um imperativo para os sobreviventes. Como superstes, os protagonistas de Rawet impõem-se a culpa do silêncio que pesa sobre os acontecimentos catastróficos e ao mesmo tempo a obrigação narrativa. O outro, aquilo que escapa ao real embora experimentado, não é tratado pelos imigrantes que dão título ao volume de contos como um dado que antecede a linguagem, mas como linguagem inarticulada. O silenciamento implica menos a ausência que a figuração do real numa linguagem atravessada por um “Dizer” incompreensível. Então, trata-se de um narrar que não se comunica como Totalidade de sentido. Proponho que o lugar onde esse “dizer” toma forma é a ficção, entendida como fronteira que desafia o real ao subordiná-lo à invenção. Daí a tese de que “aquilo que transcende a verossimilhança exige uma reformulação artística (SELIGMANN-SILVA), neste caso, apenas evocação, imaginação (criação de imagens) que tentam dar contorno ao mais-além, ao incomensurável. Logo, a escrita da catástrofe tem nos recursos literários uma possibilidade de apontar para o infinito – o Outro – cuja representação não se submete ao uso ordenado e referencial da palavra. Nos contos de Rawet, repetições e lacunas passam a ser formas de expressão cujo valor é menos estilístico e mais ético, recursos em favor do Outro – impensável, inarticulável. A ficção sinaliza para o Eu-Tu, ou aquela relação em que o leitor é impelido ao que sempre lhe escapa e, em razão disso, se lhe oferece como alteridade, rosto e linguagem. PALAVRAS-CHAVE: Samuel Rawet; Testemunho; Outro. Elines de Albuquerque Vasconcelos E Oliveira TITULO: ENTRE O TEATRO E O CINEMA: A INTERFACE DO FIGURINO NO UNIVERSO SHAKESPEREANO RESUMO: Profa. Dra. Elinês de Albuquerque V. e Oliveira(UFPB) Entre muitos diálogos estabelecidos por meio da linguagem teatral, os signos representados através da aparência do ator são aqueles que se comunicam de forma mais imediata com o público. Considerados por alguns teóricos como o “cenário móvel” do teatro, o figurino, de forma combinada com o penteado e com a maquilagem, é um dos grandes responsáveis pela geração de significados na encenação de um espetáculo teatral. Presença constante na representação dramática desde as suas origens, além da função cênica que se encontra vinculada à ação, o figurino teatral permite também uma leitura da moda e do comportamento da sociedade de uma determinada época. Entendendo-se a importância do sistema sígnico do vestuário para a construção de sentido e também para as (re)significações do texto dramático shakespereano, este trabalho realizará uma leitura semiótica do figurino da época de Shakespeare em duas adaptações cinematográficas: Shakespeare Apaixonado (1999) e A Tempestade (2010). A fundamentação teórica da análise será subsidiada por FISCHER-LICHTIE(1992), PAVIS (2000) e LAVER(1999). PALAVRAS-CHAVE: Figurino; Teatro; Cinema. Elio Ferreira de Souza TITULO: A “CARTA” DA ESCRAVA ESPERANÇA GARCIA: UMA NARRATIVA PRECURSORA DA LITERATURA AFRO-BRASILEIRA RESUMO: A “Carta” de 6 de setembro de 1770, da escrava Esperança Garcia, a primeira citação acima, foi endereçada ao Governador da Província do Piauí (MOTT, 1985, 2010), uma “inusitada reclamação” (MOURA, 2004) por se tratar de uma escrava que se dirige à principal autoridade do Piauí colonial setecentista. A “Carta” é certamente um dos registros escritos mais antigos da escravidão no Brasil, escrito pelo próprio escravo negro, no nosso caso uma mulher negra e cativa, Esperança Garcia, o que confere à narrativa epistolar citada acima o status de uma escritura da gênese literária afro-brasileira. A narradora se apropria do antigo modelo de petição da segunda metade do século XVIII, para assentar nesse território simbólico da escrita as vozes da narrativa autobiográfica ou da crônica pessoal e comunitária do sujeito negro num espaço inóspito, a escravidão. Essas vozes falam da dor humana, da luta e do desespero de uma mulher escravizada, que fala em nome de si mesma, dos filhos, do marido e dos parceiros do cativeiro, assumindo o lugar de porta-voz do seu grupo. O relato escrito por Esperança Garcia envolve a uma rede de acusações e denúncias o Administrador das fazendas de gado da Coroa de Portugal no Piauí. Esse tipo de experiência é também recorrente nos relatos de experiência dos escravos ou slave narratives nos Estados Unidos, cujos autores escreveram e publicaram narrativas autobiográficas, contando fatos da sua própria vida de escravo e da vida dos colegas de infortúnio, nos séculos XVIII e XIX (MORRISON, 1987), como também em Cuba e noutros países das Américas onde o africano fora escravizado. PALAVRAS-CHAVE: Literatura Afro-Bra; Narrativa escrava; Esperança Garcia. Elisa Helena Tonon TITULO: ENTRE ACÚMULO, CORTE E NOMEAÇÕES – LEMINSKI REENCENADO RESUMO: O crítico argentino Julio Premat, na obra Herois sin atributo, observa que na Argentina do século XX todo projeto de escrita literária esteve associado ao projeto de invenção de um autor. Para pensar essa invenção do autor, hoje, é preciso considerar um espaço/tempo dinâmico em que circulam paralelamente ao livro uma série de outras mídias e inserções que acompanham sua publicação, divulgação e recepção (vídeos, fotos, teasers, comentários, entrevistas, resenhas em revistas e jornais compartilhadas nas redes sociais, exposições em museu, lançamento de Cd, palestras, etc.) e que afetam de algum modo as leituras do corpus que se pode reunir sob uma assinatura. Sob esse prisma, pretendo apresentar uma leitura do corpus Paulo Leminski, levando em consideração as leituras suscitadas pela reedição de seus poemas pela Companhia das Letras no volume “Toda poesia” (2013), pela edição de “Catatau” publicada pela Travessa dos Editores (2004) e pelo vídeo curta-metragem de Cezar Migliorin, “Meu nome é Paulo Leminski” (2004). Como esses diferentes procedimentos afetam as leituras de Leminski a partir dos anos 2000? E que leituras e imagens desse corpus eles nos oferecem? Se o projeto de escrita literária realizado em vida por Leminski era também o projeto de invenção de um autor em que atuavam estratégias de visibilidade específicas - como o uso da fotografia, das artes gráficas, da performatização, da autonomeação - hoje, o processo de invenção mostra-se incessante com as contínuas leituras e inscrições nesse corpus. Isso evidencia a sobrevivência dos textos e das imagens que, no entanto, só sobrevivem enquanto possibilidade de afeto, de transformação, de rasura, de movimento. PALAVRAS-CHAVE: Poesia brasileira; Paulo Leminski; Reedição. Elisabete Ferraz Sanches TITULO: ALTERIDADE E DESAMPARO EM PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM DE CLARICE LISPECTOR RESUMO: No romance Perto do coração selvagem, de Clarice Lispector, acompanha-se os sucessivos abandonos marcantes na história da protagonista Joana: o desamparo da família, de Deus, do homem, da linguagem, da escrita. Assim, abre-se um diálogo com a noção freudiana de desamparo (Hilflosigkeit) , sendo este muito mais do que um dado biológico relativo à precariedade da condição humana de ingresso na vida, concebido de forma progressiva e cada vez mais profunda, mas como a base mesma sobre a qual se desenrola o funcionamento psíquico. O desamparo se instaura sempre em face de um outro, aquele em quem se busca o amparo que não existe. Desamparo e alteridade, portanto, serão pensados a partir das relações de Joana com os outros personagens , estes últimos incapazes de ajudá-la, deixando-a sem qualquer apoio, na solidão e abandono. A partir da relação de alteridade, busca-se assinalar o desamparo da protagonista nesse processo de construção de si perante o olhar do outro considerando que, assim como Benedito Nunes salienta, as situações de conflitos intersubjetivos no romance em questão apresentam os outros personagens como “simples mediadores”, constituindo o que ele chamou de “polos de atração e repulsa da consciência em crise” da protagonista. Referências FREUD, Sigmund. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 2006. LISPECTOR, Clarice. Perto do coração selvagem. 12ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. NUNES, Benedito. O drama da linguagem: Uma leitura de Clarice Lispector. São Paulo, 1995. PALAVRAS-CHAVE: Alteridade; Desamparo; Clarice Lispector. Elisangela Aparecida Lopes TITULO: A ESCRITA MODERNA DE MACHADO DE ASSIS: APONTAMENTOS RESUMO: O objetivo desta comunicação surge dos estudos em andamento referentes ao processo de doutoramento, em curso pela PUC-Minas, no qual se pretende refletir sobre aspectos que permitem reconhecer a construção de uma narrativa moderna, em duas obras de Machado de Assis: Memórias Póstumas de Brás Cubas e Papeis avulsos. Nesta comunicação, serão analisados os elementos indicadores da prosa moderna (a construção da voz narrativa e a nova forma do romance) na obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, a fim tanto de repensar o papel do escritor também enquanto leitor e crítico da literatura, bem como delinear, nessa narrativa, a construção de uma nova forma de se escrever a prosa de ficção romanesca. PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; prosa moderna; Memórias Póstumas. Elizabete Sanches Rocha TITULO: O TEATRO DO OPRIMIDO EM SUAS MÚLTIPLAS POSSIBILIDADES ESTÉTICAS E PEDAGÓGICAS: UM ESTUDO SOBRE O GRUPO "FORN DE TEATRE PA'TOTHOM", DE BARCELONA RESUMO: O Teatro do Oprimido, dramaturgia criada pelo brasileiro Augusto Boal, é hoje reconhecido em todo o mundo por suas infinitas possibilidades estéticas e pedagógicas. O envolvimento visceral com as questões políticas e sociais permite um alargamento desta proposta dramatúrgica que alcança as mais diversas realidades no Brasil e mundo afora. O objetivo deste trabalho é demonstrar como se dá a presença do Teatro do Oprimido na Catalunha, Espanha, cujo principal grupo, chamado "Forn de Teatre Pa'tothom", de Barcelona, realiza, há mais de uma década, um trabalho muito sensível, politicamente comprometido e artisticamente profissional, em escolas públicas catalãs, bem como em associações de bairro e em inúmeros outros espaços carentes de expressões artísticas e de oportunidades de manifestação política pelo teatro. O estudo do grupo foi feito "in loco", a partir de entrevistas e de observação empírica, considerando os diferentes processos de criação pelos quais passam os atores. A concepção, a escrita e a encenação de cada obra correspondem a um longo caminho de criação coletiva, que conta com a participação efetiva de atores profissionais - formados, em sua maioria, pelo próprio grupo, em sua escola de atores, coordenada pelo ator e diretor teatral, Jordi Forcadas, que foi aluno de Boal, no Brasil. Trata-se de um caso extremamente interessante porque as ações não se restringem à elaboração das peças, mas contemplam também a formação de atores - de todas as faixas etárias - tendo como principais objetivos a emancipação social e a sensibilização estética de todos os envolvidos direta e indiretamente com o grupo, alcançando um efeito multiplicador de consciência político-social em diferentes camadas da sociedade. PALAVRAS-CHAVE: Teatro do Oprimido; Barcelona; Pa'tothom. Elizabeth d Penha Cardoso TITULO: PROXIMIDADES ENTRE O ROMANCE DE 30 E A LITERATURA JUVENIL CONTEMPORÂNEA. UMA ANÁLISE DE LIS NO PEITO, DE JORGE MIGUEL MARINHO RESUMO: É frequente o alijamento da literatura infantil e juvenil do amplo sistema literário. Como se essas manifestações artísticas e literárias não estivessem em diálogo com as demais obras, mas sim se realizassem em universo paralelo, apartado por uma redoma constituída ora por nebulosos critérios de qualidade, ora por insustentáveis recomendações etárias e na maior parte das vezes por preconceitos. Este trabalho objetiva indicar e analisar as relações entre as principais tendências do romance de 30 (“regionalismo” e “intimismo”) e a literatura juvenil contemporânea. Independente das discordâncias e das falsas questões que a dicotomia entre “social” e “psicológico” geraram, sabe-se da forte influência que as correntes regionalista e intimista exercem na prosa brasileira. Mas qual seria o diálogo estabelecido entre os autores de literatura juvenil e essas correntes literárias? Aqui será analisada, mais especificamente, a presença do romance voltado à introspecção na atual prosa para jovens. Depois de delinear a trajetória e consolidação da prevalência dos afetos na prosa brasileira – de Lúcio Cardoso, passando por Autran Dourado e Clarice Lispector – chegaremos aos livros juvenis voltados mais para o que se passa por dentro das personagens do que aos acontecimentos. A análise textual focará o romance Lis no peito - um livro que pede perdão, de Jorge Miguel Marinho (2005), não apenas pela intertextualidade estabelecida com Clarice, mas também pelo modo como o autor leva jovens personagens e leitores à reflexão íntima e comovente dos afetos. As principais referências bibliográficas estão fundamentadas nas obras de Candido e Luís Bueno - base de articulação do Romance de 30. Colomer, Ceccantini, Lajolo e Zilberman – apoio para as especificidades da literatura juvenil no Brasil. Gotlib, Olga de Sá e Yudith Rosenbaum – suporte para as leituras de Clarice. A psicanálise de Freud e Lacan, nos seus encontros com a linguagem, cooperará com a análise do literário. PALAVRAS-CHAVE: Literatura juvenil; Romance de 30; Intertextualidade. Elizabeth de Andrade Lima Hazin TITULO: AS HORAS QUE DECORREM ENTRE O INÍCIO E O FLORESCER DE UM RECIFE: REFLEXÃO SOBRE A TEMPORALIDADE EM OSMAN LINS RESUMO: Existe na Literatura uma especificidade de suma importância a ser atentamente explorada, precisamente aquela que diz respeito ao fato de seu significado também repousar nas conexões que consegue acionar com outras áreas do saber. Em seu artigo intitulado ‘As vias da forma’, o semiólogo italiano Gian Paolo Caprettini chega a considerar as artes (aí naturalmente incluída a Literatura) “como um universo em expansão, como ondas que no seu movimento chegam a tocar pontos cada vez mais distantes”. Centrando-se aqui na narrativa ‘Perdidos e Achados’ inserida em Nove, Novena (1966), de Osman Lins, este trabalho tem como objetivo maior uma profunda reflexão sobre a temporalidade no texto osmaniano, vista a partir do enfoque que aí é dado à biocronologia (subdivisão conceitual da Paleontologia, que estuda o desenvolvimento temporal dos eventos paleobiológicos) e, dessa maneira, mostrar de que modo o texto literário pode ser modificado pela experiência de seu trânsito em outras áreas. PALAVRAS-CHAVE: Osman Lins; Trânsito de saberes; Tempo/temporalidade. Elza de Sá Nogueira TITULO: Intertextualidade e compartilhamento: estratégias de letramento literário no Ensino Básico RESUMO: Pesquisas sobre os hábitos de leitura no Brasil revelam ao mesmo tempo o crescente desinteresse pela leitura como atividade espontânea e a crescente importância da figura do professor como principal influência positiva relativamente a essa atividade. Além disso, revelam a inclinação de boa parte dos leitores por best-sellers, como mostra a presença de vários títulos entre as obras citadas espontaneamente. A partir de uma concepção de leitura segundo a qual a interpretação é construída socialmente e de evidências segundo as quais o compartilhamento influencia afetivamente e facilita cognitivamente a leitura, pesquisadores em Letramento Literário têm proposto que sejam criadas comunidades de leitores literários nas escolas, a fim de que a leitura literária seja socializada. Além disso, com base na concepção de literatura como um polissistema dinâmico, propõem que a formação de repertório se dê através de redes intertextuais tanto horizontais quanto verticais, perpassando os vários subsistemas interligados, sem privilegiar um ou outro. Alinhando-nos a essas propostas, desenvolvemos estratégias de compartilhamento de leituras, mediadas pelo professor, em turmas de Ensino Fundamental II de duas escolas públicas de Juiz de Fora, em parceria com professores dessas escolas. Tais estratégias se desenvolveram sob dois enfoques de pesquisa-ação. Um deles privilegiou como objeto o próprio compartilhamento como estratégia, se iniciando no ambiente escolar e se estendendo para além deste, através do uso da rede social Skoob (com suas ferramentas de compartilhamento de leituras), propiciando a criação de comunidades de leitores em função de interesses afins, bem como o uso pedagógico dessas comunidades pelo professor com a finalidade de expandir o repertório literário dos alunos. O outro tomou como objeto uma estratégia específica, partindo da criação de uma comunidade de leitores da obra Percy Jackson (best-seller infanto-juvenil) rumo a uma expansão do repertório dos alunos através da intertextualidade entre um dos volumes dessa obra e a Odisseia, de Homero, colocando em diálogo dois subsistemas do polissistema literário. PALAVRAS-CHAVE: Compartilhamento. Letramento literário; Intertextualidade; Emerson da Cruz Inácio TITULO: “DO MEU CORPO O CANTO”: O CORPO E A SUA ESCRITURA RESUMO: A emergência das vanguardas literárias e a decorrente prática que propuseram não garantiu a normalização de conteúdos como o corpo, o gênero e a diversidade sexual, no âmbito literário de movimentos como Orpheu e a Semana de Arte Moderna, que acabaram por conformar literariamente os juízos morais e estéticos que tanto combateram. Ao par disso, ausente esteve ainda uma textualidade que desafiasse os gêneros literários na sua compartimentalização. Somente a revisão estética dos valores modernistas, ocorrida em Portugal e no Brasil no correr dos anos de 1960, propiciará, em ambos os contextos, o surgimento de discursos literários que abrangessem os temas-tabu acima referidos, consonante às demandas políticas em ambos os países. Essa produção, materializada na produção literária pós-modernista ensejaram uma escritura que, ao romper com os limites da forma, apontam para a tentativa de traduzir o corpo no e pelo universo do texto, localizando o corpo nos discursos estéticos da modernidade tardia. PALAVRAS-CHAVE: Corpo e Escrita; Generos Literários; Gêneros Sexuais. Emilie Geneviève Audigier TITULO: TRADUTORES FRANCESES DE MACHADO DE ASSIS EM GUERRA RESUMO: O tradutor belga Victor Orban traduziu uma das primeiras antologias de literatura brasileira (1914), com contos de Machado de Assis em francês. Décadas depois, o General René Chadebec de Lavalade traduziu novamente Memórias póstumas de Brás Cubas (1944). Como esses dois defensores tão singulares das letras brasileiras traduziram durante as duas guerras que marcaram a Europa e o mundo? Em que suas traduções, em particular as de Machado de Assis, pertencem a épocas marcadas pela guerra, no plano intelectual? PALAVRAS-CHAVE: Guerra; Machado de Assis; Tradutores. Eneida Leal Cunha TITULO: ÁFRICA, OUTROS MODOS DE USAR RESUMO: A comunicação fará uma leitura contrastiva de imagens relativas à África e à africanide contemplando os dispositivos de conhecimento e controle, a exemplo da fotografia colonial, as visões veiculadas pelos media atuais e, ainda, as imagens produzidas como estratégias de empoderamento e experimentos artístico-visuais contemporâneos. A diversidade de objetos plausíveis para a reflexão tem como contrapartida organizadora o foco na potência disruptora de imagens produzidas em confronto com o poder instituinte das imagens que pautaram a construção, pelo ou no Ocidente, da exterioridade e da inferioridade africanas. PALAVRAS-CHAVE: africanidade; imagens; fotografia. Érika Kelmer Mathias TITULO: A EXPERIÊNCIA ESTÉTICA COM O TEXTO LITERÁRIO EM SALA DE AULA RESUMO: Esta comunicação é um recorte de um projeto maior de pesquisa que tem como foco reflexões em torno do Ensino de Literatura, cuja questão central se pauta no desenvolvimento de tecnologias pedagógicas para a sala de aula, no que diz respeito a concepções de propostas diferenciadas, que fundamentalmente tenham por princípio norteador a relevância do aspecto plástico da esfera estética, sobretudo da literatura. Tecnologia aqui deve ser entendida como a interseção entre conhecimento (técnico e/ou científico) e a aplicação desse conhecimento através de sua transformação no uso de ferramentas, técnicas, processos, métodos e materiais criados e/ou utilizados para resolver problemas ou, pelo menos, facilitar sua solução. Para tal, tem-se em mente tanto perspectivas de ensino da leitura do texto literário para alteração do repertório do aluno e, consequentemente, ampliação de seu universo no sistema literário, quanto a leitura do texto literário enquanto espaço de transformação do ser, não somente em seu aspecto social, mas, fundamentalmente, existencial. Assim, muito mais do que desejar que o aluno saiba falar sobre Literatura (o que não é de todo negligenciado, pois saber manifestar-se sobre o sistema simbólico também é relevante para a constituição do ser), nosso foco recai em conceber estratégias que permitam ao aluno experienciar o efeito estético do espaço literário. O projeto se fundamenta em Teorias Sistêmicas da Literatura (Schmidt, Rush, Gumbrecht), Teorias da Recepção e do Efeito Estético (Jauss, Iser) e Teorias de Letramento com foco em Letramento Literário (Street, Rojo, Soares, Paulino, Colomer). Para esta comunicação, pretendemos não somente refletir sobre o aspecto da experiência estética com o texto literário como também apresentar algumas propostas de trabalho com o texto poético em sala de aula, sobretudo no Ensino Fundamental. PALAVRAS-CHAVE: Experiência Estética; Letramento Literário; Ensino de Literatura. Érika Pinto de Azevedo TITULO: REFLEXÕES SOBRE O ANTISURREALISMO RESUMO: Nascido em 1919, em Paris, enquanto escritura automática (ou surrealista), o surrealismo cresce, transforma-se e se adensa ao longo dos anos para, em 1924, constituir-se em grupo e movimento, com um ideário, um manifesto (de autoria de André Breton), um “Escritório” e um periódico (A Revolução surrealista). A prática surrealista compreendeu a publicação de textos (automáticos ou não), a realização de exposições, a afirmação e a vivência dos valores surrealistas. Ao longo de sua trajetória histórica, não foram raras as querelas em torno das afirmações de Breton e camaradas, tampouco as manifestações antisurrealistas ou aquelas centradas na percepção negativa do outro corporificado no surrealismo ou nos surrealistas. Esta comunicação tem por objeto o antisurrealismo e, como tal, objetiva analisar alguns discursos, práticas, grupos ou correntes que materializaram as reações antisurrealistas. Para fazê-lo, farei uma breve apresentação da gênese desta comunicação que está localizada na confluência de três atividades de pesquisa: minha tese de doutorado sobre a escritura surrealista, defendida em 2012 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul; o grupo de pesquisa “O Surrealismo e seus diálogos com a modernidade: aproximações interdisciplinares - SURRDIAL”, coordenado por Robert Ponge (UFRGS); e o Dicionário dos antis: culturas em negativo, organizado por Luiz Eduardo Oliveira (Universidade Federal de Sergipe) e José Eduardo Franco (Universidade de Lisboa) e para o qual Robert Ponge e eu redigiremos o verbete antisurrealismo. Em seguida, procurarei dar uma ideia do que é o surrealismo, para então situar algumas das manifestações culturais, literárias, sociais e políticas que configuraram o antisurrealismo, dados iniciais de sua origem e história. Concluirei com a análise de elementos que indicam que a apresentação do surrealismo em negativo é oriunda de interesses muito diversos. PALAVRAS-CHAVE: século XX; surrealismo; antisurrealismo. Ermelinda Maria Araujo Ferreira TITULO: A DUPLA CHAMA: AMOR E EROTISMO NA OBRA DE OSMAN LINS, FRANCISCO BRENNAND E ARIANO SUASSUNA RESUMO: Templos de pedra, antigos ritos pagãos, a Grande Deusa, sacrifícios... todos esses temas perpassam a obra do artista plástico pernambucano Francisco Brennand, criador de um complexo arquitetônico, escultórico e paisagístico único, instalado numa velha fábrica de cerâmica herdada de seu pai, no bairro da Várzea, em Recife. Surpreendente e enigmática, essa obra estabelece diálogos profícuos com os também monumentais trabalhos literários de dois escritores, seus conterrâneos e contemporâneos: as iluminogravuras de Ariano Suassuna e o romance Avalovara, de Osman Lins, nas quais a temática do feminino, do erotismo, do amor e da morte dialogam num interessante cruzamento de ideias. PALAVRAS-CHAVE: Erotismo; Literatura; Artes plásticas. Esequiel Gomes da Silva TITULO: GALERIA DA OFENSA MÚTUA: O DUELO VERBAL DE ARTUR AZEVEDO COM CASTRO LOPES RESUMO: No texto “Crítica a vapor” (1992), Flora Süssekind considera a polêmica como uma forma de discussão privilegiada utilizada por jornalistas que vislumbravam angariar prestígio e exibir cultura com pequenos debates gramaticais e querelas de pouca monta, no Brasil da virada do século XIX. Enquanto colaborador assíduo da imprensa fluminense e homem envolvido com as questões de seu tempo, dos jornais em que colaborava, Artur Azevedo provocou e sustentou algumas polêmicas. Em 1887, época em que foi encenada a revista de ano Carioca, o crítico maranhense, que já era um dramaturgo renomado e autor de algumas revistas de ano de sucesso, e seu colaborador Moreira Sampaio foram acusados, por meio de uma nota publicada no Jornal do Comércio, de plagiar parte de uma mágica inédita de Eduardo Garrido. A partir desse episódio, surgiram vários artigos e notas na imprensa a respeito do assunto. De um lado, estavam os desafetos do cronista e os leitores anônimos que instigavam a querela, publicando pequenas notas diariamente nos jornais; do outro, os simpatizantes à causa do acusado, defendendo-o e enaltecendo suas qualidades; no meio da agitação, numa postura ao mesmo tempo provocativa e exibicionista o dramaturgo, utilizando-se da sua seção “De palanque”, no Diário de Notícias, protestava energicamente contra a calúnia e rebatia as acusações. Nesta comunicação, falarei sobre os desdobramentos desse episódio, levando em consideração os argumentos utilizados por Artur Azevedo para provar que tudo não passava de um encontro de ideias. PALAVRAS-CHAVE: Imprensa; Rio de Janeiro; polêmicas. Esteban Reyes Celedón TITULO: LEITURAS DRAMATIZADAS COMO INCENTIVO AO GOSTO PELO TEXTO CLÁSSICO RESUMO: Leituras dramatizadas como incentivo ao gosto pelo texto clássico Esteban Reyes Celedón (UFAM) O presente trabalho é um dos resultados, da experiência e reflexão sobre a mesma, de um projeto de extensão da UFAM, curso de Letras, Leitura dramatizada em língua castelhana, que vem sendo realizado desde 2011. O projeto tem o propósito principal de difundir parte da cultura literária em língua espanhola e incentivar o aluno pelo gosto da leitura de obras clássicas, utilizando, para este fim, obras dramaturgas, entremezes, do autor espanhol Miguel de Cervantes Saavedra. Os alunos do projeto, com a ajuda dos professores responsáveis, participam de vários ensaios de leitura dramática da obra escolhida. O momento cume do projeto se dá com a apresentação final da leitura dramática do entremez escolhido para o público interessado. Pretendemos ressaltar os resultados positivos que esta experiência vem obtendo com relação à conscientização, por parte dos alunos, da relevância e satisfação em praticar a leitura de obras clássicas de uma maneira diferente, divertida e integradora. Referências ALMEIDA, Nizael & GONÇALVES, C. H. Parré. Leitura dramática: um olhar literário. Disponível em: www.unigran.br. Acesso em: 11 abr. 2015. BALL, David. Para trás e para frente – Um guia para leitura de peças teatrais. Trad. de Leila Coury. São Paulo: Editora Perspectiva, 2005. CANDIDO, Antônio. “A literatura e a formação do homem”. In: Textos de intervenção. org. Vinicius Dantas. São Paulo: Duas Cidades/Ed. 34, 2002, p.79. MAGNANI, Maria do Rosário Mortatti. Leitura, Literatura e escola: sobre a formação do gosto. São Paulo: Martins Fontes, 2001. ROSA, Gideon Alves. Leitura Dramática: um recurso para revelação do texto. Dissertação de Mestrado em Escola de Teatro, Universidade Federal da Bahia. Salvado, 2006. PALAVRAS-CHAVE: Leitura dramatizada; Incentivo à leitura; Entremez cervantino. Esther Marinho Santana TITULO: A AFIRMAÇÃO DO TEXTO POR MEIO DO QUESTIONAMENTO DA LINGUAGEM VERBAL NO TEATRO DE EDWARD ALBEE RESUMO: Tiny Alice (1964-5), de Edward Albee, é não apenas o título criticamente mais controverso no teatro norte-americano do século XX, como se destaca no cânone do autor por sua complexidade textual e sua estrutura cênica singular. Fundamental para o desenvolvimento do enredo, centrado no envolvimento do irmão leigo Julian com Miss Alice, que doará milhões para a Igreja Católica, está uma enigmática miniatura da residência da benfeitora. O objeto, idêntico ao cenário onde ocorre a ação, é simultaneamente modelo e cópia da mansão e encerra em si outras miniaturas que, repetindo-se numa sugestão de infinitude, se meramente se imitam, também originam a novidade e a diferença. Tornando-se uma espécie de personagem, o artefato é, ao longo da peça, constantemente citado, observado e analisado, e, ao ocupar uma posição de destaque no palco, tanto reflete quanto impulsiona os eventos desenrolados. É também, ainda, o símbolo que deliberadamente desabona processos de simbolização e o mecanismo explicativo empregado pelo grupo de Miss Alice em seus ensinamentos religiosos e metafísicos a Julian, cristão conflituoso. É comum no teatro albeeano o questionamento às limitações e restrições da palavra, concebida como enganosa, imprecisa ou até mesmo inadequada para a ilustração, a representação, a investigação e a comunicação. Diferentemente de outras manifestações teatrais contemporâneas, todavia, a obra de Albee não abandona a linguagem verbal, nem tampouco confere ao texto dramático importância secundária diante de recursos cênicos materiais. O estudo da miniatura de Tiny Alice permite que compreendamos que a desqualificação e o descrédito ao verbo ali propostos apenas atendem, paradoxalmente, à função de afirmar e confiar nas potencialidades do mundo verbal, bem como de celebrar o poder do ofício literário. ALBEE, Edward. Tiny Alice. New York: Atheneum, 1965. PALAVRAS-CHAVE: Teatro americano; Edward Albee; Texto dramático. Eugênia Mateus de Souza TITULO: FISSURAS E SEQUESTROS DA HISTÓRIA: O EU E O OUTRO EM MEU QUERIDO CANIBAL RESUMO: A partir da leitura de Meu querido canibal, de Antônio Torres, mapeiase o imaginário colonial na contemporaneidade, através de uma revisitação da história, com um olhar pós-colonial direcionado a uma cristalização que se quebra pelo paradoxo metaficcional, para o encaixe de mais uma peça (versão) do mosaico que forma a nação/identidade cultural brasileira. O mito de nação, enquanto fundador de comunidade, gerou um sem-fim de pesquisas e invenções das mais variadas e adversas possíveis. Torres utiliza-se de mitos e mostra a narrativa de uma nação desvestida da cor, para reconhecer, em sua identidade, o híbrido gerado não só do processo de aculturação, mas de algo mais específico, do processo da transculturação. Vários povos de territórios distintos se estabelecem num mesmo espaço, desenhando uma história de diversidade cultural. À literatura cabe a função de recuperar passado/presente, fora/dentro em atos antropofágicos para expressar a cultura nacional. Nesse mapeamento do imaginário colonial, amplia-se um universo dentro das singularidades que não permitem fronteiras, porque estas fronteiras são construídas pelo homem, que resiste em reconhecer-se no outro. Meu querido canibal representa esse conflito em reconhecer o outro. PALAVRAS-CHAVE: Identidade; História; Transculturação. Evelina Hoisel TITULO: FLUXOS CONCRETISTAS: DESAFIOS RESUMO: Com o objetivo de pensar algumas questões relacionadas ao tema “Escritas Contemporâneas: Desafios ao Comparativismo”, esta comunicação pretende desenvolver uma reflexão sobre os deslocamentos promovidos pelo movimento concreto no âmbito crítico-teórico. Ao pôr em pauta uma série de discussões que apontavam para o caráter dinâmico de um saber interdisciplinar e intercomunicativo, o movimento concreto não só rasurou limites como também entrelaçou campos discursivos diversos, promovendo estrategicamente a dinamização de fecundos entre-lugares em que o híbrido se instalou vigorosamente. A partir da concepção de que o passado deve ser revisto pelo presente a fim de que se instaure um movimento de reconfiguração crítica, Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari, ao longo de diversos ensaios escritos entre meados da década de 50 e meados da década de 60, impulsionaram a transformação de diversos operadores ligados à episteme moderna em potentes conceitos que dinamizariam o pensamento contemporâneo. Assim, no contexto da passagem dos anseios modernos de busca por um grande sistema renovador para um pensamento crítico-criativo fragmentado, múltiplo e inter-relacional, as reflexões a serem desenvolvidas no espaço desta comunicação pretendem investigar as diretrizes gerais do pensamento crítico-teórico concreto, que, ao considerar o “presente” como eixo de dinamização de uma atividade crítica transformadora, enfatiza a força de reconfiguração desse ponto de deslocamento o qual permite a quem o olhe com atenção redimensionar a história. PALAVRAS-CHAVE: Movimento concreto; Crítica; Transformação. Everardo Borges Cantarino TITULO: AS MARCAS DO REAL EM GEORG TRAKL E MODESTO CARONE RESUMO: Propomos apresentar um breve estudo do conto "As marcas do real", de Modesto Carone, publicado em 1979, no livro homônimo no qual a experiência literária se diferencia de certos modelos de texto predominantes no boom do conto da década de 1970 no Brasil, e reeditado em 2007, em Por trás dos vidros, com alterações na tradução dos versos finais do poema "Grodek", reproduzidos no conto. A linguagem das narrativas breves de Carone é densa, absolutamente concentrada em sua tensão interna e há uma opção pelo insólito, num afastamento da mimese, mas com a presença forte das marcas do real que alimentam o "estranhamento" e ressaltam a experiência de ruptura do indivíduo com suas referências sociais. O conto "As marcas do real" foi construído a partir da escolha dos eventos mais essenciais da vida de Georg Trakl, poeta austríaco do início do século XX, com o propósito de condensar a história real ao extremo a ponto de ela parecer um ato da imaginação. A linguagem objetiva do conto vincula-se a uma realidade absurda, devido ao seu momento de desintegração, desde a desestruturação familiar até a ruína da Donaumonarchie. Todas as sequências que se sucedem no texto, montadas como fotogramas do resumo da vida de Trakl, remetem à intensificação do absurdo da realidade diante da percepção sensível do poeta. É nessa realidade em destruição que o poeta se constrói. Em dado momento, o narrador reconhece a "experiência do drogado" nos poemas de Trakl, e conclui: “Isso não impede que a dicção da obra seja clara e segura, lembrando um mundo complementar à realidade histórica circundante”. A partir desse personagem extraído da memória da literatura, Modesto Carone escreve o conto "As marcas do real", ultrapassando os discursos esquemáticos, para dizer de um mundo complementar, as ruínas da modernização do capitalismo. PALAVRAS-CHAVE: Modesto Carone; Modernidade; Crítica literária. Éversom Pinto Monteiro TITULO: SEBASTIÃO UCHOA LEITE E O POETA CRÍTICO: DESVENDANDO O CONTEMPORÂNEO EM UMA ELABORAÇÃO CIRCULAR ENTRE POESIA E CRÍTICA RESUMO: A contemporaneidade e sua pluralidade de expressões artísticas diminui as fronteiras entre o considerado cânone, ou erudito, e a cultura popular. Ao mesmo tempo, e pelo mesmo motivo, exige que o poeta recupere o prestígio do trabalho técnico na literatura, diluído pelas novas formas de comunicação. Nesse contexto, este presente trabalho pretende comentar como o escritor lírico e poeta pernambucano Sebastião Uchoa Leite (Timbaúba, 31 de janeiro de 1935 — Rio de Janeiro, 27 de novembro de 2003) tenta desvendar o obscuro do seu presente produzindo escritos que, enquanto ensaios, se propõem tão complexos e relevantes como textos críticos, e que exigem tanto esforço criativo como acontece na elaboração de textos poéticos. O resultado seria um comportamento circular entre as estratégias de construção e os efeitos de sentido desses escritos, na ação de quem ele chama de poeta-crítico. Esta personalidade, em diálogo com a análise e elaboração lírica, estabeleceria assim sua participação na literatura, deixando sua marca atemporal em seus textos. PALAVRAS-CHAVE: Sebastião U. Leite; crítica; poesia. Everton Fernando Micheletti TITULO: A NAÇÃO "REAL E IMAGINADA" NA LITERATURA DE BOAVENTURA CARDOSO E DE MIA COUTO RESUMO: Nas obras do angolano Boaventura Cardoso e do moçambicano Mia Couto, chama a atenção a relação entre o “real” e o “maravilhoso”, não havendo muitas vezes uma separação, uma delimitação clara entre ambos, o que vem sendo apontado há certo tempo por alguns estudiosos e críticos. Os temas da guerra, da violência e da fome, por exemplo, são representados tanto de modo “realista” como pelo insólito, seja metaforicamente ou com base em tradições africanas, entre outros casos. Este trabalho, portanto, visa a contribuir para a compreensão desse aspecto, com o interesse voltado ao espaço nas narrativas e à “nação”, trazendo para a leitura e análise os pressupostos teóricos do geógrafo Edward W. Soja. Em sua abordagem do espaço, Soja problematiza a separação entre representações objetivas e subjetivas, e defende uma “terceira via” que ele denomina de “espaço real e imaginado”. Com essa forma de entender o espaço, propõe-se abordar o conceito de “nação”, pois Anderson, em sua clássica definição das “comunidades imaginadas”, pergunta-se como algo imaginado pode gerar sacrifícios reais, como no caso de “milhões de pessoas” que se dispuseram “não tanto a matar, mas sobretudo a morrer por essas criações imaginárias” (2008, p. 34). Assim, levanta-se a questão: o espaço “real e imaginado” nas narrativas de Cardoso e de Couto pode ser considerado como representação da “nação”, de características e pontos de vista dos povos que formam Angola e Moçambique, possibilitando pensar a identidade nacional? São respostas a essa questão, entre outras que possam surgir, que serão analisadas as obras dos dois escritores. PALAVRAS-CHAVE: Identidade nacional; Boaventura Cardoso; Mia Couto. Everton Luis Farias Teixeira TITULO: A OBRIGAÇÃO DE LEMBRAR: HISTÓRIA E MEMÓRIA NO GRANDE SERTÃO DE GUIMARÃES ROSA RESUMO: No caminho aberto pelo comparativismo entre as fronteiras do estético e do histórico, este trabalho propõe um estudo dos elementos históricos e da memória inscritos no enredo de Grande sertão: veredas (1956), de Guimarães Rosa com base, principalmente, nas contribuições teóricas de Pierre Nora enfeixadas em sua obra Le lieux de mémoire (1993). Neste exame espera-se demonstrar como a noção de lugares de memória ultrapassa os seus limites históricos e espaciais, ajudando a forjar uma nova vereda interpretativa para o romance rosiano, no qual o narrador autodiegético — em sua obstinada vontade de guardar em seu relato a memória daqueles “lugares em léu” (ROSA, 1956, p. 532) de seu espaço campesino — transforma-se também em um locus da memória, obrigando-se a reorganizar os restos de um modus vivendi deveras distante no tempo e marcado por uma espécie de “estado de exceção”. Em outras palavras, torna-se o narrador um homem-memória capaz de erigir o hinterland nacional à condição de uma metonímia de todos os lugares em que a violência e a barbárie se ambientam. Distante, portanto, de um saudosismo sertanejo, o protagonista Riobaldo faz ecoar em sua narrativa, não somente um réquiem do jaguncismo nordestino, mas também um lamento pelos episódios que marcaram a história do Ocidente no século XX, esta infiltrada nas páginas escritas pelo ficcionista mineiro. Exemplos dessa ressonância da história ocidental abundam, de maneira simbólica, nesse romance como os grandes fenômenos vivenciados no século passado, entre estes, a emancipação feminina, a crítica e a ojeriza aos modelos liberais. Neste giro de lembranças relatadas, amalgamento de oralidade e de fomento estético, por um ex-jagunço e rico fazendeiro, Guimarães Rosa termina por transmitir os principais acontecimentos ocorridos no século passado, comprovando, de um lado, a autoridade universal da história e, de outro, a negativa da “morte da narrativa” vislumbrada por Walter Benjamin. PALAVRAS-CHAVE: Guimarães Rosa; História; Literatura. Éwerton Silva de Oliveira TITULO: THE AMERICAN CLOCK, DE ARTHUR MILLER, E HARD TIMES, DE STUDS TERKEL: ALGUNS ASPECTOS ANALÍTICOS E COMPARATIVOS RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo analisar aspectos da peça The American Clock [O relógio americano], obra do dramaturgo norte-americano Arthur Miller (1915-2005). O foco principal desta análise será a relação desta peça com o livro Hard Times: An Oral History of the Great Depression [Tempos difíceis: uma história oral da Grande Depressão] (1970), do escritor e radialista estadunidense Studs Terkel (1912-2008). Assim como The American Clock, que teve suas primeiras montagens profissionais nos anos 1980, Hard Times aborda a temática da Grande Depressão econômica que ocorreu nos EUA nos anos 1930. O livro de Terkel procura coletar depoimentos de sobreviventes deste período histórico, construindo, desta forma, um tecido de narrativas orais que tem como objetivo analisar uma década de profundas dificuldades e transformações políticas, econômicas, sociais e culturais nos EUA. Arthur Miller, por sua vez, comenta em seus ensaios que as fontes de informações para criar The American Clock foram as suas próprias memórias dos anos 30 (sendo que, durante esta década de recessão econômica, o dramaturgo ainda era adolescente), e esta obra de Studs Terkel. É possível ver, em The American Clock, que pessoas cujo depoimento foi registrado em Hard Times se tornaram personagens na peça, e algumas de suas afirmações feitas no livro de Terkel foram convertidas em falas cenicamente registradas por Miller em Clock. Neste sentido, analisar esta relação entre The American Clock e Hard Times é de suma importância, uma vez que, entre outras coisas, esta relação afeta a estrutura formal da peça – o que terá consequências na representação da Grande Depressão feita pelo dramaturgo estadunidense. PALAVRAS-CHAVE: Teatro dos EUA; Arthur Miller; Studs Terkel. Expedito Ferraz Júnior TITULO: UMA ABORDAGEM SEMIÓTICA DO CONTO "A FLOR DE VIDRO" , DE MURILO RUBIÃO RESUMO: Este trabalho tem como objetivo realizar uma leitura analíticointerpretativa do conto "A flor de vidro" do escritor mineiro Murilo Rubião (19161991). Com esta finalidade, buscamos aporte teórico metodológico na Teoria Geral dos Signos, de Charles Sanders Peirce, especialmente de sua segunda tricotomia dos signos, que os distingue em ícones, índices e símbolos. Partindo da existência de três modos de representação, fundamentados, respectivamente nessas três categorias semióticas, examinamos como cada uma delas atua na leitura do conto escolhido e como podemos relacioná-las aos efeitos produzidos pela intervenção do "fantástico" neste conto. PALAVRAS-CHAVE: Fantástico; Semiótica; Narrativa. Ezilda Maciel da silva TITULO: TOPOGRAFIAS DA(S) AMAZÔNIA(S): A POÉTICA DA RELAÇÃO EM DOIS IRMÃOS, DE MILTON HATOUM RESUMO: Resumo: A comunicação ampara-se na finalidade de analisar o romance Dois irmãos (2000). Essa obra será examinada à luz das premissas de Edward Said, Homi Bhabha, Thomas Bonnici, Édouard Glissant, entre outros. A proposta é analisar como as movências, as errâncias, os deslocamentos e os trânsitos migratórios dão visibilidade às diferenças culturais, e como essas são figuradas no mundo romanesco deste autor manauara. Vista na dianteira dessa zona diálogica, Dois irmãos mapeia alteridades, corpos, línguas e culturas, projetando ainda cenas rizomáticas, fronteiriças e errantes. Desse modo, abordando a questão das cartografias das Amazônias, pretende-se colaborar para uma compreensão mais ampla e problematizante da diversidade estética/cultural no âmbito das relações intra-regionais, assim como das interconexões das (po)éticas da alteridade no contexto da Pan-Amazônia – lugar residual, de passagens, trocas e mestiçagens várias. Por isso mesmo, desperta tantos exercícios interpretativos sobre sua cosmogonia e cosmologia em escala planetária, entrelaçando olhares críticos para traduzir os limites do território das narrativas literárias Pan- Amazônicas. PALAVRAS-CHAVE: Poética; Relação; Cartografia. Fábio Salem Daie TITULO: NÓS AINDA NÃO MATAMOS NINGUÉM – ESTRATÉGIAS NARRATIVAS NA FICÇÃO DE LUIS BERNARDO HONWANA RESUMO: Acossado por um sistema cuja estratégia principal de dominação era a intensificação dos instrumentos externos da violência (ANDERSON, 1966; CABAÇO, 2009), o moçambicano Luis Bernardo Honwana traçou na passagem da década de 1950 a 1960 uma estratégia narrativa original. Sua força reside não somente na brevidade de seus relatos, onde a forma do conto dá ênfase a conflitos pontuais que, no entanto, sintetizam a sofrida condição colonial. O poder do livro Nós Matamos o Cão-Tinhoso também está no universo sui generis construído pelo autor, em que crianças, mulheres, velhos, loucos e animais, como egressos do mais degradado nível da submissão, encenam as tragédias que os homens adultos não poderiam encenar, sob pena de morte. Erguidos à luz da História; encarados na proporção de suas forças; encontrados na escola, na colheita, no campinho de futebol, no quintal de casa (e não na frente de batalha); dispostos em posições privilegiadas – tais quais as personagens histórico-mundiais (LUKÁCS, 2011) – em meio às tensões polares que se radicalizam rapidamente, as personagens de Honwana fazem soar o gongo do império pela maneira como batem em suas rachaduras. Eis que surgem: a relativa condição do atraso português frente à composição europeia, as tensões latentes da Guerra-Fria, o positivismo canhestro, impróprio; a arbitrariedade das relações de dominação; a forças virtuais da resistência colonial e a própria guerra de libertação, que germina na desobediência civil dos mais fracos. Esta comunicação pretende mostrar por quais meios Honwana pôde criar uma narrativa da emancipação, escrevendo ainda sob o regime colonial português. E, como consequencia disso, quais as características que tornaram clássicas as histórias presentes em Nós Matamos o Cão-Tinhoso, verdadeiras relíquias da memória colonial e, ao mesmo tempo, anunciadores da revolução. Referências Bibliográficas ABDALA Jr., Benjamin. Literatura, História e Política: Literaturas de Língua Portuguesa no Século XX. São Paulo: Ateliê Editorial, 2007. ADORNO, Theodor. Teoría Estética. Madrid: Ediciones Akal, 2011. ANDERSON, Perry. Portugal e o Fim do Ultracolonialismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. ARON, Raymond. As Etapas do Pensamento Sociológico. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2008. CABAÇO, José Luís. Moçambique: Identidade, Colonialismo e Libertação. São Paulo, Editora Unesp, 2009. CABRAL, Amílcar. Libertação nacional e cultura. Sanches, Manuela Ribeiro (org.). In: Malhas que os Impérios Tecem. São Paulo: Edições 70, 2011. CANDIDO, Antonio. A Educação pela noite. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011. CÉSAIRE, Aimé. Cultura e colonização. Sanches, Manuela Ribeiro (org.). In: Malhas que os Impérios Tecem. São Paulo: Edições 70, 2011. COUTO, Mia. Pensatempos. Lisboa: Caminho, 2005. FANON, Frantz. Racismo e cultura. Sanches, Manuela Ribeiro (org.). In: Malhas que os Impérios Tecem. São Paulo: Edições 70, 2011. _____. Os Condenados da Terra. Juiz de Fora: Editora da UFJF, 2010. HONWANA, Luís Bernardo. Nós Matamos o Cão-Tinhoso. São Paulo: Editora Ática, 1980. LABAN, Michel. Moçambique – Encontro com Escritores (vol. II). Porto: Fundação Eng. António de Almeida, 1998. LUKÁCS, György. O Romance Histórico. São Paulo: Boitempo Editorial, 2011. THOMAZ, Omar Ribeiro. Ecos do Atlântico Sul: Representações sobre o Terceiro Império Português. Rio de Janeiro: Editora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2002. PALAVRAS-CHAVE: Honwana; Cão-Tinhoso; Contos. Fabíola Guimarães Pedras Mourthé TITULO: RAUL BOPP: POETA CONTEMPORÂNEO RESUMO: Raul Bopp leva seus leitores a movimentar-se, mobilizando-os e colocando-os em processo de mudança. É o que ocorre em “Cobra Norato”, obra que marca uma fase inteira da nossa Literatura, o Modernismo Brasileiro. É potência que arrasta, provoca e tem a possibilidade de desalojar. Pensando no conceito de homem comum, que subsiste em devir, refletimos que a poesia boppiana aposta na potência do devir, pois “resulta do rompimento de fronteiras entre mundos diversos, bem como da abertura para potências de um modelo lógico desconhecido.” (MENEZES,2011, p.163). Utilizando como ponto de partida os argumentos do filósofo Giorgio Agamben (2009), torna-se possível afirmar que Bopp foi um homem contemporâneo. Pois, o poeta, com seu olhar contemporâneo, enxerga o escuro e sabe que por trás dele há uma luz que quer atingi-lo, ao mesmo tempo que olha para o presente vendo as penumbras. Ele consegue um distanciamento do seu tempo para poder vê-lo, nessa fenda; no esquizo, nessa instância se dá o contemporâneo. Constatamos ainda, a presença do narrador sedentário, proposto pelo filósofo alemão Walter Benjamim e identificamos marcas de oralidade no texto. Enfim, buscaremos mostrar como o universo boppiano desafia os limites impostos pelos dispositivos disciplinares, dando voz e inventando o “povo que falta”. Deleuze nomeia-os como povo menor, “que falta”, seres inferiores, bastardos, mas sempre inacabados em devir constante; os excluídos, esquecidos que vivem à margem, como o anômalo do sertão. PALAVRAS-CHAVE: Raul Bopp; figurações do comum; contemporâneo. Fabíola Simão Padilha Trefzger TITULO: A FICÇÃO A CONTRAPELO EM HHHN, DE LAURENT BINET RESUMO: O romance HHhH (2012), de Laurent Binet, cujo título corresponde às iniciais da frase em alemão “Himmlers Hirn heiβt Heydrich” (“o cérebro de Himmlers chama-se Heydrich”), conta a história da “Operação Antropóide”, uma missão suicida levada a cabo pelo tcheco Jan Kub?s e pelo eslovaco Jozef Gab?ík, encarregados de matar o segundo homem da SS do governo de Hitler: Reinhardt Heydrich. A história é construída basicamente sobre dois eixos indissociáveis: o eixo ficcional, que recria os fatos históricos, e o eixo metaficcional, que coloca em cena um narrador atormentado pelas implicações éticas decorrentes da transformação em literatura desse episódio impactante do Holocausto. Minha proposta de comunicação é analisar essa obra, no limiar entre o autoficcional e a literatura de testemunho, considerando questões tais como: 1) seria possível atribuir à ficção uma potência solidária e, portanto, interventiva no registro de fatos históricos, capaz de proporcionar um redimensionamento dos modos de contá-los que afetaria tanto a Literatura como a História?; 2) até que ponto o tratamento estético conferido a certos núcleos duros do real conduz ao impasse ético diante do inenarrável, provocando o esgarçamento do ficcional, colocado na berlinda, e, em última instância e a contrapelo, a sua negação mesma?; 3) a discussão sobre as relações entre Literatura e História, tendo na mira narrativas como HHhH, que abalam certos pressupostos cristalizados desses campos discursivos, poderia contribuir para a problematização do componente ficcional identificado tanto na Literatura como na História? e, por fim, 4) na esteira do pensamento de Jacques Derrida, poderia a Literatura contra-assinar a História? A condução do debate proposto contará com postulados de Jacques Derrida, Walter Benjamin, Giorgio Agamben, François Dosse e Sabina Loriga, dentre outros. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; História; Ética. Fabiana Bigaton Tonin TITULO: AVALIAÇÃO COMO POSSIBILIDADE DE LETRAMENTO: ANÁLISE DE PRÁTICAS DE LEITURA E CONSTRUÇÃO AUTORAL RESUMO: A proposta desse trabalho é analisar produções de alunos do 9o ano de uma escola particular de Campinas/SP, apresentadas como resultado de um processo de avaliação que contempla leitura e produção de texto. As atividades de avaliação em questão foram produzidas a partir de leituras obrigatórias (contos de Machado de Assis) orientadas pelas professoras responsáveis pela disciplina de Língua Portuguesa e se configuram como uma alternativa que pretende encaminhar os alunos à produção autoral, rompendo com a configuração mais tradicional dos processos avaliativos escolares, porém, de modo a manter critérios importantes no que tange às habilidades de leitura e escrita. A partir das perspectivas do letramento e do uso de recursos tecnológicos, foram contemplados gêneros multimodais, de modo a incentivar os alunos a não só refletirem e se apropriarem dos conteúdos estudados e dos textos discutidos, mas, sobretudo, a exercitarem um processo autoral de recriação a partir dos textos lidos. Assim, minha proposta é analisar esse projeto, refletir sobre o processo de leitura literária desenvolvido na escola, bem como discutir o percurso desenvolvido pelos alunos, as produções apresentadas como resultado final e a efetividade desse processo de avaliação. PALAVRAS-CHAVE: Leitura; avaliação; leitura fruição. Fabiana Carneiro da Silva TITULO: DO TUMBEIRO AO ROMANCE CONTEMPORÂNEO: UMA LEITURA DE UM DEFEITO DE COR, DE ANA MARIA GONÇALVES, COMO DESAFIO À CRÍTICA BRASILEIRA RESUMO: A comunicação pretende compartilhar uma análise crítica (em processo) do romance Um defeito de cor, publicado em 2006, por Ana Maria Gonçalves. Parte-se da assunção da relevância desta narrativa para as letras e para sociedade brasileira, já que, desde uma perspectiva em primeira pessoa inédita em nossa tradição literária, o romance reelabora a trajetória de vida de uma escrava liberta ao longo do século XIX. Tendo como base critérios que foram delimitados pela crítica como parâmetros para a avaliação do gênero romance, buscaremos identificar em que medida certas “irresoluções formais” constituintes da obra estão relacionadas ao contexto histórico-social no qual ela se insere, século XXI, e simultaneamente propõem questões aos referenciais de valoração estética utilizados. Nessa direção, analisaremos como, ainda que adote um procedimento estético do qual fazem parte recursos que imprimem à obra uma negatividade constituinte, vide a variação da distância estética e o questionamento da referencialidade do texto, a autora circunscreve tais elementos a uma estratégia narrativa baseada na afirmação dos africanos e afrodescendentes, sobretudo da mulher negra. Além disso, tentaremos vincular o surgimento da obra à tradição literária brasileira, refletindo sobre a possibilidade de que o livro seja lido como um acontecimento isolado, uma ruptura ou uma continuidade com essa tradição. Com esse gesto, objetivamos formular algumas hipóteses acerca das condições da crítica literária contemporânea no Brasil. PALAVRAS-CHAVE: Um defeito de cor; Teoria literária; Literatura afro-bras. Fabiana Gonçalves TITULO: ARQUIVOS DA CRIAÇÃO E O TÉDIO À (IN) CONTROVÉRSIA DE MACHADO DE ASSIS. FABIANA GONÇALVES (PROPE/UNESP) RESUMO: Presente na ficção machadiana, a expressão “tédio à controvérsia” frequentemente aparece associada à personalidade de Machado de Assis, em especial, à fase madura do autor. No entanto, ainda no élan da mocidade, a postura acanhada e inquestionável sociabilidade literária cediam espaço para a crítica militante, para debates como os registrados pela “Polêmica dos cegos” ou então pela ensaística destinada à poesia nacional, entre outras expressões mais agudas. Dentre os ensaios, incluindo-se neste grupo produções realizadas não apenas na época romântica, “A nova geração” esquematiza em meio aos comentários acerca da conjuntura literária na segunda metade do século XX um contra-ataque ao principal algoz da produção em verso de Machado de Assis. Publicado em 1879, o texto polemiza a predileção poética de Sílvio Romero e, com isso, esboça um perfil diferente daquele mormente divulgado pelas biografias do autor fluminense. Nesse ponto, as Americanas (1875), terceiro livro de poesia do poeta, coadunam com a atitude intelectual de seu mentor. A despeito do julgamento severo realizado pelo crítico sergipano ou justamente por conta dele, o poeta aproveitou todos os poemas autorais lançados na primeira montagem da coletânea nas Poesias completas, edição definitiva publicada em 1901. Talvez, esse tenha sido o ato mais polêmico de Machado de Assis, poeta. Desse modo, considerando possíveis intersecções entre as manifestações críticas experimentadas em textos paralelos à criação literária machadiana, cujos conteúdos dialoguem com o próprio fazer literário, e a literatura crítica propriamente dita, sobretudo a representada pela produção em verso, buscaremos examinar as polêmicas protagonizadas e/ou provocadas por Machado de Assis. Para tanto, recorreremos à escritos edificados a partir de discussões declaradas, isto é, veiculadas por textos não-ficcionais, bem como à questões sugestionadas pela mensagem poética. PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; arquivos da criação; debates. Fabiane Renata Borsato TITULO: A POESIA SERIAL DE PAULO HENRIQUES BRITTO RESUMO: Paulo Henriques Britto, poeta, contista, professor e tradutor, lança seu sexto livro de poesias, Formas do nada, em 2012. Nele promove inovações do gênero poesia e das formas fixas do texto poético, por meio do diálogo com a tradição e da reinvenção de formas e temas. A relação da poesia de Britto com a tradição literária clássica e moderna é aspecto frequentemente abordado pela crítica. Em seus poemas, o poeta concilia linguagem coloquial e formas canônicas, sonetos inusitadamente deformados e matrizes clássicas informais. Esses elementos da poesia de Paulo Henriques Britto são objeto constante de análise da crítica de sua obra, motivo por que não será prioridade desse estudo. Interessa a este trabalho analisar os poemas em série da obra Formas do nada e suas relações com a poesia moderna, especialmente aquela produzida por João Cabral de Melo Neto, e com a pintura e a gravura e sua tradição seriada. Há insuficientes estudos sobre o recurso expressivo da seriação na obra de Paulo Henriques Britto, embora o referido autor o empregue frequentemente. A composição poética seriada estabelece polissemias e intertextos promotores de intercâmbio de sentidos entre os poemas. Além disso, a seriação oferece unidade à obra ao fazer de cada poema um módulo que com outros formará um todo orgânico. Os poemas seriados de Formas do nada funcionam como módulos que estabelecem relações sintáticas e imprimem narratividade aos textos. Além disso, a leitura intertextual dos textos poéticos promove a modalização de valores, tempos e espaços. A obra Formas do nada apresenta oito séries de poemas que juntas totalizam 37 textos geradores de importante diálogo entre poesia, história e pintura. No poema “Tríptico com hotel e sirene”, Paulo Henriques Britto reúne força visual, sonora e sinestésica ao aproximar o tempo da poesia e o espaço da pintura, diálogo presente na literatura clássica que é ressignificado na poesia contemporânea de Britto. Compreender o modo de presença da tradição serial na poesia de Britto e as atualizações empreendidas pelo autor quando do uso do recurso da seriação na obra Formas do nada são objetivos deste trabalho. PALAVRAS-CHAVE: Paulo H Britto; seriação; poesia. Fabianna Simão Bellizzi Carneiro TITULO: O IMAGINÁRIO DO SERTÃO GOIANO: MEDO E ASSOMBRAMENTO EM “A BRUXA DOS MARINHOS E “CAMINHO DAS TROPAS”, DE HUGO DE CARVALHO RAMOS RESUMO: Nascido em Goiás, em 1895, Hugo de Carvalho Ramos desde tenra idade acompanhava seu pai em viagens pelo interior do Estado, em comarcas vizinhas à sua cidade, Largo do Chafariz. Observador perspicaz da vida do homem do interior, Ramos deixa uma obra que prima pelas descrições detalhadas das pessoas e hábitos do sertanejo, desde a maneira como se amilhava a tropa, se descangavam os bois carreiros, até se aprofundar nas crenças e mistérios do sertão goiano. Em 1917 publica a coletânea Tropas e Boiadas que reúne, dentre vários contos, os que serão analisados neste trabalho: “A Bruxa dos Marinhos” e “Caminho das Tropas”. São contos que dialogam com narrativas góticas europeias, porém ambientados no sertão goiano e salientando seus males, superstições e crendices. Portanto objetiva-se, através deste trabalho, perscrutar a presença de elementos próprios das narrativas góticas europeias, que se esmeravam em causar medo e terror no leitor. A metodologia deste trabalho se pauta em pesquisa bibliográfica de teóricos de áreas como Literatura Fantástica, Literatura Comparada, História e Ciências Sociais. A bibliografia será devidamente referenciada ao longo do texto. PALAVRAS-CHAVE: Literatura comparada; Sertão; Gótico. Fabiano Cardoso TITULO: MAS ENTÃO O QUE SERIA A CRÍTICA? MACHADO DE ASSIS E O DESAFIO DE RENOVAR A CRÍTICA LITERÁRIA NO FINAL DO SÉCULO XIX RESUMO: O presente trabalho busca refletir sobre o desafio de Machado de Assis para reformar a crítica literária brasileira na segunda metade do século XIX. Os seus dois polêmicos artigos do romance O primo Basílio de Eça de Queirós reflete a importância do pensamento machadiano sobre o dever-fazer da crítica naquele período, que estava estagnada entre a análise impressionista e as amizades convenientes. No texto Ideal do Crítico (1865) Machado busca um novo conceito para a crítica do momento, baseando-se em características que considera importante: imparcialidade, tolerância, paciência, moderação, urbanidade etc. Para Machado a crítica deveria ser exercida por pessoas com conhecimento especializado, e não por aqueles que presumiam ter esse conhecimento. Não é um puro desejo de fazer crítica, mas esse exercício vem da pesquisa, isto é, do estudo sistematizado das regras implícitas no texto literário que o crítico encontra numa leitura atenta e obediente aos princípios que regem a análise da obra. Para Machado a crítica brasileira precisa se reformular e se refazer para o bem da própria literatura. Para ele a crítica jamais poderia se firmar em bajulações e elogios às obras de pouco conteúdo literário, sob pena de rebaixar à própria literatura. A crítica deve deixar o seu legado para que a literatura seja capaz de crescer e produzir melhores resultados na sociedade. PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; crítica literária; Eça de Queirós. Fabiano Rodrigo da Silva Santos TITULO: O RETRATO DA MISÉRIA, A MOLDURA DO ESPAÇO E A PELATA DA MELANCOLIA: UMA LEITURA COMPARATIVA ENTRE “AS CISMAS DO DESTINO”, DE AUGUSTO DOS ANJOS E O CÃO SEM PLUMAS, DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO RESUMO: As seguintes considerações propõem uma leitura das relações entre registro da miséria, paisagem circundante e melancolia, operadas pelos poemas “As cismas do destino” (Eu, 1912), de Augusto dos Anjos e O Cão sem Plumas (1950), de João Cabral de Melo Neto. Os dois poemas registram a tentativa de sintonizar a sensibilidade lírica com uma espécie de fatalidade social, que, em Augusto dos Anjos é oriunda de uma concepção cósmica e determinista da miséria humana e em João Cabral de Melo Neto denota um esforço de engajamento por meio da poesia. A evocação do espaço circundante em “As Cismas do destino” e O Cão sem Plumas atesta a tentativa de realização de uma forma de sondagem ontológica dos arrimos do sofrimento e da carência, empreendida, em “As cismas do destino”, na senda do conflito dialético entre determinismo e vazio metafísico, e em O Cão sem Plumas, pelo esforço de configuração de uma lírica participante que irmana a essencialidade do poético à "espessura" do fenômeno social. Em ambos o espaço é configurado de modo evocativo e matizado por uma imagética convencionalmente vinculada ao tema da melancolia, desdobrando-se em uma paisagem fugidia e em devir, que encontra na linguagem do grotesco e do sublime rebaixado o substrato para configuração de um quadro sócio-histórico dotado de intenso pathos. No poema de Augusto dos Anjos, a flaneurie mescla-se às inquietações individuais, em João Cabral de Melo Neto, a tentativa de plasmar animicamente o Capibaribe confere ao rio o papel de testemunha consciente e síntese viva das mazelas sociais. Tanto a Recife de “as cismas do destino”, como o Capibaribe de “O Cão sem Plumas” configuram-se como instâncias em que a sensibilidade à dor coletiva tinge as impressões com a nódoa negra da melancolia. PALAVRAS-CHAVE: Melancolia; Grotesco; Sublime. Fabio de Carvalho Messa TITULO: SÍNDROME NARRATIVA EM RUBEM FONSECA: DE BARTLEBY A ZUCKERMAN RESUMO: Tomando como base inicial as obras Diário de um Fescenino (Rubem Fonseca) e The GhostWriter – O Escritor Fantasma (Philip Roth), essa proposição surge a partir de referências intertextuais fornecidas pelo narrador do texto do autor brasileiro, para estabelecer similitudes e contrastes não só entre as duas obras, como também com os textos de Enrique Vila-Matas e Herman Melville. O narrador de Diário de um Fescenino, ao divagar no metadiscurso sobre o que escrever e qual a qualidade sobre o que se escreve, menciona algumas vezes os personagens Bartleby (Melville) e Nathan Zuckerman (Roth), em suas esquálidas digressões que mostram o anseio da construção de seu Bildunsroman. Essas referências constituem-se no desafio para uma especulação, no que diz respeito às fontes primárias de leitura do autor e nos possíveis atravessamentos decorrentes dessas aproximações. Nesta perspectiva, almeja-se destacar questões retóricas da ficção contemporânea destes autores, que oscilam entre as tentativas frustradas de composição de diários inconseqüentes e livros de memórias permeados por uma tendência ensaísta. A síndrome narrativa pela qual o narrador atravessa situa-se entre a crise da criatividade e da apnéia do fôlego narrativo, resultando quase num “prefiro não fazer” de Bartleby, e a repercussão da matéria narrada à legião de leitores, que repudiam as temáticas e as abordagens do autor, constituindo-se na síndrome de Zuckerman. O respaldo teórico para esta reflexão transita entre o fenômeno da intertextualidade, postulado por Tzvedan Todorov, e dos desdobramentos polifônicos na teoria do romance em Mikhail Bakhtin. PALAVRAS-CHAVE: intertextualidade; bildunsroman; polifonia. Fabio Figueiredo Camargo TITULO: DARCY PENTEADO E SEUS HOMOSSEXUAIS VIRTUOSOS RESUMO: O presente artigo estuda cenas de relações homoeróticas pelo fato de que estas podem dizer muito sobre o seu tempo de produção e da sociedade que engendra as representações dos corpos e de suas formas de relacionarem-se sexualmente. O autor escolhido para este artigo específico é Darcy Penteado. Escritor que participou ativamente dos movimentos gays no Brasil dos anos 1970 e tem uma produção que expressa os desejos e anseios de uma parte excluída da sociedade daquele momento. O autor participou ativamente do Jornal O lampião da esquina, que tem sua primeira edição em 1978 e para em 1981. O jornal foi um importante veículo para a divulgação dos idéias do movimento gay recém-nascido nas paragens brasileiras naquele momento. Os textos selecionados para análise pertencem aos livros A meta, 1976, Crescilda e os espartanos, 1977, e Teoremambo, de 1979, de Darcy Penteado. Nosso artigo centra fogo nas representações dos sujeitos homoeróticos produzidos por essas narrativas, a partir das expressões utilizadas para descrever suas relações sexuais. Toma-se para isso teóricos como Michel Foucault, Beatriz Preciado, Judith Butler, bem como elementos da Teoria da literatura. PALAVRAS-CHAVE: Literatura brasileir; Homoerotismo; Teoria queer. Fabio Mario da Silva TITULO: A PRESENÇA FEMININA NA OBRA MEMORIAL DOS MILAGRES DE CRISTO DE SOROR MARIA DE MESQUITA PIMENTEL RESUMO: Soror Maria de Mesquita Pimentel (1581-1661) é a primeira mulher a escrever e publicar uma epopeia em língua portuguesa. Inicialmente, publicou Memorial da Infância de Cristo e Triunfo do divino Amor em 1639 e deixou no prelo, em manuscritos, o Memorial dos Milagres e Memorial da Paixão de Cristo, obras essas objeto de estudo do meu pós-doutorado pela Universidade de São Paulo. Nosso objetivo neste trabalho é mostrar como e porque é notória a presença de personagens femininas na segunda parte desta trilogia épica, o Memorial dos Milagres, avaliando porque a autora utiliza não apenas personagens bíblicas e históricas, como Maria Madalena e a Virgem Maria, mas também figuras da mitologia greco-romana para melhor compor o seu canto épico. PALAVRAS-CHAVE: personagem feminina; Memorial da Paixão; Soror Maria Pimentel. Fabiola Bastos Notari TITULO: SERGUEI M. EISENSTEIN E SUAS "MEMÓRIAS IMORAIS" RESUMO: Nesta comunicação propõe-se a análise do livro "Memórias Imorais: uma autobiografia" de Serguei M. Eisenstein a partir do estudo das características do gênero autobiográfico e das narrativas de memórias. A essência desta discussão é a subjetividade dos acontecimentos relatados que acabam tomando rumos ficcionais e até mesmo didáticos, pois muitos de seus capítulos apresentam-se em forma de aulas/práticas sobre linguagem, mais especificamente a cinematográfica. A experiência de vida, seja da infância ou de momentos críticos da vida adulta, é o cerne da autobiografia de Eisenstein, é o auge de suas memórias e muitas vezes também de suas produções. PALAVRAS-CHAVE: Serguei Eisenstein; autobiografia; linguagem. Feliciano José Bezerra Filho TITULO: TOM ZÉ E A INVENÇÃO POÉTICA RESUMO: O cantor e compositor Tom Zé destaca-se como representante singular da junção criativa entre música e poesia. Pretende-se aqui mostrar como seu procedimento artístico atende ao critério de invenção ao lidar com os elementos musicais e poéticos na feitura de suas canções. Por meio de uma abordagem sincrônica da atuação de Tom Zé, no momento da Tropicália, e, principalmente, em suas ressonâncias contemporâneas, avaliaremos a linguagem poética, alegórica e experimental deste compositor, enquanto investida para discutir novas posturas diante do fazer artístico, diante do modo de lidar com a prática da canção. A canção como inventário artístico, que, no cruzamento de ideias sonoras e poéticas, aliadas à performance presentificada do corpo, abrem possibilidades estéticas antecipadoras para o cenário cultural brasileiro. O texto, ora proposto, dialoga com o conceito de “cancionista”, desenvolvido pelo compositor e semioticista Luiz Tatit (1995, 2004), também se serve de Haroldo de Campos (1977), em suas proposições de poéticas de vanguarda e poéticas sincrônicas, além de outros autores que sinalizam para a invenção poética como legitimação do fazer artístico. PALAVRAS-CHAVE: Cançao popular; Poéticas; Tom Zé. Felipe Gonçalves Figueira Frederico Chevrand Pagnuzzi dos Santos TITULO: DUAS NARRATIVAS SOBRE LAMPIÃO: A VOZ CRÍTICA E DISSONANTE DE ANTÔNIO FRANCISCO RESUMO: Em junho de 1927, o grupo do cangaceiro Lampião tenta invadir a cidade de Mossoró/RN, sendo rechaçado pela defesa armada dos munícipes organizados pelo prefeito Rodolfo Fernandes. Esse fato histórico tem sido representado desde então largamente pelos artistas, sejam populares ou não. O acontecimento é também objeto de dois cordéis do mossoroense Antônio Francisco (1949 - ). O autor dialoga com a tradição discursiva literária sobre o evento histórico, reinventando sentidos atribuídos habitualmente ao ocorrido em 1927. A partir disso, em um lúdico e inventivo jogo de espelhos, Antônio Francisco constrói sua crítica voraz ao tempo presente, propondo uma nova observação sobre o evento passado como ponto de problematização à atualidade, construindo um discurso dissonante que tanto questiona as interpretações do passado quanto as percepções comuns do tempo presente. Para o desenvolvimento desse trabalho, em um primeiro momento apresento a descrição histórica, conforme normalmente feita pelos registros historiográficos; passo em seguida a uma análise da escrita de Antônio Francisco em dois cordéis: A saga de um prefeito e o bando de Lampião (2011) e O ataque de Mossoró ao bando de Lampião(2006). Para tal feita, busco analisar as narrativas, procurando compreender em que medida elas se constituem como discursos dissonantes em relação à versão oficial dos fatos e em que medida elas também se prestam à construção de uma crítica contundente ao Brasil atual. O trabalho conta com o suporte teórico fornecido pelas concepções da filosofia da linguagem desenvolvidas por Mikhail Bakhtin. PALAVRAS-CHAVE: Dissonância; Antônio Francisco; Cangaço. Felipe Wircker Machado TITULO: AS MUITAS PELES DE CARMEM: NOTAS SOBRE UM PROCESSO DE CRIAÇÃO EM DANÇA RESUMO: O presente trabalho consiste em algumas observações acerca do processo de pesquisa e criação do espetáculo de dança contemporânea Carmem Salvador. Este, por sua vez, consiste em uma (re)leitura da história de Carmem, escrita por Prosper Mérimée na primeira metade do século XIX e relida na célebre ópera de Georges Bizet. A proposta da releitura é criar um espetáculo de dança afro-contemporânea a partir da fusão de elementos da história escrita e publicada, da ópera e de outras releituras para uma versão – ou uma visada – “afro-brasileira” de Carmem¬, sublinhada por questões de gênero, sexualidade e etnicorraciais, porém, sem a preocupação de uma relação hierárquica entre “original” e “cópias”. Para isto, a pesquisa consiste tanto na parte mais técnica e diretamente corporal, na interseção entre técnicas de dança moderna, balé clássico, dança de salão e danças afro (o que abarca também as danças ditas “populares”), quanto no aspecto mais teórico e de busca de referências, visando dar mais consistência ao processo de criação. Este consiste em compreender que a interseção entre técnicas de dança oriundas de sociedades e culturas distintas é também uma interseção (não desprovida de tensões) entre modos distintos de saber e de entender/conhecer/sentir o corpo, o que acaba criando corporeidades outras. Focaremos, em um primeiro momento, na ópera de Bizet e no romance escrito para, em seguida, determo-nos no filme de Carlos Saura e em outros longas do mesmo diretor que se inspiram profundamente na cultura flamenca e sublinham sua marca árabe, explorando esta interseção. Partir deste primeiro movimento consiste em um impulso para se pensar e criar uma versão afrobrasileira de Carmem que não deixe de sublinhar a relação deste “afro-brasileiro” com a fusão árabe-hispânica que é o flamenco e que inspira a história, bem como a questões de gênero, sexualidade e racialidade inerentes a esse processo de criação. PALAVRAS-CHAVE: dança; afro-brasileira; Carmem. Fernanda Alencar Pereira TITULO: EXILADOS NA/PELA PRÓPRIA LÍNGUA RESUMO: “You credentials are excellent, but your accent is crappy.” (Ndibe, 2014, p. 32). Essa afirmação eliminatória é dirigida ao personagem Ike após entrevistas de emprego, no romance Foreign Gods, INC., do escritor nigeriano Okey Ndibe. Após concluir os estudos numa universidade estadunidense, e com pretensões de obter o desejado green card, o sotaque de Ike, a marca identitária de sua origem, não permite que encontre trabalho formal em sua área de formação. A aclamada escritora também nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie comenta, no discurso The Danger of a Single Story (2009), a perplexidade das colegas que conhece ao chegar nos Estados Unidos, ao ouvirem seu domínio da língua inglesa. Adichie precisou explicar que o inglês era a língua oficial de seu país. Herança da colonização, inglês é a língua de expressão de escritores nigerianos mundialmente conhecidos, como Ndibe e Adichie; assim como também o é para escritores de gerações anteriores como Chinua Achebe e Wole Soyinka. Uma diferença importante entre essas gerações de escritores nigerianos é que os “mais velhos” precisaram construir um terreno literário, como legitimação identitária. Essa literatura com sotaque diferente foi recebida das mais diversas maneiras pela crítica antes de ser reconhecida e respeitada. Achebe e Soyinka são escritores que não tinham a língua inglesa como língua materna, e alcançam maestria estética transformando a língua do colonizador para nela caber as especificidades de suas culturas maternas, igbo e iorubá, respectivamente. São escritores “traduzidos” (Casanova, 2002). A geração de Adichie e Ndibe não escreve mais a partir do mesmo lugar de seus predecessores, mas de que modo a crítica os recebe e analisa? Faremos aqui uma leitura na busca de uma compreensão do lugar paratópico ocupado por esses escritores, suas línguas e seus personagens, voltando o olhar para o reconhecimento desse sotaque que “exila”. PALAVRAS-CHAVE: Nigéria; língua; paratopia. Fernanda Aquino Sylvestre TITULO: VICTOR GIUDICE: UM LEITOR DE MAUPASSANT? UMA LEITURA DO FANTÁSTICO EM “O HORLA” E “O VISITANTE” RESUMO: Guy de Maupassant, prolífico escritor do século XVIII, renovador da narrativa curta, dedicou parte de seu trabalho a temas vinculados ao psicológico e ao insólito. Em um de seus contos mais famosos e antologizados, “O Horla”, o autor francês aborda a questão do duplo, da loucura e da manifestação de um ser misterioso denominado Horla, que o perturba, fazendo-o perder o sono e a razão e pensar na possibilidade de ter enlouquecido. Victor Giudice, escritor brasileiro, dedicou-se mais especificamente ao gênero conto entre as décadas de 70 e 90. Muitas de suas narrativas curtas permeiam o insólito, como “O visitante”. Giudice foi funcionário de um banco e seus primeiros contos, por exemplo, “O arquivo”, abordam a burocracia em estilo kafkiano. A leitura dos contos “O Horla” e “O visitante” evidencia o diálogo entre as duas obras literárias, levando-nos a crer que Giudice tenha sido um leitor de seu predecessor francês, Maupassant. Embora Giudice tenha como provável fonte para a escrita de sua narrativa a de Maupassant, os caminhos traçados pelo autor para construir o elemento insólito que figura como mote da narrativa toma rumos diferentes em “O visitante”. Partindo dessas considerações, esse trabalho pretende mostrar as relações intertextuais entre os referidos contos, a forma como o duplo é tratado nas duas narrativas e como se configura o elemento insólito nos contos mencionados. PALAVRAS-CHAVE: Fantástico; Maupassant; Victor Giudice. Fernanda Boarin Boechat TITULO: ENGENHO LITERÁRIO, LITERATURA ENGENDRADA RESUMO: No presente trabalho, tratamos o discurso literário com produto de uma comunidade discursiva. O discursivo aqui é visto como interlocução que se estabelece entre os sujeitos que os conduz a questionamentos. Nesse sentido, entendemos que o discurso literário integra essa comunidade discursiva enquanto voz que se manifesta sobre ela e seus temas; não como algo isolado dessa comunidade, mas como voz ativa de um sujeito integrante de uma comunidade, que fala da mesma e para a mesma. Assim, o discurso literário não se encerra em si mesmo, ele é a chave para o elo com outros universos discursivos; ele é visto como ponte que proporciona àquele que lê a possibilidade de uma visão de mundo mais ampla. A partir desse entendimento – que dialoga com parte da obra do romanista Ottmar Ette, do filósofo Jürgen Habermas e do teórico da literatura Wolfgang Iser –, será observada aqui a relação do narrador personagem Carlos de Mello com a literatura nos romances Menino de engenho, Doidinho e Bangüê, de José Lins do Rego. Compreendemos que a relação de Carlos com a literatura demonstra como o objeto literário pode ser visto como um medium que, ao fazer uso da linguagem natural e dar-se nas dinâmicas da linguagem natural, é capaz de incorporar e incentivar transformações no mundo da vida (Lebenswelt), seja em vista da realidade de ficção, seja em vista da realidade extraliterária. Assim como tal personagem tem, em interface com a produção literária existente, condições de ampliar sua visão de mundo ao longo de sua trajetória nos romances, o leitor situado no mundo extraliterário também tem potencializada sua capacidade de compreender sua realidade através da literatura. Entendemos, por fim, que a literatura ultrapassa a lógica do texto argumentativo, de modo que se corrobora o diálogo dos Estudos Literários com outras áreas do conhecimento. PALAVRAS-CHAVE: Discurso literário; José Lins do Rego; Teoria da Literatura. Fernanda Müller TITULO: A FICÇÃO CIENTÍFICA E A FORMAÇÃO DO LEITOR DE LITERATURA RESUMO: Qual o lugar da literatura na sala de aula hoje? Que práticas são significativas no processo de formação de leitores críticos e engajados, capazes de ler não apenas um livro, mas também o mundo, como preconizado por Paulo Freire? Buscando oferecer alternativas, este trabalho parte de uma análise histórica da escolarização da literatura para apresentar e problematizar uma atividade desenvolvida com alunos da Educação Básica. Influenciada fortemente por concepções greco-latinas, no Brasil a literatura foi primeiramente estudada sob a forma de poética. Nos primeiros séculos estava inserida nos estudos de retórica e somente em 1838 receberia estatuto de componente curricular autônomo. Norma e estilo seguiriam separados, como evidenciam os manuais publicados por volta da metade do século XX: gramáticas ou coletâneas de autores clássicos. Certo ranço dessa visão fragmentária persiste ainda hoje, mesmo após as tentativas de conceber a gramática a partir do texto, nas décadas de 1950 e 1960, e de pensar o ensino a partir de gêneros do discurso, atentando ao postulado por Mikhail Bakhtin, na contemporaneidade. Acresçamos, finalmente, a depreciação da carreira docente que marcou as últimas décadas, período em que, não por acaso, testemunhamos a ascensão das políticas de universalização do livro didático nas redes públicas de ensino a par e passo com as apostilas nas redes privadas. Resulta daí a prevalência no Brasil do trabalho com livros didatizantes em que, não raro, prioriza-se a periodização literária e a reprodução de trechos de obras canônicas em que a literatura é mero pretexto para o ensino de gramática. Em uma atitude de resistência diante do quadro, ofereço uma proposta de ensino de literatura desenvolvida em parceria com 85 alunos da rede federal de ensino de Florianópolis. Visando integrar saberes de uma geração que, a depender de aspectos socioeconômicos, nasceu conectada ou excluída digitalmente, realizamos a leitura das obras Jogos vorazes [Suzanne Collins, Hunger games, 2008] e 1984 [Georg Orwell, 1948], aprofundando a concepção de ficção científica, indústria cultural e mídia, chaves de leitura de outras sagas juvenis e, a bem dizer, de nosso tempo. PALAVRAS-CHAVE: Ficção científica; Literatura juvenil; Ensino de Literatura. Fernanda Maria Abreu Coutinho TITULO: ALICE, ALICES: A SEDUÇÃO DE TRADUZIR O ENIGMA RESUMO: A importância da literatura infanto-juvenil, como base para a formação de um público-leitor adulto, consciente do papel estético e humanizador da escrita literária, vem sendo assinalada de maneira cada vez mais afirmativa, com a chegada do século XXI. Assim é que se tornou imprescindível a existência de uma Teoria da Literatura Infantil para respaldar a compreensão do texto em seus vários ângulos, inclusive, do ponto de vista da recepção, recepção que se expande até ao movimento migratório das obras literárias, chanceladas pela tradução. O ano de 2015 marca os 150 anos de publicação de Alice no país das maravilhas, obra escrita por Lewis Carroll (1832-1898), e livro tutelar do texto para crianças, e que ainda hoje desafia seus leitores, particularmente, os adultos, em função principalmente da utilização do nonsense como recurso de composição. A proposta da presente comunicação é verificar de que maneira as traduções brasileiras de Alice no país das maravilhas, efetuadas por Nicolau Svecenko, Ana Maria Machado e Maria Luiza Borges, deixam entrever de foma mais ou menos explícita o aparato escritural representado pelos comentários, tanto no âmbito textual quanto no espaço paratextual. Com apoio nas contribuições teóricas de BERMAN (2002, 2013) e de GENETTE (2009) será buscado o tônus autoral de cada exercício tradutório e as significações para a amplificação da leitura das aventuras dessa personagem ricamente sedutora. PALAVRAS-CHAVE: Alice; tradução; comentário. Fernanda Valim Côrtes Miguel TITULO: INVESTIGAÇÕES LITERÁRIAS CONTEMPORÂNEAS A PARTIR DA ATITUDE TERAPÊUTICA DE LUDWIG WITTGENSTEIN RESUMO: Nesta comunicação apresentaremos o potencial criador e transgressivo da terapia de dispersão espectral – tal como a temos denominado e praticado no campo dos estudos literários contemporâneos – que toma como referência a atitude terapêutica realizada por Wittgenstein, sobretudo nas Investigações Filosóficas. A terapia à qual Wittgenstein submete o discurso filosófico – ainda que a sobre-determinação semântica da palavra “terapia” não se refira, neste caso, propriamente a uma acepção psicológica ou psicanalítica – vem sendo por nós ressignificada. Uma terapia de dispersão espectral de um problema ou tema em consideração parte dos efeitos de sentido suscitados em atos de leitura de um texto de partida, no qual tal problema ou tema se encontra literariamente configurado, sobre o corpo de um leitor-terapeuta interessado em investigar tais efeitos, percorrendo seus rastros de significação dispersos em outros arquivos culturais nos quais o problema investigado apareça reencenado em jogos de linguagem transcorridos em diferentes formas de vida. A terapia descreve e investiga semelhanças de família entre jogos de linguagem que encenam o problema de diferentes maneiras, transgredindo a noção comparativista que usualmente se reconhece em determinadas escritas literárias. A terapia propõe a descompactação do ato narrativo de partida e investiga os rastros desses efeitos em diferentes jogos de linguagem, não com o intuito de explicar o texto literário e seus efeitos, nem o de propor uma outra interpretação para ele. A primazia do corpo que participa das práticas culturais, em diferentes formas de vida, é aqui também explorada para se pensar o ato de ler e de escrever. Procuramos destacar, por fim, o papel vital que a literatura desempenha, a partir desta perspectiva, como um movimento do leitor, desconstruindo hierarquias e privilégios de sentido a que estão submetidas as práticas culturais e os valores ético-estéticos atribuídos aos produtos das culturas. PALAVRAS-CHAVE: Atitude terapêutica; Literatura; Wittgenstein. Fernando Alves da Silva Júnior TITULO: POÉTICAS DA FLORESTA: A PERFORMANCE NO CANTO XAMÂNICO RESUMO: Quem é o xamã senão aquele que consegue ver? A afirmativa de Viveiros de Castro pode nos deslocar para a compreensão do pajé indígena enquanto sujeito que intercambia seu modo de perceber o mundo, sendo que existe apenas um, o humano. Nesse sentido, Viveiros de Castro explica duas categorias ontológicas do pensamento ameríndio, o humano e o não-humano. O primeiro é o ser que se coloca na posição de sujeito, e o segundo, a entidade cósmica posta em condição de objeto. Não obstante, entre essas duas categorias está o xamã, figura do entremeio que propicia a comunicação dos mundos disjuntos que povoam o cosmos (CARNEIRO DA CUNHA). Tendo em vista esse deslocamento de perspectivas, nos propomos discutir o lugar da performance do xamã nesse cenário comunicacional, tendo por base a obra “Quando a Terra deixou de falar”, de Cesarino, flertando, desse modo, com a etnopoesia no canto xamânico dos marubo. Nesse viés, os espíritos também compreendem a diferença dos códigos linguísticos e “traduzem seus cantos e falas para a yarã vana (“a nossa fala”), já que suas línguas são tão diversas quanto são os seus povos” (CESARINO). Na ausência de tradução impera a não-comunicação, o que leva Cesarino a afirmar que o xamanismo, para os marubo, é “uma teoria da tradução”. O xamã reaparece como um poeta, pois a ele é dado a função de criar (ou recriar), por meio da performance, um ambiente místico e ao mesmo tempo poético, pois o meio linguístico depende da canção e da evocação (ROTHENBERG). A performance, nos lembra Zumthor, além de ser uma realização poética na qual se coadunam gestos e sons, se insere em um contexto circunstancial de enunciação que remete o ouvinte a uma situação de escuta particular. Assim, é por meio da performance que o xamã agencia pontos de vistas. Palavras-chave: Perspectivismo Ameríndio. PALAVRAS-CHAVE: Canto xamânico; Etnopoesia; Performance. Fernando Antônio Dusi Rocha TITULO: O AFOGADO E O RENDIDO: ÍNDICES DE SACRALIZAÇÃO DA EXPERIÊNCIA HUMANA NOS NOTURNOS DE CECÍLIA MEIRELES E NA NOITE DE SÃO JOÃO DA CRUZ RESUMO: A presente comunicação tem por objeto revelar o anseio metafísico do sagrado, investigando-se os traços da metamorfose do homem interior na escrita de Cecília Meireles — insinuada no último poema dos Doze Noturnos da Holanda —, em contraste com percurso abismal da alma no registro poético de São João da Cruz — notabilizado pelas duas primeiras estrofes da Noite Escura. Busca-se avistar, nos territórios sempre robustecidos do sagrado, entrelaçamentos rizomáticos das duas escrituras poéticas, especialmente a partir da episódica assimilação da figura ceciliana do afogado pelo processo de clarificação do devir na noite joanina e pela incômoda tarefa na qual a vida do homem é obscurecida por Deus. Quer-se mostrar que essas aproximações, quando permitem ao eulírico aprofundar-se num discurso de desejo de vida ou de morte, fazem aflorar o díptico espiritualidade-religiosidade do texto literário — o qual, numa relação intrincada, propõe e complexifica as demandas do sagrado contra a indiferença do mundo. PALAVRAS-CHAVE: Espiritualidade; S João da Cruz; Cecília Meireles. Fernando Antônio Dusi Rocha TITULO: O CORTEJO DO CORPO ETERNAL: ÍNDICES DE DESSACRALIZAÇÃO DA MORTE EM "MARCHA FÚNEBRE", DE OSMAN LINS RESUMO: A presente comunicação tem por objetivo apurar alguns indicadores de presença do sagrado que conturbam a noção do corpo belo e incorruptível, apregoada num dos Casos Especiais escritos por Osman para a televisão, intitulado Marcha Fúnebre. Pretende-se perquirir, na análise da telenarrativa osmaniana, a reexpressão do eterno rogo da brevidade da vida numa sociedade futurista e investigar — num apelo redimensionado do memento mori — a indiferença diante salvação ou da expiação da alma. Busca-se avistar, tanto nas afluências tributárias medievais como nos fluxos contemporâneos evidenciados no teledrama, a pontualização de valores sacros e profanos, tendo como pedra angular a recusa da morte diante da corrupção da beleza humana, de forma a revelar o que Osman — desbravadoramente — sugere e prognostica : o desencanto do mundo diante do excesso de dessacralização. Quer-se, em perímetros não extremosos, inquirir a (in)adequação contemporânea de uma morte sem corpo e de um corpo sem morte, projetados no écran da banalização do corpo vilipendiado. Por fim, mediante a tentativa de desenhar alguns desses índices, tenciona-se mostrar como o sagrado, no seu elastíssimo campo de influência, permite uma mistura desordenada de atitudes e de posições diante da morte que se revelam incapazes de serem harmonizadas. PALAVRAS-CHAVE: espiritualidade; escrita osmaniana; dessacralização. Fernando de Sousa Rocha TITULO: MACHADO E OS LEGADOS DO CORPO AFRO-BRASILEIRO RESUMO: Talvez uma das frases mais conhecidas de Machado de Assis seja a que aparece ao final de Brás Cubas, quando o narrador em primeira pessoa, o próprio Brás Cubas, afirma: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”. Esta “derradeira negativa” constitui, aos olhos do narradorpersonagem, “um pequeno saldo”, ou seja, uma diferença—negativa ou positiva, quem sabe—mas uma diferença que vem negar, ao menos em parte, a sucessão de negativas que pareceria levar o narrador-personagem a um aniquilamento completo, a um desaparecimento que não deixaria traço de si nem para si mesmo nem para os demais. No entanto, esta diferença, o saldo, vem a constituir um possível legado, transmissível, ainda que seja o legado do reconhecimento consciente da impossibilidade e recusa de se deixar um outro legado, aquele que se inscreve no corpo da prole. Levando-se em consideração os recentes reenquadramentos de Machado de Assis como escritor afro-descendente—tais como a antologia de Eduardo de Assis Duarte e o estudo de G. Reginald Daniel— como poderíamos ler a questão do legado, inscrito nos textos de Machado de Assis, para a literatura e a cultura afro-brasileiras? É esta questão que abordarei na minha comunicação, partindo justamente deste conceito do “saldo” como uma tentativa de se negociar a negatividade que, social e historicamente, tende a circunscrever as experiências afro-brasileiras. É justamente esta tentativa de negociação—última contradição perante a derradeira negativa—que constitui o legado que Machado de Assis deixa aos afro-descendentes. Entretanto, como mencionei anteriormente, este legado do saldo só pode ser compreendido em toda sua amplitude se lido lado a lado a um outro legado, aquele que se nega inscrever no corpo afro-brasileiro. A meu ver, tal legado é formulado exemplarmente numa outra última frase, desta feita encerrando o conto “Pai contra mãe”. PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; afro-descendente; legado. Fernando José Ivo da Silva TITULO: POESIA EM TEMPOS DE TWITTER E CONTEMPORANEIDADE: UMA ANÁLISE A PARTIR DA OBRA DE FABRÍCIO CARPINEJAR RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo investigar a utilização da ferramenta “twitter” do ambiente virtual, típica das tecnologias da informação e da comunicação, característicos da sociedade contemporânea, na produção e divulgação de textos literários, em especial o texto poético. A partir da obra de Fabrício Carpinejar, poeta, cotejando sua produção virtual do twitter e as publicações em livro, o trabalho abordará a relação entre a denominada Twitteratura e as obras em livro impresso, meios através dos quais Carpinejar publica seus textos. A questão do contemporâneo, segundo AGAMBEN, será discutida a partir das poesias ou “tweets“ do poeta gaúcho, avaliando a própria dinâmica da evolução literária ao longo do tempo e sua veiculação no “microbloging“ com seus possíveis reflexos na estrutura poética, tais como a fugacidade das publicações, o caráter aforístico e diminuto dos poemas e a relação direta e mais próxima com o leitor, visto que, no ambiente do Twitter, além do poeta, o próprio leitor pode “retuitar“ as postagens, servindo, assim, de agente divulgador dos textos, aspectos contemporâneos das relações entre autor e leitores nas redes sociais. PALAVRAS-CHAVE: Twitter; Twitteratura; Contemporaneidade. Fernando Pimentel Canto TITULO: LITERATURA DAS PEDRAS: A FORTALEZA DE SÃO JOSÉ DE MACAPÁ COMO LÓCUS DO IMAGINÁRIO E DAS IDENTIDADES AMAPAENSES RESUMO: Os textos literários de escritores amapaenses relacionados à Fortaleza de São José de Macapá – FSJM (1764-1782) trazem um quadro de reconstrução memorial sobre o lugar, após a instalação do primeiro governo do Território Federal do Amapá (1943), quando a capital (Macapá) começava a mudar sua feição de cidade imersa num tempo lento à margem esquerda do rio Amazonas. A FSJM foi restaurada e tombada como Patrimônio Histórico (1950), e desde essa época foi utilizada para atividades governamentais. Considerada a maior fortificação do período colonial do Brasil, hoje é ícone da cidade e museu. Sua imagem foi apropriada por instituições sociais e políticas, por meio de brasões, bandeiras, logotipos e campanhas midiáticas, além de ser referência polissêmica de linguagens artísticas que expressam a memória individual e coletiva do povo de Macapá (CANTO, 2013). Os escritores traduzem em seus textos o sentimento de pertencimento e os valores dos grupos sociais que acompanharam o processo de urbanização de Macapá e o desenvolvimento do Território Federal até a contemporaneidade (1943-2014). Nesse contexto objetiva-se analisar a questão das identidades, buscando uma dimensão dialógica através de três temporalidades: discurso fundador, período ditatorial e produções ficcionais contemporâneas. Entender o conceito de memória e de identidade, expressos pela literatura; como os escritores se posicionam sobre o lugar e por que eles reconstroem pontos de vista enquanto testemunhas do seu tempo, é tarefa sociológica a ser realizada com acuidade dentro das dimensões dialógicas aqui situadas. A observação do escritor, na realidade, é a memória do grupo. E esta a do escritor (HALBWACHS, 2009). E quando ele compartilha sua produção com a memória do grupo, dá a esse grupo uma identidade. Através dessa literatura tenta-se observar o processo que se edifica pelas mãos que escrevem, assim como pedras sobre pedras na construção das identidades amapaenses. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Fortaleza de Macapá; Identidades. Filipe Bitencourt Manzoni TITULO: E COMO NADA VEM DO NADA, DO NADA VEM TAMBÉM O CORPO: UMA RELEITURA DA POESIA DE CAIO MEIRA A PARTIR DE “FENOMENOLOGIA PARA A EREÇÃO” RESUMO: Nosso trabalho se propõe a uma releitura da presença do corpo na poesia recente de Caio Meira, tomado, especificamente, enquanto instância possível de subversão de um paradigma moderno de afirmatividade/negatividade. Se é possível dizer que a recorrência da corporalidade na poesia de Caio - mapeável desde seu livro de estreia No oco da mão (1993), mas cada vez mais enfática em Corpo solo (1998) e Coisas que o primeiro cachorro na rua pode dizer (2003) - apontava para uma identidade material entre corpo e cidade, cabe ressaltar que em “Fenomenologia para a ereção”, bloco final de seu mais recente livro, Romance (2013), o corpo nos possibilita um novo viés de leitura enquanto cinismo característico de uma centralidade vazia que não se esgota na face “negativa, nostálgica, culpada” nem na “afirmação alegre do jogo do mundo”, tal qual a dupla possibilidade apontada pelos estudos derridianos. Nos oito poemas que compõem “Fenomenologia para a ereção” o corpo aparece, assim, lido a partir de uma ereção sem desejo, enquanto materialidade vital e pulsante, íntima ainda que estranha, que não se orienta a nenhum fim, e se mantém em suspensão no jogo duplo entre o estranhamento de si mesmo e o vitalismo. Interessa-nos, nesse sentido, ler, no bloco final de Romance, não uma guinada radical, mas sim a consolidação de uma imagem para um movimento cínico de suspensão da afirmatividade/negatividade que pode ser flagrado, retrospectivamente, em diversos momentos da produção poética de Caio Meira. PALAVRAS-CHAVE: Poesia contemporânea; Poesia e Corpo; Caio Meira. Flávia Cristina Aparecida Silva TITULO: A LOUCURA EM “O ALIENISTA” E NA “ENFERMARIA Nº 6” RESUMO: Apresentaremos uma aproximação entre “O Alienista” (1882) de Machado de Assis e a “Enfermaria nº 6” (1892) de Tchekhov, talvez um dos casos mais impressionantes de similaridade entre temas da literatura mundial. Mais espantoso ainda quando lembramos que esta é uma comparação entre obras sem influência direta, porque é praticamente impossível que Tchekhov tenha lido Machado de Assis e o contrário é pouco provável. A loucura e os avanços da Medicina tornaram-se pauta do dia de quase todas as grandes cidades do mundo entre os séculos XVII e XIX. A doença mental, que sempre figurou nos textos literários – Shakespeare, Cervantes, Erasmo de Rotterdam – tornou-se tema frequente de autores que estavam dispostos a apresentá-la como patologia e demonstrar como ela era concebida pela sociedade da época, expondo qual era o lugar do louco naquele mundo em transição e o papel da psiquiatria naquele cenário de descobertas científicas. É nesse contexto que surgem “O Alienista” e a “Enfermaria nº 6”. Trataremos da abordagem da loucura feita pelo dois autores, assunto que ganhava, naquele momento, novas interpretações devido aos avanços científicos, que alteraram definitivamente a relação do homem consigo mesmo e com os outros. Buscaremos entender sobretudo a construção da loucura como identidade social. PALAVRAS-CHAVE: loucura; Machado de Assis; Tchekhov. Flavia Alexandra Pereira Pinto TITULO: ESPAÇOS DA MEMÓRIA: PERSPECTIVAS DA MEMÓRIA E DA PAISAGEM NOS ROMANCES DE JOSÉ SARAMAGO RESUMO: Esta pesquisa parte da análise da produção literária do escritor português José Saramago e as possíveis relações que se estabelecem com as teorias da percepção da paisagem e com o debate contemporâneo sobre memória. Tem-se como proposta de investigação as representações da memória e da paisagem nos romances de José Saramago, a partir das relações estabelecidas nos espaços, sejam eles geográficos ou simbólicos, e experienciadas pelos personagens centrais nos romances A Jangada de Pedra (1986) e A Viagem do Elefante (2008). A análise comparativa dos romances, de base interdisciplinar, é sustentada pelo aporte teórico e epistemológico relacionado à Geografia humanista cultural, com destaque para Eric Dardel (2011) e Yi-fu Tuan (2003). No tocante à memória, as reflexões de Maurice Halbwachs (2004), Michael Pollak (1992) e Paul Ricoeur (2007) também fundamentam este estudo em associação à leitura analítica do corpus literário. Nesta proposta, a memória não pode ser entendida apenas como um ato de busca de informações do passado, tendo em vista a sua reconstituição. Ela deve ser entendida como um processo dinâmico da própria rememorização. Assim, ficção, história e memória nestes romances se relacionam a partir da memória enquanto estratégia narrativa, que recupera o passado, problematizando-o através da ficção. PALAVRAS-CHAVE: Memória; José Saramago; Paisagem. Francílio Benício Santos de Moraes Trindade TITULO: MEMÓRIA DA CAPOEIRA: A RECONSTRUÇÃO DA ALMA AFROBRASILEIRA RESUMO: Memória da capoeira: a reconstrução da alma afro-brasileira Prof.º Ms. Francílio Benício Santos de Moraes Trindade - IFMA RESUMO: Neste trabalho, faz-se uma análise da poesia feita nas rodas de capoeira e estabelece relações identitárias com a cultura popular, assim como também com a poesia afro-brasileira contemporânea no processo de construção da memória, da alma do povo afro-brasileiro, da reterritorialização e da própria cultura afrodescendente, recriadas pelo Griot, poeta capoeirista, a fim de que seja reconstruída também a memória da poesia da capoeira, de acordo com temática abordada em cada poesia, sobretudo, do ponto de vista estético, social e cultural, revelando, assim, seus valores e costumes que contribuíram para própria história de resistência cultural, ocorrida no continente americano, brasileiro. Para isso, há de se recorrer algumas leituras de alguns autores como Aleida Assmann, Stuart Hall, Élio Ferreira, Édouard Glissant, Franz Fanon, Jair Moura. Carlos Eugênio Líbano Soares, Frede Abreu, Cloves Moura, Roland Walter, Paul Gilroy entre outros que contribuíram em revistas, periódico, cd, DVD, documentários entre outras mídias. PALAVRAS-CHAVE: Capoeira e Memória; Afro-brasileira; Literatura. Francisca Luciana Sousa da Silva TITULO: DE EXÍLIO EM EXÍLIO: UM DIÁLOGO ENTRE EURÍPIDES E CLARA DE GÓES NA PEÇA MEDEA EN PROMENADE RESUMO: A presente comunicação traz uma breve análise do texto de Clara de Góes, Medea en Promenade (2012), a partir da tragédia homônima de Eurípedes, Medeia, (431 a.C.). O texto de chegada narra o encontro de Glauce, (Jovem), Medeia (Mulher) e a ama de Medeia (Velha), três mulheres “em uma espécie de deserto fora do tempo e do espaço”, nas palavras da autora. Pontuando a fala dessas mulheres, ouvimos a voz do Corifeu, quase sempre à penumbra. Propomos, assim, uma reflexão crítica, voltando nosso olhar para as protagonistas dessas poéticas, cujas falas são marcadas por questionamentos: “Qual meu lugar no exílio? Seria o exílio meu lugar?” Tais perguntas reforçam uma antiga reivindicação das mulheres, não só de Atenas, mas de muitos outros lugares, especialmente as estrangeiras. Foi buscando entender essas margens e o porquê de tantas travessias, muitas delas forçadas, que elegemos o tema do exílio, haja vista constituir objeto de interesse não só dos Estudos Clássicos, mas também dos Estudos Culturais, por exemplo. Nosso intuito é mostrar como ocorre o que ora chamamos “diálogo” entre Eurípides e Clara de Góes, numa perspectiva comparada, buscando imprimir outra leitura para o mito de Medeia, paralela ou além da metáfora, especialmente voltada para os constantes deslocamentos da heroína. Dentre os autores que fundamentam nossa pesquisa, destacamos: Forsdyke (2005), Gaertner (2007), Agamben (2009), Vernant (2009) e Vidal-Naquet (2002). E ainda: Queiroz (1998), num vigoroso estudo sobre literatura do exílio; Jasinski (2012), que trata da condição de estrangeiro e sua associação à literatura e exílio; e Spivak (2014), que discorre sobre o sujeito subalterno, em particular a mulher subalterna. Como aporte teórico do teatro – da tragédia grega à cena contemporânea (ou do mito universal ao drama particular) –, Lesky (2010), Rommily (2013), Hubert (2013) e Pavis (2008). PALAVRAS-CHAVE: Drama; Exílio; Medeia. Francisco Alves Gomes TITULO: POR UMA HISTORIOGRAFIA DO TEATRO RORAIMENSE RESUMO: As manifestações culturais em Roraima apresentam uma raiz de ramificações e tons que aparentemente sempre mostraram-se preocupadas com a afirmação de uma identidade cultural localmente referenciada. No campo da música e do texto literário poetas tais como Eliakin Rufino, Walber Aguiar e Neuber Uchoa propuseram temas na escritura literária relacionados à cor local, contribuindo de forma imediata com a exteriorização dos aspectos culturais através do movimento conhecido como Roraimeira. No que tange o teatro, a questão assume proporções complexas, devido uma série de fatores que dizem respeito não só ao apelo de uma identidade cultural demarcada, mas ao processo de construção das propostas que são gestadas pelos grupos teatrais, e que nem sempre estão ligadas diretamente, ao compromisso de panfletear a importância dos signos locais/regionais, ocorrendo muitas vezes um profícuo processo de subversão dos valores ditos regionais pelos universais. Neste sentido, nossa comunicação apresentará aspectos do teatro produzido em Roraima, tendo como ponto de partida a atuação das seguintes companhias teatrais: Cia Arteatro e Cia do Lavrado, dois grupos ativos no cenário local. O primeiro atuante desde o ano de 1993 e o segundo surgido no ano de 2005. Ao possuírem dramaturgias específicas, ambos os grupos evidenciam em suas produções, discussões fundamentais para a sistematização de uma historiografia do teatro local, assim, urge a necessidade de criação de redes de pensamento sobre o teatro localmente referenciado, haja vista que não há estudos voltados para essa dimensão cultural do Estado de Roraima. PALAVRAS-CHAVE: Teatro; Historiografia; Roraima. Francisco Antonio Ferreira Tito Damazo TITULO: A METAPOESIA EM JOÃO CABRAL DE MELO NETO E EM PAULO HENRIQUES BRITO RESUMO: A metalinguagem como um procedimento na criação poética não é de agora. Todavia, a atenção voltada para ela, sobretudo para a percepção do poeta cujo exercício crítico se faz por meio de sua própria produção poética, passou a ter maior relevância e sistematização na modernidade. O poema pondo em questão a própria poesia ganha essa dimensão e amplitude principalmente a partir de poetas como Poe, Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé e Paul Valéry. No Brasil, serão os modernistas quem tornarão esse fazer poemático um procedimento recorrente. Mas ganhará destaque, em meio a dos demais, a poética de João Cabral de Melo Neto. Na obra deste poeta, a metapoesia tornarse-á a dominante. Diria mesmo que, como uma certa obsessão, assim se instaura claramente a partir de A Psicologia da Composição, Fábula de Anfion e Antiode (1947). E de tal modo que A Educação pela Pedra (1966), sua obra-prima, é um quase puro suceder-se de metapoemas. Esse procedimento metapoético se estenderá praticamente como algo natural na poesia das gerações subsequentes. Na contemporaneidade, desde os anos 1980, chama à atenção a poesia de Paulo Henriques Brito. E nela, a recorrência ao metapoema especialmente é uma constante de livro a livro, desde o primeiro, Liturgia da Matéria (1982), até, por enquanto o mais recente, Formas do Nada (2012). Este trabalho procurará demonstrar como cada um desses poetas desenvolve sua concepção de poesia justamente utilizando-se da construção do poema. Procurar-se-á observar em que medida seus fazeres poético-críticos se aproximam e se distanciam. PALAVRAS-CHAVE: Metapoesia; João Cabral; Paulo H. Brito. Francisco dos Santos Nogueira TITULO: A TRANSA AMAZÔNICA E SUA MARGINALIZAÇÃO SEGUNDO ALBERTO RANGEL RESUMO: A marginalidade na qual estou propondo segundo Alberto Rangel, sobre um olhar mais amazônidas perpassando por uma falsa ideologia ,que nossa a Amazônia reflete um ar mundialmente vista como o pulmão do mundo. Segundo Rangel o sentimento do animismo florestal esta sendo deteriorado por quem deveria protege-la. dessa forma a floresta amazônica, tornar-se uma verdadeira transa, mais no contexto transação irregular, bandida e assassina. dentro do contexto irregular de uma amazônia que fora tão literária quantos seus agressores.da amazônia do látex, da amazônia que oferecera o sustento ao cabloco, hoje marginalizada pelos seus senhores caboclos,índios e ribeirinhos. PALAVRAS-CHAVE: floresta; amazônia; transação. Francisco Ewerton Almeida dos Santos TÍTULO: CINEMA, LITERATURA E RESISTÊNCIA EM ANGOLA: DA ESTÓRIA “ O FATO COMPLETO DE LUCAS MATESSO” (1962), DE LUANDINO VIEIRA AO FILME “MONANGAMBÉ” (1968), DE SARAH MALDOROR RESUMO: O escritor José Luandino Vieira (Angola, 1935), e a cineasta Sarah Maldoror (França, 1938) têm sua vida e sua arte marcadas pela resistência anticolonial angolana. Este trabalho situa-se no diálogo entre suas linguagens criativas, na ocasião em que Maldoror filma a estória “O fato completo de Lucas Matesso”, pertencente ao livro Vidas Novas (1962) de Luandino Vieira, resultando no curta-metragem “Monangambé” (1968, 35 mm, pb, 17 mn.). Compreendendo que, tanto no texto literário quanto no fílmico, há em comum “o diálogo íntimo, do sujeito angolano silenciado, cuja história é contada numa perspectiva alternativa e contestatária do colonizador opressor.” (ANTÔNIO; PIÇARRA. 2014), buscaremos, neste trabalho, interrogar os procedimentos estéticos de que lança mão a cineasta para traduzir em imagens a escrita militante de Luandino, produzindo assim, um filme que, tal como o conto, contesta o momento social em que se insere e testa os limites das linguagens artísticas tal como é testado o corpo torturado do prisioneiro/protagonista das narrativas. Arte e militância, ficção e documento, história e memória, mesclam-se e alternam-se em ambas as obras, em ambas as linguagens. PALAVRAS-CHAVE: José Luandino Vieira; Sara Maldoror; cinema e literatura Francisco Humberlan Arruda de Oliveira TITULO: LIMA BARRETO: UM INTELECTUAL NÔMADE E DISSONANTE RESUMO: Estes apontamentos constituem um desdobramento sobre o intelectual Lima Barreto – anteriormente trabalhado em pesquisa de mestrado – na perspectiva da sua literatura e figura constituírem uma voz dissonante e nômade tanto na República Velha, como na literatura dos anos iniciais do século XX. Lima Barreto, tradicionalmente, é visto como uma voz dos marginalizados, que lutou, por meio da escrita, em defesa dos negros, dos pobres suburbanos e defendia uma sociedade mais justa. Porém, até que ponto isto é válido? Lima, de fato, foi essa voz ativa na escrita, entretanto, não é possível defini-lo como um intelectual suburbano ou tradicional, mas sim que foi um escritor nômade que transitou entre estes dois mundos, porém sem se encontrar completamente em nenhum deles. A sua arte era idealizada e pregava a comunhão dos homens, portanto, as suas críticas à República Velha, a defesa do negro marginalizado, o desejo de participar da elite republicana, o gosto, e ao mesmo tempo a repulsa pelo subúrbio, são manifestações daquilo com o que o escritor estava engajado: com sua arte, em que era preciso não se prender, exclusivamente, em algum grupo social, mas transitar entre eles, favorecendo, assim de forma utópica, a união dos homens, a quebra dos preconceitos e a paz por meio da arte. Procuraremos demonstrar em nosso trabalho - por meio de reflexões que podem ser dissonantes - que Lima Barreto não fora um intelectual porta-voz de grupos sociais, mas, sim, um nômade dissonante em vida e obra. PALAVRAS-CHAVE: Dissonante; Lima Barreto; Nômade. Francisco José Saraiva Degani TITULO: AS TRADUÇÕES DAS "NOVELLE PER UN ANNO", DE LUIGI PIRANDELLO NO BRASIL RESUMO: Em 1922, Luigi Pirandello começou a organizar sua produção novelística num Projeto que recebeu o nome de "Novelle per un anno". Dramaturgo já consagrado, até aquela data Pirandello, enquanto novelista, não tivera nenhuma de suas novelas publicadas no Brasil. A primeira publicação conhecida irá acontecer em 1925 com a coletânea "Novellas escolhidas", traduzidas por Francisco Prati, para a Editora A. Tisi & Cia. Esta publicação, provavelmente, foi devida à vinda do autor ao Brasil com sua companhia de teatro, no mesmo ano. Depois disso, outras traduções só seriam publicadas por volta dos anos 1960. Autor de mais de 240 novelas, Pirandello não teve toda sua obra novelística publicada no Brasil. Esta comunicação pretende verificar como está distribuída a tradução da novelística pirandelliana no Brasil, e tentar traçar um painel da postura dos editores diante da vasta produção novelística do autor. PALAVRAS-CHAVE: Pirandello; Novelas; Narrativa italiana. Franco Baptista Sandanello TITULO: POR UMA SISTEMATIZAÇÃO DO IMPRESSIONISMO LITERÁRIO NO BRASIL RESUMO: Se, por um lado, o impressionismo na literatura brasileira não constituiu escola literária, por outro, muitos de nossos escritores – dentre outros, Raul Pompéia e Domício da Gama, no século XIX; Adelino Magalhães e Orígenes Lessa, no século XX; e Menalton Braff, no século XXI – produziram diversas obras em que os elementos de uma escrita impressionista estão presentes e constituem importante chave de leitura. De fato, pouco se discute o valor histórico da prosa impressionista no desenvolvimento da literatura moderna, sendo os dados literários específicos desta forma ficcional analisados por vezes como mera repetição de avanços técnicos da pintura. Neste sentido, pretende-se aprofundar, conceituar e sistematizar, por meio desta comunicação, o veio impressionista da literatura nacional, observando-se o conteúdo e a significação específica da obra dos escritores elencados face ao diálogo problematizador com o Impressionismo pictórico e a "atomização do mundo" (Kronegger; Matz) por ele representada, comum à obra de pintores como Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir, Alfred Sisley, Berthe Morisot, dentre outros. PALAVRAS-CHAVE: Impressionismo; Literatura; Pintura. Frans Weiser TITULO: POBREZA POR SUBTRA?ÃO: A FESTA DE IVAN ÂNGELO RESUMO: Em “Nacional por subtra?ão” (1987), Roberto Schwarz analisa como a imitação de modelos culturais estrangeiros no Brasil e sua subsequente (re)avaliação têm representado tentativas de teorizar a identidade nacional durante o século XX. A noção de subtra?ão de Schwarz se refere ao papel que os grupos marginais têm tido no discurso dominante, haja vista que este frequentemente tolhe a participação daqueles. Seguindo o argumento de Schwarz de que a exclusão do subalterno tem sido um aspecto fundador na teorização da cultura brasileira por parte dos críticos literários, este ensaio sustenta que A festa (1976) de Ivan Ângelo, escrito uma década antes da publicação do artigo de Schwarz, pode ser lido como uma crítica antecedente desses processos excludentes caracterizados pelo teórico, por sua vez exemplificando o que poderia ser denominado de “literatura da pobreza por subtração.” O romance, que destaca tanto a opressão militar em Belo Horizonte contra os retirantes da seca no nordeste do Brasil como o isolamento social da elite diante da grave realidade nacional, utiliza estrategicamente a eliminação do discurso da pobreza para interrogar de que maneira a inclusão social é analisada e discutida em foros públicos. Ângelo propositadamente chama aten?ão à exclusão das vozes marginais (uma exclusão que o romance mesmo reproduz de modo irônico), questionando no processo a interse?ão entre engajamento social e história literária. PALAVRAS-CHAVE: Ivan Ângelo; Roberto Schwarz; Pobreza. Frederico de Lima Silva Hermano de França Rodrigues TITULO: RÉQUIEM: O ESPETÁCULO DA DOR RESUMO: É notório o fato de estarmos vivenciando, em nossa contemporaneidade, um culto ao sofrimento. Tal fato resulta, quiçá, de um processo de subjetivação característico da pós-modernidade, marcado por excessos narcísicos, cujos sintomas mais expressivos são o desamparo e a violência, os quais conduzem o sujeito a experiências de angústia frente à própria vida. Essa conjuntura explicita, de certo modo, o apego e o fascínio humanos à dor, extraindo, das brumas da moralidade, uma dimensão sádica que, antes dissimulada e encoberta, ganha, doravante, espaço e notoriedade. Somos sujeitos em busca de referências, de (re)elaborações, e a nossa cultura parece experienciar um momento de falência ética, que nos impõe um contato mortífero com a dor e o vazio, chegando, por vezes, à aniquilação do próprio desejo, em decorrência de um mais gozar. Sem dúvida, essas reflexões nos arremessam à conclusão de que, em nosso tempo, a Cultura, em sua relação suplementar com a natureza humana, incorpora de forma desmedida componentes cada vez mais perversos. Assim, numa integração entre arte e psicanálise, propomo-nos a discutir, por meio da utilização dos postulados freudianos acerca da perversão, como se tecem os laços tanáticos no contemporâneo, utilizando, para isso, a metaforização desses impulsos destrutivos na canção “Assum Preto”, composta por Humberto Teixeira, e eternizada na voz de Luiz Gonzaga. PALAVRAS-CHAVE: Assum Preto; Literatura; Psicanálise. Frederico Oliveira Coelho TITULO: CONTRACULTURA E EXPERIMENTALISMO NO BRASIL – RUPTURAS, RELEITURAS E PERMANÊNCIAS RESUMO: O objetivo desta comunicação é explorar a produção intelectual sobre (e da) contracultura no Brasil por um ponto de vista renovador dos seus usos ao longo da nossa história cultural. Um dos pilares da conversa será justamente a expansão do termo contracultura para além de seus balizamentos históricos e estéticos convencionais - isto é, os anos 1960/1970. Assim, iremos pôr em movimento a centralidade política do termo cultura no país e as possíveis formas transgressoras (contra) que escapam, esburacam ou ampliam o tema. Tal operação será feita a partir de entrevistas, de textos de invenção e das múltiplas escritas (expandidas para o cinema, o teatro, a música e as artes visuais) que nos apresentem um vigor contemporâneo aos dilemas e impasses das ações vistas como contraculturais. Esta comunicação terá como meta de debate, portanto, a elaboração de ferramentas críticas e atualizadas para pensarmos representações que aspiram uma “Modernidade nos trópicos” e toda a carga de alteridade que tal ideia instaura no tecido sócio-cultural do país. Um projeto em que o Moderno se descola de suas aspirações normativas de “Ocidente” e se expande para representações de ruptura que articulam temas desviantes como o rock, o crime, a revolta, o corpo, o delírio, a margem, a anti-psiquiatria, o cartesianismo tropical e outros temas decorrentes das leituras que possam surgir ao longo da pesquisa em andamento. PALAVRAS-CHAVE: contracultura; modernidade; invenção. Frederico Silva Santos TITULO: O POEMA SINFÔNICO COMO UM DIÁLOGO INTERARTÍSTICO: MARABÁ RESUMO: A “iluminação mútua das artes” durante a maior parte do século XIX gerou novas formas e gêneros artísticos em que as fronteiras entre as artes fossem cada vez mais tênues. Nesse contexto, especificamente na música, surge o Poema Sinfônico, um dos gêneros mais requisitados pelos compositores românticos e certamente o grande responsável pelo diálogo entre a literatura, as artes visuais e a música. Salvo suas especificidades o Poema sinfônico tem como finalidade estreitar as relações entre as artes envolvidas, e através de evocações sonoras ou mesmo imitações, direcionam o ouvinte à sua obra de referência. No Brasil, o Poema Sinfônico foi responsável por elucidar não apenas a corrente nacionalista, de fins do século XIX, como também o patriotismo de nossos compositores novecentistas, e até os dias de hoje é um gênero de relevo no catálogo de músicos de diversas tendências composicionais. Como objeto de análise a escolha do Poema Sinfônico Marabá se destaca por seu enredo, suas especificidades composicionais e pela mescla de elementos que de forma imbricata nos remete a conceitos e critérios de caráter impar para as obras brasileiras de fins do século XIX. A partir de conceitos imanentes ao tema, nosso aporte teórico será estabelecido a partir da sedimentação de diálogos entre Aumont (1993), Cluver (1997), (2000), (2001), Hoek (1995), entre outros pensadores, que servirão de alicerce para a fundamentação do presente trabalho. PALAVRAS-CHAVE: Poema Sinfônico; Gonçalves Dias; Francisco Braga. Gérson Luís Werlang TITULO: DOIS GATOS PRETOS: VIAGEM, MÚSICA E MEMÓRIA EM DOIS LIVROS DE VIAGENS DE ERICO VERISSIMO RESUMO: Nosso estudo propõe a análise da Literatura de Viagens do escritor brasileiro Erico Verissimo a partir da presença da música. Para tanto, serve-se dos livros Gato Preto em Campo de Neve e A Volta do Gato Preto, ambos da década de 1940, relatos de viagens que o escritor fez aos Estados Unidos. As relações entre música e memória, assim como a observação acurada dos estilos musicais característicos dos locais por onde passa, reforçam a presença da música como uma das marcas definidoras de sua Literatura de Viagens. A Literatura de Viagens, conquanto exista desde a antiguidade, apenas agora começa a encontrar seu nicho na crítica literária. A produção de relatos de viagens tem perpassado toda a história ocidental e foi responsável pela mudança da visão de mundo em diferentes épocas. Segundo Fernando Cristóvão “a Literatura de Viagens (...) é um subgênero compósito, em que a Literatura, a História e a Antropologia, em especial, se dão as mãos para narrar acontecimentos diversos relativos a viagens”. Dentre os escritores brasileiros, o gaúcho Erico Verissimo destaca-se também pela frequência com que abordou as narrativas de viagens. “Desde criança fui possuído pelo demônio das viagens”, diz o escritor em suas memórias. Esse “demônio” foi responsável pela produção de diversos livros dedicados às viagens que o escritor fez pelo mundo. Neles, o ficcionista dá lugar ao viajante interessado em praticamente qualquer aspecto da existência. As narrativas de Gato Preto em Campo de Neve e A Volta do Gato Preto apresentam uma sucessão de quadros descritivos dos lugares por onde o escritor passa, e essas imagens são deflagradoras de múltiplos elementos da memória de seu autor. Na dança das descrições, surge a música como presença fundamental, variada e agregadora. PALAVRAS-CHAVE: Erico Verissimo; Viagens; Música. Gínia Maria Gomes TITULO: MEMÓRIAS ESTILHAÇADAS EM MAR AZUL, DE PALOMA VIDAL RESUMO: A proposta desta comunicação é realizar a análise do romance Mar Azul (2012), de Paloma Vidal, na perspectiva da memória. Pretende-se mostrar os artifícios a que a personagem-narradora recorre para resgatar o seu passado, cujos fiapos vão sendo transcritos no verso dos cadernos do pai, os quais são lidos concomitantemente à sua escrita. Circunstâncias relativas ao pai, à amiga Vicky, a R, namorado da adolescência, e Luiz, jovem que conheceu em uma viagem, são desencadeadas por algum dado do cotidiano e transpostas para o seu texto de forma fragmentária. Objetiva-se perscrutar os vazios, silêncios e mistérios que permeiam a narrativa, que instigam o leitor a desvendar esse mosaico que é complexificado pelas referências esparsas à ditadura militar, responsável por vários dos destinos do romance. Os textos Espaços da recordação, de Aleida Assmann, A memória, a história o esquecimento, de Paul Ricoeur, e Lete: arte e crítica do esquecimento, de Harald Weinrich, entre outros, serão o subsídio teórico desse estudo. PALAVRAS-CHAVE: Romance brasileiro; Silêncio; Memória. Gabriel Dória Rachwal TITULO: TÉDIO ÉPICO E IMAGINÁRIO ÉPICO RESUMO: Bernardo Soares, o semi-heterônimo de Fernando Pessoa que é autor do Livro do desassossego, e Bloom, o herói de Uma viagem à Índia (2010), de Gonçalo M. Tavares, têm experiências diferenciadas do tédio. O primeiro leva a vida tão-somente em Lisboa, inclusive residindo e trabalhando na mesma rua, a Rua dos Douradores, mas pode ser considerado, porém, um viajante. A viagem desse lisboeta do início do século XX se faz no plano do imaginário e, ao lado dela figura, de forma insisistente, o tédio. Como costuma se dar em Soares, os temas, a cada novo fragmento que compõe sua obra, ganham perspectivas diferentes, mas pode-se dizer que, de um modo geral, o tédio é sintoma da necessidade de agir, de se lidar com questões práticas da vida, tidas como entrave para a fruição de Soares da sua própria capacidade de realizar viagens no plano da intelecção, no qual ele enxerga uma possibilidade de se fazer um argonauta, um desbravador que, estranhamente, parece ter o tédio como aliado. Já o Bloom de Tavares, também lisboeta, realiza a viagem no seu sentido físico, geográfico, partindo para a Índia numa reedição, no século XXI, da expedição de Vasco da Gama. Apesar dos ares épicos, este itinerário da “Melancolia contemporânea”, conforme vai no subtítulo da obra, desemboca em tédio. Essa espécie de turista que é também um amálgama da tradição literária ocidental, na sua busca pelo Espírito – em clave de estereótipo, o que prenuncia os resultados –, não encontra mais do que o mesmo que já tinha antes de partir, do que se pode depreender um tédio épico que se opõe, eis uma hipótese, ao imaginário épico de Soares. O presente trabalho, portanto, se debruça sobre possíveis aproximações e distanciamentos entre os dois. Referências: PESSOA, Fernando. Livro do desassossego. (org. Richard Zenith) São Paulo: Companhia das Letras, 1999. TAVARES, Gonçalo M. Uma viagem à Índia. São Paulo: Leya, 2010. PALAVRAS-CHAVE: Imaginário; Tédio; Viagem. Gabriela Lírio Gurgel Monteiro TITULO: CENA EXPANDIDA: NOVAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO DO TEATRO RESUMO: A comunicação abordará o ensino do teatro na universidade, tomando como foco o conceito de cena expandida. Nos anos 90 e, mais acentuadamente, no começo do novo milênio, assistimos à emergência de cenas híbridas criadas a partir da interação de linguagens distintas no ambiente universitário, como o audiovisual, a performance, a fotografia, a literatura. A interdisciplinaridade e o hibridismo compõem uma nova cartografia de criações teatrais, em que as especificidades das artes dão lugar a novos modos de produção e circulação de objetos artísticos. Analisarei a produção teatral contemporânea desenvolvida na UFRJ, através do desenvolvimento de novas práticas pedagógicas que privilegiam a interseção e o diálogo entre as artes. O uso de dispositivos, de novos suportes e a ocupação de espaços não convencionais serão abordados como estratégias para criação de objetos artísticos no ambiente acadêmico. Como último aspecto, investigarei, em concomitância à cena expandida, a categoria de artistapesquisador, refletindo sobre sua atuação na universidade, sobretudo nos cursos de pós-graduação. PALAVRAS-CHAVE: cena expandida; artista-pesquisador; práticas pedagógicas. Gabriela Lopes Vasconcellos de Andrade TITULO: O IMAGINÁRIO POP: JACARÉS URBANOS RESUMO: O trabalho "O imaginário pop: jacarés urbanos" buscará analisar o romance "Mastigando Humanos" (2013) de Santiago Nazarian, pensando como o imaginário do cinema circunda a vida e a literatura contemporânea. O livro narra a história de um jacaré que sai da natureza e vai parar nos esgotos de uma grande metrópole. Ao chegar à cidade, o seu corpo se transforma, e o animal ganha capacidades cognitivas humanas: pensar, falar e escrever. Partindo da premissa do romance e da ideia de que a "mise-en-scène" do cinema e da “realidade” misturam-se, isto é, o mundo é lido e vivido forma cinematográfica, o presente texto fará um panorama do surgimento do imaginário sobre jacarés que moram nos subterrâneos das cidades, partindo de uma reportagem dos anos 1930 do The New York Times e chegando aos filmes hollywoodianos de 2015. Em seguida, será discutido o conceito de imaginário urbano a partir da perspectiva de Nestor Garcia Canclini, o qual afirma que este é construído através de repertórios iconográficos produzidos pela mídia e pelos meios eletrônicos. Também será preciso pensar como a apropriação do imaginário sobre o jacaré pela cultura de consumo relaciona-se com a perspectiva de Zygmunt Bauman. O autor afirma que tudo é substituível no mundo líquido, pois há uma necessidade de consumir produtos novos. No entanto, Mastigando Humanos é um produto de consumo diferenciado. O livro utiliza as referências da indústria cultural para criticar a lógica de consumo do mundo globalizado. Para pensar essa diferença, será utilizado o conceito de Simulacro de Gilles Deleuze, buscando pensar como a literatura fissura e põe em dissimilitude o modelo do imaginário urbano e cinematográfico, mesmo apropriando-se deste, e como a mastigação dos restos da cultura de consumo e da iconografia pop modificaram o mundo e o corpo de Victório, protagonista do romance. PALAVRAS-CHAVE: Santiago Nazarian; Literatura Pop; Cinema. Gabriela Rodella de Oliveira TITULO: “PORQUE ASSIM, SE A ESCOLA NÃO PEDIR, TEM GENTE QUE NÃO VAI LER” RESUMO: Partindo-se da perspectiva de que “é preciso utilizar aquilo que a norma escolar rejeita como suporte para dar acesso à leitura na sua plenitude, isto é, ao encontro de textos densos e mais capazes de transformar a visão do mundo, as maneiras de sentir e pensar” (Chartier, 1999), propõe-se uma reflexão sobre o papel da escola no desenvolvimento de práticas diversas de leitura literária e de apropriação da literatura, a partir da análise de entrevistas com alunos do primeiro ano do ensino médio de quatro escolas da cidade de São Paulo, parte do corpus de tese defendida na FEUSP em 2013. As entrevistas evidenciam: 1) o forte apelo da cultura de massa, presente nas escolhas espontâneas de leitura de best-sellers realizadas pelos adolescentes; 2) a consideração, por parte dos alunos, das leituras escolares como compulsórias e a desconsideração, por parte dos agentes escolares, das leituras praticadas espontaneamente pelos alunos; 3) as diferenças radicais existentes na criação, efetiva ou não, de um acesso àquilo que pode ser considerado “uma literatura de proposta” (Paes, 2001) ou “alta literatura” (Perrone-Moisés, 1998). De modo geral, pode-se afirmar que os adolescentes de todos os extratos sociais estão imersos no universo da cultura digital, são impelidos à leitura de sagas transmidiáticas (Jenkins, 2009) e fazem leituras tensas das obras indicadas pela escola, em função da obrigatoriedade, de sua dificuldade e dos prazos nelas implicados. Ainda assim, os dados também apontam para apropriações muito diferentes da “cultura legítima” (Bourdieu, 1996) e de obras do cânone escolar, dependentes das condições de formação dos diversos sujeitos leitores (Rouxel, 2013): para uns, o aprendizado produz “uma relação familiar (...) com a cultura como um bem de família” (Bourdieu, 2003); para outros, ele significa a impossibilidade de acesso ao “bem cultural” e sua consequente desvalorização, principalmente devido à falta de mediação. PALAVRAS-CHAVE: práticas de leitura; ensino de literatura; cânone X bestseller. Gabriela Soares da Silva TITULO: VASSILI AKSIÓNOV: UMA POÉTICA AUTOBIOGRÁFICA RESUMO: Vassili Aksiónov (1932-2009) é considerado um dos escritores mais representativos do “degelo” soviético por sua escrita inovadora e dotada de contrastes profundos com a literatura de sua época. Entre as principais características de sua obra está a incorporação de um vasto corpo autobiográfico motivado, muitas vezes, pelo histórico das perseguições políticas vivenciadas por sua família. Esse fator teve impacto essencial nas relações entre literatura e história, ficção e realidade na obra do autor. A maneira como Aksiónov utiliza esse recurso caracteriza o que podemos chamar de uma poética autobiográfica. Porém, essa poética não representa uma mera reprodução dos fatos ocorridos em sua vida, mas ao incorporá-los, Aksiónov os transforma num debate mais amplo, em que os conflitos excedem a realidade do autor e conduzem a uma relação de tensão entre indivíduo e sociedade. Esta comunicação pretende mostrar a problemática autobiográfica retratada pelo escritor e de que maneira ela se apresenta na sua prosa, especificamente em uma de suas obras iniciais, Zviozdnyi bilet, de 1961. Neste romance, Aksiónov retrata alguns aspectos da intelligentsia do “degelo”, da sua própria geração, por meio da representação da juventude da época e incorporando temáticas e influências culturais de seu grupo, como a linguagem, a música e a literatura, por exemplo. Pretende-se, então, compreender de que maneira as disputas individuais que impulsionam a narrativa são transpostas para o campo da desindividualização e, consequentemente, a uma crítica à sociedade e à cultura de sua época. PALAVRAS-CHAVE: Vassili Aksiónov; Literatura russa; Literatura soviética. Gabrielle Paulanti de Melo Teixeira TITULO: A MEMÓRIA FORMALIZADA NOS NARRADORES DE VOZ FEMININA EM BRACHER E HATOUM RESUMO: Esse trabalho debruça-se sobre a Memória recriada esteticamente através de narrativas memorialísticas em âmbito ficcional. A recriação/invenção do processo narrativo autobiográfico faz emergir as questões de gênero como delineadoras da forma literária, não como eleição, recorte ou aspecto, mas como fundamento da figuração da voz nos narradores femininos. Os romances Azul e Dura, de Beatriz Bracher, e Relato de um certo oriente, de Milton Hatoum, apresentam narradoras que reconstroem suas trajetórias por meio de seus relatos, sempre marginais, através de cartas e diários. Evidencia-se a existência das memórias submersas, que não figuram no mesmo nível do discurso oficial, mas permanecem alijadas e resistentes, à espera do momento de aflorar à superfície. Esse processo de emersão de vozes marginais se dá por instâncias trágicas, evidenciando o silenciamento e o impulso inevitável da enunciação. Nessas narrativas, os relatos apresentam-se através de uma linguagem cindida, como representação das tensões entre o desejo, a necessidade (incumbência) do narrar e a interdição imposta pela violência simbólica que é marco dos dois romances. PALAVRAS-CHAVE: Literatura Brasilera; Memória; Voa feminina. Galvanda Queiroz Galvao TITULO: A MENINA ANOLIMOC, A VOZ, O TRAÇO RESUMO: A Menina Anolimoc, A Voz, O Traço nos percursos, pés, asas a cidade, uma narrativa que reverbera as artes, os fazeres, o cotidiano em deterioração, as cores desprendidas do preto, do branco, o monocromático. O avesso da palavra, a escritura em curso. Perguntas sobre o inusitados, sobre o cotidiano, a marca gravada, o corte, precisão, a inteira parte. A narrativa, a voz, latência e silencio, a dissonância, cumplicidade e voracidade, a prosa, a poesia nas mãos da meninamulher-homem-menino, percepções transformadoras que potencializam os sentidos, as invenções, a fantasia em meio ao choque. "O pé, o ouvido", a inverossímil realidade, o movimento a abrir caixas, caminhos, num traço que a gravura permeia em “cores”. Interrogações coladas contaminam a imaginação. Perplexidade e encantamento, os sons da resistência em imagens que se descolam do papel, conversam, contrapõem o próprio Fazer, O Tempo em metamorfose de Benjamin de Ricoeur, no antes primevo, nos pré-socrático. PALAVRAS-CHAVE: narrativa, a voz; inscriçao; contraposiçao. Gean Paulo Gonçalves Santana TITULO: (DES)ALINHAVANDO O CANTO-POEMA DAS CANTADORAS QUILOMBOLAS DO EXTREMO SUL DA BAHIA RESUMO: Esta comunicação tem como objeto de estudo os cantos-poemas, uma expressão poética oral do quilombo de Helvécia, no Extremo Sul da Bahia. Estes cantos-poemas, construídos a partir de experiências intersubjetivas, e vocalizados por negras cantadoras, ora são respostas, ora são questionamentos às circunstâncias históricas, socioafetivas e aos confrontos da vida cotidiana. Descrever e analisar essa poética no que traz de expressões que lidam com a representação da herança africana, suas identidades, ressignificações e resistência se constituem objetivos norteadores dessa comunicação. Os cantospoemas, como instrumento poético, de lutas e sacralidade, acionam memórias do tempo vivido e do contado e, quando vocalizados pelas cantadoras ao toque do tambor deitado, ganham corpo, ritmo e significação nas performances do batebarriga, do embarreiro, ao explicitarem histórias ancestrais, conflitos, amores e trabalho. Contextualmente, os cantos-poemas ilustram o sentido da voz em Helvécia, negociações, reflexões e lutas pela cidadania e pela liberdade desde a Colônia Leopoldina, uma sesmaria constituída em 1818 e da qual se originou o quilombo de Helvécia. Destaca-se nessa comunicação, o papel que o canto-poema revela, a partir de seus discursos poéticos e vozes sociais, em relação a helvécia, sua história e sua gente, suas identidades. PALAVRAS-CHAVE: Cantos-poemas; poética oral; Identidade. Geni Mendes de Brito TITULO: "BANZO- FADOS E MORNAS: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL NA LITERATURA. RESUMO: O estudo proposto tem por base a busca dos elementos literários que relacionam o ‘banzo - fado e morna’, numa temática privilegiada para as análises comparatistas, pois contempla a investigação das inter-relações da literatura com outras expressões, neste caso, o banzo, o fado e as mornas, desde suas origens constituindo um estudo interdisciplinar rico em contrastes e nuances. PALAVRAS-CHAVE: Banzo; Fados; Mornas e literatura. Genilda Azerêdo TITULO: “POR QUE DEUS PERMITE QUE AS MÃES VÃO-SE EMBORA?”: MÃE E FILHO, A DOR DA SEPARAÇÃO RESUMO: O propósito deste trabalho é discutir o filme Mãe e filho (1997), de Alexander Sokúrov, com ênfase na relação afetiva entre mãe e filho e no enfrentamento da morte. O filme dramatiza o momento de despedida dos dois – mas como um filho pode despedir-se para sempre de uma mãe? Como materializar, esteticamente, o desamparo e a dor inerentes à consciência da morte? Sokúrov o faz através de uma plasticidade eloquente, capaz de captar a densidade melancólica do momento; os planos podem ser apreciados como se fossem quadros ou pinturas, tamanhas sua força e beleza visual. A hipótese aqui colocada é que esse filme tem seus significados atrelados ao diálogo com outras linguagens semióticas, a exemplo da poesia, da fotografia e da pintura, constituindo-se inovador quanto ao modo de narração audiovisual, sobretudo quando pensamos na morte e em seus efeitos devastadores. PALAVRAS-CHAVE: narrativa audiovisua; afeto; dor. George Luiz França TITULO: ANTOLOGIAS, IDENTIDADES, RESUMO: Os livros didáticos brasileiros podem ser pensados como filhos mais ou menos distantes das antologias - uma tradição que, no Brasil, poderia ser remontada ao trabalho de Francisco Adolfo de Varnhagen e seu "Florilégio da poesia brasileira", de 1850, que no bojo do Romantismo buscou dar uma lei e um discurso ao conjunto multifário e assombrado pela morte de nossa poesia (numa metáfora antiga, de nossas flores). Filhos, portanto, de uma tradição que remonta ao século XIX, esses materiais continuam, em alguma medida, subordinados a certos princípios nomológicos que ainda a ele podem ser remontados mormente, as premissas da identidade nacional e da cronologia. Este trabalho pretende contrastar diferentes princípios organizativos que os autores de livros didáticos de Ensino Médio aprovados no último PNLD têm adotado em suas abordagens, na medida em que conseguem ou não se relacionar com a multifariedade dos objetos culturais da contemporaneidade e, ainda, pensar dispositivos de leitura diferentes da simples cronologia ou repetição de rotulações ligadas a "nomes de escola". O enfoque serão os livros do segundo ano do Ensino Médio, série na qual tradicionalmente se aborda a Literatura do século XIX, e que oferece dificuldades adicionais ao trabalho na medida em que as leituras se afiguram fundamentais em avaliações de larga escala, porém muito distantes do repertório linguístico e cultural da maioria dos estudantes. Em contrapartida, pretendo, a partir de práticas realizadas como professor da Educação Básica no Colégio de Aplicação da UFSC, discutir possibilidades de práticas que possibilitem pensar uma abordagem da literatura no Ensino Médio menos preocupada com o panorama, a homogeneização das interpretações e a reafirmação do discurso da identidade nacional e mais abertas a um currículo não-padronizador e focado na experiência de leitura como reescritura e na abertura aos sentidos, ao plural, ao aberto, ao advento do texto (Barthes). PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Literatura; Ensino Médio; Livro didático. Geovanna Marcela da Silva Guimarães TITULO: TRADUÇÃO E ANTROPOFAGIA EM HAROLDO DE CAMPOS E HERBERTO HELDER RESUMO: Em “O eco antropofágico: reflexões sobre a transcriação e a metáfora sanguíneo-canibalesca” (2013), Marcelo Tápia discute como a tradução e a antropofagia são processos equivalentes de apropriação, desconstrução, troca e diálogo. Para enfatizar tal equivalência, o autor tomará a tradução, no que concerne a sua aproximação com a antropofagia, como transfusão sanguínea, onde texto original e texto traduzido serão profundamente transformados, metamorfoseados e modificados. Partindo dessa perspectiva, o objetivo desse trabalho é mostrar como tradução e antropofagia ocorrerão como metáfora sanguíneo-canibalesca em Haroldo de Campos e Herberto Helder. Para isso, a transfusão precisa ser concebida não apenas como troca entre texto original e texto traduzido, mas sim como diálogo e abertura à diferença, conseguidos a partir do momento que o tradutor, para se encontrar com o outro, o estrangeiro, abandona sua identidade. PALAVRAS-CHAVE: Tradução; Antropofagia; Identidade. Germana Henriques Pereira de Sousa TITULO: TRADUZINDO OS TROPISMOS, DE NATHALIE SARRAUTE RESUMO: Tropismes – a obra – é uma série de XXIV poemas em prosa, escritos por Nathalie Sarraute, durante o decênio de 1930 e reunidos numa publicação pela Denoël, em 1939. Concluída desde 1937, Denoël foi o único editor que aderiu ao projeto de escritura tropismal de Sarraute, ao publicar dezenove fragmentos, sendo que o primeiro foi escrito em 1932 e os últimos em 1937. Em 1957, as Éditions de Minuit publica uma segunda edição na qual são acrescentados seis novos textos e retirado o Tropismes VI, da edição Denoël (TADIÉ, 1996). Tropismes – sensações subterrâneas, são esses “esses pequenos atos larvários que nenhuma linguagem interior expressa, que se precipitam às portas da consciência, reúnem-se em grupos compactos e surgem de repente, se desfazem logo depois, se combinam de outro modo e reaparecem sob uma nova forma” (SARRAUTE, 1956, minha tradução). Esta pesquisa busca refletir sobre a tradução desses tropismos e, por aí, encontrar uma linguagem capaz de renovar os efeitos obtidos a partir da mescla de discurso e narração, língua falada e língua escrita, banalidades e estranhezas, metáforas, imagens recorrentes. A estratégia de tradução da qual lanço mão é aproximar ao máximo a verbalização em português do texto sarrautiano por meio da pontuação, das pausas, das inversões, das metáforas, do efeito marcante da linguagem compósita, mescla de erudição e língua falada, familiar. A obra de Nathalie Sarraute alia o tropismo com a sensação nova, não ainda gasta pela banalidade das trocas sociais, veiculadas pela linguagem, aqui denunciada como portadora de estereótipos e coerções, que podam a criatividade e a liberdade artística e humana. O tropismo é aliado também à escrita do fragmentário, do limite, do antiestético, daquilo enfim que na vida e na arte representa o mesmo, o idêntico, pois o poético também pode ser uma armadilha da convenção. Traduzir essa linguagem é enfrentar o desafio das banalidades e da coisificação do homem e da arte. PALAVRAS-CHAVE: comentada. Nathalie Sarraute; Tradução literária; Tradução Gerson Rodrigues de Albuquerque Raquel Alves Ishii TITULO: JUDAS AHSVERUS: O FANTÁSTICO “REAL” EM EUCLIDES DA CUNHA RESUMO: O objetivo que norteia a presente comunicação é apresentar algumas reflexões sobre a presença do fantástico em “Judas-Ahsverus”, de Euclides da Cunha, publicado em “À margem da história” (1967). Nessa narrativa, um espantalho, tecido pelas mãos de “seringueiros do Alto-Purus” para ser malhado no sábado de Aleluia, é esculpido à imagem de seu demiurgo, o homem da existência “monótona, obscura, dolorosa”, que habita o “chão de barro” dos territórios engravidados de vida de uma certa Amazônia. Judas Ahsverus é um ser fantástico, fruto de um olhar que, por sobre os “sertões” amazônicos, projeta leituras de outros “sertões”. Brotando de uma estética margeada pela forte presença do romantismo europeu e por uma perspectiva secular operando com noções de ruína e progresso, a prosa de Euclides da Cunha engendra nos olhos – e na imaginação – dos leitores palavras carregadas de significados impactantes, transitando entre as fronteiras porosas das “realidades” e das ficções de seu autor. Nessa escrita “vingadora”, Euclides transfigura o corpo do seringueiro, tomado ele próprio como imagem e reflexo de seu espantalho: sua “existência imóvel”, seus repetidos “dias de penúrias”, suas “tristezas” e “pesares” intermináveis, suas “fatalidades” e “desditas”, sua “figura desengonçada e sinistra” metamorfoseia-se no grotesco e fantasmagórico Judas que esculpi, entalhando-lhe meticulosamente cada traço de sua auto-imagem. A poética prosa de Euclides não economiza na formulação de alegorias, em rudes/belas imagens do monstruoso que se torna homem ou do homem que cria o monstro à sua imagem e semelhança. Euclides da Cunha projeta sua imaginação como imaginação daquele homem, segundo ele, à margem da escrita e do moderno, portanto da história da nação. Nessa imaginação da imaginação uma figura demoníaca e errante desce o rio Purus, de bubuia, feito os homens e mulheres de tal lugar, “fantasmas vagabundos” penetrando imensos “recintos de águas mortas”. PALAVRAS-CHAVE: Fantástico; Euclides da Cunha; Amazônia. Gilles Jean Abes TITULO: TRADUÇÃO DO GÊNERO EPISTOLAR: HISTÓRIA E FORTUNA DA CORRESPONDÊNCIA DE BAUDELAIRE. RESUMO: Esta comunicação procura apresentar as especificidades do gênero epistolar, que vem aliás suscitando grande interesse editorial no Brasil, assim como diferentes perspectivas de abordagem das cartas de autores, artistas ou músicos. Classificado entre os gêneros híbridos, a correspondência não permite uma catalogação unívoca, o texto da carta oscilando entre ficção e documento testemunhal, situação que exige um olhar atento por parte do leitor/tradutor. Em seguida, descrevemos o percurso da publicação das cartas do poeta Charles Baudelaire, traçando um histórico de suas missivas, cuja riqueza, ainda pouco explorada, é de grande valor para os pesquisadores. Finalmente, passamos a dificuldades encontradas na tradução de uma seleção de cartas do poeta Charles Baudelaire para o português. A correspondência do autor das Flores do mal ainda permanece, em grande parte, inédita em língua portuguesa. Antoine Berman, em A tradução e a letra ou o albergue do longínquo, nos lembra que, “O romance, a carta, o ensaio, não são menos rítmicos do que a poesia” (2006, p.55), trazendo assim à tona desafios similares ao texto literário que qualquer tradutor deverá enfrentar. Traduzir a correspondência de um autor do século XIX apresenta várias dificuldades. Primeiro, há uma noção de tempo, em relação à língua, que acarreta desafios de vocabulário, tom e estruturas sintáticas próprias à época. Segundo, deparamo-nos com uma linguagem singular empregada pelo autor, com o seu ritmo, pontuação (daquele tempo e preferências pessoais), entre outros elementos que exigem reflexão. De um ponto de vista teórico, nossa análise se embasará no conceito de letra de Antoine Berman, visto como espaço de jogo no qual atua uma tradução simultaneamente ética, poética e pensante. No mais, é preciso destacar que as cartas que não desapareceram, rasgadas, queimadas ou perdidas, foram preservadas graças à riqueza de seus textos, ao interesse dos destinatários, à resistência da tinta e ao esforço de pesquisadores. Sua fortuna, ao mesmo tempo em que é sinônima de riqueza, desposa também os acasos do destino – a boa e a má fortuna. Este trabalho ingressa na fortuna de sua tradução. PALAVRAS-CHAVE: Tradução; Baudelaire; Cartas. Gisele Gemmi Chiari TITULO: O DIÁLOGO COM A LITERATURA GÓTICA EM LEONOR DE MENDONÇA DE GONÇALVES DIAS RESUMO: Em sua obra Goethe, Schiller e Gonçalves Dias, o crítico teatral Ruggero Jacobbi observa que o drama Leonor de Mendonça de Gonçalves Dias incorpora o byronismo de temática neo-elisabetiana, mística ou sádica, dos ingleses e, sobretudo, dos alemães, dentro de uma técnica ainda “clássica e aristotélica”. Considerando a assertiva do diretor de teatro, o presente texto investiga quais características da literatura gótica são aproveitadas na obra gonçalvina colaborando para a efetividade dramática da peça. Sopesou-se também a singularidade com que os paradigmas desse gênero foram empregados pelo dramaturgo brasileiro. Vale lembrar que a literatura gótica e a romântica são cronologicamente próximas e dividem alguns temas, como o do herói transgressor, cujo processo mental interior é explorado em detrimento das ações exteriores. Nesse sentido, a exposição da interioridade das personagens avança tornando-as mais complexas. Os caracteres assumem um caráter ambíguo, muitos deles, por exemplo, expressam grandeza de caráter, mas devido às circunstâncias, essa superioridade é empregada para fazer o mal. O vilão-herói vai sempre contra a norma estabelecida e é sempre contrastado a outra personagem que, contrariamente, representa essa ordem. O leitor é, ao mesmo tempo, repelido pelo sadismo e envolvido pela trágica história de vida de figuras como Frankenstein, Heathcliff e Ahab. Assim, no drama gonçalvino infere-se que a literatura gótica se reverbera na figura do herói apaixonado que desafia as convenções sociais e se autodestrói, na feição um pouco demoníaca de um duque sedento por sangue. Em Leonor, a vítima, como estereótipo advindo dos romances góticos da “perseguida”. Na atmosfera de morte fortemente marcada nas falas e na caracterização do ambiente, bem como no adensamento do pathos com a sensação de escoamento do tempo. PALAVRAS-CHAVE: Literatura gótica; Romantismo; Gonçalves Dias. Gisele Novaes Frighetto TITULO: BRASILIDADE E COSMOPOLITISMO EM QUATRO ROMANCES BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS RESUMO: A multiplicidade da prosa de ficção brasileira pós-moderna a insere num contexto de convivência, ou tensão, entre tradição e renovação, quando o poder homogeneizador da globalização econômica e cultural entra em conflito com os ideais de afirmação de identidade cultural ou nacional (RESENDE, 2008). Ademais, se a pós-modernidade remete a um período histórico no qual são questionados os fundamentos filosóficos das ciências e das artes, é inevitável que semelhantemente sejam questionados os fundamentos nos quais se colocam o local e o universal (EAGLETON, 2001). O cerne da questão se encontraria em uma concepção dialética da oposição local e universal, na qual coexistem o cosmopolita e o nacionalista. Também cabe um questionamento da noção de universal como critério de consagração e como ideologia, baseada na tradição da cultura hegemônica que oculta a ordem mundial desequilibrada e desigual da qual o local está impregnado (SCHWARZ, 2012). Consideramos que essa dualidade assume diversos matizes na ficção brasileira contemporânea, na qual coexistem textos com maior ou menor adesão a uma brasilidade, e evidencia a necessidade de consideramos apropriada uma perspectiva onde a transculturação (RAMA, 2008) e os processos de hibridação (CANCLÍNI, 2006), enquanto fenômenos culturais sincréticos, são estetizados a partir de uma concepção dialética de pós-modernismo, na qual coadunam a ruptura e a permanência (JAMESON, 2007). Essas questões serão problematizadas partir do estudo de quatro romances que tematizam a construção da memória de imigrantes e seus descendentes: Dois irmãos (2000), de Milton Hatoum; Mamma, son tanto felice (2005), de Luiz Ruffato; O sol se põe em São Paulo (2007), de Bernardo Carvalho e Diário da queda (2011), de Michel Laub. PALAVRAS-CHAVE: nacional; pós-modernismo; transculturação. Giseli Cristina Tordin TITULO: O EXCESSO E O RESTO EM SILVINA OCAMPO E LUIS MARTÍNSANTOS RESUMO: Procuro apresentar a correlação entre espaço, corpo e subjetividade a partir de uma seleção de trechos de três obras: uma peça teatral, “Festa”, baseada no conto “Las fotografías”, de Silvina Ocampo, e encenada pela companhia de teatro Shiva, “Los traidores”, teatro escrito por Silvina Ocampo e J.R. Wilcock, e uma narrativa de Luis Martín-Santos, “Condenada belleza del mundo”, inspirada em um filme espanhol, “El próximo otoño” (1963). “Condenada belleza del mundo” assemelha-se a um roteiro no qual se relata como a personagem deve evidenciar ao espectador que os encontros que alcança não provocam uma transformação em sua vida, exceto uma desidentificação. Já “Los traidores” centra-se na história da família imperial romana, no ano 211 d.C. A impostura de um dos filhos de Septimio Severo, Basiano, o Caracalla, gera realidades outras. Apenas os traidores sabem algumas verdades, como o assassino do imperador e de seu outro filho, e Basiano dificilmente reconhecerá o próprio mundo que criou. Em “Festa”, é a posição do corpo do ator que provoca tanto o efeito das diferentes sensações de realidade quanto a indiferença em relação ao outro, a que provém de um excesso do “eu” que transforma este outro em objeto ou desloca-o a um lugar de indiferença. O mal-estar que o corpo do ator capta, mas não sente, é devolvido ao espectador. Assim, o objetivo principal é compreender nas fronteiras do cinema, teatro e literatura as diferentes espessuras da realidade transvasadas ao corpo: como os corpos que estão no espaço da cena, corpos que ganham o plano através da visualidade háptica e os corpos que estão além dos corpos, na sua virtualidade circunstancial, permitem outros reconhecimentos ao modificar a postura do espectador/leitor. Esse reconhecimento constrói-se a partir do que não podemos nomear, dos subterfúgios que, a partir do outro, percebemos como nossos. PALAVRAS-CHAVE: Corpo; Subjetividade; Espaço. Gislene Teixeira Coelho TITULO: ANTÓNIO LOBO ANTUNES E O ESPLENDOR DE PORTUGAL: IDENTIDADE, CRISE, DESMONUMENTALIZAÇÃO RESUMO: Este trabalho objetiva desenvolver um estudo da relação história e literatura, partindo das obras As naus e O esplendor de Portugal, do escritor português António Lobo Antunes, as quais corroboram uma leitura atualizada do conceito de historiografia e de como literatura e história, conjuntamente, têm auxiliado na reformulação da historiografia moderna portuguesa. Ressaltar-se-á o tratamento que a ficção de Antunes destina aos monumentos portugueses, em que se verifica uma performance de desmonumentalização da memória e da tradição portuguesa. Em ambos os trabalhos, alude-se, ironicamente, ao "esplendor de Portugal", contrastando a imagem de grandeza e glória do passado com uma forte sensação de crise e fracasso no presente. Nessa revisitação, o autor recorre a recursos narrativos que expressam um profundo mal-estar dos personagens, que parecem estar submetidos a uma espécie de maldição, a saber, identidades incompletas, vidas infelizes, fracassos e decepções. Sintomaticamente, um discurso igualmente maldito/mal-dito expressa essas vidas em crise, utilizando, por exemplo, quebras de estruturas narrativas, nonsenses, confusão de vozes e tempos narrativos, recursos textuais que auxiliam na construção de um pensamento crítico acerca da identidade dos personagens de Antunes e que contribuem para o entendimento e problematização da identidade portuguesa contemporânea. PALAVRAS-CHAVE: Portugal; crise; desmonumentalização. Gizelle Kaminski Corso Josiele Kaminski Corso Ozelame TITULO: LITERATURA, MUITO PRAZER!... RESUMO: O tema do ensino da literatura na escola já vem, há algum tempo, gerando férteis debates entre os estudiosos da área, uma vez que não há como falar sobre literatura sem mencionar a leitura. Muitas vezes, o ensino tendencioso de proclamar a literatura apenas como fonte de prazer acaba por se tornar vago, uma vez que ela é, sim, exercício de pensamento, fonte de conhecimento que promove ação, que deve ser pensada e polemizada. Portanto é perigoso centrar seu o estudo apenas no prazer, pois não há garantia de que é possível ensinar o outro a sentir o belo, porque este é gerado a todo instante, seja na observação de uma paisagem, no toque de um objeto, na contemplação de um momento (JOUVE, 2012). Nossa motivação ocorre em virtude de uma série de fatos, dentre eles, o quesito “experiências” – experiência no sentido atribuído por Jorge Larrosa Bondía (2002), daquilo que nos fica, nos passa, e não daquilo que, simplesmente, fica ou passa. Experiências vivenciadas na condição de professoras, cursistas, estudiosas, pesquisadoras e, principalmente, de leitoras. Neste sentido, nossa proposta de discussão, embasada especialmente em Barthes (2002), Compagnon (2009), Machado (2011) e Jouve (2012), é tangenciada pelas especificidades já impostas a partir do título, mas com o intuito de questioná-las, melhor dizendo, indagar a respeito de se justificar a leitura da literatura simplesmente pelo prazer. Pretendemos, portanto, apresentar reflexões sobre o esvaziamento dessa resposta. PALAVRAS-CHAVE: Ensino; Literatura e prazer; Escola. Gleidys Meyre da Silva Maia TITULO: MEMÓRIA E OBVIEDADE: O RECONHECIMENTO DAS CULTURAS AFRICANAS NO CONHECIMENTO DAS LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA RESUMO: Urge que reconheçamos de antemão nossa mais completa ignorância sobre a África. Não falo da África continente. Falo da África que habita cotidianamente nossos lares e cidades e nos preenche com uma diversidade cultural tão heteróclita, ao ponto de acharmos que é original e única. Quero nesse artigo discutir de que maneira as literaturas africanas de língua portuguesa devem ser inseridas no processo de reconhecimento e aprendizagem das tradições africanas e afrobrasileiras nas escolas brasileiras. As literaturas africanas de língua portuguesa, a saber, a literatura angolana, cabo-verdiana e moçambicana, promovem aqui o deslocamento da cena pitoresca e exótica para a obviedade do cotidiano, através do reconhecimento da língua, da gastronomia, e mais importante, do modo de ser e de ver. Embora considere o texto como a “coluna vertebral” do ensino da literatura, defendo que deverá ser «produzida e transmitida informação transtextual», ou seja, deverão ser fornecidas as bases de sustentação históricas, culturais e sociais que possibilitem uma leitura do texto mais dinâmica, mais integrada e, por isso, mais completa. Assim, o ensino da literatura na escola deve ser rediscutido a partir das bases curriculares introduzidas pela lei 10369/03. PALAVRAS-CHAVE: Cultura Africana; Ensino da Literatura; Literaturas Africana. Graciane Cristina Mangueira Celestino TITULO: O ENSINO DE LITERATURA E A REPRESENTAÇÃO IDENTITÁRIA DO SUJEITO LEITOR RESUMO: A presente pesquisa teve o objetivo de compreender as abordagens, procedimentos e técnicas, utilizados para estimular a formação das competências e habilidades leitoras nos jovens. Ao refletir sobre o Ensino de Literatura nas escolas, tomaram-se por base as concepções dos seguintes autores: DALVI, REZENDE e JOVER-FALEIROS (2013), JOUVE (2012), BORGES (2011) e BAKHTIN (2003). Foi analisado o ensino-aprendizagem de literatura em uma escola pública, que atende o ensino fundamental séries finais, procurando compreender como são pontuadas as representações e construções significativas de aprendizagem, pois essa é uma das questões que mais afloram durante o ensino de literatura na escola. A pesquisa que se apresenta foi direcionada em oficinas literárias nas aulas de Língua Portuguesa, tendo como elemento norteador o papel desempenhado pela leitura e construção da identidade leitora. Define-se, desse modo a não existência de uma única e permanente cultura literária, mas várias e variáveis. A representação literária e a dicotomia do sujeito leitor, reveste-se de uma cultura viva e concebida de uma dimensão social, parte integrante dessa formação.DALVI, REZENDE e JOVER-FALEIROS (2013), JOUVE (2012), BORGES (2011) e BAKHTIN (2011) traduzem a leitura literária como representação da história, cultura e tradição de um povo ou nação e nessa perspectiva surgiria a pesquisa que se apresenta. Referências Bibliográficas BAKHTIN. Mikhail Mikhailovitch. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico da linguagem. 13ª ed.São Paulo: Hucitec, 2009. BORGES, Jorge Luís, 1899-1986.Oral &Sete Noites/Jorge Luís Borges; tradução Heloisa Jahn. – São Paulo: Companhia da Letras, 2011. JOUVE, Vincent. Por que estudar literatura?/ Vincent Jouve; Marcos Bagno e Marcos Marcionilo, tradutores. – São Paulo: Parábola, 2012. Maria Amélia DALVI, Neide Luzia de REZENDE e Rita JOVER-FALEIROS, orgs. Leitura de Literatura na Escola. São Paulo, SP: Parábola, 2013 PALAVRAS-CHAVE: Ensino-aprendizagem; Representação; Sujeito leitor. Graciela Beatriz Cariello TITULO: OS CONFUNDIDOS E O SABER LINGUÍSTICO RESUMO: Os confundidos e o saber linguístico. Graciela Cariello - UNR A comunicação, como desenvolvimento de uma parte do meu livro Jorge Luis Borges y Osman Lins. Poética de la lectura, aborda as relações entre a narrativa Os confundidos, de Osman Lins e a teoria da enunciação formulada por E. Benveniste. É evidente que um saber linguístico (consciente e racional, ou apenas intuitivo) orienta as escolhas formais (gramaticais, lexicais) de todo escritor. No entanto, a hipótese deste trabalho é que no relato Os confundidos, de Nove Novena, um saber linguístico específico age como base da estrutura narrativa, do conteúdo temático, e até mesmo do seu objetivo ideológico. O escritor consegue elaborar um texto baseado em um saber da linguística teórico-formal, criando com isso uma obra de arte. Analiso o texto osmaniano com o olhar comparativo da leitura cruzada com os textos de Benveniste (publicados na mesma época de Nove Novena), visando provar que o linguista e o romancista tinham chegado a descobertas semelhantes quanto à instância da enunciação. A partir dessas descobertas, um deles (Lins) revolucionou a arte da narração e o outro (Benveniste) a ciência da linguagem. A análise é realizada, nessa perspectiva, com o contributo de reformulações da teoria da enunciação, como as propostas por D. Maingueneau, J-P. Bronckart e J.L. Fiorin. REFERÊNCIAS: BENVENISTE, É. Problèmes de linguistique général II. Paris: Gallimard, 1974 BENVENISTE, É. Problèmes de linguistique général. Paris: Gallimard, 1966. BRONCKART, J-P. Activité langagière, textes et discours. Lausanne: Delachaux et Niestlé, 1997. CARIELLO, G. Jorge Luis Borges y Osman Lins: poética de la lectura. Rosario: Laborde, 2007. FIORIN, J.L As astúcias da enunciação. S. Paulo: Ática, 2001. LINS, O. Nove novena. 2a. ed., São Paulo, Melhoramentos, 1975 (1966). MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. Tradução de Cecília P. de Souza, Décio Rocha. S. Paulo: Cortez, 2002. PALAVRAS-CHAVE: narrativa; linguística; enunciação. Graciela Raquel Ortiz TITULO: DEAMBULANDO POR CIDADES ESTRANGEIRAS. VIDA INTERIOR E CHRONIQUE DE LA DÉRIVE DOUCE RESUMO: Na presente comunicação abordarei os relatos Vida interior (2008) do escritor argentino Federico Jeanmaire e Chronique de la dérive douce (1994) do escritor haitiano-quebequense Dany Laferrière, com o intuito de comparar os modos em que as experiêcias das viagens vivenciadas pelos seus protagonistas inscrevem-se na forma mesma das narrativas. No romance Vida interior, um escritor já consagrado vai a Oaxaca, México, para se encontrar com a sua namorada finlandesa. Ela fica doente durante os três dias que permanecem na cidade deixando o protagonista só e livre para passar o tempo deambulando pelas ruas e praças, observando os habitantes, tentando entender muitos dos seus costumes. Porém, esse olhar em perspectiva, que se quer às vezes panôptico, traça uma elipse para acabar escrutando os labirintos da interioridade do próprio protagonista. Em Chronique de la dérive douce, os motivos da viagem são bem diferentes. O jovem protagonista do relato, jornalista em Porto Príncipe, empreende uma viagem obrigada fugindo da morte decretada pelo ditador Baby Duvalier. O ponto de chegada é a cidade quebequense de Montreal. Laferrière relata, como uma viagem de aprendizagem, as vivências que o jovem migrante experimentou ao longo do primeiro ano do exílio em Montreal: a solidão, a fome, o racismo assim como o prazer da liberdade e da descoberta de muitos dos autores que acompanharão a vida toda do escritor, pois o livro acaba com a decisão do protagonista de se dedicar só a escrever. Comparar-se-ão essas duas viagens, divergentes tanto nos seus motivos quanto nos modos de experimentálas e de narrá-las, porém convergentes pois ambas compartilham o fato de serem realizadas por protagonistas escritores que narram, com traços autobiográficos, as suas deambulações em duas cidades estrangeiras. PALAVRAS-CHAVE: narração; autobiografia; viagens. Grazielle Furtado Alves da Costa Devaux TITULO: A VOZ DA DIFERENÇA LATINO-AMERICANA NA LITERATURA SUDACA DE DIAMELA ELTIT – UMA LEITURA DE EL CUARTO MUNDO RESUMO: O artigo tem por objetivo discutir como Diamela Eltit, em El Cuarto Mundo, constrói um discurso transgressor das vozes uníssonas sobre a experiência de ser latino-americano no final dos anos 1980. A partir das caóticas narrativas de dois irmãos gêmeos (um menino e uma menina), o romance em fluxo de inconsciência se apropria da visão dominante sobre as identidades de gênero para ressignificá-la no contexto de uma leitura perturbadora do processo de mestiçagem e das possibilidades de resistência cultural na América Latina. A dificuldade de interação verbal entre os irmãos (a separação na linguagem) contrasta com a simbiose dos corpos presos em uma relação de mútua dependência no espaço doméstico (no útero da mãe, no quarto da casa, no Chile do período de Transição, na América Latina do final da Guerra Fria, na periferia sudaca do sistema internacional). Tais corpos vivem a ambivalência do cuidado, entre gozo e sofrimento, loucura e lucidez, grito e silêncio, opressão e emancipação. A conexão sufoca o ser que busca autonomia, poder e segurança para formar-se sujeito. Ao mesmo tempo, a separação (o mundo de fora) confronta o sujeito com suas limitações e medos, levando-o de volta ao outro, que é também self. No quarto mundo (que abriga o desejo confinado no espaço sobreposto pelos corpos diferentes), desenham-se relações de poder que limitam as vozes de sujeitos que se oprimem e se libertam uns aos outros. Estas vozes imaginadas no espaço da literatura subversiva de Eltit expressam-se fora das semânticas e sintáticas conservadoras, reformistas e revolucionárias, desestabilizando qualquer ideia pré-concebida sobre emancipação nos discursos políticos, econômicos, culturais e estéticos que circulavam sobre e desde a periferia dos sistemas de poder vigentes. PALAVRAS-CHAVE: Diamela Eltit; Gênero na Literatura; América Latina. Gregório Foganholi Dantas TITULO: A FICCIONALIZAÇÃO DO AUTOR EM TÃO LONGO AMOR TÃO CURTA A VIDA, DE HELDER MACEDO RESUMO: Helder Macedo, escritor e crítico literário, é personagem comum em seus próprios romances, seja como narrador autobiográfico de Partes de África, seja como um personagem aludido mas não nomeado em Sem nome e Natália. Pretendemos investigar como esse procedimento de ficcionalização do autor se coaduna com um movimento desenvolvido nos seus quatro primeiros romances, o da simulação, na diegese, da emancipação dos personagens em relação ao autoritarismo do narrador, emancipação alcançada através do gradual acesso desses personagens à voz narrativa, e que metaforiza questões históricas, como o advento da Revolução dos Cravos (em Pedro e Paula) ou a revisão do mito sebastianista (em Vícios e virtudes). Consequentemente, pretendemos demonstrar como a ficcionalização do autor em seu último romance, Tão longo amor tão curta vida, promove um movimento de reação à emancipação dos personagens nos romances anteriores, através da retomada da voz narrativa por parte do personagem Helder Macedo. A partir daí, é preciso refletir sobre a ficcionalização do autor como um procedimento irônico de revisão de sua obra, e como um desdobramento do olhar metaficcional desenvolvido nos romances anteriores. No caso específico de Tão longo amor tão curta vida, quase um romance-síntese da obra de Macedo, construído sobre glosa contínua de todos os temas e procedimentos macedianos ?a relação entre literatura e história, os jogos metaficcionais e as referências intertextuais, as antinomias sintáticas e narrativas ?, será necessário recorrer comparativamente a Sem nome, compreendido como principal fonte de referência intertextual, a começar pela revisitação do tema do duplo. Os romances macedianos são narrativas autoconscientes e reflexivas, que promovem um debate sobre seu próprio estatuto e o papel da literatura na contemporaneidade, indicando seus impasses e contradições. PALAVRAS-CHAVE: Romance português; Metaficção; Helder Macedo. Gregory Magalhães Costa TITULO: AS QUESTÕES DA NARRATIVA ROSIANA MODERNA EM QUESTÃO RESUMO: A literatura é a criação de outro mundo que melhor explica o nosso mundo. Essa pode ser uma das tantas definições de literatura, como também de ficção. É Guimarães Rosa quem diz defender o altíssimo primado da intuição contra a megera cartesiana. Contra a matemática estática, Rosa utiliza o princípio metamórfico de composição e a técnica da expectativa desiludida, quebrando com a mera lógica. Porém, a razão não está totalmente ausente de sua obra, uma vez que, junto ao vigor de criação, Rosa usa o rigor de composição e de reflexão crítica. Essa reflexão se dá por meio de espécies de parábases aristofânicas, expressas no "Grande Sertão: veredas" naquele momento em que o antigo narrador popular Riobaldo se dirige diretamente ao seu moderno culto interlocutor oculto, simultaneamente ao leitor, ironizando e muitas vezes zombando de si, dos personagens, do interlocutor e do leitor: estilo carnavalesco do Bufão subvertendo a seriedade oficial, instituindo o conhecimento novo. Sua representação da modernidade está centrada no poder de mando e comando exercido pelos jagunços, deuses heroicos, modos de ser, símbolos. É justo esse poder hierárquico, o diabo, que Riobaldo quer exorcizar. Depois de sair ao Sertão qual Quixote atrás da música popular, a canção de Siruiz, através do pacto fáustico, também Riobaldo assimila o poder de mando e se torna chefe jagunço, o último, aquele que testemunhou seu apocalipse. As relações no Sertão moderno são complexas uma vez que os personagens vão assimilando os modos e concepções de mundo uns dos outros. Agora, só assimilando todos os sete aspectos do Sertão, fazendo a travessia da divisão diabólica ao símbolo divino, a união do erudito com o popular, Riobaldo pode se tornar o homem integral e exorcizar sua dor pela morte de Diadorim e o diabo, o homem enclausurado em sua mera subjetividade egoísta. PALAVRAS-CHAVE: Literatura moderna; Reflexão crítica; Ironia rosiana. Greicy Pinto Bellin TITULO: RESSIGNIFICAÇÃO PARÓDICA E MODERNIDADE LITERÁRIA EM MACHADO DE ASSIS E CAMILO CASTELO BRANCO RESUMO: Linda Hutcheon (1985) afirma que a paródia se apresenta como estratégia própria da literatura moderna, em que um texto é retomado por outro texto com a finalidade de gerar autorreflexividade e autoconsciência, apropriação esta que assume um caráter problematizador e leva o leitor a repensar e a reavaliar determinadas convenções estéticas e até mesmo, culturais. Mikhail Bakhtin (2002) percebe a paródia como um gênero literário de caráter interdiscursivo, dialógico e paradoxal, com alcance político, cultural e ideológico, o que reforça a ideia de que ela poderia ser a via através da qual os escritores exerceriam críticas das mais variadas em relação aos contextos nos quais se inseriam. Com base em tais noções, o objetivo da presente comunicação é analisar comparativamente os romances Coração, cabeça e estômago (1862), de Camilo Castelo Branco, e Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis, levantando a tese de que ambos os escritores, cada um à sua maneira, parodiavam os discursos advindos de um modelo literário alicerçado em uma mentalidade romântica convencional, caracterizada, entre outros aspectos, pela ênfase no sentimento amoroso como elemento regenerador do caráter do sujeito e pela inacessibilidade da mulher amada. Os procedimentos paródicos empregados tanto por Machado quanto por Camilo conduziriam a uma verdadeira ressignificação de seus textos, geradora de um humor, de um sarcasmo e de uma ironia que nos permitem interpretá-los como veiculadores de uma crítica em relação ao modelo romântico de construção francesa, que se encontrava desgastado quando da publicação das Memórias póstumas. No caso de Camilo, a crítica se construiria no sentido de problematizar as relações entre autor, receptor e contexto literário oitocentista, tendo em vista que ele, assim como outros de seus contemporâneos, era escritor profissional, o que geraria uma maneira muito própria de se perceber a dinâmica literária da qual era um dos principais integrantes. PALAVRAS-CHAVE: paródia; modernidade; ironia. Guilherme Augusto dos Santos Póvoa TITULO: DES-AUTORIZANDO HISTÓRIAS: O CASO DE SALMAN RUSHDIE E AMERICAN MCGEE RESUMO: A virada dos últimos anos trouxe novamente à superfície a perigosa, porém inevitável fragmentação dos territórios como conhecíamos. As guerras e invasões, bem como a crise econômica na Europa e nos Estados Unidos da América, acentuaram-nos a percepção de que, em um mundo onde a aceleração da realidade cria novas formas a cada dia, fronteiras nada mais são que imaginárias. Como consequência, isso não é só aplicado ao chão físico, mas também ao chão das ideias. Partindo desse cenário instável, nos focamos em dois objetos: um romance de Salman Rushdie, Luka e o Fogo da Vida (2010), e um jogo de videogame, Alice Madness: Returns (2011), de American McGee. O objetivo deste trabalho é, assim, analisar a constituição do sujeito traduzido sob dois pontos fundamentais: o da fluidez da linguagem e o das vozes do discurso. Como poderemos notar, esses pontos terão um impacto tanto na formação dos autores e na criação de seus projetos artísticos quanto nas identidades propostas para as personagens nas obras escolhidas. Essas produções e personagens, entendidas como frutos de múltiplos discursos, efeitos de linguagem, estão sempre na eminência de serem des-feitas a todo o momento, bem como os territórios em que elas circulam. Sendo assim, elas se tornam essenciais para analisarmos a proposta pós-moderna da escrita de Rushdie e McGee: descentrada, plural e paradoxal. Dessa maneira, eles tornam-se os protagonistas dentro do palco que é o texto literário – produto de complexas relações linguísticas imbuídas de poder. Através de uma mistura de histórias antigas e contemporâneas, canonizadas ou não por instituições ou pelas sociedades, os autores migrantes fazem uma revisitação pós-moderna de diversos temas e histórias em textos que, enquanto híbridos, atravessam diversos códigos linguísticos, campos do saber e linguagens midiáticas. PALAVRAS-CHAVE: Territórios; Intertextualidade; Fluidez da linguagem. Gustavo Moura Bragança TITULO: SOB O SIGNO DE SATURNO: O FRACASSO DA REPRESENTAÇÃO NAS MARGENS DA FICÇÃO EM W.G. SEBALD RESUMO: Propõe-se um ensaio construído ao redor das marcas da melancolia na prosa do alemão W.G. Sebald - destacando-se, entre suas quatro longas prosas, passagens de "Os Anéis de Saturno" e as quatro partes de "Os Emigrantes", sobretudo a quarta parte desta obra habitada por fantasmas errantes, de onde se extrai a imagem emblemática do ateliê do pintor Max Aurach (ou Ferber), cenário onde se concentram os despojos do embate entre o artista e sua tela, no esforço deceptivo da representação, terreno em que se lançam os rastros da tinta que se desprende do suporte como rasura, mas que se afirmam - nas palavras melancólicas do pintor-fantasma emigrado a uma cidade igualmente fantasmagórica - como a verdadeira obra, a única possível ou a impossibilidade da obra: o resultado (que não é um êxito) não é o que se inscreve na tela, mas aquilo que resta às margens, como rastro, resto, detrito, excreção. Imagem alegórica do fracasso que se reverbera na reflexão fingida do narrador ao expor a íntima relação de sua escrita com a rasura, testemunhando o trabalho do escritor como esforço falhado, insistentemente fracassado - o que não implica imobilidade, desistência ou silenciamento. Através da observação atenta das estratégias narrativas de Sebald, pretende-se pôr em jogo a literatura como tarefa falhada: busca melancólica pelo objeto que lhe escapa, a própria literatura, compreendida em sua impropriedade. O trabalho buscará como interlocutores de investigação autores como Susan Sontag, Evelyne Grossman, Giorgio Agamben, Walter Benjamin, Friedrich Nietzsche, Marie-Claude Lambotte, Jacques Rancière, Manuel Gusmão (trazendo-nos a via paralela de uma u-topia falhada em contraponto suplementar à figura da melancolia) estabelecendo ainda breves diálogos transversais com as escrituras de Antonin Artaud, Fernando Pessoa, Pedro Nava e Thomas Bernhard. PALAVRAS-CHAVE: Melancolia; Escrita; Rasura. Gustavo Rodrigues da Silva TITULO: O ESTILO TARDIO LOS CUERNOS DE DON FRIOLERA RESUMO: Quem consagra a noção de Estilo Tardio é o autor Theodor Adorno em seu ensaio El estilo tardío de Beethoven (2008). De acordo com Adorno, uma Obra Tardia é única porque ela causa uma ruptura no cenário literário da época, pois traz novidades impensadas até então. Essa ruptura não é compreendida em um primeiro momento por muitos leitores, que só com um exame detido da obra em questão, como nos propomos nessa comunicação, conseguem captar a grandeza de uma Obra Tardia. Ela é atemporal, pois se distancia do passado pela inovação, se diferencia do presente pelo estranhamento e prenuncia um futuro, dado as suas inovações ser consideradas como referências literárias para obras futuras. Logo, cada Obra Tardia tem um Estilo Tardio único. O autor espanhol Ramón María del Valle-Inclán (1866-1936) tem uma vasta obra literária, com várias peças teatrais. Segundo o autor John Lyon, em sua obra The theatre of Valle-Inclán (2009), o ápice do teatro daquele autor espanhol são os esperpentos. Quando analisamos o Esperpento Los cuernos de don Friolera (1990), percebemos que a obra apresenta algumas inovações literárias para a época, que podem ser enquadradas na noção teórica de Estilo Tardio. Logo, vamos provar o estilo tardio do Esperpento Los cuernos de don Friolera quando comentarmos as suas inovações quanto à forma e ao conteúdo como a grande variação de possíveis sequencias de leitura, a combinação de duas paródias de movimentos literários espanhóis diferentes dentro do mesmo esperpento, a antecipação da sequência de enquadramentos e descrições de personagens do cinema ocidental moderno, entre outros aspectos. Esse caráter tardio do esperpento citado reflete o exaurimento das formas literárias existentes e questiona o status de obra ficcional no começo do século XX, além de ditar novos rumos para a literatura espanhola e, quiçá, ocidental. PALAVRAS-CHAVE: Teoria Literária; Estilo Tardio; Literatura Espanhola. Gustavo Rodrigues Penha TITULO: A ESCRITA POR PERSONAGENS EM PASSIONNÉMENT (1948) DE GHÉRASIM LUCA E RÉCITATIONS (1978) DE GEORGES ARPEGHIS RESUMO: Música e poesia operam cada uma com seus próprios meios, mas não deixam de se contagiar mutuamente e se afetar uma à outra por e através de seus próprios modos de pensar artisticamente. Além disso, há estratégias composicionais que não pertencem exclusivamente a nenhuma arte em particular, mas que transitam entre as diferentes práticas artísticas produzindo sensações e efeitos os mais plurais. Uma dessas estratégias composicionais é a escrita por personagens, ou composição por personagens, que aqui será tratada a partir de singulares processos criativos poéticos e musicais. A escrita por personagens não aponta para o desenvolvimento ou as aventuras de um personagem num contexto narrativo linear, mas sim para as forças de tensão e deformação que atuam sobre um personagem na relação com outros personagens, em seus entrelaçamentos de velocidades variáveis, nas sequências e simultaneidades em que são postos, etc. (FERRAZ, 2004). Essa estratégia composicional foi explorada, por exemplo, por Ghérasim Luca em Passionnément (1948), poema em que sílabas e fragmentos de palavras tornamse eles mesmos personagens que se chocam, se modulam, se reagenciam e se tensionam por meio de repetições gaguejantes deslocadoras dos sentidos linguísticos e deformadoras do fluxo sonoro tradicional de leitura de um poema. Já na música, a composição por personagens pode ser observada em algumas das Récitations (1978) de Georges Aperghis, em que por um processo de repetição e acumulação dos materiais sonoros, o compositor faz com que fonemas, sílabas, palavras, sonoridades e gestos vocais se tornem personagens potencialmente manipuláveis por linhas de variação musical. O objetivo dessa apresentação é, portanto, abordar a estratégia da escrita por personagens enquanto estabelecedora de um campo de ressonância entre música e poesia fecundo à criação de novas conexões e sensações. APERGHIS, Georges. Récitations. Paris: Éditions Salabert, 1982[1978]. DELEUZE, Gilles. Critique et clinique. Paris: Minuit, 1992. DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Mille Plateaux. Paris: Minuit, 1980. FERRAZ, Silvio e MALUFE, Annita Costa. “Poema-em-música ou a imersão nas palavras” in: Synergies Brésil, v. 09. São Paulo: USP, 2012 FERRAZ, Silvio. “Composição por personagens: a escrita de Casa Tomada e Casa Vazia” in: Em Pauta, v.15, nª24. Porto Alegre: UFRGS, 2004 LUCA, Ghérarim. “Passionnément” in: Héros-limite. Paris: Éd. Le soleil-noir, 1953[1948]. MALUFE, Annita Costa. “Descolacamentos do sentido em Deleuze: implicações para a leitura” in Alegrar, v. 8. Campinas: 2011. PALAVRAS-CHAVE: personagens; poesia; música. Gustavo Silveira Ribeiro TITULO: INVENTÁRIO LÍRICO DO HORROR - LEITURA DA "ANTOLOGIA DA MEMÓRIA POÉTICA DA GUERRA COLONIAL" RESUMO: Trabalho feito cuidadosamente a quatro mãos, a organização da "Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial" (Afrontamentos, 2011), por Roberto Vecchi e Margarida Calafate Ribeiro, estabeleceu um fato verdadeiramente novo no cenário da cultura lusófona sobre o conflito colonial, uma vez que consegue oferecer um panorama amplo, ao mesmo tempo íntimo e impessoal, da catástrofe que que se abateu sobre Portugal e as nações africanas que, submetidas, lutavam por sua independência política e social. A recolha de vozes anônimas, de materiais até então invisíveis para os estudiosos da literatura da guerra colonial (os poemas dispersos em cartas, diários, canções), de mistura com o trabalho de seleção e análise cuidadosa da produção canônica em torno do conflito, dão à 'Antologia' um caráter único e uma dimensão efetiva de arquivo subjetivo da violência colonial. Diante disso, o presente trabalho pretende oferecer uma leitura da ‘Antologia’ a partir de um dos seus elementos decisivos: a multiplicidade, aqui desdobrada em duas frentes distintas: a) a multiplicidade ideológica que o caracteriza – com textos que cobrem o amplo espectro das discussões sobre o conflito e a questão colonial no mundo português, contra e a favor, em perspectiva interna e externa; e b) a multiplicidade de formas e discursos que a constitui – em referência à heterogeneidade de uma cultura que relegou ao subterrâneo e à marginalidade, no momento específico dos acontecimentos, a elaboração dos traumas e interditos da empreitada colonial. PALAVRAS-CHAVE: Roberto Vecchi; Interdito; Guerra colonial. Haidê Silva TITULO: FICÇÃO, HISTÓRIA E MEMÓRIA EM ALMEIDA GARRETT E JOSÉ SARAMAGO RESUMO: O objetivo do presente trabalho é analisar as relações entre Ficção, História e Memória na novela Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett e no romance Viagem a Portugal, de José Saramago. Escrito no século XIX, Viagens na Minha Terra é considerado um romance paradigma da primeira fase do Romantismo em Portugal, cuja proposta literária era justamente ser “a crônica do passado, a história do presente, o programa do futuro”, de acordo com o próprio autor- narrador. E, através da viagem pelo interior de seu país, o autornarrador busca o sentido do que é ser português em um momento de drásticas mudanças no país, já que o romance tem como contexto histórico a Revolução Liberal. Viagem a Portugal, por sua vez escrito no final do século XX, é resultado de uma viagem que o autor fez por Portugal, com o intuito de descobrir novos caminhos, para além daqueles que todos conhecem e identificam, conforme as palavras do próprio autor “Não sei por onde vou, só sei que não vou por ai”, é o lema da viagem. O diálogo que se estabelece entre as obras aparece explicitamente na dedicatória de Saramago “A quem me abriu portas e mostrou caminhos – e também em lembrança de Almeida Garrett, mestre de viajantes”. Tal diálogo vai muito além do fato de ambas serem relatos de viagem, uma vez que a “viagem” faz referência a uma série de reflexões políticas, históricas, filosóficas e existenciais que as personagens protagonistas tratam cada uma a seu modo, e ao tecer essas reflexões, estabelecem-se relações entre ficção, história e memória. PALAVRAS-CHAVE: Ficção; História; Memória. Haline Fernanda Silva Melo Neusa Gonzaga de Santana Pressler TITULO: LER E VER A LITERATURA NO SMARTPHONE: UM ESTUDO DOS ADOLESCENTES DE GOIANÉSIA DO PARÁ (PA) E A LEITURA NOS MEIOS DIGITAIS. RESUMO: Este trabalho é parte da pesquisa do projeto de dissertação desenvolvida no Programa de Mestrado em Comunicação, Linguagem e Cultura da Universidade da Amazônia - UNAMA. Nele, são descritas algumas experiências com o universo do adolescente, literatura e práticas interacionais de comunicação no ensino médio. O objetivo deste artigo é refletir, em que medida e de que forma, a mediação dos meios digitais podem contribuir para o ensino e aprendizagem de literatura do adolescente estudante de Goianésia do Pará (PA). Para tanto, com uma visão interdisciplinar, este estudo articula-se entre as categorias “Ensino de Literatura” – Regina Zilberman e Ezequiel Theodoro Silva, “Mediação” - Martín-Barbero (2009) e “Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC)” - Mark Warschauer (2006). A pesquisa final revelou um recorte interessante para análise, uma vez que os meios digitais motivam as práticas interacionais entre os adolescentes discentes e docentes no ensino de literatura no cenário do sudeste paraense. PALAVRAS-CHAVE: Adolescentes; Meios Digitais; Literatura. Harley Farias Dolzane TITULO: ENTRE LEÕES: ABEL E O ACOLHIMENTO DO DESTINO COMO ABERTURA PARA SER LIVRE RESUMO: Trata-se de interpretar o fio narrativo ou tema "T - Cecília entre os Leões" que compõe, com outros sete, o romance Avalovara de Osman Lins. No referido tema narra-se o envolvimento de Abel, protagonista do romance, com Cecília, personagem que configura uma confluência de opostos, nunca dicotômicos, e realiza, por seu desempenho na trama, a própria passagem de Abel para acercar-se da plenitude criativa-amorosa-existencial que a construção do romance elabora e propõe ao leitor que com ele se dispõe a dialogar. Reforçam essa interpretação as figurações de Hermes, Janus e Afrodite, em Hermelinda, Hermenilda e na própria Cecília, uma hermafrodita. No amar Cecília, no atravessar e ser atravessado pelos seres que nela confluem, abre-se a possibilidade de ser livre como aprendizagem: aprendizagem de um paradoxo em que, tanto mais se é livre, quanto mais se acolhe criativamente o destino. Isto implica um exercício da compaixão a que o título do romance alude ao reverberar o nome da divindade Avalokiteshvara. Compaixão (com-pathos) que é a dor de ser que a todos envolve e que Abel começa a reconhecer ao longo do tema T. PALAVRAS-CHAVE: Avalovara; Destino; Liberdade. Haroldo André Garcia de Oliveira TITULO: NEM DAMA, NEM VALETE: O DESBUNDE E O CORPO MILITANTE DOS DZI CROQUETTES RESUMO: Este trabalho tem como objetivo geral investigar a presença de um corpo militante na produção teatral do grupo Dzi Croquettes e seus reflexos no cenário artístico contemporâneo brasileiro, a partir do documentário homônimo de Tatiana Issa e Raphael Alvarez (2009). Buscamos identificar os momentos de elaboração e afirmação do termo "homoerótico" e analisar suas principais características no corpus apresentado. O resultado deste estudo assinala a abertura para a reflexão das múltiplas possibilidades de exercício da sexualidade humana e promove o corpo como um instrumento de visibilidade à diversidade de gênero sexual. Neste sentido, consideramos o desbunde, o movimento contracultural dos anos 60 e 70, que sobrevive como simulacro, expresso nos corpos e na dança de artistas como Ney Matogrosso. PALAVRAS-CHAVE: antropologia; corpo; desbunde. Heidrun Krieger Olinto TITULO: IMAGENS RETOCADAS NA ESCRITA DE SI RESUMO: A reflexão proposta focaliza questões de autenticidade e referência nas fronteiras de textos autobiográficos e autoficcionais e de suas formas híbridas, produzidos por autores que se confrontam, no início do século 21, com as sombras do passado. O estranhamento diante da descoberta de cenas e eventos da vida, esquecidos, sublimados ou ocultados, motiva as minhas indagações acerca da memória e de processos de rememorização que, na ótica retrospectiva e no horizonte de determinadas intenções, filtram, inventam e articulam, em imagens compósitas e dissonantes, experiências e condutas perturbadoras do passado. Os efeitos da distância temporal em construções identitárias distintas serão analisados, de modo exemplar, na escrita de si de escritores, intelectuais e historiadores que, participando de momentos históricos complexos ou retirandose para o exílio interior, tentam interpretar as próprias vivências, posturas, atos e sentimentos na forma de exames de consciência, justificativas, questionamentos políticos ou éticos que, em seu conjunto, traduzem visões contraditórias de mundos em tensão nas constelações referenciais plurais de suas realidades históricas, sociais e culturais. Neste âmbito, a minha contribuição oferece ainda um pequeno recorte do espectro de variações estratégicas na configuração escritural de discursos autobiográficos recentes – em primeira, segunda e terceira pessoa – que expressam a expansão dos próprios conceitos de literatura e autobiografia. PALAVRAS-CHAVE: Escrita de si; Autoficção; Memória. Helio Castelo Branco Ramos TITULO: CONCEPÇÕES DE LÍNGUA(GEM) E PRÁTICAS DE LETRAMENTO LITERÁRIO RESUMO: Entre as críticas que vêm sendo feitas ao ensino de Literatura (Aguiar e Bordini, 1993; Lajolo, 1994; Pinheiro, 2009; Cosson, 2009), destacamos a ênfase dada à identificação de elementos estruturais e estilísticos que remetem a uma noção abstrata e generalista sobre as diferentes estéticas literárias. Toda prática de letramento literário encerra em seus pressupostos teóricometodológicos uma concepção de língua(gem), que orienta o modo como concebemos o fenômeno literário e seu ensino. Assim, partindo da concepção de língua(gem) saussuriana e também promovendo uma ruptura com estudos filológicos e biográficos, os formalistas russos “reduziram” a obra literária aos seus aspectos formais, de modo que ela se tornaria distinta de uma suposta língua(gem) cotidiana. Como o processo de transposição didática passa também por uma assimilação das pesquisas acadêmicas, cremos que essa ênfase dada à forma da obra literária contribuiu para que o ensino da compreensão leitora do texto literário ficasse restrito à identificação de aspectos estruturais e estilísticos. Retomando as contribuições do Formalismo Russo, o Círculo de Bakhtin, com base numa concepção dialógica de língua(gem), defende que os aspectos estruturais e estilísticos de um texto literário são uma dimensão do fenômeno literário. Para o Círculo, o discurso literário é antes de tudo um dizer que se insere numa cadeia discursiva, por isso, sua compreensão não pode ser reduzida a um processo de análise estrutural-estilístico. Com base nos pressupostos do Círculo, propomos uma análise dividida em dois momentos. Inicialmente, fazemos uma reflexão sobre a relação entre o conceito de língua(gem), de literatura e de ensino de leitura literária através das concepções de língua(gem) saussuriana e dialógica. Em seguida, apresentamos uma proposta de sequência didática construída a partir do poema O homem; as viagens, de Drummond, que busca promover o letramento literário na interface com o letramento de gêneros discursivos não literários. PALAVRAS-CHAVE: Noções de línguagem; Letramento literário; Círculo de Bakhtin. Helio Rodrigues da Rocha TITULO: HISTÓRIA, MITO E FICÇÃO: MADAME GODIN EM THE LOST LADY OF THE AMAZON, DE ANTHONY SMITH RESUMO: O presente texto tem como objetivo central mostrar um exemplo de como as personagens históricas Isabela de Grandmaison y Bruno, uma jovem peruana casada com Jean Godin des Odonais, um geógrafo francês membro da expedição de Charles-Marie La Condamine, aos Andes Peruanos, nos idos de 1735, migram das páginas da história emergindo no discurso literário como protagonistas de The lost lady of the Amazon: the story of Isabela Godin and her epic journey (2003), último romance do escritor inglês Anthony Smith (1926 2014). As duas personagens, pertencentes a mundos díspares, enfrentam duas décadas de separação antes de sua união definitiva. Personagens importantes no contexto hispano-americano, Isabela e Jean Godin não podem libertar-se de um mundo complexo, obscuro e ambivalente que constitui a memória. O romance, ao que parece, desmistifica as dificuldades físicas e geográficas e abre as possibilidades de se reescrever e repensar e ressignificar a história dessa região da América do Sul. PALAVRAS-CHAVE: História e Literatur; romance histórico su; Isabela e Jean Godin. Heloísa Helena Siqueira Correia TITULO: PERSONAGENS DE HUMANAS E NÃO HUMANAS ANDARA: FANTÁSTICAS, INSÓLITAS, RESUMO: O presente trabalho procura abordar a dimensão fantástica/insólita dos personagens humanos e não-humanos das narrativas de Viagem à Andara, o livro invisível, de Vicente Franz Cecim. Seres naturais e míticos, animais, pessoas e objetos são personagens que agem de modo inusitado e potencializam o processo de delineamento do que o autor denomina literatura fantasma. Na obra do autor entram em cena os movimentos de construção, fragmentação e evanescimento de Andara, região possuidora de loci fantásticos, campo movediço, amazonia imaginária e concreta, local de lances sublimes mas também da violência e do ininteligível. Andara ora é habitada concretamente pelos seres humanos e não-humanos, ora é lugar devastado e selvagem ou, ainda, é sítio que surge como entrelugar entre Santa Maria do Grão e a floresta. Nosso objetivo é analisar a dimensão fantástica/insólita dos surpreendentes personagens de Andara, tais como pássaros que se tornam terra, um morto que volta à vida, uma mulher que possui asas, animais misteriosos e fantasmas, enfocando também os aspectos históricos e os dados sociais que dividem, com o insólito, a tarefa de articular o invisível. Para tanto dialogaremos, de um lado, com as teorias do insólito e do fantástico literário (ROAS, ALAZRAKI, GARCIA), de outro com os estudos animais (DERRIDA, MACIEL, NASCIMENTO) e a ecocrítica (GARRARD). PALAVRAS-CHAVE: Fantástic. Vicente Cecim; Literatura Fantasma; Personagem Hermano de França Rodrigues TITULO: A FACE OCULTA DE NARCISO: ECOS DA MELANCOLIA NA LÍRICA MEIRELIANA RESUMO: A literatura, enquanto gesto criativo, predica o vazio, a dor, a melancolia. Dos seus significantes, o poeta extrai o bálsamo com o qual busca, desesperadamente, suportar as perdas, tantas vezes inconscientes, sobrevindas da singularidade de sua existência. Os amores, que lhes são sempre estrangeiros, quando o desamparam, não se compadecem de seu drama, apresentando-lhe, na crueza da separação, a amargura e a tristeza, em cujos braços esquálidos encontra o alento para vivificar os ideais e euforias. O melancólico revive, assim, sem perceber, o destino trágico de narciso. Todavia, inclina-se não para sua própria imagem (frágil em seus contornos), mas declina-se ao ser tomado pela sombra do objeto amado, sorvida de maneira canibalesca para, desse modo, permanecer aprisionada ao seu amante insatisfeito. Como nos diz Kristeva (1989, p.11), “não há escrita que não seja amorosa; nem imaginação que não seja, aberta ou secretamente, melancólica. Partindo dessa colocação, acreditamos que a lírica produzida por Cecília Meireles conclama, na hiância do simbólico, a morte e os seus afetos, de modo a erigir uma poética dissolvida nas catexias (des)estruturantes da melancolia, onde Eros revela-se intragável e repulsivo. Esta pesquisa almeja decifrar, a partir de uma ótica psicanalítica, forjada nas teorizações de Sigmund Freud e Melanie Klein, os enigmas da melancolia que percorrem a poesia meireliana, colorindo-a de nuances fortes e hipnotizantes. Certa parcela da crítica literária oferta-lhe, com frequência, um tímido não-lugar, sem reconhecê-lo naquilo que o condiciona, sem compreendê-lo verdadeiramente em sua dimensão estética. O eu, vivo e efêmero da poética de Cecília Meireles, faz da transitoriedade da vida o elemento a partir do qual revela a fragilidade da palavra, a precariedade do ser vivente e, ao mesmo tempo, sua insistência em resgatar certos fantasmas de plenitudes intocáveis. Referências FREUD, Sigmund. Luto e Melancolia [1915]. In: Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1976. KLEIN, Melanie. Inveja e Gratidão – e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1991. KRISTEVA, Julia. Sol Negro – depressão e melancolia. Rio de Janeiro: Rocco, 1989. LAMBOTTE, Marie-Claude. O discurso melancólico. Rio de Janeiro: Cia de Freud, 1997. PERES, Urania Tourinho. Melancolia. São Paulo: Escuta, 1996. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Psicanálise; Melancolia. Hilario Antonio Amaral TITULO: ANDREA CAMILLERI, A NARRATIVA POLICIAL ENTRE A IMAGEM E A PALAVRA RESUMO: O comissário Salvo Montalbano é um personagem célebre, seja através dos livros ou da série de episódios produzidos para o cinema e TV. Camilleri, por sua vez, depois de muita resistência por parte da crítica, é um autor reconhecido e admirado na Itália e no exterior. Seu sucesso coloca-nos diante de um “caso literário” sem precedentes na Itália. Uma leitura atenta da sua obra revela-nos alguns fatores fundamentais para o seu sucesso, como a ausência de uma “letteratura di intrattenimento alto”; a leitura fluida dos textos, onde se destaca a facilidade com que o autor cria os diálogos entre as personagens (capacidade desenvolvida durante os anos de trabalho como diretor de teatro e roteirista); o otimismo fundamental das histórias que reproduzem uma Sicília capaz de reagir às injustiças e aos abusos de poder; uma linguagem livre que possibilita a criação de situações de altíssima comicidade através da mistura de italiano e dialetos. PALAVRAS-CHAVE: narrativa policial; literatura; cinema. Hiran de Moura Possas TÍTULO: MÍSTICA: LITERATURA EM ENTRELACES RESUMO: Das simbioses da literatura com outras linguagens e do cotidiano com o imaginário resultam experimentações ilimitadas, uma delas a mística nascida nas “trincheiras” dos movimentos sociais. Entendendo a vida como mistério, rememoriza-se, no entrelace do real com o maravilhoso, da música com o poema e da vocalidade com o escrito, o percurso histórico de sujeito políticos antagônicos às “lógicas” de predação do homem e da natureza. Migrando da vida para a Academia, especialmente no curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade do Sul e Sudeste do Pará, a mística evoca histórias de vidas confinadas no esquecimento das memórias “paradigmáticas”. Nos seus devires, sem fim, a Literatura é tomada por corpos epistêmicos “estranhos”, religando, talvez, as linhas fraturadas pelas fronteiras abissais impostas pelos processos ininterruptos de “ocidentalização”. Um olhar para essas experiências “misteriosas” é também tentativa de reconhecimento, mesmo parcial, desses sujeitos e de suas historicidades. PALAVRAS-CHAVE: Mística; Literatura; Campo. Horst Rolf Nitschack TITULO: LA AMÉRICA DE LAS ‘TRES RAZAS’. EL DILEMA DE UN MITO FUNDACIONAL RESUMO: En los años 20 y 30 del siglo pasado surgieron paralela e independientemente propuestas importantes de pensar una América Latina desde su propio pasado y con un propio futuro. Estos discursos reconocen que la historia de América no solamente está hecha por el conquistador y colonizador blanco, sino que la contribución de los habitantes originarios, los indígenas, y de los migrantes forzados de África, los esclavos, es fundamental (el “mito de las tres razas” (Roberto DaMatta)). El futuro prometedor del continente, igualmente, dependería de una convivencia productiva entre estos actores (mestizaje) en la cual sus prácticas culturales se complementarían y garantizarían no solamente el bienestar de esta América, sino la superación del imperialismo del hemisferio del norte. La ponencia se propone analizar e interpretar críticamente tres de las propuestas más destacadas, La raza cósmica (1925) de José Vasconcelos, Siete ensayos de interpretación de la realidad peruana (1928) de José Carlos Mariátegui y Casa grande e senzala (1933) de Gilberto Freyre desde su contexto histórico y político con la hipótesis que los tres ensayos, a despecho de todas sus diferencias, comparten una sobrevaloración de la temática racial en su interpretación del pasado y del futuro de América Latina. PALAVRAS-CHAVE: América Latina; raza; convivencia. Humberto Fois-Braga Ana Beatriz Rodrigues Gonçalves TITULO: AS MOTIVAÇÕES DE VIAGEM NA COLEÇÃO AMORES EXPRESSOS (CIA. DAS LETRAS) RESUMO: Entendemos a viagem enquanto uma faceta da mobilidade dos sujeitos em deslocamento físico, desdobrando-se em um processo de subjetivação da experiência que envolve um ritual de passagem no antes, durante e após este trânsito de um ponto territorial a outro (KRIPPENDORF, 2000; LEED, 2008). Por sua vez, o sujeito da viagem, o viajante, é representado, principalmente, a partir de seus motivos de deslocamento: turistas, imigrantes, refugiados e exilados são, em termos gerais, as principais categorias (ROCHE, 2003; GIDDENS, 2005). Já o conceito de estrangeiro se vincula à situação desses viajantes referenciados a partir do seu local de chegada, o que faz com o que o termo traga em si a ideia de deslocamento não somente físico, mas também social e subjetivo. Dentro dessas premissas, a comunicação proposta dividir-se-á em dois momentos. No primeiro, derivando os argumentos de Pires (2014) que nos diz ser os deslocamentos uma das “vertentes” da literatura brasileira, pretendemos compreender o significado das viagens na ficção nacional, com foco nos romances contemporâneos. Já no segundo momento, propomos uma macroanálise dos motivos de viagem nos dez romances da Coleção Amores Expressos, cujos autores passaram um mês em uma cidade no exterior para, posteriormente, escrever um história de amor que envolvessem estas urbanidades que estão para além da fronteira brasileira. Para tal discussão, partimos do pressuposto de que os enredos de amor em tais romances estão atrelados aos motivos de viagem, e estes são compreendidos a partir da dialética entre as fugas e buscas dos personagens viajantes. Derivando destas motivações, dividiremos os romances em duas categorias - as viagens circulares e as viagens de retorno suspenso -, percebendo, com isso, que a própria viagem enquanto processo positivado de transformação e aprendizado é desconstruída, sendo convertida no locus privilegiado para um anti-bildungsroman. PALAVRAS-CHAVE: Motivações de viagem; Anti-bildungsroman; Amores Expressos. Idemburgo Pereira Frazão Félix TITULO: NAS MARGENS DA FICÇÃO: REFLEXÕES SOBRE MARGINALIDADES NAS NARRATIVAS DE CONCEIÇÃO EVARISTO RESUMO: Principalmente após o surgimento das importantes discussões suscitadas pela obra da crítica indiana Gayatri Spivak, "Podem os subalternos falar", aumentaram as produções de textos sobre a problemática da “subalternidade” (ou da marginalidade na literatura). Remontando a reflexões como as de Silviano Santiago e Roberto Schwarz, respectivamente, relativas às “coisas fora de lugar” e “entre-lugar”, refletir sobre o lugar das marginalidades na literatura brasileira significa adentrar um “lucus” nada “amoenus”, remetendonos, aqui, ao “locus amoenus” da antiguidade clássica. Ao contrário, tratar da problemática da marginalidade exige, além de um cuidado especial com sua conceituação,que se utilize o termo marginalidade, no plural. Trata-se, então, não de marginalidade, mas de marginalidades, pois as próprias margens individuais e/ou coletivas podem levar a paragens diversas, dispersas, inclusive, em campos disciplinares também diversos. Da problemática dos portadores de vitiligo aos moradores de comunidades carentes, passando pela questão dos preconceitos raciais, sexuais, dentre inúmeros outros, o estudo das marginalidades não permite simplificações e sempre se corre o risco de se perder em meio a generalizações difíceis de serem contidas. Na literatura, a confusão provocada no trato das marginalidades se apresenta, paradoxalmente, como um campo fértil e de necessário aprofundamento. O presente trabalho intenta estudar a questão das marginalidade nas narrativas de Conceição Evaristo, com ênfase na trajetória das personagens femininas negras. A relação entre a vivência em “espaços de marginalidade” - sejam os mesmos relativos à pobreza das comunidades carentes ou ao sofrimento provocado pelo preconceito em relação aos negros e às mulheres – a literatura e a memória é um dos principais eixos das reflexões sobre literatura e marginalidade nas margens das narrativas de Conceição Evaristo. PALAVRAS-CHAVE: Marginalidades; Conceição Evaristo; Narrativas. Ilmara Valois Bacelar Figueiredo Coutinho TITULO: ELES ERAM MUITOS CAVALOS: LIMIARES DE CONFLITOS E RESISTÊNCIAS RESUMO: O presente texto discute o entrelaçar de linguagens e realidades patentes ao romance Eles eram muitos cavalos, de Luiz Rufato, enquanto palavra que molda espaços simbólicos, moldando também espaços sociais, culturais, políticos e existenciais. A tessitura narrativa traz episódios dignos de um colecionador benjaminiano, um colecionador disposto a fazer exposições (des)ordenadas de estilhaços-vidas, de fragmentos-mundos, com base em cacos de uma realidade metonímica, não totalitária para a cidade e suas contradições. As fragmentações na forma, na perspectiva narrativa e nos conteúdos literários materializam territorialidades nômades, reconfigurando zonas fronteiriças entre o mundo letrado e suas formas-poder de representação. Rasuradas a transparência do real, da linguagem, da existência, bem como a feitura de histórias “belas” a camuflar a ambiguidade do ser humano, o romance traça o abismo que se coloca entre vidas (des)enredadas na solidão das grandes cidades. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica fundamentada por autores como: Giorgio Agamben, Maurice Blanchot, Regina Dalcastagnè, George Steiner, Walter Benjamin, entre outros. PALAVRAS-CHAVE: Contemporâneo; Conflitos; Resistência. Ilton Ribeiro dos Santos TITULO: A MELANCOLIA DE D. CELESTE, EM PASSAGEM DOS INOCENTES, DE DALCÍDIO JURANDIR RESUMO: O escritor paraense Dalcídio Jurandir (1909 – 1979) é autor do ciclo Extremo Norte, dez romances, publicados entre os anos de 1941 e 1978, os quais narram vivências de personagens embriagados tanto no espaço geográfico e cultural da Ilha do Marajó quanto nos espaços citadinos de Belém do Pará. Esses personagens são apresentados em uma atmosfera de agitação, aturdimento psíquico, expansão das possibilidades de experiência e destruição. Destarte para o romance Passagem dos Inocentes (1963) em que dois importantes personagens, Alfredo, menino que vem estudar em Belém, e D. Celeste, sua prima e acolhedora, moradora da Passagem dos Inocentes, no bairro Umarizal (Belém). A personagem vive momentos em que se instala atmosfera melancólica, ora presa em seu tempo presente, ora presa na memória de sua grande a ventura, a fuga no vapor Trombetas. A personagem tem consciência das mudanças de seu tempo, do desmoronamento econômico de sua família, e de sua calamitosa vida no subúrbio de Belém. Essas situações provocam certos espaços meditativos e melancólicos. O objetivo desse estudo é analisar os momentos em que a melancolia é constituída no estado meditativo da personagem D. Celeste, desde os instantes em que empreende a fuga no vapor Trombetas até sua difícil moradia na periferia da capital. Os teóricos que darão sustentação a nossa análise serão Berman (1998) que entende a experiência da vida como um evento perigoso; em Lages (2007) e Assmann (2011) que auxiliarão na análise dos espaços melancólicos no romance. Procurar entender a melancolia de Celeste nesta narrativa ajuda a compreender as diferentes tensões de grandes transformações que aconteceram e acontecem na estética literária, sobretudo a partir da década de 1960, como também no espaço de uma cidade na Amazônia. PALAVRAS-CHAVE: Melancolia; Passagem dos Inocent; Transformações. Imara Bemfica Mineiro TITULO: "UNE BOUTEILLE À LA MER": O LUGAR DO COMPONENTE ‘AFRO’ NA PROPOSTA VANGUARDISTA DA REVUE INDIGÈNE (HAITI, 1927) RESUMO: Nas primeiras décadas do século XX, os países da América Latina assistiram à emergência de variadas propostas vanguardistas as quais, a despeito da heterogeneidade de seu conjunto, podem ser notadas a partir do gesto comum de (re)pensar e (re)significar as identidades coletivas. Nesse contexto surge Revue Indigène, no Haiti, cuja proposta é difundir as “artes e letras” próprias à cultura nacional, buscando identificar uma “autenticidade” que servisse de suporte para as gerações futuras. É, pois, a partir dessa publicação que se pretende discutir questões concernentes ao esforço de significação de uma cultura haitiana, bem como o papel confiado à literatura como “instrumento de conhecimento” dessa cultura. Nesse esforço empreendido pela Revue Indigène se faz presente o diálogo com outras produções intelectuais latino-americanas e a avaliação a respeito da proximidade e do distanciamento entre o Haiti e as colônias hispânicas ou portuguesa na América. As noções de raça e de mestiçagem encontram-se no cerne dessa avaliação, assim como a identificação de semelhanças históricas de seus passados coloniais. O objetivo da presente proposta é, pois, de analisar o lugar atribuído ao componente ‘afro’ na ressignificação da identidade coletiva alimentada pela revista. Tal análise é proposta a partir do manifesto que inaugura o primeiro número da Revue Indigène, em 1927, e do corpus literário que ela mobiliza apostando no potencial literário de formular “paisagens interiores” a partir da poesia nacional. PALAVRAS-CHAVE: Afro-antilhanismo; Revue Indigène; Vanguarda literária. Inara Ribeiro Gomes TITULO: DEJETOS DE UM TEMPO FALHADO: FICÇÃO E HISTÓRIA EM CINZAS DO NORTE, DE MILTON HATOUM RESUMO: Se toda história é narrativa, mesmo quando pretende se afastar das regras da intriga, a narrativa ficcional só pode ser histórica, na medida em que carrega a marca indelével da dimensão social e coletiva dos materiais humanos de que é formada, por mais que o referente extraliterário seja negado, fracionado ou subjetivado na consciência dos entes ficcionais. Em qualquer caso, de acordo com a tese de Paul Ricoeur, ela é mediação entre o ser humano e o tempo – refigurando-o e recuperando o vivido. A recuperação do memorável depende da posição do sujeito que o enuncia no seu presente histórico. Na narrativa literária, os modos de apreensão da experiência são variáveis e problematizados, dada a amplitude de possibilidades de perspectivas que se oferecem ao narrador. Os romances de Milton Hatoum exploram a posição periférica do narrador na reconstrução sempre lacunosa de acontecimentos dos quais não foram os protagonistas, mas que são impelidos a narrar por meio da escrita. Assim em Cinzas do Norte, em que os eventos ficcionais aparecem tensionados pela história recente do Brasil, coincidindo com o período da ditadura militar e com o processo de modernização devastadora da cidade de Manaus. São esses aspectos que pretendemos desenvolver na leitura do romance, acompanhando a atividade narrativa do personagem-narrador na reelaboração das relações violentas de personagens enredados na história – e de como ele assim supera sua inação em relação à realidade sociopolítica do tempo que lhe coube viver. PALAVRAS-CHAVE: ficção e história; Milton Hatoum; Cinzas do Norte. Irenísia Torres de Oliveira TITULO: A NECESSIDADE DE CRIAR(-SE): OS PRIMEIROS ESBOÇOS DE FICÇÃO DE LIMA BARRETO E O CONTEXTO PÓS-ABOLIÇÃO NO BRASIL. RESUMO: Os primeiros esboços de ficção de Lima Barreto encontram-se no Diário Íntimo e acompanham pari passu o exercício de criação de si mesmo no diário. Este trabalho pretende mostrar como modelos similares de concepção da subjetividade atuam na percepção/construção do eu e na criação destas primeiras tentativas de personagens. Longe da acusação de “personalismo” que lhe fez a crítica da época, e até contrariamente a ela, a intenção é pensar como uma certa noção de subjetividade funcionou como vaso comunicante entre a experiência individual, fortemente enraizada no contexto histórico pós-abolição no Brasil, e a ficção de Lima Barreto. Devido a isso, o autor seria o primeiro a produzir ficção no Brasil juntando, ao mesmo tempo, o estudo e a denúncia dos problemas que ele enfrentava diretamente no cotidiano (o romance como forma de conhecimento de si e do mundo contemporâneo) e o ânimo polêmico do humanismo iluminista, perceptível na atitude e dicção críticas. A conclusão é que Lima Barreto foi o primeiro escritor no Brasil que fez romances sociais para atender a inquietações próprias, tendo incorporado como nenhum outro até então – por afinidade, não apenas por influência -- aquela atitude que levou os melhores escritores românticos europeus ao romance. PALAVRAS-CHAVE: Lima Barreto; Primeira República; Romance. Irene Corrêa de Paula Sayão Cardozo TITULO: REESCRITAS FANTÁSTICAS E FANTASMÁTICAS DO “EU” EM MARIE NDIAYE RESUMO: A fim de problematizar oposições intransponíveis entre o real e o fictício, estranho e familiar, natural e sobrenatural, buscarei pensar as estratégias narrativas empregadas pela escritora francesa Marie NDiaye nos romances Mon coeur à l’étroit e Autoportrait en vert para subverter os modelos da literatura realnaturalista através de diversas manifestação do insólito. Trata-se de mostrar como os romances resistem à transparência (do “eu” social) visando à parte mais rebelde do sujeito interno (o “eu” íntimo), seus fantasmas, delírios e recalques. Procurarei analisar como a construção ou a desintegração da realidade – que vão de duplicações/ desdobramentos e anuviamentos do “eu” às inusitadas manifestações do insólito no mundo exterior – afetariam a busca identitária e a expressão da alteridade das narradoras, sinalizando para uma impossibilidade de realização plena no mundo real. Para tal fim, tomarei como referências teóricas as reflexões sobre o fantástico de Tzvetan Todorov e seus desdobramentos e contrapontos nas abordagens de Irène Bessière, Renato Prada Oropeza e Bellemin-Noël. Ademais, o presente artigo tem em conta a abordagem psicanalítica do insólito através da interpretação freudiana do “estranho” e do “fantasma”, bem como dos conceitos de “Real” e de “estádio do espelho” (para pensar o fenômeno do duplo) elaborados por Jacques Lacan. Nessa perspectiva psicanalítica, a narrativa fantástica pode ser pensada como a relação entre a realidade do mundo que habitamos e a realidade do mundo que habita em nós. PALAVRAS-CHAVE: Fantástico; Psicanálise; Insólito. Irene Izilda da Silva Marcio Jean Fialho de Sousa TITULO: TECENDO NOVOS CAMINHOS E NOVOS OLHARES PARA O ENSINO DE LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA RESUMO: Este trabalho propõe uma reflexão acerca do contexto de vivências a partir de uma (re) significação de África e a construção de um novo olhar sobre a população africana e a diáspora afro-brasileira, dialogando com um viés literário como uma das propostas da Lei 10639/2003, e do Parecer 003/2004, que discorrem acerca das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, além de buscar refletir sobre como essas Orientações têm sido colocadas em prática nas salas de aula de Ensino Básico. Como recorte de análise foi proposta a leitura da obra “O gato e o escuro”, de Mia Couto como contextualização das experiências de ensino e de práticas culturais de modo a estabelecer diálogos entre o Brasil e Países Africanos de Língua Portuguesa. Essa leitura e reflexão foram apresentadas, ainda, em um evento de Formação Continuada de Professores oriundos de um curso de Pós-graduação em Alfabetização e Letramento, de uma Instituição Privada de Ensino Superior do Estado de São Paulo, no qual os professores presentes puderam vivenciar rodas de conversa recontadas sobre a perspectiva de professores-pesquisadores brasileiros buscando auxiliar os presentes na compreensão da África e na aproximação entre o Brasil e a Diáspora. PALAVRAS-CHAVE: Formação Continuada; Relações; Literaturas. Isa Ferreira Martins TITULO: A LITERATURA DE JOVENS ESCRITORES NA ESCOLA: LEITURAS E ESCRITAS EM DIÁLOGOS RESUMO: As discussões sobre a literatura na escola têm avançado (COLOMER, 2007). Entretanto, ainda predominam aulas tradicionais. Nesse debate, estão envolvidas questões curriculares e políticas, como exames e avaliações externas. No setor particular, persegue-se os primeiros lugares no ranking para o marketing da escola. Na rede pública, a elevação das notas resulta em mais verbas para Secretarias de Educação e esporádicos bônus salariais para professores de uma rede que caminha para a meritocracia. Assim, impera a aula tradicional como um caminho seguro para o “bom” desempenho dos alunos nas avaliações dentro e, principalmente, fora da escola. Como agregar a exigência institucional a um trabalho que traga para a aula novas experiências e diálogos? Na tentativa de contribuir para tal, partimos do pressuposto de Cosson (2012) de que através da prática tanto da leitura quanto da escrita de textos literários se tem um desvelar das arbitrariedades dos discursos mais que padronizados e uma apropriação da linguagem. Nesse sentido, propomos discussões sobre a inserção de textos literários de jovens escritores nas aulas de literatura, sendo o trabalho com os respectivos textos retomados, em diálogo, nas de produção textual. Para trabalho inicial, elegemos “Por encomenda: contos e outras histórias” (BRASIL, 2012), escrito, na época, por alunos do Ensino Médio, orientados pela professora organizadora. O livro convida a refletir sobre leituras e escritas de estudantes, como, por exemplo, as da jovem autora que assim se apresenta: “Até hoje aprendi três coisas: a falar sem rodeios e desamparos, aos gritos e sussurros; a ler, para desfolhar todos os acordes do mundo; e a escrever, existindo num espetáculo por vezes solitário e que encontra redenção nos leitores” (p. 17). E completa: “protagonizar a literatura é essa existência incoerente, prazerosa, desmedida. Cá estou, uma Ananda que estuda Ciências Sociais, piauiense e cheia de histórias travadas em contos” (idem). PALAVRAS-CHAVE: Leitura literária; Jovens escritores; Produção textual. Isabel Jasinski TITULO: ESCRITA NÓMADE E AÇÃO LITERÁRIA: ESCRIBIR SIN ESCRIBIR DE MARIO BELLATIN RESUMO: Mario Bellatin é uma ficção, sua existência e sua inserção no real se dão como linguagem, prótese, instrumento de múltiplas formas: palavra, imagem e ação. Literatura, cinema e performance são expressões dessa linguagem que se encontram em um mesmo espaço, seja porque Bellatin concebe seu processo artístico como um limiar entre as linguagens, seja porque articula os aspectos diferenciais dessas expressões em obras singulares, como Lecciones para una liebre muerta (2005), El gran vidrio (2007), Las dos Fridas (2008) ou La clase muerta (2011). A escrita se apresenta como ação literária orientada para a criação, interesse explícito no projeto Escribir sin escribir (2014), que inclui o “Congresso de duplos de Paris” entre outros. Nessa perspectiva, a criação é ato, manifestação política que provoca e ao mesmo tempo implica os meios oficiais, promovendo novas políticas de sensibilidade, segundo Jacques Rancière em Políticas do sensível (2005). Essa concepção nômade de escrita dissemina os dispositivos ao confrontá-los aos meios artísticos, convertidos em dispositivos de des-controle, ao esquivar o modelo, promovendo um modo de ver a obscuridade, conforme considera Agamben sobre o que é o contemporâneo (2009). Assim, a arte pode ser vista como fractal no processo de criação de sentido, onde a literatura experimenta a excrita, de acordo com Nancy em El sentido del mundo (2003). A escrita nômade se excreve em um movimento fractal de sentido, corresponde à plasticidade do espaço de ação da linguagem, seus modos de posicionamento no/sobre o mundo, definindo um processo de percepção e concepção que Bident permite avaliar em Les mouvements du neutre (2010). Um modo de percepção nos limites da percepção estabelece o movimento na direção do outro por meio da relação entre diferentes linguagens artísticas. Bellatin elabora, na sua obra, uma incisão no real que escapa ao hábito. REFERÊNCIAS AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Tradução de Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2009. BELLATIN, Mario. Lecciones para una liebre muerta. Madrid: Anagrama, 2005. _____. El gran vidrio: tres autobiografías. Barcelona: Anagrama, 2007. _____. Las dos Fridas. México: Lumen, 2008. _____. La clase muerta. México: Alfaguara, 2011 _____. Obra Reunida II. México DF: Alfaguara, 2014. BENJAMIN, Walter. O caráter destrutivo. In Documentos de cultura. Documentos de barbárie (Escritos escolhidos). São Paulo: Cultrix⁄Edusp, 1986. p. 187, 188. BIDENT, Christophe. Les mouvements du neutre. Alea. Volume 12. Número 1. Rio de Janeiro, Pós-graduação em Letras Neo-latinas da UFRJ, Jan/Jun 2010, p. 13-33. BORREIL, Jean. La raison nomade. Paris: Payot, 1993. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. Capitalismo e esquizofrenia. Trad. Aurélio Guerra Neto e Célia Pinto Costa. V.1. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995. LINK, Daniel. Fantasmas: imaginación y sociedad. Buenos Aires: Eterna Cadencia Editora, 2009. MITCHELL, W. J. T. Image, Space, Revolution: The Arts of Occupation. Critical Inquiry, Vol. 39, No. 1 (Autumn 2012), University of Chicago Press, pp. 8-32. NANCY, Jean-Luc. El sentido del mundo. Trad. Jorge Manuel Casas. Buenos Aires: La marca, 2003. RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo: Editora 34, 2005. PALAVRAS-CHAVE: Mario Bellatin; Escrita Nômade; Lit. contemporânea. Isabella Santos Mundim TITULO: A FÃ TRADUZ O TEXTO EM NARRATIVA: RUMO A UMA POÉTICA RESUMO: Este trabalho visa analisar a prática e produção típicas de quem declara-se fã, com ênfase no processo em que ela se engaja quando “lê” o texto (literário, fílmico, televisivo) favorito e o traduz numa outra narrativa, para publicação posterior na internet. Nessa perspectiva, a ficção de fã - fan fiction que propõe alternativas ao cânone textual nos interessa particularmente. Uma história que desloca a voz dos “autores legítimos”, o retratar os personagens num viés surpreendente, o desenvolver a trama de maneira tal que sua progressão desafia a expectativa do leitor ou espectador médio, até mesmo o criticar o discurso oficial acerca de gênero e sexualidade, tudo isso constitui o foco da presente análise. Para tanto, valemo-nos de fan fictions distintas, escritas por fãs diversas e baseadas em textos de literatura, filmes ou televisão em circulação. Cumpre apontar, ainda, que há que atentarmos para o contexto em que a produção da fã acontece: afinal, seu pertencimento à comunidade de pares, o fato dela criar segundo os interesses desse grupo (em convergência com os seus), o fato dela levar adiante uma tradição de narrar bastante particular orientam sua atuação desde sempre e informam o modo como lê e escreve. PALAVRAS-CHAVE: práticas de leitura; práticas de escrita; fan fiction. Isamabéli Barbosa Candido TITULO: A VOZ QUE NÃO QUER CALAR: SUBALTERNIDADE MARGINALIDADE EM QUERÔ: UMA REPORTAGEM MALDITA E RESUMO: É necessário atravessar a obra Querô: uma reportagem maldita (2003), de Plínio Marcos, com um olhar de quem tenta compreender as formas de vida contidas na escrita deste autor que “potencializam os pobres”. Plínio causa uma transformação com seus escritos por enfrentar o que considera um tempo mau e, além disso, representar os socialmente excluídos e marginalizados como ele. Um grupo de menor abandonado, cafetina, prostituta que faz eclodir uma “multidão”, nos termos de Justino (2015), antes silenciada pelas classes dominantes. O presente artigo pretende incitar um debate teórico para entender a “potência do pobre” na obra pliniana, como também apresentar a posição do intelectual que se considera único porta-voz do “sujeito subalterno”, termo caro a Spivak (2010), a partir de uma análise-interpretação dos modos de vida presentes na obra, uma vez que Plínio Marcos além de se posicionar em espaços periféricos decide falar e conceder à multidão e aos sujeitos considerados “subalternos da subalternidade”, a voz. PALAVRAS-CHAVE: sujeito subalterno; multidão; potência dos pobres. Ivana Teixeira Figueiredo Gund TITULO: A COLEÇÃO DO ESCRITOR: ENTRE O SINGULAR E O ACÚMULO RESUMO: O trabalho pretende observar as fotografias dos espaços do escritor, em especial as imagens dos escritórios de Haroldo de Campos e Luis Fernando Veríssimo, publicadas no livro O lugar do escritor, de Eder Chiodetto, a fim de destacar neles a presença de suas coleções particulares. O escritório - lugar de criação e território do escritor - apresenta marcas de individualidade. Por isso essas fotografias nos revelam mais que uma simples imagem, porque nos contam singularidades e histórias. Nesse sentido, o trabalho fará uma leitura das referidas fotografias que apontam para o destaque das coleções de canetas e lápis de Veríssimo e dos livros de Campos. Tudo nelas indica a relevância do detalhe: o enquadramento, o foco de luz, o zoom e a perspectiva escolhida. O valor sentimental dado a cada um dos objetos que se tornam parte de um ambiente, remete-nos ao texto Notes concernant les objets qui sont sur ma table de travail, do escritor francês Georges Perec. Para ele, os objetos do ambiente do escritor nem sempre obedecem a uma lógica precisa. São ressignificados na medida em que se deslocam de seus valores comuns para tomar sua individualidade dentro do todo da coleção, ampliando-se na dimensão do gosto pessoal, das escolhas e lembranças do colecionador. Se as imagens, como os relatos – conforme nos diz Alberto Manguel – nos brindam informações e o que vemos nelas é um quadro reduzido a nossa própria experiência, arrisco-me neste trabalho a fazer uma leitura muito particular das imagens fotográficas acima citadas, percebendo nelas aspectos das coleções particulares como o valor de cada objeto e o desejo de acúmulo de itens da coleção. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Fotografia; Espaço de criação. Izabela Guimarães Guerra Leal TITULO: O “PRIMITIVO COMPLEXO”: APONTAMENTOS SOBRE ETNOPOÉTICA EM JEROME ROTHENBERG E HERBERTO HELDER RESUMO: Em 1968, o poeta norte-americano Jerome Rothenberg, criador do termo etnopoesia, publicou o seu primeiro livro de tradução de poemas de culturas ditas primitivas, intitulado Technicians of the sacred, contendo uma variada seleção de manifestações literárias e rituais. Também em 1968, o poeta português Herberto Helder publica um livro intitulado O bebedor nocturno, no qual estão presentes muitos textos oriundos de tradições não europeias. Pretendo discutir em que medida esses projetos de tradução convergem e divergem entre si, atentando para questões que se estendem à obra poética dos autores em questão. Como fator de convergência, pode-se ressaltar desde já o fato de ambos repensarem o sentido das antologias, mas resta saber até que ponto há ou não convergências na forma de encarar a tradução desses materiais, bem como na teorização que essas traduções demandam. PALAVRAS-CHAVE: antropofagia; tradução; alteridade. Izenete Nobre Garcia TITULO: JORNAIS-ROMANCES E SUA INSERÇÃO NA DIFUSÃO INTERNACIONAL DE TEXTOS EM PROSA DE FICÇÃO NO BRASIL RESUMO: No final da década de 1830, na França e na Inglaterra, periódicos dedicados à impressão de prosa de ficção tornaram-se um empreendimento atrativo para o mercado editorial europeu. Esse jornal-romance, como ficou conhecido na França, logo expandiu-se internacionalmente, sendo possível encontrá-lo em várias partes do continente europeu e americano. Justificando-se como instrumento para entreter e instruir propagou textos em prosa de ficção de um lado a outro do oceano. A partir do estudo de um desses veículos, o jornal Espelho Fluminense, esta comunicação demonstrará como esse jornal-romance atuou na circulação e difusão de textos em prosa de ficção estrangeiros no Brasil. PALAVRAS-CHAVE: Espelho Fluminense; Jornal-romance; Circulação. Júlia Reyes TITULO: LITERATURA E CONHECIMENTO: UMA LEITURA DE RENÉ GIRARD RESUMO: Literatura e conhecimento: uma leitura de René Girard Júlia Reyes Neste trabalho, discutiremos a idéia da literatura como um discurso que produz conhecimento e cujo horizonte é sempre interdisciplinar. O teórico francês René Girard (1923 -), autor de uma teoria que ele denominou teoria mimética, inicia suas pesquisas e reflexões através da leitura de romances modernos. A partir dos romances O Vermelho e o Negro, de Stendhal, Em busca do tempo perdido, de Proust, Madame Bovary, de Flaubert e Dom Quixote, de Cervantes, Girard percebe na literatura desses autores um enfoque particular que dispara sua teoria sobre o desejo humano. Nos romances dos referidos autores, o desejo das personagens não é apresentado como um desejo autônomo, fruto de uma subjetividade auto-centrada e auto-suficiente, e sim a partir de uma subjetividade que implica o desejo de um Outro, que o personagem elegeu como modelo e de quem copia o desejo. Configura-se então uma relação triangular entre um sujeito, um modelo e o objeto que esse modelo deseja, que é então também desejado pelo sujeito; relação percebida, por exemplo, nos triângulos amorosos que envolvem certas personagens. Ao separar escritores românticos de escritores romanescos, Girard inicia, em seu primeiro livro, Mentira romântica, verdade romanesca (1961) uma longa reflexão estendida por toda a sua obra, dialogando com a antropologia, a psicanálise e a filosofia a partir de uma intuição sobre o desejo ser fundamentalmente mimético que ele extrai da leitura de romances. Essa forma de trabalho interdisciplinar de Girard implica, em sua obra, diálogos entre a literatura e a filosofia, entre a literatura e a antropologia e entre a literatura e os estudos bíblicos, revelando no campo literário uma dimensão interdisciplinar que será discutida e debatida enfocando a literatura como produtora de conhecimento. PALAVRAS-CHAVE: René Girard; literatura; conhecimento. Júlia Vasconcelos Studart TITULO: NUNO RAMOS NUM JOGO COM A ARTE, A FORMA FRACA RESUMO: Goethe expande o seu pensamento a partir de uma Urplanze: um encontro com a forma, intuição e antecipação da forma viva. Para ele, intuir a natureza é um modo de intuir a si próprio diante da mutação das formas, as ‘metamorfoses’. Assim, por exemplo, principia um projeto de inscrição do mundo a partir da metamorfose das plantas ou do jogo das nuvens. Noutra ponta do jogo com as formas da arte, quando o mundo resiste a toda inscrição, entre a expansão de uma ideia de limite como material proteico, Nuno Ramos persegue alguns gestos de composição do lugar e de interferência no espaço a partir de um instável duo que sugere em dois de seus trabalhos: a instalação-intervenção “Minuano” e a narrativa “Minha Fantasma”. Como ler o simultâneo que vem na anotação [alteração, limite, alquimia e eclosão] e as metamorfoses entre natureza e artifício [corpo, doença, animalidade]? PALAVRAS-CHAVE: metamorfose; anotação; forma fraca. Júlio Constantino Neto Agnaldo Rodrigues da Silva TITULO: ENTRE O ROMANCE E O FILME: RUPTURAS E CONTINUIDADES EM ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, DE JOSÉ SARAMAGO RESUMO: Esta pesquisa coloca em discussão as relações entre a literatura e o cinema, quando propõe confrontar semelhanças e dessemelhanças entre o romance Ensaio sobre a cegueira (1995), de José Saramago e o filme Ensaio sobre a Cegueira (2002, Brasil/Japão/Canadá), dirigido por Fernando Meirelles. Nessa direção, a investigação estabelecerá relações de proximidades e afastamentos pela perspectiva da teoria do romance e da tradução cinematográfica. Entra em questão, portanto, o processo de construção narrativa, por meio de duas representações distintas, sendo a primeira (literatura) o ponto de partida à construção da segunda (cinema), com resultados que sensibilizam o ser humano pela provocação aberta que certeiramente questionam o sistema socioexistencial e cultural vigente. A cegueira construída por Saramago em seu romance, tão bem representada no filme (outra representação cultural), constitui uma metáfora que inclui todos aqueles que se deixam alienar frente às problemáticas de seu tempo. Como suporte teórico, a pesquisa recorrerá a Lukács (Teoria do Romance), Bakhtin (Questões de Literatura e de Estética), Diniz (Literatura e Cinema – da Semiótica à Tradução), Aumont (A estética do filme), Hauser (História Social da Arte e da Literatura), entre outros autores que discutem as relações do homem com o meio, entre os quais: Foucault, Sartre e Nietzsche. PALAVRAS-CHAVE: Teoria do Romance; Cinema; José Saramago. Júlio de Souza Valle Neto TITULO: CRÍTICA LITERÁRIA E ENSINO DE LITERATURA: CONCEITOS, PRÁTICAS E POSSIBILIDADES RESUMO: Teoria, História e Crítica literárias, como se sabe, apresentam fronteiras disciplinares permeáveis, não sendo raro observar interpenetrações, como aponta Roberto Acízelo de Souza (2003, p. 146), entre as duas últimas (sob a forma, por exemplo, de um corpus historiográfico delimitado por escolhas de ordem estética). Nem por isso, contudo, deixa de ser possível circunscrever os seus respectivos campos de investigação preferenciais. É o que faz Antoine Compagnon, descrevendo a Teoria numa dupla chave investigativa (“crítica da ideologia, análise linguística”), a História enquanto prática fortemente ancorada no contexto (donde o interesse pela “concepção” ou “transmissão das obras”) e a Crítica, finalmente, como um discurso que “aprecia” e “julga”, estando por isso mesmo vinculada a operações de valoração artística (COMPAGNON, p. 21 e 22, 2014). Balizando-se por esses limites, fica claro o quanto a escola privilegia, no estudo da literatura, os dois primeiros campos em detrimento do último. A Teoria comparece abundantemente nos livros didáticos, por seu turno, sob a forma do instrumental propício à “análise linguística”. Já a História, apesar das recorrentes restrições a seu uso nesse âmbito, mantém-se firme enquanto eixo de estudo hegemônico da disciplina: o Guia de Livros Didáticos PNLD 2015 testemunha o quanto a organização cronológica e a tipificação de estilos de época caracterizam a quase totalidade das obras selecionadas. Lateral e assistemática, a Crítica apresenta-se na transcrição de ocasionais juízos de valor emitidos por especialistas, sem maiores inquirições acerca das motivações que os inspiram. Esta comunicação pretende, de um lado, refletir sobre as possíveis razões dessa desproporção, assim como, de outro, propor a incorporação da crítica ao ensino de literatura no Nível Médio, privilegiando nesse processo estudos de caso específicos e pedagogicamente justificáveis. Pretende, ainda, apontar desvios desse padrão num livro didático selecionado (TAKAZAKI, 2005) e em práticas correntes na Internet. PALAVRAS-CHAVE: Literatura e Ensino; Crítica e Ensino; Práticas de ensino. Júlio França TITULO: PERVERTIDOS E ALIENADOS – ÁLVARES DE AZEVEDO, ALLAN POE E A INCOMPREENSÃO DA CRÍTICA AO GÓTICO NAS AMÉRICAS RESUMO: Álvares de Azevedo foi um do primeiros escritores brasileiros em cuja prosa podemos perceber o uso explícito de estratégias narrativas para a produção do medo como um efeito estético. Tendo conhecido a língua inglesa desde muito jovem, não seria uma especulação temerária supor que a presença em sua obra de temas “mórbidos”, “crepusculares”, “lúgubres” e “macabros”, nos termos empregados pela crítica tradicional, possa estar relacionada ao seu conhecimento da literatura gótica. Para descrever quais são os elementos góticos da prosa azevediana, propõe-se uma análise comparatista entre a recepção crítica ao escritor brasileiro e a Edgar Allan Poe, com o intuito de demonstrar como ambos, ao tomarem a tradição europeia como ponto de partida para novos modos do gótico, foram alvos de críticas semelhantes, baseadas ou em critérios biográficos, ou em critérios políticos. Suas obras foram tomadas ora como sintoma de distúrbios e idiossincrasias psicológicas de seus autores, ora como algo estrangeiro e alheio às realidades culturais de seus respectivos países. A crítica brasileira e a norte-americana, portanto, ao privilegiarem aspectos miméticos e expressivos, perderam de vista as convenções literárias com as quais as obras de Azevedo e Poe dialogavam, além de terem desprezado o papel da literatura como produtora de efeitos de recepção – duas características fundamentais da tradição literária gótica, aqui entendida como uma poética da modernidade que conjuga uma linguagem artística altamente estetizada e uma visão de mundo negativa. PALAVRAS-CHAVE: Crítica Literária; Século XIX; Narrativa. Júnio César Batista de Souza TITULO: ENTRE O PALCO E A LITERATURA: EMPODERAMENTO NA APRENDIZAGEM QUESTÕES DE RESUMO: Este trabalho denominado “Entre o Palco e a Literatura: Questões de Empoderamento na Aprendizagem” é um recorte de uma pesquisa de doutorado em sua fase preliminar. O estudo propõe uma reflexão acerca da utilização dos Jogos Dramáticos e do Texto Dramático como instrumento de Empoderamento no Ensino Aprendizagem de Línguas e Literaturas. Baseado em uma perspectiva transdisciplinar dos estudos linguísticos, literários e pedagógicos, aborda teóricos como Freire (2011) no que tange a proporcionar possibilidades para que o aprendiz seja capaz de construir seu próprio conhecimento; Bakhtin (2000) considerando o texto dramático como um gênero situado entre o oral e o escrito; Spolin (1987) sobre as técnicas e habilidades pessoais necessárias para os jogos teatrais; Ryngaert (1996) na utilização dos jogos dramáticos trabalhando a “materialidade” da palavra pela exploração do texto em suas várias potencialidades do dizer; e por fim Zumthor (2007) referindo-se a performance ou leitura bem como suas consequências no ato de comunicar. A pesquisa contempla ainda em seu escopo autores como Pupo (2001) e Boal (1997) no tocante a vocalização do texto dramático. O presente trabalho dialoga com estudos que possuem interface com a Educação e Ensino, propondo a prática de um dos objetivos da LBD, o desenvolvimento do educando como ser humano, aliada à formação ética e o processo de construção da autonomia intelectual e do pensamento crítico. PALAVRAS-CHAVE: Jogos Dramáticos; Texto Dramático; Literatura. Jacqueline de Cassia Pinheiro Lima TITULO: MUSEUS, MEMÓRIA E LITERATURA: PERTENCIMENTO E ESQUECIMENTO COMO CONSTITUTIVO DE MEMÓRIA EM ITALO CALVINO RESUMO: Este trabalho tem como objetivo perceber como os Museus se constituem objetos de memória e como estes são, ou não, considerados no âmbito da literatura. Esta investigação tem seu início a partir de uma pesquisa sobre o Museu Ciência e Vida no Municipio de Duque de Caxias – RJ, que caracteriza a noção de pertencimento deste espaço como “lugar-de-memoria” da Cidade. A partir de entåo, as leituras foram conduzindo não somente à adequação deste espaço na memória dos transeuntes, mas também nas referências aos Musesu, como categoria, nos escritos literários. Neste sentido, trabalharemos aqui, com esta relação Museu – Memória – Literatura a partir do texto de Ítalo Calvino, O Museu dos Queijos, que aborda memória e esquecimento como posibilidades de se constituir um espaço indentitário, entendendo que a lembrança, ou o que fica do passado, não é exatamente o conjunto do que passou, mas o que se escolheu para ser recordado. O que deve ser ou não re-acordado pelo tempo e por quem trabalha com ele. Além dessa escolha, encontra-se o que foi deixado como herança do passado, os conhecidos monumentos, que são “um legado à memória coletiva”. (LE GOFF, 1996:536). PALAVRAS-CHAVE: Museus; Memória; Literatura. Jade Pena Magave Uchôa TITULO: CONCEPÇÃO PEDAGÓGICA DO MATERIAL DE LITERATURA DO SISTEMA MACKENZIE DE ENSINO: EM BUSCA DE UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DA LITERATURA RESUMO: A comunicação apresentará uma análise da concepção pedagógica do material didático de literatura do Sistema Mackenzie de Ensino (SME), tendo como foco a articulação entre a Teoria da Aprendizagem Significativa (AUSUBEL, 2000) e seu desdobramento metodológico no ensino de literatura. A Teoria da Aprendizagem Significativa estabelece como requisito essencial para a aprendizagem a interação entre ideias potencialmente significativas, isto é, culturalmente relevantes) e o conhecimento prévio do aluno (subsunçores). Tal teoria, que tem sido seguida na coleção de livros didáticos do SME, começa recentemente a ser aplicada ao material de literatura. A ênfase nas ideias culturalmente relevantes fez surgir, no livro de literatura, o desenvolvimento de temas culturais em conexão ao estudo dos movimentos literários o que, por sua vez, tem apontado para a necessidade de uma abordagem didática que vá além da historiografia literária. Por outro lado, vivenciar o processo de produção editorial de um material didático nos faz notar claramente a persistência de um modelo de ensino pautado em uma tradição historiográfica na abordagem do texto literário, a qual se vê na escrita dos autores dos livros e na própria organização do quadro de conteúdos, pautado na sequência histórica das escolas literárias. Como fazer para superar tal perspectiva? Diante desse questionamento, essa comunicação trará exemplos de algumas opções metodológicas adotadas no material que, pautadas na Teoria da Aprendizagem Significativa, abrem espaço para outras possibilidades de leitura do texto literário. Ao mesmo tempo, a análise do substrato pedagógico do material e do percurso editorial, será colocada nesta comunicação como um ponto de partida para a troca de experiências e expansão das concepções teóricas referentes ao ensino de literatura. Referências AUSUBEL, David. The acquisition and retention of knowledge: a cognitive view. New York: Springer, 2000. COSSON, Rildo. Letramento literário – teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2012. LAJOLO, Marisa. Literatura: Leitores & Leitura. São Paulo: Moderna, 2007. LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. A Formação da Leitura no Brasil. 2ed. São Paulo: Ática, 1998. MACCULLOUGH, Marti. Filosofia Educacional. In Fundamentos Pedagógicos – ACSI. São Paulo: Imprensa da Fé, 2005. MASINI, Elcie F. Salzano; MOREIRA, Marco Antônio. Aprendizagem Significativa: condições para ocorrência e lacunas que levam a comprometimentos. 1. ed. São Paulo: Vetor, 2008. MOREIRA, M.A. Aprendizagem significativa e sua implementação em sala de aula. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2006. PALAVRAS-CHAVE: significado; temas culturais. Jair Zandoná TITULO: PAISAGENS LITERÁRIAS: ENTRE GUETOS, AFETOS E OSSOS. RELEITURA(S) SOBRE O IMAGINÁRIO LITERÁRIO DE MARCELINO FREIRE RESUMO: "Nossos ossos", de Marcelino Freire, transita pelas memórias e experiências do dramaturgo Heleno. Nascido em Sertânia, no interior de Pernambuco, cidade bastante pequena onde vivia com seus pais e irmãos, namorou, quando jovem, Carlos. Com a partida deste para São Paulo, não vê outra alternativa senão seguir o amor de sua vida. Parece que a felicidade não lhe pertence, pois ao chegar na cidade de ferro, Carlos evita-o a todo custo. Dramaturgo, faz das peças catarse. Vive – ou confina-se – à margem. Esta comunicação pretende investigar a relação entre essas/algumas figuras apresentadas no romance e como se constroem/são construídas por/nesses espaços invisibilizados: o gueto, a rua à noite, hotéis baratos, metrôs e outros lugares de trânsito nos quais a existência do outro se dilui com o ritmo desenfreado da cidade grande – entre as zonas fantasmas e os espaços de fluxos (BAUMAN, 2009) – e as violências recorrentes nessas paisagens. Tais personagens, gays, garotos de programa, travestis, idosos, jovens, que (se) transformam no decorrer dos anos, (des)construindo suas identidades, reinventam seus corpos, lindam (também) com as violências invisíveis (MISKOLCI, 2009). São sujeitos igualmente invisíveis, vistos como pessoas supérfluas, se fizermos uma leitura mais abrangente sobre o exposto por Bauman quanto às pessoas que vivem nessas zonas fantasmas. PALAVRAS-CHAVE: Marcelino Freire; Invisibilidade(s); Diversidades. Jakeline Fernandes Cunha TITULO: LITERATURA E OUTRAS ARTES EM O TURISTA APRENDIZ: ENQUADRAMENTOS DA PAISAGEM AMAZÔNICA RESUMO: É na fronteira das artes que se deu a formação intelectual de Mário de Andrade. O autor modernista, de olhar sempre interessado na realidade e cultura do país, no arranjo das paisagens do diário de viagem O Turista Aprendiz deslizou de um domínio artístico para o outro. Seguindo nosso estudo ainda em andamento no que se refere à tese de doutorado – realizada no Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP –, averiguamos que esse viajante na criação das paisagens amazônicas assimilou e atualizou padrões artísticos da tradição, tais como: a perspectiva filosófica do Sublime e o método pictórico da janela usado para enquadrar, isolar e selecionar partes do objeto. Para a discussão no Simpósio, escolhemos o clássico recurso da janela que, no diário, adquire formas diversas. No início da primeira viagem, o olhar crítico do autor paulistano demarcou a natureza do Rio de Janeiro através dos quadros de Debret que funcionam como janelas para seu olhar que, segundo ele, “se processa quase sempre pelo processo comparativo”. Diferentemente, no enquadramento da natureza da bacia do Rio Amazonas ele utilizou instrumentos da arte da fotografia e do cinema. O recurso artístico das “janelas-lentes” lhe permitiu elaborar quadros que, através de suas estruturas ambíguas, retratam o problema da paisagem brasileira. Contudo, nos momentos em que o viajante dispensou o enquadramento da janela e até mesmo o apoio da bengala, artifícios usados para o equilíbrio do olhar/das sensações, a entrega ao imenso espaço torna-se evento inadiável. Com isso, o encontro espiritual ou sexual com a natureza sublime o obrigou a compor quadros de paisagem segundo o molde romântico e universal. É nessa tensão, portanto, que as paisagens do diário O Turista Aprendiz vão sendo projetadas pelo olhar que pouco descansa de Mário de Andrade. Por fim, ressaltamos que essa pesquisa é subsidiada pelo CNPQ e conta também com estágio na Universidade de Évora, Portugal, apoiado pela CAPES. PALAVRAS-CHAVE: Mário de Andrade; paisagem; janela. Jaqueline Castilho Machuca TITULO: NOMADISMO E ESVAZIAMENTO DE IDENTIDADE EM TRÊS OBRAS DE JOÃO GILBERTO NOLL RESUMO: João Gilberto Noll tece narrativas que desconstroem fronteiras espaciais e temporais com o intuito de ter, como produto final, um enredo no qual o desnudamento dos personagens resulta em um esvaziamento completo de projetos e de identidade, já que os personagens-nômades parecem estar à mercê dos eventos que cruzam seus caminhos, numa espécie de casualidade que vai de situações aparentemente esdrúxulas a eventos do cotidiano. O trabalho aqui proposto, fruto de reflexões iniciais da tese de doutoramento, visa analisar, à luz das teorias sobre pós-modernidade, três romances de Noll: Bandoleiros (1985), Berkeley em Bellagio (2002) e Lorde (2004). O fio norteador da análise comparada das obras em questão é o fato de os três protagonistas serem escritores, embora pouco exerçam a função. Além disso, tais personagens anônimos partem para empreitadas fora do Brasil e os percalços, junto a sensações diversas decorrentes desses deslocamentos, são descritos por esses narradores em primeira pessoa que, de alguma forma, buscam o desconhecido no exterior e no próprio exercício da escrita (que pouco acontece, haja vista a dificuldade de produção encontrada por eles). Essa busca constante, através do desenraizamento do que seria familiar, é tema recorrente em Noll, assim como o transbordamento da sexualidade via relações fugazes. A presentifição do tempo também é visível na obra do escritor gaúcho, tema discutido através de reflexões sobre pós-modernidade contidas na obra Pós-modernismo: ou A lógica cultural do capitalismo tardio (1990), de Fredric Jameson. PALAVRAS-CHAVE: João Gilberto Noll; escrita; nomadismo. Javier Uriarte TITULO: NATUREZA E CULTURA NA AMAZÔNIA DE WILLIAM HENRY HUDSON: UMA LEITURA DE GREEN MANSIONS (1904) RESUMO: Nesta comunicação, irei discutir as formas que o deslocamento e a natureza adoptam no romance Green Mansions (1904), de William Henry Hudson. Esse romance se passa na Amazônia venezuelana do final do século XIX, e narra a relação do narrador com Rima, uma mulher intimamente ligada à natureza e que, apresenta um caráter etéreo, intangível e incorpóreo para o narrador. A partir dos estudos de Akeel Bilgrami, sugiro neste romance uma separação fundamental entre homem e natureza, uma rivalidade essencial entre esses dois termos. O homem é o primeiro destruidor da natureza, ou pelo menos, um ser que não chega a compreender (e aprehender) o espaço natural amazônico. No olhar do narrador, essa separacao essencial entre homem e natureza inclui os índios que moram nesse espaço. Eles são barbarizados pelo narrador e procuram a destruição de Rima, o único personagem (não claramente humano) que pode entender e dialogar intimamente com a natureza. O índio é violento, é quase monstruoso, mas não é parte do espaço natural, não é identificado com ele. Essa separação notável entre espaço e índio expressa uma ruptura com as narrativa de progresso que comumente justificam a extinção indígena pela incapacidade que o índio teria de produzir e se diferenciar de seu espaço. Proponho que a presente “barbarização” do índio neste romance se apresenta de modo paradoxal: de um lado, ele é aproximado do homem chamado “civilizado” (pois compartilham da lógica destrutiva da natureza e a não compreensão dela), de outro, essa barbarizacao é coerente com o anti-progressismo romântico que irão marcar as outras obras de Hudson. Irei discutir também as muitas formas que a ideia da casa incorpora nesse texto, e do “homecoming”, tendo em vista que a natureza e o próprio retorno à origem representam uma das obsessões do próprio William Henry Hudson. PALAVRAS-CHAVE: Deslocamento; Retorno; Natureza. Jayme Soares Chaves TITULO: A EMERGÊNCIA DE UM GÊNERO: MATRIZES DA FICÇÃO CIENTÍFICA CONTEMPORÂNEA RESUMO: Nesta comunicação, pretendemos propor uma nova abordagem para o gênero "ficção científica". Proporemos a seguinte hipótese: a ficção científica emerge como um discurso a meio caminho entre a literatura e a ciência. Para discutir tal hipótese, retomaremos a origem do conceito, proposto em 1926 por Hugo Gernsback. Além disso, destacaremos as principais matrizes ficcionais responsáveis pela delimitação do gênero, destacando sempre o contraste entre as diversas opções discursivas. PALAVRAS-CHAVE: ficção científica; polêmica; discurso. Jean Pierre Chauvin TITULO: A CRÍTICA MACHADIANA A PARTIR DE 1970: CRITÉRIOS ESTÉTICOS, HISTÓRICOS E CULTURAIS RESUMO: Por mais de vinte anos, Alfredo Bosi e Roberto Schwarz protagonizaram algumas polêmicas intelectuais em torno da obra de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908). Elas poderiam ser pinçadas em uma série de ensaios redigidos pelos críticos, em particular em dois de seus estudos de maior fôlego: Um mestre na periferia do capitalismo, publicado por Schwarz em 1990; e O enigma do olhar, editado por Bosi em 1999. Alguns pressupostos e posicionamentos de ambos os comentadores da obra machadiana passaram a ser reproduzidos pelos demais pesquisadores, o que conferiu aos estudos um caráter polarizado, em que o respaldo sociológico – comum a ambos os autores – respaldou-se ora nas motivações de cunho predominantemente ideológico, no caso de Schwarz, ora em motivações de cunho filosófico-moralizante, no caso de Bosi. Em 2010, com a publicação de O altar e o trono, Ivan Prado Teixeira parece ter trilhado um caminho alternativo às correntes existentes. Sem negar os critérios ideológicos e estéticos, Teixeira aclimatou no Brasil a hipótese do estadunidense Stephen Greenblatt, que defende a necessidade de se estudar os textos literários à luz da poética cultural, situados no seu contexto histórico. Em suas investigações, Ivan Teixeira ressaltou os diálogos entre o texto e a imagem – evidentes, por exemplo, em A Estação e O Jornal das Famílias -, considerando o formato dos vários periódicos em que Machado colaborou. Ele sugeriu uma nova visão sobre o romancista fluminense: a de que, além de polígrafo, ele também tenho sido um de nossos primeiros e mais competentes editores de publicações seriadas, no Segundo Império. PALAVRAS-CHAVE: Alfredo Bosi; Roberto Schwarz; Ivan Prado Teixeira. Jeanne Sousa da Silva TÍTULO: DOM QUIXOTE DE LA MANCHA PARA LEITORES JUVENIS: UMA LEITURA DA ADAPTAÇÃO DE FERREIRA GULLAR DO CLÁSSICO DE MIGUEL DE CERVANTES RESUMO: Esta pesquisa aborda a tradução adaptada de Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, realizada por Ferreira Gullar. O estudo centrase na análise das estratégias utilizadas pelo adaptador para tornar o clássico cervantino mais próximo do jovem leitor. Dessa forma, foi imprescindível o aporte teórico da estética da recepção, de Hans Robert Jauss (1994), por dois fatores: o primeiro porque a referida teoria tem como princípio geral a experiência do leitor como fonte primordial para a compreensão dos fatos literários, tanto em sua configuração estética quanto histórica; nesse sentido, o segundo fator sustenta-se na noção de que a modalidade de texto em estudo configura-se com uma forma explícita de recepção, o que torna possível verificar os horizontes de leitura tanto do leitor de Cervantes, quanto do leitor de Gullar. Para compreender de que maneira o adaptador maneja o texto com vistas a concretizar sua recepção, foi necessário trilhar também pela teoria da tradução de Even-Zoar (1990) e André Lefevere (2007), bem como pelos estudos de Diógenes Buenos Aires de Carvalho (2006), Mário Feijó B. Monteiro (2010), Lauro Amorim (2005), por discutirem conceitos e apontarem para a iminência de uma teoria da adaptação. Com base nesses preceitos teóricos, buscou-se evidenciar ainda, que as escolhas do adaptador tiveram, dentre outros objetivos, o de favorecer a emancipação de seu público-leitor. PALAVRAS-CHAVE: Tradução/adaptação; Dom Quixote; Estética da Recepção. Jecilma Alves Lima TITULO: MEMÓRIAS DO ANARQUISMO E DA GUERRA CIVIL ESPANHOLA EM LA HIJA DEL CANÍBAL RESUMO: Na década de noventa, o romance espanhol foi renovado pela confluência de diversas tendências, entre elas uma marcada pelo interesse na memória da Guerra Civil e na ditadura franquista. Este interesse peculiar pode ter sido despertado, segundo Macciuci (2010), pela chegada ao governo do partido popular e pelo clima político marcado pela inquietação acerca das questões democráticas. O romance La Hija del caníbal (1997), de Rosa Montero, é um dos que se apresenta como organizador e guardião da memória na medida em que permite transformar o conceito abstrato das recordações em algo material, uma trama dialógica na qual se cruzam as vozes de diferentes gerações que sofrem, de maneiras distintas, os efeitos da Guerra Civil. Uma das mensagens subjacentes no romance é a necessidade de compreender a história como um todo, inclusive em seus aspectos não contados na história oficial, evidenciando a fragilidade da memória e as consequências do esquecimento, proposital ou não, de pontos de vista e acontecimentos, para a construção do processo narrativo e a constituição da identidade. Em La hija del caníbal a história do anarquismo se faz presente através do relato oral da personagem Félix Roble. A recuperação da história oral, comum nos romances históricos mais recentes que tratam de revoluções populares se realiza aqui em um processo narrativo que parte da escuta de um testemunho e passa pela reelaboração escrita realizada pela interlocutora. A autora demonstra a necessidade de resgatar memórias importantes que sofrem não só com o esquecimento, mas com o risco de serem representadas de forma equivocada, a partir de um olhar parcial. O relato de Félix tem a função de reorganizar a história do anarquismo espanhol e, com base nas suas vivências pessoais, resgatar as qualidades ideológicas e morais do ideário operário anarquista. REFERÊNCIAS MONTERO, Rosa. La hija del caníbal. Madrid: Espasa e Bolsillo, 1998. BONATTO, Adriana Virgínia. La recuperación del anarquismo y problemas de representación en La hija del caníbal de Rosa Montero. Anai do IX Congresso Argentino de Hispanistas. LaPlata, 2010. Disponível em http://www.memoria.fahce.unlp.edu.ar/trab_eventos/ev.1037/ev.1037.pdf COLMEIRO, José F. Vásquez. La crisis de la memoria. Revista Anthropos: huellas del conocimiento. Barcelona: Anthropos, 2000, nº 189-190, p. 221-227. MACCIUCI, Raquel. La memoria traumática en la novela del siglo XXI. Esbozo de un itinerario. In: Entre la memoria propia y la ajena. Tendencias y debates en la narrativa española actual, La Plata: ediciones del lado de acá, 17-49, 2010. RESINA, Joan Ramón. Disremembering the Dictatorship. The Politics of Memory in the Spanish Transition to Democracy. Amsterdam/Atlanta: Rodopi, 2000. PALAVRAS-CHAVE: Mémória; Literatura espanhola; anarquismo. Jefferson Agostini Mello TITULO: OS INTELECTUAIS FRANCESES E A AMÉRICA RESUMO: Se a representação dos Estados Unidos, em "America" (1986), de Jean Baudrillard, ainda é ambígua, misto de fascínio e crítica, não se pode dizer o mesmo do livro de Marc Fumarolli, "Paris-New York et retour" (2009). Escrito duas décadas depois do primeiro, também por um intelectual francês, cristalizase nele a oposição entre uma Europa humanista e uma América fútil, cuja cultura da imagem e do consumo invade até mesmo as paradas de ônibus de Paris, com sua publicidade incisiva. Como se sabe, ao longo dos séculos XVIII e XIX, as Américas, seja por conta de sua natureza exuberante e paisagens vastas, seja por sua democracia, serviram não só de modelo de utopia à Europa que se industrializava, mas também como forma desta fazer a sua autocrítica. Mais ainda, elas eram vistas e descritas pelos viajantes europeus como terras de promissão, tanto para se habitar quanto para se explorar economicamente, no caso, à distância. Atualmente, em um momento de crise dos valores humanistas e de migração do poder econômico para os Estados Unidos, a imagem deste país passa a ser remodelada pelos intelectuais viajantes europeus. Assim como um conjunto relativamente expressivo de textos críticos franceses sobre o fim ou a crise da cultura e da literatura, o relato de viagem de Fumarolli torna-se, novamente, uma forma de falar de si a partir deste Outro. Este, porém, não é mais idealizado, senão questionado, talvez porque inevitavelmente próximo. PALAVRAS-CHAVE: Literatura de viagem; América; França. Jefferson Cleiton de Souza TITULO: A MELANCÓLICA MODERNIDADE DE ASCENSO FERREIRA E MANUEL BANDEIRA RESUMO: Tomando por base a reflexão da filósofa Marcia Tiburi – presente no livro Filosofia Cinza: a melancolia e o corpo nas dobras da escrita (2004) – de que a produção filosófica e artística é resultante da “pulsão” melancólica, a presente comunicação objetiva discutir como os poetas Manuel Bandeira e Ascenso Ferreira inscreveram seus desencantos com a modernidade em suas respectivas poéticas. Especificamente, por meio das análises dos poemas Recife, O cacto e Minha terra – de Bandeira – e Os bêbados, Cabra-cabriola, Black-out e Cinema – de Ascenso –, objetiva-se investigar em que medida eles lançaram mão dos expedientes da memória e da imaginação para demarcar discursivamente uma reação aos impactos gerados pela modernidade nos seus respectivos campos de experiências culturais, sociais e afetivos. Para tanto, além de dialogarmos com a ideia de Marcia Tiburi de que há uma relação indissolúvel entre o estado melancólico, a subjetividade e a prática da escrita, recorremos também à noção de imaginação produtiva desenvolvida pelo filósofo francês Paul Ricoeur no livro Do texto à ação (1986). No tocante à memória, buscamos subsídios ainda na filosofia de Paul Ricoeur, mas, agora, em diálogo com o seu livro A memória, a história e o esquecimento (2000) e também nas reflexões desenvolvidas por Éclea Bosi em seu livro Memória e sociedade: lembranças de velhos (1979). Já, no que se refere às considerações acerca da modernidade, lançaremos mão das reflexões de Marshall Berman, desenvolvidas em seu livro Tudo que é sólido desmancha no ar: aventura da modernidade (1982) e no livro (Des)cantos modernos: histórias da cidade do Recife na década de vinte (1997), do historiador Antonio Paulo Rezende. PALAVRAS-CHAVE: Melancolia; Modernidade; Memória. Jeronimo Duarte Ayala TITULO: FALSAS DEMANDAS DE UMA MENTE ALUCINADA – COLISÕES ENTRE ADOLFO BIOY CASARES E CHARLIE KAUFMAN RESUMO: O presente trabalho aproxima as linguagens literária e cinematográfica como forma de compreender processos de sofrimento psíquico de personagens. Para tanto foram escolhidos dois diferentes perfis, o primeiro, do romance A Invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares, e o segundo do filme O Brilho eterno de uma mente sem lembranças, do roteirista Charlie Kaufman. Este dois autores, mesmo separados em um determinado tempo histórico, criaram personagens desabonados do inconsciente. Nas narrativas, suas demandas são sempre de amor, e o que eles pedem é mais um gadget. São falsos investimentos libidinais, desejos frustrados em situações em que Real, Imaginário e Simbólico intercalam-se de forma alucinada. Um é fugitivo, o outro é amargurado. Seus mundos desagregados são narrados oniricamente, repetindo-se incessantemente. Seus distintos delírios expressam de que forma suas realidades psíquicas estão peculiarmente estruturadas e manifestam-se no âmbito fenomênico. O trabalho, ao aproximar Literatura e Cinema, procura mostrar, a partir de um viés psicanalítico, como a arte pode contribuir para a formação do analista. A atenção flutuante e as associações de ideias devem ouvir o delírio como uma forma de linguagem que tenta organizar o sentimento de fragmentação do corpo. PALAVRAS-CHAVE: delírio; cinema; literatura. João Augusto de Medeiros Lira TITULO: MEMÓRIA E PERFORMATIVIDADE FICCIONAL: RESSEMANTIZAÇÃO E CONTRADISCURSIVIDADE IDEOLÓGICA NA DRAMATURGIA DE JOÃO DENYS ARAÚJO LEITE RESUMO: Dentro de uma perspectiva memorialística de abordagem da criação ficcional, uma série de aspectos se entrelaçam no jogo dialógico que configura a incidência da memória no processo criador da obra artística, qualquer que seja a sua forma e natureza. Este trabalho tem por objetivo abordar a utilização do paradigma da memória, enquanto potência e força imanente, propulsora de deslocamentos, deformações, distorções, revalorações, e renovações; tomando como objeto de análise o texto dramático A Pedra do Navio do escritor e encenador potiguar João Denys Araújo Leite (que toma como referencial um trágico acidente ocorrido em sua cidade natal, em que um ônibus desgovernado atingiu uma multidão de fiéis que acompanhava uma procissão religiosa, vitimando dezenas de devotos e resultando em um fato de clamor extremo em que a dor, o luto e o desespero maculou a coletividade social, impingindo-lhe cicatrizes irreparáveis), ressaltando como o autor ressemantiza o universo conflituoso e traumático de sua origem sertaneja através da instrumentalização transfiguradora dos artifícios de seu processo de recordação, empreendida pelo jogo performativo das tematizações e motivações da engenhosidade criadora do seu discurso ficcional de cunho antinaturalista e contraideológico. Em sua dramaturgia, a memória penetra como uma semente prestes a desabrochar de forma inventiva, como um elemento de composição, um estilo a se fazer, como um mote para singulares dilatações poéticas, críticas, e identitárias. PALAVRAS-CHAVE: Memória; Performatividade; Dramaturgia. João Batista Pereira TITULO: A OPUS DEI DA VIOLÊNCIA EM A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA. RESUMO: Este artigo objetiva refletir sobre a configuração da violência no conto A hora e a vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa. Ao delinear os condicionantes históricos como marcos que concorrem para entender os sertões mineiros na modernidade são requisitados novos parâmetros para apreender o caráter brutal que emoldura seu protagonista. No livro Origem do drama barroco alemão, Walter Benjamin vislumbra o recurso alegórico como instância explicativa para expressar as incertezas desse novo tempo, caracterizando-o como uma verdade oculta que não representa as coisas como elas são, mas oferece uma versão de como elas foram ou poderiam ser. Como ressonância dos fundamentos implicados em nossa leitura, adotamos a alegoria como categoria analítica que, em conjunto com a perspectiva dialética, fundamenta a leitura da narrativa rosiana. Concluímos que a atmosfera de violência que envolve o campo ficcional no qual se plasma o conto denuncia um espaço dominado pela desordem e injustiça social, realidade que alcança a estética exigindo novas abordagens e perspectivas críticas na contemporaneidade. PALAVRAS-CHAVE: Alegoria; Guimarães Rosa; Walter Benjamin. João Batista Teixeira TITULO: A PRESENÇA SUBVERSIVA DE MARIAMAR: VOZ FEMININA EM A CONFISSÃO DA LEOA, DE MIA COUTO RESUMO: A Presença da mulher nas Literaturas contemporâneas tem passado por uma transformação de papéis sociais tendo em vista as realidades em que as mesmas se inscrevem. Tempos de insegurança mundial, de queda e aproximação das fronteiras culturais, a representação do feminino se mostra nas vozes daquelas que reclamam por seus espaços sociais, que não aceitam mais o processo de subalternização e inferiorização imposta pelos anos de colonização, patriarcado e cultura judaico-cristã. Cotejamos a Obra A confissão da Leoa(2012) do moçambicano Mia Couto a partir do olhar e fala subservisa da personagem Mariamar, que divide o protagonismo da obra com outro narrador (masculino). Sendo o romance narrado sob o olhar feminino e masculino. Nos interessa em especial caso a forma de observar o mundo e as falas desse personagem narrador feminino, a insatisfação com uma sociedade sempre regida e determinada pelo poder masculino. Amparamos as discussões em autores que discutem temas como colonização e descolonização, o feminino em África a partir de autores como Thomas Bonnici(2000), Homi Bhabha(1998), Bezerra(1997) Bezerra e Souza(2014), Chabal(1994), Spivak(2010) entre outros autores que discutem as Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e os temas acima citados e também a importância da difusão do texto literário na sala de aula como espaço para a discussão de temas voltados a cidadania, direitos humanos, fronteiras culturais e ordens socioculturais na perspectiva da literatura e o do ensino como educação e quebra de discursos totalitaristas. É importante observar as práticas de ensino de literatura na Educação Básica e Ensino Médio em especial caso, sendo esse um momento de transição do aluno para a academia e outros espaços de linguagens diversas, entre elas o conhecimento da literatura como suporte de compreensão do sociocultural do mundo que o cerca e do mundo como aldeia global. Os temas da humanidade sendo o tecido da literatura, permite ao indivíduo um entendimento e agenciamento de ideias acerca da política, das lutas da sociedade e os instantes e interstícios da história represados na leitura e discussão do texto literário, não apenas como escapismo da realidade, mas de fato como imersão na mesma para que esse mesmo cidadão se sinta ou não representado pela literatura de sua terra, e os diálogos que a mesma possa sugerir com outras realidades e literaturas. PALAVRAS-CHAVE: Subversão feminina; Literatura Africana; Subalternização.. João Cesário Leonel Ferreira TITULO: PERIÓDICOS E O INÍCIO DO SISTEMA LITERÁRIO PROTESTANTE NO BRASIL DOS OITOCENTOS: O JORNAL IMPRENSA EVANGÉLICA RESUMO: Esta comunicação procura responder a algumas das questões propostas pelo Simpósio Cultura escrita e leitura literária nos periódicos dos séculos XVIII e XIX, tais como: “O que se publicava nos periódicos brasileiros e portugueses nos séculos XVIII e XIX? Quem publicava? [...] Quais os gêneros? [...] Quais textos não canônicos também circulavam em periódicos e jornais?” Para tanto, delimita o corpus do trabalho à produção literária protestante brasileira dos Oitocentos, praticamente inexplorada nos meios acadêmicos, de modo particular ao jornal Imprensa Evangélica, primeiro periódico protestante brasileiro (1864-1892). Além do aspecto cronológico, a escolha do jornal se justifica por haver nele literatura própria do protestantismo que, diferindo daquela presente nos demais periódicos comerciais do período, colabora com a identificação da amplitude de temas constantes nos jornais brasileiros do século XIX. Nesse sentido, faz-se o reconhecimento da presença de gêneros literários variados que visavam a atender os poucos convertidos ao protestantismo, como também atingir de forma mais ampla os leitores católicos. Os autores dos textos, ainda que anônimos nos primeiros números do jornal, por serem norteamericanos e europeus em sua maioria, permitem reconhecer, no contexto particular do protestantismo, a circulação atlântica e transatlântica de impressos. Há no jornal igualmente anúncios de venda de livros, indicações de pontos de venda de literatura religiosa que se espalham pelo território nacional e notícias do surgimento de outros periódicos protestantes no país. Dessa forma, temos elementos que admitem propor que o jornal Imprensa Evangélica se transforma no eixo a partir do qual surge o sistema literário protestante brasileiro. Para o desenvolvimento da análise, são utilizados os referenciais teóricos da História do Livro e da Leitura e elementos da História do Protestantismo brasileiro. PALAVRAS-CHAVE: Imprensa Evangélica; protestantismo; sistema literário. João Escobar Cardoso TITULO: A RETÓRICA ILUMINADA EM TEMPOS DE TREVAS NA COLÔNIA RESUMO: Com as Reformas Pombalinas da Instrução Pública, os intelectuais ilustrados passaram a dedicar uma intensa atenção às línguas vivas, empregandoas amplamente na educação e formação da juventude. A consolidação dos idiomas nacionais e a inserção da literatura num lugar de destaque em termos de formação pedagógica levaram a literatura e as línguas vivas a alcançarem um valor cultural independente (FALCON, 1993). Nesse contexto, a disciplina de retórica, reformulada sob os preceitos iluministas e utilitários propostos por Verney, adquiriu um destaque inédito. Assim, este trabalho procura fazer um breve percurso dos ecos que tiveram as Reformas Pombalinas no Brasil através das ações pedagógicas de Silva Alvarenga, um egresso de Coimbra e primeiro professor régio oficial de retórica no Brasil e Miguel Joaquim de Almeida Castro, professor de retórica do Seminário de Olinda e um dos líderes da Revolução pernambucana de 1817, homens que se tornaram verdadeiros arautos das reformas pedagógicas do Conde de Oeiras nas terras do além-mar em uma época caracterizada pedagogicamente pela desorganização e decadência. PALAVRAS-CHAVE: Reformas Pombalinas; Silva Alvarenga; Padre Miguelinho. João Evangelista do Nascimento Neto TITULO: UM PASSEIO PELO REINO DA PICARDIA: AS PERIPÉCIAS DE LÁZARO E JOÃO GRILO NO DIÁLOGO ENTRE O LAZARILLO DE TORMES E O AUTO DA COMPADECIDA RESUMO: Neste artigo, discute-se a constituição do herói pícaro, através da comparação entre o protótipo da literatura picaresca, o personagem Lázaro, do texto anônimo Lazarillo de Tormes, publicado no século XVI, na Espanha, com o texto do teatro brasileiro, Auto da Compadecida, do autor paraibano Ariano Suassuna, classificado como a mais popular peça do teatro nacional do século XX. O João Grilo, protagonista do texto suassuniano, bebe das fontes da picardia espanhola ao procurar justificação por seus atos de vilania e trapaça. Nascidos em um meio social excluído das benesses sociais, os dois personagens usam a única arma que possuem: a inteligência, a fim de sobreviver em meio a uma realidade que lhes é injusta e vingar-se das classes mais privilegiadas. Ao arquitetarem seus planos, no entanto, esboçam estar inseridos no mesmo processo de reificação que combatem. Seu caráter, ou seu não-caráter, é formado pela lei da vantagem sobre o Outro. Tal estudo baseia-se nos pressupostos teóricos de Antunes (1981), Cândido (1970), Damattta (1997), González (1988), Guidarini (1992), Lázaro Carreter (1972), Palma-Ferreira (1981), Queiroz (2003), dentre outros, que dialogam com a temática. PALAVRAS-CHAVE: Picardia; Herói; Diálogo. João Felipe Assis de Freitas TITULO: ACHEBE E ADICHIE: AS DESCOLONIALIDADES LITERÁRIAS NO ROMANCE AFRICANO DE LÍNGUA INGLESA RESUMO: A ampliação dos estudos culturais na pós-colonialidade é, provavelmente, um dos traços mais marcantes das atuais discussões em torno dos conceitos de hibridização e de transculturação das nações americanas, europeias e africanas. Como consequência disso, fluxos e negociações afrodiaspóricas parecem (re)definir concepções e posições heterogêneas de romancistas oriundos das ex-colônias britânicas. Nesse sentido, Chimamanda Ngozi Adichie, autora de Purple Hibiscus (2003), Half of a Yellow Sun (2006), The Thing Around Your Neck (2009) e Americanah (2013), constrói narrativas, nas quais as personagens cosmopolitas, conscientes da relevância do desenvolvimento constante de estratégias de sobrevivência, transitam por territórios tanto geográficos quanto ideológicos distintos entre si. Por influência literária de Chinua Achebe (19302013) desde a mais tenra infância, a escritora nigeriana, ao mesmo tempo em quem aperfeiçoa sua escrita a cada nova veiculação de seus textos, consolida seu nome como um dos principais expoentes de sua geração. Desse modo, o objetivo da presente comunicação é propor uma reflexão acerca das heranças descoloniais de Achebe na produção contemporânea de Adichie por meio da observação crítica dos principais temas de suas obras. PALAVRAS-CHAVE: Achebe; Adichie; Descolonialidades. João Jairo Moraes Vansiler Izabela Leal TITULO: DUAS TRADUÇÕES D’AS ELEGIAS DE DUÍNO [DUINESER ELEGIEN] DE RILKE ATUALIZANDO A SUA FICCIONALIDADE LITERÁRIA RESUMO: Resumo: Esta comunicação visa refletir acerca da produtividade textual na obra poética Duineser Elegien [As Elegias de Duino] de R. M. Rilke (1875 – 1926) gerada a partir de duas traduções brasileiras comentadas. A primeira, feita de forma partilhada entre o antropólogo e escritor alemão Peter Paul Hilbert (1914 – 1989) e o poeta e tradutor brasileiro Paulo Plínio Abreu (1921 – 1958) na década de 1950, mas publicada apenas em 1978; a outra é a tradução publicada pela poeta e tradutora Dora Ferreira da Silva (1918 – 2006) em 1972. Procuraremos examinar alguns aspectos semânticos e retóricos nas escolhas tradutórias dos tradutores em questão, considerando as implicações dos distintos períodos em que foram empreendidas, bem como os seus respectivos projetos de tradução. Para tanto, partiremos da compreensão de “projeto de tradução” pensado por Antoine Berman (1995) em Pour une critique des traductions, no sentido de pensarmos a contemporaneidade dessas traduções dentro do que o teórico francês refletiu como uma “crítica positiva” de tradução literária. Outro referencial para este exame é a reflexão de Wolfgang Iser (1996) em torno dos “vazios” do texto literário a serem ocupados pelos leitores. Assim, considerando a tradução uma atividade de leitura crítica, cujos leitores-tradutores no “jogo do texto”, em suas traduções (leituras críticas), ao mesmo tempo em que atualizam a obra original, potencializam a sua ficcionalidade literária. PALAVRAS-CHAVE: Rilke; leitura crítica; tradução de poesia. João José Veras de Souza TITULO: A AMAZÔNIA EM UM CERTO RELATO DE VIAGEM NO SÉCULO XXI: AINDA AS MARCAS DICUSSIVAS DA COLONIALIDADE RESUMO: Os espaços geográficos e epistêmico da região amazônica têm sido descritos como aquele lugar distante do mundo (fora dele) de que se tem notícias, as mais variadas, desde os primórdios da sua ocupação pelos europeus. São relatos de um mundo fantástico da imaginação, de um local paradisíaco, de um ambiente infernal, de uma terra de riquezas/reservas de recursos naturais. Essa Amazônia plural tem sido desenhada por aqueles que detém o poder de difundir, em nome de certos ganhos, impressões e discursos como esquemas interpretativos que buscam a modelizar epistêmica e ontologicamente. Todos interessados em seu uso pelas vias dos campos literário, sociológico, científico/tecnológico e, sobretudo, econômico. É predominante em todas essas visões externas, que têm sido reproduzidas também internamente, a confecção de uma percepção discursiva, posta pelos narradores, de caráter eminentemente colonial. Sob este prisma, a Amazônia – espaço tido por tais esquemas interpretativos como originalmente selvagem e atrasado - será sempre um lugar a ser explorado, colonizado e, mais que tudo, modernizado. Por esta leitura histórica, mesmo sentido se mantém se trocarmos Amazônia por América Latina. Pelos relatos de viajantes contemporâneos, a exemplo do produzido por Afonso Romano de Sant’Anna – em sua crônica No Caminho da Floresta (2013) podemos facilmente colocar a palavra Acre no lugar de Amazônia/América Latina. O presente trabalho objetiva apontar e problematizar as marcas/epistemes - reproduzidas pelo poeta e escritor brasileiro - do sentimento da modernidade eurocêntrica historicamente construído para a manutenção do padrão colonial de poder (ou colonialidade, no dizer de Aníbal Quijano) que ainda vigora fortemente nestes espaços de vidas e de sentidos latino americanos, amazônicos e acreanos. PALAVRAS-CHAVE: Amazônia; Crônica; Colonialidade. João Luís Cardoso Tápias Ceccantini TITULO: DE VENTO EM POPA: A PRODUÇÃO DE LITERATURA JUVENIL NO BIÊNIO 2013-2014 RESUMO: A literatura juvenil é um segmento do mercado editorial brasileiro que vem crescendo a passos largos nos últimos anos, seja do ponto de vista quantitativo, seja do ponto de vista qualitativo. Um exame mais específico dos números disponíveis associados a esse subsistema literário no biênio 2013-2014 revela com muita nitidez o vigor desse setor no país. Se certos dados levantados junto ao setor, como o número de títulos de literatura juvenil em circulação em 2013 (1.685) ou o número de exemplares comercializados no mercado (20.315.473), são, por si, muito expressivos, também o aumento recente do número de lançamentos de títulos juvenis nacionais inscritos para a seleção anual da FNLIJ, que passa de 120, em 2013, a 140, em 2014, precisamente quando os lançamentos nas demais categorias estão em fase de retração, muito possivelmente devido à crise econômica, é um índice bastante relevante da força que a categoria jovem adquiriu no presente. Assim, pretende-se aqui comentar e analisar brevemente algumas obras juvenis que entraram em circulação no período, na correlação com o potencial de formação de leitores que possam manifestar. PALAVRAS-CHAVE: literatura juvenil; leitura; literatura e mercado. João Luiz Peçanha Couto TITULO: AS CIDADES VISÍVEIS: MEMÓRIA E AFETO EM ESPAÇOS ESTÉTICOS CONTEMPORÂNEOS RESUMO: Trataremos de um conceito preliminar de cidade, entendida como a tradicional urbe primeiro-mundista moderna, em seguida estendendo-o para uma releitura da “cidade”, compreendida no contexto de obras identificadas com as “literaturas periféricas”: a urbe aberta à Relação, mar adentro, compósita, refratando a miríade de possibilidades culturais nascidas no encontro de línguas e hábitos, encontro característico de nosso cenário topsecular, espelho das “modernidades alternativas” de Bill Ashcroft. Ou seja, uma cidade-comunidade erigida a partir de uma estética da transgressão não somente urbanística, mas igualmente no que respeita a trânsitos humanos, relacionais, ontológicos e simbólicos. O título da comunicação inverte o título da obra de Calvino, As cidades invisíveis, pois objetiva compreender os espaços urbanos periféricos contemporâneos como lugares onde possa existir/persistir o exercício estético/poético. Para isso, as cidades abordadas necessariamente deverão ser observadas como são: precárias em suas dimensões formais, estruturais, urbanísticas, econômicas, políticas, ontológicas e simbólicas. Entretanto, e apesar disso, constituem organismos / sistemas pulsantes. Para esta empresa, provocaremos o diálogo com as obras Cidade de Deus, de Paulo Lins, e Texaco, do escritor martinicano Patrick Chamoiseau. As obras dialogam diretamente com tais espaços contemporâneos periféricos; nenhuma delas se processa numa linearidade temporal que não seja a presente. Antes, lembremos Glissant, para quem a cultura de um povo está intimamente ligada à sua paisagem, a construções simbólicas geo-orientadas, a partir das quais são criadas as comunidades, identidades, nacionalidades e transnacionalidades: “O indivíduo, a comunidade, o país são indissociáveis do episódio constitutivo de sua história. A paisagem é um personagem desta história” (GLISSANT, 1981, p. 199). Foi por conta desse vínculo entre paisagem e identidade que surgiu a questão dos conceitos de cidade que perpassam as discussões da pós-modernidade: a cidade é a paisagem articulada com a cultura – com produtos gerados a partir da ação cultural humana. PALAVRAS-CHAVE: modernidades; memória; espaço. João Tavares Bastos TITULO: A MELANCOLIA E A RENOVAÇÃO POÉTICA EM BAUDELAIRE RESUMO: Os sentimentos de melancolia e ennui expressam a inadequação ou oposição à positividade e impulsionam a renovação da poesia a partir da segunda metade do século XIX. Manifestos da unicidade pessoal e do repúdio ao processo produtivo industrial, esses motivos poéticos adquirem novos matizes ao início da modernidade e se tornam centrais na revitalização da forma poética. A melancolia e o ennui evidenciam, segundo acreditamos, o ressentimento do literato com sua nova condição na sociedade burguesa. Realocado em uma estrutura produtivista, o escritor, como afirma Jean-Paul Sartre em Que é literatura?, se encontra em uma marginalização objetiva e subjetiva. Na nova organização social, ao contrário do que ocorria no Antigo Regime, é preciso equacionar a busca ao belo à necessidade de subsistir, o que termina por levar a literatura ao mercado. A arte, tornada mercadoria, passa a ser dirigida pela demanda, isto é, pelos ditames do gosto. Autores como Baudelaire e Heine, ao se sentirem oprimidos pela necessidade e incompreensão do público, concebem uma nova estratégia de produção literária, em que escrevem simultaneamente para e contra seus leitores. Chamado por Dolph Oehler, em Quadros parisienses, de estética antiburguesa, esse estratagema se fundamenta no uso da ironia e das ambiguidades. E, através dele, emergem os agentes responsáveis pela renovação poética: a ironia (instrumento de corrosão da positividade consagrado por Sócrates) e o poema em prosa (gênero híbrido e desprovido de raízes clássicas, desenvolvido com vistas aos desafios do lirismo na modernidade). Em nossa comunicação, pretendemos observar como Baudelaire, a partir de um posicionamento atrelado à negatividade, usa a ironia e o poema em prosa para perfazer um jogo de luz e sombra em que atua como espião ou conspirador e aponta para o que considera torto ou falso na existência. PALAVRAS-CHAVE: Melancolia; Baudelaire; Poema em prosa. João Vianney Cavalcanti Nuto TITULO: ELEMENTOS DE CARNAVALIZAÇÃO EM "A RAINHA DOS CÁRCERES DA GRÉCIA" RESUMO: Mikhail Bakhtin caracteriza a carnavalização da literatura pelo uso intenso da paródia envolvendo os mais diversos tipos de discurso; a presença do realismo grotesco; o riso ambivalente; o maravilhoso com função de experimentação de ideias; os estados psicológicos anormais; o clima de familiaridade; a ênfase no baixo material e corporal a inversão das hierarquias e a contraposição entre cultura oficial e cultura não oficial. Diversos desses traços estão presentes em A rainha dos cárceres da Grécia, de Osman Lins, especialmente nas referências e citações do romance que o personagem narrador analisa. No entanto, por conta da maneira sutil como são apresentados, envoltos por uma série de questões metalinguísticas nesse romance em que o riso cômico popular não se encontra em primeiro plano como em outras obras da literatura brasileira, incluindo Lisbela e o prisioneiro do próprio Osman Lins, o conjunto dos aspectos carnavalescos tem sido relativamente pouco estudado. Este trabalho pretende analisar os diversos elementos carnavalescos do romance incluindo a associação do caráter cosmológico da imagem grotesca com saberes marginais como a quiromancia; a paródia de discursos oficiais, como o Direito e a Medicina; e também o dialogismo entre discursos como a crítica erudita e manifestações da cultura popular como o Carnaval, como também da cultura de massa, como programa de rádio. PALAVRAS-CHAVE: Osman Lins; Mikhail Bakhtin; carnavalização. Joabson Lima Figueiredo TITULO: QUEM PRECISA DE BAIANIDADE(S)? RESUMO: Busca-se nesse estudo refletir sobre a construção definida como baianidades e a sua importância hoje no mundo cosmopolita e fragmentado, e que não podemos olvidar os seguintes questionamentos à própria subjetivação que o discurso apresenta em sua formulação: quem precisa definir-se dentro de uma ou várias identidades baianas? E que baianidades estamos falando? E como não pensar em baianidades quando temos a pertença aos Territórios Identitários Culturais tão divergentes? Muitas perguntas, que se buscará aqui refletir às possíveis respostas. Sabe-se que, como discurso representativo, a problemática se apresenta desde os primeiros viajantes europeus no século XVI e teve sua emergência no século XIX, e sua definição sempre foi vinculada a identidade construída e significada à Bahia do Recôncavo sendo a vitrine principal a capital baiana – Salvador. Cidade-síntese dessa identidade, principalmente por ser vinculada a cultura afro-luso-baiana. No entanto, a Bahia, geográfica e antropologicamente, e porque não dizer também por razões históricas, tem no seu espaço geopolítico divergências culturais que a identidade do Recôncavo não se impõe ou justifica seu lastro por todo o Estado, que se originou da província e de três capitanias hereditárias – a primeira divisão geopolítica do território – ou seja, praticamente ¼ da colônia portuguesa na América. Com efeito, essas identidades representam um espaço de atualidade ao termo, justamente porque ainda não se resolveu sua problemática operatória ao termo, nem se esgota ao final desse texto, apenas uma primeira reflexão de pensar uma invenção para além do estereótipo e suas representações. Um debate que surge da proveniência ao conceito e suas capilaridades através do contemporâneo. Em síntese que as baianidades são forças potencializadoras de discurso, que se erige nos poderes simbólico e politico, e precisam-se usar agenciamentos para entra-se no mundo, e provocar novas rupturas e recortes culturais ao local, o regional e o cosmopolita. PALAVRAS-CHAVE: memória Cultural; baianidades; História. Joana de Fátima Rodrigues TITULO: CRÔNICAS JORNALÍSTICAS NOS SÉCULOS XX E XXI: UMA MIRADA DO BRASIL PARA AMÉRICA LATINA E CARIBE SOB OS OLHARES DE RUFFATO, HATOUM, VILLANUEVA CHANG E GARCÍA ROBAYO RESUMO: Como vem se comportando a crônica jornalística nos séculos XX e XXI na América Latina e no Caribe a partir da perspectiva brasileira? Para atender este questionamento inicial que subsidiará a pesquisa intitulada Narrativas da Vizinhança: mapeamento crítico de cronistas-escritores apresentarei uma leitura de crônicas dos autores brasileiros Luiz Ruffato e Milton Hatoum; do mexicano Juan Villoro, do chileno Julio Villanueva Chang e da colombiana Margarita García Robayo, sob a luz de um movimento que aponta para o reflorescimento do gênero, reunindo em sentido de mão dupla, escritores consolidados deslocandose para a produção desse gênero híbrido, publicando seus textos em jornais e revistas; e no sentido contrário, uma nova geração, iniciada nas crônicas jornalísticas que está partindo para as narrativas de ficção, em romances e contos.Embora esses cronistas-escritores venham compartilhando de dois espaços públicos: a imprensa impressa e o ambiente virtual da web, no entanto, o que se observa é a ausência de contato e de diálogo literário junto à essa vizinhança, que sob o pensamento de Ángel Rama, poderia ser entendida como uma vizinhança transculturadora. PALAVRAS-CHAVE: crônica jornalística; séculos XX e XXI; América Latina. Joana Luíza Muylaert de Araújo TITULO: TEMPO, LINGUAGEM E ETERNIDADE EM DOIS CONTOS DE BORGES RESUMO: Tempo, linguagem e eternidade em dois contos de Borges As questões centrais dos contos abordados já se anunciam nos seus títulos. Em “História da eternidade” (1936) e em “Nova refutação do tempo” (1946), Jorge Luis Borges nega o tempo, necessariamente humano, e afirma a eternidade do mundo, indiferente ao destino dos homens. O que está em questão nesses contos/ensaios é o tempo irreversível e sucessivo, percebido e sentido como “miséria intolerável”, “intolerável opressão”. Imprópria para pensar o “eterno”, a linguagem - de “índole sucessiva” - só nos devolveria uma representação ilusória do tempo e da eternidade. Não dispondo, contudo, de outro recurso que a linguagem precária de que é feito, o escritor não tem outra saída senão “relatar” uma “experiência pessoal” que, nesse passo, identifica-se com a sua “teoria da eternidade”, esvaziada de sentido humano. O mencionado relato descreve sensações de um tempo passado, talvez na infância, despertado no presente, “por acaso”. Mas essa lembrança antes acentua a sua sensação de morte, de um tempo para sempre perdido. Para Borges, o que nos resta é o “destino”, “férreo e irreversível” do tempo que passa. Quanto à eternidade, tratar-se-ia apenas de mais uma outra palavra, de “sentido reticente ou ausente”. Explorando as contradições que o próprio escritor admite no Prólogo à “Nova refutação do tempo” (como dizer que o tempo não existe se estamos falando dele?), proponho discutir a pertinência desses “jogos verbais” (assim denomina um dos contos o próprio autor) para os problemas relacionados à narrativa contemporânea. PALAVRAS-CHAVE: Jorge Luis Borges; memória; narrativa. Joana Matos Frias TITULO: APESAR DAS RUÍNAS, TANTO TEMPO NENHUM: JOAQUIM MANUEL MAGALHÃES, LUÍS QUINTAIS E RUI PIRES CABRAL RESUMO: Procurando problematizar os princípios evidenciados no tema do simpósio no que respeita à constituição de uma estética decadentista finissecular em língua portuguesa na passagem do século XIX para o século XX, este trabalho pretende apresentar uma reflexão sistematizante sobre algumas questões decisivas da poesia portuguesa das últimas décadas do século XX, a partir da abordagem articulada das obras poéticas de três autores (Joaquim Manuel Magalhães, Luís Quintais e Rui Pires Cabral) que produziram livros e estudos críticos determinantes no período que marca a transição entre os séculos XX e XXI. Neste sentido, e a partir da leitura crítica concentrada fundamentalmente em produções dos anos 80-90, o estudo visará uma perspectivação integrada de certas especificidades discursivas, temáticas e poetológicas das obras, com vista a uma ponderação mais alargada que coloque em destaque os traços próprios de uma certa linhagem da poesia portuguesa do final do século XX, de consequências notórias na constituição da poesia portuguesa do início do século XXI. Crise e crítica, história e decadência, o lugar e a morada, música e melancolia, restos e ruínas: eis alguns dos motivos que atravessam e estruturam os versos destas três obras, e que se revelarão cruciais para a análise da função que elas desempenham no panorama da literatura portuguesa do final do século XX. PALAVRAS-CHAVE: poesia; ruína; lugar. Joana Souto Guimarães Araújo TITULO: A FIGURA DO “MURO” NA POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS E A ESCRITA RENOVADA DA TRADIÇÃO RESUMO: Em uma época marcada pela atitude radical de revisão e renovação da literatura, como foi a da geração de Orpheu, a poesia de Fernando Pessoa desdobra-se criticamente, explicita e automiza suas dimensões a fim de analisálas. No macroplano da obra, o jogo heteronímico expõe uma infinidade de estados psíquicos em interação, compondo as multifacetas de uma personalidade autoral aberta e em construção. Na condição de texto que são, os heterônimos pretendem ainda discutir, através de uma “poligamia literária” (COSTA, 2008, p. 786), diversas vertentes e movimentos assimilados de maneira contraditória à sua obra, seja nas tonalidades futuristas, cubistas ou vorticistas, seja no classicismo modernizante, ou nas discussões em torno do saudosismo e do decadentismo. Através da justaposição irônica dessas vertentes, Pessoa soube construir uma reputação assente em uma sólida personalidade literária definida pelo jogo ordenado de sua obra, formulados, não raro, por meio de contradições plantadas a fim de encenar os caminhos paradoxais e os impasses enfrentados pela poesia portuguesa no início do século XX. Na poesia de Álvaro de Campos, a qual pretendemos analisar, certas figuras espaciais e urbanas, como a do “muro”, por exemplo, dramatizam tal postura dialogante, instaurando uma série de dificuldades frente às noções de “tradição” e “ruptura” ? universalizadas como critério de valoração e periodização literárias a partir do século XIX. PALAVRAS-CHAVE: Álvaro de Campos; tradição; ruptura. Joanna da Silva TITULO: RELAÇÕES DE GÊNERO NOS ROMANCES "RELATO DE UM CERTO ORIENTE" E "DOIS IRMÃO", DE MILTON HATOUM RESUMO: A literatura enquanto mecanismo de representação sociocultural constitui-se como importante ferramenta no processo de discussão e problematização dos mais diversos conceitos de poder e hegemonia. Desta forma, a presente pesquisa busca investigar, através das complexas relações entre homens e mulheres, interseccionadas a questões de classe e etnia, como se constroem as relações de poder no seio familiar relacionadas à representação de gênero nos romances “Relato de um certo Oriente” (1989), e “Dois Irmãos” (2000), do prestigiado escritor amazonense Milton Hatoum. A abordagem privilegia a categoria de análise “gênero” nas diversas temáticas atreladas a esta questão, sem abrir mão de conceitos e categorias como patriarcado, póspatriarcado, classe social e etnia. Para tanto, os referenciais teóricos são buscados na teoria crítica feminista, particularmente em autoras como Simone de Beauvoir (1980), Joan Scott (1995), Linda Nicholson (2000), Marta Lamas (1995), Audre Lorde (1997), Eleieth B. Saffioti (2005), Adriana Piscitelli (2005), entre outros. Aponta-se no contexto das relações de gênero no romance hatouniano a emergência de um novo regime, que Juliet F. MacCannell (1991) denomina “póspatriarcal”, centrado na figura do “irmão”, em que os arranjos de poder na constelação familiar redefinirão os papéis sexuais, gerando complexas formas de exclusão da mulher. PALAVRAS-CHAVE: Gênero; exclusão feminina; romance hatouniano. Joao Carlos Felix de Lima TITULO: CONTOS QUE SE CANTAM. A VIOLENTA VOZ DAS RUAS CALADAS, UMA LEITURA DE CONTOS NEGREIROS, DE MARCELINO FREIRE RESUMO: O racismo de cada um, mediado pela expressão amenizada pela voz de branqueamento, lido em formas furtivas de socialização, é o que se quer mostrar na apresentação. "Contos negreiros", livro capital na obra já extensa de Marcelino freire, dá voz à experiência nada abstrata das ruas e da intimidade pública. Nesses contos, desvela-se, com todo vigor e ironia, a violência secreta, calada e etérea, lida e sentida nos espaços de convivência brasileiros. PALAVRAS-CHAVE: brasileiro. Marcelino Freire; Literatura Contempor; Racismo Joao-Manuel Neves TITULO: NO PAÍS DOS OUTROS: A POESIA DE RUI KNOPFLI NAS FRONTEIRAS DO TEMPO COLONIAL RESUMO: Até ao início dos anos 1940 o campo literário de Moçambique apresenta três espaços textuais distintos: a literatura colonial; a atividade literária dos círculos crioulos; e a produção dos círculos relacionados com correntes literárias metropolitanas. Desde o final da Segunda Guerra, indiretamente filiadas nestes dois últimos espaços, surgem por um lado uma escrita em rutura com a colonialidade (Noémia, Amaral, Craveirinha), e por outro lado uma poesia elaborada em simultâneo no interior e nas fronteiras do tempo colonial onde se destaca sobretudo Rui Knopfli. Segundo as suas próprias palavras, Knopfli situase no negativo desse mundo mas nunca conseguirá romper com um modelo estético de modernidade ocidental. Nesta comunicação propomos um percurso através de um corpus integrando cerca de 50 poemas. Desde a recolha inicial intitulada de forma explícita “No país dos outros”, a obra knopfliana evolui no interior de um espaço dilacerado, num tempo crepuscular, sob o signo de uma saudade tornada impossível, afirmando a permanência da escrita através da invenção de uma temporalidade mítica. Esta abordagem da obra de Knopfli revela uma poética complexa, inscrita nas margens do terceiro império português. PALAVRAS-CHAVE: Moçambique; tempo colonial; tempo colonial. Joatan David Ferreira de Medeiros TITULO: TRAÇOS DE HISPANIDADE EM TEXTOS DE LUÍS DA CÂMARA CASCUDO RESUMO: Num esforço de regionalização e universalização da cultura, a obra de Luís da Câmara Cascudo, construída a partir de uma grande rede de especializações, nos conduz pelos horizontes mais diversos. Este trabalho propõe uma reflexão sobre os encontros e diálogos do escritor potiguar com o mundo hispânico. Parte, assim, de acontecimentos da sua vida, bem como de registros em livros, periódicos e cartas que refletem sua aproximação com as tradições, as letras, os povos e com a atividade intelectual das nações de língua espanhola, mais especificamente as do continente americano. Verificou-se que no seu exercício de leitura, crítica literária, traduções, correspondências e ensaios Câmara Cascudo discutiu e divulgou temas do orbe hispânico, ao passo que projetou o dado local numa perspectiva transnacional. Desse modo, este estudo dialoga com as reflexões de Candido (1989, 1993, 2006), Rama (2001) e Pizarro (2004) sobre a realidade da produção literária e cultural do continente latino-americano. Um primeiro contato com os textos do autor potiguar nos permitiu identificar uma dinâmica de sociabilização e integração entre ele e os artistas e intelectuais nacionais e estrangeiros. PALAVRAS-CHAVE: Câmara Cascudo; Hispanidade; América Latina. Joel Cardoso Wagner de Lima Alonso TITULO: ADAPTAÇÕES DE "DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA" RESUMO: É difícil precisar quando o ato de adaptar textos pré-existentes foi introduzido efetivamente nas produções artísticas. O certo é que as migrações de uma linguagem para outra, de um suporte para outro já vêm de longa data. No contexto atual, este recurso é quase um hábito, a tal ponto que, agora, torna-se difícil precisar quando um texto não está conectado de algum modo a outros muitos textos. Nesse artigo, ocupamo-nos de quatro autores – Alberto Moravia e Plínio Marcos da literatura, e Braz Chediak e José Joffily do cinema. Tais autores nos interessam, sobretudo, pelas as relações intersemióticas que se estabelecem nos processos adaptativos que partem de um conto de Moravia, "O terror de Roma", mas ganham, a nosso ver, especial importância em Plínio Marcos com a peça "Dois perdidos numa noite suja". Tomando como base as teorias que tratam das traduções intersemióticas, preconizadas, entre outros, por Julio Plaza, Isaias Latuf Mucci, indubitavelmente as adaptações, aqui consideradas como processos geradores de novas obras, independentes em sua nova unidade, mas relacionadas em sua intertextualidade, não comportam mais comparações hierarquizantes no âmbito de valores, mas, se contrapostas, podem, no âmbito da recepção, indubitavelmente propiciar uma leitura conjunta enriquecedora. PALAVRAS-CHAVE: Teatro e Cinema; Plínio Marcos; Dois perdidos. John Milton TITULO: AS TRADUÇÕES DE MONTEIRO LOBATO FORA DO BRASIL RESUMO: Este trabalho continua minha investigação sobre a tradução na obra de Monteiro Lobato. A primeira parte da pesquisa examinou as adaptações de Lobato de Peter Pan, Don Quijote e as Fábulas de La Fontaine em português, em que as histórias são recontadas por Dona Benta, dando Lobato a oportunidade de inserir sua própria ideologia e opiniões, particularmente seu desgosto pela a ditadura de Getúlio Vargas (1930-1945) (The Resistant Translations of Monteiro Lobato. In: Maria Tymoczko, (ed) Translation, Resistance, Activism (Amherst: Univ Massachusetts Press, 2010). Este artigo analisa a tradução das obras de Lobato para outras línguas, especialmente as traduções em espanhol de suas obras infantil, publicadas a partir de 1919 em Buenos Aires. E, de 1945 a 1946 Lobato passou um ano em Buenos Aires, durante o qual todas as suas obras para crianças foram (re)impressas. E em 2010 as obras infantis de Lobato foram reimpressas, com Prefácio da Presidente de Argentina, Cristina Kirchner, que, como criança, era fã de Lobato. O artigo também analisou a escassez de traduções de obras de Lobato para outros idiomas, especialmente inglês, para o qual apenas um pequeno número de seus contos foram traduzidos e publicados nos Estados Unidos. A razão inicial parece ser a rejeição de sua tentativa de publicar em inglês nos Estados Unidos O Presidente Negro ou O Choque das Raças (1926), que foi considerado racista e controverso. PALAVRAS-CHAVE: Lobato inglês; Lobato espanhol; Tradução infantil. Jonas Jefferson de Souza Leite TITULO: A CONTROVERSA RECEPÇÃO LITERÁRIA DA OBRA DE FLORBELA ESPANCA: A MISTIFICAÇÃO DE UMA ESCRITORA RESUMO: As primeiras apropriações da obra de Florbela se deram como intuito de justificar, em sua escrita, aquilo que a sociedade e a crítica já haviam pontuado sobre a imagem pública dessa autora: era ela uma mulher que contrariava a ordem tradicionalista daquele período em seu país, sendo, para o Salazarismo, o “antimodelo do feminino, da concepção da mulher” (DAL FARRA, 2012, p. 20). Dessa maneira, a vida da escritora propiciou, ou melhor, deu condições para que sobre ela pairassem movimentos favoráveis e contrários à sua obra literária e, principalmente, à sua pessoa. “Justificavam-se”, assim, os “delitos” que tinha cometido e/ou “alimentava-se” um imaginário de que a poetisa era uma mulher mais adiantada que sua época, conforme a ideologia feminista e, ainda, que ela só seria tomada como “exemplo” a não ser seguido, bem ao gosto dos preceitos vigentes àquela altura. Assim, segundo Klobucka (1992, p.51), Florbela é um dos poucos casos da história da literatura portuguesa de mistificação de uma personalidade literária e o único a acontecer com uma mulher. Com finco nisso, o presente trabalho pretende discutir como, em um primeiro momento, a obra de Florbela teve grande impacto negativo sobre a cena literária, justamente pela sua condição de mulher-escritora – posição inadequada naquele contexto – e, posteriormente, as recepções que se seguiram sem o ranço do extremo tradicionalismo que norteou, no início do século XX, os estudos em torno da obra da poetisa. Também se enfatizará as motivações históricas, biográficas e contextuais que desencadearam o processo de mistificação da escritora e as marcas decorrentes disso para a constituição do que Florbela Espanca representa hoje para um cenário mais amplo da literatura portuguesa. PALAVRAS-CHAVE: Recepção Literária; Florbela Espanca; Mistificação. Jorge Alves Santana TITULO: REPRESENTAÇÕES DA VELHICE E ESTRATÉGIAS DE CUIDADOS PESSOAIS NA POESIA DE ADÉLIA PRADO RESUMO: A poetisa mineira Adélia Prado trata de vários temas do cotidiano em sua obra. Destacamos, aqui, algumas representações do envelhecimento e da velhice nos aspetos pertinentes ao seu conhecimento, ao seu manuseio em nossa sociedade, bem como as estratégias de cuidados que podem ser criadas e usadas quanto a essa fase existencial. Poemas como Resumo, Páscoa, A despropósito e Dona Doida, presentes em sua Poesia Reunida (1991), trazem-nos contextos e personagens inseridos no envelhecimento ou já na velhice instalada. Tais circunstâncias, tratadas de modo poético, giram em torno da velhice vista como condição da qual não podemos fugir e com a qual temos de nos conciliar, apesar dos notórios ônus sócio-políticos que ela nos cobra. Predomina, nessas construções líricas, a reflexão sobre possíveis estratégias de cuidados que preservam o bem-estar da pessoa idosa frente aos tabus e desafios que essa fase acarreta. Assim, mais do que temer e sofrer com a chegada da velhice, a poetisa aponta para possibilidades de fortalecermos valores nos quais o respeito à diferença, a memória intergeracional, o conhecimento das capacidades do corpo envelhecido, o auxílio interpessoal que essa fase exige, possam fomentar ações e circunstâncias criadoras da velhice natural e digna. Para tais reflexões sobre a representação da velhice nos poemas citados, usamos, ao lado dos Estudos Literários, as reflexões dos Estudos Culturais de Félix Guattari (2009), no que diz respeito à rede ontológica que une os seres em sua equilibração de ecologia social, individual e ambiental; as de Leonardo Boof (1999), na questão do cuidado como ética do ser humano; e as de Pierre Bordieu (2003), no que diz respeito ao campo artístico, aqui no caso da literatura, que também pode atuar na desconstrução de hábitos de exclusão e nas ações de intervenção em nossas realidades pragmáticas. PALAVRAS-CHAVE: Adélia Prado; Velhice; Cuidados. Jorge Luis Verly Barbosa TITULO: OS ANOS 1970 EM CANÇÕES DE UM “VELHO BANDIDO”: SÉRGIO SAMPAIO E SEU OBLÍQUO TESTEMUNHO SOBRE UM “FILME DE TERROR” CHAMADO BRASIL RESUMO: Nos anos 1970, momento mais cruel e sanguinário da ditadura militar no Brasil, o compositor capixaba Sérgio Sampaio fez de certas canções um engenhoso (e oblíquo) testemunho acerca das angústias, agruras e, por que não dizer, esperanças que permearam o debate da cultura brasileira naqueles idos. Na contramão tanto da canção engajada e assumidamente crítica do regime, como das fórmulas de cooptação maquinadas pela indústria cultural, Sampaio realiza aquilo que Jaime Ginzburg, em Crítica em tempos de violência, discute como sendo trabalho de linguagem a partir do trauma, não pela via do engagement, mas pela construção de uma obra de arte eivada pelo que Theodor Adorno, em Teoria estética, define como conteúdo de verdade. Assim, pretendemos apresentar um pequeno panorama da obra sampaiana à luz de propostas tanto da Teoria Crítica (Aufklärung, arte autêntica e estética contra a barbárie) como de propostas teóricas afins ao testemunho na produção artística. Algumas canções – como “Filme de terror” e “Labirintos negros”, ambas do disco Eu quero botar é botar meu bloco na rua, de 1973 – serão analisadas mais detidamente, considerando o contexto histórico e o conceito de testemunho. PALAVRAS-CHAVE: Testemunho; Ditadura militar; Arte e Verdade. Jorge Paulo de Oliveira Neres TITULO: ENTRE ROMANCE POLÍTICO, ROMANCE PSICOLÓGICO E METAFICÇÃO HISTÓRICA: UMA LEITURA DE AMORES EXILADOS, DE GODOFREDO DE OLIVEIRA NETO TA RESUMO: A presente proposta de Comunicação propõe-se analisar o romance Amores exilados, de Godofredo de Oliveira Neto, buscando caracterizar a modalidade de gênero em que se insere a narrativa. Em primeiro lugar, aventase sua classificação no subgênero romance político, uma vez que, conforme HOWE (1998, p.5) [...] Por romance político entendo um romance no qual ideias políticas tem papel dominante, ou no qual o milieu político é o cenário dominante – embora seja novamente necessária uma qualificação, pois a palavra “dominante” é mais do que questionável [...]. Em Amores exilados, narrativa que trata da militância e angústia de dois exilados políticos brasileiros – Fábio e Lázaro -, em Paris, de maneira geral tem como leitmotiv a oposição ao regime ditatorial implantado no Brasil , em 1964, acrescido pela participação de ambas as personagens na luta armada, sendo predominantemente político. Por outro lado, a construção narrativa de Godofredo é profundamente assinalada pela ficcionalidade, patenteada no caráter da aventura verbal inventiva, na qual o elemento histórico torna-se engrenagem da construção ficcional, muitas vezes determinando perfis e comportamentos das personagens. Em outras palavras, a ficção e a realidade histórica empírica, enquanto linguagens distintas tornam-se permeáveis. Daí sua marca de metaficção histórica. A densidade e as tensões da narrativa espelham a dramaticidade das personagens, marcadas pelas incertezas, angústias e paixões que, ao final, conferem intensas marcas psicológicas ao romance. PALAVRAS-CHAVE: Ficção; Política; História. José Batista de Sales TITULO: O FAZEDOR DE VELHO - ENTRE A FORMAÇÃO E A IRONIA JUVENIL RESUMO: A literatura para jovens sempre forçada por varias correntes críticas em busca de uma (im)possível catalogação sem crise, continua ainda a enriquecer o espectro editorial brasileiro com obras que podem ter o condão de realimentar a discussão do próprio "genero". Portanto, a partir da concepção de romance de formação, pretende-se discutir as relações em tensão entre a tradição do Romance de formação, com suas componentes escolar, moralista e cristão - sem deixar de lado a contribuição de ordem burguesa, e os elementos modernos e questionadores de um conjunto de valores presentes na concepção de gosto, de valores e de visão de mundo na contemporaneidade. PALAVRAS-CHAVE: Romance De Formação; Crítica; Leitor. JOSÉ CARLOS FELIX TITULO: L`ART C`EST MOI: O APAGAMENTO DAS FRONTEIRAS ENTRE O CINEMA, A ÓPERA E O TEATRO EM M. BUTTERFLY DE DAVID CRONENBERG RESUMO: A apropriação de elementos estilísticos de um meio artístico por outro foi sempre compreendida pela crítica como uma característica intrínseca ao próprio processo de criação artística. Desde sua invenção, o cinema desenvolveu uma imbricada relação com várias artes, incorporando inovações estilísticas advindas de diversas expressões artísticas como a literatura, a música e o teatro. Partindo da premissa de que, nesse processo dialógico, o cinema não apenas modifica sua linguagem, mas também redimensiona e produz uma multiplicidade de sentidos nas outras artes, o presente trabalho propõe uma discussão das relações entre o cinema, o teatro e a ópera a partir do filme M. Butterfly [1993], do cineasta canadense David Cronenberg, baseada na peça homônima do dramaturgo David Hwang [1988], e livremente inspirada na ópera de Puccini [1904], a fim de verificar de que maneira os princípios estéticos e os protocolos envolvidos no processo de adaptação cinematográfica absorvem inovações tanto estéticas quanto temáticas encontradas na matéria artística a partir da qual tal filme se constrói. Duas formas de apropriação características da arte pósmoderna serão o foco metodológico de exame: a apropriação de componentes estruturais (narrativa/personagens/música), enquanto procedimento de diluição de uma estrutura total; a apropriação de detalhes (mise en scène/ambientação/fotografia) que, ao interagirem na estrutura do filme, criam uma tensão dialética, ao mesmo tempo em que são subsumidos pelo conjunto das convenções do idioma cinematográfico. Por fim, o trabalho valer-se-á de reflexões acerca de como, em M. Butterfly, Cronenberg retorna a um tema recorrente em sua filmografia: a potencialidade do cinema como veículo de criação artística. No caso de M. Butterfly, a arte evocada pelo cinema é muito mais o teatro do que a literatura, capaz de, por meio de elementos como a performance e música, se converterem em mecanismos criativos dotados de uma força imaginativa capaz de diluir profundamente as dimensões mais recônditas da subjetividade humana. PALAVRAS-CHAVE: Cinema; Ópera; Teatro. José Dino Costa Cavalcante TITULO: O TEXTO DRAMÁTICO E A SALA DE AULA RESUMO: Machado de Assis, em Literatura Brasileira: Instituto de nacionalidade, escrito em 1873, afirmou: “Esta parte pode reduzir-se a uma linha de reticência. Não há atualmente teatro brasileiro, nenhuma peça nacional se escreve, raríssima peça nacional se representa. As cenas teatrais deste país viveram sempre de traduções, o que não quer dizer que não admitissem alguma obra nacional quando aparecia.” (ASSIS, 1994). O que o autor de Lição de botânica disse no século XIX sobre as condições do teatro nacional, poderia ser aplicado, certamente, em 2015, ao uso do texto dramático na sala, isto é, à leitura do gênero nas aulas de literatura no Ensino Médio. Basta observar os principais livros didáticos adotados nas escolas brasileiras para se constatar a veracidade dessa afirmação. São poucos os autores que são objetos de análise, entre eles Gil Vicente, em Portugal, em Martins Pena, no Brasil. O presente trabalho pretende investigar a relação entre o ensino de Literatura e o texto dramático em três dos principais livros adotados nas escolas maranhenses de Ensino Médio. Serão investigados os autores, os textos, os excertos, a metodologia apresentada pelo autor (do livro didático), os elementos da obra dramática destacados, entre outros aspectos. Para compreender as nuances do texto dramático, serão analisados os autores, Décio de Almeida Prado, André Gomes, Sábato Magaldi, entre outros. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Teatro; Sala de Aula. José Francisco da Silva Queiroz TITULO: LEITURA, CITAÇÃO E APROPRIAÇÃO EM “PARA TER ONDE IR (1992)” RESUMO: Diversas são as referências imagéticas e filosóficas encontradas em Para ter onde ir (1992), um dos últimos livros de Max Martins. A leitura de suas obras produzidas na década de 1980 reforça a percepção de um longo trabalho de pesquisa empreendido na busca de decifrar a cultura do Oriente por meio da poesia. A publicação de Para ter onde ir demarca a culminância de um período muito importante para a poesia de Max Martins, nessa década o poeta publicou quatro livros e, entre 1986 e 1989, escreveu os versos que dariam corpo ao seu livro menos conhecido. Esta obra nasceu do ato da leitura que se apropriou dos ensinamentos depreendidos a partir da consulta ao oráculo chinês, o I Ching. O processo de composição empregado retomou o simbolismo expresso pelos hexagramas reutilizando suas metáforas para criar grande parte dos poemas. Nossa proposta de análise busca compreender os efeitos estéticos das imagens “recortadas”, dos ensinamentos “assimilados” e das “citações” feitas pelo poeta de sua própria obra reconstruída à luz de um jogo profético. PALAVRAS-CHAVE: poesia; citação; leitura. José Guilherme dos Santos Fernandes TITULO: ETNOTRADUÇÃO RESUMO: O antropólogo Clifford Geertz (1989) afirma que a etnografia pressupõe uma descrição densa no sentido de estabelecer uma hierarquia estratificada de estruturas significantes. Por isso, o etnógrafo é um intérprete de sistemas simbólicos (culturas) e os textos antropológicos são interpretações, que o autor designa como “ficções” – “algo construído”, “algo modelado”. Partindo-se dessa premissa, intento compreender o texto etnográfico – aqui visto, em sentido amplo, como qualquer produção escrita em que são representados fatos e modelos sociais, sejam textos literários ou não literários – como uma tradução comentada, em que existe a transplantação de um “texto nativo”, entendido como valores e práticas culturais, em outra cultura “estrangeira”. Mesmo com a pretensa funcionalidade e subordinação do texto de destino ao texto de origem, o que se quer problematizar, nessa relação etnográfica, é a descontinuidade impetrada pelo tradutor-etnógrafo, dadas as contingências espaço-temporais e socioculturais que orientam sua interpretação-ficção. Tornam-se, muitas vezes, mais autores do que escritores/escribas, por serem fundadores de discursividade, de novas possibilidades e regras de formação de textos (GEERTZ, 2005) como “primeiros tradutores”, implicando sua tarefa em demonstrar, explicar e instruir, apanágios estes de uma autêntica tradução-comentada “intercultural”. Essas reflexões serão retratadas em duas obras consideradas, aqui, como etnografias: o romance Marajó (1947), do literato paraense Dalcídio Jurandir, e o relato de viagem Nuevo decubrimiento del gran río de las Amazonas (1639), do religioso espanhol Cristóbal de Acuña, situados no espaço-tempo da Amazônia. Em ambos os textos, é possível observar tanto traduções em primeira mão quanto retraduções, em exercício de redução, ampliação e adaptação entre textos e realidades. GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. GEERTZ, Clifford. Obras e vidas: o antropólogo como autor. Rio de Janeiro: Ed.UFRJ, 2005. PALAVRAS-CHAVE: Etnografia; Tradução; Interculturalidade. José Horácio de Almeida Nascimento Costa TITULO: ENSAIO DE AUTO-INTERPRETAÇÃO: O LIVRO DOS FRACTA (1990) E QUADRAGÉSIMO (1994) RESUMO: Dando continuidade à elaboração de ensaios auto-interpretativos, que tratam de situar a escritura seqüencial de meus livros de poesia desde a publicação de 28 poemas 6 contos (1981), a partir da análise, nela, de temas e modi escriturais afetos à situação da homossexualidade enquanto identidade subjetiva e vetor composicional-poético, no presente texto analiso os dois livros em epígrafe, publicados primeiramente em espanhol e a posteriori em português, como um intento de suprir a ausência do vetor homoerótico na crítica à minha obra poética até o momento. Nesse sentido, retomarei as “Notas de releitura: The Very Short Stories”, apresentadas no VII congresso internacional da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura-ABEH (2014) e a “Auto-análise sobre diferença, diversidade e cânone literário”, escritas em função da reunião do GT “Homocultura e Linguagens” (ANPOLL, 2012). PALAVRAS-CHAVE: poesia brasileira; homoerotismo; cânone literário. José Maurício Saldanha Alvarez TITULO: MEMÓRIA, HISTÓRIA E NARRATIVA NA [RE] CONSTRUCÃO DO HUMANO PÓS-APOCALITICO: O LIVRO DE ELI RESUMO: Esta comunicacão analisa a [re] construção do humano num espaco sem tempo, espaco ou memória, que sucedeu a pós-modernidade na película o Livro de Eli (Sony, 2010). Ambientada num mundo pós-apocalíptico e destruído por uma guerra nuclear foi dirigida pelos irmãos Albert e Allen Hugues. A revolução anárquica projetada no filme faz surgir uma sociedade que Giddens denominou de alto risco onde a mediação é sucedida pela violência do grupo contra o indivíduo que é sozinho e vulnerável. A produção humana é quase zero porque a modernização cessante esgotou suas possiblidades destruindo, conforme U Beck, as bases da sociedade industrial. O herói da película, Eli, interpretado por Denzel Washington, detentor de memória social, conforme Maurice Halbwachs, emprega práticas astuciosas de sobrevivência no ambiente hostil elaborando uma habitabilidade possível e [re] construindo sua humanidade. Atendendo a um chamado interno, Eli conduz a ultima copia da Bíblia, versão rei James, para o Oeste. Sua diegese operada num ambiente de alto risco resultou no que Giddens denominou de o retorno do recalcado. Entra em confronto com Carnegie, um vilão astucioso, cuja ambição é dispor da Bíblia como instrumento do poder pessoal. Na película, os jovens não possuem nem memória ou história vivendo presentificados e [des] humanizados. Como para Ortega y Gasset o homem não tem natureza e sim história, o apocalipse nuclear ambiental que a tudo interrompeu, não permitiu se processar o que Paul Ricoeur denominou de “sequência geracional” e que assegura uma transição entre os diversos tempos da história, da memória e assegura a [re] construção do humano. PALAVRAS-CHAVE: Memória; História; Território. José Roberto de Andrade TITULO: GULA E LITERATURA: DIÁLOGO GASTRONÔMICO COM A OBRA DE EÇA DE QUEIRÓS RESUMO: O escritor Eça de Queirós (1845-1900) não se destacou pelas habilidades culinárias, mas marcou a cozinha portuguesa. Sua obra literária e jornalística revela que Eça escolheu representar, também pela perspectiva do estômago, a sociedade portuguesa de sua época, aproximando escritor do cozinheiro. Neste artigo, comentam-se textos jornalísticos do escritor português e faz-se a leitura de um jantar de O Primo Basílio para destacar a possibilidade de diálogos entre a obra do escritor e a gastronomia e a importância deste tema como chave interpretativa dos textos ecianos. PALAVRAS-CHAVE: Eça de Queirós; Gastronomia; Literatura. Jose Rosa dos Santos Junior TITULO: MEMÓRIA AUTORAL: MODULAÇÕES BIOGRÁFICAS EM MANOEL DE BARROS RESUMO: Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá, no Estado de Mato Grosso, em 19 de dezembro de 1916 e “virou árvore” no dia 13 de novembro de 2014, aos 97 anos, em Campo Grande, capital sul-mato-grossense. Publicou seu primeiro livro, Poemas concebidos sem pecado, em 1937, mas o reconhecimento do público só aconteceu 43 anos mais tarde, nos anos 80. Assim como Guimarães Rosa, Manoel arquitetou uma dicção inovadora, plena de neologismos e, ao mesmo tempo, apresentando a língua portuguesa em suas ascendências mais profundas e primitivas. É do lócus existencial, o Pantanal vivido, sentido e experimentado e o Pantanal poeticamente representado, que Manoel de Barros herdou um gosto pelas águas e pelas coisas do chão. Para ele, a puerícia habitada no Pantanal lhe permitiu um lastro que só pode ser matéria de poesia se embaralhado com certo anseio de mexer com os vocábulos que adquiriu no colégio. As vivências, no pantanal do Mato Grosso, do cidadão Manoel consubstanciam e matizam, de maneira incisiva, a obra literária do poeta. Tais informações nos permitem afirmar que a obra poética de Manoel de Barros possui um caráter autobiográfico que o singulariza exatamente por se manifestar por meio de suas “memórias inventadas”. Tais memórias, parcialmente inventadas como toda e qualquer memória, dão o tom e a cor à produção poética do autor. Dessa forma, objetivamos refletir, por meio do corpus poético, o quanto a memória e as reminiscências ocupam um lugar no processo escritural de Manoel de Barros. Reminiscências, que se convertem em modulações autorais, de uma infância vivida no Pantanal, mas ressignificada pelos ditames da imaginação criativa. PALAVRAS-CHAVE: Memória; Autoria; Manoel de Barros. Julia Scamparini TITULO: O NARRADOR AUTOFICCIONAL RESUMO: No conhecido e cultuado ensaio "O narrador", ao examinar a obra de Nikolai Leskov, Walter Benjamin lança observações sobre uma arte de narrar clássica que em seu tempo já se mostrava praticamente extinta. A pobreza das experiências, matéria principal da narrativa, transmissíveis a futuras gerações pela sabedoria nelas contidas, já era constatável antes mesmo da 2a guerra. Além deste grande trauma, novas práticas sociais, como a do trabalho fragmentado em etapas após a consolidação da indústria, e a da imprensa e as leituras de massa, como a informação, fizeram emergir um tipo de narrador que se reconhecia em uma nova forma, o romance. Mais complexo e paradoxal, o romance era quase que necessário para que as pessoas pudessem encontrar, num novo mundo, entendimentos sobre a a vida. Benjamin associa um novo sujeito, moderno, a um novo narrador, também moderno, integrando vida e arte através do romance, de um modo distinto de como se fazia pela autêntica arte de narrar, que descreve de forma elogiosa. Em “O narrador pós-moderno”, Silviano Santiago estuda alguns contos de Edilberto Coutinho, nos quais identifica um narrador atento à experiência não própria, mas daquele que observa. Esse narrador age, portanto, como espectador mais do que como quem experimentou uma vivência, dando “palavra ao olhar lançado ao outro para que se possa narrar o que a palavra não diz” (Santiago, 1989: 41). Analogamente ao que faz Benjamin, Santiago não se limita a uma discussão sobre o autor que estuda ou sobre o narrador enquanto instância literária, mas efetua uma análise sobre a própria arte de narrar no fim do século XX, quando não mais se pode pensar um sujeito que não seja constituído principalmente por imagens. Nesta virada de século, assistimos à consolidação da narrativa autoficcional tanto na literatura como no cinema. Como autoficção se entende a narrativa que conta com a presença do autor na mídia, através da doação do nome do autor ao protagonista de um romance, ou da mostração da figura do diretor cinematográfico em um documentário subjetivo. Ricardo Lísias é um autor que escreve autoficções, fomenta a discussão sobre este gênero narrativo e participa da crítica à forma que ele mesmo pratica – se entendida nos termos indicados acima. A proposta desta comunicação é comentar os romances O céu dos suicidas (2012) e Divórcio (2013), de Lísias, à luz dos ensaios de Benjamin e Santiago, numa tentativa de investigar um tipo atual de narrador, que chamamos autoficcional. As análises indicam a virada afetiva como essencial a este retorno do sujeito, que é inédito porque problematiza concepções como as de ficção e realidade, de documento e objeto estético, de escrita de si e biografia, entre outras, conferindo-lhes novos contornos, desenhados pela possibilidade de entrada do sujeito nas mídias e direcionados a um pensamento original sobre as artes narrativas. PALAVRAS-CHAVE: autoficção; narrador; subjetividade. Juliana Caetano da Cunha TITULO: A NARRATIVA MODERNA E A NÃO LINEARIDADE: A LITERATURA NA PERSPECTIVA DAS TESES SOBRE O CONCEITO DE HISTÓRIA DE WALTER BENJAMIN RESUMO: Barthes contrapõe a escrita de prazer à escritura de gozo, ou seja, o conforto ao intenso “perder-se” orgástico; a isto, relacionamos o que na sociedade é a conformidade, de um lado, e a revolução, de outro. Observamos que essa relação linguagem-sociedade é indissociável do grande processo de questionamento, crises, rupturas, movimentos, vanguardas e, enfim, transformações definitivas que a arte sofreu no desenvolvimento do capitalismo, ou seja, na Modernidade. Colocar a linguagem em xeque resultou numa alteração intransponível da forma como vemos a arte, da concepção que temos dela; resultou, finalmente, na libertação da arte das obrigatoriedades formais e temáticas a que vinha amarrada. Socialmente, isto se relaciona novamente com a oposição entre dar continuidade ao curso do “progresso” ou interrompê-lo. O que Benjamin defende é a explosão da história; e o que vemos ao final do século XX é que a verdade única e a supremacia da lógica perderam espaço. Nas Teses sobre o conceito de História, o autor faz a crítica do progresso, debatendo a não linearidade do tempo histórico, a não verdade da história contada pelos vencedores e a necessidade de interromper o rumo que a humanidade vem tomando, que é a rota para a barbárie. Neste trabalho, relacionamos tal debate a narrativas literárias que romperam com a linearidade e com o tempo cronológico, que desafiaram a lógica cartesiana, como a de Joyce e a do brasileiro Paulo Leminski, no Catatau. Explodir a história e explodir a narrativa literária se encontram num mesmo tempo descontinuo e potencialmente revolucionário, não de conformidade, mas de gozo. PALAVRAS-CHAVE: Walter Benjamin; História; Narrativa. Juliana Cristina Salvadori TITULO: CRÍTICA E TRADUÇÃO COMO POIESIS: O PROJETO CRÍTICOLITERÁRIO-ANTROPOFÁGICO CONCRETISTA RESUMO: Este texto propõe discutir as propostas crítico-pedagógicas postas pela modernidade, à luz de diversos autores, ressaltando como estas acabam por convergir para uma concepção da feitura literária, crítica e tradutória como poeisis, isto é, como téchne/ars em que os limites entre texto literário e crítico/texto-tradução, leitura e escrita, poeta e crítico, poeta e tradutor acabam por se apagar, seja porque, como concebem os românticos alemães via interpretação benjaminiana, o crítico e o tradutório se tornam textos criativos que desdobram o potencial – estético e de significação – do texto literário per se; seja porque, como na proposta concretista, em movimento contrário, o texto literário – e o texto-tradução – acaba por se tornar o espaço da crítica e da teoria, desdobramento da crítica. Nesse movimento entre textos, a poesia concreta propõe , como parte de sua estratégia discursivo-pedagógica da crítica literária a tradução como texto por excelência do diálogo, prática articuladora e estruturante do projeto crítico-literário. Neste artigo, nos concentraremos nas traduções efetuadas por Augusto de Campos da obra de E. E. Cummings, tarefa tradutória que se inicia em 1956, passa por 4 edições – 10 poemas, 20 poem(a)s, 40 poem(a)s, Poem(a)s e tem sua última edição, Poem(a)s, em 2011, edição base dos textos analisados. PALAVRAS-CHAVE: Poiesis; Antropofagia; Tradução literária. Juliana Estanislau de Ataide Mantovani TITULO: LITERATURA E FOTOGRAFIA: AS RELAÇÕES INTERARTÍSTICAS EM NADJA, DE ANDRÉ BRETON RESUMO: A fotografia, longe das discussões sobre sua condição de arte, alterou e criou novas possibilidades para a natureza artística, conforme discutem e demonstram teóricos como Walter Benjamin, Philippe Dubois e Susan Sontag. E, certamente, o advento da fotografia, dessa forma de representação técnica aguardada pela sociedade industrializada do século XIX, configurou-se como uma possibilidade de realização de um forte desejo da humanidade: a fixação artística e técnica dos momentos da existência, a fixação do instante que passa. De fato, os finais do século XIX e o século XX configuram-se como um tempo que se converteu na sequência de instantes fragmentados. E, diante de uma realidade moderna e fragmentada, a linguagem literária também se fragmentou para poder apropriar-se e ser capaz de abarcar essa realidade. Nesse contexto, a linguagem fotográfica tem a oferecer à linguagem literária o seu caráter de captura, de tomada da realidade instantânea. Partindo-se de uma aproximação do automatismo e da liberdade propostas pelo Surrealismo e a técnica da fotografia, não é forçoso sugerir a relação entre a estética da liberdade, do inconsciente e do automatismo e a arte fotográfica, sendo a fotografia uma possibilidade de realização do instantâneo, do espontâneo poético sugerido pelo movimento surrealista. Assim, este trabalho propõe discutir a relevância e a significação da inserção da fotografia na composição literária e analisar seus significados e implicações no movimento surrealista. Para isso, o trabalho parte de reflexões sobre a obra surrealista Nadja, de André Breton, romance em cuja composição inovadora consta a inserção do recurso fotográfico, mas no qual a representação da fotografia ultrapassa o caráter de ilustração. Busca-se, portanto, analisar as relações entre o princípio fotográfico e os propósitos surrealistas, sobretudo a partir da leitura dessa obra literária, bem como trazer análises do papel de relevância que fora dado pelo movimento surrealista à arte fotográfica. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Fotografia; Surrealismo. Juliana Florentino Hampel TITULO: A MÁQUINA E A LOUCURA EM ROMANCES DE GONÇALO M. TAVARES RESUMO: Esta comunicação vai abordar a correspondência existente entre dois dos livros da Tetralogia O Reino, do escritor português Gonçalo M. Tavares, a saber o 2º e 3º volumes: A máquina de Joseph Walser e Jerusalém, procurando apontar de que maneira o autor trata da pós-modernidade como o momento em que as rupturas e a ânsia por novos mundos nos quais máquina e a tecnologia estão inseridas no cotidiano do homem podem levá-lo a estados de insanidade e violência. Autor que situa seu texto num não-lugar, Gonçalo M. Tavares não remete suas questões identitárias ao espaço lusitano, mas, como afirma Miguel Real, faz parte de uma corrente de escritores contemporâneos nos quais houve uma processo de internacionalização, imbuído de caracaterísticas como a fragmentação, o cosmopolitismo e o timbre lúdico, afastando sua narrativa do universo pós-colonial ou pós-ditatorial, ainda comum em escritores do período. O uso de uma linguagem proveniente da lógica matemática promove justamente esse tom sarcástico, irônico e que provoca o riso em sua narrativa, que, buscando descrever eventos e sentimentos com um vocabulário técnico, mostra o absurdo da realidade num contexto de guerra de forma absurda e assustadora. PALAVRAS-CHAVE: máquina; loucura; pós-modernidade. Juliana Gervason Defilippo TITULO: TODAS IGUAIS: A REPRESENTAÇÃO DA PERSONAGEM HOMOSSEXUAL FEMININA NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA RESUMO: A literatura nos ensina sobre sua sociedade e a sociedade nos ensina sobre sua literatura. A produção atual tem muito o que dizer a respeito do mundo que vivemos, seja no campo cultural, seja no campo econômico, político ou religioso. Estudar essa produção é uma forma de compreender a sociedade brasileira, mas sobretudo os caminhos que essa sociedade está construindo. Autores, leitores e editores estão, cada um à sua maneira, ditando algumas regras na literatura que, diferente das gerações passadas, hoje não se restringe apenas à um meio, mas circula em todos e é definida por todos. Se em nosso passado literário tivemos momentos cuja produção supria apenas um desses grupos, hoje percebemos que os três dialogam em uma constante permuta, ora para suprir as demandas editoriais, ora para corresponder com as solicitações do público. Aquém das demandas e das solicitações, está a produção literária identificada como LGBT. A professora e pesquisadora Regina Dalcastagnè em sua obra Literatura brasileira contemporânea: um território contestado aponta que atualmente a porcentagem de personagens heterossexuais é imensamente superior à de homossexuais e bissexuais: respectivamente, 81%, 3,9% e 2,4%. De posse desses dados, pretende-se, através da análise das obras Duas Iguais (1998) e Todos nós adorávamos caubóis (2013), discutir como é a representação da personagem homossexual feminina a partir da perspectiva de duas autoras contemporâneas: Cíntia Moscovich e Carol Bensimon. PALAVRAS-CHAVE: Literatura queer; Contemporaneidade; Homossexualidade. Juliana Maia de Queiroz TITULO: APRECIAÇÕES CRÍTICAS NA IMPRENSA PORTUGUESA DO SÉCULO XIX: A PRESENÇA DA LITERATURA BRASILEIRA NO PERIÓDICO O BRASIL RESUMO: A relação entre a literatura e a imprensa permite aos pesquisadores um novo olhar sobre a historiografia literária, uma vez que o exame do periódico enquanto suporte de diferentes textos revelam insuspeitadas relações editoriais, políticas e sociais que ultrapassam os dados geralmente apresentados nos manuais de história literária. O objetivo da presente comunicação é, portanto, analisar de que maneira a presença de apreciações críticas sobre a literatura brasileira no periódico O Brasil, publicado em Portugal na década de setenta do Oitocentos e distribuído tanto neste país quanto em algumas províncias brasileiras, contribuiu, primeiro, para que a literatura brasileira passasse a ser mais conhecida na sua antiga metrópole e, em segundo plano, para uma maior aproximação entre esses dois países. PALAVRAS-CHAVE: O Brasil, periódico; lit. brasileira; recepção crítica. Juliana Pádua Silva Medeiros Joana Marques Ribeiro TITULO: PELA MÃO DA FANTASIA: UM OLHAR-MENINO SOBRE A REALIDADE DURA E CRUA RESUMO: Pelas vias de acesso dos estudos comparados, este trabalho propõe um olhar investigativo sobre duas obras contemporâneas de literatura juvenil: "Minha irmã mora numa prateleira", de Annabel Pitcher, publicada pela Rocco Jovens Leitores em 2013, e "O menino do pijama listrado", de John Boyne, lançada pela Companhia das Letras em 2007. Tal exame, por meio do eixo temático, vislumbra desvelar interfaces entre os livros a partir do olhar-menino dos protagonistas, visando, assim, discorrer sobre a leitura como uma experiência humanizadora capaz de promover o exercício da reflexão, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar os problemas da vida, a percepção sobre si mesmo e o mundo. Nessa esteira, à luz de uma leitura crítica, busca-se traçar uma rede de sentidos em torno dos exemplares literários supracitados, visto que abordam, sob uma atmosfera de inocência e realismo, temas complexos, tais como: morte, violência, intolerância, preconceito, bullying, amizade, medo e coragem. PALAVRAS-CHAVE: Literatura Comparada; Literatura Juvenil; Leitura. Juliano Ricci Jacopini TITULO: DRAMATURGIA CORPOGRAFIA DA MEMÓRIA: UM ESTUDO SOBRE A RESUMO: Este estudo traz uma reflexão sobre as possibilidades do atordramaturgo que tece uma composição cênica durante seu(s) processo(s) criativo(s), que toma como base de possível pesquisa à Corpografia – busca de um corpo dramático e dramatúrgico sob as práticas de treinamento nãoexpressivo de ator e os processos de composição cênica, a fim de desenvolver práticas direcionadas à criação coletiva dramatúrgica de um corpo que cria em cena pela decodificação de memórias e de matrizes corporais. Como objeto de análise, têm-se os processos criativos em desenvolvimento pela Cia. Labirinto de Teatro, grupo da cidade de Matão/SP, do qual participo como ator/ pesquisador. Nas investigações, o objetivo é refletir sobre as possibilidades da construção de um corpo que escreve, no ato da criação, uma dramaturgia da cena e uma cena dramatúrgica, usando para isto referenciais externos e pessoais, no caso, a memória, como elemento que potencializa os processos criativos e que, ao acessála, estamos lidando com um campo de propriedade, portanto, um lugar de rico material para construção cênica, compondo molduras que serão forças que determinam, no caso, o fluxo criativo dos atores/ pesquisadores em processo da tessitura do drama. A tessitura do drama se dá pelo presente, já que é o presente que determina a memória. No processo, são colhidas suposições de imagens advindas da memória e reverberadas no corpo, e sustentadas não para criação de uma imagética real, mas para um referencial real para o atuador que pode chegar de outra forma para o espectador, em estados metafóricos, vividos ou não, para ambos. Um processo desenvolvido sobre estes prismas abre caminhos para novas discussões e reflexões do ator-dramaturgo que compõe corpo e memória, corpo em memória. PALAVRAS-CHAVE: ator-dramaturgo; memória; dramaturgia Kátia Carvalho da Silva Gilberto Freire de Santana TITULO: NARRANDO BRÁS CUBAS: QUANDO O ROMANCE SE FAZ IMAGEM, O QUE PENSAR DO NARRADOR? RESUMO: Em se tratando da obra de Machado de Assis, é inequívoco se concluir o caráter de permanência, confirmado, em parte, pelos inúmeros intertextos e diálogos estabelecidos por outras manifestações estéticas, na tentativa de fomentar novas possibilidades de leituras. O cinema, desde seu nascedouro, trilhando por esta seara, muitas vezes buscou através de sua linguagem múltipla se aproximar do literário, e este diálogo não só originou obras, que mesmo diante da impossibilidade, procuraram a todo custo reeditar o texto fonte, como também despontaram leituras que tomaram caminhos bem diversos e até inusitados. Esta proposta de estudo quer discutir e analisar as adaptações cinematográficas Brás Cubas, de Júlio Bressane (1985) e Memórias Póstumas de Brás, de André Klotzel (2001), objetivando investigar quais são as estratégias narrativas empregadas pelos cineastas para recriar a narrativa literária e, sobretudo, como se figura o narrador em cada um dos filmes. Para tanto, esta proposta se assenta nos estudos contemporâneos sobre adaptação cinematográfica, principalmente nas reflexões de Robert Stam, Linda Hutcheon, Randal Jonhson, André Gaudreault e François Jost. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Adaptação; Narração. Kall Lyws Barroso Sales TITULO: A TRADUÇÃO DAS ORALIDADES NA LITERATURA BEUR: AZOUZ BEGAG E A TRADUÇÃO DE LE GONE DU CHAÂBA RESUMO: Azouz Begag é um dos mais notórios escritores de expressão francesa de origem magrebina. Com a língua francesa como instrumento, e com seu humor crítico, ele consegue levar ao leitor francófono as dificuldades experenciadas pelos argelinos na turbulenta década de 60. Suas obras têm como característica a presença da oralidade árabe em seus escritos, bem como as experiências vividas pelos imigrantes da Argélia. A utilização da linguagem escrita para representar oralidades na literatura beur faz parte da evidencia das culturas que estão presentes no solo francês e, ao representar essas oralidades, os autores beurs elaboram um desafio para os tradutores. Assim, torna-se proposta deste trabalho apresentar o livro Le gone du Chaâba de 1986 e o desafio de manutenção das características orais atribuídas à identidade magrebina na tradução em português. A tradução integral do romance faz parte de minha pesquisa de doutorado e serviu de corpus para esta comunicação. Para tanto, foram analisadas as passagens do romance nas quais estão presentes elementos linguísticos que atestam o diálogo das culturas francesas e argelinas e suas respectivas propostas de tradução para o português do Brasil. PALAVRAS-CHAVE: Tradução; Azouz Begag; Oralidade. Karen Luz Basaure Guerrero TITULO: "MEMORIAS DEL OLVIDO": REPRESENTACIONES POLÍTICAS EN EL TEATRO CONTEMPORÁNEO CHILENO Y BRASILEÑO RESUMO: Tanto el teatro chileno como el brasileño de las décadas del 70’y 80’ presentaron autores que se distinguieron en sus características, que se refieren a una definición de voces sociales, de espacios marginales e inquietudes propias del momento de producción de estos escritores. El dramaturgo chileno Juan Radrigán y el brasileño Plinio Marcos, trabajaron las pequeñas historias, revelando tensiones contingentes entre las clases sociales marginadas y desvelando el proceso histórico común de ambos países. Así, el objetivo se presenta como un mapa de la producción autoral, entre las décadas del 70’y 80’, definido por un encuadre sociocultural y comparatista, con la finalidad de especificar las influencias que ejercen estos dramaturgos en el teatro contemporáneo de ambos territorios, específicamente en la dramaturgia de Luis Barrales en Chile y Mario Bortolotto en Brasil. Así, comprenderemos los procesos de creación y sus recorridos, la gestualidad en relación a lo visual, social y político, así como sus influencias y consecuencias en la actualidad. Partiendo de la afirmación realizada por Jaques Ranciére de que “la literatura hace política en cuanto literatura”, se tratará de indagar y cuestionar el tratamiento de los referentes utilizados en las dramaturgias contemporáneas de ambos países. PALAVRAS-CHAVE: Postdictadura; Política; Teatro. Karima Bezerra de Almeida TITULO: GONÇALVES DIAS E EMILY DICKINSON: CONTESTAÇÃO ATRAVÉS DA MUSICALIDADE NO SÉCULO XIX RESUMO: Emily Dickinson e Gonçalves Dias contestaram através de suas obras inovadoras, tal como outros artistas do século XIX o fizeram; enfrentando as barreiras dos isomorfismos históricos e derivando para outros polos, muito embora, naturalmente, embasados nos modelos clássicos que os precederam. A utilização da musicalidade como ferramenta de contestação aproxima estes dois poetas, porém há um distanciamento sociocultural e histórico relevante entre Brasil e Estados Unidos na época em que viveram. Este trabalho tem como objetivo expor obras de Emily Dickinson e Gonçalves Dias que possam demonstrar estas proximidades e distanciamentos, considerando exclusivamente os recursos eufônicos que utilizaram. Emily Dickinson utilizou a rima perfeita e a quebra dela para expressar sua inquietação aos preceitos da Igreja congressionalista; ao tradicionalismo social; àquilo julgado moral; e, particularmente, às restrições que circunscreviam a condição da mulher, mortal e poeta. Gonçalves Dias voltou-se contra o fluxo em sua obra poética, emoldurando-se na temática “americana”, com assuntos e paisagens brasileiros. Enxergou o índio, e o valorizou, presenteando a primeira geração do Romantismo no Brasil com uma perspectiva nunca antes explorada, o Indianismo, atrelado a vocabulário e ritmos característicos, como o som do boré, enraizados na cultura brasileira pós-colonialista. Seus poemas serão visualizados lado a lado, e seus ritmos, métricas e rimas, dentre outros, e a quebra deles, serão discutidos, tendo em vista o contexto, a linguagem, o simbolismo e a poética de suas obras. Este trabalho pretende atender às expectativas da linha de pesquisa dos Estudos Comparados de Literaturas de Línguas Modernas, no tocante de abordagens comparativo-críticas, compreendendo campos interdisciplinares das literaturas e outras artes (como as traduções do pernambucano José Lira à poesia de Dickinson), bem como outros saberes como história, sociedade, cultura e antropologia. PALAVRAS-CHAVE: Emily Dickinson; Gonçalves Dias; Musicalidade poética. Karin Volobuef TITULO: DESTINO, MORTE E SUPERAÇÃO EM CONTOS DOS IRMÃOS GRIMM RESUMO: Desde tempos imemoriais o Homem se indaga sobre sua boa ou má sorte, e os contos de fadas coletados pelos Irmãos Grimm na Alemanha (1812/1815) retornam insistentemente a questões envolvendo vida e morte, ventura e desventura, o sagrado e o diabólico. A análise de alguns contos de fadas menos conhecidos, como “O rei da montanha de ouro” e “Os três fios de cabelo do diabo”, permitirá uma discussão dessas narrativas em termos de sua perspectiva mítica e profundamente simbólica. PALAVRAS-CHAVE: Maravilhoso; Grimm; Contos de fadas. Karina Lima Sales TITULO: TRAÇOS DA PERIFERIA: CENAS DE ESCRITA EM PRODUÇÕES LITERÁRIAS MARGINAIS CONTEMPORÂNEAS RESUMO: O texto propõe reflexões sobre a literatura marginal contemporânea a partir da análise de representações de espaços em contos dos livros Cela forte, de Luís Alberto Mendes, e 85 letras e um disparo, de Sacolinha e de poemas do livro De passagem mas não a passeio, de Dinha. A literatura constitui-se como um campo de disputas pelo acesso à voz, pela possibilidade de difusão de representações do mundo, pelo reconhecimento do público e dos pares, segundo Dalcastagnè e Da Mata (2012). Essa questão aponta para o funcionamento, na acepção de Bourdieu (1996), do campo literário, espaço em que ocorre um conjunto de relações e práticas sociais relacionadas aos agentes envolvidos com a produção, consumo e reprodução da literatura, que geram critérios de legitimidade e prestígio do texto literário. O estudo insere-se nessa chave de concepções. As produções literárias delimitadas foram publicadas pela Global Editora, na Coleção Literatura Periférica, cujos autores moram e têm origem na periferia. O termo Literatura Periférica associa-se diretamente a outro, Literatura Marginal, que em contexto contemporâneo tem sido empregado em relação à produção de escritores que pertençam a grupos de excluídos, os quais tentam se fazer ouvir, buscam superar a condição de exclusão social que vivenciam. Nos três livros podem ser observadas representações de si, do outro e de espaços diversos, marginalizados ou marginalizantes. Ao publicizarem essas representações, relativas a vidas e vozes periféricas, silenciadas, os autores permitem que elas ganhem voz, em consonância com discussão de Foucault (1992). Os traços da periferia a que alude o título estão presentes duplamente nessas escritas: tanto por meio da origem dessas vozes, marginalizadas, que buscam legitimar sua dicção, quanto por meio do espaço basilar que origina o traçado – a periferia, múltipla, revisitada, posta em meio a embates com outros espaços. PALAVRAS-CHAVE: Literatura Marginal; Cenas de escrita; representações. Karla Menezes Lopes Niels TITULO: ESPAÇO GÓTICO E CONSTRUÇÃO DO FANTÁSTICO EM NARRATIVAS DE ÁLVARES DE AZEVEDO E FAGUNDES VARELA RESUMO: O fantástico é um gênero que se configura a partir da hesitação comungada entre personagem e leitor acerca da naturalidade de um dado acontecimento narrativo. Nisso concordam a maioria dos teóricos do gênero. Para que tal hesitação seja alcançada é necessário uma série de estratégias narrativas, entre elas a ambiência. Daí a importância da construção do espaço ficcional para o gênero. Marisa Martins Gama-Khalil comenta que Edgar Allan Poe, autor de contos no gênero, “valoriza o espaço ficcional como base do efeito desencadeado pelo texto literário”, em especial o espaço fechado (GAMAKHALIL, 2012, p.31); para os teóricos Louis Vax (1972) e Felipe Furtado (1980) o espaço híbrido, ou seja, o jogo entre ambientações fechadas e abertas propicia não só surgimento do insólito, como mantêm a ambiguidade narrativa tão crucial para o fantástico. O Romance gótico, pai do gênero em causa, catalisou imagens, temas e ambiências verdadeiramente tensas, escuras, lúgubres e claustrofóbicas que foram retomados pelo gênero fantástico. A ambientação gótica surge a serviço da construção e manutenção da ambiguidade narrativa, bem como da formulação da hesitação essencial à configuração do gênero fantástico. O presente trabalho, portanto, pretende analisar a construção do espaço gótico e sua importância para a deflagração daquilo que Todorov (2012) chamou de “efeito fantástico” em contos de Álvares de Azevedo e Fagundes Varela. PALAVRAS-CHAVE: fantástico; gótico; romantismo. Kate Constantino Pinheiro de Andrade Oliveira Luiz Eduardo Meneses de Oliveira TITULO: A LITERATURA FRANCESA NA INSTRUÇÃO SECUNDÁRIA RESUMO: Este trabalho pretende analisar o modo como a literatura francesa é representada e ensinada nos capítulos a ela referentes em livros de história literária produzidos para o ensino secundário, sobretudo para o Colégio Pedro II, entre 1873 e 1940. Para tanto, servimo-nos da historiografia política e educacional relacionada a cada época, bem como da legislação referente ao ensino de línguas e literaturas correspondentes. Assim, levamos em conta não somente as correntes teóricas e metodológicas defendidas ou adotadas pelos autores, mas também o lugar institucional por eles ocupados e as condições de produção, publicação e circulação de compêndios escolares no período recortado. Tal recorte justifica-se pelos anos de publicação do Resumo de História Literária (1873), do Cônego Fernandes Pinheiro, com o qual iniciamos nossa análise, por considerarmos ser esse o livro que inicia, por assim dizer, a historiografia brasileira da literatura francesa, e de Noções de História das Literaturas (1940), de Manuel Bandeira, último livro do gênero a ser publicado durante a vigência da reforma do ministro do Estado Novo Gustavo Capanema, que mantinha tal conteúdo no currículo da instrução secundaria. A sua supressão dar-se-á com uma reforma educacional de 1951, passando o ensino da literatura francesa a restringir-se aos cursos superiores de Letras. PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Literatura; Literatura Francesa; História da Educação. Kedma Janaina Freitas Damasceno TITULO: VANGUARDA POÉTICA NO CONCRETISMO – POEMA/PROCESSO RIO GRANDE DO NORTE: RESUMO: Durante a segunda metade do século XX, os artistas nordestinos procuraram acompanhar os movimentos vanguardistas oriundos das inovações das formas poéticas que aconteciam principalmente no Sudeste do país e, dessa forma, buscaram também consolidar a região como um dos centros de desenvolvimento da poesia de vanguarda. Alguns poetas cearenses, por exemplo, participaram ativamente do movimento de poesia concreta dos anos 50, tendo como principais representantes José Alcides Pinto, Antônio Girão Barroso, Pedro Henrique Saraiva Leão, Horácio Dídimo, entre outros. Neste trabalho, procuraremos mostrar como os poetas do Rio Grande do Norte se inseriram neste contexto de inovações poéticas. Em 1966, aconteceu a exposição “Dez Anos de Poesia Concreta” em Natal, comemorativa da I Exposição Nacional de Arte Concreta (MAM de São Paulo - 1956). Nesta exposição foram reapresentados poemas de Décio Pignatari, A. e H. Campos, Wlademir Dias-Pino, Ronaldo Azeredo, Edgar Braga, Osmar Dillon e José Lino Grunewald. Nesta edição foram lançados os poetas do Rio Grande do Norte: Nei Leandro de Castro, Dailor Varela, Luiz Carlos Guimarães, João Bosco de Almeida, Anchieta Fernandes e o critico Moacy Cirne . Um ano depois, em 11 de dezembro de 1967, simultaneamente com o Rio de Janeiro, acontecia em Natal a primeira exposição do Poema/Processo. Essa nova vertente da vanguarda poética tinha suas bases teóricas alicerçadas nos poemas espaciais de Wlademir Dias-Pino, “Ave” e “Sólida”, que já participara, 10 anos antes, do movimento da Poesia Concreta, ao lado de Haroldo e Augusto de Campos, Décio Pignatari, Ronaldo Azeredo, José Lino Grunewald, dentre outros. Nesse contexto, será investigado através da análise de poemas, entrevistas, debates e manifestos como se deu a transição do Concretismo para o PoemaProcesso no estado do Rio Grande do Norte. É digno de nota ainda que o período em que o movimento aconteceu foi o da ditadura militar, o que não o impediu de driblar a censura repressora daquele momento e atuar como um importante mecanismo de inovação poética no Nordeste e no Brasil. PALAVRAS-CHAVE: Vanguarda; Concretismo; Poema/Processo. Kelcilene Grácia Rodrigues Paulo Eduardo Benites de Moraes TITULO: A POÉTICA SUBVERSIVA DE MANOEL DE BARROS: DA MODERNIDADE À CONTEMPORANEIDADE RESUMO: A poesia de Manoel de Barros é construída de rupturas, frases fragmentadas, montagens insólitas, metáforas complexas, inusitadas e incongruentes. A gramática, nas mãos do poeta, é subvertida. Ao estabelecer relações inesperadas entre as palavras, libertando-as das grades que as revestem e as limitam, Barros desestabiliza os sentidos, extravasa os limites do dizível e transforma em substância poética a realidade do mundo natural que o circunda. Trata-se de uma linguagem que abre novos caminhos e se deixa conformar pelo estranho. Nascido em Cuiabá, Mato Grosso, em 19 de dezembro de 1916, Barros, na adolescência, estudou em colégios internos no Rio de Janeiro. Sua formação está assentada na literatura clássica portuguesa (Bernardim Ribeiro, Camões, Frei Luís de Sousa, Padre Vieira), voltando-se também para a Literatura Francesa (Baudelaire, Mallarmé, Rimbaud). Quanto aos autores brasileiros, estudou, entre outros, Oswald, Drummond, Bandeira, Rosa, Cabral. Em todos, descobria caminhos para sua escrita poética inconfundível. Tendo como pressuposto a localização histórica, crítica e teórica, que marcam algumas linhas de força do pensamento filosófico, estético e artístico desenvolvidos pelos poetas da modernidade e que, ao longo da história, foram rejeitadas, negadas, revisitadas e/ou reconfiguradas originando questões que foram importantes para a configuração do que se pode chamar de poesia contemporânea, o objetivo do presente trabalho consiste em localizar cerne do projeto poético, estético e artístico de Manoel de Barros que, ao longo de seu percurso, após ter sido influenciado por seus precursores, assume uma postura de assimilar sua herança e de constituir, como voz questionadora de sua época que rejeita, nega, revisita e reconfigura a tradição, um projeto poético original, pessoal e singular na poesia brasileira contemporânea. Interessa-nos notar como, na tessitura de sua poesia, tais questionamentos se tornam elementos centrais internos à obra. Referências: BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire: Um lírico no auge do capitalisto. Trad. José M. Barobosa e Hemerson Alves Baptista. São Paulo: Brasiliense, 1989. (Obras escolhidas; v. 3). BORGES, Jorge Luis. “Kafka e seus precursores”. In: ___. Obra completa. São Paulo: Globo, 1999, p. 96-98. CHIAMPI, Irlemar. (Coord.). Fundadores da modernidade. São Paulo: Ática, 1991. ELIOT, T. S. “A tradição e o talento individual”. In: Ensaios de doutrina crítica. Trad. Fernando de Mello Moser, s.l., Guimarães, s.d., p. 21-35. JUNQUEIRA, Ivan. Baudelaire, Eliot, Dylan Thomas: Três visões da modernidade. Rio de Janeiro: Record, 2000. PAZ, Octávio. Os filhos do barro. Trad. Olga Savary. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. PALAVRAS-CHAVE: Ars Poetica; Dissonância; Poesia contemporânea. Kelly Benoudis Basilio TITULO: A CRIATIVIDADE NARRATOLÓGICA DE URBANO TAVARES RODRIGUES RESUMO: Verifica-se em Urbano Tavares Rodrigues uma vontade constante de aderir exacta e profundamente ao nosso tempo, vontade que sempre foi acompanhada de uma preocupação de renovação, senão de inovação, formal. Urbano sempre diversificou a estrutura dos seus romances, nunca repetindo a mesma fórmula, relevando sempre a sua narrativa de uma arte singularmente cuidada e sábia da composição, bem como de uma inesgotável criatividade na produção do interesse romanesco. Urbano sabe pôr o romance ao serviço do seu talento caleidoscópico, sendo o romance o único género que permite a integração de outros géneros. Desta forma, o romancista pode incorporar, por vezes numa mesma obra, o romance policial, o romance epistolar, reformulado até pelo email, o diário - o tradicional mas também o novo diário electrónico - e ainda a crónica, regular escapadela extra-diegética, para não nos deixar esquecer o que por esse mundo fora acontece. Pois um romance do nosso tempo não é senão a sua crónica completa : a local e a global. A local na global. Em suma, nele se entrelaçam a pequena e a Grande História. Mas o romance pode sobretudo incorporar outros géneros do discurso, e singularmente, neste amante do verbo, o discurso poético, sendo a sua escrita sempre poética. Finalmente, realcemos o que será talvez mais difícil de acertar num romance: o diálogo, a arte do diálogo em Urbano. Sublinhemos essa sua espantosa faculdade de absorção e impregnação das formas e usos linguísticos apanhados na própria “crista da onda”, como hoje se diz, o que resulta num verdadeiro manancial de autênticos guiões para os cineastas da actualidade. PALAVRAS-CHAVE: Narrativa; Criatividade; Modernidade. Kenedi Santos Azevedo TITULO: ADÍLIA LOPES E AL BERTO: ESPELHO, ESPELHO M(EU) RESUMO: Escrever sobre Adília Lopes e Al Berto é presenciar a fragmentação do sujeito poético, a dinamicidade da linguagem prosaica e a expressão lírica do desejo presentes em suas obras. A poetisa portuguesa assume, para assinar seu projeto literário, um pseudônimo e desenvolve uma escrita cifrada, marcada pelo jogo das palavras, dispostas, enfatizadas e, em muitos casos, reiteradas, num processo cujo agente civil confunde-se com o ente ficcional, desdobrando-se em muitos eus na própria esfera poética. O medo é o mote delineador para a produção poética de Al Berto. Esse estado emocional resultante da consciência de perigo e ameaça que o mundo impõe, infiltram-se nas malhas textuais do poeta lusitano fazendo com que se desperte o desejo de autorreflexão e autoconhecimento. É deste modo que os temas como a morte, o desassossego, o homoerotismo e a utilização do corpo na escrita, imperam, manifestando a perturbação, a tensão e a construção do ser, nos textos, a ponto de torná-lo abstrato, fragmentado, exercendo, em certo sentido, uma ruptura com o universo extratextual. A articulação entre corpo e texto, corpo e imagem, será um contínuo na lírica adiliana e al-bertiana, no limite máximo de se ter a própria poetisa e o poeta determinando um protocolo poético cujas linhas se ajustam aos parâmetros do sistema que então se forma na contemporaneidade. Diante de tais conjecturas, invocam-se, para fins esclarecedores, as palavras de Manuel Frias Martins (1983), ao comentar a infiltração do sujeito no discurso literário; à constituição dessa instância nos textos “chamemos-lhes autor, escritor, poeta, ela não é de maneira nenhuma uma ausência como querem alguns, mas, antes, o sujeito vivo e activo do facto literário”, é o próprio sujeito da enunciação se pondo como agente responsável pela interpelação da sua realidade, ainda que seja por intermédio da imaginação criadora “– mesmo quando são os conteúdos subjetivos do próprio sujeito que parecem ser o único objeto interpelável” (p. 28, 29). Tal condição do ser, nos poemas de Adília Lopes e Al Berto, demonstra o desejo excessivo de busca da compreensão de si mesmo. Há, parece, na escrita, um subterfúgio em que o eu-poético se depara com o eu-biográfico, a ponto de dialogarem sobre seus afetos, seus amores, seus questionamentos, dissabores, saudades ou, em todo caso, sobre si mesmos. Esta comunicação desenvolve-se a partir do perímetro que enquadra a poesia desses escritores portugueses e os instantes em que essas vozes se alternam ou se respondem, na tessitura lírica de cada poema, como lugar que se constitui na contemporaneidade. PALAVRAS-CHAVE: Adília Lopes; Al Berto; Eu. Keynesiana Macêdo Souza TITULO: BELMIRO BORBA: UM PERSONAGEM EM CONFLITO SOB O PRISMA DA MELANCOLIA RESUMO: Este trabalho se propõe a correlacionar literatura e melancolia a partir da escritura de Cyro dos Anjos (1906-1994) na obra O amanuense Belmiro (1937), tendo como objetivo principal analisar como alguns aspectos da melancolia perpassam toda a narrativa desse livro ímpar no panorama literário brasileiro. Trata-se de uma obra atípica dentro da ficção da década de 1930 por ser uma voz dissonante comparada às produções regionais e sociais da época. Sua temática aborda a relação do homem com a vida; o presente e o passado; o amor e as frustrações e o herói em busca de si. Belmiro Borba, narrador-personagem, é um homem sentimental e tolhido pelo excesso de vida interior, que resolve escrever um livro e assim registrar no papel suas histórias, lembranças, sentimentos, meditações e ilusões. Nessa perspectiva, este estudo visa trazer à tona questões relacionadas à estética da melancolia, principalmente, sua relação com o processo criativo; existente na escritura belmiriana em seu fazer literário. Ao longo de nossa abordagem, recorreremos aos estudos realizados por Aristóteles (1998), Benjamin (2011), Kristeva (1989), Lambotte (2000), entre outros teóricos para articular pontos pertinentes à melancolia, à subjetividade e à criação artística/literária como fuga e refúgio do narrador-personagem, Belmiro Borba. PALAVRAS-CHAVE: Cyro dos Anjos; O amanuense Belmiro; Melancolia. Klara Maria Schenkel TITULO: A MENINA E O LOBO: A PROSA SELVAGEM DE CLARICE LISPECTOR E HERMANN HESSE. RESUMO: A subjetividade dissecada através de uma escrita aparentemente descuidada, a sequência incerta dos acontecimentos, cenários que evocam paisagens mentais descoladas da “realidade”, enfim, a subversão das estruturas da narrativa que Clarice Lispector revelou ao público brasileiro por ocasião do lançamento de Perto do Coração Selvagem, em 1943, extrapolava os critérios estéticos que norteavam o cânone da chamada Grande Literatura. Apesar dos experimentalismos modernistas, a prosa brasileira se mantivera, até então, relativamente mais comportada que a poesia. Antônio Cândido, um dos primeiros críticos que, na época, assumiram o risco de acenar positivamente para o romance “selvagem” da escritora estreante, não o fez sem certo temor: estaria ele reconhecendo um real talento literário, ou cometendo a grande gafe de sua carreira? O tempo responderia. Inspirada por Hermann Hesse – cujo romance O Lobo da Estepe, de 1927, a jovem escritora tentara confessadamente imitar no começo de carreira – o estilo que Clarice desenvolveria posteriormente, além de constituir constante desafio para a crítica literária, apontou para as limitações de classificação do material literário conforme categorias rigorosas de pertencimento a determinada escola de determinada fase histórica, ou a determinado gênero textual. Limitações estas enfrentadas pela historiografia literária brasileira há tempos e que, inevitavelmente, levariam a disciplina a romper, por volta da década de 50, com os paradigmas (sociológico-positivistas e histórico-estéticos) da crítica do século XIX. Como avaliar ou classificar o estilo literário de autores deliberadamente avessos a qualquer herança estética? Para iluminar esta problemática, a discussão sobre “transferências culturais” (ESPAGNE, 1999) nos servirá como referencial para a análise de paratextos, cartas, notas de jornal etc, relativos à recepção de ambas as obras, cujo objetivo é verificar possíveis aproximações entre a narrativa poética de Clarice e de Hesse autores que, apesar da distância de seus contextos de produção, revelam evidentes afinidades de projeto e estilo literários. PALAVRAS-CHAVE: narrativa poética; estilo literário; recepção. Kleiton de Sousa Moraes TITULO: AS COISAS ESTÃO NOS LIVROS: A LIVRARIA DO POVO E A FORMAÇÃO DO PÚBLICO LEITOR NO BRASIL RESUMO: Esta pesquisa tem por objetivo investigar a formação de um público consumidor de livros no Brasil através da análise das publicações da Editora Quaresma nas três primeiras décadas do século XX. Focado num projeto editorial de ampliação do público leitor, a Editora – também conhecida como Livraria do Povo –, através do seu proprietário Pedro Quaresma, se propôs a publicar livros que alcançassem um público maior que o já consolidado público leitor de romances. A publicação de livros infantis, de modinhas e de diversos manuais participavam desse esforço. Esses livros procuravam contribuir para a construção de atitudes consideradas modernas e “civilizadas” para os diversos papeis sociais que se transformavam àquele período – como o leitor, o escritor, o trabalhador, a criança e mesmo o amante. Era através dessas publicações que, concomitantemente em que se criava um público consumidor de livros, o novo leitor era inserido num mundo onde o ato da leitura era, ele mesmo, uma parte fundamental na pedagogia do homem moderno e no qual o livro era o objeto central nesse processo de aprendizado e representação. PALAVRAS-CHAVE: Livros; Práticas Letradas; Modernidade. Kleyton Ricardo Wanderley Pereira TITULO: HISTÓRIAS, MEMÓRIAS E IDENTIDADES NOS CONTOS DE LESLIE MARMON SILKO, JAMAICA KINCAID E PAULINE MELVILLE RESUMO: A partir dos anos 1970, a crítica feminista contribuiu para que a mulher ocupasse um lugar na sociedade que se fez refletir no resgate e na produção de uma literatura de autoria feminina. No caso específico das Américas, essa perspectiva contribuiu para as discussões sobre o conceito de suas identidades através das lutas e resistências diante de uma sociedade marcada pelo longo histórico colonial e dos rígidos valores patriarcais em que a condição da mulher ficava à margem das decisões importantes para o próprio destino e, principalmente, o da nação. Neste trabalho, objetivamos analisar a representação da identidade feminina a partir da produção contística das seguintes autoras das literaturas de língua inglesa: Leslie Marmon Silko (EUA), Jamaica Kincaid (Antígua e Barbuda) e Pauline Melville (Guiana Inglesa). Dessa forma, procuramos não só contribuir com o fortuna crítica do tema e das autoras através do diálogo comparativo entre a produção literária interamericana, mas também rastrear a construção dos vetores socioculturais e identitários das personagens. Com isso, acreditamos que a representação das figuras femininas nos contos selecionados mostra a luta constante da mulher contra as formas de dominação que agem através das forças do patriarcalismo e do colonialismo. Para tanto, orientam nossas análises o pensamento teórico de Judith Butler (1990), Ania Loomba (1998), Elaine Showalter (1985), Gayatri Spivak (1988), entre outras. PALAVRAS-CHAVE: Mulher e Literatura; Literatura Comparada; Literatura Americana. Lídia Carla Holanda Alcantara TITULO: "MENTIRAS E VERDADES NO MESMO CHÃO": UM ESTUDO SOBRE OS GÊNEROS LITERÁRIOS NO CONTO DE MARIA LÚCIA MEDEIROS RESUMO: Maria Lúcia Medeiros escreveu narrativas que nem sempre parecem prosaicas. Trabalhou as palavras criando textos originais, nos quais mesclou características genéricas diversas. Sua escrita joga com os princípios de composição artística moderna, seus textos apresentam a forma intensa e sintética que abraça, ao mesmo tempo, os mais variados matizes e concilia o lírico e o dramático, o poema e a prosa. Sendo assim, os contos da escritora paraense Maria Lúcia Medeiros podem ser considerados híbridos em relação aos gêneros literários, pois possuem traços poéticos ou líricos, configurando-se ora em prosa poética, ora em verdadeiros poemas em prosa. Os textos da contista caracterizam-se pelo lirismo, na fusão entre o eu-poético e o objeto de contemplação, como preconizava Emil Staiger. Partindo, assim, da hipótese de que os textos de Maria Lúcia Medeiros são híbridos quanto à presença dos gêneros clássicos, este estudo tem como objeto de análise o conto “Mentiras e verdades no mesmo chão”. Pretende-se mostrar como se encontram entrelaçados, em um texto em prosa, elementos genéricos diversos, mostrando a transformação e hibridização dos gêneros, conceituando-os e interpretando-os. Na leitura crítica do texto, portanto, utilizaremos teóricos que falaram sobre os gêneros literários, como Northrop Frye, Emil Staiger, Kate Hamburger PALAVRAS-CHAVE: Maria Lúcia Medeiros; Conto; Gêneros Literários. Lígia Guimarães Telles TITULO: O FIO DA VIDA QUE SE CORTA, O FIO DA ESCRITA QUE PERSISTE: ANOTAÇÕES SOBRE A ESCRITORA JUDITH GROSSMANN RESUMO: Como uma das vertentes da Literatura Comparada na cena contemporânea, a crítica biográfica brasileira, a partir das últimas décadas do século XX, vem promovendo articulações e embates entre biografemas de produtores de discurso e seus textos, pondo em rasura pacíficas relações entre vida e obra, como anteriormente estabelecidas. No campo literário, narrativas metaficcionais acentuam outros desdobramentos, produzidos nas rasuras entre os discursos literário e teórico-crítico, especificamente por ficcionistas integrantes de instituições de ensino superior no Brasil. Retomando a feliz metáfora de Silviano Santiago no artigo “Epílogo em 1ª pessoa: eu & as galinhasd’angola”, diríamos: atingidos pelo “mal-de-docente que ronda, infecta e prostra o artista pós-moderno.” (2004, p.246).Tendo em vista a proposta do Simpósio “Escritas contemporâneas: desafios ao comparativismo”, objetivamos pôr em atrito relações entre a escrita ficcional e depoimentos e entrevistas da escritora Judith Grossmann, focalizando as estratégias que nelas se apresentam e apontam ora para um exercício de controle do leitor ora para uma pretensão a confundi-lo, a driblar possíveis “achados” de leitura. Desviando-nos de fronteiras estáveis entre territórios discursivos, consideramos que este recorte crítico intenciona embaralhar as peças localizadas em espaços definidos por uma tradição de estudos literários.As sendas aqui indicadas têm como elemento deflagrador a morte recente de Judith Grossmann, seus gestos e atitudes finais, a partir dos quais torna-se oportuna uma revisão da leitura e do estudo de seus textos. Desse modo, elegemos a cena de final de vida da escritora como possibilidade de entrecruzamento de textos vividos, escritos e lidos, e dos espaços público e privado, na qual o sujeito crítico-leitor também escava seu lugar de inserção. PALAVRAS-CHAVE: Judith Grossmann; Crítica biográfica; Comparativismo. Lígia Regina Máximo Cavalari Menna TITULO: MEMÓRIAS DE INFÂNCIA, EXPERIÊNCIAS DE LEITURA E LITERATURA: JOSÉ SARAMAGO E ELIAS CANETTI RESUMO: Esta comunicação tem entre seus objetivos refletir sobre as primeiras experiências de leitura apresentadas nas obras Pequenas memórias, de José Saramago e A língua absolvida, de Elias Canetti. Nessas memórias de infância, por meio dos relatos de um narrador-personagem adulto sobre seus a primeiros contatos com a literatura infantil e a efabulação de histórias, é possível verificar diferentes concepções de infância e diferentes percursos da literatura infantil e juvenil. Há de se considerar que o estudo dos gêneros confessionais, entre eles as memórias e autobiografias, envolve muitas polêmicas, desde a falta de clareza quanto à nomenclatura dos gêneros, até o tênue limite entre o literário e o histórico, o imaginário e o factual. Contudo, para se pensar em uma história da infância, incluindo-se a história da literatura infantil e juvenil, o registro de memórias individuais tem sido considerado, entre outros documentos, uma rica fonte de pesquisa, retratando diferentes contextos, apontando diferentes concepções de infância, elucidando novas perspectivas. Vale esclarecer que a infância é uma construção social, condicionada a questões culturais, filosóficas, econômicas e por muitas vezes religiosas, assim, a partir de uma perspectiva social e histórica, podemos dizer que não existe somente uma infância, mas várias. PALAVRAS-CHAVE: memórias; literatura infantil; infância. Lígia Rodrigues Balista TITULO: LITERATURA, TEATRO E REPRESENTAÇÕES DO BRASIL: O CAIPIRA NA DRAMATURGIA DE CARLOS ALBERTO SOFFREDINI RESUMO: Doutorado sobre a figura do caipira na obra do dramaturgo Carlos Alberto Soffredini. De acordo com o debate proposto pelo simpósio, sobre a falta de atenção que o drama e a tradição dramatúrgica brasileira recebem nos estudos literários, e na academia de maneira geral, proponho aqui uma exposição sobre um autor de relevância na produção cênica brasileira, desde a da década de 60, mas que é pouco estudado e ainda não tem suas obras publicadas. Busco entender como se constrói a imagem do caipira brasileiro na produção literária do final do século XX, através do estudo de três peças de Soffredini: “Na Carrêra do Divino” (1979), “Auto de Natal Caipira”, (1992), e “A Madrasta”, (1995). Reconhecido pelo trabalho com cultura popular, cabe avaliar como constroem, nessas peças, os personagens, o dialeto e música caipira, além de outros aspectos da chamada cultura popular. Interessa-me, assim, pensar essa representação no âmbito da discussão de identidades nacionais: como o homem rural pode ser uma representação significativa de nossa história e de um conceito de Brasil. É possível, inclusive, traçar um percurso histórico dessa representação, cabendo portanto avaliar também as mudanças na construção dessa imagem em relação às representações no início do século XX – em especial, com referência à figura do Jeca construída por Lobato, que se torna paradigmática para a produção literária brasileira, mas também pensando na produção de Valdomiro Silveira, Cornélio Pires e, especificamente no teatro, Jorge de Andrade e Cesário Motta Jr. Enfatizarei, nessa apresentação, a primeira peça, que usa textos científicos como referência (artigos de Lobato, a pesquisa de Antonio Candido, "Os parceiros do Rio Bonito", e "O Dialeto Caipira" de Amadeu Amaral) e traz o homem caipira no centro da representação; e a terceira, que utiliza textos ficcionais (contos populares) para pesquisa e apresenta uma mulher caipira como protagonista. PALAVRAS-CHAVE: caipira; C. A. Soffredini; Jeca. Lívia Santiago Moreira TITULO: A POTÊNCIA MELANCÓLICA: DA MORTIFICAÇÃO AO GÊNIO CRIATIVO RESUMO: A apropriação por Freud de um termo tão antigo não é desavisada. A psiquiatria do início do século XIX relegou o termo para os poetas e filósofos substituindo-o por lipomania ou mono mania triste. Pouco depois, na Alemanha, Emil Kraepelin integrou a melancolia à psicose, relação que encontramos até hoje na “psicose maníaco-depressiva” que recentemente foi redefinida no DSM-IV como “transtorno bipolar” – diagnóstico epidêmico na contemporaneidade que retira do sujeito a “positividade” de sua postura negativista. Ao localizarmos o melancólico e sua fala característica “não quero nada, qual sentido há nisto?” em nosso contexto histórico contemporâneo, podemos identificar nesses sujeitos uma resistência ativa aos modelos sociais oferecidos e às ofertas da sociedade de consumo. O melancólico sabe sobre a impostura do sistema e denuncia a alienação dos sujeitos às ofertas identificatórias das mercadorias. A ironia melancólica contesta exatamente como os modos de descontentamento são semblantes de uma outra coisa, mais radical, de uma ausência de sentido. Ele tem o poder de reconhecimento da estrutura e também do abismo para além da estrutura, o que o coloca em um impasse. O melancólico sabe da verdade, mas pode ficar paralisado no momento niilista de sua vivência. A ética da verdade do melancólico pode não conseguir achar uma saída que não seja a da mortificação, do esforço para tentar parar o tempo que a tudo devora. Neste trabalho pensaremos com Freud, Agamben, Benjamin como a arte se apresenta como uma das saídas possíveis – mas não sem riscos – para o encontro com a verdade vivenciada pelo sujeito melancólico. PALAVRAS-CHAVE: Melancolia; Verdade; Arte. Lívia Santiago Moreira TITULO: RISCOS DO DESAPARECIMENTO DE SI – JOGOS ENTRE PONTES SOBRE O ABISMO, DE FREUD A FLUSSER RESUMO: Judeu de Praga, único sobrevivente de sua família na Segunda Grande Guerra, Vílem Flusser, após uma breve passagem pela Inglaterra, se exila no Brasil, tomando o português como sua “segunda língua materna”. De acordo com o filósofo, a experiência de ser banido poderia ser um fator que nos tornaria mais humanos. Esta vivência do entre-lugar do eu, entre línguas e culturas, será transposta através das pontes que este construirá a partir de uma nova realidade da linguagem. Flusser é um dos pensadores do século XX que mais conseguiu extrair força da catástrofe. Se num primeiro momento o exílio é sinônimo de melancolia – dor relacionada ao traumatismo de uma abrupta separação, de saber-se sozinho, e, consequentemente, de existir – num segundo momento, esse estado de perda do solo e de si é o ponto de partida para uma nova forma de estar no mundo. De um lado temos o negativismo melancólico e a impossibilidade do luto, de outro, temos a denúncia da ficção da identidade e sua potência desterritorializadora. Pensamos que a melancolia seja o primeiro movimento de deslocamento da noção de eu para uma abertura ao outro que não seria apenas da ordem de um traumatismo, mas de uma expansão. A “falta de fundamento” (Bodenlos) que justifica e possibilita a “virada do punhal” para Flusser, parece reproduzir a dinâmica que encontramos na problemática melancólica. A vida e obra do filósofo se mostram produtivas na elaboração de uma crítica à noção de identidade, motivo de sofrimento do homem contemporâneo. A figura do exilado aparece como um novo modelo de estar no mundo, o qual é constituído pelo fluxo e não pelo suposto caráter estático da cultura e da língua. Nesta ponte entre Freud e Flusser, tradutor, exilado e melancólico são figuras de uma mesma problemática: o encontro com a outridade. PALAVRAS-CHAVE: Flusser e Freud; elogio do exílio; melancolia. Lúcia Amaral de Oliveira Ribeiro TITULO: REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO NOS CADERNOS DE VIAGEM DE FLAUBERT E DELACROIX RESUMO: Em minha comunicação, pretendo comparar textos de Flaubert de sua viagem para o Oriente às anotações dos cadernos ilustrados da viagem de Delacroix para o Marrocos. Tomando por base a representação do espaço, pretendo estabelecer correspondências entre questões de ordem estética que permeiam as artes de escrever e pintar no século 19. Ao abordar o Oriente de Flaubert, Isabelle Daunais propõe que o espaço não existe para ele como realidade referencial e sim como geometria, estilização. Trata-se de um espaço delimitado em que o visível depende das condições de observação. Por volta da segunda metade do século 19, a pintura perde a perspectiva fixa. Assim, a paisagem e os objetos deixam de se organizar em torno de um ponto fixo. As anotações de viagem de Flaubert e de Delacroix evidenciam o mesmo tipo de olhar descentralizado. Referências Bibiográficas: DAUNAIS, Isabelle. L’Art de la mesure ou l’invention de l’espace dans les récits d’Orient (XIXe siècle). SaintDenis, Montréal: PUV, 1996. DELACROIX, Eugène. Journal. Tomo I. Ed. de Michelle Hannoosh. Paris: Corti, 2009. ______. Le voyage au Maroc. Ed.de Maurice Arama. Paris: Sagittaire, 1992, vol. 5. ______. Desenho 89-004245-02; inventário: RF1712bis fo 23v-24r. Álbum da África do Norte e da Espanha, 1832. Paris, museu do Louvre. Direitos autorais da fotografia: RMN-Grand Palais / Michèle Bellot. FLAUBERT, G. Œuvres complètes. Tomo II. 1845-1851. Pléiade. Ed. de Claudine Gothot-Mersch. Paris: Gallimard, 2013. ______. Voyage en Orient (1849-1851). Ed. de Claudine Gothot-Mersch. Paris: Gallimard, 2006. ______. Caderno 4 (viagem ao Oriente) f° 11v° e f° 12, Biblioteca Histórica da cidade de Paris. Manuscrito inédito. RIBEIRO, Lúcia Amaral de Oliveira. Imagens e paleta de cores nos textos de Flaubert da viagem ao Oriente. Tese (Doutorado em Língua e Literatura Francesa). USP, São Paulo, 2014, inédita. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8146/tde21012015-175516>. PALAVRAS-CHAVE: Flaubert, Gustave; Delacroix, Eugène; Anotações de viagem. Lúcia Ricotta Vilela Pinto TITULO: LÍRICA DA TERRA: VIAGENS DE GONÇALVES DIAS RESUMO: O objeto desta apresentação é a elaboração lírica e histórica do espaço por Gonçalves Dias. Pretende-se retomar os percursos de suas viagens pelo Ceará, pela Província do Pará e do Amazonas entre os anos de 1859 e 1861, a partir do confronto de suas cartas, diário e anotações com suas ficções de poesia e com um conjunto de trabalhos do poeta ligado às suas atividades de “homem de letras” no Instituto Histórico e Geográfico do Brasil. Gonçalves Dias chefiou a Secção de Etnografia da Comissão Científica de Exploração do Ceará, elaborada no âmbito de uma política imperial civilizatória, que procurou nacionalizar as coordenadas históricas do território brasileiro, incumbindo-se da tarefa de distinguir as “raças humanas” pelo estudo das “línguas”, das “tradições históricas” e da caracterização “intelectual e moral” dos índios desta região. Tal tarefa representou a continuidade dos estudos indigenistas sumarizados em seu Brasil e Oceania, a cuja escrita dedica-se nos anos que vão de 1850 a 1852. Ao final da Comissão do Ceará, Gonçalves Dias realizou ainda incursões nas regiões e rios amazônicos, em 1861, aproximando-se de uma síntese interpretativa do Brasil que dizia respeito à relação por ele tensionada entre a história dos índios e o passado nacional, entre o território e a temporalidade brasileira. Sob a percepção gonçalviana dos vazios deixados pela força das águas na Amazônia em, por exemplo, cito-o – “a terra falta, desaparece”, quando “o rio cobre majestosamente [os] espaços” –, esta comunicação terá alcançado seu objetivo se revelar a tensão em Gonçalves Dias entre o vazio passadológico dos índios e os espaços à margem da história destes homens para quem efetivamente falta a terra. PALAVRAS-CHAVE: Gonçalves Dias; Indios; História. Laísa Marra de Paula Cunha Bastos TITULO: OS PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO DE RESUMO: O trabalho objetiva compreender os modos de produção de autobiografias best-sellers de mulheres muçulmanas. Como corpus representativo, selecionamos os livros "Infiel", de Ayaan Hirsi Ali; "Princesa", de Jean Sasson/Sultana; e "Eu sou Malala", de Malala Yousafzai/Christina Lamb. Usando metodologia de Bourdieu, para quem uma obra literária não deve ser estudada apenas por seu texto, mas também por sua inserção e circulação nos diversos campos (literário, político, social), partimos da hipótese de que essas narrativas de vida, uma vez que fabricadas no Ocidente com base nas lógicas da indústria cultural de massa e da literatura de grande produção, são apresentadas ao público circunscritas pelos discursos neo-orientalistas do choque de civilizações. Referimo-nos aos discursos veiculados no pós-11 de setembro de 2001, que, reiterando o discurso orientalista, dividiram o mundo em Ocidente superior versus Oriente inferior. Assim sendo, investiga-se as implicações dos discursos da Guerra ao Terror para o interesse comercial em narrativas pessoais de mulheres muçulmanas. Além disso, problematizamos os pressupostos e a importância do gênero autobiográfico e dos conceitos de verdade e autenticidade para a ascensão desses livros, bem como as relações de coautoria presentes em tais narrativas. Entendemos que os modos de produção de um livro têm muito a dizer sobre seus significados. Pensando nisso, analisamos o discurso editorial – presente nas capas, contracapas e abas dos livros – a fim de tornar visíveis suas atuações na construção de um texto. Objetiva-se, assim, problematizar os limites e as possibilidades da auto-representação do sujeito subalterno em contextos marcados por desigualdade de forças e por agenciamentos da fala. PALAVRAS-CHAVE: Autobiografia; Subalternidade; Neo-orientalismo. Laile Ribeiro de Abreu TITULO: ÁUREA PIRES DA GAMA: ESCRITA FEMININA ANGRENSE NA IMPRENSA BRASILEIRA RESUMO: Áurea Pires da Gama nasceu em 1876, em Angra dos Reis, Rio de Janeiro, e faleceu em 1949, no Rio de Janeiro. Foi participante ativa em diversos periódicos do Rio de Janeiro e contribuiu, significativamente, para a presença da escrita feminina no Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro, publicação feita entre 1851 a 1932, que contou com a participação de quase seiscentas mulheres de todas as regiões do Brasil. A contribuição da autora angrense ao Almanaque foi de cerca de cinco poemas, no período de 1899 a 1902. Além dos textos esparsos, a autora publicou as coletâneas "Flocos de Neve" (1898)," Indiana" (1902), "Pétalas" (1908), "Paquetá" (1919), "Entre o Mar e a Floresta" (1922). Essa comunicação pretende, portanto, discutir a obra de Áurea Pires da Gama, reunidas nas coletâneas, em especial, os textos cuja publicação inicial dera-se pelo Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro. PALAVRAS-CHAVE: Áurea Pires da Gama; Imprensa brasileira; Almanaque. Larissa Drigo Agostinho TITULO: O INFINITO TURBULENTO DE MICHAUX RESUMO: A literatura tem uma longa história com as drogas, ela data do advento da própria modernidade, com Baudelaire e jamais desaparece do horizonte literário reaparecendo gloriosamente na loucura de Artaud ou nas experiências de Michaux. Procuraremos aqui pensar esta relação com o intuito de responder a uma acusação tão longa quanto a história da literatura e das drogas na modernidade, a de transgressão. Seria a literatura uma simples extravagância, uma busca por paraísos artificiais que tendem a fechá-la ainda mais sobre si mesma, afastando-a de toda experiência real? Seria a droga o sintoma de um desejo de fuga e evasão, ou desejo autodestrutivo de uma arte que já não tem mais nada a dizer sobre e para o mundo que a rodeia? Ou ainda estaria este desejo de transgressão exprimindo o hedonismo de uma arte que se reduz a uma simples busca pelo prazer? O recuso as drogas pode parecer, num primeiro momento, um simples desejo de transgressão que ao romper com os limites impostos pela normatividade social sempre reforça a lei que transgride ou afirma sua estrita dependência em relação a esta. Mas não é assim que Deleuze pensa esta relação. Pretendemos neste artigo a partir das ideias de Deleuze e Guattari pensar “L’Infini turbulent” de Michaux e a importância das drogas na constituição de uma percepção para além da experiência ordinária, para podermos assim definir a natureza da experiência literária. L’infini turbulent é um verdadeiro manual de fabricação de um corpo sem órgãos, uma nova figura de “sujeito” não mais uno e sim divisível, atravessado por forças moleculares e invisíveis que o forçam a alcançar territórios virgens nunca antes explorados pela percepção e pela razão. A experiência de Michaux, como veremos, leva a literatura a conquistar um espaço novo e sem limites, infinito. PALAVRAS-CHAVE: corpo sem órgãos; molecular; infinito. Larissa Leal Neves TITULO: UTOPIAS MELANCÓLICAS: A CRÍTICA DA MODERNIDADE EM CRÔNICAS DE RUBEM BRAGA E HAROLDO MARANHÃO RESUMO: O presente trabalho visa mostrar a melancolia na literatura brasileira contemporânea, especificamente em Rubem Braga e em Haroldo Maranhão, analisando crônicas da metade do século XX, que falam sobre o cotidiano do Rio de Janeiro em uma perspectiva pouco destacada: a de um melancólico sobre a modernidade. Ora, se o melancólico é aquele que não consegue se desprender do passado, e se a modernidade, enquanto tempo histórico regido pela cultura capitalista, é dominada pelo valor do sempre novo e do presenteísmo, então, mais do que nunca, o melancólico sofre na marginalidade. É esse ser melancólico que aparece nas crônicas escolhidas. A linha de raciocínio que seguimos é a de Walter Benjamin (1989, 2012), para quem a melancolia está intrínseca na modernidade, pois esta desvaloriza a consciência histórica enquanto sabedoria, substituindo-a por uma ideia de progresso que anda “no interior de um tempo vazio e homogêneo” (2012, p. 249), causando o sem-sentido. Já para o melancólico o progresso não existe, porque sua consciência histórica se define em torno de idas e vindas, tendo a memória como elo. Assim, se por um lado a melancolia pode ser perigosa, porque causadora de inércia, por outro lado, quando aparece no artista pode ser o motor propulsor da arte, tornando-a símbolo-ação de resistência à cultura auto-destruidora moderna. É essa leitura de mundo que aparece nas crônicas aqui estudadas: os narradores do presente moderno criticam a centralidade do progresso na vida das pessoas, na transformação da paisagem e na modificação de valores, em favor de um olhar para o passado, em busca de sabedoria, e para o futuro, em busca de alguma utopia. Muitas vezes, passado, presente e futuro se entrelaçam em nome de uma percepção una de tempo, um exercício que tranquiliza o melancólico, em sua idealidade, e o angustia, na comparação com a realidade. PALAVRAS-CHAVE: moderna. crônica literária; modernidade históric; literatura Larissa Silva Freire Spinelli TITULO: NO ENTRE ASPAS DAS VANGUARDAS: O INTENSIVISMO RESUMO: A relação entre as vanguardas latino-americanas e as culturas populares remete ao jogo das vanguardas do Intensivismo e às poéticas de Benedito Sant’Ana da Silva Freire e Wlademir Dias Pino. O Intensivismo foi um movimento que se situou na tensão de forças pela renovação político-literária durante o Modernismo no Estado de Mato Grosso, Brasil, na segunda metade do século XX. Ocorreu na cidade de Cuiabá, centro geodésico da América do Sul, entre 1948 a 1952. A despeito da pouca visibilidade nacional e adeptos, foi propulsor da Poesia Concreta (1956) e de outros movimentos de vanguarda, desaguando, posteriormente, na eclosão do Poema//Processo (1967). Composto por um grupo de jovens intelectuais, em sua maioria poetas, que lançaram suas produções em uma sequência de periódicos em formato de revistas e jornais (Arauto de Juvenília, Sacy, Sarã e Ganga). Dentre os poetas de maior expressão deste movimento estão: Dias Pino e Silva Freire. O “Manifesto” conceituado por Dias Pino e publicado no jornal Sarã, n. 04, em 22 de julho de 1951, assim o apresenta: “O Intensivismo é, certo, um simbolismo duplo. Além da imagem está outro significado poético” (DIAS PINO 1982). Uma definição desconfiada que se encontra entre aspas, mas que pode perdê-las conforme sua repetição está a nos dizer por meio de princípios antropofágicos e de estratégias de guerrilha que a leitura é mais importante do que a inscrição. A leitura intensivista convoca o regional na forma sem ser folclore, trabalha com a sinuosidade, a cultura cuiabana e as regras da natureza. No caso da obra freireana, Leite (2009) afirma que se transforma em um quase culto das manifestações populares e das tradições, sem abrir mão da experimentação, e realização, com a linguagem e suas potencialidades. PALAVRAS-CHAVE: Vanguarda; Literatura; Intensivismo. Laura Taddei Brandini TITULO: A CHINA OS OLHOS DE ROLAND BARTHES RESUMO: Em 1974 Roland Barthes, François Wahl, Philippe Sollers, Julia Kristeva e Marcelin Pleynet passam um mês na China de Mao Tsé-Tung. O “grupo de Tel Quel”, como era visto, visita fábricas, escolas, museus, monumentos históricos, vai ao cinema e ao teatro: tudo perfeitamente organizado pela Agência Luxingshe, que também providencia dois guias e tradutores para acompanhar os visitantes. Tendo por fio condutor os Cadernos da viagem à China ([1974] 2009) e o artigo “Alors, la Chine?” (1974) de Barthes, procurarei identificar, descrever e interpretar a presença do estrangeiro chinês aos olhos do escritor francês, por meio de suas formulações espacial e linguística, bem como das descrições dos chineses nos textos analisados. O ponto de vista de Barthes será contraposto aos de seus colegas de viagem, que também reportaram suas impressões uma vez de volta à França. Kristeva escreveu Des Chinoises em 1974, Pleynet, Le Voyage en Chine. Chroniques du journal ordinaire 11 avril – 3 mai 1974, lançado em 1980 e Sollers e Wahl publicaram vários artigos em que expressam suas opiniões sobre o país. Como a China é apreendida pela trama textual das narrativas de viagem e pelo discurso dos artigos dos membros do grupo? Quais aspectos convergem e quais divergem nesses múltiplos olhares sobre o mesmo objeto, o estrangeiro, particularmente, chinês? PALAVRAS-CHAVE: Estrangeiro; Literatura Comparada; Roland Barthes. Leila Cristina de Melo Darin TITULO: KATHERINE MANSFIELD NA VOZ DE ANA CRISTINA CESAR: PROCEDIMENTOS ANTROPOFÁGICOS RESUMO: O estudo da íntima relação entre escrita e reescrita literária comprovada pela prática da tradução de escritores e poetas-, incita e propicia o exame dos procedimentos pelos quais o tradutor se apropria, via processo de transcriação e recriação (HAROLDO DE CAMPOS, 1977), dos recursos estéticos do texto de partida e os transforma crítica e criativamente, inserindo o novo texto no sistema literário da língua-cultura de chegada, no interior do qual estabelecerá relações e tensões. Para discutir as estratégias de devoração do outro empregadas pela prática da tradução literária, propomos analisar a tradução para o português do conto “Bliss” (1918), da escritora neozelandesa Katherine Mansfield, realizada pela poeta brasileira Ana Cristina Cesar. O percurso tradutório de “Bliss” a “Êxtase” (1981) foi objeto de sua dissertação de Mestrado em Teoria e Prática de Tradução Literária (Universidade de Essex, Inglaterra, 1981). A publicação póstuma de sua tradução comentada (Escritos da Inglaterra, 1988), que consiste em 80 notas sobre o trabalho de recriação, oferece um rico material para a percepção das transformações operadas pela tradutora, cujo discurso revela uma posição autoral, guiada pela interpretação subjetiva do conto e por princípios tradutórios afins com as concepções de tradução literária de Manuel Bandeira e dos irmãos Campos. PALAVRAS-CHAVE: Tradução literária; Bliss; Êxtase. Leila Cristina de Melo Leila Darin TITULO: KATHERINE MANSFIELD NA VOZ DE ANA CRISTINA CESAR: PROCEDIMENTOS ANTROPOFÁGICOS RESUMO: O estudo da íntima relação entre escrita e reescrita literária comprovada pela prática da tradução de escritores e poetas-, incita e propicia o exame dos procedimentos pelos quais o tradutor se apropria, via processo de transcriação e recriação (HAROLDO DE CAMPOS, 1977), dos recursos estéticos do texto de partida e os transforma crítica e criativamente, inserindo o novo texto no sistema literário da língua-cultura de chegada, no interior do qual estabelecerá relações e tensões. Para discutir as estratégias de devoração do outro empregadas pela prática da tradução literária, propomos analisar a tradução para o português do conto “Bliss” (1918), da escritora neozelandesa Katherine Mansfield, realizada pela poeta brasileira Ana Cristina Cesar. O percurso tradutório de “Bliss” a “Êxtase” (1981) foi objeto de sua dissertação de Mestrado em Teoria e Prática de Tradução Literária (Universidade de Essex, Inglaterra, 1981). A publicação póstuma de sua tradução comentada (Escritos da Inglaterra, 1988), que consiste em 80 notas sobre o trabalho de recriação, oferece um rico material para a percepção das transformações operadas pela tradutora, cujo discurso revela uma posição autoral, guiada pela interpretação subjetiva do conto e por princípios tradutórios afins com as concepções de tradução literária de Manuel Bandeira e dos irmãos Campos. PALAVRAS-CHAVE: Tradução; Antropofagia; Ana Cristina César. Leila Cunha Raposo Luciana Helena Cajas Mazzutti TITULO: O FILHO DE MIL HOMENS E ALGUNS RASTROS DA HOMOFOBIA RESUMO: Em O filho de mil homens, publicado em 2011, do escritor português Valter Hugo Mãe, há a representação de uma personagem homossexual – Antonino – em meio a uma sociedade interiorana e tradicional. Em sua trajetória, o rapaz sofre desesperadamente em razão da incompreensão social e familiar das quais é vítima. Interessa-nos analisar o modo como essa personagem é representada, em sua condição sexual, a fim de observarmos o que se pode compreender sobre o comportamento dos múltiplos sujeitos que compõem a pequena vila portuguesa em que mora. O presente estudo, eminentemente bibliográfico, fundamenta-se em Michel Foucault (1984; 2004), José Luis Foureaux de Souza Júnior (2007), Antonio de Pádua Dias da Silva (2011), João Silvério Trevisan (2011) e Fabrício Longo (2014). Como resultados mais relevantes, afirma-se a possibilidade de perceber nos textos formas múltiplas de violência, tanto no que dizem respeito ao sentimento de inadequação que acompanha Antonino quanto ao modo homofóbico da maioria dos moradores do espaço representado no interior do romance. PALAVRAS-CHAVE: Homocultura; Homossexualidade; Literatura Portugues. Lenita Maria Rimoli Esteves TITULO: ANTOLOGIAS DE LITERATURA BRASILEIRA EM INGLÊS - UM OLHAR PANORÂMICO RESUMO: O trabalho pretende fazer uma primeira abordagem de várias antologias de literatura brasileira em língua inglesa, desde a primeira, publicada em 1922, por Isaac Goldberg, passando pela antologia organizada por Érico Veríssimo (1945), por "Marvellous Journey" de Samuel Putnam (1948), por uma coleção de prosa lançada na época da ditadura militar. Além das já citadas, serão apresentadas também antologias de editoras universitárias, como a "Brazilian Literature", edição em três volumes publicada pela Georgetown University Press e organizada por Claude Hulet (1974) e a "Oxford Anthology of the Brazilian Short Story", organizada por k. David Jackson e publicada pela Oxford University Press em 2006. Não sendo exatamente uma antologia, e sendo de difícil classificação, o "Babel Guide to Brazilian Fiction", organizado por David Treece e Ray Keenoy (1994/2001) faz uma boa divulgação de nossa literatura com algumas resenhas e excertos das obras, além de uma lista completa de todas as obras publicadas entre 1865 e 2000. Essas obras são um retrato da época em que foram lançadas, e podem iluminar vários aspectos da divulgação da literatura brasileira no mundo de língua inglesa, como quais foram as obras escolhidas, quais os gêneros preferidos e quais autores foram mais populares em cada época. PALAVRAS-CHAVE: Tradução literária; Literatura traduzida; Literatura Brasileir. Leny da Silva Gomes TITULO: O UNICÓRNIO NAS TEIAS DA LINGUAGEM HERMÉTICA RESUMO: Segundo Hans Sedlmayr, em A revolução da arte moderna (s/d), livro anotado por Osman Lins, a arte do início do século XX, em sua busca da pureza, eliminou a inter-relação das várias formas de expressão. Assim, foram eliminados na arquitetura os elementos pictóricos e escultóricos; na pintura os escultóricos e tectônicos. Osman Lins encaminhou-se na contramão de uma “arte pura”, fazendo do espaço verbal literário uma teia de relações em que real e imaginário se misturam, tempos e espaços se confundem em mútuas penetrações. Seguindo uma tradição milenar, associada a Hermes psicopompo, a linguagem denotativa da realidade concreta converte-se em linguagem hermética, sujeita a analogias, a hermenêuticas instauradoras de mediações entre o eterno e o temporal. Em Ubonius e o Unicórnio, publicado na Revista Colóquio/Letras (1972), objeto desta comunicação, interpenetram-se os dados do processo de busca da solução ao problema imposto pelo senhor ao escravo, com o espaço e o tempo da ordem psicossocial e os “anseios místicos de Ubonius”. A mobilidade da linguagem repercute no trânsito do conto ao romance Avalovara, tema S – A Espiral e o Quadrado. Fragmentado e acrescido de substantiva reflexão metaliterária, Ubonius e o Unicórnio instala o Unicórnio nas páginas do romance. Referências LINS, Osman. Avalovara. Apres. Antonio Candido. 2. ed. São Paulo: Melhoramentos, l974. ____. Ubonius e o Unicórnio. In: Colóquio/Letras. Portugal: Fund. Calouste Gulbenkian. n. 6, mar. 1972, p. 46-51. JOSSUA, JeanPierre. La Licorne: images d’un couple. 2. ed. Paris: Ed. du Cerf, 1994. SEDLMAYR, Hans. A revolução da arte moderna. Trad. Mário Henrique Leiria. Lisboa: Livros do Brasil, s/d. PALAVRAS-CHAVE: Unicórnio; Ubonius; Avalovara. Leomir Silva de Carvalho TITULO: A LINGUAGEM LITERÁRIA E TENSÃO CRÍTICA EM JOÃO GUIMARÃES ROSA RESUMO: Esta comunicação tem como objetivo analisar o conflito entre inovação literária e tradição em textos críticos de Wilson Martins sobre João Guimarães Rosa. Martins atuou como crítico literário e escreveu os sete volumes referentes à série História da inteligência brasileira. Nos artigos intitulados “Radiografia de Sagarana” (1979) e “Um novo Valdomiro Silveira” (1991), Martins mostra-se reservado quanto ao valor do autor mineiro, revelando estranheza em relação à sua linguagem considerada entre os regionalistas apenas uma expressão menor do pitoresco. Toma-se o conceito de quebra de horizonte de expectativa estabelecido por Hans-Robert Jauss, em A história da literatura como provocação à teoria literária (1994) e no ensaio posterior “A estética da recepção: colocações gerais” (1979), para analisar como as propostas estéticas de Guimarães Rosa interferem na tradição. Os textos em que o autor mineiro comenta sua prática literária são: 1. O prefácio “Pequena palavra” (1957); 2. A entrevista que Guimarães Rosa concedeu ao jornalista alemão Günter Lorenz (1973); 3. E o prefácio “Hipotrélico”, de Tutaméia (1967). Neles o neologismo é compreendido em sua perspectiva estética com ênfase na quebra da regularidade do idioma, o que acontece por meio do uso de mecanismos de dentro e de fora da língua do falante e por meio do estímulo à prática das habilidades criativas de seleção e elaboração. Sob esse ponto de vista, as palavras tornam-se capazes de transmitir emoção não só pelo seu significado, mas pela maneira inesperada como se apresentam. Para Guimarães Rosa a palavra deve ser explorada em seu potencial criativo responsável por aprofundar a percepção de sua materialidade sonora, visual e de composição. Assim, nos textos escritos pelo próprio autor constata-se que a língua é concebida como jogo e como expressividade, capaz de exceder o aspecto estritamente linguístico e modificar a experiência cotidiana, provocando o indivíduo a ampliar seu horizonte. PALAVRAS-CHAVE: Linguagem literária; Tradição; João Guimarães Rosa. Leonardo Augusto Bora TITULO: CARNE DE CARNAVAL: REPRESENTAÇÕES DE O GUARANI EM "GOITACAZES... TUPI OR NOT TUPI, IN A SOUTH AMERICAN WAY!" RESUMO: O trabalho, expansão do capítulo "Peri beijou Ceci ao som d’O Guarani..." da dissertação "A Antropofagia de Rosa Magalhães", defendida em 2014, na Faculdade de Letras da UFRJ, investiga diferentes discursos e símbolos observáveis na fragmentada narrativa do enredo "Goitacazes... Tupi or not Tupi, in a South American Way!", escrito e visualmente desenvolvido por Rosa Magalhães para o desfile da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, no carnaval de 2002. O tema da apresentação, a antropofagia, é trabalhado a partir do diálogo interartes com a literatura, a música, o cinema, o teatro e as artes plásticas, dos viajantes que primeiro descreveram o canibalismo ao Manifesto de Oswald de Andrade e aos desdobramentos neoantropofágicos (as canções tropicalistas, o Cinema Novo). Aqui, deixa-se de lado a representação do texto seminal da Antropofagia de 28 para que seja enfocado o enredo (e a tradução – ou transcrição - visual deste enredo no enredo da agremiação) do romance O Guarani, de José de Alencar. Um dos pilares do romantismo indianista brasileiro, o texto alencariano deu origem a um setor marcado pelo hibridismo, entre a pompa do universo operístico italiano (onde o romance virou libreto) e as feras selvagens brasileiras - em específico, a onça-pintada, símbolo antropofágico nas narrativas de matriz indígena, conforme as pesquisas de Maria Cândida Ferreira de Almeida, Eduardo Viveiros de Castro (no caso dos Araweté) e Aparecida Vilaça (no caso dos Wari). A interpretação plástica dada pela artista aos capítulos de Alencar (nos quais a antropofagia ou é tratada de maneira velada ou abertamente vilanizada – contraponto às notas de Ubirajara, onde se pode apreciar um certo relativismo: a comparação com a comunhão católica) é o centro desta reflexão que, necessariamente, dialoga com a antropologia e a filosofia da arte, exercitando o “olhar dialético” de Didi-Huberman e a “crítica criativa” de Eduardo Prado Coelho. PALAVRAS-CHAVE: Carnaval; Antropofagia; Hibridismo. Leonardo Munk TITULO: DE CORPOS E COISAS: FISSURAS ENTRE OS NOVOS ESPAÇOS E AS DINÂMICAS DO OLHAR RESUMO: Poder-se-ia, inicialmente, ver a ausência da figuração em detrimento da presença da figura como uma recusa de retratar aquilo que não pode ser retratado. Essa impossibilidade de dizer [de representar], esse enriquecimento do silêncio, no dizer do ensaísta Alberto Manguel, é um fenômeno inerente ao século XX. Esse abandono da linguagem abriria espaço ao absurdo da existência humana, que, no período do pós-guerra, foi ilustrado de modo pungente pelos campos de concentração. Não foi casual, portanto, a recusa em admitir a apreensão da barbárie pela língua. Tal foi o caso já sobejamente citado de Theodor Adorno e, posteriormente, sua aceitação da permanência da arte possibilitada pelo desafio à interpretação de Paul Celan e Samuel Beckett. A crítica à impossibilidade de representação dos campos efetuada por Jacques Rancière em texto recente já havia, de certo modo, sido levada a cabo pelo próprio Adorno. No caso da artista colombiana Doris Salcedo, no entanto, bem como no trabalho tardio de Beckett, da década de 1980, e de outros artistas [Miroslaw Balka, Anselm Kiefer, Peter Eisenman], o recurso à tensão entre matéria e ausência se revela menos como um meio de interdição da representação, e mais como a aceitação de uma estratégia para a apreensão sensível daquilo que está para além de um claro entendimento. Como observa Anne Cauquelin, “a arte é um lugar onde se manifesta uma exigência de “imaterialidade”, ao mesmo tempo que uma exigência de corporalidade”. Essa presentificação de um vácuo de entendimento deixa falar os objetos, cujo papel, segundo Beckett, reside no resgate do silêncio [e do invisível]. PALAVRAS-CHAVE: Representação; Interpretação; Corporalidade. Leonardo Nahoum Pache de Faria TITULO: O CASO DO REI DA CASA PRETA, DE GANYMÉDES JOSÉ SANTOS DE OLIVEIRA: BREVE ANÁLISE DE UM LIVRO INFANTIL AUTOCENSURADO POR SUA EDITORA DURANTE A DITADURA MILITAR RESUMO: A série de mistério "A Inspetora", de Ganymédes José (1974-1988, Ediouro), teve 38 títulos publicados e um mantido inédito. As histórias infantojuvenis da Patota da Coruja de Papelão giravam em torno de casos envolvendo ladrões, contrabandistas e todo tipo de injustiça. Ao se examinar as primeiras prensagens da série, encontra-se menção ao título O Caso do Rei da Casa Preta (e “casa” aqui, embora se refira ao tabuleiro de xadrez, reveste-se de certa ambiguidade que implica “Casas Reais” e facções de poder). Ainda que planejado como quinto da série, o livro nunca foi editado… A coleção foi corrigida e menções ao Rei da Casa Preta desapareceram completamente; por 40 anos, seu texto permaneceu silenciado. A recuperação do livro nos arquivos da editora revelou uma história onírica com elementos de Alice no País das Maravilhas e A Fantástica Fábrica de Chocolate: uma das crianças investigadoras, Bortolina, após abusar dos ingredientes que usava ao preparar bombons de licor, cai no sono e passa por fantástica aventura envolvendo peças gigantes de xadrez feitas de chocolate que lutam pelo controle da fazenda onde mora a Patota. A história possui inúmeras alusões a lutas pelo poder, prisões arbitrárias, pessoas desaparecidas e até mesmo tortura, o que reforça a hipótese de que essa foi a razão para o livro ter sido cancelado pela Ediouro. Embora a censura no Brasil tenha se ocupado mais com revistas, jornais e outros veículos de massa, mesmo quando proibiu livros ela não chegou a tocar nos infantojuvenis – nesse universo, a repressão era muito mais autoinfligida, com autores e editores evitavam temas potencialmente perigosos que pudessem afrontar o regime militar. Acreditamos ser essa a primeira evidência documentada acerca dos efeitos da atmosfera política brasileira nos anos 70 sobre a circulação não só de livros, mas de ideias, no âmbito da literatura infantojuvenil. PALAVRAS-CHAVE: Ganymédes José; Literatura infantil; Autocensura. Lilian Barbosa TITULO: REINALDO ARENAS, PROSADOR DA MARAVILHA RESUMO: Baseado em nossos estudos e por meio da leitura crítica de teóricos da literatura fantástica, pretendemos ler os romances O reino alucinante e Celestino antes do amanhecer do escritor cubano Reinaldo Arenas para incorporá-lo ao rol de escritores desta verve e apontar seus distanciamentos, que o aproximam ao modo de escrita do realismo maravilhoso surgido nos limites do território latino americano. PALAVRAS-CHAVE: Fantástico; Realismo Maravilhoso; Insólito. Liliane Machado TITULO: FORMANDO LEITORES LITERÁRIOS: ROMANCE POLICIAL CONTEMPORÂNEO NA SALA DE AULA DO ENSINO MÉDIO RESUMO: Esta comunicação apresenta o relato da sequencia didática de uma experiência bem sucedida para a formação de leitores literários críticos, a partir do trabalho com o romance de suspense “Dias perfeitos” (Cia das Letras, 2012), do escritor Raphael Montes. Nascido da necessidade de se encontrarem soluções para tornar atrativa – e efetiva - a leitura de livros de narrativa de ficção propostos pela escola, o projeto buscou aliar-se à literatura contemporânea, produzida por um jovem escritor, já de projeção nacional e internacional. O trabalho pedagógico incluiu 240 alunos de classe média-alta, que cursavam a 2ª série do Ensino Médio, em um colégio privado, tradicional e renomado, da cidade do Rio de Janeiro. Resistentes, em sua maioria, às propostas de leitura escolarizada, e usuários contumazes das estratégias substitutivas da experiência literária - tais como a consulta aos resumos e análises de livros disponíveis na Internet – esses alunos trocaram a indiferença ou o mau julgamento do que seria “literatura”, pela dedicação, durante dois meses a atividades de leitura, debates, encontros com o autor do romance e produção de fanfictions. Dentre as estratégias utilizadas para a sedução dos alunos, além de uma íntima parceria com o autor, lançou-se mão das redes sociais, normalmente concorrentes desleais da criação do hábito da leitura literária. Sem a utilização de avaliações quantitativas (provas, testes ou trabalhos), que atribuíssem nota, como forma compensatória pela aquisição do conhecimento acadêmico, os alunos leram pelo prazer da recepção literária. Ao final do processo pedagógico, os alunos passaram a se considerar melhores leitores, compreendendo a literatura como uma manifestação artístico-cultural de seu tempo e fazendo de sua fruição um hábito constante e consciente, além de, muitos deles, constituírem-se como produtores de seus próprios textos ficcionais. PALAVRAS-CHAVE: Ensino; Literatura; Leitura. Lisa Carvalho Vasconcellos TITULO: SOBRE VÍTIMAS E VITIMIZADOS: PARADOXOS DA LITERATURA PRISIONAL PORTUGUESA RESUMO: Os temas da violência e da vítima é um dos mais urgentes no âmbito do pensamento contemporâneo. A vítima é o herói de nosso tempo, diz Giglioli. Mas se inúmeros concordam que a vítima é um ser inatacável, com o qual naturalmente nos identificamos, ela também é um ser silente. Spivak nos lembra a impossibilidade da fala dos verdadeiramente subalternos, dos que estão numa situação de vitimização extrema. Primo Levi ressalta que é dever da testemunha falar pelas verdadeiras vítimas, que se caracterizam justamente pela impossibilidade de falarem por si mesmas. No Brasil, Márcio Seligmann-Silva e no exterior Jean Améry ressaltam, a partir de diferentes pressupostos, as dificuldades e os limites da transmissão do saber das vítimas. Na cultura portuguesa, como também na brasileira, a questão da vítima se torna ainda mais pungente quando o contexto é o da violência de Estado. A invisibilidade dos oprimidos e a dificuldade de reconhece-los promove a manutenção de sua condição oprimida. Tanto em Portugal com no Brasil uma instituição promoveu o ocultamento das vítimas de encarceramento e violência de estado: as IlhasPrisão, instituições carcerárias isoladas, mantidas fora do continente, onde vigorava o estado de exceção. Ilha Grande, Fernando de Noronha, Tarrafal ou Angra do Heroísmo são algumas delas. Mas se essas prisões procuravam fugir do olhar público para instituir práticas repressivas extremas, elas também tinham, paradoxalmente, o intuito de se apresentarem como modelo punitivo. Alçadas a um lugar de exemplaridade, essas ilhas procuravam instituir o medo e o terror na população civil justamente através de seu caráter de violência modelar. É justamente desse ambíguo lugar de fala, onde o apagamento convive com a total visibilidade, que surgem as obras de autores como António Jacinto e Luandino Vieira, ex-encarcerados e objetos deste trabalho. PALAVRAS-CHAVE: vítima; literatura cárcere; Tarrafal. Livia Grotto TITULO: FIGURAÇÕES DO ESCRITOR-TRADUTOR RESUMO: Este trabalho busca apresentar um projeto de pós-doutorado submetido à FAPESP em março de 2015. Seu objetivo é explorar os metadiscursos sobre tradução produzidos por escritores hispano-americanos que também atuaram como tradutores: Alfonso Reyes, Jorge Luis Borges, Octavio Paz, Juan Villoro e Fabio Morábito. Todos eles escreveram ensaios sobre a tradução literária nos quais, direta ou indiretamente, requerem para si a figura do tradutor. Borges e Morábito, além disso, elaboraram contos nos quais os tradutores são personagens principais. Entre os questionamentos que pautam esta pesquisa podem-se incluir: quais são e como se desenvolvem as relações entre escrita criativa e tradução? A emergência do metadiscurso sobre tradução é consubstancial ao apagamento dos limites de gênero literário na modernidade? Existem modelos que inspiram a escrita a respeito da tradução em cada um dos autores ou que ajudam a compor as figurações de si como escritor-tradutor? Em que medida os topoi que aparecem nas discussões sobre tradução são retomados, assinalando continuidades e descontinuidades em relação à tradição? Essas questões ancoram-se, sobretudo, na evolução do valor atribuído à figura do tradutor, que tem passado, nos últimos tempos, da invisibilidade ao protagonismo de romances e contos, tornando-se, igualmente, o tema principal de ensaios. PALAVRAS-CHAVE: Teorias da tradução; Ensaios; Hispano-América Livia Laene Oliveira Drummond TITULO: GEORGES BATAILLE: POR UMA LITERATURA INFORME RESUMO: O escritor francês Georges Bataille (1897 – 1962) adentrou no mundo das letras com a publicação da polêmica novela História do olho em 1928, assinada pelo pseudônimo Lord Auch. Próximo dos grupos artísticos de vanguarda do início do século XX, especialmente do movimento surrealista, não cessou de confrontar a literatura modernista francesa. Por se tratar de um escritor que exercita suas reflexões em diversas modalidades de discursos é quase impossível enquadrá-lo em uma única categoria. Sua produção teórica e literária fragmentárias, articuladas em uma operação de tráfico de conceitos, abre perspectivas para a análise da própria produção da escrita contemporânea. Uma escrita inclassificável no qual temas (tais quais interdito, transgressão, erotismo e morte) giram em torno de si mesmo, repetindo-se e desdobrando-se, infinitamente, praticando, como lhe é peculiar, um vertiginoso e fragmentário exercício estilístico. Exemplos das experimentações literárias bataillianas se multiplicam. Dessa forma, encontraremos textos cujas reflexões filosóficas são assaltadas por devaneios poéticos, por críticas literárias e por reflexões sobre o ato de escrever (cf. Le coupable); ou ainda textos cuja intrigante prosa poética é atravessada por súbitas reflexões filosóficas (cf. Madame Edwarda). Sua escrita funcionaria como uma bomba que implode os conceitos evocados, seja o de obra, seja o de sujeito, seja o de escrita, colocando-os a nu e evidenciando os seus “non- sens”. Para Bataille, a experiência da escrita deve tensionar os limites da linguagem no próprio gesto da escrita que aí se produz enquanto gagueira, operando uma fissura na concepção da escrita literária. As reflexão sobre os conceitos supracitados estão presente em grande parte da produção literária batailliana, no entanto, interessa-nos, nesse trabalho, percorrer as obras L’impossible (1962), Madame Edwarda (1941) e Le coupable (1944) observando como esses escritos colocam a literatura em crise e jogam com noções caras aos estudos literários. PALAVRAS-CHAVE: Escrita Moderna; obra; Autoria. Livia Santos de Souza TITULO: A LITERATURA DO CARIBE HISPÂNICO NOS EUA: MEMÓRIA E ENTRE-LUGAR NA OBRA DE JUNOT DIAZ RESUMO: Dominicano radicado desde a infância nos Estados Unidos, Junot Diaz é um dos nomes mais representativos da literatura da diáspora dominicana na contemporaneidade. Seus livros, o volume de contos Drown (1996), o romance The brief wondrous life of Óscar Wao (A fantástica vida breve de Óscar Wao, 2007) e seu título mais recente, de classificação bastante difícil, This is how you lose her (É assim que você a perde, 2012) constroem um rico retrato da experiência da migração transnacional e das complexas configurações identitárias por ela propiciadas. No presente trabalho, pretende-se refletir sobre a representação dessa experiência nas narrativas de Diaz para dessa forma tentar identificar o papel desempenhado pela memória, em especial por suas manifestações vicárias e mediadas, na elaboração do imaginário identitário do entre-lugar dominicano-americano. Para tanto, serão explorados os conceitos de migração transnacional, na perspectiva trabalhada pelo intelectual uruguaio Abril Trigo (2003), as reflexões sobre memória e memória vicária elaboradas por Beatriz Sarlo em Tempo passado (2007), e as considerações sobre as literaturas elaboradas em contextos de migrância de Eurídice Figueiredo (2010). PALAVRAS-CHAVE: interamericanismo. literatura migrante; narrativa caribenha; Lourdes Nazaré Sousa Ferreira TITULO: ÓRFÃOS DO ELDORADO: TRAÇOS DO ROMANCE MODERNO EM ANÁLISE RESUMO: RESUMO: O estudo busca tecer algumas reflexões, a respeito da escritura moderna e do herói problemático na perspectiva de representação nos entrelaces observados na obra Órfãos do Eldorado (2008) de Milton Hatoum, determinantes para a construção da imagem de uma personagem como Arminto Cordovil que a sua maneira busca incessantemente lidar com situações limites da experiência humana. Nesse artigo, priorizar-se-á um diálogo possível entre algumas vertentes teóricas dos estudos literários, tais como teorias da modernidade e do romance moderno. A escolha desta novela de Milton Hatoum deve-se ao enquadramento do herói em fragmentos construído na modernidade, visto que o subjetivismo do narrador-protagonista é singular, visto que este promove uma constante tentativa de reconciliação com o mundo e consigo mesmo, bem como, as semelhanças no que se refere às características do romance moderno na obra. Para tanto, serão examinados os textos de Roger Chartier (1990), bem como, da percepção do romance moderno por Anatol Rosenfeld (1973), Georg Lúkacs (1962), Milan Kundera (2002). PALAVRAS-CHAVE: Romance; Modernidade; Herói. Luís Cláudio Ferreira Silva TITULO: O ROMANCE LÍRICO NA NARRATIVA MODERNA: REFLEXÕES SOBRE LAVOURA ARCAICA, DE RADUAN NASSAR E LUGAR, DE RENI ADRIANO RESUMO: O romance é o gênero burguês por excelência, fruto da modernidade. Ele é a representação artística do nascimento de um novo herói, rompendo com a tradição. A sociedade burguesa na modernidade é que sustenta, basicamente, a formação e ascensão do romance, sobretudo na afirmação do indivíduo face ao coletivo. Os enredos épicos tradicionais perdem força dentro dessa sociedade, pois não conseguem representar o indivíduo. Assim sendo, o romance é o modelo de gênero que mostra fortemente essa mudança de pensamento, do coletivo para o individual, que vem desde o Renascimento, que foi de extrema importância para essa reorientação, uma vez que privilegiava o antropocentrismo. Entretanto, com a velocidade e o turbilhão modernos, já emprestando termos de Bauman (2001), era impossível que o romance permanecesse um gênero intocado, fixo e acabado. Evidentemente recebeu influências e se metamorfoseou. Como o romance apregoa um mundo individual, não é à toa que muitas de suas narrativas passassem do plano externo para o plano interno, que o mundo mostrado nas narrativas não fosse apenas o mundo ipsis litteris, objetivo. A subjetividade auxilia numa construção de mundo pela visão perspectívica. O sujeito agora é fragmento, perdendo sua unidade. Entendemos que na contemporaneidade a fragmentação das coisas se intensifica (assim como sua liquefação) e a linguagem segue esse caminho. Porém, também se acredita que nessa fragmentação, algumas coisas acabam se reconfigurando justamente na junção com outros fragmentos. É o que se chama de hibridismo. A própria prosa poderia recorrer a outras ferramentas, tais como o lírico para sua nova composição. É justamente na fusão com o lírico que nasce uma nova forma de romance. Para o presente trabalho, escolhemos Lavoura Arcaica de Raduan Nassar e Lugar de Reni Adriano para tentar entender o processo de fragmentação e a adoção do lírico no romance contemporâneo. PALAVRAS-CHAVE: Romance; Modernidade; Lírico. Luís Fernando Prado Telles TITULO: A UNIVERSIDADE: INSTÂNCIA LEGITIMADORA LITERATURA? RESUMO: Quando se coloca o debate a respeito da relação entre literatura e ensino, uma das questões que se apresentam em primeiro plano, via de regra, é a polêmica acerca do cânone literário. Para ter sua existência garantida, a literatura canônica dependeria, segundo a perspectiva de alguns de seus comentadores e críticos, daquilo que estes designam como sendo as instâncias de legitimação. Os atores de tais instâncias frequentemente invocados são os órgãos de imprensa especializada; intelectuais renomados; associações e academias literárias, bem como os meios e instrumentos da universidade. Sobre esta última, cabe uma atenção especial, pois, frequentemente, lança-se mão de um pressuposto de que o lugar da universidade teria a prerrogativa do “toque de midas canônico”. Em geral, os argumentos que pressupõem a universidade como uma instância privilegiada de legitimação do literário e de estabelecimento do cânone se constituem quase que como uma petição de princípio, sobre a qual não restaria necessidade comprovação. O pressuposto é tomado de modo bastante genérico e, portanto, carente de elementos objetivos. O que a presente comunicação pretende é inserir elementos objetivos que possam municiar a discussão sobre a universidade como o lugar, por excelência, de instância legitimadora da literatura e do cânone. Para tanto, são trabalhados dados quantitativos e qualitativos relativos aos currículos, programas de ensino e produção de pesquisa em nível de pós-graduação (dissertações de mestrado e teses de doutorado), no campo da literatura, em duas importantes universidade do Brasil, a Universidade de São Paulo e a Universidade Estadual de Campinas. Tais dados derivam de uma pesquisa mais abrangente, desenvolvida inicialmente em nível de pós-doutorado (USP/FAPESP), cujo projeto inicial procurou investigar o estabelecimento da literatura como área de ensino e de pesquisa nas universidades brasileiras. Bibliografia: CAMPOS, Ernesto de Souza. História da Universidade de São Paulo. São Paulo: Edusp, 2004. CASTILHO, F. O conceito de universidade no projeto da UNICAMP. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2008. CULLER, Jonathan. Teoria Literária: uma introdução. São Paulo: Becca, 1999. CUNHA, Luiz Antônio. A universidade reformada: o golpe de 1964 e a modernização do ensino superior. São Paulo: Editora da Unesp, 2007. ________ A universidade crítica: O ensino superior na república populista. São Paulo: Editora da Unesp, 2007. PALAVRAS-CHAVE: Universidade; Literatura; Cânone. Luana Barossi TITULO: DE EMELINA A LUDO: DESTERRITORIALIZAÇÃO DOS DISPOSITIVOS QUE REGEM A SANIDADE POR PERSONAGENS LITERÁRIAS FEMININAS EM OBRAS DE LÍNGUA PORTUGUESA RESUMO: O conceito deleuzeano de desterritorialização, diretamente relacionado aos processos de subjetivação propostos por Michel Foucault, propicia uma discussão interessante à questão da diferença. Desterritorializar-se pode significar criar linhas de fuga aos dispositivos de poder e controle que ditam identidades pré-fabricadas socialmente. Tal ação se dá a partir da produção de afetos alegres (como elaborados na Ética de Spinoza) e do desejo como uma instância do inconsciente produtivo (como proposto por Deleuze e Guattari). A partir desta perspectiva, proponho a leitura de algumas obras em Língua Portuguesa que apresentam personagens femininas que se desterritorializam ou criam linhas de fuga aos dispositivos que servem como recurso para a redução de sua potência de ação, ao classificá-las como insanas. Duas dessas personagens são Emelina, de Ventos do apocalipse (Paulina Chiziane) e Ludo, de Teoria geral do esquecimento (Agualusa). A primeira recebe de uma parcela significativa dos críticos o epíteto “a louca”; e a segunda é classificada como agorafóbica pela perspectiva psicanalítica. Por considerar essas leituras redutoras e formadoras de novos dispositivos de controle, proponho uma leitura dessas personagens a partir dos conceitos de processo de subjetivação e desterritorialização, bem como um diálogo com a força e a natureza dos afetos de Spinoza. PALAVRAS-CHAVE: desterritorialização; subjetivação; distopia. Luana Ferreira de Freitas TITULO: UMA ANÁLISE DO PARATEXTO ROMANCES MACHADIANOS PARA O INGLÊS NAS TRADUÇÕES DOS RESUMO: O paratexto, de maneira paradoxal, potencia o alcance do texto sem fazer parte dele, fazendo a mediação entre texto e público. O paratexto é, dessa forma, de uma maneira geral, um satélite do texto, tangenciando-o nesta mediação que faz. Esta mediação apoia o texto na medida em que lhe dá acesso em maior ou menor grau. Machado estreia em língua estrangeira com a tradução de Memórias póstumas de Brás Cubas, em 1902, para o espanhol. Em inglês, o escritor é lançado com os contos “O enfermeiro”, “Viver” e “A cartomante” na antologia Brazilian Tales, em 1921. O primeiro romance de Machado traduzido para o inglês foi Memórias póstumas de Brás Cubas [Epitaph of a Small Winner] de William Grossman, em 1952. Além de Memórias póstumas, Ressurreição, A mão e a luva, Helena, Iaiá Garcia, Quincas Borba, Dom Casmurro e Memorial de Aires foram não apenas traduzidos como retraduzidos para o inglês. Partindo da análise de notas e prefácios nas traduções dos romances de Machado de Assis para o inglês, a comunicação que proponho pretende examinar possíveis variações da inserção do autor na cultura anglo-americana e a autoria dos tradutores nos paratextos apresentados ao longo dos 63 anos de existência de Machado em língua inglesa. PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis; tradutor; paratexto. Lucas da Cunha Zamberlan Deivis Jhones Garlet Bonaldo TITULO: A UTILIZAÇÃO DE SOBRAS CULTURAIS EM ELES ERAM MUITOS CAVALOS: EXPLORANDO OS LIMITES DO LITERÁRIO RESUMO: O presente trabalho pretende promover uma reflexão, de natureza comparatista, sobre a utilização de sobras culturais como elemento estético no romance Eles eram muitos cavalos (2013), de Luiz Ruffato. Nos sessenta e nove capítulos da obra, há uma organização de textos variados, como horóscopos, seção de classificados, listas de vagas de empregos que permite com que o livro transponha as barreiras do literário e comunique-se com outras artes e mídias. Para lograrmos êxito na nossa pesquisa, utilizamos uma abordagem metodológica que principiou pela consideração do autor do texto literário como um bricoleur, na acepção de Compagnon (2010), que elabora o seu trabalho lançando mão da colagem, do ajuste de fragmentos e da reformulação de ideias passadas. Em seguida, recorremos à fortuna crítica acerca da assimilação de sobras culturais e resíduos da cultura de massa pela literatura, trabalhada principalmente por Moser (1999), a fim de avaliar de que modo os objetos da contemporaneidade, marcada pela acumulação e pela saturação, se constitui no corpo do romance em questão e quais são as origens desse processo no âmbito das artes. A partir dos elementos trabalhados, avaliamos que Eles eram muitos cavalos (2013) não só inscreve-se como um romance contemporâneo, no sentido que Agamben (2009) trabalha o conceito, mas também como um texto de fruição, que reflete de forma profunda a relação do homem envolvido pelo espaço urbano e as coisas que o rodeiam. Ruffato ao buscar o limite, encontra a essência da escritura. REFERÊNCIAS AGAMBEN, Giorgio. O que é contemporâneo? e outros ensaios. Chapecó: Editora Argos, 2009. BARTHES, Roland. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 1987. COMPAGNON, Antoine; tradução Cleonice P.B. Mourão. O trabalho da citação. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. ECO, Humberto. História da beleza. Rio de Janeiro: Record, 2010. HOSSNE, Andrea Saad. Degradação e acumulação: considerações sobre algumas obras de Luiz Ruffato. In: HARRISON, Marguerite Itamar (org). Uma cidade em camadas. Vinhedo: Horizonte, 2007. MILK, Janis. Duchamp: A arte como contra-ataque. Singapura: Paisagem, 2006. MOSER, Walter. Restos e reciclagem: da temática romanesca à economia da produção. In: BERND, Zilá; CAMPOS, Maria do Carmo (org.). Literatura e americanidade. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1995. ________. Spätzeit. In: MIRANDA, Wander Melo (org). Narrativas da modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. PAZ, Octavio. Marcel Duchamp: Castelo da pureza. São Paulo: Perspectiva, 1990. REMAK, Henry. Literatura Comparada: Definição e Função. In: Literatura Comparada – Textos Fundadores (Orgs. Eduardo Coutinho e Tânia Franco Carvalhal). Rio de Janeiro: Rocco, 1994, p. 175-190. RUFFATO, Luiz. Eles eram muitos cavalos. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. PALAVRAS-CHAVE: EEMC; sobras culturais; limites do literário Lucas Oliveira TITULO: (RE)CRIAÇÃO LITERÁRIA NAS PERIFERIAS DE SÃO PAULO RESUMO: À medida que as disputas pelos espaços urbanos e seus sentidos ganham centralidade, tanto mais a paisagem cultural da cidade torna-se objeto e cenário de interesses diversos. Nesse contexto, as margens, que se manifestam sócio-espacialmente no fenômeno da periferia, ocupam posição de destaque no debate, pois redefinem e resignificam os pontos de interseção entre arte e urbanismo. O objetivo da comunicação é expor resultados de minha pesquisa, “Experiências estéticas em movimento: a produção literária nas periferias de São Paulo”, sobre a análise de instâncias de criação, difusão e consumo de bens literários, os chamados saraus, que há mais de uma década vem ecoando nas periferias paulistanas e modificando, assim, as dinâmicas artísticas desses espaços. Esse movimento foi determinante para a expansão da recente literatura marginal e tem como força propulsora, justamente, experiências culturais no espaço urbano, a partir das quais algumas comunidades periféricas ressignificam a cidade através da criação literária. A questão que busco explorar é que, embora não se enquadrem nas hierarquias simbólicas e nos locais mais tradicionais de consagração, os saraus parecem exercer, hoje, papel determinante na formação e projeção de novos escritores oriundos de bairros pobres da capital. Esses novos atores sociais vêm assumindo cada vez mais dinamicamente um papel central de mediação em cenários de tensão no espaço urbano, servindo como instrumento de confronto em que a experiência pessoal atua como base para interpretar a experiência coletiva. Logo, o próprio fazer artístico desse grupo de escritores parece ser uma ruptura com o labor cultural de praxe, pois critica e combate o fato de que a voz do marginalizado sempre esteve intermediada pela voz de outro – que, ocupando posição privilegiada no espaço público e no campo literário, apresenta e representa o indivíduo periférico, até então excluído do processo produtivo de sua autorrepresentação. PALAVRAS-CHAVE: Produção Literária; Saraus; Periferias. Luci Ruas Pereira TITULO: ROMANCE ILUSTRADO: UM ENCONTRO ENTRE AS PALAVRAS DE TEOLINDA E A PINTURA DE MAIA, NUM TEMPO LIMIAR RESUMO: Em 2000, publica-se uma edição especial do romance A Árvore das Palavras (1997), de Teolinda Gersão, ilustrada com maestria pela pintora moçambicana Celeste Maia. Entre a primeira edição e a publicação especial fazse um intervalo de quatro anos, justamente na virada do século XX para o XXI. Trata-se, portanto, de um romance de fim-de-século, cuja preocupação evidentemente memorialística, tem na árvore seu símbolo fundamental. Neste trabalho, propõe-se uma leitura crítica do romance, buscando estabelecer um diálogo entre literatura e pintura. Na narrativa de Teolinda Gersão, as palavras se fazem árvore, mergulhando na cultura popular moçambicana, através das descrições e da ação de personagens locais que contracenam com a jovem personagem de origem portuguesa que passa a viver no solo africano, apresentadas no discurso narrativo pelo exercício criativo da memória. As cores das tintas que pintam as telas de Maia fazem brotar dos signos pictóricos as matrizes de uma cultura revelada nas danças, nos objetos que refletem a vida doméstica, no encontro tenso das culturas, a permanência das raízes culturais, necessárias para garantir a identidade de um país independente, em tempo de dissolução de fronteiras e de identidades estilhaçadas. “Na escrita há sempre uma descida ao fundo de nós mesmos. Nada fácil. Mas sem isso nunca entenderemos os outros nem o mundo” – afirma Teolinda, atenta à ideia de que a memória é dinâmica e está em permanente construção. Maia interpreta os signos que compõem a árvore feita de palavras. Aí os discursos se encontram, diferenciados pelo modo como os olhares incidem sobre a paisagem. Aí também pretendemos interferir, fazendo cruzarem-se os diferentes olhares, em busca de uma via de leitura crítica que ponha em evidência o lugar onde esses discursos se (des)encontram. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Diálogo Interartes; Pintura. Lucia Fatima Fernandes Nobre TITULO: A DOR DE SI E A DOR DO OUTRO: UMA REFLEXÃO NO ROMANCE ATONEMENT, DE IAN MCEWAN RESUMO: O romance Atonement (2001), do escritor inglês Ian McEwan, contextualiza sua narrativa na Segunda Guerra Mundial, precisamente no episódio da retirada de Dunquerque, ocorrido em 1940. O romance, regido por uma estética metaficcional, retrata as inquietações humanas face à crise circunstancial, à violência e à morte, o que resulta tanto no conhecimento, quanto no encontro com o outro. Com a finalidade de investigar o confronto entre a dor de si e a dor do outro, destacamos, como recorte, uma passagem extraída da Parte 3 do romance, onde a protagonista, exposta às atrocidades da guerra, vê-se face a face com a morte. A relevância da passagem em foco dá-se pelo momento de epifania vivenciado pela personagem e seus desdobramentos, que resvalam no nível ideológico da narrativa. Adotaremos uma postura eclética quanto à fundamentação teórica, principalmente no que diz respeito ao o eixo temático proposto, e daremos ênfase aos pressupostos apontados por Linda Hutcheon no que concerne às teorias da metaficção. PALAVRAS-CHAVE: dor; alteridade; Atonement. Lucia Granja TITULO: RUBRICAS E ESPAÇOS NOS JORNAIS DO XIX: A CRÔNICA RESUMO: O crescimento em importância e a circulação cada vez maior da imprensa no século XIX teve como consequência a instauração de algumas práticas derivadas da circulação de ideias e das trocas materiais e simbólicas. Assim, um gênero jornalístico desenvolvido na França passou, no Brasil, a ocupar a imaginação e atenção de escritores-jornalistas e leitores, de modo a se tornar cada vez mais presente nos jornais, cada vez mais frequente como produção dos escritores, cada vez mais literário. Nessa esteira, este texto aprofundará uma discussão que vimos fazendo com o objetivo de melhor conhecer o desenvolvimento do gênero “crônica” no Brasil. Para isso, propomos um estudo de alguns impressos impressos no XIX, especificamente dos jornais, dando destaque ao papel que o bas de page/rodapé tiveram nesse processo. Esses espaços determinaram rubricas e serão aqui analisados, justamente, como locus de publicação dos textos, tanto em suas matrizes textuais quanto naquilo que diz respeito ao à configuração plástica da página no rodapé. Acompanhando sistematicamente a configuração desse espaço no Jornal do Commercio, no século XIX, principalmente em sua primeira metade, discutiremos como a flexibilidade do bas de page/rodapé, onde era possível a coexistência de textos de natureza diferente (críticos, ficcionais, de variedades) é constituinte da crônica brasileira, em suas especificidades. PALAVRAS-CHAVE: Crônica; Literatura/ Imprensa; Jornalismo Literário. Lucia Maria Moutinho Ribeiro TITULO: ANTÔNIO NOBRE: UMA RELEITURA RESUMO: Antônio Nobre: uma releitura Lucia Maria Moutinho Ribeiro Detenhamo-nos na poesia memorialística do poeta português do século XIX Antônio Nobre, registrada no Só, segundo o próprio autor (1976, p. 10), "o livro mais triste que há em Portugal". Publicado em Paris pelo editor Léon Vanier (o mesmo dos simbolistas franceses Verlaine, Rimbaud e Mallarmé), foi escrito sob o signo da memória, da morte e do desalento, embora a doença que vitimou o poeta tenha sido diagnosticada três anos depois do lançamento em 1892. Por isso, podemos classificar essa produção finissecular e simbolista como neorromântica e autobiográfica também, porque, narcisista, relata passos da vida coincidentes com a biografia de Guilherme de Castilho: desde o escavar do passado, traduzido em inúmeras imagens ao longo dos poemas, como “Moreno coveiro, tocando viola,/ A rir e a cantar!/ Empresta bom homem, a tua sachola,/ Eu quero cavar” (António, 1976, p. 13 – [todas as citações ao Só serão extraídas desta edição e doravante referidas pelo título do poema e número de página]) , e da infância, até a menção ao nome "António" pelo eu-lírico; as pessoas com quem convivera, todas nomeadas em poesia – os pais, a avó, a babá Carlota, os amigos Manuel e George, a noiva Purinha, a namorada inglesa Miss Charlotte que lhe deu o apelido de "Anto" e que ele incorporou à sua poética ; os lugares que percorreu – a praia de Leça-a-Palmeira, a Universidade de Coimbra que o reprovou duas vezes e o levou a concluir o curso em Paris, os Estados Unidos; as preferências literárias, sobretudo Garrett e Shakespeare: “Mas uma coisa que lhe faz ainda pior,/ que o faz saltar e lhe enche a testa de suor/ É um grande livro que ele traz sempre consigo,/ E nunca o larga: diz que é o seu melhor amigo,/ E lê, lê, chama-me: “Carlota, anda a ouvir!”/ Mas ... nada oiço. Diz que é o Sr. Shakespeare” (Males de Anto, p. 209). O jeito dândi de ser, as viagens (mencionadas com local e data no fim dos poemas) e as figuras populares de pescadores e romeiros ... e do assaltante Zé do Telhado, entre outras referências, não escapam a esse enumerar do fluxo da consciência, vazado em verso, rima e métrica, tão diluídos que o aproximam da estética modernista, de modo que o próprio Manuel Bandeira lhe dedicou um texto, revelando Antônio Nobre como fonte de inspiração do seu A cinza das horas de 1917. Abordemos os poemas nobrianos “Os sinos” (pp. 85-88)e “Os cavaleiros” (PP. 121-124), que evocam respectivamente o paralelismo medieval galego-português e o romanceiro ibérico. Se dialogamos com a tradição literária, convém lembrar os preceitos definidos pela renomada filóloga italiana e professora de língua portuguesa e de literaturas de língua portuguesa, Luciana Stegagno Picchio (1920-2008), no ensaio "Teoria, questões de método: o método filológico (comportamentos críticos e atitude filológica na interpretação de textos literários)", da obra A lição do texto. Filologia e literatura. Idade Média, lançada em Lisboa, em 1979, pela Editora 70. PALAVRAS-CHAVE: poesia; nobriana; memória. Lucia Vieira Sander TITULO: OUVIR SILÊNCIOS OU O QUE SHAKESPEARE NÃO CONTOU RESUMO: Como conduzir os estudos de dramaturgia no ambiente acadêmico atentando para a dupla injunção literária e cênica do teatro tem sido uma pergunta que venho me fazendo há muitos anos, uma vez que os estudos de dramaturgia e das artes cênicas têm se realizado separadamente em diferentes Departamentos de universidades brasileiras (Letras e Artes Cênicas ou Teatro). Essa esquizofrenia do ensino do teatro tem me motivado a buscar soluções pedagógicas e a realizar experimentos que possam integrar as duas faces da experiência teatral. Chamo de “Crítica em Performance” um experimento que sigo levando à universidades brasileiras e de outros países (Argentina e Dinamarca) em que, em vez de escrever um ensaio acadêmico convencional sobre uma peça ou sobre a obra de um/a dramaturgo/a, eu produzo um roteiro a ser encenado no palco e, assim, crio um espetáculo em vez de uma explicação, um ato crítico em cena, e convido a uma reflexão sobre o teatro em seu próprio território, utilizando a sua própria linguagem e todo o elenco dos demais recursos cênicos. Meu experimento mais recente, que proponho apresentar neste Simpósio e que leva o título “Ouvir Silêncios ou O que Shakespeare não contou”, se utiliza de outro formato de análise crítica do texto dramático e se constitui em uma Palestra/Performance que combina o discurso da escrita crítica acadêmica e sua posta em cena. Ou seja, a leitura ou exposição da análise crítica do texto dramático é acompanhada da encenação proposta pelo discurso crítico. Sendo assim, o teatro é examinado simultaneamente em ambos os domínios, literário e cênico, que constituem o universo dramático. PALAVRAS-CHAVE: Teatro; Palestra; Performance. Lucia Wataghin TITULO: EDIÇÕES BRASILEIRAS DOS DIÁRIOS DE VIAGEM DE EDMONDO DE AMICIS RESUMO: Há cerca de quatro anos, um grupo formado por pesquisadores da USP e da UFSC está empenhado num amplo trabalho de levantamento e mapeamento da literatura italiana traduzida no Brasil. Parte dos dados levantados pelo grupo já foi colocada on-line, à disposição do público, na forma de um dicionário bibliográfico das obras traduzidas. Entre os dados observados, destacamos os números de obras traduzidas, os autores e os títulos mais traduzidos, as flutuações nas tendências editorias em decadas diferentes, os tradutores, as editoras empenhadas especialmente no mercado da literatura italiana traduzida. No âmbito do projeto da literatura italiana traduzida, destacam-se alguns estudos de casos, importantes para refletirmos sobre as razões e as condições que determinam a publicação e o tipo de edição destinado a cada obra. Há situações aparentemente dominadas por fatores aleatórios (como o estranho caso da tradução, em dois volumes, do romance Il mulino sul Po, de Riccardo Bacchelli) e outras em que a publicação parece determinada por fatores políticos e ideológicos ativos no contexto de chegada. Nesta perspectiva, há casos especialmente curiosos, como o do diário de viagem Marrocos, de Edmondo de Amicis, cujas esplêndidas e luxuosas edições brasileiras fazem justiça ao indubitável, envolvente talento do escritor, verdadeiro mestre no gênero da reportagem aventurosa e exótica. Por outro lado, merece atenção a ausência de crítica, especialmente por parte do mercado brasileiro, em relação às manifestações de etnocentrismo e eurocentrismo expressas nesse livro do autor italiano. O tema das viagens, em forma de reportagem (Spagna, 1873, Olanda, 1874, Marocco, 1876, Costantinopoli, 1878-79), ligado por vezes ao tema da emigração (no romance Sull´oceano, no famoso conto “mensal” Dagli Appenini alle Ande) é central na obra de De Amicis, autor também do clássico da literatura para a infância, Cuore. PALAVRAS-CHAVE: Edmondo De Amicis; tradução; recepção literatura. Luciana Araujo Marques TITULO: PACTO DE VEROSSIMILHANÇA, ENTRE O AUTOBIOGRÁFICO E O ROMANESCO: O TESTEMUNHO COMO MISSÃO NAS MEMÓRIAS DE GRACILIANO RAMOS E NO ROMANCE DE ESTREIA DE FERRÉZ RESUMO: Em texto de 1957, sobre a incumbência de organizar uma antologia, Graciliano Ramos declara: “Depois da tentativa falha, isento-me de apresentar a alma de um criminoso, a de um seringueiro, almas que desejei expor, não vistas de fora para dentro, mas de dentro para fora, lançadas por gente pequenina, rebotalho social. Infelizmente os prisioneiros e os trabalhadores da borracha não escrevem” (RAMOS, Graciliano. “Prefácio a uma antologia”, Linhas tortas. Record: Rio de Janeiro, 1989, p. 259). Esse esforço para dar voz a vivências caladas, marca do alagoano, acentua-se pós-cárcere (1936-37). Vidas secas (1938) evidencia seu papel mediador, uma vez que Graciliano pertence a um grupo social, mas se empenha na representação não distanciada de outro. Saber na pele é condição da escrita na passagem da ficção à confissão, em que sua missão éticoestética culmina no desdobrar-se em matéria da própria arte. O passado presentificado nas memórias de Infância (1945) recupera o olhar do infante sobre o que se tentou aniquilar na história dos sem fala, como ele. Em cada episódio, o eu mais íntimo é social, assinalado pelo traumático em uma ordem social violenta. Tais aspectos de Infância, objeto de minha pesquisa de doutorado na Unicamp, podem ser atualizados na leitura de Capão pecado (2000) ao se refletir sobre o teor testemunhal como representação. A estreia de Ferréz se dá em um contexto no qual “gente pequenina, rebotalho social” enfim escreve e publica. A missão de porta-voz dos “manos” resulta em uma formalização mediada pelo que chamei de pacto de verossimilhança a partir do confronto entre o romance e a bibliografia sobre a literatura de testemunho (MARQUES, Luciana Araujo. Pacto em Capão Pecado: das margens para o centro do texto, do texto para o interior do homem. Dissertação de mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada. São Paulo: USP, 2010). PALAVRAS-CHAVE: Graciliano Ramos; Ferréz; trauma. Luciana Barreto Machado Rezende TITULO: VISIONÁRIO E IMPOTENTE, O ANJO DA HISTÓRIA EM AVALOVARA RESUMO: Seja figurando proteção e acolhida, seja simbolizando tentação e transgressão, a presença do anjo – esse etéreo habitante das legiões entremundos – atravessa o imaginário bíblico e de outras tradições religiosas irradiando significados diversos, que ultrapassam a guarda e a condução a eles confiadas, ao aportar também a angustiante e impotente condição do homem em seu tempo. Nesta comunicação, pretendo demonstrar como a reflexão de Walter Benjamin, disposta em sua nona tese em 'Sobre o conceito da história', a partir do célebre quadro 'Angelus Novus', do pintor moderno Paul Klee, aproxima-se da representação empreendida por Osman Lins, em seu romance' Avalovara', na qual a função e o papel desses entes celestiais - em geral, ocupantes do posto de mensageiros divinos e interventores do Bem – afastam-se de seu propósito originariamente messiânico e redentor, sendo expostos em sua queda e imobilidade, pois confrontados com os temíveis e ameaçadores ventos da História e da Opressão. PALAVRAS-CHAVE: Avalovara; Paul Klee; Walter Benjamin. Luciana Cristina Corrêa TITULO: O DIÁLOGO ENTRE A LITERATURA E A HISTÓRIA, EM NOITES DE VIGÍLIA, DE BOAVENTURA CARDOSO RESUMO: O presente trabalho procura expor como ocorre a representação da memória coletiva, em Noites de Vigília (2012), o mais recente romance publicado do escritor angolano Boaventura Cardoso. A rememoração dá-se partir do relato de dois personagens, os amigos Quinito e Saiundo, que se reencontram após um período de 23 anos em que se mantiveram afastados por seguirem em frentes de lutas opostas, em Angola. A reaproximação de ambos os personagens representa, num espaço narrativo marcado por uma luta de libertação, no período imediatamente anterior à independência de Angola, o próprio desejo de reconciliação da comunidade nacional. Assim, através do recurso do diálogo e da presença do fluxo de consciência nos relatos pessoais de cada personagem, o leitor pode deduzir que ambos aguardam uma possível conciliação social e que, mesmo tendo seguido caminhos diversos em uma sociedade pluricultural marcada pela opressão colonial, seguem contribuindo para a consolidação de uma identidade nacional. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; memória; Boaventura Cardoso. Luciana de Moraes Rayol TITULO: CACASO E O BEIJO ANTITÉTICO RESUMO: Antônio Carlos Ferreira de Brito, o Cacaso, foi o principal articulador e teórico da poesia marginal. Ao ler os poemas de seu terceiro livro, Beijo na Boca (1975), temos a sensação de que os versos são antitéticos em relação ao título (e a capa) do livro, evidência da voz criativa do escritor mineiro. O amor está presente em todo o livro, de múltiplas maneiras: adjetivado, verbalizado, sentido, pluralizado, contudo não há lugar para o amor idealizado. Trata-se muito mais de uma fragmentada lírica de desamor, construída com poemas curtos – tão curtos que muitas vezes os títulos também figuram como versos – e permeada de humor, conflitos e ironia. Tendo como base os ensinamentos acerca da Literatura Brasileira, o artigo se concentra em estudo bibliográfico, fundamentais para o desenvolvimento de uma pesquisa exploratória, de natureza qualitativa, dando ênfase à análise do papel feminino nos poemas escolhidos – namoradas, exnamoradas, amores passados e futuros. PALAVRAS-CHAVE: Feminino; Marginal; Poesia. Luciana Duenha Dimitrov Lilian Cristina Corrêa TITULO: A COR PÚRPURA: VIOLÊNCIA REVISITADA NA ADAPTAÇÃO CINEMATOGRÁFICA RESUMO: Dentre os temas expostos por Alice Walker em A Cor Púrpura (1982), a mutilação das fictícias mulheres da tribo Olinka talvez seja um dos que mais desconforta o leitor. Quando encarado sob a perspectiva proposta por Marco Abel (2007), em que este atenta ao fato de que é a própria obra de arte que propicia um contexto que nos permite entender adequadamente uma dada situação histórica, a atrocidade proposta pela romancista (e reiterada por Steven Spielberg em sua adaptação homônima de 1985) se torna, ironicamente, aceitável. Vivendo na África há décadas, em uma das cartas que escreve à protagonista Celie, Nettie pesarosamente revela à irmã a incapacidade dos missionários em ter “(...) ajudado a parar (...) a marcação ou corte tribal nas faces das jovens mulheres [Olinka]” (WALKER, 1982, p.177). Os trechos desta e de outras cartas em que a mutilação e suas consequências são descritas trazem à tona imagens violentas que acabam por se tornar positivas, ao se considerar o quão precisamente refletem o mundo que representam, assim como o contexto dentro do qual a dada violência ocorre (ABEL, 2007, p.xii). Ao serem adaptadas, essas imagens, que trazem consigo “(...) seus próprios códigos de interação com o espectador, diversos daqueles que a palavra escrita estabelece com o seu leitor” (PELLEGRINI, 2003, p.16), se mostram deveras eficientes, apesar de sua violência original. Dentro do exposto, propõe-se, neste breve estudo, a reflexão acerca da reapresentação da violência proposta por Spielberg, considerando, para isso, confluências e divergências evidenciadas no cotejo entre os trechos que expõem o tema e ambas as obras. PALAVRAS-CHAVE: A Cor Púrpura; Adaptação; Violência. Luciana Ferreira Leal Fernando Rodrigues de Oliveira TITULO: A MORTE E A REDENÇÃO COMO DESFECHOS EM NARRATIVAS TRÁGICAS: ESTUDO COMPARADO DE O ABRAÇO (1995) E SAPATO DE SALTO (2006), DE LYGIA BOJUNGA RESUMO: Nesse texto, pretende-se estudo comparativo entre a representação trágica contida em O Abraço e Sapato de Salto. Busca-se compreender como o trágico, associado às experiências sexuais das protagonistas, resulta em desfechos completamente opostos.Em O Abraço, o sofrimento da protagonista tem origem na violência sexual vivida na infância. Em seu aniversário de oito anos, Cristiana sofre um estupro pelo “Homem da água”.Inicialmente, a lembrança dolorosa manifestava-se somente em sonhos, mas depois o inconsciente impede a manifestação até no meio onírico. Entretanto, certo dia, em um circo, o palhaço desperta as lembranças adormecidas no inconsciente e o trauma da infância se manifesta em toda a sua crueza. Cristina reconhece, na figura do palhaço, o “Homem da água” e, em vez de repudiá-lo, sente-se atraída pelo seu agressor.Sapato de Salto retrata a trajetória de Sabrina, criada em orfanato, que é resgatada para trabalhar como babá na casa de uma família burguesa. A menina, com apenas 11 anos, pensa ter encontrado uma família, até sofrer estupros recorrentes pelo patrão. No decorrer da narrativa, aparece a verdadeira família de Sabrina, na figura da Tia Inês e de sua avó, entretanto, o ex-namorado de Inês a assassina. Para não voltar ao orfanato e sustentar a avó, Sabrina se prostitui, mas acaba encontrando na família de André Doria o apoio que necessitava.Aspectos do trágico, como hybris, presságios e patético, fazem-se presentes nas duas narrativas em questão. No entanto, o trágico de que é acometida Cristina, em O Abraço, a leva à degradação, cujo caminho que lhe resta é a morte. Em Sapato de Salto, ainda que o trágico também tenha conduzido Sabrina à degradação de si, o desfecho é outro: ela reverte o seu destino trágico para a reconstrução de sua vida. PALAVRAS-CHAVE: Lygia Bojunga; Trágico; Literatura juvenil. Luciana María di Leone TITULO: DAR E RECEBER: ECONOMIA E AFETOS EM ALGUNS POEMAS CONTEMPORÂNEOS RESUMO: Nas últimas décadas, ou nos últimos anos, boa parte da crítica de arte concentrou os seus esforços de leitura na reflexão sobre o viés relacional das produções contemporâneas, chegando a ser identificado este interesse, mas também aquilo que estava se produzindo na arte, como sintoma de um “giro afetivo”. Isto ocorreu também em parte significativa da crítica de poesia, e própria produção de poesia, que insistia em encenar um endereçamento, uma vontade de sair de si, uma intenção de envio – para utilizar o conceito derridiano. Em outras palavras a poesia colocava em evidência uma característica que lhe seria própria (e não circunstancial)- ir ao encontro de um Outro, seja o leitor, seja outras linguagens, um encontro que implicaria o poder de afetar e ser afetado. Esse investimento na afetividade, no entanto, muitas vezes foi associado a certa gratuidade da poesia, a uma doação, numa visão que negaria uma política de trocas, que retira de forma até certo ponto romântica a poesia das lutas de poder. Meu texto se propõe conduzir a discussão em torno dos afetos em direção a uma reflexão econômica (ou melhor, oikonomica); uma reflexão que não oblitere as dinâmicas de troca, a vontade de ordem e domínio muito particulares, que estariam presentes no poema e na sua forma de ter lugar no mundo. Para isso, a partir da leitura de alguns poemas do livro Lógica dos acidentes, de Nurit Kasztelan (Editorial VOX, 2013), analisaremos a economia de trocas e suas falhas e insuficiências, e como essa troca econômica é inseparável de uma lógica afetiva. PALAVRAS-CHAVE: afeto; oikonomia; poesia. Luciana Marino do Nascimento TITULO: A VIDA EM LISBOA: CARTOGRAFIAS DO IMAGINÁRIO RESUMO: O espaço urbano foi uma das grandes inovações de fins do século XIX. O espetáculo das ruas, as novas formas de sociabilidade e o imaginário civilizador, portador de ideias de progresso e da crença na modernidade, na técnica e na ciência, suscitaram inúmeras leituras desse novo espaço, tanto por parte dos seus planejadores, políticos, médicos como também dos seus escritores, tanto na Europa como em outras partes do mundo. A literatura do século XIX tematizou as ruas, os personagens anônimos, lançando diferentes olhares sobre as cidades, na incessante busca de lê-las como mapas textuais. Nesse sentido, tendo como base a leitura que Walter Benjamin (1994) faz das relações acerca entre literatura e experiência urbana, identificando uma literatura das fisionomias urbanas. Nesse sentido, propomos, neste trabalho realizar uma leitura da obra A Vida em Lisboa – Romance contemporâneo (1857), do escritor português Júlio Cesar Machado, tendo como horizonte a representação da cidade de Lisboa na segunda metade do século XIX, num momento, em especial, em que a sociedade lisboeta busca um ideal de progresso, não obstante, uma boa parte dos intelectuais estivesse debatendo a decadência e a condição da “miséria portuguesa.” Angel Rama, em Cidade das Letras afirma que as cidades desenvolvem uma linguagem, abrangendo dois espaços sobrepostos: o físico, que o caminhante percorre até perder-se na sua travessia e o simbólico que reordena e relê a cidade. (RAMA, 1985). Que cartografia simbólica de Lisboa nos traça Júlio Cesar Machado em A Vida em Lisboa – Romance contemporâneo? PALAVRAS-CHAVE: Modernidade; Literatura; Lisboa. Luciana Wrege Rassier Davi Silva Gonçalves TITULO: TRADUÇÃO LITERÁRIA INTERAMERICANO E HUMOR NO CONTEXTO RESUMO: Este estudo concerne à minha pesquisa de doutorado em andamento, sendo que esta engloba a análise e tradução comentada do romance Canadense de Stephen Leacock "Sunshine Sketches of a Little Town" (1912). Escrita há mais de um século, entendo que esta narrativa precisa ser (re)contextualizada na minha versão traduzida para promover a compreensão e manutenção do humor através de uma ponte entre as distintas culturas que agora se encontram. Leacock faz diversas referencias humorísticas à eventos históricos essenciais para o desenvolvimento da identidade Norte-americana e Canadense e à figuras históricas significantes que contribuíram positivamente ou negativamente dentro deste cenário de estabelecimento nacional; e, inevitavelmente, o uso que Leacock faz da ironia pode não ser tão evidente para o meu público alvo tendo em vista o distanciamento espacial e temporal da obra original. Tendo isto em vista, uma tradução comentada do livro parece ser a opção mais frutífera para sua manutenção, já que, através dela, os leitores podem entrar em contato com muitas idiossincrasias do texto de Leacock – as quais, de outro modo, poderiam ser ignoradas. É aqui, então, que eu recorro ao conceito de americanidade, que traz à tona a noção de hibridização e movimento – uma oportunidade de moldar a continentalidade americana através da tradução literária de artefatos humorísticos. Charron e Flotow (119) enfatizam o papel da tradução dentro de tal contexto de pontes interamericanas, afirmando que é justamente o foco da tradução na questão de movimento que pode promover um contato transcultural entre texto original e texto traduzido. A tradução literária, sendo assim, parece emergir como o pilar dos diálogos e contatos culturais necessários para a manutenção do humor e do riso promovidos na obra de Leacock – e é exatamente esta preocupação que permeia tanto minha análise quanto proposta de tradução de seu romance. PALAVRAS-CHAVE: Humor; Literatura; Tradução; Luciano Carvalho do Nascimento TITULO: LITERATURA: A IMPERIAL CA(N)DEIA DE SÓFOCLES ONDE POSSO E “PRECISO ME ENCONTRAR” RESUMO: Crítica cultural, tragédia grega, telenovela, teoria literária, samba. Que diálogos se podem estabelecer entre esses elementos? Que têm em comum: i) o “Conhece-te a ti mesmo” délfico; ii) o “Preciso me encontrar” de Candeia, expoente atemporal do samba carioca; iii) a morte do comendador José Alfredo de Medeiros, protagonista da novela “Império”, da TV Globo; iv) o “Édipo-rei” de Sófocles (2008); e v) aquilo que, para Compagnon (2012), a literatura enseja: o “tornar-se quem se é”, “a formação de si mesmo e o caminho em direção ao outro”? Em tempos de “literatura em translação” (DINIZ, 2008), na confluência de tantas fontes, partindo da observação atenta de possíveis motivações para a escolha da referida composição de Candeia para trilha sonora da cena da morte do protagonista da produção global, a comunicação propõe um exercício de elucidação da intertextualidade intergenérica verificável entre o clássico atemporal da dramaturgia (e da cultura) grega, o parricídio na trama global contemporânea, o samba de Candeia e o caráter que Compagnon atribui à literatura. Pretende-se, ainda, refletir sobre o valor e os meios para igualmente se aplicar tal estratégia de “elucidação” no afã de fomentar o “letramento literário” (COSSON, 2014) em salas de aula do Ensino Médio regular em nossas escolas. REFERÊNCIAS: COMPAGNON, Antoine. Literatura para quê? Belo Horizonte: UFMG, 2012. COSSON, Rildo. Letramento literário – teoria e prática. São Paulo: contexto, 2014. DINIZ, Júlio C. V. Literatura em translação. In: GIUMBELLI, Emerson; DINIZ,Júlio C. V.; NAVES, Santusa C. Leituras sobre música popular – reflexões sobre sonoridades e cultura. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008, p. 213219. SÓFOCLES. Édipo Rei. São Paulo: Martin Claret, 2008. PALAVRAS-CHAVE: Crítica cultural; Letramento literário; Samba. Luciano Penelu Bitencourt Pacheco TITULO: “A ARMADILHA”, “O PROCESSO” E A PARÁBOLA MODERNA: FRAGMENTOS DE UMA INCOMPLETUDE RESUMO: Os contos de Murilo Rubião (1916-1991) contribuem para a construção do exíguo panorama da literatura fantástica brasileira. Sob diversos aspectos, suas narrativas dialogam com o realismo fantástico de Franz Kafka e com o existencialismo, no pensamento de Sartre, na obra ficcional e ensaística de Albert Camus e, em linhas gerais, com o sentimento de desamparo e angústia que foi marcante em parte significativa dos intelectuais europeus na primeira metade do século passado. No âmbito dos estudos comparados, este trabalho pretende analisar o conto “A armadilha”, de Rubião, e o romance O processo, de Kafka. Ambas narrativas colocam o leitor diante de situações similares, observando a trajetória de personagens que enfrentam um destino que não podem reverter. A imposição de um incompreensível fardo e de uma pesarosa condição humana são tematizadas nas obras dos dois autores, que, ademais, operam também um retorno ao mundo mítico, apresentando de maneira distorcida a figura do herói, problematizado em uma esfera de modernidade. PALAVRAS-CHAVE: Fantástico; Franz Kafka; Murilo Rubião. Ludimila Moreira Menezes TITULO: TEMPO DE APELOS E PERJÚRIO: A QUESTÃO DO TESTEMUNHO EM CRÔNICA DA CASA ASSASSINADA, DE LÚCIO CARDOSO RESUMO: Essa comunicação pretende analisar a questão do testemunho no romance Crônica da casa assassinada, de Lúcio Cardoso que senão instaura o perjúrio aciona a ambiguidade do texto, os estratos de cada revelação comportam quiasmas, recusas da preservação de um espaço imaculado. Mesmo sob o influxo das narrativas epistolares o romance não herda ou recupera um trabalho de iconicidade, aqui o testemunho rasura a assinatura do autor e impõe uma lei sinestésica na interpretação dos planos real e ficcional. É neste âmbito de assombramentos e riscos catalisados pelo texto-pensamento de Crônica que essa comunicação desde os estudos derridianos e barthesianos sobre a linguagem literária interessa-se com o portar nostálgico do acontecimento lutuoso, o gesto da escritura como abertura radical ao outro. Um romance imerso na questão do testemunho, àquela em torno do segredo, acossados pelo trabalho inelutável do luto que devasta um outro que não cessa de se encriptar, persistindo na escrita. PALAVRAS-CHAVE: testemunho; perjúrio; luto. Luis Alberto Flores Lucini Noeli Reck Maggi TITULO: BARTHES E FREUD: MELANCOLIA APROXIMAÇÕES SOBRE LUTO E RESUMO: O ser na instância da melancolia encontra-se atravessado e alvejado pelo interdito primário de determinado investimento libidinal, enquanto que no luto, tais investimentos sucumbem em processo e são reinvestidos em outro objeto. O corpo carrega, em seu silêncio orgânico, as tortuosas trajetórias das pulsões, assim como, se faz palco e protagonista dos desejos objetivados e recalcados do sujeito. O arcaico inscrito no inconsciente se reinscreve corporeamente, gera e engendra sensações organicistas que conjugadas às relações e interpretações do mundo circundante forjam uma imagem de corpo à um sujeito, que em movimento reverso se reconhece neste fantasma. A escrita, como reflexo da psique, evoca e carrega um corpo como representatividade: suas rupturas, suas euforias e suas angústias. Freud se vale da literatura para ilustrar e compor a teoria psicanalítica. Na análise no percurso do escrever literário constrói uma via, ponte de acesso ao sujeito autor. A obra Fragmentos de um discurso amoroso, (Roland Barthes, 2003), pode ser interpretada para além da intencionalidade do discurso afetivo. Na perspectiva freudiana, no que concerne à melancolia, o crítico e filósofo francês, em suas escrituras e estilo (na concepção barthesiana), deixa escapar quantias de incompletude e dilaceramento de seu ser desejoso. A insatisfação pelo que falta ao sujeito, assim como a angústia e a melancolia fazem morada em determinadas linhas e entrelinhas de sua escrituração. Se objetiva neste exame fazer uma breve análise de excertos da referida obra de Roland Barthes a fim de realçar, pela lente da teoria freudiana, o que pode ser correlativo e abarcado no conceito de melancolia do pai da psicanálise. PALAVRAS-CHAVE: Roland Barthes; Sigmund Freud; Melancolia. Luis Fernando Protásio TITULO: POR UMA HISTÓRIA SEM RESERVAS, A TRADUÇÃO CONTRA A CORRENTE RESUMO: A necessidade da história e, para fazer justiça a sua natureza de lugar de embate de práticas fundamentalmente políticas, também a necessidade de se narrar a história, resistem à sistematização que, não com pouco grau de comprometimento, os sujeitos que a escrevem irão forjar. É essa a medida que a aventura de Nancy Huston, ao tecer e retecer até o ponto da ficção um Samuel Beckett sem reservas, oferece em seu Limbes/Limbo (1998); é esse o peso que Walter Benjamin, reiterando até o ponto da paixão a narrativa de uma história sem reservas (2011), calcula. Em que pese a tradução e seu atributo de intervenção na cultura, como compreende Pym (2010), há uma demanda por metodologias próprias que vem, com maior ou menor sucesso, sendo considerada, em especial a partir do surgimento, nos anos 1980, de um front em defesa da tradução. Com efeito, é o fato de a tradução ser entendida nesses termos que coloca em pauta a necessidade de enfrentar o que parece ser fundamental agora, quando a batalha por um lugar institucional dá sinais concretos de vitória e o passo seguinte começa a se impor: o problema pedagógico da transmissão da tradução. É nesse contexto que a história da tradução ganha relevo. No entanto, para além de responder às perguntas que D’hulst (2001) propõe – perguntas que, embora coloquem em pauta uma discussão autêntica, inscrevem-se numa corrente (os estudos descritivos da tradução) e subscrevem a uma prática (a científica) que merecem, ainda, serem testadas –, é preciso pensar uma história da tradução que, como performance, realize seu próprio objeto – a tradução. Em outras palavras, uma história da tradução como tradução, cujas metodologias próprias, contra a corrente, comemorem, como sugere Christopher Rundle (2012), o que a tradução diz sobre a história, e não o contrário. Referências bibliográficas BECKETT, Samuel. Worstward Ho. In. ___: Nohow On: Company, Ill Seen Ill Said, and Worstward Ho. New York: Grove Press, 2014. BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da História. In.:___. Magia e técnica, arte e política: Ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras escolhidas. Vol. 1. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 2011. D’HULST, Lieven. Why and How to Write Translation Histories. Crop (FFLCH-USP), n° 6, 2001, Número especial: Emerging Views on Translation History in Brazil. Org. John Milton, p. 21-32. HUSTON, Nancy. Limbes/Limbo: Un hommage à Samuel Beckett. Paris: Actes Sud, 1998. RUNDLE, Christopher. Translation as an approach to history. In.: Translation Studies, Vol. 5, No. 2: Special Issue: Rethinking Methods in Translation History. p. 232-248. PYM, Antony. Exploring Translation Theories. London & New York: Routledge, 2010. PALAVRAS-CHAVE: autotradução; história da tradução; ensino da tradução. Luiz Carlos Gonçalves Lopes TITULO: CLARICE LISPECTOR: A LITERATURA E O COMUM RESUMO: Neste estudo pretendemos aproximar a obra da escritora brasileira Clarice Lispector (1920-1977) do pensamento de alguns teóricos contemporâneos como Giorgio Agamben, Jean Luc-Nancy e Georges Didi-Huberman. Partimos do conceito do comum para pensar de que modo esse fio condutor das diversas discussões contemporâneas aparece em textos como A hora da estrela e algumas crônicas reunidas no volume A descoberta do mundo. Além disso, pretendemos também analisar e discutir como se apresenta essa perspectiva do comum nos textos claricianos por meio de diferentes figurações, o que significa dizer que há algo de singular no seu próprio texto. Cabe dizer também que desejamos, sobretudo, aproximarmos dos textos da autora não buscando uma correspondência filosófica, mas pontos de contato e distanciamento. Por fim, relacionaremos a noção do comum a outras questões que reverberam na ficção clariciana e também se encontram no centro do pensamento dos autores supracitados, a saber, a do viver junto, a do prosaico, a do cotidiano, rasurando qualquer tentativa de manutenção de princípios como o de identidade e o de essência. PALAVRAS-CHAVE: Clarice Lispector; Literatura; Comum. Luiz Carlos Santos Simon TITULO: HOSTILIDADES EM REDE: A CRÔNICA E A INDIGNAÇÃO CONTRA PRÁTICAS VIOLENTAS RESUMO: HOSTILIDADES EM REDE: A CRÔNICA E A INDIGNAÇÃO CONTRA PRÁTICAS VIOLENTAS Luiz Carlos Simon (UEL) Os textos de Eliane Brum, assim como as crônicas em geral, exibem grande versatilidade no que diz respeito a assuntos abordados. No caso específico desta autora, acrescenta-se, ainda, sua reconhecida condição de repórter, o que pode pôr em xeque o perfil de cronista para caracterizá-la. O texto aqui selecionado apresenta a peculiaridade de ser um libelo contra a violência, manifestado inicialmente em reação a uma reportagem policial transmitida em programa sensacionalista de televisão, constituindo um exercício de desaprovação a colegas de ofício. O discurso indignado da autora desdobra-se, porém, em alvos variados: um deles é a condição ambivalente de um dos protagonistas da reportagem, que é negro, pobre e ladrão, acusado de cometer estupro e ao mesmo tempo objeto do escárnio dos repórteres, portanto, réu e vítima. Do episódio em si, a autora parte para o exame de diversas situações contaminadas pela atmosfera da violência: do desempenho truculento da imprensa a manifestações do público que o endossa, passando por instituições governamentais e seus agentes não apenas na contemporaneidade mas também em momentos recentes como na ditadura militar. Pretende-se, neste trabalho, avaliar como se constrói essa expressão da indignação diante da violência e que significados ela carrega como produção escrita contemporânea, além de apreciar as formas de interpretação e articulação das práticas violentas com questões como a cor da pele, a masculinidade e o trânsito de textos pelas redes sociais. PALAVRAS-CHAVE: crônica; negro; masculinidade. Luiz Eduardo Oliveira TITULO: DO ESPLENDOR AO OCASO: ASCENSÃO E QUEDA DA LITERATURA NA ESCOLA BRASILEIRA (1837-2002) RESUMO: O ensino de literatura no Brasil foi instituído em meados do século XIX, após uma reformulação do conteúdo de Retórica no Colégio de Pedro II. Todavia, o modo de ensinar literatura permaneceu o mesmo na escola, motivo pelo qual a sua disciplinarização, depois de consolidada pela tradição da história literária, é hoje tão contestada. No Brasil, as Orientações Curriculares para o Ensino Médio referentes aos “conhecimentos de literatura”, publicadas em 2006 – foram produzidas com intenções explícitas de confronto em relação aos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, de 2002, que pôs em questão o próprio lugar da literatura no Ensino Médio, ousando comparações entre Machado de Assis e Paulo Coelho, motivo pelo qual o documento de 2006 assumiu a postura de uma defesa da especificidade da literatura, reivindicando a sua presença no currículo e sua condição de disciplina escolar, o que dá ao documento um aspecto saudosista de uma época em que a disciplina gozava de um status privilegiado ante as demais, pois significava, sobretudo, um “sinal distintivo de cultura”. Por outro lado, os estudos históricos sobre disciplinas escolares têm sido unânimes em detectar, como uma espécie de estrutura paradigmática, um processo de surgimento, ascensão, decadência e morte de certas disciplinas que faziam sentido no currículo somente em determinados contextos sócio-históricos, ou que, a despeito de manterem a mesma designação, mudaram radicalmente o seu sentido e propósitos. Este texto busca problematizar o lugar da literatura no currículo escolar como uma entidade cultural específica, concebendo a escola, do ponto de vista histórico, como uma instância a partir da qual os saberes – inclusive os literários, ou oriundos da história literária – são elaborados, ensinados e aprendidos, uma vez que precedem, em muitos casos, a sua constituição como conhecimento acadêmico ou científico. PALAVRAS-CHAVE: ensino de literatura; história da educação; história literária. Luiz Guilherme Ribeiro Barbosa TITULO: SUJEITOS À LITERATURA: O DIREITO, A FORÇA E O CURRÍCULO NO TRABALHO COM O TEXTO LITERÁRIO NA EDUCAÇÃO BÁSICA RESUMO: A partir da experiência com oficinas literárias desenvolvidas no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, com alunos do ensino médio, esta comunicação se propõe a pensar o lugar da literatura no currículo da escola básica, considerando-se as contribuições da Teoria Literária no tensionamento dos discursos hegemônicos. Assim, será considerada a reflexão de Tzvetan Todorov acerca do ensino de literatura, atentando-se para a dificuldade em aplicar tais reflexões à realidade brasileira. Se, no contexto francês, cabe a crítica de Todorov a uma teoria que se evidencia demasiado no ensino da literatura em escolas, parece-nos que no contexto brasileiro o intuito de transformar a teoria numa "ferramenta invisível" já ocorre, mas com base na tradição crítica constituída a partir das reflexões de Antonio Candido e sua institucionalização em universidades brasileiras e, em consequência, na formação dos professores e na produção dos livros didáticos. A nossa hipótese é de que é nessa dificuldade de transpor as reflexões de Todorov ao contexto brasileiro que reside o campo de reflexão teórica dedicado ao ensino da literatura no Brasil, marcado, por um lado, pela reflexão de Antonio Candido com base na categoria dos direitos humanos, e por outro pelas diversas teorias da Linguística Textual que embasam os documentos oficiais acerca do ensino da literatura nas escolas, a exemplo dos Parâmetros Curriculares Nacionais. É necessário empreender uma crítica a tais discursos caso se deseje lidar com a literatura no ensino básico como uma força de constituição subjetiva dos alunos. PALAVRAS-CHAVE: Oficina literária; PCNs; Força. Luiz Manoel da Silva Oliveira TITULO: INTERTEXTUALIDADE, PARÓDIA E NARRATIVA DE DISRUPÇÃO EM WISE CHILDREN, DE ANGELA CARTER RESUMO: Com ênfase principal nos efeitos dos entrelaçamentos entre intertextualidade e paródia e na consequente narrativa de disrupção e afastamento das temáticas e formas mais tradicionais de se conceber o gênero literário "romance", que Wise Children da escritora inglesa contemporânea Angela Carter apresenta, pretende-se fazer com este trabalho uma série de reflexões acerca da diversidade dos papéis dialógicos intertextuais e parodísticos que os textos ficcionais mantêm entre si, para a reconfiguração de temáticas, o desafio ao cânone literário tradicional e a desestabilização das conceituações mais ortodoxas que sempre se cristalizaram em torno da conceituação de "romance". Com o concurso das concepções sobre intertextualidade e paródia que teóricos como Julia Kristeva, Roland Barthes, Gérard Genette, Linda Hutcheon, dentre outros/as, oferecem, intenta-se compreender algumas das contribuições que esses recursos narrativos oferecem para a reconsideração e a problematização do próprio romance como gênero literário polifônico e propugnador de temáticas inusitadas, de instituição de vozes marginalizadas e antes silenciadas e de potencialidades desafiadoras da hegemonia patriarcal sobre a narrativa, as temáticas e as formas de se conceituar “romance”. Nesse sentido, também se apreciarão, em consequência, os resultados que o deslocamento da hegemonia androcêntrica patriarcal acarretará nas temáticas, nos traços da narrativa e nas formas de desconstrução de “romance”, graças às contribuições de aspectos relevantes das teorias feministas. PALAVRAS-CHAVE: Intertextualidade; Paródia; Disrupção. Luiza Franco Moreira TITULO: HABITAR O VÁCUO: RESSONÂNCIAS ENTRE ROSA DO POVO E CLARO ENIGMA RESUMO: Esta comunicação se volta para dois livros de Carlos Drummond de Andrade publicados na metade do século XX. Como se sabe, entre 1945, quando Drummond publica A rosa do povo, e 1954, quando sai Claro enigma, o poeta rompe com o comunismo. A crítica costuma compreender a diferença entre o tom dos dois livros no contexto desta mudança política. Quero chamar atenção para a maneira como Claro enigma dialoga com A rosa do povo, retomando imagens e motivos para desenvolvê-los em direções divergentes. Esta retomada irônica fica bem evidente no tratamento que o espaço da cidade recebe: a “cidade prevista” de uma solidariedade universal, que se afirma em A rosa do povo retorna, no livro seguinte, através de uma interrogação angustiada: “povoações/ surgem do vácuo./ Habito alguma?” PALAVRAS-CHAVE: Carlos D. de Andrade; Rosa do Povo; Claro Enigma. Luz Adriana Sánhez Segura TITULO: MEMORIAL DE AIRES, O MAL-ESTAR NO ACONTECIMENTO DA ESCRITA MEMORIALÍSTICA RESUMO: Memorial de Aires (1908), último romance de Machado de Assis, foi lido por décadas como sintoma da reconciliação de seu autor com a vida, sendo identificados em seu protagonista os traços mais característicos de sua maturidade. Posteriormente, foi objeto de uma leitura concentrada na relação entre ficção e história, caracterizada pela identificação e corroboração de fatos acontecidos no Brasil, na transição do Segundo Império à República. Sob essas duas vertentes de leitura, o romance foi valorizado em suas possibilidades de representação de uma determinada realidade, isto é, como testemunho, sendo assim desconsiderada sua potência como texto ficcional. Tentaremos aqui uma interpretação do romance à luz de Memórias póstumas de Brás Cubas (1880) e Dom Casmurro (1899), romances também narrados por seus protagonistas, sem a intervenção de qualquer outro narrador. Os três protagonistas, Brás, Bento Santiago e Aires, expressam através de suas escritas as contradições da sociedade carioca oitocentista, o mal-estar de uma nação modernizada às pressas graças à aceleração econômica e suportada em uma estrutura social colonial-escravista. Os três são homens abastados, filhos de proprietários, que encaram a escrita como uma tarefa aparentemente desinteressada, isto é, cujos efeitos estariam restritos aos seus próprios produtores; uma atividade, contudo, surgida no clima paradoxal de uma sociedade liberal sustentada material e simbolicamente pela exploração do trabalho escravo e daquele realizado pelos homens brancos desprovidos de capital, esses homens livres/homens-cosa expropriados, “escravos” também da dinâmica do favor (Cf. FRANCO, 1997). Em sintese, uma interpretação que procura ver no Memorial um romance que sob a transparência do diário como tipo textual cria um jogo, extremadamente sutil, entre o real e o ficcional, que problematiza conceitos associados à leitura do romance como um livro cujo valor estaria concentrado na representação de uma determinada verdade histórica e/ou biográfica. PALAVRAS-CHAVE: memória; escrita; abolição. Luzia Rodrigues da Silva TITULO: O TEXTO LITERÁRIO NA SALA DE AULA: A FORMAÇÃO DO LEITOR EM QUESTÃO RESUMO: Neste trabalho, apresento recortes de uma pesquisa – de caráter metodológico qualitativo e etnográfico – realizada em uma escola pública do Ensino Básico. Demonstro eventos de letramento da sala de aula – gravados em áudio e transcritos – e analiso como os textos literários são estudados nas aulas de Língua Portuguesa e em que medida tal estudo contribui para que as/os estudantes desenvolvam seu potencial crítico e sua capacidade para agir e interagir em diferentes domínios e práticas sociais. Concebendo a linguagem como parte irredutível das práticas sociais (FAIRCLOUGH, 2003), apoio-me nos pressupostos teóricos e metodológicos da Análise de Discurso Crítica (FAIRCLOUGH, 2003 e CHOULIARAKI) e nos fundamentos que ancoram os Novos Estudos do Letramento (STREET, 1984, 1993; BARTON e HAMILTON, 1998). Essas duas abordagens visam a práticas sociais concretas, fortalecedoras e transformadoras. Desse modo, podem contribuir para uma nova prática de ensino que possibilita às/aos estudantes uma visão crítica da realidade, fortalecendo suas identidades como indivíduos e como grupo. O resultado deste estudo indica que as professoras, sujeitos da investigação, lidando com os textos literários como fenômenos culturais, contribuem para o processo de humanização dos indivíduos (CÂNDIDO, 1995). Elas, assim, rompem com uma prática pedagógica tradicional e adotam um letramento como prática social, o que instaura eventos comunicativos socialmente situados, contribuindo, desse modo, para a formação de leitores/as críticos/as, abertos/as a questionamentos e mudanças em relação a crenças e valores e, mais profundamente, a mudanças de práticas sociais. PALAVRAS-CHAVE: Letramento; sala de aula; Textos literários. Lyanna Costa Carvalho TITULO: TENSÕES E CONTRADIÇÕES DAS NARRATIVAS DA NAÇÃO: O PROJETO DE APAZIGUAMENTO DO PASSADO ESCRAVISTA RESUMO: Este trabalho procura, a partir de uma perspectiva teóricometodológica dos atuais estudos da Literatura Comparada, observar, no discurso intelectual das últimas décadas do século XIX, a construção do lugar do exescravo negro na sociedade brasileira. Assis Chateabriand, em 1922, compara o contexto brasileiro ao estadunidense para explicar que, no Brasil, o ex-escravo, “praticamente da família”, encontrara parca resistência em sua inserção social após o 1888. Assim como Chateaubriand, vários intelectuais brasileiros, como Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Afonso Celso, debruçaram-se sobre o assunto, e partimos de alguns destes textos para verificar o tratamento deste tema do escravo recém liberto por estes intelectuais como exemplo de uma característica das "narrativas" (Bhabha, 1990) típicas do "colonialismo interno" (Mignolo, 2002). Especificamente, levantamos a hipótese de que uma espécie de ideologia do negro inserido, presente em diversas perspectivas nestes textos, não só silencia uma tensão histórica entre, de um lado, a importação de valores liberais em uma pretensão universalista, e, de outro, a sua incorporação na lógica específica da colônia, como fortalece os contornos do que passa a caracterizar as relações específicas de dominação resultantes desta lógica, em situações como o clientelismo, o apadrinhamento, e uma série de interações sociais calcadas no "favor" (Schwarz, 2000). Referências bibliográficas BHABHA, Homi K. Nation and narration. London, New York: Routledge, 1990 CHATEAUBRIAND, Assis. “El Brasil politico y social”. LA NACIÓN. Un homenaje al Brasil en la fecha de su primer centenario. Buenos Aires: La Nación, 1922. MIGNOLO, Walter. “Introduction to Volume II”. VALDÉS, Mario e KADIR, Djelal. Literary Cultures of Latin America: A Comparative History. NewYork: Oxford, 2002. SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas: Forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro. São. Paulo: Ed. 34, 2000. PALAVRAS-CHAVE: narrativas nacionais; inserção do negro; abolição. Márcia dos Santos do Nascimento TITULO: ETNOPOÉTICAS E ETHOS CULTURAL: A REPRESENTAÇÃO DO CORPO NEGRO NA ESCRITA, NA PAISAGEM E NA DIÁSPORA AFRICANA RESUMO: Este artigo propõe os resultados parciais obtidos na pesquisa de pósdoutorado sobre uma das vertentes do campo sócio-político nas representações, figurações e subjetividades contemporâneas na diáspora africana, qual seja, a representação do corpo negro na escrita e na paisagem. Por meio de um instrumental teórico baseado nos conceitos em construção de etnopoéticas, ethos cultural, autoetnografia (auto = sujeito; etno = sujeito inserido no grupo cultural; grafia = escrita), interpretação de culturas e tradução cultural. Parte-se da hipótese que tais literaturas, ao lidar com questões de formação de identidades e seus respectivos sistemas culturais, constroem um sentimento coletivo de comunhão étnica, teoria de Max Weber, partilhando um sentimento subjetivo de comunidade e uma ação política em comum. Tal ação coletiva ajuda a construir o conceito de identificação de grupo social e a noção de pertencimento a um lugar de afeto. Ao lidar com uma geografia da guerra, por exemplo, violenta e traumática, reelaboram seus repertórios poéticos/narrativos dando voz aos silenciamentos, o que os remete ao método dialógico da autobiografia ou autoficção, um modo novo de “contar” ou “narrar” as ações do passado, do presente ou do futuro que inscreva, através de uma “assinatura negra” ou “autoridade etnográfica”, a dimensão de raça/etnia na superfície plana da página escrita ou das palavras proferidas. Pretende-se apresentar a análise comparativa no percurso poético de Edimilson Pereira e Ruy Duarte em três dominantes culturais: 1) Teorias literárias da modernidade: estudos sobre as poéticas da modernidade e teorias pós-colonialistas no circuito cultural afro-luso-brasileiro; 2) Paisagens etnopoéticas: estudos sobre a exclusão ou inclusão de negros no processo de construção e formação das literaturas da diáspora negra; 3) Etinicidades, metamorfoses e performances: estudos sobre o tratamento literário da questão do corpo social negro-africano. PALAVRAS-CHAVE etnopoética; comunhão étnica; corpo social negro. Márcia Eliza Pires TITULO: EQUIVALÊNCIAS - MELANCOLIA E SOLIDÃO EM CECÍLIA MEIRELES E BAUDELAIRE RESUMO: No inventário poético de Cecília Meireles (1901-1964) melancolia e solidão (em grande parte das vezes) estiveram unidas, em constante estado de complementariedade. Essa fiel parceria promoveu o assentamento de muitos aspectos do eu lírico ceciliano: a preferência pelo afastamento da turba, a escolha pela relação com as coisas e seres ao redor por meio da percepção subjetiva (dotada, por sua vez, de intensa inventividade e autonomia). Numa espécie de defesa da célebre sentença latina "In vino veritas", o eu lírico ceciliano - no poema "Vinho" por exemplo, adere ao refinamento de ideias suscitado pela bebida, em especial o aprofundamento do contato com as diversas porções de sua personalidade cindida. Sorvendo o vinho, num misto de lucidez e desespero, o eu ceciliano inicia a tentativa de unificar os inúmeros fragmentos vislumbrados. A paradoxal noção de mostrar-se lúcido por meio da embriaguez, confere ao sujeito poético de Cecília consonâncias com o “moi lyrique” de Baudelaire (1821-1867) presente nos poemas Énivrez-vous e “À une heure du matin”. Tal qual o eu lírico ceciliano, o sujeito poético de Baudelaire é dado às horas solitárias, aos espaços ermos (reais e inventados), à apreciação das bebidas que inspiram constatações vindas com o refinamento das ideias. De nossa parte, propomos justamente observar as similaridades entre essas duas geniais vozes líricas: a poetisa carioca Cecília Meireles e o francês Baudelaire. PALAVRAS-CHAVE: Cecília Meireles; Baudelaire; solidão Márcia Elizabeti Machado de Lima TITULO: CAPITÃES DA AREIA E CINCO BALAS CONTRA A AMÉRICA: ESTRATÉGIAS DE CONSTRUÇÃO DA VEROSSIMILHANÇA RESUMO: O presente trabalho configura-se em pequena mostra da pesquisa de Doutorado em andamento intitulada Capitães da Areia e Cinco Balas Contra a América: Arte Engajada ou Populismo Literário? A obra Capitães da Areia, do brasileiro Jorge Amado, produzida em 1937, traz à cena romanesca personagens juvenis que travam lutas diárias pela sobrevivência, no contexto de SalvadorBahia. Quanto a Cinco Balas Contra a América, do cabo-verdiano Jorge Araújo, traz personagens juvenis colocados a serviço do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde). A produção é de 2009, mas remete-se e recria a realidade sócio-histórica das lutas por independência, no espaço da cidade de Mindelo, em Cabo Verde. No presente recorte da pesquisa focamos a atenção nas estratégias de construção da verossimilhança empregadas pelos dois autores. Em relação a Jorge Amado, procuramos desvendar como o narrador, supostamente, referencia a realidade na abertura da narrativa, nas cartas endereçadas ao Jornal da Tarde. Em Jorge Araújo centramos a atenção em como o narrador tece a conclusão da trama, com a biografia de cada um dos personagens, em que informa ao leitor o destino que tiveram. Tendo um deles, inclusive, o nome de um Ditador português, o qual repudiava e fazia questão de ser chamado pelo apelido de um revolucionário mexicano. Nosso trabalho vincula-se à Literatura Comparada, por compreender a investigação literária que joga luzes sobre a forma e o conteúdo de duas ou mais literaturas. Ampliamos o olhar sob as lentes teóricas e críticas dos autores: (ABDALA Jr, 1989; 2007); (BERGANO, 2008); (BENOIT, 2002); (SARTRE, 1999); (BALIBAR & MACHEREY, 1976), entre outros. PALAVRAS-CHAVE: Literatura Comparada; Verossimilhança ; Personagem. Márcia Ivana de Lima e Silva TITULO: NOTAS SOBRE O ROMANCE BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO RESUMO: Tendo em vista o predomínio de narradores em primeira pessoa, narrador-protagonista, no romance contemporâneo brasileiro, o presente trabalho aborda duas questões centrais: 1. De que modo esta opção narrativa afeta a matéria narrada, a saber, a representação da realidade brasileira? 2. O que esta marca de narração pode apontar em termos de capacidade de representação do romance contemporâneo no Brasil? A partir de tais questões norteadoras, serão analisados alguns romances, publicados no Brasil entre 2000 e 2011, tentando verificar sua proposta de renovação ou de repetição da tradição romanesca brasileira, tendo como base as reflexões teóricas de Beatriz Sarlo, de Christopher Lasch, de Paul Ricoer. PALAVRAS-CHAVE: Romance contemporâneo; Representação; Narrador. Márcia Maria Oliveira Silva TITULO: REALIDADE SÓCIO-HISTÓRICA, IDENTIDADE CULTURAL E SUBALTERNIDADE: MAPEANDO O INDIVÍDUO PÓS-COLONIAL EM JAMAICA KINCAID, DIONNE BRAND E CONCEIÇÃO EVARISTO RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar três romances que criam espaços para uma consciência pós-colonial a partir de três realidades distintas (Estados Unidos, Canadá e Brasil). Mulheres escritoras que apresentam em seus textos uma conexão com o contexto pós-colonial geralmente abordam questões socioculturais significativas para a reflexão e o entendimento de temáticas como etnicidade, raça, poder, sexo, gênero e classe social. Com objetivo de concretizar o sonho de descolonização (SANTOS & MENESES, 2010) Jamaica Kincaid (Estados Unidos), Dionne Brand (Canadá) e Conceição Evaristo (Brasil) traçam em seus romances Mr. Potter, At the Full and Change of the moon e Becos da Memória (respectivamente) uma jornada de descolonização de corpos, mentes e culturas baseada na percepção que a identidade é fruto de uma negociação constante (POLLAK, 1992; FIGUEIREDO, 2010) e que memória, espaço e identidade são responsáveis por interpelar a realidade sociocultural dos indivíduos num processo ininterrupto. As interpelações se desenvolvem a partir das experiências das personagens, frutos das sociedades ‘multiculturais’ que não escondem uma ‘consciência colonial/imperial’ como fator para o estabelecimento das relações sociais, revelando as nuances da colonialidade do poder (QUIJANO, 1997) e a subalternidade (SPIVAK, 2010). Referências Bibliográficas: BRAND, Dionne. At the full and change of the moon. New York: Grove Press, 1999. EVARISTO, Conceição. Becos da Memória. Belo Horizonte: Ed. Mulheres, 2013. FIGUEIREDO, Eurídice. Representações de etnicidade: perspectivas interamericanas de literatura e cultura. Rio de Janeiro: Editora 7 letras, 2010. KINCAID, Jamaica. Mr. Potter. New York: Farrar, Straus & Giroux, 2002. POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Rio de Janeiro: APDOC, 1992. QUIJANO, Anibal. Colonialidad del poder, cultura y conocimiento en América Latina. Anuario Mariateguiano, v. 9, n. 9, 1997. SANTOS, Boaventura de Sousa & MENESES, Maria Paula (orgs.). Epistemologias do Sul. Rio de Janeiro: 2010. SPIVAK, Gayatri. Pode o Subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. PALAVRAs-CHAVE: Jamaica Kincaid; Dionne Brand; Conceição Evaristo. Márcia Plana Souza Lopes TITULO: O "EU" NA POESIA DE ARNALDO ANTUNES RESUMO: A comunicação trata-se do estudo sobre a poética de Arnaldo Antunes, num reflexo de como se lendo Arnaldo Antunes se chega a uma diversidade de autores de diversas época. Um estudo que explora o “eu” na poesia contemporânea, pauta inclusive no século XXI, em que elementos tecnológicos, científicos e artísticos avançam num tempo que se exige rapidez e marca transtornos socioculturais. É neste espaço e tempo que o artista Antunes se apropria do fazer (poiésis). Seus trabalhos são realizados pelo código verbal em interação com as múltiplas linguagens artísticas como a música, a pintura, a arquitetura, a fotografia, o desenho, o cinema, além da poesia, desde a década de oitenta. Para refletir, o “eu” que se desmistifica em ser lírico e/ou não lírico no corpo da poesia que se configura como “signo de” ao ser “coisa viva” que tenciona as palavras como corpo estranho no mundo da linguagem, que pende a outras artes sem deixar de obter o teor poético. PALAVRAS-CHAVE: poesia; trânsito; linguagem. Márcia Rejany Mendonça TITULO: O ENSINO DE LITERATURA ÀS VOLTAS COM O PRAZER E A OBRIGAÇÃO RESUMO: Em textos de autores que discutem sobre as funções e o ensino da Literatura, lemos, frequentemente, que o papel essencial de uma obra literária é o de “construir e reconstruir a palavra que nos humaniza” e que a literatura é uma forma de compreensão do mundo. Efetivamente ela contribui para desenvolvimento crítico e humano do leitor, pois nela há um aprendizado de caráter subjetivo que quando alcançado auxilia, significadamente, no modo do leitor perceber e apreender o mundo. Desse ponto de vista compartilham Cosson e Compagnon. Para Cosson (2011, p. 120), a “proposta de letramento literário mostra o caminho que percorremos para fazer da literatura na escola aquilo que ela é também fora dela: uma experiência única de escrever e ler o mundo e a nós mesmos”. Para Compagnon (2009), a literatura favorece a reflexão sobre as relações que permeiam a natureza humana através do diálogo entre texto e leitor. Nesse sentido, acreditamos que durante os instantes que nos dedicamos ao texto, desejamos, em nosso íntimo, ser transportados para o mundo imaginário construído pela narrativa, e que ao término, fique em nosso interior, algo da experiência vivida durante a leitura. Ler, nesse caso, torna-se um aprendizado complexo, pois, a percepção do leitor, ampliada pela leitura seja em relação a aspectos subjetivos ou práticos, repercute nos âmbitos social e cognitivo. Mas, considerando a Literatura como matéria educativa, o ambiente de sala de aula, o modo de avaliar as leituras de obras literárias e o que se entende por Literatura cria-se um embate entre o prazer e a obrigação. Neste trabalho, pretendemos refletir sobre as leituras solicitadas aos alunos pelo professor e aquelas que os alunos realizam por “livre escolha”, numa tentativa de amenizar o caráter da obrigatoriedade que se reveste a leitura de obras canônicas no ambiente de sala de aula. PALAVRAS-CHAVE: Letramento Literário; Literatura; Ensino. Márcia Rios da Silva TITULO: TRAMAS E NARRATIVAS CONTEMPORÂNEAS PARA CONTINUAR AMADO RESUMO: Esta comunicação tem como objetivo apresentar uma reflexão preliminar acerca das estratégias atuais de divulgação dos romances de Jorge Amado para a manutenção de sua recepção de público. Toma-se como divisor temporal o período que sucede o falecimento do escritor, ocorrido em 2001, para se proceder a um levantamento das formas de divulgação de sua produção literária, sobretudo aquelas promovidas pela Fundação Casa de Jorge Amado e a casa editorial que passa a publicá-lo a partir de 2008. Essa investigação será desenvolvida considerando o contexto contemporâneo de expansão de meios e mediações (BARBERO, 2003) na divulgação de produções artísticas e literárias, particularmente com a ampliação das plataformas digitais, que impõe um redimensionamento da “partilha do sensível” (RANCIÈRE, 2009). PALAVRAS-CHAVE: recepção; contemporaneidade; Jorge Amado. Márcia Valéria Martinez de Aguiar TITULO: “MEU GRANDE TRADUTOR E CARO AMIGO”: JEAN-JACQUES VILLARD, TRADUTOR DE GUIMARÃES ROSA RESUMO: Em 1961, sai na França o primeiro livro de Guimarães Rosa lançado no exterior, “Buriti”, na tradução de Jean-Jacques Villard. Entusiasmados, críticos importantes como Armand Guibert e Hubert Juin saúdam a tradução. Poucos autores estrangeiros, diz Juin, “beneficiaram-se de uma tradução comparável à de Villard”, que, completa Guibert soube “deixar intacta a poesia do livro”. Paulo Rónai, reconhecendo os méritos das versões de “Grande sertão: veredas” de Jean-Jacques Villard e de Curt Meyer-Clason, observa que o tradutor alemão possui “uma ‘Grundlichkeit’ digna de todo o respeito”, mas que o tradutor francês é muitas vezes mais engenhoso que ele. Ao contrário, porém, de Curt Meyer-Clason, reconhecido pelos estudiosos da tradução brasileiros como o grande tradutor alemão de Guimarães Rosa, nada sabemos de Jean-Jacques Villard. Muitas vezes reduzido à alcunha ambígua de “tradutor profissional”, suas traduções são frequentemente rechaçadas sem um exame mais acurado. Esta comunicação pretende resgatar, a partir de sua correspondência com Guimarães Rosa, um pouco da história desse tradutor do português, inglês, alemão, holandês e espanhol, a quem devemos não apenas as traduções de “Grande sertão: veredas” e “Corpo de baile”, mas de “Barca dos homens”, de Autran Dourado e de “Sobre héroes y tumbas” de Ernesto Sabato. PALAVRAS-CHAVE: Guimarães Rosa; Jean-Jacques Villard; Tradução. Márcio Matiassi Cantarin TITULO: NOTAS SOBRE UMA “REBELIÃO DE SELVAGENS”: REENCENAÇÕES DA GUERRA COLONIAL NA OBRA DE LÍDIA JORGE E MARGARIDA CARDOSO RESUMO: O romance A costa dos murmúrios (1988), de Lídia Jorge e o filme homônimo (2004), realização de Margarida Cardoso, reencenam, de modo diverso, como não poderia deixar de ser, uma vez que é diverso o registro tomado por literatura e cinema, alguns aspectos do conflito entre portugueses e moçambicanos por ocasião da chamada “guerra do ultramar”. Ambas as obras encaminham suas reflexões a partir do olhar de mulheres, para quem o conflito bélico está fisicamente mais distante e chega filtrado pelo discurso oficial. Resguardadas as especificidades de cada gênero, este trabalho objetiva cotejar as duas obras a fim de compreender como cada uma delas representa, dentro do quadro mais amplo das violências experimentadas no período, a violência particular experimentada pelas mulheres dos militares portugueses. Compreender de que maneira essas mulheres revisitam os traumas do passado para elaborarem suas perdas ajuda a compreender o papel que tiveram nos processos de descolonização de África e de si mesmas. PALAVRAS-CHAVE: pós-colonialismo; Feminismo; Guerra do ultramar. Mário Cezar Silva Leite TITULO: UM ROMANCE CUIABANO-NEOBARROCO? “O SALÁRIO DOS POETAS” E A MEMÓRIA DAS DITADURAS LATINO-AMERICANAS. RESUMO: Em linhas entre-tramas, neste trabalho, observou-se as possíveis relações, conexões, transvergências, entre a produção literária brasileira/matogrossense, com o romance “O Salário dos Poetas”, de Ricardo Guilherme Dicke, e o pensamento crítico latino-americano Alejo Carpentier, Antônio Candido, Hugo Achugar, Alberto Moreiras, Walter Mignolo, Julio Cortazar. Na trama principal, o romance sobre ditaduras e ditadores. Na trama de entrelaces, o pensamento latino-americano sobre a produção literária e artística, sobre ser latino americano, por pensadores, escritores e intelectuais latino-americanos. A investigação debruçou-se sobre a relação entre as concepções e teorias sobre o pensamento latino-americano, e sua narrativa, configurado ou não, de modo geral, no romance, nas poéticas, sobre as ditaduras latino-americanas. Importou, centralmente, verificar as medidas, ou “desmedidas”, que o autor encontrou, a partir de uma possível forma de pensar latino-americana, as epistemes, para elaborar artística e ficcionalmente períodos e regimes de exceção e violência. PALAVRAS-CHAVE: Neobarroco; Ditaduras; Romance. Mírian Sousa Alves Maria do Rosário Alves Pereira TITULO: POESIA E LIBERDADE: O PERSONAGEM-ESCRITOR E AS POTENCIALIDADES DA REDE RESUMO: Este trabalho propõe uma análise da construção de dois personagens ficcionais que veem a internet como possibilidade de escape. O primeiro deles é Simon, personagem do filme “As confissões de Henry Fool” (EUA, 1997), de Hal Hartley e o segundo, é o protagonista do romance de Bernardo Carvalho, intitulado “Reprodução” (BR, 2013). Tratam-se de personagens que parecem viver entre o delírio e a vida cotidiana, exibida como um painel sórdido e decadente. Por diferentes razões, ambos encontram-se presos em seus cotidianos e a escrita na rede se oferece como possível saída. Como referencial teórico, a análise utiliza o trabalho de Rainer Guldin, “Pensar entre línguas – a teoria da tradução de Vilém Flusser”, como principal pilar. Outros autores que investigam as relações entre língua e identidade também iluminam a análise, tais como Arlindo Machado (O sujeito na tela) e Vilém Flusser (Língua e realidade). O resultado é a percepção das diferenças e semelhanças que se delineiam na construção desses personagens que marcam a passagem do período em que a internet ainda estava em seus primórdios (Henry Fool) aos dias atuais, aqui percebido no romance de Bernardo Carvalho. PALAVRAS-CHAVE: literatura; vida social; escrita na rede. Mónica Fabiola González García TITULO: TRANSCULTURACIÓN, TRANS-AMERICANIDAD Y TRANSEPISTEMOLOGÍA: PARADIGMAS DE TRÁNSITO Y TRANSGRESIÓN EN LAS AMÉRICAS RESUMO: Cuando Fernando Ortiz escribió Contrapunteo cubano del tabaco y el azúcar en 1940, no pensó que su neologismo “transculturación” experimentaría tantas apropiaciones y corolarios en décadas posteriores. En la época, Ortiz intentaba superar el paradigma antropológico de la “aculturación” utilizado por Bronislaw Malinowski para entender la imposición forzada de una cultura sobre otra. Más allá que la recepción pasiva de una cultura instalada por coerción y/o seducción sea una noción superada, las yuxtaposiciones de razas y culturas propias de un territorio sucesivamente colonizado, han dado lugar a nuevas maneras de pensar la resistencia. Los espacios abiertos por el tránsito entre formaciones culturales americanas—continente-síntesis del planeta a partir de 1492 y continente-antonomasia de las dialécticas de jerarquización cultural y racial que Aníbal Quijano e Imnanuel Wallerstein resumen en el concepto “americanidad”—son examinados por los Estudios Trans-americanos, cuya óptica global visibiliza viejos y nuevos mecanismos de desigualdad cultural, racial, política y económica en nuestro continente, identificando formas diversas de resistencia. Este patrón de análisis busca desmantelar las estructuras de poder que afectan a diversas subalternidades del continente. En este marco, propongo pensar la resistencia actual desde el tránsito entre constelaciones que determinan nuestra manera de concebir el mundo y que Michel Foucault llama “episteme”. Con el neologismo “trans-epistemología” busco identificar los saberes críticos que, como Gayatri Spivak espera del intelectual postcolonial, cuestionan las epistemes hegemónicas con el fin de desmantelar las formas de opresión creadas por la colonialidad de poder en las Américas y exportadas mediante la americanidad—si seguimos a Quijano y Wallerstein—al resto del planeta. En consecuencia, examino las potencialidades teóricas de la transculturación, la trans-americanidad y la transepistemología a partir de sus aplicaciones a la literatura de José María Arguedas (Rama), la autohistoriateoría de Gloria Anzaldúa (Saldívar) y a la antropofagia de Oswald de Andrade. PALAVRAS-CHAVE: transculturación; transamericanidade; transepistemología. Mônica de Menezes Santos TITULO: FRAGMENTOS DA INFÂNCIA EM "AQUELA ÁGUA TODA", DE JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA RESUMO: Através da leitura do livro de contos "Aquela água toda" (2013), do escritor paulista João Anzanello Carrascoza – rubricado na ficha catalográfica como obra juvenil –, pretende-se, neste trabalho, discutir como esse autor, por intermédio de uma prosa poética e delicada, pasma em cada um dos contos da obra, a partir de fragmentos aparentemente simples do cotidiano de personagens infantis, o olhar de uma criança descortinando o mundo: a descoberta do primeiro amor e o primeiro beijo; o reencontro de um menino com o mar e o seu encantamento com aquela imensidão; um simples acordar em um dia de domingo em família; a primeira decepção com um amigo na escola; uma discussão entre os pais por conta do atraso do aluguel etc. O objetivo é discutir como o autor subverte no livro o mito da infância como momento da inocência e da felicidade e nos indica novas maneiras de se olhar para as crianças. PALAVRAS-CHAVE: Literatura juvenil; João Anzanello Carra; Imagens da infância. Madalena Aparecida Machado TITULO: A ANGÚSTIA DA BUSCA PÓS-MODERNA NA OBRA CERIMÔNIAS DO SERTÃO DE RICARDO DICKE RESUMO: Este trabalho pretende investigar as nuances do pensamento na literatura do escritor Ricardo Guilherme Dicke (1936-2008). O mato-grossense expõe na sua escrita narrativa, a problematização do presente no que tange ao homem se encontrar num momento de angústia, por não se identificar no mundo moldado pela submissão às coisas, ao senso comum. Questão premente desde os primórdios da literatura, no entanto, em Dicke, o pensamento toma forma de uma indagação voltada à transcendência, saber que o homem não se reduz à matéria. Nessa literatura, o corpo pensante é o homem narrativa marcado pelo não situar em meio ao consumo, denúncia de exploração do homem à natureza, ao semelhante, o que causa um processo de indagação ao não se encontrar entre as coisas. Busca entre a incessante movimentação do corpo, a aquietação do silêncio, propício à reflexão do sensível, a música, procura pela beleza, o saber de si conhecendo o outro. Assim, o romance Memórias do sertão (2011) investiga uma humanidade que se coloca em questão desde a busca empreendida por saber da beleza, provavelmente encontrada na mulher, natureza, um tratado de filosofia entre outros. Nosso trabalho se pauta em compreender teoricamente as angústias da pós-modernidade na literatura de Ricardo Dicke, com Zigmunt Bauman, Ética pós-moderna (1997), Giorgio Agamben, O que é o contemporâneo? (2009), contrastando com as refutações de Terry Eagleton na obra, As ilusões do pós-modernismo (1998). PALAVRAS-CHAVE: angústia; pós-modernidade; busca. Magali dos Santos Moura TITULO: A FANTÁSTICA "HISTÓRIA DO DR. J. FAUSTO" OU DE COMO SE DOMESTICAR O CORPO E A MENTE RESUMO: O presente trabalho se deterá na análise da narrativa renascentistamoderna História do Dr. Fausto, editada por Spies em 1587, cujo tema é conhecido pelo público brasileiro sobretudo através do Fausto de Goethe. Com ela é inaugurada a tradição narrativa em torno dessa figura histórico-literária que surge em uma época limítrofe. Despedindo-se da cultura medieval, começava-se a abraçar um novo modo de pensar que punha de lado um mundo povoado por seres e ações extraordinárias, necessariamente ininteligíveis, clamando-se, a partir de então, pelo uso da razão como força de dominação, tanto de si como do mundo. Hoje nos encontramos em meio a outro tipo de magia – a do clique do mouse que nos transporta, em um piscar de olhos, para outros mundos. Este feito, aparentemente mágico, é fruto direto do pensar matemático, base do mundo moderno. Em paralelo à expansão globalizante da rede mundial de computadores e do sistema econômico neoliberal, narrativas recheadas de mundo fantásticos grassam nas listas de livros mais vendidos e insistem em causar um contrafluxo ao mundo ordenado e aparentemente em evolução. Assim nos vemos entre razão e fantasia, entre engenho e sensação – mesmo dilema que transparece na história do pactário e que dela nos aproxima. Saindo da vida e adentrando na imaginação, a saga desse anti-herói leva o leitor ao “âmago do fantástico” (TODOROV 2006, p. 147), mas, insolitamente, nos remete a questões próprias do mundo real. Nesse sentido, a análise privilegiará a discussão do uso de formas da narrativa fantástica que servem de chave para o entendimento da realidade. As intenções declaradas do editor da "História", de mostrar através de Fausto uma forma de conduta, revelam o quão fulcral é a necessidade de domesticação do pensar e do corpo para a introdução daquele então novo modo de pensar o mundo, modelo do qual nos sentimos reféns. Referências bibliográficas: SPIES, Johann. Historia von D. Johann Fausten. Stuttgart: Reclam, 2006. [Trad. Magali Moura. Versão em manuscrito.] TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. São Paulo: Perspectiva, 2006. PALAVRAS-CHAVE: Fausto; literatura comparada; fantástico. Magda Medeiros Furtado TITULO: LITERATURA, HISTÓRIA E CONSTRUÇÃO DE DISCURSO CONTRAHEGEMÔNICO RESUMO: Partindo de uma prática de leitura que coloca em relação dialógica o ensino de literatura e o de história na abordagem de textos contemporâneos, pretendemos trabalhar no viés de uma construção de discurso contrahegemônico provocada pelo texto literário. Essa provocação é uma estratégia de análise através da recepção crítica e criativa de obras literárias do XX que transitam na construção de imagens da História, considerando os movimentos da sociedade com os quais dialogam essas obras. Nesse sentido, consideramos a obra literária na interação com o seu tempo e espaço – o cronotopo, na definição de Mikhail Bakhtin - , na recepção contemporânea do escritor e de seu tempo histórico, e na interação com os jovens leitores de outra temporalidade, nesses velozes tempos de internet em que dez anos configuram um suficiente distanciamento crítico do momento histórico da escrita. Rubem Fonseca e seu hiper-realismo feroz contemporâneo se afigura como o narrador de uma cidade violenta e sedutora para uma caminhada por suas paisagens chocantes em sua crueza, formatadas pela hegemonia discursiva da beleza e do caos domesticado. Em sua obra a história contemporânea desafia a violência do cotidiano naturalizada pelas doses cavalares de choque diante do esgarçamento dos valores humanistas, requerendo um leitor crítico que vá além das primeiras impressões que as “Vastas emoções e pensamentos imperfeitos” podem fornecer. As divisões de classe se configuram nas fronteiras que delimitam o universo dos personagens, seu itinerário urbano, suas roupas e hábitos, seu discurso e sobretudo suas interações sociais . A capacidade crítica dos jovens leitores é desafiada por uma obra bastante sedutora como entretenimento, mas que representa um desafio para a construção de discursos contra-hegemônicos diante dos impasses da contemporaneidade representados pelos narradores de Rubem Fonseca. PALAVRAS-CHAVE: contemporaneidade; contra-hegemonia; Rubem Fonseca. Maira Moreira Mesquita TITULO: OS GESTOS DA MORTE EM HILDA HILST RESUMO: Pondo em diálogo diferentes expressões artísticas, quais sejam, a poesia, a dança, o teatro e a música, o corpo adquire, em nossa pesquisa, estatuto privilegiado. Isso porque nosso recorte de análise são alguns poemas da escritora Hilda Hilst, cujo jogo literário é o eterno corpo-a-corpo com a linguagem. Este trabalho tem como objetivo analisar o vocabulário relacionado às gestualidades do corpo na obra 'Da morte. Odes mínimas', da referida poeta brasileira. Para tanto, debruçamo-nos sobre os movimentos corporais do eu lírico e de sua morte. Dada a complexidade do texto, não constitui nosso propósito apresentar um estudo exaustivo, mas antes possibilidades de leitura. A bem dizer, buscaremos identificar as simbioses de forma e movimento do corpo da morte na obra em estudo, destacando assim uma das particularidades da escrita de Hilst, a teatralidade do texto poético. Vale ressaltar que tal pesquisa tem sido realizada com a finalidade de criar tanto uma partitura cênica, quanto uma musical para a obra 'Da morte. Odes mínimas', de maneira que possamos levá-la à cena. PALAVRAS-CHAVE: Hilda Hilst; poesia brasileira; corpo e literatura. Manlio de Medeiros Speranzini TITULO: A NOÇÃO DE ‘AMADOR’ NAS NARRATIVAS FENDIDAS DE GEORGES PEREC E CHRISTIAN BOLTANSKI RESUMO: Tomando o sentido do amor dado por Badiou como ‘o mundo experimentado a partir do ‘2’’, esta Comunicação propõe uma noção em formafendida que nomearemos ‘AmaDor’ – pensando com isso indicar, tanto o gesto do artista contemporâneo enquanto sutura para o que foi rompido (Amar + Dor), como o que permite a esse artista trabalhar oposições (Amar x Dor). Ainda acompanhando as idéias de Badiou que entende que, por amar amar, aquele que ama reconhece a diferença entre ele e o outro, vivencia conflitos e continua repetindo o que sustenta seu estado amoroso (sentimento barthesiano) - sua infelicidade -, nós nos apoiaremos em duas narrativas fendidas para a exploração da noção proposta: no livro W ou le souvenir d’enfance (1975), de Georges Perec (1936-1982), e no livro de artista La vie impossible (2002), de Christian Boltanski (1944). Se no livro de Perec a fratura se dá entre dois textos alternados, um de lembranças e o outro uma ficção, na obra de Boltanski uma lista de lembranças se contrapõe às fotografias de um arquivo pessoal. O objetivo será então de circunscrever a noção de ‘AmaDor’ e atestar a potência da sua produtividade enquanto mecanismo de compreensão expandida para certa produção artística contemporânea. Referências: BADIOU, Alain. What is Love? In: Umbr(a) – a Journal of the Unconsious, nº 1, 1996, pp. 37-53. BARTHES, Roland. Fragmentos de um Discurso Amoroso. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986. BELLOS, David. Georges Perec – une vie dans les mots. Paris: Seuil, 1994. BOLTANSKI, Christian. La vie impossible. Colônia: Buchhandlung König, 2002. DERRIDA, Jacques. Memórias de Cego. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. GRENIER, Catherine; BOLTANSKI, Christian. La vie possible de Christian Boltanski. Paris: Seuil, 2007. LEJEUNE, Philippe. La Mémoire et L’Oblique – Georges Perec autobiographe. Paris: POL, 1991. PEREC, Georges. W ou le souvenir d’enfance. Paris: Denoël, 2003. PALAVRAS-CHAVE: Amador; Georges Perec; Christian Boltanski. Manoel Ricardo de Lima Neto TITULO: LUFTMENSCH: LER/VER O ROSTO COM JORGE MOLDER RESUMO: A partir das figurações do rosto em dois trabalhos de Jorge Molder, "A Escala de Mohs" e "Pinocchio", abre-se uma série de perspectivas do político 'para a arte' e 'com a arte', seguindo uma sugestão de João Pinharanda: a de que “as imagens de Molder nunca ilustram nada e nunca ocupam o lugar das palavras – do mesmo modo que as palavras nunca ocupam o próprio lugar da vida que constroem.” e de que o “palhaço é um poeta em ação, quando ele é a história que desempenha, sempre a mesma e eterna história”. Diante desse impasse e perseguindo uma trajetória anacrônica e saltada, de Giordano Bruno a Franco Farinelli e Giorgio Agamben, por exemplo, a ideia é tentar ler/ver quando a literatura ainda é uma circulação 'do' e 'com' o pensamento - como uma atenção - para tocar a causa do OUTRO. PALAVRAS-CHAVE: rosto; política; literaturas. Manuela Chagas Manhaes TITULO: A CONSTITUIÇÃO DE PERSONAGENS FEMININOS NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA RESUMO: Pretende-se neste presente trabalho analisar os diferentes personagens femininos construídos nas letras petadas da música popular brasileira. Tais construções são de suma importância para que possamos pensar e analisar as diferentes conotações que a mulher é representada na realidade social estando repletas de sentidos, significações e representações que transcendem a linguagem artística musical e tem se alicerçado no contexto sócio cultural da sociedade brasileira. Ora vistas como musas ora vistas como vilãs representam papéis sociais legítimos ou imorais, profanos ou sagrados, podendo estar presentes não só na veia criadora do letrista, mas em suas aspirações, ideologias e vivenciados em suas distintas dinâmicas sociais, estando atrelado aos costumes, hábitos valores pertencentes a cultura brasileira sendo, então, traduzidos na música popular brasileira uma maneira como uma maneira de dar visibilidade ao que está implícito na constituição da própria atribuição dos papéis sociais . Estes personagens femininos hoje se tornam imagens que traduzem a forma em a mulher foi sendo constituída e se constituiu nas relações sociais em diferentes contextos sócio políticos históricos em que a práxis social favoreceu a mudança do rumo da história e do próprio movimento social que tem-se a mulher como sujeito social que age no meio social e reflete diferentes maneiras de se perceber enquanto mulher entre o feminino e sua feminilidade. PALAVRAS-CHAVE: UNIVERSO SIMBÓLICO; FEMININO; SOCIEDADE BRASILEIRA. Manuella Miki Souza Araujo TITULO: POESIA E PROSA DE SANTOS SEM NICHO RESUMO: No poema em prosa “Intuições”, parte da obra "Evocações", de Cruz e Sousa, observa-se a mescla entre poesia e ensaio, no qual se desenvolve uma reflexão acerca da noção de verdade e realismo simbolistas, ancorada em considerações sobre a criação shakespeariana e a noção de religião da arte. As duas questões são articuladas na teorização da prosa no Simbolismo e a sondagem de uma nova forma, dotada de “outra elasticidade”, capaz de mobilizar verso e prosa, as duas “cordas vibráteis” do artista. Em “Intuições”, este último é concebido como uma “harpa exótica” dedicada a buscar a “virginal originalidade das formas inquietas’. Ali, a sensibilidade poética surge duplicada em duas figuras que caminham juntas e adentram o princípio da noite, dirigindo-se ao “majestoso Vaticano da Arte”. Para Roger Bastide, na prosa de Cruz e Sousa a noite simbolista se encontra com a noite africana, fazendo coincidir a noção de originalidade criadora com a sondagem da origem ancestral do artista assinalado. O fiat primevo da Criação se desdobra no primitivo e no desconhecido emanados da "terrae incognitae" da arte, como sugere Charles Baudelaire. Criador secular, o poeta simbolista afastado do sopro divino se aproxima do modelo alquímico ao discutir a prosa em “Intuições”, forma cuja musicalidade não deriva do cantar do pássaro, e sim apenas do “encanto aéreo dos voos, só com o ritmo leve, fino, das aves simples e venturosas...”. O sacerdote moderno da arte já não canta, mas fala “clarividentemente pelo Salmo austero da prosa”, esse “milagre” segundo Baudelaire, capaz de ser musical sem recorrer ao ritmo ou à rima, música interior, abstrata e silenciosa. Para Cruz e Sousa em “Intuições”, ela é “sideral serpente” e “eloquente mudez das estrelas”. PALAVRAS-CHAVE: poema em prosa; religião da arte; música. María Emilia Vico TITULO: A TRADUÇÃO EM OSMAN LINS: CONVOCAÇÃO DE CAMPOS DO SABER RESUMO: O presente trabalho visa apresentar quais os saberes que se convocam na tradução da obra de Osman Lins do português ao espanhol. Neste caso, trabalharemos com o conto Perdidos e achados, publicado no livro Nove, novena de 1966. Além do conhecimento das duas línguas que todo tradutor literário deve ter, no trabalho de tradução devem ser recuperadas essas outras áreas de saber do escritor que se trasladam no texto na língua alvo e que o tradutor deve poder identificar na leitura, conhecer e estudar os detalhes para poder espalhar no novo texto. No conto Perdidos e achados são convocados saberes como a oceanografia na exaustiva descrição da escuridão dos mares e a geografia da cidade de Recife, cenário do conto. Quais as dificuldades perante essa confluência de linguagens? Como materializá-las na outra língua? O que fazer perante os chamados intraduzíveis? Refletiremos sobre essas problemáticas através do pensamento de Paulo Rónai quem afirma que traduzir pode levar-nos a dois processos diversos: "Conduzir uma obra estrangeira para outro ambiente linguístico significa querer adaptá-la ao máximo aos costumes do novo meio, retirar-lhe as características exóticas [ou] conduzir o leitor para o país da obra que lê [mantendo o que] tem de estranho, de genuíno, e acentuar a cada instante a sua origem alienígena" (RÓNAI, 2012, 24), ou como diria Walter Benjamin: a tradução possui o eco do original. Referências Bibliográficas BENJAMIN, Walter. La tarea del traductor. In: VEJA, M. A. Textos clásicos de teoría de la traducción. Madrid: Cátedra, 1994. p. 285-296. LINS, O. Nove novena: narrativas. 4.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. RÓNAI, P. A tradução vivida. 4. Ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2012. PALAVRAS-CHAVE: tradução; Perdidos e achados; português-espanhol. Mara Lúcia Barbosa da Silva TITULO: O TESTEMUNHO EPISTOLOGRÁFICO DE CAIO FERNANDO ABREU RESUMO: No prólogo de Escrita de si, escrita da História, Angela de Castro Gomes trata sobre uma nova forma de pensar a correspondência e da relevância que lhe passou a ser dada. Gomes afirma que a escrita autorreferencial ou escrita de si integra um conjunto de modalidades do que se convencionou chamar produção de si no mundo moderno ocidental e considera que essa denominação pode ser mais bem entendida a partir da ideia de uma relação que se estabeleceu entre o indivíduo moderno e seus documentos. Essas práticas de produção de si, para a pesquisadora, englobariam um diversificado conjunto de ações, desde as ligadas à escrita de si até a constituição de uma memória pessoal através do recolhimento de objetos materiais que criariam um “teatro da memória”. Levillain (apud Gomes) afirma que se o ato de escrever sobre vidas é muito antigo, a ideia de que a vida é uma história é bem recente. Os tempos modernos consagrariam, então, o lugar do indivíduo na sociedade e essa nova categoria de indivíduo faz com que se transformem as noções de memória, documento, verdade, tempo e história. A escrita epistolar de Caio Fernando Abreu pode ser inserida nessas categorias, assumindo por vezes o papel de memória, de documento, de história e ao longo da qual podemos perceber uma resistência permanente contra as imposições do status quo, seja ele de que ordem for. Através da análise da correspondência ativa de Caio F. pretendemos pensar esse material à luz de um paradigma testemunhal utilizando como corpus de pesquisa o livro organizado por Ítalo Moriconi, Caio Fernando Abreu: cartas, e correspondências que fazem parte do acervo do autor no Delfos - Espaço de documentação e memória cultural da PUCRS. PALAVRAS-CHAVE: Caio Fernando Abreu; Epistolografia; Testemunho. Marcela Miller TITULO: TENSÕES SOBRE O GELO: POLÍTICA E IDEOLOGIA NA LITERATURA POLICIAL NÓRDICA CONTEMPORÂNEA RESUMO: Com sua imagem sempre lembrada como países exemplares do bom desenvolvimento do capitalismo, os países nórdicos enfrentam tensões sociais que vêm à tona em episódios violentos muitas vezes tratados na mídia internacional como acontecimentos isolados. A internacionalização do mercado editorial permitiu à literatura policial nórdica revelar ao mundo a real profundidade e extensão das tensões sociais que estes países têm enfrentado, muitas vezes de forma velada, trazendo importantes discussões políticas e ideológicas sobre a eficácia do projeto moderno ao debater questões de gênero, étnicas, de classe, e mesmo acertos de conta históricos envolvendo questões que remontam ao pós-guerra. A literatura policial nórdica tem se apresentado como uma forma narrativa capaz de realizar uma revisão crítica do projeto moderno nessas sociedades, cujos rumos vêm sendo colocados em xeque pela insegurança crescente promovida pela falência do Estado de Bem-Estar e pela crise da representação política no contexto do capitalismo tardio e do projeto da União Europeia. Trata-se de uma literatura que revela o quanto desse projeto ficou por construir mesmo nessas sociedades tantas vezes retratadas como exemplo das conquistas capitalistas. PALAVRAS-CHAVE: literatura policial; ideologia; modernidade. Marcelino Rodrigues da Silva TITULO: TORCEDORES E PERNAS-DE-PAU: O HOMEM COMUM, A BIOGRAFIA E A HISTÓRIA RESUMO: A partir de pequenos perfis biográficos de personagens do mundo esportivo publicados pela imprensa brasileira, pretende-se discutir os sentidos das narrativas de vida de pessoas comuns – sejam elas ficcionais ou reais – para a reflexão sobre as fronteiras entre a literatura e a história. Com esse objetivo, serão mobilizadas referências teóricas sobre a narrativa e a biografia, colhidas tanto no campo da História quanto nos Estudos Literários. No trabalho de historiadores como Hayden White e Sabina Loriga, buscaremos a percepção do caráter narrativo do discurso histórico e das diferentes formas de articular experiência individual e experiência coletiva, projetadas em ideias como as do “homem partícula”, do “homem problemático”, da “biografia modal” e da “biografia coral”. Do campo literário, traremos ao debate o conceito de “ficção biográfica”, materializado em obras como Vidas imaginárias, de Marcel Schwob, e Vidas minúsculas, de Pierre Michon, por meio do qual se coloca em questão a tradição heróica da biografia histórica e a dimensão ficcional de toda narrativa biográfica. Pelo diálogo entre esses dois campos, evidencia-se o reconhecimento da narrativa como uma forma lacunar e local de saber, aliado à percepção de que o real só se deixa tocar pelo recurso à ficção. PALAVRAS-CHAVE: biografia; homem comum; ficção. Marcella Abboud TITULO: ANA: O DRAMA MUDO DE LAVOURA ARCAICA RESUMO: Lavoura Arcaica (1975) é um livro cuja linguagem tem forte caráter imagético. Não à toa, sua adaptação para o cinema, consideravelmente elogiada, tem respaldo – ainda que guardem-se os louros aos produtores cinematográficos – na capacidade de escrita de Raduan Nassar. O enredo narra a história de André que, depois de se envolver incestuosamente com a irmã Ana, vai embora da casa dos pais. A Lavoura, tão repressora e hierárquica, é locus de dor e sofrimento para o protagonista, e Ana é a fonte de pathos para o narrador. Aos olhos do protagonista, Ana parece inclusive figurar como o próprio pathos pela sua simples existência. A irmã, sem fala e gritante, é a maior força dramática do livro e manifesta-se no silêncio, evidenciando o que há de mais patriarcal e violento na Lavoura. Pretende-se aqui, por meio da estrutura que remonta a Sófocles, em Édipo Rei, compreender como o drama, especialmente na personagem Ana, se constrói, haja vista que fazemos a hipótese de que o mito grego é reproduzido e atualizado: Ana é objeto de pai e de filho, e joguete na disputa patriarcal pela herança da Lavoura. PALAVRAS-CHAVE: Lavoura Arcaica; Édipo-rei; pathos. Marcelo Almeida Peloggio TITULO: OS CÁRCERES DA MEMÓRIA EM GRACILIANO RAMOS RESUMO: O artigo procura mostrar como a atividade espiritual, ao tratar a memória como instrumento de denúncia, na obra as Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, enfrenta o desafio de interagir com elementos que a podem fazer prisioneira de si mesma na seleção e aplicação de imagens no processo de criação literária; com efeito, elementos como o automatismo carcerário, o egotismo e a adesão cega à realidade exterior. De tal forma que se faz bastante necessária, no sentido de se oferecer uma abordagem mais penetrante acerca dos usos da memória, uma possível articulação entre o automatismo carcerário e dois outros princípios formais de as Memórias do cárcere, que são o não desejo de nomeada, o que significa dizer: a refutação do mero falar de si (o qual inexiste em Graciliano Ramos, mas que pode ser sugerido como pura crítica epistemológica) e a posição altamente humanitária da obra em razão do seu libelo esclarecedor. PALAVRAS-CHAVE: Graciliano Ramos; Memória; Automatismo. Marcelo Chiaretto TITULO: O CANÔNICO E O NÃO-CANÔNICO NA FORMAÇÃO DO LEITOR: O CASO DE ALLAN SANTOS DA ROSA E A LITERATURA DA PERIFERIA RESUMO: Como meta principal, esta comunicação pretende demonstrar como a obra literária do escritor Allan Santos da Rosa, um autor do movimento de literatura da periferia paulistana em vigor na contemporaneidade, pode estimular a formação de novos leitores literários no ensino da literatura. Tal obra será representada, nesta oportunidade, pelo conto “Pérola”, publicado originalmente na coletânea Literatura marginal: talentos da periferia (2005). Como metas secundárias deste estudo, serão investigados alguns procedimentos estéticoliterários que fazem da obra do autor paulistano algo que destoa de outras publicações do grupo de autores intitulados “marginais” ou “periféricos” e que o aproxima de uma produção ficcional brasileira contemporânea já consagrada e de certa forma canônica. Como conclusões da comunicação percebe-se que, de modo dissonante com toda uma produção intitulada como “periférica” e “marginal”, em Santos da Rosa não há o apelo panfletário, não há orientação política, não há uma preocupação didática que visa apresentar ao leitor passivo o quadro de miséria a ser condenado e denunciado. Em contraposição, “Pérola”, assim como outras produções do autor, recorre a uma sensibilidade antimaniqueísta, a um lirismo difuso e à construção narrativa com recortes sutis e intrigantes ao leitor. Santos da Rosa, com sua habilidade expressiva, opta assim pela estética a fim de resguardar sua obra do contraproducente ímpeto acusatório e doutrinário. Em suma, verifica-se que na obra literária de Santos da Rosa representada pelo conto em questão é possível encontrar, assim, o mesmo viés naturalista perceptível em um grupo considerável de escritores brasileiros contemporâneos, um viés que bem explorado em sala de aula pode ser muito mais instigante e produtivo para formar novos leitores que uma perspectiva menos estética e mais pedagógica. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Periferia; Formação do leitor. Marcelo da Rocha Lima Diego TITULO: POÉTICAS DA LATÊNCIA: AUSÊNCIA, AFETO E MEMÓRIA EM JOSÉ LUÍS GONZÁLEZ E CILDO MEIRELES RESUMO: Em 1954 o escritor porto-riquenho José Luis González (1926-1996) publicou, na coletânea En este lado, o conto "Una caja de plomo que no se podía abrir". A ação se passa em plena Guerra da Coreia (1950-1953), em um subúrbio de San Juan, e gira ao redor da chegada de uma urna funerária – inexpugnável, conforme se lê já no título – contendo os restos mortais de um dos filhos do lugar, que fora enviado para a guerra. Para além das temáticas da ausência e da perda, estão em jogo na narrativa as tensões e os conflitos entre o centro e a periferia – no caso, entre o poder do Estado norte-americano e um Porto Rico reduzido, em muitos aspectos, ao status de colônia. Menos de vinte anos depois, em uma série de obras feitas a partir da década de 1970 – durante os anos de chumbo da ditadura cívico-militar brasileira (1964-1984) –, o artista plástico brasileiro Cildo Meireles (1948-) mobilizou um repertório imagético semelhante ao utilizado por González no conto de 1954: caixas que não podem ser abertas; facas que possuem apenas as lâminas, sem local apropriado para o manuseio; correntes compostas por elos de chumbo e de papel; esferas fabricadas com diferentes materiais, porém idênticas ao olhar; moedas de zero centavo e notas de zero dólar, entre outras. São obras que se inserem em uma perspectiva conceitual e que refletem, no campo do estético, as contradições da situação política em que foram geradas, sem necessariamente referi-las. Esta comunicação propõe uma leitura comparada do conto de González e das obras de Meireles, na qual estas funcionam como elemento mediador para chegar-se àquele. Procura-se, assim, aproximar o autor caribenho do leitor brasileiro por meio de uma estratégia na qual o estabelecimento de associações entre os contextos tem papel tão relevante quanto a tradução do texto. PALAVRAS-CHAVE: José Luis González; Cildo Meireles; EstudosPós-Coloniais. Marcelo dos Santos TITULO: “NESTA TERRA POR ONDE DEUS NUNCA ANDOU”: ALUÍSIO AZEVEDO E SUA CORRESPONDÊNCIA INTERNACIONAL RESUMO: O estudo da correspondência de escritores tem contribuído para o alargamento da ideia de obra literária, promovendo a discussão sobre aspectos por vezes não privilegiados pela historiografia literária. A epistolografia põe em cruzamento obra, vida literária e processo de escrita, auxiliando na construção do perfil do escritor como intelectual diante do complexo contexto de produção e recepção de seus escritos. Nesse sentido, o presente artigo pretende contribuir para a fortuna crítica sobre Aluísio Azevedo, ao analisar a correspondência do escritor no momento em que este assume seu posto nos quadros da diplomacia brasileira, no início do século XX. A correspondência de Aluísio Azevedo, ainda não publicada integralmente, pode revelar de forma mais definida o trânsito entre o romancista, inserido na vertente naturalista de nossa literatura finissecular, e o intelectual diplomata, chancelado pela academia, às portas do novo século. Com esse trânsito, a escrita de Aluísio Azevedo pode ser percebida a partir de outros contextos e funções, especificamente compreendendo-a como formadora de um pensamento sobre o país, a literatura brasileira e a língua, pensamento construído em contraste com outras situações geopolíticas. A partir da análise da correspondência internacional do escritor, especificamente aquela realizada com o escritor Graça Aranha na primeira década do século XX – hoje depositada na Fundação Casa de Rui Barbosa –, propõe-se reavaliar o alcance do olhar do escritor sobre o mundo europeu no momento singular em que, por meio do nascente ideário republicano, este olhar deve ajudar a configurar a imagem do intelectual brasileiro, moldada pelo ímpeto modernizador próprio da época e delineada no fluxo que instaura um “conhecimento do mundo”. PALAVRAS-CHAVE: Epistolografia; Aluísio Azevedo; Graça Aranha. Marcelo Ferraz de Paula TITULO: (DES)CONFIGURAÇÕES DO TESTEMUNHO NA POESIA LÍRICA: UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO RESUMO: As investigações sobre a complexa relação entre literatura e testemunho têm se consolidado gradativamente no Brasil nas últimas décadas. Grupos de pesquisa, dossiês temáticos, publicações de livros, eventos e teses confirmam o interesse que o assunto vem despertando atualmente. Os trabalhos destacam, por exemplo, a necessidade/obsessão do sobrevivente de grandes catástrofes históricas, ou da vítima de violências institucionais, em preservar a memória do sofrimento, denunciando o horror vivido para evitar que ele se repita – isto é, aceitando o compromisso ético de “manter o passado ativo no presente” (Seligmann-Silva, 2013, p. 48). Partindo dessas contribuições, nossa proposta reivindica uma presença maior da poesia lírica nos debates sobre o testemunho. Se fora do Brasil a poesia frequentemente foi levada em conta, como mostra a inequívoca presença de Paul Celan em um implícito "cânone do testemunho", em nosso país a ênfase dos estudos recaiu quase que exclusivamente na prosa. Assim, partimos da perspectiva já consagrada por autores como Alfredo Bosi (2000) e Adorno (2006) de que a poesia apresenta forte componente social e, em vez de ser exclusivamente zona de escape para emoções subjetivas, é também capaz de ponderar sobre dilemas históricos e, consequentemente, sua estrutura não é imune ou hostil à escrita do testemunho. Julgamos que através desse diálogo parte significativa da poesia do século XX pode ser revisitada, com ganho para a compreensão dessas obras. Com um enfoque teórico, estabeleceremos uma discussão a respeito das particularidades do testemunho ao se manifestar na linguagem poética, colocamos em questão os problemas que certa “poesia de testemunho” impõe à teoria moderna do gênero lírico, tal como formulada desde Hegel (1998). Para ilustrar essa análise, comentaremos poemas de alguns autores latino-americanos que viveram situações-limite do século XX: prisão, guerra, exílio, clandestinidade, tortura, processos revolucionários. Dentre eles, destacamos Pablo Neruda, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar e Thiago de Mello. PALAVRAS-CHAVE: Lírica; Testemunho; Teoria literária. Marcelo Henrique de Souza TITULO: KIU e CuS: COMPREENDENDO ASPECTOS DA MILITÂNCIA LGBT NA UNIVERSIDADE RESUMO: Pensar na discussão sobre a importância dos movimentos homossexuais é uma questão emergente na sociedade contemporânea. Assim, o objetivo desta pesquisa é contribuir no sentido de ampliar essa discussão dentro da própria academia, que nos séculos XX e XXI, proporcionaram a fomentação e formação de grupos acadêmicos LGBT. Para tanto, apresenta-se, nesta pesquisa, aspectos históricos que explicitam a luta efetivada pela comunidade LGBT, tentando dar visibilidade às múltiplas identidades que constituem esses grupos, particularizando o grupo KIU - Coletivo Universitário pela Diversidade Sexual de Salvador e o grupo de pesquisa em Cultura e Sexualidade (CuS). Vários motivos propiciaram o surgimento do grupo KIU, dentre eles, a crítica às ONGs (“ongueirização”), que “dominavam” todo tipo de iniciativa cível desde os anos 1980. Já o CuS, o objetivo era, e ainda é, produzir pesquisas e atividades de extensão com professores, alunos de pós-graduação e graduação que tenham interesses em estudar as relações entre cultura, gênero e sexualidade, a partir e com os estudos queer. A metodologia utilizada é o estudo de caso, que pretende buscar um conhecimento mais aprofundado sobre o surgimento e a militância LGBT dentro da Universidade, a partir de relatos de militantes de dois grupos específicos, o KIU e o CuS, numa tentativa de comparar como surge a militância na UFBA a partir dos dois grupos. Nesta pesquisa, a partir das leituras de Bento (2011), Miskolci (2011), Simões (2009) e Facchini (2005) faço uma discussão sobre a militância LGBT, na universidade. A partir desta discussão darei ênfase ao KIU, formado unicamente por estudantes, e ao CuS, formado por professores e alunos da graduação e pós-graduação. Destacarei, particularmente, as razões que levaram ao surgimento dos dois grupos na universidade. PALAVRAS-CHAVE: Militância; LGBT; Universidade. Marcelo Jacques de Moraes TITULO: PODE-SE COMER UM FIGO DE PALAVRAS? RESUMO: Ao preparar a tradução brasileira de "Comment une figue de paroles et pourquoi", do poeta francês Francis Ponge, hesito um pouco em relação ao título. Se o traduzo palavra por palavra (literalmente?), tenho Como um figo de palavras e porquê. Ora, se a palavra “como” é, de fato, aquela que, em português equivale ao advérbio “comment” do ponto de vista da etimologia, ela é também a primeira pessoa do verbo “comer” – o que não é absolutamente o caso em francês. O título teria, portanto, em português, ao mesmo tempo, e de maneira indecidível, dois sentidos: “De que maneira um figo de palavras e porquê” e “Eu como um figo de palavras e porquê”. Essa homonímia acidental – uma vez que não é o efeito de uma genealogia interna à língua portuguesa – impõe uma oscilação de sentido que me parece, entretanto, interessante na medida em que ela não é sem relação com o poema: neste, o figo de palavras se faz de fato devorar, ainda que deixe um resto “irredutível”, seu “pequeno botão de desmame”, que, tal como uma letra estrangeira, se faz mascar e remascar infinitamente. Partirei, portanto, dessa tradução “luciferina” – e que nos permite, talvez, dizer que não pode haver tradução “literal” – para discutir a dimensão performativa da poesia de (em) Ponge em sua relação com o problema da literalidade. PALAVRAS-CHAVE: Francis Ponge; tradução; literalidade. Marcelo Lachat TITULO: OS SÉCULOS XVI E XVII: NEM "CLÁSSICO" NEM "BARROCO" RESUMO: A noção de “estilo literário” é historicamente determinada, mas seu emprego se mostra frequentemente anacrônico, classificando-se obras e autores segundo critérios estilísticos que se almejam atemporais. Assim, o descompasso entre os “estilos literários” e os tempos por eles classificados gera períodos literários estilizados, que desistoricizam as especificidades históricas dos textos, lidos fora do tempo, porque apreendidos a partir de características supostamente universais. Desse modo anacrônico é que se apreendem, por exemplo, aqueles poemas líricos ditos de Camões ao inseri-los, antes mesmo de serem propriamente lidos, no “classicismo” da “literatura portuguesa”; ou, ainda, aqueles textos da produção retórica e poética luso-brasileira do século XVII e começo do século XVIII ao denominá-los, acriticamente, “barrocos”. Buscandose refletir acerca dessa concepção de “estilo literário”, que se arrogando universal se faz anacrônica, propõe-se esta comunicação, na qual serão discutidas particularidades das práticas letradas portuguesas e luso-brasileiras dos séculos XVI e XVII. Essas peculiaridades são, muitas vezes, apagadas ante generalidades de supostos estilos de época: “clássico” e “barroco”. Por isso, pretende-se, neste trabalho, mostrar antes ruínas letradas (em particular, dos anos Quinhentos e Seiscentos) do que construções atemporais anacronicamente idealizadas. Em vez de classificar, dedutivamente, autores e obras como “clássicos” ou “barrocos”, o que se almeja é recorrer àquilo que enforma os textos quinhentistas e seiscentistas seguindo as marcas de seus tempos em ruínas, em especial, às technai retórica e poética e às matérias elaboradas tecnicamente. É propósito desta comunicação, enfim, questionar o emprego dos termos “clássico” e “barroco”, enquanto “estilos literários de época”, frente às especificidades das produções retóricas e poéticas dos séculos XVI e XVII, em Portugal e na (então chamada) “América Portuguesa”. Assim se faz à procura de uma melhor compreensão dessas ruínas letradas em seus próprios tempos, mesmo que, para tanto, sejam ruídos edifícios literários supostamente atemporais. PALAVRAS-CHAVE: Séculos XVI e XVII; Clássico; Barroco. Marcelo Magalhães Leitão TITULO: ALGUMAS TENDÊNCIAS DO LIRISMO MODERNISTA ENTRE REFLEXÕES SOBRE ARTES PLÁSTICAS: UT PICTURA POESIS MARIOANDRADIANO RESUMO: De Diderot a Baudelaire, e deste ao esprit nouveau de Apollinaire, as reflexões sobre as artes plásticas constituíram fórum fértil e imaginativo sobre a lírica moderna. Em uma espécie de reformulação da doutrina do Ut pictura poesis, desenvolvida a partir do Renascimento sobre uma interpretação equivocada das palavras de Horácio (65 a.C.−8 a.C.), esses pensadores e poetas promoveram reveladoras aproximações entre reflexão sobre artes plásticas e reflexão sobre o lirismo e a poesia. Alguns desses nomes e muitas dessas ideias foram mobilizados por Hugo Friedrich (1956), em seu estudo fundamental sobre a lírica moderna. O estudo que propomos aqui pretenderá refletir acerca das concepções de um novo lirismo, eventualmente modernista, que Mário de Andrade esboçou em alguns de seus textos dedicados às artes plásticas, especialmente aqueles dedicados à pintura e ao desenho. Propõe-se portanto uma espécie de Ut pictura poesis marioandradiano, em que as reflexões sobre elementos plásticos servem a uma apreensão do fenômeno lírico no panorama modernista, assim como sugestões de "lirismo visual", como já sugerira Apollinaire. PALAVRAS-CHAVE: Mário de Andrade; lirismo moderno; Ut pictura poesis. Marcelo Paiva de Souza TITULO: “UMA DESCARADA JANELA JUDIA”: W?ADYS?AW SZLENGEL, CRONISTA DO GUETO DE VARSÓVIA RESUMO: A amargura irônica de “Okno na tamt? stron?”/“Uma janela para o lado de lá”, poema coligido em Co czyta?em umar?ym/O que eu lia para os mortos, de W?adys?aw Szlengel (1914-1943), faculta um vislumbre dolorosamente nítido, presta testemunho dos mais eloquentes da vida precária que se terá vivido, às vésperas da Endlösung, por trás dos muros do Gueto de Varsóvia. O sujeito poético, judeu polonês proibido pelo meticuloso arbítrio nazista de achegar-se à janela com vista para o restante da cidade, espera pela noite; olha então com avidez através da vidraça, buscando, para além das “árvores arianas” do belo parque defronte, “um contrabando sentimental”: os vultos e contornos da urbe adormecida que ainda chama de sua – porém já não é. Descortinar um pouco do que se vê dessa “descarada janela judia”, examinando, a partir dela, o lado de fora e, sobretudo, o lado de dentro do Gueto, dar a conhecer no Brasil alguns versos e alguma prosa de Szlengel, apresentando-o, traduzindo-o e comentando-o, será nosso objetivo nesta comunicação. PALAVRAS-CHAVE: W?adys?aw Szlengel; Gueto de Varsóvia; lit. pol. em trad. Marcelo Vieira da Nóbrega TITULO: SUJEITOS, PARDAIS CINZENTOS NO CONCRETO ARMADO: UM OLHAR SOBRE A CONSTITUIÇÃO DAS POTÊNCIAS MARGINAIS NA MULTIDÃO A PARTIR DA SAGA DE VALDIRENE EM PELAS FRESTAS DO TELHADO, DE MÁRCIO RIBEIRO LEITE RESUMO: Da perda trágica da irmã - brutalmente assassinada pelo próprio pai – até a diáspora hibridizante e forçada do sertão à cidade, a saga de Valdirene Gomes e sua família em Pelas Frestas do Telhado, de Márcio Ribeiro Leite, culmina, nos anos iniciais, com um misto de dor, morte, vácuo existencial, fome, abandono, resistências e muita cooperação. Ressurgem na miséria de um buraco fétido – lugar onde moraram, na cidade grande, inicialmente - porque são potências, rizomas, típicos da multidão, segundo o olhar de Deleuze e Guattari (1997), Virno (2013) e Martín-Barbero (2003). É nesta perspectiva que se propõe este artigo: investigar - à luz da saga de fome e abandono a que são submetidos Valdirene Gomes e família, na cidade, – de que forma a obra literária em análise, do ponto de vista estético, media relações humanas que imbricam solidariedade, cooperação, poder, luta, sofrimento, opressão, (des)territorialização e afeto, sempre com um olhar nas multidões, nos marginais margeantes. Para tal, buscase, à luz do conceito de multidão, enquanto potência, rizoma, de Deleuze e Guattari (1997), refletir, sobremaneira, acerca das cooperações e resistências que impõem e contingenciam as ações de Valdirene e suas irmãs mais velhas a sobreviverem em meio à multidão, entendida esta, segundo Benjamim (1975), como “trama, entrelaçamento de submissões e resistências, impugnações e cumplicidades.” Partindo-se de uma metáfora, proposta pela própria Valdirene – ao prenunciar a morte de uma de suas irmãs: “A névoa do pântano da morte nos envolveu outra vez. Uma tristeza inundou meu espírito. Vi o pouso desconcertante de um pardal no parapeito de minha janela” – denota-se serem Valdirene e suas irmãs pardais, urubus urbanos, marginais, os malditos, ameaças constantes, resistentes e predadores, cinzas como o concreto das edificações urbanas, mas solidários e cooperantes, jogadas no coração dos espaços de poder que, juntos, reagirão. PALAVRAS-CHAVE: Resistência; Marginalidade; Multidão. Marcia Cristina Xavier TITULO: DO POEMA A TELA: A POESIA DE BANDEIRA E A METAFICÇÃO (REPRESENTAÇÃO/DIALOGISMO INTERTEXTUAL) EM O POETA DO CASTELO DE JOAQUIM ANDRADE RESUMO: No curta metragem de Joaquim Andrade, O poeta do Castelo encontramos o próprio poeta Manuel Bandeira apresentando sobre si, através de trechos e de alguns de seus poemas, tais como Belo, Belo II, Testamento e Vou me embora pra Pasárgada. Neste contexto, trechos e poemas recitados e encenados pelo poeta, apresentam não só aspectos de “dialogismo intertextual” com o texto literário, mais também a representação da realidade encenada configuram uma criação metaficcional ao vídeo, pois o aspecto biográfico destas poesias que são declamadas e o fato do poeta utilizar seus textos para mostrar se e ou contar se como artista, traz ao documentário uma reconstrução do texto literário como uma referência ao poeta e sua poesia. Para esta análise será utilizado alguns teóricos como podemos citar: Gustavo Bernardo, o livro da metaficção e Linda Hutcheon em sua obra Narcissistic narrative: the metafictional paradox. Para estudar as relações referente a representação da realidade utilizaremos Aristóteles e Erick Auerback e quanto ao dialogismo intertextual, autores como Robert Stam será referenciado, bem como outros teóricos que trabalham a relação intersemiótica. PALAVRAS-CHAVE: metaficção; poesia; curta metragem. Marcia Heloisa Amarante Gonçalves TITULO: ANO UM: ULTRASSONOGRAFIA DA UTOPIA ESTADUNIDENSE NA ERA PRÉ-NIXON EM "O BEBÊ DE ROSEMARY" RESUMO: A minha tese propõe um estudo das narrativas de medo nos Estados Unidos, as classificando como obras ficcionais que privilegiam o espaço íntimo dos seus personagens como espelhamento, ora sincrônico, ora destoante, do contexto social em que se enquadram. Com o intuito de defender a sua pertinência e permanência como um subgênero do horror, examino a vocação arquetípica de tais narrativas, em geral oriundas da combinação de dois ingredientes essencialmente estadunidenses: a geração e manutenção de pânicos políticos e a perene crença no excepcionalismo americano. O monstro, dentro desta perspectiva, atuaria como um psicopompo, um guia sombrio da alma, aquele que executa o misterioso translado do inconsciente ao consciente. Para discutir o tema no presente trabalho, selecionei o romance “O Bebê de Rosemary” (1967) e sua respectiva adaptação cinematográfica (1968). Uma análise do panorama político e cultural dos Estados Unidos faz-se oportuna para a compreensão da narrativa selecionada, bem como uma reflexão sobre o desdobramento da insegurança coletiva em obras de ficção da década de 1960 nas quais o núcleo nevrálgico do medo incide no ambiente privado. Interessa-me em particular estabelecer um paralelo entre o nascimento do suposto Anticristo no romance com os fatores políticos – nacionais e internacionais – que conduziram à eleição de Richard Nixon em 1968. Reconhecendo o impacto do apelo visual na memória do público, procurei esmiuçar a versão fílmica do romance para aprofundar a minha análise. Percebo romance e filme como arquétipos em sua capacidade de operar como manifestações de instintos humanos por meio de representações simbólicas, cartografando paisagens utópicas do sonho americano e concentrando-se em instantes nos quais a vulnerabilidade do lar e do corpo pareciam refletir os pesadelos recorrentes de uma trajetória histórica marcada por mudanças, inseguranças e um crescente movimento de simultâneo fascínio e pânico em relação ao novo. PALAVRAS-CHAVE: Horror; Narrativas de Medo; Pânico Político. Marcia Horacio Barbosa TITULO: A AMÉRICA DE GALEANO: NOSSA AMÉRICA RESUMO: Tantos povos e culturas. Etnias e crenças. Uma língua que se adapta, molda, assume significados. A língua do colonizador é a mesma língua do colonizado. Eduardo Galeano apresenta o continente americano aos americanos do sul. Afinal, aqueles que vivem no hemisfério norte conhecem bem o território, suas riquezas e fraquezas. Aos americanos do sul coube um papel de subserviência incondicional. A síndrome do vira-lata que ronda constantemente nossos domínios e avanços. O escritor uruguaio contextualizou a história dos povos da América do Sul. Ressaltou nomes e contou sobre as resistências silenciadas ao longo dos tempos. Um livro apaixonado, jovem e, como ele mesmo declarou, ingênuo... Passados mais de trinta anos, a América Latina ainda sangra suas riquezas. O povo manifesta-se e declara suas necessidades e anseios. O que podemos considerar utopia naquele ano de 1971, ano da primeira edição da obra Veias Abertas da América Latina? O que podemos trazer de novo à América de 2015??? PALAVRAS-CHAVE: Eduardo Galeano; América Latina; Reflexões. Marcio Jean Fialho de Sousa TITULO: O NOVO DE UM VELHO DIABO: UM DÂNDI, UM PACTO, UM DESEJO RESUMO: Ainda que o Portugal da segunda metade do século XIX já tivesse passado por diversas revoluções com motes de modernidade e ruptura com os modelos tradicionais de sua cultura, reminiscências do período medieval podiam ainda ser encontradas em diversos aspectos de sua produção intelectual e de seus costumes populares. Essas marcas tradicionais caracterizam certa ironia no exercício do fazer intelectual português, pois estando a Europa passando pelo processo de modernização, o que se via no Portugal da época era uma forte ligação com costumes religiosos. Exemplo desse fenômeno pode ser encontrado nas obras de Eça de Queirós, nas quais figuras fantasmagóricas e míticas se fazem presentes com maior ou menor enfoque, tal como em O Mandarim. Nessa novela, duas figuras fantasistas se fazem presente, a primeira é a personificação de Ti Chin-Fu, como consequência de uma consciência “pesada” e acusadora de Teodoro, e a segunda figura se apresenta com o aparecimento, sem nenhuma justificativa, da figura do diabo a quem vale especial atenção. Segundo Óscar Lopes, “É o diabo como ‘delicioso terror da nossa infância católica’, o que ao meu ver revela a base de todo o enfeitiçamento de Eça pelo diabolismo das literaturas germânicas, que tanto perpassa sua obra.” (LOPES, 1997, p. 464) Dessa forma, o que se pretende durante a exposição dessa comunicação é analisar a figura do diabo, como reminiscente medieval, presente em O Mandarim, de que modo essa personagem apresenta valores da modernidade e como poderia ser relacionada ao Dândi descrito por Charles Baudelaire (1868) e representado nas telas de Constantin Guy (1802-1892), além de buscar a estabelecer diálogo com a tradição católica portuguesa, por meio de estruturas irônicas, peculiares a Eça de Queirós. PALAVRAS-CHAVE: Diabo; Dândi; Ambições. Marcio Markendorf TITULO: A ARQUITETURA NO CINEMA DE HORROR E OS CENÁRIOS DA LITERATURA GÓTICA RESUMO: A literatura de estética gótica, assim categorizada por um conjunto de obras seminais do século XVIII, produziu um forte impacto na fantasia do horror. Ao remeter-se a determinados cenários, francamente associados ao período medieval, tais como castelos, abadias, igrejas e outras edificações de comunidades cristãs, a ficção estabeleceu um tipo de imaginário que persistiu em períodos subsequentes. A construção ampla – muitas vezes em ruínas ou abandonada –, dotada de imensos corredores, labiríntica, opressora, com passagens ocultas, imersa em um universo oscilante entre o sobrenatural e a loucura, prevalece no design dos cenários contemporâneos. Com a renovação do ciclo cinematográfico do horror em fim dos anos 1960, inspirado por obras literárias responsáveis pelo deslocamento do medo para o espaço urbano – tal como se dá com "O bebê de Rosemary" (The Rosemary’s baby, Roman Polanski, 1968), "O exorcista" (The exorcist, William Friedkin, 1973) e "Horror em Amityville" (The Amityville horror, Stuart Rosenberg, 1978) –, o velho modelo do castelo medieval gótico sofre um achatamento arquitetônico para adaptar-se a um contexto capitalista e citadino. Na compressão espacial dessas novas edificações, o cenário é dotado de casarios com porão e sótão empoeirados e abarrotados, corredores e lances de escadas desorientadores, cômodos ocultos, garagens e abrigos afastados. Com algumas variações, o modelo expandido também é passível de ser encontrado, algo como o Hotel Overlook de "O Iluminado" (The shining, Stanley Kubrick, 1980), ou a versão ainda mais compacta, situada fora dos limites da cidade, representada por cabanas na floresta, ao modo de "Uma noite alucinante - a morte do demônio" (Sam Raimi, 1981). Esta proposta de trabalho pretende investigar esse processo de manutenção, compactação e adaptação dos cenários góticos a contextos mais contemporâneos, com a análise de uma amostragem de diferentes filmes de horror produzidos entre os anos 1970 e os 2010. PALAVRAS-CHAVE: cinema de horror; literatura gótica; arquitetura. Marco Anselmo Vasques TITULO: A LITERATURA DRAMÁTICA NO CORPO DA ESCOLA RESUMO: A leitura, via de regra, entra na escola como ingrediente utilitário, como tarefa a ser cumprida. Obedece a uma estrutura que, em sua maioria, não privilegia o mundo do leitor-alvo, isto é, o aluno. A partir da experiência como professor de literatura e diretor teatral em escolas públicas, em Joinville, uma das maiores cidades do estado de Santa Catarina, pretendo discorrer sobre como a leitura dramática, e mesmo a encenação de textos dramáticos entre os alunos, pode mexer e alterar o corpo da escolar e o corpo do bairro em que os agentes escolares estão inseridos. Ler o corpo, ler sua rua, ler seu núcleo familiar, ler seu bairro, enfim, ler o mundo para reler outros mundos. Tratar a leitura como ato intempestivo, na acepção de Agamben de intempestivo, e provocar, perguntar, interrogar, muito mais que responder, que estratificar. Tal qual a escola, o mercado editorial e as feiras de livros, por exemplo, também tratam a leitura como ato utilitário e comercial. Ler como ato de perdição, ato nômade. A leitura dramática no corpo da escola, da maneira como foi experienciada, tem como principal ponto navegar nas fissuras, nas dobras, nas fraturas do corpo que vive, muito aparentemente, na sóbria e sombria estratificação. PALAVRAS-CHAVE: Dramaturgia; Corpo escolar; Leitura. Marco Antonio Saraiva TITULO: METAMORFOSES DE JORGE DE SENA RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo principal analisar a obra do poeta português Jorge de Sena intitulada "Metamorfoses", buscando depreender as relações de sua poética com as diversas artes produzidas no Ocidente, a partir da gênese mitológica dos seus primórdios, universo poético que abarca objetos de arte desde os séculos VII a.C. e atingem a contemporaneidade, criando um vínculo constante com a trajetória histórica da produção artística, expandindo, da mesma forma, os significados dos poemas, e adentrando no universo, social e político. Revelando, em primeiro, que a sequência cronológica que vai se formando, legitima com isso o próprio fenômeno que nomeia o livro, o encadeamento sugere a metamorfose de um tema para outro, de um universo artístico, histórico, social, político e econômico em um novo, que eclode em seguida, num périplo artístico de transformações na própria linguagem. Assim Jorge de Sena mostra o aspecto evolutivo e a relação das artes plásticas e pictóricas com a linguagem poética entre o fim do século XIX e ao longo do século XX em sua escrita. PALAVRAS-CHAVE: Poesia; Metamorfoses. Marcos Eduardo de Sousa TITULO: GRANDES NARRATIVAS COBERTAS POR ‘ZONAS CINZENTAS’: NARRATIVAS LEMBRADAS/ESQUECIDAS EM ‘OS ANÉIS DE SATURNO’ DE W. G. SEBALD RESUMO: A construção narrativa de ‘Os anéis de Saturno’ de W. G. Sebald (2010) estrutura-se pelas viagens do narrador, nas quais a medida em que ele visita lugares que outrora possuíam algum tipo de relevância social ou econômica ele rememora fatos que relacionam-se ao local – emergem memórias individuais, coletivas e culturais. Nesse trabalho evidenciamos duas características ou mesmo formas pelas quais a memória está implicada na constituição da narrativa: 1) a relação de tensão entre memória e esquecimento na escolha seletiva de episódios a serem abordados/esquecidos; e, 2) o processo de pensar a literatura como memória da cultura. O narrador estrutura a obra nessa grande ‘zona cinzenta de lembrança’ (HUYSSEN, 2004) selecionando, arbitrariamente, elementos culturais a serem desenvolvidos. Um evento que exemplifica muito bem essa situação é o Shoah, pois, apesar de não haverem referências textuais explícitas, há, pelo menos, dois eventos que retomam o episódio. Nesses interstícios entre memória e literatura, é importante pensar, como Renate Lachamann (2004), na literatura enquanto memória da cultura, na função mnemônica da literatura como recurso intertextual inestimável. Afinal, os recursos lançados mão por Sebald na obra, a inserem na vasta trama intertextual da memória da literatura e a literatura ao ser vista como a memória da cultura (ou pelo menos como um dos epicentros dessa cultura) carrega em seu repertório virtualmente todos textos escritos, potencializando as possibilidade de significação que um leitor imerso nesse aparato cultural pode suscitar. Referências HUYSSEN, Andreas. Gray Zone of Remembrance. In: WELLBERY, David E.; RYAN, Judith; GUMBRECHT, Hans Ulrich (eds.). A new history of German literature. Cambridge: Harvard University Press, 2004. p. 970–975. LACHMANN, Renate. Cultural memory and the role of literature. European Review, v. 12, n. 2, p. 165–178, 2004. SEBALD, W. G. Os anéis de Saturno: uma peregrinação inglesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. PALAVRAS-CHAVE: memória; esquecimento; viagem. Marcos Estevão Gomes Pasche TITULO: PAULO HENRIQUES BRITTO: RECUSA E DISSONÂNCIA RESUMO: Este trabalho intenta fazer um mapeamento crítico da obra poética de Paulo Henriques Britto. A fim de destacar, por um lado, variações e, por outro, a consolidação de certas linhas de força de tal poética noutros gêneros, o presente estudo também observará, no autor de Trovar Claro, elementos significativos de sua atuação como contista, tradutor e ensaísta, abordando obras como Paraísos artificiais, de narrativas fictícias, e A tradução literária, da lavra ensaística. Tendo como corpus o percurso bibliográfico que vai de Liturgia da matéria a Formas do nada, o estudo dará especial destaque ao que em Paulo Henriques Britto figura como recusa e dissonância, seja em relação a determinadas concepções do fazer poético contemporâneo, seja acerca dos discursos que se disseminam como pronta promessa de felicidade individual. Dessa forma, pretende-se colocar em relevo a singular posição de Paulo Henriques Britto no atual cenário da poesia brasileira, sublinhando-lhe o discreto e denso teor crítico. PALAVRAS-CHAVE: Poesia Brasileira; Crítica literária; Dissonância. Marcos Vinícius Scheffel TITULO: MULTILETRAMENTOS E O LETRAMENTO LITERÁRIO: UMA CONVIVÊNCIA POSSÍVEL? RESUMO: Nas últimas décadas, assistiu-se a mudanças significativas naquilo que se consideravam os conteúdos e as abordagens de ensino de língua portuguesa e literatura. A gramática normativa passou a ser questionada e o texto foi apontado como o eixo em torno do qual as aulas de Português deveriam se desdobrar. Mais recentemente, essa ênfase textual ganhou novo reforço com a necessidade de promover os multiletramentos, os letramentos multissemióticos e de questionar os letramentos hegemônicos (ROJO 2009). Toda essa multiplicidade textual que converge para aula de língua portuguesa traz em seu bojo uma série de questões: é possível trabalhar com essa variedade textual e ainda achar tempo para o letramento literário? a literatura pode contribuir na formação desse leitor de textos tão diversificados da práxis social? quais são os lugares do texto e da literatura na escola? O presente trabalho debate essas questões procurando também apresentar algumas possibilidades e impossibilidades de se conciliar a perspectiva dos multiletramentos com formação do leitor literário. PALAVRAS-CHAVE: Multiletramentos. Letramento literário; Ensino de literatura; Marcus Ramusyo de Almeida Brasil TITULO: MARANHÃO 669: CINEMA, POESIA, FILOSOFIA E PERFORMANCE POR UMA OUTRA HISTÓRIA DA POLÍTICA RESUMO: Tento encontrar possíveis conexões e diálogos entre o cinema de Glauber Rocha, com sua estética e seu fluxo temporal próprios, e o pensamento filosófico de Walter Benjamin, principalmente no tocante às técnicas de montagem e à utilização de alegorias como forma de encontrar uma imagem dialética latente. A proposta foi criar uma revisitação do filme Maranhão 66 (1966) a partir da problematização crítica do cinema de Glauber, da perspectiva teórica de Benjamin e das poesias de Celso Borges, num procedimento de montagem dialética entre-linguagens. Desse processo reflexivo surgiu outro filme, o Maranhão 669, um ensaio audiovisual que se propôs como uma imagem que possibilitou analisar o Maranhão atual à luz do seu passado político, por isso o 9, que, ao se colocar ao lado do 6 compõe uma imagem reflexo (ou real) [69], mitigando uma reflexividade histórica tal como uma imagem de espelho, opticamente refletida e invertida sobre o próprio eixo, que questiona, assim, a ordem linear do espelho como um duplo e a recoloca sob a lógica de um espectro, de uma sombra, de um vestígio, de um fantasma. A ideia é que o cinema revolucionário de Glauber possa refletir-se nos dias atuais para, como disse Benjamin, podermos "... escovar a história a contrapelo." (2012, p. 13). Tudo isso na perspectiva glauberiana, para quem: "O cinema deve ser um método ao mesmo tempo que uma expressão." (ROCHA, 2004 p. 103) A presente proposta é ter o cinema como método (méthodus - caminho), para novamente buscar os imbricamentos entre arte e política, a partir da poesia de Celso Borges e da filosofia de Walter Benjamin. BENJAMIN, Walter. O anjo da história. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. _________________. Passagens. Belo Horizonte: UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial, 2009. BORGES, Celso. Persona non grata. São Paulo: Edições Guarnicê, 1988. _____________. Belle Époque. São Luís: Pitomba, 2009. _____________. Música. Curitiba: Medusa, 2006. Maranhão 66. Direção e produção: Glauber Rocha. Som direto: Eduardo Escorel. Rio de Janeiro: Mapa Filmes, 1966. ROCHA, Glauber. Revolução do cinema novo / Glauber Rocha. São Paulo: Cosac Naify, 2004. XAVIER, Ismail. Cinema brasileiro moderno. São Paulo: Paz e Terra, 2001. _____________. Alegorias do subdesenvolvimento: cinema novo, tropicalismo e cinema marginal. São Paulo: Cosac Naify, 2012. PALAVRAS-CHAVE: Arte-Política; Walter Benjamin; Glauber Rocha. Marcus Vinicius de Freitas TITULO: GUERRA COM TESTEMUNHA: CARTAS DE OSMAN LINS A MURILO RUBIÃO RESUMO: O trabalho apresenta e analisa um conjunto de cartas de Osman Lins dirigidas ao escritor mineiro Murilo Rubião, datadas entre 1965 e 1969, que integram o fundo documental do autor de o “O Ex-Mágico” no Acervo de Escritores Mineiros da UFMG. O período das cartas coincide com a atividade de Murilo como criador e diretor do Suplemento Literário de Minas Gerais (de 1966 a 1969), e com a escrita de Guerra sem testemunhas, publicado em 1969, livro no qual Osman Lins tematiza e discute o ofício do escritor, tarefa também cara a Murilo Rubião, em especial na sua correspondência com escritores. PALAVRAS-CHAVE: Murilo Rubião; correspondência; ofício do escritor. Marcus Vinicius Nogueira Soares TITULO: A CRONICA OITOCENTISTA E A TRADIÇÃO RETÓRICA RESUMO: Em crônica de 30 de setembro de 1854 publicada na série “Ao correr da pena” do diário carioca Correio Mercantil, José de Alencar, remetendo à tradição greco-latina, associa a crônica ao “monstro de Horácio” e a Proteu, onde o primeiro explicaria a suposta falta de unidade do gênero e o segundo a sua volubilidade. Como se não bastasse, em outra crônica, agora de 3 de dezembro de 1854, o autor de Lucíola volta à Arte poética do poeta latino, mais propriamente ao preceito da necessidade da longa maturação do texto, apresentando-o, paradoxalmente, como solução à potencial dispersão do trabalho cronístico. A despeito do tom satírico dos textos alencarianos, que poderia até certo ponto minimizar o alcance reflexivo de suas afirmações, proponho investigar de que forma a tradição retórica, assentada sobretudo em Horácio, é abalada pela específica dinâmica da produção jornalística, em especial pela escrita de crônicas, na medida em que as dimensões espacial e temporal do texto com as quais o escritor lida são alteradas: de um lado, pela diminuta parcela da página do jornal ocupada pela crônica; de outro, pelo arco de tempo que vai do registro histórico do presente ao compromisso inadiável de publicação. PALAVRAS-CHAVE: Crônica oitocentista; Jornalismo; retórica. Mariângela Alonso TITULO: A MATEMÁTICA DOS ESPELHOS: CLARICE LISPECTOR E RAYMOND QUENEAU RESUMO: O conto A quinta história, de Clarice Lispector, apresenta em sua forma a iteração obsessiva de uma mesma história encaixada, o acréscimo de novas imagens e a multiplicação de títulos. A autora constrói, em poucos parágrafos, variações sobre um mesmo argumento, uma espécie de desdobramento de histórias que se sucedem, a partir de um mesmo ponto: como matar baratas. Segundo Lucien Dallenbach (1977), a reduplicação ad infinitum presente nesta construção permite ao texto incidir-se especularmente na sua própria imagem. Nesse sentido, a matéria, fluida e elíptica, surge geminada e é submetida a um processo eternamente desdobrável, dialogando com as observações de Gilles Deleuze em A dobra: “O múltiplo é não só o que tem muitas partes, mas o que é dobrado de muitas maneiras” (DELEUZE, 2007, p. 14). Essa forma peculiar de elaboração implica no desnudamento de uma escrita lúdica à semelhança da lógica das matrioskas e das caixas chinesas, acopladas umas dentro das outras, em sinal de infinita retomada. A ludicidade da narrativa clariciana permite estabelecermos uma reflexão em torno da proposta do grupo artístico francês OU.LI.PO (Ouvroir de Littérature Potentielle), conhecido por viabilizar uma escrita ligada à matemática. Dentre as publicações do grupo, destacamos Exercices de style (1947), de Raymond Queneau, obra que apresenta o desenvolvimento serial de noventa e nove variações de uma mesma história, cujo mote é a discussão entre dois passageiros a bordo de um ônibus. Embora o sentido inicial seja mantido, os exercícios permitem novas e curiosas tonalidades, potencialmente dispostas numa cadeia de elementos espelhados. Nessa perspectiva, importa-nos refletir acerca da construção formal das obras mencionadas, buscando empreender um possível caminho de análise. PALAVRAS-CHAVE: Clarice Lispector; Raymod Queneau; mise en abyme. Maria Alice Gonçalves Antunes TITULO: HISTORIA DA AUTOTRADUÇÃO: O CASO DOS BRASILEIROS JOÃO UBALDO RIBEIRO E ANA MARIA MACHADO RESUMO: A decisão de traduzir o próprio texto pode ser atribuída a um vasto número de razões. Entre elas, podem-se incluir o desejo de atingir um público leitor maior, o desejo de possuir controle total sobre o texto, o exílio voluntário ou involuntário em país estrangeiro, a censura. As consequências dessa decisão, por outro lado, não variam muito. O escritor pode tornar-se mais popular no polissistema literário estrangeiro e/ou, pode tornar-se mais respeitado no polissistema literário de origem. Nesta comunicação, discutiremos as razões que levaram os escritores brasileiros à tradução do próprio texto e as consequências de tal decisão para suas carreiras no Brasil e no exterior. Nessa discussão, responderemos a questões, tais como: que consequências a tradução do próprio original traz para a obra do escritor e para a sua carreira? Que papel os escritores brasileiros exercem no polissistema literário estrangeiro (depois da publicação da obra autotraduzida)? O texto autotraduzido é apresentado a seus leitores como uma tradução ou como um novo original? Ao responder essas questões, estaremos apresentando nossa contribuição ao preenchimento de um "espaço em branco" dos Estudos da Tradução e também ao estudo de formas usadas por escritores brasileiros para atravessar fronteiras e assim construir imagens da literatura e do povo brasileiro. PALAVRAS-CHAVE: autotradução; polissistema; imagem. Maria Alice Sabaini de Souza TITULO: ENTRE O AJUSTAR-SE E O REVELAR-SE: UMA LEITURA DA IDENTIDADE FEMININAS EM DOIS CONTOS CLARICIANOS RESUMO: A presente comunicação tem como objetivo discutir, através de análise comparativa, o papel do feminino bem como sua representação nos contos Devaneios e embriaguez de uma rapariga e Feliz aniversário, atentando-se para a questão do gênero como possível definidor da condição submissa e, até mesmo marginal que as personagens femininas desses contos vivenciam mediante o contato com o outro gênero. Em ambos os contos é perceptível a insatisfação e a angustia das personagens que tentam se afirmar como sujeitos em uma sociedade patriarcal. Para tanto, elas se valem de seus gestos, de um discurso, na maioria das vezes, interrompido e de seus pensamentos que nos sãos apresentados via narrador por meio do monólogo interior e do fluxo de consciência presentes na obra clariciana. É interessante observar como, aparentemente, as identidades se revelam e se modificam a partir da perspectiva e do contato com o marido, os filhos, os netos e os amigos. Essas identidades são dinâmicas e fragmentadas, pois estão a todo o tempo tentando se ajustar ao que a sociedade patriarcal espera das mulheres. No entanto, nesses contos, esse ajuste é sempre conflituoso, pois apesar do aparente desejo de se ajustar existe a necessidade de se afirmar como sujeito. O embasamento teórico dessa comunicação será: Hall (2006), Bonicci (2005), Bourdier (2011), Zolin (2009), Nunes (1969), Foucault (1984), Beauvoir (1980), Perrot (2005) entre outros. PALAVRAS-CHAVE: Identidade; Gênero; Personagens. Maria Amélia Dalvi TITULO: A EDUCAÇÃO NA FICÇÃO: EM BUSCA DE ESCOLAS, PROFESSORES, ALUNOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA LITERATURA RESUMO: Estuda-se a presença de escolas, professores, alunos e práticas pedagógicas – especialmente aquelas mediadas pela presença do escrito – em diferentes textos literários brasileiros. O interesse central está nas representações do sistema educacional (com suas instituições, agentes e práticas) no bojo da ficção, entendendo-se que a história da lida pedagógica com a questão da leitura e da escrita é componente inextrincável da cultura literária. Na sistematização de considerações a respeito do tema, consideram-se mais detidamente as narrativas “Conto de escola”, de Joaquim Maria Machado de Assis; “Arábia feliz”, de Reinaldo Santos Neves; e O fazedor de velhos, de Rodrigo Lacerda; e os conjuntos de poemas intitulados “Primeiro colégio” e “Fria Friburgo”, publicados em Boitempo, de Carlos Drummond de Andrade. Agenciam-se, complementarmente, reflexões críticas de Edmir Perrotti e Regina Zilberman a respeito das relações entre escolarização, leitura e sociedade burguesa, e noções conceituais advindas dos estudos de Michel de Certeau e de Roger Chartier, no que tange às relações entre livros, leitores e literatura, no contexto das culturas do escrito. Nas considerações finais, pontua-se que a defesa histórica que se faz da presença da ficção na educação formal e não formal não pode prescindir de uma reflexão crítica sobre como o sistema educacional vem sendo compreendido pelas comunidades culturais que constituem e atravessam o sistema literário. PALAVRAS-CHAVE: educação literária; culturas do escrito; história cultural. Maria Analice Pereira Da Silva TITULO: DE TEORIA A MÉTODO RESUMO: Método de análise e método de ensino de literatura podem ser considerados dois eixos que se entrecruzam no sentido de promover a leitura de romances entre os estudantes do nível médio. Nesse sentido, problematiza-se aqui a seguinte questão: de que maneira podemos fazer de nossos conhecimentos teóricos bases de sustentação para a elaboração de um método de análise e de ensino de literatura mais eficiente? Para tanto, torna-se imprescindível uma discussão sobre a teoria do romance, aqui formalizada por pensadores como George Luckács, Lucien Goldmann, T. W. Adorno, Walter Benjamin, Marte Robert bem como sobre o romance brasileiro em seus aspectos histórico-críticos, a partir de estudos de Antonio Candido, Alfredo Bosi, Silviano Santiago, Carlos Nelson Coutinho, além de questões mais específicas acerca do ensino de literatura e da formação do leitor e suas problematizações. Assim sendo, o trabalho ora apresentado tem por objetivo mostrar que as duas ações humanas aqui discutidas – análise e ensino de literatura – dependem, em alto grau, da metodologia adotada e desenvolvida; que essa metodologia depende de um aporte teórico; e que tal aporte teórico não deve ser algo meramente aplicável, nem discussão a priori do objeto que ele discute, deve, sim, ser o instrumento por meio do qual possamos discutir melhor e com mais propriedade o texto literário e questões relativas ao seu ensino, conforme preconiza Tzvetan Todorov. PALAVRAS-CHAVE: Romance; Ensino; Metodologia. Maria Andrade dos Santos TITULO: AS DIVERSAS FACES DE DRUMMOND “ E AGORA, JOSÉ?” NAVEGAR É PRECISO RESUMO: AS DIVERSAS FACES DE DRUMMOND - “ E AGORA, JOSÉ?” – NAVEGAR É PRECISO MARIA ANDRADE DOS SANTOS –UPM/FIESI/SENAI Este trabalho tem por finalidade apresentar o caminho de uma obra literárira como E agora José? (autor-obra-leitor) através do tempo multissincrônico (sincrônico e assincrônico), dos espaços reais e virtuais (livro-site) que se apresentam. Através da obra de Drummond, considerado pela crítica um dos maiores poetas e/ou escritores brasileiros do século XX, mostrar como um autor (canon) e sua obra podem perdurar pelo tempo e novos suportes que se apresentam, enfatizando a internet (ciberpoeta-ciberpoema-ciberleitor). Drummomd poeta, escritor de jornal e revista, homenageado em escola de sampa, musicado em versos, declamado (re)conhecido e acessado em um site popular, tão acessado pelos jovens, como youtube. Surgem então locutores e alocutários interagindo e mudando de papel a todo instante, surge uma literatura (um novo discurso literário) não mais unilateral, ainda que esta não deva ser deixada de lado, uma literatura abrangente, talvez agora mais transformadora, mais includente ainda sem fronteiras. E é a partir deste novo conceito que se fez a presente comunicação. ANDRADE, Carlos Drummond de. Confissões de Minas (Ensaios e Crônicas). Rio de Janeiro. 1944. LAJOLO, M. Literatura, leitores e leitura. São Paulo: Ed. Moderna. 2001 Lajolo, M ; Zilberman, R. A formação da leitura no Brasil . São Paulo: Ed. Ática. 1ª. ed.1996 Site https://www.youtube.com/watch?v=CaexXJ6UFnw acessado em 07/fev.2015 (na voz de Drummond.(418.459 acessos) PALAVRAS-CHAVE: Drummond; ciberliteratura; multissincrônico. Maria Angélica Deângeli TITULO: ESCREVER, TRADUZIR, NARRAR: (...) COMO UMA FORMA DE SE DIZER NA LÍNGUA DO OUTRO RESUMO: Ao retratar o cenário de uma Argélia devastada pela onda de ataques terroristas nos anos 90, a escritora argelina Assia Djebar, em seu livro Oran, langue morte (1997), procura revelar em que sentido a literatura se constitui como terreno de combate plurilíngue na medida em que traduzindo para a língua do outro, no caso, a língua francesa, as particularidades de um universo em desarranjo, ela (a literatura) representa a promessa de hospitalidade dos discursos em língua estrangeira e, consequentemente, da política de passagem ao outro. Para Assia Djebar, o imperialismo de uma “língua só” é evidência de uma “língua morta”, sobretudo quando esta língua silencia o dizer daqueles que não reclamam nada mais a não ser a poesia da própria escrita. O objetivo desta comunicação é o de mostrar, a partir de uma leitura mais detalhada do conto intitulado “La femme en morceaux” – conto que, com outras narrativas e novelas, compõe o conjunto da obra – como a escrita enquanto fenômeno de condução das línguas permite, no cerne de sua intraduzibilidade e entre os restos de quase nada, de uma língua propriamente morta, recuperar a possibilidade de se dizer, de se dizer em línguas e graças à tradução. PALAVRAS-CHAVE: Assia Djebar; intraduzível; silêncio. Maria Aparecida Nogueira Schmitt TITULO: O DUPLO COMO DESENCADEADOR DE MOMENTOS EPIFÂNICOS EM A RAINHA DOS CÁRCERES DA GRÉCIA E EM O JOGO DA AMARELINHA RESUMO: O DUPLO COMO DESENCADEADOR DE MOMENTOS EPIFÂNICOS EM A RAINHA DOS CÁRCERES DA GRÉCIA E EM O JOGO DA AMARELINHA Profa. Dra. Maria Aparecida Nogueira Schmitt (CES/JF) No estabelecimento do diálogo textual entre A rainha dos cárceres da Grécia, de Osman Lins, em O jogo da amarelinha, de Júlio Cortázar, a circularidade infinita de linguagens, defendida por Barthes, constitui-se como traço comum a ambas as obras e se faz objeto deste estudo. Por meio da narrativa heráldica, num processo de mise-en-abyme, personagens se apresentam duplicados o que, por caminhos distintos, confere momentos epifânicos às respectivas tessituras narrativas. O leitor ativo constitui elemento fundamental para que se promova a aproximação de dois escritores comprometidos com a desestruturação das formas arquetípicas do romance tradicional na literatura latino-americana. De acordo com a concepção de Lukács a respeito do herói problemático, em constante busca, em A rainha dos cárceres da Grécia, este é o próprio romance à procura do seu desembaraço da narrativa tradicional e, para tanto, se desdobra no narrador, que se procura em Júlia Marquezim Enone, que se projeta em Maria de França, que se completa em Ana da Grécia. Por sua vez, em O jogo da amarelinha, Horácio Oliveira, narrador e protagonista, se busca em seu duplo Morelli como espelho da consciência crítica. Maga, o oposto de Oliveira, procura no seu duplo, Talita, a parte que lhe falta para completar totalmente Oliveira, o que a leva ao processo catártico de descoberta. Palavras-chave: Duplo. Personagem. Busca. Epifania. PALAVRAS-CHAVE: Duplo; Personagem; Epifania. Maria Aracy Bonfim TITULO: ARCANOS EM ROTA: AVALOVARA E O TARÔ RESUMO: A dimensão simbólica, imagética do romance Avalovara, de Osman Lins é indiscutivelmente percebida quando a leitura avança. E dentre tantos temas ligados à essa dimensão, um em especial será abordado nesse trabalho: a aparição das imagens do Tarô disseminadas em diversos trechos da narrativa. Trata-se uma revisitação a este tema, em que busco adicionar algo que soma meus estudos sobre Avalovara e seus símbolos com a minha experiência pessoal e estudos prévios sobre o baralho do Tarô – seus aspectos simbólicos e arquetípicos. Para tantos, considerado oráculo e, de qualquer modo, intensamente ligado ao imaginário cultural e literário geral e que, obviamente, produz efeito representativo forte, revigorando na literatura a capacidade da criação. Faz parte desse trabalho um diálogo com a análise da Prof.ª Drª Leny da Silva Gomes em sua tese “Avalovara: uma cosmogonia literária” (UFRGS, 1998), acerca da presença simbólica da imagem de alguns dos Arcanos Maiores do Tarô no romance. Exercitando, portanto, a possibilidade hermenêutica e que pode colher em outros saberes enriquecimento aos estudos literários, minha análise procura traçar seu curso acedendo (além da fortuna crítica literária) a textos, tais como os de Papus, Elisabeth Haich, Wilfred Houdoin, Sally Nichols, além dos estudos sobre simbologia. PALAVRAS-CHAVE: Avalovara; Tarô; Símbolos. Maria Aurinívea Sousa de Assis TITULO: A EXPERIÊNCIA DO FORA EM TUTAMÉIA RESUMO: O presente trabalho visa estudar Tutaméia, de João Guimarães Rosa, publicado em 1967, enfocando uma experiência do fora que ela propõe, destacando aspectos como a problematização da dicotomia dentro/fora, a ordem alfabética que viola o infinito de possibilidades ao qual a obra remete, obra que escapa a qualquer tentativa de enumeração. O autor assinala a virtualidade da conclusão do livro, pensa a obra a partir de seus interstícios, capaz de conter potencialmente todos os livros, instaurando o devir nas suas Terceiras Estórias que escolheram a dúvida e o não fechamento como métodos de trabalho, o nascimento constante da palavra originária como sua matéria e um conjunto de seres andarilhos como seus agentes. Considera-se que, nas narrativas rosianas, a linguagem literária e sua capacidade de desdobramento infinito atinge a materialidade do objeto livro. É um livro escrito no limiar de suas possibilidades e que põe entre aspas as fronteiras edificadas para o livro e para a leitura. Este exemplar rosa-mallarmaico é encarado aqui como objeto que, no esgarçamento de sua concretude finita, problematiza acerca do infinito que é a obra de um autor. Maurice Blanchot, Gilles Deleuze, e Michel Foucault são as principais referências para estas reflexões, bem como análises recentes sobre os autores, como a proposta por Tatiana Salem Levy. PALAVRAS-CHAVE: Experiência do fora; Livro; Linguagem infinita. Maria Betânia Almeida Pereira TITULO: ENTRE O CÁRCERE E A INFÂNCIA: O VALOR ENORME DAS PALAVRAS RESUMO: A pesquisa parte da análise das obras Infância (1945) e Memórias do Cárcere (1953) de Graciliano Ramos no intuito de investigar a tessitura narrativa das memórias desse autor que, ao resgatar suas vivências da meninice no sertão nordestino e experiências no período em que esteve preso, ganha contornos ficcionais. Procura-se investigar de que maneira o relato memorialístico é construído, quais os meios empregados numa escrita de si que transforma as experiências vividas em matéria literária, não ficando resumidas a simples relatos autobiográficos. O livro Infância é elaborado no período pós-cárcere, momento em que o escritor está ainda debilitado pelas agruras da prisão. Sua pena não escamoteia as penas vividas no presente e estas não se diferenciam das penas do passado, se atentarmos para o universo de violência e opressão em que vivia o menino. Dessa forma, neste trabalho, procuramos rever como o menino de Infância dá a mão ao adulto das Memórias do Cárcere e vice-versa; é um jogo ambíguo e ao mesmo tempo revelador de uma escrita singular, cujo compromisso artístico e ideológico do autor se desvela na urdidura dos textos. PALAVRAS-CHAVE: memória; infância; ficção. Maria Camargo Sipionato TITULO: A PRESERVAÇÃO TCHUKÓVSKAIA DA MEMÓRIA NA OBRA DE LÍDIA RESUMO: Apesar das obras literárias produzidas no período stalinista, após a imposição do Realismo Soviético, serem controladas pela censura, alguns artistas conseguiram transpor esse engessamento e fizeram obras significativas nas quais podemos encontrar traços do cotidiano soviético e dos abusos do regime stalinista. Essas obras trazem marcas importantes que não só caracterizam o período, como nos traz à luz detalhes de uma realidade pouco conhecida que nos leva a reavaliar os limites entre Literatura e História. Podemos encontrar na obra de Lídia Tchukóvskaia, Sofia Petrovna, descrições da sociedade soviética dos anos 1930. A obra preserva a memória dessa sociedade em um período de constante manipulação e apagamento da História, servindo como importante instrumento de denúncia do Grande Terror stalinista. Caberá apresentar como a narrativa de Tchukóvskaia é capaz de mostrar as mazelas dessa sociedade, a preservação do cotidiano soviético a partir da ação das personagens, marcando episódios históricos importantes. A partir das ações das personagens é possível identificar os traços sociais do país em construção, como é notável em alguns exemplos: o novo tipo de hierarquia estabelecida por meio de um jogo de poder muito frágil que colocava os cidadãos em alerta constante quanto à estabilidade de seus empregos e as suspeitas que poderiam ser levantadas contra eles; o novo tipo de relação da época: um apartamento comunal, dividido com outras famílias, as pessoas vivem em estado de constante vigilância; a moral estabelecida é julgar e desconfiar do outro, os laços sociais de amizade e confiabilidade são extintos; verifica-se a formação da juventude com os valores aprendidos nas escolas e nas organizações políticas, como a Komsomol, a exclusão social, representando o estigma daqueles que tinham um passado não aceito pelo regime. Desse modo, podemos estabelecer uma reflexão importante do modo como a preservação da memória se faz presente na Literatura. PALAVRAS-CHAVE: Memória; Literatura russa; Tchukóvskaia. Maria Candida Ferreira de Almeida TITULO: ¿ES POSIBLE ESCRIBIR CON UN DILDO?: APELANDO A UNA LITERATURA QUEER RESUMO: Esta ponencia busca provocar una reflexión con los asistentes sobre los límites y posibilidades de crear una literatura queer, considerando que el lenguaje es sexista, patriarcal y la enseñanza igualmente impide la escritura fuera las reglas gramaticales y sociales, lo que nos pone permanentemente la pregunta cuando buscamos escribir “de fuera”: ¿es posible escribir con un dildo? PALAVRAS-CHAVE: Cuerpo; queer; escritura. Maria Carolina de Godoy TITULO: DO TEN AO QUILOMBO: REGISTROS HISTÓRICOS E LITERÁRIOS DE ABDIAS DO NASCIMENTO RESUMO: O interesse desta proposta de comunicação origina-se no estudo de autores afro-brasileiros desenvolvido no projeto de pesquisa “Literatura afrobrasileira e sua divulgação em rede”, apoiado por CNPq e Fundação Araucária, e tem o propósito de refletir sobre a produção de Abdias do Nascimento. De um lado, propõe-se a reflexão sobre o papel do TEN (Teatro Experimental do Negro) na divulgação dos interesses e das questões relativas ao percurso histórico de conquistas sociais e políticas do movimento negro pelo viés artístico. Desse modo, a recuperação histórica do TEN, fundado por Abdias do Nascimento e que contou com a contribuição de diversos dramaturgos, dentre eles Nelson Rodrigues, fazse necessária para compreensão do modo como ocorreram as primeiras tentativas de inserção de debates sobre a condição do negro brasileiro no espaço do espetáculo. Para esse estudo, tomam-se por base as peças Sortilégio (1961) e Sortilégio II (1979). De outro lado, pretende-se abordar o jornal Quilombo (2011), dirigido por Abdias e publicado entre dezembro de 1948 e julho de 1950, principalmente no que se refere às matérias sobre a atividade do TEN neste período. Referências NASCIMENTO, Abdias do Nascimento. “Sortilégio: mistério negro”. In:____.Drama para negros e prólogo para brancos: antologia de teatro negro-brasileiro. Rio de Janeiro: Teatro Experimental do Negro, 1961. ______. Sortilégio II: mistério negro de Zumbi redivivo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979 (Coleção Teatro) ______. Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro/Edição fac-similar do jornal dirigido por Abdias do Nascimento. São Paulo: Editora 34 e FUSP, 2011. PALAVRAS-CHAVE: literatura afro; Abdias; teatro. Maria Castanho Caú TITULO: O ROTEIRISTA COMO CINEMATOGRÁFICO COMO LITERATURA ESCRITOR, O ROTEIRO RESUMO: O mercado editoral da contemporaneidade parece cada vez mais tentar alavancar vendas apoiando-se na (ainda sólida) popularidade do cinema, essa arte cuja essência, segundo Bazin, funda-se justamente sobre seu caráter radicalmente popular. O apelo comercial da sétima arte há anos impulsiona vendas, em geral dos títulos adaptados para as telas com sucesso, que ressurgem nas prateleiras das livrarias em coordenação com os novos lançamentos. Nos últimos anos, a quantidade de volumes ligados ao universo da dita sétima arte vem se ampliando constantemente, ao mesmo tempo em que os roteiros cinematográficos parecem ter finalmente encontrado seu espaço enquanto “gênero literário” em crescente expansão (cf. Figueiredo 2010). Nota-se que este panomara de construção e popularização de uma “nova” demanda de leitura, com seus códigos e público específicos, parece ecoar o cenário da popularização das publicações de teatro segundo o apresenta Chartier (2002). Problematiza-se assim o conceito de literatura, pensando de que forma o renovado interesse pela publicação de roteiros representa um reflexo do novo status cultural dessas obras. Partindo do estudo de caso proporcionado por alguns dos roteiros publicados por Ingmar Bergman (um dos pioneiros nesse sentido), tentaremos entender as implicações desse novo fenômeno editorial e (re)posicionar o roteirista como autor no âmbito da literatura contemporânea. PALAVRAS-CHAVE: Cinema e Literatura; Roteiro; Ingmar Bergman. Maria Catarina Rabelo Bozio TITULO: EL DESPOJO E PEDRO PÁRAMO, DRAMA E LITERATURA: AS TEMÁTICAS E DE JUAN RULFO RECORRENTES EM ESTRATÉGIAS DISTINTAS RESUMO: A análise de El despojo, em paralelo a Pedro Páramo, mostra-se como uma estratégia necessária e inovadora para compreender a produção de Juan Rulfo em sua totalidade. O curta-metragem, que tem direção de Antonio Reynoso e foi capturado conforme orientações de Juan Rulfo, traz reflexões profundas e novas possibilidades para o contexto cinematográfico e dramatúrgico do México de 1960, por isso, uma reflexão atenta sobre a temática e a estrutura que apresenta torna-se tão imprescindível para compreender a capacidade da construção dramática do autor na narrativa. O escritor, ao indicar diálogos durante as filmagens – já que não havia um roteiro prévio – colaborou para uma dramatização espontânea, ainda que sem a consciência desse resultado e assumiu, no âmbito cinematográfico, função análoga à de dramaturgista. A obra audiovisual foi, posteriormente, transformada em roteiro com base nos diálogos originais - texto atualmente disponível nas compilações da obra do autor e do qual lançamos mão para análise. Essa peculiaridade fomenta possibilidades de reflexão exclusivamente relativas ao drama, mas também fortalece os meios para a aproximação desse material com outras produções e possibilita o diálogo dessa proposta com as demais obras, por exemplo, com Pedro Páramo, produção de mais fôlego do autor mexicano. Ambas, por exemplo, tornam possível a percepção da perspectiva do fantasmagórico, característica recorrente na obra de Rulfo e que torna a se repetir nessa produção audiovisual. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Dramaturgia; Juan Rulfo. Maria Celeste de Souza Cardoso TITULO: CONTEXTUALIZAÇÃO LITERÁRIO NA ESCOLA DE OBRAS CLÁSSICAS: O TEXTO RESUMO: Sabe-se da dificuldade encontrada por professores da rede pública de ensino para fazer com que seus alunos da Educação Básica, principalmente dos últimos anos do Ensino Fundamental e Médio, tenham interesse pela leitura. E, se essa leitura for por obras clássicas, a dificuldade aumenta. Assim, com esse trabalho almeja-se apresentar resultados de um projeto aplicado em três escolas públicas estaduais da cidade de Parintins. O projeto está inserido no PIBID/LETRAS e tem por objetivo o incentivo da leitura de obras clássicas, enfatizando o uso do texto literário nas aulas de Língua Portuguesa. Para isso, fez-se necessária a escolha de obras clássicas inseridas na grade curricular dos estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental e das três séries do Ensino Médio, tais como: Vidas Secas, de Graciliano Ramos; O Quinze, de Rachel de Queiros; Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto; O Cortiço, de Aluísio Azevedo; Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto; e outras escolhidas de acordo com a série onde o projeto for aplicado. Essas obras são apresentadas aos estudantes pelos acadêmicos do curso de Letras, após a apresentação, partese para a leitura e discussão em pequenos grupos, em seguida assiste-se a filmes ou documentários sobre a obra lida, depois atividades incluindo os gêneros textuais são desenvolvidas com a turma, assim como a dramatização e o documentário contextualizando a temática das obras com a realidade dos alunos são realizados de forma bem criativa. Como resultado, os estudantes junto com seus supervisores e os acadêmicos de Letras, têm apresentado diversidade de atividades desenvolvidas m sala de aula, tais como: produção textual, teatro, musical, etc. Todas essas atividades demonstram a importância de se levar o texto literário para a sala de aula e fazer com que os alunos se interessem por esse gênero textual, principalmente se essa leitura for trabalhada de forma bem criativa. PALAVRAS-CHAVE: Texto literário; Contextualização; Escola. Maria Cláudia Rodrigues Alves TITULO: EPÍGRAFES: OS “OUTROS” NO “EU” RESUMO: O uso de texto alheio em literatura, como epígrafe, por exemplo, transforma o autor epigrafado em estrangeiro malgré lui. Estrangeiro no texto de outro. Texto estrangeiro que migrou e, uma vez extirpado de sua origem, permanece durante o percurso até o novo texto, exilado, numa zona de ainda nãopertencimento. Sua presença encabeçando novo texto, apadrinha-o inicialmente e, em seguida, paira em seu interior em diferentes níveis. Interessa-nos discutir a relação de autor/texto a autor/texto: a motivação de tal procedimento e seu percurso. Buscamos verificar a sua presença do texto alheio/estrangeiro no paratexto literário, a apropriação desse fragmento, sua recontextualização,