Formação e estabilidade da cor de produtos cárneos curados
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Formação e estabilidade da cor de produtos cárneos curados
revisão Formação e estabilidade da cor de produtos cárneos curados José de Assis F. Faria 1 Pedro Eduardo de Felício 1 Marco Antônio Neves 2 Mauro Alberto Romano2 1- Departamento de Tecnologia da Faculdade de Engenharia de Alimentos da UNICAMP; 2Sadia S/A O processo de cura consiste no tratamento das carnes com sal, nitrito, açúcar, temperos e outros ingredientes, objetivando a preservação do produto, desenvolvimento e fixação de cor, sabor, aromas e melhoria de rendimento (Judge et al., 1989). O nitrito, adicionado na forma de sais de potássio ou sódio é utilizado para preservar o aroma, prevenir a formação de warmed over flavour, inibir o crescimento de microrganismos e, principalmente, conferir e fixar a cor rósea avermelhada, característica dos produtos curados. A cor de um produto cárneo está associada à conformação química e concentração dos pigmentos heme, mais especificamente da mioglobina, nítrico proveniente da redução do nitrito. O entendimento do conjunto de reações que envolvem o nitrito é indispensável para a compreensão da formação e estabilidade da cor dos produtos curados. Estas reações seguem ilustradas pela Figura 1 (Fox & Ackerman, 1968; Sebraneck & Fox, 1985). O nitrito pode ser adicionado diretamente ou ser obtido através da redução do nitrato, promovida pela ação de bactérias redutoras. A adição de nitrato é atualmente empregada somente em processos de cura longa (Judge et al., 1989). O óxido nítrico é obtido da redução do nitrito que pode ocorrer de três formas distintas, a saber (Fox & Figura 1 - Reações óxido-redutoras envolvendo o Nitrito (Adaptado de Towsend & Bard 1971a) + O2 + O2 NO3 NO2 (nitrato) Bactérias (nitrito) Nitrato + H2O redutoras Agentes Redutores NO + O2 2NO2 ( ) HNO3 + 2NO + H2O 3HNO2 + 3RCHNH2COOH composta por uma cadeia polipeptídica denominada globina, acoplada a um grupo prostético, denominado heme, composto por um átomo de ferro e um anel porfirínico (Clydesdale & Francis, 1976). O papel do nitrito na coloração de produtos curados A cor rósea é obtida devido à formação do pigmento nitrosilmioglobina, resultado da reação da mioglobina com o óxido 16 3RCHOHCOOH + 3H2O +3N2 ( ) Ackerman, 1968; Sebraneck & Fox, 1985): 1) Ação de agentes redutores; 2) Ação redutora dos tecidos no post-morten; 3) Decomposição de ácido nítrico. Agentes redutores, como sais de ácido ascórbico, doam elétrons ao nitrito, levando à formação de óxido nítrico (Bauernfeind & Pinkert, 1970; Judge et al., 1989; Izumi et al., 1989). Esta constitui-se na principal via de obtenção de óxido nítrico nos Faria, J. A. F., Felício, P. E., Neves, M. A., Romano, M. A. - Formação e Estabilidade da Cor de Produtos Cárneos Curados Revisão - Revista TeC Carnes - Campinas, SP, v.3, n.2, p.16-22, 2001. http://www.comciencia.br/teccarnes/artigos.htm> revisão processos de curas comerciais (Cornforth, 1994). A redução enzimática de nitrito também pode ocorrer através da mitocôndria, enquanto quantidade suficiente de NADH estiver presente. Os citocromos podem estar envolvidos no desenvolvimento da cor de curados, já que eles resistem ao processo de cura e favorecem o processo de redução (Ledward, 1972; Hunt & Kropf, 1987; Fox & Ackerman, 1968). Em solução aquosa (pH 5,5 –6,0) parte do nitrito está presente na forma de ácido nítrico (HNO2). Nestas condições, o ácido nítrico é decomposto a óxido nítrico. Esta reação é bastante lenta e, portanto, sua importância é mínima no caso dos processos de cura rápida. Devido a sua reatividade, uma considerável quantidade de nitrito é “desperdiçada”, devido a ocorrência de reações paralelas às reações de cura, que consomem uma determinada parcela do nitrito adicionado e que, portanto, não contribuem com o desenvolvimento da cor de produtos curados (Sebraneck & Fox, 1985). Entre elas, podemos relacionar a reação de Van Slyke, na qual o ácido nítrico reage com aminoácidos resultando na formação e liberação do gás nitrogênio (Towsend & Bard 1971a). Na presença de quantidades suficientes de oxigênio, o óxido nítrico também pode ser imediatamente oxidado a nitrito e/ou a nitrato (Schmelzer-Nagel & Ambiel, 1988; Wirth, 1986). A incorporação excessiva de ar na massa cárnea, temperaturas elevadas no preparo e a ordem incorreta na adição dos ingredientes, facilitam a ocorrência destas reações paralelas. Dinâmica da cor de produtos cárneos A cor das carnes frescas é definida pela quantidade relativa de três formas de mioglobina, mioglobina em seu estado reduzido (Mb) de cor vermelha púrpura, oximioglobina (O2Mb) de cor vermelha brilhante e metamioglobina (MetMb) de cor marrom (Rizvi, 1981; Cornforth, 1994). As reações entre as três formas de mioglobina são reversíveis e estão num estado de equilíbrio dinâmico, com uma constante interconversão entre elas, conforme pode ser verificado na Figura 2 (Fox, 1966). A mioglobina reduzida na presença de oxigênio é convertida a oximioglobina, reação favorecida por altas pressões de O2 (40 torr). Sob pressões reduzidas de oxigênio (1 a 1,4 torr) ocorre a oxidação do ferro heme (Fe2+) ao seu estado férrico (Fe 3 + ). Com aproximadamente 50% de conversão da oximioglobina a metamioglobina, a carne torna-se inaceitável para a maioria dos consumidores (Rickert et al., 1957). A metamioglobina pode ser reduzida a mioglobina através da ação de enzimas redutoras, NADH dependentes, fenômeno denominado MRA (metamyoglobin-reducing activity) segundo Hunt & Kropf em 1987 e Ledward em 1972. O cofator enzimático NADH é obtido do processo de oxidação enzimática de substratos endógenos como a glicose, ainda presente em carnes frescas. Assim que os substratos oxidáveis são Figura 2 - Alterações químicas da mioglobina durante o desenvolvimento da cor de produtos cárneos curados. Adaptado de Fox, 1966; Bauerfeind & Pinkert, 1970; RIZVI, 1981; Towsend & Bard, 1971a; Judge et al., 1989; Schmelzer-Nagel & Ambiel, 1988. Mioglobina desnaturada Fe 3+ Nitroso / Dinitroso hemocromo oxidação Fe 2+ (rosa) redução redução NO NO Fe 2+ (púrpura) Nitrosilmetamioglobina Fe 3+ (marrom) Metamioglobina desnaturada Fe 3+ (marrom) NO2 Nitritometamioglobina Fe 3+ LEGENDA: Aquecimento 50 a 60 ºC 17 HNO2 Nitrometamioglobina Fe 3+ redução Porfirinas Oxidadas Fe 3+ (verde,amarelo, desbotada) redução + NO redução + oxigenação Metamioglobina Fe 3+ Nitrosilmioglobina oxidação oxidação NO oxidação Mioglobina Fe 2+ (púrpura) oxidação Oximioglobina desoxigenação Fe 2+ (vermelho) oxigenação oxidação Nitro-mioglobina Fe 2+ oxidação Nitrohemina Fe 2+ (verde) revisão suprimidos, o poder redutor dos tecidos é perdido e o ferro do heme pigmento é oxidado a MetMb. No processamento da maioria dos produtos curados, como salsichas e presuntos, durante a trituração da massa cárnea, ocorre a incorporação de ar, promovendo a oxigenação dos tecidos e, portanto, a oximioglobina estará predominantemente presente no momento da adição dos ingredientes para cura. Inicialmente, a oximioglobina e a mioglobina são oxidadas a metamioglobina pela ação do nitrito. Subseqüentemente, esta reage com óxido nítrico formando o complexo nitrosilmetamioglobina. A redução da nitrosilmetamioglobina, promovida pela ação de enzimas redutoras, agentes redutores, como ascorbato de potássio, ou grupos sulfidrílicos, liberados durante o tratamento térmico, ou a reação direta da mioglobina com óxido nítrico, dará origem a nitrosilmioglobina (Fox & Thompson, 1963; Fox & Ackerman, 1968; Koizumi & Brown, 1971). A nitrosilmioglobima é responsável por uma atrativa cor vermelho brilhante, sendo o pigmento presente nos produtos curados antes do tratamento térmico. Ambos pigmentos nitrosilheme são instáveis e podem voltar às suas respectivas formas originais. A cor é posteriormente estabilizada através da desnaturação térmica da parte protéica da mioglobina, através de um aquecimento sob temperaturas de 50 a 60 °C, originando um pigmento róseo brilhante mais estável, denominado nitrosohemocroma. Aquecimentos mais agressivos podem remover a globina do pigmento e possibilitar a formação de um complexo com um segundo íon de óxido nítrico, denominado dinitrosohemocroma, também com coloração rósea (Fox, 1966; Judge et al., 1989). Além disso, a metamioglobina pode reagir diretamente com nitrito para formar nitrito-metamioglobina, que tem uma cor vermelha 18 Faria, J. A. F., Felício, P. E., Neves, M. A., Romano, M. A. - Formação e Estabilidade da Cor de Produtos Cárneos Curados Revisão - Revista TeC Carnes - Campinas, SP, v.3, n.2, p.16-22, 2001. http://www.comciencia.br/teccarnes/artigos.htm> amarronzada . Excessos de ácido nítrico podem ocasionar a formação de nitrometamioglobina, que sob condições redutoras, será convertida em nitromioglobina, que por sua vez, após o tratamento térmico, dará origem a nitrohemina, composto de coloração verde (Fox, 1966). Este fenômeno é denominado nitrite burn, resultante do uso excessivo de nitrito, principalmente em produtos ácidos, nos quais o nitrito é mais reativo. A quantidade de nitrito necessária para causar o nitrite burn é extremamente dependente do pH do produto (Reith & Szakaly, 1967a; Hunt & Kropf, 1987). Estabilidade da cor dos produtos cárneos curados A Figura 3 ilustra as relações de causa e efeito entre os principais eventos que afetam a estabilidade da cor de produtos cárneos curados. A estabilidade da cor de um produto curado está diretamente relacionada com a manutenção e concentração de nitrosohemocromo no produto final que, por sua vez, é fortemente dependente da disponibilidade de mioglobina na matéria-prima, que normalmente é o reagente limitante nas reações de cura. A aplicação de tratamentos térmicos mais agressivos possibilita uma maior conversão do pigmento nitrisilmioglobina em nitrosilhemocromo (Schmelzer-Nagel & Ambiel, 1988). Uma coloração escura pode ser observada em produtos que sofrem desidratação superficial, o que promove a concentração dos pigmentos e ao mesmo tempo altera as propriedades ópticas das fibras musculares. Este problema pode ser evitado através da utilização de filmes de embalagem com boa barreira ao vapor de água (10-100 g/ 24h/m2) (Towsend & Bard, 1971b, Rizvi, 1981). Pode-se, também, verificar o escurecimento devido à adição excessiva de nitrito, que promove a oxidação da mioglobina, levando à formação de metamiogloibina (Walsh & Rose, 1956), o que pode ocasionar o esverdeamento do produto (Judge et al., 1989). Por outro lado, a baixa disponibilidade de óxido nítrico, proveniente da adição de quantidades insuficientes de nitrito ou de agentes redutores durante a cura, gerando uma baixa concentração residual de óxido nítrico no produto final, poderá resultar em produtos com coloração fraca, pouco estável (Towsend & Bard, 1971a; Reith & Szakaly, 1967b). A má distribuição da salmoura pode promover o desenvolvimento de cor deficiente, uma maior deterioração microbiológica de pontos que não contenham a solução de cura e a formação de áreas esverdeadas ou ácidas. Processos mecânicos como o massageamento, ou tambleamento, promovem a ruptura dos tecidos, acelerando a difusão da salmoura (Judge et al., 1989). O pigmento nitrosohemocroma, apesar de termoestável, é susceptível às reações de oxidação, que resultam na formação de porfirinas verdes, amarelas ou sem cor. Estas reações podem ser promovidas pela presença de agentes oxidantes ou pela ação conjunta da luz e oxigênio, processo este denominado fotoxidação, que pode ser dividido em duas etapas: (1) inicialmente têm-se a dissociação do óxido nítrico do grupo heme induzida pela pela luz e catalizada pela presença de oxigênio, (2) seguida pela oxidação do óxido nítrico promovida pelo oxigênio e intensificada pela luz, que serve como fonte de energia para reação. Existem evidências de que a estrutura pirólica da parte heme pode ser oxidada, fato que impossibilitaria sua recombinação com o óxido nítrico (Draudt & Deadtherage, 1956; Tarladgis, 1962). A perda de cor também pode ocorrer no interior do produto na ausência de luz, entretanto, a velocidade da reação é bastante lenta, quando comparada à que ocorre revisão na superfície do produto (Fox, 1966). Peróxidos orgânicos, provenientes da oxidação de lipídios, ou seus intermediários, podem oxidar diretamente os pigmentos das carnes curadas, fenômeno denominado cooxidação (Judge et al., 1989), ou ainda, reduzir a efetividade do sistema redutor de pigmentos, cujo principal agente é o ascorbato de sódio, dificultando a manutenção da nitrosilmioglobina (Reith & Szakaly, 1967a; Cornforth, 1994). Ácidos graxos insaturados oxidam-se na presença de luz e oxigênio, reação catalisada pela presença de íons metálicos, entre eles o ferro, que pode estar associado ou não ao grupo heme (Kanner et al., 1988). A incorporação às massas cárneas de gorduras com alto teor de peróxidos orgânicos resulta, portanto, numa maior instabilidade da cor do produto final (Towsend & Bard, 1971b). A oxidação de lipídios é a principal causa de deterioração em produtos derivados de aves, uma vez que estes contêm grandes quantidades de ácidos graxos insaturados (Salih et al., 1989; Macrae et al., 1993). Estudos demonstram que o efeito estabilizante da cor obtido com BHA, BHT, PG e oxalato é resultado da inibição da oxidação de lipídios (Greene et al., 1971). Existem hipóteses de que a própria degradação dos pigmentos de carnes curadas pode promover a oxidação lipídica, pois produzem compostos Fe 3+, como a nitrosilmetamioglobina, que têm ação pró-oxidante. Verificou-se, também, que a nitrosilmioglobina pode atuar como agente antioxidante (Kanner et al., 1980; Johns et al., 1989). Portanto, prevenir a degradação da cor de produtos curados pode ser determinante no aumento da vida-deprateleira de produtos com alto teor de ácidos graxos insaturados, como os derivados de aves. Estudos recentes indicam que um substancial aumento na estabilidade da cor de produtos cárneos pode ser obtida através de um suplemento alimentar com Vitamina 19 Faria, J. A. F., Felício, P. E., Neves, M. A., Romano, M. A. - Formação e Estabilidade da Cor de Produtos Cárneos Curados Revisão - Revista TeC Carnes - Campinas, SP, v.3, n.2, p.16-22, 2001. http://www.comciencia.br/teccarnes/artigos.htm> E (Cornforth, 1994), fato que pode estar estreitamente correlacionado com a diminuição do processo de rancificação oxidativa destes produtos (Mitsumoto, 1991; Sante & Lacourt, 1994). Pigmentos de carnes curadas também estão susceptíveis à descoloração promovida pela ação de bactérias, que desenvolvem uma coloração verde na superfície do produto. Sob condições aeróbias, a bactéria responsável pelo esverdeamento produz peróxido de hidrogênio, que oxida diretamente o pigmento da carne. A descoloração é geralmente acompanhada pela formação de um limo, oriundo de um crescimento excessivo de microrganismos (Towsend & Bard, 1971b). Influências dos sistemas de embalagem e de armazenamento O método mais eficaz para prevenir a descoloração é excluir o oxigênio, evitando seu contato com a superfície do produto. Neste caso o óxido nítrico retirado do grupo heme pela luz não será oxidado, podendo recombinar-se ao grupo (Judge et al., 1989). Filmes com baixa permeabilidade ao oxigênio, em associação ao acondicionamento a vácuo, são utilizados para impedir o contato do produto com oxigênio (Urbain & Ramsbottom, 1948). Geralmente, para produtos fatiados é recomendada a utilização de filmes com barreira ao oxigênio superior a 15 cm3 O2/m2/24 h (Sacharow, 1969; Rizvi, 1981; Acton et al., 1986; Yen et al., 1988). Para produtos comercializados em peças , filmes destinados ao processo cook-in, com permeabilidade inferior a 70 cm3 O2/ m2/24 h, podem ser suficientes para prevenir a descoloração (Terlizzi et al., 1984). Estudos com filmes de alta barreira, com taxa de permeabilidade inferior a 7 cm3 O2/m2/24 h, indicam a possibilidade de diminuir a quantidade de nitrito na solução de cura, o que, conseqüentemente, reduziria seu valor residual no produto acabado, sem ocasionar alterações significativas na estabilidade de cor do produto, minimizando assim riscos à saúde provenientes da formação de nitrosaminas, substâncias reconhecidamente cancerígenas, resultantes da interação do nitrito com aminas (Lin & Sebraneck, 1979; Acton et al., 1986; Carballo et al., 1991). A comercialização do produto curado na forma fatiada, em embalagens a vácuo tradicionais ou tipo skin packaging, requer barreiras ao oxigênio e à luz ainda maiores, já que o fatiamento amplia a área superficial do produto exposta ao meio ambiente, agravando os problemas de descoloração, rancificação e deterioração microbiológica (Sarantópoulos & Oliveira, 1991). O nível de vácuo, responsável pela quantidade residual de oxigênio no interior da embalagem, e a barreira ao oxigênio do filme são fundamentais na manutenção da coloração de produtos cárneos a níveis aceitáveis, bem como o tipo de fonte de luz e luminosidade utilizadas nas gôndolas (Andersen et al., 1988). A elucidação dos comprimentos de onda mais efetivos na descoloração de produtos curados ainda não foi concluída. Estudos com carnes frescas indicam que as alterações na cor, promovidas pelo espectro de luz visível, não são significativas a ponto de provocar a rejeição comercial do produto (Solberg & Franke, 1971). Alguns trabalhos in vitro, indicam que uma descoloração mais acentuada é verificada em carnes frescas, quando submetidas a radiação ultravioleta (Bertelsen & Skibsted, 1987), caracterizada por uma maior energia quântica, fato coincidente com a fotoxidação de lipídios (EspinozaAtencia, 1995). Neste sentido, trabalhos com salame demonstram que a fotoxidação dos pigmentos pode ser retardada em até dez vezes, quando sob exposição ao oxigênio, através da Faria, J. A. F., Felício, P. E., Neves, M. A., Romano, M. A. - Formação e Estabilidade da Cor de Produtos Cárneos Curados Revisão - Revista TeC Carnes - Campinas, SP, v.3, n.2, p.16-22, 2001. http://www.comciencia.br/teccarnes/artigos.htm> revisão exclusão de comprimentos de onda de luzes em gôndolas, inferiores a 600 nm, fato que implicaria na utilização de embalagens coloridas (Iversen, 1985). Estudos com presunto suino acondicionado em embalagens com e sem proteção aos raios uv, não sugerem diferenças significativas na sua descoloração (Andersen et al., 1988). A redução da intensidade das luzes dos balcões de exposição para 400 a 600 lux contribui significativamente para o aumento na estabilidade da cor (Wirth, 1986) Verifica-se que a luz, mesmo em combinação com quantidades mínimas de oxigênio, pode causar uma significativa degradação do pigmento. O acondicionamento do produto em embalagens opacas poderia retardar significativamente a fotoxidação dos pigmentos, mesmo sem a utilização de embalagens com elevada barreira ao oxigênio, entretanto, este procedimento não seria aceitável do ponto de vista mercadológico (Andersen et al., 1988; Judge et al., 1989). A diminuição da quantidade de oxigênio residual no interior da embalagem pode ser obtida através do armazenamento do produto no escuro, por um período de 4 dias, durante o qual componentes redutores presentes no produto e a atividade dos microrganismos consumirão o oxigênio disponível, levando à formação de CO2. Estudos sobre a estabilidade de cor de presunto confirmam que, nestes casos, uma subseqüente exposição do produto à luz não será mais tão crítica (RIZVI, 1981; Andersen et al., 1988). A utilização de embalagens com atmosfera modificada, através da aplicação de CO 2 ou N 2 , principalmente no caso de produtos mais delicados, como salsichas, pode prevenir a adesão do produto à embalagem e contribuir com a retenção de cor (Rizvi, 1981; Ahvenainen et al., 1990b), através da eliminação do oxigênio residual. Estudos relatam uma maior estabilidade de salsichas tipo Viena, e presunto tipo Italiano, sob uma atmosfera composta por 20% CO2 e 80% N2 e head space entre 55 e 125 cm3/100 g produto (Ahvenainen et al., 1990a ). Quando aplicados sob pressão, podem diluir o oxigênio residual a níveis inferiores ao limite crítico para que a fotoxidação seja significativa (Andersen et al., 1990). A utilização de sachets absorvedores de oxigênio mostra-se também bastante efetiva na eliminação de seus resíduos, quando respeitado um intervalo mínimo de atuação (Sparelding, 1988; Andersen & Rasmussen, 1992). Foi observado que níveis de 5 % de ácido ascórbico na superfície de salsichas produzem uma considerável proteção contra a descoloração causada pela luz (Bauernfeind, 1970). A aplicação de ascorbato pode ocorrer tanto na solução de cura quanto na superfície do produto , sob a forma de spray, pouco antes do acondicionamento, ou nos materiais envoltórios (Henrickson et al., 1956; Lin & Sebraneck, 1979; Lin et al., 1980). Acredita-se que o ascorbato propicia um fornecimento contínuo de óxido nítrico proveniente do nitrito residual Figura 3 - Esquematização gráfica das causas da deterioração da cor de produtos cárneos curados Coloração Indesejável (Escura, Verde ou Desbotada) Excessiva concentração de pigmentos (nitroso-hemocromo) Baixa quantidade de solvente no produto (água ) Adição insuficiente de água à massa cárnea COOXIDAÇÃO Elevada quantidade de pigmento Desidratação (superficial) do produto Embalagem com elevada permeabilidade ao vapor d'água Elevada concentração de pigmentos oxidados Quantidades insuficientes de agentes redutores Adição excessiva de carne (ou mioglobina) Baixa concentração residual de NO2 Agentes oxidantes em excesso Fotooxidação Embalagem com fechamento não hemético Elevada reatividade de nitrito Peróxidos de ácidos graxos Excesso de energia radiante disponível Excesso de oxigênio disponível na embalagem/produto Baixa concentração inicial de pigmentos Oxidação lipídica Baixa concentração de mioglobina na matéria prima NO consumido em reações oxidativas Baixa concentração de NO disponível Baixa concentração de agentes redutores Baixa concentração de NO2 disponível NO2 degradado em reações paralelas (Van Slyke) Tratamento térmico insuficiente Produto com baixo pH Peróxidos de microorganismos (aeróbios) Baixa concentração de agentes redutores Adição insuficiente de NO2 na salmoura Excesso de oxigênio disponível na embalagem EFEITO CAUSA 20 Utilização de matéria prima oxidada Adição excessiva de NO2 LEGENDA: Eventos terminais Eventos intermediários desdobrados Eventos intermediários não desdobrados Baixa qualidade microbiológica do produto acabado Tratamento térmico insuficiente Excesso de elementos prooxidantes (radicais livres/ íons metálicos) Fotooxidação Elevada temperatura de comercialização Baixa concentração de agentes sequestrantres Incorporação excessiva de íons metálicos Excesso de ácidos graxos insaturados (Carnes de Aves) Elevada concentração de pigmentos oxidados / degradados Falhas na higienização e GMP Equipamentos e utilidades inadequadas Matéria prima cárnea com elevada concentração de metais Luminosidade do balcão de exposição inadequada Intensidade de luz excessiva Embalagem com pouca barreira à energia radiante Fonte de luz com baixos comprimentos de onda Elevada concentração residual de O2 na embalagem / produto Vácuo insuficiente no fechamento da embalagem Vácuo insuficiente na preparação da massa cárnea Embalagem danificada (perfurada) Material com elevada permeabilidade ao O2 Embalagem com excessiva permeabilidade ao O2 Fechamento imperfeito Termoformagem imperfeita Faria, J. A. F., Felício, P. E., Neves, M. A., Romano, M. A. - Formação e Estabilidade da Cor de Produtos Cárneos Curados Revisão - Revista TeC Carnes - Campinas, SP, v.3, n.2, p.16-22, 2001. http://www.comciencia.br/teccarnes/artigos.htm> revisão presente na carne, conferindo propriedades redutoras ao produto (Draudt & Deadtherage, 1956; Reith & Szakaly, 1967a; Tellefson et al., 1982; Wesley et al., 1982; Judge et al., 1989). Sua utilização é particularmente efetiva na estabilização e manutenção da cor, quando combinada com o uso de embalagens a vácuo (Towsend & Bard, 1971). Estudos revelaram que a presença de nicotinamida e ascorbato de sódio, é mais efetiva na redução da descoloração pela incidência de luz do que a utilização exclusiva de ascorbato (Bailey et al., 1964). Outros afirmam que a maior estabilidade de cor de produtos com ácido ascórbico é resultante de uma conversão maior de mioglobina em nitrosilmioglobina durante o processamento (Izumi et al., 1989). 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