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EXPEDIENTE ISSN 2317-7683 Somos um time em busca de um melhor caminho Pode parecer estranho, à primeira vista, que uma historiadora assuma que não gosta de retrospectivas, especialmente quando é responsável, em última instância, pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia (Dirco/UFU). O fato é que, na mídia, retrospectiva beira a sensacionalismo. Existe por detrás dela a lógica do mercado, da disputa pela audiência e a seleção dos acontecimentos, que são “mais do mesmo”. Não se obedece, geralmente, a critérios que respeitam a ética do jornalismo, à análise cuidadosa e, especialmente, ao balanço do passado recente. Por isso, a Dirco, ao ser reestruturada em 2013, teve que, num primeiro momento, repensar-se, planejar-se e definir-se como um setor que prioriza a comunicação social pública. Isso significa não apenas ser portadora das boas novas da própria gestão, mas também das ações de ensino, extensão e pesquisa da universidade e, sobretudo, interagir com a realidade social e discutir temas políticos que circunscrevem a sociedade brasileira. Para tanto, faz-se necessário alimentar e manter uma rede de informação, bem como a interação entre as instâncias públicas e aquelas de caráter político-social perpassadas por valores éticos e democráticos. Poderíamos aqui listar como conquistas a aquisição de novos equipamentos de informática, eletrônicos e veículos; as adequações de nossas instalações físicas; a nossa premiação e o desenvolvimento do projeto Ginga Brasil; as novas vagas e o convívio com nossos estagiários; o Jornal da UFU; os documentários institucionais produzidos; os novos programas de rádio e TV, como o UFU no Plural; as nossas participações em encontros de Comunicação Social promovidos pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes); os cursos de Media Training ministrados pela SOMMA Treinamento e Consultoria (2013) e de Comunicação Organizacional na Universidade (2014), nos quais profissionais da área, tais como Germana Barata (Unicamp), Rafael Terra (Fabulosa Ideia) e Bianca Zanella (UFT), de forma interdisciplinar, nos auxiliaram a buscar novas trilhas; os projetos para instalação de novas rádios em Ituiutaba (FM 105.9) e em Monte Carmelo (FM 91.1); os nossos outdoors coloridos; as nossas visitas técnicas à Universidade de São Paulo (USP) e à Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) em busca de inspirações. Todavia, há que assinalar que tudo isso só foi possível pela parceria com o Centro de Tecnologia e Informática (CTI/UFU), que, com responsabilidade e criatividade, brindou-nos com o novo portal Comunica UFU. Parceria também fundamental foram os vínculos e conexões com a Fundação Rádio e Televisão Educativa de Uberlândia (RTU), sem a qual seria impossível todo o trabalho já realizado. Porém, para mim, o mais importante de todo esse trajeto foi perceber a mudança de perspectivas de nossos funcionários, que vestiram a camisa da Dirco e da RTU. Isso se visualiza em nossas reuniões conjuntas, acaloradas e plenas de reivindicações e sugestões, em nossos almoços festivos e encontros natalinos, na preocupação com a qualidade do trabalho, no olhar e abraço amigo, nas brincadeiras cotidianas, na solicitude para resolver nossos problemas. Todos, todos mesmo, dos mais quietos aos mais falantes, quero que saibam o quanto estou feliz por ter a oportunidade de trabalhar e aprender com vocês. Maria Clara Tomaz Machado Diretora de Comunicação O Jornal da UFU é uma publicação mensal da Diretoria de Comunicação Social (Dirco) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Av. João Aves de Ávila, 2121, Bloco 1S, Santa Mônica, 38.400-902, Uberlândia-MG. Telefone: 55 (34) 3239-4350. www.dirco.ufu.br | [email protected]. HOSPITAL DE CLÍNICAS Jornal da UFU 3 EDITORIAL 2 Jornal da UFU Diretora de Comunicação Maria Clara Tomaz Machado Coordenador de Jornalismo Fabiano Goulart Coordenador de Conteúdo Cairo Mohamad Ibrahim Katrib Equipe de Jornalismo Diélen Borges, Eliane Moreira, Frinéia Chaves, José Amaral Neto, Jussara Coelho, Marco Cavalcanti e Renata Neiva Estagiários Ana Luiza Honma, Aline Pires, Carlos Gabriel Ferreira, Júnior Barbosa, Isabela Lavor, Isley Borges e Lucas Tondini Editora Eliane Moreira (RP525/RN) Projeto gráfico e diagramação Elisa Chueiri Revisão Diélen Borges e Maria Clara Tomaz Machado Fotografia Milton Santos Docente colaborador Eduardo Macedo Impressão Imprensa Universitária - Gráfica UFU Tiragem 2500 exemplares Reitor: Elmiro Santos Resende | Vice-reitor: Eduardo Nunes Guimarães | Chefe de gabinete: José Antônio Gallo | Pró-reitora de Graduação: Marisa Lomônaco de Paula Naves | Pró-reitora de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis: Dalva Maria de Oliveira Silva | Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação: Marcelo Emílio Beletti | Pró-reitor de Planejamento e Administração: José Francisco Ribeiro | Pró-reitora de Recursos Humanos: Marlene Marins de Camargos Borges | Prefeito Universitário: Reges Eduardo Franco Teodoro Foram analisados 2 mil bebês com idade gestacional menor que 34 semanas HCU-UFU participa de estudo premiado pelo SUS Trabalho sugere que intervenções simples podem reduzir a mortalidade no período neonatal texto Juliana Valéria foto Cristiane Guimarães O Hospital de Clínicas de Uberlândia (HCU-UFU) participou do estudo que conquistou o Prêmio de Incentivo em Ciências e Tecnologia para o Sistema Único de Saúde (SUS) 2014, na categoria trabalho publicado. Outros oito hospitais que integram a Rede Brasileira de Pesquisas Neonatais também participaram do estudo “Hipotermia e mortalidade neonatal precoce em recém-nascidos prematuros”. O trabalho avaliou o protocolo de Reanimação Neonatal utilizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria desde 2010. Foram analisados cerca de dois mil bebês, com idade gestacional menor que 34 semanas, em nove hospitais públicos e de referência para gravidez de alto risco. No HCU-UFU, o estudo foi coordenado pelos médicos Vânia Olivetti Steffen Abdallah, Daniela Marques e Heloísio dos Reis. O artigo, publicado no The Jounal of Pediatrics, revelou uma alta prevalência de hipotermia, na primeira hora de vida, em recém-nascidos pré-termo (com menos de 34 semanas), admitidos na UTI neonatal, e observou ainda que a hipotermia contribui para a mortalidade desses recém-nascidos. Além disso, o estudo sugere que a correta aplicação do protocolo de Reanimação Neonatal, com a manutenção da temperatura na sala de parto maior que 25 °C, a redução da hipotermia materna antes do nascimento, o uso de saco/filme plástico e touca nos recém-nascidos e de campos e compressas aquecidas na reanimação e o transporte em incubadoras adequadas podem diminuir a hipotermia à admissão na UTI e melhorar a sobrevida neonatal. De acordo com os pesquisadores, 350 mil prematuros nascem por ano no Brasil e o resultado do trabalho tem aplicabilidade em hospitais públicos e privados. “É necessário que os gestores dos hospitais e toda a equipe responsável pelo atendimento do binário mãefilho se conscientizem da importância da prevenção da hipotermia e trabalhem juntos para alcançarem esse objetivo”, afirma Vânia Abdallah. A pesquisa foi realizada de agosto de 2010 a abril de 2012. Além do HCU-UFU, também participaram o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), o Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HU-UFMA), o Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina (HU-UEL), o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medi- cina de Ribeirão Preto (USP), a Escola Paulista de Medicina (Unifesp), a Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp) e o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAIS-Unicamp). Prêmio Instituído pelo Ministério da Saúde em 2002, o Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o SUS é um reconhecimento aos pesquisadores pela indispensável contribuição para o desenvolvimento das políticas públicas de saúde no país. Os candidatos concorrem em quatro categorias: tese de doutorado, dissertação de mestrado, trabalho científico publicado e monografia de especialização ou residência. Os trabalhos premiados em 2014 foram divulgados durante o evento de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde: Resultados e Avanços de Pesquisas Estratégicas para o SUS, realizado em novembro. EDUCAÇÃO 4 Jornal da UFU Jornal da UFU 5 do projeto é o estudante, assim, ele consegue expor e experimentar o seu próprio conteúdo”. As produções são diversas e contemplam desde o âmbito cultural, em festivais e jogos, até a promoção de palestras em cidades do Brasil. Pricilla Camargo, professora de Sociologia na Escola Estadual Hortêncio Diniz, teve seu primeiro contato com a ONG em 2011. Na ocasião, ela participou de um curso de extensão em RPG. “Comecei a ONG Narrativa da Imaginação usar a metodologia e vi que a utilização dessa forma de ensinar aproxima o aluno e cria um vínculo duradouro entre os conceitos e a prática”. Neste ano, Priscilla utilizou as propostas da ONG para uma atividade que envolveu cerca de 400 alunos da escola onde leciona. “No dia 17 de novembro, convidei o Rafael para aplicar um jogo na quadra da escola, sobre gentilezas urbanas e valores humanos, abordando temas como respeito e limite. Foi uma experiência surre- al”, ressalta a professora. A atividade simulou um ataque zumbi, em que os alunos foram voluntariamente divididos entre humanos e zumbis. “Os zumbis tinham que passar uma tinta guache na ponta do nariz de outra pessoa para infectá-la, sem pedir permissão. Já os humanos, que tinham a cura, deveriam passar uma tinta azul na ponta do nariz dos zumbis para curá-los. Mas, para isso, precisavam pedir permissão e convencê-las a se curarem”, explica Pricilla. Revista Mais Dados: A primeira revista científica brasileira sobre role-playing tem produção anual e contém artigos, traduções, entrevistas, resenhas e jogos. É específica para falar de role-playing e jogos inter-relacionados. A publicação tem ISSN e, em 2015, recebe classificação Qualis (sistema brasileiro de avaliação de periódicos, mantido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Animaclube: Consiste na exibição de animações na UFU e na Oficina Cultural, seguida de discussão feita por professores. “Nós temos grandes estúdios, uma quantidade grande fãs, mas não tinhas um espaço de debates. Esse é um espaço perene para reunir fãs de animação”, explica Fernando Calazan, secretário da ONG e idealizador o projeto. Cursos de extensão para professores: Atividades lúdicas gratuitas abordam ética e cidadania Promovendo a melhoria nos relacionamentos pessoais texto Carlos Gabriel Ferreira e Eliane Moreira fotos arquivo pessoal Foi de uma paixão de infância, o RPG (em inglês, role-playing-game, jogo criado nos Estados Unidos, na década de 1970, que simula a representação de personagens), que veio a inspiração da organização não governamental (ONG) Narrativa da Imaginação. Rafael Rocha, presidente da organização e pesquisador da UFU, queria entender por que muitos conflitos presenciados em salas de aula eram desfeitos em um ambiente de jogo. “A primeira questão foi como melhorar a qualidade das relações entre professor e aluno, por meio de iniciativas lúdicas. Depois fomos perceber que, na verdade, estávamos lidando com a melhoria da qualidade das relações humanas, por meio do jogar”, explica Rocha. Narrativa da Imaginação deu os seus primeiros passos no final de 2011 e, desde então, já recebeu vários prêmios de destaque e certificados por seu trabalho. Reconhecida pela Secretaria Municipal de Educação de Uberlândia, a ONG promove a melhoria na qualidade dos relacionamentos, por meio de atividades lúdicas gratuitas, defendendo valores como a postura ética e o exercício da cidadania. Com projetos interdisciplinares, a entidade reúne pessoas com o desejo de transformação social, a fim de desenvolverem projetos para a sociedade. As atividades são realizadas em diversos espaços públicos. A proposta, segundo Fernando Florêncio, secretário da ONG, é que “a instituição dialogue constantemente com o uso dos espaços urbanos, propondo outros significados, de maneira que tanto os auditórios da UFU quanto os prédios públicos tombados sirvam como palco de ação, interagindo com os setores público e privado e a comunidade”. O jogo em sala de aula Não se assuste com o Mestre dos Magos como logomarca da Narrativa da Imaginação. Rocha explica que, para a ONG, o personagem de Caverna do Dragão representa o professor ideal, “aquele que ensina o aluno a partir das experiências do próprio aluno. Quem conduz a ideia Atividades da ONG Apesar de a pesquisa ter começado com o RPG, como ferramenta educacional, na dissertação de mestrado do seu idealizador, feita no Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação (Faced) da UFU, o projeto foi ganhando novas adequações. Atualmente, a ONG desenvolve atividades que vão além do universo escolar, como eventos, capacitação de empresas, ensino superior e formação de professores. Veja abaixo: Projeto Mundos Distantes, uma viagem pela música de jogos: • Metodologia Role-Playing, com duração de seis meses, é uma articulação de como utilizar o RPG dentro da sala de aula. • Play Testing, com duração de três meses, é a base para que o professor torne-se um designer de jogos. Reúne fãs, desenvolvedores de jogos e músicos para apreciar concertos feitos para celebrar o sucesso de grandes franquias de jogos e, também, para conhecer um pouco da complexidade em produzir trilhas sonoras para esse tipo de mídia interativa Festival Cultural de Jogos: Promove a apresentação de jogos de socialização, representação e expressão para a comunidade. Editora Popular Virtual registrada na Biblioteca Nacional: Contempla publicações online, como artigos, monografias, dissertações, teses e jogos, nos campos da educação, cultura e sociedade. Para saber mais, acesse www.narrativadaimaginacao.com LITERATURA 6 Jornal da UFU Jornal da UFU 7 UFU adquire acervo de Geraldo França de Lima Universidade criará espaço para abrigar obras de romancista que traduziu o cerrado e encantou Guimarães Rosa Geraldo Fran ça de Lima fo JK a arães Ros igo Guim o com o am Encontr i assessor de texto Renata Neiva fotos acervo pessoal da família “Foi pouco antes da Missa do Galo, enquanto os povos se aglomeravam no Largo da Matriz, que Gutemberg Roldão viu-a, pela primeira vez: - sentiu, num estremecimento estranho, a sensação de um reencontro: já se conheciam sem saber de onde: dois seres exaustos de recíproca procura ansiosa, que, afinal, se reachavam num ponto predestinado: - neste mundo varado, estradado e bifurcado, o reencontro se dava na pequena Serras Azuis!” Este é um dos trechos de Serras Azuis, obra escrita nos anos 1960 por Geraldo França de Lima, romancista e professor que nasceu em Araguari. O romance, que foi descoberto por Guimarães Rosa, é o livro de maior sucesso do autor, considerado um intérprete do cerrado. Apesar de ter ocupado uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL), Geraldo França de Lima é pouco reconhecido. Agora, essa realidade poderá mudar. A UFU acaba de adquirir o acervo do escritor. São quase três mil itens que vão desde medalhas de honra e máquina de escrever à farda da Legião de Honra da França, correspondências com Guimarães Rosa, manuscritos, recortes de jornais, impressões de viagens, livros, capelo e sabre. Os objetos estão sob os cuidados de duas sobrinhas que moram em Araguari. O material será transferido para a universidade em 2015. Todas as peças serão avaliadas por especialistas. A previsão é que parte do acervo seja apresentada à comunidade no mês de junho. “São itens diversos que retratam o imaginário do cotidiano de um escritor”, explica a professora Betina Ribeiro Rodrigues da Cunha, do Instituto de Letras e Linguística, autora do projeto de compra do acervo. A ideia, segundo a professora, é manter viva a memória de um autor que é extremamente importante dentro da experiência literária nacional. “Geraldo França de Lima retrata a nossa condição de seres sociais, mineiros, prontos para uma vida muito própria nossa, um imaginário também muito próprio”, esclarece. Betina Ribeiro ressalta que a família do romancista entendia que precisava haver um resgate, uma reatualização dos valores e da condição de escritor diferenciado observada em Geraldo França de Lima, apontado como um autor de costumes, que trabalhava fatos históricos adaptados à literatura – “um cronista de costumes do interior”. A professora destaca que “o autor retrata muito bem o nosso interior ao produzir uma literatura telúrica, voltada às questões da natureza, não só a natureza circundante, mas a natureza do próprio homem”. Para Betina, a organização do acervo é um marco em diferentes sentidos. Trata-se de um resgate cultural do próprio escritor que vai, a partir de agora, ter a possibilidade de garantir um lugar mais consistente na crítica brasileira. “A obra dele permite abordagens diversas, interdisciplinares, que vão desde estudos etnográficos e sociais até genéticos e literários, com o estabelecimento de uma interpretação do cerrado como um locus de cultura e de identidade”, explica. “Além disso, marca o papel da UFU como um instrumento efetivo de produção e de manutenção da cultura local, regional, nacional, mostrando uma sensibilidade ímpar para as produções do homem e dos seus sentidos”, garante a professora. “A universidade alia às suas conquistas tecnológicas e investigativas um reconhecimento da humanização do saber – um saber cotidiano”, conclui. Segundo Betina, a universidade receberá da ABL uma moção de aplauso pela compra do acervo. A data ainda não foi marcada. Biografia Geraldo França de Lima ocupou uma cadeira na ABL em julho de 1990. O romancista nasceu em Araguari, em 24 de abril de 1914. Em 1929, mudou-se para Barbacena, onde estudou no internato do Ginásio Mineiro. Quatro anos mais tarde conheceu o escritor João Guimarães Rosa. Nascia, naquele momento, uma amizade que os uniria por longos anos. Em 1934, foi para o Rio de Janeiro, onde ingressou na Faculdade de Direito da Universidade do Brasil. Na capital, foi revisor de jornal, articulista e publicou poesias. Ao voltar para Barbacena, trabalhou como professor do Ginásio Mineiro. Nessa época, tornou-se amigo e confidente do escritor francês Georges Bernanos. Na década de 1950, Geraldo França de Lima retornou ao Rio de Janeiro. Foi nomeado professor do Colégio Pedro II e, mais tarde, foi admitido como professor de Literatura Brasileira na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele trabalhou como assessor do presidente Juscelino Kubitschek. Segundo informações do portal da ABL, o ano de 1961 é um marco na carreira literária de Geraldo França de Lima. Foi nessa época que Guimarães Rosa, almoçando na casa do amigo, encontrou numa escrivaninha os originais do romance Uma cidade na província. Guimarães levou-os, leu-os no mesmo dia e entrou em contato com a mulher do escritor, dona Lygia, para informar que estava diante de “um grande romancista”. Guimarães mudou o título da obra para Serras Azuis e providenciou a publicação do livro. Com a obra, o escritor de Araguari obteve o Prêmio Paula Brito Revelação Literária 1961, da Biblioteca Pública do Estado da Guanabara. Este foi apenas o primeiro de uma série de prêmios e homenagens que distinguem a vida do escritor. Ele recebeu da União Brasileira de Escritores o Prêmio Fernando Chinaglia por Jazigo dos vivos, considerado o melhor romance de 1968. Em 1972, conquistou a grande láurea do Conselho Estadual de Cultura do Estado da Guanabara - o Prêmio Paula Brito Ficção destinado a conjunto de obra. Em 1991, obteve o Prêmio Nacional de Literatura Luísa Cláudio de Sousa, conferido pelo PEN Clube do Brasil ao romance Rio da vida. Em 1994, o Troféu Guimarães Rosa foi concedido a Folhas ao léu como conjunto de melhores contos. Por sofrer perda da visão, o autor ditava seus livros à esposa. O último romance, O sino e o som, foi lançado em 2002. Ele faleceu no Rio de Janeiro, em 22 de março de 2003. Agora, a partir de meados de 2015, ao apresentar parte da história de um dos maiores escritores mineiros, a UFU abre portas para que pesquisadores e leitores façam uma viagem pelas trilhas de palavras que reconstroem o cerrado, o nosso cerrado. “Tudo, em derredor, perdia o sentido e a importância e só os dois viviam aquela fusão suprema, no apogeu daquele amor, que desafiaria o impossível e, com a pujança dos deuses, nascera para viver e triunfar, aquele amor que escondia uma misteriosa predestinação” (Serras Azuis, 1961). Serras azuis, romance (1961); Brejo alegre, romance (1964); Branca Bela, romance (1965); Jazigo dos vivos, romance (1969); O nó cego, romance (1973); A pedra e a pluma, romance (1979); A herança de Adão, romance (1983); A janela e o morro, romance (1988); Naquele Natal, romance histórico (1988); Rio da vida, romance (1991); Folhas ao léu, contos (1994); Sob a curva do sol, romance (1997); Os pássaros e outras histórias (1999); O sino e o som (2002). OBRAS Jornal da UFU 9 UFU intensifica pesquisas de melhoramento genético Primeira meta é formação de rebanho com sobrenome da instituição texto Frinéia Chaves foto arquivo pessoal Na fazenda experimental Capim Branco, que pertence à UFU, pesquisas de melhoramento genético animal estão a todo vapor. Os projetos de ações continuadas têm o compromisso de fornecer para o mercado pecuarista novos produtos, conhecimentos e serviços. A lida diária envolve o trabalho de alunos e professores de iniciação científica, graduação e pós, dos cursos de Medicina Veterinária, Agronomia e Administração. Os instrumentos de estudo são pastagens, manejo, nutrição, sanidade animal e gestão de fazendas. O Programa Pecuária Sustentável Nelore do Portal do Cerrado simboliza um marco para estudos desta natureza. O projeto é uma espécie de guarda-chuva que abriga vários outros e a formação de um rebanho Nelore, Pura Origem, com a marca UFU é o carro-chefe. O trabalho começou em 2011, sem investimento de um centavo sequer para aquisição do plantel. A academia buscou parceria com fazendas da região. Depois de uma avaliação genética que identificou animais superiores para reprodução, quatro criadores cederam 92 fêmeas. Abrigados na fazenda da UFU, estes animais passaram por um pro- tocolo hormonal que permitiu a sincronização do cio para inseminação artificial, sendo que o sêmen foi adquirido em centrais de reprodução. Esse procedimento permitiu que todas ficassem prenhes na mesma época, gerando economia e facilitando o manejo. A meta é começar o rebanho da grife UFU com 120 fêmeas. Metade já nasceu e a expectativa é que, em 2017, essa etapa esteja concluída. O próximo passo será, com esse rebanho, reproduzir o que há de melhor da raça nelore e fazer com que esses animais cheguem ao mercado, ajudando principalmente os pequenos produtores. “A universidade, por meio de consultorias gratuitas, vai doar conhecimento e também ceder sêmen. Para que isso seja feito, de modo a não prejudicar o comércio já existente, será formalizado um protocolo de qualidade”, afirma Carina Ubirajara de Faria, diretora da produção animal das fazendas da UFU. Investimento Para formar uma vitrine tecnológica, a UFU investiu na construção de piquetes, adubação, melhoramento de pastagens e na construção de um curral modelo, que garante bem estar animal. É nesse ambiente que a instituição realiza a prova de desempenho individual de touros da raça Nelore, uma espécie de serviço técnico, anual, que avalia animais do bioma Cerrado, em regime alimentar de pasto. Um edital com regulamento próprio é divulgado no portal da instituição, com informações sobre as vagas. A partir de então, criadores de todo o país podem cadastrar os animais e os enviar para a fazenda Capim Branco, onde ficarão hospedados por dez meses. Durante esse período, considerando aspectos da nutrição, sanidade e pastagens, são avaliados geneticamente e classificados como sendo de elite, superiores, regulares ou inferiores. O ganho para o pecuarista é o ECOLOGIA PECUÁRIA 8 Jornal da UFU Fauna ameaçada certificado, que garante boa comercialização em leilões. Sendo a única universidade pública a realizar esse tipo de prova no país, a UFU ganha experiência na multiplicação de tecnologias. Centro de avaliação genética em eficiência alimentar Uma estrutura de confinamento dispõe de um cocho eletrônico importado do Canadá. O equipamento permite analisar o consumo alimentar individual para cada animal, que tem um chip implantado no corpo. O monitoramento é feito via satélite e, automaticamente, todas as informações são encaminhadas para um sistema de computador. O certificado para este tipo de prova, que dura 90 dias, depende de um cálculo matemático, chamado Consumo Alimentar Residual (CAR), que quanto mais negativo melhor. Levam vantagens os animais que comem menos e conseguem melhor desempenho. A cada segundo 15 animais morrem atropelados no país texto Marco Cavalcanti foto Aline Veloso No Brasil, morrem atropelados nas estradas, anualmente, 475 milhões de animais silvestres. São aproximadamente 15 mortes a cada segundo (1,3 milhão por dia). Essa estimativa, baseada em trabalhos científicos, é do Centro Brasileiro de Ecologia de Estradas (CBEE), sediado na Universidade Federal de Lavras (Ufla). Na BR-050, entre Uberlândia e Uberaba, no Triângulo Mineiro, a equipe de pesquisadores coordenada pela professora Ana Elizabeth Iannini Custódio, do Instituto de Biologia da UFU, contabilizou 690 animais atropelados em 2012. Isso dá uma média de quase duas vítimas por dia, apenas nesse trecho de cerca de 100 quilômetros. O fenômeno está sendo apontado por especialistas em ecologia de estradas como um dos principais fatores de destruição da biodiversidade. “As estimativas indicam que os atropelamentos ultrapassam o tráfico e a caça juntos e até a destruição de habitats”, relata Ana Elizabeth. Os dados nacionais do CBEE se referem a pequenos vertebrados (90%), vertebrados de médio porte (9%) e de grande porte (1%). Naquele trecho da BR-050 e no da BR-455 entre Uberlândia e Rio do Peixe (distrito do município de Prata), onde a UFU faz o monitoramento sistemático por animais atropelados desde 2012, são encontradas carcaças de espécies em extinção, como o loboguará, o gato mourisco e o furão. A rodovia pode significar uma barreira de isolamento para alguns animais que não atravessam a via – como a paca, por exemplo – ou uma “roleta-russa” para os que cruzam a estrada em busca de abrigo, parceiros ou alimentos. Nesse último caso, os bichos são atraídos para a estrada por causa dos grãos caídos de carretas, do lixo jogado de veículos ou até mesmo para se alimentarem de outros animais já atropelados. No trabalho de vistoria, a professora e alunos da graduação e da pós-graduação do curso de Biologia tentam identificar a espécie, anotam as coordenadas geográficas, fotografam a carcaça e o entorno da rodovia. As informações vão para uma planilha padronizada. “Se não for possível a identificação in loco a gente traz para o laboratório para identificar a espécie”, explica Iannini. O objetivo da análise quantitativa e qualitativa é identificar os locais onde a biodiversidade está mais ameaçada e que precisa de proteção prioritária, o que os pesquisadores chamam de hotspots. “Queremos identificar esses pontos para sugerir a implementação de medidas de mitigação”, afirma a pesquisadora. Passarelas, passagens superiores ou subterrâneas, cercamento, instalação de radares e redutores de velocidade, placas de sinalização e campanhas de conscientização são soluções apontadas para diminuir os acidentes que vitimam não só a fauna, mas também os ocupantes dos veículos. Os mais vitimados na BR-050 (trecho Uberaba-Uberlândia) Cascavel Estudos são desenvolvidos na Fazenda Capim Branco Jaratataca Cachorro-do-mato Tatu Tamanduá-mirim Carcará Tamanduábandeira Lobo-guará Capivara Mão-pelada Jornal da UFU 11 ARTE 10 Jornal da UFU Lina Bo Bardi e o Triângulo Mineiro texto Ariel Lazzarini, Luiz Carlos [Lu] de Laurentiz e Maria Beatriz Camargo Cappello ilustração corte do projeto arquitetônico de Lina Bo Bardi foto Andrea Nestrea Duas pertinentes ocorrências no campo da cultura marcam a presença do olhar da arquiteta Lina Bo Bardi sobre o Cerrado: a “Exposição Documento: Repassos - Edmar e as Tecedeiras do Triângulo Mineiro” (1975), em São Paulo, e a construção da Igreja Espírito Santo do Cerrado (19761982), em Uberlândia/MG. Lina Bo Bardi (1914-1992), arquiteta italiana naturalizada brasileira, é hoje uma das figuras mais discutidas no campo da arquitetura, design e arte popular. Seu conjunto de obras, textos e projetos, desde a década de 1950 até sua morte, ainda, permite um intenso debate sobre a pertinência de sua contribuição à produção cultural brasileira. Desde a sua experiência italiana, antes de 1946, Lina se envolveu com a cultura popular do seu país. Quan- do veio para o Brasil com o marido, o crítico de arte Pietro Maria Bardi, a convite do jornalista e mecenas Assis Chateaubriand para criar o Museu de Arte de São Paulo (Masp), ela encantou-se com a cultura popular brasileira, vivenciada no Nordeste entre 1958 e 1964. Ela foi uma arquiteta que desenhou, escreveu e projetou bastante. Recentemente, uma publicação listou pouco mais de quinze obras como construídas. E, infelizmente, algumas descaracterizadas. Em São Paulo, há que se destacar casas, equipamentos culturais e uma obra pública. Dando alguns nomes, a sua casa de moradia no bairro Morumbi, a denominada “casa de vidro”, de 1951; o Masp, 1957-1968; o Sesc Fábrica da Pompéia, 1977-1986; o Teatro Oficina, 1980-1991; e a sede da Prefeitura de São Paulo. Na Bahia, restaurações importantes foram executadas, em dois períodos, nos anos de 1950 e na década de oitenta do século passado. São elas, o Museu de Arte Moderna/Museu de Arte Popular no Solar do Unhão e, por último, no Centro Histórico de Salvador. Algumas dessas obras do Pelourinho são a casa do Olodum, a casa e o restaurante do Benin, o restaurante Coaty e o conjunto da ladeira da Misericórdia. A arquiteta só deixou a Bahia porque suas ideias e ideais populares incomodavam a oligarquia baiana que, após o golpe civil militar de 1964, dominou o Nordeste. Se Lina não pôde levar adiante os seus projetos sobre a cultura popular nordestina, com a abertura do Masp na Avenida Paulista, ela assim pôde exercitar sua base e movimento calcada na antropologia e nas vanguardas modernas. Uberlândia passa a contribuir com as proposições de Lina Bo Bardi a partir de sua amizade com o artista plástico mineiro Edmar José de Almeida, com quem desenvolve a exposição premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte como Exposição do Ano de 1975, realizada no Masp. A “Exposição Documento: Repassos - Edmar e as Tecedeiras do Triângulo Mineiro”, de 1975, teve como conceito mostrar as tapeçarias executadas pelas tecedeiras de Martinésia (distrito de Uberlândia), Abadia dos Dourados e Araguari, no Triângulo Mineiro, a partir dos de- senhos do artista Edmar de Almeida (1944): “uma procura artística a nível antropológico, uma autocrítica a nível coletivo”. Em 1975, a arquiteta recebe o convite de Frei Egydio Parisi para desenvolver o projeto franciscano para a construção da Igreja Espírito Santo do Cerrado (a terminologia “do Cerrado” veio da poética da arquiteta). Esse conjunto arquitetônico religioso se tornaria, para a comunidade do Bairro Jaraguá e para a Igreja, símbolo de trabalho comunitário e, para a arquiteta, a possibilidade de propor uma arquitetura condizente com a realidade social, econômica e cultural do povo que formava a periferia da progressista cidade. Sua construção foi fruto do trabalho coletivo da comunidade – por meio da criação de seu Conselho de Construção eleito pelos moradores – e dos profissionais envolvidos, em regime de mutirão, toda executada com materiais e técnicas da região. O conjunto da Igreja é organizado em quatro níveis e é pensado, inicialmente, para receber o programa da seguinte maneira: o nível mais alto guarda a área de celebração (esquina da Avenida dos Mognos e Rua das Mangabeiras); o segundo, mais baixo, a moradia para três religiosas e administração (em torno de um claustro); o terceiro, um salão para festividades e reuniões - nesse nível existe o acesso ao subsolo, o qual serve como área de depósito; no quarto e mais baixo, o campo de futebol, que está localizado na esquina da Avenida dos Ipês e Avenida dos Mognos. O conjunto arquitetônico é composto por três volumes circulares conectados entre si e a forma como se abrem para a rua relaciona-se com sua proposta para o espaço religioso. Nessa igreja, Lina Bo Bardi realizou, a partir da própria História da Arquitetura e das necessidades dos habitantes do bairro, uma transformação no espaço sagrado, acompanhando a evolução da Igreja com a nova colocação do espaço comunitário no corpo do conjunto. Como eu conheci a arquiteta Lina Bo Bardi texto Edmar de Almeida Foi em 1973. Ela ainda não tinha sessenta anos. Uma bela mulher. Alta, elegante, sofisticada nos gestos, no vestir e no falar. Um porte majestoso. Os cabelos longos pretos contrastando com a tez muito branca. Sobrancelhas arqueadas, bem acima dos olhos e do olhar – um olhar longínquo, melancólico, mergulhado em muitas tristezas. Vestia um blazer de veludo preto e, em um dos lados, um broche, uma joia antiga. O [arquiteto e professor da FAU-USP] Flávio Império convidou-a para conhecer alguns trabalhos meus de tapeçaria. Eram tempos difíceis em São Paulo, período Garrastazu Médici, Erasmo Dias, o delegado Fleury e sua polícia. Dona Lina havia feito uma grande exposição no Masp, “A Mão do Povo Brasileiro” (1969/1970), que foi interditada em Roma, na véspera da sua inauguração pelo adido militar da Embaixada Brasilei- Igreja Espírito Santo do Cerrado foi projetada por Lina Bo Bardi ra. Alegou-se ser a exposição da pobreza e da miséria do povo brasileiro enfatizando o subdesenvolvimento. Voltando ao Brasil, Lina foi detida pelos militares (DOI-CODI) para prestar depoimento sobre a sua atuação cultural em São Paulo e também a respeito dos arquitetos com os quais trabalhava, Flávio Império, Rodrigo Lefèvre e Sérgio Ferro, em um escritório na rua Haddock Lobo. Depois de um depoimento de 11 horas seguidas, no qual, ela não pôde assentar-se, Lina conseguiu fugir e embarcar para a Itália, onde ficou nove meses estudando o Código Civil Brasileiro. Voltou e se apresentou. Ela tinha se naturalizado brasileira e não tinha dupla cidadania – isto é, a proteção do governo italiano. Apresentouse, pois, ao tribunal militar e respondeu a oito processos. Quando a conheci, esses acontecimentos ainda estavam recentes ... Ao encontro, Flávio Império chegou antes dela com uma braçada de lírios brancos e os colocou em um balde aos pés de uma das tapeçarias – um Crucifixo. Dona Lina chegou na hora marcada. Estavam presentes, Alan Meyer, Celso Luís Paulini, Flávio Império e eu, naturalmente. Ela foi até o crucifixo. Ficou em silêncio em frente dele, se emocionou e disse: “essa obra me faz lembrar o dom da vigilância, do qual nos fala os evangelhos - orai e vigiai”. Tomados por uma forte emoção, todos choraram (amigos, companheiros, torturados, mortos, banidos, exilados...). Fui até a cozinha pegar a bandeja de café e voltei à sala para servi-los. De todos, fui o único a não chorar. Fiz o possível para me controlar e me acalmar. Colocar-me ereto para regular a minha fé e servir o café. Deste encontro, uma grande amizade nasceu entre nós. E, como em todas as grandes amizades, o sentimento da permanência, na impermanência que é as nossas vidas, permaneceu. Uberlândia, 8 de dezembro de 2014 (Assunção de Nossa Senhora) MONTE CARMELO 12 Jornal da UFU Professores Gabriel Maciel e Ana Carolina Siquieroli coordenam experimentos Hortaliças mais resistentes e nutritivas Professores desenvolvem tomate e alface geneticamente melhorados texto Diélen Borges foto Milton Santos Alface e tomate são quase unanimidade nos pratos dos brasileiros. E se a alface ficasse mais nutritiva? E o tomate mais resistente? É o que professores e alunos do curso de Agronomia do Campus Monte Carmelo estão buscando em suas pesquisas desenvolvidas na Estação Experimental. Em uma das estufas está o tomateiro Solanum pennelli, de origem andina, que é selvagem e possui um aleloquímico, chamado acilaçúcar, que torna a espécie mais resistente a pragas. O problema é que seu fruto é muito pequeno, do tamanho de uma pimenta-de-cheiro. No canteiro ao lado estão os pés de tomates vendidos nas feiras e supermercados, cujos sabores agradam a maioria dos paladares, mas são frágeis. Consequentemente, recebem aplicações de agrotóxicos para que as doenças e pragas não prejudiquem a produção. Por meio da ação humana, como explica o professor Gabriel Mascarenhas Maciel, cruzam-se o tomate selvagem e o comercial para chegar à espécie ideal: resistente e saborosa. Outra pesquisa dá continuidade ao melhoramento da alface Uberlândia 10 mil, desenvolvida há alguns anos pelo professor Warwick Estevam Kerr, agrônomo reconhecido internacionalmente. A espécie tem cerca de 10 mil unidades de vitamina A contra as alfaces comuns, que têm de 500 a 1.500 unidades. É uma pena que seja mais amarga e chame menos atenção que as outras nas bancas de feiras. No experimento feito pela professora Ana Carolina Siquieroli e por seus alunos, cruza-se a Uberlândia 10 mil com alfaces crespas e roxas para se chegar a folhas biofortificadas e com sabor agradável. Experimentos Como a ação humana consegue alterar a natureza? Para cruzar duas espécies e proporcionar variabilida- de genética, os alunos fazem a emasculação na flor, retirando sua parte masculina. Depois é feita a hibridação, passando-se o pólen de outra flor naquela que ficou apenas com a parte feminina. Aquela flor dará origem a um fruto que combina características das duas espécies. As sementes desse fruto serão semeadas e darão origem à planta chamada de F1. Na sequência, serão feitos retrocruzamentos sucessivos entre a F1 e a planta comercial para resgatar o sabor ideal do fruto. Quando se fazem os retrocruzamentos, para garantir a manutenção da nova característica almejada, são realizadas análises químicas das folhas em laboratório. No caso do tomate, por exemplo, continuam no retrocruzamento apenas as plantas cujas folhas contenham o acilaçúcar, que as tornam mais resistentes a pragas. “É uma seleção controlada”, define o professor Maciel. Em outro projeto desenvolvido pelos professores e alunos de Monte Carmelo, foram coletados mais de 150 tipos de pimentas para que se investigue as que são mais adequadas para o plantio na região. Conquista e desafios A área onde funciona a Estação Experimental em que são desenvolvidas as pesquisas de melhoramento genético de hortaliças tem aproximadamente dois hectares e é resultante de um convênio estabelecido entre a UFU e Prefeitura Municipal de Monte Carmelo. O local está sendo dividido em cinco quadras, que no futuro terão canteiros monitorados. Parte de uma das estufas chegou a ser danificada em um ato de vandalismo, no primeiro semestre de 2014, mas agora a Prefeitura Universitária destinou um vigilante para o local. Segundo Ana Carolina Siquieroli, os pesquisadores pretendem introduzir os alimentos biofortificados na alimentação de crianças do município em um projeto de extensão. Os outros cultivares que estão sendo desenvolvidos devem ser patenteados. A graduação em Agronomia do Campus Monte Carmelo tem ainda o Grupo de Estudos em Melhoramento Genético de Hortaliças (Gen-Hort) e o Laboratório de Análise de Sementes e Recursos Genéticos (Lagen). Mais informações estão disponíveis no site www.genhort.iciag.ufu.br.