Estudo SABE – Sintomas depressivos em idosos do município de
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Estudo SABE – Sintomas depressivos em idosos do município de
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU Estudo SABE – Sintomas depressivos em idosos do município de São Paulo Cristiane Lara Mendes-Chiloff Botucatu 2011 Cristiane Lara Mendes-Chiloff Estudo SABE – Sintomas depressivos em idosos do município de São Paulo Tese apresentada à Faculdade de Medicina de Botucatu para a obtenção do título de Doutor em Saúde Coletiva, Área de Concentração em Saúde Pública Orientadora: Ana Teresa de Abreu Ramos-Cerqueira Botucatu 2011 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉC. AQUIS. TRATAMENTO DA INFORM. DIVISÃO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: ROSEMEIRE APARECIDA VICENTE Mendes-Chiloff, Cristiane Lara. Estudo SABE : sintomas depressivos em idosos do município de São Paulo / Cristiane Lara Mendes-Chiloff. - Botucatu, 2011 Tese (doutorado) - Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, 2011 Orientador: Ana Teresa de Abreu Ramos Cerqueira Capes: 40602001 1. Envelhecimento. 2. Depressão em idosos. 3. Promoção da saúde. Palavras-chave: Condições de saúde; Envelhecimento; Estudo SABE; Idoso; Sintomas depressivos. “Todo jardim começa com um sonho de amor, antes que cada árvore seja plantada, antes que cada lago seja construído eles têm que existir dentro da alma. Quem não tem jardim por dentro, não cria jardim por fora, e nem passeia por ele." (Rubem Alves) Dedicatória Para Joel, Dani e Lucas Meus amores Agradecimentos “Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, Pois cada pessoa é única e nenhuma substitui outra. Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, Mas não vai só nem nos deixa só. Leva um pouco de nós mesmos, Deixa um pouco de si mesmo.” (Antoine de Saint- Exupéry) Agradecimentos A Deus, que permitiu que este trabalho fosse realizado. Aos meus pais, que me ensinaram a sonhar... Ao Joel, Daniela e Lucas, por dividirem este sonho comigo, pelo apoio nas horas de cansaço e dificuldades e pela paciência em conviver com tantos dados. Ao meu pai e à Neusa, pelo apoio incondicional. À vó Maria e à Tia Ina pela torcida e pelo cuidado, sempre! A todos os meus familiares e amigos, em especial minhas irmãs, Elaine e Marcela, que me incentivaram, me apoiaram, enfim, sempre estiveram ao meu lado. Agradecimentos À Prof. Dra. Ana Teresa de Abreu Ramos Cerqueira que se dedicou intensamente a minha orientação, guiando-me na concretização deste sonho. Além da orientação técnica, outra vez, pude conviver de maneira próxima com uma grande profissional, de dedicação extrema e energia invejável. Obrigada pela orientação dedicada, incentivo, exemplo e amizade. À Profa. Dra. Maria Lúcia Lebrão, que autorizou a utlilização do banco de dados do ESTUDO SABE, viabilizando a realização deste estudo. À Profa. Maria Cristina Pereira Lima, por me iniciar pacienciosamente nos caminhos do “stata”, pela cuidadosa análise estatística, atenção e disponibilidade para o esclaricimento de dúvidas. À Prof. Dr. Jair Lício Ferreira Santos, pela prontidão em esclarecer as inúmeras dúvidas estatísticas, indicando caminhos norteadores para as análises. Agradecimentos À Profa. Dra. Albina Rodrigues Torres, pela cuidadosa correção e oportunas sugestões. Às psicólogas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, em especial, Clarissa Cabianca Ramos e Vânia Lúcia Novello, por podermos dividir os momentos de sucesso e de dificuldades do nosso dia-a-dia. A Profa. Dra. Gimol Benzaquem Perosa, por tudo que contribuiu para a minha formação profissional, pelo apoio e amizade. A Profa. Dra. Flávia Helena Padovani, pela oportunidade de realizarmos projetos em conjunto, pelo estímulo e amizade. As Aprimorandas de Psicologia, por tudo que pudemos aprender na experiência do dia-a-dia. Pela participação especial que vocês têm na minha trajetória profissional. Agradecimentos Aos docentes e funcionários do Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria pelo apoio e incentivo para que este trabalho se realizasse. Aos funcionários da Seção de Pós-graduação pela atenção e auxílio na resolução de questões administrativas, em especial, Regina e Nathanael. A secretária de Pós-graduação do Departamento de Saúde Pública, Lucilene Cabral, pela atenção e informações prestadas. Aos idosos que participaram deste estudo, pela colaboração e pela possibilidade de ampliar o conhecimento de diversas áreas sobre o envelhecimento. Sumário Sumário RESUMO E ABSTRACT ...................................................................................................... 15 LISTA DE FIGURAS, QUADROS, TABELAS .................................................................. 20 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 26 1.1. Depressão em Idosos .................................................................................................... 26 1.2. Instrumentos de Avaliação de Depressão em idosos .................................................... 29 1.3. Estudos epidemiológicos sobre Depressão em idosos .................................................. 34 1.3.1. Estudos de Prevalência Depressão e Sintomas depressivos em idosos................. 35 1.3.2. Estudos de Incidência de Depressão e Sintomas Depressivos em idosos ............. 44 1.3.3. Fatores associados à Depressão e Sintomas Depressivos em idosos .................... 47 2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 55 2.1. Objetivo Geral............................................................................................................... 55 2.2. Objetivos Específicos ................................................................................................... 55 3. MÉTODO ............................................................................................................................ 57 3.1. Descrição do estudo ...................................................................................................... 57 3.2. Estudo SABE ................................................................................................................ 57 3.3. População ...................................................................................................................... 59 3.4. Instrumento ................................................................................................................... 61 3.5. Procedimento ................................................................................................................ 66 3.6. Análise de dados ........................................................................................................... 66 4. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ........................................................................................... 72 Sumário 5. RESULTADOS ................................................................................................................... 74 5.1. Estudo Transversal – Prevalência e fatores associados ................................................ 74 5.2. Estudo Longitudinal – Análise dos fatores de risco ................................................... 103 5.3. Estudo Longitudinal - Análise dos fatores de proteção .............................................. 113 6. DISCUSSÃO ..................................................................................................................... 126 7. CONCLUSÕES................................................................................................................. 141 8. REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 143 9. ANEXOS ........................................................................................................................... 155 Resumo & Abstract Resumo RESUMO Introdução: Sintomas depressivos são prevalentes entre idosos acarretando importante problema de saúde pública, por sua freqüência e associação com doenças físicas, mortalidade, incapacidade funcional, prejuízo na qualidade de vida e sobrecarga para a família e para serviços de saúde. Objetivos: Estimar a prevalência de sintomas depressivos em idosos do município de São Paulo – Estudo SABE - em 2006; identificar os fatores a eles associados em 2006 e os fatores de risco já presentes no momento de inclusão dos idosos na coorte (ano 2000), e ainda identificar possíveis fatores de proteção para sintomas depressivos entre os idosos que não os apresentaram na avaliação realizada em 2000 e nem na de 2006. Método: Num estudo de corte transversal, foram estudados 972 idosos, por meio de inquérito domiciliar, sobre condições vida e saúde (Estudo SABE) que responderam à Escala de Depressão Geriátrica (GDS) para detectar sintomas depressivos tanto no momento da inclusão na coorte (2000), como em 2006. O questionário utilizado em 2000 foi mantido com acréscimo de instrumentos para os novos objetivos propostos em 2006. A amostra deste estudo foi composta por pessoas com 60 anos ou mais, no momento da inclusão, derivada de setores censitários e obtida em dois estágios, com reposição e probabilidade proporcional à população, para idosos de 75 anos ou mais. Em 2000 foram entrevistados 2.143 idosos e em 2006 foram novamente entrevistadas 1.115 pessoas, registrando-se entre as duas avaliações: 649 óbitos, 11 institucionalizações, 52 mudanças para outros municípios, 139 pessoas não foram localizados e 177 pessoas que recusaram a nova avaliação. Resultados: A prevalência de sintomas depressivos em 2006 foi de 14,2% (IC 95% 11,8 – 16,7). A partir dos resultados (p<0,10) da análise univariada, realizada com o teste de Rao-Scott para amostras complexas, foram construídos modelos de regressão logística, tendo como exposição diferentes grupos de variáveis (sociodemográficas; morbidades auto-referidas; condições e percepção de saúde e memória) e um modelo final com todas as variáveis que permaneceram associadas Resumo significativamente em cada modelo específico, ajustando-se para sexo e idade. No modelo final da regressão logística, tipo stepwise backward, observou-se que permaneceram independentemente associadas à presença de sintomas depressivos: relato de visão ruim, (OR = 2,83; IC95%: 1,52 – 5,29) de saúde bucal ruim (OR= 1,77; IC95%: 1,08 – 2,92), dependência para atividades básicas de vida diária (OR= 2,65, IC95%: 1,09 – 8,10) ter avaliado sua memória (OR= 6,82; IC95%: 2,15 – 11,83) e percebido sua saúde como ruins (OR= 5,04, IC95%: 2,15 – 11,83) e ainda apresentar disfunção familiar moderada ou grave (OR=2,98; IC95%:1,09 – 8,10 e OR=3,45; IC95%: 1,60 – 7,43). Os resultados da regressão logística, que focalizou o estudo de fatores de risco presentes em 2000 que se associaram à presença de sintomas depressivos em 2006, indicaram que se mantiveram no modelo: ter baixa renda (OR=2,40; IC95%: 1,08 – 5,38), referir doença pulmonar (OR= 2,2; IC95% 1,12 – 4,47) e avaliar negativamente a memória (OR=14,11; IC95%: 5,10– 39,02) e a saúde (OR= 2,95; IC95%: 1,15 – 7,56). Os fatores de proteção para não ter apresentado sintomas depressivos em nenhuma das avaliações, obtidos pelo mesmo procedimento estatístico, foram: ser do sexo masculino (OR= 1,75; IC95%: 1,24 – 2,47), não referir doença pulmonar (OR=2,07; IC95%: 1,33 – 3,22) e ter uma avaliação de saúde positiva (OR= 5,43; IC95%: 2,74 – 10,77). Conclusão: Os dados obtidos corroboram a literatura da área, constatando a alta prevalência de sintomas depressivos entre os idosos. Supõe-se que a presença de sintomas depressivos e o conjunto de condições adversas a eles associado podem gerar sobrecarga para prestação de cuidados a esses idosos, evidenciando a relevância do planejamento e implementação de políticas e programas sociais e de saúde para o atendimento de idosos, uma vez que a maioria daquelas condições é passível de prevenção e controle. Abstract ABSTRACT Introduction: Depressive symptoms are prevalent among the elderly, causing a major public health problem due to their frequency and association with physical illness, mortality, disability, impaired quality of life and burden on the family and healthcare services. Objectives: Estimate the prevalence of depressive symptoms in the elderly in São Paulo, SABE Study (Health, Well-Being and Aging), in 2006; identify the factors associated with these in 2006 and risk factors already present at the inclusion of these individuals in the cohort (2000); and identify other possible protective factors against depression among the elderly than those presented in the evaluation performed in 2000 or 2006. Methods: This cross-sectional study evaluated 972 elderly individuals through a household survey on health status and living conditions (SABE Study) who responded to the Geriatric Depression Scale (GDS) to detect depressive symptoms both at inclusion in the cohort (2000) and in 2006. The questionnaire used in 2000 was maintained with additional tools for new goals proposed in 2006. The study sample consisted of individuals aged 60 years-old or over at the time of inclusion, derived from census sectors and conducted in two stages, with replacement and probability proportional to the population of individuals aged 75 years-old or over. In 2000, 2,143 elderly were interviewed and in 2006, 1,115 were re-interviewed. Between the two evaluations, the following events occurred: 649 individuals died, 11 were institutionalizations, 52 moved to other cities, 139 individuals were not located and 177 refused reassessment. Results: The prevalence of depressive symptoms in 2006 was 14.2% (95%CI: 11.8-16.7). From the results (p <0.10) of the univariate analysis, performed using the Rao-Scott test for complex samples, logistic regression models were constructed for the different groups of variables (demographic data, self-reported morbidity, health status, and health perception and memory) and then a final model, including all the variables that remained significantly associated in each specific model, adjusted for age and sex. In the final backward stepwise Abstract logistic regression model, the following variables remained independently associated with depressive symptoms: reporting poor vision (OR=2.83; 95%CI: 1.52-5.29); bad oral health (OR=1.77; 95%CI: 1.08-2.92); dependence for basic activities of daily living (OR=2.65; 95%CI: 1.09-8.10); having your memory evaluated (OR=6.82; 95%CI: 2:15-11.83); perceiving your health as poor (OR=5.04; 95%CI: 2.15-11.83); and presenting moderate or severe familial dysfunction (OR=2.98; 95%CI: 1.09-8.10 and OR=3.45; 95%CI: 1.60-7.43). The results of the logistic regression, which focused on the study of risk factors in 2000 that were associated with depressive symptoms in 2006, indicated that the following remained in the model: living on low income (OR=2.40; 95%CI: 1.08-5.38); reporting pulmonary disease (OR=2.2; 95%CI: 1.12-4.47); negatively evaluating your memory (OR=14.11; 95%CI: 5.1039.02); and negatively evaluating your health (OR=2.95; 95%CI: 1.15-7.56). Protective factors against presenting depressive symptoms in any of the evaluations, obtained using the same statistical procedure, were: being male (OR=1.75; 95%CI: 1.24-2.47); not reporting lung disease (OR=2.07; 95%CI: 1.33-3.22); and receiving a positive health evaluation (OR=5.43; 95%CI: 2.74-10.77). Conclusions: The data obtained corroborate the relevant literature, confirming the high prevalence of depression among the elderly. It is assumed that the presence of depressive symptoms and the set of adverse conditions associated with them can generate a burden of providing care to these elderly individuals, highlighting the importance of planning and implementation of policies and social programs and healthcare for the elderly, since the majority of these conditions can be prevented or controlled. Lista de Figuras, Quadros e Tabelas Lista de Figuras FIGURAS Figura 1: Coortes do ESTUDO SABE – SÃO PAULO ................................................ 58 Figura 2: Composição da amostra do estudo de sintomas depressivos em idosos do município de São Paulo (A06) .................................................................. 60 Lista de Quadros QUADROS Quadro 1: Critérios diagnósticos para episódio depressivo – DSM-IV. ......................... 28 Quadro 2: Instrumentos de avaliação de depressão e sintomas depressivos utilizados nos principais estudos epidemiológicos. ........................................ 33 Quadro 3: Estudos epidemiológicos internacionais ........................................................ 41 Quadro 4: Estudos epidemiológicos brasileiros .............................................................. 43 Quadro 5: Estudos de incidência de depressão e sintomas depressivos. ......................... 46 Quadro 6: Questionário SABE 2006 ............................................................................... 62 Quadro 7: Variáveis selecionadas para o presente estudo ............................................... 68 Lista de Tabelas TABELAS Tabela 1: Distribuição das características sócio-demográficas, segundo sexo (coorte A06).................................................................................................... 75 Tabela 2: Distribuição dos arranjos familiares e condições de moradia, segundo sexo (coorte A06) ........................................................................................... 76 Tabela 3: Distribuição de religião e prática religiosa segundo sexo (coorte A06) ......... 77 Tabela 4: Distribuição de morbidade referida segundo sexo (coorte A06) .................... 79 Tabela 5: Distribuição do histórico de quedas e fraturas, segundo sexo (coorte A06) ................................................................................................................ 80 Tabela 6: Distribuição da auto-avaliação das condições de saúde visual, auditiva e, bucal segundo sexo (coorte A06) ............................................................... 81 Tabela 7: Distribuição da percepção de dor segundo sexo (coorte A06) ....................... 82 Tabela 8: Distribuição de uso de serviços de saúde no último ano, segundo sexo (coorte A06).................................................................................................... 83 Tabela 9: Percepção de memória e saúde, segundo sexo (coorte A06) .......................... 84 Tabela 10: Distribuição dos níveis de autonomia nas atividades básicas e instrumentais de vida diária e funcionalidade familiar, segundo sexo. (coorte A06).................................................................................................... 85 Tabela 11: Sintomas depressivos segundo variáveis sociodemográficas (coorte A06) ................................................................................................................ 86 Tabela 12: Sintomas depressivos segundo arranjo familiar e condições de moradia (coorte A06).................................................................................................... 87 Tabela 13: Sintomas depressivos segundo prática religiosa (coorte A06) ....................... 88 Tabela 14: Sintomas depressivos segundo morbidades referidas (coorte A06) ............... 89 Tabela 15: Sintomas depressivos segundo quedas e fraturas (coorte A06) ...................... 90 Lista de Tabelas Tabela 16: Sintomas depressivos segundo auto-avaliação das condições de saúde visual, auditiva e bucal (coorte A06) .............................................................. 91 Tabela 17: Sintomas depressivos segundo percepção de dor (coorte A06) ..................... 92 Tabela 18: Sintomas depressivos segundo uso de serviços de saúde (coorte A06) ......... 93 Tabela 19: Sintomas depressivos segundo da auto-avaliação de memória e percepção de saúde (coorte A06) ................................................................... 94 Tabela 20: Sintomas depressivos segundo autonomia e funcionalidade familiar (coorte A06).................................................................................................... 95 Tabela 21: Modelo 1: Regressão logística: sintomas depressivos e variáveis sóciodemográficas .......................................................................................... 97 Tabela 22: Modelo 2: Regressão logística: Sintomas depressivos em relação a doenças auto-referidas .................................................................................... 98 Tabela 23: Modelo 3: Regressão logística: sintomas depressivos em relação a condições de saúde e autonomia para atividades diárias ................................ 99 Tabela 24: Modelo 4: Regressão logística: Sintomas depressivos em relação a percepção de saúde, memória, dor e funcionalidade familiar ........................100 Tabela 25: Modelo 5: Regressão logística: Sintomas depressivos em relação a todas as variáveis significativas nos demais modelos ....................................102 Tabela 26: Sintomas depressivos (coorte A06) segundo variáveis sóciodemográficas em 2000 ....................................................................................103 Tabela 27: Sintomas depressivos em 2006 segundo condições de saúde no ano de 2000 ................................................................................................................104 Tabela 28: Sintomas depressivos em 2006 segundo auto-avaliação da memória e da saúde no ano de 2000 .................................................................................105 Tabela 29: Sintomas depressivos em 2006 segundo capacidade funcional no ano de 2000 ...........................................................................................................106 Tabela 30: Modelo 1: Regressão logística: Sintomas depressivos e variáveis sóciodemográficas ..........................................................................................108 Tabela 31: Modelo 2: Regressão logística: Sintomas depressivos e doenças referidas ..........................................................................................................109 Lista de Tabelas Tabela 32: Modelo 3: Regressão logística: associação de sintomas depressivos e auto – avaliação da saúde e memória .............................................................110 Tabela 33: Modelo 4: Regressão logística: Sintomas depressivos e autonomia para atividades de vida diária .................................................................................111 Tabela 34: Modelo final: Regressão logística sintomas depressivos em relação a todas as variáveis significativas nos demais modelos ....................................112 Tabela 35: Distribuição da população SABE A00 e A06 segundo presença ou não de sintomas depressivos (N=945) ...................................................................113 Tabela 36: Sintomas depressivos segundo caso (coorte A00 e A06) ...............................114 Tabela 37: Distribuição da presença ou não de sintomas depressivos (A00 e A06), segundo variáveis sociodemográficas(A00) ...................................................115 Tabela 38: Distribuição da presença ou não de sintomas depressivos (A00 e A06) segundo variáveis relativas à condição de saúde (A00) .................................116 Tabela 39: Distribuição da população segundo percepção de memória e saúde (A00) segundo a presença ou não de sintomas depressivos (A00 e A06) ......117 Tabela 40: Distribuição da população segundo capacidade funcional (A00) e presença ou não de sintomas depressivos (A00 e A06) .................................118 Tabela 41: Modelo 1: Regressão logística: Sintomas depressivos e variáveis sóciodemográficas ..........................................................................................120 Tabela 42: Modelo 2: Regressão logística de sintomas depressivos em relação a doenças auto-referidas ....................................................................................121 Tabela 43: Modelo 3: Regressão logística: Sintomas depressivos em relação a percepção de saúde e memória .......................................................................122 Tabela 44: Modelo 4: Regressão logística: Sintomas depressivos e atividades instrumentais de vida diária ............................................................................123 Tabela 45: Modelo final: Regressão logística sintomas depressivos em relação a todas as variáveis significativas nos demais modelos ....................................124 1. Introdução Introdução - 26 - 1. INTRODUÇÃO 1.1. DEPRESSÃO EM IDOSOS O envelhecimento da população é um fenômeno mundial que vem adquirindo importância cada vez maior devido à rápida transição demográfica observada nos países em desenvolvimento. Em 1950, eram cerca de 204 milhões de idosos no mundo, em 1998 esse contingente alcançou 579 milhões. Projeções indicam que em 2050 a população idosa será de 1.9 bilhões (ONU, 2004; IBGE, 2004). No Brasil (IBGE, 2004), os idosos representam aproximadamente 15 milhões de pessoas com 60 anos ou mais (8,8% da população brasileira). Estima-se que por volta do ano 2050 representará 24,6% da população, modificando rapidamente a pirâmide populacional. Atualmente já se notam características e necessidades dessa população, representadas por problemas crônicos, múltiplos e que requerem intervenções mais onerosas e sofisticadas, que tendem a se acentuar cada vez mais. Dentre as doenças mais prevalentes entre os idosos, a depressão aparece como um importante problema de saúde mental, por sua freqüência e por sua forte associação com outras doenças físicas, mortalidade, incapacidade funcional, prejuízo na qualidade de vida e sobrecarga para a família e para os serviços de saúde. Nas últimas décadas, muitos estudiosos têm se dedicado a investigar a depressão no idoso, sendo esta definida em diversos níveis: depressão maior, depressão menor ou sintomas depressivos clinicamente relevantes e sintomas depressivos. A depressão maior é claramente definida através de critérios estabelecidos pelo Manual de Diagnóstico e Introdução - 27 - Estatística- DSM-IV(APA, 1994) e pela Classificação Internacional das Doenças - CID-10 (OMS,1997). Há ainda os chamados sintomas depressivos clinicamente relevantes, mas que não preenchem critérios diagnósticos de depressão maior, que são considerados por alguns autores como depressão menor (Beekman et al, 1999). Descrevem-se também os sintomas depressivos que não preenchem critérios para quaisquer quadros depressivos segundo os sistemas de diagnósticos vigentes (DSM-IV e CID-10). Esses sintomas depressivos, se avaliados através de escalas de sintomas, deverão ter pontuação mais alta que o ponto de corte estabelecido. Sintomas depressivos têm alta prevalência entre idosos, acarretando significativo prejuízo de sua qualidade de vida e repercussões semelhantes a um quadro de depressão maior (Hybel & Blazer, 2002). A depressão maior tem um curso clínico caracterizado por um ou mais episódios depressivos, que podem ter remissão completa ou parcial dos sintomas. Os indivíduos com remissão parcial têm maior probabilidade de desenvolverem episódios adicionais e de continuarem com um padrão de recuperação parcial entre os episódios (Lafer, 1996; APA, 1994). Para preencher critério de depressão maior o indivíduo deve apresentar pelo menos cinco dos seguintes sintomas: anedonia, fadiga, alterações de sono, falta de apetite, agitação psicomotora, sentimento de inutilidade ou culpa excessiva, capacidade reduzida de concentração, pensamentos de morte ou autolesivos recorrentes. Os sintomas devem estar presentes por um período mínimo de duas semanas, sendo que pelo menos um dos sintomas deve ser humor deprimido ou perda do interesse ou prazer (Quadro 1) e essa condição não ser justificada por uma condição médica, fisiológica ou por luto. Introdução - 28 - Quadro 1: Critérios diagnósticos para episódio depressivo – DSM-IV DEPRESSÃO MAIOR A. Pelo menos cinco dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma alteração no funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é: (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer: ( 1 ) humor deprimido na maior parte do dia, quase diariamente, conforme indicação por relato ou observação alheia. ( 2 ) interesse ou prazer marcadamente diminuídos por todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase diariamente, conforme indicação por relato ou observação alheia. ( 3 ) perda ou ganho de peso significativos, na ausência de dieta, ou diminuição ou aumento do apetite quase diariamente. ( 4 ) insônia ou hipersônia quase diariamente. (5) agitação ou retardo psicomotor quase diariamente (observados pelos outros e não meros sentimentos de inquietação subjetivos de inquietação ou lentidão). ( 6) fadiga ou perda de energia quase diariamente. ( 7 ) sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (podendo ser delirantes) quase diariamente ( não mera auto-reprovação ou culpa por estar doente). ( 8 ) capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase diariamente (tanto por relato subjetivo quanto por observação alheia). ( 9 ) pensamentos recorrentes de morte (não mero temor de morrer), ideação suicida recorrente sem plano específico, tentativa de suicídio, ou plano específico para cometer suicídio. B. Não preenche critério para episódio misto. C. Os sintomas causam desconforto clinico significativo ou comprometem o desempenho social, ocupacional, ou outras áreas importantes do funcionamento. D. Os sintomas não são devidos ao efeito fisiológico direto de substâncias ou à condição médica. E. Os sintomas não são mais bem explicados por luto, isto é, não aparecem após perda de ente amado, os sintomas persistem por pelo menos dois meses ou são caracterizados por comprometimento funcional acentuado, preocupação mórbida de pouca valia, ideação suicida, sintomas psicóticos, ou retardo psicomotor. Introdução - 29 - 1.2. Instrumentos de Avaliação de Depressão em idosos Os instrumentos utilizados para identificar e descrever transtornos psiquiátricos, em especial a depressão na terceira idade, são de fundamental importância na epidemiologia psiquiátrica, pois há grande dificuldade na identificação dos casos de depressão. Estes podem se constituir uma doença psiquiátrica ou ser conseqüência de uma doença física e seu tratamento, ou, muitas vezes, uma reação própria do envelhecimento. No entanto, há uma forte associação de “sintomas depressivos” com perda da capacidade funcional e prejuízo da qualidade de vida dos idosos. (Hybel & Blazer, 2002). Há dois grandes grupos de instrumentos para avaliação de transtornos psiquiátricos, em destaque a depressão, as entrevistas diagnósticas ou avaliações através de check-list e as escalas (Murphy, 2002). As entrevistas diagnósticas consistem em entrevistas clínicas / estruturadas, baseadas nos critérios estabelecidos pelo DSM-IV (APA, 1994) ou de versões anteriores desta classificação, que podem ser utilizadas por profissionais da área clínica e de pesquisa (Murphy, 2002). Entre esses instrumentos, os mais utilizados na avaliação de depressão em idosos são: Diagnostic Interview Schedule – DIS (Robins et al, 1981), Composite International Diagnostic Interview – CIDI (Robins et al, 1988) Geriatric Mental State – AGECAT (Coopeland, 1976), Mini International Neuropsychiatric Interview –MINI (Sheehan et al, 1998). A Diagnostic Interview Schedule (DIS) é uma entrevista psiquiátrica estruturada, com base nos critérios do sistema americano de classificação das doenças (DSM III e posteriormente DSM-IV). Foi desenvolvida nas décadas de 70/80 para uso em larga escala Introdução - 30 - num estudo epidemiológico sobre transtornos psiquiátricos realizado nos EUA - The Epidemiologic Catchment Area – ECA (Robins et al, 1981). Outro instrumento de avaliação diagnóstica é a Composite International Diagnostic Interview-CIDI (Robins et al, 1988). A CIDI é uma entrevista abrangente e totalmente estruturada para avaliação de transtornos mentais de acordo com as definições e os critérios da CID-10 e DSM-IV. É destinada a ser utilizada em estudos epidemiológicos, bem como para fins clínicos e de pesquisa. A CIDI permite ao investigador: medir a prevalência de transtornos mentais, avaliar a utilização dos serviços e o uso de medicamentos para o tratamento desses distúrbios e, por fim, avaliar o que é tratado, o que permanece sem tratamento, e quais são as barreiras ao tratamento (Robins et al, 1988). A Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI) é uma entrevista diagnóstica padronizada breve (15-30 minutos), compatível com os critérios do DSM-III-R/IV e da CID-10. A MINI é organizada por módulos diagnósticos independentes, elaborados de forma a otimizar a sensibilidade do instrumento. A estrutura do instrumento permite estabelecer ou excluir os diagnósticos ao longo da entrevista (Sheehan, 1998; Amorim, 2000). O Geriatric Mental State (GMS) – AGECAT (Coopeland, 1976), é um instrumento de duas fases. Consiste em uma entrevista semi-estruturada, que envolve avaliação ampla e detalhada do estado mental geriátrico. Na segunda fase - AGECAT (Automated Geriatric Examenation for Computer Assisted Taxonomy) – utilize-se um programa computadorizado que analisa os dados do GMS. Nessa fase os diagnósticos são gerados por algorítimos computadorizados, classificando-os em “clusters” diagnósticos, baseados em critérios do DSM-IV. Alguns estudos utilizam o estágio sindrômico (fase 1) e outros o estágio hieráquico (fase 2) causando variabilidade nos resultados em razão do instrumento. Introdução - 31 - As escalas, ou instrumentos de rastreio (screening), têm sido construídos com o objetivo de detectar a presença de sintomas depressivos. Para cada um desses instrumentos, um ponto de corte é estabelecido, visando identificar a sintomatologia em questão, principalmente a de maior gravidade. Os instrumentos de rastreio são reconhecidos como recursos rápidos, simples e úteis para a identificação de sintomas depressivos ou vulnerabilidade à depressão na velhice (Batistoni, et al, 2007). São utilizados na área clínica, em centros de atendimento ao idoso e em pesquisas. Dentre esses instrumentos, pode-se citar a Escala de Depressão Geriátria - GDS (Yesavage et al, 1983), a Escala do Center for Epidemiological Studies for Depression -CES-D (Radloff , 1977), e a EURODEP (Prince, 1999). A Escala do Center for Epidemiological Studies for Depression -CES-D e seu uso em idosos foram desenvolvidos originalmente por Radloff (1977). Mui et al (2001) realizaram um estudo de revisão sobre as propriedades psicométricas da CES-D, confirmando sua utilidade para a avaliação de depressão em idosos. Os autores indicaram que fatores etários, culturais e relacionados à saúde influenciam os padrões de respostas e, portanto, a escala deve ser validada para cada grupo cultural que vier a ser aplicada. No Brasil, Batistoni et al (2007) realizaram um estudo de validade para o uso da escala com idosos residentes na comunidade, obtendo satisfatórios índices de especificidade e sensibilidade. No EURODEP, grupos de pesquisa constituídos de 11 países da Europa desenvolveram uma escala para padronizar a avaliação de depressão para esses centros. A escala EURODEP (Prince, 1999) foi construída a partir dos seguintes instrumentos GMSAGECAT (Coopeland et al, 1986); CES-D (Radloff, 1977), Zung Self-Rating Depression Scale - ZSDS (Zung, 1965) e Comprehensive Psychopathological Rating Scale - CPRS (Asberg, 1978). A EURODEP foi desenvolvida com o intuito de selecionar os sintomas comuns nas escalas utilizadas anteriormente e que identificavam o quadro depressivo. Foram Introdução - 32 - selecionados, por fim, 12 itens que contemplam afeto negativo, pessimismo, desejo de morrer, apetite, fadiga, concentração, prazer e choro. A escala apresentou boa consistência interna e aceitáveis índices de especificidade e sensibilidade para o uso na população idosa. A Escala de Depressão Geriátrica (GDS - Geriatric Depression Scale) é uma das escalas mais utilizadas em estudos epidemiológicos de depressão. Foi desenvolvida por Yesavage e cols (1983) e posteriormente adaptada para um formato reduzido composto por quinze questões (Sheik & Yesavage, 1986), com estudo de confiabilidade feito no Brasil por Almeida & Almeida (1999). A GDS avalia a depressão tendo como referência o último mês. Outros instrumentos têm sido utilizados com menor frequência como o General Health Questionnaire-GHQ (Goldberg et al, 1988), o Short Psychiatric Evaluation Schedule – SPES (Pfeffer, 1975), a Zung Depression Status Inventory – ZDSI ( Zung, 1965), a versão reduzida da Comprehensive Assesment and Referral Evaluation -Short-Care (Gurland et al, 1984). Introdução - 33 - Quadro 2: Instrumentos de avaliação de depressão e sintomas depressivos utilizados nos principais estudos epidemiológicos. AUTOR/ANO INSTRUMENTO CARACTERÍSTICA Coopeland et al, 1976. Geriatric Mental State - AGECAT diagnóstico Radloff, 1977 Center for Epidemiologic Studies Depression Scale (CES-D) screening Robins et al, 1981 Diagnostic Interview Schedule (DIS) diagnóstico Robins et al, 1988 Composite International Diagnostic Interview – CIDI diagnóstico Yesavage et al. 1983. Geriatric Depression Scale - GDS screening Gurland et al, 1984 Comprehensive Assesment and Referral Evaluation (Short-CARE) screening Goldberg et al, 1988 General Health Questionnaire - GHQ screening Pfeffer, 1975 Short-Psychiatry Evaluation Schedule (SPES) screening Sheehan et al, 1998. Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI) diagnóstico Introdução - 34 - 1.3. Estudos epidemiológicos sobre Depressão em idosos O envelhecimento populacional constitui um dos grandes desafios para a saúde pública, em especial para os países em desenvolvimento, entre eles o Brasil. O envelhecimento no Brasil vem ocorrendo de forma acentuado nas últimas décadas e estima-se que em 2020 alcançará 32 milhões de indivíduos com 60 anos ou mais (Lima-Costa, 2003). A Epidemiologia do Envelhecimento ocupa-se do estudo das condições que levam à incapacidade funcional e subsequente aumento da dependência, além do estudo das doenças responsáveis pela morbidade e mortalidade entre idosos (Lima- Costa, 2003). Estudos epidemiológicos sobre as condições e determinantes de saúde da população idosa, assim como a utilização de serviços de saúde e demandas sociais são fundamentais para o planejamento da atenção à saúde voltada para essa população. No entanto, no Brasil, ainda são escassos os estudos epidemiológicos populacionais de idosos (Lima-Costa, 2003). Lima-Costa (2003) enfatiza alguns importantes fatos comuns na pesquisa com idosos que têm efeito de viés, aos quais se deve estar atento no planejamento, condução, análise e interpretação dos resultados desses estudos, que são: uso de respondentes próximos (idosos doentes ou mais velhos ou com déficit cognitivo, condições que impeçam sua participação na pesquisa, e exijem que se recorra a uma pessoa próxima,) e exclusão de idosos institucionalizados (estudos populacionais podem subestimar a prevalência de incapacidade na população), o que deve ser considerado na análise. Introdução - 35 - 1.3.1. Estudos de prevalência de Depressão e Sintomas Depressivos em idosos Os estudos de prevalência foram agrupados de acordo com o critério diagnóstico: estudo de prevalência de sintomas depressivos e estudos de prevalência de depressão. As taxas de prevalência de sintomas depressivos são mais altas em relação a prevalência de depressão maior (Beekman, 1999). Todavia, em grandes estudos populacionais o uso de instrumentos de screening é mais comum, devido às dificuldades inerentes a esse tipo de pesquisa, com isso a investigação de sintomas depressivos acaba se tornando mais freqüente. As prevalências de depressão descritas na literatura, obtidas em estudos populacionais variaram de 1,2% a 26,2% (Beekman et al, 1995; Steffens et al, 2000; Chong et al, 2001; Wilhelm et al, 2003; Chen et al 2005; Gureje et al, 2007; McDougall et al, 2007; Ma et al, 2008, Cámara et al, 2008). Num estudo nos EUA denominado The Cache County Study, com aproximadamente 4500 idosos sem demência e institucionalizados, utilizando como instrumento a entrevista diagnóstica DIS, foi encontrada a prevalência de 4,3% de transtornos depressivos e 5,3% de sintomas depressivos (Steffens et al, 2000). Wilhelm et al (2003) realizaram uma pesquisa na Australia de grande porte, com representatividade nacional, selecionando participantes de 18 anos ou mais. Utilizando a CIDI como instrumento diagnóstico, constataram a prevalência de 1,2% de depressão entre as pessoas maiores de 65 anos. Gureje et al (2007), utilizando esse mesmo instrumento, num estudo populacional representativo na Nigéria Ibadan Study Ageing – ISA),no qual avaliaram idosos com 65 anos ou mais, residentes em oito diferentes estados, encontraram a prevalência de 26,2% de depressão maior. Introdução - 36 - Outro grande estudo, este realizado na Holanda, denominado The Longitudinal Aging Study Amsterdam (LASA) entrevistou aproximadamente três mil pessoas com idade de 55 anos ou mais Na primeira fase utilizaram a CES-D para rastreamento de depressão, seguida de uma entrevista diagnóstica (fase dois) utilizando a DIS. A prevalência de depressão constatada nessa população foi de 2% (Beekman et al, 1995). Ma et al (2008), como parte de um grande estudo epidemiológico de desordens psiquiátricas na China, com pessoas a partir de 15 anos de idade, investigaram a depressão numa coorte de 1600 idosos moradores de área urbana e rural de Beijing. Através da aplicação do CIDI verificaram a prevalência de 4,3% de depressão geriátrica. Estudos que utilizaram o GMS-AGECAT apresentaram resultados utilizando diferentes fases do instrumento (fase 1: identificação de sintomas depressivos e fase 2: diagnóstico de depressão segundo critérios do DSM-IV). Chong et al (2001) estudaram depressão entre 1500 idosos randomizados de três diferentes comunidades de Taiwan. As comunidades se diferenciavam em relação ao nível de urbanização. Na primeira fase do estudo, foi obtida a prevalência de 15,3% de sintomas depressivos e na segunda fase a prevalência de 5,9% de depressão maior. Prevalência semelhante de depressão maior (6%) foi a encontrada por Chen et al (2005) num estudo que avaliou cerca de 160 idosos residentes em área rural da China. Um grande estudo populacional, multicêntrico foi realizado na Inglaterra, denominado Medical Research Council Cognitive Function and Ageing Study (MRC CFAS). Para este estudo foram selecionados 13000 idosos de cinco cidades do Reino Unido (McDougall et al, 2007), dentre os quais, 2640 foram randomizados para avaliação através do GMS-AGECAT. Foi constatada a prevalência de 8,7% de depressão entre os idosos ingleses. Introdução - 37 - Já na Espanha, no ZARADEMP Study, Cámara et al (2008) avaliaram cerca de 1.100 idosos e obtiveram a prevalência de 17,0% de sintomas depressivos e 1,9% de depressão maior. As prevalências de depressão são mais baixas que as de sintomas depressivos. Na literatura estas últimas variaram de 6,3% a 63% (Robins & Regier, 1991; Wurff et al, 2004; Kim et al 2009; Lai, 2004; Sherina et al, 2005; Stek et al, 2006; Torija et al 2007; CastroCosta et al, 2007; Ganatra et al, 2008; Bojorquez-Chapela et al, 2009). Em estudos que os autores utilizaram a CES-D como instrumento as taxas de prevalência variaram de 14,5% a 61,5% (Robins & Regier, 1991; Wurff et al, 2004; Bojorquez-Chapela et al, 2009). No início dos anos 90, foi realizada nos Estados Unidos a primeira grande pesquisa epidemiológica de base populacional: ECA - Epidemiological Catchment Área Study (Robins & Regier, 1991). Foram entrevistadas cerca de vinte mil pessoas acima de 18 anos, investigando transtornos psiquiátricos. Para a avaliação de sintomas depressivos o instrumento utilizado foi o CES-D, com o qual foi constatada a prevalência de 15% para a população com 60 anos ou mais, residentes na comunidade. A partir deste estudo, outros foram realizados em diversos países do mundo. Wurff et al (2004) realizaram um estudo de prevalência na Holanda comparando três comunidades diferentes de idosos: idosos imigrantes do Marrocos, idosos imigrantes da Turquia e idosos da comunidade holandesa. Foram observadas prevalências significativamente distintas para cada comunidade étnica: 33,6% para os marroquinos, 61,5% para os turcos e 14,5 % para os holandeses. Borjoquez-Chapela et al (2009), como parte do projeto Diagnostic of Life Conditions and Wellness of the elderly enrolled in Opotunidades, no México, estudaram a Introdução - 38 - prevalência de sintomas depressivos entre 954 idosos que completaram todas as etapas de avaliação. Constataram a prevalência de 43% de sintomas depressivos entre idosos de baixa renda no México, ratificando dados da literatura que sugerem que as taxas de prevalência são mais altas entre populações que vivem em condições adversas. Outros estudos utilizaram como instrumento a escala EURO-D. The SHARE Study é mais um estudo populacional realizado em diversos países da Europa (Dinamarca, Suécia, Holanda, Alemanha, Áustria, Suíça, França, Espanha, Itália e Grécia) com pessoas a partir de 50 anos. As taxas de prevalência variaram entre os países de 18,5% a 36,8%, sendo as taxas mais altas encontradas na Espanha (36,8%), Itália (33,7%) e França (33,3%) e a mais baixa na Dinamarca (18,1%). Os demais países apresentaram as seguintes prevalências: Suécia (19,2%); Alemanha (18,5%), Holanda (19,4%), Áustria (19,6%) e Suiça (19,1%) (Castro-Costa et al, 2007). Estudos que utilizaram como instrumento de investigação de sintomas depressivos a GDS obtiveram prevalências que variaram de 6,3% a 63% (Lai, 2004; Wada et al, 2004; Romero et al, 2005; Sherina et al, 2005; Stek et al, 2006; Torija et al, 2007; Ganatra et al, 2008; Kim et al, 2009). A menor prevalência (6,3%) foi observada por Sherina et al (2005), em pesquisa realizada na região urbana de Selangor (Malásia) avaliando cerca de 300 idosos com 60 anos ou mais. Neste estudo foi utilizada a GDS na versão original de 30 itens. Prevalência semelhante foi encontrada por Romero et al (2005) num estudo de rastreamento de sintomas depressivos entre idosos hispânicos e não hispânicos que residiam numa comunidade nos EUA. A prevalência nessa população foi de 9,5%. Outros estudos utilizaram a GDS -15 e verificaram prevalências superiores à relatada por Sherina et al (2005) e Romero et al (2005). A maior prevalência foi verificada por Kim et al (2009) em estudo com 295 idosos residentes na comunidade na Koréia (63%). Introdução - 39 - Wada et al (2004) no Japão investigaram sintomas depressivos em quase cinco mil idosos, com 60 anos ou mais distribuídos em quatro diferentes cidades japonesas e observaram prevalências que variaram de 32,2% a 34,6%. Lai et al (2004) investigaram sintomas depressivos em 1537 idosos chineses residentes no Canadá. Os idosos foram selecionados pelo sobrenome através de contato telefônico e agendando-se uma entrevista para avaliação. Esses autores constataram a prevalência de 24,2% de sintomas depressivos entre esses idosos. Outro estudo com resultado semelhante foi o de Ganatra et al (2008) que avaliou 402 idosos paquistaneses com 65 anos ou mais e a prevalência foi de 22,9%. Torija et al (2007) avaliaram aproximadamente 400 pessoas com idade a partir de 64 anos e constataram 19,7% de sintomas depressivos utilizando a GDS-15 e 5% de depressão definida através da avaliação clínica de um especialista. Prevalência menor ocorreu no estudo de Stek et al (2006) no Programa Leiden 85Plus Study (15%), na Holanda. No Brasil, os principais estudos populacionais utilizaram instrumentos de rastreio e obtiveram prevalências que variaram de 13% a 38,5% (Veras & Coutinho, 1991; Cerqueira, 2003; Castro-Costa et al, 2008; Barcelos-Ferreira et al, 2009; Lima et al, 2009). Veras & Coutinho (1991) estudaram a prevalência de depressão na população do Rio de Janeiro, selecionando três diferentes áreas da cidade (bairros social e economicamente distintos), utilizando como instrumento o Short Care que compôs o Brasilian Old Age Schedule (BOAS). As taxas de prevalência de sintomas depressivos foram diferentes entre os distritos estudados variando entre 20,9%, 23% e 36,8%. Os autores atribuíram tais resultados as diferenças socioeconômicas e, principalmente, a problemas de adequação do instrumento utilizado. Introdução - 40 - No Estudo SABE foram estudados 2.143 idosos residentes no ano 2000 no município de São Paulo, utilizando-se a GDS-15 obtendo-se a prevalência de 18,1% de sintomas depressivos nessa população (Cerqueira, 2003). No Projeto Bambuí foram avaliados 1.510 idosos com o General Health Questionnaire (GHQ). Os autores constataram a prevalência de 38,5% e observaram maior freqüência de sintomas depressivos entre as mulheres, idosos com 80 anos ou mais e entre aqueles que referiram pior condição de saúde e insônia. Os autores não explicam a alta prevalência de depressão nessa população, pois os fatores a eles associados são semelhantes aos descritos em outros estudos, sendo necessárias novas abordagens para elucidar tal resultado (Castro-Costa et al, 2008) . Lima et al (2009) acompanharam um coorte de idosos residentes em subdistrito da cidade de São Paulo por aproximadamente 15 anos – Projeto EPIDOSO. Para o rastreamento da sintomatologia depressiva através de um instrumento denominado Short-Psychiatry Evaluation Schedule (Pfeffer, 1975; Blay et al, 1988). A taxa de prevalência de sintomas depressivos para essa população foi de 21,1%. Também na cidade de São Paulo, outro grupo de pesquisadores que utilizou uma escala de sintomas depressivos composta por 10 itens baseadas na GDS-30 e na CES-D, denominada de D-10. Foram avaliados 1.563 idosos e a freqüência de sintomas depressivos foi de 13% (Barcelos-Ferreira et al, 2009). Essa descrição dos estudos epidemiológicos, sintetizada nos Quadros 3 e 4 ratificam a revisão de Beekman et al (1999) que apontava para a grande variabilidade entre os dados de prevalência na literatura, identificando taxas mais baixas entre os instrumentos que avaliaram depressão maior e mais altas entre aqueles que avaliaram sintomas depressivos, sugerindo que esta última condição é mais frequente entre os idosos. Introdução - 41 - Quadro 3: Estudos epidemiológicos internacionais AUTOR/ANO PAÍS PREVALÊNCIA INSTRUMENTO SINTOMAS DEPRESSIVOS DEPRESSÃO MAIOR Robins & Regier, 1991 EUA CES-D 15,0% Beekman et al, 1995 Holanda DIS Steffens et al, 2000 EUA DIS 5,3% 4,3% Chong et al, 2001 Taiwan GMS – AGECAT 15,3% 5,9% Wilhelm et al, 2003 Austrália CIDI Wurff et al, 2004 Holanda CES-D Lai et al, 2004 Canadá GDS -15 2,0% 1,2% Turcos 33,6% Marroquinos 61,5% Holandeses 14,5% 24,2% Hokkaido Shiga Kyoto Mie 34,6% 34,4% 32,3% 34,5% Wada et al, 2004 Japão GDS-15 Chen et al ,2005 China GMS – AGECAT Sherina et al, 2005 Malásia GDS-30 6,3% Romero et al, 2005 EUA GDS-15 9,5% Stek et al, 2006 Holanda GDS-15 15,0% McDougall et al, 2007 Inglaterra GMS – AGECAT 6,0% 8,7% (continua na próxima página) Introdução - 42 - Quadro 3: Estudos epidemiológicos internacionais (continuação) AUTOR/ANO PAÍS PREVALÊNCIA INSTRUMENTO SINTOMAS DEPRESSIVOS Torija et al, 2007 Espanha GDS-15 + Entrevista Castro-Costa et al, 2007 Share Study EURO-D Má et al, 2008 China CIDI Ganatra et al, 2008 19,7% França Itália Espanha Dinamarca Suécia Alemanha Holanda Áustria Suécia DEPRESSÃO MAIOR 5% 33,3% 33,7% 36,8% 18,1% 19,2% 18,5% 19,4% 19,6% 19,1% 4,3% GDS-15 22,9% Kim et al, 2009 Koréia GDS-15 63,0% Borjoquez-Chapela, 2009 México CES-D 43,0% Introdução - 43 - Quadro 4: Estudos epidemiológicos brasileiros. PREVALÊNCIA AUTOR/ANO LOCAL INSTRUMENTO SINTOMAS DEPRESSIVOS Copacabana 23,0% Veras & Coutinho, 1991 Rio de Janeiro BOAS Meier 20,9% Santa Cruz 36,8% Cerqueira, 2003 São Paulo GDS-15 18,1% Castro-Costa et al, 2008 Minas Gerais GHQ Bambuí 38,5% Lima et al, 2009 São Paulo SPES 21,1% Barcelos-Ferreira et al, 2009 São Paulo D-10 13,0% DEPRESSÃO MAIOR Introdução - 44 - 1.3.2. Estudos de incidência de Depressão e Sintomas Depressivos em Idosos É importante ressaltar as dificuldades de estudos longitudinais com idosos, devido, principalmente, à grande ocorrência de óbitos nessa população (Argimon & Stein, 2005). Além disso, especificamente em relação aos estudos de incidência de depressão são bem estabelecidas as dificuldades dos desenhos longitudinais. A depressão pode ser uma doença cíclica (intermitente) ou contínua, podendo até mesmo ser remitida e por essas razões pode não ser diagnosticada nos momentos de investigação, alterando sua medida (Weich & Prince, 2003). Para minimizar esse tipo de viés, recomenda-se a utilização de instrumentos que contemplem depressão ao longo da vida ou que sejam feitas reavaliações mais freqüentes. Todavia, para isso dever-se-ia utilizar instrumentos mais complexos, que exigem entrevistadores especializados, o que dificulta e encarece os estudos populacionais que visam abordar aspectos multidimensionais do envelhecimento e não especificamente depressão. Schoevers et al (2000) num estudo prospectivo com tempo de seguimento de três anos, avaliaram idosos holandeses com objetivo de investigar a etiologia da depressão nessa população, bem como a incidência e fatores associados. Utilizaram como instrumento para essa avaliação o GMS-AGECAT, e a incidência encontrada nessa população foi de 15,9% de sintomas depressivos. Heun & Hein (2005) investigaram fatores de risco para depressão em idosos moradores de uma comunidade alemã. Foi num estudo prospectivo, com um tempo médio de seguimento de quatro anos e meio após a entrevista inicial. Os sujeitos foram selecionados após confirmar-se pela entrevista inicial que nunca tinham tido quadro depressivo e pela análise de história familiar que indicasse que algum familiar direto tinha apresentado algum Introdução - 45 - transtorno psiquiátrico, em especial depressão. Os idosos foram avaliados por meio da CIDI que indicou uma incidência de depressão de 27,8%. The Cache County Study reavaliou idosos após três anos do projeto inicial. Com o mesmo instrumento (DIS), e atualização segundo os critérios diagnósticos do sistema vigente, obtendo uma incidência de depressão maior de 10,5% (Norton et al, 2006). Stek et al (2006) realizaram um estudo prospectivo, com cerca de 600 idosos nascidos nos anos entre 1912 e 1914, residentes no município de Leiden, com período de seguimento de aproximadamente quatro anos, com reavaliações anuais, nas quais foi possível observar o caráter cíclico da depressão, verificando que muitos casos tiveram remissão e outros recorrência dos sintomas, demonstrando também a cronicidade do quadro depressivo durante o tempo de seguimento. Neste estudo depressão e pior capacidade funcional aumentaram o risco de institucionalização. A incidência de depressão foi de 6,8%. Luijendijk et al (2008) seguindo uma coorte de idosos holandeses por oito anos, procuram identificar episódios de depressão maior e sintomas depressivos clinicamente relevantes. A depressão foi identificada através de avaliações periódicas, registros médicos, uso de medicações antidepressivas e relato de história de depressão. A incidência foi de 7% e de 27,5% de recorrência. Essas taxas (de incidência e recorrência) dobraram quando foram incluídos sintomas depressivos clinicamente relevantes. O ZARADEMP Study acompanhou uma coorte de idosos por aproximadamente quatro anos e meio. As avaliações diagnósticas foram realizadas utilizando os critérios do AGECAT (Coopeland et al, 1986). Dados complementares foram obtidos em entrevista sobre história prévia de depressão, antecedentes psiquiátricos, tratamentos anteriores e historia familiar. A incidência de depressão neste estudo foi de 14,4% (Cámara et al, 2008). Introdução Quadro 5: Estudos de incidência de depressão e sintomas depressivos. INCIDÊNCIA AUTOR/ANO PAÍS MÉTODO TEMPO DE SEGUIMENTO SINTOMAS DEPRESSIVOS 3 anos 15,9% DEPRESSÃO MAIOR Schoevers et al, 2000 Holanda GMS- AGECAT Heun & Hein Alemanha CIDI Stek et al, 2006 Holanda GDS-15 4 anos Norton et al, 2006 EUA DIS 3 anos 15,9% Cámara et al, 2008 Espanha GMS- AGECAT 4,5 anos 14,4% Luijendijk et al ,2008 Holanda CES-D + Av. Diagnóstica Clínica 8 anos 7,0% 4,5 anos 27,8% 6,0% - 46 - Introdução - 47 - 1.3.3. Fatores associados à Depressão e Sintomas Depressivos em idosos A literatura da área indica que os fatores associados à depressão e sintomas depressivos em idosos são: sexo, com predominância do sexo feminino, (Cerqueira, 2003; Wurff et al, 2004; Sherina et al, 2005; McDougall et al, 2007; Má et al, 2008), idade (Torija et al, 2007), baixa escolaridade (Chong et al, 2001; Má et al, 2008; Borjouquez-Chapela et al, 2009); menor renda e presença de privações sociais (Torija et al, 2007; McDougall et al, 2007; Má et al 2008; Ganatra et al, 2008; Borjouquez-Chapela et al, 2009), prejuízo na capacidade funcional (Sherina et al, 2005; McDougall et al, 2007; Torija et al, 2007; Borjouquez-Chapela et al, 2009), comprometimento cognitivo (Sherina et al, 2005; Torija et al, 2007), maior número de comorbidades (Chong et al, 2001; Wurff et al, 2004; Lai et al, 2004; Sherina et al, 2005; Torija et al, 2007; McDougall et al, 2007; Má et al, 2008; Ganatra et al, 2008), determinantes socioculturais e religião (Lai et al, 2004; Ganatra et al, 2008), e por fim, ter antecedentes psiquiátricos – história de depressão prévia (McDougall et al, 2007). 1.3.3.1. Sexo Várias pesquisas populacionais detectaram mais depressão e/ou sintoma depressivos em idosos no sexo feminino (Cerqueira, 2003; Wurff et al, 2004; Sherina et al, 2005; McDougall et al, 2007; Má et al, 2008), sugerindo que esses achados poderiam ser explicados pela maior exposição das mulheres a fatores de risco como baixo nível de escolaridade, viver sozinha, viuvez, apresentar maior número de comorbidades físicas e limitações funcionais. No entanto, alguns autores sugerem que, diante das vulnerabilidades comuns no envelhecimento como as alterações das condições de saúde e o aparecimento de doenças crônicas, essa diferença de prevalência entre homens e mulheres pode diminuir ou Introdução - 48 - praticamente desaparecer, igualando essa condição para ambos os gêneros (Alvarado et al, 2007). Há indicações que em sociedades onde existem maior segurança e estabilidade econômica a prevalência de sintomas depressivos é semelhante entre homens e mulheres, por outro lado, em sociedades nas quais a desigualdade social é marcante, a diferença de ocorrência sintomas depressivos entre homens e mulheres é mais significativa (Romero et al, 2005; Alvarado et al, 2007; Borjouquez-Chapela et al, 2009). 1.3.3.2. Idade Outro fator de risco discutido na literatura é a idade. Beekman et al (1999) e Snowdon (2002), em revisão de estudos populacionais, consideram que não é possível concluir se a depressão é mais comum em faixas etárias específicas. No entanto, observaram que, na maioria dos estudos, a velhice é a fase da vida em que os indivíduos estão mais expostos a fatores de risco, como eventos vitais adversos (perdas, lutos), alterações nas condições de saúde e diminuição de suporte social, acarretando aumento da presença de quadros depressivos nas faixas etárias mais elevadas. Beekman et al (1999), contudo, constataram um decréscimo da prevalência de depressão maior com o avançar da idade, sendo esta menos frequente nos indivíduos muito idosos. 1.3.3.3. Condições socioeconômicas Tem sido descrito que baixa escolaridade e menor renda entre idosos associam-se a maiores taxas de sintomas depressivos. Os baixos níveis de escolaridade, frequentemente, são indicativos de inserção em ocupações não qualificadas, que consequentemente geram menor renda, o que pode expor esses idosos a condições de vida mais desfavoráveis (Romero Introdução - 49 - et al, 2005; McDougall et al, 2007; Torija et al, 2007; Má et al, 2008; Borjoques-Chapela et al, 2009). Alguns autores também têm investigado a influência das condições socioeconômicas desfavoráveis na infância, com efeito cumulativo ao longo da vida, como fator de risco para a ocorrência de episódio depressivo (Alvarado et al, 2007). Indivíduos expostos precocemente a condições socioeconômicas adversas estão mais sujeitos a um acúmulo de desvantagens como baixo nível socioeconômico, desemprego, baixa escolaridade, piores condições de moradia, baixa renda, tornando-os mais vulneráveis ao desenvolvimento de doenças crônicas e mentais (Alvarado et al, 2007). Romero et al (2005) sugerem que condições sócioeconômicas podem ser fatores de risco para depressão não apenas pela exposição a condições desfavoráveis, mas também por essas pessoas terem menos recursos psicológicos e sociais para lidar com o estresse. 1.3.3.4. Fatores socioculturais Lai et al (2004) estudaram idosos chineses imigrantes e registraram a presença e a importância de determinantes socioculturais na saúde mental daqueles indivíduos. Os autores constataram que, apesar de idosos imigrantes morarem no Canadá há mais de 18 anos, existiam diferenças culturais que foram relatadas como barreiras para que eles percebessem sofrimento mental. O impacto negativo da experiência da imigração somado à desvantagem econômica frequentemente associada nesses casos, favorece uma condição de vulnerabilidade para depressão e outros problemas de saúde mental. Wurff et al (2004) obtiveram três valores de prevalência distintas para três diferentes comunidades de imigrantes. As prevalências foram 33,6% para os marroquinos, 61,5% para os turcos e 14,5 % para os holandeses. Além das diferenças étnicas, os autores Introdução - 50 - identificaram como fatores de risco para os três grupos: ser do sexo feminino, não estar casado, morar só, ter limitações físicas e ter uma ou mais doença crônica. No entanto, os autores acreditam que esses fatores de risco explicam parcialmente as altas prevalências de sintomas depressivos e outros estudos precisam ser realizados para explicar a forte associação da etnia nessa população. Ganatra et al (2008), além dos fatores comumente descritos na literatura, como maior número de comorbidades e problemas financeiros, detectaram como fator desencadeante de depressão as dificuldades para suprir as necessidades espirituais (religiosidade). Koening (2007) estudando a relação entre depressão e envelhecimento constatou que idosos que apresentavam depressão, tinham menor afiliação religiosa e prática religiosa menos intensa (oravam menos, liam menos a bíblia e davam menor importância a religião). Em outro estudo, Koening et al (1998) observaram que a remissão dos sintomas depressivos tinha associação significativa com o sentimento religioso de cada pessoa e que quanto maior essa religiosidade mais rapidamente ocorria a remissão dos sintomas depressivos. Cohen et al (2003) verificaram que o envolvimento religioso parece ter efeito protetor para o bem estar físico e emocional para os indivíduos que estão enfrentando situações difíceis, reafirmando-se a importância de fatores socioculturais como determinantes de transtornos mentais. 1.3.3.5. Comprometimento cognitivo e Capacidade funcional Idosos frequentemente têm depressão associada a declínio cognitivo (Sherina et al, 2005; Torija et al, 2007) e, a partir dos 75 anos, é também muito comum a associação de depressão com casos de demência (Snowdon, 2002; Mendes-Chiloff et al, 2008) . Introdução - 51 - Estudos têm demonstrado a associação de depressão com maior prejuízo da capacidade funcional, avaliada pela dependência desses idosos para realizar atividades básicas e instrumentais de vida diária, incapacidade muitas vezes decorrente de um comprometimento da saúde física (Mendes-Chiloff et al, 2008). Esses dados evidenciam a necessidade de cuidados especiais para esses pacientes, que podem ter sua dependência do meio social externa bastante acentuada. 1.3.3.6. Morbidade Pesquisas têm sido bastante concordantes na demonstração de que a depressão no idoso está associada à presença de doenças físicas (Koening et al 1988; Teng et al, 2005). Muitas doenças crônicas apresentam relação direta com depressão, como as doenças cardiovasculares, endocrinológicas, neurológicas, renais, oncológicas e várias síndromes dolorosas (Teng et al, 2005). Portanto, há evidências de que pacientes com doenças crônicas têm maior risco de apresentar depressão, o que gera maior prejuízo em sua qualidade de vida, traz dificuldades no tratamento, aumenta o uso dos serviços de saúde, o número de comorbidades e as taxas de mortalidade (Blazer et al, 2001; Koening et al 1988; Teng et al, 2005; Mendes-Chiloff, 2008). Djernes (2006), em extensa revisão de estudos epidemiológicos sobre depressão em idosos na comunidade e em instituições, assinala que idosos saudáveis com capacidade funcional preservada, não apresentam maiores riscos de depressão se comparados aos idosos doentes e com prejuízo funcional. Assim, aparentemente, efeitos relacionados à idade sobre a depressão podem ser devidos principalmente a problemas físicos de saúde e ao comprometimento funcional. Afirma ainda este autor que há forte associação entre o início de sintomas e quadros depressivos com a ocorrência de doenças somáticas crônicas, prejuízo Introdução - 52 - cognitivo e comprometimento funcional, decorrente de problemas de saúde. Isto evidenciaria o papel central desses problemas para o desenvolvimento ou potencialização dos quadros depressivos (Djernes, 2006). 1.3.3.7. Mortalidade A associação entre depressão e mortalidade tem sido muito discutida na literatura. Schoevers et al (2000) investigaram a associação entre depressão mortalidade e gênero entre os idosos de Amsterdã (AMSTEL). Os autores observaram que os idosos com diagnóstico de depressão maior tiveram aumento do risco de mortalidade para ambos os sexos e que os idosos do sexo masculino com diagnóstico de síndromes depressivas tinham o risco de mortalidade aumentada. Esse resultados também foram observados por Mendes-Chiloff et al (2008) num estudo com idosos hospitalizados. Os autores verificaram que os idosos que tinham sintomas depressivos apresentaram alta taxa de mortalidade (OR=5,5) quando comparados aos não deprimidos. 1.3.3.8. Antecedentes psiquiátricos Heun & Hein (2005) investigaram, em um estudo longitudinal, a importância dos antecedentes familiares e de episódios depressivos prévios na incidência de casos novos e reincidência de episódios depressivos. Concluíram que dentre os diversos fatores de risco apontados na literatura, depressão prévia é o fator de maior relevância para a incidência e reincidência de episódios depressivos, principalmente na terceira idade. Introdução - 53 - Outros autores têm demonstrado que depressão e ansiedade são comuns durante todo o ciclo vital, inclusive na terceira idade (Beekman et al, 1995; Fava et al, 2000). Beekman et al (2000) examinaram as comorbidades e outros fatores de risco para depressão e ansiedade em idosos holandeses, verificando que aqueles que apresentavam transtorno de ansiedade e transtorno depressivo associados representavam um quadro psiquiátrico mais grave, somando-se maior número de comorbidades. Justificativa Considerando as repercussões que a depressão e os sintomas depressivos têm sobre a saúde do idoso: maior prejuízo da capacidade funcional, maior número de doenças físicas, aumento da mortalidade, assim como ocasinando significativa piora da qualidade de vida, torna-se relevante estudar tais condições. Além disso, sabe-se que o diagnóstico e tratamento precoces desses quadros podem favorecer a manutenção e a reabilitação da capacidade funcional do indivíduo, bem como permitir um planejamento mais adequado dos programas e serviços de saúde de atenção a essa população. 2. Objetivos Objetivos - 55 - 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo Geral Estimar a prevalência e fatores de risco para sintomas depressivos em uma coorte de idosos do município de São Paulo. 2.2. Objetivos Específicos Descrever uma coorte de pessoas com 65 anos ou mais moradoras do município de São Paulo em relação a aspectos sociodemográficos (idade, sexo, escolaridade, religião, qualificação e situação ocupacional, renda per capita, situação conjugal, arranjo familiar), de saúde (morbidade auto-referida, auto-avaliação da saúde e, uso de remédios, desempenho de atividades básicas e instrumentais de vida diária) e resultado da avaliação da função cognitiva. Estudar a associação de sintomas depressivos com as características acima indicadas, procurando identificar fatores de risco e de proteção atuais e pregressos. 3. Método Método - 57 - 3. MÉTODO 3.1. Descrição do estudo Estudo de corte transversal e longitudinal de idosos de 65 anos e mais. O estudo longitudinal de sintomas depressivos desta população tomou como base os dados obtidos pelo ESTUDO SABE em 2000 (A00) e os obtidos em 2006 (A06), o que permitiu estudar os preditores de depressão. 3.2. Estudo SABE Com o objetivo de preencher a urgente necessidade de informações sobre as condições de vida do idoso (sociais, econômicas, de saúde, redes de apoio, acesso aos serviços de saúde, etc) a Organização Panamericana, através de um convênio interagencial e com a colaboração de diversos países da região desenvolveu o Projeto SABE (Saúde, BemEstar e Envelhecimento). O Projeto SABE foi iniciado como um estudo multicêntrico sobre saúde e bem-estar de pessoas idosas em sete centros urbanos na América Latina e Caribe: Bridgetown (Barbados); Buenos Aires (Argentina); São Paulo (Brasil); Santiago (Chile); Havana (Cuba); Cidade do México (México) e Montevidéu (Uruguai), considerando que estas cidades representariam todos os regimes demográficos que estão produzindo médias e altas taxas de envelhecimento (Palloni & Peláez, 2003). A equipe de pesquisadores do SABE teve múltiplos componentes, coordenação por equipe própria em cada país, sendo a equipe Método - 58 - brasileira coordenada pelos pesquisadores, os Professores Titulares Ruy Laurenti e Maria Lúcia Lebrão (Palloni & Peláez, 2003). Na fase um, o estudo caracterizou-se como uma pesquisa transversal, exploratória, descritiva, com abordagem quantitativa. Nesse momento (A00) foram entrevistados 2.143idosos. A partir de 2006, o Estudo SABE transformou-se num estudo longitudinal, que buscou estudar as alterações nas condições de vida e de saúde dos idosos no município de São Paulo e seus determinantes. Nesse segundo momento, uma nova amostra de idosos de 60 a 64 anos foi incluída para formar uma nova coorte. Pretende-se que a cada cinco anos ocorra o acompanhamento da coorte e a inserção de uma nova, na faixa etária de 60 a 64 anos, conforme a descrição realizada na figura 1. A avaliação prevista para o ano de 2005 efetivou-se no ano 2006. Figura 1: Coortes do Estudo SABE – São Paulo Método - 59 - 3.3. População Pessoas de 65 anos e mais, residentes no Município de São Paulo e entrevistadas pelo ESTUDO SABE no ano 2000. A amostra do ESTUDO SABE 2000 foi composta por dois segmentos. O primeiro, resultante de sorteio, baseou-se em cadastro permanente de 72 setores censitários, disponível no Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP. Essa amostra foi tomada do cadastro da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 1995), composto por 263 setores censitários sorteados mediante amostragem por conglomerados sob o critério de probabilidade proporcional ao número de domicílios. Esse segmento correspondeu à amostra probabilística formada por 1.568 entrevistados. O segundo segmento, composto por residentes nos distritos em que se realizaram as entrevistas anteriores, corresponde ao acréscimo efetuado para compensar a mortalidade na população de maiores de 75 anos e completar o número desejado de entrevistas. O número mínimo de domicílios sorteados no segundo estágio foi aproximado para 90. A complementação da amostra de pessoas de 75 anos ou mais foi realizada por meio da localização de moradias próximas aos setores selecionados ou, no máximo, dentro dos limites dos distritos aos quais pertenciam os setores sorteados (Lebrão & Laurenti, 2005). Para o SABE 2006, baseado na taxa de mortalidade dessa faixa etária e na proporção de mudanças encontradas anteriormente, estimou que houvesse uma perda de 20% da amostra, passando, dessa forma, dos 2.143 entrevistados para 1.715 pessoas a serem entrevistadas. No entanto, dos 2.143 idosos entrevistados em 2000 conseguiu-se entrevistar novamente 1.115 pessoas. No período entre as duas avaliações ocorreram 649 óbitos, 11 institucionalizações, 52 mudanças para outros municípios, 139 pessoas não foram localizados e 177 pessoas recusaram-se a serem novamente avaliada (Lebrão & Duarte, 2008). Método - 60 - Para o estudo de depressão, foi estabelecido como critério a exclusão dos idosos com provável demência, pois a Escala de Depressão Geriátrica (Geriatric Depression Scale – GDS) deve ser respondida pelo próprio sujeito e não por um informante. Para a identificação desses casos utilizou-se o resultado do Mini-Exame do Estado Mental Abreviado (MEEM) associado ao resultado do Questionário de Atividades Funcionais de Pfeffer (QPAF), como filtro para a continuação da entrevista com um proxy. Assim sendo, os 128 idosos que atingiram critério para provável demência não responderam a GDS. Foram considerados como casos de provável demência os idosos que obtiveram pontuação inferior a 13 pontos no MEEM abreviado e pontuação superior a cinco pontos no QPAF. Entre os idosos que atenderam o critério de inclusão, 15 recusaram-se a responder o questionário, totalizando 972 sujeitos submetidos à GDS dos 1115 idosos que compuseram a coorte A06 (Figura 2). Figura 2: Composição da amostra do estudo de sintomas depressivos em idosos do município de São Paulo (A06). Método - 61 - 3.4. Instrumento Foi utilizado o instrumento primário de coleta de dados (utilizado em 2000) sob a forma de inquérito domiciliário, contendo questões detalhadas de três módulos principais: sociodemográfico, condições de saúde e uso de serviços de saúde, - revisto e com alterações relacionadas a questões não satisfatórias quando do primeiro inquérito. Foram retiradas questões cujas respostas, com certeza, não tiveram mudanças ao longo desses anos, tais como dados pessoais, e acrescentadas questões e instrumentos que contribuiriam com informações complementares aos objetivos propostos no estudo. O questionário foi complementado por medidas do estado nutricional dos entrevistados usando avaliação de biomassa com uma combinação de medidas antropológicas (peso, altura, força manual, prega cutânea, cintura e quadril e circunferência da panturrilha) e avaliação da saúde bucal. (Lebrão & Laurenti, 2005)*. No novo questionário foram incluídos outros instrumentos de interesse: Medida de Independência Funcional - MIF (Riberto et al, 2001) para a avaliação das atividades básicas de vida diária, “Late-life function and disability instrument”, para melhor avaliação da funcionalidade e da incapacidade, em especial as atividades instrumentais de vida diária, SF12 para avaliação de qualidade de vida, APGAR de família para avaliação de funcionalidade familiar, desenvolvido por Smilkstein (1978) e validado por Duarte (2001), Carer Burden Interview (Zarit et al, 1980; Scazufca, 2002) para avaliação de sobrecarga de cuidadores familiares, autópsia verbal e avaliação de institucionalização. Portanto, o questionário ficou composto conforme descrito no quadro 1, podendo ser acessado no seguinte endereço: http://hygeia.fsp.usp.br/sabe/Questionario.html *Lebrão ML, Laurenti R. Estudi SABE 2005: Saúde, Bem-estar e Envelhecimento. Estudo longitudinal sobre as condições de vida dos idosos do município de São Paulo. [ Projeto FAPESP] Sâo Paulo: Faculdade de Saúde Pública. Universidade de São Paulo, 2005. Material não publicado. Método - 62 - A partir do questionário completo foram selecionadas variáveis para compor o presente estudo visando estudar sintomas depressivos nos idosos do município de São Paulo. Quadro 6: Composição do questionário SABE 2006. ESTUDO SABE SAÚDE, BEM-ESTAR E ENVELHECIMENTO CONDIÇÕES DE SAÚDE DOS IDOSOS SEÇÃO AVALIAÇÃO SEÇÃO A Informações Pessoais SEÇÃO B Avaliação Cognitiva SEÇÃO C Estado de Saúde SEÇÃO D Estado Funcional SEÇÃO E Medicamentos SEÇÃO F Uso e acesso a serviços SEÇÃO G Rede de apoio familiar e social SEÇÃO H História de trabalho e fonte de receitas SEÇÃO J Características de moradia SEÇÃO K Antropometria SEÇÃO L Flexibilidade e mobilidade SEÇÃO M Maus tratos SEÇÃO N Avaliação da sobrecarga dos cuidadores Método - 63 - Escala de Depressão Geriátrica (GDS): Geriatric Depression Scale, desenvolvida em 1983 por Yesavage e cols. e posteriormente apresentada por Sheik & Yesavage (1986) numa versão mais resumida, composta por 15 itens. A GDS é de fácil aplicação e compreensão, podendo ser utilizada em indivíduos com distúrbios clínicos e cognitivos, uma vez que apresenta pouca ênfase nos sintomas somáticos, tendo já integrado o questionário primário aplicado no ano 2000. A GDS compõe-se de perguntas simples, com respostas tipo sim/não. Devido às suas características, pode ser de auto-aplicação, dependendo das características da população-alvo, ou pode ser aplicada por pessoas sem formação médica ou psiquiátrica. A GDS, na prática, mostrou-se muito adequada para a utilização em indivíduos idosos em diversos estudos e passou a ser largamente utilizada em pesquisa, para detecção de depressão em idosos (Stiles & McGarrahan, 1998). Também passou a ser utilizada em serviços de atendimento a idosos, sendo incluída em avaliações globais em serviços geriátricos. Em 1999, Almeida & Almeida desenvolveram um estudo de confiabilidade da versão reduzida da escala (15 questões). Almeida & Almeida (1999) verificaram que, embora tenham encontrado baixa estabilidade entre os itens individuais da escala, havia relativa estabilidade para o escore total, sendo esse um indicador estável do humor do paciente entrevistado. Foram utilizados como pontos de corte, a pontuação seis ou mais para sintomas depressivos leves e 11 ou mais para sintomas depressivos graves. A pontuação nesta escala varia de 0 a 15 pontos. Mini-Exame do Estado Mental (MEEM): Para a avaliação do estado cognitivo dos idosos no Estudo SABE, utilizou-se uma versão modificada e validada no Chile, por Icaza e Albala (1999), do MEEM, desenvolvido por Folstein et al (1975). O MEEM é um instrumento de rastreamento de comprometimento cognitivo e tem sido utilizado internacionalmente com o objetivo de fornecer informações sobre diferentes dimensões cognitivas, tais como orientação, memória, cálculo e linguagem. Estabeleceu-se no estudo de Icaza e Albala (1999) um ponto Método - 64 - de corte de 12/13, com o qual se obteve uma sensibilidade e especificidade de 93,8 e 93,9 respectivamente, sendo o declínio cognitivo indicado pela pontuação igual ou inferior a 12. A opção pela versão reduzida do instrumento foi feita diante da constatação de que a versão completa do MEEM sofre grande influência do nível educacional dos sujeitos avaliados. Com o objetivo de reduzir o efeito da escolaridade sobre os resultados do MEEM, a versão simplificada foi construída, eliminando questões que eram mais sujeitas ao efeito da escolaridade. Pfeffer Questionnaire: escala de avaliação funcional e cognitiva aplicada a informante desenvolvida por Pfeffer e cols (1982). É composta por dez itens, evidencia a funcionalidade através do grau de independência para realização das atividades instrumentais de vida diária. O escore mínimo é zero e o máximo é 30 e pontuações maiores evidenciam pior desempenho e a nota de corte é 5. Índice KATZ para Atividades Básicas de Vida Diária: escala desenvolvida por Katz (1963) para avaliar a capacidade de idosos e pessoas cronicamente doentes ou institucionalizadas em relação a Atividades de Vida Diária. É um instrumento que avalia a capacidade referida do indivíduo, ou seja, avalia-se o que o idoso ou seu informante refere sobre o que ele é capaz de fazer. Com essa escala pretendeu-se avaliar as atividades básicas de vida diária (AVD), atividades que dizem respeito ao auto-cuidado, como ir ao banheiro, tomar banho, vestir-se, alimentar-se, locomover-se e controlar os esfíncteres. Para a avaliação são fornecidos três tipos de pontuação, que indicam os diferentes níveis de indenpendência: independente, necessidade de ajuda e dependente. A avaliação contempla desde o indivíduo totalmente independente àquele que necessita de diferentes níveis de ajuda (necessidade de Método - 65 - ajuda em uma atividade, ou em duas, etc.) até o indivíduo dependente, ou seja, aquele que tem necessidade de ajuda em mais de quatro atividades. Índice de Lawton para Atividades Instrumentais de Vida Diária: índice obtido a partir da escala desenvolvida por Lawton (1969) avalia a capacidade do paciente em relação a atividades instrumentais de vida diária, tais como usar telefone, viajar, fazer compras, cuidar da casa, administrar o dinheiro e tomar medicação. A avaliação é feita através da pontuação em três diferentes níveis de independência: independente, necessidade de ajuda e dependente. Também nessa escala, na avaliação final, observa-se se o indivíduo é totalmente independente, em quantas atividades ele é dependente/necessita de ajuda e finalmente se ele é dependente em mais de quatro atividades. Apgar de Família: O Apgar de Família ou Family Apgar, desenvolvido por Smilkstein em 1978, é um instrumento composto por cinco questões que permitem a mensuração da satisfação dos membros da família em relação a cinco componentes considerados básicos na unidade e funcionalidade de qualquer família: adaptação, companheirismo, desenvolvimento, afetividade e capacidade resolutiva (Duarte, 2001). No Brasil, a tradução e adaptação do instrumento foram realizadas com o objetivo de verificar as propriedades de medida do Family Apgar quando aplicados a idosos independentes, dependentes e seus cuidadores (Duarte, 2001). A validação psicométrica foi realizada por essa mesma autora. Os resultados obtidos com a aplicação do Apgar são convertidos em escores partindo de uma escala de respostas com cinco opções para cada um dos componentes a serem avaliados. A indicação da resposta ¨Sempre¨ corresponde ao escore = 4, “Quase sempre” = 3, “Algumas Vezes” = 2, Método - 66 - “Raramente” = 1 e “Nunca” = 0. A somatória dos valores obtidos representa o escore que sugere a qualidade da funcionalidade familiar (Duarte, 2001). 3.5. Procedimento Depois de obtida autorização para utilizar o Banco de Dados do ESTUDO SABE, foram selecionadas variáveis para compor um banco de dados específico para este estudo. 3.6. Análise dos dados As variáveis foram selecionadas de acordo com os objetivos deste projeto e organizadas em contínuas, categóricas ou ordenadas, para realização da análise estatística dos dados (Quadro 3). Os dados foram armazenados e analisados estatisticamente pelo programa Stata 10.0 (Statacorp, 2007). Foi utilizada a função “survey” que permitiu incorporar aspectos referentes ao delineamento complexo de amostragem (ponderação dos dados através de pesos previamente definidos). No estudo transversal foram analisados os dados obtidos em 2006 (prevalência e fatores associados). Para a análise dos dados no momento longitudinal foi utilizada a função “merge” do software estatístico Stata 10.0 (2007) para a junção dos bancos relativos às coortes 2000 e Método - 67 - 2006. Para a os sujeitos que responderam a GDS em 2006 estudou-se a associação de casos de sintomas depressivos com possíveis fatores de risco presentes em 2000, pretendendo-se identificar preditores para esses sintomas em 2006. Para se estudar fatores de proteção para sintomas depressivos, entre as características presentes no ano 2000, foram identificados os sujeitos que não foram casos de sintomas depressivos em 2000 (A00) e nem em 2006 (A06), criando-se uma variável que foi denominada “sem depressão”, considerada um dos desfechos deste estudo. As associações foram estudadas por meio do teste de Rao-Scott, que realiza a prova de significância da associação, ajustando-se pelo desenho amostral, recomendado em estudos com amostras complexas (Lee & Forthofer, 2006). Foi realizada a análise multivariada através da regressão logística tipo stepwisebackward. Foram incluídas nos modelos todas as variáveis que apresentaram associação com a variável dependente em nível de significância de 90% (p< 0,10) e outras variáveis de relevância teórica, pretendendo-se identificar as associações livres de confusão. Para se avaliar possível presença de colineariedade entre as variáveis que compuseram os diferentes modelos na análise multivariada utilizou-se o fator de inflação de variância (VIF). Valores do VIF inferiores a dez (<10) foram considerados indicativos de ausência de colineariedade (Kleinbaum, 1988). Método - 68 - Quadro 7: Variáveis selecionadas para o presente estudo. VARIÁVEL SEXO CATEGORIAS OU UNIDADES DE MEDIDA Masculino QUESTÃO C.18 Feminino IDADE Em anos completos A.1a; A.1b 65-69 FAIXA ETÁRIA 70-74 A.1a; A.1b 75-79 80 ou mais ESCOLARIDADE Em anos completos A.6 Não freqüentou escola FAIXA ESCOLARIDADE De 1 a 3 anos A.6 De 3 a 7 anos 8 anos ou mais ANALFABETISMO FUNCIONAL ARRANJO FAMILIAR Sabe ler e escrever um recado? A.5a Sozinho A.7 Acompanhado Casado/amasiado SITUAÇÃO CONJUGAL Divorciado/separado A.13c Solteiro Viúvo Católica RELIGIÃO Protestante/evangélica A.11a Espírita Outros Continua na próxima página Método - 69 - Continuação do Quadro 7 VARIÁVEL FREQUÊNCIA QUE VAI AO SERVIÇO RELIGIOSO CATEGORIAS OU UNIDADES DE MEDIDA QUESTÃO Nunca Várias vezes /ano A.11c Uma/duas vezes ao mês Semanalmente ou mais FREQUÊNCIA QUE PRATICA RELIGIÃO (REZA/ORA) RELIGIÃO AJUDA ENTENDER DIFICULDADES SITUAÇÃO OCUPACIONAL RENDA EM SALÁRIO MÍNIMO PERCEPÇÃO DE RENDA AUTO-AVALIAÇÃO DE MEMÓRIA AVALIAÇÃO COGNITIVA (MEEM) Diariamente Semanalmente A.11h Ocasionalmente Completamente Muito Não muito Nada Trabalha A.11e H.21; H8 Não trabalha < 1 sm 1 sm a 2,99 3 sm a 4,99 5 sm ou mais Suficiente Insuficiente Excelente / muito boa / boa Regular Ruim Caso Não-caso H.27a H.30 B.01 B.04; B.05; B.07; B08; B.10; B.11; B.12; .13; B.14; B.15; B.16 Continua na próxima página Método - 70 - Continuação do Quadro 7 VARIÁVEL AUTO-AVALIAÇÃO CONDIÇÕES DE SAÚDE MORBIDADE AUTO-REFERIDA USO DE REMÉDIOS USO DE SERVIÇOS DE SAÚDE (últimos 12 meses) AVALIAÇÃO DE DEPRESSÃO (GDS) CATEGORIAS OU UNIDADES DE MEDIDA Muito boa Boa Regular Ruim Hipertensão Diabetes Neoplasias Doença Crônica Pulmonar Problemas Cardíacos Acidente Vascular Cerebral Doenças Osteomusculares Doenças Psiquiátricas Depressão Não toma nenhum Toma apenas 1 Toma 2 ou 3 Toma de 4 a 7 Toma mais de 8 Hospitalar Ambulatorial Emergência Atendimento Domiciliar Caso Não-caso QUESTÃO C.1 C.4; C.5; C.7; C.8 C.9; C.10; C20; C.20b2 E.7c F.12b C.140;C.141;C.142; C.143;C.144;C.145; C.146;C.147; C 148 C149; C150; .C 151 C.152; .153; C.154; Independente AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE FUNCIONAL (Katz e Lawton) FUNCIONALIDADE FAMILIAR (Apgar de Família) Dependente em 1 ou 2 atividades Dependente em 3 ou mais atividades. Boa funcionalidade Disfunção moderada Disfunção grave D.10; D.11; D.13a; D14 a; D.15a; D.16a; D.17a; D.18a; D.19a; D.20a; D.22a; D.22a; D.23a; D.24a; D.25a. G.51b;G.51c; G.51d; G.51e;G.51f. 4. Considerações Éticas Considerações Éticas - 72 - 4. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS O protocolo de pesquisa “PROJETO SABE 2005 – SAÚDE, BEM-ESTAR E ENVELHECIMENTO: AS CONDIÇÕES DE SAÚDE E DE VIDA DOS IDOSOS NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO” foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo – COEP em 14/03/2006 (Anexo 1). A utilização do banco de dados do Projeto SABE para o “Estudo dos sintomas depressivos nos idosos do município de São Paulo” foi autorizada pela coordenação do referido projeto (Anexo 2). 5. Resultados Resultados - 74 - 5. RESULTADOS 5.1. Estudo Transversal – Prevalência e fatores associados Serão apresentados resultados da caracterização da amostra estudada (N = 972) e os dados relativos aos sintomas depressivos e os fatores a eles associados no estudo transversal dos idosos avaliados no ano de 2006. A Tabela 1 indica que a maioria dos idosos (61%) era do sexo feminino, 57,7% tinham até 74 anos de idade e 46,7% tinham de um a três anos de escolaridade. A média de anos de escola nessa amostra populacional foi de quatro anos (IC 95%: 3,4 – 4,7), chamando a atenção que quase metade desses idosos (46,7%) apresentava baixa escolaridade (de nenhuma escolaridade até três anos de estudo), sendo 15,1% considerados analfabetos funcionais, portanto, 84,9% referiram serem capazes de ler e escrever um recado. A maioria (76,1%) já não trabalhava, sendo 51,9% aposentados e 58,9% tinham renda de até três salários mínimos. Entre os idosos que continuavam a trabalhar, grande parte (54,6%) relatou fazê-lo por necessidade financeira, mas 41,8% referiram trabalhar por gostarem de fazê-lo ou para se sentirem úteis. A renda foi percebida como insuficiente para as despesas por 50,2% desses idosos. Comparando-se essas características em relação ao sexo, observaram-se associações significativas, predominando no sexo feminino menor nível de escolaridade, não exercer nenhuma ocupação profissional remunerada e apresentar menor renda (p< 0,01, p< 0,001 e p< 0,001 respectivamente). Resultados - 75 - Tabela 1: Distribuição das características sócio-demográficas, segundo sexo (coorte A06) VARIÁVEIS N % (ajustada) SEXO (N = 972) Masculino 366 39,0 Feminino 606 61,0 FAIXA ETÁRIA (N = 972) 65 – 69 anos 198 28,3 70 – 74 anos 217 29,4 75 – 79 anos 207 24,0 80 anos ou mais 350 18,3 ESCOLARIDADE (N = 971) Sem escolaridade 226 20,2 1 – 3 anos 257 26,5 4 – 7 anos 339 36,2 8 anos ou mais 149 17,1 ANALFABETISMO FUNCIONAL (N = 971) Sim 813 84,9 Não 158 15,1 SITUAÇÃO NA OCUPAÇÃO (N = 879) Trabalha 179 23,9 Não trabalha 700 76,1 MOTIVO PARA TRABALHAR (N = 179) Precisa do dinheiro/família 91 54,6 Manter-se ocupado/útil 43 21,9 Gostar do trabalho 39 19,9 Outros 06 3,6 MOTIVO PARA NÃO TRABALHAR (N = 698) Não consegue trabalho 37 6,5 Problemas de saúde 117 16,5 Aposentado 381 51,9 Família não permite 38 6,0 Outros 125 19,1 RENDA EM SALÁRIO MÍNIMO (SM) (N=661) < 1 SM 26 4,4 1 a 2,99 SM 381 54,5 3 a 4,99 SM 134 21,5 5 SM ou mais 120 19,6 PERCEPÇÃO DA RENDA (N=961) Suficiente 501 49,8 Insuficiente 460 50,2 SEXO p HOMEM % MULHER % - - 28,9 30,8 21,8 18,5 27,8 28,5 25,4 18,3 17,4 24,9 35,4 22,3 22,0 27,5 36,6 13,9 88,6 11,4 82,5 17,5 < 0,05 34,9 65,1 15,6 84,4 < 0,001 54,9 21,6 22,4 1,1 54,2 22,5 15,8 7,5 7,7 14,2 61,4 16,1 0,6 5,8 17,8 46,4 9,1 20,9 1,5 49,3 24,3 24,9 7,1 59,1 19,0 14,8 48,0 52,0 51,0 49,0 0,66 < 0,01 0,14 < 0,01 < ,001 0,40 Resultados - 76 - A maioria dos idosos era casada (52,4%) e morava com outras pessoas (83,5%) sendo bastante alta a porcentagem de viúvos entre as mulheres. Houve associação significativa, quando se comparou essa porcentagem com a obtida para os homens (Tabela 2). Referiram manter o mesmo arranjo familiar 75,8% dos idosos e 92,9% referiram morar na mesma casa, nos últimos cinco anos. Dentre os idosos que relataram mudança no arranjo familiar, a principal causa apontada foi o falecimento do cônjuge, em relação à mudança de casa, a principal razão foi o custo da moradia seguida, de necessidade de morar perto de familiares (dados não mostrados). Observou-se que foram significativas as associações com situação conjugal e arranjo familiar, ocorrendo entre as mulheres as porcentagens mais elevadas de viuvez e morar sozinhas. Tabela 2: Distribuição de arranjo familiar e condições de moradia segundo sexo (coorte A06). VARIÁVEIS N % (ajustada) SEXO HOMEM % MULHER % p* SITUAÇÃO CONJUGAL (N = 970) Separado 48 5,5 4,2 6,4 Viúvo 424 38,3 14,8 53,2 União Consensual 458 52,4 78,2 36,0 Solteiro 40 3,8 2,8 4,4 < 0,001 ARRANJO FAMILIAR (N = 970) Mora sozinho 190 16,5 10,1 20,6 Mora com outras pessoas 780 83,5 89,9 79,4 < 0,001 MUDANÇA NO ARRANJO FAMILIAR – últimos cinco anos (N = 972) Não 731 75,8 78,7 73,9 Sim 241 24,2 21,3 26,1 0,07 0,05 MUDANÇA DE CASA- últimos 5 anos (N= 972) Não 898 92,9 94,4 91,9 Sim 74 7,1 5,6 8,1 *Teste de Rao-Scott Resultados - 77 - A tabela 3 descreve as variáveis relacionadas à prática religiosa. Predominou a religião católica (69,5%) e 46% relataram que freqüentavam serviços religiosos semanalmente, aproximadamente 90% referiram ter prática religiosa diária (rezar/orar). Também foi possível observar que 86,9% dos idosos relataram que a religião os ajudava a compreender as dificuldades da vida. Comparadas essas variáveis entre homens e mulheres, constatou-se associação significativa entre os sexos em relação à freqüência ao serviço religioso, práticas religiosas mais constantes e compreensão das dificuldades da vida com auxílio da religião, sendo essas categorias mais freqüentes em idosas. Tabela 3: Distribuição de religião e prática religiosa segundo sexo (coorte A06). N % (ajustada) Católica 682 Protestante/evangélica VARIÁVEIS SEXO HOMEM % MULHER % 69,5 71,5 68,3 193 20,1 17,4 21,8 Espírita 37 3,7 7,6 6,1 Outros 60 6,7 3,6 3,8 Nunca 141 11,2 12,6 10,4 Várias vezes ao ano 259 26,7 35,5 21,2 Uma/duas vezes ao mês 143 15,9 12,6 18,0 Semanalmente ou mais 411 46,2 39,3 50,4 P* RELIGIÃO (n = 972) 0,47 < 0,001 FREQUÊNCIA PRÁTICA RELIGIOSA ( N=956) Diariamente 867 90,4 82,7 95,2 Semanalmente 34 3,2 4,3 2,6 Ocasionalmente 54 6,4 13,0 2,2 < 0,001 RELIGIÃO AJUDA A ENTENDER DIFICULDADES (N=942) Completamente 339 35,7 27,3 40,9 Muito 482 51,2 52,1 50,7 Não ajuda 121 13,1 20,6 8,4 *Teste de Rao-Scott < 0,001 Resultados - 78 - A maioria das pessoas estudadas referiu ter pelo menos uma doença e 17,3% referiram ter três ou mais doenças (Tabela 4). A morbidade mais prevalente, segundo o relato desses idosos, foi hipertensão (62,7%), seguida de doenças osteoarticulares (34,3%), doenças cardíacas (22,4 %) e diabetes (20,9%). É importante observar também que 17,3 % dos pacientes referiram ter tido diagnóstico prévio de depressão. Os idosos relataram alta freqüência de uso de medicações. Apenas 8,1% dos idosos relataram não usar nenhum remédio. Por outro lado, quase 40% usavam, segundo seu relato, diariamente de quatro a sete remédios e 10,3% usavam oito ou mais (Tabela 4). Constatou-se associação significativa entre os sexos em relação a número de doenças, presença de doenças osteoarticulares, ter tido diagnóstico prévio de depressão e uso de maior número de medicações, apresentando as mulheres maior freqüência dessas características. Ter tido acidente vascular cerebral também apresentou associação significativa com maior frequência entre os homens (Tabela 4). Resultados - 79 - Tabela 4: Distribuição de morbidade referida segundo sexo (coorte A06). DOENÇAS N % (ajustada) SEXO HOMEM % MULHER % P* NÚMERO DE DOENÇAS (N = 972) 0 189 19,7 24,2 16,8 1 309 32,6 33,2 32,2 2 293 30,4 30,7 30,1 3 ou mais 181 17,3 11,9 20,8 Não 361 37,3 39,8 35,8 Sim 609 62,7 60,2 64,2 Não 768 79,1 81,6 77,5 Sim 201 20,9 18,4 22,5 <0,01 HIPERTENSÃO ( N=969) 0,26 DIABETES (N=969) 0,18 DOENÇAS OSTEOARTICULARES (N = 957) Não 615 65,7 79,3 57,0 Sim 342 34,3 20,7 43,0 <0,001 DOENÇAS CARDÍACAS (N = 965) Não 736 77,6 76,1 78,5 Sim 229 22,4 23,9 21,5 0,49 DOENÇAS PULMONARES (N= 972) Não 866 89,9 88,7 90,7 Sim 104 10,1 11,3 9,3 Não 903 93.1 90,5 94,8 Sim 69 6.9 9,5 5,2 Não 919 95,1 96,1 94,4 Sim 50 4,9 3,9 5,6 0,31 AVC PRÉVIO (N=972) < 0,05 NEOPLASIA (N= 969) 0,14 DEPRESSÃO – DIAGNÓSTICO PRÉVIO (N=944) Não 790 82,8 90,4 78,2 Sim 154 17,2 9,6 21,8 0,001 NÚMERO DE MEDICAÇÕES DE USO DIÁRIO (N = 970) Nenhuma 73 8,1 11,7 5,7 Apenas uma 111 12,0 15,6 9,8 2 ou 3 286 30,5 34,8 27,7 4a7 383 39,1 31,3 44,0 8 ou mais 117 10,3 6,6 12,8 *Teste de Rao-Scott < 0,001 Resultados - 80 - A tabela 5 descreve a ocorrência de quedas e fraturas, foi constatado que 61,3% dos idosos referiram ter tido alguma queda após os 60 anos de idade, 43,5% tiveram três quedas ou mais e 50,4% desses idosos relataram quedas no último ano. No entanto, a maioria das quedas não teve fraturas como conseqüência. Comparando-se a ocorrência de quedas em relação ao sexo, verificou-se associação significativa entre ocorrência e número de quedas após os sessenta anos, sendo essas duas variáveis mais frequentes entre as mulheres. Tabela 5: Distribuição do histórico de quedas e fraturas, segundo sexo (coorte A06). DOENÇAS N % (ajustada) SEXO HOMEM % MULHER % P* QUEDA APÓS 60 ANOS ( N = 970) Não 333 38,7 53,2 29,4 Sim 637 61,3 46,8 70,6 <0,001 NÚMERO DE QUEDAS – APÓS 60 ANOS (N= 633) Uma 217 37,2 46,7 33,2 Duas 116 19,3 22,5 17,9 Três 300 43,5 30,8 48,9 0,001 QUEDAS – ÚLTIMOS 12 MESES (N=640) Não 320 49,6 46,3 51,0 Sim 320 50,4 53,7 49,0 0,36 NÚMERO DE QUEDAS – ÚLTIMOS 12 MESES (N = 319) Uma 203 64,5 64,7 64,4 Duas 50 14,9 17,9 13,9 Três 66 20,6 17,4 21,8 0,61 CONSEQUÊNCIA DA QUEDA (N=319) Sem fratura 266 83,9 85,7 83,3 Com fratura 49 16,1 14,3 16,7 *Teste de Rao-Scott 0,65 Resultados - 81 - Em relação à percepção das condições da saúde visual, auditiva e bucal, a maioria dos idosos referiu ter bom funcionamento dos aparelhos auditivo e visual e da saúde bucal (Tabela 6). No entanto, ainda foi alta a porcentagem de indivíduos que referiram condição ruim da visão, audição e saúde bucal. Quase 10% dos idosos referiram não enxergarem bem (visão: ruim/muito ruim). Em relação à audição, aproximadamente 27% referiram ter dificuldades auditivas. Observou-se que 25,9% percebiam dificuldades na saúde bucal. Comparando-se homens e mulheres, observou-se associação significativa, apresentando os idosos do sexo masculino pior condição auditiva (p<0,05). Tabela 6: Distribuição da auto-avaliação das condições de saúde visual, auditiva e, bucal segundo sexo (coorte A06). CONDIÇÕES DE SAÚDE N % (Ajustada) Excelente/boa 607 Regular Ruim/muito ruim/cego SEXO HOMEM % MULHER % 66,0 67,7 65,0 258 25,5 26,9 24,6 107 8,5 5,5 10,4 Excelente /boa 674 72,4 66,2 76,3 Regular 251 24,3 29,6 21,0 Ruim / Surdo 40 3,3 4,2 2,7 Excelente/boa 705 73,6 71,7 74,8 Regular 202 20,1 22,7 19,2 Ruim/ Muito ruim 56 5,8 5,6 6,0 p* VISÃO (N=972) 0,05 AUDIÇÃO (N=966) < 0,05 SAÚDE BUCAL (N= 963) *Teste de Rao-Scott 0,47 Resultados - 82 - Na tabela 7 vê-se que 34,3% dos idosos referiram dor, e segundo eles, essa dor já estava presente há mais de 24 meses (64,9%), apresentava frequência diária (51,8%), com intensidade de moderada (47,6%) a forte ou muito forte (44,6%), afetava o sono, o humor e o apetite (33,4%), interferia na locomoção (29,6%) e no trabalho (17,6%). Mais mulheres relataram dor (38,8%; p <0,01). Tabela 7: Distribuição da percepção de dor segundo sexo (coorte A06). DOR N SEXO % (Ajustada) HOMEM MULHER P* DOR (N=971) Ausência 631 65,7 72,7 61,2 Presença 340 34,3 27,3 38,8 <0,01 PREJUÍZO DA DOR (N=336) Sono/humor/apetite 109 33,4 28,7 35,4 Locomoção (andar) 105 29,6 29,7 29,6 Lazer/sexual/rel. pessoal 07 2,5 4,9 1,4 Trabalho/compras/banco 54 17,6 13,9 19,2 Auto-cuidado 09 2,4 3,3 2,1 Não prejudica 52 14,5 19,5 12,3 0,24 DURAÇÃO DA DOR (N= 340) 3 a 6 meses 48 12,9 8,8 14,8 6 a 12 meses 30 8,9 5,5 10,5 12 a 24 meses 43 13,3 14,2 12,9 mais de 24 meses 219 64,9 71,5 61,8 0,31 INTENSIDADE DA DOR (N = 340) Muito forte 67 19,7 17,1 20,1 Forte/intensa 84 24,9 21,8 26,3 Moderada 160 47,3 47,7 47,6 Fraca 29 8,1 13,4 6,0 0,31 FREQUÊNCIA DA DOR (N=333) Diariamente 179 51,8 43,3 55,6 1 a 2 vezes/ semana 79 25,1 28,2 23,6 1 vez/ 15 dias 33 10,5 14,6 8,8 1 vez/mês 42 12,6 13,9 12,0 *Teste de Rao-Scott 0,27 Resultados - 83 - Estudando-se o uso de serviços de saúde, verifica-se na tabela 8 que 28,7% dos idosos referiram não terem tido nenhuma consulta no último ano e 66,8% relataram até dois atendimentos no mesmo período. A grande maioria (71,9%) não teve nenhuma internação, nem atendimento de emergência (87,1%) e nem atendimento domiciliar (98,8%). No entanto, aproximadamente 28% dos idosos referiram de uma a duas internações no último ano e 12,9% precisaram de um a dois atendimentos em serviços de emergência. A comparação por sexo evidenciou associação estatisticamente significativa em relação ao atendimento domiciliar, que ocorreu mais freqüentemente entre as mulheres. Tabela 8: Distribuição de uso de serviços de saúde no último ano, segundo sexo (coorte A06). USO DE SERVIÇOS N SEXO % (ajustada) HOMEM MULHER P* AMBULATORIAL Nenhum 283 28,7 32,1 26,5 1 a 2 atendimentos 649 66,8 63,5 68,7 3 a 4 atendimentos 40 4,5 4,4 4,8 nenhuma 697 71,9 73,7 70,8 1a2 275 28,1 26,3 29,2 nenhum 850 87,1 88,7 86,1 1a2 122 12,9 11,3 13,9 nenhum 955 98,8 99,7 98,2 1 17 1,2 0,3 1,8 0,31 INTERNAÇÃO 0,42 EMERGÊNCIA 0,44 DOMICILIAR < 0, 05 *Teste de Rao-Scott Na tabela 9 verifica-se que 57,9% dos idosos referiram ter boa memória e 38,3 % avaliaram sua memória como regular. Embora a maioria dos entrevistados (67%) tenha relatado não ter tido alteração na memória no último ano, 22,7% relataram que a memória piorou nesse período. Resultados - 84 - A avaliação cognitiva realizada através do Mini-Exame do Estado Mental indicou uma prevalência de 8,1% de comprometimento cognitivo entre os participantes deste estudo. Comparando-se homens e mulheres em relação à auto-avaliação da memória, observou-se associação estatisticamente significante, sendo o relato de prejuízo da memória e de piora da memória no último ano mais frequentes entre as mulheres. Na auto-avaliação da condição de saúde 46,5% dos idosos referiram ter boa saúde e 45,8% referiram ter saúde regular. Comparativamente a sua condição anterior de saúde, 55,3% dos idosos afirmaram que não houve mudanças, 17% referiram melhora e 27,7% piora. Tabela 9: Percepção de memória e saúde, segundo sexo (coorte A06). VARIÁVEIS N % (ajustada) SEXO P* HOMEM MULHER AUTO AVALIAÇÃO DA MEMÓRIA (N= 972) Excelente/boa 550 57,9 63,7 54,2 Regular 377 38,3 32,7 41,9 Ruim 43 3,8 3,6 3,9 < 0,05 COMPARAÇÃO MEMÓRIA – ÚLTIMO ANO ( N=968) Melhor 96 10,3 13,0 8,7 Igual 638 67,0 70,7 64,6 Pior 234 22,7 16,3 26,8 0,01 COMPROMETIMENTO COGNITIVO - MEEM (N=972) Não 871 91,9 91,4 92,3 Sim 101 8,1 8,6 7,7 0,58 AVALIAÇÃO DA SAÚDE ( N=972) Excelente/boa 435 46,5 50,2 44,2 Regular 452 45,8 44,5 46,6 Ruim/ muito ruim 85 7,7 5,3 9,2 0,09 COMPARAÇÃO DA SAÚDE ( N=972) Melhor 167 17,0 14,6 18,7 Igual 501 55,3 61,5 51,0 Pior 304 27,7 23,9 30,3 *Teste de Rao-Scott 0,06 Resultados - 85 - O estudo da capacidade funcional aqui considerada como ter relatado independência ou dependência para a realização das atividades básicas e instrumentais de vida diária, constatou que aproximadamente 22,9% dos idosos necessitavam de ajuda para a realização de pelo menos uma das atividades básicas, e 6,8% precisavam de ajuda para três atividades ou mais. Em relação às atividades instrumentais, mais de 40% referiram necessitar de ajuda para realizar pelo menos uma das atividades, e 14,7% para três atividades ou mais (Tabela 10). Significativa associação dessas variáveis em relação a sexo foi observada, estando presente no sexo feminino o maior número de dificuldades para as atividades básicas e instrumentais de vida diária. De acordo com o APGAR de Família, aproximadamente 9% apresentavam disfuncionalidade familiar: 4,3 % com disfunção moderada e 4,9% com disfunção grave (Tabela 10). Não houve diferença significativa entre os sexos neste aspecto. Tabela 10: Distribuição dos níveis de autonomia nas atividades básicas e instrumentais de vida diária e funcionalidade familiar, segundo sexo. (coorte A06). VARIÁVEIS N % (ajustada) SEXO p* HOMEM ATIVIDADES BÁSICAS DE VIDA DIÁRIA ( N = 972) Nenhuma dificuldade 704 77,1 64,9 1 ou 2 dificuldades 184 16,1 24,3 3 ou + dificuldades 84 6,8 10,8 ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DE VIDADIÁRIA (N=972) Nenhuma dificuldade 483 56,9 86,6 1 ou 2 dificuldades 305 28,4 8,5 3 ou + dificuldades 184 14,7 4,9 APGAR DE FAMÍLIA (N=908) Boa funcionalidade 865 90.8 90,0 Disfunção moderada 39 4,3 5,3 Disfunção elevada 46 4,9 4,7 *Teste de Rao-Scott MULHER 51,9 30,9 17,2 <0,001 71,0 20,9 8,1 0,01 91,3 3,7 5,0 0,52 Resultados - 86 - A prevalência de sintomas depressivos constatada na coorte A06 foi de 14,2% IC95%: 11,8 – 16,7 (N=153), com 11,2% (N=117) de sintomas depressivos leves e 3 % (N=36) sintomas depressivos graves (dados não mostrados). Estudando-se as associações entre sintomas depressivos e variáveis sociodemográficas, foi observado que foram significativas estatisticamente as associações entre sexo, diferentes faixas de escolaridade e percepção da renda (Tabela 11). Foi mais frequente a presença de sintomas depressivos entre as mulheres, entre os idosos de escolaridade mais baixa e entre os que perceberam sua renda como insuficiente para viver. Não foi estatisticamente significativa a associação de sintomas depressivos com idade, apesar de se observar aumento progressivo das prevalências conforme o avanço nas faixas etárias (Tabela 11). Tabela 11: Porcentagem de sintomas depressivos segundo variáveis sociodemográficas (coorte A06). SINTOMAS DEPRESSIVOS VARIÁVEIS N NÃO-CASO % SEXO (N = 972) Masculino 366 Feminino 606 FAIXA ETÁRIA (N=972) 65 – 69 anos 198 70 – 74 anos 217 75 – 79 anos 207 80 ou mais 350 ESCOLARIDADE (N=971) 0 a 3 anos 483 4 anos ou mais 488 RENDA EM SALÁRIO MÍNIMO (SM) (N= 661) Até 2,99 SM 254 3 SM ou mais 407 PERCEPÇÃO DE RENDA (N=812) Suficiente 501 Insuficiente 460 *Teste de Rao-Scott CASO % p* 90,1 83,9 9,9 17,1 < 0,01 87,8 87,1 84,8 81,7 12,2 12,9 15,2 18,3 0,40 82,7 88,4 17,3 11,6 < 0,05 90,0 84,4 10,0 15,6 0,07 90,4 81,7 9,6 18,3 < 0,001 Resultados - 87 - Em relação aos arranjos familiares e suas alterações não foram observadas diferenças significativas entre indivíduos com e sem sintomas depressivos (Tabela 12). Tabela 12: Porcentagem de sintomas depressivos segundo arranjo familiar e condições de moradia (coorte A06) N VARIÁVEIS SINTOMAS DEPRESSIVOS NÃO-CASO % CASO % p* SITUAÇÃO CONJUGAL (N= 970) Com companheiro 458 86,8 13,2 Sem companheiro 512 84,6 15,4 Sozinho 190 87,1 12,9 Acompanhado 780 85,5 14,5 0,37 ARRANJO FAMILIAR (N=970) 0,64 MUDANÇA DE ARRANJO FAMILIAR - últimos 5 anos (972) Não 731 85,7 14,3 Sim 241 85,9 14,1 0,94 0,37 MUDANÇA DE CASA – últimos 5 anos (972) Não 898 86,1 13,9 Sim 74 81,2 18,8 *Teste de Rao-Scott Observando-se aspectos da religiosidade dos idosos em relação a casos e nãocasos de sintomas depressivos, evidenciou-se associação desses com freqüência aos serviços religiosos. Casos de sintomas depressivos foram mais frequentes entre os idosos que frequentavam menos suas comunidades religiosas (p= < 0,01). No entanto, não houve diferença significativa entre a frequência da prática religiosa (rezar/orar) e nem casos de sintomas depressivos e uso da religião como forma de enfrentamento para as dificuldades (Tabela 13). Resultados - 88 - Tabela 13: Porcentagem de sintomas depressivos segundo prática religiosa (coorte A06). VARIÁVEIS SINTOMAS DEPRESSIVOS N NÃO-CASO % p* CASO % FREQUÊNCIA VAI SERVIÇO RELIGIOSO (N=954) Nunca 141 75,0 25,0 Várias vezes ao ano 259 88,1 11,9 Uma/duas vezes ao mês 143 80,9 19,1 Semanalmente ou mais 411 89,3 10,7 < 0,01 FREQUÊNCIA DE PRÁTICA RELIGIOSA (N= 955) Diariamente 867 85,7 14,3 Semanalmente 34 93,3 6,7 Ocasionalmente 54 86,1 12,9 0,47 RELIGIÃO AJUDA A ENTENDER DIFICULDADES (N= 956) Completamente 353 88,1 11,9 Muito 482 85,5 14,5 Não muito 94 79,0 21,0 Nada 27 87,3 12,7 0,20 *Teste de Rao-Scott Observaram-se taxas de prevalências crescentes dos sintomas depressivos em relação ao aumento no número de doenças (p < 0,01). Ter sintomas depressivos associou-se significativamente com maior número de doenças referidas, incluindo diabetes, doenças osteoarticulares, doenças cardíacas, doenças pulmonares, neoplasia, ter tido acidente vascular encefálico, depressão prévia e fazer maior uso de medicações diárias. Apenas hipertensão não se associou significativamente com a presença de sintomas depressivos (Tabela 14). Resultados - 89 - Tabela 14: Sintomas depressivos segundo morbidades referidas (coorte A06). SINTOMAS DEPRESSIVOS DOENÇAS N NÃO-CASO % CASO % NÚMERO DE DOENÇAS (N=972) 0 189 91,2 8,8 1 309 88,5 11,5 2 293 84,1 15,9 3 ou mais 181 77,3 22,7 Não 361 88,3 11,7 Sim 608 84,3 15,7 Não 768 86,9 13,1 Sim 201 81,8 18,2 p* < 0,01 HIPERTENSÃO (N = 969) 0,09 DIABETES (N=969) < 0,05 DOENÇAS OSTEOARTICULARES (N= 957) Não 615 87,6 12,4 Sim 342 81,8 18,2 < 0,05 DOENÇAS CARDÍACAS (N =965) Não 736 87,3 12,7 Sim 229 80,2 19,8 < 0,01 DOENÇAS PULMONARES (N= 972) Não 866 86,8 13,2 Sim 104 76,6 23,4 Não 903 86,6 13,4 Sim 69 74,3 25,7 Não 919 86,4 13,6 Sim 50 72,6 27,4 < 0,05 AVC PRÉVIO (N= 972) < 0,05 NEOPLASIA (N = 969) < 0,05 DEPRESSÃO-DIAGNÓSTICO PRÉVIO ( N= 944) Não 790 88,2 11,8 Sim 154 74,4 25,6 < 0,001 NÚMERO DE MEDICAÇÕES DE USO DIÁRIO (N= 970) Nenhuma 73 94,3 5,7 Apenas uma 111 85,9 14,1 2 ou 3 286 92,8 7,2 4a7 383 80,7 19,3 8 ou + 117 77,3 22,7 *Teste de Rao-Scott < 0,001 Resultados - 90 - A ocorrência de quedas foi frequente após os 60 anos e teve uma associação significativa com a presença de sintomas depressivos. No entanto, não foi estatisticamente significativa a associação de ocorrência de quedas nos últimos doze meses ou fratura nesse mesmo período entre indivíduos que apresentavam ou não sintomas depressivos (Tabela 15). Tabela 15: Sintomas depressivos segundo quedas e fraturas (coorte A06). SINTOMAS DEPRESSIVOS OCORRÊNCIAS N NÃO-CASO % CASO % p* QUEDAS APÓS 60 ANOS (N = 970) Não 333 88,6 11,4 Sim 637 83,9 16,1 < 0,05 NÚMERO DE QUEDAS – após 60 anos (N=633) Uma 217 87,6 12,4 Duas 116 86,4 13,6 Três ou mais 300 79,5 20,5 0,05 QUEDAS - últimos 12 meses (N=640) Não 320 82,5 17,5 Sim 320 85,6 14,4 0,34 NÚMERO DE QUEDAS – últimos 12 meses (N=319) Uma 203 86,1 13,9 Duas 50 75,4 24,6 Três ou mais 66 76,0 24,0 0,09 CONSEQUÊNCIA DA QUEDA (N=319) Sem fratura 266 81,9 18,1 Com fratura 49 86,1 13,9 0,54 *Teste de Rao-Scott Em relação à percepção de saúde visual, auditiva e bucal, foi significativa a associação de sintomas depressivos com a avaliação desses aparelhos. Observaram-se prevalências bem mais altas nas categorias onde o funcionamento visual e auditivo foi considerado ruim e condição da saúde bucal também (Tabela 16). Resultados - 91 - Tabela 16: Sintomas depressivos segundo auto-avaliação das condições de saúde visual, auditiva e bucal (coorte A06). SINTOMAS DEPRESSIVOS VARIÁVEIS N NÃO-CASO % CASO % Excelente/boa 607 89,6 10,4 Regular 258 83,9 16,1 Ruim / muito ruim/ Cego 107 61,2 38,8 Excelente/boa 674 87,8 12,2 Regular 251 81,9 18,1 Ruim /surdo 40 67,4 32,6 Muito boa/boa 705 89,4 10,6 Regular 202 74,3 25,7 Ruim/Muito ruim 56 77,9 22,1 p* VISÃO (N=972) < 0,001 AUDIÇÃO (N=966) < 0,01 SAÚDE BUCAL (N=963) < 0,001 *Teste de Rao-Scott A prevalência de sintomas depressivos foi mais alta entre os idosos que relataram sentir dores (p <0,01), de intensidade moderada a forte (p < 0,05). Também foi observado presença de sintomas depressivos mais frequentes entre os idosos que relataram ter problemas no auto-cuidado, sono, humor, apetite e locomoção como consequência da dor (p < 0,05) (Tabela 17). Resultados - 92 - Tabela 17: Sintomas depressivos segundo percepção de dor (coorte A06). SINTOMAS DEPRESSIVOS DOR N NÃO-CASO % CASO % Ausência 631 88,3 11,7 Presença 340 80,9 19,1 Sono/humor/apetite 109 72,5 27,5 Locomoção (andar) 105 78,7 21,3 Lazer/ sexual/rel pessoal 07 89,3 10,7 Trabalho/compras/banco 54 89,3 10,7 Auto-cuidado 09 69,2 30,8 Não prejudica 52 93,6 6,4 3 a 6 meses 48 90,8 9,2 6 a 12 meses 30 64,9 35,1 12 a 24 meses 43 77,6 22,4 mais de 24 meses 219 81,8 18,2 Muito forte 67 67,8 32,2 Forte/intensa 84 76,9 23,1 Moderada 160 88,2 11,8 Fraca 29 81,1 18,9 Diariamente 179 75,6 24,4 1 a 2 vezes/ semana 79 83,4 16,6 1 vez/ 15 dias 33 85,7 14,3 1 vez/mês 42 91,9 8,1 p* DOR (N= 971) <0,01 IMPACTO DA DOR (N=336) < 0,05 TEMPO DA DOR (N=340) 0,07 INTENSIDADE DA DOR (N=340) < 0,05 FREQUÊNCIA DA DOR (N=333) 0,08 *Teste de Rao-Scott O uso de serviços de saúde não se diferenciou de forma estatisticamente significativa entre idosos que foram classificados como casos e não-casos de sintomas depressivos (Tabela 18). Resultados - 93 - Tabela 18: Sintomas depressivos segundo uso de serviços de saúde (coorte A06). SINTOMAS DEPRESSIVOS USO DE SERVIÇOS N NÃO-CASO % CASO % Nenhum 283 87,0 13,0 1 a 2 atendimentos 649 85,6 14,4 3 a 4 atendimentos 40 80,1 19,9 nenhuma 697 86,9 13,1 1a2 275 82,9 17,1 nenhum 850 85,8 14,2 1a2 122 85,5 14,5 nenhum 955 86,0 14,0 1 17 63,6 36,4 p* AMBULATORIAL (N =972) 0,53 INTERNAÇÃO (N = 972) 0,15 EMERGÊNCIA (N = 972) 0,91 DOMICILIAR (N=972) 0,07 *Teste de Rao-Scott Na tabela 19 há descrição da auto-avaliação da memória e saúde e comparação das mesmas em relação ao último ano. Foi constatado que a presença de sintomas depressivos foi mais frequente em idosos com pior auto-avaliação da memória (p < 0,001) e com piora da memória comparativamnte a um ano atrás ( p < 0,001). Apresentar sintomas depressivos também foi associado com presença de declínio cognitivo na avaliação do MEEM (p < 0,01). Entre os idosos com sintomas depressivos foi mais freqüente a pior percepção de saúde (p< 0,001) e pior avaliação da condição de saúde quando comparada ao período de um ano atrás (p < 0,001). Resultados - 94 - Tabela 19: Sintomas depressivos segundo auto-avaliação de memória e percepção de saúde (coorte A06). VARIÁVEIS N SINTOMAS DEPRESSIVOS NÃO-CASO CASO % % p* AUTO AVALIAÇÃO MEMÓRIA (N = 972) Excelente/boa 550 92,5 7,5 Regular 377 79,2 20,8 Ruim 43 47,7 52,3 < 0,001 COMPARAÇÃO MEMÓRIA – ULTIMO ANO (N = 968) Melhor 96 83,4 16,6 Igual 638 92,1 7,9 Pior 234 67,9 32,1 < 0,001 AVALIAÇÃO COGNITIVA - MEEM (N=972) Preservado 871 86,8 13,2 Declínio Cognitivo 101 73,5 26,5 < 0,01 AVALIAÇÃO DA SAÚDE (N = 972) Excelente/boa 435 94,5 5,5 Regular 452 82,2 17,8 Ruim 85 54,2 45,8 < 0,001 COMPARAÇÃO SAÚDE - ULTIMO ANO (N=972) Melhor 167 86,5 13,5 Igual 501 93,0 7,0 Pior 304 70,9 29,1 < 0,001 *Teste de Rao-Scott Em relação à capacidade funcional, observou-se associação de sintomas depressivos com pior desempenho nas atividades básicas (p <0,001) e instrumentais de vida diária (p<0,001) e pior funcionalidade familiar (p<0,001). Foram mais frequentes pior funcionamento nas ABVDs e AIVDs entre os idosos que eram casos de sintomas depressivos e esses foram mais frequentes entre os que apresentavam disfunção moderada e grave no funcionamento familiar (Tabela 20). Resultados - 95 - Tabela 20: Sintomas depressivos segundo autonomia e funcionalidade familiar (coorte A06). SINTOMAS DEPRESSIVOS VARIÁVEIS N NÃO-CASO % CASO % p* ATIVIDADES BÁSICAS DE VIDA DIÁRIA (ABVDS) (N= 972) Nenhuma dificuldade 704 90,0 10,0 1 ou 2 dificuldades 184 74,1 25,9 3 ou + dificuldades 84 65,4 34,6 < 0,001 ATIVIDADES INSTRUMENTIAS DE VIDA DIÁRIA (AIVDS) (N = 972) Nenhuma dificuldade 483 90,5 9,5 1 ou 2 dificuldades 305 84,7 15,3 3 ou + dificuldades 184 69,5 30,5 Boa funcionalidade 865 87,4 12,6 Disfunção moderada 39 71,7 28,3 Disfunção elevada 46 66,0 34,0 < 0,001 APGAR DE FAMÍLIA (N = 908) *Teste de Rao-Scott < 0,001 Resultados - 96 - Análise multivariada – Prevalência e fatores associados Para a análise multivariada utilizou-se a regressão logística tipo stepwise backward, para verificar a associação de casos e não casos de sintomas depressivos (2006) com os diferentes grupos de variáveis (sociodemográficas; doenças auto-referidas; condições de saúde; percepção de saúde e memória; autonomia e funcionalidade familiar). Estabeleceram-se para compor essa análise as variáveis que se associaram a sintomas depressivos na análise univariada (p<0,10). Posteriormente foi construído um modelo final composto de todas as variáveis que foram significativas nos modelos com os grupos de variáveis a serem descritos (p<0,05). Todos os modelos foram ajustados para sexo e idade. O modelo 1 contemplou as seguintes variáveis sociodemográficas: sexo, idade, faixa de escolaridade, renda, percepção de renda e freqüência da participação no serviço religioso. Observou-se que ser do sexo feminino tinha mais chance apresentar sintomas depressivos em relação ao sexo masculino (OR= 2,38; IC95% 1,46 – 3,87). Perceber a renda como insuficiente para as despesas também teve associação significativa com apresentar sintomas depressivos (OR= 2,31; IC95% 1,52 – 3,5). Outra variável que foi significativamente associada à ocorrência de sintomas depressivos foi não participar de atividades religiosas. Verificou-se que idosos que não sem atividades religiosas tinham 2,24 vezes mais chance de apresentar sintomas depressivos, indicando que a participação mais constante de atividades religiosas pode ser um fator protetor para esse quadro (Tabela 21). Na associação com a variável idade no modelo verificou-se um resultado de VIF maior que 10, no entanto, optou-se, ainda assim em manter o ajuste do modelo por idade, por se considerar que, efetivamente, esta variável deve apresentar colinearidade com as demais Resultados - 97 - variáveis implicadas na questão do envelhecimento. Retirando-se idade do modelo, todas as demais variáveis apresentam VIFs <10. Tabela 21: Modelo sóciodemográficas. 1: Regressão logística: sintomas depressivos e variáveis Odds Ratio (bruta) Odds Ratio (ajustada) p IC95% VIF 1,02 1,03 0,06 0,99 – 1,06 10,08 Masculino 1 1 Feminino 1,88 2,38 0,001 1,46 – 3,87 8,48 1 1 2,11 2,31 < 0,001 1,52 – 3,52 2,63 1 1 2,31 2,24 < 0,01 1,37 – 3,68 1,20 Variáveis IDADE (contínua) SEXO PERCEPÇÃO DE RENDA Suficiente Insuficiente ATIVIDADE RELIGIOSA Participa Não participa MÉDIA DO VIF = 5,60 (Fator de Inflação de Variância) O modelo 2 foi composto com as variáveis relacionadas às doenças auto-referidas. Foram incluídas na análise: número de doenças ter referido hipertensão, diabetes, doenças osteoarticulares, doenças cardíacas, doenças pulmonares, neoplasia, acidente vascular encefálico, depressão prévia e usar remédios diariamente. Permaneceram no modelo, associadas significativamente a ser caso de sintomas depressivos: ter referido doenças cardíacas (OR=1,58; IC95% 1,04 – 2,31), ter tido acidente vascular encefálico (OR=2,38; IC95% 1,28 – 4,44) e ter referido depressão (OR=2,28; IC 95% 1,33– 3,90) (Tabela 22). Resultados - 98 - Tabela 22: Modelo 2: Regressão logística: Sintomas depressivos em relação a doenças autoreferidas. Odds Ratio (bruta) Odds Ratio (ajustada) p IC95% 1,02 1,02 0,08 0,99 – 1,06 3,07 Masculino 1 1 Feminino 1,60 1,88 0,01 1,17– 3,03 2,66 Não 1 1 Sim 2,76 2,38 < 0,01 1,28 – 4,44 1,09 Não 1 1 Sim 1,80 1,58 < 0,05 1,04 – 2,31 1,34 Não 1 1 Sim 2,96 2,28 < 0,01 1,33– 3,90 1,23 Variáveis VIF IDADE (contínua) SEXO AVC PRÉVIO DOENÇAS CARDÍACAS DEPRESSÃO PRÉVIA MÉDIA DO VIF = 1,88 (Fator de Inflação de Variância) As variáveis sobre condições de saúde, que compuseram o modelo 3 foram: quedas após os 60 anos, número de quedas após os 60 anos, número de quedas no último ano, condições de saúde visual, auditiva e bucal e dependência para atividades básicas e instrumentais de vida diária. Permaneceram no modelo: os que avaliaram como ruins sua saúde bucal (OR= 2,51; IC95% 1,61 – 3,93) e visual (OR=4,63; IC95% 2,33– 8,49). Também foi associado a sintomas depressivos ter dependência para atividades básicas de vida diária, observando-se maior chance de apresentar sintomas depressivos aqueles que se declararam dependentes de ajuda para maior número de atividades (Tabela 23). Resultados - 99 - Tabela 23: Modelo 3: Regressão logística: sintomas depressivos em relação a condições de saúde e autonomia para atividades diárias. Odds Ratio (bruta) Odds Ratio (ajustada) p IC95% VIF 1,02 0,99 0,66 0,96 – 1,03 3,60 Masculino 1 1 Feminino 1,60 1,52 0,04 1,01– 2,28 2,63 Excelente/Boa 1 1 Regular/ruim 2,81 2,53 < 0,001 1,61 – 3,93 1,42 1 1 Moderada 1,66 1,27 0,38 0,74 – 2,19 1,49 Regular/ruim 5,50 4,63 < 0,001 2,33 – 8,49 1,22 1 1 Dependente em 1 ou 2 3,14 2,41 0,001 1,46 – 3,99 1,34 Dependente em 3 ou + 4,75 3,46 < 0,001 1,97 – 6,06 1,17 Variáveis IDADE (contínua) SEXO SAÚDE BUCAL VISÃO Excelente/boa ABVDS Independente MÉDIA DO VIF = 1,84 (Fator de Inflação de Variância) As variáveis relacionadas à avaliação que os entrevistados fizeram de sua saúde, memória, funcionalidade famíliar e o resultado do MEEM compuseram o modelo 4 que incluiu: auto-avaliação da memória, resultado da avaliação cognitiva (MEEM), avaliação da saúde, presença de dor, intensidade e frequência da dor, impacto da dor e funcionalidade familiar. Verificou-se que ter uma auto-avaliação da saúde negativa aumenta a chance para apresentar sintomas depressivos. Ter uma percepção de saúde regular aumenta 2,85 vezes a chance de ocorrência sintomas depressivos em comparação aois idosos que percebem sua saúde positivamente, e perceber a saúde como ruim pode aumentar em até 7,93 vezes a Resultados - 100 - chance de apresentar esses sintomas. De maneira semelhante, foi observado que uma pior avaliação da memória aumenta o risco de apresentar sintomas depressivos. Avaliar a memória como regular pode aumentar em até 2,41 a chance de ter sintomas depressivos e avaliar a memória como ruim pode aumentar em até 7,91 em comparação aos idosos que avaliam seu desempenho de memória positivamente. Constatou-se ainda que perceber disfuncionalidade moderada ou grave pode aumentar a chance de apresentar sintomas depressivos em até 3,92 vezes em relação aos idosos que não percebem essa disfunção ou a percebem de maneira leve (Tabela 24). As demais variáveis não permaneceram no modelo. Tabela 24: Modelo 4: Regressão logística: Sintomas depressivos em relação a percepção de saúde, memória, dor e funcionalidade familiar. Odds Ratio (bruta) Odds Ratio (ajustada) p IC95% VIF 1,02 1,01 0,42 0,98 – 1,05 3,95 Masculino 1 1 Feminino 1,88 1,68 0,31 1,05- 2,68 2,63 1 1 Regular 3,68 2,85 < 0,001 1,71 – 4,77 2,24 Ruim 14,37 7,93 < 0,001 3,51 – 17,89 1,17 1 1 Regular 3,25 2,41 <0,001 161 – 3,63 1,87 Ruim 13,59 7,91 < 0,001 3,52 – 17,78 1,17 Variáveis IDADE (contínua) SEXO AVALIAÇÃO DA SAÚDE Boa AVALIAÇÃO MEMÓRIA Boa DISFUNCIONALIDADE FAMILIAR Leve 1 1 Moderada 2,75 3,35 <0,01 1.54 – 7,30 1,06 Grave 3,58 3,92 < 0,001 2,00 – 7,65 1,05 MÉDIA DO VIF = 1,91 (Fator de Inflação de Variância) Resultados - 101 - Como relatado, a partir dos resultados dos modelos específicos foi construído um modelo final, composto das variáveis que se associaram significativamente (p <0,05) com sintomas depressivos. Foram incluídas nesta análise efetuada pela regressão logística: sexo, idade, percepção de renda, freqüência em atividade religiosa, ter doença cárdica, ter tido acidente vascular cerebral, ter tido depressão, ter condição ruim de saúde bucal e saúde visual, ter pior percepção da condição de saúde e ter pior auto-avaliação da memória, apresentar dependência em atividades básicas de vida diária e apresentar disfuncionalidade familiar. Mantiveram-se associadas à maior chance de apresentar sintomas depressivos: ter relatado problemas de visão (OR=2,83; IC95% 1,52 – 5,29); perceber a saúde como regular (OR=2,43; IC95% 1,45 – 4,07) e ruim (OR=5,04; IC95% 2,15 – 11,83); ter disfuncionalidade familiar moderada (OR=2,98; IC95% 1,09 – 8,10) e grave (OR=3,45; IC95% 1,60 – 7,43); ser dependente em uma ou duas atividades básicas de vida diária (OR=2,03; IC95% 1,40 – 5,04) e em três ou mais das atividades básicas (OR=2,65; 1,09 – 8,10) (Tabela 25). Resultados - 102 - Tabela 25: Modelo 5: Regressão logística: Sintomas depressivos em relação a todas as variáveis significativas nos demais modelos. Odds Ratio Odds Ratio (ajustada) p IC95% VIF 1,02 0,99 0,58 0,95 – 1,03 4,41 Masculino 1 1 Feminino 1,88 1,41 0,15 0,88 – 2,28 2,70 1 1 Regular 1,66 1,02 0,93 0,56 – 1,88 1,54 Ruim/cego 5,50 2,83 0,001 1,52 – 5,29 1,30 Excelente/boa 1 1 Regular/ruim 2,81 1,77 <0,05 1,08 – 2,92 1,51 1 1 Dependente em 1 ou 2 3,14 2,03 <0,01 1,40 – 5,04 1,37 Dependente em 3 ou + 4,75 2,65 <0,05 1,09 – 8,10 1,21 Variáveis IDADE (contínua) SEXO VISÃO Excelente/boa SAÚDE BUCAL ABVDS Independente AUTO-AVALIAÇÃO MEMÓRIA Excelente/boa 1 1 Regular 3,25 2,28 < 0,001 1,45 – 4,07 2,31 Ruim 13,59 6,82 < 0,001 2,15 – 11,83 1,47 1 1 Regular 3,68 2,43 0,001 1,45 – 4,07 2,31 Ruim 14,37 5,04 < 0,001 2,15 – 11,83 1,47 AVALIAÇÃO DA SAÚDE Boa DISFUNCIONALIDADE FAMILIAR Leve 1 1 Moderada 2,75 2,98 <0,05 1,09 – 8,10 1,05 Grave 3,58 3,45 <0,01 1,60 – 7,43 1,09 MÉDIA DO VIF = 1,78 (Fator de Inflação de Variância) Resultados - 103 - 5.2. Estudo Longitudinal – Análise dos fatores de risco Serão apresentados os resultados do estudo de possíveis fatores de risco para sintomas depressivos. Foram considerados os sintomas depressivos identificados em 2006 em relação aos fatores relativos às condições de vida e saúde já presentes no ano 2000. Assim foi analisada a coorte A06 e os fatores presentes nesses indivíduos em 2000 (A00), configurandose uma análise longitudinal. Foram estudadas as associações de variáveis sociodemográficas, condições de saúde e capacidade funcional com presença de sintomas depressivos, segundo a GDS, pretendendo-se identificar possíveis preditores desse quadro. Das variáveis sociodemográficas analisadas em 2000, apenas renda e perceber a renda como insuficiente associaram-se-se significativamente com apresentar sintomas depressivos no momento A06 (Tabela 26). Tabela 26: Sintomas depressivos (coorte A06) segundo variáveis sócio-demográficas em 2000. SINTOMAS DEPRESSIVOS EM 2006 VARIÁVEIS DE 2000 N Não-caso Caso % % p* RENDA EM SALÁRIO MÍNIMO (N=800) Até 2,99 SM 351 81,7 18,3 3 SM ou mais 449 90,3 9,7 < 0,05 PERCEPÇÃO DE RENDA (N=964) Suficiente 321 89,3 10,7 Insuficiente 643 83,8 16,2 *Teste de Rao-Scott < 0,05 Resultados - 104 - Associaram-se significativamente a sintomas depressivos ter referido em 2000, maior número de doenças, ter diabetes, doenças crônicas pulmonares, doenças osteoarticulares, acidente vascular encefálico, uso de maior número de remédios (Tabelas 27). Tabela 27: Sintomas depressivos em 2006 segundo condições de saúde no ano de 2000. CONDIÇÕES DE SAÚDE EM 2000 SINTOMAS DEPRESSIVOS EM 2006 N Não-caso(%) No. DE DOENÇAS REFERIDAS (972) Nenhuma 254 91,9 Uma 288 87,5 Duas ou mais 430 80,3 DIABETES (N=966) Não 804 86,6 Sim 162 81,6 HIPERTENSÃO (N=968) Não 459 86,9 Sim 509 84,3 NEOPLASIA (N=970) Não 945 85,9 Sim 25 71,7 DOENÇAS OSTEOARTICULARES (N=956) Não 625 88,6 Sim 331 79,6 DOENÇAS CARDÍACAS (N=967) Não 855 86,6 Sim 174 81,8 DOENÇAS CRÔNICAS PULMONARES (N = 970) Não 855 87,0 Sim 115 75,4 ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO PRÉVIO (N = 970) Não 924 86,2 Sim 46 72,7 NUMERO REMÉDIOS DE USO DIÁRIO Nenhuma 154 94,6 Uma 143 88,4 2a3 298 83,6 4a7 331 80,8 8 ou + 46 86,3 *Teste de Rao-Scott Caso (%) p* 8,1 12,5 19,7 <0,001 13,4 18,4 < 0,05 13,1 15,7 0,31 14,1 28,3 0,11 11,4 20,4 <0,001 13,4 18,2 0,15 13,0 24,6 <0,01 13,8 27,3 <0,01 5,4 11,6 16,4 19,2 13,7 <0,01 Resultados - 105 - Na tabela 28, nota-se que entre os idosos com sintomas depressivos em 2006 foram observadas freqüências mais altas, em 2000, de piores auto-avaliações da memória e da saúde, assim como esses idosos mais frequentemente haviam considerado sua memória e saúde como piores em relação ao último ano. Tabela 28: Sintomas depressivos em 2006 segundo auto-avaliação da memória e da saúde no ano de 2000. AUTOAVALIAÇÕES EM 2000 SINTOMAS DEPRESSIVOS EM 2006 N Não-caso Caso % % p* AUTO-AVALIAÇÃO MEMÓRIA (N= 956) Muito boa/boa 593 91,1 8,9 Regular 326 81,6 18,4 Ruim/muito ruim 37 37,7 62,3 <0,001 COMPARAÇÃO MEMÓRIA – ULTIMO ANO (N = 954) Melhor 56 91,7 8,3 Igual 588 89,8 10,2 Pior 161 72,8 27,2 <0,001 AVALIAÇÃO COGNITIVA – MEEM (N=957) Preservado 917 86,2 13,8 Comprometimento 40 78,1 21,9 <0,01 AVALIAÇÃO DA SAÚDE ( N = 969) Muito boa/boa 107 93,1 6,9 Regular 363 81,9 18,1 Ruim/muito ruim 499 48,6 51,4 <0,001 COMPARAÇÃO SAÚDE – ÚLTIMO ANO (N= 968) Melhor 171 88,9 11,1 Igual 531 90,1 9,9 Pior 266 72,8 27,2 *Teste de Rao-Scott <0,001 Resultados - 106 - Também entre os idosos que apresentaram sintomas depressivos em 2006, no ano 2000 verificou-se maior frequência de dependência para as atividades básicas e instrumentais de vida diária (Tabela 29). Tabela 29: Sintomas depressivos em 2006 segundo capacidade funcional no ano de 2000. SINTOMAS DEPRESSIVOS EM 2006 ABVD e AIVD EM 2000 N Não-caso Caso % % p* ATIVIDADES BÁSICAS DE VIDA DIÁRIA (ABVDS) (N = 874) Nenhuma dificuldade 862 87,3 12,7 1 ou 2 dificuldades 9 72,8 27,2 3 ou + dificuldades 3 38,9 61,1 <0,05 ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DE VIDA DIÁRIA (AIVDS) (N = 590) Nenhuma dificuldade 369 86,1 13,9 1 ou 2 dificuldades 158 76,6 23,4 3 ou + dificuldades 63 63,7 36,3 *Teste de Rao-Scott <0,05 Resultados - 107 - Análise multivariada dos fatores de risco presentes em 2000 associados aos sintomas depressivos em 2006 Os modelos de regressão logística para o estudo de associação das variáveis sociodemográficas e as relativas à condição de saúde, à auto-avaliação de saúde e memória e à autonomia funcional com presença ou ausência de sintomas depressivos foram do tipo stepwise backward. Estabeleceram-se para compor essa análise as variáveis que se associaram a sintomas depressivos na análise univariada com valor de p<0,10. Elaborou-se um modelo final com todas as variáveis que se associram significativamente (<0,05) nos modelos com os grupos de variáveis a serem descritos. Todos os modelos foram ajustados para sexo e idade. O modelo 1 foi construído por variáveis sociodemográficas: sexo, idade, renda e percepção de renda. Verificou-se que idosos do sexo feminino têm mais chance de apresentar sintomas depressivos (OR= 1,5; IC95% 1,01 – 2,41). Observou-se ainda que para os indivíduos de menor renda uma razão de chance de 2,67 (IC95% 1,31-5,47) de apresentar sintomas depressivos. As demais variáveis sociodemográficas não se mantiveram significativamente associadas a sintomas depressivos (Tabela 30). Apesar do resultado do VIF ter sido superior a 10,0, no entanto, optou-se por manter o ajuste por idade, pelas razões já expostas. Resultados - 108 - Tabela 30: Regressão logística: Sintomas depressivos e variáveis sóciodemográficas Odds Ratio Odds Ratio (ajustada) p IC95% VIF 1,02 1,01 0,36 0,98 – 1,04 13,15 Masculino 1 1 Feminino 1,60 1,50 0,05 1,01 – 2,41 2,48 1 1 3 a 4,99 SM 0,72 0,76 0,46 0,37 – 1,56 6,17 1 a 2,99 SM 1,62 1,60 0,08 0,94 – 2,71 3,02 < 1 SM 3,10 2,67 <0,01 1,31 – 5,47 3,69 Variáveis IDADE (contínua) SEXO RENDA(Salário Mínimo) 5 ou mais SM MÉDIA DO VIF = 5,70 (Fator de Inflação de Variância) O segundo modelo compôs-se de variáveis relativas à condições de saúde: número de doenças auto-referidas, ter referido diabetes, doenças osteoarticulares, doenças pulmonares, acidente vascular cerebral e número de remédios ingeridos diariamente. Mantiveram-se no modelo com aumento de chance da ocorrência de sintomas depressivos: ter doença pulmonar (OR 1,78; IC95% 1,01 – 3,14) e ter maior número de doenças autoreferidas. Nota-se que o maior número de doenças referidas aumentava em até 3,25 (IC95% 1,80 - 5,90) vezes a chance de apresentar sintomas depressivos, em relação aos indivíduos que referiram não apresentar doenças (Tabela 31). Resultados - 109 - Tabela 31: Regressão logística: Sintomas depressivos e doenças referidas. Odds Ratio (bruta) Odds Ratio (ajustada) p IC95% VIF 1,02 1,02 0,17 0,99 – 1,06 4,81 Masculino 1 1 Feminino 1,60 1,83 <0,01 1,23 - 2,74 2,65 Não 1 1 Sim 2,19 1,78 <0,05 1,01 – 3,14 1,25 Variáveis IDADE (contínua) SEXO DOENÇA PULMÃO NÚMERO DE DOENÇAS AUTO-REFERIDAS Nenhuma 1 1 Uma 2,03 1,89 <0,05 1,07 – 3,35 2,12 Duas 2,90 2,47 <0,01 1,36 – 4,52 2,11 Três ou mais 4,18 3,25 < 0,001 1,80 – 5,90 1,82 MÉDIA DO VIF = 2,46 (Fator de Inflação de Variância) Compuseram o modelo 3, apresentado na tabela 32, as variáveis relativas à autoavaliação da saúde e memória, realizada no momento da entrevista no ano 2000 e a comparação das mesmas com o ano anterior, e ainda com o desempenho obtida no MEEM. Permaneceram no modelo as variáveis que se referiam à pior auto-avaliação da saúde (OR=2,48; IC 95% 1,11 – 5,55) e da memória. Quanto mais negativa foi a avaliação da memória, maior foi o aumento na chance (OR=12,27; IC95% 5,03 – 29,97) de apresentar sintomas depressivos (Tabela 32). Resultados - 110 - Tabela 32: Regressão logística: associação de sintomas depressivos e auto – avaliação da saúde e memória (Modelo 3) Odds Ratio Odds Ratio (ajustada) p IC95% VIF 1,02 1,02 0,11 0,99 – 1,05 9,13 Masculino 1 1 Feminino 1,60 1,77 <0,05 1,11- 2,82 2,59 1 1 Regular 0,81 0,83 0,69 0,34 – 2,02 3,99 Ruim 3,14 2,48 < 0,05 1,11 – 5,55 5,41 1 1 Regular 2,30 1,80 < 0,01 1,16 – 2,80 1,66 Ruim 16,89 12,27 < 0,001 5,03 – 29,97 1,09 Variáveis IDADE (contínua) SEXO AVALIAÇÂO SAÚDE Boa AVALIAÇÃO MEMÓRIA Boa MÉDIA DO VIF = 3,98 (Fator de Inflação de Variância) O último modelo contemplou o estudo da associação de variáveis relativas à dependência no desempenho de atividades básicas e instrumentais de vida diária. Permaneceu no modelo, associado a sintomas depressivos, ter dependência para atividades instrumetais, sendo tanto maior a chance (OR=2,64; IC95% 1,31 – 5,34) para apresentar sintomas depressivos, quanto maior a dependência (Tabela 33) Resultados - 111 - Tabela 33: Regressão logística: Sintomas depressivos e autonomia para atividades de vida diária (Modelo 4). Odds Ratio Odds Ratio (ajustada) p IC95% VIF 1,02 1,01 0,58 0,98 – 1,04 2,39 Masculino 1 1 Feminino 1,60 2,14 0,002 1,34 – 3,41 2,60 1 1 Dependente em 1 ou 2 1,98 1,32 0,38 0,70 – 2,49 1,70 Dependente em 3 ou + 5,83 2,64 0,008 1,31 – 5,34 1,22 Variáveis IDADE (contínua) SEXO AIVDS Independente MÉDIA DO VIF = 1,98 (Fator de Inflação de Variância) Por fim, a última análise incluiu as variáveis que permaneceram significativamente associadas a sintomas depressivos nos modelos específicos para os grupos de variáveis que foram: renda, número de doenças auto-referidas, pior avaliação da saúde, pior avaliação da memória, ter dependência para atividades instrumentias de vida diária. Nesse modelo mantiveram-se associadas a sintomas depressivos: ter pior renda (OR= 2,40; IC95%: 1,08 – 5,38), ter doença pulmonar (OR= 2,23; IC95%: 1,12 – 4,47), ter pior autoavaliação da saúde (OR= 2,95; IC95%: 1,15 – 7,56) e da memória (OR= 14,11; IC95%: 5,10 – 39,02). Essas condições aumentaram significativamente a chance da ocorrência de sintomas depressivos. É importante ressaltar que ter avaliado a memória como ruim aumentou chance de apresntar sintomas depressivos em 14,11 vezes (IC95% 5,10– 39,02) (Tabela 34) Resultados - 112 - Tabela 34: Regressão logística sintomas depressivos em relação a todas as variáveis significativas nos demais modelos (Modelo 5). Odds Ratio (bruta) Odds Ratio (ajustada) p IC95% VIF 1,02 1,02 0,28 0,98 – 1,08 11,01 Masculino 1 1 Feminino 1,60 1,40 0,21 0,82 – 2,39 2,59 Variáveis IDADE (contínua) SEXO RENDA (SALÁRIO MÍNINO) 5 ou mais SM 1 1 3 a 4,99 SM 0,72 0,77 0,54 0,32– 1,82 1,75 1 a 2,99 SM 1,62 1,40 0,39 0,64 – 3,09 3,19 < 1 SM 3,10 2,40 0,03 1,08– 5,38 1,48 Não 1 1 Sim 2,19 2,23 0,024 1,12 – 4,47 1,15 1 1 Regular 0,81 1,12 0,83 0,37 – 3,43 4,02 Ruim 3,14 2,95 0,025 1,15 – 7,56 5,49 DOENÇA PULMÃO AVALIAÇÃO DA SAÚDE Boa AVALIAÇÃO DA MEMÓRIA Excelente/Boa 1 1 Regular 2,30 1,70 0,03 1,06 – 2,71 1,67 Ruim 16,89 14,11 < 0,001 5,10– 39,02 1,10 MÉDIA DO VIF = 3,35 (Fator de Inflação de Variância) Também nesta análise foram calculados os fatores de inflação de variância de todas as variáveis incluídas na análise multivariada. No modelo final (tabela 34) foi observado colinearidade com a variável idade, no entanto optou-se por manter a variável para ajuste do modelo. Se retirado do modelo os demais valores VIF diminuem acentuadamente. Resultados - 113 - 5.3. Estudo Longitudinal – Análise dos fatores de proteção Com o objetivo de identificar possíveis fatores de proteção foram selecionados os indivíduos que não apresentaram sintomas depressivos no ano 2000, e nem em 2006 (N=707) e estudados em relação às características sociodemográficas, de saúde e de independência para o desempenho das atividades básicas e instrumentais de vida diária. Verificou-se que 25,2% (N= 238) dos idosos apresentaram sintomas depressivos nas duas avaliações ou em pelo menos uma delas e 74,8% não apresentaram sintomas depressivos em nenhum momento do seguimento (Tabela 35). Tabela 35: Distribuição da população SABE A00 e A06 segundo presença ou não de sintomas depressivos (N=945). SINTOMAS DEPRESSIVOS 2000 2006 NÃO-CASO N % CASO N % NÃO-CASO 707 74,8 73 7,7 CASO 93 9,9 72 7,6 Também foi possível observar que apresentar sintomas depressivos nos dois momentos de avaliação do estudo foi mais freqüente entre as mulheres (Tabela 36). Resultados - 114 - Tabela 36: Sintomas depressivos segundo sexo (coorte A00 e A06). SINTOMAS DEPRESSIVOS Homens (IC 95%) Mulheres (IC 95%) Sem sintomas depressivos (A00 e A06) 81,9 ( 78,2 – 85,7) 71,7 (68,0 – 75,3) Com sintomas depressivos A06 6,3 ( 3,8 – 8,9) 6,6 (4,6 - 8,6 ) Com sintomas depressivos A00 8,8 ( 5,6 – 12,1) 11,1 (8,5 – 13,8) Com sintomas depressivos em A00 e A06 2,9 (1,0 – 4,9) 10,1 (7,9 – 13,3) p* <0,001 *Teste de Rao-Scott Entre os que não apresentaram sintomas depressivos nas duas avaliações (N=707), constatou-se que foi mais freqüente ser do sexo masculino, ter maior nível de escolaridade, melhor renda e perceber a renda como suficiente para suas despesas. A associação estatisticamente significativa entre essas variáveis sugere que apresentar melhor condição de vida pode ser um fator de proteção para sintomas depressivos (Tabela 37). Resultados - 115 - Tabela 37: Distribuição da presença ou não de sintomas depressivos (A00 e A06), segundo variáveis sociodemográficas (A00) N COM Sintomas Depressivos % SEM Sintomas Depressivos % Masculino 357 18,1 81,9 Feminino 588 28,3 71,7 60 – 64 anos 285 23,6 76,4 65 – 69 anos 179 25,2 74,8 70 – 74 anos 189 23,3 76,7 75 – 79 anos 183 27,8 72,2 80 ou mais 109 23,3 76,7 0 a 3 anos 457 27,9 72,1 4 anos ou mais 485 21,3 78,7 VARIÁVEIS p* SEXO (N=945) < 0,001 FAIXA ETÁRIA (N = 945) 0,85 ESCOLARIDADE (N=942) 0,05 RENDA EM SALÁRIO MÍNIMO (N= 778) Até 2,99 SM 434 28,8 71,2 3 SM ou mais 344 18,4 81,6 Suficiente 315 17,3 82,7 Insuficiente 623 27,8 72,2 Mora Sozinho 135 20,5 79,5 Mora Acompanhado 810 24,8 75,2 < 0,05 PERCEPÇÃO DE RENDA (N = 938) < 0,05 ARRANJO FAMILIAR (N= 945) 0,29 *Teste de Rao-Scott Também foi possível observar, conforme descrito na tabela 38, que ter menor número de doenças auto-referidas, fazer uso de menor número de remédios e não ser portador de hipertensão e de doenças pulmonares associaram-se de forma estatisticamente significativa com não apresentar sintomas depressivos, sugerindo também que ter melhor condição de saúde pode atuar como fator de proteção para essa sintomatologia. Resultados - 116 - Tabela 38: Distribuição da presença ou não de sintomas depressivos (A00 e A06) segundo variáveis relativas á condição de saúde (A00). N COM Sintomas Depressivos % SEM Sintomas Depressivos % 0 251 16,4 83,6 1 280 18,2 81,8 2 259 32,3 67,7 3 ou mais 155 36,2 63,8 Não 452 19,7 80,3 Sim 489 28,4 71,6 Não 784 23,3 76,7 Sim 156 29,6 70,4 DOENÇAS p* NÚMERO DE DOENÇAS (N=945) < 0,001 HIPERTENSÃO (N=941) < 0,05 DIABETES (N=940) 0,09 DOENÇAS OSTEOARTICULARES (N= 929) Não 610 22,6 77,4 Sim 319 29,5 70,5 Não 770 23,1 76,9 Sim 170 28,8 71,2 0,06 DOENÇAS CARDÍACAS (N=940) 0,24 DOENÇAS PULMONARES (N = 943) Não 832 22,5 77,5 Sim 111 37,1 62,9 Não 902 23,8 76,2 Sim 41 36,2 63,8 Não 920 24,2 75,8 Sim 23 25,4 74,6 < 0,01 AVC PRÉVIO (N=943) 0,08 NEOPLASIA (N= 943) 0,89 NÚMERO DE MEDICAÇÕES DE USO DIÁRIO (N= 945) Nenhuma 153 18,2 81,8 Apenas uma 139 13,3 86,7 2 ou 3 291 25,6 74,4 4a7 316 31,8 68,2 8 ou mais 46 29,0 71,0 *Teste de Rao-Scott <0,01 Resultados - 117 - Na tabela 39 estão descritos os resultados da associação da percepção dos idosos em relação à auto-avaliação de memória e da saúde e o resultado do MEEM em relação a sintomas depressivos. Pode-se observar que houve associação significativa entre avaliar positivamente a saúde e memória em relação a não ter apresentado sintomas depressivos em 2000 e 2006. Tabela 39: Distribuição da população segundo percepção de memória e saúde (A00) segundo a presença ou não de sintomas depressivos (A00 e A06). VARIÁVEIS N COM Sintomas Depressivos % SEM Sintomas Depressivos % p* AUTO AVALIAÇÃO DA MEMÓRIA (N= 942) Excelente/boa 589 18,0 82,0 Regular 318 30,7 69,3 Ruim 35 70,3 29,7 < 0,001 COMPARAÇÃO DA MEMÓRIA – ULTIMO ANO (N = 940) Melhor 58 18,4 81,6 Igual 664 18,6 81,4 Pior 218 42,6 57,4 < 0,001 AVALIAÇÃO COGNITIVA –MINI-EXAME ESTADO MENTAL (MEEM) (N=943) Preservado 915 24,0 76,0 Declínio Cognitivo 28 30,7 69,3 Excelente/boa 106 13,7 86,3 Regular 356 29,9 70,1 Ruim 481 74,7 25,3 0,51 PERCEPÇÃO DE SAÚDE (N=943) < 0,001 COMPARAÇÃO DA SAÚDE - ULTIMO ANO (N = 941) Melhor 167 18,1 81,9 Igual Pior 516 258 17,9 43,2 82,1 56,8 *Teste de Rao-Scott < 0,001 Resultados - 118 - Observou-se (Tabela 40) associação significativa estatisticamente entre a presença ou não de sintomas depressivos e o desempenho em AIVDS (p <0,001). Nota-se que entre os indivíduos que não apresentaram sintomas depressivos em 2000 e nem em 2006 ocorreu menor porcentagem de prejuízo no desempenho das atividades instrumentais de vida diária. Tabela 40: Distribuição da população segundo capacidade funcional (A00) e presença ou não de sintomas depressivos (A00 e A06). N COM Sintomas Depressivos % SEM Sintomas Depressivos % 840 22,3 77,7 1 ou 2 dificuldades 9 61,2 38,8 3 ou + dificuldades 2 41,5 58,5 Nenhuma dificuldade 365 23,7 76,3 1 ou 2 dificuldades 151 36,9 63,1 3 ou + dificuldades 50 53,4 46,6 VARIÁVEIS p* ABVDS (N = 851) Nenhuma dificuldade 0,06 AIVDS (N = 566) *Teste de Rao-Scott 0,001 Resultados - 119 - Análise multivariada – Estudo dos fatores de proteção Os modelos de regressão logística para o estudo da associação dos diferentes grupos de variáveis (sociodemográficas; doenças auto-referidas; condições de saúde; percepção de saúde e memória; autonomia) com a ausência de sintomas depressivos foram do tipo stepwise backward. Estabeleceram-se para compor essa análise as variáveis que se associaram a não apresentar sintomas depressivos na análise multivariada com valor de p<0,10. A variável denominada “sem depressão” foi composta pelos indivíduos que não pontuaram para sintomas depressivos na GDS, nas avaliações de 2000 e 2006. Foi elaborado um modelo final com todas as variáveis que se associaram significativamente (p<0,05) nos modelos com os grupos de variáveis descritos. Todos os modelos foram ajustados para sexo e idade. Alguns modelos apresentaram o resultado de VIF > 10 para a variável idade, no entanto, manteve-se o ajuste para a idade pela sua importância teórica. Ressalta-se, no entanto que especificamente neste modelo, ao retirar idade, observou-se que as demais variaáveis apresentaram VIF < 10. O modelo construído com as variáveis sóciodemográficas incluiu: sexo, escolaridade, renda, percepção de renda. Verificou-se que ter renda maior que três salários mínimos aumentou em até 2,13 (IC95% 1,03-4,38) vezes a chance de não apresentar sintomas depressivos nos anos avaliados. Resultados - 120 - Tabela 41: Modelo 1: Regressão logística de sintomas depressivos e variáveis sóciodemográficas. Odds Ratio Odds Ratio (ajustada) p IC95% VIF 1,00 1,02 0,23 0,99 – 1,05 10,54 Feminino 1 1 Masculino 1,64 1,61 < 0,01 1,14 – 2,29 1,97 1 1 1 a 2,99 SM 1,39 1,37 0,33 0,72 – 2,60 6,10 3 a 4,99 SM 2,18 2,13 0,04 1,03 – 4,38 3,04 5 ou mais SM 2,46 1,99 0,05 1,00 – 3,95 3,83 Variáveis IDADE (contínua) SEXO RENDA(Salário Mínimo) < 1 SM MÉDIA DO VIF = 5, 09 (Fator de Inflação de Variância) A regressão logística efetuada com o grupo de variáveis relativas á condição de saúde incluiu: número de doenças referidas ter relatado ter hipertensão, diabetes, doenças osteoarticulares, doenças pulmonares, acidente vascular encefálico, número de remédios. Não ter hipertensão (OR= 1,48; IC95%1,02 – 2,13), bem como não ter doenças pulmonares (OR=2,18; IC95%1,41– 3,39), doenças osteoarticulares (OR = 1,72; IC95% 1,27 – 2,37) foram condições idetinficadas como fatores de proteção em relação a apresentar sintomas depressivos (Tabela 42). Resultados - 121 - Tabela 42: Modelo 2: Regressão logística de sintomas depressivos em relação a doenças auto-referidas. Odds Ratio (bruta) Odds Ratio (ajustada) p IC95% VIF 1,00 1,00 0,87 0,97 – 1,02 10,25 Feminino 1 1 Masculino 1,64 1,70 <0,05 1,20 – 2,40 1,71 Sim 1 1 Não 1,62 1,48 <0,05 1,02 – 2,13 2,04 Sim 1 1 Nào 2,02 2,18 0,001 1,41 – 3,39 8,05 0,001 1,27 – 2,37 3,06 Variáveis IDADE (contínua) SEXO HIPERTENSÃO DOENÇAS PULMONARES DOENÇAS OSTEOARTICULARES Sim 1 1 Não 2,03 1,72 MÉDIA DO VIF = 5, 02 (Fator de Inflação de Variância) Ao analisar variáveis de auto-avaliação de memória e de saúde, e pode-se perceber que uma boa condição de saúde e da memória, pode ser considerada como fator de proteção para a ocorrência de sintomas depressivos. Idosos que tinham melhor percepção de sua condição de saúde tiveram até 4,69 (IC 95% 2,27 – 9,69) vezes mais chance de não apresentar sintomas depressivos em relação aos idosos que perceberam uma deterioração da saúde nesse período. Da mesma forma aconteceu com os idosos que avaliaram positivamente sua memória. Aqueles que avaliaram positivamente sua memória tiveram até 8,03 (IC95% 3,19 – 20,18) vezes chance de não apresentar sintomas depressivos em relação aos idosos que perceberam alteração nessa função cognitiva (Tabela 43) Resultados - 122 - Tabela 43: Modelo 3: Regressão logística: Sintomas depressivos em relação a percepção de saúde e memória. Odds Ratio (bruta) Odds Ratio (ajustada) p IC95% VIF 1,00 0,99 0,86 0,97– 1,02 21,36 Feminino 1 1 Masculino 1,64 1,62 0,008 1,14- 2,30 1,63 Variáveis IDADE (contínua) SEXO AUTO - AVALIAÇÃO DA SAÚDE Ruim 1 1 Regular 2,97 2,50 < 0,001 1,68 – 3,69 1,84 Boa 5,41 4,69 < 0,001 2,27 – 9,69 1,29 AUTO-AVALIAÇÃO MEMÓRIA Ruim 1 1 Regular 5,34 5,09 0,002 1,89 – 13,66 8,09 Boa 10,78 8,03 <0,001 3,19 – 20,18 9,45 MÉDIA DO VIF = 8,11 (Fator de Inflação de Variância) Na análise de regressão logística para as variáveis de autonomia nas atividades diárias (tabela 44) constatou-se que apresentar menor número de atividades instrumentais de vida diária das quais se necessita de ajuda, teve associação significativa com não apresentar sintomas depressivos (OR = 2,99; IC95% 1,42 – 6,27). Resultados - 123 - Tabela 44: Modelo 4: Regressão logística: Sintomas depressivos e atividades instrumentais de vida diária. Odds Ratio (bruta) Odds Ratio (ajustada) p IC95% VIF 1,00 1,01 0,29 0,99 – 1,04 10,17 Feminino 1 1 Masculino 1,64 2,02 0,002 1,29 – 3,14 2,20 Dependente em 3 ou + 1 1 Dependente em 1 ou 2 1,96 2,12 <0,05 1,03 – 4,37 3,75 Independente 3,68 2,99 <0,01 1,42 – 6,27 7,41 Variáveis IDADE (contínua) SEXO AIVDS MÉDIA DO VIF = 5,88 (Fator de Inflação de Variância) Finalmemte foi realizada a análise multivariada, com todas as variáveis que se mostraram estatisticamente associada (p<0,05) a não apresentar sintomas depressivos nos modelos anteriores. Foram incluídas na análise: ser do sexo masculino, ter maior renda, não apresentar doenças como hipertensão, doença pulmonar, doenças osteoarticulares, autoavaliar positivamente a memória e a saúde e ser menor dependência nas atividades instrumentais de vida diária. Permaneceram neste modelo: ser do sexo masculino (OR=1,75; IC95% 1,24 – 2,47), não ter doença crônica pulmonar (OR 2,07; IC95% 1,33 – 3,22) e avaliar positivamente sua saúde. Foi observado que ter auto-avaliado positivamente sua saúde aumentou em até 5,43 (IC95% 2,74 – 10,77) vezes a de chance de não apresentar sintomas depressivos, comparativamente aqueles que a avaliaram mal. (Tabela 45). Resultados - 124 - Tabela 45: Modelo final: Regressão logística Sintomas depressivos. Odds Ratio (bruta) Odds Ratio (ajustada) p IC95% VIF 1,00 0,99 0,77 0,93 – 1,02 9,27 Feminino 1 1 Masculino 1,64 1,75 0,002 1,24 – 2,47 1,63 Sim 1 1 Não 2,02 2,07 0,002 1,33 – 3,22 8,08 Variáveis IDADE (contínua) SEXO DOENÇA PULMÃO AUTO-AVALIAÇÃO DA SAÚDE Ruim 1 1 Regular 2,97 2,89 < 0,001 1,96 – 4,29 1,74 Boa 5,41 5,43 < 0,001 2,74 – 10,77 1,23 MÉDIA DO VIF = 4,39 (Fator de Inflação de Variância) 6. Discussão Discussão - 126 - 6. DISCUSSÃO Características sócio-demográficas A maioria dos 972 idosos avaliados era do sexo feminino, e tinha de 65 até 79 anos de idade. Alta porcentagem (46,7%) apresentava baixa escolaridade (até três anos), sendo maior escolaridade observada entre os idosos do sexo masculino. Grande parte dos idosos já estava aposentada, não tendo outro vínculo empregatício (51,9%), e tinham renda em até três salários mínimos (54,9%). Características semelhantes foram descritas em outros estudos populacionais com idosos, realizados na cidade de São Paulo (Ramos et al, 1993; Ramos et al, 1998), e em Bambuí - MG (Lima-Costa et al, 2004). Esses dados parecem refletir o perfil dos idosos brasileiros, pois assemelham - se aos descritos pelo IBGE (2000) e pelo Relatório do Banco Mundial sobre o Envelhecimento (Gragnolati et al, 2011): população idosa composta em sua maioria por mulheres (8,9 milhões), com, em média, 69 anos de idade e 3,4 anos de estudo. Esses mesmos dados (IBGE, 2000; Gragnolati et al, 2011) também apontam, como a presente investigação, que a maioria da população idosa tem baixa renda. Em relação à situação conjugal, a maior parcela dos idosos avaliados era casada (52,8%) e morava com outras pessoas (83,5%). Entre os que viviam sozinhos (16,5%), a maioria era do sexo feminino (82,2%). Dados do IBGE (2000) e de Camarano & El Ghaouri (2003) indicam ter havido nos últimos anos um aumento no número de idosos responsáveis pelo domicílio, sendo a maioria desses do sexo feminino; com numerosos domicílios unipessoais e elevada proporção de mulheres idosas que vivem só ou sem o cônjuge, provavelmente viúvas. Discussão - 127 - A maioria da população era católica (69,5%) e relatou prática religiosa freqüente (90,4%), referindo encontrar na religião uma forma de enfrentamento para as dificuldades cotidianas. Duarte et al (2008) também refere a religião como importante mecanismo de apoio e enfrentamento dos problemas cotidianos, contribuindo para maior satisfação com a vida e diminuição dos sentimentos de desamparo e desesperança. Condições de saúde As condições de saúde dos idosos estudados podem ser consideradas bastante prejudicadas: 32,6% com pelo menos uma doença crônica, 17,4% com três ou mais, predominando hipertensão (62,7%), doenças osteoarticulares (34,3%), doenças cardíacas (22,4%) e diabetes (20,9%), além de relatarem alta frequência de uso de medicações (80,0%). Revisão de Garrido & Menezes (2002) indica que idosos apresentam mais problemas de saúde que a população geral. Baseando-se em dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) relatam que mais da metade dos idosos brasileiros apresentavam algum problema de saúde (53,3%), sendo 23,1% portadores de doenças crônicas. Ramos et al (1993), no início da década de 90, realizaram um inquérito domiciliar em dez subdistritos de cinco regiões do município de São Paulo, estratificados pelo nível socioeconômico e constataram que 86% dos entrevistados referiram pelo menos uma doença crônica. Em 1998, Ramos et al, em estudo de seguimento de dois anos daquela coorte, verificaram que 94% da população avaliada, apresentava mais de uma doença crônica. Na primeira fase do Estudo SABE (Lebrão & Laurenti, 2003) identificaram alta porcentagem de idosos que referiram ter pelo menos três doenças, especialmente entre as mulheres. As doenças mais prevalentes naquele momento do estudo foram hipertensão (53,3%), artrite/artrose (31,7%) e problemas cardíacos (19,5%). Discussão - 128 - Considerando-se que este estudo, com dados obtidos em 2006, demonstra um substancial aumento na porcentagem dessas doenças, pode-se atribuir esse aumento ao envelhecimento dessa população, além, provavelmente de terem tido acesso a mais informações sobre sua própria saúde nos anos que se seguiram ao primeiro inquérito. Morbidades semelhantes foram descritas por outro inquérito de saúde também realizado na cidade de São Paulo- ISA/SP (César et al, 2010), em que se constatou , entre os idosos da amostra populacional estudada, hipertensão (homens: 46,8%; mulheres: 55,6%), artrite/artrose/ reumatismo: homens:11,8%, mulheres: 38,7%; doenças do coração, homens: 19,3%, mulheres: 16,8%); diabetes, homens:19,3%; mulheres:20,6%). Iozzi et al (2008) investigaram as condições de saúde e vida de idosos da cidade do Rio de Janeiro e verificaram que o número de comorbidades aumentava com a idade. Enquanto 59% dos idosos com idade de 60 a 69 anos referiram ter até duas doenças, 66% dos idosos com 80 anos relataram mais de quatro doenças, sendo as mais freqüentes: hipertensão (63%), artrite (48%), catarata (35%), depressão (25%), osteoporose (21%) e diabetes (18%), dados também semelhantes aos deste estudo. Observaram também que o número de doenças declarado por homens e mulheres diferiu: 19% dos homens referiram quatro doenças ou mais, e nas mulheres essa porcentagem foi de 35%, o que também se observou no presente estudo: 26,7% dos homens referiram ter três doenças ou mais, 73,2% das mulheres o fizeram, mais uma vez reafirmando a necessidade de se compreender as diferenças de saúde em relação aos sexos (Aquino, 2006) Iozzi et al (2008) constataram ainda que a renda estabelece um gradiente de morbidades: quanto menor a renda, maior a referência à comorbidades e vice-versa. Assim sendo, considerando que no presente estudo a maioria dos idosos apresentava baixa renda (58,9% até três salários mínimos), é possível supor que essa população se apresentasse mais adoecida, e consequentemente com mais anos vividos com incapacidade e dependência, maior Discussão - 129 - sobrecarga para familiares e serviços de saúde, além de piora significativa de sua qualidade de vida. Dados da PNAD da década de 90, já mostravam que os idosos brasileiros eram portadores de pelo menos uma doença crônica e utilizavam medicamentos regularmente, indicando desde então a necessidade de serviços de saúde capacitados para atender as necessidades dessas pessoas, o que se confirma com os resultados da presente pesquisa (Garrido & Menezes, 2002) Estudo de Prevalência A prevalência de sintomas depressivos obtida neste estudo foi 14,5% (IC95% 11,8-16,7), relativamente mais baixa que as descritas na grande maioria dos estudos populacionais nacionais, que também utilizaram instrumentos para avaliar sintomas depressivos. Essa grande variabilidade, provavelmente, deve- se não apenas às diferenças de critérios diagnósticos e instrumentos utilizados, mas também refletem características próprias de cada população estudada. No Brasil, Veras & Coutinho (1991) observaram porcentagens diferenciadas (20,9%, 23% e 36,8%) de sintomas depressivos em bairros com populações que diferiam do ponto de vista socioeconômico, além de terem utilizado o SHORT CARE, que, segundo esses autores, é um instrumento com o qual se deve ter cautela ao escolher o ponto de corte a ser utilizado para investigar sintomas depressivos devido à baixa especificidade e sensibilidade detectadas nos estudos de validade e confiabilidade. Cerqueira (2003) estudando a coorte do Estudo SABE, na fase de inclusão, em 2000, com o mesmo instrumento (GDS-15), registrou Discussão - 130 - prevalência de 18,1%. Em se tratando da mesma população aqui estudada, pode-se atribuir a diferença encontrada ao envelhecimento da população, uma vez que em 2000, contava-se com indivíduos na faixa etária de 60-64 anos, e alguns estudos referem diferenciação entre as prevalências de sintomas depressivos em diferentes faixas etárias (Beekman et al, 1999; Chong et al, 2001; Stek et al, 2006). Pode-se pensar também que esses são idosos e não institucionalizados, possivelmente menos frágeis. Prevalência bastante superior (38,5%) ao desta pesquisa foi descrita por CastroCosta et al (2008) em município de pequeno porte no interior de Minas Gerais, utilizando o GHQ (General Health Questionnaire), provavelmente pelo instrumento utilizado, destinado mais a avaliar transtornos mentais comuns, não sendo um instrumento específico para sintomas depressivos (Goldberg et al, 1988). Lima et al (2009) avaliaram idosos com 65 anos ou mais, porém em um bairro específico da cidade de São Paulo (Vila Clementino), com características próprias, e verificaram a prevalência de 21,1% utilizando o SPES - Short Psychiatryc Evaluation Schedule - (Blay et al 1988) e a GDS ( Yesavage et al, 1983). Barcelos-Ferreira et al (2009) avaliaram idosos com 60 anos ou mais do município de São Paulo, estratificados por três diferentes níveis socioeconômicos, com amostra representativa da cidade, à semelhança do presente estudo, e obtiveram a prevalência de 13% de sintomas depressivos, sendo este o resultado que mais se assemelha aos aqui obtidos. (SABE A06). Estudo populacional internacional registrou prevalência de sintomas depressivos semelhante à identificada aqui. Nos Estados Unidos, ECA - Epidemiological Catchment Área Study (Robins & Regier, 1991) a prevalência foi de 15%. No entanto, outros estudos descreveram prevalência mais alta que a aqui obtida, como o The Share Study, estudo populacional realizado em diversos países da Europa (Castro-Costa et al, 2007) utilizando como instrumento o Euro-D, constataram taxas que variaram de 18,5% a 36,8%, Discussão - 131 - provavelmente devido ao instrumento utilizado e características específicas das populações europeias. Resultados de prevalência de sintomas depressivos de outros estudos internacionais (Chong et al, 2001; Wada et al, 2004; Torija et al, 2007; Borjoquez-Chapela et al, 2009; Kim et al, 2009) diferem dos resultados desta pesquisa, pois investigaram o impacto socioeconômico na ocorrência desses sintomas, focalizando apenas populações de baixa renda. Borjoquez-Chapella et al (2009) utilizando a CES-D, estudaram a ocorrência de sintomas depressivos em idosos de baixa renda do México, e registraram a prevalência de 43%. Wada et al (2004), investigaram sintomas depressivos em quatro diferentes comunidades de pequeno porte do interior do Japão, utilizando a GDS e constataram a prevalência de 33,5% . Estudo semelhante foi desenvolvido por Kim et al (2009), na Coréia, também utilizando a GDS, com idosos da área urbana e rural e obteve a prevalência de 63%. Torija et al (2007) avaliaram idosos na área de distrital de Guadalajara, que englobava área urbana e rural, utilizando a GDS, e constataram prevalência de 19,7% de sintomas depressivos. Chong et al (2001) investigaram a prevalência de sintomas depressivos em três tipos de comunidades diferentes no sul de Taiwan (rural, semi-urbana e urbana) utilizando o GMS-AGECAT e registraram a prevalência de 15,3%. Fatores associados a sintomas depressivos Os resultados da regressão logística deste estudo indicaram uma associação significativa de sintomas depressivos com algumas condições de saúde (ter relatado saúde visual e bucal ruim), apresentar dependência para atividades básicas de vida diária, avaliar sua Discussão - 132 - memória e perceber sua saúde como ruins e apresentar disfunção familiar (moderada ou grave). A associação de sintomas depressivos com o declínio na função visual, segundo Ribeiro et al (2004) e Luiz et al (2009) frequentemente afeta a realização das atividades cotidianas, restringe a participação social e limita o desempenho de atividades que os idosos desejam ou precisam realizar, podendo levar à diminuição da qualidade de vida e à altas taxas de depressão nessa população. Ribeiro et al (2004) destacam que os idosos com comprometimento visual tem mais dificuldades para andar em meio externo, maior risco de quedas, gerando insegurança e dependência para a realização das atividades cotidianas. Outro problema frequente no envelhecimento, porém pouco abordado na literatura, é a saúde bucal. O envelhecimento pode levar à redução da higiene bucal e ao aumento de doenças bucais em idosos. Eventos estressantes, transtornos psicológicos, sintomatologia depressiva ou o próprio lugar onde se vive podem influenciar, direta ou indiretamente a saúde bucal do indivíduo (Kurihara, 2010). Doenças bucais como a cárie e suas conseqüências, especialmente perda dental são freqüentes e tem repercussão na qualidade de vida (Hugo, 2008). Hugo (2008) avaliou a associação de saúde bucal com qualidade de vida e sintomas depressivos, constatando prejuízo nos domínios físicos, psicológicos, e nas relações sociais e ambientais. Esse prejuízo relacionou-se ao edentulismo e dificuldade de mastigação. Seus dados sugerem que saúde bucal, qualidade de vida e sintomas depressivos tem um caráter multidirecional, o que os presentes resultados parecem confirmar. Outros estudos corroboram os achados desta pesquisa no que se refere à associação de sintomas depressivos e dependência para atividades básicas de vida diária (Wada et al, 2004; Mendes-Chiloff et al, 2008; Lima et al, 2009). Embora sejam resultados de Discussão - 133 - um estudo transversal essa importante associação é indicativa do impacto que a limitação funcional pode ter sobre o humor de idosos e vice-versa. Observou-se, nesta pesquisa, associação de sintomas depressivos com pior avaliação da memória, no entanto, verificou-se que perceber a memória como ruim, não foi indicativo da presença de comprometimento cognitivo, segundo a avaliação efetuada. Da alta porcentagem (43%) dos idosos que avaliaram seu desempenho de memória como regular ou ruim, apenas 8,1% pontuaram para comprometimento cognitivo no Mini-Exame do Estado Mental. Alguns autores sugerem que queixas de desempenho de memória, podem estar mais diretamente ligadas a fatores psicológicos como ansiedade, depressão e alta exigência pessoal (Paulo & Yassuda, 2010), o que parece se confirmar no presente estudo. Avaliar a memória negativamente aumentou o risco de apresentar sintomas depressivos 6,82 vezes em relação ao idoso que avaliou positivamente seu desempenho mnemônico (Tabela 25). Perceber a saúde como ruim parece ser um marcador em relação à presença de sintomas depressivos. A auto-avaliação da saúde, por meio de uma única questão, tem sido um indicativo amplamente utilizado em inquéritos populacionais (Ramos, et al, 1993; Barros et al, 2009). Barros et al (2009) referem que a auto-avaliação do indivíduo parece levar em conta a somatória dos sinais e sintomas de doenças (diagnosticadas ou não por profissionais da saúde) e o impacto dessas condições sobre o bem-estar físico, mental e social desse indivíduo. Estudos indicam que a presença de doenças crônicas é um forte determinante para a autopercepção ruim de saúde (Alves & Rodrigues, 2005; Barros et al 2009). A autopercepção de saúde tem sido identificada até como indicador de mortalidade, pessoas que avaliam sua saúde como ruim apresentam maior risco de mortalidade, por todas as causas de morte, em comparação àquelas que relatam ter saúde excelente (Marcellini et al; 2002). A auto-percepção de saúde associa-se com o estado real ou objetivo de saúde das pessoas e pode ser entendido como uma medida objetiva de saúde (Alves & Rodrigues, 2005). Alves & Discussão - 134 - Rodrigues (2005), investigando a auto-percepção de saúde entre homens e mulheres no Estudo SABE 2000, verificaram que homens com quatro ou mais doenças crônicas tem 10,53 vezes mais chance de apresentar percepção ruim de saúde, do que aqueles com menor número de doenças auto-referidas. Também verificaram a associação de pior auto-percepção de saúde com maior dependência para as atividades básicas e instrumentais de vida diária, menor renda e menor escolaridade. Em relação à capacidade funcional, esses autores (Alves & Rodrigues, 2005) identificaram que a medida que aumenta o grau de dependência para as atividades funcionais, aumenta a chance do idoso perceber sua saúde como ruim. Sendo assim, concluem que a capacidade funcional passa a ser um dos principais determinantes da percepção de saúde dos idosos, reafirmando como paradigma de saúde para essa população o resultante entre o equilíbrio entre as várias dimensões da capacidade funcional. Portanto, a variável auto-percepção da saúde parece sintetizar uma avaliação global do estado de saúde do indivíduo a partir da percepção de aspectos objetivos e subjetivos, envolvendo, alem de condições médicas e funcionais específicas, aspectos como estados de humor e rede de relações sociais (Rabelo et al, 2010). Nesse sentido, é possível que as condições de saúde que neste estudo associaram- se significativamente com a presença de sintomas depressivos (condição visual e bucal; incapacidade para as atividades básicas de vida diária e pior avaliação da memória) reflitam-se na auto-percepção da saúde e esta possa representar esse amálgama de percepções e interfira no estado de humor dos indivíduos A associação da percepção da disfuncionalidade familiar e sintomatologia depressiva também parece compor o conjunto de percepções sintetizado na auto-percepção da saúde. Torres et al (2009) discutem a dificuldade da estrutura familiar atual em prover os cuidados com o idoso que se torna dependente e as conseqüências disso na dinâmica familiar e na qualidade de vida do próprio idoso. A presente investigação indica que o idoso que percebe a dificuldade familiar pode apresentar mais frequentemente sintomas depressivos, Discussão - 135 - ressalta-se, porém, que sendo esse um estudo transversal, não se pode identificar a direção dessa influência. Observando-se o resultado da regressão logística que analisou fatores de risco presentes em 2000, que se associaram à presença de sintomas depressivos em 2006, verificase que se mantiveram no modelo ter baixa renda, referir doença pulmonar e avaliar negativamente a memória e a saúde. Rodrigues (1989) relata que a baixa renda dos idosos pode atuar negativamente no desenvolvimento de comportamentos saudáveis no ambiente familiar, dificultar o acesso aos serviços e cuidados de saúde e a recursos materiais. Romero et al (2005) sugerem que possuir baixa renda, além de favorecer a exposição à condições desfavoráveis, pode ter restringido, ao longo da vida, o desenvolvimento de recursos psicológicos para que esses indivíduos lidem com as situações de risco, tornando-os mais vulneráveis a apresentar sintomas depressivos. Lima-Costa et al (2003) identificaram que idosos mais pobres procuram menos os serviços de saúde, tem baixa adesão aos tratamentos e pouco acesso aos medicamentos, o que se reflete diretamente nas condições de saúde do indivíduo. Chong et al (2001), estudando idosos em Taiwan, também observaram que baixa renda frequentemente associa-se a piores condições de saúde, o que pode predispor a sintomas depressivos. Ter referido doenças pulmonares em 2000 associou-se à presença de sintomas depressivos seis anos depois. A literatura da área demonstra a relevância da associação de doenças, as crônicas de forma especial, com sintomas depressivos e depressão. Chong et al (2001) verificaram associação de sintomas depressivos com doença física e observaram um aumento de 3,7 vezes na chance de apresentar sintomas depressivos entre os idosos com essa condição. Em vários outros estudos internacionais foi significativa a associação entre sintomas depressivos e doenças físicas (Blazer e al, 1991; Beekman et al, 1999; Má et al, Discussão - 136 - 2008). Estudos brasileiros que investigaram idosos atendidos em ambulatório de geriatria (Aguiar & Dunninghan, 1993) e idosos na comunidade (Castro-Costa et al, 2008) também verificaram essa associação. É importante marcar que doenças comuns no envelhecimento (doenças metabólicas, pulmonares, cardíacas, osteoarticulares e hipertensão) podem contribuir para o desenvolvimento de depressão, tanto através da própria patogenia quanto através dos efeitos psicológicos e psicossociais decorrentes dessas doenças (Alexopoulos et al, 2002; Duarte et al, 2007). Duarte et al (2007) investigaram a associação entre doenças crônicas e sintomas depressivos em idosos atendidos em ambulatório de geriatria de Salvador (BA), constatando associação positiva entre sintomas depressivos e maior número de doenças crônicas, além de observarem associações específicas com cada uma das doenças crônicas. Neste estudo observou-se 24,6 % de sintomas depressivos entre os indivíduos que referiram doença pulmonar em 2000 (Tabela 27). Gift et al (1993) e Van Manen et al (2002) também verificaram alta prevalência (42%) da sintomatologia depressiva entre os pacientes com DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), Sugerem que a presença de sintomas depressivos nessa população poderia ser uma resposta psicológica desses indivíduos às suas limitações diante das atividades de vida diária, que lhes exigem maiores esforços para superar a condição incapacitante decorrente da doença e para lidarem com a privação social consequente aos sintomas. Entre esses sintomas a presença de dispnéia é dos mais limitantes, sendo utilizada para se determinar a gravidade da doença, interferindo diretamente na qualidade de vida relacionada à saúde (Carvalho et al, 2007). A auto-avaliação negativa da saúde e da memória presentes em 2000, também se associaram significativamente aos sintomas depressivos em 2006. Nessa análise longitudinal, observou-se que outras condições, não associadas aos sintomas depressivos no estudo Discussão - 137 - transversal foram identificadas: doença pulmonar e baixa renda que podem afetar a capacidade funcional e qualidade de vida, mais uma vez sugerindo sua importância para a auto-avaliação de saúde do indivíduo e desenvolvimento de sintomas depressivos. Procurando identificar os fatores de proteção, permaneceram associados a não ter apresentado sintomas depressivos em 2000 e nem em 2006: ser do sexo masculino, não referir doença pulmonar e ter uma avaliação positiva de sua saúde, espelhando uma inversão nos fatores de risco identificados Vários estudos populacionais tem verificado maior freqüência de sintomas depressivos no sexo feminino, (Wurff et al, 2004; Sherina et al, 2005; McDougall et al, 2007; Má et al, 2008) sugerindo maior vulnerabilidade social nas mulheres, pois é comum também para elas, a presença de menores níveis de escolaridade, menor renda, viverem mais sozinhas, serem portadoras de maior número de comorbidades físicas e terem maiores limitações funcionais. Essa descrição é muito semelhante aos dados do presente estudo, o que pode indicar uma condição de vulnerabilidade nessa população. É importante ressaltar que Cerqueira (2003) já tinha apontado essa condição desfavorável para o sexo feminino desde a primeira avaliação do Estudo SABE. Não apresentar doença crônica pulmonar e toda a sintomatologia decorrente, bem como não ter o prejuízo social consequente dessa doença pode explicar a ausência de sintomas depressivos entre essas pessoas, com também referem Van Manen et al (2002) A auto-avaliação positiva da saúde associada com ausência de sintomas depressivos pode estar representando melhores condições de saúde e de vida desses indivíduos. Esse resultado parece corroborar dados de pesquisas anteriores a este estudo que sugerem que a auto-avaliação positiva da saúde é determinada por se ter menor número de doenças, maior autonomia para atividades básicas e instrumentais de vida diária, contar com Discussão - 138 - boa rede social, algumas condições que poderiam representar os aspectos físicos, biológicos e emocionais desejáveis para um envelhecimento ativo (OMS, 2005). Neste estudo constatou-se que dos idosos que não apresentaram sintomas depressivos em nenhuma das avaliações (2000 e 2006), 83% referiram não ter nenhuma doença e a prevalência de sintomas depressivos aumentou conforme o maior número de doenças referidas (Tabela 38). Também foi observado que dentre os idosos que não apresentaram sintomas depressivos, a maioria tinha autonomia para as atividades básicas e instrumentais de vida diária (Tabela 40). Neste sentido, ter uma auto-avaliação positiva da saúde parece corresponder a uma boa condição de saúde e funcionalidade, podendo todas essas condições serem vistas como fatores protetores em relação à ocorrência de sintomas depressivos. Cabe ainda ressaltar que neste estudo não se verificou associação significativa de sintomas depressivos e idade. Muitas outras pesquisas também não são conclusivas em relação a esse aspecto, mas este ainda é um tema controverso e relevante para a área. Em vários estudos foi observada a associação de depressão com o aumento da idade (Chong et al, 2001; Stek et al, 2006). Se por um lado, a velhice é a fase em que os indivíduos estão muito expostos a perdas e eventos adversos, por outro, existem dados demonstrando que, conforme os anos avançam, ocorre um decréscimo ou estabilização nas taxas de ocorrência de sintomas depressivos, podendo haver um pico nas idades mais avançadas. (Beekman et al, 1999; Snowdon, 2002). Também Nguyen et al (2006) estudando a relação da idade e sintomas depressivos, observaram associação entre o aumento da idade com maior número de sintomas somáticos e indisposição física, principalmente nas coortes com mais de 70 anos. A idade, por si só, não aumenta o risco de depressão, no entanto, os efeitos da idade na sintomatologia depressiva podem ser atribuídos aos problemas de saúde e incapacidades frequentes em idosos (Faria et al, 2008). Neste estudo, foi observada situação semelhante: não houve associação dos sintomas depressivos com o aumento da idade, no entanto, houve associação Discussão - 139 - de sintomas depressivos com comorbidades físicas crônicas, comuns no envelhecimento, bem como uso de maior número de medicações e percepção de saúde como ruim. Limitações do estudo O instrumento utilizado para avaliar sintomas depressivos (Escala de Depressão Geriátrica -Sheik & Yesavage, 1986) em idosos no ESTUDO SABE detecta a ocorrência desses sintomas no último mês, limitando a análise de sintomas depressivos ao longo da vida. Portanto, além de se ressaltar essa característica da escala salienta-se novamente o caráter cíclico da depressão e dos sintomas depressivos, onde os idosos podem ter apresentado sintomas depressivos entre os diferentes momentos da aplicação do questionário impedindo que se pudesse fazer com esse desenho do estudo a estimativa da incidência de sintomas depressivos. 7. Conclusões Conclusões - 141 - 7. CONCLUSÕES Os dados obtidos neste estudo corroboram a literatura da área, constatando a alta prevalência de sintomas depressivos entre os idosos. Percebeu-se que existem fatores que favorecem uma condição de vulnerabilidade para idosos apresentarem sintomas depressivos: piores condições de vida (baixa renda), as quais podem implicar em maior dificuldade de acesso a serviços de saúde, menor reserva emocional para enfrentar situações de crise e não ter rede de apoio satisfatória. Também foi marcante a associação de sintomas depressivos a condição de saúde dos idosos: o maior número de morbidades, a percepção negativa de sua saúde e memória e a dependência para as atividades cotidianas e a percepção de disfuncionalidade familiar. Supõe-se que esse conjunto de condições adversas pode gerar sobrecarga para prestação de cuidados a esses idosos, evidenciando a relevância do planejamento e implementação de políticas e programas sociais e de saúde para o atendimento de idosos, uma vez que podem, a maioria delas, ser passíveis de ações que as previnam ou eliminem. 8. Referências Referências - 143 - 8. REFERÊNCIAS Aguiar WM, Dunningham W. 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Dra Ana Teresa de Abreu Ramos Cerqueira, com o tema: Sintomas depressivos em idosos do município de São Paulo: prevalência, incidência e fatores de risco associados. Declaro, ainda, que o projeto da aluna faz parte dos objetivos do projeto original. São Paulo, 10 de junho de 2009 Profa. Dra. Maria Lúcia Lebrão Coordenadora Anexo 2 - 158 -