Os potentados sangrentos de África
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Os potentados sangrentos de África
10 * HISTÓRIA Número 9 - 2ª série | Ano 2 - Fevereiro / Março 2014 Carlos Duarte Os potentados sangrentos de África A história de África é escrita com letras de sangue, morte e destruição, que modelaram nos povos em geral um determinismo fatalista incomparável. Foram muitos os potentados alicerçados no terror e na crueldade. Em Angola, em época anterior à ocupação Portuguesa, os Régulos M’Bangu eh Muzungu e N’Gola Kiluangi kiá Samba -- ambos deram nome a regiões atuais -- movimentando sistematicamente uma máquina de guerra que se nutria de sangue, gado e apreensão de escravos de grupos tribais de menor potencial bélico, tinham por costume, um e outro, se apoiarem a cajados com terminais em aguilhão, que espetavam no coração de escravos prostrados em cada lado de suas Benza (tronos). Assim, sacrificavam diariamente e sem qualquer propósito que não fosse o de demonstrar total desprezo pela vida, tanto adultos ou crianças -eram ecléticos na maldade -- quanto o dobro de vezes que ocupavam ou deixavam o assento régio. Na África do Sul, dois grandes chefes se tornaram notáveis pela crueza com que demonstravam esse mesmo desprezo pela vida humana: Shaka dos Zulus e Mzilikazi dos Matabelês. Em 1453 da Era Cristã, começa a história efetiva da África do Sul, no Cabo de São Vicente, no extremo sudoeste da Europa. Lá, um Príncipe monástico de Portugal, o Infante D.Henrique, “O Navegador”, no Promontório de Sagres, numa época em que o mundo era dominado pelo medo e ignorância, ele olhava além dos limites da Europa, imaginando mundos que aguardavam ser descobertos e salvos. Conhecia os relatos de Marco Pólo e sabia da existência de civilizações no Oriente, mas acreditava que, até que homens brancos da Europa, batizados e professando a fé católica, cristianizassem essas e outras terras, elas e seus habitantes permaneceriam pagãos e inaceitáveis como civilização. Seu objetivo imediato era África, que visitara duas vezes. A primeira aos vinte e um anos, numa grande vitória do exército Português em Celta, e a segunda aos quarenta e três, numa estrondosa derrota em Tanger. Era fascinado pelo Continente Africano, e com os seus estudos sobre navegação acreditava que os seus navios podiam navegar para o sul, ao longo da Costa Ocidental de África, dobrar o Cabo do extremo sul e subir pela Costa Oriental, até às Índias e suas especiarias, China e Japão. Perseguiu este objetivo sem sucesso até à sua morte, em 1460. O ano de 1453 foi marcante para o Infante D.Hen- rique porque, profundamente Cristão, teve conhecimento de que os Muçulmanos -- eternos rivais religiosos dos Cristãos -- haviam atacado e conquistado Constantinopla, fechando as rotas do Mar Vermelho para o rico Oriente. Nunca chegou a ver qualquer mercadoria Oriental; só anos após a sua morte, os navegadores Bartolomeu Dias e Vasco da Gama concretizaram os sonhos do Infante de Sagres, vencendo o primeiro o Cabo das Tormentas ou da Boa Esperança e o segundo chegando às Índias pela Costa Oriental do Continente Africano. O potentado Zulu tem início com o reinado de Shaka, filho de um régulo Senzanga Khoma, de um dos clãs mais fortes dos Zulu, que engravidara Nandi, uma mulher Lengani, que se tornou por isso sua terceira esposa, mas, desagradável e pouco dócil, acabou sendo rejeitada junto com o filho, e voltou para os Lenganis, onde Shaka cresceu acalentando o sonho de se tornar Rei dos Zulu, e expandir o império até nem onde ele tinha ideia; cresceu arrogante e antipático como a mãe, e foi por isso marginalizado pelos outros meninos Langani, mas cresceu forte e se preparando para ser um guerreiro, o melhor entre todos. Shaka era o nome que os Zulu davam a um parasita intestinal; quando Nandi engravidou, de desagradável que era, na tribo diziam que ela não estava grávida, apenas tinha um shaka na barriga. Vindo ao mundo, o parasita shaka, continuou sendo Shaka. Foi com alívio que o rei e a tribo, viram partir Nadia com o seu pequeno parasita. O ano de 1802 foi um ano de seca e fome. O Rio Umfolozi, secou e a fartura que trazia ao vale que o abrigava e às margens, desapareceu. Com a escassez de alimentos o chefe Longani decidiu expulsar do Kraal todas as pessoas indesejáveis, entre as quais se encontravam Nandi e o filho Shaka, de quem ninguém gostava no clã. Exilados partiram para as terras do sul, onde chegaram ao reino de Dingiswayo, o mais importante dos chefes do sul que, ao ver Shaka e N’Xumalo, um xilado voluntário do clã Sixolobo, e o único companheiro de Shaka entre os Langanis, adivinhou neles grandes guerreiros; eram fortes e mostravam destreza no uso das Azagaias. Considerou-os bem vindos ao seu regimento. Nos anos seguintes, Shaka e N’Xumalo ganharam grande experiência em guerras e campanhas que ampliaram o território de Dingiswayo, e Shaka começou a desenvolver técnicas pessoais de Guerra e Teoria de Combate! Discordava dos grandes agregados -- mulheres e crianças -- que acompanhavam o destacamento, denunciando à distância a aproximação, e dando a conhecer aos inimigos a disposição das tropas a todos os momentos, aguardando apenas o momento mais propício para o confronto. Discordava dos rituais que antecediam as batalhas e dos lugares escolhidos -- com encostas suaves, em anfiteatro, para melhor apreciação dos espectadores -- discordava dos arremessos das azagaias à distância, que permitiam a esquiva dos adversários. Discordava dos embates pouco contundentes, quando os dois exércitos estavam já desarmados, e da benevolência do vencedor, capturando apenas algum gado e umas quantas mulheres. Discordava do uso de sandálias de couro de vaca pelos guerreiros, artefato que, no seu entender só tolhia a mobilidade em combate. Achava inclusive as azagaias impróprias para a luta. Preferia o uso de adagas para o corpo a corpo. Shaka treinou com N’Xumalo ataque e defesa, força e destreza, luta corpo a corpo. Quebrou uma lança e encomendou ao forjador da tribo uma arma com o tamanho da metade da lança e o dobro do tamanho de parte cortante: uma Adaga! Em 1815, num confronto banal com os Butelezi, Shaka demonstrou o que e como queria que fosse uma guerra. No ritual inicial em que um ou dois guerreiros se adiantam para trocar insultos, Shaka levantou-se e correu descalço para o adversário. Com o seu escudo enganchado no do outro, expôs-lhe o peito e mergulhou nele a adaga curta. Arremeteu depois para as fileiras de vanguarda dos Butelezi, e junto com ele, todo o regimento Izicwe. Foi um massacre. Dezenas de inimigos mortos e de mulheres capturadas, centenas de cabeças de gado apreendidas. Em 1816 o pai de Shaka, chefe dos Zulu morreu. Shaka removeu o filho destinado à sucessão e assumiu o comando do clã que tinha cerca de 1.300 pessoas e 300 guerreiros. Era um clã inexpressivo, menor que a maioria dos outros clãs, como os Sixolobo e os Lengeni, e que não expandira o seu território nos últimos cem anos. Tão logo assumiu o comando, uma das suas primeiras providências foi mandar os guerreiros jogar fora as azagaias tradicionais substituindo-as por adagas, proibiu o uso de sandálias e treinou as tropas no endurecimento das solas dos pés, fazendo-os dançar sobre espinhos e pedras batendo os pés com força no chão, até que as solas dos pés estivessem mais duras do que couro. Os guerreiros que Número 9 - 2ª série | Ano 2 - Fevereiro / Março 2014 não agüentavam e fraquejavam neste treinamento, eram mortos. Aumentou o tamanho dos escudos quase à altura de um homem, e treinou com os guerreiros defesa e ataque corpo a corpo, com as técnicas que aperfeiçoara com N’Xumalo. Instituiu a técnica de combate “corpo-braços-cabeça”, em que o corpo era a grande concentração de tropas central, e a única que os inimigos podiam ver, os braços eram dois grupos de envolvimento rápido que atacavam pelos flancos, e a cabeça, um regimento que, nos dois primeiros estágios de qualquer batalha -- início com o embate frontal do corpo e o segundo que era o ataque dos braços pelos flancos -- ficava escondido por uma colina e de costas para a luta, sem poderem saber o que se passava na batalha. No momento adequado recebiam a ordem de ataque, que cumpriam sem pensar e sem tentar adequar-se à situação. Velocidade, rapidez na comunicação e acurácia eram os outros trunfos da estratégia de Shaka. Shaka e N’Xumalo formavam uma dupla fantástica; Shaka era um planejador criativo e N’Xumalo um executor implacável. Uma manhã de 1816, Shaka reuniu os seus quatro esquadrões numa formação de quadrado oco. Inflamou os ânimos dos guerreiros com palavras de incentivo, enquanto estes batiam os pés no chão com violência -- a dança que caracterizaria para sempre os Zulu. Cada esquadrão era distinguido por diferentes cores dos panos de cabeça e pelos couros de gado dos escudos. Contra os Langani, Shaka ordenou uma marcha silenciosa. Na manhã seguinte o clã acordou cercado por guerreiros Zulu. Foi a vingança de Shaka contra o clã que expulsara a mãe e a ele anos atrás. Todos os desafetos pessoais foram empalados por estacas de bambu, e depois de horas de sofrimento, queimados ainda vivos. Os chefes apenas tinham o pescoço quebrado, numa morte rápida e sem sofrimento, e no final, Shaka absorveu os regimentos Langani no seu exército. Quando Dingiswayo morreu, numa batalha contra uma tribo do norte, todo o contingente Izicwé se uniu aos Zulu. Shaka se movimentava com uma velocidade devastadora, dominando os pequenos clãs, cujos chefes eliminava e cujas forças militares agregava às suas. A incursão contra os N’Gwane, os apagou do cenário africano como clã. À vista do Corpo de Ataque Zulu, se posicionaram em tosca formação de combate, acreditando tratarse apenas de mais uma investida por gado e mulheres, em que apenas alguns homens sairiam machucados. De repente descobriram com espanto que as alas Zulu estavam abertas, como os chifres de um touro. Os guerreiros Zulu caíram sobre os atordoados inimigos matando, e quando as forças N’Gwane tentaram se reagrupar para resistir, do nada apareceu a cabeça do exército de Shaka, as adagas totalmente sem clemência. Os guerreiros e os velhos foram mortos -- os Zulu nada viam de errado em ajudar a morrer os que eram idosos ou doentes -- as mulheres distribuídas entre os Kraal Zulu, e os meninos recrutados para o exército. Com Shaka no poder, os homens combatiam dos 14 aos 60 anos, e nenhum guerreiro podia casar ou procriar antes de lavar a adaga no sangue de inimigos, e somente por concessão de Shaka, o que acontecia por volta dos 30 anos. Shaka formou um batalhão só de mulheres, que devia seguir na retaguarda para cuidar da comida, reparar as armas danificadas e cuidar dos feridos. A regra básica para estes era: se um Zulu está ferido, fale com ele. Se ele conseguir compreender o que você disse, cure-o, se não mate-o Formou um outro batalhão de idosos, que recebiam apenas meia ração e deviam trabalhar constantemente. Quanto mais rápido morriam, mais se fortalecia a nação Zulu. Em 1832 Shaka já consolidara a maior parte da sua nação, impondo uma ordem e uma disciplina cuidadosamente definidas; através de punições brutais, transformara um amontoado de clãs num reino unificado. Praticava um governo tirânico mas não insano, assegurando ao seu povo suprimentos de água permanentes e fontes estáveis de alimentos. Os resultados benéficos do governo de Shaka eram evidentes. Uma área maior que muitos países europeus e que estivera desorganizada até então, tornara-se coesa e próspera. As centenas de tribos e clãs que viveram até ali na base de cada um por si, se proclamavam agora orgulhosamente de Zulu que era nesta altura uma temida nação de meio milhão de pessoas. A cidadania dentro da nação atingia a todos por igual, antigos ou novos integrantes. Mas Shaka, um misógino sem descendentes, sobrinhos nem filhos que pudessem suceder-lhe, ficou obcecado com a idéia de envelhecer e morrer. Feiticeiros e funantes brancos se aproveitaram desse início de loucura para o explorar com promessas de óleos milagrosos que proporcionavam a imortalidade. O aparecimento dos primeiros cabelos brancos, detonou em Shaka um processo de loucura irreversível; a morte da mãe, desencadeou uma onda de crueldade e perseguições terríveis, que abalaram toda a estrutura ZULU. Começou por ordenar a morte de todas as mulheres a serviço de Nandi, a “mulher elefante”, que com ela compartilharam a tumba, e que, quase todas, eram mulheres de alguns dos seus melhores e mais confiáveis generais. A mortalidade gratuita espalhou-se pelo reino; qualquer pessoa, por rir, espirrar, tossir, se coçar, HISTÓRIA * 11 sentar, dormir, amamentar ou mesmo comer e beber, podia ser decapitado, acusado de não demonstrar pesar pela morte da mãe de Shaka. Turbas frenéticas e assassinas corriam por todo o reino, para ver se alguém deixava de honrar Nandi. Os últimos meses de 1827 ficaram conhecidos entre os Zulu, como o tempo das trevas de Shaka. Relatos feitos por Henry Francis Fynn, que visitou Shaka nessa altura, falam de milhares de mortes e de aldeias completamente arrasadas e incendiadas. Em estado de loucura total, buscando uma explicação para o fenômeno da vida, Shaka pessoalmente abriu com a sua adaga, o ventre de todas as mulheres grávidas, em qualquer estágio, do seu Kraal. Insatisfeito com a falta de uma resposta conclusiva, mandava buscar as gestantes de todos os outros Kraals, para o mesmo sacrifício. Maridos, pais, filhos e sobrinhos que demonstrassem qualquer insatisfação ou contrariedade por mulher morta, eram empalados em estacas de bambu, como traidores, para uma morte lenta e dolorosa. Para os rituais de luto nacional, por um ano, nenhum homem podia tocar numa mulher -- mulher que aparecesse grávida era morta junto com o filho, depois de revelar o nome do traidor, que era empalado -- ninguém podia beber leite, nenhuma cultura podia ser plantada. Um regimento de doze mil homens guardava dia e noite a sepultura. Gado, o gado que Shaka tanto prezava, era sacrificado às centenas de cabeças, apenas para que os mugidos de dor fossem escutados e para que até os animais soubessem o que é sofrer. Um adivinho disse a Shaka que a mãe morrera porque um gato atravessou o caminho dela. Todos os gatos e donos de gatos foram sacrificados. Com o caos instituído no reino, M’Kabay -- Gata Selvagem -- irmã do pai de Shaka e de dois meio irmãos dele, Dingane e M’Halangana, junto com alguns comandantes militares, conspiraram e planejaram o assassinato do grande chefe Zulu. No dia 22 de Setembro de 1828, vários conspiradores se reuniram, foram ao Kraal de Shaka, e sem que este pudesse esboçar um gesto de defesa, lhe espetaram fundo e por diversas vezes as mortais azagaias. Terminava assim o homem que criou a Nação Zulu. O reino de M’Zilikazi, dos Matebelê -- os fugitivos -- outro potentado sangrento -- certamente mais sangrento que o Zulu, era em tudo diferente dos rivais. Formado por clãs fugidos aos exércitos de Shaka, e chefiados por M’Zilikazi, um rei auto proclamado, foram para o norte, onde fundaram uma nação poderosa e rica. M’Zilikazi era o inverso de Shaka. O rei Zulu era alto, forte, autoritário, dominante, soberbo. O rei Matabelê era baixo, gordo, gentil, cordato, sorridente e convincente, jamais autoritário. Mas, no seu movimento migratório mais para o norte, afastando-se quanto possível dos confrontos com os Zulu, os Matebelê praticaram a política da terra arrasada. Por onde passava a horde de M’Zilikazi, tudo o que não pudesse ser levado ou aproveitado, era destruído: milhares de vidas humanas, aldeias inteiras, manadas completas de animais selvagens eram massacrados, plantas arrancadas e árvores queimadas. Por dezenas de quilômetros só deixavam destruição 12 * HISTÓRIA e morte, restos de cinzas e cadáveres humanos e de animais insepultos, apodrecendo ao sol africano até que apenas restassem as ossadas. Os massacres brutais e indiscriminados não transformaram M’Zilikazi pessoalmente. Um jovem clérigo Inglês, Hilary Saltwood, que foi para a Missão em Golan, em 1829, tornou-se amigo de M’Zilikazi Mas não se deve supor que M’Zilikazi e Shaka foram os únicos responsáveis por todas as mortes no M’Fekane -- movimento migratório. Em muitos casos eles simplesmente iniciavam o movimento de pessoas, ocorrendo o extermínio final das tribos menores a grande distância da Zululândia. Foi a teoria do dominó. Zulus em expansão foram para o sul e perturbaram os Kwabe, que foram mais para o sul e afetaram os Tembu, que se moveram para deslocar os Tuli, que usurparam terras dos Pondu, que pressionaram os Fingo, que avançaram contra os T’Xoza. Nesse momento da história, os Trekboers em busca de terras, começaram a invadir o território de pastagens dos T’Xoza que, pressionados entre duas forças, revidaram atacando os Kraals Boers. Os Sotho consolidaram o seu reino nas montanhas, inicialmente conhecido como Basutolândia, e depois como Lesoto. Os Swazi fixaram-se no reino conhecido como Swazilândia. Várias tribos foram para Moçambique. Ainda hoje, o efeito do M’Fekane é um dos estopins das rivalidades tribais na África do Sul. Era uma época de crueldade sanguinária, e não apenas por parte dos grupos tribais.Em 1502, quando Vasco da gama foi contrariado pelas autoridades de Calicute, massacrou quatro dezenas de inofensivos pescadores indianos que se encontravam num barco, mandou esquartejar os cadáveres e colocar os pedaços no barco à deriva, para que fosse dar à costa indiana, com a recomendação de que fossem fervidos ao molho curry. Antes do século XVII os Holandeses da Companhia das Índias Orientais resolveram estabelecer uma estação de reabastecimento no caminho para a Índia, na Província do Cabo. Com a chegada de famílias camponesas da Holanda, ali nasceu o embrião da Colônia do Cabo, e uma nova espécie de africanos, de origem européia, os Bôers. O contato com o nativo deu lugar ao habitual e inevitável conflito de culturas. Em 1806 a Grã Bretanha invade a África do Sul, e muitos Holandeses -- Bôers -- por isso e também atraídos por melhores pastagens, migram para o norte e fundaram duas repúblicas: Orange e Transvaal. Descobrem diamantes em 1867 e ouro em 1886. Em 1899, fortalecidos e ainda indignados pela invasão inglesa, os Bôers iniciam a guerra Anglo-Bôer, que a Inglaterra acabou vencendo em 1902. Em 1910 a Inglaterra cria a União Sul Africana, incorporando as Colônias do Cabo, Natal, Transvaal e Orange. Em 1961, através de plebiscito o país passa de União a República, e retira-se da Comunidade Britânica. Número 9 - 2ª série Depois da eleição do Partido Nacional em 1968, a política do “apartheid” -- separação de raças, com áreas restritas às raças não brancas (colored) -- torna-se oficial; só os brancos votavam e concorriam a cargos políticos. As concessões a grupos não brancos começam a acontecer. Dada a numerosa colônia de indianos, um conselho consultivo de indianos é formado e parcialmente nomeado. Os japoneses, com o aumento da influência financeira e tecnológica, passam a ser considerados brancos -- not colored. Em 1969, com muita polêmica é criado um conselho representativo dos mestiços.. Em 1959 o governo branco aprovara uma legislação especial requerendo o estabelecimento de várias nações Banto, os “Bantustões”, contra a vontade da maioria dos líderes dos movimentos negros. O primeiro desses bantustões foi estabelecido em 1963, o Transkey, em fase de auto determinação econômica e política, tornando-se independente em 1976. Em 1977 foi a vez do Bophuthazwana e do Ciskey, em 1979 o Wenda; mas internacionalmente nenhum desses estados foi reconhecido. Nas décadas de 70 e 80, começaram interna e externamente violentos protestos contra a política do apartheid. Em 1983, por plebiscito, uma nova Carta Constitucional foi aprovada, dando o direito de voto a mestiços e indianos. Leis proibindo o sexo e casamento inter raciais foram revogadas em 1985. Independentemente das mudanças e concessões políticas, continua a perseguição e violência tribal, principalmente os grupos políticos rivais negros; a ANC e o INTAKA. A ANC, Congresso Nacional Africano, o movimento dos Zulu, presidido por Nelson Mandela ( preso pelos brancos durante 26 anos e 6 meses, de Agosto de 1962 a Dezembro de 1990 ) e o INTAKA, o movimento Tchoza – sedimentado em trabalhismo. Após as duas grandes guerras mundiais, e estando a Holanda entre os perdedores, a Inglaterra se viu, por partilha mundial entre os vencedores, dona da Colônia do Cabo. As novas autoridades coloniais se revelaram contrárias aos Bõers, com as suas pretenções de abolição de escravatura e os seus princípios de igualdade perante a lei, para todos os súditos do império, brancos ou não. Uma migração em massa, chamada de Grande Treck, leva os Bôers sempre mais para o norte, na tentativa de escapar do governo da colônia, para os territórios de Natal. Ali, através de drásticos combates, teve lugar o encontro dos Bôers com os Zulu. A Zululândia não era grande, mas havia alguns | Ano 2 - Fevereiro / Março 2014 decênios tinha se desenvolvido como estado rigidamente organizado e com forte poder militar. Como se falou atrás, todos os habitantes do sexo masculino eram militares, dos 14 aos 60 anos. Divididos em IMPI -- Regimentos -- diferenciados pelas cores dos escudos, obedeciam às ordens dos INDUMA -- Generais. Usavam como arma o Assegai -lança curta de ponta comprida e cortante nos dois gumes, como uma adaga -- própria para o combate corpo a corpo. As táticas, organização militar e empenho em combate, por parte dos Zulu, que desprezavam as próprias baixas, não davam chance aos inimigos. Somente os Bôers, entrincheirando-se por trás dos Laager -- cerco formado pelos seus pesados carros de bois -- encontraram antídoto contra essa tática. E, 1879, depois de muitos e terríveis combates, a Zululândia estava limitada ao norte pelos Bôers do Transvaal, e ao sul pela Colônia do Natal, sobre a qual os ingleses tinham estendido a sua jurisdição. Os Zulu eram avessos até a contatos comerciais, todos os temiam pela tenacidade e inclemência. O Chefe Zulu Chetswayo, sentava-se num trono que havia conquistado ao preço de mais de 20.000 mortes entre os defensores de outros pretendentes. Os Zulu não faziam prisioneiros; rasgavam com as Assagai o ventre de todos os inimigos, por temerem que os espíritos malignos se aninhassem nos corpos dos mortos. Tinham uma máquina de guerra constante, de 40.000 homens. Por estes motivos, os Zulu constituíram uma ameaça tão notável para os ingleses, que nunca antes no vasto império que chegaram a dominar, e onde o “sol nunca se punha”, haviam encontrado tanta belicosidade e bravura. Mandaram um ultimato a Chetswayo, para dissolver o exército, mas nem resposta teve. Em 1879 um grupo de expedicionários Inglês, transpôs a fronteira entre Natal e a Zululândia, determinada pelo Rio Bufallo. A 1ª expedição, sob as ordens do Comandante em Chefe Lorde Chelmford, dividiu-se em colunas, com o objetivo de atrair a atenção de todo o exército Zulu, e impedi-lo de efetuar o ataque a Natal. Lorde Chelmsford entrou na Zululândia pelo Rorke’s Drift, e com as tropas divididas teve um primeiro contato com os Zulu, após o que, estabeleceu um campo aos pés do Pico Isandhlwana, deixando alguma tropa como guarda das viaturas e material pesado, saindo em seguida em perseguição dos Zulu. Mas o exército de Chetswayo já estava em marcha contra os ingleses também, e os braços da tenaz Zulu se fecharam de forma inclemente sobre a tropa inglesa, vencendo toda a resistência e deixando por terra 1.329 mortos. A campanha terminaria meses mais tarde, com a vitória dos ingleses em Ulundi, centro de comando e resistência dos Zulu, com um ataque arrasador, em que pereceu também Chetswayo, o último grande chefe dos Zulu.
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