Editorial - Museu Quinta das Cruzes

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Editorial - Museu Quinta das Cruzes
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18 de Maio de 2016
Editorial
A 18 de maio de 2016 comemora-se mais um Dia
Internacional dos Museus, este ano dedicado ao
tema “Museus e Paisagens Culturais”.
Esta iniciativa alargada a todos os museus da europa e do mundo, com o patrocínio do ICOM, Conselho Internacional dos Museus, permite sensibilizar as comunidades internacionais, nacionais e
regionais para o debate e a reflexão contínua sobre
a importância da instituição e função museal, ela
própria depositária de testemunhos, de representações e de vivências do nosso passado que em confronto com o novo olhar daqueles que hoje as
observam, as interpretam e as reinventam, tornamse memórias vivas, perpetuando assim o seu sentido cultural identitário
A paisagem cultural integra-se, naturalmente, neste
conjunto de testemunhos museológicos que nos
transmitem emoções, conhecimentos e que nos
transportam para memórias de um Lugar. Os Museus são reservas dessas memórias.
Foi este o espírito do romantismo bem presente
nos viajantes estrangeiros do século XIX, sobretudo de origem inglesa, que percorreram a Ilha da
Madeira, à procura da natureza, do sentido do belo
e de lugares singulares.
O conceito de paisagem pode resultar de uma ideia,
de uma composição reinventada de um espaço,
onde um conjunto de elementos visíveis se constroem e se organizam tendo por objetivo o sentido
de equilíbrio e de agradar esteticamente. Nesse
‘quadro’ é manifesta a presença do autor, de quem
olha e sente a paisagem.
As paisagens que outrora foram vividas, sentidas e
captadas por outros, sobretudo a partir do olhar de
quem nos visita e que regista, ainda que numa perspetiva romântica e pitoresca, a emoção do momento, a sua visão, o seu tempo, tornam-se reais, fazem
parte do nosso passado mas também do nosso
presente, da nossa imagem e identidade cultural.
Os apontamentos de viagem, transpostos para os
desenhos, gravuras e pinturas, do século XIX, sobre temáticas rurais e urbanas da Ilha da Madeira,
posteriormente editados em álbuns, fazem parte
integrante do espólio de alguns museus da região,
nomeadamente a Casa-Museu Frederico de Freitas
e o Museu Quinta das Cruzes, e constituindo-se
como um núcleo fundamental para entendermos e
investigarmos aspetos fundamentais da nossa história, através da organização do território, do nosso
quotidiano, da representação da paisagem natural
e/ou construída.
Estes testemunhos têm por isso uma dupla importância e funcionalidade: a de obra de arte, de natu-
reza estética e artística, e a de documento histórico
e iconográfico, recorrentemente solicitados pelos
investigadores, para o estudo e compreensão da
história insular.
Por outro lado, o Museu enquanto equipamento
urbano, estrutura física, construída, histórica, protagoniza uma realidade cultural dinâmica, distintiva
do lugar e da paisagem onde se insere, e deve contribuir ativamente para a sua proteção e valorização.
A forma apaixonada com que olhamos por vezes a
‘naturalidade’ da paisagem de outros tempos, deve
ser entendida e contextualizada num plano mais
vasto do território, no tempo e no espaço, que ultrapassa a nossa própria perceção da natureza e da
realidade à nossa volta, onde o meio ambiente e a
sua sustentabilidade, a ecologia, o urbanismo e a
arquitetura se integram ou não de forma sustentada
e e/ou se confrontam simultaneamente.
É neste duplo sentido que hoje devemos olhar para
este tema recolocando no presente o diálogo com o
passado e com a nossa história, no sentido de sermos hoje cidadãos mais atentos e mais interventivos na defesa da paisagem cultural que nos distingue e nos diferencia de outros povos.
Nesta edição importa referenciar as iniciativas que
se desenvolvem no âmbito deste Dia comemorativo
e que se relacionam diretamente com o tema proposto, nomeadamente a abertura ao público da
exposição temporária “A Paisagem na obra de Emily
Geneviève Smith”, as visitas guiadas para o público em
geral sobre a perspetiva do “Olhar do viajante na representação da paisagem insular” e a atividade educativa
As paisagens contam histórias, destinadas aos alunos do
3º ciclo de escolaridade.
Neste exemplar divulgamos ainda um conjunto de
iniciativas que ocorreram em 2015, entre as quais se
destaca um estudo estatístico detalhado sobre o
Serviço Educativo e os seus públicos, a notícia, em
forma de homenagem pública, da doação à Região
do espólio do cineasta Jorge Brum do Canto, generosamente cedida pelo seu sobrinho Dr. Nuno
Alves Caetano.
Por fim, merece particular destaque dois artigos ”O
Repertório do Orquestrofone – Música com História”, no
âmbito de um trabalho de investigação em curso, da
autoria de Vítor Sardinha e um texto de referência
sobre a importância estratégica do projeto MATRIZ 3.0 / MATRIZ WEB, em curso, e que abrange os Museus sob a tutela da DRC /SRETC, da
autoria da Dr.ª Teresa Campos, museóloga e formadora especialista da Rede Portuguesa de Museus
para esta área.
Teresa Pais (Diretora do Museu)
Índice
Editorial
1
“A Paisagem na obra de 2
Emily Geneviève
Smith”
O Repertório do
Orquestrofone |
Música com História
3
Matriz 3.0. | Inventário, 7
Gestão e Divulgação
Online do Património
Serviços Educativos
2015
8
Serviços Educativos
2015 em números
10
Noite e Dia dos Museus 11
2015
Doação Dr. Nuno Alves 12
Caetano | Espólio Jorge
Brum do Canto
Programação
Dia Internacional dos
Museus 2016
14
Programação
Noite Europeia dos
Museus 2016
15
“A Paisagem na obra de Emily Geneviève Smith”
Por ocasião da comemoração do Dia Internacional
dos Museus, o Museu Quinta das Cruzes, apresenta a
Exposição Temporária, “A Paisagem na obra de Emily Geneviève Smith”. Trata-se de um conjunto de 26
desenhos e aguarelas que ilustram a obra do álbum
“Sketches by Emily Geneviève Smith”.
Emily Geneviève Smith (Paris, 1817 – Londres, 1877)
foi a terceira filha da família Hanson Simpson, nascida a 31 de Agosto de 1817, em Paris. Casou a 25 de
Fevereiro de 1836 com o reverendo Reginald
Southwell Smith, reitor da paróquia de West Stafford
e tiveram 12 filhos.
Cerca de 1840, a saúde do reverendo encontrava-se
debilitada, apresentando sinais de uma tuberculose
avançada. Tal como outros doentes, os Smith rumaram para a localidade de Ventnor, na Ilha de Wight,
indicada para fins terapêuticos; no entanto poucas
foram as melhoras apresentadas pelo paciente o que
levou a família a viajar até à Madeira.
No ano seguinte, a 1 de Outubro, partiram de Portsmouth a bordo do brigue Dart com destino à Ilha da
Madeira, onde aportaram passados quinze dias. Com
o reverendo e Emily seguiram também os seus filhos
(três à data), duas empregadas e os bens necessários à
sua estada prolongada na Ilha.
Os Smith viveram na Madeira durante dois anos, período durante o qual a saúde do reverendo melhorou.
Quando regressaram a Inglaterra, no Outono de
1843, levaram consigo mais uma filha, Harriet, nascida em Março desse ano.
Ao longo da sua vida, Emily Smith manteve um fiel
registo de acontecimentos nos seus diários, que pontualmente ilustrava com desenhos e esboços. Infelizmente, apenas os diários relativos aos anos de 1836,
1841, 1852, 1858 e 1866 chegaram até nós.
Em relação ao único ano dos diários que abarca a sua
permanência na Madeira, 1841, é curioso destacar que
Emily nele regista dois desenhos, que estão incluídos
no seu álbum de Sketches: uma vista da Quinta da
Nora e uma vista do Curral das Freiras, efetuado durante uma excursão ao interior da Ilha.
Ravine of São Jorge / Madeira
Emily Geneviève Smith. 1842
MQC 1084.51
Desenhadora e aguarelista dotada, Emily fixou em
apontamentos a sua vida durante a estadia na Ilha: a
casa onde a família Smith residiu no Funchal (Quinta
da Nora), as relações sociais estabelecidas com outras
famílias inglesas aqui residentes, os acontecimentos
vividos (como o naufrágio do brigue Dart, em 1842),
as diversas expedições realizadas na Ilha, o contacto
com as gentes locais; mas acima de tudo, Emily Smith
capta nos seus desenhos a Madeira de meados de
Oitocentos vista através de um olhar estrangeiro, uma
terra de dramáticas paisagens e habitantes pitorescos,
que ilustram o sentimento romântico que impera nos
seus sketches.
Sketch of Government House/Funchal
Emily Geneviève Smith. 1842
MQC 1084.22
Quinta da Nora. Funchal. Madeira
Emily Geneviève Smith. 1842
MQC 1084.68
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Emily Smith morre a 27 de Abril de 1877 e nas suas
últimas palavras resume-se a vivência de uma mulher
vitoriana, marcada por uma profunda religiosidade e
sensibilidade, “My life had been a laborious one, but
it has been very happy (…) Surely goodness and mercy have followed me all the days of my life, and I will
dwell in the house of the Lord for ever.”.
O Repertório do Orquestrofone |Música com História
O Orquestrofone do Museu Quinta das Cruzes é um
instrumento musical mecânico. Fruto do avanço de
técnicas e tecnologias do final do séc. XIX, surgiu
como resposta emergente da indústria musical, à
grande procura de animação para toda a gente. A
Belle Époque, esse período descomprometido dos
assuntos sérios, virado para a sedução e o puro prazer
de bem viver, foi terreno fértil para o seu sucesso
comercial. Mas, seria na grande exposição de Paris de
1900, que a Fábrica Limonaires Frères se colocou na
vanguarda dessa demanda.
Orquestrofone
Fab. Limonaire Frères, n.º de série 3151 / França, 1900
MQC 1977
Os Orchestrophones e os Orchestrions, com mais
registos musicais os segundos, tocavam a música que
toda a gente conhecia, numa nova aplicação de leitura, os cartões musicais perfurados. Estes, ao contrário
dos cilindros utilizados nos instrumentos mecânicos
anteriores, permitiam um infindável repertório. Das
danças às aberturas de óperas, das marchas militares
aos hinos e canções patrióticas, das cançonetas de
café-concerto às árias do belo canto, doravante, este
colorido sonoro estaria disponível, dispensando a
presença de músicos ou de uma orquestra. A música
tocada nesta máquina-instrumento passou a ter presença um pouco por toda a Europa, nos parques das
cidades, nas feiras, nos circos, nas salas de baile, levando animação a terras pequenas e distantes dos
grandes centros urbanos.
A qualidade dos instrumentos da Limonaire Frères,
em particular o seu design, a utilização de materiais
nobres e qualidade musical sonora, levaram também
muitos particulares abonados a adquiri-los instalandoos em palácios, villas ou em quintas como foi o caso
de João José Rodrigues Leitão - Visconde de Cacongo. Foi pela mão do Visconde de Cacongo, célebre
personalidade da elite funchalense do séc. XIX, que o
Orquestrofone-3151, o seu número de registo, seria
comprado a 23 de Agosto de 1900, durante a Exposição Universal de Paris e trazido para a Madeira. Instalado no jardim da Quinta da Mãe dos Homens, propriedade do Visconde de Cacongo sobranceira à cidade do Funchal, o Orquestrofone foi presença notada
não apenas pelos convidados das muitas recepções e
festas dadas na quinta, mas também por todos quantos à distância o podiam ouvir.
O seu espectro sonoro, equivalente ao ouvido, a uma
banda de sopros, não deixava ninguém indiferente.
Um olhar mais atento ao repertório disponível, traznos um retrato sociocultural da época: a música de
baile, a música de ambiente e a música temática, que
pelo seu carácter incluía hinos patrióticos, canções de
exaltação nacional e marchas militares. No registo do
repertório original, manuscrito, o Visconde de Cacongo atribuiu uma ordem e sequência, à medida que
recebia de França, os cartões musicais com os temas
por ele solicitados, da lista disponibilizada pela Casa
Limonaires Frères. Para além de construir e reparar
instrumentos, a Limonaires Frères tinha uma secção
de edições musicais, providenciando esta um catálogo
periódico com as últimas novidades. Este era depois
enviado para todos os potenciais compradores, um
pouco por toda Europa e Estados Unidos da América. No caso do Orquestrofone instalado na Quinta da
Mãe dos Homens, uma primeira lista de cartões musicais seguiu no acto de compra do instrumento a 23 de
Agosto de 1900. O restante foi adquirido por encomenda, estando registada a última expedição para a
Madeira a 26 de Janeiro de 1915. Nem todos os temas do repertório original chegaram aos nossos dias
(actualmente dispomos de 160 cartões).
O repertório de Baile
O musicólogo Ernesto Vieira descreveu as características mais importantes de algumas danças deste período no seu «Diccionario Musical: ornado com gravuras e exemplos de música». 2.ª ed. Lisboa: Lambertini
(1899). Comecemos pela Valsa: «Este nome deriva do
verbo alemão walzen, girar. Na sua forma primitiva, a
valsa é uma dança campestre usada na Alemanha do
Sul, caracterizada por um movimento gracioso, moderado, em compasso ternário, muito semelhante à
tyroleza.» A Polka foi outra das novidades: «Dança
originária da Bohemia, que se vulgarizou extraordinariamente na Europa desde 1840. Foi neste ano que a
polka apareceu pela primeira vez em Paris […]. A
moda apoderou-se então dela furiosamente e transportou-a para os salões onde foi por alguns anos a
dança favorita.». Outra das danças mais em voga no
final do séc. XIX, foi a Quadrilha. Uma das suas características fundamentais era ser composta em cinco
números de música, todos no compasso binário.
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O Repertório do Orquestrofone |Música com História
Segundo Ernesto Vieira, «cada número consta de dois
ou três períodos e repete-se quatro vezes, excepto o
n.º 5, que se executa oito vezes.» A Quadrilha, teve
origem na contradança, derivando essa expressão do
inglês “country danse’’. Surgiria ainda no séc. XIX o
Galope. Também executado no compasso binário
simples, o seu andamento era muito vivo, sendo geralmente utilizado para finalizar um ‘’set’’ (sequência)
de música de baile. No princípio do séc. XX, novos
ritmos ou géneros musicais, seriam utilizados em
novos movimentos de dança. O Machiche, brasileiro,
o Two Step, americano, entre outros, entrariam no
novo léxico e na prática dos grandes salões de baile.
O ritmo envolvente possibilitava a dança a ‘’dois’’.
Alicerçados em coreografia mais intimista e provocante, viriam a desafiar o pudor e as etiquetas das
outras danças europeias. Estes, e outros ritmos emergentes, como o Fox-Trot, ganhariam cada vez mais
praticantes. Quebrava-se finalmente a distância física
entre os pares, colocando um ponto final na prática e
preferência pelas danças colectivas. Doravante, seriam precisas duas pessoas apenas para executar as
coreografias. São desta altura as escolas e academias
de dança de salão, vocacionadas para os amadores
que experimentavam e aprendiam os passos correctos
para cada estilo. As escolas anunciavam as aulas em
panfletos ou jornais da época, inclusivamente na cidade do Funchal, do princípio do séc. XX.
Como exemplo musical, sugerimos nesta abordagem
os sucessos da noite parisiense «Santiago» valsa de
Albert Corbain (18.-1893), «Caroline» polka de Vincent Scotto (1876-1952) de 1909, «Tu ne Sauras» Jamais Valsa de Joseph Rico de 1910 ou «La Souris
Noir» polka de R. Desmoulins e F.L. Bénech 1912.
Os quatro temas foram editados em partitura (piano e
voz), gravados em disco, tocados e arranjados para
vários tipos de formação instrumental e apresentados
em diferentes espaços de música ao vivo, inseridos
no repertório dos mais importantes artistas do princípio do séc. XX. Os grandes sucessos, o caso dos temas anteriores referidos, eram depois compaginados
nestes instrumentos mecânicos, em rearranjos conforme o número de vozes, dos orquestrofones ou
‘’orchestrions’’, nos cartões musicais perfurados e
postos a tocar em toda a parte. A música que todos
conheciam, mas que apenas alguns tinham o privilégio de escutar, tocadas e cantadas nos mais charmosos e elitistas café-concerto de Paris massificava-se
por fim. Já estava no domínio da rua, da praça, da
feira ou circo, dos pequenos e distantes lugares, sem
condição socioeconómica e cultural. Também já era
possível servir a música, em casa de gente abastada,
como foi o caso do Orquestrofone – 3151, companhia indispensável da família de João José Rodrigues
Leitão, o Visconde de Cacongo.
O actual repertório de baile do Orquestrofone (do
Museu da Quinta das Cruzes), inclui 79 títulos, divididos por, valsa, quadrilha, mazurca, polka, polkamarcha, scottish, galope, two-step, habanera e machiche.
O Repertório de Música Ambiente
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Seleccionámos do repertório disponível 52 títulos,
aos quais por uma questão de organização musical,
sobretudo de escuta ativa, designamos por música
ambiente. Nestes encontram-se aberturas de óperas e
operetas famosas, zarzuela, fantasias, versões instrumentais de árias de ópera, algumas marchas, cançonetas de teatro musical francês e fado. Alguns dos artifícios publicitários associados a estas máquinas sonoras
do séc. XIX, referiam o facto de ser possível ouvir
famosos trechos de música sem a presença física de
músicos ou orquestras. Podemos confirmar, do ponto de vista das vendas (pelos números de equipamentos congéneres fabricados e vendidos pelas casas da
especialidade, francesas, belgas, holandesas e alemães)
que um dos pontos fortes da procura era, sem margem para dúvida, a escuta musical, a fruição ao ar
livre nas praças e feiras, de selecções musicais com
este tipo de características, ao nível dos géneros e
estilos. Da lista dos compositores deste repertório,
fazem parte nomes como: Franz von Suppé, Giuseppe Verdi, Charles Gounod, Donizetti, Georges Bizet,
Vicenzo Bellini, Gioachino Rossini, Franz Lehár ou
Smetana.
O Repertório do Orquestrofone |Música com História
Espanha e na França do final do séc. XIX: «La Gran
Via» Zarzuela de Federico Chueca (1846 – 1908)
1886, «Marcha Cádiz» marcha (Zarzuela em um acto)
de Federico Chueca y Valverde (1886) e «Los Voluntários» marcha da zarzuela de Gerónimo Giménez y
Bellido (1852 1923) 1893.
O leque de escolhas como se pode constatar é bastante variado. Infelizmente nem todos os cartões
musicais existentes na actualidade, estão nas melhores
condições de conservação, afectando a leitura e a
consequente audição musical. Atente-se ainda ao
facto da sua longevidade e também como podemos
imaginar, da sua repetida utilização ao longo de anos.
As melodias mais conhecidas eram rearranjadas por
orquestradores contratados, neste caso pela Casa
Limonaires Frères, reduzindo a partitura musical original aos registos de cada um destes instrumentos
mecânicos. O resultado final, longe de ser perfeito,
aproximava o público e era o mais musical possível.
Interessante o facto de também ser possível ouvir
Fado, neste orquestrofone. Salientamos três exemplos incluídos nesta colecção: «Fado II» fado da
«Coleção de Fados» de Alexandre Rey Colaço 1887,
«A Triste Canção do Sul» fado de Alberto Pimentel
(1849-1925) 1904 e «Fado Liró» fado de Nicolino
Milano (1876-1962) 1908. Nas canções ligeiras, a
preferência foi para a expressão francesa como as
seguintes: «Ma Petite Bretonne» canção de Louis Bénech e Désiré Berniaux, 1907, «Rose des Bois» Canção popular francesa, «La Petite Tonkinoise» cançoneta de Vincent Scotto (1898) 1905, «La Tirelire»
canção de Maxime Guitton (18.- 1940) 1909, «Ah! Ma
Petite Lili» canção de L.Roydel/Christiné, «Au Revoir
et Merci» canção marcha (Edouard Jouve / Vylé,
Plébus) 1906, «Caroline» canção de Vincent Scotto
(1876-1952) 1909, «La jambe en Bois» cançoneta de
Émile Spencer 1908, «Promenade en Mer» canção
sentimental de Xavier Privas1906 ou «Petit Trottin»
canção de Charles de Bucovich 1910.
O Repertório de Música Temática
Designamos deste modo os temas musicais que incluem hinos patrióticos, hinos de homenagem, cantos
nacionais e ainda as marchas marciais ou militares.
Esta música temática, reflexo dos contextos nacionalistas, monárquicos e também republicanos, foram na
sua expressão sonora uma marca indelével da Europa
das nações, mas também dos conflitos e guerras. A
memória da história através das canções nacionalistas,
dos hinos e das marchas militares teve reflexo também neste instrumento.
De um vasto acervo disponível, o Visconde de Cacongo escolheu e encomendou as músicas que lhe
diziam alguma coisa, do ponto de vista das suas ideias
e vivências políticas, militares e de conhecimento do
mundo do seu tempo. Constituímos esta secção de
interesse com 24 títulos.
Para finalizar este segmento uma breve atenção para
3 zarzuelas de grande sucesso em apresentações na
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O Repertório do Orquestrofone |Música com História
A nossa primeira atenção vai para os hinos: Hino de
Portugal (Hino da Carta constitucional), «Hymno a
S.M. D. Amélia» Hino de Ermelinda Leite Monteiro
Camacho 1901, A Portuguesa (Hino Nacional actual), Hino da Madeira (1905) de autor desconhecido e
Hino (assim designado pelo Visconde de Cacongo, e
que nós nos referimos como «Hino do Visconde de
Cacongo», do compositor madeirense Filipe Fernandes Madeira 1901. Integram este painel, de França a
«Marselhesa» – (Hino nacional francês), «Le Regiment de Sambre et Meuse» Hino e marcha militar
francesa a partir de um romance de Robert Planquette/Paul Cezano 1872 (cantada também como hino de
vitória sobre a Alemanha, em 1918) com música de
P. Rauski, «Le Régiment que Passe» marcha de Louie
Lapie e Jules Baldran 1885, «Regiment en marche»
marcha/ canção de Paul Lincke 1900, «Défile de la
Garde» marcha de Gustave Wettge 1890, «Mes
Adieux au 63» marcha e canção patriótica «pas redoublé pour défiler» Binot c.1900 e «Les Compiégnois»
polka-marcha militar E. Leblan.
Também as canções patrióticas francesas «Marche
Lorraine» (canção patriótica e marcha) de Louis
Ganne (1862-1923) 1892, «Soldats de France» (canção/marcha) de Albert Grimaldi (18.-19.)
1915 e «Tananarive» (canção patriótica e marcha militar) de Jehan Conrad, adaptação de ‘‘Auprès de ma
Blonde’’ 1895. Integram ainda a lista a música Americana «The Washington Post» marcha/Two Step de
John Philip Sousa 1889, as britânicas «The Soldiers of
the Queen» hino patriótico de Leslie Stuart (18631928) C. 1890, «Soldiers in the Parc» marcha de Lionel Monckton (1861-1924) C. 1911 e as marchas
espanholas «La Guerrera» marcha espanhola de Eduardo López Juarranz (1844-1897) e «Los voluntários»
marcha militar espanhola (da zarzuela de Gerónimo
Giménez y Bellido) (1852 1923) 1893. Particular ainda
o facto de constar neste leque musical a «Marcha Fúnebre» de Frédéric Chopin (1810 – 1849).
Através do Orquestrofone e da sua música é possível
também enquadrar, estudar e dar exemplos musicais,
sobre aspectos da História da Madeira, das Quintas
novecentistas, dos bailes e festas com momentos de
dança, dos movimentos políticos monárquicos e republicanos existentes no final do séc. XIX e até relatar
os episódios dos bombardeamentos da cidade do Funchal, durante a Primeira Guerra Mundial (3 de Dezembro de 1916 e 12 de Dezembro de 1917) utilizando para tanto as músicas dos «aliados», muitas dessas
atrás referidas, ainda hoje tocadas em grandes paradas
e desfiles militares. O Orquestrofone continua hoje
em dia a encantar todos os que visitam o Museu
Quinta das Cruzes. Para além das escolas, os turistas e
o público são contagiados pelo ambiente recriado a
partir do programa musical deste emblemático instrumento mecânico. Uma vez mais, a variedade e a particularidade de cada uma destas peças, vem confirmar a
natureza do conjunto do repertório existente.
Vítor Sardinha
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Matriz 3.0. | Inventário, Gestão e Divulgação Online do Património
A qualidade da inventariação e documentação do
acervo dos museus é fundamental para a gestão e
salvaguarda do Património Cultural, eixo fulcral da
actividade museológica.
Entre 2007 e 2010, o então Instituto dos Museus e
da Conservação consciente da necessidade de actualizar e optimizar o sistema de informação Matriz, standard do Ministério da Cultura para o inventário e
gestão de colecções, desenvolveu, através do seu Departamento de Património Imaterial, o Matriz 3.0,
Inventário, Gestão e Divulgação on-line de Património. Esta nova versão permite a gestão integrada das
colecções oferecendo a possibilidade de, numa única
aplicação, inventariar o patrimóno móvel nas áreas da
arte, arqueologia, etnologia, ciência e técnica e história natural, bem como os fundos documentais - cartografia, desenho, fotografia, som, filme, fontes escritas
e fontes orais -, o património imaterial, o património
imóvel - imóveis e sitios (naturais e culturais) -, em
completa articulação com a gestão de património –
cedências, exposições, conservação e restauro, direitos, investigação, entre outros.
Os museus tutelados pela SRETC/DRC, Museu
Quinta das Cruzes, Casa-Museu Frederico de Freitas,
Museu Etnográfico da Madeira e MUDAS - Museu
de Arte Contemporânea da Madeira, utilizam, desde
Novembro de 2015, o Matriz 3.0. Depois da migração dos milhares de registos já inseridos no Matriz
2.0, o Museu conta agora com esta ferramenta que
através da sua estrutura normalizada, promove a sistematização da documentação e a gestão integrada
das colecções, implementando, necessariamente, a
normalização de boas práticas, e, consequentemente,
o controlo da qualidade de dados, a rentabilização do
trabalho e a capitalização de conhecimentos e procedimentos.
Matriz 3.0.
Museu Quinta das Cruzes
Coleção de Pintura
Formação Matriz 3.0.
Museu Quinta das Cruzes
27 de outubro de 2015
Formação Matriz 3.0.
MUDAS - Museu de Arte Contemporânea da Madeira
27 de outubro de 2015
Ainda de salientar que esta versão permite a publicação
em linha no MatrizWeb e na Europeana, respondendo
desta forma com especial relevo a uma das missões
fulcrais dos museus, o serviço público. Assim, através
de uma maior eficácia e simplicidade do processo, a
disponibilização, num futuro próximo, de conteúdos
digitais de qualidade, será uma realidade, com especial
atenção à partilha da informação sem ruído, assegurando a coerência e a homogeneidade dos dados e, portanto, respondendo consistentemente à pesquisa dos utlizadores.
Mais do que contabilizar o quantitativo de um acervo,
o Inventário constitui condição indispensável no processo de documentação, gestão, partilha e recuperação
da informação, consolidando-se como um instrumento
transversal de aprofundamento das tarefas museológicas.
Teresa Campos
(museóloga e formadora da Rede Portuguesa de Museus )
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Serviços Educativos 2015
O Serviço Educativo é responsável pela programação,
organização e acompanhamento das diferentes atividades organizadas pelo Museu e que exigem o contacto pessoal com os diferentes públicos que visitam a
instituição. É no intuito de dar resposta às solicitações
dos diversos grupos que nos procuram que a equipa
do Serviço Educativo planifica e realiza um conjunto
de atividades pedagógicas e projetos educativos que
visam dar a conhecer as coleções do museu à comunidade, sejam escolas, grupos com necessidades especiais, adultos, idosos e outros públicos que nos vão
conhecendo, através da dinamização pedagógica realizada.
No ano 2015, entre visitas guiadas (gerais e temáticas), projetos educativos, apoio a atividades escolares
e outras iniciativas, o museu promoveu mais de uma
centena de atividades pedagógicas, sendo as visitas
guiadas (gerais e temáticas) o tipo de atividade mais
requisitada pelos grupos que visitam o museu com o
apoio da equipa do Serviço Educativo.
Das Palmas aos Palmitos
Escola B123/PE Bartolomeu Perestrelo
(Clube do Património) março 2015
Bonecas de Massa
Escola B123/PE Bartolomeu Perestrelo
(Clube do Património) outubro 2015
Externato Júlio Dinis e o Externato da Apresentação
de Maria realizaram igualmente, parceria com o museu, aquando das provas de aferição, realizando diversas atividades lúdico-pedagógicas no museu. Estas
parcerias, que já se desenvolvem há vários anos no
Museu Quinta das Cruzes, são de grande importância
na dinâmica de todo o trabalho educativo realizado.
De destacar ainda, o trabalho realizado no ano 2015,
com a Escola Básica B123/PE Bartolomeu Perestrelo, nomeadamente com o Clube do Património, que
convidou o museu para um trabalho mais direto com
a comunidade escolar. Assim, foram realizados dois
workshops na escola “Das Palmas aos Palmitos” e
“Bonecas de Massa” onde, mais de uma centena de
alunos, tiveram a oportunidade de conhecer e experimentar a realização de trabalhos ligados ao artesanato
e tradições regionais.
No âmbito das iniciativas atrás referidas, contamos
com a participação de 3478 visitantes, sendo novamente, o público escolar e o público adulto os que
que mais frequentaram atividades pedagógicas e de
divulgação no museu. Entre o público escolar, destaque-se o aumento dos alunos que frequentam o do 3.º
ciclo do ensino básico.
Além das visitas guiadas, o museu promoveu diversos
ateliês temáticos de verão, tais como, "Gincana: Os
Meios de Transporte", “Kit Os Exploradores” e, por
último, “Os Animais Fantásticos”.
O museu foi ainda parceiro da Escola EB1/PE da
Pena que solicitou, pelo terceiro ano consecutivo a
colaboração do serviço educativo para a realização de
atividades educativas, no âmbito da comemoração da
Semana da Família (14 de maio). Por seu turno, o
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Atividade Pedagógica “Da Natureza para a Arte”
Externato Júlio Dinis
Dia Internacional dos Museus
maio 2015
Serviços Educativos 2015
Em relação aos projetos educativos desenvolvidos pelo museu no ano de 2015, salientamos a iniciativa “Atividades
para Famílias”, cuja adesão tem sido bastante significativa, sendo que o Museu voltou a dinamizar sessões de exploração lúdico-pedagógica das coleções do museu destinadas ao público familiar (crianças entre os 4 e 11 anos e seus
pais). Promovendo a interação entre pais e filhos e o reforço de valores familiares junto dos participantes, em cada
mês exploramos um tema relacionado com uma coleção do museu, complementada com a realização de diversas atividades e dinâmicas pedagógicas. Um dos principais propósitos é a sensibilização para a preservação e conhecimento
Sessão Descobrindo o objeto mistério
Sessão Os meus avós, os meus tesouros
“Atividades para Famílias” 2016
Em 2016, continuamos com a execução deste projeto. As
sessões mensais realizam-se no último sábado de cada mês,
têm a duração de 1h30m (das 10h30 às 12h00m) e a participação é feita mediante preenchimento de ficha de inscrição,
disponível no website mqc.gov-madeira.pt.
Até ao fim deste ano serão ainda abordados os seguintes
temas:
04 de junho – “O Museu Invisível”
25 de junho – “À Caça ao Tesouro”
30 de julho – “Os meus avós… os meus tesouros!”
24 de setembro – “Dó, ré, mi… há música no jardim!”
29 de outubro – “A história do açúcar”
26 de novembro – “O Natal no MQC”
Sessão Descobrindo o objeto mistério
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Serviços Educativos 2015 em números
Apresentamos alguns dados estatísticos referentes ao trabalho desenvolvido pelos Serviços Educativos no Museu Quinta
das Cruzes no ano de 2015.
Estes gráficos que integram um estudo mais alargado, realizado no final de cada ano, permitem uma análise mais pormenorizada de todo o trabalho desenvolvido, bem como, traçar novos objetivos e desafios para esta função museológica.
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Noite e Dia dos Museus 2015
Em 2015, o Museu Quinta das Cruzes, tal como em
anos anteriores, associou-se às comemorações do Dia
Internacional dos Museus e na Noite Europeia dos Museus. Em seguida, trazemos o registo das iniciativas realizadas no Museu Quinta das Cruzes por ocasião destes
dia comemorativos:
Noite Europeia dos Museus | 16 de maio
No sábado, dia 16 de maio de 2015, o Museu aderiu à
11ª edição da Noite Europeia dos Museus, iniciativa
criada pelo Ministério da Cultura e Comunicação francês, com a abertura gratuita ao público em horário prolongado (19h00-24h00) e com um programa que incluiu
diversas atividades, entre elas: quatro visitas guiadas e a
abertura do espaço infantil, iniciativa que se disponibilizou uma sala dedicada às crianças (a partir dos 4 anos),
onde as atividades e a temática das coleções foram abordadas numa perspetiva mais lúdica.
A par destas iniciativas, o Museu promoveu ainda um
outro evento, os Momentos Musicais, entre as 20h30 e
as 21h30, que consistiram em atuações individuais de
seis instrumentistas e compositores, Vítor Sardinha
(Rajão), Sandra Sá (Violino), Roberto Moritz (Braguinha
e Machete), Sara Faria (Flauta de Bisel), Jaime Dias
(Violoncelo) e Lino Rodrigues (Flauta transversal e Violino). As atuações musicais culminaram com um concerto conjunto realizado pelo grupo dos seis instrumentistas, já referidos, no salão nobre da exposição permanente, onde os visitantes foram surpreendidos com momentos musicais de obras entre os séculos XVI e XX.
O Museu Quinta das Cruzes aderiu a uma outra proposta lançada pela organização da Noite Europeia dos Museus, designada TweetWall. Esta iniciativa consistiu na
projeção de um mural virtual que permitiu a partilha de
mensagens publicadas na conta oficial do evento da rede
social Twitter através da hashtag #NDM15.
Ainda no âmbito desta comemoração, o Museu
Quinta das Cruzes participou com a imagem da Maestrina, elemento decorativo do instrumento musical
mecânico, o Orquestrofone no concurso “La Mascotte de La Nuit” A votação foi realizada na página de
facebook oficial deste evento, denominada “Nuit des
Musées”. Sendo o único museu português em concurso, a Maestrina alcançou a terceira posição, recebendo a “Estrela de Bronze” da competição.
Entre as 19h00 e as 24h00 o Museu Quinta das Cruzes contou com a participação de 509 visitantes, cujo
número foi superior ao do ano 2014. De referir que o
Museu Quinta das Cruzes foi o único museu da Região inscrito oficialmente nesta iniciativa de âmbito
internacional.
Dia Internacional dos Museus | 18 de maio
A comemoração deste evento iniciou-se a 15 de maio,
com o lançamento online do Boletim do MQC nº11 e
do Boletim Infantil nº 8 no site oficial do Museu
Quinta das Cruzes (http://mqc.gov-madeira.pt).
Paralelamente ao lançamento do Boletim MQC nº 11,
publicou-se a 8ª edição do Boletim Infantil, dirigida
ao público mais jovem, que versando sobre a mesma
temática “Museus para uma sociedade sustentável”,
deu a conhecer a importância das matérias-primas
exóticas e naturais, no fabrico de peças de artes decorativas.
Na segunda-feira, dia 18 de maio, o Museu Quinta
das Cruzes esteve aberto gratuitamente ao público
entre as 10h00 e as 18h00.
No contexto desta temática foi realizada uma visita
temática para o público adulto, intitulada “Da Natureza para a Arte”, uma atividade educativa com o
mesmo tema direcionada para alunos do 1º ciclo e
um projeto educativo, especificamente vocacionado
para o público infantil, “Jardins com Sentidos”.
A par destas iniciativas realizaram-se Ateliês Musicais
dirigidos ao público escolar, dinamizados pelo professor Vítor Sardinha, proporcionando um ambiente de
festa neste dia comemorativo.
Nesta comemoração, o museu contou com a presença de um total de 341 visitantes.
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Doação Dr. Nuno Alves Caetano | Espólio Jorge Brum do Canto
No dia 29 de outubro de 2015, pelas 18h00, teve lugar
no Museu Quinta das Cruzes, a cerimónia de
apresentação pública e entrega formal de um conjunto
de peças doadas ao Museu, pelo Senhor Dr. Nuno
José Sena Alves Caetano, como forma de perpetuar a
memória do seu tio, o cineasta português, Jorge Brum
do Canto, contribuindo desta forma para a valorização
do património histórico e artístico da Região Autónoma da Madeira.
Jorge Brum do Canto nasceu em Lisboa a 10 de fevereiro de 1910, no seio de uma família com fortes
raízes insulares nos arquipélagos da Madeira e dos
Açores.
Amante de cinema desde criança, iniciou a sua carreira
de ator nesta indústria com apenas 15 anos de idade,
no filme “O Desconhecido” de Rino Lopes. Assumiu
funções como crítico cinematográfico, redator e
colaborador em revistas ligadas ao cinema, entre elas,
O Século Cinegráfico, Cinéfilo, Kino e Imagem.
Entre finais da década de 30 até inícios da década de
50, realizou cerca de sete longas-metragens, destacando-se, o seu primeiro trabalho nesta categoria, “A Cancão da Terra”, em 1937, gravado na Ilha do Porto Santo.
Retrato de Jorge Brum do Canto
“no papel de Mouzinho no filme Chaimite”
Assinado: C. Bielmaer 1953;
Oleografia
Entre os anos de 1953 a 1959, Brum do Canto interrompeu a sua atividade cinematográfica e, durante este
período, ausentou-se de Lisboa para residir no Porto
Santo. Foi aqui que desenvolveu o gosto pela pesca
desportiva que o motivou a participar em competições
desta natureza, das quais resultou um conjunto de fotografias e troféus que testemunham a sua particular
paixão por este desporto.
A par da sua atividade como realizador Jorge Brum do
Canto interpretou papéis em alguns dos seus filmes,
como “A Dança dos Paroxismos” (1928), “A Hora
H” (1938), “Chaimite” (1953), “Fado Corrido” (1964)
e “A Cruz de Ferro” (1967), tendo continuado, na
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década de 70, com a sua interpretação em teleteatro e
em séries televisivas na RTP.
Jorge Brum do Canto faleceu em Lisboa, aos 84 anos
em 1994, deixando um reconhecido legado que o
distingue como escritor, cineasta e ator no panorama
cultural e artístico nacional, através de uma produção
profundamente marcada pela realidade insular que o
inspirou e está presente na sua obra.
O núcleo de peças gentilmente doado pelo Dr. Nuno
José Sena Alves Caetano, revela-nos alguns dos
aspetos determinantes da vida e obra do cineasta. É
constituída por um conjunto de bens móveis (68 objetos) e de um núcleo documental (268 documentos |
2651 espécies documentais) relacionada com a vida e
obra de Jorge Brum do Canto, com fortes raízes insulares nos Arquipélagos da Madeira e dos Açores, inclui um retrato do Dr. Luiz Henriques, 1º diretor da
Escola Médico - Cirúrgica da Madeira, do século
XIX, um retrato de Jorge Brum do Canto “no papel
de Mouzinho no filme Chaimite” (autoria de C.
Bielmaer, datado de 1953), dois estojos com condecorações de Ordens Honoríficas atribuídas a Jorge
Brum do Canto, um com insígnias do grau de GrãCruz da Ordem do Infante D. Henrique, atribuídas a
título póstumo (9 de junho de 1994), e outro com
insígnias do grau de Oficial da Ordem Militar de
Sant’Iago da Espada (10 de março de 1967), uma
escultura em gesso de Jorge Brum do Canto (prova de
autor do escultor Júlio de Sousa), diverso material
cinematográfico, fotografias e troféus.
Relevamos por isso a desprendida e a generosa atitude do doador, que tal como o seu tio (Jorge Brum
do Canto) tem uma forte ligação à Madeira e ao Porto
Santo, revelando ainda a sensibilidade e a compreensão da função e do papel do Museu, doando
peças que sempre estimou, na certeza de que na
Região Autónoma da Madeira e nesta instituição encontrará um lugar adequado para a sua salvaguarda,
em prol da valorização e divulgação do património
cultural e artístico da Região.
Doação Dr. Nuno Alves Caetano | Espólio Jorge Brum do Canto
O Museu Quinta das Cruzes, tal como uma parte
significativa dos museus portugueses, desde a sua
génese, foi marcado pelo entusiasmo, empenho e
generosidade de colecionadores particulares e de doadores. Foi assim que, há 70 anos, em 1946, este museu se constituiu com a coleção de César Filipe Gomes. Desde então, tem recebido várias doações e
legados que o tornaram mais enriquecido e valorizado.
Neste âmbito, doar é partilhar com os outros, é tornar acessível a todos os cidadãos bens patrimoniais
que outrora foram de outrem. Mas é também, compreender as motivações e toda a emoção contida no
ato do doador. Como forma de agradecimento e homenagem, damos a conhecer as palavras do doador
Dr. Nuno Alves Caetano, proferidas na cerimónia de
doação que se realizou no dia 29 de outubro de 2015:
“É para mim motivo de grande satisfação estar aqui hoje
fazendo parte activa desta cerimónia protocolar.
Ninguém – pelo menos na nossa concepção de vida – escolhe
o lugar onde nasce, mas eu tive o privilégio de escolher, mesmo que no meu subconsciente uma vez ter apenas quatro
meses de idade, não o lugar de nascimento mas o lugar para
ressuscitar, ou seja, renascer, e esse lugar foi precisamente a
Madeira, no Funchal, mais precisamente na lindíssima
Quinta da Penha de França.
É por isso que quando me perguntam onde nasci, respondo
sempre: nasci em Lisboa e ressuscitei na Madeira, e faço-o
com redobrada alegria.
Cheguei, já roxo, dando sinais de falecimento, a casa do
meu saudoso Tio António Ribeiro (grande amigo e companheiro de pesca do meu Tio Jorge), vindo do Porto Santo,
depois de uma viagem épica numa lancha manobrada pelo
meu Tio Jorge e o arrais – quantas vezes me contou o episódio do que pensou quando me viu entrar porta dentro e a
tremenda angústia que isso lhe causou pois pensou já nada
poder fazer – e subitamente, graças também aos cuidados
médicos, regressei ao mundo dos vivos, quiçá, motivado pela
ternura que me envolvia e de que é fiel testemunha, e uma
das principais responsáveis, a minha querida Tia Muriel,
aqui presente, mas certamente também pela beleza natural
que me rodeava.
O que é facto é que me sinto madeirense e lisboeta com intensidades idênticas e com o mesmo carinho por ambos os
lugares, sem conseguir fazer qualquer distinção, e de que
sinto muito orgulho.
Esse carinho pela Madeira, além de ter crescido comigo, foime incutido ao longo dos anos pelos meus Pais e pelo meu
Tio Jorge que nutriam pelo arquipélago um sentimento muito forte e especial.
O meu Tio Jorge Brum do Canto, destacada figura da vida
porto-santense, cujas origens paternas curiosamente provêm
dos Açores e da Madeira, é, no que respeita à Madeira,
descendente de pessoas que se notabilizaram em diversas
áreas e ao longo do tempo, como a medicina, a política ou o
campo militar, como por exemplo o Dr. Luiz Henriques,
primeiro director da Escola Médico – Cirúrgica do Funchal, o seu filho General Miguel Henriques, o Juíz Conselheiro Dr. Manuel Inácio Brum do Canto, ou o Dr. Salvador Brum do Canto, deputado às Cortes, eleito pelo círculo
da Madeira.
Quis o destino, face à minha personalidade, que ao longo da
vida me fossem fazendo guardião do espólio Brum do Canto
- documentação, fotografias, condecorações, troféus, etc. –
proveniente desse ramo da família, que fui guardando religiosamente sabendo que um dia teria de encontrar uma solução condigna para o salvaguardar e perpetuar.
Ao resolver doar esse espólio à RAM foi isso que fiz, estando certo que a solução encontrada deixaria deveras muito
felizes todos os responsáveis pela sua conservação ao longo
dos anos, esperando assim poder contribuir, mesmo que
modestamente, para o engrandecimento cultural e patrimonial madeirense, o que muito me apraz, desde logo agradecendo a receptividade a esta minha iniciativa e colocando-me à
disposição para futuras e idênticas colaborações ou iniciativas.
Uma palavra final de agradecimento ao senhor dr. Miguel
Albuquerque que mal soube do processo em curso – cujo
início é anterior à sua tomada de posse – desde logo o abraçou com elevado entusiasmo, e à senhora drª Teresa Pais
pela generosa disponibilidade e empenho colocado desde a
primeira hora em todo este processo, cuja ajuda foi preciosa
para levar a bom porto esta minha iniciativa.
Muito obrigado.”
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Programação | Dia Internacional dos Museus 2016
Em 2016, o Museu Quinta das Cruzes, associa-se uma vez mais, às comemorações do Dia Internacional dos Museus, subordinado ao tema “Museus e Paisagens Culturais”.
O tema proposto para 2016 - "Museus e Paisagens Culturais" –, visa promover a ideia de museu enquanto centro territorial de
uma proteção ativa da paisagem cultural. Essa função pode ser exercida em diferentes níveis, nomeadamente através da sensibilização das comunidades para o papel interventivo que podem desempenhar na conservação e valorização deste universo patrimonial tão vulnerável, e contribuir para minimizar a sua degradação ou até mesmo o seu aniquilamento.
(http://www.patrimoniocultural.pt/pt/agenda/atividades-diversas/dia-internacional-dos-museus-e-noite-dosmuseus-2016/)
Para o dia 18 de maio, quarta-feira, além das entradas gratuitas e alargamento do horário de funcionamento do
museu, sem interrupção para o período de almoço, o Museu Quinta das Cruzes apresenta pelas 10h00m a abertura
da Exposição Temporária: A Paisagem na obra de Emily Geneviève Smith, o lançamento online do Boletim MQC
nº12 e Boletim Infantil nº 9.
Pelas 11h30m e às 15h30 será realizada a visita guiada temática ”O Olhar do viajante na representação da paisagem insular”
e pelas 14h30m a atividade educativa direcionada para o público escolar “As paisagens contam histórias…”.
Pelas 21h00, terá lugar na Capela de Nossa Senhora da Piedade, localizada no Museu Quinta das Cruzes, uma visita
guiada por Teresa Pais e Rita Rodrigues e um concerto de Música Renascentista e Barroca pelo Professor Vítor
Sardinha, no âmbito do projeto “Capelas ao Luar”, projeto promovido e coordenado pela Direção de Serviços de
Museus e Património Cultural, da Direção Regional da Cultura.
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Programação | Noite Europeia dos Museus 2016
No sábado, dia 21 de maio, o museu associa-se à 12ª edição da Noite Europeia dos Museus, iniciativa criada em
2005 pelo Ministério da Cultura e Comunicação francês, na qual participam museus de cerca de 40 países europeus, entre os quais, o Museu Quinta das Cruzes que, desde 2006, se associa oficialmente a esta iniciativa, com um
programa de atividades que inclui a abertura do museu ao público, em horário prolongado (período noturno) e
com entradas gratuitas, visitas guiadas gerais às coleções do Museu; quatro visitas temáticas; atividade para o público infantil “As paisagens contam histórias…” e diversos momentos musicias, tais como, Concerto do Orquestrofone com programa específico (Repertório de Baile) sob a orientação de Vítor Sardinha; Concerto de Jazz
“BLACK & WHITE DIXIELAND JAZZ BAND” e Concerto de “Modinhas Luso-Brasileiras” com a atuação do
grupo musical MEDIOATLÂNTICO, com voz de Carla Isabel Moniz (Soprano) e os instrumentistas Vítor Sardinha (Viola de cinco ordens); Sandra Sá (Violino); Jaime Dias (Violoncelo) e Lino Rodrigues (Flauta transversal e
Flauta Barroca).
O programa apresentado pelo Museu para a celebração deste evento está disponível no site oficial do Ministério da
Cultura e Comunicação francês: (http://nuitdesmusees.culturecommunication.gouv.fr/Programme#7/32.649/14.414), bem como no site oficial da Direção-Geral do Património Cultural (http://patrimoniocultural.pt).
Toda a programação para estes dias comemorativos poderá igualmente ser consultada no site do Museu Quinta das
Cruzes (http://mqc.gov-madeira.pt/.)
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Boletim Infantil n.º 9
Boletim anual - Nº 12
Projeto e coordenação: Teresa Pais e Gabriela Nóbrega
Textos: Andreia Morgado, Gabriela Nóbrega, Teresa Campos,
Teresa Pais, Vítor Sardinha.
Fotografias: © Museu Quinta das Cruzes
Edição: Museu Quinta das Cruzes, Funchal |2016
Impressão interna limitada
Museu Quinta das Cruzes
Calçada do Pico, nº 1 /9000-206 FUNCHAL
Tel: 291 740 670 / Fax: 291 741 384
site: mqc.gov-madeira.pt
e-mail: [email protected]
Horário de abertura ao público:
3ª a Domingo- 10h/12.30 14h/17.30h
2ª e feriados - encerrado ao público
Capelas ao Luar
Capela de Nossa Senhora da Piedade
No dia 18 de maio, pelas 21h00,
terá lugar na Capela de Nossa
Senhora da Piedade, localizada no
Museu Quinta das Cruzes, uma
visita guiada por Teresa Pais e
Rita Rodrigues e um concerto de
Música Renascentista e Barroca
pelo Professor Vítor Sardinha.
Esta visita surge no âmbito do
projeto “Capelas ao Luar”, promovido e coordenado pela Direção de Serviços de Museus e Património Cultural da Direção
Regional de Cultura.