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Apostila de Sociologia 2º ANO 4. Cultura, Consumo e Comunicação de massa Prof. Renato Fialho Aluna(o): _____________________________________ Turma: _________ Seis questões para entender a hegemonia midiática Por Dênis de Moraes 1. O sistema midiático contemporâneo demonstra capacidade de fixar sentidos e ideologias, selecionando o que deve ser visto, lido e ouvido pelo conjunto do público. Por mais que existam por parte de leitores, ouvintes e telespectadores expectativas e respostas diferençadas em relação aos conteúdos recebidos, são os grupos privados de comunicação que prescrevem orientações, enfoques e ênfases nos informativos; quais são os atores sociais que merecem ser incluídos ou marginalizados; quais as agendas e pautas que devem ser destacadas ou ignoradas. Os meios (de comunicação) difundem julgamentos de valor e sentenças sobre fatos e acontecimentos, como se estivessem autorizados a funcionar como uma espécie de tribunal, embora sem nenhuma legitimidade para isso. Sua intenção, assumida mas não declarada, é disseminar conteúdos, ideias e princípios que ajudem a organizar e unificar a opinião pública em torno de determinadas visões de mundo (quase sempre conservadoras e sintonizadas com o status quo). Os meios elegem os atores sociais, articulistas, analistas, comentaristas e colunistas que devem ser prestigiados em seus veículos e programações. Na maior parte dos casos, como observa (o sociólogo) Pierre Bourdieu, estes porta-vozes não fazem nada mais que reforçar o trabalho dos 'think tanks' (tanques pensantes) neoliberais em favor da mercantilização geral da vida e da desregulação das economias e dos mercados. Com efeito, os 'intelectuais midiáticos' ou 'especialistas' dizem tudo aquilo que serve aos interesses de classes e instituições dominantes, combatendo e desqualificando ideias progressistas e alternativas transformadoras. Os grupos midiáticos mantem também acordos e relações de interdependência com poderes econômicos e políticos, em busca de publicidades pagas, patrocínios, financiamentos, isenções fiscais, participações acionárias, apoios em campanhas eleitorais, concessões de canais de radiodifusão, etc. Não são neutros e isentos, como querem fazer crer; são parciais, tomam partido, favorecem os interesses mercantis, defendem posições políticas, combatem ideologicamente os opositores. 2. Os meios se apropriam de diferentes léxicos para tentar colocar dentro de si todos os léxicos, a serviço de seus objetivos particulares. Palavras que pertenciam tradicionalmente ao léxico da esquerda foram resignificadas durante a hegemonia do neoliberalismo nas décadas de 1980, 1990 e parte de 2000. Cito, de imediato, duas palavras: reforma e inclusão. Da noite para o dia, passaram a ser incorporadas aos discursos dominantes e midiáticos, em sintonia com o ideário privatista. Trata-se de indiscutível apropriação do repertório progressista, que sempre associou reformas ao imaginário da emancipação social. As apropriações têm o propósito de redefinir sentidos e significados, a partir de óticas interpretativas próprias. 3. Ao celebrar os valores do mercado e do consumismo, o sistema midiático subordina a existência ao mantra da rentabilidade. A glorificação do mercado consiste em apresentá-lo como o âmbito mais adequado para traduzir desejos, como se só ele pudesse se converter em instância de organização societária. Um discurso que não faz mais que realçar e aprofundar a visão, claramente autoritária, de que o mercado é a única esfera capaz de regular, por si mesma, a vida contemporânea. Os projetos mercadológicos e as ênfases editoriais podem variar, mas menos em um ponto: as corporações operam, consensualmente, para reproduzir a ordem do consumo e conservar hegemonias instituídas. 4. Os discursos midiáticos estão comprometidos com o controle seletivo das informações, da opinião e dos julgamentos de valor que circulam socialmente. Isso se manifesta nas manipulações dos noticiários e na interdição (censura, proibição) dos pontos de vista antagônicos, afetando a compreensão das SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 2 circunstâncias em que certos fatos acontecem (geralmente os que são contrários à lógica econômica ou às concepções políticas dominantes). Os meios massivos buscam reduzir ao mínimo o espaço de circulação de ideias contestatórias – por mais que estas continuem manifestando-se e resistindo. A meta é neutralizar análises críticas e expressões de dissenso. Um exemplo do que acabo de dizer são os enfoques tendenciosos sobre as reivindicações de movimentos sociais e comunitários. São frequentemente subestimadas, quando não ignoradas, nos principais periódicos e telejornais, sob o argumento falacioso de que são iniciativas 'radicais', 'populistas', etc. A vida das comunidades subalternas e pobres está diminuída ou ausente nos noticiários. 5. O sistema midiático rechaça qualquer modificação legal que ponha em risco sua autonomia e seus lucros. A qualquer movimento para a regulação da radiodifusão sob concessão pública, reage com violentos editoriais e artigos que apresentam os governantes que se solidarizam com a causa da democratização da comunicação como 'ditadores' que querem sufocar a 'liberdade de expressão'. É uma grosseira mistificação. O que há, na verdade, é o bloqueio do debate sobre a função e os limites da atuação social dos meios. As grandes empresas do setor não têm nenhuma autoridade moral e ética para falar em 'liberdade de expressão', pois negam diariamente a diversidade informativa e cultural com o controle seletivo da informação e da opinião. Se confundem interesses empresariais e políticos com o que seria, supostamente, a função de informar e entreter. Tudo isso acentua a ilegítima pretensão dos meios hegemônicos de definir regras unilateralmente, inclusive as de natureza deontológica (relativo a estudos sobre princípios morais), para se colocar acima das instituições e os poderes constituídos, exercendo não a liberdade de expressão, mas a liberdade de empresa. internacionais para negócios em todos os continentes; intensificou transmissões e fluxos em tempo real; e agravou a concentração em setores complementários (imprensa, rádio, televisão, internet, audiovisual, editorial, telecomunicações, publicidade, marketing, cinema, jogos eletrônicos, celulares, plataformas digitais, etc.). Tudo isso faz sobressair novas formas de mais valia na economia digital: a tecnologia que possibilita sinergias e convergências; a repartição e a distribuição de conteúdos gerados nas mesmas matrizes produtivas e plataformas; a racionalidade de custos e a planificação de investimentos. Se origina daí um sistema multimidiático com flexibilidade operacional e produtiva, que inclui ampla variedade de iniciativas e serviços digitais, fluxos velozes, espaços de visibilidade, esquemas globais de distribuição, campanhas publicitárias mundiais e técnicas sofisticadas de conhecimento dos mercados. A finalidade é garantir o maior domínio possível sobre as cadeias de fabricação, processamento, comercialização e distribuição dos produtos e serviços, incrementando a rentabilidade e os dividendos monopólicos. 30 de janeiro 2015 (Publicado originalmente em Alainet) ______________ * Dênis de Moraes es investigador senior del Consejo Nacional de Desarrollo Científico y Tecnológico (CNPq) y de la Fundación Carlos Chagas Filho de Amparo a la Investigación del Estado de Río de Janeiro (FAPERJ), de Brasil. Autor, entre otros libros, de Medios, poder y contrapoder, con Ignacio Ramonet y Pascual Serrano (Biblos, 2013), La cruzada de los medios en América Latina (Paidós, 2011) y Mutaciones de lo visible: comunicación y procesos culturales en la era digital (Paidós, 2010). 6. Os conglomerados detêm a propriedade da maioria dos meios de difusão, da infraestrutura tecnológica e das bases logísticas, o que lhes confere domínio dos processos de produção material e imaterial. A digitalização favoreceu a multiplicação de bens e serviços de infoentretenimento; atraiu jogadores SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 3 Na telinha da sua casa você é cidadão? – Mídia e cultura no capitalismo globalizado A partir da II Revolução Industrial no século XIX e da predominância das regras do mercado capitalista, as artes, a cultura e a mídia foram submetidas à ideologia da indústria cultural. Ou seja, os produtos de criação da cultura dos homens foram submetidos à ideia de consumo, como produtos fabricados em série. As obras de arte se transformam em meras mercadorias, produtos de consumo, onde a maioria dos bens artísticos não são criados para a contemplação, para a busca do belo, e, sim, para a obtenção do lucro. A indústria cultural massifica a cultura e as artes para o consumo rápido no mercado da moda e na mídia. Massificar é banalizar as artes e a produção das ideias e, também, vulgarizar os conhecimentos. Marilena Chauí (1995) nos dá um exemplo disso afirmando: "A indústria cultural vende cultura. Para vendê-la, deve seduzir e agradar o consumidor. Para seduzi-lo, não pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-lo pensar. Fazê-lo ter informações novas que perturbem, mas deve devolverlhe, com nova aparência, o que ele já sabe, já viu, já fez". Daí surgem as revistas de fofocas, o teclado, o MSN, os programas de TV sobre futilidades, os comerciais que tentam vender produtos sem qualidades, mas com ótima produção de marketing. O poder da mídia - Expressão máxima da indústria cultural são os meios de comunicação de massa, ou mídia escrita ou eletrônica. Aqui vale destacar o poder da mídia enquanto manipulação, formação de opinião, infantilização e condicionamento de mentes e produção cultural do grotesco visando a despolitização. Essas características da mídia se expressam particularmente através da TV, rádio, jornais e revistas, que são de fácil acesso à grande maioria das pessoas. Muitos estudiosos, jornalistas e políticos costumam dizer que a mídia - ou meios de comunicação de massa representa um quarto poder (além dos poderes governamentais do judiciário, do legislativo e do executivo). Isto porque influencia comportamentos, opiniões e atitudes de forma constante e permanente. Vejamos essa passagem do livro Convite à Filosofia, de Marilena Chauí (1995): "Vale a pena, também, mencionar dois outros efeitos que a mídia produz em nossas mentes: a dispersão da atenção e a infantilização." "Para atender aos interesses econômicos dos patrocinadores, a mídia divide a programação em blocos que duram de sete a dez minutos, cada bloco sendo interrompido pelos comerciais. Essa divisão do tempo nos leva a concentrar a atenção durante os sete ou dez minutos de programa e a desconcentrá-la durante as pausas para a publicidade." "Pouco a pouco isso se torna um hábito. Artistas de teatro afirmam que, durante um espetáculo, sentem o público ficar desatento a cada sete minutos. Professores observam que seus alunos perdem a atenção a cada dez minutos e só voltam a se concentrar após uma pausa que dão a si mesmos, como se dividissem a aula em 'programa' e 'comercial'." "Ora, um dos resultados dessa mudança mental transparece quando criança e jovem tentam ler um livro: não conseguem ler mais do que sete a dez minutos de cada vez, não conseguem suportar a ausência de imagens e ilustrações no texto, não suportam a ideia de precisar ler 'um livro inteiro'. A atenção e a concentração, a capacidade de abstração intelectual e de exercício do pensamento foram destruídas. Como esperar que possam desejar e interessar-se pelas obras de artes e de pensamento?" "Por ser um ramo da indústria cultural e, portanto, por ser fundamentalmente uma vendedora de cultura que precisa agradar o consumidor, a mídia infantiliza. Como isso acontece? Uma pessoa (criança ou não) é infantil quando não consegue suportar a distância temporal entre seu desejo e a satisfação dele. A criança é infantil justamente porque para ela o intervalo entre o desejo e a satisfação é intolerável (por isso a criança pequena chora tanto)." "Ora, o que faz a mídia? Promete e oferece gratificação instantânea. Como o consegue? Criando em nós os desejos e oferecendo produtos (publicidade e programação) para satisfazê-los. O ouvinte que gira o dial do aparelho de rádio continuamente e o telespectador que muda continuamente de canal o fazem porque sabem que, em algum lugar, seu desejo será imediatamente satisfeito." Além disso, como a programação se dirige ao que já sabemos e já gostamos, e como toma a cultura sob a forma de lazer e entretenimento, a mídia satisfaz, imediatamente nossos desejos porque não exige de nós atenção, pensamento, reflexão, crítica, perturbação de nossa sensibilidade e de nossa fantasia. Em suma, não nos pede o que as obras de arte e de pensamento nos pedem: trabalho sensorial e mental para compreendêlas, amá-las, criticá-las, superá-las. A cultura nos satisfaz se tivermos paciência para compreendê-la e decifrá-la. Exige maturidade. A mídia nos satisfaz porque nada nos pede, senão que permaneçamos para sempre infantis." (Trecho extraído do livro: "Sociologia para jovens do século XXI", de OLIVEIRA, Luiz F. de & COSTA, Ricardo Cesar R. da) SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 4 Noam Chomsky e as 10 estratégias de manipulação midiática 1. A estratégia da distração. O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante o uso da técnica de dilúvio, ou inundação contínua através de distrações e informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir que o público se interesse pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, distante dos verdadeiros problemas sociais, aprisionada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; retornando à granja como fazem com outros animais (citado do texto 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')”. maior a intenção de enganar o expectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, devido à sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a responder ou reagir também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')”. 2. Criar problemas e depois oferecer soluções. Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista, para causar certa reação no público, com o objetivo de que este pareça o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por ejemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público solicite leis de segurança e políticas austeras que acabem acarretando em perda de liberdade. Ou ainda: criar uma crise econômica para que se aceite como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos. 7. Manter o público na ignorância e na mediocridade. Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que reina entre as classes inferiores e as classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis de ser alcançada pelas classes inferiores (ver 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')”. 3. A estratégia do gradativo. Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradualmente, no estilo contagotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precarização do trabalho, flexibilidade, desemprego em massa, defasagem salarial, ou seja, uma série de mudanças que teriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez. 4. A estratégia de diferir, retardar. Outra maneira de convencer de uma decisão impopular é apresentá-la como “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é realizado imediatamente. E isto porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá, quem sabe, ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para se acostumar com a idéia da mudança e assim aceitá-la com resignação quando chegar o momento. 5. Dirigir-se ao público como criaturas de pouca idade. A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e entonações parti-cularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse uma criatura de pouca idade ou um deficiente mental. Quanto 6. Utilizar o aspecto emocional muito mais que a reflexão. Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto-circuito na análise racional, e finalmente no sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou injetar ideias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos… 8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade. Promover no público a crença de que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto… 9. Reforçar a autoculpabilidade. Fazer com que o indivíduo acredite que é somente ele o culpado por sua própria desgraça, devida à sua insuficiência de inteligência, de capacidade ou de esforço. Assim, no lugar de revoltar-se contra o sistema econômico, o indivíduo se autodesvaloriza e se culpa, o que gera um estado depressivo, cujo efeito, para citar apenas um, é a inibição de sua ação. E, sem ação, não há revolução! 10. Conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmos se conhecem. No transcurso dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência gerou um crescente abismo entre os conhecimentos do público e aqueles possuídos e utilizados pelas elites dominantes. Graças à biología, à neurobiologia e a psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto no seu aspecto físico como em seu aspecto psicológico. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele se conhece a si próprio. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos, superior ao que os próprios indivíduos tem sobre si mesmos. (Publicado por Omar Montilla, no Blog Gramscimania) 15/9/2010 SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 5 Governos progressistas e transformações comunicacionais O debate sobre a participação do poder público nos sistemas de comunicação da América Latina ganhou ímpeto com o consenso estabelecido entre governos progressistas quanto à importância de se fortalecer a pluralidade e facilitar o acesso dos cidadãos à informação, ao conhecimento e às tecnologias. Os presidentes Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa e Cristina Kirchner são ostensivos na rejeição ao monopólio privado da mídia e ao desmedido predomínio na vida social. “Não se pode aceitar a usurpação de funções pelos meios de comunicação que funcionam como partidos políticos e o negam, que operam como grupos de pressão e o negam, cujas linhas editoriais não provêm dos que trabalham nelas, isto é, os jornalistas, e sim de seus donos, uma família ou um grupo econômico”, declarou Chávez em seu programa radiofônico Alô Presidente, de 10 de maio de 2009. Na abertura do V Encontro Mundial de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade, realizado em maio de 2007 na cidade boliviana de Cochabamba, Morales criticou a mercantilização da informação e disse que os governos progressistas devem ajudar a criar “consciência popular sobre a importância de os meios de comunicação defenderem os valores da vida, e não os valores do capital, do egoísmo e do individualismo”. Correa avalia que, na prática, “mais do que liberdade de imprensa, há liberdade de empresa, porque muitas empresas de comunicação não cumprem com sua missão de informar e querem direcionar a cidadania em função de seus interesses, e isso não podemos permitir”. Para Cristina, a mídia assume uma aparente objetividade diante dos fatos para disfarçar um discurso que é “diretamente atentatório contra as possibilidades de mobilidade social, de redistribuição de renda e de participação democrática”. Chávez, Morales, e mais Raúl Castro, de Cuba, e Daniel Ortega, da Nicarágua, assinaram o Manifesto do Bicentenário durante a Cúpula da Aliança Bolivariana das Américas, realizada em Caracas, em 19 de abril de 2010. O documento denuncia as aleivosias [NDP: injúrias e falsificações] da mídia contra seus adversários políticoideológicos: “Os países da ALBA alertam sobre o perverso papel desempenhado por importantes meios de difusão de massa a serviço dos interesses do imperialismo e na contramão dos interesses e aspirações dos movimentos sociais e os povos do Terceiro Mundo. Condenam o uso, por parte destes meios, da mentira, da distorção, da calúnia e da omissão deliberada, amparados pelo monopólio dos canais de comunicação e os grandes recursos financeiros à sua disposição. Recusam a tendência à hipocrisia rasteira de importantes meios informativos europeus e norte-americanos, cujas respectivas políticas editoriais respondem a objetivos inimigos dos governos revolucionários e progressistas da América Latina e Caribe e dos povos da região”. A reação possível e desejável consiste em valorizar a produção informativa, as artes e o patrimônio cultural como partes da continuidade identitária que permite a expressão das diferenças e a participação individual e coletiva na vida social. Implica questionar e recusar o monopólio privado da mídia e a concepção neoliberal de cultura como negócio competitivo e rentável. Tornam-se essenciais a discussão e a fixação de critérios e parâmetros de interesse social para a definição das linhas gerais de programação das empresas concessionárias de rádio e televisão, bem como a renovação de marcos regulatórios para as outorgas de canais; a descentralização dos meios de veiculação; o fomento ao audiovisual independente; o estabelecimento de cotas de produção, distribuição e exibição de conteúdos nacionais nos cinemas e nas televisões aberta e paga; e a integração cultural em bases cooperativas e não mercantis. O fato alentador é a conversão de algumas dessas premissas em fontes inspiradoras de políticas públicas. Há uma série de coincidências nos modos de repensar a atuação do Estado, a começar pelo entendimento de que as questões comunicacionais dizem respeito, na maioria das vezes, aos interesses coletivos. Não podem cingir-se a vontades particulares ou corporativas, pois envolvem múltiplos pontos de vista. Cabe ao Estado um papel regulador, harmonizando anseios e zelando pelos direitos à informação e à diversidade cultural. Também existe consenso quanto à importância de se repor o papel do Estado como articulador e gestor de plataformas de comunicação e como fomentador de espaços autônomos de expressão no seio da sociedade civil, evitando-se que os canais informativos e de entretenimento fiquem concentrados no setor privado. Verificaremos, a seguir, as direções tendenciais que se delineiam nas atuais políticas públicas de comunicação na América Latina e os desdobramentos alcançados nas ações dos governos progressistas. A comunicação estatal contra o bloqueio midiático Os sistemas estatais de comunicação incluem atividades e veículos diretamente concebidos, financiados, geridos, produzidos e difundidos por organismos do Estado, tais como canais de rádio e televisão, portais informativos na internet, agências oficiais de notícias e publicações impressas. Divulgam atos e realizações governamentais, convertendo-se também em instrumentos ideológicos, já que eles põem em evidência posicionamentos do Executivo sobre as conjunturas social, econômica e SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 6 política, frequentemente minimizados, ou mesmo, ignorados pela mídia comercial. De maneira geral, os governos progressistas latinoamericanos herdaram sistemas de difusão burocratizados e ineficientes, agravando problemas acumulados desde a época das ditaduras militares, entre os anos 1960 e 1980. A falta de investimentos provocou um curto-circuito na comunicação estatal, que se ressentia das limitações impostas por orçamentos escassos e infraestrutura tecnológica defasada. Isso tem a ver não apenas com a obsessão neoliberal de desmontar o aparelho do Estado, como também com o desinteresse em reforçar a área oficial de divulgação, em função do maciço apoio da mídia comercial aos governos que rezavam pela cartilha do Consenso de Washington. Em contrapartida à adesão política, os grupos midiáticos receberam outorgas de licenças de canais de rádio e televisão, volumosas verbas publicitárias, facilidades de importação de equipamentos, isenções fiscais para o papel-imprensa e financiamentos a juros baixos ou reescalonamento de dívidas em bancos e agências oficiais. A reorganização da comunicação estatal decorreu da necessidade de se contar com meios mais eficientes de difusão para se contrapor a noticiários negativos da mídia, sobretudo quando entram em pauta assuntos relacionados à radiodifusão ou à defesa da soberania nacional sobre as riquezas naturais. Os governos da Venezuela, da Bolívia, do Equador e da Argentina, em particular, tentam reinserir seus meios de divulgação no território de disputa pela hegemonia simbólica. É uma disputa desigual porque esses veículos estão longe de alcançar a penetração social dos grupos midiáticos. Mesmo assim, existem esforços para alargar os espaços de comunicação com a sociedade, sem intermediação midiática. Uma das ações incisivas é a criação de jornais e canais de televisão estatais, que intentam reverberar outros modos de compreender, interpretar e refletir o mundo. O surgimento de jornais estatais Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa e Fernando Lugo decidiram lançar jornais impressos, com versões na internet, para tentar furar o bloqueio à divulgação de suas ações na mídia impressa. O público-alvo são as classes de menor poder aquisitivo e acesso mais restrito à informação. São basicamente, três os objetivos perseguidos pelas publicações: a) conquistar uma fatia do público com distribuição dirigida e preços de capa simbólicos, o que se torna viável porque os custos são cobertos com recursos públicos (geralmente, anúncios e patrocínios de empresas estatais); b) abordar fatos e acontecimentos a partir de lógicas interpretativas afins com o ideário governamental; c) rebater acusações e críticas alardeadas pela mídia massiva. O primeiro jornal estatal foi criado no Equador. El Ciudadano (http://www.elciudadano.gov.ec/), “periódico do governo da revolução cidadã”, chegou às bancas na segunda quinzena de abril de 2008. Com 16 páginas e tiragem de 60 mil exemplares, circula quinzenalmente, sendo que, em Quito, também é distribuído aos usuários nas estações dos trólebus. Sua diretriz editorial: “El Ciudadano difunde, através de suas linhas, as informações da atividade governamental sobre diversos aspectos, para que se conheça de perto a grande obra que se leva adiante e que outros meios de comunicação se recusam a divulgar”. Em setembro de 2010, surgiu outro diário ligado ao governo equatoriano. PP [Periódico Popular], El Verdadero, é um tablóide de 16 páginas com impressão em cores e paginação atraente, matérias curtas, títulos fortes e muitas fotos, além de suplemento de variedades. Dispõe-se a divulgar “notícias positivas”: crônicas sobre a vida cotidiana, prestação de serviços aos consumidores e orientação aos que desejam abrir micronegócios. “Todos devem comprá-lo e ajudar a derrotar as empresas voltadas para o lucro e que dizem fazer comunicação: na verdade, só defendem os próprios negócios e interesses", disse Rafael Correa. Para chegar a leitores de menor poder aquisitivo, o preço de capa (equivalente a R$ 0,68) é o mais baixo da imprensa equatoriana. A estratégia de marketing assemelha-se à de jornais de penetração popular, incluindo promoções como as raspadinhas premiadas, nas quais o leitor pode ganhar recargas para celulares ou dinheiro. Semanalmente dois canais de televisão realizam sorteios de eletrodomésticos com os números que saem no PP. Mensalmente, os leitores concorrem a um carro zero quilômetro. Umas das razões da orientação mais agressiva do ponto de vista mercadológico foi a insatisfação de Correa com os rumos de El Telégrafo. A BBC Mundo divulgou que o governo equatoriano estava gastando US$ 6 milhões anuais e não conseguia alcançar mais do que 1% do público, o que teria levado o presidente a optar por uma reestruturação editorial de El Telégrafo e pelo lançamento do PP, a fim de aumentar a penetração em áreas populares. Na Bolívia, Evo Morales lançou, em 22 de janeiro de 2009, Cambio (http://www.cambio.bo/). São 16 páginas em formato tablóide, 5 mil exemplares diários e preço de capa equivalente a R$ 0,70. “Cansamos das mentiras difundidas pela mídia. São por demais conhecidas as agressões de alguns meios de comunicação: ofensas, humilhações, mentiras atrás de mentiras. Por isso, decidimos que o Estado terá seu próprio jornal”, afirmou Morales, completando: “Todos devem ter um espaço para expressar suas opiniões e fazer suas observações ao Executivo, mas com a verdade. O nosso diário fará um jornalismo sem discriminação, sem racismo, sem exclusões e com igualdade”. Segundo o diretor de SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 7 Cambio, Delfin Arias Vargas, a missão do jornal não é de ser pró-governamental, e sim estatal: “Estamos manejando a informação como um bem social ao qual o povo boliviano tem direito. Aqui não há militantes, há jornalistas profissionais. Em nenhum momento se perguntou se eram filiados a algum partido ou movimento social; o que examinamos foi seu currículo profissional”. Segundo ele, desde a posse de Evo Morales, “os meios de comunicação viraram trincheiras; hoje eles fazem oposição política frontal ao governo, tratam a informação sem nenhum respeito, tratam-na como bem comercial, não como bem social”. Vargas rejeita a agressividade da mídia e da oposição conservadora contra a criação do novo jornal: “Dizem que estamos violando a liberdade de expressão. Mas apesar de se terem cometidos vários abusos, não há nenhum jornalista preso ou processado aqui. A liberdade de imprensa é plena na Bolívia. Só não podemos permitir que ela não seja usada para tratar a informação como bem social que é”. Morales transmitiu apenas uma orientação editorial ao diretor de Cambio: “Ele nos disse que está apoiando o jornal, mas não quer propaganda do governo. ‘Quero que vocês deem informações corretas sobre nossa gestão’. ‘Vocês devem dar uma aula de jornalismo aos meios comerciais’, ele completou”. Delfin Vargas disse, ainda, ter sido procurado por dirigentes partidários e de movimentos sociais que apoiam o governo na semana seguinte ao lançamento do jornal, cada um com uma receita editorial própria. “Eu até entendo, porque estão desesperados para que haja mais meios alternativos no país. O que nós faremos será simplesmente tratar a informação como bem social, com manejo plural, responsável e veraz da informação. Isso nos fará independentes”, observou o jornalista. Na Venezuela, Correo del Orinoco (http://www.correodelorinoco.gob.ve/) chegou às bancas em 30 de agosto de 2009 com 32 páginas e 50 mil exemplares diários. O título é idêntico ao jornal que circulou de 27 de junho de 1818 a 23 de março de 1822, durante a guerra de independência da Venezuela. Foi criado por Simón Bolívar para contrabalançar a influência da Gazeta de Caracas, que se pôs ao lado da Coroa Espanhola. Hugo Chávez afirmou que o jornal foi concebido para reforçar o enfrentamento com o “terrorismo midiático”: “Um jornalismo da verdade e para a verdade, que sempre é e será revolucionária: isso é o que se propõe nosso Correo del Orinoco, ainda mais nestes momentos quando novamente os interesses imperiais pretendem impedir a liberdade e unidade de nossos povos. A tarefa do Correo del Orinoco, criado por nosso libertador faz 191 anos, não terminou, e ainda temos o enorme compromisso de atingir nossa definitiva independência, de todo domínio, de todo o colonialismo, de todo império. É a hora de fortalecer a luta no campo das ideias. É a hora de vencer...” Correo del Orinoco faz sobressair as intervenções de Chávez (discursos, artigos, entrevistas), ilustradas com fotos ou vídeos de atos e eventos de que participa. Embora haja variedade temática (política, economia, educação, energia, saúde, comunicação e cultura, meio ambiente, ecologia, ciência e tecnologia, esportes, segurança pública, direitos humanos, internacional, regiões do país), a maioria das notícias reflete o ponto de vista governamental, seja através dos esclarecimentos de autoridades, seja pela ênfase com que são destacadas as realizações presidenciais, ou ainda na seleção de articulistas alinhados politicamente com o Palácio Miraflores. Em fins de 2010, Fernando Lugo lançou o primeiro semanário governamental... {NDP: Trecho suprimido: O presidente paraguaio Fernando Lugo foi deposto por um golpe parlamentar orquestrado pela Monsanto, a CIA e os EUA em 25/06/12}. A mídia dos quatro países recriminou Chávez, Morales, Correa e Lugo por supostos desperdício do dinheiro público com propaganda oficial, “proselitismo político” e “falta de isenção e neutralidade” dos jornais estatais. A alegação de falta de isenção e de neutralidade não resiste a um exame aprofundado da própria práxis jornalística. Em primeiro lugar, o jornalismo baseia-se nos acontecimentos do mundo e na vida cotidiana, assumindo critérios de valor nas escolhas temáticas, nas linhas de abordagem e nas estratégias de veiculação. Está longe de ser uma atividade contemplativa, muito menos dissociadas do jogo de forças e das disputas de sentido e poder que se manifesta na sociedade. Se a atualidade histórico-social, em si mesma, é repleta de contradições, antagonismos e dissonâncias, o que significa exatamente ser objetivo e imparcial diante dela? Abster-se, alienar-se, evadir-se? E como exigir “isenção e neutralidade” frente a conflitos de classes, de greves, de escândalos de corrupção, rixas políticas, interesses econômicos e temas que dividem opiniões e pressupõem alinhamentos ou recusas? Em segundo lugar, omite-se que a chamada grande imprensa é a primeira a faltar com isenção e neutralidade quando intenta orientar ideologicamente os leitores, em editoriais e artigos; quando adota juízos particulares para selecionar, tratar e hierarquizar as informações; quando exerce controle sobre o que vai ser difundido, restringindo, silenciando ou amplificando questões e pontos de vista; quando nos diz quais são os escândalos, as crises, os banhos de sangue e as tragédias que devem ser conhecidos, discutidos, aceitos, rejeitados ou tolerados; quando espetaculariza situações e até guerras e atentados, ora para despertar comoção e SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 8 adesão, ora para infundir ódio e preconceito, ora para naturalizar desigualdades; quando descontextualiza e isola as notícias de suas causas e consequências históricas, políticas e culturais; quando incentiva modismos e ondas consumistas, acentuando ganhos, lugares de mando, estratificações e subalternidades. (...) Seja como for, as impugnações da mídia comercial contra os meios estatais visam impedir que o Estado disponha de veículos próprios para esclarecimento e convencimento da opinião pública a partir de seus pressupostos de compreensão da realidade, com os comprometimentos daí resultantes. Em última análise, a mídia quer conter, sem nunca assumir tal intenção publicamente, a pluralidade na produção de sentido e a emergência de oponentes nos embates pela hegemonia, sobretudo aqueles que questionam a concentração monopólica e se confrontam com o pensamento único neoliberal. Exemplos de canais de televisão financiados por verbas públicas: - TELESUR: http://www.telesurtv.net/ – Com o slogan “Nosso norte é o sul”, a Telesur está no ar desde 2005. Sediada em Caracas, é financiada pelos governos de Venezuela (51% das cotas), Cuba, Argentina, Bolívia, Equador e Nicarágua. - ECUADOR TV – Equador: http://www.ecuadortv.ec/ - ENCUENTRO – Argentina: http://www.encuentro.gob.ar - EBC – Brasil: http://www.ebc.com.br/ Fonte: MORAES, Dênis de. “Vozes abertas da América Latina: Estado, políticas públicas e democratização da comunicação”. Rio de Janeiro: Mauad X: Faperj, 2011. P. 61-90 (trechos) A sociedade brasileira precisa reinventar a esperança A proposta de impeachment implica sérios riscos à constitucionalidade democrática consolidada nos últimos 30 anos no Brasil. Representaria uma violação do princípio do Estado de Direito e da democracia representativa, declarado logo no art.1o. da Constituição Federal. Na verdade, procura-se um pretexto para interromper o mandato da Presidente da República, sem qualquer base jurídica para tanto. O instrumento do impeachment não pode ser usado para se estabelecer um “pseudoparlamentarismo”. Goste-se ou não, o regime vigente, aprovado pela maioria do povo brasileiro, é o presidencialista. São as regras do presidencialismo que precisam vigorar por completo. Impeachment foi feito para punir governantes que efetivamente cometeram crimes. A presidente Dilma Rousseff não cometeu qualquer crime. Impeachment é instrumento grave para proteger a democracia, não pode ser usado para ameaçá-la. A democracia tem funcionado de maneira plena: prevalece a total liberdade de expressão e de reunião, sem nenhuma censura, todas as instituições de controle do governo e do Estado atuam sem qualquer ingerência do Executivo. É isso que está em jogo na aventura do impeachment. Caso vitoriosa, abriria um período de vale tudo, em que já não estaria assegurado o fundamento do jogo democrático: respeito às regras de alternância no poder por meio de eleições livres e diretas. Seria extraordinário retrocesso dentro do processo de consolidação da democracia representativa, que é certamente a principal conquista política que a sociedade brasileira construiu nos últimos trinta anos. Os parlamentares brasileiros devem abandonar essa pretensão de remover presidente eleita sem que exista nenhuma prova direta, frontal de crime. O que vemos hoje é uma busca sôfrega de um fato ou de uma interpretação jurídica para justificar o impeachment. Esta busca incessante significa que não há nada claro. Como não se encontram fatos, busca-se agora interpretações jurídicas bizarras, nunca antes feitas neste país. Ora, não se faz impeachment com interpretações jurídicas inusitadas. Nas últimas décadas, o Brasil atingiu um alto grau de visibilidade e respeito de outras nações assegurado por todas as administrações civis desde 1985. Graças a políticas de Estado realizadas com soberania e capacidade diplomática, na resolução pacifica dos conflitos, com participação intensa na comunidade internacional, na integração latino-americana, e na solidariedade efetiva com as populações que sofrem com guerras ou fome. O processo de impeachment sem embasamento legal rigoroso de um governo eleito democraticamente causaria um dano irreparável à nossa reputação internacional e contribuiria para reforçar as forças mais conservadoras do campo internacional. Não se trata de barrar um processo de impeachment, mas de aprofundar a consolidação democrática. Essa somente virá com a radicalização da democracia, a diminuição da violência, a derrota do racismo e dos preconceitos, na construção de uma sociedade onde todos tenham direito de se beneficiar com as riquezas produzidas no pais. A sociedade brasileira precisa reinventar a esperança. Assinam, entre outros: Antonio Candido; Alfredo Bosi; Evaristo de Moraes Filho e Marco Luchesi, membros da Academia Brasileira de Letras; Andre Singer; o físico Rogério Cézar de Cerqueira Leite; Ecléa Bosi; Maria Herminia Tavares de Almeida; Silvia Caiuby; Emilia Viotti da Costa; Fabio Konder Comparato; Guilherme de Almeida, presidente Associação Nacional de Pós-Graduação em Direitos Humanos, ANDHEP; Maria Arminda do Nascimento Arruda; Gabriel Cohn; Amelia Cohn; Dalmo Dallari; Sueli Dallari; Fernando Morais; Marcio Pochman; Emir Sader; Walnice Galvão; José Luiz del Roio, membro do Fórum XXI e ex-senador da Itália; Luiz Felipe de Alencastro; Margarida Genevois e Marco Antônio Rodrigues Barbosa, ex-presidentes da Comissão Justiça e Paz de São Paulo; os cientistas políticos Cláudio Couto e Fernando Abrucio; Regina Morel; o biofísico Carlos Morel; Luiz Curi; Isabel Lustosa; José Sérgio Leite Lopes; Maria Victoria Benevides, da Faculdade de Educação da USP; Pedro Dallari; Marilena Chaui; Roberto Amaral e Paulo Sérgio Pinheiro FONTE: http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Intelectuaispara-afrontar-o-golpe-e-preciso-resgatar-a-esperanca-/4/34757 SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 9 Uma agenda de curto prazo para o Ministério das Comunicações 30/01/2015 - Nesta quarta-feira (28), o ministro das Comunicações Ricardo Berzoini recebeu a executiva do Fórum Nacional pela Democratização das Comunicações (FNDC), que reúne os principais movimentos e organizações que defendem a liberdade de expressão e o direito à comunicação no país. O Intervozes esteve presente. Na pauta, necessariamente, o debate sobre como Berzoini pretende conduzir as discussões públicas sobre a elaboração de um novo marco regulatório para o setor no Brasil. O ministro reafirmou as declarações já feitas na imprensa: esta gestão Dilma quer enfrentar o tema, “desmistificando conceitos e compartilhando informações”, como explicou. O processo de construção e aprovação de um novo marco regulatório, entretanto, levará tempo e encontrará obstáculos não apenas junto ao empresariado, mas também no Congresso Nacional. Como o quadro atual do sistema midiático brasileiro requer ações urgentes, bastando para isso vontade política e uma mudança de postura do Ministério das Comunicações, o FNDC apresentou a Berzoini questões que podem ser tratadas no curto prazo, independentemente da aprovação de uma nova lei geral para o setor. Isso porque o marco normativo atualmente em vigor no Brasil já garante os elementos necessários para que tais desafios sejam finalmente enfrentados por essa gestão do governo federal. É só querer. Compartilhamos abaixo algumas delas, na expectativa de que o novo ministro efetivamente cumpra o que tem anunciado: fazer diferente. 1. Proibição de outorgas para deputados e senadores O artigo 54 da Constituição aponta, em seus dois primeiros parágrafos, como fundamento da República, que deputados e senadores não podem firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público. O artigo 38 do Código Brasileiro de Telecomunicações também determina, em seu parágrafo primeiro, que não pode exercer a função de diretor ou gerente de concessionária, permissionária ou autorizada de serviço de radiodifusão quem esteja no gozo de imunidade parlamentar ou de foro especial. No entanto, há 40 deputados federais e senadores, da legislatura que termina neste domingo (1), que controlam diretamente pelo menos uma emissora de rádio ou televisão em seu estado de origem. 2. Combate aos arrendamentos/subconcessões Levantamento de arrendamentos na grade de programação da TV aberta, feito pelo Intervozes, aponta que algumas emissoras chegam a ter 92% do seu tempo vendido para terceiros, como a Rede 21, do Grupo Bandeirantes. Há casos também de emissoras maiores, como a RedeTV, que cresceu, nos últimos quatro anos, de 32% para 50% o percentual de sua grade arrendada. As igrejas cristãs são as responsáveis pela parte mais significativa dessas compras. A Igreja Universal do Reino de Deus, proprietária da Record e da TV Universal, por exemplo, paga cerca de 12 milhões por mês para o Canal 21 e para a CNT. Recentemente, o Ministério Público Federal de São Paulo entrou com três ações contra arrendamentos ilegais. Foram acionados na Justiça o grupo de TV CNT e o Canal 21 do grupo Bandeirantes pelo arrendamento ilegal de 22 horas diárias das suas programações para a Igreja Universal do Reino de Deus. O Ministério das Comunicações é réu nas ações, pois o MPF considera que o órgão deveria impedir a prática, e não o faz. Segundo o MPF, a subconcessão é inconstitucional pois (i) viola o princípio da licitação e a regra da isonomia, e (ii) a concessão possui caráter personalíssimo. Ainda que se admita a legalidade da subconcessão, seriam necessárias (i) a previsão no edital de licitação inicial da outorga, (ii) a permissão contratual, (iii) a prévia autorização do Poder Executivo e (iv) a realização de concorrência pública. Na venda de programação, nada disso é feito. Já se for considerado o aspecto mercadológico do negócio, a legislação brasileira também está sendo desrespeitada, visto que o art. 124 Código Brasileiro de Telecomunicações e o art. 28, §12, “d”, do Decreto Presidencial nº 52.795/63 determinam que o tempo destinado à publicidade comercial não poderá exceder 25% da programação. O Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT) determina fim do direito à outorga se a concessionária ou permissionária descumprir o contrato de concessão ou permissão, ou as exigências legais e regulamentares (art. 67). Mas o Ministério das Comunicações e o Congresso nacional nunca fizeram isso. 3. Enfrentamento ao livre mercado de compra e venda de outorgas de rádio e TV A radiodifusão, além de ser um serviço público, utiliza um bem público: o espectro eletromagnético. Apesar disso, muitos concessionários utilizam a outorga obtida junto à União como uma mercadoria por meio das vendas declaradas ou das negociações não públicas conhecidas como "contratos de gaveta". Ao mesmo tempo, transferências diretas e indiretas de outorgas também revelam a apropriação privada de recursos públicos. Previstas em lei, desde que autorizadas pelo Poder Executivo, as transferências de outorgas já são consideradas inconstitucionais – há jurisprudência nesse sentido e uma ação da Procuradoria Geral da República questiona um dispositivo análogo na lei de concessões. SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 10 Além disso, uma série de transferências ocorrem sem a anuência do Poder Executivo. 4. Garantia do respeito aos limites à concentração de propriedade já existentes A legislação brasileira veda que um mesmo ente possua mais de cinco emissoras em VHF ou mais de 10 em UHF no território nacional, bem como duas outorgas do mesmo serviço na mesma localidade. No entanto, esses limites são burlados cotidianamente no país. Um primeiro problema é o uso de estruturas societárias diferentes dentro de um mesmo grupo comercial. Um segundo problema é a afiliação em rede, cuja ausência de regramento permite, além da concentração de veículos por poucos grupos econômicos, contratos com obrigações excessivas para as afiliadas e a verticalização da produção audiovisual brasileira. Normas infralegais poderiam constituir mecanismos que identificassem os grupos comerciais, aplicando os limites à concentração de propriedade já existentes para estes. 5. Responsabilização das emissoras por violações de direitos humanos na programação Em busca de audiência, canais multiplicam violações com a profusão de programas policialescos e conteúdos baseados na estigmatização e humilhação. Denúncias crescentes nas Procuradorias dos Direitos do Cidadão comprovam uma questão sistemática. No processo de fiscalização das obrigações de conteúdo, além de não realizar um acompanhamento sistemático do que é veiculado, o MiniCom trabalha e orienta a Anatel a considerar apenas as normas dispostas no CBT e no regulamento do serviço de radiodifusão. O Código afirma que constitui abuso no exercício da radiodifusão o emprego dos meios de comunicação para a promoção de campanha discriminatória de classe, cor, raça ou religião. Já o Decreto Presidencial 52.795/63 proíbe as concessionárias de “transmitir programas que atentem contra o sentimento público, expondo pessoas a situações que, de alguma forma, redundem em constrangimento, ainda que seu objetivo seja jornalístico” (Art.28, item 12). Além de ser complexo enquadrar determinada programação na definição de campanha discriminatória, o MiniCom não considera as demais leis e tratados internacionais ratificados pelo Brasil que tratam do tema, como o Estatuto da Igualdade Racial, que prevê, por exemplo, que o poder público deve garantir medidas para “coibir a utilização dos meios de comunicação social para a difusão de proposições, imagens ou abordagens que exponham pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo por motivos fundados na religiosidade de matrizes africanas”(Art. 26). Em relação às eventuais sanções aplicadas, apesar de serem gradativas, elas não podem ser consideradas cumulativas em casos de reincidência. Assim, mesmo que uma emissora tenha como prática sistemática a difusão de conteúdos atentatórios contra os direitos humanos, ela nunca chegará a perder sua licença por este motivo. O valor aplicado também não é dissuasivo. Em 2013, as multas tinham como teto R$ 76.155,21, sendo que, por apenas 30 segundos de inserção publicitária, as emissoras cobram o valor médio de R$ 15 mil. 6. Fim da criminalização às rádios comunitárias É urgente promover uma mudança institucional no sentido de barrar a criminalização histórica das rádios comunitárias. Principal veículo de exercício da liberdade de expressão de milhares de comunidades em todo o país, essas rádios sofrem a frequente repressão por parte da Anatel, movida na maior parte dos casos por denúncias de rádios comerciais concorrentes. Ações de fechamento e lacração de emissoras tem levado, sem qualquer justificativa, além da detenção de líderes comunitários, à apreensão de equipamentos preciosos para a população e à cobrança de multas que colocam as associações em situação mais precária do que a em que já se encontram. A anistia dessas multas e a devolução dos equipamentos confiscados é uma medida urgente para a sobrevida deste movimento. A desburocratização dos processos de autorização (há casos de espera de quase 10 anos) e a criação de um mecanismo de financiamento para as rádios comunitárias, que seja compatível com a lei 9612/98, também são estratégicos para a sustentabilidade dos canais. 7. Universalização do acesso à banda larga O Programa Nacional de Banda Larga foi lançado em maio de 2010 com objetivo de ampliar os acessos à Internet de alta velocidade no país. Embora os acessos tenham crescido desde então, mais da metade dos domicílios brasileiros permanece desconectada, o que se soma a uma considerável desigualdade regional e um profundo fosso entre áreas urbanas e rurais. O cenário atual é reflexo de uma das falhas mais graves do Programa – a não consideração do serviço de banda larga como essencial e a crença de que meros incentivos ao mercado são capazes de superar desigualdades e garantir direitos. O plano de banda larga popular e as metas destinadas à área rural são também retratos dessa insuficiência e precisam ser revistos. A Presidenta Dilma tratou esse tema com prioridade em sua campanha e se comprometeu com a universalização do acesso à banda larga. Contudo, isso deve ser feito de acordo com a legislação brasileira, com a sua prestação também em regime público, conferindo ao poder público instrumentos regulatórios suficientes para exigir obrigações das empresas. Deve ser feito também com investimentos em redes de fibra ótica e fortalecimento da Telebras. Por fim, a concepção e implementação de uma nova fase do PNBL deve ter a participação social como um de seus pilares, assim como ocorreu com o Marco Civil da Internet. Extraído de: “http://www.alainet.org/active/80495”. SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 11 O Panóptico ou a casa de inspeção algum outro, ele o será apenas na medida em que esse outro possa dele se aproximar. Jeremy Bentham Carta I A idéia do princípio da inspeção Crecheff, Rússia Branca, 1787 Caro ***, vi, outro dia, em um de seus jornais ingleses, que se falava, em um anúncio, de uma Casa de Correção, planejada para *****. Ocorreu-me que o plano de um edifício concebido por meu irmão que, sob o nome de Casa de inspeção ou Elaboratório, ele está para construir aqui, para propósitos, sob alguns aspectos, similares aos daquela casa, pode proporcionar algumas sugestões para o estabelecimento acima mencionado. Em consequência, obtive alguns desenhos relativos a esse plano, os quais anexo a esta carta. Com efeito, por razões que você logo perceberá, eu o vejo como capaz de aplicações da mais ampla natureza. Para dizer tudo em uma palavra, ver-se-á que ele é aplicável, penso eu, sem exceção, a todos e quaisquer estabelecimentos, nos quais, num espaço não demasiadamente grande para que possa ser controlado ou dirigido a partir de edifícios, queira-se manter sob inspeção um certo número de pessoas. Não importa quão diferentes, ou até mesmo quão opostos, sejam os propósitos: seja o de punir o incorrigível, encerrar o insano, reformar o viciado, confinar o suspeito, empregar o desocupado, manter o desassistido, curar o doente, instruir os que estejam dispostos em qualquer ramo da indústria, ou treinar a raça em ascensão no caminho da educação, em uma palavra, seja ele aplicado aos propósitos das prisões perpétuas na câmara da morte, ou prisões de confinamento antes do julgamento, ou casas penitenciárias, ou casas de correção, ou casas de trabalho, ou manufaturas, ou hospícios, ou hospitais, ou escolas. É óbvio que, em todos esses casos, quanto mais constantemente as pessoas a serem inspecionadas estiverem sob a vista das pessoas que devem inspecioná-las, mais perfeitamente o propósito do estabelecimento terá sido alcançado. A perfeição ideal, se esse fosse o objetivo, exigiria que cada pessoa estivesse realmente nessa condição, durante cada momento do tempo. Sendo isso impossível, a próxima coisa a ser desejada é que, em todo momento, ao ver razão para acreditar nisso e ao não ver a possibilidade contrária, ele deveria pensar que está nessa condição. Esse aspecto, como você pode imediatamente ver, é completamente assegurado pelo plano de meu irmão; e, penso eu, parecerá igualmente evidente que não pode ser abrangido por nenhum outro ou, para falar mais apropriadamente, que se for abrangido por Para abreviar o assunto tanto quanto possível, considerarei, imediatamente, suas aplicações para aqueles propósitos que, por serem os mais complexos, servirão para exemplificar o poder e a força máxima do dispositivo preventivo, isto é, aqueles que são sugeridos pela ideia de casas penitenciárias, nas quais os objetos da custódia segura, do confinamento, da solidão, do trabalho forçado e da instrução, devem, todos eles, ser considerados. Se todos esses objetivos podem ser alcançados em conjunto, naturalmente o serão – com, no mínimo, igual certeza e facilidade – em qualquer número menor deles. Carta II Plano para uma casa de inspeção penitenciária Antes de ver o plano, tenha, em palavras, uma ideia geral dele. O edifício é circular. Os apartamentos dos prisioneiros ocupam a circunferência. Você pode chamá-los, se quiser, de celas. Essas celas são separadas entre si e os prisioneiros, dessa forma, impedidos de qualquer comunicação entre eles, por partições, na forma de raios que saem da circunferência em direção ao centro, estendendo-se por tantos pés quantos forem necessários para se obter uma cela maior. O apartamento do inspetor ocupa o centro; você pode chamalo, se quiser, de alojamento do inspetor. Será conveniente, na maioria dos casos, se não em todos, terse uma área ou um espaço vazio em toda volta, entre esse centro e essa circunferência. Você pode chamá-lo, se quiser, de área intermediária ou anular. Cerca do equivalente da largura de uma cela será suficiente para uma passagem que vai do exterior do edifício ao alojamento. Cada cela tem, na circunferência que dá para o exterior, uma janela, suficientemente larga não apenas para iluminar a cela, mas para, através dela, permitir luz suficiente para a parte correspondente do alojamento. SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 12 A circunferência interior da cela é formada por uma grade de ferro suficientemente fina para não subtrair qualquer parte da cela da visão do inspetor. Uma parte suficientemente grande dessa grade abre-se, na forma de uma porta, para admitir o prisioneiro em sua primeira entrada; e para permitir a entrada, a qualquer momento, do inspetor ou qualquer de seus assistentes. Para impedir que cada prisioneiro veja os outros, as partições devem se estender por alguns pés além da grade, até a área intermediária: eu chamo essas partes protetoras de partições prolongadas. Pensa-se que a luz, vindo dessa maneira através das celas e, assim, passando pela área intermediária, será suficiente para o alojamento do inspetor. Mas para esse propósito, ambas as janelas nas celas e aquelas que lhes correspondem no alojamento deverão ser tão largas quanto o permita a resistência do edifício e o que se possa considerar como uma necessária atenção à economia. As janelas do alojamento devem ter venezianas tão altas quanto possa alcançar os olhos dos prisioneiros – por quaisquer meios que possam utilizar – em suas celas. Para impedir uma luz plena, pela qual, não obstante as venezianas, os prisioneiros pudessem ver, a partir das celas, se há ou não uma pessoa no alojamento, o apartamento é dividido em quatro partes, por partições formadas por dois diâmetros do círculo, cruzando-se em ângulos retos. Para essas partições podem servir os materiais mais finos; e elas devem ser feitas de forma que possam ser removidas quando se queira; sua altura deve ser o suficiente para impedir que os prisioneiros se vejam mutuamente a partir das celas. As portas dessas partições, se deixadas abertas em qualquer momento, podem produzir uma luz plena. Para impedir isso, divida cada partição em duas, em qualquer parte que for preciso, fazendo com que a distância entre elas seja igual à metade da abertura de uma porta. Essas janelas do alojamento do inspetor abrem-se para uma área intermediária, na forma de portas, em tantos lugares quanto se julgarem necessários para que ele possa se comunicar prontamente com qualquer das celas. Lâmpadas pequenas, no exterior de cada janela do alojamento, tendo por trás um refletor para lançar luz nas celas correspondentes, estenderão à noite a segurança do dia. Para poupar o esforço problemático de voz que poderia, de outro modo, ser necessário, e para impedir que um prisioneiro saiba que o inspetor está ocupado, a distância, com outro prisioneiro, um pequeno tubo de metal deve ir de uma cela ao alojamento do inspetor, passando através da área, indo, assim, até o lado da janela correspondente do alojamento. Por meio desse implemento, o menor murmúrio de um pode ser ouvido pelo outro, especialmente se ele for orientado a aplicar seu ouvido ao tubo. Com respeito à instrução, nos casos em que ela não possa ser devidamente ministrada sem que o instrutor esteja próximo ao trabalho, ou sem que ele possa colocar sua mão nele, como exemplo, diante do rosto do aprendiz, o instrutor deve, aqui, como, na verdade, em outros casos, mudar seu lugar tão frequentemente quanto for possível para atender diferentes trabalhadores; a menos que ele convoque os trabalhadores para que cheguem até ele, o que, em alguns dos casos em que esse tipo de edifício é aplicável, tal como o de indivíduos aprisionados, não pode ser feito assim tão facilmente. Mas em todos os casos em que instruções, dadas verbalmente ou a distância, são suficientes, esses tubos poderão ser considerados úteis. Eles evitarão, por um lado, o esforço de voz que seria necessário, por parte do instrutor, para ministrar instrução aos trabalhadores sem deixar seu posto central no alojamento; e, por outro, a confusão que se seguiria se diferentes instrutores ou diferentes pessoas no alojamento estivessem falando com as celas ao mesmo tempo. E, no caso de hospitais, o silêncio que pode ser assegurado por esse pequeno dispositivo, por menos importante que possa parecer à primeira vista, propicia uma vantagem adicional. Um sino, destinado exclusivamente aos propósitos de alarme, ficará suspenso em um campanário com o qual se coroa o edifício, comunicando-se por meio de uma corda com o alojamento do inspetor. A forma mais econômica, e talvez a mais conveniente, de aquecer as celas e a área, seria por tubos em torno delas, com base no princípio dos existentes nos viveiros. Uma necessidade total de – por todos os meios – produzir calor artificial poderia, em um clima como o que temos, algumas vezes, na Inglaterra, ser fatal às vidas dos prisioneiros; em qualquer hipótese, seria, com frequência, totalmente incompatível com seu trabalho em qualquer atividade sedentária. Os tubos, entretanto, e as fornalhas correspondentes, em vez de ficarem no exterior, como nos viveiros, deverão ficar no interior. Por esse meio, não haverá nenhum desperdício de calor, e a corrente de ar que correria em todos os lados através das celas, para fornecer as chamas feitas pelo fogo, atenderia, até aqui, ao propósito da ventilação. Mas mais sobre isso será dito no capítulo dos Hospitais. (Trecho do livro O Panóptico, de Jeremy Bentham. Belo Horizonte, Autêntica, 2008. Org.: Tomaz Tadeu). SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 13 Orwell na ONU: Para Obama, só há “democracia” em país que apoia a política dos Estados Unidos Publicado por: Redação Irã News Autor: Share Button Publicada em 30/09/2015 às 20:42 Michael Hudson, Counterpunch Tradução: Vila Vudu Em seu discurso Orwelliano de 28/9/2015 na ONU, o presidente Obama disse que, se houvesse democracia na Síria, nunca teria havido revolta contra Assad. Por “revolta contra Assad”, Obama entende: o ISIL. Onde há democracia, disse ele, não há violência ou revolução. Foi a mais violenta, embora velada, ameaça, feita dentro da ONU, de que os EUA continuarão a promover revoluções, golpes e violência contra qualquer país que não seja… “democracia”. Nessa ameaça, afinal nem tão velada assim, Obama redefiniu o vocabulário da política internacional. “Democracia” existe onde a CIA derrube Mossadegh, no Irã, para lá instalar o Xá. “Democracia” há onde os EUA patrocinem os Talibãs, contra a Rússia, para derrubar o governo secular do Afeganistão. “Democracia” há na Ucrânia do golpe para pôr no poder “Yats” e Poroshenko. “Democracia” é os EUA instalando Pinochet no governo do Chile. Democráticos, só “os nossos felás-da-puta”, como disse Lyndon Johnson referindo-se aos ditadores que a política externa dos EUA instalou no poder na América Latina. Há um século, a palavra nação cujas políticas representantes eleitos. Grécia, “democracia” foi aristocracia. “democracia” aplicava-se a fossem delineadas por Sempre, desde a antiga o contrário de oligarquia e Mas depois da Guerra Fria, os políticos norteamericanos passaram a usar a palavra de outro modo. Quando um presidente dos EUA diz “democracia”, está falando de país que siga cegamente as políticas neoliberais dos EUA, não importa se é ditadura militar ou governo que chegou ao poder por golpe (sempre chamados de “revolução colorida”) como na Georgia e na Ucrânia. Para que um governo seja “democrático”, na novilíngua dos políticos norte-americanos, basta que apoie sem reclamar o Consenso de Washington, a OTAN e o FMI. “Democrático”, nesse caso, é governo que transfere o direito de construir e aplicar políticas, das mãos de políticos eleitos, para algum “banco central independente”, cujas políticas são ditadas diretamente pela oligarquia encastelada em Wall Street, na City de Londres e em Frankfurt. Por artes dessa operação orwelliana de redefinir o vocabulário político, quando o presidente Obama diz que esses países jamais conhecerão golpes, revolução violenta ou terrorismos, ele está dizendo que países que se mantenham bem-comportados, ou seja, dentro da órbita diplomática dos EUA, não correm risco de serem desestabilizados (processo patrocinado pelo Departamento de Defesa e Departamento do Tesouro dos EUA). E países cujos eleitores elejam democraticamente governo ou regime que aja com independência (ou que apenas reivindique o poder de agir com independência, sem ter de seguir cegamente diretivas dos EUA), esses, sim, serão desestabilizados – à moda do que foi feito na Síria, do que foi feito na Ucrânia, do que foi feito no Chile do general Pinochet. Como Henry Kissinger ‘argumentou’: só porque um país elege comunistas não significa que tenhamos de aceitar. É a cara das “revoluções coloridas” patrocinadas pelo National Endowment for Democracy [Dotação Nacional para a Democracia, órgão do Congresso dos EUA, que mantém incontáveis ONGs e grupos de ativistas pelo planeta, todos “democráticos”]. Na sua fala na ONU, o presidente Putin da Rússia alertou contra a “exportação de ‘revolução democrática'”, [1] referindo-se aos EUA em apoio aos seus factótuns locais. O ISIL é armado com armas dos SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 14 EUA e seus soldados foram treinados por instrutores das forças armadas dos EUA. E caso houvesse ainda alguma dúvida, o presidente Obama reiterou diante da ONU que até que o presidente Assad da Síria seja substituído por alguém mais submisso à política militar e do petróleo dos EUA, o principal inimigo é Assad, não o ISIL. “É impossível tolerar por mais tempo essa situação” – Putin respondeu. E o mesmo se aplica à Ucrânia: “O que me parece absolutamente inaceitável” – disse Putin, em entrevista ao programa 60 Minutes da CBS [2] –, “é impor a resolução de questões políticas internas nas repúblicas que formaram a URSS, com ‘revoluções coloridas’, com golpes de Estado, pela remoção inconstitucional de quem esteja no poder. Isso é totalmente inaceitável. Nossos parceiros nos EUA apoiaram os que derrubaram Yanukovych (…). Sabemos quem e onde, quando, quem falou com quem, quem trabalhou com quem para derrubar Yanukovych, como foram pagos, como foram treinados, onde, em que países e quem foram os instrutores. Sabemos de tudo. É inaceitável”. O que significa tudo isso, para as relações EUA-Rússia? Por um momento, cheguei a ter esperanças de que talvez aquela conversa anti-Rússia de Obama seria alguma espécie de ‘cobertura’ para proteger algum acordo que estivesse em preparação para a reunião das 17h, com Putin. Falar de um modo, para conseguir (tentar) agir na direção oposta, tem sido o modus operandi de Obama, como de tantos políticos. Mas, não. Obama continua sob total domínio dos neoconservadores. A que tudo isso levará? Há muitos modos de pensar fora da caixa. E se Putin propõe transportar por avião e navios os refugiados sírios – 1/3 da população do país – para a Europa, entregando-os na Holanda e Inglaterra, países que, pelas regras Shengen, são obrigados a aceitá-los? E se resolver levar para a Rússia os melhores especialistas em computação e inúmeros outros tipos de trabalho altamente especializado, para os quais o sistema educacional sírio forma mão de obra respeitada em todo o planeta, para assim suplementar o rio de emigração que sai da Ucrânia “democratizada” por Victoria Nuland? E o que acontecerá se os planos conjuntos já anunciados no domingo entre Iraque, Irã, Síria e Rússia para dar combate aos terroristas do ISIS – coalizão à qual EUA/OTAN recusaram-se a se unir – resultarem em ataques a soldados dos EUA ou, mesmo, ao principal financiador do ISIS, a Arábia Saudita? Agora, o jogo já não está nas mãos dos EUA. Tudo que os EUA sabem fazer é ameaçar com golpes e mais golpes, que para eles seriam “democratizar” – enquanto vão convertendo países recalcitrantes em Líbias, Iraques e Sírias. ***** [1] Putin fez esse alerta, num comentário no qual equiparou a ‘exportação’ de ‘revoluções’ que os EUA fazem hoje, à exportação do modelo, como os soviéticos faziam: “Todos devemos lembrar o que nosso passado nos ensinou. Também recordamos alguns episódios da história da União Soviética. “Experimentos sociais” para exportação, tentativas de impor mudanças dentro de outros países baseadas em preferências ideológicas, quase sempre levaram a consequências trágicas e à degradação, não ao progresso. Parece, contudo, que longe de aprender com os erros dos outros, tantos agora se põem, exatamente, a repeti-los. Por isso continua a exportação de revoluções, agora chamadas “democráticas” [NTs]. [2] “All eyes on Putin,” CBSNews.com, 27/9/2015. FRASE PARA REFLETIR: "Eu nunca pensei que viveria para ver o dia em que o Departamento de Estado dos Estados Unidos se aliou a pontos de vista neonazistas e de uma gangue de bandidos que tomaram o poder em um violento golpe de Estado. No Iraque, Líbia e Síria, os formuladores de políticas dos EUA acabaram fortalecendo grupos islâmicos radicais. Isso já foi ruim o suficiente. Agora, na Ucrânia eles estão fortalecendo herdeiros de Adolf Hitler. Como isso não é um escândalo?" (Justin Raimondo, In: ‘From Iraq to Ukraine : A Pattern of Disaster’) SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 15 Os novos Estados de vigilância Confiamos à Internet nossos pensamentos mais pessoais e íntimos. Com a vigilância massiva, o controle do Estado chegou a dimensões alucinantes. Ignacio Ramonet* 07/10/2015 - Durante muito tempo, a ideia de um mundo sob “vigilância total” foi vista como um delírio utópico ou paranoico, fruto da imaginação mais ou menos alucinada dos que sonham com teorias da conspiração. Contudo, é preciso reconhecer a evidência: vivemos, aqui e agora, a mercê de um império da vigilância. Cada vez são mais os que nos observam, nos espionam, nos vigiam, nos controlam, fazem arquivos sobre nós sem que saibamos. A cada dia, novas tecnologias são refinadas, buscando facilitar o seguimento do nosso rastro. Empresas comerciais e agências publicitárias registram nossas vidas. Com o pretexto de lutar contra o terrorismo, ou contra outras pragas (pornografia infantil, lavagem de dinheiro, narcotráfico), os governos – incluindo os mais democráticos – se transformam no Grande Irmão, e já não titubeiam diante da possibilidade de infringir suas próprias leis quando o objetivo é espionar melhor os seus próprios cidadãos. Em segredo, os novos Estados orwellianos querem estabelecer enormes arquivos sobre os nossos contatos e dados pessoais, guardados em diferentes suportes eletrônicos. Com a ajuda de algoritmos cada vez mais sofisticados, milhares de investigadores, de engenheiros, de matemáticos, de estadistas e de técnicos em informática buscam e classificam a informação que geramos sobre nós mesmos. Satélites e drones de visão de longo alcance nos seguem do espaço. Nos aeroportos, scanners biométricos analisam nosso andar, “lendo” nossas íris e nossas digitais. Câmaras infravermelhas medem nossa temperatura. As pupilas silenciosas das câmaras de vídeo apuram nossos passos nas cidades e nos corredores dos hipermercados. Também seguem nossas pegadas no trabalho, nas ruas, nos ônibus, no banco, no metrô, no estádio, nos estacionamentos, nos elevadores, nos centros comerciais, nas estradas, nas estações de trem, nos aeroportos… Vale destacar que a inimaginável revolução digital que vivemos, que já transformou tantas atividades e profissões, também transformou totalmente os serviços de informação e de vigilância. Na época da Internet, a vigilância passou a ser algo onipresente e perfeitamente imaterial, imperceptível, indetectável, invisível. Além disso, se caracteriza tecnicamente por uma simplicidade pasmosa – já não precisa mais daqueles trabalhos artesanais de instalação de cabo e microfones, como no antigo filme A Conversação (2), onde podíamos ver como um grupo de “encanadores” apresentava, numa conhecida feira, as técnicas de vigilância, as bugigangas mais bem elaboradas, caixas cheias de cabos elétricos que precisavam ser escondidos nos muros ou no chão… Após a onda de ataques terroristas que golpeou cidades como Nova York, Paris, Boston, Ottawa, Londres e Madrid, as autoridades perderam os pudores e utilizaram o grande pavor das sociedades comovidas para intensificar a vigilância para reduzir mais a proteção da nossa vida privada. Vários grandes escândalos dessa época – o caso Watergate nos Estados Unidos, o dos “encanadores de Le Canard enchaîné”, na França–, fracassos humilhantes para os serviços de informação, demostraram os limites desses antigos métodos mecânicos, facilmente detectáveis e localizáveis. Para entender melhor: o problema não é a vigilância em si, e sim a vigilância massiva clandestina. É evidente que, num Estado democrático, as autoridades contam com toda a legitimidade, baseada na lei e com a autorização prévia de um juiz, para colocar sob vigilância qualquer pessoa considerada suspeita. Como disse Edward Snowden: “não há nenhum problema em instalar um grampo contra Osama Bin Laden. Sempre que os investigadores tenham que dispor da permissão de um juiz – um juiz independente, um juiz autêntico, não um juiz secreto –, e possam provar que existe uma boa razão para emitir uma ordem, esse trabalho poderia ser realizado sem problemas. O problema é quando controlam a todos nós, em massa, o tempo todo e sem nenhuma justificativa” (1). Hoje em dia, vigiar alguém passou a ser algo impressionantemente fácil, ao alcance de qualquer um que saiba usar as diversas ferramentas disponíveis. Uma pessoa normal que pretende espionar algum conhecido pode encontrar no mercado diversas opções, meia dúzia de programas informáticos (mSpy, GsmSpy, FlexiSpy, Spyera, EasySpy) capazes de ler os conteúdos dos telefones celulares, mensagens de texto, correios eletrônicos, contas de Facebook, Whatsapp, Twitter, etc. Com o auge do consumo online, a vigilância comercial também se desenvolveu enormemente, dando lugar a um gigantesco mercado dos nossos dados pessoais, que se tornaram mercadorias. Durante cada uma das nossas conexões a uma página web, os cookies guardam o conjunto das buscas SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 16 realizadas e permitem estabelecer nosso perfil de consumidor. Em menos de vinte milésimos de segundo, o editor da página visitada vende aos possíveis anunciantes a informação revelada pelos cookies. Apenas uns milésimos de segundo mais tarde, a publicidade que supostamente nos causará mais impacto aparece em nossa tela. E assim acabamos sendo definitivamente registrados. A vigilância foi “privatizada” e “democratizada”. Já não é um assunto reservado aos serviços estatais de informação. Mas a capacidade dos Estados em matéria de espionagem massiva cresceu de forma destacável. E isso também se deve à cumplicidade com as grandes empresas privadas que dominam as indústrias de informática e das telecomunicações. Julian Assange afirmou que “as novas sociedades como Google, Apple, Amazon, e Facebook criaram vínculos com o aparato de Estado em Washington, particularmente com os responsáveis de Assuntos Exteriores” (3). Esse complexo de segurança digital – Estado aparato militar de segurança indústrias gigantes da web – constitui um autêntico império da vigilância, cujo objetivo concreto e bastante claro é colocar toda a Internet e todos os internautas sob vigilância, para controlar a sociedade. Para as gerações de menos de quarenta anos, a rede é, simplesmente, o ecossistema no qual a sua mente foi polida, e também sua curiosidade, seus gostos, sua personalidade. Desde o seu ponto de vista, a internet não é só uma ferramenta autônoma que se utilizaria para tarefas concretas. É uma imensa esfera intelectual, onde se aprende a explorar livremente todos os saberes. E, de forma simultânea, uma ágora sem limites, um lugar onde as pessoas se reúnem, dialogam, trocam e adquirem cultura, conhecimento, valores, e os compartilham. A Internet representa, para estas novas gerações, o que era a escola e a biblioteca, a arte e a enciclopédia, a pólis e o templo, o mercado e a cooperativa, o estádio e o palco, a viagem e os jogos, o circo e o bordel, tudo isso junto num mesmo lugar. É tão fabuloso que “o indivíduo, em seu prazer por evoluir num universo tecnológico, não se preocupa em saber, e menos ainda em compreender, que as máquinas administram o seu dia a dia. Que cada um dos seus atos e gestos é gravado, filtrado, analisado e eventualmente vigiado. Que, longe de liberá-lo de seus obstáculos físicos, a informática da comunicação constitui, sem dúvida, a ferramenta de vigilância e de controle mais fantástica que o ser humano já criou” (4). Essa tentativa de controle total da Internet representa um perigo inédito para as nossas sociedades democráticas: “permitir a vigilância da Internet – afirma Glenn Greenwald, o jornalista estadunidense que difundiu as revelações de Edward Snowden – é o mesmo que submeter praticamente todas as formas de interação humana a um controle estatal exaustivo, incluindo o pensamento em si” (5). Essa é a grande diferença com os sistemas de vigilância que existiam antes. Sabemos, desde Michel Foucault, que a vigilância ocupa uma posição central na organização das sociedades modernas. Estas são “sociedades disciplinárias”, onde o poder, por meio de técnicas e de estratégias complexas de vigilância, busca exercer o maior controle social possível (6). Essa vontade, por parte do Estado, de saber tudo sobre os cidadãos, está legitimada politicamente pela promessa de uma maior eficácia na administração burocrática da sociedade. Assim, o Estado afirma que será mais competitivo e, portanto, servirá melhor os cidadãos se os conhece melhor, da forma mais profunda possível. Porém, ao ser cada vez mais invasiva, a intrusão do Estado provoca, há tempos, uma crescente insatisfação entre os cidadãos que apreciam o santuário da vida privada. Em 1835, Alexis de Tocqueville já dizia que as democracias modernas de massa produzem cidadãos privados cuja principal preocupação é a proteção dos seus direitos. E que isso faz com que sejam particularmente exigentes e contrários às pretensões abusivas do Estado (7). Essa tradição se prolonga, na atualidade, em figuras como Julian Assange e Edward Snowden, ambos perseguidos ferozmente pelos Estados Unidos. Em sua defesa, o grande intelectual estadunidense Noam Chomsky afirmou que “a luta deles por uma informação livre e transparente é uma luta quase natural. Terão sucesso? Depende de nós. Se Snowden, Assange e outros fazem o que fazem, é porque exercem sua qualidade de cidadãos. Estão ajudando o público a descobrir o que os seus próprios governos fazem. Existe missão mais nobre para um cidadão livre? E se forem castigados severamente? Se Washington pudesse se livrar deles, seria ainda pior. Nos Estados Unidos existe uma lei de espionagem criada durante a Primeira Guerra Mundial. Obama a usou para evitar que a informação difundida por Assange e Snowden chegasse ao público. O governo vai tentar de tudo, cruzando o limite do indescritível, para se proteger do seu ‘inimigo principal’. E o ‘inimigo principal’ de qualquer governo é a sua própria população” (8). Na era da Internet, o controle do Estado chega a dimensões alucinantes, já que, de uma ou outra maneira, nós confiamos à Internet os nossos pensamentos mais pessoais e íntimos, tanto profissionais como emocionais. Assim, quando o Estado, com a ajuda de tecnologias superpoderosas, decide passar a espionar o nosso uso da Internet, não só extrapola suas funções, mas também profana nossa intimidade, destrincha literalmente o nosso espírito e saqueia o refúgio da nossa vida privada. SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 17 Sob os olhos dos novos “Estados de vigilância”, nos transformamos, sem saber, em clones do protagonista do filme O Show de Truman (9), expostos ao vivo à espionagem de milhares de câmeras e à escuta de milhares de microfones, que expõem nossa vida privada à curiosidade planetária dos serviços de informação. Nesse sentido, Vince Cerf, um dos inventores da web, considera que “na época das tecnologias digitais modernas, a vida privada é uma anomalia…” (10). Leonard Kleinroc, um dos pioneiros de Internet, é ainda mais pessimista: “Basicamente – considera ele –, nossa vida privada já não existe mais, e é impossível recuperá-la” (11). Por uma parte, muitos cidadãos se resignam, como se o fim do nosso direito ao anonimato fosse somente uma fatalidade da nossa época. Por outra, essa preocupação de defender nossa vida privada pode parecer reacionária, ou até mesmo “suspeita”, porque só aqueles que têm algo que esconder tentam se esquivar do controle público. Portanto, as pessoas que consideram que não têm nada para ocultar, não são hostis à vigilância do Estado, sobretudo se essa traz uma vantagem importante em termos de segurança, como prometem as autoridades. Entretanto, esse discurso – “por um pouco menos de liberdade para você, que te entrego cinco vezes mais garantia de segurança” – é uma estafa. A segurança total não existe, não tem como existir. É uma enganação. Porém, a “vigilância total” se tornou uma realidade indiscutível. Para questionar o golpe da segurança, balela frequentemente cantarolada por todos os poderes, vale recordar a lúcida advertência lançada por Benjamin Franklin, um dos autores da Constituição estadunidense: “um povo disposto a sacrificar um pouco de liberdade por um pouco de segurança não merece nem a primeira nem a segunda. E acaba perdendo as duas coisas”. Um pensamento alinhado perfeitamente com a atualidade, que deveria nos estimular a defender nosso direito à vida privada e a proteger nossa intimidade. Jean-Jacques Rousseau, filósofo do iluminismo e o primeiro pensador que “descobriu” a intimidade, nos deu o exemplo. Não foi ele também o primeiro a se rebelar contra a sociedade do seu tempo e a sanha inquisidora da mesma, de querer controlar a consciência dos indivíduos? “O fim da vida privada seria uma autêntica calamidade existencial”, afirmou também a filósofa contemporânea Hanna Arendt, em seu livro A Condição Humana (12). Com uma formidável clarividência, sua obra fala dos perigos para a democracia de uma sociedade onde a distinção entre a vida privada e a vida pública fosse insuficiente – o que, segundo Arendt, significaria o fim do homem livre, e empurraria as nossas sociedades a novas formas de totalitarismo, de maneira implacável. * Jornalista espanhol. Presidente do Conselho de Administração e diretor da redação do “Le Monde Diplomatique” em espanhol. Editorial nº 240, outubro de 2015. (1) Katrina van den Heuvel et Stephen F. Cohen, “Edward Snowden: A ‘Nation’ Interview”, The Nation, Nova York, 28 de outubro de 2014. (2) A Conversação (The Conversation), 1973. Direção: Francis F. Coppola. Intérpretes: Gene Hackman, John Cazale, Cindy Williams, Harrison Ford, Robert Duvall. Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1974. (3) Ignacio Ramonet, “Entrevista com Julian Assange: ´Google nos espiona e informa ao governo dos Estados Unidos´”, Le Monde Diplomatique em espanhol, dezembro de 2014. (4) Jean Guisnel, em seu prefácio para o livro de Reg Whitaker, Tous fliqués. La vie privée sous surveillance, Editora Denoël, Paris, 2001 – em espanhol: El fin de la privacidad. Cómo la vigilancia total se está convirtiendo en realidad (O fim da privacidade: Como a vigilância está se tornando realidade), Editora Paidós, Barcelona, 1999. (5) Glenn Greenwald, No place to hide. Edward Snowden, the NSA, and the US Surveillance State, Metropolitan Books, Nova York, 2014. (6) Michel Foucault, Vigiar e Castigar, Biblioteca Nova, Madrid, 2012. (7) Alexis de Tocqueville, “A democracia na América”, Akal, Madrid, 2007. (8) Ignacio Ramonet, “Entrevista com Noam Chomsky: Contra o império da vigilância”, Le Monde Diplomatique em espanhol, abril de 2015. (9) O Show de Truman: O Show da Vida (The Truman Show) (1998). Direção: Peter Weir. Intérpretes: Jim Carrey, Laura Linney, Ed Harris. (10) Marianne, Paris, 10 de abril de 2015. (11) El País, Madrid, 13 de janeiro de 2015. (12) Hanna Arendt, A Condição Humana, Editora Paidós, Barcelona, 2005. Tradução: Victor Farinelli FRASE PARA REFLETIR: A propósito da agressão imperialista à Líbia, Domenico Losurdo, um dos filósofos marxistas mais criativos do nosso tempo, recorda a famosa novela ‘1984’, de Georges Orwell. O alvo desse romance era a satanização da União Soviética contemplada pelo escritor anticomunista britânico como uma sociedade onde a robotização do homem estaria em marcha. Orwell ideou um mundo imaginário no qual uma «neolingua» manipulara a consciência dos povos, destruindo-a. A sua utopia, escrita no ano em que foi fundada a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), adquire hoje dramática atualidade. Mas Orwell errou o alvo. O perigo para a humanidade vem de outro azimute. A URSS, a pátria mítica do socialismo, desapareceu e quem simboliza o «Grande Irmão» é o imperialismo, hegemonizado pelos Estados Unidos... (Miguel Urbano Rodrigues in: ‘A robotização da humanidade na agressão à Líbia’ – 1º de Maio de 2011). SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 18 O ato revolucionário de contar a verdade John Pilger "Num tempo de fraude universal, contar a verdade é um ato revolucionário", disse George Orwell. Estes são tempos negros, nos quais a propaganda da fraude afeta todas as nossas vidas. É como se a realidade política houvesse sido privatizada e a ilusão legitimada. A era da informação é uma era medieval. Temos política através dos meios; censura através dos meios; guerra através dos meios; represália através dos meios; diversão através dos meios – uma linha de montagem surreal de clichês e falsas suposições. Uma tecnologia assombrosa torna-se tanto nossa amiga como nossa inimiga. Todas as vezes que ligamos um computador ou escolhemos um dispositivo digital – nossos rosários leigos – estamos sujeitos a controle: à vigilância dos nossos hábitos e rotinas, e a mentiras e manipulação. Edward Bernays, que inventou a expressão "relações públicas" como eufemismo para "propaganda", previu isto há mais de 80 anos. Chamou a isto "o governo invisível". Escreveu ele: "Aqueles que manipulam este elemento não visto da [moderna democracia] constituem um governo invisível a qual é o verdadeiro poder dominante do nosso país... Somos governados, nossas mentes são moldadas, nossos gostos formados, nossas ideias sugeridas, em grande medida por homens de que nunca ouvimos falar..." O objetivo deste governo invisível é a conquista de nós próprios: da nossa consciência política, do nosso sentido do mundo, da nossa capacidade para pensar independentemente, de separar verdades de mentiras. Isto é uma forma de fascismo, uma palavra que justificadamente usamos com cautela, preferindo deixá-la num passado hesitante. Mas um insidioso fascismo moderno é agora um perigo que se acelera. Tal como nos anos 1930, grandes mentiras são apresentadas com a regularidade de um metrônomo. Muçulmanos são maus. Fanáticos sauditas são bons. Fanáticos do ISIS são maus. A Rússia é sempre má. A China está a ficar má. Bombardear a Síria é bom. Bancos corruptos são bons. Dívida corrupta é boa. A pobreza é boa. A guerra é normal. Àqueles que questionam estas verdades oficiais, este extremismo, considera-se que precisam de uma lobotomia – até serem diagnosticados como aderindo à linha. A BBC proporciona este serviço gratuitamente. Se deixar de se submeter será etiquetado como um "radical" – seja o que for que isso signifique. A dissidência real tornou-se exótica; mas aqueles que dissidem nunca foram tão importantes. O livro que estou a lançar esta noite, "The WikiLeaks Files", é um antídoto para um fascismo que nunca pronuncia o seu nome. É um livro revolucionário, assim como a própria WikiLeaks é revolucionária – exatamente como pretendia Orwell na citação que mencionei no princípio. Pois ele diz que não precisamos aceitar estas mentiras diárias. Não precisamos permanecer em silêncio. Ou, como cantou outrora Bob Marley: "Emancipe-se da escravidão mental". Na introdução, Julian Assange explica que nunca é suficiente publicar as mensagens secretas dos grandes poderes: que perceber o sentido delas é crucial, assim como colocá-las no contexto de hoje e na memória histórica. Este é o feito notável desta antologia, a qual recupera a nossa memória. Ela conecta as razões e os crimes que provocaram tanta tempestade humana, desde o Vietnã e a América Central até o Oriente Médio e a Europa do Leste, com a matriz na potência rapinante, os Estados Unidos. Há atualmente uma tentativa americana e europeia de destruir o governo da Síria. O primeiro-ministro David Cameron está especialmente entusiasmado. Este é o mesmo David Cameron de que me recordo como um untuoso homem de RP empregado por um desmembrador de empresas (asset stripper) da televisão comercial independente da GrãBretanha. Cameron, Obama e o sempre obsequioso François Hollande querem destruir o último remanescente da autoridade multicultural na Síria, uma ação que certamente abrirá caminho para os fanáticos do ISIS. Isto é insano, naturalmente, e a grande mentira justificando esta insanidade é que é em apoio aos sírios que se levantam contra Bashar alAssad na Primavera Árabe. Como revela The WikiLeaks Files, a destruição da Síria é desde há muito um cínico projeto imperial que antecede o levantamento da Primavera Árabe contra Assad. Para os dominadores do mundo em Washington e na Europa, o verdadeiro crime da Síria não é a natureza opressiva do seu governo mas a sua independência em relação ao poder americano e israelense – assim como o verdadeiro crime do Irã é a sua independência, e o verdadeiro crime da Rússia é a sua independência, e o verdadeiro crime da China é a sua independência. Num mundo possuído pela América, a independência é intolerável. Este livro revela estas verdades, uma após a outra. A verdade sobre uma guerra ao terror que foi sempre uma guerra de terror; a verdade sobre Guantânamo, a verdade sobre o Iraque, o Afeganistão, a América Latina. Nunca contar a verdade foi tão urgentemente necessário. Com honrosas exceções, aqueles nos meios pagos aparentemente para manter as coisas claras estão agora absorvidos dentro de um sistema de propaganda que já não é jornalismo, mas antijornalismo. Isto é verdadeiro tanto para liberais e respeitáveis como para Murdoch. A menos que esteja preparado para monitorar e desconstruir toda afirmação especiosa, as assim chamadas "notícias" tornaram-se inassistíveis e ilegíveis. Ao ler "The WikiLeaks Files" recordei as palavras do falecido Howard Zinn, que muitas vezes referia-se a "um poder que governos não podem suprimir". Isto descreve a WikiLeaks e descreve a verdade dos denunciantes que partilham a sua coragem. Numa nota pessoal, tenho conhecido pessoas da WikiLeaks desde há algum tempo. Que tenham alcançado o que fizeram em circunstâncias que não foram da sua escolha é uma fonte de admiração constante. O seu resgate de Edward Snowden vem à mente. Tal como ele, eles são heróicos: nada menos. O capítulo de Sarah Harrison, "Indexing the Empire", descreve como ela e seus camaradas estabeleceram toda uma Biblioteca Pública da Diplomacia dos EUA. Há mais de dois milhões de documentos, agora disponíveis para todos. "Nosso trabalho", escreve ela", "destina-se a assegurar que a história pertence a todos". Quão emocionante é ler estas palavras, as quais se mostram também um tributo à sua própria coragem. Do confinamento numa sala da embaixada equatoriana em Londres, a coragem de Julian Assange é uma resposta eloquente aos covardes que o enlamearam e à potência canalha que procura vingar-se sobre ele e travar uma guerra à democracia. Nada disto desviou Julian e seus camaradas da WikiLeaks: nem um milímetro. Não será alguma coisa? 30/Setembro/2015 O original encontra-se em http://johnpilger.com/articles/therevolutionary-act-of-telling-the-truth. Este artigo encontra-se em http://resistir.info/. SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 19 A barbárie no ar: As TVs brasileiras e o estímulo à violência Justiçamento, preconceito, discriminação. TVs brasileiras violam direitos humanos abusivamente. por Lalo Leal/Revista do Brasil Exatamente 1.936 violações de direitos são cometidas em um mês no rádio e na TV, por apenas 30 programas. Os autores dessa façanha não são os personagens, geralmente negros e pobres, apresentados com estardalhaço diariamente pelos programas policialescos. São os próprios apresentadores, em conluio com repórteres e produtores – a autoridades –, sob o comando dos dirigentes das emissoras que abrem espaços para essas aberrações. A constatação está numa pesquisa realizada pela Andi – Comunicação e Direitos, uma organização social que há 21 anos trabalha para dar visibilidade na mídia a questões relacionadas aos direitos das crianças e dos adolescentes. Entre outras ações, criou o projeto Jornalista Amigo das Crianças, que já reconheceu com essa qualidade 392 profissionais em atuação no país. Os chamados programas policialescos entraram na mira da Andi diante das seguidas violações cometidas contra a infância e adolescência. A pesquisa constatou que as violações, em nove categorias de direitos, vão muito além dessas faixas e atingem toda a sociedade. Exemplos não faltam. A presunção de inocência, uma das categorias selecionadas pela pesquisa, é constantemente violada. No programa Balanço Geral, da TV Record, uma chamada diz "Pai abandona filho em estrada do RS" e o apresentador acrescenta: "Um pai abandonou uma criança nas margens de uma rodovia? Fez!" Apesar do desmentido do pai, a acusação constitui um claro desrespeito à presunção de inocência, garantida no artigo 5º da Constituição brasileira. O estímulo à violência como forma de resolver conflitos é outra marca desses programas. Como nesse exemplo pinçado pela pesquisa na Rádio Barra do Piraí AM, programa Repórter Policial. Uma pessoa acaba de ser presa pela polícia e o apresentador anuncia: "Então, a praga acabou de ser grampeada. Não seria o caso, né? Passa logo fogo num cara desse aí! (...) É uma pena que ele não reagiu, porque a rapaziada passaria fogo nele de uma vez e tava tudo certo". infração ao regulamento "incitar a desobediência às leis ou às decisões judiciárias" e "criar situação que possa resultar em perigo de vida") e o Código de Ética dos Jornalistas Profissionais (jornalista não pode usar o jornalismo para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime). Outra categoria: discurso de ódio e preconceito. No programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes, o apresentador José Luiz Datena faz enquete para saber quem acredita em Deus e diz: "...ateu eu não quero assistindo o meu programa. ‘Ah, mas você não é democrático.’ Nessa questão não sou não, porque um sujeito que é ateu, na minha modesta opinião, não tem limites, é por isso que a gente tem esses crimes por aí..." Só com essas frases o apresentador violou seis leis brasileiras, três pactos multilaterais firmados pelo Brasil e mais uma vez o Código de Ética dos Jornalistas, além de desrespeitar princípios e declarações internacionais de defesa da liberdade de expressão. E ainda ignorar os muitos crimes de Estado, guerras e outras violências que foram cometidos ao longo da história, e ainda o são, em nome de supostas causas religiosas O fato de se apresentarem como "jornalísticos" faz com que esses programas escapem da classificação indicativa de horários para determinadas faixas etárias do público telespectador. Passam a qualquer hora oferecendo às crianças e jovens esse festival de ódio e violência. Mas de jornalismo têm pouco. São programas de variedades, espetacularizando fatos dramáticos da vida real com tentativas até de fazer um tipo grotesco de humor. Numa edição gaúcha do programa Balanço Geral, por exemplo, o apresentador Alexandre Mota, ao narrar a morte de um suspeito pela polícia, fingia chorar copiosamente clamando de forma irônica pela vinda dos defensores dos direitos humanos. Em seguida, estimulado por uma repórter, passa a sambar alegremente diante das câmeras. Texto extraído de: http://www.patrialatina.com.br/. Postado em 15/10/2015 ás 09:04 Só nesse caso são violadas cinco leis brasileiras, cinco acordos internacionais firmados pelo Brasil e um código de ética profissional. Entre eles a Constituição Federal, o Regulamento dos Serviços de Radiodifusão (é considerada SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 4 - Prof. Renato Fialho Jr.- Página 20
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