A INFLUÊNCIA DAS CORES NA VITRINE: UM ESTUDO DE
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A INFLUÊNCIA DAS CORES NA VITRINE: UM ESTUDO DE
A INFLUÊNCIA DAS CORES NA VITRINE: UM ESTUDO DE DESIGN EXPOSITIVO ALIADO AO MARKETING Mariane Levandoski1 Suzana Funk2 RESUMO: A forma com que o produto ou serviço é exposto aos olhos humanos é um dos principais convites à adquirí-lo despertando desejo de consumo. E desde os primórdios da humanidade, a vitrine é uma das mais poderosas ferramentas de venda. Para que elas possam transmitir as sensações desejadas e fazer com que o cliente seja atraído por elas, as mesmas são compostas por vários elementos que surgem para enfatizar os produtos demonstrando seu uso, bem como sugestões de uso e de combinações. Estes elementos são basicamente elementos decorativos, layouts, tipografia, manequins, expositores, iluminação e cores. Este último elemento tem importância significativa, já que as cores nos transmitem sensações diferenciadas. Este artigo tem como objetivo demonstrar a importância do uso da cor na vitrine, bem como seus efeitos psicológicos e sensitivos que fazem com que o ser humano seja provocado e atraído por elas causando os efeitos desejados, influenciando no comportamento dos consumidores, resultando a efetivação da venda e consequentemente, a geração de lucro. Palavras-chave: Cor; Vitrine; Vitrinismo; Marketing. 1 INTRODUÇÃO Para sobreviver, desde o início dos tempos, o homem possui necessidades que precisava sanar, para dar sequência à espécie. É necessário se alimentar, se vestir, se reproduzir. Porém, à medida que estas necessidades primárias para a sobrevivência da raça humana foram se tornando fáceis de sanar, o homem passou a necessitar e desejar mais. Segundo Godoy (2009) o psicólogo comportamental Abraham Maslow consegue explicar através da Hierarquia das Necessidades como o homem se comporta e motiva frente aos seus desejos. Sua pirâmide das necessidades, que pode ser vista na figura 01, explica o comportamento humano através de cinco níveis de necessidade, apresentados em ordem: inicialmente estão as fisiológicas (alimentação, respiração, reprodução, vestimenta), em seguida, surgem as necessidades de segurança (física, financeira, de bem-estar), as de Mariane Levandoski – Especialista em Design de Ambientes (FAE). [email protected] 2 Suzana Funk – Mestre em Design (UFRGS) – Professora Orientadora. [email protected] 1 2 associação (amizades, intimidades, família, organizações), as necessidades de estima (após aceitação do membro em um grupo, ele precisa de reconhecimento e destaque) e finalmente, as necessidades de auto-realização (o indivíduo atinge seu potencial máximo). Figura 01: Pirâmide das necessidades. Fonte: (GODOY, 2009). Mesmo que para alguns indivíduos algumas necessidades sejam de maior importância do que outras, alterando a ordem da pirâmide, todas elas para serem sanadas, envolvem o consumo de bens, produtos ou serviços. É preciso comprar comida, roupas, celulares, computadores, ter uma casa, um carro, estudar e uma infinita gama de produtos/serviços que consumimos por necessidade, ou por desejo. O estímulo racional para a aquisição de bens é a necessidade. Mesmo assim, o estímulo emocional (desejo) possui imensa importância no processo de decisão de compra. A maioria das pessoas já se deparou com a situação de deixar de comprar um produto que necessitava por não desejá-lo e ao mesmo tempo, adquirir um produto que não necessitava, puramente pelo desejo de obtê-lo. E existem muitos aspectos que nos levam a desejar mais certos produtos/serviços e canalizarmos estes ao resultado da compra. 3 A forma com que o produto ou serviço é exposto aos olhos humanos é um dos principais convites à adquirí-lo despertando desejo de consumo. E desde os primórdios da humanidade, a vitrine é uma das mais poderosas ferramentas de venda. Segundo Carvalho (2012), os egípcios já utilizavam-se de placas indicativas aos produtos que ali vendiam (por exemplo, a imagem de um trigo significava que ali se vendia pão ou então, a imagem de um cacho de uvas simbolizava que ali era comercializado vinho) e os árabes tinham por hábito expôr os produtos sobre tecidos ou bancadas, prática essa utilizada até hoje, conforme podemos ver na figura 02. Figura 02: Mercado árabe em Jerusalém. Fonte: (SHALOM, 2011). As vitrines são uma das formas de comunicação de menor valor, se comparada à campanhas publicitárias, folders, cartazes, mídia e brindes. Além disso, possui efeito imediato, ou seja, desde que está composta o cliente fica frente a frente com o produto e sua maneira de exposição. Se o resultado for positivo e os observadores sentirem-se seduzidos por ela, captando sua mensagem, vai despertar o desejo de compra. Se negativo, ou seja, se não chamar a atenção do público não conseguindo transmitir a mensagem e nem proporcionar o desejo de obter o produto exposto, pode ser imediatamente alterada ou substituída. A composição das vitrines variam de acordo com o produto/serviço que estão expondo, o público que querem atrair, a cultura e a geografia do local em que está instalada. Conforme podemos observar na figura 03, constatamos que algumas são muitos mais compostas, cheias 4 de detalhes, de cores e de produtos. Geralmente este tipo de vitrine é aliada à lojas com preços mais acessíveis e produtos comuns, produzidos em larga escala. Podemos observar também na figura 04, que existem outras vitrines com aspectos minimalistas, luxuosos, modernos, com menos elementos e que geralmente pertencem à lojas com valores mais elevados, enfatizando a sensação de que os produtos oferecidos ali são únicos, exlcusivos e transmitem status. Figuras 03 e 04: Comparação entre vitrine de artigos populares e artigos de luxo. Fonte: (EXTRA, 2014); (FASHIONBUBBLES, 2013). Para que elas possam transmitir as sensações desejadas e fazer com que o cliente seja atraído por elas, as vitrines são compostas por vários elementos que surgem para enfatizar os produtos demonstrando seu uso, bem como sugestões de uso e de combinações. Estes elementos são basicamente elementos decorativos, layouts, tipografia, manequins, expositores, iluminação e cores. Este último elemento tem importância significativa, já que as cores nos transmitem sensações diferenciadas. Uma vitrine de verão, como mostra a figura 05, composta por biquinis, cangas, chinelos e sandálias não pode ser elaborada com cores frias, como branco, 5 cinza, chumbo, prata, marrom, preto ou roxo, as quais seriam ideais para compôr uma vitrine de inverno (figura 06). É uma vitrine que precisa transmitir calor, sol, praia, piscina e independente dos móveis, da iluminação e de todos os outros elementos ali expostos, uma vitrine nestas cores não iria transmitir essas sensações. As cores adequadas para estas vitrines sempre serão cores quentes, claras, alegres e energizantes, a não ser que a mensagem a ser transmitida objetive outro resultado. Figuras 05 e 06: Vitrine de verão (cores quentes e alegres) e vitrine de inverno (predominância de tons sóbrios). Fontes: (PORTAIS DA MODA, 2011), (GRUPO QUALITY, 2009) Uma vitrine bem elaborada, com elementos bem posicionados, boa iluminação, escolha coerente de cores pode significar até 70% das vendas de uma loja em alguns segmentos, segundo pesquisas citadas pela especialista em Visual Marketing Patrícia Konrad. Logo, a cor enfatizando seu principal papel na provocação de sensações aos observadores se justifica, sendo que “a cor é uma realidade sensorial à qual não podemos fugir. Além de atuar sobre a emotividade humana, as cores produzem uma sensação de movimento, uma dinâmica envolvente e compulsiva.” (FARINA, PEREZ, BASTOS, 2011, p. 85) 6 2 REFERENCIAL TEÓRICO "Com referência às áreas publicitárias e de promoção de vendas, vários fatores se conjugam para determinar a cor exata que será a portadora da expressividade mais conveniente a cada tipo específico de mensagem para um produto a ser consumido ou serviço a ser utilizado. Na realidade, a especificidade daquilo que será anunciado tem íntima conexão com a cor empregada, quer seja para transmitir a sensação de realidade, quer para causar impacto ou realçar um diferencial" (FARINA, PEREZ, BASTOS, 2011, p. 116). As sensações e efeitos das cores são provocadas nas pessoas por toda a composição da vitrine, inclusive é claro, do produto exposto. Em pesquisa de marketing mostrada no site do SEBRAE (2009), cerca de 93% dos consumidores acham que a cor e elementos visuais são muito mais importantes que outros fatores ao escolher um produto e 80% acreditam que a cor aumenta o reconhecimento de uma marca e consequentemente, a confiança do consumidor. Através destes dados podemos constatar que “independentemente do espaço onde é aplicada, das formas que a contenham, a cor, por si só, comunica e informa” (FARINA, PEREZ, BASTOS, 2011, p.129). Segundo Carvalho (2012) da mesma maneira que a cor de uma vitrine pode ser responsável pelo seu sucesso, a mesma pode acabar por arruinar a mensagem a ser transmitida, causando efeito contrário. Quando o cliente se depara com uma vitrine cheia de produtos que não combinam com a decoração e cores mal posicionadas, ele acaba por perder o foco principal que é o produto. A influência que as cores provocam ao organismo humano podem ser explicadas através de pesquisas feitas por vários psicólogos. Max Lüscher, um psicólogo suíço e consultor empresarial de cores, afirma que através de experiência pôde constatar que o vermelho é puramente excitante. Farina, Perez, Bastos (2011) destacam seu resultado que sugere que se uma pessoa é obrigada a olhar fixamente para esta cor há uma elevação da pressão arterial e nota-se que o ritmo cardíaco dessa pessoa se altera. Em resumo, esta pesquisa indica que as cores quentes (vermelho, laranja e pequena parte do amarelo e do roxo) nos dão sensação de proximidade, calor e são estimulantes. Já as cores frias (grande parte do amarelo e do roxo, verde e azul) emitem leveza, distância e são calmantes. Em contrapartida, os mesmos autores ainda afirmam que cada indivíduo pode ter uma reação diferente em relação às mesmas cores, afinal “mesmo que haja uma parte instintiva na 7 reação à cor, é indiscutível que o homem vai acumulando em sua memória experiências...” (FARINA, PEREZ, BASTOS, 2011, p.94). Ainda em referência às percepções dos indivíduos frente à observância das cores e analisando-as em um âmbito maior, "a variedade de significados de cada cor, ao longo dos tempos, está intimamente ligada ao nível de desenvolvimento social e cultural da sociedade que os criam" (PEDROSA, 2010, p. 110). Dessa maneira, ainda é maior o trabalho de selecionar e posicionar as cores em uma vitrine onde não há restrições, ou seja, qualquer pessoa que por ali passar poderá contemplá-la. E se bem posicionada, iluminada e em conjunto com os outros elementos da vitrine em harmonia, uma cor que um indivíduo tenha recordações desagradáveis pode passar a ser vista de maneira diferente, gerando a necessidade e o desejo de consumo, como afirma Perez (2004, apud FARINA, PEREZ, BASTOS, 2011, p. 119): “a Publicidade atualiza as necessidades presentes, traduz, exarceba e confere valor aos produtos, tornando-os mais desejáveis [...] é um chamamento”. A mensagem que o observador capta em contato com a cor é tão propensa à mudança, se bem direcionada e posicionada, que pode indicar a quebra de paradigmas pessoais e da própria sociedade. "Até os anos 1930, Papai Noel podia ser representado de qualquer maneira, mas, depois que a Coca-Cola o vestiu com suas cores corporativas como parte de uma campanha para vender bebidas geladas no inverno, o vermelho e o branco tornaram-se a única paleta aceita para o guarda-roupa do bom velinho" (BANKS, FRASER, 2011, p. 13). Neste caso, quebrou-se um paradigma e se impôs um novo, onde uma ideia até então aceita e adotada pela sociedade transforma-se e passa a atender um novo padrão. Em relação às vitrines, destaca-se o novo, o diferente, o que as pessoas não estão acostumadas a ver, portanto é válida a tentativa de destacar-se por meio de "possibilidades mais amplas e diversificadas para exercitar sua criatividade na configuração de um novo gosto, contribuindo com a sua parte para o surgimento de um estilo renovado" (FARINA, PEREZ, BASTOS, 2011, p. 116). "Ninguém ignora que a integração do novo, dentro da sociedade já moldada em determinados padrões integralmente assimilados e sancionados pelo gosto da época, é um processo lento precedido por uma vanguarda que, pela audácia e irreverência, pela quebra de tradições e pela repetição impositiva, vai sendo assimilada gradualmente até uma aceitação praticamente total" (FARINA, PEREZ, BASTOS, 2011, p. 116). 8 Frente à estas afirmações, é entendido que não existe uma regra que exija que a cor rosa deve abranger todas as vitrines de lojas de artigos femininos, por exemplo, ou ser utilizada exclusivamente em uma vitrine deste gênero. A utilização das cores na vitrine vai depender de inúmeros outros fatores responsáveis pela transmissão da mensagem ao observador que não se resume apenas à relação que ela tem com o produto. O que existem são fatores psicológicos, sociais e culturais que devem ser levados em consideração no momento em que a escolha da cor para a vitrine é efetuada, afinal "seu emprego tem valor decisivo, não pode ser resolvido arbitrariamente, com base apenas na percepção estética e no gosto pessoal" (FARINA, PEREZ, BASTOS, 2011, p. 116). 3 METODOLOGIA Esta pesquisa tem cunho teórico de abordagem qualitativa, onde através de pesquisa bibliográfica, identificou-se a influência que as cores provocam nos seres humanos canalizando estas reações ao campo do Marketing e da Publicidade. Através de abordagens relacionadas às áreas de Design e Vitrinismo, abriu-se a discussão sobre o uso das cores em prol da elaboração da vitrine visando causar os efeitos desejados, influenciando no comportamento dos consumidores resultando a efetivação da venda e consequentemente, a geração de lucro. 4 DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO No âmbito do universo publicitário, percebe-se que uma das suas principais características é a de não salientar o lado negativo da sociedade à qual se dirige. Este mundo ilusório criado para transmitir a imagem de perfeição, beleza e felicidade é facilmente identificado pela utilização de cores "por todo o seu conteúdo emocional, por sua força de impacto e por sua expressividade de fácil assimilação" (FARINA, PEREZ, BASTOS, 2011, p. 116). Para que a experiência mercadológica não se transforme em uma experiência de tentativa e erro, onde há perda de tempo e também de dinheiro, dependendo do investimento empregado na elaboração da campanha, é necessário um estudo bem fundamentado e prédeterminado que objetive o lucro oriundo da mesma. O papel da cor neste contexto, é a de 9 captar a atenção do consumidor, assegurando um papel positivo na transmissão da mensagem de venda, adequando-se à sua finalidade. De modo geral, uma pesquisa relacionada ao emprego das cores na Publicidade e em sua atuação na vitrine necessita abranger um plano maior, considerando-se diversos fatores influentes em tal processo. É preciso identificar a tendência na qual se encaixa determinado produto em evidência, por exemplo uma geladeira e quais cores estão sendo empregadas na cozinha. Mesmo que por um curto período de tempo, a tendência "acentua e realça o clima desejado, criando um ambiente que se adapte ou se antecipe à manifestação do desejo do consumidor..." (FARINA, PEREZ, BASTOS, 2011, p. 118). A distinção da categoria social e da faixa etária que irá atender também é fator influente na decisão para elaboração da vitrine. As preferências são diferentes, as necessidades racionais e os desejos gerados pelas ferramentas de Marketing também. Referente à faixa etária, existe uma pesquisa muito condizente realizada pelo psicólogo Bamz (1980). Tal pesquisa faz referência à preferência manifestada por determinada cor aliada à sua idade. Vermelho 1 a 10 anos: idade da efervescência, espontaneidade Laranja 10 a 20 anos: idade da imaginação, excitação, aventura Amarelo 20 a 30 anos: idade da força, potência, arrogância Verde 30 a 40 anos: idade da diminuição do fogo juvenil Azul 40 a 50 anos: idade do pensamento, inteligência Lilás 50 a 60 anos: idade do juízo, misticismo, lei Roxo Além dos 60 anos: idade da sabedoria, experiência, benevolência Quadro 01: Preferência cor x faixa etária, segundo Bamz. Fonte: (PSICODINÂMICA DAS CORES EM COMUNICAÇÃO, 2011) Conforme podemos avaliar o estudo de Bamz, demonstrado no quadro, as pessoas vão gradativamente gostando mais da cor azul conforme o passar dos anos. Conseguimos observar em vitrines infantis (Figura 07), que as cores predominantes são mais fortes, com mais contraste, que nos provocam sensação de euforia como o vermelho, amarelo e laranja. 10 Figura 07: Vitrine infantil com predomínio de cores quentes. Fonte: (BAGUETE, 2014) Os estudos de Bamz ainda nos mostram que o cristalino do olho humano se torna amarelo com o passar dos anos. A absorção de luz azul por uma criança equivale a 10%, enquanto em uma pessoa idosa este índice sobe para 57%. Segundo Farina, Perez, Bastos (2011) os jovens preferem cores mais fortes, como amarelo, vermelho e laranja, e estas cores terão vantagem nas vendas em relação às outras. Além de identificarmos as tendências atuais, o público-alvo e suas preferências, se faz necessária uma análise profunda do produto que será exposto. Este produto pode possuir diversas outras formas de exposição, onde provavelmente já estará sendo feito o uso de uma paleta de cores. Em alguns casos, fugir desta paleta pode significar o fracasso total de uma vitrine mesmo que o objetivo seja causar impacto. No caso da Coca-Cola, por exemplo, onde as cores da marca são o vermelho e o branco, a utilização destas cores está presente em todos os anúncios, nas embalagens e em qualquer outro meio de exposição da marca/produto. Na elaboração de uma vitrine neste caso, fugir destas cores iria descaracterizar o produto, fazendo com que o consumidor não o identifique de imediato, e se o identificar não tenha plena certeza de que o produto é realmente uma Coca-Cola. O uso da cor constitui-se em um importante elemento de comunicação, como podemos ver nas figuras 08, 09, 10 e 11. 11 Figuras 08, 09, 10 e 11: Utilização de cores na vitrine. Fontes: (VITRINE RG, 2008), (FASHION MAG, 2010) "Trata-se, portanto, de um conteúdo de consciência, originariamente simples percepção, vivida através de nossa sensação visual. O processo subsequente de elaboração dessa imagem sensível mostra como nós a abstraímos e a combinamos, por meio de nossa criatividade, reproduzindo-a à vontade por intermédio de situações dramatizadas associativas" (FARINA, PEREZ, BASTOS, 2011, p. 119). Segundo Farina, Perez, Bastos (2011), a cor é um elemento que estimula sensações. Ao mesmo tempo que realizamos compras racionais, podemos ser motivados apenas por um detalhe, que pode ser a cor ou a sensação por ela causada, e virmos a consumir produtos/serviços por impulso, simplesmente pelo fato de nos sentirmos merecedores deste consumo ou sanarmos um desejo não realizado. Logo, a necessidade de se conhecer quais efeitos de sentido, ou seja, ao observarmos as cores fazemos alusão a alguns sentimentos, dando significado à elas, mesmo que as mesmas possam provocar invariavelmente sensações polarizadas. Como por exemplo a cor branca é um signo de paz e harmonia no Ocidente, como também de tristeza e morte no Oriente. 12 Ainda segundo Farina, Perez, Bastos (2011) após análises nos âmbitos da Medicina clínica, Psicologia, Neuropsicologia, Psicobiologia, Psiquiatria, Neurofisiologia e outros pesquisadores autônomos, se verifica uma relação entre as nossas sensações visuais e nosso organismo. Criamos associações e sensações que se refletem em nosso organismo, sendo que cada cor possui seu poder de reação ao organismo humano, lembrando que cada indivíduo possui suas próprias memórias e reflexões, interagindo na intensidade com a reação ocorre em cada pessoa: Branco: tem a capacidade de indicar pureza, limpeza, paz. É a adição de todos os comprimentos de onda, sendo a cor mais intensa e irritante do espectro. Segundo recomendações da Organização Mundial da Saúde para Instituições Hospitalares, paredes de ambulatório e quartos internos não devem ser totalmente brancos, pois tendem a acentuar caracteres esquizóides, além de representarem o vazio interior, carência afetiva e solidão. A palavra branco vem do germânico blank (brilhante) e simboliza a luz. Preto: a cor preta é a ausência de luz e nos remete à sombras, escuridão, morte. Porém, em determinadas situações, serve como correspondente ao luxo, requinte e sofisticação. A palavra deriva do latim niger (negro). Cinza: O cinza é obtido através da mistura do branco com o preto, portanto torna-se uma cor que transmite o sentimento de neutralidade, maturidade. Por ser uma cor com posição intermediária entre a luz e a sombra, não interfere com as outras cores em geral, podendo ser combinada com qualquer uma delas. A palavra deriva do latim cinica (cinza) e diminui o nervosismo e a insônia. Vermelho: A cor vermelha refere-se à energia, acolhimento, calor. Aumenta a tensão muscular e a pressão sanguínea. Na cultura cristã o vermelho representa o sangue que dá vida, purifica e santifica. É a cor do amor e do erotismo, vem do latim vermiculus (verme – a conchonilha que se extrai uma substância escarlate). Estimula o sistema nervoso, favorecem as doenças do coração, é indicada no tratamento de anemia e icterícia (Cromoterapia). Laranja: A representatividade do laranja se dá por meio dos significados entre o vermelho e o amarelo, porém não se limitando a estes. Seu principal significado é transformação, iluminação e o grau supremo da perfeição. É uma cor relativamente importante para as culturas chinesas, principalmente no Budismo. No campo da Medicina, é indicado contra baixa vitalidade, contra venenos, ossos quebrados e subnutrição, além de ser considerado tônico e laxativo. Amarelo: Nos remete à alegria, espontaneidade, ação, poder, dinamismo, impulsividade. Também está conectada à prosperidade, riqueza e à divindade por associação 13 ao dourado. Deriva do latim amaryllis. Nas áreas ligadas à Medicina influencia o sistema nervoso. Verde: A cor verde é a mistura do azul com o amarelo, representando o descanso e o relaxamento. Nos remete ainda à calma, frescor, esperança, amizade e equilíbrio, além de possuir todas as conexões com a Ecologia e a natureza. A palavra vem do latim viridis. Na área medicinal é indicada no tratamento de doenças do sistema nervoso e aparelho digestivo, servindo como tranquilizante, estimulante e tônico dos mesmos. Azul: é a cor da serenidade, verdade, intelectualidade, infinito, meditação, confiança, fidelidade. Indica sobriedade, sofisticação. Tem origem no árabe e no persa lázúrd e nos campos da Medicina é indicado no tratamento de doenças da pele e também como calmante. Violeta: é resultante da mistura do vermelho e do azul. Indica calma, dignidade, autocontrole. É o diminutivo do provençal antigo viula (viola) e possui bom poder sonífero. Roxo: Deriva do latim russeus (vermelho carregado), possui um forte poder microbicida. Nos remete à fantasia, mistério, profundidade, misticismo, espiritualidade, delicadeza. Púrpura: Vem do latim purpura e simboliza a dignidade real, cardinalícia. A púrpura era obtida por um trabalhoso processo artesanal que garantia a cor total estabilidade à luz. Por isso, enquanto as outras cores desbotavam, a púrpura se mantinha, originando sua conotação à eternidade, nobreza, realeza e religiosidade. No Império Romano somente o imperador, sua esposa e filhos podiam usar roupas nessa cor. É considerado antidepressivo. Marrom: Vem do francês marron (castanho), remete à terra, fecundidade, desconforto, vigor. Há referências ao marrom como cor das roupas populares, pois os tecidos que não haviam sido tingidos possuíam essa cor. Pode provocar enjôos se utilizado no interior de veículos. Rosa: mistura do vermelho com o branco. Simboliza o encanto, feminilidade, inocência e frivolidade. Indicado para uso medicinal contra anemia e melancolia. O que anteriormente era tratado apenas como detalhe decorativo, selecionado a partir de princípios com base no gosto do indivíduo que elabora uma vitrine, passa a assumir seu papel relativamente importante quando há o entendimento de que o elemento cor possui poderes muito mais influentes sobre o indivíduo do que apenas chamar a atenção do mesmo, tornandose um veículo para mudanças no modo de pensar e até mesmo quebra de paradigmas. "A publicidade em todas as formas de mídia vale-se pesadamente da cor para comunicar sua mensagem e, como a mensagem hoje não é tanto "Compre isso agora!", mas "Cobice o estilo de vida que isso representa", o uso da cor pode 14 ser guiado antes pela sutileza psicológica que pela busca de impacto máximo" (BANKS, FRASER, 2011, p. 166). Para que a utilização de determinada cor na vitrine possa transmitir uma mensagem positiva ao observador, provocando o desejo de consumo do produto ao qual se destina, percebe-se que os estudos acima citados são imprescindíveis no momento da elaboração da vitrine. Ter conhecimento das tendências direcionadas ao segmento que a vitrine se dirige, do público que quer atingir, dos costumes locais e das sensações que as cores provocam no psicológico do ser humano faz com que as chances de se obter êxito com a escolha das cores sejam grandes. A cor, como qualquer outro elemento visual consegue repassar uma mensagem para um observador, seja ela positiva ou negativa, de maneira muito mais rápida do que um elemento textual. Por isso, em meio à tantos anúncios, outdoors, vitrines e suas variedades, saber fazer uso de todos os elementos visuais possíveis e conseguir se destacar de maneira positiva, chamando a atenção dos observadores transformando-os em consumidores é considerada uma tática de efeito no âmbito da Publicidade. O objetivo é alcançado através de elementos que atingem o fator sentimental das pessoas, criando um vínculo que possibilita o retorno dela à esta mesma experiência. Em um mundo onde a tecnologia invade nossas casas, nosso trabalho e nossos locais de lazer e descanso, a busca pela valorização do humano, do orgânico e da psique se tornou uma necessidade e ao mesmo tempo um movimento contra o que se pregava há alguns anos atrás, onde o homem precisava se adaptar à máquina. O que atualmente nos deparamos, é que esse pensamento se extinguiu, dando lugar à adaptação das tecnologias para o humano, fato esse que se prova observando o sucesso alcançado pelas primeiras empresas que investiram nessa ideia. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Em meio à tanta informação e tecnologia, o domínio e a rapidez com que celulares, tablets, notebooks e máquinas invadiram nossas tarefas cotidianas, profissionais e atividades de lazer, o resgate da essência humana e uma visão mais profunda e preocupada com o indivíduo em si, nos âmbitos da Publicidade e Marketing, torna-se um diferencial. Quando os atributos destas áreas agem com foco na provocação de sentimentos e sensações, a criação de um vínculo 15 com uma marca, uma loja, uma campanha, é muito mais expressiva devido às pessoas sentiremse importantes e ativas no processo de consumo de um produto/serviço. Fazer uso das cores nesse processo é uma tarefa árdua que não deve se ater somente ao gosto do elaborador da campanha. É necessário um maior conhecimento das consequências que cada escolha irá gerar, dependendo do local, da cultura, da faixa etária, das tendências. Utilizarse de sensações é subjetivo, não é igual de indivíduo para indivíduo, mas pode ser avaliada e projetada em âmbito geral. Na vitrine, foco do presente artigo, não há um controle sobre quem irá visualizar a mesma, portanto é necessário um estudo aprofundado do público à qual se deseja atingir. Percebe-se cor e todos os elementos visuais são muito importantes aos consumidores. Assim, a cor passa a assumir seu poderoso papel de atrair e transmitir de forma positiva a mensagem aos observadores e deixa de ser mero detalhe no ponto de exposição do produto. Ela age diretamente e rapidamente aos olhos do observador, sendo que o que ocorre atualmente é que em meio a tantos anúncios de produtos, aquele que se destacar e chamar a atenção do observador tem vantagem perante os outros. Assim, a cor torna-se agente ativo no processo de geração do desejo de consumo no observador e merece ser explorada de maneira concreta, assumindo sua importância, contribuindo para o sucesso de uma vitrine, ou seja, a compra do produto/serviço exposto. 16 REFERÊNCIAS BASTOS, Dorinho; FARINA, Modesto; PEREZ, Clotilde. Psicodinâmica das cores em comunicação. São Paulo: Blucher, 2011. BANKS, Adam; FRASER, Tom; O essencial da cor no design. [tradução Luís Carlos Borges]. - São Paulo: Editora Senac, 2011. PEDROSA, Israel; Da cor à cor inexistente. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2010. CARVALHO, Marcelle A. A Vitrine como Estratégia de Comunicação Visual e Marketing de Produtos. Belo Horizonte, 2012. Disponível em < http://www.ipog.edu.br/uploads/arquivos/1acdde9a9039cea333529ce1533db5a2.pdf >. Acesso em: 29/05/2014. NASCIMENTO, Maria E. R. As Cores e a Vitrine: Uma Relação Primária. Fortaleza, 2012. 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