Boletim 03
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Boletim 03
em foco ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ • RESENHA Administração da vida, redesenho de relacionamentos (Reengenharia do tempo, de Rosiska Darcy de Oliveira) Rosa Gens • FICÇÃO À espera... Osmar Soares / MESTRANDO (TEORIA LITERÁRIA) ○ Virginia Woolf preenchendo “As Horas” Luiz Fernando Costa / ALUNO DA GRADUAÇÃO ○ ○ ○ ○ ○ • INFORMATIVO • NA CAIXA POSTAL Últimos lançamentos literários de autoria feminina Colaboração de alunos da Fac. de Letras ○ ○ ○ ○ ○ • PERSONALIDADE EM FOCO Entrevista com Ana Maria Machado Por Ana Crélia Penha Dias dos Santos / MESTRE EM LIT. BRAS./UFRJ ○ ○ ○ ○ Angélica Soares / Elódia Xavier (COORDENADORAS DO NIELM) ○ ○ Esperamos poder contar, como neste número, com nossos colaboradores para o próximo Nielm em Foco. Agradecemos sua matéria e sugestões, na sala D-217, da Faculdade de Letras da UFRJ, ou pelo endereço eletrônico [email protected] . Nesta Edição ○ ○ Este número homenageia, de forma especial, a escritora Ana Maria Machado, recentemente empossada, na Academia Brasileira de Letras e já reconhecida internacionalmente, pelo prêmio Hans Christian Andersen em 2000. ○ ○ No empenho de levar adiante nosso projeto de integrar, em um veículo de divulgação, a participação de alunos e de professores, DITORIAL pesquisadores vinculados ao Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Mulher na Literatura, lançamos o nosso Boletim nº 2. Permanecemos antenados com temas relevantes e acontecimentos recentes, de interesse para os que se dedicam às questões literárias relacionadas à condição da mulher. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ E ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ano III • Nº 2 Faculdade de Letras/UFRJ Rio de Janeiro 5 de abril de 2004 ○ NIELM ○ BOLETIM INFORMATIVO DO NÚCLEO INTERDISCIPLINAR DE ESTUDOS DA MULHER NA LITERATURA – NIELM • EM DESTAQUE Mulheres na Academia Brasileira de Letras Débora Carvalho Capella / ALUNA DE GRADUAÇÃO/FL “COSTUREIRAS” / TARSILA DO AMARAL,S.D. 2 • Boletim Informativo do Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Mulher na Literatura – NIELM r e s e n h a ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Administração da vida, redesenho de relacionamentos Rosa Gens / PROFESSORA DE LITERATURA BRASILEIRA - UFRJ de Rosiska Darcy de Oliveira, A obra Reengenharia do tempo, perten- cente à série “Idéias contemporâneas”, da Editora Rocco, veio a público em julho de 2003, tendo sido recebida com textos críticos, resenhas e comentários que levantavam questão sobre suas propostas. É certo que o nome da autora desperta a atenção quando na capa de uma obra. Afinal, tem credibilidade, sustentada por vasto currículo de participação e pensamento na esfera de reflexão sobre a mulher. Ex-presidente do Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres, participante de inúmeras atividades que giram em torno do assunto, ela é referência brasileira nos debates sobre a condição feminina. A presente obra já se prenunciava na anterior, publicada em 2001, também pela editora Rocco: Outono de ouro e sangue, reunião de crônicas que se marcava pela valorização das pequenas coisas da existência, de elementos aparentemente banais que confluem para obter a felicidade, se devidamente valorizados. A senda era muitas vezes ficcional; a reflexão derivava-se de episódios, que funcionavam como deflagradores de um pensar sobre determinados eixos. Em seu Reengenharia do tempo, prolonga-se tal atitude, e a obra ganha em sedução para o leitor, ao mesclar pesquisa e reflexão sobre a atualidade através de um discurso em que a literatura também ganha o seu lugar. O livro apresenta-se dividido em sete capítulos, habilmente estruturados, introduzidos por epígrafes certeiras, e o leitor pode-se perguntar que espécie de livro é este, que tangencia a auto-ajuda e transita entre a filosofia e a sociologia. O tempo é o vetor do texto, e, ao ser articulado, faz com que muitos outros elementos sejam capturados e pensados. A autora parte da imagem “ganhar a vida” para tentar redimensioná-la, a partir de dados estatísticos, citações de autores, pensares confluentes. O foco é lançado sobre mudanças ocorridas, nas últimas décadas, não só em relação ao comportamento das mulheres, mas à sociedade como um todo. Ressalta que a vida privada, há cerca de três décadas, era o domínio da mulher, cabendo ao homem apenas sustentá-la, torná-la possível.E chama atenção: se antes às mulheres não era permitido trabalhar fora de casa, agora a permissão guarda em seu bojo a idéia de que a vida privada não deve resvalar para a pública. A interferência do pessoal não se permite, como se a vida familiar não fizesse parte da vida em geral; pertencesse a um universo paralelo. Na verdade, a autora aponta para uma espécie de armadilha em que as mulheres teriam caído – ou pulado, ou ainda mesmo, criado – ao buscarem um espaço fora da casa. Estariam fadadas a ocultarem a vida, para que pudessem concretizar aspirações individuais. Seu papel na esfera pública se modificou, mas não foi acompanhado de reorganizações relevantes. A autora propõe, continuamente, uma melhor articulação entre trabalho e vida privada. Outras dinâmicas tornamse imperativas, para que a educação de crianças e jovens, bem como a acolhida de idosos, não sejam deixadas de lado. E enfatiza a idéia de que a rede social reage – aceita a mudança configurada pelas mulheres desde que não mexa com o tecido social como um todo. O movimento de reorganizar pressupõe, antes de tudo, consciência, necessária à própria dinâmica de se apropriar dos elementos a serem mexidos. A autora, ao insistir na mudança, em que todos tenham direito ao trabalho, à vida privada e ao convívio familiar, bate na tecla dos elementos principais para obtê-la:ousadia e criatividade. No fundo, investimento na qualidade de vida, e dar-se ao luxo de ter prazer com a vida e aproveitar o tempo da melhor maneira possível. Rosiska par-te de pesquisas, pinçando exemplos de outras sociedades, para ilustrar a urgência do redimensionamento do cotidiano de homens e mulheres. A reorganização do cotidiano é tarefa complexa, e deveria envolver toda a sociedade, alinhada na concepção de que o tempo é a matériaprima da vida e muito preciosa para ser desperdiçada. Resta a grande pergunta: como conseguir tal reengenharia? Não há uma única resposta, nem poderíamos cobrá-la da autora, que começa por sugerir que às mulheres caberia negociar o tempo à vida privada e às empresas a criar condições; que se deve andar na contramão do sistema de produção regular e fazer escolhas sintonizadas com a liberdade. É preciso arriscar-se, aventurar-se, para quebrar as amarras das sociedades de mercado, que minimizam o que não tem preço, quando lhe deveriam dar valor máximo. Reengenharia do tempo, além de dar continuidade ao volume anterior da autora, traz ecos de suas outras obras, em que a questão do gênero, da estrutura social,da liberdade, da criança e da escola são recorrentes. Eivado de termos da cultura empresarial, o livro caminha sem pressa, como espelhando o seu conteúdo. Pensamento sobre pensamento, numa estratégia de superposição, em que a “arte de viver” é comentada e repensada. Talvez o melhor da obra, com seu discurso sedutor, resida na possibilidade de levar a sociedade a pensar em temas como tempo e vida, encaminhando uma ruptura com a mentalidade produtivista. Aqui, o efeito Rosiska: provocar pensares. E, ao ler Reengenharia do tempo, talvez possamos até acreditar em um redesenho de relacionamentos, da maneira de usar a vida e aproveitar as horas, nessa nossa época pós-utópica. Rosiska Darcy de Oliveira, em entrevista recente. NIELM EM FOCO – Nº 2 ficção ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ À espera... i n f o r m a t i v o ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ • ○ ○ 3 ○ ○ Virginia Woolf preenchendo “As Horas” Luiz Fernando Costa / GRADUANDO (PORTUGUÊS-INGLÊS) deline Virginia Stephen, ou melhor, Virginia Woolf (após o casamento em 1912) nasceu em Londres, 1882. Teve uma vida amorosa conturbada, A visto que sofria abusos de seu meio-irmão de vinte anos, ainda com a tenra idade “CORES DA MELODIA” / ADÉLIA SARRO,S.D. A mulher que acabou de perder A mulher do conto levou um. A mulher do conto gemeu de dor e indignação. A mulher do conto que Laura escreve levou um tapa e outro tapa e um chute um soco. Ela está agora de ponta-cabeça, está nas folhas da máquina de escrever e ao colo, claro, à tarde quando o Gérson sai pra trabalhar – ele não gosta do barulho e a mulher do conto gerada como todas as mulheres, à tapa e Laura dará forças à mulher uma metonímia de sangue pisado. Ela está agora no chão, enquanto o algoz vai encontrar-se com os companheiros no bar. Laura vai matar o algoz. Espera-se que termine de escrever, antes que Gérson chegue e se saiba o final do conto. E para terminar o conto, Laura espera que o mundo mude. O sangue vai continuar pisado e a dor daqui a pouco passa à pia ou ao fogão: e o mundo vai mudar? A mulher do conto está à espera. Laura está à espera. Laura, se terminar logo de escrever não vai levar soco, nem tapa, ela ainda tem tempo até as sete quando o Gérson chega. Mas tem a comida, ele não quer mais comer comida de restaurante Ela quer escrever e esperar o mundo mudar... Esperemos ou o algoz virará anjo. Osmar Soares / MESTRANDO (TEORIA LITERÁRIA) de seis; o que agüentou, silenciosamente, até os vinte e dois anos. Talvez isso tenha despertado a sua atenção para o mesmo sexo. Algumas vezes se apaixonou perdidamente por mulheres, mas os romances ficavam num nível etéreo, uma não realização carnal. Porém, com 40 anos se encantou por Vita Sackville-West, uma rica escritora lésbica de 30 anos, que morava em um belo castelo. Foi a única vez em que concretizou fisicamente um amor homossexual, que durou cinco anos. Neste período, publicou seus melhores romances “Mrs. Dalloway”, “As Ondas”, “O Farol” e “Orlando”, que curiosamente, se passa também em um castelo. O próprio marido de Vita declarou que “Orlando” era “a mais comprida e charmosa carta de amor da história”. Mudou-se para o mesmo bairro londrino em que moravam T. S. Eliott, Bertrand Russel entre outros. Com o marido Leonard Woolf, fundou a editora Hogarth Press. A partir de 1915 começou a publicar suas obras, cuja principal inovação era o uso de técnicas como monólogos interiores e relações entre o tempo da consciência e a percepção do tempo real. “Mrs. Dalloway” foi interpretada como autobiográfica pelo escritor Michael Cunningham e serviu de fio condutor para o seu aclamado romance “As Horas” de 1999. Este livro foi adaptado para o cinema o pelo diretor Stephen Daldry (de “Billy Elliot”) e chega agora às locadoras em dvd e vídeo. O filme acompanha um dia na vida de três mulheres em tempos e lugares diferentes. Em vinte e quatro horas, gestos como preparar uma festa ou pôr flores num vaso podem dar a significação de uma vida inteira. Uma dessas mulheres em crise é a própria Virginia Woolf (Nicole Kidman) que escreve os capítulos finais de “Mrs. Dalloway”. A outra é Laura Brown (Julianne Moore) que vive a pseudo-esposa feliz de um casamento perfeito na Califórnia de 1951. A terceira é Clarisse Vaugh (Meryl Streep) que tem o nome da personagem principal de “Mr. Dalloway” e o sobrenome de um antigo “affair” feminino de Virginia na vida real. Das três, Clarissa é a única que compra ela mesma as flores para a festa que prepara; o que mostra, sutilmente, que, por viver uma lésbica bem-sucedida na Nova York de hoje, tem uma constituição mais livre. A estória se desenrola até o ponto em que há uma interseção e um final diferente do usual. No filme, assim como na vida, Virginia Woolf sofria de depressão severa. Em 1941, sentindo sua criatividade em decadência, deprimida pela guerra e aterrorizada com a recorrência de sua doença, suicidou-se nas águas do rio Ouse, próximo a sua casa em Sussex, em 28 de março, com os bolsos cheios de pedras. Deste modo, parou de pulsar uma mente feminina brilhante, que modificou o mundo para sempre. Cena do filme “As horas” AMARAL, Maria Adelaide. Estrela nua; amor e sedução. (Coleção Amores Extremos). RJ: Record, 203. AVERBUCK, Clarah. Das coisas esquecidas atrás da estante. RJ: 7 Letras, 2003 . NA CAIXA POSTAL SEIXAS, Heloísa. Sete vidas – sete contos mínimos de gatos. SP: Cosac & Naify, 2003. Infanto-Juvenil CUNHA, Helena Parente. Marcelo e seus amigos invisíveis. SP: Global, 2003. _______________. Outros bichos. RJ: Scipione, 2003. MARTINS, Georgina. Todos os Amores. RJ: DCL, 2003. MIGUEZ, Fátima. Paisagens da infância. RJ: Zeus, 2003. Escreva para o NIELM: [email protected] . Contamos com sua colaboração. 4 • Boletim Informativo do Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Mulher na Literatura – NIELM ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ BRASILEIRA /UFRJ ○ LITERATURA ○ ○ MESTRE EM ○ Entrevista concedida a Ana Crélia Penha Dias dos Santos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ana Maria Machado ESCRITORA ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ PERSONALIDADE EM FOCO Nielm: Para começar, como representante estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro, gostaria que você falasse um pouco da sua experiência naquela casa e da sua carreira de um modo geral. Ana Maria Machado: Eu sou cria da UFRJ, da época em que ela ainda se chamava Universidade do Brasil. Eu entrei em 1960, no curso de Geografia, fiz um ano. Tinha escolhido um vestibular que não tivesse Latim nem Matemática. Lá para outubro, eu não agüentava mais estudar aquelas coisas; tranquei matrícula, tentei o vestibular para fazer Letras Neolatinas e meu primeiro emprego foi como professora de Latim, por ironia. Meu curso de Letras foi de 61 a 64. Comecei na Avenida Antônio Carlos. Depois viemos para o prédio onde é o anexo da Academia hoje. Quando a Faculdade foi para a Avenida Chile, já estava formada e fui para lá dando aula. Trabalhei com Afrânio Coutinho na cadeira de Literatura Brasileira e com Augusto Meyer na de Teoria Literária, em 68 e 69. Fiz especialização em Literatura Espanhola com o Prof. José Carlos Lisboa, também na UFRJ, em uma época em que estavam começando os cursos de pós-graduação. Quando formada a pós-graduação, esse curso foi considerado como Mestrado, porque nós tínhamos feito até monografia. Então, eu fui aceita para fazer o doutorado com Afrânio Coutinho. Comecei em 69, já tinha até escolhido o assunto, que era Guimarães Rosa, mas, no comecinho de 70, fui para o exterior, por problemas políticos; afinal, 69 foi um ano muito complicado. Quando fui, já levei a obra do Guimarães Rosa toda fichada. Acabei terminando em Paris, com Roland Barthes, já na cadeira de Lingüística, no Centro de Comunicação da Escola Prática de Novos Estudos Sorbonne. Enfim, para ser bem objetiva, essa é a minha formação. N: Você já começou a falar de Roland Barthes. Que outras leituras compuseram esse seu itinerário, os autores decisivos. AM: A minha formação foi muito mais na área da Estilística; o Estruturalismo entrou depois. O primeiro momento era Damaso Alonso, Carlos Bousoño, Léo Spitzer; na Teoria Literária, o Wellek e Warren. Quando começou o Estruturalismo, li os clássicos, começando pelo Lèvi-Strauss, Todorov. Quando cheguei na França, em janeiro, não sabia ainda onde me encaixar, porque estávamos no meio do ano letivo que ia até junho; então, entrei como ouvinte nas turmas de vários deles. Tinha muita vontade de estudar cinema, então fiz o curso Christian Metz, que foi muito bom porque eu também pintava e o Metz tinha uma percepção muito interessante da linguagem visual. No ano seguinte, fiz minha inscrição no curso do Barthes, para seguir um grande seminário que ele oferecia, que tinha mais ou menos uns oitocentos alunos em um teatro grande, e desses ele selecionava vinte pessoas para formar um núcleo de trabalho que se encontrava duas vezes por semana e que trabalhava sobre a tese. Fui selecionada e fiquei escrevendo sob a orientação dele. N: Literatura para criança é o seu grande emblema... você acredita que é ele ainda um gênero marginal ou não acredita nele como um gênero específico? AM: É difícil responder rápido a essa pergunta sem ser superficial. Eu acho que existe um rótulo muito forte, mas não acho que ele tenha intrinsecamente diferença. O substantivo é o mesmo: literatura. Agora, é claro que tem especificidades. Falar nisso é tocar em muitas sutilezas e não me arriscaria a responder tão rápido assim. Mas existe uma diferença. O modo mais simples seria dizer que a literatura infantil seria como a melodia assoviável e na literatura não-infantil, você tem que entrar com a orquestra sinfônica inteira. N: Falando sobre poder... tematizando o poder, até nas relações mais arbitrárias, temos em suas obras o surgimento de algumas figuras, algumas até femininas, que emergem com muita força. Uma figura surpreendente é a Nita, de Bento que Bento é o frade, que questiona todos aqueles discursos. Você acredita ainda na possibilidade de força e resistência dessas figuras oprimidas, que podem ser a mulher, a criança? AM: Acredito, até porque escrevo isso, mas não é uma coisa prévia à escrita. Quando se fala nesse assunto, eu reconheço, mas não é algo em que eu tenha pensado antes. Acho que isso está muito mais relacionado a uma trajetória autobiográfica do que especificamente com um discurso preparado sobre isso. N: É, e isso pode ser evidenciado em sua obra. As coisas acontecem com mais espontaneidade em seu texto. Não parece haver articulação para que alguns clichês tenham voz e vez. Isso acontece com a mulher, a criança, tiririca, a cambaxirra. Eles parecem encenar questões muito mais existenciais... AM: Essa observação é boa, porque é aí que me reencontro. Por exemplo, a educação da minha filha. Desde quando ela era muito pequena, eu dizia: “Você tem que ter escolha. Não precisa fazer o que todo mundo acha que você deve fazer; nem o que eu ou seu pai achamos que você deve fazer.” Sempre acreditei na afirmação da autonomia de cada um. Aí a gente volta ao Lobato. Eu sou “Independência ou Morte”, independente de sermos meninos ou meninas. Mas acho que só dá para ser autônomo quando há autonomia financeira. Um dos maiores orgulhos de minha vida é que comecei a trabalhar cedo e, desde então, sempre me mantive. Nunca dependi de outra pessoa para pagar as minhas contas. Vivi período de intensa dificuldade econômica, mas driblei sem a mesada ou o marido rico. N: Você disse que sua formação foi em Estilística. Seus textos são ricos em estruturas mnemônicas, jogos de palavras, uma sonoridade que agrada às crianças. De que forma sua formação contribuiu para isso? Ou é uma influência da tradição oral? AM: A influência é direta e exclusiva da tradição oral. Não tem nada a ver com Estilística. A Estilística entrou em minha vida porque era o que estava em moda na Faculdade naquele momento, como depois foi o Estruturalismo. Esse traço de minha obra não é um enfoque teórico. É algo da minha história. Eu convivi em um ambiente em que havia uma presença muito forte da literatura oral. A minha família contava histórias, lendo ou oralmente. Eu não tinha idéia de que isso fosse fora do comum. Eu achava que todas as famílias eram assim. Só muito depois, descobri que isso não acontecia em toda casa. Contava-se história em minha casa quase que diariamente, em diferentes contextos, com diferentes contadores. Eu sei o estilo de cada contador e lembro histórias que foram contadas por minha avó, por meu avô, por minha mãe, por minha tia. Enfim, nós tínhamos muito forte o hábito de contar histórias, em grande parte oralmente. A minha avó foi analfabeta até muito tarde. Ela casou tarde, foi a segunda esposa do meu avô. Quando ela casou, ele já tinha ficado viúvo e já tinha três filhos do primeiro casamento. Casou já com 24 anos, o que já era tarde naquela época. Aprendeu a ler com meu avô e eu ainda guardo os cadernos em que ela aprendeu. Ela conseguiu, no máximo, escrever o nome, escrever uma receita. Mas a aproximação dela com o mundo não se fazia por intermédio da palavra escrita. No entanto, era uma pessoa sábia. Foi criada na roça, tinha um repertório de histórias, de parlendas, de receitas, de medicamentos caseiros, sabia fazer bordados, crochê, lingüiças, receitas variadas; enfim, era uma pessoa que sabia fazer muita coisa. Era um saber que não era o valorizado nas paredes cheias de livros, mas que dentro de casa era. E ela exercia um certo poder por isso. Há uma história que eu resgato para um de meus livros: ela tinha uma saúde muito delicada, era diabética (descobriu isso muito cedo), e era uma época em que eram recomendados os banhos de mar como tratamento das doenças. Meu avô vivia procurando um lugar aonde pudesse levar a vovó para tomar banho de mar. Ele era engenheiro e estava abrindo a estrada de ferro Vitória-Minas, no Espírito Santo e estava procurando um lugar para fazer um porto ao longo do litoral, onde ele pudesse fazer a estrada de ferro desaguar para o porto. Ele acabou escolhendo o lugar em que hoje é o Porto de Tubarão. Ele foi de canoa pelo litoral para escolher esse local e acabou descobrindo um lugarzinho de pescadores em 1922, que não servia para o porto, mas que servia para ela tomar banho de mar. Alugou uma casa e foi buscar a família em Vitória. Passaram dois meses lá. Ela gostou tanto de lá, se sentiu tão à vontade com as mulheres dos pescadores, que descobriu que havia uma casa à venda e ela achou que era alguma coisa viável de ser comprada, não naquele ano, mas no seguinte, e ele disse que era impossível, porque não havia dinheiro suficiente. Ela, sabendo que era aquilo que ela queria, durante um ano, começou a NIELM EM FOCO – Nº 2 fazer doces (cocada, pé-de-moleque, etc.) para meus tios venderem quando o trem chegava na estação. Eles entregavam a ela o dinheiro, que era guardado literalmente em uma meia. No final de um ano, ela entregou a meia cheia de dinheiro ao meu avô, dizendo que era para comprar a casa. Quer dizer, alguém que não tinha uma profissão, quis fazer alguma coisa e resolveu que ia fazer. Essa foi sempre a maneira de ela ser: uma atitude oral, prática, sem nenhum intelectualismo, mas absolutamente forte nas atitudes. Isso me influenciou muito. festa para comemorar o fim da ditadura. Então a coisa veio de trás para adiante. Não foi uma atitude deliberada de dizer, embora reflita minhas preocupações na ocasião ou agora. Mesmo depois que a ditadura acabou, eu discutia essas questões. Em Praga de unicórnio, por exemplo, eu discuto o poder do síndico no prédio, afinal ele é um grande ditador. Isso acontece em várias de minhas obras, mas nunca por um projeto engajado prévio. N: E, falando nisso, podemos nos remeter à própria Nita, de Bento que Bento é o Frade, que questiona o discurso pronto, preestabelecido, reproduzido sem que haja questionamentos. Ela transpassa os mundos, dos Prequetés e do mutirão, até descobrir que a situação inversa, o “tudo pode”, também não funciona. Sônia Salomão Khede, num texto sobre o gênero Literatura Infantil, diz que na década de 80 emergem textos em que a criança rouba a cena, traz uma palavra de ordem. A autora questiona até que ponto esse domínio levado ao extremo não é também a inversão da tirania. AM: Mas quando escrevi esse livro, já tinha havia a anistia, já estávamos a caminho da distensão. O que estava mais forte para mim naquele momento era a ditadura chilena, porque a brasileira já estava se esvaindo. No Chile, ela foi muito marcante: teve toque de recolher, que nó não tivemos. AM: Claro, sair de um extremo para o outro. Há crianças muito tirânicas, que acham mesmo que “tudo pode”. A questão de o direito de cada um acabar onde começa o do outro, está muito introjetado em mim. Eu sou a mais velha de onze irmãos. Nós dividíamos tudo, até armário, gaveta. Então nós tínhamos de saber muito bem até onde ir. Então eu acho que nós não devemos cair no risco da tirania contrária. Para mim, criança não é uma coisa abstrata. Não lido com abstrações infantis, nunca dei aulas para crianças, nunca estudei Psicologia infantil ou Pedagogia. Chego até elas pela linguagem. Tenho um fascínio muito grande pela linguagem oral. A grande questão da literatura brasileira é a “língua brasileira”; em que o nosso português é do Brasil, em que ele é diferente, em que continua, até onde a gente deve obedecer ao padrão que vem de fora. A questão maior que o Modernismo legou para nós não é só a questão do pronome; foi a forma como a gente fala. Continuaremos com o pronome átono? Como vamos usar isso? Vamos eliminá-lo da língua? Como lidar com essas questões fundamentais? N: E Nita também questiona isso... “Por que tenho que dizer ‘faremos todos’, se sempre dissemos ‘fazeremos todos’. Só porque a professora ensinou?” AM: É, mas a Nita esbarra num problema também, porque se ela vai falar uma língua que só ela entende, ninguém mais a entenderá. É um movimento libertário, mas ao mesmo tempo, a liberdade se dá no reconhecimento de uma moldura que é social, que é cultural, se não há o isolamento. Esse pêndulo é a nossa questão. N: Era uma vez um tirano foge um pouco a essa estrutura. É uma obra mais engajada, a começar pela caracterização do herói, que era um “déspota ou um tirano”, enfim, alguém que retirou do país toda a cor e revestiu tudo de cinza; e só ele tinha umas fitinhas coloridas no peito. Essa obra tinha a intenção de figurar a ditadura? AM: Eu estava escrevendo durante a ditadura e falava muito sobre isso. Acho que De olho nas penas é até muito mais forte do que Era uma vez um tirano. Nesse momento, a Ruth Rocha já tinha escrito três dos livros que viriam a compor a tetralogia dos reis: O reizinho mandão, O que os olhos não vêem e O rei que não sabia de nada. Já era aceito que falássemos de reis como figuras autoritárias. Eu resolvi testar, chamando de tirano. Mas a história não parte de uma atitude de denúncia. Comecei querendo escrever a história de um fabricante de estrelas, porque eu sempre fui fascinada por festas de São João. Eu queria falar de fogos, dessa coisa da pólvora, do paradoxo de poder criar beleza ou matar, que é um tema a que eu volto em O canto da praça. Em Era uma vez um tirano, eu queria falar um pouco do fabricante de estrelas. Aí eu pensei em uma festa, uma grande festa. Uma grande N: Em seu livro Texturas, você afirma que a literatura infantil ficou um pouco distante dos olhos do censor... N: Há muitos outros textos seus que trabalham essa temática do poder: Ah, cambaxirra, se eu pudesse..., Passarinho me contou, até o próprio Bento que Bento é o frade. Passarinho me contou trabalha a impotência de um rei que não consegue enxergar os problemas do reino, porque fora acostumado a reconhecer seu lugar pelo viés do olhar do outro. Você reconstrói os clichês tradicionais: Caminha, Gonçalves Dias, desconstruindo essa imagem clicherizada de Brasil, até chegar ao ponto de, como em A roupa nova do imperador, é alguém que não está totalmente envolvido, que tem o distanciamento, que vai enxergar que a estrutura não é aquela pintada, emoldurada. Não é este rei um tirano; é a figura de alguém impotente. Vale ressaltar aí sua qualidade para tratar o poder, que não é encarado aqui naquele sentido nietzschiano de vontade de poder, mas no sentido de rede, como dizia Michel Foucault, de vontade de potência, segundo o próprio Nietzsche. É um poder que acontece nas mínimas relações: de criança para criança, de criança para adulto... o que fica latente em sua obra é a resistência. Você acredita na literatura como forma de resistência? AM: Acredito, acho que literatura é resistência, porque você mexe com palavra, pensamento. Isso é uma afirmação do humano. Ao afirmar o humano, há uma resistência contra toda deturpação. Livro meu em que conscientemente trabalhei a questão do poder é um livro para adulto: O mar nunca transborda. Toda a questão dentro daquela redação de jornal passa pelo poder pífio, das pessoas que fazem de tudo para ascender. N: Menos na questão de poder governo e mais uma vez como uma forma de poder que se manifesta nas relações interpessoais e mais uma vez nós esbarramos em uma visão existencial. Falando nisso, Clarice Lispector foi uma escritora lida por você? • 5 AM: Clarice nunca foi uma das minhas autoras queridas. Sempre foi uma autora muito admirada por mim. Paulo Mendes Campos faz essa distinção: “autores por quem tenho paixão e autor que eu admiro muito”. Eu nunca tive paixão por Clarice Lispector. É uma pessoa muito distante de mim em temperamento. A Clarice contista me toca muito; a romancista, muito menos. Não a li muito; fui ler Clarice depois de adulta, na revista Senhor; mas ler mesmo, foi só na década de 70, quando eu já escrevia. Por Machado de Assis, eu tenho paixão. É completamente diferente. Eu vesti Machado: li, reli, reli... releio pedacinhos. É um voltar permanente. Eu não tenho esse impulso com a Clarice. N: Se não Clarice, que outras autoras, se é que houve autoras, influenciaram seu percurso? AM: As inglesas. Li muito as irmãs Brönte. Depois teve um momento, entrando na Faculdade de Letras, que eu li Collette, a francesa. Li também alguns infantis, meio bobos, como Mulherzinhas e Pollyanna. Mas o grande modelo da infância foi Emília, que era escrita por um homem. Eu acho que eu não tinha consciência de que era uma questão feminina. Até final dos anos 60, era uma questão antiautoritária, libertária em geral. Foi só realmente com a eclosão do feminismo vindo de todo canto que eu percebi isso. Não foi uma escritora incrível que me mostrou tudo isso; o que surgiu foi a pílula. De repente, descobriu-se que era possível transar sem engravidar e aí não havia pai que segurasse a situação. A estrutura do mundo é muito mais abalada por essa descoberta científica do que pelo fato de haver uma mulher escrevendo. N: Você se considera ou já se considerou em algum momento de sua carreira uma escritora feminista? AM: Uma escritora feminista, não; uma mulher feminista, sim. Hoje esse rótulo já está gasto, é um termo obsoleto. Fui uma jornalista feminista, mas escritora ficcional, não. Não me considero uma escritora com nenhum adjetivo, nem o infantil. Sou uma escritora brasileira. N: Aqui terminamos, agradecendo mais uma vez a sua atenção, e parabenizando o trabalho eficiente e carinhoso do seu site, especialmente do Rodrigo, afirmando que endossamos essa sua fala no sentido de que você realmente é uma escritora sem rótulo. Parabenizamos também pelo título da Academia, merecido pela qualidade e seriedade de seu trabalho. Ana Maria Machado em Manguinhos/1986 (Reprodução/ www.anamariamachado.com) • 6 Boletim Informativo do Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Mulher na Literatura – NIELM em destaque ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Mulheres na Academia Brasileira de Letras Débora Carvalho Capella / GRADUANDA (PORTUGUÊS-INGLÊS) A firmar que a mulher continua buscando, cada vez mais, sua emancipação perante a sociedade não é novidade. Afinal, ela não quer ser reduzida às tarefas domésticas; pelo contrário, luta para crescer no mercado de trabalho, antes somente ocupado pelo homem. Nessa busca, a mulher passou também a exercer ofícios antes conhecidos como redutos exclusivamente masculinos, como na política e, por que não dizer, no mundo literário. Apesar de ainda em número reduzido, a força feminina na literatura vem crescendo e conquistando respeito e admiração. Durante quase 80 anos, a presença de mulheres foi proibida na ABL; no entanto, desde 1976 tal proibição deixou de existir e, atualmente, a ABL conta com cinco delas integrando suas cadeiras. A primeira a ingressar foi Rachel de Queiroz, eleita em 1977. Autora de 23 livros individuais e 4 em parceria, nasceu em 1910, no Ceará. Em 1930, estreou com o romance O Quinze, com inesperada repercussão no Rio de Janeiro. Em 1992, foi publicada sua obra-prima, Memorial de Maria Moura, romance que lhe deu o troféu Juca Pato, concedido aos ganhadores do prêmio “Intelectual do Ano”. A segunda mulher a ocupar uma das 40 cadeiras da ABL foi Dinah Silveira de Queiroz, eleita em 1980. Nascida em São Paulo em 1911, foi romancista, cronista e contista. Seu grande sucesso foi Floradas na Serra (1939), contemplado com o Prêmio Antônio de Alcântara Machado (1940). A Academia Brasileira de Letras lhe conferiu o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra. Sua eleição foi considerada como a consagração de uma escritora vinda de uma das famílias brasileiras mais voltadas às letras. Mas, infelizmente, faleceu em 1982. Outra imortal é Lygia Fagundes Telles, eleita em 1985. Advogada, romancista e contista, tem seu livro Ciranda de Pedra, publicado em 1954, apontado por muitos estudiosos como o marco de sua maturidade. Seu trabalho mais conhecido, porém, é o romance As Meninas, de 1973. Entre outras coisas, escreveu, em parceria com Paulo Emílio Salles Gomes, Capitu, adaptação livre do romance de Machado de Assis, Dom Casmurro. Além disso, muitos foram os prêmios que recebeu por suas obras. Já em 1989, foi a vez de Nélida Piñon, ingressar na ABL. Jornalista, romancista, contista e professora, foi responsável pela inauguração da cadeira de Criação Literária na Faculdade de Letras da UFRJ. Deu cursos em universidades estrangeiras como na Colômbia University e na John Hopkis University, por exemplo. Foi a primeira mulher, em 100 anos de existência da ABL, a integrar a Diretoria e ocupar a presidência da Casa de Machado de Assis, no ano do seu Centenário. Quanto às suas obras, estreou com o romance Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, publicado em 1961. Desde o início, a escritora filiou-se ao movimento que, depois de Guimarães Rosa, se orienta pela renovação formal da linguagem. Anos depois, em 2001, Zélia Gattai foi eleita para ocupar a cadeira de número 23. Romancista, memorialista e fotógrafa, nasceu em São Paulo, em 1916. Em seu primeiro livro de memórias, Anarquistas Graças a Deus (1979), narra a história de seus pais, a realidade dos imigrantes italianos no Brasil e sua infância em São Paulo. No mundo da ficção, estréia com o livro infantil Pipistrelo das Mil Cores, 1989. Retorna às memórias em 1992, com Chão dos Meninos, no qual retrata o retorno do exílio, no período de 1952 a 1963, e é dedicado ao marido, Jorge Amado, em comemoração aos seus oitenta anos. Em 2001, fica viúva de Jorge Amado. Publica Códigos de Família, livro de memórias. Seu livro mais recente é Jorge Amado, um Baiano Sensual e Romântico, lançado em 2002. Desde 1980, recebeu diversos prêmios, entre eles: Medalha do Mérito Castro Alves, da Secretaria da Educação e Cultura do Estado da Bahia (1987) e Comenda das Artes e das Letras concedida pela ministra da França, Catarine Traurmann (1998). Por último, foi a vez de Ana Maria Machado, eleita em 24 de abril deste ano. Carioca, com 33 anos de carreira, possui mais de 100 livros publicados no Brasil e em mais de 17 países, somando quase catorze NIELM em foco Publicação do Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Mulher na Literatura Correio eletrônico: [email protected] Ana Maria Machado / Posse na ABL (Reprodução/ www.anamariamachado.com) milhões de exemplares vendidos. Trabalhou como professora em colégios e faculdades, escreveu artigos para a revista Realidade e traduziu textos até que, em 1969, partiu para o exílio. Na Europa, trabalhou como jornalista na revista Elle em Paris e na BBC de Londres, além de se tornar professora em Sorbonne. Mesmo ocupada, Ana não parou de escrever as histórias infantis que vendia para a Editora Abril. Escondida por um pseudônimo, ganhou o prêmio João de Barro por ter escrito o livro História Meio ao Contrário, em 1977. O sucesso foi imenso, gerando muitos livros e prêmios em seguida. Em 1993, ela se tornou hors-concours dos prêmios da fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Em 2000, Ana ganhou o prêmio Hans Christian Andersen, considerado o prêmio Nobel da literatura infantil mundial. E em 2001, a Academia Brasileira de Letras lhe deu o maior prêmio literário nacional, o Machado de Assis, pelo conjunto da obra. Retratos de mulheres como essas mostram todo o potencial feminino e também, como a mulher está conseguindo, ainda que aos poucos, conquistar o espaço a que tem direito. Embora em número reduzido em relação aos homens (ocupam 5 das 40 cadeiras existentes), elas estão presentes na Academia Brasileira de Letras e, de alguma forma, contribuem para o aumento do respeito com relação às mulheres em geral. FACULDADE DE LETRAS / UFRJ: Diretora: Edione Azevedo Coordenação do NIELM: Angélica Soares / Elódia Xavier Bolsista: Sheila da Silva Editoração / Prog.Visual / Copydesk: Antonio Galletti / Ione Nascimento (SERVIÇO DE PUBLICAÇÕES/FL) OS ARTIGOS ASSINADOS NÃO REPRESENTAM NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DO JORNAL .