Revista cirrus nº 5 - Ciência e Tecnologia

Transcrição

Revista cirrus nº 5 - Ciência e Tecnologia
C I R R U S
Novembro – Dezembro 2005
U N E M E T – Brasil
www.unemet.al.org.br
UNEMET: 3 Anos de Sucesso e Desafios Crescentes
O Escurecimento Global: Outra Incógnita da
Mudança Climática
Adalberto Serra: O Entusiasta da Meteorologia
Brasileira
Aspectos Climatológicos da Precipitação do
Nordeste Brasileiro
Valorização e Respeito Profissional:
Até que ponto os Meteorologistas
submeter aos baixos salários?
devem
se
C I R R U S
U N E M E T – Brasil
Ano I – Número 5 – Novembro – Dezembro 2005
S
Diretoria Executiva
Editorial
4
Presidente
Ednaldo Oliveira dos Santos (COPPE/UFRJ)
Secretário Geral
Daniel Carlos Menezes (COPPE/UFRJ)
Diretor Administrativo e Financeiro
Alailson Venceslau Santiago (ESALQ/USP)
Diretor de Cooperação Nacional e
Internacional
José de Lima Filho (UFAL)
12
Conselho Editorial
Alailson Venceslau Santiago (ESALQ/USP)
Ednaldo Oliveira dos Santos (COPPE/UFRJ)
Rodrigo Santos Costa (COPPE/UFRJ)
Daniel Carlos de Menezes (COPPE/UFRJ)
Revista
Cirrus,
dos
estudiosos
por
Meteorologia, é uma publicação da União Nacional
dos Estudiosos em Meteorologia - UNEMET,
distribuída
gratuitamente
aos
usuários
cadastrados no site.
A revista não se responsabiliza por opiniões
emitidas pelos entrevistados e por artigos
assinados.
Reprodução permitida desde que citada a fonte.
2
Programe-se
Capa
16
Satélites Meteorológicos: Como ajudam
na Previsão do Tempo
Memória
25
Adalberto Barranjard Serra
Curiosidades
28
Conselho Fiscal
José Luiz Cabral da Silva Junior (UFV)
Gustavo Bastos Lyra (ESALQ/USP)
Sylvia Elaine Marques de Farias (INPE)
Gustavo Necco
Agenda
14
Conselho Diretor
Ednaldo Oliveira dos Santos (COPPE/UFRJ)
Alailson Venceslau Santiago (ESALQ/USP)
José de Lima Filho (UFAL)
Rodrigo Santos Costa (COPPE/UFRJ)
Maria Céli Santos de Lima (UFAL)
Prof. Paulo César Sentelhas
Ponto de Vista
Diretora de Educação e Treinamento
Maria Céli Santos de Lima (UFAL)
Fique Antenado
Entrevista
7
José Francisco de Oliveira Júnior (COPPE/UFRJ)
Diretor de Comunicação e Marketing
UNEMET: 3 Anos de Sucesso e Desafios
Crescentes
Radar
5
Carlos Henrique D’Almeida Rocha (COPPE/UFRJ)
Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento
umário
Aspectos Climatológicos da Precipitação
do Nordeste Brasileiro
Nossas Escolas
31
O
Primeiro
Curso
Superior
em
Meteorologia no Norte-Nordeste do Brasil
Reflexões
35
Valorização e Respeito Profissional:
Até que ponto os Meteorologistas devem
se submeter aos baixos salários?
Redação
Cartas para o editor, sugestões de temas, opiniões
ou dúvidas sobre o conteúdo editorial de CIRRUS.
[email protected]
Publicidade
Anuncie em CIRRUS e fale com o mundo.
[email protected]
UNEMET – Brasil
Rua Dona Alzira Aguiar, 280 - Pajuçara
57030-270 – Maceió – Alagoas - Brasil
Fone: (82) 3377-0268
[email protected]
www.unemet.al.org.br
C
PARABÉNS
CIRRUS
correio
PELA
NOVA
EDIÇÃO
DE
Parabéns!! O conteúdo da revista merece uma
leitura apurada. Especialmente o artigo sobre o
Velho Chico, que mostra visões e opiniões
diversas que nos ajudam a refletir sobre os
desdobramentos desse Projeto tão polêmico.
Gostaria de sugerir um artigo, que penso
interessar muito aos jovens que estão procurando
definir seu futuro, às vésperas de prestarem
vestibulares. Seria sobre a profissão do
Meteorologista: as universidades que oferecem
cursos, os conteúdos programáticos, os desafios
da profissão, as oportunidades do mercado de
trabalho, enfim, um guia que pudesse ajudar os
jovens que se interessam pelo tema. Aliás, esse
texto poderia constar do site da Unemet,
independentemente da Cirrus. A internet tem sido
usada pelos jovens para a busca de informações
nessa hora tão difícil.
Suely Bárbara Laskowski
FatorGis, Curitiba-PR
PREVISÃO
PROLONGADAS
BRASILEIRO
DE
NO
SECAS
NORDESTE
Li algumas matérias da Cirrus e está
excelente em termos de forma e conteúdo.
Parabéns!
Muito boa a matéria sobre a previsão de
secas prolongadas no nordeste brasileiro.
Clarificou muitas coisas.
Quanto às matérias do São Francisco, a
iniciativa foi muito boa. O que tenho notado
é que os números do projeto não estão
claros, ora vejo R$ 2 bilhões, ora vejo R$ 12
bilhões. Ora são 26m3/s ora são 127m3/s.
Ora 2 anos, ora 10 anos. Se for para
beneficiar apenas os apadrinhados, não
deveria ser feito. Vejo muita paixão e pouco
cartesianismo. Se é tão ruim, porque o SBPC
não se reúne e faz um manifesto contra?
Quanto à matéria dos furacões, também é
muito boa.
Christiano Pires de Campos
IVIG/COPPE/UFRJ
PRIMEIRA TURMA
Sou meteorologista da primeira turma de
Meteorologia da UFRJ e fiquei empolgado
com a revista CIRRUS, gostaria de recebê-la,
e saber como faço para me cadastrar.
Arthur Mattos
UFRN, Natal, RN
NOTA
Devido ao grande volume de matérias
pendentes para a Edição de Set-Out, o
Corpo Editorial da Revista tomou a liberdade
de suprimir uma pagina dessa Seção.
Pedimos assim a compreensão dos nossos
leitores.
Lembramos
que
todas
as
mensagens foram prontamente respondidas
e as sugestões já estão sendo avaliadas pelo
Corpo Editorial.
OS EDITORES
3
E
ditorial
UNEMET: 3 Anos de Sucesso e Desafios Crescentes
E
ste é um momento de alegria para todos nós que fazemos a UNEMET. Estamos
comemorando o terceiro ano de existência da UNEMET. Três anos de muitas lutas e
dificuldades, mas de muitas conquistas também. Quando criamos a UNEMET, não foram
poucos que duvidaram de seu sucesso, mesmo entre colegas. E essas dúvidas se
justificam, pois não é toda dia que aparece uma instituição para quebrar as algemas da
mediocridade em que vivemos com a clara orientação de divulgação e em defesa do interesse da
Meteorologia. Porém seguimos em frente, encarando as dificuldades e procurando traduzir cada
vez mais os sentimentos e as expectativas de todos os estudiosos em Meteorologia.
Quando formatamos as primeiras
idéias, não era bem entendido nem tinha
grande penetração. Percorremos um longo
caminho desde aqueles dias em que éramos
reduzidos a alguns membros com algumas
idéias inovadoras e logo nos transformamos em
um núcleo de conhecimento, e muito ainda está
por vir.
Nestes 3 anos a UNEMET formalizou
diversas parcerias e convênios importantes com
inúmeras instituições nacionais e internacionais
como
a
SECT-AL,
SBMET,
Prefeituras
municipais de Palmeira dos Índios, Barra de
São Miguel, em Alagoas, EUMETSAT dentre
outras.
Conseguiu
liderar
uma
grande
campanha no em prol da continuidade e
expansão do recebimento de dados do
METEOSAT-8, pertencente à EUMETSAT. Esta
nossa batalha teve sucesso e foi bem recebida
pela direção da EUMETSAT. Este é um dos
modos concretos que encontramos para agir,
na linha de frente, em prol da Meteorologia em
nosso país.
Além disso, a UNEMET trava uma
grande batalha com diversas instituições
brasileiras para que seja cumprida a Lei de
Regulamentação da Profissão que determina
que somente possa lecionar e trabalhar em
Meteorologia pessoas que tenham o diploma ou
a carteira do CREA em nossa Ciência. Mesmo
às vezes sendo incompreendida nesta ação por
colegas da profissão, seja por desconhecer a lei
ou mesmo por outros interesses, não
desistiremos até que possamos ver o
cumprimento fiel da Lei. A UNEMET também
encabeçou
a
lista
para
que
a
data
comemorativa do dia do Meteorologista
passasse para o dia 14 de outubro, data da
promulgação
da
Lei
da
Profissão
da
Meteorologia em nosso país, semelhante às
outras profissões.
Concretizamos a editoração de duas
publicações que fazem muito sucesso na
sociedade brasileira: o INFORMATIVO UNEMET,
que chegou ao numero 50; e a nossa revista
CIRRUS, que está recebendo elogios de
diversas pessoas e instituições tanto no Brasil
quanto no estrangeiro. Esse esforço prova e
reafirma o compromisso que a UNEMET tem,
através da informação, criar uma consciência
de busca do conhecimento acerca da ciência
meteorológica, suas relações e aplicações, e
que o mesmo alcance todas as pessoas que se
interessam ou que querem aprofundar seus
conhecimentos em Meteorologia e/ou áreas
afins.
Ao relembrar essas vitórias, não nos
move nenhum tipo de presunção e soberba,
pois tudo que foi feito não existiria sem o apoio
de nossos leitores e colaboradores e amigos em
geral. Temos, contudo, muito orgulho de nossa
trajetória e, principalmente, da amizade de
todos vocês.
Uma coisa é certa: estamos no inicio
ainda. A Meteorologia continua sendo nossa
paixão, a força propulsora por trás de cada
uma de nossas aspirações. Foi essa paixão que
nos levou a criar e desenvolver esta
Organização e foi ela que nos motivou a criar
inovações de grande aceitação e é graças a ela
que continuamos a idealizar publicações
abertas, o cerne de nossa filosofia e a chave de
nosso sucesso, que proporcionará que os
conhecimentos sejam disseminados.
Aproveitando o ensejo, gostaríamos de
informar que a Cirrus retornará em amrço de
2006 e desejamos a todos vocês um Natal Feliz
com muita Paz e Alegria junto a seus familiares
e um Ano de 2006 repletos de Novos Projetos,
Desafios e Realizações, esperando contar com
todos no próximo ano.
Os Editores
4
R
adar
Fique Antenado
CONCURSO PÚBLICO PARA O INMET
O Diretor do Instituto Nacional de
Meteorologia – INMET, no uso de suas
atribuições legais, considerando a autorização
concedida pelo Ministério de Estado do
Planejamento, Orçamento e Administração, por
meio da Portaria nº 159, de 12 de julho de
2005 e obedecendo ao disposto no Decreto nº
4.175, de 27 de março de 2002, faz saber que
fará realizar através do Instituto Nacional de
Educação CETRO – INEC, em datas, locais e
horários a serem oportunamente divulgados,
Concurso Público destinado ao provimento de
vagas
existentes
para
os
cargos
de
Administrador e Meteorologista, conforme
especificados no edital do referido concurso.
Ao todo são 29 vagas distribuídas da
seguinte forma: 17 para Brasília/DF, 4 para
São Paulo/SP, 2 para Rio de Janeiro/RJ, 2 para
Belo Horizonte/MG, 2 para Cuiabá/MT e 2 para
Manaus/AM.
As inscrições serão realizadas via
Internet,
no
endereço
eletrônico
http://www.cetroconcursos.com.br, no período
de 12 a 23 de dezembro de 2005, iniciandose no dia 12/12/05, às 10h e encerrando-se,
impreterivelmente, às 17h do dia 23/12/05.
Maiores Informações e edital completo
estão no site:
http://www.cetroconcursos.com.br/Co
ncursos/Inmet/Inmet_Edital.pdf
Fonte: INMET
I PRÊMIO INMET DE ESTUDOS SOBRE
BENEFÍCIOS DA METEOROLOGIA PARA
O BRASIL
A Associação dos Pesquisadores do
Experimento de Grande Escala da BiosferaAtmosfera na Amazônia - APLBA publicou Edital
de Licitação do CONCURSO no 01/2005 APLBA, denominado "I Prêmio INMET de
Estudos sobre os Benefícios da Meteorologia
para o Brasil", para seleção e premiação de
trabalhos que versem sobre os potenciais
benefícios econômicos e sociais das atividades
meteorológicas no Brasil, no âmbito do Projeto
de Tecnologia da Informação para Meteorologia
(PROTIM), por solicitação do Instituto Nacional
de Meteorologia (INMET), em conformidade
com a Lei no 8.666, de 21/06/93.
O Prêmio tem por objetivo estimular a
realização e divulgação de trabalhos que
reúnam evidências quantitativas sólidas dos
benefícios
potenciais
das
atividades
meteorológicas no território brasileiro. Serão
premiados ao todo 13 trabalhos (os 7 melhores
com R$10.000,00 cada e outros 6 trabalhos
com R$5.000,00 cada). PARTICIPEM!
As inscrições deverão ser feitas até o dia
31 de janeiro de 2006, no estabelecimento
da APLBA. Conheça o texto completo do Edital
no endereço:
http://www.cptec.inpe.br/arquivos_extra
net/EDITAL_CONCURSO_nr_01_APLBA_2005.p
df
Os interessados podem procurar a
APLBA:
Yara Lopes Guedes Ferreira/APLBA
Rodovia Presidente Dutra, km 39
Cachoeira Paulista – SP CEP:12630-000
Fone: 12 3186-8529 / 3186-8493 / 3186-8400
Fax: 12 3186-8542 / 3101-2835
E-mail: [email protected]
Fonte: SBMET
5
BOLSA DE TÉCNICO DE INVESTIGAÇÃO
(BTI) EM PORTUGAL
O Centro de Estudos da Macaronesia
(CEM) da Universidade da Madeira e o Instituto
de Oceanografia (IO) da Universidade de Lisboa
são parceiros num projeto de investigação
recentemente contemplado com financiamento
da FCT (POCI/MAR/57265/2004).
O objetivo principal do projeto é o
estudo
de
processos
oceanográficos
/
atmosféricos, do Arquipélago da Madeira. No
âmbito deste projeto o CEM/IO tornam público
que estão abertas candidaturas para 1 (uma)
vaga de Bolsista Técnico de Investigação na
área de computação cientifica de alto
desempenho.
Duração da bolsa: 1 (um) ano (renovável).
Prazo para recepção das candidaturas:
1 de Dezembro 2005 a 1 de Fevereiro de
2006.
Os
critérios
de
avaliação
das
candidaturas é a avaliação curricular (média de
Licenciatura e experiência pós-Licenciatura), e
eventual
entrevista.
De
preferência,
o
candidato deverá demonstrar ter experiência
de investigação na área de computação de alto
desempenho, conhecimentos de Fortran 77/95
e facilidade na utilização do sistema operativo
Linux.
Das candidaturas deverão constar os seguintes
documentos:
- Curriculum Vitae detalhado;
- Fotocópia do Certificado de Habilitações
autenticada;
- 3 cartas de recomendação;
- Carta de motivação para participar no
projeto.
Candidaturas e seleção: As candidaturas
deverão ser formalizadas ao Coordenador do
projeto, Doutor Rui Caldeira, acompanhado dos
documentos necessários (preferencialmente em
formato digital – PDF).
O resultado do processo de seleção será
divulgado através de notificação ao candidato.
Para maiores informações contatar:
Doutor Rui Caldeira, Centro de Estudos da
Macaronésia, Universidade da Madeira, Campus
da Penteada, 9000-390 Funchal - Madeira. Email: [email protected]
Outras informações em
ou
http://www.uma.pt/cem/
http://www.io.fc.ul.pt/
Fonte: SBMET
6
PROGRAMA DE BOLSA DE PÓSDOUTORADO DO IAI/NCAR
O Centro Americano de Pesquisas
Atmosféricas (NCAR) e o Instituto InterAmericano para Pesquisas de Mudanças
Climáticas Globais (IAI) estão com inscrições
abertas para o seu novo programa novo para
apoiar bolsistas de pós-doutorado em ciências
atmosféricas e áreas relacionadas.
Poderão se inscrever pessoas dos
países membros do IAI que estejam para
receber o título de doutorado dentro de 5 anos
em uma instituição pertencente ao país
membro do IAI.
Os bolsistas ficarão hospedados em
residência no NCAR e os candidatos devem ter
fluência verbal e escrever bem em inglês.
As candidaturas serão aceitas na forma
eletrônica até 5 de janeiro de 2006 para
atividades a serem iniciadas entre junho e
dezembro de 2006.
Para maiores detalhes sobre este
programa e outras informações necessárias
visite www.asp.ucar.edu/iai/
Para mais informação contatar Scott
Briggs através de e-mail: [email protected], ou
na página de Web acima.
Fonte: IAI
E
ntrevista
Paulo César Sentelhas
A SBAgro e o Panorama Atual da Agrometeorologia no Brasil
“
Com certeza a descentralização da SBAgro
ajudaria em muito a desenvolver a
agrometeorologia em nível regional, já que
muitas vezes colegas não tem como
participar de nossos congressos devido à
distância
P
róxima a completar 33 anos de
fundação, a SBA (Sociedade Brasileira
de Agrometeorologia), não para de
inovar. Além de está de cara (site) e
diretoria nova, passa agora a utilizar uma
nova sigla: SBAgro. Outra novidade é o
lançamento oficial da homepage da Revista
Brasileira de Agrometeorologia (RBAgro).
Porém na opinião do novo Presidente da
Sociedade, e nosso entrevistado, Prof. Paulo
César Sentelhas (ESALQ/USP), “o que temos
a comemorar após esses quase 33 anos é
que hoje temos uma sociedade muito bem
consolidada, com grande expressão nacional
e também na América Latina, com uma
revista científica bem conceituada e,
principalmente, com um grupo de associados
extremamente competente e atuante, o que
a mantém sempre em evidência”. Leia
abaixo na íntegra a entrevista concedida
especialmente a nossa redação.
CIRRUS - O Senhor é o
presidente a dirigir a SBAgro?
mais jovem
Prof. Sentelhas - Sinceramente não sei.
Mas com certeza essa é a diretoria mais
jovem que a SBAgro teve até o momento.
Estamos
contando
com
colegas
de
basicamente três gerações recentes de
agrometeorologistas, como é o caso do Fábio
Marin da Embrapa (secretário-geral) e do
Gregório Faccioli da UFS (2º secretário), os
mais jovens. Além disso, temos na diretoria
o
José
Ricardo
Pezzopane
do
IAC
(tesoureiro), a Denise Fontana da UFRGS (2ª
tesoureira) e eu de uma geração anterior, e
o Marcelo Camargo do IAC, nosso vicepresidente, um pouco mais velho. O mais
”
importante de tudo isso é que a nossa
disposição é muito grande para ajudar a
SBAgro a crescer ainda mais.
CIRRUS - Quais as lições tiradas no último
Congresso da Sociedade (Campinas)?
Prof. Sentelhas - O último Congresso de
Agrometeorologia foi bastante diferente dos
que o precederam. A profissionalização do
evento
foi
um
ponto
marcante,
especialmente com a participação de grande
número de empresas e instituições. Essa é
uma lição importante a ser tirada, o que
permite aos organizadores dos eventos ter
flexibilidade em termos de recursos,
inclusive com saldo positivo para a SBAgro.
Outra lição importante foi com relação à
revisão dos trabalhos submetidos ao evento.
Tal ação possibilitou uma melhoria bastante
significativa na qualidade dos trabalhos
apresentados, e isso é um aspecto
importantantíssimo a ser considerado no
próximo evento. Apesar desses pontos
positivos, será necessária uma melhor
organização da parte científica, com a volta
das apresentações em plenário e mais tempo
para a apresentação dos posters.
7
“
A prioridade nesse início de gestão é a
reformulação dos sites da SBAgro e da
RBAgro, além de regularizar a situação da
sociedade quanto à sua sede em Campinas
CIRRUS – O que o senhor pretende manter
da gestão anterior e inovar na atual?
Prof. Sentelhas - A gestão anterior, como
já
disse,
presou
muito
pela
profissionalização, mas creio que ainda
temos muito o que avançar nesse sentido.
Uma das ações para isso é se ter uma
melhor apresentação da entidade junto à
sociedade e para tanto estamos investindo
nos sites tanto da SBAgro como também da
nossa revista científica, a RBAgro. Uma outra
proposta é incentivarmos outros eventos,
como reuniões regionais ou por áreas
científicas,
possibilitando
assim
um
intercâmbio mais constante entre os sócios.
O processo de intercâmbio internacional,
especialmente com as demais sociedades de
agrometeorologia da América Latina e com a
International Society of Agricultural and
Forest Meteorology (INSAM) é algo em que
vamos
continuar
investindo,
dando
continuidade ao excelente trabalho feito pela
diretoria do Dr. Paulo Caramori.
CIRRUS - Qual a avaliação que o Senhor faz
no momento acerca da atual gestão da
SBAgro?
Prof. Sentelhas - Ainda estamos no início
de nossa gestão e isso dificulta uma
avaliação mais detalhada, mas creio que
estamos começando com muita disposição
para manter a SBAgro próspera.
CIRRUS
Quais
os
projetos
mais
importantes a serem implantados em sua
gestão?
Prof. Sentelhas - A prioridade nesse início
de gestão é a reformulação dos sites da
SBAgro e da RBAgro, além de regularizar a
situação da sociedade quanto à sua sede em
Campinas. Até o momento, a sede da
SBAgro encontra-se no local de sua
fundação, em Campinas Grande, o que vem
dificultando
alguns
procedimentos
burocráticos. Outra prioridade é a mudança
do estatuto da SBA, já aprovado no último
evento e atualmente em trâmite nos órgãos
competentes.
Além
disso,
estamos
8
”
registrando a sigla SBAgro como a oficial da
entidade, já que existem diversas outras
sociedades com a sigla SBA, e outras
requerendo o direito de usar SBAgro.
CIRRUS - No próximo ano (2006) a SBA
completa 33 anos. O que se tem para
comemorar, já que o senhor participou da
história da SBA em outros momentos?
Prof. Sentelhas - Bom, minha história junto
à SBAgro é relativamente recente. Torneime sócio em 1989, portanto com a SBAgro
já tendo 16 anos. Mas, em minha opinião, o
que temos a comemorar após esses quase
33 anos é que hoje temos uma sociedade
muito bem consolidada, com grande
expressão nacional e também na América
Latina, com uma revista científica bem
conceituada e, principalmente, com um
grupo
de
associados
extremamente
competente e atuante, o que a mantém
sempre em evidência.
CIRRUS - Como o Senhor avalia o
panorama atual da Agrometeorologia no
Brasil e qual a sua visão para os próximos
anos?
Prof. Sentelhas - A agrometeorologia é
uma área das ciências agronômicas bastante
interessante, pois além de se enquadrar
como uma disciplina básica, ela também se
enquadra como uma disciplina aplicada.
Portanto, vejo a agrometeorologia com uma
grande interação com as demais áreas das
ciências agronômicas, o que confere a ela
uma
posição
de
destaque.
A
agrometeorologia hoje no Brasil é praticada
não só pelos agrometeorologistas, que
fazem pesquisas básicas e também aplicadas
ao dia-a-dia dos produtores, mas também
pelos meteorologistas, haja vista que o
maior cliente dos produtos meteorológicos é
o
setor
agrícola.
Portanto,
a
Agrometeorologia tem muito a contribuir
com a agricultura nacional, nas mais
diversas condições.
CIRRUS - Como o Senhor analisa a
evolução do Agronegócio no atual momento
Brasileiro? O Senhor acredita que a
Agrometeorologia
contribui
ou
pode
contribuir com esta evolução? Que benefícios
a Agrometeorologia pode trazer para o
fortalecimento do Agronegócio no país?
Prof. Sentelhas - A agricultura brasileira é
hoje a atividade econômica mais importante
para o País. No entanto, ela ainda carece de
tecnologia para que seja sustentável. Nesse
sentido, a agrometeorologia tem muito a
contribuir com o agronegócio brasileiro,
gerando tecnologia de produção para
minimização dos impactos gerados pelas
atividades agrícolas e, consequentemente,
melhorando os níveis de produtividade e
reduzindo o custo de produção.
CIRRUS - Em sua opinião como poderia ser
intensificado
o
desenvolvimento
da
Agrometeorologia no Brasil?
Prof. Sentelhas - A agrometeorologia
brasileira é uma das mais bem organizadas
não só a nível de América Latina, mas
também a nível mundial. Hoje em dia são
poucas as sociedades de agrometeorologia
em outros países que tem uma estrutura
como a nossa. Podemos citar como
exemplos a Argentina, Itália, Índia, Coréia
do Sul e Canadá, que por conhecimento
pessoal posso afirmar que não atingiram
ainda nosso nível. Para impulsionar ainda
mais
a
nossa
agrometeorologia
é
fundamental que se tenha a SBAgro cada
vez mais forte. O desenvolvimento de uma
área de conhecimento só se dá a partir do
momento em que os especialistas dessa área
tenham a possibilidade de interagir e para
isso o papel de uma sociedade é
fundamental. Sendo assim, creio que a
agrometeorologia no Brasil irá se firmar cada
vez mais desde que a SBAgro continue
atuando
como
ponto
de
agregação,
estimulando o crescimento profissional de
seus membros e a discussão de assuntos de
importância para a agricultura nacional, em
seus eventos.
c)
Que nos cursos de agronomia e
meteorologia
a
disciplina
agrometeorologia seja ministrada por
profissionais competentes e que atuem
na área;
d) Que os serviços de extensão rural
empreguem os conhecimentos gerados
pela pesquisa em agrometeorologia;
e) Que se fortaleçam os centros de
informações agrometeorológicas; e
f) Que as informações agrometeorológicas
estejam inseridas na mídia.
CIRRUS - A SBMET possui Diretorias
Regionais, não seria interessante também
que a SBAgro fosse descentralizada?
Prof. Sentelhas - A SBMET é um exemplo a
ser seguido pela SBAgro em todos os
aspectos, já que a entidade atingiu um nível
organizacional excelente. Com certeza a
descentralização da SBAgro ajudaria em
muito a desenvolver a agrometeorologia a
nível regional, já que muitas vezes colegas
não tem como participar de nossos
congressos devido à distância. Porém, uma
decisão como essa só pode ser tomada pela
Assembléia Geral da entidade. Essa é uma
sugestão que será levada pela atual diretoria
para que seja implementada durante o nosso
próximo congresso.
CIRRUS - Qual sua mensagem final?
Prof. Sentelhas - Deixo como mensagem
final uma frase de Confúcio, que uma vez
tive a oportunidade de ler na sala de meu
amigo Marcelo Camargo: “A essência do
conhecimento científico é sua aplicação
prática”. Creio muito nessa frase e tenho
certeza de que se passarmos a aplicar boa
parte
do
conhecimento/tecnologia
que
nossos pesquisadores vêm gerando, não só
na agrometeorologia, mas também em todas
as outras áreas, teremos condições de levar
esse País ao lugar que ele merece.
Ficha Técnica
•
CIRRUS - Então, como o Senhor acha que
se deve fazer objetivamente para que a
Agrometeorologia possa ser mais conhecida
e aplicada no Brasil?
Prof. Sentelhas - Em minha opinião, para
que a agrometeorologia seja mais conhecida
e aplicada são necessários os seguintes
pontos:
a) Ter uma sociedade forte e atuante;
b) Contar com uma revista científica de
qualidade;
•
•
•
Graduado em Engenharia Agronômica
pela
Faculdade
de
Agronomia
e
Zootecnia Manoel Carlos Gonçalves,
FAZMCG (1987);
Mestre em Agrometeorologia pela ESALQ
(1992);
Doutor em Irrigação e Drenagem pela
ESALQ (1998);
Presidente da SBAgro (Gestão: 200507), eleito em 07/2005.
9
M
eteorologia em Foco
Confira o que foi destaque
O Nono Congresso Argentino de
Meteorologia, CONGREMET IX, com o lema
“Tempo, Clima, Água e Desenvolvimento
Sustentável”,
foi realizado na cidade de
Buenos Aires de 3 a 7 de outubro de 2005 nos
salões da Biblioteca Nacional, organizado pelo
Centro Argentino de Meteorologistas (CAM).
Neste evento estiveram presentes mais de 200
meteorologistas, climatologistas, hidrólogos e
oceanógrafos argentinos e de países vizinhos, a
os
quais
apresentaram,
discutiram
e
intercambiaram
suas
experiências
e
conhecimentos nas respectivas disciplinas em
seu afã de compreensão dos diferentes
aspectos relacionados ao tempo, clima e a água
que afetam o desenvolvimento sustentável. O
Congresso foi apoiado e patrocinado por várias
instituições oficiais e privadas e foi declarado
de interesse pela Organização Meteorológica
Mundial, pelo Governo da Cidade de Buenos
Aires e pelo Honorável Senado do país.
Na cerimônia de abertura (3 de
outubro) expressaram palavras de boas vindas
o Presidente do CAM, Lic. Juan Manuel Horler;
o Terceiro Vice-presidente da Organização
Meteorológica Mundial e Diretor Geral do
Serviço Meteorólogico Nacional, Cdro. Miguel
Angel Rabiolo; o Chefe de Gabinete da
Secretaria de Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável,
Lic.
Rubén
Patroulleau;
o
Coordenador da Área de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável do PNUD, Ing.
Daniel Tomasini; o Decano da Faculdade de
Ciências Exatas e Naturais, UBA, Dr. Pablo M.
Jacovkis e o Presidente do Comitê Organizador
do CONGREMET IX, Dr. Gustavo V. Necco
(Figura 1).
Foram realizadas durante o evento
duas conferências, uma intitulada “A previsão
climática como recurso para o desenvolvimento
sustentável em países do MERCURSUL”
apresentada pelo Dr. Luiz B. Molion da UFAL; e
a segunda conferência convidada com o título
“O diagnóstico climático como elemento de
10
decisão e controle”, foi dada pelo Dr. Walter
Mario Vargas, da Universidade de Buenos Aires.
Figura 1 – Sessão Solene de abertura do
CONGREMET IX. Da direita para esquerda: Cdro.
Miguel Angel Rabiolo, Ing. Daniel Tomasini, Lic.
Juan Manuel Horler, Lic. Rubén Patroulleau, Dr.
Pablo M. Jacovkis, Dr. Gustavo V. Necco
(presidente do Comitê Organizador).
As atividades do Congresso incluíram
uma
sessão
de
painéis
onde
foram
apresentados mais de duzentos trabalhos de
investigação; uma série de mesas redondas nos
temas “Tempo e tormentas severas”, “Tempo e
desastres naturais” “Clima (com ênfase na
gestão de dados climáticos)”; “Variabilidade e
mudança
climática”,
“Oceanografia”,
“Hidrologia e água doce” e “Agrometeorologia”;
duas conferências convidadas e uma sessão de
apresentação
de
livros
recentemente
publicados por autores locais ou da região em
temas relacionados com o evento.
Os participantes receberam um CDROM contendo a totalidade dos trabalhos
apresentados, revisados e aprovados por um
Comitê de Seleção integrado por mais de
cinqüenta marcantes profissionais argentinos e
de países da região. A audiência foi muito ativa
e participativa, tanto nos intercâmbios com os
autores que apresentaram painéis, como em
comentários,
intervenções
com
os
moderadores, apresentadores de palestras,
mesas redondas e com os conferencistas
convidados. Destacou-se a presença de
numerosos participantes brasileiros, incluindo
um importante número de estudantes.
Na sexta, dia 7/10, o evento concluiu
com uma mesa redonda moderada pelo
Presidente do CAM, Lic. Juan M. Horler, e a
Presidenta
da
Sociedade
Brasileira
de
Meteorologia (SBMET), Dra. Maria Gertrudes
Alvarez Justi da Silva, onde se integraram às
conclusões e recomendações das diferentes
mesas redondas e se discutiram planejamento
futuros. Anunciaram-se ações de ambas as
sociedades em prol de uma melhoria das
estruturas
institucionais
no
âmbito
meteorológico e se ressaltou à defesa da
profissão. Foi acordado também que se devem
fazer esforços para reforçar os intercâmbios e
relações entre as sociedades meteorológicas
argentina e brasileira, propondo-se, em
particular, a iniciação de uma publicação
eletrônica conjunta. Considerou-se que o
evento teve muito êxito pela amplitude e pela
variedade
dos
temas
tratados
e
pela
considerável interação e pró-atividade dos
participantes e da numerosa audiência.
Fonte: Dr. Gustavo Necco, Presidente do
Comitê Organizador do CONGREMET IX
Simpósio Internacional de Climatologia – SIC2005
A Sociedade Brasileira de Meteorologia
(SBMET), com o apoio de diversos órgãos das
esferas federal, estadual e de entidades
privadas,
organizou
o
"SIMPÓSIO
INTERNACIONAL
DE
CLIMATOLOGIA:
“A
HIDROCLIMATOLOGIA
E
OS
IMPACTOS
AMBIENTAIS EM REGIÕES SEMI-ÁRIDAS”
(SIC2005), tema este que abordou as interrelações entre os aspectos climáticos, de
recursos hídricos e degradação ambiental em
diversas regiões semi-áridas do planeta, além
do semi-árido do Nordeste do Brasil. O evento
foi realizado no Marina Park Hotel, em Fortaleza
- CE, no período de 23 a 27 de outubro de
2005. Foram realizadas diversas mesasredondas e apresentações de trabalhos em
forma de painéis. O evento teve a presença de
mais de 200 participantes.
A abertura do Evento foi feita pela
Presidente da SBMET Profª Dra. Maria
Gertrudes A. Justi da Silva e em seguida
passou a palavra à Diretora Científica da
SBMET e Coordenadora do SIC-2005, Profª
Teresinha de Maria Bezerra S. Xavier, que
proferiu seu discurso de Apresentação do
Simpósio. Logo em seguida discursou a
Presidente da SBMET, Profª Dra. Maria
Gertrudes A. Justi da Silva. Posteriormente,
falaram o Presidente da FUNCEME Francisco de
Assis de Souza Filho e o representante da
SECT-CE, o Sub-Secretário de Ciência e
Tecnologia Antonio Salvador da Rocha. No
momento da palavra livre a Coordenadora
Geral do CPTEC Profª Dra. Maria Assunção Faus
da Silva Dias deu seus votos de boas vindas e
sucesso ao SIC, seguida das palavras do
Presidente da Academia Cearense de Ciências
Profº Dr. José Júlio da Ponte. O Presidente da
SBMET Dra. Justi deu por encerrada a sessão
de abertura do SIC e convidou todos os
presentes para participarem da inauguração da
Feira Técnica e em seguida do Coquetel de
Abertura do SIC.
No dia 27 de outubro, foi realizado o
encerramento dos trabalhos do SIC pelo
Presidente da SBMET Profª Dra. Maria
Gertrudes Justi que depois de proferir suas
palavras de agradecimentos com uma avaliação
positiva do SIC, passou a palavra à Diretora
Científica da SBMET e Coordenadora do SIC2005, Profª Teresinha de Maria Bezerra S.
Xavier, a qual proferiu suas palavras de
agradecimentos a todos os participantes do
Simpósio. Logo em seguida, palavras de
congratulações proferidas pelo Presidente da
FUNCEME Francisco de Assis de Souza Filho,
bem como palavras do Presidente do Conselho
Deliberativo Profº Dr. Romisio Geraldo Bouhid
André enaltecendo a importância do evento.
Fonte: SBMET, Novembro/2005.
11
P
onto de Vista
Gustavo Necco
O Escurecimento Global: Outra Incógnita da
Mudança Climática
O
“escurecimento global” (“global dimming”) se refere a una redução substancial e
significativa da irradiância global, ou seja, o fluxo de radiação solar que chega à
superfície terrestre, tanto pelos raios solares diretos como pela radiação difusa
dispersada pelo céu y as nuvens. Vários estudos baseados em redes de estações
radiométricas mostram que durante o período 1964-1992 se observa um escurecimento global
significativo em amplas regiões da África, Ásia, Europa e América da Norte, com uma redução
média de aproximadamente 2% por década.
O grau deste escurecimento varia de
forma marcada com a latitude, como se mostra
na Figura 1. A máxima diminuição, que excede
a 1 W m-2 por ano, ocorre nas latitudes médias
do Hemisfério Norte, uma zona de máxima
população e industrialização, embora também
se encontrem reduções em zonas despovoadas,
como nos Círculos Polares Ártico e Antártico.
Estas estimações se baseiam em redes
piranométricas com uma distribuição espacial
muito desigual. Por exemplo, quase a metade
das medições disponíveis provém da Europa,
um quarto da Ásia e um oitavo da Austrália e
do Pacifico Sul.
12
A figura também ilustra certa relação
entre o escurecimento e o aumento do
combustível fóssil.
Também pode
se
encontrar
uma
evidência
indireta
deste
escurecimento
considerando
as
mudanças
em
três
características climáticas onde se sabe que
estão positiva e causalmente correlacionadas
com a radiação global. Estas são:
(1) a evaporação desde superfícies
hídricas,
(2) a faixa diurna da temperatura do ar,
e
(3) a visibilidade.
Figura 1 - Variação latitudinal do escurecimento
global 1958-1992 (Obtido de Stanhill y Cohen,
2001). gC m-2 ano-1 corresponde a gramas de
carbono por metro quadrado e por ano.
A estreita relação entre a evaporação e
a irradiância surge do fato de que a energia
solar provê o calor latente necessário para
mudar a água de seu estado líquido para seu
estado gasoso, e se tem mostrado que em
registros do Noroeste da Rússia e na China a
redução na evaporação pode ser totalmente
explicada pela diminuição da irradiância. Na
China, por exemplo, a redução na evaporação
potencial no período 1954-1993, calculada
através da equação de Penman, e estimada ao
redor de 2,1 % por década, pode ser explicada
pelo escurecimento global baseado na redução
da duração da insolação medida em 60
estações climáticas.
A variação diurna da temperatura está
tão fortemente relacionada com a irradiância
que se usa como uma aproximação (“proxy”)
para calcular a radiação global. Uma razão
física para esta relação tão estreita é que parte
da radiação solar absorvida na superfície da
terra se transfere por convecção à baixa
atmosfera, onde aumenta a temperatura
máxima diurna acima do mínimo noturno. Um
exemplo bastante citado sobre a mudança
antrópica induzido na casta diurna é o ocorrido
depois dos atentados terroristas do 11 de
setembro, onde todo o tráfico aéreo comercial
dos Estados Unidos foi cancelado por três dias.
Durante este período a casta diurna esteve 1,8
°C acima da normal climatológica, quase
certamente um resultado da redução observada
nas camadas de nuvens cirrus originadas nos
rastros de condensação, que a sua vez levou a
um incremento na irradiância.
Quanto à visibilidade, certas medições
disponíveis em aeroportos, por exemplo, no de
Lod, Israel, durante o período 1940-1970 a
variação visual nos meses estivais diminuiu
numa média de 0.8 km por ano.
Observações de superfície disponíveis
desde 1990 ao presente, principalmente do
Hemisfério Setentrional, mostram que este
escurecimento não persistiu na década de 90.
Em vez disto, observou-se um extenso
“clareamento” (“brightening”) desde o final da
década de oitenta. Esta reversão é conciliável
com as mudanças observadas na nebulosidade
e a transmissividade atmosférica e pode afetar
substancialmente o clima da superfície, o ciclo
hidrológico, os glaciares, e os ecossistemas. A
interrupção na obscuridade pode resultar em
que não mascare mais o aumento do efeito
estufa produzido por atividades humanas,
tendo como conseqüência o aumento acelerado
da temperatura observado durante a década de
90.
Está claro que estas variações de
radiação solar incidente na superfície da terra
afetam profundamente o meio humano e o
meio ambiente. Portanto será seguramente um
tema a qual terá que ser dada particular
atenção no próximo relatório do Grupo
Intergovernamental de Especialistas sobre
Mudança Climática (IPCC).
Para saber mais:
G. Stanhill, 2005. Global dimming: a new
aspect of climate change. Weather, January
2005, Vol. 60, No. 1, pp 11-14.
Martin Wild et al., 2005. From Dimming to
Brightening:
Decadal
Changes
in
Solar
Radiation at Earth's Surface. Science, Vol. 308,
Issue 5723, pp. 847-850, 6 May 2005.
Pinker et al., 2005. Do Satellites Detect
Trends in Surface Solar Radiation? Science, Vol.
308, pp. 850-854.
http://en.wikipedia.org/wiki/Global_dimming
Gustavo Victor Necco
Meteorologista.
Foi Diretor do Inter-American
Institute for Global Change
Research - IAI (2002-2004),
Diretor do Departamento de
Educação e Treinamento da
OMM/ONU (1985-2002) e Prof.
da Univ. de Buenos Aires,
Argentina (1974-1985).
13
A
genda
Programe-se
C
onfira aqui a lista dos principais eventos, no Brasil e no mundo, já programados
para o próximo ano. Se você quiser divulgar algum evento relacionado com a
área de Meteorologia, e/ou áreas afins, é só enviar um e-mail para
[email protected].
09-13/Jan./06
http://www.master.iag.usp.br/workshop/index.html
O Seminário sobre Previsão da Qualidade do Ar em Cidades
Latino Americanas é promovido pela Organização Meteorológica
Mundial (OMM) e terá com a anfitriã a Universidade de São Paulo USP. O Seminário é patrocinado pela OMM, FAPESP e SBMET. O
seminário será realizado no Instituto de Astronomia, Geofísica e
Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, situado em São Paulo.
Mais informações sobre inscrição, hospedagem e outras normativas
podem ser obtidas com a Comissão Organizadora do evento.
Maria de Fátima Andrade
e-mail: [email protected]
Edmilson Dias de Freitas
e-mail: [email protected]
IIPS
29/Jan. -02/Fev./06
http://www.ametsoc.org/meet/annual/
A 22ª CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE SISTEMAS
INTERATIVOS DE PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÃO será
realizada na cidade de Atlanta, Geórgia, EUA. O tema central deste ano
é Aplicações de Dados de Tempo e Clima.
Mais informações podem ser obtidas com
Dr. Terry C. Tarbell
e-mail: [email protected]
Ms. Linda Miller
e-mail: [email protected]
SCOSTEP
06-10/Mar./06
https://salvador.securebraslink.com/compassturismo.com.br/events/scostep/index.htm
O 11º SIMPÓSIO QUADRIENAL DE FÍSICA SOLAR TERRESTRE
ocorrerá no Hotel Glória na cidade do Rio de Janeiro. O Simpósio tem
como tema Sol, Física Espacial e Clima.
Mais informações sobre inscrição, hospedagem e outras normativas
podem ser obtidas no site do evento.
14
CLUSTER
22-24/Mar./06
http://igbp-portugal.org
A 1ª CONFERÊNCIA LUSÓFONA SOBRE O SISTEMA TERRA
acontecerá Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Portugal.
O prazo limite para apresentação de resumos é 06 de janeiro de
2006.
Mais informações sobre inscrição, hospedagem e outras normativas
podem ser obtidas com o Comitê Nacional para o IGBP – Portugal.
Patrícia Gouveia da Silva
ITN - Instituto Tecnológico e Nuclear
EN10, Apartado 21, 2686-953 SACAVÉM - PORTUGAL
Tel:+351-219946000 ; FAX: +351-219941525
e-mail: [email protected]
IV CBB
09-11/Abr./06
http://www.iz.sp.gov.br/4cbb
O IV Congresso Brasileiro de Biometeorologia acontecerá este ano na
cidade de Ribeirão Preto/SP. O tema será "Mudanças climáticas:
Impacto sobre Homens, Plantas e Animais".
Mais informações sobre inscrição, hospedagem e outras normativas
podem ser obtidas com o Comitê Organizador do Evento.
Maria da Graça Pinheiro ([email protected]).
8th ICSHMO
24-28/Abr./06
http://www.cptec.inpe.br/SH_Conference/
O Brasil está sediando, pela primeira vez, a 8a Conferência Internacional
de Meteorologia e Oceanografia do Hemisfério Sul, a ser realizada em
Foz do Iguaçu em abril de 2006. Apresentações de trabalhos deverão
versar sobre aspectos da Meteorologia e Oceanografia do Hemisfério
Sul, com ênfase no entendimento e na previsão do clima e recursos
hídricos, suas variabilidades e mudanças.
Mais informações sobre inscrição, hospedagem e outras normativas
podem ser obtidas com Prof. Carolina Vera, (11 4787-2693),
[email protected] e Dr. Carlos Nobre (12 3186-9459),
[email protected].
ICUC6
12-16/Jun/06
http://www.gvc.gu.se/icuc6
A VI Conferência Internacional de Clima Urbano acontecerá no ano que
vem, na cidade de Göteborg, Suíça. O prazo limite para apresentação
dos resumos vai até 10 de Novembro.
ICUC6
Mais informações sobre inscrição, hospedagem e outras normativas
podem ser obtidas com o Comitê Organizador do Evento.
Sven Lindqvist ([email protected]).
Nota: Se você quiser divulgar algum evento relacionado com a área de Meteorologia,
ou áreas correlatas, é só enviar um e-mail para:
[email protected]
15
C
apa
Satélites Meteorológicos:
Como ajudam na Previsão do Tempo
Foto: Google Imagens
satélite artificial é um corpo lançado da superfície terrestre que circula
ou orbita em torno da Terra. O que permite que o satélite não caia pela
ação da força da gravidade e fique “suspenso” no espaço é o equilíbrio
que se produz entre a força gravitacional, que puxa o satélite para
baixo, e a força de inércia, que, neste caso, chama-se força centrífuga, a
qual tende a afastar o satélite ou “empurrá-lo” para fora. Para lançar os satélites são
usados foguetes ou lançadores espaciais, que fazem duas coisas: levar o satélite à
altura a qual tem que orbitar, e dar-lhe o impulso necessário para que equilibre a força
da gravidade; isto é, para que apareça uma força centrífuga que equilibre a força
gravitacional.
Um
Em
função
de
suas
aplicações,
podemos
falar
de
satélites
de
telecomunicações,
meteorológicos,
de
navegação, militares, de observação da Terra,
científicos e ambientais, principalmente.
Estes ajudam em diversas atividades
humanas como:
• navegação. Conseguiram, por exemplo, que
se tenha encurtado o tempo de navegação, ao
poder visualizar e eleger zonas livres de gelo.
• observação dos recursos naturais. Os
satélites ERTS (Earth Resources Technology
Satellite) localizam recursos naturais, como
jazidas minerais, campos petrolíferos, bancos
de pesca, etc.
O estado do meio-ambiente. Entre os
satélites de observação mais conhecidos estão
os satélites Landsat, que permitiram ter
16
imagens do espaço de toda a superfície da
Terra. Além de identificar a vegetação, as
imagens de Landsat mostram como muda o
terreno com o tempo. O crescimento das
cidades, a diminuição das florestas tropicais e
dos campos cultivados, a queda de uma
quantidade mais ou menor de chuva, as
inundações dos rios,… aparecem claramente
nas fotografias Landsat da mesma área tomada
em momentos diferentes.
Também permitem ver a evolução das
costas, das praias, estudar as manchas de
contaminação em alto mar, estudar as nuvens
poluidoras das indústrias, ou dos vulcões, o
desflorestamento, a desertificação, a evolução
de pragas, o seguimento dos cultivos,
vigilância, etc.
Os satélites levam a bordo diferentes
câmaras de observação, semelhantes às
câmaras fotográficas digitais que todos
conhecemos. Umas são câmaras “quase”
normais, que vêem o mesmo que pode ver o
olho
humano;
outras
são
câmaras
infravermelhas, capazes de captar o calor
emitido pela Terra.
Em
que
consiste
uma
câmara
infravermelha? Se o ser humano olha para um
arco íris ver que tem um espectro de cor, uma
banda de cores que vão desde o vermelho ao
azul. Não obstante, e ainda que não se possa
ver, antes do vermelho e depois do azul
existem outras cores, invisíveis ao olho
humano. Antes do vermelho, em particular,
encontra-se o que se chama de infravermelho.
Em geral, se vê as coisas que nos
rodeiam graças à luz que refletem. Poucas
coisas emitem luz visível: o Sol, as estrelas, o
fogo, lustres, focos… No entanto, todas as
coisas estão emitindo luz infravermelha, isto é,
todos os corpos são “lustres” de luz
infravermelha, tanto mais intensa quanto mais
quente estão. Isto permite que, através de
câmaras especiais capazes de captar este tipo
de
luz,
possa-se
analisar
e
estudar
propriedades dos objetos, das coisas, que a
simples vista, não são observáveis.
Por exemplo, olhando com uma
câmara infravermelha a superfície do mar,
pode-se detectar a presença de correntes de
água fria ou quente; olhando com uma câmara
infravermelha uma grande superfície vegetal ou
um tipo de cultura se pode estudar a existência
ou não de pragas, ou analisar o momento de
maturação no qual se encontra a cultura.
Além disso, os satélites dispõem de
outros sistemas de análises e observação que
estendem as possibilidades do olho humano.
Um destes sistemas é o de observação por
radar. Para se ter uma idéia do funcionamento
de um radar, podemos fazer uma simples
analogia. Possivelmente andando alguma vez
pela montanha, ou diante de um grande
edifício, alguém já observou o fenômeno do
eco. Quando se der um grito em um breve
instante se ouvirá o próprio grito; isto se
chama eco. O que ocorre é que o som da voz,
ao chegar à parede da montanha ou de um
grande edifício, bate e regressa aos nossos
ouvidos. Mede-se o tempo do som em ir e vir, e
assim se pode ter uma idéia da distância à que
se encontra o objeto o qual foi batido.
Este sistema, ainda que de um modo
mais sofisticado, é o que utilizam alguns
animais como os morcegos para “ver” seu
meio. Os morcegos emitem pequenos gritos, de
um som inaudível chamado ultra-som, e
medem as modificações que se produzem
nesse som e o tempo que o mesmo demora em
ir e voltar. A partir desta informação
conseguem fazer-se uma imagem do meio.
Os satélites fazem algo similar ao que
fazem os morcegos, mas não utilizam som. No
espaço não se propaga o som, assim o que
emitem são ondas eletromagnéticas, ondas
conhecidas como microondas. Os satélites
emitem pulsos de microondas e medem o
tempo que estes pulsos demoram em ir e
regressam
e,
além
disso,
medem
as
modificações que sobre esse pulso se
produziram. Os tempos de ida e volta desses
“gritos” de microondas, e as modificações que
se produzem em suas qualidades dão aos
sistemas de radar informação sobre a superfície
da Terra. Portanto, com os sistemas de
câmaras infravermelhas e de radar pode-se
observar e estudar coisas que o olho humano
não percebe.
As Órbitas dos Satélites
Os satélites artificiais giram em torno
da Terra conforme a lei de gravitação universal
descrita por Newton e seguem as Leis de
Keppler.
a- Leis de Gravitação e de Keppler
A Lei de Gravitação Universal nos diz
que a força de atração de dois corpos está
relacionada com a massa e distância entre os
mesmos. Maior massa e menor distância, maior
atração.
A primeira lei de Keppler diz que as
órbitas dos planetas são "elipses" e que o Sol
ocupa um de seus focos. A segunda relaciona o
trajeto (órbita) do planeta com o tempo que
tarda em percorrê-lo e diz que um planeta
varre áreas iguais em tempos iguais. A terceira
relaciona o tempo que tarda um planeta em
percorrer sua órbita com a distância média ao
Sol, manifestando que o tempo de percurso é
maior quanto maior seja a distância PlanetaSol. Apesar de estarmos falando de planetas
(Figura 1), estas leis são regidas para qualquer
corpo que orbite em torno de outro no espaço,
por exemplo, os satélites artificiais e a Terra
(Camurse, 2005)1.
b- Tipos de Órbitas dos Satélites
De acordo com a ação que o satélite
deva realizar no espaço se podem classificar
quatro tipos fundamentais de órbitas:
1 - Hiperbólica ou aberta, que se utiliza
no lançamento do satélite e o permite escapar
do solo mediante uma velocidade inicial.
2 - Heliossíncrona ou fechada, na qual
o plano de translação do satélite contém
sempre ao Sol e compensa a translação da
Terra independentemente de sua rotação.
3 - Geossíncrona, também fechada,
onde a velocidade de translação do satélite é
igual a de rotação da Terra.
4 - De grande excentricidade, que se
utiliza como órbitas de transferência, para se
livrar da órbita fechada.
1
Camurse, G.D., 2005. Generalidades sobre Satélites
Meteorológicos.
Extraído
da
página
http://www.geocities.com/EnchantedForest/Glade/8952/s
atel.html
17
As órbitas dos planetas são Um planeta varre áreas iguais em O tempo de percurso
"elipses" onde o Sol ocupa um tempos iguais.
quanto maior seja à
de seus focos.
Planeta-Sol.
é maior
distância
Figura 1 – Lei de Gravitação e as Órbitas de Satélites. Fonte: Camussi, 2005.
Os Satélites Meteorológicos
Os
primeiros
satélites,
com
instrumento meteorológico a bordo, foram
lançados em 17 de fevereiro (Vanguard 2) e 7
de agosto (Explorer 6) de 1959, mas devido a
problemas com estes satélites as informações
obtidas, não tiveram grande utilidade. O
primeiro satélite que teve sucesso na obtenção
de dados meteorológicos foi o Explorer7,
lançado em 13 de outubro de 1959 que levou
um instrumento para a observação da
atmosfera desde o espaço através de um
radiômetro
de
radiação
global
(ERBE)
desenvolvido por Verner Suomi e seus
colaboradores da Universidade de Wisconsin
(Conforte, 2005)2. Segundo Conforte, com as
informações obtidas foram feitos os primeiros
mapas aproximados da radiação refletida e
emitida (na faixa do infravermelho) pelo
sistema terra e a atmosfera.
O primeiro satélite com finalidade de
aplicação exclusivamente meteorológica foi
lançado em abril de 1960, o TIROS-1
(Television Infra-Rede Observation Satellite)
pelos Estados Unidos (Figura 2).
O TIROS-I situava-se a 600 km de
altitude em órbita polar agrupava duas
máquinas fotográficas, uma com uma lente
de grande abertura angular e outra de baixa
resolução. A grande abertura angular cobria
uma superfície de aproximadamente 1.300 km2
com uma resolução de cerca de 320 m. A lente
grande angular estendia a cobertura fotográfica
até as latitudes 55° N e S, mas a imagem nos
limites da cobertura eram muito distorcidas
(Esteio On-Line, 2005)3.
Figura 2 – Foto do Satélite TIROS 1. Fonte: Esteio
On-Line, 2005.
Na Figura 3 pode-se observar a
primeira imagem transmitida por este satélite.
Graças a ele se obtiveram os primeiros dados
da atmosfera e se pôde observar a Terra do
espaço, permitindo uma visão global dos
sistemas de nebulosidade.
Após o lançamento deste satélite, e
com o avanço na área de eletrônica e
informática, e com o desenvolvimento de novos
sensores e softwares, os dados obtidos pelos
satélites meteorológicos puderam então ser
aplicados aos mais diversos campos de
interesse da Meteorologia.
2
Conforte, J.C., 2005. Tecnologia Espacial no Estudo de
Fenômenos Atmosféricos. Apostila do DSR/INPE, Capítulo
4,
extraído
em
06/12/2005
da
página
http://www.ltid.inpe.br/vcsr/html/APOSTILA_PDF/CAP4_J
CConrado.pdf
3
Esteio On-Line, 2005. Meteorologia ao Longo da
História.
Extraído
em
10/12/2005
da
página
http://www.esteio.com.br/newsletters/paginas/005/merc
ator.htm.
18
Figura 3 – Primeira imagem obtida pelo satélite
TIROS-1. Fonte: Conforte, 2005.
Primeiros Equipamentos Espaciais
Os EUA desenvolveram dois programas
de satélites meteorológicos: as séries TIROS e
NIMBUS. Superada a fase experimental em
1966, os satélites da série TIROS mudaram sua
denominação
para
ESSA
(Environmental
Science
Services
Administration),
sendo
substituídos mais tarde por uma versão bem
mais melhorada: ITOS (Improved Tiros
Operational Satellite), Garcia-Luengo (2005) 4.
Os primeiros satélites iam equipados
com um registrador magnético que armazenava
toda a informação recolhida durante a órbita de
reconhecimento. Ao passar pela vertical de
uma estação de aquisição de telemetria, o
satélite transmitia a alta velocidade, todas as
imagens armazenadas. A partir de 1963, a
NASA, com o lançamento do TIROS-8, pôs em
serviço um novo sistema de transmissão: o
sistema APT (Automatic Picture Transmission).
Este sistema, aperfeiçoado com o NIMBUS-1
(1964) e o ESSA-2 (1966), permite a qualquer
estação de terra receber a comunicação do
satélite meteorológico enquanto a sobrevoa ou
bem percorre alguma órbita adjacente.
Os satélites NIMBUS foram uma das
séries mais avançadas. Em 1972 aparece uma
nova série de veículos meteorológicos: os
satélites ERTS com a finalidade de localizar
recursos naturais: jazidas minerais, campos
petrolíferos, bancos de pesca, etc.
Até a era Gorbatchev pouco se sabia
do desenvolvimento de satélites da União
Soviética. Como grande potência mundial,
manteve um programa de suporte a estes
satélites. Especialmente permitiram, além
disso, encurtar o tempo de navegação, poder
visualizar e escolher zonas marítimas livres de
gelo. Contribuíram também na melhoria da
irrigação dos vales de Tian Shan e do
Himalaya, ao facilitar dados precisos sobre a
distribuição de neve da montanha (GarciaLuengo, 2005). Depois o serviço de fotografia
meteorológica com fins civis recebeu o nome
de METEOR. Também utiliza satélites Molniya
(de órbita extremamente elíptica) e alguns da
série COSMOS. Estes últimos dispunham de
câmaras convencionais com uma resolução
muito inferior à que utilizavam os TIROS.
Posteriormente, a qualidade da imagem
melhorou, entrando recentemente em serviço
de satélites com sensores infravermelhos e com
o sistema APT.
Tipos
de
Meteorológicos
Satélites
Os satélites meteorológicos podem
classificar-se em três classes, de órbita polar
ou heliossincrônicos (significa que estão
sincronizados com o Sol) que como seu nome o
indica orbitam a Terra de pólo a pólo e o
constituem principalmente a série TIROS da
agência
NOAA
(National
Oceanic
and
Atmospheric Administration) de origem norteamericana e os METEOR de origem russa. O
segundo grupo se compõe dos satélites
Geoestacionários ou Geossíncronos (significa
que estão sincronizados com o movimento de
rotação da Terra), que orbitam a maior altura e
se encontram sobre ou muito próximos à linha
do Equador (Figura 4). Além deste, existe
também os de órbita tropical.
Figura 4 - Órbita dos satélites meteorológicos.
Fonte: INTA, 20055.
A
Figura
5
apresenta
diagramaticamente
todos
os
satélites
meteorológicos existentes, dispostos com suas
órbitas, com exceção do TRMM.
¾
De
Órbita
METEOR)
Polar
(TIROS-NOAA,
Os satélites que orbitam em órbitas
polares o fazem na direção norte e sul e no
inverso. Estes satélites permitem observar os
fenômenos atmosféricos em altas latitudes. As
zonas geográficas situadas acima de 60º de
latitude não podem ser monitoradas pelos
satélites geoestacionários devido à esfericidade
da Terra.
Os TIROS, cujos nomes figuram como
NOAA seguido de um número (NOAA-12,
NOAA-14, etc.) e os METEOR (METEOR-2,
METEOR 3-5, etc.) são os mais utilizados.
Atualmente se encontram em operação o
NOAA-14 e NOAA-15 e o METEOR 3-5. O
NOAA-15 substituiu o NOAA-12 definitivamente
em junho de 1999.
Os satélites NOAA (NOAA-12, NOAA14,
NOAA-15,
NOAA-16)
transmitem
simultaneamente duas imagens: uma do
espectro
visível
e
outra
do
espectro
infravermelho. A série russa METEOR (MET 3-5,
Resusrs) só transmite uma do espectro visível.
Suas características mais importantes
são:
- Orbitam a uma altura entre 800 e 900
quilômetros.
4
Garcia-Luengo, E., 2005. Satélites Meteorológicos,
EXPERSAT,
extraído
em
05/12/2005
da
página
5
INTA, 2005. Los Satélites. Instituto Nacional de Técnica
Aeroespacial, extraída em 07/12/2005 da página
http://www.mundofree.com/ea3atl/satsmet/satsmete.htm.
http://www.inta.es/descubreAprende/Hechos/Hechos01.htm.
19
Figura 5 – Diagrama contendo todos os satélites meteorológicos. Fonte: extraída de Garcia-Luengo, 2005.
- Orbitam quietos (sem girar sobre um
eixo) e possuem um radiômetro (sensor)
chamado AVHRR que varre linha por linha a
superfície da terra à medida que o satélite
avança.
- Passam duas vezes ao dia pelo mesmo
ponto.
- Por serem de órbita baixa permitem altas
resoluções.
- Operam em dois modos, um de baixa
resolução APT (Automatic Picture Transmition)
e outro de alta HRPT (High Resolution Picture
Transmition).
- Transmitem seus dados em duas
freqüências, uma para cada modo.
¾
De órbita Geoestacionária (GMS,
METEOSAT, GOMS, GOES, INSAT)
Este tipo de satélites giram em torno
da Terra sincronizados com sua velocidade de
rotação, isto que dizer que acompanham à
Terra e por conseguinte se encontram situados
sempre em um mesmo ponto sobre a superfície
terrestre.
Algumas
características
principais
deste grupo são:
- Altura da superfície da Terra é de 36.000
Km aproximadamente e giram em torno de um
eixo quase paralelo ao eixo N-S terrestre.
- Velocidade de giro de 100 RPM
(Revoluções por minuto).
- Operam em dois modos um de alta HRI
(High Resolution Image) e outro de baixa
resolução WEFAX (Weather Facsimile).
- Transmitem seus dados em duas
freqüências, uma para cada modo.
- Possuem um radiômetro (sensor) que
varre linha por linha a superfície da Terra a
medida que o satélite gira ou rotaciona sobre
seu eixo.
Na atualidade há cinco satélites
meteorológicos ativos situados nesta órbita
geoestacionária: o INSAT da Índia, os
americanos GOES E e W (Geostationary
Operational Meteorological Satellite), o GMS
(Geostationary
Environmental
Satellite)
20
japonês, o METEOSAT (European Geostationar
and Meteorological Satellite), da comunidade
européia e o GOMS (Geostationary Operational
Environmental Satellite) da Rússia.
Os GOES (Geostationary Operational
Environmental Satellite) foram 5 os lançados
até o momento e são administrados por
agências norte-americanas. O Goes-E em 75°
Oeste, que visualiza as três Américas e o GoesW em 135° Oeste que observa o oceano
Pacífico. Proporcionam dados em cinco bandas
espectrais, uma no visível (VIS) e quatro em
IV. O GOES trabalha em uma banda visível,
uma em IV e uma de Vapor d’água.
Os GOMS (Geostationary Operational
Meteorological Satellite) são de origem russa e
se encontram à 74° Leste.
Os GMS (Geostationary Meteorologic
Satellite) são Japoneses, em 140° Leste, que
visualiza o Leste da Ásia, Oceania e Indonésia e
o INSAT (Indian Satellite) administrado pela
Índia em 74° Leste, que visualiza o Oeste da
Ásia e a região Indochina.
Os METEOSAT administrados pela
agência EUMETSAT podem visualizar este
continente e a África já que se encontram
localizado sobre a longitude de 0°. O
METEOSAT-1 foi lançado em 1977 pela Agência
Espacial Européia (ESA). O sucesso dos
primeiros METEOSAT levou à criação da
Organização Européia para a Exploração de
Satélites Meteorológicos (EUMETSAT) em 1986.
A ESA e a EUMETSAT trabalharam em conjunto
nos satélites mais recentes da série, concebidos
para
proporcionar
aos
meteorologistas
europeus imagens contínuas das condições
meteorológicas numa base operacional. Esta
cooperação entre as duas organizações
internacionais prossegue atualmente, já que os
satélites originais estão sendo gradualmente
substituídos por uma segunda nova geração de
METEOSAT.
Posteriormente, a EUMETSAT colocou em
órbita o primeiro satélite da segunda geração
Meteosat, o MSG-1 (depois apelidado de
METEOSAT-8) em agosto de 2002, com o
objetivo de melhorará as previsões de
fenômenos meteorológicos, e está enviando
imagens a cada 15 minutos e de qualidade
muito melhor que os anteriores. Está previsto o
lançamento do MSG-2 em dezembro deste ano,
onde haverá dois satélites MSG em operação
nas órbitas geoestacionárias. A EUMETSAT
gerencia atualmente o Meteosat-6, Meteosat-7
e -8 sobre a Europa e África e o Meteosat-5
sobre o Oceano Índico.
¾
inclinação de 35° em relação à linha do
Equador (Conforte, 2005), Figura 6.
De órbita Tropical (TRMM)
Os satélites desta categoria possuem o
objetivo exclusivo de adquirir informações
meteorológicas na região tropical.
Existe
apenas
o
satélite
TRMM
(Tropical Rainfall Measuring Mission), lançado
em 27/11/1997. Este satélite está localizado
numa órbita inferior ao dos tradicionais
satélites de órbita polar, estando posicionado a
350 km acima da superfície terrestre, com uma
Figura 6 - Órbita do Satélite TRMM. Fonte:
Conforte, 2005.
Composição e Características das Imagens de Satélite
¾ Composição das Imagens
Embora possa se parecer com uma
simples fotografia do Planeta Terra, uma
imagem de satélite é composta por milhares de
pontos chamados de pixels (picture x
elements)6. Para uma imagem digital, o pixel é
o ponto da matriz e o tamanho dele no terreno
é uma medida da resolução espacial do sensor
do
satélite.
As
imagens
de
satélites
meteorológicos são similares a uma foto de
jornal, pois se examinássemos uma foto de
jornal com uma lente de aumento, veríamos
que é uma simples coleção de pontos de
diferentes tamanhos. Assim, quando olhamos
para a foto, nossos olhos misturam todos esses
pontos e a imagem é formada. Na imagem de
satélite meteorológico, cada pixel tem uma
tonalidade (ou cor) e, quando vistos juntos, os
pixels formam a imagem de um sistema
meteorológico existente na atmosfera (Ferreira,
2002)7.
A grande maioria das imagens de
satélites meteorológicos é apresentada em tons
de cinza. Para uma imagem de satélite,
entende-se por escala de cinza o intervalo de
variação dos valores codificados de radiância,
sendo que estes valores são definidos em vista
das facilidades computacionais, haja vista que
os
computadores
trabalham
com
uma
linguagem binária, baseada na combinação de
sinais (p.e., ligado/desligado 0/1; sim/não,
V/F), é interessante que o intervalo abarcado
pelos níveis de cinza seja uma potência de 2.
6
O pixel de uma imagem corresponde a menor entidade
indivisível e ao valor da radiação integrada de uma
determinada área observada pelo satélite.
7
Ferreira, A. G., 2002. Interpretação de Imagens de
Satélites Meteorológicos: Uma Visão Prática e Operativa
do Hemisfério Sul. Brasília, editora Stilo, INMET/MAPA,
272 p.
Em todos os tipos de imagens, o grau
de contraste ou a tonalidade diferente entre um
objeto e seu fundo é muito importante.
Segundo Ferreira (2002), quanto maior o
contraste, mais fácil será identificar as
características da imagem. Quando o contraste
é ruim, as técnicas de realce podem ser usadas
para uma melhor interpretação. Para realçar
uma imagem, todos os pixels em uma
determinada
escala
de
claridade
são
ressaltados para localizar um ponto de
interesse.
As imagens também são descritas em
termos de suas resoluções. Se cada pixel é o
menor elemento de uma imagem, a área
representada por um pixel é igual à resolução
do sensor do satélite, que é chamada de
resolução espacial. Quando se diz que um
sensor tem uma resolução de 1 km, por
exemplo, isso significa que o pixel da imagem
gerada pelo sensor do satélite abrange, no
terreno, uma área de 1 km x 1 km. Além da
resolução espacial, as imagens possuem
também uma resolução espectral, que é a
medida da largura das faixas espectrais do
sensor, e a resolução radiométrica, que está
associada à sensibilidade do sistema sensor em
distinguir entre os níveis de sinal de retorno.
Alguns
meteorologistas
usam
o
termo
resolução temporal, que nada mais é do que o
tempo entre uma imagem e outra envida pelos
satélites meteorológicos.
¾ Características das Imagens
Todos os satélites meteorológicos
fazem imagens da Terra em duas bandas do
espectro eletromagnético: visível (VIS) e
infravermelho (IV). Além disso, muitos satélites
fornecem também imagens na banda do vapor
d’água (VA) e em microondas. Todos os tipos
de imagens são importantes por diversas
razões, e, em algumas situações, todas são
21
essenciais para uma melhor interpretação de
uma
determinada
condição
atmosférica
(Ferreira, 2002). A seguir serão abordadas as
características dos três primeiros tipos citados
acima.
i) Imagens no Espectro Visível (VIS)
Em torno da metade da energia
irradiada pelo Sol pertence às longitudes de
onda visível e os radiômetros dos satélites
medem a radiação solar refletida nesse
intervalo, então a radiância detectada na banda
visível é uma medida da refletividade da Terra.
As regiões de alta refletividade aparecem
brancas e as de menor mais escuras até o
negro. A esta radiação se a associa um albedo
de 1 a 100 e as componentes de uma imagem
HRI ou HRPT se expressam em albedos
relacionados com um tom de cinza. Mediante a
utilização dos contrastes é possível definir a
forma
dos
objetos
nestas
imagens
principalmente as nuvens onde a banda visível
é útil principalmente na Meteorologia Sinótica.
A Figura 7 é um exemplo deste tipo de
imagem.
ii) Imagens no Espectro Infravermelho
(IV)
Terra e a atmosfera emitem radiação
térmica confinada dentro do intervalo espectral
3 a 100 µm, onde se encontra a banda
infravermelha média (3 a 30 µm). Nestas
longitudes
de
onda
a
refletividade
é
virtualmente
nula
e
a
radiação
solar
desprezível, por isso se considera como
radiação de corpo negro e se relaciona com a
temperatura, medida em graus Kelvin. Nos
produtos HRI e HRPT os componentes das
imagens IV se expressam em °K e se lhe
relaciona um tom de cinza. As imagens em IV
utilizam-se principalmente para a observação
das estruturas quando não há radiação solar,
isto é, de noite. Nestas imagens, os pontos
quentes aparecem escuros e os frios brancos,
conforme está exemplificado na Figura 8.
Figura 8 – Imagens do Espectro Infravermelho do
Satélite METEOSAT-7 da América do Sul. Fonte:
Extraída da página do CPTEC/INPE em 23/12/05).
iii) Imagens de Vapor D’Água (VA)
As
imagens
no
visível
e
no
infravermelho térmico utilizam as bandas do
espectro eletromagnético onde a absorção
pelos gases atmosféricos é pequena, no
entanto são de interesse também os intervalos
espectrais onde a radiação infravermelha
emitida pela Terra é absorvida pelo vapor
d’água da atmosfera. As imagens no VA são,
em sua maioria, representativas da umidade na
média e alta troposfera. Definitivamente, o
canal do VA se utiliza na banda de absorção de
6µm dentro da radiação IV e em geral as
imagens representam a umidade média da
troposfera. Na Figura 9 é mostrada uma
imagem deste tipo.
Figura 9 – Imagens de Vapor D’Água do Satélite
METEOSAT-7 da América do Sul. Fonte: Extraída da
página do CPTEC/INPE em 23/12/05).
Figura 7 – Imagens do Espectro Visível do Satélite
METEOSAT-7 da América do Sul. Fonte: Extraída
da página do CPTEC/INPE em 23/12/05).
22
De que modo os satélites ajudam a previsão do tempo?
Os
satélites
meteorológicos
se
converteram numa das ferramentas mais
práticas que foi produzida pela tecnologia
espacial para a previsão do tempo desde que
começaram a serem lançados em abril de
1960. A colocação em órbita do TIROS-1,
primeiro satélite meteorológico, constatou a
enorme capacidade de informação que poderia
contribuir para o estudo da atmosfera, bem
como a importância de observar a Terra do
espaço.
As imagens geradas e enviadas pelos
satélites meteorológicos são ferramentas muito
importantes para o meteorologista operacional,
como também para todos aqueles ligados às
ciências meteorológicas e ambientais, que
precisam de uma informação rápida, precisa e
de
alta
resolução
no
que
tange
as
características
dinâmicas
da
atmosfera
terrestre, através de sua nebulosidade.
Todas as vezes que um satélite
meteorológico observa a Terra, a primeira
característica que se nota em uma imagem é a
nebulosidade. À primeira vista, essas nuvens
podem
parecer
redondas
na
forma
e
distribuição, porém, elas são formadas devido
ao resultado de muitas interações específicas
entre
muitos
e
diferentes
fatores
meteorológicos (Ferreira, 2002).
A partir do momento que o padrão é
apresentado, torna possível identificar o tipo de
nuvem presente em uma imagem. Para que
serve isso? Isso pode ser muito útil em fase de
que ao reconhecer os diversos tipos de nuvens
na imagem de satélite pode dar, a quem está
interpretando, pistas sobre o estado da
atmosfera e os fenômenos que possam estar
ocorrendo. Assim, ao identificar os diversos
tipos de nuvens pode ajudar na localização de
condições de tempo severo, como trovoadas,
tornados, áreas de forte precipitação, gelo,
entre outras (Ferreira, 2002).
Infelizmente, os satélites ambientais
brasileiros não são satélites que fornecem
imagens de sistemas meteorológicos; eles são
apenas satélites de coleta de dados ambientais
ou que fornecem imagens ambientais, em
diversas bandas espectrais, inclusive de
nuvens, mas que não são, usadas para a
Meteorologia operacional devido a certas
condições. Assim, se faz necessário e urgente
que o Brasil lance seu satélite meteorológico na
medida em que os possuidores desse mercado
de imagens estão mais preocupados em gerar
produtos para o seu consumo próprio, e muitas
vezes deixa na mão os meteorologistas
brasileiros, deixando de cumprir acordos de
retransmissão de imagens meteorológicas
feitos com a OMM (Organização Meteorológica
Mundial).
Graças aos satélites meteorológicos, os
meteorologistas podem observar com bastante
precisão as evoluções das frentes que
geralmente se formam nos oceanos e em
outras áreas.
Inicialmente, a aplicação principal dos
dados coletados pelos satélites meteorológicos,
tinha como objetivo principal a observação dos
deslocamentos dos sistemas frontais e o
desenvolvimento de sistemas locais. Estas
informações eram utilizadas para a análise
subjetiva
das
condições
meteorológicas
predominantes em pequena ou grande escala.
Com o desenvolvimento de softwares, diversas
metodologias foram desenvolvidas para a
aplicação das informações coletadas por estes
satélites.
Deve-se salientar a importância que os
dados coletados por estes satélites têm para
determinadas regiões, seja pela carência de
uma rede de observações adequada ou por se
encontrarem em regiões remotas (florestas,
desertos, oceanos, etc).
Em suma, a utilidade dos satélites
meteorológicos é a de poder visualizar o
conjunto Terra-atmosfera, e extrair a máxima
informação possível através de diferentes
técnicas e processos para obter os produtos
cujo objetivo se baseia na análise qualitativa e
quantitativa das imagens obtidas. As imagens
dos satélites meteorológicos se utilizam
principalmente para a visualização de nuvens,
classificação, observação do vapor d’água
existente
na
alta
e
meia
atmosfera,
temperaturas da superfície da terra e
temperatura superficial do mar, ajudando
bastante na previsão do tempo.
Para saber mais:
Ferreira, A. G., 2002. Interpretação de
Imagens de Satélites Meteorológicos: Uma
Visão Prática e Operativa do Hemisfério Sul.
Brasília, editora Stilo, INMET/MAPA, 272 p.
• http://www.ipmet.unesp.br/Saiba_Mais/
Saiba_Mais_arquivos/SM_Satelite.htm
•
http://www.onamet.gov.do/onamet/im_i
nfogeneral.htm
•
http://www.terra.es/personal2/spooky/s
atintro.htm
•
http://www.reacao.com.br/programa_sb
pc57ra/sbpccontrole/textos/marcelocorre
a.htm
Ednaldo Oliveira dos
Santos
Meteorologista e Presidente
da UNEMET
23
L
1
inks
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24
M
emória
O Entusiasta da Meteorologia Brasileira
”É lamentável que um país então
essencialmente agrícola e, portanto, com
sua produção sujeita ao clima, dedique tão
poucos recursos ao seu estudo e previsão”
Adalberto Barranjard Serra (1909-1989)
O
quarto artigo da série “Os Primórdios da Meteorologia no Brasil”, fala da
obra de um dos mais entusiastas no estudo do tempo e do clima no Brasil.
Trata-se de Adalberto Serra, entusiasta e autodidata na ciência
meteorológica.
Adalberto Serra nasceu em 02 de junho de
1909 no Rio de Janeiro, cidade onde
permaneceu até sua morte, em 15 de setembro
de 1989. Era filho de Nestor Serapião Serra,
natural do Maranhão, e Gabriella Barranjard
Serra, de São Paulo, a qual ela era filha de
emigrantes calvinistas franceses.
Cursou o secundário no Colégio Batista, no
bairro
da
Tijuca/RJ,
e
formou-se
em
Engenharia e em Geografia pela Escola
Politécnica da Universidade do Brasil, hoje
Escola de Engenharia da UFRJ, em 1930.
Ainda durante o período de estudos
universitários,
trabalhou
no
antigo
Departamento de Correios e Telégrafos,
inicialmente como desenhista e, mais tarde, na
seção de Rádio. Trabalhou também na Central
do Brasil como Engenheiro Eletricista e na
UFRJ. Entusiasmado pela radiofonia, escreveu
diversos artigos para a revista Antena.
Adalberto Serra foi um autodidata em
Meteorologia, pois, na época, não havia ensino
desta ciência no Brasil.
Adalberto Serra se casou no Rio de Janeiro
com Da. Ester Amaral Serra, de origem mineira,
com quem viveu até os seus últimos dias
(Figura 1). Tiveram dois filhos, Sylvia Serra
Barreto, formada em Belas-Artes e professora
da UnB, e Antonio Serra, formado em filosofia,
professor e atual diretor do Instituto de Artes e
Comunicação Social (IACS) da UFF.
Em 1931, ingressou mediante prova de
seleção como auxiliar de meteorologista no
Serviço de Meteorologia do Ministério da
Agricultura, hoje INMET, sediado na época no
edifício "Caça e Pesca" da Praça XV, centro do
Rio de Janeiro, onde trabalhou até 1961,
quando se aposentou como engenheiro, depois
de exercer diversas chefias, como a de
Climatologia e a de Pesquisas Meteorológicas.
Porém, manteve-se em atividade neste serviço
até seu falecimento.
Figura 1 – Foto do Dr. Adalberto Serra com sua
mulher Esther Amaral Serra. Fonte: Juliano Serra
Barreto, neto de Adalberto Serra, 2005.
25
Adalberto Serra foi bolsista do CNPq, como
Pesquisador Conferencista, por quase quinze
anos, sendo religiosamente cumpridor dos
prazos de relatórios. Interessava-se por outros
assuntos, sendo voraz leitor de literatura
(apreciava
Shekespeare,
Victor
Hugo,
Alexandre Dumas e Graciliano Ramos) e de
obras de divulgação científica (principalmente
Astronomia).
Conhecia profundamente História e sabia
precisamente datas, fatos e personagens.
Acompanhava a política, era muito bem
informado, mas inteiramente descrente, tendo
sempre votado em branco: "Só votarei mesmo
quando o voto for livre".
Para manter seus conhecimentos de
Matemática apurados, todo ano revia o "Traité
des
Mathématiques"
de
Comberrousse,
estudando, como se fosse um calouro, desde a
aritmética até a álgebra superior.
Na fase final da vida, adotou o
computador, um Apple com fita, com isto
podendo calcular, projetar gráficos, manipular
tabelas com maior facilidade.
Seu grande amigo e companheiro de
trabalho foi o Dr. Camilo Albuquerque (Figura
2).
Figura 2 – Foto do Dr. Adalberto Serra, à
esquerda, junto com seu grande colega e amigo
Dr. Camilo. Fonte: Juliano Serra Barreto, neto de
Adalberto Serra, 2005.
Sua dedicação à Meteorologia resultou da
circunstância de obter o ingresso naquele
Serviço,
mas,
desde
então,
estudou
intensamente esta ciência e a ela dedicou-se
diariamente, seja cumprindo suas obrigações
funcionais,
seja
elaborando
projetos
inovadores.
Assim,
trabalhou
desde
a
reformulação de normas destinadas ao uso dos
técnicos dos postos de observação até
investigações teóricas mais refinadas sobre o
que ele denominou "Princípio de Simetria",
hipótese sobre a possibilidade de previsão
meteorológica da troposfera a partir da análise
das camadas superiores.
Escreveu o primeiro estudo sistemático e
fundamentado sobre as secas do Nordeste,
obra cujos exemplares foram incinerados pelo
então diretor do Serviço, que o acusou de
"apropriação" de dados oficiais, tendo, por isso,
26
respondido a inquérito administrativo, salvando
do incêndio alguns exemplares. Fato este que o
deixou deveras triste e indignado, mas mesmo
assim continuou com seu entusiasmo pela
Meteorologia e seu trabalho. Foi o responsável
pela equipe brasileira encarregada de preparar
o Atlas Climatológico do Brasil, conforme
decisão
da
Organização
Mundial
de
Meteorologia (OMM), sendo o Brasil o primeiro
país a apresentar a conclusão deste projeto
multinacional.
Sir Walker e meteorologistas indianos
identificaram uma conexão entre as monções
na Índia — período chuvoso local — e
anomalias climáticas no nordeste da Argentina.
Posteriormente, o eminente meteorologista
brasileiro, Dr. Adalberto Serra, ampliou os
contornos desse sistema pendular ao relacionar
anomalias climáticas do Nordeste e Sudeste
brasileiros com fenômenos climáticos extremos
no Pacífico.
Joaquim de Sampaio Ferraz, o notável
reorganizador dos serviços meteorológicos
brasileiros e por quem Serra nutria grande
admiração, fez inúmeras referências à sua
contribuição para a Meteorologia no Brasil.
Assim, comentando o "longo entreato de
desânimo e inércia após 1931", menciona,
como exceção, "o aperfeiçoamento das cartas
sinópticas, por influência dos trabalhos valiosos
de Adalberto Serra e Leandro Ratisbonna.
Segundo Ferraz, foram as inestimáveis
contribuições de Adalberto Serra e Leandro
Ratisbona à ciência, a partir dos anos 30 do
século passado, que trouxeram valiosas
informações sobre a circulação atmosférica do
continente sul-americano, incorporando os
novos paradigmas da Meteorologia sinótica da
escola dinamarquesa de Bergen, capitaneada
por Bergeron e Bjerknes e identificando-lhe as
massas de ar, tudo dentro de novas
concepções modernas já adotadas, sobretudo
na Europa e nos Estados Unidos", além disso,
contribuíram também para a compreensão dos
sistemas produtores de tipos de tempo no
Brasil. A partir dos anos 60, tais trabalhos
serviram de base para estudos voltados para a
abordagem genética do clima, destacando-se
as contribuições de Carlos Augusto de
Figueiredo Monteiro.. (Sant’Anna Neto, 1998)1
Depois de referir-se a diversas publicações
exclusivas de Serra ou em colaboração com
Ratisbonna, diz Ferraz: "Ainda em 1942, Serra
e Ratisbonna dão o tiro de misericórdia na
velha crença da "friagem" andina, levando ao
prelo As Ondas de Frio da Bacia
Amazônica".
Mais adiante: "Adalberto Serra, incansável,
publica em 1941 A Turbulência Atmosférica
no Brasil, ensaio temerário, mas útil; em
1942, dá-nos A Formação de Trovoadas,
1
SANT’ANNA NETO, João L., 1998 A climatologia
geográfica no Brasil: uma breve evolução histórica. In:
Coleção Prata da Casa, 3: 7-28, São Luís.
destinada em parte aos que labutam na análise
de cartas sinópticas. No mesmo ano, lança o
valioso repositório Normais de Nuvens,
valioso, principalmente para o Brasil. (....) Em
1945 e 1946, Adalberto Serra analisa o
problema meteorológico do Nordeste, com
aplicação severa do método frontológico
moderno, examina mais de perto alguns anos
anormais e repassa o recurso estatístico da
previsão das secas.... As duas monografias são
Meteorologia
do
Nordeste
Brasileiro,
publicada na apreciada "Revista Brasileira de
Geografia", e As Secas do Nordeste, edição
do Serviço de Meteorologia". Sampaio Ferraz
também
cita
o
Atlas
Universal
de
Meteorologia - 1873-1934, elaborado sob a
coordenação de Serra. (apud J. Sampaio
Ferraz, "A Meteorologia no Brasil", in As
Ciências no Brasil, ed. Melhoramentos, SP).
Adalberto Serra lamentava que um país
então essencialmente agrícola e, portanto, com
sua produção sujeita ao clima, dedicasse tão
poucos recursos ao seu estudo e previsão.
Como o pessoal técnico disponível não
dispunha da formação especializada, ele
sempre se preocupou em contribuir para
facilitar o trabalho de observadores e analistas.
De acordo com relato de seu filho, Antonio
Serra, lembra-se que Adalberto Serra passou
vários dias preparando uma espécie de "crivo
de Erastóstenes" destinado a ajudar nas
operações
aritméticas
elementares
dos
observadores, quando não havia máquinas
calculadoras
acessíveis.
Particularmente,
“jamais se arrogou um estatus privilegiado de
saber
ou
hierarquia,
mostrando-se,
ao
contrário, humilde e mesmo irônico em relação
às vaidades humanas”.
Um dos fatos intrigantes em sua vida se
passou em 1961, quando Jânio Quadros,
Presidente do Brasil na época, estipulou a
jornada de 8 horas para o funcionalismo
público, ele, que trabalhava no serviço e em
casa, revoltou-se e considerou esta medida
demagógica
e
desrespeitosa,
onde
ele
imediatamente preferiu se aposentar a cumprir
essa medida. Logo depois da renúncia do
Presidente, seu sucessor provisório, Ranieri
Mazzili, revogou a medida. Mas já era tarde.
No entanto, até o final de sua vida, Serra
em seu entusiasmo comparecia ao Serviço
Meteorológico semanalmente, para encontrarse com os colegas e recolher dados, sobre os
quais, de manhã, tarde e à noite, trabalhava,
mesmo quando assistia às novelas na televisão.
As manifestações por ocasião de seu
falecimento (no ano de 1989) em momentos de
homenagem evidenciaram não só a admiração
dos colegas por sua atuação científica e
técnica, mas, sobretudo por sua postura
humana, sempre disponível para ajudar e
despido de qualquer arrogância, mesmo
reconhecendo em todos a vastidão de seus
conhecimentos e a precisão de seus estudos.
Publicou abundantemente nas revistas do
IBGE e do Conselho Nacional de Geografia
estudos sobre climas regionais, além de
enveredar
por
temas
correlatos,
como
pesquisas sobre as melhores épocas para férias
escolares para cada região segundo parâmetros
climáticos, sobre um enfoque da História
humana a partir do clima, sobre clima e saúde.
Assim, deixou uma importante e extensa
obra meteorológica, na qual se destacam o
Atlas Climatológico do Brasil, em três volumes,
e o Atlas Internacional, em dois volumes.
Adalberto Serra publicou uma enorme
quantidade de artigos em diversas revistas e
jornais, sendo os principais: Air Masses Of
Southern Brazil, juntamente com Leandro
Ratisbonna, pág. 6–8, Monthly Weather
Review, Volume 66, Number 1, January, 1938;
Comments on Interactions of Circulation
and Weather Between Hemispheres, pág.
427, Monthly Weather Review, September,
1964.
Adalberto Serra era dotado de poder lógico
e argumentativo, comprazia-se em defender
concepções não consensuais, mas sempre
pronto a demonstrar suas falhas.
O amor e a dedicação pela ciência
meteorológica permaneceram até o fim da vida
de Adalberto Serra, demonstrando seu apreço
e devoção a esta ciência tão perceptível e
importante em nossas vidas. Assim, esperamos
que a vida e obra deste incansável autodidata
da Meteorologia sejam sempre lembradas e
exemplo a todos que são estudiosos em
Meteorologia.
Para conhecer e saber mais sobre este
cientista aficionado por Meteorologia:
Sant’Anna Neto, J.L., 2001. Por uma
Geografia do Clima Antecedentes Históricos,
Paradigmas Contemporâneos e uma Nova
Razão para um Novo Conhecimento. Terra
Livre, São Paulo, n. 17, p. 49-62.
Sugestões de Leitura:
ANDRADE, G. O., 1972. Climas do Brasil.
In: Brasil, a Terra e o Homem (Azevedo, A.,
editor), vol. 1. Ed. Nacional.
SERRA, A. B., 1941. The General
Circulation over South America. Bull. of the
Am. Meteorol. Soc., 22, 173-179.
SERRA, A., 1955. Atlas climatológico do
Brasil. Rio de Janeiro, CNG, 2 v., 783 p.
Serra, A., 1973. Previsão das Secas
Nordestinas. Fortaleza, Departamento
de
Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE).
O Conselho Editorial gostaria de
agradecer imensamente a Antonio Serra e
Juliano Serra Barreto pelas excelentes
informações e fotos fornecidas.
27
C
uriosidades
Aspectos Climatológicos da Precipitação do
Nordeste Brasileiro
O
início do verão, 21 de dezembro, se aproxima e com ele o sol vem com força total. Para
a região nordeste do Brasil é a alta estação, quando turistas de todo o mundo vêem
aproveitar as belas praias e desfrutar de uma culinária bastante rica em sabor e
diversidade. Porém, nesta época é normal o surgimento de um sistema Meteorológico de
escala sinótica conhecido como Vórtice Ciclônico de Altos Níveis – “VCAN” que pode estragar as
férias de muita gente!
Pensar em precipitação na região
nordeste é pensar em alta variabilidade
temporal
e
espacial,
em
termos
de
variabilidade temporal podemos dividir as
escalas de tempo em interanual e a intrasazonal.
A variabilidade interanual é associada a
fenômenos de grande escala, tais como o ElNiño-Oscilação Sul (ENOS)1, o Dipolo do
Atlântico
e
a
Zona
de
Convergência
Intertropical e está intimamente relacionada
com mudanças na configuração da circulação
atmosférica de grande escala e com a interação
oceano-atmosfera. A variabilidade intra-sazonal
da precipitação é influenciada por oscilações
que variam entre 7 e 60 dias, Vórtices
Ciclônicos de Altos Níveis (VCANs), Sistemas
Frontais, distúrbios de leste e brisas (Figura 1).
1
Fenômeno de grande escala espacial que afeta as
circulações
atmosféricas,
impondo
perturbações
climáticas de caráter global que interferem com as
atividades humanas. As fases positivas e negativas do
fenômeno ENOS são denominadas de El Niño e La Niña,
respectivamente. Estes fenômenos naturais que existem
há vários anos e continuarão existindo como fenômenos
cíclicos, porém sem um período regular.
28
Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis
O VCAN é um sistema de escala
sinótica que exerce forte influência nas
condições do tempo, pois estão geralmente,
associados à chuva intensa. Dependendo do
posicionamento geográfico do seu centro de
subsidência2, os vórtices podem intensificar a
precipitação em até 400% das normais
climatológicas ou contribuir para que o verão
seja mais seco e mais quente nas localidades
sob o centro.
O primeiro modelo para a formação do
vórtice que surge sobre o oceano atlântico sul
foi proposto por Manoel Alonso Gan e Vernon E.
KousKy, em 1981. A formação do vórtice, está
associada a um sistema de alta pressão que
surge em altos níveis na região da Bolívia,
conhecida como a Alta da Bolívia e um cavado
sobre o Oceano Atlântico Sul que se desloca na
vanguarda das frentes que penetram nessa
região (Figura 2).
2
Centro de subsidência é um movimento vertical para
baixo.
Figura 1 - Escalas espacial e temporal dos fenômenos atmosféricos.
O VCAN consiste de uma circulação
ciclônica1 fechada com núcleo frio que
geralmente se forma entre 200hPa e 500hPa2.
O movimento vertical gerado por um VCAN,
apresenta uma circulação direta, ou seja, um
movimento descendente de ar frio e seco no
seu centro, e movimento ascendente de ar
quente e úmido na sua periferia (Figura 3).
Neste tipo de circulação ocorre
conversão de energia potencial em cinética,
desta forma, a intensificação de um VCAN
da periferia. A desintensificação acontece com
a destruição da energia cinética, que ocorre
geralmente sobre o continente, decorrente do
aquecimento (calor sensível) da superfície e da
liberação de calor latente por nuvens do tipo
cumulonimbus, situadas perto do centro do
VCAN. Sobre o oceano, um VCAN em altos
níveis não se dissipa, é absorvido por cavados
de níveis superiores que se deslocam de
latitudes mais altas.
Figura 2 - Esquema de formação do VCAN sobre o Atlântico Sul.
ocorre pela liberação de calor latente ao longo
1
Circulação Ciclônica – No hemisfério sul consiste em
uma circulação no sentido horário com fluxo convergente.
2
Níveis de 200/500hPa – Em latitudes tropicais, estes
níveis correspondem respectivamente a 10 e 5 Km de
altitude.
29
Figura 3 – VCAN visto de uma imagem de satélite e esquema do perfil vertical de um VCAN.
O período de maior permanência,
ocorre no mês de janeiro, com média de 15
dias, e de menor permanência nos meses de
novembro e abril, com aproximadamente 7 dias
de duração.
Um VCAN pode ser totalmente seco ou
acompanhado de muita nebulosidade, isto vai
depender da sua profundidade. Assim, os
vórtices que ficam confinados na alta
troposfera, acima de 500hPa, possuem pouca
nebulosidade, enquanto os que atingem níveis
mais baixos possuem nebulosidade muita
intensa.
A nebulosidade associada ao VCAN
enfatiza o seu deslocamento, quando o sistema
encontra-se estacionário – Figura 4(a),
apresenta uma distribuição circular e uniforme
de nebulosidade, entretanto, ao se deslocar
para oeste – Figura 4(b), sua configuração
muda,
apresentando
intensa
atividade
convectiva em sua porção oeste e fraca
nebulosidade no setor leste e nordeste.
Para saber mais:
ANJOS, B. L. et al., 1994. Conexões entre a
circulação do hemisfério norte e os vórtices
ciclônicos da alta troposfera na região
nordeste do Brasil. In: Anais do VIII Congresso
Brasileiro de Meteorologia e II Congresso da
Federação
Latino-Americana
e
Ibérica
de
Sociedades de Meteorologia, v.2. Belo HorizonteMG, p. 583-585.
KOUSKY, V. E. & GAN, M. A., 1981. Upper
tropospheric cyclonic vortices in the Tropical
South Atlantic. Tellus, fevereiro de 1981, v.
33(6), p. 538-551.
PAIXÃO, E. B. & GANDU, A. W., 2000.
Caracterização do Vórtice Ciclônico de Ar
Superior no Nordeste Brasileiro. In: Anais do
XI Congresso Brasileiro de Meteorologia, Rio de
janeiro - RJ, p. 860-865.
SILVA, V. P. R. & LIMA, W. F. A., 2001.
Estudo dos Vórtices Ciclônicos de Ar superior
sobre o nordeste do Brasil. In: Anais do XII
Congresso
Brasileiro
de
Agrometeorologia,
Fortaleza - CE, p. 313-314.
http://www.funceme.br/DEMET/progno/prog2005/
prog2005_1.pdf
Figura 4 - Forma característica das nuvens ao redor do núcleo do vórtice; (a) vórtice estacionário e
(b) vórtice movendo-se para oeste.
30
N
ossas Escolas
O Primeiro Curso Superior em Meteorologia no NorteNordeste do Brasil
O
primeiro Curso Superior de Meteorologia no Norte-Nordeste do Brasil foi criado no
campus II da Universidade Federal da Paraíba, hoje campus I da Universidade Federal de
Campina Grande (UFCG). Atualmente, é um dos grandes centros de ensino e pesquisa
da ciência meteorológica brasileira.
Inicialmente, o Departamento de Ciências
Atmosféricas (DCA) fêz parte da estrutura da
UFPB, cujo campus de Campina Grande tornouse Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG) em abril de 2002. Atualmente, o DCA
faz parte da estrutura administrativa do Centro
de Tecnologia e Recursos Naturais (CTRN),
localizado no campus da cidade de Campina
Grande, Paraíba (Figuras 1 e 2).
A UFPB, acatando idéia do prof. Lynaldo
Cavalcanti de Albuquerque, criou o segundo
curso de Graduação em Meteorologia e o
segundo curso de Mestrado em Meteorologia de
nosso País, já tendo graduado 123 bacharéis e
110 mestres, até o presente. Esse esforço tem
sido reconhecido em nível nacional e
internacional e, hoje, os meteorologistas
formados nesta Universidade trabalham em
praticamente todas as instituições operacionais,
de ensino e/ou pesquisa que possuem
atividades em Meteorologia no Brasil, ocupando
posições de destaque.
Figura 1 – Localização de Campina Grande.
31
o primeiro curso de Meteorologia a ser criado
em todo o Norte e Nordeste do Brasil.
No ano de 1975, os integrantes do "Grupo
da Paraíba", como eram então conhecidos no
INPE,
terminaram
seus
cursos.
Todos
regressaram a Campina Grande em 1975 e
1976, com exceção de José Maria que foi
contratado pela Universidade Federal de
Viçosa. No lugar de José Maria, foi incorporada
ao grupo a profa. Maria Regina da Silva
Aragão. Todos foram lotados, inicialmente, no
Departamento de Engenharia Civil.
Figura 2 – Localização do Centro de Tecnologia e
Recursos Naturais da Universidade Federal de
Campina Grande, onde funciona o Curso de
Meteorologia.
Foi durante o segundo semestre de 1972
que o prof. Lynaldo, então Diretor do
Departamento de Assuntos Universitários
(DAU), do Ministério da Educação (MEC),
assessorado pelos professores Mário Adelmo
Varejão-Silva, Gleryston Holanda de Lucena e
José Oribe Rocha de Aragão (funcionários da
SUDENE), iniciou conversações com a diretoria
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE) para enviar um grupo de 5 recémgraduados para cursarem o Mestrado em
Meteorologia naquela instituição.
O acordo foi feito com o Dr. Fernando
Mendonça e o Dr. Gylvan Meira Filho, Diretor
Geral
e
Diretor
Científico
do
INPE,
respectivamente. A idéia do prof. Lynaldo era
de que esse pequeno grupo constituiria a
"massa crítica" para o desenvolvimento de um
Programa de Graduação e Pós-graduação em
Meteorologia, pioneiro no Nordeste do Brasil.
O grupo enviado ao INPE era composto por
Geraldo Nunes Sobrinho – Eng. Civil, José
Maria Nogueira da Costa – Eng. Agrônomo,
José Oribe Rocha de Aragão - Físico, Juarez
Farias de Lima – Eng. Eletrônico, e Pedro Vieira
de Azevedo – Eng. Agrônomo. Eles chegaram
ao INPE, em São José dos Campos - SP, em
janeiro de 1973 e passaram a cursar o
Mestrado em Meteorologia, fazendo parte da
segunda turma daquele curso. Eles tinham uma
pequena bolsa da UFPB que foi interrompida
depois de três meses, sendo contratados pelo
INPE como assistentes de pesquisa.
Em 1973, o Curso de Graduação em
Meteorologia da UFPB foi criado pela Resolução
No 10 - A/74 do CONSUNI (Anexo I) e o prof.
Dr. João Batista Queiroz Carvalho, do
Departamento
de
Engenharia
Civil,
foi
designado coordenador, tendo o primeiro
vestibular para ingresso no curso acontecido
em 1974. Suas atividades foram iniciadas no
primeiro período letivo de 1974. Foi, também,
32
Outros professores foram incorporados ao
grupo de Meteorologia nos anos de 1976 a
1979, Arthur Julião da Silva, Gleryston Holanda
de Lucena, Hukun Singh Rathor, Juan Carlos
Ceballos, Koyott Raghavan, Manoel Francisco
Gomes Filho, Margrit Henriette Nitzsche, Mário
Adelmo Varejão-Silva, Tantravahi Venkata
Ramana Rao, Jerko Valderrama e Zenaide Rosa
Sobral. Esse período foi de implantação e
consolidação dos cursos de Graduação e
Mestrado e do Núcleo de Meteorologia Aplicada
– NMA, o que culminou com a criação do
Departamento de Ciências Atmosféricas.
Os professores de Meteorologia criaram o
NMA em dezembro de 1976. O NMA serviu para
assegurar recursos financeiros para a execução
de trabalhos técnicos e de pesquisa em
Meteorologia e para equipar a UFPB com
material
permanente
e
equipamentos
científicos. Em 1987, o NMA teve suas
atividades incorporadas ao DCA. Antes mesmo
da criação do DCA, os professores do NMA
criaram o Curso de Mestrado em Meteorologia
em maio de 1978.
O Decreto Nº 82.517 de 30 de outubro de
1978, do Conselho Federal de Educação,
concedeu o reconhecimento ao Curso de
Graduação em Meteorologia da Universidade
Federal da Paraíba.
Em março de 1979, os professores de
Meteorologia passaram ao Departamento de
Mineração e Geociências e, em 19 de novembro
de 1979, criaram o Departamento de Ciências
Atmosféricas. O prof. Oribe Aragão, que havia
coordenado o Grupo de Meteorologia como
Sub-Chefe do Departamento de Mineração e
Geociências e era o Coordenador do NMA na
época, foi indicado para presidir a primeira
eleição de Chefe e Sub-Chefe do DCA no dia 20
de dezembro de 1979. Foram eleitos para
esses cargos, respectivamente, o prof. Mário
Adelmo Varejão-Silva e o próprio prof. José
Oribe Rocha de Aragão.
Importante
destacar
que
foram
os
professores do NMA e DCA que promoveram o
1o Congresso Brasileiro de Meteorologia
(CBMET), realizado em Campina Grande, em
outubro de 1980. Trabalharam na preparação
do 1o CBMET os professores José Oribe Rocha
de Aragão, Juarez Farias de Lima, Manoel
Francisco Gomes Filho, Marcos Alberto de
Andrade e Tantravahi Venkata Ramana Rao.
Nesse congresso foi reativada a Sociedade
Brasileira de Meteorologia (SBMET). Em
dezembro de 2003, a CAPES autorizou a
criação do Doutorado em Meteorologia da UFCG
tendo sido selecionados, já em março de 2004,
sete estudantes para a turma pioneira do
Doutorado recém-criado pelos professores do
DCA-UFCG.
Os professores do DCA e os alunos dos
cursos envolvidos dispõem da infra-estrutura
necessária para:
•
Colaborar com várias instituições de
pesquisas no Brasil e no exterior;
•
Acessar dados e informações sobre as
pesquisas em desenvolvimento no
Brasil e no exterior, inclusive via
Internet;
•
Receber dados e previsões de tempo e
climáticas de instituições nacionais e
estrangeiras;
•
Desenvolver pesquisas nas áreas de
sinótica-dinâmica
da
atmosfera,
modelagem
numérica,
agrometeorologia e micrometeorologia em vários
sítios experimentais (nos estados da
Bahia,
Pernambuco,
Paraíba,
Rio
Grande do Norte e Amazonas, dentre
outros),
climatologia
estatística,
radiação atmosférica, sensoriamento
remoto aplicado, processamento de
imagens de satélites e outras áreas,
inclusive em áreas oceânicas.
•
Receber
e
processar
imagens
meteorológicas
de
satélites
de
instituições nacionais e estrangeiras;
•
Desenvolver, testar e integrar modelos
de meso-escala e analisar resultados
de modelos de circulação geral da
atmosfera;
•
Colocar à disposição da comunidade
acadêmica e científica, e de usuários
em geral, os resultados de pesquisas,
metodologias desenvolvidas e serviços.
O esforço da UFCG tem sido recompensado
pelo
nível
de
formação
de
seus
meteorologistas, pelo envolvimento dos seus
professores nos programas em Meteorologia
em níveis regional, nacional e internacional, e
pelas publicações em periódicos nacionais e
internacionais.
Portanto, em seus 29 anos, podemos dizer
que o Departamento de Ciências Atmosféricas
tem sido um dos principais órgãos responsáveis
pelo desenvolvimento da Meteorologia como
Ciência no Brasil.
O DCA possui na sua estrutura:
Laboratório de Meteorologia Sinótica LMS,
• Laboratório
de
Instrumentação
Meteorológica,
• Laboratório de Processamento de
Informações Meteorológicas - LAPIM,
• Laboratório de Apoio à Pesquisa Micro
e Agrometeorológica - LAPEMA,
• Laboratório
de
Modelagem
e
Desenvolvimento - LMD.
• Estações Meteorológicas de Superfície:
Automática e Convencional.
•
O Departamento de Ciências Atmosféricas
apresenta as seguintes linhas de pesquisa:
• Sinótica/Dinâmica
da
Atmosfera
Tropical;
• Agrometeorologia;
• Climatologia;
• Meteorologia Física;
• Sensoriamento Remoto Aplicado;
• Radiação Solar e Atmosférica;
• Processamento de Imagens;
• Biometeorologia.
O objetivo do Curso de graduação é formar
profissionais de nível superior, capazes de
desenvolver, orientar e aplicar técnicas do
conhecimento
da
constituição
e
das
propriedades da atmosfera terrestre bem como
dos mecanismos que nela atuam.
O Curso de Graduação em Meteorologia da
UFCG formou 155 (cento e cinqüenta e cinco)
profissionais até 2004 (Figura 3). Um alto
percentual, cerca de 88,6%, encontram-se
efetivamente trabalhando na área, enquanto
que os 11,4% restantes infelizmente não se
dispõem de informações atualizadas sobre os
mesmos.
Alguns
alunos
do
Programa
PIBIC
(Programa de Bolsas de Iniciação Científica) e
professores do Curso também interagem com a
EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária, Semi-Árido) - CNPA (Centro
Nacional do Algodão) e CPATSA (Centro de
Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-árido),
na
condução
de
experimentos
agrometeorológicos. Através do programa
REVIZEE (Recursos Vivos da Zona Econômica
Exclusiva), dos Ministérios do Meio Ambiente e
da Marinha, além de alunos e professores do
Curso que participaram de experimentos
meteorológicos a bordo do navio oceanográfico
ANTARES da Marinha do Brasil.
33
Conceitos da CAPES:
12
11
•
•
•
10
9
8
7
Corpo Docente:
6
5
O corpo docente do DCA, composto por
doutores,
é
formado
pelos
seguintes
professores efetivos:
4
3
2
1
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
0
Período
Figura 3 – Número de alunos formados no Curso
de Meteorologia no período 1979 a 2004.
O corpo docente do Curso ministra
disciplinas
na
graduação,
participa
de
programas de Iniciação Científica, orienta
trabalhos de graduação e vem participando do
Curso
de
Especialização
em
Métodos
Estatísticos
Aplicados
à
Meteorologia
e
Climatologia, oferecido pelo DCA a cada dois
anos. Os professores, todos com titulação de
doutor,
ministram
aulas
e
orientam
dissertações e teses no Programa de PósGraduação em Meteorologia. Os professores do
DCA também ministram aulas e orientam teses
no Doutorado em Recursos Naturais, além de
contribuir na Pós-Graduação de Engenharia
Agrícola.
A Pós-Graduação em Meteorologia da UFCG
destina-se
à
formação
de
Docentes,
Pesquisadores e Profissionais especializados
em Meteorologia, de acordo com o que dispõe a
Legislação Federal de Ensino Superior. No
Mestrado e Doutorado em Meteorologia, o
Departamento vem consolidando suas linhas de
pesquisa nas seguintes áreas de Atuação:
Previsão do Tempo e Clima, Gerenciamento dos
Recursos Hídricos, Agricultura e Pecuária,
Indústria e Comércio, Construção e Urbanismo,
Transportes e Lazer, Meio Ambiente e Medicina
Preventiva.
Há duas Áreas de Concentração:
1. Meteorologia de Meso e Grandes
Escalas;
2. Agrometeorologia e Micrometeorologia.
Avaliação pelo Guia do Estudante:
•
Graduação em Meteorologia - ****
34
Mestrado em Meteorologia – Nível 5
Doutorado em Meteorologia – Nível 4
Doutorado em Recursos Naturais – Nível 4
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Bernardo Barbosa da Silva (Dr., UFPB)
Célia Campos Braga (Dra., UFPB)
Enilson Palmeira Cavalcanti (Dr., UFPB)
Enio Pereira de Souza (Dr., USP)
Francisco de Assis S. de Sousa (Dr., USP)
José Ivaldo Barbosa de Brito (Dr., UFPB)
Kamada Karuna Kumar (Ph.D., Índia)
Magaly de Fátima Correia (Dra., USP)
Manoel Francisco Gomes Filho (Dr., UFPB)
Maria Regina da Silva Aragão (Ph.D., USA)
Pedro Vieira de Azevedo (Ph.D., USA)
Renilson Targino Dantas (Dr., USP)
Rômulo da Silveira Paz (Dr., UFPB)
Sukaran Ram Patel (Ph.D., India)
Tantravahi V. Ramana Rao (Ph.D., USA)
Vicente de Paula R. da Silva (Dr. UFPB)
Mais informações:
Prof. Dr. Renilson Targino Dantas
Chefe
Departamento de Ciências Atmosféricas DCA Centro de Tecnologia e Recursos
Naturais - CTRN
Universidade Federal de Campina Grande –
UFCG
Fone/FAX: (083) 3310 1202
http://www.dca.ufcg.edu.br
E-Mail: [email protected]
Prof. Dr. Bernardo Barbosa da Silva
Coordenador
Programa de Pós-Graduação em Meteorologia
CTRN – UFCG
Fone: (083) 3310 1054
E-Mail: [email protected]
Prof. Dr. Tantravahi Venkata Ramana Rao
Coordenador
Curso de Graduação em Meteorologia
Fone: (083) 3310 1031
E-Mail: [email protected]
Endereço para correspondência:
Av. Aprígio Veloso, 882.
Bairro: Universitário,
58.109-970 - Campina Grande, PB Fone/fax
(0xx83) 3310-1202
R
eflexões
Valorização e Respeito Profissional:
Até que ponto os Meteorologistas devem se submeter
aos baixos salários?
O Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET) é órgão pertencente ao Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),
responsável
pela
Meteorologia
no
Brasil,
representando o país junto à Organização
Meteorológica Mundial (OMM).
O INMET conta com avançada tecnologia
de recepção de imagens de satélites. Sofisticados
supercomputadores, que operam, por exemplo, o
Modelo Brasileiro de Alta Resolução (MBAR),
modelo de previsão numérica do tempo com a
mais alta resolução para a América Latina.
Atualmente, o INMET possui cerca de 400
estações meteorológicas entre climatológicas
principais,
agrometeorológicas
e
auxiliares,
distribuídas no território nacional, além de 13
estações aerológicas, para a medição em altitude
dos ventos, temperatura e umidade.
É assim que o INMET busca todos os
recursos, humanos e tecnológicos, num processo
contínuo de aperfeiçoamento, para assegurar a
confiabilidade necessária às informações sobre o
tempo e clima disponibilizando, e garantindo a
qualidade e o profissionalismo de seus serviços
(extraído da página www.inmet.gov.br).
Pois bem, neste último dia 12/12/05, este
mesmo INMET lançou um edital de concurso
público para contratação imediata e cadastro de
reserva de 29 Meteorologistas, com um salário
inicial de, por incrível que pareça, R$ 1.340,27
para
meteorologistas
graduados
(www.inmet.gov.br/Inmet_Edital.pdf). É desta
maneira que o INMET busca a confiabilidade
necessária nas previsões, quando ele mesmo não
investe num salário digno para os próprios
Meteorologistas? Será que os 17 Meteorologistas
que forem aprovados para as vagas em Brasília
conseguirão se manter de forma digna na capital
brasileira? Creio que não!
O INMET tem recebido investimentos
grandes nos últimos anos, construiu um grande
laboratório em Brasília, que está sub utilizado por
falta de pessoal, milhões de reais gastos, em
equipamentos, que serão utilizados pelos futuros
concursados. Tanto investimento gasto em
laboratórios, necessários, diga-se de passagem,
podem não ser utilizados em sua plenitude.
Primeiro pelas poucas vagas abertas, seriam
necessárias o dobro de Meteorologistas para pleno
funcionamento deste laboratório, e segundo,
claro, pelo salário baixo, abaixo até do salário
mínimo exigido pelo CREA, autarquia que orienta
e
fiscaliza
o
exercício
profissional
dos
Meteorologistas, que seria de R$ 2.700,00, para a
carga horária descrita no edital.
A decepção é maior quando vemos nos
jornais anúncios de outros concursos públicos, no
qual o salário inicial e bem superior a este, sendo
necessário apenas o segundo grau. Nada contra os
salários maiores, mas depois de 20 anos de
espera de concurso para o INMET, isso mesmo o
último concurso foi realizado em 1985, esperavase
que
o
INMET
respeitasse
mais
os
Meteorologistas, já que estes profissionais são os
responsáveis pela previsão e acompanhamento do
tempo e clima, objetivo fim do INMET.
Nós Meteorologistas gostaríamos que, ao
menos o INMET, o órgão maior da Meteorologia no
Brasil, valorizasse melhor o profissional, dando a
ele um salário digno, para que os Meteorologistas
pudessem fazer seu trabalho tão necessário para a
segurança e crescimento do País, haja vista os
eventos recentes que causaram tantos prejuízos
financeiros e calamidades públicas, decorrentes de
fenômenos como o Furacão Catarina ou mesmo
por sistemas comuns que assolam as cidades
brasileiras, causando enchentes e quedas de
barreiras.
Os meteorologistas pedem socorro. Para
uma boa previsão não basta ter equipamentos
caros e sofisticados, para isso também se faz
necessário pessoal qualificado e, repetimos, que
receba um salário DIGNO. Salário este que
permita aos Meteorologistas não necessitarem a
busca de outras fontes para a complementação
salarial, e que, ai sim, façam seu trabalho,
trabalho este tão importante e necessário para o
crescimento e segurança de nosso país.
Para concluirmos, encerramos esta
reflexão
deixando
os
seguintes
questionamentos: Por que, onde fracassam
as pessoas, as instituições devem ser
penalizadas? Até quando iremos agüentar
calados e não reagiremos a estas
situações?
Os Editores
[email protected]
35
S
ala de Leitura
Lançamentos
EL CAMBIO CLIMÁTICO GLOBAL
Libros del Zorzal
Vicente R. Barros
MICROMETEOROLOGIA: TÓPICOS
GERAIS
Editora e Gráfica Universitária - UFPEL
Cláudia Rejane Jacondino de Campos
Neste pequeno livro de bolso, o Dr.
Vicente Barros, conhecido pesquisador argentino
na área de climatologia, explica e analisa em
linguagem simples e com rigor científico as causas
e os efeitos da mudança climática.
O livro consta de onze capítulos. O
primeiro capítulo é uma breve introdução aos
temas tratados, com uma concisa e clara
exposição do problema da mudança climática, as
certezas e incertezas existentes, as possíveis
conseqüências futuras assim como os interesses
dos grupos envolvidos e suas reações ao
problema. Os capítulos de 2 a 8 descrevem o
sistema climático, as causas da variabilidade
climática, os gases de efeito estufa e aerossóis, a
mudança climática no período industrial no século
e as perspectivas tecnológicas para enfrentar
estas mudanças. O autor não só trata nestas
seções dos temas técnico-científicos, como
também de algumas conseqüências econômicosociais de episódios climáticos extremos do
passado.
O capitulo 9 é uma análise provocativa
dos interesses setoriais, ideológicos e nacionais
afetados por estas mudanças, discutindo conceitos
tais como a equidade na mitigação de emissões. O
décimo
capítulo
descreve
as
respostas
institucionais incluindo a Convenção Marco das
Nações Unidas sobre a Mudança Climática, o
Protocolo de Quioto, o IPCC e O GEF. As
conclusões são dadas no Capitulo 11 destacandose a inevitabilidade da mudança climática, a
insustentabilidade do sistema consumista atual e a
necessidade de começar o quanto antes as
medidas de adaptação. Inclui um breve Glossário
com o significado de termos técnicos.
Tem 172 páginas. Maiores informações em:
http://www.delzorzal.com.ar
36
O livro Micrometeorologia: tópicos gerais,
de autoria da professora Cláudia Jacondino de
Campos,
pesquisadora
da
Faculdade
de
Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas e
doutora em Física da Atmosfera pela Universidade
Paul Sabatier, da França foi lançado em abril de
2005. O livro foi editorado por Camila Pinho da
Silveira e Marina Fonseca Seelig, mestres em
Meteorologia pelo Programa de Pós-Graduação em
Meteorologia da UFPEL. O projeto gráfico do
trabalho ficou a cargo de Rafael Luder, designer
gráfico. A obra é recomendada para alunos dos
cursos de graduação e pós-graduação em
meteorologia e é uma compilação de assuntos
abordados
nas
disciplinas
relacionadas
à
Meteorologia de microescala.
Os tópicos abordados no livro são:
Introdução ao estudo da micrometeorologia;
Escoamento laminar de um fluido; escoamento
turbulento de um fluido; Processos de difusão.
Maiores Informações podem ser obtidas via
e-mail:[email protected] ou pelo telefone:
(0xx53) 3227-8300