A Representação Gráfica em Arquitetura
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A Representação Gráfica em Arquitetura
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL J A C K S S O N DEPOLI C O R R E A DE OLIVEIRA A Representação Gráfica em Arquitetura: Uma Transição 1979-2009 Curitiba 2009 J A C K S S O N DEPOLI C O R R E A DE OLIVEIRA A Representação Gráfica em Arquitetura: Uma Transição 1979-2009 Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao EAD SENAC ,como parte integrante para obtenção do Título de Especialista em Artes Visuais: Cultura e Criação. Orientadora: Prof . Ms. Sônia Gutierrez 3 Curitiba 2009 AGRADECIMENTOS Ao SENAC, especialização em Artes Visuais: Cultura e Criação, por oferecer auxílio institucional para a elaboração deste trabalho. À tutora e orientadora Ms. Sônia Gutierrez pela atenção, paciência e pela forma que conduziu, orientou e apoiou este trabalho de iniciação à pesquisa científica. Aos colegas do curso de especialização pela amizade, pelos pequenos, mas ótimos momentos de convivência e troca de idéias, experiências e dificuldades. À Faculdade Mater Dei, especialmente à diretora Ivone Pretto Guerra e ao atual coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo Vitor Pretto Guerra, que auxiliaram e viabilizaram esta pesquisa. Ao grande mestre e amigo, atual coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo, arquiteto Ms. Orlando Pinto Ribeiro, pelo incentivo, amizade e apoio. À minha amiga e companheira de longa data Michelle Schneider Santos, pela amizade, disponibilidade e pelos constantes aconselhamentos. À toda minha família pelo incentivo e compreensão. De um traço nasce a arquitetura, e quando ele é bonito e cria surpresa, ela pode atingir, sendo bem conduzida, ao nível superior da arte. (OSCAR NIEMEYER) RESUMO A presente pesquisa pretende contribuir para a discussão crítica sobre a representação manual e digital no processo projetual dentro do panorama da arquitetura, com enfoque na substituição da ferramenta milenar do traçado por uma ferramenta digital de vanguarda, responsável por simular o hiper-realismo. No entanto, no presente momento não se pode afirmar que esta transição é satisfatória ou insatisfatória. Este estudo atenta à diferenciação na maneira de concepção do projeto a partir de um processo de hipóteses, pesquisa e planejamento para um processo avançado de avaliação, visto que até então nos restam vislumbramentos e pressupostos do futuro próximo dos meios de expressão e representação em arquitetura. A pesquisa fará relações entre as artes visuais e os meios de representação em arquitetura. Ao longo de sua história, a arquitetura sempre esteve atrelada à arte de seu tempo. A concepção e as características arquitetônicas sempre tiveram um laço estreito com as artes visuais, como podemos verificar na historicidade das artes, onde geralmente arquitetos eram artistas plásticos e viceversa. Palavras-chave: Representação, Desenho, Tecnologia. ABSTRACT This research aims to contribute for a critical discussion about representation process in manual and digital design within the architecture panorama, focusing on the replacement of an ancient drawing tool for a digital tool, which simulates the hyperrealism. However, at this moment we may not affirm that this transition is satisfactory or unsatisfactory. This study looks at differences in the way of conceiving the project from a process of hypotheses, research and planning for advanced process of assessment, since we have left overseeing and prepossess for a near future of expression and representation in architecture. This research will show relations between visual arts and means of representation in architecture. Throughout its history, architecture has always been tied as the art of its time. Design and architectural features have always had a bond within visual arts, as found in art history where generally architects were artists. Keywords: Representation, Drawing, Technology. LISTA DE S I G L A S ANSI - "American National Standard Institute" - Instituto Nacional de Padrão Americano; BIM - "Building Information Modeling"- Modelagem de Informação da Construção; CAD - "Computer Aided Design"- Projeto Auxiliado por Computador; CORE - Núcleo de processamento; GKS - "Graphical Kernel System" - Sistema Gráfico Kernel; IBM -"International Business Macftines'-Internacional Máquinas para Negócios; ISO - "Industrial Standard Organization" - Organização Industrial Padrão; PC - "Personal Computer"- Computador Pessoal; SENGE - PR - Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná. sindARQ - PR - Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas do Estado do Paraná; SUMARIO Introdução 08 1. Antecedentes históricos e contextualização 1.1 werkbund o legado da revolução industrial 11 1.2 escola bauhaus e a vertente arquitetônica 12 1.3 escola de ulm ou nova bauhaus!? 17 2. Recorte temporal 2.1 evolução dos computadores 18 2.2 computação gráfica 19 3. Desenho dentro da arquitetura 3.1 primeiros desenhos arquitetônicos 23 3.2 desenho e concepção 25 4. Computador como ferramenta de desenho 4.1 virtualização 28 4.2 concepção projetual digital: mito ou fato 28 4.3 percepção do desenho manual versus digital 30 5. Transição observada: zaha hadid e thom mayne 5.1 zaha hadid 5.1.1. 5.1.2. 5.1.3. 5.1.4. 5.1.5. 5.1.6. 5.1.7. 5.1.8. 5.1.9. biografia expressão e representação irish prime minister's redidence the peak vitra fire station car park and terminus hoenheim phaeno scince centre napoli-afragola high-speed train station exposition center of cairo 32 33 35 36 37 38 39 39 40 5.2 thom mayne e grupo morphosis 5.2.1. biografia 5.2.2. expressão e representação 5.2.3. flores residence addition 5.2.4. malibu beach house 5.2.5. wagramerstrasse housing 5.2.6. mack house 5.2.7. 41 cooper square 5.2.8. phare tower 41 42 42 43 44 45 46 47 Considerações finais 48 Referências bibliográficas 52 Crédito das imagens 54 Anexos ANEXO ANEXO ANEXO ANEXO A. B. C. D. imagens imagens imagens imagens antecedentes históricos e contextualização de obras de kazimir malevitch dos trabalhos de zaha hadid e Omã dos trabalhos de thom mayne e morphosis 56 66 69 87 INTRODUÇÃO Este trabalho teve início, a partir da experiência em sala de aula, e nos questionamentos de alunos a respeito da representação gráfica em arquitetura. Nesta Era Digital em que nos encontramos, a maioria dos alunos acredita, que o bom projeto é aquele representado como uma simulação de uma realidade ainda inexistente. Os alunos observam a larga escala de material publicitário distribuído pelas cidades - de grandes construtoras que tem a intenção de passar uma realidade para seus futuros clientes. Muitas vezes, estas imagens tão realistas, chegam a induzir a indagação de que aquele espaço realmente se encontra ou não construído. Após reflexão a respeito do assunto e algumas discussões dentro de sala de aula, esta pesquisa foi dedicada à transição gráfica observada, dentro de dois grandes escritórios da arquitetura contemporânea mundial, o escritório do arquiteto americano Thom Mayne (Morphosis) e o escritório da arquiteta iraquiana radicada na Inglaterra Zaha Hadid, ambos ganhadores do premio pritzker em 1 arquitetura. As indagações dos alunos surgem pelo fato de terem ou não um conhecimento em desenhos manuais ou pelo medo de demonstrarem aos colegas a fase primária de seu meio de representação. Sendo assim, sentem-se mais seguros em representar digitalmente seus trabalhos, acreditando que desta forma chegarão a um patamar satisfatório de representação e que não se sentirão mais constrangidos. Atualmente os cursos de arquitetura e urbanismo não solicitam aos alunos, ao ingressar no curso, o desenho como pré-requisito, fazendo com que ingressem sem nunca ter tido o desenho manual como uma prática. Podemos verificar que o desenho manual é um meio muito eficiente para expor o primeiro raciocínio projetual, assim como outros artistas e designers que tratam de forma, função e estética, fazendo com que por meio da escrita, os aspectos formais, funcionais e estéticos estejam comprometidos. O primeiro desenho, o croqui, ou até algumas vezes considerado como rascunho, sempre é algo rápido e com objetivo de estudo. Sendo assim, é o método mais rápido para expor as primeiras idéias formais, de algo imaginado, pensado 1 Prêmio Pritzker é uma homenagem a um arquiteto em vida para agraciar ao grande trabalho que desenvolvera em sua profissão conhecido como prêmio "Nobel" da arquitetura. 9 numa conceituação geral, livre de detalhes e respaldos técnicos que viriam em outra etapa do projeto arquitetônico. Ao longo da história, com o aperfeiçoamento da tecnologia construtiva e a criação de espaços construídos mais complexos e articulados, fez-se com que a função comunicativa e a representativa, dos subsídios representativos para a construção destes espaços, sofresse modificação. Foram criados códigos e a sintaxe da representação, normas para que a representação gráfica bidimensional e virtual se transformassem em algo tridimensional real. É o surgimento do desenho técnico manual. Segundo descrição do sindARQ - PR e SENGE - PR, o projeto arquitetônico é apresentado ao cliente em três etapas básicas, chamadas de: Estudo Preliminar, que se trata de uma proposta gráfica inicial, visando à plástica e a funcionalidade da edificação, cujo partido sugerido contemple também as características essenciais relativas à viabilidade técnica e aos condicionamentos legais do empreendimento, com a opção de perspectivas artísticas. O Anteprojeto trata do desenvolvimento do estudo preliminar aprovado pelo contratante, com a inclusão dos desenhos técnicos com medidas, especificações, definição estética e estrutural, correlação de suas instalações complementares, possibilitando a exata compreensão da obra a ser executada. O Projeto Executivo é o projeto completo com desenhos e especificações detalhadas, com o layout de mobiliário, máquinas e equipamentos, representado em escala e informações adequadas à perfeita execução da obra, e, visa também a compatibilidade de projetos complementares, com perspectivas exatas opcionais. A partir de 1979 surge o microcomputador, o qual popularizou-se como ferramenta para representação gráfica em arquitetura, primeiramente tentando somente substituir as pranchetas com informações gráficas bidimensionais, mas após uma década, este mesmo equipamento permitiu ao utilizador e empreendedor experimentar alternativas de espaço, materiais, iluminação e aspectos de simulando espaços com insolação. O aplicações de computador já não era simplesmente uma máquina substituinte às pranchetas, mas sim uma ferramenta que promoveu um novo processo de criação dentro da arquitetura. Por isso, é importante se analisar a relevância dos desenhos computacionais fazendo uma breve comparação com o processo manual, para que assim possamos verificar suas qualidades e limitações. 10 Esta pesquisa tem como escopo a análise das etapas da concepção arquitetônica, ou seja, da primeira fase de apresentação do projeto arquitetônico denominada de estudo preliminar e primeiro estudo volumétrico apresentado. Dentro desta etapa, tratará somente da representação gráfica por meio de estudos de casos dos dois escritórios, Zaha Hadid e Thom Mayne, entre aos anos de 1979 a 2009, buscando verificar assim as mudanças gráficas que estes escritórios apresentaram, fundamentando a transição da apresentação manual para a digital. O foco da metodologia é a leitura e análise do material gráfico existente em publicações como revistas, livros e sites. Os estudos de croquis e primeiros rascunhos publicados pelos autores servirão para nos demonstrar a trajetória projetual do profissional, mostrando suas dificuldades, medos e adequações conforme as condicionantes climáticas, condicionantes legais e condicionantes conceituais encontradas pelo mesmo. 1. A N T E C E D E N T E S HISTÓRICOS E CONTEXTUALIZAÇÃO 1.1 Werkbund o legado da revolução industrial A reflexão sobre o desmembramento tecnológico não é recente, já observado em grandes momentos da história, sendo que a estaca zero, dentro do mundo moderno, foi a Revolução Industrial. Iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII e estendendo-se ao resto do mundo até o século XIX, antes da criação destas primeiras máquinas movidas a vapor, o homem vivia simplesmente de trabalhos manuais com auxílios de ferramentas ou até máquinas onde o força motor destas ou era impulsionada por animais ou pelo próprio homem. Esta transição potencializou o capitalismo, já que as máquinas pertenciam a um grupo burguês da sociedade e os trabalhadores viraram operários de máquinas, graças ao êxodo rural, já que as indústrias começaram a ser implantadas dentro de perímetros urbanos [...] Ciência e tecnologia , revolução industrial e revolução burguesa estão intimamente ligadas entre si; geraram, no decorrer do século passado, novas e complexíssimas relações antagônicas e não-antagônicas, em âmbito sócio-histórico, econômico e cultural. (PIGNATARI, 2004, p. 43) [... ] Assim como havia uma ciência pura e uma ciência aplicada, assim a arte começou também a dicotomizar-se numa arte "pura" e numa arte aplicada, esta desenvolvendo-se principalmente em função do utilitário e dos novos meios de massa que surgiram. Mas uma arte pura necessitava de princípios e programas, à imitação do que ocorria na área cientifica, a arte indagando-se a si mesma sobre o seu campo próprio de atuação, cada vez mais restrito devido ao avanço das novas tecnologias. Instaura-se o rigor no mundo da arte: "Uma lei da parcimônia passou a vigorar na estética, como já o fazia na ciência. Métodos e técnicas começam a imporse como universais, dos quais as obras de arte seriam apenas manifestações particulares. De linguagem, a arte vai passando a metalinguagem. (PIGNATARI, 2004, p. 44) Com a popularização das máquinas e o crescimento da demanda por produtos no início do século XX, Henry Ford (1863-1947), empreendedor americano fundador da indústria de automóveis Ford Motor Company, inicia o sistema de produção em série gerando uma simplificação e padronização de seus produtos. Com este modelo de produção, conseguiu-se fazer uma produção mais barata de bens de consumo. William Morris (1834-1896), um dos principais fundadores do Movimento das Artes e Ofícios britânico, tinha a idéia que todos os objetos pessoais deveriam ser reinventados com custos bem inferiores do que eram encontrados, para que todos pudessem adquirir estes objetos pessoais. Vendo que suas idéias 12 não seriam bem vindas no mundo capitalista cunhado pela revolução, Morris virouse para socialismo tornando-se uns dos fundadores do movimento socialista inglês. Nestes mesmos anos, entre 1980 e 1990, data-se uma segunda reforma vinda da Inglaterra e da Bélgica chegando até a Alemanha, a qual deu início ao Jügendstil , 2 arte nova alemã, movimento que viria a dominar a Europa nos 15 anos seguintes. Ao longo dos anos 1990 a Alemanha começou a substituir a Inglaterra como nação líder da Europa, conseguindo manter esta meta até o início da Primeira Guerra Mundial. Em 1907 foi criada na Alemanha a Werkbund (Associação de Artes e Ofícios DWB) a qual tinha a finalidade de ser uma cooperação entre indústria e artesanato para a melhoria das atividades por meio de educação, tornando-se assim a associação artística mais importante antes da Primeira Guerra Mundial. Em 1916 durante a guerra e frente aos campos de batalha Walter Gropius (1883-1969), redigira uma carta ao ministério grão-ducal do estado da Saxônia, com a proposta para a fundação de um estabelecimento de ensino para providenciar conselhos artísticos à industria. Mas só em março de 1919 é que Gropius foi nomeado para a direção das escolas de Werkbund e da Superior de Belas-Artes, correlatas a uma única titulação, Staatliches Bauhaus in Weimar, mais conhecida pelo nome do centro Bauhaus, assumindo então a direção em 12 de abril , do mesmo ano, da escola de arte considerada a mais polêmica e moderna dos seus tempos. 1.2 E s c o l a bauhaus e a vertente arquitetônica A Bauhaus (1919-1933) foi uma escola totalmente voltada para as artes aplicadas, com intuito de gerar artistas preparados para a produção em série de seus objetos de design, ou seja, uma das primeiras escolas que revolucionara o método do ensino e o produto final deste. Percorreu três localizações: Weimar, Dessau e, por fim, Berlim. Para dar inicio a escola de vanguarda Gropius almejava ter um corpo docente com grandes personalidades que fossem renomadas e que tivessem um grande 2 Jügendstil - Origem do termo em 1896 com a publicação da revista "Jugend" (jovem), caracterizava uma nova arquitetura semelhante a Art Nouveau. 13 diferencial em seu trabalho artístico. Este corpo docente iniciou com o pedagogo de arte e pintor Johannes Itten, de personalidade forte e que logo após seria responsável pela criação do curso preliminar da Bauhaus com o pintor Lyonel Feininger, um dos artistas expressionistas mais famosos da época, fazendo com que a radicalidade de seus quadros fosse posteriormente discutida dentro do ensino da Bauhaus, e com o escultor Gerhard Marcks, o mais conservador dos três que apoiava incondicionalmente as propostas de Gropius. No final de 1919, Gropius convoca Georg Muche, pintor expressionista de grande fama em Berlim, que chega a Weimar em abril de 1920, inicia em oficinas e após outubro deste mesmo ano entra para o corpo docente da Bauhaus. Em 1920 o conselho de mestres anuncia a convocação de Paul Klee e Oskar Schlemmer, iniciando suas atividades em 1921. Em 1922 o conselho convoca Wassily Kandinsky, considerado o artista abstrato mais importante de seu tempo. Assim, em três anos, Gropius conseguiu formar um corpo docente com uma extrema solidez, tanto no atrativo de novos alunos como na qualidade do ensino que os jovens artistas ali recebiam. Em 1920, o diretor da Bauhaus coloca dois professores em atelier um com uma formação artística e outro com uma formação artesanal criando um método de ensino bipolar, fazendo com que os alunos pudessem ter uma fonte de ensino mais vasta que as aulas comuns com somente um professor, como aponta Magdalena Droste: Era necessário trabalhar com dois professores diferentes, pois não havia artesãos com imaginação suficiente para resolver os problemas artísticos, nem artistas com conhecimentos técnicos suficientes para se responsabilizarem por trabalhos oficinais. Uma nova geração tinha de ser treinada primeiro, de forma a poder aliar os dois talentos. (2004) Em Weimar a escola teve diversos cursos como: cerâmica, tecelagem, metal, mobiliário, vitrais e pintura de murais, escultura em madeira e pedra, encadernação, tipografia, teatro e arquitetura e planejamento urbano. Gropius teve grandes problemas financeiros para continuar com a escola, os ateliers e os professores custavam muito em relação ao orçamento que tinham para gastar. Por certo tempo, alguns dos ateliers permaneceram fechados por terem máquinas extraviadas, fazendo com que fossem implementadas mais aulas teóricas ao currículo. Neste período iniciaram as aulas de desenho técnico ministradas por Gropius e seu sócio de longa data Adolf Meyer. O curso de arquitetura e 14 planejamento urbano dentro da Bauhaus iniciou no outono de 1919 organizado em um semestre intermediário ao currículo oficial da escola, dirigido pelo simpatizante da Bauhaus Paul Klopfer. Mesmo iniciado, Gropius teve dificuldades perante ao Ministério do Interior em aprovar este semestre de ensino, fazendo com que levasse o curso na própria sede de sua escola. Em maio de 1920 foi fundado o departamento de arquitetura dentro da Bauhaus sob coordenação de Adolf Meyer, mas logo foi interrompido. No mesmo ano Gropius adquire um terreno onde entrevê um planejamento urbano e residências em madeira, as quais seriam suas próprias casas. Com esta problemática em pauta, o aluno Walter Determann não só concebe o projeto de urbanização (imagem 01), como também faz estudos das referidas residências em madeira (imagem 02). Em 1923, com a Exposição Internacional de Arquitetura (imagem 03) dentro da Grande Exposição da Bauhaus, foram expostos modelos de casas-tipo e urbanizações, desenvolvidas pelo atelier particular de Gropius. A primeira casa tipo construída inteiramente pela Bauhaus foi a Sommerfeld Haus, com projeto arquitetônico de Gropius e Adolf Meyer, que data de 1920 e tem localização em Berlim. Esta recebeu como tratamento interno o trabalho dos melhores alunos que a escola já teve: Dõrte Helm executando as cortinas, Marcel Breuer com as cadeiras e poltronas, Josef Albers pelos vitrais e Joost Schmidt com os lambris em madeira e relevos de portas. Por causa de transformações políticas em Weimar, os partidários conservadores haviam taxado a escola de ter valores esquerdistas, juntando as más condições financeiras, a Bauhaus é forçada a mudar-se de Weimar. Receberam convites de cidades como: Dessau, Frankfurte/ Meno, Mannheim, Munique, Darmstadt, Krefeld, Hamburgo, Hagen/Westefália dentre outras. Destas cidades que gostariam de receber esta escola vanguardista, a única que obtinha um projeto consistente e de acordo com que Gropius imaginava era a cidade de Dessau, cidade onde se encontrava uma política voltada à esquerda. Esta troca de favores que a cidade de Dessau proporcionara a Bauhaus fez com que todos os projetos arquitetônicos e utensílios domésticos virassem realidade. E esta abertura da cidade rendeu o seu crescimento populacional, a qual em 1925 contava com 50.000 habitantes, passou, em três anos, para 80.000 habitantes. As obras da nova sede da Bauhaus e das casas dos mestres iniciaram em 1 de abril de 1925, fazendo com que a transferência da instituição ocorresse no mesmo ano. 15 [...] Depois de visitar todos os ateliers, em janeiro de 1926, Gropius escreve um relatório a todos os mestres falando de um estado deplorável. Queria impor uma forte liderança em todos os ateliers. Mas parece ter-se instalado uma certa falta de direção particularmente entre os alunos mais antigos e talentosos. Esta camada de estudantes mais antigos ocupava o bloco de estúdios com a sensação constante de que já não havia mais nada para eles fazerem, segundo uma carta de Hans Volger, representante dos alunos para Gropius. Exigiam em especial a introdução de um curso de arquitetura uma vez que sentiam que só depois de uma formação em arquitetura a sua instrução estaria completa, e só depois disso é que estariam habilitados a transferir a filosofia da Bauhaus para a vida real. A falta de um departamento de arquitetura - que era suposto ser o ultimo estágio do programa Bauhaus - lançava dúvidas sobre o significado total e objetivo da escola. O departamento de arquitetura foi , com efeito, introduzido pouco depois. O seu professor, Hannes Meyer, substituiu Gropius no cargo de diretor passado pouco tempo depois. Com uma visão social da arquitetura, conseguiu motivar os estudantes para o trabalho nos ateliers e aumentar a produtividade. Os problemas que a Bauhaus enfrentou por volta de 1926-27 tiveram também suas causas financeiras específicas. (DROSTE, 2004) Diante dos problemas financeiros Gropius desanima a continuar empenhando-se à escola, e afirma que Hannes Meyer estava apto a dirigir a escola de Dessau, podendo assim dar uma nova cara à escola e desenvolver uma nova Bauhaus. Em fevereiro de 1928 Walter Gropius anuncia sua demissão, causando grande surpresa entre estudantes e mestres da escola. As aulas de arquitetura de Meyer, um pouco diferentes do seu antecessor, era sempre estudando as exigências dos indivíduos e das comunidades, fazendo com que as pessoas fossem a peça principal da iniciação arquitetônica. Criou uma separação entre os estudantes que obtinham alguma experiência na área de outros que estavam ali, vendo aquilo pela primeira vez. Formatou um currículo rígido de formação acadêmica. Meyer ainda colocava que construir não era um processo estético, mas um processo de organização social, técnica, econômica e psíquica (imagem 04). Com os entraves entre alunos de direita e de esquerda, isso tornou-se um problema político. A escola de cunho esquerdista, mais do que claro aos alunos de direita, os quais foram contra seu diretor Hannes Meyer. No dia nove do mês de setembro de 1930, o conselho dos mestres declara o encerramento da escola, colocando que os estatutos da escola eram edificáveis e pediram a criação de um novo estatuto. No dia vinte e um de outubro, com a aplicação do novo estatuto, todos os alunos foram forçados a passar por um processo de readmissão. Assume o novo diretor da Bauhaus, o arquiteto de renome mundial Mies van der Rohe, onde, de maneira rígida, acaba com os representantes de alunos e com qualquer 16 manifestação política, fazendo assim com que os alunos demonstrassem um revolta por estar perdendo parte de suas liberdades dentro da escola. Mies van der Rohe transforma a Bauhaus numa escola de arquitetura, conservando os poucos ateliers que existiam e eram totalmente associados a este curso. Neste novo estatuto o aluno que já obtinha experiência nas diversas áreas dos ateliers poderia pular etapas, sendo que antes eram analisados os trabalhos que este produzira (imagem 05). O ensino de arquitetura nesta terceira fase da escola estava dividido em três estágios: no primeiro os alunos aprendiam as bases técnicas como matemática, física, estudo de materiais, aquecimento, ventilação, dentre outros; no segundo estágio aprendiam a construção de uma malha urbana, criando um planejamento urbano, fazendo com que as quadras dispusessem as casas a receber melhores condições climáticas (imagem 06); e a terceira fase baseada no projeto de edificação como peça principal da arquitetura, a qual Mies tinha um alto grau de exigência. Talvez como que muitos dos estudantes seguissem as características do mestre, poderia-se afirmar que os alunos copiavam as obras de seu tutor (imagem 07). Novamente por problemas políticos, entre os extremos partidários da direita e esquerda, a Bauhaus se via numa condição alarmante. As forças de esquerda se agruparam dentro da escola, enquanto as forças nazistas (extrema direita) forçavam o fechamento da escola. Após exaustivo tempo com os políticos em controvérsia sobre a política da Bauhaus (a qual, segundo Mies van der Rohe, era apolítica) em 1932 resolvem por fechar a escola. Esta recebe proposta de Magdeburgo e Leipzig para seu acolhimento, mas Mies, já decidido, resolve levar a escola para Berlim, a qual tornara-se privada. Já em Berlim, Mies faz a seguinte colocação: "É nosso objetivo formar arquitetos que dominem todas as áreas da arquitetura, de pequenos apartamentos ao planejamento urbano, não meramente a construção em si, mas do design de interiores até os tecidos" (DROSTE, 2004, p. 210). Mas, mesmo com todo o empenho de transformar a escola numa potência, se viu sob a mesma condicionante que mudara o rumo da escola: a política. Alguns simpatizantes ainda conseguiram novas chances para sua continuidade mas, pelos problemas políticos e financeiros que a escola passava, Mies van der Rohe em abril de 1933, em reunião, decide pelo fechamento da escola (imagem 08). 17 1.3 E s c o l a de ulm ou nova bauhaus!? Como sinônimo de qualidade, cultura e tecnologia, após o término da Segunda Guerra Mundial, a Bauhaus voltou a ser um símbolo de progresso para a Alemanha através dos jornais, que voltaram a apresentar manchetes a respeito da obsoleta escola. Chamando atenção, o ex-aluno da Bauhaus, o suíço Max Bill (1908-1994), quem propôs em 1951, dezoito anos após o encerramento da Bauhaus, a criação da Hochschule für Gestalting (Escola Superior da Forma) em Ulm, cidade que viu o grande físico Albert Einstein nascer. As atividades da escola iniciaram em 1953, orientadas por Max Bill, Inge Aicher-Scholl, Otl Aicher, dentre outros professores. Max Bill privilegiava a forma e colocava a função em segundo plano, contrariando a maior parte do corpo docente, os quais buscavam uma melhor utilização da tecnologia no design. Procurando seguir a realidade do pós-guerra, o conceito e o programa da escola foram uma reformulação das intenções proferidas na Bauhaus. Contrária à Bauhaus, a Escola Superior da Forma de Ulm não tinha em seu currículo o curso de arquitetura, se atendo mais ao design e focando na comunicação e no design de produto. Tinha em seu currículo os ateliers de fotografia, tipografia, embalagem, sistemas expositivos e técnicas publicitárias, os quais eram considerados como suportes das aulas de design e não tinham aulas ligadas à vertente mais livre da arte, como pintura e escultura. Em 1956, o italiano Tomaz Maldonado assume a direção da escola e muda toda a didática instalada por Max Bill. Sua nova dialética é mais rigorosa, voltada às inovações tecnológicas. Aicher, Maldonado, Gugelot e Zeischegg, professores da nova geração, previam um design também apoiado na ciência e nas novas tecnologias de materiais. Após vários momentos de discordâncias entre as vertentes do corpo docente da escola, os problemas acabaram por cair na graça da mídia, fazendo com que a escola fosse submetida às exigências do estado, comprovando os gastos que estavam gerando. Isto forçou os professores e alunos, em reunião como a sua sucessora, a fechar a escola em 1968. 2. R E C O R T E TEMPORAL 2. 1 Evolução dos computadores Em 1906 com, a invenção de Lee de Forest, engenheiro americano, a válvula eletrônica de três pólos (imagem 10), permitiu com que fossem passadas informações sonoras através da propagação de ondas eletromagnéticas, dando início à eletrônica moderna. Com esta invenção de Forest, pôde-se desenvolver logo em seguida o rádio, televisão, telefonia sem fio, comunicações internacionais e até a radioastronomia. A primeira geração de computadores começa a aparecer na década de 1950. Um ano após o fechamento da escola de Ulm, o engenheiro e cientista Ted Hoff construiu o primeiro microprocessador, que só pôde ser lançado comercialmente em 1971. Cinco anos após, foi desenvolvido o primeiro microcomputador, idealizado por Adam Osborne junto a Steve Jobs e Stephen Wozniac, fundadores da Apple . Em 3 1981 foi lançado o IBM PC , popularizando ainda mais os microcomputadores, pela 4 capacidade de processamento e custo baixo, como aponta Orlando Ribeiro: [...] Os anos de 1970 a 1980 corresponderam ao aperfeiçoamento no processamento das imagens, por meio da criação dos chamados Raster Graphics (Raster Scan CRT). A imagem era armazenada como uma estrutura de pixels (picture elements) em um frame buffer (espaço de armazenamento temporário de quadros). O hardware do display escaneriza o framebuffer de 50 a 70 scans por segundo, como na televisão. Nestes anos ocorreu o surgimento dos computadores pessoais rápidos e baratos (Personal Computers) e dos sistemas de CAD (Computer Aided Design). Inicia-se a interação entre as máquinas e usuários por meio de "mouses" (dispositivos de entrada de dados) e menus. Com a disseminação dos computadores, proliferam as linguagens de programação gráfica, como a Européia GKS (Graphical Kernel System) e a Norte Americana CORE (CORE System). A ANSI (American National Standard Institute) e a ISO (Industrial Standard Organization) adotam o GKS como sistema padrão. Dos anos 80 aos nossos dias, temos visto o surgimento contínuo de inovações em hardware e software (equipamentos eletrônicos e programas computacionais), mas podemos considerar com destaque a acumulação de uma biblioteca de rotinas gráficas que se apresentam aos usuários como ferramentas gráficas, interfaces visuais e ícones de comando. Os computadores permitem a organização de redes de comunicação, os programas gráficos dispõem de modeladores de sólidos e podem ser feitas rotineiramente imagens fotorealísticas ( 2003, p. 10-11). 3 Apple Inc. - Empresa Multinacional Americana que atua no ramo de aparelhos eletrônicos e informática . 4 IBM PC - Personal Computer ou Computador Pessoal, computador compatível com as especificações da IBM. 19 2. 2 Computação gráfica A busca para desenvolvimento de softwares relacionados ao desenho para projeto arquitetônico iniciou junto ao desenvolvimento do primeiro microprocessador. Em 1969, foi elaborado um software pela "Computervision Corporation", tornando possível o desenvolvimento do "Computer Aided Design "(CAD) ou Projeto Auxiliado por Computador. Sobre esta ferramenta, Ribeiro afirma: [...] Este primeiro CAD, comercializado e utilizado por engenheiros e arquitetos, realizava desenhos em apenas duas dimensões. A idéia inicial de CAD é a de um software que permita a criação de desenhos com alta precisão gráfica, o que conduz, automaticamente, a certas exigências de hardware, como alta resolução gráfica do monitor de vídeo, de periféricos de saída e de entrada de dados. A melhoria da sua qualidade veio a ocorrer com a evolução dos equipamentos, com o aumento das cores disponíveis e o desenvolvimento de novos periféricos ( 2003, p. 20). Com este avanço de softwares para desenho, iniciou-se a criação de diversos outros programas direcionados à área da representação gráfica, fazendo com que outros usuários começassem a desmistificar a máquina. Artistas plásticos, fotógrafos, dentre outros artistas, fizeram desta nova ferramenta um suporte novo para apresentação dos seus trabalhos. Após os anos 1980, o microcomputador e os programas CAD ganharam novas versões, mais rápidas e mais eficientes e tornaram-se ferramentas de trabalho dentro de grandes e médias empresas de arquitetura, sendo que até as escolas de arquitetura aderiram também à esta tecnologia. A utilização destes programas, por hora, não era para substituir a fase da concepção do projeto, mas para substituir as grandes pranchetas, acostumadas a receber os formatos de folha A0, fazendo assim com que a representação técnica passasse a ser desenvolvida de forma digital. Durante os anos 1990 foram criadas outras gerações de CAD que possibilitaram o desenho em três dimensões, possibilitando que peças fossem inteiramente modeladas no computador. Logo após, surgiram os programas de renderização, processo pelo qual o computador, por meio de um programa computacional específico, interpreta os dados de objetos, câmeras, texturas, iluminação e, então, cria uma imagem digital finalizada, vista pela perspectiva escolhida. aos processos de manipulação de imagem, Ribeiro explica que Com relação 20 [... ] foram desenvolvidos programas (softwares), que utilizando o hardware disponível ou agindo integrados com hardware específico possibilitam o controle de todos os aspectos do desenho. Os softwares gráficos agem dentro de princípios semelhantes, que correspondem a algoritmos conhecidos, baseados em fórmulas e operações geométricas de manipulação de elementos gráficos. (2003, p. 21) O CAD é um software muito eficaz para se desenhar um projeto arquitetônico, mas ele fora criado para desenho de peças, sendo mais direcionado para as engenharias. Os arquitetos necessitavam de um programa que abrangesse a geometria, as relações espaciais, as informações geográficas, as quantidades e as propriedades de construção de componentes. Assim, Graphisoft lança um programa com nome de em Archicad, 1987, com a empresa um sistema computacional diferenciado dos programas CAD. Esta tipologia de programas passa a se enquadrar em um sistema BIM, "Building Information Modeling", ou seja, Modelagem de Informação da Construção, conceituado pelo professor Charles M. Eastman do Instituto de Tecnologia da Georgia e nomeado por Jerry Laiserin. Este tipo de programação pressupõe que quando o projetista modela um edifício hipotético à expressão gráfica, à análise construtiva, à quantificação rigorosa de trabalhos e tempos de mão-de-obra - desde a fase inicial do projeto até a conclusão da obra - e, mesmo ao processo desconstrutivo, constará no modelo todas as informações mais precisas. Basicamente, este sistema de programa BIM caracteriza-se quando o edificio é construido em três dimensões, fazendo com que as informações técnicas de projeções ortogonais sejam extraídas deste modelo com precisão. Assim, faz-se com que não se percam informações e, quando necessária a alteração de alguma informação, todo o modelo, junto às projeções, já se encontrará devidamente modificado; ao contrário do sistema CAD, programa com o qual o projetista tem que criar as projeções ortogonais (plantas, cortes, elevações) em duas dimensões, separadamente. Isto torna o processo de desenho mais lento e menos preciso. O programa também permite a modelagem em três dimensões, mas não é possivel extrair as projeções ortogonais de forma correta, fazendo com que o desenhista não consiga transformar a modelagem em linguagem técnica. Em novembro de 2003 é patenteado um modelagem em três dimensões, interessante programa para patenteado por uma das maiores empresas 21 relacionadas "SketchUp". à comercialização É um de serviços programa de linguagem online, a Google, o programa muito simplificada e de extrema versatilidade, como diz o próprio nome: Sketch do inglês desenho ou croqui e o Up de erguer-se ou levantar-se - configurando a intenção própria do programa, que é erguer croqui. Esta ferramenta de desenho e comunicação em três dimensões, sendo a que melhor se ajusta à fase conceptiva do projeto arquitetônico, é um programa rápido e de poucos comandos, sendo muito ágil na fase de criação e posteriormente, numa segunda fase de alteraração. O programa permite também verificar, de forma simplificada, condicionantes de um projeto como: o terreno - a partir de curvas de nível fornecidos por um projeto topográfico anterior - insolação a partir de um comando interno pode-se definir exatamente a latitude, longitude e localização do norte - materiais - a partir de ferramenta interna com materiais de uma biblioteca pessoal. Permite também, partindo de uma foto hipotética, que apresente um edificio em perspectiva, criando o volume resultante desta edificação com certa precisão de proporções, sendo muito importante no estudo do entorno. Outro fator interessante do programa é a sua inter-comunicação com outros programas de características diferenciadas. Encontramos hoje um vasto mercado de softwares, aplicados especialmente na computação gráfica, coexistindo inúmeros programas com a mesma linha de programação. Como conseguimos perceber, desde a criação do microcomputador popular (IBM-PC) ao avanço das ferramentas de computação gráfica (CAD, BIM, SketchUp), iniciou-se uma busca dos profissionais e estudantes da área, pela utilização destas novas ferramentas. Primeiramente com a intenção de agilizar o processo de desenho técnico, que até então era manual, depois pela possibilidade da efetivação virtual destes espaços, tornando possível outras maneiras de estudos, facilitando com que o projetista e o empreendedor interajam de forma mais clara e precisa dentro da concepção proposta. Após nos darmos conta da utilização destas novas ferramentas de desenho, nos cabem as seguintes problemáticas: Estas ferramentas criadas, nos trazem uma agilidade no processo de desenho? Estas ferramentas melhoram a capacidade de expressão indagações, e representação após a de uma comercialização concepção formal? Na desenfreada softwares gráficos, sempre andaram juntas. de verdade estas microcomputadores e 22 Ao mesmo tempo em que nos acostumamos e damos espaço à linguagem digital, criamos uma valorização do trabalho manual. Assim, o recorte temporal, entre 1979 (surgimento do microcomputador popular e desenvolvimento das ferramentas de computação gráfica) até a data presente 2009, nos permite chegarmos aos valores herdados do desenho manual ao desenho digital e do digital aliado ao desenho manual e por último, percebendo as mutações expressivas e representativas que esta nova ferramenta possibilitou. 3. DESENHO NA ARQUITETURA 3.1 Primeiros desenhos arquitetônicos O desenho é uma abstração da mente humana e é sempre uma representação gráfica que explica, ou tenta explicar, uma realidade. (FIALHO, 2002,p. 23) afirma que os conceitos de ponto, reta e plano, sem os quais o homem estaria privado de um modo racional para compreender e representar o que atribui como sendo o espaço, não são encontrados na natureza, pois constituem abstrações. Há autores que se empenham em repetir que não há nenhum tipo de representação gráfica que possa oferecer uma imagem completa da obra arquitetônica. Na realidade, é evidente que nenhuma representação possa substituir o conhecimento direto da realidade. No campo da arquitetura, nem o mais exaustivo conjunto de planos, vistas, fotografias, películas e maquetes poderá substituir a experimentação real e pessoal dos valores arquitetônicos de um edifício concreto. O importante, no entanto, é assinalar que entre os objetivos ou pretensões da representação gráfica não se encontra o de substituir a experiência direta. (SAINZ, 1990, p.28-29). A partir do Renascimento, século XIV, Filippo Brunelleschi (1337-1446) é quem define o caminho da ciência em sua geração, com a criação da sua teoria da perspectiva por meios experimentais. Brunelleschi desenvolveu então o desenho em escala, juntamente com modelos matemáticos para o projeto. No meio sociológico, (ANDRADE, 1986, p.54) escreve que a partir de Brunelleschi dá-se uma ruptura profunda entre o mestre-de-obras e o novo arquiteto, que surge e reclama para si toda atribuição exclusiva à direção da produção, numa separação radical entre o trabalho manual e o trabalho intelectual. O arquiteto assim alcança um novo status cultural e social no Renascimento: o de projetista conceitual, acompanhado da nova centralidade e importância do desenho como um instrumento crítico da criação e produção arquitetônicas. (FIALHO, 2002,p.12) escreve que a auto-invenção do arquiteto como trabalhador intelectual, seria acompanhada do uso extensivo do desenho como instrumento dessa invenção e, neste contexto, a progressiva função do desenho certamente promoveu uma poderosa base instrumental para esta nova definição da função do arquiteto. Esta, lhe proporcionava a possibilidade de expressar e experimentar uma 24 variedade de idéias, maior do que fazia o desenho medieval, além de poder trabalhar fora da obra e estar envolvido em vários projetos simultâneos. Sainz (1990, p. 112-13) estuda que Leon Battista Alberti expôs em seu livro De Pictura, a sistematização da teoria e da prática de perspectiva pois, até então, não se conseguia apreciar as medidas verdadeiras dos objetos, senão por aproximação intuitiva (o uso da perspectiva foi constante desde a sua codificação no Renascimento, mas é freqüente encontrarmos textos que a considerem um método adequado para representação especificamente arquitetônica). Mais tarde, em De re aedificatoria (1485), Alberti adverte que o arquiteto só deva representar seu as projetos através de planta e secção. Na sua época, nem sequer a ortografia de Vitrúvio (1486) era considerada imprescindível para se construir edifícios. Como em muitos outros aspectos, devemos a Vitrúvio as primeiras referências escritas acerca do modo de representar um edifício sobre uma superfície, mas estas não chegaram a ser de geral conhecimento até o final do século XV. O sistema de representação em arquitetura teve uma grande mudança a partir da carta de Rafael (1519) a Léon X. Rafael completa as idéias de Vitrúvio e Alberti e descreve, com todos os detalhes, as três projeções ortogonais básicas: a planta (La pianta), o alçado (La parete di fuora) e a secção (La parete di dentro). Andrea Palladio em I quattro libri (1570) aplica a teoria de Rafael, utilizando as projeções ortogonais e buscando o rigor das medidas. Gaspard Monge, grande matemático francês que, em 1798, estabelece as bases da geometria descritiva modelo utilizado até hoje - codificou de um modo estritamente científico todos os sistemas de representação utilizados pela arquitetura: projeções ortogonais e perspectivas axonométricas (SAINZ, 1990, p.52). A obra de Monge foi um salto na evolução da representação gráfica da arquitetura. A partir deste momento se pode falar claramente de um sistema gráfico que serve de apoio à criação e à representação de edifícios. Segundo suas leis, cada objeto se pode reproduzir dentro de um determinado sistema de representação. O sistema de projeção ortogonal, que se usava de modo intuitivo desde a Antiguidade, foi somente codificado cientificamente em fins do século XVIII. Um exemplo disso poderia ser o desenho de planta do monastério de St. Gallen, o primeiro desenho de arquitetura que chegou até nós e remonta a princípios do século IX (SAINZ, 1990, p.122). 25 Dos desenhos que chegam até nós, o primeiro que pode-se considerar especificamente arquitetônico é a planta do monastério de St. Gallen, na Suiça (estima-se o ano de 820 d.C.). [... ] A planta de St. Gallen é um esquema. Nela estão representadas todas as divisões dos espaços através de linhas simples, praticamente sem diferenciar espessura de parede. Trata-se tão somente deu um traçado em planta; não há fachadas nem secções e esta muito incompleto segundo o conceito atual de projeto. No entanto, é absolutamente meticuloso quanto a especificação de funções dos diferentes espaços; não só utiliza rótulos como tem representados alguns elementos de mobiliário e equipamento que esclarecem o destino dos lugares. Trata-se pois, de um projeto tipo, que poderia ser empregado na fundaçãode novos monastérios beneditinos, adaptando-se suas alturas, materiais e técnicas construtivas aos usos e costumes dos diferentes países. Era, portanto, um monastério ideal (SAINZ, 1990, p.77-79). (IMAGEM 11) 3.2 Desenho e concepção O desenho, assim como a escrita e a fala, é uma forma natural de linguagem do homem. Como linguagem, permite-lhe expressar-se e registrar suas idéias, para que os outros possam compreendê-lo. O desenho é uma das primeiras formas de expressão encontrada pelo homem, analisando-o como forma de representação e comunicação, funcionando como uma espécie de registro que permite, a quem os depara, compreender e assimilar uma idéia através do olhar. Para o arquiteto, o desenho adquire uma maior importância, pois é através dele que se criará o diálogo entre a mente (a idéia) e o suporte (o papel), permitindoo refletir sobre o projeto. Este desenho também servirá como instrumento de repertório - croquis e de projeto - o qual o arquiteto poderá buscar e verificar que uma idéia proposta anterior pode ser mais adequada do que uma posterior. Michael Graves, arquiteto americano, citado por ROBBINS, aponta que: Alguém poderia perguntar se é possível imaginar um edifício sem desenhálo. Embora exista, eu presumo, outros métodos de descrever as idéias de arquitetura de alguém, existe uma pequena dúvida em minha mente sobre a capacidade de a imagem desenhada descrever a vida imaginada de um edifício. Se estivermos finalmente discutindo a qualidade da arquitetura que resulta de um modo de conceitualização, então certamente o nível de excelência será aumentado pelo componente de investigação derivado da arte do desenho em si. Sem a disciplina do desenho, pareceria difícil utilizar na arquitetura a vida imaginada que tem sido previamente registrada e simultaneamente entendida através da idéia desenhada (Graves, apud ROBBINS, 1997, p.47) 26 Os desenhos de croquis representam as etapas intermediárias do processo de criação e concepção da obra arquitetônica. O traço dá conta de definir espaços, criar volumes, aferir proporções. Ele estuda detalhes, sugere possíveis acabamentos e configura cenários urbanos. Destes esboços, desenhos à mão livre, as primeiras idéias são sucessivamente trabalhadas, resultando desenhos mais técnicos, em escala e com algumas medidas. Estes, vão amarrando a idéia inicial, de forma tal que se constituem num instrumento para responder questões, mais que propor-las (TAMASHIRO, 2003). Torna-se clara assim, a importância do croqui para a criação da arquitetura. O croqui é o desenho que fornece meios de melhor examinar e perceber as idéias concebidas. É o elemento através do qual o universo conceitual deverá se tornar real, projeção que permite visualizar melhor e ordenar as relações imaginadas. O arquiteto e designer americano Michael Graves observa essa capacidade de reflexão a partir do desenho, defendendo sua capacidade especulativa. Ele diferencia três características importantes para o desenho do arquiteto: o croqui de referências, o estudo preparatório e o desenho definitivo. Graves acredita que esses três tipos de desenho tenham um importante papel na etapa de concepção do projeto. Existem tipos de desenho que os arquitetos produzem quando trabalham no estágio inicial da conceituação do projeto. Existe o "croqui referencial", um tipo de diário ou registro de descobertas; o "estudo preparatório", que documenta, de forma experimental, o processo de questionamento; e o "desenho definitivo", que é o mais final e quantificável e é usado como "um instrumento mais para responder questões que para propor-las (Graves apud ROBBINS, 1997, p.32) Segundo Guilherme Mazza Dourado, no artigo O Croqui e a Paixão (1994), os esboços de arquitetura, os croquis, capturam as fantasias e os sonhos de materializar intenções de forma e espaço. Esta forma de representação torna-se uma linguagem simples e ao alcance de todos, pelo sutil jogo de disfarce de conteúdos expressos em simples riscos, numa síntese de complexidade do ofício de arquitetar. Usualmente - escreve ainda - o esboço inicial é um tipo de desenho que não vem a público porque o arquiteto, como todo artista, acaba valorizando mais o produto final do que o processo temeroso, talvez, de mostrar as incertezas, indecisões e fraquezas que permeiam o trabalho criativo. Por outro lado, a exposição do croqui de estudo oferece argumentos para o debate sobre a complexidade da criação artística e intelectual, evidencia as relações dialéticas ou 27 essencialmente contraditórias entre a concepção e a obra realizada. No processo de criação, a mente, a mão e os olhos são cúmplices que agem, juntos, para transformar o imaterial e visual, em algo concreto. Mais que um mero suporte, a superfície do papel torna-se território de reflexão. Impulsivos, riscados de um modo rápido ou tranqüilo, os primeiros contornos despontam como grafismos de reconhecimento. São insinuações, raramente acessíveis aos olhares desatentos, mas esforços para determinar o caminho a seguir. Nem sempre registram resultados imediatos, claros e definitivos. Como regra, precisam ser amadurecidos pela sobreposição de novas linhas, manchas e massas, pela alteração de proporções, pelo acréscimo de outras geometrias e pela eliminação do já superado. Ou se mostram exauridos, sem saída, obrigando ao recomeço em outra folha de papel, como afirma Dourado: [... ] o esboço vai ganhando força, vai evidenciando progressivamente as possíveis configurações volumétricas espaciais da proposta. Recebe pequenas frases e anotações numéricas que explicam e precisam ainda mais seu conteúdo. Chega um momento em que tudo parece estar no seu lugar: o desenho, seja, uma planta, um corte ou uma perspectiva, já estabelece o conceito global ou contém todas as informações necessárias para realizar a arquitetura (1994, p.58). Quando se desenvolve croquis, esboço, de algo ainda em fase de uma idéia conceitual, se está trabalhando no campo das idéias que norteiam o tema, sem aterse ainda a forma. Conceito não tem forma, são questões que devem ser repensadas a fim de se estabelecer um caminho de inter-relações não lineares, pois se dá por associação de idéias, às vezes por similaridade e por proximidade. Portanto, o pensar é um ato de criação ativo, em que não há definição concreta. Formulada uma idéia conceitual do partido arquitetônico, ou seja, quando o estudo preliminar começa a tomar forma, é estabelecido o conceito, passando do nível dos acontecimentos - formado pelo par virtual atual - para o nível das substâncias - formado pelo par possível real. Neste nível, as possibilidades já foram definidas pela eleição de uma configuração definida na criação. Esse conjunto de possibilidades predeterminadas constitui o potencial do projeto, em que não há criação plena, e sim a produção de recursos para a tomada de decisões. Essa utilização da idéia estabelecida pelo conceito se materializa de modo a realizar o possível, chegando assim na realização. Neste nível, prevalece o ato que não é criativo, mas realizador, e a partir do momento em que tomamos uma decisão, deixamos o campo da criação para o campo da realização (FLORIO, 1998 p.284). 4. O COMPUTADOR COMO FERRAMENTA DE DESENHO 4.1 Virtualização De acordo com Pierre Lévy, a palavra virtual vem do latim medieval virtualis, derivado de virtus, que significa força, potência. Virtual é o complexo problemático que constitui uma entidade não acabada, sendo comparado ao pensar e até ao sonhar. Portanto, todas as vezes que revemos uma idéia ou um conceito, acrescentaram novas informações às anteriores, enriquecendo o repertório que, criativamente, pode ser utilizado no processo de criação. Segundo Orlando Ribeiro: [...] No campo da arquitetura sempre houve um grande interesse em colecionar, divulgar e apreciar essas notações gráficas com um tipo de enfoque mais inspirador e elogioso do que crítico ou analítico. Hoje o interesse por esse tipo de registro extrapolou o âmbito da Arquitetura, estudiosos de muitas áreas do conhecimento, principalmente aqueles envolvidos com a Ciência da Cognição, que têm dado atenção considerável para esse tipo de representação. Este interesse renovado influiu na maneira com que os pesquisadores de áreas ligadas às Ciências do Projeto passaram a tratar esses registros gráficos (2003, p. 39). A virtualização é oposta à atualização, pois não se trata de uma solução, mas de uma "mutação de entidade", uma deslocação da entidade no espaço (LEVY, 2001). Esta virtualização pode acontecer dentro do projeto arquitetônico, projeto consiste de várias fases. Na primeira fase, referente ao estudo das condicionantes e primeiros croquis, estamos atrás de um embasamento conceitual, ou seja, estamos trabalhando no campo das idéias que norteiam o tema, sem nos ater a forma final. O conceito pode ser amórfico, mas é a questão pensada a ponto de estabelecer uma inter-relação por associação de idéias, de um objetivo a ser conquistado. Chegando a um objetivo mais concreto da conceituação quista, o espaço pode ser virtualizado, pois detêm as informações necessárias para gerar informações visuais acessíveis a outros espectadores, e não somente de seu criador. 4.2 Concepção projetual digital: mito ou fato Este capítulo tem caráter mais especulativo do que conclusivo, fazendo com que as colocações criem indagações e não respostas e é também aqui que nos 29 defrontamos dentro da problemática confrontada em sala de aula. Afinal, o momento da concepção arquitetônica, citado em outros capítulos desta pesquisa, é possível somente por meios digitais (mental e digital) - criando-se um estudo conceitual e volumétrico direto em programas computacionais - ou somente é possível uma concepção mental e manual - criando-se um estudo conceitual e volumétrico pelo desenho manual. Pela experiência em sala de aula, pode-se perceber que ainda exista um preconceito, ou talvez um receio, por parte do corpo docente de cursos de arquitetura, de permitir ou até ensinar o processo de criação-concepção diretamente por meios computacionais. Este fator não se apresenta por falta de conhecimento dos professores, mas talvez pelo fato de o computador ainda ser uma ferramenta dependente de outros fatores para seu funcionamento, como energia elétrica e alguns programas específicos da internet. Entende-se que a concepção de um objeto, muitas vezes, não se dá através de um estudo delicado de suposições, mas sim por um "brainstorm", sendo assim o método mais plausível de transformar uma idéia repentina em algo compreensível com a habilidade do desenho manual. Como descrito no capitulo 2.2, um programa com denominação de Sketchup, o qual é uma das ferramentas computacionais com o maior potencial em atender esta fase conceptiva, faz com que o idealizador - projetista consiga moldar um objeto ou superfície com uma velocidade satisfatória, possibilitando que a idéia, "brainstorm", venha a ser diretamente digitalizada, potencializando a transmissão do mental para digital. De acordo com Helio Pinon: [... ] A substituição da representação dos traços gerais do edifício pela construção da sua realidade visual supõe uma mudança radical no modo de aproximação ao projeto, determinado pela recuperação da mirada. Falo de programas como SketchUp, nos quais jamais se perde a visualização do objeto e o efeito da ação é imediato, o que permite reconhecer imediatamente o sentido e a conveniência de qualquer decisão de projeto. (2009, p. 05) Com um número reduzido de instrumentos, o software SketchUp permite uma série de ações, interagindo com o material e relações de elementos. Os fundamentos do sistema formam, na medida em que se apóiam nas categorias universais da forma o sistema neo-plástico e o sistema construtivo. O programa SketchUp representa âmbitos formais convergentes, o que explica a idoneidade do modelador para enfrentar o projeto de arquitetura, como coloca o arquiteto Helio Pinon em seu artigo Representação Gráfica do Edifício e Construção Visual da 30 Arquitetura (2009). Essa convergência demonstra o bom senso dos seus criadores e, ao mesmo tempo, comprova a composição formal do neo-plasticismo: sua condição de sistema de relações universais, capazes de estruturar objetos e episódios espaciais variados. Esta questão da concepção possível em computador é complexa. Temos que tomar cuidado ao afirmar que não existe a concepção de arquitetura em computador e que por meio dele somente há o desenvolvimento de algo já criado e a criação existe apenas na prancheta. Este raciocínio, ao contrário, não pertence somente aos formandos antes dos anos 1990, mas também aos alunos que se graduam hoje, pois normalmente eles são ensinados de que a criação é o desmembramento da idéia para o manual. Cabe-nos a pergunta: este argumento já pode ser considerado como algo ultrapassado? Não existem respostas concretas ainda para esta questão, mas o que podemos ter certeza é de que as ferramentas computacionais estão cada vez mais rápidas e integrando-se cada vez mais à vida dos profissionais. Talvez não irão substituir as ferramentas milenares, porque estas são práticas e extensões físicas de nosso corpo e não vivemos em um mundo completamente virtual. Portanto, o fato é que não deixaremos das ferramentas físicas pois elas ainda nos são necessárias em nosso mundo real. 4.3 Percepção do desenho manual versus digital A simulação virtual, como já descrito, se torna um objeto com capacidade de alteração imediata e de experimentação dos espaços virtuais. No caso do desenho manual, ele encontra-se aprisionado em seu suporte físico, não sendo assim possível uma alteração de ângulo de visão ou dos componentes encontrados no desenho, ou seja, não o caracterizando como objeto. A virtualidade espacial é dada pelo programa e não existirá erro de proporções em perspectiva existindo uma alta precisão nos dados, o que no desenho manual depende só e exclusivamente da habilidade do desenhista. O desenho é sempre menos preciso, pois o desenhista dependerá de instrumentos físicos como réguas, esquadros, entre outros, o que lhe ocasionará a imprecisão FLORIO ( 1998, p.342). Para Helio Pinon: [... ] um modelo é mais interessante quanto menos conta dá do edifício que representa: assim, uma maquete de concreto, bronze ou metacrilato é admirada como mostra inequívoca do talento de quem a construiu. Desse 31 modo, o modelo adquire o valor "expressivo" do desenho e renuncia a permitir uma verificação da arquitetura futura. O declínio da habilidade para representar graficamente a arquitetura aumentou a dificuldade com que os estudantes descreviam os episódios mais simples dos seus projetos, o que foi provavelmente um fator determinante da popularidade que os modelos materiais - as maquetes e outros bibelôs corpóreos - alcançaram nas últimas décadas. (2009, p. 03) Verifica-se que o desenho manual, ao mesmo tempo em que não é mutável, estático, não adquirindo possibilidades para novas visualizações e para realizá-lo o desenhista deve possuir uma habilidade em construção de desenhos, adquirida ao longo de anos sobre uma prancheta. Esta destreza é valorizada pelo espectador, pois praticamente todas as pessoas tem conhecimento, ainda que básico, à respeito da computação e reconhecem as facilidades e agilidades proporcionadas pelo computador. As imagens extraídas de um modelo virtual são mutáveis e permitem a criação de inúmeras imagens com certa facilidade. A criação de um modelo, muitas vezes, se alonga mais do que uma construção de um desenho manual, mas após finalizado permite infinitas possibilidades para a criação de imagens com diferentes formas de iluminação e materiais que se assemelham a uma realidade virtual. Este jogo de possibilidades faz com que as características visuais do produto final sejam algo muito preciso, mas, ao mesmo tempo, o espectador encara o produto como algo simples e sem habilidade artística. As imagens resultantes do processo manual, normalmente pouco precisas e sem denotação de realidade, não são facilmente encaradas como menos interessantes do que as computacionais e muitas vezes, pelo contrário, são encaradas como produto de uma habilidade obsoleta. Este aspecto do processo manual tem uma importância tão grande, que as plataformas de programas vistos anteriormente (CAD, BIM, SketchUp) criam ferramentas para simular a aparência do desenho manual, como o entrelaçamento de linhas característico das fases iniciais de projeto, aspectos de hachura manual, e até simulação de materiais como grafite, nanquim e caneta hidrocor. Se o aspecto do desenho manual não fosse relevante, os programas dificilmente tentariam retornar às origens de representação do desenho, como aponta FLORIO [... ] podemos afirmar que enquanto a representação tradicional baseia-se em suportes físicos, por outro lado, a simulação, permitida pela computação gráfica, baseia-se na instantaneidade e efemeridade da apresentação sobre a tela do monitor de vídeo. (1998, p.441) 5. TRANSIÇÃO O B S E R V A D A : ZAHA HADID E MORPHOSIS 5.1 Zaha hadid 5.1.1 Biografia Zaha Hadid nasceu dia 31 de outubro de 1950 em Bagdad, capital do Iraque. Inicialmente, se formou em Matemática na Universidade Americana de Beirut e logo após se mudou para a Inglaterra, onde estudou Arquitetura na Architectural Association de Londres, obtendo o Diploma com Menção Especial em 1977. Mais tarde, ingressou no Office Metropolitan Architecture (OMA), atualmente, liderado pelo arquiteto Rem Koolhaas, onde começou a compartilhar classes com Koolhaas e Elia Zenghelis. Posteriormente, concluiu seu mestrado em 1987. Desde então, tem ocupado a cátedra Kenzo Tange na Graduate Scholl of Design da Universidade de Harvard e a cátedra Sullivan na Escola de Arquitetura da Universidade de Chicago. É também professora convidada na Hochschule für Bindende Künste de Hamburgo, na Escola Knolton de Arquitetura de Ohio e na Master Studio da Universidade de Columbia, em Nova York. Atualmente ocupa a cátedra Eero Saarinen de Desenho Arquitetônico na Universidade de Yale, New Haven, Connecticut. É membro honorário da Academia Americana de Artes e Letras e membro do Instituto Americano de Arquitetura. Foi ganhadora do prêmio Pritzker, considerado o "Nobel" da Arquitetura, em 2004. Um dos temas dominantes na concepção arquitetônica, hoje, é a relação entre um designer de visão criativa e o meio em que esta visão é expressa; as técnicas pelas quais é descrito e documentado, a relação de meios de desenvolvimento da proposta arquitetônica e a estrutura e a sensibilidade que estas gerarão. Zaha Hadid sempre esteve no epicentro da inovação arquitetônica, dentro das fortes vertentes criativas em nossa profissão. Hadid sempre unifica técnicas de apresentação em uma visão singular, desde sua saída da Architectural Association e do Office Metropolitan Architecture até o recebimento do prêmio Pritzker, ela combina a pintura, desenho técnico, a perspectiva, maquetes, simulações virtuais, todas em suaves curvas sobre superfícies geométricas. Sua capacidade de trabalho junto a estas formas de representação tem dado ao seu trabalho uma singularidade e consistência, bem como, a sua permanente contemporaneidade. 33 Hadid é original e inimitável dentro de seu campo de trabalho. Seu talento criativo é indissociável de seu comportamento dinâmico. Ela constrói, uma trajetória, que aparentemente não é prejudicada por outras personalidades da arquitetura e ao contrário de outros profissionais prodígios, ela continua interessante e inventiva. Como a maioria das outras personalidades do século XX-XXI, ela visa vários objetivos simultâneos, uma opção que se torna um problema no tocante de seu foco profissional. Como todos os arquitetos, ela tem de trabalhar com outras pessoas, o que conduz à uma diluição da força, uma espécie de desvio de direção, mas sempre controlado, chegando a um produto dentro da concepção inicial. Zaha Hadid tem sido uma persistente personalidade no campo da experimentação arquitetônica dentro dos últimos 20 anos. A importância de sua contribuição para a cultura da arquitetura, reside essencialmente em uma série de importantes experimentações - tão influentes quanto radicais no repertório de articulação espacial disponíveis para arquitetos hoje. Patrik Schumacher (sócio de Zaha Hadid) 5.1.2 Expressão e representação Não é por acaso que o "novo", nas artes, sempre se anuncia no pretexto de uma releitura ou reinterpretação. A carreira de Hadid começa com a reinterpretação e os seus primeiros trabalhos foram, efetivamente, nomeados como neo- construtivismo. A linguagem expressiva de Hadid está ligada também à abstração de reinterpretação, a qual implica em sair do foco padrão da leitura de algo já constituído, como os ready-mades. Em vez de conceber elementos padrão, como casas, salas, janelas e telhados, a arquiteta reconstitui as funções como uma espécie de re-modelagem, interagindo por meio de volumes, campos planos, volumes, cortes e fitas. A liberdade criativa, nesta abordagem, deve-se à abertura de configurações de uma composição, bem como à abertura de uma lista de componentes que entram na composição. Para manter o espírito libertador no final da concepção do edifício, uma desmaterialização minimalista evita volumes de imediato, denotando cortes que permitem virar cômodos. Este corte minimalista retira os itens familiares, que de outro modo permitiriam que os habitantes dividem- 34 se em padrões de comportamento habitual. Em vez disso, os habitantes são confrontados com uma composição que precisa ser descoberta e encarada de outra maneira. Hadid coloca que uma das fontes inesgotáveis para se fazer analogias é a própria natureza: florestas, cânions, dunas, geleiras, falésias, dentre outros. Além dessas formações naturais citadas, o resumo das características formais de paisagens, em geral, é introduzido no âmbito de sua concepção arquitetônica. Hadid opera através gradientes - contrário à delimitação geométrica de outros arquitetos proliferados por infinitas variações e não através da repetição de formas discretas. Estas escolhas são indeterminadas e deixam o espaço para interpretação ativa por parte dos transeuntes. Outra esfera de analogias são os alimentos: sanduíches, goma de mascar, maria-mole, espaguete, dentre outros. Em última análise, qualquer coisa pode servir como inspirações analógicas, bem como, as analogias se tornam, muitas vezes, o conceito do projeto. A pintura de Zaha Hadid tem funcionado com foco de seus trabalhos, como uma peça de alta densidade, um ícone, como entidade prestes a desfazer o imergente e, muitas vezes, insosso projeto. A explosão de elementos, linhas de superfície, forma, paisagem, o contexto urbano, as porções de cores desconhecida e vazios, foi desenvolvida no início da prática da arquiteta. Os brilhos e, muitas vezes, amarelos fortes e vermelhos estão em contraste com o preto de superfícies, que envolvem as imagens e proporcionam um pano de fundo, aludindo às vezes para os eventos de uma dimensão cósmica, com a inferiorização e introspecção de espaços. As representações são perspectivas flutuantes, a gravidade não é Newtoniana, a luz que atinge as superfícies, que emergem, evocam o momento da explosão como um toque (Zaha Hadid - Projects Documentations, 2004, p.04) Os primeiros trabalhos de Zaha Hadid, ainda no OMA, eram expressos em forma de pinturas, as quais atualmente vêm sido expostas em instalações montadas pela própria arquiteta (imagem 10). As pinturas, com aspecto pesado e geométrico, lembram o movimento russo do Suprematismo liderado pelo artista Kazimir Malevitch (imagem11). É clara a ligação ao movimento quando nos deparamos com a configuração e a representação dos espaços dentro de seu suporte compositivo. Os projetos do início de carreira de Hadid se assemelham muito ao suprematismo e, ao passar dos anos, nota-se uma transformação formal, passando a moldar de formas puras e geométricas, quadrados e círculos, para formas mais orgânicas, criando um aspecto unificador. Por muitos críticos da arquitetura, Zaha pode ser inserida dentro do movimento Desconstrutivista da arquitetura, só que seu 35 trabalho não se baseia em desconstrução, mas sim na ligação e organicidade formal. Verificamos também nos croquis de Zaha que há uma velocidade em seu traço, criando uma arquitetura fluida, veloz e orgânica. Estas características peculiares da arquiteta Iraquiana fizeram com que por um longo período suas obras não fossem construídas, ou por gerar altos custos ao empreendedor ou por problemas de resolução estrutural. A partir do início do século XXI, a iraquiana inundou o mundo com seus trabalhos, finalmente concretizados. 5.1.3 Residência do Primeiro Ministro da Irlanda Projeto: Irish Prime Minister's Residence Localização: Phoenix Park, Dublin Data: 1979 - 80 O primeiro grande projeto de Zaha Hadid, ainda junto ao Office Metropolitan Architecture (OMA). Trata-se de uma nova residência para o primeiro-ministro da Irlanda, onde o objetivo era criar uma impressão de leveza e liberdade através do projeto, para tentar distanciar o cliente do estresse da vida pública. Ambos os edifícios são ligados por uma passarela, as quais foram necessárias para manter a privacidade dos moradores. No interior, um jardim intermediário liga os salões principais à residência do primeiro-ministro. Os quartos estão localizados em seu perímetro, bloqueando a recepção e a sala de estar principal. No tocante da representação deste projeto podemos verificar, como descrito no capítulo expressão e representação, a ligação da representação do projeto com as obras de Malevitch. A composição (imagem 12) é representada através de uma pintura e mostra a obra de uma forma não técnica, ou seja, fora das normas universais de apresentação de projetos. Para conseguirmos compreender o projeto dento da composição, primeiramente, temos que verificar como e em qual o ângulo de visão ele está representado. Comparando-o com as representações de outros integrantes do grupo OMA (imagem 13, 14, 15), podemos verificar que o método de Hadid é o mais peculiar, pela característica artística, saindo dos moldes tradicionais. 36 5.1.4 The Peak Projeto: The Peak Localização: Hong Kong, China Data: 1982 - 83 Localizado em um ponto no alto de uma colina sobre a cidade, o terreno é definido para um condomínio privado de apartamentos, fora do perímetro urbano. O local é privilegiado por possibilitar a ênfase dos aspectos sensitivos dos usuários. O projeto procurou se adequar à geografia local, através de cortes tradicionais e princípios de organização de uma obra sustentável, desafiando a natureza sem danificá-la. O edifício é horizontal, com uma suave mudança de nível, sobre a falésia na qual foi estabelecida. A concepção e criação de um marco arquitetônico em Hong Kong, não é necessariamente um exercício difícil, mas levanta condicionantes importantes, tanto conceituais quanto em relação ao projeto arquitetônico de vanguarda. No alto da colina o terreno é livre e contrapõe-se ao condensado ambiente urbano, o qual ainda continua a ser integrado pela terra e a água abaixo. Para acentuar as condições visuais naturais, foram criados elementos construtivos de vários materiais no terreno, impondo verticalmente e horizontalmente uma espécie de supremacia geológica. A arquitetura é como uma faca fatiando o terreno, cortando princípios tradicionais de organização e construindo novas unidades, desafiando a natureza e tomando cuidado para não destruí-lo. O mirante foi criado com a intenção de simbolizar o auge da vida no elevado. A representação deste projeto é como o primeiro mostrado neste estudo, a qual, através de pintura, cria composições com elementos geométricos que definem um projeto numa etapa seguinte. Primeiramente, na fase da concepção formal, verificamos os croquis, os quais se apresentam como rápidos traços que configuram os acessos do edifício principal (imagem15). Zaha define a criação do edifício de maneira a acompanhar o acidente topográfico do terreno (imagem16). Também em um croqui de uma vista lateral (imagem 17), verificamos a preocupação com a visão que os visitantes terão da cidade abaixo. As condicionantes territoriais, vistas (imagem 18), acessos e composição dos espaços, estipulados por Zaha, conceituam o projeto (imagem 11,12). 37 5.1.5 Vitra Estação de Bombeiros Projeto: Vitra Estação de Bombeiros Localização: Weil Rheim, Alemanha Data: 1990 - 94 O projeto foi iniciado com um estudo aprofundado de um galpão existente, disponibilizado ao novo uso. A intenção principal foi a de inserir poucos elementos arquitetônicos, os quais não ficassem perdidos diante do enorme edifício, proporcionando identidade e ritmo à face da rua principal, que atravessa o complexo. Esta rua, considerada como uma zona ajardinada linear, é uma extensão artificial padrão de campos agrícolas, que são encontrados nas redondezas. O projeto se caracteriza por um longo e estreito edifício margeando a rua principal. A estação de bombeiros se apresenta oblíqua à rua, em um ângulo agudo dentro de si, com a rua ao seu redor. A geometria do edifício resulta da co-existência de duas das principais geometrias desta área: as industriais e os campos circundantes do complexo. É cortada por um segundo movimento direcional que forma uma retilinearidade dentro do terreno. O espaço de definição e as funções do edifício foram o ponto de partida para o desenvolvimento do conceito arquitetônico. Podemos observar nos croquis de estudo de Zaha (imagem 20), uma intenção clara em quebrar com a linearidade padrão encontrada nas edificações da região. Por meio de planos oblíquos, Hadid cria uma composição de superfícies e linhas, os quais depois viram pilares, coberturas e vedações. Após a definição prévia de uma volumetria, a arquiteta executa suas perspectivas, as quais se apresentam como composições de elementos tridimensionais. No processo, utiliza muito o fundo negro e tonalidades pastéis (imagem 21) e também representa em outra composição de planos o interior da edificação, as quais se apresentam mais iluminadas por cores extremamente vivas (imagem22). 38 5.1.6 Terminal e Estacionamento Hoenheim Projeto: Terminal e Estacionamento Hoenheim Localização: Estrasburgo, França Data: 1998 - 2001 A cidade de Estrasburgo tem desenvolvido um novo serviço de bonde para o crescente congestionamento e poluição no centro da cidade. Ele estimula as pessoas a deixarem seus carros em parques de estacionamento, especialmente concebidos na periferia, para, em seguida, tomarem um bonde ao centro da cidade. A primeira parte desta iniciativa foi o desenvolvimento da Linha "A" que decorreu de leste a oeste em toda Estrasburgo. Uma iniciativa paralela ao desenho do sistema de transporte foi a inclusão de um número de instalações de artistas plásticos como Barbara Kruger e Mario Merz, em pontos-chave do local. Como parte dos novos artistas de "Intervenções para a Linha" B ", executado de norte ao sul, Zaha Hadid foi convidada para projetar um parque de estacionamento para 700 automóveis, ao norte do vértice da linha. O conceito global para o parque de estacionamento e da estação é uma sobreposição de planos e linhas que se entrelaçam para formar um todo. Estes "planos" são os padrões de circulação gerados por automóveis, carros elétricos e bicicletas. Cada um tem uma trajetória e um traçado. É como se a transição entre os tipos de transporte (de carro para bonde elétrico) tornando-se um componente espacial dentro do paisagismo e do contexto em que a obra está inserida. Zaha Hadid, já nos seus estudos (imagem 25,26), mostra a importância na mudança de direção que o estacionamento/terminal deveria apresentar. Nota-se nestes estudos, que o plano acontece em forma de "L" e Zaha transforma as marcações de estacionamento de automóveis numa composição de linhas, as quais à noite recebe a interferência de iluminação indicando o mesmo sentido. A arquiteta passa a intenção de conceder velocidade a quem entra por entre as linhas compositivas da obra e em sua composição com cores (imagem 27) conseguimos observar a força desta velocidade outorgada. 39 5.1.7 Phaeno Centro de Ciência Projeto: Phaeno Centro de Cência Localização: Wolfsburg, Alemanha Data: 1999 - 2004 O primeiro projeto deste tipo na Alemanha, o Phaeno Centro de Ciência é baseado em uma estrutura lógica e com volumetria incomum. O volume principal é apoiado por um funil estruturado em forma de cone, dentro e fora da caixa, derivado de uma tangência em torno do principal eixo urbano. Uma ponte leva o público até um buraco através do interior do edifício, inter-relacionando o interior com o exterior. Sua estrutura é inteira em concreto armado, pois só assim poderia se adaptar mais facilmente às formas livres projetadas por Hadid. Verificamos que neste projeto, executado no fim do século passado, Hadid começa a utilizar os modelos computacionais em sua produção de representação. Pode-se notar (imagem 24) que ela continua com a mesma característica de representação, só que não mais utiliza-se da pintura propriamente dita, mas sim começa a produzir as mesmas perspectivas artísticas, agora, em ferramentas computacionais. Até mesmo a concepção da idéia formal (imagem 45) Hadid extrai do computador. Nesta fase, a arquiteta também começa a apresentar perspectivas computacionais, menos complexas, começando a entrar no mundo da expressão e de simulação de realidade virtual (imagem 35). 5.1.8 Estação de Trem de Alta Velocidade de Napoli-Afragola Projeto: Estação de Trem de Alta Velocidade de Napoli-Afragola Localização: Nápoles, Itália Data: 2000 - 2003 A estação Napoli-Afragola é uma ponte acima dos trilhos. O principal desafio foi criar um sistema bem organizado de transporte e trazer um novo marco para a chegada de viajantes à Nápoles - tornando-se assim uma nova porta de entrada para a cidade. O conceito da ponte surge a partir da idéia de se aumentar o número de plataformas de embarque e desembarque e de se proporcionar uma ligação entre 40 as vias públicas, através de estações, que também poderiam atuar como núcleo de uma nova proposta, ligando o parque empresarial às diversas cidades circundantes. A linguagem arquitetônica, orientada para criar um movimento, prossegue no interior do edifício, onde a trajetória da viagem determina a geometria do espaço. Neste projeto de 2003, seis anos atrás, Hadid criara uma forma de apresentação, a qual mantém até hoje, com simulações mais próximas de uma realidade virtual (imagem 65) e suas perspectivas já não são mais tão profusas e complexas (imagem 87), deixando de lado a composição Suprematista. 5.1.9 Centro de Exposição do Cairo Projeto: Centro de Exposições do Cairo Localização: Cairo, Egito Data: 2007 - 2009 O projeto de Zaha Hadid, em parceria com a empresa de engenharia Buro Happold, foi o grande vencedor do concurso público internacional para o Centro de Exposições do Cairo, no Egito em 2009. As obras do empreendimento, que está sendo construído entre o centro da cidade e o aeroporto, devem começar em outubro do próximo ano. De acordo com a arquiteta, as formas onduladas do centro de exposições foram inspiradas na topografia do Vale do Nilo. Em entrevista com a imprenssa local a arquiteta faz a colocação: Ao longo dos grandes rios da região, mais particularmente o Nilo, há um fluxo surpreendente entre a terra, a água e os animais selvagens. Esse fluxo interfere nos edifícios e na paisagem. Para o projeto, procuramos captar essa mesma fluidez, em um contexto arquitetônico e urbano. Como apresentação da estação de trem de 2003, a arquiteta utiliza-se de simulações de uma realidade ainda inexistente (imagem 87), com uma modelagem mais realista do que há seis anos. Agora, pode-se reparar o surgimento de edificações vizinhas e paisagem no contexto. Hadid se manifesta em suas representações não mais com a veia artística que iniciara em sua carreira, mas sua concepção agora bebe nas fontes referenciais de anos de pesquisa e experiências formais. Entretanto, sua representação por mais bela e realista que seja, não tem mais suas características originais (imagem 76,76) 41 5.2 Thom Mayne e grupo Morphosis 5.2.1 Biografia Thom Mayne nasceu dia 18 de janeiro de 1944 em Waterburry, Estados Unidos. Fundou seu escritório junto ao arquiteto Michael Rotondi com nome Morphosis em 1972, em Santa Mônica, Los Angeles, onde a principal intenção é a de "superar os limites das formas e materiais tradicionais, trabalhando para estabelecer um território entre os limites do modernismo e pós-modernismo". Para Mayne e Rotondi, ao fundarem o grupo, ambos se fundamentaram no movimento da contracultura: Morphosis não era o nome de um escritório. Tratava-se de uma idéia que envolvia um grupo interdisciplinar de pessoas em torno ao ambiente radical e vanguardista do Southern California Institute of Architecture, sendo peça chave para o movimento desconstrutivista californiano. Em 2001 Rotondi abandona o grupo para formar seu próprio escritório. Cada edifício do Morphosis pode ser conceitualmente compreendido como a representação de um novo processo de desenho. É um trabalho sob o qual subjaz uma reflexão do arquiteto sobre tal processo e sobre o processo de construção que se acomete pelo desejo de desestabilizar as convenções arquitetônicas rotineiras, concebendo o edifício como um elemento situado acima da passividade da natureza. Trabalhar em cada projeto, indagando o que é ou não arquitetura, tendendo a utilizar ou a incorporar a sua substância e tornando-se capaz de incorporar a este trabalho a formação do pensamento e a dimensão surgida da integração de todas as circunstâncias e exigências contextuais. "O projeto pode e deve ser um empreendimento coletivo" afirma Mayne. Também foi merecedor do Nobel da Arquitetura, o prêmio Pritzker em 2005, um ano após a conquista de Zaha Hadid. BRANSBURG afirma que o potencial da interação semântica dos objetos pode ser observada desde o Romantismo. Segundo ele, citando NOVALIS [... ] quando as coisas não estão ligados entre si, quer por estar no mesmo lugar ao mesmo tempo, ou por alguma estranha similaridade, existem combinações únicas e estranhas associações, e coisa-objeto lembra de tudo, torna-se um símbolo de muitas coisas, e é expressa e evocada por muitas coisas. "Morfose" é, obviamente, uma palavra que basicamente se refere à necessidade de mobilidade, flexibilidade e da concepção dialética morfologia do processo (BRANSBURG, 2000, p. 05) 42 5.2.2 Expressão e representação Thom Mayne foi um dos primeiros arquitetos de prestígio a adotar conscientemente o desenho assistido por computador em seu escritório, muito antes de outros profissionais. Considerando a excelente capacidade de Mayne para o desenho, segundo os métodos tradicionais, a substituição foi surpreendente, pois, segundo ele próprio, esta transição não alterou sua forma de fazer seus projetos. O arquiteto segue confiando na sua maneira intuitiva de conceber as fases iniciais do projeto, além da abundância de maquetes e análises contextuais do entorno que propõe em seus projetos. 5.2.3 Reforma Residência Flores Projeto: Residência Flores Localização: Pacific Palisades, Califórnia Data: 1979 O projeto é uma ampliação da casa da família Flores, no estilo californiano dos anos 50. O programa inclui uma sala de jantar, suíte, um quarto de serviço, uma garagem e um solário. Este projeto foi autorizado a ter uma extensão distinta da estrutura existente: a criação de um grande espaço vertical em contraste com o horizontal, espaço da casa hoje. O longo e retangular plano está organizado em torno de um tipo de modulação específica. As paredes longitudinais evoluem em uma seqüência voltada para norte / sul, onde está associada a vários materiais como gesso e bloco de vidro. Uma estrutura comporta a pérgula abobadada e um muro totalmente solto terminando com uma pérgula horizontal. Observando os croquis de Thom Mayne (imagem 48) podemos observar a tentativa de resolver a abóbada que percorre toda a cobertura da residência. Também conseguimos observar a preocupação com o terreno de grande declive. Os traços são rápidos e soltos e notamos a repetição de tentativas formais para resolver a edificação. Neste projeto, com data de 1979, observamos que Mayne não se utiliza do computador, afinal, nesta época os programas CAD ainda eram prematuros até para desenho técnico. Verificamos em suas perspectivas (imagens 49,50,51) que ele toma cuidado com todos os elementos que se encontram nos espaços da residência 43 como a utilização das sombras e o uso de cores para simular efeitos das condicionantes que interagem com a casa. Sua forma de representação se assemelha aos projetos apresentados na época do final do renascimento, com cortes perspectivados e fachada/ corte. Sua apresentação não tem uma característica predominantemente artística, afinal o arquiteto não se utiliza de abstrações e contrastes que criem uma alusão conotativa a um simples elemento correspondente ao conceito da residência. 5.2.4 C a s a de Praia em Malibu Projeto: C a s a de Praia em Malibu Localização: Malibu, Califórnia Data: 1986 O local para este projeto foi dividido por seu longo eixo entre duas casas. A primeira casa foi conceituada pela característica do oceano, como um diagrama em forma de uma onda. A segunda casa, disposta verticalmente, é subordinada à primeira casa. Assim como uma onda segue outra, cada casa tem uma repetição mecânica e são conectadas através de um plano horizontal, uma abstração que forma a fachada do volume do edifício. Fragmentos das paredes deste projeto referem-se a um sentido formal de entrada para acomodar veículos e acesso de pedestres. Começa, então, uma seqüência de movimentos da terra para o mar. A parte mais linear reforça a estrutura do projeto e induz a um movimento axial em relação ao movimento de uma onda. Em seu croqui (imagem 52) podemos notar uma má definição de forma, talvez o esboço de uma primeira idéia a qual não se teve continuidade. Neste ano de 1986, Mayne inicia a utilização de computação para representação de seus desenhos técnicos (imagem 53). A representação artística, neste momento, fica a cargo das maquetes volumétricas físicas. Ainda com características de seus desenhos técnicos à mão, Mayne continua a representar cortes perspectivados, corte/fachada, dentre outros tipos específicos em seu trabalho. 44 5.2.5 Conjunto Habitacional Wagramerstrasse Projeto: Conjunto Habitacional Wagramerstrasse Localização: Vienna, Austria Data: 1994 O programa consistiu-se principalmente em habitações de tamanhos variados, com algumas salas comerciais ao nível da rua. Uma das principais limitações do programa dita uma meta global de 500 unidades habitacionais. O local foi dividido em sete seções, uma vez que o projeto foi concebido como uma colaboração entre sete arquitetos internacionais. O sistema consistiu em 130 unidades habitacionais com estacionamento para 159 automóveis. Localizada no extremo norte do terreno, a morfose perfeitamente é configurada para permitir uma massa vertical, prevendo não criar sombras sobre as outras unidades habitacionais. O sistema é uma resposta ao caráter coletivo e de colaboração, com dinâmica de projeto. A meta foi individualizar as unidades habitacionais - o geométrico e tipológico se diferenciam para fazer cerca de 150 unidades diferentes, uma para cada uma das 150 famílias. Existem três tipos distintos de habitação, oferecendo formas alternativas de vida: convencional (no sentido da rua), híbrido "ponte" que consiste na ligação entre a torre e as peças derivadas da paisagem artificial, e a torre em si. O pátio interno tem muitas condições de circulação, incluindo o acesso aos elevadores para a torre habitação. Neste ano de 1994, Mayne, além de continuar a representação técnica em computador (imagem 54), inicia a utilização das simulações gráficas computacionais (imagem 56,57). Neste projeto, podemos verificar a intenção de demonstrar as linhas de vértices que formam o objeto em três dimensões (imagem 55). Como um dos precursores na computação gráfica em três dimensões, representação chama muita atenção, esta forma de pois anteriormente jamais o público se deparara com uma simulação em três dimensões na representação de projetos. 45 5.2.6 C a s a Mack Projeto: Mack House Localização: Sherman Oaks, California Data: 1997 O desenho desta casa é sobre uma colina em Sherman Oaks, Califórnia, e sua concepção cria uma relação da arquitetura com a topografia encontrada no local. Este projeto cria uma definição de limites que alterna entre público e privado. A vedação foi concebida como um muro que cria um limite para o ambiente externo no térreo, começando pelo lado interior da propriedade, estendendo-se até a rua. A segunda condição é um denso volume de elementos externos da casa. Quando estas condições são relacionadas, uma forma topográfica faz com que o resultado dos volumes formem um espaço de escritórios sobre o nível superior da casa. A luz natural preenche o espaço entre o escritório e a garagem e ainda ressalta os constastes: o primeiro um espaço privado ao ar livre com vista para o desenvolvimento urbano da cidade, enquanto que o segundo visa ao espaço térreo e público da rua . Neste projeto da casa Mack, Mayne estava ainda iniciando a representação de seus trabalhos em três dimensões. Nesta residência, podemos notar que ele começa a mudar a forma de visualização do projeto e começa a brincar com as possibilidades de criação de perspectivas, criando surpreendentes imagens (imagem 58,59,60) que, a primeiro vista, parecem formas abstratas tridimensionais. Só numa segunda análise é que conseguimos compreender os elementos de uma edificação. Nos cortes perspectivados ele descarta a representação de linha de terra, contrariando seu projeto representado manualmente em 1979, quando representa a terra com um negro marcante. Seus cortes começam a ter características peculiares, pois a concepção dos projetos de Mayne começa a entrar numa linha desconstrutivista e seu projeto acaba ficando mais complexo na questão de representá-lo tecnicamente (imagem 61,62,63). 46 5.2.7 41 Cooper Square Projeto: 41 Cooper Square Localização: Nova York City, Nova York Data: 2004 - 2006 O novo centro acadêmico de Engenharia, Arte e Arquitetura, é concebido como um mecanismo de empilhamento de praças, contidas dentro de um envelope semitransparente, as quais ligam as salas de aula e os laboratórios. O campus vertical é organizado em torno de um átrio central. O espaço interior configura e incentiva a interligação entre a escola de Engenharia, Arte, Arquitetura e demais departamentos - incluindo salas de reuniões, espaço social, anfiteatros, quartos, provedor, banheiros e telefones. O edifício, de permeabilidade física e visual, ajuda a integrar a faculdade ao seu bairro. Ao nível da rua, a fachada transparente convida o bairro a tomar parte na intensidade das atividades contidas dentro do edifício. Muitas das funções públicas, incluindo o espaço comercial e um átrio exposições artísticas, estão localizadas ao nível térreo e uma segunda galeria e um auditório de 200 lugares são facilmente acessíveis a partir da rua. A aberta e acessível edificação é exemplar como construção sustentável, pois energeticamente é uma arquitetura muito eficiente. O edifício será o primeiro edifício verde acadêmico em Nova York. O aço e vidro das fachadas melhoram o desempenho do edifício através de controle de luz, a utilização de energia, ventilação natural é seletiva. O sistema de dupla pele permite o aumento da performance e composição dinâmica em vários níveis: os painéis acionáveis criam um padrão de deslocamento constante, reduzindo o fluxo de radiação de calor durante o verão e dá aos usuários o controle sobre seu ambiente interior e vista para o exterior. Em 2004, Mayne começa a apresentar uma característica mais orgânica no quesito de configuração de espaços. A forma de seus projetos começa a se descartar da linearidade de planos rígidos (imagem 66,67). A representação começa a ter características de simulação da realidade (imagem 64), assim como a maior parte dos escritórios contemporâneos, o Morphosis. Observamos a necessidade das perspectivas sempre abordarem um ponto interessante e que cria surpresa ao usuário do edifício (imagem 65). 47 5.2.8 Torre Phare Projeto: Torre Phare Localização: Le Defénse, França Data: 2006 - 2009 Com base no poder da paramétrica, a concepção da Torre Phare reúne diferentes programas, como a infra-estrutura que traz condições ao prédio de suportar as condicionantes físicas. O edifício relaciona-se com o terreno de forma a comportar múltiplos fluxos de circulação. No espírito de competição para propostas na Exposição de Paris, a torre encarna um estado de arte, respondendo adequadamente aos avanços tecnológicos e se tornando um marco cultural. A complexa estrutura da pele adapta-se à torre em forma atípica, simultaneamente responde a uma série de complexos e, muitas vezes, condicionantes físicas e ambientais. Tecnologias integradas no programa da Torre Phare capturam o sol e o vento para a produção de energia solar e seletivamente minimizam reflexos maximizando ganhos energéticos. O seu alto desempenho com alterações na pele transforma a luz, tornando-se opaco, translúcido, transparente, a partir de diferentes ângulos. À noite, fitas de luz iluminam criando uma malha iluminada homogênea. Neste projeto, como o 41Cooper Square, a representação busca a simulação da realidade (imagem 68,69). Mayne vai em busca da sustentabilidade criando novos meios de comportamento do edifício e também a concepção e conceito do projeto começam a ganhar uma morfologia mais natural e orgânica (imagem 70).O edifício agora se apresenta como um ser vivo e não mais como um emaranhado de concreto, metal e vidros. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao decorrer deste trabalho, verificamos a importância do meio de representação através do desenho, dentro da arquitetura. Este meio é responsável por nos passar tanto as informações criativas quanto as técnicas. Esta representação gráfica é responsável tanto para que o autor arquive ou exponha suas memórias, criando a relação autor/autor, mas também é necessária quanto à comunicação entre o autor/executores e autor/empreendedores. Através do desenho, o arquiteto estabelece uma relação de diálogo para obter uma definição projetual. Com o avanço da tecnologia, observamos que os meios de representação em arquitetura, quanto à expressão da concepção projetual, modificaram-se; o processo manual de representação do projeto arquitetônico, aos poucos, foi sendo substituído, parcialmente, pelas ferramentas computacionais. Percorremos desde a história do desenho técnico em arquitetura, onde vimos a figura do arquiteto nascendo. As representações de arquitetura eram muito sucintas no início, sendo que muitas vezes, uma obra inteira e de extrema complexidade, era representada somente com uma planta e uma fachada/corte. Pudemos rever o surgimento do desenho em escala por Brunelleschi e das primeiras representações técnicas com uso de perspectivas axonométricas adotadas por Gaspard Monge, no período renascentista. Passamos pela transformação tecnológica, após a revolução industrial, onde o foco era a produção em série tanto de design quanto de arquitetura - uma visão totalmente funcionalista tendo como um de seus maiores pensadores Walter Gropius. O caminhar do ensino da arquitetura também foi abordado, e observado dentro da Bauhaus, iniciando com o funcionalismo, após a arquitetura socialista até chegando aos ensinamentos de Mies van der Rohe, com uma arquitetura arte. Chegamos após a criação das ferramentas computacionais, iniciadas de forma explosiva em 1981, com a popularização dos microcomputadores, ferramentas estas que modificaram toda a linha de representação gráfica, não só na arquitetura como em todos os utilitários deste meio. O surgimento dos programas computacionais criaram uma revolução no meio de representar arquitetura, CAD, BIM e o programa que promete mudar até a forma de concepção de volumes em arquitetura, o programa SketchUp. Discorremos sobre as abordagens de Pierre Lévy, das indagações do ser virtual, por fim às 49 comparações sobre o ver, criando uma relação sobre a percepção do desenho manual e do desenho digital. Todas estas abordagens e comparações tiveram caráter especulativo como proposta à uma pesquisa bibliográfica. Não se tem a intenção de explicar ou dar conclusões sobre as temáticas. Após este apanhado histórico sobre a representação gráfica em arquitetura, pudemos juntar dados para uma análise de estudos de caso sobre a representação gráfica dos escritórios Zaha Hadid Architects e do Morphosis Architects. Os trabalhos destes escritórios foram apresentados por meio textual e por meio de gráficos/imagens dispostas na ordem da narrativa (anexos). Assim, foi realizado um apanhado generalizado das representações entre os anos de 1979, ano anterior à popularização do microcomputador e à criação da ferramenta CAD, à 2009, ano em que este trabalho de conclusão de curso está sendo apresentado. Verificamos portanto que os dois escritórios possuíam uma linguagem mais ligada aos outros tipos de artes visuais quando se utilizavam do meio manual como representação. Os trabalhos de Zaha Hadid tinham uma forte semelhança com a arte suprematista russa, enquanto os de Tom Mayne tinham uma abordagem com características renascentistas de representação de projeto. Os dois escritórios começaram a fazer uso das ferramentas computacionais, primeiramente como uma linguagem técnica de apresentação de projetos, depois com uma linguagem mais artística, onde eram criados contrastes de cores entre planos e suas perspectivas não tinham uma razão geométrica clara. Os desenhos se apresentavam, muitas vezes, de maneira amórfica, onde a distorção era tão grande que criava uma sensação de um espaço completamente diferente, muitas vezes extrapolando as barreiras do real e entrando numa captação virtual. As características conceituais e formais, nos dois escritórios, eram mais rígidas e geométricas, e as várias angulações de planos faziam com que os cortes fossem apresentados, de maneira não ortogonal. Após o inicio do século XXI, os dois escritórios começaram a criar características formais semelhantes, dentro da conceituação arquitetônica, mais espontânea e orgânica. As condicionantes das edificações verdes (sustentáveis) passaram a ser prioridade dentro do mundo da arquitetura, o desenho técnico toma o rumo da representação dentro das normas técnicas internacionais e, a representação gráfica começa a deixar as características artísticas se apoiando em imagens remetendo a simulação de uma realidade, virtualismo. 50 É evidente, que os escritórios citados passaram por esta transição, e como exemplo de vanguarda em arquitetura, lidaram de forma criativa e com diferentes resultados, dentro da linguagem contemporânea da arquitetura estes escritórios colocaram e propuseram não só meios de representar arquitetura, como também o de expressar, hoje ao contrário da renascença de Brunelleschi, podemos praticamente experimentar uma arquitetura, de forma ainda virtual, mas com tanto detalhamento visual que indaga o "usuário" a acreditar que esta realmente vivenciando o momento, imagens, vídeos, simulações de movimento, simulações de construção, simulações de vivências, estes são algumas das características representativas exploradas para fazer uso da experimentação arquitetônica. No meio expressivo a arquitetura de ambos escritórios tendem a recusar os planos retilíneos, e a sensação rotineira de experimentação de espaços, o que vemos é uma arquitetura que tenta envolver e acontecer conforme nossos olhares e movimentos, a união de piso/parede/teto, faz com que por hora perdamos a noção da gravidade e nos remete ao interior do útero materno, formas orgânicas que toda explicação esta na função, uma multiplicação de células as quais vão se formando como se seguissem algo para criar ligações, movimentos das estruturas e vedações conforme as condicionantes externas, a capacidade de amenizar as complicantes externas e internas de forma a sempre conservar o seu todo de maneira saudável e sustentável sem agredir o seu entorno e convivendo de maneira passível em seu meio. Esta arquitetura/ser vivo, é, provavelmente o futuro, criamos as indagações deste futuro próximo o qual, ou vestiremos óculos e roupas, ou adentraremos a uma sala com projeções a qual realmente experimentaremos, enganando nosso cérebro, o espaço construído e, neste espaço virtual poderemos fazer modificações como se moldássemos uma escultura em argila, poderemos visualizar a obra externa por meio de hologramas os quais formarão a tridimensionalidade por união de lasers. A obra física em sua construção será limpa como uma fábrica atual de automóveis terá o mínimo, ou nada de resíduos. A obra terá vida própria, saberá a hora certa de se proteger de raios solares, chuva, ventos, utilizará o mínimo de energia a qual poderá ser gerada em seu próprio interior, a água reaproveitada e tratada no local. A arquitetura conversará com o usuário, a obra se apresentará como um corpo vivo, e nós os usuários como células que constituem este corpo. 51 Observamos que o meio manual é, ainda, preservado nas primeiras fases da concepção arquitetônica. Alguns autores colocam em evidência que a melhor maneira de expressar uma idéia é o desenho manual com a utilização de papel e lápis, ou seja, por meios físicos da representação. E, este meio é o que melhor corresponde a um impulso criativo real. Esta representação manual, considerada ágil e como extensão de nossos raciocínios, pode estar comprometida devido ao avanço tecnológico. Como pudemos ver, já encontramos programas computacionais no mercado que são tão ágeis e de utilização tão simples quanto a de um lápis. As novas gerações de arquitetos, cada vez mais, estarão atreladas e comprometidas ao uso do microcomputador. Afinal, vivemos numa época em que brincadeira de criança é jogo eletrônico e não mais esportes coletivos, os meios de inter¬ comunicação tornam-se virtuais, o meio físico está sendo cada vez menos utilizado e o foco de todo o funcionamento mecânico/físico para o eletrônico/virtual. e relacionamento está mudando do 52 REFERENCIAS ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. Trad. Denise Bottmann e Frederico Caroti. São Paulo: Companhia das Letras,1992. . Walter Gropius e a Bauhaus. 2.ed. Lisboa: Presença, 1990.143p. ARNHEIM, Rudolf. Arte e Percepção Visual: Uma psicologia da visão criadora. Trad. Ivonne Terezinha de Faria. São Paulo: Tomson Learning, 2007. DROSTE, Magdalena. Bauhaus Archiv. Trad. Casa das Línguas. Berlin Taschen, 2004. FLORIO, Wilson. Da Representação à Simulação Infográfica dos Espaços Arquitetônicos. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 1998. . 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A imagem do capitulo 3.1 foi retirada do site: http://commons.wikimedia.org/wiki Imagem 10 - Créditos de Malcom Farmer. A imagens do ANEXO B foram retiradas do site: http://www.diretoriodearte.com Imagem 11, 12, 13 - autor desconhecido. As imagens do capitulo 5.1 foram retiradas do livro e dos sites: Zaha Hadid Complete Works. London. Thames e Hudson Ltd. 2004. http://www.oma.nl/ http://concursosdeprojeto.org/2009 55 Imagem 14, 19 a 42 - O editor agradece os seguintes fotógrafos e ilustradores: Air Diassol/ Roger Rotham, Alessi, Hélene Binet, David Grandorge, Neutral, Roland Halbe, Christian Richters, Saway & Moroni, Paul Warchol, Edward Woodman, Zaha Hadid Architects, e Gerald Zugmann/MAK. Imagem 15, 16, 17, 18 - Direitos reservados por OMA©. Imagens 43 a 47 - Autor desconhecido. As imagens do capitulo 5.2 foram retiradas do livro e do site: KLICZKOWSKI, Guillermo Raúl. C a s a s International: Morphosis. Editado por Pablo Bransburg. Madrid: Kliczkowski Publisher. 2000. http://www.morphopedia.com/ Imagens 48 a 53; 58 a 63 - Direitos reservados a © Kliczkowski Publisher. Imagens 54 a 57; 64 a 70 - Direitos reservados a © Morphosis Architects, Inc. 56 ANEXO A Imagens Antecedentes Históricos e Contextualização 57 Imagem 01 - projeto urbanização - al. water determann - 1920 58 59 Imagem 03 - exposição internacional de arquitetura bauhaus - 1923 J r"1 -r 'T-rr-y i i _- J t T"FTT' 1 1 1 i—^—i f ITT" ' T T I X J - J 1'TTTlTTT" \mmMmmm jjiuiujjjjjjitri ---HHli IX 1 "'" T"Tl illíaiSbkmm Ü mm m sai^ m Imagem 04 - projeto escola primaria - al. ernest gõhl - 1928 60 Imagem 05 - correção de mies van der rohe trab. al. wilheim h e s s - 1932 61 Imagem 06 - projeto bairro com edifícios al. pius pahl - 1932 62 Imagem 07 - projeto residência al. günter conrad - 1931 63 Imagem 08 - reunião de encerramento da bauhaus - 1933 Imagem 09 - válvula de três pólos de lee de forest - 1906 65 Imagem 10 - planta monasterio de St. Gallen - 820 d.c. ee ANEXO B Imagens de Obras de Kazimir Malevitch es Imagem 12 - composição suprematista Imagem 13 - composição suprematista 3 69 ANEXO C Imagens dos Trabalhos de Zaha Hadid e OMA 70 Imagem 15 - irish prime minister's residence - perspectiva grupo OMA 1979 71 72 Imagem 16, 17, 18 - irish prime minister's residence - perspectiva grupo OMA- 1979 73 Imagem 19,20,21- the peak - croquis zaha hadid - 1982 74 75 76 Imagem 24,25,26- vitra fire station - croquis zaha hadid - 1990 Imagem 27,28,29- vitra fire station - pinturas e foto do interior - 1990 -94 78 80 Imagem 33,34,35- car park hoenheim - fotos da obra - 2001 Imagem 36.37- phaeno science centre - persp.computacionais - 1999 82 83 84 Imagem 41.42 - napoIi train station - persp.computacionaI - 2000 85 86 Imagem 46,47 - exposition center cairo - persp.computacional - 2009 87 ANEXO D Imagens dos Trabalhos de Thom Mayne e Morphosis 88 Imagem 48 - flores residence- coquis - 1979 Imagem 49,50,51 - flores residence - persp. cortes e planta manual - 1979 90 Imagem 52,53 - malibu beach house - croqui e des. técnico - 1986 91 92 Imagem 54,55 - wagramerstrasse housing - d e s . técnico e persp. - 1994 93 Imagem 56,57 - wagramerstrasse housing - p e r s p . computacionais - 1994 94 95 Imagem 58,59,60 - mack house - p e r s p . computacionais - 1997 Imagem 61,62,63 - mack house - corte/persp. computacionais - 1997 96 97 98 Imagem 66,67 - 41 cooper square - fotos da obra - 2007 99 Imagem 68 - phare tower - persp. computacional - 2009 ioo Imagem 69,70 - phare tower - persp. computacional - 2009