Confluências - Escola Secundária de Camões
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Confluências - Escola Secundária de Camões
B OLE TI M E S COLAR Confluências Confluências (2ª Série) setembro / novembro 2014 P e l o Te j o v a i - s e p a r a o m u n d o Abertura do ano letivo 2014-2015 Na sequência da atividade “Passeio pela História e Cultura da Água”, integrada na Semana do Ambiente e realizada em 31 de maio passado, decorreu no dia 13 de setembro, como é tradição de início de ano letivo um encontro/convívio entre funcionários e professores, este ano com o tema Um “Nos pass(ç)os do Lumiar” convívio As duas atividades tiveram a colaboração do Insticom tuto Superior Técnico na pessoa de Luís Ribeiro, Professor Associado com visitas agregação (IST) e Ex-aluno do Liceu Camões entre 1965 e 1972. marcadas! (cont. pp. 8-9) Dias da Memória A Escola Secundária de Camões em destaque! Gabriela Fragoso (pres. do Conselho Geral), João Jaime Pires (diretor, à esqª na foto), Cecília Cunha (profª de História), Madalena Contente (Conselho Geral) e grupo de alunos foram os “eleitos” para abrirem a sessão solene dos Dias da Memória, na Assembleia da República, na tarde do dia 17 de outubro - tendo sido acolhidos pela presidente deste órgão de soberania, Dr.ª Assunção Esteves. De sublinhar que os alunos mobilizados para este ato simbólico participaram ainda como voluntários durante o fim de semana imediato, dias 18 e 19, nas tarefas inerentes à recolha de objetos e documentos facultados por cidadãos diversos, numa iniciativa pioneira em Portugal que abriu as portas da Assembleia da República aos familiares de quantos passaram pelas trincheiras… (Ver pp. 7 e 13) A Escola Secundária de Camões estabeleceu um protocolo com o Instituto Espanhol de Lisboa, «Giner de los Ríos», cujo projeto, sob a égide do rio Tejo, serve de base ao lema do Plano Anual de Atividades deste ano: “Pelo Tejo vai-se para o mundo”. Envia trabalhos para: [email protected] Nesta edição: Scriptomanias Oficina de retórica… Recensão [filme] Memórias da I Guerra As águas subterrâneas Biologia e Geologia Sciencecalifragilistic Biologia e Geologia Alunos de Artes Iniciativas (Ainda) D. Olinda Breves pp. 2-5 p. 6 p. 7 pp. 8-9 pp. 10-11 p. 12 p. 13-14 p. 15 p. 16 Página 2 Confluências SCRIPTOMANIAS A importância da imagem Há bens de transporte inelutável. Ainda que a intenção os queira guardar ou, simplesmente, atirar para a sarjeta, não há meio de o fazer. A imagem figura entre os eleitos a essa condição. Incrustada, como uma armadura demasiado pesada para se poder remover, a imagem é companheira perpétua das nossas viagens. Das plácidas e das atribuladas; dos passeios e das batalhas; da paz e da guerra. Nela desaguam os nossos atos, que a moldam para oferecer a quem partilha da mesma estrada e, com intriga a esporear a língua, pergunta: “como és?”. Então a imagem principia a falar sem ponderar cessar. Brada tudo sem pedir permissão ou autorização. Quando satisfeito, o curioso parte sem, necessariamente, nos ter colocado alguma questão; e nós, os verdadeiros conhecedores do nosso interior, trememos sempre que conjeturamos o que poderá ter dito aquele espectro. Nem os deuses controlam a fala à sua própria imagem. Se numa estância as divinas forças não detêm poder, quem somos nós para exigir uma porção da terra? Resta à divindade e ao mortal, aquando dos seus atos, deliberar o que deseja que a imagem revele; e aproveitar, no entretanto, para fruir da sua natureza: para cada incumbência, serena ou belicosa, há uma abordagem a ser feita, e para toda a jornada seleciona-se o pertinente e pretere-se o imprestável; quaisquer que sejam os apetrechos que se atire para o fundo da mala, será a imagem que determinará as condições da sua primeira aplicação. Será ela que nos introduzirá aos destinatários da missão. É sensato servirmo-nos dela com astúcia. Todo o viajante, todo aquele que ousa mais do que cingir-se à condição inicial, deverá munirse dos dotes da imagem, independentemente da natureza das suas pretensões. Quer para induzir subestimação, quer para criar uma diversão, a imagem nunca deve ser menosprezada. Quem vence opera com a sua imagem. Dinis Tomás, 12ºA Lê-me Título: Confluências Iniciativa: Departamento de Estudos Portugueses Coordenação de edição: António Souto, Manuel Gomes e Lurdes Fernandes Periodicidade: Trimestral Impressão: GDCBP Tiragem: 250 exemplares Depósito Legal: 323233/11 Propriedade: Escola Secundária de Camões Praça José Fontana 1050-129 Lisboa Telefs. 21 319 03 80 21 319 03 87/88 Fax. 21 319 03 81 tudo corre corre tão velozmente e tudo passa por mim assim e aqui estou uma vez mais sozinha e as pessoas não param continuo à chuva molhada em mágoa profunda e as pessoas falam-me abraçam-me sorriem mas não estão estou sozinha sozinha num mundo prenhe abandonada no meio do tudo tristeza não é nem raiva talvez cansaço do que sou do que era de ti ignorada como se nem pessoa, nem coisa fosse de que serve a vida se ela me não sorri preciso de um momento sou fraca não me desprezes olha para mim apenas por um momento somente. Mª Madalena Oliveira, 11º I Página 3 Confluências SCRIPTOMANIAS Contradições É falso. Lembra-te, acima de tudo, que é falso. Tic-Tac, Tic-Tac, não há Tic sem Tac. Não há relógio. Mas tu baloiças e descais-te, ora para um lado, ora para o outro. Não há elixir que me retire do estado em que me induzes. Tic-Tac, Tic-Tac. Não para, não para, NÃO PARA. O corpo anda, deforma, constrói, molda, marca. O corpo marca-te e marca-me e é lindo. É uma arte. A arte que levas contigo e em ti. Consola-te e desconsola-te. Ontem fez.me amar-te, hoje faz-me morrer. Eu sinto-te. Sinto-te a mover, a correr, a corroer-me. És tudo DENTRO de mim. Vamos falar. Senta-te aí. Sim, aí mesmo. Não feches os olhos, esconderes o rosto não desvia o meu olhar de ti, continuo a ver-te. Corres. Pulsas o meu sangue enquanto o meu sangue corre e pulsa por ti. És tão falso. Queres ficar comigo para sempre? Contraria-te. Contraria-me. Anda. Andei. Andei até aqui para me sentar à tua frente e continuas a fechar os olhos à minha pessoa. Tic-Tac. Tic-Tac. Foi demasiado pouco, dura demasiado tempo. Foges de mim sem me levares violentamente contigo. Sempre tão subtil. Fazes-me bem tão bem. És deliciosamente psicológico e fisicamente não me ressinto. Choro. Choro por ti que me abandonas, e deixas-te andar, por aí, à mercê de quem te apanhe e sorria mais que os últimos. Choro mais. És tão psicológico. Choro menos. Dás-me força para suportar o medo, dás-me o à-vontade para sentir e amar, para andar de olhos fechados. Não há abismo. Andas de mãos dadas, com muitos. Por uma vez ou outra, as mãos são dadas por mim, para mim. Dás-me mãos para sorrir enquanto me prendes. Tic-Tac. Tic-Tac. O tempo parou. Não. O tempo não parou. Fui eu que parei e me perdi nesse mesmo tempo que te traz e leva e prossegue, não regride. De maneira estranha, continua aqui. Mas o tempo passa. Um século. Rua do Século. Sobe. Lágrima ressequida no canto do olho. Perco-me nos meus pensamentos. És pouco, um pouco tão GRANDE e definitivamente FORTE. Corrói-me mais depressa e deixa-me sofrer por ti. Sou inútil. Não te rezo mas bebo-te como os cristãos bebem o sangue de Cristo. És tão forte que o cenário que crio e a cena que nele se desenrola, que por momentos É A MINHA REALIDADE, torna-se tão essencial quanto tu. Não! És tão forte que, quando te idealizo a deixares-me feliz, sou invadida por essa mesma sensação, e penso. Sorrio, falo, sozinha na rua. Falo e sorrio mais, até ri-o um pouco. Dura. Dura até descer da tua falsa realidade e aterra na minha. És ideal. És um sofrimento quando me abandonas e até esse sofrimento é tristemente delicioso. Tornas-me tão contraditória. Choro por ti. Marta Lontrão, 11º L Página 4 Confluências SCRIPTOMANIAS Inês de Portugal João Aguiar (1943-2010) João Aguiar frequentou o Liceu Camões entre 1957-1961. Visitou-nos, pela última vez, no dia 13 de abril de 2007, tendo, perante uma plateia de 200 alunos e professores, falado sobre a sua extensa obra e a sua vivência como aluno nesta instituição onde, entre outros, destacou a ação pedagógica e instrutiva dos professores Maria da Conceição Caimoto e Mário Dionísio. Inês de Portugal é um romance e não um ensaio de reconstituição histórica. Apesar de o autor se ter socorrido das crónicas de Fernão Lopes e Rui de Pina, há algumas “invenções” indispensáveis à construção do drama. No primeiro capítulo De profundis clamo ad te, Domine (Das profunde- Os doces anos Nasci nas montanhas. Nasci numa casa de pedra no alto das montanhas. Não era uma casa grande e muito menos requintada mas aguentava os invernos rigorosos e era suficiente para mim e para a minha simples família. Além disso, o meu lar não estava limitado àquelas quatro paredes, o meu lar era e para sempre será a serra. Tinha, na altura, nove anos e sentiame a pessoa mais feliz do mundo, embora não compreendesse o significado de felicidade. Os meus dias eram passados a correr entre os prados floridos, a nadar nos rios gelados, a guardar ovelhas e a tomar conta dos meus irmãos ainda pequenos. O meu avô era pastor e foi ele que me ensinou a viver em sintonia com a natureza, a amá-la e a respeitá-la. À noite, em frente à lareira, contava-me histórias e ensinava-me a pensar nas "coisas da vida", como ele costumava dizer. Depois havia os fins de semana! Aos sábados à tarde vinham as vizinhas. Sentava-me no baloiço de madeira e esperava pacientemente a sua chegada, isto porque elas traziam sempre bolo de noz ou tartes de maçã ainda quentes. As mulheres juntavam-se na cozinha, todas zas clamo a Ti, ó Senhor), é-nos apresentado o desespero de D. Pedro, ao querer vingar a única mulher que amou, Inês de Castro. Nesta parte são enumeradas por um dos conselheiros do Rei, Álvaro Pais, as razões pelas quais foi “necessário” cometer tal “brutalidade”, entre elas a garantia da independência do Reino de Portugal. Assistimos também à chegada de dois dos carrascos de Inês: Pero Coelho e Álvaro Gonçalves. No segundo capítulo Misereatur tui omnipotens Deus (Deus TodoPoderoso tenha misericórdia de ti), o autor narra-nos a ida do Rei e da corte para Alcanede, onde eram julgados todos os que cometiam crimes no Reino. Mais adiante, é-nos apresentado o julgamento dos assassinos de Inês, cuja sentença foi: para um, o coração arrancado pelas costas, para o outro, arrancado pelo peito. Per omnia saecula saeculorum (Para todo o sempre), título do terceiro capítulo, onde nos é relatada a ida do Rei ao Convento de Santa Clara, buscar o corpo de Inês, para o levar para o Mosteiro de Alcobaça. Já no Mosteiro, é revelado que Pedro e Inês casaram em segredo, e por isso, esta é, agora, Rainha de Portugal. Este capítulo mostra como o amor destes dois subsistiu para além do tempo e da morte, assegurando-lhes a imortalidade. Esta é uma obra em que os sentimentos ocupam o lugar principal: o amor de Pedro e Inês e o sentido de justiça de D. Pedro, um rei que injustiçado se tornou justiceiro em nome de um amor eterno. com a sua caneca de chá e fatia de bolo. Eu observava-as no fundo do corredor. Sussurravam segredos e falavam das outras sempre com grande desaprovação, depois falavam das colheitas ou do tempo e, por fim, quando a noite caía, cantavam canções e bordavam com a pouca luz da lareira até os maridos as virem buscar, depois de passarem uma alegre noite na taberna Estrela. Aos domingos era a missa. Se tivesse sorte o Sr. Manuel levava-me no seu burro teimoso, mas, a maior parte das vezes, ia a pé, de mãos dadas aos meus irmãos, caminhando pelos trilhos de terra durante mais de uma hora até chegar à igreja no cimo da montanha. A missa era uma tortura, estava sempre ansiosa pelas tardes de domingo, pois era quando podia brincar livremente e por isso a missa parecia demorar horas intermináveis e a espera era terrível. Quanto o padre Afonso desejava um bom domingo, todas as crianças começavam a correr desalmadamente pela encosta a baixo até ao riacho. Mas eu não. Nunca gostei muito daquela confusão toda. Preferia ir ter com o António, o meu amigo do coração. Passávamos a tarde juntos, percorríamos a serra ao mesmo tempo que imaginávamos ser grandes heróis. Ao final da tarde, sentávamo-nos na barragem a atirar pedras para a água. No caminho para casa, passávamos por uma grande encosta que era composta por diferentes camadas de rochas, com variadas cores e texturas. Nada sabíamos sobre estratos ou sobre os diferentes tipos de rochas, mas quando olhávamos para a temível encosta sentíamos a idade da terra. Como era tão antigo o nosso planeta! Sentíamonos muito pequenos e jovens. Para o António aquele sentimento era horrível, ele queria ter valor, queria fazer algo importante, mas quando olhava para aquela sobreposição de rochas sentia-se demasiado pequeno e frágil para fazer fosse o que fosse, mas, para mim, aquela encosta significava a minha juventude, sentia-me leve, imaginava os longos anos que ainda tinha pela frente e pensava na quantidade de coisas que ainda podia fazer... Continuávamos a saltar por entre as pedras e a correr pelas ervas altas até chegarmos a casa. Quando passava pela porta de madeira cheirava a "sopa da velha" que fervia na panela. Na sala, o meu pai ensinava os meus irmãos a darem nós bem dados, a minha mãe torrava o pão do dia anterior e o cão pachorrento aninhava-se perto da lareira. Lembro-me perfeitamente de pensar "Espero que toda a gente possa, pelo menos uma vez na vida, sentir-se tão feliz como eu estou agora!" e entrei na sala a cantarolar alegremente. Madalena Lourenço, 12º A Beatriz Santos, 10º C Página 5 Confluências SCRIPTOMANIAS «Porque essas honras vãs, esse ouro puro, Verdadeiro valor não dão à gente. Milhor é merecê-los sem os ter, Que possuí-los sem os merecer.» (Canto IX, estância 94) Os Valores presentes nas Reflexões do Poeta d’Os Lusíadas Durante a época em que Camões escreveu Os Lusíadas, Portugal atravessava um período de decadência pelo que o poeta inseriu na sua obra um conjunto de críticas ao modelo de vida dos seus contemporâneos e realçou a importância de certos valores. A obra tem assim uma função didática e procura exaltar a glória dos antepassados para que os portugueses os tomem como exemplo e tracem um futuro promissor e com feitos ainda mais heroicos. Analisando as três primeiras reflexões de Camões, é notável a importância de valores como a humildade, a ambição moderada, a gratidão, o conhecimento e o esforço. O Homem deve ser humilde para não permitir que o seu sucesso, orgulho ou vaidade se apoderem dele, reconhecendo sempre a fraqueza da condição humana e a fragilidade da vida na qual nada é certo. Além deste valor, Camões recomenda a existência de uma ambição moderada, pois é esta que move os Homens a superarem-se tanto a si próprios como aos outros heróis, levando-os a reali- zar feitos superiores de modo a serem imortalizados e relembrados na História. No entanto, a ambição deve ser moderada para não ser confundida com a cobiça. Outro valor de extrema importância é a gratidão. O poeta considera que o Homem deve reconhecer e valorizar quem lhe faz bem. A estirpe de Gama é criticada por não se conduzir por este valor, dado que esta ‘família’ ignorou o poeta que lhes deu fama e os imortalizou. Também o conhecimento é um valor essencial, e este visa a procura da sabedoria através do estudo da arte, da ciência e da eloquência. O Poeta considera que os heróis portugueses são ignorantes e não seguem o modelo de Homem renascentista que preza tanto as armas como as letras, tal como os heróis da Antiguidade. Neste domínio, a ‘família’ Gama é novamente criticada, bem como o povo português, pelo desinteresse que revelava pela arte e pelos seus poetas. Por último, Camões salienta a importância do esforço e do mérito como meio para atingir a fama e a glória, censurando aqueles que a obtêm através da herança ou da linhagem. Em suma, ao apresentar este sistema de valores, Camões tem como objetivo uma mudança de mentalidade dos indivíduos através da censura de costumes e da exaltação de princípios corretos e ideais. Liliya Umanets, 12º B Exercício de Evacuação 11 de dezembro de 2014 (quinta-feira), 11h15m 11h00 ‒ tomar conhecimento dos procedimentos de evacuação afixados na sala de aula; 11h15 ‒ após ouvir o sinal sonoro de evacuação (três toques de aproximadamente 3s cada com intervalo de 2s de campainha ou buzina) executar as instruções de evacuação; 11h25 ‒ regresso à sala de aula após sinal sonoro emitido por buzina. N.B. Os professores que não se encontrem em aula, ao sinal de evacuação devem dirigir-se ao ponto de encontro mais próximo (1 ‒ parque de estacionamento junto à ala norte do edifício Camões; 2 ‒ espaço entre a vedação e a ala sul do edifício Camões). Página 6 Confluências OFICINA DE RETÓRICA – TRABALHO DE CASA UM OUTRO «PRO DOMO»* (a ser apresentado na sessão da OFICINA DE RETÓRICA de 12 de Novembro p.p. em que foi palestrante o Prof. Luís Cerqueira) 1. Prezados concidadãos desta nossa «respublica» académica secundária. A todos me dirijo mas especialmente a vós, jovens, porque sois sensíveis às boas causas e porque acredito nos meus muitos anos de participação pessoal activa na preservação e divulgação do nosso património institucional, quer o histórico quer o contemporâneo; além disto, sinto que serei ouvido com atenção (quiçá com compreensão e até agrado) sem medo de reacções carregadas de melindres e susceptibilidades. 2. LER PARA VIVER é o lema de um excelente projecto de complemento curricular que desde há algum tempo nos vem enriquecendo biobibliograficamente, sobretudo quanto a obras e autores mais recentes. Porém, quanto à divulgação e preservação dos mais antigos (ficção, ensaio, História, Ciência) que enchem as estantes das duas salas da Biblioteca da escola, o desinteresse, a indiferença, o abandono a que os livros estão sujeitos escandalizam qualquer um… Assim, as gigantescas letras que compõem a epígrafe LER PARA VIVER, ostensivamente penduradas na portas da estantaria da sala grande da Biblioteca, são uma manifesta e espantosa contradição com o estado semiarrumado, desarrumado, sujo, «aleijado», «ferido», des- prezado, distante, ignorado, em que se encontra a maioria do referido e vasto espólio… LIVROS NÃO PARA VIVER MAS PARA DEIXAR MORRER? Até quando, ó cidadãos, suportaremos tal estado de coisas? 3. Amigos: – Temos de reagir, vamos desejar, vamos querer, vamos agir, vamos pedir, vamos exigir, vamos principalmente ajudar a inverter este dramático «status quo»: há «tesouros» escondidos atrás das grades, atrás das portas e nas gavetas dos «baixos» das estantes das salas da Biblioteca, como os há nos múltiplos espaços do Arquivo da Secretaria – e que têm vindo a ser sistematicamente publicitados… Venham descobrir esses livros, venham cuidar deles, venham conhecê-los, lê-los, mostrá-los nas vitrinas (há tanto tempo vazias), nos armários (sempre escuros e há tanto tempo vazios) do átrio do 1º andar… – não deixemos emudecer esses livros, petrificar, apodrecer, não viver mas morrer, morrer, morrer de pé, silenciosamente! *«PRO DOMO» (ou «PRO DOMO SUA AD PONTIFICES») foi o discurso pronunciado por Cícero em 57 a.C. contra o seu inimigo e tribuno da plebe Clódio Pulcher que não só conseguira exilá-lo mas também lhe danificara as suas «villae rusticae» (em Formies e Frescati) e arrasara a «villa urbana» situada no Palatino para no seu terreno («consagrado») erguer um templo à Liberdade. Cícero convenceu os pontífices das irregularidades e iniquidades praticadas por Clódio e obteve da «Respublica» o restauro do património e uma generosa indemnização. (Este texto não segue o Acordo Ortográfico) Prof. José Luís Vasconcellos RECENSÃO Dallas Buyers Club Dez anos demorou a ser realizado este projeto, até que chegou às mãos de Matthew McConaughey. Decidido a que o projeto visse a luz do dia, recrutou Jean-Marc Vallée que, maravilhado pelo guião, decidiu realizá-lo. Este é o filme que passou de um pequeno filme independente a ser nomeado e galardoado nos Óscares. Situado no Texas, na década de oitenta, o filme foca o preconceito existente na altura para com os doentes de SIDA e os clubes de compradores formados pelos mesmos. Ron Woodroof é um eletricista que ao descobrir que é seropositivo e com apenas 30 dias de vida se recusa a morrer. Enquanto está internado, conhece Rayon, interpretada por Jared Leto, também infetada e que está num programa de medicação que se mostra ineficaz. Woodroof cria então um clube de compradores onde vende cotas em troca de medicamentos eficazes mas não aprovados pela FDA (Food and Drug Administration). Apesar de longo, o filme, baseado numa história verídica, nunca cansa os espetadores; existem reviravoltas inesperadas, mas o realizador consegue um equilíbrio entre o tema sério do filme e momentos cómicos muito bem conseguidos que aligeiram o ambiente pesado da película. O guião fantástico, juntamente com improvisos por parte dos atores, permite momentos e diálogos fluidos. A luta de Woodroof para se manter vivo, a si e a outros, enquanto a FDA tenta tudo para o impedir de fazê-lo, apesar de os medicamentos por ele utilizados serem eficazes e seguros, prende o auditório no seu lugar. As interpretações de Matthew e Jared são fenomenais, e os Óscares e outros prémios atribuídos mais que merecidos após o seu esforço e dedicação ao filme, em que perderam mais de 30kg cada um. Este é um filme obrigatório para amantes de cinema independente, realizado em apenas 25 dias, e que mostra como, para fazer um bom filme, não são necessários efeitos especiais e milhões de dólares. Leonor Alves, 11º A Página 7 Confluências MEMÓRIAS DA I GUERRA MUNDIAL O ano de 2014 marca o início das Comemorações do Centenário do conflito mundial de 1914-1918 A Escola Secundária de Camões associando-se a estas comemorações, empenhou-se na pesquisa e coligiu um conjunto de documentação que a liga ao quotidiano da Guerra. No passado mês de julho, a Professora Fernanda Rollo (presidente do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa – IHC-FCSH) esteve reunida, na escola, com o diretor João Jaime Pires e os profs. Cecília Cunha, Lino das Neves e José Luís Vasconcellos, com os seguintes objetivos: “1º - apresentar as linhas gerais de um protocolo de cooperação, entre o IHC e a escola, tendo em vista receber os seus investigadores, e, simultaneamente, fomentar, junto de alunos e professores, ações e estudos que aprofundem o conhecimento histórico e do património arquivístico da Esc. Sec. de Camões; “2º - obter, desde já, testemunhos relativos ao Lyceu durante a Grande Guerra cujo significado justifique a sua possível integração numa grande exposição temática sobre Portugal, 1914-1918 que abrirá no próximo Outono.” Entretanto, em outubro, alunos da nossa escola estiveram na Sessão Solene dos «Dias da Memória», na Assembleia da República, e durante três dias, de 17 a 19, mais de seis dezenas participaram, como voluntários, na recolha de memórias do confronto que levou 100 mil soldados portugueses à frente de batalha. Esta iniciativa justificou a vinda da TSF à escola, tendo a jornalista Cristina Santos realizado uma reportagem com o título “Foi ontem a guerra”, na qual entrevistou alunos e professores que têm coleções par- ticulares e/ou objetos sobre a 1.ª Guerra. [ouvir em: http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Vida/ Interior.aspx?content_id=4210073] Nesta reportagem, a Professora Fernanda Rollo refere-se ao Arquivo do Camões como uma referência para essa época, pois passou por aqui muita gente relacionada com a guerra, sob vários pontos de vista, quer aqueles que foram para a guerra (professores como Aquilino Ribeiro, por exemplo) quer ainda, porque o Liceu Camões sofreu o impacto do fim da guerra, reintroduzindo aqueles que vieram, os filhos dos mutilados, os filhos dos soldados. Diz ainda que o Liceu Camões nos ajuda a contar os vários lados da guerra, sobretudo a guerra que se vive dentro de portas, que é tão dura do ponto de vista social. O nosso Arquivo ainda hoje mantém documentos históricos da época, tais como: pedidos do Ministério da Guerra ao Reitor (lista de todos os professores e funcionários e respetiva situação militar, por ex.); registos sobre a transformação do Ginásio em Hospital, devido à proliferação da gripe espanhola ou gripe pneumónica; Acta do Conselho Escolar a saudar o Armistício e a vitória dos Aliados; Documentos vários com alusões a mutilados, inválidos, viúvas e órfãos de guerra. Com este projeto, pretende-se lançar um convite à comunidade escolar para suscitar a pesquisa e a descoberta, junto de familiares, amigos e conhecidos, de testemunhos, de peças e de toda a espécie de documentos relacionados com a I Grande Guerra. O objetivo é reunir um conjunto de objetos que serão depois fotografados e/ou digitalizados. O resultado ficará acessível ao Mundo através da Internet, nos sites europeana19141918.eu e http://portugal1914.org/. Página 8 Confluências AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DE LISBOA Lumiar e Alfama Por Luís Ribeiro niram-se dois núcleos populacionais originando Professor Associado com agregação (IST) um incremento da construção de edifícios laicos e Ex-aluno do Liceu Camões (1965-1972) religiosos. Surgiram a Quinta das Conchas e a 1 Introdução A água subterrânea sempre esteve presente no imaginário popular de Lisboa refletida, quer nos inúmeros chafarizes, bicas, poços e cisternas que aí existem, quer em locais que já desapareceram, mas que deixaram a sua marca indelével na toponímia local. A urbanização intensiva, tem impactos significativos nas componentes do ciclo hidrológico natural nomeadamente na recarga dos aquíferos urbanos. Se é certo que a impermeabilização dos solos originada pela construção de edifícios, estradas e infraestruturas reduz a infiltração da água da chuva, também é verdade que outros tipos de água, podem entrar nos aquíferos a partir das ruturas das redes de condutas de abastecimento urbano de água, das redes de coletores de esgotos e da rede de águas pluviais. Outro tipo de recarga, mais diminuta, mas também importante, é a proveniente da rega de jardins e de outros espaços verdes, que existem em muitas zonas urbanas. Por sua vez a malha urbana tem vindo a aumentar a grande ritmo nas últimas décadas. Aquilo que era uma área rural na primeira metade do século XX, transformou-se nos nossos dias numa zona de grande densidade urbana com infraestruturas associadas tais como jardins e outros espaços verdes artificiais, uma rede viária muito desenvolvida, redes subterrâneas de distribuição de água, saneamento básico e de coletores pluviais. É pois previsível que, numa região com estas características, o impacto provocado pela impermeabilização dos solos e pela eventual rutura da rede de distribuição de água e dos coletores de esgotos e de águas pluviais nas águas subterrâneas seja significativo. Quinta dos Marqueses de Angeja, a par de outras edificações mais modestas, de que ainda subsistem vestígios. No início do séc. XVIII, era definido o Lumiar, como "um sítio de nobres quintas, olivais e vinhas", sendo incorporado no território da Cidade de Lisboa a 18 de Julho de 1885. Por volta de 1860, Telheiras consistia em menos de quatro dezenas de casas térreas, albergando, ao todo, cerca de 150 pessoas. O núcleo histórico atualmente designado por “Telheiras Velha” inclui ainda algumas das casas desse tempo, assim como vestígios das muitas quintas contíguas. A antiga aldeia do Lumiar perdeu quase definitivamente as suas características nas últimas décadas, especialmente depois da construção da via rápida Avenida Padre Cruz. Esta freguesia é uma das mais populosas de Lisboa, com cerca de 45.000 habitantes. Os espaços verdes são escassos e estão praticamente limitados a pequenos jardins, ao Parque das Quintas das Conchas e dos Lilases e ao Parque Monteiro-Mor. Os poços na zona do Luminar captam formações sedimentares holocénicas e miocénicas, de origem marinha, de grande complexidade litológica, as quais apresentam grande variabilidade de características hidrodinâmicas. Em alguns espaços como o Parque do Monteiro-Mor e a Quinta das Conchas e Lilazes a água subterrânea captada em poços e galerias de mina continua a ser utilizada para rega. 2 Lumiar O território onde atualmente está delimitada a freguesia do Lumiar, conheceu ocupação humana desde os alvores da pré-história. No séc. XVI defi- Fig. 1 – Edifício no Parque das Conchas e dos Lilazes onde se localiza uma galeria de mina Página 9 Confluências AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DE LISBOA Lumiar e Alfama (cont. página anterior) 3 Alfama Sendo possuidora das águas mais mineralizadas da cidade de Lisboa, Alfama foi durante séculos, referência obrigatória em cartas, relatos de viagem ou estudos. À sua qualidade, abundância e temperatura não foi estranho o povo árabe que aí viveu, ao atribuir à zona o único nome possível – Al-hama, sinónimo de fonte de água quente ou nascente termal. As termas mais antigas da cidade remontam ao domínio romano, no entanto estas nascentes aproveitadas para banhos atingiram notoriedade a partir do século XVIII, quando a terapêutica das águas motivou o interesse de estudiosos e médicos, o que conduziu a uma renovação de todas as alcaçarias, cada vez mais transformadas em banhos de acordo com as novas tendências da medicina da época. As águas que brotavam em Lisboa e suas imediações apresentavam origens diversas: Aluviais, Terciárias, Artesianas, Basálticas e Cretácicas. Assim estas águas fizeram surgir as alcaçarias ligadas inicialmente ao curtimento das peles, às lavagens de roupa e à ingestão. Acciaiuoli faz referência ao capítulo XII do livro de 1610, escrito por Duarte Nunes de Leão, “Descrição do Reino de Portugal”, que dizia que as Alcaçarias “serviam às mulheres de serviço para ensaboarem a roupa, por escusarem aquentar a água, a qual se bebessem, parecia que faria bom efeito”. Segundo parece, esta é a primeira referência quer à termalidade das águas, quer a efeitos benéficos que estas produziam. Alfama sempre foi autossustentada do ponto de vista do abastecimento de água, pois ali brotavam inúmeras nascentes cujas águas eram conduzidas até aos chafarizes onde a população se ia abastecer. Apenas a partir da primeira metade do século XX é que Alfama deixou de ser abastecida pela água dos seus chafarizes, pois esta começou a apresentar sinais de má qualidade passando o seu abastecimento a ser assegurado pela Companhia de Águas de Lisboa. Em Alfama existia uma linha de nascentes que viria desde o Cais da Fundição (ou até antes da Bica do Sapato) até ao Chafariz de El-Rei. Dessa linha, faziam parte: o Boqueirão da Praia da Galé, o Jardim do Tabaco, o Beco do Penabuquel, o Chafariz da Praia, o Chafariz de Dentro, os Banhos do Doutor Fernando, os de Dona Clara e do Baptista. Vindas de uma profundidade que se calcula superior a 450 metros, estas nascentes de temperatura elevada, de caudal interdependente e de composição química semelhante brotam no sopé da encosta de Alfama. Tal como já foi referido, estas águas possuíam propriedades terapêuticas, referenciadas muitas vezes em diversas literaturas. Henriques (1726), no seu Aquilégio Medicinal, refere no capítulo que diz respeito às Caldas de Lisboa Oriental que estas águas são “...de muita utilidade em curar as intemperanças quentes das entranhas, do sangue, do útero, dos rins e das mais partes do corpo; e os estupores e parlesias espurios; a debilidade de estomâgo; a fraquesa e queixas das juntas que ficam das gotas artéticas, e reumatismos; as convulsões, os acidentes do útero (...), os vómitos dos hipocôndriacos; as diarreias (…). Para os achaques a que chamam figado, são prodigiosos, porque curam as pústulas, sarnas, impingens, lepra e todos os achaques e defedações cutâneas…” Devido à existência de todas estas emergências, a toponímia da zona tem uma grande ligação com atividades ligadas à água. Exemplos disso são o Beco dos Curtumes (ou Beco das Alcaçarias), Beco das Barrelas (ou Beco de Alfama) e o Tanque das Lavadeiras. O próprio Terreiro do Trigo denominava-se Campo da Lã, por ser o local onde esta secava após ser lavada no Beco dos Curtumes. Fig. 2 – Chafariz de El-Rei em Alfama Página 10 Confluências Biologia e Geologia ‒ Uma Reportagem SCIENCECALIFRAGILISTIC 2013 / 2014 CNP, professores, colegas e familiares. 11 de maio de 2014 Simpósio Sciencecalifragilistic «O Sciencecalifragilistic é um projeto de educação e ciência, desenvolvido por um (Fundação Champalimaud) grupo de alunos de doutoramento e pósDas escolas selecionadas, a Escola Secundária de Camões esteve representada pelas alunas Ana Catarina Sousa e Beatriz Suyomov (12º ano de Biologia) e pela professora Idalina Simões. O programa deste ano incluiu uma palestra sobre o método científico, proferida pelo Professor Doutor António Coutinho; duas apresentações sobre projetos de investigação, pelo neurocientista Rui Costa e pelo aluno de doutoramento Gil Costa e uma sessão de posters, durante a qual os alunos que participaram no projeto apresentaram os seus trabalhos e discutiram os resultados com os investigadores do doutoramento do Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud (CNP) e financiado pelo Programa “Escolher Ciência” promovido pela Ciência Viva - Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica. Este projeto inovador, lançado em janeiro de 2013, tem como objetivo principal fomentar o pensamento crítico e criativo de alunos do secundário, num ambiente laboratorial, envolvendo a comunidade escolar e investigadores do Programa Champalimaud de Neurociências.» Página 11 Confluências Biologia e Geologia ‒ Uma Reportagem (cont. 2) SCIENCECALIFRAGILISTIC 2013 / 2014 Página 12 Confluências Biologia e Geologia ‒ Uma Reportagem (cont. 3) ALUNOS DE ARTES EXPÕEM COM REGULARIDADE NO HALL DA BIBLIOTECA Página 13 Confluências INICIATIVAS Memórias da I Guerra chegam à Assembleia TSF, 07 OUT 14 No ano em que passam 100 anos sobre o início da I Guerra Mundial, a iniciativa Dias da Memória reúne recordações do confronto que levou 100 mil soldados portugueses à frente de batalha. Durante três dias, de 17 a 19 de outubro, a Assembleia da República abre as portas a todos os cidadãos que queiram partilhar histórias de família, postais, cartas, objetos ou quaisquer registos que ajudem a perpetuar a memória da Grande Guerra. O resultado será digitalizado e ficará acessível ao Mundo através da Internet, nos sites europeana1914-1918.eu e http://portugal1914.org/. Para sempre. Exemplo dessa recolha de memórias é o envolvimento do Liceu Camões que ainda hoje mantém no arquivo documentos históricos da época e que vai participar nos «Dias da Memória» com a presença de muitos alunos que, voluntariamente, vão estar a receber os portugueses que tenham memórias e queiram partilhá-las. As memórias da I Guerra não se ficam pelo Liceu Camões. Rosarinho Rodrigues teve um familiar que esteve na Guerra durante oito meses e que nesse espaço de tempo escreveu 527 postais para a mãe. Esses postais são a única memória deste jovem tenente. Alguns desses postais vão estar disponíveis para ser vistos na exposição "Portugal e a Grande Guerra". Uma exposição inaugurada dia 7 de Outubro às 18h30 e que explora os factos mais marcantes da participação portuguesa na I Guerra Mundial (1914-1918) e o impacto na vida política, social e artística em Portugal. http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=4165887 maldisseram o homem por condizer catorze mil e seiscentas madrugadas e o homem disse-se A Associação Portuguesa de Escritores apresentou no dia 20 de maio, na Livraria Ferin (Lisboa), a coletânea de textos Abril 40 Anos. Uma forma simbólica de celebrar Abril pela palavra de noventa associados da APE. muitas e muitas as sombras para uma cerrada e alva madrugada catorze mil e seiscentas madrugadas e o homem dito de resistência inscrita rejeita a impostura que medra nas malhas da grei (Ao lado, um poema de António Souto inserto na antologia.) (para abril de 2014) catorze mil e seiscentas madrugadas Muitas e muitas foram as noites negras que encaneceram o homem por fazer-se catorze mil e seiscentas madrugadas e o homem fez-se muitas e muitas as noites para uma longa e breve madrugada catorze mil e seiscentas madrugadas e o homem feito de sonhos havidos disfarça a bruma que sobra nas sobras do luar muitas e muitas foram as sombras cegas que muitas e muitas foram as palavras mudas que cercearam o homem por apartar-se catorze mil e seiscentas madrugadas e o homem libertou-se muitas e muitas as palavras para uma quista e encetada madrugada catorze mil e seiscentas madrugadas e o homem livre de privação revolta mantém a chama que mingua a cada dia que passa muitas e muitas foram as vontades que abraçaram o homem amanhecido e e catorze mil e seiscentas madrugadas que entardecem o homem novo por vingar Abril António Souto Página 14 Confluências INICIATIVAS OFICINA DE RETÓRICA Começou dia 8 deste mês de outubro a esperada Oficina de Retórica. Para aqueles que pretendem aprender a arte de bem falar e da persuasão, participar em debates discursivos ou, simplesmente, adquirir alguma cultura, a Biblioteca Velha deste nosso Camões estará aberta a estudantes e professores às quartas-feiras, entre as 17h00 e as 18h30. Na primeira sessão, tivemos o prazer de receber o Professor Miguel Tamen que assoberbou o público com a sua entusiástica eloquência a par de uma distinta cultura histórica, filosófica e linguística. A preleção do docente da Universidade de Lisboa incidiu sobre a definição e a origem da retórica, aludindo às perspetivas dos maiores filósofos da Antiguidade Clássica relativamente a esta disciplina. Desta forma, foi geral a sensação de que a oficina contou com um prólogo oportuno e adequado. Como não podia deixar de ser, e confirman- do todas as expetativas, a qualidade acompanhou a quantidade. Com efeito, a aula do Professor Luís Cerqueira, também da Faculdade de Letras, proporcionou um vínculo harmonioso entre os temas anteriormente discutidos e as novas questões em análise. Nesta sessão, os participantes tiveram oportunidade de aprender a fórmula de construção de um discurso, numa abordagem mais prática. Porém, não descurando a componente histórica, alunos e docentes têm agora um novo conhecimento sobre o elo entre a Literatura e a Retórica ou até a visão Romana da Oratória. Para além destes exemplos, surgirão muitos mais ao longo desta Oficina que se estenderá até dezembro. Uma iniciativa do Movimento Camoniano que visa a aprendizagem e o conhecimento como fonte de prazer, a fim de proporcionar um leque mais vasto de oportunidades académicas. A todos os interessados, deixamos esta mensagem para que aproveitem os privilégios deste grande ‘liceu’! Ana Maria Begonha, 11º L The Playwright (reposição da comédia burlesca escrita pelos ‘nossos atores’) Grupo de teatro de inglês da ESC Espetáculo dia 15 de novembro de 2014 (sábado), 21h00, Auditório. Durante o ano letivo haverá ainda lugar à apresentação de outros espetáculos diferentes: em Dezembro, na Flul; em Fevereiro, no festival de peças de um minuto, com outras escolas; no 3º período, uma adaptação do filme de Bunurl, O Anjo Exterminador (em preparação). Em busca das águas invisíveis 31 de maio de 2014 (sábado) Foi ainda no ano letivo transato, mas vale a pena o registo. Um belo "Passeio pela história da água no bairro de Alfama" (com a orientação e o saber de Catarina Silva (FCUL) e de Luís Ribeiro (IST). Página 15 Confluências (AINDA) D. OLINDA Agradecimento os que ficam!”. Calei-me. Estava perante um exemplo É com profundo desconsolo, mágoa e pesar, ao mesmo tempo que com alguma satisfação (a que nos resignamos por saber sabê-la justa, merecida e devida), que damos conta da aposentação de Dona Olinda, que cessa assim uma dedicação de 40 anos, iniciada, note-se, em 1974, a uma Casa que conta, entretanto, 105 anos. No outro dia, tentava eu, ingenuamente, enaltecerlhe os feitos, agradecendo-lhe o afeto, a devoção e o sacrífico com que se nos entregou desde sempre, primando pela harmonia, profissionalismo e ordem, bem como o sorriso rasgado com que sempre nos acolheu, nunca cobrando ou amarelando. Por essa altura imaginava-a em flashbacks, revendo 40 anos de momentos, situações, alunos e professores com que privou, atingindo a excelência na proposta de trabalho a que se apresentou e lhe foi confiada, tomando exata consciência do tamanho que a sua contribuição teve na edificação da sociedade, fazendo um balanço da quantidade de pessoas que estiveram sob a sua responsabilidade e do peso que a sua postura e disposição para as atender teve nas suas vidas. Não. Refletindo e admitindo, como é seu hábito, devolveu-me prontamente “eh, pá, quem importa são Uma pequena lembrança A esta altura, já a D. Olinda deve estar intrigada com o facto de ter um espaço para si neste boletim que viu nascer e crescer… No meu entender, a D. Olinda, mais do que ninguém, merece esta pequena lembrança, embora nem a quantidade exorbitante de livros que tem a nossa biblioteca (e que a D. Olinda tão bem conhece) chegue para descrever o quão essencial foi / é esta senhora na vida do Camões e nas vidas de cada um de nós. Alguns podem achar estranho quando me veem a chorar desalmadamente porque, ao fim de 40 anos, esta senhora vai tirar as tão merecidas férias, mesmo estando eu apenas presente nestes três últimos anos. Contudo, para mim, é normal. No início do meu 10º ano, não dei do melhor que a Natureza humana tem para oferecer, um modelo de humildade, honestidade e diálogo. Exemplos destes escasseiam cada vez mais. A Escola Secundária de Camões desanima e empobrece com esta saída. Perdoem-me o excesso da frase anterior, gostaria de descrever com exatidão tudo quanto merece Dona Olinda, de lhe conseguir despertar os mesmos sentimentos que despertou, com certeza, em muitos de nós. Mais uma vez perdoem-me, por ter tentado. Não deixa de ser curioso como as mais simples e genuínas pessoas são também as mais complexas de descrever. Esta mensagem não pretendia ser mais do que uma ligeira homenagem de agradecimento público ao invejável cumprimento de 40 anos de carreira ao serviço de uma causa, particularmente da Educação democrática e da formação de verdadeiros jovens cidadãos portugueses. Assim, renovo-lhe os meus mais sinceros agradecimentos e um enorme Respeito, desejando-lhe, D. Olinda, as maiores felicidades, e que viva esta nova fase da sua vida com a qualidade e dignidade que tanto merece, nunca esquecendo que ninguém se aposenta dos amigos, nem tão pouco da profissão que abraçou. Muito obrigado e até sempre! Pel’ Associação de Estudantes da Escola Secundária de Camões, Alexandre de Albuquerque Cabral logo por si, talvez pela sua maneira simples de ser. Até que perguntei a alguém quem era a “chefe” e me disseram que era aquela senhora pequenina que, por vezes, estava na entrada. Aí, percebi que, afinal, já a conhecia de vista (porque é impossível alguém não conhecer a D. Olinda). Mas o melhor estava para vir: conhecê-la pessoalmente. Tal como aconteceu a milhares de pessoas, ao longo destes anos, desde sempre que fui acarinhado por si. Quando andei perdido na imensidão de salas e recantos que tem a nossa Escola, foi a D. Olinda que me ajudou. Quando não sabia como fazer isto ou aquilo, foi a D. Olinda que me ajudou. Sempre que precisei de algo, foi a D. Olinda que me ajudou. Quando me senti desorientado, também a D. Olinda me ajudou. Continuo com a convicção de que se lhe derem as chaves de todas as portas desta Escola, saberá com que chave deve abrir todas e cada uma dessas portas. A vida é feita de mudança. Ao longo destes anos, vimos em si uma grande paixão pela Escola. Paixão essa feita de gestos repletos de amor e de ternura. Eu gosto muito de gostar. E fiquei a gostar muito de si! Acho que os 40 anos que passou neste liceu lhe valeram de muito e valeu para nós tê-la conhecido! A D. Olinda fará, para sempre, parte do nosso Camões! Obrigado por tudo! Com carinho, João Silva ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES http://www.escamoes.pt BE/CRE Página 16 Confluências http://esccamoes.blogspot.com/ B R E V E S ALGUMAS DAS MUITAS ATIVIDADES QUE VÃO TENDO LUGAR NA ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES (O PROFESSOR LINO DAS NEVES REGISTA-AS EM CARTAZES) APOSENTAÇÕES Maria Teresa Carvalhal (11º Gr. B) Maria Jessé Chaveiro (6º/7º Gr., rescisão) Maria João Conde (6º/7º Gr., rescisão) José Manuel Oliveira Rodrigues (6º/7º Gr.) Maria do Carmo Lopes (assistente operacional, transitou para a P. J.) www.escamoes.pt A todos quantos colaboraram com a cedência de fotos e trabalhos para este Boletim, uma palavra de agradecimento. Com o generoso apoio do Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal
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