fisioterapia em evidência
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issn 2178-1672 volume 1, Número 2, julho/AGOSTO 2010 Revist a FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA Número 2, dezembro 2010 f a c u l d a d e muito além do ensino ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 1 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, p. 2, julho/agosto 2010 Revista Informações básicas A Revista Fisioterapia em Evidência, ISSN 2178-1672, é uma publicação semestral do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. Publicada desde 2010, adota o processo de revisão por especialistas (peer review), sendo cada artigo publicado após a aceitação dos revisores, mantidos no anonimato. Os conceitos e opiniões emitidos nos artigos são de inteira responsabilidade de seus autores. A submissão de artigos pressupõe que, com exceção dos resumos ampliados, não tenham sido publicados anteriormente nem submetidos a outra publicação. O título abreviado da revista é Fisioter. Evid., forma que deve ser usada em bibliografias, notas de rodapé, referências e legendas bibliográficas. A revista encontra-se gratuitamente disponível no site da Faculdade Dom Bosco. Missão Publicar artigos originais de pesquisa cujo objetivo básico se refere ao campo de atuação profissional da fisioterapia e da reabilitação. Ficha catalográfica Revista Fisioterapia em Evidência/Faculdade Dom Bosco. vol. 1, n. 2 (2010). Curitiba: FDB, 2010 Semestral Sumários em inglês e português ISSN 2178-1672 1. Fisioterapia – Periódicos. I. Faculdade Dom Bosco. CDD 615.82 CDU 615.8 2 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, p. 2, julho/agosto 2010 Revista Editores responsáveis Silvia Regina Valderramas (doutora) [email protected] Salete do Rocio Cavassin Brandalize (mestre) [email protected] Conselho editorial Anna Raquel Silveira Gomes Universidade Federal do Paraná – Curitiba-PR – Brasil Ariani Cavazzani Szkudlarek (doutora) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Cassio Preis (mestre) Faculdade Dom Bosco e PUCPR – Curitiba-PR – Brasil Claudia Chaguri de Oliveira Pellenz (mestre) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Cristiane Gonçalves Ribas (mestre) Faculdade Dom Bosco e PUCPR – Curitiba-PR – Brasil Cristiane Regina Gruber (mestre) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Francisco Ernesto H. Zanardini (mestre) Faculdade Dom Bosco, Uniandrade e Faculdade Espírita – Curitiba-PR – Brasil Gilda Maria Grasse Luck (doutora) Faculdade Dom Bosco e Facel – Curitiba-PR – Brasil Isabel Cristina Bini (mestre) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Marcelo Kryczyk (doutor) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Marcia Maria Kulczycki (mestre) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Sandra Mara Meireles Adolph (doutora) Universidade Federal de São Paulo – São Paulo-SP – Brasil Editoração eletrônica Comunicação Dom Bosco - [email protected] INFORMAÇÕES PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS Todo o material a ser publicado deve ser submetido online por meio do site: www.fisioterapia.com.br/revista ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 3 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, p. 4, julho/agosto 2010 Revista Sumário Artigo 1 .............................................................................................................. 5 AInfluência da articulação sacroilíaca na lombalgia gestacional e/ou dor pélvica posterior Sacroiliac joint influence on gestational low back pain and/or posterior pelvic pain Artigo 2 .............................................................................................................. 5 Efeitos profiláticos da hidrocinesioterapia sobre os fatores de risco cardiovasculares modificáveis em mulheres na faixa etária de 46 a 75anos Prophylactic effect of hydrokinesiotherapy on modifiable cardiovascular risk factors in women aged 46 to 75 years old Artigo 3 .............................................................................................................. 5 Utilização da técnica do bag squeezing seguida da cocontração de membros inferiores em crianças de 0 a 1 ano, submetidas à ventilação mecânica invasiva por insuficiência respiratória aguda CUsing the technique of bag squeezing next of co-contraction of lower limb in children from 0 to 1 year, subject to invasive mechanical ventilation for acute respiratory failure Artigo 4 .............................................................................................................. 5 Estudo comparativo da intervenção fisioterapêutica por meio da psicomotricidade com crianças normais de 3 meses a 2 anos de idade que apresentam atraso motor em dois centros municipais de educação infantil (CMEIs) Comparative of physiotherapic intervention through psychomove with regular children from 3 months to 2 years of age that present motor lateness in two municipal centers of child education (CMEIs) Artigo 5 .............................................................................................................. 5 Classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde: perspectivas emergentes para a fisioterapia International Classification of Functioning, Disability and Health: emergent perspectives for the physiotherapy Normas para apresentação de artigos .................................................. 49 4 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, p. 5, julho/agosto 2010 Revista Editorial FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA A fisioterapia como ciência que estuda o movimento humano está em evidência. Neste ano, o reconhecimento da profissão no Brasil completou 41 anos. O cenário vislumbra uma diversidade de práticas e saberes, desde abordagens individuais e coletivas da atenção básica até utilização de recursos tecnológicos sofisticados em atendimentos de alta complexidade. Nesta edição, o leitor pode aproximar-se de artigos sobre diferentes temas e áreas de atuação: ginecologia e obstetrícia, cardiovascular, neonatologia e neuropediatria, tanto de modo preventivo como curativo. O último artigo refere-se às perspectivas da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), documento publicado em 2001 pela Organização Mundial de Saúde, que tem como objetivo geral unificar a linguagem e padronizar a descrição de saúde e os componentes do bem-estar relacionados à saúde. Este documento vem sendo amplamente divulgado, com vistas à sua aplicação por todos os profissionais da saúde. Boa leitura! Salete do Rocio Cavassin Brandalize Editora responsável Coordenadora do Curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 5 Artigo 1 Influência da articulação sacroilíaca na lombalgia gestacional e/ou dor pélvica posterior Sacroiliac joint influence on gestational low back pain and/or posterior pelvic pain Marília Almeida Prado Gava Torácio* Raciele Ivandra Guarda Korelo** * Fisioterapeuta formada pela Faculdade Dom Bosco. ** Mestre em tecnologia em saúde pela PUC-PR. Docente do curso de fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. Resumo O objetivo deste estudo foi verificar a influência da articulação sacroilíaca na lombalgia gestacional e/ou dor pélvica posterior, bem como constatar se ela impõe componentes que possam agravar o quadro álgico. Foram avaliadas 33 gestantes com mais de 12 semanas de gestação, cadastradas no programa de pré-natal da Unidade de Saúde Mãe Curitibana, na cidade de Curitiba, Paraná. Foi realizada avaliação fisioterapêutica, que incluiu observar alterações na articulação sacroilíaca e coluna lombar, localização e grau de dor mediante escala visual analógica (EVA), restrições provocadas pela dor lombar conforme questionário de Roland-Morris (RM) e qualidade de vida através do Short Form Health Survey (SF-36). Os resultados foram apresentados através de frequências simples, médias e desvio-padrão, tendo sido possível aplicar o teste estatístico Anova para algumas variáveis, porém sem 6 significância estatística. Resultados encontrados com o estudo: parece haver relação entre a dor lombar e pélvica posterior e a disfunção sacroilíaca; a maioria das gestantes relatou sintomas de quadril posterior; a dor lombar foi a queixa álgica mais frequente, com maior índice de queixa no terceiro trimestre de gestação; há relação entre dor antes da gestação e piora durante o período gestacional a presença de dor na gestação influencia de maneira negativa na qualidade de vida das gestantes e nas restrições da AVDs. Pode-se concluir que o fisioterapeuta deve incluir avaliação da articulação sacroilíaca em gestantes com queixas álgicas em coluna, para determinação de um protocolo de tratamento ideal. Palavras-chave: dor lombar, dor pélvica posterior, gestação, fisioterapia Abstract The objective of this study was to verify the sacroiliac joint influence on gestational low back pain and/or posterior pelvic pain, as well to evidence if it imposed components that affect the pain situation. Were evaluated 33 pregnant with more than 12 weeks of gestation and which realized the prenatal in the Mãe Curitibana Health Care Unit in the City of Curitiba, Paraná. It was realized a physiotherapeutic evaluation that includes the evaluation of alterations on the sacroiliac joint and the low back, the localization and the pain level through the visual analog scale (VAS), the evaluation of restrictions provoked by the low back pain through the Roland-Morris questionnaire (RM), and the evaluation of life’s quality through the Short Form Health Survey (SF-36). The results were obtained by simple frequencies, means and standard deviation, as well to some variables was possible to apply the Anova test, however without any statistics significance. The results founded in the study were that: It seamed to exist a relation between the low back pain and the posterior pelvic pain with the sacroiliac dysfunction. The majority of the pregnants related symptoms of posterior hip. The low back pain was the most frequent pain complains, being its bigger frequency with the third quarter pregnants. There is relation between the pain before gestation and the pain aggravation during the gestational period, and the presence of gestational pain, influences in a negative manner ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 1 on life’s quality of the pregnants and on the day life’s activity restrictions. Therefore, it can be concluded that the physiotherapist must include the evaluation of the sacroiliac joint in pregnants with back pains, to determinate an ideal treatment protocol. Key words: back pain, posterior pelvic pain, gestation, physiotherapy Introdução A gestação impõe na mulher mudanças corporais em curto espaço de tempo, muitas vezes implicando quadros álgicos. Durante a gestação, o aparecimento de algias posturais, como a lombalgia, é muito comum, principalmente se a mulher já apresentava essa queixa antes de engravidar [1]. Dentre as algias decorrentes da gestação, destacam-se a coluna lombar, a articulação sacroilíaca e a região cervicotorácica, como as regiões mais acometidas respectivamente [6-11]. Em consultas de pré-natal, a lombalgia costuma ser a queixa mais comum entre as grávidas, chegando a acometer cerca de 50% delas [1]. A lombalgia é relatada como dor tipo pontada com intensidade variada, sendo mais comum a do tipo moderada, em que a paciente tem dificuldade para realizar suas atividades de vida diária [5]. Essa dor costuma iniciar entre o terceiro e o sexto mês gestacional e apresenta-se principalmente nos períodos da tarde e/ou noite. Sua frequência aumenta com a idade gestacional e estudos mostram que gestantes mais velhas sentem menos dor que as mais novas [3]. A dor pode ser agravada quando a gestante realiza movimentos de flexão e extensão do tronco, por esforços físicos, trabalhos domésticos, caminhadas e outras atividades que coloquem a coluna vertebral em tensão ou esforço. De acordo com frequência, intensidade e gravidade da dor que a lombalgia gestacional impõe nesse período da vida da mulher, a queixa pode muitas vezes, influenciar negativamente na qualidade de vida da gestante [4]. As diversas alterações fisiológicas decorrentes da gestação, como modificações biomecânicas, hormonais e vasculares, são consideradas, muitas vezes, as únicas causas da lombalgia gestacional, pois a gravidez limita as possibilidades diagnósticas e terapêuticas para esse quadro. Segundo Stephenson e O’ Connor [12], a articulação sacroilíaca (SI) é grande fonte de dor na maioria das gestantes, que pode ocorrer nos três primeiros meses de gestação, possivelmente associada à circulação de relaxina (hormônio produzido durante a gravidez) e às principais alterações fisiológicas e musculoesqueléticas no corpo da mulher. Os possíveis efeitos da gravi- dez na articulação SI são variados. Mudanças na orientação ou graus de movimento em numa articulação SI podem afetar a sínfise pubiana e a coluna, não havendo dúvida de que os distúrbios da coluna lombar e da articulação SI podem coexistir [9]. Durante a gestação, os ligamentos na articulação SI tornam-se mais flexíveis e podem resultar em superfícies desiguais na articulação. Isso ocorre em função dos movimentos repetitivos e constantes, que produz atritos entre as superfícies da articulação e pode deixá-la mais rígida, produzindo uma articulação travada em vez de móvel, causando dor. Pode, também, por esforços compensatórios, causar dor do lado oposto. A rotação anterior e posterior do osso do quadril, assim como as rotações do ílio sobre o sacro também são capazes de produzir dor [12]. Apesar dessas afirmativas, existem poucos estudos a respeito da influência da articulação SI na lombalgia gestacional. Assim, objetiva-se neste estudo verificar qual seria a influência da articulação sacroilíaca na lombalgia em gestantes e/ou dor pélvica posterior, para constatar se ela impõe componentes determinantes que agravam o quadro álgico. Sendo a disfunção sacroilíaca uma das causas da lombalgia gestacional, a avaliação fisioterapêutica em gestantes ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 7 Artigo 1 com queixa de lombalgia deve sempre incluir avaliação da articulação sacroilíaca, para que ese sintoma seja tratado adequadamente, buscando-se retirar a causa da dor e não apenas amenizá-la, o que faria manter a sintomatologia. O presente tema justificase pela relevância social, profissional e científica, visto esclarecer as causas da lombalgia gestacional, trazendo ao meio acadêmico, social e profissional, o direcionamento para o correto diagnóstico cinesiológico funcional, bem como, a utilização das técnicas de tratamento e aperfeiçoamento, proporcionando prognóstico de melhora de forma mais acelerada e eficaz. Materiais e métodos O experimento foi realizado nas dependências da Unidade de Saúde Mãe Curitibana, localizada na cidade de Curitiba, Paraná. Para definição da população de estudo, foi realizada uma amostragem do tipo probabilística aleatória extratificada. Foram avaliadas 33 gestantes abordadas por contato telefônico e que estavam dentro dos critérios de inclusão para a pesquisa: idade gestacional maior ou igual a 12 semanas; queixa de dor lombar e/ou pélvica posterior; acompanhamento pré-natal na Unidade de Saúde Mãe Curitibana. Após aprovação do estudo pelo Comitê de Ética em 8 Pesquisa da Faculdade Dom Bosco e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde, respeitando a resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, os indivíduos foram selecionados e esclarecidos em relação a este estudo, assim como, sobre seus riscos e benefícios. Após seleção e agendamento das voluntárias que concordaram em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, a avaliação físicofuncional com ênfase nas queixas de lombalgia e/ou dor pélvica posterior durante a gestação foi aplicada, bem como análise da qualidade de vida mediante aplicação dos questionários SF36 e RolandMorris para dor lombar. Os procedimentos para o estudo não causaram nenhum risco previsível, embora durante a avaliação a gestante pudesse sentir algum desconforto/dor em razão dos movimentos dos testes que servem para avaliar a presença de algia. A avaliação físico-funcional consistiu na realização de mensurações e testes enfatizando a coluna lombar e a articulação sacroilíaca. • Goniometria da coluna lombar – foram verificados os graus de amplitude de movimento (ADM) de flexão, extensão, flexão lateral e rotação da coluna lombar. • Verificação da dor lombar – foram realizados testes de provocação da dor lombar, teste de Lasègue, teste do alongamento do piriforme e teste da palpação direta do piriforme. • Verificação da dor em sínfise pubiana – realizou-se o teste da abertura ou teste de provocação da sínfise pubiana. • Verificação de dor pélvica posterior – foram realizados testes específicos para a articulação sacroilíaca, como o de verificação da dor pélvica posterior, o da bisnaga, de Gaenslen, de Piedallu, e teste para verificação de movimento restrito da articulação sacroilíaca. Considerou-se positivo o fato de a voluntária assinalar a região glútea no esquema corporal para apresentar sua dor, relatar história de presença de peso na pelve posterior (região glútea profunda) ou algia ao se virar na cama à noite. • Também foi utilizada a escala visual analógica (EVA) para medir a intensidade da dor da gestante. Após avaliação, as gestantes foram orientadas quanto a alguns métodos e exercícios para alívio da dor, através de fôlder ilustrativo. Foram analisados os dados obtidos nas avaliações mediante frequências simples, médias e desvio-padrão. Não foi possível aplicar testes estatísticos para todas as variáveis de estudo, pois os dados foram muito variados e a amostra não era estatisticamente significante. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 1 Resultados e discussão Das gestantes avaliadas, 90,9% apresentavam dor lombar. A lombalgia gestacional é relatada como dor do tipo pontada, de intensidade variada, sendo mais comum a do tipo moderada [4]. Nessa pesquisa, a maior incidência também foi de intensidade moderada, porém do tipo queimação ou pontada. Tabela 1 – Relação da localização da dor com idade gestacional Idade gestacional Lombar SI Cervical Glúteo 2º trimestre 12 (85,7%) 9 (64,2%) 0 5 (35,7%) N = 14 3º trimestre N = 19 18 (94,7%) 12 (63,1%) 1 (5,2%) 5 (26,3%) FONTE: Dados da pesquisa (2007) Obs.: a porcentagem ultrapassou 100%, pois a maioria das gestantes apresentava mais de uma queixa. Observou-se neste estudo que as gestantes no terceiro trimestre gestacional possuíam dor mais intensa que as gestantes no segundo trimestre de gestação, assemelhando-se ao encontrado na literatura– o aumento da idade gestacional faz aumentar a intensidade e frequência da dor. Maior porcentagem de gestantes entre 20-29 anos apresentaram dor de intensidade mais forte, comparadas a gestantes com menos de 19 anos ou mais de 30 anos. Alguns autores como Luz [3] e Polden e Mantle [9] afirmam que gestantes mais velhas sentem menos dor que gestantes mais novas e, numa segunda gravidez, a tendência de a dor ser mais forte é menor. Estudos realizados por Martins, Pinto e Silva [6], confirmam essa relação. Também não foi possível observar neste estudo a relação entre ganho de peso e intensidade da dor, concordando com pesquisas como as de Sperandio, Santos e Pereira [11] e Imamura, Kaziyama e Imamura [2], que afirmam não haver correlação entre ganho de peso e dor lombar na gestação. A intensidade da dor variou de maneira semelhante em gestantes que praticavam ou não atividade física. A prática de atividade física pré-gestacional, portanto, não garantiu às gestantes menor intensidade de dor durante a gestação. Esses resultados foram semelhantes a estudo realizado por Martins, Pinto e Silva [5]sobre a efetividade do tratamento de lombalgia e dor pélvica posterior na gestação. Segundo Östgaard et al [8], mulheres que praticam atividades físicas antes da gestação têm menor risco de apresentar dor lombar durante a gravidez. Ao observar os locais de acometimento da dor nesse estudo, a maioria das gestantes possuía mais de duas regiões álgicas, sendo mais acometida a lombar, seguida da articulação sacroilíaca, irradiação para glúteo, irradiação para membros inferiores e região cervical, respectivamente. Estudos como os escritos por Martins, Pinto e Silva [6] e por Sperandio, Santos e Pereira [11] revelam os mesmos achados em relação às regiões álgicas mais acometidas durante a gravidez. Foi observado que a maioria das gestantes não sabia apontar o local da dor em figura esquemática do corpo humano, bem como, tinha dificuldades para correlacionar a EVA numérica com a EVA gráfica, influenciando negativamente na interpretação dos dados deste estudo,cujo resultado evidenciou aumento da dor lombar gestacional (piora dos sintomas) em 81% das mulheres que já possuíam essa dor antes da gestação, 55% relataram intensificação da dor; as 29% restantes tiveram manti a intensidade de dor. Segundo Ostgaard et al (1991), Orvieto et al (1994),; Ostgaard, (1996), Sihvoven et al (1998), citados por Martins, Pinto e Silva [4], as mulheres que apresentam dor lombar pré-gestacional possuem risco duas vezes maior de apresentar algias durante a gestação do que as mulheres ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 9 Artigo 1 que não possuíam algias antes da gestação. E a dor tende a ser mais intensa do que nas gestantes que não possuíam histórico de dor. Tabela 2 – Pontuações do questionário SF-36 nas gestantes Na literatura, autores afirmam que a dor lombar pode intensificar-se quando a mulher realiza movimentos de flexão, extensão e lateralização do tronco, por esforços físicos, trabalhos domésticos e qualquer atividade que coloque a coluna vertebral em tensão ou esforço [4]. 23.85 Ao observarmos os fatores agravantes da dor, constatamos que agachar e ajoelhar-se, andar muito e levantar peso foram os fatores agravantes mais citados entre as gestantes, assemelhando-se à literatura. Também foi constatado que a maioria das gestantes tem como fator principal de redução da dor o ato de deitar (66,6%), seguido de calor local e massagem. A intensidade da dor demonstrou influenciar nas restrições das AVDs e na qualidade de vida das gestantes. Quanto mais forte a intensidade da dor, maior a chance de a gestante ter restrições nas atividades de vida diária, influenciando negativamente em qualidade de vida, e do sono, disposição física, desempenho no trabalho, na vida social e no lazer. Com aplicação do SF-36, os domínios dor e vitalidade apresentaram os piores resultados, demonstrando que estes podem interferir de maneira negativa na qualidade de vida das 10 Domínios do SF-36 Média DP Aspecto físico 56.43 37.25 Dor 20.3024.42 Estado geral de saúde 71.93 Vitalidade 48.7817.18 Aspectos sociais 66.85 28.82 Aspectos emocionais 56.28 38.81 Saúde mental 64.46 20.11 Capacidade funcional 56.36 21.06 N = 33; DP: desvio-padrão FONTE: Dados da pesquisa (2007) gestantes, seguidos de capacidade funcional, aspectos físico e emocional. Tais resultados sugerem que a dor pode prejudicar os resultados obtidos com esse questionário, concordando com Martins, Pinto e Silva (2005) quando afirmam que a dor pode interferir negativamente na qualidade de vida das gestantes. Segundo Östgaard et al [8], para confirmação de dor na região pélvica posterior, decorrente de alterações de quadril e coluna lombar, a paciente tem que ter história prolongada de dor profunda na área glútea; apontar a região onde sente pontadas como sendo glútea, distal e lateralmente à área de L5-S1, com ou sem irradiação para a região posterior da coxa e o joelho, mas não para o pé; o teste de provocação pélvica posterior tem que ser positivo; tem que haver movimentação livre do quadril e da coluna, sem pinçamentos; e ter dor no momento em que a gestante realiza mudança de decúbito no leito. Tabela 3 – Distribuição dos testes positivos de comprovação de dor pélvica posterior na amostra TestesÍndice Confirmação do local da dor 28 (84,8%) Teste de provocação da articulação SI 24 (72,7%) Teste de inclinação lateral ou para trás 18 (54,5%) Em pé, EIPS mais alta no lado do envolvimento 9 (27,2%) Quadril posterior Dor quando vira na cama à noite 24 (72,2%) Sensação de peso na pelve posterior com irradiação 21 (63,3%) para MMII Quadril anterior Sensação de peso na pelve posterior sem irradiação 5 (15,1%) Dor cervical associada 6 (18,1%) FONTE: Dados da pesquisa (2007) ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 1 A articulação sacroilíaca é fonte de dor em grande parte das gestantes. Em relação aos quadris anterior e posterior, houve maior incidência de sintomas no quadril posterior, apesar de não ter sido realizado o teste de confirmação diagnóstica. Assim, pode-se concluir que parece haver relação entre a dor lombar e pélvica posterior e a disfunção da articulação sacroilíaca.; Segundo Sperandio, Santos e Pereira [11], as modificações musculo-esqueléticas, na articulação sacroílíaca decorrentes da gestação, podem ser a causa de desconforto e dor na região lombar. A disfunção sacroilíaca tende a ser biomecânica dessa articulação e pode ser a causa de dor crônica [10]. Existem vários possíveis efeitos da gravidez na articulação SI. A coluna e a sínfise pubiana podem ser afetadas por estsa articulação. E os distúrbios provenientes da articulação SI e da coluna lombar podem coexistir [9]. Metade das gestantes que relatavam dor lombar referiuseram à dor durante aos movimentos de flexão anterior, flexão lateral e rotação de coluna; pequena porcentagem apresentou dor à palpação da musculatura espinhal, o que pode indicar tratamento dinâmico, não somente estático, para esse. Durante a gestação, o aumento de peso sobrecarrega as estruturas do sistema musculo-esquelético, causando fadiga e dor [11]. Isso ocorre porque as novas adaptações da coluna mudam o centro de gravidade da mulher que, tentando refazer seus equilíbrios, expõem maiores exigências a essas musculaturas [4]. Na análise da qualidade de vida, foi possível concluir que a dor na gestação representa influência negativa. Os domínios dor e vitalidade, avaliados pelo questionário SF-36, apresentaram os piores resultados, concordando com Martins, Pinto e Silva [5], que afirmam que a dor pode interferir negativamente na qualidade de vida das gestantes. Conclusão pesquisa com o objetivo era avaliar a influência da articulação sacroilíaca na lombalgia gestacional e/ou dor pélvica posterior, apresentou contribuições que podem ser sintetizadas. 1 A articulação sacroilíaca é fonte de dor em grande parte das gestantes. Em relação aos quadris anterior e posterior, houve maior incidência de sintomas no quadril posterior entre as gestantes, apesar de o teste de confirmação diagnóstica não ter sido realizado. Assim, pode-se concluir que parece haver relação entre a dor lombar e pélvica posterior e a disfunção da articulação sacroilíaca. 2 Metade das gestantes que relatavam dor lombar referiuse à dor durante os movimentos de flexão anterior, flexão lateral e rotação de coluna; pequena porcentagem apresentou dor à palpação da musculatura espinhal, o que pode indicar tratamento dinâmico, não somente estático, para esse sintoma. 3 A dor lombar foi a queixa álgica mais referida entre as gestantes, do tipo queimação de intensidade moderada, havendo aumento da incidência dessa queixa à medida que aumenta a idade gestacional. 4 Parece haver relação entre a dor antes da gestação e a piora no período gestacional. Apesar de não termos encontrado resultados significantes, a existência da dor era maior nas gestantes que não praticavam atividade física pré-gestacional. Também não foi possível determinar se a intensidade da dor varia em relação à prática ou não da atividade física durante a gestação. 5 Na análise da qualidade de vida, foi possível concluir que a dor na gestação representa uma influência negativa. Os domínios dor e vitalidade, avaliados pelo questionário SF-36, foram os que apresentaram piores resultados; 6 a intensidade da dor demonstrou influenciar nas restrições da AVDs e na qualidade de vida das gestantes. Quanto mais forte a intensidade da dor, maior a chance de a gestante ter restrições ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 11 Artigo 1 nas atividades de vida diária, influenciando negativamente em qualidade de vida e do sono, disposição física, desempenho no trabalho, na vida social e no lazer. Dentre os fatores agravantes da dor, agachar e ajoelhar-se, foram os mais citados entre a maioria das gestantes, seguidos de fatores como andar muito e levantar peso. Sendo a disfunção sacroilíaca uma das causas da lombalgia gestacional, a avaliação fisioterapêutica em gestantes com queixa de lombalgia deve sempre incluir avaliação da articulação sacroilíaca, para determinação de um protocolo de tratamento ideal. Não adiantaria tratar a lombar de gestantes, se a queixa da dor proviesse de disfunções da articulação sacroilíaca. Referências 1. FERREIRA, C. H. J.; NAKANO, A. M. S. Reflexões sobre as bases conceituais que fundamentam a construção do conhecimento acerca da lombalgia na gestação. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 2001, maio; 9 (3): 95-100. 2. IMAMURA, S. T.; KAZIYAMA, H. H. S.; IMAMURA, M. Lombalgia. Revista Médica, São Paulo, 2001; 80 (pt. 2): 375-90. Especial. 3. LUZ, F. G. R. Lombalgia em mulheres grávidas. Uma revisão de literatura. Revista 12 Bras. de Fisioterapia Ortopédica, Traumatológica e Desportiva, 2003/nov. 2004 jan. 1 (1): 6-7. 4. MARTINS, R. F.; PINTO E SILVA, J. L. Prevalência de dores nas costas na gestação. Revista Ass. Méd. Brasileira, 2005; 51(3): 144-7. 5. Tratamento da lombalgia e dor pélvica posterior na gestação por um método de exercícios. Revista Bras.i de Ginec. e Obstetrícia, 2005; 27(5): 275-82. jun., 11 (2): (118-125). 11. SPERANDIO, F. F.; SANTOS, G. M.,; PEREIRA, F. Características e diferenças da dor sacroilíaca e lombar durante a gestação em mulheres primigestas e multigestas. Revista Fisioterapia Brasil, 2004 jul.ago., 5 (4): 267-270. 12. STEPHENSON, R. G.; O’CONNOR, L. J. Fisioterapia aplicada à ginecologia e obstetrícia. 2. ed. São Paulo: Manole, 2004. p. 520. 6. Algias posturais na gestação: prevalência, aspectos biomecânicos e tratamento. Dissertação Mestrado em Tocoginecologia – Setor de Ciências Biomédicas. Universidade Estadual de Campinas. São Paulo, 2002. 7. NOVAES, F. S..; SHIMO, A. K. K..,; LOPES, M. H. B. M. Lombalgia na gestação. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 2006 jul-ago., 14(4): 620-4. 8. ÖSTGAARD, H. C.; ZETHERSTRÖM, G.,; ROOSHANSSON, E.; SVANBERG, B. Reduction of back and posterior pelvic pain in pregnancy. Spine, 1994, 19(8): 894-900. 9. POLDEN, M.; MANTLE, J. Fisioterapia em ginecologia e obstetrícia. 2. ed. São Paulo: Santos, 2000. p. 133-5. 10. RIBEIRO, S.; SCHMIDT, A. P.; WURFF, P. V. D. Sacroiliac dysfunction. Acta Ortopédica Brasileira, 2003, abr.- ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 2 Efeitos profiláticos da hidrocinesioterapia sobre os fatores de risco cardiovasculares modificáveis em mulheres na faixa etária de 46 a 75anos Prophylactic effect of hydrokinesiotherapy on modifiable cardiovascular risk factors in women aged 46 to 75 years old Aline Ferreira Cubas de Lima¹ Marjorie Renata Oliveira Vendramin² Tatiana Caroline Vargas Prado³ Ariani Cavazzani Szkudlarek4 Acadêmica do curso de fisioterapia da Faculdade Dom Bosco 2 Acadêmica do curso de fisioterapia da Faculdade Dom Bosco 3 Acadêmica do curso de fisioterapia da Faculdade Dom Bosco 4 Mestre docente do curso de fisioterapia da Faculdade Dom Bosco* 1 Hidrocinesioterapia aeróbia e fatores de risco cardiovascular Resumo Objetivo: Avaliar os efeitos terapêuticos profiláticos dos exercícios aeróbios feitos através da hidrocinesioterapia nos fatores de risco modificáveis para doença cardiovascular. Métodos: A amostra compunha-se de 13 sujeitos do sexo feminino, na faixa etária de 46 a 75 anos, sedentários, não tabagistas e estáveis clinicamente. Foram avaliados os valores de peso, altura, pressão arterial, frequência cardíaca, colesterol total e glicemia antes e após a realização do programa de exercícios fisioterapêuticos na água. Os atendimentos foram realizados em grupo, três vezes por semana, com duração de 45 minutos. O programa de tratamento constitui-se de aquecimento, alongamento muscular, atividade aeróbia e relaxamento. A prescrição de intensidade do exercício realizou-se de acordo com a escala de Borg. Para a análise e interpretação dos resultados, aplicou-se o método bioestatístico não paramétrico Wilcoxon, com significância de 5% para todas as variáveis. Resultados: Aumento não significativo das variáveis: pressão arterial sistólica, frequência cardíaca e glicemia, manutenção da pressão arterial diastólica e diminuição não significativa do colesterol total. Conclusão: Os exercícios aeróbios por meio da hidrocinesioterapia refletiram em atuação fisioterapêutica profilática sobre o perfil de risco cardiovascular. Palavras-chave: hidrocinesioterapia, exercício aeróbio, fatores de risco cardiovascular, prevenção primária, qualidade de vida, fisioterapia. Abstract Objective: To evaluate the therapeutic effects of prophylactic aerobic exercises during hydrokinesiotherapy. Methods: The sample consisted of 13 females, aged 46-75 years, sedentary, nonsmokers and clinically stable. The evaluated points were, weight, height, blood pressure, heart rate, total cholesterol and glucose level, at the beginning and in the end of the hydrotherapy exercise’s program. The patients were attended in groups, three times a weeks, lasting 45 minutes. The treatment program consisted on warming up, stretching, aerobic activity and relaxation. The prescription of exercise intensity was performed according to the Borg scale. For the analysis and interpretation of the results the method applied was biostatistician nonparametric Wilcoxon, with 5% significance for all variables. Results: Non-significant increase of systolic arterial pressure, heart rate and glucose levels, maintained the diastolic blood pressure and total cholesterol levels. Conclusion: Aerobic exercises through hydrotherapy reflected in a prophylactic physiotherapy performance on the cardiovascular risk profile. Keywords: hydrokinesiotherapy, aerobic exercise, cardiovascular risk factors, primary prevention, quality of life, physiotherapy. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 13 Artigo 2 Introdução As cardiopatias são as principais causas de morte, segundo dados da OMS de 2008. Dados do Ministério da Saúde a respeito do perfil da mortalidade do brasileiro mostram uma tendência de expansão de mortes violentas e por doenças crônicas, associadas aos maus hábitos de alimentação e sedentarismo. Desde o século XIX, encontrase referência de atividade física e doença cardiovascular1. Sabe-se que a população se tornou predominantemente sedentária. Isso, associado aos maus hábitos de vida, propicia o aparecimento dos fatores cardiovasculares de risco. A hidrocinesioterapia é uma atividade aquática, que utiliza as propriedades físicas da água e sua capacidade térmica para promover bemestar físico e mental2. Neste estudo se utilizou a hidrocinesioterapia, tendo como foco principal o exercício aeróbio, para avaliar seus efeitos no sistema cardiovascular, conforme os parâmetros quantitativos pressão arterial, frequência cardíaca, glicemia e colesterol total. Objetivos: Esta pesquisa teve como objetivo geral avaliar os efeitos terapêuticos profiláticos dos exercícios aeróbios durante a hidrocinesioterapia sobre os fatores de risco modificáveis para doença cardiovascular. Métodos: O projeto de pesquisa foi elaborado e encaminhado ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da 14 Faculdade Dom Bosco. Após aprovação sob número de registro 0043.0.301.000-09, iniciou-se a pesquisa. Esta pesquisa, quanto à origem, é do tipo explicativa; quanto aos procedimentos, descritiva. A amostra constituiu-se de pessoas que demonstravam preocupação em realizar controle dos fatores cardiovasculares de risco e que se enquadravam nos critérios de inclusão, sendo classificada como probabilística aleatória estratificada4. A divisão do estrato realizou-se com base na característica de sedentarismo dos participantes. A composição da amostra se deu por voluntários, caracterizando-se como amostra de conveniência. A capacidade da piscina utilizada era de 15 sujeitos para a atividade proposta. O total da amostra final foi de 13 sujeitos. Critérios de inclusão: ser do sexo feminino, ter idade entre 46 e 75 anos, apresentar atestado médico para realizar atividades na piscina, estar clinicamente estável. Critérios de exclusão: realizar atividade física regular, ser tabagista. O recrutamento dos participantes se fez por divulgação na internet. No primeiro contato, explicou-se ao sujeito a respeito da pesquisa, seus objetivos e procedimentos, bem como riscos e benefícios. Cada sujeito leu e assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, formalizando sua participação na pesquisa. A avaliação inicial consistia em coleta de dados pessoais, mensuração de peso, altura, pressão arterial, frequência cardíaca, colesterol total e glicemia. Para a mensuração dos níveis de colesterol total e glicemia foi utilizado o monitor da marca Roche, modelo Accutrend ® GCT, com tiras de teste Accutrend glicose e tiras de teste Accutrend colesterol, mediante perfuração do dedo. A mensuração da pressão arterial (PA) foi realizada pelo método indireto auscultatório, com uso de esfigmomanômetro (colocado no membro superior esquerdo) e estetoscópio. E a frequência cardíaca (FC) foi mensurada por palpação do pulso da artéria radial esquerda durante 30 segundos. Após avaliação inicial, deu-se início à aplicação do programa de exercícios, que ocorreu de setembro a novembro do ano de 2009. A temperatura da água foi controlada com termômetro de mercúrio, mantida a 33°C, por ser uma faixa de temperatura considerada termoneutra. Durante os exercícios na água, foram utilizados coletes, halteres triangulares, halteres circulares, acqua tub e cama elástica inox, equipamentos da marca Floty, todos próprios para uso na água. Os atendimentos foram realizados em grupo, três vezes por semana, com duração de 45 minutos. A rotina desses atendimentos seguiu o seguinte padrão: I - mensuração PA e FC; II - aquecimento (5 minutos); III - alongamento muscular ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 2 (5 minutos); IV - atividade aeróbia (30 minutos); V - relaxamento (5 minutos). Os exercícios de condicionamento devem ser precedidos de uma fase de aquecimento e seguidos de uma fase de relaxamento. Aquecimento: fase durante a qual foram realizados exercícios de mobilização articular, caminhadas e deslocamentos variados através da piscina. Alongamento: em cada atendimento foram realizados três dos exercícios de alongamento em três séries de 45 segundos. Os músculos alongados foram: trapézio, esternocleidomastóideo, esplênio cervical, deltóide, tríceps braquial, peitorais, flexores e extensores de punho, quadríceps, glúteos, adutores de quadril, cadeia posterior de membros inferiores (MMII) e eretores da coluna. Atividade aeróbia: exercícios envolvendo grupos musculares de membros superiores (MMSS) e membros inferiores (MMII) de maneira associada, caminhadas, corridas, saltos, entre outros adaptados de White (1998)6 e Bates e Hanson (1998). Durante essa fase, os sujeitos foram orientados a permanecer 30 minutos na faixa de 12 a 14 da escala de percepção de esforço de Borg. Relaxamento: caminhadas lentas, mobilizações articulares lentas e circulares, exercícios respiratórios, flutuação e massoterapia. O exercício aeróbio foi realizado na intensidade de nível 12 a 14 da escala de percepção de esforço de Borg, com duração de 30 minutos, na frequência de três vezes por semana. Após o término da aplicação do protocolo de exercícios, os sujeitos foram reavaliados de acordo com os mesmos padrões da avaliação inicial. Para análise e interpretação dos resultados, adotou-se o programa Statistica, pelo qual foi aplicado o método bioestatístico não paramétrico Wilcoxon, com significância de 5%, a fim de comparar as variáveis pré e pós atuação fisioterapêutica. Resultados Gráfico 1. Média pré e pós das variáveis pressão arterial sistólica (PAS), pressão arterial diastólica (PAD), frequência cardíaca (FC), glicose e colesterol total. Fonte: Dados da pesquisa O gráfico 1 mostra que a média da pressão arterial sistólica (PAS) pré foi de 119,16 mmHg, ou seja, valor dentro dos padrões de normalidade. Após o programa de exercícios, a média da PAS teve aumento não significativo (p > 0,05) para 120 mmHg (0,7049%); antes do início do programa de exercícios fisioterapêuticos, a média da pressão arterial diastólica (PAD) era de 74,16 mmHg, valor que se manteve pós aplicação do protocolo de exercícios; houve aumento de 13,43% na média da frequência cardíaca (FC) pós, em relação à média da FC pré, que era de 75,66 bpm. Esse aumento não foi significativo (p > 0,05) e o valor permaneceu dentro da normalidade; os dados também demonstram aumento não significativo (p > 0,05) no valor da média da glicose pós de 5,43% em relação à média pré; ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 15 Artigo 2 e diminuição não significativa (p > 0,05) de 2,24% na média do colesterol total pós em relação ao valor pré. O gráfico 2 demonstra que 38,46% dos sujeitos tiveram o valor da glicose diminuído e 61,53%, aumentado. Ao observar o gráfico 3 notase que 61,53% dos sujeitos tiveram o valor do colesterol total diminuído e 38,46%, aumentado. Gráfico 2. Glicose pré e pós – individual. Discussão A literatura atual trata de alguns benefícios advindos de exercícios terapêuticos aeróbios realizados na água. “Os benefícios que podem advir de um programa básico de exercícios na água incluem melhora do tônus em geral, aumento da resistência, redução do nível de colesterol e, possivelmente, perda de peso” (WHITE, 1998). Um estudo da Universidade do Texas, Dallas, mensurou que adultos sedentários melhoraram a função cardíaca em apenas 12 semanas de treinamento aeróbio na água (CASE, 1998). Fonte: Dados da pesquisa Gráfico 3. Colesterol total pré e pós – individual. A média da pressão arterial sistólica (PAS) pré foi de 119,16 mmHg, ou seja, valor dentro dos padrões de normalidade. Após o programa de exercícios, a média da PAS teve aumento não significativo (p > 0,05) para 120 mmHg (0,7049%), valor esse ainda dentro da normalidade. Antes do início do programa de exercícios fisioterapêuticos, a média da pressão arterial diastólica (PAD) era de 74,16 mmHg, valor que se manteve após aplicação do protocolo de exercícios. De acordo com o III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (III CBHA) (1998)10, Fonte: Dados da pesquisa 16 ...o exercício físico regular reduz a pressão arterial, além de produzir benefícios adicionais, tais como diminuição do peso corporal e ação coadjuvante no ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 2 tratamento das dislipidemias, da resistência à insulina, do abandono do tabagismo e do controle do estresse. Contribui, ainda, para a redução do risco de indivíduos normotensos desenvolverem hipertensão. Intensidade, duração e frequência dos exercícios realizados influenciam diretamente na redução dos valores da pressão arterial. Exercícios físicos, tais como caminhada, ciclismo, natação e corrida, realizados numa intensidade entre 50% e 70% da frequência cardíaca de reserva, ou entre 50% e 70% do consumo máximo de oxigênio, com duração de 30 a 45 minutos, três a cinco vezes por semana, reduzem a pressão arterial de indivíduos hipertensos. Em contrapartida, exercícios físicos muito intensos, realizados acima de 80% da frequência cardíaca de reserva ou 80% acima do consumo máximo de oxigênio, têm pouco efeito sobre a pressão arterial de hipertensos. III CBHA, 1998.10 Neste estudo, o programa de exercícios seguiu os critérios de intensidade, duração e frequência indicados pelo III CBHA. Não houve diminuição da média da pressão arterial, e o aumento não significativo não ultrapassou os parâmetros de normalidade. Tal fato caracteriza atuação preventiva, pois os sujeitos que compuseram a amostra não apresentavam hipertensão arterial antes do início do programa, e assim se mantiveram até o final da pesquisa. Além de ser importante no nível primário de atenção à saúde, a prática regular de atividade física é recomendada pelo III CBHA como uma das medidas não medicamentosas com maior eficácia anti-hipertensiva. Albulquerque et al (2006)11 identificou em seu estudo a ocorrência do efeito hipotensor pós-exercício nos grupos analisados. Esta redução significativa da PA, possivelmente, foi gerada pela diminuição momentânea do débito cardíaco, ocasionada pela redução do volume diastólico final e pela redução da resistência vascular periférica. Esta última gerada pelo arrefecimento da ativação simpática ao final do exercício físico, pela adaptação do ponto de atuação do controle barorreflexo para um valor pressórico mais baixo e pela liberação local de metabólitos vasodilatadores, resultantes das contrações musculares. American College of Sports Medicine post Stand apud ALBULQUERQUE et al, 2006. Alguns autores explicam como se dá a diminuição dos valores de pressão arterial por meio do exercício. “Durante o exercício, o volume plasmático diminui e a osmolalidade aumenta, e em intensidades de exercício superiores a 60% do VO2 máx, a secreção de ADH aumenta” (POWERS e HOWLEY, 2000, apud MILHOMEM, 2006). Para Albuquerque et al (2006)11, a redução da atividade simpática é uma justificativa fundamental para ocor- rência do efeito hipotensor do exercício físico, em indivíduos saudáveis e hipertensos jovens. Arca; Fioreli; Rodrigues (2004)2 obtiveram, em seu estudo, diminuição significativa nos valores de PAS e PAD após o programa de hidrocinesioterapia. Explicam o fato da seguinte maneira: Esse fato provavelmente se deve às alterações que ocorrem no sistema renal e nervoso simpático, como: supressão do hormônio vasopressina e do sistema renina-angiotensina e aldosterona e estimulação do peptídeo natriurético atrial, proporcionando aumento da diurese, da natriurese e da potassiurese, além do aumento do retorno venoso e da diminuição da frequência cardíaca durante e após algumas horas de imersão. HALL, 1990, apud ARCA; FIORELLI; RODRIGUES, 2004. Halliwill (2001) apud Albuquerque et al (2006)11 afirma: “o aumento da concentração de ATP gerado pelo exercício auxilia na vasodilatação periférica pós-exercício”. A ação benéfica do exercício para a saúde está relacionada à sua capacidade de combater o estresse emocional, a obesidade pelo aumento do gasto calórico e da taxa metabólica basal, o diabetes pelo aumento da sensibilidade das células à insulina e pelo estímulo ao metabolismo dos carboidratos, a redução da pressão arterial por causa da redução da sensibilidade dos vasos à ação das catecolaminas, a menor tendência a arritmias pela redução da sensibilidade do ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 17 Artigo 2 miocárdio à ação adrenérgica, o aumento dos níveis de HDL-colesterol, a redução dos níveis séricos de triglicerídeos, a redução da agregação plaquetária com grandes estímulos para a diminuição da pressão arterial e do risco cardiovascular. AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. 1999, s/p apud MILHOMEM, 2006.12 Segundo Milhomem (2006) “a secreção de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) pela medula adrenal constitui importante mecanismo de controle e manutenção da pressão arterial e da glicose plasmática”. Em 1999, o American College of Sports Medicine (ACSM) s/p apud MILHOMEM, 2006, divulgou: “o treinamento de endurance reduz a pressão arterial sistólica e diastólica medida em laboratório ou clínica em aproximadamente 10 mmHg na grande maioria dos indivíduos com hipertensão arterial leve”. “O exercício nos deixa mais resistentes à ação do sistema nervoso simpático (ação adrenérgica), que é um importante fator de risco para o desenvolvimento da hipertensão essencial” (MANCIA et al, 1997, s/p apud MILHOMEM, 2006). Segundo Negrão (2005), apud Castelli; Arruda; Simões (s/a, s/p), o exercício de resistência afeta a atividade parassimpática e diminui a atividade simpática no coração durante o repouso, diminui também a resistência vascular periférica e ocorre 18 aumento na elasticidade dos vasos pelo aumento na produção de óxido nítrico, capaz de relaxar a musculatura lisa vascular. Dembo et al (2001) apud Lopes; Barreto; Riccio ( 2003) afirma que o efeito antihipertensivo gerado pelo exercício de carga moderada envolve tanto mecanismos diretos (redução da atividade simpática/incremento da atividade vagal e melhora da função endotelial) como mecanismos indiretos (redução da obesidade e melhora do perfil metabólico). Ele reforça ainda que a melhora do perfil psicológico contribui para a maior adesão a outras medidas não farmacológicas. Outros mecanismos também considerados como redutores da pressão arterial após o treinamento incluem a diminuição da reabsorção de sódio associada com níveis menores de insulina sérica e diminuição do volume sanguíneo. A hipertensão é uma importante variável no prognóstico e a terapia, com o seu objetivo de modificar o grau, é beneficente para o paciente portador da hipertensão (IRWIN e TECKLIN 2003). Souza (2003) apud Brum et al ( 2004) verificaram redução da PA em indivíduos hipertensos, após um período de quatro meses de exercício físico aeróbio de baixa intensidade. Esses autores concluem que a prática regular de atividade física é recomendada para a prevenção e o tratamento da hipertensão arterial. Os dados desta pesquisa demonstram que houve aumento de 13,43% na média da frequência cardíaca (FC) pós em relação à média da FC pré, que era de 75,66 bpm. Esse aumento não foi significativo (p > 0,05), e o valor permaneceu dentro da normalidade. De acordo com Almeida e Araujo (2003), A frequência cardíaca (FC) é mediada primariamente pela atividade direta do sistema nervoso autônomo (SNA), através dos ramos simpático e parassimpático sobre a autorritmicidade do nódulo sinusal, com predominância da atividade vagal (parassimpática) em repouso e simpática durante o exercício. Os mesmos autores afirmam que a redução do tônus vagal cardíaco e, consequentemente, da variabilidade da FC em repouso, está relacionada a doenças crônico-degenerativas, disfunção autonômica e aumento do risco de mortalidade. Vários estudos têm demonstrado relação direta entre a frequência cardíaca de repouso ou submáxima e risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, ou seja, menor frequência cardíaca em repouso ou menor taquicardia durante o exercício físico submáximo configuram menor risco cardiovascular (SECCARECIA e MENOTTI, 1992, apud BRUM et al (2004). Ao contrário dos resultados apresentados, estudos ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 2 apontam para o fato de que exercícios físicos regulares geram efeitos crônicos, tais como redução da frequência cardíaca de repouso, hipertrofia ventricular esquerda e melhora do condicionamento físico geral (ARCA, FIORELI e RODRIGUES, 2004). O condicionamento aeróbio geralmente proporciona FC de repouso mais baixa nos indivíduos, porém Almeida e Araújo (2003) afirmam que esta pode não ser consequência direta do treinamento, visto que as adaptações ao treinamento aeróbio podem influenciar o comportamento da FC de repouso. Farah et al (1992) apud Brum et al (2004) identificaram uma resposta bradicárdica de repouso ao exercício e atribuíram diminuição na frequência cardíaca intrínseca como mecanismo associado. Brum et al (2004), ao estudarem os mecanismos envolvidos na menor resposta taquicárdica ao exercício físico, observaram uma modificação no balanço autonômico cardíaco pós-treinamento. Estudos indicam que indivíduos com bom condicionamento aeróbio possuem FC de repouso mais baixa, sugerindo maior atividade parassimpática (AUBERT; BECKERS; RAMAEKERS, 2001, apud ALMEIDA e ARAÚJO, 2003)16 ou menor atividade simpática, (CATAI et al, 1998 apud ALMEIDA e ARAÚJO, 2003)16 como explicação fisiológica para esse fato. Almeida e Araújo (2003)16 concluíram em seu estudo: Talvez algumas das modificações que ocorrem no controle da FC em repouso e nos níveis submáximos do exercício sejam consequência de adaptações intrínsecas do próprio nódulo sinusal ou ainda decorrentes de outras modificações fisiológicas, como aumento do retorno venoso e do volume sistólico e melhora da contratilidade miocárdica, ou periféricas, como melhora da extração de oxigênio (diferença arteriovenosa de oxigênio) ou melhora da utilização do O2 para gerar mais trabalho (eficiência mecânica), resultando em diminuição da FC para aqueles níveis (submáximos) de exigência. De acordo com os resultados, houve aumento no valor da média da glicose pós de 5,43% em relação à média pré. Esse aumento não foi significativo (p > 0,05) e o grupo se manteve na faixa de valores normais. Segundo Martins e Duarte (1998) apud Ferreira et al (s/a)17, desde o início do século XX, o efeito do exercício sobre os níveis glicêmicos já era conhecido, e esse tem sido utilizado como tratamento coadjuvante do Diabetes mellitus. Ferreira et al (s/a)17 afirmam: “durante o exercício físico ocorre um aumento na captação de glicose e na sensibilidade à insulina, o que promove um decréscimo glicêmico”. Os dados da literatura divergem dos resultados deste estudo, sendo possível expli- cação para esse fato o número de atendimentos, que não foi suficiente para proporcionar efeitos a longo prazo do exercício sobre os valores glicêmicos. O efeito da atividade física sobre a sensibilidade à insulina tem sido demonstrado de 12 a 48 horas após a sessão de exercício, mas volta aos níveis pré-atividade em três a cinco dias após a última sessão de exercício físico, o que mostra a necessidade de realizar atividade física com frequência e regularidade (ERIKSSON; TAIMELA; KOIVISTO, 1997, apud CIOLAC e GUIMARÃES, 2004). A melhora do controle glicêmico por meio da atividade física regular pode resultar do acúmulo dos efeitos agudos do exercício, porém alguns autores sugerem que o músculo treinado, em presença de quantidade adequada de insulina, aumenta o metabolismo da glicose antes que ocorra o efeito residual da última sessão do exercício agudo (MARTINS e DUARTE, 1998, apud FERREIRA et al, s/a). Após o programa de hidrocinesioterapia, 38,46% dos sujeitos tiveram o valor da glicose diminuído e 61,53%, aumentado. Esses dados demonstram: mesmo que a maioria dos sujeitos não tenha apresentado redução significativa da glicemia, alguns deles tiveram seus valores diminuídos. Essa diminuição nos níveis de glicose pode ser explicada da seguinte maneira: ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 19 Artigo 2 Na atividade física, acreditase que a contração muscular favoreça a liberação de GLUT4, elevando a absorção da glicose sanguínea. Esse evento não depende da insulina para ocorrer. Há vários eventos com produção de óxido nítrico que contribuem para o transporte de glicose (MASHARANI, 2001, apud UMEDA, 2005). De acordo com Ferreira et al (s/a,) o exercício gera aumento na captação de glicose pela musculatura e inibe a produção hepática de glicose e da lipólise no tecido adiposo. O resultado é um rápido decréscimo na concentração plasmática de glicose. Durante o exercício físico há redução acentuada do papel da insulina, e a contração muscular é a provável responsável pela captação da glicose. Já após a realização do exercício, a diminuição do glicogênio intracelular gera aumento da sensibilidade à insulina, elevando o transporte de glicose (UMEDA, 2005). Existem duas vias de sinalização intracelular que levam a translocação de GLUT4, a insulina e o exercício. A insulina utiliza o mecanismo dependente da fosfatidilinositol-3quinase, enquanto a via do exercício deve ser iniciada pela liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático que leva à ativação de outros intermediários sinalizadores. Existem evidências que demonstram que o exercício físico, além de estimular a translocação de GLUT4, também aumenta 20 a sua expressão no músculo (GAZOLA et al, 2001, apud FERREIRA et al, s/a)17 e, além disso, aumenta a ligação da insulina ao seu receptor (VIVOLO et al, 2001, apud FERREIRA et al, s/a). “Durante a atividade física, 90% do açúcar do sangue são utilizados pelas células musculares esqueléticas, e o restante, pelas demais células” (UMEDA, 2005). Segundo Regenga (2000), “Os exercícios são indicados para diabéticos, pois promovem redução na mortalidade desses indivíduos por diminuição na incidência de alterações isquêmicas coronárias ou por redução do consumo de oxigênio pelo miocárdio”. Portanto a atividade física está indicada para modificar o fator de risco de intolerância à glicose, para o paciente coronariano e para o paciente com múltiplos fatores de risco para a doença (KHAWALI; ANDRIOLO; FERREIRA 2003). Estudos mostram que pacientes coronarianos que praticam exercício aeróbio regularmente têm necessidade menor da utilização de insulina ou medicação via oral. Observaram-se níveis mais baixos de insulina sérica após uma carga de glicose nos pacientes treinados, através do aumento de sensibilidade à insulina no nível celular (IRWIN e TECKLIN, 2003). No diabete tipo I, a hipertensão arterial associa-se à nefro- patia diabética. Os pacientes, nesse caso, devem realizar o controle da pressão arterial para retardar a perda de função renal. No diabete tipo II, a hipertensão arterial associa-se comumente a outros fatores de risco cardiovascular, tais como dislipidemia, obesidade, hipertrofia ventricular esquerda e hiperinsulinemia. Nesses pacientes, o tratamento não medicamentoso (atividade física regular e dieta apropriada) é obrigatório (III CBHA, 1998). Nesta pesquisa houve diminuição de 2,24% na média do colesterol total pós em relação ao valor pré. Essa diminuição não apresentou significância (p > 0,05). São bem conhecidos os efeitos da atividade física sobre o perfil de lipídios e lipoproteínas em sujeitos que praticam exercícios regularmente, porque eles apresentam maiores níveis de HDL colesterol e menores níveis de triglicérides, LDL e VDLL colesterol, comparados a indivíduos sedentários. Os perfis desfavoráveis de lipídios e lipoproteínas melhoram com o treinamento físico, é o que vêm apontando estudos de intervenção (DURSTINE e HASKELL, 1994, apud CIOLAC e GUIMARÃES, 2004). De acordo com Case (1998)9, os exercícios de condicionamento na água promovem diminuição de colesterol HDL, triglicerídeos e do risco de doenças cardiovasculares. “A atividade física exerce uma ação favorável ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 2 sobre o perfil lipídico, principalmente nos casos de hipertrigliceridemia, níveis diminuídos de HDL colesterol e alterações nas subfrações do LDL colesterol” (CASTRO et al, 2008). Kinoshita et al (1999) apud Prado e Dantas (2002)22 realizaram um estudo com 40 idosos saudáveis normolipidêmicos, em que 20 realizavam treinamento aeróbio a 50% do VO²máx, com duração de uma hora por dia, quatro dias por semana, e 20 não realizavam treinamento aeróbio. Após cinco meses de programa, observaram-se mudanças significativas em relação aos indivíduos que não treinavam. Essa pesquisa teve por conclusão que tanto os efeitos do treinamento de baixa intensidade como a duração total do exercício físico por semana constituem fator importante para o melhoramento dos níveis da HDL colesterol e subfrações em sujeitos idosos saudáveis. Conforme os dados da pesquisa, 61,53% dos sujeitos tiveram o valor do colesterol total diminuído e 38,46%, aumentado. Segundo Dâmaso, (2001) apud Cambri et al (2006): Seja pelo efeito agudo e/ ou crônico sobre o perfil lipídico, os exercícios físicos apresentam relação inversa com o desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas. Os exercícios físicos podem contribuir indiretamente para melhorias do perfil lipídico, auxiliando na redução da massa corporal, pois a cada kg de massa corporal perdida, ocorre redução de 1% nos níveis de colesterol total e LDL, diminuição de 5-10% nos níveis de triglicerídeos e aumento de 1-2% nas concentrações de HDL. Alguns autores descrevem os mecanismos pelos quais o exercício modifica os valores de colesterol. Segundo Wood (1990) apud Guedes e Guedes (2001)24, estudos sugerem que o aumento na função da lipoproteína lípase no tecido adiposo ou no músculo esquelético no momento da prática da atividade física, juntamente com o decréscimo da síntese hepática dos triglicerídios, podem ser ajustes metabólicos que diminuem a concentração de lipídios plasmáticos. Para Blomhoff (1992) apud Ciolac e Guimarães (2004)18, o exercício aumenta o consumo de ácidos graxos pelo tecido muscular e aumenta a atividade da enzima lipase lipoproteica no músculo. Sgouraki; Tsopanakis; Tsopanakis (2001), apud Umeda (2005)4, defendem a ideia de que o exercício contínuo tem como efeito agudo o aumento do HDL-C, porém com duração de poucos dias. Já os efeitos crônicos incluem redução das concentrações de LDL-C e elevação das de HDL-C, o que reforça a importância do exercício contínuo e regular. o aumento significativo do volume de oxigênio máximo, associado ao HDL-colesterol de no mínimo 10% a 15% e à diminuição nos valores dos triglicerídeos de 16% a 20% (IRWIN e TECKLIN, 2003). Os estudos sobre esse assunto demonstram que, para haver um benefício significativo sobre o processo de dislipidemia, é necessário associar a intensidade e a duração do treinamento físico aeróbio (SBC, 2005). É comum a associação entre dislipidemia e hipertensão arterial. A abordagem não medicamentosa (dieta e atividade física regular) são válidas para ambas as condições (III CBHA, 1998). Conforme discussão, o exercício físico proporciona aumento dos níveis de HDL colesterol e diminuição dos níveis de LDL colesterol. Essas variações nas frações de colesterol podem refletir em aumento no colesterol total, conforme ocorrido no presente estudo, obscurecendo, assim, o efeito benéfico do programa de exercícios proposto. Outra justificativa para os resultados apresentados neste estudo é que não foi realizado o controle alimentar dos sujeitos participantes. A mensuração da glicemia e do colesterol total não foi realizada em jejum, portanto a alimentação inadequada pode ter interferido nos resultados. Quando uma intensidade de treinamento suficiente é alcançada, o resultado é ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 21 Artigo 2 Conclusão Segundo o American College of Sports Medicine (ACSM), indivíduos com um estilo de vida associado a uma atividade física regular têm menor probabilidade de desenvolver doenças crônicas. Essas doenças são desenvolvidas em razão de um estilo de vida sedentário. O III CBHA (1998)10 recomenda medidas preventivas ao aparecimento de fatores de risco cardiovascular, as quais devem ser adotadas como hábitos de vida e inseridas no contexto familiar. Hábitos de vida saudáveis, como alimentação adequada, prática de exercícios regulares, com objetivo de manutenção de peso, valores adequados de pressão arterial, glicemia e colesterol, traduzem benefícios cardiovasculares ao organismo. Este estudo teve como resultados o aumento não significativo das variáveis PAS, FC e glicemia, manutenção da PAD e diminuição não significativa do colesterol total. Os sujeitos apresentavam valores normais de todas as variáveis antes da aplicação do programa de exercícios e assim se mantiveram até o final do estudo. Isso significa que a saúde foi mantida, o que caracteriza promoção de saúde e profilaxia. É papel do profissional fisioterapeuta incentivar medidas preventivas em indivíduos saudáveis, como forma de conscientização, 22 antes que fatores de risco estejam presentes. Novos estudos se fazem necessários, devendo ser incrementados com forma de controle sobre a alimentação, um método de avaliação de aptidão cardiovascular pré e pós, maior tempo de aplicação dos exercícios e maior número de amostra. Referências 1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDILOGIA, 1997; I CONSENSO NACIONAL DE REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR (Fase crônica) Arquivos brasileiros de cardiologia, v. 69, n. 4, out. 1997. 2. ARCA, Eduardo Aguilar; FIORELLI, A.; RODRIGUES, A. C. Efeitos da hidrocinesioterapia na pressão arterial e nas medidas antropométricas em mulheres hipertensas. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 8, n. 3, 2004. 3. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002. 4. UMEDA, Iracema Ioco Kikuchi. Manual de fisioterapia na reabilitação cardiovascular. 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Daniele Parisotto1 Karla Luize Vaz2 Mariélen Malaquias Santos3 Valéria Aparecida dos Santos4 Valéria Cabral Neves5 a 4 Acadêmicas de fisioterapia da Faculdade Dom Bosco 5 Especialista em fisioterapia respiratória pela Assobrafir, especialista em fisioterapia – terapia intensiva pela Assobrafir, fisioterapeuta UTI – pediátrica do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Mestre em saúde da criança e do adolescente do Departamento de Pediatria da UFPR. 1 Resumo Objetivo: Observar a influência da técnica do bag squezzing e da cocontração em MMII nos dados clínicos e na ventilação mecânica em crianças de 0 a 1 ano de idade, com insuficiência respiratória aguda (IRA), internadas em UTI pediátrica do Hospital de Clínicas de Curitiba. Este estudo ocorreu no período de 23 de maio de 2009 a 3 de julho de 2009. Foram atendidas cinco crianças, quatro do sexo feminino e uma do sexo masculino, em ventilação mecânica invasiva, sendo selecionados três sujeitos. Métodos: Foram realizadas as técnicas do bag 24 squezzing e da aspiração endotraqueal, seguidas da cocontração de MMII, em 30 repetições. Foram monitoradas a saturação periférica de oxigênio, a frequência cardíaca, a pressão arterial sistólica, a pressão arterial diastólica. Além disso, foram medidos a complacência pulmonar estática, a complacência pulmonar dinâmica, o volume pulmonar inspiratório e o volume pulmonar expiratório. Esse mesmo procedimento foi realizado antes, durante e após o atendimento. A análise estatística deste estudo observou a normalidade por meio do teste de Shapiro-Wilk, sendo então usados como apresentação dos resultados a média e o desvio-padrão. Para as comparações intra e intergrupos foram utilizados os testes T pareado e T independente, respectivamente. Resultados: Observaramse melhora da saturação periférica de oxigênio, aumento da frequência cardíaca, pouca variação da pressão arterial sistólica, redução da pressão arterial diastólica, aumento dos valores das complacências nos sujeitos 1 e 3 e redução dos valores de complacência no sujeito 2; em relação aos volumes pulmonares, obtiveram-se os mesmos resultados das complacências. Conclusão: Todos os pacientes apresentaram boa evolução no quadro clinico. Não foram observados eventos adversos decorrentes do procedimento, embora o pequeno número de pacientes analisados não tenha significância estatística. Palavras-chave: fisioterapia respiratória, insuficiência respiratória aguda, pediatria, ventilação mecânica, cocontração muscular. Abstract This study aimed to evaluate the impact of co-contraction of the lower limbs improved breathing capacity of patients with ARF admitted to the pediatric ICU, aged 0 to 1 year of clinical hospital Curitiba-Pr, from 23 May 2009 to 03 July 2009. Were treated 5 patients, 4 females and 1 male invasive mechanical ventilation, ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 3 and 3 joined the search. We carried out the technique Bag Squezzing and endotracheal aspiration followed by cocontraction of limbs, where they performed 30 repetitions. We collected date of oxygen saturation, heart rate, systolic blood pressure, diastolic blood pressure, pulmonary static and dynamic lung compliance, lung volume, inspiratory and expiratory lung volume. This procedure was performed before, during and after treatment of each patient. Analysis of normality by the Shapiro-Wilk, and then used as a presentation of results the mean and standard deviation. For comparisons within and between groups, were analyzed using the paired T test and independent T, respectively. There was no significant statistical analysis, however despite the few patients studied, all showed improvement with the technique, we did not observe any complications arising from the service. Key words: motor development, respiratory therapy, acute respiratory failure, pediatric, mechanichs ventilator, cocontraction. Introdução Este trabalho tem por objetivo apresentar uma revisão sobre pacientes pediátricos portadores de insuficiência respiratória aguda (IRA), citando suas causas, tipos, diagnóstico, sinais e sintomas, cujas complicações os levam para unidades de terapia intensiva pediátrica (UTIP), necessitando da ventilação mecânica invasiva. A IRA corresponde à causa frequente de óbitos e morbidades na primeira infância, levando a criança a precisar da UTIP para lhe assegurar sobrevida e recuperação. Este trabalho utilizou a técnica de bag squeezing (BS), também conhecida por manobra de hiperinsuflação manual (HM), seguida da aspiração endotraqueal, com o objetivo de eliminar as secreções pulmonares, por ser recurso de fácil acesso dentro da UTIP. Sabendo das possíveis complicações pelo uso prolongado de suporte ventilátorio, busca-se saber a influência cocotração dos MMII em crianças acometidas por IRA submetidas à VM. Além disso, observar se apresenta melhora da capacidade respiratória e, dessa forma, diminuir os efeitos deletérios da terapia ventilatória invasiva prolongada e da imobilidade. Objetivo geral: Verificar a influência da manobra do bag squeezing seguida da cocontração de membros inferiores nos dados clínicos (frequência cardíaca, pressão arterial e saturação periférica de oxigênio por oximetria de pulso) e nos dados do ventilador dos pacientes com insuficiência respiratória aguda submetidos à VM. Métodos: Todos os pesquisadores têm conhecimento da resolução 196/96 MS. A pesquisa é do tipo quantitativa, experimental e descritiva Gil1 (2002, p. 47), como forma de levantamento dos dados clínicos – frequencia respiratória (FC), pressão arterial (PA), saturação periférica de oxigênio (SpO2) –, bem como das medidas de volume corrente (VC) e complacência pulmonar estática e dinâmica, antes e após o uso de técnica padronizada. Foi realizada no Hospital de Clínicas da UFPR, setor UTI pediátrica, em Curitiba (PR). Este estudo caracteriza-se como não probabilístico intencional, em que não há número de sujeitos de uma população nem cálculo do tamanho da amostra2 (THOMAS; NELSON, 2002). A pesquisa teve início com a coleta de materiais para revisão bibliográfica, mediante consulta na biblioteca da Faculdade Dom Bosco e de outras instituições, incluindo revistas indexadas, artigos científicos, internet (páginas da Bireme, Lilacs, Medline e Scielo). Obteve aprovação do comitê de ética do Hospital de Clínicas no dia 31 de março de 2009, sob protocolo 1885.052/2009-03. A coleta de dados foi iniciada em maio de 2009, com identificação dos sujeitos conforme os critérios de inclusão – sujeitos internados na UTI pediátrica do Hospital de Clínicas, pertencer à faixa etária entre 0 e 1 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 25 Artigo 3 ano, estar em ventilação mecânica por mais de 24 horas, portadores de IRA nas pneumopatias (bronquiolite, broncopneumonia e traqueobronquite), os responsáveis deveriam aceitar o termo de consentimento; e os critérios de exclusão – estar fora da faixa etária definida, não pertencer à UTI pediátrica, ser portador de doenças neurológicas e/ ou cardíacas, portador de doença oncológica, em fase pós-operatória, apresentar outra forma de IRA não especificada nos critérios de inclusão. Realizou-se então reunião com os responsáveis, para quem se explicou o objetivo da pesquisa e os procedimentos realizados. Na ocasião também foi colhida a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. De posse da autorização e após 24 horas completas de ventilação mecânica invasiva, iniciaram-se a avaliação fisioterapêutica e a aplicação da técnica de bag squeezing, seguidas de aspiração e co-contração de membros inferiores, anotando-se os dados clínicos e de mecânica respiratória antes e após cinco minutos do procedimento. Diariamente os pacientes eram reavaliados clinicamente e realizavam os exames de rotina, como gasometria arterial, hemograma e raios X de tórax. Dos cinco sujeitos atendidos, um desenvolveu IRA 26 por septicemia, não por pneumopatia; outro foi excluído, poque, durante sua permanência na UTI, estava com ventilador que não fornecia os dados necessários à pesquisa. Este trabalho foi o pioneiro realizado na UTI pediátrica do HC por acadêmicos de fisioterapia. Houve interrupção na inclusão de pacientes, em função de epidemia de gripe A (H1N1), que atingiu milhões de pessoas no Brasil, sendo a maioria dos casos suspeitos e confirmados na cidade de Curitiba transferida para o Hospital de Clínicas (HC) da UFPR. Resultados Durante o período de 23 de maio de 2009 a 3 de julho de 2009, passaram pela UTI pediátrica do Hospital de Clínicas, Curitiba (PR), 21 sujeitos. Receberam alta hospitalar após os devidos procedimentos clínicos 17 (80,9%); foram a óbito 4 (19%). Dos 17 sobreviventes, 5 não tiveram ventilação mecânica invasiva (23,8%) e 12 foram submetidos à ventilação mecânica invasiva (57,1%). Do grupo ventilado artificialmente, 6 sujeitos (28,5%) tinham mais de 12 meses de idade, 1 sujeito (4,8%) apresentava cardiopatia (critérios de exclusão), restando apenas 5 para inclusão no estudo (23,8%). Dos cinco sujeitos selecionados para o estudo, 2 (9,6%) foram excluídos durante o desenvolvimento do estudo. Uma criança pelo diagnóstico de encefalite meningocócica e outra por ter sido ventilada em equipamento que não fornecia os dados investigados de volume corrente e de complacência pulmonar. Permaneceram 3 (14,4%) pacientes envolvidos no estudo, 2 do sexo feminino e 1 do sexo masculino. No período do estudo foram feitos 39 atendimentos, com média de 13 terapias por paciente. Foram verificados os dados de fração inspirada de oxigênio (FiO2), volume corrente (inspiratório e expiratório), saturação periférica de oxigênio (SpO2), frequência cardíaca, pressão arterial sistólica e diastólica, complacência estática e dinâmica – dados coletados antes, durante e após o procedimento. Para a análise, escolheram-se os dados pré e pós. Gráfico 1 Gráfico 1 - Mostra a saturação de oxigênio dos sujeitos 1, 2 e 3 antes e após a técnica proposta. Fonte: Dados da pesquisa. Os resultados para saturação ficaram próximos de obter significância, pois, o p-valor foi de 0,057 – para ter ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 3 significância, precisa ser p < 0,05. Todos os pacientes obtiveram aumento da SpO2 após atendimento. Gráfico 2 apresentou significância, sendo o valor de p 0,556. Houve aumento da complacência dos sujeitos 1 e 3 e diminuição do sujeito 2. Na variação dos valores inspiratórios dos sujeitos pesquisados não houve significância, pois o valor de p foi 0,936. O sujeito 2 apresentou maior volume inspiratório por apresentar maior massa corporal e mais idade em relação aos sujeitos 1 e 3. Não houve significância nos volumes expiratórios, sendo p 0,511. Como observado no gráfico anterior, o sujeito 2 apresentou maior volume expiratório em relação aos sujeitos 1 e 3, por apresentar maior massa corporal e mais idade. Gráfico 3 Gráfico 2 – Mostra a variação da frequência cardíaca dos sujeitos 1, 2 e 3 pré e pós-procedimento. Fonte: Dados da pesquisa. A variação da frequência cardíaca não apresentou significância, ficando o valor de p 0,307. Não houve variação significativa, pois não houve sobrecarga do músculo cardíaco. A pressão arterial sistólica apresentou pouca variação, não obtendo significância, já que o valor de p foi 0,496, demonstrando que não houve alterações hemodinâmicas. Não houve significância na pressão arterial diastólica, pois o valor de p foi 0,168. Houve redução da pressão diastólica pós-atendimento em todos os pacientes observados. Gráfico 3 – Ilustração do valor da FiO2 dos sujeitos 1 no 1º e 2º atendimentos correspondentes aos dias de ventilação mecânica invasiva. Fonte: Dados da pesquisa. Nesse gráfico, verifica-se que o sujeito 1 permaneceu 5 dias sob VMI, sendo o valor da FiO2 de 40% após 24 horas de intubação nasotraqueal (atendimentos 1 e 2), mantendo-se constante até o terceiro dia. No quarto dia de ventilação, a FiO2 estava em 35% no atendimento 1; após o procedimento foi realizada uma tentativa de redução da FiO2 para 30%. Esse valor de FiO2 manteve-se até o atendimento 2 do mesmo dia. No quinto dia, o valor da FiO2 no atendimento 1 estava em 40%; após o procedimento, foi reduzida para 30%. Gráfico 4 O valor da variação da complacência pulmonar estática não foi significante, visto que o valor de p foi de 0,696. Houve melhora da complacência nos sujeitos 1 e 3 no pós-atendimento e redução no sujeito 2. O valor da complacência pulmonar dinâmica não Gráfico 4 – Mostra o valor da FiO2 do sujeito 2, de acordo com o atendimento e os dias de ventilação mecânica. Fonte: Dados da pesquisa. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 27 Artigo 3 Nesse gráfico, verifica-se que a paciente 2 permaneceu 10 dias sob ventilação mecânica invasiva. Do primeiro ao oitavo dia, a FiO2 manteve-se constante em 100%, com redução apenas no nono dia de VMI (80% no atendimento 1 e 70% no atendimento 2). No décimo dia, a FiO2 estava em 75%. Gráfico 5 Gráfico 5 – Mostra o valor da FiO2 do sujeito 3, de acordo com o atendimento e os dias de ventilação mecânica. Fonte: Dados da pesquisa. Nesse gráfico, verifica-se que o sujeito 3 permaneceu 4 dias sob VMI, sendo a FiO2 de 100% apenas nas primeiras 24 horas pósintubação. No primeiro dia de atendimento (atendimento 2), a FiO2 foi reduzida para 60%, permanecendo até o 2º dia de VM. No terceiro dia, a FiO2 ficou em 45% e em 40%. Discussão Reconhece-se a importância da fisioterapia para o tratamento da IRA. A fisioterapia respiratória é um instrumento terapêutico que esteve presente em diferentes momentos no mundo, junto às pequenas e grandes descobertas do século XX3. As doenças obstrutivas foram as primeiras referidas em trabalhos científicos, com descrição de técnicas fisioterapêuticas, anteriormente chamadas de ginástica respiratória (Europa). Nas décadas de 1950 e 1960 houve necessidade de utilizar fisioterapia respiratória em pediatria, em razão das epidemias de poliomielite, sendo a drenagem postural e a tapotagem as técnicas mais utilizadas. A ventilação mecânica, que já se usada em anestesia, introduziu-se na pediatria somente em 1952, após surto de poliomielite na Dinamarca3 . O objetivo deste trabalho foi verificar a influência da técnica Bag Squeezing, seguida da cocontração de MMII sobre dados clínicos, bem como a melhora na capacidade respiratória de pacientes com IRA em ventilação mecânica invasiva, internados na UTI 28 pediatrica do HC. Segundo Bee (2003, p. 476), “a maioria das crianças com atraso no desenvolvimento motor possui algum tipo de comportamento-problema”4. De 14 a 20% das crianças e adolescentes possuem atraso no desenvolvimento psicomotor. Segundo Miller; Clark (2002) apud Amaral, Tabaquim, Lamonica (2005), o desenvolvimento motor, quando ocorre com atraso, costuma seguir sequência própria, desorganizada, dependente da etiologia específica que levou a esse atraso, trazendo consequências importantes nas interações da criança no seu ambiente, podendo promover alterações secundárias, com influência imediata no desempenho de habilidades da vida diária5. Assim, quanto maior o período do sujeito submetido à UTI, pior possibilidades de desenvolvimento motor do paciente. Segundo Machado (2008, p.170): A IRA é definida como a incapacidade do sistema respiratório em manter a troca gasosa adequada com o ar ambiente, seja por incorreto fornecimento de oxigênio aos tecidos ou inadequada eliminação de gás carbônico pelos pulmões6. Essa é uma das causas mais frequentes de óbito neonatal7, sendo mais frequentes a dispneia e as alterações de frequência respiratória as ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 3 complicações no quadro clínico8. A fisioterapia respiratória tem como objetivo retirar ou reduzir a obstrução brônquica, prevenir ou tratar atelectasias e prevenir danos estruturais9. Verifica-se, desse modo, a importância de medidas que reduzam a permanência e o impacto a que são submetidos esses indivíduos. O princípio básico da reabilitação respiratória é adaptar ou readaptar o indivíduo para uma vida social e laborativa compatível com seu grau de disfunção pulmonar10. A eficiência da técnica de bag squeezing é maior em crianças menores de um ano, sendo bastante segura quando aplicada nos pacientes com insuficiência respiratória11. De acordo com os resultados obtidos na análise de dados, verifica-se que não houve diferença significativa no gráfico 1. Observou-se, porém, tendência à melhora da saturação periférica de oxigênio após realização do procedimento, confrontandose o valor da saturação de oxigênio verificado por meio de oximetria de pulso. Jamami e Pires, in Costa (1999, p. 88)12, relata: A saturação de oxi-hemoglobina arterial (SaO2) é a fração ou porcentagem dos locais de hemoglobina ligados com oxigênio. O valor normal é maior ou igual a 97%, enquanto se respira o ar ambiente, e é proporcional à quantidade de oxigênio transportado pela hemoglobina, mas não a quanti- dade dissolvida no plasma. A SaO2 pode ser inversamente monitorada por meio de amostra e análise do sangue arterial ou com oxímetro de pulso, de forma não invasiva. Os valores de PaO2 superiores a 60 mmHg estão relacionados a uma saturação de oxigênio superior a 90% e correspondem à porção achatada da curva de dissociação da oxihemoglobina, indicando um nível adequado de oxigenação do sangue arterial. Esse efeito deve-se à otimização da relação ventilaçãoperfusão-troca gasosa. Em consequência do recrutamento alveolar obtido e da eliminação da secreção, houve melhora das trocas gasosas e foi possível a redução gradativa da FiO2. Constatou-se nos sujeitos analisados que a frequência cardíaca média foi de 143 bpm para pré-atendimento e 146 bpm pósatendimento (gráfico 2). Sabe-se que a frequência média varia de 120 a 140 bpm para indivíduos nessa faixa etária e pode aumentar até 170 bpm durante choro e agitação, bem como diminuir até 70 bpm durante o sono13. O quadro a seguir mostra a variação da frequência cardíaca de acordo com a idade. Idade Frequência cardíaca Prematuros 100 – 130 – 180 bpm RN a termo 80 – 120 – 170 bpm 3 meses 80 – 120 – 160 bpm 6 meses 80 – 120 – 160 bpm Fonte: Adaptado de Cardoso, in Sarmento (2007, p. 390). O paciente 2 apresentou taquicardia (aproximadamente 180 bpm) durante e após o atendimento. Ele fez uso de medicação vasoativa e bloqueadora neuromuscular durante o procedimento, o que pode explicar a taquicardia. A pressão arterial varia de acordo com a idade, sendo a faixa normal da pressão arterial sistólica de 90 a 140 mmHg14, conforme se pode observar a seguir. Idade Pressão arterial (sistólica/diastólicca) Prematuro 80/45 mmHg RN a termo 80/45 mmHg 3 meses 90/50 mmHg 6 meses 90/55 mmHg 1 ano 90/55 mmHg Fonte: Adaptado de Cardoso, in Sarmento (2007, p. 301). ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 29 Artigo 3 Para Vassoler e Sarmento in Sarmento (2007, p.27)14: A pressão arterial sistólica é a força máxima exercida nas principais artérias durante a contração do ventrículo esquerdo. A pressão arterial diastólica é a força nas principais artérias que permanece após o relaxamento dos ventrículos e normalmente é de 60 a 90 mmHg. Os dados obtidos durante a pesquisa revelaram redução da pressão arterial sistólica e diastólica em todos os sujeitos. Sabe-se que esse fato pode ter decorrido da redução de CO2 circulante. Os centros cardiovasculares são afetados pelas alterações químicas no sangue circulante e cefalorraquidiano. Quando, por exemplo, há redução do dióxido de carbono, os centros medulares tendem a inibir, provocando a diminuição do tônus muscular; como consequência ocorre queda da pressão arterial15. A complacência estática é a medida da pressão na via aérea necessária para equilibrar os pulmões e a caixa torácica no fim da inspiração, após entrada do volume inspiratório, menos a quantidade de pressão positiva final (PeepP), necessária para manter o sistema expandido. Leva-se em consideração a medida da pressão de platô, obtida no modo de volume controlado, fluxo inspiratório constante (onda quadrada) associado a uma pausa inspiratória de 1 a 2 segundos. 30 A complacência dinâmica leva em consideração a complacência dos circuitos do ventilador, da parede do tórax, dos pulmões, e a resistência do fluxo aéreo. Ela define a propriedade elástica dos pulmões. Para sua medida, não é necessário que o paciente esteja sedado ou num modo ventilatório controlado. Seus valores são um pouco mais baixos que os da complacência estática. Observou-se nos sujeitos 1 e 3 aumento da complacência estática e dinâmica. O paciente 2 apresentou complacência elevada durante todo o período que esteve sob suporte ventilatório, acima do valor normal referenciado pela literatura. Após aplicação da técnica apresentou diminuição da complacência. Concordando com os resultados obtidos na pesquisa, diversos estudos verificaram aumento da complacência estática do sistema respiratório16. A técnica da hiperinsuflação pulmonar promove também expansão pulmonar e aumento do volume pulmonar. Sarmento (2007, p. 140)14 afirma: Estudos em modelos experimentais mostraram que o uso de volumes-correntes altos causa lesão pulmonar, mesmo em pulmões normais. Recentemente, uma serie de estudos controlados e randomizados, entre eles o estudo Ards Network, relatou que pacientes ventilados a um VC de 6 mℓ/ Kg de peso tinham uma taxa de mortalidade 22% menor do que aqueles ventilados com VC de 12mℓ/Kg de peso ideal. Não há até o momento estudos clínicos testando a hipótese de que o uso de baixos VC resultaria em benefício para a população pediátrica, porém, considerando o forte embasamento fisiológico, experimental e clínico em adultos, pacientes na faixa etária pediátrica poderiam beneficiarse com VC ≤ 6 mℓ/ Kg. O uso de um volume corrente de 5 a 8 mℓ/Kg17 como estratégia ventilatória protetora foi proposta por Amato et al em 1998. Recentemente, Khemani et al18 demonstraram que, em pediatria, valores de até 10 mℓ/Kg são considerados protetores do parênquima pulmonar. Quanto à evolução dos pacientes, observou-se haver relação do tempo de FiO2 com o prognóstico do paciente. Sabe-se que o oxigênio é tóxico e pode causar lesão celular pela liberação dos radicais livres. Mesmo assim se faz necessária a alta concentração de O2. Atualmente é comprovado o efeito lesivo das altas concentrações de oxigênio (acima de 60%)19. O sujeito 1 permaneceu 7 dias em ventilação mecânica invasiva, ficando com FiO2 de 100% por menos de 24 horas e em névoa úmida por menos de 24 horas após a extubação. O sujeito 2 permaneceu sob ventilação mecânica invasiva por 10 dias, com FiO2 de 100% por 8 dias. Suspeita-se que a permanência prolongada em grande concentração de ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 3 oxigênio tenha sido uma das causas de lesão pulmonar que dificultaram a extubação. A extubação ocorreu em FiO2 de 75%, porque a equipe médica preferiu retirá-lo do ventilação e mantê-lo em cateter nasal para evitar agravamento da lesão pulmonar, considerando que até então o diagnóstico clínico não estava definido. O sujeito 3 permaneceu em ventilação mecânica por 4 dias e menos de 24 horas em FiO2 de 100%, sendo sua extubação fácil e sem complicação. A técnica de cocontração adotada nesta pesquisa, com o objetivo de mobilizar e estimular a criança sob ventilação mecânica, demonstrou ser um procedimento simples e eficaz na prevenção da imobilidade dos sujeitos gravemente doentes, que não apresentaram reações adversas ou efeitos colaterais, como agitação psicomotora, dor ou desconforto. Não foi observada alteração de parâmetros clínicos ou ventilatórios nos sujeitos da pesquisa. Acredita-se que, durante a contração muscular, o fluxo sanguíneo diminui quando a musculatura se encontra contraída. Entre as contrações, observou-se aumento da compressão muscular sobre os vasos sanguíneos; mesmo após interrupção do exercício, o fluxo ficou aumentado por algum período20. Cada vez que membros inferiores se movem, ocorre compressão venosa pelos músculos, levando o sangue da periferia para o coração (circulação sistêmica) e aumentando o débito cardíaco. O sistema venoso deve superar a gravidade para retornar o sangue ao coração, sendo realizados quatro mecanismos para atingir esse fim: tônus venoso simpático, bombeamento do músculo esquelético, sucção cardíaca, diferenças da pressão torácica causadas pelos esforços respiratórios15. O mesmo autor ainda destaca a importância de se considerar o efeito de bomba torácica. Nos pacientes em VM com pressão positiva, esse tipo de ventilação altera a pressão no tórax, interferindo negativamente no retorno venoso. Mesmo sendo o exercício passivo aplicado nesses pacientes, não há contração muscular dos músculos da panturrilha, e a articulação é estimulada proprioceptivamente. Nesse tipo de exercício, quando se realiza o movimento passivo, nos últimos graus, existe uma resposta reflexa de proteção à articulação, ocorrendo uma cocontração muscular no arco final do movimento com ativação da bomba sural, justificando o aumento do volume de fluxo venoso no final do arco de movimento. As técnicas de bag squeezing e manipulação dos membros inferiores melhoram tanto a ventilação alveolar quanto o mecanismo de perfusão, auxiliando o aumento da saturação pós-atendimento. Conclusão O âmbito do presente estudo era verificar se a técnica do bag squeezing, seguida da cocontração de MMII em crianças de 0 a 1 ano, com ventilação mecânica invasiva por IRA, apresenta melhora nos dados clínicos e na mecânica ventilatória. Pode-se observar que a saturação periférica de oxigênio se elevou após o atendimento. Os dados de frequência cardíaca, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica, complacências pulmonares estática e dinâmica, volumes inspiratório e expiratório não obtiveram valor significativo, porém todos os pacientes apresentaram melhora no quadro clínico e não efeitos deletérios que podem aparecer em execução malrealizada. Não houve intercorrência ou óbito durante o atendimento proposto. Para maior compreensão e melhores resultados estatísticos, seriam necessárias investigações envolvendo número maior de participantes e grupo controle. Referências 1. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 2. THOMAS, Jerry R.; NEL- ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 31 Artigo 3 SON, Jack K. Métodos de pesquisa em atividade física. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. 419 p. 3. SARMENTO, G. J. V. Fisioterapia respiratória no paciente crítico: rotinas clínicas. 2. ed. São Paulo: Manole, 2007. 4. BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. 9. ed. Porto Alegre: Artmed. 2003. 5. AMARAL, A. da C. T.; TABAQUIM, M. de l. M.; LAMÔNICA, D. A. C. Avaliação das habilidades cognitivas, da comunicação e neuromotoras de crianças com risco de alterações do desenvolvimento. Revista Brasileira de Educação Especial, São Paulo, v. 11, n. 2, maio-ago. 2005. 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Comparative of physiotherapic intervention through psychomove with regular children from 3 months to 2 years of age that present motor lateness in two municipal centers of child education (CMEIs). Cristiane Gonçalves Ribas1 Douglas Cardoso Gasparetto2 Gilvete Dalberti3 Maria Margarete Moura4 Raquel Campos da Serra5 Mestre e professora do curso de fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. ([email protected]) 2 Acadêmico do curso de fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. ([email protected]) 3 Acadêmica do curso de fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. ([email protected]) 4 Acadêmica do curso de fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. ([email protected]) 5 Acadêmica do curso de fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. ([email protected]) 1 Resumo Introdução: O desenvolvimento psicomotor vem sendo discutido em diversos estudos encontrados na literatura. Os primeiros anos de vida da criança são essenciais à sua evolução motora. Objetivo: Verificar se a intervenção fisioterapêutica por meio de estimulação psicomotora, aliada a orientações especificas aos educadores e pais, é mais eficaz quando comparada à somente intervenção sem orientações. Metodologia A população inicial do estudo foi composta por 85 crianças de duas creches municipais. Após análise dos critérios de inclusão e exclusão, 66 crianças foram submetidas à avaliação específica sobre seu desenvolvimento motor. Do total de crianças avaliadas, 28 apresentaram atraso motor no desenvolvimento, sendo então submetidas a uma intervenção fisioterapêutica na psicomotricidade. Numa das creches foram dadas orientações complementares aos pais e educadores. Após 14 atendimentos, as crianças foram reavaliadas. à creche onde houve a estimulação psicomotora aliada a orientações. Resultados: Após a intervenção psicomotora em ambas as creches, foi possível constatar que, onde houve orientações adicionais, 18 crianças evoluíram para a idade cronológica e 2 continuaram com atraso motor; em outra creche, 15 crianças evoluíram para a idade cronológica e 10 continuaram com atraso motor. Esses dados foram submetidos a cálculos estatísticos, cuja comparação intergrupos apresentou p-valor de 0,02497 favorável Abstract Conclusão: Os resultados sugerem que a intervenção fisioterapêutica na psicomotricidade, aliada a orientações específicas a pais e educadores, produz melhores resultados no desenvolvimento motor da criança, comparada a uma intervenção psicomotora sem orientações adicionais. Palavras-chave: atraso motor, psicomotricidade, fisioterapia. Introduction The psychomove development has been discussed in many studies found on the literature, as the first years of child life are essential to their move evolution. Objective Verify if the physiotherapeutic intervention by psychomove stimulation in associated with specific orientation to ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 33 Artigo 4 educators and parents is more efficient on child psycho move development compared to an intervention without additional orientations. Methodology The initial population analyzed on the study was composed for 85 children from two municipals day nursery. After analysis of the inclusion and exclusion criteria, 66 children were submitted to further evaluation of their move’s development. Among these children, 28 presented move lateness in their development. Those children received psycho move stimulation by physiotherapy and in one of the day nursery parent’s and educators got orientation about how stimulate the children. After 14 attendances by physiotherapy, the children were evaluated again. Results In the evaluation files analysis applied after psycho moves in both day nurseries was possible to recognize who’s had more orientations. 18 children evolved chronological age and 2 continued with move lateness as long as the other day nursery 15 children evolved chronological age and 10 continued with more lateness. This data had been submitted to a statistician calculation with a group comparison that presents 0,02497 favorable to day nursery that held psycho move stimulation with the orientations. 34 Conclusion The results suggested that physiotherapeutic intervention by psycho move along with parent and educator orientation produce better results on child move development when compared with a psicho move intervention without additional orientations. Key words: move lateness, psychomove, physiotherapy. Introdução Os processos de desenvolvimento dos aspectos físicos e emocionais no ser humano estão em constante transformação e evolução, ocorrendo desde o nascimento até a morte. Referente aos aspectos físicos, são extremamente importantes nos primeiros anos de vida humana, porque neles ocorrem os desenvolvimentos das etapas fundamentais da evolução motora, influenciando o restante da vida. Le Bouch (2001) considera que, a partir do nascimento, o ser humano já começa a interagir com o meio onde vive. Essa interação do meio e as relações com outras crianças influenciam diretamente sua personalidade e seu desenvolvimento motor. Atualmente, a Prefeitura Municipal de Curitiba disponibiliza, para as famílias com dificuldades socioeconômicas, creches onde os pais deixam os filhos enquanto trabalham. Nessas creches, nem sempre os educadores conseguem perceber dificuldades motoras nos alunos, ocorrendo atrasos e dificuldades no aprendizado. Segundo Halpern et al (2002), é fundamental identificar as crianças com maior predisposição ao impacto dos atrasos no desenvolvimento motor no que se refere à morbidade, a fim de minimizar os efeitos negativos decorrentes. Quanto mais precoce for à identificação de atraso no desenvolvimento motor e a intervenção fisioterapêutica, menor o impacto desse problema na vida futura da criança. Essas dificuldades dos educadores e dos pais em identificar problemas no desenvolvimento motor das crianças exigem a intervenção da fisioterapia na psicomotricidade, para identificar e estimular as crianças com atraso. Só o estímulo não basta. Também é necessário orientar pais e educadores em como identificar o atraso e estimular na creche ou em casa, desse modo prevenindo e/ou retardando a instalação do atraso motor. Magill (2000) enfatiza a importância do fisioterapeuta que atua na aprendizagem da criança normal ou que apresenta algum atraso motor. Devem-se observar as características do desempenho da criança, em casa e na creche. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 4 Fonseca (1998) considera a educação psicomotora uma formação de base indispensável a toda criança, normal ou com problemas. Tem dupla finalidade: assegurar o desenvolvimento funcional tendo em conta as possibilidadea da criança; ajudar sua afetividade a expandir-se e a equilibrar-se mediante intercâmbio com o ambiente humano. O problema do desconhecimento de pais e educadores sobre o desenvolvimento motor da criança, que acaba prejudicando-a em seu processo de desenvolvimento pleno, motivou a realização deste estudo científico. Objetivos Verificar se a intervenção fisioterapêutica por meio de estimulação psicomotora, aliada a orientações especificas aos educadores e pais, é mais eficaz quando comparada à somente intervenção sem orientações. Metodologia A aplicação prática deste trabalho foi realizada em dois centros municipais de educação infantil (CMEIs), CMEI Conjunto Monteverdi e CMEI Professora Lygia Carneiro, ambos no bairro de Santa Felicidade em Curitiba. No CMEI Conjunto Monteverdi, foi aplicada a intervenção fisioterapêutica na psicomotricidade, juntamente com orientações para pais e educadores de como auxiliar as crianças no desenvolvimento motor. No CMEI Professora Lygia Carneiro houve somente aplicação da intervenção fisioterapêutica na psicomotricidade. A escolha do CMEI para somente a aplicação do tratamento fisioterapêutico sem associar orientações foi feita por sorteio. No CMEI Monteverdi, identificaram-se 43 crianças na faixa etária de 3 meses a 2 anos de idade, a cujos pais foi entregue ou responsáveis o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Obtiveram-se 38 autorizações. Individualmente, aos pais e educadores foi entregue o fôlder explicativo sobre como estimular o desenvolvimento psicomotor das crianças em casa e na creche. Logo depois foi realizada avaliação em 36 crianças para identificar quantas apresentavam atraso motor: 22. Ao final dos 14 atendimentos de 30 minutos realizados duas vezes por semana, nas quartas e sextas-feiras, foi feita a segunda avaliação para analisar possível evolução das crianças. No final dos atendimentos, sobraram 20 crianças. No CMEI Lygia Carneiro identificamos 42 crianças na faixa etária de 3 meses a 2 anos de idade, a cujos pais ou responsáveis entregamos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), obtendo 32 autorizações. Não lhe demos o fôlder explicativo sobre como estimular o desenvolvimento psicomotor das crianças em casa e na creche. Só houve, portanto, a estimulação psicomotora. Em seguida foi realizada avaliação em 30 crianças para identificar quantas apresentavam atraso motor: 26. Também foram realizados 14 atendimentos de 30 minutos duas vezes por semana, nas terças e quintas-feiras. Depois foi feita a segunda avaliação para analisar possível evolução das crianças. Totalizamos ao final dos atendimentos 26 crianças. Os atendimentos em ambos os CMEIs eram feitos a crianças de 3 a 12 meses, de forma individual, e de 1 a 2 anos, em grupos em forma de circuito psicomotor. A intervenção fisioterapêutica na psicomotricidade foi executada da mesma forma nas crianças que apresentaram atraso motor nos dois CMEIs. O material utilizado para avaliar os sujeitos de 3 a 12 meses de idade cronológica nos dois CMEIs foram a Escala de Desenvolvimento Motor de Vítor da Fonseca8 (1998). Para os sujeitos na faixa etária de 1 a 2 anos de idade utilizamos a Avaliação Motora e Reflexa Infantil de Ribeiro9 (2009). Os exercícios foram elaborados com base na identificação do nível de atraso motor de cada criança, que passou a ser estimulada ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 35 Artigo 4 para alcançar a idade motora correspondente à cronológica. Esses estímulos tiveram como base os aspectos analisados e descritos nas suas fichas de avaliação conforme Escala de Desenvolvimento Motor de Vítor da Fonseca8 (1998) e Avaliação Motora e Reflexa Infantil de Ribeiro9 (2009). Resultados Os resultados obtidos após término da aplicação do programa de tratamento fisioterapêutico de cada CMEI foram analisados e comparados em sua evolução. O gráfico 1 apresenta a comparação entre a evolução motora dos sujeitos do CMEI Conjunto Monteverdi e do CMEI Professora Lygia Carneiro nos seguintes aspectos: • Crianças que não evoluíram: no CMEI Professora Lygia Carneiro, percebe-se 1 criança; no outro CMEI, nenhuma. • Crianças que não evoluíram o suficiente: no CMEI Professora Lygia Carneiro, 9 crianças; no outro CMEI, 2. • Crianças que evoluíram: no CMEI Professora Lygia Carneiro, 15 crianças; no outro CMEI, 18 crianças. Comparação da Evolução 18 Quantidade de Pacientes 18 15 15 12 9 9 6 2 3 0 0 1 Não evoluíram Não Evoluíram o suficiente Evoluíram Estágio de Melhora CMEI – Monteverdi CMEI – Lygia Carneiro GRÁFICO 1: Comparação dos resultados da evolução motora entre os centros municipais de educação infantil. A partir desses dados sobre a evolução dos sujeitos, é possível comparar, através do teste qui-quadrado, em qual dos CMEIs ocorreu evolução estatisticamente significativa. Na tabela 1 observamos que 2 crianças continuaram com atraso motor no CMEI Monteverdi e 10 no outro CMEI. No que diz respeito às crianças que evoluíram para a idade motora correta, no CMEI Monteverdi foram 18; no outro CMEI, 15 crianças. Comparando estatisticamente a evolução dos sujeitos de ambos os CMEIs pelo teste qui-quadrado, obteve-se o p-valor de 0,02497 com 5% de significância. Esse resultado indica que o estudo comparativo dos tratamentos nos dois CMEIs se distinguem estatisticamente, mostrando ser o programa de tratamento fisioterapêutico aplicado no CMEI Monteverdi o mais eficaz. Como as fichas de avaliação contêm muitos itens para análise do desenvolvimento motor em cada idade da criança, optamos por selecionar, avaliar e comparar, percentualmente, os principais no aspecto da evolução dos indivíduos de 1 a 3 anos entre os CMEIs Professora Lygia Carneiro e Conjunto Monteverdi. Seguem exemplos de exercícios que foram aplicados para as crianças na faixa etária de 3 meses a 2 anos de idade. CMEI Crianças que continuaram Crianças que evoluíram Resultado com atraso motor para a idade motora p-valor correta intergrupos Conjunto 2 18 Monteverdi 0,02497 Professora10 15 Lygia Carneiro TABELA 1: Comparação estatística entre os CMEIs Conjunto Monteverdi e Professora Lygia Carneiro na evolução do tratamento psicomotor. 36 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 4 Comportamento 1-2 anos CMEI - LYGIA CMEI - MONTE Sujeitos EvoluçãoSujeitosEvolução 1- Passa da posição sentado à de pé. 2- Faz rolar uma bola por imitação. 3- Põe 4 argolas num suporte cilíndrico. 4- Constrói torre de três blocos. 4 5- Faz riscos com lápis ou caneta. 6- Anda autonomamente. 7- Empurra e desloca brinquedos enquanto anda. 8- Dobra-se pela cintura para apanhar objetos, sem perder o equilíbrio. 100% 100% 75% 75% 9 100% 100% 75% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 75% 100% TABELA 2: Comparação da evolução motora na faixa etária de 1 a 2 anos de idade entre as crianças dos CMEIs Professora Lygia Carneiro e Conjunto Monteverdi. A tabela 2 e o gráfico 2 mostram a comparação da evolução motora na faixa etária de 1 a 2 anos de idade entre as crianças dos dois CMEIs, sendo 4 sujeitos do CMEI Professora Lygia Carneiro e 9 do CMEI Conjunto Monteverdi. Conforme se observa, todas as crianças do CMEI Conjunto Monteverdi evoluíram nos aspectos analisados; no outro CMEI, 1 criança não evoluiu nos aspectos 3, 4, 7 e 8. A tabela 3 (ao lado) e o gráfico 3 (ao lado) mostram a comparação da evolução motora na faixa etária de 2 a 3 anos de idade entre as crianças dos dois CMEIs, sendo 10 sujeitos do CMEI Professora Lygia Carneiro e 5 do CMEI Conjunto Monteverdi. GRÁFICO 2: Comparação da evolução motora na faixa etária de 1 a 2 anos de idade entre as crianças dos CMEIs Professora Lygia Carneiro e Conjunto Monteverdi. Comportamento 2-3 anos CMEI - LYGIA Conforme se observa, todas as crianças do CMEI Conjunto Monteverdi evoluíram nos aspectos analisados; no outro CMEI, 4 crianças não evoluíram no aspecto 3, 3 crianças não evoluíram nos aspectos 4, 5 e 7, 2 não evoluíram nos aspectos 6 e 9. CMEI - MONTE Sujeitos EvoluçãoSujeitosEvolução 1- Manipula maçanetas para abrir porta. 100% 2- Salta com os pés juntos sem sair do lugar. 100% 3- Anda à retaguarda. 60% 4- Lança bola para um adulto colocado a 1,5 m 70% de distância, sem que este tenha de se mover para pegá-la. 10 5 5- Constrói torre de 5 a 6 cubos. 70% 6- Vira as páginas de livro, uma de cada vez. 80% 7- Dobra papel ao meio por imitação. 70% 8- Chuta uma bola grande parada. 100% 9- Faz preensão do lápis entre o polegar 80% e o indicador com suporte no médio. 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% TABELA 3: Comparação da evolução motora na faixa etária de 2 a 3 anos incompletos de idade entre as crianças dos CMEIs Professora Lygia Carneiro e Conjunto Monteverdi. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 37 Artigo 4 como palestras, orientações e troca de experiências com os educadores. Em resposta ao tratamento fisioterapêutico, melhora o desempenho motor da criança. Kavalco (2003), citado por Landmann, Ruzza, Chesani2 (2009), afirma que pais, fisioterapeuta e educadores devem sempre manter acompanhamento ao desempenho da criança. GRÁFICO 3: Comparação da evolução motora na faixa etária de 2 a 3 anos incompletos de idade entre as crianças dos CMEIs Professora Lygia Carneiro e Conjunto Monteverdi. Discussão O objetivo da nossa pesquisa foi comparar se a intervenção fisioterapêutica por meio de estímulos psicomotores, associada a orientações a pais e educadores, produz mais resultados positivos no desenvolvimento psicomotor da criança, comparada a somente aplicação da fisioterapia convencional. Os resultados obtidos nesta pesquisa mostram, na tabela 1 e nos gráficos 1, resultados satisfatórios. Para obter melhor resultado no tratamento fisioterapêutico estimulando o desenvolvimento psicomotor das crianças, Souza e Godoy1 (2005) afirmam que devemos “considerar o indivíduo como um todo, evitando dissociar o corpo da mente”. Dessa forma, existe a necessidade de o fisioterapeuta estar incluso na equipe multidisciplinar de creches e escolas. Landmann, Ruzza e Chesani2 (2009) dizem que o fisioterapeuta pode contribuir não só no aspecto ergonômico, mas também no enfoque de formação continuada aos educadores, sempre buscando, através de seus conhecimentos a respeito do desenvolvimento neuropsicomotor normal, facilitar o aprimoramento de certas habilidades motoras, usando recurso 38 Quanto mais as crianças do CMEI Monteverdi recebiam estímulos no desenvolvimento psicomotor, tanto da fisioterapia (duas vezes por semana), pais em casa e educadores na creche, mais rápido seu sistema nervoso central (SNC) e suas habilidades psicomotoras se desenvolviam em relação aos de outras crianças do CMEI Lygia Carneiro, que só recebiam estímulos psicomotores duas vezes por semana. Isso justifica o resultado da tabela 1: o CMEI Monteverdi teve menor número de crianças que não evoluíram o suficiente e o maior número de crianças que evoluíram para a idade cronológica, comparado ao CMEI Lygia Carneiro. Assim, alcançamos o objetivo principal da pesquisa. No CMEI Lygia Carneiro, o desempenho das crianças que não evoluíram o suficiente para a idade cronológica (gráfico 1) foi maior que no outro CMEI. Existem fatores sociais, econômicos e biológicos que ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 4 alteram e/ou influenciam no desenvolvimento motor da criança. A falta de conhecimento e instrução de educadores e pais pode ter influenciado negativamente de alguma maneira nos resultados obtidos na pesquisa, com relação ao desenvolvimento das crianças no CMEI Lygia Carneiro. Bradley e Vandell6 (2007), citado por Santos et al3 (2009), “afirmam que as experiências da criança na creche interagem com suas experiências na família e com as próprias características da criança para produzir os resulta¬dos no desenvolvimento”. Já para Belsky et al4 (2007), a qualidade dos cuidados prestados adequadamente às crianças nos primeiros anos de vida é muito importante. A família é o alicerce de maior consistência no desenvolvimento da criança. Souza e Godoy1 (2005) relatam: “A interação entre técnicas fisioterapêuticas e a psicomotricidade pode tornar o tratamento mais efetivo e significativo tanto para o paciente como para o fisioterapeuta”. Para Bernardi5 (2007), o fisioterapeuta busca, baseado numa visão global e em seus conhecimentos a respeito do desenvolvimento neuropsicomotor, facilitar a aquisição e o aprimoramento de certas habilidades e conceitos necessários ao processo de desenvolvimento motor. Nos itens analisados, o CMEI Monteverdi deveria ter obtido melhores resultados, se os educadores na creche e os pais em casa estivessem dando os estímulos cabíveis, ao contrário do que ocorreu no CMEI Lygia Carneiro. Esses resultados são justificados, pois os pesquisadores deste estudo não tiveram nem poderiam ter acompanhamento no âmbito familiar e na creche, pois estávamos desenvolvendo a pesquisa duas vezes por semana em cada CMEI. Também podemos dizer que as crianças que não evoluíram satisfatoriamente para atingir a idade cronológica em ambos os CMEIS, mais do CMEI Lygia Carneiro estão ligados a fatores preexistentes em que nós, na condição de fisioterapeutas, não podemos interferir, como por exemplo, casa e condições em que vive, com quem vive, com quantas semanas de gestação nasceu, tipo de alimentação, entre outros. Santos et al3 (2009) afirmam que a ocorrência de algumas situações familiares potencialmente desfavoráveis (pais adolescen-tes, baixa escolaridade materna), baixa condição socioeconômica, baixa renda amplifica a vulnerabilidade biológica da criança, levando a resultados desfavoráveis no seus desenvolvimento. Halpern et al7 (2000) também refere que a pobreza e seus problemas associados com alimentação inadequada, condições sanitárias e de higiene insatisfatórias, educação dos pais e inadequada estimulação no lar são considerados os mais importantes fatores de risco ao desenvolvimento da criança. Outro fator que altera esse desenvolvimento infantil: muitas vezes, os centros municipais de educação infantil precisam suprir a ausência de companhia e afeto dos familiares, por não poderem estar com seus filhos durante o dia. Já Biscegli et al (2003), citado por Santos et al3 (2009), diz que o tempo de exposição à creche, a qualidade da atenção recebida pela criança nesse ambiente talvez expliquem, ao menos em parte, os constantes atrasos no seu desenvolvimento. Campos, Füllgraf e Wiggers10 (2006) mostram que as educadoras têm dificuldade de superar as rotinas empobrecidas de cuidados com alimentação e higiene para incorporar práticas que levem ao desenvolvimento integral. Conclusão Pode-se concluir que a intervenção fisioterapêutica junto com orientações a pais e educadores tiveram melhor resultado estatisticamente do que só a intervenção fisioterapêutica. No CMEI Conjunto Monteverdi, que ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 39 Artigo 4 teve essa intervenção com os pais e educadoras, das 20 crianças estimuladas, todas evoluíram, apenas duas não evoluíram o suficiente para considerá-las sem atraso motor. No CMEI Lygia Carneiro, as crianças também evoluíram, mas não o suficiente, comparado ao outro CMEI. Com base na literatura encontrada, nossos resultados foram muito satisfatórios, podendo afirmar que o objetivo principal foi alcançado. O fisioterapeuta tem de se conscientizar da necessidade de estar sempre atualizado com os avanços da ciência para aperfeiçoar sua prática diária, bem como da melhor maneira de atuar junto à equipe multidisciplinar, para utilizar procedimentos cuja eficácia responda às evidências científicas. Concluiu-se que a maturação do SNC é um elemento de importância critica para a evolução motora. Percepção, cognição, experiência e ambiente também devem ser reconhecidos como fatores determinantes para o desenvolvimento motor. O fisioterapeuta prepara a criança para uma função, mantém as já existentes ou as aprimora, trabalhando sempre com a finalidade de obter um programa de tratamento eficiente. Também se observa a necessidade de haver um psicomotricista dentro dos 40 CMEIs. Que esse profissional possa ser um fisioterapeuta com conhecimentos sobre o assunto, atuando em conjunto com o pedagogo, o psicólogo, os educadores e os pais entre outros, com vistas a oferecer melhor qualidade no desenvolvimento motor da criança. Com este estudo conclui-se ser de extrema importância a permanência de um fisioterapeuta que possa acompanhar os dois turnos das crianças que frequentam os centros municipais de educação infantil, para o trabalho ser mais amplo e eficaz. Outra hipótese para novas pesquisas é ter número igual de crianças na mesma faixa etária em ambos os CMEIs. Os dados estatísticos seriam mais fidedignos. Sugere- se também para uma nova pesquisa que seja feita uma coleta investigativa de dados para verificar se as crianças nasceram prematuras, de pais separados ou pais adolescentes, com quem vivem, para quantificar possíveis causas do atraso motor das crianças. Referências 1. SOUZA, H. A.; GODOY, J. R. P. 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Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 41 Artigo 5 Classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde: perspectivas emergentes para a fisioterapia International Classification of Functioning, Disability and Health: emergent perspectives for the physiotherapy Eduardo Santana de Araujo¹ ¹ Mestre em Saúde Pública pela USP e Professor da UNIP. [email protected] Resumo Fisioterapeutas são profissionais intimamente ligados à funcionalidade humana. A CIF pode auxiliar na obtenção de dados epidemiológicos sobre funcionalidade e incapacidade de populações. As estatísticas mundiais que permitem comparações entre países e continentes são baseadas em informações de mortalidade. Praticamente, todos os países usam as informações de morbidade para pagamento dos serviços de saúde prestados. Estatísticas de morbidade possibilitam conhecer melhor o que acontece na população, embora de forma limitada, pois apenas um diagnóstico inicial não fornece meios para acompanhar o que acontece com a pessoa durante a evolução da doença. Para tanto, devese utilizar uma classificação adequada para fazer esse acompanhamento. Na prática clínica do fisioterapeuta, alguns aspectos têm especial importância, como no caso do diagnóstico, a partir do qual esse profissional determina os objetivos de tratamento e os critérios de alta. Muitas vezes, os critérios de alta não estão 42 relacionados com a cura de determinada doença, visto esta não ser o foco da atuação fisioterapêutica na grande maioria das vezes. O diagnóstico cinesiológico-funcional (CIF) unifica a linguagem diagnóstica em fisioterapia e em outras áreas da saúde funcional, de forma a respeitar linguagem padronizada internacionalmente, criada pela Organização Mundial da Saúde. A fisioterapia tem expectativas extremamente positivas e necessidades iminentes com a adoção da CIF no Brasil e no mundo, tais como identificação dos diagnósticos cinesiológico-funcionais por meio de um sistema de codificação e inserção da CIF nos cursos de graduação e pós-graduação em fisioterapia. Abstract The physiotherapists are professionals intimately linked to human functionality. The ICF can assist in achieving epidemiological data on functionality and inability to populations. Global statistics that enable comparisons between countries and continents are based on information from mortality. Practically, all countries use information of morbidity for payment incurred. For morbidity Statis- tics allow you to learn more about what happens in the population. However, these are limited because, from an initial diagnosis, it is not possible to monitor what happens with the person during the evolution of the disease. For this purpose, a classification capable of allowing such monitoring is necessary. In the clinical practice of physiotherapist, some aspects are particularly important, as is the case of diagnosis. From this, the physiotherapist determines the goals of treatment and the criteria for the end of the treatment. Often, the criteria is not the cure of disease, because this is not the focus of physiotherapists actuation. The name given to this diagnosis is functional/kinesiologic diagnosis. The ICF is able to unify the language in physiotherapy and other functional areas of health, so that an internationally standardized language, created by the World Health Organization. The physiotherapy has extremely positive expectations and imminent needs with the adoption of ICF in Brazil and worldwide, such as identification of diagnostics through a coding system and inserting ICF undergraduate and postgraduate courses of physiotherapy. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 5 Introdução O surgimento da classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde (CIF) tem estreita relação com um fato marcante da epidemiologia no século passado: a transição epidemiológica e demográfica. Observando-se a história, é possível identificar ainda que existe uma correlação direta entre os processos de transição epidemiológica e demográfica (CHAIMOWICZ, 1997). Em geral, as transformações demográficas, sociais e econômicas ocorrem em conjunto com mudanças ocorridas no tempo quanto aos padrões de morte, morbidade e invalidez, que caracterizam uma população específica. Essa é a chamada transição epidemiológica (OMRAM, 1971). O processo engloba três mudanças básicas: substituição das doenças transmissíveis por doenças nãotransmissíveis e causas externas; deslocamento da carga de morbimortalidade dos grupos mais jovens para os grupos mais idosos; transformação de uma situação em que predomina a mortalidade para outra na qual a morbidade é dominante (SCHRAMM et al, 2004). O aumento da prevalência de doenças crônicas fez o diagnóstico cinesiológico-funcional e o das incapacidades ganharem muita importância, pois a qualidade de vida tende a ser um dos focos principais para se determinar o estado de saúde de uma população. Apenas indicando a classificação internacional de doenças (CID-10), não é possível obter informações sobre isso. A intenção da Organização Mundial de Saúde (OMS) é que o uso da classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde (CIF) possa, em conjunto com outras classificações da família de classificações internacionais da OMS, favorecer um melhor entendimento sobre a saúde das populações, de acordo com as necessidades atuais. O envelhecimento rápido da população brasileira, desde a década de 1960, faz a sociedade deparar-se com uma demanda por serviços de saúde e sociais outrora restrita aos países desenvolvidos. O estado, ainda às voltas em estabelecer o controle das doenças transmissíveis e a redução da mortalidade infantil, não foi capaz de desenvolver e aplicar estratégias para a efetiva prevenção e tratamento das doenças crônico-degenerativas e suas complicações, levando a uma perda de autonomia e qualidade de vida (CHAIMOWICZ, 1997). Com o passar dos anos e a continuar nesse ritmo, a qualidade de vida aqui passará a ser um dos fortes determinantes da condição de saúde da população. O antigo processo linear, que colocava a doença como único ponto de partida para a geração de incapacidade e desvantagem, não é mais tido como verdadeiro. Segundo o modelo da CIF, a doença é vista apenas como um dos fatores influenciadores da saúde e divide espaço com os fatores ambientais, incluindo os sociais, e com os fatores pessoais. Fatores do contexto aos quais aqui se fazem referência: acesso aos serviços de saúde, a medicamentos, paz, habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social, equidade, entre outros. A principal debilidade do esquema teórico da transição epidemiológica seria enfatizar a tecnologia como principal alternativa interveniente no curso da transição, desconsiderando o papel que as variáveis econômicas e sociais desempenham nesse processo (BARRETO e CARMO, 1995). Os fisioterapeutas são profissionais intimamente ligados à funcionalidade humana. O uso da CIF em fisioterapia pode auxiliar na obtenção de dados epidemiológicos sobre funcionalidade e incapacidade de populações. CIF – modelo e importância epidemiológica Como a CIF é uma classificação específica de funcionalidade e incapacidade, as condições que passaram a existir devido à transição epidemiológica, estando elas diretamente relacionadas com a presença de doença ou não, podem ser identificadas e monitoradas. A fisioterapia e as outras profissões da área de saúde funcional ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 43 Artigo 5 ganham grande importância no diagnóstico dos distúrbios cinesiológico-funcionais e na prevenção das incapacidades. Paralelamente, pode-se considerar que os fatores sociais determinantes da saúde também influenciam na incapacidade e na funcionalidade. Por sua vez, a CIF é um instrumento capaz de identificar e monitorar esses fatores, por codificar a acessibilidade a diferentes tipos de serviço, por exemplo. O que se considera “estado de saúde” de uma população é, atualmente, avaliado sob os aspectos de morbidade e mortalidade, mediante uso da CID-10. A necessidade atual, porém, é ir além de saber quais doenças as pessoas têm e de que problemas elas morrem. É preciso saber como estão vivendo. As estatísticas mundiais que permitem comparações entre países e continentes são baseadas em informações de mortalidade. Praticamente, todos os países usam as informações de morbidade para pagamento dos serviços de saúde prestados. Estatísticas de morbidade permitem conhecer melhor o que acontece na população que tem um agravo à saúde, sem levá-la à morte. Os recursos atuais para classificação de morbidades são limitados, considerando que um diagnóstico inicial, ainda que o indivíduo viva mais da metade de sua vida com o mesmo diagnóstico, não dá condições para acompanhar o que acontece com ele durante a evolução da 44 doença. Isso exige adotar uma classificação que possibilite esse acompanhamento. Estudos realizados pela Organização das Nações Unidas (ONU), no início da década de 80, revelaram muitas estatísticas nacionais sobre pessoas com deficiência que poderiam ajudar significativamente os planejadores e formuladores de políticas governamentais em sua preparação de programas voltados à deficiência. Até então, os dados disponíveis em vários países haviam sido subutilizados como meio para desenvolver programas para pessoas com deficiência. De acordo com os peritos que examinaram a disponibilidade dos dados, dois importantes problemas pareciam ser a falta de coordenação entre coletadores de dados, planejadores e falta de treinamento para analisar os dados existentes (SWANSON et al, 2003). Havia, então, muitas diferenças em como expressar as deficiências nos diversos países, o que tornou impossível a comparação de dados. Uma classificação que consiga padronizar a linguagem seria essencial para permitir a conquista desse tipo de informação. A CIF unifica a linguagem clínica e epidemiológica e traz um padrão para expressar a funcionalidade e a incapacidade de indivíduos e de populações. CONDIÇÃO DE SAÚDE (transtorno ou doença) FUNÇÃO E ESTRUTURA DO CORPO (deficiência) ATIVIDADE (limitação) FATORES AMBIENTAIS PARTICIPAÇÃO (restrição) FATORES PESSOAIS Adaptação: OMS (2001) Figura 1 – Interação entre os componentes da CIF. O modelo multidirecional (Figura 1) reflete o pensamento para a codificação com a CIF. O modelo não tem um ponto de partida. O problema pode iniciar em qualquer um dos itens e gerar repercussões em qualquer outro ou nele próprio. Fatores ambientais podem gerar alterações funcionais e estruturais, que podem gerar limitação da atividade. Uma alteração funcional pode gerar outra alteração funcional e facilitar o aparecimento de doenças. O desenvolvimento desses problemas, mesmo se iguais, terão evolução diferente em diferentes pessoas, quando considerados os fatores pessoais. Esse modelo reflete um novo paradigma, diferente do antigo, que era baseado no pensamento linear de que a doença (ou condição de saúde) era o ponto de partida para alterações ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 5 funcionais ou estruturais que levavam às limitações de atividades, o que levava às restrições da participação social (ou desvantagem). O novo modelo representa uma evolução para a formação do fisioterapeuta e a evolução de sua prática clínica. A 54ª Assembleia da Organização Mundial de Saúde, em maio de 2001, aprovou esse modelo. O uso dessa classificação foi recomendado para os países-membros através da resolução WHA54.21, base da Resolução Coffito, que adota a CIF na linguagem para o referencial nacional de honorários fisioterapêuticos (RNHF). As classificações das áreas da saúde facilitam o levantamento, a consolidação, análise e interpretação de dados, a formação de bases nacionais consistentes, além de permitir a comparação de informações de saúde sobre populações ao longo do tempo entre regiões e países (FARIAS, 2005). A CIF assume posição neutra em relação à etiologia, diferente da CID-10, de modo que os usuários podem desenvolver inferências causais usando métodos e técnicas adequados (OMS, 2003). De qualquer modo, a funcionalidade e a incapacidade podem estar associadas às doenças ou ser decorrentes delas. Assim, a CIF e a CID-10 são complementares, apesar de totalmente possível sua aplicação avulsa. CIF é uma classificação hi- erarquizada que utiliza um sistema alfanumérico. As letras b, s, d e e indicam, respectivamente, funções do corpo, estruturas do corpo, atividades e participação, fatores ambientais. Elas são seguidas por um código que começa com o número do capítulo (um dígito), seguido pelo segundo nível (dois dígitos), pelo terceiro nível (um dígito) e pelo quarto nível (um dígito). Esses níveis existem porque categorias mais amplas podem ter subcategorias mais detalhadas. Por exemplo, a categoria mobilidade, que está dentro de “atividades e participação”, tem subcategorias como andar, sentar-se e transportar objetos. A um indivíduo podem ser atribuídos códigos de diferentes níveis, que podem ser independentes ou estar inter-relacionados. Os códigos só estão completos com a presença do “qualificador”, que indica a magnitude do nível de saúde. Por exemplo, gravidade do problema. Os qualificadores são representados por um ou mais números, colocados após o código e separados por um ponto. Qualquer código deve estar acompanhado de um qualificador, sob pena de ficar sem significado (OMS, 2003). Exemplo: b450.3 – tosse ineficaz. Nesse caso, a letra b representa o componente de funções do corpo; o número 4 (primeiro nível) representa o capítulo 4 da parte de funções do corpo: funções dos sistemas cardiovascular, hematológico, imunológico e respiratório; o número 50 (segundo nível) representa funções respiratórias adicionais (inclui tossir, espirrar e bocejar); o número 3, que vem após o ponto, é o qualificador, significando deficiência grave, no exemplo em pauta. O qualificador dá sentido ao código, indicando, por exemplo, o grau de perda funcional, estrutural ou de perda da capacidade. Os qualificadores também servem à classificação das barreiras e dos facilitadores, mostrando o impacto dos fatores ambientais e sociais na função, quando o indivíduo tem alguma alteração do estado de saúde (SCHEIDERT, 2003). Diferentemente da classificação segundo a CID-10, que se refere a doenças, na qual cada diagnóstico geralmente tem apenas um código. Na CIF, uma alteração funcional pode ter vários códigos de cada parte da classificação. Diagnóstico em fisioterapia Na prática clínica do fisioterapeuta, alguns aspectos têm especial importância, como no caso do diagnóstico. Este é a base para o fisioterapeuta determinar os objetivos de tratamento e os critérios de alta. Muitas vezes, os critérios de alta não estão relacionados com a cura de determinada doença, poque a doença não é o foco da atuação fisioterapêutica na grande maioria das vezes. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 45 Artigo 5 O fisioterapeuta faz o diagnóstico chamado cinesiológico-funcional, que diz respeito aos distúrbios de movimento e funcionalidade, de forma a eles poderem ser tratados pelos recursos da terapêutica física. Considerando que as alterações funcionais se interrelacionam, o fisioterapeuta sempre deve fazer mais de um diagnóstico no mesmo paciente. Desse modo, um paciente a ser submetido ao tratamento cinesiológico pode ter vários diagnósticos cinesiológico-funcionais,. todos expressos em linguagem e estrutura da CIF. Os diagnósticos cinesiológicofucionais fazem parte de um dos itens do modelo multidirecional da CIF: funções e estruturas do corpo. Além dos problemas funcionais do indivíduo, o fisioterapeuta deve avaliar quais suas limitações e restrições no dia a dia, de maneira a complementar seu diagnóstico e conhecer a funcionalidade do paciente, termo mais amplo e abrangente do que alterações funcionais ou estruturais. A CIF, então, é capaz de unificar a linguagem diagnóstica em fisioterapia e em outras áreas da saúde funcional, de forma a respeitar a linguagem padronizada internacionalmente, criada pela Organização Mundial de Saúde. Conclusões A fisioterapia tem expectativas extremamente positivas e 46 necessidades iminentes, com a adoção da CIF no Brasil e no mundo. Perspectivas positivas: - Do ponto de vista epidemiológico, a CIF constitui um instrumento mais adequado do que a CID-10, no que se refere à permissão do conhecimento dos determinantes da incapacidade, fatores ambientais e sociais. Isso pode favorecer e facilitar a elaboração de medidas preventivas mais amplas e efetivas, bem como nortear os profissionais da saúde funcional na determinação de condutas terapêuticas e dos critérios de alta. A CIF e seu modelo tornam-se importantes ferramentas epidemiológicas e clínicas, direcionando o trabalho na prática da fisioterapia. - Com o uso dos códigos da CIF e sua inclusão em bancos de dados epidemiológicos, o trabalho do fisioterapeuta pode aparecer com mais clareza e objetividade, mostrando a importância desse profissional para a sociedade. - O uso dos códigos ajuda a identificar as necessidades da população, principalmente de serviços de saúde funcional. - A compreensão da necessidade de contratação de profissionais de fisioterapia pelo Sistema Único de Saúde seria facilitada pela utilização de códigos e informações sobre a saúde funcional das populações. - A CIF pode servir como base para o pagamento de serviços de fisioterapia, os quais estão erroneamente baseados em códigos da CID-10, mesmo a doença não sendo objeto de estudo do fisioterapeuta. - A CIF fornece linguagem padronizada para uso em pesquisas na área de fisioterapia, com possibilidade de unificar a linguagem das medidas funcionais atualmente adotadas. - A estrutura da classificação traz corpo para os diagnósticos cinesiológico-funcionais, com uma linguagem universal e padronizada. Necessidades iminentes: - Inserir o modelo da CIF e a aprendizagem de sua utilização nos cursos de graduação e pós-graduação em fisioterapia. - Treinar profissionais e professores sobre a utilização da CIF. - Utilizar a CIF separadamente da CID-10 num primeiro momento, para o modelo conceitual da CIF ser absorvido e aceito. - Unir dados da CIF com dados da CID-10 posteriormente, para melhor compreensão do estado de saúde de populações. A adoção de um modelo único para expressar os resultados de uma avaliação de funcionalidade e incapacidade permitiria ao fisiotera- ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 5 peuta considerar um perfil específico para cada indivíduo, tendo maiores artifícios para a construção de um programa de tratamento centrado nas necessidades de cada um. Apesar de não ter sido criada para tal, a CIF e seu modelo trazem enorme contribuição para o crescimento da fisioterapia no Brasil e no mundo, em todos os sentidos. Referências 1. BATALHA, F. M. B. A formação do fisioterapeuta na UFRJ e a profissionalização da fisioterapia. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Medicina Social, UFRJ, Rio de Janeiro, 2002. 2. BARRETO, M. L.; Carmo E. Mudanças em padrões de morbimortalidade: conceitos e métodos. In: MONTEIRO, C. (Org.). Velhos e novos males da saúde no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1995. 17-30. 3. BUCHALLA, C. M. A classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde. Acta Fisiátrica, 2003, 10(1): 29-31. 4. CHAIMOWISCZ, F. A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do século 21: problemas, projeções e alternativas. Revista de Saúde Pública, 31(2): 184-200. 5. DEFINE, D. V.; FELTRIN, M. I. Z. A fisioterapia no Brasil. Atualização Brasileira de Fisioterapia, 1986, 3(4): 22-4. 6. FARIAS, N.; BUCHALA, C. M. 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Os que se enquadrarem serão submetidos à apreciação de dois editores, garantindo-se o anonimato de autores e editores. Dependendo dos pareceres recebidos, os autores poderão ser solicitados a fazer ajustes, ainda sujeitos à aprovação. Uma vez aceito, o texto será submetido à edição, podendo haver novamente solicitação de ajustes formais. Responsabilidade e ética O conteúdo e as opiniões expressas são de inteira responsabilidade dos autores. Artigos de pesquisa envolvendo sujeitos humanos devem indicar expressa aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da instituição responsável. Pesquisas referentes a animais precisam da aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Animais. Formato e conteúdo Os textos deverão ser digitados em Word 972003, em tamanho A4, com espaçamento de linhas duplo e fonte 12 tipo Times New Roman. Exige-se o formato ABNT em todo o texto. Página de rosto – deve conter: a) título do trabalho e sua versão para o inglês; b) nome completo dos autores com indicação da titulação acadêmica e inserção institucional, nome do departamento, curso ou laboratório dessa instituição, acompanhado de endereço completo, incluindo cidade, estado e país; c) título condensado (máximo de 50 caracteres) – running title; d) endereços eletrônico e postal do autor principal; e) indicação de órgão financiador de parte ou todo do projeto de estudo, se for o caso. Resumo – deve permitir visão panorâmica do trabalho, conter no máximo 250 palavras e versão em inglês. Para os artigos originais, o resumo deve ser estruturado em objetivos, métodos, resultados e conclusões. Unitermos ou palavras-chave – máximo de seis, relacionados após o resumo e o sumário. Como guia, consulte descritores em ciências da saúde (http://decs.bvs.br). Estrutura do texto • Editoriais – a convite do editor, sob tema específico, devem conter no máximo duas mil palavras. • Artigos originais – devem conter estruturalmente as partes introdução, objetivos, métodos, resultados, discussão e conclusão. São contribuições destinadas a divulgar resultados de pesquisa original inédita, passíveis de ser replicadas e/ou generalizadas. Devem atender aos princípios de objetividade e clareza da questão norteadora, conter o máximo de cinco mil palavras; tabelas e figuras não podem exceder a sete. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência 49 • Relato de caso – com a mesma estrutura dos artigos originais – no máximo mil e quinhentas palavras e três tabelas. Recomenda-se não citar iniciais do paciente. • Artigos de revisão – compreende avaliações críticas e ordenadas da literatura sobre determinado assunto, devendo conter objetivo (por que a revisão da literatura foi realizada, indicando se ela enfatiza algum fator em especial), fonte de dados (critérios de seleção de artigos e métodos de extração e avaliação da qualidade das informações), síntese dos dados (principais resultados quantitativos e/ou qualitativos da pesquisa) e conclusões (com as respectivas aplicações). Incluem-se os procedimentos adotados e a delimitação do tema. A extensão limita-se a três mil palavras. • Cartas ao editor – comentários, discussões e críticas a artigos publicados recentemente nesta revista, relatos de pesquisas originais ou achados científicos significativos. Extensão limítrofe de mil palavras. Referências As referências devem seguir o modelo da Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT). Veja exemplos: DAHER, S.; MATTAR, R.; SASS, N. Doença hipertensiva específica da gravidez: aspectos imunológicos. In: Sass N, Camano L, Moron AF, editores. Hipertensão arterial e nefropatias na gravidez. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 45-56. BLIDDAL, H.; HELLESEN, C.; DITLEVSEN, P.; ASSELBERGHS, J.; LYAGER, L. Soft-laser therapy of rheumatoid arthritis. Scand. J. Rheumatol. 1987. 16(4):225-8. 50 HERZOG NETO, G.; CURI, R. L. N. Características anatômicas das vias lacrimais excretoras nos bloqueios funcionais ou síndrome de Milder. Rev. Bras. Oftalmol. [periódico eletrônico]. 2003 [citado 2006 jul. 22];62(1):[cerca de 5 p.]. Disponível em: <www.sboportal.org.br>. FREIRE, M. Exercícios aeróbicos e lombalgia [dissertação]. São Paulo: Disciplina de Reumatologia, Universidade Federal de São Paulo, Unifesp, 2000. SACCO, I.C.N.; COSTA, P.H.L.; DENADAI, R.C.; AMADIO, A.C. Avaliação biomecânica de parâmetros antropométricos e dinâmicos durante a marcha em crianças obesas. 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