fisioterapia em evidência

Transcrição

fisioterapia em evidência
issn 2178-1672
volume 1, Número 2,
julho/AGOSTO 2010
Revist a
FISIOTERAPIA
EM EVIDÊNCIA
Número 2, dezembro 2010
f a c u l d a d e
muito além do ensino
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
1
ISSN 2178-1672
Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, p. 2, julho/agosto 2010
Revista
Informações básicas
A Revista Fisioterapia em Evidência, ISSN 2178-1672, é uma publicação semestral
do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. Publicada desde 2010, adota o
processo de revisão por especialistas (peer review), sendo cada artigo publicado após
a aceitação dos revisores, mantidos no anonimato. Os conceitos e opiniões emitidos
nos artigos são de inteira responsabilidade de seus autores. A submissão de artigos
pressupõe que, com exceção dos resumos ampliados, não tenham sido publicados
anteriormente nem submetidos a outra publicação.
O título abreviado da revista é Fisioter. Evid., forma que deve ser usada em bibliografias,
notas de rodapé, referências e legendas bibliográficas.
A revista encontra-se gratuitamente disponível no site da Faculdade Dom Bosco.
Missão
Publicar artigos originais de pesquisa cujo objetivo básico se refere ao campo de
atuação profissional da fisioterapia e da reabilitação.
Ficha catalográfica
Revista Fisioterapia em Evidência/Faculdade Dom Bosco. vol. 1, n. 2 (2010).
Curitiba: FDB, 2010
Semestral
Sumários em inglês e português
ISSN 2178-1672
1. Fisioterapia – Periódicos. I. Faculdade Dom Bosco.
CDD 615.82
CDU 615.8
2
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
ISSN 2178-1672
Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, p. 2, julho/agosto 2010
Revista
Editores responsáveis
Silvia Regina Valderramas (doutora)
[email protected]
Salete do Rocio Cavassin Brandalize (mestre)
[email protected]
Conselho editorial
Anna Raquel Silveira Gomes
Universidade Federal do Paraná – Curitiba-PR – Brasil
Ariani Cavazzani Szkudlarek (doutora)
Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil
Cassio Preis (mestre)
Faculdade Dom Bosco e PUCPR – Curitiba-PR – Brasil
Claudia Chaguri de Oliveira Pellenz (mestre)
Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil
Cristiane Gonçalves Ribas (mestre)
Faculdade Dom Bosco e PUCPR – Curitiba-PR – Brasil
Cristiane Regina Gruber (mestre)
Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil
Francisco Ernesto H. Zanardini (mestre)
Faculdade Dom Bosco, Uniandrade e Faculdade Espírita – Curitiba-PR – Brasil
Gilda Maria Grasse Luck (doutora)
Faculdade Dom Bosco e Facel – Curitiba-PR – Brasil
Isabel Cristina Bini (mestre)
Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil
Marcelo Kryczyk (doutor)
Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil
Marcia Maria Kulczycki (mestre)
Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil
Sandra Mara Meireles Adolph (doutora)
Universidade Federal de São Paulo – São Paulo-SP – Brasil
Editoração eletrônica
Comunicação Dom Bosco - [email protected]
INFORMAÇÕES PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS
Todo o material a ser publicado deve ser submetido online por meio do site:
www.fisioterapia.com.br/revista
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
3
ISSN 2178-1672
Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, p. 4, julho/agosto 2010
Revista
Sumário
Artigo 1 .............................................................................................................. 5
AInfluência da articulação sacroilíaca na lombalgia gestacional e/ou dor pélvica
posterior
Sacroiliac joint influence on gestational low back pain and/or posterior pelvic pain
Artigo 2 .............................................................................................................. 5
Efeitos profiláticos da hidrocinesioterapia sobre os fatores de risco
cardiovasculares modificáveis em mulheres na faixa etária de 46 a 75anos
Prophylactic effect of hydrokinesiotherapy on modifiable cardiovascular risk factors in women aged 46
to 75 years old
Artigo 3 .............................................................................................................. 5
Utilização da técnica do bag squeezing seguida da cocontração de membros
inferiores em crianças de 0 a 1 ano, submetidas à ventilação mecânica invasiva por
insuficiência respiratória aguda
CUsing the technique of bag squeezing next of co-contraction of lower limb in children from 0 to 1 year,
subject to invasive mechanical ventilation for acute respiratory failure
Artigo 4 .............................................................................................................. 5
Estudo comparativo da intervenção fisioterapêutica por meio da psicomotricidade
com crianças normais de 3 meses a 2 anos de idade que apresentam atraso motor em
dois centros municipais de educação infantil (CMEIs)
Comparative of physiotherapic intervention through psychomove with regular children from 3 months
to 2 years of age that present motor lateness in two municipal centers of child education (CMEIs)
Artigo 5 .............................................................................................................. 5
Classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde: perspectivas
emergentes para a fisioterapia
International Classification of Functioning, Disability and Health: emergent perspectives for the
physiotherapy
Normas para apresentação de artigos .................................................. 49
4
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
ISSN 2178-1672
Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, p. 5, julho/agosto 2010
Revista
Editorial
FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA
A fisioterapia como ciência que estuda o movimento humano está em evidência.
Neste ano, o reconhecimento da profissão no Brasil completou 41 anos. O cenário
vislumbra uma diversidade de práticas e saberes, desde abordagens individuais e
coletivas da atenção básica até utilização de recursos tecnológicos sofisticados em
atendimentos de alta complexidade.
Nesta edição, o leitor pode aproximar-se de artigos sobre diferentes temas
e áreas de atuação: ginecologia e obstetrícia, cardiovascular, neonatologia e
neuropediatria, tanto de modo preventivo como curativo. O último artigo refere-se
às perspectivas da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e
Saúde (CIF), documento publicado em 2001 pela Organização Mundial de Saúde,
que tem como objetivo geral unificar a linguagem e padronizar a descrição de
saúde e os componentes do bem-estar relacionados à saúde. Este documento
vem sendo amplamente divulgado, com vistas à sua aplicação por todos os
profissionais da saúde.
Boa leitura!
Salete do Rocio Cavassin Brandalize
Editora responsável
Coordenadora do Curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
5
Artigo 1
Influência da articulação sacroilíaca na lombalgia
gestacional e/ou dor pélvica posterior
Sacroiliac joint influence on gestational low back pain and/or posterior
pelvic pain
Marília Almeida Prado Gava Torácio*
Raciele Ivandra Guarda Korelo**
* Fisioterapeuta formada pela Faculdade
Dom Bosco.
** Mestre em tecnologia em saúde pela
PUC-PR. Docente do curso de fisioterapia
da Faculdade Dom Bosco.
Resumo
O objetivo deste estudo foi
verificar a influência da articulação sacroilíaca na lombalgia gestacional e/ou dor
pélvica posterior, bem como
constatar se ela impõe componentes que possam agravar
o quadro álgico. Foram avaliadas 33 gestantes com mais
de 12 semanas de gestação,
cadastradas no programa
de pré-natal da Unidade de
Saúde Mãe Curitibana, na cidade de Curitiba, Paraná. Foi
realizada avaliação fisioterapêutica, que incluiu observar
alterações na articulação
sacroilíaca e coluna lombar,
localização e grau de dor mediante escala visual analógica
(EVA), restrições provocadas
pela dor lombar conforme
questionário de Roland-Morris (RM) e qualidade de vida
através do Short Form Health
Survey (SF-36). Os resultados
foram apresentados através
de frequências simples, médias e desvio-padrão, tendo
sido possível aplicar o teste
estatístico Anova para algumas variáveis, porém sem
6
significância estatística. Resultados encontrados com o
estudo: parece haver relação
entre a dor lombar e pélvica
posterior e a disfunção sacroilíaca; a maioria das gestantes
relatou sintomas de quadril
posterior; a dor lombar foi a
queixa álgica mais frequente,
com maior índice de queixa no terceiro trimestre de
gestação; há relação entre
dor antes da gestação e piora
durante o período gestacional
a presença de dor na gestação
influencia de maneira negativa na qualidade de vida das
gestantes e nas restrições da
AVDs. Pode-se concluir que
o fisioterapeuta deve incluir
avaliação da articulação
sacroilíaca em gestantes com
queixas álgicas em coluna,
para determinação de um
protocolo de tratamento
ideal.
Palavras-chave: dor lombar, dor pélvica posterior,
gestação, fisioterapia
Abstract
The objective of this study
was to verify the sacroiliac
joint influence on gestational
low back pain and/or posterior pelvic pain, as well to
evidence if it imposed components that affect the pain
situation. Were evaluated 33
pregnant with more than 12
weeks of gestation and which
realized the prenatal in the
Mãe Curitibana Health Care
Unit in the City of Curitiba,
Paraná. It was realized a
physiotherapeutic evaluation
that includes the evaluation
of alterations on the sacroiliac
joint and the low back, the
localization and the pain level
through the visual analog
scale (VAS), the evaluation
of restrictions provoked by
the low back pain through
the Roland-Morris questionnaire (RM), and the evaluation of life’s quality through
the Short Form Health Survey
(SF-36). The results were obtained by simple frequencies,
means and standard deviation, as well to some variables
was possible to apply the
Anova test, however without
any statistics significance. The
results founded in the study
were that: It seamed to exist a
relation between the low back
pain and the posterior pelvic
pain with the sacroiliac dysfunction. The majority of the
pregnants related symptoms
of posterior hip. The low back
pain was the most frequent
pain complains, being its bigger frequency with the third
quarter pregnants. There is
relation between the pain
before gestation and the pain
aggravation during the gestational period, and the presence of gestational pain, influences in a negative manner
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 1
on life’s quality of the pregnants and on the day life’s activity restrictions. Therefore,
it can be concluded that the
physiotherapist must include
the evaluation of the sacroiliac joint in pregnants with
back pains, to determinate an
ideal treatment protocol.
Key words: back pain, posterior pelvic pain, gestation,
physiotherapy
Introdução
A gestação impõe na mulher
mudanças corporais em curto
espaço de tempo, muitas
vezes implicando quadros
álgicos. Durante a gestação,
o aparecimento de algias
posturais, como a lombalgia,
é muito comum, principalmente se a mulher já apresentava essa queixa antes de
engravidar [1].
Dentre as algias decorrentes
da gestação, destacam-se a
coluna lombar, a articulação
sacroilíaca e a região cervicotorácica, como as regiões mais
acometidas respectivamente
[6-11].
Em consultas de pré-natal,
a lombalgia costuma ser a
queixa mais comum entre as
grávidas, chegando a acometer cerca de 50% delas [1].
A lombalgia é relatada como
dor tipo pontada com intensidade variada, sendo mais
comum a do tipo moderada,
em que a paciente tem dificuldade para realizar suas
atividades de vida diária [5].
Essa dor costuma iniciar
entre o terceiro e o sexto mês
gestacional e apresenta-se
principalmente nos períodos
da tarde e/ou noite.
Sua frequência aumenta com
a idade gestacional e estudos
mostram que gestantes mais
velhas sentem menos dor que
as mais novas [3]. A dor pode
ser agravada quando a gestante realiza movimentos de
flexão e extensão do tronco,
por esforços físicos, trabalhos
domésticos, caminhadas e
outras atividades que coloquem a coluna vertebral em
tensão ou esforço.
De acordo com frequência, intensidade e gravidade da dor
que a lombalgia gestacional
impõe nesse período da vida
da mulher, a queixa pode
muitas vezes, influenciar
negativamente na qualidade
de vida da gestante [4].
As diversas alterações fisiológicas decorrentes da
gestação, como modificações
biomecânicas, hormonais e
vasculares, são consideradas, muitas vezes, as únicas
causas da lombalgia gestacional, pois a gravidez limita
as possibilidades diagnósticas e terapêuticas para esse
quadro.
Segundo Stephenson e O’
Connor [12], a articulação
sacroilíaca (SI) é grande
fonte de dor na maioria das
gestantes, que pode ocorrer
nos três primeiros meses de
gestação, possivelmente associada à circulação de relaxina
(hormônio produzido durante a gravidez) e às principais alterações fisiológicas e
musculoesqueléticas no corpo
da mulher.
Os possíveis efeitos da gravi-
dez na articulação SI são
variados. Mudanças na orientação ou graus de movimento
em numa articulação SI
podem afetar a sínfise pubiana e a coluna, não havendo
dúvida de que os distúrbios
da coluna lombar e da articulação SI podem coexistir [9].
Durante a gestação, os ligamentos na articulação SI
tornam-se mais flexíveis e
podem resultar em superfícies desiguais na articulação.
Isso ocorre em função dos
movimentos repetitivos e
constantes, que produz atritos entre as superfícies da
articulação e pode deixá-la
mais rígida, produzindo uma
articulação travada em vez de
móvel, causando dor. Pode,
também, por esforços compensatórios, causar dor do
lado oposto.
A rotação anterior e posterior
do osso do quadril, assim
como as rotações do ílio sobre
o sacro também são capazes
de produzir dor [12].
Apesar dessas afirmativas,
existem poucos estudos a
respeito da influência da
articulação SI na lombalgia
gestacional.
Assim, objetiva-se neste
estudo verificar qual seria
a influência da articulação
sacroilíaca na lombalgia em
gestantes e/ou dor pélvica
posterior, para constatar
se ela impõe componentes
determinantes que agravam o
quadro álgico.
Sendo a disfunção sacroilíaca
uma das causas da lombalgia gestacional, a avaliação
fisioterapêutica em gestantes
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
7
Artigo 1
com queixa de lombalgia
deve sempre incluir avaliação
da articulação sacroilíaca,
para que ese sintoma seja
tratado adequadamente,
buscando-se retirar a causa da
dor e não apenas amenizá-la,
o que faria manter a sintomatologia.
O presente tema justificase pela relevância social,
profissional e científica, visto
esclarecer as causas da lombalgia gestacional, trazendo
ao meio acadêmico, social e
profissional, o direcionamento para o correto diagnóstico
cinesiológico funcional, bem
como, a utilização das técnicas de tratamento e aperfeiçoamento, proporcionando
prognóstico de melhora de
forma mais acelerada e eficaz.
Materiais e métodos
O experimento foi realizado
nas dependências da Unidade
de Saúde Mãe Curitibana,
localizada na cidade de Curitiba, Paraná.
Para definição da população
de estudo, foi realizada uma
amostragem do tipo probabilística aleatória extratificada. Foram avaliadas 33
gestantes abordadas por contato telefônico e que estavam
dentro dos critérios de inclusão para a pesquisa: idade
gestacional maior ou igual
a 12 semanas; queixa de dor
lombar e/ou pélvica posterior;
acompanhamento pré-natal
na Unidade de Saúde Mãe
Curitibana.
Após aprovação do estudo
pelo Comitê de Ética em
8
Pesquisa da Faculdade Dom
Bosco e pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Secretaria
Municipal de Saúde, respeitando a resolução 196/96,
do Conselho Nacional de
Saúde, os indivíduos foram
selecionados e esclarecidos
em relação a este estudo, assim como, sobre seus riscos e
benefícios.
Após seleção e agendamento
das voluntárias que concordaram em assinar o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, a avaliação físicofuncional com ênfase nas
queixas de lombalgia e/ou
dor pélvica posterior durante
a gestação foi aplicada, bem
como análise da qualidade de
vida mediante aplicação dos
questionários SF36 e RolandMorris para dor lombar.
Os procedimentos para o
estudo não causaram nenhum risco previsível, embora
durante a avaliação a gestante
pudesse sentir algum desconforto/dor em razão dos movimentos dos testes que servem
para avaliar a presença de
algia.
A avaliação físico-funcional
consistiu na realização de
mensurações e testes enfatizando a coluna lombar e a
articulação sacroilíaca.
• Goniometria da coluna
lombar – foram verificados os
graus de amplitude de movimento (ADM) de flexão, extensão, flexão lateral e rotação
da coluna lombar.
• Verificação da dor lombar
– foram realizados testes de
provocação da dor lombar,
teste de Lasègue, teste do
alongamento do piriforme e
teste da palpação direta do
piriforme.
• Verificação da dor em
sínfise pubiana – realizou-se
o teste da abertura ou teste de
provocação da sínfise pubiana.
• Verificação de dor pélvica
posterior – foram realizados
testes específicos para a articulação sacroilíaca, como o
de verificação da dor pélvica
posterior, o da bisnaga, de
Gaenslen, de Piedallu, e teste
para verificação de movimento restrito da articulação
sacroilíaca. Considerou-se
positivo o fato de a voluntária
assinalar a região glútea no
esquema corporal para apresentar sua dor, relatar história
de presença de peso na pelve
posterior (região glútea profunda) ou algia ao se virar na
cama à noite.
• Também foi utilizada a
escala visual analógica (EVA)
para medir a intensidade da
dor da gestante.
Após avaliação, as gestantes
foram orientadas quanto a
alguns métodos e exercícios
para alívio da dor, através de
fôlder ilustrativo.
Foram analisados os dados
obtidos nas avaliações mediante frequências simples,
médias e desvio-padrão.
Não foi possível aplicar testes
estatísticos para todas as
variáveis de estudo, pois os
dados foram muito variados e
a amostra não era estatisticamente significante.
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 1
Resultados
e discussão
Das gestantes avaliadas, 90,9% apresentavam dor lombar. A
lombalgia gestacional é relatada como dor do tipo pontada, de
intensidade variada, sendo mais comum a do tipo moderada [4].
Nessa pesquisa, a maior incidência também foi de intensidade
moderada, porém do tipo queimação ou pontada.
Tabela 1 – Relação da localização da dor com idade gestacional
Idade gestacional
Lombar
SI
Cervical
Glúteo
2º trimestre
12 (85,7%)
9 (64,2%)
0
5 (35,7%)
N = 14
3º trimestre
N = 19
18 (94,7%)
12 (63,1%)
1 (5,2%)
5 (26,3%)
FONTE: Dados da pesquisa (2007)
Obs.: a porcentagem ultrapassou 100%, pois a maioria das gestantes apresentava mais de uma queixa.
Observou-se neste estudo que as gestantes no terceiro trimestre gestacional possuíam dor mais intensa que as gestantes no
segundo trimestre de gestação, assemelhando-se ao encontrado
na literatura– o aumento da idade gestacional faz aumentar a
intensidade e frequência da dor.
Maior porcentagem de gestantes entre 20-29 anos apresentaram
dor de intensidade mais forte, comparadas a gestantes com
menos de 19 anos ou mais de 30 anos.
Alguns autores como Luz [3] e Polden e Mantle [9] afirmam que
gestantes mais velhas sentem menos dor que gestantes mais
novas e, numa segunda gravidez, a tendência de a dor ser mais
forte é menor. Estudos realizados por Martins, Pinto e Silva [6],
confirmam essa relação.
Também não foi possível observar neste estudo a relação entre
ganho de peso e intensidade da dor, concordando com pesquisas como as de Sperandio, Santos e Pereira [11] e Imamura, Kaziyama e Imamura [2], que afirmam não haver correlação entre
ganho de peso e dor lombar na gestação.
A intensidade da dor variou de maneira semelhante em gestantes que praticavam ou não atividade física. A prática de atividade física pré-gestacional, portanto, não garantiu às gestantes
menor intensidade de dor durante a gestação. Esses resultados
foram semelhantes a estudo realizado por Martins, Pinto e Silva
[5]sobre a efetividade do tratamento de lombalgia e dor pélvica
posterior na gestação.
Segundo Östgaard et al [8], mulheres que praticam atividades
físicas antes da gestação têm
menor risco de apresentar dor
lombar durante a gravidez.
Ao observar os locais de
acometimento da dor nesse
estudo, a maioria das gestantes possuía mais de duas
regiões álgicas, sendo mais
acometida a lombar, seguida
da articulação sacroilíaca,
irradiação para glúteo, irradiação para membros inferiores
e região cervical, respectivamente. Estudos como os escritos por Martins, Pinto e Silva
[6] e por Sperandio, Santos e
Pereira [11] revelam os mesmos achados em relação às
regiões álgicas mais acometidas durante a gravidez.
Foi observado que a maioria das gestantes não sabia
apontar o local da dor em
figura esquemática do corpo
humano, bem como, tinha dificuldades para correlacionar
a EVA numérica com a EVA
gráfica, influenciando negativamente na interpretação
dos dados deste estudo,cujo
resultado evidenciou aumento da dor lombar gestacional (piora dos sintomas)
em 81% das mulheres que
já possuíam essa dor antes
da gestação, 55% relataram
intensificação da dor; as 29%
restantes tiveram manti a
intensidade de dor.
Segundo Ostgaard et al
(1991), Orvieto et al (1994),;
Ostgaard, (1996), Sihvoven et
al (1998), citados por Martins,
Pinto e Silva [4], as mulheres
que apresentam dor lombar
pré-gestacional possuem
risco duas vezes maior de
apresentar algias durante a
gestação do que as mulheres
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
9
Artigo 1
que não possuíam algias antes da gestação. E a dor tende
a ser mais intensa do que nas
gestantes que não possuíam
histórico de dor.
Tabela 2 – Pontuações do questionário SF-36 nas gestantes
Na literatura, autores afirmam que a dor lombar pode
intensificar-se quando a
mulher realiza movimentos
de flexão, extensão e lateralização do tronco, por esforços
físicos, trabalhos domésticos
e qualquer atividade que
coloque a coluna vertebral em
tensão ou esforço [4].
23.85
Ao observarmos os fatores
agravantes da dor, constatamos que agachar e ajoelhar-se,
andar muito e levantar peso
foram os fatores agravantes
mais citados entre as gestantes,
assemelhando-se à literatura.
Também foi constatado que
a maioria das gestantes tem
como fator principal de
redução da dor o ato de deitar
(66,6%), seguido de calor local
e massagem.
A intensidade da dor demonstrou influenciar nas restrições das AVDs e na qualidade de vida das gestantes.
Quanto mais forte a intensidade da dor, maior a chance
de a gestante ter restrições
nas atividades de vida diária,
influenciando negativamente
em qualidade de vida, e do
sono, disposição física, desempenho no trabalho, na
vida social e no lazer.
Com aplicação do SF-36, os
domínios dor e vitalidade
apresentaram os piores
resultados, demonstrando
que estes podem interferir
de maneira negativa na
qualidade de vida das
10
Domínios do SF-36
Média
DP
Aspecto físico
56.43
37.25
Dor
20.3024.42
Estado geral de saúde
71.93
Vitalidade
48.7817.18
Aspectos sociais
66.85
28.82
Aspectos emocionais
56.28
38.81
Saúde mental
64.46
20.11
Capacidade funcional
56.36
21.06
N = 33; DP: desvio-padrão
FONTE: Dados da pesquisa (2007)
gestantes, seguidos de capacidade funcional, aspectos físico e
emocional. Tais resultados sugerem que a dor pode prejudicar
os resultados obtidos com esse questionário, concordando com
Martins, Pinto e Silva (2005) quando afirmam que a dor pode
interferir negativamente na qualidade de vida das gestantes.
Segundo Östgaard et al [8], para confirmação de dor na região
pélvica posterior, decorrente de alterações de quadril e coluna
lombar, a paciente tem que ter história prolongada de dor
profunda na área glútea; apontar a região onde sente pontadas
como sendo glútea, distal e lateralmente à área de L5-S1, com
ou sem irradiação para a região posterior da coxa e o joelho,
mas não para o pé; o teste de provocação pélvica posterior tem
que ser positivo; tem que haver movimentação livre do quadril
e da coluna, sem pinçamentos; e ter dor no momento em que a
gestante realiza mudança de decúbito no leito.
Tabela 3 – Distribuição dos testes positivos de comprovação de dor pélvica
posterior na amostra
TestesÍndice
Confirmação do local da dor 28 (84,8%)
Teste de provocação da articulação SI
24 (72,7%)
Teste de inclinação lateral ou para trás
18 (54,5%)
Em pé, EIPS mais alta no lado do envolvimento
9 (27,2%)
Quadril posterior
Dor quando vira na cama à noite
24 (72,2%)
Sensação de peso na pelve posterior com irradiação 21 (63,3%)
para MMII
Quadril anterior
Sensação de peso na pelve posterior sem irradiação
5 (15,1%)
Dor cervical associada
6 (18,1%)
FONTE: Dados da pesquisa (2007)
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 1
A articulação sacroilíaca é
fonte de dor em grande parte
das gestantes. Em relação aos
quadris anterior e posterior,
houve maior incidência de
sintomas no quadril posterior,
apesar de não ter sido realizado o teste de confirmação
diagnóstica. Assim, pode-se
concluir que parece haver
relação entre a dor lombar e
pélvica posterior e a disfunção da articulação sacroilíaca.;
Segundo Sperandio, Santos e
Pereira [11], as modificações
musculo-esqueléticas, na
articulação sacroílíaca decorrentes da gestação, podem ser
a causa de desconforto e dor
na região lombar. A disfunção sacroilíaca tende a ser
biomecânica dessa articulação
e pode ser a causa de dor
crônica [10].
Existem vários possíveis efeitos da gravidez na articulação
SI. A coluna e a sínfise pubiana podem ser afetadas por
estsa articulação. E os distúrbios provenientes da articulação SI e da coluna lombar
podem coexistir [9].
Metade das gestantes que
relatavam dor lombar referiuseram à dor durante aos
movimentos de flexão anterior, flexão lateral e rotação
de coluna; pequena porcentagem apresentou dor
à palpação da musculatura
espinhal, o que pode indicar
tratamento dinâmico, não
somente estático, para esse.
Durante a gestação, o aumento de peso sobrecarrega as
estruturas do sistema musculo-esquelético, causando
fadiga e dor [11]. Isso ocorre
porque as novas adaptações
da coluna mudam o centro
de gravidade da mulher que,
tentando refazer seus equilíbrios, expõem maiores exigências a essas musculaturas
[4].
Na análise da qualidade de
vida, foi possível concluir
que a dor na gestação representa influência negativa. Os
domínios dor e vitalidade,
avaliados pelo questionário
SF-36, apresentaram os piores
resultados, concordando com
Martins, Pinto e Silva [5],
que afirmam que a dor pode
interferir negativamente na
qualidade de vida das gestantes.
Conclusão
pesquisa com o objetivo era
avaliar a influência da articulação sacroilíaca na lombalgia
gestacional e/ou dor pélvica
posterior, apresentou contribuições que podem ser
sintetizadas.
1 A articulação sacroilíaca é
fonte de dor em grande parte
das gestantes. Em relação aos
quadris anterior e posterior,
houve maior incidência de
sintomas no quadril posterior
entre as gestantes, apesar de
o teste de confirmação diagnóstica não ter sido realizado.
Assim, pode-se concluir que
parece haver relação entre a
dor lombar e pélvica posterior e a disfunção da articulação sacroilíaca.
2 Metade das gestantes que
relatavam dor lombar referiuse à dor durante os movimentos de flexão anterior, flexão
lateral e rotação de coluna;
pequena porcentagem apresentou dor à palpação da
musculatura espinhal, o que
pode indicar tratamento
dinâmico, não somente estático, para esse sintoma.
3 A dor lombar foi a queixa
álgica mais referida entre as
gestantes, do tipo queimação
de intensidade moderada, havendo aumento da incidência
dessa queixa à medida que
aumenta a idade gestacional.
4 Parece haver relação entre
a dor antes da gestação e a
piora no período gestacional.
Apesar de não termos encontrado resultados significantes, a existência da dor era
maior nas gestantes que não
praticavam atividade física
pré-gestacional. Também
não foi possível determinar
se a intensidade da dor varia
em relação à prática ou não
da atividade física durante a
gestação.
5 Na análise da qualidade
de vida, foi possível concluir que a dor na gestação
representa uma influência
negativa. Os domínios dor
e vitalidade, avaliados pelo
questionário SF-36, foram
os que apresentaram piores
resultados;
6 a intensidade da dor
demonstrou influenciar nas
restrições da AVDs e na qualidade de vida das gestantes.
Quanto mais forte a intensidade da dor, maior a chance
de a gestante ter restrições
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
11
Artigo 1
nas atividades de vida diária,
influenciando negativamente
em qualidade de vida e do
sono, disposição física, desempenho no trabalho, na
vida social e no lazer. Dentre
os fatores agravantes da dor,
agachar e ajoelhar-se, foram
os mais citados entre a maioria das gestantes, seguidos de
fatores como andar muito e
levantar peso.
Sendo a disfunção sacroilíaca
uma das causas da lombalgia gestacional, a avaliação
fisioterapêutica em gestantes
com queixa de lombalgia
deve sempre incluir avaliação da articulação sacroilíaca, para determinação de
um protocolo de tratamento
ideal. Não adiantaria tratar
a lombar de gestantes, se a
queixa da dor proviesse de
disfunções da articulação
sacroilíaca.
Referências
1. FERREIRA, C. H. J.; NAKANO, A. M. S. Reflexões
sobre as bases conceituais que
fundamentam a construção
do conhecimento acerca da
lombalgia na gestação. Revista Latino-Americana de
Enfermagem, 2001, maio; 9
(3): 95-100.
2. IMAMURA, S. T.; KAZIYAMA, H. H. S.; IMAMURA,
M. Lombalgia. Revista Médica, São Paulo, 2001; 80 (pt.
2): 375-90. Especial.
3. LUZ, F. G. R. Lombalgia
em mulheres grávidas. Uma
revisão de literatura. Revista
12
Bras. de Fisioterapia Ortopédica, Traumatológica e
Desportiva, 2003/nov. 2004
jan. 1 (1): 6-7.
4. MARTINS, R. F.; PINTO
E SILVA, J. L. Prevalência de
dores nas costas na gestação.
Revista Ass. Méd. Brasileira,
2005; 51(3): 144-7.
5. Tratamento da lombalgia
e dor pélvica posterior na
gestação por um método de
exercícios. Revista Bras.i de
Ginec. e Obstetrícia, 2005;
27(5): 275-82.
jun., 11 (2): (118-125).
11. SPERANDIO, F. F.; SANTOS, G. M.,; PEREIRA, F.
Características e diferenças
da dor sacroilíaca e lombar
durante a gestação em mulheres primigestas e multigestas. Revista Fisioterapia
Brasil, 2004 jul.ago., 5 (4):
267-270.
12. STEPHENSON, R. G.;
O’CONNOR, L. J. Fisioterapia aplicada à ginecologia e
obstetrícia. 2. ed. São Paulo:
Manole, 2004. p. 520.
6. Algias posturais na
gestação: prevalência, aspectos biomecânicos e tratamento. Dissertação Mestrado em
Tocoginecologia – Setor de
Ciências Biomédicas. Universidade Estadual de Campinas. São Paulo, 2002.
7. NOVAES, F. S..; SHIMO,
A. K. K..,; LOPES, M. H. B.
M. Lombalgia na gestação.
Revista Latino-Americana de
Enfermagem, 2006 jul-ago.,
14(4): 620-4.
8. ÖSTGAARD, H. C.;
ZETHERSTRÖM, G.,; ROOSHANSSON, E.; SVANBERG,
B. Reduction of back and
posterior pelvic pain in pregnancy. Spine, 1994, 19(8):
894-900.
9. POLDEN, M.; MANTLE, J.
Fisioterapia em ginecologia e
obstetrícia. 2. ed. São Paulo:
Santos, 2000. p. 133-5.
10. RIBEIRO, S.; SCHMIDT,
A. P.; WURFF, P. V. D. Sacroiliac dysfunction. Acta Ortopédica Brasileira, 2003, abr.-
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 2
Efeitos profiláticos da hidrocinesioterapia sobre os
fatores de risco cardiovasculares modificáveis em
mulheres na faixa etária de 46 a 75anos
Prophylactic effect of hydrokinesiotherapy on modifiable
cardiovascular risk factors in women aged 46 to 75 years old
Aline Ferreira Cubas de Lima¹
Marjorie Renata Oliveira Vendramin²
Tatiana Caroline Vargas Prado³
Ariani Cavazzani Szkudlarek4
Acadêmica do curso de fisioterapia da
Faculdade Dom Bosco
2
Acadêmica do curso de fisioterapia da
Faculdade Dom Bosco
3
Acadêmica do curso de fisioterapia da
Faculdade Dom Bosco
4
Mestre docente do curso de fisioterapia
da Faculdade Dom Bosco*
1
Hidrocinesioterapia
aeróbia e fatores de
risco cardiovascular
Resumo
Objetivo: Avaliar os efeitos
terapêuticos profiláticos dos
exercícios aeróbios feitos
através da hidrocinesioterapia nos fatores de risco modificáveis para doença cardiovascular.
Métodos: A amostra compunha-se de 13 sujeitos do
sexo feminino, na faixa etária
de 46 a 75 anos, sedentários,
não tabagistas e estáveis clinicamente. Foram avaliados
os valores de peso, altura,
pressão arterial, frequência
cardíaca, colesterol total e
glicemia antes e após a realização do programa de exercícios fisioterapêuticos na água.
Os atendimentos foram realizados em grupo, três vezes
por semana, com duração de
45 minutos. O programa de
tratamento constitui-se de
aquecimento, alongamento
muscular, atividade aeróbia
e relaxamento. A prescrição
de intensidade do exercício
realizou-se de acordo com a
escala de Borg. Para a análise
e interpretação dos resultados, aplicou-se o método
bioestatístico não paramétrico
Wilcoxon, com significância
de 5% para todas as variáveis.
Resultados: Aumento não
significativo das variáveis:
pressão arterial sistólica,
frequência cardíaca e glicemia, manutenção da pressão
arterial diastólica e diminuição não significativa do
colesterol total.
Conclusão: Os exercícios
aeróbios por meio da hidrocinesioterapia refletiram em
atuação fisioterapêutica profilática sobre o perfil de risco
cardiovascular.
Palavras-chave: hidrocinesioterapia, exercício aeróbio, fatores de risco cardiovascular,
prevenção primária, qualidade de vida, fisioterapia.
Abstract
Objective: To evaluate the
therapeutic effects of prophylactic aerobic exercises during
hydrokinesiotherapy.
Methods: The sample consisted of 13 females, aged
46-75 years, sedentary, nonsmokers and clinically stable.
The evaluated points were,
weight, height, blood pressure, heart rate, total cholesterol and glucose level, at the
beginning and in the end of
the hydrotherapy exercise’s
program. The patients were
attended in groups, three
times a weeks, lasting 45 minutes. The treatment program
consisted on warming up,
stretching, aerobic activity
and relaxation. The prescription of exercise intensity was
performed according to the
Borg scale. For the analysis
and interpretation of the results the method applied was
biostatistician nonparametric
Wilcoxon, with 5% significance for all variables.
Results: Non-significant
increase of systolic arterial
pressure, heart rate and glucose levels, maintained the
diastolic blood pressure and
total cholesterol levels.
Conclusion: Aerobic exercises through hydrotherapy
reflected in a prophylactic
physiotherapy performance
on the cardiovascular risk
profile.
Keywords: hydrokinesiotherapy, aerobic exercise, cardiovascular risk factors, primary
prevention, quality of life,
physiotherapy.
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
13
Artigo 2
Introdução
As cardiopatias são as principais causas de morte, segundo dados da OMS de
2008. Dados do Ministério
da Saúde a respeito do perfil
da mortalidade do brasileiro
mostram uma tendência de
expansão de mortes violentas
e por doenças crônicas, associadas aos maus hábitos de
alimentação e sedentarismo.
Desde o século XIX, encontrase referência de atividade física e doença cardiovascular1.
Sabe-se que a população se
tornou predominantemente
sedentária. Isso, associado
aos maus hábitos de vida,
propicia o aparecimento dos
fatores cardiovasculares de
risco. A hidrocinesioterapia é
uma atividade aquática, que
utiliza as propriedades físicas da água e sua capacidade
térmica para promover bemestar físico e mental2. Neste
estudo se utilizou a hidrocinesioterapia, tendo como foco
principal o exercício aeróbio,
para avaliar seus efeitos no
sistema cardiovascular, conforme os parâmetros quantitativos pressão arterial,
frequência cardíaca, glicemia
e colesterol total.
Objetivos: Esta pesquisa teve
como objetivo geral avaliar
os efeitos terapêuticos profiláticos dos exercícios aeróbios
durante a hidrocinesioterapia sobre os fatores de risco
modificáveis para doença
cardiovascular.
Métodos: O projeto de pesquisa foi elaborado e encaminhado ao Comitê de
Ética e Pesquisa (CEP) da
14
Faculdade Dom Bosco. Após
aprovação sob número de
registro 0043.0.301.000-09,
iniciou-se a pesquisa.
Esta pesquisa, quanto à origem,
é do tipo explicativa; quanto
aos procedimentos, descritiva.
A amostra constituiu-se de
pessoas que demonstravam
preocupação em realizar
controle dos fatores cardiovasculares de risco e que se
enquadravam nos critérios de
inclusão, sendo classificada
como probabilística aleatória
estratificada4. A divisão do
estrato realizou-se com base
na característica de sedentarismo dos participantes. A
composição da amostra se
deu por voluntários, caracterizando-se como amostra de
conveniência. A capacidade
da piscina utilizada era de
15 sujeitos para a atividade
proposta. O total da amostra
final foi de 13 sujeitos.
Critérios de inclusão: ser
do sexo feminino, ter idade
entre 46 e 75 anos, apresentar
atestado médico para realizar
atividades na piscina, estar
clinicamente estável.
Critérios de exclusão: realizar atividade física regular,
ser tabagista.
O recrutamento dos participantes se fez por divulgação
na internet. No primeiro contato, explicou-se ao sujeito a
respeito da pesquisa, seus objetivos e procedimentos, bem
como riscos e benefícios. Cada
sujeito leu e assinou o Termo
de Consentimento Livre e
Esclarecido, formalizando sua
participação na pesquisa.
A avaliação inicial consistia
em coleta de dados pessoais,
mensuração de peso, altura,
pressão arterial, frequência
cardíaca, colesterol total e
glicemia. Para a mensuração
dos níveis de colesterol total e
glicemia foi utilizado o monitor da marca Roche, modelo
Accutrend ® GCT, com tiras
de teste Accutrend glicose e
tiras de teste Accutrend colesterol, mediante perfuração
do dedo. A mensuração
da pressão arterial (PA) foi
realizada pelo método indireto auscultatório, com uso
de esfigmomanômetro (colocado no membro superior
esquerdo) e estetoscópio. E a
frequência cardíaca (FC) foi
mensurada por palpação do
pulso da artéria radial esquerda durante 30 segundos.
Após avaliação inicial, deu-se
início à aplicação do programa
de exercícios, que ocorreu de
setembro a novembro do ano
de 2009. A temperatura da
água foi controlada com termômetro de mercúrio, mantida a 33°C, por ser uma faixa de
temperatura considerada termoneutra. Durante os exercícios na água, foram utilizados
coletes, halteres triangulares,
halteres circulares, acqua tub
e cama elástica inox, equipamentos da marca Floty, todos
próprios para uso na água.
Os atendimentos foram
realizados em grupo, três
vezes por semana, com
duração de 45 minutos. A
rotina desses atendimentos
seguiu o seguinte padrão:
I - mensuração PA e FC; II
- aquecimento (5 minutos);
III - alongamento muscular
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 2
(5 minutos); IV - atividade
aeróbia (30 minutos); V - relaxamento (5 minutos). Os
exercícios de condicionamento devem ser precedidos
de uma fase de aquecimento
e seguidos de uma fase de
relaxamento.
Aquecimento: fase durante a
qual foram realizados exercícios de mobilização articular,
caminhadas e deslocamentos
variados através da piscina.
Alongamento: em cada atendimento foram realizados
três dos exercícios de alongamento em três séries de 45
segundos. Os músculos alongados foram: trapézio, esternocleidomastóideo, esplênio
cervical, deltóide, tríceps
braquial, peitorais, flexores e
extensores de punho, quadríceps, glúteos, adutores de
quadril, cadeia posterior de
membros inferiores (MMII) e
eretores da coluna.
Atividade aeróbia: exercícios
envolvendo grupos musculares de membros superiores
(MMSS) e membros inferiores
(MMII) de maneira associada,
caminhadas, corridas, saltos,
entre outros adaptados de
White (1998)6 e Bates e Hanson (1998). Durante essa fase,
os sujeitos foram orientados
a permanecer 30 minutos na
faixa de 12 a 14 da escala de
percepção de esforço de Borg.
Relaxamento: caminhadas
lentas, mobilizações articulares lentas e circulares, exercícios respiratórios, flutuação
e massoterapia.
O exercício aeróbio foi realizado na intensidade de nível 12
a 14 da escala de percepção de
esforço de Borg, com duração
de 30 minutos, na frequência
de três vezes por semana.
Após o término da aplicação
do protocolo de exercícios, os
sujeitos foram reavaliados de
acordo com os mesmos padrões da avaliação inicial.
Para análise e interpretação
dos resultados, adotou-se
o programa Statistica, pelo
qual foi aplicado o método
bioestatístico não paramétrico
Wilcoxon, com significância
de 5%, a fim de comparar as
variáveis pré e pós atuação
fisioterapêutica.
Resultados
Gráfico 1. Média pré e pós das variáveis pressão arterial sistólica (PAS),
pressão arterial diastólica (PAD), frequência cardíaca (FC), glicose e colesterol total.
Fonte: Dados da pesquisa
O gráfico 1 mostra que a média da pressão arterial sistólica
(PAS) pré foi de 119,16 mmHg, ou seja, valor dentro dos
padrões de normalidade. Após o programa de exercícios, a
média da PAS teve aumento não significativo (p > 0,05) para
120 mmHg (0,7049%); antes do início do programa de exercícios
fisioterapêuticos, a média da pressão arterial diastólica (PAD)
era de 74,16 mmHg, valor que se manteve pós aplicação do
protocolo de exercícios; houve aumento de 13,43% na média
da frequência cardíaca (FC) pós, em relação à média da FC pré,
que era de 75,66 bpm. Esse aumento não foi significativo (p >
0,05) e o valor permaneceu dentro da normalidade; os dados
também demonstram aumento não significativo (p > 0,05) no
valor da média da glicose pós de 5,43% em relação à média pré;
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
15
Artigo 2
e diminuição não significativa
(p > 0,05) de 2,24% na média
do colesterol total pós em
relação ao valor pré.
O gráfico 2 demonstra que
38,46% dos sujeitos tiveram o
valor da glicose diminuído e
61,53%, aumentado.
Ao observar o gráfico 3 notase que 61,53% dos sujeitos
tiveram o valor do colesterol
total diminuído e 38,46%,
aumentado.
Gráfico 2. Glicose pré e pós – individual.
Discussão
A literatura atual trata de
alguns benefícios advindos
de exercícios terapêuticos aeróbios realizados na água.
“Os benefícios que podem
advir de um programa básico
de exercícios na água incluem melhora do tônus em
geral, aumento da resistência,
redução do nível de colesterol
e, possivelmente, perda de
peso” (WHITE, 1998).
Um estudo da Universidade
do Texas, Dallas, mensurou
que adultos sedentários melhoraram a função cardíaca
em apenas 12 semanas de
treinamento aeróbio na água
(CASE, 1998).
Fonte: Dados da pesquisa
Gráfico 3. Colesterol total pré e pós – individual.
A média da pressão arterial sistólica (PAS) pré foi de
119,16 mmHg, ou seja, valor
dentro dos padrões de normalidade. Após o programa
de exercícios, a média da
PAS teve aumento não significativo (p > 0,05) para 120
mmHg (0,7049%), valor esse
ainda dentro da normalidade.
Antes do início do programa
de exercícios fisioterapêuticos, a média da pressão
arterial diastólica (PAD) era
de 74,16 mmHg, valor que se
manteve após aplicação do
protocolo de exercícios. De
acordo com o III Consenso
Brasileiro de Hipertensão Arterial (III CBHA) (1998)10,
Fonte: Dados da pesquisa
16
...o exercício físico regular
reduz a pressão arterial,
além de produzir benefícios
adicionais, tais como
diminuição do peso corporal
e ação coadjuvante no
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 2
tratamento das dislipidemias,
da resistência à insulina, do
abandono do tabagismo e do
controle do estresse. Contribui,
ainda, para a redução do risco
de indivíduos normotensos
desenvolverem hipertensão.
Intensidade, duração e
frequência dos exercícios
realizados influenciam diretamente na redução dos valores
da pressão arterial.
Exercícios físicos, tais como
caminhada, ciclismo, natação
e corrida, realizados numa
intensidade entre 50% e 70% da
frequência cardíaca de reserva,
ou entre 50% e 70% do consumo máximo de oxigênio, com
duração de 30 a 45 minutos,
três a cinco vezes por semana,
reduzem a pressão arterial de
indivíduos hipertensos. Em
contrapartida, exercícios físicos
muito intensos, realizados
acima de 80% da frequência
cardíaca de reserva ou 80%
acima do consumo máximo
de oxigênio, têm pouco efeito
sobre a pressão arterial de
hipertensos.
III CBHA, 1998.10
Neste estudo, o programa
de exercícios seguiu os critérios de intensidade, duração
e frequência indicados
pelo III CBHA. Não houve
diminuição da média da
pressão arterial, e o aumento
não significativo não ultrapassou os parâmetros de normalidade. Tal fato caracteriza
atuação preventiva, pois os
sujeitos que compuseram a
amostra não apresentavam
hipertensão arterial antes do
início do programa, e assim
se mantiveram até o final da
pesquisa.
Além de ser importante
no nível primário de
atenção à saúde, a prática
regular de atividade física é
recomendada pelo III CBHA
como uma das medidas não
medicamentosas com maior
eficácia anti-hipertensiva.
Albulquerque et al (2006)11
identificou em seu estudo a
ocorrência do efeito hipotensor pós-exercício nos grupos
analisados.
Esta redução significativa da
PA, possivelmente, foi gerada
pela diminuição momentânea
do débito cardíaco, ocasionada pela redução do volume
diastólico final e pela redução
da resistência vascular periférica. Esta última gerada pelo
arrefecimento da ativação
simpática ao final do exercício físico, pela adaptação do
ponto de atuação do controle
barorreflexo para um valor
pressórico mais baixo e pela
liberação local de metabólitos
vasodilatadores, resultantes
das contrações musculares.
American College of Sports Medicine post Stand apud ALBULQUERQUE et al, 2006.
Alguns autores explicam
como se dá a diminuição dos
valores de pressão arterial
por meio do exercício.
“Durante o exercício, o volume plasmático diminui e a
osmolalidade aumenta, e em
intensidades de exercício superiores a 60% do VO2 máx,
a secreção de ADH aumenta”
(POWERS e HOWLEY, 2000,
apud MILHOMEM, 2006).
Para Albuquerque et al
(2006)11, a redução da atividade simpática é uma justificativa fundamental para ocor-
rência do efeito hipotensor do
exercício físico, em indivíduos saudáveis e hipertensos
jovens.
Arca; Fioreli; Rodrigues
(2004)2 obtiveram, em seu estudo, diminuição significativa
nos valores de PAS e PAD
após o programa de hidrocinesioterapia. Explicam o fato
da seguinte maneira:
Esse fato provavelmente se
deve às alterações que ocorrem no sistema renal e nervoso
simpático, como: supressão do
hormônio vasopressina e do
sistema renina-angiotensina e
aldosterona e estimulação do
peptídeo natriurético atrial,
proporcionando aumento
da diurese, da natriurese e
da potassiurese, além do aumento do retorno venoso e
da diminuição da frequência
cardíaca durante e após algumas horas de imersão.
HALL, 1990, apud ARCA;
FIORELLI; RODRIGUES, 2004.
Halliwill (2001) apud Albuquerque et al (2006)11 afirma:
“o aumento da concentração
de ATP gerado pelo exercício
auxilia na vasodilatação periférica pós-exercício”.
A ação benéfica do exercício
para a saúde está relacionada à
sua capacidade de combater o
estresse emocional, a obesidade
pelo aumento do gasto calórico
e da taxa metabólica basal,
o diabetes pelo aumento da
sensibilidade das células à
insulina e pelo estímulo ao
metabolismo dos carboidratos,
a redução da pressão arterial
por causa da redução da
sensibilidade dos vasos à ação
das catecolaminas, a menor
tendência a arritmias pela
redução da sensibilidade do
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
17
Artigo 2
miocárdio à ação adrenérgica,
o aumento dos níveis de
HDL-colesterol, a redução dos
níveis séricos de triglicerídeos,
a redução da agregação
plaquetária com grandes
estímulos para a diminuição
da pressão arterial e do risco
cardiovascular.
AMERICAN COLLEGE OF
SPORTS MEDICINE. 1999, s/p
apud MILHOMEM, 2006.12
Segundo Milhomem (2006)
“a secreção de catecolaminas
(adrenalina e noradrenalina)
pela medula adrenal constitui importante mecanismo
de controle e manutenção da
pressão arterial e da glicose
plasmática”.
Em 1999, o American College
of Sports Medicine (ACSM)
s/p apud MILHOMEM, 2006,
divulgou: “o treinamento de
endurance reduz a pressão
arterial sistólica e diastólica
medida em laboratório ou
clínica em aproximadamente
10 mmHg na grande maioria
dos indivíduos com hipertensão arterial leve”.
“O exercício nos deixa mais
resistentes à ação do sistema
nervoso simpático (ação
adrenérgica), que é um importante fator de risco para o
desenvolvimento da hipertensão essencial” (MANCIA et al,
1997, s/p apud MILHOMEM,
2006).
Segundo Negrão (2005), apud
Castelli; Arruda; Simões
(s/a, s/p), o exercício de
resistência afeta a atividade
parassimpática e diminui
a atividade simpática no
coração durante o repouso,
diminui também a resistência
vascular periférica e ocorre
18
aumento na elasticidade
dos vasos pelo aumento
na produção de óxido
nítrico, capaz de relaxar a
musculatura lisa vascular.
Dembo et al (2001) apud
Lopes; Barreto; Riccio ( 2003)
afirma que o efeito antihipertensivo gerado pelo
exercício de carga moderada
envolve tanto mecanismos
diretos (redução da atividade
simpática/incremento da atividade vagal e melhora da função endotelial) como mecanismos indiretos (redução
da obesidade e melhora do
perfil metabólico). Ele reforça
ainda que a melhora do perfil
psicológico contribui para a
maior adesão a outras medidas não farmacológicas.
Outros mecanismos também
considerados como redutores
da pressão arterial após o
treinamento incluem a diminuição da reabsorção de
sódio associada com níveis
menores de insulina sérica e
diminuição do volume sanguíneo. A hipertensão é uma
importante variável no prognóstico e a terapia, com o seu
objetivo de modificar o grau,
é beneficente para o paciente
portador da hipertensão (IRWIN e TECKLIN 2003).
Souza (2003) apud Brum et al (
2004) verificaram redução da
PA em indivíduos hipertensos, após um período de quatro meses de exercício físico
aeróbio de baixa intensidade.
Esses autores concluem que
a prática regular de atividade
física é recomendada para a
prevenção e o tratamento da
hipertensão arterial.
Os dados desta pesquisa
demonstram que houve
aumento de 13,43% na média da frequência cardíaca
(FC) pós em relação à média
da FC pré, que era de 75,66
bpm. Esse aumento não foi
significativo (p > 0,05), e o
valor permaneceu dentro da
normalidade.
De acordo com Almeida e
Araujo (2003),
A frequência cardíaca (FC) é
mediada primariamente pela
atividade direta do sistema
nervoso autônomo (SNA),
através dos ramos simpático e
parassimpático sobre a autorritmicidade do nódulo sinusal,
com predominância da atividade vagal (parassimpática)
em repouso e simpática durante o exercício.
Os mesmos autores afirmam
que a redução do tônus vagal
cardíaco e, consequentemente, da variabilidade da
FC em repouso, está relacionada a doenças crônico-degenerativas, disfunção autonômica e aumento do risco
de mortalidade.
Vários estudos têm demonstrado relação direta entre a
frequência cardíaca de repouso ou submáxima e risco de
desenvolvimento de doenças
cardiovasculares, ou seja,
menor frequência cardíaca
em repouso ou menor taquicardia durante o exercício
físico submáximo configuram
menor risco cardiovascular
(SECCARECIA e MENOTTI,
1992, apud BRUM et al (2004).
Ao contrário dos resultados
apresentados, estudos
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 2
apontam para o fato de que
exercícios físicos regulares
geram efeitos crônicos, tais
como redução da frequência
cardíaca de repouso,
hipertrofia ventricular
esquerda e melhora do
condicionamento físico
geral (ARCA, FIORELI e
RODRIGUES, 2004).
O condicionamento aeróbio
geralmente proporciona FC
de repouso mais baixa nos
indivíduos, porém Almeida
e Araújo (2003) afirmam que
esta pode não ser consequência direta do treinamento,
visto que as adaptações ao
treinamento aeróbio podem
influenciar o comportamento
da FC de repouso.
Farah et al (1992) apud Brum
et al (2004) identificaram
uma resposta bradicárdica
de repouso ao exercício e
atribuíram diminuição na
frequência cardíaca intrínseca
como mecanismo associado.
Brum et al (2004), ao estudarem os mecanismos
envolvidos na menor resposta
taquicárdica ao exercício físico, observaram uma modificação no balanço autonômico
cardíaco pós-treinamento.
Estudos indicam que indivíduos com bom condicionamento aeróbio possuem FC
de repouso mais baixa, sugerindo maior atividade parassimpática (AUBERT; BECKERS; RAMAEKERS, 2001,
apud ALMEIDA e ARAÚJO,
2003)16 ou menor atividade
simpática, (CATAI et al, 1998
apud ALMEIDA e ARAÚJO,
2003)16 como explicação fisiológica para esse fato.
Almeida e Araújo (2003)16
concluíram em seu estudo:
Talvez algumas das modificações que ocorrem no controle
da FC em repouso e nos níveis
submáximos do exercício sejam
consequência de adaptações intrínsecas do próprio nódulo sinusal ou ainda decorrentes de
outras modificações fisiológicas, como aumento do retorno
venoso e do volume sistólico
e melhora da contratilidade miocárdica, ou periféricas, como
melhora da extração de oxigênio (diferença arteriovenosa
de oxigênio) ou melhora da utilização do O2 para gerar mais
trabalho (eficiência mecânica),
resultando em diminuição da
FC para aqueles níveis (submáximos) de exigência.
De acordo com os resultados, houve aumento no valor
da média da glicose pós de
5,43% em relação à média
pré. Esse aumento não foi
significativo (p > 0,05) e o
grupo se manteve na faixa de
valores normais.
Segundo Martins e Duarte
(1998) apud Ferreira et al
(s/a)17, desde o início do século XX, o efeito do exercício
sobre os níveis glicêmicos já
era conhecido, e esse tem sido
utilizado como tratamento
coadjuvante do Diabetes mellitus.
Ferreira et al (s/a)17 afirmam: “durante o exercício
físico ocorre um aumento
na captação de glicose e na
sensibilidade à insulina, o
que promove um decréscimo
glicêmico”.
Os dados da literatura divergem dos resultados deste
estudo, sendo possível expli-
cação para esse fato o número
de atendimentos, que não
foi suficiente para proporcionar efeitos a longo prazo
do exercício sobre os valores
glicêmicos.
O efeito da atividade física
sobre a sensibilidade à insulina tem sido demonstrado de
12 a 48 horas após a sessão de
exercício, mas volta aos níveis
pré-atividade em três a cinco
dias após a última sessão de
exercício físico, o que mostra
a necessidade de realizar
atividade física com frequência e regularidade (ERIKSSON; TAIMELA; KOIVISTO,
1997, apud CIOLAC e GUIMARÃES, 2004).
A melhora do controle
glicêmico por meio da atividade física regular pode resultar do acúmulo dos efeitos
agudos do exercício, porém
alguns autores sugerem que o
músculo treinado, em presença de quantidade adequada
de insulina, aumenta o metabolismo da glicose antes
que ocorra o efeito residual
da última sessão do exercício
agudo (MARTINS e DUARTE, 1998, apud FERREIRA
et al, s/a).
Após o programa de hidrocinesioterapia, 38,46% dos
sujeitos tiveram o valor da
glicose diminuído e 61,53%,
aumentado. Esses dados
demonstram: mesmo que
a maioria dos sujeitos não
tenha apresentado redução
significativa da glicemia,
alguns deles tiveram seus
valores diminuídos. Essa
diminuição nos níveis de
glicose pode ser explicada da
seguinte maneira:
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
19
Artigo 2
Na atividade física, acreditase que a contração muscular
favoreça a liberação de
GLUT4, elevando a absorção
da glicose sanguínea. Esse
evento não depende da
insulina para ocorrer. Há
vários eventos com produção
de óxido nítrico que
contribuem para o transporte
de glicose (MASHARANI,
2001, apud UMEDA, 2005).
De acordo com Ferreira et
al (s/a,) o exercício gera aumento na captação de glicose
pela musculatura e inibe a
produção hepática de glicose
e da lipólise no tecido adiposo. O resultado é um rápido
decréscimo na concentração
plasmática de glicose.
Durante o exercício físico há
redução acentuada do papel
da insulina, e a contração
muscular é a provável responsável pela captação da
glicose. Já após a realização
do exercício, a diminuição do
glicogênio intracelular gera
aumento da sensibilidade à
insulina, elevando o transporte de glicose (UMEDA,
2005).
Existem duas vias de
sinalização intracelular
que levam a translocação
de GLUT4, a insulina e o
exercício. A insulina utiliza
o mecanismo dependente
da fosfatidilinositol-3quinase, enquanto a via do
exercício deve ser iniciada
pela liberação de cálcio do
retículo sarcoplasmático
que leva à ativação de
outros intermediários
sinalizadores. Existem
evidências que demonstram
que o exercício físico, além
de estimular a translocação
de GLUT4, também aumenta
20
a sua expressão no músculo
(GAZOLA et al, 2001, apud
FERREIRA et al, s/a)17 e,
além disso, aumenta a ligação
da insulina ao seu receptor
(VIVOLO et al, 2001, apud
FERREIRA et al, s/a).
“Durante a atividade física,
90% do açúcar do sangue
são utilizados pelas células
musculares esqueléticas, e o
restante, pelas demais células” (UMEDA, 2005).
Segundo Regenga (2000), “Os
exercícios são indicados para
diabéticos, pois promovem
redução na mortalidade desses indivíduos por diminuição
na incidência de alterações
isquêmicas coronárias ou
por redução do consumo de
oxigênio pelo miocárdio”.
Portanto a atividade física
está indicada para modificar
o fator de risco de intolerância à glicose, para o paciente
coronariano e para o paciente
com múltiplos fatores de
risco para a doença (KHAWALI; ANDRIOLO; FERREIRA 2003).
Estudos mostram que pacientes coronarianos que
praticam exercício aeróbio
regularmente têm necessidade menor da utilização de
insulina ou medicação via
oral. Observaram-se níveis
mais baixos de insulina sérica
após uma carga de glicose
nos pacientes treinados,
através do aumento de sensibilidade à insulina no nível
celular (IRWIN e TECKLIN,
2003).
No diabete tipo I, a hipertensão arterial associa-se à nefro-
patia diabética. Os pacientes,
nesse caso, devem realizar o
controle da pressão arterial
para retardar a perda de função renal. No diabete tipo II, a
hipertensão arterial associa-se
comumente a outros fatores
de risco cardiovascular, tais
como dislipidemia, obesidade, hipertrofia ventricular
esquerda e hiperinsulinemia.
Nesses pacientes, o tratamento não medicamentoso (atividade física regular e dieta
apropriada) é obrigatório (III
CBHA, 1998).
Nesta pesquisa houve diminuição de 2,24% na média
do colesterol total pós em
relação ao valor pré. Essa
diminuição não apresentou
significância (p > 0,05).
São bem conhecidos os efeitos da atividade física sobre
o perfil de lipídios e lipoproteínas em sujeitos que
praticam exercícios regularmente, porque eles apresentam maiores níveis de HDL
colesterol e menores níveis
de triglicérides, LDL e VDLL
colesterol, comparados a indivíduos sedentários. Os perfis
desfavoráveis de lipídios e
lipoproteínas melhoram com
o treinamento físico, é o que
vêm apontando estudos de
intervenção (DURSTINE e
HASKELL, 1994, apud CIOLAC e GUIMARÃES, 2004).
De acordo com Case (1998)9,
os exercícios de condicionamento na água promovem
diminuição de colesterol
HDL, triglicerídeos e do risco
de doenças cardiovasculares.
“A atividade física exerce
uma ação favorável
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 2
sobre o perfil lipídico,
principalmente nos casos
de hipertrigliceridemia,
níveis diminuídos de HDL
colesterol e alterações nas
subfrações do LDL colesterol”
(CASTRO et al, 2008).
Kinoshita et al (1999) apud
Prado e Dantas (2002)22 realizaram um estudo com 40
idosos saudáveis normolipidêmicos, em que 20 realizavam treinamento aeróbio
a 50% do VO²máx, com duração de uma hora por dia,
quatro dias por semana, e 20
não realizavam treinamento
aeróbio. Após cinco meses
de programa, observaram-se
mudanças significativas em
relação aos indivíduos que
não treinavam. Essa pesquisa
teve por conclusão que tanto
os efeitos do treinamento
de baixa intensidade como
a duração total do exercício
físico por semana constituem
fator importante para o melhoramento dos níveis da HDL
colesterol e subfrações em
sujeitos idosos saudáveis.
Conforme os dados da pesquisa, 61,53% dos sujeitos
tiveram o valor do colesterol
total diminuído e 38,46%,
aumentado.
Segundo Dâmaso,
(2001) apud Cambri et al
(2006):
Seja pelo efeito agudo e/
ou crônico sobre o perfil
lipídico, os exercícios físicos
apresentam relação inversa
com o desenvolvimento de
doenças crônico-degenerativas.
Os exercícios físicos podem
contribuir indiretamente para
melhorias do perfil lipídico,
auxiliando na redução da
massa corporal, pois a cada
kg de massa corporal perdida,
ocorre redução de 1% nos
níveis de colesterol total e LDL,
diminuição de 5-10% nos níveis
de triglicerídeos e aumento
de 1-2% nas concentrações de
HDL.
Alguns autores descrevem
os mecanismos pelos quais o
exercício modifica os valores
de colesterol.
Segundo Wood (1990) apud
Guedes e Guedes (2001)24,
estudos sugerem que o aumento na função da lipoproteína lípase no tecido adiposo
ou no músculo esquelético no
momento da prática da atividade física, juntamente com o
decréscimo da síntese hepática dos triglicerídios, podem
ser ajustes metabólicos que
diminuem a concentração de
lipídios plasmáticos.
Para Blomhoff (1992) apud
Ciolac e Guimarães (2004)18, o
exercício aumenta o consumo
de ácidos graxos pelo tecido
muscular e aumenta a atividade da enzima lipase lipoproteica no músculo.
Sgouraki; Tsopanakis; Tsopanakis (2001), apud Umeda
(2005)4, defendem a ideia
de que o exercício contínuo
tem como efeito agudo o
aumento do HDL-C, porém
com duração de poucos dias.
Já os efeitos crônicos incluem
redução das concentrações
de LDL-C e elevação das de
HDL-C, o que reforça a importância do exercício contínuo e regular.
o aumento significativo do
volume de oxigênio máximo,
associado ao HDL-colesterol
de no mínimo 10% a 15% e à
diminuição nos valores dos
triglicerídeos de 16% a 20%
(IRWIN e TECKLIN, 2003).
Os estudos sobre esse assunto
demonstram que, para haver
um benefício significativo
sobre o processo de dislipidemia, é necessário associar
a intensidade e a duração do
treinamento físico aeróbio
(SBC, 2005).
É comum a associação entre
dislipidemia e hipertensão
arterial. A abordagem não
medicamentosa (dieta e atividade física regular) são válidas para ambas as condições
(III CBHA, 1998).
Conforme discussão, o exercício físico proporciona
aumento dos níveis de HDL
colesterol e diminuição dos
níveis de LDL colesterol. Essas variações nas frações de
colesterol podem refletir em
aumento no colesterol total,
conforme ocorrido no presente estudo, obscurecendo,
assim, o efeito benéfico do
programa de exercícios
proposto.
Outra justificativa para os
resultados apresentados neste
estudo é que não foi realizado
o controle alimentar dos sujeitos participantes. A mensuração da glicemia e do colesterol total não foi realizada
em jejum, portanto a alimentação inadequada pode ter
interferido nos resultados.
Quando uma intensidade
de treinamento suficiente
é alcançada, o resultado é
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
21
Artigo 2
Conclusão
Segundo o American College
of Sports Medicine (ACSM),
indivíduos com um estilo
de vida associado a uma
atividade física regular
têm menor probabilidade
de desenvolver doenças
crônicas. Essas doenças
são desenvolvidas em
razão de um estilo de
vida sedentário. O III
CBHA (1998)10 recomenda
medidas preventivas ao
aparecimento de fatores
de risco cardiovascular, as
quais devem ser adotadas
como hábitos de vida
e inseridas no contexto
familiar. Hábitos de vida
saudáveis, como alimentação
adequada, prática de
exercícios regulares, com
objetivo de manutenção de
peso, valores adequados de
pressão arterial, glicemia
e colesterol, traduzem
benefícios cardiovasculares
ao organismo. Este estudo
teve como resultados o
aumento não significativo das
variáveis PAS, FC e glicemia,
manutenção da PAD e
diminuição não significativa
do colesterol total. Os
sujeitos apresentavam
valores normais de todas as
variáveis antes da aplicação
do programa de exercícios
e assim se mantiveram até o
final do estudo. Isso significa
que a saúde foi mantida, o
que caracteriza promoção
de saúde e profilaxia.
É papel do profissional
fisioterapeuta incentivar
medidas preventivas em
indivíduos saudáveis, como
forma de conscientização,
22
antes que fatores de risco
estejam presentes. Novos
estudos se fazem necessários,
devendo ser incrementados
com forma de controle sobre
a alimentação, um método
de avaliação de aptidão
cardiovascular pré e pós,
maior tempo de aplicação dos
exercícios e maior número de
amostra.
Referências
1. SOCIEDADE BRASILEIRA
DE CARDILOGIA, 1997; I
CONSENSO NACIONAL DE
REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR (Fase crônica)
Arquivos brasileiros de cardiologia, v. 69, n. 4, out. 1997.
2. ARCA, Eduardo Aguilar;
FIORELLI, A.; RODRIGUES,
A. C. Efeitos da hidrocinesioterapia na pressão arterial e
nas medidas antropométricas
em mulheres hipertensas.
Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 8, n. 3, 2004.
3. GIL, Antônio Carlos. Como
elaborar projetos de pesquisa.
4 ed. São Paulo: Atlas, 2002.
4. UMEDA, Iracema Ioco
Kikuchi. Manual de fisioterapia na reabilitação cardiovascular. São Paulo/Barueri:
Manole, 2005.
5. MCHUGH, Malachy P.;
MAGNUSSON, S. Peter;
GLEIM, Gilbert W.; NICHOLAS, James A. Viscoelastic
stress relaxation in human
skeletal muscle. Medicine &
Science in Sports & Exercise.
24(12):1375-1382, dec. 1992.
6. WHITE, Marta D. Exercícios na água. 1 ed. São Paulo:
Manole, 1998.
7. BATES, Andrea; HANSON,
Norm. Exercícios aquáticos
terapêuticos. 1. ed. São Paulo:
Manole, 1998.
8. FOSS, Merle L.; KETEYIAN, Steven J. Bases fisiológicas do exercício e do esporte.
6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
9. CASE, LeAnne. Condicionamento físico na água. 1.
edição. São Paulo: Manole,
1998.
10. Sociedade Brasileira de
Hipertensão; Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade Brasileira de Nefrologia.
1999 III Consenso Brasileiro
de Hipertensão Arterial. Arquivos brasileiros de endocrinologia e metabologia, v.
43. n. 4, ago. 1999.
11. MASSON, Gustavo Santos; CRUZ, Leandro Correa da; SANCHES, Érica;
GOMES, Flávia Denise;
MEIRELLES, Luísa Ribeiro;
TURA, Bernardo Rangel;
SALGADO, Ângelo Antunes;
ALBUQUERQUE, Denilson
Campos de; ROCHA, Ricardo Mourilhe. Influência da
terapia com exercícios supervisionados na pressão arterial
de pacientes com doenças
cardiovasculares. Revista da
Socerj, v. 19, n. 4, jul./ago.
2006.
12. MILHOMEM, Fredson
Coelho Heymbeeck.
Atividade física para
prevenção e controle da
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 2
hipertensão arterial em
adultos. Estudos, Goiânia, v.
33, n.7/8, p. 589-614, jul./ago.
2006.
13. LOPES, Heno Ferreira;
BARRETO, José Augusto
S.; RICCIO, Grazia Maria
Guerra. Tratamento
não medicamentoso da
hipertensão arterial. Revista
da Sociedade de Cardiologia
do Estado de São Paulo, v. 13,
n. 1, jan./fev. 2003.
14. IRWIN, Scot; TECKLIN,
Jan Stephen. Fisioterapia
cardiopulmonar. 3. ed.
Barueri: Manole, 2003.
15. BRUM, Patrícia Chakur;
FORJAZ, Cláudia Lúcia de
Moraes; NEGRÃO, Carlos
Eduardo; TINUCCI, Taís.
Adaptações agudas e crônicas
do exercício físico no sistema
cardiovascular. Revista Paulista de Educação Física, São
Paulo, v. 18, 2004.
Guilherme Veiga. Exercício
físico e síndrome metabólica.
Revista Brasileira de
Medicina do Esporte, v. 10,
nº. 4, Niterói, jul./ago. 2004.
19. REGENGA, Marisa
de Moraes. Fisioterapia
em cardiologia da UTI à
reabilitação. 1. ed. São Paulo:
Roca, 2000.
20. KHAWALI, Cristina;
ANDRIOLO, Adagmar;
FERREIRA, Sandra Roberta
G. Benefício da atividade
física no perfil lipídico de
pacientes com diabetes tipo
1. Arquivos Brasileiros de
Endocrinologia Metabologia,
v. 47, n. 1, fev. 2003.
bete Ribeiro Pinto. Atividade
física, aptidão cardiorrespiratória, composição da
dieta e fatores de risco predisponentes às doenças cardiovasculares. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 77, n. 3,
243-50, 2001.
25. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Diretriz de reabilitação
cardíaca. Arquivos brasileiros
de cardiologia, v. 84, n. 5,
maio 2005.
21. CIPRIANI, Ana Amélia;
CASTRO, Iran. A relação entre a lipoproteína de alta densidade e a prática de exercício
físico. Revista Socer, v. 21, n.
2, 73-79, mar./abr. 2008.
16. ALMEIDA, Marcos B.;
ARAÚJO, Claudio Gil S. Efeitos do treinamento aeróbico
sobre a frequência cardíaca.
Revista Brasileira de Medicina e Esporte, v. 9, n. 2. mar./
abr. 2003.
22. PRADO, Eduardo Seixas;
DANTAS, Estélio Henrique
Martin. Efeitos dos exercícios
físicos aeróbio e de força nas
lipoproteínas HDL, LDL e
lipoproteína(a). Arquivos
Brasileiros de Cardiologia, v.
79, n. 4. São Paulo, out. 2002.
17. HAYASHI, Cristiane B.;
PEREIRA, Ana Augusta; FERREIRA, Fabiana S. M.; PALOMARES, Juliana; LAZO-OSÓRIO, R. A.; KAWAGUCHI,
Leandro Y. A. Efeito Imediato
do Exercício Físico Sobre o
Comportamento da Glicemia
no Indivíduo Diabético do
Tipo 1. Estudo de caso. s/a
23. CAMBRI, Teresa Lucieli;
SOUZA, Michele de; MANNRICH, Giuliano; CRUZ,
Robert Oliveira da, GEVERD,
Moniqer da Silva. Perfil lípidico, dislipidemias e exercícios
físicos. Revista Brasileira de
Cineantropometria e Desempenho Humano, v. 8, n. 3, p.
100-106, 2006.
18. CIOLAC, Emmanuel
Gomes; GUIMARÃES,
24. GUEDES, Dartagnan
Pinto; GUEDES, Joana Elisa-
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
23
Artigo 3
Utilização da técnica do bag squeezing seguida da
cocontração de membros inferiores em crianças de 0 a
1 ano, submetidas à ventilação mecânica invasiva por
insuficiência respiratória aguda
Using the technique of bag squeezing next of co-contraction of lower
limb in children from 0 to 1 year, subject to invasive mechanical
ventilation for acute respiratory failure.
Daniele Parisotto1
Karla Luize Vaz2
Mariélen Malaquias Santos3
Valéria Aparecida dos Santos4
Valéria Cabral Neves5
a 4 Acadêmicas de fisioterapia da
Faculdade Dom Bosco
5
Especialista em fisioterapia respiratória
pela Assobrafir, especialista em
fisioterapia – terapia intensiva pela
Assobrafir, fisioterapeuta UTI –
pediátrica do Hospital de Clínicas da
Universidade Federal do Paraná, Mestre
em saúde da criança e do adolescente do
Departamento de Pediatria da UFPR.
1
Resumo
Objetivo: Observar a
influência da técnica do bag
squezzing e da cocontração
em MMII nos dados clínicos
e na ventilação mecânica
em crianças de 0 a 1 ano
de idade, com insuficiência
respiratória aguda (IRA),
internadas em UTI pediátrica
do Hospital de Clínicas
de Curitiba. Este estudo
ocorreu no período de 23 de
maio de 2009 a 3 de julho
de 2009. Foram atendidas
cinco crianças, quatro do
sexo feminino e uma do sexo
masculino, em ventilação
mecânica invasiva, sendo
selecionados três sujeitos.
Métodos: Foram realizadas
as técnicas do bag
24
squezzing e da aspiração
endotraqueal, seguidas
da cocontração de MMII,
em 30 repetições. Foram
monitoradas a saturação
periférica de oxigênio,
a frequência cardíaca, a
pressão arterial sistólica, a
pressão arterial diastólica.
Além disso, foram medidos
a complacência pulmonar
estática, a complacência
pulmonar dinâmica,
o volume pulmonar
inspiratório e o volume
pulmonar expiratório. Esse
mesmo procedimento foi
realizado antes, durante
e após o atendimento.
A análise estatística
deste estudo observou a
normalidade por meio
do teste de Shapiro-Wilk,
sendo então usados como
apresentação dos resultados
a média e o desvio-padrão.
Para as comparações
intra e intergrupos foram
utilizados os testes T
pareado e T independente,
respectivamente.
Resultados: Observaramse melhora da saturação
periférica de oxigênio,
aumento da frequência
cardíaca, pouca variação
da pressão arterial sistólica,
redução da pressão arterial
diastólica, aumento dos
valores das complacências
nos sujeitos 1 e 3 e redução
dos valores de complacência
no sujeito 2; em relação
aos volumes pulmonares,
obtiveram-se os mesmos
resultados das complacências.
Conclusão: Todos os
pacientes apresentaram boa
evolução no quadro clinico.
Não foram observados
eventos adversos decorrentes
do procedimento, embora o
pequeno número de pacientes
analisados não tenha
significância estatística.
Palavras-chave: fisioterapia
respiratória, insuficiência
respiratória aguda, pediatria,
ventilação mecânica,
cocontração muscular.
Abstract
This study aimed to evaluate
the impact of co-contraction
of the lower limbs improved
breathing capacity of patients
with ARF admitted to the
pediatric ICU, aged 0 to 1 year
of clinical hospital Curitiba-Pr,
from 23 May 2009 to 03 July
2009. Were treated 5 patients,
4 females and 1 male invasive
mechanical ventilation,
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 3
and 3 joined the search. We
carried out the technique Bag
Squezzing and endotracheal
aspiration followed by cocontraction of limbs, where
they performed 30 repetitions.
We collected date of oxygen
saturation, heart rate, systolic
blood pressure, diastolic
blood pressure, pulmonary
static and dynamic lung
compliance, lung volume,
inspiratory and expiratory
lung volume. This procedure
was performed before, during
and after treatment of each
patient. Analysis of normality
by the Shapiro-Wilk, and
then used as a presentation of
results the mean and standard
deviation. For comparisons
within and between groups,
were analyzed using the
paired T test and independent
T, respectively. There was no
significant statistical analysis,
however despite the few
patients studied, all showed
improvement with the
technique, we did not observe
any complications arising
from the service.
Key words: motor
development, respiratory
therapy, acute respiratory
failure, pediatric, mechanichs
ventilator, cocontraction.
Introdução
Este trabalho tem por objetivo
apresentar uma revisão
sobre pacientes pediátricos
portadores de insuficiência
respiratória aguda (IRA),
citando suas causas,
tipos, diagnóstico, sinais e
sintomas, cujas complicações
os levam para unidades de
terapia intensiva pediátrica
(UTIP), necessitando da
ventilação mecânica invasiva.
A IRA corresponde à
causa frequente de óbitos
e morbidades na primeira
infância, levando a criança
a precisar da UTIP para
lhe assegurar sobrevida e
recuperação.
Este trabalho utilizou a
técnica de bag squeezing
(BS), também conhecida por
manobra de hiperinsuflação
manual (HM), seguida da
aspiração endotraqueal, com
o objetivo de eliminar as
secreções pulmonares, por ser
recurso de fácil acesso dentro
da UTIP.
Sabendo das possíveis
complicações pelo uso
prolongado de suporte
ventilátorio, busca-se saber
a influência cocotração dos
MMII em crianças acometidas
por IRA submetidas à
VM. Além disso, observar
se apresenta melhora da
capacidade respiratória
e, dessa forma, diminuir
os efeitos deletérios da
terapia ventilatória invasiva
prolongada e da imobilidade.
Objetivo geral: Verificar a
influência da manobra do
bag squeezing seguida da
cocontração de membros
inferiores nos dados clínicos
(frequência cardíaca, pressão
arterial e saturação periférica
de oxigênio por oximetria
de pulso) e nos dados do
ventilador dos pacientes com
insuficiência respiratória
aguda submetidos à VM.
Métodos: Todos os
pesquisadores têm
conhecimento da resolução
196/96 MS.
A pesquisa é do tipo
quantitativa, experimental e
descritiva Gil1 (2002, p. 47),
como forma de levantamento
dos dados clínicos –
frequencia respiratória
(FC), pressão arterial (PA),
saturação periférica de
oxigênio (SpO2) –, bem como
das medidas de volume
corrente (VC) e complacência
pulmonar estática e dinâmica,
antes e após o uso de técnica
padronizada. Foi realizada
no Hospital de Clínicas da
UFPR, setor UTI pediátrica,
em Curitiba (PR).
Este estudo caracteriza-se
como não probabilístico
intencional, em que não
há número de sujeitos de
uma população nem cálculo
do tamanho da amostra2
(THOMAS; NELSON, 2002).
A pesquisa teve início
com a coleta de materiais
para revisão bibliográfica,
mediante consulta na
biblioteca da Faculdade Dom
Bosco e de outras instituições,
incluindo revistas indexadas,
artigos científicos, internet
(páginas da Bireme, Lilacs,
Medline e Scielo). Obteve
aprovação do comitê de ética
do Hospital de Clínicas no
dia 31 de março de 2009, sob
protocolo 1885.052/2009-03.
A coleta de dados foi iniciada
em maio de 2009, com
identificação dos sujeitos
conforme os critérios de
inclusão – sujeitos internados
na UTI pediátrica do Hospital
de Clínicas, pertencer à
faixa etária entre 0 e 1
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
25
Artigo 3
ano, estar em ventilação
mecânica por mais de 24
horas, portadores de IRA nas
pneumopatias (bronquiolite,
broncopneumonia e
traqueobronquite), os
responsáveis deveriam aceitar
o termo de consentimento;
e os critérios de exclusão
– estar fora da faixa etária
definida, não pertencer à
UTI pediátrica, ser portador
de doenças neurológicas e/
ou cardíacas, portador de
doença oncológica, em fase
pós-operatória, apresentar
outra forma de IRA não
especificada nos critérios de
inclusão.
Realizou-se então reunião
com os responsáveis,
para quem se explicou o
objetivo da pesquisa e os
procedimentos realizados.
Na ocasião também foi
colhida a assinatura do termo
de consentimento livre e
esclarecido.
De posse da autorização e
após 24 horas completas
de ventilação mecânica
invasiva, iniciaram-se a
avaliação fisioterapêutica
e a aplicação da técnica de
bag squeezing, seguidas de
aspiração e co-contração
de membros inferiores,
anotando-se os dados clínicos
e de mecânica respiratória
antes e após cinco minutos do
procedimento. Diariamente
os pacientes eram reavaliados
clinicamente e realizavam
os exames de rotina,
como gasometria arterial,
hemograma e raios X de
tórax.
Dos cinco sujeitos atendidos,
um desenvolveu IRA
26
por septicemia, não por
pneumopatia; outro foi
excluído, poque, durante sua
permanência na UTI, estava
com ventilador que não
fornecia os dados necessários
à pesquisa. Este trabalho
foi o pioneiro realizado na
UTI pediátrica do HC por
acadêmicos de fisioterapia.
Houve interrupção na
inclusão de pacientes, em
função de epidemia de
gripe A (H1N1), que atingiu
milhões de pessoas no Brasil,
sendo a maioria dos casos
suspeitos e confirmados na
cidade de Curitiba transferida
para o Hospital de Clínicas
(HC) da UFPR.
Resultados
Durante o período de 23 de
maio de 2009 a 3 de julho
de 2009, passaram pela UTI
pediátrica do Hospital de
Clínicas, Curitiba (PR), 21
sujeitos. Receberam alta
hospitalar após os devidos
procedimentos clínicos 17
(80,9%); foram a óbito 4
(19%). Dos 17 sobreviventes,
5 não tiveram ventilação
mecânica invasiva (23,8%)
e 12 foram submetidos à
ventilação mecânica invasiva
(57,1%). Do grupo ventilado
artificialmente, 6 sujeitos
(28,5%) tinham mais de 12
meses de idade, 1 sujeito
(4,8%) apresentava cardiopatia
(critérios de exclusão),
restando apenas 5 para
inclusão no estudo (23,8%).
Dos cinco sujeitos
selecionados para o estudo,
2 (9,6%) foram excluídos
durante o desenvolvimento
do estudo. Uma criança pelo
diagnóstico de encefalite
meningocócica e outra
por ter sido ventilada
em equipamento que
não fornecia os dados
investigados de volume
corrente e de complacência
pulmonar. Permaneceram 3
(14,4%) pacientes envolvidos
no estudo, 2 do sexo feminino
e 1 do sexo masculino.
No período do estudo foram
feitos 39 atendimentos, com
média de 13 terapias por
paciente. Foram verificados
os dados de fração inspirada
de oxigênio (FiO2), volume
corrente (inspiratório e
expiratório), saturação
periférica de oxigênio (SpO2),
frequência cardíaca, pressão
arterial sistólica e diastólica,
complacência estática e
dinâmica – dados coletados
antes, durante e após o
procedimento. Para a análise,
escolheram-se os dados pré e
pós.
Gráfico 1
Gráfico 1 - Mostra a saturação de
oxigênio dos sujeitos 1, 2 e 3 antes e
após a técnica proposta.
Fonte: Dados da pesquisa.
Os resultados para saturação
ficaram próximos de obter
significância, pois, o p-valor
foi de 0,057 – para ter
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 3
significância, precisa ser p
< 0,05. Todos os pacientes
obtiveram aumento da SpO2
após atendimento.
Gráfico 2
apresentou significância, sendo o valor de p 0,556. Houve
aumento da complacência dos sujeitos 1 e 3 e diminuição do
sujeito 2.
Na variação dos valores inspiratórios dos sujeitos pesquisados
não houve significância, pois o valor de p foi 0,936. O sujeito
2 apresentou maior volume inspiratório por apresentar maior
massa corporal e mais idade em relação aos sujeitos 1 e 3.
Não houve significância nos volumes expiratórios, sendo
p 0,511. Como observado no gráfico anterior, o sujeito 2
apresentou maior volume expiratório em relação aos sujeitos 1 e
3, por apresentar maior massa corporal e mais idade.
Gráfico 3
Gráfico 2 – Mostra a variação da
frequência cardíaca dos sujeitos 1, 2
e 3 pré e pós-procedimento.
Fonte: Dados da pesquisa.
A variação da frequência
cardíaca não apresentou
significância, ficando o valor
de p 0,307. Não houve variação
significativa, pois não houve
sobrecarga do músculo cardíaco.
A pressão arterial sistólica
apresentou pouca variação,
não obtendo significância,
já que o valor de p foi 0,496,
demonstrando que não houve
alterações hemodinâmicas.
Não houve significância na
pressão arterial diastólica, pois
o valor de p foi 0,168. Houve
redução da pressão diastólica
pós-atendimento em todos os
pacientes observados.
Gráfico 3 – Ilustração do valor da FiO2 dos sujeitos 1 no 1º e 2º atendimentos
correspondentes aos dias de ventilação mecânica invasiva.
Fonte: Dados da pesquisa.
Nesse gráfico, verifica-se que o sujeito 1 permaneceu 5 dias sob VMI,
sendo o valor da FiO2 de 40% após 24 horas de intubação nasotraqueal
(atendimentos 1 e 2), mantendo-se constante até o terceiro dia. No
quarto dia de ventilação, a FiO2 estava em 35% no atendimento 1; após
o procedimento foi realizada uma tentativa de redução da FiO2 para
30%. Esse valor de FiO2 manteve-se até o atendimento 2 do mesmo dia.
No quinto dia, o valor da FiO2 no atendimento 1 estava em 40%; após o
procedimento, foi reduzida para 30%.
Gráfico 4
O valor da variação da
complacência pulmonar
estática não foi significante,
visto que o valor de p foi de
0,696. Houve melhora da
complacência nos sujeitos
1 e 3 no pós-atendimento e
redução no sujeito 2.
O valor da complacência
pulmonar dinâmica não
Gráfico 4 – Mostra o valor da FiO2 do sujeito 2, de acordo com o
atendimento e os dias de ventilação mecânica.
Fonte: Dados da pesquisa.
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
27
Artigo 3
Nesse gráfico, verifica-se que a paciente 2 permaneceu 10 dias
sob ventilação mecânica invasiva. Do primeiro ao oitavo dia, a
FiO2 manteve-se constante em 100%, com redução apenas no
nono dia de VMI (80% no atendimento 1 e 70% no atendimento
2). No décimo dia, a FiO2 estava em 75%.
Gráfico 5
Gráfico 5 – Mostra o valor da FiO2 do sujeito 3, de acordo com o atendimento
e os dias de ventilação mecânica.
Fonte: Dados da pesquisa.
Nesse gráfico, verifica-se que o sujeito 3 permaneceu 4 dias sob
VMI, sendo a FiO2 de 100% apenas nas primeiras 24 horas pósintubação. No primeiro dia de atendimento (atendimento 2), a
FiO2 foi reduzida para 60%, permanecendo até o 2º dia de VM.
No terceiro dia, a FiO2 ficou em 45% e em 40%.
Discussão
Reconhece-se a importância da fisioterapia para o tratamento
da IRA. A fisioterapia respiratória é um instrumento terapêutico
que esteve presente em diferentes momentos no mundo, junto
às pequenas e grandes descobertas do século XX3.
As doenças obstrutivas foram as primeiras referidas em
trabalhos científicos, com descrição de técnicas fisioterapêuticas,
anteriormente chamadas de ginástica respiratória (Europa).
Nas décadas de 1950 e 1960 houve necessidade de utilizar
fisioterapia respiratória em pediatria, em razão das epidemias
de poliomielite, sendo a drenagem postural e a tapotagem as
técnicas mais utilizadas. A ventilação mecânica, que já se usada
em anestesia, introduziu-se na pediatria somente em 1952,
após surto de poliomielite na Dinamarca3 .
O objetivo deste trabalho foi verificar a influência da técnica Bag
Squeezing, seguida da cocontração de MMII sobre dados clínicos,
bem como a melhora na capacidade respiratória de pacientes
com IRA em ventilação mecânica invasiva, internados na UTI
28
pediatrica do HC.
Segundo Bee (2003, p. 476),
“a maioria das crianças com
atraso no desenvolvimento
motor possui algum tipo de
comportamento-problema”4.
De 14 a 20% das crianças
e adolescentes possuem
atraso no desenvolvimento
psicomotor.
Segundo Miller; Clark
(2002) apud Amaral,
Tabaquim, Lamonica (2005),
o desenvolvimento motor,
quando ocorre com atraso,
costuma seguir sequência
própria, desorganizada,
dependente da etiologia
específica que levou a
esse atraso, trazendo
consequências importantes
nas interações da criança
no seu ambiente, podendo
promover alterações
secundárias, com influência
imediata no desempenho de
habilidades da vida diária5.
Assim, quanto maior o
período do sujeito submetido
à UTI, pior possibilidades de
desenvolvimento motor do
paciente.
Segundo Machado (2008,
p.170):
A IRA é definida como a
incapacidade do sistema
respiratório em manter a troca
gasosa adequada com o ar
ambiente, seja por incorreto
fornecimento de oxigênio aos
tecidos ou inadequada eliminação de gás carbônico pelos
pulmões6.
Essa é uma das causas mais
frequentes de óbito neonatal7,
sendo mais frequentes a
dispneia e as alterações de
frequência respiratória as
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 3
complicações no quadro
clínico8.
A fisioterapia respiratória
tem como objetivo retirar
ou reduzir a obstrução
brônquica, prevenir ou tratar
atelectasias e prevenir danos
estruturais9.
Verifica-se, desse modo, a
importância de medidas que
reduzam a permanência e o
impacto a que são submetidos
esses indivíduos. O princípio
básico da reabilitação
respiratória é adaptar ou
readaptar o indivíduo para
uma vida social e laborativa
compatível com seu grau de
disfunção pulmonar10.
A eficiência da técnica de bag
squeezing é maior em crianças
menores de um ano, sendo
bastante segura quando
aplicada nos pacientes com
insuficiência respiratória11.
De acordo com os resultados
obtidos na análise de dados,
verifica-se que não houve
diferença significativa no
gráfico 1. Observou-se,
porém, tendência à melhora
da saturação periférica de
oxigênio após realização do
procedimento, confrontandose o valor da saturação de
oxigênio verificado por
meio de oximetria de pulso.
Jamami e Pires, in Costa
(1999, p. 88)12, relata:
A saturação de oxi-hemoglobina arterial (SaO2) é a fração
ou porcentagem dos locais
de hemoglobina ligados com
oxigênio. O valor normal é
maior ou igual a 97%, enquanto
se respira o ar ambiente, e é
proporcional à quantidade de
oxigênio transportado pela hemoglobina, mas não a quanti-
dade dissolvida no plasma. A SaO2 pode ser inversamente monitorada por meio de amostra e análise do sangue arterial ou com oxímetro
de pulso, de forma não invasiva. Os valores de PaO2 superiores a 60
mmHg estão relacionados a uma saturação de oxigênio superior a 90%
e correspondem à porção achatada da curva de dissociação da oxihemoglobina, indicando um nível adequado de oxigenação do sangue
arterial.
Esse efeito deve-se à otimização da relação ventilaçãoperfusão-troca gasosa. Em consequência do recrutamento
alveolar obtido e da eliminação da secreção, houve melhora
das trocas gasosas e foi possível a redução gradativa da FiO2.
Constatou-se nos sujeitos analisados que a frequência cardíaca
média foi de 143 bpm para pré-atendimento e 146 bpm pósatendimento (gráfico 2). Sabe-se que a frequência média varia
de 120 a 140 bpm para indivíduos nessa faixa etária e pode
aumentar até 170 bpm durante choro e agitação, bem como
diminuir até 70 bpm durante o sono13. O quadro a seguir
mostra a variação da frequência cardíaca de acordo com a
idade.
Idade
Frequência cardíaca
Prematuros
100 – 130 – 180 bpm
RN a termo
80 – 120 – 170 bpm
3 meses
80 – 120 – 160 bpm
6 meses
80 – 120 – 160 bpm
Fonte: Adaptado de Cardoso, in Sarmento (2007, p. 390).
O paciente 2 apresentou taquicardia (aproximadamente
180 bpm) durante e após o atendimento. Ele fez uso de
medicação vasoativa e bloqueadora neuromuscular durante o
procedimento, o que pode explicar a taquicardia.
A pressão arterial varia de acordo com a idade, sendo a faixa
normal da pressão arterial sistólica de 90 a 140 mmHg14,
conforme se pode observar a seguir.
Idade
Pressão arterial (sistólica/diastólicca)
Prematuro
80/45 mmHg
RN a termo
80/45 mmHg
3 meses
90/50 mmHg
6 meses
90/55 mmHg
1 ano
90/55 mmHg
Fonte: Adaptado de Cardoso, in Sarmento (2007, p. 301).
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
29
Artigo 3
Para Vassoler e Sarmento in
Sarmento (2007, p.27)14:
A pressão arterial sistólica é
a força máxima exercida nas
principais artérias durante a
contração do ventrículo esquerdo. A pressão arterial diastólica
é a força nas principais artérias
que permanece após o relaxamento dos ventrículos e normalmente é de 60 a 90 mmHg.
Os dados obtidos durante a
pesquisa revelaram redução
da pressão arterial sistólica
e diastólica em todos os
sujeitos. Sabe-se que esse
fato pode ter decorrido da
redução de CO2 circulante.
Os centros cardiovasculares
são afetados pelas alterações
químicas no sangue circulante
e cefalorraquidiano. Quando,
por exemplo, há redução
do dióxido de carbono, os
centros medulares tendem
a inibir, provocando a
diminuição do tônus
muscular; como consequência
ocorre queda da pressão
arterial15.
A complacência estática
é a medida da pressão na
via aérea necessária para
equilibrar os pulmões e a
caixa torácica no fim da
inspiração, após entrada do
volume inspiratório, menos
a quantidade de pressão
positiva final (PeepP),
necessária para manter o
sistema expandido. Leva-se
em consideração a medida da
pressão de platô, obtida no
modo de volume controlado,
fluxo inspiratório constante
(onda quadrada) associado a
uma pausa inspiratória de 1 a
2 segundos.
30
A complacência dinâmica
leva em consideração a
complacência dos circuitos
do ventilador, da parede
do tórax, dos pulmões, e a
resistência do fluxo aéreo.
Ela define a propriedade
elástica dos pulmões. Para
sua medida, não é necessário
que o paciente esteja sedado
ou num modo ventilatório
controlado. Seus valores são
um pouco mais baixos que os
da complacência estática.
Observou-se nos sujeitos 1 e
3 aumento da complacência
estática e dinâmica. O
paciente 2 apresentou
complacência elevada
durante todo o período
que esteve sob suporte
ventilatório, acima do valor
normal referenciado pela
literatura. Após aplicação
da técnica apresentou
diminuição da complacência.
Concordando com os
resultados obtidos na
pesquisa, diversos estudos
verificaram aumento da
complacência estática do
sistema respiratório16.
A técnica da hiperinsuflação
pulmonar promove também
expansão pulmonar e
aumento do volume
pulmonar. Sarmento (2007, p.
140)14 afirma:
Estudos em modelos experimentais mostraram que o uso
de volumes-correntes altos
causa lesão pulmonar, mesmo
em pulmões normais. Recentemente, uma serie de estudos
controlados e randomizados,
entre eles o estudo Ards Network, relatou que pacientes
ventilados a um VC de 6 mℓ/
Kg de peso tinham uma taxa
de mortalidade 22% menor
do que aqueles ventilados com
VC de 12mℓ/Kg de peso ideal.
Não há até o momento estudos
clínicos testando a hipótese
de que o uso de baixos VC
resultaria em benefício para a
população pediátrica, porém,
considerando o forte embasamento fisiológico, experimental e clínico em adultos,
pacientes na faixa etária
pediátrica poderiam beneficiarse com VC ≤ 6 mℓ/ Kg.
O uso de um volume
corrente de 5 a 8 mℓ/Kg17
como estratégia ventilatória
protetora foi proposta
por Amato et al em 1998.
Recentemente, Khemani et
al18 demonstraram que, em
pediatria, valores de até 10
mℓ/Kg são considerados
protetores do parênquima
pulmonar.
Quanto à evolução dos
pacientes, observou-se haver
relação do tempo de FiO2 com
o prognóstico do paciente.
Sabe-se que o oxigênio é
tóxico e pode causar lesão
celular pela liberação dos
radicais livres. Mesmo
assim se faz necessária a
alta concentração de O2.
Atualmente é comprovado
o efeito lesivo das altas
concentrações de oxigênio
(acima de 60%)19.
O sujeito 1 permaneceu 7
dias em ventilação mecânica
invasiva, ficando com FiO2
de 100% por menos de 24
horas e em névoa úmida
por menos de 24 horas após
a extubação. O sujeito 2
permaneceu sob ventilação
mecânica invasiva por 10
dias, com FiO2 de 100% por
8 dias. Suspeita-se que a
permanência prolongada
em grande concentração de
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 3
oxigênio tenha sido uma das
causas de lesão pulmonar que
dificultaram a extubação. A
extubação ocorreu em FiO2
de 75%, porque a equipe
médica preferiu retirá-lo
do ventilação e mantê-lo
em cateter nasal para evitar
agravamento da lesão
pulmonar, considerando que
até então o diagnóstico clínico
não estava definido. O sujeito
3 permaneceu em ventilação
mecânica por 4 dias e menos
de 24 horas em FiO2 de 100%,
sendo sua extubação fácil e
sem complicação.
A técnica de cocontração
adotada nesta pesquisa,
com o objetivo de mobilizar
e estimular a criança sob
ventilação mecânica,
demonstrou ser um
procedimento simples e
eficaz na prevenção da
imobilidade dos sujeitos
gravemente doentes, que
não apresentaram reações
adversas ou efeitos colaterais,
como agitação psicomotora,
dor ou desconforto. Não
foi observada alteração
de parâmetros clínicos ou
ventilatórios nos sujeitos da
pesquisa.
Acredita-se que, durante
a contração muscular, o
fluxo sanguíneo diminui
quando a musculatura se
encontra contraída. Entre
as contrações, observou-se
aumento da compressão
muscular sobre os vasos
sanguíneos; mesmo após
interrupção do exercício, o
fluxo ficou aumentado por
algum período20.
Cada vez que membros
inferiores se movem, ocorre
compressão venosa pelos
músculos, levando o sangue
da periferia para o coração
(circulação sistêmica) e
aumentando o débito
cardíaco. O sistema venoso
deve superar a gravidade
para retornar o sangue ao
coração, sendo realizados
quatro mecanismos para
atingir esse fim: tônus venoso
simpático, bombeamento
do músculo esquelético,
sucção cardíaca, diferenças
da pressão torácica causadas
pelos esforços respiratórios15.
O mesmo autor ainda
destaca a importância de se
considerar o efeito de bomba
torácica. Nos pacientes em
VM com pressão positiva,
esse tipo de ventilação
altera a pressão no tórax,
interferindo negativamente
no retorno venoso.
Mesmo sendo o exercício
passivo aplicado nesses
pacientes, não há contração
muscular dos músculos
da panturrilha, e a
articulação é estimulada
proprioceptivamente. Nesse
tipo de exercício, quando se
realiza o movimento passivo,
nos últimos graus, existe uma
resposta reflexa de proteção
à articulação, ocorrendo
uma cocontração muscular
no arco final do movimento
com ativação da bomba sural,
justificando o aumento do
volume de fluxo venoso no
final do arco de movimento.
As técnicas de bag squeezing
e manipulação dos membros
inferiores melhoram tanto a
ventilação alveolar quanto
o mecanismo de perfusão,
auxiliando o aumento da
saturação pós-atendimento.
Conclusão
O âmbito do presente estudo
era verificar se a técnica do
bag squeezing, seguida da
cocontração de MMII em
crianças de 0 a 1 ano, com
ventilação mecânica invasiva
por IRA, apresenta melhora
nos dados clínicos e na
mecânica ventilatória.
Pode-se observar que a
saturação periférica de
oxigênio se elevou após
o atendimento. Os dados
de frequência cardíaca,
pressão arterial sistólica,
pressão arterial diastólica,
complacências pulmonares
estática e dinâmica, volumes
inspiratório e expiratório
não obtiveram valor
significativo, porém todos
os pacientes apresentaram
melhora no quadro clínico
e não efeitos deletérios
que podem aparecer em
execução malrealizada. Não
houve intercorrência ou
óbito durante o atendimento
proposto.
Para maior compreensão
e melhores resultados
estatísticos, seriam
necessárias investigações
envolvendo número maior
de participantes e grupo
controle.
Referências
1. GIL, A. C. Como elaborar
projetos de pesquisa. 4. ed.
São Paulo: Atlas, 2002.
2. THOMAS, Jerry R.; NEL-
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
31
Artigo 3
SON, Jack K. Métodos de
pesquisa em atividade física.
3. ed. Porto Alegre: Artmed,
2002. 419 p.
3. SARMENTO, G. J. V. Fisioterapia respiratória no paciente crítico: rotinas clínicas.
2. ed. São Paulo: Manole, 2007.
4. BEE, Helen. A criança em
desenvolvimento. 9. ed. Porto
Alegre: Artmed. 2003.
5. AMARAL, A. da C. T.;
TABAQUIM, M. de l. M.;
LAMÔNICA, D. A. C. Avaliação das habilidades cognitivas, da comunicação e neuromotoras de crianças com risco
de alterações do desenvolvimento. Revista Brasileira de
Educação Especial, São Paulo,
v. 11, n. 2, maio-ago. 2005.
Disponível em http: <//www.
scielo.br/pdf/rbee/v11n2/
v11n2a3.pdf>. Acesso em:
10/8/09.
6. MACHADO, M. G. R. Bases da fisioterapia respiratória
intensiva e reabilitação. 1. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2008.
7. SHEPHERD, R. B. Fisioterapia em pediatria. 3. ed. São
Paulo: Santos, 1995.
8. KNOBEL, E. Terapia intensiva: pneumologia e fisioterapia respiratória. 1. ed. São
Paulo: Atheneu, 2004.
9. POSTIAUX, G. Fisioterapia respiratória pediátrica: o
tratamento guiado por ausculta pulmonar. 2. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2004.
10. BETHLEM, N. Pneumolo32
gia. 4. ed. São Paulo: Atheneu,
2002.
00200014&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 20/9/2009.
11. CUNHA, M. T.; VIDEIRA,
N. L.; CRISTIANNI, R.; MARTINS, S. R.; CORTE, L. da.
Impacto hemodinâmico e respiratório da técnica de hiperinsuflação manual em crianças sob ventilação mecânica.
Pediatria, São Paulo, 2008.
Disponível em: <http://www.
pediatriasaopaulo.usp.br/
upload/pdf/1246.pdf>. Acesso
em: 20/9/2009
17. CARVALHO, C. R. R.
de; TOUFEN JUNIOR, C.;
FRANCA, S. A. Ventilação
mecânica: princípios, análise
gráfica e modalidades ventilatórias. J. Bras. Pneumol.,
São Paulo, 2009. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S180637132007000800002&lng=
pt&nrm=iso>. Acesso em:
12/10/09.
12. COSTA, D. Fisioterapia
respiratória básica. 1. ed. São
Paulo: Atheneu, 1999.
13. BEHRMAN, R. E.; KLIEGMAN, R. M. Nelson. Tratado
de pediatria. 16. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan,
2002.
14. SARMENTO, G. J. V.;
PEIXE, A. de A. F.; CARVALHO, F. A. de. Fisioterapia respiratória em pediatria
e neonatologia. 1. ed. São
Paulo: Manole, 2007.
15. EGAN, D. F.; SCANLAN,
C. L.; WILKINS, L. R.; STOLLER, J. K. (Col.): Fundamentos da terapia respiratória
de Egan. 7. ed. São Paulo:
Manole, 2000.
18. Markovitz B. P., Randolph
A. G., Khemani R. G. Corticosteroids for the prevention
and treatment of postextubation stridor in neonates, children and adults. Cochrane
Database Syst. Rev., 2008.
Disponível em: <http://
www.ncbi.nlm.nih.gov/
ubmed/18425866?dopt,isrctn.
CD001000>. Acesso em:
10/8/2009.
19. SILVEIRA, I. C. da. O pulmão na prática médica: sintoma, diagnóstico e tratamento.
2. ed. São Paulo: Epub, 2005.
20. GUYTON, A. C.; HALL, J.
E. Tratado de fisiologia médica. 11. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier,
16. LEMES, D. A.; GUIMARÃES, F. S. O uso da
hiperinsuflação como recurso fisioterapêutico em
unidade de terapia intensiva. Revista Brasileira. ter.
intensiva, São Paulo, v. 19,
n. 2, june 2007. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0103-507X20070
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 4
Estudo comparativo da intervenção fisioterapêutica
por meio da psicomotricidade com crianças normais
de 3 meses a 2 anos de idade que apresentam atraso
motor em dois centros municipais de educação
infantil (CMEIs).
Comparative of physiotherapic intervention through psychomove with
regular children from 3 months to 2 years of age that present motor
lateness in two municipal centers of child education (CMEIs).
Cristiane Gonçalves Ribas1
Douglas Cardoso Gasparetto2
Gilvete Dalberti3
Maria Margarete Moura4
Raquel Campos da Serra5
Mestre e professora do curso de
fisioterapia da Faculdade Dom Bosco.
([email protected])
2
Acadêmico do curso de fisioterapia da
Faculdade Dom Bosco.
([email protected])
3
Acadêmica do curso de fisioterapia da
Faculdade Dom Bosco.
([email protected])
4
Acadêmica do curso de fisioterapia da
Faculdade Dom Bosco.
([email protected])
5
Acadêmica do curso de fisioterapia da
Faculdade Dom Bosco.
([email protected])
1
Resumo
Introdução: O
desenvolvimento psicomotor
vem sendo discutido em
diversos estudos encontrados
na literatura. Os primeiros
anos de vida da criança são
essenciais à sua evolução
motora.
Objetivo: Verificar se a
intervenção fisioterapêutica
por meio de estimulação
psicomotora, aliada a
orientações especificas aos
educadores e pais, é mais
eficaz quando comparada
à somente intervenção sem
orientações. Metodologia
A população inicial do estudo
foi composta por 85 crianças
de duas creches municipais.
Após análise dos critérios
de inclusão e exclusão, 66
crianças foram submetidas à
avaliação específica sobre seu
desenvolvimento motor. Do
total de crianças avaliadas, 28
apresentaram atraso motor
no desenvolvimento, sendo
então submetidas a uma
intervenção fisioterapêutica
na psicomotricidade. Numa
das creches foram dadas
orientações complementares
aos pais e educadores. Após
14 atendimentos, as crianças
foram reavaliadas.
à creche onde houve a
estimulação psicomotora
aliada a orientações.
Resultados: Após a
intervenção psicomotora
em ambas as creches, foi
possível constatar que, onde
houve orientações adicionais,
18 crianças evoluíram para
a idade cronológica e 2
continuaram com atraso
motor; em outra creche, 15
crianças evoluíram para
a idade cronológica e 10
continuaram com atraso
motor. Esses dados foram
submetidos a cálculos
estatísticos, cuja comparação
intergrupos apresentou
p-valor de 0,02497 favorável
Abstract
Conclusão: Os resultados
sugerem que a intervenção
fisioterapêutica na
psicomotricidade, aliada
a orientações específicas a
pais e educadores, produz
melhores resultados no
desenvolvimento motor da
criança, comparada a uma
intervenção psicomotora sem
orientações adicionais.
Palavras-chave: atraso
motor, psicomotricidade,
fisioterapia.
Introduction
The psychomove
development has been
discussed in many studies
found on the literature, as
the first years of child life
are essential to their move
evolution.
Objective
Verify if the
physiotherapeutic
intervention by psychomove
stimulation in associated
with specific orientation to
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
33
Artigo 4
educators and parents is
more efficient on child psycho
move development compared
to an intervention without
additional orientations.
Methodology
The initial population
analyzed on the study was
composed for 85 children
from two municipals day
nursery. After analysis of
the inclusion and exclusion
criteria, 66 children were
submitted to further
evaluation of their move’s
development. Among these
children, 28 presented move
lateness in their development.
Those children received
psycho move stimulation by
physiotherapy and in one
of the day nursery parent’s
and educators got orientation
about how stimulate the
children. After 14 attendances
by physiotherapy, the
children were evaluated
again.
Results
In the evaluation files analysis
applied after psycho moves
in both day nurseries was
possible to recognize who’s
had more orientations.
18 children evolved
chronological age and 2
continued with move lateness
as long as the other day
nursery 15 children evolved
chronological age and 10
continued with more lateness.
This data had been submitted
to a statistician calculation
with a group comparison that
presents 0,02497 favorable to
day nursery that held psycho
move stimulation with the
orientations.
34
Conclusion
The results suggested
that physiotherapeutic
intervention by psycho
move along with parent and
educator orientation produce
better results on child
move development when
compared with a psicho
move intervention without
additional orientations.
Key words: move lateness,
psychomove, physiotherapy.
Introdução
Os processos de
desenvolvimento dos
aspectos físicos e emocionais
no ser humano estão em
constante transformação e
evolução, ocorrendo desde
o nascimento até a morte.
Referente aos aspectos
físicos, são extremamente
importantes nos primeiros
anos de vida humana,
porque neles ocorrem os
desenvolvimentos das etapas
fundamentais da evolução
motora, influenciando o
restante da vida.
Le Bouch (2001) considera
que, a partir do nascimento,
o ser humano já começa
a interagir com o meio
onde vive. Essa interação
do meio e as relações
com outras crianças
influenciam diretamente
sua personalidade e seu
desenvolvimento motor.
Atualmente, a Prefeitura
Municipal de Curitiba
disponibiliza, para as
famílias com dificuldades
socioeconômicas, creches
onde os pais deixam os
filhos enquanto trabalham.
Nessas creches, nem
sempre os educadores
conseguem perceber
dificuldades motoras nos
alunos, ocorrendo atrasos e
dificuldades no aprendizado.
Segundo Halpern et al
(2002), é fundamental
identificar as crianças com
maior predisposição ao
impacto dos atrasos no
desenvolvimento motor no
que se refere à morbidade, a
fim de minimizar os efeitos
negativos decorrentes.
Quanto mais precoce for à
identificação de atraso no
desenvolvimento motor e a
intervenção fisioterapêutica,
menor o impacto desse
problema na vida futura da
criança.
Essas dificuldades dos
educadores e dos pais em
identificar problemas no
desenvolvimento motor
das crianças exigem a
intervenção da fisioterapia
na psicomotricidade, para
identificar e estimular as
crianças com atraso. Só o
estímulo não basta. Também
é necessário orientar pais
e educadores em como
identificar o atraso e
estimular na creche ou em
casa, desse modo prevenindo
e/ou retardando a instalação
do atraso motor.
Magill (2000) enfatiza a
importância do fisioterapeuta
que atua na aprendizagem
da criança normal ou que
apresenta algum atraso
motor. Devem-se observar
as características do
desempenho da criança, em
casa e na creche.
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 4
Fonseca (1998) considera
a educação psicomotora
uma formação de base
indispensável a toda criança,
normal ou com problemas.
Tem dupla finalidade:
assegurar o desenvolvimento
funcional tendo em conta as
possibilidadea da criança;
ajudar sua afetividade a
expandir-se e a equilibrar-se
mediante intercâmbio com o
ambiente humano.
O problema do
desconhecimento de pais
e educadores sobre o
desenvolvimento motor
da criança, que acaba
prejudicando-a em seu
processo de desenvolvimento
pleno, motivou a realização
deste estudo científico.
Objetivos
Verificar se a intervenção
fisioterapêutica por meio de
estimulação psicomotora,
aliada a orientações
especificas aos educadores
e pais, é mais eficaz quando
comparada à somente
intervenção sem orientações.
Metodologia
A aplicação prática deste
trabalho foi realizada em
dois centros municipais de
educação infantil (CMEIs),
CMEI Conjunto Monteverdi
e CMEI Professora Lygia
Carneiro, ambos no bairro de
Santa Felicidade em Curitiba.
No CMEI Conjunto
Monteverdi, foi aplicada a
intervenção fisioterapêutica
na psicomotricidade,
juntamente com orientações
para pais e educadores de
como auxiliar as crianças no
desenvolvimento motor.
No CMEI Professora Lygia
Carneiro houve somente
aplicação da intervenção
fisioterapêutica na
psicomotricidade.
A escolha do CMEI para
somente a aplicação do
tratamento fisioterapêutico
sem associar orientações foi
feita por sorteio.
No CMEI Monteverdi,
identificaram-se 43 crianças
na faixa etária de 3 meses a
2 anos de idade, a cujos pais
foi entregue ou responsáveis
o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE).
Obtiveram-se 38 autorizações.
Individualmente, aos pais
e educadores foi entregue o
fôlder explicativo sobre como
estimular o desenvolvimento
psicomotor das crianças em
casa e na creche. Logo depois
foi realizada avaliação em
36 crianças para identificar
quantas apresentavam
atraso motor: 22. Ao final
dos 14 atendimentos de 30
minutos realizados duas
vezes por semana, nas
quartas e sextas-feiras, foi
feita a segunda avaliação para
analisar possível evolução
das crianças. No final dos
atendimentos, sobraram 20
crianças.
No CMEI Lygia Carneiro
identificamos 42 crianças na
faixa etária de 3 meses a 2
anos de idade, a cujos pais
ou responsáveis entregamos
o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE),
obtendo 32 autorizações.
Não lhe demos o fôlder
explicativo sobre como
estimular o desenvolvimento
psicomotor das crianças em
casa e na creche. Só houve,
portanto, a estimulação
psicomotora. Em seguida
foi realizada avaliação em
30 crianças para identificar
quantas apresentavam atraso
motor: 26. Também foram
realizados 14 atendimentos
de 30 minutos duas vezes
por semana, nas terças e
quintas-feiras. Depois foi feita
a segunda avaliação para
analisar possível evolução
das crianças. Totalizamos ao
final dos atendimentos 26
crianças.
Os atendimentos em ambos
os CMEIs eram feitos a
crianças de 3 a 12 meses, de
forma individual, e de 1 a 2
anos, em grupos em forma de
circuito psicomotor.
A intervenção fisioterapêutica
na psicomotricidade foi
executada da mesma
forma nas crianças que
apresentaram atraso motor
nos dois CMEIs.
O material utilizado para
avaliar os sujeitos de 3 a 12
meses de idade cronológica
nos dois CMEIs foram a
Escala de Desenvolvimento
Motor de Vítor da Fonseca8
(1998). Para os sujeitos na
faixa etária de 1 a 2 anos de
idade utilizamos a Avaliação
Motora e Reflexa Infantil de
Ribeiro9 (2009).
Os exercícios foram
elaborados com base na
identificação do nível de
atraso motor de cada criança,
que passou a ser estimulada
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
35
Artigo 4
para alcançar a idade motora correspondente à cronológica.
Esses estímulos tiveram como base os aspectos analisados
e descritos nas suas fichas de avaliação conforme Escala de
Desenvolvimento Motor de Vítor da Fonseca8 (1998) e Avaliação
Motora e Reflexa Infantil de Ribeiro9 (2009).
Resultados
Os resultados obtidos após término da aplicação do programa
de tratamento fisioterapêutico de cada CMEI foram analisados e
comparados em sua evolução.
O gráfico 1 apresenta a comparação entre a evolução motora dos
sujeitos do CMEI Conjunto Monteverdi e do CMEI Professora
Lygia Carneiro nos seguintes aspectos:
• Crianças que não evoluíram: no CMEI Professora Lygia
Carneiro, percebe-se 1 criança; no outro CMEI, nenhuma.
• Crianças que não evoluíram o suficiente: no CMEI
Professora Lygia Carneiro, 9 crianças; no outro CMEI, 2.
• Crianças que evoluíram: no CMEI Professora Lygia
Carneiro, 15 crianças; no outro CMEI, 18 crianças.
Comparação da Evolução
18
Quantidade de Pacientes
18
15
15
12
9
9
6
2
3
0
0
1
Não evoluíram
Não Evoluíram o suficiente
Evoluíram
Estágio de Melhora
CMEI – Monteverdi
CMEI – Lygia Carneiro
GRÁFICO 1: Comparação dos resultados da evolução motora entre os centros municipais de educação infantil.
A partir desses dados sobre a evolução dos sujeitos, é possível
comparar, através do teste qui-quadrado, em qual dos CMEIs
ocorreu evolução estatisticamente significativa.
Na tabela 1 observamos
que 2 crianças continuaram
com atraso motor no CMEI
Monteverdi e 10 no outro
CMEI.
No que diz respeito às
crianças que evoluíram para
a idade motora correta, no
CMEI Monteverdi foram 18;
no outro CMEI, 15 crianças.
Comparando estatisticamente
a evolução dos sujeitos de
ambos os CMEIs pelo teste
qui-quadrado, obteve-se o
p-valor de 0,02497 com 5% de
significância.
Esse resultado indica que
o estudo comparativo
dos tratamentos nos dois
CMEIs se distinguem
estatisticamente, mostrando
ser o programa de tratamento
fisioterapêutico aplicado no
CMEI Monteverdi o mais
eficaz.
Como as fichas de avaliação
contêm muitos itens para
análise do desenvolvimento
motor em cada idade
da criança, optamos
por selecionar, avaliar e
comparar, percentualmente,
os principais no aspecto da
evolução dos indivíduos de
1 a 3 anos entre os CMEIs
Professora Lygia Carneiro e
Conjunto Monteverdi.
Seguem exemplos de
exercícios que foram
aplicados para as crianças
na faixa etária de 3 meses a 2
anos de idade.
CMEI
Crianças que continuaram Crianças que evoluíram Resultado com atraso motor
para a idade motora
p-valor
correta intergrupos
Conjunto 2
18
Monteverdi
0,02497
Professora10
15
Lygia Carneiro
TABELA 1: Comparação estatística entre os CMEIs Conjunto Monteverdi e
Professora Lygia Carneiro na evolução do tratamento psicomotor.
36
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 4
Comportamento 1-2 anos
CMEI - LYGIA
CMEI - MONTE
Sujeitos EvoluçãoSujeitosEvolução
1- Passa da posição sentado à de pé.
2- Faz rolar uma bola por imitação.
3- Põe 4 argolas num suporte cilíndrico.
4- Constrói torre de três blocos.
4
5- Faz riscos com lápis ou caneta.
6- Anda autonomamente.
7- Empurra e desloca brinquedos enquanto anda.
8- Dobra-se pela cintura para apanhar objetos,
sem perder o equilíbrio.
100%
100%
75%
75%
9
100%
100%
75%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
75%
100%
TABELA 2: Comparação da evolução motora na faixa etária de 1 a 2 anos de
idade entre as crianças dos CMEIs Professora Lygia Carneiro e Conjunto
Monteverdi.
A tabela 2 e o gráfico 2
mostram a comparação da
evolução motora na faixa
etária de 1 a 2 anos de idade
entre as crianças dos dois
CMEIs, sendo 4 sujeitos
do CMEI Professora Lygia
Carneiro e 9 do CMEI
Conjunto Monteverdi.
Conforme se observa,
todas as crianças do CMEI
Conjunto Monteverdi
evoluíram nos aspectos
analisados; no outro CMEI,
1 criança não evoluiu nos
aspectos 3, 4, 7 e 8.
A tabela 3 (ao lado) e o
gráfico 3 (ao lado) mostram
a comparação da evolução
motora na faixa etária de 2
a 3 anos de idade entre as
crianças dos dois CMEIs,
sendo 10 sujeitos do CMEI
Professora Lygia Carneiro
e 5 do CMEI Conjunto
Monteverdi.
GRÁFICO 2: Comparação da evolução motora na faixa etária de 1 a 2 anos
de idade entre as crianças dos CMEIs Professora Lygia Carneiro e Conjunto
Monteverdi.
Comportamento 2-3 anos
CMEI - LYGIA
Conforme se observa,
todas as crianças do CMEI
Conjunto Monteverdi
evoluíram nos aspectos
analisados; no outro CMEI,
4 crianças não evoluíram
no aspecto 3, 3 crianças não
evoluíram nos aspectos 4,
5 e 7, 2 não evoluíram nos
aspectos 6 e 9.
CMEI - MONTE
Sujeitos EvoluçãoSujeitosEvolução
1- Manipula maçanetas para abrir porta.
100%
2- Salta com os pés juntos sem sair do lugar.
100%
3- Anda à retaguarda.
60%
4- Lança bola para um adulto colocado a 1,5 m 70%
de distância, sem que este tenha
de se mover para pegá-la.
10
5
5- Constrói torre de 5 a 6 cubos.
70%
6- Vira as páginas de livro, uma de cada vez.
80%
7- Dobra papel ao meio por imitação.
70%
8- Chuta uma bola grande parada.
100%
9- Faz preensão do lápis entre o polegar
80%
e o indicador com suporte no médio.
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
TABELA 3: Comparação da evolução motora na faixa etária de 2 a 3 anos
incompletos de idade entre as crianças dos CMEIs Professora Lygia Carneiro
e Conjunto Monteverdi.
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
37
Artigo 4
como palestras, orientações e
troca de experiências com os
educadores.
Em resposta ao tratamento
fisioterapêutico, melhora
o desempenho motor da
criança. Kavalco (2003),
citado por Landmann, Ruzza,
Chesani2 (2009), afirma
que pais, fisioterapeuta e
educadores devem sempre
manter acompanhamento ao
desempenho da criança.
GRÁFICO 3: Comparação da evolução motora na faixa etária de 2 a 3 anos
incompletos de idade entre as crianças dos CMEIs Professora Lygia Carneiro e Conjunto Monteverdi.
Discussão
O objetivo da nossa pesquisa foi comparar se a intervenção
fisioterapêutica por meio de estímulos psicomotores, associada
a orientações a pais e educadores, produz mais resultados
positivos no desenvolvimento psicomotor da criança,
comparada a somente aplicação da fisioterapia convencional.
Os resultados obtidos nesta pesquisa mostram, na tabela 1 e nos
gráficos 1, resultados satisfatórios.
Para obter melhor resultado no tratamento fisioterapêutico
estimulando o desenvolvimento psicomotor das crianças, Souza
e Godoy1 (2005) afirmam que devemos “considerar o indivíduo
como um todo, evitando dissociar o corpo da mente”. Dessa
forma, existe a necessidade de o fisioterapeuta estar incluso na
equipe multidisciplinar de creches e escolas.
Landmann, Ruzza e Chesani2 (2009) dizem que o fisioterapeuta
pode contribuir não só no aspecto ergonômico, mas também
no enfoque de formação continuada aos educadores,
sempre buscando, através de seus conhecimentos a respeito
do desenvolvimento neuropsicomotor normal, facilitar o
aprimoramento de certas habilidades motoras, usando recurso
38
Quanto mais as crianças
do CMEI Monteverdi
recebiam estímulos no
desenvolvimento psicomotor,
tanto da fisioterapia (duas
vezes por semana), pais em
casa e educadores na creche,
mais rápido seu sistema
nervoso central (SNC) e suas
habilidades psicomotoras
se desenvolviam em relação
aos de outras crianças do
CMEI Lygia Carneiro,
que só recebiam estímulos
psicomotores duas vezes por
semana.
Isso justifica o resultado da
tabela 1: o CMEI Monteverdi
teve menor número de
crianças que não evoluíram o
suficiente e o maior número
de crianças que evoluíram
para a idade cronológica,
comparado ao CMEI Lygia
Carneiro. Assim, alcançamos
o objetivo principal da
pesquisa.
No CMEI Lygia Carneiro,
o desempenho das crianças
que não evoluíram o
suficiente para a idade
cronológica (gráfico 1) foi
maior que no outro CMEI.
Existem fatores sociais,
econômicos e biológicos que
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 4
alteram e/ou influenciam no
desenvolvimento motor da
criança.
A falta de conhecimento e
instrução de educadores e
pais pode ter influenciado
negativamente de alguma
maneira nos resultados
obtidos na pesquisa, com
relação ao desenvolvimento
das crianças no CMEI Lygia
Carneiro.
Bradley e Vandell6 (2007),
citado por Santos et al3
(2009), “afirmam que as
experiências da criança
na creche interagem com
suas experiências na
família e com as próprias
características da criança para
produzir os resulta¬dos no
desenvolvimento”.
Já para Belsky et al4 (2007),
a qualidade dos cuidados
prestados adequadamente às
crianças nos primeiros anos
de vida é muito importante.
A família é o alicerce de
maior consistência no
desenvolvimento da criança.
Souza e Godoy1 (2005)
relatam: “A interação entre
técnicas fisioterapêuticas
e a psicomotricidade pode
tornar o tratamento mais
efetivo e significativo tanto
para o paciente como para o
fisioterapeuta”.
Para Bernardi5 (2007),
o fisioterapeuta busca,
baseado numa visão global
e em seus conhecimentos a
respeito do desenvolvimento
neuropsicomotor, facilitar a
aquisição e o aprimoramento
de certas habilidades e
conceitos necessários ao
processo de desenvolvimento
motor.
Nos itens analisados, o CMEI
Monteverdi deveria ter
obtido melhores resultados,
se os educadores na creche
e os pais em casa estivessem
dando os estímulos cabíveis,
ao contrário do que ocorreu
no CMEI Lygia Carneiro.
Esses resultados são
justificados, pois os
pesquisadores deste estudo
não tiveram nem poderiam
ter acompanhamento
no âmbito familiar e na
creche, pois estávamos
desenvolvendo a pesquisa
duas vezes por semana em
cada CMEI.
Também podemos dizer que
as crianças que não evoluíram
satisfatoriamente para atingir
a idade cronológica em
ambos os CMEIS, mais do
CMEI Lygia Carneiro estão
ligados a fatores preexistentes
em que nós, na condição de
fisioterapeutas, não podemos
interferir, como por exemplo,
casa e condições em que vive,
com quem vive, com quantas
semanas de gestação nasceu,
tipo de alimentação, entre
outros.
Santos et al3 (2009) afirmam
que a ocorrência de algumas
situações familiares
potencialmente desfavoráveis
(pais adolescen-tes, baixa
escolaridade materna), baixa
condição socioeconômica,
baixa renda amplifica a
vulnerabilidade biológica da
criança, levando a resultados
desfavoráveis no seus
desenvolvimento.
Halpern et al7 (2000) também
refere que a pobreza e seus
problemas associados com
alimentação inadequada,
condições sanitárias e de
higiene insatisfatórias,
educação dos pais e
inadequada estimulação
no lar são considerados os
mais importantes fatores de
risco ao desenvolvimento da
criança.
Outro fator que altera esse
desenvolvimento infantil:
muitas vezes, os centros
municipais de educação
infantil precisam suprir a
ausência de companhia e
afeto dos familiares, por
não poderem estar com seus
filhos durante o dia.
Já Biscegli et al (2003), citado
por Santos et al3 (2009), diz
que o tempo de exposição
à creche, a qualidade da
atenção recebida pela criança
nesse ambiente talvez
expliquem, ao menos em
parte, os constantes atrasos
no seu desenvolvimento.
Campos, Füllgraf e Wiggers10
(2006) mostram que as
educadoras têm dificuldade
de superar as rotinas
empobrecidas de cuidados
com alimentação e higiene
para incorporar práticas que
levem ao desenvolvimento
integral.
Conclusão
Pode-se concluir que a
intervenção fisioterapêutica
junto com orientações a pais
e educadores tiveram melhor
resultado estatisticamente
do que só a intervenção
fisioterapêutica. No CMEI
Conjunto Monteverdi, que
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
39
Artigo 4
teve essa intervenção com
os pais e educadoras, das 20
crianças estimuladas, todas
evoluíram, apenas duas não
evoluíram o suficiente para
considerá-las sem atraso
motor.
No CMEI Lygia Carneiro, as
crianças também evoluíram,
mas não o suficiente,
comparado ao outro CMEI.
Com base na literatura
encontrada, nossos resultados
foram muito satisfatórios,
podendo afirmar que
o objetivo principal foi
alcançado.
O fisioterapeuta tem de se
conscientizar da necessidade
de estar sempre atualizado
com os avanços da ciência
para aperfeiçoar sua prática
diária, bem como da melhor
maneira de atuar junto à
equipe multidisciplinar,
para utilizar procedimentos
cuja eficácia responda às
evidências científicas.
Concluiu-se que a maturação
do SNC é um elemento de
importância critica para a
evolução motora. Percepção,
cognição, experiência e
ambiente também devem
ser reconhecidos como
fatores determinantes para o
desenvolvimento motor.
O fisioterapeuta prepara a
criança para uma função,
mantém as já existentes ou
as aprimora, trabalhando
sempre com a finalidade
de obter um programa de
tratamento eficiente.
Também se observa a
necessidade de haver um
psicomotricista dentro dos
40
CMEIs. Que esse profissional
possa ser um fisioterapeuta
com conhecimentos sobre
o assunto, atuando em
conjunto com o pedagogo, o
psicólogo, os educadores e os
pais entre outros, com vistas
a oferecer melhor qualidade
no desenvolvimento motor
da criança.
Com este estudo conclui-se
ser de extrema importância
a permanência de um
fisioterapeuta que possa
acompanhar os dois turnos
das crianças que frequentam
os centros municipais de
educação infantil, para o
trabalho ser mais amplo e
eficaz.
Outra hipótese para novas
pesquisas é ter número igual
de crianças na mesma faixa
etária em ambos os CMEIs.
Os dados estatísticos seriam
mais fidedignos.
Sugere- se também para
uma nova pesquisa que
seja feita uma coleta
investigativa de dados
para verificar se as crianças
nasceram prematuras, de
pais separados ou pais
adolescentes, com quem
vivem, para quantificar
possíveis causas do atraso
motor das crianças.
Referências
1. SOUZA, H. A.; GODOY,
J. R. P. A psicomotricidade
como coadjuvante no tratamento fisioterapêutico. Revista Ciências da Saúde, Brasília,
v. 3, n. 2, p. 287-296, 2005.
2. LANDMANN, L. M.;
RUZZA, P.; CHESANI, F.
H.; Espaço educacional e a
possibilidade de atuação do
fisioterapeuta. Ciências &
Cognição, Rio de Janeiro, v.
14, n. 3, 2009 nov.
3. SANTOS, D. C. C.;
TOLOCKA, R. E.; CARVALHO, J.; HERINGER, L. R. C.;
ALMEIDA, C. M.; MIQUELOTE, A. F. Desempenho
motor grosso e sua associação
com fatores neonatais, familiares e de exposição à creche
em crianças até três anos
de idade. Revista Brasileira
Fisioterapia, São Paulo, São
Carlos, v. 13, n. 2, p. 173-179,
2009 mar./abr.
4. BELSKY, J.; VANDELL,
D. L., BURHINAL, M.;
CLARKE-STEWART, K. A.;
McCARTNEY, K.; 23. Owen
MT. Are there long-term effects of early child care? Child
Dev., 78(2):681-701, 2007.
5. BERNARDI, D. F.; A criança com variação intelectual:
o fisioterapeuta na equipe
multidisciplinar com enfoque
escolar. Revista de Ciências
Biológicas e Saúde. v. 2, n. 2;
2007.
6. BRADLEY, R. H.; VANDELL, D. L. Child care and
the well-being of children,
arch 22. Pediatr Adolesc
Med., 161(7):669-76, 2007.
7. HALPERN, R.; GIUGLIANI, E. R. J.; VICTORIA, C.
G.; BARROS, C. F.; HORTA,
L. B. Fatores de risco para
suspeita de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor
aos 12 meses de vida. Revista
Chilena de Pediatria, Santiago,
v. 73, n. 5, p. 529-539, 2002.
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 4
8. FONSECA, V. Psicomotricidade: filogênese, ontogênese
e retrogênese. 2. ed. Porto
Alegre: Artes Médicas, 394 p,
1998
9. RIBEIRO, M. A. In: BLY, L.
Motor skills acquisition in the
first year. Tucson/Arizona:
Therapy Skill Builders. 1994.
10. CAMPOS, M. M.; FÜLLGRAF, J.; WIGGERS, V. A
qualidade da educação infantil brasileira: alguns resultados de pesquisa. Caderno de
Pesquisa 36 (127):87-128, 2006.
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
41
Artigo 5
Classificação internacional de funcionalidade,
incapacidade e saúde: perspectivas emergentes
para a fisioterapia
International Classification of Functioning, Disability and Health:
emergent perspectives for the physiotherapy
Eduardo Santana de Araujo¹
¹ Mestre em Saúde Pública pela USP e
Professor da UNIP. [email protected]
Resumo
Fisioterapeutas são profissionais intimamente ligados
à funcionalidade humana. A
CIF pode auxiliar na obtenção
de dados epidemiológicos
sobre funcionalidade e incapacidade de populações.
As estatísticas mundiais que
permitem comparações entre países e continentes são
baseadas em informações de
mortalidade. Praticamente,
todos os países usam as informações de morbidade para
pagamento dos serviços de
saúde prestados. Estatísticas
de morbidade possibilitam
conhecer melhor o que acontece na população, embora de
forma limitada, pois apenas
um diagnóstico inicial não
fornece meios para acompanhar o que acontece com
a pessoa durante a evolução
da doença. Para tanto, devese utilizar uma classificação
adequada para fazer esse
acompanhamento. Na prática
clínica do fisioterapeuta,
alguns aspectos têm especial
importância, como no caso do
diagnóstico, a partir do qual
esse profissional determina os
objetivos de tratamento e os
critérios de alta. Muitas vezes,
os critérios de alta não estão
42
relacionados com a cura de
determinada doença, visto
esta não ser o foco da atuação
fisioterapêutica na grande
maioria das vezes. O diagnóstico cinesiológico-funcional
(CIF) unifica a linguagem
diagnóstica em fisioterapia
e em outras áreas da saúde
funcional, de forma a respeitar linguagem padronizada
internacionalmente, criada
pela Organização Mundial
da Saúde. A fisioterapia tem
expectativas extremamente
positivas e necessidades iminentes com a adoção da CIF
no Brasil e no mundo, tais
como identificação dos diagnósticos cinesiológico-funcionais por meio de um sistema
de codificação e inserção da
CIF nos cursos de graduação
e pós-graduação em fisioterapia.
Abstract
The physiotherapists are professionals intimately linked to
human functionality. The ICF
can assist in achieving epidemiological data on functionality and inability to populations. Global statistics that
enable comparisons between
countries and continents are
based on information from
mortality. Practically, all
countries use information of
morbidity for payment incurred. For morbidity Statis-
tics allow you to learn more
about what happens in the
population. However, these
are limited because, from an
initial diagnosis, it is not possible to monitor what happens with the person during
the evolution of the disease.
For this purpose, a classification capable of allowing such
monitoring is necessary. In
the clinical practice of physiotherapist, some aspects are
particularly important, as is
the case of diagnosis. From
this, the physiotherapist
determines the goals of treatment and the criteria for the
end of the treatment. Often,
the criteria is not the cure of
disease, because this is not
the focus of physiotherapists
actuation. The name given to
this diagnosis is functional/kinesiologic diagnosis. The ICF
is able to unify the language
in physiotherapy and other
functional areas of health, so
that an internationally standardized language, created by
the World Health Organization. The physiotherapy has
extremely positive expectations and imminent needs
with the adoption of ICF in
Brazil and worldwide, such
as identification of diagnostics through a coding system
and inserting ICF undergraduate and postgraduate
courses of physiotherapy.
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 5
Introdução
O surgimento da classificação
internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde
(CIF) tem estreita relação com
um fato marcante da epidemiologia no século passado:
a transição epidemiológica e
demográfica.
Observando-se a história, é
possível identificar ainda que
existe uma correlação direta
entre os processos de transição epidemiológica e demográfica (CHAIMOWICZ,
1997). Em geral, as transformações demográficas, sociais
e econômicas ocorrem em
conjunto com mudanças ocorridas no tempo quanto aos
padrões de morte, morbidade
e invalidez, que caracterizam
uma população específica.
Essa é a chamada transição
epidemiológica (OMRAM,
1971). O processo engloba três
mudanças básicas: substituição das doenças transmissíveis por doenças nãotransmissíveis e causas externas;
deslocamento da carga de
morbimortalidade dos grupos
mais jovens para os grupos
mais idosos; transformação de
uma situação em que predomina a mortalidade para
outra na qual a morbidade é
dominante (SCHRAMM et al,
2004).
O aumento da prevalência
de doenças crônicas fez o
diagnóstico cinesiológico-funcional e o das incapacidades
ganharem muita importância, pois a qualidade de vida
tende a ser um dos focos
principais para se determinar
o estado de saúde de uma
população. Apenas indicando
a classificação internacional
de doenças (CID-10), não é
possível obter informações
sobre isso. A intenção da
Organização Mundial de
Saúde (OMS) é que o uso da
classificação internacional
de funcionalidade, incapacidade e saúde (CIF) possa, em
conjunto com outras classificações da família de classificações internacionais da
OMS, favorecer um melhor
entendimento sobre a saúde
das populações, de acordo
com as necessidades atuais.
O envelhecimento rápido
da população brasileira,
desde a década de 1960, faz
a sociedade deparar-se com
uma demanda por serviços
de saúde e sociais outrora
restrita aos países desenvolvidos. O estado, ainda às voltas
em estabelecer o controle
das doenças transmissíveis
e a redução da mortalidade
infantil, não foi capaz de
desenvolver e aplicar estratégias para a efetiva prevenção
e tratamento das doenças
crônico-degenerativas e suas
complicações, levando a uma
perda de autonomia e qualidade de vida (CHAIMOWICZ, 1997). Com o passar dos
anos e a continuar nesse ritmo, a qualidade de vida aqui
passará a ser um dos fortes
determinantes da condição de
saúde da população.
O antigo processo linear,
que colocava a doença como
único ponto de partida para
a geração de incapacidade e
desvantagem, não é mais tido
como verdadeiro. Segundo
o modelo da CIF, a doença
é vista apenas como um dos
fatores influenciadores da
saúde e divide espaço com os
fatores ambientais, incluindo
os sociais, e com os fatores
pessoais. Fatores do contexto
aos quais aqui se fazem referência: acesso aos serviços de
saúde, a medicamentos, paz,
habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema
estável, recursos sustentáveis,
justiça social, equidade, entre
outros. A principal debilidade
do esquema teórico da transição epidemiológica seria
enfatizar a tecnologia como
principal alternativa interveniente no curso da transição,
desconsiderando o papel que
as variáveis econômicas e
sociais desempenham nesse
processo (BARRETO e CARMO, 1995).
Os fisioterapeutas são profissionais intimamente ligados
à funcionalidade humana. O
uso da CIF em fisioterapia
pode auxiliar na obtenção de
dados epidemiológicos sobre
funcionalidade e incapacidade de populações.
CIF – modelo e importância
epidemiológica
Como a CIF é uma classificação específica de funcionalidade e incapacidade,
as condições que passaram
a existir devido à transição
epidemiológica, estando elas
diretamente relacionadas
com a presença de doença ou
não, podem ser identificadas
e monitoradas. A fisioterapia e as outras profissões
da área de saúde funcional
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
43
Artigo 5
ganham grande importância
no diagnóstico dos distúrbios
cinesiológico-funcionais e na
prevenção das incapacidades.
Paralelamente, pode-se considerar que os fatores sociais
determinantes da saúde
também influenciam na incapacidade e na funcionalidade.
Por sua vez, a CIF é um instrumento capaz de identificar
e monitorar esses fatores, por
codificar a acessibilidade a
diferentes tipos de serviço,
por exemplo.
O que se considera “estado
de saúde” de uma população
é, atualmente, avaliado sob
os aspectos de morbidade e
mortalidade, mediante uso da
CID-10. A necessidade atual,
porém, é ir além de saber
quais doenças as pessoas têm
e de que problemas elas morrem. É preciso saber como
estão vivendo.
As estatísticas mundiais que
permitem comparações entre países e continentes são
baseadas em informações de
mortalidade. Praticamente,
todos os países usam as informações de morbidade para
pagamento dos serviços de
saúde prestados. Estatísticas
de morbidade permitem conhecer melhor o que acontece
na população que tem um
agravo à saúde, sem levá-la à
morte. Os recursos atuais para
classificação de morbidades
são limitados, considerando
que um diagnóstico inicial,
ainda que o indivíduo viva
mais da metade de sua vida
com o mesmo diagnóstico,
não dá condições para acompanhar o que acontece com
ele durante a evolução da
44
doença. Isso exige adotar uma classificação que possibilite esse
acompanhamento.
Estudos realizados pela Organização das Nações Unidas
(ONU), no início da década de 80, revelaram muitas estatísticas
nacionais sobre pessoas com deficiência que poderiam ajudar
significativamente os planejadores e formuladores de políticas
governamentais em sua preparação de programas voltados à
deficiência. Até então, os dados disponíveis em vários países
haviam sido subutilizados como meio para desenvolver programas para pessoas com deficiência. De acordo com os peritos
que examinaram a disponibilidade dos dados, dois importantes
problemas pareciam ser a falta de coordenação entre coletadores de dados, planejadores e falta de treinamento para analisar
os dados existentes (SWANSON et al, 2003).
Havia, então, muitas diferenças em como expressar as deficiências nos diversos países, o que tornou impossível a comparação
de dados. Uma classificação que consiga padronizar a linguagem seria essencial para permitir a conquista desse tipo de
informação. A CIF unifica a linguagem clínica e epidemiológica
e traz um padrão para expressar a funcionalidade e a incapacidade de indivíduos e de populações.
CONDIÇÃO DE SAÚDE (transtorno ou doença)
FUNÇÃO E ESTRUTURA
DO CORPO (deficiência)
ATIVIDADE
(limitação)
FATORES AMBIENTAIS
PARTICIPAÇÃO
(restrição)
FATORES PESSOAIS
Adaptação: OMS (2001)
Figura 1 – Interação entre os componentes da CIF.
O modelo multidirecional (Figura 1) reflete o pensamento
para a codificação com a CIF. O modelo não tem um ponto de
partida. O problema pode iniciar em qualquer um dos itens e
gerar repercussões em qualquer outro ou nele próprio. Fatores
ambientais podem gerar alterações funcionais e estruturais, que
podem gerar limitação da atividade. Uma alteração funcional
pode gerar outra alteração funcional e facilitar o aparecimento
de doenças. O desenvolvimento desses problemas, mesmo se
iguais, terão evolução diferente em diferentes pessoas, quando
considerados os fatores pessoais.
Esse modelo reflete um novo paradigma, diferente do antigo,
que era baseado no pensamento linear de que a doença (ou
condição de saúde) era o ponto de partida para alterações
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 5
funcionais ou estruturais
que levavam às limitações de
atividades, o que levava às restrições da participação social
(ou desvantagem).
O novo modelo representa
uma evolução para a formação do fisioterapeuta e
a evolução de sua prática
clínica.
A 54ª Assembleia da Organização Mundial de Saúde, em
maio de 2001, aprovou esse
modelo. O uso dessa classificação foi recomendado para
os países-membros através
da resolução WHA54.21, base
da Resolução Coffito, que
adota a CIF na linguagem
para o referencial nacional de
honorários fisioterapêuticos
(RNHF).
As classificações das áreas
da saúde facilitam o levantamento, a consolidação, análise
e interpretação de dados, a
formação de bases nacionais
consistentes, além de permitir
a comparação de informações
de saúde sobre populações ao
longo do tempo entre regiões
e países (FARIAS, 2005).
A CIF assume posição neutra em relação à etiologia,
diferente da CID-10, de modo
que os usuários podem desenvolver inferências causais
usando métodos e técnicas
adequados (OMS, 2003). De
qualquer modo, a funcionalidade e a incapacidade podem
estar associadas às doenças
ou ser decorrentes delas.
Assim, a CIF e a CID-10 são
complementares, apesar de
totalmente possível sua aplicação avulsa.
CIF é uma classificação hi-
erarquizada que utiliza um
sistema alfanumérico. As letras b, s, d e e indicam, respectivamente, funções do corpo,
estruturas do corpo, atividades e participação, fatores
ambientais. Elas são seguidas
por um código que começa
com o número do capítulo
(um dígito), seguido pelo segundo nível (dois dígitos), pelo
terceiro nível (um dígito) e
pelo quarto nível (um dígito).
Esses níveis existem porque
categorias mais amplas podem ter subcategorias mais
detalhadas. Por exemplo, a
categoria mobilidade, que
está dentro de “atividades
e participação”, tem subcategorias como andar, sentar-se
e transportar objetos. A um
indivíduo podem ser atribuídos códigos de diferentes
níveis, que podem ser independentes ou estar inter-relacionados.
Os códigos só estão completos com a presença do
“qualificador”, que indica a
magnitude do nível de saúde.
Por exemplo, gravidade do
problema. Os qualificadores
são representados por um
ou mais números, colocados
após o código e separados
por um ponto. Qualquer
código deve estar acompanhado de um qualificador, sob
pena de ficar sem significado
(OMS, 2003).
Exemplo: b450.3 – tosse ineficaz.
Nesse caso, a letra b representa o componente de funções do corpo; o número 4
(primeiro nível) representa o
capítulo 4 da parte de funções do corpo: funções dos
sistemas cardiovascular,
hematológico, imunológico
e respiratório; o número 50
(segundo nível) representa
funções respiratórias adicionais (inclui tossir, espirrar
e bocejar); o número 3, que
vem após o ponto, é o qualificador, significando deficiência grave, no exemplo em
pauta.
O qualificador dá sentido ao
código, indicando, por exemplo, o grau de perda funcional, estrutural ou de perda
da capacidade. Os qualificadores também servem à
classificação das barreiras e
dos facilitadores, mostrando
o impacto dos fatores ambientais e sociais na função,
quando o indivíduo tem
alguma alteração do estado
de saúde (SCHEIDERT, 2003).
Diferentemente da classificação segundo a CID-10, que
se refere a doenças, na qual
cada diagnóstico geralmente
tem apenas um código. Na
CIF, uma alteração funcional
pode ter vários códigos de
cada parte da classificação.
Diagnóstico
em fisioterapia
Na prática clínica do fisioterapeuta, alguns aspectos têm
especial importância, como
no caso do diagnóstico. Este
é a base para o fisioterapeuta
determinar os objetivos de
tratamento e os critérios de
alta. Muitas vezes, os critérios
de alta não estão relacionados
com a cura de determinada
doença, poque a doença não
é o foco da atuação fisioterapêutica na grande maioria
das vezes.
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
45
Artigo 5
O fisioterapeuta faz o diagnóstico chamado cinesiológico-funcional, que diz respeito
aos distúrbios de movimento
e funcionalidade, de forma
a eles poderem ser tratados
pelos recursos da terapêutica
física.
Considerando que as alterações funcionais se interrelacionam, o fisioterapeuta
sempre deve fazer mais de
um diagnóstico no mesmo
paciente. Desse modo, um
paciente a ser submetido ao
tratamento cinesiológico pode
ter vários diagnósticos cinesiológico-funcionais,. todos
expressos em linguagem e
estrutura da CIF.
Os diagnósticos cinesiológicofucionais fazem parte de um
dos itens do modelo multidirecional da CIF: funções e
estruturas do corpo. Além
dos problemas funcionais do
indivíduo, o fisioterapeuta
deve avaliar quais suas limitações e restrições no dia a
dia, de maneira a complementar seu diagnóstico e conhecer
a funcionalidade do paciente,
termo mais amplo e abrangente do que alterações funcionais ou estruturais.
A CIF, então, é capaz de unificar a linguagem diagnóstica
em fisioterapia e em outras
áreas da saúde funcional, de
forma a respeitar a linguagem
padronizada internacionalmente, criada pela Organização Mundial de Saúde.
Conclusões
A fisioterapia tem expectativas extremamente positivas e
46
necessidades iminentes, com
a adoção da CIF no Brasil e
no mundo.
Perspectivas positivas:
- Do ponto de vista epidemiológico, a CIF constitui um
instrumento mais adequado
do que a CID-10, no que se
refere à permissão do conhecimento dos determinantes
da incapacidade, fatores ambientais e sociais. Isso pode
favorecer e facilitar a elaboração de medidas preventivas
mais amplas e efetivas, bem
como nortear os profissionais da saúde funcional na
determinação de condutas
terapêuticas e dos critérios
de alta. A CIF e seu modelo
tornam-se importantes ferramentas epidemiológicas
e clínicas, direcionando o
trabalho na prática da fisioterapia.
- Com o uso dos códigos da
CIF e sua inclusão em bancos
de dados epidemiológicos,
o trabalho do fisioterapeuta pode aparecer com
mais clareza e objetividade,
mostrando a importância
desse profissional para a
sociedade.
- O uso dos códigos ajuda a
identificar as necessidades da
população, principalmente de
serviços de saúde funcional.
- A compreensão da necessidade de contratação de
profissionais de fisioterapia
pelo Sistema Único de Saúde
seria facilitada pela utilização
de códigos e informações
sobre a saúde funcional das
populações.
- A CIF pode servir como
base para o pagamento de
serviços de fisioterapia, os
quais estão erroneamente baseados em códigos da CID-10,
mesmo a doença não sendo
objeto de estudo do fisioterapeuta.
- A CIF fornece linguagem
padronizada para uso em
pesquisas na área de fisioterapia, com possibilidade de
unificar a linguagem das medidas funcionais atualmente
adotadas.
- A estrutura da classificação
traz corpo para os diagnósticos cinesiológico-funcionais,
com uma linguagem universal e padronizada.
Necessidades iminentes:
- Inserir o modelo da CIF e
a aprendizagem de sua utilização nos cursos de graduação e pós-graduação em
fisioterapia.
- Treinar profissionais e professores sobre a utilização da
CIF.
- Utilizar a CIF separadamente da CID-10 num
primeiro momento, para o
modelo conceitual da CIF ser
absorvido e aceito.
- Unir dados da CIF com
dados da CID-10 posteriormente, para melhor compreensão do estado de saúde
de populações.
A adoção de um modelo
único para expressar os resultados de uma avaliação
de funcionalidade e incapacidade permitiria ao fisiotera-
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
Artigo 5
peuta considerar um perfil específico para cada indivíduo,
tendo maiores artifícios para
a construção de um programa
de tratamento centrado nas
necessidades de cada um.
Apesar de não ter sido criada
para tal, a CIF e seu modelo
trazem enorme contribuição
para o crescimento da fisioterapia no Brasil e no mundo,
em todos os sentidos.
Referências
1. BATALHA, F. M. B. A
formação do fisioterapeuta na
UFRJ e a profissionalização
da fisioterapia. Dissertação
(Mestrado) – Instituto de
Medicina Social, UFRJ, Rio de
Janeiro, 2002.
2. BARRETO, M. L.; Carmo
E. Mudanças em padrões de
morbimortalidade: conceitos e
métodos. In: MONTEIRO, C.
(Org.). Velhos e novos males
da saúde no Brasil. São Paulo:
Hucitec, 1995. 17-30.
3. BUCHALLA, C. M. A classificação internacional de
funcionalidade, incapacidade
e saúde. Acta Fisiátrica, 2003,
10(1): 29-31.
4. CHAIMOWISCZ, F. A
saúde dos idosos brasileiros
às vésperas do século 21:
problemas, projeções e alternativas. Revista de Saúde
Pública, 31(2): 184-200.
5. DEFINE, D. V.; FELTRIN,
M. I. Z. A fisioterapia no Brasil. Atualização Brasileira de
Fisioterapia, 1986, 3(4): 22-4.
6. FARIAS, N.; BUCHALA,
C. M. A classificação internacional de funcionalidade,
incapacidade e saúde da Organização Mundial de Saúde:
conceitos, usos e perspectivas.
Revista Brasileira de Epidemiologia, 2005, 8(2): 187-93.
7. FINGER, M. E.; CIEZA,
A.; STOLL, J.; STUCKI, G;
HUBER, E. O. Identification
of intervention categories for
physical therapy, based on
the International Classification of Functioning, Disability
and Health: a Delphi exercise.
Physical Therapy. 2006; 86
(9): 1203-20.
8. FRENK, J. La transicion
epidemiológica em América
Latina. Boletin de la Oficina
Sanitária Panamericana.
111(6): 485-96.
9. GOLDSTEIN, D. N.;
COHN, E.; COSTER, W.
Enhancing participation for
children with disabilities:
application of the ICF enablement framework to pediatric
physical therapist practice.
Pediatric Physical Terapy.,
2004; 1602-0114.
10. Heerkens, Y.; BRUG, Y.
V. D.; NAPEL, H. T.; RAVENSBERG, D. V. past and
future use of the ICF (former
ICIDH) by nursing and allied
health professionals. Disability and Rehabilitation. 2003;
25(11,12): 620-7.
11. HEROLD, C. J. A systematic review of outcomes
assessed in randomized
controlled trials of surgical
intervention for carpal tunnel
syndrome using the International Classifications of Func-
tioning, Disability and Health
(ICF) as a reference tool. BMC
Musculoskeletal Disorders.
2006; 7:96.
12. LAURENTI, R. A mensuração da qualidade de vida.
Revista da Associação Médica
Brasileira. 2003; 49(4): 11-1
13. NORDENFELT, L. Action
theory, disability and ICF.
Disability and Rehabilitation.
2003; 25(18): 1075-9.
14. NOVAES, R. R. J. Pequeno
histórico do surgimento da fisioterapia no Brasil e de suas
antigas entidades representativas. Revista Estudos. Santos,
2000.
15. OMS. Classificação internacional de funcionalidade,
incapacidade e saúde. São
Paulo: Edusp, 2003.
16. PALISANO, R. J. A collaborative model of service
delivery for children with
movement disorders: a
framework for evidencebased decision making.
Physical Therapy. 2006; 86
(9): 1295-305.
17. PAIVA, P. T. A.; WAJNMAN, S. Das causas às consequências econômicas da
transição demográfica no
Brasil. Revista Brasileira de
Estudos Populacionais. 2005;
22(2): 13-15.
18. PEREMBOOM, R. J. M.;
CHORUS, A. M. J. Measuring
participation according to the
International Classification of
Functioning, Disability and
Health (ICF). Disability and
Rehabilitation. 2003; 25: 577-
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
47
Artigo 5
87.
19. REBELATTO, J. R.; BOTOME, S. P. Fisioterapia no
Brasil. São Paulo: Manole.;
1999.
20. OSA, T. E.; BENÍCIO, M.
H. A.; LATORRE, M. R. D.
O.; RAMOS, L. R. Fatores
determinantes da capacidade
funcional entre idosos. Revista Saúde Pública. 2007; 37(1):
24-31.
21. SAMPAIO, R. F.; Mancini,
M. C.; GONÇALVES, G. G.
P.; BITTENCOURT, N. F. N.;
MIRANDA, A. D.; FONSECA,
S. T. Aplicação da classificação
internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde
(CIF) na prática clínica do
fisioterapeuta. Revista Brasileira de Fisioterapia. 2005; 9:
129-36.
26. SCHNEIDERT, M.;
HURST, R.; MILLER, J.;
USTUN, B. The role of environment in the International
Classification of Functioning,
Disability and Health (ICF).
Disability and Rehabilitation.
2003; 25: 588-95.
27. STEINER, W.A.; RYSER,
L.; HUBER, E.; UEBELHART,
D.; AESCHLIMANN, A.;
STUCKI, G. Use of the model
as a clinical problem-solving
tool in physical therapy and
rehabilitation medicine.
Physical Therapy. 2002; 82
(11):1098-107.
22. SAMPAIO, R. F.; LUZ, M.
T. Funcionalidade e incapacidade humana: explorando o
escopo da classificação internacional da Organização
Mundial de Saúde. Cad.
Saúde Pública. 2009; 25(3):
475-83.
28. SWANSON, G.; CARROTHERS, L.; MULHORN,
K. A. Comparing disability
survey questions in five countries: a study using ICF to
guide compariosons. Informa
Healthcare, Disability and Rehabilitation. 2003; 11:665-75.
23. SANCHEZ, E. L. Histórico
da fisioterapia no Brasil e no
mundo. Atualização Brasileira
de Fisioterapia. 1984.
29. UEDA, S.; OKAWA, Y.
The subjective dimensioning
of functioning and disability:
what is it and what is it for?
Disability and Rehabilitation.
2003; 25: 596-601.
24. SCHAMM, J. M. A.; OLIVEIRA, A. F.; LEITE, I. C. et
al. Transição epidemiológica
e o estudo de carga de doença
no Brasil. Ciência Saúde Coletiva. 2007; 9(4): 897-908.
25. SCHEURINGER, M.;
STUCKI, G.; HUBER, E. O.;
BRACH, M.; SCHWARZ48
KOPF, S. R.; KOSTANJSEK,
N.; STOLL, T. ICF Core set for
patients with musculoskeletal
conditions in early pos-acute
rehabilitation facilities. Disability and Rehabilitation.
2005; 27: 405-10.
and Rehabilitation. 2003; 25:
565-71.
31. USTUN, B.; CHATTERJI,
S.; KOSTANJEK, N. Comments from WHO for the
journal of rehabilitation
medicine special supplement
on ICF core sets. Journal of
Rehabilitation Medicine.
2004; 44: 7-8.
32. WHO. Towards a Common Language for Functioning, Disability and Health
– ICF. Geneva; 2002.
33. OMRAM, A. R. The epidemiologic transition: a theory
of epidemiology population
change. Milbank Memorial
Fund Quartely. 1971; 29 (1):
509-38.
30. USTUN, T. B.; CHATTERJI, S.; BICKENBACH, J.;
KOSTANJSEJK, N.; SCHNEIDER, M. The International
Classification of Functioning,
Disability and Health: a new
tool for understanding disability and health. Disability
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
NORMAS PARA APRESENTAÇÃO
DE ARTIGOS
A revista Fisioterapia em Evidência, editada
pelo curso de Fisioterapia da Faculdade Dom
Bosco, publica artigos originais e de revisão,
relatos de caso, editoriais e cartas ao editor.
Originais que não estiverem de acordo com
as normas desse gênero serão devolvidos
aos autores para adequação, antes de
ter o conteúdo examinado. Os que se
enquadrarem serão submetidos à apreciação
de dois editores, garantindo-se o anonimato
de autores e editores. Dependendo dos
pareceres recebidos, os autores poderão ser
solicitados a fazer ajustes, ainda sujeitos
à aprovação. Uma vez aceito, o texto
será submetido à edição, podendo haver
novamente solicitação de ajustes formais.
Responsabilidade e ética
O conteúdo e as opiniões expressas são
de inteira responsabilidade dos autores.
Artigos de pesquisa envolvendo sujeitos
humanos devem indicar expressa aprovação
do Comitê de Ética em Pesquisas com
Seres Humanos da instituição responsável.
Pesquisas referentes a animais precisam da
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
com Animais.
Formato e conteúdo
Os textos deverão ser digitados em Word 972003, em tamanho A4, com espaçamento de
linhas duplo e fonte 12 tipo Times New Roman.
Exige-se o formato ABNT em todo o texto.
Página de rosto – deve conter:
a) título do trabalho e sua versão para o
inglês;
b) nome completo dos autores com
indicação da titulação acadêmica e inserção
institucional, nome do departamento,
curso ou laboratório dessa instituição,
acompanhado de endereço completo,
incluindo cidade, estado e país;
c) título condensado (máximo de 50
caracteres) – running title;
d) endereços eletrônico e postal do autor
principal;
e) indicação de órgão financiador de parte
ou todo do projeto de estudo, se for o caso.
Resumo – deve permitir visão panorâmica
do trabalho, conter no máximo 250
palavras e versão em inglês. Para os artigos
originais, o resumo deve ser estruturado
em objetivos, métodos, resultados e
conclusões.
Unitermos ou palavras-chave – máximo
de seis, relacionados após o resumo e o
sumário. Como guia, consulte descritores
em ciências da saúde (http://decs.bvs.br).
Estrutura do texto
• Editoriais – a convite do editor, sob
tema específico, devem conter no máximo
duas mil palavras.
• Artigos originais – devem conter
estruturalmente as partes introdução,
objetivos, métodos, resultados, discussão
e conclusão. São contribuições destinadas
a divulgar resultados de pesquisa original
inédita, passíveis de ser replicadas e/ou
generalizadas. Devem atender aos princípios
de objetividade e clareza da questão
norteadora, conter o máximo de cinco mil
palavras; tabelas e figuras não podem
exceder a sete.
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
49
• Relato de caso – com a mesma
estrutura dos artigos originais – no máximo
mil e quinhentas palavras e três tabelas.
Recomenda-se não citar iniciais do paciente.
• Artigos de revisão – compreende
avaliações críticas e ordenadas da literatura
sobre determinado assunto, devendo conter
objetivo (por que a revisão da literatura
foi realizada, indicando se ela enfatiza
algum fator em especial), fonte de dados
(critérios de seleção de artigos e métodos
de extração e avaliação da qualidade
das informações), síntese dos dados
(principais resultados quantitativos e/ou
qualitativos da pesquisa) e conclusões (com
as respectivas aplicações). Incluem-se os
procedimentos adotados e a delimitação
do tema. A extensão limita-se a três mil
palavras.
• Cartas ao editor – comentários,
discussões e críticas a artigos publicados
recentemente nesta revista, relatos de
pesquisas originais ou achados científicos
significativos. Extensão limítrofe de mil
palavras.
Referências
As referências devem seguir o modelo da
Associação Brasileira de Normas e Técnicas
(ABNT). Veja exemplos:
DAHER, S.; MATTAR, R.; SASS, N. Doença
hipertensiva específica da gravidez:
aspectos imunológicos. In: Sass N, Camano
L, Moron AF, editores. Hipertensão arterial
e nefropatias na gravidez. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2006. p. 45-56.
BLIDDAL, H.; HELLESEN, C.; DITLEVSEN,
P.; ASSELBERGHS, J.; LYAGER, L. Soft-laser
therapy of rheumatoid arthritis. Scand. J.
Rheumatol. 1987. 16(4):225-8.
50
HERZOG NETO, G.; CURI, R. L. N.
Características anatômicas das vias
lacrimais excretoras nos bloqueios
funcionais ou síndrome de Milder. Rev.
Bras. Oftalmol. [periódico eletrônico]. 2003
[citado 2006 jul. 22];62(1):[cerca de 5 p.].
Disponível em: <www.sboportal.org.br>.
FREIRE, M. Exercícios aeróbicos e lombalgia
[dissertação]. São Paulo: Disciplina de
Reumatologia, Universidade Federal de São
Paulo, Unifesp, 2000.
SACCO, I.C.N.; COSTA, P.H.L.; DENADAI,
R.C.; AMADIO, A.C. Avaliação biomecânica
de parâmetros antropométricos e dinâmicos
durante a marcha em crianças obesas. In:
VII Congresso Brasileiro de Biomecânica,
Campinas, 28-30 maio 1997. Anais.
Campinas: Editora Unicamp, 1997. p. 447-52.
Agradecimentos
Quando pertinentes, dirigidos a pessoas
ou instituições que contribuíram para a
elaboração do trabalho, são apresentados
ao final das referências.
Apresentação eletrônica da versão final
Após comunicação do aceite ao artigo, o
autor deverá proceder a eventuais ajustes
sugeridos pelos editores, no prazo de cinco
semanas. Com a versão final editada, o
editor poderá solicitar novos ajustes e
esclarecimentos. Neste caso, o prazo será
de duas semanas.
Enviar artigos para
[email protected].
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v.1, n. 2, julho/agosto 2010 | Revista Fisioterapia em Evidência
51