Polimorfismo genético-bioquímico de enzimas em éguas da raça
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Polimorfismo genético-bioquímico de enzimas em éguas da raça
Polimorfismo genético-bioquímico de enzimas em éguas da raça Mangalarga R. de Lima e Silva, J. Bortolozzi1, P. R. R. Ramos, S. M. Dierckx2 Departamento de Fisica e Biofisica, Instituto de Biociencias, UNESP. Botucatu, Sao Paulo, Brasil Genetic-biochemical polymorphism of enzymes in Brazilian Mangalarga mares ABSTRACT. A study was conducted with a group of mares of the Mangalarga breed in Brazil, with the aim of determining the electrophoretic pattern, in polyacrylmide gel, of the enzymes Acid Phosphatase, Alkaline Phosphatase and Peroxidase. Blood plasma samples of 45 mares in reproductive age were used. For Acid Phosphatase, we observed the existence of two alleles, A and B, with allelic frequencies of 0.28 and 0.72, respectively: corresponding to three genotypes AA, AB and BB. Allelic frequency demonstrated that the group was in Hardy-Weinberg-Castle balance. For Alkaline Phosphatase, three genotypes were verified: Type I (HA ), presenting only one band of fast migration; Type II (HA -HA and HA -HA ), presenting two bands, with HA of intermediary position and HA of slower motility; and Type III, presenting all three bands HA , HA and HA . Type I was most frequent, occurring in 21 animals. For Peroxidase, all animals presented a pattern of two bands, designated as genotype I, suggesting that this is a monomorphic locus in the population under study. 1 1 2 1 2 2 1 3 3 3 Key words: Mares, Mangalarga, allelic frequencies, acid phosphatase, alkaline phosphatase, peroxidase ©2002 ALPA. Todos los derechos reservados Arch. Latinoam. Prod. Anim. 2002. 10(3): 149-152 RESUMO: Foi realizado um estudo com uma pequena população de éguas da raça Mangalarga, no Brasil para se determinar os padrões eletroforéticos em gel de poliacrilamida das enzimas fosfatase ácida, fosfatase alcalina e peroxidase. Amostras de plasma sangüíneo foram utilizadas para o estudo de 45 éguas em idade reprodutiva. Para a fosfatase ácida observou-se a existência se 2 alelos A e B, com freqüências alélicas de 0.28 e 0.72 respectivamente; e 3 genótipos AA, AB e BB. A freqüência alélica demonstra que a população se encontra em equilíbrio de Hardy-Weinberg-Castle. Para a fosfatase alcalina constatou-se 3 genótipos: Tipo I (HA ), apresentando apenas uma banda de migração rápida, os genótipos Tipo II (HA - HA e HA – HA ) apresentaram duas bandas, sendo que a banda lenta apresentava diferente razão de migração e um genótipo Tipo III, apresentando as três bandas HA HA e HA . O genótipo mais freqüente foi o Tipo I com 21 animais. Para o loco Peroxidase todos os animais apresentaram um padrão de duas bandas, designado de genótipo I, sugerindo que este loco é monomórfico para a população em estudo. 1 1 2 1 3 , 1, 2 3 Palabras clave: Éguas, Mangalarga, freqüência alélica, fosfatasa acida, fosfatasa alcalina, peroxidase trabalhos entretanto, existem descrevendo o polimorfismo de enzimas em eqüinos. A Fosfatase ácida foi descrita por Podliachouk et al. (1972) que evidenciaram a variabilidade genética desta enzima em cavalos, regida por 2 alelos: AcPA e AcPB, originando 3 genótipos distintos denominados de AA, BB e AB. Isso foi depois confirmado por Nozawa et al. (1988), que utilizando também a técnica de eletroforese, observou para Introdução O polimorfismo bioquímico das proteínas representa um imenso campo de investigação, nos animais. As variabilidades estruturais das proteínas e enzimas, que são determinadas geneticamente, e se encontram nas células, plasma sangüíneo e outros tipos de líquidos orgânicos, têm contribuído para aumentar o número de marcadores genéticos. Poucos Recibido Julio 02, 2001. Aceptado Junio 20, 2002 1 Departamento de Ciências Biológicas, Faculdades de Ciências - UNESP - Campus de Bauru. 2 Departamento de Produção e Exploração Animal, FMVZ, UNERSP - Campus de Botucatu. 149 150 Lima e Silva et al. os mesmos alelos: AcPA e AcPB três genótipos: AA e BB com 2 bandas e o heterozigoto AB com 3 bandas. No mesmo ano, Bengtsson & Sandberg, em gel de amido, obtiveram para a fosfatase ácida padrões de bandas que não coincidiam exatamente com os descritos por Podliachouk et al. (1972), e foram chamados de F, FS e S. Já a fosfatase alcalina foi descrita por Morizono et al. (1976), trabalhando com soro de eqüinos e eletroforese de disco em gel de poliacrilamida quando observaram três padrões de bandas denominados de tipo I, tipo II e tipo III. Num trabalho mais minucioso, Dumas & Spano (1980) analisaram o polimorfismo da fosfatase alcalina em amostras de tecidos, fluído abdominal e soro, utilizando a eletroforese em gel de poliacrilamida. Através da mobilidade das bandas foi possível detectar a origem da fosfatase alcalina no soro de cavalos adultos, éguas gestantes e potros sadios. Eles constataram que no soro de eqüinos adultos a origem mais provável da atividade fosfatase alcalina seria o fígado. Já as éguas gestantes, apresentaram uma segunda banda que migrava com valor Rf próximo ao da variante placentária, indicando que a placenta poderia contribuir com a fosfatase alcalina no soro total, já que apresentavam maior atividade desta enzima que animais não gestantes. Nos potros, embora a fosfatase alcalina apresentasse maior atividade que os animais adultos, sua atividade também teria origem no fígado, além da possível contribuição da medula. Yashiki et al. (1989), utilizando também gel de poliacrilamida separaram a fosfatase alcalina do soro eqüino em duas bandas: tipo I e II, que foram associados com fosfatase alcalina hepática e óssea, respectivamente. Outros trabalhos também tentaram justificar a origem das fosfatase alcalinas como Roger (1976) e Hoffman & Dorner, (1975), que sugerem que a fosfatase alcalina sérica teria origem principalmente no fígado e na medula óssea, e Lee & Kenny (1975), sugerem que a existência dessa segunda banda teria origem medular e uma terceira banda, origem intestinal, sendo que esta última teria seu nível determinado geneticamente, e de baixa freqüência. Essas três bandas também foram observadas em soro humano, por Smith et al (1968), utilizando a técnica de gel de poliacrilamida, que concluiram que essas bandas seriam originárias do fígado, medula óssea e intestino. Este trabalho teve por objetivos analisar o polimorfismo de três sistemas enzimáticos (Fosfatase Ácida, Fosfatase Alcalina e Peroxidase), em éguas da raça Mangalarga. Material e Método Foram utilizadas amostras de 45 éguas da raça Mangalarga, em idade variando de 3 a 19 anos, provenientes de fazendas situadas na região de Botucatu, estado de São Paulo. De cada animal foi coletada uma amostra de sangue (15 mL) por meio de venopunção, em tubo estéril sem anticoagulante. Posteriormente os soros foram separados em alíquotas de 2 mL e estocados em temperatura de –20°C. Para a identificação de todas as enzimas empregou-se a técnica de eletroforese vertical descontínua, em poliacrilamida 10% de concentração no gel separador, em pH alcalino, conforme técnica de Hames & Rickwood (1990). Foi aplicado em cada ponto cerca de 20 L de soro. A corrida durou cerca de 7 horas. Os géis foram corados de maneira específica segundo Vallejos (1983). Em todas as colorações o gel foi posteriormente fixado em solução aquosa de glicerol a 10%. Os padrões obtidos receberam a nomenclatura para a fosfatase ácida empregada por Nozawa et al. (1988), e para a fosfatase alcalina, segundo Morizono et al. (1976). Como não foram encontrados trabalhos relatando polimorfismo genético-bioquímico da peroxidase em animais, utilizou-se a seguinte nomenclatura: para as bandas de maior migração a denominação de F (fast) e para as bandas de migração mais lenta a denominação de S (slow), configurando o genótipo I. Resultados e Discussão 1. Fosfatase Ácida. Três padrões distintos puderam ser evidenciados através da separação eletroforética, com bandas de mesma intensidade de coloração. Esses padrões genotípicos foram designados por AA, AB e BB de acordo com o número de bandas e mobilidade eletroforética apresentada. Dois deles estão ilustrados na Figura 1. O padrão de bandas encontrados discorda dos observados por Podliachouh et al (1972) e Bengtoson & Sandberg (1972). Em ambos os experimentos os pesquisadores empregaram gel de amido, o que pode explicar as diferenças nas mobilidades das bandas. Além disso, as raças estudadas eram diferentes. As freqüências alélicas e os genótipos, encontradas na população estão descritos nas Quadros 1 e 2. As freqüências encontradas para os alelos AcPA e AcPB foram de 0,28 e 0,72 respectivamente, estando a população estudada em equilíbrio de Hardy-Weinberg-Castle (c = 0,15; p = 0,92). Esses dados discordam dos obtidos por NOZAWA et al. (1988), que constataram uma maior freqüência do alelo AcPA (0,967) nos cavalos de Bangladesh. Esse fato provavelmente se deve à diferenças na origem da formação das raças, visto que o cavalo de Bangladesh se originou do cavalo primitivo da Mongólia e o cavalo Mangalarga, que é um animal de sela, tem como ancestral primitivo o cavalo Tarpan. 2. Fosfatase Alcalina. Quatro genótipos distintos foram observados para a fosfatase alcalina. O genótipo Tipo I (HA ), apresentando apenas uma banda de migração rápida, os genótipos Tipo II (HA - HA e HA – HA ) apresentaram duas bandas, sendo que a banda lenta apresentava diferente razão de migração e um genótipo Tipo III, apresentando as três bandas HA HA e HA , como ilustra a Figura 2. Na população de éguas Mangalarga observou-se a ocorrência de 21 animais apresentando o genótipo tipo I, que possui apenas a banda HA1. Segundo Dumas e Spano (1980), Lee e 2 1 1 1, 2 2 3 1 3 , Polimorfismo genético-bioquímico de enzimas em eqüinos da raça Mangalarga 151 Quadro 1. Freqüências alélicas dos locos Fosfatase Ácida (AcP), para a população de éguas Mangalarga. ORIGEM - Sistema Alelo Freqüência Alélica AcP A 0,28 B 0,72 Quadro 2. Teste de Equilíbrio de Hardy-Weinberg-Castle e freqüências alélicas para fosfatase ácida para a população de éguas Mangalarga + Figura 1. Eletroferograma de eletroforese alcalina (pH 8.3), em gel de poliacrilamida, em sistema de tampões descontínuos a 10% de concentração no gel de separação e 2.5% no gel de empilhamento, ilustrando s genótipos de fosfatase ácida. Genótipos Freqüências Alélicas Obs. ORIGEM - Esp. AA 4,0 3,47 AB 17,0 18,06 23,47 BB 24,0 c2 calc. 0,15 (n.s.) gl 2 p 0,69 Quadro 3. Freqüências de genótipo por grupo em porcentagem (%), para Fosfatase Alcalina na população de éguas Mangalarga (P). + Genótipos Figura 2. Eletroferograma de eletroforese alcalina (pH 8.3), em gel de poliacrilamida, em sistema de tampões descontínuos a 10% de concentração no gel de separação e 2.5% no gel de empilhamento, ilustrando s genótipos de fosfatase alcalina. ORIGEM - Nº Animais (%) Tipo I (HA1) 21 46,68 Tipo II (HA1 – HA2) 15 33,33 Tipo II (HA1 – HA3) 7 15,55 Tipo III 2 4,44 animais e no caso do genótipo HA – HA , 7 animais. Esses dados concordam com Roger (1976) e Hoffman e Doner (1975), sendo essa segunda banda provavelmente de origem medular. Ao se analisar o genótipo tipo III constatou-se o aparecimento apenas em 2 animais. Esse mesmo padrão foi observado por Smith et al. (1968), Morizono et al. (1976) e Lee & Kenny (1975), tendo provavelmente origem intestinal. 3. Peroxidase. Constatou-se a presença de padrões de 2 bandas, de iguais mobilidades e colorações, para todos os animais em estudo. Esse genótipo foi designado de genótipo I, e encontra-se ilustrado na Figura 3. Como durante todo o processo de revisão bibliográfica, não foram encontrados trabalhos de eletroforese de peroxidase em animais, e como o loco em estudo é monomórfico, não é possível aferir nada sobre essa enzima. 1 FS FS FS FS FS FS FS FS FS FS FS FS FS + Figura 3. Eletroferograma de eletroforese alcalina (pH 8.3), em gel de poliacrilamida, em sistema de tampões descontínuos a 10% de concentração no gel de separação e 2.5% no gel de empilhamento, ilustrando s genótipos de peroxidase. Kenny (1975) e Yashiki et al. (1989) essa banda seria de origem hepática, e está sempre presente em todos os animais, concordando com os resultados aqui obtidos. Quando analisado o genótipo Tipo II, que apresenta duas bandas, foram encontrados para o genótipo HA - HA , 15 1 2 3 Conclusões Embora o número de amostras tenha sido pequeno pode-se concluir que: 152 1. 2. 3. Lima e Silva et al. Através das técnicas utilizadas classificar os genótipos dos animais através dos padrões eletroforéticos de Fosfatases Ácida e Alcalina. Para o loco Peroxidase todos os animais apresentaram um padrão de duas bandas, designado de genótipo I, sugerindo que este loco é monomórfico para a população em estudo. Foi constatada a ocorrência de polimorfismo genético-bioquímico das enzimas em éguas da raça Mangalarga com os genótipos: fosfatase ácida: AA, AB e BB, e freqüências alélicas: AcP = 0,28 e AcPB =0,72; fosfatase alcalinas: Tipo I, Tipo II e Tipo III. A Literatura Citada Bengtsson, S. B., K. Sandberg. 1972. Phosphoglucomutase polymorphism in Swedish horses. Anim. Blood groups Biochem. Genet., 3:115119. Dumas, M.B., Spano, J.S. 1980. Characterization of equine alkaline phosphatase isoenzymes based on their electrophoretic mobility by polyacrylamide gel disc electrophoresis. Am. J. Vet. Res., v.41, n. 12, p.2076-81. Hames, B.D., Rickwood, D. 1990. Gel electrophoresis of proteins. 2 ed. 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