Ergonomia na Pintura.. - DEMEC
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Ergonomia na Pintura.. - DEMEC
FELIPE MALDONADO GARCIA ERGONOMIA NA PINTURA AUTOMOBILÍSTICA Monografia apresentada ao Departamento de Engenharia Mecânica da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como parte dos requisitos para obtenção do diploma de Engenheiro Mecânico. Orientadores: Prof. Dr. Joyson Luiz Pacheco Porto Alegre 2004 2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Escola de Engenharia Departamento de Engenharia Mecânica ERGONOMIA NA PINTURA AUTOMOBILÍSTICA FELIPE MALDONADO GARCIA ESTA MONOGRAFIA FOI JULGADA ADEQUADA COMO PARTE DOS REQUISITOS PARA A OBTENÇÃO DO DIPLOMA DE ENGENHEIRO MECÂNICO APROVADA EM SUA FORMA FINAL PELA BANCA EXAMINADORA DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA Prof. Dr. Flávio José Lorini Coordenador do Curso de Engenharia Mecânica BANCA EXAMINADORA: Prof. Guido Gabellini UFRGS / DEMEC Prof. José Antônio Esmerio Mazzaferro UFRGS / DEMEC Prof. Vilson João Batista UFRGS / DEMEC Porto Alegre 2004 3 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço a General Motors do Brasil Ltda, por me permitir a utilização de suas instalações e recursos no desenvolvimento deste trabalho, principalmente na condução do estudo de caso no setor de pintura. Ao meu orientador, Prof. Dr. Joyson Luiz Pacheco, por toda a atenção prestada neste estudo e motivação para a orientação e condução do trabalho. Ao meu pai, Gilberto Nordin Garcia, que com seu amor e afeto sempre transmitiu muita força, orgulho e confiança, sem nunca medir esforços para me permitir chegar onde estou hoje. E por fim à minha namorada e fisioterapeuta Cláudia Lucas Pederiva, pelo seu apoio técnico e pessoal na realização deste trabalho, bem como pelo incentivo na continuação da faculdade nos momentos de desânimo. 4 “O homem não é valorizado pelas grandes coisas que faz, mas pelo somatório das pequenas coisas que faz com amor” Autor Desconhecido 5 GARCIA, F. M. Ergonomia na Pintura Automobilística. 2004. 28f. Monografia (Trabalho de Conclusão do Curso de Engenharia Mecânica) – Departamento de Engenharia Mecânica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004. RESUMO Este trabalho apresenta uma revisão de ergonomia e uma metodologia de análise ergonômica de postos de trabalho, a qual é aplicada por meio de um estudo de caso, realizado no processo de manufatura enxuta do setor de pintura automobilística da fábrica da General Motors do Brasil Ltda, na cidade de Gravataí, RS. O estudo de caso é realizado na operação de calafetação manual do assoalho externo, a partir da metodologia proposta. Esta operação foi escolhida em função do alto índice de dores musculares e desconforto por parte dos empregados, comparativamente superiores às outras operações deste setor da empresa. Determina-se a condição inicial da operação e propõem-se modificações, de forma a otimizar a ergonomia da mesma. A partir das modificações, observa-se uma melhor condição ergonômica na operação, o que é evidenciado por melhores impressões dos empregados a respeito do seu ambiente de trabalho. Adicionalmente, obtém-se uma melhoria na qualidade do produto, com menor índice de retrabalhos gerados por problemas operacionais na realização da operação analisada, contribuindo para a redução de custos da empresa. Estes resultados acabam por validar a metodologia de análise ergonômica proposta neste trabalho. PALAVRAS-CHAVE: Ergonomia, Pintura automobilística, Qualidade, Metodologia 6 GARCIA, F. M. Ergonomics in the Automobile Painting. 2004. 28f. Monografia (Trabalho de Conclusão do Curso de Engenharia Mecânica) – Departamento de Engenharia Mecânica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004. ABSTRACT This work presents a revision of ergonomics and a methodology of ergonomic analysis of workstations, which is applied by means of a case study, carried through in the lean manufacturing process of the automobile painting area of General Motors do Brasil Ltda facility, located in the city of Gravataí, RS. The case study is developed in the external underbody manual sealing operation, from the proposed methodology. This operation was chosen in function of the high index of muscular pains and discomfort on the part of the employees, comparativily higher than other operations of this sector of the company. The initial condition of the operation is determined, and modifications are proposed in order to optimize its ergonomics. From the modifications, one better ergonomic condition in the operation is observed, what it is evidenced by better impressions of the employees regarding its environment of work. Additionally, an improvement in the product quality is gotten, with lesser index of reworks generated for operational problems in the accomplishment of the analyzed operation, contributing for the company’s cost reduction. These results finish for validating the methodology of ergonomic analysis proposed in this work. KEYWORDS: Ergonomics, Automobile painting, Quality, Methodology 7 SUMÁRIO RESUMO...................................................................................................................................5 ABSTRACT ..............................................................................................................................6 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................8 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................8 2.1 HISTÓRICO DA ERGONOMIA E DESENVOLVIMENTO ATUAL ..........................8 2.2 DEFINIÇÕES DE ERGONOMIA ...................................................................................9 2.3 TIPOS DE ERGONOMIA .............................................................................................10 2.4 ERGONOMIA APLICADA AO TRABALHO .............................................................10 2.4.1 Ergonomia no trabalho fisicamente pesado............................................................10 2.4.2 Ergonomia no trabalho em altas temperaturas.......................................................11 2.4.3 Biomecânica ............................................................................................................11 2.4.4 Ergonomia no método e na organização do trabalho.............................................11 2.4.5 Melhoria da confiabilidade humana .......................................................................11 2.4.6 Prevenção da fadiga no trabalho ............................................................................11 2.5 TIPOS DE SOLUÇÕES ERGONÔMICAS...................................................................12 2.6 PRINCÍPIOS DE BIOMECÂNICA...............................................................................13 2.6.1. A postura em pé ......................................................................................................14 2.7 PRINCÍPIOS DE ANTROPOMETRIA.........................................................................14 2.8 REVISÃO DE DORT.....................................................................................................15 2.9 FERRAMENTAS AUXILIARES DE ANÁLISE ERGONÔMICA .............................15 3. ESTUDO DE CASO ...........................................................................................................16 3.1 DESCRIÇÃO GERAL DA OPERAÇÃO ANALISADA..............................................17 3.2 CONDIÇÃO ERGONÔMICA INICIAL DA OPERAÇÃO..........................................18 3.2.1. Pincelamento da caixa de roda dianteira...............................................................18 3.2.2. Montagem de tubetes de papelão ...........................................................................19 3.2.3. Pincelamento da caixa de roda traseira e torre do gargalo ..................................19 3.2.4. Pincelamento das junções do painel traseiro.........................................................20 3.3 FATORES COMPLEMENTARES................................................................................20 3.4 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR ........................................21 3.5 INTERVENÇÕES ERGONÔMICAS E MECANISMOS DE REGULAÇÃO.............21 4. DISCUSSÃO DE RESULTADOS.....................................................................................22 5. CONCLUSÕES...................................................................................................................23 6. REFERÊNCIAS..................................................................................................................24 ANEXOS..................................................................................................................................25 ANEXO A – Checklist de Couto (2002) ..............................................................................25 ANEXO B – Critério Semiquantitativo de Moore & Garg ..................................................26 APÊNDICE – Fluxograma de Medotodogia de Análise Ergonômica ....................................28 8 1. INTRODUÇÃO Condições ergonômicas inadequadas de postos de trabalho são fatores que acabam por gerar diversas conseqüências negativas no processo de manufatura de uma indústria como um todo. A indústria automobilística, com a produção seriada em linhas de montagem, caracterizada comumente pelo trabalho repetitivo e padronização das operações e métodos de trabalho, apresenta-se suscetível, por exemplo, a um número elevado de doenças ocupacionais, tais como os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT), com destaque para os distúrbios da coluna vertebral que se constituem no principal acometimento relacionado ao trabalho em todo o mundo (IIDA, 1990). Em muitos casos os DORT acabam por induzir erros humanos no processo de manufatura. Estes erros muitas vezes são evidenciados por meio de problemas de qualidade e necessidade de retrabalhos no produto final, o que acaba por onerar a empresa em custos desnecessários. A redução de condições ergonômicas inadequadas dos postos de trabalho tende a minimizar as doenças ocupacionais e problemas de qualidade. Da mesma forma, os DORT causam absenteísmo, que por sua vez faz com que os empregados que continuam trabalhando sejam sobrecarregados na compensação da ausência dos empregados afastados, tornando-se passíveis de apresentarem, também estes, doenças ocupacionais. Estas podem gerar incapacidades não só no ambiente de trabalho, mas também nas atividades de vida diária dos indivíduos. Dentro deste contexto, percebe-se uma crescente preocupação das empresas em adotar a ergonomia como filosofia gerencial da empresa que faz o que julga ser correto e que procura o lucro, mas o quer legitimado socialmente. Também a preocupação recente com a qualidade de vida no trabalho, nesses tipos de empresas, tem sido um dos fatores decisivos na adoção dos conceitos de ergonomia, conforme afirma Couto (2002). Neste trabalho propõe-se uma metodologia de análise ergonômica de postos de trabalho, a qual é aplicada praticamente na área de pintura automobilística, por meio de um estudo de caso na operação de calafetação manual do assoalho externo. Escolheu-se esta operação em função de apresentar índices de DORT, por parte dos empregados, comparativamente superiores aos verificados nas demais operações deste setor da empresa. Os distúrbios constituem-se basicamente em dores e desconforto na execução das atividades, principalmente em membros superiores e região da coluna vertebral. No estudo de caso é realizada uma diagnose ergonômica inicial da operação e, a partir destes dados, são propostas intervenções que visam uma melhor adaptação do ambiente de trabalho aos empregados e, com isso, uma melhoria na qualidade do produto e a redução dos custos da empresa com retrabalhos. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 HISTÓRICO DA ERGONOMIA E DESENVOLVIMENTO ATUAL Desde civilizações antigas, o homem sempre buscou melhorar as ferramentas e os utensílios da sua vida cotidiana. Existem exemplos de empunhaduras de foices, datadas de séculos atrás, que demonstram a preocupação em adequar a forma da pega às características da mão humana, propiciando mais conforto durante sua utilização (MORAES; MONT’ALVÃO, 1998, COUTO, 2002). Com a Revolução Industrial, a partir do final do século XVIII, o problema de adaptação do trabalho ao homem tornou-se mais evidente e relevante. Máquinas foram criadas, e deu-se origem às primeiras fábricas, que de muito diferem das modernas fábricas hoje existentes; eram barulhentas, escuras e com jornadas de trabalho excessivamente longas, sem paradas 9 para descanso, verificando-se um grande movimento migratório dos trabalhadores do campo para as cidades, em busca de oportunidades de trabalho nas fábricas que começavam a surgir (IIDA, 1990, COUTO, 2002). Este contexto social-trabalhista foi o pano de fundo para o Manifesto Socialista, de Marx e Engels, no final do século XVIV (COUTO, 1995). Já no início do século XX, Fayol, Taylor e Ford introduziram os princípios da Administração Científica, gerando um aumento significativo de produtividade das empresas. Com a eclosão da 2ª Guerra Mundial surgiram aviões cada vez mais velozes e radares para detectar aviões inimigos, além de submarinos, tanques e sonares, que colocavam o homem em situações de extrema pressão ambiental, física e psicológica. Entretanto, muitos destes equipamentos não estavam adaptados às características perceptivas daqueles que os operavam, provocando erros, acidentes e mortes. O projeto de engenharia era eficaz, mas o desempenho do sistema era ineficiente. Era mais simples afirmar que a falha era do homem, o chamado erro humano ou falha humana, que propiciava perdas materiais e humanas, fazendo-se necessário um esforço no sentido de priorizar as pesquisas voltadas para a adaptação dos instrumentos bélicos às características e capacidades do militar, sob o ponto de vista físico, cognitivo e psíquico, visando reduzir as perdas humanas e materiais. Nascia assim a ergonomia (MORAES; MONT’ALVÃO, 1998, PEDERIVA, 2002). Como subproduto desse esforço de guerra, em julho de 1949, em Oxford, Inglaterra, criava-se a sociedade para o estudo dos seres humanos no seu ambiente de trabalho – a Ergonomic Research Society (ERS), congregando psicólogos, fisiologistas e engenheiros, interessados nas questões relacionadas à adaptação do trabalho ao homem (MORAES; MONT’ALVÃO, 1998, IIDA, 1990). O termo ergonomia era utilizado pela primeira vez pelo psicólogo inglês K. F. Hywell Murrel, membro da ERS. O neologismo ergonomia compreende os termos gregos ergo (trabalho) e nomos (regras, leis naturais). O termo ergonomia passou a ser adotado nos principais países europeus, onde se fundou a Associação Internacional de Ergonomia (AIE). Nos Estados Unidos, foi criada a Human Factors Society em 1957, e até hoje o termo mais usual naquele país e no Canadá continua sendo human factors, embora ergonomia já seja aceito como sinônimo (MORAES; MONT’ALVÃO, 1998, IIDA, 1990). O projeto da célula espacial norte-americana (1960) foi o grande evento disseminador da ergonomia mundialmente além da área militar, com os astronautas norte-americanos com força suficiente perante a opinião pública para exigir melhores condições no interior da célula espacial. Isso abriu os olhos dos trabalhadores e empresários de outras áreas, que passaram a considerar a ergonomia uma ciência importante (COUTO, 2002, GUIMARÃES, 2000). Segundo Couto (2002), um grande motivo do rápido desenvolvimento da ergonomia no mundo foram as lesões do sistema osteomuscular, que costumam ser dolorosas e incapacitantes, gerando absenteísmo e originando processos trabalhistas de indenização pelo dano. Assim, um dos motivos da alta difusão da ergonomia foi o custo da não ergonomia. Deve-se ressaltar que muitas empresas adotam a ergonomia porque julgam ser o correto, dentro de uma filosofia gerencial. Além disso, a preocupação recente com a qualidade de vida no trabalho, nestes tipos de empresas, tem sido um dos fatores a incentivar as ações ergonômicas, conforme afirmado por Couto (2002). 2.2 DEFINIÇÕES DE ERGONOMIA Muitas definições podem ser empregadas para ergonomia. São apresentadas aqui as definições que se apresentam mais adequadas ao contexto do trabalho. Assim, a ergonomia pode ser definida como o trabalho interprofissional que, baseado num conjunto de ciências e tecnologias, procura o ajuste mútuo entre o ser humano e seu ambiente de trabalho, de forma confortável e produtiva, basicamente procurando a adaptação do trabalho às pessoas (COU- 10 TO, 2002). Pode ser definida ainda como o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficácia (WISNER, 1987). Em agosto de 2000, a Associação Internacional de Ergonomia adotou a definição apresentada a seguir: “a ergonomia (ou fatores humanos) é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema” (ABERGO, 2003). A ergonomia preocupa-se primordialmente com a adaptação do trabalho ao homem. Isso significa que a ergonomia parte do conhecimento do homem para fazer o projeto do trabalho, ajustando-o às capacidades e limitações humanas. Aqui, quando se fala em trabalho entende-se pelo seu sentido mais amplo, incluindo, além das máquinas e equipamentos normalmente utilizados na transformação de materiais, também toda a situação em que ocorre o relacionamento entre o homem e seu trabalho, seja este relacionamento pelos aspectos físicos ou organizacionais do trabalho (IIDA, 1990). Pode-se considerar que a ergonomia é uma ciência humana aplicada, que objetiva transformar a tecnologia para adaptá-la ao ser humano. Disciplinas como ciências biológicas, psicologia e as ciências da engenharia convergiram para que a ergonomia pudesse conceber produtos e sistemas dentro da capacidade física e intelectual dos seres humanos, tornando o sistema homem-máquina mais seguro, confiável e eficaz. Assim, a ergonomia constitui-se numa parte da arte do engenheiro, à medida que seu resultado se traduz no dispositivo técnico (GUIMARÃES, 2000, WISNER, 1987). 2.3 TIPOS DE ERGONOMIA Cinco formas básicas de ergonomia são propostas por Wisner (1987), sendo elas: - Ergonomia do produto: voltada para a concepção de produtos ergonomicamente adequados à utilização pelos usuários finais dos mesmos. - Ergonomia de produção: aplicada ao processo produtivo propriamente dito, em especial às atividades industriais, em função da extensão do modo industrial de produção. - Ergonomia de correção: visa a correção de inadequações ergonômicas existentes nos meios e processos de trabalho, que se refletem em anomalias ou insuficiência da produção, sob o ponto de vista quantitativo ou qualitativo. - Ergonomia de concepção: atuação diretamente na concepção de produtos e processos de trabalho, visando a concepção de acordo com os conhecimentos ergonômicos existentes. - Ergonomia de mudança: permite freqüentemente reunir as vantagens das outras modalidades de intervenção sem seus inconvenientes, fazendo-se mudanças que podem ser ocasião para uma mudança das condições de trabalho. 2.4 ERGONOMIA APLICADA AO TRABALHO A ergonomia está presente em todas as atividades humanas, mas é no trabalho que se encontra sua maior aplicação prática. A classificação das áreas da ergonomia aplicada ao trabalho pode variar segundo diversos autores, sendo aqui apresentada a classificação proposta por Couto (2002). 2.4.1 Ergonomia no trabalho fisicamente pesado Em gradativa diminuição na sociedade atual, principalmente em função da mecanização do trabalho, uma vez que meios mecânicos são muito mais produtivos que o ser humano em 11 atividades deste tipo. Consiste em definir se o trabalhador tem ou não condições de executar atividades prolongadas com grandes grupos musculares, como por exemplo, motosserristas, carregadores de sacas e trabalhadores rurais em atividades não mecanizadas. 2.4.2 Ergonomia no trabalho em altas temperaturas Com o território brasileiro situado em grande parte na região tropical do planeta, percebe-se ainda diversos problemas ergonômicos nessa área, principalmente nos processos de transformação de metais. Neste tipo de situação, o organismo é obrigado a suar, a fim de manter a temperatura interna do corpo constante. A sudorese excessiva causa a desidratação, que por sua vez diminui a capacidade de trabalho do empregado. 2.4.3 Biomecânica Nesta área estuda-se os esforços realizados pelo trabalhador, o uso da coluna vertebral, o manuseio, levantamento e transporte de cargas, conforto em automóveis, o uso dos membros superiores como ferramentas de trabalho, e mais modernamente os postos de trabalho com computadores. Constitui-se na área de maior aplicação prática nas empresas, principalmente em função da incidência de lesões e distúrbios que afastam o trabalhador de suas atividades e geram prejuízos diversos às empresas. 2.4.4 Ergonomia no método e na organização do trabalho Em métodos, estudam-se sob o ponto de vista ergonômico as ferramentas, dispositivos e posturas do corpo para realizar o trabalho. Em organização do trabalho, estudam-se as formas de obtenção dos resultados prescritos, especialmente a tecnologia, as máquinas, a matériaprima, o material, a mão-de-obra, a manutenção e o meio-ambiente. Um problema em qualquer uma destas citadas pode trazer sobrecarga ao trabalhador, com possibilidade de aparecimento de distúrbios e lesões. Esta área relaciona-se com as demais áreas da ergonomia aplicada ao trabalho de forma muito direta e, por exemplo, um problema de biomecânica pode ser agravado por problemas de organização do trabalho. Pode-se citar como exemplo o caso de ausência de pessoal, que faz com que os outros trabalhadores tenham que controlar processos extras, o que pode ocasionar erro humano na atividade. 2.4.5 Melhoria da confiabilidade humana A ergonomia é uma ferramenta fundamental nos processos de qualidade total e no sucesso dos programas de prevenção de acidentes de trabalho. Na construção de aeronaves, por exemplo, a ergonomia é fundamental no sentido de possibilitar condições que impeçam os pilotos de errarem. 2.4.6 Prevenção da fadiga no trabalho Um dos grandes objetivos da ergonomia é a prevenção da fadiga excessiva, seja ela física, mental ou psíquica, interagindo inclusive com as políticas de gestão de pessoas das empresas neste processo preventivo. Alguns conhecimentos de ergonomia foram convertidos em normas oficiais, com o objetivo de estimular a aplicação dos mesmos. No Brasil, existe a Norma Regulamentadora NR 17 – Ergonomia, estabelecida pela Portaria nº 3.214, de 8.6.1978 do Ministério do Trabalho e Emprego, modificada pela Portaria nº 3.751 de 23.11.1990 do Ministério do Trabalho e Em- 12 prego, a qual é aplicada em certas empresas e setores industriais (DUL; WEERDMEESTER, 1998). Segundo Couto (1995, 2002), a implantação da ergonomia nas empresas pode ser dividida em diversos níveis, implementando-se a ergonomia do nível mais baixo ao mais alto. Os diversos níveis são assim definidos: - Condições primitivas: Muitas empresas ainda apresentam condições de trabalho muito primitivas, que causam dor e desconforto ao trabalhador durante sua jornada de trabalho. - Postos de trabalho: Com as condições primitivas já modificadas, tem-se o que se pode chamar de postos de trabalho, sendo ainda um nível fundamental de atuação. - Ambientes de trabalho: preocupação com as características climáticas, de conforto auditivo e de iluminação para o trabalho. - Métodos de trabalho: Preocupação com a racionalização e redução dos esforços dos trabalhadores, de forma a obter maior conforto e produtividade para o trabalhador. - Organização do trabalho: Preocupação com os impactos sobre as pessoas de falhas na organização do trabalho, planejando-se os meios para a obtenção dos resultados planejados. - Ergonomia da concepção: Análise prévia do impacto das futuras condições de trabalho sobre o trabalhador, com a adoção de medidas preventivas que corrijam os projetos inadequados do ponto de vista ergonômico. Sem custos para a empresa, pois exige apenas conhecimento de ergonomia por parte do projetista. 2.5 TIPOS DE SOLUÇÕES ERGONÔMICAS Com os problemas ergonômicos de uma empresa ou posto de trabalho específico devidamente diagnosticado, intervenções ergonômicas devem ser feitas de forma a solucionar a inadequação ergonômica existente. Como afirmam Pereira (2001) e Couto (1995, 2002), para que isto seja feito de maneira correta, com a melhor relação custo/benefício possível, deve-se conhecer os diversos tipos de soluções ergonômicas e quando utilizar cada um. Os principais tipos de soluções ergonômicas são descritos a seguir: - Eliminação da postura ou movimento crítico: deve-se procurar uma forma alternativa de realizar a operação. Nem sempre é possível eliminar o esforço crítico, mas muitas vezes é possível reduzir a freqüência dos movimentos críticos ao longo da jornada de trabalho. - Pequenas melhorias: estima-se que 50% dos problemas ergonômicos existentes em uma empresa podem ser resolvidos com pequenas melhorias, as quais incluem, mas não se limitam à mudança de altura de máquinas e bancadas de trabalho, mudanças no braço de alavanca de determinado esforço, etc. - Equipamentos e soluções conhecidos: a utilização de equipamentos desenvolvidos no sentido de facilitar a vida do trabalhador deve ser feita, incluindo equipamentos como talhas elétricas e ventosas para manuseio de cargas e balancins para suporte e redução de peso de ferramentas e dispositivos durante sua operação. - Rodízio nas tarefas: funciona como uma forma de reduzir a sobrecarga existente nas diversas operações, não causando sobrecarga a um grupo muscular ou parte do corpo. Operações biomecanicamente críticas sem o rodízio costumam gerar lesões aos trabalhadores, enquanto que com a utilização de rodízio, as lesões tendem a ser reduzidas. Adicionalmente, o rodízio propicia versatilidade no gerenciamento de pessoal, uma vez que com este sistema o treinamento dos trabalhadores deve ser sólido e bem feito, de forma a manter o padrão de qualidade do produto da empresa. - Melhoria na organização do trabalho: se diagnosticados problemas ergonômicos causados por falhas na organização do trabalho, deve-se solucionar estas falhas de forma a melhorar a condição ergonômica da atividade. Equivale a reduzir horas-extras desnecessárias e administrar melhor o sistema produtivo. 13 - Condicionamento físico para o trabalho e distensionamento: muitas operações industriais exigem padrões de movimentos musculares específicos, ou são realizadas em posições forçadas, que exigem ginásticas compensatórias, e há outras tantas em que se percebe um alto componente de esforço muscular estático, exigindo distensionamento. Nestes casos, a condição física das pessoas adota papel fundamental, podendo-se exemplificar neste contexto alguns programas normalmente utilizados pelas empresas, como ginástica laboral, programas de prevenção e combate à obesidade, programas de redução do consumo de cigarro, incentivos à ginástica regular de manutenção da capacidade aeróbica, entre outros. - Orientação ao trabalhador e cobrança de atitudes corretas: Em muitas situações o risco ergonômico existente é dependente do comportamento humano, sendo a solução para tanto a postura adequada do trabalhador no seu posto de trabalho, ou o uso adequado de um recurso ergonômico existente no posto de trabalho, podendo ser ainda a orientação a cerca da técnica correta para execução de um determinado. É importante neste tipo de solução explicar ao trabalhador o porquê de executar o esforço da forma correta. - Pausas de recuperação: Devem ser adotadas quando não se consegue a neutralização dos riscos ergonômicos com os demais tipos de soluções apresentados acima. As pausas devem ser instituídas de forma inteligente, incidindo somente quando houver um número alto de repetitividade e não existirem mecanismos de regulação no próprio trabalho. Conforme afirmam Pereira (2001) e Couto (1995, 2002), as soluções ergonômicas, para serem consideradas adequadas, devem reduzir as queixas de dor, desconforto, fadiga e dificuldade na realização do trabalho, gerando menor cansaço na realização do mesmo. Nestas soluções, é possível, via de regra, demonstrar que o corpo humano está trabalhando em posição biomecanicamente mais confortável. 2.6 PRINCÍPIOS DE BIOMECÂNICA A biomecânica estuda as leis físicas da mecânica aplicadas ao corpo humano, o qual pode, segundo Couto (2002); Dul e Weerdmeester (1998), em muitos aspectos ser comparado a uma máquina, podendo-se estimar as tensões que ocorrem nos músculos e articulações durante uma postura ou movimento. Engenheiros mecânicos têm desenvolvido estudos analisando as características mecânicas desta máquina, o que tem permitido a dedução de diversos conceitos na adaptação do trabalho ao homem. A análise das exigências de trabalho permite que se determine precisamente as dimensões da totalidade dos elementos do posto de trabalho (LAVILLE, 1977). Os princípios importantes da biomecânica para a ergonomia, enunciados por Dul e Weerdmeester (1998) e Guimarães (2001) são apresentados a seguir: - As articulações devem ser mantidas, tanto quanto possível, em posição neutra, pois o centro de gravidade das partes do corpo envolvidas na execução da atividade está alinhado verticalmente, passando o mais próximo possível dos eixos de giro gerados pelas articulações. Isto gera menor momento e, portanto, menos esforço. - Conservar pesos próximos ao corpo, pois quanto mais afastados estiverem do corpo, mais os braços serão tensionados e o tronco penderá para frente, sobrecarregando as articulações e aumentando as tensões sobre as mesmas e seus respectivos músculos envolvidos. - Evitar curvar-se para frente, inclinar a cabeça e torcer o tronco, pois: a) quando o tronco pende para a frente, há contração dos músculos e ligamentos das costas para manter esta postura, aumentando a tensão na parte inferior do tronco; b) quando a cabeça inclina-se mais de 30° para a frente, os músculos do pescoço são tensionados de forma a manter esta postura, provocando dores na nuca e nos ombros, c) quando se torce o tronco causam-se tensões indesejadas nas vértebras, tensionando os discos intervertebrais e submetendo as articulações e músculos a cargas assimétricas. 14 - Deve-se evitar movimentos bruscos, pois ocasionam tensões de grande amplitude e baixo período, em conseqüência da aceleração do movimento. - Alternar posturas e movimentos, pois qualquer postura é mal tolerada se for mantida por períodos de tempo prolongados. A alternância de posturas deve ser sempre privilegiada, pois permite que os músculos recebam nutrientes e não fiquem fatigados (MTE, 2003). A melhor postura para trabalhar é aquela em que o corpo alterna entre as diversas posições (sentado, em pé, andando). Também devem ser concedidas pausas de curta duração, mas com freqüência que permita relaxamento muscular e alívio da fadiga (COUTO, 2002, GUIMARÃES, 2001). - Limitar a duração do esforço muscular contínuo, distribuindo-se o tempo de pausa total dentro da jornada de trabalho. - Evitar o trabalho estático, pois o trabalho dinâmico permite contrações e relaxamentos alternados dos músculos. A postura estática exige níveis baixos, mas constantes de tensão muscular. Este estado prolongado de contração muscular provoca compressão dos vasos sangüíneos, reduzindo o fluxo sanguíneo e o fornecimento de oxigênio e nutrientes aos músculos. Com isto os resíduos metabólicos não são retirados, acumulam-se e levam ao desconforto e à dor, além de gerar fadiga de forma mais rápida que a postura dinâmica. A manutenção de posturas estáticas prolongadas também pode induzir ao desgaste das articulações, discos intervertebrais e tendões (RIO; PIRES, 1999, MTE, 2003). Dentro da biomecânica pode-se fazer referência também a alguns termos próprios utilizados pela fisiologia para designar os movimentos musculares. Movimentos de membros que tendem a se afastar do corpo ou de suas posições normais de descanso chamam-se abdução, enquanto o movimento oposto chama-se adução. O movimento do braço acima da horizontal é elevação. O movimento do braço para a frente é flexão, enquanto o movimento inverso, trazendo o braço de volta para perto do tronco é extensão. No movimento de rotação da mão chama-se pronação quando o polegar gira para dentro do corpo, e supinação quando gira para fora. Quando a perna é esticada tem-se a extensão, e quando a mesma é dobrada tem-se a flexão (IIDA, 1990). 2.6.1. A postura em pé A escolha da postura em pé para utilização nos postos de trabalho tem sido justificada por considerar que, nesta posição, as curvaturas da coluna estejam em alinhamento correto e que, desta forma, as pressões sobre o disco intervertebral são menores que na posição sentada. Os músculos que sustentam o tronco contra a força gravitacional não são muito adequados para manter a postura em pé. Desta forma, tende-se a utilizar alternadamente as pernas como apoio, de forma a facilitar a circulação sanguínea ou reduzir as compressões sobre as articulações (MTE, 2003). A postura em pé apresenta diversas desvantagens, tais como acumulação de sangue nas pernas (favorece surgimento de varizes), penosidade para manutenção de posturas inadequadas dos braços (acima dos ombros), e dores nas articulações que suportam peso. Em função disto, deve-se adotar a postura em pé somente em situações especiais como, por exemplo, operações freqüentes em locais fisicamente separados e operações que exijam alcances amplos e freqüentes, em posições diversas (MTE, 2003). 2.7 PRINCÍPIOS DE ANTROPOMETRIA A antropometria trata de medidas físicas do corpo humano, através de uma leitura de parte ou de toda a população de um determinado local (IIDA, 1990). Para um trabalho eficiente, é imprescindível a adaptação física do local de trabalho às medidas do corpo humano (GRANDJEAN, 1998). 15 As mais importantes diferenças entre as medidas do corpo em diferentes indivíduos são dadas por diferenças entre sexo, idade, cultura e etnia. A título de exemplo, pode-se citar que quanto maior a idade de um indivíduo, menores os comprimentos dos seus segmentos corporais e maior o seu peso e circunferência corporal (GRANDJEAN, 1998). Segundo Iida (1990), o primeiro passo a ser adotado é a definição de onde ou porque serão utilizadas as medidas antropométricas. A partir desta definição, recorre a aplicação da antropometria estática, dinâmica ou funcional, as variáveis a serem medidas e os detalhamentos ou exatidões necessários a estas medidas, do ponto de vista dimensional. A antropometria estática é aquela em que as medidas referem-se ao corpo parado ou com poucos movimentos, enquanto que a dinâmica mede os alcances dos movimentos. Na antropometria dinâmica, os movimentos de cada parte do corpo são medidos mantendo-se o restante do corpo estático. Já na antropometria funcional considera-se as medidas relacionadas com a execução de tarefas específicas, uma vez que cada parte do corpo não se move isoladamente, mas mediante uma conjugação de diversos movimentos (IIDA, 1990). A definição das medidas envolve descrição de dois pontos, entre os quais serão realizadas as medidas. Cada medida a ser efetuada deve especificar claramente a sua localização no corpo humano a partir de uma referência (piso, assento, etc), direção (horizontal, vertical, etc) e postura adotada pelo indivíduo durante a medição (sentado, em pé, etc) (GRANDJEAN, 1998, IIDA, 1990). 2.8 REVISÃO DE DORT O conjunto de doenças que são inflamações não infecciosas, provocadas por atividades profissionais que exigem do trabalhador movimentos manuais repetitivos, continuados, rápidos, podendo ser vigorosos e combinados a um ambiente de trabalho ergonomicamente inadequado, recebeu a designação de DORT, conforme justificado no Diário Oficial da União de 11 de julho de 1997 (ARIOSI, 2003, PRZYSIEZNY, 2000). Vários autores explicam a disseminação da prevalência de DORT pelo aumento da carga de trabalho contínuo, privilegiando a alta produtividade e a qualidade do produto. Isto é resultante do uso inadequado de sistemas mecanizados e de esteiras, aumento do trabalho manual que requer movimento contínuo dos dedos, movimentos repetitivos dos membros superiores, inadequação de equipamentos e mobiliários e diminuição de pausas e tempos livres. Também fatores psicossociais como trabalho monótono e pesado, pressão por produtividade, baixo suporte social e fatores psicológicos individuais, influenciam no surgimento destes distúrbios (IIDA, 1990, ARIOSI, 2003, PRZYSIEZNY, 2000). Como lesões mais comuns destacam-se as mialgias, tendinites, tenossinovites, epicondilites, dedo em gatilho, síndrome do túnel do carpo, síndrome do desfiladeiro torácico, e lesões de coluna, tais como lombalgias, dorsalgias e cervicalgias (ARIOSI, 2003). 2.9 FERRAMENTAS AUXILIARES DE ANÁLISE ERGONÔMICA Através da análise ergonômica de um posto de trabalho pode-se obter um diagnóstico ergonômico inicial do mesmo e, a partir destes dados, propor-se intervenções ergonômicas que visem adequar o posto de trabalho ao trabalhador, conforme já discutido em itens anteriores, respeitando-se sempre a legislação vigente. Neste trabalho propõe-se uma metodologia de análise ergonômica de postos de trabalho, apresentada no Apêndice por meio de um fluxograma, a qual sugere uma seqüência de ações a serem tomadas no sentido de realizar-se a análise ergonômica completa em postos de trabalho, desde a diagnose inicial até a verificação de eficácia das ações tomadas. Esta metodologia utiliza algumas ferramentas auxiliares de desenvolvimento, comentadas abaixo. 16 No Brasil, o Ministério do Trabalho e Emprego normaliza, por meio das Normas Regulamentadoras (NR) de número 15 e 17, as atividades em condições insalubres e a aplicação da ergonomia no ambiente de trabalho, respectivamente. Deve-se considerar também as normas NBR 5413 e 10152, sendo estas todas constituintes da legislação vigente pertinente básica. Usualmente a análise ergonômica de um posto de trabalho é motivada por fatores externos, como índices de absenteísmo e casos de DORT (DUL; WEERDMEESTER, 1998). Segundo Iida (1990), o enfoque ergonômico baseia-se principalmente na análise biomecânica das posturas adotadas no posto de trabalho. Conforme Guimarães (2001), os instrumentos de análise mais comuns dividem-se em checklists, critérios semiquantitativos e critérios quantitativos. Ferramentas adicionais podem ser utilizadas, incluindo-se, por exemplo, a eletromiografia de superfície e a dinamometria eletrônica. A primeira trata da medição do potencial elétrico na superfície do corpo, resultante dos esforços, enquanto a segunda trata da medição da força utilizada em determinado esforço. Os checklists compreendem perguntas e dados que são interpretados como riscos em uma escala. Nesta categoria encontra-se o checklist de Couto (2003). Os critérios semiquantitativos, como o critério de Moore & Garg, baseiam-se em observação direta ou indireta, com os dados selecionados com base em perguntas e convertidos em escalas, tabelas ou diagramas. Já os critérios quantitativos propõem fórmulas, como é o caso do equacionamento para levantamento de cargas proposto pelo National Institute of Occupational Safety and Health (NIOSH), nos EUA (GUIMARÃES, 2001). Como afirma Guimarães (2001), no checklist de Couto (2003), apresentado no Anexo A, a soma dos pontos permite uma avaliação simplificada do fator biomecânico de risco de DORT nos membros superiores. Já o instrumento de Moore & Garg, desenvolvido por um médico e um engenheiro nos EUA em 1995 e apresentado no Anexo B, é um aprimoramento do método de Rodgers, sugerindo a avaliação de seis fatores, os quais são multiplicados entre si, considerando-se além da força exercida pelo trabalhador, também a sua duração e repetitividade. O resultado da multiplicação relaciona-se com o risco biomecânico do posto de trabalho analisado, permitindo uma rápida visualização da intensidade deste risco. O critério de Moore & Garg aplica-se bem a atividades que seguem uma rotina, mesmo que não repetitivas, mas é limitado para atividades esporádicas, conforme afirma Couto (2002). 3. ESTUDO DE CASO O estudo de caso apresentado neste trabalho desenvolveu-se no setor de pintura de uma indústria automobilística. A análise ergonômica foi realizada considerando-se a operação propriamente dita, mas também o ambiente onde a mesma é desenvolvida. Analisaram-se as condições ergonômicas no processo de manufatura deste setor, utilizando-se para o desenvolvimento deste estudo de caso especificamente a operação de calafetação manual do assoalho externo das unidades fabricadas nesta indústria. Esta operação foi escolhida em função de apresentar os maiores índices de DORT dentre todas as 38 operações deste setor da empresa, com 19% do total de casos do setor. Os distúrbios constituem-se basicamente em dores musculares e desconforto na execução das atividades, principalmente em membros superiores e região da coluna vertebral. A calafetação de um veículo é um processo de grande importância no que tange à durabilidade do produto e satisfação do cliente. Isto se justifica por ser este o processo responsável pela estanqueidade da carroceria, impedindo a infiltração de água e poeira no interior da mesma, o que caso ocorra pode vir a causar corrosão em médio prazo. A calafetação se dá através da vedação das junções de chapas da carroceria. Esta vedação é feita pela aplicação de polímero do tipo plastisol, a base de PVC, que polimeriza-se e enrijece-se ao ser exposto a uma temperatura entre 150°C e 170°C, por aproximadamente 30min. A estanqueidade pro- 17 movida pelo plastisol polimerizado é verificada em 100% dos veículos produzidos, em uma cabine específica para tal fim, equipada com uma série de jatos d’água circundantes do veículo, forçando a infiltração de água em caso de falhas na calafetação. O veículo passa nesta cabine após todo o processo de montagem, antes de sua liberação para o cliente, durante as chamadas “verificações de pátio”, com o objetivo de simular situações severas de exposição do veículo à água. A cabine utilizada para tal fim é apresentada na figura 1. Figura 1 – Cabine de verificação de infiltrações em veículos 3.1 DESCRIÇÃO GERAL DA OPERAÇÃO ANALISADA A operação de calafetação manual do assoalho externo situa-se exatamente posterior a uma célula de robôs, do tipo antropomorfo, os quais são responsáveis pela aplicação automática do plastisol nas junções de chapas do assoalho externo da carroceria, como pode ser visto na figura 2. Entretanto, mesmo com o processo de aplicação automática, faz-se necessário o pincelamento manual do material aplicado pelo robô, de forma a garantir a perfeita vedação das junções de chapas do assoalho da carroceria, sendo este o escopo principal da operação. Na calafetação do assoalho externo, tanto a aplicação automática de plastisol como o seu pincelamento manual, por limitações físicas de acesso a região, a operação é desenvolvida com a carroceria disposta em um transportador aéreo, como também pode ser observado na figura 2. Com isso permite-se que os robôs e empregados fiquem sob a carroceria e tenham um melhor acesso e visualização à região. A verificação da qualidade do trabalho desenvolvido na operação de calafetação manual é executada pelo próprio operador, sem verificações posteriores nos pontos específicos de verificação de qualidade, já que são poucas as operações, no processo de pintura, em que a carroceria está disposta no transportador aéreo, sendo que nenhuma destas constitui-se em estação de verificação de qualidade. Figura 2 – Célula de robôs com carroceria disposta em transportador aéreo 18 A operação analisada neste estudo de caso pode ser dividida em elementos, e cada elemento pode ser detalhado de forma a apresentar um melhor entendimento de cada um. Para cada elemento mede-se o tempo que o empregado necessita para a realização da atividade do elemento. A medição de tempo é realizada cinco vezes para cada elemento e utiliza-se a média aritmética simples dos tempos como tempo de elemento. Com a soma dos tempos de todos os elementos da operação, chega-se ao tempo de ciclo da operação. Este deve ser inferior ao tempo padrão calculado (takt time) da operação, o qual é o tempo calculado e designado como disponível para a execução da operação. 3.2 CONDIÇÃO ERGONÔMICA INICIAL DA OPERAÇÃO Na determinação da condição ergonômica inicial da operação questionou-se os empregados a respeito dos fatores que lhes causavam dor, desconforto, dificuldades de movimentos ou fadiga excessiva. A partir dos relatos, fez-se a análise ergonômica, inicialmente por meio de observação de cada elemento da operação, determinando-se as situações ergonomicamente inadequadas, a gravidade das mesmas e as partes do corpo afetadas. Nos relatos observaram-se como principais aspectos de dificuldades os seguintes fatores: - Membros superiores suspensos sem apoio por muito tempo. - Esforço estático do pescoço e região cervical. - Torção e flexão da coluna vertebral e membros inferiores. Os subitens a seguir apresentam a análise ergonômica inicial da operação, dividida nos principais elementos que a constituem. 3.2.1. Pincelamento da caixa de roda dianteira Foram identificadas neste elemento as seguintes situações ergonomicamente inadequadas: extensão e flexão do braço pelo empregado acima da altura do ombro para alcançar a região do pincelamento; o empregado faz esforço estático na região cervical para melhor visualizar a região de pincelamento; utilização de pega do tipo pinça pulpar para segurar o pincel com firmeza, além da existência de abdução do ombro para a realização da operação. Estas situações podem ser ilustradas pela figura 3. Na execução das atividades deste elemento observaram-se como partes do corpo afetadas: coluna vertebral, ombro, braço, cotovelo, antebraço, punho e mão. Consideram-se as situações acima relatadas como de gravidade alta em termos de risco ergonômico apresentado. Figura 3 – Pincelamento da caixa de roda dianteira 19 3.2.2. Montagem de tubetes de papelão A atividade realizada neste elemento é basicamente a montagem de tubetes de papelão em quatro parafusos prisioneiros existentes na carroceria, onde é fixada a caixa de direção do veículo no setor de montagem geral, evitando a deposição de tinta nos mesmos. Neste elemento foram identificadas as seguintes situações ergonomicamente inadequadas: deslocamento do empregado até o ponto de coleta dos tubetes (2m); extensão e flexão do braço pelo empregado acima da altura do ombro para alcançar a região de montagem dos tubetes; o empregado faz esforço estático na região cervical para visualizar a região de montagem dos tubetes; utilização de pega do tipo pinça pulpar para segurar os tubetes, além da existência de abdução do ombro para a realização da operação. Estas situações podem ser ilustradas pelas figuras 4 e 5. Na execução das atividades deste elemento observaram-se como partes do corpo afetadas: braço, antebraço, ombro, pescoço, cotovelo e punho. Consideram-se as situações acima relatadas como de gravidade média em termos de risco ergonômico, pois mesmo apresentando basicamente as mesmas situações inadequadas da operação anterior, a amplitude e duração dos movimentos são sensivelmente menores. Figura 4 – Ponto de coleta dos tubetes Figura 5 – Montagem dos tubetes 3.2.3. Pincelamento da caixa de roda traseira e torre do gargalo Este elemento apresenta, em relação ao pincelamento da caixa de roda dianteira, o agravante do pincelamento da região da torre do gargalo, que se localiza em altura maior e acesso mais difícil, expondo o empregado a situações ergonômicas inadequadas adicionais. Assim, foram identificadas neste elemento as seguintes situações ergonomicamente inadequadas: extensão e flexão do braço pelo empregado acima da altura do ombro para alcançar a região do pincelamento; o empregado realiza esforço estático e flexão da região cervical, bem como extensão da coluna vertebral, para melhor visualizar e alcançar a região de pincelamento, que se apresenta em altura muito elevada; utilização de pega do tipo pinça pulpar para segurar o pincel com firmeza, além de necessidade de mudança do eixo de equilíbrio do corpo e apoio na carroceria, em função da altura da região, o que obriga o empregado a extender-se na ponta dos pés para executar a operação adequadamente. Tais situações são ilustradas pelas figuras 6 e 7. Na execução das atividades deste elemento observou-se como partes do corpo afetadas: braço, antebraço, ombro, pescoço, cotovelo, punho, coluna vertebral, tornozelos e poplíteo. Consideram-se as situações acima relatadas como de gravidade alta em termos de risco ergonômico apresentado. 20 Figura 6 – Pincelamento da caixa de roda traseira e torre do gargalo Figura 7 – Extensão na ponta dos pés 3.2.4. Pincelamento das junções do painel traseiro Este elemento apresenta-se, do ponto de vista ergonômico, idêntico ao pincelamento da caixa de roda dianteira, não sendo aqui novamente descrito. A figura 8 ilustra este elemento. Figura 8 – Pincelamento das junções do painel traseiro 3.3 FATORES COMPLEMENTARES Os seguintes fatores complementares foram observados na condição inicial de realização da operação analisada neste estudo de caso, segundo a metodologia proposta: - Postura para trabalhar: postura em pé como única postura nesta operação. - Diferença de método: as operações realizadas pelos empregados nos dois lados da carroceria são bastante semelhantes; a operação é realizada de forma padronizada nos dois turnos de produção, o que é garantido e documentado por meio de folhas de trabalho padronizado, elaboradas conjuntamente por equipes dos dois turnos de produção. Trabalham na operação dois operadores por turno. - Tempo de ciclo da operação: ciclo de operação com duração de 90s, sendo 80s de elementos e 10s de deslocamentos. -Takt time da operação: linha de produção com velocidade de 36 veículos por hora, resultando em takt time de 100s. - Taxa de ocupação do tempo: 90%, dado pela razão entre tempo de ciclo e takt time. 21 - Ritmo e nível de percepção de tensão: percebe-se nível de tensão elevado; os empregados devem certificar a qualidade do seu trabalho, pois não há estações de verificação de qualidade posteriores à sua operação. - Carga horária de trabalho: dois turnos de 9h10min cada, com 1h de parada para refeição e dois intervalos de 12min para descanso. - Freqüência: operação realizada em todas as carrocerias (média de 270 carrocerias por turno). Adicionalmente a estes fatores, outros especificamente relacionados ao ambiente de trabalho podem ser observados, conforme a seguir: - Nível de iluminamento: nível médio de 385lux. - Nível de ruído: 83,3 dB. - IBUTG (Índice de bulbo úmido - Termômetro de Globo): 25,5°C; este índice relaciona a temperatura de bulbo seco, de bulbo úmido e de globo, esta última medida com termômetro de globo. A relação é definida pela NR15 do MTE, já comentada neste trabalho. Sabe-se, mesmo antes das intervenções ergonômicas, que alguns destes fatores são de difícil modificação e que, portanto deve-se lançar mão de mecanismos reguladores que minimizem seus possíveis efeitos negativos sobre os empregados. 3.4 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR Neste estudo de caso, a partir da metodologia de análise ergonômica proposta, foram utilizados dois instrumentos de avaliação complementar, os quais foram o checklist de Couto (2003) e o critério semiquantitativo de Moore e Garg. O primeiro apresentou como resultado o índice 11, o que significa a existência de um fator biomecânico significativo; o segundo apresentou como resultado o índice 27, que significa um alto risco ergonômico, sendo este tão maior quanto maior for o índice do resultado deste instrumento de avaliação. Não foi utilizado o equacionamento proposto pelo NIOSH em virtude da operação analisada não apresentar levantamento manual de cargas. 3.5 INTERVENÇÕES ERGONÔMICAS E MECANISMOS DE REGULAÇÃO A partir do diagnóstico da situação ergonômica inicial da operação de calafetação manual do assoalho externo e dos resultados dos instrumentos de avaliação complementar, podese sugerir e implementar intervenções ergonômicas que melhor adaptassem o ambiente de trabalho aos empregados, reduzindo o risco ergonômico ao qual os mesmos estavam expostos. Os fatores relacionados ao ambiente de trabalho não foram modificados em virtude de apresentarem-se em conformidade com os limites estabelecidos na NR15. Desta forma, foram implementadas as seguintes intervenções ergonômicas e/ou mecanismos de regulação: - Elevação do piso da cabine, de forma a melhorar a biomecânica da operação de maneira geral. Nas áreas de trabalho da cabine, excetuando-se a região de pincelamento central do assoalho, o piso foi elevado em 30cm, e nas áreas de pincelamento das caixas de roda traseira e junções do painel traseiro, foram instaladas plataformas adicionais, sobre o piso já elevado, por estas serem as regiões de difícil acesso (maior altura), melhorando o acesso a estas áreas. - Incremento do nível de iluminamento, com iluminação localizada nas regiões de mais difícil acesso, aumentando o nível médio para 500lux, melhorando assim a visualização da operação e diminuindo a pressão psicológica sobre o empregado durante a verificação de sua operação. - Implementação de sistema de rodízio de mão-de-obra a cada meio turno de trabalho, proporcionando a adoção de posturas diferentes ao longo do turno que diminuem a sobrecarga em 22 posturas biomecanicamente críticas. Proporcionado também desenvolvimento técnico da mãode-obra, que foi treinada em outras operações para a devida realização do rodízio. - Otimização da aplicação de plastisol, com redução da área com necessidade de pincelamento manual de plastisol. Isto foi feito mediante uma revisão criteriosa dos pontos de real necessidade de pincelamento, que teve como base testes práticos e histórico de problemas de infiltração relatados por clientes. Como resultado desta ação, também foi reduzida a área de aplicação automática pelo robô e a conseqüente necessidade de pincelamento de alguns destes pontos, até então aplicados pelo robô. Assim, diminuiu-se o tempo de ciclo da operação, diminuindo a taxa de ocupação da mesma, além de diminuir o tempo de exposição dos empregados às posturas biomecanicamente inadequadas. - Modificação do ponto de coleta dos tubetes de papelão, aproximando-s do ponto de uso, com eliminação do deslocamento dos empregados. A figura 9, abaixo, apresenta a cabine com algumas das intervenções ergonômicas realizadas, conforme indicado na própria figura. Plataformas adicionais Piso elevado nas áreas de trabalho Novo ponto de coleta de tubetes Figura 9 – Cabine com elevação de piso e plataformas adicionais Além das intervenções ergonômicas e mecanismos de regulação implementados, podem ser propostas ações adicionais não implementadas durante a realização deste trabalho, as quais ficam como sugestão de implementação futura, conforme segue abaixo: - Instalação de plataformas de altura regulável, com acionamento pneumático, que permitam adequação da altura de trabalho às alturas dos diferentes empregados que trabalham na estação, conforme estabelecido pelo sistema de rodízio de mão-de-obra. - Implementação de programa de ginástica laboral, buscando-se um melhor condicionamento físico e distensionamento dos empregados na utilização repetitiva dos grupos musculares. 4. DISCUSSÃO DE RESULTADOS Percebeu-se, após a implementação das intervenções ergonômicas e mecanismos de regulação descritos anteriormente neste trabalho, uma redução do índice de veículos que apresentam infiltração d’água, o qual verifica-se ser inferior a 2%. A redução obtida sobre este percentual foi de aproximadamente 20%, conforme análise realizada em 100% das unidades na cabine de testes de infiltração. Esta evolução do índice é significativa, considerando-se que o índice de unidades que apresentam infiltração d’água é muito pequeno, sendo inferior a 2%, de forma que reduções 23 percentuais sobre este item refletem, objetivamente, um menor volume de veículos que necessitam de retrabalhos em função de infiltração. Entretanto, não se pode atribuir a evolução mencionada exclusivamente às intervenções e mecanismos implementados, uma vez que, paralelamente a este trabalho, foram tomadas ações no sentido de otimizar o material utilizado (plastisol) em características como viscosidade e temperatura de aplicação do mesmo. Estas variáveis influenciam diretamente nas características de vedação do material e na necessidade de pincelamento manual das junções de chapa. Como o escopo deste trabalho baseia-se nas intervenções ergonômicas e mecanismos de regulação utilizados, as características e ações sobre o material não são amplamente discutidas, sendo somente brevemente apresentadas. De qualquer maneira, acredita-se que as ações tomadas foram fundamentais para a obtenção da evolução comentada. Adicionalmente, percebeu-se um menor índice de queixas de dores e desconforto dos empregados da operação modificada, os quais consideram a condição modificada da operação melhor que a condição inicial apresentada neste estudo de caso. Esta avaliação é subjetiva, já que se parte da impressão dos empregados, mas é de grande importância, pois a impressão dos empregados serve de indicador de probabilidade de existência de DORT na realização de determinada atividade (IIDA, 1990). Desta forma, com os resultados de ganhos de qualidade do produto e redução de custos com retrabalho, verifica-se uma validação da metodologia de análise ergonômica proposta neste trabalho, a qual pode ser aplicada em outras operações, setores e empresas, respeitandose sempre as características e limitações de cada situação. Na realização de novas análises ergonômicas, sugere-se a preparação de um cronograma que contemple tempo suficiente para a implementação plena das ações sugeridas, de forma que todos os resultados possam ser mais precisamente avaliados. 5. CONCLUSÕES Pode-se afirmar que os principais objetivos do trabalho foram atingidos, os quais foram a melhoria da qualidade do produto e redução de custos com retrabalhos, denotados pela redução do índice de veículos com infiltração d’água, e a melhor adaptação do ambiente de trabalho aos empregados da operação analisada, denotada pela observação de melhores posturas biomecânicas e diminuição do número de queixas de dores e desconforto por parte dos empregados. Com estes resultados, o objetivo maior do trabalho também se mostra atingido, o qual era a validação da metodologia de análise ergonômica de postos de trabalho proposta. O trabalho aqui apresentado restringiu-se à análise de uma única operação do processo de pintura, onde foram realizadas algumas intervenções ergonômicas e implementados alguns mecanismos de regulação. Entretanto, não houve tempo disponível durante a realização deste trabalho para a implementação de todas as ações propostas. Desta forma, fica como sugestão à empresa onde se realizou o estudo de caso , a implementação das ações sugeridas mas ainda não implementadas e a extensão deste trabalho a outras operações e setores. Novos trabalhos podem dar continuidade a este, no que se pode sugerir a utilização de outras ferramentas de análise complementar, tais como a eletromiografia de superfície e a dinamometria eletrônica, a fim de verificar-se experimentalmente, por meio de medições mecânicas, os esforços musculares e forças exercidas pelos empregados na realização de suas atividades, comparando-se os resultados com as impressões dos empregados. Assim, pode-se concluir com este trabalho que mesmo simples intervenções ergonômicas, como as realizadas, trazem melhoras ergonômicas aos empregados, promovendo a otimização do seu bem-estar e do desempenho geral do sistema, até mesmo do ponto de vista de qualidade do produto final da empresa, respeitando assim o conceito de ergonomia apresentado pela ABERGO (2003). 24 6. REFERÊNCIAS Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), disponível em: http://www.abergo.org.br, acesso em 19 de dezembro de 2003. ARIOSI, J., disponível em: http://www.safetyguide.com.br, acesso em dezembro de 2003. COUTO, H. de A., “Ergonomia aplicada ao trabalho: o manual técnico da máquina humana”, v.1, Belo Horizonte: ERGO Ltda, 1995. COUTO, H. de A., “Ergonomia aplicada ao trabalho em 18 lições”, Belo Horizonte: ERGO Ltda, 2002. COUTO, H. de A., “Checklist de Couto”, disponível em http://www.ergoltda.com.br, acesso em 02 de dezembro de 2003. DUL, J.; WEERDMEESTER, B., “Ergonomia prática”, São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1998. GRANDJEAN, E., “Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem”, 4.ed. Porto Alegre: Artes Médicas Ltda, 1998. GUIMARÃES, L. B. M., “Ergonomia de Processo”, v.1, 3.ed. Porto Alegre: UFRGS/EE/PGEP, 2000. GUIMARÃES, L. B. M., “Ergonomia de Produto”, v.1, 3.ed. Porto Alegre: ENG/UFRGS/EE/PGEP, 2001. FE- IIDA, I., “Ergonomia: projeto e produção”, São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1990. LAVILLE, A., “Ergonomia”, São Paulo: Pedagógica e Universitária Ltda, 1977. Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), “Nota Técnica 060/2001”, disponível em: http://www.mte.gov.br, acesso em 19 de dezembro de 2003. MORAES, A. de; MONT’ALVÃO, C., “Ergonomia: Conceitos e Aplicações”, Rio de Janeiro: 2AB, 1998. PEDERIVA, C. L., “Intervenções ergonômicas visando reduzir o estresse do trabalho”, Trabalho de Conclusão de Curso, curso de Fisioterapia, Instituto Porto Alegre da Rede Metodista de Educação, Porto Alegre, 2002. PEREIRA, E. R., “Fundamentos de ergonomia e fisioterapia do trabalho”, Rio de Janeiro: Taba Cultural, 2001. PRZYSIEZNY, W. L., “Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho: um enfoque ergonômico”, Revista Tecno-Científica, v. 08, n. 31, Blumenau: Dynamis, 2000. RIO, R. P. do; PIRES, L., Ergonomia: fundamentos da prática ergonômica”, 2.ed. Belo Horizonte: Health, 1999. WISNER, A., “Por dentro do trabalho: ergonomia: método & técnica”, São Paulo: FTD, 1987. 25 ANEXOS ANEXO A – CHECKLIST DE COUTO (2003) 1. Sobrecarga Física 1.1- Há contato da mão/punho ou tecidos moles com quina viva de objetos ou ferramentas? Sim (0) Não (1) 1.2- O trabalho exige o uso de ferramentas vibratórias? Sim (0) Não (1) 1.3- O trabalho é feito em condições ambientais de frio excessivo? Sim (0) Não (1) 1.4- Há necessidade do uso de luvas? Sim (0) Não (1) 1.5- Entre um ciclo e outro há a possibilidade de um pequeno descanso? Ou há pausa bem definida de cerca de 5 a 10 minutos por hora? Não (0) Sim (1) 2. Força com as Mãos 2.1- Aparentemente as mãos têm que fazer muita força? Sim (0) Não (1) 2.2- A posição de pinça (pulpar, lateral ou palmar) é utilizada para fazer força? Sim (0) Não (1) 2.3- Quando usados para apertar botões, teclas ou componentes, para montar ou inserir, ou para exercer compressão digital, a força de compressão exercida pelos dedos ou pela mão é grande? Sim (0) Não ou não se aplica (1) 2.4- O esforço manual detectado é feito durante mais que 10% do ciclo ou é repetido mais que 8 vezes por minuto? Sim (0) Não (1) 3. Postura no Trabalho 3.1-Há algum esforço estático da mão ou do antebraço como rotina na realização do trabalho? Sim (0) Não (1) 3.2-Há algum esforço estático do braço ou do pescoço como rotina na realização do trabalho? Sim (0) Não (1) 3.3-O trabalho pode ser feito sem extensão ou flexão forçadas do punho? Não (0) Sim (1) 3.4-O trabalho pode ser feito sem desvio lateral forçado do punho? Não (0) Sim (1) 3.5-Há abdução do braço acima de 45 graus ou elevação dos braços acima do nível dos ombros como rotina na execução da tarefa? Sim (0) Não (1) 3.6-Existem outras posturas forçadas dos membros superiores? Sim (0) Não (1) 3.7- O trabalhador tem flexibilidade na sua postura durante a jornada? Não (0) Sim (1) 26 4. Posto de Trabalho 4.1- O posto de trabalho permite flexibilidade no posicionamento das ferramentas, dispositivos e componentes, incluindo inclinação dos objetos quando isto for necessário? Não (0) Sim (1) Desnecessária a flexibilidade (1) 4.2- A altura do posto de trabalho é regulável? Não (0) Sim (1) Desnecessária a regulagem (1) 5. Repetitividade e Organização do Trabalho 5.1- O ciclo de trabalho é maior que 30 segundos? Não (0) Sim (1) Não há ciclos (1) 5.2- No caso de ciclo maior que 30 segundos, há diferentes padrões de movimentos (de forma que nenhum elemento da tarefa ocupe mais que 50% do ciclo?) Não (0) Sim (1) Ciclo <30 segundos (0) Não há ciclos (1) 5.3- Há rodízio (revezamento) nas tarefas? Não (0) Sim (1) 5.4- Percebe-se sinais de estar o trabalhador com o tempo apertado para realizar sua tarefa? Sim (0) Não (1) 5.5- A mesma tarefa é feita por um mesmo trabalhador durante mais que 4 horas por dia? Sim (0) Não (1) 6. Ferramenta de Trabalho 6.1- Para esforços em preensão, com esforços em pinça: O cabo não é muito fino nem muito grosso e permite boa estabilidade da pega? Não (0) Sim (1) Não há ferramenta (1) 6.2- A ferramenta pesa menos de 1 kg ou, no caso de pesar mais de 1 kg, encontra-se suspensa por dispositivo capaz de reduzir o esforço humano? Não (0) Sim (1) Não há ferramenta (1) - Resultado: total de 11 pontos, o que representa um fator biomecânico significativo. ANEXO B – CRITÉRIO SEMIQUANTITATIVO DE MOORE & GARG Fator Intensidade do Esforço (FIE) Classificação Leve Algo pesado Pesado Muito pesado Próximo ao máximo Caracterização Tranqüilo Percebe-se algum esforço Esforço nítido, sem mudança de expressão facial Esforço nítido, com mudança de expressão facial Usa troco e ombros, além de grupos auxiliares Multiplicador 1 3 6 9 13 27 Fator Duração do Esforço (FDE) – A classificação é feita pela relação entre o tempo com realização de esforço no ciclo, e o tempo de ciclo da operação. Classificação ≤ 9% 10–29% 30-49% 50-79% ≥ 79% Multiplicador 0,5 1,0 1,5 2,0 3,0 Fator Freqüência do Esforço (FFE) – Considerar as diversas ações técnicas, e freqüência máxima quando o esforço for estático. Classificação ≤ 3/min 4-8/min 9-14/min 15-19/min ≥ 20/min Multiplicador 0,5 1,0 1,5 2,0 3,0 Fator Postura da Mão, Punho, Ombro e Coluna (FPMPOC) Classificação Muito boa Boa Razoável Ruim Muito ruim Caracterização Multiplicador 0,5 1,0 1,5 2,0 3,0 Neutro Próximo ao neutro Não neutro Desvio nítido Desvio próximo dos extremos Fator Ritmo de Trabalho (FRT) Classificação Muito lento Lento Razoável Rápido Muito rápido Caracterização ≤ 80% 81–90% 91-100% 101-116% - apertado, mas ainda consegue acompanhar ≥ 116% - apertado e não consegue acompanhar Multiplicador 0,5 1,0 1,5 2,0 3,0 Fator Duração do Trabalho (FDT) Classificação ≤ 1h 1-2h 2-4h 4-8h ≥ 8h Multiplicador 0,25 0,5 0,75 1,0 1,5 Interpretação: multiplicam-se os fatores, seguindo-se o critério abaixo, resultando em 27. <3,0 – baixo risco de lesão biomecânica 3-7,0 – duvidoso >7,0 – alto risco de lesão biomecânica 28 APÊNDICE - Fluxograma de Medotologia de Análise Ergonômica INÍCIO Definição do posto de trabalho a ser analisado Detalhamento e análise do contexto da operação Medição das condições ambientais (ruído, iluminamento, IBUTG) NÃO Resultados de acordo com a legislação? Possível correção? SIM SIM Corrigir as discrepâncias NÃO Avaliação dos métodos e organização do trabalho (rodízio, pausas, repetibilidade, carga-horária, ritmo, etc) São necessárias mudanças? Utilizar medidas de controle e regulação SIM Fazer as correções possíveis ou utilizar medidas de controle e regulação SIM Utilizar o equacionamento para levantamento de cargas (NIOSH) NÃO Há levantamento manual de cargas? NÃO Utilização do Checklist de Couto Utilização do Critério de Moore & Garg Análise de resultados Definição das melhorias ergonômicas Implementação das melhorias ergonômicas Verificação de resultados FIM