modelo de síntese e otimização para o projeto
Transcrição
modelo de síntese e otimização para o projeto
23º Congresso Nacional de Transporte Aquaviário, Construção Naval e Offshore Rio de Janeiro, 25 a 29 de Outubro de 2010 Modelo de Síntese e Otimização para o Projeto Preliminar de Embarcações de Planeio Felipe de Arruda Campos Simões Bernardo Luis Rodrigues de Andrade Departamento de Engenharia Naval e Oceânica Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Resumo: Neste trabalho apresenta-se a proposta de um modelo de síntese e otimização para o projeto preliminar de embarcações de planeio. Admite-se que o problema de projeto seja equivalente a um problema de otimização por múltiplos objetivos, no qual as variáveis de decisão são aquelas que formam um conjunto de parâmetros capazes de descrever uma embarcação de planeio, tanto em termos geométricos como em termos de arranjo e desempenho, com um nível de detalhe e precisão adequado à fase de projeto preliminar. As funções objetivo estão relacionadas com atributos de desempenho da embarcação e refletem os requisitos estabelecidos pelo armador. Para a solução do problema de otimização, desenvolveu-se uma versão de algoritmo genético que permite a determinação das soluções de projeto pertencentes à fronteira de Pareto do problema O resultado final da rotina computacional é composto pelas variáveis de decisão e valores da função objetivo das embarcações que representam. A solução final de projeto deve então ser posteriormente escolhida pelo projetista dentre aquelas pertencentes à fronteira eficiente. Ao final do trabalho apresenta-se um conjunto de testes realizados para o problema de projeto de uma lancha de 40 pés onde os objetivos estabelecidos para o problema foram a maximização do volume interno da lancha e a minimização de seu deslocamento total. 1 – Introdução O procedimento tradicional de projeto das embarcações de planeio segue, em geral, o caminho trilhado no projeto de embarcações em geral. O projeto é desenvolvido basicamente segundo uma metodologia sequencial e iterativa, historicamente representada pela espiral de projetos proposta por Evans (1959). Seguindo esta metodologia iterativa, na etapa preliminar do projeto das embarcações de planeio são empregados diversos modelos analíticos e semi-empíricos e procedimentos consagrados para se estimar a avaliar alguns dos principais atributos de desempenho destas embarcações, tais como, resitência ao avanço, estabilidade dinâmica, comportamento no mar, etc. O mais clássico destes modelos é o desenvolvido por Savitsky (1964) para avaliação da resistência ao avanço e da atitude da embarcação na fase de planeio. Outro trabalho consagrado associado ao projeto preliminar de embarcações de planeio é aquele descrito em Blount & Fox (1976), no qual os autores propõem um procedimento estruturado para auxilio ao projeto, integrando diversos modelos para avalição de resistência, cálculo de potência, seleção de propulsores, etc. Mais recentemente, com o avanço da capacidade dos computadores, Calkins (1983) propõe a primeira rotina computacional integrada para projeto de embarcações de planeio, envolvendo inclusive a definição e o desenho da forma do casco. O programa computacional desenvolvido segue basicamente a idéia da espiral de projeto e requer a interação constante com o projetista. No início dos anos 90, Radojcic (1990), propõe uma nova abordagem para o projeto de embarcações de planeio, segundo a qual o problema de projeto é tratado como um problema matemático de otimização. Combinando diversos modelos analíticos, empíricos e semi-empíricos para avaliação e 1 análise de atributos de desempenho Radojcic apresenta um modelo de síntese e otimização para o projeto preliminar de embarcações de planeio. Nesse modelo, o problema de projeto é tratado como um problema de otimização mono-objetivo. 2 – Aspectos gerais do problema de projeto O projeto de uma embarcação começa com a definição de suas especificações, responsáveis por nortear o desenvolvimento durante todo o processo de projeto. Estas especificações representam a definição das características e atributos a serem privilegiados na embarcação (os objetivos de projeto) e as exigências do cliente ou interessados (requisitos do armador e restrições). Nas fases iniciais ou preliminares do projeto a preocupação básica é definir um conjunto de parâmetros e caracteristicas capazes de descrever com suficiente detalhe a configuração geral da embarcação e, simultaneamente, permitir que se possa avaliar, ainda que de forma aproximada, os principais atributos de desempenho associados aos requisitos, objetivos e restrições de projeto. Como o problema de projeto de embarcações é complexo, envolvendo um numero grande de variáveis e atributos, na abordagem tradicional de projeto as soluções preliminares são geralmente obtidas através de um processo iterativo de ajuste dos valores dos parâmetros que descrevem essas soluções. Procura-se um conjunto de parâmetros (variáveis) que represente uma solução que atende satisfatoriamente os requisitos e restrições. Enquanto as disciplinas associadas a estes requisitos e restrições, como por exemplo resistência ao avanço, estabilidade, etc., são avaliadas sequencialmente, as variáveis vão sendo ajustadas iterativamente até que se obtenha uma solução satisfatória. Não há garantias neste processo de que se tenha obtido a solução ótima do ponto de vista dos objetivos de projeto (Lyon and Mistree, 1985). Uma abordagem que oferece a possibilidade de se obter soluções que além de satisfazer requisitos e restrições, sejam também as melhores, ou “ótimas”, em relação aos objetivos estabelecidos para o projeto, é aquela que trata o problema de projeto como um problema matemático de otimização (Mistree et all, 1990), (Lyon and Mistree, 1985). Nesta abordagem, os parâmetros ou variáveis que descrevem a solução de projeto são as variáveis de decisão ou de projeto do problema de otimização, os objetivos do projeto definem as funções objetivo e as exigências e restrições de projeto definem as restrições do problema de otimização. O problema pode ser modelado de forma tradicional, como um problema de otimização mono-objetivo, ou como um problema multi-objetivo, o que permite representar de forma mais realista o problema real de projeto (Parsons and Scott, 2004). Para que se possa tratar o problema de projeto como um problema de otimização é necessário primeiro representá-lo matematicamente através de um modelo de síntese e otimização, que descreva adequadamente as variáveis de projeto e os atributos e características a serem avaliados tanto do ponto de vista dos objetivos como das restrições de projeto. Neste artigo apresenta-se um modelo de síntese e otimização para aplicação nas etapas preliminares do projeto de embarcações de planeio. Neste modelo de síntese, a embarcação é descrita por um conjunto de 9 variáveis de projeto, e os objetivos de projeto considerados são a maximização do espaço interno da embarcação e minimizar seu peso total. Os demais requisitos de projeto são introduzidos via parâmetros iniciais fixos ou através da imposição de restrições de desigualdade. Para o cálculo das funções objetivo e das restrições é necessário a avaliação de diversos atributos de desempenho da embarcação de planeio. Para isto, diversos modelos paramétricos para estimativa destes atributos foram elaborados e implementados de maneira integrada, de acordo com a estrutura geral proposta para o modelo de síntese. A descrição detalhada da estrutura do modelo de síntese e dos diversos modelos paramétricos elaborados, está apresentada nos próximos tópicos do trabalho. O problema de otimização foi formulado seguindo duas abordagens. Na primeira abordagem o problema de projeto foi tratado como um problema de otimização monoobjetivo. Dois casos são considerados separadamente: (1) maximizar o espaço interno; (2) minimizar o peso total. Busca-se nesta primeira abordagem uma única solução 2 ótima segundo cada um dos objetivos estabelecidos. Na segunda abordagem, o problema é modelado como um problema de otimização multi-objetivo. Nesta abordagem, os dois objetivos anteriores, que são conflitantes, são considerados simultaneamente durante o processo de otimização. Busca-se nesta abordagem a determinação da fronteira de Pareto com as soluções não dominadas de projeto. Detalhes do algoritmo de otimização empregado e os resultados da aplicação do modelo de síntese e otimização para o problema de projeto de uma lancha de 40 pés estão também apresentados nos próximos tópicos do artigo. 3 – Estrutura Geral e Módulos do Modelo de Síntese Para desenvolver o estudo proposto, este trabalho utiliza modelos paramétricos que estimam o desempenho do casco em função de parâmetros capazes de descrever uma embarcação de planeio. Estes modelos também apresentam restrições particulares que, assim como os objetivos de projeto e os requisitos de armador, devem ser respeitadas. A natureza de uso das embarcações de planeio também implica em restrições de segurança, como estabilidade estática e dinâmica. Ainda que não exigidas por nenhum dos módulos, são implementadas neste trabalho de forma a garantir a integridade do projeto. É necessário também criar um módulo (neste trabalho, denominado “principal”) para receber os valores de entrada, concentrar e gerir a distribuição das variáveis de projeto e resultados numéricos pelos modelos paramétricos escolhidos, além dos próprios objetivos, caracterizando-se como o centro da estrutura do modelo de síntese. A estrutura proposta é sintetizada na figura abaixo. Figura 1: Estrutura do modelo de síntese Este modelo tem, como entrada, um vetor que concatena parâmetros capazes de descrever as características físicas de uma embarcação de planeio exigidos pelos modelos paramétricos – também denominadas variáveis de projeto – e, como saída, o resultado dos objetivos propostos. Isso permite que tratemos o problema de projeto como um de otimização multi-objetivo. O fluxo de variáveis resultante pode ser visto na tabela a seguir, e maiores detalhes são apresentados no decorrer deste estudo. Tabela 1: Fluxo de variáveis no algoritmo Módulo Requisitos do Armador Variaveis de Projeto Requisitos do Armador LP, L, V, VMAX, NPASS, WAGUA, autonomia BPX, D, β, ∆, LCG/L, NMOTOR, αeixo, H/HCH, LMOTOR/L Módulo Entrada do Módulo Geometria L, BPX, D, ∆, H/HCH Resistência LP, BPX, V, ∆, LCG, β Integração RT, V, τ, αeixo, LMOTOR/L, B, NMOTOR Pesos e Centros LP, LCG, β, BPX, D, H, ∆, NMOTOR, WCOMB, WAGUA, NPASS, LMOTOR/L Resultados IT, H, KB, LPROA, HCH, VINT RT, τ, Cl0 DH, P/DH, Ae/Ao, PMOTOR, RMOTOR, WCOMB, LLEME WBH, WDWT, WFL, VCG, BM O vetor de variáveis de projeto que deve ser fornecido ao módulo principal, conforme definido na tabela anterior, possui as características abaixo. Tabela 2: Variáveis de projeto e seus intervalos de variação Símbolo Intervalo de Variação Método de Determinação Bpx (m) D (m) β (graus) ∆ (t) LCG/L NMOTOR αeixo (graus) H/HCH LMOTOR/L 3,5 ~ 4,5 1,8 ~ 2,8 15 ~ 25 6,5 ~ 15 0,3 ~ 0,448 1 ~ 22 8 ~ 12 0.95 ~ 1.10 0.15 ~ 0.25 1 3 1 1 1 2 3 3 3 A determinação dos intervalos de variação destes parâmetros é decorrente de três métodos distintos: 1. Valores limitrofes determinados pelos métodos utilizados nos módulos do modelo de síntese; 2. Escolhas discretas, provenientes de um banco de dados levantado pelo trabalho; 3. Análise de semelhantes. 3 4 – Algoritmo de otimização Como o modelo de síntese desenvolvido pode ser tratado como um problema de otimização multi-objetivo, o próximo passo é utilizar um algoritmo de otimização para resolvê-lo. Este estudo fez uso de uma das versões existentes do algoritmo genético, cuja principal característica é possuir funcionamento similar ao processo de troca de informações genética nos seres vivos. capacidade de comparar, em mesmo nível, as embarcações entre si. De maneira simplificada, o método baseia-se, num primeiro momento, na geração aleatória de um número determinado de soluções – vetores compostos pelas variáveis de projeto – que serão classificados de acordo com a adequação às restrições impostas e aos objetivos escolhidos. O conjunto formado por estes vetores (também denominados elementos) é também chamado de primeira geração de soluções do problema. Quando utilizamos apenas um objetivo no processo de otimização, uma solução abre mão de seu desempenho em outras características para priorizar aquela que foi escolhida. É de se esperar, portanto, que soluções mais realistas apareçam quando utilizamos mais objetivos (ou mais restrições). Estas são também chamada de objetivos, pois é em função delas que são determinadas, por meio dos modelos paramétricos, as variáveis de projeto que definem a solução esperada. Por este motivo, a escolha dos méritos deve ser cuidadosa, pois é apenas pelos seus valores que as soluções são classificadas. Para que isso aconteça, contudo, os objetivos escolhidos precisam ter influência oposta em algumas variáveis de projeto, de forma a oferecer algum tipo de equilíbrio numérico às variáveis de projeto, dentro de seus intervalos de variação. O contraponto de aumentar as dimensões utilizadas é que o problema tornase cada vez mais complexo. Objetivos do projeto deste trabalho: • Figura 2: Estrutura de funcionamento do algoritmo de otimização Com a avaliação desta primeira geração, é realizado um cruzamento entre as informações dos elementos, evidenciando então sua principal característica: os elementos melhores classificados – ou seja, com melhores resultados nos objetivos escolhidos e respeitando as restrições impostas – possuem maior probabilidade de terem suas informações compartilhadas. O processo é então repetido para a quantidade de gerações definidas. Para garantir que os vetores abranjam todo o intervalo de variação das variáveis de projeto, é necessário que a população inicial seja suficientemente grande. Além disso, para garantir que alguns valores não sejam perdidos precocemente, utiliza-se um critério de mutação de valores de algumas variáveis esporadicamente. 5 – Objetivos do projeto Conforme dito, é necessário decidir as características que gostaríamos de priorizar em um projeto. São elas que nos darão a • Minimizar o peso total (implica na diminuição da potência instalada, um dos principais custos da embarcação); Maximizar o volume interno útil (melhora o conforto interno para os passageiros e tripulação). 6 – Requisitos do armador Nem sempre os objetivos do projeto definem soluções viáveis, ou que estejam de acordo com os interesses do cliente. Uma das formas de garantir que isto aconteça é, antecipadamente, definir restrições extras para algumas das dimensões e/ou características da embarcação a ser projetada. A estas, são dadas o nome de requisitos do armador. Em outras palavras, a diferença entre os objetivos de projeto e os requisitos do armador é que, enquanto o primeiro busca valores extremos para algumas características da embarcação que o projeto procura melhorar, o segundo define limites mínimos/máximos para outras características, de acordo com os interesses do armador. Requisitos do armador deste trabalho: • Comprimento máximo: 40 pés (max); 4 • • • • • Velocidade máxima: 35 nós (min); Velocidade de cruzeiro: 30 nós (min); Autonomia: 300 milhas náuticas (min); Tanque de água doce: 500L (min) Lotação (max): o 15 pessoas (dia) o 5 pessoas (noite) 7 – Modelos utilizados Decorrente dos objetivos de projeto, dos requisitos do armador e das restrições definidas, podem ser definidos também os modelos paramétricos necessários para compor o modelo de síntese. São eles: • • • • • • Resistência ao avanço – parâmetro necessário para o cálculo da integração casco-hélice-motor; Integração casco-helice-motor – verifica os requisitos mínimos de velocidade e autonomia da embarcação; Estimativa de pesos – cálculo de objetivo do projeto, além de também considerar requisitos de lotação e tanques; Estimativa de centros – parametros necessários para ao cálculo de estabilidade estática; Geometria da embarcação – cálculo do calado e de Lcasco, Ltanque, Lmotor, parametros necessarios nos módulos de estimativa de pesos e centros; o Volume interno da embarcação – cálculo de objetivo do projeto; Estabilidade estática e dinâmica – verifica as restrições de segurança 7.1 – Resistência ao avanço Para a estimativa da resistência ao avanço de uma embarcação de planeio, foi empregado o método proposto por Savitsky (1964). Admitese força propulsora passando pelo CG. Para complementar esse método, adiciona-se uma parcela correspondente à resistência de whisker-spray, cuja existência já era sabida na época do estudo citado, mas só foi deduzida em Savitsky et al. (2007), pois começou a se tornar significativa devido ao aumento das velocidades de cruzeiro típicas destes tipos de casco. É adicionada também à estimativa uma parcela de resistência adicional de apêndices. Blount & Fox (1976) consideram a participação destes como proporcional ao da resistência total de casco. ( 2 ) Rapêndices = Rcasco 0,005F∇ + 0,05 7.2 – Integração casco-hélice-motor O modelo utilizado para cálculo da integração casco-hélice-motor neste trabalho é apresentado em maiores detalhes no estudo de Radojcic (1990). Para o diâmetro do hélice, é admitido neste modelo o maior diâmetro possível sem interferir no calado da embarcação dada a inclinação do eixo, o que é representado pela figura a seguir. Figura 3: Representação geométrica para cálculo do diâmetro do hélice Assim, o diâmetro do hélice será função de LMOTOR, da inclinação do eixo αeixo (variáveis de projeto) e de LLEME, conforme proposto por Simões et al. (2009). 7.3 – Estimativa de pesos O método implementado segue o estudo de Grubisic (2008), que o divide em diversas parcelas, as quais podem ser estimadas de acordo com as dimensões principais conhecidas e obtidas a partir da análise de semelhantes. O peso do casco (W LS) é dado por: WLS = WFL − (WPL + WFO + WFW + WCR ) (2) Ou seja, o peso do casco é igual ao peso total (full load, WFL) menos todos os outros pesos variáveis da embarcação – payload (WPL), combustível (W FO), água (W FW) e tripulação / mantimentos (W CR). Como os três últimos são decorrentes dos requisitos de projeto e de outros parâmetros do algoritmo, o problema principal recai sobre a estimativa do peso do casco. Para isso, Grubisic apresenta regressões para cada uma das componentes que compõem o valor de W LS – estrutura do casco, superestrutura do casco, motor, sistema elétrico, equipamentos eletrônicos, maquinário auxiliar, outfit e sistemas especiais. (1) 5 Com este valor, podemos então entã estimar o deslocamento da embarcação e compará-lo compará com o determinado pela variável de projeto, verificando a necessidade de utilização de lastro (∆ > W LS) ou resultando na negação da solução proposta (∆ < W LS), conforme explicado no capítulo de restrições. restrições 7.5 – Geometria da embarcação Como o trabalho se propõe a implementar o método de Grubisic (2008) para estimativa de pesos da embarcação – que requer o valor do calado da embarcação – utilizou-se utilizou um modelo geométrico simplificado da embarcação, apresentado abaixo. 7.4 – Estimativa de centros – LCG e VCG Como fórmula para o cálculo dos centros, utilizamos uma média ponderada entre as distâncias (apresentadas na tabela abaixo, desenvolvidas de forma empírica) e os pesos da embarcação, provenientes do item anterior. anterior Tabela 3:: Ponderação das componentes do casco Parcelas Ws1 Bottom Sides Deck Bulk W3002 W4003 W5004 W6005 WÁGUA WCOMB WLASTRO WMOTOR Posição (LCG) 0.5L 0.4L 0.5L 0.375L 0.375L 0.5L 0.4L 0.4L LTANQUE LTANQUE LLASTRO LMOTOR Posição (VCG) HCH/2 HCH +(D- HCH)/2 D D/2 D/4 D D D D/4 D/4 D/5 D/4 Para o caso do LCG, que também foi escolhido como variável de projeto (era necessário na estimativa de resistência ao avanço), seu cálculo analítico possui parâmetros variáveis (LTANQUE e LLASTRO), cujas faixas de variação são provenientes de uma análise de semelhantes dadas por 0.15L < LTANQUE < 0.35L 0.20L < LLASTRO < 0.60L Portanto, o objetivo do algoritmo neste caso é encontrar se existem valores de LTANQUE e LLASTRO que resultem ultem no LCG determinado pela variável de projeto, verificando se o LCG analítico se encontra entre o LCGMIN e LCGMAX possíveis, de forma que a disposição exata destes componentes fica a critério do projetista após a conclusão desta etapa preliminar do projeto. Figura 4: Geometria da embarcação A escolha pelo modelo geométrico em detrimento de utilizar o calado como uma variável de projeto deve-se se ao fato da próxima etapa da pesquisa desenvolvida sugerir a geração de linhas nhas de casco preliminares para as soluções obtidas pelo algoritmo. Esse processo fica facilitado se algumas características principais da embarcação estão disponíveis, tais como o valor de LPROA, conforme mostra a proposta de Calkins (1983). Por este modelo, podem-se definir o volume submerso, calculado a partir do valor de deslocamento da embarcação, que é variável de projeto; e o calado proposto, proposto que é obtido a partir da geometria da embarcação – L, B, D, HCH e LPROA – e do cálculo do volume submerso. 7.5.1 – Volume interno da embarcação O volume interno da embarcação foi calculado pelo Método Expedito apresentado na NORMAM 01,, válido para embarcações menores que 24m. Admite-se Admite apenas o volume do casco, desconsiderando a superestrutura. Sua fórmula é reduzida a: 2 2 B − B 2 B B 2 2 2 PX V INT = + (D − H CH ) + PX + H CH + ⋅ 0,18 ⋅ LPP 2 2 2 1 Peso estrutural do casco Peso do sistema de propulsão (excl. ( motor) 3 Peso da planta de energia elétrica 4 Peso dos aparelhos eletrônicos nicos 5 Peso da plantas de sistemas auxiliares auxiliar 2 (3) 7.6 – Estabilidade estática e dinâmica A mais importante restrição de estabilidade a ser verificada é a estática transversal, pois garante que o casco não emborcará ao ser colocado na água. Sua fórmula é dada por: po 6 GM (4) = KB + BM – KG > 0 Lastro positivo – ∆ é uma variável de projeto. Mas, pelo fato do trabalho utilizar o método de Grubisic (2008) para também estimar o peso da embarcação, é necessário garantir que o primeiro valor seja obrigatoriamente maior que o segundo – onde a igualdade de valores ocorre pela adição de lastro – para validar a estimativa feita pelo módulo de resistência ao avanço; LCG adequado – por ser variável de projeto e também estimado pelo módulo de centros, recebe o mesmo tratamento que a restrição anterior. O modelo verifica se o LCG escolhido pelo algoritmo de otimização e utilizado para o cálculo de outras características corresponde ao determinado pelo arranjo (conforme explicado em 5.5); Funcionamento do motor – o modelo avalia, de acordo com a resposta dada pelo módulo de integração, se o motor escolhido consegue trabalhar na potência e rotação requeridas para as velocidade de cruzeiro e velocidade máxima. • Portanto, estes parâmetros são provenientes do: • • KB – módulo de geometria. É calculado considerando o casco um prisma pentagonal em toda sua extensão, similar ao corpo da geometria proposta. Este modelo é conservador (apresenta valores menores ou iguais ao real) e tem implementação bastante simplificada. BM – módulo de geometria. Utiliza composição entre um triangulo e um retângulo, de área aproximada à a AWL da embarcação. De maneira similar ao KB, é uma proposta conservadora de implementação simplificada. KG – módulo de pesos e centros. É, por natureza, igual ao VCG. Para o caso das embarcações de planeio, é importante também avaliar o caso de estabilidade dinâmica longitudinal, também definida como porpoising. Ela representa a combinação de movimentos oscilatórios, em pitch e em heave, de amplitude constante ou crescente, de uma embarcação de planeio em águas calmas, e em casos críticos podem levar a embarcação a sair inteiramente da água ou “mergulhar” com a proa, podendo ocorrer acidentes graves, devido à brusca desaceleração. É calculada com base nos estudos de Celano (1998). A estabilidade dinâmica transversal também é verificada neste trabalho. Ela trata da diferença de pressões existentes à bombordo e a boreste em uma embarcação de casco em forma de V quando existe um certo ângulo de roll na embarcação. É calculada com base nos estudos de Lewandowski (1996). 8 – Restrições decorrentes de módulos A utilização do estudo de Grubisic (2008) para pesos, do modelo de centros, da geometria do casco e da integração casco-hélice-motor implica em outras restrições, que são: • LPROA adequado – Como o valor de LPROA é determinado pela comparação do cálculo geométrico do volume deslocado e o numérico decorrente do deslocamento em peso, o algoritmo precisa certificar que a embarcação mantenha um perfil similar às embarcações existentes no mercado por análise de semelhantes; • • 9 – Resultado dos testes e comparativo entre modelo projetado e real A avaliação do algoritmo desenvolvido se deu inicialmente pela realização de três testes mono-objetivo com cada um dos dois méritos citados – maximizar o volume interno e minimizar o peso total da embarcação – visando comprovar a convergência das respostas e a faixa de variação das variáveis de projeto para os resultados da fronteira de Pareto. Os valores de convergência e as principais características são apresentados na tabela a seguir. Tabela 4: Resultados dos testes monoobjetivo Bpx Vol. Int. (m3) Peso Total (kg) • D Beta W LCG Mérito 1 3.50 1.80 15.46 8688 4.24 8688.00 2 3.50 1.81 15.05 8670 4.17 8670.77 3 3.50 1.80 15.21 8625 4.15 8625.98 Média 3.50 1.81 15.24 8661 4.19 8661.59 1 4.50 2.80 15.00 14102 4.59 187.80 2 4.50 2.80 15.00 14677 4.29 187.79 3 4.50 2.80 15.00 13427 4.17 187.80 Média 4.50 2.80 15.00 14069 4.35 187.80 Verificada a convergência – o que também define os limites da fronteira de Pareto a ser obtida no caso bi-objetivo – plotamos os resultados obtidos para todas as variáveis de projeto de forma a notar se existe alguma 7 tendência visível. Estes dados são apresentados adimensionalmente (em relação ao seu intervalo de variação) e são necessários para verificar a consistência dos testes bi-objetivo realizados. evolução de acordo com a bibliografia e forma similar entre si. A Fronteira de Pareto a seguir e os gráficos de evolução da otimização apresentados no anexo são para o caso de 100 gerações, com 5000 elementos em cada uma delas. Figura 5: Análise de sensibilidade de variáveis de projeto para otimização monoobjetivo (peso total) Para o primeiro caso, podem ser notados fortes tendências de minimizar os valores de boca, pontal e ângulo de deadrise. Figura 7: Fronteira de Pareto resultante de otimização bi-objetivo Como os ensaios objetivos geram uma fronteira de Pareto, a comparação com os testes mono-objetivo é realizada por meio da média dos resultados nela presentes. Nota-se que a fronteira obtida está de acordo com os limites encontrados nos testes mono-objetivo. Figura 6: Análise de sensibilidade de variáveis de projeto para otimização monoobjetivo (volume interno) No segundo caso, nota-se uma forte tendência de maximizar boca e pontal da embarcação, enquanto minimiza-se o ângulo de deadrise – o que concorda com a análise de sensibilidade da equação proposta para o cálculo do volume interno. Considerando a natureza de oposição dos méritos, é de se esperar que a otimização biobjetivo entre eles encontre equilíbrio na avaliação da boca, pontal e peso da embarcação, sem maiores conclusões acerca das outras variáveis de projeto. Verifica-se também que o ângulo de deadrise certamente será minimizado, expondo a necessidade de, em aplicações práticas, utilizar adicionalmente outro mérito que equilibre este parâmetro, como por exemplo a manobrabilidade da embarcação. Para o caso proposto – otimização bi-objetivo - foram utilizadas diversas configurações de população inicial e número de gerações, as quais apresentaram características de Figura 8: Sensibilidade de variáveis de projeto para testes mono- e bi-objetivo (peso total e volume interno) Verifica-se a tendência de equilíbrio para a boca, pontal e peso total, além da minimização do ângulo de deadrise. Embora os outros parâmetros não sejam conclusivos, a adição de novos métodos ao modelo de síntese (tais como manobrabilidade e análise estrutural) pode evidenciar novas tendências. Índice de Abreviações Ae/Ao B BM BPX Cl0 Razão de áreas do hélice Boca da embarcação Raio metacêntrico da embarcação Boca máxima da embarcação Coeficiente de sustentação para barcos com ângulo de deadrise 8 D DH H HCH IT KB L LCG LLEME LMOTOR LP LPROA NMOTOR NPASS P/DH PMOTOR RMOTOR RT V VCG VINT VMAX W AGUA W BH W COMB W DWT W FL αeixo β ∆ τ zero Bibliografia Pontal da embarcação Diâmetro do hélice Calado da embarcação Altura do chine da embarcação Inércia transversal da embarcação Distância da quilha ao centro de carena Comprimento da embarcação Distância longitudinal entre perpendiculares entre o CG do casco e sua popa Comprimento do leme Distância longitudinal entre perpendiculares entre o CG do motor e popa do casco Comprimento entre perpendiculares do casco Distância longitudinal entre peropendiculares entre a proa e o começo da seção mestra do casco Número do motor (escolha discreta de lista) Número de passageirosmáximo na embarcação Razão passo/diâmetro do hélice Potência requerida do motor Rotação requerida pelo motor Resistência total da embarcação Velocidade de cruzeiro da embarcação Distância vertical entre entre o CG do casco e sua quilha Volume interno da embarcação Velocidade máxima da embarcação Peso da parcela referente à água Peso da parcela referente ao casco barehull Peso da parcela referente ao combustível Peso da parcela referente ao deadweight Peso total estimado da embarcação Inclinação do eixo do motor Ângulo de deadrise BLOUNT, D. L.; BARTEE, R. J. Design of Propulsion Systems for High-Speed Craft. Marine Technology, vol. 34, 1997. Deslocamento da embarcação Ângulo de trim da embarcação BLOUNT, D. L.; CODEGA, L. T. Dynamic Stability of Planing Boats. Marine Technology, vol. 29, 1992. BLOUNT, D. L.; FOX, D. L. Small-Craft Power Prediction. Marine Technology, Vol. 13, 1976. CALKINS, D.E. An Interactive Computer-Aided Design Synthesis Program for Recreational Powerboats. SNAME Transactions, Vol. 91, 1983. CELANO, T. The Prediction of Porpoising Inception for Modern Planing Craft. SNAME Transactions, Vol. 106, 1998. DPC. NORMAM 01 – Embarcações Empregadas na Navegação de Mar Aberto, Marinha do Brasil. EVANS, J.H.; Basic Design Concepts. Naval Engineers Journal, Vol. 71, Nov. 1959. GRUBISIC, I. Reliability of weight Prediction in the Small Craft Concept Design. apresentado no HIPER'08, 2008; Itália. LEWANDOWSKI, E. M. Maneuverability of High-Speed Power Boats. Power Boat Symposium, SNAME 1993. LEWANDOWSKI, E. M. Prediction of the dynamic roll stability of hard-chine planing craft. Journal of ship Research, 1996. LEWANDOWSKI, E. M. Transverse Dynamic Stability of Planing Craft. Marine Technology, vol. 34, 1997. LYON, T.D.; MISTREE, F. A Computer Based Method for the Preliminary Design of Ships. Journal of Ship Research, Vol. 29, No. 4, pp.251-269, 1985. MISTREE, F.; SMITH, W.F.; BRAS, B.A.; ALLEN, J.K.; MUSTER, D., Decision-Based Design: A Contemporary Paradigm for Ship Design. Transactions SNAME, pp. 565-597, 1990. PARSONS, M.G.; SCOTT, R.L. Formulation of Multicriterion Desing Optimization Problems for Solution with Scalar Numerical Optimization Methods. Journal of Ship Research, Vol.48, No.1, pp. 61-76, March 2004. RADOJCIC, D. A Statistical Method for Calculation of Resistance of the Stepless Planing Hulls. International Shipbuilding Progress, Vol. 31, 1984. 9 RADOJCIC, D, An Approximate Method for Calculation of Resistance and Trim of The Planing Hulls. apresentado no SNAME Power Boat Symposium em Fev/1985; Florida, EUA. RADOJCIC, D. An Engineering Approach to Predicting the Hydrodynamic Performance of Planing Craft Using Computer Techniques. Royal Institution of Naval Architects, 1990. SAVITSKY, D.; NEIDINGER, J. Wetted Area and Center of Pressure of Planing Surfaces at Very Low Speed Coefficients. Stevens Institute of Technology, Davidson Laboratory Report No. 493, 1954. SAVITSKY, D. Hydrodynamic Design of Planing Hulls. Marine Technology, Vol. 1, 1964. SAVITSKY, D.; BROWN P. W. Procedures for Hydrodynamic Evaluation of Planing Hull in Smooth and Rough Water. Marine Technology, Vol. 13, 1976. SAVITSKY, D.; DELORME, M., DATLA, R. Inclusion of Whisker Spray Drag in Performance Prediction Method for HighSpeed Planing Hulls. Marine Technology, Vol. 44, 2007. SIMÕES, F.; BACOVSKY, V.; PANCIOLI, B.; CIOCCHI, M.; GUIMARÃES, D. Modelo de Síntese para Projeto Preliminar de Embarcações de Planeio. Tese de Graduação do curso de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2009. 10