PDF - Revista Ciências da Saúde - Universidade Federal de Santa
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REVISTA CIÊNCIAS DA SAÚDE ISSN 0101 – 9546 Revista Ciências da Saúde Florianópolis V. 28, N. 1 P. 1-56 2009 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Reitor: Álvaro Toubes Prata Vice-Reitor: Carlos Alberto Justo da Silva CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Diretora: Kenya Schmidt Reibnitz Editoração eletrônica STUDIO S ● Diagramação & Arte Visual [email protected] (48) 3025-3070 Capa Paulo Roberto da Silva Revisão Rodrigo Brasil Secretário Luiz Vicente Vieira Revista Ciências da Saúde é uma revista semestral editada pelo Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina. Comissão Editorial: Tânia Silvia Fröde (Editora-chefe-UFSC), Roberto Henrique Heinish (Clínica Médica – UFSC), Inês Beatriz Rath (Estomatologia-UFSC), Liliane Janete Grando (Patologia-UFSC), Elisabeth Wazlawik (Nutrição-UFSC), Maria Itayra Coelho de Souza Padilha (Enfermagem-UFSC), Patrícia Haas (Análises ClínicasUFSC). Comissão Consultiva: Cláudia Maria Mattos Penna (UFMG), Márcia de Assunção Ferreira (UFRJ), Almerinda Moreira (UNIRIO), Rubens Rodrigues Filho (UFSC), Cleusa Rios Martins (UFSC), Maurício Pereima (UFSC), Elisete Navas Sanches Próspero (UNIVALI), Carlos Alberto Bezerra Tomaz (UNB), Beatriz Gonçalvez Ribeiro (UFRJ), Luciane Azevedo (Unifal MG), Mercedes Gabriela Ratto Reiter (FURB), Antônio Carlos Marasciulo (UFSC), Rosane Nitschke (UFSC), Marize Melo dos Santos (UFPI), Maria do Carmo Machado Guimarães (Universidade Católica de Brasília), Fabian Calixto Fraiz (UFPR). (Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina) Revista Ciências da Saúde / Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. -- v.1, n.1 (1982)- , - Florianópolis: Imprensa Universitária, 1982. v.: 27cm Semestral ISSN 0101-9546 1.Ciências Médicas. 2. Saúde-pesquisas. I. Universidade Federal de Santa Catarina. II Centro de Ciências da Saúde. Indexada na Base de Dados LILACS Endereço: Revista Ciências da Saúde - Secretaria do Centro de Ciências da Saúde da UFSC Campus Universitário - Trindade Caixa Postal 476 88040 970 - Florianópolis - SC Telefone (0xx) 48 3721-9525 / 3721-9783 / (0xx) 48 3721-9712 ramal 211 SUMÁRIO Editorial..................................................8 AÇÃO EDUCATIVA DE ENFERMAGEM COM ADOLESCENTES: CONHECENDO A SEXUALIDADE. [Educative action of nursing with adolescents: knowing the sexuality]. Gabriela Marcellino de Melo Lanzoni; Mônica Motta Lino; Kenya Schmidt Reibnitz; Vânia Marli Schubert Backes e Miriam Alice do Lago.......................................................9 PERDAS DENTÁRIAS: CAUSAS, IMPACTOS E EXPECTATIVAS DE PACIENTES DAS CLÍNICAS DO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI. [Tooth loss: causes, impacts, expectations of patients at the clinics of the Dentistry course of the University of Vale do Itajaí (SC) – UNIVALI]. Elisabete Rabaldo Bottan; Luciane Campos; Constanza Marín de Los Rios odebrechet...........................................16 FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES E SUAS ASSOCIAÇÕES COM OBESIDADE. [Risk factors for cardiovascular disease and its associations with obesity]. Michele Medeiros Silveira, Maria da Graça Winckler Balen, Rodrigo Schütz, Elizabeth Martins Hermes, Diva Sonaglio; Geny Aparecida Cantos..................................................23 DADOS PRELIMINARES DO “PROGRAMA DE PSICOLOGIA CONSULTA ÚNICA PRELIMINARY [Data of the “psychology only consultation program] Rachel Schlindwein-Zanini; Cláudio José Amante; Lilian Tedy Pereira……………...............................31 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADOLESCENTE: ESTUDO DO CONTEXTO SOCIAL ENVOLVENDO PROJETOS E PROGRAMAS EM UMA COMUNIDADE DE FLORIANÓPOLIS/SC [Teenagers health care: study of social context involving projects and programs in a community from Florianópolis/SC] Thaís Titon de Souza; Monica Barreto; Leandro Ribeiro Molina; Maria Fernanda Cabral; Viviane Hultmann Nieweglowski; Marco Aurélio Da Ros.................................................36 A HUMANIZAÇÃO DA ATENÇÃO NUTRICIONAL A PARTIR DA READEQUAÇÃO DE HORÁRIOS DE REFEIÇÕES HOSPITALARES [The humanization of nutritional care through adequation of hospital meal schedules] Thaís Titon de Souza; Anete Araújo de Sousa...................................................44 Normas Editoriais.................................51 Revista Ciências da Saúde Editorial Prezado Leitor, Os sonhos são muito importantes para que a gente tenha esperanças e perspectivas futuras na realização pessoal bem com na vida profissional. É por este motivo que estamos divulgando neste editorial a poesia “Não fossem os Sonhos”, de Cissa de Oliveira, Doutora em Genética e Biologia Molecular pela UNICAMP. Se não fossem os sonhos as estrelas são as bolhas de sabão do céu cristalizadas nos sonhos que a gente não sabe que tem não acorde os sonhos com o barulho das máquinas erguendo casas por onde abrigá-los deixe-os quarando ao vento sob a sua poeira líquida de anil inocência e liberte-os ao sol derretido entre as águas límpidas de um rio - não fossem os sonhos não haveria estrelas no mar Cissa de Oliveira. Boa leitura! Tânia Silvia Fröde 8 Lanzoni, G. M. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 9-15, jan./jun. 2009 AÇÃO EDUCATIVA DE ENFERMAGEM COM ADOLESCENTES: CONHECENDO A SEXUALIDADE. [Educative action of nursing with adolescents: knowing the sexuality] Gabriela Marcellino de Melo Lanzoni1; Mônica Motta Lino2; Kenya Schmidt Reibnitz3; Vânia Marli Shubert Backes4; e Miriam Alice do Lago5. Resumo: Atividade educativa desenvolvida por Acadêmicos do Curso de Graduação em Enfermagem, praticada em uma escola do município de Florianópolis. Sua realização ocorreu no período de dois meses, por meio de cinco encontros com duas turmas de alunos de 7ª série, atendidos separadamente. Os resultados demonstraram acentuado interesse sobre sexualidade, por parte dos adolescentes, por ser assunto pouco discutido na escola e em casa. A ação educativa fortaleceu o vínculo entre Unidade Local de Saúde e escola. Palavras-chave: Enfermagem, Adolescente, Sexualidade. Abstract: Educative activity developed by Academics of the Graduation in Nursing, developed in a school in the city of Florianópolis. This realization happened in the period of two months, in two groups of 7 graders, who worked separately in five meetings each group. The results had demonstrated great interest on the subject in guideline - sexuality - on the part of the adolescents, for being a little discussed in their classes. This subject rarely discussed in their school and at houses. The educative action fortified the bond between Local Unit of Health and the school. Keywords: Nursing, Adolescent, Sexuality. INTRODUÇÃO Quando o profissional enfermeiro se insere no campo de saúde pública, especialmente na Unidade Local de Saúde (ULS), é indispensável que trace o perfil da comunidade, a partir da coleta de dados formais (indicadores sociais) e informais (relatos e conversas com os indivíduos inseridos neste contexto). Levando em conta esses dados, pode entender e desenvolver seu trabalho com responsabilidade, gerando maior envolvimento, facilidade para compreender a realidade e direcionamento em sua prática assistencial. A partir desta lógica no campo de trabalho, é importante também que os acadêmicos de enfermagem desenvolvam esta habilidade durante a sua formação, em atividade prática orientada, com o intuito de formar profissionais com maior preparo e qualificação. Como proposta de ensino e atuação no campo da saúde coletiva, um grupo com- _____________________________ 1 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Bolsista CNPq. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração de Enfermagem e Saúde (GEPADES/UFSC). Endereço: Rua Jomilda Carmargo da Cunha, n.237, apto101, Bl A, Kobrasol, São José (SC) – Brasil. E-mail: [email protected] 2 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Bolsista CNPq. Membro do Grupo de Pesquisas em Educação em Enfermagem e Saúde (EDEN/UFSC). E-mail: [email protected] 3 Drª em Enfermagem. Profª Titular Deptº Enfermagem UFSC. Membro do Grupo de Pesquisas em Educação em Enfermagem e Saúde - EDEN/PEN/UFSC. Vice - diretora do Centro de Ciências da Saúde - CCS/UFSC. Email: [email protected] 4 Drª em Enfermagem. Profª Adjunta Depto Enfermagem UFSC. Diretora de Educação ABEN/SC. Coordenadora do Grupo de Pesquisas em Educação em Enfermagem e Saúde – EDEN/PEN/UFSC. Vicecoordenadora Pós-graduação em Enfermagem da UFSC. E-mail: [email protected] 5 Mestre em Saúde Pública - UFSC. Enfermeira Sanitarista do CAPSi – Centro de Atenção Psicossocial Infantil da Secretaria Municipal da Saúde de Florianópolis/SC. E-mail:[email protected] 9 Lanzoni, G. M. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 9-15, jan./jun. 2009 posto por dez acadêmicos de graduação em enfermagem por dez acadêmicos de graduação em enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desenvolveu uma atividade educativa durante seu período de estágio na ULS, na disciplina Enfermagem na Atenção Primária de Saúde – INT5131, durante a quarta fase da graduação. Para tanto, as autoras deste relato buscaram apoio na literatura específica e levantamento de dados objetivos e subjetivos sobre a comunidade e a ULS a qual foram desenvolvidas as atividades, para discussão, reflexão e construção de um diagnóstico da realidade encontrada. Entendemos que a territorialização é indispensável para caracterizar a comunidade. Por meio da interpretação dos indicadores sócio-econômicos, populacionais, culturais e de nível de saúde, visa traçar um perfil e mapear a área de abrangência da Unidade Local de Saúde. Para tanto é necessário efetuar o diagnóstico da comunidade, que consiste em investigar o contexto geral no qual está inserido, em busca de deficiências, fragilidades e necessidades, com o intuito de propor possíveis soluções1. Assim sendo, o plano de ação, ou seja, a atividade educativa escolhida para trabalhar no período de estágio na ULS foi pautada na “Sexualidade na Adolescência”, realizada com alunos da sétima série, em uma escola pública de ensino fundamental. Orientar, desenvolver e discutir questões sobre este assunto foi, de fato, relevante levando-se em consideração a análise dos indicadores da comunidade assistida e por se tratar de um tema atual, crescente e preocupante. A prática educativa é cabível dentro deste contexto, sendo que faz parte das ações de enfermagem no que tange à promoção de saúde. Educação em saúde nas escolas e na ULS trata-se de uma atitude da Enfermagem inerente ao cuidado integral ao ser humano. “As discussões envolvendo o cuidar associado ao educar, podem ser vistas como extremamente convenientes e saudáveis, haja vista, a importância de se trabalhar estes dois conceitos de maneira integrativa. Cuidar e educar são ações inerentes ao ser humano, e, por conseguinte, intrínsecas aos profissionais da área da saúde. Neste aspecto, a articulação entre cuidar e educar é o arcabouço para o exercício do desenvolvimento profissional em saúde, versando entre outros aspectos, os saberes de forma criativa, estética, ética, política e técnica”2:609. Plano de adolescência ação: sexualidade na A partir dos dados coletados por meio dos indicadores estatísticos, discussão com moradores e trabalhadores do bairro, se identificou que gravidez na adolescência é um tema que preocupa tanto moradores da comunidade quanto profissionais da ULS. As modificações corporais, durante a adolescência, despertam novos desejos, sentimentos, medos e ansiedades. Nesta etapa iniciam-se os namoros. Tudo muda muito rápido, tão rápido que é difícil adaptar-se a essas transformações, o que gera insegurança. Sabe-se que os adolescentes, no mundo inteiro, estão começando a vida sexual cedo, o que os deixa expostos a riscos como o de uma gravidez indesejada ou de contrair doenças sexualmente transmissíveis (DST). A orientação e a informação podem minimizar os riscos e ajudar o adolescente a viver essa etapa com menos dúvidas e medo, permitindo, assim, um crescimento saudável e feliz. Os objetivos da ação educativa foram orientar, desenvolver e discutir sobre sexualidade na adolescência com os adolescentes, oportunizando momentos de reflexão, de trocas e crescimento dos estudantes, acadêmicos e dos profissionais da ULS envolvidos. Os sujeitos: Duas turmas de adolescentes que freqüentam a 7ª série de uma escola pública de ensino básico, 10 Lanzoni, G. M. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 9-15, jan./jun. 2009 somando 50 estudantes, com faixa etária entre 13 e 17 anos. As parcerias estabelecidas: Os profissionais da Unidade Local de Saúde estimularam e apoiaram a ação educativa fornecendo materiais didáticos (folder, canetas, mostruário de métodos contraceptivos, caixa de planejamento familiar...) e ainda, camisinhas masculinas para distribuição entre os estudantes. Uma Agente Comunitária de Saúde auxiliou a ação, favorecendo o vínculo entre a direção da escola e acadêmicas de enfermagem. A equipe de Residência em Saúde da Família demonstrou interesse no trabalho, sendo que uma assistente social e uma psicóloga desta puderam contribuir com as atividades durante alguns encontros. A escola apoiou prontamente, a diretora, juntamente com a pedagoga da instituição, disponibilizam horários de aula para a execução das atividades, bem como amplo ambiente, iluminado, com carteiras, tapetes, quadro e colchonetes. Houve apoio de alguns professores que inclusive participaram do trabalho, mas também houve resistência de outros, se configurando na dificuldade em liberar os adolescentes dos horários de aula para participarem das atividades. Metodologia Optou-se por trabalhar com esta escola, por ser referência na região, dada sua maior abrangência de casos de gestação na adolescência e DST referidos, bem como preocupação e empenho por parte da direção e orientação da escola em resolver a situação exposta. As turmas escolhidas foram duas turmas de 7ª série, onde a questão sexualidade é bastante conveniente, dada a abrangência de faixa etária (13 a 17 anos) e por ser uma turma que tem mais um ano ainda na escola (8ª série), possibilitando a continuidade do trabalho por outros profissionais da ULS que demonstrarem interesse. Foram realizados cinco encontros com os estudantes, com duração de duas horas aula cada, ou seja, 100 minutos, no mês de setembro de 2005. As turmas foram atendidas separadamente. Os dias de encontro foram alternados, para não ocupar a mesma disciplina caso fosse fixado um dia na semana. Iniciou-se o estudo com uma pesquisa por meio da aplicação junto aos estudantes, de um questionário estruturado, visando traçar um rápido perfil desses adolescentes e identificar o interesse da população em questão sobre a proposta. Assim, seria possível focar a atenção nos pontos que se mostrassem mais frágil, bem como interesses de abordagens que os adolescentes manifestassem. A ação educativa visou oficinas, num ambiente descontraído o suficiente para discutir temas sobre sexualidade (que ainda é um tema constrangedor e pouco abordado), tendo como ponto de partida o perfil dos adolescentes conforme resultados do questionário e esclarecer dúvidas que forem surgindo com o decorrer das atividades realizadas, a serem descritas. Por se tratar de uma ação educativa desenvolvida com adolescentes, este trabalho seguiu os trâmites necessários em respeito às normas éticas previstas para ações com seres humanos. Os pais dos adolescentes autorizaram a participação dos filhos na ação educativa por meio do setor de orientação educacional da escola, bem como houve autorização formal da instituição para desenvolver a atividade. Antes de cada atividade, foi entregue um roteiro com o planejamento, descrição, objetivo e justificativa das ações para o professor e a direção da escola, bem como uma cópia para a ULS. 11 Lanzoni, G. M. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 9-15, jan./jun. 2009 Relatando o processo educativo a) A apresentação: primeiro encontro O primeiro contato com os alunos foi iniciado com uma dinâmica de apresentação, feita em círculo, para que houvesse um maior entrosamento entre todos os envolvidos. A opção de trabalhar em círculo partiu da experiência vivenciada anteriormente pelas acadêmicas, em sala de aula. Há um princípio figurativo de que no centro do círculo há um objetivo que todos temos em comum. A distância para alcançar este objetivo, almejado coletivamente, é a mesma de qualquer membro no círculo e que devemos construir maneiras para atingir o objetivo, em grupo, além de possibilitar que todos se olhem e se respeitem independente do posicionamento na sala. Esta foi a idéia trazida ao grupo nesta dinâmica. Este propósito vem ao encontro da idéia de que “não há um que sabe e outro que não sabe, mas dois que sabem coisas distintas”3:13 e, além disso, que é importante a troca de informações e experiências, onde não há um que ensina e um que aprende, mas dois que crescem juntos por meio de educação dialogada e participativa. Na dinâmica, o primeiro estudante falou seu nome. O segundo estudante falava o nome do primeiro e o seu próprio. O terceiro falava o nome do primeiro, do segundo e o seu nome e assim por diante até que todos tenham se apresentado. O objetivo é que com a repetição dos nomes eles se sintam mais valorizados e mais facilmente lembrados. Após a apresentação de todos, a ação educativa foi explicada para os adolescentes: como seria conduzida e qual eram o objetivo desta e, então, o instrumento inicial (questionário) foi aplicado para traçar o diagnóstico situacional de cada turma no que tange a sexualidade. Dos 50 adolescentes que compuseram as duas turmas, participaram desta atividade 36 adolescentes, pois 14 deles estiveram ausentes. Do total de participantes, 16 eram do sexo feminino e 20 do sexo masculino, os quais relataram que para falar sobre sexo, a maioria, 71,25% dos sujeitos, escolhe falar com os amigos, já 52,5% escolhem os pais, 40% dos participantes conversam com o (a) namorado (a) e 38,25% dos adolescentes não falam sobre o assunto. Quando questionados se sabem o que fazer para não engravidar, todos os participantes do sexo masculino responderam que sim, já 6,25% das adolescentes não responderam, denotando uma lacuna no conhecimento acerca do tema. Todos os sujeitos do sexo masculino responderam que tem conhecimentos sobre os métodos para evitar a gravidez; no entanto, observa-se que 10% deles já possuem filhos. A atividade sexual foi iniciada por 55% dos sujeitos do sexo masculino, dentre o grupo do sexo feminino 87,5% ainda não teve experiência sexual, 6,25% já iniciaram e 6,25% não responderam. Do grupo que já teve experiências sexuais, 100% dos sujeitos do sexo feminino e 50% do masculino usam camisinha sempre, 15% usa às vezes e 35% nunca usam. Também foi questionado se já pensaram em fazer um aborto. Sobre isso, 93,75% dos sujeitos do sexo feminino responderam que não, e 6,25% não responderam. Os participantes do sexo masculino, em sua maioria (75%), também não pensaram em incentivar ao aborto, sendo que 5% responderam que já pensaram e 20% não responderam. Quanto aos cuidados pessoais femininos e orientação mais especializada, questionamos se já foram se consultar com um ginecologista. Do grupo do sexo feminino 25% já foram e 75% ainda não. E ao questionarmos acerca do conhecimento/controle do ciclo menstrual, 62,5% das adolescentes responderam que sim e 37,5% informaram que não. Estes dados serviram de balizadores para o planejamento de nossas atividades, 12 Lanzoni, G. M. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 9-15, jan./jun. 2009 ficando estabelecidos os seguintes temas a serem discutidos: Conhecendo o nosso corpo, Sexualidade e sexo, Doença Sexualmente Transmitida e Saúde e, por fim, Métodos contraceptivos. b) Conhecendo o nosso corpo: segundo encontro O objetivo desta atividade, no segundo encontro, foi o de reconhecer como os alunos em questão percebiam as modificações que ocorreram e estão ocorrendo em seu corpo físico, assim como observar se havia constrangimento em falar sobre este assunto, já que meninos e meninas estavam juntos nesta atividade. A atividade foi desenvolvida da seguinte forma: foi incumbido a cada um que se desenhasse como bebê e depois, como se vê agora – como adolescente. Em seguida eles fizeram a comparação do antes e do depois/agora e foram discutidas as mudanças que ocorreram em seu corpo, como eles vêem essas mudanças e o porquê dessas modificações. A atividade transcorreu de maneira tranqüila e os objetivos propostos pela equipe foram alcançados. As turmas participaram de forma satisfatória, embora duas alunas de uma das turmas se isolaram um pouco do restante por se mostrarem pouco à vontade com o tema. Vale lembrar que todos tinham total liberdade em querer ou não participar das oficinas. c) Sexualidade e sexo: terceiro encontro O objetivo desta atividade foi estimular a discussão sobre elementos importantes da sexualidade e sexo de um modo lúdico por meio de um jogo de cartas, e também conhecer o ponto de vista dos adolescentes sobre os assuntos. O jogo constituiu-se das seguintes etapas: Distribuíram-se cartas contendo as perguntas/afirmações: “Sêmen é a mesma coisa que espermatozóide”; “Mulheres que já menstruam podem ter filhos”; “Só meninos se masturbam”; “A transmissão da AIDS só acontece pela relação sexual”; ”Meninas também podem usar camisinha e é a mesma que os meninos usam”; “Sexo é uma coisa feia”; “A menstruação acontece por causa de hormônios”; “Ovulação é a mesma coisa que menstruação”; “A camisinha serve apenas para prevenir gravidez”; “A ejaculação é a saída do sêmen devido a um estímulo sexual”; “Na adolescência surgem espinhas e cravos”; “Sexo oral pode transmitir doenças”; “Quanto tempo leva para nascer um bebê?”; e, “Para que serve o anticoncepcional?”; Cada participante iniciou com uma ou duas cartas; Com o lado escrito virado para si, o iniciante pediu ao colega da direita/esquerda que a lesse sem saber qual mensagem estava contida na carta; Esta pessoa leu a mensagem em voz alta, discutiu se estava “certo/errado”; caso não soubesse a resposta, as facilitadoras esclareceram; O jogo continuou até que todas as cartas foram lidas e esclarecidas; Ganhou um brinde quem respondeu corretamente. Esta atividade foi avaliada como muito produtiva e gerou boas discussões, todos participaram com bastante interesse e atenção, várias dúvidas foram esclarecidas e a partir desta atividade também foram selecionados os temas dos encontros seguintes: DST e prazer na relação sexual. d) Doença Sexualmente Transmitida e Saúde: Quarto encontro O objetivo desta oficina foi realizar uma atividade lúdica de forma a fornecer informações, discutir, saber se já existia contato prévio dos estudantes com o conteúdo, conhecer as opiniões e 13 Lanzoni, G. M. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 9-15, jan./jun. 2009 manifestações a respeito das seguintes DST: gonorréia, clamídia, sífilis, HPV e cancro mole, utilizando como estratégia uma Gincana. A atividade lúdica consistiu em uma gincana na forma de circuito integrado. A turma foi dividida em cinco subgrupos. Cada subgrupo possuía um moderador (acadêmica de enfermagem) que apresentou um cartaz contendo imagens de uma doença sexualmente transmissível. Nesta etapa os adolescentes puderam manifestar suas opiniões a respeito das doenças, livres para escrever no cartaz, bem como dirimir suas dúvidas em relação ao assunto. Num segundo momento do circuito, cada moderador (responsável por uma DST) esclareceu as dúvidas, orientou e transmitiu noções sobre cada uma das DST debatidas. Após um determinado tempo, os moderadores alternavam-se nos grupos de modo que todos pudessem trabalhar cada uma das DST abordadas. Foi planejada uma segunda etapa que consistia numa gincana intitulada “Gincana DST x Saúde”, contendo perguntas e respostas, e também uma Palavra Cruzada conforme planejamento das atividades, mas devido ao pouco tempo não foi possível realizá-la. e) Métodos encontro Contraceptivos: Quinto O objetivo desta oficina foi realizar uma atividade lúdica, de forma a fornecer breves noções sobre o uso e eficácia dos métodos contraceptivos existentes, dentre eles: camisinha masculina e feminina, diafragma, espermicida, contraceptivos hormonais (pílula e injetável), DIU (dispositivo intra-uterino) e métodos comportamentais (tabelinha e coito interrompido). Outro objetivo da atividade consistia em estimular os adolescentes ao uso dos métodos conteraceptivos de modo a promover a prevenção de DST e gravidez não planejada. A metodologia empregada foi a formação de pequenos grupos, no total de seis equipes com média de três e quatro adolescentes cada. Esses subgrupos possuíam um moderador (acadêmica de enfermagem) que tratava de um método contraceptivo específico. Nessa oportunidade, os adolescentes dirimiam suas dúvidas a respeito dos principais métodos abordados, possibilitando discussão sobre os temas. Cada equipe – por meio dos próprios adolescentes - repassou as informações a respeito de seu método contraceptivo ao grande grupo. Essa atividade foi realizada de forma que envolvia a todos. Ao término da explicação de cada equipe surgiam aplausos e incentivos gerais. O clima alegre e descontraído era contagiante e favoreceu a troca recíproca de conhecimentos e experiências vividas. Pode-se perceber que a divisão em pequenos grupos para a realização das atividades lúdicas em questão, favoreceu, e muito, a aproximação com os alunos, com suas dúvidas, com seus questionamentos e contribuiu sobremaneira para o estabelecimento de um vínculo, de certo modo até mesmo afetivo, que aperfeiçoou o aprendizado. Nesta última atividade foi realizada também avaliação das atividades aplicadas através de uma dinâmica de grupo da seguinte forma: cada aluno, sem identificação, escrevia em um pequeno papel sua opinião sobre as atividades até então realizadas, sendo que era oportunizada, também, a possibilidade de realizar quaisquer perguntas sobre o tema e eventuais críticas. Cada aluno recebia uma bexiga (balão), onde colocava o seu papel contendo seu relato. Em seguida os balões eram jogados para cima e depois misturados. Todos estouravam os balões e recolhiam um papel aleatoriamente. Fizemos um grande círculo onde cada aluno lia o relato descrito no papel recolhido, dos quais destacamos: 14 Lanzoni, G. M. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 9-15, jan./jun. 2009 Achei essa aula hoje muito interessante e legal. Porque eu aprendi muitas coisas que eu não sabia principalmente como tomar pílula. (Estudante 05) Eu achei que foram os dias mais importantes de minha vida. Eu agora tenho certeza que daqui para frente eu vou saber e posso ensinar para os outros que não é muito bom engravidar antes de ter um futuro. E eu até aprendi a perder a vergonha, porque eu tinha que falar na frente. Eu quero dizer que essas meninas são um exemplo a todas aquelas que pensam em ter filho ainda nova, elas ensinaram um futuro para nós. (Estudante 12) vínculo de confiança entre o grupo para que fossem discutidas abertamente as temáticas sem constrangimento. Isso enriqueceu as discussões, sendo que a troca de informações mostrou-se espontânea e bastante produtiva, promovendo a aprendizagem significativa. Os adolescentes demonstraram interesse nos conteúdos abordados, por ser um tema que, como foi relatado por alguns, não é abertamente discutido em casa e na escola. O resultado da atividade fortaleceu e favoreceu a melhoria da qualidade de vida dos adolescentes da comunidade, sendo ressaltada ao final, a importância da continuidade do trabalho e a participação de outros profissionais da Unidade Local de Saúde junto à comunidade escolar, estimulando a educação, promoção e prevenção em saúde. Eu gostei muito porque foi muito Referências importante, pois essas coisas não são mostradas em casa e nem faladas. 1. Verdi M, Bohes AE, Zampieri MFM. Achei vocês muito legais e espero que Enfermagem na atenção primária de vocês voltem. (Estudante 03) saúde: textos fundamentais. Florianópolis: Ressalta-se ainda que alguns Editora da UFSC; 2005. valorizaram o preparo e a criatividade na 2. Ferraz F, Backes VMS, Silva LAA, Silva elaboração dos encontros, despertando o LWS, Reibnitz KS. Cuidar-educando em interesse e conseqüentemente estimulando a Enfermagem: passaporte para o aprendizagem significativa. aprender/educar/cuidar em saúde. Revista Brasileira de Enfermagem. 2005;58:607Reflexões sobre a prática educativa 10. Disponível em URL: http://www.scielo.br/pdf/reben/v58n5/a20 Conforme especificado no plano de v58n5.pdf. Acesso em: set 2008. ação, ao final do estágio, o objetivo geral da 3. Briceño-León R. Siete tesis sobre la ação educativa em saúde foi alcançado. educación sanitaria para la participación Percebeu-se a aprendizagem dos comunitaria. Caderno de Saúde Pública. conteúdos, sendo permitido visualizar isso a 1996;12:7-30. Disponível em URL: partir do momento em que os estudantes http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010 eram instigados a apresentarem o que 2aprenderam aos seus colegas e por meio dos 311X1996000100002&script=sci_arttext. relatos do último encontro. A participação e Acesso em: out de 2008. a colaboração de todos foi o destaque desta proposta educativa, ressaltando a importância das ações em parceria. As oficinas foram realizadas como na proposta inicial: ambiente confortável para abordar temas delicados, de forma a criar um 15 Bottan, E. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 16-22, jan./jun. 2009 PERDAS DENTÁRIAS: CAUSAS, IMPACTOS E EXPECTATIVAS DE PACIENTES DAS CLÍNICAS DO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI. [Tooth loss: causes, impacts, expectations of patients at the clinics of the Dentistry course of the University of Vale do Itajaí (SC) – UNIVALI]. Elisabete Rabaldo Bottan1; Luciane Campos2; e Constanza Marín de Los Ríos Odebrecht3. Resumo: O objetivo desta pesquisa foi conhecer as causas e os impactos de perdas dentárias, bem como expectativas com relação ao tratamento restaurador, para pacientes adultos, das clínicas do curso de Odontologia da UNIVALI. O instrumento para coleta de dados foi uma entrevista estruturada. A análise dos dados foi por meio da análise de conteúdo de Bardin. A principal causa apontada foi a cárie em decorrência do modelo hegemônico de atenção à saúde bucal. Os principais impactos decorrentes da perda dentária foram funcionais e estéticos. Quanto às expectativas, todos esperam restabelecer suas funções de forma a levar uma vida mais saudável. Palavras-chave: Qualidade de Vida, Reabilitação Bucal, Serviços de Saúde Bucal. Abstract: The objective of this research was to know the meanings of tooth loss and expectations with respect to restorative treatment for adult patients assisted at the clinics of the course of Dentistry of UNIVALI. The instrument for data collection was a structured interview. Data analysis was performed by the technique of content analysis of Bardin. The main cause of tooth loss was the cavities in the hegemonic model of oral health. The impacts current of tooth lost were functional and esthetics. As for expectations, all hope of restoring its duties to lead a healthier life. Keywords: Quality of Life; Mouth Rehabilitation; Oral Health; Dental Health Services. Introdução De acordo com os dados do levantamento epidemiológico brasileiro - SB 2003 - realizado em 2003, o CPO-D médio para a faixa etária de 35 a 44 anos foi de 20,1 e de 27,8 para a faixa etária de 65 a 74 anos. Além de ser um índice extremamente alto, revelando uma baixa qualidade de saúde bucal, destaca-se que o dente perdido é o fator que mais influencia na determinação dessa baixa qualidade1. Na área odontológica, a utilização de dados clínicos, tais como o número de dentes cariados, restaurados e perdidos, necessidade de prótese, para diagnosticar as condições de saúde, ainda é priorizada. No entanto, esses achados são limitados, pois, não informam o impacto que a condição bucal gera na qualidade de vida dos indivíduos. Desta forma, além da pesquisa epidemiológica, o estudo da autopercepção é relevante, pois, demonstra como a pessoa avalia sua condição bucal, importância atribuída e o seu comportamento. Contudo, até recentemente, no campo da pesquisa clínica, pouca ênfase foi dada à relação entre as condições de saúde bucal e o impacto na vida das pessoas2-4. _____________________________ 1 Mestre em Educação e Ciências. Professora das disciplinas de Trabalho de Iniciação Científica e Pesquisadora do Grupo Atenção à Saúde Individual e Coletiva, do curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí. Email para correspondência: [email protected] 2 Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho. Professora das disciplinas de Odontologia Social e Preventiva e Pesquisadora do Grupo Atenção à Saúde Individual e Coletiva, do curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí. Email para correspondência: [email protected] 3 Doutora em Periodontia; Especialista em Saúde Coletiva; Professora das disciplinas de Periodontia da Univali e da Univille e Pesquisadora do Grupo Atenção à Saúde Individual e Coletiva da Universidade do Vale do Itajaí. Email para correspondência: cmgeo@ terra.com.br 16 Bottan, E. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 16-22, jan./jun. 2009 A partir da última década, a compreensão dos aspectos biopsicosociais relacionados ao cotidiano dos sujeitos com perdas dentárias e o impacto do conjunto destes fatores sobre a qualidade de vida destas pessoas vem sendo enfocada com mais destaque, porque os significados expressos pela população ampliam as possibilidades de oferta de serviços públicos e de sucesso dos tratamentos viabilizados4. Diante da importância da participação ativa do paciente, quando da recuperação por meio de tratamentos odontológicos adequados, definiu-se como objeto desta investigação conhecer os significados das perdas dentárias e as expectativas com relação ao tratamento restaurador para pacientes adultos, em atendimento nas clínicas do curso de Odontologia da UNIVALI. Métodos A pesquisa desenvolvida caracterizase como um estudo exploratório com análise qualitativa. A população-alvo foi constituída pelos pacientes adultos, que foram selecionados por meio do serviço de triagem, para atendimento na Clínica de Prótese do Curso de Odontologia da UNIVALI, em 2007. Considerando-se a abordagem qualitativa adotada na análise dos dados, definiu-se pela construção de um corpus, em substituição a uma amostragem representativa. O corpus é delineado com base na linguagem5 e, no caso desta pesquisa, foi estruturado a partir de textos obtidos com a transcrição das falas dos sujeitos pesquisados. Assim, o número de sujeitos entrevistados foi delimitado pela técnica da saturação dos dados5. Os pacientes eram abordados na sala de espera das clínicas, quando os pesquisadores explanavam sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa, solicitando, posteriormente, a participação por livre e espontânea vontade. Àqueles sujeitos que aceitavam participar era entregue o termo de Consentimento Livre e Esclarecido para leitura e assinatura em duas vias, tendo-lhes sido garantido o sigilo e anonimato. O projeto de pesquisa foi, previamente, aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da UNIVALI sob o nº 156/07. O instrumento de coleta de dados foi uma entrevista estruturada conduzida por dois auxiliares de pesquisa, que foram treinados para o desenvolvimento da entrevista. O período de coleta dos dados ocorreu de março a agosto de 2007. A entrevista foi organizada em três blocos; o primeiro tinha por objetivo caracterizar o entrevistado quanto ao gênero, idade, grau de escolaridade e situação clínica. O segundo enfocou as causas da perda dental e o impacto na vida destes sujeitos; e, o terceiro abordou as expectativas quanto ao tratamento reabilitador a que seria submetido. A análise dos dados foi efetuada mediante a técnica de análise de conteúdo de Bardin6, cujos procedimentos foram desenvolvidos em três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados e interpretação. Na pré-análise, procedeu-se à leitura exaustiva da transcrição das falas dos entrevistados para identificação das categorias de análise. Ao se proceder a transcrição das falas dos sujeitos pesquisados, manteve-se literalmente a estrutura das falas, daí porque, quando da apresentação de trechos destas falas, o leitor irá se deparar com uma linguagem coloquial. As categorias e subcategorias foram préestabelecidas com base na literatura revisada3,4,7,8. A etapa de exploração do material consistiu no recorte das falas em frases (unidades de registro) que expressavam as diferentes categorias. As unidades de registro foram, então, agregadas por categoria e respectivas subcategorias. A fase de tratamento e interpretação 17 Bottan, E. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 16-22, jan./jun. 2009 dos resultados consistiu na produção do texto síntese com base na literatura analisada2-4,719 . Resultados O grupo de entrevistados ficou constituído por 48 sujeitos, quando ocorreu a suspensão da inclusão de novos participantes, pois, na avaliação dos pesquisadores, já estava acontecendo redundância de informações, não justificando a inclusão de mais sujeitos5. A maioria dos entrevistados era do gênero feminino (63%), com idades que variaram de 31 a 78 anos, sendo a faixa etária de 51 a 60 anos a mais frequente (40%). CATEGORIAS Causas das perdas dentárias A baixa escolaridade foi outra característica encontrada no grupo, pois, 62,5% possuíam, apenas, primeiro grau (completo ou incompleto). A maioria (57,5%) procurou o serviço da clínica para reabilitar a região inferior (mandíbula). Quanto ao uso de próteses, 61,9% utilizavam algum tipo de prótese há vários anos, sem, no entanto, qualquer procedimento de proservação. Com relação à análise das causas e impactos das perdas dentárias e expectativas com relação ao tratamento restaurador, os resultados obtidos foram expressos segundo as frequencias relativas das subcategorias de análise, conforme figura 1. SUBCATEGORIAS *Modelo hegemônico de atenção à saúde/Falta de acesso aos serviços *Falta de informação sobre hábitos e modos de vida saudável Problemas com: Impactos decorrentes das perdas dentárias Expectativas quanto ao tratamento reabilitador *Mastigação *Mastigação estética *Mastigação, Estética e Relacionamento Interpessoal *Recuperação da auto-estima, melhora das relações interpessoais e melhora da mastigação *Melhora da mastigação % 69 31 56 21 23 42 58 Figura 1: Frequência das categorias/subcategorias de análise Discussão Para organização da discussão dos resultados obtidos nesta pesquisa, com o intuito de favorecer a leitura, estruturou-se o texto segundo as três categorias de análise (causas das perdas dentárias; impactos decorrentes das perdas dentárias; expectativas quanto ao tratamento reabilitador). Causas das perdas dentárias atribuídas pelos pesquisados As causas mais comuns do edentulismo são atribuídas à cárie dental e à doença periodontal. No entanto, a instalação destas doenças, geralmente, está relacionada a situações psicológicas, sociais e econômicas abrangentes, tais como: falta de programas de saúde bucal, fatores econômicos, culturais e iatrogênicos, acesso 18 Bottan, E. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 16-22, jan./jun. 2009 aos serviços de saúde bucal e atitude em relação aos cuidados dentários3,4,7-12. E, entre os sujeitos desta pesquisa, esta foi a situação identificada, pois a maioria vinculou suas perdas dentárias à dor determinada pela doença cárie, mas tal condição sempre era justificada em decorrência do modelo hegemônico de atenção à saúde e à falta de informação sobre hábitos e modos de vida saudável, que era muito frequente, e até aceita, à época da infância e adolescência destes sujeitos. Estas, também, foram causas identificadas em outras pesquisas7,8,10,11,13-15. Algumas das falas dos pesquisados que traduzem estes aspectos, estão a seguir transcritas. A genti morava no interior. Aqueles anos em vez do dentista arrumar ele tirava. Os dentistas não eram instruído naquela época prá preservá os dentes. Qualquer problema nos dente o dentista arrancava. (S4, mulher, faixa etária de 51 a 60 anos) Fui arrancando ... Quando a gente era pequeno o dente doía e o pai levava para arrancar. A gente não tinha condição de pagá o tratamento. (S32, mulher, faixa etária de 31 a 40 anos) Antigamente era assim. Os dentes estragados o dentista arrancava. A genti não dava valor pros dentes. Doía, extraía ... era sempre assim. (S9, homem, faixa etária de 41 a 50 anos) No passado, a prática odontológica mutiladora era hegemônica, em especial nos serviços públicos, a qual se manifestava pela realização, em massa, da exodontia como procedimento de solução para a dor. A confirmação desta afirmativa dá-se pelo alto índice de sujeitos edêntulos (parciais ou totais), na faixa etária adulta, conforme dados do Projeto SB Brasil 20031,8,12,13,16. A falta de informação sobre o autocuidado e a higiene adequada foi frequentemente apontada pelos sujeitos integrantes desta pesquisa. Muitos expressaram que as extrações dentárias a que foram submetidos refletem suas atitudes quanto aos cuidados que deveriam ter tido para com a boca. Muitos responsabilizaram a si próprios, ou aos seus pais, atribuindo ao relaxamento, à má-higiene, ao medo do dentista, que os fazia fugir da consulta odontológica, procurando-a somente em situação de dor extrema. Algumas das falas que expressam estes sentimentos foram, a seguir, destacadas. (...) A gente só se arrepende de não ter arrumado, de não ter cuidado... Se eu tivesse escovado o dente quando era pequena, com quatro, cinco anos... A mãe tem que ficar em cima pra escová... (S39, mulher, faixa etária entre 31 e 40 anos) Depois que eu perdi que eu dei valor ... eu não sabia como cuidá ... então deu nisso. (S20, homem, faixa etária de 50 a 60 anos) Perdi porque era relaxado, não dava valor prá essas coisas de que tem escová direitinho, como hoje se ensina já prás crianças. (S6, homem, faixa etária de 60 ou mais anos) Perdi pelo cigarro, a doçura que eu comia e também pelo relaxamento. (S19, homem, faixa etária de 41 a 50 anos) A importância de um processo educativo que oriente e estimule a adoção de comportamentos saudáveis é fundamental para o alcance e manutenção de uma boa qualidade de vida12,13. O reconhecimento de que o processo educativo é fundamental à promoção da saúde só assumiu dimensões significativas, no Brasil, a partir da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, no final da década de 1980. As diretrizes do SUS puseram em cheque os modelos de atenção à saúde em vigência. E, mais recentemente, a Política Nacional da Saúde Bucal1 enfocou a necessidade da reorganização da atenção à saúde, em todos os níveis, e apontou a linha do cuidado como eixo norteador para a mudança. No entanto, a reversão da realidade quanto aos níveis de condição da saúde bucal dos brasileiros é um processo em construção, portanto, ainda, vamos nos deparar com quadros de perdas 19 Bottan, E. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 16-22, jan./jun. 2009 dentárias em virtude do sistema de atenção à saúde que é disponibilizado à população. Impactos da perda dentária para os pesquisados As perdas dentais ocasionam, além de deficiências funcionais e estéticas, o desequilíbrio dos componentes do sistema estomatognático. O edentulismo acarreta consequências físicas e fisiológicas importantes, tais como: redução do tônus da musculatura, produzindo deformação da face, dificuldades com a fala, deglutição e mastigação, o que, por sua vez, compromete o início do processo digestivo. Além das dificuldades de natureza orgânico-funcional, as questões de estética e de relacionamento, também, podem decorrer com as perdas dentárias e a não reabilitação adequada7-11,1315,17 . A dificuldade para mastigar, assim como os aspectos estéticos, foi muito destacada pelos pesquisados. Todos se reportaram a problemas para realizarem a mastigação e a conseqüente mudança de hábitos alimentares e/ou impactos sobre o processo de digestão. Mastigar e sentir o gosto dos alimentos são essencialmente prazerosos e emocionalmente necessários para o bem-estar do indivíduo e de sua qualidade de vida3, percepções estas identificadas nas seguintes falas dos sujeitos que integraram esta pesquisa. A mastigação ficou difícil. Parece que se perde um pouco do gosto dos alimentos. (S36, homem, faixa etária entre 41 e 50 anos) A alimentação é difícil. Prá mastigá dói e muito. Aí a genti vai deixando de comer muita coisa. (S 2, mulher, faixa etária entre 31 e 40 anos) (...) dependendo da comida a genti mastiga a gengiva ... uma carne assada não dá porque machuca. (S30, mulher, faixa etária de 51 a 60 anos) sentimentos de insegurança, impotência e vazio. Ter uma boca com dentes é uma das formas de o sujeito se apresentar de acordo com os padrões desejados pela sociedade, portanto, a falta dos dentes é uma ameaça à identidade individual, social e familiar, fazendo com que a pessoa se retraia, acarretando dificuldades quanto ao relacionamento interpessoal. A boca desdentada adquire significados que são interdependentes de fatores históricos, sociais, culturais, psicológicos e fisiológicos 3,7-9,12,13,18 . Entre os relatos dos entrevistados, encontramos alguns que revelam os impactos estéticos e de relacionamento interpessoal sofridos, como os que destacamos a seguir. Meu Deus! ... um processo de mutilação, horrível! Tem horas que nem me olho no espelho. (S22, mulher, faixa etária entre 51 e 60 anos) Fico com vergonha de dá risada. (S7, homem, faixa etária 31 a 40 anos) Prá mim é a mesma coisa que perdê um braço, um membro da genti ... (S21, homem, faixa etária 31 a 40 anos) Fica meio ruim, perde chance de emprego e fisicamente fica feio. (S5, homem, faixa etária de 41 a 50 anos) Expectativas reabilitador quanto ao tratamento O termo qualidade de vida é frequente, na literatura da área da saúde, sendo adotado para definir o impacto de uma enfermidade. A qualidade de vida só pode ser avaliada pela própria pessoa, quando ela refere os vários aspectos afetados por mudanças, no seu estado de saúde, e que são significativos para a sua qualidade de vida19. E, o que se identificou, no grupo investigado, é que havia uma grande expectativa de melhorarem suas vidas em diversos aspectos, através do tratamento reabilitador a que estavam sendo submetidos. Alguns trechos das entrevistas confirmam esta perspectiva alentada. 20 Bottan, E. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 16-22, jan./jun. 2009 Minha prótese quebrava muito, então, agora, aqui, eu tenho a esperança de podê mastigar direito, de ter dentes de uma cor só, de ter saúde. (S15, homem, faixa etária acima de 60 anos) Eu espero melhorar a minha comunicação. Eu falo pouco. Melhorar a minha imagem. (S28, homem, faixa etária 50 a 60 anos) Tudo na minha vida vai melhora. Eu espero, tenho fé. (S18, mulher, faixa etária 51 a 60 anos) Considerando-se que o tratamento restaurador, por meio da prótese removível, é uma alternativa viável para a realidade brasileira, é necessário destacar que o processo clínico deste procedimento depende de um planejamento e de uma confecção com rigor técnico, que é de responsabilidade do cirurgião-dentista e do protético. No entanto, além do aspecto técnico, é fundamental, também, a participação ativa do paciente, importante variável para o alcance do sucesso da reabilitação oral. O sucesso, ou o fracasso, de um tratamento, portanto, não está vinculado somente à capacidade técnica do profissional, mas ao campo relacional paciente-dentista. Uma boa relação entre paciente e profissional é um fator que contribui para com a motivação e o comportamento colaborativo por parte do paciente. E, para que ela efetivamente se estabeleça, o dentista precisa ter uma visão integral do seu paciente, como um ser humano. Faz-se necessário, portanto, que ele compreenda que os pacientes edêntulos não perdem apenas seus dentes, juntamente com os dentes perdem a autoconfiança, a autoestima. A percepção destes aspectos, pelo cirurgião-dentista, reveste-se de um importante significado, pois, uma vez que muitos dos sujeitos associaram suas perdas dentárias a um modelo de prática odontológica mutiladora, que vivenciaram durante a infância e juventude, e relataram diferentes dificuldades a que se submeteram em decorrência destas perdas, é compreensível que os pacientes convivam com um conflito de idéias. Por um lado, almejam uma recuperação da qualidade de suas vidas e acreditam que o dentista é o profissional que poderá auxiliá-los nesta conquista, no entanto, por outro lado, provavelmente, em seu imaginário, ainda, persista uma visão negativa do cirurgiãodentista, em virtude do paradigma da odontologia que, no passado, desempenhou papel importante na perda precoce de seus dentes. Assim, reforça-se a necessidade de que o cirurgião-dentista deva conhecer seus pacientes, deva saber interagir e se comunicar, para criar uma relação profissional-paciente satisfatória, que é fundamental para o estabelecimento de um vínculo de confiança e facilitar a execução do tratamento odontológico. Conclusão Para o grupo investigado, as causas de perdas dentárias foram a cárie e/ou a doença periodontal, em decorrência do modelo de atenção mutilador, hábitos e autocuidado deficiente. Como consequências, o edentulismo levou à queixa de dificuldades na mastigação, dificuldades de relacionamento e alteração da estética. Os entrevistados apresentaram uma alta e positiva expectativa quanto ao tratamento restaurador. Agradecimentos -Ao Fundo de Apoio à Pesquisa/ PróReitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura da Universidade do Vale do Itajaí, pelo apoio financeiro à execução da pesquisa. -A Douglas R. V. da Silva e Renato F. Magalhães, que na condição de acadêmicos, à época do desenvolvimento da pesquisa, efetuaram a coleta de dados. 21 Bottan, E. R. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 16-22, jan./jun. 2009 Referências 1. Brasil. Ministério da Saúde. Projeto SB Brasil 2003: condições de saúde bucal da população brasileira 2002-2003; resultados principais. Brasília: MS, 2004. 2. Bortoli D, Locatelli FA, Fadel CB, Baldani MH. Associação entre percepção de saúde bucal e indicadores clínicos e subjetivos: estudo em adultos de um grupo de educação continuada da terceira idade. Publ Uepg Cienc Biol Saúde 2003 Set/Dez; 9 (¾): 55-65. 3. Vargas AMD, Paixão HH. Perda dentária e seu significado na qualidade de vida de adultos usuários de serviço público de saúde bucal do Centro de Saúde Boa Vista, em Belo Horizonte. Ciênc saúde coletiva 2005; 10 (4): 1015-24. 4. Barbato PR, Nagano HCM, Zanchet FN, Boing AF, Peres MA. 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Michele Medeiros Silveira1; Maria da Graça Winckler Balen2; Rodrigo Schütz3; Elizabeth Martins Hermes4; Diva Sonaglio5; e Geny Aparecida Cantos6. Resumo: Este trabalho determina a ocorrência de fatores de risco para doenças cardiovasculares (dislipidemia, hipertensão, diabetes e sedentarismo) e suas associações com a obesidade. Foram atendidos 273 pacientes no setor de nutrição do Hospital Universitário em Florianópolis, entre os meses de fevereiro e novembro de 2005. Avaliou-se: perfil lipídico, pressão arterial, atividade física e diabetes. Estes parâmetros foram associados ao índice de massa corporal e à obesidade. Observou-se que 46,52% dos pacientes eram sedentários, 23,44% apresentaram hipertensão, 16,12% eram diabéticos e 49,08% apresentaram dislipidemia. A obesidade foi o fator de risco mais relevante, sendo que 60,44% apresentaram algum grau de obesidade. Palavras-chave: Dislipidemia, obesidade, fatores de risco. Abstract: This study determines the occurrence of risk factors for cardiovascular disease (dyslipidemia, hypertension, diabetes and sedentary lifestyle) and their associations with obesity. 273 patients were attended in the nutrition sector at the University Hospital, in the city of Florianópolis, in the period from February to November, 2005. It was evaluated: the lipid profile, blood pressure, physical activity and the diabetes. These parameters were associated to the body-mass index and obesity. It was observed that 46, 52% of the patients were sedentary, 23,44% presented hypertension, 16,12% were diabetic and 49,08% presented dyslipidemia. The obesity was the most relevant risk factor, where 60, 44% of the individuals presented some degree of obesity. Keywords: dyslipidemia, obesity, risk factors. Introdução As últimas Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia classificam a hipertensão arterial sistêmica (HAS), o diabetes, a obesidade e as dislipidemias como os fatores de risco (FR) mais evidentes e importantes para doenças cardiovasculares no Brasil1. Estas doenças guardam entre si uma complexa relação, formando um conjunto de doenças crônico-degenerativas com história natural prolongada2, podendo também apresentar associações com os hábitos alimentares, obesidade, e a realização de atividades físicas3,4. A obesidade é uma doença metabólica crônica caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo no organismo. É de origem multifatorial, envolvendo fatores genéticos, endócrinos, ambientais e emocionais5. Atualmente, o sobrepeso e a obesidade são importantes preocupações na saúde pública mundial, tendo alta prevalência tanto em países desenvolvidos como os em 6 desenvolvimento . Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar alguns FR para doenças cardiovasculares relacionadas com a obe- _____________________________ 1 Acadêmica do Curso de Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC Nutricionista do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina-HU-UFSC 3 Acadêmico do Curso Pós-Graduação em Farmácia da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC 4 Farmacêutica Bioquímica do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC 5 Prof.(a) Dr.(a) do Departamento de Ciências Farmacêuticas-Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina-CCS-UFSC 6 Prof.(a) Dr.(a) do Departamento de Análises Clinicas da Universidade Federal de Santa Catarina-ACLUFSC. 2 23 Silveira, M. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 23-30, jan./jun. 2009 sidade, a fim de colher dados que permitam uma adequada intervenção, contribuindo, dessa forma, para a prevenção dessas doenças na comunidade em estudo. Métodos Esta pesquisa foi realizada com 273 indivíduos, 187 do sexo feminino e 86 do sexo masculino, com estágio de vida variando entre 17 e 77 anos, no período de fevereiro a novembro de 2005, na cidade de Florianópolis, os quais foram atendidos na unidade de nutrição do Serviço de Atendimento aos Servidores e Comunidade do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Considerou-se para este estudo o peso, a altura, a pressão arterial, a presença de diabetes, a dislipidemia, e a realização de atividade física. As medidas de peso foram obtidas com os indivíduos descalços, trajando roupas leves e empregando-se balanças microeletrônicas previamente aferidas, com resolução de 100g. As medidas de altura foram obtidas empregando-se estadiômetros afixados à parede, com resolução de 0,1cm. A pressão arterial foi aferida uma vez com o funcionário sentado e após repouso de aproximadamente cinco minutos, por meio de um esfingnomanômetro de coluna de mercúrio, sendo que o primeiro e último ruído de Korotkoff definiram a pressão sistólica e a diastólica. Os valores de referências adotados obedeceram às recomendações do Joint National Committee VI, que define como hipertensão arterial níveis ≥ 90 mmHg de pressão diastólica e ≥ 140 mmHg de pressão sistólica1. As pessoas que estavam com pressão arterial abaixo desses níveis, mas referiam uso de drogas anti-hipertensivas, também foram consideradas hipertensas. O índice de massa corporal (IMC) foi obtido pela divisão da massa corporal, em quilogramas, pelo quadrado da estatura em metros (IMC = massa (kg) / estatura2). Os indivíduos foram classificados como: baixo peso (IMC<18,5kg/m2), eutrófico (18,524,9kg/m2), sobrepeso ou pré-obeso (2529,9kg/m2), e obesidade grau I (3034,9kg/m2), grau II (35-39,9kg/m2) e grau III (> 40kg/m2)7. Para dislipidemia foram dosados os níveis de colesterol total (CT) e triglicerídeos (TG) utilizando o método enzimático-colorimétrico automatizado, sendo considerados elevados a partir de 200mg/dL. A fração LDL-C foi obtida por cálculo, utilizando a fórmula de Friedewald, e a fração HDL-C foi obtida pelo método de precipitação seletiva acoplada à dosagem por método enzimático colorimétrico automatizado, sendo considerada baixa quando foi menor que 40mg/dL8. Para o rastreamento do diabetes, utilizou-se glicemia de jejum por 8 horas, pelo método da glicose oxidase enzimático, cujo valor preconizado pelo Consenso Brasileiro de Diabetes 2007, serviu como referência para controle glicêmico9. Quanto à atividade física regular, foi considerado como tal qualquer exercício realizado pelo menos três vezes por semana, com duração mínima de 30 minutos10. Planejamento estatístico e análise fatorial Usou-se delineamento fatorial como ferramenta para realizar um screening das variáveis significantes e possibilitar a predição de resultados. Neste estudo, as variáveis independentes (ou fatores) avaliadas foram idade, divididas em três níveis (inferior = 17 a 34 anos; intermediário = 35 a 64 anos; superior = > 65anos), e sexo, considerando dois níveis (inferior = masculino; superior = feminino). Como variáveis dependentes (denominadas “respostas”), foram escolhidas e analisadas a “obesidade”, “dislipidemia”, “HAS”, o “sedentarismo” e a “diabetes”. As análises da variância (ANOVA) do modelo fatorial e da influência das variáveis foram realizadas para cada resposta, com uma probabilidade de erro de 95% (P=0,05), empregando-se 24 Silveira, M. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 23,30, jan./jun. 2009 software Design Expert, versão 6.0.6 (StatEase, Minneapolis, MN)13. Esta pesquisa teve aprovação da Comissão de Pesquisa e Ética da Instituição, cujo projeto se intitula “Avaliação da Intervenção Multiprofissional e Interdisciplinar na Prevenção e Tratamento de Eventos Cardiovasculares em uma Comunidade Universitária”, sob o parecer nº 323/06, sendo que todos os pacientes assinaram o consentimento escrito após esclarecimento quanto aos objetivos do estudo, métodos e necessidades de exames laboratoriais. Resultado e Discussão O crescente número de indivíduos com doenças cardiovasculares (DC) originou uma busca incessante pelos fatores de risco relacionados ao seu desenvolvimento, pois o conhecimento dos FR de uma determinada população é fundamental, propiciando o estabelecimento de estratégias de intervenção que, a longo ou médio prazo, possam mudar o perfil de morbidade e mortalidade cardiovascular atualmente observado. As doenças crônicas mais frequentemente associadas à obesidade, como o diabetes e a HAS, são causas relevantes de complicações sistêmicas e de óbito12, 13, 14. Este estudo traz importantes achados e confirma o fato de que a obesidade vem assumindo caráter epidemiológico em qualquer estágio de vida, sendo importante que se estabeleçam intervenções para que se possam modificar futuros riscos15, 16. A adolescência corresponde a um período da vida no qual ocorrem profundas modificações no crescimento e maturação do ser humano. Este período de transição, segundo a WHO, corresponde ao intervalo dos 10 aos 19 anos17. Neste trabalho, dois adolescentes com idade de 17 e 18 anos foram incluídos juntamente com os adultos, sendo que a maior parte da população estudada tinha entre 35 a 64 anos. Como a prevalência de obesidade tem sido aumentada em todos os grupos etários, consideramos que este fato não interferiu na presente investigação. a) Obesidade Têm-se observado um aumento expressivo na prevalência de obesidade e suas co-morbidades em todo o mundo 4, 5, 6, 7. A ocorrência de obesidade em indivíduos reflete na interação entre fatores dietéticos e ambientais com uma predisposição genética12, 13, 15. O excesso de peso interfere de forma significante na qualidade de vida, particularmente nas do sexo feminino7, 18. Embora haja controvérsias na literatura19, neste trabalho pode-se observar que a obesidade ocorreu principalmente em indivíduos do sexo feminino (tabelas 1 e 2). Segundo Lebrão e Laurenti (2005), a maior proporção de sobrepeso e obesidade no sexo feminino deve-se ao fato de que as mulheres possuem massa corporal inferior aos homens20. Outros estudos sugerem que o aumento do tecido adiposo visceral em mulheres poderia representar um risco à saúde aumentado devido às suas ações hormonais13. A ANOVA do modelo fatorial para a resposta obesidade está representada na Tabela 3. Os valores obtidos variaram de 1.46 a 22.34 % (tabela 1), sendo que as variáveis A (faixa etária) e B (sexo) foram estatisticamente influentes (P < 0,05). Considerando o alto valor do coeficiente de correlação (R2 = 0,9864), e do R2 preditivo (0,8775), além da precisão do método (=18.227, sendo que um valor maior do que 4 é desejável), este modelo pode ser usado para predizer resultados, levando-se em consideração as variáveis analisadas. Analisando-se a Figura 1 pode-se verificar que, tanto para homens como para mulheres, o percentual de obesidade aumentou ao atingir a faixa de 35 a 64 anos, diminuindo após os 65 anos. Por outro lado, pelas figuras 2 (a e b) pode-se notar que até os 65 anos ocorreu um maior percentual de 25 Silveira, M. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 23-30, jan./jun. 2009 obesidade em mulheres, mas que esta diferença foi praticamente inexistente após os 65 anos (Figura 2c). Independente do sexo, nesta pesquisa podese observar que 36,6% da população analisada eram obesas (tabela 1), mostrando a relevância da promoção e manutenção do estado de saúde e qualidade de vida para essa população e que terapias, como exercícios físicos, acompanhamento nutricional, psicológico e médico, podem ser usadas como ferramentas profiláticas. semelhante àquele verificado para a obesidade. Percebe-se, pois, que a dislipidemias fazem parte de uma realidade preocupante e precisam ser mais investigadas. Ainda que a genética, o sexo e a idade sejam de grande importância para o desenvolvimento das mesmas, a qualidade de uma dieta e a prática de atividade física exercem efeitos benéficos nos componentes lipídicos e demais fatores de riscos cardiovasculares22,23. c) Hipertensão Arterial Sistêmica b) Dislipidemia A dislipidemia é uma doença caracterizada por alterações da concentração de lipídios ou lipoproteínas no sangue, constituindo um fator de risco determinante para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DC) no adulto12,21. Os valores obtidos para a resposta dislipidemia mostram que 40,08% da população analisada apresentavam alguma alteração no perfil lipídico, variando de 2.57 a 14.24 % (tabela 1). A ANOVA (Tabela 2), para o modelo fatorial selecionado, apresentou um valor de F = 154,70, indicando que o modelo é significante (P < 0,05). O único termo significante (P < 0,05) do modelo foi com relação à idade (variável A), com valor de F = 231,35. A variável B (sexo) não influenciou na resposta em análise (P > 0,05). Da mesma forma que para a obesidade, os altos valor do coeficiente de correlação (R2 = 0,9957), do R2 preditivo (0,9614) e da precisão do método (27,389) indicam que este modelo pode ser usado para navegar e predizer resultados considerando a população analisada. Analisando-se a Figura 3, pode-se verificar que ocorreu um aumento da dislipidemia na faixa de 35 a 64 anos, não havendo distinção entre homens e mulheres, conforme verificado pela ANOVA (tabela 2). Observou-se uma acentuada diminuição com a idade, sendo este comportamento A HAS, juntamente com diabetes e dislipidemia, são importantes fatores no desenvolvimento da doença arterial coronária (DAC)23. Estudos epidemiológicos têm demonstrado também que o sobrepeso tem sido considerado fator determinante na elevação da pressão arterial, mostrando uma notável relação entre o aumento do IMC e a prevalência de HAS24,25. Neste trabalho pode-se notar que 46,52% da população analisada eram hipertensas (tabela 1), mostrando que a intervenção no tratamento e no acompanhamento de pacientes por meio de uma equipe multidisciplinar se faz necessário. De fato, diversas publicações têm reportado a importância de programas educativos para promover maior adesão ao tratamento, resultando em melhor controle da hipertensão arterial23, 24, 25. Alguns fatores considerados de risco, associados entre si e a outras condições, favorecem o aparecimento da hipertensão arterial. Neste trabalho analisou-se a influência do sexo e idade. A ANOVA do modelo fatorial para a resposta dislipidemia está representada na Tabela 3. Os valores obtidos variaram de 1.10 a 9.52% (tabela 1). A ANOVA, para o modelo fatorial selecionado, apresenta um valor de F = 3,18, indicando que o modelo não é significante (P > 0,05) considerando o universo de indivíduos analisados. Da mesma forma, nenhum termo do modelo (A e B) foi significante, ou seja, a 26 Silveira, M. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 23-30, jan./jun. 2009 pressão arterial não foi influenciada pela idade ou pelo sexo, considerando-se a amostra analisada. Embora seja relatado na literatura1 que a HAS tem mostrado relação com a idade, consideramos que os resultados obtido nesse estudo podem não ser conclusivos, devido ao reduzido nº de indivíduos da amostra analisada. d) Sedentarismo O baixo nível de condicionamento físico promove o risco de mortalidade por doença coronariana e outras causas, diminuindo a longevidade26. A prática regular de atividade física proporciona um efeito positivo na qualidade de vida, na melhoria da saúde individual e coletiva27. Neste trabalho, os valores obtidos variaram de 1.10 a 17.58 % (tabela 2). A ANOVA da resposta sedentarismo (tabela 2) apresentou um valor de F = 3,32 para o modelo fatorial selecionado, indicando que o modelo não foi significante (P > 0,05). Da mesma forma, nenhum termo do modelo (A e B) foi significante, podendo-se assim inferir que o sedentarismo não é influenciado por nenhuma das variáveis, considerando-se a amostra analisada. O valor negativo do coeficiente de correlação preditivo (R2 preditivo = -0,5061) implica que a média é a melhor forma de predizer a resposta. e) Diabetes O diabetes é uma doença crônica cuja incidência e prevalência está aumentando no mundo todo, alcançando proporções epidêmicas28,29. O maior desafio para o controle da síndrome é manter a glicemia dentro de parâmetros adequados. O controle glicêmico almejado é: glicemia de jejum menor que 126 mg/dl e hemoglobina glicolisada menor que 7%. Os dados encontrados neste trabalho mostram que 6,11% dos indivíduos analisados apresentavam diabetes, sendo estes dados compatíveis com estuo realizado com uma população de Florianópolis, segundo o qual 5,8% 30 das pessoas apresentavam a doença. Neste trabalho, os valores variaram de zero a 6,96 % (tabela 1). A ANOVA do modelo fatorial para a resposta diabetes está representada na tabela 3. O modelo fatorial selecionado apresentou um valor de F = 767,46, indicando que o modelo foi significante (P < 0,05). O único termo significante do modelo foi a idade (fator A), com valor de F = 1149,19. O fator B (sexo) não influenciou significativamente na resposta em análise (P > 0,05). O alto valor do coeficiente de correlação (R2 = 0, 0,9991) e do R2 preditivo (0,9922), além da adequada precisão do método (56,190), este modelo pode ser usado para navegar e predizer resultados relacionados ao diabete, considerando a população analisada. O risco relativo de desenvolver o diabetes tipo 2 aumenta proporcionalmente com o aumento do IMC, estando fortemente relacionado com a obesidade31 e ao comportamento alimentar32. Pela análise da Figura 4 pode-se verificar que o diabetes acentua-se com a idade, alcançando um máximo na faixa de 35 a 64 anos, não havendo distinção entre homens e mulheres. A magnitude do diabetes como problema de saúde pública e o impacto dessa doença na qualidade de vida dos idosos preocupa profissionais da saúde e conduz a um processo de reflexão com esse grupo de pessoas33. Conclusão Os dados deste trabalho confirmam a importância de se conhecer os FR para doenças cardiovasculares e a importância da conscientização do caráter crônico da obesidade. Reforça-se a importância da educação nutricional e a realização de atividades físicas como uma importante estratégia de intervenção, visando à prevenção primária dessas doenças. Contudo, novas pesquisas são necessárias 27 Silveira, M. M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 23-30, jan./jun. 2009 para que se possa observar a influência da idade e do sexo na pressão arterial e a relação do sedentarismo com a obesidade, sendo talvez necessário aumentar a amostra analisada para a confirmação dos resultados. As novas pesquisas devem também estudar, com maior atenção, determinantes comportamentais e hereditários relacionados ao processo saúde-doença. Referências 1. SBC. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Sociedade Brasileira de Hipertensão e de Nefrologia. V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. Campos do Jordão: DBHA. 2006; 1-49. 2. Sposito A, Caramelli B, Fonseca FAH, Bertolami M, Neto AF, Souza AD, et al. IV Diretriz brasileira sobre dislipidemias e prevenção da aterosclerose: Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 2007; 88 (1): 1-19. 3. Lakka TA, Laaksonem DE, Laaka HM, Männikö N, Niskanen LK, Raumramaa R, et al. 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Resumo: Atualmente é crescente participação da Universidade na vida do jovem universitário, no aspecto emocional, cognitivo, financeiro, psicossocial, acadêmico e na perspectiva de concretização de ideais, necessitando de programas destinados a assistência a saúde mental deste estudante. OBJETIVO: Apresentar os dados preliminares acerca da implantação do “Programa de Psicologia Consulta Única” (PPSICONSU), na PRAE/UFSC, que abrange procedimentos de triagem, encaminhamento e atendimento psicológico e neuropsicológico de alunos da UFSC, que estão,preferencialmente, em situação de vulnerabilidade social e uso de psicotrópicos. CONCLUSÃO: Este programa promove benefícios em saúde mental para o universitário e a instituição, estando em concordância com o PNAES e FONAPRACE. Palavras-chave: Psicologia, Neuropsicologia, Saúde Mental, Referência e Consulta. Abstract: Currently, it is increasing participation of the University in the life of the young college student, in emotional, cognitive, financial, psicossocial, academic aspects the perspective of concretion of ideals. It has the necessity of destined programs the assistance the mental health of this student. OBJECTIVE: To present the preliminary data concerning the implantation of the Psychology Only Consultation Program (PPSICONSU),in the PRAE/UFSC that encloses procedures of selection, guiding and psychological attendance and neuropsychological of students of the UFSC preferential in situation of social vulnerability that use psychotropic drugs. CONCLUSION:This program promotes benefits in mental health for the college student and the institution, being in agreement with the PNAES and FONAPRACE. Key-word: Psychology, Neuropsychology, Mental Health, Referral and Consultation. Embasamento teórico Atualmente, nota-se a crescente influência da Universidade na vida do jovem universitário, inclusive no âmbito emocional, cognitivo e financeiro, na promoção do desenvolvimento psicossocial, do ajustamento acadêmico e quanto à perspectiva de concretização de ideais profissionais e pessoais. Estas competências devem ser promovidas através de atividades curriculares e extracurriculares, tendo em vista a preparação dos alunos para a vida ativa, considerando as coordenadas históricosócio-culturais e geográficas em que vivem 1. Há cinco grandes áreas isoladas (pessoal, interpessoal, vocacional, de estudo, e institucional) representam alguns dos domínios que, seguramente, melhor descrevem a adaptação acadêmica, servindo aos objetivos de quem pretende investigar e intervir tomando como referência os níveis e a qualidade dessa adaptação em estudantes ingressados na universidade 2. As universidades podem executar ____________________________ ¹Neuropsicóloga (Psicóloga especialista em Neuropsicologia pelo Conselho Federal de Psicologia – CFP). Doutora em Ciências da Saúde (área: Neurociências) pela Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS). Pós-Doutorado em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis – PRAE/UFSC. [email protected] ²Cirurgião-dentista. Doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Pró-reitor de Assuntos Estudantis da Universidade Federal de Santa Catarina. Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis – PRAE/Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. [email protected] ³Assistente Social Coordenadora do Serviço Social – COSS. Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis – PRAE/Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. [email protected] 31 Zanini, R. S. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 31-35, jan./jun. 2009 políticas mais dinâmicas destinadas aos problemas de alunos, como aqueles relacionados ao uso de substâncias. Primeiramente, os centros de saúde do campus precisam de serviços destinados aos estudantes que compreendam a necessidade de prevenção e tratamento, contudo os centros de saúde são insuficientes em recursos para abarcar a demanda existente 3. Desse modo, percebe-se a existência de diversas variáveis que interferem na ambientação e desempenho do aluno na instituição universitária. O impacto das variáveis do curso de graduação, como “conhecimentos para o curso", "relacionamento com os professores" e a "adaptação ao curso", são estatisticamente significativos. O "relacionamento com os colegas" também tem um efeito significativo de interação de gênero e curso escolhido (percepções pessoais mais positivas no relacionamento com os colegas). A variável da situação econômica do estudante interfere consideravelmente na "gestão dos recursos econômicos" no "envolvimento em 1 atividades extracurriculares" do estudante . O estudo de Huang et al 4 avaliou estudantes de 26 universidades e sugere que a baixa renda da família, o baixo status social, e o estilo parental (pais solteiros, famílias adotivas), estado civil (solteiros e não-solteiros), contribuem do desenvolvimento de transtornos de personalidade, como por exemplo, alterações paranóides, anti-sociais, depressivas, passivo-agressivas e esquizotípicas. Tal panorama sinaliza a importância da intervenção psicológica / neuropsicológica. A Consulta Psicológica é um procedimento do profissional psicólogo que inclui em seus objetivos, também, a intervenção focada no processo psicopatológico que interfere na condição global (especialmente acadêmica) do aluno, visando a investigação e esclarecimento de questões associadas à queixa clínica e à adesão aos esquemas terapêuticos. A citada consulta também é útil na triagem psicológica e sugerindo o encaminhamento do caso (psicoterapia, avaliação/ exame neuropsicológico, atendimento psiquiátrico ou neurológico). Nesse sentido, destaca-se que alterações em doenças neurológicas podem ser confundidas com doenças psiquiátricas, reforçando a importância do diagnóstico diferencial e da avaliação neuropsicológica 5. Quanto ao exame neuropsicológico, suas indicações incluem a avaliação e o acompanhamento de pacientes que apresentam demências (Alzheimer, Vascular); déficit mnêmico associado à idade; avaliação do déficit cognitivo pósAcidente Vascular Cerebral (AVC), Traumatismo Crânio-Encefálico (TCE), meningo-encefalites, intoxicações; déficit cognitivo associado ao consumo abusivo de álcool (demência Wernicke Korsakoff), associado ao uso de drogas (por exemplo, a cocaína), na epilepsia; deficiência mental; déficit atentivo no transtorno do déficit de atenção persistente; na esquizofrenia; na avaliação de formas residuais de transtornos do aprendizado; e no diagnóstico diferencial (por exemplo, depressão versus demência) 6. A Organização Mundial da Saúde – OMS 7, em 2000, cita que casos de homicídio, suicídio e acidentes, geralmente associados ao uso de álcool e drogas, estão entre as três maiores causas de morte em jovens em transição, entre 15 e 24 anos de idade. Nota-se que muitos distúrbios psicológicos/ neuropsicológicos dos jovens mostram história prévia ao seu ingresso na universidade. Ainda acerca das variáveis influentes na vida do estudante universitário destacamse distúrbios psicológicos e psiquiátricos, além de limitações financeiras do mesmo. Sendo estas duas condições, focos problemáticos que merecem atenção. Segundo a Coordenadoria de Serviço Social da Pró-Reitoria de Assuntos 32 Zanini, R. S. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 31-35, jan./jun. 2009 Estudantis – PRAE, da UFSC, as despesas referentes ao auxílio para compra de medicação (principalmente psicofármacos) teve um valor médio mensal de R$ 3.000,00 em 2008, enquanto que o gasto médio destinado ao auxílio moradia, refeição e bolsa de alunos foi R$ 225.000,00 mensais em 2008. Conforme dados do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis 8, 21,41% dos estudantes têm menos de vinte anos, identificam-se alguns temas considerados desafiadores dessa faixa etária, que demandam programas de saúde específicos: prevenção de DST/AIDS; planejamento familiar; saúde mental/dependência química, saúde oral e de prevenção de doenças imunopreviníveis. O Programa Nacional de Assistência Estudantil – PNAES informa que as ações de assistência estudantil são iniciativas desenvolvidas nas áreas de moradia estudantil, alimentação, transporte, assistência à saúde, inclusão digital, cultura, esporte, creche, e apoio pedagógico afim de contribuir para a melhora do desempenho acadêmico e na prevenção de situações de repetência e evasão decorrentes da insuficiência de condições financeiras 9, Nesse sentido, destaca-se aqui a assistência a saúde, especialmente, a saúde mental. Os estudantes das categorias de maior vulnerabilidade social são os que mais freqüentam os serviços públicos de saúde 8. A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior – Andifes realizou uma pesquisa8, que evidenciou que 39% dos estudantes das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) passam por alguma dificuldade emocional. No estudo8 a incidência de crise emocional é similar entre estudantes que se encontram no começo e no final da graduação, com índices de 39% e 40%, respectivamente. Entre estes estudantes, muitos associam ansiedade ou crises de fundo emocional ao uso de álcool e drogas. Tendo em vista que a missão da PRAE é desenvolver ações institucionais, pedagógicas e acadêmicas, direcionadas para o acesso, para a permanência e para a conclusão de discentes matriculados nos cursos de graduação presencial da UFSC, em articulação com as demais estruturas universitárias 10; acredita-se na viabilidade do “Programa de Psicologia Consulta única” nesta instituição. O tema deste trabalho refere-se a Assistência Estudantil, e sua delimitação é o atendimento psicológico e neuropsicológico. Assim, conforme o presente trabalho, acredita-se na validade da consulta e do parecer psicológico para o estudante universitário, que passa a ser um paciente, em virtude de uma condição de saúde mental. Reforçando, assim, a realização destes procedimentos em jovens universitários, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade social. As indicações, neste programa, relacionam-se, principalmente, com déficit cognitivo, dependência química, distúrbios psicológicos/ psiquiátricos e neurológicos, necessitando de procedimentos referentes à Psicologia. Considerando o papel da universidade, é válido citar que o seu ensino permite a cada geração concretizar os seus projetos e, assim, servir a sociedade da melhor forma possível1. Objetivo Apresentar os dados preliminares acerca da implantação do “Programa de Psicologia Consulta Única” (PPSICONSU), na PRAE/UFSC, que abrange procedimentos de triagem, encaminhamento e atendimento psicológico e neuropsicológico de estudantes matriculados nos cursos presenciais de graduação da UFSC preferencialmente em situação de vulnerabilidade social. 33 Zanini, R. S. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 31-35, jan./jun. 2009 Sujeitos e métodos (metodologia) Conclusões Os sujeitos envolvidos incluem um Psicólogo efetivo da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC e alunos da graduação da Universidade Federal de Santa Catarina, conforme critério de inclusão. Os critérios de inclusão destinam-se aos alunos da graduação da Universidade Federal de Santa Catarina, acima de 18 anos, de ambos os sexos, solicitantes do auxílio para compra de medicação (psicotrópico), com história do uso de algum procedimento terapêutico na área de saúde mental (intervenção psicológica, psiquiátrica, neurológica, neurocirúrgica e /ou medicamentosa) cadastrados na Coordenadoria de Serviço Social, da Próreitoria de Assuntos Estudantis – PRAE, classificados segundo o “Índice SócioEconômico”, que considera renda familiar, número de dependentes, despesas do aluno com moradia, situações de doença e de desagregação na família. Acerca dos procedimentos, informase que os indivíduos selecionados realizam, a princípio, uma consulta (01) psicológica/ neuropsicológica, que entre estes escolhidos, seriam um requisito para a solicitação do “auxílio medicação”. Na consulta, haveria entrevista/ anamnese e poderá ocorrer a aplicação de instrumentos (como testes e escalas psicológicas) e outras consultas, conforme a indicação do profissional em questão. Na ocasião da consulta psicológica/ neuropsicológica o profissional assegura ao paciente o anonimato e sigilo de suas informações entre outros aspectos éticos envolvidos. O paciente, ao comparecer apresenta, caso tenha, seus exames de neuroimagem, laudos anteriores e a medicação utilizada com respectiva dosagem. Por meio do presente trabalho, conclui-se que: A implantação do “Programa de Psicologia Consulta Única” foi possível e o mesmo funciona há cerca de 06 meses com sucesso. Entre as queixas mais freqüentes dos alunos beneficiados pelo programa, estão a depressão, déficit cognitivo, problemas de relacionamento, déficit de atenção, comportamentos anti-sociais, déficit de memória, dependência química (álcool e drogas), ansiedade e idéias paranóides, principalmente. Alterações psicológicas e neuropsicológicas podem interferir na vida social e acadêmica do indivíduo. O Programa de Psicologia Consulta Única – PPSICONSU é necessário e promove benefícios no âmbito de saúde mental ao universitário e a instituição. O citado Programa de Psicologia Consulta Única - PPSICONSU está em concordância com o Programa Nacional de Assistência Estudantil – PNAES, Ministério da Educação e com o Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis - FONAPRACE. Agradecimentos Cláudia Chupel, Elisandra Fortkamp de Oliveira, Rosilene dos Anjos, Cátia Peixer. Referências 1. Ferreira JA, Almeida L, Soares APC. 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Acesso em 03/03/2009. 35 Souza, T. T. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 36-43, jan./jun. 2009 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADOLESCENTE: ESTUDO DO CONTEXTO SOCIAL ENVOLVENDO PROJETOS E PROGRAMAS EM UMA COMUNIDADE DE FLORIANÓPOLIS/SC [Teenagers health care: study of social context involving projects and programs in a community from Florianópolis/SC] Thaís Titon de Souza1; Monica Barreto2; Leandro Ribeiro Molina3; Maria Fernanda Cabral4; Viviane Hultmann Nieweglowski5; e Marco Aurélio da Ros6. Resumo: a partir da descrição do contexto social comunitário e da identificação de programas e projetos direcionados para adolescentes, objetiva-se realizar reflexão crítica sobre atenção à sua saúde em uma comunidade de Florianópolis/SC. Recorreu-se à territorialização e a dados secundários, encontrando-se grande vulnerabilidade social e pouca disponibilidade de programas e projetos. São, portanto, necessárias políticas públicas baseadas na promoção da saúde e programas que atendam às demandas originadas no contexto encontrado. Resultados foram discutidos com as equipes de saúde, oferecendo subsídios para planejamento, execução e avaliação de ações e para busca de parcerias intersetoriais para a promoção da saúde na adolescência. Palavras-Chave: Saúde; Atenção Básica; Vulnerabilidade Social; Adolescência. Abstract: from the description of a Florianópolis/SC community’s social context and the identification of programs and projects directed to teenagers, a critical reflection about their health attention inside the community is sought. By means of territorialization and secondary data, a great vulnerability was found and low availability of programs and projects. Public policies based on the promotion of health and programs that attend to the demands created in the found contexts are necessary. The results were discussed with health teams, offering subsidies for planning, execution and evaluation of actions and for search of inter-sector partnerships for the promotion of teenagers’ health. Keywords: Health; Primary health care; Social Vulnerability; Teenage. Introdução O Programa de Residência Integrada em Saúde da Família da UFSC tem como objetivo formar profissionais de saúde através da educação em serviço, baseando-se no modelo assistencial da Estratégia de Saúde da Família (ESF). Desta forma, em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de Florianópolis/SC atuam seis equipes básicas e duas equipes complementares, estas compostas por um profissional de cada uma das seguintes profissões: serviço social, ___________________________ farmácia, psicologia e nutrição. O processo de trabalho destes profissionais foi estruturado de forma a equipe complementar ser referência para três áreas de abrangência. Com a proposta de criar possibilidades de construção de respostas às necessidades correlacionadas das três áreas de que é referência, a partir do diagnóstico de saúde, de forma resolutiva e interdisciplinar, caracterizando-se como uma ação da UBS, a equipe complementar desenvolve um Projeto Integrado. Entende-se que esta forma de atuação consolida o vínculo com os demais profissionais que 1 Nutricionista, Residente em Saúde da Família/UFSC. [email protected] Psicóloga, Residente em Saúde da Família/UFSC. [email protected] 3 Farmacêutico, Residente em Saúde da Família/UFSC. [email protected] 4 Assistente Social; Residente em Saúde da Família/UFSC. [email protected] 5 Psicóloga, Mestre em Psicologia e Tutora do Programa de Residência Integrada em Saúde da Família/UFSC. [email protected] 6 Médico, Doutor em Educação e Preceptor Acadêmico do Programa de Residência Integrada em Saúde da Família/UFSC. [email protected] 2 36 Souza, T. T. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 36-43, jan./jun. 2009 compõem a área e amplia o olhar sobre o cuidado, tendo como consequência maior resolutividade na atenção básica. Desta forma, planejando e analisando o diagnóstico de saúde em conjunto com os profissionais das equipes básicas, destacaram-se problemáticas relacionadas à violência, drogas e prostituição - envolvendo principalmente adolescentes. Além disso, a mesma questão foi levantada em reuniões interinstitucionais realizadas, especialmente naquelas com representantes de instituições escolares da comunidade. Diante desta realidade, detectou-se a necessidade de entender o contexto social e a situação atual dos adolescentes do bairro em questão, através da análise de dados epidemiológicos desta faixa etária, bem como identificando projetos e programas direcionados para esta população. Revisão de Literatura Segundo a Organização Mundial da Saúde, a adolescência constitui um processo fundamentalmente biológico de vivências orgânicas, apresentando desenvolvimento cognitivo e estruturação da personalidade. Esta fase do ciclo de vida abrange a préadolescência (10 a 14 anos) e a adolescência propriamente dita, dos 15 aos 19 anos1. Considera-se que este período é também resultante de processos inerentes aos contextos sociais (históricos, políticos e econômicos) nos quais os adolescentes estão imersos. Entretanto, “o trabalho da adolescência na busca de uma identidade adulta em uma sociedade de leis fragmentadas, valores instáveis e individualizados, torna o adolescente mais vulnerável e predisposto a comportamentos aos quais chamamos de risco” 2 (p.125). No contexto das políticas socioeconômicas brasileiras, os campos da saúde e da educação pública não atingem de forma satisfatória a grande massa da população, existindo, ainda, carência de bases mínimas que atendam às necessidades básicas do ser humano3. Neste contexto, muitos adolescentes são iniciados na prostituição, excluídos do sistema formal de ensino e aliciados pelo crime organizado e tráfico de drogas, estando expostos a violências de diferentes formas. Percebe-se, então, que a vulnerabilidade aos agravos à saúde justifica a necessidade de atenção mais específica à saúde dos adolescentes. A vulnerabilidade relaciona-se aos processos que amplificam os riscos para o desenvolvimento de um agravo, enquanto os mecanismos de proteção os diminuem ou inibem4. Os riscos são considerados como a alta probabilidade que se tem de sofrer, no futuro, um dano em sua saúde5. Já os fatores de risco seriam todas as características ou circunstâncias pessoais, ambientais ou sociais ligados ao aumento desta possibilidade. Como fatores de proteção, consideram-se todos os recursos pessoais e contextuais que auxiliam a reduzir ou neutralizar os riscos do ambiente. A ausência de mecanismos protetores ou a insuficiência destes para o provimento de respostas positivas conduz os indivíduos à vulnerabilidade frente às situações adversas. Nesse sentido, o uso que o adolescente faz de seu tempo livre pode gerar consequências positivas ou negativas para seu desenvolvimento. Um documento produzido pela UNESCO sobre o tema complementa esta discussão, ao colocar a necessidade de investir na juventude, combatendo a vulnerabilidade social através da valorização do protagonismo juvenil6. Evidencia-se, assim, a necessidade de que sejam oferecidas atividades aos adolescentes não apenas para preenchimento do tempo ocioso e sim a fim de oferecer oportunidades de crescimento pessoal, excitação e desafio, na busca pela promoção de sua saúde7. No contexto latinoamericano, caracterizado por graves problemas econômicos e sanitários, a proposta de promoção da saúde ganha uma forte conotação política que preconiza a articulação entre Estado e sociedade na 37 Souza, T. T. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 36-43, jan./jun. 2009 busca da equidade. Os espaços sociais onde vivem as pessoas – ou seja, as cidades, os locais de trabalho, as escolas, enfim, a comunidade – são os principais locais de efetivação das ações de promoção da saúde8. Neste sentido, especificamente a atenção básica, considerado o primeiro nível de contato preferencial do usuário com o sistema de saúde, demonstra-se um lócus privilegiado para a construção de ações de promoção da saúde direcionadas aos adolescentes. Embora recentemente, observa-se na sociedade brasileira um consenso inicial em torno da necessidade de implantação de políticas públicas que promovam a saúde, o bem-estar e o desenvolvimento desta população9. Alguns setores da sociedade brasileira têm se voltado para a discussão da situação dos adolescentes e dos jovens a partir de uma concepção ampliada de direitos, cuja expressão maior está no Estatuto da Criança e do Adolescente. Entretanto, historicamente no Brasil os jovens são abrangidos por políticas sociais destinadas a todas as demais faixas etárias, especialmente às crianças10. Considera-se o planejamento e a execução de experiências promotoras de saúde uma possibilidade de construção de ambientes mais saudáveis na comunidade, sendo necessário que a sociedade como um todo se responsabilize por oferecer e assegurar aos adolescentes estes ambientes. Na cidade de São Carlos/ SP, identificou-se que a maioria das ações voltadas a esta faixa etária focaliza atividades de assistencialismo e complementação escolar. Ensino profissionalizante, esportes, atendimentos de saúde e educação e atendimentos exclusivos para autores de atos infracionais também foram encontrados11. Diante da relevância desta discussão, analisou-se o contexto social de uma comunidade de Florianópolis/SC, com posterior identificação de projetos e programas direcionados aos adolescentes, fomentando a reflexão crítica para a construção de novos caminhos e de novas práticas de saúde em âmbito municipal, centradas nos princípios e nas diretrizes do SUS. Procedimentos Metodológicos Trata-se de um estudo descritivo, realizado em 3 áreas de abrangência de uma UBS de Florianópolis/SC. Devido à importância do reconhecimento da dinâmica social, hábitos e costumes para a determinação de vulnerabilidades para a saúde, utilizou-se o reconhecimento do território como metodologia, através de práticas em campo e da utilização de dados secundários12. Assim, recorreu-se ao processo de territorialização para reconhecimento do contexto comunitário e mapeamento de instituições que desenvolvem atividades voltadas aos adolescentes dessa localidade. Considera-se que a territorialização consiste em uma estratégia que possibilita à equipe de saúde incorporar em seu cotidiano um novo fazer em saúde, a partir da aproximação e da apropriação do conhecimento do território. Com este entendimento, foi elaborado um “formulário-guia” que norteou a ação, abrangendo aspectos relacionados a condições de vida e moradia e à identificação de recursos que pudessem ser direcionados aos adolescentes na comunidade. Individualmente, os membros da equipe complementar envolvida preencheram as informações contidas neste formulário durante o período de reconhecimento do território. A agregação dos dados foi realizada posteriormente, através de discussão entre todos os profissionais. Foi realizada busca a programas e projetos que promovessem a saúde e o desenvolvimento de adolescentes em situação de vulnerabilidade social cujos objetivos não se relacionassem a medidas de proteção e sócio-educativas, sendo assim desconsiderados aqueles direcionados a jovens com violação de seus direitos, como 38 Souza, T. T. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 36-43, jan./jun. 2009 vítimas de violência e em conflito com a lei. Além disso, o estudo recorreu a fontes secundárias, através de pesquisa documental realizada em 2007. Para identificação do número de adolescentes e da situação de escolaridade, recorreu-se às fichas de cadastro familiar preenchidas e utilizadas pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) para registro do Sistema de Informações da Atenção Básica (SIAB). Em todas as etapas deste estudo foi garantido o anonimato dos adolescentes inseridos no mesmo e o sigilo sobre as informações coletadas. Por fim, os resultados foram discutidos com as equipes de saúde da família das áreas de abrangência da referida equipe complementar, oferecendo subsídios para o planejamento, a execução e a avaliação de ações direcionadas aos adolescentes desta comunidade, assim como para a busca de parcerias intersetoriais para a promoção de sua saúde. Resultados e Discussão Contexto comunitário: dinâmica social descrição da A partir do processo de territorialização, foram identificadas características das três áreas de abrangência referidas neste estudo, denominadas de “Área A”, “Área B” e “Área C”. A área “A” tem início na rua em frente à UBS e é predominantemente composta por morros, sendo constatadas áreas de risco localizadas principalmente na parte mais alta, onde é difícil o acesso. Verificou-se que o abastecimento de água é oriundo de uma cachoeira, sendo o saneamento básico inexistente nesta comunidade (existem locais onde há esgoto a céu aberto). A coleta de lixo é realizada três vezes por semana e há lixeiras apenas em duas ruas. Quanto às moradias, existe um grande número de casas construídas com madeira, enquanto as de alvenaria, em sua maioria, encontram-se inacabadas. Com relação à demanda por atendimento identificada na UBS, a maior parte de seus moradores é usuária do SUS. Os recursos identificados na área “A” foram uma quadra de esportes, uma associação de moradores, uma capela e estabelecimentos comerciais de alimentos. Não há farmácias comerciais na área e foi encontrado apenas um telefone público. Também não há relato de nenhum canteiro ou área destinada ao cultivo e/ou distribuição de ervas e outras plantas medicinais. A área “B” apresenta-se essencialmente plana, com poucas áreas de morro, e inicia-se ao lado da UBS. Marcada pela discrepância na realidade social de seus moradores – sendo observada a existência de um condomínio de classe média ao lado de um conjunto habitacional popular – não conta com saneamento básico, apresentando esgoto a céu aberto que desemboca no mangue onde se costumava pescar há cerca de 20 anos. Como recursos, a área dispõe de uma creche particular, uma escola e uma creche municipal localizadas em anexo ao conjunto habitacional referido. Nesta há dois espaços inutilizados, sendo que um deles abrigou uma associação de moradores que atualmente encontra-se desativada. O outro espaço foi sede por alguns meses entre 2005 e 2006 do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), desativado na comunidade por solicitação dos moradores, conforme informação da coordenação do programa no município. Além disso, a área conta com um centro comunitário, uma associação de deficientes visuais (referência para Santa Catarina), uma instituição de nível federal de ensino profissionalizante (oferece cursos gratuitos), uma associação médica estadual e estabelecimentos comerciais. A área “C” apresenta-se mais distante da UBS, sendo composta por áreas planas e, essencialmente, por morros. Um destes não possui calçamento, sendo o acesso 39 Souza, T. T. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 36-43, jan./jun. 2009 dificultado principalmente para gestantes e idosos e constitui-se como uma importante área de risco. Observou-se que, apesar de apresentar algumas moradias em situação precária, há predomínio de condições habitacionais satisfatórias, apresentando residências com condições adequadas de água e saneamento básico e outras com condições precárias semelhantes às demais áreas. Esta área também dispõe de recursos, como duas associações de moradores, estabelecimentos comerciais, uma igreja evangélica, uma igreja católica e um núcleo de educação infantil municipal. Nesta área de abrangência, também está situada uma importante instituição administrativa do governo estadual. É importante colocar que uma das associações da área “C” conta com amplo espaço de lazer, onde atualmente são desenvolvidas algumas atividades direcionadas às crianças e aos adolescentes da comunidade. Entretanto, as ações são desenvolvidas apenas aos sábados através de voluntariado e não contam com financiamento para sua execução, dificultando sua expansão, com subutilização dos espaços. Com relação ao acesso aos serviços básicos de saúde e educação, percebeu-se que, por ser uma área de grande extensão territorial, o mesmo é dificultado especialmente para aqueles que residem nos morros, seja por não possuírem meios próprios de locomoção e/ou por apresentarem condições financeiras insuficientes para utilização do transporte coletivo. De forma geral, o território abrangido por este estudo é essencialmente uma grande área de vulnerabilidade social: a UBS referida está subordinada a uma Regional de Saúde que contém sob sua responsabilidade nove UBS. A regional contempla, ao todo, 6 áreas de interesse social, das quais quatro estão presentes no território analisado13. Identificação dos adolescentes Os dados encontrados a partir da pesquisa documental revelaram a existência de 517 adolescentes nas três áreas de abrangência, aproximadamente 20,2% (151) destes na faixa etária entre 10 – 12 anos, 39,4% (204) entre 13 – 15 anos e 31,3% (162) entre 16 – 19 anos. A população de cada área está estimada em cerca de 3500 habitantes, obtendo-se, portanto, cerca de 5% da população total estudada na faixa etária entre 10 a 19 anos14. É importante considerar que a projeção colocada pelo IBGE para o ano de 2007 demonstra a existência de 1145 adolescentes nesta localidade15. Comparando este dado com os resultados encontrados neste estudo, tem-se uma cobertura de apenas 45,15% do número de pessoas nesta faixa etária a partir das fontes levantadas pelos pesquisadores, o que pode indicar subregistro através das fichas cadastrais do SIAB por diferentes motivos, dentre eles a existência de áreas de abrangência não cobertas por Agentes Comunitários de Saúde na localidade estudada. Com relação à matrícula na escola, identificou-se que aproximadamente 89% dos adolescentes desta comunidade estão, atualmente, estudando. Não foi possível conhecer se estes adolescentes estão empregados ou se participam de projetos e/ou programas fora do ambiente escolar, por serem dados que não constam nas bases pesquisadas neste estudo. Identificação de recursos da comunidade: projetos direcionados aos adolescentes A partir do processo de territorialização e do contato com os ACS em reuniões de planejamento das equipes de saúde, foram reconhecidas instituições que desenvolvem ações voltadas para adolescentes no território de abrangência desta equipe complementar. 40 Souza, T. T. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 36-43, jan./jun. 2009 No Conselho Comunitário de Moradores do bairro (localizado na área “B”) é desenvolvido o Projeto Renascer, mantido pela Secretaria Municipal de Assistência Social com contrapartida da Secretaria Estadual de Educação. O Projeto atende crianças e adolescentes até 14 anos, e tem como objetivo fornecer complementação escolar através de atividades de apoio pedagógico, educação física, escola de futebol, oficina de bijuterias e aulas de dança. São atendidos cerca de 50 alunos, divididos em duas turmas – uma no período matutino e outra no vespertino -, abrangendo adolescentes deste bairro e de outro vizinho. Este mesmo Conselho é sede do projeto Agente Jovem, que atende quinze adolescentes entre 15 e 17 anos e abrange também jovens do bairro vizinho. São realizadas atividades que propiciam o desenvolvimento pessoal dos menores e prepara-os, ainda, para a futura inserção no mercado de trabalho. Em contrapartida, o jovem deve permanecer no sistema de ensino com frequência mínima de 75%, condição indispensável para que receba uma bolsa. Houve uma tentativa de que este Programa tivesse sua cobertura ampliada, através de uma nova sede na área A, o que não se tornou realidade devido a desavenças entre grupos relacionados ao tráfico de drogas. Desta forma, sua ampliação foi desconsiderada, aparentemente sendo negada a possibilidade de sua oferta nos dois locais separadamente. Ainda na área “B” está alocada uma instituição de ensino profissionalizante de âmbito federal que disponibiliza aos jovens da comunidade local, a partir de 15 anos, 32 vagas para o curso de “Informática e desenvolvimento comportamental”. Na área “C” ocorre o projeto Sábado Criativo – também desenvolvido em uma Associação de Moradores – com atividades de lazer e esporte para cerca de 123 crianças e adolescentes aos sábados. Com relação à utilização destes recursos pelas equipes de saúde da UBS, percebeu-se que, de forma geral, alguns destes projetos não eram, sequer, conhecidos por seus membros. No entanto, o domínio do território de abrangência, no sentido de reconhecimento, poderia auxiliar os profissionais nos encaminhamentos necessários, possibilitando a outros jovens o acesso a esses serviços. Ao serem desconhecidas as singularidades do território e os recursos de que este dispõe, minimiza-se o efeito promotor da saúde destas ações na comunidade, dificultando-se a prática da intersetorialidade e da integralidade. Desta forma, dificilmente a atenção básica conseguirá se aproximar da produção social da saúde e de seus problemas. Considerações Finais A análise do número de adolescentes e da oferta de programas e projetos disponíveis no território analisado demonstrou deficiência em sua disponibilidade, pois um número relativamente pequeno de jovens tem acesso a estas ações. Verificou-se a existência de 517 adolescentes, sendo que os projetos desenvolvidos oferecem, ao todo, 97 vagas. Com relação ao projeto Sábado Criativo, por ser aberto à livre demanda e atender também crianças, não foi possível uma análise criteriosa de sua oferta. Identifica-se, assim, que além das vagas serem insuficientes, sua diversidade é restrita, dificultando a promoção da saúde. Apesar disso, existem, no território, instituições onde projetos já realizados poderiam ser ampliados e onde outros poderiam ser desenvolvidos, mas inexistem recursos nas instâncias mais próximas que viabilizem essa expansão. Com base neste diagnóstico, identifica-se o importante papel do setor saúde para efetivação da inter-relação das ações de saúde às outras ações já desenvolvidas no território. É preciso conhecer, conhecer para interpretar e interpretar para atuar12, tendo a ESF a 41 Souza, T. T. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 36-43, jan./jun. 2009 possibilidade de desenvolver um papel central nos territórios em que está inserida. Ao identificar suas singularidades e apropriar-se do uso que as pessoas ali inseridas fazem de seus recursos, é possível o desenvolvimento de ações de promoção da saúde, almejando a criação de espaços saudáveis e um entendimento diferenciado do processo saúde-doença, que não centrado apenas em seu caráter biológico. Entende-se que as ações de saúde devem estar integradas às outras ações desenvolvidas em diferentes setores da sociedade, avançando na prática da intersetorialidade. O conjunto dessas ações precisa ser norteado pelas especificidades do território, almejando aproximação com sua realidade sem excluir as relações com outros níveis de decisão, fora dos limites territoriais, que podem influenciar em sua dinâmica. Considera-se assim, como inadequada a criação e implantação de políticas e programas direcionados a todos, em qualquer território, pois a identificação de condições reais e de sistemas de relações existentes nos territórios é que deve determinar sua execução12. É importante considerar que, organizados de modo a atender doenças, os serviços de saúde são pouco buscados pelos adolescentes por serem uma população que, de modo geral, pouco adoece. Aliado a isso percebe-se que estes serviços parecem estar despreparados para atender às peculiaridades e necessidades destes usuários. A ESF não trata o adolescente como prioridade absoluta como determina a Lei 8069/90, não sendo o adolescente sequer um marcador prioritário para a estratégia. No SIAB, somente dois itens tratam de informações sobre o adolescente – Identificação de gestantes menores de 18 anos e Óbitos causados por violência em adolescentes – e, ainda assim, não voltados para a promoção e a prevenção. Diferentemente de outros países, no Brasil nunca existiu uma tradição de políticas especificamente destinadas aos jovens, como alvo diferenciado e, desta forma, estes acabam sendo atendidos como adultos ou crianças, sem quaisquer prioridades para atendimento nas Unidades de Saúde2. Neste sentido, os profissionais de saúde devem trabalhar conjuntamente com outros setores, como a escola, na prática de ações de educação em saúde direcionadas aos adolescentes e sua família e no planejamento de políticas voltadas à construção de ambientes protetores e saudáveis16. A construção de espaços de discussão sobre programas que atendam às demandas originadas no contexto de vulnerabilidade social em que os adolescentes estão inseridos, no intuito de diminuir os riscos a que habitualmente estão expostos, precisa ser realizada a fim de promover a atenção a este grupo respeitando características inerentes a este período da vida. Por fim, a descrição da dinâmica social da comunidade e a contextualização sobre projetos e programas direcionados aos adolescentes desenvolvidos no território estudado, bem como a identificação do pouco conhecimento dos profissionais de saúde da família envolvidos sobre a realidade verificada, reforçam a necessidade de políticas públicas que visem contribuir para o desenvolvimento dos adolescentes a partir do referencial da promoção da saúde. Referências 1. Organização Mundial da Saúde. Promoção do crescimento e desenvolvimento integral de crianças e adolescentes. Brasília: MS; 2000. 2. Beirão MMV, Mucci NE, Ferreira RA, Miranda SM, Amaral TM. Adolescência. In: Alves CRL, Viana MRA. Saúde da Família: cuidando de crianças e adolescentes. Belo Horizonte: COOPMED; 2003. 3. Ferreira MA; Alvim NAT, Teixeira MLO, Veloso RC. Saberes de adolescentes: estilo de vida e cuidado 42 Souza, T. T. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 36-43, jan./jun. 2009 à saúde. 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Uso de álcool, tabaco e outras drogas por adolescentes escolares em município do Sul do Brasil. Cad. Saúde Pública 2008;24:2487-98. 43 Souza, T. T. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 44-50, jan./jun. 2009 A HUMANIZAÇÃO DA ATENÇÃO NUTRICIONAL A PARTIR DA READEQUAÇÃO DE HORÁRIOS DE REFEIÇÕES HOSPITALARES [The humanization of nutritional care through adequation of hospital meal schedules] Thaís Titon de Souza1 e Anete Araújo de Sousa. Resumo: Tradicionalmente determinados a partir da organização da estrutura hospitalar, os horários de refeições apresentam-se freqüentemente distantes daqueles em domicílio. Desta forma, objetiva-se identificar a percepção de pessoas internadas e de nutricionistas em um hospital de Florianópolis/SC em relação aos horários de distribuição das refeições, propondo sua aproximação à realidade dos indivíduos, fundamentando-se na humanização da atenção. Como método, utilizou-se a pesquisa participante, através de perguntas-guias. Estabeleceu-se, então, uma proposta de reestruturação através da readequação de horários de rotinas dos funcionários do serviço de nutrição e de horários de distribuição das refeições, resgatando a alimentação como fonte de prazer e bem-estar. Palavras-chave: serviço hospitalar de nutrição, humanização da assistência. Abstract: Traditionally determined based on the hospital’s organization, meal schedules frequently present themselves far from those maintained at home. Thus, through the perception of admitted patients from a hospital in Florianópolis/SC and nutritionists about the schedules of meal distribution, a proposition closer to the realities of these individuals is made, based on care humanization. The method employed was participative research, through guiding-questions. A restructuration proposition was established through adequations to the meal distribution schedules and nutrition service employees’ activities schedules, transforming eating back into a source of pleasure and well-being. Keywords: Food Service Hospital; humanization of assistance. Introdução A alimentação é um fenômeno complexo, envolvendo aspectos psicológicos, biológicos, sociais e diferentes significados que interferem diretamente no processo de trabalho do nutricionista, seja este no ambiente hospitalar ou em outros níveis de atenção à saúde1. Desta forma, é função da equipe de nutrição fortalecer as interfaces da alimentação dentro do hospital, procurando melhorar sua aceitação, uma vez que a associação da refeição neste ambiente com proibições e privações freqüentemente ocasiona sua recusa, resultando em baixo consumo pelos comensais2. Comumente, os aspectos nutricionais e higiênico-sanitários são super valorizados, deixando-se de incorporar outras funções à alimentação hospitalar – a função hedônica, ___________________________ ligada ao prazer e aos aspectos sensoriais, e a função convivial, relacionada à percepção do indivíduo de pertencer a um grupo social e culturalmente construído3. Boeger4 destaca que as Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs) hospitalares centraram seus esforços na recuperação de seus pacientes, esquecendo-se das demais funções dos alimentos. Desta forma, a refeição hospitalar é percebida popularmente como uma comida sem graça - sem temperos, criatividade, sabor e cor. O resultado pode ser a ocorrência da desnutrição intra-hospitalar, problema a ser amplamente combatido. Dentre os fatores causais atribuídos à desnutrição hospitalar, a alimentação é considerada um fator circunstancial ocasionado pelas trocas de hábitos e horários alimentares. 1 Nutricionista, Especialista em Saúde da Família, Secretaria de Saúde de Florianópolis/SC. E-mail para correspondência: [email protected] 2 Nutricionista, Mestre em Ciências dos Alimentos, Doutora em Engenharia de Produção e Professora do Departamento de Nutrição da UFSC. E-mail para correspondência: [email protected] 44 Souza, T. T. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 44-50, jan./jun. 2009 No Brasil, a intolerância à alimentação hospitalar e a progressão da desnutrição durante a internação foi discutida por Waitzberg e colaboradores5 com base em um estudo multicêntrico – Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional Hospitalar (Ibranutri) - realizado em 1996. Neste contexto, alguns estudos vêm discutindo o problema da alimentação hospitalar. Em um destes, ao ser avaliada a ingestão de alimentos e as preferências alimentares de pacientes geriátricos, demonstrou-se que a ingestão foi insuficiente para atender às suas necessidades nutricionais diárias6. O estudo destacou que o serviço de alimentação deveria levar em conta as preferências alimentares dos idosos internados, a fim de melhorar o quadro encontrado6. Com o mesmo grupo populacional e objetivando avaliar a qualidade do atendimento alimentar, outras pesquisas realizadas encontraram avaliações negativas sobre os serviços oferecidos7,8. Como estratégia para melhoria da qualidade do atendimento prestado nos hospitais públicos que integram o Sistema Único de Saúde, foi criado o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) em 2000, pelo Ministério da Saúde. As ações são pautadas na humanização destas instituições em três dimensões: o cuidado ao paciente, o cuidado ao cuidador e o atendimento da instituição hospitalar em suas atividades básicas9. Em 2003, o referido programa de humanização passou a ser uma Política Nacional de Saúde, denominando-se HumanizaSUS10. Assim, considerando os aspectos referentes à problemática da alimentação hospitalar, conjugados ao atendimento humanizado em saúde, o cuidado alimentar e nutricional pode ser repensado de forma a adequar a alimentação às preferências e costumes alimentares da pessoa hospitalizada. No presente estudo, pretendese identificar a percepção de pessoas internadas e de nutricionistas em um hospital de Florianópolis/SC em relação aos horários de distribuição das refeições, propondo sua aproximação à realidade dos indivíduos, fundamentando-se na humanização da atenção. Procedimentos metodológicos O estudo foi desenvolvido em uma UAN hospitalar de Florianópolis/SC, apresentando como modelo de abordagem a pesquisa participante11,12. Os preceitos dispostos na resolução 196/96 do Ministério da Saúde foram respeitados no desenvolvimento da pesquisa, que foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina como parte de um estudo intitulado “Cuidado alimentar e nutricional ao paciente hospitalizado: construção de um modelo fundamentado na humanização”, sendo aprovada sob o número de protocolo 021/06. Para a caracterização dos horários em que as pessoas internadas costumam realizar suas refeições no domicílio e avaliação dos horários de distribuição das refeições, foram realizadas entrevistas, através de perguntas guias. As metodologias avaliativas que incorporam a visão do usuário são entendidas como parte instrumentos que reafirmam princípios de ética e cidadania, tais como expressos no conceito de humanização13. Neste sentido, foi questionada às pessoas internadas sua avaliação sobre os horários das refeições no hospital inserido no estudo e quais seus horários habituais de refeições (desjejum, colação, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia). Aos nutricionistas, questionou-se sua avaliação quanto aos horários de distribuição de refeições no hospital e à aceitação das pessoas internadas. Os conteúdos foram utilizados de forma sigilosa, mantendo-se o anonimato dos participantes do estudo. O número de indivíduos entrevistados não apresentou um critério numérico para sua representatividade, mas atendeu a 45 Souza, T. T. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 44-50, jan./jun. 2009 critérios mínimos de inclusão: pessoas internadas nas clínicas médicas (menor rotatividade); com três ou mais dias de internação; sem dificuldades com a fala; e, dispostas a participar do estudo14. Os nutricionistas entrevistados exerciam cargos de chefia (geral, dietoterapia e produção de refeições) ou atuavam nas clínicas médicas incluídas na pesquisa. Para caracterização e adequação da escala de horários, rotinas e atividades dos funcionários da UAN foram entrevistados os responsáveis pelos setores de higienização de utensílios dos internados, da cozinha geral/dietética (responsável pelo preparo de desjejum, almoço, lanche, jantar e ceia, atendendo unidades de internação e refeitório), da despensa, do preparo da colação das pessoas internadas e do preparo de café e sobremesas. Esta etapa objetivou o conhecimento da rotina destes indivíduos no setor, a fim de adequar os horários de suas atividades com o novo horário de distribuição das refeições. Foram, ainda, realizados o acompanhamento e a observação de um plantão (12 horas) na UAN, fornecendo maiores subsídios para o ajuste. Para registro das falas foi utilizado um gravador, sendo as questões categorizadas de acordo com a análise de conteúdo15. Dados relativos ao número de pessoas entrevistadas, sexo e tempo de internação foram tabulados no programa Microsoft Office Excel®. Por fim, a proposta de horários foi desenvolvida em conjunto com nutricionistas chefes, tendo como base as avaliações das etapas anteriores. internação foi de cerca de 17 dias e a idade média de 52,7 anos. Foram encontradas diferenças entre os horários de refeições habituais em domicílio e aqueles praticados pelo hospital. Com exceção do desjejum e da colação, o costume da maioria dos entrevistados é o de realizálos mais tarde, se comparados com a instituição. Apesar desta diferença, nem sempre foi possível detectar insatisfação com os horários de distribuição das refeições do hospital. Rigaud e colaboradores1 salientaram que as pessoas internadas podem ter suas respostas influenciadas por alguns fatores: por ser uma clientela cativa, podem ter receio de dar respostas muito negativas ou, ainda, podem ser complacentes em sua avaliação por não considerarem a alimentação importante no tratamento ou por considerarem que a mesma não pode ser melhorada. Na avaliação dos horários das refeições, formaram-se três categorias de significados: Resultados e discussão “Acho muito cedo...” - Os pacientes relataram insatisfação principalmente em relação às grandes refeições, como expresso nas falas a seguir: “Assim, a janta vem muito cedo. Deveria vir depois das dezoito horas. Acho que o que mais atrapalha é o horário da janta.” Conversando com os pacientes... Foram entrevistadas 33 pessoas internadas, totalizando 43% dos indivíduos internados nas Clínicas Médicas. Houve predominância de indivíduos do sexo masculino (64%). O tempo médio de “Tá tudo bom...” - Os sujeitos limitaram-se a responder que os horários estavam bons, sem maiores esclarecimentos sobre o porquê desta avaliação, como se a condição encontrada fosse inquestionável e insubstituível. No ambiente hospitalar, o fato de a pessoa, ao adoecer e ao se internar, sofrer uma redução do próprio espaço e abdicar de sua autonomia é verificado também na percepção do ato de alimentar-se, passando, assim, por um importante processo de despersonalização16. 46 Souza, T. T. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 44-50, jan./jun. 2009 “É diferente dos meus horários, né, porque vem o almoço onze horas...” Segundo Canesqui17, os padrões e as estruturas das refeições são culturalmente específicos para cada sociedade, refletindo a continuidade da identidade social e das tradições, permeando sabores e gostos aprendidos simbolicamente pelos indivíduos. A seqüência de comer no meio hospitalar encobre especificidades relativas à doença e à própria estrutura do serviço, sendo difícil representarem-se as dimensões simbólicas2. Desta forma, não é oferecido aconchego às pessoas internadas, uma vez que a burocracia dos serviços de saúde dificulta o desenvolvimento de um “toque pessoal”, podendo gerar apreensão e ansiedade para estes indivíduos. “Tá bom, estou no hospital e doente mesmo...” - Os sujeitos limitaram-se a avaliar o serviço prestado levando em consideração a condição de hospitalização. A estrutura do serviço é considerada como algo sem possibilidades de mudanças ou melhorias, porém os intervalos de tempo entre as refeições são analisados como condicionantes para menor ingestão alimentar. Pode-se observar esta avaliação nas falas a seguir: “Eu acho que a minha casa é uma coisa, aqui é outra e eu tenho que respeitar o horário, não tenho nada pra reclamar.” “Achei normal, só muito repetitivo, por exemplo, eu tô comendo agora, não desceu ainda e já vem outra em cima. Não dá tempo nem de fazer a digestão.” “Aí vai ficando tudo muito perto. Daí a gente vai empurrando, até por causa do tratamento. Até tenho que fechar o olho pra empurrar.” Na França, um estudo desenvolvido com 10% dos hospitais ligados à Assistência Pública dos Hospitais de Paris constatou falhas importantes relacionadas à qualidade dos serviços prestados, destacando a variedade e a quantidade da alimentação, a apresentação das preparações e os horários de distribuição das refeições18. Como resposta, Corbeau2 colocou que a alimentação coletiva deve conhecer melhor e aprender a respeitar a pluralidade da população hospitalar, não reduzindo a refeição a nutrientes, mas tornando-a fonte de prazer e respeitando a identidade da pessoa hospitalizada. Conversando com os nutricionistas Todos os nutricionistas entrevistados revelaram a existência de reclamações sobre os horários de distribuição das refeições, principalmente no que se refere ao almoço e ao jantar, conforme descrito na fala a seguir: “Dos pacientes, eu acho que é geral, é unânime, eu acho que é universal a reclamação dos horários. Aqui no nosso caso, é mais almoço, que é um pouquinho cedo demais... Mas não é o pior. Pior mesmo é o jantar.” Foi levantada a relação entre a ocorrência das reclamações por parte das pessoas internadas e as estações do ano. Segundo os nutricionistas, as queixas se tornam mais comuns no verão, principalmente devido à mudança de horário, tornando maior a insatisfação. Pode-se observar este aspecto nos seguintes relatos: “Eu acredito que as reclamações sejam mais freqüentes no verão porque tá jantando às quatro e meia da tarde, horário de verão. Então, com sol a pino, né? Então, durante o inverno, como escurece mais rápido, até que não...” Outro ponto abordado foi relativo aos costumes dos pacientes, diferentes da rotina alimentar instituída pelo hospital. “As pessoas não têm hábito de comer de três em três horas e aqui no hospital é fornecido nesse período. Então eles acham que vem muito seguido.” “Acho que tinha que rever almoço e jantar, o que vai implicar em uma série 47 Souza, T. T. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 44-50, jan./jun. 2009 de mudanças internas, tanto de rotina quanto de horário de pessoal, mas seria muito mais adequado porque ficaria mais próximo da realidade de casa.” Quanto às mudanças exigidas do Serviço, comentadas na última fala, é levantado que “o maior empecilho de mudança de horários vai ser principalmente o horário dos funcionários, as saídas, que vai ficar oito, nove da noite, vai ser mais complicado.”, reforçando que a instituição hospitalar organiza-se claramente para atender às exigências de sua estrutura e pessoal, muito mais do que às necessidades da pessoa internada. Quando indagados sobre a aceitação de novos horários de distribuição de refeições, os nutricionistas revelaram expectativas, principalmente quanto à redução da recusa alimentar, diminuindo, conseqüentemente o risco de desenvolvimento de desnutrição intrahospitalar e suas conseqüências: “Então eu acho que realmente deveria, pelo menos a janta, ser mais tarde, que daí o paciente ia ficar mais nutrido e não ia ter tanto problema.” Desta forma, evidencia-se a necessidade de investir esforços na mudança da cultura alimentar hospitalar, fazendo da atenção nutricional parte importante do tratamento ao indivíduo hospitalizado19. A proposta de mudança dos horários de refeições Frente à necessidade de humanização do cuidado alimentar e nutricional, detectada através das falas dos nutricionistas e diante das entrevistas realizadas com os pacientes, organizou-se um novo modelo de horários para a distribuição de refeições no âmbito hospitalar, conforme pode ser observado na Tabela 1. Considerando ainda que esta proposta implica em modificações de rotinas das pessoas que cuidam dos internados e de seus acompanhantes, ocorreram alterações também no horário de distribuição das refeições aos funcionários do hospital no refeitório. Tabela 1: Proposta de novos horários de distribuição das refeições aos pacientes internados no hospital analisado. Florianópolis, 2009. Refeição Desjejum Colação Almoço Lanche Jantar Ceia Horário de distribuição Pacientes Refeitório Existente Proposto Existente Proposto 07h30 08h 07h 08h 09h30 10h 11h 12h 11h30 12h00 14h30 15h30 15h00 15h30 17h30 18h45 18h00 19h00 21h00 21h00 22h30 20h00 Quanto ao horário de distribuição da ceia aos funcionários, segundo um dos nutricionistas: “tem gente que acha muito tarde a ceia dos funcionários, eles gostariam de ter uma alimentação mais cedo, eles já vêm de outros hospitais, vêm com fome e gostariam de comer mais cedo do que quando é servido.” Assim, diante desta constatação e devido à reestruturação dos turnos dos funcionários da UAN, optou-se também em fazer uma reavaliação e modificação no horário desta refeição, passando-a das 23:00h para as 20:00h. As mudanças efetuadas nas rotinas dos funcionários limitaram-se à readequação de horários, sem alterações nas atividades 48 Souza, T. T. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 44-50, jan./jun. 2009 (Tabela 2). Em síntese, a principal modificação proposta foi relativa ao turno noturno. Com a reestruturação dos horários de distribuição de refeições, propõe-se que, ao invés de 1 cozinheiro e 3 copeiras em turnos de 12 horas, sejam realizados turnos noturnos de 6 horas, com a presença de 3 cozinheiros e apenas 1 copeira. Tabela 2: Horários de funcionários, segundo cargos, e proposta de adequação aos novos horários de distribuição do hospital analisado. Florianópolis, 2009. Copeira diurno Turno Horário existente 07h - 19h Turno Horário proposto 07h30 – 19h30 Copeira noturno 19h - 07h 18h30 – 06h30 Produção diurno (cozinheiros e auxiliares) 07h - 19h 08h – 20h00 Produção noturno (cozinheiros) 19h - 07h 17h – 23h00 07h30 – 19h30 09h – 21h00 Despensa 07h - 19h 07h – 19h00 Café e sobremesas 07h - 19h 06h30 – 18h30 Colação 07h - 13h 07h – 13h Cargo Higienização de utensílios Considerações finais A partir da percepção de pacientes e nutricionistas em relação aos horários de distribuição das refeições no hospital analisado, foi revelada a distância entre o praticado na instituição hospitalar em questão e o realizado fora da condição de hospitalização. O nutricionista é um agente promotor de saúde na ampla visão deste conceito. Sua função não se reduz a prevenir doenças ou curar indivíduos a partir da restrição ou da adição de componentes nutricionais aos costumes alimentares dos indivíduos. Vai além disto, pois permeia a cultura dos indivíduos, o sabor dos alimentos, as recordações por eles evidenciadas. A alimentação e a nutrição não precisam vir carregadas de conotação proibitiva e de castigo. Podem ser conforto e prazer mesmo quando as necessidades se tornam especiais diante de situações particulares. Desta forma, a condição de hospitalização – em geral entendida como um processo permeado de características e processos insubstituíveis, como identificado na fala da maioria dos entrevistados – pode realmente ser organizada de acordo com as necessidades da pessoa internada e não a partir de dimensões mais voltadas às exigências de pessoal e do conjunto da estrutura hospitalar, como ocorre com os horários de visitas e de refeições. Desta forma, a proposta de reestruturação do horário de distribuição das refeições baseada na humanização do atendimento em saúde, política adotada pela instituição estudada, mostra-se de extrema relevância, na medida em que se faz instrumento para sua efetivação. Para tal, foram necessárias modificações nos horários de turnos de trabalho e de execução das atividades de funcionários da UAN, não sendo necessárias mudanças nas ações prestadas pelos profissionais. É importante salientar a necessidade de avaliação da efetividade e da eficácia da proposta, a fim de qualificar o atendimento prestado pela UAN em questão, resgatando a 49 Souza, T. T. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 44-50, jan./jun. 2009 alimentação como fonte de prazer e bemestar aos seus comensais. Referências Bibliográficas 1. Rigaud D, Dutheil M, Bouroullec A, Puissant MC, Tronchon P, Allouche R. 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A Comissão Editorial assegura o anonimato do(s) autor(es) no processo de avaliação pela Consultoria Científica. 3. Um dos autores, pelo menos, deverá ser assinante(s) da Revista Ciências da Saúde. Anexar comprovante de assinatura. 4. Trabalhos apresentados em eventos (congressos, simpósios, seminários...) serão aceitos desde que não tenham sido publicados integralmente em anais e autorizados, por escrito, pela entidade organizadora do evento, quando as normas do mesmo assim o exigirem. 5. Excepcionalmente, serão aceitos trabalhos já publicados em periódicos estrangeiros, desde que autorizados pela Comissão Editorial do periódico onde o artigo tenha sido originalmente publicado. 6. A Consultoria Científica se reserva o direito de sugerir eventuais modificações de estrutura ou conteúdo do trabalho, que serão acordadas com os autores. Não serão admitidos acréscimos ou alterações após o envio para composição editorial. 7. As opiniões emitidas nos trabalhos, bem como a exatidão, adequação e procedência das citações bibliográficas, são de exclusiva responsabilidade dos autores. 8. A revista classificará os textos encaminhados de acordo com as seguintes seções: 8.1 EDITORIAL – matéria de responsabilidade da Comissão Editorial da Revista. 8.2 ARTIGOS ORIGINAIS: a) PESQUISA – constará de relatos de investigações científicas concluídas. b) REVISÃO – abrangerá revisões de literatura sobre temas específicos. c) RELATO DE EXPERIÊNCIA/CASOS CLÍNICO – incluirá descrições de atividades acadêmicas assistenciais e de extensão. d) REFLEXÃO – apresentará materiais de caráter opinativo e/ou análise de questões que possam contribuir para o aprofundamento de temas relacionados à área a que se destina a revista. 8.3 OUTRAS SEÇÕES: a) ENTREVISTA – espaço destinado a entrevistas de autoridades / especialistas / pesquisadores. b) TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO / DISSERTAÇÕES DE MESTRADO E TESES DE DOUTORADO – RESUMOS E ABSTRACT c) PÁGINA DO LEITOR. 9. NORMAS DE APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS 9.1 – FORMATO – O trabalho deverá ser encaminhado em 02 (duas) vias. Na digitação deverá ser utilizado espaço 1,5; com margem esquerda 3 cm; margem direita (superior e inferior) 2 cm; letra Times New Roman, tamanho 12, observando a ortografia oficial, editor Word For Windows. O título deverá ser em caixa alta, negrito, espaço 1,5 simples e justificado. Os autores deverão estar abaixo do título do artigo, em negrito, espaço simples e em caixa baixa. O texto deverá conter seus respectivos títulos, de acordo com as características do trabalho (ex. Artigo de pesquisa: Introdução, Métodos, Resultados e Discussão, etc.), formatados em caixa baixa, negrito. É obrigatório o envio de disquete ou CD-ROM na primeira etapa do trabalho. 9.2 – PADRÃO DE APRESENTAÇÃO – a) ARTIGOS ORIGINAIS – redigidos de acordo com as normas da Revista do CCS devendo conter no máximo 15 laudas de texto para artigos originais e 25 para revisões 51 Normas de Publicação Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 51-54, jan./jun. 2009 e observar o que segue: Título do artigo em português (caixa alta) e inglês (caixa baixa) e entre colchetes. Nome(s) completo(s) do(s) autor(es). Em nota de roda pé a(s) credencial(is) e local de atividade do(s) autor(es) (espaço 1,5 cm), email para correspondência. Resumo indicativo em português, de acordo com as normas da Revista do CCS, com até 100 palavras, em espaço 1,5. Palavras-chave - palavras ou expressões que identifiquem o artigo. Para determinação das palavras-chave consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde – DECS-LILACS”, elaborada pela BIREME e/ou “Medical Subject Heading – Comprehensive Medline”. Texto – incluindo ilustrações (quadros, fotos, modelos, mapas, desenhos, gravuras, esquemas, gráficos e tabelas), com seus respectivos títulos e fontes (quando houver). Exceto gráficos e tabelas, todas as ilustrações deverão ser designadas como figuras. As despesas com os fotolitos de figuras somente coloridas serão de responsabilidade dos autores Abstract – tradução do resumo em inglês, em espaço 1,5 cm. Keywords – tradução das palavraschave para o inglês. As referências (Normas de Vancouver) no texto deverão ser numeradas consecutivamente de forma crescente e na ordem que aparecem no texto pela primeira vez, identificando assim os autores SOMENTE POR NÚMEROS. A numeração, no texto, portanto deve ser em ORDEM CRESCENTE e SOBRESCRITO. NÃO LISTAR OS NOMES DOS AUTORES NO TEXTO. No setor de referências: (Normas de Vancouver) A listagem de referências deverá seguir a mesma ORDEM NUMÉRICACRESCENTE do texto. NÃO COLOCAR OS AUTORES EM ORDEM ALFABÉTICA. EXEMPLOS DE REFERÊNCIAS A) Artigos de revistas 1. Artigo padrão de revista: Listar os primeiros seis autores seguido por et al. Vega KJ, Pina I, Krevsky B. Heart transplantation is associated with an increased risk for pancreatobiliary disease. Ann Intern Med 1996;124:980-3. Mais do que seis autores: Parkin DM, Clayton D, Black RJ, Masuyer E, Friedl HP, Ivanov E, et al. Childhood-leukaemia in Europe after Chernobyl: 5 year follow-up. Br J Cancer 1996;73:1006-12. 2. Organização como autor: The Cardiac Society of Australia and New Zealand. Clinical exercise stress testing. Safety and performance guidelines. Med J Aust 1996;164:282-4. 3. Sem menção de autor: Cancer in South Africa [editorial]. S Afr Med J 1994;84:15. 4. Volume com suplemento: Shen HM, Zhang QF. Risk assessment of nickel carcinogenicity and occupational lung cancer. Environ Health Perspect 1994;102 Suppl 1:275-82. 5. Número com suplemento: Payne DK, Sullivan MD, Massie MJ. Women's psychological reactions to breast cancer. Semin Oncol 1996;23(1 Suppl 2):8997. 6. Volume com parte: Ozben T, Nacitarhan S, Tuncer N. Plasma and urine sialic acid in non-insulin dependent diabetes mellitus. Ann Clin Biochem 1995;32(Pt 3):303-6. 7. Número com parte: Poole GH, Mills SM. One hundred consecutive cases of flap lacerations of the leg in ageing patients. N Z Med J 1994;107(986 Pt 1):377-8. 8. Número sem menção de volume: Turan I, Wredmark T, Fellander-Tsai L. Arthroscopic ankle arthrodesis in rheumatoid arthritis. Clin Orthop 1995;(320):110-4. 9. Sem menção de número nem de volume: 52 Normas de Publicação Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 51-54, jan./jun. 2009 Browell DA, Lennard TW. Immunologic status of the cancer patient and the effects of blood transfusion on antitumor responses. Curr Opin Gen Surg 1993:325-33. 10. Paginação em numeração romana: Fisher GA, Sikic BI. Drug resistance in clinical oncology and hematology. Introduction. Hematol Oncol Clin North Am 1995 Apr;9(2):xi-xii. 11. Indicação do tipo de artigo, se necessário: Enzensberger W, Fischer PA. Metronome in Parkinson's disease [carta]. Lancet 1996;347:1337. Clement J, De Bock R. Hematological complications of hantavirus nephropathy (HVN) [resumo]. Kidney Int 1992;42:1285. 12. Artigo contendo retratação: Garey CE, Schwarzman AL, Rise ML, Seyfried TN. Ceruloplasmin gene defect associated with epilepsy in EL mice [retractação de Garey CE, Schwarzman AL, Rise ML, Seyfried TN. In: Nat Genet 1994;6:426-31]. Nat Genet 1995;11:104. 13. Artigo retratado: Liou GI, Wang M, Matragoon S. Precocious IRBP gene expression during mouse development [retractado em Invest Ophthalmol Vis Sci 1994;35:3127]. Invest Ophthalmol Vis Sci 1994;35:1083-8. 14. Artigo com erratum publicado: Hamlin JA, Kahn AM. Herniography in symptomatic patients following inguinal hernia repair [erratum publicado encontra-se em West J Med 1995;162:278]. West J Med 1995;162:28-31. B- Livros e outras monografias 1. Autor(es) individual: Ringsven MK, Bond D. Gerontology and leadership skills for nurses. 2nd ed. Albany (NY): Delmar Publishers; 1996. 2. Editor(es), compilador, como autor: Norman IJ, Redfern SJ, editors. Mental health care for elderly people. New York: Churchill Livingstone; 1996. 3. Organização como autor e editor: Institute of Medicine (US). Looking at the future of the Medicaid program. Washington: The Institute; 1992. 4. Capítulo de um livro: Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465-78. 5. Livro de atos de conferência, congresso, encontro: Kimura J, Shibasaki H, editors. Recent advances in clinical neurophysiology. Proceedings of the 10th International Congress of EMG and Clinical Neurophysiology; 1995 Oct 15-19; Kyoto, Japan. Amsterdam: Elsevier; 1996. 6. Comunicação em conferência: Bengtsson S, Solheim BG. Enforcement of data protection, privacy and security in medical informatics. In: Lun KC, Degoulet P, Piemme TE, Rienhoff O, editors. MEDINFO 92. Proceedings of the 7th World Congress on Medical Informatics; 1992 Sep 6-10; Geneva, Switzerland. Amsterdam: North-Holland; 1992. p. 1561-5. 7. Relatório técnico ou científico: Publicado pela entidade financiadora ou patrocinadora: Smith P, Golladay K. Payment for durable medical equipment billed during skilled nursing facility stays. Final report. Dallas (TX): Dept. of Health and Human Services (US), Office of Evaluation and Inspections; 1994 Oct. Report No.: HHSIGOEI69200860. Publicado pela entidade executora: Field MJ, Tranquada RE, Feasley JC, editors. Health services research: work force and educational issues. Washington: National Academy Press; 1995. Contract No.: AHCPR282942008. Sponsored by the Agency for Health Care Policy and Research. 8. Dissertação: Kaplan SJ. Post-hospital home health care: the elderly's access and utilization [dissertação]. St. Louis (MO): Washington Univ.; 1995. 53 Normas de Publicação Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 28, n.1, p. 51-54, jan./jun. 2009 9. Patente: Larsen CE, Trip R, Johnson CR, inventors; Novoste Corporation, assignee. Methods for procedures related to the electrophysiology of the heart. US patent 5,529,067. 1995 Jun 25. C).Outras publicações 1. Artigo de jornal: Lee G. Hospitalizations tied to ozone pollution: study estimates 50,000 admissions annually. The Washington Post 1996 Jun 21;Sect. A:3 (col. 5). 2. Material audiovisual: HIV+/AIDS: the facts and the future [cassette video]. St. Louis (MO): MosbyYear Book; 1995 3. Texto legal: Legislação publicada Preventive Health Amendments of 1993, Pub. L. No. 103-183, 107 Stat. 2226 (Dec. 14, 1993). Legislação não promulgada: Medical Records Confidentiality Act of 1995, S. 1360, 104th Cong., 1st Sess. (1995). Code of Federal Regulations: Informed Consent, 42 C.F.R. Sect. 441.257 (1995). Audição: Increased Drug Abuse: the Impact on the Nation's Emergency Rooms: Hearings Before the Subcomm. on Human Resources and Intergovernmental Relations of the House Comm. on Government Operations, 103rd Cong., 1st Sess. (May 26, 1993). 4. Mapa: North Carolina. Tuberculosis rates per 100,000 population, 1990 [demographic map]. Raleigh: North Carolina Dept. of Environment, Health, and Natural Resources, Div. of Epidemiology; 1991. 5. Livro da Bíblia: The Holy Bible. King James version. Grand Rapids (MI): Zondervan Publishing House; 1995. Ruth 3:1-18. 6. Dicionário e referências semelhantes: Stedman's medical dictionary. 26th ed. Baltimore: Williams & Wilkins; 1995. Apraxia; p. 119-20. 7. Texto clássico: The Winter's Tale: act 5, scene 1, lines 1316. The complete works of William Shakespeare. London: Rex; 1973. B) Material não publicado 8. Aguardando publicação: Leshner AI. Molecular mechanisms of cocaine addiction. N Engl J Med. Em publicação 1996. Material electrónico C) Material eletrônico 9. Revista em formato eletrônico: Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis [serial online] 1995 Jan-Mar [cited 1996 Jun 5]; 1(1):[24 ecrans]. Disponível em: URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm 10. Monografia em formato eletrônico: CDI, clinical dermatology illustrated [monografia em CD-ROM]. Reeves JRT, Maibach H. CMEA Multimedia Group, producers. 2nd ed . Version 2.0. San Diego: CMEA; 1995. 11. Ficheiro de computador: Hemodynamics III: the ups and downs of hemodynamics [programa de computador]. Version 2.2. Orlando (FL): Computerized Educational Systems; 1993. 10.O(s) autores deverão encaminhar o artigo para análise acompanhado de uma carta com os seguintes dizeres: (Cidade, data) À Comissão Editorial Revista de Ciências da Saúde Os autores abaixo assinados transferem come exclusividade, os direitos de publicação, na Revista de Ciências da Saúde do artigo intitulado: (escrever título do artigo) e garantem que o artigo é inédito e não está sendo avaliado ou foi publicado por outro periódico. (incluir nome completo de todos os autores, endereço postal, telefone, email, fax, e assinaturas respectivas. 54 55