Artes Milenares: o circo, as religiões, a vida
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Artes Milenares: o circo, as religiões, a vida
Artes Milenares: o circo, as religiões, a vida... III Série Nº46 Março / Abril 07 Condição, Existir Caros amigos/amigas, hoje já é Março 2007, ainda ontem foi Janeiro, o tempo não pede licença para andar, ele anda, ele pula, ele salta, ele avança, e se uma pessoa não está atenta, quantas coisas acontecem que nós não nos apercebemos. Pois é, quantas coisas boas nos aconteceram, quantos amigos perdemos, quantas saudades ficam. Às vezes é difícil, mas temos que ser fortes e inventar a respiração, o pensamento, a alma, o afecto e a tranquilidade para não desanimarmos e não perdermos o sentido profissional de ser humano. Num dia chuvoso e escuro de Novembro de 2006 lá partiu Mário Cesariny, directo ao cemitério dos Prazeres, morreu mais um Poeta. É chegado o Fevereiro de 2007. A 5 desse mês partiu mais um grande amigo, Manuel João Gomes, e companheiro de uma grande amiga, Luísa Neto Jorge, e pai do Diniz, grande actor. No mundo do espectáculo todos nós perdemos alguém a quem este mundo fascinava e ao qual deu um contributo enorme na divulgação e na investigação; de norte a sul do país ele levava e trazia notícias dessas rotas, tantas vezes esquecidas. Com ele eu desabafava e partilhava os bons e os maus momentos de uma vida de espectáculo. Lá pelas 7 da manhã, ouvi: morreu Abée Pierre. Lembrei-me logo dos irmãos Emaús, uma associação que se dedicou a apoiar os mais desprotegidos socialmente, uma obra importante para a saúde da humanidade. Senti-me, de repente, só, pensando numa causa que tantos ignoram. Meditando na obra de Abée Pierre, veio-me a imagem chocante da ostentação e a daqueles a quem a vida não deu sorte à nascença. No nosso trabalho social com jovens, o Abée Pierre foi sempre uma referência no sentido da prevenção e da luta por uma vida social digna. De meditação em meditação, vieram-me as saudades do Zeca, do Zeca Afonso que não esquecemos. Foi em Março de 1987 que, juntos, lhe cantámos, pela última vez, “venham mais cinco” e “traz um amigo também.” Mas não falemos só de saudades dos que partiram, saudemos também os que nasceram: o Tomás, filho do João Meneses, e o José, filho da Sofia Lourenço. Parabéns a eles e a tantos outros que estão a nascer e a vencer livres. Bem vindos sejam ao Centro de Acolhimento João dos Santos do Chapitô. Esperam-vos, aí, para qualquer eventualidade, a Susana, a Alda, a Luísa e o João. 2007! Tantas coisas têm acontecido neste 2007! Desde Dezembro de 2006 que penso e tento com muita determinação acertar o passo dos diversos sectores da casa, para que melhor se dialogue, melhor nos organizemos e para que a interacção se faça verdadeiramente, isto é, para que cada sector preste verdadeiramente o seu serviço à grande causa sempre presente: a arte na luta contra a exclusão. Só por isto o Chapitô existe. Só isso leva o Chapitô a existir. Portanto, do meu pensamento à acção muito se fez desde o final de 2006 a Março de 2007, e simultaneamente tanto aconteceu no país. Recordo, a título de exemplo, a, finalmente, vitória do Sim com tudo o que isso implica, mas sobretudo a livre decisão da mulher sobre o seu corpo e a sua vida. Que todo o serviço de saúde lhe responda, pois, de uma forma digna e profissional! 2007! Firmámos a programação geral do Chapitô. A Companhia, na Tenda, com Medeia, foi um sucesso. Dois meses de casa cheia e agora em tourné por terras de Espanha. Parabéns! O Bartô criou vários dias especiais de encontro cultural cheios de amigos. Biblioteca a arder de espanto, Semnamorados, Músicasofá, Traz um amigo também. A nossa comissão de festas, Francisco, Helena Azevedo, Noémia Fernandes, Germana, Nuno M. Cardoso, Sofia, Patrícia, entre outros, concebem, promovem, discutem a programação e dão forma aos eventos. Finalmente, eis o Chapitô a responder a tantos amigos que ambicionavam ter um espaço para conversar! Juntos, alunos, professores, colaboradores, convidados, conseguimos descobrir, criar coisas brilhantes e cheias de vida. Vale a pena visitar-nos! Vem então e traz um amigo contigo também. É bom estar a “curtir” no Chapitô, na escola, na esplanada, na Tenda, no Bartô, no Restô, de manhã, à tarde, à noite, de madrugada… Escola 2007! A nossa Brochura foi e será um sucesso. É um guia orientador de alunos e professores tanto nos conteúdos como na programação de cada trimestre. Estamos a cumprir as nossas decisões de início do ano em suporte escrito e vídeográfico. Um passo de cada vez: o que é preciso é não desistir. Por isso, esperamos ansiosamente a mostra do 1.º ano sob o tema Circo/Bauhaus, orientada por Pedro Carraca e sustentada pelas aprendizagens de todos os módulos. O exercício de espectáculo do 2.º ano Margarita e o Mestre será também um sucesso, sob a “batuta” de Nuno M. Cardoso e restantes professores. A grande surpresa é que, este ano, vai ser no Museu da Electricidade. No 3.º ano: as Provas de Aptidão Profissional preparam o grande final! Para avaliar os alunos teremos, como todos os anos, um júri extraordinário. Toda a coordenação da escola tem estado atenta a tempo inteiro, e eu sempre na retaguarda para afinar, para corrigir, para melhorar, para apoiar. Voltemos atrás: em Outubro de 2006 fizemos o Projecto Escola Segura na companhia da Cristina Peres do Expresso. Em Novembro de 2006 comemorámos os aniversários com a presença do Zé Pedro dos Xutos & Pontapés. Que volte sempre! Com todos os da escola, alunos, professores e colaboradores, animámos o Natal de 2006 nas casas de acolhimento, fomos aos Centros Educativos e fizemos um Carnaval fantástico em Fevereiro de 2007. No social, os mais pequeninos estão a crescer. Na Casa do Castelo uns entram outros saem, mas sempre com a certeza de que a vida, finalmente, será para eles viverem e não passarem ao lado. E agradecemos… o apoio do D. Diogo Sobral, com a aceitação do Hugo G., na Sociedade Hípica Portuguesa. Agradecemos à Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa de Lisboa por nos massajar e equilibrar espiritualmente a todos. Agradecemos ao Centro de Formação Profissional da Ajuda pelo apoio dado ao Lody W. Agradecemos à Quinta Pedagógica dos Olivais, pela colaboração que tem prestado na Reinserção Social. Sempre. Agradecemos à empresa Pró-Mundo o apoio prestado ao Caio. Agradecemos ao Serviço de Reabilitação Psicossocial Unidade de Ambulatório de Recuperação Global na Rua da Belavista à Graça pela ajuda prestada ao Luís. à Lúcia Saraiva agradecemos o trabalho magnífico que tem feito no que respeita à defesa jurídica destes jovens e o excelente apoio à sua integração social, lado a lado com a Luísa Martins. 2007 de novo. A grande preocupação e a grande aposta será este ano de 2007 quanto à regulação cada vez melhor do funcionamento de todo o serviço administrativo-financeiro e serviços gerais. Finalmente, a todos, absolutamente a todos, eu desejo a continuação do ano com determinação, anseio de construção e prazer na realização de alguns sonhos. Eu também quero ser feliz. Tété Artes Milenares O Circo... e o meu corpo Olho para o meu corpo e pergunto-me se sou capaz de fazer este ou aquele movimento. E logo após esta pergunta meu corpo responde com os seus limites, com as suas possibilidades, desencadeando gestos que se originam numa vontade e num impulso. Ganhar entendimento para fazer a transferência de tudo o que é o meu corpo, daquilo de que ele é composto, da sua ancestralidade, da sua descendência, tamanho e peso são os objectivos da ideologia circense no seu sentido primordial. e o quotidiano Dois copos, 20 colheres, um frigorífico, calçado por todos os lados, a TV ligada com um programa engraçado a passar... Muitos quartos, e em cada um deles há alguns bocados de gente a dividirem-se em convivências. Ok. Era isso e é isso que me embriaga... Descobrir qual é a primeira porta a fechar-se, e qual será a próxima a abrirse e assim sucessivamente. Vou ao mercado fazer compras, no caminho encontro um céu, calçadas molhadas, carros desesperadamente velozes a cruzarem-se feitos massas vivas nos dedos escorregadios das avenidas esquecidas, porque a esta hora todos estavam escondidos em seus abrigos. Sempre um riso, um choro, carradas de crianças a atropelarem-se umas às outras, idosos a curvarem-se, entregando-se à gravidade que não os perdoa, e os leva aos pouquinhos ao encontro dela, pesados sonolentos, cansados de existir lá vão eles, uns ainda tentam erguer-se. São os extravagantes. Lavo as minhas peças de roupas e estendo no varal mas o tempo está demasiado húmido, e estas pecinhas coloridas, algumas já desbotadas, vão levar um período de duas semanas para secarem, o que significa que até lá vou fazer aulas de técnicas circenses com o mesmo fato. Alimentar-me de frutas e legumes dar-me-à existência e leveza, mas apenas durante algum tempo. É preciso que as coisas tenham cheiro, tenham sabor, e uma imagem que afague, então imediatamente dirijo-me à janela da minha casa e simplesmente vejo o comboio passar com toda a sua enormidade e peso fazendo assim a casa tremer, vibrar, acordando os meus colegas que já estavam dormindo. Sâmara Botelho (1.º A) milenar a linguagem milenar o ritual milenar Espiritualidades O Outro e a Linguagem... O misticismo, a religião, o esoterismo (não necessariamente por esta ordem) são espaços de construção e ritualismo de uma relação com o transcendental divino/cósmico/cosmogonóstico de cada ser humano... ...oração, mantras, meditação, luz branca, energia, viagem astral, curas (milagrosas), “omm”...são manifestações e linguagens (ou não) que diferentes seres humanos utilizam, ou encontram, para expressar e viver a sua relação com o divino, com a sua necessidade de transcendência ou apenas a vontade de comunicação “superior” com o Outro... ...sem querer entrar em relativismos...respeito o Outro na medida em que tento ser também verdadeiro comigo mesmo... ...não sei hierarquizar as diferentes expressões de fé ou de manifestações do oculto, do etéreo...sei apenas que devo viver com simplicidade, com exigência interior, com abertura, com entrega, com verdade...procurando estar disponível e atento ao que me rodeia e à Manifestação...não tentando impor-me ao Outro... ...em nenhuma palavra ou rito vou encontrar a Totalidade ou apenas olhando para as coisas e para o Outro como um Todo poderei encontrar a salvação... ...e estas são coisas que continuarão por muitos mais séculos...milénios...pois por mais física ou psicanálise nunca captaremos a Verdade dentro de uma definição... o importante é que continuem a existir flores....lilazes....e o cheiro a terra depois da chuva me lavar a alma.... Pedro Vieira (Gabinete de Direcção) O Budismo No meio de um mundo onde gradualmente tudo me parecia estar a deixar de fazer sentido descobri um homem com uma mensagem optimista e que me fez acreditar no verso “tudo vale a pena se a alma não é pequena” de Fernando Pessoa. Esse homem é o actual Dalai Lama, o líder espiritual e religioso do Tibete. A sua própria vida é um exemplo de coragem e determinação sobretudo depois da China ter ocupado barbaramente este país em 1959 onde se mantém até hoje, em pleno séc. XXI. O Dalai Lama é obrigado a viver exilado na Índia onde todos os dias continua a trabalhar para o bem estar não só do seu povo como do mundo inteiro. Por isso em 1989 é-lhe atribuído o prémio Nobel da Paz. Foi com ele que aprendi que todos vivemos numa estreita interdependência, que somos responsáveis por tudo o que nos rodeia e as palavras de Buda (o que despertou, o esclarecido, o iluminado), que viveu há dois mil e quinhentos anos, revelam-se com uma extrema actualidade. A minha alma, seja lá o que ela for, deixa de ser pequena. E tudo parece valer a pena. Em Setembro deste ano o Dalai Lama vem a Portugal para um ciclo de conferências abertas ao público em geral. Vale a pena! Heitor Lourenço O Espírito em Tríptico Judaísmo, Cristianismo e Islame: estas três religiões, com raiz comum em Abraão, simbolizam, nas suas tónicas principais, respectivamente - instinto, sentimento e intelecto - a trindade componente da personalidade humana. O instinto de Deus é inerente ao homem primevo, através do temor. O sentimento de Deus é inerente ao homem desde Jesus, o Selo da Santidade, através do amor. O intelecto de Deus é inerente ao homem desde Muhammad, o Selo da Profecia, através da certeza. Temor, amor e certeza: numa contínua variação quantitativa estes três elementos participam da humaníssima natureza religiosa que a dúvida, mantida em respeito, completa. A religião é só uma e, dentro dela, há outras religiões. E isto é verdade para cada uma das três religiões mencionadas, as quais se encontram no mesmo ponto de origem e confluência. No esoterismo islâmico, a visão unitiva da tradição sufi permitiu influenciar o exoterismo até ao cúmulo de as três comunidades confraternizarem entre si e entre si só disputarem no campo da sabedoria, da espiritualidade e da ciência ecológica. Toledo, Granada e toda a Península Ibérica no tempo d’Alandaluz, sob o domínio dos Muçulmanos, eis o mais próximo e flagrante exemplo. Mas, se dominam Judeus ou Cristãos, o convívio dos sábios das três comunidades já não se apresenta tão fácil, nem desejável, nem o que resulta da sua coexistência doutrinal a haver, influencia significativamente o comportamento de tónica instintiva dos primeiros e de tónica sentimental nos segundos, o que, no exterior das respectivas confissões leva ao reivindicamento de Deus para uma raça eleita, no Judaísmo e, no Cristianismo, ao associamento a Deus de outras Pessoas, não obstante numa teologia de unidade. Por palavras simples: o Judaísmo é um anacronismo e o Cristianismo um desvio. Anacrónico, desviado e actualizado no caminho direito do Islame - eis, em síntese a biografia de qualquer homem religioso, de tradição semita, historicamente vivido e atento às intervenções de Deus no mundo. O Islame, como última religião revelada, permite abarcar a presença contínua da tradição primordial ao longo de todas as Escrituras culminantes no Alcorão, que a todas contém, prolonga e integra. Em termos metafísicos, do ponto de vista sufi e, por consequência, alcorânico, unicamente Deus pode exercer juízos de valor acerca das religiões de que Ele próprio é o criador, por intermédio do homem. Cada religião em si encerra a verdade total com uma determinada cor e uma parte da verdade incolor: cada uma, à sua maneira, eleva o instinto, conservandoo intacto, ao sentimento e submete o sentimento, conservando-o igualmente intacto, ao intelecto. Eu penso em Deus, logo existo. António Barahona Cristianismo: acolhimento do Outro no próximo Desde sempre, a humanidade leva em si uma inquietação e um desejo que, apesar de todas as utopias, não consegue saciar. Superar-se a si mesmo em busca de plenitude é o movimento próprio do espírito humano, que se faz cultura, nas artes, no pensamento, nas religiões. O cristianismo partilha esta inquietação do desejo humano, no entanto, define-se menos pela “busca” frenética ou heróica - que pelo “acolhimento” de um dom surpreendente. Énos dado sermos e sabermo-nos incondicionalmente amados por Deus, por quem nos dá o ser e nos mantém na existência. A tradição judaico-cristã é a história do acolhimento desta proximidade de Deus, experimentada, na existência pessoal e na vida social, como libertadora e fonte de sentido. Neste contexto, na Palestina do primeiro século, Jesus de Nazaré deu-nos a conhecer, pela sua vida, e em nome da sua comunhão a dança milenar o circo milenar o pensamento com Deus, um amor incondicional que é dádiva de si e acolhimento do outro. A fé cristã nasce da experiência surpreendente da Ressurreição de Jesus, feita pelos seus amigos mais próximos. Aqueles que conheceram Jesus, porque o acompanharam da Galileia a Jerusalém, reconheceram-se, depois da sua morte, permanentemente acompanhados por Ele. Sucede o mesmo com os cristãos de hoje. Não vivendo no tempo de Jesus de Nazaré, vivemos o tempo do Espírito Santo, pelo qual Jesus ressuscitado se faz nosso contemporâneo. Reconhecemos a presença viva do Espírito de Jesus ressuscitado, pela sua maneira de ser e de amar, como semente de fraternidade entre os homens e plenitude de vida. Presença tão invisível e tão presente como a banda sonora do filme da vida. Assim, a utopia cristã, a que Jesus chamou Reino de Deus, é já uma realidade. Em Jesus Cristo o amor revelou-se, para sempre, mais forte que a morte. A vida no Espírito, “não sendo ainda” tudo em todos, “é já” semente de paz no meio da guerra, de compreensão no seio do ódio, alegria na tristeza, esperança no desespero, libertação daquilo que nos escraviza, acolhimento de Deus no irmão. Mas a utopia cristã é também tarefa humana. Deus criou o homem criador para que a Criação seja participada, levada a termo, pela sua liberdade e amor. Tudo o que o homem humanizar Deus já divinizou, isto é, assumiu em si, atribuiu consistência e beleza eternas. João Norton, sj A Igreja Ortodoxa na História da Bulgária O primeiro estado búlgaro foi fundado em finais do séc. VII, no ano de 681. Boris I, durante o seu reinado, no ano de 865 e sob a influência de sua irmã, a princesa Teodora, recebeu o baptismo. Adoptar a religião cristã foi um facto que marcou profundamente a história daquele país, mediante um forte processo de cristianização do povo. No séc. XI a Igreja cristã dividiu-se e a Bulgária, muito tempo ora sob a jurisdição de Roma, ora sob a jurisdição de Constantinopla, optou por permanecer sob a jurisdição desta última, tornando-se numa Igreja cristã ortodoxa. Em finais do séc. XV a Bulgária não conseguiu resistir à invasão do império otomano, vindo a perder o estatuto de Igreja autocéfala, sendo integrada no Patriarcado de Constantinopla. Hoje, a Igreja Cristã Ortodoxa compõe-se, nomeadamente, de todos os Patriarcas das Igrejas autocéfalas, como é o caso da Igreja da Bulgária, em torno do Patriarca Ecuménico de Constantinopla. Este é o seu chefe espiritual, embora se trate de um título mais propriamente honorífico, sendo o verdadeiro chefe de cada Igreja autocéfala o seu próprio Patriarca. A Igreja ortodoxa búlgara, enquanto Igreja autocéfala, possui o direito de resolver todos os seus problemas internos com base na sua própria autoridade. O papel da Igreja na Bulgária sempre se manteve essencial para a unidade, preservação e evolução desta nação. Tal permitiu a preservação da língua e escrita próprias da Bulgária, durante os cinco séculos de domínio turco. Era nas igrejas e mosteiros que se ensinava a língua materna, se traduziam e se escreviam livros. Após a participação da Bulgária nas duas guerras mundiais pelo lado das nações derrotadas no conflito, ficou aquela sob a influência da União Soviética, tornandose uma república popular em 1946. Durante este período o governo implementou uma política religiosa semelhante à da União Soviética tendo sido, por este motivo, a presença da Igreja pouco relevante para a vida nacional. Em 1991 o novo governo criou um Departamento para os assuntos religiosos, dando início às reformas religiosas do país. Em 1997 realizou-se um concílio Geral da Igreja ortodoxa búlgara, que permitiu ao governo o desenvolvimento de actividades pastorais em diversas áreas da vida pública. Hoje a população de cristãos ortodoxos búlgaros ronda os 85%. As igrejas e mosteiros espalhados pelo seu território, dotados de enorme beleza, são testemunhos da presença da religião da história deste povo. Ivan Ivanov O Judaísmo O Judaísmo é uma das mais antigas religiões da humanidade. O Judaísmo religião e cultura de uma grande riqueza e complexidade continua bastante mal conhecido, sobretudo por razões que se prendem com o desprezo, digamos, o ódio de que, desde há longo tempo, é objecto no Ocidente cristão. Os 5 primeiros livros da Bíblia. A Torah designa, em primeiro lugar, o Pentateuco, isto é, os 5 primeiros livros da Bíblia. Este é o sentido restritivo do termo Torah. Contém textos legislativos, poemas e textos narrativos que começam na criação do mundo e acabam na morte de Moisés, na fronteira da terra prometida. O outro sentido, o lato ou alargado, cobre o Pentateuco (Génese, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronómio), os Profetas, (os primeiros profetas: o livro de Josué, o livro dos Juízes, os livros de Samuel, os livros dos Reis; os últimos profetas: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Oseu, Joel, Amos, Abdias, Jonas, Micheu, Nahum, Habaque, Soplunio, Aggeu, Zacarias, Malachias.). Os Escritos - (os Salmos, Job, os Provérbios, Ruth, O Cântico dos Cânticos, o Eclesiastes, as Lamentações, Esther, Daniel, Esdras-Nehémia, as Crónicas). YHWH São as quatro letras do nome divino (Tetragrama). Este nome não se pronuncia. Os judeus lêem-no: Adonai, Senhor, em vez de Jeová ou Jahweh como os historiadores e os exegetas. A Torah é uma direcção de vida, um sentido, uma maneira de significar a presença humana no mundo. Isaac Bueno A minha religião A minha religião é um jardim cheio de flores e a enorme capacidade que tenho de poder respirar, apreciá-las e depois, por reverência falar delas. Todas as religiões tentam descrever Deus mas Deus é indescritível, tão perto ele está de nós. Podemos senti-lo melhor quando paramos, quando lhe damos espaço para que ele se manifeste no nosso dia a dia. Ao reconhecer a obra-prima de Deus não podemos senão prostramo-nos e tentar exercer as suas excelentes qualidades. Não é tarefa fácil mas quando nos dispomos todo o Universo participa e ajuda! Religiões instituídas podem ser (?) um caminho mas nunca o destino. Cada um pelo seu passo, pelos seus feitos, descobrirá mais cedo ou mais tarde o tão desejado paraíso, a felicidade, a paz, esse bem que tão desesperadamente nos espera a todo o momento. Religiões não obrigada, eu sou religiosa! Só Deus sabe quanto. Acreditem. Isabel Ruth milenar a arte milenar o cosmos milenar Milenares... As prendas Os Livros D. Ana Pessanha “Todos os corpos tendem para o seu lugar natural” Vieram de muitos lados e têm muitas idades. Falam diferentes línguas e expressam naturezas opostas. São assim os livros que a Sr.ª D. Ana Pessanha cedeu gentilmente à Biblioteca do Chapitô. Habitaram casas, acompanharam viajantes, ficaram esquecidos. Muitos foram ofertas. Alguns têm dedicatórias. Por vezes aparecem assinaturas e marcas de quem os leu. Outros ficaram por abrir. Estão ainda à espera... São pretexto para “Bibliotecas a arder de Espanto”, leituras breves ou mergulhos sistemáticos. São Histórias de Arte, livros técnicos sobre aspectos da vida corrente, manuais escolares do tempo do Livro Único, colecções de bolso em várias línguas, Romances e Poesia. Os livros são objectos de amor abertos. Foram-nos dados para nós nos dar-mos a eles. A Biblioteca do Chapitô é o seu lugar natural. Isabel Farias (Professora de Integração e Psicossociologia) A Magia Amigo Zurk Foi com enorme tristeza que soube da partida do grande amigo Zurk para outros mundos. Fiquei com tantas saudades. Triste por não o ter acompanhado mais nos últimos tempos, mas esta vida às vezes é traiçoeira e troca-nos as voltas, e desta vez foi tarde. Meu querido amigo Zurk, foste um mestre, um grande companheiro; partilhaste comigo o sentido do outro, ou seja, ensinavas a todos essa tua belíssima arte da magia, com um sentido de espectáculo e nunca perdendo o sentido social e a generosidade no ensino. Querido Zurk, as tuas filhas - a Henriqueta e a Irene - juntaram-se a nós com o teu material de trabalho. Quero que saibas que foi bom estar com elas e que cuidarei com carinho todos aqueles magníficos aparatos e livros. Um grande beijo, meu querido Zurk. Tété Os Clássicos Fundação Gulbenkian O Guarda-roupa, figurinos e acessórios de dança da Fundação Calouste Gulbenkian. Um mundo! Foi uma agradável surpresa ouvir um telefonema logo pela manhã: “alô, daqui fala Isabel Ayres da Gulbenkian”. O susto foi grande, o que será? Era sim, a oferta de parte do guarda-roupa do bailado. Simultaneamente, o Bernardo Gama também reforçou a aproximação, e eis senão quando nos organizámos e lá fomos escolher o que de melhor havia. Outra agradável surpresa: o encontro com D. Deodata que foi muito gentil. Numa primeira fase fui com a Noémia, o Nuno M. Cardoso e a Elsa para melhor escolhermos aquilo de que precisávamos para a escola, produção, animação, etc. A seguir fomos com a Margarida, o Tiago e o Filipe, e começámos então a viagem de regresso ao Chapitô. Ficámos muitos gratos ao Director do Serviço da Música, Dr. Luís Pereira Leal, à Dr.ª Isabel Ayres por se ter lembrado de nós e a D. Deodata por nos ter apoiado. Este guarda-roupa, outrora usado por famosos bailarinos, irá fazer as delícias dos nossos futuros grandes artistas circenses e dos nossos jovens da animação. E já agora não queremos deixar de recordar que logo no início dos anos 80 a D. Margarida Mónica, em nome da Fundação Gulbenkian, nos galardoou as primeiras peças (de arte) para o nosso guarda-roupa. Muito obrigado. Tété O Corpo SportZone e Body Shop À Sport Zone queremos agradecer - nas pessoas de Carina Flora, Inês Parente e Ricardo Lopes - todo o material que nos presentearam no Natal de 2006. Foi um Natal em cheio. Todos os colaboradores, além da escola e dos jovens dos colégios de reinserção, foram contemplados com essa oferta. Fizemos a maior festa de 2006 que está a render em 2007. À Body Shop agradecemos as pinturas que nos enviaram. Elas têm sido muito úteis para a escola e para as animações do Chapitô. O agradecimento vai para a Dr.ª Calem e para a Margarida. Clube Atlético de Alvalade Pelo Protocolo entre o Clube Atlético de Alvalade e o Chapitô ficou acordada a cedência gratuita de um ginásio e em contrapartida os alunos do Chapitô participarão em saraus e festas organizadas pelo Clube, nomeadamente, as festas de Natal e o Sarau anual, entre outras. Os Cavalos Sociedade Hípica Portuguesa Através do contacto com D. Diogo Sobral, a Sociedade Hípica recebe um jovem apoiado pela Acção Social em Integração Sócio-Profissional, possibilitando-lhe a aprendizagem da profissão de tratador de cavalos. Em contrapartida o Chapitô poderá vir a proporcionar animações circenses junto daquela instituição. Foi uma grande surpresa a descoberta deste espaço, sobretudo o feliz encontro com D. Diogo Sobral, pessoa de excelente bom trato, de um enorme sentido de humanidade e disposto a partilhar a vertente social do Projecto Chapitô com o sentido de formação. Neste primeiro encontro estiveram presentes a Sílvia (escola), a Luísa (Acção Social) e a própria Teresa Ricou. Foi, de igual modo, surpreendente a visita às instalações e o encontro com uma ex-aluna do Chapitô, Sónia Barradas, que tanto honra o nome da nossa “casa”, o que é agradável para todos nós. o corpo milenar a liberdade milenar a saúde A Saúde Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa Santa Casa da Misericórdia, Centro de Saúde Unidade do Castelo Alunos, professores, colaboradores e jovens da Acção Social, graças ao Protocolo firmado entre o Projecto Chapitô e a Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa de Lisboa (ESMTC), beneficiam actualmente dos serviços prestados por esta entidade. A julgar pelo número de pessoas - cerca de sessenta - que já se dirigiram às sessões, e pelas opiniões recolhidas, os resultados não podiam ser melhores. Cultura (Chapitô) e Saúde (ESMTC) estão de mãos dadas, como o Oriente e o Ocidente. Como profissional de saúde, é minha responsabilidade contribuir para a divulgação e compreensão de princípios que podem efectivamente melhorar a saúde de todos. Por esta razão aceitei prontamente o convite para participar neste projecto. Esta iniciativa tem o propósito de beneficiar a massa associativa do Chapitô através da divulgação da Medicina Tradicional Chinesa no campo da Massagem Tui Na e da prática de Qi Gong. Temos contado com a vossa participação e hospitalidade desde o início e temos partilhado muitas experiências gratificantes. Fundamentalmente estamos a trabalhar e a crescer em conjunto convosco. Em nome desta equipa um Obrigado ao Chapitô pela oportunidade de podermos participar na manutenção da saúde dos seus associados e por momentos inestimáveis de aprendizagem. José Daniel Rodrigues Lopes Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa de Lisboa Tal como os residentes do Lar Transição da Casa do Castelo /Apoiados pela Acção Social beneficiam de serviços médicos e de enfermagem prestados pelo Centro de Saúde-Santa Casa da Misericórdia Unidade do Castelo, futuramente, colaboradores e alunos do Chapitô poderão vir a usufruir de tais serviços. Para tal, encontra-se em apreciação na Provedoria da Santa Casa da Misericórdia um Protocolo entre o Chapitô e aquela instituição. Vida: mortos que não morrem Fiama Hasse Pais Brandão Conheci pessoalmente a Fiama em 62. A polícia de choque do governo salazarista tinha cercado a Cantina onde nós, os estudantes universitários, nos mantínhamos em estado de “inquietação revolucionária.” Já era madrugada quando nos levaram nas carrinhas celulares para a António Maria Cardoso. A nós, raparigas, encarceraram-nos no calabouço das prostitutas do Governo Civil. O cansaço, a revolta, a indignação, a insalubridade do lugar, o misto de fúria e desalento, repentinamente, ganharam um sabor de fecundidade, de força, de mansidão e certeza femininas, quando alguém disse: “Está aqui a Fiama!” Através das grades, à distância de um braço esticado, vi-a. A sua serenidade, a sua beleza foi um clarão de verdade, um compromisso com a verdade. Creio que ela continuará sempre assim: “a permanente criação de uma prática e da teoria.” (Novas visões do passado (1975), Assírio e Alvim, na Biblioteca Luisa Neto Jorge). H.A. Manuel João Gomes Tradutor, crítico de teatro, Manuel João Gomes, companheiro de Luiza Neto Jorge e pai do Diniz, todos amigos de Teresa Ricou e de tantos outros, continua entre nós, ajudando-nos a concentrámo-nos na acção e na poesia. Assis Pacheco Jornalista e poeta. Uma figura que está toda nos textos que escreveu. Nos poemas – reunidos em dois volumes editados pela Assírio e Alvim, A Musa Irregular e Respiração Assistida. Um tal Fernando Assis Pacheco Vivo com ele há anos suficientes para poder dizer que o reconheceria num dia de Novembro no meio da bruma é como uma pessoa de família adorava os pais mas tinha medo quando zangados se punham aos gritos e se chamavam nomes odiosos não invento nada vi-o crescer comigo chorava então desabaladamente e eu como ele sentindo-nos perdidos o cobertor puxado sobre a cabeça seria trágico se não fosse ridículo mesmo depois a noite que urinasse no pijama era protesto civil encharcou assim grande parte das Beiras não lhe perguntou se foi feliz (POEMA ESCRITO EM 1995, ANO EM QUE MORREU, IN RESPIRAÇÃO ASSISTIDA) milenar o culto milenar o espírito milenar A magia O Tempo e a Magia Quando se acredita que nada é impossível, tentar alcançar o impossível torna-se um acto de magia. "Há, em potência, algo mais maravilhoso do que realmente há". (1) A Magia inscreve-se como uma prática milenar, desde os primórdios dos tempos, quando o Homem pintava as caçadas como ritual a promover o sucesso do empreendimento, ou quando tentava compreender os fenómenos da natureza, nomeando essas mesmas forças. Há quem a considere uma arte, ou a "Grande Ciência Sagrada". É, inequivocamente, uma ciência oculta que trata das forças da natureza e sua relação com o homem, com o intuito de conhecer e dominar essas forças e relações. Quase todas as religiões mantiveram os seus rituais de carácter mágico, como forma de comunicar com Deus, de O tocar. Muitas vezes através de rituais sacrificiais, onde o sangue ou o fogo são elementos da natureza usados no momento central do culto. Mais recentemente, com o posicionamento do "Homem no centro do seu próprio universo" (2), no seu sentido etimológico, o Homem torna-se então detentor do divino poder criador, seja através do pensamento, palavra ou acção. Algo de novo é, muitas vezes num acto de sacrifício de mortais consequências, realmente criado pelo Homem, com o seu poder e a sua procura pela imortalidade, sem truques ou ilusões, mas como afirmações nessa realidade, através da magia. (1) al Biqa i (1404-1480), Tahdim al-arkan (2) Aleister Crowley (1875-1947), Liber al vel Legis Nuno M. Cardoso (Encenador do 2.º Ano) A Vida O Homem, a Cidade e a Filosofia É multimilenar o abraço entre o homem e a filosofia. Por volta dos anos 600 a.C., encontramos três ramos fundadores do pensamento filosófico. A ocidente, a Escola de Atenas (Sócrates, Platão, Aristóteles). A oriente, na Índia, a visão hindu ou budista do universo; na China, o confucionismo e o taoismo. O campo da filosofia abarca, desde sempre, a lógica, a estética, a ética e a política. Homem animal racional ou animal político (do gr. polis, cidade), dissera Aristóteles (384 - 322 a.C.). Modos de sentir, pensar e agir, que fazem do homem um ser em busca e criação da verdade, do bem e do belo. Parafraseando Sócrates e Buda, diria: A vida sem conhecimento (científico, ético e estético) não merece ser vivida, porque se torna vida consentida e não vida com sentido, porque impede o homem de modelar-se a si próprio, como faz o carpinteiro quando modela a madeira ou o frecheiro quando modela as setas. Sugestão de leitura: Marinoff, Lou, Mais Platão, Menos Prozac! Lisboa, Presença, 5ª edição, 2004. Ernesto Fernandes (Membro da Direcção da Escola) A mão A mão, a geometria e o olhar A mão, quebra-cabeças milenar, lugar de grande ventura, palpando a pulsação que a tua pele mantém secreta. Entre nós desenha-se uma geometria não visível flexível e ágil, espontânea como um impulso e cada instante dava um romance oitocentista, dava uma polifonia organizada num desenho céltico, dava um complexo padrão árabe de polígonos multifacetados. A nossa história, o sentido do nosso encontro: sólida geometria que se apaga e uma outra se desenhará, entre mãos um constructo de imponderável equilíbrio. João Luís Simões (Professor de Geometria) A Música Consciência Milenar O que faz ter consciência artística na Música? Não sei... Mas era capaz de morrer por uma música, Mas era capaz de viver por uma música, De amar por uma música... A música foi feita prisioneira da corte! Liberdade para a Música!!! Amiga Música que saudades me dás quando não estás. Volta! Traz-me os ecos do primeiro som da vida neste Universo. Eu sei que guardas tu esse segredo, podes contar-me o segredo? ahhh ...!! que bela melodia! que batida! que loop! foste assim? Sabes música estou a começar a gostar da tua companhia... És misteriosamente estranha, mas familiar ao mesmo tempo. Não te quero presa, mas quero-te... Devias ser livre mas não ser nada do que nós achamos ser algo, Devias estar solta, sabes? Por aí... Sílvio Rosado (Webdesign - sector da produção) O Circo O circo, uma arte mais do que milenar “No princípio era o Verbo”... E também o corpo. O corpo insuflado de espírito. E com ele, em círculo, invocavam-se os deuses e a criação do mundo. Tornou-se sujeito e objecto do sério e do risível, do grotesco e do sublime. Ultrapassou os seus próprios limites e contrariou a lei da gravidade. (Dédalo disse a seu filho, Ícaro: “a fuga pode ser vigiada por mar e por terra, mas o ar e o céu são livres”). Talvez tudo isto tenha sido o preâmbulo daquilo que viria a ser milenar a linguagem milenar o ritual milenar o circo e o artista circense, o poeta do corpo, do espírito e da alma em acção. E como poeta que era (e é) ocupou o último ramo da árvore genealógica que entronca nos deuses: “Primeiro vêm os deuses, depois os heróis (que encarnam o mito), a seguir os videntes e profetas e, finalmente, os poetas. A preocupação do poeta é restaurar o esplendor e a magnificência do passado, que está sempre a reviver. Ele experimenta, quase para além dos limites do suportável, a enorme privação de que padece a humanidade.” (Henry Miller). O circo é pois uma arte mais do que milenar porque nasceu com o próprio homem. Uma aventura a dois com um futuro incerto, mas certamente com um passado intemporal. Mário Cabeças (Gabinete de Pesquisa) O Ritual Todos os que (não) têm nada para vender O desejo de construção é igual ao desejo de destruição. As civilizações são uma síntese sempre em movimento do exercício de “barbáries” sucessivas. As oportunidades de exercício da barbárie é que são desiguais e não obedecem a nenhum plano democrático de alternância. O que vemos acontecer no espaço/tempo de uma vida, é a ínfima parte do tempo dentro da eternidade incomensurável durante o qual nos é dado exercitar a vida que depois acaba antes de a termos aprendido, antes de a termos apreendido na sua totalidade (total-idade). Criamos pequeníssimos núcleos de exercício votados à transformação, ao crescimento ou destruição. Abrigamo-nos dentro. Fabricamos abrigos, escavamos grutas, assinalamos pontos nas paisagens. Cruzamos Outros, amamo-los, odiamo-los ou nem sequer damos por eles - perscrutamolos apenas no museu televisivo. Não temos tempo para contar o número de folhas de uma árvore (tarefa que deixamos para os botânicos) e um só outro corpo tem tantos recantos, que nos escapam (tarefa que deixamos para os anatomistas). Aparentemente somos todos tão semelhantes e tão diversos quanto as espécies vegetais numa floresta virgem. O lá fora é o que está antes, durante e depois de nós em movimento. Juntamo-nos para celebrar a vida nas cerimónias colectivas que elegemos, ora como protagonistas ora como convivas: nascimentos, acasalamentos, funerais, espectáculos, manifestações, em cultos religiosos ou profanos. Comemos antes, durante e depois. Socorremo-nos das nossas “especialidades” para dar forma às celebrações. Em privado, ritualizamos, com mais ou menos aparato, a nossa sobrevivência diária, a solo ou acompanhados pelo núcleo da(s) nossa(s) tribo(s). Construímos e destruímos “ até à palavra final “ (Samuel Beckett) contribuindo enquanto heróis ou santos ou mártires ou figurantes, para a história sem princípio nem fim da qual somos/fomos sujeitos de passagem. A maioria de nós não tem espaço nem tempo para exprimir estas percepções singelas... A miséria, a fome, o medo, o isolamento involuntário, perpetrados pela prepotência de quem lidera e pela nossa indiferença abrigada que nos custou a construir, faz com que haja hoje em dia ( século XXI do nosso calendário !), a maior parte da humanidade ( humana-idade ) não tenha voz, para reflectir sobre tudo isto ; quem vive uma catástrofe não é capaz de reflectir sobre ela na hora em que está a acontecer - trata só de tentar sobreviver. Há quem só sobreviva sem nunca ter oportunidade de viver ou dar vida voluntária, não tendo nunca a oportunidade de experimentar a Vontade ; todos aqueles que não têm nada para vender, e são a maioria ; nem petróleo, nem urânio, nem água, nem ventos, nem soft/hardware, nem ideias valorosas, nem globalidades ( global-idades). É bom saber que há uma tenda onde nos podemos abrigar com outros, de outros. Uma tenda ou fenda, um bocado de céu que nos cobre, debaixo do qual podemos ambicionar chegar mais perto da nossa ideia de perfeição pessoal e colectiva. Um chapiteau é uma bela metáfora comunitária. O Chapitô é uma utopia tornada realidade, um lugar de e em (trans)formação que nos abriga e por ora nos obriga a escrever. Depois haverá/há o lá fora, as outras barbáries diversas e semelhantes, etc. Hoje é noite de lua cheia, mas poucos, muito poucos terão a possibilidade de a memorizar. Nuno Carinhas “Parler du chapiteau c’est défendre la place de l’art, de tous les arts, dans l’espace public.” in Stradda, le magazine de la création Hors les Murs, Janeiro, p. 1 a dança milenar o circo milenar o pensamento 1.º Ano Tema: O Circo e a Bauhaus (Oskar Schlemmer) Projecto de Instalação Com alunos do 1.º ano de Ofícios a partir da obra de Oskar Schlemmer: recriação e ampliação de máscaras, modelação em esferovite, composição e recriação de telões a partir de décors de cena de Schelemmer (coordenação de Paulo Robalo) Reciclagem A natureza neste momento (ou há já bastante tempo) tornou-se uma utopia transformada em pesadelo pela acção do homem, da sua força destrutiva e bárbara. Uma lua cheia a brilhar, mas eclipsada pela terra, que é como quem diz pelo homem, uma boa metáfora para definir o que neste momento se vive. E porque o Chapitô prima por um mundo sustentável, em que se pretende o equilíbrio originário dos ecossistemas e uma convivência pacífica com a natureza, tem vindo a promover acções com vista a formar os jovens que de futuro possam vir a alterar a situação actual. De entre as várias iniciativas, contam-se os trabalhos realizados pelos alunos do 3.º ano de Ofícios, sob a orientação do professor de Adereços, Miguel Ângelo, em que, através da reciclagem de materiais inutilizados, se construiu maquinaria de cena multifuncional. Ainda neste âmbito, realizou-se para os alunos do 1.º ano de Ofícios um workshop sobre a mesma temática: a ReCICLAGEM ReCONSTRUTIVA, por José V. S. Carvalho. ReCICLAGEM ReCONSTRUTIVA no Chapitô Cada vez mais na sociedade contemporânea, o consumismo descartável faz parte do quotidiano, principalmente nos grandes centros urbanos. A tecnologia informática que nos invade constantemente e que nos cria uma indiscutível dependência, também deixa atrás de si uma enorme quantidade de equipamento que rapidamente se torna obsoleto e aparentemente inútil. A ReCICLAGEM ReCONSTRUTIVA praticada na OFICINA ReCRIATIVA e desenvolvida pelo artista plástico Zévi, veio realizar um workshop de média duração com os alunos do 1º ano de Artes e Ofícios no XL do Chapitô. Assim os alunos executaram exercícios de construção partindo de equipamento informático que estava guardado em situação de (Pré-lixo). Através do (estudo da forma), foram criadas composições de construção para novas linhas de leitura e interpretação. Pretendeu-se que os alunos aprendessem alguns novos métodos alternativos de leitura de formas já pré concebidas, como ponto de partida para outras criações, em paralelo com (novas linhas de pensamento e renovação de conceitos) e ao mesmo tempo, uma (abordagem crítica em relação à prática da descartabilidade gratuita que se vive inconscientemente nos dias de hoje). José V. S. Carvalho 2.º Ano Projecto: Margarita e o Mestre de M. Bulgakov Workshop de Chapéus, por Raul Boino Lapa Workshop de Chapéus (Modernistas) integrado no Exercício-Espectáculo Margarita e o Mestre de M. Bulgakov. Este Workshop consistiu numa introdução à aprendizagem das técnicas de design e da construção de chapelaria/millinery. Valorizando as propostas apresentadas pelos alunos de Ofícios, procurouse o diálogo interactivo entre as várias áreas do projecto: figurinos, costura, modelação, cenografia, adereços de cena e caracterização. Workshop de iniciação à Magia, por Alexis Ricardo Este Workshop realizou-se também na sequência do trabalho de preparação do Exercício final do 2.º ano, Margarita e o Mestre de M. Bulgakov, além de ter ido ao encontro do ensino exaustivo e técnico das ilusões, passando pelo manuseamento de objectos e pela prática desta modalidade circense. Workshop de Clown, por Marcos Barbosa A palavra Clown quase que se confunde com a palavra Circo e por isso um Workshop que tenha como temática esta arte circense só poderia ser bemvindo ao Chapitô. Seminário com Eduardo Nery O Circo foi sempre uma grande fonte de inspiração para os artistas em geral, fazendo parte de uma temática privilegiada, que ao longo do tempo foi tratada de diversas maneiras, elegida especialmente pelos pintores. Desse modo, com o convite a Eduardo Nery, tentámos promover um encontro entre uma Escola de Circo, o Chapitô, e um reconhecido artista plástico, de forma a relacionar dois universos distintos mas muito próximos. Assim, no dia 24 de Janeiro do presente ano, o artista plástico Eduardo Nery visitou pela primeira vez o Chapitô, aceitando o nosso convite para participar no Seminário do 2.º ano, que se realizou na tenda. Os alunos, como forma de agraciarem o artista, prepararam e realizaram uma performance, que muito agradou ao convidado e lhe deu oportunidade de conhecer o que se aprende nesta escola. Esta demonstração foi inspirada no trabalho da cor, utilizada na obra de Nery, e na estética russa construtivista, que tem marcado presença no nosso programa, ao longo do ano, com um trabalho complementado através da exploração da obra de Bulgakov, a nossa já bem conhecida “Margarita e o Mestre”. Já que o nosso convidado visitava uma escola dedicada à aprendizagem das artes circenses, optou por trazer obras em que estavam incluídas diversas máscaras, fazendo assim a ligação com o artista de circo que coloca uma máscara para entreter e divertir o público, independentemente do seu estado de espírito. Nery falou-nos também do seu atelier, local onde trabalha diariamente, e onde tem uma avultada colecção de máscaras africanas.Eduardo Nery ocupa um papel fundamental na História da Arte em Portugal, uma vez que na década de 60 introduziu a Op Art no nosso país, a partir de influências que conhecia no exterior. Fez também diversas intervenções na arquitectura e no espaço urbano, onde o seu trabalho teve maior alcance, mas sempre como artista plástico. Neste trabalho, caracterizado como inovador e de um grande cariz cenográfico, convivem jogos cinéticos com uma temática fortemente arquitectónica, de enorme rigor e perspectiva, luminosidade enérgica e um cromatismo vibrante. Eduardo Nery disponibilizou-se totalmente para conversar com alunos e professores e, respondendo a uma pergunta realizada por um aluno sobre a influência que o circo poderia ter de futuro no seu trabalho, indicou que provavelmente iria explorar esse caminho, já que tudo o que conhece o milenar a arte milenar o cosmos milenar pode influenciar. A experiência directa relatada pelo artista convidado permitiu-nos adquirir novos conhecimentos acerca deste longo período da História das Artes em Portugal, em que o seu trabalho se fixa. Ficou reforçada a ideia de que numa carreira artística não basta ter talento, são também necessárias dedicação, disciplina e esforço. Liliana Caetano (Professora de História das Artes) 3.º Ano Incursões na produção artística contemporânea O 3º ano da Escola está orientado para as saídas profissionais ou para os prosseguimentos de formação e de especialização, ou seja, tem como eixos as PAP’s (Provas de Aptidão Profissional), com todo o seu processo preparatório, e os Estágios. Em História das Artes dá-se especial atenção à produção contemporânea e às suas ligações com as artes do espectáculo. Procura-se que os alunos tenham algum “lastro” (reservatório de referências, vistas largas, actualidade estética e padrões) e isso é operacionalizado através de pesquisas e através de visitas. Nessas incursões explora-se o cartaz de ofertas expositivas em Lisboa. Desde o início do ano lectivo, com os/as finalistas, fizeram-se as seguintes visitas-incursões: Almada Negreiros (painéis das Estações Marítimas), Colecção Rau, CAM (selecção da colecção), Cabrita Reis (instalação CAM), “Cinema e Sedução” (Colecção Berardo, Sintra), Cândida Hoffer, Nuno Cera, Álvaro Lapa, Bruno Pacheco e Ben Calloway. Entre o “classicismo” e as vanguardas, entre o figurativismo e o abstraccionismo, entre os suportes “puros” e os suportes combinatórios e interactivos. A rodaviva das artes e dos seus engenhos. A curiosidade e a indução à pesquisa. Aqui, entre nós, os gostos discutem-se. Orlando Garcia (Professor de História das Artes) Estágios 2006/2007 A tradição e a obrigação mais uma vez se repetem. No início de Março os alunos do 3.º Ano rumam para a sua penúltima fase de formação escolar estágios curriculares - e simultânea e formalmente para a primeira experiência profissional junto de diferentes instituições de acolhimento. Também este é um momento fundamental para a própria escola poder avaliar, indirectamente, a qualidade e adequação dos seus conteúdos formativos a realidades profissionais. Como sempre cumpriu-se um ritual de procura do local de estágio adequado aos interesses pessoais e competências profissionais de cada aluno que se iniciou em Setembro e que culmina agora com a sua formalização. Mais uma vez iremos ter estágios que decorrerão fora do espaço nacional - Espanha e França, e do espaço europeu - Angola. A todas as instituições e pessoas contactadas que irão acolher os nossos alunos a Escola agradece desde já a sua preciosa colaboração: ACERTE, Fundação Calouste Gulbenkian, Artistas Unidos, Teatro Nacional D. Maria II, Dançarte, Teatro do Mar, Karnart, Teatro Politeama, Escola de Circo de Carampa (Madrid), Komplex Kapharnaum (Lyon), Companhia de Dança Contemporânea de Angola, Casa do Povo de Corroios, Companhia de Teatro de Almada, Nuno Theias, Antónia Rosa. Aos alunos estagiários - Bom Trabalho! José António Tavares (Professor de Inglês e de Integração) Aplicação de novas tecnologias à apresentação de provas de aptidão profissional A apresentação de qualquer projecto recorre actualmente a meios audiovisuais. O código mediático, amplamente divulgado através da televisão, cinema e homevídeo, torna esta opção natural e efectiva. O programa mais utilizado para o efeito é indubitavelmente o Power Point. Ali, o palestrante tem a possibilidade de conciliar texto, imagem parada, vídeo, som e conectividade em tempo real à internet, representando de maneira dinâmica os conteúdos que pretende transmitir. No caso das provas de aptidão profissional (PAP), a utilização adequada daquele instrumento permite identificar estruturalmente o conceito do espectáculo, mediante a organização e apresentação imagética dos conteúdos que o integram. O funcionamento do software, obedecendo a regras gerais, torna assim a construção da apresentação mediática de uma PAP um exercício útil, impondo ao aluno rigor e método na explanação e exigindo a captação digital da cenografia, figurinos e caracterização. Concluída a apresentação, o candidato dispõe de um documento facilmente reproduzível em qualquer contexto, contendo uma base de imagens e sons ilustrando o seu processo de trabalho. Paulo Castro (Professor de Matemática e TIC) Saudação a Fernando Pessoa Mostro-te minha impaciência De não poder compreender-te Mas sinto-te em tua intensidade sentida de mais. És teatral de sentimentos, és Fingimento infeliz que tiveste outrora, Podendo assim, elevares a tua alma em Personagens múltiplos És Gritos de revolução Liberdade literária de expressão, Criação de textos por pessoas que não existem Ei-lo de todas as cores Sentindo-as eu, concreto e abstracto que por mim te estendes Teus dotes de magia pura Magnificamente transformada Do político ao filósofo de ti mesmo Esperam de ti enterrado e morto Renascer, em cinzas caídas de madeira Que abandonam tua arca morta Diogo Correia (3.º A) Meu caro, Fernando Álvaro Pessoa de Campos Quem és tu que dizes ser muitos mas que no fundo não és nenhum. Que andas por aí perdido algures em ti e que falas de ti mesmo a ti mesmo. Pois meu caro, a ti mesmo te escrevo tentando transcrever para essas linhas toda a intensidade, raiva, loucura, doçura, política e morte que depositaste nas personagens que fizeste de tua própria alma. o corpo milenar a liberdade milenar a saúde Digo-te desde já que nada te faz valer a não ser o teu eloquente grito insubstituível e inexplorável de liberdade. E que a lógica em ti não faz sentido quando se fala de palavras corrompidas por um silêncio atormentado por sentimentos desconhecidos por nós eternas manchas no mapa da vida. Aqui estou eu querendo assim sugar todas as diversas faces do teu eu numa busca quase perdida dos meus. A ti te subscrevo tentando assim achar em ti aquilo que perdi em mim. A eterna criança a eterna criança perdida em nós. Rossana Barreto (3.º A) Visitas de Estudo e Actividades no Exterior CCB - Centro Cultural de Belém Exposições de fotografia de Nuno Cera - Fantasmas - e de Candida Höfer Quarto interior, Circolando, Plus ou Moins L’ infini, Companhia 111 Lilás, de Jon Fosse, pelos Artistas Unidos Contigo, por João Paulo Santos Culturgest - Exposições de Bruno Pacheco e Dan Perjovschi Fundação Calouste Gulbenkian - Centro de Arte Moderna Diálogos de Vanguarda - Amadeo de Sousa-Cardoso Museu da Cidade - Obras - Com Palavras e Paisagísticas - Álvaro Lapa Teatro Camões - UNIVERSE - Projecto Fusion Lab Teatro da Trindade Monsieur Pipon, Cabaret Internacional, por Andreas Piper Teatro Municipal de São Luiz - Moby Dick, de Herman Melville Teatro da Comuna - O Cerejal, de Anton Tchekov Teatro Nacional de D. Maria II - O Que Diz Molero, de Diniz Machado Frozen - Presos no Gelo, de Bryony Lavery Convento das Mónicas - Amador, pelos Artistas Unidos Teatro Meridional - Por Detrás dos Montes, pelo Teatro Meridional Cemitério dos Prazeres Por Liliana Caetano, no âmbito da disciplina de História das Artes Aula de Expressão Corporal com a professora Cláudia Nóvoa, no espaço exterior do Castelo de São Jorge Feira da Ladra e Mosteiro de São Vicente de Fora no âmbito da disciplina Área de Integração Évora Teatro Garcia de Resende por Paulo Robalo, no âmbito da disciplina de Cenografia Sé Catedral Igreja de São Francisco - Capela dos Ossos Como é Trabalhar no Chapitô? Um desafio permanente: Conciliar o mundo das artes circenses, colorido e fantasista, com a objectividade parcimoniosa do discurso científico. Porém, há rigor e beleza nos dois universos. Algo comum, afinal. Os alunos são fantásticos: jamais te deixarão pensar que és um professor extraordinário, um intelectual de excepção. São bons amigos. Paulo Castro (professor de Matemática e TIC). Não se poderá chamar trabalho, quando este parte de uma fruição ou de um prazer, vamos antes chamar a esta minha passagem pelo chapitô, como um momento de investimento num sonho que a todos pertence, numa demanda de reencontro com a "magia". Bruno Guerra (professor de Cenografia). Entendo, que o Chapitô mais do que uma escola de artes circenses, cenográficas e caminho para os alunos fazerem a sua formação académica ao nível do 12.º ano é sobretudo uma escola de artistas. Costa Reis (professor de Cenografia). Fazer parte da família Chapitô é dar e receber, sempre com um sorriso, experiências de um mundo em constante mudança. É pertencer a um universo onde todas as artes se unem de forma pluricultural, tendo como cenário uma paisagem irrequieta, cheia de movimento e cor. Liliana Caetano (Professora de História das Artes). A liberdade constrói-se, não é um dado adquirido. O ser livre tem responsabilidades. A perfeição tem um preço. Nuno M. Cardoso (Encenador do 2.º ano). As possibilidades são imensas... tantas que por vezes o difícil não é dar largas à imaginação mas sim dar forma a Um corpo coerente e sólido capaz de transmitir e sustentar todo esse potencial imaginativo e performativo. Em suma, trabalhoso mas "bué da fixe". André Ataíde (Professor de Cenografia). Trabalhar no Chapitô é como encontrar um palheiro numa agulha, já que em cada pequeno detalhe se encontra um mundo infindável de informação sobre a história do Circo em geral e, naturalmente, sobre o Chapitô em particular. Mário Cabeças (Gabinete de Pesquisa). Gosto de circo. Gosto particularmente do caminho que o circo está a tomar, um caminho em que várias artes se combinam para nos fazer sonhar, viajar dentro da nossa própria cabeça. Gosto das possibilidades infinitas que o circo dá ao corpo. O que parece impossível torna-se possível. Gosto de dar aos meus alunos o que fui encontrando na dança ao longo da vida, levá-los a conhecer e a tratar melhor os seus corpos, a confiar nas suas capacidades e acima de tudo a acreditarem nos seus sonhos. Gosto de aqui estar, sinto-me bem, porque a minha cabeça é nómada, gosta de viajar.Cláudia Nóvoa (Professora de Expressão Corporal). Trabalhar no Chapitô é como viver com uma grande família. Há momentos muito bons, que nos enchem de satisfação; e outros, maus, em que nos sentimos impotentes face à falta de força de vontade e indeterminação daqueles de quem gostamos. Sofia Leone (Secretária de Coordenação da EPAOE). Os nossos lá fora Professores, ex-professores, alunos, ex-alunos... No dia 11 de Janeiro, estreou no Teatro Nacional de São João do Porto a peça Otelo de William Shakespeare, cuja encenação coube a Nuno M. Cardoso. Esteve em palco até 21 do mesmo mês; De 10 de Janeiro a 17 de Fevereiro, o Teatro da Comuna recebeu a peça O Cerejal de Anton Tchekov, com a encenação de Francisco Salgado e a direcção de produção de Nuno Ricou Salgado; Moby Dick, no Teatro Municipal de São Luiz, teve como encenador António Pires e contou com a participação de Ricardo Aibéu; Bruno Schiappa participou em Frozen - Presos no Gelo de Bryony Lavery, no Teatro Nacional D. Maria II, de 17 de Janeiro a 11 de Março; Sérgio Conceição (Sérginho) e Elsa Galvão participaram na peça Amador de Geardjan Rijnders, levada à cena pelos Artistas Unidos no Convento das Mónicas (de 1 de Fevereiro a 4 de Março); Com a coreografia de Rui Horta, João Paulo Santos interpretou Contigo no Centro Cultural de Belém, de 17 a 20 de Fevereiro, uma performance em mastro chinês, milenar o culto milenar o espírito milenar estreada no último Festival de Avignon (2006), no âmbito do programa Le Sujet à Vif; Monsieur Pipon, Cabaret Internacional, criação artística de Andreas Piper e Jens Altheimer e interpretação e produção do primeiro, esteve em cena no Teatro da Trindade de 1 a 24 de Fevereiro; Paulo Mosqueteiro foi o responsável pelos figurinos de Macbeth, texto de William Shakespeare, posta em cena de 23 de Janeiro a 15 de Março no Teatro da Trindade; A 17 de Fevereiro estreou no Teatro Camões o espectáculo Universe - Projecto Fusion Lab, com a participação de Bruno Rosa e Zé Lobo; No novo programa de Hermam José, Hora H, César Mourão está a contracenar com Ana Bola, Maria Rueff, Maria Vieira e Manuel Marques; Aqui há talento, um programa da RTP, tem vindo a contar com a presença de Sérginho, Raquel e Pascoal, entre outros; Lilás de Jon Fosse, pelos Artistas Unidos, estreou no Centro Cultural de Belém a 19 de Janeiro de 2007 com a participação de Pedro Carraca; Misantropo de Molière, no Teatro da Comuna, teve entre o seu elenco Rogério Vieira e Sandra Faleiro. Estreou a 10 de Fevereiro; Fedra de Racine, encenada por Rogério de Carvalho, esteve em cena no Teatro Municipal de Almada, com os figurinos de Mariana Sá Nogueira. A peça foi também objecto de uma outra montagem em Lisboa, no Teatro Maria Matos, com encenação de Ana Tamen; José Garcia encenou Ensaladas do Coro Públia Hortênsia com o Maestro Paulo Brandão. Estreia em Abril na Casa do Artista. Rota Jovem João Gaudêncio e Vânia Rosário, ex-alunos de Artes do Chapitô, estão em Itália a estagiar no âmbito do Projecto Anima da Rota Jovem (estágios profissionais ao abrigo do Programa Leonardo da Vinci). Criada em 1992, em Cascais, Rota Jovem é uma “associação independente e sem fins lucrativos que promove e apoia projectos de jovens para jovens.” Manuela Tavares (Responsável pelo UNIVA no Chapitô) Bom dia! Aqui vou eu, viver uma aventura, concretizar sonhos e esperanças, com vontade de conhecer uma nova história. Porque história já Itália tem, mas agora será a minha. Parto, com alguma curiosidade e nervosismo, para uma nova vida, profissional e pessoal. Parto com um objectivo, em busca de uma realização. Esta vai ser a continuação de um trabalho desenvolvido nesta minha casa, Chapitô. Um obrigado gigante, a todos os que acreditaram em mim, a todos os que contribuíram para a minha aprendizagem artística e pessoal. São muitas as memórias que levo comigo, não só no meu coração mas também no meu corpo. Esta foi a casa que me recebeu e acolheu durante três intensivos anos. Daqui, saio consciente e preparado para receber de braços abertos a continuação desta vida, noutro lugar... Mas toda a gente sabe que eu não digo adeus, mas sim, até já. Parto com a certeza que serei sempre EU! Um Sonhador! Um Lutador! Obrigado ao Zé Lobo e ao Pauleta, por me ajudarem a conceber este texto. Eu já venho, não demoro muito. Depois, conto-vos o resto. Até Já. Jonny (João Gaudêncio) - Always Learning... but Forever Young! Centros Educativos Animação em Acção Culturas Milenares Desde sempre que a Arte é um pilar fundamental da nossa sociedade: dos Maias aos Aztecas, dos Gregos aos Romanos... Mas, tal como as especificidades de cada cultura e época, também a Arte muda consoante o ser humano se transforma. Adapta-se às necessidades, desenvolve-se e faz-nos evoluir. Alguns fazem Arte, outros vivem da Arte e há quem saiba fazer da sua vida uma Arte. Um dia, há 25 anos atrás, alguém pensou que a Arte poderia ser algo mais: Reinserção Social. E o Chapitô começou a andar... Alguns anos mais tarde, o Projecto Animação em Acção torna-se realidade. Através de alguns erros e entraves, muitas descobertas e grandes alegrias, o Projecto progrediu. Pessoas saíram, outras chegaram, mas o Projecto mantém-se até hoje. Trabalhamos com e, sobretudo, para os jovens de hoje, privados da liberdade e da sociedade “lá fora”. Usamos “técnicas” milenares mas sempre actuais: o afecto, a confiança, a compreensão e a tolerância. Ensinamos Arte de hoje e de sempre: circo, capoeira, magia, música, artes plásticas, construção de objectos, modelagem e até a redacção de um jornal... Com este espírito de constante evolução, queremos destacar neste princípio do ano o Carnaval nos Centros Educativos. No Navarro de Paiva, a festa realizou-se da parte da manhã, com a presença de jovens, elementos da equipa e funcionários do Centro. Depois de todos mascarados, inclusivamente os adultos, dentro da Casa Cor-de-Rosa realizou-se o concurso de máscaras e foram premiados os quatro melhores. Na Bela Vista, a festa foi à tarde, com a diferença de que tivemos um desfile pelas 3 unidades residenciais, finalizando no ginásio com o concurso de máscaras. Foram três os vencedores. Os sete premiados virão jantar na esplanada da Casa, este espaço místico que tanto lhes agrada. Ainda não somos um Projecto Milenar...mas vivemos cada momento intensamente, com um sorriso nos lábios e a esperança no coração! A Equipa Animação em Acção a música milenar o ritual milenar a liberdade Chapitô Agitação Artística A Nossa Programação de vento em pompa e circunstância... O que aconteceu... Sarau de Gala de Ginástica Acrobática A 3 de Fevereiro, os alunos de do 2.º ano A/O participaram no Sarau de Gala de Ginástica Acrobática no Pavilhão Municipal de Casal Vistoso, em Lisboa, sob o desafio de João Martins, a coordenação da direcção da escola e a orientação artística de Nuno M. Cardoso e Cláudia Nóvoa. Para além do talento e da inspiração, é necessária muita transpiração, quer dizer, muito treino... Quando entrámos no pavilhão e começámos a ver aqueles ginastas tecnicamente perfeitos nas suas especialidades, fiquei triste por não ter a mesma preparação que eles. (E porquê? Cada um com a preparação que tem ou que merece). Também é verdade que eles treinam mais ou menos desde os seus seis anos de idade e que todos os dias têm cerca de quatro horas de preparação! (E porquê? Aos seis anos começa-se a aprender a ler e a escrever e por que não a trabalhar o corpo? Tu também podes) E rapidamente ganhei consciência de que eles são ginastas de alta competição e eu sou só um artista de circo... (E porquê? Ginastas de alta competição e tu um grande aprendiz sem ter que ser competitivo). Para além da pouca técnica que possuo, tenho a minha própria expressão, ao contrário deles que fazem tudo de forma mecânica, eis a diferença entre um artista de circo e um atleta de alta competição. (E porquê? Cada um escolhe o seu caminho seja ele qual for. É preciso muito esforço, determinação, amor, treino e qualidade). Desse modo, o Sarau serviu sobretudo para ver as diferenças entre um ginasta e um artista de circo, e posso dizer que felizmente no circo não há competição. (Não é bem assim...). Ping-pong entre Fábio Ribeiro (2.º A) e Tété Carnaval 25: Chapitô na rua Do Castelo ao Chafariz de Dentro (Alfama). Rua a cima rua a baixo, por entre ruelas e vielas (de Alfama, claro!), e de quando em vez algumas tão afuniladas que dificilmente podiam ser calcorreadas, lá foi o Chapitô no desfile de Carnaval - alunos, jovens dos Centros Educativos, professores e colaboradores -, sob o tema 25 (25 anos de Chapitô), numa feliz combinação com outros grupos que nos acompanharam. Escusado será dizer que todo este desfile foi devidamente preparado com antecedência e envolveu o trabalho de maquilhagem, caracterização, figurinos, coreografia e encenação. Estas tarefas estiveram a cargo de Mário Silva, Helena Lapas, Sofia Leone, João Martins, Raquel Nicoletti, Bernardo Gama, Nuno M. Cardoso, José Garcia, Pedro Carraca, Noémia Fernandes, Sílvia Barros e Irene Alvim. Companhia do Chapitô No dia 15 de Fevereiro, terminou a apresentação da Medeia no Chapitô: trinta espectáculos e cerca de 1500 espectadores. Sexta-feira, dia 2 de Março, a Companhia partiu em itinerância por terras de Espanha. “Não será exactamente surpresa, para quem acompanha o trabalho do encenador britânico John Mowat, escrever que a nova peça, Medeia, em cena no Chapitô, é mais uma experiência de riso, até às lágrimas, através do recurso ao teatro físico. O jogo deste desfrute, em desvario, vive do feliz encontro entre os dois actores da Companhia do Chapitô (Jorge Cruz e José Carlos Garcia) e as duas versáteis bailarinas/intérpretes, da Companhia Paulo Ribeiro (Leonor Keil e Marta Cerqueira).” (Crítica de C.G., “O Grande Gozo, John Mowat visita «Medeia», numa versão hilariante”, in Expresso, Actual, 27/01/2007) No Bartô... Biblioteca a arder de espanto Todas as segundas e quartas terças-feiras de cada mês no Bartô acontece uma Biblioteca a arder de espanto! 23 de Janeiro -“Com os caixotes da Isabel”; 13 de Fevereiro - “Com o milenar a linguagem milenar o pensamento Modernismo Português”; 27 de Fevereiro - “Os manuscritos não ardem”, 13 de Março - “Sob Pressão” - conversa com Eduarda Dionísio”. Traz um amigo também 25 de Janeiro - jornalistas que escreveram na revista Cais - Chapitô 25 anos, 25 fotografias, 25 estações de Metro; 15 Fevereiro - “Os 60 dos anos 60” com Sílvia Chicó (António Cartaxo, da Antena 1, também nos visitou ao fim da noite); 28 de Fevereiro - Uma Tertúlia - A noite foi dedicada às ONG’s e a voz foi dada à Segurança Alimentar e Nutricional); 8 de Março Dia Internacional da Mulher, com Manuela Santos, Zélia Afonso e outras amigas; 22 de Março, Com o Maestro Paulo Brandão e amigos. Músicasofá 15 de Março - Miguel Castro Caldas e as suas músicas e amigos. Na Tenda... 3 a 11 de Março Os Tapetes Voadores (Fábulas do Mundo) de Clóvis Levi e Palmela Jean, encenação de Clóvis Levi. 8 a 11 de Março Pax Romana ESTE Estação Teatral, encenação de Nuno Pino Custódio. Animações... Encantamos qualquer um, seja pendurados ou no chão. Os nossos meninos fazem os possíveis para serem os melhores e nós estamos sempre por lá a apoiar a causa. Dia 3 de Fevereiro, animação e aéreos, quadros vivos de Dali e cantora ao vivo, no mesmo dia fomos até à RTP animar a malta mais pequenina. E para benfiquistas e não só ficam a saber o nosso segredo, a mascote Victória é o nosso ex-aluno Fábio! Estivemos ainda em directo na RTP, não temos mãos a medir, mas rimos muito, tentamos manter-nos unidos e fazer com que cada trabalho seja mais um bocadinho da parte boa da vida... RKL - Raquel Botelho (Produtora de Animação do Chapitô) O que vai acontecer... 17 de Março a 2 de Abril Hamlet da Silva, Um dia mau como a m... encenação de Eduardo Condorcet, por PAP 5. 17 de Março a 15 de Abril Na Casa da Dona Infortúnia pela Companhia do Chapitô, encenação de José Garcia. 27 Março Dia Mundial do Teatro (Ver destacável) Lá fora... noutros mundos 7 de Março a 6 de Maio Dédale - Laurent Gachet, Académie Fratellini (Saint-Denis). 23 de Março a 8 de Abril Après la Pluie... Cirque Désaccordé, Espace Cirque (Antony). 28 de Março a 22 de Abril Espresso Circo Aereo / Les Objets Volants La Villette (Paris); e 18 de Maio em Damas, Syrie. 3 a 5 de Abril Un Cirque tout juste Circo Aéreo Le Prato (Lille); 28 e 29 de Abril em Rencontres Méditerranéennes, Béziers. 23 a 31 de Março Giboulées de la Marionnette - Estrasburgo. 4 a 7 de Maio Feira Internacional de Teatro de Marionetas - Lleida, Catalunha. (consultar www.titelleslleida.com) 9 a 13 de Maio Trapezi. Feira Internacional do Circo Reus (Tarragona - Catalunha) (consultar www.trapezi.org) Os festivais e eventos de malabarismo por esse mundo fora são tantos que o melhor é consultar http://www.jugglingdb.com “Ensinem-me a viver em liberdade” Por João Duval milenar o circo milenar a consciência A não perder... 27 Março Biblioteca a Arder de Espanto “Ouvir os Livros” Rui Torres - poesia digital 21h - Bartô 27 Março O Teatro vem ao Circo 22h - Tenda 24h - Música de DJ Até 2 de Abril Hamlet da Silva, Um dia mau como a m... Por PAP 5, encenação de Eduardo Condorcet 22h00 - Tenda Direcção Teresa Madeira Ricou Orlando Alves Garcia José Carlos Garcia João W. Ferro Menezes Albertine Frognier Santos Mesa da Assembleia Geral Ernesto da Costa Fernandes Maria Noémia Fernandes Helena Lapas Evans Conselho Fiscal Bento Manuel Grossinho Helena Quintanilla Gelpi Ana Lucas Quintela Ana Maria Pereira Coutinho Até 15 de Abril Na Casa da Dona Infortúnia Espectáculo infantil, pela Companhia do Chapitô Sáb 16h00 / Dom 11h00 Tenda Chapitando: Edição Helena Azevedo Noémia Fernandes Mário Cabeças Grafismo Pedro Bacelar Cursos Fim de Tarde Informações: 21 885 55 50 Expressão Dramática Interpretação Teatral Técnicas Circenses Malabarismo Capoeira Ateliers para crianças a partir dos 4 anos Circo e Teatro Capoeira Apoios: Edição IPJ Actividades Gerais I.A. / Ministério da Cultura ISS.IP - Segurança Social Escola Min. da Educação / Fundo Social Europeu Ilustração da Capa: a partir de pintura de Ana Duarte (3º O) Fonte para a recolha de imagens: Pierre Amiet et al, Bratislava, Taschen, 1994