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Faculdade de Teologia Avivamento Bíblico www.fatab.com.br DGCEC – Diretoria Geral de Educação e Cultura Cristã Estrada Sapopemba, 4289, Ribeirão Pires/SP, 09434-000 Diretor DGCEC Arlindo M. C. Júnior Elaboração Teologia Sistemática Elmer Mendes Barbosa Eliú de Sousa Ferreira Jean Carlos Ferreira Elaboração História e doutrinas da IEAB Cosme Ferreira Secretário De Publicações: Luís Pedro Scarpelini Secretário de Educação Teológica: Levi Camargo Secretário de Finanças: Jair Batista Barbosa Secretário de Comunicações: Elmer Mendes Barbosa Produção Publicações Avivamento Fone (11) 4824 7113 [email protected] www.livrariavivamento.com.br Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem a permissão escrita dos autores, por quaisquer meios a não ser em citações breves, com indicação da fonte. A violação dos direitos dos autores (Lei n.9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do código penal. Apresentação Prezado (a) Aluno (a), A teologia sistemática é a disciplina com a maior carga horária de estudos deste curso. Durante esta aula estudaremos doutrina por doutrina da Bíblia, não com o propósito de dogmatizar a teologia, mas de argumentar, discursar e entender alguns pontos de argumentação teológica dentro de cada doutrina. Teologia é o estudo sobre o Ser de Deus. E Sistemático é o “ato ou efeito de sistematizar, organizar, reunir”. Estudando assunto por assunto pode-se chegar a melhores conclusões (Deus, Jesus Cristo, Espírito Santo, Igreja, Homem, Anjos ....). Enquanto estiver estudando a disciplina de Teologia Sistemática, esteja aberto às argumentações e discussões teológicas, pois isso o ajudará a entender melhor pensamentos teológicos de outros grupos ou pessoas que pensam diferente de você. Muitos estudantes se fecham em um sistema teológico e isso não é muito saudável, alguns dizem “sou arminiano”, “sou calvinista”, “sou wesleyano”, fazendo assim referência à teologia que estes homens escreveram (Jacob Armínio, João Calvino, John Wesley). Com certeza teremos muitos pontos teológicos de concordância com estes teólogos, mas também discordâncias. Já na disciplina História e Doutrinas da IEAB, a proposta é exatamente dogmática, por se tratar da história e de um conjunto de artigos de fé da Igreja Evangélica Avivamento Bíblico. Esta igreja que desde 1946 vem trabalhando em prol do reino de Deus, uma igreja pentecostal e modelo no trato com a Bíblia e na oração e evangelização nacional e mundial. Bom Estudo a todos e busquem sempre o aperfeiçoamento em obediência ao nosso Senhor Jesus Cristo. Elmer Mendes Barbosa Diretor da FATAB Conteúdo I. Ideia de Teologia.................................................................................................................................................. 7 1.1. II. Necessidade da Teologia .......................................................................................................................... 7 Bibliologia - Doutrina da Bíb lia. ............................................................................................................... 10 2.1. Concepção Histórica ............................................................................................................................... 10 2.2. Revelação .................................................................................................................................................. 10 2.3. Conceitos Errados Sobre a Revelação de Deus .................................................................................. 11 2.4. Inspiração das Escrituras ........................................................................................................................ 11 2.5. Canonicidade e Autenticidade............................................................................................................... 13 2.6. Os 39 Livros do Antigo Testamento .................................................................................................... 13 2.7. Os 27 Livros do Novo Testamento....................................................................................................... 14 2.8. Autoridade da Bíblia ............................................................................................................................... 15 III. Teontologia – Doutrina de Deus ................................................................................................................ 17 3.1. Concepções Históricas............................................................................................................................ 17 3.2. O Deus de Israel....................................................................................................................................... 17 3.3. Natureza de Deus..................................................................................................................................... 20 3.4. Caráter de Deus Revelado Através dos Nomes .................................................................................. 22 3.5. Relação de Deus com o Universo e sua Criação ................................................................................ 23 3.6. Vontade de Deus - Soberania ................................................................................................................ 25 IV. Doutrina da Trindade ................................................................................................................................... 26 4.1. Concepção Histórica ............................................................................................................................... 26 4.2. Indicação No Antigo Testamento ......................................................................................................... 27 4.3. Prova no Novo Testamento.................................................................................................................... 28 4.4. A Tripessoalidade da Natureza Div ina ................................................................................................ 29 Antropologia – Doutrina do Ho mem ........................................................................................................ 31 V. 5.1. Definição ................................................................................................................................................... 31 5.2. Concepções Históricas............................................................................................................................ 31 5.3. Origem do Ho mem – A Criação ........................................................................................................... 32 5.4. Tricoto mia ................................................................................................................................................. 32 5.5. Imagem e Semelhança de Deus............................................................................................................. 33 5.6. O Ho mem co mo ser Moral .................................................................................................................... 34 5.7. A Origem da Alma .................................................................................................................................. 35 5.8. Provação e Queda .................................................................................................................................... 36 5.9. Consequência da Queda ......................................................................................................................... 37 5.10. Efeitos do Pecado .................................................................................................................................... 39 VI. Hamart iologia – Doutrina do Pecado ........................................................................................................ 41 Introdução ................................................................................................................................................................ 41 6.1. Concepção Histórica ............................................................................................................................... 42 6.2. Fato e Origem do Pecado ....................................................................................................................... 43 6.3. Universalidade do Pecado ...................................................................................................................... 44 6.4. Natureza do Pecado................................................................................................................................. 45 6.5. VII. Consequência do Pecado ........................................................................................................................ 47 Angelologia – Doutrina dos Anjos ............................................................................................................ 49 Definição .................................................................................................................................................................. 49 7.1. Concepções Históricas............................................................................................................................ 49 7.2. Existência dos Anjos............................................................................................................................... 50 7.3. Natureza dos Anjos ................................................................................................................................. 51 7.4. Moral-Caráter dos Anjos ........................................................................................................................ 51 7.5. Atividades dos Anjos .............................................................................................................................. 52 7.6. Satanás....................................................................................................................................................... 52 a. Quem é Satanás?........................................................................................................................................... 52 b. Sua Origem .................................................................................................................................................... 53 c. Caráter ............................................................................................................................................................ 53 d. Sua Posição.................................................................................................................................................... 54 e. Atividades ...................................................................................................................................................... 54 f. Destino............................................................................................................................................................ 54 VIII. Cristologia...................................................................................................................................................... 56 8.1. Concepção Histórica da Doutrina ......................................................................................................... 56 8.2. As Duas Naturezas de Cristo ................................................................................................................. 57 8.3. A Hu manidade de Cristo ........................................................................................................................ 58 8.4. A Div indade de Cristo ............................................................................................................................ 59 8.5. O Caráter de Cristo.................................................................................................................................. 60 8.6. Os Estados de Cristo ............................................................................................................................... 60 Kenosis...................................................................................................................................................................... 61 Sua Exaltação .......................................................................................................................................................... 62 8.7. A obra de Cristo....................................................................................................................................... 63 Cristo, o Único Mediador. .................................................................................................................................... 63 8.8. O Tríp lice ofício de Cristo ..................................................................................................................... 64 Sacerdote.................................................................................................................................................................. 65 Rei.............................................................................................................................................................................. 65 ........................................................................................................................................................................................ 67 IX. Soteriologia .................................................................................................................................................... 68 Introdução..................................................................................................................................................................... 68 9.1. Concepção Histórica ............................................................................................................................... 68 9.2. A Exp iação ............................................................................................................................................... 69 9.3. A Justificação ........................................................................................................................................... 70 9.4. Regeneração ............................................................................................................................................. 70 9.5. Santificação .............................................................................................................................................. 71 9.6. Glorificação .............................................................................................................................................. 72 9.7. Arrependimento ....................................................................................................................................... 72 9.8. O Perdão.................................................................................................................................................... 73 9.9. A Graça ..................................................................................................................................................... 74 9.10. A Fé............................................................................................................................................................ 74 Paracletologia – Doutrina do Espírito Santo............................................................................................ 77 X. 10.1. Termos Usados......................................................................................................................................... 77 10.2. Pneuma ...................................................................................................................................................... 78 10.3. Paracleto .................................................................................................................................................... 78 10.4. Simbo logia Paracletológico ................................................................................................................... 79 10.5. A Pessoa do Espírito Santo .................................................................................................................... 81 10.6. Natureza do Espírito Santo .................................................................................................................... 82 10.7. Dispensação do Espírito Santo .............................................................................................................. 82 10.8. O Espírito Santo no Antigo Testamento.............................................................................................. 83 10.9. O Espírito Santo no Novo Testamento ................................................................................................ 83 10.10. O Espírito Santo na Igreja ................................................................................................................. 84 10.11. O Espírito Santo no Indivíduo .......................................................................................................... 84 10.12. Conversão – O Novo Nascimento.................................................................................................... 85 10.13. O Fruto do Espírito ............................................................................................................................. 85 10.14. Os Dons Espirituais ............................................................................................................................ 86 10.15. A Obra do Espírito.............................................................................................................................. 86 Eclesiologia – Doutrina da Ig reja .............................................................................................................. 86 XI. 11.1. Concepção Histórica ............................................................................................................................... 87 11.2. Origem....................................................................................................................................................... 89 11.3. Natureza da Igreja.................................................................................................................................... 89 11.4. Ordenanças: O Batis mo e a Ceia do Senhor ....................................................................................... 90 11.5. O Batis mo ................................................................................................................................................. 91 11.6. A Ceia ........................................................................................................................................................ 91 11.7. A Obra da Igreja ...................................................................................................................................... 92 11.8. Organização .............................................................................................................................................. 93 XII. Escatologia – Doutrina das Últimas Coisas ................................................................................................ 96 12.1. Concepções Históricas ................................................................................................................................. 96 12.2. Morte Física .................................................................................................................................................. 97 12.3. O Estado Intermediário ................................................................................................................................ 98 12.4. Sheol e Hades ................................................................................................................................................ 99 12.5. A Doutrina Patrística .................................................................................................................................. 101 12.6. A Doutrina Católica .................................................................................................................................. 101 12.7. Ressurreição................................................................................................................................................. 102 12.8. Segunda Vinda de Cristo ........................................................................................................................... 103 12.9. Ju ízo Final .................................................................................................................................................... 105 12.10. O Estado Final do Justo e do Injusto ..................................................................................................... 106 12.11. As Teorias do Advento ............................................................................................................................ 108 Pré-M ilen ista ......................................................................................................................................................... 108 Amilen ista .............................................................................................................................................................. 109 Milen ista................................................................................................................................................................. 109 Tribulacionista....................................................................................................................................................... 110 Pré-Tribulacionista ............................................................................................................................................... 110 Pós-Tribulacionista ............................................................................................................................................... 111 Miditribulacionista................................................................................................................................................ 111 Dispensacionalismo .............................................................................................................................................. 111 I. Ideia de Teologia. “A palavra “teologia” tem múltiplos significados. O uso linguístico hodierno entende sob o termo uma disciplina acadêmica, em todo caso um esforço humano para adquirir conhecimento.” (Pannenberg, 2009, p.25) O Dicionário teológico define: Teologia é o estudo ordenado e sistemático do Supremo Ser e de seu relacionamento com a humanidade. A teologia tem como base a revelação de Deus que se acha na Bíblia Sagrada, a revelação natural e a experiência religiosa. Em sua sistematização, utiliza-se da lógica e de outras metodologias para fins didáticos. ANDRADE, Claudionor Corrêa de. 2003, p.271. A proposta da teologia sistemática é estudar a Bíblia de forma organizada, doutrina por doutrina. Com objetivo de facilitar a compreensão e entender as doutrinas. Nesta disciplina não estudaremos dogmática, no sentido de representar o posicionamento de uma denominação ou igreja. A disciplina que estudará a declaração de fé (credo) será a próxima (História e Doutrinas do Avivamento Bíblico). 1.1. Necessidade da Teologia A teologia é necessária por ter sua fonte em Deus e na Bíblia. Sem estas fontes não existiria a teologia. A teologia faz-se presente quando lemos a Bíblia e a estudamos, quando oramos e exercitamos nossa fé em Deus e no seu grande poder. Repudiar a teologia é negar o conhecimento sobre Deus e sua palavra. A não aceitação da teologia enfraquece a fé cristã e exalta a imaturidade. O estudo da teologia ajuda o cristão a pensar de maneira inteligente e lógica ao mesmo tempo em que fortalece a fé e estrutura o crente a permanecer fiel em obediência a Deus. Resumo: Histórico da Teologia Por: Claudionor Correia de Andrade, Extraído do Dicionário Teológico, editora CPAD, ano 2003, 12ª edição, p. 19 -21. O Período Primitivo. Em consequências das perseguições deflagradas contra a igreja, os teólogos e doutores dos primeiros séculos mui pouco puderam fazer para erigir num sistema as verdades cristãs. Alguns deles como Tertuliano e Justino o mártir ocuparam-se em fazer a apologia dos cristãos ante as autoridades de Roma. Além de auxiliarem a Igreja a superar os traumas dos constantes martírios, tiveram de lutar contra o paganismo e as heresias. Mas nem por isso os deixaram de produzir obras de excelência. A primeira tentativa de se sistematizar a Doutrina Cristã foi empreendida por Orígenes (185 – 254) em seus Princípios Introdutórios. Depois, veio Agostinho (354 – 430). Embora suas obras não constituam um sistema rigoroso, são um edifício devocional de tal monta que, passados todos esses séculos, ainda nos alimentam a alma. O sistema mais completo do período foi erigido por João Damasceno (700 – 760). O seu Sumário de Fé Ortodoxa é considerado a primeira Teologia Sistemática propriamente dita. Damasceno é o maior teólogo da Igreja Católica Grega. Idade Média. Passar-se-iam mais sete séculos até que a doutrina cristã começasse a ser devidamente sistematizada. A tarefa prosseguiria com os escolásticos. Utilizando-se dos princípios cultivado por Aristóteles, foram erguendo com paciente meticulosidade o edifício da Dogmática Cristã. Destacam-se neste período os nomes de Anselmo, Abelardo, Pedro Lombardo e Tomás de Aquino. Em seus Quatro Livros, Pedro Lombardo cita metódica e persistentemente os escritos de Agostinho e de outros grandes teólogos. A obra foi usada como livro texto por mais de 500 anos. Mais foi com Tomás de Aquino que a Teologia Escolástica alcançou o apogeu. A Suma Teológica, um dos maiores monumentos da Doutrina Cristã, seria adotada como o pensamento oficial da Igreja Católica. Morto embora aos 50 anos, Aquino deixou uma obra inigualável tanto no campo da teologia quanto no da filosofia. Período da Reforma. Marcada por controvérsias e grandes disputas, esta época viu surgir dois grandes sistemas teológicos. Se os católicos optarem pela Suma Teológica de Aquino, os protestantes resolveram adotar o credo de Nicéia e a doutrina de Agostinho referente ao pecado e a graça. Rejeitando a autoridade das tradições, elegeram a Bíblia como a sua única regra de fé e conduta. Um dos maiores teólogos do período foi Filipe Melanchton. Sua Loci Communes, publicada em 1521, teve tanto sucesso que, ainda no período de vida do autor, alcançaria ela oitenta edições. A obra, porém que mais se destacou foram as Institutas da Religião Cristã de João Calvino. Publicada em 1536, é essencialmente trinitariana e procura ressaltar a soberania de Deus. É um dos livros de maior influência da história da igreja Cristã. Entre os católicos, os teólogos de maior relevância foi Belarmino (1542 – 1521). Notável escritor e consumado artista da palavra, obras de inigualável valor tanto doutrinário quanto estilístico. Período Confessional. Este período que abrange os séculos XVII e XVIII marca o aparecimento de grandes sistemas teológicos e admiráveis dogmáticas. Os escolásticos protestantes, seguindo os católicos medievos, empenharam-se ao máximo em apresentar um completo ordenamento das doutrinas da reforma protestante a fim de que a igreja se mantivesse imune às influências romanistas. Não obstante, faltou muito pouco para que os herdeiros espirituais de Lutero não substituíssem a Bíblia por tradições meramente humanas. Corria-se o risco de se considerar os credos e artigos de fé luteranos e calvinistas como superiores à Palavra de Deus. Período Moderno. As teologias Sistemáticas, como hoje as conhecemos, começaram a surgir a partir de 1800. Elas são produzidas por várias escolas: a) Escola de Schleiermacher – enfatiza a consciência como fator predominante da fé cristã; b) Escola Racionalista – Coloca a ênfase sobre a razão; foi profundamente influenciada pelos alemães; c) Escola de Mediação – essencialmente evangélica, procurava adequar-se aos tempos modernos; d) Escola de Rischl – além de aceitar o Cristo Histórico, reconhecia a Bíblia apenas como um mero registro da revelação. A igreja metodista passou a elaborar suas doutrinas a partir dos escritos de John Wesley. Os calvinistas foram representados por Jonathan Edwards, Timóteo Dwight e Finney. Os batistas, por seu turno, teriam em Strong o seu mais ilustre representante. Aliás, sua Teologia Sistemática continua a ser a melhor já produzida. Entre os pentecostais, podemos destacar Myer Pearlman e Stanley Horton. Eles, aliás, vem sendo considerado um dos maiores pensadores cristãos da atualidade. II. Bibliologia - Doutrina da Bíblia. Bibliologia é o estudo sobre a Bíblia. Nesta doutrina estudaremos a inspiração e revelação das Escrituras Sagradas, a canonicidade e autenticidade e outros termos bíblicos e teológicos. 2.1. Concepção Histórica A Bíblia é um livro que surge a partir da revelação de Deus a humanidade. Após criar o homem e manter-se em contato com ele, Deus tornou-se conhecido e conservou uma relação pessoal com Adão e Eva. Com o pecado de desobediência, e a expulsão do Jardim do Éden, teve-se a necessidade de reconciliação entre Deus e o homem, pois o pecado torna o homem inimigo de Deus. A partir daí a Bíblia é escrita como relato histórico sobre o plano de Deus para salvar e reconciliar a humanidade perdida e pecadora. Dura-se aproximadamente 1.600 anos para a Bíblia ser escrita completamente e cerca de 40 escritores contribuem na elaboração do texto. 2.2. Revelação Quando dizemos que a Bíblia é a revelação de Deus, significa que nela temos o desvendar, a exposição de quem Deus é. Na Bíblia é onde Deus se torna conhecido. O termo revelação significa intrinsecamente a exposição daquilo que anteriormente era desconhecido. Na teologia judaico-cristã, o termo é usado primariamente para a comunicação da verdade divina de Deus para o homem, ou seja: a sua manifestação de si mesmo e de sua vontade. Os fatos essenciais da posição bíblica são que o Logos (Jesus Cristo) é o agente divino em toda revelação, sendo que esta revelação pode ser discriminada, como geral ou universal (i.e., a revelação na natureza, na história e na consciência) e especial ou particular (i.e., a revelação redentora transmitida por atos e palavras sobrenaturais). A revelação especial na história sagrada é coroada pela encarnação do verbo vivo e pelo registro da palavra falada nas Escrituras. [...] A revelação especial é revelação redentora. Publica as boas novas que o Deus santo e misericordioso promete a salvação como uma dádiva divina ao homem que não pode salvar-se a si mesmo (AT), e que Ele agora cumpriu aquela promessa mediante a dádiva do seu Filho, em que todos os homens são chamados a crer (NT). O Evangelho é a notícia de que o Logos encarnado carregou sobre si os pecados dos homens condenados, morreu em seu lugar e ressuscitou para a sua justificação. Este é o centro permanente da revelação especial redentora. ELWELL, Walter A. (editor), 2009. p. 299-300. 2.3. Conceitos Errados Sobre a Revelação de Deus O conceito herdado da filosofia de Platão que afirma ser possível o homem conceber a “ideia de eternidade” pela contemplação racional, sem a necessidade de uma Revelação Especial da parte de Deus, destrói o princípio bíblico que garante a iniciativa de Deus ao se revelar ao homem. O racionalismo (movimento do século XVIII) provocou o pensamento em prol do relativismo bíblico, tentando tirar o conceito absoluto da revelação. Com altas criticas ao texto Sagrado, especulou e questionou o fato da Bíblia ser uma Revelação Especial, tentando excluir os milagres e as narrativas sobrenaturais do texto bíblico. O conceito místico de revelação talvez seja o pior dos males da atualidade. Pessoas que dizem receber uma revelação da parte de Deus colocam suas experiências em “pé de igualdade” com a Bíblia, alguns vão até além da Bíblia. Dizem que Deus o revelou, mas não tem nada nas Escrituras. Este tipo de revelação não deve ser aceito. 2.4. Inspiração das Escrituras Literalmente a palavra inspiração está relacionada a expiração. Para vivermos, inspiramos e expiramos o ar. Então quando dizemos que a Bíblia foi inspirada por Deus, pode significar que ela foi “soprada por Deus”, falada por Deus, ou seja, não provém do homem, mas do próprio Deus para o homem. Esta doutrina da inspiração é ensinada em 2 Tm 3. 15- 17. Ali Deus diz que sua palavra foi “soprada” (inspirada). Essa é uma maneira muito impressionante de dizer que a Escritura é a palavra do Espírito de Deus ( “sopro” e “Espírito” são as mesmas palavras no grego), é que a Escritura é, portanto, o discurso da boca do próprio Deus. Porque a Escritura é o sopro de Deus, ela deve ser perfeita e sem erro. Falar contra a Escritura é falar contra o próprio Deus. Quando lemos a Bíblia, ouvimos a doce voz e sentimos o agradável sopro daquele cujos lábios são como “lírios que gotejam mirra preciosa” (Ct 5.13) Quem, então, ousaria ser um critico? HANKO, Ronaldo, Tradução Felipe Sabino de Araújo Neto. monergismo.com O Escritor Myer Pearlman em seu livro, conhecendo as doutrinas da Bíblia (p.21 – 24) afirma que a inspiração das Escrituras é: 1. Divina e não apenas humana. 2. Única e não comum. 3. Viva e não mecânica. 4. Completa e não somente parcial. 5. Verbal e não meramente de conceitos. Sendo assim, a Bíblia não é um livro humano no sentido de conter ideias, pensamentos e filosofias de homens, mas tem um caráter sobrenatural e único. Não é um livro comum de poesias, de músicas ou inspirações deste gênero. Trata-se de um texto sagrado, e nenhum outro escrito se compara a Bíblia. Inspiração não significa ditado. Deus, através do seu Espírito Santo, influenciou os escritores para que eles escrevessem o que Deus queria. Por isso, a Bíblia é a Palavra de Deus. Lembre-se que a ênfase não está em homens inspirados, mas sim na palavra inspirada. Deus não deixou a critérios dos homens o que devia ser escrito, mas antes, através do Espírito Santo, foi criterioso no que seria falado e escrito. 2.5. Canonicidade e Autenticidade Na teologia o estudo sobre a canonicidade e autenticidade da Bíblia refere-se ao conjunto de textos que formam a Bíblia. São 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo. O termo usado na padronização destes livros é “Cânon”, do grego “kanon” que literalmente significa “cana”, “vara usada para medir”, portanto, uma norma ou regra. Os 66 livros da Bíblia constitui uma norma (Cânon), não havendo possibilidade de alterar este número. No decorrer dos anos, algumas instituições tentaram acrescentar mais livros na Bíblia, é o caso da igreja católica romana, mas não foram aceitos pelos demais cristãos e até mesmo judeus (se tratando do Antigo Testamento), classificando assim estes livros de apócrifos ou “ocultos”, “não revelados”. 2.6. Os 39 Livros do Antigo Testamento A tradição oral conservada pelos Judeus, onde os pais transmitem aos filhos suas histórias e crenças, passou a ser escrita através de Moisés. A história da criação e dos patriarcas (Abraão, Isaque, Jacó e José) foi contada de geração a geração até chegar a Moisés, que não era o único que sabia sobre o gênesis, mas foi o que escreveu a história. Os livros seguintes que formam o Pentateuco (Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), é a história da libertação e alcance da terra prometida dada por Deus aos israelitas. Moisés deu início à tradição escrita e naturalmente a formação do Cânon bíblico. No reinado de Josias, muitos anos depois de Moisés, quando o povo de Israel viviam sucessões de reinados oscilando entre reis tementes a Deus e reis iníquos, foram encontrados os livros da lei, provavelmente todo Pentateuco: Então disse o sumo sacerdote Hilquias ao escrivão Safã: Achei o livro da lei na Casa do Senhor. Hilquias entregou o livro a Safã, e este o leu. Então o escrivão Safã veio ter com o rei e lhe deu o relatório, [...] Tendo o rei ouvido às palavras do Livro, rasgou suas vestes. 2 Reis 22. 8ss. Estes livros (os cinco primeiros) já eram aceitos por toda comunidade judaica. Os demais livros provavelmente foram reunidos por Esdras e Neemias, que saíram do cativeiro e conduziram o povo na reconstrução do templo e de Jerusalém. Na qualidade de escriba1 e sacerdote, Esdras propôs “buscar a Lei do Senhor, e para cumprir, e para ensinar em Israel os seus estatutos e seus juízos” (Es 7.10). Esdras e Neemias concluíram a reconstrução das muralhas de Jerusalém sob o domínio do rei Artaxerxes I, mesmo Período do profeta Malaquias. A partir daí, não teve em Israel uma sequência profética, e todos os livros que foram escritos até Malaquias, passaram a ser reunidos e lidos pelos israelitas. Já os escritos depois, não foram aceitos como “livros divinos”. Um dos historiadores mais reconhecidos entre os judeus, Flávio Josefo, afirma: (Sobre os apócrifos) Escreveu-se também tudo o que se passou desde Artaxerxes até os nossos dias, mas como não se teve, como antes, uma sequência de profetas não se lhes dá o mesmo crédito, que aos outros livros (canônicos), de que acabo de falar e pelos quais temos tal respeito, que ninguém jamais foi tão atrevido para tentar tirar ou acrescentar, ou mesmo modificar-lhes a mínima coisa. Nós os consideramos como divinos. JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus, p.216. 2.7. Os 27 Livros do Novo Testamento O Cânon do Novo Testamento não foi baseado em uma sequência profética, mas sim apostólica. Cerca de 350 anos foi necessário para organização do cânon. O Século I foi o ápice da revelação de Deus aos homens, pelo fato da vida, morte e ressurreição de Cristo. A partir daí surge à igreja (inaugurada no dia de pentecostes), e os livros vão ser escritos baseados nestes relatos e nos ensinamentos de Jesus. O mais certo é que não tenha sido a igreja que selecionou os livros, mas através do próprio Espírito Santo, estes livros testificaram a verdade de Deus para a igreja. O testemunho interno da igreja ajudou a reunir esta lista de 27 livros. Os líderes da igreja nos séculos II e III (apologistas e pais da igreja) entenderam que estes livros eram a continuidade natural do Antigo Testamento. Atanásio, bispo da 1 Doutor na lei, especialista na escrita e na explicação da lei. cidade de Alexandria, em 367 d.C. fez uma lista dos livros mais lidos e aceitos como verdadeiros e cristãos. Esta lista é exatamente a que temos hoje, os 27 livros do Novo Testamento. Os critérios que as igrejas tinham para ler estes livros eram: 1) originalidade dos textos. Isso significa que a igreja se preocupou em ler livros que os apóstolos escreveram, ou de verdadeiros discípulos de Cristo, como foi o caso de Lucas e Marcos que não eram apóstolos, mas andavam com os apóstolos e foram testemunhas oculares da vida e do ministério de Jesus. 2) Também é importante ressaltar que não é só a pessoa que escreve, mas o que ela escreve. Tem fundamento com a fé cristã? O que esta pessoa fala, escreve e vive está baseado no modelo de Cristo? 3) Todas igrejas aceitaram o livro e leem para edificação, exortação, correção e prática de vida? Todas estas questões foram direcionadas pelo Espírito Santo e fizeram com que a igreja aceitasse o cânon, e assim surge o Novo Testamento. 2.8. Autoridade da Bíblia A Bíblia é a palavra de Deus. Não contém erros e não muda. Por esses motivos Ela é autoridade sobre a vida do cristão. Isso significa dizer que a Bíblia constitui nossa regra de fé e de prática. Outra razão ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como a palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes. 1 Ts 2. 13. Bibliografia Capítulos 1 e 2: BARBOSA, Elmer Mendes. Bíblia, Deus e Trindade, Publicações Avivamento, 2012, 89p. PANENNBERG, Wolfhart. Teologia Sistemática, Editora Academia Cristã, 2009, 604p. PACKER, J.I., O Conhecimento de Deus, Editora Mundo Cristão, 2ª edição 2005, 264p. ANDRADE, Claudionor Correia de. Dicionário Teológico, CPAD, 416p. BANCROFT, E.H. Teologia Elementar. 5ª edição. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1986. 378p. BERKHOF, Louis. A História das Doutrinas Cristãs. 1’ª edição. São Paulo: Editora PES, 1937. 720p. ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. 1ª edição. São Paulo: Vida Nova, 1997. 540p. GEISLER, Norman. Enciclopédia de Apologética. 2ª edição. São Paulo: Editora Vida, 2002. 932p. PEARLMAN, Myer. Conhecendo a doutrina da Bíblia. 30ª impressão. Rio de Janeiro: Editora Dois Irmãos, 2002. 260p. STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Volume I. 1ª edição. São Paulo: Editora Hagnos, 2003. 880p. III.Teontologia – Doutrina de Deus A doutrina ou ensino sobre Deus é o mais importante ensino que temos. Deus é um ser pessoal, porém, por mais que tentamos definir quem é Deus, mais nos falta palavras. A teontologia não busca defini-lo, antes, conhecê-lo melhor pela revelação das Escrituras. Deus não é um objeto que o homem possa manipular pelos meios de sua própria razão; Ele é um mistério que permanece nas profundezas da luz inacessível. Nós não temos o direito de comparar Deus com alguma coisa conhecida por nós. Ele é incomparável e, bem dizer, não pode ser definido. Emil Brunner, 2005, p.207. 3.1. Concepções Históricas Dos primórdios a atualidade o ser humano discursa sobre a divindade, buscando respostas e conceitos que satisfazem suas inquietações. A narração bíblica sobre a criação ressalta o fato de Deus manter uma relação diária com Adão e Eva no jardim do Éden. Mas depois da queda (pecado), esta relação foi dificultada pelo pecado, pois este passou a ser um fator determinante na separação do homem para com Deus. Longe de Deus, por sua própria condição, a humanidade conheceria a Deus com limitações. Mesmo com estas limitações, a revelação de Deus foi progressiva, alcançando seu auge em Cristo. 3.2. O Deus de Israel Povos antigos e vizinhos a Israel em sua maioria, eram politeístas, o que diferenciava dos israelitas em sua crença em um único Deus. Disse mais: Eu Sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. Moisés escondeu o rosto porque temeu olhar para Deus. (Ex 3.6). Verdadeiramente, tu és Deus misterioso, ó Deus de Israel, ó Salvador. Envergonhar-se-ão e serão confundidos todos eles; cairão, a uma, em ignomínia os que fabricam ídolos (Is 45. 15-16). Porque assim diz o Senhor, que criou os céus, o Deus que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o Senhor, e não há outro. (Is 45 . 18) Para os israelitas, a revelação maior de Deus acontece em Êxodo 3, quando Moisés é chamado para ser o libertador de Israel. Moisés fala: “Eis que quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vos outros; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes direi?”. Disse Deus a Moisés: Eu Sou o Que Sou. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós outros. Eu Sou Que Sou é o nome pessoal de Deus. O tetragrama hebraico YWHW (IAVÉ) corresponde às primeiras letras do nome pessoal de Deus. Ele é um Deus supremo, criador de todas as coisas, único, legislador, Senhor e Soberano. Provas da Existência de Deus / Teologia Natural Extraído de: BARBOSA, Elmer Mendes. Bíblia, Deus e Trindade. Um Estudo Teológico e Sistemático, Publicações Avivamento, 2012, 89p. O século XIII pode ser considerado o período de ascensão da teologia natural, que na figura do seu proponente Tomás de Aquino, escreveu as cinco vias (ou cinco caminhos) que provam a existência de Deus. Segue um resumo: 1ª via – Motor imóvel: Tenta explicar o movimento no universo criado. Questiona se alguém conseguiria se mover sozinho, pois tudo que movimenta tem uma força motora. 2ª via – Causa Primeira: Mas se tudo que foi criado (motor imóvel) precisa de uma força motora que o impulsiona ao movimento, deve existir algo que não foi criado e deu início ao universo em movimento. 3ª via – Ser Necessário: Aqui entra a questão do “ser ou não ser” 2 . Tomás chama estes “seres” de contingente3 (que é incerto ou pode acontecer por acaso). Os seres contingentes na filosofia da religião de Tomás de Aquino estão mais bem definidos não no sentido do acaso, mas sim no sentido de aparecer, durar um pouco, e desaparecer (o ciclo natural da vida). Ao mesmo tempo ele argumenta sobre o ser necessário, entendendo que os seres contingentes dependem de um ser que os sustente, este é o ser necessário. 4ª via – O Ser perfeito e a causa da perfeição: Observando a criação nota-se graus de perfeição. Alguns são mais do que os outros. Existe uma hierarquia entre os seres criados, logo deve existir algum maioral que representa a perfeição máxima. 5 ª via – Inteligência ordenadora ou governo supremo: Esta via fala sobre a intenção por trás da vida de cada ser. Todos são úteis e tem uma função no universo. Um simples ato de observação indica a ordem das coisas no universo. Por trás desta ordem deve haver uma inteligência, um governo ordenador de tudo isso. Outros pensadores argumentaram em prol da existência de Deus. Immanuel Kant escreveu o argumento antropológico (ou moral) entendendo que todas as pessoas possuem a consciência ou impulso moral. Isto significa que todos tem a noção do que é certo e errado e estão sujeitos à punição ou recompensa pelas escolhas feitas. De onde vem esta consciência? Kant afirmou que a fonte disto é Deus. Anselmo de Cantuária por sua vez defendeu o argumento ontológico. As duas formas deste argumento estão na explicação da premissa maior e menor. A maior é exemplificada na ideia que todo ser humano tem do infinito e do perfeito. A premissa menor é a afirmativa de que a existência é uma parte da perfeição, concluindo então que Deus é esta ideia que o ser humano tem sobre o infinito e a perfeição, e que toda existência é parte de Deus. 2 “Ser ou não ser eis a questão” não é uma frase de Tomás de Aquino. Esta expressão foi usada na peça teatral. A tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca. Peça de Shakespeare. 3 Diz-se das coisas e dos acontecimentos que não têm em si a sua razão de ser, pois se concebem como podendo ser ou não ser. Segundo Spinoza, situação ou circunstância que parece eventual por não se ter, pela limitação do conhecimento, explicação ou compreensão de s ua causa. Na lógica diz-se de uma expressão verbal ou simbólica cuja verdade ou falsidade só pode ser conhecida pela experiência (verdade contingente). Extraído de Dicionário Digital AULETE. 3.3. Natureza de Deus Deus é o início e o fim de todas as coisas. Uma fonte eterna, até mesmo daquilo que é temporal. Falar sobre sua natureza é falar sobre esta essência de Deus, seus atributos, suas obras e de sua existência. Por isso dentro deste tema “Natureza de Deus”, vamos relacionar seus atributos, que são características distintas e incluídas na revelação de Deus através da Bíblia. A Simplicidade e A Vida de Deus Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo. João 5.26. Deus não teve início nem terá fim. Ele tem a vida em Si mesmo. Não foi criado, antes criou todas as coisas. Deus não é constituído por partes, Ele é um ser único, não há multiplicidade em Si. Tg 1. 17. Um Ser que por natureza não é composto não pode ser descomposto. Quem não tem partes não pode ser dividido. Logo, Deus tem simplicidade absoluta sem a possibilidade de ser dividido. É literalmente indivisível. [...] Pois se Deus pudesse ser dividido, poderia mudar. Mas Deus é imutável por natureza. Então não pode ser dividido. Ele também é absolutamente simples na sua natureza. GEISLER, Norman, 2002, p.264. Imutabilidade de Deus Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sobra de mudança. Tg 1.17 -- Deus não é homem para que minta; nem filho do homem para que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não cumprirá? Nm 23.19. “Deus é o mesmo perpetuamente, não está sujeito a mudança alguma do seu Ser, atributos ou determinações” (Arthur W, Pink). Isso significa que Deus não amadurece, muda de opinião, tem ou teve “melhoras” no correr do tempo. Deus Muda; Uma Compreensão Equivocada. Texto Extraído do Estudo “O Deus Imutável”. Autor: Sebastião Paz de Carvalho, ano 2011. Há textos bíblicos que falam sobre “Deus se arrependeu” (Gn 6.6; 1 Sm 15.11; 2 Sm 24.16; Jl 2.13; Jn 3.10). Como se concilia isto com sua imutabilidade? Primeiro, precisamos entender que se trata de antropomorfismo, isto é, uso de linguagem humana para descrever atitudes divinas. Segundo, o arrependimento dos homens é por causa do pecado e implica mudança de mente e propósito, mas com Deus, tal não pode ser, pois Ele não peca, e consequentemente não implica mudanças de pensamento nem vontade. O arrependimento para Deus indica mudança na manifestação e atividade, e esta mudança está sempre em harmonia com o seu caráter e propósito imutável. Terceiro, a referência em cada caso é sobre a anulação do tratamento dispensado a certos homens, como consequência deles a estes tratamentos. Não há mudança alguma em Seu propósito eterno quando Ele começa a agir em relação a uma pessoa de maneira diferente. Uma vez que a situação mudou, a intenção divina é outra para a nova situação (Jo 3.10). Casos de “Arrependimento de Deus” devem ser vistos com expressão de descontentamento divino diante do pecado humano. Deus é ao mesmo tempo infinitivo e pessoal. Por ser um Deus pessoal Ele se relaciona com o homem e sente emoções. Deus se alegra (Is 62.5); se entristece (Sl 78.40; Ef 4.30); se enfurece (Ex 32.10). A Eternidade de Deus Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da terra, nem se cansa nem se fatiga? Is. 40.28. --- E que agora se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandato do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações. Rm 16.26 Deus não é temporal. Não teve início nem terá fim (mas é o início e o fim de todas as coisas). Não está preso ao passado, presente ou futuro. Ligado à eternidade está a imensidade de Deus (Onipresença). Ele não tem extensão limitada. O ser de Deus está além do que imaginamos e pensamos sobre o tempo e o espaço. O Conhecimento de Deus Senhor tu me sondas e me conheces [...] Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim... Sl 139. Deus é onisciente, tem conhecimento absoluto de todas as coisas. Aquilo que é novidade para o homem, não é para Deus. Ele retém o conhecimento e a sabedoria de todas as ciências e faculdades existentes. No que diz respeito à criação, Deus conhece idealmente todas as criaturas e conhece todas as possibilidades. O Deus Onipotente Deus é chamado de onipotente em primeiro lugar porque seu poder não tem limites, sendo, portanto, ilimitado, infinito como sua onipresença e sua duração eterna. Assim confessa Jó: “Eu me convenci de que tudo podes; nada do que te propões te é impossível” (Jó 42.2). Prova de tal onipotência é a criação do mundo (cf. Rm 1.20) em sua variedade, não somente para Jó. PANNENBERG, Wolfhart, 2009, p.559. Deus é capaz de fazer tudo, isso não quer dizer que Ele vá fazer tudo. Este é um dos atributos incomunicáveis de Deus. Somente Ele é onipotente. Jesus disse que a Ele foi lhe dado todo poder (Mt 28.18); Salmo 91. 1 fala tanto do altíssimo quanto do onipotente; Ezequiel 10.15 reconhece Deus como todo-poderoso e Rute 1.21 também faz menção. 3.4. Caráter de Deus Revelado Através dos Nomes No Antigo Testamento os vários títulos e nomes dados a Deus tem sua maior descrição nos nomes Yahweh (Iavé, Jeová) e Eloim. Como já vimos anteriormente, IAVÉ é um tetragama referente as inicias do nome pessoal de Deus – Eu Sou o Que Sou (ESQS). Na maioria dos casos Iavé é o “Eu Sou” ou o “Grande Eu Sou”, relacionado a sua autoexistência e por Ele ser tanto o início e o fim de todas as coisas. Já o nome Eloim refere-se a sua supremacia: Senhor dos Senhores. A tradução literal deste nome sugere um plural: el (Deus) ; loim (deus). No caso de Deus, este nome revela sua soberania. O novo dicionário da Bíblia4 , da editora vida nova, apresenta alguns outros nomes relacionados ao caráter de Deus, segue abaixo: Jeová – Nissi: O Senhor é a Minha Bandeira. Êxodo 17.15 Jeová-Shalom: O Senhor é Paz. Juízes 6.24. Jeová – Tsidkenu: O Senhor Nossa Justiça. Jeremias 23.6. Jeová Shammah: O Senhor está ali. Ezequiel 48.35 O Senhor dos Exércitos: 1 Samuel 1.3. 3.5. Relação de Deus com o Universo e sua Criação Existem muitas concepções diferentes no que diz respeito à relação de Deus com o universo. Vejamos quais sãos as principais. Deus é Tanto o Criador, Quanto o Sustentador do Universo. A maioria dos cristãos acredita nesta afirmativa. Pela ordem (palavra) de Deus todas as coisas passaram a existir. A criação foi realizada em seis dias, e o sétimo dia de descanso é também uma criação de Deus e prova de sua atuação. Após criar, Ele continua sustentando todas as coisas, razão inclusive de ainda existir toda criação. Este ponto de vista é defendido pelo Teísmo, que crê na existência de um único Deus, criador e atuante, que não envelhece, não ficou preso na história ou no passado, que continua intervindo na criação. Base Bíblica: Ne 9.6; Sl 36.6 e Hb. 1.3. 4 DOUGLAS, J. D. (editor) O Novo Dicionário da Bíblia, Editora Vida Nova, 1981, p.411. Deus Criou e Deixou ao Acaso. Há uma crença de que Deus existe, criou todas as coisas, mas não se “intromete” mais na sua criação, deixando assim ao acaso. Não está relacionado ao Ateísmo, pois os que se designam “ateus” defendem uma ideia de que Deus não Existe, logo nada criou. Quando se pensa em um Deus criador que deixou sua criação ao acaso, está mais relacionado aos problemas e situações deste mundo, e na argumentação de que se Deus ainda estivesse agindo as coisas não estariam como estão. O que não se leva em consideração neste tipo de argumentação, é que Deus deu liberdade ao homem, e com base neste livre arbítrio a humanidade caminha em caminhos tortuosos, mas um dia todos irão prestar contas a Deus. Pv 16. 1-3; Pv 19.3; Jr 29. 11- 12. Deus é a Própria Criação O grupo que acredita nesta afirmativa (Deus é a própria criação) é conhecido como “panteístas”. O panteísmo crê que o universo, a natureza e Deus são tudo o mesmo. Na Índia, por exemplo, acredita-se na divindade manifesta em ratos, vacas, baratas e etc... O sol é deus, a lua, as árvores, a formiga e tudo que existe emana Deus. Os princípios bíblicos de criação de todas as coisas realizadas por um único Deus não é reconhecido. Deus Está Separado do Universo Por fim, os agnósticos acreditam que o ser humano nunca será capaz de desvendar qualquer segredo da criação do universo e existência de todas as coisas. Deus é um ser muito complexo, e a razão humana não tem condições de afirmar nada sobre Ele. O Agnosticismo, literalmente o “não conhecimento”, não é ateu, pois afirma a existência de Deus, só não crê que seja possível conhecê-lo, pois Ele está separado do universo pela sua própria complexidade. O que eles não levam em consideração são os princípios bíblicos de um Deus pessoal e que se auto revelou nas Escrituras. 3.6. Vontade de Deus - Soberania A Bíblia confirma a soberania de Deus de muitos modos. Assim como os soberanos terrenos controlam seus domínios, também o Rei celestial está no controle de sua criação. A visão que Isaías teve de Deus foi à de um Rei celestial cujas abas das vestes enchiam o templo (Is 6). Iavé é chamado o “grande rei” (Sl 48.2). Seu reino é eterno porque “reina soberano para sempre” (Sl 29.10). E ele é rei sobre toda terra, porque “o Senhor é rei para todo sempre, da sua terra desapareceram os outros povos” (Sl 10.16). Ele também é o rei todo-poderoso: “Quem é o rei da glória? O Senhor forte e valente, o Senhor valente nas guerras” (Sl 24.8). Dessa forma, Deus governa sobre tudo: “Teus, ó Senhor, são a grandeza, o poder, a glória, a majestade e o esplendor, pois tudo o que há nos céus e na terra é teu. Teu, ó Senhor, é o reino; tu estás acima de tudo. A riqueza e a honra vêm de ti; tu dominas sobre as coisas” (1 Cr 29. 11,12). GEISLER, Norman. 2005, p.16. Bibliografia Capítulo 3 BARBOSA, Elmer Mendes. Bíblia, Deus e Trindade, Publicações Avivamento, 2012, 89p. PANENNBERG, Wolfhart. Teologia Sistemática, Editora Academia Cristã, 2009, 604p. PACKER, J.I., O Conhecimento de Deus, Editora Mundo Cristão, 2ª edição 2005, 264p. ANDRADE, Claudionor Correia de. Dicionário Teológico, CPAD, 416p. BANCROFT, E.H. Teologia Elementar. 5ª edição. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1986. 378p. BERKHOF, Louis. A História das Doutrinas Cristãs. 1’ª edição. São Paulo: Editora PES, 1937. 720p. ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. 1ª edição. São Paulo: Vida Nova, 1997. 540p. GEISLER, Norman. Enciclopédia de Apologética. 2ª edição. São Paulo: Editora Vida, 2002. 932p. PEARLMAN, Myer. Conhecendo a doutrina da Bíblia. 30ª impressão. Rio de Janeiro: Editora Dois Irmãos, 2002. 260p. STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Volume I. 1ª edição. São Paulo: Editora Hagnos, 2003. 880p. DOUGLAS, J.D. (editor). O Novo Discionário da Bíblia, Edições Vida Nova, Volumes 1,2 e 3, 1981, 1682p. FERREIRA, Julio Andrade (org). Antologia Teológica, Fonte Editorial, 2005, 797p. IV. Doutrina da Trindade 4.1. Concepção Histórica Os conhecidos como sendo os Pais da Igreja, não tinham ideias claras sobre a Trindade. Por muito tempo buscaram entender melhor essa doutrina. É sabido que alguns arquitetavam o Logos como razão impessoal, que se tornara pessoal quando da criação; outros, porém, “reputavam-nO pessoal e co-eterno com o Pai, participante da essência divina, embora Lhe atribuíssem certa subordinação ao Pai.” (BERKHOF, 1992, p.77) A terceira pessoa da Trindade, o Espírito Santo, porém, não menos em nada do que a primeira e a segunda pessoa, o Pai e o Filho, não ocupava lugar de muita importância nas discussões dos Pais da Igreja. Alguns criaram a doutrina da subordinação, ou seja, afirmavam que o Espírito Santo estava subordinado, não somente ao Pai, mas também ao Filho. Tais complicações se dão, primeiramente, pela falta de clareza de Tertuliano, pois o mesmo não exprimiu com nitidez tal doutrina. É verdade, que o termo “Trindade” não é encontrado na Bíblia, contudo, o conceito da Trindade “é algo que se faz necessário pelo aspecto ‘total’ da divindade, segundo esta é exposta nas páginas do N. T.” (CHAMPLIN, 2002, volume 6, p.497) Evidentemente, o vocábulo foi usado pela primeira vez por Tertuliano, na última década do século II d.C, todavia, até a grande controvérsia ariana, não encontrou lugar na teologia formal da Igreja. O termo significa simplesmente “triunidade”. Contudo, Deus não é uma unidade simples; há pluralidade na sua unidade. Eis ai um dos grandes mistérios da fé cristã, Trindade! “Ao contrário da antinomia [...] ou paradoxo, que é contradição lógica [...] a Trindade vai além da razão, mas não contra a razão. É conhecida apenas pela revelação divina, portanto não é assunto da Teologia Natural, mas da revelação.” (GEISLER, enciclopédia, 2002, p.834) Essa doutrina se torna crucial para o cristianismo, pois ela se ocupa em definir quem é Deus, como Ele é, como trabalha e a forma pela qual se tem acesso a Ele. A deidade de Cristo está muito ligada com o conceito de Trindade. Logo, a “posição que adotamos em relação à Trindade exerce profunda influência em nossa cristologia.” (ERICKSON, 2007, p.128) Bancroft falando sobre o assunto expõe algumas ilustrações usadas por algumas pessoas, com o intuito de definir, ou melhor, explicar a Trindade. Diz ele: “Um cético pusera em dúvida a possibilidade da existência da Trindade. ‘Diga-me como queima uma vela’, perguntou um crente. ‘A estearina, o pavio e o ar atmosférico produzem a luz’, respondeu o cético. ‘Mas compõem uma só luz, não é assim? ‘É verdade’, foi a resposta do homem, agora convencido.’ – New Testament Anecdotes.” (BANCROFT, 1986, p.46-47). Outras ilustrações são citadas por ele, todavia, o mesmo afirma que tais analogias mostram a possibilidade da Trindade, mas, são analogias imperfeitas da Divindade. As analogias trazem distinções impessoais, enquanto que na Divindade tais distinções são pessoais. “A Trindade de Deus não conhece analogias perfeitas, pois está muito acima da compreensão finita e da razão humana para ser entendida. Muitas analogias têm sido exemplificadas que, embora falhem em algum ponto particular, ajudam-nos a compreender a trindade na unidade.” (BANCROFT, 1986, p.47) Na qualidade de criaturas que somos (limitados), conseguimos algumas ideias da unidade que deve ser encontrada em Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo; mas nós, enquanto criaturas, não nos tornamos capazes de compreender a unidade que pode incluir um ato tal como o da encarnação. “Ou, colocando de outra maneira, a unidade de Deus em diversidade tanto nos excede que nós nem mesmo temos uma imagem do mais importante aspecto da unidade, a saber, a unidade que inclui a capacidade de tornar-se encarnado.” (ALLEN & SPRINGSTED, 2011, p.127) 4.2. Indicação No Antigo Testamento O Antigo Testamento não ensina de uma maneira clara sobre a Trindade, todavia é possível perceber em suas páginas essa doutrina. Israel vivia em um mundo onde cultuar vários deuses era comum, tornava-se necessário então, enfatizar a verdade de que Deus é Um, e de que não havia outro além dele. (PEARLMAN, 2002) O conceito teológico da Trindade não põe em perigo a unicidade divina. O Antigo Testamento se preocupa em mostrar tal unidade. A doutrina da Trindade no Antigo Testamento está de uma forma embrionária, assim como muitas doutrinas no Novo Testamento, dependendo apenas da revelação de Deus em Cristo para desenvolver-se. “O uso de nomes plurais para designar a divindade sempre foi considerado como prefiguração da Trindade. No princípio criou Deus (Eloim, ou os deuses) os céus e a terra (Gên. 1:1). Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança (Gên. 1:26). Então disse Deus: Eis que o homem se tornou como um de nós (Gên. 3:22).” (CULBERTSON, 1990, p.131). Sempre que um hebreu pronunciava o nome de Deus (Elohim) ele estava realmente dizendo “Deuses”, pois a palavra é plural, portanto ai se vê, não de uma maneira explicita a doutrina da Trindade no Antigo Testamento. “O plural, Eloim, não é sobrevivência de um estágio politeísta, mas expressa a natureza divina na multiplicidade de Suas plenitudes e perfeições, e não na unidade abstrata de Seu ser” (BANCROFT, 1986, p.43) “Todos os membros da Trindade são mencionados no Antigo Testamento: (1) O Pai. (Isa. 63:16; Mal. 2:10) (2) O Filho de Jeová. (Sal. 45:6, 7; 2:6, 7, 12; Prov. 30:4) O Messias é descrito com títulos divinos. (Jr. 23:5, 6; Isa. 9:6.) Faz-se menção do misterioso Anjo de Jeová que leva o nome de Deus e tem poder tanto para perdoar como para reter os pecados. (Êxo. 23:20, 21.) (3) O Espírito Santo. (Gên. 1:2; Isa. 11:2, 3; 48:16; 61:1; 63:10.).” (PEARLMAN, 2002, p. 53) 4.3. Prova no Novo Testamento Diferente do Antigo Testamento, o Novo Testamento trata de uma maneira bem mais clara a doutrina da Trindade. Encontra-se, não insinuação, mas declarações ou demonstrações claras da Trindade. Muitos declaram não haver provas conclusivas para a Trindade no Antigo Testamento, todavia, “Dentro do Novo Testamento, campo de testemunho e investigação relativo à doutrina da Trindade é grandemente ampliado.” (CHAFER, 2003, p.319) Na comissão apostólica (Mt. 28:19,20) encontramos Jesus dando testemunho sobre a verdade da Trindade. “Ele nos apresenta aqui a fórmula batismal, assim providenciando para que a Igreja esteja constantemente lembrada da doutrina da Trindade.” (BANCROFT, 1986, p.45) Na bênção apostólica também está clara a Trindade (II Co 13:13), a oração ali é dirigida a Cristo em busca de sua graça; ao Pai, em busca de seu amor; e ao Espírito Santo, em busca de sua comunhão. “A pessoalidade e a divindade de cada um são, portanto, solenemente reconhecidas sempre que esta bênção é pronunciada e recebida.” (HODGE, 2001, p.337) No batismo de Jesus (Mt. 3:16,17), o Pai falou do céu, o Filho estava sendo batizado no Jordão, e o Espírito desceu em forma de pomba. No ensino de Jesus em João 14:16 está clara a doutrina da Trindade. “A Trindade foi ensinada por Jesus, pois Ele, tendo sido enviado pelo Seu Pai, agora prometia enviar o Espírito, na qualidade de Consolador [...] para tomar o Seu lugar; e para consolar, instruir e fortalecer àqueles que Jesus estava deixando.” (BANCROFT, 1986, p.46) O apóstolo Paulo ensina sobre a doutrina da Trindade, no tocante aos dons do Espírito em relação à igreja (ver. I Co 12:4-6). Atos 20:28: “Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho, pois o Espírito Santo os constituiu como guardiães, para apascentarem a Igreja de Deus, que ele adquiriu para si com o sangue do seu próprio Filho.” Portanto, é ensinado de uma maneira clara a doutrina da Trindade no Novo Testamento nas perícopes supra citadas. Essa doutrina tem sido mantida através dos séculos da era cristã. Conforme é evidenciado em seus credos e hinos. 4.4. A Tripessoalidade da Natureza Divina A Unidade de Deus não exclui a sua triplicidade, mesmo parecendo ser contraditório. Todavia, quando a igreja começou a estudar e a refletir sobre essa questão, chegou à conclusão de que Deus deve ser compreendido como três em um ou, em outras palavras, triúno. Entretanto, não se pode negar que existem três hipóstases 5 , ou seja, três pessoas distintas na Trindade. “Como a essência da Deidade é comum às várias pessoas, elas possuem inteligência, vontade e poder comuns. Não há em Deus três inteligências, três vontades e três eficiências. Os três são um só Deus, e, portanto, possuem uma só mente e vontade.” (HODGE, 2001, p.347) Strong, ao discorrer sobre o assunto da tripessoalidade, deixa bem claro que não é Triteísmo, pois conquanto haja três pessoas, há apenas uma essência. “O palavra ‘pessoa’ é apenas a expressão imperfeita e inadequada de um fato que transcende a nossa experiência e compreensão. Bunyan: ‘Minhas obscuras e nebulosas palavras apenas conservam a verdade, como armários que guardam o ouro.” (STRONG, volume I, 2003, p.491) 5 Filosoficamente refere-se à natureza de um corpo; aquilo que lhe define as qualidades materiais. O que existe por si mesmo. Ilustraremos no quadro abaixo a deidade das três Pessoas da Trindade a partir de alguns atributos: ATRIBUTOS O PAI O FILHO O ESPÍRITO Eternidade Sl 90.2 Jo 1.2; Ap 1.8,17; Hb 9.14 Onipotência 1 Pe 1.5 2 Co 12.9 Rm 15.19 Onisciência Jr 17.10 Ap. 2.23 1 Co 2.11 Onipresença Jr 23.24 Mt 18.20 Sl 139.7 Santidade Ap 15.4 At 3.14 At 5:3 Verdade Jo 7.28 Ap 3.7 1 Jo 5.6 Benevolência Rm 2.4 Ef 5.25 Ne 9.20 Bibliografia Capítulo 4 ALLEN, Diogenes & SPRINGSTED, Eric O. Filosofia para entender Teologia. 1ª edição. São Paulo: Paulus, 2010. 389p. BANCROFT, E.H. Teologia Elementar. 5ª edição. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1986. 378p. BERKHOF, Louis. A História das Doutrinas Cristãs. 1’ª edição. São Paulo: Editora PES, 1937. 720p. CHAFER, Lewis Sperry. Teologia Sistemática. Volume 2 e 3. 1ª edição. São Paulo: Hagnos, 2003. CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. 6ª edição. Volume 6. Editora Hagnos, São Paulo, 2002. 849p. CULBERTSON, Wily. Introdução à teologia cristã. 1ª edição. São Paulo: Casa Nazarena de publicações, 1990. 516p. ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. 1ª edição. São Paulo: Vida Nova, 1997. 540p. GEISLER, Norman. Enciclopédia de Apologética. 2ª edição. São Paulo: Editora Vida, 2002. 932p. PEARLMAN, Myer. Conhecendo a doutrina da Bíblia. 30ª impressão. Rio de Janeiro: Editora Dois Irmãos, 2002. 260p. STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Volume I. 1ª edição. São Paulo: Editora Hagnos, 2003. 880p. V. Antropologia – Doutrina do Homem 5.1. Definição A palavra antropologia deriva-se do grego “[...] ánthropos (‘homem’) e lógos (‘explicação’ ou ‘razão’). Literalmente significa, pois, a ciência do homem e de suas obras”.6 No âmbito teológico, “[...] o termo normalmente refere-se ao modo como um teólogo ou escola teológica entende a natureza e o destino do homem.”7 5.2. Concepções Históricas O homem desde a antiguidade sempre se interrogou sobre si mesmo. “Na tradição ocidental, Demócrito (520-440 a.C.) e Posidônio (135-50 a.C.) elaboraram uma visão do homem como um microcosmo. ‘Microcosmo’ (‘pequeno mundo’), por contraposição a ‘macrocosmo’ (‘um grande mundo’), designa uma pequena parte do Universo, geralmente o homem, que constitui uma síntese ou um resumo do grande todo”.8 Irineu de Lião insistiu que na realidade terrena do homem, enfatizando a sua descendência em Adão. Já no período medieval cristã do homem, baseia-se em duas fontes: a tradição bíblica e a tradição filosófica grega. Nesse período Tomás de Aquino converge em três coordenas sua antropologia: “a) a concepção clássica do homem como animal racional; b) a concepção neoplatônica do homem na hierarquia dos seres como ser limite entre espiritual e corporal; c) a concepção bíblica do homem como criatura, imagem e semelhança de Deus.”9 No renascimento surge a “[...] imagem do homem como indivíduo, como exceção no conjunto da natureza, dependendo exclusivamente de si mesmo. [...] No extremo oposto Karl Marx formulou a tese do homem como ser social, fazendo-o depender totalmente da sociedade. [...] A visão contemporânea do homem caracteriza-se pela pluralidade de formas e experiência de vida.”10 6 ZILLES, Urbano. Antropologia Teológica. p.9. GONZÁLES, Justo. Breve Dicionário de Teologia. p.32. 8 ZILLES, Urbano. Antropologia Teológica. p.5. 9 Ibid. p.47. 10 Ibid. p. 5-6. 7 5.3. Origem do Homem – A Criação As Escrituras colocam o ser uma como uma criação de Deus. Ela oferece-nos um relato duplo dessa criação do homem: Gn 1.26, 27, e Gn 2.7, 21-23. [...]. “A primeira narrativa contém o relato da criação de todas as coisas na ordem em que ocorreu, enquanto que a segunda agrupa as coisas em sua relação com o homem, sem nada implicar com respeito à ordem cronológica do aparecimento do homem na obra criadora de Deus, e indica claramente que tudo que o precedeu serviu para preparar uma adequada habitação para o homem como o rei da criação.”11 A unidade da raça humana e sua origem comum é também afirmada nas Escrituras. “A palavra ‘Adão’, a um tempo foi o nome de um indivíduo e de uma famíla – o nome pessoal do primeiro homem e o nome genérico da humanidade. Paulo declara que Deus de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra (Atos 17:26). Com o estabelecimento do primeiro casal a Bíblia ensina que dele descendem todas as raças da humanidade (Gênesis 3.20).”12 5.4. Tricotomia De acordo com Gênesis 2:7, o homem compõe-se de duas substâncias, o corpo (substância material) e a alma (substância imaterial, chamada alma). Na concepção bíblica, a alma é a vida do corpo, quando se retira o corpo morre. No entanto, o Novo testamento apresenta o homem compondo três substâncias corpo, alma e espírito (1 Ts. 5:23; Hb. 4:12). Os estudantes da Bíblia que defendem a opinião de o homem consistir em três partes recebem o nome de tricotomistas, os que defendem a teoria de que o homem compõe-se de duas partes recebem o nome de dicotomistas. O espírito e a alma são inseparáveis, porém distintos, ele representam os dois lados da substância da natureza espiritual do homem. Devido à interligação, da alma e do espírito, as palavras muitas vezes são usadas como sinônimos uma das outras (Ec. 12:7; Ap. 6:9), em um trecho a substância espiritual do homem recebe o nome de alma (Mt. 11 12 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.167. WILEY, H. Orton; CULBERTSON, Paul T.. Introdução à Teologia Cristã. p.176. 10:28), e em outro espírito (Tg. 2:26). No entanto, segundo Pearlman, esses termos possuem significados distintos: “"A alma’ é o homem como o vemos em relação a esta vida atual. As pessoas falecidas descrevem-se como ‘almas’ quando o escritor se refere à sua vida anterior. (Apoc. 6:9, 10; 20:4.) ‘O espírito’ é a descrição comum daqueles que passaram para a outra vida. (Atos 23:9; 7:59; Heb. 12:23; Luc. 23:46; 1 Ped. 3:19.) Quando alguém for ‘arrebatado’ temporariamente fora do corpo (2 Cor. 12:2) se descreve como ‘estando no espírito’.(Apoc. 4:2; 17:3.) Sendo o homem ‘espírito’, é capaz de ter conhecimento de Deus e comunhão com ele; sendo ‘alma’, ele tem conhecimento de si próprio; sendo ‘corpo’, tem, através dos sentidos, conhecimento do mundo — Scofield.”13 5.5. Imagem e Semelhança de Deus Apesar de a Bíblia conter inúmeras passagens que se referem ao homem como imagem de Deus, a mais conhecida é Gênesis 1.26-27: “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra. Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Erickson pontua três maneiras diferentes pelas quais se entende a natureza da imagem de Deus. (1) A concepção substantiva. Alguns entendem que a imagem consiste em certas características da própria natureza da raça humana, características que podem ser físicas ou psicológicas. (2). A concepção relacional. Aqueles que adotam a essa concepção entendem a imagem não como algo intrinsecamente presente na humanidade, mas sim como a vivência de um relacionamento entre os homens e Deus ou entre dois e mais homens. (3) A concepção funcional. Essa pensa que a imagem é algo que os homens fazem, não que são ou vivenciam. 13 PEARLMAN, Myer. Conhecendo a doutrina da Bíblia. p.72. Bancroft corretamente observa, embasado em Colossenses 1.15, que “A imagem de Deus não denota semelhança física. [...] Deus não é homem. Pelo contrário, é Espírito e, como tal não possuí partes ou substâncias, mas é invisível.”14 Wesley ao explorar em detalhes esse assunto da imagem de Deus no homem fez três colocações principais. Primeiro, a imagem natural, essa “[...] consiste de uma ‘natureza espiritual e da imortalidade da alma’, o que inclui um princípio de movimento próprio. Como Deus é espírito a humanidade também é. Wesley escreve: ‘Deus não fez Adão apenas matéria, uma peça de barro insensível e sem inteligência, mas um espírito semelhante a Ele mesmo [...]. Ademais, esse princípio imaterial, ou natureza espiritual, que caracteriza a vida humana é dotada de compreensão, vontade e liberdade.”15 O segundo aspecto da imagem de Deus, seria a imagem política. “Essa revela que o ser humano não tem relações apenas um com o outro e com Deus, mas também a natureza e as criaturas. Ao definir e explicar o caráter dessa imagem, Wesley recorre à linguagem de Gênesis e menciona que foi concedido a humanidade ‘domínio sobre o peixe do mar, e sobre a ave do ar, e sobre todas as coisas que se movem sobre a terra’. [...] Wesley se refere a humanidade como ‘senhora de sua criação mais inferior’.”16 Por fim, como terceiro ponto ele menciona a imagem moral. Essa “[...] é a dimensão da imago Dei que destaca a verdade crucial de que a humanidade não foi criada em qualquer outro amor, mas no amor santo. [...] Por conseguinte, a lei moral, uma importante janela para a essência de imago Dei, a saber, a justiça e a santidade, ressalta similaridades entre a natureza de Deus e a natureza da humanidade, conforme originalmente criada.”17 5.6. O Homem como ser Moral O homem como ser moral possuí capacidades que o ajuda a discernir entre o bem e o mal, entre o certo e o errado. Essas capacidades, ou poderes são à vontade e a consciência. Ambas foram dadas por Deus, para que o homem pudesse conduzir de maneira justa durante sua vida. 14 BANCROFT, E.H. Teologia Elementar. p.207-208. COLLINS, Kenneth J. Teologia de John Wesley. p.78. 16 COLLINS, Kenneth J. Teologia de John Wesley. p.79-80. 17 Ibid. p.81-82. 15 À vontade “É o poder que a alma tem de escolher entre motivos e dirigir sua subsequente atividade para o motivo assim escolhido, em outras palavras, o poder que a alma tem de escolher tanto um fim como os meios para atingi- lo.”18 A consciência “[...] é um conhecimento do eu (inclusive nossos atos e estados) em conexão com um padrão moral, ou lei. Acrescentando agora o elemento do sentimento podemos dizer que a consciência é o escrúpulo do homem em suas relações morais juntamente com um sentimento peculiar em vista deles.”19 A consciência julga o isto é certo ou errado, se tenho o dever ou não. O intelecto, “[...] pode ser referir à somatória dos poderes mentais possuídos pelo homem, mediante os quais seu conhecimento é adquirido, ampliado e retido, em contraste com o conhecimento que nos chega através da percepção dos sentidos.”20 5.7. A Origem da Alma Três pontos de vista básicos podem ser ditos acerca da origem da alma. A primeira é a preexistência filosófica e a preexistência cristã, que de acordo com Platão, classifica a alma não como imoral, mas como parte integrante do mundo eterno que existe à parte de Deus (os Demiurgos). A preexistência cristã, defendida por alguns pais apostólicos, criam que a alma antes mesmo do nascimento já existia, ela havia sido criada por Deus, desde a eternidade. Ambas as visões contradizem as Escrituras e não podem ser aceitas. O segundo ponto de vista recebe o nome de criacionismo. Alguns cristãos defendem “[...] que as almas humanas individuais são criadas no nascimento. Para isso, eles apresentam dois argumentos principais: Primeiro, a vida humana é designada biblicamente a partir do nascimento (cf. Gn 5.1ss). Segundo, Adão não era humano até que começou a respirar, como declara Gênesis 2.7 [...].”21 A terceira é a visão traducionista. Na igreja primitiva, Tertuliano, Rufino, Apolinário e Gregório de Nissa eram traducionistas. Segundo esta, a ala é criada indiretamente por intermédio dos pais. “Cada novo ser humano é ramo que sai dos pais, isto é, tanto a alma, quanto ao corpo são gerados pelo pai e pela mãe. Por fim, a visão traducionista aponta que a visão criacionista não explica a herança do pecado original. Certamente, um Deus perfeito não criaria uma ala decaída, tampouco podemos aceitar a visão 18 STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Volume II. p.73. Ibid. p.65. 20 CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Volume 3. p.348. 21 GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Volume II. p.22. 19 gnóstica de que o contato de uma alma com o corpo material (no ventre materno) precipita a sua Queda.”22 O teólogo Normam Geisler, considera a visão traducionista a mais razoável, já Louis Berkhof exerce preferência pela visão criacionista. 5.8. Provação e Queda Encontramos o relato da queda do homem no livro de Gênesis, essa queda se ocorre com a transgressão de Adão no Éden. A queda do homem foi originada astúcia de Satánas evidente no relato da tentação. Satanáse usando-se da serpente, lançou na mente do homem sementes de descrença e desconfiança em relação a Deus. No entanto, notamos que a serpente dirigiu-se a Eva, isso provavelmente porque “[...] (a) não exercia a chefia da aliança e, portanto, não teria o mesmo senso de responsabilidade; (b) não recebeu diretamente a ordem de Deus, mas apenas indiretamente e, por conseguinte, seria mais suscetível de ceder à argumentação e duvidar; e (c) seria sem dúvida o instrumento mais eficiente para alcançar o coração de Adão”.23 O tentador, em primeiro lugar, semeiou dúvidas sobre a boa vontade de Deus, colocando-as em questão e “insinuando que Sua ordem era realmente uma violação da liberdade e dos direitos do homem. Quando nota, pela reação de Eva, que a semente tinha criado raiz, acrescenta as sementes da descrença e do orgulho, negando que a transgressão resultaria na morte e dando a entender claramente que a ordem divina fora motivada pelo objetivo egoísta de manter o homem em sujeição.”24 Satánas afirma que, ao comer da árvore, o homem não morreria mas sim tornar-se-ia como o próprio Deus. Essas declarações astutas e mentirosas induziram Eva a observar com mais atenção a árvore, logo, movida pelo desejo ela comeu do fruto e também o deu ao marido Adão que também o comeu. Após a queda, que se deu nesse momento, “O casal decaído no pecado, não somente foi privado do favor divino, mas, passou a sofrer aflições concretas em consequência do desagrado divino. Eles foram expulsos do jardim do Éden, o lar de sua inocência e alegria. [...] O alimento seria o pão adiquirido com o suor do rosto. Um castigo foi 22 Ibid. p.23. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.206. 24 Idem. 23 anunciado contra a mulher, a primeira a cair no erro: ‘... em meio de dores darás à luz filhos...’. (Gn.3.16).”25 Devemos observar que mesmo incitado pela serpente, o pecado cometido pelo homem foi um ato perfeitamente voluntário. Adão se rendeu à tentação e comeu do fruto a qual Deus lhe havia proibido que comesse, consumando assim o primeiro pecado. Nota-se então que o pecado em si, não consistiu do fruto da árvore, mas sim da desobediência de Adão. A essência desse pecado consiste no fato de Adão colocar-se em oposição a Deus. Ele “[...] recusou-se a sujeitar a sua vontade à vontade de Deus de modo que Deus determinasse o curso da sua vida; e tentou ativamente tomar a coisa toda das mãos de Deus e determinar ele próprio o futuro. [...] Naturalmente podem distinguir-se diferentes elementos do seu primeiro pecado. No intelecto revelou-se como incredulidade e orgulho, na vontade, como o desejo de ser como Deus, e nos sentimentos, como uma ímpia satisfação ao comer do fruto proibido.”26 5.9. Consequência da Queda Segundo Brunner “Se o homem não tivesse cedido a essa tentação, (o comer da árvore) teria vivido em comunhão com Deus; terá recebido vida como um dom; diariamente das mãos do próprio Deus.”27 Devido o ato de desobediência do homem, o pecado tornou-se parte de sua realidade, e esse pecado trouxe-lhe inúmeras consequências. O pecado é tanto um ato como um estado. Na qualidade de rebelião a lei de Deus, Pearlman diz que “[...] é um ato da vontade do homem; como separação de Deus, vem a ser um estado pecaminoso [...].”28 O pecado causou grandes consequências na vida do homem, devemos aqui ressaltar, que o pecado de Adão atingiu igualmente a toda a humanidade: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram” (cf. Rm. 5.12). “A frase citada acima contém duas afirmações: o pecado e suas sequelas são um mal que passou para toda a humanidade, por causa da transgressão de um, isto é, de Adão 25 DAGG, John L. Manual de Teologia. p.124. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.206. 27 BRUNNER, Emil. Dogmática Volume 2. p.169. 28 PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. p.134 26 (ver também v.15-19); o pecado deste um tem efeitos tão mortíferos, porque todos os homens pecaram e pecam.”29 Sendo assim, podemos considerar o pecado como um fato universal. As consequências do pecado foram: culpa, punição, morte física, morte espiritual, morte eterna. A culpa abrange a ideia de responsabilidade pelo ato cometido e o merecimento do castigo por causa dele. Como punição, traz a ideia do castigo que se segue ao pecado. Contudo, a punição – é bom lembrarmos – pode vir como consequência natural ou uma ação direta de Deus. A morte espiritual também é uma consequência do pecado, essa morte é definida como a separação espiritual de Deus. “No instante em que Adão pecou, ele experimentou o isolamento espiritual de Deus; isto fica evidenciado pela vergonha que ele sentiu a ponto de se esconder do seu criador.” 30 O homem foi criado capaz de viver eternamente, mas essa capacidade foi afetada como consequência do pecado. Desde esse momento, teve a morte o seu início e foi consumada na morte física com a separação da alma e do corpo [...].” 31 Portanto, a morte física é o resultado inevitável do pecado de Adão não somente para si mesmo, como também para todos os seus descendentes naturais. A morte eterna é outra consequência do pecado. “Se alguém chega à morte física estando ainda espiritualmente morte, separado de Deus, esta condição torna-se permanente. [...] No julgamento final, as pessoas que aparecem perante o trono de Deus serão divididas em dois grupos. Os que forem retos serão enviados para a vida eterna (Mt 25.34-40, 46b). Os julgados ímpios serão enviados para a punição eterna ou fogo eterno (v. 41-46a)”.32 29 KLAIBER, Walter; MARQUARDT, Manfred. Viver na Graça de Deus – Um compêndio de teologia Metodista. p.116. 30 GEISLER, Norman. Teologia sistemática. Volume 2. p. 103 31 PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. p.136 32 ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. p. 253-254. 5.10. Efeitos do Pecado O pecado tanto trouxe consequências como efeitos sobre o homem. Esses efeitos assim como as consequências, estende-se a toda a humanidade. A seguir consideraremos alguns desses. A começar pela negação do pecado. Existem inúmeras maneiras de negar o pecado. “Ele pode receber outro nome, de modo a não ser reconhecido como tal. Pode ser considerado uma questão de doença, privação, ignorância ou, talvez, no máximo, um desajustamento social. Outra maneira de negar nosso pecado é reconhecer o erro que cometemos, mas eximir- nos de assumir a responsabilidade por ele.”33 O autoengano. “Este é o problema que está por trás quando negamos nosso pecado. Jeremias escreveu: ‘Enganoso (escorregadio, deformado) é o coração, mais do que todas as cousas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? (17.9). Os hipócritas de quem Jesus falava com frequência provavelmente se enganavam antes de enganar os outros.”34 A insensibilidade é outro efeito do pecado, pois quando continuamos na prática do pecado “[...] rejeitamos os conselhos e as condenações de Deus, tornamo-nos cada vez menos sensíveis aos chamados da consciência.”35 O egocentrismo. “Em muitos aspectos, pecar é entregar-se a si mesmo, fato confirmado pela prática. Chamamos a atenção para nós mesmos e para nossas boas qualidades e realizações, e minimizamos nossas falhas. [...] Demonstramos uma certa prontidão especial para com nossas próprias necessidades, enquanto desconsideramos as dos outros.”36 Por fim, a futilidade na mente e na ação. Paulo declara “[...] tendo conhecido Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças antes os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração insensato deles obscureceu-se [...]” (Romanos 1.21). A futilidade na mente e na ação é um forte efeito do pecado. “Há hoje multidões de pessoas, que tentando esquecer Deus em sua busca de todo tipo de interesse humano, tornam-se imensamente confusas quanto à vida e seu significado.”37 33 Ibid. p. 255. Idem. 35 Ibid. p.256. 36 Idem. 37 WILLIAMS, J. Rodman. Teologia Sistemática – uma perspectiva pentecostal. p.211. 34 Bibliografia Capítulo 5 BANCROFT, E.H. Teologia Elementar. 5ª edição. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1986. 378p. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 3ª edição. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2009. 720p. BRUNNER, Emil. Dogmática. Volume 2 – Doutrina Cristã de Deus. 2ª edição. São Paulo: Fonte Editorial, 2010, 458p. CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Volume 3. 6ª edição. Editora Hagnos, São Paulo, 2002. 935p. COLLINS, Kenneth J. Teologia de John Wesley. 2ª edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2010. 445p. DAGG, John L. Manual de Teologia. 2ª Edição. São José dos Campos: Editora Fiel, 1998, 301p. ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. 1ª edição. São Paulo: Vida Nova, 1997. 540p. GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Volume II. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora CPAD, 2010. 1084p. GONZÁLEZ, Justo. Breve Dicionário de Teologia. 1ª edição. Editora: Hagnos, São Paulo, 2009. 338p. KLAIBER, Walter; MARQUARDT, Manfred. Viver na Graça de Deus – Um compêndio de teologia Metodista. 1ª Edição. São Bernardo do Campo: Editora Cedro, 1999, 498. STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Volume II. 1ª edição. São Paulo: Editora Hagnos, 2003. 880p. WILLIAMS, J. Rodman. Teologia Sistemática – uma perspectiva pentecostal. 1ª edição. São Paulo: Editora Vida, 2011. 1211p. PEARLMAN, Myer. Conhecendo a doutrina da Bíblia. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Dois Irmãos, 1963. 391p. WILEY, H. Orton; CULBERTSON, Paul T.. Introdução à teologia cristã. 1ª edição. São Paulo: Casa Nazarena de publicações, 1990. 516p. ZILLES, Urbano. Antropologia Teológica. 1ª Edição. São Paulo: Paulus, 2011, 237p. VI. Hamartiologia – Doutrina do Pecado Introdução O mal que há no mundo é consequência do pecado, pois Deus havia criado o homem perfeito assim como Ele é e “Nada menos do que a perfeição pode vir de um Ser absolutamente perfeito, e é próprio de um ser perfeito criar somente coisas perfeitas [...].”38 , mas a desobediência levou o homem a ser dominado pelo mal e o mesmo acarretou muitos problemas na vida humana. O problema do mal diz Berkhoft “[...] sempre foi considerado um dos mais profundos problemas da filosofia e da teologia [...] Os filósofos foram constrangidos a encarar o problema e a procurar uma resposta quanto à origem de todo mal [...]”.39 Enquanto alguns buscaram a solução na constituição natural das coisas, outros atribuíram ao mal uma origem voluntária, ou seja, o homem através do seu livre-arbítrio optou pelo mal. Uma clara compreensão sobre a Doutrina do Pecado é necessária, pois está “... derrama muita luz sobre as demais. Ela influi sobre todas as outras, tais como a doutrina de Deus, a doutrina do homem, a doutrina da salvação, e assim por diante.”40 A Hamartiologia, ou Doutrina do Pecado refere-se ao estado decaído do homem. A palavra grega “[...] é derivada de um dos muitos termos gregos usados para expressar a ideia do pecado [...].”41 Culbertson nos diz que esse termo é aplicado ao pecado, seja como ato ou condição. Hamartiologia indica “errar o alvo”, “fracassar”. Champlin diz que “Trata-se do fracasso em não atingir um padrão conhecido, mas antes, desviando-se do mesmo [...]”.42 Todavia, o termo passou a ter um significado geral, sugerindo a origem e a manifestação do pecado “[...] sem dar qualquer atenção a seu significado original [...].”43 38 GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Volume 2. p. 11 BERKHOF, LOUIS. Teologia Sistemática. p. 203 40 LANGSTON, A. B. Esboço de Teologia sistemática. p. 148 41 WILEY, H. Orton; CULBERTSON, Paul T.. Introdução à teologia cristã. p. 185 42 CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Volume 5. p. 145 43 IDEM 39 6.1. Concepção Histórica Em relação a doutrina do pecado, os apologetas Irineu e Tertuliano ensinam que a condição pecaminosa da humanidade resulta na queda de Adão. “Tertuliano tinha uma concepção realista da humanidade. Segundo ele, toda a raça humana estava potencial e numericamente em Adão e, portanto, pecou quando ele pecou, e se tornou corrupta quando ele se tornou corrupto”.44 Já Orígenes teve um conceito diferente do assunto, não reconhendo nenhuma ligação entre o pecado de Adão e o dos seus descendentes. Agostinho seguiu a mesma linha de Tertuliano. “Embora acentuasse o fato de que todos os homens estavam seminalmente presentes em Adão e pecaram de fato nele, também se aproximava muito da ideia de que eles pecaram em Adão como seu representante.”45 Pelágio, que se constitui grande oponente de Agostinho, seguiu a mesma concepção de Orígines, negando qualquer conexão entre o pecado de Adão e os seus descendentes. O conceito de Agostinho prevaleceu em relação ao conceito Pelagiano, ou seja, a Igreja rejeitou o conceito pelagiano. Em geral o pensamento dos escolásticos seguiu as mesmas linhas de Agostinho, “[...] sempre recaindo a ênfase na transmissão da corrupção de Adão, e não na transmissão da sua culpa. [...] Tomás de Aquino [...] assinalou que a raça humana constitui um organismo e que, como o ato de um membro do corpo – digamos , a mão – é considerado como ato da pessoa, assim o pecado de um membro do organismo da humanidade é imputado ao organismo todo”.46 No período da reforma Lutero, declarou que por causa do pecado herdado de Adão, todos somos tidos como culpados por Deus. Calvino, semelhante a Lutero, sustentou que, “[...] desde que Adão foi, não somente o progenitor da raça humana, mas também a sua raiz, todos os seus descendentes nascem com natureza corrupta; e que tanto a culpa do pecado de Adão como a própria corrupção inata são-lhes imputadas como pecado.”47 44 BERKHOF, LOUIS. Teologia Sistemática. p. 221.. Idem. 46 Ibid. p.222. 47 Idem. 45 Já no século XX, dois grandes teólogos, Barth e Brunner, “[...] não consideram a pecaminosidade universal da raça humana como resultado do pecado de Adão. Historicamente, este ocupa um lugar único, meramente como o primeiro pecador.”48 6.2. Fato e Origem do Pecado A origem do pecado é algo ambíguo em qualquer cosmovisão, no entanto, diz Geisler “[...] representa um problema ainda mais agudo para a Teologia cristã. As três perspectivas básicas sobre o mal trazem à tona os seguintes debates: o Ateísmo afirma o mal, mas nega a Deus; o Panteísmo afirma a existência de Deus, mas nega o mal; e o Teísmo afirma ambos, o que parece incompatível. Eis o dilema.” 49 O Teísmo por sua vez afirma a existência de um Deus onipotente, e somente Ele é capaz de extirpar o mal, todavia Ele não o fez. Para o Teísmo, Deus é absolutamente perfeito, tendo ciência de que o mal surgiria, Ele insistiu em sua criação. Contudo, a resposta para o surgimento do mal onde está? Sabemos que um Deus categoricamente perfeito jamais criará algo impuro, imperfeito como é o mal. O Teísmo afirma que Deus não pode gerar, nem promover o mal “... Ele pode, no máximo, permiti-lo. Todavia, por ser onipotente, Ele pode tanto vencer o mal, quanto fazer surgir um bem maior, quando Ele o permitir.” 50 Entendemos que o pecado se originou no céu. Deus criou um grande número de anjos, e esses eram todos bons, quando saíram da mão do seu Criador, mas o mal suscitou no coração de um arcanjo que vivia na presença de Deus, portanto, o mesmo se encheu de orgulho e rebelou-se contra o seu Criador. No livro do profeta Ezequiel, encontramos uma história que narra à causa do orgulho e da queda desse arcanjo (Ezequiel 28). A primeira vista é uma palavra dirigida ao rei de Tiro, contudo, quando se faz uma leitura mais atenta o texto nos revela que não pode ser o rei de Tiro. Em Ezequiel 28.13 “[...] diz que a pessoa de quem se fala ‘estava no Éden, jardim de Deus’, e era um ser criado. A Bíblia diz que apenas Deus, Adão, Eva e Satanás estiveram no jardim do Éden. Em Ezequiel 18. 14 e 16 diz que a pessoa em questão era um querubim, que é um tipo de anjo. Dessas indicações podemos deduzir 48 Ibid. p.223. GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Volume 2. p. 65 50 Idem. 49 que a pessoa verdadeira descrita em Ezequiel 28.11-18 é um anjo, caracterizado como um rei terreno [...].”51 O nome desse arcanjo encontramos na perícope de Isaías 14.12, com a expressão feita da Vulgata Latina ‘estrela da manhã’. Geisler nos diz que a maioria dos estudiosos da Bíblia afirma ser apenas uma referência ao rei da Babilônia, entretanto, “[...] o orgulho e a queda deste homem são uma representação das escolhas feitas pelo primeiro arcanjo, o qual se rebelou contra Deus por intermédio de um orgulho similar, porém primitivo e anterior [...].” 52 Culbertson esboçando o assunto nos fala que antes mesmo da existência humana o pecado já existia, por quanto houve anjos que não conservaram a sua integridade ou primeiro estado. Ele nos diz que “[...] Houve entre os anjos um tentador que os induziu ao caminho do pecado. A doutrina cristã sobre o mal termina com esse tentador [...].”53 Muito pouco se diz a respeito do pecado que ocasionou a queda dos anjos, portanto entendemos que o pecado se originou por causa do orgulho de um arcanjo que permitiu se contaminar pelo mesmo, e dessa maneira deixou a vontade de usurpar o trono de Deus dominá-lo. 6.3. Universalidade do Pecado Sobre a universalidade do pecado encontramos várias declarações bíblicas: 1Rs 8:46; Sl 143:2; Pv. 20:9; Ec. 7:20; Rm. 3:1-12,19,23; etc., através destes textos podemos constatar esse fato. A história das religiões dá testemunho dessa universalidade. As “[...] religiões pagãs atestam uma consciência universal do pecado, e a necessidade de reconciliação com o Ser supremo [...].”54 , essas religiões sustentam um sentimento generalizado de que os deuses estão de alguma forma ofendidos e a ira deles devem ser aplacadas de algum modo. Outro grupo que acabou por admitir o mal como universal foram os antigos filósofos gregos, eles também tiveram que enfrentar o problema do mal moral e nenhum filósofo de renome pôde ignorá-lo. Berkhof diz que todos “[...] foram constrangidos a admitir a sua universalidade, e isso a despeito do fato de que não foram capazes de explicar o fenômeno [...].”55 51 JR. Wilbur O’Donovan. O Cristianismo Bíblico da perspectiva africana. p. 204 GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Volume 2. p. 67 53 WILEY, H. Orton; CULBERTSON, Paul T.. Introdução à teologia cristã. p. 191 54 BERKHOF, LOUIS. Teologia Sistemática. p. 223 55 IDEM. 52 Dagg nos diz que todo “... o que olha para o estado da sociedade ao seu redor encontra provas da iniquidade humana. Crimes multiplicam-se por toda a parte e a terra anda cheia de violência, tal como sucedia na antiguidade [...].”56 O pecado de Adão atingiu igualmente a toda a humanidade: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram” (cf. Rm. 5.12). “A frase citada acima contém duas afirmações: o pecado e suas sequelas são um mal que passou para toda a humanidade, por causa da transgressão de um, isto é, de Adão (ver também v.15-19); o pecado deste um tem efeitos tão mortíferos, porque todos os homens pecaram e pecam.”57 Alguns intérpretes dizem que esse pecado foi em Adão, isto é, “[...] todos os homens participaram, em Adão, do pecado original, e contra esse pecado é que o juízo foi proferido (...). Outros afirmam que Rm. 5:12 fala de pecados individuais (e essa opinião é esposada pela maioria dos intérpretes) [...].”58 Champlin faz uma mistura dos dois pensamentos e explica que o homem nasce com o pecado original, mas cada indivíduo também tem o seu próprio pecado, ou seja, o “[...] pecado de Adão é a raiz; os pecados da humanidade são os ramos; e os pecados individuais são os frutos. A sentença de julgamento recai sobre a árvore inteira, e não apenas sobre uma parte da mesma [...].”59 Sendo assim, podemos considerar o pecado como um fato universal. 6.4. Natureza do Pecado Já vimos no ponto 3 que o pecado já existia antes mesmo da criação do homem, e isso é evidenciado pelas alegações do tentador no jardim do Éden. Portanto, nesse ponto trataremos sobre a natureza do pecado na humanidade. A narrativa bíblica nos ensina que o homem foi Criado imagem e semelhança de Deus (ver. Gênesis 1.26), portanto, ficamos diante do problema da origem do pecado na humanidade, pois como um ser criado natural e moralmente igual a Deus teve o pecado originado em si? Os teóricos classificam esse fato como “o mistério da origem do pecado”. Contudo, algumas explicações para a queda do homem são dadas. 56 DAGG, John L. Manual de Teologia. p. 125 KLAIBER, Walter; MARQUARDT, Manfred. Viver na Graça de Deus – Um compêndio de teologia Metodista. p.116. 58 CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Volume 5. p.146 59 IDEM. 57 Quando lemos a narrativa de Gênesis 3:6 somos tentados a crer que o pecado começou com a concupiscência dos olhos, pois o texto nos narra que a mulher viu o fruto e lhe pareceu agradável ao paladar e atraente aos olhos. Todavia o ataque do tentador foi contra a “[...] integridade e a veracidade de Deus [...] e a alegação mediante a qual ele seduziu a mulher foi que ela e seu marido seriam tais como Deus, conhecendo tanto o bem como o mal [...].”60 Contudo, segundo as condições que o homem foi criado, esperava que o mesmo escolhesse o bem, toda a tendência era esta, o natural a se fazer era escolher o bem por causa da sua natureza, mas “[...] o homem, com grande e geral desapontamento, fez a pior escolha que poderia imaginar-se. E isto mesmo depois de Deus o haver aconselhado a que escolhesse o bem [...].”61 De livre vontade o homem optou por fazer a escolha errada, escolheu o mal, ostentou ser igual a Deus. Eva desejou aquilo que o tentador assegurava que ela seria igual a Deus. “Portanto, a narrativa bíblica lança nossa atenção para esse tipo de concupiscência, como sendo a origem do pecado. Eva cedeu ao tentador o lugar que pertencia exclusivamente a Deus; aceitou o mais blasfemo dos assaltos contra a integridade de Deus; cobiçou para si mesma as prerrogativas divinas. Em sua disposição de confabular com o tentador, no ato de não ter reagido com horror contra as suas sugestões, e em sua aquiescência, fica desvendado o processo que precedeu o ato de comer da fruta proibida [...]. O pecado não se origina em ação ao acaso, mas procede do coração e da mente [...].”62 Devemos também considerar que a essência desse pecado consiste no fato de Adão colocar-se em oposição a Deus. Ele “[...] recusou-se a sujeitar a sua vontade à vontade de Deus de modo que Deus determinasse o curso da sua vida; e tentou ativamente tomar a coisa toda das mãos de Deus e determinar ele próprio o futuro. [...] Naturalmente podem distinguir-se diferentes elementos do seu primeiro pecado. No intelecto revelouse como incredulidade e orgulho, na vontade, como o desejo de ser como Deus, e nos sentimentos, como uma ímpia satisfação ao comer do fruto proibido.”63 60 SHEDD, R. P. O novo dicionário da Bíblia. p.1235 LANGSTON, A. B. Esboço de Teologia sistemática. p. 150 62 SHEDD, R. P. O novo dicionário da Bíblia. p.1235 63 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.206. 61 6.5. Consequência do Pecado Segundo Brunner “Se o homem não tivesse cedido a essa tentação, (o comer da árvore) teria vivido em comunhão com Deus; terá recebido vida como um dom; diariamente das mãos do próprio Deus.”64 Devido o ato de desobediência do homem, o pecado tornou-se parte de sua realidade, e esse pecado trouxe-lhe inúmeras consequências. O pecado é tanto um ato como um estado. Na qualidade de rebelião a lei de Deus, Pearlman diz que “[...] é um ato da vontade do homem; como separação de Deus, vem a ser um estado pecaminoso [...].”65 O pecado trouxe grandes consequências para a humanidade, podemos destacar as seguintes: culpa, punição, morte física, morte espiritual, a perda da semelhança moral, morte eterna. A culpa abrange a ideia de responsabilidade pelo ato cometido e o merecimento do castigo por causa dele. Como punição, traz a ideia do castigo que se segue ao pecado. Contudo, a punição – é bom lembrarmos – pode vir como consequência natural ou uma ação direta de Deus. A morte espiritual também é uma consequência do pecado, essa morte é definida como a separação espiritual de Deus. “No instante em que Adão pecou, ele experimentou o isolamento espiritual de Deus; isto fica evidenciado pela vergonha que ele sentiu a ponto de se esconder do seu criador.” 66 O homem foi criado capaz de viver eternamente, mas essa capacidade foi afetada como consequência do pecado. Desde esse momento, teve a morte o seu início e foi consumada na morte física com a separação da alma e do corpo [...].” 67 Portanto, a morte física é o resultado inevitável do pecado de Adão não somente para si mesmo, como também para todos os seus descendentes naturais. Com o pecado, o homem sofreu a perda da semelhança moral que tinha com Deus, “[...] o homem foi criado naturalmente e moralmente semelhante a Deus. Na queda, o homem não perdeu a semelhança natural. Ele continuou a ser uma 64 BRUNNER, Emil. Dogmática Volume 2. p.169. PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. p.134 66 GEISLER, Norman. Teologia sistemática. Volume 2. p. 103 67 PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. p.136 65 personalidade como era antes. Isto é, depois da queda, o homem deixou de ser semelhante a Deus somente quanto ao seu caráter, quanto a sua moral.”68 A morte eterna é outra consequência do pecado. “Se alguém chega a morte física estando ainda espiritualmente morto, separado de Deus, esta condição torna-se permanente. [...] No julgamento final, as pessoas que aparecem perante o trono de Deus serão divididas em dois grupos. Os que forem retos serão enviados para a vida eterna (Mt 25.34-40, 46b). Os julgados ímpios serão enviados para a punição eterna ou fogo eterno (v. 41-46a)”.69 Bibliografia Capítulo 6 BRUNNER, Emil. Dogmática. Volume 2 – Doutrina Cristã de Deus. 2ª edição. São Paulo: Fonte Editorial, 2010, 458p. DAGG, Jhon L. Manual de Teologia. 2º edição. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 1998. 301p. CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. 6ª edição. Volume 5. São Paulo: Hagnos. 2002. 750p. PEARLMAN, Myer. Conhecendo a doutrina da Bíblia. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Dois Irmãos, 1963. 391p. LANGSTON, A. B. Esboço de teologia sistemática. 8ª edição. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1986. 305p. GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Volume II. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora CPAD, 2010. 1084p. KLAIBER, Walter; MARQUARDT, Manfred. Viver na Graça de Deus – Um compêndio de teologia Metodista. 1ª Edição. São Bernardo do Campo: Editora Cedro, 1999, 498. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 3ª edição. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. 720p. JR, Wilbur O’Donovan. O Cristianismo Bíblico da perspectiva africana. 1ª edição. São Paulo: Editora Vida Nova, 1999. 376p. SHEDD, R. P., (editor). O novo dicionário da Bíblia. Volume III. 4ª edição. São Paulo: Vida Nova, 1981. 1173-1682p. WILEY, H. Orton; CULBERTSON, Paul T.. Introdução à teologia cristã. 1ª edição. São Paulo: Casa Nazarena de publicações, 1990. 516p. 68 69 LANGSTON, A.B.. Esboço de Teologia Sistemática. p.158. ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. p. 253-254. Angelologia – Doutrina dos Anjos VII. Definição Para o verbete “Anjo”, Voltaire diz que pela “[...] entendemos ministros de Deus, delegados, seres intermediários entre Deus e os homens, enviados para nos mostrar suas ordens.”70 Anjo tanto no hebraico ( מלאךmal’ak) como no grego αγγελος (angelos) significa mensageiro, enviado a proclamar, ensinar, executar ou explorar algo. Em “O Novo Dicionário da Bíblia” encontramos a seguinte definição para anjo: “[...] é, etimológica e conceptualmente, um mensageiro de Deus, familiarizado com Ele face a face, e por isso mesmo pertence a uma ordem de ser superior ao homem. Certamente, trata-se de uma criatura, mas também de um espírito que é santo e nãocorrompido em sua essência geral, ainda que dotado de livre arbítrio e, portanto, não isento de tentação e pecado [...].”71 7.1. Concepções Históricas Na história existem claras evidências na crença da existência dos anjos. Uns considerados bons, e outros maus. Os pais da igreja entendiam que “[...] a causa da sua queda estava no orgulho e numa ambição pecaminosa, enquanto a queda dos seus subordinados era atribuída à cobiça das filhas dos homens [...]”72 Usava-se como texto base para informar a cobiça dos subordinados a narrativa de Gênesis 6. Ao lado da ideia de que os anjos bons atendem o bem-estar dos crentes, encontramos a noção de anjos da guarda para igrejas e pessoas individuais, no entanto, essa última era aceita por poucos. Porém, calamidades “[...] de várias espécies, como doenças, acidentes e perdas, muitas vezes eram atribuídas à influência danosa de espíritos maus. A ideia de uma hierarquia de anjos já surgia (Clemente de Alexandria), mas não era considerado próprio prestar culto a anjo nenhum.”73 O tempo passou e os anjos continuaram a ser considerados como espíritos superiores aos seres humanos em conhecimento, e livres de corpos materiais. Enquanto 70 VOLTAIRE. Dicionário filosófico. p.80 SHEDD, R. P. O Novo Dicionário da Bíblia. p.80 72 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.131 73 IDEM 71 alguns atribuía-lhes corpos etéreos, outros suscitaram incertezas sobre se eles têm algum tipo de corpo. Dionísio “[...] dividiu os anjos em três classes, a primeira consistindo de tronos, querubins e serafins, a segunda de domínios e poderes, e a terceira de principados, arcanjos e anjos [...]. Durante a Idade Média [...] a opinião predominante era a de que são incorpóreos. As aparições angélicas eram explicadas com a admissão de que, em tais casos, os anjos adotavam formas corporais temporárias, para fins de revelação [...].” 74 Concernente à reforma Berkhof afirma não trazer nada de novo na angelologia: “Até o tempo presente, os católicos romanos geralmente consideravam os anjos como espíritos puros, enquanto alguns protestantes, como Emmons, Ebrard, Kurtz, Delitzch e outros, ainda lhes atribuíam algum tipo especial de corpo. Mas a grande maioria dos últimos tinha o conceito oposto. Swedenborg sustentava que todos os anjos eram originalmente homens e existem em forma corporal (...). O Racionalismo do século 18 negava sem disfarces a existência dos anjos e explicava o que a Bíblia ensina a respeito deles como uma espécie de acomodação. Alguns teólogos liberais modernos consideravam que vale a pena reter a ideia fundamental expressa na doutrina dos anjos. Eles veem nela uma representação simbólica do cuidado protetor de Deus e de sua disposição para dar ajuda e socorro.”75 7.2. Existência dos Anjos Para se crer na existência desses é necessário ter fé que o mundo espiritual é real, e que esses seres são próprios desse mundo. A igreja cristã sempre acreditou na existência dos anjos, mas “[...] a Teologia Liberal moderna descartou essa crença, embora ainda considere a ideia-anjo útil, visto que ela imprime em nós ‘o vívido poder de Deus na história da redenção, Sua providentia specialissima em favor do seu povo, especialmente em favor dos ‘pequeninos’”. Passaremos agora para a Bíblia, sabendo que a mesma não faz nenhuma tentativa de provar a existência desses seres, mas assume de Gênesis a Apocalipse a realidade dos anjos. Seguem-se algumas passagens bíblicas da existência dos anjos: 74 75 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.131-132. Idem. (Gênesis 28:7); (Salmos 148:2,5); (Col 1:16;) (Jó 38:6.7); (Salmos 91:11); (Mateus 4:11); (Apocalipse 7:11). Portanto, como declarou Berkhof: “Ninguém que se incline diante da autoridade da Palavra de Deus pode duvidar da existência dos anjos.” 76 7.3. Natureza dos Anjos Em sua natureza os anjos são “como Deus”, imateriais, sendo legítimos espíritos. Logo, eles são constituídos de uma natureza invisível, embora encontremos exemplos na Bíblia sobre alguns assumirem formas físicas e aparecerem aos seres humanos (Gênesis 18). Jesus afirma em Lucas 24:39 que os espíritos não tem carne nem ossos. Como “[...] tais, muitos anjos podem estar presentes em um lugar, como se deu com o endemoninhado que tinha no corpo uma legião de espíritos malignos. Lucas 8:30 [...]. Além disso, é só por milagre que os anjos podem ser vistos pelos seres mortais [...].”77 (ver. II Reis 6.17). Embora sejam como Deus, imateriais, os mesmos não constituem a eternidade, pois esse atributo é exclusivo de Deus, são seres imortais, porém criados. 7.4. Moral-Caráter dos Anjos Os anjos, diz Berkhof “... estão sob obrigação moral; são recompensados pela obediência, e punidos pela desobediência. A Bíblia fala dos anjos que permaneceram leais como ‘santos anjos’, Mt 25.31; Mc 8.38; Lc 9.26 [...].” 78 Pearlman diz que os santos anjos são obedientes e “[...] cumprem os seus encargos sem questionar ou vacilar. Eles são inteiramente sujeitos a Deus e a Cristo (ver. Ef 1.22; I Pe 3.22), como “espíritos ministradores, enviados para servir a favor dos que hão de herdar a salvação” (Hb 1.14). Os anjos “[...] se dedicam a adorar a Deus e a cantar-lhe louvores (cf. Ap 5.914; Sl 148.2; 103.21; Lc 2.13,14) [...].”79 76 Ibid. p.133 GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Volume 1. p.964 78 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 134 79 IBID., p.327 77 7.5. Atividades dos Anjos Os anjos possuem várias funções: “Como todas as criaturas racionais de Deus, os anjos foram criados para a glória dEle. Eles cantam (Jó 38.7; Ap 4.11); e louvam a Deus (Sl 148.2) [...].”80 Os anjos são serviçais de Deus (Cl 1.16; Jó 1.6;2.1). Berkhof distingue o serviço dos anjos como: comum e o serviço extraordinário. Como comum ele diz consistir em louvar a Deus dia e noite: “[...] Jó 38.7; Is 6.3; Sl 103.20; 148.2; Ap 5.11 [...].”81 Champlin ainda fornece outras as tarefas dos anjos: “a. Anunciar e avisar de antemão (ver Gên. 18:9ss; Juí. 13:2-24...) [..]) b. Guiar e instruir (ver Gên 24:7,20; 28:12-15; Êxo. 14:19; 23:20...) [...]) c. Guardar e defender, o que explica os anjos guardiões e seus serviços (ver Sal. 34:7; Gên. 32:24ss; Êxo. 14:19ss; Núm. 22; II Reis 6:17...) [...] d. Ministrar aos necessitados (ver Gên 21:17ss; Êxo. 3:7; Mar. 1:13; lc. 22:43...) [...].”82 7.6. Satanás O assunto sobre Satanás é tão relevante a ser tratado quanto o tema já aqui tratado dos anjos bons. Pois como os anjos bons, muitos afirmam a não existência de tal ser. Muitos eruditos declaram que Satanás, não existe e nunca existiu, contudo o mesmo não passa de mero produto da imaginação dos iletrados. Bancroft diz que tais pessoas “[...] desconhecem sua presença e seu poder. Como pode ser resolvida a questão? Somente através do exame e estudos cuidadosos das Santas Escrituras, que devem constituir o tribunal supremo em todas as questões semelhantes [...].”83 a. Quem é Satanás? Não é difícil descrevermos Satanás, Gonzáles, o descreve simplesmente como “[...] o inimigo de Deus [...].”84 Esta pergunta será respondida mais claramente nos tópicos abaixo, a medida em que tratarmos do assunto. 80 GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Volume 1. p.966 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.136 82 CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Volume I. p.173 83 D.D. E.H. Bancroft. Teologia Elementar. p.301 84 GONZÁLES, Justo. Breve Dicionário de Teologia. p.299. 81 b. Sua Origem A Bíblia nos ensina que “[...] Satanás era originalmente Lúcifer (literalmente, ‘o que leva a luz’,) o mais glorioso dos anjos [...].”85 Mas ele ostentou o querer ser igual a Deus. No capítulo 14 de Isaías e 28 de Ezequiel notamos os fatos históricos da ostentação e queda desse querubim de luz. “De acordo com a história, ele começou a pensar sobre a grande beleza e sabedoria que Deus lhe dera quando o criou (Ez 28.13,17). Talvez ele começou a pensar mais em si mesmo do que em Deus, e ficou presunçoso [...].”86 Assim, começou desviar para si a adoração devida e unicamente a Deus. Em “[...] consequência desse seu pecado, ele foi rebaixado em sua pessoa, posição e poder, tornando-se o grande adversário de Deus e o inimigo do homem.”87 Portanto, podemos entender que em sua originalidade Lúcifer era perfeito e bom, mas o orgulho o corrompeu a ponto de levá-lo contra o seu Criador, então o mesmo se transformou no grande inimigo de Deus, pois o nome Satanás o revela como “o Adversário”, não somente do homem, mas em primeiro lugar de Deus. c. Caráter É possível encontrarmos várias qualificações que expressam o caráter de Satanás, e essas qualificações são representados pelos seguintes nomes a ele atribuídos pela Escritura: Satanás – significa “adversário” e “[...] descreve seus intentos maliciosos e persistentes de obstruir os propósitos de Deus. Essa oposição manifestou-se especialmente nas suas tentativas de impedir o plano de Deus ao procurar destruir a linhagem escolhida, da qual viria o Messias – atividade predita em Gên. 3:15 [...].”88 Thomas Montgomery falando sobre Satanás nos diz: “Satanás – Aborrecedor - Aborrece a Deus e aos homens. Ele está cheio de ódio, malícia e desprezo contra tudo o que é santo, puro, justo, amável.”89 Outra de suas qualidades ou caráter é a astúcia. Através da sedução conduziu Eva a comer do fruto proibido (ver. Gên. 3:1-6). O engano também faz parte do caráter de Satanás, logo é uma de suas atividades. O seu poder de engano é tão grande “[...] que ilude todos aqueles que não têm o amor verdadeiro [...]. Em 85 PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia. p.86 JR. Wilbur O’Donovan. O Cristianismo Bíblico da perspectiva africana. p. 204 87 D.D. E.H. Bancroft. Teologia Elementar. p.301 88 PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. p.87 89 www.PalavraPrudente.com.br/estudos/thomas_montgomery/anjos/cap01.html. p.7 86 personalidade e caráter, Satanás é a materialização e a expressão do mal.”90 Textos como II Coríntios 11:14; II Tessalonicenses 2:9,10, deixam bem claro o seu poder de engano. Eurico diz que uma das armas de Satanás é procurar que os crentes estabeleça um acordo com as trevas (cf. 2 Co 6.14-16). Por meio de falsas promessas (cf. 2 Pe 219) procura enganar os simples, e, para isso, cega-lhes a vista (cf. 2 Co 4.3,4). As tentações é outra arma usada pelo inimigo. Por meio da tentação procurou “[...] derrubar o próprio Jesus [...] (cf. Mt 4.1-11). Assim, todos são tentados (cf. 1 Jo 2.15,16).”91 d. Sua Posição Quanto à posição de Satanás, no conceito de hierarquia espiritual, entendemos que ele esteve, está e estará sempre sujeito a Deus. Contudo a Bíblia o declara como: (1) Príncipe da potestade e do ar (Ef. 2.2). Satanás ao receber esse título é considerado como possuidor de um reino, o que indica sua autoridade e poder em relação às regiões celestes.”92 (2) Príncipe deste mundo (Jo. 14.30). (3) O deus deste século (2 Co. 4.4; 2 Ts 2.3,4). e. Atividades Quanto à atividade do Diabo, podemos perceber que está diretamente ligado ao seu caráter, em outras palavras, ele não prioriza e nunca priorizará o bem em nenhum aspecto. Satanás, assim como os demais anjos maus, implica em se opor contra Deus e lutar para que os planos divinos não sejam realizados. Seu próprio (Adversário) indica esse fato. Portanto entendemos que sua principal atividade é opor-se ao Eterno e seus desígnios. f. Destino Desde o princípio Deus predisse e decretou a derrota de Satanás (ver. Gên. 3:15). Bancroft cita Apocalipse 20:10, para falar sobre o destino final de Satanás: 90 D.D. E.H. Bancroft. Teologia Elementar. p.304 BERGSTÉN, Eurico. Introdução à teologia sistemática. p.343 92 D.D. E.H. Bancroft. Teologia Elementar. p.305. 91 “A carreira de Satanás, desde sua rebelião, tem sido de constante declínio. Sua descida começou no ponto em que ele tentou subir. Quando ele disse: ‘Subirei’, então começou a descer. Quando começou a exaltar-se, então Deus começou a rebaixá-lo. E esse rebaixamento prosseguirá até que ele seja privado do último vestígio de autoridade e poder, quando for lançado, em abjeta impotência, na qualidade de arqui-criminoso do universo, nas chamas eternas. Satanás está debaixo da maldição perpétua; sua derrota foi decretada na cruz; ele está destinado a ser expulso dos lugares celestiais, aprisionado no abismo e, finalmente, lançado no lago do fogo.” 93 A Bíblia declara explicitamente a condenação eterna de Satanás (Ap. 10.20). Ela também sempre “[...] descreve o estado perdido dos demônios como final e eterno [...] (2 Pe 2.4; cf. Jd6). Até os demônios reconhecem a sua perdição eterna, pois como um deles nos Evangelhos disse a Jesus: ‘Que temos nós contigo, Jesus, Filho de Deus?’ (Mt 8.29) Em Apocalipse, também está escrito que Satanás sabe ‘que já tem pouco tempo’ (Ap 12.12).”94 Bibliografia Capítulo 8 CHAM PLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. 6ª edição. Volume 1. São Paulo: Hagnos. 2002. 1039p. PEARLM AN, M yer. Conhecendo a doutrina da Bíblia. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Dois Irmãos, 1963. 391p. BANCROFT, E.H. Teologia Elementar. 5ª edição. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1986. 378p. GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Volume I. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora CPAD, 2010. 1084p . BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 3ª edição. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2009. 720p. JR, Wilbur O’Donovan. O Cristianismo Bíblico da perspectiva africana. 1ª edição. São Paulo: Shedd Publicações, 2009. 376p. BERGSTÉN, Eurico. Introdução à Teologia Sistemática. 2ª edição. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2002. 436p. SHEDD, R. P., (editor). O novo dicionário da Bíblia. Volume I. 4ª edição. São Paulo: Vida Nova, 1981. 586p. GONZÁLEZ, Justo. Breve Dicionário de Teologia. 1. ed. São Paulo: Hagnos, 2009. 340p. www.PalavraPrudente.com.br/estudos/thomas_montgomery/anjos/cap01.html. VOLTAIRE. Dicionário Filosófico. 1ª edição. São Paulo: Editora Escala, 2008. 480p. 93 94 D.D. E.H. Bancroft. Teologia Elementar. p.312 GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Volume I. p.982 VIII. Cristologia Definição Como o próprio nome propõe, “cristologia é a ciência que tem por objetivo a pessoa e a obra de Cristo...” (CULLMAN, 2001, p.19). 8.1. Concepção Histórica da Doutrina A Cristologia é uma doutrina, como outras existentes na Teologia Cristã, digna de confiança, afirmações e controversas, um assunto de grandes debates, exigindo como consequências muita cautela a ser estuda é claro. E estas divergências existentes a tal doutrina, surgiram desde os primeiros séculos da história do cristianismo. Quanto às controversas existentes à doutrina da Cristologia, encontramos alguns principais motivos, que estão relacionados à limitação do homem entender, por exemplo, a preexistência de Cristo, o nascimento virginal de Cristo, a união das duas naturezas de Cristo, a ressurreição de Cristo, enfim, e muitos outros assuntos instigantes. As principais oposições a tal doutrina estão diretamente ligadas ao conhecido, Movimentos Heréticos, do primeiro século. 1. O Ebionismo – Século I. Ebionismo é a nomenclatura dada a todo movimento que, de alguma forma, procura negar a plenitude divina de Jesus Cristo. Esta é considerada a heresia mais antiga na história do cristianismo. Os ebionitas criam no caráter messiânico de Cristo, porém, não podiam crer que ele, Jesus, era o Filho de Deus em nenhuma hipótese. Pregavam que Jesus, o filho de José, havia sido adotado como Filho de Deus ao ser batizado. Por serem poucos não subsistiram por muito tempo (MATOS, 2011). 2. O Gnosticismo – Século II: O cerne reprovante do gnosticismo em relação à Cristologia é de que: “... Alguns sustentavam que Cristo nunca esteve associado com a carne, mas que Ele simplesmente parecia homem e era realmente puro espírito...” (LATOURETTE, 2006, p.165) Conclui-se que este foi um dos mais perigosos movimentos que se levantou, com o intuito de destruir definitivamente o cristianismo. 3. Arianismo – surgiu no IV século por um presbítero da Igreja, que se revoltou com a mesma, chamado Ário. O arianismo em oposição à doutrina Cristologia da Igreja que afirmava a eterna existência de Deus e do Filho passou a sustentar “[...] que ‘o Filho tem começo, mas que Deus é sem começo’ e que o Filho não é uma parte de Deus [...].” (LATOURETTE, 2006, p.202). Essas foram algumas principais filosofias e heresias que o Cristianismo dos primeiros séculos teve que lutar e contradizer, esclarecendo no ponto de vista bíblico por meio da fé e da razão que Cristo de fato existiu e foi à providência tida por Deus para aproximação do homem a Si. E nessa tentativa, surgiram alguns eventos importantes e marcantes na história do Cristianismo, os conhecidos concílios. Os principais foram o Concílio de Niceia em 325 D.C, para combater as heresias propostas por Ario que já tinha chegado ao topo de tolerância, na confissão de fé do Concílio encontra-se “Ele [Jesus] é Deus de Deus, luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não criado de uma substância com o Pai [...]” (LANE, 2000, p.41,42). E os demais que discutiram, além deste, outros assuntos teológicos precisos para o crescimento da Igreja. Como: Concílio de Constantinopla em 381 D.C, Concílio de Éfeso em 431 D.C. e o Concílio de Calcedônia em 451 D.C. Todos esses Concílios foram precisos para tratar, exatamente, de assuntos que dentro da própria igreja não existia um consenso, em especial os descritos acima que giravam em torno da Cristologia. A partir de então a Doutrina da Cristologia passou a ser mais estudada pela Igreja com o intuito de defesa e veracidade da fé cristã. E isto reflete até os nossos dias. 8.2. As Duas Naturezas de Cristo Desde os primeiros tempos, e mais particularmente através dos concílios a Igreja confessa a doutrina das duas naturezas de Cristo. Os concilios definiram “ Que nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, é Deus e o Homem; Deus, da substância do Pai; [..] homem, da substância da sua Mãe, nascido no mundo, perfeito Deus e perfeito Homem [...], igual ao Pai no que diz respeito à dinvindade; inferior ao Pai no que diz respeito a humanidade, que mesmo sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, não é dois, mas um só Cristo [...].”95 8.3. A Humanidade de Cristo Cristo, como citado acima, foi verdadeiramente homem, Ele encarnou-se e viveu como nós (Jo. 1.14). Essa encarnação a implicou apenas em aceitação de um corpo humano, antes Sua natureza uma foi completa e total. A Bíblia apresenta inúmeras provas dessa natureza humana: “Jesus chamou-se homem a Si próprio, e assim foi chamado por outros, Jo 8.40; At 2.22; Rm 5.15; 1 Co 15.21. [...] Além disso, diz a Bíblia que o Senhor veio ou foi manifestado na carne, Jo 1.14; 1 Tm 3.16; 1 Jo 4.2. Nestas passagens o termo “carne” denota natureza humana. A Bíblia indica claramente que Jesus possuía os elementos essenciais da natureza humana, isto é, um corpo material e uma alma racional, Mt 26.26, 28, 38; Lc 23.46; 24.39; Jo 11.33; Hb 2.14. Há também passagens que mostram que Jesus estava sujeito às leis ordinárias do desenvolvimento humano, e aos sofrimentos e necessidades humanas, Lc 2.40, 52; Hb 2.10, 18; 5.8. Há demonstrações minuciosas de que Ele passou pelas experiências normais da vida humana, Mt 4.2; 8.24; 9.36; Mc 3.5; Lc 22.44; Jo 4.6; 11.35; 12.27; 19.28, 30; Hb 5.7.”96 Devemos ressaltar que a natureza humana de Cristo, foi totalmente livre de pecado. Heber acentua corretamente que “[...] nas palavras e nas obras de Jesus há uma ausência completa de conhecimento ou confissão de pecado. Embora possuísse profundo conhecimento do mal e do pecado, em sua alma não havia a mais leve sombra ou mácula do mesmo [...]” 97 Os ensinos do Novo Testamento não deixam dúvidas que Jesus foi completamente livre de pecado (II Co 5:21; Hb 4:15; I Pe 2:22 etc.) Jesus como homem, se distinguiu de todos os demais homens, pois Ele jamais sofreu uma 95 CULBERTSON, Paul T.; WILEY, H. Orton. Introdução à Teologia Cristã. p.221. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.292. 97 PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. p.144 96 fraqueza moral. “Embora tenha vindo em ‘semelhança da carne’ [...], Ele jamais conheceu o pecado na sua própria experiência [...], Ele era santo, [...] incontaminado e imaculado [...]” 98 8.4. A Divindade de Cristo Cristo é verdadeiramente Deus, ou seja, Ele também é divino. As Escrituras nos fornecem inúmeras provas quanto à divindade de Cristo. A começar pela autoconsciência do próprio Jesus, que mesmo não fazendo nenhuma alegação explicita quanto a sua divindade, faz declarações que seriam impróprias caso não fosse Ele Deus. “[...] Jesus disse que enviaria ‘seus anjos’ (Mt. 13.41); [...] [alegou] perdoar pecados [...] (Mc. 2.5). [...] Em Mateus 25.31-46, Ele fala em Julgar a terra. [...] alega ser um com o Pai (Jo. 10.30), [...] [Jesus também] indica que tem poder sobre a vida e a morte [João 5.21].”99 João assim como Paulo declaram a divindade de Cristo. No Evangelho de João “[...] acha-se o mais elevado conceito da pessoa de Cristo, como se vê nas seguintes passagens: Jo 1.1-3. 14, 18; 2.24, 25; 3.16-18, 35, 36; 4.14, 15; 5.18, 20-22, 25-27; 11.41-44; 20.28; 1 Jo 1.3; 2.23; 4.14, 15; 5.5, 10-13, 20. Um conceito semelhante achase nas epístolas paulinas e na Epístola aos Hebreus, Rm 1.7; 9.5; 1 Co 1.1-3; 2.8; 2 Co 5.10; Gl 2.20; 4.4; Fp 2.6; Cl 2.9; 1 Tm 3.16; Hb 1.1-3, 5,8; 4.14; 5.8, etc.”100 Nos Evangelhos Sinóticos Jesus se sobressai como o Filho do homem e o Filho de Deus. “Seu caráter e Suas obras justificam Sua reivindicação. Notem-se particularmente as seguintes passagens: Mt 5.17; 9.6; 11.1-6, 27; 14.33; 16.16, 17; 28.18; 25.31-46; Mc 8.38, e outras passagens similares, bem como as passagens paralelas.”101 98 BERGSTÉN, ERICKSON, 100 BERKHOF, 101 BERKHOF, 99 Eurico. Introdução à Teologia Sistemática. p. 65 Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. p.276-278. Louis. Teologia Sistemática. p.291. Louis. Teologia Sistemática. p.291. 8.5. O Caráter de Cristo O caráter de Jesus Cristo dá grande aprovação a sua Obra e sua Pessoa. Ele recebeu a aprovação de Deus (Hb. 1.8-9), dos homens (Mt. 27.3-4; Lc. 23.47; At. 4.27), e até dos demônios (Mc. 1.23-24) com relação a Seu caráter. Refente a esse caráter podemos citar quatro pontos: (1) A Santidade de Jesus Cristo. Isso significa que Ele era isento de toda contaminação (1 Jo. 3.5); (2). O Amor de Jesus Cristo, tanto por Deus Pai e sua Lei (Jo. 14.31), pela Igreja (Ef. 5.25), quanto pelos pecadores perdidos (Rm. 5.6-8); (3) a Mansidão de Jesus. Ao dizer “mansidão” nos referimos a Sua atitude de espírito contrária a aspareza, Sua brandura e ternura com as pessoas. Isso inclui também sua tolerância e longaminidade para com os fracos (Mt. 12.20); (4) A humildade de Jesus. Ao dizer “humildade” nos referimos a atitude de mente e coração que se opõem à arrogância, a autoconfiança e ao orgulho, relevando assim total submissão e dependência a Deus (Mt.11.29). 8.6. Os Estados de Cristo Sua Glória Original No decorrer da história da Igreja tem se afirmado a preexistência de Cristo. O próprio Jesus declara isso, nas seguintes palavras: “Antes que Abraão existisse, eu sou (João 8:58); Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que lá desceu, a saber, o Filho do Homem (João 3.13). Nessa preexistência, consistia a glória original de Cristo. João é expressamente notável por suas referências a essa glória original, ele afirma: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. (Jo. 1.1-3). Através desses textos fica evidente, que Cristo participava das obras de Deus, e esteve ativo no processo da criação de todas as coisas. Sua Humilhação A humilhação de Cristo, ou o Estado de Humilhação, tem início na sua encarnação, ou seja, na encarnação do Verbo e chega ao seu fim após sua morte e ressurreição. Esse estado de humilhação é considerado pelo “[...] período em que ele viveu entre nós antes de se levantar dentre os mortos [...]” 102 O texto de Filipenses 2:7-8 é usado pela teologia reformada para distinguir dois elementos na humilhação do Redentor, a saber: “[...] (1) a kenosis (esvaziamento, exinanitio), que consiste em renunciar ele a sua majestade do supremo Governo do universo, e assumir a natureza humana na forma de um servo; e (2) a tapeinosis (humiliatio), que consiste em haver-se ele feito sujeito às exigências e à maldição da lei, e em toda a sua vida ter-se feito obediente em ações e em sofrimento, até ao próprio limite de uma morte vergonhosa [...].” 103 Baseando-se nesse texto podemos afirmar que o elemento essencial e central da humilhação de Cristo está em, ele sendo o Senhor da terra, o Governador de todas as coisas, colocou-se sob a lei para “[...] desincumbir-se das suas obrigações federais e penais a favor do seu povo. Ao fazê-lo, ele se tornou legalmente responsável por nossos pecados e sujeito à maldição da lei [...].”104 Ainda os reformados nos trazem cinco pontos dessa humilhação: encarnação; sofrimento; morte; sepultamento e descida ao hades. Kenosis que tem como significado “... esvazio; anulo; faço A palavra grega vão; torno vão; falso ou fútil.” 105 É conhecida tecnicamente como “esvaziamento”. A teologia aplica esse termo “... ao ato de Cristo, o Filho de Deus, ao tornar-se homem, o que significa que ele se esvaziou de seus atributos e poderes divinos, embora não de sua natureza divina...” 106 Encontramos esse termo em Fl 2:7 Bancroft nos diz que esse esvaziamento de Cristo foi voluntário, e o mesmo consistiu na desistência dos atributos divinos. 102 CAMPOS, Heber Carlos de. A Humilhação do Redentor: Encarnação e Sofrimento. p.22 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.306 104 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.306 105 TAYLOR, W.C. Dicionário do NT Grego. p.117 106 CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Volume 3. p.698 103 Ao contrário dos ensinamentos kenóticos o verbo usado em Filipenses 2:7 não significa que o Logos se esvaziou de sua divindade “[...] mas consiste no fato de o Redentor ter colocado de lado o uso de sua majestade divina, a majestade própria do soberano do universo, havendo assumido a natureza humana na forma de servo. Quando é dito ele se ‘esvaziou’ não podemos dizer que ele deixou de ser o que era – Deus – mas que se colocou numa posição de alguém que ficou, por algum tempo, sem honra devida neste mundo. Ele foi tratado entre os homens como alguém que não era visto no fulgor da glória divina. Embora ele tivesse, mesmo aqui neste mundo, todos os atributos próprios de sua divindade, sua divindade não foi manifestada de modo que todos os atributos fossem vistos pelos homens de maneira inequívoca.” 107 Podemos entender que o fato do esvaziamento e encarnação do Filho de Deus não deixou de lado a sua forma de Deus, pois essa ele sempre teve, e nem a sua natureza divina – isso seria impossível. O se “esvaziar” não o tornou desigual com seu Pai, mas “[...] podemos dizer que ele aquiesceu (ou consentiu) em ter a glória divina coberta e ser apresentado muito veladamente, com apenas algumas manifestações que ele não poderia deixar de fazer, nem poderíamos negar nele [...].”108 Sua Exaltação A palavra exaltação deriva do latim exaltare, “[...] que vem de ex, ‘fora’ e altus, ‘elevado’, ‘alto’. Portanto, exaltar é elevar, é glorificar. Essa palavra significa elevar quanto à posição, ao caráter, à honra e à natureza [...].”109 Devemos, todavia ressaltar que “[...] naturalmente, foi na natureza humana que se realizou a exaltação. A natureza divina não é passível de humilhação ou exaltação [...].”110 Strong nos diz que a natureza da exaltação consistiu essencialmente em: “Um reassumir, da parte do Logos, de seu independente exercício dos atributos divinos. b) O afastamento, da parte do Logos, de todas as limitações em sua comunicação da 107 CAMPOS, Heber Carlos de. A humilhação do Redentor: Encarnação e Sofrimento. p.36 CAMPOS, Heber Carlos de. A humilhação do Redentor: Encarnação e Sofrimento. p.36. 109 CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Volume 2. p.613 110 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p. 317 108 plenitude divina à natureza humana de Cristo. c) O correspondente exercício, da parte da natureza humana, daqueles que pertenciam a ela em virtude da sua união com a divina.” 111 Logo, a exaltação é o estado em que Cristo deixou as fraquezas da carne pertencentes à natureza humana e reassumiu a majestade divina. Depois “[...] da sua morte, Jesus voltou para a destra do Pai, recebeu novamente aquela glória que tinha antes que o mundo existisse, e entrou em pleno uso daqueles poderes que tivera antes do período da sua humilhação [...].”112 Da mesma forma que houve estágios na humilhação, assim acontece também na exaltação. Esses estágios são classificados por: Descida ao Hades; Ressurreição; Ascensão e o Sentar-se à Destra. 8.7. A obra de Cristo Cristo, o Único Mediador. O apóstolo Paulo, escrevendo aos Romanos, diz que assim como por um homem o pecado entrou no mundo, também, por um só homem Deus determinou que viesse o dom gratuito e a abundância da graça (v. Rm 5:17). Sendo assim, a Bíblia nos deixa bem claro que para Deus só existe um Mediador entre Deus e os homens, a saber, Jesus Cristo, homem (I Timóteo 2:5). Mediador é aquele que aproxima partes que estão sem comunicação e que podem estar alienadas, separadas. O profeta Isaías profetizou dizendo: “Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça.” (59:2); Paulo, o apóstolo, escreve dizendo: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus [...].” (Rom. 3:23). Toda a humanidade foi separada de Deus por causa do primeiro Adão, mas o segundo Adão, Cristo, é o Mediador de toda a humanidade para com Deus. A qualificação “Mediador” pertence preeminentemente a Cristo. “Investir qualquer outro com essa prerrogativa é atacar a honra sem paralelo que pertence exclusivamente a Ele, e é também negar a asseveração expressa do texto sagrado.”113 111 STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. v. 2. p.365 LANGSTON, A. B. Esboço de Teologia Sistemática. p.186 113 J. D. Douglas, M.A (org). O novo dicionário da Bíblia. p. 1018 112 8.8. O Tríplice ofício de Cristo No Antigo Testamento os papéis mediadores de profeta, sacerdote e rei eram cumpridos por pessoas separadas, todos esses três ofícios, agora, se fundem na pessoa única de Jesus Cristo. Essa é a sua glória, dada pelo Pai, para dessa forma, ser o todosuficiente Salvador. No Novo Testamento fica claro o uso desses três termos para descrever os ofícios de Cristo: Profeta: Mateus 13:57; Sacerdote: Hebreus 3:1; Rei: Apocalipse 19:16. Para cada ofício citaremos apenas uma referência bíblica, todavia, existem outras tantas passagens que descrevem esses ofícios. Profeta No Antigo Testmanto são empregas três palavras para assinalar um profeta, nabhi, ro’eh e chozeh. A primeira palavra indica alguém que vem com uma mensagem da parte de Deus para o povo. As outras duas acentuam o fato do profeta ser alguém que recebe revelações da parte de Deus, isso na forma de visões. No Novo Testamento o profeta aparece como alguém que fala da parte de Deus. Sendo assim podemos concluir que o profeta é um serviçal de Deus, que recebe Suas revelações, e como mensageiro, fala em Seu nome. Os profetas tinham como dever revelar a vontade de Deus ao seu povo, isso poderia ser feito de várias formas, e instrução, admoestação, exortação, promessas gloriosas ou censuras severas. “Eles eram os monitores ministeriais do povo, os intérpretes da lei, especialmente nos seus aspectos morais e espirituais. Era seu dever protestar contra o mero formalismo, acentuar o dever moral, fazer ver a necessidade do serviço espiritual e promover os interesses da verdade e da justiça. [...] Mas a sua obra também estava intimamente relacionada com as promessas da graça de Deus para o futuro.”114 Berkhof baseado nas Escrituras apresenta uma série de provas bíblicas do ofício profético de Cristo: “Ele é prenunciado como profeta em Dt 18.15, passagem aplicada a Cristo em At 3.22, 23. Ele fala de Si como profeta em Lc 13.33. Além disso, alega que traz uma mensagem do Pai, Jo 8.26-28; 12.49, 50; 14.10, 24; 15.15; 17.8, 20; prediz coisas futuras, Mt 24.3-35; Lc 19.41-44, e fala com singular autoridade, Mt 7.29. Suas poderosas obras serviam para autenticar a Sua mensagem. Em vista disso tudo, não 114 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.329. admira que o povo O tenha reconhecido como profeta, Mt 21.11, 46; Lc 7.16; 24.19; Jo 3.2; 4.19; 6.14; 7.40; 9.17.”115 Sacerdote No sentido bíblico, sacerdote, é uma pessoa divinamente consagrada para representar o homem diante de Deus, enquanto o profeta representava Deus diante dos homens. O sacerdote era que oferecia sacrifícios que assegurassem o favor divino. A passagem clássica nas Escrituras que indica as verdadeiras características do sacerdote é Hebreus 5.1. Nela encontram-se indicados os seguintes elementos: (a) o sacerdote é tomado dentre os homens para ser o seu representante; (b) é constituído por Deus, cf. o versículo 4; (c) age no interesse dos homens nas coisas pertencentes a Deus, isto é, nas coisas religiosas; (d) sua obra especial consiste em oferecer dádivas e sacrifícios pelos pecados. Mas a obra do sacerdote incluía [...] [fazer] intercessão pelo povo (Hb 7.25) e os [...] [abençoar] em nome de Deus, Lv 9.22.”116 Provas acerca do ofício sacerdotal de Cristo, podem ser encontradas nas Escrituras: “O Velho testamento prediz e prefigura o sacerdócio do redentor vindouro. Há claras referências a isto em Sl 110.4 e Zc 6.13. Além disso, o sacerdócio do Velho Testamento, e particularmente o sumo sacerdote, claramente prefiguram um Messias sacerdotal. No Novo Testamento há somente um único livro em que ele é chamado sacerdote, qual seja, a Epístola aos Hebreus, mas ali o nome é repetidamente aplicado a Ele, 3.1; 4.14; 5.5; 6.20; 7.26; 8.1. Ao mesmo tempo, muitos outros livros do Novo Testamento se referem à obra sacerdotal de Cristo [...].”117 Rei Cristo na qualidade de segunda pessoa da Trindade Santa, naturalmente domina sobre todas as criaturas assim como Deus Pai. Seu trono está estabelecido nos céus e o 115 BERKHOF, Louis. Teologia Sis temática. p.329. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.329. 117 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.329. 116 seu reino domina sobre tudo (Sl 103.19). O reinado de Cristo diz Strong “[...] é soberania do Redentor divino-humano que lhe pertencia por direito desde o nascimento, mas que foi exercido plenamente a partir da sua entrada para o estado de exaltação [...].”118 Cristo, contendo esse ofício real, governa todas as coisas no céu e na terra para a glória de Deus. O ofício real de Cristo é a atividade governamental do nosso Senhor à destra de Deus Pai, sobre todas as coisas nos céus e na terra. Nas palavras de Culbertson: “... Da mesma forma que o nosso Senhor Jesus Cristo assumiu formalmente a obra sacerdotal na véspera da crucificação, assim de maneira formal assumiu o ofício como Rei no tempo da Sua Ascensão.”119 Todavia, não devemos olvidar, diz Culbertson, que Jesus Cristo assumiu em Si o ofício de Rei ainda na sua estadia aqui na terra, mas na ascensão que Ele declarou que todas as coisas foram dadas a Ele no céu e na terra (Mat. 28:18). Langston nos traz algumas referências bíblicas para mostrar o reinado universal de Jesus Cristo: “[...] ‘Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião. Proclamarei o decreto: o SENHOR me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei. Pede-me, e eu te darei os gentios por herança, e os fins da terra por tua possessão’. (Salmos 2:6-8). ‘E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas’ (Mateus 25:31-32). ‘E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra’ (Mateus 28:18).”120 118 STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Volume II. p.466,467 CULBERTSON, Paul T.; WILEY, H. Orton. Introdução à Teologia Cristã. p.247 120 LANGSTON, A. B. Esboço de Teologia Sistemática. p.196 119 Bibliografia Capítulo 8. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 3ª edição. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2009. 720p. CAM POS, Heber Carlos de. A Humilhação do Redentor: Encarnação e Sofrimento. 1ª edição. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2008. 624p. CHAM PLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Volume III. 6ª edição. Editora Hagnos, São Paulo, 2002. 5400p. CULBERTSON, Wily. Introdução à teologia cristã. 1ª edição. São Paulo: Casa Nazarena de publicações, 1990. 516p. ERICKSON, M illard J. Introdução à Teologia Sistemática. 1ª edição. São Paulo: Vida Nova, 1997. 540p. LANGSTON, A. B. Esboço de teologia sistemática. 8ª edição. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1986. 305p. PEARLM AN, M yer. Conhecendo a doutrina da Bíblia. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Dois Irmãos, 1963. 391p. STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Volume II. 1ª edição. São Paulo: Editora Hagnos, 2003. 880p. TAYLOR, W.C. Dicionário do NT Grego. 10ª edição. Rio de Janeiro: JUERP, 1991. 247p. CULLM AN, Oscar. Cristologia do Novo Testamento. 1ª edição. São Paulo: Liber, 2001, 440p. M ATOS, Alderi Souza de. Fundamentos da Teologia Histórica. 1. edição. São Paulo: M undo Cristão, 2008, 308p. LATOURETTE, Kenneth Scott. Uma Hitória do Cristianismo. Volume I. 1. Edição. São Paulo: Hagnos, 2006, 921p. LANE, Tony. Pensamento Cristão: Dos Primórdios à Idade M édia. Volume I. 2ª edição. São Paulo: Abba, 2000, 206p. IX. Soteriologia Introdução Nessa pesquisa nos propomos a definir os termos teológicos que estão atrelados diretamente a salvação do homem. Buscamos aqui tratar sobre os seguintes temas: expiação, justificação, regeneração, santificação, glorificação, arrependimento, perdão, graça e fé. Objetivamos mostrar o quão importante é para nós cristãos conhecermos um pouco mais sobre a soteriologia cristã. 9.1. Concepção Histórica A doutrina soterológica possui caráter puramente bíblico, porém ela ganha seu maior destaque nos dias de Agostinho de Hipona, após uma discussão teológica com o monge erudito Pelágio. Com esses personagens surge a discussão que subsiste até os dias atuais, a saber, predestinação e livre-arbítrio. Pelágio se opôs a doutrina agostiniana sobre a graça e o pecado original. Esse monge desprezava tais doutrinas, pois elas tiravam a responsabilidade humana para com Deus, fazendo o indivíduo se apoiar na predestinação a ponto de ser “ocioso” na fé. Mesmo que não nos restaram muitos escritos de Pelágio, ainda sim podemos entender suas doutrinas por vias contrárias, ou seja, pelas refutações e defesas agostinianas. A partir desses personagens a doutrina da salvação ganhou seu valor dentro do campo teológico. Os reformadores apoiaram a ideia agostiniana, pois Agostinho redescobriu o pensamento bíblico da “sola gratia”. É importante ressaltar que Lutero se aproxima a princípio, desta posição, porém decide afastar-se, parcialmente dela. Emil Brunner, em sua Dogmática, afirma que Lutero descobriu duas verdades quanto à doutrina da predestinação: “[...] primeiro, que a doutrina tradicional da Predestinação [...] é teologia especulativa, e assim não cria um conhecimento verdadeiro de Deus [...] e, segundo, que a verdadeira doutrina da Predestinação é simplesmente o conhecimento da Eleição em Cristo Jesus pela fé [...].”121 Calvino, por sua vez, segue fielmente a opinião de Agostinho, e a dogmatiza em seus escritos. Anos mais tarde surge outro personagem que se destaca por suas doutrinas soterológicas, Jacob Armínio. Este discorda da doutrina Calvinista de seu tempo, ressaltando o livre-arbítrio humano, no entanto, por vias diferentes de Pelágio. Armínio conquista diversos seguidores, sua doutrina é ressaltada anos mais tarde dentro da teologia de John Wesley. No século XX Karl Barth se levanta em alta voz contra a doutrina soterológica de Agostinho, Lutero e Calvino, afirmando que eles não criaram uma soterologia cristocêntrica, ao contrário, tal doutrina era antropocêntrica. Barth formula uma nova doutrina, porém, por não deixar claro sua conclusão, foi acusado de universalista. A partir desta leitura vemos que a doutrina soterológica foi ganhando cada vez mais destaque com o passar dos anos, e tem tomado novos rumos nos dias atuais, porém o nosso intuito não é estudar os principais pensamentos sobre a salvação, mas sim, os termos teológicos envolvidos nela. 9.2. A Expiação Em uma definição objetiva, a expiação é o pagamento por uma ofensa contra Deus ou contra outros mediante sacrifício, castigo ou alguma ação semelhante. A expiação é o cerne na teoria substitutiva da redenção. Essa vê Jesus como quem faz expiação pelos pecados de todo mundo. “A expiação para o pecado é parte do que o Mediador sacerdotal faz por meio do sacrifício de si mesmo [...].” 122 Culbertson nos traz uma definição sobre expiação nas palavras de Watson: “[...] ‘A satisfação oferecida à justiça divina por meio da morte de Cristo pelos pecados da humanidade, em virtude do qual todos os verdadeiros penitentes que creem em Cristo são pessoalmente reconciliados com Deus, livrados de toda a pena dos seus pecados e feitos merecedores da vida eterna’ [...].” 123 É de consenso universal (evangélico) a natureza e propósito da expiação, no entanto, há divergência acerca do alcance da mesma. Os calvinistas, diz Geisler “... defendem a expiação limitada, ao passo que os demais advogam que a expiação não tem 121 BRUNNER, Emil. Dogmática. Volume 1. p.447 COLLINS, Kenneth J. Teologia de John Wesley. p.139 123 CULBERTSON, Wiley. Introdução à Teologia Cristã. p.251 122 limites na sua eficácia. Ou seja, os primeiros creem que Cristo morreu somente pelos eleitos, e os segundos defendem que Cristo morreu pelos pecados de todos os seres humanos [...].”124 9.3. A Justificação Não diferente da expiação, a justificação é também uma iniciativa divina para com o homem caído. O apóstolo Paulo na carta aos Romanos marca a sua soteriologia com a frase “justificados pela fé”. Ser justificado implica em uma nova relação com Deus, e a justiça de Deus é atribuía ao pecador. Júlio Andrade diz que “... a justiça é de Deus e torna-se do homem, quando este é por ela alcançado. Dá-se uma restauração da alma a Deus.”125 Bancroft, dando uma definição teórica sobre o termo, diz que por justificação “... referimo-nos àquele ato de Deus mediante o qual, devido a Cristo, a quem o pecador é unido pela fé, Ele declara que esse pecador não mais está sob a condenação, mas tem uma posição de justiça e retidão perante Ele.” 126 A Reforma Protestante tem como um dos seus temas principais a justificação pela fé - e somente por ela - que significa justificação pela graça mediante a fé em Cristo Jesus. “[...] O que os reformadores queriam dizer com isso é que o que torna o pecador justo não são suas obras (...), mas a graça divina [...]”. 127 9.4. Regeneração Regeneração significa literalmente “novo nascimento”. A palavra grega αναγενναω (anagenao) é encontrada no texto de João 3.3, que nos indica a doutrina bíblica do renascimento. É importante ressaltar que esta doutrina se encontra no centro da soterologia. Rodman Williams, em sua Teologia Sistemática, afirma que “A regeneração aponta em particular para a mudança interior que ocorre nos que alcançam a salvação.”128 Quando o apóstolo João se referiu à regeneração, ele “[...] sempre a 124 GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Volume 2. p.263 Ferreira, Julio Andrade (org). Antologia Teológica. p.421 126 BANCROFT, E. H. Teologia Elementar. p.254 127 GONZÁLEZ, Justo. Breve dicionário de Teologia. p.179 128 WILLIAMS, J. Rodman. Teologia Sistemática – uma perspectiva pentecostal. p.381 125 descreveu como um nascimento da parte de Deus (...). Destaca-se nisso a origem do novo nascimento, na atividade sobrenatural do Espírito Santo[...].”129 Finney afirma que a regeneração não é uma mudança de coração como muitos teólogos costumam dizer, mas a: “[...] regeneração é apresentada na Bíblia como algo que constitui uma mudança radical de caráter, como a ressurreição da morte no pecado, como o início de uma vida nova e espiritual, como o que constitui uma nova criatura, como uma nova criação, não uma criação física, mas uma criação moral ou espiritual, como conversão ou voltar-se para Deus, como entrega do coração a Deus, como amar a Deus de todo o nosso coração e a nosso próximo como a nós mesmos [...].”130 Na regeneração Deus age no mais profundo do ser humano. A regeneração é o dom da graça de Deus, é obra imediata, sobrenatural do Espírito Santo. A regeneração insere no regenerado desejos que outrora ele não tinha. 9.5. Santificação Enquanto que na regeneração se é inserido no indivíduo desejos positivos para com Deus, a santificação é o combustível que o move a realizar tais desejos. De acordo com o Breve Catecismo de Westminster a santificação é “[...] obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus, e habilitados a morrer cada vez mais para o pecado e a viver para a retidão [...].”131 A regeneração é um ato instantâneo realizado pelo Espírito Santo de Deus na vida daquele que se entrega a Cristo, porém, a santificação é algo progressivo, é uma mudança contínua operada por Deus em nós. Regeneração é nascimento; santificação é crescimento. Justo González define santificação como o “[...] processo pelo qual o crente se ajusta mais à vontade de Deus (...). A santificação é o processo mediante o qual Deus, 129 CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Volume 5. p.613 FINNEY, Charles. Teologia Sistemática. p.356 131 Bíblia de Estudo de Genebra. p.1352 130 cooperando com o crente mediante a graça, faz que o pecador seja justo e, portanto, capaz de morar na presença de Deus [...].”132 9.6. Glorificação A glorificação é o estágio final de todo o processo de salvação. A glorificação refere-se diretamente ao final de todas as coisas entrelaçando-se assim com a doutrina das últimas coisas, pois tanto a primeira como a segunda visiona para além desta vida, ou seja, para o mundo vindouro. Esse estágio diz do aperfeiçoamento da natureza espiritual do crente, até o aperfeiçoamento do corpo de todos os cristãos, que ocorrerá no momento da ressurreição. Paulo nos ensinou “[...] que a glorificação do crente viria em último lugar. Assim escreveu ele em Romanos 8:30: ‘E, aos que predestinou, a estes também chamou, e aos, que chamou, a estes também justificou; e, aos que justificou, a estes também glorificou’.”133 A glorificação remove de nós todo o pecado e nos coloca em perfeita harmonia com Deus. Champlin nos traz os seguintes casos de glorificação: “1. Tornar glorioso ou honroso, louvar, exaltar (...) 2. Conduzir os crentes ao estado celestial da glória [...].” A glorificação 134 trará para o crente a justificação plena e final, um aperfeiçoamento moral e espiritual, um conhecimento pleno, perfeito (ver 1 Coríntios 13:12). Também como já foi dito haverá uma glorificação do corpo, pois o corpo atual e perecível, sujeito a morte, o corpo glorificado será imune a deterioração; o corpo atual fraco, o ressurreto forte, o de agora físico e por vir será espiritual. “[...] Que seremos então perfeitos e completos é certo [...]” 135 9.7. Arrependimento O arrependimento é a primeira experiência que o crente experimenta para a salvação. A conversão genuína é uma parte essencial e a prova da regeneração. A “[...] regeneração é a obra de Deus no íntimo e a conversão é a exteriorização da salvação, 132 GONZÁLEZ, Justo. Breve dicionário de teologia. p.299 LANGSTON, A. B. Esboço de teologia sistemática. p.249 134 CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Volume 2. p.915 135 ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. p.433 133 por parte do homem, através do arrependimento e da fé [...].”136 O arrependimento bíblico é representado como uma virtude e constitui uma mudança de caráter moral. Quem convence o homem do seu pecado é o Espírito Santo de Deus (João 16:8), portanto, o homem não pode convencer-se dos seus próprios erros por si só, mas depende do convencimento do Espírito Santo. Strong analisa o arrependimento sob três elementos constituintes no mesmo. O arrependimento é a mudança voluntária da mente do pecador, vindo assim rejeitar o pecado. O primeiro elemento: intelectual: mudança de ponto de vista – “[...] reconhecimento do pecado como envolvendo culpa pessoal, contaminação e desesperança (Sl. 51.3,7,11) [...].”137 O segundo aspecto : emotivo: mudança de sentido – “[...] tristeza pelo pecado cometido contra a bondade e a justiça e, portanto, detestável para com Deus (Sl. 51.1,2,10,14) [...].”138 O terceiro elemento é a vontade: mudança de propósito – “[...] a volta interior do pecado e disposição para buscar o perdão e purificação (Sl. 51. 5,7,10; Jr. 25.5). Isto inclui e implica os dois elementos anteriores e é, portanto, o mais importante aspecto do arrependimento [...].”. 139 Em relação ao arrependimento podemos destacar três pontos referentes ao mesmo, a saber, o perdão, graça e fé, que serão discorridos a seguir. 9.8. O Perdão A Bíblia é bem clara quanto ao perdão (Mateus 6:14-15; 9:6; Lucas 5:21, etc.). A mensagem do perdão está profundamente ligada ao significado da salvação. Todavia, para o o homem ser perdoado, ou seja, obter remissão de suas culpas, é necessario ter fé, se arrepender e perdoar ao próximo. O perdão está relacionado ao arrependimento. Em Lucas 15:7-10 “[...] fala-se aos fariseus a respeito do ‘pecador que se arrepende’ [...] (Mt 8,8.10). Conforme estas palavras, fé é a realização fundamental do arrependimento, pois crer não significa mais basear-se nas próprias possibilidades, mas entregar-se à proteção e ao auxílio de Deus [...].”140 O perdão é o meio da graça pelo qual o pecador arrependido tem suas faltas perdoadas mediante os méritos de Cristo. Nem sempre “[...] o perdão livra o 136 BANCROFT, E. H. Teologia Elementar. p.235 STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Volume I2. p.552 138 IBID., p.553 139 STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Volume 2 p.554 140 GOPPELT, Leonhard. Teologia do Novo Testamento. p.156 137 ofensor das consequências sociais e doméstica de sua ofensa [...].” 141 O perdão divino é oferecido gratuitamente a todos quantos se arrependem e creem no evangelho. Ladd afirma com base em Mateus 18:23-35 que o “... perdão divino precede e condiciona o perdão humano (...). O dom gratuito do perdão de Deus impõe sobre os homens a obrigação moral de um espírito perdoador [...]” 142 Jesus Cristo ensinou que o perdão humano e o divino são inseparáveis “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós...” (Mateus 6:14). 9.9. A Graça Em uma definição objetiva, podemos afirmar que graça é “Favor dispensado ou recebido [...], ato de clemência do poder público, que favorece um condenado [...].”143 Esses são alguns significados de graça. Teologicamente, seu significado mais básico é “favor imerecido”, algo que nenhum de nós mereceu, mas mesmo assim temos da parte de Deus por intermédio de Jesus Cristo (cf. Romanos 5:20). Portanto, a graça de Deus se estendeu para todos nós por intermédio de seu filho, por isso hoje recebemos esse favor imerecido. Heber Carlos define graça, citando Abraham Booth, da seguinte forma: “A graça pode ser definida como ‘o favor eterno e totalmente gratuito de Deus, manifestado na concessão de bênçãos espirituais e eternas às criaturas culpadas e indignas’. A graça é a concessão de favores a quem não tem mérito próprio, e pelos quais não exige compensação alguma.”144 A graça não é somente dada a quem não tem mérito, mas também aqueles que merecem condenação. 9.10. A Fé A fé é o instrumento pelo qual uma pessoa é salva. O apóstolo Paulo escreve aos Romanos dizendo que pela fé todos são justificados, pela fé em Cristo Jesus, como Salvador e Senhor. Ora, pela fé os cristãos vivem suas vidas e por meio dela sustentam sua esperança. Através da fé o crente se entrega com toda a sua alma as verdades do 141 ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. p. 237 LADD, Geoge Eldon. Teologia do Novo Testamento. p.108,109 143 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Dicionário da língua Portuguesa. p.351 144 CAMPOS, Heber Carlos de. O Ser de Deus e os seus atributos. p.303 142 Evangelho e se compromete com elas. A fé é “[...] uma confiança em Cristo, uma entrega da alma e de todo o ser ao Senhor, nos seus vários ofícios e relações com os homens. É uma segurança nEle e no que está revelado a seu respeito em sua palavra [...].”145 A partir do momento em que Cristo é conhecido pela iluminação do Espírito, diz Edward o “[...] todo da fé tem início [...]. Dizer isto é também dizer que a razão humana, a razão ‘natural’, da ‘carne’ não contribui em nada para o que a fé conhece [...].” 146 Para chegar a fé é necessário a iluminação do Espírito Santo de Deus na mente humana, pois através da razão pura jamais o homem poderá alcançá-la. O Espírito Santo é quem imputa no homem a fé em Cristo Jesus e através dela podemos conhecer mais de Deus. No entanto, isso não significa que a fé “[...] é uma forma de conhecimento; ela atua em conjunto com a razão, não contra ela [...]” 147 , diferente do posicionamento fideísta de Kierkegaard, que afirma que “[...] a fé principia exatamente onde termina a razão”148 Bibliografia Capítulo 9: ANDRADE, Claudionor Corrêa. Dicionário Teológico. 12ª edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2003. 344p. BANCROFT, E.H. Teologia Elementar. 5ª edição. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1986. 378p. Bílbia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. 1728p. BRUNNER, Emil. Dogmática vol. 1 – Doutrina Cristã de Deus. 2ª edição. São Paulo: Fonte Editorial, 2010, 458p. CAM POS, Heber Carlos de. O ser de Deus e os seus atributos. 2ª edição. Editora: Cultura Cristã, São Paulo, 2002. 431p. CHAM PLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Volume 2. 6ª edição. Editora Hagnos, São Paulo, 2002. 750p. CHAM PLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Volume 5. 6ª edição. Editora Hagnos, São Paulo, 2002. 995p. COLLINS, Kenneth J. Teologia de John Wesley. 2ª edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2010. 445p. CULBERTSON, Wily. Introdução à teologia cristã. 1ª edição. São Paulo: Casa Nazarena de publicações, 1990. 516p. ERICKSON, M illard J. Introdução à Teologia Sistemática. 1ª edição. São Paulo: Vida Nova, 1997. 540p. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. M ini Dicionário da língua Portuguesa. 4ª edição. Editora: Nova fronteira, Rio de Janeiro, 2001. 790p. FERREIRA, Julio Andrade (org) Antologia Teológica. 1ª edição. Editora: Fonte Editorial, São Paulo, 2005. 797p. FINNEY, Charles. Teologia Sistemática. 2ª edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2001. 743p. GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Volume II. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora CPAD, 2010. 1084p. GONZÁLEZ, Justo. Breve Dicionário de Teologia. 1ª edição. Editora: Hagnos, São Paulo, 2009. 338p. 145 FINNEY, Charles. Teologia Sistemática. p.458 FERREIRA, Julio Andrade (org). Antologia Teológica. p.441 147 IDEM. 148 KIERKEGAAR, Soren A. Temor e Tremor. p.47 146 GOPPELT, Leonhard. Teologia do Novo Testamento. 3ª edição.São Paulo: Editora Teológica, 2002. 556p. KIERKEGAAR, Soren A. Temor e Tremor. 1ª edição. São Paulo: Editora Hemus, 2008. 115p. LANGSTON, A. B. Esboço de teologia sistemática. 8ª edição. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1986. 305p. LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. 2ª edição. São Paulo: Editora Hagnos, 2003. 899p. STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Volume II. 1ª edição. São Paulo: Editora Hagnos, 2003. 880p. WILLIAM S, J. Rodman. Teologia Sistemática – uma perspectiva pentecostal. 1ª edição. São Paulo: Editora Vida, 2011. 1211p . X. Paracletologia – Doutrina do Espírito Santo Definição Esse é o estudo da pessoa do Espírito Santo. Pneumatologia é definido como segmento da doutrina cristã que trata do Espírito Santo. Porém os teólogos de modo geral, preferem a palavra Paracletologia que também diz respeito ao estudo da pessoa do Espírito Santo sobre sua participação na salvação. Usa-se esses vocábulos, portanto, para expressar o estudo da pessoa, obra e ministério do glorioso Espírito Santo. 10.1. Termos Usados Ruach No Antigo Testamento esse substantivo denota vários significados, contudo no mais pleno sentido cristão, todas às vezes que se fala de rûah de Deus, logo se entende que o escritor está se referindo ao Espírito Santo de Deus. hWr – Vento, sopro, mente, espírito. Essas são as definições usadas para esse verbete. Esse substantivo “[...] ocorre 387 vezes no AT, sendo geralmente de gênero feminino. Embora alguns estudiosos entendam que o vocábulo deriva de rãwah, ‘ser espaçoso’, ‘estar refrescado’ [...] ‘perceber mediante aspiração de algo no ar’” (HARRIS, Laird. R; JR, Gleason L. Archer; WALTKE, Bruce K, 2008, p.1407). É mais comum utilizar esse substantivo para falar sobre o fôlego de vida – tanto de homens como animais –, para dar referência aos ventos do mundo, conota-se também força, o “espírito” da pessoa “[...] se consome quando ela fica doente ou fraca (Jó 17.1), mas volta como um novo fôlego e a pessoa revive (Jz 15.19; 1 Sm 30.12...).” (HARRIS, Laird. R; JR, Gleason L. Archer; WALTKE, Bruce K, 2008, p.1407) Rûah denota também a consciência imaterial do homem, ou seja, o espírito do homem. Esse para alguns pode deixar o corpo do homem por ocasião da morte e existir num estado separado do corpo, diz-se da imortalidade da alma, todavia para outros ao morrer o homem morre também o seu rûah. Portanto, percebemos que esse termo tem que ser bem estudado quando se estiver fazendo uma tradução dos textos sagrados para poder aplicá-lo da forma mais coerente ao seu contexto, mas sempre notando que os personagens bíblicos utilizam o substantivo para referir-se ao Espírito Santo de Deus. 10.2. Pneuma Sopro, hálito, vento, respiração, vida, espírito, alma. Essas são as definições que Rusconi, traz desse substantivo. Nota-se que tem semelhança com rûah já descrito acima. A raiz grega pneu, da qual se deriva essa palavra para “espírito”, denota o movimento dinâmico do ar. Para o Novo Testamento é uma palavra de grande significância, “[...] forma-se desta raiz com o sufixo – ma denota o resultado desta ação, a saber, colocar o ar em movimento, sendo que o ar é considerado uma substância especial, com ênfase subjacente sobre seu poder inerente.” (COENEN; BROWN. 2009, p.713). Champlin (2002) diz que, embora essa palavra tenha vasto significado, no campo da teologia a palavra basicamente se refere a “respiração” ou “vida”, também se fala da parte espiritual do homem, e vai um pouco mais além denotando a espiritualidade de Deus, ou seja, o Espírito Santo. Assim como rûah tem suas variantes de significados e cabe ao leitor buscar fazer uma análise léxica sintática todas as vezes que se deparar com a mesma, não é diferente com pneuma. 10.3. Paracleto Usado no quarto evangelho (Jo. 15:26) como alguém prometido da parte de Cristo que viria para não deixar os filhos de Deus órfão. consola e defende, advogado, consolador. Essas são as definições usadas para esse vocábulo. Paraklétos também possui outros sentidos no grego clássico como convocar, mandar chamar, intimar, exortar, encorajar, confortar, consolar. Isso significa literalmente chamar à ajuda de alguém, ou seja, para estar do lado de outrem a fim de ajudá-lo, por isso Ajudador seria a melhor opção para se traduzir Paraklétos. CONCEPÇÃO HISTÓRICA DA DOUTRINA Nos primórdios do cristianismo, a Igreja cria no que estava revelado na superfície das Escrituras, todos confessavam no batismo ou na benção apostólica o Pai, o Filho e o Espírito. Com está fé simples a Igreja era sustentada, sendo assim existia entre os teólogos grande obscuridade com relação à natureza e ao ofício do Espírito Santo. Os arianos e os semiarianos ensinavam que o Espírito fora criado pelo Filho, que por sua vez fora criado pelo Pai. Isso acendeu tanta controvérsia e agitação, que o primeiro concílio de Niceia, em 325 d.C., e em seguida o de Constantinopla, em 381 d.C., foram convocados para elaborar doutrinas satisfatórias quanto a esse tema. O credo de Niceia reitera a declaração do credo Apostólico que afirma “Creio no Espírito Santo”, mas essas recebem acréscimos no Credo de Constantinopla: “Creio no Espírito Santo, o divino o doador da vida, que procede do Pai, o qual deve ser adorado e glorificado com o Pai e com o Filho, e o qual falou pela boca dos profetas”. O credo de Atanásio declara que o Espírito é consubstancial com o Pai e com o Filho, que ele é não criado, eterno e onipotente, igual em majestade e glória, e procedo do Pai e do Filho. Esses credos foram adotados por toda a Igreja Católica, e assim a doutrina do Espírito Santo encerrou-se. (HODGE, 2001, p.397). 10.4. Simbologia Paracletológico Na Escritura usa-se uma variante de símbolos para indicar o Espírito Santo. A Bíblia se vale deste simbolismo para conceder um esclarecimento melhor sobre a pessoa do Espírito Santo de Deus. À luz da Bíblia descreveremos o que esses símbolos significam o que representam e quais são eles. Vento – Esse é uma representação mais vívida do Espírito Santo. “O vento, como um símbolo do Espírito Santo, é descrito de modo notável na descida do Espírito Santo no Pentecoste. Atos 2.2 [...] Vento ou fôlego é uma figura de linguagem vívida que descreve o Espírito Santo de Deus como uma força móbil e um tipo de energia divina” (WILLIAMS, 2011, p.478-479) Fogo – Um símbolo muito usado para se referir ao Espírito Santo. Mas o que é o fogo? O substantivo grego pur (fogo) é usado, além do seu significado natural comum, para expressar a santidade de Deus, que consome tudo o que é inconsistente com ela. Entretanto, o fogo pode simbolizar “o revestimento de poder (Lc 3.16), a santidade de Deus (Hb 12.29), o juízo vindouro para os ímpios (Mt 3.11,12), purificação (Is 6.1-7) [...] direção, pois ilumina e guia (Êx 13.21,22; Sl 78.14 [...].” (CHAGAS, 2011, p.11). Água – Esse é um elemento que não pode faltar na vida humana. Ela ocupa posição de destaque na lista das necessidades humanas vitais assim como Espírito Santo! Água é considerada como purificadora. Portanto, o Espírito Santo “[...] é visto como água viva, que satisfaz os anseios mais profundos do coração humano, e traz vida e fruto para situações em que não há vida, como a chuva e a água física trazem vida para o deserto.” (DONOVAN, 1999, p14). Azeite/Óleo – Este também é um símbolo popular do Espírito Santo. Aparece por várias vezes no Antigo Testamento. Era usado para ungir diversas. “Para a mente judaica, acostumada às práticas do Antigo Testamento, a unção representa a consagração a um ofício ou ministério santo.” (CHAGAS, 2011, p.13). No Novo Testamento o Espírito Santo continua a ungir pessoas para desempenhar, com excelência, determinados ministérios “[...] visando a adoração a Deus, a evangelização dos perdidos, a edificação dos santos e realização de ações sociais transformadoras.” (CHAGAS, 2011, p.14). Selo – O apóstolo Paulo usa essa expressão para se referir ao Espírito Santo (Efésios 1.13,14; 4.30). Essas passagens descrevem o Espírito Santo como um selo no sentido de designar tanto a propriedade de Deus quanto sua proteção. “Quando o Espírito Santo é dado ao crente, o evento é uma certificação de que ele pertence a Deus, a ratificação de seu estado em Cristo: ele é a posse inviolável de Deus [...].” (WILLIAMS, 2011, p.481). Pomba – No imaginário popular essa ave significa paz, liberdade, pureza, inocência, brandura, bondade e o Espírito Santo. Ambos são “[...] sinônimos de amor, bondade, justiça, gentileza, ternura, liberdade, simplicidade e humildade. Afirma-se que o Espírito Santo é um Ser modesto; seu grande ideal é que as pessoas conheçam e sirvam a Deus e Jesus (Jo 17.3).” (CHAGAS, 2011, p.14). 10.5. A Pessoa do Espírito Santo Quando se fala da pessoa do Espírito Santo, logo temos que pensar em sua personalidade. Ao pensar em personalidade, refere-se que Ele possui ou contém em Si mesmo elementos de existência pessoal. Devemos sempre ter em mente que o Espírito Santo não é uma influência ou um poder divino, mas é uma pessoa em si mesma que se relaciona com todos quantos o permitem fazer morada em seus corações. No Novo Testamento as evidências que Ele é uma pessoa é muito clara. Nos discursos de Jesus há várias referências a essa personalidade. O Parakléto, já estudado aqui, é uma característica a pessoa. Além disso, “João 16.13, embora os termos ‘o Espírito’ sejam neutros, um pronome masculino aparece: ‘Quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade’. Assim, ‘o Espírito da verdade’, o Paráclito, é definitivamente uma pessoa” (WILLIAMS, 2011, p.484) Bancroft (1986), diz que a personalidade existe quando se encontra, em uma combinação de elementos como: inteligência, emoção e volição, autoconsciência e autodeterminação. Esses elementos todos são encontrados na pessoa do Espírito Santo. A Bíblia oferece mais provas sobre a personalidade do Espírito Santo, vejamos: “A primeira [...] Todos os atributos de uma pessoa são, pela Bíblia, atribuídos ao Espírito Santo [...] Pensar, Sentir, Querer, Consciência Própria e Direção Própria.” (LANGSTON, 1986, p.253). A segunda prova da personalidade são os atos que só podem ser praticados por uma pessoa: “O Espírito Santo fala [...] (Apocalipse 2:7); [...] O Espírito Santo clama [...] (Gálatas 4:6), [...] nos ensina acerca de Jesus Cristo [...]. O Espírito Santo é também nosso Guia [...] (João 16:12-14).” (LANGSTON, 1986, p.256, 257). A terceira prova que Langston mostra através da Bíblia é atinente ao Seu ofício. “Ele é chamado de Consolador [...] (João 14:16,17) [...]. O Espírito Santo está em condições de manter uma relação muito mais íntima conosco do que Jesus podia manter quando estava na carne. E, um dos pensamentos mais confortantes é este, de termos no Espírito Santo uma pessoa tão real, tão divina, tão amável, tão digna da nossa confiança, tão pronta a nos socorrer como nos dias em que Jesus esteve aqui na terra.” (LANGSTON, 1986, p.258). 10.6. Natureza do Espírito Santo Para se conhecer a personalidade do Espírito Santo jamais serão suficientes apenas os estudos dos simbolismos que O representa, mas uma análise aos nomes dado a Ele, pois através deles é possível conhecer –não exaustivamente – a personalidade do Espírito Santo de Deus. 1. O Espírito de Deus (I Co 3:16) – Esse nome O retrata como procedente de Deus. 2. O Espírito da Verdade (João 14:16-17) – Nessa perícope de João fica muito claro que o Espírito da Verdade é o mesmo Espírito Santo. Em João 15.26; 1João 4.6; 5; podemos ver mais referências sobre o Espírito da Verdade, assim como Deus é amor, o Espírito Santo é Verdade. “Ele possui, revela, proporciona, introduz, testifica e defende a Verdade. Nesse sentido Ele se opõe ao ‘espírito do erro’ (1 Jo 4.6).” (BANCROFT, 1986, p.190) 3. O Espírito de Cristo (Romanos 8:9) – É assim chamado porque ele é enviado em nome de Cristo (João 14:26). 4. O Espírito Eterno (Hebreus 9:14) – Nesse nome está intrinsecamente ligado o atributo da eternidade e esse atributo é característico da natureza de Deus, “semelhantemente a eternidade pode ser e é atribuída ao Espírito Santo como umas das distinções pessoais no Ser de Deus.” (BANCROFT, 1986, p.188). 10.7. Dispensação do Espírito Santo Dispensação é o nome que se dá a cada um dos pactos que Deus estabelece com a humanidade nas Escrituras. A dispensação do Espírito Santo tem seu início quando Jesus ascende ao céu, após a sua subida, Ele envia o Espírito Santo para o mundo. O Pentecostes marca essa nova dispensação, conhecida como a dispensação da graça – a do Espírito Santo. Essa não deve ser “[...] entendida como substituindo a obra de Cristo, mas ministrando-a e completando-a. Jesus indicou que Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar (João 16:15)” (CULBERTSON, 1990, p.284). 10.8. O Espírito Santo no Antigo Testamento O Espírito Santo na qualidade de Terceira Pessoa da Divindade é pré-existente, e esteve sempre ativo. Podemos observar pelo menos cinco aspectos diferentes da obra do Espírito Santo no Antigo Testamento. A primeira obra está relacionada à criação “Ele é o princípio da vida física e psicológica do homem. O homem em cada porção de sua natureza – espírito, alma e corpo – foi criado para estar sujeito aos recursos do Espírito Santo de Deus, aprendendo a refletir a Deus.” (DOUGLAS, v.1, 1981, p.546). A segunda obra refere-se ao equipamento para o serviço: “O Espírito vem sobre aqueles a quem Deus seleciona para que façam tarefas especiais [...] confere aos mesmos, habilidades para se desincumbirem de seu dever [...] (Êx 31:3); [...] (Jz 3:10); [...] (Jz 14:16).” (DOUGLAS, v.1, 1981, p.546). A terceira obra é atinente a inspiração dos profetas “Sua obra é contemplada como pertencente a uma alta ordem moral, e a possibilidade de espontaneidade espiritual e não-conformismo independente pode ser reconhecida (cf. a exclamação de Moisés em Nm 11:29).” (DOUGLAS, v.1, 1981, p.546). A quarta obra é ligada à produção de uma vida moral, para o salmista (51;139) “[...] a presença do Espírito significa um espírito quebrantado e contrito no homem, bem como coração limpo, constância e alegria.” (DOUGLAS, v.1, 1981, p.546). A quinta obra consiste na predição do Messias “As referências antecipatórias pertencem a duas espécies. Em primeiro lugar, aquelas que profetizam uma habitação diretamente do Espírito em uma personagem messiânica (Is 11:2-9; 42:1-4; 61:1,2...) em segundo lugar, aquelas que indicam a experiência mais geral da atividade do Espírito pelo povo da nova aliança com Deus” (DOUGLAS, volume 1, 1981, p.546). 10.9. O Espírito Santo no Novo Testamento No Novo Testamento se vê a atividade do Espírito na concepção, batismo, tentação e nos milagres de Jesus. Em João Ele é apresentado como outro Consolador, ou o Paracleto. O Senhor Jesus promete a seus discípulos que receberiam o Espírito depois de sua partida, e o cumprimento dessa promessa é visto no Pentecostes (Atos 2). (GONZÁLES, 2009). Os quatro evangelhos mencionam uma relação profunda entre Jesus e o Espírito Santo, relação essa que nenhuma outra pessoa tem. Contudo, diferente do Antigo Testamento, o Espírito Santo não é somente para algumas pessoas no Novo Testamento, mas sim, a todos quantos receberem Cristo como Senhor e Salvador esse dom é dado. O Novo Testamento está repleto de referências ao Espírito Santo, é dito que apenas em II e III João o mesmo não é apresentado. Nas epístolas que tratam sobre a experiência da Igreja encontra-se o ensino mais elaborado acerca do Espírito Santo. As manifestações dos dons do Espírito no Novo Testamento são apresentadas de várias formas: falar em línguas (glossolalia), presidir, profetizar, ensinar curar etc. (GONZÁLVEZ, 2009, p.118). Sem dúvida a maior ocupação do Espírito Santo ficou reservada para o Novo Testamento, a partir desse novo pacto, Sua obra ficou mais clara, as ações do Espírito na Igreja Primitiva refletem o que faz – ou quer fazer – na Igreja atual. 10.10. O Espírito Santo na Igreja O Pentecostes foi o nascimento da Igreja cristã. O Espírito Santo organizou a Igreja no Pentecostes com os indivíduos remidos por Cristo. Isto “realizou-se pela promulgação de uma nova Lei escrita nos corações e nas mentes dos remidos. Assim como o corpo físico possui uma vida comum que une os membros num organismo também comum, o Espírito Santo dispõe os membros no corpo espiritual como Ele quer, unindo-os num organismo único sob Cristo como Cabeça espiritual e vivente.” (CULBERTSON, 1990, p.290). Cristo quer além de salvar o indivíduo formar um organismo espiritual de pessoas remidas que se relacionam mutuamente. Nesta Igreja o Espírito Santo é a ponte que liga, uni os membros uns aos outros e todos a Cristo, que é o Cabeça da Igreja. 10.11. O Espírito Santo no Indivíduo Ninguém pode chegar a arrepender-se do seu pecado e ter fé em Cristo, a não ser pela ação do Espírito Santo, pois Ele quem convence o homem “[...] do pecado, da justiça e do juízo” (cf. João 16.8-11). Esse mesmo Espírito é quem persuade as pessoas a crerem que Cristo é o único por quem um pecador pode encontrar perdão para o seu pecado. Sendo assim, o Espírito Santo é quem traz as pessoas ao ponto de se converterem. “O indivíduo em Cristo está também ‘no Espírito’ [...] A vida ‘no Espírito’ não é uma benção conferida a uma categoria particular de crentes; pois ela é verdadeira para todos eles.” (LADD, 2003, p.655) 10.12. Conversão – O Novo Nascimento A conversão, também conhecida como novo nascimento, é obra exclusiva do Espírito Santo. O mestre farisaico, Nicodemos, que foi inquirir a Jesus sobre algumas coisas, ouviu Cristo dizer que era necessário nascer de novo. O espírito de uma pessoa não convertida está morto por causa do pecado, e somente o Espírito Santo pode fazer a obra vivificadora então espírito. “O nascimento do Espírito é a comunicação de vida divina à alma. Não é meramente uma reconstrução ou remodelação da vida antiga; é a comunicação à alma ou a implantação dentro dela da nova vida do Espírito.” (CULBERTSON, 1990, p.288). Podemos definir a regeneração como “[...] a transformação miraculosa do indivíduo e a instalação da energia espiritual. Jesus deixou bem claro a Nicodemos que a regeneração, que é essencial para sermos aceitos pelo Pai, é um acontecimento sobrenatural, e o Espírito Santo é o agente que o produz (Jo 3.5,6).” (ERICKSON, 1997, p.355). 10.13. O Fruto do Espírito O fruto do Espírito é a “[...] comunicação ao indivíduo das graças que emanam da natureza divina e faz referência mais ao caráter do que aos requisitos especiais para o serviço.” (CULBERTSON, 1990, p.287). Esse fruto é enumerado por Paulo na carta aos Gálatas 5:22-23, como contendo nove virtudes: o amor, alegria, paz, paciência, delicadeza, bondade, fidelidade, humildade e domínio próprio. “Deus fica muito contente quando essas qualidades amadurecem em seu povo.” (DONOVAM, 1999, p.155). Essas são belas qualidades que o Espírito produz do caráter de Cristo no cristão. Na lista que o apóstolo Paulo faz das graças, “há três que se relacionam com Deus – amor, alegria e paz; três que se relacionam com os outros – longanimidade, benignidade e bondade; e três que se relacionam conosco mesmo – fidelidade, mansidão e domínio próprio. Estas qualidades de caráter resultam de contato vital e contínuo com a videira.” (CULBERTSON, 1990, p.287). 10.14. Os Dons Espirituais A principal descrição dos dons do Espírito Santo encontra-se em I Coríntios 12.8-10. Esses dons são capacidades espirituais dadas pelo Espírito Santo que, de várias maneiras, ajudam a Igreja. Os dons têm como propósito edificar – fortalecer e fazer crescer – a Igreja. Os dons são os meios “[...] ou faculdades divinamente ordenados com os quais Cristo torna a Igreja capaz de cumprir a Sua missão sobre a terra. O resumo que Paulo faz a respeito dos dons é o seguinte: Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo.” (CULBERTSON, 1990, p.287). 10.15. A Obra do Espírito Ao falarmos sobre a obra do Espírito Santo, é bom lembrarmos que todas as Pessoas da Trindade são ativas na obra de cada Pessoa individual. Embora, é corriqueiro dizer que Deus Pai operou na criação, o Filho na Redenção e o Espírito Santo opera na Salvação, os mesmos não agem separadamente, “[...] pois em cada manifestação das obras de Deus, a Trindade total se mostra ativa; o Pai é o Autor, o Filho é o Executor e o Espírito é o Ativador de cada ato. Por conseguinte, o Espírito Santo é Aquele que ativa e leva a término os atos iniciados.” (BANCROFT, 1986, p.191,192). A obra do Espírito Santo está relacionada à Sua atuação no Antigo Testamento como supra visto: na criação, para equipar para o serviço, para inspirar os profetas e para predizer o Messias. Já em o Novo Testamento, Ele está ativo no ministério de Jesus Cristo, nos Atos dos apóstolos e na Igreja, testificando do Redentor, convencendo o homem do pecado da justiça e do juízo, regenerando e habitando no crente. Dentre as obras do Espírito Santo, destaca-se a obra da salvação, pois é pelo Espírito que todos são levados a reconhecer Cristo como Salvador, ao reconhecer e aceitar que Cristo é o Salvador. A salvação é realizada através daquilo que Cristo fez na história e por aquilo que ele continua a fazer nos crentes através do Espírito Santo. O Espírito Santo leva os crentes a entenderem que a base da sua salvação é a morte de Cristo na cruz. XI. Eclesiologia – Doutrina da Igreja Definição Há duas palavras hebraicas que designa a Igreja no Antigo Testamento: kahal, a raiz dessa palavra é kal que tem como significado “chamar”, e a outra palavra edhah, que significa “indicar” ou “encontrar-se ou reunir-se num lugar indicado”. “Às vezes essas duas palavras são usadas indiscriminadamente, mas, de início, não eram estritamente sinônimas.” (BERKHOF, 2009, p.511). Já em o Novo Testamento, a palavra usada para referenciar-se à Igreja é “ekklésia”, que significa assembleia, reunião, congregação, sinagoga. Fazendo uma análise etimológica da palavra, ekklésia, deriva-se através de ek-kaleó, “que se empregava para a convocação do exército para reunir-se, de kaleó, ‘chamar’ [...] A ekklésia abria sessão com orações e sacrifícios às divindades da cidade. Era obrigada a respeitar as leis existentes.” (COENEN & BROWN, 2000, p.984). A palavra, em seu sentido grego, pode designar várias formas de agrupamentos como um corpo político, contudo, no cristianismo o uso da palavra abrange a todos quanto aceitarem Cristo como Senhor e Salvador de suas vidas. Podemos definir a Igreja de Cristo, como sendo um “[...] conjunto de pessoas regeneradas em todos os tempos e épocas, no céu e na terra [...]. Nesse sentido, a igreja é idêntica ao reino espiritual de Deus; ambos significam a humanidade na qual Deus, em Cristo, exerce seu verdadeiro domínio espiritual (João 3.3,5).” (STRONG, 2003, p.635). O termo ekklésia, tem significado duplo: o primeiro menciona a Igreja como organismo, ou seja, “[...] àqueles que são chamados para fora, dentre as nações, ao nome de Cristo, para constituírem a Igreja, o Corpo de Cristo.” (BANCROFT, 1986, p.280). O segundo alude à Igreja como sendo uma organização “[...] aos que são chamados dentre uma determinada comunidade a fim de obedecer aos princípios e preceitos de Cristo encontrados no Novo Testamento, na qualidade de grupo de cristãos.” (BANCROFT, 1986, p.280). 11.1. Concepção Histórica No período patrístico os pais apostólicos e apologetas viam a igreja como o povo de Deus escolhido por possessão. Mas já na segunda parte do século com o surgimento de heresias tornou necessário a enumeração de algumas características pelas quais se conhecesse a verdadeira igreja católica. A Igreja passou a ser concebida como uma instituição externa, governada por um bispo como sucessor direto dos apóstolos e possuidor da tradição verdadeira. A universalidade da igreja também passou a receber forte ênfase. Coube a Cipriano ser o primeiro a desenvolver inteiramente a doutrina da igreja em sua estrutura episcopal. Cipriano considerou os bispos como legitímos sucessores dos apóstolos e lhes conferiu caráter sacerdotal em virtude da sua obra sacrificial. Juntos os bispos formavam um colégio, chamado episcopado, que, como tal, constituía a unidade da igreja. Agostinho refletiu também sobre a natureza da igreja. Para ele a igreja é uma companhia dos eleitos, que possuem o Espírito de Deus e são caracterizados pelo amor verdadeiro. A Igreja verdadeira é a católica na qual a autoridade apostólica tem continuidade mediante a sucessão episcopal. Essa igreja seria depositária da graça divina, que ela distribui por meio dos sacramentos. Na Idade Média os escolásticos não disseram muito sobre a igreja, o sistema de doutrina desenvolvido por Cipriano e Agostinho estava completo, e precisava apenas de pequenos retoques de acabamento para chegar ao seu desenvolvimento final. Nesse período a ênfase foi sobre à igreja como uma organização ou instituição externa. Hugo de S. Victor fala da igreja e do estado como os dois poderes instituídos por Deus para governarem o povo, mas a igreja é o poder superior, porque ministra a salvação dos homens, enquanto o Estado só providencia o seu bem-estar temporal. Essa doutrina desenvolveu-se aliada pela ideia de que a igreja católica era o reino de Deus na terra, e, portanto, o bispado romano era um reino terreno. Essa identificação teve três principais consequências: (1) Que tudo, o lar e a escola, as ciências e as artes, o comércio e a indústria, e tudo mais, fosse colocado debaixo do poder da igreja (2) Envolvia a ideia de que todas as bênçãos da salvação chegam ao homem unicamente por meio das ordenanças da igreja, isso é, mediante sacramentos. (3) A igreja foi conduzida a secularização, sendo que esta começou a dar mais atenção à política do que à salvação dos pecadores e, finalmente, os papas reivindicaram domínio sobre os governantes seculares também. Os Reformadores romperam com a ideia católica romana da igreja, mas tiveram diferenças entre si em algumas particularidades. Lutero considerava a igreja como a comunhão espiritual daqueles que creem em Cristo, e restabeleceu a concepção escriturística do sacerdócio de todos os crentes. Ele defendeu a unidade da igreja, mas distinguia dois aspectos dela, um visível e outro invisível. Ele assinalou que não existem duas igrejas, mas simplesmente dois aspectos da mesma igreja. Durante o século dezoito o racionalismo também fez sentir sua influência sobre a doutrina da igreja. Era indiferente em matéria de fé e não tinha entusiasmo pela igreja, que ele colocou a par com outras sociedades humanas, até negava que Cristo tivesse a intenção de fundar uma igreja no sentido geralmente aceito da palavra. Essa concepção está longe do ensino do Novo Testamento, pois conduz diretamente à concepção “liberal” moderna da igreja como um mero centro social, uma instituição humana, e não uma lavoura de Deus. (BERKHOF, 2009, 513-516). 11.2. Origem Acima foi descrito sobre o termo grego que se usa para aludir à Igreja de Cristo. A Igreja cristã está historicamente ligada com judaica. No Antigo Testamento já é possível notar a representação dessa Igreja, embora se manifestasse através de leis sociais e naturais, era, contudo, uma organização sobrenatural. Em o Novo Testamento o caracteriza a origem da igreja, ou seu nascimento, é o dia de Pentecostes, pois algo maravilhoso aconteceu ali “[...] os discípulos de Jesus experimentaram uma visitação divina, acompanhada de certas manifestações visíveis e audíveis, que os convenceu que Deus derramara seu Santo Espírito sobre eles.” (LADD, 2003, p.488). Embora, tenha-se a ideia de “Igreja” no A.T., não se pode afirmar que ali está a origem da Igreja de Cristo. Paulo em I Coríntios 12.13, afirma que a Igreja consiste daqueles que são batizados pelo Espírito Santo em um só corpo, e em Romanos 12.5 acrescenta: “individualmente somos membros uns dos outros”. Mesmo havendo várias tentativas de se provar que a Igreja se originou desde o Antigo Testamento, em Atos fica muito claro o início da mesma. O dia de Pentecostes representa o princípio da plenitude do Espírito e da Nova Aliança em que a lei de Deus está escrita nos corações pelo Espírito Santo. 11.3. Natureza da Igreja Cristo é o Cabeça da Igreja, e é Dele que recebe a sua vida através do Espírito Santo. Por ser o corpo de Cristo, ele constitui assim, uma extensão mística da Sua natureza. Sendo assim, a mesma compõe-se somente dos que se tornaram participantes desta natureza. Cristo e a Sua Igreja mantêm um relacionamento vital, vivo e orgânico. “A Igreja é a criação do Espírito Santo. O Espírito, administrando a vida de Cristo, faznos membros do Seu corpo espiritual.” (CULBERTSON, 1990, p.416). A Igreja em sua natureza pode ser dividia como sendo: Una; Santa e Apostólica. A Igreja Una ou Universal é o corpo eleito por Deus desde a eternidade, e esse é invisível, iniciado no dia de Pentecostes, pelo derramamento do Espírito Santo, constituindo um grupo de igualdade espiritual – independente de sua etnia. Esse sentido universal é encontrado em Mateus 16.18, em que Jesus promete que construirá sua igreja, e na figura do corpo de Cristo, desenvolvida por Paulo (e.g., Ef 1.22,23; 4.4; 5.23). (ERICKSON, 1997). A Igreja é Santa, isso porque está fundada no ato santificador e na palavra de Deus em Jesus Cristo que é recebida somente pela fé. Quando a Palavra de Cristo e a fé se encontram, a presença do Espírito Santo é experimentada, é Ele e nenhum outro mais que derrama abundantemente o amor de Deus em nossos corações. (BRUNNER, 2010). A Igreja é Apostólica porque “está edificada sobre o fundamento dos Apóstolos e Profetas, sendo ele mesmo, Jesus Cristo a pedra angular” (Ef. 3.20). Porém a igreja é apostólica somente quando permanece em continuidade histórica com a ekklesia cristã primitiva. (BRUNNER, 2010). 11.4. Ordenanças: O Batismo e a Ceia do Senhor A palavra sacramento na Igreja primitiva era empregada para significar as doutrinas e ordenanças. Todavia, optaremos aqui pelo termo ordenanças, pois “sacramento” parece atribuir quase que um valor mágico (se assim posso dizer) a essas ordenanças. Segundo Brancroft (1986, p.285),“A verdadeira compreensão das ordenanças parece abranger uma tríplice significação: são verdades cristãs simbolizadas; são memórias de Cristo, observadas em obediência a Ele, expressões de amor e devoção; são ritos cristãos, que designam como convenientemente.” discípulos de Cristo aqueles que as observam 11.5. O Batismo O batismo é o simbolismo da entrada do crente para a comunhão da morte e ressurreição de Cristo, ou, em outras palavras, a regeneração através da união com Cristo. Comentando Romanos 6:3, Denney diz que os requisitos “[...] que argumentam sobre esta passagem [...] demandam a ideia de uma verdadeira união a Cristo, ou incorporação nele [...] fomos sepultados com ele [no ato da imersão] pelo batismo na sua morte [...]. Quando alguém emerge da água depois de ter sido imerso, o batismo é uma similitude da ressurreição do mesmo modo que o é da morte.” (STRONG, 2003, p.710). Assim, como o caso da Ceia do Senhor, no batismo também é debatido até que ponto é sacramental e até que ponto é simbólico. “A questão não pode ser definitivamente resolvida, pois na igreja primitiva, fé salvadora e o batismo eram praticamente sinônimos” (LADD, 2009, p.732). Porém, como optamos a alguns parágrafos acima: “O batismo simplesmente apresenta, através de símbolo visível, a morte, o sepultamento e a ressurreição de Cristo, como também nossa morte para com a antiga vida de pecado, nosso sepultamento na semelhança de Sua morte, e nossa ressurreição para andarmos com Ele em nova vida.” – Goodchil. (BANCROFT, 1986, p.285). Não um sacramento, mas sim, um simbolismo. 11.6. A Ceia Vimos que o batismo é o rito de iniciação do cristão no corpo de Cristo, deixando bem claro que esse é um símbolo. No entanto, a Ceia do Senhor é o rito de continuação da igreja visível. Esse rito foi estabelecido pelo próprio Cristo para que a igreja praticasse em comemoração à sua morte (ver. Lucas 22:19,20). “É o rito exterior no qual, a igreja reunida, come o pão e bebe o vinho, como sinal de sua constante dependência daquele Salvador que uma vez foi crucificado e agora está ressuscitado, como fonte da vida espiritual.” (STRONG, volume 2, 2003, p.736). Como diz Bancroft (1986, p.286), “A ceia [...] contempla não só o passado, mas também o futuro. É uma comemoração e é uma profecia. Demonstra a morte do Senhor ‘até que Ele venha’.” 11.7. A Obra da Igreja A Igreja só pode exercer sua obra através do poder do Espírito Santo. O Espírito Santo dá à Igreja pleno poder para cumprir sua finalidade na terra, é pelo Seu poder que a Igreja torna-se vitoriosa sobre tudo aquilo que se levanta contra ela. Pregar a salvação é um dos propósitos da Igreja. “A obra da igreja é pregar o Evangelho a toda a criatura (Mt. 28:19,20), e explanar o plano da salvação tal qual é ensinado das Escrituras” (PEARLMAN, 2002, p.218). Para a Igreja ser fiel ao Senhor “[...] e lhe alegrar o coração, deve se esforçar para levar o evangelho a todas as pessoas. Isso implica ir a pessoas de quem gostamos e as pessoas de quem, por natureza, talvez tenhamos a tendência de não gostar. Isso se estende a pessoas que são diferentes de nós.” (ERICHSON, 1997, p.446). Entende-se como obra da Igreja também o prover meios de adoração. Esse é um dos principais propósitos da Igreja, pois a adoração continuará por toda a eternidade, e essa adoração tanto agora como na eternidade deve e será prestada somente a Deus. Em Isaías 43.21, “o povo de Deus é descrito como ‘o povo que formei para mim, para celebrar o meu louvor’. Em Efésios 1.12 lemos que os crentes existem ‘para o louvor da sua glória’.” (DONOVAN, 1999, p.179) A edificação dos crentes está presente na obra da Igreja. Os dons dado por Deus à Igreja é para o aperfeiçoamento dos santos e para edificação do corpo de Cristo (Ef 4.12). Há vários meios pelos quais a igreja é edificada. A comunhão é um desses meios. “O Novo testamento fala de koinonia, literalmente, posse ou gerência comum de todas as coisas. E, aliás, de acordo com Atos 5, os membros da igreja primitiva tinham até suas posses materiais em comum.” (ERICKSON, 1997, p.447,448). O relacionamento social envolve-se na obra da Igreja. Por ser o homem um ser149 social, ele busca se relacionar e manter comunhão com outros homens 150 . Naturalmente o ser humano se congrega com aqueles que participam dos mesmos interesses que ele tem. Mas a Igreja além de se relacionar com pessoas que buscam os seus mesmos objetivos deve manter uma comunhão com todos e através desse relacionamento social pregar a Cristo, e esse crucificado. Portanto, há “a responsabilidade de praticar atos de amor e compaixão cristã tanto para crentes como para descrentes. É claro que Jesus se 149 150 Uso em um sentido ontológico. Humanidade. importava com os problemas dos necessitados e dos sofredores” (ERICKSON, 1997, p. 449). Sustentar uma norma de conduta moral é papel da Igreja. Por ser a luz do mundo, a mesma afasta a ignorância moral; e por ser sal da terra preserva da corrupção moral. “A igreja deve ensinar aos homens como viver bem, e a maneira de se preparar para a morte. Deve proclamar o plano de Deus para regulamentar todas as esferas da vida e sua atividade.” (PEARLMAN, 2002, p.219). 11.8. Organização Lembremos que a igreja mais primitiva consistia de uma comunhão livre de crentes judeus que tinham rompido com o judaísmo, mas continuavam seguindo as práticas dessa religião. Dessa forma a igreja não era como hoje: uma instituição organizada. Pelo que o livro de Atos nos indica que Pedro, Tiago e João ocupavam um papel de proeminência como líderes sobre os outros nove apóstolos. “À parte dos apóstolos, a primeira liderança foi escolhida quando um problema interno surgiu dentro da Igreja. Os judeus de fala grega [...] começaram a reclamar porque as viúvas de fala hebraica, nascidas em solo judaico, pareciam ser favorecidas na distribuição diária dos alimentos [...]. Para resolver o problema, os doze convocaram uma reunião da Igreja e escolheram sete homens para dirigir essa ministração.” (LADD, 2003, p.497). Esse é o início do que hoje se conhece como ofício do diácono. Um grupo de anciãos surgiu como líderes da igreja em Jerusalém, mas não se sabe como e nem por quem eles foram escolhidos. A forma de liderança começou a se desenvolver na história da Igreja, até chegarmos a alguns modelos de organização eclesiásticas que temos hoje. No entanto, a “[...] organização da igreja aparece mais claramente delineada nas epístolas pastorais. As funções dos diáconos não são especificamente descritas [...] porque eram bem conhecidas, mas suas qualificações são enfatizadas.” (LADD, 2003, p.717). Apresentaremos agora algumas formas organizacionais vigentes nas igrejas. A primeira que veremos é o governo Episcopal. Essa forma de governo “[...] vem da palavra grega episkopos, que significa bispo ou supervisor. A forma episcopal consiste em uma estrutura bem definida de oficiais da igreja.” (DONOVAN, 1999, p.186). Esse grupo afirma que Cristo como o Cabeça da Igreja, confiou o governo da mesma a uma ordem de prelados ou bispos, considerando esses como sucessores dos apóstolos. “Neste sistema [...] a comunidade dos crentes, não tem absolutamente nenhuma participação no governo da Igreja” (BERKHOF, 2009, p.533). A segunda forma de governo Presbiteral. Essa é também uma palavra grega que tem como significado “mais velho”, “mais maduro” ou “mais sábio”. Nesta forma de governo encontra-se intrinsecamente a ideia que “[...] um grupo de presbíteros detém autoridade final na administração dos assuntos da igreja. Este ponto de vista considera o presbítero e o bispo como compreendendo um único cargo, com base em duas palavras diferentes, uma (bispo) vindo da origem grega e a outra (presbítero) da origem hebraica da igreja primitiva.” (GEISLER, 2010, p.581,582). Congregacional. Esta é a terceira forma de governo da igreja. Aqui “[...] destaca o papel do cristão como indivíduo e tem a igreja local como centro de autoridade. Dois conceitos são básicos ao sistema congregacional: autonomia e democracia. Por autonomia entendemos que a congregação é independente e governa a si mesma” (ERICKSON, 1997, p.456). Sendo autônoma, cada igreja determina o pastor e o orçamento do mesmo que irá estar à frente da congregação. O princípio democrático baseia-se no sacerdócio de todos os crentes. Assim mesmo, há “[...] alguns elementos de democracia representativa dentro da forma congregacional de governo da igreja. Certas pessoas são eleitas por livre escolha dos membros do corpo para servir de maneiras especiais.” (ERICKSON, 1997, p.456). Porém, as decisões mais importantes são tomadas pela igreja como um todo. Bibliografia Capítulos 10 e 11: BANCROFT, E.H. Teologia Elementar. 5ª edição. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1986. 378p. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 3ª edição. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2009. 720p. BERGSTÉN, Eurico. Introdução à teologia sistemática. 1ª edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, 436p. Bílbia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. 1728p. CHAGAS, José Roberto Oliveira. Noções de Paracletologia. 1ª edição. Campo Grande: Kenosis, 2011. 32p. CHAM PLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. 6ª edição. Editora Hagnos, São Paulo, 2002. 5400p. COENEN, Lothar & BROWN, Colin. Dicionário internacional de teologia Novo Testamento. Volume I. 2ª edição. São Paulo: Vida Nova, 2000, 1360p. COLLINS, Kenneth J. Teologia de John Wesley. 2ª edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2010. 445p. CULBERTSON, Wily. Introdução à teologia cristã. 1ª edição. São Paulo: Casa Nazarena de publicações, 1990. 516p. ERICKSON, M illard J. Introdução à Teologia Sistemática. 1ª edição. São Paulo: Vida Nova, 1997. 540p. FLORIDO, Janice (coordenação editorial). Os Pensadores, Sócrates – vida e obra. 1ª edição. São Paulo: Editora Nova Cultura LTDA, 1999. 287p. GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Volume II. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora CPAD, 2010. 1084p. GONZÁLEZ, Justo. Breve Dicionário de Teologia. 1ª edição. Editora: Hagnos, São Paulo, 2009. 338p. HARRIS, R. Laird & JR. Gleason L. Archer & WALTKE, Bruce K. Dicionário Internacional de Teologia Antigo Testamento. 1ª edição. São Paulo: Vida Nova, 1998, 1789p. HODGE, Charles. Teologia Sistemática. 1ª edição. São Paulo: Hagnos, 2001, 1711p. JR, Wilbur O’Donovan. O Cristianismo Bíblico da perspectiva africana. 1ª edição. São Paulo: Shedd Publicações, 2009. 376p. LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. 2ª edição. São Paulo: Editora Hagnos, 2003. 899p. LANGSTON, A. B. Esboço de teologia sistemática. 8ª edição. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1986. 305p. OLIVEIRA, Gabriel de. M anual prático de escatologia. 1ª edição. São Paulo: Editora Reflexão, 2010, 224p. PEARLM AN, M yer. Conhecendo a doutrina da Bíblia. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Dois Irmãos, 1963. 391p. SHEDD, R. P., (editor). O novo dicionário da Bíblia. Volume I. 4ª edição. São Paulo: Vida Nova, 1981. 586p. STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Volume II. 1ª edição. São Paulo: Editora Hagnos, 2003. 880p. WILLIAM S, J. Rodman. Teologia Sistemática – uma perspectiva pentecostal. 1ª edição. São Paulo: Editora Vida, 2011. 1211p. XII. Escatologia – Doutrina das Últimas Coisas 12.1. Concepções Históricas Dois termos gregos formam a palavra Escatologia. Escathos – que vem por último, que está no fim; Logos – estudo, ciência. Portanto, escatologia tem como significado: o estudo das últimas coisas, ou das coisas que estão no fim. “No contexto teológico se refere a todo estudo bíblico relacionado à profecias referentes ao tempo do fim”. (OLIVEIRA, 2010, p.12). Frequentemente os temas que a escatologia se ocupa refere-se à parúsia de Jesus, o juízo final, a vida eterna, o milênio, arrebatamento, a ressurreição dos mortos e outros. Todavia, muitas especulações têm sido feitas para determinar a ordem de tais acontecimentos, “e tudo isso tem sido empregado como meio de atemorizar as pessoas para que aceitem a fé, a escatologia tem sido frequentemente postergada por teólogos que pensam que tais assuntos devem ficar nas mãos de Deus”. (GONZÁLEZ, 2009, p.112). Contudo, a escatologia não deve ser vista como questão de medo, mas sim, o fundamento da esperança e o gozo dos cristãos. Não se houve um tempo em que o cristianismo olvidou as gloriosas predições atinentes ao seu futuro. Tanto a Igreja como o indivíduo sempre carregaram em si o conforto escatológico predito a eles. No entanto, às vezes a Igreja, “subjugada pelas preocupações da vida ou enredada em seus prazeres pouco pensou no futuro [...] Os outros loci ou pontos da dogmática tiveram desenvolvimento, mas não se pode dizer isto da escatologia”. (BERKHOF, 2009, p.612) É possível distinguir três períodos na história do pensamento escatológico, segundo Berkhof, o primeiro se encontra na era apostólica ao início do 5 século. Nesse período, diz ele: “a Igreja, estava perfeitamente cônscia dos elementos distintos da esperança cristã, como, por exemplo, que a morte física não é ainda a morte eterna, que a alma dos mortos continua vivendo, que Cristo virá outra vez, que haverá uma bendita ressurreição do povo de Deus...” (BERKHOF, 2009, p.612). Tudo indicava que a escatologia seria o centro da doutrina cristã, pois o quiliasmo era muito acentuado. No entanto, essa doutrina não veio a se desenvolver neste período. O segundo estágio do pensamento escatológico encontra-se do início do 5 século à Reforma. Nesse período a Igreja voltou-se do futuro para o presente, e a crença na ideia de milênio passou a ser deixada de lado. Sob a influência de “Orígenes e Agostinho, conceitos antiquiliatica se tornaram dominantes na Igreja [...] Havia uma crença geral na vida após a morte, na volta do Senhor, na ressurreição dos mortos, no juízo final e no reino da glória, mas muito pouca reflexão sobre o modo de sua ocorrência” (BERKHOF, 2009, p.612). Ainda nesse período a Igreja tornou-se o centro das atenções, a ideia de que fora da Igreja não há salvação, a doutrina do purgatório e outros foram desenvolvidos. Como “um protesto a este eclesiasticismo, o Quiliasmo apareceu em várias seitas. Em parte, isto constituiu uma reação de natureza pietista contra o externalismo e a mundaneidade da Igreja” (BERKHOF, 2009, p.612). O terceiro período toma da Reforma até os dias atuais. O pensamento da Reforma “centralizou-se primariamente em torno da ideia da aplicação e apropriação da salvação, e procurava desenvolver a escatologia segundo este ponto de vista [...] A Reforma adotou o que a Igreja primitiva ensinava a respeito do retorno de Cristo, da ressurreição do juízo final e da vida eterna, e pôs de lado a crassa forma de Quiliasmo que apareceu nas seitas anabatistas” (BERKHOF, 2009, p.612) Em nenhuma esfera as mudanças de pensamento foram mais marcantes na parte da teologia que trata da vida futura. Onde os teólogos continuavam falando pormenorizadamente a respeito das ‘últimas coisas’, agora eles expõem em termos algo gerais a barata base para uma confiança otimista na continuação da vida além da morte física. (SMITH apude BERKHOF, 2009, p.612) Todas as doutrinas do cristianismo se remetem para uma consumação final e todas apontam para uma gloriosa esperança, a segunda vinda de Cristo. Portanto, falaremos dos assuntos da morte física e do estado intermediário; também da ressurreição e o juízo final. “A palavra de Deus constitui a nossa única fonte de informação sobre estes acontecimentos vitais e importantes do futuro” (CULBERSTSON, 1990, p.459). 12.2. Morte Física Strong define a morte física como sendo a separação da alma em relação ao corpo (STRONG, volume 2, 2003). Todavia, essa se difere da morte espiritual, ou seja, da separação da alma com relação a Deus, “e da segunda morte, ou banimento em relação a Deus e miséria final e nova união da alma e corpo dos ímpios” (STRONG, volume 2, 2003, p.771). A Bíblia afirma que tanto a morte física como a morte espiritual é o resultado do pecado. Entende-se a morte física como sendo o fim da vida aqui na terra e o fim do estado de provação (Hebreus 9:27). Relatos como, por exemplo, Gênesis 35.18 nos mostra que realmente a morte física é a retirada da alma do corpo. “Tiago ensina: ‘o corpo sem o espírito está morto’ (2.26). Uma vez que a alma é o princípio da vida que anima o corpo, resulta que, quando a alma deixa o corpo, o corpo morre” (GEISLER, volume 2, 2010, p.683). A morte é o primeiro efeito visível do pecado, e será o último efeito do pecado, do qual os que estão em Cristo serão salvos. A morte nunca tem como significado aniquilação. No sentido espiritual ela é a separação tanto da alma como do corpo de Deus; “e quando é considerado o elemento adicional de ‘morte eterna’, esta separação vem a ser final e irrevogável [...] A morte física pra o cristão está agora transfigurada em simples partida desta vida para a outra (cf. II Cor. 5:1-4). É a porta pela qual se entra à presença de Cristo” (CULBERSTSON, 1990, p.460). 12.3. O Estado Intermediário Desde os antigos pensadores a morte tem sido algo muito discutido. Enquanto alguns afirmam ser a morte o fim de todas as coisas, e dessa maneira, afirmam não haver vida após a morte. Outros declaram ser a morte apenas o fim da vida nessa terra, mas a verdadeira vida se encontrará na pós-morte. Sócrates refletiu sobre essa questão até mesmo algumas horas antes da sua própria morte. Dizia ele que o morto poderia ser igual a nada, e não sentir sensação alguma, ou, então, realmente ser uma emigração da alma, deste mundo para outro lugar. Se não há nenhuma sensação, se é como um sono em que o adormecido nada vê nem sonha, que maravilhosa vantagem seria a morte! Bem posso imaginar que, se devêssemos identificar uma noite em que tivéssemos dormindo tão profundamente que nem mesmo sonhássemos e, contrapondo a essa às demais noites e dias de nossa vida [...] bem posso imaginar que [..] se a morte é isso, digo que é uma vantagem, porque, assim sendo, toda a duração do tempo se apresenta como nada mais que uma noite (OS PENSADORES, Sócrates, 1999, p.71-72). Crendo haver vida após a morte, Sócrates, também pensa ser algo bom, pois lá encontrará os verdadeiros juízes, os grandes pensadores e com eles poderá refletir sobre diversos assuntos. Por mim, estou pronto a morrer muitas vezes, se isso é verdade; eu de modo especial acharia lá um entretenimento maravilhoso, quando encontrasse Palamedes, Ajax de Telamon e outros dos antigos, que tenham morrido por uma sentença iníqua; não me seria desagradável comparar com os deles os meus sofrimentos e, o que é mais, passar o tempo examinando e interrogando os de lá como aos de cá, a ver quem deles é sábio e quem, não o sendo, cuida que é (OS PENSADORES, Sócrates, 1999, p.7172). Nós podemos perceber que a ideia cristã da morte difere um pouco a desse pensador, pois o mesmo encontra o prazer na morte, tendo a alma continuidade após a morte do corpo ou não. Porém as Escrituras afirmam haver a existência da vida após a morte, mas faz uma distinção entre justos e ímpios. “No estado intermediário a alma não tem corpo embora este estado seja de regozijo consciente dos justos e de sofrimento consciente dos ímpios. Que os justos não recebem o corpo espiritual na morte é claro em I Ts. 4.16, 17 e I Co. 15.52, onde se sugere um intervalo entre o tempo de Paulo e a ressurreição dos que dormem” (STRONG, volume 2, 2003, p.793). Diz Paulo: “estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor” (II Co 5.8). A posição dos reformados é que as almas daqueles que morrem em Cristo, ingressam nas glórias dos céus logo após a morte. “Em resposta à pergunta, ‘Que consolo te dá a ressurreição do corpo?’, o Catecismo de Heidelberg diz: ‘Que minha alma, após esta vida, não somente é levada de imediato a Cristo, sua Cabeça, mas também que este meu corpo, ressuscitado pelo poder de Cristo, se unirá de novo à minha alma e virá a ser como o corpo glorioso de Cristo” (BERKHOF, 2009, p.627). A Confissão de Westminster afirma com a mesma propriedade dos reformados que “As almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas na santidade, são recebidas no mais alto dos céus, onde veem a face de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção dos seus corpos” (BERKHOF, 2009, p.627). 12.4. Sheol e Hades Aqueles que não estão acostumados com as palavras Sheol e Hades as veem como estranhas, todavia, isso acontece por serem elas palavras hebraicas e gregas. A primeira hebraica e a segunda grega. Entretanto, ambas expressam a mesma ideia. Na sua etimologia, o termo Hades “significa ‘o não visto’, ou seja, ‘o invisível’, já a palavra Sheol, pode ser traduzida, como sepultura, profundezas ou morte. Essas designações são utilizadas para se referir ao mundo dos mortos, o lugar (dimensão) para onde vão as almas das pessoas quando morrem” (OLIVEIRA, 2010, p.128). שאול- “Sepultura, inferno, sheol, cova. As traduções oscilam entre ‘sepultura’, ‘inferno’, ‘cova’, ‘sheol’, e palavras correlatas. A etimologia é incerta. O vocábulo não ocorre fora do AT, à exceção de uma única vez nos papiros judaicos de Elefantina, em que é usado com o sentido de ‘sepultura’ [...] A palavra se refere de alguma maneira ao lugar dos mortos” (HARRIS (organizador), 1998, p.1502). A palavra Hades é o termo grego usado para Sheol, portanto a ideia é a mesma. Várias concepções teológicas existem sobre a representação dessas palavras, todavia a ideia que predomina hoje e de que a concepção veterotestamentária do “sheol, à qual se supõe que a do hades do Novo Testamento corresponde, foi copiada da noção gentílica do mundo subterrâneo. Afirma-se que, de acordo com o Antigo Testamento, tanto os fiéis como os ímpios, ao morrerem, entram na lúgubre morada das sombras, na terra do esquecimento, onde estão condenados a uma existência que não passa de um fantasioso reflexo da vida na terra” (BERKHOF, 2009, p.629). Acredita-se de que pelo fato de ser tão ambígua a ideia que os termos trazem a tradução de, João Ferreira de Almeida, cometeu um erro grave ao traduzir tais termos como inferno, pois o conceito que temos hoje de inferno “é o conceito católico-romano (e até mesmo pagão) onde entendemos como o nome do lugar para onde vão as almas das pessoas ruins, sendo esse, um lugar de tormento e fogo eterno, onde as pessoas sofrem eternamente atormentadas por demônios, e, pior que tudo isso, esse lugar é visto como o reino de Satanás” (OLIVEIRA, 2010, p.128). Alguns eruditos identificam tais palavras com a sepultura, outros como o lugar dos mortos, e ainda outros como: Shedd, Vos, Aalders e De Bondt, afirmam que a palavra sheol nem sempre tem o mesmo sentido. Parece-nos que esta última opinião merece preferência, e que se pode dizer o seguinte, a respeito dos seus diferentes sentidos: a. Nem sempre as palavras sheol e hades denotam localidade [...] mas [...] são empregadas num sentido abstrato, para designar o estado de morte, o estado de separação de corpo e alma [...] b. Quando sheol e hades designam uma localidade no sentido literal da palavra, referese, ou àquilo que geralmente denominamos inferno, ou à sepultura (BERKHOF, 2009, p.632). O termo utilizado para a ideia de inferno que hoje se tem é Geena “o lago de fogo”. Este sim é o lugar existente na eternidade, um inferno de fogo, onde o fogo nunca se apaga e o tormento nunca cessa. Esse lugar ainda não foi inaugurado, mas o será. No arrebatamento os salvos ressuscitarão e sairão do Hades para receber a Vida Eterna. “Todos os não salvos ressuscitarão e sairão do Hades para serem lançados do lago de fogo e enxofre, chamado Geena, que é a Segunda Morte” (OLIVEIRA, 2010, p.138). 12.5. A Doutrina Patrística Os primeiros pais estavam focados no estado completo de ressurreição de Cristo, por isso, falaram pouco sobre o estado intermediário, todavia, não deixaram de proclamar a existência consciente desse estado (GEISLER, volume 2, 2010, p.693). Seguem-se alguns escritos de pais que falaram sobre tal estado: Irineu (c. 125-c.202) O corpo morre e é decomposto, mas não a alma, ou o espírito. Pois morrer é perder força vital, e tornar-se, consequentemente, sem fôlego, inanimado e sem movimentos, e decompor-se naqueles componentes dos quais também se originou a sua existência [...] Clemente de Roma (c. século I d.C.) É melhor que um homem reconheça as suas transgressões do que endurecer o seu coração, como se endureceram os corações daqueles que incitaram a sedição contra Moisés, o servo de Deus, e cuja condenação foi tornada manifesta [a todos]. Pois eles desceram vivos até o Hades, e a morte os engoliu [...] Atenágoras (final do século II) Nós somos persuadidos de que, quando deixarmos esta vida, teremos outra vida, melhor do que esta, e celestial, não terrena [...] não cairemos com os demais, numa vida pior e no fogo; pois Deus não nos fez como ovelhas ou como animais de carga, uma mera obra secundária. Jamais pereceremos, nem seremos aniquilados [...] Metódio (c. 260-311) É a carne que morre; a alma é imortal [...] Tomás de Aquino (1225-1274) ‘Foi para o bem da alma que ela foi unida a um corpo [...] No entanto, é possível que ela exista separadamente do corpo’ (GEISLER, volume 2, 2010, p.693695) 12.6. A Doutrina Católica O catolicismo romano acredita que as almas dos que são puros ao morrerem são levadas imediatamente ao céu, todavia, aqueles que não se acham perfeitamente puros tem que passar por um processo de purificação antes de poder entrar nas “supremas alegrias e bem-aventurança do céu. Em vez de entrarem imediatamente no céu, entram no purgatório” (BERKHOF, 2009, p.633). Esses afirmam que o purgatório não é um lugar de prova, mas sim de purificação e de “preparação para as almas dos crentes que têm a segurança de uma entrada final no céu, mas ainda não estão prontos para apossar-se da felicidade da visão beatífica” (BERKHOF, 2009, p.633). Roma ensina que as agonias sofridas no purgatório são intoleráveis. Para alguns há um limite já para outros não. Tais dores são intoleráveis para os perdidos. Belarmino diz que “as dores do purgatório são muito severas indo além de qualquer coisa suportável nesta vida. Visto que ninguém a não ser os verdadeiros santos escapam às dores do purgatório, esta doutrina dá à morte e ao funeral do católico romano um terrível e repulsivo aspecto” (STRONG, volume 2, 2003, p.798) A doutrina do purgatório fornece a esperança de que o homem pode ser salvo após a morte; a oração pelos mortos tem influência; o sacerdote está autorizado a fazer esta oração; deste modo a igreja sela a salvação por dinheiro (STRONG, 2003). Roma baseia essa doutrina em 2 Macabeus 12.42-45, em um livro considerado não canônico pelos protestantes, também pelos católicos romanos até o Concílio de Trento que o declarou de igual autoridade dos outros livros canônicos (BERKHOF, 2009, p.634). 12.7. Ressurreição O termo ressurreição significa levantar-se outra vez, isto é, suscitar da sepultura. É restauração da vida daquilo que estava morto. A alma não morre logo a ressurreição está ligada ao corpo. “O ensino da ressurreição no Quarto Evangelho envolve tanto um evento futuro objetivo e escatológico como uma realidade espiritual presente” (LADD, 2003, p.438). Há uma ênfase quanto à ressurreição do corpo no último dia, onde os mortos ressuscitarão para a vida eterna, seja ela para gozo eterno ou miséria eterna. A vida ressurreta reside em Cristo, portanto para se ter vida é necessário crer Nele. Strong falando sobre a ressurreição diz: “Conquanto que as Escrituras descrevam a doação de uma nova vida à alma na regeneração como uma ressurreição espiritual, elas também declaram que, na segunda vinda de Cristo, haverá uma ressurreição do corpo e uma nova união do corpo com a alma de que, durante o estado intermediário esteve separado” (STRONG, volume 2, 2003, p.818). Existe um grande respaldo bíblico para a ressurreição do corpo de todos os seres humanos. “O fato de que haveria duas ressurreições – uma dos salvos (os justos) e a outra dos não-salvos (os injustos) – é dado a entender até mesmo no Antigo Testamento. Um anjo disse a Daniel que nos últimos dias ‘muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, [1] uns para a vida eterna e [2] outros para vergonha e desprezo eterno’ (Dn 12.2)” (GEISLER, volume 2, 2010, p.696). É possível encontrar divergência quanto à ressurreição desde os tempos de Cristo. Enquanto os fariseus criam nela, os saduceus não criam (Mt 22:23; At 23:8). Quando o apóstolo Paulo falou sobre ela em Atenas, pode-se vê que o mesmo encontrou zombaria “Mas quando ouviram falar em ressurreição de mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos ainda outra vez” (Atos 17:32). Himeneu e Fileto asseveravam que a ressurreição já era coisa pertencente à história, II Tm 2.18. Orígenes – um dos pais apostólicos – não cria que o corpo depositado na sepultura ressuscitaria, mas afirmava que o corpo ressurreto era um corpo espiritualizado e purificado. “Já na sua Confissão Apostólica, a Igreja expressou a sua crença na ressurreição da carne [...] Os que acreditavam num milênio futuro falavam de uma dupla ressurreição, a dos justos no princípio do reino milenar, e a dos ímpios no fim dele” (BERKHOF, 2009, p.663). Já os teólogos liberais, ou o liberalismo teológico, envolto no racionalismo e com o avanço das ciências e físicas, negam a ressurreição da carne. Erickson também nos traz alguns textos que deixa claro a ressurreição do crente e do perverso. “O Antigo Testamento nos dá algumas declarações diretas, sendo a primeira delas Isaías 26.16 [...] Daniel 12.2 [...] A ideia de ressurreição também é afirmada em Ezequiel 37.12-14 [...] Embora precisemos tomar cuidado para não impor demais a revelação do Novo Testamento sobre o Antigo, é significativo que Jesus e os autores do Novo Testamento tenham sustentado que o Antigo Testamento ensina a ressurreição” (ERICKSON, 1997, p.502). Em o Novo Testamento o ensino sobre a ressurreição é bem claro, João 5:25, 28, 29. Dessa maneira podemos perceber a doutrina da ressurreição em toda a Escritura. Embora, assim como outras doutrinas, haja discrepância sobre o assunto, diferentes tipos de interpretações, a Bíblia deixa clara a ressurreição. E essa é à base da esperança do crente diante da morte. “Embora a morte seja inevitável, o crente espera ser livrado de seu poder” (ERICKSON, 1997, 502). 12.8. Segunda Vinda de Cristo Estamos diante do assunto mais delicado e controverso da teologia, a segunda vinda de Cristo. Este assunto tem agitado e despertado interesse na Igreja, principalmente nos períodos nos quais os homens se sentem mais necessitados de Deus. Durante as guerras, perseguições, pestes e outras catástrofes mais, o anseio e a esperança pela volta do Salvador ocupam as mentes humanas. O cristianismo encontra sua maior glória no retorno e no reino do Deus-homem “que como o Cristo ou o Ungido, Criador e Redentor, Se estabelecerá a Si mesmo numa ordem mundial perfeita – o reino de Deus num novo céu e numa nova terra onde habita a justiça” (CULBERTSON, 1990, p.466) No evangelho segundo Mateus encontramos a afirmação da vinda de Cristo “verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória” (24.30). Também está registrada em Atos 1.11 a volta do Redentor. “A segunda vinda de Jesus é a consequência natural da sua primeira vinda, e também consequência da natureza do cristianismo. Numa só passagem da Carta aos Hebreus temos referência tanto à primeira como à segunda vinda de Jesus [...] (Hebreus 9:27,28).” (LANGSTON, 1986, p.291) O objetivo aqui não é entrar nas diversas discussões teóricas existentes sobre o assunto, mas sim procurar mostrar o que a Bíblia fala atinente a essa doutrina. “Jesus fala de sua partida e retorno, depois de sua ressurreição (João 16.16). Embora Jesus não use a expressão de ir e vir, a ideia está presente. Concluímos, mais uma vez, que Jesus fala de uma nova vinda, no evento do Paracleto (14:18)” (LADD, 2003, p.436-437). É dito que esse fato é citado mais de 300 vezes no Novo Testamento. O apóstolo Paulo refere-se ao evento umas cinquenta vezes. “Alguém já disse que a segunda vinda é mencionada oito vezes mais do que a primeira. Epístolas inteiras (1 e 2 Tess) e capítulos inteiros (Mat. 24, Mar. 13) são dedicados ao assunto. Sem dúvida, é uma das doutrinas mais importantes do Novo Testamento” (PEARLAMAN, 2002, p.246). Por séculos tem-se feito tentativas de determinar a data da volta de Cristo, mas nenhuma delas obteve sucesso. O próprio Mestre deixa bem claro que o dia e a hora da sua volta estão ocultos nos conselhos divinos. Quanto à maneira que Ele voltará será de forma pessoal, literal, visível e gloriosa. “Há interpretações que procuram evitar a opinião de que a vinda de Cristo seja literal e pessoal. Alguns ensinam que a morte é a segunda vinda de Cristo. Mas a Bíblia mostra que a segunda vinda é o contrário da morte, pois os mortos em Cristo ressuscitarão nessa ocasião” (PEARLAMAN, 2002, p.246). Nenhum testemunho sobre a segunda vinda é mais importante do que o dado pelo próprio Jesus. Numa solene advertência aos judeus, disse: Eis que a vossa casa vos ficará deserta. Declaro-vos, pois, que desde agora já não me vereis, até que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor (Mt. 23:38-39). Entretanto, a declaração culminante é a que fez diante do sumo sacerdote: Desde agora vereis o filho do homem assentado à direita do Todo-poderoso, e vindo sobre as nuvens do céu (Mat. 26:34)” (CULBERSTSON, 1990, p.467). 12.9. Juízo Final A segunda vinda de Cristo trará consigo o julgamento final. Para muitos essa é uma ideia assustadora com respeito ao futuro. Isso seria comum para aqueles que não estão com Cristo, entretanto, é fácil encontrar cristãos assustados com tal perspectiva futura. Porém o amedrontamento suscita mediante a falta de compreensão dessa verdade bíblica. Mas, para os crentes evangélicos, o julgamento final deve ser esperado com ansiedade, pois o mesmo lhe vindicará vida. As Escrituras apresentam o julgamento como a estranha obra de Deus. Isso é verdade, mas também é sua obra certa, assegurada. Foi tornada certa por ordenação divina. E também pela própria natureza das cousas [...] O senso moral do homem, ou sua consciência, exige o julgamento. O senso universal da existência e Deus torna o julgamento um fato necessário. BANCROFT, 1986, p.356. O juízo final, não ocorrerá de uma maneira espiritual, invisível, mas será um “evento exterior e visível ocorrendo em um período definido no futuro.” (STRONG, volume 2, 2003, p.831) Esse mesmo autor afirma com base nas Escrituras que o juízo só é algo para o que o mal está reservado. Em II Pedro encontramos a seguinte afirmação: “Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno... reserva os injustos para o Dia do juízo” (2:4,9). A concepção de um Deus que ama e julga, não está presente apenas no cristianismo, mas outras tantas religiões sustentam tal pensamento. A Bíblia não fala apenas de um julgamento escatológico, também deixa bem claro um juízo dentro da história. “É nesse ponto que a ideia do juízo final ganha importância. Deus julga, não somente dentro da História, mas além dela, de tal modo que o mal será completamente destruído e o bem prevalecerá.” (GONZÁLEZ, 2009, p.178). Embora, tradicionalmente, o pensamento cristão aponte para um juízo que inclui tanto salvação eterna como a condenação, existem aqueles que creem que o amor de Deus é tal que por fim salvará a todos – doutrina universalista. Jesus, no evangelho de Mateus, falou a respeito do julgamento, e reivindicou para si, perante o Sinédrio, ser o Juiz escatológico. Oliveira intitula o julgamento final como o “Julgamento do Grande Trono Branco”. Ali onde todos quantos viveram uma vida sem Deus prestaram contas diante do Todo-Poderoso. “Existem questões que já devem ter passado na mente de quase todas as pessoas: Por que Deus permite que a maldade e a injustiça ocorram no mundo? Por que Deus não pune imediatamente os pecadores? O julgamento do Grande Trono Branco é a resposta a essas perguntas, pois nele, toda a justiça de Deus será revelada e todo juízo contra o pecado será executado” (OLIVEIRA, 2012, p.231). O objetivo do juízo final é para revelação do justo julgamento de Deus. Todos serão julgados, os segredos serão revelados, tudo será avaliado (ver. Mt 25.32; II Co 5.10; Hb 9.27; Rm 14.10). “Alguns perguntam se os pecados dos crentes estão incluídos – isso parece desnecessário, uma vez que eles foram justificados. Mas as declarações acerca da revelação dos pecados são universais” (ERICKSON, 1997, p.507). “Às vezes, porém, se objeta que os pecados dos crentes, pecados perdoados, certamente não serão trazidos a público naquele dia; mas a Escritura nos leva à certeza de que o serão, embora, naturalmente, sejam revelados como pecados perdoados” (BERKHOF, 2009, p.674). Com relação ao Juiz, Deus, na pessoa de Cristo, julgará a todos. Em Mateus 25 vemos: “E quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas, e porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda” (VV. 31-33). “Jesus é realmente a Pessoa mais capaz para fazer este julgamento final, porque ele está intimamente relacionado e identificado com Deus, mas também está intimamente relacionado e identificado com o homem” (LANGSTON, 1986, p.298). 12.10. O Estado Final do Justo e do Injusto Algumas passagens bíblicas descrevem sobre o estado final tanto do justo como do injusto. Mateus refere-se ao estado final do justo como sendo vida eterna (25:46); Paulo como glória (II Co. 4:17); Hebreus fala de descanso (4:9); no Apocalipse aparece como santidade (21:27) adoração (19:5) comunhão com Deus (21:3). Resumindo tudo isto, podemos dizer que é a plenitude e perfeição da vida santa em comunhão com Deus e com os espíritos santificados. Apesar de haver graus de bem- aventurança e honra proporcionais à capacidade e fidelidade de cada alma (Lc. 19.17,19; 1 Co. 314,15), cada um receberá tão grande medida de galardão conforme pude conter (1Co. 2.9), a partir do momento em que se entra nesse estado final, não haverá mudança no gênero e será infinito na duração. (STRONG, volume 2, 2003, p.841) Quanto aos injustos. Várias correntes teológicas afirmam a não permanência dos mesmos em um lugar de tormento. Alguns extincionistas, como o Adventismo, negam a existência perpetua dos ímpios em um lugar de sofrimento eterno, tornando desnecessário um lugar para tal punição. “Na Teologia ‘Liberal’ moderna, a palavra ‘inferno’ é geralmente considerada como um designativo figurado de uma condição puramente subjetiva, na qual os homens podem achar-se mesmo enquanto na terra, e a qual pode tornar-se permanente no futuro” (BERKHOF, 2009, p.677). Todavia, tais interpretações estão equivocadas, pois a Escritura nos ensina que haverá uma punição eterna para os injustos. “Não pode haver dúvida razoável quanto ao fato de que a Bíblia ensina a existência permanente dos ímpios, Mt 24.5; 25.30,46; Lc 16.19-31. Além disso, em conexão com o tema do ‘inferno’, a Bíblia emprega expressões indicativas de lugar o tempo todo” (BERKHOF, 2009, p.677). A simples consideração das palavras do nosso Senhor, sem qualquer anotação ou comentário, deveria convencer o leitor sincero de que Ele ensinou a doutrina do castigo futuro. Note com atenção o seguinte: Mandará o Filho do homem os seus anjos que ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticaram a iniquidade, e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes (Mt. 13:41-42). Então o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos... E irão estes para o castigo eterno, porém os justos para a vida eterna (Mat. 25:41,46) (CULBERTSON, 1990, p.494). As objeções feitas ao castigo eterno baseiam-se na misericórdia de Deus e no Seu amor. Contudo, uma apreciação correta da seriedade do pecado só pode ser obtida quando se tenta apreender o alcance do amor de Deus em entregar o Seu Filho para remir o homem. Somente assim, “nos tornamos conscientes do fato de que o castigo de duração ilimitada não está fora de proporção para os que voluntária e finalmente rejeitam Aquele que sofreu – o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus (I Ped. 3:18). (CULBERTSON, 1990, p.497). 12.11. As Teorias do Advento No decorrer da era cristã, várias visões foram desenvolvidas concernentes à escatologia, assim sendo, tais correntes tem levado muitos estudiosos a diferentes posições. A visão pré-milenarista é tida como a mais antiga interpretação escatológica “correta e biblicamente coerente [...] É fato que atualmente, a maioria absoluta dos cristãos protestantes é pré-milenarista, mas mesmo assim, é importante que o estudioso da escatologia bíblica cristã conheça as demais visões a respeito do milênio” (OLIVEIRA, 2012, p.220). Nesse ponto não discutiremos as várias correntes teológicas existentes quanto à interpretação do milênio, mas apresentaremos cada uma delas, a fim de, proporcionar ao leitor algum conhecimento sobre o assunto. Pois “as posições escatológicas apresentam complicações na área da interpretação da Bíblia. As variadas maneiras de entender a profecia preditiva mostram que os que tentam explicar as numerosas passagens escatológicas têm atitudes divergentes quanto à legitimidade de certos métodos de sustentar interpretações que não são suas” (SHEDD, 2004, p.10). Pré-Milenista O pré-milenismo acredita em um reinado de Cristo, com duração de mil anos aqui na terra. Ao contrário do pós-milenismo, o pré-milenismo entende que Cristo reinará fisicamente durante esse tempo; “crê que Jesus retornará de forma pessoal e física, a fim de iniciar o milênio. Sendo assim, o milênio deve ser considerado ainda futuro” (ERICKSON, 1997, p.512). Creem que Cristo voltará antes dos mil anos, e que o mundo que sobreviverá à destruição e julgamento da grande tribulação, será dominado por Ele, e Cristo reinará sobre esse mundo. É dito que muitos dos pais da Igreja eram milenistas. “Com a posição adotada por Agostinho (séc. V) o pré-milenismo caiu no desprezo geral até a revitalização ocorrida no século passado. Muitos creem que o pré-milenismo é sinônimo do dispensacionalismo criado e popularizado por J. N. Barby, um destacado líder dos Irmãos Livres de Plymouth, Inglaterra” (SHEDD, 2004, p.12). Amilenista Com a conversão do imperador Constantino ao cristianismo no IV século, a religião cristão tornou-se a religião oficial do império romano, as perseguições começaram a cessar, então muitos passaram a crer que o tão esperado reino messiânico havia chegado. Agostinho, através da interpretação alegórica, conseguiu conciliar as profecias bíblicas com este evento “ele alegorizou quase todas as profecias literais a respeito do reino messiânico, e colocou a Igreja como grupo que cumpre as profecias feitas para a nação de Israel” (OLIVEIRA, 2012, p.221). Falando literalmente, o amilenismo “é a ideia de que não haverá um milênio, um reinado terreno de Cristo. O grande julgamento final seguir-se-á imediatamente à segunda vinda e resultará de pronto nos estados finais dos justos e dos ímpios” (ERICKSON, 1997, p.515). O amilenismo moderno “rejeita a separação de Israel/Igreja. A teologia reformada vê na aliança a chave hermenêutica da Bíblia. As promessas outorgadas aos filhos raciais de Abraão passaram a ser a herança do povo salvo pela redenção de Cristo” (SHEDD, 2004, p.16). Milenista Trata-se daquelas pessoas que têm a expectativa de um reino de Cristo sobre a terra, seja antes ou depois da Sua vinda. O termo milenarianismo é uma expressão latina que significa “aquilo que contém mil”. “O Livro de Enoque fala de uma era áurea (antes da inauguração do estado eterno) de quatrocentos anos [...] A expectação sobre o breve retorno de Cristo e sobre a instituição de um milênio era muito forte na Igreja primitiva. Na segunda metade do século II D.C., entretanto, essas doutrinas começaram a perder a sua importância” (CHAMPLIN, volume 4, 2002, p.275). O milênio tem sido tema de muito debate, particularmente entre os cristãos fundamentalistas dos séculos XX e XXI, que não concordam com a interpretação dos poucos versículos bíblicos no qual esse tema aparece particularmente no Apocalipse (20.2-7) – visto que Apocalipse é o único livro do Novo Testamento no qual se fala explicitamente de um reino de mil anos (GONZÁLEZ, 2009, p.208) Tribulacionista Baseando-se nas 70ª semana de Daniel, também conhecida como “sete anos de Tribulação”, “é um período que se iniciará quando o Anticristo fizer um acordo de paz entre os judeus e os palestinos [...] Nesse período, Deus vai derramar Seus juízos sobre a Terra [...] na forma de catástrofes naturais com um nível de intensidade jamais visto, e também com alguns eventos sobrenaturais” (OLIVEIRA, 2012, p.138). Há uma relação complexa entre a volta de Cristo e os eventos conhecidos como a grande tribulação. Três correntes discutem sobre tal evento, os pré-tribulacionista, póstribulacionista e miditribulacionista. A pergunta que se faz é: “haverá uma vinda separada, a fim, de remover a igreja do mundo antes da grande tribulação, ou a igreja passará pela grande tribulação para só depois ser unida ao Senhor?” (ERICKSON, 1997, p.519). Pré-Tribulacionista Essa linha de pensamento defende a ideia de que Cristo tomará a igreja para si antes da grande tribulação. Afirmam que a igreja não passará por nenhum momento da tribulação. Será uma grande tribulação sem paralelos na história. “O pré- tribulacionismo, portanto, sustenta que haverá duas fases na vinda de Cristo, sendo possível dizer duas vindas. Haverá, também, três ressurreições [...] O objetivo do arrebatamento é livrar a igreja da tribulação. Podemos aguardar o livramento porque Paulo prometeu aos tessalonicenses que eles não sofriam com a ira que Deus derramaria sobre os incrédulos” (ERICKSON, 1997, p.520) Um dos pontos cruciais no pré-tribulacionismo está entre a distinção Israel e a Igreja, o qual está intimamente relacionado com o dispensacionalismo. “O prétribulacionismo afirma que a vinda de Cristo para Seus santos será no ar e antes da Tribulação; depois da Tribulação, Cristo virá com Seus santos e a terra para reinar por mil anos” (GEISLER, volume 2, 2010, p.995). Pós-Tribulacionista Acredita que o arrebatamento e a segunda vinda de Cristo se darão após a grande tribulação. Por negar a distinção entre Israel e Igreja, tal doutrina existe. Eles “evitam o uso do termo arrebatamento porque (1) não é uma expressão bíblica e (2) dá a entender que a igreja escapará ou será livrada da tribulação, uma noção contrária à essência do pós-tribulacionismo” (ERICKSON, 1997, p.522). Alguns argumentos pós-tribulacionista: Argumento um. De acordo com Mateus 24, o Arrebatamento é precedido por sinais claros. Está escrito que o retorno de Cristo será ‘depois da aflição daqueles dias’ (v.29) [...] Argumento dois. A parábola do trigo e do joio indica que o retorno de Cristo se dará no fim dos tempos (13.24), quando os anjos irão separar o joio do trigo (v.40) [...] Argumento três. Apocalipse 20.4-6 indica que todos os crentes ressuscitarão no fim da Tribulação. Arrebatamento no início dela. (GEISLER, volume 2, 2010, p.1030-1031) Afirmam que todos os eventos complexos formam basicamente uma unidade. Sua esperança não está numa remoção dos crentes da terra antes da tribulação, mas, antes, uma confiança de que o Senhor protegerá e manterá os crentes não importa o que aconteça. Miditribulacionista É dito que por causa das dificuldades causadas tanto pelo pré-tribulacionismo como pelo pós-tribulacionismo, têm sido criadas algumas interpretações intermediárias. Dentre as três principais variedades a mais comum e a concepção mesotribulacionista. “Esta sustenta que a igreja enfrentará a parte menos severa (em geral a primeira metade, ou três anos e meio) da tribulação, mas depois será removida do mundo. Na formulação dessa concepção, a igreja será removida antes que a ira de Deus seja derramada” (ERICKSON, 1997, p.524). Dispensacionalismo Oliveira declara que esse método interpretativo vem desde os tempos da igreja primitiva. Um estudo cauteloso da Bíblia, nos mostra vários trechos “que a igreja primitiva e os apóstolos já tinham implícitas as crenças e doutrinas do dispensacionalismo. Um desses casos é a crença do apóstolo Tiago, irmão do Senhor Jesus segundo a carne, a qual é descrita em Atos 15.4-18” (OLIVEIRA, 2012, p.237). Todavia, o termo e o método dispensaciolista, segundo González, “foi criado na Grã-Bretanha por John Nelson Darby (1800-82), e popularizado nos Estados Unidos e depois em outras partes do mundo pelas notas e referências da Bíblia de Scofield, publicada pela primeira vez no ano de 1909” (GONZÁLEZ, 2009, p.94). O Conceito de Dispensacionalismo. Em contraste com isso, outros intérpretes distinguem períodos distintos na maneira de Deus tratar com os homens. Durante esses períodos Deus teria apelado para várias formas de agir. A ideia básica, nesse caso, é que Deus tem tentado vários métodos que não têm sido bem sucedidos. Cada método (ou dispensação) teria sido abandonado totalmente, antes do método seguinte ser experimentado, de tal modo que as prescrições divinas para uma dispensação não são válidas na próxima dispensação. Por sua vez, a teologia dos pactos objeta precisamente a essas mudanças radicais nos métodos divinos (CHAMPLIN, volume 2, 2002, p.187). 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