O Rapaz de Bronze
Transcrição
O Rapaz de Bronze
Jardim de Versos “O Rapaz de Bronze” Sophia de Mello Breyner Andresen Estava a Orquídea a dançar Naquele lindo jardim, O Nardo foi-a convidar E ficou feliz assim. Estava a rapaz a dançar No jardim maravilhoso, Veio a Florinda convidar, Que perfume tão cheiroso! A Tulipa e a Rosa, Que grandes amigas são! E a Begónia tão vaidosa, Ali naquele serão. Os Gladíolos tão convencidos Achavam-se os melhores. Tanto queriam ser colhidos, Que não eram simples flores. O rapaz tinha um brilho! O Gladíolo era o melhor! Quando não foi colhido, Era de todos o pior. Ali havia uma flor, Que gostava de dançar Espantava a sua dor, Gostava de cantar. Um bonito rouxinol Naquela festa cantou, Depois do pôr-do-sol, Tudo se animou. Aquele lindo cravo Que andava tão lento, Um dia estava bravo, Corria como o vento. O Rapaz está a olhar, A Tulipa a sentir, A Begónia a amar E a Rosa a sorrir. A Tulipa amarela, Mais linda que o sol. A menina tão bela Dança com um Girassol. A menina Florinda Veio com muita paz. A menina era linda E encontrou o Rapaz. Ali vivia no jardim Um Gladíolo amarelo. Mas cá para mim, Julgava-se o mais belo. No jardim, aquele Rapaz De dia não se mexia, Mas de noite espalhava paz E também muita alegria. Naquele grande jardim Muitas flores havia… O ar cheirava a alecrim E dava muita alegria. Ali havia um Rapaz, Tão bonito que ele era! Ali espalhava a paz, Que bonita primavera! As flores ansiosas, O Gladíolo ainda mais As borboletas curiosas Até davam ais. Florinda criança, Adora a primavera! Cheia de confiança, Que bonita que era! De dia está parado, À noite não pára. Estar desanimado, Isso é coisa rara! O amor anda no ar, A tristeza acabará. O jardim todo a cantar O amor celebrará. Ali reinava um rapaz Bem verde bonito. Ali reinava a paz! Será verdade ou mito? Entre buxos e pomares, Com gladíolos um canteiro. Eram belos os lugares, Um campo cheio de cheiros Estava o cravo contente Na haste a baloiçar, Diz a rosa, de repente: Gosto de te ver dançar! Havia no jardim maravilhoso, Tão meiga uma flor, Havia um gladíolo orgulhoso, Tão cheio de amor. Tulipa, cravo e jasmim, Todos juntos a sorrir São a alegria do jardim: Assim nos vamos sentir! A dança das flores Era uma alegria: Eram tantas as cores, Era tanta a harmonia! E o gladíolo tão feliz Quer uma festa dar. Igual àquele que eu fiz Para a todas alegrar. O dia estava lindo, Brilhava a luz do sol E o nardo escondido Com seu verde cachecol. Havia naquele roseiral, Que está dentro de mim, Um esplêndido festival Para a rosa e pró o jasmim. Nasceu naquele jardim Flor linda de pasmar: De dia apenas jasmim, Gente em noite de luar. Da estufa nunca saíam Para não se constipar, Do frio medo tinham, Doentes não queriam ficar. Na dança das flores, Seu coração bailava. Sentia até calores De tanto que a amava! Iam as borboletas a voar, Belas de asas coloridas. A novidade queriam contar, Até faziam corridas! Uma rosa lá vivia, Naquele belo jardim. Ela bem merecia, Era amiga do alecrim. A noite começou, O dia desapareceu, A alegria reinou, Tudo estremeceu. O Gladíolo, naquele dia, Não parava de sonhar: Como iria ser a festa? Como iriam festejar? O rapaz tanto esperou Sem nunca se cansar. Florinda desabrochou E lá o foi acordar. Rapaz de Bronze a andar Ou menino apaixonado? Tem direito a amar Menino bem orientado. O Gladíolo à espera Da tulipa que não chegava. Assim mesmo ela era: Sempre, sempre se atrasava. Assim era aquele jasmim Com uma cor lindíssima. Ele era mesmo assim, Com a haste verdíssima. Gladíolo a convidou, Tulipa não quis dançar. O nardo só acenou E lá foi ela bailar. As flores com felicidade, Os pássaros a cantar, Florinda com amizade, Com o rapaz a conversar. À noite, as flores Dançavam e cantavam… De dia, as flores Balançavam e sonhavam… O gladíolo apaixonado, Pirilampos a brilhar, O Rapaz encantado Com a noite de luar. O Gladíolo era mundano, Vivia em sociedade. Conheceu uma tulipa, Oh! Rara felicidade! Naquele lindo jardim Havia lindas flores. Era lindo o jasmim Com as suas cores. Os Gladíolos do jardineiro Foram tirados do jardim. Foram colhidos do canteiro Eram felizes, mesmo assim. Naquele belo jardim Havia muitas flores: Cravo, rosa, jasmim, Brilhos de tantas cores! As borboletas pousavam Em todas as flores E os recados levaram Era uma festa de cores No jardim estava um rapaz De tão rara beleza. Estava sempre em paz, Era o rei da Natureza. Vivia um Gladíolo feliz Naquele lindo jardim. Mesmo preso pela raiz: A vida é assim! Um gladíolo a sonhar, Seu coração cheio de amor, Só pensa em bailar E não é a única flor. O amor estava no ar, Era grande a paixão! Em noite de luar Ninguém diga que não. O gladíolo era mesmo assim: Gostava muito de dançar, Julga-se o melhor do jardim E dele todos têm de gostar. Naquele jardim bonito Um Gladíolo nasceu. Ele estava tão aflito! Pois ninguém o colheu. As flores a cantar, As árvores a ouvir, As flores a dançar, Põem todos a sorrir. No jardim onde eu vivia Havia um belo rapaz. Na verdade, ele só queria Espalhar toda a sua paz. O vento a soprar Sem saber para onde ir, Lá vai a cantarolar E nós todos a ouvir. Era um jardim maravilhoso, Um jardim de encantar… O Gladíolo tão vaidoso Sempre, sempre a invejar… O gladíolo desesperado, A tulipa que não vinha! Começou a cantar fado, Que tristeza que ele tinha! Num dia de calor, Fui ao rapaz pedir Uma linda flor Que me faça sorrir. A tulipa apareceu, Gladíolo queria namorar, Só o Nardo a convenceu, Lá foram eles dançar. Ali havia um rapaz Bonito como uma flor, Ali só havia paz E ali só havia amor. Era uma vez um jardim, Onde havia um roseiral, Havia cheiros a alecrim, Nunca cheirava mal. Um gladíolo nasceu Com uma bonita cor. Assim que floresceu, Achou que era o melhor. Com a Tulipa queria dançar, Tempo esperou demasiado. Ela não quis aceitar, Ele ficou amachucado. Havia um lindo jardim, Grande e com muita cor, Ali cheirava a jasmim, Ali não faltava amor… O dia e a noite são diferentes, Ali naquele jardim. Florinda e o menino contentes E o rapaz sorrindo assim . Ali estava uma flor Diziam que era de ouro; Florescia ali o amor, Que grande tesouro! Um dia naquele jardim, Uma planta nasceu, Linda, feita de cetim, Ali ela floresceu . Tulipa, linda flor Tulipa deste jardim Tulipa, meu amor, Será que gostas de mim? No jardim, muitas flores havia Cada uma com a sua beleza Uma brincava, outra ria, A alegria era uma certeza! A tulipa toda vaidosa No lago se foi sentar A tulipa triste e saudosa Não queria dançar. O gladíolo organizou Uma festa de encantar E dançou, dançou, Até o sol da manhã raiar. Ali no jardim nasceu Um gladíolo vermelho, Assim que floresceu, Foi ver-se ao espelho. Aquelas duas flores Faziam um belo par. Elas viviam grandes amores, Que nunca iam terminar. Na festa de flores Tudo ali brilhava. Eram tantas as cores, A todos encantava. A Florinda cheirava bem, Que cheiro encantador, Lindo cheiro que ela tem, Mas que belo odor! Havia um jardim Tão cheio de flores, Havia ali um jasmim… Serei eu uma flor? Naquele dia de sol Com luz até mais não Cantava um rouxinol E ela deu-lhe a mão. Florinda é uma flor Flor mais bela que o sol Florinda vive com amor A noite é o lençol. O Rapaz é lindo e risonho No seu magnífico jardim , Vive um lindo sonho Com borboletas e amor sem fim.. Nardo e Florinda, que bons amigos são! É muito cado ainda, Vai começar o serão. Chamou pelo vento Para o levar, Não tinha tempo Para ir devagar O Gladíolo a dançar Sempre bom dançarino Não consegue sossegar, Parece menino rabino . Numa noite maravilhosa Todos na haste a baloiçava, Chegou o cravo e a Rosa Para uma festa de encantar. Os buxos riam baixinho Outros faziam troça, Falavam bem de mansinho: A festa é toda nossa! Estava a festejar Numa dia tão bonito O Gladíolo a baloiçar Com o Cravo pequenito O dia da festa é chegado Tulipa o rejeitou, Por ninguém era amado, Ali o Gladíolo secou. Era dia de festa Estavam muito contentes O Cravo numa festa Com as rosas exigentes À noite ganhava vida Parecia de verdade Na sua manta florida De Florinda tinha saudade A Rosa a amar, A Tulipa a sentir, A Begónia a cantar, O Rapaz a sorrir. Estava a Tulipa ali Bem firme no chão, O Gladíolo sorri À Rosa cheia de paixão. O Gladíolo apaixonado A Tulipa não dançava Ele já desesperado, Por ela esperava. Ele ali sentado Vendo Florinda Estava apaixonado, Ela é tão linda! Rapaz com ternura, A Tulipa com paixão, A Begónia com doçura, Tão cheio o coração! Que cheiro tão lindo, É da bonita flor Este cheiro está indo Levando tanto amor Rapaz de Bronze é amor , A Tulipa é paixão, E o Gladíolo espalha Alegria em cada coração No jardim encantado A Florinda sonhava Com o Rapaz apaixonado Que para ele cantava. O Rapaz é lindo e risonho No seu magnífico jardim, Vive um lindo sonho Com borboletas e amor sem fim… Chamou pelo vento Para o levar, Não tinha tempo Para ir devagar. Numa noite maravilhosa Todos na haste a baloiçar, Chegou o cravo e a Rosa Para uma festa de encantar. Estava a festejar Num dia tão bonito, O Gladíolo a baloiçar Com o Cravo pequenito. Era dia de festa Estavam muito contentes… O Cravo numa cesta Com as rosas exigentes. À noite ganhava vida Parecia de verdade, Na sua manta florida, De Florinda tinha saudade. 5ºC, 5ºD, 5ºF
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