ISEF 2014: Jovens brasileiros têm projetos premiados GUILHERME

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ISEF 2014: Jovens brasileiros têm projetos premiados GUILHERME
Ano 5 | no 27 | JunHo 2014
EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA
Solução inovadora para
setor automotivo
© GM CORP
AGÊNCIA PETROBRÁS DE NOTÍCIAS
ISEF 2014:
Jovens brasileiros têm
projetos premiados
GUILHERME ESTRELLA:
Petrobras, inovação e
conteúdo nacional
r$ 12,00
9 772 236 41900 0
ISSN
2236-4196
23
eXemPlAr
eXemPlAr
cort e siA
cortesiA
editorial
ANO 5 | N 27 | Junho | 2014
O
A necessidade do estímulo à inovação
EXPEDIENTE
DIRETOR DE REDAÇÃO
Celso Horta
EDITOR
Maurício Thuswohl
DIAGRAMAÇÃO E ARTE FINAL
Guilherme França
CORRESPONDENTE
Flávio Aguiar (Alemanha)
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO
Aisy Thuswohl
Michelly Cyrillo
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emitidos nos artigos assinados.
Tema recorrente nas páginas da INOVA, a necessidade de inovação no setor
automotivo brasileiro volta a ser abordada na matéria de capa desta edição
e nos convida a uma importante reflexão. No atual momento de recuo dos
números relativos à fabricação e a venda de veículos no país, a expectativa de
empresários e trabalhadores quanto ao incremento da produção de automóveis
elétricos e híbridos a partir do pacote de incentivo que será lançado ainda este
mês pelo governo federal mostra o quão é importante que o governo persevere
em suas políticas de estímulo à inovação.
Esse incentivo é fundamental para dotar o setor automotivo, assim como
a indústria nacional como um todo, de maior competitividade e capacidade
produtiva. Para tanto, é preciso que o Brasil cesse de continuar pagando juros
altos - 11% na selic - para disponibilizar dinheiro barato na Taxa de Juros de
Longo Prazo (TJLP) (5%) e convencer empresários a investir.
Infelizmente, existem muitos empresários brasileiros que se gabam de não
trabalhar com dinheiro próprio por princípio. A cultura empresarial do país
determina que qualquer projeto de interesse nacional seja bancado parcial ou
integralmente com dinheiro público. Até as empresas multinacionais trabalham
assim, como mostra a reportagem. Diante desse quadro, ou o governo assume
um novo modelo de investimentos públicos, dando o direito de participação na
gestão das empresas a todas as representações dos atores econômicos, ou
deixa de vez de botar dinheiro público nas empresas capitalistas.
Não falta ao Brasil vocação para a ciência, a tecnologia e a inovação, como
mostra nossa outra reportagem. Três projetos inovadores apresentados por
jovens estudantes do Ensino Médio de São Paulo e do Rio Grande do Sul
acabam de ser premiados na Intel ISEF 2014, mega feira científica anual
criada em 1950 e considerada o maior evento pré-universitário de ciência e
tecnologia do mundo. O Brasil foi representado no evento por 34 estudantes que
apresentaram 18 projetos que tratam desde o aperfeiçoamento do cultivo de
células-tronco até o desenvolvimento de tecnologia para prevenir a proliferação
de mosquitos da dengue.
Dois assuntos muito em voga, a Copa do Mundo de futebol e a situação da
Petrobras, também são tratados nesta edição. O artigo de nosso correspondente
na Europa, Flávio Aguiar, fala das diversas inovações surgidas dentro das quatro
linhas, desde a bicicleta, cuja invenção é atribuída ao craque brasileiro Leônidas
da Silva, o Diamante Negro. Na seção de entrevista, o ex-diretor de Exploração
& Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, considerado por muitos o “pai do
pré-sal”, sugere que empresas “genuinamente brasileiras” forneçam conteúdo
nacional para alimentar a cadeia da indústria do petróleo e defende a Petrobras
das críticas feitas pela oposição no que diz respeito ao volume de produção de
petróleo, à importação de combustíveis e à gestão de pessoal.
Celso Horta
AGÊNCIA PETROBRÁS DE NOTÍCIAS
entrevista Guilherme Estrella
05
entrevista
12 direto de Berlin
Petróleo e inovação
para desenvolver
conteúdo nacional
chutes, chuteiras e inveção
Guilherme Estrella
10 notas
Flávio Aguiar
Santo André quer regulamentar uso de
mananciais da Billings
DIVuLGAÇÃO
ABDI faz mapeamento de smart grids no Brasil
14
internacional
Centro de big data é inaugurado na Ilha do
Fundão
Juventude inovadora:
Brasil é destaque em
feira internacional
Brasil ajuda a seqüenciar genoma citros
Relógio inteligente inaugura “computação
vestível”
17
orgânicos: uma década de avanço
inovador
ABCD MAIOR/LuCIANO VICIONI
capa
estímulo à eficiência energética
na produção de elétricos e híbridos
08
inovA | JuNHO 2014
PARA DESENVOLVER
CONTEÚDO NACIONAL
Ponto de vista
Maria Beatriz Bley Martins Costa
4
PetrÓleo e
inovAção
neste momento pré-eleitoral, no qual
falar em “defesa da Petrobras” é prática
diária, e em muitos casos leviana,
de alguns políticos brasileiros, as
palavras de Guilherme estrella refletem
um grande respeito e afeição pela
maior empresa do Brasil. ex-diretor
de exploração e Produção (e&P) da
Petrobras, considerado por muitos o “pai
do pré-sal” por sua decisiva atuação nas
descobertas das reservas e também nas
discussões que culminaram na adoção
de um novo marco regulatório para o
setor de Óleo e Gás durante o governo
lula, estrella é um nacionalista convicto.
nesta entrevista exclusiva, ele fala sobre
a necessidade de inovação para que
empresas “genuinamente brasileiras”
se desenvolvam como produtoras de
conteúdo nacional para alimentar a
cadeia do pré-sal e defende a Petrobras
de críticas feitas pela oposição no que
diz respeito ao volume de produção de
petróleo, à importação de combustíveis e
à gestão de pessoal. estrella, no entanto,
não se furta a criticar o leilão do campo
de libra que, segundo ele, “deveria ser
realizado daqui a alguns anos”, e faz um
alerta sobre a importância de o Brasil
se consolidar como protagonista global
e “grande supridor mundial de energia”.
leia a seguir a íntegra da entrevista:
iNoVA – Após a confirmação da capacidade das reservas do pré-sal, o governo
apresentou como uma de suas prioridades o estímulo à inovação tecnológica e
ao desenvolvimento de conteúdo nacional
para alimentar a cadeia produtiva do setor
de Óleo e Gás. O senhor acredita que esta
meta esteja sendo cumprida? Quais são os
gargalos que impedem um maior desenvolvimento desse conteúdo nacional?
Guilherme Estrella - Há que estabelecer a
diferença medular, essencial neste quesito do
conteúdo nacional (CN). Quando o presidente Lula afirmou que “tudo o que puder ser
feito no Brasil vai ser feito e o que não puder ser feito agora tem que ser feito no futuro próximo”, o grande objetivo era construir
no Brasil para dar empregos aos brasileiros.
Objetivo plenamente alcançado. Com o correr dos anos, pouco tempo, aflorou a oportunidade explícita e totalmente previsível de
acoplar o CN não só à criação de empregos,
mas ao degrau posterior, o desenvolvimento
industrial e tecnológico brasileiro, através de
empresas com controle brasileiro, isto é, com
conhecimento, competência construtiva e esforço de inovação genuinamente brasileiros.
Simplesmente pelo fato de que, sem isso, as
empresas estrangeiras, ainda que instaladas
no Brasil e aqui a criar postos de trabalho,
se aproveitariam do imenso mercado criado
pelas oportunidades e necessidades de produzir o petróleo em nosso território - riquezas
estratégicas naturais radicalmente brasileiras
- para alimentar seus centros de pesquisa em
suas sedes no exterior e desenvolver concretamente seus conhecimentos, competências
e tecnologias próprias no exterior. Como
conseqüência direta, aumentam o poder de
sua engenharia para manter e preservar suas
hegemonias como fornecedoras de bens, serviços e equipamentos do setor petrolífero
mundial. Este aspecto se tornou profundamente agudo com as descobertas gigantescas
do pré-sal, com oportunidades que vão exigir
investimentos de mais de um trilhão de reais
nos próximos 20 anos.
Este é um ponto central, que toma dimensões de verdadeira soberania e segurança
nacionais brasileiras, pois consiste em conhecimentos e competências empregadas
em produzir uma riqueza que servirá de base
material para o desenvolvimento do Brasil.
Mais do que isto: muitos destes conhecimentos, competências e tecnologias enquadram-se como “duais ou sensíveis”, isto é, abrangem concretamente a indústria bélica, como
turbinas aeroderivadas, e equipamentos de
elevada precisão operacional, como válvulas
especiais, motores de todos os tipos, veículos
de controle remoto, veículos com tecnologia
inercial, automação em grande escala. Enfim, uma grande gama de tecnologias manifestamente essenciais para um país que se
apresenta ao mundo do Século XXI - aliás,
conhecido como “século da economia do conhecimento” - como importante protagonista da cena geopolítica internacional.
Logo, é indispensável que o CN dos
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A revisão constitucional da Carta de 1988,
produto do tsunami neoliberal-colonialista
que varreu o mundo a partir da aliança Tatcher-Reagan, apagou de nossa Lei Maior
todo e qualquer conteúdo nacionalista, inclusive a distinção entre empresas nacionais
controladas por capital brasileiro e aquelas
controladas pelo capital estrangeiro. Urge,
portanto, que o Brasil tome uma destas seguintes decisões, para garantir a soberania
nacional ao longo do Século XXI: ou restabelece a distinção entre as empresas, de acordo
com a Carta de 1988 ou, dentro do atual texto
legal, encontra espaço - trata-se de matéria de
verdadeira segurança nacional - para praticar
políticas radicais de proteção às empresas genuinamente brasileiras. Quer dizer, proteção
verdadeira à engenharia, à tecnologia, ao conhecimento brasileiros.
iNoVA – Qual sua análise sobre o resultado
do leilão das áreas de exploração no Campo
de Libra? A participação da Petrobras é a ideal para cumprir os objetivos de soberania nacional previstos no Marco Regulatório aprovado para o setor durante o governo Lula?
Guilherme Estrella - Já tornei pública minha
opinião sobre o leilão de Libra. O gigantesco volume de petróleo, insumo estratégico
por excelência (não se invadiram e ocuparam países nas duas ultimas décadas para
se apropriarem de plantações de tâmaras),
indicavam que ele deveria ser realizado daqui
a alguns anos, quando o quadro energético
mundial será outro, muito mais dependente
de petróleo/gás e carvão, conforme o prognóstico da Agência Internacional de Energia. Ou, se condições políticas e econômicas
impusessem ser agora, como foi, a Petrobras
deveria ser contratada diretamente para produzir o campo, conforme a própria Petrobras
se declarou inteiramente competente para
fazê-lo sozinha, possibilidade prevista no texto do Marco do Pré-Sal para ser aplicada em
“áreas estratégicas” como Libra. Como está,
Libra carrega uma semente de crise e conflito
internacional na medida em que tem grandes
interesses não brasileiros envolvidos em sua
gigantesca reserva.
iNoVA – A direção da Petrobras no período
Lula-Dilma vem sendo muito criticada pela
grande mídia e pelos partidos de oposição,
que consideram baixo o atual volume brasileiro de produção de petróleo, estimado
em 1,9 milhão de barris por dia, e também
apontam como conseqüência de mau-planejamento as recentes importações de
combustíveis feitas pela empresa. Essas
críticas têm fundamento?
Guilherme Estrella - Estas críticas não têm
fundamento. Na área de Exploração e Produção (E&P) houve uma opção por um modelo gerencial de manutenção que implica em
longas paradas programadas das unidades
de produção, em contraponto ao modelo até
então adotado, de paradas curtas distribuídas
ao longo da atividade operacional das unidades. Foi uma escolha perfeitamente normal
no gerenciamento das atividades operacionais e não há como criticar esta decisão,
dentro das diversas dimensões de imprevisibilidade que é a marca essencial da
atividade de E&P.
Quanto às importações de combustíveis, a razão é muito simples. As
refinarias da Petrobras foram projetadas para produzir principalmente
gasolina e menos diesel. Até o final
da década de 2000, o consumo de
diesel explodiu no Brasil, resultado da
forte retomada do desenvolvimento
nacional a partir de 2003. A partir
deste fato, a Petrobras investiu
pesadamente para
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“melhorar” o perfil de refino de nossas unidades, elevando - dentro das possibilidades dos
projetos originais - substancialmente a produção de diesel. Resultado disto é que passamos
a importar menos diesel e exportar gasolina.
Ocorrem então dois fatos não previstos: a
produção de automóveis bate recordes, com
tudo 100% flex, e o álcool anidro combustível
desaparece do mercado. Conseqüência desta
conjunção de fatores, o consumo de gasolina
vai pro espaço e o consumo de diesel continua
a crescer. Não havia outro jeito senão importar muita gasolina e também diesel até que a
Renest fique pronta e também as refinarias do
Ceará e do Maranhão, para abastecer o mercado nacional.
iNoVA – O que levou às recentes quedas
no nível de produção da Petrobras? É recomendável acelerar a produção na Bacia de
Campos? A interrupção das operações no
campo de Marlim será compensada pelo início da produção previsto para novas plataformas como, por exemplo, a P-26 e a P-56?
Guilherme Estrella - Na minha opinião, as
perdas de produção ligam-se, principalmente,
às longas paradas para manutenção das unidades de produção, como acima mencionado.
O E&P está inteiramente dedicado - como tem
feito com a competência habitual - a enfrentar
o natural acentuado declínio de produção dos
campos antigos da Bacia de Campos, inclusive
com programas específicos para alcançar este
objetivo. Também foi decidido, com total correção, acelerar ao máximo a produção do pré-sal, que é, no final das contas, o que vai resolver o problema da perda de produção até que
as tecnologias de separação e injeção submarinas - em cujo desenvolvimento a Petrobrás
está investindo pesadamente - estejam disponíveis e permitam que os volumes de líquidos
processados pelas unidades flutuantes, que
são limitados, sejam aproveitados com muito
maiores quantidades de petróleo em relação à
água produzida. A instalação de novas unidades de produção em campos antigos, mas com
grandes volumes ainda a serem produzidos,
como Marlim, certamente vai não só elevar
a produção, mas prolongar a vida produtiva
deste grande campo da Bacia de Campos.
iNoVA – Em termos de logística, quais as
inovações necessárias na cadeia de E&P
no Brasil? Quais são os próximos desafios
tecnológicos do setor de petróleo e, em particular, da Petrobras?
Guilherme Estrella - As mais importantes inovações em logística operacional
- construção de poços, instalação e
manutenção de grandes unidades
de produção, escoamento de petróleo e gás natural, entre outros
aspectos - relacionam-se especificamente com a gestão do Pólo
FOTOS: AGÊNCIA PETROBRÁS DE NOTÍCIAS
imensos investimentos do setor petrolífero
brasileiro seja direcionado para empresas
genuinamente brasileiras.
Pré-Sal da Bacia de Santos e sua integração
com a nossa “velha e respeitável senhora”, a
Bacia de Campos. No curto prazo, naturalmente, empregam-se soluções já consolidadas em Campos, com águas menos profundas
e a 100 km costa-a-fora. Em Santos, em termos logísticos, “o buraco é mais embaixo”,
para utilizar uma expressão do povo a que
honrosamente pertencemos. Estamos a 300
km da costa, em águas ultra-profundas, entre
dois e três mil metros de lâmina d água, com
muito mais gás no petróleo produzido e presença de CO2, que requer materiais especiais.
Enfim, um quadro completamente diferente,
a exigir, em médio e longo prazos, soluções
igualmente diferentes, de menor custo, inovadoras e com confiabilidade super elevada.
O E&P está a trabalhar intensamente nisto
- novamente, com sua habitual e reconhecida
competência - e mais cedo do que se espera,
vamos conhecer novos conceitos logísticos
sendo aplicados na Bacia de Santos, integrados aos da Bacia de Campos.
iNoVA – A Agência Internacional de Energia
(AIE) avalia que nas próximas duas décadas
haverá uma significativa mudança de atores
no setor energético. O Brasil tem condições
de ser protagonista no mercado mundial? A
meta de triplicar a produção, anunciada no
Fórum de Davos pela presidente da Petrobras, é factível?
Guilherme Estrella - Ao longo do Século
XXI a energia verá intensificada sua importância no quadro geopolítico mundial.
Naturalmente, com seu imenso território,
sua gigantesca riqueza mineral, seus grandes volumes de água potável no subsolo, sua
condição de celeiro alimentar do planeta - na
agricultura e pecuária - o Brasil já era considerado um dos países que adquiririam maior
importância no planeta ao longo deste século. Com as descobertas, pela Petrobras, do
pré-sal brasileiro, adiciona-se a este quadro,
já naturalmente grandioso, não só a total
independência nacional no setor energético,
mas o posicionamento brasileiro no patamar
de grande supridor mundial de energia. Em
decorrência deste fato - já consumado e em
plena materialização - o Brasil ascende à posição de importante protagonista da cena geopolítica mundial neste século que vivemos.
É dentro deste contexto lógico - como disse, já materializado e internacionalmente reconhecido - que a gestão estratégica do país
deve conduzir-se no sentido de aproveitar o
mais integralmente possível a grande oportunidade que o Brasil tem em suas mãos para,
afinal, cumprir seu papel de importante condutor das profundas e abrangentes reformas
que a humanidade espera e exige neste século,
nos campos social, econômico, ético e político, de modo a que venhamos a atingir e usufruir, todos os seres humanos deste planeta,
de condições de vida, liberdade e direitos da
cidadania minimamente civilizados, a superar
a barbárie com que hoje, pela força militar,
pelo poder econômico e pela concentração do
conhecimento e da tecnologia nos países hegemônicos, somos obrigados a conviver. Esta é
a inalienável, inescapável missão que o Brasil
e os brasileiros têm a cumprir nas próximas
décadas. E as metas de produção do pré-sal
brasileiro, já anunciadas, são perfeitamente
atingíveis, pois que competência, experiência e
conhecimento para isso não nos faltam.
iNoVA – O governo, após a última reunião
do Conselho Nacional de Política Energética
(CNPE), admitiu estudar a realização ainda
em 2014 de uma nova rodada de licitação
para a produção de petróleo em blocos maduros, ao contrário do inicialmente previsto.
O senhor concorda com a antecipação dessa licitação? E em relação às licitações dos
blocos do pré-sal, é preciso mais cautela
após o leilão de Libra?
Guilherme Estrella - Como disse, a importância estratégica e política do petróleo será
mantida ao longo das próximas décadas. O
volume das reservas totais já descobertas pelo
Brasil - mais de 90% pela Petrobras, que foi
a única operadora que realmente investiu em
exploração no país, principalmente após 2003
- garante a autossuficiência no suprimento do
mercado interno e uma excelente margem de
recursos oriundos da exportação dos excedentes. Em minha opinião, novamente, é dentro
das circunstâncias geopolíticas deste espectro
estratégico que o governo brasileiro deve conduzir a exploração de nossas “reservas naturais estratégicas”, como fala o nosso grande
Bautista Vidal.
iNoVA – Está em curso na Petrobras um programa de demissão voluntária. Ao mesmo
tempo, entidades representativas dos petroleiros pregam a realização urgente de novos
concursos públicos, pois a empresa estaria
com déficit de pessoal especializado. Qual
sua análise sobre o atual efetivo da Petrobras? O que acha da atual política de contratação de pessoal terceirizado?
Guilherme Estrella - Para refletir sobre este
tema, é necessário retornarmos a 2003, época
em que, praticamente por dez anos, o corpo de
empregados da Petrobras permaneceu estável
ou até diminuiu. Esta situação se devia a uma
orientação do acionista controlador, o governo da União, não escrita ou formalizada (mas
claramente emitida, segundo o que corria nos
“corredores” da Companhia), no sentido de a
Petrobras restringir-se a 40% do setor petrolífero nacional e contribuir efetivamente para
abrir espaços para as empresas estrangeiras virem operar no Brasil. Eleito o presidente Lula,
esta orientação inverteu de sinal, e a firme e
inequívoca determinação do governo federal
era para que a Petrobras reassumisse sua presença forte e hegemônica no setor de Óleo e
Gás brasileiro.
Logicamente, as necessidades de pessoal
são igualmente muito diferentes num modelo
e no outro e desde 2003 a Petrobras admitiu
dezenas de milhares de novos empregados e
o quadro de pessoal foi harmonizado com a
nova presença da Companhia no setor. Já a
liberação voluntária de pessoal através de decisões administrativas é prática corrente em
qualquer grande empresa, garantidos todos
os direitos dos trabalhadores. E é certamente
dentro deste parâmetro que a Petrobras está
a conduzir a gestão das pessoas de seu quadro
de empregados. Igualmente, a terceirização de
empregados em setores não essenciais e periféricos - e por isso a carregar um componente de
temporalidade específica - é prática comum e
adequada por grandes corporações. É dentro
desta ótica que a Petrobras procurar gerir suas
necessidades de pessoal.
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Estímulo à
eficiência
energética
na produção
de elétricos e
híbridos
E
m maio, foram produzidos no Brasil 282,5 mil automóveis, ônibus,
caminhões e veículos comerciais
leves. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de
Veículos Automotores (Anfavea), esse número, na comparação com maio de 2013, revela
um recuo de 18% na produção nacional de
veículos. O momento de retração do setor
automotivo se reflete nas vendas ao consumidor, que em maio deste ano diminuíram 7,2%
em média e atingiram também motocicletas e
tratores. Diante desse quadro, trabalhadores,
empresários e governo concordam que é necessário dotar o setor automotivo de maior
competitividade e capacidade de inovação.
Um passo fundamental para atingir esse
objetivo é a busca por uma maior eficiência
energética dos veículos produzidos no país.
Isso está previsto no programa Inovar-Auto,
implantado em 2012 pelo governo federal
para estimular projetos inovadores no setor
automotivo. O programa determina que a
partir de 2017 as montadoras que produzem
no Brasil terão que melhorar em no mínimo
12% a eficiência energética dos veículos. Mas,
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INOVA | JunhO 2014
para que saia do papel e vire realidade, essa
política ainda precisa de alguns ajustes.
A Anfavea diz ao governo que, por conta
da alta no custo de produção, um incentivo
é necessário para que consigam produzir
e vender modelos híbridos e elétricos a um
preço final viável para o consumidor. O Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC) já sinalizou que defende o
aprimoramento da tecnologia utilizada pela
indústria automobilística no Brasil e o governo estuda conceder novas isenções fiscais
às montadoras que investirem em pesquisa e
desenvolvimento para a produção no país de
veículos que consumam menos combustível
e emitam menos poluentes.
O governo promete anunciar em junho um
pacote de incentivos à produção de carros
elétricos e híbridos no país. Os detalhes ainda não foram divulgados, mas a expectativa
da indústria é de que uma das concessões seja
a tarifa zero para o Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI). Por não serem fabricados no país, hoje são cobrados 30 pontos
percentuais adicionais de imposto na venda
abcd maior/Ricardo Hirae
capa
de elétricos. Atualmente, o Mitsubishi i-Miev
é o único carro elétrico vendido regularmente
no Brasil. No caso dos híbridos, há modelos vendidos de apenas três marcas: Nissan,
Toyota e Ford.
“Conceder estímulos governamentais que
possibilitem o barateamento dos preços destes carros seria importante para agilizar a
produção em larga escala. Hoje, os veículos
híbridos e elétricos importados custam cerca
de 50% a mais do que no exterior”, diz o engenheiro Renato Romio, chefe da Divisão de
Motores e Veículos do Centro de Pesquisas
do Instituto Mauá de Tecnologia. A expectativa é que o governo anuncie as medidas de
estímulo ao setor a tempo de possibilitar a
conclusão de negócios durante o Salão Latino-Americano de Veículos Elétricos, programado para setembro e que reunirá 80 marcas
em São Paulo.
Sugestões
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, entregou à
Dilma Rousseff um relatório com sugestões
de ações a serem implementadas no setor
automotivo. O encontro aconteceu durante
uma visita da presidenta a São Bernardo do
Campo no final de maio: “Para a indústria
automotiva brasileira ter capacidade de continuar crescendo, gerando empregos, e manter sua importância para a economia no Brasil, precisa engrenar neste novo momento. É
hora de avançar neste tema. Se nós conseguirmos construir essa política de incentivos,
iremos adiantar a tecnologia de automotivos
no país em no mínimo 15 anos”, afirma.
De acordo com o sindicalista, o pacote
de estímulo elaborado pelo governo ainda
não foi lançado por conta de alguns itens:
“Acredito que a demora é por conta de
alguns ajustes no texto. Cada montadora
possui um tipo de tecnologia e processo. E
precisarão se adequar para atender algumas
exigências”, diz Marques.
Para Renato Romio, a população também
será beneficiada com o eventual aumento da
produção de elétricos e híbridos no país, já
que essas novas tecnologias são menos agressivas ao meio ambiente e mais econômicas:
“O Brasil ganhará em todos os sentidos.
A indústria ganhará em desenvolvimento
tecnológico, competitividade e inovação,
já que precisarão desenvolver modelos que
aceitem o etanol e não apenas a gasolina, e
a população ganhará um ar menos poluído
e um carro de modelo mais barato. O Ford
Fusion, por exemplo, na versão tradicional
(à gasolina) faz 7 km por litro na cidade, enquanto o hibrido faz 18 km por litro. Além
de mais econômico, o desempenho também
é superior”.
Produção no ABCD
O ABCD Paulista, considerado o berço
da indústria automobilística brasileira, tem
grandes chances de sair na frente na produção de veículos menos poluentes. A fábrica
da Toyota de São Bernardo já estuda a instalação de uma linha de produção do modelo
híbrido da marca, o Prius. Rafael Marques
afirma que a região está preparada para
atender à nova demanda da indústria: “O
ABC possui mão-de-obra qualificada, uma
cadeia extensa de fornecedores e instituições
de ensino renomadas para formar mais profissionais. Temos essa bagagem porque as
maiores montadoras estão instaladas na região há cerca de 50 anos”, diz.
Apesar de a Toyota não se pronunciar sobre o assunto, o sindicato confirmou a intenção da montadora de produzir o modelo
Prius na unidade de São Bernardo assim que
o pacote de incentivos para a produção de
veículos híbridos e elétricos seja lançado pelo
MDIC. Também foi firmado um acordo no
início de junho que prevê reajustes salariais,
PLR (Participação nos Lucros e Resultados)
e benefícios até 2016: “Firmamos um acordo
com a montadora que prevê a produção deste
carro em São Bernardo, atrelado a investimentos e contratações. A Toyota é uma das
empresas que mais investem em treinamento
dos funcionários. Portanto, boa parte deles
já esta apta a atuar na produção deste carro.
Para implantar a nova linha, a fábrica precisará de espaço. Por isso, a empresa está estudando algumas mudanças internas”, informa
Marques.
Atualmente, a fábrica da Toyota em São
Bernardo conta com mais de mil trabalhadores, e a expectativa do sindicato é de que mais
300 sejam contratados para atuar na nova
linha de produção. A estimativa da entidade
é de que sejam fabricadas três mil unidades
do novo modelo híbrido por ano a partir de
2016. O Toyota Prius, lançado em agosto de
1997 no Japão, foi o primeiro veículo híbrido
produzido em série no mundo. O carro emite
50% menos CO2 que os convencionais, além
de gastar menos combustível. No Brasil, o
modelo foi lançado no inicio de 2013 e atualmente custa cerca de R$ 120 mil.
JunhO 2014 | INOVA
9
notas
Santo André quer
regulamentar uso de
mananciais da Billings
Em meio às discussões sobre o “estresse hídrico” vivido
pelo estado de São Paulo, a prefeitura de Santo André, por
intermédio do Serviço Municipal de Saneamento Ambiental (Semasa), iniciou em junho um processo de consulta
pública para debater e colher sugestões e propostas junto
aos Conselhos Municipais e outras entidades representativas da sociedade civil andreense para a Lei de Uso, Ocupação e Parcelamento do Solo (LUOPS). A proposta, que
ainda deverá ser enviada à Câmara dos Vereadores, traz
iniciativas inovadoras como a regulação da Macrozona de
Proteção Ambiental, que compreende a Área de Proteção
e Recuperação de Mananciais da Billings (APRM-B), equivalente a 55% do território do município.
Se aprovada, a nova lei definirá como serão utilizados
os recursos da represa e adequará a legislação municipal à Lei Específica da Billings (13.579), sancionada
pelo governo paulista em 2009. A lei tem foco na proteção dos mananciais e na manutenção de sua função
produtora de água para o abastecimento público, mas
também concede ao município uma maior autonomia
para implantar projetos de saneamento ambiental e infraestrutura urbana compatíveis com seus mananciais.
A prefeitura de Santo André afirma que “o desafio da
LUOPS é aperfeiçoar e reafirmar os compromissos com
a conservação e recuperação ambiental e, ao mesmo
tempo, garantir melhor qualidade de vida aos cidadãos”.
Entre as ações para os mananciais previstas na LUOPS
estão: definição de tipos de usos para lotes residenciais, não-residenciais e mistos; zoneamento para a
ocupação do solo, conforme a capacidade de suporte
e vulnerabilidade ambiental; regras de aprovação de loteamento e desmembramentos; definição de tamanho
mínimo do lote, índice de área verde a ser preservado,
índice de área não edificável e recuos mínimos laterais
e frontais; definição sobre as atividades econômicas
e serviços compatíveis com os mananciais, como nas
Zonas de Desenvolvimento Econômico e Zona de Patrimônio Histórico; classificação de vias/ruas e sinalização
de trânsito; estabelecimento de formas de fiscalização
e penalidades.
ABCDMAIOR/DANIEL TOSSATO
Relógio inteligente inaugura “computação vestível”
Já batizada pelo mercado de Tecnologia da
Informação com o singelo nome de “computação vestível”, vem aí mais uma inovação
para o mercado de aparelhos eletrônicos e
seus consumidores. A empresa LG lançará
em julho, a começar pela Inglaterra e pelos Estados Unidos, seu primeiro modelo de
relógio inteligente, o G Watch, que, a partir
da utilização de um chip, funciona como um
10
inovA | JuNHO 2014
smartphone e permite ligações e acesso rápido à internet, entre outros serviços.
O relógio inteligente utiliza uma nova versão
do sistema operacional móvel do Google,
o Android Wear, que promete trazer outros
aparelhos inovadores ao mercado da “computação vestível” nos próximos anos. O sistema é semelhante ao Google Now, software
que, segundo a empresa, serve para a “antecipação de informações úteis ao usuário”,
como previsão do clima, dicas de trânsito e
chegada de mensagens e posts em redes
sociais, além de possibilitar a interação com
outros aparelhos equipados com o Android
para compartilhamento de áudios e vídeos,
entre outros arquivos.
Brasil ajuda a
seqüenciar genoma
citros
Um trabalho inédito de seqüenciamento do genoma citros realizado por um consórcio internacional
formado por cientistas de Brasil, Estados Unidos,
França, Itália e Espanha foi publicado na edição
de junho da revista Nature Biotechnology com a
expectativa de revolucionar as pesquisas em citricultura. O estudo analisou e comparou as seqüências do genoma de dez diferentes variedades de
citros, incluindo laranjas, doce e azeda, toranjas e
tangerinas, com o objetivo de “aplicar ferramentas
genômicas e novas abordagens para compreender
ABDI faz
mapeamento de
smart grids no
Brasil
Fundamentais para um país que ainda busca
maior eficiência em seu sistema de geração
e distribuição de energia elétrica, as empresas fornecedoras de Tecnologia da Informação
para redes elétricas inteligentes (smart grids)
foram objeto de um detalhado mapeamento
divulgado em junho pela Associação Brasileira
de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Elaborado em parceria com a Associação de Empresas Proprietárias de Infraestrutura e de Sistemas Privados de Telecomunicações (iAptel),
o estudo com mais de duas mil páginas traz,
segundo a ABDI, “informações detalhadas sobre empresas, pesquisas e investimentos no
setor, além de apontar os principais gargalos
e ações que podem ajudar a desenvolver a indústria nacional ligada ao segmento”.
O mapeamento identificou mais de 300
empresas brasileiras que atuam como fornecedoras de tecnologia da informação e
comunicações para as smart grids. Também
foram identificados 126 centros de pesquisa,
desenvolvimento e inovação ligados ao setor
e 60 concessionárias em todo o país. O investimento realizado até aqui já supera R$ 1
como surgiram as variedades de citros e como elas
respondem às doenças e a outros estresses ambientais, como o hídrico”.
Os brasileiros que participaram do consórcio internacional são pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Segundo o IAC,
os resultados do estudo poderão ser direcionados
ao desenvolvimento de soluções para os desafios do setor citrícola no Brasil, como o ataque
do huanglongbing (HLB), doença infecciosa que
vem destruindo os pomares no interior do estado
de São Paulo, principal região produtora de frutas
cítricas do país.
bilhão, e a expectativa do setor é que chegue
a R$ 3 bilhões até o final de 2014. Segundo
a ABDI, as áreas tecnológicas incorporadas
pelas smart grids são gestão de consumo,
edifícios inteligentes, tecnologia de informação, telecomunicações, inserção de veículos
elétricos, armazenamento de energia, medição inteligente, automação da distribuição e
geração distribuída.
Experiências bem sucedidas com redes elétricas inteligentes já vêm sendo realizadas
em municípios como Búzios (RJ), Barueri
(SP), Sete Lagoas (MG), Aparecida do Norte
(SP), Fernando de Noronha (PE) e Rio de Janeiro, entre outros. Segundo a ABDI, as ações
desenvolvidas nas smart grids vão desde a
instalação de medidores e transformadores
com tecnologia inteligente até painéis solares integrados à rede elétrica. O uso de recursos inovadores em tecnologias de informação e comunicação associadas à rede de
energia permite ao consumidor ter o controle
efetivo do que é consumido e gerado e, em
alguns casos, o consumidor deixa de apenas
comprar e passa a produzir energia, podendo devolver o excedente e ter crédito com as
concessionárias.
Centro de
big data é
inaugurado na
Ilha do Fundão
O Parque Tecnológico da Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, deu mais um
passo para se tornar o mais importante
cluster de inovação do Brasil. Em maio,
a empresa norte-americana EMC, uma
das maiores do mundo no setor de
armazenamento de dados em nuvem,
inaugurou na ilha seu primeiro centro
de pesquisas voltado exclusivamente ao setor de óleo e gás, que passa
por um momento de forte expansão no
Brasil. Com investimentos de US$ 100
milhões, o laboratório de quatro andares e três mil metros quadrados abriga
o maior data center para pesquisas em
big data da América Latina.
O interesse da EMC pelo mercado brasileiro se intensifica. Em abril, a empresa
registrou no país a patente do Projeto
Maracanã que, segundo seus idealizadores, traz uma grande inovação para a
indústria de petróleo: uma integração de
hardware e software que analisa e compreende dados sísmicos com velocidade
maior do que a conseguida através das
técnicas utilizadas atualmente. A EMC
afirma que 100% da tecnologia desse
projeto foi desenvolvida no Brasil e que
outros projetos serão elaborados no centro de pesquisas com o estabelecimento
de parcerias com universidades como a
UFRJ, administradora do Parque Tecnológico da Ilha do Fundão.
Além das unidades nos Estados Unidos
e no Brasil, a EMC tem outros sete laboratórios em Israel, França, China, Rússia,
Holanda, Irlanda e Cingapura. A empresa se especializou na gestão e armazenamento de dados em big data, termo
utilizado para descrever as inovadoras
e crescentes maneiras de se armazenar
dados em volume muito maior, com inúmeras variedades de formato e velocidade de tráfego em tempo quase real.
JuNHO 2014 | inovA
11
Bellini
Direto de Berlim, alemanha
Flávio Aguiar
que houve uma partida em homenagem à
Princesa Isabel.
correspondente
[email protected]
Chutes,
chuteiras e
invenção
I
nventar no futebol é muito difícil. Mais
difícil ainda é, às vezes, estabelecer
com segurança quem foi o inventor. No
mais das vezes, há uma tendência a
fixar como o inventor quem mais difundiu alguma coisa. E polêmicas não faltam. E
também não faltam inventores brasileiros.
Por exemplo: uma das invenções mais famosas do então chamado “esporte bretão”
foi a bicicleta, tradicionalmente atribuída ao
craque Leônidas da Silva, o Diamante Negro. Mas há quem diga que o verdadeiro inventor foi um jogador chamado Petronilho,
e que Leônidas da Silva apenas a aperfeiçoou. Porém, o fato é que Petronilho não
deixou imagens a respeito, e Leônidas deixou várias. Inclusive por ter sido o primeiro
jogador a dar uma bicicleta numa Copa do
Mundo, em 1938, na França, fazendo um
golaço. Mas tão inusitada era a bicicleta
que o juiz, por precaução, ignorância, má
vontade ou má fé, ou tudo junto, anulou
o gol. Talvez alegando “jogo perigoso”. Ou
quem sabe “bonito demais”...
Coisas parecidas com o futebol foram jogadas desde a Antiguidade na Europa, na
Ásia e nos tempos pré-colombianos em algumas partes das Américas. Às vezes com
a cabeça de adversários derrotados fazendo
o papel da bola. Os romanos, com suas conquistas, difundiram os jogos de bola pelos
quatro cantos dos velhos continentes. Mas
é mais ou menos aceito que o futebol moderno nasceu na Inglaterra. Através de uma
série de ações. O primeiro código de regras
foi estabelecido em Cambridge, em 1848, e
o esporte difundiu-se a partir da década de
12
INOVA | JunhO 2014
1860, sobretudo entre as elites. Seguiram-se outras invenções inglesas: em 1871, o
goleiro; em 1875, o tempo de 90 minutos;
por volta de 1891 surgiram a grande área e,
portanto, o pênalti.
Os primeiros jogadores jogavam de botas de cano alto. As travas apareceram em
1891. A moderna chuteira só veio à luz, ou
melhor, ao campo, em 1925. Na Copa de
1954 apareceu outra grande novidade: as
travas passaram a ser aparafusadas nas
chuteiras (antes usavam-se presilhas de
ferro, parecidas com pregos, que por vezes
perfuravam a sola interna e machucavam
os pés – cheguei a jogar, e sofrer, com uma
destas...).
O futebol era um jogo de elite. O que começou a popularizar o esporte foi a invenção da “semana inglesa”, estabelecendo,
primeiro, a tarde de sábado como livre do
trabalho, depois o sábado inteiro. Isto, com
o desenvolvimento das ferrovias, deu mais
tempo de lazer para as classes trabalhadoras urbanas, que puderam se deslocar para
campos de jogo e também se interessar
pelo esporte. Logo os sindicatos descobriram que o futebol também poderia servir
como elemento agregador de seus associados – os presentes e os futuros.
Há várias versões sobre os primeiros jogos no Brasil. Os jesuítas faziam seus alunos praticarem algo parecido com o futebol em Friburgo, no Rio de Janeiro. Houve
jogos de marinheiros ingleses em praias
brasileiras, do Recife ao Rio de Janeiro,
a partir da década de 1870. Consta até
Mas a data oficial da introdução do esporte no Brasil é 1894, e seu introdutor, Charles
Miller (que era brasileiro), que trouxe jogos
de camiseta e duas bolas de couro, infláveis,
para São Paulo. Outro brasileiro, Oscar Cox,
foi fundamental para introduzir o esporte no
Rio, tendo sido um dos fundadores do Fluminense. E logo começaram as invenções
em nosso território.
O próprio Charles Miller inventou um drible que até a década de 50 levava o seu
nome. Consistia em ameaçar driblar para
um lado e logo driblar para o outro. Esta
jogada, aparentemente tão simples, foi a
introdutora da moderna noção de drible,
que consiste em desequilibrar o adversário,
mantendo o próprio equilíbrio. E o drible
criou o complementar desarme, que consiste em tomar a bola, sem perder o equilíbrio,
e o “cerco”, ou seja, impedir o avanço do adversário, obrigando-o a se desfazer da bola,
quando então ela pode ser tomada. Antes
disto, os jogadores mais corriam atrás da
bola do que outra coisa, e simplesmente
chutavam-na. O “charles” foi aperfeiçoado
por Rivelino, a quem se atribui a invenção
do drible “elástico”, que consiste em grudar
a bola no pé ameaçando levá-la para um
lado e levá-la para outro. Mas ele mesmo
diz que copiou o drible de um companheiro de Corinthians, Sérgio Echigo, de origem
japonesa. Na seqüência vieram as “pedaladas”, os Robinhos, etc.
Uma invenção mais complicada é atribuída a um goleiro do Fluminense (não sei se
o brasileiro Américo Couto ou o inglês Cruickshanek), no começo do século XX. Até
então os goleiros jogavam literalmente debaixo das traves. O goleiro do futuro Tricolor
carioca (as camisetas então eram bicolores,
cinza e branco) começou a jogar alguns
passos adiantado em relação ao gol. A vantagem do posicionamento era aumentar a
imagem do goleiro para os atacantes, além
de introduzir um “erro de paralaxe” na visão
do gol, ou seja, um deslocamento de perspectiva que faz este parecer menor do que
na realidade é. A técnica foi desenvolvida,
por exemplo, pelo russo Lev Iashin, o legendário “Aranha Negra”, ou “Pantera Negra”,
que desenvolveu extraordinariamente as jogadas de disputar a bola nos pés dos adversários, jogou 270 partidas sem tomar gols e
defendeu 150 pênaltis em sua carreira.
Ao primeiro craque brasileiro de renome
internacional, Friedenreich, o popular Friderrach, Frid, ou ainda conhecido como “El Tigre” pelos uruguaios depois da derrota da
Celeste para o Brasil por 1 x 0, gol dele, dando-nos nosso primeiro título internacional,
o de Campeão Sul-americano, em 1919,
atribuem-se várias invenções: o “drible curto”, de toquinho, o chute de efeito, e a finta
com o jogo de corpo, deslocando legalmente o adversário. Ele popularizou o “chute de
bico”, pois até então a maioria dos jogadores chutava com o lado do pé (não o peito). Friedenreich foi o primeiro jogador a ser
aclamado “rei”, ganhando o título depois de
uma goleada de 7 x 2 na França, na excursão invicta de seu clube, o Paulistano, pela
Europa: “le roi du football”.
Em homenagem ao campeonato sulamericano, Pixinguinha, Benedito Lacerda e
Nelson Ângelo compuseram o choro 1 x 0,
gravado pelos dois primeiros com saxofone
(P.) e flauta (BL), primeiro registro que se
tem do futebol na música popular brasileira.
A década de 30 viu o nascimento da
bicicleta (1932, na versão de Leônidas). A
de 50 viu, pela primeira vez, a folha seca
do imortal Valdir Pereira, o Didi, o “Príncipe
Etíope de Rancho”, no dizer de Nelson Rodrigues. A folha seca não era apenas um chute
em curva. Com o efeito dado a bola, depois
de uma trajetória em curva, muda subitamente de direção, enganando o goleiro. Didi
imortalizou tal chute em duas ocasiões. A
primeira foi na classificação do Brasil para
a Copa de 58, fazendo o gol da vitória contra o Peru (1 x 0) no Maracanã. A segunda
foi na goleada contra a França (5 x 2), na
semifinal, quando o goleiro francês acabou
caído fora do gol. Os franceses chegaram a
pagar para fazer um filme com os pés do
Didi chutando a folha seca. Mas que eu saiba ninguém nunca mais conseguiu dar uma
exata folha seca.
Outras invenções atribuídas a brasileiros
(ou por eles difundidas) são o “chapéu”
(Pelé) e o “drible da vaca” ou “meia-lua”
(Garrincha). Mas sem dúvida a maior invenção (ou contribuição) do futebol brasileiro
foi a do próprio Brasil. Não estou me referindo à crença absurda de que “os brasileiros
não pensam com a cabeça, mas sim com
os pés”, “são um povo infantil”, e outras
crendices crendeiras. Refiro-me a um exato momento, os sete minutos do primeiro
tempo do jogo Brasil e Suécia, no estádio
Rasunda, em Estocolmo, no dia 29 de junho
de 1958. Com sete passes precisos o time
sueco fez 1 x 0. Os jogadores brasileiros ficam estatelados. Gilmar, o grande Gilmar,
sequer se levanta do chão.
Então acontece a chispa, o milagre: o
majestoso Didi caminha a passo lento,
pega a bola no fundo do gol e vem, a passo, sem correr (ele mesmo diria que foi de
propósito), até o meio do campo, onde põe
a “redonda” para recomeçar o jogo. Consta
que teria dito: “vamos acabar com esses
gringos”. E acabaram. Ali um novo Brasil
começou a ser inventado, para longe do tal
“complexo de vira-latas”, que agora partes
das elites brasileiras, da velha mídia e da
mídia europeia querem nos impingir de
novo, avacalhando a nossa Copa.
Depois desta invenção de Didi veio a outra, a consagradora: para melhor mostrar a
taça, transubstanciando-a no popular “caneco”, o capitão Bellini a ergueu aos céus. Ninguém fizera isto antes. Mas todos fazem o
mesmo gesto desde então, da várzea mais
humilde ao estádio mais sofisticado, das
quadras de tênis às pistas de corrida, em
todo o mundo. Haja invenção!
JunhO 2014 | INOVA
13
Juventude
inovAdorA:
Brasil é destaque em
feira internacional
14
inovA | JuNHO 2014
FOTOS: DIVuLGAÇÃO
internacional
C
iência, tecnologia e inovação são
temas em pauta entre os jovens
brasileiros, e estes têm seu talento cada vez mais reconhecido internacionalmente. Em maio, três
projetos inovadores apresentados por jovens
de São Paulo e do Rio Grande do Sul foram
premiados na Intel International Science and
Engineering Fair (Intel ISEF 2014), mega feira
científica anual criada em 1950 e considerada o
maior evento pré-universitário de ciência e tecnologia do mundo. Este ano, 1.783 estudantes
adolescentes de 70 nacionalidades diferentes
participaram do evento, que foi realizado em
Los Angeles entre os dias 11 e 16 de maio. Tradicionalmente, os projetos científicos premiados
na feira, que desde 1996 ganhou o patrocínio da
multinacional norte-americana de tecnologia
Intel, despertam o interesse de grandes empresas e muitos chegam ao mercado.
Este ano, o Brasil foi representado por 34
estudantes que apresentaram 18 projetos. Do
aperfeiçoamento de cultivo de células-tronco
até o desenvolvimento de tecnologia para prevenir a proliferação de mosquitos da dengue, os
jovens brasileiros mostraram ao mundo idias
inovadoras que elaboraram ainda no Ensino
Médio. Os três projetos brasileiros premiados
na Intel ISEF 2014 são: “MASE – Membrana
de Absorção Seletiva”, desenvolvido por Gabriel Chiomento da Motta e Raíssa Müller, de
19 e 18 anos, respectivamente, alunos da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da
Cunha, de Novo Hamburgo (RS); “Produção
da L-Asparaginase a Partir do Grão de Kefir”,
desenvolvido por Bárbara Carolina Federhen,
de 19 anos, da mesma Fundação Liberato; e
“Responsabilidade (em casa) para reciclar fraldas descartáveis”, de Salvador Alvarado, de 17
anos, estudante da Escola Americana de Campinas (SP).
Com o objetivo de solucionar um dos principais problemas do setor petrolífero, o derramamento acidental, o projeto “MASE – Membrana de Absorção Seletiva” foi premiado com
a segunda colocação na categoria Engenharia:
Materiais e Bioengenharia. Os autores ganharam US$ 1,5 mil e tiveram seus nomes dados a
dois asteroides recém-descobertos. A membrana funciona como uma esponja, absorvendo líquidos apolares, como petróleo, óleo de cozinha
e gasolina, entre outros, e repelindo água. Tem
capacidade de absorver até 22 vezes seu próprio
volume. Outro importante aspecto do projeto é
que os óleos absorvidos podem ser recuperados
com um rendimento de quase 100%, e assim podem voltar a ser comercializados. A membrana
também pode ser limpa e reutilizada diversas
vezes e custaria em média R$ 3,00 o quilo.
Segundo Raíssa Müller, a ideia partiu da
preocupação dos jovens com o meio ambiente:
“Sempre tivemos muito interesse na elaboração
de projetos na área ambiental e, tendo em vista
a problemática dos derramamentos de petróleo
em mares e oceanos, decidimos investigar sobre
as técnicas atualmente utilizadas para conter
tais vazamentos. Descobrimos que, apesar da
relevância do tema, as técnicas empregadas
são muito limitadas, pois não permitem que o
petróleo possa ser removido do ambiente marinho”, diz. Após a premiação na ISEF 2014,
Gabriel e Raíssa querem patentear a MASE:
“Esperamos obter a patente dessa membrana
de absorção seletiva e, assim, possibilitar uma
maior visibilidade para o projeto e o auxílio de
empresas ou pessoas interessadas na utilização
e no desenvolvimento do material”, diz a jovem.
O projeto “Produção da L-Asparaginase a
partir do Grão de Kefir”, da estudante Bárbara
Carolina Federhen, ganhou o terceiro lugar na
categoria Bioquímica e US$ 1 mil de premiação.
O estudo consiste na comprovação da possibilidade de produção da enzima L-Asparaginase
a partir dos microorganismos presentes no
Kefir, colônias constituídas de bactérias e fungos. A L-Asparaginase é uma enzima utilizada
no tratamento da leucemia linfóide aguda. Sabendo que essa enzima é produzida através de
microrganismos (bactérias patogênicas à saúde
humana), testou-se a possibilidade de produção
através das colônias de Kefir: “A ideia do projeto
surgiu quando vi uma reportagem que relatava a
importância dessa enzima e o fato de ela não ser
produzida atualmente, no Brasil” diz Bárbara.
EXPERIÊNCIA
O terceiro projeto brasileiro premiado na Intel ISEF 2014 foi “Responsabilidade (em casa)
para reciclar fraldas descartáveis”, de Salvador
Alvarado, que conquistou o terceiro lugar na
categoria Gestão Ambiental e US$ 1 mil de
premiação. O estudante criou um dispositivo
projetado para caber em uma máquina de lavar
roupa e que separa os principais componentes
de uma fralda descartável: os plásticos e os polí-
meros super absorventes, objetivando a redução
das fraldas descartáveis que vão para aterros sanitários.
O projeto surgiu de um trabalho desenvolvido no ano passado, intitulado “Substituindo
polímeros super absorventes com bagaço de
cana-de-açúcar”, pelo qual Alvarado também
foi premiado com o terceiro lugar na Intel ISEF
de 2013, em Phoenix (EUA). Ele diz que, para o
seu projeto se concretizar, ainda serão necessárias algumas adequações: “Para este projeto ser
desenvolvido, pessoas terão de estar dispostas a
reciclar fraldas de seus bebês e um novo protótipo mais barato da máquina terá de ser feito, a
fim de reduzir o custo de fabricação do próprio
dispositivo”.
O estudante destaca a qualidade dos projetos
apresentados pelos jovens brasileiros: “Desde
o ano passado, tenho sido surpreendido com
o nível e a qualidade dos projetos que as feiras
brasileiras estão enviando à ISEF”. Alvarado
já pensa em ser novamente selecionado para
participar da próxima edição da feira: “Ainda
há muitas coisas que precisam ser alteradas
antes de considerar o meu projeto completo, é
por isso que eu pretendo fazer essas mudanças
e vou tentar ser selecionado para a próxima
ISEF”, diz.
ASSOCIAÇÃO
Após participar das edições de 2010 e 2011 da
Intel ISEF, o jovem Heitor Santos, de 19 anos,
teve a ideia de criar uma associação de incentivo e apoio aos participantes da feira, a Associação Brasileira de Incentivo à Ciência (ABRIC):
“Toda a experiência da ISEF me fez pensar não
só na importância de democratizar as ações de
divulgação cientifica para pessoas de diferentes regiões e contextos socioeconômicos, mas
também na importância de valorizar o trabalho
desenvolvido pelas pessoas que já participaram
da ISEF e que agora precisavam de uma aju-
JuNHO 2014 | inovA
15
Estar em uma feira de tal porte faz com
que boa parte dos alunos que participam da
ISEF tenham na volta ao Brasil algumas portas abertas para seguir a carreira de cientista.
Heitor destaca dois casos de sucesso pós-feira:
“Tamara Gedankien, da ISEF 2010, que foi a
primeira e única aluna brasileira a conquistar
um primeiro lugar, recebeu uma bolsa do Instituto de Tecnologia de Illinois, em Chicago,
onde hoje cursa Engenharia Biomédica. Além
disso, Lucas Strasburg, também da ISEF 2010,
desenvolveu uma prótese com garrafas PET e
hoje está patenteando essa ideia. Ele recentemente recebeu um prêmio do Massachusetts
Institute of Technology (MIT) pela inovação
que criou”, conta o presidente da ABRIC.
Seleção
Os projetos brasileiros que participam da Intel ISEF são selecionados em três feiras científicas regionais realizadas anualmente: a Mostra
Brasileira de Ciência e Tecnologia (Mostratec),
sempre no mês de outubro, em Novo Hamburgo; a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia
(Febrace), que ocorre no mês de março, na
USP; e a Feira de Ciências da Escola Americana de Campinas (EAC) também realizada em
março. As duas primeiras são afiliadas à Intel,
e o maior prêmio para os primeiros colocados
é a classificação para participar da Intel ISEF.
Juntas, Mostratec e Febrace levaram 15 projetos ao evento internacional deste ano. Já a Feira
de Ciências da EAC, realizada há 31 anos, tem
um processo de classificação independente, no
qual os dois primeiros colocados em projetos
individuais e o primeiro colocado em projeto
de time ganham o direito a participar do evento
internacional.
Fernanda Sato, gerente de educação da Intel
Brasil, explica a importância que a ISEF tem
para uma multinacional de tecnologia: “A Intel
acredita que a feira de ciências é uma ferramenta para estimular o aluno a ser um investigador
e cientista, que esteja preocupado em solucionar problemas cotidianos que muitas vezes
têm solução”. Segundo Fernanda, os jovens
participantes buscam aliar este caráter científico à inovação tecnológica: “Percebemos que a
complexidade da tecnologia que os alunos estão
usando em seus projetos científicos é cada vez
maior”, diz a executiva.
Representantes das duas escolas que tiveram
alunos premiados no ISEF 2014 destacam a
importância que as instituições de ensino têm
na orientação aos jovens cientistas. O professor
Mauricio Gozzi, diretor da Feira de Ciências da
EAC e orientador de Salvador, explica: “A cada
ano, nossos alunos são chamados a criar um
projeto de pesquisa usando o equipamento da
escola ou de algum centro de pesquisa nos arredores de Campinas, como UNICAMP, Instituto Agronômico, CATI, etc. A nossa feira tem
prazos bem delimitados que ajudam a guiar o
aluno ao longo do desenvolvimento do processo”, diz. Gozzi ressalta o bom desempenho dos
alunos selecionados: “Nos últimos cinco anos,
ganhamos seis prêmios na ISEF, sendo cinco
grandes prêmios e um prêmio especial das indústrias Agilent”.
Formação
Leo Weber, diretor executivo da Fundação
Liberato, explica o projeto político-pedagógico
da instituição e afirma ser fundamental que o
interesse pela ciência e tecnologia seja criado
desde a juventude: “Temos um diferencial educacional que é a busca da formação integral, de
modo a incorporar uma sólida formação científica e tecnológica com as dimensões da cidadania e da humanidade, articulando um conjunto
de atividades pedagógicas e culturais que levem
o aluno a aprender”. Apesar de enfatizar que
ainda é necessária uma evolução nesta área,
Weber avalia que as políticas públicas destinadas ao desenvolvimento da ciência jovem no
Brasil têm melhorado: “Exemplos positivos são
o edital executado pelo CNPq que financia feiras científicas e tecnológicas como a Mostratec,
e o programa Ciência Sem Fronteiras”, diz.
Para Mauricio Gozzi, há um grande potencial científico entre os jovens brasileiros, mas o
país não o explora como poderia: “No Brasil,
de maneira geral, o ensino de Ciências tem sido
dado a professores que não são da área específica. Há falta de professores de Química e Física,
e naturalmente isso prejudica a possibilidade de
um bom desenvolvimento científico de nossos
alunos em escolas públicas”, diz.
O diretor da EAC lembra que tudo começa
nas escolas: “Os professores poderiam ficar
atentos aos talentos e convidá-los a procurar
algum centro de pesquisa ou algum laboratório
com equipamentos de medida, uma vez que os
laboratórios de escola normalmente não tem
equipamento adequado. O ideal seria se o professor pudesse agir como uma ponte ligando o
laboratório ao aluno. Com um projeto em desenvolvimento, o professor poderia tentar inscrever o aluno em uma das três feiras científicas
regionais”.
ponto de vista | Maria Beatriz Bley Martins Costa
Em 2014, comemora-se o décimo aniversário da “Semana do Alimento Orgânico”, uma iniciativa inovadora da Coordenação de Agroecologia do Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) e voltada ao consumidor final.
Durante a Semana Nacional dos Alimentos Orgânicos, o ministério, em parceria
com diversas organizações, promove em
quase todos os estados do país uma campanha nacional, visando esclarecer a população sobre os benefícios ambientais
e nutricionais dos produtos orgânicos.
Dando um salto para o passado, vemos
que o ano de 2004 começou sob a lei nº
10.831, de 23 de dezembro de 2003, que
regulamenta o setor orgânico no Brasil.
Em 15 de março de 2004, foi instalada a
Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da
Agricultura Orgânica, quando o então
ministro Roberto Rodrigues destacou a importância e a atenção que o MAPA dedica
à produção orgânica no Brasil. Nesta década percebemos um amadurecimento do
setor orgânico, assim como da agricultura
familiar, decorrente de vários fatores: desde
o crescente grau de informação do consumidor à implementação de políticas públicas que estimulam práticas inovadoras em
agricultura orgânica e agroecológica.
Uma lei que merece registro especial, infelizmente pouco conhecida do público, é a
que regulamenta o Programa de Alimentação Escolar (PAE). Desde 2009, quando foi
aprovada, esta lei determina que no mínimo
30% do que é adquirido para a alimentação
escolar nas escolas públicas deve ser comprado da agricultura familiar e da agricultura orgânica. Isso tem promovido uma
verdadeira transformação ao permitir que
alimentos mais saudáveis e com forte apelo
regional possam ser consumidos diariamente pelos alunos de todo o país. Significa a
melhoria na alimentação de até 48 milhões
de crianças e adolescentes. A alimentação
escolar no Brasil movimenta o equivalente
a uma Espanha por dia!
Nos últimos dez anos, novos canais de
comercialização de produtos orgânicos
surgiram, aumentaram as vendas em domicílio, supermercados ampliaram espaço
para oferta de orgânicos, cresceram as feiras livres com venda direta ao consumidor,
16
INOVA | JunhO 2014
DIVULGAÇÃO
da para que seus projetos se tornem produtos
reais”, explica o jovem, que hoje cursa Educação e Ciência Política em Swarthmore College,
nos Estados Unidos. Heitor é presidente da
ABRIC, que conta com outros cinco diretores,
todos ex-participantes de feiras científicas.
Orgânicos:
uma década de
avanço inovador
vieram novas lojas especializadas e chefs
formadores de opinião que valorizam os
orgânicos, tudo isso refletindo um aumento de demanda e o fortalecimento do mercado consumidor.
Este é o ano da Copa e é também o Ano
Internacional da Agricultura Familiar, que
teve seu lançamento oficial em 22 de novembro de 2013 na sede das Nações Unidas, em Nova York. A promoção do Ano
Internacional da Agricultura Familiar foi
confiada à Organização das Nações Unidas
para Agricultura e Alimentação (FAO), em
colaboração com governos, agências internacionais de desenvolvimento, organizações
de agricultores, organizações não governamentais e todas as outras organizações do
sistema das Nações Unidas.
Poucos sabem que a agricultura familiar
do Brasil responde por 70% dos alimentos
que estão nas mesas dos brasileiros. A agricultura familiar também tem impacto na
economia do país no segmento de tratores.
Os programas de juros subsidiados para a
compra de máquinas agrícolas pelos produtores familiares estão alterando as estratégias de marcas de máquinas agrícolas. Marcas que anteriormente visavam o mercado
de tratores de alta potência, agora querem
crescer no mercado de tratores pequenos.
O programa Mais Alimentos, que financia
tratores de até 80 cavalos para a agricultura
familiar, representou 60% das unidades vendidas no país. O universo de potenciais compradores de trator na linha Mais Alimentos
está entre 260 mil e 300 mil produtores familiares. O Mais Alimentos tem taxa de 2% ao
ano com carência de até três anos e prazo de
pagamento de até uma década. Você sabia?
Eventos promovendo produtos orgânicos
e sustentáveis também contribuíram para divulgar e promover agricultura orgânica e familiar, ocupando espaço na mídia nacional
e internacional. Desde 2012 o evento Green
Rio, que este ano ocorreu em maio, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, promove
rodada de negócios aproximando produtores e compradores de supermercados, lojas
e restaurantes. A cada edição deste evento
observa-se a entrada de novos ofertantes e
novos compradores, mostrando o dinamismo deste mercado e a profissionalização da
gestão por parte dos produtores.
As sinergias positivas aumentam, as inovações acompanham o crescimento do setor
e o desafio de implementar novas cadeias de
valor é um belo e sedutor desafio. Vamos em
frente!
Maria Beatriz Bley Martins Costa é diretora
executiva do Planeta Orgânico
JunhO 2014 | INOVA
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IncentIvador ofIcIal do
empreendedor BrasIleIro
Todos os dias, milhares de empreendedores
entram em campo para buscar o sucesso nos
seus negócios e o Sebrae existe para que suas
chances de vitória sejam cada vez maiores.
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em pequenos negócios.
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inovA | JuNHO 2014
@sebrae
PREFEITURAQUI.
AÇÕES INTEGRADAS,
GERANDO QUALIDADE
DE VIDA EM
SANTO ANDRÉ.
MANUTENÇÃO, LIMPEZA E
AÇÕES EDUCATIVAS
NAS 20 REGIÕES DA CIDADE.
O Programa PrefeiturAqui é uma iniciativa da Prefeitura de Santo André que visa a deixar
nossa cidade ainda mais bonita e bem cuidada, contribuindo para a melhoria da qualidade
de vida de toda a população. O programa atua de forma integrada e inteligente, em todas
as regiões de planejamento participativo de Santo André. São serviços que abrangem a
manutenção, qualificação e limpeza urbana, além de uma frente de ação educativa para
incentivar e orientar as pessoas para cuidar de seu bairro e da cidade.
Uma cidade se faz por pessoas e para as pessoas.
PREFEITURAQUI