ISEF 2014: Jovens brasileiros têm projetos premiados GUILHERME
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ISEF 2014: Jovens brasileiros têm projetos premiados GUILHERME
Ano 5 | no 27 | JunHo 2014 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Solução inovadora para setor automotivo © GM CORP AGÊNCIA PETROBRÁS DE NOTÍCIAS ISEF 2014: Jovens brasileiros têm projetos premiados GUILHERME ESTRELLA: Petrobras, inovação e conteúdo nacional r$ 12,00 9 772 236 41900 0 ISSN 2236-4196 23 eXemPlAr eXemPlAr cort e siA cortesiA editorial ANO 5 | N 27 | Junho | 2014 O A necessidade do estímulo à inovação EXPEDIENTE DIRETOR DE REDAÇÃO Celso Horta EDITOR Maurício Thuswohl DIAGRAMAÇÃO E ARTE FINAL Guilherme França CORRESPONDENTE Flávio Aguiar (Alemanha) COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Aisy Thuswohl Michelly Cyrillo CONTATO COM A REDAÇÃO [email protected] www.revinova.com.br DEPARTAMENTO COMERCIAL (11) 4930-7452 Impressão MarMar Gráfica (11) 3652-5244 Tiragem 25 mil exemplares INOVA é uma publicação da MIDIA PRESS Editora Ltda. Travessa Monteiro Lobato, 95 Centro | São Bernardo do Campo Fone (11) 4930-7450 INOVA não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. Tema recorrente nas páginas da INOVA, a necessidade de inovação no setor automotivo brasileiro volta a ser abordada na matéria de capa desta edição e nos convida a uma importante reflexão. No atual momento de recuo dos números relativos à fabricação e a venda de veículos no país, a expectativa de empresários e trabalhadores quanto ao incremento da produção de automóveis elétricos e híbridos a partir do pacote de incentivo que será lançado ainda este mês pelo governo federal mostra o quão é importante que o governo persevere em suas políticas de estímulo à inovação. Esse incentivo é fundamental para dotar o setor automotivo, assim como a indústria nacional como um todo, de maior competitividade e capacidade produtiva. Para tanto, é preciso que o Brasil cesse de continuar pagando juros altos - 11% na selic - para disponibilizar dinheiro barato na Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) (5%) e convencer empresários a investir. Infelizmente, existem muitos empresários brasileiros que se gabam de não trabalhar com dinheiro próprio por princípio. A cultura empresarial do país determina que qualquer projeto de interesse nacional seja bancado parcial ou integralmente com dinheiro público. Até as empresas multinacionais trabalham assim, como mostra a reportagem. Diante desse quadro, ou o governo assume um novo modelo de investimentos públicos, dando o direito de participação na gestão das empresas a todas as representações dos atores econômicos, ou deixa de vez de botar dinheiro público nas empresas capitalistas. Não falta ao Brasil vocação para a ciência, a tecnologia e a inovação, como mostra nossa outra reportagem. Três projetos inovadores apresentados por jovens estudantes do Ensino Médio de São Paulo e do Rio Grande do Sul acabam de ser premiados na Intel ISEF 2014, mega feira científica anual criada em 1950 e considerada o maior evento pré-universitário de ciência e tecnologia do mundo. O Brasil foi representado no evento por 34 estudantes que apresentaram 18 projetos que tratam desde o aperfeiçoamento do cultivo de células-tronco até o desenvolvimento de tecnologia para prevenir a proliferação de mosquitos da dengue. Dois assuntos muito em voga, a Copa do Mundo de futebol e a situação da Petrobras, também são tratados nesta edição. O artigo de nosso correspondente na Europa, Flávio Aguiar, fala das diversas inovações surgidas dentro das quatro linhas, desde a bicicleta, cuja invenção é atribuída ao craque brasileiro Leônidas da Silva, o Diamante Negro. Na seção de entrevista, o ex-diretor de Exploração & Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, considerado por muitos o “pai do pré-sal”, sugere que empresas “genuinamente brasileiras” forneçam conteúdo nacional para alimentar a cadeia da indústria do petróleo e defende a Petrobras das críticas feitas pela oposição no que diz respeito ao volume de produção de petróleo, à importação de combustíveis e à gestão de pessoal. Celso Horta AGÊNCIA PETROBRÁS DE NOTÍCIAS entrevista Guilherme Estrella 05 entrevista 12 direto de Berlin Petróleo e inovação para desenvolver conteúdo nacional chutes, chuteiras e inveção Guilherme Estrella 10 notas Flávio Aguiar Santo André quer regulamentar uso de mananciais da Billings DIVuLGAÇÃO ABDI faz mapeamento de smart grids no Brasil 14 internacional Centro de big data é inaugurado na Ilha do Fundão Juventude inovadora: Brasil é destaque em feira internacional Brasil ajuda a seqüenciar genoma citros Relógio inteligente inaugura “computação vestível” 17 orgânicos: uma década de avanço inovador ABCD MAIOR/LuCIANO VICIONI capa estímulo à eficiência energética na produção de elétricos e híbridos 08 inovA | JuNHO 2014 PARA DESENVOLVER CONTEÚDO NACIONAL Ponto de vista Maria Beatriz Bley Martins Costa 4 PetrÓleo e inovAção neste momento pré-eleitoral, no qual falar em “defesa da Petrobras” é prática diária, e em muitos casos leviana, de alguns políticos brasileiros, as palavras de Guilherme estrella refletem um grande respeito e afeição pela maior empresa do Brasil. ex-diretor de exploração e Produção (e&P) da Petrobras, considerado por muitos o “pai do pré-sal” por sua decisiva atuação nas descobertas das reservas e também nas discussões que culminaram na adoção de um novo marco regulatório para o setor de Óleo e Gás durante o governo lula, estrella é um nacionalista convicto. nesta entrevista exclusiva, ele fala sobre a necessidade de inovação para que empresas “genuinamente brasileiras” se desenvolvam como produtoras de conteúdo nacional para alimentar a cadeia do pré-sal e defende a Petrobras de críticas feitas pela oposição no que diz respeito ao volume de produção de petróleo, à importação de combustíveis e à gestão de pessoal. estrella, no entanto, não se furta a criticar o leilão do campo de libra que, segundo ele, “deveria ser realizado daqui a alguns anos”, e faz um alerta sobre a importância de o Brasil se consolidar como protagonista global e “grande supridor mundial de energia”. leia a seguir a íntegra da entrevista: iNoVA – Após a confirmação da capacidade das reservas do pré-sal, o governo apresentou como uma de suas prioridades o estímulo à inovação tecnológica e ao desenvolvimento de conteúdo nacional para alimentar a cadeia produtiva do setor de Óleo e Gás. O senhor acredita que esta meta esteja sendo cumprida? Quais são os gargalos que impedem um maior desenvolvimento desse conteúdo nacional? Guilherme Estrella - Há que estabelecer a diferença medular, essencial neste quesito do conteúdo nacional (CN). Quando o presidente Lula afirmou que “tudo o que puder ser feito no Brasil vai ser feito e o que não puder ser feito agora tem que ser feito no futuro próximo”, o grande objetivo era construir no Brasil para dar empregos aos brasileiros. Objetivo plenamente alcançado. Com o correr dos anos, pouco tempo, aflorou a oportunidade explícita e totalmente previsível de acoplar o CN não só à criação de empregos, mas ao degrau posterior, o desenvolvimento industrial e tecnológico brasileiro, através de empresas com controle brasileiro, isto é, com conhecimento, competência construtiva e esforço de inovação genuinamente brasileiros. Simplesmente pelo fato de que, sem isso, as empresas estrangeiras, ainda que instaladas no Brasil e aqui a criar postos de trabalho, se aproveitariam do imenso mercado criado pelas oportunidades e necessidades de produzir o petróleo em nosso território - riquezas estratégicas naturais radicalmente brasileiras - para alimentar seus centros de pesquisa em suas sedes no exterior e desenvolver concretamente seus conhecimentos, competências e tecnologias próprias no exterior. Como conseqüência direta, aumentam o poder de sua engenharia para manter e preservar suas hegemonias como fornecedoras de bens, serviços e equipamentos do setor petrolífero mundial. Este aspecto se tornou profundamente agudo com as descobertas gigantescas do pré-sal, com oportunidades que vão exigir investimentos de mais de um trilhão de reais nos próximos 20 anos. Este é um ponto central, que toma dimensões de verdadeira soberania e segurança nacionais brasileiras, pois consiste em conhecimentos e competências empregadas em produzir uma riqueza que servirá de base material para o desenvolvimento do Brasil. Mais do que isto: muitos destes conhecimentos, competências e tecnologias enquadram-se como “duais ou sensíveis”, isto é, abrangem concretamente a indústria bélica, como turbinas aeroderivadas, e equipamentos de elevada precisão operacional, como válvulas especiais, motores de todos os tipos, veículos de controle remoto, veículos com tecnologia inercial, automação em grande escala. Enfim, uma grande gama de tecnologias manifestamente essenciais para um país que se apresenta ao mundo do Século XXI - aliás, conhecido como “século da economia do conhecimento” - como importante protagonista da cena geopolítica internacional. Logo, é indispensável que o CN dos JuNHO 2014 | inovA 5 A revisão constitucional da Carta de 1988, produto do tsunami neoliberal-colonialista que varreu o mundo a partir da aliança Tatcher-Reagan, apagou de nossa Lei Maior todo e qualquer conteúdo nacionalista, inclusive a distinção entre empresas nacionais controladas por capital brasileiro e aquelas controladas pelo capital estrangeiro. Urge, portanto, que o Brasil tome uma destas seguintes decisões, para garantir a soberania nacional ao longo do Século XXI: ou restabelece a distinção entre as empresas, de acordo com a Carta de 1988 ou, dentro do atual texto legal, encontra espaço - trata-se de matéria de verdadeira segurança nacional - para praticar políticas radicais de proteção às empresas genuinamente brasileiras. Quer dizer, proteção verdadeira à engenharia, à tecnologia, ao conhecimento brasileiros. iNoVA – Qual sua análise sobre o resultado do leilão das áreas de exploração no Campo de Libra? A participação da Petrobras é a ideal para cumprir os objetivos de soberania nacional previstos no Marco Regulatório aprovado para o setor durante o governo Lula? Guilherme Estrella - Já tornei pública minha opinião sobre o leilão de Libra. O gigantesco volume de petróleo, insumo estratégico por excelência (não se invadiram e ocuparam países nas duas ultimas décadas para se apropriarem de plantações de tâmaras), indicavam que ele deveria ser realizado daqui a alguns anos, quando o quadro energético mundial será outro, muito mais dependente de petróleo/gás e carvão, conforme o prognóstico da Agência Internacional de Energia. Ou, se condições políticas e econômicas impusessem ser agora, como foi, a Petrobras deveria ser contratada diretamente para produzir o campo, conforme a própria Petrobras se declarou inteiramente competente para fazê-lo sozinha, possibilidade prevista no texto do Marco do Pré-Sal para ser aplicada em “áreas estratégicas” como Libra. Como está, Libra carrega uma semente de crise e conflito internacional na medida em que tem grandes interesses não brasileiros envolvidos em sua gigantesca reserva. iNoVA – A direção da Petrobras no período Lula-Dilma vem sendo muito criticada pela grande mídia e pelos partidos de oposição, que consideram baixo o atual volume brasileiro de produção de petróleo, estimado em 1,9 milhão de barris por dia, e também apontam como conseqüência de mau-planejamento as recentes importações de combustíveis feitas pela empresa. Essas críticas têm fundamento? Guilherme Estrella - Estas críticas não têm fundamento. Na área de Exploração e Produção (E&P) houve uma opção por um modelo gerencial de manutenção que implica em longas paradas programadas das unidades de produção, em contraponto ao modelo até então adotado, de paradas curtas distribuídas ao longo da atividade operacional das unidades. Foi uma escolha perfeitamente normal no gerenciamento das atividades operacionais e não há como criticar esta decisão, dentro das diversas dimensões de imprevisibilidade que é a marca essencial da atividade de E&P. Quanto às importações de combustíveis, a razão é muito simples. As refinarias da Petrobras foram projetadas para produzir principalmente gasolina e menos diesel. Até o final da década de 2000, o consumo de diesel explodiu no Brasil, resultado da forte retomada do desenvolvimento nacional a partir de 2003. A partir deste fato, a Petrobras investiu pesadamente para 6 inovA | JuNHO 2014 “melhorar” o perfil de refino de nossas unidades, elevando - dentro das possibilidades dos projetos originais - substancialmente a produção de diesel. Resultado disto é que passamos a importar menos diesel e exportar gasolina. Ocorrem então dois fatos não previstos: a produção de automóveis bate recordes, com tudo 100% flex, e o álcool anidro combustível desaparece do mercado. Conseqüência desta conjunção de fatores, o consumo de gasolina vai pro espaço e o consumo de diesel continua a crescer. Não havia outro jeito senão importar muita gasolina e também diesel até que a Renest fique pronta e também as refinarias do Ceará e do Maranhão, para abastecer o mercado nacional. iNoVA – O que levou às recentes quedas no nível de produção da Petrobras? É recomendável acelerar a produção na Bacia de Campos? A interrupção das operações no campo de Marlim será compensada pelo início da produção previsto para novas plataformas como, por exemplo, a P-26 e a P-56? Guilherme Estrella - Na minha opinião, as perdas de produção ligam-se, principalmente, às longas paradas para manutenção das unidades de produção, como acima mencionado. O E&P está inteiramente dedicado - como tem feito com a competência habitual - a enfrentar o natural acentuado declínio de produção dos campos antigos da Bacia de Campos, inclusive com programas específicos para alcançar este objetivo. Também foi decidido, com total correção, acelerar ao máximo a produção do pré-sal, que é, no final das contas, o que vai resolver o problema da perda de produção até que as tecnologias de separação e injeção submarinas - em cujo desenvolvimento a Petrobrás está investindo pesadamente - estejam disponíveis e permitam que os volumes de líquidos processados pelas unidades flutuantes, que são limitados, sejam aproveitados com muito maiores quantidades de petróleo em relação à água produzida. A instalação de novas unidades de produção em campos antigos, mas com grandes volumes ainda a serem produzidos, como Marlim, certamente vai não só elevar a produção, mas prolongar a vida produtiva deste grande campo da Bacia de Campos. iNoVA – Em termos de logística, quais as inovações necessárias na cadeia de E&P no Brasil? Quais são os próximos desafios tecnológicos do setor de petróleo e, em particular, da Petrobras? Guilherme Estrella - As mais importantes inovações em logística operacional - construção de poços, instalação e manutenção de grandes unidades de produção, escoamento de petróleo e gás natural, entre outros aspectos - relacionam-se especificamente com a gestão do Pólo FOTOS: AGÊNCIA PETROBRÁS DE NOTÍCIAS imensos investimentos do setor petrolífero brasileiro seja direcionado para empresas genuinamente brasileiras. Pré-Sal da Bacia de Santos e sua integração com a nossa “velha e respeitável senhora”, a Bacia de Campos. No curto prazo, naturalmente, empregam-se soluções já consolidadas em Campos, com águas menos profundas e a 100 km costa-a-fora. Em Santos, em termos logísticos, “o buraco é mais embaixo”, para utilizar uma expressão do povo a que honrosamente pertencemos. Estamos a 300 km da costa, em águas ultra-profundas, entre dois e três mil metros de lâmina d água, com muito mais gás no petróleo produzido e presença de CO2, que requer materiais especiais. Enfim, um quadro completamente diferente, a exigir, em médio e longo prazos, soluções igualmente diferentes, de menor custo, inovadoras e com confiabilidade super elevada. O E&P está a trabalhar intensamente nisto - novamente, com sua habitual e reconhecida competência - e mais cedo do que se espera, vamos conhecer novos conceitos logísticos sendo aplicados na Bacia de Santos, integrados aos da Bacia de Campos. iNoVA – A Agência Internacional de Energia (AIE) avalia que nas próximas duas décadas haverá uma significativa mudança de atores no setor energético. O Brasil tem condições de ser protagonista no mercado mundial? A meta de triplicar a produção, anunciada no Fórum de Davos pela presidente da Petrobras, é factível? Guilherme Estrella - Ao longo do Século XXI a energia verá intensificada sua importância no quadro geopolítico mundial. Naturalmente, com seu imenso território, sua gigantesca riqueza mineral, seus grandes volumes de água potável no subsolo, sua condição de celeiro alimentar do planeta - na agricultura e pecuária - o Brasil já era considerado um dos países que adquiririam maior importância no planeta ao longo deste século. Com as descobertas, pela Petrobras, do pré-sal brasileiro, adiciona-se a este quadro, já naturalmente grandioso, não só a total independência nacional no setor energético, mas o posicionamento brasileiro no patamar de grande supridor mundial de energia. Em decorrência deste fato - já consumado e em plena materialização - o Brasil ascende à posição de importante protagonista da cena geopolítica mundial neste século que vivemos. É dentro deste contexto lógico - como disse, já materializado e internacionalmente reconhecido - que a gestão estratégica do país deve conduzir-se no sentido de aproveitar o mais integralmente possível a grande oportunidade que o Brasil tem em suas mãos para, afinal, cumprir seu papel de importante condutor das profundas e abrangentes reformas que a humanidade espera e exige neste século, nos campos social, econômico, ético e político, de modo a que venhamos a atingir e usufruir, todos os seres humanos deste planeta, de condições de vida, liberdade e direitos da cidadania minimamente civilizados, a superar a barbárie com que hoje, pela força militar, pelo poder econômico e pela concentração do conhecimento e da tecnologia nos países hegemônicos, somos obrigados a conviver. Esta é a inalienável, inescapável missão que o Brasil e os brasileiros têm a cumprir nas próximas décadas. E as metas de produção do pré-sal brasileiro, já anunciadas, são perfeitamente atingíveis, pois que competência, experiência e conhecimento para isso não nos faltam. iNoVA – O governo, após a última reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), admitiu estudar a realização ainda em 2014 de uma nova rodada de licitação para a produção de petróleo em blocos maduros, ao contrário do inicialmente previsto. O senhor concorda com a antecipação dessa licitação? E em relação às licitações dos blocos do pré-sal, é preciso mais cautela após o leilão de Libra? Guilherme Estrella - Como disse, a importância estratégica e política do petróleo será mantida ao longo das próximas décadas. O volume das reservas totais já descobertas pelo Brasil - mais de 90% pela Petrobras, que foi a única operadora que realmente investiu em exploração no país, principalmente após 2003 - garante a autossuficiência no suprimento do mercado interno e uma excelente margem de recursos oriundos da exportação dos excedentes. Em minha opinião, novamente, é dentro das circunstâncias geopolíticas deste espectro estratégico que o governo brasileiro deve conduzir a exploração de nossas “reservas naturais estratégicas”, como fala o nosso grande Bautista Vidal. iNoVA – Está em curso na Petrobras um programa de demissão voluntária. Ao mesmo tempo, entidades representativas dos petroleiros pregam a realização urgente de novos concursos públicos, pois a empresa estaria com déficit de pessoal especializado. Qual sua análise sobre o atual efetivo da Petrobras? O que acha da atual política de contratação de pessoal terceirizado? Guilherme Estrella - Para refletir sobre este tema, é necessário retornarmos a 2003, época em que, praticamente por dez anos, o corpo de empregados da Petrobras permaneceu estável ou até diminuiu. Esta situação se devia a uma orientação do acionista controlador, o governo da União, não escrita ou formalizada (mas claramente emitida, segundo o que corria nos “corredores” da Companhia), no sentido de a Petrobras restringir-se a 40% do setor petrolífero nacional e contribuir efetivamente para abrir espaços para as empresas estrangeiras virem operar no Brasil. Eleito o presidente Lula, esta orientação inverteu de sinal, e a firme e inequívoca determinação do governo federal era para que a Petrobras reassumisse sua presença forte e hegemônica no setor de Óleo e Gás brasileiro. Logicamente, as necessidades de pessoal são igualmente muito diferentes num modelo e no outro e desde 2003 a Petrobras admitiu dezenas de milhares de novos empregados e o quadro de pessoal foi harmonizado com a nova presença da Companhia no setor. Já a liberação voluntária de pessoal através de decisões administrativas é prática corrente em qualquer grande empresa, garantidos todos os direitos dos trabalhadores. E é certamente dentro deste parâmetro que a Petrobras está a conduzir a gestão das pessoas de seu quadro de empregados. Igualmente, a terceirização de empregados em setores não essenciais e periféricos - e por isso a carregar um componente de temporalidade específica - é prática comum e adequada por grandes corporações. É dentro desta ótica que a Petrobras procurar gerir suas necessidades de pessoal. JuNHO 2014 | inovA 7 Estímulo à eficiência energética na produção de elétricos e híbridos E m maio, foram produzidos no Brasil 282,5 mil automóveis, ônibus, caminhões e veículos comerciais leves. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), esse número, na comparação com maio de 2013, revela um recuo de 18% na produção nacional de veículos. O momento de retração do setor automotivo se reflete nas vendas ao consumidor, que em maio deste ano diminuíram 7,2% em média e atingiram também motocicletas e tratores. Diante desse quadro, trabalhadores, empresários e governo concordam que é necessário dotar o setor automotivo de maior competitividade e capacidade de inovação. Um passo fundamental para atingir esse objetivo é a busca por uma maior eficiência energética dos veículos produzidos no país. Isso está previsto no programa Inovar-Auto, implantado em 2012 pelo governo federal para estimular projetos inovadores no setor automotivo. O programa determina que a partir de 2017 as montadoras que produzem no Brasil terão que melhorar em no mínimo 12% a eficiência energética dos veículos. Mas, 8 INOVA | JunhO 2014 para que saia do papel e vire realidade, essa política ainda precisa de alguns ajustes. A Anfavea diz ao governo que, por conta da alta no custo de produção, um incentivo é necessário para que consigam produzir e vender modelos híbridos e elétricos a um preço final viável para o consumidor. O Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC) já sinalizou que defende o aprimoramento da tecnologia utilizada pela indústria automobilística no Brasil e o governo estuda conceder novas isenções fiscais às montadoras que investirem em pesquisa e desenvolvimento para a produção no país de veículos que consumam menos combustível e emitam menos poluentes. O governo promete anunciar em junho um pacote de incentivos à produção de carros elétricos e híbridos no país. Os detalhes ainda não foram divulgados, mas a expectativa da indústria é de que uma das concessões seja a tarifa zero para o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Por não serem fabricados no país, hoje são cobrados 30 pontos percentuais adicionais de imposto na venda abcd maior/Ricardo Hirae capa de elétricos. Atualmente, o Mitsubishi i-Miev é o único carro elétrico vendido regularmente no Brasil. No caso dos híbridos, há modelos vendidos de apenas três marcas: Nissan, Toyota e Ford. “Conceder estímulos governamentais que possibilitem o barateamento dos preços destes carros seria importante para agilizar a produção em larga escala. Hoje, os veículos híbridos e elétricos importados custam cerca de 50% a mais do que no exterior”, diz o engenheiro Renato Romio, chefe da Divisão de Motores e Veículos do Centro de Pesquisas do Instituto Mauá de Tecnologia. A expectativa é que o governo anuncie as medidas de estímulo ao setor a tempo de possibilitar a conclusão de negócios durante o Salão Latino-Americano de Veículos Elétricos, programado para setembro e que reunirá 80 marcas em São Paulo. Sugestões O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, entregou à Dilma Rousseff um relatório com sugestões de ações a serem implementadas no setor automotivo. O encontro aconteceu durante uma visita da presidenta a São Bernardo do Campo no final de maio: “Para a indústria automotiva brasileira ter capacidade de continuar crescendo, gerando empregos, e manter sua importância para a economia no Brasil, precisa engrenar neste novo momento. É hora de avançar neste tema. Se nós conseguirmos construir essa política de incentivos, iremos adiantar a tecnologia de automotivos no país em no mínimo 15 anos”, afirma. De acordo com o sindicalista, o pacote de estímulo elaborado pelo governo ainda não foi lançado por conta de alguns itens: “Acredito que a demora é por conta de alguns ajustes no texto. Cada montadora possui um tipo de tecnologia e processo. E precisarão se adequar para atender algumas exigências”, diz Marques. Para Renato Romio, a população também será beneficiada com o eventual aumento da produção de elétricos e híbridos no país, já que essas novas tecnologias são menos agressivas ao meio ambiente e mais econômicas: “O Brasil ganhará em todos os sentidos. A indústria ganhará em desenvolvimento tecnológico, competitividade e inovação, já que precisarão desenvolver modelos que aceitem o etanol e não apenas a gasolina, e a população ganhará um ar menos poluído e um carro de modelo mais barato. O Ford Fusion, por exemplo, na versão tradicional (à gasolina) faz 7 km por litro na cidade, enquanto o hibrido faz 18 km por litro. Além de mais econômico, o desempenho também é superior”. Produção no ABCD O ABCD Paulista, considerado o berço da indústria automobilística brasileira, tem grandes chances de sair na frente na produção de veículos menos poluentes. A fábrica da Toyota de São Bernardo já estuda a instalação de uma linha de produção do modelo híbrido da marca, o Prius. Rafael Marques afirma que a região está preparada para atender à nova demanda da indústria: “O ABC possui mão-de-obra qualificada, uma cadeia extensa de fornecedores e instituições de ensino renomadas para formar mais profissionais. Temos essa bagagem porque as maiores montadoras estão instaladas na região há cerca de 50 anos”, diz. Apesar de a Toyota não se pronunciar sobre o assunto, o sindicato confirmou a intenção da montadora de produzir o modelo Prius na unidade de São Bernardo assim que o pacote de incentivos para a produção de veículos híbridos e elétricos seja lançado pelo MDIC. Também foi firmado um acordo no início de junho que prevê reajustes salariais, PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e benefícios até 2016: “Firmamos um acordo com a montadora que prevê a produção deste carro em São Bernardo, atrelado a investimentos e contratações. A Toyota é uma das empresas que mais investem em treinamento dos funcionários. Portanto, boa parte deles já esta apta a atuar na produção deste carro. Para implantar a nova linha, a fábrica precisará de espaço. Por isso, a empresa está estudando algumas mudanças internas”, informa Marques. Atualmente, a fábrica da Toyota em São Bernardo conta com mais de mil trabalhadores, e a expectativa do sindicato é de que mais 300 sejam contratados para atuar na nova linha de produção. A estimativa da entidade é de que sejam fabricadas três mil unidades do novo modelo híbrido por ano a partir de 2016. O Toyota Prius, lançado em agosto de 1997 no Japão, foi o primeiro veículo híbrido produzido em série no mundo. O carro emite 50% menos CO2 que os convencionais, além de gastar menos combustível. No Brasil, o modelo foi lançado no inicio de 2013 e atualmente custa cerca de R$ 120 mil. JunhO 2014 | INOVA 9 notas Santo André quer regulamentar uso de mananciais da Billings Em meio às discussões sobre o “estresse hídrico” vivido pelo estado de São Paulo, a prefeitura de Santo André, por intermédio do Serviço Municipal de Saneamento Ambiental (Semasa), iniciou em junho um processo de consulta pública para debater e colher sugestões e propostas junto aos Conselhos Municipais e outras entidades representativas da sociedade civil andreense para a Lei de Uso, Ocupação e Parcelamento do Solo (LUOPS). A proposta, que ainda deverá ser enviada à Câmara dos Vereadores, traz iniciativas inovadoras como a regulação da Macrozona de Proteção Ambiental, que compreende a Área de Proteção e Recuperação de Mananciais da Billings (APRM-B), equivalente a 55% do território do município. Se aprovada, a nova lei definirá como serão utilizados os recursos da represa e adequará a legislação municipal à Lei Específica da Billings (13.579), sancionada pelo governo paulista em 2009. A lei tem foco na proteção dos mananciais e na manutenção de sua função produtora de água para o abastecimento público, mas também concede ao município uma maior autonomia para implantar projetos de saneamento ambiental e infraestrutura urbana compatíveis com seus mananciais. A prefeitura de Santo André afirma que “o desafio da LUOPS é aperfeiçoar e reafirmar os compromissos com a conservação e recuperação ambiental e, ao mesmo tempo, garantir melhor qualidade de vida aos cidadãos”. Entre as ações para os mananciais previstas na LUOPS estão: definição de tipos de usos para lotes residenciais, não-residenciais e mistos; zoneamento para a ocupação do solo, conforme a capacidade de suporte e vulnerabilidade ambiental; regras de aprovação de loteamento e desmembramentos; definição de tamanho mínimo do lote, índice de área verde a ser preservado, índice de área não edificável e recuos mínimos laterais e frontais; definição sobre as atividades econômicas e serviços compatíveis com os mananciais, como nas Zonas de Desenvolvimento Econômico e Zona de Patrimônio Histórico; classificação de vias/ruas e sinalização de trânsito; estabelecimento de formas de fiscalização e penalidades. ABCDMAIOR/DANIEL TOSSATO Relógio inteligente inaugura “computação vestível” Já batizada pelo mercado de Tecnologia da Informação com o singelo nome de “computação vestível”, vem aí mais uma inovação para o mercado de aparelhos eletrônicos e seus consumidores. A empresa LG lançará em julho, a começar pela Inglaterra e pelos Estados Unidos, seu primeiro modelo de relógio inteligente, o G Watch, que, a partir da utilização de um chip, funciona como um 10 inovA | JuNHO 2014 smartphone e permite ligações e acesso rápido à internet, entre outros serviços. O relógio inteligente utiliza uma nova versão do sistema operacional móvel do Google, o Android Wear, que promete trazer outros aparelhos inovadores ao mercado da “computação vestível” nos próximos anos. O sistema é semelhante ao Google Now, software que, segundo a empresa, serve para a “antecipação de informações úteis ao usuário”, como previsão do clima, dicas de trânsito e chegada de mensagens e posts em redes sociais, além de possibilitar a interação com outros aparelhos equipados com o Android para compartilhamento de áudios e vídeos, entre outros arquivos. Brasil ajuda a seqüenciar genoma citros Um trabalho inédito de seqüenciamento do genoma citros realizado por um consórcio internacional formado por cientistas de Brasil, Estados Unidos, França, Itália e Espanha foi publicado na edição de junho da revista Nature Biotechnology com a expectativa de revolucionar as pesquisas em citricultura. O estudo analisou e comparou as seqüências do genoma de dez diferentes variedades de citros, incluindo laranjas, doce e azeda, toranjas e tangerinas, com o objetivo de “aplicar ferramentas genômicas e novas abordagens para compreender ABDI faz mapeamento de smart grids no Brasil Fundamentais para um país que ainda busca maior eficiência em seu sistema de geração e distribuição de energia elétrica, as empresas fornecedoras de Tecnologia da Informação para redes elétricas inteligentes (smart grids) foram objeto de um detalhado mapeamento divulgado em junho pela Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Elaborado em parceria com a Associação de Empresas Proprietárias de Infraestrutura e de Sistemas Privados de Telecomunicações (iAptel), o estudo com mais de duas mil páginas traz, segundo a ABDI, “informações detalhadas sobre empresas, pesquisas e investimentos no setor, além de apontar os principais gargalos e ações que podem ajudar a desenvolver a indústria nacional ligada ao segmento”. O mapeamento identificou mais de 300 empresas brasileiras que atuam como fornecedoras de tecnologia da informação e comunicações para as smart grids. Também foram identificados 126 centros de pesquisa, desenvolvimento e inovação ligados ao setor e 60 concessionárias em todo o país. O investimento realizado até aqui já supera R$ 1 como surgiram as variedades de citros e como elas respondem às doenças e a outros estresses ambientais, como o hídrico”. Os brasileiros que participaram do consórcio internacional são pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Segundo o IAC, os resultados do estudo poderão ser direcionados ao desenvolvimento de soluções para os desafios do setor citrícola no Brasil, como o ataque do huanglongbing (HLB), doença infecciosa que vem destruindo os pomares no interior do estado de São Paulo, principal região produtora de frutas cítricas do país. bilhão, e a expectativa do setor é que chegue a R$ 3 bilhões até o final de 2014. Segundo a ABDI, as áreas tecnológicas incorporadas pelas smart grids são gestão de consumo, edifícios inteligentes, tecnologia de informação, telecomunicações, inserção de veículos elétricos, armazenamento de energia, medição inteligente, automação da distribuição e geração distribuída. Experiências bem sucedidas com redes elétricas inteligentes já vêm sendo realizadas em municípios como Búzios (RJ), Barueri (SP), Sete Lagoas (MG), Aparecida do Norte (SP), Fernando de Noronha (PE) e Rio de Janeiro, entre outros. Segundo a ABDI, as ações desenvolvidas nas smart grids vão desde a instalação de medidores e transformadores com tecnologia inteligente até painéis solares integrados à rede elétrica. O uso de recursos inovadores em tecnologias de informação e comunicação associadas à rede de energia permite ao consumidor ter o controle efetivo do que é consumido e gerado e, em alguns casos, o consumidor deixa de apenas comprar e passa a produzir energia, podendo devolver o excedente e ter crédito com as concessionárias. Centro de big data é inaugurado na Ilha do Fundão O Parque Tecnológico da Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, deu mais um passo para se tornar o mais importante cluster de inovação do Brasil. Em maio, a empresa norte-americana EMC, uma das maiores do mundo no setor de armazenamento de dados em nuvem, inaugurou na ilha seu primeiro centro de pesquisas voltado exclusivamente ao setor de óleo e gás, que passa por um momento de forte expansão no Brasil. Com investimentos de US$ 100 milhões, o laboratório de quatro andares e três mil metros quadrados abriga o maior data center para pesquisas em big data da América Latina. O interesse da EMC pelo mercado brasileiro se intensifica. Em abril, a empresa registrou no país a patente do Projeto Maracanã que, segundo seus idealizadores, traz uma grande inovação para a indústria de petróleo: uma integração de hardware e software que analisa e compreende dados sísmicos com velocidade maior do que a conseguida através das técnicas utilizadas atualmente. A EMC afirma que 100% da tecnologia desse projeto foi desenvolvida no Brasil e que outros projetos serão elaborados no centro de pesquisas com o estabelecimento de parcerias com universidades como a UFRJ, administradora do Parque Tecnológico da Ilha do Fundão. Além das unidades nos Estados Unidos e no Brasil, a EMC tem outros sete laboratórios em Israel, França, China, Rússia, Holanda, Irlanda e Cingapura. A empresa se especializou na gestão e armazenamento de dados em big data, termo utilizado para descrever as inovadoras e crescentes maneiras de se armazenar dados em volume muito maior, com inúmeras variedades de formato e velocidade de tráfego em tempo quase real. JuNHO 2014 | inovA 11 Bellini Direto de Berlim, alemanha Flávio Aguiar que houve uma partida em homenagem à Princesa Isabel. correspondente [email protected] Chutes, chuteiras e invenção I nventar no futebol é muito difícil. Mais difícil ainda é, às vezes, estabelecer com segurança quem foi o inventor. No mais das vezes, há uma tendência a fixar como o inventor quem mais difundiu alguma coisa. E polêmicas não faltam. E também não faltam inventores brasileiros. Por exemplo: uma das invenções mais famosas do então chamado “esporte bretão” foi a bicicleta, tradicionalmente atribuída ao craque Leônidas da Silva, o Diamante Negro. Mas há quem diga que o verdadeiro inventor foi um jogador chamado Petronilho, e que Leônidas da Silva apenas a aperfeiçoou. Porém, o fato é que Petronilho não deixou imagens a respeito, e Leônidas deixou várias. Inclusive por ter sido o primeiro jogador a dar uma bicicleta numa Copa do Mundo, em 1938, na França, fazendo um golaço. Mas tão inusitada era a bicicleta que o juiz, por precaução, ignorância, má vontade ou má fé, ou tudo junto, anulou o gol. Talvez alegando “jogo perigoso”. Ou quem sabe “bonito demais”... Coisas parecidas com o futebol foram jogadas desde a Antiguidade na Europa, na Ásia e nos tempos pré-colombianos em algumas partes das Américas. Às vezes com a cabeça de adversários derrotados fazendo o papel da bola. Os romanos, com suas conquistas, difundiram os jogos de bola pelos quatro cantos dos velhos continentes. Mas é mais ou menos aceito que o futebol moderno nasceu na Inglaterra. Através de uma série de ações. O primeiro código de regras foi estabelecido em Cambridge, em 1848, e o esporte difundiu-se a partir da década de 12 INOVA | JunhO 2014 1860, sobretudo entre as elites. Seguiram-se outras invenções inglesas: em 1871, o goleiro; em 1875, o tempo de 90 minutos; por volta de 1891 surgiram a grande área e, portanto, o pênalti. Os primeiros jogadores jogavam de botas de cano alto. As travas apareceram em 1891. A moderna chuteira só veio à luz, ou melhor, ao campo, em 1925. Na Copa de 1954 apareceu outra grande novidade: as travas passaram a ser aparafusadas nas chuteiras (antes usavam-se presilhas de ferro, parecidas com pregos, que por vezes perfuravam a sola interna e machucavam os pés – cheguei a jogar, e sofrer, com uma destas...). O futebol era um jogo de elite. O que começou a popularizar o esporte foi a invenção da “semana inglesa”, estabelecendo, primeiro, a tarde de sábado como livre do trabalho, depois o sábado inteiro. Isto, com o desenvolvimento das ferrovias, deu mais tempo de lazer para as classes trabalhadoras urbanas, que puderam se deslocar para campos de jogo e também se interessar pelo esporte. Logo os sindicatos descobriram que o futebol também poderia servir como elemento agregador de seus associados – os presentes e os futuros. Há várias versões sobre os primeiros jogos no Brasil. Os jesuítas faziam seus alunos praticarem algo parecido com o futebol em Friburgo, no Rio de Janeiro. Houve jogos de marinheiros ingleses em praias brasileiras, do Recife ao Rio de Janeiro, a partir da década de 1870. Consta até Mas a data oficial da introdução do esporte no Brasil é 1894, e seu introdutor, Charles Miller (que era brasileiro), que trouxe jogos de camiseta e duas bolas de couro, infláveis, para São Paulo. Outro brasileiro, Oscar Cox, foi fundamental para introduzir o esporte no Rio, tendo sido um dos fundadores do Fluminense. E logo começaram as invenções em nosso território. O próprio Charles Miller inventou um drible que até a década de 50 levava o seu nome. Consistia em ameaçar driblar para um lado e logo driblar para o outro. Esta jogada, aparentemente tão simples, foi a introdutora da moderna noção de drible, que consiste em desequilibrar o adversário, mantendo o próprio equilíbrio. E o drible criou o complementar desarme, que consiste em tomar a bola, sem perder o equilíbrio, e o “cerco”, ou seja, impedir o avanço do adversário, obrigando-o a se desfazer da bola, quando então ela pode ser tomada. Antes disto, os jogadores mais corriam atrás da bola do que outra coisa, e simplesmente chutavam-na. O “charles” foi aperfeiçoado por Rivelino, a quem se atribui a invenção do drible “elástico”, que consiste em grudar a bola no pé ameaçando levá-la para um lado e levá-la para outro. Mas ele mesmo diz que copiou o drible de um companheiro de Corinthians, Sérgio Echigo, de origem japonesa. Na seqüência vieram as “pedaladas”, os Robinhos, etc. Uma invenção mais complicada é atribuída a um goleiro do Fluminense (não sei se o brasileiro Américo Couto ou o inglês Cruickshanek), no começo do século XX. Até então os goleiros jogavam literalmente debaixo das traves. O goleiro do futuro Tricolor carioca (as camisetas então eram bicolores, cinza e branco) começou a jogar alguns passos adiantado em relação ao gol. A vantagem do posicionamento era aumentar a imagem do goleiro para os atacantes, além de introduzir um “erro de paralaxe” na visão do gol, ou seja, um deslocamento de perspectiva que faz este parecer menor do que na realidade é. A técnica foi desenvolvida, por exemplo, pelo russo Lev Iashin, o legendário “Aranha Negra”, ou “Pantera Negra”, que desenvolveu extraordinariamente as jogadas de disputar a bola nos pés dos adversários, jogou 270 partidas sem tomar gols e defendeu 150 pênaltis em sua carreira. Ao primeiro craque brasileiro de renome internacional, Friedenreich, o popular Friderrach, Frid, ou ainda conhecido como “El Tigre” pelos uruguaios depois da derrota da Celeste para o Brasil por 1 x 0, gol dele, dando-nos nosso primeiro título internacional, o de Campeão Sul-americano, em 1919, atribuem-se várias invenções: o “drible curto”, de toquinho, o chute de efeito, e a finta com o jogo de corpo, deslocando legalmente o adversário. Ele popularizou o “chute de bico”, pois até então a maioria dos jogadores chutava com o lado do pé (não o peito). Friedenreich foi o primeiro jogador a ser aclamado “rei”, ganhando o título depois de uma goleada de 7 x 2 na França, na excursão invicta de seu clube, o Paulistano, pela Europa: “le roi du football”. Em homenagem ao campeonato sulamericano, Pixinguinha, Benedito Lacerda e Nelson Ângelo compuseram o choro 1 x 0, gravado pelos dois primeiros com saxofone (P.) e flauta (BL), primeiro registro que se tem do futebol na música popular brasileira. A década de 30 viu o nascimento da bicicleta (1932, na versão de Leônidas). A de 50 viu, pela primeira vez, a folha seca do imortal Valdir Pereira, o Didi, o “Príncipe Etíope de Rancho”, no dizer de Nelson Rodrigues. A folha seca não era apenas um chute em curva. Com o efeito dado a bola, depois de uma trajetória em curva, muda subitamente de direção, enganando o goleiro. Didi imortalizou tal chute em duas ocasiões. A primeira foi na classificação do Brasil para a Copa de 58, fazendo o gol da vitória contra o Peru (1 x 0) no Maracanã. A segunda foi na goleada contra a França (5 x 2), na semifinal, quando o goleiro francês acabou caído fora do gol. Os franceses chegaram a pagar para fazer um filme com os pés do Didi chutando a folha seca. Mas que eu saiba ninguém nunca mais conseguiu dar uma exata folha seca. Outras invenções atribuídas a brasileiros (ou por eles difundidas) são o “chapéu” (Pelé) e o “drible da vaca” ou “meia-lua” (Garrincha). Mas sem dúvida a maior invenção (ou contribuição) do futebol brasileiro foi a do próprio Brasil. Não estou me referindo à crença absurda de que “os brasileiros não pensam com a cabeça, mas sim com os pés”, “são um povo infantil”, e outras crendices crendeiras. Refiro-me a um exato momento, os sete minutos do primeiro tempo do jogo Brasil e Suécia, no estádio Rasunda, em Estocolmo, no dia 29 de junho de 1958. Com sete passes precisos o time sueco fez 1 x 0. Os jogadores brasileiros ficam estatelados. Gilmar, o grande Gilmar, sequer se levanta do chão. Então acontece a chispa, o milagre: o majestoso Didi caminha a passo lento, pega a bola no fundo do gol e vem, a passo, sem correr (ele mesmo diria que foi de propósito), até o meio do campo, onde põe a “redonda” para recomeçar o jogo. Consta que teria dito: “vamos acabar com esses gringos”. E acabaram. Ali um novo Brasil começou a ser inventado, para longe do tal “complexo de vira-latas”, que agora partes das elites brasileiras, da velha mídia e da mídia europeia querem nos impingir de novo, avacalhando a nossa Copa. Depois desta invenção de Didi veio a outra, a consagradora: para melhor mostrar a taça, transubstanciando-a no popular “caneco”, o capitão Bellini a ergueu aos céus. Ninguém fizera isto antes. Mas todos fazem o mesmo gesto desde então, da várzea mais humilde ao estádio mais sofisticado, das quadras de tênis às pistas de corrida, em todo o mundo. Haja invenção! JunhO 2014 | INOVA 13 Juventude inovAdorA: Brasil é destaque em feira internacional 14 inovA | JuNHO 2014 FOTOS: DIVuLGAÇÃO internacional C iência, tecnologia e inovação são temas em pauta entre os jovens brasileiros, e estes têm seu talento cada vez mais reconhecido internacionalmente. Em maio, três projetos inovadores apresentados por jovens de São Paulo e do Rio Grande do Sul foram premiados na Intel International Science and Engineering Fair (Intel ISEF 2014), mega feira científica anual criada em 1950 e considerada o maior evento pré-universitário de ciência e tecnologia do mundo. Este ano, 1.783 estudantes adolescentes de 70 nacionalidades diferentes participaram do evento, que foi realizado em Los Angeles entre os dias 11 e 16 de maio. Tradicionalmente, os projetos científicos premiados na feira, que desde 1996 ganhou o patrocínio da multinacional norte-americana de tecnologia Intel, despertam o interesse de grandes empresas e muitos chegam ao mercado. Este ano, o Brasil foi representado por 34 estudantes que apresentaram 18 projetos. Do aperfeiçoamento de cultivo de células-tronco até o desenvolvimento de tecnologia para prevenir a proliferação de mosquitos da dengue, os jovens brasileiros mostraram ao mundo idias inovadoras que elaboraram ainda no Ensino Médio. Os três projetos brasileiros premiados na Intel ISEF 2014 são: “MASE – Membrana de Absorção Seletiva”, desenvolvido por Gabriel Chiomento da Motta e Raíssa Müller, de 19 e 18 anos, respectivamente, alunos da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, de Novo Hamburgo (RS); “Produção da L-Asparaginase a Partir do Grão de Kefir”, desenvolvido por Bárbara Carolina Federhen, de 19 anos, da mesma Fundação Liberato; e “Responsabilidade (em casa) para reciclar fraldas descartáveis”, de Salvador Alvarado, de 17 anos, estudante da Escola Americana de Campinas (SP). Com o objetivo de solucionar um dos principais problemas do setor petrolífero, o derramamento acidental, o projeto “MASE – Membrana de Absorção Seletiva” foi premiado com a segunda colocação na categoria Engenharia: Materiais e Bioengenharia. Os autores ganharam US$ 1,5 mil e tiveram seus nomes dados a dois asteroides recém-descobertos. A membrana funciona como uma esponja, absorvendo líquidos apolares, como petróleo, óleo de cozinha e gasolina, entre outros, e repelindo água. Tem capacidade de absorver até 22 vezes seu próprio volume. Outro importante aspecto do projeto é que os óleos absorvidos podem ser recuperados com um rendimento de quase 100%, e assim podem voltar a ser comercializados. A membrana também pode ser limpa e reutilizada diversas vezes e custaria em média R$ 3,00 o quilo. Segundo Raíssa Müller, a ideia partiu da preocupação dos jovens com o meio ambiente: “Sempre tivemos muito interesse na elaboração de projetos na área ambiental e, tendo em vista a problemática dos derramamentos de petróleo em mares e oceanos, decidimos investigar sobre as técnicas atualmente utilizadas para conter tais vazamentos. Descobrimos que, apesar da relevância do tema, as técnicas empregadas são muito limitadas, pois não permitem que o petróleo possa ser removido do ambiente marinho”, diz. Após a premiação na ISEF 2014, Gabriel e Raíssa querem patentear a MASE: “Esperamos obter a patente dessa membrana de absorção seletiva e, assim, possibilitar uma maior visibilidade para o projeto e o auxílio de empresas ou pessoas interessadas na utilização e no desenvolvimento do material”, diz a jovem. O projeto “Produção da L-Asparaginase a partir do Grão de Kefir”, da estudante Bárbara Carolina Federhen, ganhou o terceiro lugar na categoria Bioquímica e US$ 1 mil de premiação. O estudo consiste na comprovação da possibilidade de produção da enzima L-Asparaginase a partir dos microorganismos presentes no Kefir, colônias constituídas de bactérias e fungos. A L-Asparaginase é uma enzima utilizada no tratamento da leucemia linfóide aguda. Sabendo que essa enzima é produzida através de microrganismos (bactérias patogênicas à saúde humana), testou-se a possibilidade de produção através das colônias de Kefir: “A ideia do projeto surgiu quando vi uma reportagem que relatava a importância dessa enzima e o fato de ela não ser produzida atualmente, no Brasil” diz Bárbara. EXPERIÊNCIA O terceiro projeto brasileiro premiado na Intel ISEF 2014 foi “Responsabilidade (em casa) para reciclar fraldas descartáveis”, de Salvador Alvarado, que conquistou o terceiro lugar na categoria Gestão Ambiental e US$ 1 mil de premiação. O estudante criou um dispositivo projetado para caber em uma máquina de lavar roupa e que separa os principais componentes de uma fralda descartável: os plásticos e os polí- meros super absorventes, objetivando a redução das fraldas descartáveis que vão para aterros sanitários. O projeto surgiu de um trabalho desenvolvido no ano passado, intitulado “Substituindo polímeros super absorventes com bagaço de cana-de-açúcar”, pelo qual Alvarado também foi premiado com o terceiro lugar na Intel ISEF de 2013, em Phoenix (EUA). Ele diz que, para o seu projeto se concretizar, ainda serão necessárias algumas adequações: “Para este projeto ser desenvolvido, pessoas terão de estar dispostas a reciclar fraldas de seus bebês e um novo protótipo mais barato da máquina terá de ser feito, a fim de reduzir o custo de fabricação do próprio dispositivo”. O estudante destaca a qualidade dos projetos apresentados pelos jovens brasileiros: “Desde o ano passado, tenho sido surpreendido com o nível e a qualidade dos projetos que as feiras brasileiras estão enviando à ISEF”. Alvarado já pensa em ser novamente selecionado para participar da próxima edição da feira: “Ainda há muitas coisas que precisam ser alteradas antes de considerar o meu projeto completo, é por isso que eu pretendo fazer essas mudanças e vou tentar ser selecionado para a próxima ISEF”, diz. ASSOCIAÇÃO Após participar das edições de 2010 e 2011 da Intel ISEF, o jovem Heitor Santos, de 19 anos, teve a ideia de criar uma associação de incentivo e apoio aos participantes da feira, a Associação Brasileira de Incentivo à Ciência (ABRIC): “Toda a experiência da ISEF me fez pensar não só na importância de democratizar as ações de divulgação cientifica para pessoas de diferentes regiões e contextos socioeconômicos, mas também na importância de valorizar o trabalho desenvolvido pelas pessoas que já participaram da ISEF e que agora precisavam de uma aju- JuNHO 2014 | inovA 15 Estar em uma feira de tal porte faz com que boa parte dos alunos que participam da ISEF tenham na volta ao Brasil algumas portas abertas para seguir a carreira de cientista. Heitor destaca dois casos de sucesso pós-feira: “Tamara Gedankien, da ISEF 2010, que foi a primeira e única aluna brasileira a conquistar um primeiro lugar, recebeu uma bolsa do Instituto de Tecnologia de Illinois, em Chicago, onde hoje cursa Engenharia Biomédica. Além disso, Lucas Strasburg, também da ISEF 2010, desenvolveu uma prótese com garrafas PET e hoje está patenteando essa ideia. Ele recentemente recebeu um prêmio do Massachusetts Institute of Technology (MIT) pela inovação que criou”, conta o presidente da ABRIC. Seleção Os projetos brasileiros que participam da Intel ISEF são selecionados em três feiras científicas regionais realizadas anualmente: a Mostra Brasileira de Ciência e Tecnologia (Mostratec), sempre no mês de outubro, em Novo Hamburgo; a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), que ocorre no mês de março, na USP; e a Feira de Ciências da Escola Americana de Campinas (EAC) também realizada em março. As duas primeiras são afiliadas à Intel, e o maior prêmio para os primeiros colocados é a classificação para participar da Intel ISEF. Juntas, Mostratec e Febrace levaram 15 projetos ao evento internacional deste ano. Já a Feira de Ciências da EAC, realizada há 31 anos, tem um processo de classificação independente, no qual os dois primeiros colocados em projetos individuais e o primeiro colocado em projeto de time ganham o direito a participar do evento internacional. Fernanda Sato, gerente de educação da Intel Brasil, explica a importância que a ISEF tem para uma multinacional de tecnologia: “A Intel acredita que a feira de ciências é uma ferramenta para estimular o aluno a ser um investigador e cientista, que esteja preocupado em solucionar problemas cotidianos que muitas vezes têm solução”. Segundo Fernanda, os jovens participantes buscam aliar este caráter científico à inovação tecnológica: “Percebemos que a complexidade da tecnologia que os alunos estão usando em seus projetos científicos é cada vez maior”, diz a executiva. Representantes das duas escolas que tiveram alunos premiados no ISEF 2014 destacam a importância que as instituições de ensino têm na orientação aos jovens cientistas. O professor Mauricio Gozzi, diretor da Feira de Ciências da EAC e orientador de Salvador, explica: “A cada ano, nossos alunos são chamados a criar um projeto de pesquisa usando o equipamento da escola ou de algum centro de pesquisa nos arredores de Campinas, como UNICAMP, Instituto Agronômico, CATI, etc. A nossa feira tem prazos bem delimitados que ajudam a guiar o aluno ao longo do desenvolvimento do processo”, diz. Gozzi ressalta o bom desempenho dos alunos selecionados: “Nos últimos cinco anos, ganhamos seis prêmios na ISEF, sendo cinco grandes prêmios e um prêmio especial das indústrias Agilent”. Formação Leo Weber, diretor executivo da Fundação Liberato, explica o projeto político-pedagógico da instituição e afirma ser fundamental que o interesse pela ciência e tecnologia seja criado desde a juventude: “Temos um diferencial educacional que é a busca da formação integral, de modo a incorporar uma sólida formação científica e tecnológica com as dimensões da cidadania e da humanidade, articulando um conjunto de atividades pedagógicas e culturais que levem o aluno a aprender”. Apesar de enfatizar que ainda é necessária uma evolução nesta área, Weber avalia que as políticas públicas destinadas ao desenvolvimento da ciência jovem no Brasil têm melhorado: “Exemplos positivos são o edital executado pelo CNPq que financia feiras científicas e tecnológicas como a Mostratec, e o programa Ciência Sem Fronteiras”, diz. Para Mauricio Gozzi, há um grande potencial científico entre os jovens brasileiros, mas o país não o explora como poderia: “No Brasil, de maneira geral, o ensino de Ciências tem sido dado a professores que não são da área específica. Há falta de professores de Química e Física, e naturalmente isso prejudica a possibilidade de um bom desenvolvimento científico de nossos alunos em escolas públicas”, diz. O diretor da EAC lembra que tudo começa nas escolas: “Os professores poderiam ficar atentos aos talentos e convidá-los a procurar algum centro de pesquisa ou algum laboratório com equipamentos de medida, uma vez que os laboratórios de escola normalmente não tem equipamento adequado. O ideal seria se o professor pudesse agir como uma ponte ligando o laboratório ao aluno. Com um projeto em desenvolvimento, o professor poderia tentar inscrever o aluno em uma das três feiras científicas regionais”. ponto de vista | Maria Beatriz Bley Martins Costa Em 2014, comemora-se o décimo aniversário da “Semana do Alimento Orgânico”, uma iniciativa inovadora da Coordenação de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e voltada ao consumidor final. Durante a Semana Nacional dos Alimentos Orgânicos, o ministério, em parceria com diversas organizações, promove em quase todos os estados do país uma campanha nacional, visando esclarecer a população sobre os benefícios ambientais e nutricionais dos produtos orgânicos. Dando um salto para o passado, vemos que o ano de 2004 começou sob a lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003, que regulamenta o setor orgânico no Brasil. Em 15 de março de 2004, foi instalada a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Agricultura Orgânica, quando o então ministro Roberto Rodrigues destacou a importância e a atenção que o MAPA dedica à produção orgânica no Brasil. Nesta década percebemos um amadurecimento do setor orgânico, assim como da agricultura familiar, decorrente de vários fatores: desde o crescente grau de informação do consumidor à implementação de políticas públicas que estimulam práticas inovadoras em agricultura orgânica e agroecológica. Uma lei que merece registro especial, infelizmente pouco conhecida do público, é a que regulamenta o Programa de Alimentação Escolar (PAE). Desde 2009, quando foi aprovada, esta lei determina que no mínimo 30% do que é adquirido para a alimentação escolar nas escolas públicas deve ser comprado da agricultura familiar e da agricultura orgânica. Isso tem promovido uma verdadeira transformação ao permitir que alimentos mais saudáveis e com forte apelo regional possam ser consumidos diariamente pelos alunos de todo o país. Significa a melhoria na alimentação de até 48 milhões de crianças e adolescentes. A alimentação escolar no Brasil movimenta o equivalente a uma Espanha por dia! Nos últimos dez anos, novos canais de comercialização de produtos orgânicos surgiram, aumentaram as vendas em domicílio, supermercados ampliaram espaço para oferta de orgânicos, cresceram as feiras livres com venda direta ao consumidor, 16 INOVA | JunhO 2014 DIVULGAÇÃO da para que seus projetos se tornem produtos reais”, explica o jovem, que hoje cursa Educação e Ciência Política em Swarthmore College, nos Estados Unidos. Heitor é presidente da ABRIC, que conta com outros cinco diretores, todos ex-participantes de feiras científicas. Orgânicos: uma década de avanço inovador vieram novas lojas especializadas e chefs formadores de opinião que valorizam os orgânicos, tudo isso refletindo um aumento de demanda e o fortalecimento do mercado consumidor. Este é o ano da Copa e é também o Ano Internacional da Agricultura Familiar, que teve seu lançamento oficial em 22 de novembro de 2013 na sede das Nações Unidas, em Nova York. A promoção do Ano Internacional da Agricultura Familiar foi confiada à Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em colaboração com governos, agências internacionais de desenvolvimento, organizações de agricultores, organizações não governamentais e todas as outras organizações do sistema das Nações Unidas. Poucos sabem que a agricultura familiar do Brasil responde por 70% dos alimentos que estão nas mesas dos brasileiros. A agricultura familiar também tem impacto na economia do país no segmento de tratores. Os programas de juros subsidiados para a compra de máquinas agrícolas pelos produtores familiares estão alterando as estratégias de marcas de máquinas agrícolas. Marcas que anteriormente visavam o mercado de tratores de alta potência, agora querem crescer no mercado de tratores pequenos. O programa Mais Alimentos, que financia tratores de até 80 cavalos para a agricultura familiar, representou 60% das unidades vendidas no país. O universo de potenciais compradores de trator na linha Mais Alimentos está entre 260 mil e 300 mil produtores familiares. O Mais Alimentos tem taxa de 2% ao ano com carência de até três anos e prazo de pagamento de até uma década. Você sabia? Eventos promovendo produtos orgânicos e sustentáveis também contribuíram para divulgar e promover agricultura orgânica e familiar, ocupando espaço na mídia nacional e internacional. Desde 2012 o evento Green Rio, que este ano ocorreu em maio, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, promove rodada de negócios aproximando produtores e compradores de supermercados, lojas e restaurantes. A cada edição deste evento observa-se a entrada de novos ofertantes e novos compradores, mostrando o dinamismo deste mercado e a profissionalização da gestão por parte dos produtores. As sinergias positivas aumentam, as inovações acompanham o crescimento do setor e o desafio de implementar novas cadeias de valor é um belo e sedutor desafio. Vamos em frente! Maria Beatriz Bley Martins Costa é diretora executiva do Planeta Orgânico JunhO 2014 | INOVA 17 IncentIvador ofIcIal do empreendedor BrasIleIro Todos os dias, milhares de empreendedores entram em campo para buscar o sucesso nos seus negócios e o Sebrae existe para que suas chances de vitória sejam cada vez maiores. Procure o Sebrae, especialistas em pequenos negócios. 0800 570 0800 /sebrae 18 inovA | JuNHO 2014 @sebrae PREFEITURAQUI. AÇÕES INTEGRADAS, GERANDO QUALIDADE DE VIDA EM SANTO ANDRÉ. MANUTENÇÃO, LIMPEZA E AÇÕES EDUCATIVAS NAS 20 REGIÕES DA CIDADE. O Programa PrefeiturAqui é uma iniciativa da Prefeitura de Santo André que visa a deixar nossa cidade ainda mais bonita e bem cuidada, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida de toda a população. O programa atua de forma integrada e inteligente, em todas as regiões de planejamento participativo de Santo André. São serviços que abrangem a manutenção, qualificação e limpeza urbana, além de uma frente de ação educativa para incentivar e orientar as pessoas para cuidar de seu bairro e da cidade. Uma cidade se faz por pessoas e para as pessoas. PREFEITURAQUI