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AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE HÍDRICA A PARTIR DA ANÁLISE ESPACIAL E TEMPORAL DOS FRAGMENTOS DA VEGETAÇÃO RIPÁRIA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CARIPI/PARÁ Priscilla Flores Leão Ferreira Tamasauskas 1& Aline Maria Meiguins de Lima 2*& Edson José Paulino da Rocha 3 Resumo – O processo de uso e ocupação da região nordeste do estado do Pará e a intensa fragmentação da cobertura vegetal, indicam que existem impactos no comportamento hidrológico nas bacias hidrográficas. Este trabalho teve como objetivo avaliar o grau de fragmentação vegetal das zonas ripárias da bacia hidrográfica do rio Caripi/Pará, identificando suas características quanto ao potencial de manutenção das áreas de recarga. Foram realizados a análise temporal das classes de uso e cobertura do solo, a partir de imagens Landsat; caracterização in loco das principais unidades componentes com reconhecimento dos principais sistemas ambientais associados; identificação e delimitação das zonas ripárias, aplicação de métricas de paisagem e estimativa do escoamento pelo método Curva Número. Os resultados obtidos indicam que a bacia encontra-se em um estado de fragmentação avançado no médio-alto curso, que pelo modelo e pelas observações de campo podem estar afetando o regime hídrico, com uma considerável alteração do escoamento, conforme a forma de cobertura existente. A manutenção das áreas de floresta ciliar é necessária na bacia do rio Caripi; por ser essencialmente agrícola, a preservação destas pode influenciar na melhoria da oferta hídrica, e seu correto manejo pode ser vinculado a uma proposta de aproveitamento extrativista para a região. Palavras-Chave - Uso e ocupação, cobertura do solo, floresta ciliar, regime hídrico. WATER SUSTAINABILITY ASSESSMENT BASED ON SPACE AND TIME ANALYSIS OF FRAGMENTS OF RIPARIAN VEGETATION IN CARIPI RIVER BASIN/PARÁ Abstract – The process of use and occupation of the northeastern region in Pará and the high fragmentation of forest, indicate impacts in the watershed, which can result in reducing the amount of water responsible for the flow of these systems. This study aimed to assess the degree of fragmentation of riparian vegetation zones of river basin Caripi/Pará and identify the characteristics of the potential maintenance of recharge areas. The procedures were: the temporal analysis of classes of land use and land cover from Landsat images; characterization in situ of the landscape units and description of the main environmental systems associated; identification and delineation of riparian zones, application of landscape metrics and runoff estimation with curve number method. The results indicate that the basin is in an advanced state of fragmentation in the middle-higher course. The model and the field observations indicate that it may be affecting the water regime, with a considerable change of the flow, according the form of prevailing land cover. The maintenance of riparian forest in Caripi watershed is required. The basin is essentially agricultural, therefore the preservation of these areas can influence in the improvement of water supply and the forest management can be a proposal for extractive use for the region. Keywords – Use and occupation, soil cover, riparian forest, water regime. 1 Universidade Federal do Pará, Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais - PPGCA ([email protected]). Universidade Federal do Pará, Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais - PPGCA, Laboratório de Estudos e Modelagem Hidroambientais - LEMHA ([email protected]). 3 Universidade Federal do Pará, Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais - PPGCA ([email protected]). * Autor Correspondente 2 XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1 INTRODUÇÃO A Região Amazônica apresenta um processo dinâmico de evolução de uso e cobertura do solo, porém a rede de informações hidrológicas existente não acompanha essas mudanças, tanto em termos espaciais quanto temporais (RIBEIRO NETO et al., 2008). A demanda por modelar a resposta das alterações do regime hidrológico em bacias hidrográficas, advém da necessidade de avaliar as perdas que podem ocorrer, especialmente nas áreas de relevância hídrica e ecológica como é o caso das zonas ripárias (VOGEL et al., 2009; ATTANASIO et al., 2012). Estas caracterizam-se por serem áreas de saturação hídrica que margeiam os cursos d’água e onde se estabelecem as matas ciliares (LIMA, 2005; ZAKIA, 2009). São consideradas entre as áreas mais estratégicas para manter a integridade dos ecossistemas de água doce de ameaças, incluindo a fragmentação e perda de habitats (ABELL et al., 2007; SALEMI et al., 2012). No Brasil, dada a importância da vegetação das zonas ripárias, as mesmas são legalmente protegidas através da instituição de áreas de preservação permanente (APPs), criadas a partir do Código Florestal Brasileiro de 1965 (Lei Nº 4.771, de 15 de setembro de 1965). Em 2012 foi realizada uma atualização do Código Florestal Brasileiro (instituído pela Lei Nº 12.651, de 25 de maio de 2012) no qual as áreas de preservação permanente são instituídas como áreas protegidas cobertas ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos e a paisagem associada. Na caracterização da bacia hidrográfica e ambientes associados, por meio do estudo de padrões de paisagem, busca-se identificar as interações entre as manchas no mosaico da paisagem e como estas se modificam ao longo do tempo e podem intervir na dinâmica natural da bacia. Uma das ferramentas bastante utilizadas para quantificar a estrutura da paisagem refere-se às métricas de paisagem (RIITERS, 2009). Estas têm sido amplamente utilizadas em estudos que visam evidenciar a estrutura da paisagem através da quantificação da mesma, a qual está diretamente relacionada e correlacionada com os processos associados a dinâmica do ambiente (PENG et al., 2010). A área de estudo, a bacia hidrográfica do rio Caripi, abrange os municípios de Maracanã (ao norte) e Igarapé-Açu (ao sul), os quais fazem parte de mesorregião nordeste paraense. Está inserida ao norte na microrregião do salgado e ao sul na microrregião bragantina. O nordeste paraense, mais especificamente a zona bragantina, corresponde à área de mais antiga colonização e, portanto, de ocupação, apresentando assim a paisagem bastante antropizada, em especial pela agricultura, com remanescentes florestais (matas de várzea e igapó) restritos às margens dos rios, apesar de muitos apresentarem-se empobrecidos em função do intenso uso da terra (SUN; SEGURA, 2013). Este trabalho teve por objetivo avaliar o grau de fragmentação vegetal das zonas ripárias da bacia hidrográfica do rio Caripi/Pará e o potencial hídrico associado. MATERIAIS E MÉTODO A bacia hidrográfica do rio Caripi (Figura 1) insere-se na categoria de clima megatérmico úmido, do tipo Am da classificação de Köppen, com temperatura média, durante todo o ano, em torno de 25º C a 27º C; a precipitação média anual de 2.344 mm, com forte concentração entre os meses de janeiro a maio (PACHÊCO; BASTOS, 2001). O comportamento da precipitação na região Amazônica indica a influência da atividade convectiva da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), como um dos principais mecanismos reguladores da variabilidade da precipitação que se estende da costa do Pará até o Amapá (SOUZA; ROCHA, 2006). Albuquerque et al. (2010) afirmam com relação à evolução da chuva sazonal, que existe uma transição muito brusca do período chuvoso XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2 – MAM (1.061 mm) para o período menos chuvoso – JJA (330 mm); o mesmo ocorrem, mas em menor intensidade, na transição de SON (178 mm) para DJF (774 mm). Figura 1 - Localização da área de estudo. Materiais Os dados vetoriais são oriundos das de 04 cartas topográficas na escala 1:100.000 que abrangem a área de estudo (Cartas SA-23-V-A-IV, SA-23-V-A-V, SA-23-V-C-I e SA-23-V-C-II) e os dados matriciais dizem respeito às seguintes imagens: LANDSAT 5 (cenas 223/061 imageadas em 27/07/1984, 21/06/1994 e 04/09/2004), LANDSAT 8 (cena 223/061 de 27/07/2013) e SRTM (cenas s01_w048_1arc_v3 e s02_w048_1arc_v3). As cartas topográficas digitais foram obtidas no sítio eletrônico da Diretoria de Serviço Geográfico do Exército. Os dados do programa LANDSAT e da missão SRTM foram conseguidos no sítio do Serviço Geológico Americano. A série de precipitação pluviométrica (mm/dia) corresponde as estações de Castanhal (cod. 00147007, 1973-2014), Nova Timboteua (cod. 00147019, 1996-2014) e Magalhães Barata (cod. 00047007, 1996-2014) gerenciadas pela Agência Nacional de Águas. Método Inicialmente foi criado um banco de dados espacial e após, procedeu-se a delimitação da bacia hidrográfica do rio Caripi por meio do módulo Arc Hydro, que trabalha acoplado ao SIG ArcGis. Este gera, a partir de um MDE (Modelo Digital de Elevação) o MDEHC (Modelo Digital de Elevação Hidrologicamente Consistido) que sofreu o processo de recondicionamento a partir da imposição de feições lineares sobre o mesmo, sendo que tais feições dizem respeito a rede de drenagem. Com a delimitação da bacia, partiu-se para a delimitação da zona ripária. Para tal, fez-se uso de dados e softwares específicos para análise e modelagem hidrológica como os programas Arcgis, Hidro e TerraView com módulo Hidro (TerraView Hidro). Os dados produzidos (extração de fluxo, área de contribuição e rede de drenagem) e a imagem SRTM mosaicada permitiram a geração do produto HAND, que representa o valor de distância vertical de cada pixel em relação à drenagem mais próxima. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3 Após a geração da imagem processada pelo algoritmo HAND, faz-se necessário o uso dos valores históricos de cotas de rio da região da área de estudo, os quais permitiram avaliar e deduzir os valores de cotas que indiquem as áreas de saturação hídrica e, assim, gerar a zona ripária. Como não há dados de cotas para o rio Caripi, fez-se uso dos valores de cotas do rio Caeté, que representa a bacia mais próxima a área de estudo (zona litorânea paraense) com estação de monitoramento da Agência Nacional de Águas – ANA (cotas da estação Nova Mocajuba - 32350000). Os dados de cotas (consistidos), perfazem o período de novembro de 1964 a agosto de 2006 e foram lidos no software Hidro 1.2. Desse modo, foi definido o valor de cota de 670 cm, que compreende aproximadamente 5% do tempo de permanência, para servir de limiar (máximo) na definição das possíveis áreas de saturação hídrica (zonas ripárias). Assim, após a definição do valor de cota, fez-se a inserção da imagem resultante da aplicação do algoritmo HAND no software de SIG ArcGIS e realizou-se a reclassificação da referida imagem em somente 2 classes, uma que seria até o valor de cota citado anteriormente e a outra como nodata (sem valor). Ou seja, a reclassificação da imagem do algoritmo HAND faz a seleção de pixels que possuem até o valor de 670 cm, valores maiores são desprezados, o que gera as áreas de saturação hídrica e, dessa forma, tem-se a delimitação da zona ripária da área de estudo. Visando analisar o processo de fragmentação florestal na área de estudo e de sua zona ripária fez-se uso das métricas de paisagem. Assim, a partir da identificação das formas de uso e cobertura da terra (Classes: Campo Natural, Pastagem, Mosaico de Ocupações, Vegetação Secundária, Floresta Secundária, Mangue, Agricultura) dos anos de 1984, 1994, 2004 e 2013, procedeu-se a análise quantitativa da paisagem por meio do software Fragstats versão 4.2 e do uso das métricas listadas na Tabela 1. Os resultados obtidos foram tratados no programa Statistica, empregando os métodos de análise hierárquica (AH) (MINGOTI, 2005) e análise de principais componentes (ACP) (MOITA NETO; MOITA, 1998). Tabela 1 - Métricas de paisagem utilizadas. Aspecto Principal Análise de Vizinhança Análise de Formas Análise de Vizinhança Análise de Heterogeneidade Análise de Vizinhança Métrica Unidade Métricas de Manchas (Patches) Índice de Proximidade (PROX) Índice de Círculo Circunscrito (CIRCLE) Índice de Contiguidade (CONTIG) Número de Fragmentos (NP) Índice de Conectância (CONNECT) PROX ≥ 0 Questão Ecológica Qual a proximidade de uma mancha ao seus vizinhos de mesma classe? Quão compactadas são as manchas em relação a uma circunferência de mesma área? Quanto mais próximo de 1, mais próxima é a área do círculo. Qual a Contiguidade interna (conexão espacial) das 0≦CONTIG≦1 manchas? Quanto mais próximo de 1 representa uma grande conectividade dentro dos fragmentos. Métricas de Classes 0< CIRCLE<1 NP ≥ 1 % Quantas manchas por classe há na paisagem? Qual o percentual de manchas conectadas de certa classe segundo dada distância? Fonte: Adaptado de Lang e Blaschke (2009). A estimativa de escoamento (Q) da precipitação (P) foi realizada utilizando o método Curva Número (CN) (GITIK; RANJAN, 2014). O método é baseado na equação do balanço hídrico (1) e em duas outras equações (2) e (3). Onde Ia corresponde a precipitação interceptada; F é a retenção XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4 cumulativa; e S é a capacidade máxima de retenção. Se P e o CN são conhecidos, o volume de escoamento superficial pode ser determinado. Admitindo-se que Ia corresponde a 20% de S (𝐼𝑎 = 0,2𝑆) e que CN varia entre 100 ≥ CN ≥ 0 tem-se a equação (5). Para avaliação do potencial hídrico da bacia de estudo, adotou-se este método pelo fato do mesmo contemplar as diferentes formas de uso e cobertura do solo, permitindo assim estimar seus efeitos. Foi considerada a média diária da precipitação a partir dos valores obtidos nas estações pluviométricas de Castanhal, Magalhães Barata e Nova Timboteua em julho/1984, junho/1994, setembro/2004 e julho/2013, similar ao desenvolvido por Latha et al. (2012). 𝑃 = 𝐼𝑎 + 𝐹 + 𝑄 𝑄 𝑃−𝐼𝑎 𝑆= 𝑄= 𝑄= = 𝐹 𝑆 25400 (1) (2) − 254 𝐶𝑁 (𝑃−𝐼𝑎 )2 𝑃−𝐼𝑎 +𝑆 (𝑃−0,2𝑆)2 𝑃+0,8𝑆 (3) (4) (5) RESULTADOS E DISCUSSÃO Na bacia do rio Caripi foi observado, pela relação entre o Número de Fragmentos (NP) de manchas de floresta ripária (FR) por categoria de formas de uso e cobertura do solo (Figura 2a), que a área de Campos Naturais foi a que registrou melhor evolução, aumentando de forma significativa em direção a 2013 (1,5% em 1984 e 27,5% em 2013), em todas as demais situações a tendência ou foi de redução ou de pouca variação. Em 2013 a faixa de FR coincidente com as áreas de vegetação secundária sofreu uma significativa redução (22% em 2004; 5,6% em 2013). As áreas de FR foram substituídas pelas áreas de Mosaico de Ocupações de forma mais expressiva, do que o ocorrido nas pastagens e zonas agrícolas, estas últimas decresceram cerca de 19% de 1994 a 2013 a pressão sobre as manchas de FR. As Figuras 2 (b, c, d) indicam que o ambiente encontra-se fragmentado, com manchas de FR irregulares (CIRCLE e CONTIG são mais próximos de 0). O resultado da matriz de correlação indicou que a função CONNECT foi a que apresentou a menor correlação com as demais categorias (< 0,00), demonstrando a baixa conexão entre as manchas. Quanto ao índice de PROX que serviu de base para análise de ACP, este mostrou-se variável no decorrer dos anos. Em 1984 a melhor proximidade entre as manchas se deu na pastagem (86%), em 1994 e 2004 nas áreas de vegetação secundária (74% e 91%), já em 2013 foi na área de campo natural (81%). Em todo o período analisado, as manchas de FR demonstraram um comportamento similar (fortemente positivo) nas áreas de pastagem, vegetação secundária e floresta secundária, indicando uma relação de transição entre estes ambientes (Figura 2 f, g, h). As manchas de FR nas áreas de agricultura e campo natural, apresentam em geral uma tendência mais positiva de proximidade, porém com áreas irregulares, o que pode definir ambientes onde as FR se conservam, porém de forma não muito homogênea. As áreas de mosaico de ocupações e mangue apresentam manchas de em geral heterogêneas (tendência negativa), indicando que nesses ambientes as áreas de FR encontram-se mais fragmentadas e pouco conectadas. Riitters et al. (2009) e Peng et al. (2010) indicam que as métricas são eficazes na quantificação de padrões espaciais, porém devem considerar a complexidade das várias componentes existentes, que no caso da bacia do rio Caripi está na integração no mosaico de manchas de cobertura florestal e sua relação com os cursos de drenagem. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5 NP CONTIG CIRCLE CONNECT PROX 0.0 0.1 0.2 0.3 NP NP CIRCLE CIRCLE CONTIG CONTIG CONNECT CONNECT PROX PROX 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 (1994) dist. 0.6 0.4 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 (2004) dist. (c) 0.5 0.6 0.7 0.8 (1984) dist. (a) (b) 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0 (d) NP CIRCLE CONTIG CONNECT PROX 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 (2013) dist. 0.5 0.6 (f) (e) (h) (g) Figura 2 - (a) Distribuição relativa ao Número de Fragmentos (NP) de floresta ripária (FR). AH: (b) 1984; (c) 1994; (d) 2004; (e) 2013. (f), (g) e (h) ACP: Índice de Proximidade (PROX); Índice de Círculo Circunscrito (CIRCLE); Índice de Contiguidade (CONTIG); Índice de Conectância (CONNECT); 1 - Campo Natural; 2 - Pastagem; 3 - Mosaico de Ocupações; 4 - Vegetação Secundária; 5 - Floresta Secundária; 6 - Mangue; 7 - Agricultura. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6 A Figura 3 apresenta o total do escoamento estimado, considerando as principais formas de uso e cobertura do solo. Onde o Q avaliado representa a média diária (mm) estimada para os meses de julho/1984, junho/1994, setembro/2004 e julho/2013, que encontram-se no período menos chuvoso da região. As áreas verdes (mangue, campo natural, floresta e vegetação secundárias) tendem a representar uma alta contribuição para o escoamento da bacia (Figura 3a). Considerando as manchas de FR que foram substituídas por manchas de mosaico de ocupações, pastagem e agricultura, observou-se que as maiores perdas devem ocorrer nas áreas agrícolas. (b) (a) Figura 3 – Estimativa do comportamento de Q (média diária) para a bacia do rio Caripi, segundo as diferentes formas de uso e cobertura do solo: (a) incremento; (b) perdas. Attanasio et al. (2012) descrevem as zonas ripárias como áreas dinâmicas da paisagem tendo delimitado uma área variável de afluência (AVA) correspondente a zona com saturação hídrica da microbacia com dinâmica dependente da quantidade e intensidade das precipitações a qual está sujeita. A estimativa do comportamento do escoamento (Q) proposta reforça essa relação, que pode ser também observada a partir das diferentes formas de uso e cobertura do solo, conforme discutido por Latha et al. (2012) e Gitik e Ranjan (2014), que aplicam o método Curva Número para caracterização do comportamento do escoamento. CONCLUSÃO A bacia do rio Caripi apresenta uma evolução que indica um aumento da fragmentação da cobertura vegetal, afetando as áreas de florestas ripárias, que exercem uma contribuição positiva para a manutenção do potencial hídrico de uma bacia hidrográfica. A adoção das métricas de paisagem permitiu quantificar esta relação e estabelecer uma ligação com uma estimativa do potencial de escoamento da bacia pela adoção do método Curva Número. Onde se observou uma alta correlação entre as variáveis da dinâmica do uso da terra e de estrutura da paisagem. A deficiência de monitoramento hidrológico, principalmente nas bacias costeiras que são sujeitas ao efeitos das marés, demanda por formas de estimativa e avaliação do comportamento hidrológico que possibilitem prever as mudanças decorrentes de seu processo de uso e ocupação. Na bacia do rio Caripi observou-se que a tendência de mudança dos elementos de maior influência na paisagem existe a no mínimo três décadas, em que as perdas no potencial de abastecimento hídrico já são observadas pelos registros de campo. Logo, existe uma importância na manutenção de cada ambiente componente da paisagem, tanto representativo das formas de cobertura quanto de uso e ocupação, para garantia das condições de escoamento e para a conversão deste em vazão ou recarga subterrânea. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7 REFERÊNCIAS ABELL, R.; ALLAN, J.D.; LEHNER, B. (2007). Unlocking the potential of protected areas for freshwaters. Biological Conservation 134(1), pp. 48-63. ALBUQUERQUE, M. F.; SOUZA, E. B.; OLIVEIRA, M. C. F.; SOUZA JUNIOR, J. A. (2010). Precipitação nas mesorregiões do estado do Pará: climatologia, variabilidade e tendências nas últimas décadas (1978-2008). Revista Brasileira de Climatologia 6(6), pp. 151-168. ATTANASIO, C. 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