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VARIAÇÃO GENÉTICA EM PROGÊNIES DE Mabea fistulifera Mart. EM SISTEMA DE PLANTIO MISTO NA REGIÃO DE SELVÍRIA – MS Mariana Regina Durigan1; Izabel Afonso1 Ana Carolina Takano Malavolta1; Silvelise Pupim1; Daniela Araújo1; Carlos José Rodrigues2; Mario Luiz Teixeira de Moraes1 ( 1Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira – UNESP, Av. Brasil Centro, 56, CEP- 15835000, Ilha Solteira, SP. email: [email protected] 2Companhia Energética de São Paulo – CESP) Termos para indexação: bancos de germoplasma; canudo-de-pito; conservação genética ex situ; parâmetros genéticos; teste de progênies Introdução Em termos florísticos, depois da floresta amazônica e da mata atlântica, o cerrado é o ecossistema mais importante do Brasil e o segundo em extensão, abrangendo mais de dois milhões de quilômetros quadrados (CRESTANA et al., 2004). Por apresentar a maior extensão contínua de terras para a agricultura (EMBRAPA, 1994), seu potencial agrícola é indiscutível. A região constitui a maior e uma das últimas reservas do Globo, capaz de suportar de modo imediato, a produção de cereais e a formação de pastagens (PINTO et al., 1993). Por esse motivo, a vegetação original do cerrado vem sendo destruída e em seu lugar, vem surgindo à agricultura intensiva, como a produção de grãos, cana-de-açúcar, citros, além da pecuária e do reflorestamento (CRESTANA et al., 2004). Apesar de ser considerável o número de espécies arbóreas nativas que constituem a devasta flora deste bioma o intenso desmatamento tem ocasionado uma grande erosão genética dessas espécies. Sendo assim, é cada vez mais importante que estudos sejam elaborados para que este ecossistema possa ser manejado periodicamente e de forma sustentável, sem comprometer o seu povoamento, a partir de pesquisas que visem à conservação genética ex situ a partir da formação de bancos de germoplasma, a fim de que a variabilidade genética das mesmas seja mantida. Uma das espécies que se destaca, é o canudo-depito (Mabea fistulifera), pertencente à família Euphorbiaceae. Por apresentar-se como árvore de porte elegante, é considerada como sendo própria para arborização de ruas estreitas sob redes elétricas. Caracteriza-se por ser heliófita, pioneira e também por ser encontrada em vegetação secundária de terrenos arenosos, principalmente do cerrado e de sua transição para floresta semidecídua. Por ser adaptada a luz direta e pouco exigente em solos é ótima para plantios mistos destinados a restauração ecológica (LORENZI, 1992). Apresenta casca áspera, de cor marrom-escura, com tronco ereto e ramos flexuosos, levemente achatados e com látex abundante e suas flores são unissexuais, pequeninas, dispostas em racemos ferrugíneos terminais pêndulos (DURIGAN et al., 2004). As flores de M. fistulifera apresentam grande quantidade de néctar, o que a faz ser visitada por várias espécies. Vieira et al. (1991), estudando a ecologia da polinização da espécie, observaram que sua inflorescência é alimento atrativo para abelhas, gambás, macacos, aves e morcegos. Sem dúvida, um aspecto relevante, uma vez que estes possam ajudar na dispersão destas e de outras sementes. Porém, sua madeira é leve, mole e de baixa durabilidade, prestando-se apenas para obras internas leves, confecção de embalagens leves e brinquedos. Produz anualmente grande quantidade de sementes, chegando a 9.600 sementes por quilograma. Ocorre no Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais (LORENZI, 1992). É considerada promissora pelo néctar abundante de suas inflorescências, sendo visitada por várias espécies de abelhas (GOULART et al., 2005) e também por produzir anualmente grande quantidade de sementes (LORENZI, 1992). Rezende, et al.(s/d), estudando os aspectos fitossociológicos da regeneração natural de espécies florestais nativas no sub-bosque de um talhão de Eucalyptus grandis, e em diferentes estádios sucessionais de florestas secundárias da Zona da Mata de Minas Gerais, constataram que M. fistulifera apresentou o maior valor para a regeneração natural relativa, o que confere relevância ao estudo feito para adquirir mais informações sobre esta espécie. Dada a ocorrência e a importância desta espécie para o bioma cerrado este trabalho tem por objetivo principal avaliar o potencial de uma população de M. fistulifera para efeito de conservação genética ex situ. Material e Métodos Foi instalado em junho de 2006 um teste de progênies de M. fistulifera (população procedente de Castilho - SP) na Fazenda de Ensino, Pesquisa e Extensão da FEIS/UNESP, localizada em Selvíria-MS. O delineamento utilizado foi o de blocos completos casualizados com 30 tratamentos (progênies) e 14 repetições, com 1 planta por parcela na forma linear, sendo que entre cada progênie desta espécie, foram plantadas, em consórcio, mais outras três espécies arbóreas, também na forma de progênies: Cordia trichotoma (Louro-pardo), Myracroduon urundeuva (Aroeira) e Jacaranda cuspidifolia (Jacarandá- caroba), no espaçamento de 3x2 metros. Um ano e meio após o plantio foram avaliados os caracteres altura (ALT, m), diâmetro médio da copa (DMC, m), diâmetro a altura de 30 cm (DA3, cm) e sobrevivência (SOB, %). As estimativas dos parâmetros genéticos foram obtidas com base em Resende (2002a,b) com o programa SELEGEN, utilizando-se do procedimento REML/BLUP (Máxima verossimilhança restrita/Melhor preditor linear não viciado). Resultados e Discussão O desenvolvimento, em altura (ALT), da população de M. fistulifera estudada apresentou média geral de 3,06 m, o que representa um Incremento Médio Mensal de 0,15 m. Em relação ao diâmetro médio da copa (DMC), a média obtida foi de 3,63 m e para o diâmetro do caule a 30 cm (DA3), foi de 0,057 m. A variação genética entre as progênies não foi tão expressiva, sendo que esta variabilidade se destacou mais para o caráter sobrevivência (SOB), que fica mais evidente no coeficiente de variação genética (CVg = 10,78%) encontrado. As estimativas de herdabilidade, em nível de média de indivíduos: ĥ 2 = 0,03 (ALT), ĥ 2 =0,01 (DMC), ĥ 2 = 0,04 (DA3) e ĥ 2 = 0,30 (SOB) foram muito baixas, indicando que ainda é cedo para detectar possibilidades de obtenção de ganhos na seleção. As acurácias ( râa ) apresentaram baixa correlação entre o valor genético verdadeiro do indivíduo e o índice fenotípico utilizado para estimá-lo, conforme pode ser visto na Tabela 1. Os níveis de variação genética e de precisão experimental encontrados foram diferentes em relação àqueles citados por Moraes et al. (2006), analisando várias populações de M. urundeuva, na forma de testes de progênies em diferentes condições de plantio. Apesar da população de M. fistulifera estudada, nesta fase juvenil, ter apresentado baixa variabilidade genética, ainda é cedo para saber se haverá ou não possibilidade de ganhos na seleção, pois existe a possibilidade de manifestação da variação genética na fase adulta. Porém, para o caráter sobrevivência, a espécie apresentou resultados satisfatórios, o que permite que a mesma possa ser utilizada em programas de conservação genética ex situ e que forneça material para a formação de Pomares de Sementes, com qualidade genética comprovada, para fomento desta espécie, considerando que uma das características da mesma é a colonização de ambientes degradados por ação antrópica no cerrado. Tabela 1. Estimativas da média geral ( mˆ ), coeficiente de variação experimental (CVe), acurácia (rˆaa ), herdabilidade média ( hˆ m 2 ), coeficiente de variação genética (CVg) e Teste-F para o teste em progênies de uma população de Mabea fistulifera em plantio consorciado com o aroeira (Myracrodruon urundeuva), louro-pardo (Cordia trichotoma) e jacarandá-caroba (Jacaranda cuspidifolia) em Selvíria - MS. Caráter m̂ CVe(%) ALT 3,06 24,04 0,17 DMC 3,63 25,38 DA3 0,057 SOB 0,69 2 hˆm CVg(%) F (Pr>F) 0,03 1,15 1,03 (<.0001) 0,12 0,01 0,82 1,01 (<.0001) 34,22 0,20 0,04 1,91 1,04 (<.0001) 61,66 0,54 0,30 10,78 1,42 (<.0001) rˆaa ALT: altura (m); DMC: diâmetro médio da copa (m); DA3: diâmetro do caule a 30 cm (m) e SOB: sobrevivência ( m). Conclusão O sistema de plantio consorciado utilizado em progênies de Mabea fistulifera com Cordia trichotoma, Jacaranda cuspidifolia e Myracrodruon urundeuva é promissor. A população de Mabea fistulifera apresenta pouca variação genética, o que não a recomenda como base para um programa de melhoramento genético, mas tem potencial de utilização na forma de conservação genética ex situ em função da degradação antrópica em que se encontra a população natural. Referências bibliográficas CRESTANA, M.S.M. et al. Florestas: sistema de recuperação com essências nativas, produção de mudas e legislações. 2.ed. Campinas: CATI, 2004. 216p. DURIGAN, G.; BAITELLO, J.B.; FRANCO, G.A.D.C.; SIQUEIRA, M.F. Plantas do cerrado paulista: imagens de uma paisagem ameaçada. São Paulo. Páginas & Letras Editora e Gráfica, 2004. 475p. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – Embrapa. Atlas do meio ambiente do Brasil. Brasília, DF: Embrapa/Serviço de Produção de Informação-SPI, 1994. 138p. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 3. ed. Nova Odessa: Plantarum,1992. 368p. MORAES, M.L.T.; RODRIGUES, C.J.; MORI, E.S. Delineamento de pomar multiespécies. In: HIGA, A.R. & SILVA, L.D. Pomar de sementes de espécies florestais nativas. Curitiba: FUPEF, 2006. PINTO, M.N. et al. Cerrado: caracterização, ocupação e perspectivas. 2.ed. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília, 1993. 681p. RESENDE, M.D.V. Genética biométrica e estatística no melhoramento de plantas perenes. Brasília: EMBRAPA Informação Tecnológica, 2002a. 975p. RESENDE, M.D.V. Software SELEGEN – REML/BLUP. Colombo: EMBRAPA – CNPF, 2002b. 67p. (Série documentos, 77). REZENDE, M.L.; VALE, A.B.; SOUZA, A.L.; REIS, M.G.F.; SILVA, A.F.; NEVES, J.C.L. Natural reneration of native trees in Eucalyptus grandis undergrowthand secunday forest in Viçosa, Zona da Mata – Minas Gerais, Brazil. Sociedade Brasileira de Silvicultura .http://www.sbs.org.br/destaques_regeneracao.doc visitado em: 28.06.2008