Celeus obrieni
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Celeus obrieni
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS Campus Universitário de Porto Nacional Programa de Pós Graduação em Ecologia de Ecótonos ECOLOGIA ALIMENTAR DO PICA-PAU-DO-PARNAÍBA (CELEUS OBRIENI) GABRIEL AUGUSTO LEITE Porto Nacional -TO Agosto de 2010 GABRIEL AUGUSTO LEITE ECOLOGIA ALIMENTAR DO PICA-PAU-DO-PARNAÍBA (CELEUS OBRIENI) Dissertação apresentada ao Programa de Pós graduação Stricto Sensu em Ecologia de Ecótonos da Fundação Universidade Federal do Tocantins, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ecologia de Ecótonos. Orientador: Prof. Dr. Renato Torres Pinheiro Co-orientador: Prof. Dr. José Eugênio Cortes Figueira Porto Nacional – TO Agosto de 2010 A Deus Aos meus amados Pais: Fátima e Luis Minha querida avó: Dona Maria Meu amigo e irmão: Perna “Escolhes um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”. Confúcio Agradecimentos Primeiramente agradeço a Deus por ter me concedido o Dom da Vida e embora por muitas vezes quisesse desistir foi nele que encontrei conforto e coragem para continuar esse caminho, sou eternamente grato. Aos meus mais que amados Pais: Dona Fátima e seu Luis Leite, por me apoiarem sempre, orando para que eu ficasse bem e tenho certeza que sem essa intercessão não estaria aqui. Mesmo morando esses dois anos longe nunca deixei de sentir a presença deles comigo, Dona Fátima sempre falando para eu rezar, e quando chegava em casa vazia a melhor comida do mundo, além de lavar minhas poucas roupas que levava. Ao Pai, sempre me apoiando, me ensinando a ser um homem de verdade, honesto, corajoso... Ao meu irmão e cunhada: Wagner e Michele, também sempre torcendo por mim. Minha amada avó: Dona Maria que também nunca parou de rezar por mim e sempre que via um passarinho no sitio lembrava da minha pessoa. Aos meus Padrinhos: Dona Cândida e seu Antonio pelo apoio, meus tios: Paulo, Dora, João, Eliana, Lazaro, Toninho, Dimas, Zé, Silvana, Lurdes e primos: Rafaela, Micaela, Anajara, Priscila, Amarildo, Camila, Dionísia, Paulinho, Adriana que também sempre torceram esse primo maluco. Aos meus amigos do bairro: Zé, Guiliu, Guaxupa, Tic, Gui, Rodolfo, Mardito, Tom, Elvis, Teixeira, Juninho, Rodolfo, Julio, Jardel, Tuti, que também torceram por mim e sempre que voltava para São José saímos para tomar umas, contar as novidades e relembrar as histórias. Ao meu querido e melhor amigo: Perna (Rafael), que embora não estando mais aqui, sempre me ouviu, me apoiou e torceu por mim, agradecimento especial a essa figura que agora esta no céu. Aos meus amigos da Facul (Univap): Aline, Cibele, Jack, Erika, Ana, João, Thiaguinho, Marcelo, Boi, Renata, embora a gente pouco se vê torcemos uns pelos outros nessa vida de Biólogo, a ajuda e o carinho de vocês também foi essencial, ao Felipe pela ajuda nos esquemas de comportamento. Ao Prof, orientador e camarada Renato Torres Pinheiro, por me aceitar mesmo não me conhecendo e me orientar nesse trabalho e tantos outros, aprendi muito nesses dois anos, valeu pela paciência em me aguentar nos churrascos. Ao Zé Eugênio, pela idéias para o trabalho e força na estatística, sem você também seria complicado terminar. Pela receptividade da minha ida a Belo Horizonte. A Jacques Delabie, pela identificação das formigas, ajudou muito nesse trabalho. Ao Museu Paraense Emilio Goeldi, representados por Alexandre Aleixo e Marcos Pérsio, pela disponibilização dos materiais biológicos. Ao Amigão: Marcão, camarada, mesmo morando junto mais de um ano e meio, sempre tínhamos o que conversar e dar risada, idas no campo, lifers, e umas cervejas de vez em quando. Aos amigos do Laboratório EcoAves: Elivânia, Túlio, Suélen, Yana, Marcelo, Dianes e Paulera, pelas horas de conversa e discussões, em especial Dianes pela ajuda nas saídas de campo e nos perrengues. Elivânia, Marcelo e Túlio pela força quando cheguei em Palmas sem conhecer ninguém, Suélen e Yana pelas conversas descontraídas e saídas a campo também. Aos Amigos que fiz em Palmas: Denise, Weilan, João, Vero, Fran, Nildinha, Joyce, Tony, Jack, Patrick, pelas horas de descontração, baladas, e algumas cervejas. Ao Noel, meu querido carro, que aguento firme mais essa empreitada, sofreu um pouco, mas conseguimos. Aos amigos que fiz nessa vida de Biólogo e congressos: Aline (Sampa), Carol (Rio), Lore (Paraná), Cyntia (Minas), Gustavo (Rio), pelo apoio e conversas no MSN, embora estando longe, sempre estamos ligados e torcendo uns pelos outros. A Fundação O Boticário e a SAVE Brasil, pelo apoio financeiro ao trabalho, sem isso dificilmente terminaria esse projeto. Ao CNPq pela bolsa concedida, a Neotropical Grassland Conservancy (NCG) pelos equipamentos doados, a Universidade Federal do Tocantins e a Universidade pelo apoio institucional. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Mapa mostrando os registros históricos (azul) e os recentes (vermelho) de Celeus obrieni no Cerrado. 1 – São Pedro da Água Branca, MA; 2 – São João dos Patos, MA; 3 – Uruçui, PI; 4 – Goiatins, GO; 5 – Miranorte, TO; 6 – Divinópolis, TO; 7, 8 e 9 – Pium, TO; 10 – Fátima, TO; 11 , 12 e 13 Minaçu, GO; 14 – Novo Planalto, GO; 15 – Novo Mundo, GO; 16 – Nova Crixás, GO; 17 – Niquelândia, GO; 18 – Guapó, GO; 19 – Cezarina, GO, 20 – Caiapônia, GO; 21 – General Carneiro, MT (Pinheiro et. al. no prelo 2010).................................................................................................................5 Figura 2. Mapa do município de Pium com as áreas amostradas...................................6 Figura 3. Cerrado com o bambu Guadua paniculata (Fazenda Ouro Verde)..................7 Figura 4. Mensurando a distância do entrenó furado ao chão.......................................9 Figura 5. Mensurando o furo feito por Celeus obrieni.................................................9 Figura 6. Verificando o entrenó e coletando amostras de formigas............................11 Figura 7. Comportamento de forrageamento de Celeus obrieni. A e B indicam o comportamento de procura; C mostra o comportamento de ataque no qual a ave fura o entrenó e procura as formigas com a língua e D comportamento de tamborilar e esperar as formigas saírem do entrenó. ......................................................................................13 Figura 8. Entrenó com furo feito por formigas (Circulo vermelho) e na parte inferior direita, furo feito por Celeus obrieni (Circulo azul)....................................................14 Figura 9. Celeus obrieni procurando alimento dentro do entrenó..................................15 Figura 10. Número de furos feitos por Celeus obrieni nos entrenós durante as observações diretas de forrageamento.............................................................................16 Figura 11. Relação entre número de furos e o comprimento do entrenó nas hastes onde se observou Celeus obrieni forrageando.........................................................................16 Figura 12. Distribuição de número de furos por entrenó encontrados sem avistamentos de Celeus obrieni............................................................................................................17 Figura 13. Distância do furo ao nó inferior do entrenó, classificados a cada 5 cm.......18 Figura 14. Distância dos furos à base do entrenó nas hastes encontradas furadas.........19 Figura 15. A) Estratificação da altura de forrageamento obtida a partir das observações de Celeus obrieni buscando alimento e B) Estratificação da altura dos entrenós encontrados furados nas hastes. C) Estratificação da altura em que as colônias de formigas foram encontradas nas hastes...........................................................................20 Figura 16. Frequência do número de colônias de formigas por hastes...........................21 LISTA DE TABELAS Tabela 1. TEST U de Mann Withiney com as médias das variáveis mensuradas nas hastes de bambu, em que foi observado Celeus obrieni forrageando (FO), hastes encontradas com furos (CF), e hastes sem furo do ambiente (SF).................................21 Tabela 2. Frequência das espécies de formigas e outros insetos encontrados nas hastes secas e verdes que Celeus obrieni forrageou, nas hastes com furos e sem furos...............................................................................................................................26 Tabela 3. Conteúdo alimentar encontrado nos estômagos dos três indivíduos analisados.......................................................................................................................28 Tabela 4. Tamanho dos furos, altura de forrageamento (média) e tipo de alimento observados em Celeus obrieni, Veniliornis passerinus e Picumnnus albosquamatus nas hastes de bambu............................................................................................................29 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO Esta dissertação esta apresentada em forma de artigo científico, o qual será submetido à revista The Auk. As normas para a publicação encontram-se em anexo (Anexo A). Após as correções finais das sugestões de cada avaliador e depósito da versão final na secretária de Pós-Graduação em Ecologia de Ecótonos, o artigo será traduzido para o inglês, algumas figuras serão retiradas a parte das conclusões será fundida com a discussão e será submetido à revista supracitada. O artigo contará com co-autoria dos pesquisadores envolvidos. Lembrando que esta dissertação faz parte do Projeto Ecologia e Distribuição de Celeus obrieni, no qual dois manuscritos já foram enviados para publicação. O primeiro com o título “NEW RECORDS OF THE CRITICALLY ENDANGERED KAEMPFER WOODPECKER CELEUS OBRIENI AND CONSERVATION IMPLICATIONS IN CENTRAL BRAZIL”, foi enviado para a revista Bird Conservation Internacional. O segundo com o título “FIRST DESCRIPTION JUVENILE PLUMAGE OF THE CRITICALLY ENDANGERED KAEMPFER'S WOODPECKER (CELEUS OBRIENI) OF CENTRAL BRAZIL”, foi enviado para a revista Ornitologia Neotropical, sendo aceito para publicação no próximo número. SUMÁRIO Resumo..............................................................................................................................1 Abstract..............................................................................................................................2 1. Introdução......................................................................................................................3 2. Material e métodos........................................................................................................5 3. Resultados...........................................................................................................13 4. Discussão............................................................................................................29 5. Conclusões..........................................................................................................35 5. Referências.........................................................................................................36 Anexo A...................................................................................................................41 RESUMO O pica-pau-do-parnaíba Celeus obrieni é uma das espécies de aves menos conhecidas do cerrado, possuindo poucos dados sobre sua ecologia, incluindo a alimentação. Verificamos as técnicas de forrageamento da espécie, alimentos consumidos e a disponibilidade de recursos em áreas de cerradão com bambu no município de PiumTO, entre 2008 e 2010. Foram realizadas observações diretas para verificar as estratégias de forrageamento e coletadas amostras do alimento consumido. Para verificar a disponibilidade de recursos as hastes de bambu foram selecionadas aleatoriamente e individualmente mensuradas, coletando-se amostras de insetos. A estratégia de forrageamento adotada por Celeus obrieni foi a de escalar, bicar e procurar alimento dentro dos entrenós do bambu (Guadua paniculata). A ave alimentou-se exclusivamente de formigas, sendo as espécies Camponotus depressus e Azteca fasciata as mais consumidas e as mais frequentemente encontradas nas hastes de bambu perfuradas por C. obrieni. Com respeito à disponibilidade de formigas, observou-se que 40% das hastes continham formigas, sendo C. depressus, C. atriceps e A. fasciata as mais frequentes. C. obrieni tende a procurar alimento em uma altura média de 3 m e alimenta-se preferencialmente de C. depressus nas hastes secas e de A. fasciata nas hastes verdes. Apesar de C. atriceps ter sido mais frequentemente encontrada nas hastes de bambu, C. depressus foi mais predada por C. obrieni. Palavras chaves: Ecologia Alimentar, Celeus obrieni, bambu, formigas ABSTRACT Kaempfer’s Woodpecker is one of the less known bird from Cerrado and ecological data including foraging information is lacking. Foraging techniques, food intake and food resource availability were verified in Cerradão with bamboo vegetation at Pium municipality, Tocantins State, between 2008 and 2010. Foraging strategies and food consumed information were gathered in field. To verify food availability, bamboo stems were randomly selected and individually measured, also insects were collected. Celeus obrieni adopted the climb, peck and search for food inside Guadua paniculata bamboo stems. Kaempfer’s Woodpecker fed exclusively on ants. Camponotus depressus and Azteca fasciata were the most consumed and frequent ants on the perforated bamboo stems. Respect to ant availability, 40% of the canes had ants inside and C. depressus, C. atriceps and A. fasciata the most frequent ant species found. C. obrieni tend to search for food on 3 m and a half from the ground and select to feed C. depressus on the dry stems and A. fasciata on the green stems. Although C. atriceps was the most frequent ant found on the canes C. depressus was the most consumed by C. obrieni. Key words: Foraging ecology, Kaempfer's Woodpecker, bamboo, ant 1 - INTRODUÇÃO O pica-pau-do-parnaíba, Celeus obrieni foi descrito por Short (1973), a partir de um único exemplar coletado em 1926 por Emil Kaempfer na região de Uruçui, sul do Piauí. Primeiramente era considerado como uma subespécie de Celeus spectabilis (Celeus spectabilis obrieni) que ocorre na Amazônia entre o Peru e o Estado do Acre e apresenta semelhanças morfológicas com Celeus obrieni (Sick 1997). Desde a sua descoberta a ausência de novos registros criou uma expectativa sobre a existência da espécie, a qual era dada como provavelmente extinta (Tobias et al. 2006). Em outubro de 2006, após 80 anos da sua coleta no Piauí, uma fêmea de Celeus obrieni foi capturada em Goiatins, nordeste de Tocantins, 400 Km a sudoeste da localidade tipo da espécie (Prado 2006). Celeus obrieni é uma das espécies de aves menos conhecidas do Cerrado, com poucos registros de distribuição (Fig. 1), falta de dados sobre a história natural e requerimentos ecológicos (Pinheiro et al. no prelo 2010), como é o caso da alimentação. Atualmente a espécie é considerada “Criticamente Ameaçada”, pelo fato de aparentemente ter uma população extremamente pequena. No entanto, supõe-se que com o atual aumento da sua área de distribuição é provável que a espécie seja retirada dessa categoria de ameaça num futuro próximo (IUCN 2010). Sabe-se que pica-paus alimentam-se principalmente de insetos e suas larvas, no entanto, alguns membros desta família têm como base de sua dieta plantas e seiva de árvores (Winkler and Christie 2002). Dentre algumas espécies neotropicais, Celeus flavescens prefere frutas como o mamão, caqui, bananas e até néctar de flores, além de cupins (Sick 1997, Rocca et al. 2006). Já C. spectabilis se alimenta de formigas, mas também chega a forragear espécies de dípteros quando filhote (Kratter 1997, Lloid 2000). Outros estudos complementares sobre a ecologia alimentar de pica-paus, realizada na maioria dos casos com espécies do hemisfério Norte, analisaram as técnicas de forrageamento das espécies, visando identificar sua especialização em algum item alimentar ou substrato (Hooper and Lennartz 1981, Engstrom and Sanders 1997) e se o uso do habitat e a busca de alimento mudam com as estações do ano (Pettersson 1983, Block 1991). A altura de forrageamento em árvores também foi verificada em estudos de ecologia alimentar em pica-paus, visando saber se existe uma relação entre a oferta de alimento em determinados substratos, diâmetros das árvores e estações do ano e ainda se existem diferenças entre espécies ou entre sexos da mesma espécie (Jackson 1970, Villard 1994). Estudos dessa natureza com as espécies de pica-paus dos neotrópicos são escassos ou inexistentes, sendo necessários, principalmente em se tratando de espécies ameaçadas de extinção. Por meio do estudo da dieta das aves pode-se definir se a espécie é especialista ou generalista quanto aos recursos utilizados, e se o grau de especialização depende da semelhança dos recursos consumidos e de sua abundância no meio ambiente (Recher 1990). Neste sentido, os objetivos desse trabalho foram: a) identificar o ambiente e substrato preferencial de forrageamento, b) verificar quais as técnicas de forrageamento utilizadas por Celeus obrieni, c) identificar presas consumidas e sua relação com o substrato. A obtenção destas informações é de extrema importância para o delineamento de estratégias visando a conservação desta espécie ameaçada de extinção. Fig. 1 - Mapa mostrando os registros históricos (azul) e os recentes (vermelho) de Celeus obrieni no Cerrado. 1 – São Pedro da Água Branca, MA; 2 – São João dos Patos, MA; 3 – Uruçui, PI; 4 – Goiatins, GO; 5 – Miranorte, TO; 6 – Divinópolis, TO; 7, 8 e 9 – Pium, TO; 10 – Fátima, TO; 11 , 12 e 13 Minaçu, GO; 14 – Novo Planalto, GO; 15 – Novo Mundo, GO; 16 – Nova Crixás, GO; 17 – Niquelândia, GO; 18 – Guapó, GO; 19 – Cezarina, GO, 20 – Caiapônia, GO; 21 – General Carneiro, MT (Pinheiro et al. no prelo 2010). 2 - MATERIAL E MÉTODOS 2.1- Área de Estudo O estudo foi realizado no município de Pium, TO (Fig. 2), oeste do Estado do Tocantins, na planície do rio Araguaia, região com relevo suave, variando entre 100 m e 300 m de altura. O clima da região é tropical úmido com uma estação chuvosa entre outubro e abril e o período seco de maio e setembro. A temperatura média anual varia entre 24°C e 26°C nos meses de chuva e entre 28°C e 35°C na seca. As precipitações médias anuais variam entre 1.800 mm ao norte e a leste, e 1.000 mm ao sul do Estado (SEPLAN, 1997). Fig. 2 - Mapa do município de Pium com as áreas amostradas. Os dados foram coletados entre agosto de 2008 e janeiro de 2010 em três fragmentos de mata, nas Fazendas Javaés (1.400 ha), Ouro Verde (1.600 ha) e Brasil Palmeiras (440 ha), no município de Pium-TO (49°46'54"O 10° 2'9.30"S). Os locais amostrados apresentam uma vegetação típica de cerradão com o dossel podendo chegar a 17 m e contendo espécies arbóreas como o Pau-de-Jangada (Apeiba echinata), Jatobá (Hymenaea courbaril), Tucum (Bactris glaucescens), Pequi (Caryocar brasiliense), Embaúba (Cecropia sp), dentre outras, mescladas com o bambu Guadua paniculata (Fig. 3) ,espécie aparentemente essencial para Celeus obrieni (Pinheiro and Dornas 2008 e Dornas et al. 2009). Fig. 3 – Cerrado com o bambu Guadua paniculata (Fazenda Ouro Verde). 2.2- Amostragem Foram selecionados 30 pontos fixos nas propriedades onde se verificou a ocorrência de Celeus obrieni, sendo 15 na Fazenda Ouro Verde, 13 na Javaés e dois na Brasil Palmeiras, distantes entre si em pelo menos 500m e cobrindo uma maior área possível de cerradão com o bambu Guadua paniculata onde já se havia observado Celeus obrieni previamente. As visitas às áreas foram realizadas mensalmente durante 10 dias quando cada ponto era amostrado diariamente. 2.3 Ecologia Alimentar Para estudo da ecologia alimentar de Celeus obrieni, foram consideradas estratégias de forrageamento e dieta. Visando observar o comportamento das aves, estas foram atraídas por meio da reprodução do seu canto emitido por caixa acústica durante 5 minutos em cada um dos pontos de amostragem. Não havendo resposta o observador se deslocava para o ponto seguinte. Havendo resposta e localização do indivíduo, este era observado por um tempo indeterminado a uma distância que não interferia no seu comportamento. a) Estratégias de Forrageamento Para definir as estratégias de forrageamento foram realizadas observações diretas da espécie em atividade, seguindo a classificação proposta por Remsen and Robinson (1990), sendo definidos os seguintes parâmetros: 1) comportamento de procura; 2) comportamento de ataque; 3) local de forrageio; 4) item alimentar; 5) manipulação do item alimentar. Os termos utilizados para caracterizar o comportamento de ataque foram traduzidos para o Português seguindo o proposto por Volpato and Mendonça-Lima (2002). b) Local de Forrageamento Depois que cada indivíduo era observado forrageando no bambu, foram obtidas informações e realizadas medidas de cada haste utilizada pela ave: comprimento total e diâmetro na altura do peito medidos com trena de 5 m e paquímetro, comprimento do entrenó onde a ave foi observada fazendo furos para busca de alimento, distância do entrenó que foi furado ao chão (Fig. 4) e distância do furo ao nó inferior do entrenó, número de furos por entrenó; tamanho dos furos, medido com paquímetro (Fig. 5). As hastes foram por sua vez classificadas em verde ou seca. Quando a busca por alimento se realizou em outra espécie vegetal foram coletadas amostras para sua identificação. Fig. 4 – Mensurando a distância do entrenó furado ao chão. Fig. 5 – Mensurando o furo feito por Celeus obrieni. Para determinar a altura preferencial de forrageio nas hastes de bambu, estas foram categorizadas em estratos de 1 m cada. Visando constatar a altura preferencial para busca de alimento em cada entrenó, a distância do furo ao nó inferior também foi estratificada em intervalos de 5 cm. Para ampliar as informações sobre a dieta, entre julho e setembro de 2009, foram selecionadas aleatoriamente 25 hastes que continham furos feitos pela espécie em todos os pontos onde Celeus obrieni foi observado. Cada furo foi inspecionado criteriosamente, a fim de evitar mensurar furos feitos por outras espécies de pica-pau. Se numa mesma haste existisse mais de um entrenó com furo este também era mensurado e classificado como segundo entrenó furado e assim por diante. Os entrenós que continham furos foram abertos e inspecionados em busca de itens alimentares potenciais. Quando achados, esses foram coletados e armazenados (veja descrição a seguir). Estas informações sobre os itens encontrados nos entrenós furados também permitiram a comparação entre as hastes onde se observou o uso direto por Celeus obrieni de maneira a verificar possíveis diferenças na taxa de ocupação entre elas. c) Tipo de Alimento Quando Celeus obrieni foi observado forrageando procurou-se realizar uma identificação prévia do tipo de alimento com auxílio de binóculo (8 x 42). Após abandonar o substrato o entrenó era aberto, sendo considerado como ocupado se houvessem formigas adultas, pupas, ovos, ou outros insetos que eram coletados. As amostras foram acondicionadas em tubos de ensaio com álcool 90% e encaminhadas para análise pelo Dr. Jacques Hubert Charles Delabie do Laboratório de Mirmecologia, Convênio UESC/CEPLAC, Centro de Pesquisas do Cacau – CEPE, Itabuna, Bahia. Para determinar a disponibilidade de formigas e outros insetos no ambiente, foram feitas coletas em dezembro de 2009, em todos os pontos onde foi observado Celeus obrieni, sendo amostradas 30 hastes de bambu, 15 secas e 15 verdes, todas elas sem os furos característicos da espécie de pica-pau estudada. Em cada haste foram tomadas medidas do comprimento total e DAP. Posteriormente estas foram abertas e os entrenós verificados um a um (Fig. 6). Quando encontrado algum tipo de artrópode (adulto, larva, ninfa) em seu interior o entrenó era mensurado (diâmetro, comprimento e distância em relação ao solo). Fig. 6 – Verificando o entrenó e coletando amostras de formigas. A coleta destas informações permitiu verificar a disponibilidade de recursos dentro das hastes de bambu e sua distribuição espacial, bem como investigar se Celeus obrieni de alguma maneira seleciona os locais e hastes onde é maior a disponibilidade de alimento. Visando complementar o conhecimento sobre os itens alimentares que compõe a dieta de Celeus obrieni, foram examinados conteúdos estomacais de três indivíduos, um exemplar proveniente de Goiatins, TO, depositado na Coleção Ornitológica da Universidade Federal do Tocantins (COUFT 0257) e dois indivíduos coletados no Maranhão, um no município de Matões (A010060 MEG) e o outro no município de Parnarama (A010061 MEG), ambos depositados no Museu Paraense Emilio Goeldi e gentilmente cedidos pelo Dr. Alexandre Aleixo, curador da coleção ornitológica do MPEG. d) Competidores Com o intuito de verificar se outras espécies de pica-pau utilizam as hastes de bambu como fonte de recursos alimentares e se seriam competidores em potencial de Celeus obrieni, foram realizadas observações do forrageamento e analisadas as marcas e o tipo de alimento procurado. 2.4 Análises Estatísticas O teste do Qui-quadrado foi utilizado para, a) verificar se houve preferência por algum substrato (bambu ou outra espécie vegetal), b) preferências por hastes secas ou verdes, c) altura de forrageamento, d) altura das colônias de formigas, e) preferência por alguma espécie de formiga, f) diferença entre taxa de ocupação nas hastes forrageadas (FO), com furos (CF) e hastes sem furo (SF), g) diferença entre espécies de formigas nas hastes secas e verdes que Celeus obrieni forrageou (FO), nas hastes com furos (CF) e sem furos (SF). A correlação de Spearman foi utilizada para verificar se existe relação entre o número de furos e o comprimento dos entrenós. Seria esperada uma correlação positiva, caso a ocorrência de formigas fosse maior nos maiores entrenós. E se a distância dos furos ao nó inferior tende a aumentar com o comprimento do entrenó, ou se ele faz o furo próximo nó independente co comprimento entrenó, já que as colônias de formigas tendem a ficar mais próximas ao nó. Por sua vez, caso a ocorrência de formigas e outras presas seja maior em hastes maiores e/ou secas ou verdes, a procura das mesmas por Celeus obrieni deveria ser direcionada: hastes maiores secas e/ou verdes deveriam ser inspecionadas com maior frequência. Para comparar as médias das medidas das hastes onde Celeus obrieni forrageou (FO) com as hastes encontradas com furos nos pontos de amostragem (CF) e hastes sem furos (SF), foi utilizado o teste U de Mann Withiney. O mesmo teste foi utilizado para comparar a diferença entre o tamanho dos furos das hastes secas e verdes e também a altura de forrageamento das espécies de formigas mais consumidas pela suas colônias encontradas nas hastes. Os valores abaixo de p<0,05 foram considerados significativos para todos os testes. 3 - RESULTADOS a) Estratégias de Forrageamento O único comportamento de procura de alimento observado (n=59) em Celeus obrieni foi o “escalar” as hastes de bambu (ou “climb”, segundo a classificação de Rensem and Robinson 1990). A ave pousa na haste do bambu a cerca de 1 m do solo e vai escalando em sentido ascendente, observando minuciosamente os entrenós (Fig. 7A) em busca de algum furo provocado por insetos (Fig. 8). A ave repete esta rotina subindo e descendo inúmeras vezes pela mesma haste, virando a cabeça e tentando encontrar algo que a atraia. Fig. 7 – Comportamento de forrageamento de Celeus obrieni. A e B indicam o comportamento de procura; C mostra o comportamento de ataque no qual a ave fura o entrenó e procura as formigas com a língua e D comportamento de tamborilar e esperar as formigas saírem do entrenó. Fig. 8 – Entrenó com furo feito por formigas (Circulo vermelho) e na parte inferior direita, furo feito por Celeus obrieni (Circulo azul). Não encontrando sinais de presas, a ave voa para outra haste e reinicia o mesmo procedimento (Fig. 7B). Havendo encontrado algo, rapidamente começa a bicar, fazendo furos no entrenó investigado. Após perfurar o gomo, Celeus obrieni adotava duas estratégias para tentar obter alimento: a mais freqüente (82%, n=81) consistiu na inserção da língua dentro do entrenó através do furo feito (Fig. 7C) e retirar o alimento que é consumindo de forma imediata (Fig. 9), ou tamborilava no gomo (18%) fazendo com que os insetos saíssem do interior da haste para serem consumidos (Fig. 7D). A diferença nas frequências das duas estratégias é significativa (X²=40,09, gl=1, p<0,01) demonstrando haver uma preferência pelo primeiro comportamento. Vale ressaltar que em diversas vezes (n=55) a espécie foi encontrada perfurando a haste sem ter sido observado o comportamento de escalar, já que o barulho realizado nesse comportamento de bicar os entrenós permitia a localização da ave. Fig. 9 – Celeus obrieni procurando alimento dentro do entrenó. b) Local de Forrageamento Na análise de hastes com furos, foram amostradas aleatoriamente 25 hastes em cada um dos 30 pontos, totalizando 750 hastes (52% delas secas) e 987 entrenós. Para avaliar a disponibilidade de recursos foram verificadas 900 hastes sem furos sendo 50% secas e 50% verdes. Celeus obrieni foi observado forrageando na maioria das vezes (98%, n=99) em hastes do bambu (Guadua paniculata) e nas demais vezes em embaúbas (Cecropia sp), havendo uma seleção preferencial pelas hastes de bambu (X²=74.19, gl=1, p<0,01). Ao comparar o tipo de haste, em 62,6% (n=52) Celeus obrieni forrageou em hastes secas e 37,4% em verdes, sendo significativa a diferença (X²=5.313, gl=1, p<0,05) evidenciando uma preferência por hastes secas. O número de furos por entrenó onde Celeus obrieni foi observado forrageando variou de um a quatro (Fig. 10), sendo que 55% (n=44) dos entrenós perfurados continham somente um furo e apenas 8% quatro furos. Ao comparar o número de furos por entrenó entre hastes secas e verdes, não houve diferença significativa (X²=4.77, gl=3, p=0.18), ou seja, a espécie tende a fazer a mesma quantidade de furos independentemente do tipo de haste. 50 Frequencia 40 30 20 10 0 0 1 2 3 4 5 Número de Furos Fig. 10 – Número de furos feitos por Celeus obrieni nos entrenós durante as observações diretas de forrageamento. Por outro lado, foi observada uma correlação positiva (rs=0,305 N=79 p<0,01) entre o comprimento e o número de furos do entrenó, mostrando que quanto maior o comprimento dos entrenós maior a quantidade de furos (Fig. 11). 5 Número de Furos 4 3 2 1 0 10 20 30 40 50 60 Compr. Entrenó (cm) Fig. 11 – Relação entre número de furos e o comprimento do entrenó nas hastes onde se observou Celeus obrieni forrageando. Nos entrenós encontrados furados, o número de furos por entrenó variou de um (50%) a seis (0,3%) (Fig. 12) e a diferença entre eles foi significativa (X²=789.178, gl=5 p<0,01). Novamente na comparação entre o número de furos de hastes secas e verdes não houve diferença significativa (X²=10.56, gl=5, p=0.06). Quando comparamos o número de furos feitos por Celeus obrieni durante o forrageamento com os furos encontrados posteriormente nos entrenós, não foi verificada diferença significativa (U=41.799 p>0,05) (Tab. 1). 500 Frequencia 400 300 200 100 0 0 1 2 3 4 5 6 7 Número de Furos Fig. 12. Distribuição de número de furos por entrenó encontrados sem avistamentos de Celeus obrieni. O tamanho dos furos feitos por Celeus obrieni nos entrenós secos variou de 5,0 x 4,0 mm a 17,0 x 4,0 mm com média igual a 10,5 x 4,0 mm. Nas hastes verdes, variou de 7,0 x 3,0 mm a 14,0 x 5,0 mm com média de 10,0 x 3,8 mm, não havendo diferença significativa entre o tamanho dos furos feitos nas hastes secas e verdes (U=1833,5 p=0,23). Nos entrenós encontrados furados os tamanhos dos furos variaram de 4,0 x 3,2 mm a 17,0 x 4,5 mm nos secos e 4,0 x 3,0 mm a 16,0 x 6,0 mm nos entrenós verdes, também não havendo diferença significativa (U=3306 p=0,22). A distância dos furos ao nó inferior do entrenó feitos por Celeus obrieni durante o forrageamento variou entre 1 e 35 cm (Fig. 13). A distância preferencial foi entre 1 e 5 cm (53%), havendo uma diferença significativa entre as classes de distâncias observadas (X² =104.5, gl=6, p<0,01). Por outro lado, não houve correlação significativa (rs=-0,08 N=79 p=0,45) entre a distância do furo à base do entrenó e o comprimento do entrenó, mostrando que Celeus obrieni prefere fazer furos próximo ao nó independente do comprimento do entrenó. 50 Frequencia 40 30 20 10 5 0 -3 31 -3 5 26 0 -2 21 5 -2 16 10 -1 11 .6 - .1 - 5 0 Distância (cm) Fig. 13 - Distância do furo ao nó inferior do entrenó, classificados a cada 5 cm. Quando analisada a distância entre o furo e a base do entrenó nas hastes encontradas sem avistamentos de Celeus obrieni, houve uma variação de 3 a 50 cm (Fig. 14). O primeiro furo foi encontrado em 54% das vezes numa distância de 1 a 5 cm do nó, havendo uma diferença significativa com as outras distâncias encontradas (X² =2198, gl=9, p<0,01). No entanto, quando comparada a altura média dos furos feitos por Celeus obrieni (FO) com a média encontrada nos entrenós furadas (CF) não houve diferença significativa (U=39.4, p>0,05) (Tab. 1), 600 Frequencia 500 400 300 200 100 .1 -5 .6 -1 0 11 -1 5 16 -2 0 21 -2 5 26 -3 0 31 -3 5 36 -4 0 41 -4 5 46 -5 0 0 Distância (cm) Fig. 14 – Distância dos furos à base do entrenó nas hastes encontradas furadas. A altura de forrageamento observada (Fig. 15A) variou entre 1 e 2 m (14%) e maior que 7 m (1%), havendo uma diferença significativa entre as alturas de forrageamento (X²=61.86, gl=7, p<0,01). A altura entre 2 e 3 m n=26 (32%) foi a mais observada, e a média igual a 3,29 m. No entanto, a altura ótima de forrageamento ficou entre acima de 2 m e abaixo de 4 m (59%). Nas hastes encontradas furadas, a altura dos entrenós com furos (Fig. 15B) variou de menos de 1 m (2%) até acima dos 7 m (1%), sendo a altura entre 1 e 2 m (41%) aquela onde os entrenós foram encontrados com maior freqüência, havendo uma diferença significativa entre as classes de altura dos entrenós furados (X²=1594.7, gl=7, p<0,01). Quando comparamos a altura média que foi observado Celeus obrieni forrageando (3,29m) com a altura média dos entrenós furados (2,3m) observou-se uma diferença significativa (U=20.747 p<0,01) (Tab. 1). Na análise de disponibilidade de recursos a altura das colônias de formigas em relação ao solo (Fig. 15C) variou de menos de 1 m (11%) a mais de 7 m (2%), sendo a altura entre 2 e 3 m (21%) a mais frequente, havendo uma diferença significativa entre as alturas observadas (X²=178, gl=7, p<0,01). A altura das colônias entre 1 e 4 m foi a mais frequente com 61% das observações, sendo a altura média de 2,94 m. Frequencia 30 20 10 500 >7 7 6- 6 5- 120 100 Frequencia 400 300 200 100 80 60 40 20 0 C <7 7 6 6- 5- 5 4- 4 3 3- 2- 7 6- 2 6 5- .> 1 5 4- Altura (m) >7 4 3 2- 3- 2 1- -< 1 0 1- Frequencia 5 Altura (m) A B 4- 4 3- 3 2- 1- 2 0 Altura (m) Fig. 15 – A) Estratificação da altura de forrageamento obtida a partir das observações de Celeus obrieni buscando alimento e B) Estratificação da altura dos entrenós encontrados furados nas hastes. C) Estratificação da altura em que as colônias de formigas foram encontradas nas hastes. Quando comparada a altura média de forrageamento com a altura média das colônias (Tab. 1) não existiu diferença significativa (U=17.819, p>0,05), ou seja, em geral Celeus obrieni procura as colônias de formigas onde elas são mais frequentes. Igualmente, quando comparada a mesma média da altura das colônias com as hastes encontradas furadas a diferença foi significativa (U=19.670, p<0,01). Considerando o número de colônias de formigas nas hastes, esta variou de uma (54%) a seis (1%), (Fig. 16) e a diferença entre elas foi significativa (X²=600.0, gl=5, p<0,01). As hastes com até duas colônias de formiga correspondeu a 78% das observações. No caso do número de colônias entre hastes secas e verdes, também existiu uma diferença significativa (X²=28,6, gl=1, p<0,01), havendo um maior número de colônias em hastes secas. Frequencia 300 200 100 0 0 1 2 3 4 5 6 7 Número de Colônias Fig. 16 – Frequência do número de colônias de formigas por hastes. Tab. 1 – TEST U de Mann Withiney com as médias das variáveis mensuradas nas hastes de bambu, em que foi observado Celeus obrieni forrageando (FO), hastes encontradas com furos (CF), e hastes sem furo do ambiente (SF). Variáveis FO MÉDIA CF MÉDIA SF MÉDIA FO x CF TEST U FO x SF TEST U CF x SF TEST U Altura (m) DAP (mm) Comp. entrenó (cm) Ø entrenó (mm) Entrenó x solo (m) Furo x nó (cm) N° furos 6,06±2,12 25,56±21,92 37,06±10,61 23,76±16,23 3,27±2,05 9,7±9,9 1,73±0,7 5,81±1,41 23,16±11,31 35,32±16,26 23,08±9,9 2,3±0,66 11,26±19,09 1,88±0,71 5,46±2,12 22,18±3,54 33,31±4,95 19,73±2,12 2,94±1,48 - 34.989 33.920* 36.331 38.792 20.747** 39.400 41.799 36.146** 33.418** 16.493** 13.952** 17.819 - 549.972* 555.433* 289.315** 339.461** 19.670** - Note: *p<0.05, **p<0.01 O teste U de Mann Withiney (Tab. 1), mostrou que Celeus obrieni prefere forragear em hastes com DAP e altura maior do que foi encontrado nas hastes sem furos que continham colônias de formigas. Em relação aos entrenós onde as colônias de formigas se encontram, Celeus obrieni também seleciona entrenós de maior comprimento e diâmetro, não existindo uma relação significativa entre essas duas variáveis (rs=0,139 N=79 p=0,22). c) Tipo de Alimento De todos os entrenós que Celeus obrieni foi observado perfurando (n= 79), 68% abrigavam formigas, sendo este valor significativamente maior que os entrenós que não continham formigas (X²=9.28, gl=1, p<0,01). Das 59 amostras de formigas coletadas foram identificadas 13 espécies (Tab. 2), sendo Camponotus depressus presente em 45% das amostras e com um tamanho em média de 10 mm, Azteca fasciata 23% com 4 mm de comprimento e Camponotus atriceps 8% com 7 mm, as espécies mais frequentes nas amostras. Ao comparar a proporção de cada espécie na amostra total, esta foi significativamente diferente (X²=154.94, gl=12, p<0,01). Somadas, estas três espécies estiveram presentes em 76% das amostras, o que as tornam as presas mais frequentes de Celeus obrieni. Uma única espécie Dolichoderus diversus foi coletada em Embaúba, onde também uma amostra de Camponotus atriceps foi obtida. Celeus obrieni encontrou mais Camponotus depressus em hastes secas (96,2%), sendo a sua freqüência neste tipo de haste significativamente maior que nas hastes verdes (X²=26.14, gl=12, p<0,01), por outro lado, Azteca fasciata foi encontrada consumida apenas em hastes verdes (Tab. 2). Quando inspecionadas as hastes que continham furos de Celeus obrieni, encontrou-se um padrão diferente na taxa de ocupação das espécies de formigas nos entrenós com respeito ao observado durante o forrageamento. Dos 987 entrenós mensurados, 24,3% estavam ocupados por insetos, existindo uma diferença significativa na taxa de ocupação, quando comparados aos entrenós vazios (X²=260.4, gl=1, p<0,01). Em se tratando da taxa de ocupação dos entrenós (24,3%), com os entrenós nos quais Celeus obrieni foi observado forrageando (68%) também existe uma diferença significativa (X²=67.14, gl=1, p<0,01), ou seja, possivelmente quando a espécie fura o entrenó e se alimenta das formigas, essas colônias podem se extinguir ou migram para outros entrenós ou substratos. Dos insetos encontrados (n=240) nos entrenós furados, 99% foram formigas e 1% hemípteros (percevejos) (Tab. 2). Nestas hastes foram identificadas 18 espécies de formigas, novamente Camponotus depressus (53%) e Azteca fasciata (27%) foram as mais frequentes. Assim como nas hastes onde Celeus obrieni forrageou, Camponotus depressus foi encontrada com maior frequência nas hastes secas (67,4%) e novamente esta proporção foi significativamente maior que nas hastes verdes (X²=15.94, gl=1, p<0,01). Entretanto, nas hastes onde Celeus obrieni forrageou, Camponotus depressus foi quase unicamente encontrada nas hastes secas (96,2%) e ao comparar essas duas amostras (FO x CF), encontrou-se uma diferença significativa (X²=9.16, gl=1, p<0,01). Apesar de preferir hastes secas, Camponotus depressus pode também colonizar os entrenós verdes furados por Celeus obrieni. Na espécie Azteca fasciata também existiu uma diferença significativa entre os dois tipos de hastes (X²=52.56, gl=1, p<0,01), neste caso a preferência foi pelas hastes verdes (95,3%). Quando comparada a sua frequência nas hastes furadas com que foi encontrada durante o forrageio de Celeus obrieni, não houve diferença significativa (X²=0.683, gl=1, p=0,40), neste caso A. fasciata não chega a colonizar furos nas hastes secas. Na análise das hastes sem furos provocados por Celeus obrieni, a proporção de ocupação por pelo menos uma espécie de inseto nas 900 hastes foi de 40,4%. Comparando com as hastes encontradas vazias houve uma diferença significativa na taxa de ocupação das hastes (X²=32.97, gl=1, p<0,01), havendo mais hastes sem insetos. Das 518 amostras coletadas, 97% foram de formigas e apenas 3% de larvas de coleópteros, confirmando que as formigas são os insetos encontrados com maior freqüência nas hastes do bambu Guadua paniculata (X²=455.9, gl=1, p<0,01). Comparando a taxa de ocupação por formigas nas hastes de bambu (40,4%), com as hastes nas quais Celeus obrieni forrageou e encontrou formigas (68%), houve uma diferença significativa (X²=15.78, gl=1, p<0,01), mostrando que este pica-pau é muito eficiente na busca do alimento. Ao comparar a frequência de visitas de Celeus obrieni em hastes secas (62,6%) e verdes (37,4%), com a frequência de hastes secas (25%) e verdes (16%) ocupadas por formigas, não houve diferença significativa (X²=0.34, gl=1, p=0,85). Nas hastes sem furos foram encontradas 35 espécies de formigas, novamente houve o predomínio de poucas espécies, existindo uma diferença significativa em suas frequências (X²=1919.7, gl=34, p<0,01). Do total de espécies encontradas em todas as hastes de bambu analisadas, Celeus obrieni foi observado se alimentando de 10 espécies, no entanto duas consumidas por Celeus obrieni não foram encontradas nos bambus, sendo possivelmente por se tratar de espécies menos frequentes e/ou pouco abundantes nesse tipo de substrato. Nas 518 amostras coletadas nas hastes sem furos, as espécies de formigas mais frequentes foram respectivamente, Azteca fasciata (24%), Camponotus atriceps (19%) e Camponotus depressus (16%), que juntas representaram 59% do total de insetos encontrados nas hastes (Tab. 2). Novamente o mesmo padrão encontrado anteriormente nas hastes onde Celeus obrieni forrageou ocorreu em Camponotus depressus e Azteca fasciata, onde C. depressus foi encontrada com maior frequência nas hastes secas (91,6%), uma proporção significativamente maior que nas hastes verdes (X²=57.3, gl=1, p<0,01). Comparando esse padrão de ocupação de Camponotus depressus nas hastes não inspecionadas por Celeus obrieni com aquelas onde ele se alimentou (96,2% em hastes secas), não houve diferença significativa (X²=0.67, gl=1, p=0,41), ou seja, Celeus obrieni seleciona as hastes secas para se alimentar, onde a espécie Camponotus depressus ocorre com maior frequência. Em se tratando de Azteca fasciata, esta foi mais frequente nas hastes verdes sem furos provocados por Celeus obrieni (90,2%) em uma proporção significativamente maior que nas hastes secas (X²=78.7, gl=1, p<0,01). Quando comparada a disponibilidade deste recurso nas hastes verdes com a frequência de forrageio de Celeus obrieni (100% nas hastes verdes), não houve diferença significativa (X²=1.5, gl=1, p=0,21), mostrando haver uma seleção preferencial por esta espécie de formiga nas hastes verdes, onde ela é comum. A proporção das três espécies de formigas encontradas mais frequentes nas hastes não visitadas por Celeus obrieni, foi comparada com aquelas onde a ave forrageou, sendo encontrada uma diferença significativa (X²=20.9, gl=2, p<0,01). Esta discrepância talvez tenha ocorrido em função da disponibilidade de Camponotus depressus nas hastes não vistoriadas ter sido menor (16%) do que a proporção com que esta espécie de formiga foi encontrada quando a ave estava forrageando (45%). O mesmo ocorreu com Camponotus atriceps, neste caso a frequência nas observações do forrageamento foram menores (7%) que a frequência encontrada nas hastes (19%) não vistoriadas por Celeus obrieni. Quando comparada a frequência das três espécies de formigas em hastes secas que Celeus obrieni forrageou com as encontradas no ambiente, também existiu uma diferença significativa (X²=12.99, gl=2, p<0,01), entretanto, na comparação com as mesmas espécies de formigas nas hastes verdes não foi encontrada diferença significativa (X²=4.6, gl=2, p=0,1), sendo a espécie Azteca fasciata a mais consumida e encontrada nesse tipo de haste. A altura média onde Celeus obrieni se alimentou de Camponotus depressus (3,4m) foi comparada à altura das colônias desta espécie de formiga nas hastes (2,7m), sendo encontrada uma diferença significativa (U=735 p<0,05). Este resultado indica que a espécie procura presas em alturas maiores que a média da altura onde essa espécie é encontrada , no entanto, o mesmo não ocorreu quando essa comparação foi feita com as colônias de Azteca fasciata (U=692 p=0,45). Também considerando apenas C. depressus, Celeus obrieni encontrou essa espécie em entrenós de maior comprimento (U=734, p<0,05) e diâmetro (U=734, p<0,05) do que foi encontrada no ambiente, enquanto que para A. fasciata não existiu diferença no comprimento (U=715, p=0,56) e diâmetro (U=778, p=0,9). Tab. 2 – Frequência das espécies de formigas e outros insetos encontrados nas hastes secas e verdes que Celeus obrieni forrageou, nas hastes com furos e sem furos. Insetos Hastes com insetos consumidos por C. obrieni seca verde Total Hastes com furos de C. obrieni Seca verde Total Hastes sem furos seca verde Total - 14 14 3 61 64 12 110 122 Camponotus depressus 26 1 27 86 41 127 76 7 83 Camponotus atriceps* 4 - 4 3 6 9 60 36 96 Azteca fasciata Camponotus sp. 1 1 2 3 - - - - - - Camponotus sp.2 1 - 1 - - - 6 2 8 Camponotus rectangularis 1 - 1 - 4 4 11 1 12 Camponotus sp.3 - - - - - - 2 - 2 Camponotus bidens 1 - 1 1 - 1 4 - 4 Camponotus renggeri - - - 9 2 11 9 2 11 Camponotus crassus - - - 6 - 6 20 6 26 Camponotus rufipes - - - 2 - 2 - - - Camponotus fastigatus - - - - 1 1 1 2 3 Solenopsis sp.1 - 2 2 - 4 4 16 2 18 Solenopsis sp.2 - - - - - - 2 - 2 Dolichoderus diversus ** - - - - - - - - - Dolichoderus lutosus - - - - - - 12 - 12 Pseudomyrmex gracilis 1 - 1 - - - 2 - 2 Pseudomyrmex venustus - 1 1 - 2 2 19 7 26 Pseudomyrmex pupa - 1 1 - 1 1 2 - 2 Pseudomyrmex schuppi - - - - - - 5 1 6 Pseudomyrmex tenuis - - - - - - 3 1 4 Pseudomyrmex oculatus - - - - - - 2 - 2 Pseudomyrmex elongatus - - - - - - 5 1 6 Pheidole sp. grupo tristis - - - - - - 1 5 6 Pheidole exigua - - - - 1 1 - - - Crematogaster crinosa 1 - 1 1 - 1 - - - Crematogaster distans - - - 1 - 1 8 1 9 Crematogaster limata - - - - - - 4 - 4 Crematogaster tenuicula - - - - 1 1 4 - 4 Crematogaster curvispinosa - - - - - - - 1 1 Crematogaster sp.1 - - - - - - 1 Brachymyrmex heeri - - - - - - 1 - 1 Brachymyrmex patagonicus - - - - - - - 1 1 Pachycondyla unidentata - - - - 2 2 1 - 1 1 Pachycondyla striatinodis - - - - 1 1 - 2 2 Pachycondyla villosa - - - - - - - 1 1 Cephalotes patellaris - - - - - - 3 1 4 Cephalotes pusillus - - - - - - 18 - 18 Cephalotes pinelii - - - - - - 1 - 1 Ectatomma tuberculatum - - - - - - 1 - 1 Percevejo - - - - 3 3 - - - Larva Coleóptero - - - - - - 2 14 16 Total 36 21 57 111 129 240 313 205 518 * Uma amostra da espécie foi coletada em Embaúba (Cecropia sp). ** A única amostra da espécie foi coletada em Embaúba (Cecropia sp). A análise do conteúdo estomacal de três exemplares de Celeus obrieni mostrou resultados muito semelhantes (Tab. 3). No indivíduo macho coletado em Goiatins-TO (COUFT 0257), foram encontrado apenas formigas e alguns indivíduos ainda inteiros puderam ser identificados como sendo da espécie Camponotus depressus. Nesta amostra também havia pupas de formigas. O conteúdo estomacal do individuo (A010060 MEG), que foi coletado em Matões-MA, continha apenas formigas de pelo menos duas espécies, cuja identificação não puderam ser feitas, pois restavam apenas fragmentos das cabeças. O mesmo ocorreu com o indivíduo (A010061 MEG) coletado em Parnarama-MA, onde também foram observados apenas fragmentos de cabeças de formigas. Tab. 3 – Conteúdo alimentar encontrado nos estômagos dos três indivíduos de Celeus obrieni analisados. Item Alimentares N° Indivíduos Adultos COUFT 0257 A010060 MEG A010061 MEG Formigas e Pupas Formigas Formigas 62 83 154 N° Pupas 22 0 0 d) Competidores Durante a análise do comportamento de forrageio de Celeus obrieni, outras duas espécies de pica-paus foram observadas forrageando nas hastes de bambu, o picapauzinho-anão Veniliornis passerinus visualizado em três ocasiões nas quais ele se alimentou exclusivamente de larvas de coleópteros que estavam dentro dos entrenós. O furo provocado por esta espécie tem praticamente as mesmas dimensões dos furos de Celeus obrieni (Tab. 4), mas com formato diferente e sendo encontrados em entrenós com altura média inferior a 1 m. A outra espécie que forrageou nas hastes foi o picapau-anão-escamado Picumnnus albosquamatus, observado duas vezes se alimentando de formigas, no entanto, os furos provocados pela espécie têm um tamanho consideravelmente menor que o de Celeus obrieni. Os furos provocados por Celeus obrieni são facilmente distinguíveis dos furos das outras duas espécies, seja pela altura média de forrageamento que se situa acima da altura média das duas outras espécies ou pelo tamanho do furo (Tab. 4). Uma terceira espécie (Celeus flavescens) que poderia ser uma competidora em potencial de Celeus obrieni, por ter uma alta abundância na área (obs. pessoal), não foi observada forrageando nas hastes de bambu, porém ambas as espécies foram observadas forrageando juntas, enquanto, Celeus obrieni forrageava nas hastes de bambus, C. flavescens alimentava-se de cupins no tronco de uma Palmaceae ao lado das moitas de bambu. Tab. 4 – Tamanho dos furos, altura de forrageamento (média) e tipo de alimento observados em Celeus obrieni, Veniliornis passerinus e Picumnnus albosquamatus nas hastes de bambu. Variáveis Tamanho médio dos Furos (mm) Altura média de Forrageamento (m) Tipo de Alimento Celeus obrieni V. passerinus P. albosquamatus 10,0 x 3,8± 3,5 x 0,7 9,1 x 3,7± 1,4 x 0,4 2,6 x 1,3± 0,2 x 0,1 3,32±2,05 3,17±2,19 0,9±0,56 1,9±0,14 Formiga Formiga Larva de Coleóptero Formiga Seca Verde 10,5 x 4± 2,4 x 0,8 4 - DISCUSSÃO a) Estratégias de forrageamento Das técnicas de forrageamento utilizadas por Celeus obrieni, bicar e depois procurar o alimento dentro dos entrenós com a língua foi a mais observada. Esse comportamento se justifica porque as formigas não saiam de dentro dos entrenós, onde também se encontram seus ovos e pupas. Embora tenha sido observada com menor freqüência, a técnica de tamborilar nos entrenós logo depois de fazer os furos resultava em um alto índice de captura das formigas. Após tamborilar, várias formigas saiam do interior dos entrenós, provavelmente com o objetivo de proteger a colônia ou fugir, e acabavam sendo consumidas pela ave. Outros estudos envolvendo estratégias de forrageamento mostram que a maioria dos pica-paus utilizam a técnica de “respigar”, que consiste em capturar o alimento perto do substrato sem estender as pernas ou pescoço (Winkler and Christie 2002, Remsen and Robinson 1990), entretanto as técnicas de forrageamento podem variar de acordo com o tipo de substrato e do alimento. Algumas espécies podem mudar de técnicas durante a estação reprodutiva ou estações do ano, a fim de obter uma maior quantidade de alimento adaptando-se as mudanças do ambiente (Conner 1981, Kattan 1988). No entanto, Celeus obrieni apresentou sempre a mesma estratégia ao longo de todo o período de observação, que envolveu o período seco e chuvoso. b) Local de forrageamento Os resultados mostraram que Celeus obrieni seleciona preferencialmente ambientes com o bambu Guadua paniculata para forragear. Comportamento muito semelhante ao de C. spectabilis, que também é considerada especialista em bambu (Guadua weberbaueri) ou pelo menos possui grande afinidade por esse tipo de vegetação na Amazônia ocidental, pois utiliza esse tipo de ambiente (floresta com bambu) para sua alimentação e reprodução (Kratter 1997, Kratter 1998, Wittaker and Oren 1998, Guilheme and Santos 2009). Igualmente ao registrado para Celeus obrieni, seu congênere C. spectabilis também foi observado procurando alimento em Cecropia sp. (Wittaker and Oren 1998, Lloid 2000, Winkler and Christie 2002), entretanto, o número de vezes que Celeus obrieni se alimentou em Cecropia sp. foi insignificante quando comparado com o bambu. Ainda que as formigas foram encontradas nas hastes verdes e secas, Celeus obrieni selecionou preferencialmente hastes secas para busca de alimento, escolha que está diretamente ligada à maior disponibilidade de recursos neste tipo de haste. Em geral, Celeus obrieni faz apenas um furo nos entrenós para procurar alimento, o suficiente para capturar as formigas dentro dos entrenós. Na maioria das vezes, os furos estavam próximos ao nó inferior do entrenó, porque é neste local onde se observou que as colônias de formigas concentram seus ovos e pupas, aumentando a probabilidade de encontro e consumo deste recurso pela ave. No entanto, também foram encontrados entrenós com mais de um furo e uma correlação positiva entre o número de furos e o tamanho do entrenó, condição que pode ser explicada pelo fato que havendo mais furos em um entrenó maior, poderia resultar em maior taxa de captura de formigas. Foi observado ainda que Celeus obrieni faz seu furo em outro local do entrenó quando encontra uma perfuração provavelmente feita ou alargada pelas formigas, permitindo que estas tenham mais de uma opção de escape para serem consumidas. Portanto, ao relacionar a localização da colônia, o número de furos e as estratégias de forrageamento, vemos que Celeus obrieni é extremamente eficiente na busca do alimento. A altura preferencial para forrageamento foi entre 2 e 4 m com média igual a 3,29 m, correspondendo à faixa de ocorrência das colônias de formigas nas hastes de bambu. No entanto, a diferença encontrada entre a altura média de forrageamento observada e a altura média dos furos encontrados posteriormente, pode ser explicado pelo fato de que o campo de visão do observador era limitado em relação ao comprimento total das hastes, aumentando a frequência de hastes medidas com furos situados nas alturas inferiores. Whittaker and Oren (1998) observaram que C. spectabilis prefere forragear em hastes horizontais de bambu numa altura entre 3 a 10 m, no entanto, a espécie de bambu (Guadua weberbaueri) encontrada na Amazônia é bem maior (20 a 25 m) do que G. paniculata que ocorre no Cerrado. c) Item Alimentar A preferência de Celeus obrieni por formigas pode ser explicada pela abundância desse recurso comparado a outros insetos nas hastes de bambu. Formigas são presas comuns entre os Picidae, aproximadamente 60% de todos os pica-paus são conhecidos por incluírem formigas em sua dieta, inclusive, algumas espécies chegam a alterar a proporção de formigas consumidas de acordo com as estações do ano, variando entre 54% no inverno a 97% no verão (Winkler and Christie 2002), neste trabalho ele apenas consumiu formiga durante todo o ano. A taxa com que apenas as formigas ocupam as hastes de bambu foi de pelo menos uma colônia em 39,5% das hastes amostradas. O gênero Camponotus foi o mais frequente, estando presente em 35% das hastes, seguido por Asteca encontrada em 24%. Estes também foram os grupos mais consumidos por Celeus obrieni, estando presente em 76% das observações de forrageamento. Das 35 espécies de formigas encontradas nas hastes de bambu, Celeus obrieni foi observado se alimentando de 12 espécies (33,3%). Por sua vez, Dolichoderus diversus foi a única espécie consumida por Celeus obrieni que não foi encontrada nas hastes de bambu, tendo sido coletada em Cecropia sp. Essa seleção por determinados grupos de formiga também foi demonstrada por Torgersen and Bull (1995), que analisaram a quantidade de formigas que ocupavam troncos caídos no Oregon EUA, consideradas como a principal presa de Dryocopus pileatus, espécie de pica-pau ameaçado nos EUA. No estudo foram encontradas 13 espécies e verificado que 61% dos troncos continham pelo menos uma espécie de formiga, sendo as espécies do gênero Camponotus as mais abundantes e as preferidas para consumo (Bull et al. 1992). Winkler and Christie (2002), citam que os gêneros Camponotus e Azteca são presas de várias espécies de pica-paus na faixa neotropical, sendo encontradas em muitas espécies de plantas incluindo Cecropia sp. Neste estudo, das três espécies de formigas mais frequentes, C. depressus que mede em torno de 10 mm foi consumida com maior frequência do que a sua disponibilidade do meio, enquanto A. fasciata com 4 mm, foi consumida de acordo com sua disponibilidade, sugerindo que Celeus obrieni tem uma preferência alimentar por determinadas espécies, mas não necessariamente seleciona aquelas presas encontradas com maior frequência no ambiente, como é o caso de C. atriceps com tamanho em torno de 7 mm, encontrada com mais frequência que C. depressus nas hastes secas. Portanto, o tamanho de C. depressus parece ser um dos principais requisitos para que Celeus obrieni se alimente desta espécie com maior frequência, pois converteria menos tempo e esforço para ficar saciado, juntando com este fato, C. depressus foi à única espécie observada fora dos entrenós, assim facilitando o encontro dessa espécie por Celeus obrieni nas hastes. Isso se torna mais evidente quando comparamos o uso de hastes verdes e secas e a disponibilidade de recursos alimentares. Celeus obrieni foi observado forrageando com maior frequência em hastes de bambu seco (63%), coincidindo com a maior proporção de formigas encontradas neste tipo de haste (62%). No entanto, esta seleção parece estar mais vinculada à presença de C. depressus neste tipo de haste (91,6% das amostras), e a busca ativa de Celeus obrieni em 96,2% das hastes secas, do que pela disponibilidade de formigas de outros gêneros. O mesmo ocorreu nas hastes verdes, onde A. fasciata esteve presente em 90,2% das hastes amostradas e foi selecionada por Celeus obrieni em todas as observações de forrageamento. Soma-se a isto o fato de Celeus obrieni buscar alimento preferencialmente nas hastes de bambu em um estrato que inclua a presença de colônias destas duas presas preferenciais, aumentando desta maneira a eficiência do forrageamento. A. fasciata foi encontrada por Celeus obrieni exatamente onde a espécie ocorre no ambiente, com altura, comprimento e diâmetro dos entrenós semelhantes ao forrageado, enquanto em C. depressus houve uma variação, e Celeus obrieni procura e encontra essa espécie em hastes com o comprimento e diâmetro médios do entrenó maiores, que as médias encontradas na natureza. A análise dos conteúdos estomacais auxiliou na comprovação que Celeus obrieni é uma espécie que pode ser considerada especialista em formiga. Nos três estômagos analisados (A010060 MEG, A010061 MEG, 0257 COUFT) foram encontradas apenas presas deste tipo. Relacionar a disponibilidade de recursos alimentares no ambiente com o uso destes é fundamental para entendermos como as aves interagem com o meio ambiente, e como essa distribuição e abundância de recursos influenciam na dinâmica das populações e interações entre as espécies (Smith and Rotemberry 1990). A avaliação dos recursos oferecidos pelas hastes de bambu demonstrou que a abundancia de formigas é relativamente alta e aparentemente capaz de manter as populações de Celeus obrieni, já que este pica-pau não é muito abundante no ambiente. O estudo mostrou que a predação por Celeus obrieni não chega a causar maiores danos às populações de formigas, e em alguns casos quando a espécie se alimenta da colônia, não chega a consumir todos os indivíduos, deixando sempre espécimes que possam colonizar outro entrenó e com isso permitindo a manutenção das colônias de formigas e minimizando os impactos no seu único recurso alimentar. O fato de Celeus obrieni ser uma espécie altamente especializada no tipo de ambiente e recurso alimentar, talvez sejam principais fatores responsáveis pela regulação do seu tamanho populacional. d) Competidores O elevado grau de especialização apresentado por Celeus obrieni com o substrato (bambu) utilizado para obter seus recursos alimentares e o fato de se alimentar exclusivamente de formigas podem ser considerados requisitos que permitem a coexistência de um maior número de espécies no mesmo lugar, aumentando a diversidade da comunidade (Recher 1990). Mesmo havendo outras espécies de pica-paus (Veniliornis passerinus e Picumnnus albosquamatus) procurando alimento nos bambus, essas espécies não são competidoras em potencial para Celeus obrieni, pois também se alimentam em outras espécies vegetais. O mesmo acontece com C. flavescens que não foi observado forrageando nas hastes de bambu, mas devido a sua alta abundância nos áreas estudadas, pode competir com Celeus obrieni por cavidades utilizadas para nidificação. Uma espécie que tem uma alta dependência por um tipo de vegetação para obter recursos alimentares e se especializa em apenas uma classe de inseto, possivelmente necessite de um território suficientemente amplo para poder se sustentar, o que também a tornaria mais vulnerável às alterações do ambiente. O somatório destes fatores talvez sejam os principais responsáveis pela baixa densidade com que Celeus obrieni é encontrado, assim como pela vulnerabilidade desta espécie as alterações do meio, consequentemente tornando-a uma espécie vulnerável à extinção. Esta relação já foi encontrada em algumas espécies de pica-paus altamente associadas a alguns tipos de vegetação, de maneira que as alterações provocadas na estrutura do ambiente foram às principais responsáveis pelo grau de ameaça destas espécies (Imbeau and Desrochers 2002). 5 - CONCLUSÕES - Celeus obrieni seleciona preferencialmente o bambu (Guadua paniculata) para forragear, podendo eventualmente utilizar Cecropia sp. - Para forragear escala e perfura as hastes em busca de alimento, inserindo a língua no interior do entrenó ou eventualmente tamborila na haste para que as formigas saiam e sejam consumidas no exterior. -Seleciona preferencialmente as hastes secas para forragear. -Na maioria das vezes prefere fazer um único furo no entrenó, a uma distancia próxima à base do entrenó, local onde se concentra a maior parte das colônias com suas pupas e ovos. - A altura média de forrageio nas hastes de bambu é de 3,2 m, coincidindo com a localização das colônias de formigas nas hastes. - Alimenta-se exclusivamente de formigas, onde C. depressus, A. fasciata e C. atriceps são as presas mais frequentemente utilizadas, podendo ser considerado uma ave especialista em formigas. - A formiga C. depressus é sua presa principal, sendo mais comumente encontrada nas hastes secas, enquanto A. fasciata é mais comum nas hastes verdes. - A especialização no tipo de habitat e de alimento são fatores que podem estar relacionados com a baixa densidade e pelo alto grau de vulnerabilidade de Celeus obrieni, tornando-a uma espécie ameaçada de extinção. 6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Block, W. 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All submissions to The Auk must be made online using the American Ornithologists' Union author portal in ScholarOne Manuscripts™ (http://mc.manuscriptcentral.com/ucpress-auk), the online manuscript submission and peer-review system of The Auk. Authors will be asked to register the first time they enter the site. After receiving a password, authors can proceed to upload their manuscripts through a step-by-step process. Help is always available in the "Get Help Now" link found in the top right corner of the ScholarOne page and the "Resources" menu on the right side of the logon page. Additional help is available from the Review Manager ([email protected]). Text files must be submitted as Word or WordPerfect files. Suitable graphic formats include TIFF, EPS, or JPEG. Mixed text and graphics are acceptable in MS Word or WordPerfect with embedded graphics formats. Manuscripts that do not conform to the following guidelines either will be returned or will experience protracted delays in the review process. I. General Instructions • Format your manuscripts for 8.5- × 11-inch paper, 12-point font, double-spaced throughout, including tables, figure legends, and literature cited. In general, manuscripts should be formatted similar to papers in a recent issue of The Auk. • Leave at least a 1-inch (25-mm) margin on all sides. Do not hyphenate words at ends of lines. • Use italic type instead of underlining words to be italicized. • Only the following Latin terms should be italicized: in vivo, in vitro, in utero, in situ, ad libitum, a priori, and a posteriori. All other Latin terms (except scientific names) should be left unitalicized. • Cite each figure and table in the text. Tables and figures must be sequenced in the order cited. • Use "Figure" only outside of parentheses; otherwise, use "Fig." if singular, "Figs." if plural (e.g., Fig. 2; Figs. 2 and 3; Figs. 3-6). • To cite figures or tables from another work, write figure or table in lowercase (e.g., figure 2 in Smith 1980; table 5 in Jones 1987). • All measurements are to be given in SI units. • Use continental dating (e.g., 29 September 1992), the 24-hour clock (e.g., 0800 and 2300 hours), and standard time (not daylight savings time). Specify that it is Standard Time (e.g., EST for Eastern Standard Time) at first reference to time of day. • English names of bird species that occur in North America and Middle America should follow the 7th edition of the AOU Check-list of North American Birds and its supplements. English names of birds should be capitalized. Names for other species should follow an appropriate standard. English names of other organisms should be capitalized. • Use the following abbreviations: s (second), min (minute), h (hour); designate temperature as 36°C. Do not abbreviate day, week, month, or year. • For user-defined abbreviations, write out words in full the first time a term is used in the text. Abbreviate thereafter: "Second-year (SY) birds . . . We found SY birds in large numbers." • Use the following statistical abbreviations: ANOVA, SD, SE, df, CV, NS, n, P, r, F, G, •2, t-test, U-test. Other statistical abbreviations, in general, should conform to sixth edition of Scientific Style and Format: The CBE Manual for Authors, Editors, and Publishers (1994, Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom). • Numbers: Write out one to nine unless a measurement, but use numerals for larger numbers (e.g., three birds, 6 mm, 12 days, 2 min). If number is in a series with at least one number being 10 or more, then use all numerals (e.g., 6 males and 13 females). Use 1,000 not 1000, 0.01 not .01, and 50% instead of 50 percent. • All gene or amino acid sequences must be deposited in GenBank or an equivalent repository, and the accession number(s) reported in the Methods. • Five to seven key words, which summarize the major findings of the study, should be placed after the English abstract. • Each reference cited in the text must be listed in the Literature Cited section and vice versa. Please use original publications to check references when the manuscript is complete. • Literature citations in text are to be as follows: 1. One author: Able (1989) or (Able 1989). 2. Two authors: Able and Baker (1989) or (Able and Baker 1989). 3. Three or more authors: Able et al. (1989) or (Able et al. 1989). In Literature Cited section, give names of all authors. 4. Manuscripts that are accepted for publication but not yet published: Able (1996) if date known. 5. Unpublished materials: (K. P. Able unpubl. data); (K. P. Able pers. obs.); or (K. P. Able pers. comm.). 6. Within parentheses: (Charley 1980; Able 1983, 1990; Able and Baker 1984); (Baker 1989, Able 1992, Charley 1996); (Able 1988a, b, c). • Assemble manuscript in following order: (1) Title Page; (2) Abstract; (3) Key Words; (4) Text; (5) Acknowledgments; (6) Literature Cited; (7) Tables; (8) Figure Legends; (9) Figures; and (10) Appendices, if needed. • When submitting your manuscript, do not attach or upload your Cover Letter and Rebuttal. The Cover Letter and Rebuttal are to be inserted in the boxes provided on the Submission Form. II. Title Page Number Title Page as page 1, and present items in following order: • Running head (36 characters or less). Use italics and capitalize significant words. Running head not needed for Commentaries. • Title in capital letters. • Author names. • Author addresses at time research was carried out. Current addresses, if different, should be indicated as footnotes at bottom of title page. Footnotes are not used except to indicate current addresses of authors, author's current e-mail address, or death of an author. • Name, current address, and e-mail address of corresponding author. III. Text (page 2, etc.) • Follow the instructions in section I. • Do not repeat information given on title page. • The following are typical main headings: ABSTRACT, Key Words, METHODS, RESULTS, DISCUSSION, ACKNOWLEDGMENTS, and LITERATURE CITED. There is no heading for the Introduction and because there is an Abstract, there is no “Conclusions” or “Summary” section. • There is a maximum of 250 words for the Abstract. • Keep headings to a minimum. Most manuscripts have two levels of headings: (1) centered caps and small caps, (2) indented italics with only the first word capitalized followed by a period, a dash, and the text. If three levels of headings are required use: (1) centered caps and small caps, (2) flush left caps and lower case, (3) indented italics with only the first word capitalized followed by a period, a dash, and the text. IV. Literature Cited (continue page numbering) • Verify all entries against original sources, especially journal titles, volume and page numbers, accents, diacritical marks, and spelling in languages other than English. Capitalize all nouns in German. • Cite references in alphabetical order by first author's surname and then his/her initials. References by a single author precede multi-authored works by same first author, regardless of date. Listings with multiple authors are done by first author's name (surname and then initials), second author's name, etc. • List works by the same author(s) in chronological order, beginning with earliest date of publication. If author has two works in same year, place in order of first citation in text; these works should be lettered consecutively (e.g., 1991a, b). • "In press" citations must have been accepted for publication, with the name of journal or publisher included with year and volume number. • Do not write author names in uppercase. Use "normal" case (e.g., Hendricks, D. P.) or the "small caps" command. Insert a period and space after each initial of an author's name, and note that a comma always precedes the "and" in a list of authors' names. • Journal titles should be written in full and not abbreviated. Book titles should be capitalized. • Citations should follow formats given below: Papers Browne, R. A., C. R. Griffin, P. R. Chang, M. Hubley, and A. E. Martin. 1993. Genetic divergence among populations of the Hawaiian Duck, Laysan Duck, and Mallard. Auk 110:49-56. Fahrig, L., and G. Merriam. 1994. Conservation of fragmented populations. Conservation Biology 8:50-59. Roth, R. R., and R. K. 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Tables (continue page numbering) • Tables are to be submitted as editable Word files in Table format or tab-delimited format, not as pictures. • Each table must start on separate page and be double-spaced throughout (header, table body, footnotes). Table numbers should be Arabic numerals followed by a period. • Capitalize first word of the table heading; all other words should be lowercase unless a proper noun. Include a period at end of the heading. See recent issues for examples. • Indicate footnotes by lowercase superscript letters (a, b, c, etc.). • Do not use vertical lines in tables. • Include horizontal lines above and below boxhead, and at end of table. Follow details of style used in The Auk for headings in boxhead. VI. Figure Legends (continue page numbering) • Start with "Fig.". Indent and double space legends. Type legends in paragraph form. • Do not include "exotic symbols" (lines, dots, triangles, etc.) in figure legends; either label them in figure or refer to them by name in legend. VII. Preparation of Illustrations • Figures intended for final production (not for reviewing purposes) must be uploaded as separate files in ScholarOne. They must have a minimum resolution of 600 dpi. For line art, the preferred resolution is 1200 dpi. Acceptable file formats include EPS, TIF, JPG, and BMP. • Routine illustrations are black and white halftones (photographs), drawings, or graphs. Figures in The Auk are virtually identical to those submitted (little degradation occurs, but flaws will show). Therefore, illustrations should be prepared to professional standards. Illustrations should be prepared for one- (3.5") or two-column width (7"), keeping in mind the overall dimensions of a page in The Auk. • Color reproduction in figures is accepted only where necessary and at the expense of the authors ($300 per page). Color images must be saved in CMYK mode. • Group multiple, related illustrations as panels in a single figure (Fig. 1A, B, etc.) so that they can be placed on the same page. • Helvetica or a similar sans serif typeface is recommended for figures. Handwritten or typed symbols are unacceptable. Halftone figures and plates must be of good quality for review purposes. • Contact the Managing Editor ([email protected]) if you have difficulties with your figures. VIII. What and Where to Submit Initial Submission • All manuscripts must be submitted electronically online using ScholarOne (http://mc.manuscriptcentral.com/ucpress-auk). Authors will be asked to register the first time they enter the site. After receiving a password, authors can proceed to the Author Center and upload their manuscripts through a step-by-step process. Help with this procedure can be obtained online or by contacting the Review Manager ([email protected]). NOTE: Only fields with the tag "req" need to be completed. • A cover letter must accompany all new submissions. This letter can be typed directly into ScholarOne or uploaded as a file. This letter should include any special instructions and any address changes during the next several months, as well as a daytime phone number, fax, and e-mail address for the corresponding author. This letter should include a statement indicating that the manuscript reports on original research not published elsewhere and that it is submitted exclusively to The Auk. Revisions • Revisions must be submitted online through the author's ScholarOne account. • The cover letter and rebuttal should be entered directly into the ScholarOne online submission form and should address all comments from reviewers, Associate Editor, and Editor. If the rebuttal file is too large for the box on the submission form, it may be submitted as a Supplemental File. IX. Preproofs, Proofs, Reprints, and Charges • Authors will receive copyedited and page proofs for approval, which must be returned by e-mail within 48 hours to avoid publication delays. Because changes in proofs are time-consuming, authors should not expect to make major modifications in their work at this stage. Authors should update their ScholarOne accounts and keep the Managing Editor ([email protected]) informed of e-mail address changes, so proofs will not be delayed. • Authors will receive a gratis final PDF and information on ordering reprints of their article with the page proofs. • Color reproduction in figures is accepted only where necessary and at the expense of the authors ($300 per page). • The AOU requests that authors bear all or part of the cost of publishing their papers when grant, institutional, or personal funds are available for this purpose. Current costs per printed page are US $75. Authors who do not have access to publication funds may request a waiver of a portion of this payment from Scott Gillihan, the AOU Executive Officer ([email protected]). If you have questions, contact the Editor by e-mail ([email protected]), telephone (503-725-8734), or fax (503-725-3888) or contact the Review Manager ([email protected]). [Revised: June 2009] © 2009 American Ornithologists' Union