Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV
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Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV
Directrizes Práticas do ONUSIDA para Intensificação da Prevenção do HIV RUMO AO ACESSO UNIVERSAL Unindo o mundo contra o SIDA © Programa Conjunto da Nações Unidas para o HIV/SIDA (ONUSIDA) 2007. UNAIDS/07.07E / JC1274E Reservados todos os direitos. As publicações produzidas pelo ONUSIDA podem ser obtidas a partir do Centro de Informação do ONUSIDA. As solicitações de permissão para traduzir publicações do ONUSIDA – seja para venda ou para distribuição não comercial – devem ser também dirigidas ao Centro de Informação no endereço abaixo, ou por fax +41 22 791 4835, ou e-mail: [email protected]. As denominações empregues e a apresentação do material nesta publicação não implicam a expressão de qualquer opinião, por parte do Secretariado das Nações Unidas ou do ONUSIDA, em relação ao estatuto jurídico de qualquer país, território, cidade ou zona, ou sobre as suas autoridades, nem sobre o traçado das suas fronteiras ou limites. A menção a companhias específicas ou a produtos de certos fabricantes não implica que o ONUSIDA os sancione ou recomende por preferência em relação a outros de natureza similar que não estão mencionados. Excepto erros e omissões, os nomes de produtos de propriedade estão distinguidos por iniciais maiúsculas. O ONUSIDA não garante que a informação contida nesta publicação seja completa e correcta e não se responsabiliza por quaisquer danos resultantes do seu uso. Tradução e adaptação Portuguesa por: Escritórios da ONUSIDA em Moçambique Produção Gráfica: Elográfico, Maputo WHO Library Cataloguing-in-Publication Data UNAIDS Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV; Rumo ao Acesso Universal. 1. Infecções de HIV– prevenção e controlo 2. Medidas de Prevenção do HIV 3. Cenários epidemiológicos 4. Audiências chave 5. ONUSIDA I. Título. ISBN 978-92-9173-557-0 (NLM classification: WC 503.2) ONUSIDA, 20 avenue Appia 1211 Genebra 27, Suíça Telefone:(+41)22 791 36 66 Fax:(+41)22 791 4835 E-mail:[email protected] Internet:http://www.unaids.org Esta publicação foi possível com o auxílio ilimitado de Merck & Co., Inc Directrizes Práticas do ONUSIDA para Intensificação da Prevenção do HIV Rumo ao Acesso Universal ii Rumo ao Acesso Universal AGRADECIMENTOS Estas Directrizes Práticas foram desenvolvidas através de um processo consultivo no seio do ONUSIDA, para o qual o Secretariado (incluindo a Equipa de Monitoria e Prevenção da Epidemia, Equipas de Apoio Regionais e Escritórios Nacionais do ONUSIDA) e todos os dez copatrocinadores contribuíram generosamente com o seu tempo e conhecimento. Especialistas de prevenção do Grupo de Referência do ONUSIDA sobre Prevenção do HIV e o Grupo Mundial de Trabalho para a Prevenção do HIV reunido pela Kaiser Family Foundation (Fundação Família Kaiser) e Bill and Melinda Gates Foundation (Fundação Bill e Melinda Gates) foram revisores das directrizes e as suas contribuições enriqueceram e clarificaram as recomendações. Agradecimentos especiais vão para Peter Aggleton, Mark Aurigemma, Seth Berkley, Tim Brown, Kieran Daly, Doris d’Cruz-Grote, Adrienne Germain, Ruth Hope, Sue Kippax, Marie Laga, Peter Lamptey, Michael Merson, Rajeev Sadanandan, Nono Simelela, Ron Valdiserri, e Catherine Wilfert; grata apreciação pelo contributo e tempo também para Salim S. Abdool Karim, Juan Luis Alvarez-Gayou, Aristides Barbosa, Ricardo Baruch, Carlos F. Cáceres, Mandeep Dhaliwal, Simon Donohoe, Geoff Garnett, Robin Gorna, Mauro Guarinieri, Rana Haddad Ibrahim, Smarajit Jana, Nancy Padian, Colwyn Poole, Birgitta Rubenson, Caroline Ryan, Carolyn Sunners and Anandi Yuvaraj; e sincero obrigado para Monica Beg, Thilly de Bodt, Donna Higgins, Hilary Homans, Helen Jackson, Richard Olson, Kevin O’Reilly, Jos Perriens, Nadia Rasheed, Marian Schilperoord, David Wilson e Faria Zaman das organizações co-patrocinadoras. iii ÍNDICE Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV AGRADECIMENTOS ii LISTA DE CAIXAS E FIGURAS iv SUMÁRIO EXECUTIVO 01 INTRODUÇÃO Audiência e Aplicação Fundamento para Priorização 03 04 05 PREVENÇÃO: UMA COMPONENTE VITAL DO ACESSO UNIVERSAL 07 Compromisso Global com o Acesso Universal 7 07 Planificação da Prevenção do HIV no seio da Resposta Nacional Abrangente 07 Princípios Orientadores para Intensificação da Prevenção 08 LIDERANÇA PARA UMA RESPOSTA NACIONAL MAIS FORTE DE PREVENÇÃO DO HIV 09 CONHECER A SUA EPIDEMIA E A SUA RESPOSTA ACTUAL 10 Os condutores da Epidemia de HIV 10 Populações Vulneráveis mais Necessitadas 10 Cenários Epidemiológicos 13 Foco nas Novas Infecções 16 ADAPTAR A SUA RESPOSTA À EPIDEMIA Critérios para Priorização ou Faseamento dos Elementos da Prevenção do HIV PRIORIZAR DE ACORDO COM O CENÁRIO EPIDEMIOLÓGICO ‘Prevenção do HIV para a vida’ 17 17 21 26 ESTABELECER METAS DE PREVENÇÃO AMBICIOSAS, REALISTAS E MENSURÁVEIS 27 Estabelecimento de metas em diferentes cenários da epidemia 29 ADAPTAR OS SEUS PLANOS DE PREVENÇÃO 31 Tabela 1.1 O que Fazer em Cenários de Baixo Nível? 31 Tabela 1.2 O que Fazer em Cenários Concentrados? 33 Tabela 1.3 O que Fazer em Cenários Generalizados? 34 Tabela 1.4 O que Fazer em Cenários Hiper Endémicos? 37 USAR INFORMAÇÃO ESTRATÉGICA PARA PERMANECER EM DIA 38 CONCLUSÃO 40 REFERÊNCIAS 41 ANEXO I. Medidas prioriTÁRIAS de prevenção do HIV para audiências chave 44 Tabela 2.1 População geral Tabela 2.2 Utilizadores de drogas injectáveis Tabela 2.3 Trabalhadores de cuidados de saúde Tabela 2.4 Homens Tabela 2.5 Homens que têm relações sexuais com homens Tabela 2.6 Pessoas vivendo com HIV Tabela 2.7 Populações em emergência humanitária Tabela 2.8 Mulheres grávidas Tabela 2.9 Presos Tabela 2.10 Receptores de sangue ou produtos sanguíneos Tabela 2.11 Trabalhadoras do sexo Tabela 2.12 Trabalhadores dos transportes e motoristas comerciais, populações móveis, pessoal das forças de defesa e segurança e clientes/parceiros não regulares de trabalhadoras do sexo Tabela 2.13 Mulheres e raparigas Tabela 2.14 Jovens ANEXO 2: RECURSOS PARA A PLANIFICAÇÃO DO HIV 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 54 55 56 57 59 iv Rumo ao Acesso Universal LISTA DE CAIXAS E FIGURAS CAIXAS 1. Risco e Vulnerabilidade 2. Recursos para o Desenho e Gestão de Planos Estratégicos Nacionais de HIV 3. Informação Estratégica 4. Declaração Política de 2006 sobre HIV/SIDA 5. Recomendações chave do Documento de Posição Política do ONUSIDA sobre Intensificação da Prevenção do HIV 6. Papéis e responsabilidades Possíveis da Autoridade Nacional do SIDA para a Liderança da Prevenção do HIV 7. Condutores e Factores de Risco 8. Estudar a Fonte das Novas Infecções no Quénia para Melhorar o Foco da Prevenção 9. Reforçar as Estratégias de Redução do Risco, Vulnerabilidade e Impacto 10.Passos para estabelecer Metas Ambiciosas 11.Resumo dos Requisitos para Intensificar a Prevenção Eficaz FIGURAS 1. Cenários de Baixo Nível 2. Cenários Concentrados 3. Cenários Generalizados 4. Cenários Hiper Endémicos 5. Abordagem de Dois cenários 6. A Hierarquia das Metas Migrantes, Beijing, China. 01 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV SUMÁRIO EXECUTIVO Estas Directrizes Práticas para a Intensificação da Prevenção do HIV: Rumo ao Acesso Universal são desenhadas para fornecer aos fazedores de políticas e planificadores uma orientação prática para adaptar as suas respostas nacionais de prevenção do HIV de modo a responder às dinâmicas da epidemia e ao contexto social do país e das populações que continuam mais vulneráveis a e em risco de infecção do HIV. Elas foram desenvolvidas em consultas com co-patrocinadores do ONUSIDA, parceiros colaboradores internacionais, governos e líderes da sociedade civil e outros especialistas. Elas baseiamse em Intensificação da Prevenção do HIV: Documento de Posição Política do ONUSIDA e Plano de Acção do ONUSIDA sobre a Intensificação da Prevenção do HIV. Em 2006, os governos comprometeramse a aumentar as respostas de prevenção e tratamento do HIV para garantir o acesso universal até 2010. Apesar de que nos últimos cinco anos o acesso ao tratamento se expandiu rapidamente, o número de novas infecções pelo HIV não decresceu – estimando-se em 4.3 (3.6 – 6.6) milhões em 2006 – com muitas pessoas incapazes de acederem a serviços de prevenção para evitar a infecção pelo HIV. Estas Directrizes reconhecem que para manter os avanços no tratamento antiretroviral e para assegurar um verdadeiro acesso universal é necessário que os serviços de prevenção sejam aumentados em simultâneo com o tratamento. • Cenários concentrados são aqueles onde a prevalência do HIV é alta em um ou mais subgrupos da população, tais como em homens que têm relações sexuais com homens, utilizadores de drogas injectáveis e trabalhadoras do sexo e seus clientes, mas onde o vírus não está a circular na população em geral. • Cenários generalizados são aqueles onde a prevalência do HIV está entre 1 e 15% em mulheres grávidas que frequentam clínicas pré-natais, indicando que a prevalência do HIV está presente entre a população geral em níveis suficientes para fazer com que as redes sexuais conduzam a epidemia. • Cenários Hiper endémicos são aquelas áreas onde a prevalência do HIV ultrapassa os 15% na população adulta determinada por extensivas relações heterossexuais com múltiplos parceiros simultâneos com baixo e inconsistente uso do preservativo. O ONUSIDA e a OMS categorizam o HIV em cenários de baixo nível, concentrado ou generalizado. Para fins de planificação estas Directrizes propõem um cenário adicional – o cenário hiper endémico. Estas Directrizes reconhecem que dentro dos países e regiões podem existir diferentes cenários epidémicos. Elas também reconhecem que uma epidemia se pode desenvolver ao longo do tempo de um cenário de baixo nível – para um cenário concentrado – para um cenário generalizado e para um cenário hiper endémico, ou manter-se relativamente estável ou declinar, dependendo da resposta e das dinâmicas subjacentes e os factores que estimulam a epidemia. A desigualdade de género e as violações dos direitos humanos são exemplos de dois factores que impedem a participação por parte das populações vulneráveis numa planificação segura e atempada da prevenção do HIV e o acesso a informação e serviços de prevenção e, assim, definir o curso da epidemia. • Cenários de baixo nível são os que têm níveis de prevalência do HIV abaixo de 1% e onde o HIV não se espalhou em níveis significativos dentro de qualquer subgrupo da população. Assegurar uma resposta nacional eficaz de prevenção do HIV requer uma liderança forte, informada e comprometida, coordenação e responsabilidade. A Autoridade Nacional do SIDA – em linha com os Uma trabalhadora social de ONG Kicosehp, Kibera Community SelfHelp Programme em Kenya a aconselhar sobre nutrição e como balançar uma dieta. 02 Rumo ao Acesso Universal “Princípios dos Três Uns” – deve liderar o reforço da resposta nacional de prevenção do HIV, assegurando que os mais vulneráveis à infecção do HIV e os que estão a viver com o HIV estejam significativamente envolvidos nesta resposta. O nível de envolvimento de ministérios específicos, sectores, sociedade civil e intervenientes irá ser diferente de acordo com o cenário epidémico. Estas Directrizes encorajam os países a “conhecerem a sua epidemia e a sua resposta actual”. Conhecer a sua epidemia requer que os países identifiquem os factores chave da epidemia, centrando-se na relação entre a epidemiologia da infecção do HIV e os comportamentos e condições sociais que impedem a sua capacidade de aceder e usar serviços e informações sobre o HIV. Conhecer a sua epidemia é a base para conhecer a sua resposta, o que proporciona aos países uma oportunidade para avaliar criticamente quem está e quem devia estar a participar na prevenção do HIV. Conhecer a sua epidemia e resposta permite aos países “adaptar e priorizar as suas respostas” através da identificação, selecção e financiamentos das medidas de prevenção do HIV que são mais apropriadas e eficazes para o país, em relação ao(s) seu(s) cenário(s) epidémico(s) e contexto específico(s). Adaptar e priorizar a resposta envolve identificar as populações em maior risco e vulneráveis, estimar a extensão em que novas infecções estão a ocorrer dentro dessas populações e até que ponto elas são consultadas e engajadas na adaptação da resposta para as suas comunidades. Engajar populações vulneráveis é importante para uma resposta eficaz, do mesmo modo que são as análises correntes do que funciona, dos custos e benefícios das diferentes medidas de prevenção do HIV e da sua viabilidade face aos recursos humanos e financeiros disponíveis. Adaptar e priorizar a resposta possibilita aos países “estabelecer objectivos de prevenção ambiciosos, realistas e mensuráveis” em relação ao seu cenário epidémico. Isto envolve definir metas, objectivos, resultados e processos para os serviços de prevenção do HIV a serem fornecidos às pessoas e locais onde eles são mais necessários e medir e acompanhar constantemente se eles estão a alcançar os seus objectivos. Estas Directrizes fornecem uma síntese das medidas essenciais de prevenção necessárias para os países “adaptarem os seus planos de prevenção” em relação aos cenários epidémicos. Algumas medidas são repetidas em todos os cenários, enquanto outras são adicionais ou modificadas de um cenário para outro. Elas incluem uma síntese das medidas essenciais para satisfazer as necessidades de prevenção de HIV de populações ou audiências chave específicas. Reforçar a resposta nacional exige que os países “utilizem e analisem informação estratégica”, incluindo dados epidemiológicos, novas evidências relacionadas com a epidemia, directrizes políticas e programáticas, instrumentos, materiais de formação e boas práticas. Para serem eficazes, os programas devem recolher continuamente informação estratégica para acompanhar e reportar sobre o progresso e para assegurar a prestação de contas através da verificação da alocação, uso e impacto dos gastos com o SIDA. Estas Directrizes fornecem blocos de construção com o objectivo de apoiar os países a priorizarem e sequenciarem os seus investimentos para aumentarem de forma eficaz a escala da resposta nacional de prevenção do HIV. As principais recomendações subjacentes a estas directrizes são no sentido de os países engajarem os seus líderes e comunidades para conhecerem as suas epidemias do HIV, adaptarem a resposta da prevenção para satisfazer as suas necessidades prioritárias e para assegurar uma resposta nacional coordenada e sustentável que aumente a sua escala rumo ao acesso universal à prevenção, tratamento, cuidados e apoio para todos os necessitados. 03 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV INTRODUÇÃO Estas Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV: Rumo ao Acesso Universal estão desenhadas para fornecer orientação prática aos fazedores de políticas e planificadores para melhorarem a programação e os resultados da prevenção do HIV. Elas foram produzidas a partir de uma ampla consulta com agências co-financiadoras do ONUSIDA, doadores, governos e líderes da sociedade civil, bem como outros especialistas. Elas baseiam-se em Intensificação da Prevenção do HIV: Documento de Posição Política do ONUSIDA. Melhorias recentes na provisão do acesso ao tratamento antiretroviral reforçam a importância da prevenção do HIV. Em 2005, o número de pessoas em tratamento antiretroviral em países de baixo e médio rendimento quase que duplicaram, de 720 000 para 1.3 milhões (47). Contudo, em 2006, 4.3 (3.6 – 6.6) milhões adicionais de pessoas ficaram infectadas pelo HIV. O acesso universal ao tratamento só pode ser alcançado e mantido se o número de novas infecções pelo HIV for significativamente reduzido através da intensificação da prevenção do HIV. Compreender que medidas de prevenção do HIV podem ser mais eficazes e rentáveis em cada local é fundamental para este esforço. O financiamento para programas do HIV em países de 1 baixo e médio rendimento tem aumentado, mas ainda é muito pouco para o que é exigido (29). É essencial priorizar as medidas de prevenção do HIV com probabilidade de produzir um maior impacto em cada local para o esforço geral para promover o acesso universal à prevenção, tratamento, cuidados e apoio para o HIV até 2010. O Documento de Posição Política do ONUSIDA sobre a Intensificação da Prevenção do HIV fornece uma base para uma ênfase renovada na prevenção do HIV para todo o mundo (30). Esse documento reconhece que são necessárias acções fortes de liderança para aumentar a cobertura1 e preencher as lacunas de prevenção, através de esforços para construir sinergias entre a prevenção e o tratamento e atacar as barreiras para aumentar a escala. Uma agenda abrangente das acções políticas e programáticas definidas nesse documento realça a necessidade de tratar não apenas o risco imediato mas também as causas profundas da vulnerabilidade à infecção pelo HIV. O aumento dos esforços nacionais de prevenção do HIV deve enfatizar tanto o acesso pleno às estratégias provadas e eficazes para as populações em alto risco (26) como investimentos para reduzir a vulnerabilidade, impacto e promoção de uma ampla mudança social para reduzir a vulnerabilidade ao Cobertura é por vezes definida como a percentagem da população que necessita de um serviço e que tem acesso ao serviço. O acesso pode depender de muitas coisas, tais como a proximidade do ponto de serviço menos distante, a calendarização da disponibilidade do serviço durante a semana, o custo do serviço e os critérios de eligibilidade que podem ser estabelecidos pelas directrizes nacionais ou pelos provedores de serviços. Do ponto de vista prático é geralmente melhor medir a cobertura em termos de utilização: a percentagem da população necessitada que efectivamente usa o serviço. USAID/ONUSIDA/OMS/UNICEF (2004). A cobertura de serviços seleccionados para a prevenção, cuidados e apoio em países de rendimento médio em 2003 do HIV/SIDA. O Projecto POLICY, Washington, DC http://www.futuresgroup.com/Documents/CoverageSurveyReport pdf Centro de compras da cidade aberto, Gaborone, Botswana. Trabalhadores Sociais a falar de prevenção nas ruas. Eles pertencem ao COCEPWA (Centro para pessoas vivendo com HIV/SIDA). 04 Rumo ao Acesso Universal Caixa 1: Risco e vulnerabilidade Risco é definido como a probabilidade de que uma pessoa possa adquirir a infecção do HIV. Certos comportamentos criam, aumentam e perpetuam o risco. Os exemplos incluem relações sexuais não protegidas com um parceiro cujo estatuto do HIV é desconhecido; múltiplos parceiros sexuais não protegidos; uso de drogas injectáveis com agulhas e seringas contaminadas. Vulnerabilidade resulta de uma gama de factores que reduzem as capacidades dos indivíduos e das comunidades para evitar a infecção pelo HIV. Eles podem incluir: (i) factores pessoais tais como a falta de conhecimento e habilidades necessárias para se proteger e proteger os outros; (ii) factores que se referem à qualidade e cobertura dos serviços, tais como a inacessibilidade de serviços devido à distância, custos e outros factores (iii) factores sociais tais como normas sociais e culturais, práticas, crenças e leis que estigmatizam e retiram poder a certas populações, e agem como barreiras para as mensagens essenciais de prevenção do HIV. Esses factores isolados ou combinados, podem criar ou exacerbar a vulnerabilidade individual e, como resultado, a vulnerabilidade colectiva ao HIV. HIV (Vide Caixa 1). Ambos são essenciais para produzir um impacto duradoiro e significativo. Melhorar a eficácia dos esforços para conter e reverter a disseminação do HIV exige que os planificadores: • identifiquem as populações em alto risco de infecção pelo HIV; • definam que medidas de prevenção são essenciais para essas populações; • assegurem a distribuição adequada de medidas essenciais de prevenção para as populações identificadas; e • ajam sobre os condutores da epidemia, inequidade de género e incumprimento dos direitos humanos. Fonte: Adaptado de UNAIDS (1998). Expanding the global response to HIV/AIDS through focused action: Reducing risk and vulnerability: definitions, rationale and pathways. Genebra. AUDIÊNCIA E APLICAÇÃO Rapazes e raparigas a vender comida aos passageiros numa estação de autocarros, Accra, Ghana. Estas Directrizes não fornecem um “Plano” para os esforços de prevenção do HIV em qualquer país. Em vez disso, elas foram desenhadas para orientar os planificadores nacionais através de um processo contínuo de definição das vulnerabilidades e necessidades locais e canalização de recursos e esforços através do desenvolvimento e implementação de programação de prevenção do HIV informada por evidências, a nível nacional, de estado, provincial ou distrital (Vide Caixa 2). Estas Directrizes podem também ser úteis em revisões de estratégias do HIV existentes, incluindo estratégias para alocação, mobilização e seguimento de recursos, para assegurar que as medidas essenciais sejam financiadas e implementadas onde elas são mais necessárias. Dada a escala da epidemia do HIV e a sua inter-relação com outros problemas do desenvolvimento humano (26), a planificação da intensificação da prevenção deve ser coordenada e integrada não apenas dentro de um quadro de acção abrangente do SIDA, mas também dentro de outros quadros e processos de desenvolvimento nacional. Sempre que possível, os esforços de prevenção devem ser planeados e integrados com tratamento, cuidados e apoio como parte de uma abordagem abrangente para fornecer informação e serviços. 05 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV Caixa 2: Recursos para o desenho e gestão de planos estratégicos nacionais do HIV O ONUSIDA e os outros parceiros desenvolveram uma série de directrizes, instrumentos e estratégias para ajudarem os países a desenharem e gerirem um plano estratégico nacional do HIV com prioridades definidas, custos estimados e financiado (Vide Anexo 2). Isto inclui directrizes para ajudar países a: • envolver parceiros, incluindo a sociedade civil; • planificar estratégias, incluindo planificação para aumentar a capacidade humana e institucional; • estabelecer metas estratégicas e operacionais; • estimar custos de planos estratégicos ou planos anuais de trabalho; • acompanhar e analisar despesas; • monitorar a implementação e os resultados dos programas; • avaliar a eficácia dos projectos e programas; • comunicar e partilhar resultados com outros intervenientes; e • usar os resultados para melhorar a cobertura, equidade e eficácia dos programas. FUNDAMENTO PARA A PRIORIZAÇÃO Em todas as situações nacionais e sub-nacionais, existem investimentos de prevenção do HIV, que serão mais eficazes do que outros. “Conhecer a sua epidemia” numa região ou país particular é o primeiro e essencial passo para a identificação, selecção e financiamento da medida mais apropriada e eficaz de prevenção do HIV para esse país ou região. Alguns investimentos de prevenção podem ser implementados relativamente depressa e podem ter um rápido impacto sobre a epidemia. Outros, incluindo aqueles que tratam das determinantes culturais, estruturais e institucionais da vulnerabilidade, são igualmente importantes, mas podem exigir mais tempo para alcançar a mudança. Esses investimentos de longo prazo, no entanto, são essenciais. Sem eles, a epidemia do HIV não pode ser contida e invertida com sucesso, uma vez que os factores que levam à vulnerabilidade continuarão presentes. Nenhuma medida ou abordagem isolada de prevenção servirá com eficácia as várias populações necessitadas, em qualquer país. Uma vez que os recursos são limitados, é essencial que seja usada informação estratégica (Vide Caixa 3) para orientar a assistência direccionada às populações e locais onde a transmissão do HIV ocorre e que mais contribuem para a epidemia. Os serviços governamentais devem priorizar aqueles que necessitam e também são menos capazes de controlar o seu próprio risco ou de assegurar informação e serviços para si próprios (28, 38) – tais como os que são tornados mais vulneráveis através da marginalização, pobreza, género, idade e outros factores locais relevantes. Migrantes, Beijing, China. 06 Rumo ao Acesso Universal O programa de prevenção de HIV em Kiev, Ukraine. Alguns consumidores de drogas injectáveis, tendo trocado um seringa por uma nova, utilizam e voltam uma hora depois para levar outra. As medidas para reduzir os comportamentos que põem as pessoas em risco imediato de infecção pelo HIV – tais como relações sexuais não protegidas ou uso de equipamento de injecção não esterilizado – devem ser combinadas com medidas e esforços combinados para definir e mitigar os condutores da epidemia (Vide Caixa 7). Mitigar os condutores da epidemia requer acção que trate da inequidade de género e que assegure que os direitos humanos de todas as pessoas – em particular mulheres e crianças – sejam respeitados (9). Não investir em medidas que mitiguem os condutores da epidemia pode minar o uso dos serviços de prevenção e resultar numa perda de oportunidades para prevenir novas infecções pelo HIV. Caixa 3: Informação Estratégica Informação estratégica é informação sobre a epidemia e seus condutores, que podem informar e apoiar tomadas de decisão programáticas e políticas sólidas para alcançar as metas do programa. As fontes de informação estratégica incluem: • vigilância e pesquisa para definir a situação e o contexto epidemiológico e comportamental, as populações, localização geográfica e contextos de risco que mais necessitam dos serviços do HIV. • documentos de Política e de programa que descrevem e analisam o contexto político nacional e a resposta e a capacidade de resposta das comunidades e dos sectores público e privado; • análise dos dados programáticos e de pesquisa existentes; • consultas com os intervenientes tais como reuniões com pessoas vivendo com o HIV e com membros de grupos marginalizados; • relatórios de monitoria e avaliação de programas e serviços existentes. Em colaboração com os países, o ONUSIDA desenvolveu alguns instrumentos e directrizes para apoiar os países no reforço dos seus sistemas de informação estratégica sobre HIV, e para estabelecer indicadores padrão para medir o impacto das medidas essenciais para a prevenção do HIV, tratamento, cuidados e apoio para o SIDA (Vide página 59 e Anexo 2). 07 PREVENÇÃO: UMA COMPONENTE VITAL DO ACESSO UNIVERSAL Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV COMPROMISSO GLOBAL COM O ACESSO UNIVERSAL Os governos fizeram uma série de compromissos internacionais para melhorar a resposta ao Sida, com o objectivo final de mover-se rumo ao acesso universal para uma prevenção, tratamento, cuidados e apoio abrangentes até ao ano 2010 (43). Eles incluem o Objectivo de Desenvolvimento do Milénio No 6 para parar e inverter a propagação da epidemia por volta de 2015, a Declaração de Compromisso sobre o HIV/Sida da Assembleia Geral das Nações Unidas em 2001, as Metas de Acesso Universal do G8 de Gleaneagles em 2005, o Apelo da União Africana para Acelerar a Acção de Abuja em 2006 e, mais recentemente, a Declaração Política sobre o HIV/SIDA das Nações Unidas em 2006. Caixa 4: Declaração Política de 2006 sobre HIV/SIDA Por isso, nós: “Comprometemo-nos a envidar todos os esforços necessários para aumentar a escala das respostas orientadas a nível nacional, sustentáveis e abrangentes para alcançar uma cobertura abrangente e multissectorial para a prevenção, tratamento, cuidados e apoio, com a participação plena e activa das pessoas vivendo com o HIV, grupos vulneráveis, comunidades mais afectadas, sociedade civil e sector privado, rumo à meta do acesso universal para programas de prevenção, tratamento, cuidados e apoio mais abrangentes até 2010.” PLANIFICAÇÃO DA PREVENÇÃO DO HIV NO SEIO DA RESPOSTA NACIONAL ABRANGENTE Intensificar a prevenção do HIV requer atenção adequada e alocação de recursos dentro da resposta aumentada e abrangente ao SIDA, bem como a identificação de oportunidades para integrar esforços de múltiplos sectores. A integração pode, por exemplo, incluir: • Expansão do acesso à testagem do HIV e aconselhamento para redução do risco; • Prevenção do HIV, incluindo prevenção da transmissão de mãe para filho em mais centros de saúde; • Prevenção do HIV como parte de um pacote de serviços de saúde sexual e reprodutiva para mulheres e homens; • Expansão do acesso ao apoio social e jurídico; • Garantia da implementação de programas dos direitos humanos, incluindo políticas de tolerância zero para a violência sexual, e de reforma legal que proteja os direitos de pessoas vivendo com o HIV e populações vulneráveis. • Sensibilização dos legisladores, do judiciário e de Teste de HIV num centro de Vacinação e Testagem de HIV. Governo de Vietnam, Hanoi. 08 Rumo ao Acesso Universal outros órgãos chave influentes para questões relacionadas com a vulnerabilidade ao HIV e género. • Campanhas contra o estigma e discriminação, normas nocivas ao género, violência contra a mulher e relações sexuais intergeracionais; • Garantia do acesso à educação para todas as crianças, através da eliminação de propinas escolares ou outros meios; e • Exigência de que a indústria e o comércio implementem políticas e programas de HIV baseadas no local de trabalho. PRINCÍPIOS ORIENTADORES PARA A INTENSIFICAÇÃO DA PREVENÇÃO O Documento de Posição Política do ONUSIDA: Intensificação da Prevenção do HIV fornece recomendações específicas para intensificar a prevenção dentro da resposta nacional abrangente ao HIV (Caixa 5). Ela foi unanimemente aprovada pelo Conselho Coordenador de Programas do ONUSIDA em 2005. O Documento de Política e a sua aprovação pelo Conselho reafirmou o compromisso global com estratégias abrangentes de prevenção do HIV de pertença local e localmente adaptados e baseadas em evidências, fundadas no respeito pelos direitos humanos. Caixa 5: Recomendações chave do Documento de Posição Política do ONUSIDA sobre Intensificação da Prevenção do HIV 09 LIDERANÇA PARA UMA RESPOSTA NACIONAL MAIS FORTE DE PREVENÇÃO DO HIV A Autoridade Nacional do SIDA – orientada pelos princípios dos “Três Uns2“ – deve assegurar a existência de uma liderança activa, coordenação e prestação de contas para uma prevenção eficaz do HIV entre os muitos parceiros e sectores da resposta nacional ao SIDA. Isto pode ser feito, por exemplo, através do estabelecimento de um grupo especial nacional de trabalho de prevenção do HIV ou outra entidade coordenadora sob a cobertura da Autoridade Nacional do SIDA. Tal entidade coordenadora, no entanto, deve sempre incluir a participação dos departamentos do governo e dos parceiros da sociedade civil que são importantes para assegurar saúde, direitos humanos e protecção social. Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV Os ministérios e parceiros cruciais a envolver irão variar de acordo com a epidemia e o contexto. Em países com epidemia de baixo nível ou concentradas, tais como no Norte de África e Europa do Leste, os ministérios da Justiça e das Prisões podem jogar um papel importante nos esforços da prevenção. Em regiões com epidemias generalizadas do HIV, tais como África Oriental e Caraíbas, os ministérios do Turismo, Justiça e Género podem ter grande relevância. Em países de elevada prevalência, como na África Austral, a Educação, Acção Social, governos locais e Defesa devem estar no centro da resposta. Em todos os casos, o envolvimento e a participação activa das comunidades e pessoas vivendo com HIV são essenciais (38). Caixa 6: Papéis e responsabilidades possíveis da Autoridade Nacional do SIDA para a liderança da prevenção do HIV • Proporcionar liderança e advocacia geral para a prevenção do HIV; • Coordenar as várias acções sobre a prevenção do HIV e integrá-las com elementos de tratamento, cuidados e apoio da estratégia nacional do SIDA; • Criar plataformas para o debate de políticas sobre prevenção do HIV; • Constituir uma “clientela vocal” para a prevenção do HIV; • Monitorar e avaliar programas de prevenção do HIV dentro do conjunto da resposta ao SIDA; • Apoiar a mobilização de recursos e capacitação institucional da Autoridade Nacional do SIDA para aumentar a prevenção do HIV; • Coordenar as contribuições relacionadas com a prevenção do HIV para a planificação do SIDA e do desenvolvimento; • Avaliar a capacidade de resposta dentro de cada ministério e sector da sociedade civil e identificar medidas para reforçar a capacidade; • Analisar as necessidades em recursos humanos, legais e protecção social e identificar medidas para construir recursos humanos e aumentar os serviços legais e protecção social; • Analisar até que ponto cada sector contribui para reduzir a vulnerabilidade ao HIV e identificar medidas para reduzir a vulnerabilidade. 2 Os princípios dos “Três Uns” são: • Um Quadro de acção acordado para o SIDA que proporcione a base para a coordenação do trabalho de todos os parceiros; • Uma autoridade nacional de coordenação do SIDA, com um mandato multissectorial de base ampla; e • Um sistema de monitoria e avaliação acordado de nível nacional. 10 Rumo ao Acesso Universal CONHECER A SUA EPIDEMIA E A SUA RESPOSTA ACTUAL OS CONDUTORES DA EPIDEMIA DE HIV Comportamentos de risco e vulnerabilidade estão emaranhados numa teia complexa de determinantes3 económicas, legais, políticas, culturais e psicossociais, que precisam de ser analisadas e tratadas a nível de programas e de políticas. A programação eficaz da prevenção do HIV centra-se nas principais relações entre a epidemiologia da infecção do HIV e os factores culturais, institucionais e estruturais que ajudam ou impedem a capacidade das pessoas de ter acesso e usar informação e serviços e assim fazer com que sejam mais ou menos vulneráveis à infecção pelo HIV (Caixa 7). Caixa 7: Condutores e Factores de Risco O termo Condutor relaciona-se com factores sociais e estruturais tais como a pobreza, desigualdade de género e violação dos direitos humanos que não são facilmente mensuráveis e que aumentam a vulnerabilidade das pessoas à infecção pelo HIV. Os factores de risco são definidos pelo Dicionário de Epidemiologia, 3ª edição, como “um aspecto do comportamento pessoal ou estilo de vida, uma exposição ao ambiente ou uma característica inata ou herdada, a que, na base da evidência epidemiológica é conhecido como estando associado com um estado de saúde que se considera importante prevenir”. Eles incluem comportamentos tais como uso de drogas injectáveis, relações sexuais não protegidas e múltiplos parceiros co-ocorrentes de longa duração com pouco e inconsistente uso do preservativo4. Fonte: Last J (ed). (1995). A dictionary of epidemiology, 3ª edição. Oxford University Press. POPULAÇÕES VULNERÁVEIS MAIS NECESSITADAS Uma resposta nacional eficaz proporciona informação adequada sobre a prevenção do HIV, serviços e apoio às populações mais vulneráveis e mais passíveis de se exporem à epidemia e que são cruciais na sua dinâmica e resposta (2, 14, 20). Epidemiologicamente bem como socioculturalmente, locais importantes são locais onde os comportamentos de risco são frequentes e/ou promovidos (por exemplo, localidades urbanas ou paragens de camiões ao longo das estradas associadas com entretenimento de adultos e trabalho sexual, “centros de chuto” para utilizadores de drogas injectáveis, ou balneários que servem para relações sexuais casuais entre homens) e onde pessoas em maior risco podem ser alcançadas. Uma mercearia, Beijing, China. 3 Vide, por exemplo, Sweat MD, Denison JÁ (1995), Reducing HIV incidence in developing countries with structural and environmental interventions. AIDS, 9 (Suppl A): S251-S257; Barnett T, Whiteside A (2002). AIDS in 21st Century: disease and globalisation. Palgrave Global Publishing, Houndsmill, UK; Pisani E et al. (2003). Back to basics in HIV prevention: focus on exposure. BMJ 326:1384-1387, doi:10.1136/ bmj.326.7403.1384 http://bmj.bmjjournals.com/cgi/content/full/326/7403/1384. 4 Recentemente, o termo condutor é também usado para descrever os factores de risco que são tão disseminados a ponto de serem responsáveis pelo aumento e pela manutenção de uma epidemia de HIV ao nível da população. 11 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV É importante conhecer a extensão do HIV nas várias populações, uma vez que o comportamento de risco só pode transmitir HIV se, em primeiro lugar, o vírus estiver presente (21). Estas populações podem ser identificadas através de “vigilância de segunda geração” (53), incluindo inquéritos nacionais e sub-nacionais, avaliações rápidas (24), mapeamento participativo da resposta ao HIV até à data e consultas com populações vulneráveis e provedores de serviços5. Estes estudos apoiam na determinação das taxas de novas infecções pelo HIV, modos de transmissão e contextos socio-económico e cultural que aumentam a vulnerabilidade das pessoas à infecção pelo HIV. Caixa 8: Estudar a Fonte das Novas Infecções no Quénia para Melhorar o Foco da Prevenção O programa de prevenção do Quénia há muito que definiu a sua epidemia como generalizada, com base na vigilância do HIV de 2ª geração anterior, que demonstrou que desde os finais dos anos 80, o Quénia tinha tido mais do que 1% de prevalência do HIV na população em geral em muitas partes do país. Contudo, uma análise recente identificou alguns dados que podiam aumentar significativamente o foco dos esforços de prevenção. Este estudo mostrou que muitas das novas infecções ocorrem usualmente em populações definidas como de “baixo risco”, tais como casais que coabitam, apontando para a necessidade específica de abordar os recursos de prevenção para casais serodiscordantes. Os dados mostraram que os programas que resultam na redução do número de parceiros (por exemplo, aconselhamento e testagem do HIV, promoção da abstinência, fidelidade e evitar parceiros sexuais co-ocorrentes) e tornam as relações sexuais ocasionais mais seguras (uso de preservativo) deviam ser uma prioridade. Os dados também mostraram que, embora a epidemia do Quénia seja “generalizada”, as trabalhadoras do sexo e os seus clientes continuam um importante grupo sobre o qual focalizar a prevenção, bem como serviços de tratamento, cuidados e apoio. O estudo observou que os utilizadores de drogas injectáveis e os homens que têm relações sexuais com homens deviam receber atenção no Quénia, populações que anteriormente não eram reconhecidas. Além disso, a análise indicou a importância de centrar-se sobre a população sexualmente activa, como se espera numa epidemia generalizada. Fonte: Gouws E et al. (2006). Short term estimates of adult HIV incidence by mode of transmission: Kenya and Thailand as examples. Sexually Transmitted Infections, 82 (Suppl. 3): iii51 – iii55. doi:10.1136/sti.2006.020164 5 Uma metodologia é a de Prioridades para os Esforços Locais de Controlo do SIDA (Priorities for Local AIDS Control Efforts – ou método PLACE). Vide Measure Evaluation (2005) PLACE, priorities for local AIDS control efforts: a manual for implementing the PLACE method. Carolina Population Center, Chapel Hill, e vide http://www.cpc.unc.edu/measure/leadership/place.html 12 Rumo ao Acesso Universal Em muitas situações, uma combinação de vulnerabilidades sociais, biológicas e factores comportamentais colocam os seguintes grupos em risco proporcionalmente mais alto de adquirir e/ou transmitir o HIV: • trabalhadoras do sexo e seus clientes; • utilizadores de drogas injectáveis; • homens que têm relações sexuais com homens; • pessoas encarceradas (presos). Um bordel típico urbano atrás do Hotel Intercontinental, Phnom Penh, Cambodja. Outros grupos populacionais, tais como pessoas com infecções sexualmente transmitidas, trabalhadores móveis ou migrantes que passam longos períodos separados do cônjuge ou parceiro, pessoal das forças armadas e de segurança e minorias étnicas ou culturais podem também ser expostos ao HIV a um nível significativo, dependendo da situação local6. É igualmente importante considerar as amplas normas sociais, particularmente em cenários hiper endémicos (descritos mais adiante), que tornam os jovens, mulheres e raparigas particularmente vulneráveis devido a factores tais como desigualdade de género, restrição do acesso a informação e serviços e falta de habilidades e poder para tomar decisões. Em muitos locais com epidemias há muito tempo estabelecidas, mulheres casadas e raparigas estão em elevado risco (39). Programas eficazes de prevenção do HIV priorizam os mais 6 afectados pelo HIV e os mais vulneráveis à infecção. Isto não é apenas uma coisa correcta a fazer em termos de protecção dos direitos humanos de todos os membros da sociedade: é também a melhor forma de prevenir o HIV. A abordagem coerciva à prevenção do HIV foi rejeitada como ineficaz e abusiva. Tais abordagens incluem testes obrigatórios ao HIV, restrições de movimentos e criminalização de medidas de redução do dano e modalidades de prevenção do HIV. Isto tende a afastar as pessoas da informação e serviços de saúde e tem um efeito contrário sobre as metas de prevenção e viola os direitos humanos. As medidas eficazes de prevenção do HIV são aquelas que enfatizam a dignidade humana, a responsabilidade, arbítrio e empoderamento através do acesso à informação e serviços de saúde e apoio e participação da comunidade (30). Programas eficazes criam um ambiente favorável através da adopção e implementação de leis e políticas não discriminatórias e redutoras da vulnerabilidade. Isto também assegura que os esforços de prevenção do HIV não caracterizem nenhum grupo como “vector da doença”, não aponte populações a quem culpar e perseguir e não os marginalizem ou estigmatizem. Pelo contrário, pessoas vivendo com o HIV devem ser vistas como parceiros imprescindíveis nos esforços de prevenção do HIV (36). Para uma discussão detalhada da vulnerabilidade e contextos que intensificam e mitigam o risco, vide UNAIDS (2006), Capítulo 5. At risk and neglected: four key populations in Report on the global AIDS epidemic. Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/SIDA, Genebra. 13 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV CENÁRIOS EPIDEMIOLÓGICOS Para propósitos de vigilância epidemiológica, o ONUSIDA e a OMS classificaram a epidemia do HIV em diferentes países, de um modo geral como de “nível baixo”, “concentrado” ou “generalizado”. A tipologia é baseada na extensão em que a epidemia do HIV está presente e se está a disseminar na população como um todo (“a população geral”) e no nível do HIV nas sub -populações que são mais vulneráveis e em risco de exposição ao – e transmissão do – vírus. Para fins de planificação de programas do HIV, é exigido um cenário adicional – “o hiper endémico”. Este termo descreve a situação em que o HIV está estabelecido na população em geral, embora as diferenças tanto no nível (a prevalência) como nos condutores e factores de risco da epidemia (o padrão comportamental que contribui para a disseminação da epidemia e as condições sociais, culturais, económicas e de políticas que apoiam esses padrões comportamentais) exijam estratégias adicionais para uma prevenção eficaz do HIV. Para lá da prevalência nacional do HIV É importante notar que os níveis da epidemia dentro de um país ou região particular podem variar em função da população ou geografia. Nalguns locais – incluindo algumas províncias da China e alguns estados da Índia e na Moldávia, Myanmar , Tailândia e Ucrânia – a prevalência superior a 5% é encontrada em populações de maior risco e a prevalência situase entre 1% e 5% em mulheres grávidas nas clínicas pré-natais. Em cenários concentrados da epidemia, como estes, a maioria das populações vulneráveis ainda contribui com uma importante proporção de novas infecções, mas também existem variações, e algumas vezes níveis consideráveis de disseminação do HIV na população em geral através de interacções sexuais (19). O conhecimento dessas variações é essencial para planificar a mistura correcta de medidas de prevenção para tratar de forma eficaz a disseminação do HIV entre diferentes populações e/ou em diferentes partes do país. Muitos países têm variações geográficas e regionais na sua epidemia do HIV e experimentam uma mistura de cenários epidémicos ao longo do país, frequentemente com altas prevalências e maior número de novas infecções em áreas urbanas e locais como terminais de transportes, minas, campos de trabalhadores migrantes e casernas de forças de defesa e segurança. As epidemias podem também evoluir de baixo nível para concentrado e de mista para generalizada e hiper endémica ao longo do tempo, ou podem descair ou manter-se estáveis, com níveis relativamente baixos de prevalência, dependendo da resposta da prevenção e das dinâmicas subjacentes à transmissão (2). A contínua recolha e análise de informação estratégica (vide Caixa 3 página 6) para avaliar a situação epidémica e a resposta local é crucial para compreender as realidades actuais da evolução da epidemia local e ajustar programas e estratégias apropriadas de prevenção do Um encontro com a juventude com a Sociedade Red Crescent, num bairro em Cairo. Os desenhos no tabuleiro mostram o que transmite HIV e o que não transmite. 14 Rumo ao Acesso Universal HIV. Apesar de que os dados das estimativas de prevalência do HIV na população geral e nas populações em maior risco são importantes tanto para aumento da escala como da análise das necessidades de prevenção, os planificadores não devem descurar a necessidade de uma análise cuidadosa dos padrões locais que subjazem às dinâmicas e condições sociais que enformam a actual epidemia, uma vez que eles os irão ajudar a compreeder para onde se dirige proximamente a epidemia e o que é preciso que seja feito em resposta. Cenários de baixo nível Em cenários de baixo nível, o HIV não se disseminou a níveis significativos em qualquer sub-população. A epidemia de baixo nível sugere tanto que as redes de risco são difusas (com baixos níveis de troca de parceiros ou uso de equipamento de injecção não esterilizado), como que o vírus foi apenas introduzido muito recentemente. O Fiji, com 0.1 [0.0 – 0,4] %, e a Turquia, com [< 0,2] %, são exemplos de países que actualmente têm cenários de baixo nível (29). Em situações de epidemias de baixo nível, é necessária informação básica acerca das populações mais vulneráveis e em risco e deve ser recolhida de uma maneira profundamente ética (31). Estudos empíricos de comportamentos de risco, redes e outros factores indicando um potencial para a disseminação do HIV, tais como taxas de outras infecções sexualmente transmitidas, são essenciais para planificar a prevenção. Conhecer a sua epidemia implica conhecer por que é que o HIV se está disseminando, ou por que não está. Promoção de saúde. Grupo de mulheres, durante encontros. Egipto alto. 15 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV Cenários concentrados Em cenários concentrados, a prevalência do HIV é suficientemente alta em uma ou mais sub- populações, tais como homens que têm relações sexuais com homens, utilizadores de drogas injectáveis ou trabalhadoras do sexo e seus clientes, para manter a epidemia nessa sub-população (2), mas o vírus não está a circular na população geral. Buenos Aires, na Argentina, fornece um exemplo de uma epidemia concentrada, onde a prevalência em homens que têm relações sexuais com homens é superior a 15% e em trabalhadoras do sexo é superior a 5%, mas a prevalência nacional da população adulta com idades entre os 15 e os 49 anos de idade continua baixa, nos 0.6 [ 0.3 – 1.9]%. O curso futuro de uma epidemia deste tipo será determinado pelo tamanho da sub-população vulnerável e frequência e natureza das ligações entre as sub–populações e a população geral, bem como do grau de resposta às necessidades das populações afectadas e mais vulneráveis. A disseminação do HIV pode ser explosiva em locais com uso de drogas injectáveis (15). Conhecer a sua epidemia requer compreender as dinâmicas da transmissão dentro da população afectada e como esses grupos interagem com outros grupos e a população como um todo. Isto é uma prioridade para que os países possam prevenir a expansão da epidemia na população geral. Cenários generalizados Alguns países reportam agora consistentemente uma prevalência do HIV de entre 1 a 5% em mulheres grávidas que frequentam clínicas pré-natais, indicando que a presença do HIV entre a população geral é suficiente para as interligações sexuais conduzirem a epidemia. Nestes cenários epidémicos, a transmissão do HIV em casais serodiscordantes e relações com múltiplos parceiros que dão lugar a interligações sexuais na população geral – respondem pela maioria das novas infecções. Populações em maior risco, tais como as trabalhadoras do sexo e seus clientes, estão ainda em risco de infecção pelo HIV. No entanto, os comportamentos de sub-populações muito grandes, com risco relativamente baixo (como jovens não casados, e mulheres e homens casados que não frequentam regularmente as trabalhadoras do sexo ou que tenham vários parceiros) contribuem para uma maior proporção de novas infecções. Numa epidemia generalizada com mais de 5% de prevalência em adultos, nenhuma pessoa sexualmente activa é de “baixo risco”. Em algumas partes de África, há evidências resultantes de pesquisa sobre redes sexuais que mostram que múltiplos parceiros co-ocorrentes de maior duração intensificam a epidemia (19). Normas sociais amplas que regem “relações com múltiplos parceiros sexuais e/ou normas e políticas que impedem indivíduos ou populações de se protegerem (por exemplo, normas de género que reduzem o acesso da rapariga à educação e informação), estão directamente implicadas na dinâmica da epidemia. Com a prevalência em adultos acima de 5%, em países como os Camarões, 5.4% [4.9 – 5.9%], e o Uganda, 6.7% [5.7 – 7.6%] (29), a maioria das pessoas sexualmente activas podem estar em elevado risco. Quanto mais mulheres estiverem a viver com o HIV, um número significativo de novas infecções serão de transmissão de mãe para filho (54). 16 Rumo ao Acesso Universal Cenários hiper endémicos Existe uma situação epidemiológica excepcional na Região Austral de África, onde um grande número de pessoas – mais de metade delas mulheres e raparigas – estão a viver com o HIV. O HIV disseminou-se a um nível acima de 15% na população adulta, através de relações heterossexuais com múltiplos parceiros co-ocorrentes, com baixo e inconsistente uso de preservativo. Todas as pessoas sexualmente activas têm um elevado risco de infecção pelo HIV. Os condutores e factores de risco desta epidemia predominantemente heterossexual são complexos e diversos, mas podem incluir comportamentos tais como vício precoce de relações sexuais, altos níveis de parcerias sexuais múltiplas de duração longa – especialmente para os homens, relações sexuais intergeracionais, falhas no uso consistente do preservativo com parceiros ocasionais e de longa duração, baixa aceitação do uso do preservativo em casais que coabitam, e co-factores biológicos tais como baixos níveis de circuncisão masculina e a presença de infecções sexualmente transmitidas, especialmente infecções virais que são difíceis de tratar (23). Elevados níveis de estigma relacionado com o HIV, violência baseada no género, incluindo coerção sexual e violência no casamento, desigualdade de género e mobilidade geográfica resultam numa rápida e contínua disseminação do HIV na população geral, originando e mantendo uma prevalência muito alta. O estigma pode também levar muitos indivíduos a evitarem comportamentos de redução de risco (por exemplo, abstinência, limitação de parceiros, exposição do seu estado a parceiros sexuais quando conhecido, uso correcto de preservativo) por causa da associação desses comportamentos com o estado HIV positivo. A prevalência do HIV na Suazilândia é de 33.4% [ 21.2 – 45.3%]; Botswana 24.1% [ 23.0 – 32%]; África do Sul, 18.1% [ 16.8 – 20.7%], Zimbabwe, 20.1% [ 13.3 – 27.6%] (29) e outros países vizinhos na África Austral têm epidemias hiper endémicas que exigem esforços e recursos excepcionais para mobilizar comunidades inteiras a mudar o seu comportamento sexual, bem como as normas sociais. É importante lembrar que ainda existe uma variação geográfica significativa na prevalência do HIV dentro desses países. FOCO NAS NOVAS INFECÇÕES A recolha e análise de dados, para avaliar a situação epidémica e a resposta local deve ser contínua. Mais importante do que o “tipo de cenários” é manterse actualizado sobre as fontes de novas infecções, uma vez que isso pode mudar as formas que devem estar reflectidas no programa nacional e sub nacional de prevenção. Por exemplo, dados de modelação da incidência no Cambodja mostraram que – para além de um drástico declínio do nível de novas infecções nos finais dos anos 90 – as infecções em casais substituíram as infecções devido a relações sexuais não protegidas com trabalhadoras do sexo como a maior fonte de novas infecções (5). A Caixa 8 (vide página 11) fornece um outro exemplo vindo do Quénia, ilustrando a necessidade de mudanças de prevenção com a mudança de cenários. 17 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV ADAPTAR A SUA RESPOSTA À EPIDEMIA As prioridades para a planificação da prevenção do HIV devem ser estabelecidas analisando e identificando as actuais lacunas entre as localizações, a escala e as necessidades das populações prioritárias e os esforços que estão sendo actualmente envidados para atacá-las. Este tipo de informação está cada vez mais a ser reunida e mantida pela Autoridade Nacional do SIDA em bancos de dados que reflectem quem está a fazer o quê e onde7. Fornecer uma resposta eficaz e abrangente requer a colaboração e coordenação entre muitos parceiros – governo, organizações não governamentais (ONG), sociedade civil, grupos comunitários, organizações baseadas na fé, sector privado, organizações sindicais e outras. Nem as entidades governamentais, nem as não governamentais são igualmente capazes de providenciar todas as medidas do HIV necessárias para todas as audiências chave. São necessários os esforços de todos os intervenientes, e é ainda preciso que sejam coordenados para que sejam alinhados de modo a cumprirem o plano nacional do HIV, e a falta de pessoal formado para a prevenção do HIV é quase universal. O desenvolvimento de capacidade para preencher estas lacunas, dentro de 1 a 5 anos é uma parte crucial da planificação da prevenção do HIV. Critérios para Priorização ou Faseamento dos Elementos da Prevenção do HIV Intensificar a prevenção do HIV requer uma planificação que tenha em conta, tanto o escopo das medidas de prevenção do HIV (o número de diferentes elementos fornecidos) como a escala (intensidade8 e cobertura) que pode ser alcançada com os recursos disponíveis. As escolhas devem ser justificadas por critérios objectivos baseados em equidade e necessidades, e ter um amplo consenso e apoio do governo, sociedade civil e comunidades afectadas. O que se segue ilustra critérios que podem apoiar neste passo crucial da planificação. Epidemiologia Para ter um impacto sobre a incidência e prevalência do HIV, 7 A versão 2.1.2 do Sistema de Informação da Resposta do País contém módulos de indicadores, de projecto e de pesquisa. Os módulos de projecto proporcionam uma funcionalidade básica para seguir quem está a fazer o quê onde num país. A Versão 3.0, esperada no Verão de 2007, será ainda mais orientada para projectos/programas para apoiar melhor as necessidades de M&A do país e as exigências de reporte dos doadores a reflectirem uma crescente sofisticação na análise a ser feita. Por exemplo, será possível definir indicadores múltiplos de programa em complemento ao seguimento da informação financeira. 8 Intensidade refere-se à duração e dose (quantidade) ideal dos programas. Em intervenções biomédicas, a noção é claramente definida, tal como as dosagens exigidas em prevenções eficazes da transmissão de mãe para filho ou em tratamento de substituição com metadona. Em intervenções comportamentais, os exemplos incluem a regularidade do contacto de extensão ou frequência em centros de acolhimento, em número e duração das sessões de aconselhamento ou educação de pares. Encontro do grupo de apoio HIV positivo Ponlue Chivit (luz da vida). O grupo tem um total de 75 membros, 24 mulheres e 51 homens. Desde o início o clube tem perdido um membro por mês. Phnom Penh, Cambodja. 18 Rumo ao Acesso Universal os esforços dos programas devem ser direccionados para as populações apropriadas e comportamentos apropriados, nos locais ou espaços apropriados. Existem três considerações importantes. • Onde, com quem e por que é que as infecções do HIV estão a acontecer agora? Quem são as populações com elevada prevalência do HIV, onde é que essas populações estão sendo expostas ao HIV, quais são as situações de alto risco e que factores limitam a habilidade das pessoas vulneráveis para reduzirem os seus comportamentos de risco? • A que velocidade estão as infecções a mover-se? O HIV pode movimentar-se através de uma “rede” de exposições (Por exemplo, de um cliente para uma trabalhadora do sexo, que pode infectar outros clientes, que transmitem o vírus aos seus parceiros regulares). Em situações hiper endémicas, estudos recentes indicam que a disseminação excepcionalmente rápida e extensiva pode ocorrer através de interligações heterossexuais, quando muitos adultos têm parcerias coocorrentes de longa duração (versus sequenciais) (23). No Malawi, por exemplo, um estudo recente constatou que entre 1000 aldeãos adultos cujos relacionamentos sexuais foram mapeados ao longo de um período de dois anos, cerca de 65% estavam ligados à mesma rede sexual (10). Um mercado de rua em Cambodja. • Quais são os condutores da epidemia? Além dos comportamentos de risco, quais são os factores socioculturais e políticos que actuam como condutores da epidemia? Factores tais como desigualdade de género, fraco acesso a informação e serviços ou a falta de autonomia sexual e poder de tomar decisões, contribuem para elevadas taxas de HIV entre mulheres, raparigas e jovens. A discriminação contra homens que têm relações sexuais com homens, muito provavelmente impede o aumento da escala dos programas para homens que têm relações com homens. A interacção de factores socioeconómicos, comportamentais e epidemiológicos e as respostas comunitárias pode tanto acelerar a disseminação da epidemia como reduzila. Esses factores devem ser compreendidos em termos de direcção e extensão do seu impacto. Evidência da eficácia, custo eficácia e custo benefício A evidência (22,15) da eficácia das medidas de prevenção do HIV é um critério importante que deve informar e orientar a priorização e planificação da prevenção do HIV. A evidência da pesquisa científica pode ajudar os planificadores a estabelecer prioridades para acção sobre a prevenção do HIV, através de: • medida de prevenção do HIV em consideração alcançou os resultados requeridos em epidemias similares; 19 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV • fornecimento de modelos conceptuais de como e por que razão um serviço funciona, o que pode então ser avaliado à luz do local para o qual a medida de prevenção do HIV está sendo considerada; • fornecimento de estimativas dos resultados (que podem ser esperados de um dado nível de investimentos). Algumas medidas (como o uso correcto e consistente do preservativo) têm um impacto directo sobre a transmissão do HIV e eficácia muito alta quando praticadas. Os efeitos de outras acções, tais como campanhas contra a violência e coerção sexual vão para além do HIV e podem requerer tempo, mas são igualmente essenciais, uma vez que criam as condições necessárias para alcançar os resultados da prevenção; e • fornecimento de modelos para a monitoria, para assegurar que medidas provadas de prevenção do HIV sejam implementadas de acordo com o desenho (com qualidade, foco e escala adequadas) e alcancem os resultados pretendidos. Investir em e planificar a prevenção do HIV quase sempre ocorre como parte de um processo político de tomada de decisão, no qual os recursos são alocados no meio de outras necessidades concorrentes. Os decisores podem precisar de atacar preconceitos e recusas para ganhar aceitação política para estratégias provadas de prevenção do HIV. As políticas que terão um impacto adverso, piorando a epidemia, tais como limitar o engajamento de comunidades vulneráveis ou criminalizar relações sexuais não maritais ou a posse de agulhas, devem ser contestadas. A eficácia também implica estimar o impacto que a medida de prevenção do HIV provavelmente terá na audiência alvo e mais além. Algumas redes de transmissão, ou cadeias de infecção são “curtas” (um indivíduo é infectado, mas não passa essa infecção a qualquer outra pessoa), enquanto outras são “longas” e têm muitos caminhos (por exemplo, um utilizador de drogas injectáveis infectado por usar equipamento de injecção contaminado, transmite o HIV a outros utilizadores de drogas injectáveis e a parceiros sexuais, incluindo trabalhadoras de sexo, que transmitem HIV a outros clientes seus). Logicamente, qualquer medida que previna a primeira infecção numa longa rota, terá um amplo impacto ao nível da população do que aquelas que interrompem rotas curtas da infecção. Quando se tiver que considerar os custos, os planificadores devem recordar-se de que uma medida cara que fornece eficácia aceitável e benefícios substanciais deve ter precedência sobre medidas que são menos caras mas que têm menor impacto sobre a epidemia. A responsabilidade dos planificadores de programas do HIV é fornecer estimativas realistas do que eles irão custar para alcançar as metas da prevenção. 20 Rumo ao Acesso Universal Exequibilidade, sustentabilidade e capacidade de resposta Os processos de planificação nacional para aumentar a escala dos programas de prevenção do HIV devem também abordar questões relacionadas com os recursos humanos necessários e segurança de produtos. Os planificadores devem trabalhar com os recursos humanos e organizacionais que lhes estão disponíveis no momento, enquanto planificam e investem para aumentar essa capacidade para se poder expandir os serviços no futuro. Muitos programas eficazes investem no desenvolvimento de capacidades das comunidades afectadas que anteriormente tinham sido marginalizadas. Crianças da rua e crianças a viver em bairros de Phnom Penh, a receber educação informal no Centro de Educação de Amigos, Cambodja. Análise do risco Quando se lida com o HIV, não tomar nenhuma acção é uma estratégia de grande risco. Por exemplo, não providenciar programas para utilizadores de drogas injectáveis pode permitir o rápido alastramento do HIV para a população geral. Não providenciar aos trabalhadores da saúde o acesso às precauções universais pode levar à falta de confiança no sistema de saúde e entre o pessoal de saúde e, subsequentemente, à recusa de tratar indivíduos HIV positivos. Mesmo quando os esforços de prevenção eficaz do HIV exigem altos níveis de despesas, a falta de implementação de serviços importantes conduzirá a custos muito mais elevados. Mobilizar as comunidades para atacar o estigma e a discriminação relacionados com o HIV (36,16) ajuda no aumento da aceitação dos serviços. Por outro lado, a testagem forçada do HIV em muitas populações em alto risco impedirá os esforços de prevenção do HIV, já que as pessoas evitarão a testagem e outros serviços de tratamento e prevenção do HIV. Os planificadores devem avaliar cuidadosamente o potencial impacto de cada medida de prevenção e consultar os potenciais beneficiários acerca da sua possível receptividade. Em todos os casos, deve ser seguida uma abordagem baseada nos direitos humanos para evitar aumentar o estigma ou infringir os direitos humanos de indivíduos e comunidades. Benefícios adicionais ou “auxiliares” e outras considerações suplementares Muitas medidas de prevenção do HIV têm benefícios sociais e de saúde para além dos benefícios relacionados com o HIV esperados. Por exemplo, implementar medidas intensificadas de prevenção pode reforçar os sistemas de cuidados de saúde, aumentando o capital social, reduzindo a dispersão de famílias e promovendo o desenvolvimento da comunidade, prevenir gravidezes indesejadas ou outras infecções sexualmente transmitidas e reduzir a violência do género. As instituições que tratam das vulnerabilidades das populações em grande risco do HIV podem ser usadas para atacar outras necessidades, como a redução da pobreza e o controlo de outras doenças transmissíveis. 21 PRIORIZAR DE ACORDO COM O CENÁRIO EPIDEMIOLÓGICO Apesar de que a priorização para uma prevenção eficaz do HIV exige adequar a resposta a uma epidemia e a um local específico, certas medidas são essenciais em todos os cenários epidemiológicos. Por exemplo, as respostas de prevenção do HIV não serão eficazes em nenhum tipo de epidemia, a menos que sejam dados passos para reduzir o estigma e discriminação 9 relacionados com o HIV . A prevenção do HIV para pessoas vivendo com o HIV (“prevenção positiva”) é importante em todos os locais, mas mais ainda em cenários generalizados e hiper endémicos. Do mesmo modo, certas medidas, tais como assegurar sangue seguro e promover as precauções universais em centros de cuidados de saúde, são também vitais em todos os locais. Abordar os condutores da epidemia é igualmente vital para assegurar o progresso nas respostas. O tempo é um factor importante em todos os contextos epidémicos. Alguns programas – tais como tratamento de infecções sexualmente transmitidas e de resposta às necessidades de prevenção de utilizadores de drogas injectáveis – são mais eficazes na redução da disseminação do HIV, se forem implementados em epidemias recentes (46). Ao priorizar medidas de prevenção do HIV, vários elementos devem ser tidos em consideração, de acordo com o cenário (baixo nível, concentrado, generalizado e hiper endémico). Eles são aqui apresentados. Mulheres e raparigas requerem atenção especial em todos os cenários epidémicos, devido ao seu reduzido acesso a informação, recursos, baixo poder e autonomia – quando comparadas com as suas contrapartes masculinas – em quase todos os contextos. As necessidades dos jovens, que são parte das populações em maior risco, ou residentes em áreas de elevada prevalência devem ser priorizadas. 9 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV Medidas concretas e imediatas que podem ser levadas a cabo são: informação pública e campanhas de mobilização contra o estigma e a discriminação; leis e políticas contra essa discriminação, trabalho com líderes tradicionais e religiosos; formação e códigos de conduta para trabalhadores de cuidados de saúde, polícia e pessoal do judiciário; e provisão de apoio legal para os que são vítimas de tal estigma e discriminação [vide Kidd R and S Clay (2003). Understanding and Challenging HIV Stigma: Toolkit for Action. Trainers Guide. The Change Project and ICRW.] Pode ser necessária reforma legal para estabelecer os direitos das pessoas vivendo com HIV ao acesso aos serviços públicos e a estar livres da discriminação. Uma escola da aldeia, Hargeisa, Somália 22 Rumo ao Acesso Universal Priorização em cenários de baixo nível • Recolher e analisar regularmente dados fiáveis sobre a prevalência, comportamentos de risco e condutores do HIV. • Desenvolver o conhecimento e a capacidade das populações em alto risco, uma vez que a prevenção bem sucedida com estas populações irá reduzir a disseminação do HIV no seio dos grupos vulneráveis. • Priorizar a acção para combater o estigma e medidas coercivas, as quais são barreiras significativas para a participação dos que estão em maior risco e das pessoas vivendo com o HIV nos esforços de prevenção. • Implementar programas com e para as populações em maior risco, numa escala e intensidade suficiente. 23 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV Priorização em cenários concentrados • Os programas com e para populações em alto risco mantêm a sua prioridade e são financiados e implementados com suficiente escala e intensidade. Deve ser mantida a orientação dos recursos para onde as taxas e o risco são maiores e para onde a epidemia se está a mover. • Deve-se prestar atenção às “populações ponte” e subpopulações particulares e devem ser levadas a cabo medidas suficientes para informar a população geral. • O estigma e a discriminação devem ser atacados de forma contínua, como uma condição necessária para uma prevenção e tratamento bem sucedidos. 24 Rumo ao Acesso Universal Priorização em cenários generalizados • Os programas para as populações em maior risco continuam importantes, mas os esforços de prevenção devem também ser estendidos para aqueles, na população geral, com vulnerabilidade aumentada ao HIV. • A promoção em todo o país da mudança de comportamento, incluindo o uso do preservativo, retardamento do início das relações sexuais, abstinência e limitação de parceiros, é necessária, em conjunto com programas sobre estigma e discriminação, equidade de género, etc. • Alcançar os jovens, homens e mulheres adultos, com programas apropriados, torna-se uma prioridade absoluta. • Os programas de prevenção devem incluir informação pública e campanhas de mobilização social que instiguem o debate social e a mudança em torno das normas do género que toleram ou encorajam relações com múltiplos parceiros sexuais ou violência sexual. Eles devem fornecer assistência social e jurídica a raparigas e mulheres que sofrem violência sexual e outras formas de violência. • Devem ser alteradas as leis e políticas que impedem os trabalhadores imigrantes de trazerem as suas esposas ou de regressarem com frequência às suas casas, e deve haver um fornecimento alargado de preservativos e de programas e serviços para as populações migrantes. • É necessária a expansão do acesso à testagem e aconselhamento do HIV, incluindo torná-lo gratuito ou subsidiado quando for da iniciativa do utente ou uma rotina de fornecimento desses serviços quando for da iniciativa do provedor. • Os esforços das pessoas vivendo com o HIV para actuar como porta-vozes sobre a prevenção do HIV devem ser encorajados, e os esforços da prevenção do HIV devem abordar as suas necessidades. Por causa do grande número de pessoas vivendo com o HIV nesta fase da epidemia, a “prevenção positiva” (incluindo viver positivamente, como manter-se saudável e como reduzir a transmissão progressiva do HIV) é importante. • Todos os canais de comunicação, incluindo órgãos de informações populares, escolas, locais de trabalho e organizações baseadas na fé, devem jogar um papel na informação e capacitação da população para participar na prevenção e cuidados do HIV. 25 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV Priorização em cenários hiper endémicos • Todos os adultos sexualmente activos devem ser considerados como estando em risco de contrair o HIV. São exigidos esforços extraordinários que mobilizem toda a comunidade (23). • São necessários amplos movimentos sociais para atacar qualquer prática económica ou sociocultural que contribua para relações sexuais não seguras; isto inclui: − campanhas e leis que visem levar os homens a renunciar a múltiplas e simultâneas parcerias, coerção sexual, violência baseada no género e relações sexuais intergeracionais; − esforços concertados para assegurar a protecção de jovens, especialmente raparigas e mulheres jovens de todas as formas de exploração sexual. • É necessário acesso universal ao aconselhamento e testagem do HIV por iniciativa do provedor em centros de cuidados de saúde, complementando serviços de testagem e aconselhamento de iniciativa do cliente gratuitos e subsidiados. • Todos os sectores governamentais relevantes e a sociedade civil, incluindo pessoas vivendo com o HIV, sector empresarial, organizações não governamentais, organizações baseadas na fé e mass media devem estar profundamente engajados. • A “prevenção positiva”, incluindo viver positivamente, como manter-se saudável e como reduzir a transmissão progressiva do HIV, é importante para abordar as necessidades de um largo número de pessoas vivendo com o HIV nesta fase da epidemia. • O pleno engajamento nacional envolvendo todos os sectores relevantes do governo, organizações de pessoas vivendo com o HIV, sociedade civil (por exemplo, o sector empresarial privado, organizações não governamentais, organizações de fé, os mass media e as organizações servindo populações não alcançadas pelos media nacionais, os sistemas de educação, bem como populações indígenas, refugiados e deslocados) devem ser engajados na resposta. 26 Rumo ao Acesso Universal “A PREVENÇÃO DO HIV É PARA TODA A VIDA” Nem todos os objectivos da prevenção podem ser alcançados a curto prazo. Mesmo as medidas de curto prazo devem ser repetidas sempre e sempre, para atingir novos grupos e manter a prevenção. Os resultados da prevenção a longo prazo exigem esforços sustentáveis e acumulados – incluindo uma série e até várias avenidas de acção convergentes, incluindo actividades de desenvolvimento de capacidades humanas e institucionais e de geração de recursos. Caixa 9: Reforçar as Estratégias de Redução do Risco, Vulnerabilidade e Impacto “Mais importante, uma abordagem abrangente da prevenção do HIV deve atacar não só o risco mas também as causas profundamente enraizadas da vulnerabilidade, que reduzem a capacidade dos indivíduos e comunidades para se protegerem a si próprios e aos outros contra a infecção. Isto necessita da provisão, por exemplo, de mais oportunidades e maior equidade na educação e no emprego para mulheres, jovens e populações marginalizadas, que são particularmente vulneráveis ao HIV; da capacitação das famílias para manter as suas casas e propriedades quando a incapacidade ou morte ocorrem; de programas de segurança alimentar especialmente para jovens e mulheres vulneráveis, e de medidas específicas de protecção para os refugiados e pessoas em situações de conflito e deslocadas.” Fonte: ONUSIDA (2006) Página -- de Intensificação da Prevenção, Genebra Actualmente existem várias novas tecnologias de prevenção do HIV que são prometedoras e que são objecto de testagens aleatórias controladas. Elas incluem microbicidas, diafragma vaginal, profilaxia pré-exposição com drogas antiretrovirais, supressão do herpes e tratamento do herpes e vacinas (7). O efeito de protecção parcial da circuncisão na prevenção da transmissão do HIV de mulher para homem foi confirmado em três estudos aleatórios controlados, levados a cabo em África, envolvendo mais do que 11 000 homens. Esses estudos confirmaram que a circuncisão masculina reduz o risco de aquisição do HIV em homens, em mais de metade. A circuncisão deve apenas ser oferecida sob certas condições de consentimento informado e em instalações sanitárias apropriadas e por profissionais adequadamente formados e equipados, com aconselhamento padrão pré e pós cirurgia, incluindo a necessidade de adoptar ou manter práticas sexuais seguras, incluindo o uso correcto e consistente do preservativo. Conter e inverter a epidemia do HIV exige equilibrar a necessidade de atingir resultados a curto prazo com esforços virados para uma meta a longo prazo, a de criar um ambiente que reduza o risco do HIV, promova a inovação e apoie o acesso sustentado e universal a prevenção, tratamento, cuidados e apoio para o HIV. 27 ESTABELECER METAS DE PREVENÇÃO AMBICIOSAS, REALISTAS E MENSURÁVEIS Figura 5. Fonte: UNAIDS (2006). Setting National Targets for Moving Towards Universal Access by 2010: Operational Guidance. Genebra Estabelecer metas ambiciosas e realistas afunila o foco da resposta nacional da prevenção. As metas podem ajudar a mobilizar o apoio político e comunitário para o acesso universal à prevenção do HIV e são instrumentos para a advocacia e mobilização de recursos. As metas irão variar de acordo com onde um país está na trajectória da epidemia, aumentando em escala e complexidade à medida que a prevalência do HIV aumenta. Estabelecer metas é um passo importante na planificação baseada nos resultados. Ele envolve uma hierarquia lógica, como se ilustra na figura 6. As metas nacionais fornecem uma medida para avaliar a acção e os resultados. Resultados nacionais ambiciosos mas realistas definem as prioridades estratégicas a serem tratadas em relação à população necessitada e à cobertura necessária para alcançar essas necessidades. Metas operacionais definem os contributos, processos e resultados exigidos para a meta nacional ser alcançada, o que, por outro lado, é o somatório das metas do programa. As metas do programa são estabelecidas e usadas pelos gestores para assegurar que as suas actividades estejam nos carris. As metas Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV 28 Rumo ao Acesso Universal Figura 6: A Hierarquia das Metas são expressas em termos de resultados concretos que incluem objectivos e medidas verificáveis “como se vai apresentar o sucesso”, para que os implementadores, beneficiários e outros intervenientes estejam claros de que estão a falar da mesma coisa. O documento do ONUSIDA, Setting National Targets for Moving Towards Universal Access (33) proporciona orientação operacional detalhada sobre estabelecimento de metas. Em 2006, os países embarcaram no processo de estabelecimento de metas para aumentarem a escala das suas respostas nacionais rumo ao acesso universal a prevenção, tratamento, cuidados e apoio para o HIV em 2010. No fim de 2006, 90 países tinham fornecido dados sobre metas e 84 países tinham estabelecido resultados para pelo menos uma medida de prevenção. Pelo menos um quarto dos 90 países que tinham estabelecido metas tinham avançado com os custos dos planos estratégicos ou de acção do HIV para alcançarem as suas metas (42). 29 ESTABELECIMENTO DE METAS EM DIFERENTES CENÁRIOS DA EPIDEMIA Em cenários concentrados e de baixo nível, as metas nacionais podem concentrar-se no fornecimento de serviços essenciais de prevenção do HIV para grupos populacionais vulneráveis e de maior risco. As metas específicas podem incluir a taxa de cobertura dos programas de prevenção do Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV HIV para grupos populacionais em maior risco; a percentagem de adultos que conhecem o modo de transmissão sexual do HIV e três métodos para a sua prevenção e a percentagem dos que reportam o uso do preservativo no último episódio de relação sexual casual ou comercial. Caixa 10: Passos para o estabelecimento de metas ambiciosas. • Rever a dinâmica do estado e da transmissão da epidemia do HIV • Definir e priorizar as medidas a serem incluídas na resposta nacional. • Estimar a dimensão dos grupos populacionais necessitados. • Rever as taxas actuais de cobertura e o histórico das taxas de crescimento, e projectar as realizações potenciais em 2010. • Determinar os recursos disponíveis, a capacidade actual de cobertura e o que é necessário para ultrapassar os obstáculos identificados. • Estimar o impacto sobre a taxa de crescimento que poderia resultar dos investimentos na ultrapassagem de obstáculos específicos na implementação. • Estabelecer metas ambiciosas e mobilizar recursos em conformidade. Fonte: UNAIDS (2006), Setting National Targets for Moving Towards Universal Access by 2010: Operational Guidelines, Genebra. Podem ser estabelecidas metas operacionais para actividades do programa, tais como mapeamento e estimativa do número de utilizadores de drogas injectáveis, homens que têm relações sexuais com homens e trabalhadoras do sexo; investigação da situação do HIV nas prisões em todas as principais localidades do país; identificação e envolvimento de representantes de grupos populacionais prioritários nos serviços de planificação; verificação sobre se a maioria dos grupos populacionais em maior risco têm acesso a informação a si adaptada sobre informação sobre HIV, aconselhamento e testagem voluntária e apoio para uma vida positiva; e garantia de que existem sistemas para monitorar as mudanças na prevalência do HIV e comportamentos de risco em intervalos regulares. Metas para cenários concentrados Estabelecer metas num cenário de epidemia concentrada inclui e inspira-se nas epidemias de baixo nível, com um aumento proporcionado na escala e na intensidade das medidas e metas das medidas de prevenção do HIV. Metas operacionais adicionais podem incluir a percentagem de todos os grupos populacionais 30 Rumo ao Acesso Universal móveis que tenham acesso equitativo a medidas essenciais de prevenção para grupos populacionais em maior risco; a percentagem de serviços de cuidados pré-natais em contextos de alto risco que oferecem serviços de prevenção da transmissão de mãe para filho, incluindo prevenção básica para mulheres, planeamento familiar e referência para terapia antiretroviral de mulheres grávidas que vivem com HIV, seus parceiros e filhos; e a percentagem de estabelecimentos de saúde de nível secundário que ofereçam serviços para infecções de transmissão sexual, aconselhamento e testagem voluntária para o HIV e diagnóstico e tratamento da tuberculose e outras infecções oportunistas. Metas para cenários generalizados Adicionalmente às metas que são apropriados para cenários baixos e concentrados, os países com epidemias generalizadas devem estabelecer metas operacionais para vários programas que são concebidos para prevenir um crescimento maior da epidemia, especialmente na população geral. As metas podem virarse para a percentagem de adultos e jovens com atitudes de aceitação em relação às pessoas que vivem com HIV; aumento da idade de início da actividade sexual entre os jovens; a percentagem de pessoas que vão ao aconselhamento e testagem voluntária que aceitam o aconselhamento pós teste e a referência; e a percentagem dos departamentos governamentais que aceitam a prevenção do HIV como um item dos seus orçamentos. Estabelecimento de metas num cenário hiper en démico Num cenário hiper endémico, devem ser abordadas todas as formas de comportamento não seguro, independentemente das sensibilidades sociais ou dificuldades políticas envolvidas. Para além dos tipos de metas operacionais estabelecidos numa epidemia generalizada, os países hiper endémicos podem estabelecer metas de curto e médio prazo, abordando a: • Percentagem do orçamento dispendido por todos os departamentos governamentais identificados em actividades relacionadas com a prevenção e tratamento do HIV; • Percentagem de ajuntamentos comunitários (p.e., governamentais locais, tribais, baseados na fé) que proporcionam a oportunidade para diálogo e planeamento sobre a prevenção e gestão do HIV; • Percentagem de órfãos e crianças tornadas vulneráveis devido ao HIV que são cobertas por medidas de protecção. 31 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV ADAPTAR OS SEUS PLANOS DE PREVENÇÃO A Tabela 1 sintetiza a priorização das medidas de prevenção recomendada para os vários cenários discutidos da epidemia. Algumas medidas são repetidas em todos os cenários, enquanto outras são adicionais ou são modificadas de um cenário para outro. Todas elas são indicadas de forma resumida neste documento panorâmico. Contudo, devem ser desenvolvidas especificações mais detalhadas no contexto dos processos locais de planeamento. Estas tabelas funcionam como listas de verificação tanto para o planeamento como para a avaliação dos programas existentes. A informação estratégica, as acções programática e política destacadas com fundo verde devem ser tratadas em primeiro lugar, para se caminhar mais rapidamente para os objectivos de prevenção. As que têm fundo branco são acções de apoio necessárias que irão ajudar a aumentar a proporção da prevenção. TABELA 1.1 O QUE FAZER EM CENÁRIOS DE BAIXO NÍVEL? Informação estratégica • Recolher e analisar informação estratégica para definir os grupos populacionais em maior risco e contextos de risco (31) e sobre a resposta ao HIV, capacidade da resposta e necessidades de recursos nos sectores público e privado. Fornecer os dados e as análises à Autoridade Nacional do SIDA e a outros intervenientes numa base regular. • Iniciar e/ou manter/adaptar um sistema de vigilância de segunda geração e estabelecer um sistema nacional de monitoria e avaliação do HIV para incluir inquéritos de comportamento em subgrupos populacionais, vigilância de infecções de transmissão sexual e outros indicadores biológicos de risco, vigilância de HIV em subgrupos populacionais, reporte de casos de HIV e rastreio de HIV em sangue doado. • Recolher informação sobre a resposta ao HIV e capacidade de resposta nos sectores público e privado, começando pelos contextos de alto risco. • Monitorar a cobertura dos programas de HIV, separados por subgrupo populacional, sexo, idade, estado civil e área geográfica; analisar a informação com os intervenientes; identificar as lacunas de implementação; coordenar com parceiros e ajustar os programas para satisfazerem as exigências e melhorar o seu desempenho. Acções programáticas • Assegurar alta cobertura dos grupos populacionais em maior risco com serviços de prevenção, tratamento e cuidados do HIV aceitáveis e de alta qualidade. Vide Tabelas 2.1 a 2.14 para descrições das medidas essenciais de prevenção do HIV para os vários grupos em risco. • Desenvolver a capacidade dos grupos populacionais em maior risco para organizarem, advogarem e fornecerem prevenção de pares, garantir a sua participação no desenho, fornecimento e avaliação dos serviços de prevenção. • Promover e proporcionar acesso a serviços abrangentes de prevenção, tratamento e cuidados, incluindo prevenção da transmissão de mãe para filho, para pessoas vivendo com HIV. 32 Rumo ao Acesso Universal •Proporcionar formação para pessoal de aplicação da lei para reduzir a hostilização nos centros de prevenção e tratamento que servem grupos populacionais em maior risco. • Integrar assuntos da prevenção do HIV, incluindo os efeitos adversos do estigma e discriminação, violência sexual, desigualdade de género, homo fobia e violações dos direitos humanos, nas campanhas mais amplas de saúde pública e desenvolvimento. • Promover programas com o objectivo de promover meios de sustento alternativos ao sexo comercial. • Proporcionar formação para os provedores de serviços (p.e., trabalhadores comunitários, sociais e de saúde) para trabalharem de forma eficaz com os grupos populacionais em risco. • Proporcionar educação sobre sexualidade e saúde reprodutiva, incluindo informação de prevenção do HIV e educação sobre questões como lidar com o estigma e discriminação, violência e abuso sexual, bem como sensibilidade e igualdade de género, para os jovens através do currículo escolar e para os professores através dos currículos de formação de professores. • Assegurar a aderência aos padrões de segurança sanguínea (49, 50, 51, 52) (todo o sangue e produtos sanguíneos testados ao HIV antes da transfusão; todos os centros de cuidados de saúde observarem as precauções universais). Acções políticas • Dar um mandato claro à Autoridade Nacional do SIDA para liderança, mobilização de recursos, coordenação e reporte e definir um plano orçamentado para uma prevenção eficaz do HIV, no contexto dos “Três Uns” e com reporte anual para o governo e sociedade civil sobre o desenvolvimento e implementação desse plano. • Mobilizar e alocar recursos para a prevenção do HIV suficientes para satisfazer as necessidades essenciais do plano de prevenção do HIV; seguir e analisar as despesas para melhorar a planificação dos ciclos futuros. • Rever e emendar legislação e políticas que criam e impõem barreiras à prevenção do HIV (p.e., leis que discriminam as mulheres e raparigas, criminalizam o trabalho sexual ou relações sexuais entre homens; ou que restringem o acesso a preservativos masculinos e femininos, agulhas e seringas esterilizadas e medidas de redução do dano, como o tratamento de substituição). • Promover uma imposição plena de leis contra o casamento de crianças, abuso sexual e violência baseada no género. • Rever a imposição de taxas e impostos ao utente para bens como kits de testes para HIV, preservativos masculinos e femininos, tratamentos para infecções de transmissão sexual e medicamentos antiretrovirais. • Rever todos os sectores para estabelecer que as práticas correntes não facilitam comportamentos de risco (p.e., promoção de turismo sexual, exigência de pernoita nos postos de travessia fronteiriça) ou impedimento de acesso a serviços de prevenção do HIV. • Rever, emendar e decretar leis e políticas adequadas e impor legislação anti discriminatória. 33 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV TABELA 1.2 O QUE FAZER EM CENÁRIOS CONCENTRADOS? Informação estratégica • Todas as acções delineadas para os cenários de baixo nível. • Incluir planos e orçamentos para vigilância de segunda geração10 no sistema nacional de monitoria e avaliação do HIV (27), que inclua todos os elementos recomendados para uma epidemia de baixo nível, ao lado de elementos adicionais que focalizam a intersecção de grupos com diferentes riscos (p.e., vigilância comportamental em subgrupos populacionais com comportamento de risco e grupos de ponte). • Levar a cabo pesquisa adicional sobre os padrões das redes sexuais para compreender o fluxo potencial da transmissão do HIV dos grupos populacionais em maior risco para a população geral. Acções programáticas • Todas as acções delineadas para os cenários de baixo nível. • Fornecer e promover aconselhamento e testagem voluntária do HIV com serviços de referência; começar pelos contextos de alto risco onde as taxas são altas e expandir para os sectores público e privado de saúde o mais rapidamente possível. • Proporcionar programas de prevenção e cuidados orientados para grupos populacionais vulneráveis e grupos de “ponte”, tais como populações móveis, forças de defesa e segurança, clientes de trabalhadoras do sexo e grupos de jovens de maior risco (Vide Tabelas 2.11 e 2.14). Acções políticas • Todas as acções delineadas para os cenários de baixo nível. • Formar e apoiar líderes (políticos, de redes de pessoas vivendo com HIV e comunidades vulneráveis, do sector privado, baseados na fé) para falarem contra o estigma e discriminação relacionados com o HIV e em favor dos direitos humanos, incluindo igualdade de género e acesso universal. 10 A vigilância de segunda geração envolve monitorar comportamentos de alto risco e as tendências serológicas do HIV ao longo do tempo entre os grupos populacionais em risco relativa ao HIV. 34 Rumo ao Acesso Universal TABELA 1.3 O QUE FAZER EM CENÁRIOS GENERALIZADOS? Informação estratégica • Todas as acções delineadas para os cenários de baixo nível e concentrados. • Incluir planos e orçamentos para vigilância de segunda geração no 11 sistema nacional de monitoria e avaliação do HIV (27), de acordo com as directrizes para epidemias generalizadas, incluindo vigilância de sentinela entre mulheres grávidas, urbanas e rurais; inquéritos trans-sectoriais de atitudes e comportamentos e infecção pelo HIV na população geral; inquéritos trans-sectoriais de atitudes e comportamentos entre jovens; vigilância do HIV e de comportamentos entre subgrupos populacionais com comportamento de alto risco; e dados sobre morbidade e mortalidade. • Realizar avaliações nacionais participativas periódicas sobre a resposta ao HIV e capacidade e necessidades de recursos da resposta nos sectores público e privado e do governo central para os níveis comunitários. Fornecer esta informação à Autoridade Nacional do SIDA e outros intervenientes, usando processos e eventos de alto perfil numa base regular para motivar a participação e coordenação entre os vários parceiros. • Colher e usar informação estratégica para compreender os contextos e causas dos comportamentos de risco predominantes e para orientar investimento e acção no sentido de atingir objectivos como desenvolvimento da capacidade humana e reforço do sistema e apoio universal aos direitos humanos, incluindo igualdade de género. • Colher e analisar dados provenientes de fontes adicionais para estimar a incidência do HIV em audiências chave, com vista a renovar a planificação da prevenção do HIV e mantê-la alinhada com a epidemia. Acções programáticas • Todas as acções delineadas para os cenários de baixo nível e concentrados. • Promover e providenciar prevenção, tratamento, cuidados e apoio relativo ao HIV para grupos populacionais em maior risco e pessoas vivendo com HIV (Vide Tabelas 2.1 a 2.14 para descrições das medidas essenciais de prevenção do HIV para os vários grupos em risco.) • Desenvolver capacidade para planificação e implementação da prevenção do HIV em organizações governamentais e não governamentais e sociedade civil, incluindo a capacidade de os grupos populacionais em maior risco e as pessoas vivendo com HIV se organizarem e advogarem, para fornecerem prevenção de pares e liderarem “programas de prevenção positivos”. Garantir a participação activa das comunidades no desenho, fornecimento e avaliação de serviços de prevenção. • Planear e implementar um programa nacional de comunicação para o HIV de longa duração (por exemplo, 5 anos) para mobilizar a sociedade e para criar um ambiente favorável para a prevenção, tratamento, cuidados e apoio. Os temas relevantes incluem: 11 Uma boa M&A exige tanto uma auto-avaliação interna como uma verificação externa. UNAIDS/The World Bank (2002). National AIDS Councils: Monitoring and Evaluation Operations Manual. Genebra. http://data. unaids.org/Publications/IRC-pub02/JC808-MonEval_en.pdf 35 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV – apoio para o aconselhamento e testagem do HIV e revelação do resultado, retardamento do início da actividade sexual, diminuição de parceiros, aconselhamento e testagem de casais e relações sexuais seguras e normalização do uso do preservativo; – expectativas de uma liderança vincada e radical por parte de políticos e outros líderes de opinião; – promoção de princípios e acções locais em favor dos direitos humanos, igualdade de género e tolerância zero para a violência baseada no género; e – promoção da solidariedade e apoio para as famílias e jovens afectados, incluindo crianças afectadas pelo HIV. • Proporcionar educação sobre sexualidade e saúde reprodutiva baseada em evidências através do currículo escolar; assegurar a inclusão da educação sobre sexualidade no currículo de formação de professores e para os jovens fora da escola em áreas de alto risco e alta prevalência através da educação de pares. • Assegurar o acesso universal ao aconselhamento e testagem, incluindo aconselhamento e testagem voluntária iniciada por provedores de acordo com as directrizes nacionais, começando pelas áreas de maior concentração do HIV. • Assegurar a disponibilidade universal e ininterrupta de preservativos e integrar a promoção do preservativo nos serviços de cuidados de saúde reprodutiva e primária nos sectores público e privado. • Priorizar programas para mulheres e homens que abordem os comportamentos de risco e a vulnerabilidade relacionada com o género. • Promover e providenciar uma gama completa de serviços de prevenção da transmissão de mãe para filho, começando pelas áreas urbanas e outras áreas com alta concentração de HIV. • Identificar contextos geográficos prioritários onde a circuncisão masculina tem probabilidade de ter o maior impacto na epidemia do HIV e, progressivamente, expandir o acesso a serviços seguros de circuncisão masculina no contexto da garantia de acesso universal à prevenção, tratamento, cuidados e apoio abrangentes relacionados com o HIV. • Promover serviços conjuntos de HIV/TB e serviços positivos de prevenção disponíveis em todos os hospitais. • Proporcionar programas de prevenção e cuidados centrados em grupos populacionais vulneráveis (p.e., populações móveis, forças de defesa e segurança, clientes de trabalhadoras do sexo e jovens em maior risco, como as crianças da rua e jovens na e fora da escola) numa base nacional e regional. • Fazer parceria com o Ministério do trabalho, associações de empregadores e sindicatos para promover a disponibilidade de serviços de prevenção e tratamento do HIV ou referência no local de trabalho. • Assegurar que os trabalhadores dos cuidados de saúde, da lei e ordem e dos serviços sociais sejam formados em matéria de HIV, incluindo género e direitos humanos. 36 Rumo ao Acesso Universal Acções políticas • Todas as acções delineadas para os cenários de baixo nível e concentrados. • Advogar e promover a remoção de taxas e impostos ao utente que reduzem o acesso e o uso de bens como kits de testes para HIV, preservativos masculinos e femininos, tratamentos para infecções de transmissão sexual e medicamentos antiretrovirais. • Formar e apoiar líderes (p.e., líderes políticos, líderes de redes de pessoas vivendo com HIV, comunidades vulneráveis, o sector privado, organizações baseadas na fé e médicos tradicionais) para falarem contra o estigma e discriminação relacionados com o HIV e a demonstrarem solidariedade e apoio para o acesso universal à prevenção, tratamento, cuidados e apoio relativos ao HIV. • Identificar os departamentos ou sectores governamentais que podem reduzir as situações de risco e serviços para os grupos populacionais de maior risco (p.e., através da redução da separação de cônjuges; imposição de leis e regulamentos sobre o tratamento dos presos) e envolvê-los na melhoria da resposta ao SIDA. • Promover e estimular ligações multissectoriais com os ministérios governamentais que estão ou deviam estar envolvidos na resposta ao SIDA (p.e., desenvolvimento local, acção social, saúde, educação, agricultura, juventude e desportos, mulher, recursos humanos, serviços de defesa e segurança) e estabelecer responsabilidades sectoriais claras para a redução do risco, redução da vulnerabilidade e redução do impacto para cada um. • Promover a circuncisão masculina como uma estratégia adicional e importante para a prevenção da infecção do HIV adquirida pelos homens por via heterossexual, como parte de um pacote abrangente de prevenção do HIV, que inclui a promoção do retardamento do início da actividade sexual, abstenção de relações sexuais penetrativas e redução do número de parceiros sexuais; provisão e promoção do uso correcto e consistente dos preservativos masculino e feminino; provisão de serviços de aconselhamento e testagem do HIV e tratamento de infecções de transmissão sexual. • Realizar uma revisão nacional de alto nível de todos os sectores com vista a avaliar se as práticas correntes promovem o comportamento de risco ou impedem o acesso a serviços de prevenção do HIV. 37 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV TABELA 1.4 O QUE FAZER EM CENÁRIOS HIPER ENDÉMICOS? Informação estratégica • Todas as acções delineadas para os cenários de baixo nível, concentrados e generalizados. • Realizar estudos comportamentais e etnográficos adicionais (p.e., jovens, raparigas, homens casados) para mapear e definir as redes sexuais, redes de comunicação e oportunidades para promover a mudança. Acções programáticas • Todas as acções delineadas para os cenários de baixo nível, concentrados e generalizados. • Assegurar uma participação bem informada, activa e visível de líderes na prevenção e resposta ao SIDA. • Desenvolver e implementar programas diversificados para jovens, atingindo tanto rapazes como raparigas, que incluam igualdade e respeito de género, acesso a serviços abrangentes de saúde sexual e reprodutiva, incluindo acesso a tratamento, assegurando acesso a informação, educação sobre sexualidade, habilidades para a vida. • Assegurar programas especiais para órfãos, crianças da rua e outras em alto risco, equacionando as necessidades para a redução do risco, vulnerabilidade e impacto. • Promover e assegurar o envolvimento masculino nos programas de saúde sexual e reprodutiva, incluindo a prevenção do HIV, tratamento de ITS, aconselhamento e testagem do HIV, serviços de prevenção da transmissão de mãe para filho. • Assegurar que os trabalhadores de cuidados de saúde e de outros serviços sociais sejam formados em matérias de HIV, incluindo estigma, direitos humanos e questões de género. • Identificar contextos geográficos prioritários onde a circuncisão masculina tem probabilidade de ter o maior impacto na epidemia do HIV e, progressivamente, expandir o acesso a serviços seguros de circuncisão masculina no contexto da garantia de acesso universal à prevenção, tratamento, cuidados e apoio abrangentes relacionados com o HIV. Acções políticas • Todas as acções delineadas para os cenários de baixo nível, concentrados e generalizados. • Criar consciência pública e exigir emendas na legislação e políticas que criam barreiras à prevenção do HIV, tais como leis que discriminam mulheres e raparigas. • Realizar uma revisão nacional de alto nível de todos os sectores com vista a avaliar se as práticas correntes promovem o comportamento de risco ou impedem o acesso a serviços de prevenção do HIV. • Promover a circuncisão masculina como uma estratégia adicional e importante para a prevenção da infecção do HIV adquirida pelos homens por via heterossexual, como parte de um pacote abrangente de prevenção do HIV, que inclui a promoção do retardamento do início da actividade sexual, abstenção de relações sexuais penetrativas e redução do número de parceiros sexuais; provisão e promoção do uso correcto e consistente dos preservativos masculino e feminino; provisão de serviços de aconselhamento e testagem do HIV e tratamento de infecções de transmissão sexual. 38 Rumo ao Acesso Universal USAR INFORMAÇÃO ESTRATÉGICA PARA PERMANECER EM DIA Conforme se observou na Caixa 3 (vide página 6), existem muitas fontes de informação estratégica que podem informar e apoiar uma tomada de decisões sólida, para melhorar a realização dos objectivos do programa. A importância da transparência O seguimento e o reporte do progresso feito pelos programas de prevenção, tratamento, cuidados e apoio tendentes a alcançar as metas operacionais deve ser inclusivo e transparente, através de um processo participativo de planificação. Isto realiza-se melhor em colaboração com outros intervenientes, incluindo as principais audiências. A prestação de contas pode ser ainda melhorada através do seguimento público da gestão financeira e das despesas, que verifique a alocação, uso e impacto dos gastos com o SIDA (29). Caso não se observe progresso Ao nível operacional, monitorar o progresso em direcção a pontos de referência e metas ajuda os gestores a saberem quando é necessário ajustar os seus programas. Caso não se observe qualquer progresso, os gestores do programa, intervenientes e comunidades devem perguntar e responder às seguintes questões: • A cobertura, intensidade e padrões de qualidade planeados para as medidas são adequadamente faseados, realistas e apropriados? • Os programas de prevenção estão a ser implementados conforme planeado, para os necessários padrões de qualidade e escala e para os grupos populacionais pretendidos? É necessária uma boa monitoria para identificar as lacunas da implementação para que sejam remediadas. • A actual combinação de medidas de prevenção do HIV está a satisfazer as necessidades de mudança? • São usadas metodologias inclusivas de planificação, monitoria e avaliação para assegurar o envolvimento de grupos populacionais em maior risco com vista a garantir uma “verificação da realidade” e servir os beneficiários de acordo com as suas necessidades? Recolha e uso contínuos de informação estratégica • Qual foi a causa da baixa aceitação dos serviços? Para serem eficazes, os programas devem incluir o seguimento e avaliação da epidemia e do impacto das medidas; auscultação e envolvimento de intervenientes; e ajustamento do programa de acordo com as evidências provenientes da monitoria e avaliação, incluindo o feedback dos que estão a ser servidos. • O programa de prevenção do HIV foi concebido e prétestado com a audiência beneficiária? Existem custos para os programas de prevenção do HIV, mas estes custos devem ser analisados em comparação com os custos: 39 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV Programa de Educação de Pares, Toco, Trinidade. O Leroy Serapio é encarregado deste programa. Ele e vários assistentes de pares conduzem uma sessão de habilidades de comunicação para estudantes de uma Escola Secundaria no centro de comunidade do Toco. • de não prevenir a propagação e expansão da epidemia do HIV; • do tratamento para as pessoas que ficam infectadas; • incorridos na perda de capital social com o aumento de infecções pelo HIV; • para as famílias e comunidades em termos de perda pessoal/ individual, familiar, social e económica; e • de lidar com uma epidemia maior mais tarde devido à inacção e inércia actual. Dados credíveis sobre o curso actual da epidemia, o provável desenvolvimento futuro e sobre os resultados e impacto dos serviços de prevenção são instrumentos poderosos para atrair a atenção dos fazedores de políticas que têm muitos imperativos e eleitorados concorrentes. É vital a apresentação de evidências e estimativas convincentes para assegurar decisões políticas em favor da mobilização adequada de recursos para a prevenção do HIV, incluindo as áreas da reforma legal e quadros económicos e de políticas sociais sólidos. 40 Rumo ao Acesso Universal CONCLUSÃO É imperiosamente necessária uma ênfase renovada na prevenção do HIV. As mais de quatro milhões de novas infecções por ano impõem um fardo insustentável às famílias e comunidades e aos esforços de tratamento que estão a lutar para alcançar todos os que estão hoje necessitados. O sucesso do movimento rumo ao acesso universal irá grandemente depender de os líderes manterem um grande foco sobre o objectivo de fornecer serviços essenciais de prevenção aos grupos populacionais mais necessitados. Estas Directrizes Práticas resumem os elementos da construção de programas nacionais fortes de prevenção do HIV e têm como objectivo apoiar os fazedores de políticas e planificadores nacionais nos sectores público e não governamental a priorizarem e sequenciarem os seus investimentos com vista a efectivamente aumentarem os seus esforços de prevenção. O crescimento firme da epidemia do HIV não tem origem primária em deficiências de conhecimento científico (“evidências”), ou nas estratégias de prevenção disponíveis. O crescimento continuado da transmissão do HIV resulta grandemente do facto de não serem usados os instrumentos altamente eficazes que estão disponíveis para abrandar a propagação do HIV e do facto de eles não serem fornecidos na intensidade e cobertura suficientes aos grupos populacionais mais necessitados. Caixa 11: Resumo dos requisitos para intensificação de prevenção eficaz 41 REFERÊNCIAS 1. African Union (2006). 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World Health Organization, Genebra. 44 Rumo ao Acesso Universal ANEXO I. MEDIDAS PRIORITÁRIAS DE PREVENÇÃO DO HIV PARA AUDIÊNCIAS CHAVE Uma mulher do norte da Tailândia com o seu bebé. No mundo inteiro, aproximadamente três quartos das infecções de HIV foram adquiridas através de relações sexuais desprotegidas. O corpo destas directrizes recomenda que os planificadores de programas de HIV usem informação estratégica para definirem os grupos populacionais em maior risco e os contextos de risco, e posteriormente adaptar as medidas de prevenção a essas pessoas e contextos de acordo com os seus cenários epidémicos e a capacidade da resposta ao HIV (Tabelas 1.1 a 1.4). As Tabelas 2.1 a 2.14 resumem os requisitos da prevenção do HIV específicos de 14 audiências chave. Os planificadores devem considerar que diferentes cenários epidémicos e diferentes audiências chave podem ser encontrados em diferentes áreas geográficas dentro do seu país ou dentro da sua região/ província. As tabelas que dizem respeito a grupos populacionais de maior risco ou mais vulneráveis de um país são componentes essenciais das medidas de prevenção recomendadas para cada cenário epidémico, conforme indicado nas Tabelas 1.1 a 1.4. Elas podem ajudar os planificadores a assegurar que a variedade das componentes necessárias estejam incluídas nos programas de prevenção do HIV desenhados para e com cada uma das suas audiências chave ou a avaliar os programas existentes quanto às lacunas em serviços essenciais. Dependendo dos recursos humanos e outros disponíveis, as medidas de prevenção podem ter que ser faseadas em – primeiro para os pontos quentes ou contextos com maior necessidade e depois para outras áreas geográficas. Apesar de que estas tabelas listam as medidas essenciais de prevenção e resumem os fundamentos para o investimento na prevenção em diferentes audiências, a escala e a intensidade da medida de prevenção no seio do programa nacional do SIDA deve ser determinado por investigação formativa sobre a situação local e pela resposta actual e pela capacidade de resposta. 45 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV Tabela 2.1 População geral Porquê? • Todas as pessoas têm direito a informação e serviços de saúde para promover a saúde e evitar contrair ou transmitir o HIV. • Em epidemias generalizadas, nenhuma porção da sociedade fica sem ser afectada e a necessidade de prevenção do HIV é universal. • Dirigir-se à população geral cria um quadro/ambiente para medidas de prevenção do HIV mais direccionadas para promover a mudança de comportamento e redução do estigma. O quê? • Campanhas coordenadas nos “mass media” segmentadas com base na audiência para aumentar a consciência, promover o debate público, aumentar o apoio a programas necessários e reduzir o estigma em relação a pessoas que vivem com o HIV e dentro dos grupos vulneráveis. • Campanhas para atacar as desigualdade sociais e de género e normas sexuais (p.e., relações sexuais intergeracionais) e para reduzir o estigma em relação à diversidade sexual. • Serviços de prevenção amplamente disponíveis, acessíveis e abrangentes para apoiar o retardamento do início da actividade sexual, a fidelidade mútua, a redução do número de parceiros, o uso dos preservativos masculino e feminino e o acesso a serviços de saúde reprodutiva, planeamento familiar e de infecções de transmissão sexual. • Reforma legal para remover barreiras ao acesso a serviços de prevenção. • Legislação contra a discriminação de pessoas vivendo com o HIV e de grupos vulneráveis. • Educação sobre sexualidade abrangente e baseada em evidências nas escolas. Como? • Assegurar que a Autoridade Nacional do SIDA estabeleça e contribua para uma estratégia nacional coordenada de comunicação para a saúde. • Estabelecer acordos com autoridades da educação para estabelecer educação sobre sexualidade abrangente no sistema escolar. • As mensagens devem ser testadas para garantir a eficácia. Diferença nos cenários da epidemia • Baixo: foco no aumento da consciência, incluindo educação em habilidades para a vida e redução do estigma. • Concentrado: todas as acções acima mencionadas com foco em todos os grupos populacionais e em particular jovens, mulheres e homens. • Generalizado: foco em todos os grupos populacionais. 46 Rumo ao Acesso Universal Tabela 2.2 Utilizadores de drogas injectáveis Porquê? • A propagação do HIV através de agulhas contaminadas entre os utilizadores de drogas injectáveis está entre as formas mais explosivas (as taxas cresceram de 5% a 50% num ano em muitos grupos populacionais de utilizadores de drogas injectáveis). • Os utilizadores de drogas injectáveis frequentemente enfrentam múltiplos riscos, tais como trabalho sexual e uso de drogas e muitas vezes são encarcerados por posse de drogas, o que aumenta o seu risco de contrair e transmitir o HIV. • Há evidência de que os utilizadores de drogas injectáveis pretendem proteger-se a si próprios, seus parceiros sexuais e a sociedade em geral. • Medidas de redução do dano (13), tais como o acesso a material de injecção esterilizado; tratamento contra a dependência da droga com metadona e buprenorfina; extensão baseada na comunidade e provisão de informação de prevenção do HIV estão entre as medidas mais eficazes e mais rentáveis para prevenir a epidemia entre os utilizadores de drogas injectáveis. Quanto mais cedo forem implementados os programas de prevenção do HIV, mais eficaz e barata será a medida específica (48). • Desafios/matérias não adequados relativos à ilegalidade do uso de drogas injectáveis e programas de redução do dano podem afastar os utilizadores de drogas injectáveis dos serviços e/ou levá-los às prisões e alimentar a propagação da epidemia. O quê? • Cobertura adequada e pouco acesso a estímulos para iniciar – incluindo, nos estabelecimentos correccionais, a equipamento de injecção esterilizado – para satisfazer os padrões actuais do uso de drogas. • Acesso a programas não coercivos de tratamento de qualidade contra drogas, especialmente tratamento de substituição de drogas como a metadona e a buprenorfina. • Remoção de medidas estigmatizantes e coercivas como o registo obrigatório e a testagem forçada ao HIV. • Aumento do acesso dos utilizadores de drogas injectáveis a provedores de serviços que oferecem tratamento para dependência de drogas, infecções de transmissão sexual, SIDA e tuberculose. • Formação de provedores de saúde para aumentar a familiarização e eficácia do trabalho com utilizadores de drogas injectáveis e trabalhadoras do sexo e formar os trabalhadores da imposição da lei particularmente com vista a diminuir a hostilização nos centros de prevenção e tratamento que servem utilizadores de drogas injectáveis e trabalhadoras do sexo. • Promoção do uso apropriado e consistente dos preservativos masculino e feminino e garantia da sua disponibilidade, acessibilidade e fornecimento consistente. • Acesso a prevenção do HIV, tratamento antiretroviral e serviços de cuidados, incluindo profilaxia pós-exposição, para parceiros de utilizadores de drogas injectáveis. • Criação de espaços virtuais ou físicos seguros (por exemplo, linhas directas de telefone ou centros de acolhimento, respectivamente) para os utilizadores de drogas injectáveis procurarem informação e referência para cuidados e apoio. • Remoção de barreiras legais ao acesso à prevenção e cuidados, tais como leis e políticas que impedem a provisão de material esterilizado de injecção e/ou a tratamento de substituição de drogas como a metadona e a buprenorfina e ao envolvimento significativo dos utilizadores de drogas em todos os níveis da planificação e apoio político e financeiro às suas organizações. • Disponibilidade e promoção activa de imunização contra a hepatite para os utilizadores de drogas injectáveis e seus parceiros sexuais. 47 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV • Serviços orientados de saúde reprodutiva e prevenção da transmissão de mãe para filho direccionados para as necessidades das mulheres utilizadoras de drogas injectáveis e parceiras de utilizadores de drogas injectáveis. Como? • Promover programas de extensão liderados por pares baseados na comunidade. • Promover cobertura adequada de uma gama completa de medidas de redução do dano – particularmente acesso a seringas e agulhas esterilizadas e tratamento de substituição de drogas. • Assegurar o envolvimento e cometimento das autoridades de controlo de narcóticos. Diferenças nos cenários da epidemia? • As medidas de prevenção do HIV são as mesmas independentemente do estágio da epidemia. Tabela 2.3 Trabalhadores de cuidados de saúde Porquê? • Os trabalhadores de cuidados de saúde e seus clientes devem ser protegidos da aquisição de infecções nos centros de cuidados de saúde. • A aderência às precauções universais protege contra o HIV e outras infecções transmitidas através do sangue. • Os trabalhadores dos cuidados de saúde precisam de estar confiantes de que realizar as suas obrigações não vai pôr as suas vidas ou das pessoas com quem interagem em perigo. O quê? • Aderência às precauções universais em todos os centros de cuidados de saúde. • Formação e sensibilização dos trabalhadores de cuidados de saúde para evitarem o estigma e a discriminação contra clientes e pacientes. • Disponibilidade e promoção de imunizações contra a hepatite para os trabalhadores de cuidados de saúde. • Disponibilidade de profilaxia pós-exposição para os trabalhadores de cuidados de saúde. • Serviços confidenciais de aconselhamento e testagem do HIV. • Acesso a tratamento antiretroviral e cuidados para trabalhadores de cuidados de saúde. Como? • Disponibilidade segura de bens para as precauções universais e eliminação de lixo contaminado. • Política de local de trabalho para os trabalhadores de cuidados de saúde e pessoal de laboratório. • Formação contínua e orientação dos trabalhadores de cuidados de saúde. Diferenças nos cenários da epidemia? • Mesmo pacote em todos os estágios da epidemia. 48 Rumo ao Acesso Universal Tabela 2.4 Homens Porquê? • O comportamento masculino é um determinante chave da pandemia, e os homens têm um papel essencial a jogar para acabar com ela. Estratégias sobre como conseguir o envolvimento/engajamento masculino e alcançar essas mudanças de comportamento são menos claras e a “evidência para a eficácia” é difícil de obter. • As definições sociais da masculinidade e os comportamentos que os rapazes e homens aprendem muitas vezes incluem comportamentos que os põem a eles e suas parceiras sexuais em risco de HIV. • Os homens podem praticar sexo mais seguro, ser fiéis, limitar parceiras, abster-se de fazer coerção e violência sexual e praticar a igualdade de género, e como líderes políticos e sociais, os homens podem promover medidas similares através da alocação de recursos e aprovação e imposição de leis. • Trabalhar com os homens para mudar o seu comportamento de risco deve ser uma prioridade de topo, e muitos outros benefícios de saúde e sociais daí irão derivar (tais como redução na coerção e violência sexual ou gravidezes indesejadas). O quê? • Mobilização política e social massiva para abordar normas sexuais, igualdade de género, fidelidade, respeito mútuo e consentimento nas relações sexuais e casamento, redução de parceiros sexuais e aumento do uso dos preservativos masculino e feminino. • Integrar o género em todos os programas de HIV e envolver os homens na prevenção e programas mais amplos de saúde sexual e reprodutiva. • Comunicação para desafiar o comportamento de risco e normas sociais. • Utilizar programas de marketing social amplos e/ou direccionados para aumentar o uso do preservativo e promover o aconselhamento e testagem voluntária do HIV, revelação do estado HIV a parceiros sexuais e uso de preservativo por parceiros discordantes. Como? • Extensão para alcançar os homens através do local de trabalho, sector de saúde e contextos de alto risco. • Campanhas coordenadas nos “mass media”, segmentadas por audiências, que abordem normas sexuais de alto risco, promovam a igualdade de género e responsabilidades familiares e comunitárias e reduzam ligações múltiplas e co-ocorrentes. • Reforço de serviços do sector de saúde, incluindo encorajamento de mulheres para levarem os seus parceiros aos serviços de saúde reprodutiva e aumento de serviços públicos, privados e tradicionais de infecções de transmissão sexual onde eles sejam frequentados geralmente por homens. Diferenças nos cenários da epidemia? • Baixo: os programas de prevenção devem assegurar que os homens tenham uma consciência geral das medidas de prevenção, mas devem centrar-se na abordagem da desigualdade de género, estigma e discriminação. • Concentrado e acima: medidas acima listadas. 49 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV Tabela 2.5 Homens que têm relações sexuais com homens Porquê? • Potencial para uma rápida propagação no seio do grupo populacional, se a taxa de sexo anal desprotegido for alta. • Alto potencial de benefício na prevenção do HIV. Evidências de eficácia de programas vindas de numerosos países nos anos 80 e 90 (11). • Crescimento potencial nos comportamentos de risco devido à fadiga da prevenção e complacência com o SIDA. O quê? • Garantia de direitos humanos; remoção de barreiras legais ao acesso à prevenção e cuidados, tais como leis que criminalizam relações sexuais entre homens. • Uso consistente e apropriado de preservativos, incluindo acesso a preservativos e lubrificantes à base de água. • Disponibilidade de tratamento de qualidade para infecções de transmissão sexual e referência para serviços de HIV (aconselhamento e testagem voluntária, clínicas especializadas, etc.). • Empoderamento de comunidades de homossexuais, lésbicas, bissexuais e trans-sexuais para participarem em pé de igualdade na vida social e política. • Disponibilidade de espaços virtuais ou físicos seguros (por exemplo, linhas directas de telefone ou centros de acolhimento, respectivamente) para os homens que têm relações sexuais com homens procurarem informação e referência para cuidados e apoio. • Formação e sensibilização de provedores de cuidados de saúde para evitarem a discriminação contra homens que têm relações sexuais com homens. • Acesso a assistência médica e jurídica para rapazes e homens que sofrem coerção ou violência sexual. • Disponibilidade de informação específica e orientada sobre prevenção e estratégias de redução do risco desenhados para atrair e satisfazer as necessidades dos homens que têm relações sexuais com homens. • Acesso a serviços de informação e prevenção e cuidados para os parceiros femininos de homens que têm relações sexuais com homens. • Disponibilidade e promoção da imunização contra hepatite. • Deve ser feito um esforço específico para satisfazer as necessidades de informação e serviços de prevenção para trans-sexuais que podem não se identificar como HSH. Como? • Avaliações locais da dimensão e características das comunidades de homens que têm relações sexuais com homens. • Medidas comunitárias/orientadas por pares dentro da comunidade de homens que têm relações sexuais com homens; extensão por meio de pares em locais (e sítios de internet) onde os homens que têm relações sexuais com homens se socializam. • Assegurar a participação de homens que têm relações sexuais com homens na prevenção, planificação da resposta, extensão, promoção do preservativo, etc. 50 Rumo ao Acesso Universal • Campanhas de consciencialização pública para promover a inclusão de comunidades sexuais alternativas e reduzir a aceitabilidade da homo fobia. • Reforçar as referências entre a prevenção, cuidados e tratamento. • Ligações multissectoriais entre ministérios da habitação, acção social, justiça e polícia. Diferenças nos cenários da epidemia? • Baixo: assegurar a disponibilidade de um pacote essencial de serviços em pelo menos todas as principais áreas urbanas e publicitar a sua disponibilidade através de lugares seguros. • Concentrado e acima: alta cobertura de homens que têm relações sexuais com homens. • As medidas essenciais de prevenção do HIV são as mesmas em todos os estágios da epidemia. Tabela 2.6 Pessoas vivendo com HIV Porquê? • O facto de que está a aumentar o número de pessoas vivendo com HIV que estão conscientes do seu estado e que sobrevivem devido ao tratamento antiretroviral proporciona uma grande oportunidade para a prevenção. • As pessoas recentemente diagnosticadas são a maior fonte de informação qualitativa sobre a razão por que falharam os programas e sobre o que pode ser feito para melhorálos. • Na administração da terapia antiretroviral, perdem-se muitas oportunidades para abordar a prevenção no contexto do tratamento e cuidados e os múltiplos pontos de contacto entre pessoas vivendo com HIV e serviços de cuidados de saúde. • As pessoas vivendo com HIV que tomam voz activa têm sido o recurso mais poderoso para quebrar o silêncio sobre o HIV, criar consciência e apoiar a importância da prevenção (12). O quê? • Fornecer aconselhamento pré e pós teste para redução do risco e acesso a tratamento, cuidados e apoio confidenciais e a preço comportável para todas as pessoas vivendo com HIV, incluindo tratamento de qualidade para infecções de transmissão sexual. • Proporcionar apoio a grupos e redes de auto-ajuda de pessoas vivendo com HIV. • Criar espaços virtuais ou físicos seguros (por exemplo, linhas directas de telefone ou centros de acolhimento, respectivamente) para as pessoas vivendo com HIV, ou as que acreditam que têm HIV, procurarem informação e referência. • Incluir aconselhamento preventivo nos programas de administração de terapia antiretroviral. • Proporcionar assistência na compreensão plena de questões de revelação do estado em relação a futuros parceiros sexuais e apoio na negociação de uma vida sexual mais segura e saudável. Proporcionar apoio para aconselhamento de casais e baseado na família, testagem e referência. • Assegurar fornecimentos adequados de preservativos masculino e feminino e promover o seu uso adequado e consistente. • Promover campanhas para reduzir o estigma e a discriminação. • Promover a disponibilidade e uso de profilaxia pós-exposição. 51 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV Como? • Assegurar protecção legal e apoio social para pessoas vivendo com HIV. • Assegurar aconselhamento pós teste e centros de aconselhamento e testagem voluntária e estabelecimentos de saúde. • Facilitar a formação de redes de apoio e grupos de auto-ajuda (reconhecendo a diversidade nas populações e necessidades das pessoas vivendo com HIV). • Apoiar iniciativas para encorajar um maior envolvimento de pessoas vivendo com HIV. Diferenças nos cenários da epidemia? • Baixo e concentrado: campanhas coordenadas nos mass media segmentadas por audiências com vista a aumentar a consciência, promover o debate público, reduzir o estigma e a discriminação. • Médio e alto generalizado: mobilização política e social massiva para atacar normas sexuais, encorajar o aconselhamento e testagem e aconselhar a solidariedade com os infectados e afectados. • As medidas essenciais de prevenção do HIV são as mesmas em todos os estágios da epidemia. Tabela 2.7 Populações em emergência humanitária Porquê? • Populações em emergência humanitária (populações deslocadas, populações afectadas por conflitos, desastres e outras emergências e por vezes trabalhadores humanitários) podem estar em risco de infecção pelo HIV devido à sua mobilidade, destruição de infraestruturas, violência sexual, violação sexual como arma de guerra, ruptura de normas sociais e outros factores associados com deslocação e conflitos. O quê? • Aderência às precauções universais nos centros de cuidados de saúde e acesso a sangue seguro. • Disponibilidade acrescida e consistente e uso apropriado de preservativos masculino e feminino. • Disponibilidade e provisão de contraceptivos e profilaxia pós-exposição de emergência, especialmente para mulheres que tenham sido vítimas da guerra e trabalhadores humanitários. • Campanhas de informação-educação-comunicação e de media para abordar riscos e vulnerabilidades específicas ao HIV. Como? • Advocacia perante doadores, organizações humanitárias e governos nacionais. • Insistência para que as organizações humanitárias implementem directrizes sobre medidas de prevenção do HIV em contextos de emergência desde as suas primeiras fases. • Mobilização social para abordar normas sociais, redução de parceiros, aumento do uso de preservativos nas situações humanitárias. • Disponibilidade das precauções universais e garantia da aderência às precauções universais. 52 Rumo ao Acesso Universal • Desenvolvimento de capacidade/formação de parceiros de implementação. • Combinação do financiamento humanitário e de desenvolvimento. Diferenças nos cenários da epidemia? • Baixo: aumentar a consciência e promover a prevenção do HIV através dos serviços de saúde sexual e reprodutiva e através de parcerias com programas gerais de saúde e desenvolvimento. • Concentrado: foco sobre específicos grupos populacionais altamente vulneráveis. • Generalizado e acima: mobilização massiva. Tabela 2.8 Mulheres grávidas Porquê? • A transmissão do HIV de pais para filho é responsável pela maioria das infecções em crianças. As estratégias disponíveis podem reduzir a transmissão de mãe para filho de 30% para menos de 1%. Em países e zonas de países com alta prevalência do HIV, a cobertura é extremamente baixa (p.e., <10% na África Subsahariana). Embora os programas possam dirigir-se a mulheres grávidas, é importante que ambos os pais compreendam os seus papéis e responsabilidades na prevenção do HIV. O quê? • Prevenção do HIV em mulheres e raparigas (vide Tabela 2.13). • Aconselhamento e testagem voluntária do HIV na gravidez, com tratamento, cuidados e apoio, para mulheres. • Medicação antiretroviral pré-natal e na altura do parto para mulheres grávidas com HIV. • Práticas de parto seguras e aconselhamento e apoio para estratégias de redução do risco de transmissão via amamentação. • Programas para satisfazer as necessidades de alimentos e de nutrição para mulheres grávidas e em amamentação. • Cuidados e apoio para a mãe, seu parceiro, o bebé e outros elementos da família. • Acesso universal a serviços de saúde reprodutiva, incluindo planeamento familiar. Como? • Reforçar serviços de saúde reprodutiva abrangentes e torná-los acessíveis a todos. • Mobilização da comunidade em torno da prevenção da transmissão de mãe para filho, com apoio para medicamentos antiretrovirais em casa para partos em casa e apoio a estratégias de redução do risco de transmissão via amamentação e redução do estigma relacionado com a amamentação exclusiva. Diferenças nos cenários da epidemia? • Todos os estágios da epidemia: capacidade para lidar com o HIV em todos os serviços de saúde reprodutiva; educação pública sobre prevenção da transmissão de mãe para filho. 53 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV Tabela 2.9 Presos Porquê? • Têm sido observadas, em muitos países, taxas significativamente mais altas de infecção pelo HIV entre presos do que na população geral. Relações sexuais entre homens e uso de drogas prevalecem em muitas prisões. Muitos presos não têm acesso a serviços de prevenção do HIV. • Utilizadores de drogas injectáveis, homens que têm relações sexuais com homens e trabalhadoras do sexo estão em grande probabilidade de serem presos porque os seus comportamentos são ilegais em muitos países. • As prisões podem ser usadas como uma boa oportunidade de promover a prevenção do HIV. Boa saúde nas prisões é boa saúde pública. • A prisão apresenta uma oportunidade focalizada para influenciar o comportamento de indivíduos em risco antes de regressarem à sociedade. O quê? • Remoção de barreiras legais e reforma dos procedimentos/regras das cadeias para permitir o acesso dos presos a serviços de prevenção e cuidados para o HIV. • Disponibilidade de preservativos, seringas e agulhas e equipamento para fazer pierce esterilizados e promoção do uso adequado e consistente do preservativo. • Acesso a programas de tratamento contra a droga, especialmente tratamento de substituição de drogas, com a devida protecção da confidencialidade. • Acesso a aconselhamento e testagem do HIV, antiretrovirais e tratamento e cuidados para tuberculose e tratamento de qualidade para infecções de transmissão sexual. • Revisão das leis de controlo de drogas; regulação de alternativas à prisão para pequenos crimes relacionados com drogas; oferta de tratamento para utilizadores de drogas em vez de prisão. • Intervenções estruturais para reduzir a superlotação das cadeias, redução do período de prisão preventiva e julgamentos rápidos e reforma das penas. • Alojamento e estabelecimentos separados para presos jovens. Como? • Provisão de uma gama completa de serviços para o HIV como parte dos serviços de saúde prisionais. • Programas de apoio de pares geridos por presos com penas longas ou ex-presos. • Programas pós libertação – estabelecer ligações com os programas de prevenção e cuidados na comunidade. Diferenças nos cenários da epidemia? • As medidas de prevenção do HIV são as mesmas em todos os estágios da epidemia. 54 Rumo ao Acesso Universal Tabela 2.10 Receptores de sangue ou produtos sanguíneos Porquê? • A eficiência da transmissão do HIV através do sangue e produtos sanguíneos é alta e, por isso, a testagem ao HIV é imperativa. O quê? • Construir um amplo reconhecimento da obrigação ética e legal de proteger os receptores de sangue e produtos sanguíneos. • Assegurar a testagem do HIV em todo o sangue e produtos sanguíneos destinados a transfusão. • Promover a doação de sangue seguro. • Assegurar a disponibilidade de serviços de aconselhamento e testagem para receptores de sangue e produtos sanguíneos. Como? • Testagem obrigatória de todo o sangue e produtos sanguíneos. Diferenças nos cenários da epidemia? • Nenhuma diferença entre os diferentes estágios da epidemia. Tabela 2.11 Trabalhadoras do sexo Porquê? • As trabalhadoras do sexo têm um grande número de parceiros sexuais; protegê-las do HIV beneficia-as e tem um grande potencial de benefício de prevenção para a população geral. • Os programas de prevenção do HIV com trabalhadoras do sexo são altamente rentáveis. As evidências mostram que manter níveis de HIV baixos entre as trabalhadoras do sexo abranda a propagação da epidemia. • Existe forte evidência de eficácia dos programas de prevenção para trabalhadoras do sexo. O quê? • Promover o uso consistente e adequado do preservativo para atingir >90% de uso na última relação sexual com parceiro não regular; garantir a disponibilidade consistente de preservativos masculino e feminino de qualidade. • Assegurar a disponibilidade de serviços de cuidados de saúde abrangentes, com especial ênfase para tratamento de qualidade para infecções de transmissão sexual. • Integrar a redução da violência [tanto social como estrutural] no contexto do trabalho sexual e envolver as trabalhadoras do sexo na imposição de políticas e regulamentos da protecção de crianças. • Trabalhar com as trabalhadoras do sexo para assegurar a participação no desenvolvimento, implementação e monitoria de serviços de prevenção. • Atacar as barreiras estruturais, incluindo políticas, legislação e práticas costumeiras que impedem o acesso e uso de serviços apropriados de prevenção, tratamento e cuidados. • Rever leis para assegurar a capacidade das trabalhadoras do sexo para se protegerem e para assegurar práticas sexuais mais seguras por parte dos seus clientes. 55 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV • Proporcionar acesso a aconselhamento e testagem do HIV e cuidados para o SIDA. Incluindo tratamento antiretroviral e serviços de prevenção. • Assegurar a disponibilidade de serviços de saúde sexual e reprodutiva, incluindo acesso a serviços de prevenção da transmissão de mãe para filho. • Ligar os programas de prevenção do HIV com todos os serviços relevantes de acção social, incluindo o estabelecimento de mecanismos de apoio social para trabalhadoras do sexo e suas famílias. • Apoiar as mulheres para deixarem o trabalho sexual e fornecer uma gama de serviços legais, económicos e sociais para as que estão no trabalho sexual. Como? • Extensão baseada no contexto (orientada por organizações não governamentais). • Desenvolver ligações multissectoriais – família, acção social, trabalho e sector económico, sindicatos de trabalhadores, sector privado e sociedade civil. • Mobilização política e social para atacar normas sexuais, redução do número de parceiros, aumento do uso do preservativo. Diferença nos cenários da epidemia • Baixo e concentrado: extensão baseada no contexto. • Generalizado e acima: foco sobre todos os adultos masculinos do país. Tabela 2.12 Trabalhadores dos transportes e motoristas comerciais, populações móveis, pessoal das forças de defesa e segurança e clientes/parceiros não regulares de trabalhadoras do sexo Porquê? • Grupos populacionais como os parceiros sexuais dos utilizadores de drogas injectáveis, clientes de trabalhadoras do sexo (incluindo camionistas, forças de defesa e segurança, populações móveis e trabalhadores longe de casa), parceiros regulares de trabalhadoras do sexo, parceiras femininas de homens que têm relações sexuais com homens, podem aumentar a transmissão no seio dos contextos de risco e propagarem o HIV para a população geral. O quê? • Foco sobre os cônjuges masculinos, parceiros masculinos e femininos de utilizadores de drogas injectáveis. • Uso consistente e apropriado de preservativos. • Disponibilidade de tratamento de qualidade para infecções de transmissão sexual e outros serviços de saúde sexual e reprodutiva, incluindo informação, aconselhamento e testagem do HIV. • Remoção de barreiras legais ao acesso a prevenção e cuidados. • Políticas e programas no local de trabalho para normatizar a prevenção do HIV, garantir a prevenção e serviços confidenciais do HIV e prevenir a separação de cônjuges e outros factores de risco. • Educação sobre HIV e aumento do uso do preservativo nos “mass media” sobre saúde para informar as populações, incluindo os grupos populacionais de ponte em maior risco. • Comunicação para a mudança social com vista a mostrar as complexidades e promover o diálogo. 56 Rumo ao Acesso Universal • Campanhas nos “mass media” para atacar as desigualdades sociais e de género, normas sexuais (por exemplo, relações sexuais intergeracionais), sexo comercial e para promover diálogo sobre direitos sexuais, direitos humanos e para reduzir o estigma. Como? • Extensão baseada no contexto (orientada por organizações não governamentais). • Desenvolver ligações multissectoriais – família, acção social, trabalho e sector económico, sindicatos de trabalhadores, sector privado e sociedade civil. • Mobilização política e social para atacar normas sexuais, redução do número de parceiros, aumento do uso do preservativo. Diferença nos cenários da epidemia • Baixo e concentrado: extensão baseada no contexto. • Generalizado e acima: foco sobre todos os adultos masculinos do país. Tabela 2.13 Mulheres e raparigas Porquê? • As mulheres e as raparigas são particularmente vulneráveis à infecção pelo HIV. As raparigas jovens, entre os 15 e os 24 anos de idade, têm uma probabilidade três a quatro vezes maior de ficarem infectadas do que os rapazes e as taxas de infecção nas mulheres estão a aumentar em todas as regiões e muitos países. • Práticas como o casamento de crianças, coerção e violência sexual; falta de poder das mulheres para negociarem sexo seguro; outros desequilíbrios e desigualdades de género e pobreza tornam a adopção da abstinência, a fidelidade ou o uso do preservativo impossíveis para a maioria das mulheres e raparigas vulneráveis. • Muito poucas raparigas e mulheres têm acesso a informação, educação sobre sexualidade ou serviços de saúde que as empoderem contra o HIV. O quê? • Serviços de saúde reprodutiva abrangentes, acessíveis a todas as mulheres e raparigas, independentemente do seu estado civil. • Espaços físicos ou virtuais seguros (por exemplo, centros de acolhimento ou linhas directas de telefone, respectivamente) aonde as mulheres e raparigas podem ir procurar informação e referência para aconselhamento e testagem voluntária, tratamento, cuidados e apoio. • Campanhas contínuas nos “mass media” atacando as desigualdades sociais e de género, normas sexuais nocivas, sexo comercial, estigma, direitos das mulheres, incluindo engajamento e liderança por homens. • Proibições legais e políticas da violência contra mulheres, incluindo coerção e violação sexual e provisão de apoio legal e financeiro para a sua imposição. • Igualdade de género na educação, emprego, crédito e lei (incluindo direitos de herança e propriedade). • Programas para promover o acesso a preservativos masculinos e femininos, aconselhamento e testagem voluntária do HIV, aconselhamento de casais, apoio para a revelação voluntária e prevenção da transmissão de pais para filhos. • Envolvimento de homens e rapazes na prevenção do HIV e redução da desigualdade de género. 57 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV Como? • Estabelecer e cumprir metas para tornar acessíveis a todas as mulheres e raparigas a prevenção, preservativos femininos, aconselhamento e testagem voluntária ao HIV, prevenção da transmissão de mãe para filho e tratamento ou referência. • Em todos os sectores, estabelecer objectivos programáticos de igualdade de género e fazer com que os ministérios prestem contas anualmente. • Em todos os sectores, estabelecer programas específicos para alocar recursos para trabalhar com mulheres e raparigas; incluir informação sobre SIDA e referência em todos os programas para mulheres e raparigas. • Reforçar, introduzir e impor leis contra coerção e violência sexual contra mulheres e discriminação com base no sexo; eliminar as leis e práticas discriminatórias existentes. • Estabelecer e usar regularmente um mecanismo consultivo representativo das mulheres de diferentes origens e assegurar a participação das mulheres em todos os mecanismos consultivos da sociedade civil. Diferenças nos cenários da epidemia? • Baixo: aumentar a consciência e promover a prevenção do HIV através de serviços de saúde sexual e reprodutiva; educação abrangente sobre sexualidade para mulheres e raparigas dentro e fora do sistema de educação; educação pública e através de parcerias com os programas gerais de saúde e desenvolvimento. • Concentrado e acima: em adição às acções para os cenários de baixo nível, com extensão intensiva para engajar as mulheres em todos os passos da vida nos seus papéis sociais e de liderança. Tabela 2.14 Jovens Porquê? • Os jovens dentro da escola são fáceis de atingir e estão acessíveis em grande número. • Os jovens dão um poderoso recurso de prevenção. • Adoptar comportamento e atitudes seguros é mais fácil se se começar antes de os padrões se formarem. • Os jovens são uma parte importante dos grupos populacionais em maior risco, incluindo as trabalhadoras do sexo e seus clientes, homens que têm relações sexuais com homens e utilizadores de drogas injectáveis. • Jovens que tenham perdido um ou os dois pais, que são pobres ou por qualquer outra razão desfavorecidos são especialmente vulneráveis. • Além do mais, nas epidemias generalizadas, 40% das novas infecções ocorrem entre jovens dos 15 aos 24 anos, com as raparigas e mulheres jovens desproporcionalmente afectadas – o que as torna outra prioridade de topo para a prevenção do HIV. O quê? • Educação e extensão de pares para jovens fora da escola, crianças e adolescentes envolvidos em trabalho de sexo, jovens da rua. • Inclusão nos currículos escolares de questões do HIV, género, saúde sexual e reprodutiva e uso de drogas; as desigualdades de género devem ser atacadas através do desenvolvimento de habilidades de vida para rapazes e raparigas. • Atacar as relações sexuais intergeracionais e comerciais através de campanhas para a mudança social. 58 Rumo ao Acesso Universal • Assegurar o acesso a educação sexual abrangente. • Assegurar o acesso a serviços de saúde amigos dos jovens e aconselhamento e testagem ao HIV. • Remoção das barreiras legais ao acesso a serviços de prevenção e cuidados, incluindo preservativos. • Envolver pais e pessoas adultas da comunidade nas actividades de consciencialização e prevenção baseadas na escola. • Promover campanhas nos “mass media” para aumentar a consciência, promover o debate público, reduzir o estigma e promover a igualdade de género. Como? • Usar os mass media a que os jovens têm acesso e fazer mobilização social dos jovens. • Programas baseados na escola que proporcionem educação sexual. • Acesso à juventude fora da escola através dos serviços e organizações juvenis existentes, tais como clubes juvenis, programas no local de trabalho, programas /serviços concebidos à medida dos grupos de jovens em maior risco. Diferenças nos cenários da epidemia? • Baixo: foco sobre os adolescentes e jovens em maior risco – foco geográfico, ligado a múltiplos comportamentos de risco e ambientes de risco, inclui a saúde sexual, reprodutiva e relacionada com o abuso de substâncias e questões de género nos currículos escolares e de formação de professores. • Concentrado: foco sobre os jovens em maior risco com medidas que satisfaçam as necessidades dos jovens. • Generalizado e acima: programa abrangente de habilidades de vida para todos os jovens fora e dentro da escola; foco sobre o retardamento do início da actividade sexual, uso do preservativo, testagem do HIV, redução da co-ocorrência e número de parceiros, desigualdade de género e riscos originados pelo uso de drogas. • Campanhas nos “mass media” para aumentar a consciência em relação ao HIV, incluindo a vulnerabilidade das raparigas e riscos de relações sexuais intergeracionais e programas orientados para as necessidades segmentadas de e que apelam aos jovens fora da escola para reduzir o estigma e programas baseados na escola em todos os estágios da epidemia. 59 ANEXO 2: RECURSOS PARA A PLANIFICAÇÃO DO HIV O desenho do programa, incluindo estabelecimento de estratégias e medidas de prevenção do HIV na base da análise da situação de sua epidemia, é apenas uma parte do ciclo integrado de programação. Ciclo Integrado de Programação do HIV Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV 60 Rumo ao Acesso Universal Está disponível um conjunto de instrumentos e recursos para assistir comunidades, governos e outros intervenientes para planearem e implementarem o ciclo integrado de programação do HIV. Muitos deles focalizam a resposta plena e abrangente, incluindo prevenção, tratamento, cuidados e apoio, ou sobre áreas e audiências específicas. Instrumentos para o Planeamento da Prevenção do HIV 1.Measure Evaluation, USAID, PEPFAR. (2006). M&E of HIV prevention programmes for most-at-risk populations. Carolina Population Centre, Chapel Hill. http://www.cpc.unc.edu/ measure/publications/pdf/fs-06-06.pdf 2.Measure Evaluation (2005). PLACE, priorities for local AIDS control efforts: a manual for implementing the PLACE method. Carolina Population Centre, Chapel Hill. http://www.cpc.unc. edu/measure/leadership/place.html 3.Pervilhac C et al. (2005). Using HIV surveillance data: recent experiences and avenues for the future. In AIDS 2005, 19 (suppl 2):S53–S58. Lippincott Williams & Wilkins. 4.Stover J, Bollinger L, Cooper-Arnold K (2003). Goals model for estimating the effects of resource allocation decisions on the achievement of the goals of the HIV/AIDS Strategic Plan. The Futures Group International and USAID. http://www. constellafutures.com/resources/toronto/software/GOALS/ manuals/GoalsmanE.pdf 5.Stimson G et al. (2003). Rapid Assessment and Response Technical Guide, version one. Department of HIV/AIDS and Department of Child and Adolescent Health and Development. World Health Organization, Genebra. http://www.who.int/ docstore/hiv/Core/Index.html 6.UNAIDS (2007). United Nations and Global Fund framework to support civil society engagement in universal access from 20072010. Esboço. Genebra. 7.UNAIDS (2006). Scaling up towards universal access. Considerations for countries to set their own national targets for HIV prevention, treatment, and care. Genebra. http://data.unaids.org/pub/ Report/2006/Considerations_for_target_setting_April2006.pdf 8.UNAIDS (2006). M&E of HIV prevention programmes for most-atrisk populations. A framework for monitoring and evaluating HIV prevention programmes for most-at-risk populations. Genebra. 9.UNAIDS (2006). Setting national targets for moving towards universal access by 2010: operational guidance. Genebra. – um documento de trabalho de Outubro de 2006. http://data. unaids.org/pub/Guidelines/2006/20061006_report_universal_ access_targets_guidelines_en.pdf 61 Directrizes Práticas para Intensificação da Prevenção do HIV 10.UNAIDS (2005). Monitoring the Declaration of Commitment on HIV/AIDS. Guidelines on construction of core indicators. Genebra. http://data.unaids.org/publications/irc-pub06/ jc1126-constrcoreindic-ungass_en.pdf 11.UNAIDS/ADB (2004). Costing guidelines for HIV/AIDS intervention strategies. ADB-UNAIDS Study Series: Tool 1. For use in estimating resource needs, scaling-up and strategic planning in the Asia/Pacific region. http://data.unaids.org/ publications/IRC-pub06/JC997-Costing-Guidelines_en.pdf 12.UNAIDS (2000). Costing guidelines for HIV prevention strategies. Genebra. http://data.unaids.org/Publications/IRCpub05/JC412-CostGuidel_en.pdf 13.USAID/The Synergy Project (2004). APDIME Toolkit version 2. Module 2 Planning: Stage 2. Social & Scientific Systems Inc., Maryland, EUA. http://www.synergyaids.com/apdime/mod_2_ planning/planning_index.htm 14.USAID/The Synergy Project (2004). APDIME toolkit on monitoring and evaluation. Social & Scientific Systems Inc., Maryland, EUA http://www.synergyaids.com/APDIME/mod_3_ design/stage_3/step_4.htm 15.WHO (2006). WHO guidelines for HIV prevention, treatment and care for people living with HIV. Genebra. 16.WHO (2005). World Health Organization—Sex work toolkit. Targeted HIV/AIDS prevention and care in sex work settings. Genebra. http://who.arvkit.net/sw/en/index.jsp;jsessionid=E0 D43072F4680EED67DA2404429467DA 17.WHO/UNAIDS (2002). Second generation surveillance for HIV: compilation of basic materials. CD-ROM. Genebra. (WHO/ HIV/2002.07) 18.The World Bank (2006). AIDS Strategy and Action Plan–Business Plan, 2006 – 2008. Supporting Improved Strategic Planning for HIV/AIDS. Esboço de relatório para discussão. The World Bank, Washington, DC 19.World Bank (2006). HIV/AIDS strategic self-assessment tool. http:// siteresources.worldbank.org/INTHIVAIDS/Resources/3757981151090631807/2693180-1151090665111/Self-Assessment_ Guidelines_version2_1.doc 20.The World Bank (2002). National AIDS Councils: Monitoring and Evaluation Operations Manual. Joint United Nations Programme on HIV/AIDS, Geneva. http://data.unaids.org/Publications/IRCpub02/JC808-MonEval_en.pdf http://www1.worldbank.org/ hiv_aids/docs/M&EManual.pdf 21.World Bank/AIDS Campaign Team for Africa (ACTafrica) (2001). Costs of scaling HIV program activities to a national level in subSaharan Africa: methods and estimates. Washington. “Encorajamos os países a conhecerem as suas epidemias porque aprendemos ao longo dos últimos vinte e cinco anos que a epidemia está a evoluir. É importante para os países colherem informação sobre onde, entre quem e por que razão estão a ocorrer novas infecções. Compreender isto permite aos países rever, planear, adaptar e priorozar as suas respostas nacionais para satisfazerem estas necessidades”. Dr Peter Piot Director Executivo, ONUSIDA Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/SIDA (ONUSIDA) 20 avenue Appia, 1211 Geneva 27, Suíça Telefone: (41) 22 791 36 66; Fax: (41) 22 791 4835 Email: [email protected] Internet: http://www.unaids.org Unindo o mundo contra o SIDA