Febre Reumática - Orlando A. Pereira
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Febre Reumática - Orlando A. Pereira
Febre Reumática Prof. Orlando A. Pereira Pediatria e Puericultura Faculdade de Ciências Médicas UNIFENAS Febre Reumática Complicação tardia, não supurativa, de uma infecção das vias aéreas superiores, por estreptococos beta hemolítico do grupo A de Lancefield, em indivíduos susceptíveis. Febre Reumática Acomete o coração, articulações, vasos, pele, tecido subcutâneo e sistema nervoso. Só o acometimento cardíaco deixa sequelas. Epidemiologia É rara antes dos três e após os vinte anos, sendo maior a sua frequência entre cinco e quinze anos. As recidivas são mais comuns nos primeiros cinco anos. Existe um declínio na incidência e na gravidade dos casos. Epidemiologia Estima-se que: - a incidência atual da FR seja de 0,5 a 3 diagnósticos por 100 mil habitantes e a - prevalência mundial em 15,6 milhões de casos. Em Belo Horizonte, registrou-se a prevalência de 3,6:1.000 em escolares da rede pública. No Brasil, a incidência estimada é de 30.000 casos por ano, sendo responsável por 40% das cirurgias cardíacas no país. Etiopatogenia ! Faringoamigdalite ! Estreptococo Lancefield beta-hemolítico do grupo A de Etiopatogenia Passados cem anos do conhecimento da doença, ainda temos dúvidas quanto à sua patogenia. Em parte isto se deve à falta de um modelo experimental. Estreptococo Seu papel patogênico se deve à estrutura celular (proteínas da parede celular M, T e R) e às substâncias liberadas (estreptolisina O e S, hialuronidase, desoxirribonuclease A, B, C e D, toxina eritrogênica e proteinase estreptocina A e algumas substâncias denominadas de exotoxinas pirogênicas) Estreptococo Um fator fortemente antigênico é a Proteína M da camada protéica que pode apresentar reação cruzada com o Sarcolema Miocárdico. Patogenia O Estreptococo deve causar uma infecção das vias aéreas superiores, desencadeando a liberação de anticorpos e a formação de imunocomplexos. Patogenia A analogia estrutural dos componentes da bactéria com os tecidos humanos, faz com que os anticorpos formados, agridam as estruturas do corpo (mimetismo biológico). Patogenia Poucos indivíduos infectados adquirem a doença. Isto ocorre provavelmente por fatores genéticos. Faringoamigdalites ! Estreptocócica: ! Viral: ! Febre alta Início súbito Dor de garganta Inflamação + exsudato Adenomegalia cervical Rash escarlatiniforme Cefaléia, náuseas, vômito e dor abdominal ! Febre Coriza Conjuntivite Tosse Exantema viral Diarréia ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Febre Reumática ! Formas clínicas: ! Sintomatologia: Articular Cardíaca Coréica ! febre poliartrite ou artralgia taquicardia, ICC movimentos coréicos nódulos subcutâneos eritema marginatum ! ! ! ! ! Artrite Em sua forma clássica apresenta-se como poliartrite migratória, não cumulativa, assimétrica e predominantemente nas grandes articulações. Cura-se sem deixar seqüela. Excepcionalmente dura mais de quatro semanas. Cardite Ocorre em 50% dos pacientes no primeiro surto e é mais comum nos pacientes mais jovens. Trata-se de uma pancardite. Cardite Um terço dos pacientes evolui para cardiopatia crônica. Podemos encontrar sopro, ICC, cardiomegalia, atrito pericárdico. Ausculta Cardíaca ! ! ! ! ! SS de insuficiência mitral Sopro mesodiastólico apical (Carey-Coombs) SD de insuficiência aórtica B1 hipofonética Presença de B3 (ritmo de galope) Cardite Pode passar desapercebida, encontrando-se apenas a valvopatia residual. As formas fulminantes e letais tornaram-se raras nos últimos anos. Coréia de Sydenham Ocorre após longo período de latência, ocasião em que as evidências laboratoriais de atividade reumática já desapareceram. Coréia de Sydenham Mais comum na infância e no sexo feminino. Caracteriza-se por inquietude, movimentos incoordenados, involuntários mas conscientes. Pode ocorrer distúrbio na fala, escrita e marcha. Coréia de Sydenham Eritema Marginado Exantema acobreado, com centro mais claro, bordas elevadas e nítidas. É fugaz e recidivante surgindo em cerca de 5% dos casos. Eritema Marginado Nódulos Subcutâneos Surgem em menos de 5% dos casos e estão associados à cardite. São pequenos, firmes, indolores e fugazes. Surgem nas faces extensoras das proeminências ósseas. Nódulos Subcutâneos Nódulos Subcutâneos Diagóstico Diferencial da Artrite Drepanocitose Leucemias Artrite Idiopática Juvenil Lúpus Eritematoso Sistêmico Artrite Reativa Pós Estreptocócica Artrite Reativa (não estreptocócica) Dores de crescimento Diagóstico Diferencial da Cardite Sopro Inocente Prolapso da Valva Mitral Endocardite Infecciosa Doença de Kawasaki Outras miocardites Lesões aórticas congênitas Diagnóstico É fundamentalmente clínico. Os critérios de Jones servem como guia, não substituindo o bom senso e a experiência do médico. Febre Reumática Critérios de Jones ! ! ! ! ! ! Manifestações maiores: cardite poliartrite eritema marginatum coréia nódulos subcutâneos Manifestações menores: ! febre ! artralgia ! VHS aumentado ! proteína C reativa (PCR) ! PRI prolongado ! Acrescidos de evidência prévia de estreptococcia Diagnóstico Dois sinais maiores, ou um sinal maior e dois menores, indicam alta probabilidade da doença Diagnóstico Por não haver teste laboratorial específico e ter quadro clínico polimorfo, o diagnóstico às vezes é extremamente difícil. Exames laboratoriais São todos inespecíficos. Detecção de estreptococcia antecedente. Reações de fase aguda do soro. Eletrocardiograma. Estudo Radiológico. Ecocardiograma. Detecção de estreptococcia prévia: Antiestreptolisina O. Normal em até 20% dos casos. Antidesoxirribonuclease B. Níveis mais duradouros que são úteis nos casos de coréia. Reações de fase aguda do soro: São exames que denotam atividade inflamatória. Velocidade de hemossedimentação. Proteína C reativa. Mucoproteínas. Eletroforese de proteínas. Hemograma. Eletrocardiograma Prolongamento do intervalo PR em 25% dos casos e do intervalo QT corrigido em 40 %. Raio X de Tórax Cardiomegalia com congestão pulmonar ocorre nos casos com cardite e lesão valvar. Aumento da área cardíaca de 20% em relação ao exame anterior, sugere derrame pericárdico. Ecocardiograma Avalia com precisão a presença de lesões valvares, a contratilidade miocárdica e se há derrame pericárdico. Detecta a presença de cardite silenciosa. Tratamento Não há medidas curativas, mas sim de suporte, que tentam modificar o curso da doença. Medidas Gerais Repouso, que nos casos com cardite deve ser mais prolongado. Controle da febre, da dor, da ICC. Profilaxia Primária O tratamento da infecção estreptocócica é a melhor forma de prevenir a Febre Reumática, especialmente se iniciado até o nono dia da doença. Um terço dos pacientes não refere infecção estreptocócica prévia. PROFILAXIA PRIMÁRIA Segundo diretrizes febre reumática AMB – setembro de 2009 Medicamento/Opção Esquema Duração Penicilina G Benzatina 600.000 UI < 20 Kg 1.200.000 UI > 20 Kg Dose única Dose única Penicilina V 25-50.000U/Kg/dia VO 8/8h ou 12/12h Adulto – 500.000U 8/8h 10 dias Amoxicilina 30-50mg/Kg/dia VO 8/8h ou 1/12h Adulto – 500mg 8/8h 10 dias Ampicilina 100mg/Kg/dia VO 8/8h 10 dias Estearato de Eritromicina 40mg/Kg/dia VO 8/8h ou 12/12h Dose máxima = 1g/dia 10 dias Claritromicina 15mg/Kg/dia – 12/12h 10 dias Medicação Antiinflamatória Parece não alterar o ciclo da doença, mas provoca melhora dos sintomas. Artrite ! Tratamento ! Aspirina das manifestações clínicas: (90-100mg/kg/dia) ! VO 6/6h por 2 semanas, com redução gradual em 4 semanas ! Dose máxima: 2-3g/dia Cardite ! Tratamento ! Prednisona das manifestações clínicas: (1-2mg/kg/dia) ! Dose plena por 21 dias ! Redução semanalmente de 20% da dose Coréia Tratamento das manifestações clínicas: Os casos leves podem ser resolvidos apenas com o repouso. Quando necessário iniciamos 1mg/dia de Haloperidol, ajustando a dose se necessário. Uma alternativa é o Ácido Valpróico na dose de 20 a 30 mg/Kg/dia. Profilaxia Secundária A profilaxia secundária consiste na administração contínua de antibiótico específico ao paciente com FR e tem como objetivo prevenir a colonização ou a infecção da via aérea superior pelo EBGA, com o consequente desenvolvimento de novos episódios da doença. PROFILAXIA SECUNDÁRIA Categoria Duração FR sem cardite prévia Até 21 anos ou 5 anos após o último surto, valendo o que cobrir maior período FR com cardite prévia; insuficiência mitral leve residual ou resolução da lesão valvar Até 25 anos ou 10 anos após o último surto, valendo o que cobrir maior período Lesão valvar residual moderada a grave Até os 40 anos ou por toda a vida Após cirurgia valvar Por toda vida PROFILAXIA SECUNDÁRIA MEDICAMENTO/OPÇÃO DOSE/ VIA DE ADMINISTRAÇÃO INTERVALO Penicilina G Benzatina Peso < 20kg – 600.000 UI IM Peso > 20kg – 1.200.000 UI IM 21/21 dias Penicilina V 250mg 12/12h Alergia à Penicilina Sulfadiazina Peso < 30Kg – 500mg VO 1x/dia Alergia à Penicilina e à Sulfa Eritromicina 250mg VO 12/12h Precauções com a aplicação da penicilina benzatina • Risco de reação anafilática: 1/7.000 a 1/25.000 • Quadro clínico: urticária, edema de glote, broncoespasmo, choque circulatório e parada cardiorrespiratória seguida de morte. • A revisão não coloca risco de morte caso esses pacientes sejam tratados. • Os sintomas da anafilaxia iniciam-se dez a vinte minutos após a administração. • Recomenda-se que os pacientes permaneçam em observação 30 min. após a injeção. Fim Fim
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