1 INTRODUÇÃO As palavras Paralisias e Cerebrais são
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1 INTRODUÇÃO As palavras Paralisias e Cerebrais são
9 1 INTRODUÇÃO As palavras Paralisias e Cerebrais são usadas para descrever uma condição de ser, um estado de saúde, uma deficiência física adquirida, um Distúrbio de Eficiência Física que durante muito tempo foi significado de "invalidez”. (APCB, 2004) Atualmente, o termo Paralisias Cerebrais (P.C.) vem sendo usado como o significado do resultado de um dano cerebral, que leva à inabilidade, dificuldade ou o descontrole de músculos e de certos movimentos do corpo (SOUZA e FERRARETO, 2001). A Paralisia Cerebral, uma das maiores incidências entre as crianças especiais, proporciona problemas educacionais variados, mas que estão concentrados na leitura, escrita e nas atividades motoras (LEITÃO, 1983). A reabilitação da criança com Paralisia Cerebral constitui desafio permanente para todos os profissionais, das diversas especialidades da Saúde e Educação, que lidam com esta criança. E este desafio já inicia no conhecimento amplo da patologia e no conhecimento das estratégias de reabilitação que tomem a criança com Paralisia Cerebral como um todo único e exclusivo. (REDESARA DE HOSPITAIS, 2004) Neste sentido, o enfermeiro influencia enormemente, pois a maneira como realiza suas atividades, pode servir de suporte para as atividades motoras e dar condições para que a criança desenvolva suas potencialidades (MOURA, 2001). O principal motivo que me levou à realização dessa pesquisa foi procurar entender a linguagem das crianças portadoras de paralisia cerebral. Sabe-se que não existe um “cérebro paralítico”, mas uma lesão em alguma área específica desse cérebro que acarretou alterações motoras numa criança. O nível cognitivo é preservado, seus movimentos é que foram prejudicados. Criando-se meios, esses obstáculos 10 são facilmente superados e essa criança aprende como as consideradas normais (FINNIE, 2000). Esta pesquisa é relevante porque entender a linguagem da criança portadora de paralisia cerebral é perceber o modo como ela se comunica com o seu meio apesar do seu comprometimento motor. Deve-se situar suas intenções comunicativas dentro do seu desenvolvimento cognitivo, propiciando uma troca ativa dessa criança com o mundo à sua volta e favorecendo a que ela vivencie as construções desse seu período de vida. Dessa maneira, ocorre o enriquecimento da linguagem. Cada vivência seria mais um degrau atingido na escala da cognição. Um teria a chance de aprender com o outro, o que uma criança realizar vai servir de estímulo para o colega. Aprender sobre cognição é fundamental para lidar com a linguagem e chegar, até mesmo, à aprendizagem. De uma forma ou de outra, as etapas do desenvolvimento cognitivo são vencidas com a superação da anterior pela aprendizagem. Muito mais do que restringir esse trabalho às escolas especiais, pretende-se que ele seja levado às escolas normais, principalmente pré-escolas (BRAGA, 1995). Para que a integração resulte com eficácia, além do atendimento especializado (enfermeiro, fisioterapeuta), o material didático adaptado, a remoção de barreiras físicas e arquitetônicas deve envolver a preparação profissional para o mundo do trabalho (CARVALHO, 2000). É necessário que a sociedade o conheça, aceite e lhe crie as condições necessárias para a sua integração social ser uma realidade Fonseca (1991, p. 27) é necessário que se desenvolva uma prática educacional mais específica no sentido de ampliar as suas capacidades. Para cada deficiência é enfatizado um tipo de cuidado no trabalho educativo. 11 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL - Investigar a produção científica acerca da paralisia cerebral tomando como base a produção científica nacional. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Caracterizar a produção do conhecimento em paralisia cerebral tomando como base os estudos publicados em língua portuguesa; - Identificar as diferentes formas de abordagens dos estudos acerca da temática paralisia cerebral publicados no país. 12 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 PARALISIA CEREBRAL: HISTÓRICO E DEFINIÇÕES A primeira descrição para Paralisia cerebral foi apresentada em 1843, por John Litle que descreve uma nova enfermidade caracterizada por rigidez muscular e ocasionada por vários fatores que acarretam asfixia do recém-nascido, dando-lhe o nome de Síndrome de Litle. Winthrop Phelps faz tentativas para tratar de crianças que têm alterações descritas por Litle (SOUZA e FERRARETO, 2001). Segundo estes autores, Paralisia Cerebral é seqüela de uma agressão encefálica, que se caracteriza por um transtorno persistente, mas não invariável, do tono, da postura e do movimento, que aparece na primeira infância e que não só é diretamente secundária a esta lesão não evolutiva do encéfalo, mas também devido à influência que esta lesão exerce sobre a maturação neurológica. A paralisia cerebral (PC), também denominada encefalopatia crônica não progressiva da infância, é conseqüência de uma lesão estática, ocorrida no período pré, peri ou pós-natal, que afeta o sistema nervoso central em fase de maturação estrutural e funcional. É uma disfunção predominantemente sensoriomotora, envolvendo distúrbios no tônus muscular, postura e movimentação voluntária. Estes distúrbios se caracterizam pela falta de controle sobre os movimentos, por modificações adaptativas do comprimento muscular e em alguns casos, chegando a resultar em deformidades ósseas. Esta doença ocorre no período em que a criança apresenta ritmo acelerado de desenvolvimento, podendo comprometer o processo de aquisição de habilidades (FINNIE, 2000). Di Santo (2007) define paralisia cerebral como um termo abrangente, que envolve 13 imensa variedade de fatores causadores e descreve a evolução de distúrbios da função motora, secundários a uma patologia não-progressiva do cérebro imaturo. A ASSOCIAÇÃO DE PARALISIA CEREBRAL DO BRASIL (APCB, 2004), relata que o termo Cerebral quer dizer que área atingida é o cérebro (sistema Nervoso Central S.N.C) e a palavra paralisia refere-se ao resultado do dano ao S.N.C., com conseqüências afetando os músculos e sua coordenação motora, dos portadores desta condição especial de ser e estar no mundo. É uma condição médica especial, que freqüentemente ocorre em crianças, antes, durante ou logo após o parto, e quase sempre é o resultado da falta de oxigenação ao cérebro. As crianças afetadas por esta patologia têm uma perturbação do controle de suas posturas e dos movimentos do corpo, como conseqüência da lesão cerebral. Tanto nos RN e nascidos de termo, os mecanismos patológicos incluem a necrose seletiva de neurônios, que pode afetar o córtex, o tálamo, a formação reticular e os núcleos do tronco cerebral. As lesões cerebrais de origem hipíxio-isquêmica necroses cerebrais isquêmicas focais e multifocais. Em prematuros essas lesões típicas incluem as lesões de caráter hemorrágico e o leucomalácia periventricular (LEITÃO, 1983). Segundo Bobath (1990), dependendo de onde ocorre à lesão e da quantidade de células atingidas, diferentes partes do corpo podem ser afetadas, alterando o tônus muscular, a postura e provocando dificuldades funcionais nos movimentos. Podem gerar movimentos involuntários, alterações do equilíbrio, do caminhar, da fala, da visão, da audição, da expressão facial. Em casos mais graves pode haver comprometimento mental. Exemplo: Estado marmóreo: afeta o córtex e os gânglios da base. Lesão cerebral parasagital: afeta o córtex e a substancia branca subcortical, essas lesões são responsáveis pela quadriplegia espástica acompanhada de deficiências cognitivas. Diplegia espástica: lesão causada pela leucomalácia periventricular, pois as vias piramidais que demandam os MMII atravessam a cápsula interna nas imediações dos ventrículos laterais, portanto tanto as lesões hemorrágicas 14 como a leucomalácia periventricular podem promover diplegia espástica, que afeta principalmente os MMII. As lesões, o erro do desenvolvimento, também têm a ver com a idade gestacional da criança, onde determinados padrões básicos estão presentes ou não. A pessoa com paralisia cerebral anda com dificuldade ou não anda, pode ter problemas de fala. Seus movimentos podem ser estranhos ou descontrolados. Pode involuntariamente apresentar gestos faciais incomuns, sob a forma de caretas. Geralmente, porém trata-se de uma pessoa inteligente e sempre muito sensível – ela sabe e compreende que não é como os outros (MOURA, 2001). 3.1.1 Etiologia Di Santo (2007) relata que a etiologia da PC é multifatorial. Qualquer agressão ao Sistema Nervoso que ocorra em idade precoce pode levar a uma lesão irreversível e não progressiva. Muitos tipos diferentes de lesões podem causar a paralisia cerebral, mas, geralmente, a sua causa é desconhecida. As lesões que ocorrem durante o parto e o mau suprimento de oxigênio ao cérebro antes, durante e imediatamente após o nascimento são responsáveis por 10% a 15% dos casos. Este autor relata ainda, que falta de oxigênio ao nascer; lesões causadas por partos difíceis, principalmente a dos fetos muito grandes de mães pequenas ou muito jovens; Trabalho de parto demorado; mau uso do fórceps, manobras obstétricas violentas; · Os bebês que nascem prematuramente (antes dos 9 meses e pesando menos de 2 quilos) têm mais chances de apresentar Paralisia Cerebral. Os recém-nascidos prematuros são particularmente vulneráveis e isto possivelmente se 15 deve ao fato dos seus vasos sangüíneos cerebrais serem pouco desenvolvidos e sangrarem facilmente ou pelo fato deles não conseguirem prover uma quantidade suficiente de possivelmente isso ocorre em parte porque os vasos sangüíneos do cérebro estão pouco desenvolvidos e sangram facilmente, ou não podem oxigênio ao cérebro. A concentração sérica (no sangue) elevada de bilirrubina, comum nos recém-nascidos, pode produzir uma doença denominada kernicterus e lesão cerebral. Durante os primeiros anos de vida, uma doença grave (p.ex., meningite, sépsis, traumatismo ou desidratação grave) pode causar lesão cerebral e acarretar paralisia cerebral. Pode ser por erro hereditário do desenvolvimento, devido a suscetibilidade hereditária diante outros fatores de risco (DI SANTO, 2007). Segundo dados da APCB (2004), estas lesões possuem diversas causas, freqüentemente devido à falta de oxigenação antes, durante ou logo após o parto, não existindo dois casos semelhantes, pois algumas crianças têm perturbações sutis, quase imperceptíveis, aparentando serem "desajeitadas" ao caminhar, falar ou usar as mãos, enquanto que as submetidas a lesões cerebrais mais graves, a exemplo de casos de anóxia neonatal, podem apresentar incapacidade motora acentuada, impossibilidade de falar, andar e se tornam dependentes para as atividades cotidianas. As causas mais comuns, segundo Leitão (1983) são: infecções maternais (AIDS, rubéola, herpes), toxinas químicas (álcool, drogas, tabaco, drogas não prescritas por médicos), e lesões na mãe grávida, idade maternal está associada com PC com risco aumentado para mães abaixo de 20 anos e acima de 34, Prematuridade e baixo peso ao nascimento aumentam a incidência de PC. Também sob condições que causem a falta ou insuficiência de oxigênio ao cérebro durante o nascimento. Em torno de 10% de casos de PC ocorrem após o nascimento: traumatismo direto ao cérebro por acidentes ou violência infantil, infecções do cérebro (encefalite, meningite), toxinas químicas (envenenamento do ar), falta de oxigênio. A maioria dos portadores de PC 16 precisa de terapia de fala. Mesmo com treinamento intensivo, metade melhora ao nível de uma comunicação através da fala. Muitos usam tábuas com símbolos, outros usam língua de sinais. Muitos aparelhos eletrônicos de comunicação demonstram que os portadores de PC têm a inteligência intacta. A comunicação inadequada causa aos portadores de PC problemas na socialização e seu desenvolvimento (APCB, 2004). 3.1.2 Classificação De acordo com Leitão (1983), a PC não é hereditária, contagiosa, ou progressiva. A desordem varia de leve (desajeitamento generalizado ou um leve padrão de mancar durante a locomoção) até severa (dominada por reflexos, incapaz de deambular exceto usando cadeira de rodas motorizada, inabilidade para falar, e quase nenhum controle motor). Segundo a APCB (2004), as várias formas de paralisia cerebral são classificadas de acordo com o tipo e localização da anomalia motora. As formas de paralisia dividem-se em: espásticas, discinéticas, atáxicas, atônicas e mistas. ESPÁSTICA: apresenta característica de lesão do primeiro neurônio motor (hiperreflexia) por ex: nos reflexos tônicos do pescoço e reflexos labirínticos, (na qual os músculos são rígidos e fracos), há aumento do tono muscular), que ocorre em aproximadamente 70% de todas as crianças com paralisia cerebral; Dentro do desenvolvimento normal temos um conjunto de reações e reflexos posturais, que na criança portadora de Paralisia Cerebral podem estar ausentes ou exarcebados, prejudicando o seu desenvolvimento motor. Na paralisia cerebral espástica, a rigidez pode afetar todos os membros (quadriplegia), 17 principalmente os membros inferiores,a tetraparesia é mais grave e mais freqüente ocorre sinais extrapiramidais. (Diplegia), ou apenas o membro superior e o inferior de um dos lados (hemiplegia). Os membros afetados apresentam um mau desenvolvimento, são rígidos e fracos, ocorre à diminuição da destreza Freqüentemente a criança também apresenta dificuldades de fonação e deglutição. Com a evolução, instalam-se contraturas articulares e atrofias difusas,devido a posições muitas vezes adotadas, levando ao comprometimento motor,com finalidade adaptativa ou compensatória , por ex: os MMSS mantidos em flexão a nível do cotovelo, punho e dedos, com retração e abaixamento da cintura escapular, rotação interna e adução do braço e pronação nas articulações rádio ulnares. No membro inferior observa-se a tendência a extensão de quadris e joelhos, rotação interna e adução nos quadris e joelhos e flexão plantar com inversão dos pés. O tronco também é afetado, pelo excesso da atividade dos membros e devido a inserções segmentares. Síndromes discinéticas. O termo atetose significa sem posição fixa, (na qual os músculos espontaneamente movem-se de forma lenta e involuntária), que ocorre em cerca de 20% das crianças com paralisia cerebral. Movimentos involuntários da atetose, coréia e distonia caracterizam a paralisia cerebral discinética. Um lactente com este tipo de síndrome apresenta hipotonia, retenção dos reflexos primitivos, tendência a babar, expressões faciais involuntárias e desenvolvimento psicomotor retardado. Na atetose observam-se movimentos estranhos, não intencionais, que comprometem os músculos distais com dissinergia dos grupos musculares oposto, tais como flexão e extensão ou pronação e supinação. Os movimentos anormais aumentam com a excitação, insegurança, esforço para realizar um movimento voluntário ou mesmo resolver um problema mental. 18 ATÁXICA - caracterizada por uma má coordenação e movimentos inseguros, diminuição da tonicidade muscular que ocorre em cerca de 10% das crianças com paralisia cerebral;Comprometimento do cerebelo, ataxia, dismetria, ocorre mais em traumatismo craniano e hidrocefalia mal tratada, episódios de abnóxia e tumores na fossa posterior, lesões hemorrágicas, enfartos e doenças desmielizantes. Na paralisia atáxica, a coordenação muscular é ruim e a criança apresenta fraqueza e tremores musculares. As crianças com este distúrbio têm dificuldade para realizar movimentos rápidos ou finos e sua marcha é insegura, com os membros inferiores bem afastados. MISTA (caracterizada pela combinação de dois dos tipos acima citados, mais freqüentemente o espástico e o coreoatetóide), que ocorre em muitas crianças. FORMA HIPOTÔNICA – é raro na paralisia cerebral a criança puramente hipotônica. Seu tônus muscular é baixo, sendo características a hipoatividade, a falta de controle postural e a dificuldade em vencer a gravidade. O lactante muitas vezes assume uma posição típica, mantendo os MMSS em abdução; flexão e rotação externa, a cabeça costuma cair para trás quando procura-se levantar a criança para posição sentada, é incapaz de manter o tronco ereto, os MMII podem fletir quando segurada no posição em pé, os movimentos de espernear estão ausentes ou muito fracos, falta de força para alimenta-se, pode ocorres engasgo e episódios de falta de ar. Em todas as formas de paralisia cerebral, pode ser difícil compreender a fala das crianças afetadas, pois a criança tem dificuldade para controlar os músculos envolvidos na fala. A maioria das crianças com paralisia cerebral apresenta outras incapacidades (p.ex., inteligência inferior à normal). Outras apresentam retardo mental grave. Contudo, aproximadamente 40% das crianças com paralisia cerebral possuem uma inteligência normal ou quase normal. Cerca de 25% das crianças com paralisia cerebral (mais freqüentemente as 19 com o tipo espástico) apresentam epilepsia (crises convulsivas). Segundo a APCB (2004), os sinais comportamentais observáveis no portador de paralisia cerebral são: Irritabilidade, choro excessivo; Atraso na fixação ocular; Resistência à posição prona; Resposta exagerada à manipulação; ausência de sorriso; Ausência de vocalização; Padrões de sono alterado (excessivo ou mínimo); Episódios Convulsivos. 3.1.3 Desordens associadas As crianças com Paralisia Cerebral têm muitos problemas, nem todos relacionados às lesões cerebrais. Todos eles podem surgir associados ou isoladamente na dependência da forma clínica que a criança apresentar. Essas alterações, associadas à freqüente imobilidade predispõem à pneumonia e infecções diversas. Além disso, muitas crianças apresentam crises convulsivas, agitação e depressão, requerendo medicação adequada e cuidados constantes (APCB, 2004). Abaixo, lista-se algumas destas desordens: Retardo mental – é mais comumente observado nas crianças com tetraplégica espástica (APCB, 2004). Epilepsia - Os neurônios (células nervosas) estão permanentemente gerando impulsos elétricos. Esta atividade elétrica ocorre, normalmente, de uma maneira organizada. Quando certos grupos de neurônios entram em atividade excessiva e hipersincrônica, ou seja, quando vários neurônios entram em atividade elétrica ao mesmo tempo, ocorre um distúrbio do funcionamento do sistema nervoso central. Estes episódios de descarga elétrica anormal são chamados de crises epilépticas. Estas crises podem evoluir com hiperextensão e contrações musculares (convulsões), perda súbita do tônus muscular, perda ou alteração temporária da 20 consciência e alteração temporária do comportamento. Uma criança em crise pode apresentar os seguintes sinais: contrações musculares generalizadas ou localizadas, movimentos rítmicos com a cabeça, desvio do olhar para cima ou para o lado, movimentos rápidos de piscar os olhos, movimentos mastigatórios, ausência de resposta a uma solicitação verbal ou crises de medo (APCB, 2004). Alterações visuais - Estrabismo, a inabilidade de focar os dois olhos ao mesmo tempo sobre um objeto, é o problema mais comum. (DI SANTO, 2007). Catarata (opacidade do cristalino), coriorretinite (inflamação da coróide e da retina) e glaucoma (aumento da pressão ocular) são desordens oculares comumente encontradas nas infecções congênitas (APCB, 2004). Deficiência auditiva - Todas as crianças de risco devem ser triadas nos primeiros meses de vida com audiometria de tronco cerebral. Esta técnica consiste em estimulação das vias acústicas e captação dos potenciais bioelétricos gerados nas vias cocleares no interior do tronco encefálico. Os principais fatores de risco são: suspeita dos pais de que a criança não está ouvindo; infecções congênitas (rubéola, toxoplasmose, citomegalia); malformações do pavilhão auricular, face ou pálato (céu da boca); baixo peso ao nascer (abaixo de 1500g); hiperbilirrubinemia neonatal grave; meningite bacteriana; asfixia perinatal; e uso de medicações tóxicas para o ouvido (estreptomicina, kanamicina e outros aminoglicosídeos). Constipação intestinal - A constipação intestinal crônica decorre de vários fatores, entre os quais pequena ingestão de fibras e líquidos, atividade física reduzida, e uso de medicações como antiácidos e certos anti-epilépticos (DI SANTO, 2007). A ingestão adequada de líquidos em geral, alimentos ricos em fibras tais como frutas (mamão, abacaxi, laranja com bagaço, ameixa preta, manga, melancia), verduras (principalmente as folhagens cruas), leguminosas (feijão, ervilha, lentilha) e alimentos integrais melhoram o funcionamento intestinal e são medidas que devem ser recomendadas se 21 o colo (intestino grosso) ainda não estiver dilatado (APCB, 2004). Dificuldades de Aprendizagem - As crianças com PC podem apresentar algum tipo de problema de aprendizagem, o que não significa que elas não possam ou não consigam aprender, necessitando apenas de recursos aprimorados de Educação Especial, integração social em escolas regulares, uso de recursos tecnológicos, a exemplo do uso de computadores e outros aparelhos informatizados para o estímulo e a busca de meios de comunicação e aprendizagem inovadores para PC (APCB, 2004; SOUZA e FERRARETO, 2001). 3.1.4 Diagnóstico Geralmente, a paralisia cerebral não pode ser diagnosticada durante a primeira infância. Quando problemas musculares (p.ex., desenvolvimento insatisfatório, fraqueza, espasticidade ou falta de coordenação) são observados, o médico tenta acompanhar a criança, para determinar se o problema é causado pela paralisia cerebral ou por um distúrbio progressivo, principalmente algum que pode ser tratado. O tipo específico de paralisia cerebral freqüentemente não pode ser diferenciado antes da criança atingir 18 meses de idade (MOURA, 2001). Di Santo (2007) relata que os exames laboratoriais não conseguem identificar a paralisia cerebral. No entanto, para descartar outros distúrbios, o médico pode solicitar exames de sangue, eletromiografias (estudos elétricos dos músculos), uma biópsia muscular e uma tomografia computadorizada (TC) ou uma ressonância magnética (IRM) do cérebro (DI SANTO, 2007). Segundo Di Santo (2007), dentro do desenvolvimento normal temos um conjunto de 22 reações e reflexos posturais, que na criança portadora de Paralisia Cerebral podem estar ausentes ou exarcebados, prejudicando o seu desenvolvimento motor. Ou seja: Reflexo de Moro: Tem seu início no recém nascido e seu final por volta dos quatro a seis meses. Testa-se deslocando-se o centro de gravidade da criança, ou dando um estímulo visual ou sonoro. Como resposta vai haver uma abdução e extensão dos membros, com extensão e abertura dos dedos, exceto as falanges distais dos indicadores e polegares que permanecem fletidos. Em seguida ocorre a adução e flexão dos membros. Placing: Nos membros inferiores tem início com um mês de idade e tem seu final poer volta dos dois ou três meses. Testa-se levantando a criança e pressionando-se o dorso de um de seus pés contra a borda de uma mesa. Como resposta tem-se a flexão dos diferentes segmentos da perna, trazendo o pé acima da mesa e assim que se estabelece o contato ativo ou passivo da sola do pé com a mesa, ocorre a extensão do membro inferior. Nos membros superiores tem início por volta do segundo mês, tornando-se extensão protetora por volta do sexto mês. Criança é segurada pelo examinador e o dorso de uma de suas mãos é pressionada sob a borda de uma mesa. Como resposta os diferentes segmentos do membro superior se fletem trazendo a mão para cima da mesa. Reação de Suporte: Tem início entre o primeiro e o terceiro mês, finalizando por volta do oitavo mês. É provocado através de estímulo proprioceptivo, pela dorsiflexão das partes distais dos membros ou por estímulo exteroceptivo provocado pelo contato das plantas dos pés com o solo. Como resposta teremos a contração simultânea de extensores e flexores. Reação Cervical de Retificação: Está presente ao nascimento, desaparecendo por volta do segundo mês. É obtida virando-se a cabeça do bebê para um lado, seja ativa ou passivamente, levando a um aumento do tônus do tronco e, o bebê vira para o lado em bloco. Reação Labiríntica de Retificação: Está presente no recém nascido e começa a ficar mais presente por volta do quarto mês. Esta reação permite primeiro a elevação da cabeça na 23 posição prona. No início a cabeça pode ser mantida levantada fraca ou intermitentemente, mas, o bebê irá mantê-la bem na linha média, a partir da oitava semana (2 meses). O levantamento da cabeça na posição prona, inicia um processo de extensão geral do tronco e dos membros, contra a gravidade, que começa céfalo-caudal e alcança quadris e joelhos por volta do sexto mês. Reação Óptica de Retificação: Quando os olhos se movem, a cabeça e o corpo também giram em direção ao objeto, o qual a atenção foi direcionada. Com a maturação das vias ópticas por volta dos seis meses de idade, é que inicia-se a reação de retificação pela visão. Reação de Landau: Esta reação é uma combinação das reações de retificação e dos reflexos tônicos. Ela aparece ao redor de seis meses de idade. Quando se levanta uma criança de bruços da mesa, apoiada apenas com a mão do examinador sob o tórax, a criança primeiro erguerá a cabeça, de maneira que a face esteja numa posição vertical, após esta elevação da cabeça ocorre uma extensão tônica da coluna e membros inferiores, que pode ser tão forte que todo o corpo da criança torna-se curvado para trás. Reflexo de Galant: Um estímulo doloroso na região lombar do bebê em prono provocará a flexão do tronco para o lado estimulado. Nos primeiros dias de vida a resposta é frequentemente ausente ou fraca. Este reflexo desaparece com 2 meses de idade. Reação de Anfíbio: Esta reação torna o indivíduo capaz de flexionar suas coxas e suas pernas, na preparação para o arrastar, proporcionando a dissociação entre tronco, ombros e pélvis. Esta reação inicia-se no quarto mês e permanece para a vida toda. O teste é realizado levantando-se um lado do quadril, sob a virilha. O membro inferior deste lado flexiona e abduz, enquanto que o membro do lado oposto entra em extensão. Reflexo Tônico Cervical Assimétrico (RTCA): É estimulado pela rotação da cabeça e causa a extensão dos membros para o lado em que a cabeça foi rodada e diminuição de 24 tônus extensor com aumento da flexão dos membros para o lado occipital da cabeça. Inicia-se por volta do segundo mês e é integrado no quarto mês. Reflexo Tônico Cervical Simétrico (RTCS): Também é uma resposta proprioceptiva dos músculos do pescoço, por um movimento ativo ou passivo. A elevação da cabeça produz um aumento do tônus extensor nos braços e aumento do flexor nas pernas. Abaixando-se a cabeça ocorre a situação inversa. Tem sua fase de origem no segundo mês e integra-se por volta do sexto mês. Reflexo Tônico Labiríntico (RTL): É evocado pelas mudanças da posição da cabeça no espaço. Na criança com Paralisia Cerebral provoca um máximo de tônus extensor (hipertonia), na posição supina e um mínimo na posição prona. Está presente no primeiro mês de vida, desaparecendo no sexto mês com o aparecimento do Landau. Reação de Extensão Protetora: Também conhecida como reação de pára-quedas ou de precipitação, é a postura assumida por um animal, como se fosse a aterrisagem de um pulo. Esta reação consiste em duas fases e ajuda a manter o bebê sentado. Na primeira fase ocorre a extensão do braço, punho e dedos, para atingir o solo ou, outro apoio. Na segunda fase a criança coloca o peso sobre o braço e a mão levada para o apoio. Esta reação tem início por volta dos 5 meses. Quando a criança está sentada nota-se sua presença aos seis meses para a frente, aos 8 meses para os lados e aos 10 meses para trás. Reações de Equilíbrio: Um importante aspecto no desenvolvimento motor normal é a liberação dos braços e das mãos do seu papel primitivo de manutenção do equilíbrio. Com o tempo esta função passa para a alçada do tronco e das pernas. A evolução da postura no homem, necessitou o desenvolvimento de um mecanismo reflexo, servindo para a manutenção e recuperação do equilíbrio, na posição ereta e ao andar. Estas reações são específicas para o homem e seu aparecimento surge numa ordem cronológica sobrepondo-se às reações de retificação 25 Reflexos Orais - Os reflexos orais podem ser subdivididos didaticamente em reflexos de alimentação e reflexos de proteção a alimentação (DI SANTO, 2007). Reflexos de alimentação - Di Santo (2007) relata ainda os portadores de paralisia cerebral possuem os seguintes reflexos de alimentação: Reflexo de Procura: conhecido por reflexo dos quatro pontos cardeais, quando a mãe vai amamentar o bebê e o bico do seio toca a região próxima a boca do bebê, o bebê vira a cabeça em direção ao seio para poder introduzi-lo em sua boca e iniciar a sucção. Inicia-se com o nascimento e vai diminuindo a partir do quarto mês, quando a criança começa a levar a mão à boca e inicia-se um processo de adequação da sensibilidade oral. Reflexo de Sucção: também está presente ao nascimento e por volta dos 4 meses começa a tornar-se voluntário. É uma continuidade do reflexo de procura. Reflexo de Deglutição: Também presente ao nascimento e tornando-se mais voluntário a partir do quarto mês, quando vai se aprimorando um processo mais coordenado com a sucção e a respiração. Reflexo de Vômito: Está presente ao nascimento e vai se posteriorizando até o sétimo mês. Este reflexo fica presente na vida adulta. No bebê é elicitado tocando-se na porção anterior da língua. O primeiro sinal do desencadeamento deste reflexo é o arregalar dos olhos. Reflexo de Mordida: Presente ao nascimento e suprimido por volta do sétimo mês com o aparecimento da mastigação. pode ser observado fazendo-se uma pressão na região da gengiva superior, um pouco a direita ou a esquerda da linha média. Como resposta tem-se um fechar e abrir rítmico de mandíbula (DI SANTO, 2007). Souza e Ferrareto (2001), relatam a evolução dos reflexos do nascimento a 1 ano de idade. Segundo as autoras, nos dois primeiros meses, os reflexos de retificação da cabeça e de Moro são muito intensos. Surge o reflexo labiríntico no final do primeiro mês e no segundo mês há emissões vocálicas. Estes reflexos possibilitam a criança virar do decúbito dorsal para 26 o ventral e vice-versa, iniciam os primeiros movimentos de cabeça, e ajudam a criança a sustentar-se com as mãos e joelhos e sentar. Na Paralisia Cerebral mais grave, o reflexo de retificação é inibido por reflexos mais fortes. No lactente paralítico cerebral, o reflexo cervical é inibido pelo cervical tônico assimétrico e o de retificação labiríntico pelo tônico labiríntico, alterando o desenvolvimento motor da criança. Na criança com 1 ano de idade, o reflexo tônico cervical desaparece, podendo persistir no paralítico cerebral. A criança inicia os primeiros passos. Em suma, nos primeiros anos, há um aumento crescente sobre as atividades motoras, comportamento reflexo vai se modificando pelo desenvolvimento do controle cortical. Continua a maturação e o desenvolvimento dos OFAs (SOUZA e FERRARETO, 2001). Nas crianças com Paralisia Cerebral, a lesão no cérebro influencia a maturação do S.N.C., impedindo o aparecimento de comportamentos motores mais desenvolvidos, ficando a criança com comportamento motor em nível reflexo primitivo. 3.1.5 Tratamento O tratamento de crianças com PC envolve necessariamente equipes multiprofissionais que buscam minimizar o impacto desta patologia no seu desenvolvimento global. As abordagens terapêuticas podem incluir o pediatra, o neurologista, o ortopedista, o fisioterapeuta, o fonoaudiólogo, o terapeuta ocupacional, o psicólogo e o assistente social que oferecem contribuições importantes para a assistência destas crianças. Em alguns casos esta criança irá precisar também de um oftamologista, otorrinolaringologista, nutricionista ou gastroentologista, tudo irá depender do quadro que esta criança apresenta, visando o 27 desenvolvimento dos componentes necessários ao desempenho ocupacional nos contextos domiciliar, escolar, cultural e de lazer (NUNES, 2007). A PC não tem cura, mas seus efeitos podem ser minimizados. O objetivo principal deve ser promover o maior grau de independência possível (REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004). O tratamento precoce, feito logo após o diagnóstico, faz com que o desenvolvimento motor retorne ao ritmo normal, inibir e evitar a permanência dos reflexos patológicos, primitivos, como RTCA, Moro. A importância da intervenção precoce está em aproveitar as etapas de maturação do SN em desenvolvimento, com estimulação e aproveitamento da inervação recíproca, utilizando potencial da plasticidade neuroaxonal da arquitetura cerebral. O principal objetivo é estimular o desenvolvimento de padrões funcionais de movimento através de experiências neurosensoriais. A estimulação cognitiva deve ter início em conjunto com a motora (APCB, 2004). Um bom relacionamento afetivo pais-criança favorece o processo de desenvolvimento, bem como programas de estimulação desenvolvidos por pais comprovaram ser mais efetivos. Entretanto, problemas emocionais, falta de conhecimento sobre o real significado de uma lesão cerebral irreversível e programas inadequados dificultam uma participação positiva (REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004). 3.1.5.1 Atividades físicas e fisioterapia Atividades físicas bem orientadas promovem o alongamento e o fortalecimento muscular, favorecem melhor desempenho motor e interferem de maneira positiva com relação ao desenvolvimento emocional e social. 28 O suporte social recebido pelos cuidadores da criança, tanto da família extensiva quanto de amigos e dos profissionais de saúde, é de fundamental importância para o bem-estar da criança, pois ameniza o estresse de mães e pais, possibilitando uma maior tomada de consciência do problema da criança e conseqüentemente uma vinculação mais adequada com seu filho (NUNES, 2007). Natação ,dança, ginástica, futebol, equitação ou outras atividades esportivas são, indiscutivelmente, muito mais benéficas para determinado grupo de crianças do que tratamentos fisioterápicos realizados dentro de um hospital ou centro de reabilitação (REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004). A conduta fisioterapêutica é muito importante para a criança com paralisia cerebral, acompanhando-o muitas vezes durante toda sua vida. São utilizados diversos recursos e métodos baseados nos movimentos passivos e ativos que estimulam a melhora motora. (REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004) Com isso pode haver modulação do tônus com diminuição e prevenção de contraturas, estímulo a grupos musculares não afetados provocando aperfeiçoamento do equilíbrio e melhor mobilidade das articulações e também melhora da capacidade e controle respiratório, prevenindo infecções. As crianças com lesão no córtex motor podem também sofrer lesões no córtex sensorial, já que são áreas muito próximas. Portanto, as crianças com paralisia cerebral podem apresentar má integração de seus sistemas sensoriais. Este problema pode manifestar-se de várias maneiras; a própria desorganização dos movimentos pode ocorrer devido à má integração dos estímulos sensoriais (REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004) 29 3.1.5.2 Meios alternativos de comunicação e locomoção Muitas crianças com paralisia cerebral, apesar de terem inteligência normal, podem apresentar dificuldades de movimento tão graves que prejudicam a sua capacidade para falar, escrever e andar (REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004). As crianças com tetraplegia espástica ou coreoatetose apresentam dificuldade para articular a palavra - disartria. Muitas delas, apesar de entenderem a linguagem falada, têm grande dificuldade para a comunicação, pois por causa da disartria não se pode compreender o que elas tentam falar. Nesses casos, a comunicação só é possível através de gestos, expressões faciais e vocalizações. Alguns recursos alternativos com sistemas de linguagem e adaptações como apontadores de cabeça ou de queixo já foram desenvolvidos para ajudar na comunicação dessas crianças. Atualmente, as pesquisas em engenharia de reabilitação têm procurado cada vez mais utilizar o computador como recurso para o desenvolvimento de equipamentos, interfaces e softwares que viabilizam a comunicação e o processo de alfabetização. Quanto à locomoção, nas formas graves de PC, a marcha independente não é possível ou determina gasto energético elevado. Portanto, dependendo do grau de envolvimento motor e do déficit de equilíbrio, auxílios para a locomoção, tais como andadores (posterior e anterior), bengalas canadenses, carrinhos ou cadeira de rodas podem ser necessários. Os andadores são recomendados para as crianças com déficit de equilíbrio ântero-posterior e látero-lateral, pois elas necessitam um apoio maior para a deambulação. As bengalas tipo canadense são geralmente indicadas para as crianças que não apresentam deficiência importante do equilíbrio látero-lateral. As crianças com diplegia grave ou com envolvimento total são dependentes da cadeira de rodas para a locomoção. As adaptações são muitas vezes 30 necessárias para que se consiga um bom posicionamento na cadeira. Para as crianças menores, o meio de locomoção mais indicado seria um carrinho mais baixo do que a cadeira comum, possibilitando maior independência nas transferências, e que possa ser impulsionado pela própria criança (REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004). 3.1.5.3 Tratamento farmacológico, ortopédico e cirúrgico Barbitúricos e benzodiazepinicos, seu uso contínuo traz letargia e sonolência.Drogas anticonvulsivas.Em especial o baclofeno que diminui a espasticidade e controla os movimentos involuntários. Os medicamentos produzem efeitos colaterais (REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004) A neurólise química, ou bloqueio nervoso periférico, com aplicação encimo dos nervos periféricos bloqueia a condução nervosa, pois promove a desidratação das fibras amielínicas as que controlam o tônus, são vulneráveis ao álcool e fenol. Diminui a espasticidade sem promover redução na capacidade motora voluntária ou déficit sensitivo.Tem-se usado a toxina butolínica que é um agente antispástico efetivo que reduz temporariamente a liberação da acetilcolinanas placas motoras bioneurais, porém tem alto custo (APCB, 2004). A cirurgia ortopédica, indicada para deformidades mais freqüentes como flexão de joelhos, pé varo, hálux valgo, lixação de quadril, escoliose estrutural ou mobilização dos tecidos moles contraturados. Cirurgia na tendão de Aquiles aumenta a amplitude e diminui a força (APCB, 2004). A neurocirurgia, rizotonia dorsal seletiva, diminui a espasticidade mediante a 31 separação das raízes posteriores e anteriores de L2 a L5 e após descobrir pela eletroneuromiografia as raízes que apresentam resposta anormal são seccionadas. 3.1.5.4 Método Bobath, Musicoterapia e hidroterapia e a participação do enfermeiro Com vários métodos tais como:Phelps, Kabat, Rood,Temple Fay, Peto ou Educação Condutiva, Vojta, Bobath, técnicas de resfriamento, estímulos vibratórios, bio-feedback (DI SANTO, 2007). O Conceito Bobath, é um tipo especializado de Fisioterapia, constituido principalmente pelo trabalho do Neuropediatra Dr Karel Bobath e de Sua Esposa a Fisioterapeuta Berta Bobath, através de 25 anos de pesquisa. Na atualidade o tratamento por eles desenvolvido é bem conhecido e aceito em vários países (BOBATH, 1990). Bobath objetiva com seu método edificar reações posturais normais e tônus postural normal, para manter a posição ereta contra a gravidade e permitir o controle dos movimentos; Opor-se ao movimento de reações posturais erradas e de tônus postural anormal; Dar a criança a sensação do toque e manipulação, ajustando padrões funcionais que ela precisa para efetuas AVD”S, a fim de tornar-se independente; Evitar e minimizar os movimentos que possam levar a contraturas e deformidades permanentes. O tratamento Fisioterapêutico deve ser precoce, movimentos normais aprendidos por repetição, ênfase é dada à inibição dos padrões anormais e na estimulação dos padrões motores, tais como; endireitamento da cabeça e tronco, apoio dos braços, rotações e reações de equilíbrio; passagem pelas posturas de desenvolvimento motor semi-rolar, rolar, puppy, puppy com braços estendidos, gato, sentado com apoio dos braços e com apoio, ajoelhar, 32 índio, ortostatismo e a marcha com e sem apoio. Os materiais utilizados podem ser tatame, espelhos, rolos, bolas, banquinhos, espaldar, tábua de equilíbrio, bastões, brinquedos educativos, barra paralela, escada progressiva, etc (BOBATH, 1990). Através dos diversos métodos e técnicas da Musicoterapia pode-se estimular a socialização e a comunicação, melhorar o equilíbrio postural, o tônus , a coordenação dos movimentos, visando proporcionar as crianças com Paralisia Cerebral uma maior independência funcional, incitando-os alcançar dentro de suas possibilidades e limitações, o máximo de eficiência necessária para melhorar a sua qualidade de vida (DI SANTO, 2007). Através do instrumento, fonte sonora não verbal, geralmente menos persecutória que a palavra, o cliente poderá se expressar e ter sob o seu domínio algo que ele mesmo pode controlar, isto é, pode tocar e parar no momento em que quiser. Dessa forma poderá aprender a interagir com o mundo a sua volta desenvolvendo cada vez mais, as suas competências sociais, que é um dos objetivos de qualquer abordagem terapêutica. Além de facilitar a comunicação não verbal, sua utilização desenvolve as percepções auditivas, visuais, táteis, trabalha a coordenação motora ampla e fina, ajuda na descoberta de potencialidades, desenvolvendo-as (APCB, 2004). Cantar, bater palmas, bater pés, estalar dedos, fazer sons com a boca, dançar, se constituem em formas de interação, de promover um diálogo não verbal, meio de expressão, além de ajudar na percepção corporal. A utilização da dança promove a consciência corporal, possibilita um melhor conhecimento dos limites do corpo, o que pode ajudar na ampliação desses movimentos, possibilitando que este exerça o seu principal papel como ferramenta de expressão e comunicação. Também a utilização da voz é um instrumento valioso na relação terapêutica, porque expressa, de forma natural, os estados emocionais do ser humano, além de estar vinculada à 33 identidade e à personalidade do indivíduo. Pode-se utilizá-la ainda, na emissão de sons prévocais ou onomatopaicos, usando a língua, os dentes, as bochechas, os lábios e na emissão de sons vocais, utilizando a palavra ou o canto, o que facilitará a comunicação, o desenvolvimento da linguagem, o trabalho da musculatura orofacial. A fisioterapia aquática deve fazer parte do processo de reabilitação de pacientes com lesões neurológicas que envolvem tanto os neurônios motores inferiores quanto os corticais. No caso do paciente portador de paralisia cerebral (PC), como seu sistema nervoso central foi danificado, suas habilidades de organização e monitoramento dos movimentos foram afetadas. Logo, o trabalho realizado em meio aquático mostra-se relevante nestes casos por permitir a execução e o aprendizado de movimentos que são demasiadamente difíceis de serem realizados em solo. A utilização da piscina terapêutica na reabilitação de pacientes portadores de paralisia cerebral, têm como metas a busca da maximização da funcionalidade e independência destes (DI SANTO, 2007). A equoterapia ou hipoterapia é um método de educação motora que consiste em utilizar o cavalo como instrumento terapêutico biológico, desenvolve confiança do paciente, noção de espaça, a sensibilidade tátil e proprioceptiva, o relaxamento muscular principalmente do grupo adutor de MMII, o controle da abdução e o equilíbrio de tronco na posição sentada (DI SANTO, 2007). 3.1.6 Educação dos portadores de paralisia cerebral Dependendo do potencial cognitivo, ou seja, da capacidade para aprender, uma criança com PC pode estar apta a freqüentar a escola regular em classe compatível com sua faixa etária (REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004). 34 As crianças com tetraplegia espástica geralmente apresentam envolvimento cognitivo grave. Crianças com outros tipos de PC apresentam deficiência cognitiva leve ou moderada e podem freqüentar o ensino especial. Algumas crianças, apesar de mostrarem capacidade para aprender, necessitam ensino especial devido a distúrbios sensoriais. De acordo com a Constituição Brasileira de 1988, tanto as escolas públicas quanto as particulares têm obrigação de aceitar a matrícula de qualquer aluno com deficiência física desde que ele tenha capacidade para acompanhar o ensino regular. Quando o envolvimento motor é importante, a escola deve considerar e respeitar limitações como escrita lenta ou dificuldade para a fala. Nessas situações, a escola deve encontrar estratégias que possam viabilizar a aprendizagem. Qualquer limitação motora pode ser minimizada através de recursos didáticos compatibilizando aprendizagem e dificuldade de movimento, ou de meios alternativos oferecidos pela engenharia de reabilitação. 3.1.6.1 Aspectos psicossociais A impossibilidade para correr, jogar bola, e andar de bicicleta vai aos poucos dando à criança a noção de "ser diferente". Na idade escolar, muitas delas já estão conscientes de suas dificuldades e poderão necessitar de ajuda para melhor lidarem com os sentimentos de tristeza ou as diversas perdas ocasionadas pela condição de "ser diferente" (REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004). Uma criança com PC apresenta necessidades específicas em cada etapa do seu desenvolvimento. Durante a primeira infância, um dos principais objetivos do 35 acompanhamento passa a ser a estimulação do desenvolvimento neuropsicomotor. À medida que a criança cresce, vão surgindo as necessidades relacionadas com a inserção social, como maior grau de independência, escolarização, orientação vocacional e reforço do suporte psicológico à criança e à família nos momentos críticos (REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004) Em determinadas etapas do desenvolvimento, além dos programas de reabilitação e do acompanhamento médico em esquema ambulatorial, muitas crianças necessitam repetidas hospitalizações ou intervenções cirúrgicas. A rede de apoio social formal e informal é importante no que se refere ao processo de adaptação dos familiares à deficiência. No que diz respeito à rede de apoio formal, ela nem sempre é eficaz. É comum haver um grande número de profissionais, de diferentes serviços, envolvidos no acompanhamento da criança. O profissional que assiste a criança tem um papel importante na mediação do estresse familiar. Os pais necessitam de profissionais experientes que parem para ouvir as suas dúvidas e preocupações, passem as informações com sensibilidade e respeito e tenham consciência de suas limitações. A melhora da criança com PC é lenta e demanda um constante equilíbrio dos familiares e dos profissionais, entre o que se quer e o que é possível, e cabe à equipe que trata da criança uma atitude de apoio aos familiares com o objetivo de fortalecê-los para que possam realizar os cuidados adequados e enfrentar as dificuldades que acompanham o processo de ajustamento à deficiência. Este processo torna-se mais fácil quando pais e profissionais de saúde trabalham em busca dos mesmos objetivos (REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004). 36 3.1.6.2 Desenvolvimento cognitivo e linguagem na paralisia cerebral A linguagem é uma função simbólica que se relaciona à formação de conhecimentos e à atividade cognitiva. ZORZI (1999) afirma que o surgimento do simbolismo, incluindo a linguagem, se relaciona aos avanços da inteligência sensório-motora pré-verbal.Estudar o aspecto cognitivo do desenvolvimento infantil é reforçar o aspecto cognitivo frente ao desenvolvimento lingüístico. A construção do conhecimento e a aquisição da linguagem resultam de um processo de interação. A inteligência vai se estruturando e atinge níveis mais evoluídos de organização através das trocas entre o sujeito e o meio. É comum que se encontre a linguagem do paralisado cerebral relacionada ao funcionamento dos órgãos fono-articulatórios no aspecto motor. Assim, a linguagem é dividida em emissão e recepção. Lacerda (1993) cita o ato da fala como uma criação pessoal e o ponto culminante da linguagem como sendo a expressão, dando acentuada ênfase à motricidade. Ressalta, ainda, a importância do meio social como fator indispensável para o desenvolvimento lingüístico. Finnie (2000) descreve que o desenvolvimento da linguagem vem tradicionalmente relacionado com a mecânica da fala. Ultrapassando a perspectiva motora. Com isto, dois fatores vão influenciar a qualidade e a velocidade do desenvolvimento cognitivo de uma criança: a capacidade dela interagir com o meio e a natureza desse mesmo meio. A linguagem da criança paralisada cerebral vai muito além da emissão da recepção. A linguagem deve ser reconhecida como conseqüência de um momento anterior, ainda sem a presença do simbolismo, que é o período sensório-motor. A linguagem do paralisado cerebral deve ser situada dentro do seu desenvolvimento 37 cognitivo, percebendo como ocorre a comunicação entre a criança e o meio, apesar do seu comprometimento sensório-motor. Há a necessidade de se propiciar à criança interagir com o meio, favorecendo uma troca ativa com esse mesmo meio. Assim, ela teria a chance de vivenciar as construções do período sensório-motor, o que a levaria ao enriquecimento da linguagem. Young (1991) conclui que nas crianças portadoras de paralisia cerebral, tanto os esquemas sensório-motores, quanto os perceptivos estariam prejudicados, o que levaria a um atraso ou a uma inadequação do pensamento representativo e do simbolismo, afetando o desenvolvimento da linguagem. A criança portadora de paralisia cerebral iria manifestar uma deficiência no desenvolvimento cognitivo devido às alterações motrizes que acabam limitando as experiências sensório-motoras. Mueller e Finnie (1979) afirmam que pela falta de exploração motora da criança paralisada cerebral, suas experiências de linguagem são menores, destacando que as pessoas que fazem parte do meio que a criança vive, devem fazer com que as experiências que cheguem até a criança tenham sentido e possam ser aproveitadas. Braga (1995) afirma que nas formas graves de paralisia cerebral e nas que apresentam movimentos involuntários, os portadores demonstram maior dificuldade de agir sobre o objeto, pelas suas condições motoras. Porém, elas não estão limitadas aos elementos que definem uma ação pelo enfoque teórico: intenção da ação, controle cognitivo, representação consciente, atenção, motivação e relação social. Considerando-se este pressuposto, pode-se pensar na hipótese da criança com paralisia cerebral grave planejar sua ação e executá-la através de outras pessoas, no caso de ações que impliquem, obrigatoriamente, movimento ou contato físico com objeto. Vygotsky (1993) admite que as leis que fundamentam o desenvolvimento são as mesmas para as crianças normais e para as crianças deficientes. As diferenças seriam os 38 caminhos escolhidos por essas crianças para processar o mundo e acrescenta que as funções do desenvolvimento cognitivo da criança aparecem primeiramente no plano social para, depois, aparecerem no psicológico. A teoria sócio-histórica de Vygotsky defende que a relação com o outro é essencial para o aprendizado. De acordo com este autor, jogos e brincadeiras desempenhadas em coletivo trazem grande contribuição ao desenvolvimento de crianças com paralisia cerebral. Nestas atividades, há uma melhoria significativa das capacidades motoras e cognitivas, ou seja, da capacidade de a criança desenvolver seu pensamento. A paralisia cerebral espástica é causada por uma lesão no cerébro ainda não desenvolvido completamente, que pode ocorrer antes, durante ou depois do parto. A doença provoca um aumento no tônus postural, o que interfere na movimentação voluntária. Mas, nem sempre a lesão significa um comprometimento cognitivo. O que ocorre é que, pela falta de uma experiência motora, pode haver um atraso cognitivo.O atraso também se explica pelo preconceito: a criança muitas vezes não é estimulada porque as pessoas acreditam que ela não é capaz de aprender. Cole (1989) concebe o social e o individual como um sistema de interação único. Assim, a relação estabelecida entre a criança portadora de paralisia cerebral com as pessoas com boa capacidade motora, pode ser um elemento fundamental para o seu desenvolvimento. A ação compartilhada estimularia a capacidade da criança de estabelecer vínculos sociais e favoreceria o desempenho cognitivo. Braga (1995) afirma que a deficiência não é, em si, a mola propulsora dos novos caminhos que a criança com paralisia cerebral tende a buscar. São as dificuldades derivadas desse problema motor e suas repercussões sociais que a levam à procura dos novos caminhos. O futuro destas crianças dependerá muito das possibilidades que elas venham a ter na interação com o meio. O autor acrescenta ainda que as relações sociais estabelecidas pelas 39 crianças se dão através de símbolos que fazem parte de um sistema cultural. No caso do deficiente, não é o tipo de instrumento utilizado ou o signo que é empregado, mas o significado dele que tem maior importância. A função primordial é internalizar a linguagem e desenvolver funções mentais que têm o símbolo como base. A criança constrói e orienta seu processo de desenvolvimento cognitivo através da motivação, da atenção e da ação. Uma criança portadora de paralisia cerebral não tem limitações relativas à motivação e à atenção. O bloqueio se restringe à ação. Classificando-se a ação como um comportamento consciente e propositalmente orientado para um objetivo, tem-se que seu aspecto motor é irrelevante. A ação, no seu aspecto tátil e motor torna-se secundária. Primordialmente, aparecem a gênese social, a intencionalidade, o planejamento, a definição de objetivos e a motivação. Fundamentando-se nesse conceito, a criança portadora de paralisia cerebral age em uma ênfase cognitiva, a partir de suas motivações, como propõe Vygotsky, e orienta seu desenvolvimento com base na atenção, motivação e ação interna, como postula Piaget. Bastaria que o ato motor fosse exercido por um outro integrante do meio, um mediador. Todo o potencial cognitivo da criança foi usado na construção mental da tarefa e ela o orienta dirigindo a tarefa para esse mediador a partir de suas próprias perspectivas. Para esse mediador é dado o papel de criação conjunta. Sua função é cooperação, uma operação em conjunto favorecendo uma construção recíproca Criança e mediador vão se modificando no processo de interação. Ambos desenvolvem um processo criativo para descoberta de novas rotas. Muitas vezes, essas rotas são diferentes do que é culturalmente estabelecido, para que alcancem o culturalmente arbitrado e para que a criança atinja as funções mentais superiores. A perspectiva social do desenvolvimento é, então, observada (BRAGA, 1995). As leis fundamentais do desenvolvimento são as mesmas, tanto para as crianças consideradas normais como para as deficientes, mas as dificuldades trazidas pela deficiência 40 poderiam levar à processos criativos que dariam origem à novos caminhos, permitindo que muito do que é inerente ao desenvolvimento normal desaparecesse ou fosse encurtado. 3.1.6.3 A escola para o aluno com paralisia cerebral A criança com paralisia cerebral pode e, deve, ser integrada sempre que essa integração a beneficie de alguma maneira. Toda a integração deve iniciar-se com o estudo das características e necessidades do aluno com a finalidade de elaborar um plano de intervenção adequado e proporcionar os meios necessários que permitam a sua execução. A escola ideal deveria proporcionar um maior número possível de oportunidades para que a integração fosse positiva e gratificante para a criança. Qualquer pessoa portadora de uma deficiência tem direito a beneficiar do sistema educativo como qualquer outro elemento da comunidade. Devem ser respeitadas as características individuais do aluno tanto no que se refere à programação didática como às estratégias metodológicas. De entre as crianças com paralisia cerebral existem aquelas, que possuem uma inteligência normal e outras que apresentam deficiência mental associada. Na maioria dos casos que apresentam inteligência normal as dificuldades motoras são acompanhadas de problemas de aprendizagem devido a um grande absentismo escolar (doenças, intervenções cirúrgicas, etc.) e as suas poucas experiências de vida ao longo do seu desenvolvimento. Outros casos apresentam problemas sensoriais e/ou perceptivos e dificuldades de linguagem. Antes de iniciarmos o trabalho com o aluno devemos recolher os dados 41 necessários que nos permitam ter um bom conhecimento do caso. Uma vez realizada a avaliação, a criança deverá ser encaminhada para a escola que melhores condições reúna a nível de barreiras arquitetônicas e de material escolar (CARVALHO, 2000). Os alunos deveriam seguir um currículo adaptado às suas necessidades e potencialidades, participando em todas as atividades escolares possíveis. Normalmente, precisam de um maior reforço pedagógico em certas áreas nomeadamente a nível sócioafetivo, de linguagem e de autonomia. Há que ter em conta os objetivos comuns ao resto da turma e em alguns casos devemos salvaguardar as possíveis deficiências associadas, que exigem adaptações curriculares específicas. O aluno portador de paralisia cerebral tem que conseguir a sua inserção social, fomentando as relações interpessoais. É necessário que a sociedade o conheça, aceite e lhe crie as condições necessárias para a sua integração social ser uma realidade (CARVALHO, 2000). Todas as adaptações de sala de aula devem ser feitas com o menor estardalhaço possível e com o máximo de boa vontade e hospitalidade. Em nenhuma hipótese deverá a deficiência ser apontada de uma forma constrangedora ou enfatizada, nem tampouco ser ignorada. Algumas possíveis adaptações de salas comuns, segundo Carvalho (2000) são as seguintes: Para com estudantes com impedimentos auditivos, o professor deverá: Sentar –se na frente da sala; Usar recursos visuais; Falar claramente; Se o estudante usa língua de sinais, o ideal seria aprender os sinais e estimular outros estudantes a aprendê-los também. Para estudantes com distúrbios de comportamento, o professor deverá: Aplicar técnicas de modificação de comportamento; Designar responsabilidades especiais; Identificar os pontos fortes deles; Ignorar comportamentos inadequados quando possível; Focalizar os pontos bons e elogiá-los; Formar grupos de aprendizado cooperativo com instruções e metas 42 bem claras. Para com estudantes com dificuldades de aprendizagem, o professor deverá: Permitir o uso de máquina de escrever ou um colega para tomar notas; Usar gravador de áudio; Dar exames orais; Oferecer adaptações que o estudante usa na escola: marcador de texto para acompanhar leitura em livros, tarefas simplificadas, recursos visuais etc. Para com estudantes com impedimentos visuais, o professor deverá: Sentar-se sempre na frente da sala; Repetir conceitos para o estudante gravar e ouvir em casa; Usar dramatização; Escrever na lousa em letras grandes; Se o estudante lê braile,usar livros em braile estimular os outros a aprender o braile. Para com estudantes com limitações motoras, o professor deverá: Fazer os colegas se revezarem para ajudar; Usar material pré cortados; Usar materiais que sejam fáceis de manusear; Fazer esses estudantes sentarem-se próximo a saídas de emergência sem ficarem isolados dos colegas; Oferecer papeis adaptados nas dramatizações; Providenciar salas e outros espaços que sejam acessíveis; Para com estudantes com deficiência mental, o professor deverá: Usar o sistema de companheiro; Formar grupos de aprendizado cooperativo; Contar histórias para ensinar conceitos abstratos; Preparar versões simplificadas do material; Todos os estudantes quaisquer que sejam suas capacidades irão beneficiar-se das aulas de educação que sejam menos dependentes de livros e mais experienciais, mais cooperativas, mais holísticas e multisensoriais. No que diz respeito aos vários cenários em que tais princípios de participação e direitos humanos se inserem, incluindo-se o educacional, ainda há muito a ser esclarecido e discutido a respeito das diferentes conotações que a inclusão possa assumir. A escola tem como papel determinante a formação global da pessoa com necessidades educativas especiais e as suas ações voltadas para a prática da cidadania, em que o aluno é 43 sujeito do seu próprio processo de aprendizagem. Para tanto, deve apontar para o novo fazer pedagógico, trilhando caminhos de uma educação inclusiva, tal como preceitua os dispositivos legais vigentes no país. A escola deve buscar parcerias constantes entre os profissionais da educação, e aí inclui a educação especial, como também os pais, os órgãos públicos, profissionais liberais e a comunidade como um todo, promovendo uma abertura para aprender a aprender em um crescimento mútuo. A educação tem o compromisso de promover o desenvolvimento pleno do ser humano; para tanto, tem o seu currículo de acordo com a legislação vigente, ou seja, a Lei de Diretrizes e Bases nº 9394/96 e dos Parâmetros Curriculares Nacionais. A educação especial tem os mesmo objetivos e, portanto, deve estar em sintonia com a comunidade na qual está inserida e com as demais escolas do ensino comum, para facilitar o acesso dos alunos com necessidades educativas especiais que possivelmente necessitam estar transitando de uma escola para outra pela preocupação em dar continuidade aos seus estudos. Considerando as discussões teóricas do paradigma inclusivista, a educação tem como objetivo maior fazer com que os alunos com necessidades educativas especiais desenvolvam ao máximo o seu potencial. O currículo de base nacional comum favorece a idéia de totalidade, uma vez que privilegia a abordagem de conteúdos de forma interdisciplinar descaracterizando a fragmentação do conhecimento. Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino (BRASIL, 1998) em seus princípios básicos nos coloca as novas habilidades e capacidades de cognição, física, afetiva, interpessoal, estética, ética, inserção social para serem trabalhadas nos currículos escolares, onde os alunos sejam capazes de responder aos novos ritmos e processos sociais, bem como, desenvolver metodologias que atendam as diversidades, analisando todas as possibilidades de aprendizagem intelectuais, interesses e motivações dos alunos, desenvolvendo o espírito 44 crítico, criativo e autônomo. Desta forma, o professor é desafiado a assumir uma postura de aprendiz ativo, crítico e criativo, constante pesquisador sobre o seu aluno, formas de linguagens, expectativas e necessidades, contexto social e cultural nível de desenvolvimento cognitivo, emocional e afetivo de seus alunos. O professor é o consultor, articulador, mediador e orientador do processo de desenvolvimento de seus alunos, criando um clima de confiança, respeito às diferenças e reciprocidade, encorajando-os a reconhecer seus conflitos, a descobrir suas potencialidades de aprender a partir dos seus próprios erros. Sendo assim, aprender é um desafio colaborativo de planejar, desenvolver ações, levantar informações, ação constante entre professor/aluno e professor/professor em buscas pedagógicas sobre o desenvolvimento de cada um numa ajuda cooperativa. 3.1.6.4 A inclusão escolar A educação inclusiva se caracteriza como processo de incluir os portadores de necessidades especiais ou com distúrbios de aprendizagem na rede regular de ensino, em todos os seus graus, pois nem sempre a criança que é portadora de necessidades especiais (deficiente), apresenta distúrbio de aprendizagem, ou vice versa, então todos esses alunos são considerados portadores de necessidades educativas especiais. Fonseca (1991, p. 27) descreve os tipos de deficiência e suas características gerais: a criança com paralisia cerebral apresenta essencialmente um problema de envolvimento neuromotor. Do mesmo modo, a deficiência mental apresenta uma inferioridade intelectual generalizada como denominador comum. Por um outro lado, na criança deficiente visual ou auditiva, o problema situa-se ao nível da acuidade 45 sensorial. No que respeita à criança emocionalmente perturbada esta apresenta um desajustamento psicológico como característica comportamental predominante. Para essas crianças é necessário que se desenvolva uma prática educacional mais específica no sentido de ampliar as suas capacidades. Para cada deficiência é enfatizado um tipo de cuidado no trabalho educativo. As crianças com deficiências receptivas ou sensoriais, que é o caso dos deficientes auditivos e visuais, devem ser educadas com mais atenção, para que não haja alteração na sua aprendizagem, é importante distinguir nesta deficiência até que ponto ela irá interferir na aprendizagem ou não. Já a portadora de deficiência integrativa ou intelectual, que é o caso da deficiência mental, que é uma lesão cerebral e pode ser dividida em mínima, ligeira ou severa; a dificuldade de aprendizagem é problema que vai levar essas crianças a terem um desajuste na aprendizagem. A deficiência expressiva é aquela que se limita às áreas motoras e verbal, enquanto a área motora afeta as praxias globais e fina, na área verbal há uma falta de conduta motora quanto ao aparelho fonador, esta multideficiência resulta da paralisia e descoordenação dos centros motores cerebrais, causando assim problemas de comportamento e aprendizagem. Conforme já viu-se no início deste trabalho, a LDB, Lei nº 9394/96 em seu artigo 58, determina que a Educação especial deve ser oferecida na rede regular de ensino, gerando uma modificação nos estabelecimentos de ensino e no sistema educacional. Discutir educação no século XXI supõem uma atitude crítica frente aos exageros da sociedade do conhecimento, é preciso situar a importância da educação na totalidade dos desafios e incertezas de nosso tempo, portanto, pensar em educação inclusiva é um dos nossos desafios, mas, não podemos e nem devemos desprezar, as questões pertinentes a sua prática no seio da nossa sociedade escolar. “A Declaração de Salamanca”, retomou a discussão sobre educação especial na perspectiva de minimizar os abismos entre os humanos, partindo do pressuposto de “Educação para Todos“, que vem sendo defendido mundialmente pela UNESCO. 46 O contato que passamos a ter com outras formas de pensar e agir, nos coloca frente a mudanças e alterações na constituição da sociedade, implicando em mudanças também na constituição psíquica do homem. A educação inclusiva levará a transformação da representação da criança e do jovem sobre a deficiência, pois educando e crescendo junto aos “diferentes”, compreenderá a heterogeneidade, já que o trabalho é sempre voltado para a homogeneidade. Para nada se leva em conta a diversidade humana, esta é o eixo ético do ser humano, é difícil falar de ética com alguém totalmente diferente de você. E esta vivência acredita-se que a escola tem que propiciar ao cidadão, senão não é escola. A inclusão é conseqüência de uma escola de qualidade, isto é uma escola capaz de perceber cada aluno como um enigma a ser desvendado. O que percebe é que a criança com deficiência na escola inclusiva, hoje, denuncia a falência do sistema escolar, e a má gestão escolar. O que se verifica é que os professores não sabem o que fazer, o que denuncia uma formação continuada inadequada ou inexistente do professor; outro ponto de dificuldade é a falta de relacionamento da escola com a família, a escola ainda encontra-se muitas vezes fechada à comunidade para discussão da perspectiva inclusiva. Essas, entre tantas outras situações inadequadas no sistema brasileiro escolar têm representado apenas a abertura das portas das escolas para educação inclusiva. Acreditamos que isto é muito pouco embora signifique uma nova atitude. Dentro deste contexto observa-se que muitos portadores de deficiência vivem em forma de isolamento social, pois vivem dentro da estrutura familiar e estas costumam segregálos, fazendo com que eles fiquem esquecidos, ao invés de incluí-los. A crítica ao sistema de ensino brasileiro, é que o princípio da integração é utilizado, mas para constituir classes especiais em escolas regulares, ou seja, apóia-se a educação inclusiva, mas as crianças portadoras de deficiência e as ditas normais continuam excluídas das oportunidades de integração, convivência e inclusive de afeto. 47 As escolas inclusivas devem atender a todos. A Declaração de Salamanca diz que: O princípio fundamental das escolas inclusivas consiste em que todos os alunos devam aprender juntos, sempre que possível, independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentem. As escolas inclusivas devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando aos vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação para todos, através de currículos adequados, de uma boa organização escolar, de estratégias pedagógicas, de utilização de recursos e de uma cooperação com as respectivas comunidades. “É preciso, portanto, um conjunto de apoios de serviços para satisfazer o conjunto de necessidades especiais dentro da escola.” Cabe, então, à escola criar estratégias para incluir esses alunos com necessidades especiais no ensino regular, reconhecendo as necessidades individuais de cada um. È importante que a mesma junto aos seus profissionais aceite as novas estratégias de ensino. Diferente de muitos outros países a inclusão no Brasil ainda está engatinhando, o sucesso escolar é não só um mérito dos alunos, mas também dos professores, que de uma maneira ou de outra deverão criar metodologias e estratégias de ensino para as crianças com necessidades especiais. A partir da escola inclusiva haverá uma maior aceitação das crianças com necessidades especiais pela sociedade, não se pode mais ignorar a urgência de universalização da cidadania, que, por sua vez, requer uma nova ética e, por conseguinte, uma escola de educação e cidadania para todos (CENTRO NACIONAL DE REESTRUTURAÇÃO EDUCACIONAL, 1994). 48 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa constitui-se num estudo exploratório, descritivo e que se vale da revisão bibliográfica dirigida especificamente aos trabalhos nacionais que apresentam a temática da paralisia cerebral e quem foram publicados entre 1979 a 2007. A revisão sistemática consiste em um procedimento metódico de busca bibliográfica que foi definido por um grupo de cientistas reunidos em 1995, em Potsdam (Alemanha), e define-se pela aplicação de estratégias que limitem os vieses da seleção de artigos, avaliem com espírito crítico os artigos e sintetize os estudos relevantes em um tópico. Embora a revisão sistemática seja indicada para estudos de questões clínicas específicas, tal como na prática baseada em evidências, fornece importantes indicativos no que se refere a limitar os possíveis vieses na revisão de literatura apresentada neste artigo. Segundo Galvão et al (2004, p.554): a revisão tradicional da literatura há muito tempo vem sendo criticada, devido à ausência de métodos explícitos e rigorosa padronização das técnicas empregadas. Em resposta a essa situação, o desenvolvimento de métodos seguros para serem utilizados na revisão sistemática tem ocorrido de forma considerável. Tomando como base o procedimento de revisão sistemática foi realizada exaustiva busca do material bibliográfico através de uma estratégia ampla de busca nas bases eletrônicas de dados. Em se tratando de uma pesquisa sobre a paralisia cerebral, a busca bibliográfica foi realizada em todas as bases de dados nacionais e latino-americanas disponíveis e pertinentes à temática sistematização da assistência de enfermagem. Deste modo, a pesquisa bibliográfica foi realizada nos meses de maio e junho de 2008 nas bases de dados LILACS (Literatura Latino Americana de Ciências da Saúde), MEDLINE (Literatura Internacional em Ciências da Saúde), SCIELO (Scientific Electonic Librany 49 Online) e a Biblioteca Digital Teses e Dissertações da Universidade de São Paulo. Os estudos selecionados na base de dados LILACS foram automaticamente excluídos das bases MEDLINE e SCIELO. Para tanto, utilizou-se como parâmetros na seleção dos estudos o fato de serem escritos por profissionais da área da saúde e da educação, docentes ou não, a partir do ano de 1979, e que descrevessem sobre a paralisia cerebral nas suas diferentes formas de abordagem no Brasil. Utilizou-se como indexadores de assunto descritores de assunto e idioma, os termos utilizados foram paralisia cerebral e idioma português. Nessa direção, num conjunto de 108 trabalhos encontrados, foram selecionados 30. Houve a necessidade de recorrer à fonte original dos trabalhos uma vez que os resumos não informavam com precisão os objetivos, metodologia empregada, resultados e considerações finais. A escolha metodológica dessa pesquisa carregou um viés importante: a paralisia cerebral foi vista através de estudos realizados por outros pesquisadores. Ressalta-se também a limitação, da autora deste estudo, em não ter acesso a periódicos científicos que não estejam disponíveis eletronicamente e gratuitos. 50 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 CARACTERIZAÇÃO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA NACIONAL ACERCA DOS ESTUDOS SOBRE A TEMÁTICA PARALISIA CEREBRAL Entre 108 artigos selecionados foram desprezados 78 por não terem ligação direta ao tema e selecionados 30 sobre a temática. O papel da equipe multidisciplinar no processo de reabilitação de portadores de paralisia cerebral selecionados pode-se observar de acordo da tabela relatos 3(10%)foram publicados entre 1979 a 1990 9 (30%)de 190 a 1999 e 18(70%)entre 2000 a 2007. Tabela 1- O papel da equipe multidisciplinar no processo de reabilitação dos portadores de paralisia cerebral entre 1979 e 2007 Período de publicação N % 1979 a 1980 3 10% 1990 ª1999 9 30% 2000 a 2007 18 70% Total 30 100% Fonte: A autora. Em relação à procedência dos artigos, nota-se na tabela 2 - o papel da enfermagem no processo de reabilitação dos portadores de paralisia cerebral. Que a maioria dos artigos provinham da região sudeste 24 (80%);2 (15%) da sul, 1(%) da região centro-oeste e 3(30%) não indicavam origem. 51 Tabela 2 papel da equipe multidisciplinar no processo de reabilitação dos portadores de paralisia cerebral; a região de procedência da equipe multidisciplinar e portadores de paralisia cerebral no período de 1979 a 2007. Regiões Nº % Sudeste 24 80% Sul 2 0,6% Centro-oeste 1 0,4% Sem informações 3 10% Total 30 100% Fonte: A autora 5.2 DESCRIÇÃO DAS DIFERENTES FORMAS DE ABORDAGEM ACERCA DA PARALISIA CEREBRAL ENCONTRADAS NOS ARTIGOS 5.2.1 Caracterização da paralisia cerebral Caracterizar o portador de Paralisia Cerebral oferece uma riqueza de informações e o primeiro resultado adquirido do presente estudo é que as causas da PC são inúmeras e muitas vezes desconhecidas. É aceito hoje, que os agentes agressores ao sistema nervoso podem ocorrer em diferentes períodos, sendo eles, pré, peri e pós-natal. É uma seqüela de uma agressão encefálica, que se caracteriza por um transtorno persistente do tono, da postura e do movimento (SOUZA e FERRARETO, 2001). Bobath (1990), Finnie (2000), APCB (2004) e Moura (2001), consideram que é no período perinatal onde encontramos maior incidência da PC, da ordem de 60%; o período pré-natal é responsável por 30%, restando 10% para o período pós-natal. As várias formas de paralisia cerebral são classificadas de acordo com o tipo e localização da anomalia motora (APCB, 2004). Podendo ser de leve a severa (LEITÃO, 1983) 52 e se dividir em espásticas, discinéticas, atáxicas, atônicas e mistas (SOUZA e FERRARETO, 2001; APCB, 2004). Segundo Souza e Ferrareto (2001) a forma espástica é o tipo mais comum da paralisia cerebral, estando a sua incidência em torno de 75%. Sua maior incidência, segundo Moura (2001) está entre as crianças especiais, proporcionando problemas educacionais variados, e, que segundo Souza e Ferrareto (2001) estão concentrados na leitura, escrita e nas atividades motoras. A etiologia da PC é multifatorial (BOBATH, 1990; MOURA, 2001; APCB, 2004). As lesões, que têm a ver com a idade gestacional da criança (MOURA, 2001) podem ocorrer durante o parto e o mau suprimento de oxigênio ao cérebro antes (APCB, 2004), durante e imediatamente após o nascimento são responsáveis por 10% a 15% dos casos (DI SANTO, 2007). Sendo as causas mais comuns: infecções maternais, toxinas químicas e lesões na mãegrávida, prematuridade, baixo peso ao nascimento. Em prematuros as lesões típicas incluem as lesões de caráter hemorrágico e o leucomalácia periventricular (LEITÃO, 1983; BOBATH, 1990). Cerca de 25% das crianças com paralisia cerebral apresentam epilepsia (LEITÃO, 1983). No tocante ao diagnóstico, Moura (2001) relatou que o tipo específico de paralisia cerebral freqüentemente não pode ser diferenciado antes da criança atingir 18 meses de idade; e Di Santo (2007) relatou que, para descartar outros distúrbios, o médico pode solicitar exames de sangue, eletromiografias, biópsia muscular; tomografia computadorizada (TC) ou uma ressonância magnética (IRM) do cérebro. Segundo Di Santo (2007), dentro do desenvolvimento normal tem-se um conjunto de reações e reflexos posturais, que na criança portadora de Paralisia Cerebral podem estar ausentes ou exarcebados, prejudicando o seu desenvolvimento motor. Souza e Ferrareto (2001), relataram que a evolução dos reflexos se dá do nascimento a 1 ano de idade. 53 5.2.2 Tratamento da paralisia cerebral A paralisia cerebral não tem cura, seus problemas duram toda a vida. Entretanto, muita coisa pode ser feita para prover à criança o máximo de independência possível. (APCB, 2004; REDE (SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004; DI SANTO, 2007) BOBATH, 1990; FINNIE, 2000; MOURA, 2001; APCB, 2004; REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004; DI SANTO, 2007). O tratamento envolve uma equipe multiprofissional que busca minimizar o impacto desta patologia no seu desenvolvimento global (NUNES, 2007). E um tratamento precoce deve ser realizado logo após o diagnóstico, procurando fazer com que o o desenvolvimento motor retorne ao ritmo normal, inibir e evitar a permanência dos reflexos patológicos, primitivos, como RTCA, Moro (REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004) e a estimulação cognitiva deve ter início em conjunto com a motora (APCB, 2004). Sobre o tratamento farmacológico, a Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação (2004) indica, em especial, o baclofeno que diminui a espasticidade e controla os movimentos involuntários. A toxina butolínica é o agente anti-espástico indicado pela APCB (2004), que também indica a cirurgia ortopédica, para deformidades mais freqüentes como flexão de joelhos, pé varo, hálux valgo, lixação de quadril, escoliose estrutural ou mobilização dos tecidos moles contraturados. Di Santo (2007) mostra os benefícios dos métodos como Phelps, Kabat, Rood,Temple Fay, Peto ou Educação Condutiva, Vojta, Bobath, técnicas de resfriamento, estímulos vibratórios, bio-feedback. 54 5.2.3 Reabilitação dos portadores de paralisia cerebral No tocante ao tratamento fisioterápico, tem-se que, o suporte social recebido pelos cuidadores da criança é de fundamental importância para o seu bem-estar, pois ameniza o estresse, segundo Nunes (2007). A Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação (2004) acredita que a conduta fisioterapêutica é muito importante para a criança com paralisia cerebral, e que as atividades esportivas são mais benéficas para determinado grupo de crianças do que tratamentos fisioterápicos em hospitais ou centros de reabilitação. Indica, assim, a fisioterapia aquática por esta promover alívio de dor e espasmos musculares, manutenção ou aumento de amplitude de movimento das articulações; fortalecimento muscular e treino de resistência. Entretanto, de acordo com a APCB (2004), a hidroterapia está contra-indicada para pacientes que apresentam certas condições clínicas como: Infecções respiratórias; Infecções entéricas/diarréia; Infecções urinárias; Lesões cutâneas; Incontinência urinária e intestinal – contra-indicação relativa. Encorajamento das atividades funcionais fisioterapia (REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004),a terapia ocupacional, os coletes e a cirurgia ortopédica podem melhorar o controle muscular e a deambulação (APCB, 2004; DI SANTO, 2007). Música e dança – As técnicas de musicoterapia estimulam a socialização e a comunicação, melhora o equilíbrio postural, o tônus , a coordenação dos movimentos (DI SANTO, 2007) e o cliente poderá se expressar e ter sob o seu domínio algo que ele mesmo pode controlar, isto é, pode tocar e parar no momento em que quiser (APCB, 2004). A utilização da dança promove a consciência corporal (DI SANTO, 2007). 55 Fonoterapia (terapia da fala) pode tornar a fala muito mais clara e pode ajudar nos problemas de alimentação (ZORZI, 1994; LACERDA et al, 1993). As convulsões podem ser prevenidas com o uso de medicamentos anticonvulsivantes (APCB, 2004). Entretanto, a hidroterapia está contra-indicada para pacientes que apresentam certas condições clínicas como: Infecções respiratórias; Infecções entéricas/diarréia; Infecções urinárias; Lesões cutâneas; Incontinência urinária e intestinal – contra-indicação relativa (APCB, 2004). 5.2.4 Inclusão dos portadores de paralisia cerebral na família, sociedade escola Dependendo do potencial cognitivo, ou seja, da capacidade para aprender, uma criança com PC pode estar apta a freqüentar a escola regular em classe compatível com sua faixa etária (REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004). Assim, a escola deve estar preparada para receber esta clientela tão especial, pois, segundo Zorzi (1999), é comum que se encontre a linguagem do paralisado cerebral relacionada ao funcionamento dos órgãos fono-articulatórios no aspecto motor. Assim, a linguagem é dividida em emissão e recepção. Finnie (2000) descreveu que a linguagem da criança cerebral deve ser situada dentro do seu desenvolvimento cognitivo, percebendo como ocorre a comunicação entre a criança e o meio. Pois, segundo Braga (1995), o futuro destas crianças dependerá muito das possibilidades que elas venham a ter na interação com o meio. Assim, ela teria a chance de vivenciar as construções do período sensório-motor, que está prejudicado (YOUNG, 1991), o que a levaria ao enriquecimento da linguagem. Braga (1995) afirma que pode-se pensar na hipótese da criança com paralisia cerebral grave planejar sua ação e executá-la através de outras pessoas, 56 no caso de ações que impliquem, obrigatoriamente, movimento ou contato físico com objeto. Segundo Nunes (2007), as atitudes e percepções em torno da Paralisia Cerebral e da deficiência, interferem na abordagem terapêutica da criança portadora e dificultam ou impossibilitam a concretização da orientação familiar. Pois, mesmo com todos os recursos e métodos educacionais inclusivos (CARVALHO, 2000; FONSECA et al. 1991), as pessoas com paralisia cerebral e principalmente aquelas que apresentam um quadro de maior comprometimento, encontram-se à margem de quase todos os programas de desenvolvimento e de apoio às suas condições. (CARVALHO, 2000). A partir da escola inclusiva haverá uma maior aceitação das crianças com necessidades especiais pela sociedade (CENTRO NACIONAL DE REESTRUTURAÇÃO EDUCACIONAL, 1994). É necessário que a sociedade o conheça, aceite e lhe crie as condições necessárias para a sua integração social ser uma realidade Fonseca (1991) é necessário que se desenvolva uma prática educacional mais específica no sentido de ampliar as suas capacidades. Para cada deficiência é enfatizado um tipo de cuidado no trabalho educativo. Uma das razões para essa condição, é que na medicina tradicional, assim como para os profissionais da área de saúde, a “CURA” é o objetivo de todo processo no restabelecimento da saúde. 57 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho, fez-se extensa revisão bibliográfica, citando vários autores, com a intenção de oferecer ao leitor, maior embasamento para compreensão de todo processo desenvolvido. Na discussão, enfatizou-se os aspectos que influenciam no processo de inclusão do portador de paralisia cerebral (REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2004; CARVALHO, 2000; FONSECA et al. 1991), quando traduzido para o contexto educacional, bem como as possíveis implicações que ele traz ao contexto brasileiro, principalmente quando se considera as recentes diretrizes e recomendações de organizações nacionais e internacionais a respeito do assunto (FONSECA, 1991; CENTRO NACIONAL DE REESTRUTURAÇÃO EDUCACIONAL, 1994) Viu-se que não existe um “cérebro paralítico”, mas uma lesão em alguma área específica desse cérebro que acarretou alterações motoras numa criança. O nível cognitivo é preservado, seus movimentos é que foram prejudicados (FINNIE, 2000). As fases do desenvolvimento cognitivo são as mesmas para todas as crianças e funcionam como pré-requisitos: a etapa posterior é um aprimoramento de uma que ocorreu anteriormente. Dessa forma, as informações que já tinham sido armazenadas depois de uma execução, sofrem um refinamento após nova execução. Evolui-se da mãe que o bebê leva à boca e, um dia, “consegue” derrubar um brinquedo, até chegar a vez em que essa mesma mãozinha pega um objeto e dá a ele uma função. Atingiu-se o simbolismo e a linguagem oral (BRAGA, 1995). Uma criança portadora de paralisia cerebral esbarra em alguns aspectos desse processo, que não representam dificuldades para as crianças ditas normais. A desenvoltura 58 motora dela é inferior, em alguns casos acentuadamente, em outros, nem tanto, mas esse quadro a impossibilita de agir e armazenar dados dessa ação como as outras crianças. As experiências se tornam mais limitadas (BRAGA, 1995). Percebendo as experimentações como fundamentais para o desenvolvimento da cognição, e tendo a linguagem como alva principal, essa criança precisa criar meios que a levem a superar esses obstáculos e mostrar que ela é apenas diferente. Ela tem seu jeito especial e, talvez, único de atingir seus objetivos. A criança cujo desenvolvimento está prejudicado por uma limitação não é uma criança menos desenvolvida que as demais: ela apenas se desenvolve de uma forma especial (CARVALHO, 2000). Surge a necessidade de se aprender a observar e entender a maneira dessa criança agir para, então, classificar sua linguagem. Mesmo sem verbalizar, ela transmite linguagem: um olhar, um sorriso são indícios comunicativos. Cabe aos que convivem com esse portador de paralisia cerebral interpretar suas tentativas de interação, facilitando-as e respondendo a elas. Afinal, ninguém se comunica sozinho. É preciso a intenção, o que comunicar e alguém para receber a mensagem. Nos casos de paralisia cerebral é preciso um passo a mais: decifrar a forma como a mensagem foi transmitida. Entender a linguagem da criança portadora de paralisia cerebral é perceber o modo como ela se comunica com o seu meio apesar do seu comprometimento motor. Deve-se situar suas intenções comunicativas dentro do seu desenvolvimento cognitivo, propiciando uma troca ativa dessa criança com o mundo à sua volta e favorecendo a que ela vivencie as construções desse seu período de vida. Dessa maneira, ocorre o enriquecimento da linguagem (GODÓI, 2001). Essa pesquisa abriu novos horizontes e, através dela, será possível levar esses conhecimentos aos professores de escolas especiais e conseguir auxiliar o nivelamento dos alunos portadores de paralisia cerebral. As crianças ficariam em classes onde todos estariam 59 numa mesma etapa de desenvolvimento. Cada vivência seria mais um degrau atingido na escala da cognição. Um teria a chance de aprender com o outro, o que uma criança realizar vai servir de estímulo para o colega. Aprender sobre cognição é fundamental para lidar com a linguagem e chegar, até mesmo, à aprendizagem (MOURA, 2001). De uma forma ou de outra, as etapas do desenvolvimento cognitivo são vencidas com a superação da anterior pela aprendizagem. Muito mais do que restringir esse trabalho às escolas especiais, pretende-se que ele seja levado às escolas normais, principalmente pré-escolas. Para que a integração resulte com eficácia, além do atendimento especializado (que deverá envolver a adaptação do currículo ou mesmo um currículo alternativo), o material didático adaptado, a remoção de barreiras físicas e arquitetônicas deve envolver a preparação profissional para o mundo do trabalho. Essa pesquisa me deu a oportunidade de aprender muito. É assim que deve continuar sendo: a cada dia, a cada pesquisa, a cada leitura. 60 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANHA, M.S.F. Integração social do deficiente: análise conceitual e metodológica. Revista Temas em Psicologia, n. 2, 1995. ASSOCIAÇÃO DE PARALISIA CEREBRAL DO BRASIL (APCB). Publicado em 10 jan. 2004. 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