Lucie Králová Diminutivos na Língua Portuguesa Brno 2008
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Lucie Králová Diminutivos na Língua Portuguesa Brno 2008
Lucie Králová Diminutivos na Língua Portuguesa Brno 2008 Masarykova univerzita Filozofická fakulta Ústav románskych jazykov a literatúr Portugalský jazyk a literatura Lucie Králová Diminutivos na Língua Portuguesa Bakalárska diplomová práca Vedúca práce: Iva Svobodová Brno, 2008 ÍNDICE 1. Introdução 1.1 Tema e estrutura do trabalho………………………………...…………..…4 1.2 Literatura utilizada no trabalho ……………………………….…………....4 2. O processo da formação dos diminutivos na língua portuguesa e checa...................6 2.1 A comparação das duas línguas, checa e portuguesa, baseada na investigação da tipología das línguas do prof. Vladimír Skalička…………………..…............................7 2.2 A posição dos sufixos diminutivos dentro da morfologia portuguesa.….....8 2.3 Diminutivos formais……………………………………………….………10 2.4 A diminuição em português e checo ……….........................................…....11 2.4.1. Diminuição analítica......................................................................................11 2.4.2. Diminuição sintética........................................................................................12 2.4.3. Verbos diminutivos........................................................................................13 2.4.4. Diminutivos avaliativos e z-avaliativos.........................................................15 2.4.5. Frequência de uso de alguns sufixos diminutivos..........................................16 3. O uso dos diminutivos na língua portuguesa e checa................................................19 3.1 As propriedades semánticas do diminutivo................…………………..…..19 3.2 O papel do contexto no uso dos diminutivos………………………………..21 3.3 Adjectivos diminutivos …………………………..........................................25 3.4 Diminutivos e vários estilos funcionais...…………………………………...27 3.5 Oralidade e os seusmeios de expressão..…………………………………....28 4. Conclusão.…………………………………………………………………………..31 5. Bibliografia.....……………………………………………………………………...32 3 1. Introdução 1.1. Tema e estrutura do trabalho A presença dos sufixos diminutivos é uma das propriedades compartilhadas pela gramática checa e portuguesa. Pretendemos então nesse trabalho comparar as duas línguas de ponto de vista dos diminutivos. O corpo do trabalho consta de duas partes principais: o processo da formação dos diminutivos e o uso deles nas duas línguas. A primeira parte do trabalho coloca como as suas tarefas principais várias questões. Além da descrição do processo da formação dos diminutivos, encontramos nessa parte uma comparação tipológica das duas línguas, cujo objecto é comprovar se existe uma base linguística comum entre o checo e português, e posicionamos também os diminutivos portugueses dentro da morfologia da língua. A outra parte do trabalho trata da posição dos diminutivos dentro a semántica das duas línguas. Descrevemos aqui as propriedades semánticas do diminutivo, o papel do contexto na compreensão dos diminuitivos e o emprego dos diminutivos em vários estilos formais. 1.2. Literatura utilizada no trabalho Como já foi mencionado o trabalho põe em foco a comparação dos diminutivos na língua checa e portuguesa. Para essa comparação foram utilizados três textos: O Primo Basílio1 do Eça de Queiróz e a sua tradução checa e Amor de Perdição2 do Camilo Castelo Branco. Tem que também ser notado que só foi utilizada uma parte da obra prima do Eça, com maior exactidão, capítulas 1.- 3. e 8. O razão para não incluir todo o livro foi, que a leitura do texto comprovou a tendenção dos diminutivos de se repetir assim como as situações em que foram utilizadas. 1 De Queiroz, Eça: O Primo Basílio (episódio doméstico). Lello & Irmão, Porto. Exemplos tiradas do livro serão escritos em itálicos e marcados Queiroz. 2 Branco, Camilo Castelo: Amor de Perdição. Planeta DeAgostini, Cayfosa. Exemplos tiradas do livro serão escritos em itálicos e marcados Branco. 4 A escolha dos dois textos portugueses era motivada por dois motivos. O primeiro foi a incontestável qualidade das obras, que garantia a autenticidade da língua, o outro motivo foi a fácil acessibilidade dos originais portugueses assim como das traduções checas. Havia dúvidas sobre a escolha dos textos por causa da sua desactualização, mas a pesquisa descrita no capítulo sobre a frequência dos vários sufixos diminutivos comprovou que a os resultados correspondem aos resultados das pesquisas contemporrâneas. Para verificar os resultados obtidos da análise dos dois textos em cima mencionados, era utilizado um texto actual: tratase da transcrição do filme portugês O Último Mergulho3. Como só uma das duas traduções checas, O Primo Basílio4, era disponível, aparecem no texto traduções do Amor de Perdição feitas pela autora e adequadamente marcadas. 3 4 O Último Mergulho, dir. Jõao César Monteiro, Madragoa Filmes, 1992. Queiróz, José Maria Eça de: Bratranec Basílio, rodinná epizoda. Odeon, Praha, 1989. 5 2. O processo da formação dos diminutivos na língua portuguesa e checa No seu livro Estilística da Língua Portuguesa M. Rodrigues Lapa descreve a grande popularidade dos sufixos (diminutivos) na língua portuguesa, explicando-a pelo facto de os portugueses são “homens sentimentais e escarnecedores.5” A razão da popularidade pode ser discutível, mas de qualquer maneira acabou por ser recentemente confirmada pela pesquisa de duas professoras brasileiras no artigo delas Unidade e diversidade: o vocabulário da língua oral em Portugal e no Brasil6. As duas professoras começaram a pesquisa por criar dois corpuses linguísticos, português e brasileiro, cada um deles consistiu em 550.000 palavras, tiradas de diversos tipos de textos do discurso escrito (literários, jornalísticos, técnicos, científicos, didácticos, económicos, jurídicos, parlamentares, etc.) e do discurso oral (elocuções informais e formais). Depois pesquisaram diferentes aspectos da língua, e, entre outros resultados (pois a pesquisa foi feita a fim de apresentar as diferenças entre o português europeu e brasileiro), a pesquisa revelou a popularidade do uso dos diminutivos em ambas formas de português. Entre as 550.000 palavras no corpus do português europeu foram registados em totalidade 1.700 diminutivos. Tomando em consideração que se tratou de textos de várias áreas da vida, incluindo ciência, técnica, etc., onde o número dos diminutivos se aproxima ao zero, o resultado conseguiu testemunhar grande popularidade dos diminutivos em português. Para demonstrar a popularidade de diminutivos na língua checa, disponho de pesquisa que tratou, entre outro, da frequência e do uso dos diminutivos no livro do Jaroslav Hašek, Aventuras do Valente Soldado Svejk (Osudy dobrého vojáka Švejka za světové války). A pesquisa foi baseada nas primeiras 50.000 palavras da obra, entre as quais foram encontrados 150 diminutivos utilizados em várias situações. Os resultados foram ainda suportados pelas análises de mais duas obras, translações de duas obras primas da literatura mundial, O Senhor 5 Lapa, M. Rodrigues: Estilística da Língua Portuguesa. Seara Nova, Lisboa, 1945, p. 105. Biederman, Maria Teresa; Bacelar Do Nascimento, Maria Fernanda: Unidade e diversidade: o vocabulário da língua oral em Portugal e no Brasil. 6 6 dos Anéis de J. R. R. Tolkien e Ardil 22 de Joseph Heller. Ali foram registrados 180 e 134 diminutivos respectivamente e comprovou-se assim grande popularidade dos diminutivos na língua checa.7 2.1. A comparação das duas línguas, checa e portuguesa, baseada na investigação da tipología das línguas do prof. Vladimír Skalička A análise seguinte revelará as diferenças entre o uso e a formação dos diminutivos nas duas línguas, português e checo, a primeira parte compara as duas línguas sob o aspecto de tipologia de línguas introduzido pelo linguista checo Vladimír Skalička. Para fazer a comparação entre as duas línguas em termos de diminutivos, a morfologia e o uso deles, é preciso verificar, se existe alguma base comum das duas línguas, ou seja, se as duas línguas são comparáveis. Para esta comparação podemos utilizar a investigação do linguista checo, professor Vladimír Skalička, um dos membros de Círculo Linguístico de Praga8. Skalička no seu estudo dividiu as línguas em quatro tipos: aglutinante, flexivo, isolativo e poli-sintético. Skalička caracteriza o tipo como „um conjunto de qualidades gramáticas, que são proximas uma à outra; quer dizer que quando uma das qualidades aparece numa língua, é provável, que o resto das qualidades também fará parte do sistema.“9 Segundo o professor Skalička a língua checa faz parte do sistema das línguas do tipo flexivo, que são caracterizadas por algumas qualidades, de quais aqui só apresentamos aquelas que o checo compartilha com o português: 1. os morfemas gramaticais são adicionados à palavra a que pertencem 7 Králová, Lucie: The Use of Diminutives in Czech and Portuguese Translations: Corpus Based Study. (O Uso de Diminutivos em Traduções Checas e Portuguesas: Estúdio baseado no Corpus)Todo o trabalho está disponível no server Veřejné složky informačního systému, https://is.muni.cz/ 8 Skalička, Vladimír: Vývoj české deklinace, Studie typologická. Jednota českých matematiků a fysiků, Praha, 1941, p. 4-5. (O Desenvolvimento da Declinação Checa, Estudo Typológico.) 9 Trata-se da minha tradução da definição „Typ je pro mě soubor gramatických vlastností, které jsou si navzájem blízké; t.j. je-li jedna v daném jazyce, očekáváme, že bude i druhá, třetí atd.“ Skalička, Vladimír: Vývoj české deklinace, Studie typologická. Jednota českých matematiků a fysiků, Praha, 1941, p. 4. 7 ex. Falava delas, devagar, traçando a perna... 2. as funções (categorias gramaticais) são acumuladas numa parte de palavra ex. Juliana teve um risinho seco... (-inho sufixo diminutivo, masculino) 3. o sufixo não tem a sua sílaba própria ex. Sa-le-ta, de-va-ga-ri-nho 4. as partes das palavras não são fonológicamente marcadas 5. concordância ex. As duas que tinha eram uns trapos. 6. o contraste entre os elementos (sufixos) não-gramáticos e gramáticos é mais importante do que o contraste entre os elementos significantes e auxiliares 7. supletivismo ex. ser – és – fui – era 8. distinção entre as classes das palavras 9. abundância das frases subordinadas As antipatias que a cercavam faziam-na assanhada, como um círculo de espingardas enraivece um lobo. A lista dos elementos comuns nas duas línguas comprova, que as línguas compartilham muitas qualidades, incluindo aquelas que concernem à área da sufixação (notem principalmente os pontos 1-5). Podemos então concluir que a comparação das duas línguas em termos de diminutivos, a formação e o uso deles é aceitável, porque os sistemas linguísticos são comparáveis e ambas as línguas pertencem ao mesmo tipo . 2.2. A posição dos sufixos diminutivos dentro da morfologia portuguesa Antes de descrever o processo de formação de diminutivos, temos que posicionar os sufixos diminutivos dentro da morfologia portuguesa. De acordo com a nova perspectiva dos 8 linguistas sobre a organização de processo de formação de palavras, distinguimos entre o processo de derivação e o de modificação. Esta distinção é baseada na função do afixo dentro da estrutura da palavra modificada sendo a questão principal a de se o afixo determina a categoria sintáctica e morfológica da palavra. A. O Processo de Derivação O processo de derivação acontece principalmente pela adição do sufixo e determina a categoria morfo-sintáctica da palavra em que ocorre: Ex. –al, como em princípio→ principal –ez, como em pequeno→ pequenez –ável, como em a razão→ razoável B. O Processo de Modificação O processo de modificação é um processo que muda a interpretação sintáctica da palavra. As palavras sujeitas à modificação preservam as suas categorias morfo-sintácticas e propriedades gramáticas. Os prefixos de modificação são prefixos • locativos: sobrenatural; antepor; sublinhar • de negação: desconfiar; impaciência • de oposição: desligar • de avaliação: infra-estrutura; megaconcerto; microclima • de quantificação: uniaxial; binoculado; triácido • de repetição: repiscar • de referência temporal: pré-aviso; pós-produção Os sufixos de modificação são os sufixos de grau, entre outros os sufixos diminutivos, aumentativos, pejorativos, etc. A primeira função desse tipo dos sufixos é modificar a dimensão e o grau dos semas. Mas como todos esses sufixos transmitem também a avaliação 9 do falante sobre o sema modificado, designam-se estes sufixos por sufixos avaliativos. A adição do sufixo não altera a classe de palavra, género, número, e outras categorias sintácticas, mas sim a sua qualidade: a propriedade semântica10. Sobre o processo da formação de diminutivos veja o sub-capítulo 2.4., as modificações sintácticas são descritas no capítulo O Uso dos Diminutivos Portugueses e Checos. 2.3. Diminutivos formais No capítulo precedente posicionamos os diminutivos dentro do grupo dos sufixos avaliativos e explicamos as suas funções morfológicas e sintácticas. Contudo, antes de procedir ao prblema da formação dos diminutivos, temos que mencionar um grupo de diminutivos, que mesmo que possui os signos formais dos diminutivos, não pertence ao grupo dos sufixos avaliativos. Trata-se dos diminutivos formais. Os diminutivos formais são aqueles que mesmo que preservam o aspecto formal do diminutivo, perderam a qualidade associdada com o sufixo diminutivo. Para exigir diminuição a estas palavras, é preciso utilizar um adjectivo adicional, por exemplo pequeno, baixo, insignificante, etc. O sentido do diminutivo formal não é completamente dissociado do sentido da palavra original, ou seja, há uma ligação semântica óbvia entre o radical e o sufixo: Diminutivo: maridinho, palavra original marido, o sufixo adiciona a noção de timidez, amor, mas não muda o sentido da palavra. Diminutivo formal: camarote, palavra original câmaro, pelo sufixo –ote a palavra criada atingiu um sentido novo, independente do sentido original. Existem também palavras, cujo aspecto faz uma impressão de pertencer ao grupo de diminutivos, mas não existe ligação nenhuma, ou seja que o desenvolvimento morfológico deles não aconteceu através da sufixação, mas de modo diferente. 10 Sofia Melo, Ana Martins: Terminologia Linguística: Notas e Comentários. Porto editora, 2006, p. 23-25. http://www.carlososorio.net/documentos/tlebs.pdf 10 Ex. Gaforinha = gaforina, do it. Gafforini Mesquinha = do Árabe Miskín, pobre 2.4. A diminuição em português e checo O uso, assim como o processo da formação dos diminutivos em português, compartilha muitos aspectos com o uso e o processo de formação dos diminutivos em checo. Em ambas as línguas existem duas formas de diminuição: se a diminuição for vehiculada por meio de sufixo, falamos da diminuição sintética; se por meio de outra palavra, que modifica o substantivo (pequeno, fino, magro), denomina-se a diminuição analítica. 2.4.1. Diminuição analítica A diminuição analítica é muito produtiva em ambas as línguas, mas na língua checa encontrámo-la frequentemente combinada com a diminuição sintética11. Seguem alguns exemplos tomados da tradução checa do Primo Basílio complementados pela versão da frase no original português e a tradução da frase literal: • Adjectivo + substantivo (čtyři hubeňoučké dcerky - quatro filhas magras) • Substantivo + predicado (pokojík byl nízký – o quarto era baixo). Os dois exemplos seguintes foram tomados do artigo da Zdena Rusínová Deminutivní modifikace z hlediska pragmalingvistického (veja a nota 1). • Advérbio (žalostně malý hlouček – um_ grupinho_ lastimosamente_pequeno) • Verb (bábinka cupitala – a_ avozinha_pateava) 11 Rusínová, Z.: Deminutivní modifikace z hlediska pragmalingvistického. In: Karlík, P. – Pleskalová, J.Rusínová, Z.: Pocta Dušanu Šlosarovi : sborník k 65. narozeninám. Albert, Boskovice 1995, s. 187-193. (A Modificação Deminutiva Tomado de Ponto de Vista de Pragmalinguístico.) 11 Esse fenómeno não parece tanto produtivo na língua portuguesa, pois na parte analisada do Primo Basílio a combinação do adjectivo e o substantivo diminutivo só foi realizada 7 vezes, outros tipos de combinações com o diminutivo não foram encontrados. 2.4.2. Diminuição sintética Todas as classes das palavras capazes de flexão, nomeadamente os substantivos (negociozito), adjectivos (pequenino), advérbios (devagarinho) e até verbos (bebericar) podem ser sujeitas à formação dos diminutivos tanto em português, como na língua checa. Os sufixos avaliativos na língua portuguesa são –inho/a, –zinho/a, -ito/a, -zito/a, -acho/a, -culo/a, -ebre, -eco/a, -ejo/a, -ela/o, -ete, -eto/a, -iço, -im, -isco/a, , -ote, -ucho, -ulo, -únculo, e –usco, como nos exemplos que seguem: Os passarinhos trinavam na cerca do mosteiro melodias interrompidas pelo toque solene das ave-marias na torre. (Branco, p. 98) As rebeliões da natureza, sufocava-as; eram fogachos, flatos. (Queiroz, p. 90) Tinha para isso muitas razões, dizia: dormia num cubículo abafado... (Queiroz, p. 93) ...ali estava horas sentando no poial da janela que dava para um quintalejo... (Queiroz, p. 84) ...capas românticas que roçam as paredes, sombrias vielas onde luz o nicho santo e se repenica a viola... (Queiroz, p. 59) Tivera-as ricas, com palacetes, e pobres, mulheres de empregados, velhas e raparigas, coléricas e pacientes; - odiava-as a todas, sem diferença. (Queiroz, p. 88) Esta escrivã não é má rapariga; só tem o defeito de se tomar da pingoleta; depois não há quem a ature. (Branco, p. 71) 12 Bem sabem eles que o interesse do leitor se gela a passo igual que o herói se encolhe nas proporções destes heroizinhos do botequim, de quem o leitor dinheiroso foge por instinto... (Branco, p. 80) Desde rapariga a sua ambição fora ter um negóciozito, uma tabacaria, uma loja de capelista... (Queiroz, p. 85) Quando for a Honra e Paixão cá mando um camarote à prima Luísa. (Queiroz, p. 57) És feliz, tens um pequerrucho... (Queiroz, p. 69) A diminuição sintética em checo compartilha muitos aspectos com a diminuição portuguesa, mas, à diferença de português, o checo possui dois graus de diminuição. O primeiro grau é formado pela adição dos sufixos -ek, -ík, -ka, ko, -átko. Para intensificar o diminutivo é possível formar o segundo grau diminutivo pela adição dos sufixos -eček, -ečka, -íček, -ička, para nomear os mais frequentes. Os sufixos diminutivos modificam as palavras de todos os géneros, e existem em três formas: masculina, feminina e neutra. Geralmente o género do sufixo está de acordo com o género do radical, contudo há excepções, por exemplo květ (m) → kvítko (n).12 A palavra original frequentemente tem que ser submetida à alteração fonética, por exemplo kniha- knížka- knížečka. 2.4.3. Verbos diminutivos Do ponto de vista de aspecto verbal, ou seja, da categoria que diz em que ponto se encontra a acção denominada pelo verbo, podemos distinguir quatro tipos de verbos: verbo causativo, verbo frequentativo, verbo incoativo e verbo diminutivo. Os verbos diminutivos indicam uma acção de pouca intensidade e terminam em sufixos –icar, –ilhar, –inhar, –iscar e –itar como por exemplo bebericar, dormitar13. 12 Karlík, Nekula, Rusínová: Příruční mluvnice češtiny. Nakladatelství Lidové noviny, 1995, p. 125-128. Hlibowicka-Węglarz,Barbara: Recursos Morfológicos de Integração Aspectual na Língua Portuguesa. http://publib.upol.cz/~obd/fulltext/Romanica7/Romanica7-15.pdf 13 13 Raramente a diminuição dos verbos é em português utilizada para exprimir a ideia de repetição, ou acção repetitiva, uma „marcha de tempo que desliza suave e incessantemente“14. Quero estarzinho com ela.- Quero passar o resto da minha vida com ela.15 Esse exemplo foi apresentado num server brasileiro embora não seja muito frequente nem em português brasileiro, riquíssimo em diminutivos. Contudo o que existe na língua portuguesa europeia são verbos criados dos diminutivos de substantivos, como por exemplo gatinhar (Queiroz, p. 54), andar com as mãos pelo chão, palavra que é obviamente formada do diminutivo gata → gatinha, sendo que a mesma acção pode ser descrita com verbo andar de gatas. Suponho que essa forma desenvolveu porque geralmente a acção descrita seja performida por crianças e a língua infantil abunda de diminutivos. A situação na língua checa apresenta certas semelhanças com o português: embora o uso de diminutivos seja mais produtivo com substantivos e adjectivos checos, também aqui existem casos em que os verbos podem ser classificados como verbos diminutivos. Trata-se dos verbos terminados em –olit (šveholit, drmolit, mrholit – murmurar, engrolar, choviscar), que adicionam uma qualidade expressiva à acção denominada. Um certo grupo de verbos, verbos de tipo volat, podem formar diminutivos pela adição do sufixo –k– aos verbos da origem onomatopeica (hopkat, cupkat – saltitar, patear). Outros sufixos verbais que adicionam uma noção diminutiva ao verbo são –itat (špitat, cupitat – cochichar, patear), –etat (štěbetat, třepetat – gorjear, adejar), -otat (třepotat - tremular), –ink– (spinkat, hajinkat – dormitar), características para o discurso infantil.16 14 Lapa, M. Rodrigues: Estilística da Língua Portuguesa. Seara Nova, Lisboa, 1945, p. 112. http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u2527.shtml 16 Karlík, Nekula, Rusínová: Příruční mluvnice češtiny. Nakladatelství Lidové noviny, 1995, p. 195-6. (O Manual da Gramática Checa) 15 14 2.4.4. Diminutivos avaliativos e z-avaliativos A palavra criada da sufixação diminutiva mantém o género da palavra original, ou seja o género do radical determina o género do sufixo adicional: pássaros → passarinhos, rua → ruazinha Às vezes a palavra resultante tem que ser submetida a alguma modificação, como por exemplo deslocamento do acento: mi´údos→ miud´inhos, víbora → vibora´zinha, só → so´zinha Os dois últimos exemplos mostram uma inflexão do –z–entre o radical e o sufixo – inho. A mesma situação ocorre com o sufixo –ito: rapariga→ rapariguita pobre→ pobrezita Antigamente a consoante [z] era chamada um elemento de ligação (veja ex. Estilística da Língua Portuguesa, nota 1), contudo, presentemente novas avaliações deste fenómeno tem aparecido. Segundo as novas opiniões não se trata de duas diferentes realizações do mesmo sufixo –inho, –ito mas sim de dois pares de sufixos diferentes: –inho e –zinho, –ito e –zito. Os sufixos diferentes tomaram nomes sufixos avaliativos e sufixos z-avaliativos, e a razão para a sua distinção é que os radicais a que os sufixos se associam, exibem diferentes propriedades. A professora Maria Helena Mira Mateus no seu artigo Ensino da Língua e Desenvolvimento Educativo17 propõe as „preferências“ seguintes do emprego dos sufixos avaliativos e zavaliativos: Os sufixos avaliativos são preferidos por bases com menor número de sílabas: Ex. Anjinho x lâminazinhas, coisinha x viborazinha Contudo, há diminutivos, como por exemplo arzinho, serzinho, onde, embora o número das sílabas seja baixo, podemos empregar a outra „preferência“ da professora Mateus. 17 Mateus, Maria Helena Mira: Ensino da Língua e Desenvolvimento Educativo. Revista Perspectiva, Vol. 20, n. 01, 2002, Santa Catarina, Florianópolis: 15-25. http://www.iltec.pt/pdf/wpapers/2002-mhmateus-ensino_da_lingua.pdf 15 Segundo ela é mais adequado empregar o diminutivo avaliativo com as palavras do uso quotidiano, enquanto palavras cuja natureza impede a frequente formação dos diminutivos, é preferível utilizar o diminutivo z –avaliativo. Outra „preferência“ para o emprego das duas formas de sufixos diminutivos é, que os radicais terminados em –m geralmente exigem o diminutivo z-avaliativo: E.x. homem → homenzinho Os diminutivos avaliativos são exigidos pelos radicais terminados em –s e –z: E.x. actriz → actrizita A utilização da palavra preferência em vez de regra tem a sua razão no facto de que todas das preferências em cima descritas permitem muitas excepções. É por isso que encontramos os seguintes pares dos diminutivos: livrinho x livrozinho cadeirinha x cadeirazinha percursozinho x percursinho rendimentozinho x rendimentinho A escolha dos diminutivos avaliativos e z-avaliativos parece portanto ser dirigida pela preferência do falante e manifesta um grau significante da liberdade. 2.4.5. Frequência de uso de alguns sufixos diminutivos A análise dos dois textos, Amor de Perdição e O primo Basílio revelou, que os sufixos diminutivos mais produtivos em português são os sufixos –inho, –zinho, –ito, e –zito o que comprovam as tabelas seguintes: 16 classe das palavras substantivos adjectivos advérbios classe das palavras substantivos adjectivos advérbios O PRIMO BASÍLIO sufixo diminutivos -inho 54 -zinho 18 -ito 5 -zito 3 -ucho 1 -acho 1 -ino 1 -ejo 1 -ete 3 -ulo -olo -ote -al -ela 1 -ila -inho 10 -ino 2 -inho 2 AMOR DE PERDIÇÃO sufixo diminutivos -inho 22 -zinho 6 -ete 2 -eta -ulo -im -ote -inho 2 -zita 1 -inho 4 diminutivos formais 3 1 3 4 2 1 2 1 diminutivos formais 2 1 1 1 1 Todos os diminutivos encontrados nos dois textos só foram incluídos na tabela uma vez 18 , para que a inclusão de todas as repetições não deformar os resultados finais. Isso aconteceria por exemplo no Primo Basílio no momento em que o autor observa a Luísa a preparar-se para sair de casa e passa algum tempo em descrição do seu vestido. De acordo com a moda contemporânea, a Luísa está a vestir um corpete, palavra que encontramos cinco vezes em apenas três páginas. Como a palavra está também incluída na tabela, na coluna de 18 Ou seja, quando encontrei quatro vezes o diminutivo casinha, decidi-me só o contar como um diminutivo, em vez de quatro. 17 ‘diminutivos formais’ com o sufixo –ete19, a sua repetição aumentaria o número desse tipo de diminutivos mais do que duas vezes e o sufixo parecia mais produtivo do que é na realidade. Assim também atinjo um resultado mais preciso no caso de adjectivos diminutivos com o sufixo –ino: a palavra pequenino aparece no Primo Baslílio cinco vezes e se fosse incluída tantas vezes na tabela, a relação entre adjectivos –inho : -ino mudava de 9:1 para 11: 8. Mesmo que tratou de textos escritos há quase duzentos anos, a pesquisa conseguiu afirmar a pesquisa brasileira mencionada já no início do capítulo, a respeito de produtividade de particulares sufixos diminutivos. A pesquisa baseada no Português contemporâneo revelou que entre as 550.000 palavras no corpus do português europeu foram registadas em totalidade 1.700 diminutivos de todas as formas. A maioria, nomeadamente 1.642 ocorrências, pertenceu aos diminutivos -inho, que foram representados por 707 palavras diferentes. Aqui as duas professoras brasileiras apresentam diminutivos que encontraram nos textos e discursos examinados. A relação entre os diferentes diminutivos –inho: -ito na sua pesquisa é 707: 38, o resultado que afirma a relação 100 : 8 encontrada na análise em cima descrita. A preferência pelo diminuitivo –inho (-zinho) confirmou o tradutor português António Manuel Bomgardt Pedroso a pergunta no server Ciberdúvidas na Língua Portuguesa20 sobre o emprego dos dois sufixos diminutivos: Não existe nenhuma regra enquanto a sua preferência, mas como –ito „tem conotação dialectal e espanholada“, no caso da dúvida é preferível empregar o sufixo – inho, muito mais usual e castiço. 19 Mais sobre os diminutivos formais no capítulo 2.3. dedicado mesmo a este tipo de diminutivos Ciberdúvidas na Língua Portuguesa http://ciberduvidas.sapo.pt/pergunta.php?id=19861 20 18 3. O uso dos diminutivos na língua portuguesa e checa Como já foi dito no capítulo 2.2, os sufixos diminutivos pertencem ao grupo dos sufixos avaliativos, cuja função não é determinar a categoria morfo-sintáctica da palavra em que ocorrem, mas a característica semântica da palavra. Na parte seguinte revelamos as propriedades semânticas que o sufixo adiciona ao sema. Existem várias alterações pragmáticas atingidas pela palavra através da diminuição. A primeira modificação é ligada com a quantidade (tamanho no caso dos substantivos, e grau, quando se trata dos adjectivos e advérbios), que é geralmente considerada a alteração mais básica. Contudo, a redução do tamanho já não é o significado mais importante do diminutivo: geralmente os significados são determinados por três factores seguintes. • Carácter semántico da palavra modificada, a melhoração ou pejoração do diminutivo está ligado com o sentido do radical. • Contexto - descrição dum objecto pequeno exige uso abundante dos diminutivos. Colocação dos diminutivos causada pela estrutura estilística, contraste entre dois objectos, pessoas, situações etc. pode ser desenhada por meio de presença ou ausência de diminutivos: E mais a fidalga é fraquinha, e eu sou mulher do campo... (Branco, p. 150) • Intenções comunicativas do falante. Na terceira parte do trabalho tratamos de todos os factores respectivamente. 3.1. As propriedades semánticas do diminutivo Como manifesta já o nome diminutivo (do verbo diminuir = tornar menor, reduzir21), originalmente, o diminutivo tinha modificado o tamanho do objecto. Contudo com o tempo a função do diminutivo foi mudada e presentemente já não transmite necessariamente a ideia do 21 Dicionário da Língua Portuguesa. Porto editora, 2004. 19 tamanho, mas sim a ideia de algo mais delicado, suave, afectivo. A ligação entre essas duas funções mais importantes do sufixo diminutivo é óbvia: objectos pequenos inspiram mais ternura do que coisas grandes e por isso torna-se aceitável exprimir sentimentos amorosos pelo uso de sufixo que originalmente tinha denotado pequenez. Conhecendo a outra função do diminutivo não é de surpreender encontrar colocações como beicinhos cheios (contraste entre o diminutivo e o atributo cheio que denomina grandeza dos beiços), que são só depois de poucas páginas chamados beiços gordinhos (Queiroz, p. 22) (outro contraste, neste caso encontrado numa palavra só: gordo = grande, rico + -inho), ou maneira de que o Jorge no Primo Basílio chama a sua esposa Luísa, viborazinha (víbora = pessoa de muito má índole + dim. -inha). É interessante observar que a mesma mudança do sentido dos diminutivos que aconteceu em português ocorreu também na língua checa. Como pode ser observado nas traduções seguintes o checo assim como o português permite a combinação do adjectivo aumentativo com o substantivo diminutivo beiçinhos cheios – plné rtíky, ou amolecimento de insulto pelo o diminutivo: viborazinha – potvůrka. O uso dos diminutivos é aceitável mesmo que se trate de objectos grandes, contanto que algum sentimento positivo está presente. Isso brilhantemente exprime Camilo Castelo Branco na sua obra-prima Amor de Perdição: A Mariana, menina perdidamente apaixonada pelo Simão diz, que lhe vai ‘buscar o caldinho’ e aparece com ‘o „caldinho“ - diminutivo que a retórica duma linguagem meiga sanciona; mas contra o qual protestava a larga e funda malga branca, ao lado da travessa com meia galinha loira de gorda.’ (Branco, p. 82) Para exprimir o seu amor, ternura e cuidado a Mariana utiliza o diminutivo caldinho quando fala do caldo que tinha feito para o seu herói, que está a convalescer duma ferida. 20 Neste caso o sufixo diminutivo nem sequer caracteriza a palavra modificada, mas sim os sentimentos empregados na situação descrita. Para ainda mais evidenciar a transferência do sentido dos diminutivos basta tomar em conta o facto que às vezes as palavras que adquirem a forma do diminutivo são nomes de profissões ou nomes próprios: actrizita, heroizinhos, mãezinha, Ritinha, Luisìnha, Ernestinho, Joaquininha. No caso desses substantivos a ideia do tamanho é completamente irrelevante. Mesmo assim, os semas que são mais frequentemente sujeitos à diminuição são os semas sem humanidade, e concretos. A diminuição das palavras abstractas é mais rara mas há exemplos, como pontinha de febre, arzinho, saúdinha. A excepção nas palavras abstractas são nomes de tempo, onde o diminutivo é posto a fim de banalizar a duração verdadeira (há bocadinho, num instantinho). 3.2. O papel do contexto no uso dos diminutivos Assim como o carácter da gente portuguesa facilmente vai de um extreme ao outro, também o sufixo diminutivo pode adicionar vários significados à palavra em conta. A modificação pragmática empenhada pela adição do sufixo diminutivo pode variar desde o amor até a aversão, através da ironia até a depreciação. A percepção do significado no exemplo particular é dependente do contexto e exige o conhecimento da toda a situação. É por essa razão que percebemos a diferença entre os dois apelidos da Luísa: piorinha e viborazinha22. Enquanto o segundo apelido a Luísa obteve do seu marido ao se reconciliar com ela depois de uma pequena disputa (-Viborazinha!- murmurou, fitando-a muito meigamente.), o outro, a piorinha, é como a chama a sua criada, a antipática Juliana, quem detesta a Luísa. A diferença entre os dois apelidos por tanto não é dada pelo carácter do 22 Queiroz, p. 93, 12, respectivamente. 21 diminutivo (pois os dois apelidos poderiam facilmente ser trocados), mas sim pela situação e contexto em que foram pronunciados. Esse exemplo evidencia claramente que o sentido dos diminutivos é de grande parte determinado pelo contexto em que se encontra. Agora podemos inverter essa afirmação e dizer que o uso dos diminutivos é da grande parte determinado pela situação, ou contexto. A situação que muitas vezes provoca o uso do diminutivo na língua artística é a descrição da beleza e timidez da mulher, como ocorre no Primo Basílio na descrição da Luísa: „a camisinha decotada descobria os ombros alvos duma redondeza macia, o colo branco e tenro, azulado de veiazinhas finas; e os seus braços redondinhos, um pouco vermelhos no cotovelo descobriram por baixo, quando se erguiam prendendo as tranças, fiozinhos louros, frisando e fazendo ninho.“ (Queiroz, p. 64) A língua checa utiliza o mesmo meio para exprimir a delicadeza da Luísa: „kombiné s výstřihem odhalovalo její bělostná ramena, hebká a kulatá, i její mléčnou něžnou šíji, modrající se jemnými žilkami. Když se její oblé paže, poněkud narudlé na loktu, při splétání copů zvedly, objevily se v podpaží plavé kudrnaté chloupky tvořící jakoby hnízdečko.“ Já no primeiro capítulo do Primo Basílio observamos uma abundante presença dos diminutivos. Esse pode ser facilmente explicado se tomamos em consideração do que está a falar o autor. Estamos a ser apresentados a um casal novo, recentemente casado e apaixonado, com a mulher, Luísa, extremamente graciosa, amada não só pelo marido dela, o Jorge, mas também por toda a gente. Nas descrições da Luísa, Luìsinha, mesmo que se trata da narração na terceira pessoa, parece que é o marido próprio quem está a falar pelo autor, tão vivas e ternas são as descrições: „era asseada, alegre como um passarinho, como um passarinho 22 amiga do ninho e das caricias do macho; e aquele serzinho louro e meigo veio dar à sua casa um encanto sério.“ „É um anjinho cheio da dignidade!“ (Queiroz, p. 9) Também a tradução checa utiliza diminutivos para exprimir o amor do marido pela sua esposa: „byla čistotná a veselá jako ptáček a také jako ptáček měla ráda hnízdečko a mazlení svého druha. Ta plavá něžná bytůstka ovanula jeho dům opravdovým kouzlem.“ „Je to andílek, vtělená dobrota!“ Outras intenções comunicativas que suportam o uso do diminutivo podem ser por exemplo pedido, desculpa, escusa, escapatória, etc. Ao utilizar um diminutivo num dos casos referidos, o falante diminui o efeito da exigência ao destinatário. Por isso é preferível utilizar um momentinho em vez de um momento ao pedir alguém para esperar por nós. Obviamente a diminuição da exigência ao destinatário pelo diminutivo está a empenhar a sua função somente nos casos em que o referente não é de diminuir. Assim precebemos que o que é intencionado pelo apelo „Vai tomar ar, trabalha um poucochinho para espaireceres.“ (Branco, p. 146) na verdade não é trabalhar pouco, mas pelo contrário trabalhar muito. É o contexto e a nossa experiência pessoal que nós aconselha que só quando o corpo é bastante ocupado, consegue esquecer-se de problemas de mente. É pelo mesmo meio que se evita denominação de alguns tabus e os diminutivos adquirem certo valor eufemístico. Alguns exemplos lindíssimos encontramos nos dois textos em ligação com álcool, um vício a quem toda a gente dá, mas ninguém o confessa; e se o confessa, faz o possível para minorar o volume do uso. Por tanto encontramos os exemplos seguintes, que todos exprimem a mesma ideia de beber álcool: ...que vinha... pedir à prelada um copinho de certo vinho estomacal com que todas as noites era brindada (Branco, p. 70)_ která přišla požádat matku představenou o skleničku jistého žaludečního vína, kterou si dopřávala každý večer. 23 Só tem o defeito de se tomar da pingoleta (Branco, p. 71)_ má jen jednu vadu: ráda si kapičku přihne ...dou-te como penitência beberes um copinho... (Branco, p. 73) za trest ale budeš muset vypít jednu skleničku23 Por isso ia se consolando com algumas pinguinhas, de vez em quando. (Queiroz, p. 94) proto se občas utěšovala nějakým tím douškem vína Como mostram as traduções, na língua checa também existe, e é preferível, a possibilidade de empregar diminutivos para exprimir a idéia de beber álcool. É por isso que a colocação da palavra sklenice é voda (sklenice vody_um copo de água), enquanto os diminutivos da mesma palavra sklenička/ sklenka colocam com víno (sklenička / sklenka vína_um copinho de vinho). Esse facto foi confirmado pela pesquisa no corpus mais facilmente atingível, Internet. O maior buscador do mundo virtual, o Google, revelou os seguintes números de resultados em relação ao emprego das colocações em checo: sklenice vody 16 500 vína 2 740 sklenka 585 10 800 sklenička 362 1 340 O mesmo caso, em que o uso do diminutivo é empregado em conformidade com a situação, em oposição ao objecto referido, é quando tratamos das crianças, pessoas queridas, etc. Por tanto, ao ouvir uma mãezinha oferecer um bifinho ou sopinha à sua criança, sabemos que esse não significa que o bife seja pequenino, mas sim que a criança é muito querida à sua mãe24. Esse tipo dos diminutivos serve como um moderador social, no sentido de molificar, ou moderar as diferenças entre as duas pessoas envolvidas no discurso, sejam diferenças em idade, posição social, etc. 23 Todas as traduções dos exemplos tirados do Amor de Perdição foram feitos pela autora. Camargo, Thaís Nicoleti de: Resumão/português - Diminutivos e aumentativos. http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u2527.shtml 24 24 Ao mesmo grupo pertence também a tendência de chamar as pessoas queridas, crianças, animais domésticas pelo diminutivo. Mesmo aqui podemos no entanto encontrar problemas: como é que explicamos os exemplos quando alguns superiores tratam os seus subordinados pelos diminutivos? Neste caso a função do diminutivo é directamente oposta à função que denominei ‘moderador social’: o emprego do diminutivo pode acentuar a inferioridade dos destinatários, deve exprimir falta de respeito e funciona até como um insulto verbal. Já mencionamos um caso onde o diminutivo é empregado para exprimir esse sentido: a alcunha piorinha inventada pela Juliana para a sua ama, a Luísa. Essa alcunha em si combina o ódio da Juliana pela casa em que serviu, a aversão da sua inferioridade, mas também o facto de se sentir como a dona da casa, quem sabe de tudo o que se passa na casa, e quem pode fazer a vida dos seus amos mais desagradável. Encontramos outro exemplo do mesmo emprego do diminutivo na apresentação dum amigo da casa do casal novo, o Ernestinho. Ele „vivia com uma actrizita do Ginásio, uma magra, cor de melão, com o cabelo muito riçado, o ar tísico...“ O diminutivo neste caso também é utilizado para denotar a insignificância da actriz e a sua má qualidade, como exprime a tradução checa: podružná herečka. 3.3. Adjectivos diminutivos Até agora falamos sobre os diminutivos substantivos e a sua qualidade semântica. Os exemplos mostraram que essa qualidade é mutio variável e dependente do contexto. Contudo, uma situação ainda mais curiosa ocorre quando adicionamos um sufixo diminutivo a um adjectivo. Tomemos mais uma vez em consideração a origem do nome diminutivo: é o verbo diminuir, tornar menor, reduzir. Isso sabendo parece ainda mais estranha a outra função do sufixo diminutivo, que é a intensificação, em vez da redução da qualidade. Mas mesmo aqui 25 conseguimos encontrar uma explicação lógica: como a manifestação de sentimentos positivos exige exagero das qualidades do objecto amado, não parece estranho que o mesmo sufixo que no início costumou ser utilizado para dar a entender afeição, passa a ser utilizado para implicar „superlativação“25. Aqueles exemplos contudo aparecem apenas na língua coloquial, ou artística onde o exagero e intensificação é natural e mais aceitável, do que na língua escrita. É por tanto que encontramos os diminutivos neste sentido principalmente na língua falada (ou discurso directo nas obras da literatura), como no seguinte exemplo do Primo Basílio: E sòzinha em casa, aborrecedinha talvez!... Um velhinho asseado, já todo branquinho, vestido de branco, muito amável. A tradução checa tem que aproveitar das duas formas de diminuição, sintética e analítica. A razão é que para exprimir o facto de ser aborrecido, o checo tem que utilizar o verbo nudit se. A forma diminutiva do verbo, mesmo que poderia ter sido inventada (a língua infantil certamente aceitava verbo nudinkat), não foi utilizada, pois o emprego dela já era demasiado expressivo. A samotinká doma, možná se trochu nudí. Em todo o livro o tradutor tenta manter a proporção dos diminutivos nas duas línguas e assim obedecer o texto original. Neste caso no entanto preferiu traduzir pelo diminutivo o outro adjectivo na frase e comprovou assim a tendência da língua checa de diminuir adjectivos com sentido positivo. Je to takový čisťoučký stařeček, již úplně šedivý, oblečený v bílém, velice přívětivý. Esse era um exemplo do adjectivo diminutivo no discurso directo, mas isso não significa que os adjectivos diminutivos não sejam aceitáveis na língua escrita. Ao contrário, os escritores também aproveitam a força dos diminutivos adjectivos nas suas obras artísticas 25 Lapa, M. Rodrigues: Estilística da Língua Portuguesa. Seara Nova, Lisboa, 1945, p. 111. 26 mas, segundo a pesquisa das duas obras literárias analisadas, o seu uso parece ser mais limitado do que na língua falada. Eça de Queiroz utiliza os diminutivos adjectivos principalmente em descrições pessoais ao fim de intensificar as qualidades positivas da pessoa a descrever. A tabela seguinte mostra alguns exemplos de adjectivos diminutivos portugueses tirados do Primo Basílio, com as suas traduções checas. Enquanto todos os exemplos portugueses constam de um adjectivo diminutivo e um substantivo, as traduções checas combinam mais maneiras de exprimir diminuição. Os itálicos fortes na tabela indicam diminutivos, a cor verde em checo indica adjectivos de pequenez: ORIGINAL PORTUGUÊS TRADUÇÂO CHECA pequenina cabeça malá hlava pequenino coração pequenina pequenino redondinhos magrinhas miúdinho pé bigode braços filhas passo drobná oblé hubeňoučké drobné nožka knírek paže dcerky krůčky gordinhos beiços plné rty srdíčko A tabela mostrou que a língua checa prefere traduzir os adjectivos diminutivos pela diminuição dos substantivos que modificam (ex. Knírek), pela diminuição analítica (ex. Malá hlava), ou pela combinação das duas maneiras (ex. Drobná nožka). Combina-se raramente a diminuição do adjectivo com a diminuição do substantivo (ex. Hubeňoučké dcerky). 3.4. Diminutivos e vários estilos funcionais Da característica dos diminutivos podemos inferir que o uso deles é, além de outros factores, determinado pelo grau de formalidade do discurso. Quanto mais formal seja o discurso, tanto mais será caracterizado pela sua relativa descontextualidade, quer dizer que o discurso formal não admite mais interpretações e por tanto exige maior grau de exactidão dos seus meios expressivos: “Clareza, simplicidade, exactidão e variedade caracterizam o estilo 27 jornalístico de qualidade.”26. Pelo contrário, o discurso de menor grau de formalidade é mais dependente do contexto, relação entre os participantes, a função do texto, etc. A distinção entre os discursos de diferente grau de formalidade copia, em grande parte, a distinção entre a oralidade e a língua escrita, mas como ambas as modalidades da língua dispõem de vários estilos funcionais, é preciso distingui-las. Algumas estratégias da oralidade podem ser encontradas num texto escrito em prosa, bem como podem ser encontradas estratégias da língua escrita num texto oral mais tenso27. Como já foi mencionado nos capítulos precedentes, a interpretação do sufixo diminutivo pode variar de um extremo ao outro (do amor até a depreciação). Isso os torna inaplicável aos textos com grande grau da formalidade, mas, pelo contrário, faz o seu uso popular no estilo funcional artístico assim como na língua falada. Encontramos então diminutivos nos textos, cuja função não é só informar, mas exprimir emoções, experiências subjectivas, talvez divertir, sendo a interpretação do sentido dos diminutivos dependente não só do autor, como também do locutor. 3.5. Oralidade e os seus meios de expressão Há vários meios expressivos em ambas as línguas, utilisados a fim de ou estabelecer, ou exprimir alguma relação entre os dois participantes do discurso. Estes recursos estilísticos são muito parecidos nas duas línguas comparadas, ou seja: checo e português: • Forma de cumprimento, por exemplo impessoal e neutral cumprimento Boa noite é substituído por „Ora muito boas-noites.“ (Queiroz, p. 50), em checo „Dobrý večer vespolek.“ (Queiroz, p. 37) Uma forma de cumprimento português muito popular é o diminutivo de adeus: Adeusinho (Queiroz, p. 263). Mesmo que o tradutor checo tivesse à disponibilidade alguns diminutivos 26 José Manuel Fernandes: Livro do Estilo. http://www.publico.clix.pt/nos/livro_estilo/13-rigor-e.html Botelho, José Mario: Entre a Oralidade e Escrita: Um Contínuo Tipológico. http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno07-05.html 27 28 de cumprimentos (por exemplo nazdárek), ou a abreviatura do na shledanou „nashle“, escolheu traduzir pelo neutral Sbohem (Queiroz, p. 182). • Tratamento por tu / você (tykání, vykání) „Eu soube que tu partias, primo Jorge... Como está, prima Luísa?“ (Queiroz, p. 43) „Dozvěděl jsem se, že odjíždíš, bratranče Jorgi… Jak se daří, sestřenice Luíso?“ (Queiroz, p. 33) • A língua familiar, que exprime relações de amizade íntimas, é frequentemente ligada com o uso dos diminutivos, e, por isso, encontramos diminutivos de membros de família, ou nomes pessoais: Priminha, paizinho, mãezinha; Teresinha, Luísinha, Ernestinho. • O tratamento pelo diminutivo pode também mostrar diferenças existentes entre as posições sociais, diferenças etárias entre os falantes, como ilustra a tradução da frase seguinte, onde a amiga da casa, Dona Felicidade fala com a Luísa. A sua idade superior, em português exprimida pelo tratamento filha transforma-se em checo para o diminutivo: „Ai, filha, não!“ (Queiroz, p. 48) „Ach dceruško, ne!“ (Queiroz, p. 36) • A combinação do pronome possessivo com a forma de tratamento em português exprime certa intimidade entre os falantes. Os graus de intimidade podem ser diferentes, como prova a tradução checa, onde essa forma de tratamento costuma ser substituída pelo uso de um adjectivo adequado, ou uma outra forma de substituição: „É inútil, minha senhora.“ (Queiroz, p. 40) „Je to marné, milostivá paní.“ (Queiroz, p. 30) 29 • Deminutivos em apelações, perguntas ou oferecimentos, principalmente quando se trata de algum serviço, gastronomia, etc. Este uso parece não ser tão popular na língua portuguesa, mas mesmo assim encontramos alguns exemplos: Luísa ao oferecer bolos: „Desses bolinhos de ovos. São muito frescos.“ (Queiroz, p. 48) „Tady máte třenou bábovičku. Je úplně čerstvá.“ (Queiroz, p. 36) No capítulo 3 nomeamos alguns casos em que o uso dos diminutivos é aceitável e encorajado e acompanhamo-los com exemplos da língua escrita no século dezanove. Para verificar a actualidade das informações dadas, podemos agora consultar um texto contemporâneo, a transcrição do filme portugês do ano 1992 O Último Mergulho28. Todas as aparências dos diminutivos no texto já foram mencionados : • Melhoração e com isso ligado uso dos diminutivos nas descrições das mulheres, como por exemplo Bonito rabinho; dançar com a magrinha; a mais beIa coninha do mundo, etc. • Minimalização do impacto da expressão no contexto dado, por exemplo Não me faz aí um abatimentozito?; Tu querias era que eu morresse, para ficares com a casinha, mas não... • Língua infantil, na paráfrase do conto da carrochinha sobre a Branca de Neve e os Sete Anões: Diz-me, espeIhinho, há no mundo aIguma coninha mais Iinda do que a minha? A rápida análise do texto revela que o uso dos diminutivos não tem mudado muito e até hoje continua a dominar na lista dos meios da língua expressiva. 28 O Último Mergulho, dir. Jõao César Monteiro, Madragoa Filmes, 1992. 30 3. Conclusão Todas as observações acima formuladas, levaram-nos a conclusão do que os diminutivos, compartilham vários aspectos na língua portuguesa e checa. Além do processo da formação, que ocorre em ambas as línguas pela sufixação (diminuição sintética), ou pela adição do adjectivo (diminuição analítica), os diminutivos nas duas línguas asemelham-se também no aspecto semântico. O Miguel Rodrigues Lapa no seu livro Estilística da Língua Portuguesa explica a grande importância dos sufixos diminutivos na língua portuguesa pelo facto de os portugueses serem “homens sentimentais e escarnecedores”. É curioso que essa característica pode dificilmente ser aplicada à nação checa, onde a importância dos diminutivos é também bastante elevada. Esse facto explicamos no trabalho pela vasta lista das propriedades semânticas que o sufixo diminutivo adiciona ao sema. Para enclarecer a popularidade do uso dos diminutivos no checo oferece-se então a sua capacidade de exprimir ironia, ou sarcasmo. Parece que em ambas as línguas os significados secundários dos sufixos diminutivos já superaram o significado original, a redução do tamanho. Outra característica dos diminutivos classificou-os como um dos meios expressivos popular no estilo funcional artístico assim como na língua falada. Devido ao facto que a modificação pragmática empenhada pela adição do sufixo diminutivo pode variar dependentemente do contexto, e exprimir qualidades completamente opostas, encontramos diminutivos raramente em textos de alto grau de formalidade. 31 Bibliografia A) Textos analisados • Queiroz, Eça de: O Primo Basílio (episódio doméstico). Lello & Irmão, Porto. • Queiróz, José Maria Eça de: Bratranec Basílio, rodinná epizoda. Odeon, Praha, 1989. • Branco, Camilo Castelo: Amor de Perdição. Planeta DeAgostini, Cayfosa. • O Último Mergulho, dir. Jõao César Monteiro, Madragoa Filmes, 1992. B) Literatura secundária • Lapa, M. Rodrigues: Estilística da Língua Portuguesa. Seara Nova, Lisboa, 1945, p. 105. • Biederman, Maria Teresa; Bacelar Do Nascimento, Maria Fernanda: Unidade e diversidade: o vocabulário da língua oral em Portugal e no Brasil. • Králová, Lucie: The Use of Diminutives in Czech and Portuguese Translations: Corpus Based Study. (O Uso de Diminutivos em Traduções Checas e Portuguesas: Estúdio baseado no Corpus). Todo o trabalho está disponível no server Veřejné složky informačního systému, https://is.muni.cz/ • Skalička, Vladimír: Vývoj české deklinace, Studie typologická. Jednota českých matematiků a fysiků, Praha, 1941, p. 4-5. (O Desenvolvimento da Declinação Checa, Estudo Typológico.) • Sofia Melo, Ana Martins: Terminologia Linguística: Notas e Comentários. Porto editora, 2006, p. 23-25. http://www.carlososorio.net/documentos/tlebs.pdf • Rusínová, Z.: Deminutivní modifikace z hlediska pragmalingvistického. In: Karlík, P. – Pleskalová, J.- Rusínová, Z.: Pocta Dušanu Šlosarovi : sborník k 65. narozeninám. Albert, Boskovice 1995, s. 187-193. (A Modificação Deminutiva Tomado de Ponto de Vista de Pragmalinguístico.) 32 • Karlík, Nekula, Rusínová: Příruční mluvnice češtiny. Nakladatelství Lidové noviny, 1995, p. 125-128. • Hlibowicka-Węglarz,Barbara: Recursos Morfológicos de Integração Aspectual na Língua Portuguesa. http://publib.upol.cz/~obd/fulltext/Romanica7/Romanica7-15.pdf • Mateus, Maria Helena Mira: Ensino da Língua e Desenvolvimento Educativo. Revista Perspectiva, Vol. 20, n. 01, 2002, Santa Catarina, Florianópolis: 15-25. http://www.iltec.pt/pdf/wpapers/2002-mhmateus-ensino_da_lingua.pdf • Ciberdúvidas na Língua Portuguesa http://ciberduvidas.sapo.pt/pergunta.php?id=19861 • Dicionário da Língua Portuguesa. Porto editora, 2004. • Camargo, Thaís Nicoleti de: Resumão/português - Diminutivos e aumentativos. http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u2527.shtml • José Manuel Fernandes: Livro do Estilo. http://www.publico.clix.pt/nos/livro_estilo/13-rigor-e.html • Botelho, José Mario: Entre a Oralidade e Escrita: Um Contínuo Tipológico. http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno07-05.html 33
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