Sonhos de Dom Bosco
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Sonhos de Dom Bosco
ÍNDICE (sonhos traduzidos em 2001) Título 1 - O sonho das quatorze mesas.............................................................................. 2 - Sonho dos Pães.................................................................................................. 3 - A marmota......................................................................................................... 4 - O sonho das consciências.................................................................................. 5 - SOS - uma jangada, um convite ao céu............................................................. 6 - Presente para Nossa Senhora............................................................................. 7 - Vinte e duas luas................................................................................................ 8 - Sonho das consciências..................................................................................... 9 - As três pombas.................................................................................................. 10 - Trabalho, trabalho, trabalho............................................................................ 11 - A misteriosa senhora....................................................................................... 12 - A videira misteriosa......................................................................................... 13 - O sonho da pastora e da estranha grei............................................................. 14 - As dez colinas................................................................................................. 15 - Dois sacerdotes na catedral............................................................................. 16 - O buraco e a serpente...................................................................................... 17 - AS missões salesianas na América Meridional............................................... 18 - Sobre a eleição de estado................................................................................. 19 - As distrações na igreja..................................................................................... 20 - Os jogadores.................................................................................................... 21 - O sacrilégio...................................................................................................... 22 - O purgatório.................................................................................................... 23 - Vocações tardias.............................................................................................. 24 - O nicho em São Pedro..................................................................................... 25 - Os propósitos da confissão.............................................................................. 26 - A misericórdia divina...................................................................................... 27 - Um banquete misterioso.................................................................................. 28 - Os cabritos....................................................................................................... 29 - As feras do prado............................................................................................. 30 - A videira.......................................................................................................... 31 - Sacerdote e alfaiate.......................................................................................... 32 - O auxílio do céu.............................................................................................. 33 - Através da América do Sul.............................................................................. 34 - A palavra de Deus e a murmuração................................................................. 35 - As vocações..................................................................................................... 36 - Sonha exercícios escolares.............................................................................. 37 - Um vale extensíssimo e uma alta colina ........................................................ 38 - A lanterna mágica............................................................................................ 39 - Trabalho e temperança.................................................................................... 40 - Uma batalha sangrenta.................................................................................... 41 - Sorte dos jovens que abandonam o Oratório................................................... 42 - Os corvos e os meninos................................................................................... 43 - A inocência...................................................................................................... 44 - Os mártires de Turim....................................................................................... 45 - O sonho do personagem dos dez diamantes.................................................... 46 - A ovelha fiel e as desertoras............................................................................ 47 - Uma árvore prodigiosa.................................................................................... 48 - A Patagônia..................................................................................................... Pág. 04 04 05 05 07 11 12 14 17 17 18 19 22 23 26 26 27 30 30 31 32 33 37 38 38 39 41 43 43 44 50 51 51 58 61 63 63 66 67 72 73 74 75 80 81 84 84 85 SONHOS DE DOM BOSCO ÍNDICE 1 - O sonho das quatorze mesas 2 - Sonho dos Pães 3 - A marmota 4 - O sonho das consciências 5 - SOS - uma jangada, um convite ao céu 6 - Presente para Nosso Senhora 7 - Vinte e duas luas 8 - Sonho das consciências 9 - As três pombas 10 - Trabalho, trabalho, trabalho 11 - A misteriosa senhora 12 - A videira misteriosa 13 - O sonho da pastora e da estranha grei 14 - As dez colinas 15 - Dois sacerdotes na catedral 16 - O buraco e a serpente 17 - AS missões salesianas na América Meridional 18 - Sobre a eleição de estado 19 - As distrações na igreja 20 - Os jogadores 21 - O sacrilégio 22 - O purgatório 23 - Vocações tardias 24 - O nicho em São Pedro 25 - Os propósitos da confissão 26 - A misericórdia divina 27 - Um banquete misterioso 28 - Os cabritos 29 - As feras do prado 30 - A videira 31 - Sacerdote e alfaiate 32 - O auxílio do céu 33 - Através da América do Sul 34 - A palavra de Deus e a murmuração 35 - As vocações 36 - Sonha exercícios escolares 37 - Um vale extensíssimo e uma alta colina 38 - A lanterna mágica 39 - Trabalho e temperança 40 - Uma batalha sangrenta 41 - Sorte dos jovens que abandonam o Oratório 42 - Os corvos e os meninos 43 - A inocência 44 - Os mártires de Turim 45 - O sonho do personagem dos dez diamantes 46 - A ovelha fiel e as desertoras 47 - Uma árvore prodigiosa 48 - A Patagônia INTRODUÇÃO Por: Valdeci Ribeiro de Souza - sdb. Ao iniciar este trabalho da arte de "aprender" ensinando, suscitou em minha alma o grande desejo de registrar as fontes imaginárias deixadas pelo nosso Pai e Mestre. Que no momento só se encontra grande quantidade em outros idiomas, privando muitos jovens de Ter acesso as estes magníficos desafios de vida. Observando a vida de Dom Bosco, se percebe que o transcendente usou e abusou da sua pessoa através dos sonhos, só assim ele educou os seus e enfrentou problemas surpresas agradáveis e desagradáveis, de um modo muito tranqüilo e eficaz. O mérito deste trabalho não é só da minha pessoa e sim dos jovens noviços 2001, que foram leais aos princípios, assim comprovamos e aprovamos, que valeu a pena acreditar, que na realidade construímos este trabalho de tradução dos Sonhos de Dom Bosco, pouco a pouco. O meu muito obrigado a cada um de vocês que foram os meios da realidade deste. E concluo esta introdução convencido de que: os Sonhos de Dom Bosco foi, é e sempre será o recurso dos sábios salesianos para falar aos simples e o recurso dos simples salesianos, e para falar como sábios, e para falar como sábios. Então vamos nessa! Seja Dom Bosco hoje sendo reflexo das entrelinhas de seus sonhos. 1 - O SONHO DAS QUATORZE MESAS (1860) (MB. VI, 708 - 710 = MBe 7,534-535) Encontravam-se todos os meus jovens num lugar agradável como o mais bonito dos jardins, sentados às mesas que partindo do chão. Subindo em degraus se levantavam tanto que quase não se via a sumidade. As longas mesas eram catorze colocadas sem semicírculo e divididas em três degraus. No chão ao redor de uma mesa desprovida de todo enfeite e sem talheres, via se um grupo de jovens. Eram tristes, comiam sem animação e tinham diante de si um pão mal preparado, porém todo ele seco, e sujo que fazia nojo. O pão na mesa estava em meio a sujeira e frutas estragadas. Aqueles coitados se encontravam como animais comendo num chiqueiro. Eu queria dizer-lhes que jogassem fora tudo aquilo, todavia não agüentei de pedir-lhes porque tivessem diante de si aquela comida nojenta. Responderam-me, - Devemos comer o pão que nós mesmos nos preparamos e não temos outro. - Era a situação de pecado mortal. Diz o livro dos provérbios no capítulo I, "Odiaram a disciplina e não seguiram o temor do Senhor, e não prestaram ouvidos aos meus conselhos e não fizeram caso das minhas correções. Ouviram portanto os frutos das suas obras e se saciarão com os seus conselhos!". Mas a medida que as mesas subiam, os jovens eram mais alegres e comiam pão bem mais caprichado. Eram bonitos; e a medida, que subia, os jovens eram cada vez mais alegres e bonitos. As mesas eram muito bem enfeitadas, com bolhas bem trabalhadas, com castiçais, taça vasos de flores esplendidas, pratos com iguarias finas e talheres de metais preciosos. O número destes jovens era grandíssimo. - Era a situação dos pecadores arrependidos e convertidos. Finalmente as ultimas mesas nos topos tinham um pão que não consigo descrever. Parecia amarelo, parecia vermelho, e a mesma cor do pão era o das roupas e da cara dos que jovens, que resplandeciam com uma luz muito intensa. Estes aproveitavam de uma alegria extraordinária e cada um procurava transmitir aos outros colegas. Sua beleza luz e esplendor das mesas superavam de muito todas as outras. - Era a situação de inocência. Aos inocentes e dos convertidos diz o Espirito Santo no livro dos Provérbios no Cap.: 1º. "Quem me ouve, terá repouso sem medo e viverá na abundância, livre do medo dos pecados!". 2. O SONHO DOS PÃES (1857) (MB. V, 723 -724 = MBe 5,514-515) Uma noite D. Bosco contou que vira em sonho todos nós distribuindo em quatro grupos distintos e que estavam comendo. Os jovens de cada grupo tinham na mão um pão diferente. Os primeiros um fresquidão, fino, muito saboroso, s segundos, um pão branco comum, o terceiro um pão preto e finalmente os últimos um pão mofado e bichado. Os primeiros eram os inocentes, os segundos os bons, os terceiros, os que se achavam atualmente na desgraça da inimizade com Deus mas não encardidas no pecado o ultimo grupo aqueles que agarrados ao pecado não faziam esforço algum para mudar de vida. D. Bosco dado a explicação da causa e dos efeitos destes alimentos, afirmou, lembrar claramente o pão que cada um de nós estava comendo e se o tivéssemos procurado, ele tê-lo-ia dito. 3. A MARMOTA (1859) (M.B. VI, 301 = bem 6, 234-235). Uma das primeiras conversas que ouvi a Dom Bosco (1859) foi sobre a freqüência dos Sacramentos. Esta, em geral, não estava todavia bem organizado entre os jovens recém-chegados se suas casas. Ele contou um sonho. Pareceu-lhe achar-se perto da porta do Oratório, e observando os jovens a medida que eu iam regressando. Via o estado da alma em que cada um se achava aos olhos de Deus. Quando eis que entrou no pátio um homem que levava uma pequena caixinha. Se meteu entre os jovens. Chegou a hora das confissões e o homem, abriu a caixinha, puxou uma pequena marmotinha e a fazia bailar. Os jovens em vez de entrar na Igreja formaram círculo ao seu redor, rindo, e aplaudindo seus trejeitos, entretanto o tal se ia retirando cada vez mais fazia o lado do pátio mais distante do da Igreja. Dom Bosco descreveu no primeiro término, sem nomear a nada, o estado da consciência de alguns jovens; depois pôs de relevo os esforços e insídias empreendidas pelo demônio para distrailos e afastá-los da confissão. Falando daquele animalzinho, fez rir muito o seu auditório, mas também lhe obrigou a refletir seriamente sobre as coisas da alma. Tanto mais quanto que, depois, manifestava privadamente aos que se o pediam o que eles acreditavam que nada sabia. E quanto a Dom Bosco dizia e manifestava era certo. Este sonho convida a maior parte dos jovens a confessar-se com freqüência, geralmente a cada semana, chegando a ser as comunhões muito numerosas". Observações: O Biógrafo usa como fonte de sua narração a "um velho amigo daqueles tempos". 4. O SONHO DAS CONSCIÊNCIAS (correspondente ao sonho da lanterna mágica (1861) pág. 239. Obs.: está bem resumido) (MB 6, 898-916 = MBe 6, 679-691) ALMAS ACORRENTADAS Em sonho, apareceu a Dom Bosco encontrar-se na estrada que dos Becchi conduzia a um campo de sua propriedade, perto de Capriglio. No caminho encontrou um desconhecido que o acompanhou, sem todavia revelar seu nome. Passando ao lado de figueiras e depois perto de vinhedos, o desconhecido convidou instantemente Dom Bosco a provar de algum fruto, mas este se recusou. Chegados finalmente ao campo para onde Dom Bosco se dirigia, o indivíduo que o acompanhava dirigiu-lhe uma estranha pergunta: _ quer ver seus meninos tais quais são no momento presente? Como serão no futuro? Quer contá-los? Oh, sim! _ venha, então. LENTE MISTERIOSA "Então- Dom Bosco- tirou , não sei de onde, uma grande máquina, que eu não saberia descrever, e a fincou no chão. Dentro dela, havia uma roda, grande também. - que significa essa roda?- perguntei. Respondeu: - A eternidade nas mãos de Deus!- e, segurando a manivela e dê uma volta. Fiz o que me mandou; acrescentou: - Olhe agora lá dentro. Observei a máquina e vi que havia nela uma lente enorme, de aproximadamente metro e meio de diâmetro. Encontrava-se no meio da máquina, fixa na roda. Olhei logo através da lente. Que espetáculo! Vi todos os jovens do oratório. "como é isto possível ?" dizia comigo mesmo. "até hoje, não via ninguém por estas bandas, e agora estou vendo todos os meus filhos! Mas eles não estão em Turim?" Olhei por cima e aos lados da máquina, porém, a não ser pela lente, não via ninguém. Levantei o rosto para mostrar minha admiração àquele amigo, mas, depois de alguns instantes, ele me ordenou dar uma outra volta na manivela: via então que se afetara uma estranha e singular separação entre os jovens. Os bons estavam separados dos maus. Os primeiros estavam radiosos de alegria . o segundos, que felizmente não eram muitos, inspiravam compaixão. Reconheci-os todos . mas como eram diferentes do que deles pensavam deles os companheiros !... Uns tinham a língua furada; outros, os olhos revirados de modo a causar dó; outros sofriam de dores de cabeças por causa de úlceras repugnantes; outros tinham coração roído de vermes...mas olhava para eles, mas crescia minha aflição. Repetia: - Mas será possível que estes sejam os meus filhos? Não compreendendo o que possam significar essas estranhas doenças . A estas palavras, aquele que me tinha conduzido à roda me disse: - 0escute : a língua significa as más conversas; os olhos vesgos são aqueles que interpretam e apreciam totalmente as graças de Deus, preferindo a terra ao céu; a cabeça doente é o descuido dos seus conselhos, a satisfação dos próprios caprichos; os vermes são as paixões desregradas que roem o coração ; há também os surdos que não querem ouvir as palavras , para não Ter que pô-las em prática. JOVENS ACORRENTADOS Fez-me depois um sinal e eu, dando uma terceira volta na roda, apliquei a vista na lente do aparelho. Havia quatro jovens presos com fortes correntes. Observei-os atentamente e reconheci - os todos. Pedi explicação ao desconhecido, que me disse: - é fácil compreender: são aqueles que não ouvem seus conselhos e não mudam de vida; estão em perigo de perder-se. Mandou-me dar outra volta. Obedeci e pus-me novamente a observar. Via-se outros sete jovens, reservados , com ar desconfiado, trazendo na boca um cadeado fechava os lábios. Três deles tapavam as orelhas com a mão admirado e entristecido, perguntei o motivo do cadeado que fechava os lábios daqueles tais. Ele me respondeu: - Então não entende? Estes são os que calam. - Mas calam o quê? - Compreendi então o que significava: calam na confissão; mesmo se interrogados pelo confessor não respondem ou respondem com evasivas. O amigo continuo: - Está vendo aqueles três que , além do cadeado na boca, tapam com as mãos os ouvidos? Como é deplorável sua condição ? são os que não somente calam na confissão, mas também não querem de nenhum modo ouvir os conselhos, as ordens do confessor. São os que ouviram suas palavras , mas não a escutaram, não lhe deram importância poderiam abaixar as mãos , mas não o querem fazer. Os outros quatros escutaram suas exortações e suas recomendações , mas não souberam aproveitar-se delas. - Que devem fazer para se verem livres daquele cadeado? - Ejiciatur superbia e cordibus eorum.( expulse-se de seus corações a soberba ) - Hei de avisar a todos eles. Mas para aqueles que tapam os ouvidos com a mão há pouca esperança. O APERTO FATAL O personagem me fez dar mas uma volta na roda. Olhei e vi mas três jovens numa situação desesperadora. Cada um deles tinha um pavoroso macaco sobre os ombros. Observei atentamente tinham chifres. Simbolizam os jovem que mesmo dos exercícios ainda não são amigos de nosso senhor. O pecado e as paixões os escravizam. Com o coração opresso por uma indizível comoção , com lagrimas nos olhos, voltei me para o amigo e lhe disse: - como é possível ? estão em semelhante estado esses pobres jovens com os quais despendi tantas palavras, cerquei de cuidados, tanto na confissão como fora dela? Perguntei o que eles deviam fazer para sacudir dos ombros aquele monstro horroroso. Disse-me ele: - Labor, sudor, fervor. - Compreendi materialmente as palavras- respondi- mas é preciso que me dê a explicação - Trabalho na assiduidade das obras : suor na penitência; fervor nas orações fervorosas e perseverante. Entretanto eu olhava e me afligia pensando: " como é isso? Será possível?! Mesmo depois dos exercícios espirituais?!... aqueles ali...depois de tudo o que fiz por eles, depois de tanto trabalho...depois de Tantos conselhos ...e tantas promessas !...Ter avisados tantas vezes...não esperava mesmo esta decepção”. Não conseguia tranqüilizar-me. CEM POR UM - consola-se , porém- replicou aquele homem , ao ver o meu abatimento; fez-me dar outra volta na roda e acrescentou: - veja como Deus é generoso! Olha quantas almas lhe quer entregar! Está vendo aquela multidão de jovens? Voltei a olhar pela lente e vi uma multidão que jamais conhecera na minha vida. - sim estou vendo- respondi - mas não os conheço. - Pois bem aqueles são os que nosso senhor lhe vai dar, em compensação pelos que não correspondem aos seus cuidados. Fiquei sabendo que para cada um destes últimos ele vai lhe dar cem. - Ah! Pobre de mim! - exclamei- a casa já está cheia. Onde porei estes novos jovens? - Não se aflija aquele que lhes envia sabe muito bem onde os irá colocar. Ele mesmo encontrará os lugares. - Se é assim , estou contentíssimo - respondi- consolado. Observando ainda por muito tempo e cheio de complacência todos aqueles jovens , retive a fisionomia de muitos. Saberia reconhecê-los, se por acaso os encontrasse ." 5. S-O-S: UMA JANGADA, UM CONVITE AO CÉU (o mesmo que a inundação (1866), pág. 367. Porém esta bem resumido) (M.B. VIII, 275-282 = MB e 8,241-246) Sonhei que todos os meninos do oratório estavam brincando alegremente num campo muito extenso. Eis que, de repente, dos confins daquela planície, as águas de uma inundação começaram a crescer para nós, rodeando de todos os lados. O rio PÓ tinha transbordado de sua margens rolavam torrentes que se avolumavam impetuosas. Apavorados, fugimos todos para um grande moinho que se via ao longe, afastado das demais habitações. Protegia-o uma muralha espessa como a de uma fortaleza; eu me detive no pátio interno, no meio dos meus alunos consternados. Mas, como as águas começassem a subir, fomos obrigados a refugiar-nos dentro de casa e a subir depois para o andar superior. Olhando pelas janelas, via-se toda a extensão do desastre. Da colina de Superga até aos Alpes, em vez de prados, campos cultivados, hortas, bosques, casas, aldeias e cidades, nada mais se via do que a superfície de um lago imenso. À medida que as águas subiam, íamos galgando o andar superior. Perdida enfim toda esperança humana, comecei a animar meus jovens, dizendolhes que se colocassem todos, com absoluta confiança, nas mãos de Deus e se abandonassem nos braços de Nossa Senhora, nossa mãe querida. Aparece a jangada Mas a água já tinha chegado quase ao nível do último andar. O pavor foi geral. Não víamos outro recurso senão recolhermo-nos a uma enorme jangada em forma de navio que naquele instante apareceu flutuando junto de nós. Com a respiração ofegante, cada um queria ser o primeiro a refugiar-se naquela embarcação. Ninguém, porém ousava fazê-lo porque não era possível aproximar-se a barca da casa: uma parede emergia um pouco mais acima do nível das águas. Para passar havia apenas um tronco de árvore, comprido e estreito. Arriscar-se era difícil e perigoso, porque aquele tronco tinha uma extremidade apoiada na embarcação e movia-se, acompanhado de oscilações provocadas pelas ondas. Cobrando coragem, fui o primeiro a passar. Depois, para facilitar a passagem dos meninos, e para que se sentissem mais seguros, determinei que alguns clérigos e padres, do lado do moinho, ajudassem os que partiam, e outros, na jangada, dessem a mão aos que chegavam. Mas era curioso! Passado pouco tempo, clérigos e padres se sentiam-se tão esgotados que ora um, ora outro, estavam a ponto de desfalecer; o mesmo acontecia com os que substituíam. Muito admirado, quis eu mesmo fazer a experiência: fiquei tão logo extenuado que não conseguia permanecer de pé. Entretanto, muitos jovens, impacientes, seja pelo temor de morte, seja pelo desejo de parecerem corajosos, tendo encontrado uma tábua bastante comprida e um pouco mais larga que o tronco, improvisaram uma segunda ponte e, sem esperar o auxílio dos clérigos e dos padres, atiraram-se a ela. Não queriam ouvir os meus gritos aflitos. "Parem, parem, vocês vão cair!", gritava eu. Aconteceu o que eu temia, porque muitos, ao serem empurrados ou por perderem o equilíbrio, antes de alcançar a embarcação, caíram e foram tragados por aquelas águas turvas e pútridas. Desapareceram. Aquela frágil ponte afundou também, arrastando consigo os que sobre ela estavam. Era tão grande o número desses infelizes, que uma quarta parte dos nossos jovens pereceram vítimas de seu capricho. Até então, eu estivera segurando a extremidade do tronco, enquanto os meninos passavam; foi quando percebi que a inundação já ultrapassava aquela parede e pude conduzir a embarcação até o moinho. Encontrava-se lá o padre Cagliero que, colocando um pé no peitoril da janela e o outro na beirada da barca, foi dando a mão aos meninos que estavam naquele quarto e fazendo-os passar par o lugar seguro, na jangada. Quando já se achavam todos na embarcação, mas incertos ainda de escapar àquele perigo, assumi o comando e disse aos jovens: "Nossa Senhora é a Estrela do mar. Não abandona quem nela confia: vamos nos colocar sob o seu manto; Ela nos há de livrar dos perigos e nos conduzirá a um porto seguro." Navegando Abandonamos então a nau ao sabor das ondas e, flutuando mansamente, ela se afastou daquele lugar. Mas o ímpeto do vento impelia-a com tal velocidade, que nos abraçamos uns aos outros, formando um só corpo, para não cair. Tendo percorrido uma grande distância em tempo reduzidíssimo, a barca pôs-se a girar em torno de si mesma, com extraordinária rapidez, de tal forma de tal forma que pensamos que fosse afundar. Um vento fortíssimo, porém, arrancou-a daquele redemoinho. Voltou a vogar normalmente e quando, ocasionalmente, se repetia o redemoinho, o vento salvador a impelia, até que foi parar perto de uma ribanceira enxuta, bonita, ampla, que parecia brotar como uma colina no meio do mar. Muitos jovens ficaram encantados; diziam que Deus colocara o homem sobre a terra e não sobre as águas e, sem pedir licença a ninguém, deixaram a barca e subiram pela rampa, convidando ainda os outros a segui-los. A alegria durou pouco. Avolumaram-se as águas, por um rápido recrudescer da tempestade, invadiram as fraldas daquela ribanceira, subiram rapidamente, atingindo aqueles infelizes que soltavam gritos de desespero ao sentirem-se mergulhados até a cintura. Em breve desapareciam, tragados pelas ondas. Então exclamei: "É bem verdade que aquele que quer seguir sua própria cabeça paga com a própria bolsa." A nau, entretanto , como um joguete abandonado à fúria da tempestade, a cada momento parecia ir ao fundo. Notei que os meus jovens estavam pálidos e ofegantes. "Coragem! - gritei-lhes Nossa Senhora não nos há de abandonar." Então, todos juntos, rezamos com fervor os atos de fé, de esperança, de caridade e de contrição; rezamos alguns Pai-nossos e ave-marias e uma salve rainha; em seguida, de joelhos, segurando-nos pelas mãos, cada um rezou outras orações em particular. Entretanto, alguns insensatos, indiferentes ao perigo, como se nada o ameaçasse, de pé, andando de um lado para outro, levavam a coisa em gozação, rindo em atitude suplicante de seus companheiros. Mas eis que, de repente, a embarcação pára gira sobre si mesma com incrível rapidez, ao mesmo tempo um vento furioso atira nas ondas aqueles infelizes. Eram trinta. Como as águas fossem profundas e lamacentas, mal mergulharam, desapareceram para sempre. Nós entretanto, entoamos uma salve rainha e nunca como então invocamos a Estrela do Mar. Os náufragos são salvos Sobreveio a calma. Mas a embarcação, como se fora um peixe, continuava a deslizar, sem que pudéssemos saber aonde nos levava. Um variado trabalho de salvamento continuava todavia. Fazia-se de tudo para impedir que os jovens caíssem nas águas e para delas retirar ao que tombavam. É que sempre haviam alguns que se inclinavam demasiado sobre o parapeito baixo da jangada e caíam no lago. Havia também alguns descarados e maldosos que, atraindo os companheiros, empurravam-nos para fazê-los cair na água. Em vista disso, vários sacerdotes preparavam varas resistentes, linhas grossa e anzóis, distribuindo este material entre si; já alguns estavam a postos, com varas erguidas e os olhos fixos nas ondas, atentos aos gritos de socorro. Apenas caía um jovem, as varas se abaixavam e o náufrago se agarrava à linha, ou melhor, prendia o anzol na cinta ou nas roupas e era assim posto a salvo. Quanto a mim, encontrava-me ao pé de um alto estandarte, fincado no centro da nau; cercavam-me muitíssimos jovens, padres e clérigos, todos sob minhas ordens. Enquanto permaneciam dóceis, obedecendo ao que eu dizia, tudo ia bem. Mas eis que alguns começaram a achar incômoda aquela jangada, a recear a viagem, demasiado longa, a lamentar-se dos transtornos e perigos daquela travessia, a discutir sobre o lugar em que haveríamos de aportar, a pensar de que modo poderíamos encontrar outro refúgio, a iludir-se com a esperança de que não muito longe haveria terra onde encontrar um abrigo seguro; enfim, receavam que viessem em breve a faltar os víveres, discutiam entre si, recusavam-se a obedecer. Em vão procurava eu dissuadi-los, empregando as melhores razões. Eis senão quando aparecem outras embarcações; ao se aproximarem, notamos que tomavam outra direção. Ao vê-las, aqueles jovens imprudentes deliberaram seguir os seus próprios caprichos, afastando-se de mim e governando-se por si mesmos. Lançaram às águas algumas tábuas que estavam na nossa jangada e, avistando outras bem compridas que flutuavam a pouca distância, saltaram para elas, afastando-se em direção às embarcações avistadas. Para mim a cena foi extremamente dolorosa; via aqueles infelizes correrem para a própria ruína. Soprava o vento, o mar se encapelava: alguns foram logo ao fundo, tragados pelas ondas furiosas; outros iam de encontro a obstáculos que surgiam á flor das águas e submergiam; alguns conseguiram subir às embarcações que, entretanto, não tardaram a serem tragadas pelo abismo. A noite desceu tenebrosa; ouviram-se ao longe os gritos desesperados daqueles que pereciam. Naufragaram todos. In mare mundi submergentur omnes illis quos non suscipit navis ista (no mar do mundo, naufragarão todos aqueles que não forem recolhidos por esta nau), isto é, a Nau de Maria Santíssima. O terrível estreito O número dos meus queridos filhos tinha diminuído muito; não obstante isto, continuando a confiar em Nossa Senhora, depois de uma noite inteira passada nas trevas, a nave entrou por um estreito muito apertado, de margens lamacentas onde, em meio a tufos de verduras, viam-se pedras lascadas, paus, ramos quebrados, restos de pranchas e antenas, ramos, escondendo animais repugnantes. Foi ali que vimos, com horror e espanto, os pobres companheiros, perdidos ou que tinham desertado da nossa companhia. Depois de haverem naufragado, tinham sido arremessados pelas ondas àquela praia. Uma fonte salutar Então apontei a todos uma fonte da qual jorrava com abundância água fresca e ferruginosa; todo aquele que nela ia banhar-se voltava curado e podia voltar para a barca. A maior parte daqueles infelizes obedeceram ao meu convite; alguns, porém, recusaram-se. Eu então, para cortar as delongas, voltei-me para os que se tinham restabelecido e instei para que me seguissem. Obedeceram resolutamente, retirando-se os monstros. Apenas pusemos os pés na jangada, um vento forte impediu-a para a outra extremidade do estreito e vimo-nos novamente em meio a um oceano sem horizontes. Lastimando a triste sorte e o fim lastimável dos nossos companheiros abandonados naquele horrendo lugar, começamos a cantar: "Louvemos Maria, Rainha gloriosa." Fizemo-lo em agradecimento à nossa querida Mãe do Céu, por nos Ter então protegido; no mesmo instante, a uma ordem dela, cessou a fúria do vento e a nau começou a deslizar sobre as águas plácidas, com incrível facilidade. Dir-se-ia que, para mover-se, bastava o ligeiro impulso que lhe davam os jovens, brincando de remar com as mãos. Mas eis que aparece no céu um arco-íris mais belo e de forma mais variada do que a aurora boreal. Passamos sobre ele e podemos ler a palavra MEDOUM, escrita com grande letra, e cujo significado não chegamos a compreender. Pareceu-me, entretanto, que cada letra fosse a inicial das seguintes palavras: Mater Et Domina Omnis Universi Maria ( Mãe e Senhora de todo o universo é Maria). Depois de um longo trecho de viagem, eis que no horizonte distante avistamos uma nesga de terra. À medida que nos aproximávamos, batia-nos o coração de incontida alegria. Era uma terra encantadora, coberta de bosques com toda qualidade de árvores. Parecia-nos ainda mais sedutora porque ia sendo iluminada pelo sol que nascia por detrás das colinas. Era uma luz que brilhava suave e penetrante, deixando uma impressão de repouso e de paz. Afinal, depois de ter deslizado sobre a praia, a jangada parou em lugar enxuto, defronte de um vinhedo lindíssimo. Era enorme o desejo dos jovens de penetrar por aquele vinhedo. Alguns, mais afoitos e curiosos, de um salto estavam na praia. Mas tinham apenas dado alguns passos quando, recordando-se da sorte infeliz dos que se haviam encantado com a ribanceira encontrada no meio do oceano, voltaram apressados para a barca. Todos os olhos estavam voltados para mim e podia-se ler na fronte de todos a pergunta: "Dom Bosco, já é tempo de descer e ficar aqui ?" Refleti um pouco e depois disse-lhes: "Vamos descer: é o momento certo: agora estamos seguros!" Foi um grito unânime de alegria! Esfregando as mãos de contente, entraram todos no vinhedo, todo ele plantado com esmero. Dos ramos pendiam cachos de uvas semelhantes aos da terra da promissão; os galhos das árvores ofereciam toda qualidade de fruta, cujo sabor excedia tudo o que se possa imaginar. Bem no meio do vinhedo eleva-se um castelo rodeado por lindíssimo jardim e protegido por uma alta muralha. Dirigimos para lá nossos passos, desejosos de visitá-lo, e tivemos franqueada a entrada. Estávamos cansados, com fome, e eis que deparamos com uma grande sala, ornamentada de ouro fino, tendo no centro uma mesa coberta das mais finas iguarias. Cada um pode servir-se livremente. Acabávamos a refeição, quando entrou na sala um jovem de aparência nobre, vestido ricamente. Era extraordinariamente belo. Com maneiras afetuosas, tratou-nos familiarmente, chamando cada um pelo próprio nome. Percebendo que estávamos maravilhados com sua beleza e com tudo mais que tínhamos visto, explicou: "Isto ainda não é nada; venham ver." O maravilhoso castelo Seguimo-lhe os passo e, dos balcões, fez-nos contemplar os jardins, dizendo que estavam a nossa disposição, para nossas recreações. Conduziu-nos depois de sala em sala, cada qual mais bonita, pela arquitetura, colunatas e ornatos de toda espécie. Abrindo depois uma porta que dava para a capela, convidou-nos a entrar. Por fora, a capela parecia pequena, mas, apenas transpusemolhe os umbrais, percebemos que era tão extensa que mal se podia ver quem estivesse na outra extremidade. O pavimento, as paredes, as abóbadas eram ornamentadas e enriquecidas com arte admirável. Por toda parte mármores finos, ouro prata, pedras preciosas. Maravilhado, exclamei: "Mas isto é uma beleza paradisíaca: proponho que fiquemos aqui para sempre!" No meio do templo, sobre rico pedestal, estava uma magnífica imagem de Nossa Senhora Auxiliadora. Chamei então os meninos, que estavam espalhados contemplando todo aquela beleza, e nos reunimos todos (uma multidão) diante daquela imagem para agradecer a Nossa Senhora tantos favores que nos concedera. De repente ela apareceu animar-se, sorriu. Um frêmito de comoção perpassou pela multidão: "Nossa Senhora move os olhos!", exclamaram alguns. Era verdade: Maria Santíssima, com inefável bondade, volvia os olhos maternos para aqueles jovens. Pouco depois, outro brado escapou do peito de todos: "Nossa Senhora move as mãos!". Realmente, com gesto lento, Ela ia abrindo os braços, estendendo o manto, como se quisesse recolher todos sob ele. Era tão grande a comoção, que lágrimas corriam pelas nossas faces. "Nossa Senhora move os lábios!" exclamaram alguns. Segui-se um silêncio profundo. A mãe de Deus, abrindo a boca, com voz argentina, suavíssima, dizia-nos: "Se vocês forem para mim filhos devotos, eu serei para vocês Mãe Piedosa." A estas palavras caímos todos de joelhos, entoando o canto: "Louvemos Maria, Rainha gloriosa." Esta harmonia era ao mesmo tempo tão forte e suave que, vencido por ela, despertei. Terminou assim a visão. Pontos para reflexão e discussão "Coragem, Nossa Senhora não nos abandonará." O que Nossa Senhora é para nós? Uma medalhinha que dá sorte? Uma estatueta muito meiga que, afinal, não nos diz nada? Ou é "nossa Mãe", que devemos invocar nos momentos de perigo, à qual devemos sempre rezar, que é preciso sempre amar como Mãe de Jesus e nossa Mãe? 6. PRESENTE PARA NOSSA SENHORA No dia 27 de abril de 1865 foi lançada a primeira pedra no templo de Nossa Senhora Auxiliadora. Estavam presentes o Governador, o Prefeito e o príncipe Amadeu de Sabóia, duque de Aosta. No correr daquele ano, a construção chegou ao teto; faltava só cúpula. No dia 30 de maio Dom Bosco contou um sonho. Pareceu-lhe ver um monumental altar dedicado a Virgem Maria, estava ricamente ornamentado e os meninos para ele se dirigiam em piedosa procissão. Cantavam louvores à celeste Soberana mas não se podia dizer que cantassem bem, obedecendo ao compasso e à tonalidade: uns cantavam com vozes desafinadas e roucas; outros saíam do compasso; alguns erravam ou estavam de boca fechada Havia os que pareciam aborrecidos, os que cutucavam os companheiros e riam. Todos levavam um presente para oferecer a Nossa Senhora; cada um trazia na mão um ramo de flores, uns maiores, outros menores, diferentes uns dos outros. Este levava um ramo de rosas, aquele, cravos ou violetas. Outros levavam para a Virgem Maria presentes esquisitos: uma cabeça de porco, um gato, um prato com sapos, uma carneiro, um coelho. Um belo jovem com asas estava diante do altar: Era talvez o Anjo da Guarda do Oratório. À medida que os jovens traziam seus presentes, o Anjo o recebia para colocá-los sobre o altar. Fez assim com as magníficas flores recebidas; mas quando outros jovens apresentaram seus ramalhetes, o Anjo observou-os um a um, retirando alguma flor murcha, que punha de lado. De alguns ramalhetes, compostos de belas flores mas sem perfume - como dálias e camélias - o Anjo tirou estas corolas porque Nossa Senhora gosta da realidade e não das aparências. Muitos jovens traziam flores com espinhos e também de mistura com pregos; o Anjo tirava tudo isso dos ramos, antes de colocá-los no altar. Chegou o que trazia a cabeça de porco; apenas o viu, disse o Anjo: - Como é que você tem a coragem de oferecer a Nossa Senhora esse nojento presente? Não sabe que o porco é o símbolo da impureza? A Virgem Maria é toda tão pura, não pode suportar esse pecado. Retire-se, porque não é digno de estar na sua presença. O Anjo recriminou também o que vinha oferecer o gato, porque representa o pecado. Repreendeu igualmente o que trazia sapos, porque simbolizam os vergonhosos pecados de escândalo. Alguns jovens se apresentaram como um punhal fincados no coração; como o punhal significava sacrilégios, disse-lhes o Anjo em tom de reprovação: - Então não vêem que as almas de vocês estão mortas para a graça? Se ainda estão em vida, é somente pela infinita bondade de Deus; do contrário, já estariam condenados. Por favor, procurem arrancar depressa esse punhal! - Também estes últimos foram rejeitados. Pouco a pouco, foram chegando os outros jovens para oferecer carneiros, coelhos, peixes, nozes, uvas e outras frutas. O Anjo aceitou tudo isso e colocou sob a mesa. Depois de ter dividido os jovens, separando os bons dos maus, fez desfilar diante do altar todos aqueles cujos presentes tinham agradado Nossa Senhora. Dom Bosco notou, porém, com mágoa, que os rejeitados eram mais numerosos. De um lado e do outro do altar apareceram então Anjos trazendo duas ricas bandejas com coroas tecidas de lindas rosas. Eram coroas imarcescíveis, porque símbolo de eternidade. O Anjo da Guardo do Oratório tomou uma por uma aquelas coroas, para cingir as frontes dos jovens que circundavam o altar. Tinham diferentes tamanhos, mas eram todas extraordinariamente belas. - Deve-se notar, - observou Dom Bosco - que, diante do altar , não estavam apenas os jovens que atualmente moram no Oratório; havia outros que eu nunca tinha visto antes. Fui depois testemunha de fenômeno surpreendente: vi que havia jovens com fisionomia grosseira e desagradável; pois a estes foram dadas as coroas mais belas porque, ao seu exterior pouco atraente, supria a virtude da castidade que possuíam em grau eminente. Muitos outros distinguiam-se por outras virtudes, como a obediência, a humildade, o amor de Deus; todos, na proporção da eminência de tais virtudes, recebiam coroas condizentes com seus méritos. Disse depois o Anjo: - Nossa Senhora quis que vocês fossem hoje coroados de tão belas rosas. Lembrem-se de continuar a viver de modo que elas nunca lhes sejam arrebatadas. Para conserválas, devem praticar a humildade, a obediência e a castidade: são três virtudes que os tornarão muito agradáveis a Nossa Senhora e dignos de uma coroa infinitamente mais bela do que a recebida hoje. Os jovens entoaram então o "Ave, maris stella" diante do altar. Depois da primeira estrofe cantaram o "Louvando Maria". Suas vozes eram tão fortes, que Dom Bosco ficou admirado. Acompanhou-os por algum tempo. Depois voltou-se para ver os jovens que o Anjo tinha posto de lado; não mais os viu. - Vou fazer agora - disse Dom Bosco - algumas observações. Todos levavam à Virgem Maria flores variadas, no meio das quais haviam espinhos símbolo da desobediência. Alguns tinham pregos, que serviram para crucificar o Salvador. Muitas flores estavam murchas ou não tinham perfume; simbolizavam obras boas mas feitas por vaidade. Vi o que aconteceu e acontecerá aos meus meninos. Entretanto vocês que me ouvem vejam de oferecer a Nossa Senhora presentes que realmente lhe agradam. 7. VINTE E DUAS LUAS (1854) (MB 5, 377-378 = MBe 5, 272-273) Naquela tarde de domingo, março de 1854, Dom Bosco reuniu todos os seus meninos do Oratório para narrar-lhes um sonho muito importante. "Parecia-me estar com vocês no pátio - começou a dizer em meio a profundo silêncio - e gozava no meu coração por ver que todos estavam alegres e contentes. Quem saltava, quem gritava, quem corria. De repente vi um de vocês sair por uma porta e se pôr a passear no meio dos companheiros com uma espécie de turbante na cabeça. Era um turbante esquisito, todo iluminado por dentro, com uma grande lua desenhada, bem no meio da qual estava escrito o número 22. Admirado, aproximei-me dele para convidá-lo a tirar aquele enfeite carnavalesco. Na mesma hora, porém, escurece e, como se o sino tivesse tocado, o pátio se esvazia e vejo todos os meninos em fila, sob os pórticos. Pareciam amedrontados; dez ou doze tinham o resto estranhamente pálido. Entre estes, mais pálido ainda, avisto aquele do turbante. Enquanto olhava admirado para ele, percebi que alguma coisa lhe pendia os ombros: um véu fúnebre. Ia ao seu encontro para indagar o que significava tudo aquilo, quando uma mão me reteve. Vi em desconhecido de feições nobres e graves , que me disse: "Ouça-me, antes de aproximá-lo; ele tem ainda 22 luas de tempo e, antes que tenham passado, morrerá. Não o perca de vista e prepare-o!". Queria pedir-lhe ainda alguma explicação, mas não mais pude vê-lo. Queridos filhos, aquele jovem está no meio de vocês e eu o conheço…". Um silencioso arrepio perpassou pela assembléia: era a primeira vez que Dom Bosco anunciava em público - e com estranha solenidade - a morte de algum deles. Dom Bosco percebe-o e quis diminuir a violenta impressão: " Sim eu o conheço - prosseguiu - está entre vocês aquele da lua. Mas não se assustem! É um sonho, com já disse, e nem sempre se deve acreditar em sonhos… em todo o caso, foi Nosso Senhor que disse: 'Fiquem sempre preparados porque a morte vem de surpresa , como um ladrão', não acham?' Muitos meninos, abalados mudaram de vida. Muitas vezes a interrogação se levantava diante deles: "E se fosse eu?", deixando-os ansiosos. Os meninos tinham, entendido que cada lua significava um mês e iam contando, com um misto de curiosidade e apreensão: - Faltam quinze… treze… onze… O ano de 1854 passou; veio o de 1855 e chegou o mês de outubro: os meninos contavam: - É a vigésima lua… - Faltavam só dois meses para o encontro marcado para a morte. Um jovem clérigo, Cagliero, no qual Dom Bosco depositava toda confiança, estava encarregado de assistir três dormitórios onde dormiam alguns dos seus companheiros, na antiga Casa Pinardi. Entre eles havia certo Secondo Gurgo, natural de Biella, de 17 anos, um rapagão. Tocava piano e órgão muito bem, estudava música afinco e ganhava um bom dinheiro dando lições de piano e órgão na cidade. Foi justamente em outubro que Dom Bosco mandou chamar Cagliero: - Onde está dormindo? - No último quarto; de lá assisto os outros dois. - Não seria melhor que levasse sua cama para o do meio? - Como o senhor quiser. Apenas lhe faço notar que do lugar onde estou agora posso muito bem assistir todos os meninos dos três dormitórios. - Sei - replicou Dom Bosco - mas prefiro que passe para este quarto. Cagliero pegou o seu colchão e trocou de lugar. Mas não gostou do novo ambiente e voltou à carga, pedindo a Dom Bosco para voltar ao quarto antigo. Dom Bosco ouviu-o mas não deixou e ainda lhe disse: - Fique quietinho onde está agora. Passaram-se alguns dias e Cagliero foi novamente chamado por Dom Bosco: - Quantos são no novo quarto? - Somos três: eu, Gurgo e Gavoraglia. Contando como piano, somos quatro… - Muito bem , os três são apaixonados por música e Gurgo poderá dar-lhes lições de piano. Quanto a você, veja de assisti-lo bem. Olhou-o intensamente , fixando-o nos olhos, e nada mais acrescentou. Cagliero ficou cismado e fez a Dom Bosco algumas perguntas sobre a 20ª lua. Mas Dom Bosco corou logo a conversa, dizendo-lhe: - O porquê, você saberá no momento oportuno. Nos primeiros dias de dezembro não havia ninguém doente no Oratório. Uma noite, depois das orações, Dom Bosco anunciou que um dos presentes morreria antes da festa do Natal. Aproximava-se o fim das 22 luas e a nova predição vinha apenas confirmar e precedente, feita a cerca de dois anos antes. Dom Bosco chamou novamente Cagliero. Perguntou-lhe se Gurgo se comportava bem, se voltava logo para a casa quando terminava suas lições na cidade Cagliero assegurou-lhe que tudo ia otimamente. - Muito bem - disse Dom Bosco - continue a vigiar e, se acontecer algo, avise-me logo. Não acrescentou mais nada. Chegou-se assim ao dia 15 de dezembro, quando Gurgo foi acometido por violentas cólicas. A crise foi tão forte que o médico considerou-o em perigo de vida. Foram administrados os últimos sacramentos e foi chamado com urgência o pai. Os cuidados do médico, entretanto, depois de oito dias de real perigo, conseguiram arrancar o jovem à morte. Gurgo melhorou, pôde até levantar-se; entrou em convalescença. O mal fora conjurado e o médico dizia o jovem que tinha escapado de uma boa. Todavia o pai pediu a Dom Bosco para levar o filho para casa, a fim de se restabelecer mais depressa. Era Domingo, 23 de dezembro, e no dia seguinte Gurgo deveria partir do Oratório. Entre os meninos a expectativa era enorme: dentro de dois dias era Natal… E a profecia de Dom Bosco? Na tarde daquele Domingo Gurgo quis comer carne. O pai, querendo satisfazer o filho, foi logo comprá-la. A que encontrou estava mal assada, mas o menino comeu-a assim mesmo. Chegou a noite. O pai havia se retirado. No quarto do convalescente estavam o enfermeiro e Cagliero. Improvisamente o jovem despertou com fortíssimas dores no ventre. O mal tinha voltado com extrema violência. Gurgo chamou seu assistente: - Cagliero, Cagliero! Acabou-se… Não vou mais poder dar lições de piano a você… - Coragem, Gurgo - retrucou Cagliero - isso também vai passar. - Não, desta vez, acabou-se… Já não vou mais para casa… Reze por mim… Se soubesse que dores… reze a Nossa Senhora… Entretanto o enfermeiro tinha ido chamar Dom Bosco que dormia num quarto vizinho. Este apressou-se em ir junto do jovem, presa de violentos espasmos. Poucos instantes depois, Gurgo morreria. Uma profunda tristeza desceu sobre a casa naquela vigília de Natal. As duas predições de Dom Bosco ocupavam todas as conversas dos meninos. Poucas horas antes que tivesse início a missa do galo, Dom Bosco subiu os degraus da cátedra e passeou os olhos entristecidos pelo ambiente, como se quisesse enfaixar com seu amor de pai a ferida aberta no coração dos filhos. Começou a falar baixo, acalorado: - É o primeiro jovem - disse - que morre no Oratório. Fez bem o que tinha de fazer e esperamos que esteja no céu… Mas recomendo a todos vocês, queridos filhos, que estejam sempre preparados… Um soluço cortou-lhe a palavra nos lábios. Nada mais pôde dizer. Desceu da cátedra no meio do silêncio que sobre todos pesava. De longe chegavam, rompendo a neblina, os sons festivos da noite de Natal. 8. SONHO DAS CONSCIÊNCIAS (M.B. VI, 817-822 = MBe 6, 616-619) Nas três noites que precederam o último dia do ano 1860, D. Bosco fez três sonhos, como ele os chamou, mas que nós com toda certeza, por aquilo que temos visto, percebido, experimentado, podemos chamar de celestes visões. Era o mesmo sonho três vezes repetida, mas sempre com diferentes particularidades. Eis brevemente como o nosso bom pai o apresentou na última noite do ano de 1860 a todos os jovens reunidos. Assim ele falou: Encontrei-me por três noites seguidas nos Campos de Revolta com D. Cafasso, com Sílvio Péllico e com Conde Cays. Na primeira noite ficamos conversando sobre certos assuntos de Religião com relação aos tempos atuais. A segunda a passamos discutindo assuntos morais em que foram apresentados problemas especialmente sobre educação da juventude. Vendo que já por duas noites seguidas faziam um mesmo sonho, decidi contá-lo aos meus filhos, se ainda não tivesse sonhado as mesmas coisas pela terceira vez. E eis que na noite entre 30 e 31 de dezembro, encontrei-me novamente no mesmo lugar e com os mesmos personagens. Deixando de lado outros assuntos, lembrei-me que estávamos no fim do ano e que deveria apresentar aos meus queridos filhos a lembrança para ano novo. Por isso falei a D. Cafasso e perguntei-lhe: - O senhor que é meu grande amigo, me apresente uma lembrança para os meus filhos? Ele respondeu: - Calma! Se você quiser que eu lhe apresente a lembrança, fale aos seus filhos que se preparem e saldem suas contas. Nós estávamos num grande salão, no meio do qual havia uma mesa. D. Cafasso, Sílvio Péllico e Conde Cays se assentaram. Eu no entanto obedecendo a D. Cafasso, saí do salão e fui chamar os jovens que estavam do lado de fora, fazendo cada um suas somas numa ficha que tinham entre as mãos. Os jovens entravam em fila segurando a ficha, em que estavam anotados muitos números e se apresentavam aos três senhores e a eles entregavam a própria ficha. Aqueles senhores a soma e se era bem caprichada e cheia de números, a devolviam a cada um, porém não aceitavam aquelas que apresentavam números forjados. Os primeiros eram aqueles que tinham contas em ordem, os segundos os que estavam desordenado. Não poucos estavam entre estes últimos. Aqueles que recebiam a sua ficha assinada saiam da sala alegres e iam cantar sua alegria no pátio; os outros porém saiam tristes e mortificados. A fila de jovens era comprida todos ficavam esperando. Esta operação foi bem demorada; finalmente ninguém mais se apresentou. Parecia que todos os jovens se tivessem apresentado, quando D. Bosco viu alguns que estavam esperando e não entravam. Perguntou a D. Cafasso: - Mas estes o que estão fazendo? - Estes, respondeu D. Cafasso, tem a ficha em branco, portanto não dá para fazer a soma, aqui trata-se de fazer a soma daquilo que se possui e o que foi feito. Portanto esses jovens podem ir preencher suas fichas com números, depois reapareçam para podermos fazer a soma. Desta maneira acabou-se aquela operação. Então, eu com os três senhores saímos daquela sala para o pátio, e vi, um número de jovens, aqueles cujas fichas eram corretas e caprichadas, que corriam, que pulavam e brincavam com uma alegria extraordinária. Estavam todos satisfeitos. Vocês não podem imaginar minha satisfação vendo este espetáculo. Mas havia um certo número de jovens que não brincavam, mas estavam observando os outros. Estes não estavam muitos alegres. Entres estes alguns tinham uma tira cobrindo os olhos, outros uma névoa rodeando a cabeça, outros tinham um coração cheio de terra, outros o tinham vazios das coisas de Deus. Eu os vi e os reconheci muito bem e os tenho bem presentes na cabeça que poderia dar os nomes um por um. Também percebi que no pátio faltavam muitos dos meus jovens e falei para os meus botões: "Onde estão aqueles que tinham a ficha em branco?". Olho aqui, procuro ali e finalmente vi um lugar afastado do pátio um espetáculo deprimente! Vejo um deitado no chão, pálido como a morte. Depois outros sentados num banco imundo, outros deitados em esteiras sujas, outros no chão, outros sobre pedras que ali havia. Eram todos os que não haviam suas contas aprovadas. Estavam gravemente doentes; alguns tinham a língua outros o ouvido, outros os olhos cheios de vermes que os roíam. Um tinha a língua podre; outro a boca cheia de terra; um terceiro exalava um fedor insuportável, outros eram as doenças daqueles coitados. Quem tinha o coração carcomido, quem tinha horrorosas feridas… havia ali um leproso… Vendo isso fiquei transtornado, não conseguindo acreditar naquilo que estava presenciando. Cheguei mais perto de um daqueles coitados e perguntei-lhe: - Mas você é mesmo fulano? - Sim, sou eu mesmo! - Mas como você chegou a esta horrível situação? - O que fazer? Farinha do meu saco! Veja! Este é o fruto das minhas desordens! Conversei com um outro e recebi a mesma proposta. Este espetáculo doía-me dentro, mas foi aliviado em parte pelo que vi depois. No entanto de coração comovido dirigi-me a D. Cafasso e perguntei-lhe: - A que remédio devo procurar para sarar estes meus pobres jovens? - Você sabe muito bem o que deve fazer, respondeu-me D. Cafasso. Não há necessidade e o repetir. Pensa! Use a criatividade! - Pelo menos me apresente uma lembrança aos bons, insisti eu suplicando humildemente e confiante em meu pedido. D. Cafasso então fez um sinal para segui-lo e aproximando-se do prédio abriu uma porta. Entramos num salão maravilhoso, ornamentado em ouro, em prata e com toda espécie de ornamentação, iluminada por milhares de lâmpadas… Era bem amplo. No meio do salão havia uma mesa cheia de doces, dos mais caprichados e dos mais gostosos, capazes um só de saciar o desejos dos jovens. Vendo isso, estava saindo para fora para chamar os jovens a entrarem e contemplarem aquele magnífico espetáculo. Mas D. Cafasso parou-me gritando: - Calma! Nem todos podem comer estas delícias. Chame só aqueles que tem suas contas em ordem. Assim fiz, e em poucos segundos aquele salão estava cheio de jovens. Então estava eu para começar a distribuir aqueles doces. Mas D. Cafasso se opõem e… - Calma, Dom Bosco! Nem todos podem experimentar estas delícias, nem todos estão dignos! E indicou-me os que não podiam comer. E entre estes mostrou em primeiro lugar os que estavam cheios de chagas, que não se encontravam na sala, porque não tinham suas contas em regras, depois mostrou-me outros, que apesar de terem contas em regras, tinham porém ou neblina nos olhos ou o coração cheio de terra, ou vazio das coisas do céu. Mas eu com ar suplicante falei-lhe: - D. Cafasso! Deixe que eu dê também a esses últimos; também eles são meus filhos, tanto mais que há muita fartura e não há perigo que falte. - Não, não - falou ele. Só aqueles que têm boca sadia podem comer, os outros não; não sabem aproveitar, não estão dignos destas delícias, porque tem a boca estragada e cheia de amargura, as coisas doces dão enjôo e não podem comer. Fiquei quieto e comecei a distribuir aqueles doces só aqueles que me foram indicados. Todos servidos pela primeira vez abundantemente, recomecei novamente a distribuição com uma dose abundante! Eu vos asseguro que estava feliz em ver os jovens comer com apetite e satisfação. Nos seus rostos estavam estampados a alegria, não pareciam mais os jovens do Oratório tanto estavam transfigurados. Aqueles que na sala ficaram sem doces, ficavam num canto tristes e confusos. Entristecidos em vê-los dirigi-me a D. Cafasso e perguntei-lhe insistentemente que permitisse que os doces fossem dados também àqueles, para que pudessem experimentar. - Não, não - respondeu D. Cafasso. Estes não podem comer, que eles sarem e então poderão experimentá-los. Eu olhava aqueles coitados. Olhava também os muitos jovens que ficaram fora, todos doentes… Reconhecia todos e percebi que alguns deles tinham o coração totalmente bichado. Voltei a falar com D. Cafasso: - Por favor indique-me que remédio utilizar e como fazer para sarar aqueles meus filhos! Ele respondeu: - Pense, use a sua fantasia; o senhor já o conhece. Então insisti para que dissesse a lembrança prometida para os meus jovens. - Muito bem, respondeu. Vou falar! E dando uns passos para atrás, por três vezes, com voz cada vez mais forte, gritou: - Preste atenção! Preste atenção! Preste atenção! Assim dizendo ele e com seus companheiros foram saindo e desaparecendo, assim foi o sonho. Então acordei e encontrei-me sentado na cama e com as costas frias como o gelo. Este foi o meu sonho. Agora cada um interprete como quiser, mas saiba sempre dar-lhe a importância que se dá a um sonho… 9. AS TRÊS POMBAS (1878) (MB 13, 811-812 = MBe 13, 687-688) Pareceu encontrar-me nos Becchi, diante da minha casa, quando eis que me foi apresentado um gracioso cesto. Olhei em seu interior e comprovei que continha umas pombas, porém, pequenas e sem penas. Voltei a olhar e me dei conta de que, em pouco tempo, lhes haviam crescido as penas, mudando por completo de aspecto. Em três delas haviam saído umas penas tão negras que pareciam corvos. Maravilhado, disse a mim mesmo: - Aqui há alguma bruxaria. E olhava ao meu redor para ver se havia por ali algum feiticeiro. Entretanto, me precavi de que as pombas haviam levantado vôo e as vi afastar-se pelos ares. Mas um que estava ali perto tomando uma escopeta, apontou e disparou. Duas das pombas caíram por terra, porém, a terceira se afastou. Eu senti uma grande pena e, acariciando-as, dizia: - Pobres animaizinhos! Entretanto, as examinava: eis que de repente, não sei como, se converteram em clérigos. Todavia, mais maravilhado, voltei a temer que se tratara de um efeito de bruxaria e olhei por uma e outra parte, Porém, então, não sei bem se foi o pároco de Buttigliera, ou o de Castelnuovo, quem me tocou no braço e me disse: - Compreendestes? De três, dois digo a Dom Júlio Barberis. No cestinho havia mais de três pombas, porém, das outras não é o caso. Assim terminou o sonho. Foi sempre minha intenção contá-lo. Mas me esquecia de fazê-lo quando estavas presente e me lembrava quando já tinhas partido. Agora vou dar a ti e aos demais a explicação do mesmo. Entre outros, se encontravam presentes monsenhor Scotton, Dom Antônio Fusconi de Bolonha e o Conde Cais. Os comentários foram diversos, porém, Dom Bosco tirou a seguinte conclusão: - O cestinho contendo numerosas pombas sem penas representa o Oratório. Dos que chegam a ser clérigos, no cestinho, isto é, no Oratório, de três, perseveram dois. Não há que fazer ilusões. Se abrigam esperanças de todos, porém um por enfermidade, outro por falecimento, quer por oposição dos padres, quer por não ter vocação, se produzem sempre baixas, e já é uma grande coisa que de três que começam seguem só dois, permanecendo na Congregação. Observações Contado em 13 de dezembro a dom Júlio Barberis e a quatro jovens que rodeavam a Dom Bosco depois do almoço. 10. TRABALHO, TRABALHO, TRABALHO (1885) (MB 17, 383-384 = MBe 17, 331-332) Pareceu dirigir-lhe em direção a Castelnuovo através de uma planície, junto a ele ia um venerando sacerdote, cujo nome digo não recordava. Começaram a falar sobre os sacerdotes. - Trabalho, trabalho, trabalho! -diziam- este deve ser o objetivo e a gloria dos sacerdotes. Não retroceder jamais no trabalho. Desta maneira quantas almas se salvariam! Quantas coisas se fariam para a gloria de Deus! Oh, Se o missionário cumprisse em verdade com seu papel de missionário, se o pároco cumprisse com sua missão de pároco, quantos prodígios de santidade resplandeceriam por todas as partes! Porem, desgraçadamente, muitos tem medo do trabalho e preferem as próprias comodidades. Raciocinando desta maneira entre si, chegaram a um lugar chamado Filippeli. Então Dom Bosco começou a lamentar-se da falta de sacerdotes. - É certo - afirmou o outro - faltam os sacerdotes, porem, se todos os sacerdotes cumprissem com seu oficio de sacerdote, haveria bastantes! Quantos sacerdotes ha que não fazem nada pelo ministério! Alguns não são mais que o sacerdote da família, outros, por timidez, permanecem ociosos, entretanto, pelo contrario, se dedicassem ao ministério, se examinassem em confissão, levariam a um grande vazio nas filas da Igreja... Deus proporciona as vocações segundo as necessidades. quando se impôs o serviço militar aos clérigos, todos estavam assustados, como se já nada pudesse chegar a ser sacerdote, porem, quando os ânimos se serenaram, se comprovou que as vocações, em vez de diminuir, aumentaram. - E agora - perguntou Dom Bosco - o que ha de fazer para promover as vocações no meio da juventude? - Nenhuma outra coisa, respondeu o companheiro de viajem, mas sim cultivar zelosamente entre eles a moralidade. A moralidade é o canteiro / seminário das vocações. - O que e que se devem fazer especialmente os sacerdotes para obter que a própria vocação produza frutos? - Presbyter discat domum suam regere et sanctificare. ( O presbítero aprenda a governar e santificar sua casa.) Que cada um seja exemplo de santidade na própria família paroquiana. Que não se entregue as desordens da gula, que na se deixem levar pelas coisas temporais... Que seja, antes todo, modelo na sua própria casa e, depois, o será fora dela. A certo ponto, aquele sacerdote perguntou a Dom Bosco aonde se dirigia e Dom Bosco lhe indicou Castelnuovo. O companheiro, então, deixando-lhe prosseguir, parou junto a um grupo de pessoas que lhes precediam. Depois de dar alguns passos, o Servo de Deus se despertou. Observações: Dom Bosco teve este sonho na noite de 29 para 30 de setembro. 11. A MISTERIOSA SENHORA E A MULTIDÃO DE GAROTOS (correspondente ao sonho da Cinta Mágica (1845) pág. 101) (MB 2, 298-300 = MBe 2, 229-231) "Parecia-me estar numa grande planície cheia de uma quantidade enorme de jovens. Alguns brigavam, outros blasfemavam. Aqui se roubava, lá faltava-se contra a moral. Um punhado de pedras passavam pelo ar, lançadas por grupos que brigavam entre si. Eram jovens abandonados pelos pais e corrompidos. Eu queria ir embora depois, quando percebi ao meu lado uma Senhora que me disse: - Vai lá no meio destes jovens e trabalha! Eu fui, mas o que fazer? Não existia nenhum lugar para acomodá-los, queria fazer-lhes o bem, dirigia-me a pessoas que de longe estava olhando e que poderiam ter-me ajudado muito, mas elas não queriam ouvir-me. Dirigi-me então àquela Senhora, que me disse: - Eis o lugar - e mostrou-me um campo. - Mas aqui só há um campo - disse-lhe. - Meu Filho e os Apóstolos - respondeu-me - não tinham nem sequer uma pedra para descansar a cabeça! Comecei a trabalhar naquele campo, aconselhando, pregando, confessando, mas percebia que na maior parte todo aquele trabalho era praticamente inútil se não encontrasse um lugar apropriado onde juntar aqueles jovens rejeitados pelos pais e pela sociedade. Então aquela Senhora levou-me um pouco mais ao norte e disse-me: - Olhe! Eu olhei e vi uma igrejinha pequena e baixa, um pátio e uma porção de jovens. Recomecei o trabalho. Mas tendo-se esta Igreja tornado estreita, voltei a pedir àquela Senhora, e Ela mostrou-me uma outra Igreja bem maior e uma casa perto. Depois levou-me para outro lugar num pedaço de ferro cultivado, quase na frente da Segunda igreja e disse: - Neste lugar onde os gloriosos mártires de Furius, Aventor, Otávio sofreram o seu mistério, sobre esta terra que foi molhada e santificada pelo seu sangue, eu quero que Deus seja honrado de uma maneira toda especial. Assim falando, avança um pé indicando o lugar onde se deu o martírio e indicou-o com precisão. Eu queria colocar aí algum sinal para identificá-lo quando tivesse voltado naquele lugar, mas nada encontrei, nem uma estaca e nem uma pedra, todavia guardei bem na memória. corresponde exatamente ao ângulo inteiro da capela dos SS. Mártires antes chamada de S. Ana, do lado do evangelho na Igreja de Maria Auxiliadora. No entanto eu me vi rodeado de um número incalculável de jovens e eles aumentavam, porém olhando a Senhora, cresciam os meios e o lugar, e vi depois uma grandíssima Igreja exatamente no local que me fique ver, onde se dera o martírio dos santos da legião Tebéia, com muitos prédios ao redor e com um bonito monumento no meio. Enquanto aconteciam estas coisas, eu, sempre sonhando, tinha como ajudantes padres e clérigos que me ajudavam por um tempo e depois iam embora. Procurava com grande trabalho segurá-los, mas eles depois de um determinado tempo iam embora e me deixavam sozinho. Então procurei a Senhora, que me disse: - Você quer saber como segurar esses colaboradores? Tome esta fita e amarre-a na cabeça deles. Tomando reverentemente a fita branca da mão dela, vi que nela estava escrita esta palavra: obediência. Experimentei logo a seguir o conselho da Senhora e comecei a amarrar a fita na cabeça de alguns de meus colaboradores e me dei conta de seus maravilhoso poder: eles ficavam, aumentava o seu número, enquanto eu continuava amarrando a fita em tantos e tantos ajudantes. Assim teve origem a Congregação Salesiana. Vi ainda muitas outras coisas que agora não é o caso de contar-vos (parece que fizesse alusão a grandes acontecimentos futuros), mas é suficiente dizer que desde aquele tempo eu caminhava sempre seguro, seja com relação aos oratórios, seja com relação às autoridades. As grandes dificuldades que devem aparecer estão todas previstas e conheça o modo de as superar. Veja muito bem do que vai acontecer e vou adiante conscientemente. Foi exatamente depois de ter visto Igrejas, casas, pátios, jovens, clérigos e padres que me ajudavam e a maneira de chegar a isso, que eu falei a outros e contava como se tudo existisse. É por isso que muitos me tacharam por louco…" 12. A VIDEIRA MISTERIOSA (O Monstro - 1868) (MB 9, 155-156 = MBe 9, 159-160) Pareceu-me ver entrar no meu quarto um monstro muito grande que foi avançando até colocar-se aos pés da minha cama. Tinha a aparência horripilante de um sapo do tamanho de um boi. Contendo a respiração, eu olhava firme para ele. O monstro ia crescendo aos poucos: cresciam as pernas e crescia o corpo, crescia a cabeça e, quanto mais aumentava o volume, mais pavoroso se tornava. Era de cor verde, com risco vermelho em torno da boca e no pescoço, o que lhe aumentava o pavoroso aspecto. Seus olhos de fogo; as orelhas extremamente pequenas. Dizia comigo mesma enquanto o observava: "Mas sapo não tem orelhas!" Na altura do nariz levantavamse dois chifres e brotavam-lhe dos flancos duas asas enormes, esverdeadas. Suas patas eram como a do leão; a cauda terminava em duas pontas. Pareceu-me que não sentia nenhum medo até aquele momento; mas o monstro começou a aproximar-se cada vez mais de mim, alargando a bocarra munida de dentes aguçados. Então um pavor enorme me assaltou. Pensei que era um demônio, pois tinha dele todos os sinais. Fiz o sinal da cruz mas nada adiantou. Toquei a campainha mas ninguém apareceu, ninguém ouviu. Gritei mas em vão: o monstro não fugia. - Que quer de mim - disse então - demônio horrível? Mas ele ia cada vez mais se aproximando; levantava e alargava as orelhas. Depois pousou as patas dianteiras sobre a grade dos pés da minha cama e foi se erguendo, agarrando-se ao ferro também com as patas traseiras; ficou um momento imóvel, olhando fixo para mim. Depois estirou para a frente o focinho, de maneira a ficar face a face comigo. Senti tamanha náusea que me ergui num movimento rápido e fiz menção de pular da cama; mas o monstro escancarou a boca. Queria defender-me, empurrá-lo, mas era tão nojento que não ousei tocá-lo. Pus-me a gritar, procurava com as mãos, atrás de mim, a pia de água benta, mas só encontrava a parede. Apostrofei-o então: - Em nome de Deus! Por que faz isso comigo? A estas palavras o sapo recuou um pouquinho. Fiz novamente o sinal da cruz e, tendo conseguido meter os dedos dentro da pia de água benta, joguei algumas gotas sobre o monstro. Então aquele demônio, dando um urro tremendo, atirou-se para trás e desapareceu. Ao mesmo tempo pareceu-me ouvir uma voz que vinha do alto e que pronunciou distintamente estas palavras: - Por que não fala? Compreendi que era vontade de Deus que contasse a vocês o que tinha visto; por isso resolvi narrar-lhes todo o sonho que tive, e no qual pude conhecer o estado de consciência de cada um de vocês. Uma videira misteriosa Na noite de Quinta-feira santa, apenas adormeci, pareceu-me estar sob nossos pórticos, circundado pelos nossos padres, clérigos, assistentes e jovens. De repente o Oratório atual mudou de aspecto, tomando o que tinha nos seus inícios. É preciso lembrar que o pátio confinava com vastos prados incultos, desabitados, que se estendiam até os campos da Cidadela, onde os primeiros jovens muitas vezes corriam brincando. Sentado, estava eu conversando a respeito de negócios da casa e sobre o aproveitamento dos jovens, quando, junto à pilastra que sustenta a bomba e junto da qual ficava a porta da casa Pinardi, vimos brotar da terra uma virente parreira, igual à que havia outrora no mesmo lugar. Ficamos admirados de vendo-a aparecer depois de tantos anos. Crescia a olhos vistos até atingir a altura de um homem. Começou então a estender seus sarmentos em grande número, daqui, dali, de todos os lados, a lançar os raminhos tenros em todas as direções. Em breve ocupava nosso pátio inteiro e ainda ganhava as imediações. O curioso é que os sarmentos não subiam para o alto, mas iam se estendendo paralelamente ao solo, formando uma imensa pérgula, sem que vissem esteios que a sustentassem. As folhas que brotavam eram belas e verdes; os sarmentos, de um vigor e abundância surpreendentes. Logo começaram a surgir os cachos, cresceram os bagos e a uva tomou seu colorido próprio. Dom Bosco e os que o acompanhavam diziam admirados: - Como é que esta videira cresceu tão depressa? Que será isto? Disse Dom Bosco aos demais: - Bom, vamos ver o que acontece. Eu observava tudo como os olhos arregalados, sem pestanejar. De repente todos aqueles bagos caíram no chão e se transformaram em outros tantos jovens, vivos e alegres, que encheram o pátio do Oratório e todo o espaço ocupado pela parreira. Era uma alegria vê-los. Eram os jovens que já estiveram, que estão e estarão ainda no Oratório e nos outros colégios, porque eu não conhecia muitos deles. Então um personagem, que a princípio eu não sabia quem era, surgiu a meu lado e ficou observando também os jovens. Mas de repente um véu misterioso estendeu-se na nossa frente, furtando-nos a vista ao alegre espetáculo. Aquele longo véu, não mais alto do que a videira, parecia estar pregado nos sarmentos em toda a extensão e descia como uma espécie de pano de boca. Não se via mais do que a parte superior da parreira, semelhante a um imenso tapete de verdura. Cessara, como por encanto toda a alegria dos jovens, sucedendo-se um melancólico silêncio. - Olhe! - disse-me o guia e apontou-me a videira. Apenas folhas Aproximei-me e pude ver que aquela linda videira, que parecia carregada de cachos de uva, tinha apenas folhas, sobre as quais estavam escritas as palavras do Evangelho: Nihil invenit in ea! Nada encontrou nela! Não chegava a compreender tudo isso e perguntei ao personagem: - Quem é você? Que significa esta videira? Ele levantou o véu que escondia a parreira; pude ver apenas um limitado número dos numerosíssimos jovens visto antes; a maioria era-me desconhecida. - Estes - explicou - são aqueles que apenas fingem praticar o bem, para não desmerecer diante dos companheiros. São os que cumprem pontualmente o regulamento da casa, mas apenas por cálculo, para evitar repreensões e para não perder os estimas dos superiores; mostram-se reverentes para com eles mas não tiram proveito das instruções, das exortações, dos cuidados que receberam - ou receberão - nesta casa. Seu ideal é conquistar um posição de destaque e lucrativa no mundo. Pouco se lhe dá estudar a própria vocação; desdenham o convite o Nosso Senhor lhes faz. Em resumo, são aqueles que fazem as coisas forçados e, por conseguinte, sem proveito para eternidade. Que desgosto para mim descobrir naquele número alguns jovens que supunham muito bons, afeiçoados e sinceros! O amigo acrescentou: - O mal não é só esse - e deixou cair o véu, reaparecendo a parte superior da extensa vinha. - Olhe agora novamente. Cachos estragados Olhei para os sarmentos. Viam-se entre as folhas muitos cachos de uva que a princípio me apareceram como a promessa de uma rica colheita. Já estava antecipadamente alegre. Aproximando-me, porém, pude ver que aqueles cachos eram defeituosos, estavam estragados; uns estavam mofados; outros cheios de vermes e de insetos que o devoravam; outros ainda picados pelos passarinhos e pelas vespas; outros, finalmente, murchos e amassados. Olhando bem, persuadime de que nada de bom poderia tirar daqueles cachos; ao contrário, eles estavam empestando o ambiente com o mau cheiro que exalavam. O personagem levantou novamente o véu. Pude ver, não o número incalculável de jovens do início do sonho, mas muitos e muitos deles. Seus rostos, antes tão belos, tinham-se tornado feios, escuros, cobertos de feridas. Passavam encurvados e tristonhos. Nenhum falava. Entre eles alguns havia que estão presentemente nesta casa, outros que já estiveram; muitíssimos eu não conhecia ainda. Todos estavam envergonhados e não ousavam levantar os olhos. Eu, o padre e outras pessoas que me acompanhavam estávamos assustados, não sabendo o que dizer. Finalmente perguntei ao meu guia: - Que significa isto? Por que aqueles jovens, antes tão alegres e vivos, estão agora tão tristes e desfigurados? O guia respondeu: - São as conseqüências do pecado. Entretanto, os jovens passavam diante de mim, e o guia me disse: - Observa-os bem. Olhei com atenção e pude ver que todos tinham escrito na mão e na fronte o próprio pecado. Entre estes reconheci alguns, ficando admirado. Tinha sempre pensado que fossem ótimos jovens e descobria agora que tinham gravíssimos defeitos. Enquanto desfilavam lia em suas frontes: imodéstia, escândalo, malignidade, soberba, ócio, gula, inveja, ira, espírito de vingança, blasfêmia, irreligiosidade, desobediência, sacrilégio, furto. Meu guia fez-me observar: - Nem todos já são agora como que estás vendo, mas assim se tornarão, se não mudarem de rumo. Quem despreza as coisas pequenas, pouco a pouco cairá nas grandes. A gula gera egoísmo e impureza; o desprezo dos superiores leva ao desprezo dos sacerdotes e da Igreja; e assim por diante. Desolado por ouvir estas palavras, tirei a caderneta e o lápis para tomar nota dos nomes dos jovens que conhecia, para poder adverti-los e corrigi-los. Mas o guia segurou o meu braço e perguntou: - Que está fazendo? - Estou escrevendo seus nomes, para poder adverti-los; desta forma, poderão corrigir-se. - Isso não lhe é permitido - respondeu o amigo. - Por quê? - Os meios não faltam para libertar-se dessas doenças. Têm superiores; que lhes obedeçam. Têm os sacramentos; os freqüentem. Têm a confissão; não a descuidem. Têm a comunhão; não a recebam por hábito. Ponham um freio nos olhos, fujam dos maus companheiros, abstenham-se das más leituras e das más conversas. Sejam prontos a obedecer. Não procurem subterfúgios para enganar os professores e ficarem ociosos. Não procurem sacudir o jugo dos superiores, considerando-os como vigilantes importunos, conselheiros interesseiros, inimigos; não cantem vitória quando conseguem impedir que suas faltas fiquem sem punição. Rezem de boa vontade na Igreja e em outro tempo destinado a oração. Estudo, trabalho, oração: eis o que pode conservá-los bons. Não obstante a resposta negativa, continuei a pedir insistentemente ao meu guia que me deixasse escrever aqueles nomes. Ele, então, tirou-me resolutamente das mãos o caderno de notas e jogou-o ao chão, dizendo: - Já lhe disse que não é necessário que você escrevesse esses nomes. Com a graça de Deus e a voz da consciência seus jovens podem saber o que devem fazer e evitar. - Então não vou poder manifestar nada aos meus queridos jovens? Diga ao menos o que poderei dizer-lhes, que aviso devo dar-lhes. - Poderá, a seu gosto, dizer aquilo de que se lembrar. Cachos maduros e belos Deixou cair o véu; apareceu de novo, diante de nossos olhos, a videira, cujos sarmentos, quase sem folhas, carregavam belos cachos de uva corada e madura. Aproximei-me e observei atentamente os cachos: eram realmente o que pareciam à distância. Era um prazer contemplá-los. Espalhavam ao redor um suavíssimo perfume. O amigo levantou-me o véu. Sob a pérgula, extensa como era, estavam os nossos jovens, os de agora, os que já estiveram e os que ainda estarão conosco. Eram belíssimo e estavam radiosos de alegria. - Estes - disse-me o guia - são os que, segundo os seus ensinamentos, produzirão bons frutos. São aqueles que praticam a virtude e que lhe darão muitas consolações. Fiquei contente e ao mesmo tempo aflito, porque estes últimos não correspondiam ao número muito grande que eu esperava. Foi quando Dom Bosco acordou. 13. O SONHO DA PASTORA E DA ESTRANHA GREI (MB II 243-245 = MBe 2, 191-192) "No segundo Domingo de outubro daquele ano (1844) - conta-nos Dom Bosco - devia falar ao s meus jovens, que o Oratório devia ser transferido para Valdocco. Mas a incerteza do lugar, dos meios, e das pessoas deixavam-me verdadeiramente preocupado. Na noite anterior fui dormir com o coração inquieto. Naquela noite tive um outro sonho, que parece um apêndice daquele tido pela primeira vez, nos Becchi, quando tinha nove anos. Julgo melhor narrá-los detalhadamente. Sonhei em meio uma multidão de lobos, cordeiros, ovelhas, cães, aves e outros animais. Todos juntos faziam um barulhão, uma algazarra, ou melhor uma confusão dos diabos que amedrontaria até os mais corajosos. Eu queria fugir, quando uma Senhora, bem vestida á moda de uma pastora, fez sinal de seguir e acompanhá-la aquele aglomerado de animais, enquanto Ela caminhava à frente. Fomos andando por vários lugares, fizemos três paradas, a cada parada muitos daquele animais mudavam em cordeiros, cujo número andava sempre aumentando. Depois de ter muito caminhado, encontrei-me num campo, onde aqueles animais pulavam e pastavam juntos, sem que uns mordessem outros. Cansado queria sentar-me, mas a pastora convidou-me a continuar caminhando. Percorrido ainda um espaço de caminho, encontrei-me em um grande pátio ao redor de uma espaçosa varanda, em cuja extremidade havia uma Igreja. Aqui percebi que 4/5 daqueles animais transformaram-se em cordeiros. Os sem número depois tornou-se grandíssimo. Naquela hora apareceram alguns pastorzinhos para guardá-los, mas eles permaneciam pouco e logo saíram. Então deu-se uma maravilha. Muitos cordeiros transformaram-se em pastorzinhos, dividiram-se, e foram para outros lugares para ajuntar outros estranhos animais e guiá-los para outros apriscos. Eu queria ir embora, porque parecia que estava na hora para celebrar a Missa, mas a pastora convidou-me para olhar para o sul; olhando, vi um campo, em que havia plantado, trigo, beterrabas, milho, feijão e uma porção de outras coisas. - Olhe outra vez - disse-me. Olhei novamente, e vi uma magnífica e majestosa Igreja. Uma orquestra, música instrumental e vocal me convidavam para celebrar a missa. No interior daquela Igreja havia uma faixa branca, em que estava escrito: HIC DOMUS MEA, INDE GLORIA MEA (Esta é a minha casa, daqui sairá minha glória). Continuando no sonho, quis perguntar a pastora onde me achava, o que significava aquele caminhar, com paradas, com aquela casa, Igreja e depois com aquela segunda Igreja. - Você compreenderá tudo, respondeu-me, quando com os olhos materiais verá tudo isso que você está vendo com os olhos da mente. Mas achando que estava acordado, disse: - Eu estou vendo claramente, e vejo com estes meus olhos materiais, sei aquilo que faço e para onde vou. Naquele mesmo instante tocou o sino da "Ave Maria" da Igreja de São Francisco de Assis e eu acordei.". 14. AS DEZ COLINAS (1864) (MB 7, 796-800= MBe 7, 677-681) Dom Bosco havia sonhado na noite precedente. Ao mesmo tempo, um jovem chamado C. E., de Casale Monferrato, teve também o mesmo sonho, parecendo-se que se encontrava com Dom Bosco e que falava com ele. Ao levantar-se estava tão impressionado que foi contar quanto havia sonhado a seu professor, no qual aconselhou que se entrevistasse com o Servo de Deus. O jovem obedeceu imediatamente e se encontrou com Dom Bosco, que descia as escadas em sua busca para fazer o mesmo. Pareceu-lhe encontrar-se em um extensíssimo vale ocupado por milhares e milhares de jovenzinhos; tantos eram, que o Servo de Deus não acreditou que houvesse tantos meninos no mundo. Entre aqueles jovens viu aos que estiveram e os que estão em casa e aos que um dia estarão nela. Juntos com eles estavam os sacerdotes e os clérigos da mesma. Uma montanha altíssima cercava aquele vale por um lado. Enquanto Dom Bosco pensava no que havia com aqueles meninos, uma voz lhe disse: - Vês aquela montanha? Pois bem, é necessário que tu e os teus cheguem até lá em cima. Então ele deu ordem a toda aquela multidão de encaminhar-se a um lugar indicado. Os jovens de puseram em marcha e começaram a escalar a montanha a toda pressa. Os sacerdotes da casa corriam na frente animando os meninos à subida, levantavam os caídos e carregavam sobre suas costas os que não podiam prosseguir a causa do cansaço. Dom Miguel Rua, com as mangas da camisa arregaçadas, trabalhava mais que ninguém e, tomando os meninos de dois em dois, os lançavam pelos ares em direção à montanha, sobre a qual caíam de pé, e corriam depois alegremente por uma e outra parte. Dom João Cagliero e Dom João Batista Francesia recorriam às fileiras gritando: - Ânimo. Avante! Avante, ânimo! Em pouco mais de uma hora aqueles numerosos grupos de jovens haviam alcançados o cume; Dom Bosco também havia ganhado a meta. - E agora que fazemos?, disse. E a voz acrescentou: — deves recorrer com teus jovens essas dez colinas que contemplas diante de tua vista, dispostas uma detrás da outra. — Porém, como poderemos suportar uma viajem tão longa, com tantos meninos tão pequenos e tão delicados? — Os que não podem caminhar com seus pés serão transportados, respondeu-lhe. E eis que, em efeito, apareceu por um extremo da colina uma magnífica carruagem. Tão bonita era, que seria impossível descrevê-la, mas algo se pode dizer. Tinha forma triangular e estava dotada de três rodas que se moviam em todas as direções. Dos três ângulos partiam três hastes que se uniam em um ponto sobre a mesma carruagem formando como a cobertura de um alpendre. Sobre o ponto de união, levantava-se um magnífico estandarte em que estava escrito, com caracteres cubitais, esta palavra: Inocência. Uma franja bordava ao redor de toda a carruagem formando orla na qual aparecia a seguinte inscrição: Adjutorium Dei Altissimi Patris et Filii et Spiritus Sancti (Ajuda do Altíssimo Deus, Pai, Filho e Espírito Santo). O veículo, que resplandecia como o ouro e que estava repleto de pedras preciosas, avançou até se colocar no meio dos jovens. Depois de recebida a ordem, muitos meninos subiram nele. Eram quinhentos. Apenas quinhentos, entre tantos milhares de jovens, eram, todavia inocentes! Uma vez ocupado o carro, Dom Bosco pensava por que caminho havia de se dirigir, quando viu abrir-se ante seus olhos um caminho largo e cômodo, mas todo coberto de espinhos. De repente apareceram seis jovens que haviam mortos no Oratório, vestidos de branco e levantando uma belíssima bandeira em que se lia: Penitência. Estes foram colocarse à cabeça de todos aqueles grupos de meninos que haviam de continuar a viagem a pé. Seguidamente deu-se do sinal de partida. Muitos sacerdotes lançaram-se aos varais da carruagem, que começou à se mover, tirada por eles. Os seis jovens vestidos de branco lhes seguiram. Detrás ia toda a multidão de garotos. Acompanhados de uma música belíssima, indescritível; os que iam na carruagem entoaram o Laudare, pueri, Dominum (Louvai, meninos, ao Senhor). Dom Bosco prosseguiu seu cominho como que extasiado por aquela melodia do céu, quando lhe acorreu olhar para trás à comprovar se todos os jovens lhe seguiam. Porém, o doloroso espetáculo! Muitas haviam caídos no vale e muitos outros haviam voltado atrás. Com indizível dor , decidiu refazer o caminho para persuadir àqueles imprudentes que continuassem na ação e para ajudar-lhes à lhes seguir. Mas os proibiu irrevogavelmente. — Se não lhes ajudo, estes pobrezinhos se perder-se-ão, exclamou ele. — Pior para eles, lhe foi respondido; foram chamados como os demais e não quiseram seguirte. Hão visto o caminho que deve recortar e isso basta. Dom Bosco queria replicar, vagou, insistiu porém tudo foi inútil. — Também tu tens que obedecer, disseram-lhe. E teve que prosseguir o caminho. A um não havia refeita de este dor, quando sucedeu outro lamentável acidente. Muitos dos meninos que se encontravam na carruagem, pouco a pouco, foram caído por terra. Dos quinhentos, apenas se chegaram cento e cinqüenta baixo estandarte da inocência. A Dom Bosco lhe parecia que o coração ia partir no peito pela insuportável angústia. Abrigava, com tudo, a esperança de que aquilo fosse somente um sonho; fazia todo tipo de esforço para despertar-se porém cada vez se convencia mais de que se tratava de uma terrível realidade. Dava palmadas e ouvia o ruído produzido por suas mãos, gemia e percebia seu gemidos ressonando na habitação, queria dissipar aquele terrível pesadelo, porém nada podia. — Ah, meus queridos jovens!, exclamou ao chegar a este ponto da narração do sonho, eu havia visto e reconhecido os que quedaram no vale, os que se votaram atrás e os que caíram da carruagem. Os reconheci todos porém não duvideis: fiz toda sorte de esforços possível ao meu alcance para salvar-vos. Muitos de vocês convidados por mim a confessar-se, não respondestes a meu chamado. Por caridade salvai vossas alma. Muitos dos meninos que caíram do carro foram a colocar-se pouco a pouco entre as fileiras dos que caminhavam detrás da segunda bandeira. Entretanto, a música do carro continuava sendo tão doce, que a dor de Dom Bosco foi desaparecendo. Havia passado já sete colinas e, ao chegar na oitava, a multidão de jovens chegou a um belíssimo povoado em que se tomou um pouco de descanso. As casas era de uma riqueza e de uma beleza indescritível. Ao falar aos jovens sobre aquele lugar, exclamou Dom Bosco: — Os direi com Santa Teresa o que ela afirmou do paraíso: são coisas que, se falar delas, perdem o valor, porque são tão belas que inútil esforçar-se em descrever. Portanto só acrescentarei que as colunas daquelas casas pareciam de ouro, de cristal e de diamante ao mesmo tempo, de forma que produziam uma grata impressão, saciavam a vista e infundiam um gozo extraordinário. Os campos estavam repletos de árvores em cujas ramas apareciam, ao mesmo tempo, flores, gemas, frutos maduros e frutos verdes. Era um espetáculo encantador:. Os jovenzinhos se esparramaram por todas as partes: atraídos por uma coisa, outros por outra, e desejosos, ao mesmo tempo, de provar aquelas frutas. Foi neste povoado onde aquele jovem de Casale se encontrou com Dom Bosco e teve com ele um longo diálogo. Ambos recordavam depois as perguntas e respostas da conversação que haviam mantido. Singular combinação de dois sonhos! Dom Bosco experimentou aqui outra estranha surpresa. Viu de repente os seus jovens como se houvessem tornados velhos; sem dentes, com o rosto cheio de rugas, o cabelo branco, encurvados, caminhando com dificuldades apoiados num bastão. O Servo de Deus estava maravilhado com aquela metamorfose, mas a voz lhe disse: — Tu te maravilhas, porém, hás de saber que não faz horas que saíste do vale, senão anos e anos. Tem sido a música que tem feito que o caminho te parecera curto. Em prova do que te digo, observa rua fisionomia e te convencerás de que estou dizendo a verdade. Então lhe foi apresentado um espelho a Dom Bosco. Nele se olhou e comprovou que seu aspecto era de um homem ancião, de rosto coberto de rugas e boca desdentada. A comitiva, entretanto, voltou a colocar-se em marcha e os jovens manifestavam desejos, de quando em quando, à se deter para contemplar aquelas coisas novas. Dom Bosco lhes dizia: — Adiante, adiante, não necessitamos de nada, não temos fome, não temos sede ; portanto, prossigamos adiante. Ao fundo, na parte distante, sobre a décima colina despontava uma luz que ia sempre um aumente, como se saísse de uma maravilhosa porta. Voltou a olhar novamente o canto, tão harmonioso; que somente no Paraíso se pode ver e gostar de uma coisa igual. Não era uma música instrumental, nem parecia de vozes humanas. Era algo impossível de descrever e foi tanto o júbilo que inundou a alma de Dom Bosco que se despertou encontrando-se no leito. Observações: Dom Bosco teve este sonho à 21 de novembro e o narrou à noite de 22. Esta mesma noite a transcreve Dom Lemoyne. Dom Bosco o interpretou assim: o vale é o mundo; as montanhas, os obstáculos para desapegar-nos delas; as dez colinas, os dez mandamentos de Deus; o carro, a graça de Deus; os jovens que começam a pé são os que, perdida a inocência, arrependeram-se de seus pecados. Acrescentou que estava disposto a dizer confidencialmente o papel que desempenhava no sonho. Dom Lemoyne interpreta as dez colinas como decênios: a oitava colina, sobre a qual Dom Bosco faz uma parada, representa o término da vida de Dom Bosco, que terá lugar mais além de seus sessenta anos. 15. DOIS SACERDOTES NA CATEDRAL ( 1886) (MB 18, 26= MBe 18,33) Entrava na catedral de são João de Turim, quando viu dois sacerdotes, um dos quais estava apoiado na pia de água benta e o outro numa coluna, tendo ambos com indiferença um chapéu na cabeça. Sabia querido repreendê-los, mas duvidava um pouco de força eu digo ao primeiro deles: - Perdão, donde é o senhor? - E o senhor que lhe importa saber isto? Lhe respondeu o outro com brusquidão. - É somente porque quisera dizer-lhe uma coisa que urge. - Pois, eu não tenho nada a ver com o senhor. - De todos os modos, olhe senhor: eu não quero recriminá-lo; porém, se não guarda o devido respeito ao lugar santo e não lhe importa que a gente se escandalize e ache graça do senhor, ao menos olhe para sua própria pessoa. Tire o chapéu! - É verdade, tens razão, diz o sacerdote e tira o chapéu. Depois Dom Bosco se dirigiu ao outro e lhe repetiu o aviso; e este também descobriu a cabeça. E Dom Bosco, rindo com prazer, acordou. Observações: Contado em 25 de fevereiro. Estamos diante de outra das preocupações de Dom Bosco: a dignidade, o bom nome do ministro do altar? 16. O BURACO E A SERPENTE (1863) (MB7,550-551 = MBe 7,470) Ontem pela manhã fizemos o exercício da boa morte. Todo o dia andei pensando nos frutos que dele nasceriam. Temo, porém, que alguém de vós não tenha feito bem o retiro. Tive esta noite um sonho que vou lhes contar: Me encontrava no pátio com todos os alunos de casa, que brincavam: corriam, saltavam. Saímos do Oratório para ir de passeio e depois de algum tempo nos deparamos em um prado. Os meninos reuniram seus jogos e cada um ia apostar com os demais para ver quem era o que mais saltava. Nisto descobriu no meio do pátio, digo, do prado, um poço sim boca. (........) me aproximei para examiná-lo e assegurar-me de que não oferecia perigo a alguém, quando no fundo uma terrível serpente. Seu tamanho era como de um cavalo, ou melhor, de um elefante; seu corpo informe e todo coberto de manchas amareladas. Imediatamente saí cheio de medo e comecei a observar os jovens que em bom número, havia começado a saltar de uma a outra parte do poço e, coisa estranha sem que me viesse à mente o deve proibi-los, de avisar-lhes do perigo que estavam se expondo. Vi alguns pequenos, tão ágeis que saltavam sem dificuldade alguma. Outros maiores, como eram mais pesados, saltavam com mais calma, porém, alcançavam menor altura e as vezes caiam na mesma boca. Percebeu aqui que ele se mostrava e tornava a desaparecer a cabeça daquele monstro que mordia o pé de um, a perna de outro e outros membros. A pesar disso eles eram tão imprudentes que seguiam saltando sem parar e quase nunca caíam feridos. Então um jovem me assinalou e disse mostrando-me um companheiro: - Olhe, este saltará uma vez e não acontecerá mal. Saltará uma Segunda e cairá ali. Me dava pena ver no entanto a muitos jovens estendidos por aquele solo, um buraco em uma perna, outro com um braço mordido e algum com o coração desgarrado. Eu ia lhes perguntando: - Por que saltais sobre esse poço, expondo-os a tanto perigo? Por que, depois de haver sido mordidos várias vezes, voltam a repetir esse jogo terrível? E eles respondiam enquanto suspiravam: - Não! Estamos acostumados a saltar. Eu lhes dizia: - E que necessidades têm vocês de saltarem? - E eles replicavam: - Que queres? Não estamos acostumados. Não pensávamos que ia acontecer isso conosco. Porém, entre todos um me chamou atenção e me fez tremer: era o que havia me assinalado. Saltou de novo e caiu dentro do poço. Depois de alguns instantes, o monstro o colocou para fora, negro como um carvão; porém, mesmo assim não estava morto e seguia falando. Os que estavam ali lhe contemplavam espantados e lhe perguntavam. Observações: Dom Bosco contou este sonho na noite de 13 de novembro, sabendo o que tinha acontecido na noite anterior... estou preocupado porque alguém não há feito bem o retiro; desde ontem, não penso em outra coisa... 17. AS MISSÕES SALESIANAS NA AMÉRICA MERIDIONAL (1885) (MB 17, 299-305 = MBe 17,260-265) "Me pareceu acompanhar aos missionários em sua viagem. Falamos durante alguns momentos antes de sair do Oratório. Todos estavam ao meu redor e me pediam conselhos; e me pareceu que eles diziam: - Não com a ciência, não com a saúde, não com as riquezas. Sim com o céu e a piedade, fareis muito bem, promovendo a glória de Deus e a salvação das almas. Pouco antes estávamos no Oratório e depois, sem saber que caminho havíamos imediatamente na América. Ao chegar ao final da viagem, me vi só em meio de uma extensíssima planície, colocada entre o Chile e a república Argentina. Meus queridos missionários se haviam dispersados tanto por aquele espaço sem limites que apenas se os distinguia. Ao contemplá-los, fiquei maravilhado, pois me pareciam muito poucos. Depois de haver mandado tantos Salesianos para América, pensava que veria um maior número de missionários. Entretanto, seguidamente refletindo, compreendi que o número era pequeno porque se haviam distribuído por muitos lugares, como semente que devia ser transportada a outro lugar para ser cultivada e para que se multiplicasse. Apareciam naquela planície muitas e numerosas estradas / ruas formadas por casas levantadas ao largo das mesmas. Aquelas povoações não eram como as desta terra, nem as casas como as deste mundo. eram objetos misteriosos e diria casas espirituais. As ruas se viam recorridas por veículos ou ir meios de locomoção que, ao correr adotavam mil aspectos fantásticos e mil formas diversas se bem que todas estupendas e magníficas, tanto que não seria capaz de descrever nem uma só delas. Observei com assombro que nos veículos, ao chegar junto aos grupos de casas, aos povos, as cidades, passavam por cima de maneira que, os que neles viajavam, via o olhar para baixo dos telhados das casas, as quais se bem que eram muito elevadas, estavam por debaixo daqueles caminhos, que, entretanto, atravessavam o deserto estavam aderidos ao solo e ao chegar aos lugares habitados, se convertiam em caminhos aéreos, como formando uma mágica ponte. Daí para cima , se viam os habitantes nas casas, nos pátios, nas ruas e nos campos, ocupados em lavrar suas terras. Cada uma daquelas ruas conduzia a uma de nossas missões. Ao fundo de um caminho larguíssimo que se dirigia em direção ao Chile, vi uma casa com muitos Salesianos, os quais se exercitavam na ciência, na piedade, nas diferentes artes e ofícios e na agricultura. Em direção ao meio sai estava na Patagônia. Na parte oposta de uma só olhada, pude ver todas nossas casas da República Argentina. As do Uruguai, Paissandu, as Pedras, Vila Cólon, no Brasil pude ver o colégio de Niterói e muitos outros institutos espalhados pelas províncias daquele império. Em direção ao ocidente se abria uma última e larguíssima avenida que, atravessando rios, mares e lagos, conduzia a países desconhecidos. Nesta região, vi poucos Salesianos. Observei com atenção e pude descobrir somente dois. Naquele momento, apareceu junto a mim um personagem de aspecto nobre, um pouco pálido, corpulento, de barba rala e de idade madura. Ia vestido de branco, com uma espécie de capa de cor rosa bordada com fios de ouro. Resplandecia em toda a sua pessoa. Reconheci nele o meu intérprete. - Onde nos encontramos? Lhe perguntei mostrando aquele último país. - Estamos na Mesopotâmia, replicou. - Na Mesopotâmia? Lhe repliquei. Sim, mas esta é a Patagônia. - Te repito - me replicou - que esta é a Mesopotâmia. - Pois assim é: Me-so-po-tâ-mia, concluiu o intérprete, silabando a palavra, para que me ficasse bem impressa na memória. - E por que os salesianos que vejo aqui são tão poucos? - O que não há agora, o haverá com o tempo - contestou meu intérprete. Eu entretanto, sempre de pé naquela planície, percorria com a vista aqueles caminhos intermináveis e contemplava com toda claridade, entretanto, de maneira inexplicável, os lugares que estão e estarão ocupados pelos salesianos. Quantas coisas magníficas vi! Vi todos e cada um dos colégios! Vi como em um só ponto o passado, presente e o futuro de nossas missões. Da mesma maneira que o contemplei todo no conjunto de uma só olhada, o vi também, sendo-me impossível dar uma idéia, se bem que quase em cima daquele espetáculo. Somente o que pude contemplar naquela planície do Chile, do Paraguai, do Brasil, da República Argentina, seria suficiente para encher um grosso volume, se quisesse dar uma breve notícia de todo ele. Vi também naquela ampla extensão a grande quantidade de selvagens que estão espalhados pelo Pacífico até o Golfo de Ancud, pelo Estreito de Magalhães, Cabo de Hormos, Ilhas de São Diego, nas Ilhas Malvinas. Toda a messe destinada aos Salesianos. Vi então, que os Salesianos semeavam somente, entretanto, que nossos seguidores colhiam. Homens e mulheres vinham reforçar-nos e se convertiam em pregadores. Seus mesmos filhos, que parece impossível poder ser ganhado para a fé, se converteram em evangelizadores se seus pais e de seus amigos. Os Salesianos o conseguiram tudo com a humildade, com o trabalho, com a temperança. Todas as coisas que eu contemplava naquele momento e que vi seguidamente se referiam aos Salesianos, seu regular estabelecimento naqueles países, seu maravilhoso aumento, a conversão de tantos indígenas e de tantos europeus ali estabelecidos. Europa se voltará em direção a América do Sul. Desde o momento em que na Europa se empenhou a desposar as Igrejas de seus bens, começou a diminuir o florescimento do comércio, e qual foi e irá cada vez mais de ( capa caída). Para que os operários e suas famílias impelidos pela miséria, irão buscar refúgio naquelas novas terras hospitaleiras. Uma vez contemplando o campo que o Senhor nos tinha destinado e o futuro glorioso da Congregação Salesiana, me pareceu que me poria em viagem para regressar a Itália. Era levado a grande velocidade por um caminho estranho, altíssimo, e dessa maneira cheguei ao Oratório. Toda a cidade de Turim estava abaixo de meus pés e as casas, o palácios, as torres, me pareciam baixas casinhas: tão alto me encontrava. Praças, ruas, jardins, avenidas, ferrovias, os muros, que rodeiam a cidade, os povos e a província, a gigantesca cadeia dos Alpes coberta de neve estavam abaixo de meus pés e ofereciam a meus olhos um espetáculo maravilhoso. Via os jovens lá no Oratório, tão pequeno que pareciam ratinhos. Em geral, parecia que a cúpula daquela grande sala fosse de candíssimo linho à guisa de tapete. O mesmo havia que descer do pavimento. Não havia luzes nem sol, nem estrelas, porém, sim um resplendor geral que se difundia igualmente por todas as partes. A mesma brancura do linho resplandecia e fazia visível e amena cada uma das partes do salão, sua ornamentação, as janelas, a entrada, a sala. Se sentia em todo o ambiente uma suave fragrância mesclada com os mais gratos aromas. Um fenômeno se produz naquele memento. Uma série de pequenas mesas formavam uma só de longitude extraordinária. Haviam dispostas em todas as direções e todas convergiam em um único centro. Estavam cobertos de elegantíssimas toalhas e, sobre elas, se viam colocados formosíssimos vasos com multiformes e variadas flores. A primeira coisa que notou monsenhor Cagliero foi: Mas, as mesas estão aqui. E as comidas? No entanto , não havia preparado comida alguma, nem bebida de nenhuma espécie, nem tão pouco pratos, copos, nem recipientes nos quais podiam colocar a comida. Então, o intérprete replicou: - Os q vem aqui neque sitient, meque esurien amplius. Dito isto, começou a entrar pessoas, vestidas de branco, com uma simples fita parecido com o colar, de cor rosa, recomendada com o brilho de ouro que o enfaixava o pescoço e as costas. Os primeiros a entrar formavam um número limitado, só um pequeno grupo. Apenas entravam naquela grande sala e se iam sentando em torno à mesa preparados para eles, cantando. Viva! Triunfo! E então começou a aparecer uma variedade de pessoas, grandes e pequenas, homens e mulheres, de todo gênero, de diversas cores, formas e atitudes, ressonando os cânticos de toda parte. Os que estavam já colocados em seus lugares cantavam: Viva! E os que iam entrando: Triunfo. Cada turma que entrava naquele local representava uma nação. O lugar de nação que seriam convertidos pelos missionários. Depois de uma olhada àquelas mesas intermináveis, comprovei que haviam sentados junto a elas muitas nossas irmãs e grande número de irmãos nossos. Estes não levaram distintivo algum que predominasse sua caridade de sacerdotes, clérigos ou religiosos senão que, igual aos demais tinham o hábito branco e o manto cor-de-rosa. Mas minha admiração cresceu quando vi alguns homens de aspecto grosso, com o mesmo vestido igual aos outros, cantando: Viva! Triunfo ! Então nosso intérprete disse: - Os estrangeiros e os selvagens, que beberam o leite da palavra divina de seus educadores, se fizeram proclamadores da palavra de Deus. Vi no meio da multidão, grupos de rapazes com aspecto estranho, e perguntei: E estes meninos que tem uma pele tão áspera que parece à de sapos, mas tão bela e de uma cor tão resplandecente? Quem são? São os filhos de Cam que não haviam renunciado à herança de Levi. Estes reforçaram os exércitos para defender o reino de Deus que havia chegado a nós. Seu número era reduzido, mas os filhos de seus filhos o havia complementado. Agora escuta e vê, mas não podereis entender os mistérios que contemplareis. Aqueles jovenzinhos pertenciam à Patagônia e a África Meridional. Entretanto, aumentaram tanto as filas dos que entravam naquela sala extraordinária que todos os assentos apareciam ocupados. Todas as cadeiras e bancos estavam ocupados e não tinha uma forma determinada, sem tomar o lugar que cada um queria. Cada pessoa estava contente do lugar que ocupava e os demais também. E eis que, enquanto saiam vozes de todas as partes: Viva! Triunfo! Chegou, finalmente, uma grande multidão que, vinham com ato festivo ao encontro dos que já haviam entrado. E os que vinham chegando cantavam: Aleluia, Glória, Triunfo. Quando a sala apareceu completamente cheia e os milhares de reunidos eram incontáveis, se fez um profundo silêncio e um seguida, aquela multidão começou a cantar dividida em coros diversos: O primeiro coro: Appropinquiavit in nos reginom Dei, llaetentur coeli et exultet terra dominus. O segundo coro: ? O terceiro coro: ? Enquanto cantavam estes e outros cantos alternando uns com os outros, se fez por Segunda vez um profundo silêncio. Depois começaram a ressoar vozes que procediam do alto de longa distância. O sentido do canto era este e a harmonia que o acompanhava era difícil de expressar: Soli deo honor et gloria in saecula saeculorum. O pensamento principal que foi gravado depois deste sonho, foi meu repasse Dom Cagliero e a meus queridos missionários que era um aviso de muita importância, relacionado com a sorte futura de nossas missões. - Todas as solicitudes dos Salesianos e das FMA haveriam de encaminhar e promover vocações sacerdotais e religiosas. 18. SOBRE A ELEIÇÃO DE ESTADO (1834) (MB 1, 302 = MBe 1,251 - 252) Poucos dias antes do marcado para a minha entrada, tive um sonho bastante estranho. Me pareceu ver uma multidão daqueles religiosos com os hábitos amarrotados, correndo um sentido contrário uns dos outros. Um deles veio a dizer-me: - Tu buscas a paz e aqui não vai encontrá-la. Observa a atitude dos teus irmãos. Deus te prepara outro lugar, outra messe. Queria fazer alguma pergunta aquele religioso, entretanto, um rumor me despertou e já não vi nada mais. Expus tudo ao meu confessor, o qual não quis ouvir nem de sonhos nem de frades: Neste assunto, respondeu-me, é preciso que cada um siga suas inclinações, e não os conselhos dos outros. Circunstâncias. O estudante Bosco tem dezenove anos e está a ponto de terminar seus estudos civis. Pensa em seu futuro e decide fazer-se Franciscano. Em 30 de outubro de 1834 faz o pedido para entrar nos conventuais franciscanos. Realizou seu exame em Turim, no convento de Santa Maria dos Anjos, e foi acertado em 18 de abril. Os atos dizem: "Possui os requisitos e todos os votos". Assim, pois, ficou todo preparado para entrar no convento da Paz em Chieri. Nesses dias têm lugar o sonho. Convém recordar que Bosco apesar do sonho faz uma novena com seu amigo Comollo para a virgem das Graças na catedral de Chieri e confiou seu problema a um sacerdote, tio do mesmo Comollo, não tomando a determinação de entrar no Seminário Diocesano de Chieri até depois de receber por carta o conselho deste sacerdote. Interpretação "Tampouco aqui o sonho se pode interpretar de maneira diversa aos outros: Dom Bosco queria representar o desejo, ou seja, seu conceito de abraçar o estado eclesiástico livre, humilde forma de uma inspiração transcendental para dar maior peso a sua eleição". (Albertotti, 93, nota 6). 19. AS DISTRAÇÕES NA IGREJA (1861) (MB 6, 1060-1061 = MBe 6, 799-800) Os sonhos se têm dormindo; portanto, eu estava dormindo. Minha imaginação levou-me a Igreja onde estavam reunidos todos os jovens. Começou a missa e eus que vi muitos vestidos de vermelho e com chifres, isto é, há numerosos diabinhos que davam voltas entre os jovens como oferecendo seus serviços. A um deles presenteavam um peão; diante dos outros faziam bailar, a este ofereciam um livro; aquele, castanhas assadas. A outros, um prato de salada ou um baú aberto em que havia guardado um pedaço de mortadela; a alguns ele sugeria uma recordação da cidade natal; a outros sussurrava ao ouvido os incidentes da última partida de jogo, etc. Alguns eram convidados com os dedos a tocar o piano, os quais atendiam o convite; a outros eles levavam o compasso de uma música; em suma, cada jovem tem seu próprio servente que inventava-lhe a realizar atos estranhos na Igreja. Alguns diabinhos estavam também encarrapitados sobre as costas de certos jovens e se entreteciam em acariciar-lhes e alisar os cabelos com as mãos. Chegou o momento da consagração. Ao toque da campainha, todos os jovens se arrodearam, desaparecendo os diabinhos, a exceção dos que estavam sobre os ombros de suas vítimas. Uns e outros voltaram a cara para a porta da igreja sem fazer algum externo de adoração. Terminada a Elevação, e aqui se volta a repetir a cena anterior, repetindo os passatempos e voltando a desempenhar cada qual o seu papel. Se queres que eu dê uma explicação deste sonho, está aqui: creio que neles estão representados as diversas distrações e as que, por sugestão do demônio, está exposto cada jovem na Igreja. Os que não desapareceram no momento da Elevação, simbolizam os jovens vítimas do pecado. Estes não necessitam que o demônio lhes apresentasse motivos de distração, porque já lhe pertencem, por isso, o inimigo lhes acaricia: o que quer dizer que suas vítimas são incapazes de fazer oração. Observação: Contado em 28 de novembro. O texto é de Dom Ruffino, que disse que lhes contou um sonho ou apólogo. O mesmo Ruffino parece indicar que cabia interpretá-lo como uma invenção educativa de Dom Bosco, dobre tudo tratando-se do princípio do curso e de que havia crianças novas, aos que lhes serviam difícil concentrar-se na igreja. Esta impressão aumenta, comparando-o com "A lanterna mágica", de 1865, e "Os Cabritos", de 1866. 20. OS JOGADORES (1862) (MB 7, 50-51 = MBe 7, 55) Pois bem, o 31 de janeiro - é a crônica de Bonetti quem fala - Dom Bosco passeava depois de comer no pórtico inferior (baixo), em companhia de uns jovens, quando de repente se deteve, chamou ao diácono João Cagliero e lhe disse em voz baixa: - Ouço dinheiro que .............. , porém não seu onde se joga. Anda, busca estes três. No ponto perguntei-o: - De onde vens, onde te havias metido? Faz tempo que te buscava sem encontrar-te. - Estava em tal e tal lugar divertindo. - Que fazias ali? - Jogava bola. - Com quem? - Com N. e com R. - Jogava dinheiro, verdade? O Jovem falou entre os dentes umas palavras, porém não negou com efeito que jogavam a dinheiro. Então dirigi-me ao lugar indicado, que estava bastante escondido, porém não encontrei os outros dois. Continuei buscando e cheguei a saber com certeza que os ............, dez minutos antes, haviam estado jogando-se acaloradamente uma voa quantidade de dinheiro. Então comuniquei o resultado a Dom Bosco. Dom Bosco contou no dia seguinte que, na noite precedente, havia visto durante um sonho aqueles três, jogando-se apaixonadamente a dinheiro. Observações: Estava ordenado que o dinheiro enviado pelos familiares se entregava ao administrador e este o distribuía prudentemente, segundo as necessidades e desejos do interessado. 21. O SACRILÉGIO (1862) (MB 7, 193-194 = MBe 7, 173-174) "Uma noite sonhei e vi em um sonho um jovem que tinha o coração roído pelos vermes e que ele mesmo se quitava e lançava de si aqueles animais com a mão. Não fiz caso do sonho. Mas eis aqui que, na noite seguinte, veio o mesmo jovem, que tinha junto de si um cão que o mordia no coração. Não duvidei que o Senhor queria conceder alguma graça aquele garoto e que o pobrezinho tinha alguma confusão na consciência. Perto do dia lhe disse de improviso: - Queres fazer-me um favor? - Sim, sim... Se depender de mim. - Se queres, podes fazê-lo. - Pois bem, diga-me o que deseja, que o farei. - Estás seguro? - Seguro! - Diga-me: não tem calado nenhum pecado na confissão? Quis negar-me, porém imediatamente acrescentei: - E este ou este outro, por que não os confessaste? Então olhou-me no rosto, começou a chorar e me disse: - O Senhor tem razão: faz dois anos que quero confessar disso e, desejando de uma vez para outra, não me atrevi a fazê-lo. Então o animei e lhe disse o que tinha que fazer para se por em paz com Deus". A fita mágica Pareceu-me estar numa planície coberta por um número incontável de jovens. Uns brigavam, outros blasfemavam. Aqui se roubava,, ali se ofendiam os bons costumes. Uma nuvem de pedras, lançadas por bandos que se faziam a guerra, via-se no ar. Eram rapazes abandonados por seus pais de costumes corrompidos. Estava já a ponto de fugir daí, quando vi ao meu lado uma senhora que me disse: - Põe te entre esses jovens e trabalha. Fui , mas p que fazer? Não havia um local onde reuni-los; queria fazer-lhes o bem: e dirigia-me pessoas que estavam a olhar de longe e podiam ser de valiosa ajuda para mim. Ninguém me ajudava. Voltei-me para a Senhora e ela me disse: - Aqui tens um lugar: E me mostrou um prado . - Mas aqui, disse eu, não há mais, senão somente o prado. Ela respondeu: Meu filho e os apóstolos não tinham um palmo de terra onde pousar a cabeça. Comecei a trabalhar naquele prado; aconselhava, pregava, confessava; mas vi que (meu esforço) em grande parte resultava inútil; meu esforço se não encontrasse um edifício e com local onde recolhê-los e onde abrigar os que haviam sido totalmente abandonados pelos seus pais e rejeitados e desprezados por todo o mundo. Então aquela Senhora me levou um pouco mais para o norte e me disse: E vi uma Igreja pequena e baixa, um pátio pequeno e muitos jovens. Retornei meu trabalho. Mas, com a Igreja era muito pequena, recorri de novo a Ela, e me mostrou outra Igreja bastante maior e com uma casa ao lado. Levando-me depois a um pedaço de terreno cultivado, quase um frente à fachada da Segunda igreja. E acrescentou. Neste lugar, onde os gloriosos mártires de Turim, Aventor, Solutor e Otávio, sofreram seu martírio, sobre essa terra banhada e santificada com seu sangue, quero que Deus seja honrado de modo muito especial. E assim, desejando, adiantou um pé até descansá-lo no ponto exato onde teve lugar o martírio, e indicou-me com precisão. Eu queria por um sinal para encontrá-lo quando voltasse nesse lugar, mas não encontrei nada; nem um palito, nem uma pedra; contudo, fixei-o na memória com toda exatidão. Corresponde exatamente no ângulo interior da Capela dos Santos Mártires, antes chamada de Santa Ana, do lado do Evangelho, da Igreja de Maria Auxiliadora. Entretanto, via-me rodeado de um número imenso sempre crescente de jovens; e olhando à Senhora, cresciam os meios e o local; e vi, depois, uma grandíssima Igreja, precisamente no lugar onde me disseram haver acontecido o martírio dos santos da região Tebéia, com muitos prédios ao redor e com o lindo monumento no meio-centro. Enquanto tudo isso acontecia, sempre sonhado, tinha como colaboradores Sacerdotes que me ajudavam no princípio, mas depois fugiam. Buscava com grande trabalho atraí-los para mim, e eles pouco depois iam embora me deixavam só. Então voltei-me de novo àquela Senhora, que me disse: - Queres saber como fazer para que não vão embora? Toma esta fita e atalhes na cabeça. Tomei com reverência a fita branca de sua mão e vi que nela estava escrito uma palavra: Obediência. Experimentei em seguida o que a Senhora me indicou e comecei a atar na cabeça de alguns dos meus colaboradores voluntários com a fita, e vi logo uma grande mudança, de fato surpreendente. Este fato se fazia cada vez mais patente, à medida que ia cumprindo o conselho que me havia dado, já que aqueles que deram o desejo de ir para outra parte e ficavam, por fim, comigo. Assim, constituiu-se a Sociedade Salesiana. Vi, adiante, muitas outras coisas que não é agora o caso de manifestar. Basta dizer que, desde aquele tempo, eu caminhava sempre seguro. 22. O PURGATÓRIO (1867) (MB 8, 853-858 = MBe 8, 726-731) Ontem a noite, meus queridos filhos, me havia deitado e não podendo dormir, pensava na natureza e no modo de existir da alma; como estava feita; como se podia encontrar e falar em outra vida separado do corpo; como se transladaria de um lugar para outro; como nós podemos conhecer então uns aos outros sendo assim que, depois da morte, seremos somente espírito puros. E quanto mais refletia sobre isto, tanto mais misterioso me parecia ficar. Enquanto andava devagar sobre essas e outras fantasias, dormi e me pareceu estar em um caminho que conduz a uma certa cidade ......... e que a ela me dirigia. Caminhei durante um certo tempo; passei por povoados, por meus desconhecidos, quando de repente ouvi que me chamavam, por meu nome. Era a voz de uma pessoa que estava parado no caminho. - Vem comigo - me disse - agora poderás ver o que desejas. Obedeci imediatamente. Aquela pessoa se locomovia com a rapidez do pensamento e eu também. Caminhávamos sem tocar com os pés no chão. Ao chegar em uma região que não saberia determinar meu guia parou. Sobre um lugar iminente se elevava um magnífico palácio de admirável estatura. Não saberia dizer onde estava, nem a que altura; não recordo se sobre uma montanha ou no ar, sobre as nuvens, era inacessível e não se via o caminho algum para subir. Suas portas estavam a uma altura considerável. - Olha! Sobe a esse palácio! - me dizia o guia. - Como posso? Exclamei - Como ir? Aqui embaixo não há entradas e eu não tenho asas. - Entrar! - me disse um outro em tom imperativo. E, vendo que eu não me movia, me orientou: - Faz como eu; levante os braços com boa vontade e subirás. Vem comigo. E, dizendo isto, levantou vem alto as mãos ao céu. Eu abri então os braços e em um instante me senti elevado aos ares por aquela ligeira nuvem. E eis-me aqui na entrada do grande palácio. O guia me havia acompanhado. - O que há dentro? Lhe perguntei. - Entra; visite-o e verás. Em uma sala, ao fundo encontrarás quem te .......... O guia desapareceu e eu havendo-me só e guia de mim mesmo, entre no pórtico, subi as escadas e me encontrei em um departamento verdadeiramente régio. Recorri salas espaçosas, um lugar riquíssimo decorada e grandes corredores. Eu caminhava a uma velocidade fora do normal. Cada sala brilhava ao conjunto dos surpreendentes tesouros neles acumulados e com grande rapidez recorri tantos lugares que não me era possível conta-los. Porém, o mais admirável foi o seguinte. Apesar de que corria à velocidade do neutro, não movia os pés, senão que permanecendo suspenso no ar, e com as pernas juntas, deslizava sem cansaço sobre o pavimento sem tocá-lo como se tratasse de uma superfície de cristal. Assim, passando de uma sala para outra, vi finalmente, ao fundo de uma galeria, uma porta. Entrei e me encontrei em um grande salão; magnífico, sobre toda ponderação. Ao fundo do mesmo, dobre uma cadeira, vi majestosamente sentado um bispo, como quem esperava para dar uma audiência. Aproximei-me com respeito e fiquei maravilhado ao reconhecer naquele prelado um amigo íntimo, era Monsenhor (..............) bispo de (.............) morto a dois anos. Parecia não sofrer nada. Seu aspecto era sereno, afetuoso e de uma beleza que anão se pode expressar. - Oh, monsenhor! Vós aqui? - lhe disse com alegria. - Não me vens? Replicou o bispo. - Como? Não pode! Estás vivo? Não havia morrido? - Sim! Morri! - Pois se morrestes, como estás aqui sentado tão alegre e com uma boa aparência? Se estás vivo diz-me por favor, ou do contrário nos veremos em um grande emaranhado. Em A... havia já o bispo monsenhor ......... como trataremos deste assunto? - Fique tranqüilo, não se preocupe, que eu estou morto... - Mesmo assim, pois já tem outro em vosso lugar. - Eu sei.... E vós Dom Bosco, estás vivo ou morto? - Eu estou vivo. Não me vês em corpo e alma? - Aqui não se pode ver com o corpo. - Pois eu estou. - Isso é o que lhe parece. Mas não é bem assim. E ao chegar a este ponto da conversa comecei a falar muito depressa, fazendo uma pergunta atrás da outra, sem obter resposta alguma. Como é possível - dizia - que estando eu vivo posso estar aqui com vós que estás morto? E tinha medo que o prelado desaparecesse; por isso comecei a dizer-lhe em tom suplicante: - Monsenhor, por caridade não vá. Necessito saber tantas coisas! O bispo ao ver-me tão preocupado: - Não vos inquieteis desse modo, disse; fiquei tranqüilo, não duvides; não irei. Fale. - Diga-me, monsenhor, vós haveis se salvado? - Olhe - contestou - observe bem, como estou cheio de vida, como me encontro resplandecente. Seu aspecto verdadeiramente me dava certa esperança de que havia se salvado. Porém não contentando-me com isso, acrescentei: - Diga-me, haveis salvado ou não? - Sim, estou em um lugar de salvação. - Mas estás no Paraíso ou no Purgatório? - Olha aqui! - E me mostrou um papel acrescentando: - Leia. - Tomei o papel na mão, o examinei atentamente, porém, não vendo nele nada escrito, lhe disse: - Eu não vejo nada. - Olhe-o, o que está escrito; leia. - Eu já olhei e estou olhando, mas não posso ler, porque não há nada escrito. - Olha melhor. - Vejo um papel com desenhos, em formas de flores celestes, verdes, violetas, porém, não vejo nenhuma letra. - São cifras! - Eu não vejo nem cifras nem números. Olhou o prelado o papel que eu tinha na mão e disse depois: - Eu sei porque não compreenderás; coloca o papel ao contrário. Examinei a folha com maior atenção, revirei por todos os lados, porém de nenhum lado pude ler. Somente me pareceu que entre as voltas e revoltas daquele desenho florido havia o número dois (2). O bispo continuou: - Sabe por que é necessário ler ao contrário, do outro lado? - Porque o juízo de Deus é deferente do juízo do mundo. o que os homens tomaram por sabedoria é necessidade para Deus. Não me atrevi lhe pedir uma explicação mais clara e disse: - Monsenhor, não se vá; quero perguntar mais coisas. - Pergunte-me que eu respondo. - Me salvarei? - Não me façais sofrer diga-me se me salvarei. - Não sei. - Ao menos diga-me se estou na graça de Deus. - Não sei. - E meus rapazes, se salvarão? - Por favor, vos suplico que me digas. - Haveis estudado Teologia e portanto podeis saber e dar a resposta vós mesmo. - Como? Estás em lugar de salvação e não sabes essas coisas? - Olhe bem, o Senhor faz saber a quem ele quer e quando quer, que se dê a conhecer estas coisas, concede a permissão e dá a ordem. De outra maneira nada pode comunicar aos que ainda vivem. Eu me sentia impulsionado por um desejo de perguntar mais e mais coisas diante do medo que o Monsenhor fosse embora. - Agora diga-me algo de vossa parte para eu falar aos meus rapazes. - Vós sabeis tão bem quanto eu o que deves fazer. Tens a Igreja, o Evangelho, as demais escrituras que contêm tudo. Preocupem com o bem da alma, pois nada mais os interessa. - Porém isso já sabemos, que devemos salvar a alma. O que precisamos é conhecer os meios para consegui-lo. Dê-me um conselho que nos faça recordar essa necessidade. Eu repetirei aos meus rapazes em nosso nome. - Dizei-lhes que sejam bons e obedientes. - E quem não sabe essas coisas? - Dizei-lhes que sejam modestos e que e que rezem. - Porém diga-me algo mais prático. - Dizei-lhes que se confessem freqüentemente e que faças boa Comunhão. - Algo mais concreto ainda. - Eu os direi por que quereis. Diga-lhes que têm diante de si uma nuvem, simplesmente distingui-la já é uma boa coisa. Que se enfrente esse obstáculo que está diante dos olhos, como se lêem os salmos: nuvem dissipa. - E o que é essa nuvem? - Todas as coisas do mundo, as quais impedem ver a realidade das coisas celestiais. - E o que devem fazer para que desapareça essa nuvem? - Considerar o mundo tal qual é: Mundus totus in maligno postus est ( no mundo inteiro se encontra o maligno. E então salvarão suas almas; que não se deixem enganar pelos fatos mundanos. Os jovens crêem que os prazeres, as alegrias, as amizades do mundo podem fazê-los felizes e, por isso não esperam mais que o momento de poder gozar delas; porém, que eles recordem que tudo é vaidade e aflição do espírito. Que se acostumem ver os coisas do mundo, não segundo sua aparência, senão como são na realidade. - E de onde provem principalmente essas nuvens? - Assim como a virtude que mais brilha no Paraíso é a pureza, também a obscuridade e a nuvem são produzidas principalmente pelo pecado, imodéstia e pela impureza. (...). Dizei-lhes pois, que conservem fervorosamente a virtude da pureza, pois os que a possuem, floresbunt secut lilium in civitate Dei (florescerão como o lírio na cidade de Deus). - O que se precisa para conservar a pureza? Dize-me que eu comunicarei aos meus jovens de vossa parte. - É necessário: o retiro, a obediência, a fuga do ócio e a oração. - E depois? - Oração, fuga do ócio, obediência e retiro. - E nada mais? - Obediência, retiro, oração e fuga do ócio. Recomendo estes meios que são suficientes. Eu desejava lhe perguntar muitas outras coisas, mas não me recordava de nada. De forma que, apenas o prelado tinha terminado de falar, nasceu em mim o desejo de repetir aqueles mesmos conselhos, abandonei rapidamente a sala e corri ao Oratório. Me deslocava com a rapidez do vento e, em um instante me encontrei as portas de nossa casa. Parei um instante e comecei a pensar. - Por que não tive mais tempo com o bispo de ....? Havia me proporcionado mais esclarecimentos! Fiz mau deixando-me perder tão boa ocasião. Poderia Ter aprendido tantas cisas boas! E imediatamente voltei com a mesma rapidez que havia no mundo, com medo de não encontrar mais o Monsenhor. Penetrei novamente naquele palácio e no mesmo salão. Todavia que mudança havia acontecido em tão pouco tempo! O bispo palidíssimo como a cera, estava estendido sobre o leito; parecia um cadáver, nos lhos as últimas lágrimas, estava agonizando. Somente um ligeiro movimento do peito, agitado pelas últimos suspiros, se compreendia que ainda tinha vida. Eu me aproximei dele rapidamente: - Monsenhor, o que aconteceu? - Deixai-me - disse-me dando o último suspiro. - Monsenhor, teria muitas coisas ainda a perguntar-lhe. - Deixai-me só sofro muito. - Em que posso ajudá-lo. - Rezai e deixai-me ir. - Aonde? - Aonde a mão Onipotente de Deus me conduzir. - Mas eu lhe suplico, dizei-me aonde. - Sofro muito; deixai-me. - Diga-me ao menos, que posso fazer em vosso favor - repetia eu. - Rezai. - Uma palavra nada mais: tens alguma coisa para fazer ao mundo? Não tens nada para dizer ao vosso sucessor? - Ide ao atual bispo de .............. e diga de minha parte isto e isto. As coisas que me disse não interessam a vocês meus queridos jovens, portanto as omitiremos. O prossegui dizendo: - Dizei também a tal e tal pessoa, estas e estas coisas em segredo. Dom Bosco não falou estas coisas: porém tanto estes como os primeiros parece que se referiam a avisos s soluções para certas necessidades daquela diocese. - Nada mais? Continuei. - Dizei aos vossos rapazes que sempre os quis muito enquanto vivi, sempre rezei por eles e que também afora me recordo deles. Que roguem agora por mim. - Tenha segurança do que lhes falei e que começaremos imediatamente a aplicar o sufrágio dos mortos. - Deixai-me - voltou a dizer - deixai-me que eu me vá aonde o Senhor me chama. - Monsenhor!... Monsenhor!... repetia eu cheio de compaixão. - Deixai-me!... Deixai-me!... Parecia que ia esperar enquanto uma força invisível o levantou dali à abstração mais interior enquanto desaparecia do minha vista. Diante de uma cena tão dolorosa estava assustado e muito comovido, virei para retirarme, porém havendo tropeçado com os joelhos em algum objeto, me despertei e me encontrei em meu quarto na minha cama. Como vedes, queridos jovens, este, é um sonho como os demais, e relacionado com vós, não necessita explicação, para que entendam. Dom Bosco terminou dizendo: "Neste sonho aprendi muitas coisas relacionadas com a alma e com o purgatório, que antes não tinha chegado a entender e que agora as vi com tanta clareza que não duvidarei jamais". Observação: Teria tido este sonho, dia 24 de junho, contado em 25 de junho de 1887. Lemoyne lembrava que ao recopiar o sonho lhe havia passado ema circunstância que ele se recordou: Dom Bosco perguntou ao prelado tempo lhe restava de vida; o bispo lhe acrescentou um papel com alguns traços escritos entrelaçados, segundo parecia, com oito, porém não teve nem uma explicação do mistério... indicava o ano de 1888? 23. VOCAÇÕES TARDIAS (1875) (MB 11, 32-33 = MBe 11, 35-36) "Num Sábado à tarde me encontrava confessando na sacristia quando me distrai pensando na escassez de sacerdotes e de vocações e na maneira de poder aumentar seu número. Veio diante de mim muitos meninos que vinham a confessar-se, bons e inocentes rapazes e me dizia: - Quem sabe quantos deles alcançarão a meta e o tempo que tardará e alcançarão os que perseverem e entretanto a necessidade da Igreja de apressar. Estava meio distraído com este pensamento e enquanto continuava confessando, de repente me pareceu que estava em meu escritório sentado à minha mesa de trabalho e que temia ante mim o registro de todos os que estavam em casa. E me descia para adentrar. - Como se explica isto? Estou confessando na Sacristia e estou ao mesmo tempo, em meu escritório diante da mesa ...? Estou sonhando? Não, este é precisamente o registro dos alunos e esta é a minha mesa de trabalho. Ouvi, entretanto, uma voz dentro de mim que dizia: - Queres saber como aumentar rapidamente o número de bons sacerdotes? Observa o registro e por eles entenderás o que deves fazer. Observe! E logo disse: - Estes são os registros dos alunos deste ano e dos anos passados, e não vi outra coisa. Estava muito preocupado: lia nomes, pensava, olhava para cima e para baixo para ver se encontrava algo, porém, nada. Então disse para mim: - Estou sonhando ou estou acordado? Efetivamente estou sentado à minha mesa e a voz que eu escuto é verdadeira. E de repente quis levantar-me para ver quem era, que me havia falado e feito me levantar. Os rapazes que estavam ao meu redor para confessar-se, ao ver que me levantava tão de pressa e assustado creram que me havia posto doente e me socorreram assustados. - Uma vez terminadas as confissões e de volta ao meu lugar, olhei e verdadeiramente vi sobre a mesa o registro com os nomes de todos os que há em casa, porém não vi nada. Examinei o registro porém não entendi como podia encontrar com ele a maneira de ter sacerdotes, muitos sacerdotes. Olhei outros registros o do Carlos Ghivarello: mas foi inútil. Sempre pensando nisto, assegurei que me passaram os registros antigos. Para obedecer o mandato daquela voz misteriosa e observar que dos muito jovens que começam seu estudo neste colégio para seguir depois a carreira eclesiástica, apenas se perseveravam uns quinze por cento e destes alguns perduram, outros não, se bem que desta porcentagem um chegava a receber o hábito eclesiástico. Afastavam do Santuário por assuntos familiares, pelo exame em colégios, por haver combinado de livre vontade. O que sonho acontecia com o curso de Retórica e, pelo contrário, os que vinham já maiores, quase todos , para saber, oito de cada dez veste a Batina e chega a isto com menos tempo e menos trabalho. Me disse então: - Disto estou mais seguro que podem chegar em menos tempo; isto era o que buscava. Tendo que ocupar-me especialmente deles, abrir colégios expressamente para esse uso e buscar o modo de atende-los de uma maneira especial. Pelo resultado verá depois, se o que sucedeu foi um sonho ou uma realidade". Tendo-o ao começo de 1875; contado aos membros de Conselho Geral. Algum deles tomou nota, e esta relação é transcrição ao pé da letra. Neste momento Dom Bosco ruminava o projeto de fundar um seminário para vocações de adultos; e o realizaria. 24. O NICHO EM SÃO PEDRO (MB 17, 11 = MBe 17, 20) Uma vez, não sabemos em que ano, Dom Bosco sonhou que se encontrava na Basílica de São Pedro em Roma, dentro do grande nicho situado debaixo da grande ornato a direita da nave central sobre a estátua de bronze do Príncipe dos Apóstolos e do medalhão no mosaico de Pio IX; não sabia como havia ido parar ali acima e tão pouco como sair do apuro. Olhou ao seu redor para ver se havia maneira de baixar, mas não viu nada. Chamou, gritou; porém nada contestou. Por fim, tomado pela angústia, se despertou. Observações: Ainda que não se sabe e ano deste sonho, parece que é da década dos oitenta. É um dos sonhos mais desconcertantes: contrasta tanto com a presumível humildade de Dom Bosco que seus filhos não o haviam contado, se não haviam estado seguros de fazer-se o ....... ao mesmo Dom Bosco; e este tão pouco o houvera narrado, de não estar seguro de have-lo sonhado. De qualquer jeito, este nicho, com uma estátua de São João Bosco, se fala no precioso lugar sonhado. E foi assinado por Pio XI. A estátua foi esculpido pela Canônica: é um grupo de mármore em que a figura de Dom Bosco mede 4,80 m, sem contar o pedestal de mais de um metro de altura. Dom Bosco sinala com a mão direita fazia o altar papal a dois jovens, Santo Domingos Sávio e o Venerável Zeferino Namuncurá. O monumento foi inaugurado em 31 de janeiro de 1936. (cf. MB 19, 363,364). 25. OS PROPÓSITOS DA CONFISSÃO (1873) (MB 10, 56= MBe 10, 61- 62) Durante todo o tempo da novena de Maria Auxiliadora melhor dizendo, durante todo o tempo do mês de maio, na missa e nas minhas orações particulares, pedia ao Senhor e a Virgem Maria a graça de que me fizessem conhecer qual era a causa, porque caiu mais gente no inferno. Agora não digo que isto venha do Senhor, porém se posso afirmar que quase todas as noites sonhara com a causa fundamental era a falte de propósito nas confissões. E depois me parecia ver alguns rapazes que saiam da igreja depois de confessar-se e que tinham dois chifres. Como é isto? Dizia para mim. Ah, isto procede da ineficácia dos propósitos da confissão. Este é o motivo porque há muitos que vão confessar-se com freqüência, porém não se ajeitam jamais e confessam sempre as mesmas coisas. São os que (e falo de coisas hipotéticas, pois não posso servirme da nada do que escuto em confissão, porque é secreto). São os que ao princípio do ano tiverem na mesma, os que murmuravam no começo do ano e continuam murmurando. Creio oportuno dizer-vos isto, porque é o resultado das pobres orações de Dom Bosco, e procede do Senhor. Observação: Contou-o no dia 31 /05. Dom Bosco seguro de sua afirmação sobre a importância do propósito, porém não afirma que venha ou não do Senhor, o meio polo qual ele chegou a conhecer. Faz distinção entre sonho e conclusão ascética. 26. A MISERICÓRDIA DIVINA (1873) (MB 10, 73-76 = MBe 10, 77 - 79) Nos dias passados, meus queridos rapazes, em que me encontrei fora de casa, tive um sonho espantoso. Uma noite fui deitar, pensando em que seria aquele Senhor que, sonho que a pouco os narrei, me havia acompanhado com a lâmpada (lamparina) na mão a visitar os dormitórios, fazendo-me observar sobre a festa dos alunos as negras manchas que sujavam suas consciências, isto é, se o desconhecido era um homem como nós, "O bem era um espírito em forma humana. E preocupado com esta idéia, acabei dormindo. Quando me vi transportado ao Oratório, porém, com grande surpresa, pude comprovar que não estava situado no mesmo lugar. Estou colocado na entrada de um imenso e amplo vale, colocado por dois montes em formas de lindas colinas. Eu me encontrava no meio dos jovens ali concentrados, porém, todos permaneciam colados e pensativos. De repente, vi aparecer no céu um sol luminoso e brilhante que deslumbrava com sua luz de maneira que a vista, para não ficar cegas, tínhamos que permanecer com a cabeça o os olhos fixos no solo (terra). Assim continuamos por um bom tempo, até que a luz daquele sol tão esplendente começou a diminuir pouco a pouco e chegou a extinguir-se quase por completo, deixando-nos envolvidos numa profunda escuridão, de tal forma que os jovens, incluso os que estavam mais próximos, apenas se podia conhecer alguns. Aquela troca repentina da mais viva luz as mais profundas tinham-nos deixados aterrorizados, porém, enquanto pensava na forma de livrar-nos daquela tétrica escuridão, vi aparecer um espaço do vale uma luz esverdeada que se estendia como uma ampla faixa e se colocava sobre o mesmo vale, desenhado um belíssimo arco que tocava com ambas extremidades ligeiramente as duas colinas. Então, ao meio da grande escuridão, apareceu um pouco mais de luz e o referido arco-íris, semelhante aos que se vê depois da chuva ou um furioso temporal e como é normal sucedendo numa aurora boreal, deixava cair sobre o vale torrentes de luzes das mais variadas cores. Entretanto permanecíamos todos ali, e gozando aquele agradável espetáculo, descobri no fundo do vale um novo portento que fez desaparecer ao primeiro. Era um globo elétrico de extraordinária dimensão, suspenso no ar entre o céu e a terra, a qual saia por todos as partes luzes tão vivas que podia Ter a vista nele, com o perigo de cair sem sentido na terra. O globo baixava até nós e transformava em lugar esplendoroso, como dez de nosso sol em pleno meio-dia, não tinha comparação. A medida que se aproximava, via-se os jovens cair de bruços ao solo, deslumbrados por seu resplendor como se houvessem sido feridos por um raio. Ao ver aquilo, no princípio fiquei aterrorizado sem saber que partido tomar, porém, depois fiz um grande esforço e passei a observar com maior atenção o globo, seguindo todos seus movimentos, até que, ao chegar em cima de nós, se deteve mais ou menos a uns 300 metros de altura. Então disse para mim mesmo: - Quero ver em que consiste estes maravilhoso e extraordinário fenômeno! Examinei-o atentamente em todas as suas partes apesar de encontrar-se muito alto e pude descobrir que na parte de cima, terminava em forma de uma grossa bola sobre qual estavam gravadas em grandes caracteres estas palavras: "Eu que tudo posso". Tinha ao seu redor vários filas de balcões ocupados por várias pessoas de toda idade e classe, todos de aspecto glorioso e feliz, enfeitados com adornos resplandecentes de infinita variedades, de diversas cores indescritíveis belezas com seus sorrisos e atitudes amigas pareciam evitar-nos a tomar parte de seu gozo e triunfo. Do cento daquele globo celeste, partiu uma chuva de "haces" e dardos de luz tão viva que feria diretamente os jovens nos olhos, deixando-os sem sentido, vacilava um movimento e finalmente, não podendo manter-se em pé, se viam obrigados a atirar-se de bruços ao solo. Por minha parte, não podendo resistir tão grande esplendor, comecei a exclamar: - Há Senhor, rogo que detenhais este divino espetáculo, ou hei de morrer, porque não posso resistir tão extraordinária beleza! Disse isto, senti que me faltou as forças e eu me joguei também ao chão gritando. - Invoquemos a misericórdia de Deus! Depois de alguns instantes, me repus, levantei-me e dei uma volta pelo vale, para ver que havia dos nossos rapazes. Com grande surpresa e admiração, pude comprovar que todos estavam prostrados e estendidos ao solo, imóveis e na atitude de rezar. Para comprovar se estavam mortos ou vivos, comecei a tocá-los com o pé, a uns e aos outros, dizendo-lhes: Eia! Que fazes aqui? Estais vivos ou mortos? Um disse-me: - Invoco a misericórdia de Deus. E todos repetiam a mesma resposta. Porém ao chegar a um certo ponto do vale, vi com grande dor, a alguns que estavam em pé, eretos, em atitude de rebeldia, com a cabeça erguida em volta do globo, como se quisessem desafiar a majestade de Deus, e com o rosto negro carbonizado. Aproximei-me deles, e os chamei por seus nomes, mas não davam sinal de vida, estavam frios como gelo e como fuzilados pelos raios e dardos que emitia o globo perante a sua obstinação de não querer rogar e invocar com seus companheiros a Misericórdia Divina. O que mais me desagradou foi, como disse comprovar que aqueles desgraçados eram muitos. Mas entretanto, vi aparecer, no fundo do vale, um monstro de extraordinária corpulência e indescritível deformidade. Era mais feio e deforme que todos os monstros da terra que havia podido ver. Se aproximava de nós a grandes passos. Então pedi que todos ficassem de pé, todos os rapazes, os quais, ante o horrível aparição, sentiram-se também cheios de pavor. Eu preocupado e entristecido, aproximei-me para ver se lá havia algum superior, que pudesse ajudar a acompanhar os rapazes até o monte mais próximo e pô-los a salvos das patas daquela besta feroz, se por acaso tentasse atacálos, porém, nada encontrava. Entretanto, o monstro se aproximava cada vez mais, e já estava a pouca distância de nós, quando o globo que até então havia permanecido imóvel no ar sobre nossa cabeças, começou a mover-se a toda velocidade e, saindo ao encontro daquele monstro, foi colocar-se precisamente entre nós e a besta, e baixou quase até o solo para impedi-lo de fazer-nos algum mal. E naquele instante, ouviu-se ressoar pelo vale como o relumbar de um trem, e uma vos que dizia: "NULLA EST CONVENTIO CHISTI CUM BELIAL" não pode haver acordo possível entre Cristo e o Diabo, entre os filhos da luz e os filhos das trevas... isto é, entre os bons e os maus, que são chamados na Sagrada Escritura precisamente filhos do Diabo. Ao ouvir aquelas palavras, despertei-me tremendo de medo e "aterrorizado" de feio, e em apenas doze horas da noite, e não pude conciliar o sonho e não pude compreendê-lo. E sim, por uma parte senti-me consolado ao comprovar que quase todos nossos jovens invocavam com humildade a misericórdia de Deus e correspondiam fielmente aos divinos favores, por outra parte, os devo-os dizer que me causou grande dor ao número no dos ingratos que, por sua maldade e dureza de coração em resistir todas as graças, haviam sido castigados pelo divino poder e estavam privados da vida. Hei chamado alguns no mesmo momento e os outros a noite, a fim de que se ponham em paz com o Senhor e cessem de abusar da misericórdia divina e de ser pedra de escândalo para seus companheiros, pois, não pode existir avanços alguns entre os filhos de Deus e os "secuazes" do Demônio. - NULLA EST CONVENTIO CHRISTI CUM BELIAL. Este é o último aviso que a eles os dei. Como vês, meus queridos jovens, minhas recomendações procedem de um sonho como os demais; com tudo, devemos de dar graças ao Senhor, que se serve deste meio para fazermos conhecer o estado de nossa alma graças aos que invocam com humildade seu auxílio e assistência nas necessidades da alma e do corpo, "porque Deus resiste aos soberbos, mas dá sua graça aos humildes". Observação: Foi contado no dia 24 / 11. Havendo tido uns dias antes. Dom Bosco havia regressado de uma visita às casas de Sampierdarena, Varazze e Alassio. Os detalhes da relação é do Dom Bosco. 27. UM BANQUETE MISTERIOSO (1880) (MB 14, 552-555 = MBe 14, 472-474) "Antes de nada haveis de saber que os sonhos se tem dormindo. Sonhei, pois, me encontrava em São Benigno, coisa estranha, pois quase sempre sonha um que se encontra em lugares e circunstâncias distintas da realidade e que estava precisamente no salão semelhante ao nosso refeitório, mas um pouco grande. Este salão tão grande estava completamente iluminado e eu pensava para mim: - É possível que o Pe. Júlio Barberis haja feito este salão tão grande? Mas, onde pôde encontrar tanto dinheiro? Vi nele muitos jovens sentados `La mesa, mas não comiam. O salão estava elegantissimamente iluminado, mas com uma luz que não deixava ver de onde vinha. Os garfos, os guardanapos, as toalhas de mesa era tão brancos que em comparação com os nossos que também eram brancos pareciam sujo. Os garfos, vasos, garrafas, pratos eram tão brilhantes e formosos e foi aí que eu imaginei que estava sonhando e disse-me: - Devo estar sonhando! Nunca vi em São Benigno tanta riqueza, contudo, estou aqui e vem desperto. - Entretanto observei os jovens que estava ali, sem comer. Então perguntei: - Mas o que fazem aí se vocês não comem? E enquanto eu dizia isto, todos se puseram a comer. Ao olhar os que estavam comendo reconheci muitos jovens de nossas casas. E a muitos outros que aqui estão fazendo exercício espiritual. Não sabia o que dizer e perguntei ao meu companheiro sobre o significado de tudo aquilo o qual me respondeu: - Presta atenção um momento e compreenderás todo este mistério. Enquanto falava estas palavras, a luz que iluminava o salão se trocou por outra mais resplandecente ainda, e ao intentar ver melhor, eis que apareceu uma legião de jovenzinhos belíssimos de aspecto angelical que levavam na mão um lírio, os quais se puseram a passear sobre a mesa sem tocá-la com os pés. Os que estavam comendo se levantaram e com sorrisos nos lábios observavam enquanto sucediam. Aqueles angélicos começaram a repartir lírios aqui e acolá e os que recebiam se elevavam também da terra como se fossem espíritos. Eu olhei os jovens que recebiam os lírios e os reconheci a todos; mas tornavam-se tão belos e resplandecentes que eu não pude acreditar vendo uma coisa superior como no Paraíso. Perguntei o que significavam aqueles jovens que levavam aquela flor e me foi respondendo. Você não pregou tantas vezes sobre a bela virtude da pureza? - Sim, disse. Falei muitas vezes dobre ele e tentei inculcá-las insistentemente até fazêla amar por seus jovenzinhos. - Pois bem, continuou o companheiro, esses que você vê com o lírio na mão são precisamente os que soubera conservá-lo. Não sabia, pois, o que dizer e com grande alegria, vi aparecer um novo esquadrão de jovens que passavam sobre as mesas sem tocá-los e que começaram a repartir as rosas que lavavam nas mãos e os que os reviam, no mesmo instante, começavam a irradiar um belíssimo brilho. Perguntei ao meu companheiro o que significava aquele nova multidão de jovens, portadores de rosas, e me disse: - São os que têm o coração inflamado no amor de Deus. Vi então que todos levavam pela frente o próprio nome escrito com caracteres de ouro, e eu me aproximei anis um pouco para poder ver melhor e anotar os nomes deles, mas naquele instante tudo desapareceu rapidamente. Depois que os jovens desapareceram, a luz também desapareceu, de forma que somente eu fiquei numa obscuridade, entre o qual dava ainda para distinguir algo. Vi uns rostos queimando como carvão; eram dos que não haviam recebido nem o lírio, nem a rosa. Vi também alguns que faziam esforço em torno de uma corda recoberta de lama, dependurado do alto para quem intentava subir, mas esta balançava sempre e aqueles pobrezinhos estavam continuamente no chão com as mãos e roupas elameadas. Surpreendido naquilo que olhava, perguntei com insistência o que significava esta cena. E ele me respondeu: - A corda é, sua pregação de inúmeras vezes sobre a confissão. Quem se agarra bem a ela, certamente chegará aos céus. E esses jovens que acabas de ver são os que se confessam com freqüência e fazem desta corda para levantar; mas o fazem sem as devidas disposições, com m pouco de dor e a falta de propósito, e por isso, não podem subir por ela; a corda muda sempre quando eles querem subir e em vez de subir deslizam-se e se encontram sempre no mesmo lugar. Eu quis anotar também o nome destas pessoas, mas apenas escrevi dois ou três nomes quando desapareceram da minha vista. Neste instante a luz ficava fraca e eu fiquei somente numa escuridão completa. No meio daquela treva pude olhar novamente um espetáculo, mais desolador ainda. Certos jovens, de aspecto tétrico, tinham no pescoço uma enorme serpente com a cola cravada no coração das vítimas e com a cabeça junto à boca pronta para morder a língua quando abrissem os lábios. O rosto daqueles jovens era tão horrível que causava espanto; os jovens tinham a vista extraviada, a boca torcida e tinham expressões que causavam pavor. Olhando esta cena, perguntei novamente o que significava aquilo. E ele me respondeu: - Não vês? A serpente antiga oprime a garganta com dupla volta para não deixar falar as infidelidade na confissão, pois a língua da cobra está pronta para morder-lhes se abrirem a boca. Pobrezinhos! Se falecem fariam uma boa confissão e o demônio não poderia fazer nada. Mas se não falam permanecem como a consciência carregada de pecados, vão e confessam várias vezes, sem determinar e arremessar fora o veneno que levam no coração. Então disse ao meu companheiro: - Dê-me os nomes de todas essas pessoas para que eu possa recordá-los. - Bem, bem, escreve - disse ele. - Mas é que não há mais tempo, contestei-lhe. - Vamos, vamos, escreve. Comecei a fazê-lo o que ele havia me ordenado, mas poucos nomes pude escrever, pois tido desaparecer da minha vista. E meu companheiro acrescentou: - Vai e diga a teus jovens que sejam vigilantes e conta-lhes o que você acaba de ver. - Dê-me uma prova, acrescentei, para que eu possa levar a crer de que isto não é simplesmente m sonho, e sim uma advertência do céu em favor dos meus rapazes. - Bem, disse ele, pois presta atenção. Então apareceu a luz que aumentava cada vez mais e eu voltei a ver os jovens que levavam o lírio e a rosa. A luz continuava iluminando aos poucos, de forma que pude apreciar que aqueles rapazes estavam contentes; uma alegria angelical se refletia nos rostos. Eu continuava observando a cena cheio de admiração, enquanto a luz aumentava a claridade com maior intensidade que chagou a ponto de explodir com um terrível barulho. Com aquele barulho, eu acordei e me encontrei na minha cama tão cansado que ainda sinto falta de forças. 28. OS CABRITOS (1866) (MB 8, 315 = MBe 8, 274) "Sonhei que me encontrava na sacristia cheia de jovens que se confessavam comigo. De repente entrou um cabrito pela porta da sacristia, começar a dar voltas em torno dos jovens e a brincar com eles, de modo que fez perder a boa vontade de confessar-se, aos poucos, um atrás do outro, se saíram. O cabrito se aproximou a mim e se atreveu com suas sedutoras bajulações ao tentar afastar o que estava se confessando, enquanto eu o tinha junto a mim. Irado dei uma pancada na cabeça do animal, e quebrei um chifre e abriguei a sair. Queria também dar uma boa repressão ao sacristão por ter deixado entrar. Depois me levantei, me revesti os paramentos sagrados e sai a celebrar a santa missa. Chegado o momento da comunhão, e si, pela porta principal da igreja, entrou uma multidão de cabritos que, espalhando-se pelos bancos, tratavam a distrair de mil modos os jovens que desejavam aproximar-se à mesa dos anjos. Uns vão se levantando para ir ao altar, porém, seduzidos por aqueles malditos, se voltam a seus lugares. Outros haviam chegado próximo ao comungatório, alguns estavam já aos pés do altar, porém se voltaram atrás sem comungar. Estes cabritos eram os inimigos das almas que, com distração e afetos desordenados, tens aos jovens afastados dos sacramentos". Nb: Contado em Março. A redação é de Algustín Semeria, antigo aluno do Oratório, em uma carta escrita em 1883. "Com estas e outras cartas semelhantes, preparava Dom Bosco repete o mesmo aviso com imagens parecidas que em "As distrações na igreja" e "A lanterna mágica". É outro apólogo?" 29. AS FERAS DO PRADO (1868) (MB 9, 134-135 = MBe 9, 133-134) Me parecia encontrar em um grande prado onde estavas todos vós, divertindo em jogar e saltar; porém que horrível espetáculo! Pelo mesmo prado andavam e corriam animais ferozes do toda classe, leões de olhos acesos como brasas, tigres que afiavam suas garras no chão, lobos que rondavam maliciosos ao redor dos grupos de jovens, ursos de aspecto repugnante que, sentados sobre as patas traseiras, abriam as dianteiras para abraçá-los. Que horrível companhia, essa! Mais ainda. Que horror o procedimento daqueles animais! Aqueles animais de lançavam dobre vós furiosamente. Alguns estavam possuídos, estendidos no chão tendo em cima aqueles monstros, que com as unhas arranhavam e os despedaçavam as carnes, as mordidas causando a morte. Outros corriam desesperadamente perseguidos por tais animais e recorriam a Dom Bosco em procura de auxílio. Diante das bestas ferozes recuavam. Não faltavam quem pretendiam proteger sozinhos, porém não conseguiam, poisa força dos animais era enorme, e os despedaçavam entre suas garras. Outros olhando que insensatos, em vez de fugir estavam sendo presos a contemplar a aqueles monstros e corriam, e até pretendiam jogar com eles, como se os custara ser despedaçados por ursos. O pobre Dom Bosco corria de um lado para o outro, se esforçava a chamar a uns e outros para que aproximassem a ele, gritava feito louco. Porém, em vão. Entretanto alguns os obedeciam, outros não davam conta. O prado estava cheio de cadáveres dos pobres jovens, vítimas daqueles animais, e de corpos feridos. Os gemidos destes, os rugidos dos animais ferozes, as vozes de Dom Bosco misturavam de uma maneira estranha. Em meio daquela tremenda bagunça, Dom Bosco acordou pela segunda vez. Este foi o sonho e vós sabeis eu classe de sonhos são de semelhante relato. Se antes sentia muito separar-me de vós a escutar este sonho fazia voltar a instante sobre meus passos. Se a obedecia no me o houvesse impedido. Se não os quisera tanto, estaria mais tranqüilo! Que representam esses leões, tigres e ursos? São as diversas tentações do demônio. Alguns vencem porque recorrem ao guia; outros terminam por ser vítimas deles porque decidem com as mas sugestões de satanás; outros amam o demônio e ao pecado e se oferecem insensavelmente como banco de seus assaltos. Meus filhos! Agireis como valentes? Recordareis que tens uma alma a que salvar? Dom Bosco me disse também: - Eu vi a todos esses jovens: e conheci a certos zorros! Porém, conservarei a segredo para mim e nada o manifestarei. A primeira ocasião em que voltar a Lanzo direi a cada um o que lhe interessa. Esta vez a dor de muelas não me permitiu falar com todos: quando voltar outra vez, avisarei aos que devem ser avisados". Nb. A carta de Dom Bosco aos alunos do colégio de Lanzo de 18 de abril, acrescenta Dom Lemoyne outra parte da qual é o presente sonhado. Dom Lemoyne estava fazendo exercícios espirituais em Turim. 30. A VIDEIRA (1868) (MB 9, 157-164 = MBe 9, 160-167) "Era a noite de Quinta-feira Santa (9 de abril). Apenas começou a invadir-me um leve sopro, quando pareceu-me encontrar-me embaixo destes mesmos pórticos, rodeado de nossos sacerdotes, clérigos, assistentes e alunos. Pareceu-me depois, enquanto eles desapareciam, eu avançava um pouco o pátio. Estavam comigo Dom Miguel Rua, Dom Cagliero, Dom João Batista Francesia, Dom Amgel Sávio e o jovenzinho Preti; e um pouco afastados, José Buzzetti e Dom Esteban Rumi, do Seminário de Gênova um grande amigo nosso. Logo vi que o Oratório atual mudou de aspecto, assemelhando-se a nossa casa tal como era nos primeiros tempos, quando estavam na casa somente os eitados. Tendo presente que o pátio confinava com amplos campos sem cultivar, completamente desabitado, o que se estendiam até os prados da cidadezinha, onde os primeiros homens retornavam alegremente. Eu estava debaixo das janelas de minha habitação, no mesmo lugar ocupado hoje pelo "tailer" da carpintaria e que antes fora uma horta. Enquanto estávamos sentados conversando de nossas coisas e da conduta dos jovens, e aqui que diante desta pilastra (donde estava apoiada a tribuna desde a que ele falava) que sustenta a bomba, e junto a qual estava a porta da casa Pinardi, vimos brotar de terra uma enormíssima videira, a mesma que durante muito tempo esteve nesse mesmo lugar. Estávamos maravilhados da aparição da videira depois de tantos anos e nos perguntávamos reciprocamente que classe de fenômeno seria aquele. A planta crescia a olhos vistos e se elevou sobre o solo pouco menos a altura de um homem. Quando eis aqui que começam a brotar sarmento em numero extraordinário, por uma e outra parte, e a cobrir-se de pâmpanos. Em pouco tempo cresceu tanto que chagou a ocupar todo o nosso pátio e muito mais. O admirável era que seus sarmentos não apontavam rumo acima, destino que seguiam uma direção paralela ao do solo formando um imenso parreiral, que se sustentava sem nenhum apoio visível. Suas folhas, acabadas de sair, eram verdes e formosas; e seus largos sarmentos, de um vigor e verdor surpreendente; pronto apareceram também formosos racimos, engordaram as gramas e a uva adquiriu sua cor. Dom Bosco e os que estavam com ele contemplavam maravilhados aquilo e diziam: - Como tem podido crescer esta videira tão depressa? Que será? E disse Dom Bosco aos demais: - Esperemos para ver o que se passa. Eu seguia olhando com os olhos abertos e sem pestanejar, quando de prontos todos os grãos de uva caíram no solo e se converteram em outros tantos rapazes vivos e alegres, que encheram em um momento todo o pátio do Oratório e todo o espaço sombreado pela videira: saltavam, jogavam, gritavam, corriam debaixo daquela singular parreira e dava gosto em vê-los ali se olhavam todos os rapazes que estivera, estão e estarão no Oratório e nos demais colégios, pois a muitos não os conhecia. Então um personagem, que a princípio não conhecia quem fosse, e vós sabeis que Dom Bosco tem sempre em seus sonhos um guia, apareceu a mau lado contemplando ele também os rapazes. Porém de pronto, um véu misterioso se estendeu ante nossos olhos e cobriu o agradável espetáculo. Aquele largo véu, não muito mais alto que a vinha, parecia pegado aos sarmentos da videira em toda a sua longitude e baixada até o solo a guisa de telão. Só se via a parte superior da vinha, que parecia um amplo tapete verde. Toda a alegria dos jovens havia desaparecido em um momento para trocar-se um melancólico silêncio. - Olha, disse-me o guia apontando um sinal na videira. Acerquei-me e vi aquela formosa videira, que parecia carregada de uva, não tinha mais folhas, sobre as quais apareciam escritas as palavras do Evangelho: nihil invenit in ea! Eu não sabia explicar-me o significado daquilo e disse ao personagem: - Quem é você? Que significa esta videira? Livrou o véu que havia visto antes, em grande parte desconhecido por mim. - Estes são, acrescentou, os que tendo muita facilidade para fazer o bem não desmerecer diante de seus companheiros. Os que observam com exatidão os regulamentos da casa, para livra-se das reprimidas e para não perder o estima dos superiores, com os quais se mostram diferentes, porém sem tirar fruto algum de suas exortações e dos estímulos e cuidados de que são objetos desta casa. Seu ideal é procurar-se uma posição honrosa e lucrativa no mundo. não se preocupam de estudar a própria vocação, não temendo algum dano. São , em duma, os que fazem as coisas a força; por isso, suas obras de nada lhes sirvam para a eternidade. Isso digo: - Oh, quanto desgostou-me ver entre eles a alguns que eu cria ser muito bons, carinhosos e sinceros! E o amigo acrescentou: - O mal não está todo aqui. E deixou cair o véu, deixando descoberto a parte superior de toda a videira. - Olha agora de novo, disse-me. Olhei aqueles sarmentos; entre as folhas viam-se muitos racimos que, a primeira vista, pareceu-me no jardim florido uma ric colheita. Eu me alegrava, porém ao aproximar-me vi que os recimos eram raquíticos e podres; uns estavam tomados pelo mofo, outros cobertos de vermes e insetos que os devoravam; estes, picotados pelos pássaros e pelas vespas; aqueles, podres e secos. Fixando-me muito, convenci-me de que nada bom se podia tirar daqueles racimos, que não faziam outra coisa a não ser pestiar o ar com o fedor que exalava. Então o personagem levantou de novo o véu e exclamou: - Olha! E debaixo apareceu, já não o número incontável de jovens que havia visto ao princípio do sonho, se não muitíssimos deles. Seus rostos, antes tão formosos, se haviam tornado feios, sombrios, cobertos de asquerosas chagas. Passeavam encurvados, encolhidos e melancólicos, nenhum falava, havia entre eles alguns que estiveram nesta casa e nos colégios, outros que atualmente estão aqui presentes e muitíssimos dos quais não conhecia. Todos estavam envergonhados e não ousavam levantar os olhos. Eu mesmo, os sacerdotes e alguns dos que me rodeavam, estávamos espantados e sem poder pronunciar palavra. Por fim perguntei ao meu guia: - Como é isto? Por que estes jovens estavam no início tão contentes e tinham aspecto tão agradável e agora estão tristes e feios? O guia contestou: - Estas são as conseqüências do pecado! Os rapazes passavam entretanto diante de mim e o guia me disse: - Observa-os detidamente! Olhei atentamente e vi que todos levavam escrito na frente e na mão seu pecado. Reconheci a alguns deles que me encheram de admiração. Sempre havia cuido que eram verdadeiras flores de virtude e, porém, o presente via a alma manchada com culpas gravíssimas. Entretanto os jovens desfilavam, eu lia em sua frente: imodéstia, escândalo, malícia, soberba, ócio, gula, inveja, ira, espírito de vingança, blasfêmia, irreligião, desobediência, sacrilégio, furto. - Todos não estão agora como vês, porém chegarão a estai-los, se não trocar de conduta. Muitos destes pecados não são graves por si próprio, porém são causa e princípio de caídas terríveis e de eterna perdição. Qui spernit modica, paulatim decidet. (quem despreza o pequeno, pouco a pouco desaparece). A gula gera a impureza, o desprezo aos superiores conduz ao menosprezo dos sacerdotes e da Igreja e assim sucessivamente. Desconsolado a vista daquele espetáculo, tomei a caderneta, tirei o lápis para anotar os nomes dos jovens que me eram conhecidos e seus pecados o ao menos a paixão dominante de cada um, para avisar-lhes e induzir-lhes a se corrigirem. Porém o guia me tomou pelo braço e me perguntou: - Que faz? - Vou anotar o que vejo escrito em sua frente, para poder-lhes avisar e que se corrijam. - Isso não te é permitido, respondeu o amigo. - Por que? - Não faltam os meios para ver-se libres destas enfermidades. Têm os sacramentos: que os freqüentem. Têm a confissão: que não a profanem calando os pecados. Têm a sagrada comunhão: que não a recebam com a alma manchada pelo pecado mortal. Que vigiem suas olhadas, que fujam dos maus companheiros, que se abstenham das más leituras e das conversas inconvenientes, etc. ... Estão em casa e o regulamento os pode salvar. Quando escutam a campainha obedeçam prontamente. Que não se valem de subterfúgios para enganar aos mestres e entregar-se ao ócio. Que não sacudam ao julgo dos superiores, considerando-os como vigilantes importunos, como conselheiros interessados, como inimigos, e que não cantem vitória quando conseguem encobrir suas faltas, conseguindo a impunidade das mesmas. Que sejam respeitosos e que receiem de bom desejo na Igreja e nos demais lugares destinados a oração sem distrair os demais nem endoidecer. Que estudem no estudo; que trabalhem na oficina de trabalho e que observem uma postura decente. Estudo, trabalho e oração; eis aqui o que lhes conservará bons, etc. Apesar da negativa, continuei rogando insistentemente a meu guia que me deixasse escrever os nomes. Então ele me tirou resolutamente o caderno das mãos e o arremessou ao chão dizendo: - Disse-te que não faz falta que os escreva. Teus jovens podem saber o que devem fazer e evitar com a graça de Deus e a voz da consciência. - Então, disse, não posso manifestar-lhes nada de tudo isto? Dizei ao menos o que devo dizer, que avisos hei de dá-los. - Poderás dizer-lhes o que recordar disto. E deixou cair o véu, novamente apareceu ante nossos olhos a videira, cujos sarmentos quase desprovidos de folhas, ofereciam uma formosa uva, vermelha e madura. Acerquei-me, observei atentamente os racimos e vi que na realidade eram como haviam-me parecido a distância. Dava gosto contemplá-los, causavam verdadeiro prazer vê-los. Exalavam ao redor uma fragrância esquisita. O amigo levantou imediatamente ao vê-lo. Baixou ao extenso parreiral havia muitos jovens que estiveram, estão e estarão conosco. Seus rostos eram muito belos e estavam radiantes de felicidade. - Estes, disse-me o guia, são e serão aqueles que, mediante teus solícitos cuidados, produzem e produzirão bons frutos, os que praticam a virtude e proporcionaram-te muitas consolações. Eu me alegrei porém, ao mesmo tempo, senti-me um pouco afligido, porque desses jovens não eram tantos como eu esperava. Entretanto os contemplava, soou a campainha para o almoço e os rapazes marcharam. Também os clérigos foram a seus lugares. Olhei ao mau redor e não vi nada. Até a videira, com seus sarmentos e racimos, havia desaparecido. Busquei o guia e não o encontrei, então me despertei e pude descansar." Na Sexta-feira, primeiro de maio, continuou Dom Bosco o relato: "Como os disse no dia anterior, despertei-me parecia-me Ter ouvido o som da campainha, porém voltei a adormecer: descansava tranqüilamente, quando senti-me sacudido pela Segunda vez e pareceu-me encontrar-me em minha habitação, em atitude de enviar minha correspondência. Saí do balcão e durante um momento estive contemplando a gigantesca cúpula da nova Igreja e em seguida baixei aos pórticos. Pouco a pouco regressavam de suas ocupações os sacerdotes e clérigos que me rodearam. Entre eles estavam presentes Dom Miguel Rua, Dom João Cagliero, Dom João Batista Francesia e Dom Angel Sávio. Falava com eles sobre diversas coisas, quando a cena trocou por completo. Desapareceu a Igreja de Maria Auxiliadora, desapareceram todos os edifícios atuais do Oratório e encontramo-nos diante da Antiga casa Pinardi, e eis que aqui, de novo, começa a brotar do solo, e no mesmo lugar que o anterior, uma fileira que parecia sair das raízes da outra, e a elevar-se a igual altura, a produzir numerosos sarmentos horizontais, que se estenderam por um amplo espaço e depois se cobriram de folhas, de racimos e, finalmente, de uva madura. Porém, não apareceu a multidão de jovens. Os racimos eram tão grandes como os da terra prometida. Havia sido necessária a força de um homem para levantar somente um. Os grãos eram extraordinariamente grossos, de forma oval e de uma cor amarelo-ouro; pareciam muito maduros. Um só deles tinha sido suficiente para encher a boca. seu aspecto era tão agradável que a boca se enchia d'água e parecia que estavam dizendo: - Comam-me! Também Dom João Cagliero, com Dom Bosco e seus companheiros, contemplavam maravilhado aquele espetáculo. Dom Bosco exclamou: - Que uva tão estupenda! E Dom João Cagliero, sem mais cortesias, acercou-se da videira, arrancou uns grãos, e encheu a boca e começou a mastigá-lo; porém sentiu náuseas e o lançou com tal força que parecia vomitar. A uva tinha um sabor desagradável, como um ovo podre. - Caramba! Exclamou Dom João Cagliero depois de cuspir várias vezes; isto é um veneno, é capaz de causar a morte a um cristão. Todos olhavam e ninguém falava, quando saio pela porta da sacristia da antiga capela um homem de aspecto sério e audaz, que se acercou a nós e parou-se junto a Dom Bosco. Dom Bosco perguntou: - Como se entende que uma uva tão formosa tenha um gosto tão mau? Aquele homem não contestou, mas sem dizer palavras, foi a cortar um feixe de varas, com nós, apresentou-as a Dom Angel Sávio e a ofereceu dizendo: - Toma e golpeia estes sarmentos! Dom Angel se negou a fazê-lo e deu um passo para trás. Então aquele homem se voltou a Dom João Batista Francesia, ofereceu-lhe a vara e lhe disse: - Toma e golpeia! E, o mesmo que a Dom Angel Sávio, indicou-lhe onde devia fazê-lo. Francesia encolheu os ombros, avançou o queixo e moveu um pouco a cabeça, dizendo que não. Aquele homem dirigiu-se então a Dom João Cagliero e, tomando-o de um braço, apresentou o bastão e lhe disse: - Toma e golpeia, espanca e abate! E, ao mesmo tempo indicava-me o lugar onde devia fazê-lo. Cagliero, assustado, deu um salto para trás e batendo uma mão sobre a outra, exclamou: - Era o que faltava! O guia repetiu a mesma incitação, repetindo: - Toma e golpeia! Porém, Cagliero, posto como atirador, começou a dizer: - Eu não, eu não. E cheio de medo, correu a esconder-se detrás de mim. Ao ver isto aquele personagem, sem alterar, apresentou-se da mesma maneira a Dom Miguel rua e lhe disse: - Toma e golpeia! Porém, Rua, igual a Cagliero, veio a ocultar-se atrás de mim. Então encontrei-me frente aquele homem singular que, determinando-se ante mim, disse-me: - Toma e golpeia você estes sarmentos. Eu fiz um grande esforço para comprovar se estava sonhado ou estava na minha razão e, parecendo-me que tudo o que se sucedia era real, disse aquele personagem: - Quem és tu para me falar desta maneira? Diga-me: por que hei de golpear estes sarmentos, por que vou derrubá-lo? Isso é um sonho, uma ilusão? Que significa isto? Em nome de quem me fala? Por acaso fala em nome do Senhor? - Aproxima-te até a videira, respondeu-me, e leia o que está escrito sobre as folhas. Aproximei-me. Observei com atenção as folhas e li estas palavras: ut quid terram occupat? (para que ocupar a terra?). - São palavras do Evangelho! Exclamou o guia. Eu havia compreendido tudo, porém atrevi-me a objetar: - Antes de golpear, recorda que no Evangelho também se lê que o Senhor, aos rogos do lavrador, permitiu que melhora-se a planta inútil se cavar ao seu redor, reservando-se para arrancá-lo até Ter empregado todos os meios para fazê-la frutificar. - Bem; se poderá conceder uma trégua ao castigo, mas entretanto olha, e depois verás. E me sinalou a videira. Eu olhava, porém não entendia nada. - Vem e observa, replicou-me; lê: o que está escrito nos grãos de uva? Dom Bosco se aproximou e viu que em todos os grãos tinham escrito o nome de cada um dos alunos e sua culpa. Eu li e, entre tão variadas culpas, recordo com horror as seguintes: soberba, infidelidade as próprias promessas; incontinente (não tem continência); hipócrita, descuidado com os próprios deveres; caluniador; vingativo, desapiedado; sacrilégio, desrespeito coma autoridade do superior; pedra de escândalo; seguidor de falsas doutrinas. Vi o nome daqueles quorum Deus venter est (cujo Deus é o ventre); de outros os quais scientia inflat (ódio à ciência); dos que quaerunt quae sua sunt, non quae Jesu Crhisti (buscam a si mesmo, e não a Jesus Cristo); os que criticam o regulamento e os superiores. Vi também os nomes de certos desgraçados que estiveram ou estão atualmente conosco; e um grande número de nomes novos para mim, ou seja, os que, com o tempo estarão conosco. Eis aqui os frutos que produz esta vinha, disse o personagem de maneira bem séria; são frutos amargos, maus, nocivos para a salvação eterna. Sem mais, tirei o caderno, peguei o lápis e quis escrever os nomes de alguns, porém o guia tomou-me da mão como da vez anterior e me disse: - que fazes? - Deixa-me tomar nota dos que estão conosco, a fim de poder-lhes avisar em particular para que se corrijam. Foi inútil meu rogo. O guia não me consentiu, e eu acrescentei: - porém, se eu lhes digo a situação e estado em que se encontram, reagirão. E ele replicou-me: - Se não crêem no Evangelho, tão pouco crerão em ti. Continuei insistindo porque queria anotar e arrumar algumas normas para prevenir; porém, aquele homem não acrescentou palavra, e se pôs ante Dom Miguel Rua com um feixe de bastões e o convidou a tomar um bastão. - Toma e golpeia! Rua cruzando os braços, baixou a cabeça e exclamou: - Paciência! E depois dirigiu uma olhada para Dom Bosco. Este fez um sinal de consentimento e Dom rua, tomando a vara com suas mãos, aproximou-se da videira e começou a golpear o local indicado. Porém, apenas tinha dado os primeiros golpes, quando o guia fez um sinal que se detivesse e gritou a todos: - Saiam! Então afastamo-nos todos. Observávamos e víamos que os grãos de uva se inchavam, faziam-se cada vez mais grossos e se tornavam repugnantes. Pareciam caracóis sem concha, sempre de cor amarela e sem perder a forma de uva. O guia gritou novamente: - Olhem! Deixem que o Senhor descarregue sua vingança! E eis que aqui o céu começou a nublar-se e se formou uma névoa tão densa que não se via a pouca distância e deixou coberta a videira por completo. Tudo estava escuro, brilharam relâmpagos, estrondearam os trovões e começaram a cair tantos raios por todo pátio que infundiam terror. Dobravam-se os sarmentos ao impulso de um vento que tinham a força de um furacão e voavam os folhas pelos ares. Finalmente, começou a açoitar a videira uma horrível tempestade. Eu queria fugir, porém o guia me deteve dizendo: - Olha o granizo! Olhei e vi que os granizos, da grossura de um ovo, uns eram negros e outros vermelhos; por um lado eram pontiagudos e por outro achatados em forma de massa. O granizo negro caia com violência acerca de onde eu estava e mais atrás caia o granizo vermelho. Como é isto, dizia eu; em minha vida não tenho visto um granizo parecido com este. - Aproxima-te, disse-me o desconhecido, e verás. Aproximei-me um pouco ao granizo negro, porém, exalava um fedor tão repugnante que pouco faltou para que não caísse de costas. O guia insistia cada vez mais para que eu me aproximasse. Então agarrei um grão negro para examiná-lo, porém tive que lançá-lo em seguida ao chão porque repugnava muito aquele cheiro pestilento. E disse; - Não me é possível ver nada! E disse o outro; - Olha bem e verás. E eu, fazendo-me maior violência, vi escrito sobre cada um daqueles pedaços negros de gelo: imodéstia. Dirigi-me então ao granizo vermelho que, apesar de sua frialidade, queimava quando tocava. Tomei na mesma mão um grão que fedia como o outro e pude ler um pouco mais fácil o que sobre ele estava escrito: soberba. A vista disso, exclamei cheio de vergonha. - São, pois, estes, os vícios principais que ameaçam esta casa? - Estes são os vícios capitais que arruinam maior número de almas, não somente em tua casa, se não em todo o mundo. A seu tempo verás quantos caíram no inferno, impulsionados por estes vícios. - Que ei de dizer, pois, a meus filhos para que melhorem? - o que tens que dizer saberá em breve. E ao dizer isto, se afastou de mim. Entretanto, o granizo continuava queimando furiosamente a videira ao resplendor dos relâmpagos e dos raios. Os racimos estavam esmagados como se tivessem estado debaixo dos pés de pisadores, e soltavam toda a sua seiva. Um fedor terrível se espalhou pelo ar, fazendo-o irrespirável. De cada grão saia um cheiro diferente, porém um era mais suportável que o ouro, segundo a diversidade e o número dos pecados. Como não podia resistir mais, pus-me o lenço no nariz. Seguidamente me voltei atrás para dirigir-me a minha habitação, porém não vi a nenhum de meus companheiros, nem a Francesia, nem a Rua, nem a Cagliero. Haviam fugido, deixado-me só. Tudo estava deserto e silencioso. Entrou-me então tal espanto que dei-me a fugir e despertei. Como vês, este sonho é em extremo desagradável, porém, o que sucedeu na tarde e na noite posterior a aparição do sonho, o diremos depois da manhã, Domingo, 3 de maio, a ainda será mais desagradável. Agora não podeis conhecer as conseqüências; porém, como não há tempo para falar delas, para não tirar mais tempo de descanso, os deixo que vás dormir, reservando-me a comunicá-los em outra ocasião". Observações: Este sonho Dom Bosco o teve em Lanzo em 9 de abril, Quinta-feira Santa, e o contou em primeiro de maio, Sexta-feira, tem que Ter em conta que as faltas graves reveladas por Dom Bosco não se referiam a todos daquele tempo, pois se vê muitos meninos de fisionomia desconhecida, que pertenciam as suas casas espalhadas pelo mundo. tão pouco tem que esquecer o que disse o guia: "Nem todos estes jovens estão agora no estado em que os vê, porém, um dia estarão, se não mudarem a conduta". 31. SACERDOTE E ALFAIATE (1836) (MB 1, 381-382 = MBe 1, 310-311) Dom Bosco o contou particularmente a alguns no Oratório, entre os que estavam presentes Dom João e Dom Domingos Ruffino; - Quem pode imaginar, disse ele, como eu me vi, quando estudava no primeiro curso de filosofia? E perguntaram-lhe: - Como se viu? Em sonhos ou de outro modo? - Isso não importa sabê-lo. Me vi já sacerdote, com roquete e estola: assim vestido, trabalhava de alfaiate na oficina, mas não costurava roupas novas, senão que remendava roupas estragadas e juntava muitos pedaços de pano inicialmente não pude entender o que significava aquilo. Falei então com alguém porém não o fiz claramente até que fui sacerdote e tão só com meu confessor: Dom Cafasso. Observações: "Este sonho ou visão ficou na memória de Dom Bosco". Parece indicar que trabalhava com crianças abandonadas, dito que costurava vestidos estragados. 32. O AUXÍLIO DO CÉU (1876) (MB 12, 187-188 = MBe 12, 166) No mês de abril Dom Bosco contou dois sonhos de admoestações ao secretário que, segundo o costume o pôs por escrito. O véu que encobre seu significado íntimo é tão transparente que nos faz acreditar que é este o lugar que lhes corresponde. Na noite do dia 7 de abril o Pe. Joaquim Berto ouviu Dom Bosco gritar enquanto dormia: - Antônio! Antônio! Na manhã seguinte perguntou se havia dormido e lhe falou do grito que ele ouviu. Então o Servo de Deus contou o que transcrevemos do secretário. "Pareceu-me estar no último degrau de uma escada, no lugar estreito, quando parou diante de mim uma hiena (animal carnívoro tipo onça) que não me deixava dar um passo. Não sabendo como livrar-me dela, pedi auxílio ao meu irmão Antônio, que já havia falecido há muitos anos. Finalmente a hiena começou vir na minha direção com a garganta (boca) aberta e eu, não vendo outro meio de salvar só pus as mãos ao pescoço. Eu me senti angustiado diante daquele perigo, mais ainda quando vi que ninguém vinha em meu socorro. Mas no final vi descer nos montes um pastor que me disse: - O auxílio tem que vir do alto; mas para consegui-o há de descer para baixo. Quanto mais baixo você estiver, da altura virá o auxílio, este animal somente causa dano a quem procura o sucesso(o bem) e a quem busca o perigo. E em seguida acordei. 33. ATRAVÉS DA AMÉRICA DO SUL - Grande sonho missionário (1883) (MB 16, 385-394 = MB e 16, 324-332) Era a noite precedente a festa de Santa Rosa de Lima, 30 de agosto e tive um sonho. Parecia-me estar dormindo, ao mesmo tempo que corria a uma grande velocidade, porque me sentia cansado não só de correr, mas também de escrever e como conseqüência do trabalho próprio dos minhas habituais ocupações. Enquanto pensava se tratava de um sonho ou uma realidade, me parecia entrar numa sala-de-estar onde havia, várias pessoas falando de coisas variadas (diversas). Se fixou uma longa conversação sobre o multidão de selvagens, que há na Austrália, nas Índias, China, África e particularmente na América, vivem ainda um número extraordinário sepultados na sombra da noite. Europa digo com seriedade um daqueles pensadores - A Cristã Europa, a grande mestra da civilização parece que se deixa levar de a partir respeito às Missões estrangeiras, poucos são os que se sentem animados a empreender distantes viagens à países desconhecidos para salvar almas de milhões de criaturas que também foram redimidas pelo Filho de Deus, por Cristo Jesus. Outro dito: que enorme, quantidade de idólatras vivem fora da igreja, cegos do conhecimento do Evangelho, somente na América! Os homens pensam e os Geógrafos acreditam que as Cordilheiras da América são como uma grande muralha que nos separam daquela parte do mundo. e não é assim. Aquelas extensas cadeias de montanhas tem muitas cavidades de mil e mais Km de longitude. Neles há selvagens inexplorados, bosque, animais, pedras que naquelas partes são escassas naquelas latitudes, carvão mineral, petróleo, cobre, ferro, prata e ouro escondidos naquelas montanhas, no lugar onde foram colocados pela não Onipotente de Criador em benefício dos homens. Oh! Cordilheiras, cordilheiras, como são ricos a vossa Zona Oriental! Naquele momento, senti-me impulsionado de desejo de poder explicações sobre muitas coisas e de saber quem fossem aquelas pessoas ali vividas e em que lugar me encontrava. Porém disse para mim: - Antes de falar, é necessário que observes que tipos de gente são estas. E dirigi a uma olhada ao meu redor e pude comprovar que todos aqueles personagens eram me desconhecidas. Eles entretanto, como se só naquele momento houvessem me conhecido. Me convidaram a aproximar-se e me acolheram bondosamente. Eu perguntei então: - Digam-me, por favor, estamos em Turim, Londres, Madri ou em Paris? Onde estamos? E vós quem são, quem sois? Com quem tenho o prazer de falar? Mas todos aqueles senhores contestavam de uma maneira vaga, falando sempre das Missões. Imediatamente depois se aproximou de mim um jovem de uns dezesseis anos, de amável expressão e de uma sobre-humana beleza, cujo corpo refletia uma luz mais radiante que do sol. Sua veste estava tingida com celestial formosura e na cabeça levava um chapéu à maneira de coroa, enfeitado de vivíssimas pedras preciosas. Olhado-me com os olhos de bondade, mostrou por mim um interesse especial. Seu sorriso expressava um afeto atraente ao extremo. Chamou-me pelo nome, tomou-me pelo mão e começou a falar-me da Congregação Salesiana. Eu me sentia encantado só de escutar sua voz. Em certo momento o interrompi dizendo-lhe: - E com quem tenho a honra de falar? Fazei o favor de dizer-me o vosso nome? E o jovem: - Não temais! Falas com toda confiança, que estais com um amigo - Mas e vosso nome? - Os diria se viesse ou fosso o caso, mas não faz falta, porque me deveis conhecer. E enquanto dizia isto, sorria. Me fixei melhor naquele fisionomia rodeada de luz como era belo! Então reconheci no filho do Conde Luiz Fleury Coeli, do Tolón, insigne benfeitor de nossas casas e especialmente das missões da América. Este jovenzinho havia morrido pouco tempo atrás. Oh! tu? Exclamei chamando por seu nome - Luiz! - E todos estes quem são? São amigos de vossos salesianos, e eu, como amigo vosso e dos salesianos, em nome do Deus, queria dá-los um pouco de trabalho. - Vejamos do que se trata. Que trabalho é este? - Senta-os aqui nesta mesa e depois tira desta corda. No meio daquela grande sala havia uma mesa sobre a qual estava enrolado uma corda e vi que a corda estava marcada como o metro com rachas e números. Mais tarde me dei conta de que também aquela sala estava colocada na América do Sul, precisamente sobre a linha do Equador e que os números gravados na corda correspondia aos graus geográficos de latitudes. Eu tomei, pois, um extremo da corda, examinei e vi que no princípio estava marcado o número zero. Assinalado. E eu ria: E aquele jovem angelical, me disse: - Não é tempo de rir! Observa! O que há escrito sobre a corda. - É o numero zero. - Puxa um pouco. - Puxei um pouco da corda e apareceu o número 1. - Puxa um pouco mais e faça um grande rolo com a coda. Assim apareceu os números 2,3,4, até o 20. - Basta? Perguntei. - Não, mais, mais. Continuei tirando até que encontrei um nó. - Replicou-me o jovenzinho! Continue tirando até o 47, aonde encontrei um nó grosso. Até aqui a corda seguia, porém dividida em numerosas cordinhas que se dirigiam ao oriente, ocidente ............... - Basta? Perguntei. Que número é? Perguntou o jovenzinho. - é o número 47. - Quantos fazem 47 + 3? - Cinqüenta + 5? - 55! - Não o esqueça! 55. Depois me disse. - Continue tirando. Já chegado ao fim - disse-lhe: Então volte para trás. Tira a corda por outra parte. Tirei a corda pelo lado oposto até chegar ao número 10. Aquele jovem disse então: - tira mais1 - Já não se pode mais. Não há mais? Observa bem! Que há? - Há água respondi. Com efeito, naquele momento aconteceu um fenômeno extraordinário, que seria impossível descrever. Er me encontrava naquela habitação, ao tirar aquela corda, à minha vista se perecia um panorama ( perspectiva) de um país imundo que se dominava com a vista de pássaro e que se estendia cada vez mais, conforme se ia esticando a corda. Desde o número zero até o número 55, era uma extensão de terra imensa que, depois de um estreito mar, ao fundo dividia-se com ilhas. Das ovais, uma era muito maior que as outras. A estas ilhas parece que tendiam as cordas esparramadas que partiam de um grande nó. Cada corda ia dar a uma olha. Algumas destas estavam habitadas por indígenas bastante numerosos, outras estéreis, desnudas, "rocosas", desabitadas; outras completamente cobertas de gelo e neve. Ao Ocidente numerosos grupos de ilhas habitadas, representa-se o lugar de partida, o centro salesiano, Salieran fazia as Ilhas Malvinas, Terra do Fogo (Argentina) e outras ilhas daquelas regiões da América. Da parte oposta, isto é, de zero a vinte continuava a mesma terra terminando naquela água que já havia visto ultimamente. Me parecia que aquela água era o Mar das Antilhas que contemplava, então de maneira tão surpreendente que não seria possível descrever com palavras tal visão. Quando eu disse: há água, aquele jovem me respondeu: - Agora some 55 + 10, quantos fazem? E eu: - Somam 65. - Agora ponha tudo juntos e formateis uma só corda. E depois? - Feita esta parte, que é que há? - E me assentava a um ponto no panorama. - Faria ao ocidente vi altíssima montanhas e ao oriente ao mar. Há de fazer notar que eu via todo o conjunto, como em miniatura, o mesmo que depois, como direi, vi em sua grandiosa realidade e em toda sua extensão, e os dados assinalados na corda e que correspondia com exatidão aos dados geográficos da latitude, foram os que me permitiram reter na memória puramente vários anos os pontos sucessivos que visitei, ao fazer a viajem na Segunda parte do sonho. Meu jovem amigo prosseguiu: - Pois bem, estas montanhas são como uma "orilha", como um confim. Desde aqui até a se estender a "mies" oferecida aos salesianos. São milhares e milhões de habitantes que esperavam vosso auxílio, que aguardam a fé. Estas montanhas eram as Cordilheiras dos Andes da América do Sul e aquele mar é o Oceano Atlântico. E, como fazer? Repliquei eu, e como conduzir tantos povos ao rebanho de Jesus Cristo? Como fazer? Veja! E aqui chega Dom Angel Lago, que trazia uma cesta de figos pequenos e verdes, o qual me disse: - Tome, Dom Bosco! Que me traz? - Perguntei enquanto me "pisava" uma "canasta" no continente do "canasto". - Me havia dito que os trouxesse a você. - Porém estes figos não são comestíveis, não estão maduros. Então meu jovem amigo tomou aquele "canastro" que era muito largo, mas que tinha muito pouco fundo, e me apresentou dizendo? - Heis aqui a dádiva que os trago! - E que devo fazer com estes figos? - Estes figos não estão maduros, mas pertencem a grande figueira da vida. Deves encontrar uma maneira de fazê-las amadurecer. - E como? Se fossem mais grandes... se poderia fazê-las amadurecer com palhas como se faz com os demais frutos, mas tão pequenas... tão verdes... é impossível. - Muito ao contrário, haveis de saber que para fazer amadurecer estes figos é necessário que todos eles se unam de novo à planta. Isso é incrível! Como fazer? - Veja. E tomando um daqueles frutos o introduziu num vaso cheio de sangue; depois no outro vaso de água e disse: - Com o suor e com o sangue, os selvagens ficaram de novo unidos a planta e serão gratos do dono da vida. Eu pensava. - Mas para conseguir isto é necessário muito tempo. E em seguida disse em alta voz: - Não sei o que dizer. Mas aquele jovem, tão querido por mim, lendo os meus pensamentos prosseguiu: - Isto se conseguirá antes que termine a segunda geração. - E qual será a Segunda geração? - O presente não conta. Haverá uma e depois outra. Eu falava confusamente, perturbado e como balbuciando ao escutar os magníficos destinos reservados a nossa Congregação e perguntei: - Mas cada uma dessas gerações, quantos anos compreendes? - Sessenta anos! - E depois? - Queres ver o que vai acontecer depois? Venha! E sem saber como, me encontrei numa estação da ferroviária. E nela havia reunida muita gente. Subimos ao trem. Eu perguntei onde estávamos. Aquele jovem me respondeu: - Nota bem! Veja! Vamos de vagem ao Largo de Cordilheira. Tem o caminho aberto também ao Oriente até ao mar. É o outro presente de Deus. E a Boston, aonde nos aguardam, quando iremos? - Cada coisa a seu tempo. E, assim dizendo tirou um mapa onde se destacava a grande Diocese de Cartágena (Colômbia). (Este era o ponto de partida). Entretanto eu examinava aquele mapa, a máquina apitou e o trem se pôs em movimento. Durante a viagem, meu amigo falava muito, mas eu não podia ouvi-lo devido o barulho do tem. Contudo, aprendi coisas belíssimas e novas sobre astronomia, náutica, meteorologia, sobre a fauna e flora, sobre a topografia daquelas regiões, que ele me explicava com maravilhosa precisão. Salpicava, entretanto suas palavras com uma dignidade, e ao mesmo tempo, tinha familiaridade demonstrando o afeto que demonstrava por mim. Desde o princípio, petróleo tão abundantes, como até agora não se estivesse encontrado em outros lugares, mas isso não era tudo. Entre o grau 15 e 20 havia uma quantidade tão extensa e tão estreita que partia de um ponte onde se formava um lago. Então uma voz dizia repetidas vezes: - Quando se comecem a explorar as minas escondidas naqueles montes, aparecerá aqui na terra prometida, que mana leite e mel. Será uma riqueza extraordinária. Por pouco isso era tudo, o que mais me surpreendeu foi ao ver, em vários lugares, das cordilheiras, que as coisas se refazia em si mesmas. Formavam vales, dos quais os atuais geógrafos não poderia imaginar da existência, imaginando-se que naquelas partes entre as montanhas estão como cortadas a pico. Nestes vales e nestas aparências que talvez se estendiam milhares e milhares de quilômetros habitadas por densas povoações que nem tinham entrados em contato com os europeus, povos que são completamente desconhecidos. O trem continuava talvez, a toda velocidade e depois de girar de um lado e outro, parou-se. Ali desceu uma grande parte dos passageiros que, passando debaixo das cordilheiras, se dirigiram ao Ocidente (Dom Bosco se referia a Bolívia). A estação era talvez a La Paz, de onde a passagem a abrir passo rumava a direção do litoral do Pacífico, pode estabelecer em comunicação ao Brasil com Lima por meio de outra ferrovia. O trem pôs em movimento novamente, seguindo sempre rumo adiante. Como na primeira parte da viagem atravessamos florestas, entramos em alguns túneis, passamos sobre enormes viadutos, passamos entre as montanhas, costeamos lagos e lagoas, sobre enormes pontes cruzamos rios extensos, recorremos imensas planícies e pradarias. Beiramos o Uruguai. Creio que era um rio pico caudaloso, porém, era extenso. Em um momento vi o Rio Paraná que passa ao Rio Uruguai como se viesse oferecer o tributo de suas águas, mas depois de percorrer um bom trecho paralelamente, se afastam fazendo uma longa volta. ambos Rios caudalosos. (Segundo estes poucos dados parece que esta futura linha ferroviária, saindo de La Paz chegaria a Santa Cruz, passando pela única abertura que existe nos montes chamados Cruz da Serra, que o atravessado pelo Rio Guapai, beirado pelo Rio Parapiti na Província dos Pequeninos, na Bolívia; tocaria o extremo norte da República Paraguaia; entraria depois na Província de São Paulo, no Brasil, chegando ao Rio de Janeiro. De uma estação intermédia da Província de São Paulo, partiria talvez na linha ferroviária que, passando entre os Rios Paraná e Uruguai, uniria a capital do Brasil com as Repúblicas do Uruguai e Argentina). O trem continuava em movimento girando de uma parte e outra, depois de uma longa viagem, parou pela Segunda vez. Aqui desceu também de comboio muita gente que passando debaixo das cordilheiras se dirigiu rumo ao ocidente. (Dom Bosco indicou na República Argentina na Província da Mendonza. Portanto, a estação era talvez a de Mendonza de túnel a que põe em comunicação com Santiago, capital do Chile). O trem suspendeu a marcha através das pampas e da Patagônia. Os campos cultivados e as casas agitadas por uma parte e outra, indicavam que a civilização tomava posse daqueles desertos. Ao começar a percorrer a Patagônia, passamos junto a uma ramificação do rio, portanto, Colorado do Chubut (ou talvez o Rio Negro). Não podia comprovar se sua corrente ia rumo ao Atlântico ou na direção das Cordilheiras. Queria resolver este problema, mas não conseguia, não sendo possível de orientar-me. Finalmente, chegamos ao Estreito de Magalhães. Eu olhava. Baixamos. Me vi ponto de areias. Sozinho, por distância de várias milhas, estava todo recoberto de minerais preciosos, de carvão, de tabelas de trave de madeira, de imensos montes de metal, parte em bruto, parte trabalhado. Largas filas de transportes de mercadorias ocupavam as estradas. Meu amigo me explica todas estas coisas. Então lhe perguntei: - O que agora é só projeto ou um dia será realidade? - Estes selvagens no futuro serão de vocês que eles mesmos irão instruir-se, rendendo seu tributo na religião, na civilização e ao comércio. O que em outras partes é motivo de admiração, aquilo será até o ponto de superar a quanto causa diminuição entre povos. - Já tenho visto bastante - respondi; agora leva--me a ver os meus salesianos da Patagônia. - Voltamos a estação e sugamos ao trem para o regresso. Depois de percorrer um grande trecho do caminho, a máquina pariu junto a um povo bastante grande. (Situado, talvez no grau 47, de onde no princípio do sonho havia visto aquele grosso nó da corda). Na estação não tinha nada me esperando. Desci do trem e encontrei imediatamente com os salesianos. Havia ali muitas casas e grade número de habitantes, várias igrejas, escolas e vários colégios para jovens, internatos para adultos, artesões e agricultores e uma casa de religiosas que se dedicavam nos diversos trabalhos. Nossos missionários de encarregavam ao mesmo tempo, dos jovens e dos adultos. Eu me encontrei e fui no meio deles. Eram muitos, mas eu não os conhecia e entre eles não via nenhum dos meus primeiros filhos. Todos de olhavam maravilhados, como se fosse uma pessoa desconhecida e eu lhes dizia: - Não me conheces? Não conhece a Dom Bosco? - Oh, Dom Bosco! Nós te conhecemos de fama, nas fotografias. Não pessoalmente! E Dom Fagnano, Dom Costamagna, Dom Lasagna, Dom Milanésio, onde estão? - Nós não conhecemos. São os que vieram aqui em tempos passados. Os primeiros salesianos que chegaram da Europa a esses países. Também tantos anos depois de sua morte! Ao ouvir essa resposta, pensei admirado: - Mas, isto é um sonho ou uma realidade? E batia as mãos uma contra a outra me tocava os braços e me movia que não estava dormindo. Esta visão foi coisa de um instante. Depois de contemplar o progresso maravilhoso da Igreja católica, da Congregação e da civilização naquela região, eu dava graças pala Providência por haver-se dignado servir-se de mim como instrumento de sua glória e da salvação das almas; O jovem Colle, entretanto, me deu a entender que era hora de voltar atrás, portanto, depois de saudar a meus salesianos, voltamos na estação, onde o trem estava preparado para a partida. Subimos, ligou a máquina e nos dirigimos direção ao Norte. Me causou grande maravilha uma novidade que pode contemplar. O território da Patagônia, em sua parte mais próxima ao estreito de Magalhães, entre as cordilheiras e o Oceano Atlântico, era menos largo do que ordinariamente crêem os geógrafos. O trem avançava velozmente e me pareceu que percorria nas províncias hoje já civilizadas da República Argentina. Em nossa viajam penetramos em uma floresta virgem., muito extensa, larguíssima, interminável. A certo ponto a máquina se parou e, ante a minha vista, apareceu um doloroso espetáculo. Uma multidão imensa de selvagens se havia concentrado em um espaço largo da floresta. Seus rostos deformados e repugnantes; estavam vestidos de peles de animais, costurado uma nas outras. Rodeavam a um homem amarrado que estava sentado sobre uma pedra. O prisioneiro era muito gordo, porque os selvagens os haviam alimentados bem. Aquele coitado havia sido capturado e parecia, pertencer a uma nação estrangeira pela qualidade de suas aparências. Os selvagens submetidos a um interrogatório e ele lhes respondia narrando-lhes suas diversas aventuras, frutos de suas vagens. De repente, um selvagem se levantou e pegando um grande ferro que não era uma espada, portanto muito mais afiado, se lançou sobre o prisioneiro e de um só golpe o cortou a cabeça. Todos os passageiros estávamos fora das portas e das janelas, observando a cena e mudos de espanto. O mesmo Colle olhava e calava. A vítima deu um grito desgarrador ao ser ferida. Dobre o cadáver, que escorria um lago de sangue, se lançarem aqueles ferozes e fazendo-o pedaço colocaram aquelas carnes a quente e palpitantes sobre um fogo aceso apropriado, e, depois de assá-las pouco a pouco começaram a comê-las meios cruas. O grito daquele desgraçado, a máquina se pôs em movimento e pouco a pouco conseguiu sua velocidade vertiginosa. Durante longas horas, avançamos ao largo da beira de um ria interminável: e o trem, umas vezes, passava pela beira direita e, às vezes, pela esquerda. Eu me continuava pela janela dos pontos sobre os quais fazíamos estas mudanças. Entretanto, sobre aquelas apareciam de vez em quando numerosas tribos de selvagens. Sempre que víamos aquelas multidões, jovem Colle repetia: - Heis ai a messe dos salesianos! Heis ai a messe dos salesianos! Entramos depois em uma região cheia de animais ferozes e de cobras venenosas, de forma estranha e horríveis. Formigavam por entre os montes, pelas voltas das colinas, pelo oriente daqueles montes e daquelas colinas cobertas de sombra, pelas beras dos lagos, pelas margens dos rios, pelas lagoas, pelos decliveis, pelas praias. Una pareciam cachorros com alas e eram extremamente gordos, de grande abdome (símbolo de gula, da luxúria, da soberba). Outros eram sapos grandíssimos que se alimentavam de rãs. Se via certos esconderijos cheios de animais de formas diversas dos que nos conhecemos. Estes três espécies de alimárias estavam misturadas e rosnavam surdamente como se quisesse morder-se. Via-se também tigres, hienas, leões, por diferentes das espécies comuns da Ásia e África. Meu companheiro então me dirigiu a palavra, dizendo-me enquanto me notava aquelas feras. - Os salesianos amansaram. O trem entretanto, se aproximou ao lugar de onde havíamos saídos, do qual já estávamos pouco distantes. O jovem Colle tirou então um mapa topográfico de uma beleza extraordinária e me disse: - Queres ver a viagem que fizemos? As regiões que percorremos? - Com muito prazer, lhe respondi. Então estendeu aquele mapa o qual estava desenhada com maravilhosa perfeição toda a América do Sul. Logo mais ali estava representado todo aquele que foi, todo o que é, tudo o que será daquela região, sem confusão alguma, mas com uma claridade tal que de um só golpe de vista se via todos. Eu o compreendi imediatamente, porém os detalhes eram tantos, a clara visão daquelas coisas me durou apenas uma hora e, na atualidade, em minha mente reina uma grande confusão. Enquanto contemplava aquele mapa na espera daquele jovem apareceu alguma explicação, emocionado pela surpresa do que tinha antes meus olhos, me parecia que Quirino tocasse o Ave-Maria do amanhecer, me despertei e me dei conta que eram sinos da paróquia de San Benigno. O sonho havia durado toda a noite. Observações: Teve-o em 30 de agosto em San Benigno Canavese, durou toda a noite. Contado em 4 de setembro aos membros do III Capítulo Geral dos salesianos, reunidos em Valsálice. Dom Lemoyne escreveu imediatamente e Dom Bosco repassou do começo ao fim, corrigindo-o e modificando algo. Em 16 de outubro de 1883 escrevia Dom Bosco a Lemoyne: "Faça favor de terminar o sonho da América, em seguida, manda-me. O capataz Colle disse, que queria traduzido em francês; procurarei fazê-lo imediatamente". Em 12 de Novembro do mesmo ano ainda não havia corrigido, pois esse dia escreve a Dom Costamagna: "O sonho de Dom Lemoyne deve ser corrigido em algumas coisas, e o verás". Este sonho resulta enigmático, enquanto aponta muitos dados do tipo científico, desconhecidos para Dom Bosco, e que os descobrimentos posteriores haviam confirmados. Tinha sido acreditado o sonho profético, talvez tenha feito mais curioso a este respeito seja o seguinte. Em 21 de abril de 1960 se inaugurou-se a cidade de Brasília como nova capital do Brasil. Fizeram muitos estudos, e os engenheiros escolheram este lugar, no Estado de Goiás. Estes engenheiros haviam ouvido falar de Dom Bosco, o examinaram e o atribuíram o valor de profecia, ao indicar a latitude 19 e 20 de onde corre leite e mel à beira de um grande lago. Por causa de Brasília, esta situada precisamente entre os 15 e 20 graus de latitude; o lago teria sido criado artificialmente. Foi dedicado a Dom Bosco padroeiro de todo um bairro das principais ruas e, em abril de 1963, foi declarado Padroeiro principal de Brasília, com a mesma devoção que à Nossa Senhora de Aparecida. 34. A PALAVRA DE DEUS E A MURMURAÇÃO (1876) (MB 12, 41-46 = MBe 12, 45-51) Me parecia encontrar longe daqui cerca de Castelnuovo D'Asti meu povoado. Rinha diante de mim uma grande extensão de terreno, situado numa ampla e bela planície. Mas aqueles terras não eram nossas nem eu sabia de quem fosse. Naquele campo havia muitos trabalhando com escada, pá, rastelo e outras ferramentas. Um arava, outro semeava, outro igualava a terra, aquele fazia outra coisa. Venha cá e naquele lugar capatazes dirigindo os trabalhos e entre estes últimos, me pareceu encontrar-me também eu. Diversos coros de lavradores estavam em outra parte cantando. Eu os observava todos maravilhado e não sabia identificar aquele lugar. Para mim desconhecido, entretanto disse a mim mesmo: - Mas por que estes trabalham tanto? E me contestava: - Para proporcionar o pão a meus rapazes. E era verdadeiramente admirável a ver como aqueles bons agricultores não interrompiam nem por um instante só o trabalho aplicados constantemente à sua terra com ardor crescente eu com uma diligência semelhante, só alguns riam e gracejavam entre si: - Entretanto contemplava, tão belo espetáculo. E dirigi a vista ao meu redor e comprovei que me rodeavam alguns sacerdotes e muitos meus clérigos, uns muito próximos a mim e outros um pouco mais distantes. - Disse comigo mesmo: - Devo estar sonhando e meus clérigos estão em Turim. Aqui entretanto, estamos em Castelnuovo, ainda mais, como pode ser isto? Estou vestido de inverno dos pés à cabeça; ontem mesmo senti um frio intenso e enquanto, aqui estão nevando, entretanto, me disse: - Mas, não, não deve ser um sonho porque o que estou vendo é um campo; este clérigo é o clérigo A... na pessoa, e aquele outro clérigo B... ademais, no sonho como ia poder ver este e aquele outro? Entretanto vi ali perto, se bem que à parte, (bem perto) a um ancião que por seu aspecto parecia muito benévolo e sensato, entretido em observar-me e também os demais. Me aproximei e lhe perguntei: - Diga-me, bom homem, o que é que eu estou vendo? Por que é que não entendo nada? Onde estamos? Quem são estes trabalhadores? De quem é o campo? - Oh! me respondeu o desconhecido, vai uma pergunta que me ei de fazer! O senhor é sacerdote e desconhece estas coisas? - Mas, vamos, diga-me, lhe repliquei. Ao senhor lhe parece que estou sonhando ou desperto? Porque a mim me parece que estou sonhando e não creio possíveis as coisas que estou vendo. - Possibilíssimas, melhor dizendo, reais, e a mim me parece que o senhor está completamente desperto. Não se dá conta? Fala, ri, graceja. - Se, porém, há alguns aumentos, a quem lhes parece que no sonho falam, ou trabalham, como se estivessem despertos. - Não, não, desde essa idéia; o senhor está aqui de corpo e alma. - Bem, seja como disse; e já que estou desperto, diga-me de quem é este campo. - O senhor tem estudado latim, continuou o ancião; qual é o primeiro nome da Segunda declinação que tem estudado em Donato? Se recorda ainda? - Sim, o recordo, entretanto, que tens a ver isto com o que lhe perguntei? - Muitíssimo, replicou o desconhecido. Diga, pois, o primeiro nome que se estuda na Segunda declinação. - O Senhor - e como faz o caso. - Senhor. - Bem, muito bem, Senhor; este campo, pois é o Senhor do Senhor. - Aí começo a entender algo, exclamei. Estava maravilhado da maneira de proceder daquele ancião. Entretanto, vi a várias pessoas que chegavam com sacos de trigo para semeá-lo e um grupo de campesinos que cantavam:Exit Qui seminat seminare semen suum.(saiu o semeador a semear sua semente). A mim me parecia um crime arremessar aquela semente e fazê-la apodrecer debaixo da terra. Era um trigo tão magnífico! - Não seria melhor, dizia comigo, moê-la e fazer com ela o pão de massas? Porém, depois pensei: - quem não semeia não colhe. Se não semeia a semente e esta não morre, que recolherá depois? Entretanto vi sair de todas as partes uma quantidade extraordinária de galinhas que se metiam no semeado para comer o trigo os outros haviam arremessados como sementes. E o grupo dos cantores prosseguiram cantado: Venerunt aves caeli, sustulerunt frumentum et reliquerum zizaniam. (Vieram as aves do céu, e levaram o trigo e deixaram a cinza). Eu dei uma olhada ao redor e observei os clérigos que estavam comigo. Um, com os braços cruzados, olhava os demais com fria indiferença; outro falava com os companheiros; alguns se contraía os ombros, este olhava para o céu, aquele ria ao contemplar o espetáculo, outros prosseguiam tranqüilamente seus recreios e seus jogos, os outros desempenhavam alguma de suas ocupações; entretanto, nenhum fazia para espantar as galinhas e lançá-las fora. Eu virei então, a eles muito angustiado e, chamando a cada um por seu nome, lhes disse: - Mas o que fazeis? Não vês que as galinhas estão comendo o trigo? Não vês que estão destruindo a boa semente, fazendo desvanecer-se todas as boas esperanças destes agricultores? Que recolheremos depois? Por que permaneceis aí mudos? Por que não gritais? Por que não as espantais? Porém, os clérigos se encolhiam os ombros, me olhavam e não diziam nada. Alguns não se voltaram a escutar-me; nem se haviam permanecidos no campo, nem se preocuparam de fazê-lo depois que eu os repreendi. Que ignorantes que sois! Continuei. As galinhas tinha já o papo cheio. Não podeis dar umas palmadas assim? E, ao dizer isto, comecei a aplaudir, encontrando verdadeiramente enrolado, pois, minhas palavras não serviam para nada. Então, alguns começaram a espantar as galinhas, mas eu dizia comigo: - Sim, sim! Agora que já se haviam comido o trigo vão tocar as galinhas. E, entretanto, chegou até mim o canto o canto do grupo dos campesinos, cuja letra dizia: Canis muti nescientes latrare.(............ mudos que não sabem roubar). Então me dirigi aquele bom ancião e, entre estupefato e indignado, lhe disse: - Vamos! Dê-me uma explicação do que estou vendo; que não entendo nada. Que representa essa semente arremessada à terra? - Esta é boa! Replicou o velho. Semen est verbum Dei. (A semente é a palavra de Deus). - E que quer dizer o feixe que as galinhas come como acabo de ver? O velho, mudando de tom de voz, prosseguiu: - Oh! Se queres uma explicação mais completa eu o darei. O campo é a vinha do Senhor, de que nos fala o Evangelho, e pode também representar o coração do homem. Os agricultores são os trabalhadores evangélicos, que semeiam a palavra de Deus especialmente com a pregação. Esta palavra podia produzir muito fruto no coração que fosse terreno bem preparado. Entretanto, que acontece? Que vem as aves do céu e se levam a semente. - Que representam esses animais? - Quer que o diga? Simbolizam a murmurações. Depois de ouvir uma prática que podia produzir seu efeito, começam os comentários com os companheiros. Um ridiculariza um festo, outro a foz, outro a palavra do pregador e heis que o fruto do sermão desaparece. Ouro acusa o pregador de um defeito físico ou intelectual; um terceiro se fé de sua forma de expressão e o fruto da prática cai por terra. O mesmo havia que dizer de uma boa leitura, cujo bem cai destruído pela murmuração. As murmurações são tanto mais más quando que geralmente são secretas, escondidas e vivem e crescem onde menos suspeitamos. O trigo, ainda que caia em um terreno muito bem cultivado, nasce, cresce, alcança uma altura bastante considerável e produz fruto. Quando sobre um campo recém semeado se bate a tempestade, o campo cai assolado e não produz muito fruto, mas algo produz. A messe não será muito vistosa, mas as plantas crescerão; darão pouco fruto, mas alguns darão. Porém, quando as galinhas ou os pássaros bicam as sementes, ai não há nada que fazer: o campo não produzirá nem pouco, nem muito; não produzirá fruto de nenhuma classe. Da mesma maneira, se as praticas, se as exortações, se os bons propósitos são seguidos de uma distração, de ma tentação, etc., darão menos frutos; ao contrário, se segue a murmuração, o falar mal ou coisas semelhantes, não se perde algo, senão todo por completo. E a quem lhe corresponde incentivar, insistir, gritar, vigiar para que estas murmurações, para que estas más conversações não se produzam? O senhor o sabe! - Mas, o que é que faziam aqueles clérigos? Lhe perguntei. Acaso, não podiam eles impedir tão grande mal? - Nada impediram, prosseguiu o velho. Uns estavam observando como estátuas mudas; outros não se olhavam, não pensavam, não viam ou estavam com os braços cruzados; outros não tinham valor para impedir tal mal; alguns, ainda que poucos, se uniam aos murmuradores, tomando parte nas maledicências e fazendo o ofício de destruidores da palavra de Deus. Tu que és sacerdote, insista sobre isto: prega, exorta, fala, não tenhas nunca medo de dizer demasiadamente; todos sabem que o pôr em ridículo a quem prega, a quem exorta, a quem dá bons conselhos é uma das coisas que podem ocasionar maior mal. E o permanecer mudo quando se vê alguma desordem e não impedi-la, especialmente se se pode e se deve, é fazer-se cúmplice do mal dos demais. Eu, impressionado ao ouvir estas palavras, queria seguir olhando, observando este ou aquele, admoestar os clérigos e animá-los a cumprir com seus deveres. Porém vi que se apressavam a pôr em fuga as galinhas. Ao avançar uns passos tropecei com uns rastinhos deles estendidos sobre a terra, que haviam deixados ali, e me despertei. Agora deixemos todos de lado e tiremos alguma moral. Vejamos que lhe parece este sonho a Dom Júlio Barberis. - Que é um garratazo (termo incorreto) com todas as da lei e que, ao que lhe dá de cheio, não deixa bem parado. - Certo, replicou Dom Bosco; é uma lição de que temos de tirar proveito. Não o duvideis queridos jovens; evitar entre vós toda sorte de murmuração, considerando-a como o maior dos males. Fugi dela como se foge da peste e procurar não só evitá-la, senão fazer que os demais também a evitem. Algumas vezes, uns conselhos santos, umas obras extraordinariamente boas, não fazem tanto bem como o que consegue impedir uma murmuração ou uma palavra que possa estragar aos demais. Revistamo-nos de valor e combatamo-la valentemente. Não há pior desgraça que fazer perder sua eficácia à Palavra de Deus. E às vezes basta uma palavra, basta um parasita". Observações: Contado em 23 de janeiro; tendo "fazia várias noites". O Donato do texto era o livro de Gramática Latina, escrito por um tal Donato, célebre autor de gramática no século V. 35. AS VOCAÇÕES (1878). (MB 13, 761-764 = MBe 13, 646-649) Estou muito contente de voltar a ver o exército de meus filhos armados contra o "diabolum". Esta expressão ainda que latina a compreende até mesmo o Cottino. Teria de dizer-lhes muitas coisas, porque é a primeira vez que os falo depois das vocações; mas agora os quero contar um sonho. Vós sabeis que os sonhos se tem dormindo e que não há mal nenhum em não crer neles, talvez nem há, também em crer neles, podendo nos servir às vezes de lição como por exemplo este. Me encontrava em Lanzo durante o primeiro turno de exercícios e estava dormindo quando, como os digo, tive um sonho. Pareceu-me estar em um lugar que não sabia identificar, entretanto se falava próximo a um povo no qual se via um jardim e junto a este um amplíssimo prado. Estava em companhia de alguns amigos que me convidavam a entrar no jardim. Penetreio e vi uma multidão de cordeirinhos que saltavam, corriam e faziam mil saltos segundo seus costumes. Quando eis que de repente se abriu uma porta que ponha em comunicação com o prado, e os cordeirinhos correram a ele para pastar. Muitos, contudo, não se preocuparam em sair, somente ficar no jardim e iam de um lado para o outro disputado algumas ervazinhas, alimentando-se desta maneira, posto que não havia erva em tanta abundância como no prado, o qual havia saído o maior número daqueles animais. - Vou ver o que é que fazem estes animais aí fora, disse-me. Fomos ao prado e os vi passeando tranqüilamente. Mas heis que de repente se escurece o céu, brilham os relâmpagos, estronda o trovão s se aproxima uma tempestade. - Que será destes animais se aos montes os atormentas? Dizia eu. Vamos pô-los a salvos. E comecei a chamá-los. Depois, eu por uma parte e os meus companheiros por outra, procurávamos perseguí-los, porém, que se queres! Eles eram mais velozes que nossas pernas. Entretanto, começaram a cair densas gotas, depois a chover intensamente e eu não conseguia reunir o gado. Uma ou duas ovelhas entraram afortunadamente no jardim, mas, as demais, e eram muitíssimas continuavam no prado. - Bem, se não querem entrar no jardim, pior para elas, eu disse. Vamos nos retirar. E assim fizemos. No jardim havia uma fonte sobre a qual se via escrito com caracteres alongados: fons signatus, (fonte selada). Estava fechada, porém, num repente se abriu, e a água subiu em direção à altura e se dividiu formando um arco-íris, semelhante a uma abóbada como a deste pórtico. Entretanto, repetiam cada vez mais os relâmpagos, seguidos de violentos travões, e começou a cair granizos. Nós com todos os cordeirinhos que estavam no jardim, nos aparamos e cobrimos debaixo daquela abóbada maravilhosa onde não penetravam a água nem o granizo. - Entretanto, que é isto? Eu perguntava aos amigos. Que será dos pobrezinhos os quais haviam ficado fora? - Já verás, me disseram. Olha na testa destes cordeiros, o que observas? Me fixei e vi que, sobre a testa de cada um estava escrito o nome de um rapaz do Oratório. - Que é isto? Perguntei. - Verás, verás! Entretanto eu não podia deter-me mais e quis sair para ver o que lhes havia acontecido aos pobres cordeirinhos que estavam no prado. - Recolherei os que estão mortos e os enviarei ao Oratório, pensava comigo. Mas, ao sair de debaixo daquele arco, a chuva caía sobre mim e vi àquelas pobres bobinhas estendidas por terra, movendo as patas tentado levantar-se para dirigir-se em direção ao jardim; entretanto não podiam andar. Abri a porta, levantei a voz, mas seus esforços eram inúteis. A chuva e o granizo continuavam açoitando-as de tal maneira que causava lástima; uma era ferida na cabeça. Outra na queixada, esta no olho, aquela na pata, outras em diversas partes do corpo. Depois de algum tempo, a tempestade cessou por completo. - Observa, mi disse o que estava ao meu lado, a testa destes cordeiros. E vi escrito no lugar indicado o nome de cada um dos rapazes do Oratório. - Conosco o rapaz que leva esta nome, me disse: eu não me pareço precisamente um cordeirinho. Seguidamente me apresentaram um vaso de ouro com tampa de prata e ao mesmo tempo escutei estas palavras: - Toca com as tuas mãos ungidas neste bálsamo as feridas destes animais e curarão-os imediatamente. Eu então, comecei a chamá-los: - Brrr, brrr! Não se moviam. Repeti a chamada e nada; planejei aproximar-me de um e se apartou arrastando-se. Eu lhe seguia, entretanto o jogo voltava a repetir-se. - Não quer? Pior para ele! Exclamei. Irei em busca de outro. E assim o fiz, mas também este escapou. A quantos me aproximava para ungi-los e curá-los saíam em fuga. Eu os perseguia, porém, inutilmente. Ao fim alcancei a um; pobrezinho! Tinha os olhos fora das órbitas e em tão mal estado que dava compaixão. Só o toquei com a mão. Curou e, saltitando, correu ao jardim. Então outras muitas ovelhas, ao ver esta, não manifestaram repugnância, se deixaram tocar e curar e entraram no jardim. Entretanto eram muitas as que ficavam fora, especialmente as mais chagadas, as quais não me foi possível aproximar-me. - Se não querem curar. Pior para elas! Entretanto, não seu como poder fazer para que entrem no jardim. - Deixa por minha conta, me disse um dos amigos que estavam comigo. Já venham, já venham! - Já veremos, disse eu. Coloquei o vaso onde havia estado primeiramente e voltei ao jardim. Este havia mudado por completo, e pude ler a sua entrada: Orátório. Apenas entrei nele, heis que os cordeirinhos que não haviam querido vir, se aproximaram, entraram apressadamente e correram a lançar-se por um lado e por outro; porém, neste momento pude me aproximar deles. Haviam vários que, não querendo receber a unção, conseguiram que este se convertesse para eles em veneno que em lugar de curar-lhes as chagas se irritavam ainda mais. - Olha, me disse um amigo, vês aquele estandarte? Me voltei e vi balançar ao vento um grande estandarte no qual se lia escrito em grandes caracteres: vocações. - Sim, o vejo, repliquei. - Aí tens o efeito das vocações, adiantou um dos que me acompanhavam, enquanto eu me sentia arrasado de dor ao contemplar aquele espetáculo. - Teus jovens, continuou o tal, saem do Oratório para ir a passar (palavra incerta) as vocações, decididos a alimentar-se com a palavra de Deus e a conservar-se bons; entretanto depois sobrevêm o temporal, estes são as tentações; seguidamente a chuva, os assaltos do demônio; depois cai o granizo, que representa as caídas no pecado. Alguns recobram a saúde com a confissão, mas outros não usam bem este sacramento u não se empenham a ele em absoluto. Não duvides e não se canse jamais de repetir a teus jovens: as vocações são como uma grande tempestade para suas almas. Observava eu àqueles cordeiros, descobrindo em alguns deles feridas mortais; estava buscando a maneira de curá-los, quando Dom José Scarppini, que havia feito ruído na habitação próxima me despertou. Este é o sonho e, ainda que é um sonho, tem um significado que não fará nenhum mal ao que lhe preste fé. Posso dizer que anotei alguns nomes dos muitos que vi na frente dos cordeiros e, confrontando-os com os jovens, comprovei que se portavam como indicava o sonho. Seja como for, devemos, nesta Novena dos Santos, corresponder a bondade de Deus, que quer usar de misericórdia conosco e, mediante uma boa confissão, curar as feridas de nossa consciência. Devemos, além disso pôr-nos todos de acordo para combater ao demônio e com o auxílio do céu sairemos vitoriosos desta luta e conseguiremos receber o prêmio da vitória no Paraíso. Observações: Teve-o em Lanzo na primeira sessão de exercícios espirituais de setembro e contado em24 de outubro. A princípio se alude a Cottino: era um empregado as sala de jantar que se dava de poeta. 36. SONHA EXERCÍCIOS ESCOLARES (1831 / 1834) (MB 1, 253-254 = MBe 1, 215-216) Uma noite sonhei que o professor tinha proposto o trabalho de avaliação para os novos postos e que o estava realizando. Apenas se despertou da cama e escreveu o trabalho, que era um ditado de latim; depois fui traduzi-lo com ajuda de um sacerdote amigo seu. Resultou que na manhã seguinte, o professor deu, o resultado na sala, o trabalho de exame e precisamente o mesmo tema que João havia sonhado; de modo que se servisse do dicionário sem demorar muito tempo, escreveu em seguida sem trabalho, tal como recordava Ter feito no sonho e havia sido tornado, e acertou de tudo. Perguntado pelo professor, o explicou a coisa com toda sinceridade causando-lhe naturalmente uma vivíssima admiração. Em outra ocasião, entregou João seu escrito tão pronto que o professor não lhe parecia possível que um rapaz tinha conseguido superar tanta dificuldade gramaticais em tão pouco tempo; por isso leu a página com a maior atenção. Admirando ao ver um trabalho tão perfeitamente feito, mandou que lhe apresentasse o borrador. João o entregou. Nova surpresa. O professor havia preparado o tema a tarde anterior, e como lhe parecia demasiadamente longo, havia ditado somente a metade no caderno de João o encontrou todo inteiro sem uma sílaba a mais nem uma sílaba a menos. Que havia acontecido? Não era possível que, em tão pouco tempo, o houvesse copiado, e não dava para imaginar talvez, que houvesse entrado na casa do professor, muito distante da casa onde João morava. Então, o quê? João Bosco explicou "Que havia Sonhado". 37. UM VALE EXTENSÍSSIMO E UMA ALTA COLINA (O corcel misterioso - 1875) (MB XI, 257-264 = MBe 11, 223-226) Tarde de 4 de maio de 1875. Eis-me a manter a minha promessa. Sabeis que os sonhos se têm dormindo. Avizinhando-se, então, o tempo dos Exercícios Espirituais, pensava eu no modo com que o fariam os meus alunos e o que lhes deveria sugerir para tirarem fruto dele. Fui deitar-me com esse pensamento na noite do domingo, 25 de abril, véspera dos Exercícios. Mal me deitara, adormeci e pareceu-me estar completamente só em um extensíssimo vale. De ambos os lados havia uma alta colina. No fundo, de um lado, elevava-se o terreno e aí emitia seus raios uma luz clara; do outro lado, o horizonte estava semi-escuro. Um belíssimo e brioso cavalo - Estando a contemplar a planície, ve dirigirem-se ao meu encontro Buzzetti e Gastini que me disseram: - D. Bosco, suba a cavalo. Já! Já! Mas eu: Quereis brincar comigo. Bem sabeis que já há muito tempo não ando a cavalo! - Os dois jovens insistiam, eu, porém, repetia: - Não quero andar a cavalo, porque andei uma vez e caí. Buzzetti e Gastini, sempre com maior solicitude, instavam comigo, dizendo: - Suba, porque não temos tempo para perder. - Mas, afinal, quando estiver montado, aonde me quereis levar? - Há-de ver. Faça-o, depressa; monte. - Mas onde está o tal cavalo? Aqui não vejo nenhum! - Hei-lo acolá! - bradou Gastini apontando-me um lado do vale. Com efeito, volteime para aquele lado e vi um soberbo e belíssimo cavalo. Tinha as pernas altas e fortes, a crina espessa e o pêlo muito luzidio. - Está bem, disse, já que quereis que eu monte, montarei; mas, atenção porque se me fizerdes cair... - Não tenha medo, responderam, nós estamos aqui com vossa Reverência, prontos para qualquer eventualidade. - E se eu quebrar o pescoço, disse a Buzzetti, terás, depois, de me compor. Buzzetti começou a rir, - Não é agora tempo de rir - sussurrou Gastini. Entretanto nos aproximamos do cavalo. Subi-lhe com muito custo, ajudado por eles; mas, finalmente, eis-me na sela. Como então me pareceu alto o cavalo! Tinha a impressão de estar como que sobre um alto morro, do qual dominava todo o vale, até aos seus extremos. O país da prova. - Eis senão quando o cavalo se move e surge nova admiração. Parecia encontrar-me em meu quarto e perguntei a mim mesmo: - Onde estamos? Via entrar para me falarem padres, clérigos e outras pessoas, todos espantados e aflitos. Depois de um pouco de caminho o cavalo parou. Então vi aproximarem-se de mim todos os padres do Oratório com muitos clérigos que fizeram um círculo em volta do cavalo. Entre eles notei o Pe. Rua, o Pe. Cagliero e o Pe. Bolonha. Chegando, puseram-se firmes, de pé a contemplar tamanho cavalo em que me sentava. Mas ninguém abria a boca. Vi-os todos com um ar melancólico que demonstrava uma perturbação como nunca tinha visto. Chamei o Pe. Bolonha e disse-lhe: - Padre Bolonha: Tu que estás na portaria, saberias dizer-me que há de novo em casa? Por que vejo em todos uma perturbação tão grande? E ele: - Eu não sei onde estou... nem o que faço. Estou atrapalhado... Veio gente, falou, saiu. A portaria está uma confusão. Gente que vai; gente que vem. Não entendo mais nada... - Mas será possível, ia dizendo, que hoje haja de acontecer algo fora do comum? Uma trombeta - Entretanto alguém trouxe e deu-me uma trombeta, dizendo que ficasse com ela porque iria servir-me. Perguntei: - Onde estamos? - Sopre na trombeta! Soprei e ecoou esta voz: Estamos no país da prova. Milhares de jovens armados... - Depois viu-se descer da colina tal número de jovens que penso fossem uns cem mil ou mais. Ninguém falava. Todos armados com um forcado avançavam em direção ao vale, apressados. No meio deles vi todos os meninos do Oratório e dos outros nossos colégios e muitíssimos outros que nem conhecia. ... e um número imenso de monstros ferozes... Logo de um lado do vale começou a escurecer de tal modo o céu que parecia noite. E apareceu um imenso número de animais que se assemelhavam a leões, tigres. Esses monstros, gordos, de patas robustas e pescoço comprido, tinham a cabeça pequena. Os focinhos causavam medo. Com os olhos vermelhos, fora das órbitas, atiraram-se contra os meninos que, vendo-se atacados, se puseram em defesa. O forcado de duas pontas... - Tinham na mão um forcado de duas pontas que antepunham aos dois monstros, levantando-o ou abaixando-o conforme o assalto dos mesmos. Os monstros não podendo vencer no primeiro ataque, mordiam o ferro do forcado, quebravam-se-lhes os dentes e desapareciam. Havia alguns que tinham o forcado com uma só ponta e esses ficavam feridos. Outros o tinham com o cabo quebrado ou carunchoso. E ainda outros presunçosos atiravam-se contra os animais, sem arma alguma e eram vítimas e não poucos morriam. Muitos o tinham com um cabo novo e com duas pontas. No princípio o meu cavalo foi circundado por uma quantidade enorme de serpentes. Mas com saltos à direita e à esquerda as esmagava e afugentava, enquanto crescia a uma grande altura e ia cada vez mais aumentando. Que significam as duas pontas? - Perguntei que significavam aqueles forcados com duas pontas. Foi-me trazido um e vi escrito sobre uma das pontas: Confissão. E sobre a outra: Comunhão. - Mas que é que significam as duas pontas? - Sopre a trombeta. Soprei e saiu esta voz: Confissão e Comunhão bem feitas. Soprei de novo e saiu estoutra: - Cabo quebrado: Confissão e Comunhão mal feitas. Cabo carunchado: Confissões defeituosas. Acabado este primeiro assalto, dei a cavalo um giro pelo campo de batalha e vi muitos feridos e muitos mortos. Reparei que alguns jaziam por terra mortos, mas estrangulados, com o pescoço deformemente inchado. Outros com o rosto deformado de modo horrível. Outros mortos de fome, embora tivessem pertinho um prato de belos confeitos. Os que estavam estrangulados são os que tendo a desgraça de cometer, em pequenos, algum pecado mortal, nunca o confessaram. Os que tinham o rosto disforme são os gulosos. Os que estavam mortos de fome são os que vão confessar-se, mas não praticam os avisos e as admoestações do Confessor. Perto de cada um dos que tinham o cabo carunchado, estava escrita uma palavra. Um tinha escrito: Soberba; outro Preguiça; um terceiro Imodéstia, etc. É digno de nota também que os meninos, enquanto caminhavam, passavam por cima de um tapete de rosas e iam contentes; mas, dados alguns passos, soltando um grito, caiam mortos ou ficavam feridos, porque por debaixo das rosas estavam os espinhos. Outros, porém, pisando aquelas rosas corajosamente faziam estrada por cima delas, animando-se uns aos outros e saindo vencedores. Vitória! Vitória! Novamente escureceu o céu e num instante apareceu uma quantidade daqueles animais superior aos da primeira vez; mas tudo em menos de três ou quatro segundos. Também o meu cavalo foi rodeado por eles. Os monstros cresceram de maneira descomunal, de tal modo que até eu principiei a ter medo. Já me parecia estar arranhado pela suas patas. Eis que em boa hora foi-me trazido um forcado. Comecei, então, também eu a combater e os monstros foram postos em fuga. Sumiram-se todos, porque quando vencidos ao primeiro ataque não mais apareciam. Então soprei na trombeta e no vale retumbou um grito: - Vitória! Vitória! - Mas como vencemos, disse, se há tantos feridos e até mortos? Um arco-íris. - Soprei na trombeta e ressoou esta voz: - Tempo aos vencidos. Em seguida o céu, que estava negro, tornou-se sereno e viu-se um arco-íris, tão belo, com tantas cores que se não pode descrever... Devo ainda chamar a atenção para o fato de que os vencedores tinham na cabeça coroas tão rutilantes, com tantas e tais cores, que era uma maravilha vê-los. E mais ainda: seus rostos resplandeciam de uma beleza encantadora. Uma nobilíssima Senhora regiamente vestida. - Lá no fundo, dum lado do vale e no meio do arco-íris, surgiu uma espécie de orquestra, na qual se via tanta gente tão cheia de júbilo e com tantas belezas que nem se pode imaginar. Uma nobilíssima Senhora, vestida regiamente, aproximou-se do parapeito daquela sacada, bradando: - Meus filhos, vinde; refugiai-vos debaixo do meu manto. Naquele instante estendeu-se um amplíssimo manto e todos os meninos correram para debaixo dele. Alguns voavam e tinham escrito na fronte: Inocência. Outros caminhavam e outros se arrastavam. Também eu pus-me a correr e naquele movimento rápido, que não durou mais de meio segundo, disse de mim para comigo mesmo: - Ou isto deve acabar ou se continua ainda um pouco, morreremos todos. - Dito isto, enquanto corria, despertei. Conosco não tenho segredos... Ontem à noite não pude dizer tudo por causa dum hóspede que estava presente. Estas coisas fiquem entre nós. Não se escrevam nem para os parentes nem para os amigos. Convosco não tenho segredos; digo até os meus pecados. O vale, o país da prova é este mundo. O lugar semi-escuro é o lugar de perdição. Os dois outeiros são os Mandamentos da lei de Deus e da Santa Igreja. As serpentes são os demônios. Os monstros as más tentações. Aquele cavalo que espancou Heliodoro , é a confiança em Deus. Os que passavam sobre as rosas e tombavam mortos são os que se entregam aos prazeres deste mundo, os quais dão a morte à alma. Os que pisavam as rosas são os desprezadores dos prazeres do mundo e saem vencedores. Os que voavam para baixo do manto são os inocentes... Continua a explicação... Os que se iam arrastando e quase nunca se colocavam sob o manto de Nossa Senhora, são os apegados aos bens da terra. Tendo um coração egoísta, não pensam senão em si mesmos. Por si mesmos se mancham e não são capazes de erguer-se para o que é do céu. Vêem que Maria Santíssima os chama, quereriam ir, dão alguns passos, mas a lama os atrai. E assim acontece sempre. Nosso Senhor diz: Onde está o teu tesouro, aí está o teu coração. Os que se não elevam para os tesouros da graça, põem o próprio coração nas coisas da terra e já não pensam senão em gozar, tornarem-se ricos, prosperar nos negócios e adquirir fama. E para o céu, nada... Heliodoro fora mandado por Seleuco, Rei da Síria, para se apoderar dos tesouros que se achavam no templo de Jerusalém. Enquanto tentava fazer em pedaços as portas do tesouro, cai em terra desmaiado. Ao mesmo tempo aparece um homem cingido com armas de ouro, cujo cavalo o fere com as patas dianteiras. (Macabeus, livro II). 38. A LANTERNA MÁGICA (1865) (MB 8, 115-116 = MBe 8, 110) "Sonhei e me parecia encontrar-me na Igreja. Estava a Igreja cheia de jovens. Mas poucos se aproximavam para comungar. Havia junto do comungatório um homem comprido comprido, negro negro, e aparecia dois chifres pela cabeça. Levava na mão uma lanterna mágica com ela ele fazia com que cada jovem visse uma coisa. A um lhe mostrava o pátio cheio de jogos e lhe interessava por sua diversão favorita; a outro lhe apresentava os jogos passados, as partidas perdidas e a esperança dos triunfos futuros; a este, seu povo natal com aquelas excursões, aqueles campo s, aquela casa; a esse mostrava com sua lanterna o estudo, os livros, os trabalhos de prova; a aquele a fruta, os doces e o vinho que guardava no baú; a outro, os presentes, os amigos ou algo pior, os pecados e a até o dinheiro não devolvido. Assim que poucos se aproximavam da comunhão. Alguns viam as excursões e as vocações e, deixando tudo de lado, se detinham a contemplar os antigos companheiros de diversão. Sabeis que quer dizer este sonho? Quer dizer que o demônio faz todo o possível para distrair os jovens na Igreja e afastálos dos Santos Sacramentos. E os jovens são tão bobos que ficam olhando. Amigos meus, terás que romper esta lanterna do diabo. Sabeis como? Dando uma olhada na Cruz e pensando que deixar a Comunhão é o mesmo que colocar-se nos braços do demônio". 39. TRABALHO E TEMPERANÇA (M.B. vol. XII, 463-470 = MBe 12, 393-400) Como encerramento e lembrança do Retiro Espiritual dos SDB de 21 a 28 de setembro de 1876, em Lanzo, contou Dom Bosco um sonho simbólico, que é dos mais instrutivos dentre quantos tivera até então. o P. Lemoyne tomou apontamentos enquanto Dom Bosco ia narrando; em seguido pôs tudo por escrito e fez ler a Dom Bosco que introduziu ligeiras modificações. Para maior clareza dividimos a narração em quatro partes. “Dizem que não se deve dar importância aos sonhos; para falar a verdade, na maior parte dos casos também eu sou do mesmo parecer. Contudo, algumas vezes, embora não nos revelem coisas futuras, servem para pôr-nos nas mãos o fio de negócios intrincadíssimos, e fazer-nos agir com prudência em muitas ocasiões. Podem então ser levados em consideração no que nos oferecem de bom. Neste momento, quero justamente contar-vos um sonho que me ocupou, posso dizer, todo o tempo deste retiro, e que especialmente me incomodou nesta noite passada. Narro-o como o tive, tal e qual, resumindo somente, aqui e ali, para não ser muito prolixo, porque o sonho me parece rico de muitos e graves ensinamentos”. Parte I “Quem se humilha será exaltado” “Pareceu-me que todos juntos íamos de Lanzo para Turim. Estávamos todos em um veículo, mas não vos saberia dizer se fosse trem ou ônibus; o certo é que não íamos à pé. Chegados a certa altura da estrada, não me lembra mais onde, o veículo estacou. Desci para ver o que havia acontecido, e se me apresenta uma personagem que não saberia como definir. Parecia-me ao mesmo tempo alto e pequeno, gordo e magro, branco e corado: caminhava no chão e nos ares. Estava meio atônito, sem saber explicar tudo aquilo, quando, criando um pouco de coragem, perguntei: − Quem és ? − Vem ! − disse-me, sem acrescentar mais nada. Eu queria saber quem era, que desejava, mas ele retrucou: − Vem depressa: façamos virar os veículos para esse campo. O mais engraçado era que ele falava forte e baixinho a um tempo, e a várias vozes, de modo que eu estava cada vez mais embasbacado. O campo era vastíssimo, a perder de vista, e todo plano, sem valos, batido como um terreiro. Não sabendo o que dizer, e vendo aquela personagem assim tão resoluta, fizemos voltar os veículos, que entraram por aquela vastíssima campina,, e depois bradamos a todos os que estavam dentro do carro, que descessem. Todos apearam num instante, e eis que, apenas descidos, desapareceram os veículos, nem sei por onde se enfiaram. − Agora que descemos − murmurei incerto àquela personagem − haveis de me dizer...espero que...o Senhor me dirá...o que devemos fazer, e por que nos fez parar nesse lugar. − O motivo é grave − respondeu-me − é para evitar um gravíssimo perigo. − Qual ? − O perigo de um touro furibundo que não deixa alma viva à sua passagem. Taurus rugiens, quarens quem devoret (1). − Devagar, meu caro. Atribuis ao touro o que na Sagrada Escritura São Pedro diz do leão: leo rugiens (2)! − Não faz mal. Lá era leo rugiens, aqui é taurus rugiens. O caso é que é preciso estar alerta. Reúne em torno de ti todos os teus. Anuncia-lhes solenemente, e sem perda de tempo, que estejam atentos, e logo que ouvirem o mugido do touro, mugido horríssono e e imenso, atirem-se imediatamente por terra, e assim permaneçam com a face em terra, até que o touro tenha passado. Ai de quem não ouvir a tua voz; porquanto nas Sagradas Escrituras se lê que quem está embaixo será exaltado, e quem está no alto será humilhado: qui se humiliat, exaltabitur, et qui se exaltat, humiliabitur (3). Depois acrescentou: − Depressa , depressa ! Que o touro está aí a chegar : grita, grita alto que se atirem por terra. Eu gritava e ele: − Vamos, mais alto, grita mais alto ! Gritei tanto que creio ter espantado ao P. Lemoyne, que dorme no quarto pegado ao meu. Mais alto eu não podia gritar. De repente ouve-se o mugido do touro. − Alerta ! Atenção ! Mete-os em linha reta, uns juntos dos outros, de uma parte e de outra, deixando no meio uma passagem por onde possa o touro transitar − gritou para mim a personagem. Dei essas ordens, aos brados; num abrir e fechar de olhos, estavam todos prostrados por terra, e começamos a ver o touro que chegava de longe, furibundo. Embora a grande maioria estivesse prostrada, alguns havia que queriam estar de pé, para ver bem o que era o tal touro, e não se prostravam. Eram poucos. Disse-me o guia: − Verás o que lhes vai acontecer; qual a sua sorte, porque não quiseram deitar-se. Queria ainda uma vez admoestá-los, gritar, correr a té eles; mas o outro negava-me a licença. Insisti que me deixasse ir ter com ele. Respondeu-me seco: − A obediência é também para ti. Deita-te por terra. Tinha-me apenas prostrado, quando se fez ouvir um grandíssimo mugido, tremendo, assustador. O touro já estava ali bem perto de nós. Tremíamos e dizíamos: − Que há de ser ? Que é que vai acontecer ?... − Não temas, por terra − gritei. E quem me acompanhava continuava a gritar: − Qui se humiliat , exaltabitur, et qui se exaltat, humiliabitur...Qui se humiliat...Qui se humiliat... Coisa estranha, que me causava não pequena admiração, era que, embora estivesse inteiramente prostrado, com a cabeça por terra, os olhos no pó, contudo via muito bem tudo o que se passava em torno de mim. O touro tinha sete chifres, quase em forma de círculo: dois sobre as ventas, dois em lugar dos olhos, dois no lugar ordinário dos chifres, e um em cima. Estranho ! Os chifres eram solidíssimos e móveis, ele os volteava livremente para todos os lados, de modo que para derribar ou bater alguém, não precisava virar de uma parte ou de outra; passava correndo, sem parar nem virar, e ia pondo por terra todos os que encontrava pela frente. Mais compridos eram os chifres das ventas, e fazia com eles estragos imensos. Já o touro estava pertinho de nós. Foi quando a personagem gritou: − Olhem os efeitos da humildade. E num instante, maravilha ! Todos nós fomos soerguidos a uma altura considerável, de maneira que o touro não nos podia atingir. Os poucos que não se tinham abaixado, não foram levantados. Chegou o touro e os estraçalhou num instante. Nenhum se pode salvar. No entanto, levantados assim no ar, tínhamos medo e dizíamos: − Se cairmos, então sim, que estamos bem arranjados ! Ai, pobre de nós ! No entanto, víamos o touro que tentava alcançar-nos; saltava horrivelmente para dar-nos com os chifres, mas nenhum mal conseguiu fazer-nos. Furioso então como nunca, fez que saía à busca de companheiros, como se dissesse: − Haveremos de nos ajudar uns aos outros, subiremos... − E assim, habens iram magnam (4), se foi. Achamo-nos então novamente em terra, e, o guia pôs-se a bradar: − Voltemo-nos para o sul. Parte II Piedade eucarística E eis que, sem que pudéssemos compreender como, mudou-se completamente a cena diante de nós. Tendo-nos voltado para o sul, vimos exposto o Santíssimo Sacramento. Muitas velas estavam acesas de uma parte e de outra, e já não víamos o prado, mas parecia-nos que estávamos numa igreja imensa, toda bem ornada. Enquanto estávamos ali todos em adoração, diante do Santíssimo Sacramento, eis que furibundos chegaram muitos outros touros, todos de chifres terríveis e de horrendo aspecto. Chegaram até perto, mas como estávamos em adoração ao Santíssimo Sacramento, nenhum mal nos puderam fazer. Nesse ínterim tínhamos começado a rezar a coroinha do Sagrado Coração de Jesus. Depois de pouco tempo olhamos, e, não sei como, os touros já não estavam. Tornando a olhar para o altar, não encontramos mais as luzes. O Santíssimo Sacramento não estava mais exposto. Desaparecera a igreja. Mas...onde estamos ? No campo de antes. Bem compreendeis que o touro é o inimigo das almas, o demônio, que tem contra nós grandes iras, e procura fazer-nos mal. Os sete chifres são os sete vícios capitais. O que nos pode livrar dos chifres desse touro, isto é, dos assaltos do demônio, e da queda nos vícios, é principalmente a humildade, base fundamental da virtude. Parte III "Trabalho e Temperança" − o triunfo da Congregação. No entanto, estupefatos e maravilhados, olhávamos uns para os outros; ninguém falava; não sabíamos o que dizer. Esperava-se que Dom Bosco falasse, ou que o guia nos dissesse alguma coisa. Foi quando ele, tomando-me à parte, me disse: − Vem, far-te-ei ver o triunfo da Congregação de São Francisco de Sales. Sobe a esta pedra e verás. Era um grande bloco de pedra, no meio daquela interminável planície. Subi. Que panorama soberbo se abriu aos meus olhos ! O campo, que não imaginava tão vasto, apareceu diante de mim como se ocupasse toda a terra. Homens de todas as cores, com indumentária a mais variada, de todas as nações, estavam ali reunidos. Tanta gente vi, que não sei se o mundo tenha tantos habitantes. Comecei a reparar nos primeiros que se me apresentavam. Estavam vestidos como nós. Conheci os das primeiras filas. Eram muitos Salesianos, que conduziam quase pela mão grupos de meninos e de meninas. Depois vinham outros, com outros grupos. Depois outros, e ainda outros inumeráveis, que eu já não conhecia nem podia distinguir bem. Do lado do sul divisei sicilianos, africanos e um povo incontável a mim desconhecido. Eram sempre guiados por Salesianos, dos quais eu conhecia os das primeiras filas, e depois não mais. − Olha daqui deste lado, disse-me o guia. Eis que se me apresentam povos incontáveis vestidos de maneira diferente da nossa. Fez-me virar para os quatro pontos cardeais. Entre outras coisas, vi no oriente mulheres que tinham tão pequenos pés, que lhes custava estar de pé, e quase não podiam caminhar. O interessante era que por toda a parte se viam Salesianos que guiavam grupos de meninos e de meninas, e com eles um povo imenso. Os das primeiras fileiras, sempre conhecidos. Os das outras, não mais, nem mesmo os missionários. A esta altura, não posso narrar tudo por extenso, porque seria muito longo. Então quem me tinha conduzido e aconselhado até este ponto, tomando de novo a palavra, disse-me: − Olha, repara; não compreenderás tudo o que digo, mas presta atenção: tudo isso que vês é a messe preparada para os Salesianos. Estás vendo quão abundante é a messe ? Este campo imenso em que te encontras é campo onde os Salesianos devem trabalhar. Os Salesianos que vês são os operários da vinha de Nosso Senhor. Muitos trabalham e os conheces. O horizonte se alarga depois, a perder de vista, de gente que não conheces ainda; e isso quer dizer que não só neste século, mas no outro, em séculos futuros, os Salesianos trabalharão o seu campo. Mas sabes como se poderá chegar a cumprir o que vês ? Dir-to-ei. Olha: é preciso que faças gravar estas palavras que serão como o vosso brasão, a vossa palavra de ordem, o vosso distintivo. Nota bem: O TRABALHO E A TEMPERANÇA FARÃO FLORESCER A CONGREGAÇÃO SALESIANA. Deverás explicar estas palavras, repetir, insistir. Mandarás imprimir o manual que as explique e faça compreender bem que o trabalho e a temperança são a herança que deixas à Congregação, e serão também a sua glória. Respondi: fa-lo-ei de boa mente; tudo isso está perfeitamente de acordo com a nossa finalidade, e é o que venho recomendando todos os dias e insistindo sempre que se me apresenta o ensejo. − Estás bem persuadido disto ? Entendeste-me bem ? Esta é a herança que lhes haverás de deixar, e dizer-lhes sem rodeio que, enquanto os teus filhos corresponderem, terão sequazes ao norte e ao sul, no oriente e no ocidente. Podes agora concluir o Retiro e encaminhar cada um à sua destinação. Estes serão como norma, virão depois os outros. E eis que aparecem novamente os ônibus para conduzir-nos todos a Turim. Eu estava ali, todo olhos, a reparar; eram carros sui generis mesmo. Os nossos começam a subir; porém, os tais ônibus não tinham apoio em nenhuma parte, e eu temia que os jovens caíssem, e não os queria deixar partir. Mas o guia me disse: − Podem ir, podem ir; eles não têm necessidade de apoio, contanto que ponham bem em prática as palavras: sobrii estote et vigilate (5). Quando se põem em prática estas duas palavras, não se cai, ainda quando não haja apoio e o carro esteja em movimento. Parte IV Os quatro pregos Partiram, e eu fiquei com o guia. − Vem − disse-me logo − vem. Quero fazer-te ver a parte mais importante; terás muito que aprender ! Vês aquele carro ? − Vejo. − Sabes o que é ? − Não consigo enxergar bem. − Se queres ver melhor, chega-te mais perto. Vês ali aquele cartaz ? Mais perto, observa-º Naquele cartaz está um emblema. Por ele virás a conhecer. Acheguei-me e vi no cartaz pintados quatro pregos enormes. Voltei-me para ele, dizendo: − Não entendo nada, se não me explica. − Mas não estás vendo aqueles quatro pregos ? Repara bem. São os quatro pregos que traspassam e atormentam tão cruelmente a pessoa do Divino Salvador. − E com isso ? − São os quatro pregos que atormentam as Congregações Religiosas. Evitem-se esses quatro pregos, ou melhor, seja deles afastada a tua Congregação, e tudo correrá bem, estareis salvos. − Porém eu torno a dizer que não sei o que significam esses pregos, − respondi. − Se queres saber melhor, visita melhor o carro, que têm os pregos como emblema. Olha cá: tem quatro compartimentos, e a cada um deles corresponde um prego. − Mas e os compartimentos que significam ? − Observa o primeiro compartimento. Observei, e li o cartaz: Quorum Deus venter est. − Agora sim, começo a entender alguma coisa. E o guia: − Este é o primeiro prego que atormenta e arruina as Congregações Religiosas. Fará vítimas também entre os teus, se não estiveres bem atento. Move-lhe guerra sem quartel, e verás como os negócios prosperarão. − Vamos agora ao segundo compartimento. Lê a inscrição do segundo prego: Quaerunt quae sua sunt, non quae Iesu Christi (6). − Aqui estão os que andam à procura das comodidades e do bem-estar, os que só se preocupam pelo próprio bem, e talvez pelo dos parentes, sem se incomodar com o bem da Congregação, que é o que forma a porção de Jesus Cristo. Atento, afasta este flagelo, e verás prosperar a Congregação. Terceiro compartimento: observo a inscrição do terceiro prego: Aspidis lingua eorum. − Prego fatal para as Congregações são os murmuradores, os mexeriqueiros; os que estão sempre a criticar a torto e a direito. Quarto compartimento: Cubiculum otiositatis. − Aqui estão os ociosos em grande número, e começa a introduzir-se o ócio, a comunidade está completamente arruinada; ao invés, enquanto se trabalha muito, nenhum perigo para vós. − Observa agora mais uma coisa que está no carro, e a que muitas vezes não se liga importância; quero que ponhas nela uma tenção toda especial. Vês aquele cantinho que não faz parte de nenhum dos compartimentos ? É como um meio compartimento ou corredor. − Vejo, mas não há lá mais que restos de folhas, capim alto, outras ervas mais baixas, tudo emaranhado. − Bem, e é isso que quero que observes. − Mas que posso deduzir disto ? − Observa bem a inscrição, que está quase oculta. − Observo bem e vejo escrito: Latet anguis in herba. − E com isso ? − Olha, há indivíduos que estão escondidos; não falam; não abrem nuca o próprio coração aos Superiores; ruminam sempre nos seus corações os seus segredos. Toma cuidado: latet anguis in herba. São verdadeiros flagelos, verdadeira peste das Congregações. Ainda que fossem maus, se se tivessem revelado, poder-se-iam corrigir. Mas não; estão escondidos, nós não nos damos conta deles. No entanto o mal se faz grave, o veneno se multiplica no coração destes tais, e quando forem conhecidos, não haverá mais tempo de reparar o dano que já produziram. − Aprende, portanto, bem as coisas que deves afastar da tua Congregação. Guarda bem na mente quanto ouviste. Faze com que estas coisas sejam explicadas e reexplicadas. Se assim fizerdes, podes ficar tranqüilo, com respeito à tua Congregação, que prosperará de dia em dia. Pedi então a quem me acompanhava que me deixasse escrever quanto me havia dito, para que estas coisas não me caíssem da memória. − Se queres experimentar − respondeu-me − podes escrever, mas receio que te falte o tempo. Enquanto me dizia estas coisas, e me dispunha a escrever, pareceu-me ouvir um rumor confuso, uma espécie de agitação em meu redor. Parecia que o campo se abalava debaixo dos pés. Olhei em torno de mim, para ver o que havia de novo, e vejo os jovens partidos havia pouco, que de todas as partes se voltavam para mim, com o terror pintado no rosto, e logo após escuto um mugido e vejo o touro, o mesmo de antes, que os perseguia. Quando tornou a aparecer o animal, o meu terror foi tamanho que acordei. Conclusão Contei-vos este sonho, nesta circunstância, antes de nos separarmos, certo de poder dizer com verdade, que será conclusão digna do Retiro se nos propusermos a nós mesmos permanecer aferrados ao nosso brasão : TRABALHO E TEMPERANÇA; se procurarmos com empenho evitar os quatro pregos que constituem o tormento das Congregações: - o vício da gula, - o desejo das comodidades, - e o ócio; ao que se deve ajuntar que sejam todos abertos, francos e sinceros com os Superiores. Deste modo faremos bem às nossas almas e poderemos ao mesmo tempo salvar as que a Divina Providência confiar aos nossos cuidados". Dom Bosco queria, e até tinha prometido, no curso da narração, que haveria de explicar melhor o ponto da Temperança, contando um apêndice do sonho. Mas no passar à segunda parte da exposição, esqueceu-se. Despertando, como disse, quando a besta fera tornou a aparecer, teve desejos de conhcer ainda mais uma coisa: e foi satisfeito logo que tornou a adormecer. O que viu então e ouviu, foi por ele narrado mais tarde em Chieri. O P. Berto, presente, escreveu e depois enviou ao P. Lemoyne, que o copiou como complemento de quanto já tinha posto por escrito. Apêndice Efeito da temperança e a intemperança. "Ardia em desejos de conhecer os efeitos da temperança e da intemperança, e ruminando estas idéias fui-me deitar; senão quando, apenas adormecido, tornou a apresentar-se o nosso personagem, que me convidou a segui-lo e a ver os efeitos da temperança. Conduziu-me a um jardim ameníssimo, cheio de delícias e flores de toda a espécie e qualidade. Observei ali uma quantidade de rosas deslumbrantes, símbolos da caridade: um cravo aqui, ali um jasmim, acolá um lírio, mais além uma violeta, uma sempre-viva e um girassol, e um número intérmino de flores, simbolizando cada qual uma virtude especial. − Atenção agora − disse-me o guia. E desapareceu o jardim e ouvi um forte rumor. − Que há ? De onde provem este rumor ? − Vira-te e observa. Voltei-me e vi, que espetáculo ! Um carro de forma quadrada, puxado por um porco e um sapo de tamanho incrível. − Avizinha-te e observa o seu interior. Dei alguns passos adiante para examinar o que havia dentro do carro. Estava cheio à transbordar de animais, os mais nojentos: corvos, serpentes, escorpiões, lesmas, morcegos, crocodilos, salamandras. Não pude suportar a vista destas coisas e enquanto horrorizado voltava o rosto para o outro lado, pelo mau cheiro daqueles animais nauseabundos, recebi um empuxão e acordei, sentindo ainda por bastante tempo o mau cheiro; tinha o pensamento tão perturbado pelo horrendo daquela visão, e tão vivo era na minha imaginação aquele espetáculo, que não pude pregar os olhos durante o resto daquela noite" Notas (1) "Como um touro a rugir, procurando a quem devorar". Cf. 1Pd 5,8 (2) "Um leão a rugir". (3) "Todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado". Cf. Lc 14,11; 18,14 (4) Tendo muita raiva (5) "Sede sóbrios e vigilantes". Cf. 1Pd 5,8 (6) "Procuram atender os seus próprios interesses e não os de Jesus Cristo". Cf. Fl 2,21 40. UMA BATALHA SANGRENTA (1886) (MB 18, 161 = MBe 18, 146-147) Depois de despedir-se de seus queridos filhos, saiu aquela tarde para Pinerolo com Lemoyne e Vigliette, havia chegado a Pinerolo, para buscar o reitor do seminário. A sua chegada estava sendo aguardada pelo bispo com um carro de propriedade de um senhor da cidade que lhe havia cedido. Monsenhor cheio de alegria por ter de novo o servo de Deus consigo, havia preparado em sua caa episcopal de San Maurício, alojamentos para ele e para seus dois secretários. Com a repentina mudança à aquela altura, Dom Bosco se encontrou um pouco agitado na primeira noite. Teve um comprido sonho do qual, porém só recordava ao dia seguinte que o havia chamado com muita pressa para ir a estação e que apenas havia chegado a tempo para tomar o trem; que passou logo por um lugar donde acontecia uma grande batalha que de improviso, se encontrou no meio. 41. SORTE DOS JOVENS QUE ABANDONARAM O ORATÓRIO (1846) (MB 2, 511 = MBe 2, 383) Por aqueles dias, nos contava José Buzetti, Dom Bosco teve um sonho que lhe ocasionou muito desgosto. Viu dois rapazes (e os conheceu) que saiam de Turim à caminho dos Becchi; porém ao chegar a parte do Pó se lançou sobre eles uma enorme besta de formas espantosas. Esta, depois de havê-los envolvidos com sua saliva, os levou ao prazer ao solo, envolvendo-os durante largo tempo no barro, de modo que ficaram tão assustados que davam nojo. Dom Bosco contou o sonho a alguns dos que estavam com ele, dizendo o nome dos rapazes com os quais havia sonhado. Os sucessos demonstram que aquilo não havia sido uma pura fantasia, e que os dois desgraçados, depois de haver abandonado o oratório, se entregaram a toda sorte de vícios. 4.2 O PORVIR DE CAGLIERO (1854) (MB 5, 105-106 = MBe 5, 87) No final de agosto de 1854 depois de haver assistido os enfermos em Lazareto, caiu enfermo João Cagliero, jovem de dezesseis anos. Os médicos diagnosticaram morte rápida. Não tardou Dom Bosco em apresentar-se no quarto de Cagliero com a intenção de preparar para o grande passo mas eis que ao cruzar o portal, apareceu diante de seus olhos um maravilhoso espetáculo. Viu uma harmoniosissíma pomba que, como um ponto luminoso despedia ao derredor raios de vivíssima luz, que iluminava toda a habitação, levava no bico um ramo de oliveira e voava girando uma e outra vez ao seu redor. De repente depois de voar sobre o leito do jovenzinho enfermo, tocou seus lábios com o raminho de oliveira, que logo deixou cair sobre sua cabeça. Com brilho de luz ainda mas, viva desapareceu. Intuiu Dom Bosco que Cagliero não morreria, e sim, que tinha todavia muitas coisas por realizar para a glória de Deus, que anunciaria a paz com sua palavra simbolizada pelo ramo de oliveira, que o resplendor da pomba significava a plenitude da graça do Espírito Santo que receberia algum dia. Desde então, teve Dom Bosco uma idéia confusa, porém firme, que durou sempre, de que o jovem Cagliero chegaria a ser bispo. Mas, teve por complicada a profecia, quando Cagliero partiu para a América. A primeira, sucedeu uma segunda visão. Chegando Dom Bosco ao centro da habitação, desapareceram como por encanto as paredes, viu ao redor da cama do enfermo uma multidão de rostos estranhos de selvagens, que fixavam o seu olhar no rosto do enfermo e, tremendo, pareciam pedir-lhe auxílio. Dos homens, que se diferenciavam dos demais, um de horrível aspecto e negro e outro da cor do cobre muito alto e de aspecto guerreiro, com certo ar bondoso, estavam inclinados sobre o jovem moribundo. Dom Bosco se deu conta mais tarde de que aquelas eram as fisionomias dos selvagens da Patagônia e da terra do fogo. As visões duraram uns instantes, porém o enfermo e os presentes não se deram conta de nada. 42. OS CORVOS E OS MENINOS (1864) (MB 7, 649-651= MBe 7, 551-552) “Era a noite precedente ao domingo in albis, 03 de Abril, e pareceu-me encontrar-me no balcão, olhando como os meninos se divertiam. Quando de repente vi aparecer um enorme lenço branco que cobria todo o pátio, debaixo do qual continuavam todos jogando. Enquanto eu os contemplava, apareceu uma grande quantidade de corvos, que começaram a voltar sobre o lenço, a girar por uma parte e por outra até que, introduzindo-se pela extremidade do mesmo, se alojaram sobre os meninos para picar-lhes. O espetáculo que se ofereceu a minha vista foi desolador: a um lhe tiravam os olhos; a outros lhe picavam a língua e fazia dela mil pedaços; a este lhe davam bicadas na frente e aquele lhe desgarravam o coração. Porém, o que mais me causava espanto, era que ninguém gritava e se lamentava, sentia que todos permanecia indiferentes, como insensíveis, sem intentar sequer se defender. — Estou sonhando, dizia entre mim, ou estou acordado? É possível que estes se deixem ferir sem lançar um grito de dor? Porém de repente senti um clamor grande e depois vi os feridos que começava agitar-se, que gritavam, xingavam e se separavam uns dos outros maravilhado ante aquele espetáculo, comecei a pensar no significado de quanto via. — Talvez, pensava, como é sábado, o Senhor quer dar-nos a entender que quer contribuir a todos com sua graça. Estes corvos seriam os demônios que assaltam os jovens. Enquanto pensava assim senti um barulho. Me despertei. Já era de dia e alguém havia chamado à porta de minha habitação. Porém qual não foi minha surpresa, ao ver que às segundas-feiras diminuíam as comunhões e nas Terças-feiras muito mais e Quarta-feira de uma maneira alarmante; até o ponto de que, metade da missa havia terminado de confessar. Nada quis dizer, pois estando próximo dos exercícios espirituais, esperava que tudo ficaria solucionado. Ontem, dia 13 de abril, tive outro sonho. Ao longo do dia havia estado confessado; portanto, minha imaginação andava ocupada com o pensamento das almas dos jovens, como o está quase sempre. Pela noite fui dormir, porém não pode conciliar o sonho; estava meio dormindo, meio desperto, até que no fim acabei dormindo. Então me pareceu encontrar-me outra vez no balcão contemplando o recreio dos meninos. Vi a todos os que haviam sido feridos pelos corvos e os observei atentamente. Mas, de improviso, apareceu um personagem com um vaso cheio de bálsamo na mão. Ia acompanhado de outro, que levava um lenço. Ambos se dedicaram a curar as feridas dos jovens, as quais, apenas lhes aplicavam o bálsamo, ficavam curadas as feridas. houve, sim, embargos, por parte de alguns que, ao ver aproximar-se aqueles dois personagens, correram deles e não quiseram ser curados. E o que mais me desagradou foi que os tais formavam um número bastante considerado. Me preocupei em escrever o nome deles em pedaço de papel, pois os conhecia a todos, porém enquanto o fazia me despertei e me encontrei sem o papel. Com tudo, fiz um esforço para guardar na memória e no presente momento os recordo quase todos. Talvez me poderia ouvir de alguns, porém creio que seriam contados. Agora irei falando, pouco a pouco, com os interessados, e procurarei persuadi-los à sarar de suas feridas. Dá a este sonho a importância que quiseres, o que pude assegurar é que, se lhe servir boa fé, garanto que não causará prejuízo algum às vossas almas. Os recomendo encarecidamente que estas coisas não saiam do Oratório. E os conto todo, porém desejo que permaneça em casa. 43. A INOCÊNCIA (1884) (MB 17. 722 - 730 = MBe 17, 625-632) Parecia Dom Bosco Ter diante de si mesmo um imenso e encantador outeiro coberto de verde em suave inclinação e completamente em suas bases mesmo, se formava em alegre mais bem baixo, desde o qual se sabia aonde estava Dom Bosco. Aquilo parecia o Paraíso, todo iluminado por uma luz mais pura e mais viva que a do sol. Estava todo coberto de verde grama, esmaltada de multidão de belas e variadas flores e sombreado por um grande número de árvores que entrelaçando as ramas entre si, as ramas que só entrelaçavam entre estendiam de modo que em meio do jardim florido e até o limite de mim mesmo, se deslumbrava a vista. Tinha uma longitude de muitas milhas. Oferecia toda a magnificência de um caminho real. Como enfeitado sobre a França que corria ao longo de sua beira se viam várias inscrições em caracteres dourados. Por um lado se lia: Bem-aventurados os puros que andam pelos caminhos do Senhor. (E outro: Não se sentirão confundidos nas adversidades). E outro: Não desolará se bem os que vivem na inocência. No terceiro lado: Não se sentirão confundidos no tempo da adversidade e, nos dias de fome, serão saciados. Há quantos conheceis o Senhor os dias dos inocentes e a enésima deles será eterna. Nas quatro esquinas do estrado, em torno de uma magnífica janela, se viam estas quatro inscrições: Sua conversão será com as sobrancelhas. Protegerá aos que sobem com humildade. Os que caminham com singeleza procedem confiantemente. Sua vontade se manifesta aos que vivem com simplicidade. Na metade dos conjuntos de móveis havia esta última inscrição: Aquele que procede com simplicidade será salvo. No centro do prado, sobre a beira superior daquele tapete branco se levantava um estandarte branquíssimo sobre o que se lia também escrito com caracteres de ouro: Meu filho tu sempre estiveste comigo e tudo que é meu é teu. Sim Dom Bosco se sentia maravilhado diante do jardim, mas lhe chamarão a atenção duas belas jovenzinhas, como de 12 anos que estavam sentadas à beira do tapete aonde o terreno formava o degrau. Uma celestial modéstia se refletia em todo seu gracioso continente. De seus olhos constantemente fixos na altura, fluía não somente uma ingênua simplicidade de pomba, além do mais, que também brilhava neles a luz de um amor puríssimo e de um gozo verdadeiramente celestial. Suas frontes despendidas e serenas pareciam o centro da simplicidade e da sinceridade; sobre seus lábios florescia um alegre e encantador sorriso. Os traços de seus rostos devotavam um coração eterno e fervoroso. Os graciosos movimentos das pessoas lhe comunicava um ar tal de humana grandeza e de nobreza que contrastava com sua juventude. Uma veste branca que lhe batia até os pés, sobre a qual não se distinguia nem mancha, nem ruga e nem sequer um grão de pó. Tinha seguido os cantos com uma faixa branca de lírios, de violetas e de rosas. Um semelhante, em forma de colar, rodeava seu pescoço composto das mesmas flores, mas de forma diversa. Como braceletes levavam nas munhecas um enfeite de margaridas brancas. Todos estes enfeites e flores tinham formas e cores de uma beleza impossível de descrever. Todas as pedras mais preciosas do mundo, engrenada com as mais esquisitas das artes, pareciam um pouco de lama em sua comparação. Suas branquíssimas sandálias estavam com uma cinta branca de beiras douradas com uma graciosa no centro. Branco também com pequenos detalhes de ouro, era o cordãozinho com que estavam atadas. Sua comprida cabeleira estava submetida com uma coroa que lhe cingia a frente. Era tão abundante que, ao sair da coroa, e ela formava exuberantes anéis de cabelos caindo depois pelas costas formando um abundante cacheado. Ambos haviam começado um diálogo: umas vezes se alternavam em falar; outra se faziam perguntas ou bem prorrompiam em exclamações. Às vezes, as duas permaneciam sentadas, outra vez uma estava sentada e a outra em pé ou bem passeava. Entretanto, nunca saiam da superfície daqueles tapetes brancos e jamais tocavam as ervas (que morrem logo após dar o fruto) nem as flores. Dom Bosco, em seu sonho, permanecia como espectador. Nem dirigiu palavra alguma para as jovenzinhas e nem aos jovenzinhos, em fim não dirigir histórias, fatos de sua vida; porém questionava ambos com suavíssimo acento: - Que é a inocência? Ele estando cheio a graça santificante, conservando a mercê da constante e exata observância da lei divina. E a outra donzela, com voz não menos doce: - A conservância da pureza, da inocência, é a fonte e origem de toda ciência e de toda virtude. E a primeira: - Que brilho, que glória, que esplendor de juventude, viver bem entre os maus e, entre os malignos e mundanos, conserva o fervor da inocência e a pureza dos costumes! A Segunda se pois em pé determinando-se junto a companheira: - Bem-aventurados os jovens que não vão atrás dos conselhos dos ímpios e não seguem o caminho dos pecadores, mas os que contemplam a lei do Senhor, a qual medita dia e noite. E será como arvoredo ao longo das correntezas das águas e a graça dos sonhos, a qual dará a seu tempo fruto copioso de boas obras: ainda que sobre o vento, não cairá das folhas das santas intenções e do mérito de todo quanto fizer terá um próspero efeito e cada circunstância de sua vida cooperará a crescer seu prêmio. E, assim dizendo, assinalava os arvoredos do jardim, carregados de frutos belíssimos, que apareciam pelo ar um perfume delicioso, enquanto uns regatos de águas limpíssimas que, umas vezes, corriam por duas beiras floridas; outras, caíam formando pequenas cascatas e formavam pequenos lagos e banhavam seus pés, com um que parecia o som misterioso de uma música. A primeira donzela replicou: - É como um lírio entre as espinhas que Deus acolhe em seu jardim e, depois, toma-a para ornamentação de seu coração; e pode dizer a sei Senhor: Olhando, amado para mim e eu para meu amado, pus a apascentar em meio de lírios. E, ao dizer isto, indicava um grande número de lírios belíssimos que realçava sua branca coroa entre as e as demais flores. Enquanto assinalava dum lugar altíssimo obstáculo verde que rodeava todo o jardim. Este obstáculo estava todo qualhado de espinhos e, detrás das cercas uns monstros arquerosos que tentavam penetrar no jardim, porém os impedia os espinhos do caniço. - É certo! Quanta verdade encerravam tuas palavras! Acrescenta a Segunda. Bemaventurado jovenzinho que sai familiarizado sem culpa! Mas quem será o tal e que elogio diremos em sua honra? Pois há trabalhado coisas admiráveis em sua vida. Foi encontrado perfeito e terás a glória eterna; pode haver pecado e não secou fazendo o mal e não o juízo. Por isso, seus bens há sido estabelecido pelo senhor e sua obras boas serão celebradas por todas as congregações dos santos. - E, na terra, que glória lhe está reservada! Os chamará, lhes mostrará um lugar em seus santuário, os fará ministros de seus ministérios e lhe dará um nome sempiterno que jamais renascerá, concluo a primeira. A Segunda se pois de Pé e exclamou: - Quem pode escrever a beleza de um inocente? Sua alma está esplendidamente vestida, como uma de nós, embelezada com a escola branca do santo batismo. Em seu pescoço em seu braço resplandece jóias divinas, levava no seu dedo o anel da aliança com Deus. Caminhava velozmente em sua viagem fazia a eternidade. Se abre diante dos seus olhos um caminho semeado de estrelas.... . tabernáculo vivo do Espírito Santo. Com o Sangue de Jesus que corre por suas veias e tem suas sobrancelhas e seus lábios, com a Santíssima Trindade e no coração Imaculado, depois ao seu redor focos de lua que lhe reveste de um esplendor maior que o do sol. Desde o alto, leves pétalas de flores celestes que enchem o ar. Todo o ambiente se semeia das suaves harmoniosas do Angelus (ave - Maria) que fazem eco a sua preces. Maria Santíssima está a seu lado pronta a defender-lhe. O céu está aberto para ele. Se ha convertido em espetáculo para imensas legiões dos santos e Espíritos bem aventurados que lhe convida agitando suas folhas de palmeiras. Deus, entre os inacessíveis fulgores de seu trono de glória lhe acena com mão direita o lugar que tem destinado, enquanto que, com a mão esquerda só tem esplendida coroa com que lhe há de coroar para sempre. O inocente é o desejo, a alegria, o aplauso do Paraíso. E, sobre o seu rosto está esculpida uma alegria inefável. És do filho de Deus, Deus é o seu Pai. O paraíso é sua herança. Esta continuamente com Deus, o ver, o ama, o serve, o possui, o goza, possui um raio das delicias celestiais; está em possessão de todos os tesouros, de todas as graças, de todos os segredos, de todos os dons, de todas as suas perfeições e de Deus mesmo. - Por isso se apresenta tanta glória a inocência do A.T. e do Novo T., e especialmente mártires. Oh! Inocência, quão bela és! Tentada, cresce em perfeição; humilhada levanta - te mais sublime; combatida, sai triunfante; sacrificada, voas a receber a coroa. Tu és livre nas escravatura, tranqüila e segura nos perigos, alegre nas cadeias. Os poderosos se inclinará diante de ti os príncipes te acolheram os grandes te buscam. Os bons te obedecem, os maus te invejam, os rivais te rivalizam, os adversários sucumbem diante de ti. E tu saúdas sempre vitoriosa inclusivamente quando os homens te condenam injustamente. As donzelas fizeram um pequena pausa, como para tomar um pouco de alimento depois de haver desabafado tão inflamados desejos intensos, e logo se tomaram pela mão e se olharam uma outra. - Ho! Sim os jovens conheciam o precioso tesouro da inocência, como cuidavam desde o principio de sua vida, a estola do santo batismo! Mas pelo contrário, não refletem, não pensam o que querem dizem ofendê-la. A inocência é um licor preciosismo. - Porém está inserido em um frágil vaso de barro e, se não levar com cautela, se rompe com a maior facilidade. - A inocência é uma pedra preciosa. - Porém não se conhece seu valor, se perde e facilmente se troca por um objeto indigno. - A inocência é um espelho de ouro, que reflete a imagem de Deus. - Porém basta um pouco de ar úmido para embaçá-lo e ai quem conservá-lo envolta dentro de um véu. - A inocência é um lírio. - Porém só o contato de uma mão pouca delicada pode murcha-la. - A inocência é uma brandura. - Porem basta uma só mancha para fazê-la perder o seu valor; por isso, é necessário caminhar com muita precaução. - A inocência hora de recolher violada assim é isolada assim é afetada por uma só mancha perde o tesouro de - Basta um só pecado mortal. - E uma vez perdida, a hora de recolher, perdida para sempre. - Que desgraça as tantas inocência que se perde cada dia! - Quando um jovem cai no pecado, o paraíso se fecha; a virgem Santíssima e o anjo da guarda desaparecem, cessam as músicas e se escurece. a luz. Deus não está ai no seu coração, desaparece o caminho que antes recorria; cai a hora de recolher ao momento só como uma ilha no meio do mar. De um mar de fogo que se estende até o extremo horizonte da eternidade, lança-se no abismo até a profundidade do caos... sobre sua cabeça brilha o céu, ameaçados, os raios da divina justiça. Satanás há convertido-se em seu companheiro, o há carregado de cadeiras, e há posto um pé no pescoço e, com o biodentado levantado no alto, há esclamado: - É vencido! Filho tu és o meu escravo. Não te pertence. Para ele já terminou a alegria. Se a justiça de Deus o priva em qual momento do único ponto de apoio com que custa, está perdida para sempre. - E pode levantar-se! A misericórdia de Deus é infinita. Uma boa confissão devolve a graça e o título de filho de Deus. - Porém, a inocência, jamais. E que conseqüência se originara do primeiro pecado! Conhece o mal que antes não conhecia; sentirá terrivelmente a influência das más inclinações; com a dúvida enorme que se tem contraído com a Divina Justiça se sentirá mais fraco nos combates espirituais. Sentirá o que antes não sentia, os efeitos de vergonha, da tristeza, do demônio. - E pensam que antes se havia dito dele: deixado que os meninos se assentem a mim. Eles sonham com os anjos de Deus no Céu. Meu filho, doma seu coração. - A que delitos tão espantosos comentam aqueles desgraçados que são cuidados dos meninos perderem a inocência! Jesus disse: quem escandalizar um destes pequeninos que .......... em mim. Melhor seria para ele pendurar uma pedra de moinho no pescoço, e ser jogado no fundo do mar (Mt 18, 6). Ai do mundo por causa dos escândalos! É inevitável que aconteçam escândalos, mas ai daqueles que causam escândalos! "Cuidado para não desprezar nenhum desses pequeninos. Pois eu digo a vocês: os anjos deles no céu estão sempre na presença do meu Pai que está no Céu" e põe vingança. - Desgraçados! Mas não menos infelizes são os que se deixam roubar a inocência. E é aqui que as duas jovenzinhas começaram a passear: o temo de sua conversação era sobre qual é o meio para conservar a inocência. Uma disse: - É um grande erro dos jovens, a crer que a penitencia deve praticar somente quem tem pecados. A penitência é também necessária para conservar a inocência. Se São Luís não tivesse feito penitência, sem dúvida, havia caído em pecado mortal. Este se deveria praticar, inculcar, ensinar continuamente aos jovens. Maior seriam o número que conservavam a inocência, enquanto que agora são tão poucos! - Disse o aposto: Tentemos de levar sempre, por todas partes, em nosso campo, a mortificação de Jesus Cristo, a fim de que a vida de Jesus se manifeste em nós. - E Jesus, santo, imaculado e inocente, passou uma vida de privações e dores. - Assim também Maria e todos os Santos. E foi para dar exemplo a todos os jovens. Disse São Paulo: "Se viveis segundo a carne, morrereis". - Portanto, sem a penitência, não se pode conservar a inocência. - E, contudo, muitos queriam conservar a inocência, vivendo livremente. Importantes! Acaso não está escrito: "Foi arrebatado para que a malícia não alterasse seu espírito e a sedução não induzisse sua alma a errar"? Mas a ofuscação da vaidade obscurece o bem e a vertigem da concupiscência perverte a alma inocente. Portanto, dois inimigos têm os inocentes: as máximas perversões e as males conversas dos malvados e a concupiscência. Não disse o Senhor que a morte em plena é um prêmio a inocente combates? "Porque agradou ao Senhor, foi por ele amado e, porque vivia entre os pecadores, foi levado a outro lugar. Tendo morto em idade avançada , percorreu um longo caminho. Porque Deus amava sua alma, o tirou do meio da iniquidade. Foi arrebatado para que a malícia não atormente seu espírito e a sedução não seduzisse sua alma ao erro: Felizes os meninos que abraçam a cruz da penitência e com firme propósito com Job: que não me apartarei do caminho da inocência. - Portanto, mortificação para superar o desgosto que sentem na oração. - Está escrito: - Mortificação da inteligência mediante a humildade, obedecer aos superiores e aos regulamentos. - também está escrito: E isto é a soberba. Deus resiste aos soberbos e dá suas graças aos humildes. Quem se humilha será exaltado e quem se exalta será humilhado. Obedecer a vós superiores. - Mortificação em dizer sempre a verdade, em manifestar os próprios defeitos e os perigos nos quais pode encontrar-se um. Então receberá sempre conselho, especialmente do confessor. - Por amor de tua alma, não tenha vergonha de dizer a verdade. Porque há uma vergonha que traz consigo o pecado e há outra vergonha que traga consigo a glória e a graça. - Mortificação do coração, freando seus movimentos desordenados, amando a todos por amor de Deus e apartando-nos especialmente daqueles que pretendem maliciar nossa inocência. - Disse Jesus: "Se tua mão e teu pé te serve de escândalo, corta-o e joga-o longe de ti; é melhor para ti levar a vida, com uma não e com um pé a menos, que com ambas as mãos e com ambos os pés, ser precipitado ao fogo eterno. E se teu olho te serve de escândalo, arranque-o e jogo longe de ti; é melhor entrar na vida eterna, com um só olho, que com os dois ser jogado ao fogo do inferno". - Mortificação em suportar valentemente e com franqueza as zombarias do respeito humano. - E venderá estas forças malignas,, temendo ser descobertos pelos superiores, pensando nas terríveis palavras de Jesus: "Quem se envergonhar de mim e de minhas palavras, se envergonhará dele o Filho do Homem, quando vier com toda sua majestade e com a do Pai e dos Santos Anjos". - Mortificação dos olhos, ao olhar, ao ler, afastando-se de toda leitura mal e inoportuna. - Um ponto essencial fazer pacto com meus olhos de não pensar nem sequer em uma virgem. E nos salmos: "Guarda teus olhos para que não vejam a vaidade. - Mortificação do ouvido e não escutar males conversas, palavras horríveis e ímpias. - Se lê no Eclesiástico: "Rodeia com um caniço de espinhos teus ouvidos e não escuta a má língua. - Mortificação no falar: não deixe-se vencer pela curiosidade. Também está escrito: Coloca na porta e um cadeado em tua boca. Tem cuidado para não pecar com a língua, para que não sejas derrubado a vista dos inimigos que proporcionam a tua caída chegue a ser incurável e mortal" - Mortificação do gosto: Não comer, não beber demasiado. - O demasiado comer e o demasiado beber foi causa do dilúvio universal e do fogo sobre Sodoma e Gomorra e dos mil castigos que caíram sobre o povo hebreu. - Mortifica-se, em suma, sofrendo quanto nos sucede ao longo do dia, o frio, o calor e não buscar nossas satisfações. Mortificar vossos membros terrenos, disse S. Paulo. Recorra-te ao dito de Jesus: - Deus mesmo com sua promovida coroa de espinhos e de cruzes . A seus inocentes, como fez com Job, com José, com Tobias e com outros santos. - O caminho do inocente tem suas provas , seus sacrifícios, mas recebe força na comunhão , porque quem comunga freqüentemente tem a vida eterna, está em Jesus e Jesus nele. Vive a mesma vida de Jesus e ele o ressuscitará no ultimo dia. e este trigo dos elegidos e o vinho que engendra. - A virgem Santíssima, a quem tanto amo, é sua mãe. - As duas donzelas se voltaram então e começaram a subir lentamente o estandarte E uma exclamou: - A saúde dos justos vem do Senhor. Ele é seu protetor no tempo da tribulação. O Senhor os ajudará e os libertará. Ele os libertará das mãos dos pecadores e os salvará porque esperaram Nele. - E a outra prosseguiu: - Deus me dotou de fortaleza e o caminho que percorro é imaculado. Ao chegarem ambas donzelas no centro daquele tapete, se encontraram. - Sim, gritou uma delas, a inocência coroada pela penitência que é a rainha de todas as virtudes. - E a outra exclamou também: - Quanta gloriosa e bela é a generosidade dos castos! Sua memória é imortal e admirável aos olhos de Deus e dos homens. A gente imita quando está presente e a deseja, quando há partido para o céu e, coroada, triunfa na eternidade, depois de vencer os combates da castidade. E que triunfo! Que gozo! Que glória a apresenta a Deus, imaculada, a estola do Santo Batismo, depois da tantos combates entre os aplausos, os cânticos, o fogo dos exércitos celestiais. Então falavam desta maneira do prêmio reservado a inocência, conservada mediante a penitencia, D. Bosco viu aparecer legiões dos anjos que baixando do céu, se assentavam sobre o branco tapete. E se uniam a aquelas duas donzelas, conservando para elas o posto do centro. Formavam uma grande multidão que cantavam: benedictus Deus et pater Domini Nostri Jesu... etc. As duas meninas se puseram então a cantar um hino maravilhoso, porém com palavras "rocas" e nestas "rocas", que só os anjos que estavam mais próximo ao centro podiam cantar harmoniosamente. Os outros também cantavam, mas Dom Bosco não podia ouvir suas vozes, observando só os gestos e o movimento dos lábios ao adaptar a boca ao canto. As duas meninas cantavam: me propter innocentiam suscepisti et confirmasti me in conscepectu tuo in aeternum. Benedictus Dominus Deus a saeculo et usque in saeculum; fiat, fiat! Entretanto, as primeiras filas de anjos, diante das outras. Seu vestido era de várias cores e ornamentado, diverso uns dos outros e especialmente deferente o das donzelas. Mas a riqueza e magnificência dos mesmos era divina. A beleza de cada um era tal que a mente humana não a podia conceber de maneira alguma, nem forma as mais ideais deles. O espetáculo que esta cena oferecia era indescritível, mas só a força de emitir palavra por palavra, se podia explicar em certa maneira o concerto. Terminando o canto das duas meninas, entoaram todos juntos um hino imenso e tão armonioso que jamais se ouviu coisa igualmente se ouvirá sobre a terra. Eis aqui o que cantavam: Ei, Qui potens est vos conservare sine pecato et constituere ante conspectum gloriae suae immaculatos in exultatione, in adventu Domini nostri Jesu Chisti: soli Deo Salvatori nostro, per Jesum Chistum Dominum Nostrum, gloria et magnificentia, imperium et potestas ante omne saeculum, et nunc et in omnia saecula saeculorum. Amen. Enquanto cantavam, iam chegando novas filas de anjos e quando o canto "estava" terminando, pouco a pouco, todos se levantavam no ar e desapareceram ao mesmo tempo que aquela visão. E Dom Bosco despertou 44. OS MARTIRES DE TURIM (1845) (MB 2, 343-344 = MBe 2, 261-262) Apareceu encontra-se na parte norte de Rondó o plata circular de Valdocco, e dirigindo um olhada fazia ao lado de Dora viu ali abaixo, através dos gigantescos arvoredos que então só alinhava ornamentando a avenida, hoje chamada Regina Margarida, como a uns setenta metros juntos da rua Cottolengo, em um campo semeado de plantas, raízes judia e cores, três belíssimas jovens, radiantes de luz. Estava de pé naquele lugar que, no sonho anterior, se havia encenado como teatro do glorioso martírio dos três soldados da região tebéia. E inventaram estes a baixo e uniu-se a eles. Pequeno Dom Bosco até eles, os quais acompanharam amavelmente no extremo daquele terreno, de onde hoje se levanta majestosa a Igreja de Maria Auxiliadora. Depois de um de um curto e pequeno momento, de maravilhas em maravilhas, Dom Bosco se encontrou na frente de uma dama, magnificamente vestida e de inexplicável beleza, majestade e resplendor, e cercada por um senado de veneráveis personagens admiráveis com graça e deslumbradora riqueza, e faziam corte como a rainha. 45. O SONHO DO PERSONAGEM DOS DEZ DIAMANTES (MB XV 183-187 = MBe 15, 166-171) S. Benigno Canavese: noite de 10 para 11 de setembro de 1881. NB: O texto que apresentamos baseia-se na cópia tirada a limpo pelo P. Berto com as correções de Dom Bosco, confrontado com a primeira redação autógrafa (cf. Archivio Salesiano Centrale 132, Sogni 5). Servimo-nos outrossim da edição crítica de Cecília Romero (“I sogni di Don Bosco Edizione critica”Torino 1978, LDC). Tomamos a liberdade de: • traduzir as expressões latinas (como na publicação do P. Ziggiotti); • deixar de lado algumas datas já superadas (como na segunda publicação do P. Rinaldi); • colocar um título e subtítulos que nos parecem mais apropriados e que ajudam a apresentar o sonho com maior clareza e agilidade tipográfica. A graça do Espírito Santo ilumine os nosso sentidos e os nossos corações. Amém. PARA INSTRUÇÃO DA PIA SOCIEDADE SALESIANA. A 10 de setembro do corrente ano (1881), dia que a Santa Igreja consagra ao glorioso Nome de Maria, os Salesianos reunidos em S. Benigno Canavese faziam os Exercícios Espirituais. “O modelo do verdadeiro Salesiano” Na noite de 10 para 11, enquanto eu dormia, achei-me com o espírito numa grande sala esplendidamente ornamentada. Parecia-me estar passeando com os Diretores das nossas casas, quando apareceu entre nós um varão de tão majestoso aspecto que não podíamos fitar os olhos nele. Depois de lançar-nos um olhar, sem dizer palavra, pôs-se a caminhar a alguns passos de distância de nós. Um rico manto à guisa de capa cobria-o todo. A parte próxima ao pescoço era uma como faixa que se atava na frente, e sobre o peito pendia um laço. Na faixa estava escrito em caracteres luminosos: “A Pia Sociedade Salesiana”, e na borda dessa faixa liam-se as palavras: “Qual deve ser”. Dez diamantes de tamanho e fulgor extraordinário mal nos permitiam fitar o augusto personagem. Três deles achavam-se sobre o peito. Num estava escrito “Fé”, noutro “Esperança” e no que estava sobre o coração, “Caridade”. Um quarto diamante, no ombro direito, trazia a palavra “Trabalho”. Outro, no ombro esquerdo, “Temperança”. Os outros cinco ornavam a parte posterior do manto e estavam assim dispostos: O maior e mais resplandecente era como o centro de um quadrilátero, e tinha escrito “Obediência”. No segundo, mais abaixo “Prêmio”. À esquerda, no que ficava mais alto, lia-se “Voto de Castidade”. Seu esplendor emitia uma luz toda especial e atraía o olhar como o ímã atrai o ferro. No segundo, da esquerda, estava escrito “Jejum”. Os quatro faziam convergir os seus luminosos raios para o diamante do centro. Algumas máximas ilustrativas Para não causar confusão deve-se notar que esses brilhantes despediam raios que se elevavam quais pequenas chamas e traziam escritas cá e acolá várias sentenças: Sobre a Fé: “Tomai o escudo da fé a fim de poderdes combater contra as insídias do demônio”. Em outro raio: “A Fé sem obras é morta. Não os que escutam a lei, mas os que a praticam é que possuirão o reino de Deus”. Sobre os raios da esperança: “Esperai no Senhor e não nos homens. Estejam sempre fixos os vossos corações onde estão os verdadeiros gozos”. Nos raios da Caridade: “Suportai-vos uns aos outros, se quereis observar a minha lei. Amai e sereis amados. Mas amai as vossas almas e as do que vos são confiados. Recitai com devoção o ofício divino; a missa seja celebrada com atenção; visitai com muito amor o Santíssimo Sacramento”. Sobre a palavra Trabalho: “Remédio da concupiscência. Arma poderosa contra todas as insídias de demônio”. À Temperança: “Se tiras a lenha, o fogo se apaga. Fazei um pacto com vossos olhos, com a gula, com o sono, para que tais inimigos não se assenhoreiem de vossa alma. Intemperança e Castidade não podem viver juntas”. Nos raios da Obediência: “Fundamento de todo o edifício e compêndio da santidade”. Nos raios da Pobreza: “Deles é o reino dos céus. As riquezas são espinhos. A pobreza se obtém não com as palavras mas com o coração e com as obras. Ela nos abrirá a porta do céu”. Nos raios da Castidade: “Junto com ela vêm todas as virtudes. Os puros de coração penetram os segredos de Deus e um dia verão o mesmo Deus”. Nos raios do Prêmio: “Se nos agrada a grandeza dos prêmios, não nos amedronte a multidão das fadigas. Quem sofre comigo, comigo há de gozar no céu. É momentâneo o que se padece na terra; eterno o que no céu hão de gozar os meus amigos”. Nos raios do Jejum: “Arma poderosíssima contra as insídias do inimigo. Guarda de todas as virtudes. Por meio dele será lançada fora toda a classe de inimigos”. Advertência autorizada Uma larga faixa cor de rosa servia de orla à parte inferior do manto. Nela estava escrito: “Argumento de pregação, de manhã, ao meio-dia e à tarde. Praticai as pequenas virtudes e erguereis um grande edifício de santidade. Ai de vós que desprezais as coisas pequenas. A pouco e pouco caireis nas grandes”. Até esse ponto alguns diretores mantinham-se de pé, outros de joelhos; mas todos atônitos e ninguém falava. Então o P. Rua, como se estivesse fora de si, exclamou: “É preciso tomar nota de tudo para não nos esquecermos”. Procura uma caneta e não a encontra; toma a caderneta, procura um lápis e não encontra. “Eu me lembrarei”, disse o P. Durando. “Vou tomar nota”, acrescenta o P. Fagnano, e se pôs a escrever com a haste de uma rosa. Todos olhavam e compreendiam a escrita. Assim que o P. Fagnano acabou de escrever, o P. Costamagna continuou a ditar: “A Caridade tudo entende, tudo suporta, tudo vence; preguemo-la com as palavras; e com os fatos”. “O contrário do verdadeiro Salesiano” Enquanto o P. Fagnano escrevia, desapareceu a luz, e ficamos imersos em densa treva. “Silênciao, disse o P. Ghivarello, ajoelhemo-nos, rezemos, e a luz voltará”. O P. Lasagna começou o “Veni Creator”, depois o “De Profundis”, “Maria Auxilium etc.” e todos respondemos. Quando dissemos “Ora pro nobis”, reapareceu uma luz, rodeando um cartaz em que se lia: “A Pia Sociedade Salesiana qual corre perigo de se tornar”. Após um instante a luz se fez mais viva, de sorte que nos podíamos ver e reconhecer uns aos outros. No meio desse resplendor apareceu de novo o personagem, mas com aspecto melancólico, como de quem está para chorar. O manto estava desbotado, poído e rasgado. Onde antes estavam os diamantes, via-se agora profundo estrago causado por traças e outros pequenos insetos. “Olhai — disse o personagem — e entendei”. Vi os dez diamantes transformados em traças que estavam a roer o manto. Em lugar do diamante da Fé, agora se lia: “Sono e indolência”. Em vez de Esperança: “Risadas e vulgaridades”. Em vez de Caridade: “Negligência nas coisas de Deus. Amam e buscam o que lhes interessa e não o que interessa a Jesus Cristo”. Em vez Temperança: “Gula, e aqueles cujo Deus é o próprio ventre”. Em vez de Trabalho: “Sono, furto e ociosidade”. No lugar da Obediência não havia senão uma falha larga e funda, sem nada escrito. Em vez de Castidade: “Concupiscência dos olhos e soberba da vida”. Em vez de Pobreza: “Leito, roupas, bebida e dinheiro”. Em lugar de Prêmio: “Nossa herança serão os bens da terra”. Onde antes estava Jejum havia outra grande falha, sem nada escrito. A essa vista ficamos todos estarrecidos. O P. Lasagna caiu desmaiado. O P. Cagliero tornouse pálido como cera e apoiando-se numa cadeira exclamou: “Possível que as coisas tenham chegado a esse ponto?”. O P. Lazzero e o P. Guidazio estavam como fora de si e deram-se as mãos para não caírem. O P. Francesia, o Conde Cays, o P. Barberis e o P. Leveratto estavam de joelhos e rezavam com o terço na mão. Foi quando se ouviu uma voz cavernosa: “Como esvaeceu aquela esplêndida cor!”. Mensagem de um jovem À escuridão seguiu-se um fenômeno singular. Vimo-nos de repente rodeados de densas trevas, no meio das quais apareceu logo uma luz vivíssima que tinha forma de corpo humano. Não podíamos fixar nela os olhos, mas percebemos que era um gracioso menino vestido de um hábito branco tecido de ouro e prata. Ao redor de todo o hábito havia uma faixa de diamantes muito luminosos. Com aspecto majestoso, mas doce e amável, aproximou-se um pouco de nós e dirigiu-nos estas textuais palavras: “Servos e instrumentos de Deus onipotente, atendei e ficai sabendo. Tende coragem e sede fortes. O que vistes e ouvistes é um aviso de céu que se vos dá agora a vós e a vossos irmãos: atendei bem e compreendei as minhas palavras. Quando previstos, os dardos ferem menos e podem ser evitados. Todas as palavras aqui escritas sejam argumento de pregação. Pregai sem descanso, oportuna e importunamente. Mas praticai constantemente o que pregais, para que vossas obras sejam luz, que se transmita como tradição segura aos vossos irmão e filhos, de geração em geração. Atendei bem ficai sabendo: Tende muito tino ao aceitar os noviços: sede fortes na formação deles; prudentes na admissão. Provai a todos, mas só conservai os que forem bons. Despedi os levianos e inconstantes. Atendei bem e ficai sabendo: A meditação da manhã e da tarde seja constantemente sobre a observância das Constituições. Se assim fizerdes, jamais vos faltará o auxílio do Onipotente. Sereis alvo dos olhares do mundo e dos anjos e então a vossa glória será a glória de Deus. Os que virem o findar deste século e o início do outro hão de dizer de vós: esta é obra de Deus, admirável aos nossos olhos. Então os vossos irmãos e os vossos filhos hão de cantar a uma só voz: Glorifica, ó Senhor, teu nome, não a nós”. Estas últimas palavras foram cantadas, e à voz de quem falava uniu-se uma multidão de outras vozes tão harmoniosas e sonoras que ficamos sem sentidos, e para não cairmos desmaiados pusemo-nos a cantar juntos. Terminado o canto, a luz escureceu. Então acordei e percebi que ia amanhecendo. Nota de Dom Bosco O sonho durou quase toda a noite, e de manhã achei-me com as forças esgotadas. Temendo, porém, esquecê-lo, levantei-me à pressa e tomei algumas notas, que me serviram para lembrar o que hoje, dia da Apresentação de Nossa Senhora no Templo, vos acabo de expor. Não me foi possível lembrar tudo. Entre as muitas coisas pude notar com segurança que o Senhor usa de grande misericórdia conosco. Nossa sociedade é abençoada pelo céu, mas ele quer que contribuamos com nosso trabalho. Havemos de prevenir os males que nos ameaçam se pregarmos sobre as virtudes e os vícios aqui apontados, se praticarmos o que pregamos e o transmitirmos aos nosso irmãos com uma tradição prática do que se tem feito e do que havemos de fazer. Maria, Auxílio dos Cristãos, rogai por nós. • O texto e o desenho acima estão em ACS nº 300, p. 42-47 46. AS OVELHAS FIÉIS E AS DESERTORAS (1876) (MB 12, 387-388 = MBe 12, 331-332) Agora quero contar-te um sonho. Fábula ou história que forçou minha mente na noite da festividade de Santa Ana. Vi um pastor que trabalhava para alimentar, proporcionar bons pastores e afastar do perigo a suas ovelhas. Fazia um ano que estava empenhado naquele trabalho, havia suado muito e estava contente de suas fadigas porque as ovelhas estavam muito gordas, muita carregadas de lã, e produziam leite abundante. Quando chegou o tempo da tosquia, começou o dia e convidou alguns amigos para fazer um pouco de festa. O Bom Pastor penetrou antecipado no redil e se deu conta de que faltava algumas ovelhas. Aonde haviam ido parar as ovelhas que faltavam? — Perguntou. E lhe respondeu: Vindo um homem, propus-lhe melhores pastos e, assim iludidos, foram-se com ele. É tudo o que sabemos. Pobre de mim! — disse o pastor cheio de aflição. Daquelas ovelhas pelas que trabalhei e derramei tantos suores, pensava tirar um pouco de lã e também um pouco de queijo, e agora me dou conta de que trabalhei em vão. Opera et impensa periit. (Malogrou-se o trabalho e o gasto). Não — replicaram as ovelhas com uma linguagem entendida por poucos —, não; algumas ovelhas levaram a lã, porém, nós te compensaremos não só com a nossa, mas também com nossa pele. O pastor sentiu-se contente e feito mil carícias às ovelhas que permaneceram fiéis no redil e nos pastos, sem deixar-se seduzir por lisonja. Um bom prêmio a quem me der a explicação de quando acabo de expor. Deus nos bendiga a todos e rezai por quem se professa. Vosso af.mo amigo em J. C., Pe. João Bosco. OBSERVAÇÕES: Dom Bosco escreve uma carta a Dom Júlio Barberis, mestre de noviços em Lanzo, dizendo-lhe que não irá a Lanzo. E propõe aos noviços este enigma, que o mesmo Dom Bosco diz que "formou sua mente". 47. UMA ÁRVORE PRODIGIOSA (1875) (MB 11, 34 = MBe 11, 36-37) "Na noite passada dormi pouco. Tive um sonho que me cansou muito e foi este: Pareceu-me falar-me no jardim junto a uma árvore com frutas tão grossas que admiravam. Estava a árvore carregadíssima de frutas de três classes: havia figos, pêssegos e pêras. De repente, levantou-se um vento impetuoso e começou a cair sobre mim uma chuva de granizo misturada com pedras. Busquei então, onde me refugiar; mas apareceu um que me disse: Depressa, recolha as frutas. Busquei um cesto, porém, era muito pequeno, pelo que o outro me disse a gritos: Busca outro maior. E a troquei, porém, apenas havia tomado duas ou três frutas daquelas e o cesto encheu. De novo gritou-me o outro, dizendo-me que buscasse um cesto maior. Encontrei-o, e o outro acrescentou: Depressa, porque o granizo destroça tudo. E me pus a colhê-los. Porém, qual não foi minha surpresa quando, ao tomar uns figos extraordinariamente grandes, observei que estavam estragados de um lado. O desconhecido, pôs-se então a gritar. Depressa, escolha-os. Pus-me então a escolher os bons e fui colocando-os em três grupos em um cesto. De um lado pus os figos, de outro os pêssegos e no meio as pêras; porém aquela fruta, figos, pêssegos e pêras eram de tamanho de dois palmos juntos de um homem e tão belas que eu não me cansava de contemplá-las. Então, o desconhecido disse-me: Os figos são para o bispo; as pêras para você e os pêssegos para a América. E dito isto, começou a aplaudir e a gritar: Ânimo, bravo, bravo, muito bem, bravo! E desapareceu. Então, despertei-me, porém me ficou tão impresso esse sonho que não pude apartá-lo da minha mente. Observações: Teve 15 de março em Roma; contado na casa dos senhores Sigismondi, sentado à mesa e estando presente Dom Berto, de quem é a relação. O cesto grande significava a plenitude do lugar destinado a este fim; os figos para o bispo são os jovens destinados ao seminário; os pêssegos para América são os missionários salesianos; as peras do meio são os salesianos destinados à sede central da Congregação; a granizada de pedras são os contratempos que lhe choveram do alto, especialmente da parte dos bispos, cujas cartas enviadas a Roma conservam-se, tratando de impedir a aprovação desta Obra. O dia 14 de abril de 1875, Dom Bosco falou sobre este tema a Pio IX que acabaria aprovando-a com o título de "Obra de Maria Auxiliadora". 48. A PATAGÔNIA - Sonho missionário (1872) (MB 10, 54-55 = MBe 10, 60-61) Pareceu-me encontrar um uma região selvagem e totalmente desconhecida, era uma imensa planície complemente inculta, na qual não se descobriam montes nem colinas. Em seus distantes confins se perfilavam escabrosas montanhas. Vi nelas uma turma de homens que a recorriam. Estavam quase despidos, eram de altura e estatura extraordinárias, de aspecto feroz, cabelos longos e de pêlos duros e espessos, cor bronzeada e negralhada e iam vestidos com amplos mantos de peles de animais que as caiam pelas costas. Usavam coma armas uma espécie de lança, a funda e o laço. Estas turmas de homens, espalhados aqui e acolá, ofereciam aos olhos do espectador cenas diversas: uns corriam detrás das feras para dar-lhes caça, outros levavam cravados nas pontas de suas lanças pedaços de carne ensangüentada. Por uma parte, uns lutavam entre si, outros lutavam com soldados vestidos à européia , e ficava o terreno coberto de cadáveres. Eu temia ao contemplar semelhante espetáculo, e eis que apareceram nos limites da planície numerosos personagens, nos quais reconhecia, por suas roupas e sua maneira de trabalhar os missionários, de várias ordens. Estes se aproximam para pregar àqueles bárbaros a religião de Jesus Cristo. Os observei atentamente, mas não reconhecia ninguém. Se misturaram com os selvagens. Porém eles, apenas os viam e lhes fechavam em cima com furos diabólico e alegria infernal, os matavam e com ação feroz os esquartejavam, cortavam a pedaços e colocavam os pedaços de suas carnes nas pontas de suas largas lanças velhas, logo se repetiam as lutas entre eles e com os povos vizinhos. Depois de observar as horríveis matanças, disse-me: Como converter esta gente tão selvagem? Vi entretanto, à distância um grupo de outro missionários que aproximavam aos selvagens com rosto alegre, precedidos de um pelotão de meninos. Eu tremia pensando: Vêm para se fazer matar. E me aproximei deles; eram clérigos e sacerdotes. Olhei-os atentamente e vi que eram nossos salesianos. Os primeiros eram-me conhecidos e, se bem não pude conhecer pessoalmente a muitos outros que lhes seguiam, dei-me conta de que eram também missionário salesianos, precisamente dos nossos. - Porém, como é isto? — exclamei. Estava decidido a não deixá-los avançar e me dispus a dete-los. Esperava que, de um momento para outro, correria a mesma sorte que os anteriores. Quis faze-los voltar atras, quando notei que suas aparições havia provocado a alegrias naquelas turmas de bárbaros, os quais baixaram as armas, trocaram a sua ferocidade e receberam a nossos missionários com as maiores mostras de cortesia. Maravilhado deles, me dizia comigo mesmo: - Já veremos como termina tudo isso! E vi que nossos missionários avançavam faziam as hordas de selvagem; lhes falavam e eles escutavam atentamente sua voz lhes ensinavam e aprendiam prontamente; lhes admoestavam e eles aceitavam e colocavam em prática seus avisos. Segui observando e me dei conta de que os missionários rezavam o santo rosário, entretanto, os selvagens corriam por todas partes, lhes abriam passo e respondiam com gosto a aquela prece. Os salesianos se colocaram no centro da multidão que lhes rodeou e se ajoelharam. Os selvagens deixaram as armas aos pés dos missionários e também se ajoelharam. E eis que um dos salesianos entoou o Louvor a Maria e aquelas turmas, todos a uma voz, continuaram o canto a uníssono e no tom tal que eu, quase espantado, me despertei. Tive este sonho faz quatro ou cinco anos, me causou muita impressão e fiquei convencido de que se tratava de um aviso do céu. Contudo, não compreendi o seu particular significado. Vi claramente que se tratava de missões estrangeiras, nas que fazia tempo havia pensado com grande ilusão". Observações: Tido em 1871 ou 1872, já que Dom Bosco, ao narrá-lo, disse que teve "faz quatro ou cinco anos". O contou pela primeira vez ao Papa Pio IX em março de 1876, e logo o repetiu a vários salesianos em 30 de julho do mesmo ano. Lhe serviu para decidir-se a iniciar as missões salesianas, se bem que já fazia tempo que havia pensado com grande ilusão nelas. No princípio Dom Bosco acreditou que se tratava dos povos da Etiópia; logo pensou nas mediações do Hong-Kong; mais tarde, nos povos da Austrália ou da Índia. Só em 1874, comprovou que se tratava do Patagônia, ao receber os convites prementes de mandar os salesianos à Argentina. FIM