nova tecnologia para refinação em baixa consistência
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nova tecnologia para refinação em baixa consistência
M.L.O. D´Almeida ; C.E.B. Foekel; S.W. Park; C.L.C. Marques; P.K. Yasumura and V. Manfredi (Editors), Proceedings of the ABTCP 2012 + VII CIADICYP The 45th ABTCP International Pulp and Paper Congress and VII IberoAmerican Congress on Pulp and Paper Research October, 9-11. 2012, Sao Paulo Brazil. © 2012 ABTCP and © 2012 RIADICYP. All rights reserved. NOVA TECNOLOGIA PARA REFINAÇÃO EM BAIXA CONSISTÊNCIA Luiz F Almeida 1 1 Metso Paper South America. Brasil ABSTRACT O estágio de refinação tem um papel importante no desenvolvimento das propriedades da massa para produção de papel. O tratamento apropriado no refinador tem um grande efeito na produtividade da máquina de papel e na qualidade do produto final. Na medida em que as economias de escala tem empurrado à fabricação de unidades cada vez maiores, o conceito básico de refinação tem mudado muito pouco – até agora. Um novo e revolucionário conceito de refinação foi introduzido. Os principais benefícios são a redução de 50% na carga a vazio do motor de acionamento; um refinador com novo conceito pode substituir dois refinadores tradicionais e ainda apresentar economia de 20% em energia elétrica; toda massa é tratada uniformemente propiciando melhor eficiência energética. Será apresentado um caso, um com aplicação da nova tecnologia para refinação de fibras de eucalipto branqueada. Keywords: refinador de baixa consistência, preparação de massa, novo refinador cônico. 1. INTRODUÇÃO Refinação é o tratamento mecânico das fibras entre barras metálicas e na presença de água. O estágio de refinação, no preparo de massa, tem uma função crucial no desenvolvimento das propriedades das fibras para produção de papel, tendo grande efeito na produtividade da máquina de papel e na qualidade final do papel. Na refinação convencional a fibra tem que percorrer toda extensão da zona de refino e sofre excessivos impactos o que resulta no aumento dos finos, enfraquecendo as fibras refinadas e aplicando de forma ineficiente a energia às fibras. Algumas fibras, chegando a 70% nos refinadores de discos em uma passagem, podem não ser tratadas. 1.1 Tipos de refinadores A primeira máquina construída para refinar foi a Holandesa. Holandesas são ainda utilizadas em algumas aplicações especiais como, por exemplo, cortar fibras longas de algodão antes dos refinadores pressurizados. Depois da Holandesa diferentes tipos de refinadores foram desenvolvidos. Os refinadores de baixa consistência modernos podem ser classificados em dois tipos principais – tipo cônico e tipo discos. O ângulo de cone para refinadores tipo Jordan é 10º, enquanto o refinador tipo Conflo tem 20º e o refinador tipo Claflin tem ângulo de cone de 30º. Existem três tipos básicos de configuração para refinadores de discos, o mais antigo é de disco simples. Depois dos refinadores de disco simples vieram os refinadores de disco duplo e o mais recente, que tem múltiplos rotores, chamado multidiscos. Corresponding author: Luiz F Almeida. Metso Paper South America. Rua Pedro Alcântara Meira, 1301.Araucaria. 83704-530.Brasil. +55-41-99410365. e-mail [email protected]. 2 L.F. Almeida. Refinadores Cônicos Cone Longo Ângulo Agudo “Jordan” Cone Curto Ângulo Agudo “Conflo” Refinadores de Discos Cone Curto Ângulo Grande “Claflin” Disco Simples Disco Duplo Multidiscos Figura 1: Tipos de refinadores 1.2 Principais diferenças entre refinadores cônicos e de discos. Primeiro, com o refinador cônico existe apenas um gap, comparado a dois (refinadores discos duplos) ou mais gaps (refinadores multidiscos). Com refinadores de discos duplos os gaps nunca são iguais, isto é, o gap 1 não é igual ao gap 2. Isto acontece porque a pressão gera forcas maiores no lado esquerdo do rotor devido ao fato de que o eixo reduz a área onde a pressão será aplicada no outro lado. Esta força maior empurra o rotor flutuante na direção do lado do eixo até que um equilíbrio seja alcançado. Isto pode ser facilmente reconhecido quando trocamos os discos gastos – os discos do lado do eixo estão mais desgastados que os do outro lado. Segundo, o ajuste dos refinadores cônicos é mais preciso do que em refinadores de disco. Isto se deve a fato de que um movimento axial de 1,0 mm do rotor significa uma mudança de 0,3 mm no gap, enquanto que o mesmo movimento no refinador de discos duplos significa uma mudança teórica de 0,5 mm no gap. Um gap estável permite obter uma massa com propriedades homogêneas na saída do refinador cônico. Figura 2: Controle do gap Terceiro, um tempo de retenção mais longo aumenta a probabilidade de fibras individuais serem tratadas e também aumenta o número de fibras nas barras resultando em aumento na possibilidade das fibras de melhor suportar os impactos de refinação sem serem cortadas. Nova tecnologia para refinação em baixa consistência Quando comparamos tamanhos similares de refinadores, refinador Conflo JC-01 e refinador de discos duplos de 20”, nós temos as dimensões abaixo. O diâmetro do refinador de discos é levemente maior do que o diâmetro do Conflo. Se assumirmos que o tempo de retenção de uma fibra individual no refinador de discos é 1 s, podemos calcular o tempo de retenção para o refinador Conflo baseado na relação do comprimento das zonas de refino. A velocidade do fluxo no gap do refinador de discos é a metade devido aos dois gaps. Com a ajuda de um calculo simples podemos concluir que o tempo de retenção é 1,4 vezes maior no Conflo do que no refinador de discos e por isso as fibras são mais tratadas no refinador Conflo dando melhor capacidade de ligações a elas. Figura 3: Tempo de retenção Quarto, a carga a vazio pode ser calculada por uma formula onde a velocidade de rotação é elevada a potencia 2 e o diâmetro a quarta potência. A carga a vazio é medida com água, de tal forma que os segmentos estão totalmente abertos e o gap é fechado lentamente. O valor da carga a vazio é determinado logo antes da potencia do refinador começar a aumentar. Abaixo exemplo de valores calculados para refinador Conflo JC-01 e refinador de discos duplos de 20”, ambos com a mesma rotação, 1000 rpm. Para o refinador JC-01 a carga a vazio é 50 kW e a fórmula dá o valor de 74 kW para o refinador de discos, o que também é confirmado pela literatura. Figura 4: Carga a vazio Quinto, as condições hidráulicas criadas entre rotor e estator no refinador tipo cônico e o aproveitamento da força centrífuga, asseguram uma alta cobertura de fibras entre as barras. Figura 5: Condições hidráulicas nos refinadores 3 4 L.F. Almeida. 1.3 Energia de Refinação A energia especifica de refinação (SRE) é calculada dividindo-se a potencia liquida pela vazão mássica. Isto descreve quanta energia liquida as fibras receberam. Figura 6: Energia específica de refinação A intensidade de refinação (SEL) representa quanta energia é aplicada às fibras da borda do rotor a borda do estator quando as bordas das barras se aproximam uma a outra. Isto é calculado dividindo a potencia líquida pela velocidade de corte. Figura 7: Determinação da SEL Esta teoria é largamente utilizada devido a sua simplicidade. Ela não leva em consideração quão bem as fibras receberam a energia. Nem presta atenção a fatores como energia aplicada por passagem, consistência, largura das barras, condições dos discos, gap, tempo de retenção das fibras no refinador, etc. A teoria da carga especifica superficial (SSL) foi desenvolvida posteriormente pelo Sr. Jorma Lumiainen partindo da teoria de carga especifica de borda (SEL). Esta teoria assume que a energia de refino é transferida também quando as barras do estator e do rotor passam umas pelas outras, não somente quando suas bordas das barras se aproximam. Figura 8: Comprimento de impacto Nova tecnologia para refinação em baixa consistência Primeiro temos que explicar como o comprimento de impacto é definido. A largura media das barras do estator e rotor são divididas por cos /2 onde é o ângulo de contato entre as barras do rotor e estator. Na prática este é o comprimento da área de contato, formado pelas barras do rotor e estator enquanto passam umas pelas outras. A carga especifica superficial leva em conta a largura da barra e é a energia aplicada as fibras a partir da superfície da barra do rotor a superfície da barra do estator. Quanto menor o gap maior a carga de superfície. É natural que tipos de fibras diferentes tenham capacidades diferentes de suportar a energia (carga de superfície) antes que as barras tenham contato e comecem a colidir. Esta teoria não leva em consideração se os flocos de fibras cobrem toda a barra ou não, nem se as bordas das barras estão afiadas, nem a altura das barras, etc., mas complementa muito bem a teoria de carga especifica de borda (SEL). Figura 9: Cálculo da SSL 1.4 O refinador de nova geração O sucesso na refinação depende da adequada aplicação de carga sobre as fibras (colchão de fibras). O pré requisito para um colchão de fibras resistente é que um numero suficiente de fibras seja acumulado e retido nas bordas das barras, as fibras retidas sejam movimentadas entre as barras onde as forças de pressão de passagem das barras as esticam e então soltar as fibras. Figura 10: O mecanismo da refinação O mecanismo de refinação permanece o mesmo no novo refinador. A base para o desenvolvimento do novo conceito de refinação foram os dados recebidos da refinação convencional. Como já mencionado estudos chegaram ao resultado de que apenas uma pequena parte das fibras terá sido tratada quando são empurradas uma única vez através do refinador. Novamente, em um refinador de discos apenas 30% das fibras são refinadas na primeira passagem. Adicionalmente foi verificado que das fibras tratadas quando passam no refinador, estas não são tratadas de forma homogênea, algumas receberão um tratamento extremamente duro causando danos as fibras e produção de finos, e outras serão tratadas muito suavemente. Baseado também em simulações de fluxo constatou-se que em um refinador convencional a massa flui principalmente pelas ranhuras da alimentação para a saída, e devido a turbulência e fluxo contrario somente no lado do estator algumas fibras serão retidas entre as barras. Concluiu-se que mesmo refinadores cônicos de gap simples poderiam ser muito mais eficientes se mais fibras pudessem ser tratadas mais homogeneamente. 5 6 L.F. Almeida. Diferentemente dos refinadores convencionais, o novo refinador alimenta a massa de maneira uniforme através das barras diretamente na zona de refinação onde o tratamento das fibras acontece. Toda massa é tratada uniformemente, proporcionando um alto carregamento de refinação e melhor eficiência energética. Este método de alimentação é chamado principio “flow through”. O melhor carregamento do refinador pode ser visto como maiores gaps dos segmentos, um colchão mais espesso para um tratamento gentil, especialmente importante para celuloses de fibra curta. 2. MÉTODO Em Agosto de 2010 amostras de massa da Sappi Bieberist foram enviadas para o centro de tecnologia em Anjalankoski na Finlândia. Testes em máquina piloto foram executados para provar não apenas a viabilidade da aplicação da nova tecnologia como também para prover parâmetros de garantias de performance para a subseqüente instalação. Figura 11: Centro de tecnologia Os seguintes métodos de ensaio foram utilizados: Desagregação a 20°C ISO 5263:1995 Conteúdo de sólidos ISO 638:1978 Freeness CSF ISO 5267-2:1999 Shopper Riegler ISO 5267-1:1999 Gramatura ISO 536:1995 Densidade ISO 534:1994 Índice de rasgo ISO 1974:1990 Índice de tração ISO 1924-2:1994 TEAI ISO 1924-2:1994 Elongamento a ruptura ISO 1924-2:1994 Permeabilidade ao ar Bendtsen SCAN-P 60:87 2.1 Determinação das curvas de refino Diferentes cargas foram aplicadas e as principais propriedades da massa foram medidas. Os testes também serviram para determinar os desenhos dos seguimentos a serem utilizados no refinador. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os ensaios confirmaram que era plenamente possível alcançar as metas de economia de energia, e redução de consumo de fibra longa ao mesmo tempo em que atendia os requisitos de qualidade do papel. Nova tecnologia para refinação em baixa consistência Figura 12: Curvas de refino O start up aconteceu em meados de Novembro de 2010 na fabrica da Sappi em Biberist, substituindo quatro refinadores cônicos convencionais em uma linha de preparação de massa para fibras de eucalipto na máquina de papel fino revestido. A fábrica de Biberist produz papel de fibra virgem revestido (CWF) para artes gráficas e para a indústria de offset, bem como papel de fibra virgem não revestido (UWF) para impressos para escritórios, e aplicações offset. Stefan Franke, Engenheiro de Desenvolvimento da Sappi Biberist, diz que os objetivos da fábrica de economia de energia e melhoria da qualidade foram alcançados, “As economias de energia são as esperadas com bom desenvolvimento da resistência e melhoria da resistência com a mesma energia especifica de refinação (SRE).” Quatro refinadores cônicos convencionais foram substituídos por um único refinador cônico de novo conceito. Figura 13: Fluxograma antes e depois da instalação do novo refinador 7 8 L.F. Almeida. Figura 14: Antes e depois da instalação do novo refinador Na comparação feita pela fábrica entre o refinador cônico de novo conceito e o refinador cônico convencional verificou-se que as propriedades físicas do papel com o novo refinador, tração e rasgo, são claramente melhores do que com os refinadores convencionais. Figura 15: Resultados na fábrica Em 12 de Dezembro a meta de energia especifica foi aumentada para 75 kWh/t. O grau de refino aumentou para 25º SR. Refinando mais o eucalipto permitiu reduzir o uso de fibra longa e a energia para refinação de fibra longa. No total a potencia para refinação foi reduzida em 200 kW. Tabela 1. Sumário dos principais parâmetros Amostra 4xClaflin 101 Novo refinador Variação Potencia total [kW] 465 305 -34% Vazão [l/min] 1500 1350 Consistência [%] 4,2 5,3 Produção [t/h] 3,8 4,3 13% SRE [kWh/t] (a) 60 60 0% oSR 20 24 20% Porosidade Bendtsen 3300 2300 -30% Bulk [cm3/g] 1,85 1,76 -5% Elongamento [%] 1,66 1,11 -33% Breaking length [km] 2,9 3,7 29% Rasgo [mNm] (80 g/m2) 362 747 106% (a) Carga a vazio Claflin 101= 4 x 60 kW, Carga a vazio novo refinador= 50 kW Nova tecnologia para refinação em baixa consistência Apenas dois meses após entrarem em operação, em Janeiro de 2011, a fábrica confirmou que o novo refinador alcançou as garantias operacionais. O desenvolvimento das fibras com o novo refinador foi igual ou melhor do que os testes em laboratório realizados previamente na Finlândia. No start up a meta de refinação foi o mesmo nível (17 a 23º SR) como com os quatro refinadores cônicos antigos em série, o que significa cerca de 25 kWh/t de uso de energia de refinação (cerca de 150 kW potencia reduzida). Neste momento, a redução de energia prometida de 60% pôde ser vista. 4. CONCLUSÕES Os refinadores tipo cônico são claramente superiores aos refinadores de discos para refinação em baixa consistência. Refinadores tipo cônico são mais eficientes do ponto de vista energético, produzem uma massa mais homogênea e são mais fáceis de controlar. Um novo conceito de refinador tipo cônico está agora disponível, oferecendo uma eficiência energética ainda maior enquanto produz uma massa homogênea de igual ou melhor qualidade quando comparada aquela obtida com refinadores cônicos convencionais. Ganhos adicionais significativos são obtidos com a redução do número de refinadores para uma mesma produção, além disso, o projeto o novo refinador tem dimensões menores quando comparado a um refinador cônico convencional de mesma capacidade, permitindo significativas economias de espaço. REFERENCIAS 1. Baker, C.F. “Good practice for refining the types of fiber found in modern paper furnishes” TAPPI Journal , vol. 78, num. 2, pp.147-153, (1995). 2. Lankford, A. “Refining refiners: new conical design” Pulp&Paper magazine. 3. Lumiainen, J. “Refining of chemical pulp” Papermaking Part 1, Stock Preparation and Wet End. 4. Bordin, R.; Roux, J-C.; Bloch, J-F. « No-load characterization of a low-consistency disc refiner for an effective application of refining theories” TAPPI EPE Conference, Jacksonville, (2007). 5. Lundin, T,; Wurlitzer, F.; Park, S.W.; Fardim, P. “Análise energetica em refinação de baixa consistência em madeira de coníferas” O Papel, pp.41-60, Outubro (2009). 6. 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