Jornal CAB ed. 29 - Cultivando Água Boa
Transcrição
Jornal CAB ed. 29 - Cultivando Água Boa
J O R N A L D O P R O G R A M A S O C I O A M B I E N TA L D A I TA I P U B I N A C I O N A L www.cultivandoaguaboa.com.br Cultivando FOZ DO IGUAÇU – março DE 2016 – Nº 29 Encontro em Foz cria rede mundial de boas práticas de gestão da água Páginas 4 a 9 COP 21 - Paris Itaipu é exemplo de cooperação pelo desenvolvimento sustentável Páginas 10 E MAIS: Nº 2 9 Expo Milão Carta Milão Documento foi firmado durante o evento na Itália Páginas 15 e 18 Caderno de Receitas Saudáveis da BP3 traz prato premiado nacionalmente págs. 28 e 29 Exposição mostra obras feitas em papelão e material reciclado pág. 55 Ma rç o 2016 Jor na l Cul ti v ando Á gua B oa It aip u B inacio nal 1 Índice Referência 7 23 Compartilhando iniciativas pioneiras e inovadoras na gestão da água Encontro em Foz cria rede mundial de boas práticas de gestão da água Rede deve impulsionar gestão participativa da água Agência de Águas vê no CAB estratégia para recuperar Cantareira Itaipu mostra consonância com as diretrizes da COP 21 Ações ambientais do Brasil e Paraguai são apresentadas em workshop A convite da UNESCO, CAB é apresentado a dirigentes de 25 países Lideranças mundiais debatem precificação do carbono Contra a fome e a pobreza: em nome do Brasil, Itaipu assina Carta de Milão Na Expo Milão, lições de sustentabilidade para o mundo Parcerias são ferramentas para o desenvolvimento Itaipu é exemplo de produção com sustentabilidade Water Right Foundation assina acordo de cooperação Em Turim, Ban Ki-Moon diz que não haverá paz sem engajamento e ações locais” Samek faz apresentação inédita na OCDE CAB tem potencial para novos acordos, avalia diretor da ABC República Dominicana celebra um ano de implantação do CAB Costa Rica também deve implantar programa Preparação para o Encontro do CAB teve série de eventos “Celebrando o Prêmio ONU-Água” é tema da 13ª edição do encontro O adeus a Nonô Pereira, um dos pioneiros do plantio direto Vitrine divulga conceitos de agroecologia 3º Caderno de Receitas Saudáveis da BP3 traz prato premiado nacionalmente Oficinas do CAB chegam a Contagem e Igarapé Chapada dos Guimarães e Sinop recebem workshop Moradores da região recebem orientações sobre plantas medicinais Acordo facilita comercialização da produção familiar no Ceasa Nova tecnologia deve impulsionar produção de peixe no Brasil Pescadores comprovam na prática a eficácia do Canal da Piracema Inventário vai permitir estudos permanentes Reportagem sobre o CAB vence Prêmio Amop Fórum Social reúne experiências e traça desafios para as cidades Santa Terezinha de Itaipu é premiada na Expocatadores 2015 Comunidade da Vila C faz mobilização para revitalizar Córrego Brasília Jovens atletas têm lição de cuidados com a natureza Cisternas são estratégia para gestão eficiente da água Cooperativa agrofamiliar pretende triplicar produção de mel em três anos Projetos da BP3 são reconhecidos no Prêmio Gestor Público 2015 Itaipu recebe Menção Honrosa da Assembleia Legislativa do PR Congresso reúne experiências para solução da crise hídrica e energética Jornalismo ambiental em um mundo em transição Cidades Resilientes: Carta de Curitiba aponta metas Herborização vai ajudar conservação do acervo botânico do Ecomuseu Pesquisadores fazem estudo inédito sobre o gato-do-mato Recinto coletivo de harpias é aberto para visitação Símbolo do Refúgio Biológico, Juma ajudou na educação ambiental Arte sustentável em obras coloridas 2 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a Ita i p u Bi na c i onal 33 3 4 6 7 10 11 12 13 14 15 16 17 18 20 21 21 22 23 24 25 26 27 28 30 31 32 33 34 36 37 38 39 40 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 Itaipu Binacional Diretor-Geral Brasileiro: Jorge Miguel Samek Diretor de Coordenação e Meio Ambiente: Nelton Miguel Friedrich Superintendentes: Newton Kaminski (Obras), Jair Kotz (Meio Ambiente) e Marcos Baumgartner (Planejamento e Coordenação) Assistente do diretor de Coordenação e Meio Ambiente: Pedro Irno Tonelli Chefe da Assessoria de Comunicação Social: Gilmar Piolla Textos: Robson Rodrigues, Romeu de Bruns, Stella Guimarães, Lucio Horta, Fabiane Ariello, Murilo Pereira, Patrícia Iunovich - Divisão de Imprensa da Itaipu Binacional; Assessoria de Imprensa Envolverde; Agência Brasil. Compartilhando iniciativas pioneiras e inovadoras na gestão da água Coordenação: Patrícia Iunovich/Itaipu Ilustração e diagramação: Cliptime Serviços integrados, Ella Vieira e Robson Rodrigues Representantes de mais de 20 países participaram em Foz do Iguaçu de um encontro inédito Fotografia: Adenésio Zanella, Alexandre Marchetti, Caio Coronel, Nilton Rolin, Rubens Fraulini, ONU, Gabriela Gontijo, Arnaud Bouissou MEDDE/ SG (COP 21), Bruno Chapiron (CC), F de La Mure (CC), Andreas Habich (WikiCommons), Mayke Toscano/Gcom-MT, July Portioli (CC), Fernando Stankus (CC-Cantareira), Josiele Silva/ Câmara Municipal de Porto Alegre, Antonio Cruz/Agência Brasil, Toni Capellão/Prefeitura de Canoas e acervo da Itaipu Binacional. Impresso em março de 2016 Tiragem: 10.000 exemplares DIRETORIA DE COORDENAÇÃO Av. Tancredo Neves, 6.731 Foz do Iguaçu – PR - CEP 85.866-900 Fone (45) 3520-5724 | Fax (45) 3520-6998 E-mail: [email protected] O ano de 2015 registrou importantes acontecimentos em escala mundial relacionadas ao meio ambiente. Uma delas ocorreu em solo iguaçuense: a reunião inédita de experiências bem-sucedidas de gestão dos recursos hídricos e de mobilização para os cuidados com a água premiadas pela Década da Água, da Organização das Nações Unidas (ONU Água), com o prêmio Water for Life (Água Fonte de Vida). O Programa Cultivando Água Boa, da Itaipu, a anfitriã do encontro, recebeu o prêmio em 2015. Durante três dias, representantes de 20 países, autoridades da ONU e de outros organismos internacionais compartilharam ideias no N º 29 M arço 2 0 1 6 N º 29 M arço 2 0 1 6 “Encontro de experiências pioneiras e inovadoras de iniciativas sociais na gestão da água”. Ao final, ficou decidida a criação de uma rede internacional de boas práticas da gestão dos recursos hídricos com participação social (leia nas páginas 4 a 9). Criado em 2010 para fomentar iniciativas alinhadas com os objetivos estabelecidos em documentos como as Metas do Milênio e a Agenda 21, que possam garantir a gestão sustentável e de longo prazo dos recursos hídricos, e de forma a apoiar as ações da Década da Água (2005-2015) da ONU, o prêmio Water for Life reconhece as melhores práticas na gestão da água no planeta. A cada ano, com um tema dife- rente, o prêmio enfatiza um determinado aspecto relacionado à questão da água. Desde 2011, a ONU Água premiou iniciativas da Índia, Singapura, Japão, Bolívia, África do Sul, Moldávia, Filipinas e Brasil, em duas categorias: melhores práticas de gestão da água e melhores práticas de participação pública, educativa, de comunicação e/ou sensibilização. Em 2015, na categoria um, foi premiado o programa Cultivando Água Boa (CAB). O Programa Cultivando Água Boa reúne um conjunto de diversas ações socioambientais. Em cada município, há um comitê gestor, com forte participação po- pular, uma das principais características do CAB. O programa se fundamenta na gestão integrada de bacias hidrográficas e atua por bacia, sub-bacia e microbacia, visando garantir a quantidade e a qualidade das águas e, também, a sustentabilidade do território, com uma visão holística da relação do ho- mem com o meio onde vive. Passada mais de uma década após o início da sua implantação na BP3 (uma região com aproximadamente um milhão de habitantes e 800 mil hectares de área), o programa já está em estado avançado em aproximadamente 30% desse território. J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 3 iniciativas premiadas Encontro em Foz cria rede mundial de boas práticas de gestão da água Organizações premiadas pela ONU-Água apresentam ações relacionadas à água e ao clima Encontro reuniu ações bem-sucedidas que receberam o prêmio Water for Life A Itaipu, por meio do Programa Cultivando Água Boa, a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vão apoiar a implantação de uma rede internacional de boas práticas da gestão dos recursos hídricos com participação social. Esse é um dos encaminhamentos do “Encontro de experiências pioneiras e inovadoras de iniciativas sociais na gestão da água”, que reuniu, pela primeira vez, ações bem-sucedidas que receberam o prêmio Water for Life (Água Fonte de Vida), concedido pela iniciativa Década da Água, da Organização das Nações Unidas (ONU Água) - mecanismo de coordenação do tema água dentro das 30 organizações que compõem a ONU. O encontro reuniu representantes da ONU e de 18 países, em Foz do Iguaçu, em setembro do ano passado. Nos dois dias de evento, organizações de todos os continentes apresentaram suas soluções para o enfrentamento de problemas relacionados à escassez de água e 4 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a às mudanças climáticas. “O papel da rede é muito mais de articulação e de compartilhamento. Inicialmente, pretende-se identificar as iniciativas que já existem e potencializar o seu alcance. Não queremos criar mais um organismo que vai sobrepor responsabilidades”, explicou o diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu, Nelton Friedrich. “Com a rede, o prêmio [Water for Life], que é um retrato momentâneo das melhores práticas de cada ano, passa a ter um legado duradouro, uma vez que essas iniciativas vão sendo fortalecidas”, conclui o diretor. A Itaipu integra a rede com o programa Cultivando Água Boa, coordenado por Friedrich e executado com parceiros em 29 municípios da Bacia do Rio Paraná 3. O CAB foi o ganhador do prêmio Water for Life em 2015. Para Blanca Jiménez, ONU -Água e representante da UNESCO, a rede que está sendo criada terá como princípio facilitar a participação das pessoas de várias formas. Ita i p u Bi na c i onal “É importante que as pessoas tenham conhecimento sobre a problemática global da água, mas é somente se elas assumirem responsabilidades e atuarem localmente é que esses problemas serão tratados”, disse Blanca. “Se tomarmos, por exemplo, a questão das mudanças climáticas, aqueles que estão provocando os desequilíbrios não são os mesmos que estão sofrendo as consequências. Então, é preciso identificar e envolver os responsáveis”, completou. Perguntada sobre como é possível envolver as pessoas, Blanca Jiménez respondeu que os comunicadores e meios de comunicação têm um papel fundamental nesse processo. “As pessoas que criam esses bons projetos de gestão da água têm um enfoque técnico. Os políticos, muitas vezes, não têm credibilidade. Então, muito do trabalho da rede será focado na comunicação das boas práticas.” lidade é um caminho sem volta. Cada vez mais, temos que o planeta é um só e não tem back-up. E a água é um tema transversal a quase todos os temas ligados à sustentabilidade, pois é um elemento básico de sustentação da vida e está relacionado ao abastecimento das cidades, à produção de alimentos e à geração de energia”, afirmou. Para o diretor-geral brasileiro da Itaipu, Jorge Samek, a união dessas iniciativas premiadas deverá fortalecê-las e fomentar novos projetos em todo o mundo. “A sustentabi- Projetos fortalecidos Josefina Maestu, diretora do programa Década Internacional para a Ação: “Água, fonte de vida” (2005-2015), das Nações Unidas, conside- Uma das mesas-redondas para apresentação das açoes premiadas pela ONU-Água rou o evento uma oportunidade para fortalecer as iniciativas premiadas, que muitas vezes se encontram isoladas. “São projetos que têm em comum o fato de serem práticas participativas, de engajamento social”, afirmou Josefina. “Agora em rede, essas práticas fomentam novos projetos-piloto em outras localidades. É um projeto ambicioso, mas absolutamente necessário”, concluiu. O representante da África do Sul, Mandla Malakoana, afirmou estar extremamente satisfeito com os resultados do encontro. O Programa de Sensibilização e Participação Comunitária nos Temas de Água e Saneamento em eThekwin, na província de Durban, África do Sul, representado por ele, venceu Water for Life em 2011, categoria dois. “Levarei para meu país o entusiasmo renovado de trabalhar para que as questões da água sejam de domínio público, e não uma commoditie. É importante que cada pessoa, cada família, saiba como pode contribuir para uma gestão mais sustentável dos recursos hídricos”, disse. Iniciativas premiadas com o Water for Life 2015 - 5ª Edição: Água e desenvolvimento sustentável PRÊMIO ONU ÁGUA Encontro inédito reúne, em Foz do Iguaçu, ganhadores de prêmio da ONU •Categoria 1: Cultivando Água Boa, Itaipu-Brasil •Categoria 2: Artes sociais para a mobilização comunitária e acesso seguro à água, Índia; e Projeto Água, Ecoescolas, África do Sul 2014 - 4ª Edição: Água e energia •Categoria 1: Programa de Políticas Hídricas de IWMI-Tata, Índia •Categoria 2: Programa NEWater (Água Nova), Singapura O objetivo é fazer uma intercâmbio de experiências e conhecimento sobre os elementos-chave dos processos sociais na gestão da água Pela primeira vez, experiências bem sucedidas de gestão dos recursos hídricos e de mobilização para os cuidados com a água premiadas pela Década da Água, da Organização das Nações Unidas (ONU Água) com o prêmio Water for Life (Água Fonte de Vida), estarão reunidas para o compartilhamento de informações e resultados. O evento será em Foz do Iguaçu, de 15 a 17 de setembro. O “Encontro de experiências pioneiras e inovadoras de iniciativas sociais na gestão da água - Criando uma Rede Global”, contará com a participação de representantes de 20 países, além de autoridades da ONU e de outros organismos internacionais. A expectativa é que o evento resulte na criação de uma rede mundial de boas práticas na gestão da água. Criado em 2010 para fomentar iniciativas alinhadas com os objetivos estabelecidos em documentos como as Metas do Milênio e a Agenda 21, que possam garantir a gestão sustentável e de longo prazo dos recursos hídricos, e de forma a apoiar as ações da Década da Água (2005-2015) da ONU, o prêmio Water for Life reconhece as melhores práticas na gestão da água no planeta. A cada ano, com um tema diferente, o prêmio enfatiza um determinado aspecto relacionado à questão da água. Desde 2011, a ONU Água premiou iniciativas da Índia, Singapura, Japão, Bolívia, África do Sul, Moldávia, Filipinas e Brasil, em duas categorias: melhores práticas de gestão da água e melhores práticas de participação, comunicação, despertar da consciência e educação. Em 2015, na categoria um, foi premiado o programa Cultivando Água Boa (CAB), da Itaipu Binacional e parceiros dos 29 municípios da Bacia Hidrográfica do Paraná 3 (BP3). Nº 28 2015 5ª Edição: Água e desenvolvimento sustentável 2014 2013 4ª Edição: Água e energia 3ª Edição: Cooperação em matéria de água 2012 2011 2ª Edição: Água e segurança alimentar Entre os participantes do encontro, estão a a vice-presidente da ONU Água, Blanca Jiménez-Cinseros, a diretora do Programa Década da Água, da ONU, Josefina Maestu, a presidente honorária da Woman for Water Partnership, Alice Bouman-Dentener, o diretor da Fundação Ecodes, Víctor Viñuales, os diretores gerais da Itaipu, Jorge Samek (Brasil) e James Spalding 1ªEdição: Gerenciamento de águas urbanas (Paraguai), o presidente da Agência Nacional de Águas, Vicente Andreu Guillo, além de representantes das iniciativas premiadas com o Water for Life. CAB O Programa Cultivando Água Boa reúne um conjunto de diversas ações socioambientais. Em cada município, há um comitê gestor, S e t e mbro 2015 com forte participação popular, uma das principais características do CAB. O programa se fundamenta na gestão integrada de bacias hidrográficas e atua por bacia, sub-bacia e microbacia, visando garantir a quantidade e a qualidade das águas e, também, a sustentabilidade do território, com uma visão holística da relação do homem com o meio onde vive. Passada mais de uma década após o início da sua implantação na BP3 (uma região com aproximadamente um milhão de habitantes e 800 mil hectares de área), o programa já está em estado avançado em aproximadamente 30% desse território, resultando em 206 microbacias hidrográficas sendo recuperadas. J ornal Cultivando Água Boa It aipu Bin ac ion al 3 2013 - 3ª Edição: Cooperação em matéria de água •Categoria 1: Gestão das bacias subterrâneas utilizando o sistema da natureza na cidade de Kumamoto, Japão •Categoria 2: Água e saneamento para todos na República de Moldávia 2012 - 2ª Edição: Água e segurança alimentar •Categoria 1: Proteção dos Lagos de Bangalore para a posteridade: estabelecendo um precedente legal para a conservação dos lagos como bens comuns •Categoria 2: Estratégia de comunicação para a mudança social e de comportamento para a promoção de três práticas chave e o uso adequado dos serviços dotados em 4 municípios do Departamento de Cochabamba, Bolívia 2011 - 1ª Edição: Gerenciamento de águas urbanas Mandla Malakoana, África do Sul: “questões da água em domínio público” Jorge Samek: “A sustentabilidade é um caminho sem volta” Blanca Jiménez, UNESCO/ ONUÁgua: rede e divulgação para facilitar a participação das pessoas N º 29 M arço 2 0 1 6 Josefina Maestu, diretora da Década da Água: inspiração para novos projetos N º 29 M arço 2 0 1 6 Nelton Friedrich: “Com a rede, o prêmio [Water for Life] passa a ter um legado duradouro” •Categoria 1: Programa de restauração do sistema fluvial As Pinas – Zapote, Filipinas •Categoria 2: Um enfoque participativo na aprendizagem e a sensibilização pública em temas de água e saneamento, Durban, Municipalidade de eThekwin J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 5 Iniciativas premiadas ENCONTRO EM FOZ Momento de debates entre os participantes do “Encontro de experiências pioneiras e inovadoras de iniciativas sociais na gestão da água” Rede deve impulsionar gestão participativa da água Vicente Andreu, diretor da Agência Nacional de Águas: “O CAB é uma experiência única em termos de resultados” Agência de Águas vê no CAB estratégia para recuperar Cantareira Iniciativas vão ajudar a assegurar disponibilidade e gestão sustentável de água e saneamento para todos Participantes do “Encontro de experiências pioneiras e inovadoras de iniciativas sociais na gestão da água” apontaram a necessidade de renovar e ampliar os esforços para a preservação dos recursos hídricos do planeta. Embora tenha havido avanços durante a Década Internacional para a Ação “Água, Fonte de Vida”, ou simplesmente Década da Água (2005-2015), várias das metas estabelecidas não foram alcançadas. “Conseguimos, por exemplo, reduzir pela metade o número de pessoas que não têm acesso à água potável (o contingente atual é de 750 milhões), mas falhamos na meta de serviços sanitários (2,5 bilhões de pessoas ainda não contam com eles)”, afirmou o representante do Ministério das Relações Exteriores do Tadjiquistão, Idibek Kalandarov. O Tadjiquistão é integrante do G77 (formado pelas 77 nações mais pobres do planeta) e foi o propositor da Década da Água (2005-2015). Para Kalandarov, entre as principais dificuldades encontradas no período 2005-2015, estão a pouca coordenação entre os governos e a falta de transferência tecnológica dos países mais desenvolvidos para os em desenvolvimento. Segundo ele, a rede das melhores práticas globais de gestão água será um instrumento de “importância fundamental” para colocar ênfase no cumprimento As soluções que receberam o prêmio [...] carregam profunda sabedoria ecológica Leo Saldanha, representante do Environment Support Group, de Bangalore 6 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a Ita i p u Bi na c i onal do Objetivo 6, dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável: assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos. A opinião é compartilhada por Leo Saldanha, representante do Environment Support Group, de Bangalore, Índia. Ele representa uma das iniciativas premiadas pela ONU (são 11 no total), que vem viabilizando a proteção de lagos no Sul da Índia. “As soluções que receberam o prêmio Water for Life podem parecer simples, mas carregam profunda sabedoria ecológica”, diz Saldanha. O Programa Cultivando Água Boa (CAB) poderá ser adotado pelo governo do Estado de São Paulo para proteger os reservatórios do Sistema Cantareira. “O CAB é uma experiência única em termos de resultados, que são muito consistentes”, afirmou diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu. Andreu participou do “Encontro de experiências pioneiras e inovadoras de iniciativas sociais na gestão da água”. Segundo ele, a proposta foi feita após uma conversa com o secretário de Recursos Hídricos de São Paulo e presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga. Na ocasião, Braga afirmou acreditar que a adoção do CAB é uma estratégia importante para combater a escassez de água que acomete aquele estado. “O Benedito já conhece o CAB e afirmou que irá acertar uma cooperação com Itaipu para levar a iniciativa para lá. Evidentemente, ainda há um caminho a ser percorrido para se firmar essa cooperação e para se criar uma articulação com os programas e recursos que já existem”, afirmou. “O CAB é uma experiência única em termos de resultados, que são muito consistentes. É claro que, para ser aplicado na Cantareira, que tem as margens bastante devastadas, tem que se ter em vista um horizonte de longo prazo. Não é porque hoje se plantam algumas mudas para recuperar as matas ciliares que se deve esperar um aumento do nível dos reservatórios amanhã. Mas é um trabalho complexo que, certamente, passará pela proteção das nascentes”, disse Andreu. Para ele, um dos pontos fortes do programa está na gestão compartilhada e no envolvimento das comunidades na condução das ações. “Não adianta os órgãos reguladores dizerem o que a sociedade tem que fazer. É a sociedade, como no CAB, que tem que dizer o que precisa ser feito”, completou. Visita a uma propriedade rural orgânica na região da BP3 O Prêmio Criado em 2010 para fomentar iniciativas alinhadas com os objetivos estabelecidos em documentos como as Metas do Milênio e a Agenda 21, o prêmio Water for Life reconhece as melhores práticas na gestão da água no planeta. A cada ano, com um tema diferente, o prêmio enfatiza um determinado aspecto relacionado à questão da água. Sistema Cantareira: recuperação é trabalho complexo, de longo prazo e com envolvimento da comunidade N º 29 M arço 2 0 1 6 N º 29 M arço 2 0 1 6 J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 7 EM QUESTÃO É importante que as pessoas tenham conhecimento sobre a problemática global da água, mas é somente se elas assumirem responsabilidades e atuarem localmente é que esses problemas serão tratados Blanca Jiménez, Blanca Jiménez, secretária do Programa Hidrológico Internacional e diretora da Divisão da Ciência da Água da UNESCO; Vice-presidente da ONU-Água. Blanca Jimenez em visita a uma comunidade indígena, no Paraná C Considerada uma das maiores autoridade sobre a gestão de recursos hídricos no mundo, Blanca Jimenez aponta o Programa Cultivando Água Boa, da Itaipu Binacional e de outros 2 mil parceiros na Bacia do Paraná 3, na região Oeste do Paraná, como iniciativa de exemplo internacional a ser seguido. Blanca foi uma das apoiadoras da rede internacional de boas práticas da gestão dos recursos hídricos com participação social, que aconteceu em 2015, em Foz do Iguaçu (PR) e acredita que só através de um plano de cooperação, o Brasil irá superar de vez a crise hídrica. A crise de abastecimento, segundo ela, decorre da mudança climática. Diversos lugares do Brasil, como a metrópole paulista, padecem de um mesmo equívoco de outras cidades do mundo: o aquecimento global e a poluição dos rios. Se nada for feito, ela prevê queda de 20% no suprimento de água potável, em média, a cada 1ºC de aumento na temperatura mundial. O IPCC alerta que esse acréscimo O programa Cultivando Água Boa foi reconhecido como a melhor prática na gestão da Água pela ONU Água e da Oficina da Década da Água em 2015. O que a senhora destaca de mais relevante nesse projeto? O que é mais relevante sobre este programa é que ele mostra como a água se relaciona com outros setores e é a chave para o desenvolvimento econômico, social e cultural das populações. 8 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a É também um exemplo de que é possível replicar boas práticas de governança para o benefício da população. O que impressiona no programa Cultivando Água Boa, além de sua metodologia de trabalho sério, é a escala de aplicação de impacto, afetando uma população igual à que se tem em Portugal. O programa é também um projeto de mudança de valores para integrar o conceito de sustentaIta i p u Bi na c i onal pode chegar a 2°C em 2100. Em regiões críticas, o acesso pode reduzir em 90%. “Se tomarmos, por exemplo, a questão das mudanças climáticas, aqueles que estão provocando os desequilíbrios não são os mesmos que estão sofrendo as consequências. Então, é preciso identificar e envolver os responsáveis”. Para enfrentar esse desafio, Blanca acredita que a saída seja a replicação de programas de sucesso - como o Cultivando Água Boa -, a gestão integrada dos recursos hídricos, considerando a água superficial e subterrânea o reúso da água e um exame de consciência sobre o uso racional da água. “É importante que as pessoas tenham conhecimento sobre a problemática global da água, mas é somente se elas assumirem responsabilidades e atuarem localmente é que esses problemas serão tratados”, disse Blanca. Acompanhe os principais trechos da entrevista. Infelizmente, em muitas outras regiões da América Latina, a água não é o principal fator de desenvolvimento embora seja necessário. A gestão da água eficiente e produtiva pode alcançar o desenvolvimento integral e sustentável de uma localidade e uma bacia. Por isso é importante para replicar o modelo do CAB em outras regiões. A senhora acompanha exemplos no mundo inteiro de países que também estão enfrentando problemas em relação ao abastecimento da água. Pode citar algumas soluções de destaque que foram encontradas e implementadas e que poderiam servir de exemplo para o Brasil? A partir das experiências de outros países que podem ser úteis para o Brasil talvez enfatizar aqueles que têm a ver com o uso eficiente, reciclagem e reutilização de água. Regiões brasileiras com a escassez de água (e mesmo sem falta) poderiam ter um melhor manejo dessas práticas de recursos para a promoção de menor consumo de água. Por exemplo, uma descarga regular de banheiro pode gastar até 30 litros de água, mas há modelos novos que usam só 6 litros, além de economizar água, energia e transporte. A segunda preocupação deve ser com o reuso da água para outra finalidade, como agricultura, também é uma forma de gestão sustentável da água. Por fim, a reciclagem da água. As indústrias precisam reutilizar a água em seus próprios processos e estabelecer índices para a geração de produtos industriais que envolvem menos uso de água. Conforme os cenários registrados no relatório do IPCC, qual será a disponibilidade de água potável no final do século? Sem considerar a mudança climática, se continuarmos com os mesmos padrões de uso de água, teremos crise em poucas décadas. Com a mudança climática, isso será em três ou quatro décadas, dependendo da região. Nos cenários do IPCC, há um exercício sobre a disponibilidade de água subterrânea. Cada 1ºC de aumento na temperatura faz com que, em média, 7% da população mundial percam 20% da água potável disponível. São números preocupantes. Em zonas onde já há crise, Município de Santa Terezinha recebe réplica do Prêmio das mãos de Josefina Maestu e Blanca Jimenez a população afetada pode chegar a 90%. São regiões áridas e semiáridas tropicais, onde estão países em desenvolvimento: partes da África, do México, do Nordeste do Brasil. Quais os riscos do aquecimento global para a água potável? O aumento da temperatura provocará mais secas, inundações e poluição da água. Soma-se a isso o fato de que a maioria das cidades trata parcialmente a água contaminada a ser despejada nos rios, porque é muito custoso, e espera que a natureza finalize o tratamento. A elevada demanda de água, de um lado, e os padrões de extração e de contaminação, de outro, colocaram em risco o fornecimento de água Devemos nos perguntar se a quantidade de água que estamos usando é a que realmente necessitamos para a sobrevivência e necessidades e se podemos exercer as mesmas atividades com menor quantidade. potável em muitos lugares do mundo. Nessa situação, quem sofre mais são os mais pobres. Se tomarmos, por exemplo, a questão das mudanças climáticas, aqueles que estão provocando os desequilíbrios não são os mesmos que estão sofrendo as consequências. Então, é preciso identificar e envolver os responsáveis. O que é possível fazer no curto prazo para mitigar esses efeitos? A gestão integrada dos recursos hídricos, considerando a água superficial e subterrânea, a demanda e disponibilidade, a situação atual e do futuro e todos os usos e usuários de água, incluindo a utilização da água pelos ecossistemas. É importante que as pessoas tenham conhecimento sobre a problemática global da água, mas é somente se elas assumirem responsabilidades e atuarem localmente é que esses problemas serão tratados. Qual o seu olhar sobre o acordo da COP 21 na gestão da água? O acordo principal é que a água deve ser parte da agenda da atenção da mudança climática. bilidade ao modo de vida. Qual a importância de o programa ser replicado no Brasil e em outros países da América Latina? Aprender com as boas práticas. O que funciona em um país pode ser muito bom em outro. Em particular, o programa Cultivando Água Boa pode ser benéfico para os países latino-americanos com as condições similares de água e aspectos sociais. O que impressiona no programa Cultivando Água Boa, além de sua metodologia de trabalho sério, é a escala de aplicação do impacto, afetando uma população igual à que se tem em Portugal N º 29 M arço 2 0 1 6 Cada 1ºC de aumento na temperatura faz com que, em média, 7% da população mundial perca 20% da água potável disponível. São números preocupantes N º 29 M arço 2 0 1 6 J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 9 CONFERÊNCIA DO CLIMA Itaipu mostra consonância com as diretrizes da COP 21 Ações ambientais do Brasil e Paraguai são apresentadas em oficina em Paris Ações âncoras colocam usina na vanguarda das discussões para a redução da emissão de gases de efeito estufa Representantes da Itaipu Binacional durante a apresentação em Paris, na COP 21 As ações âncoras de Itaipu realizadas em favor do desenvolvimento sustentável foram apresentadas durante a 21ª Conferência do Clima (COP 21), promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), em Paris. Essas ações colocam a usina na vanguarda das discussões para a redução da emissão de gases de efeito estufa. Itaipu é uma usina que gera energia a partir da hidroeletricidade, de forma limpa e renovável, sem poluir. Mas a empresa vai além e tem trabalhado em várias frentes, entre elas o premiado Programa Cultivando Água Boa, considerado pela ONU-Água como a melhor prática de gestão de água do mundo, em 2015. A apresentação foi feita pelos diretores-gerais de Itaipu, Jorge Samek, do Brasil, e James Spalding, do Paraguai. A mediadora foi a diretora da Divisão de Ciência de Água e Secretaria do Programa Hi10 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a drológico Internacional da Unesco, Blanca Gimenez. Participaram da apresentação o embaixador José Antonio Marcondes de Carvalho, negociador-chefe da delegação brasileira na COP-21; o embaixador do Paraguai na França, Emilio Giménez Franco; representantes dos ministérios da Defesa e das Cidades; e representantes de outras organizações sociais e internacionais, como o chefe executivo da International Hydropower Association, Richard Taylor, entre outros. Blanca Gimenez ressaltou a importante contribuição de empresas como Itaipu não só na geração de energia, mas também para formar uma grande consciência para a mudança de mentalidade diante do problema mundial provocado pela alteração climática. Para Blanca, o CAB é um programa socioambiental completo, uma experiênIta i p u Bi na c i onal cia perfeita para mostrar a sensibilidade de Itaipu com o tema da COP. “O CAB convoca toda a sociedade a fazer uma reflexão. É um exemplo para o mundo”, afirmou. A diretora financeira executiva de Itaipu, Margaret Groff, falou sobre vários assuntos de sua pasta, como mobilidade elétrica, compras sustentáveis e equidade de gênero, temas que também vêm colocando Itaipu na agenda positiva tanto interna como externa. O empoderamento da mulher tornou Margaret Groff uma das embaixadoras da luta pelo equilíbrio nas relações entre homens e mulheres, nas empresas e na sociedade em geral. No final da apresentação, os diretores de Coordenação do Brasil e do Paraguai, Nelton Friedrich e Pedro Domanizcky, sobre os programas de Sustentabilidade da Itaipu Binacional, especialmente o programa Cultivando Água Boa. Conceitos, metodologias e resultados do CAB foram apresentados junto com o programa Paraguay Biodiversidad A Itaipu Binacional promoveu em Paris (França), o workshop “Conservação da Biodiversidade e o Cultivando Água Boa”, como parte da programação da 21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 21). sidade é financiado pelo Global Environment Facility, com acompanhamento do Banco Mundial, que a instituição que gerencia o fundo. Itaipu é a primeira central hidrelétrica que realiza a recomposição de corredores biológicos com apoio dessas instituições. O workshop foi conduzido pelos diretores de Coordenação da binacional, Pedro Domaniczky (Paraguai) e Nelton Friedrich (Brasil). Na oportunidade, Domaniczky apresentou o programa Paraguay Biodiversidad, que tem como objetivo conservar, restaurar e conectar os ecossistemas para que sigam mantendo sua diversidade biológica e capacidade de produção, assim como ser fonte para o sequestro de carbono. “É uma nova estratégia de preservação e interconexão de remanescentes florestais e de produção sustentável, conjuntamente com órgãos do governo paraguaio, destacando o trabalho da Secretaria de Ambiente, como co-executores do projeto”, afirmou. O projeto Paraguay Biodiver- Já Friedrich apresentou a essência do programa Cultivando Água Boa (CAB), enfocando valores, conceitos e metodologias, os resultados alcançados e as conexões com os Objetivos do Desenvolvi- mento Sustentável (ODS). Na opinião do diretor, o resultado global que se pretende para o enfrentamento das mudanças climáticas virá a partir de ações locais e, para isso, “é preciso sensibilizar corações e mentes para agir”. “Ações valem mais que palavras e precisam acontecer de maneira articulada, integral, integrada. Uma agenda de interesse comum, envolvendo governos, empresas e sociedade”, acrescentou. As ações de Itaipu tiveram grande receptividade da audiência, que contou com a presença de autoridades do Programa Hidrológico Internacional, Unesco, Diálogos da Humanidade, representações diplomáticas e governos de Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. Ações valem mais que palavras e precisam acontecer de maneira articulada, integral, integrada. Uma agenda de interesse comum, envolvendo governos, empresas e sociedade Nelton Friedrich, diretor de Coordenação e Meio Ambiente Nelton Friedrich e Pedro Domanizcky falam sobre o CAB Na plateia, autoridades da Unesco e Programa Hidrológico Internacional, entre outras instituições, assistiram as apresentações de Domaniczky Jorge Samek em sua apresentação N º 29 M arço 2 0 1 6 N º 29 M arço 2 0 1 6 J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 11 Goddard Space Flight Center CONFERÊNCIA DO CLIMA James Spalding e Nelton Friedrich em dois momentos do evento (acima e abaixo) A convite da UNESCO, CAB é apresentado a dirigentes de 25 países Fábrica de aço em Benxi, na China: taxação do carbono é um dos pontos-chaves das discussões da COP 21 Conferência Internacional sobre a Água, Megacidades e Mudança Global fez parte da programação da COP 21 Prefeito de Mariana visitou estande da Itaipu O diretor-geral paraguaio, James Spalding, e o diretor de Coordenação e Meio Ambiente, Nelton Friedrich, apresentaram o Programa Cultivando Água Boa (CAB), na Conferência Internacional sobre a Água, Megacidades e Mudança Global, da Unesco. O estande da Itaipu na COP 21, em Paris, recebeu a visita do prefeito da cidade mineira de Mariana, Duarte Júnior. Ele demonstrou bastante interesse nas ações socioambientais promovidas pela Itaipu. Mariana está entre os municípios mais atingidos pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco. O prefeito, acompanhado de assessores diretos e O evento fez parte da programação paralela da 21ª Conferência do Clima (COP 21), promovida pela ONU, em Paris. O CAB foi eleito pela ONU/Água como a melhor melhor prática de gestão da água em 2015. A COP reúne 150 chefes de estado e representantes de governos de todo o planeta. O objetivo é chegar a um acordo global sobre redução de emissões para frear as mudanças climáticas. Durante o encontro, Giuseppe Arduino, especialista do Programa de Ecohidrologia (PHI) da UNESCO, apresentou os trabalhos realizados pelo programa relacionados ao cuidado, ferramentas e metodologias para cuidar dos recursos hídricos do mundo. Ele também falou sobre o programa da UNESCO para a avalia12 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a ção dos recursos hídrico, mudanças climáticas, qualidade da água e a agenda 2030. Friedrich falou sobre os princípios e objetivos da Rede Global de Boas Práticas de Gestão da Água, que a Unesco pretende lançar em março de 2016, em Foz do Iguaçu. Representantes de, pelo menos, 25 países de todo o mundo participaram da reunião. O encontro foi presidido pela Ita i p u Bi na c i onal representantes do governo de Minas Gerais, participou de uma reunião com representantes governamentais e da iniciativa privada da região de Nord Pas-de-Calais. Essa região francesa, que também já teve a mineração como atividade econômica principal, ofereceu à cidade mineira apoio para fornecer soluções destinadas à diversificação das atividades econômicas. Lideranças mundiais debatem precificação do carbono A taxação do carbono, tida como prioritária para limitar o aquecimento global, foi um dos pontos centrais da COP 21 A Itaipu Binacional esteve presente em um dos mais importantes momentos da 21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 21), em Paris. A discussão sobre a precificação única do carbono reuniu mais de 100 lideranças empresariais e governamentais de todo o mundo, entre elas o secretário de estado norte-americano, John Kerry, e o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon. A diretoria financeira executiva de Itaipu, Margaret Groff, representou a binacional no evento, repetindo a presença no Caring for Climate Business Forum. Em 2014, Margaret apresentou os projetos de mobilidade de Itaipu e parceiros durante a COP 20, em Lima, no Peru. O Caring for Climate (Cuidando do Clima, em português) reúne esforços para evitar a crise da mudança climática por meio da mobilização de líderes empresariais e da implementação de soluções e políticas. Desde 2009, Itaipu é signatária da iniciativa, conduzida pelo Pacto Global. Carbono em foco A taxação do carbono, tida como prioritária para limitar o aquecimento global, foi um dos pontos centrais da COP 21. Para Kerry, o setor privado é parte da mudança do clima, sem o qual não será possível atingir a meta de reduzir a temperatura em os dois graus diretora da Divisão de Ciências da Água e secretária do Programa Hidrológico Internacional, Blanca Jiménez. Um dos focos do trabalho da diretora é o Monitoramento Integrado de Água e Saneamento relacionado à Iniciativa Global de Gestão Ambiental (Gemi), no cumprimento do Objetivo do Desenvolvimento Sustentável para a garantia de cidades e comunidades sustentáveis. O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, durante reunião da Cúpula do Clima (COP21) N º 29 M arço 2 0 1 6 N º 29 M arço 2 0 1 6 Margaret Groff, diretora Financeira, representou Itaipu Celsius até o final do século. Segundo Margaret Groff, a COP 21 somente guiará o planeta para essa meta se houver convergência de ações entre governos, empresas, organizações internacionais e a sociedade civil, alinhadas aos objetivos do desenvolvimento sustentável. “Os investimentos financeiros e a definição de um preço global para o carbono foram importantes pontos de discussão, mas chegar a um acordo exige que os negócios e os governos tenham objetivos claros e soluções práticas para os cuidados do clima”, afirmou a diretora. Cerca de 40 governos e mais de 20 cidades, estados e regiões dispõem de mecanismos de precificação de carbono, cobrindo 89% do Produto Interno Bruto do G20 (os 20 países mais ricos do mundo) e 75% do PIB mundial. O problema é que este valor sofre variações de mais de 1.600%, conforme a região. Na Suécia, por exemplo, o preço da emissão por tonelada é fixado em US$ 130. No Estado da Califórnia, o valor é de US$ 8/ton. Mais de mil companhias informaram que promovem, internamente, a taxação do carbono, ou pretendem adotar este mecanismo até 2017. No mundo empresarial, os valores são ainda mais discrepantes e vão de US$ 1 a US$ 150/ton. Para tentar um equilíbrio nesta conta, o fórum reuniu 106 empresas. Além de Itaipu, a lista integrou grandes corporações como Unilever, Michelin, Saint-Gobain, Google, Mars, L’Oreal, PesiCo. Para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, agir contra a mudança climática oferece uma porta de entrada para o crescimento e inovação. O painel teve, ainda, a participação das lideranças da COP 21 como Laurence Tubiana, representante especial da França; Laurent Fabius, presidente da COP 21 e ministro Relações Exteriores e do Desenvolvimento Internacional; do vice-presidente da Comissão Europeia e responsável pela União da Energia, Maros Šefčovič; do ministro de Meio Ambiente do Peru, Manuel Pulgar-Vidal; do ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Kristian Jensen; do membro do Parlamento Britânico, Sadiq Khan. Também estiveram presentes representantes de organizações intergovernamentais como Banco Mundial, sociedade civil, ONGs e universidades. J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 13 IMPRESSÕES CUIDADO GLOBAL Desenvolvimento Sustentável, Cultivando Água Boa e a Agenda 2030 Carta de Milão: contra a fome, a pobreza e pelo desenvolvimento sustentável Foram concluídas em agosto de 2015 as negociações que culminaram na adoção, em setembro, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), por ocasião da Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. Processo iniciado em 2013, após a Conferência Rio+20, os ODS deverão orientar as políticas nacionais e as atividades de cooperação internacional nos próximos 15 anos, sucedendo e atualizando os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). novo modelo global para acabar com a pobreza, promover a prosperidade e o bem-estar de todos, proteger o ambiente e combater as alterações climáticas. Os ODS, embora de natureza global e universalmente aplicáveis, dialogam com as políticas e ações nos âmbitos regional e local. O Brasil participou de todas as sessões da negociação intergovernamental. Chegou-se a um acordo que contempla 17 Objetivos (veja ao lado) e 169 metas, envolvendo temáticas diversificadas. Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável definem uma nova fase da luta contra a mudança do clima e construção de outro desenvolvimento. A histórica Conferência de Paris - com a decisiva participação do Brasil – estabelece, pela primeira vez, metas concretas para cada país na redução das emissões de gases de efeito estufa. Trata-se da nova agenda de ação até 2030. Esta agenda é fruto do trabalho conjunto de governos e cidadãos de todo o mundo para criar um Leia a seguir uma entrevista com o diretor de Coordenação e Meio Ambiente de Itaipu Binacional, Nelton Friedrich. Qual a participação do Brasil na construção da Agenda 2030? O Brasil estabeleceu metas ousadas. É importante lembrar que essa foi a primeira vez que os países estabeleceram metas. A intenção brasileira é reduzir em 37% as emissões de gases de efeito estufa até 2015 e 43% até 2030. Temos muito o que fazer. E podemos fazê-lo com 14 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a responsabilidade compartilhada - governos, empresas públicas e privadas e sociedade civil. Como alcançar as metas propostas? A Agenda 2030 parece ser a derradeira oportunidade de grandes transformações no modo de ser/sentir, viver, produzir e consumir da sociedade planetária, que não tem plano B, ou Ita i p u Bi na c i onal muda ou muda! Um exemplo concreto: para reduzir em um terço as emissões o Brasil vai ter de aumentar o uso de energias renováveis – aeólica, solar, biomassa residual, biomassa plantada e hidrelétrica – e buscar a eficiência energética. Como é possível estabelecer os ODS em nível local? Essa ideia de fazer o global com o local me anima mui- to. Em Porto Alegre (PR), no Fórum Social Mundial, apresentei algumas ideias para a implementação de uma agenda microrregional e local como mobilidade urbana, construções sustentáveis, lixões e aterros irregulares superados, políticas municipais de áreas verdes, qualificação de pessoas para a ecotecnologia, bioarquitetura e busca de novas tecnologias; economia de baixo carbono no currículo escolar, agenda de consumo consciente; merenda escolar, eficiência energética; coleta, uso e reuso da água; produção local de energia. Mas só se consegue isso com máximo engajamento da sociedade civil no processo de implementação, monitoramento, transparência, construção de consensos éticos mínimos (alianças) para mudanças e convergência de políticas públicas, concretas e sincronizadas ações locais, estaduais e nacionais. Temos de ter a ousadia e sair na frente. uma grande importância... As mudanças que o planeta precisa passam, em muito, pelas cidades. Por isso, cresce no mundo inteiro, o significado e a premência de alcançarmos cada vez mais o patamar conceitual e de ações práticas de cidades sustentáveis. Nesse sentido, já fiz uma reunião com os prefeitos da região e integrantes da Plataforma Cidades Sustentáveis. A ideia é olhar cada item das metas brasileiras e dos ODS e começar a trabalhar nos municípios. E muito nós estamos fazendo há mais de 10 anos. O Cultivando Água Boa dialoga com cada uma das metas assumidas pelo Brasil. Isso é fantástico. O programa teve início em 2003 e deu certo porque os fundamentos do programa estão em valores, conceitos, metodologia e, evidentemente, em enfrentar as causas do desequilíbrio planetário – poluição, contaminação, degradação ambiental e o trato com a água. Um exemplo concreto: Itaipu já está fazendo cursos de eficiência energética nos municípios. Daí, o acerto quando há mais de três anos agregamos ao Cultivando Água Boa e à região, a Plataforma de Cidades Sustentáveis, é como se estivéssemos tendo uma antevisão de que isso se transformaria num conceito, num programa planetário. O cuidar de nossa casa comum clama por cidades/ municípios acolhedoras, de vivência e convivência, ambientadas para o relacionar, o conforto, o lazer, a cultura de bem viver, de democracia de alta intensidade, de vitalidade comunitária, de territórios saudáveis, sustentáveis. As cidades acabam tendo N º 29 M arço 2 0 1 6 Documento foi firmado por Itaipu durante a Expo Milão, que recebeu representantes de mais de 140 países e 20 milhões de visitantes A Itaipu Binacional assinou a Carta de Milão, reafirmando o compromisso contra a fome e a pobreza. O documento tem quatro pontos centrais: desenvolvimento sustentável, fomento à agricultura responsável, redução de desigualdades nas áreas urbanas e respeito à identidade sociocultural que o alimento fornece. Várias ações desenvolvidas por Itaipu já estão ligadas a esses compromissos. O documento firmado é resultado de debates realizados na Expo Milão 2015, que foi aberta em 1º de maio e terminou em 31 de outubro, recebendo mais de 140 países e de 20 milhões de visitantes. Assinaram a carta o diretor-geral brasileiro da Itaipu, Jorge Samek; o diretor de Coordenação e Meio Ambiente, Nelton Friedrich; e o diretor executivo de Coordenação (Paraguai), Pedro Domaniczky. Os dirigentes de Itaipu comandaram várias atividades no Pavilhão do Brasil, a principal delas foi o seminário “Território, Água, Energia e Alimento”, realizado nos dias 10 e 11 de outubro. Para Samek, “o gover- N º 29 M arço 2 0 1 6 no brasileiro já assumiu esse compromisso, mas é também preciso que outras instituições, além dos governos, como as empresas, enfim, toda a sociedade civil organizada, trabalhem em conjunto para desenvolver políticas públicas que garantam os direitos básicos das pessoas”. E acrescentou: “A Carta de Milão é um chamado para isso”. Hoje, lembrou, o mundo replica vários programas sociais desenvolvidos no Brasil, como Fome Zero, Luz para Todos e Merenda Escolar. Muitas iniciativas de Itaipu também vêm sendo replicadas mundo afora, entre elas, o Programa Cultivando Água Boa, adotado em seis países e em três estados brasileiros. O programa de uso do biometano, que reaproveita resíduos orgânicos, é outro exemplo de sucesso. A ação já está replicada no Uruguai. Na palestra Samek, Domaniczky, Friedrich e Boff, junto ao equipamento que registra a assinatura à Carta de Milão de abertura do seminário “Território, Água, Energia e Alimento”, Samek explicou, para cerca de 100 convidados, como a atuação de Itaipu, a maior geradora de energia limpa renovável do mundo, está diretamente conectada aos temas da Carta de Milão. Itaipu é referência nas ações de preservação ambiental, no incentivo à produção de alimentos orgânicos e em geração de energia limpa e renovável, entre outros. Samek também explicou que a Itaipu é a principal referência do governo brasileiro para os novos projetos hidrelétricos. Embora seu projeto seja de uma época em que a preocupação ambiental era praticamente nula, Itaipu sempre deu atenção a essa questão. Desde 1979, quando o reservatório da usina foi formado, foram plantados mais de 44 milhões de mudas nas margens brasileira e paraguaia da usina. É o maior programa de reflorestamento do mundo já feito por uma hidrelétrica. O principal programa socioambiental de Itaipu, o Cultivando Água Boa, criado em 2003, é referência não só para o setor elétrico brasileiro, como obteve da ONU o prêmio como a melhor prática de gestão da água. Jorge Samek lembrou que o governo brasileiro vai aproveitar a experiência do Cultivando Água Boa para a recuperação dos reservatórios do Centro Sul do País, a grande caixa d’água do setor elétrico do Brasil. O Ministério de Minas e Energia já anunciou a criação de um programa federal específico, destinado à recuperação ambiental das áreas de reservatórios de hidrelétricas, com replantio, proteção de nascentes e outras medidas que ampliem a oferta de água, tanto para geração de energia, quanto para o uso humano. O mundo replica vários programas sociais desenvolvidos no Brasil, como Fome Zero, Luz para Todos e Merenda Escolar. Muitas iniciativas de Itaipu também vêm sendo replicadas mundo afora, entre elas, o Programa Cultivando Água Boa Jorge Samek, diretr-geral brasileiro de Itaipu Binacional J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Pavilhão Brasil, onde foi realizado o seminário “Território, Água, Energia e Alimento” sob Bo a responsabilidade I t a i pu B i n a c de i o nItaipu al 15 EXPO milão Leonardo Boff apresenta o CAB no seminário “Território, Água, Energia e Alimento” referência na produção de grãos O Brasil produziu, na safra 2013/14, 196,7 milhões de toneladas de grãos O Paraná, sozinho, respondeu por 19% dos grãos produzidos no Brasil Mário César Costenaro: programa comprova que o oeste do Paraná está preparado Parcerias são ferramentas para o desenvolvimento O Oeste teve uma participação de 27% da produção agrícola do Estado A formação de parcerias, estimulada pelo Programa Oeste em Desenvolvimento, foi apresentada na Expo Milão como estratégia para o crescimento econômico Na Expo Milão, lições de sustentabilidade para o mundo Cultivando Água Boa foi apresentado como um exemplo de atenção ao meio ambiente e à dignidade humana Em outubro, sete meses depois de receber a chancela da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, como “Melhor prática em gestão da água”, o programa Cultivando Água Boa, criado pela Itaipu Binacional, chegou ao Pavilhão Brasil, da Expo Milão, na Itália, dando lições de sustentabilidade para o mundo. O diretor de Coordenação e Meio Ambiente de Itaipu, Nelton Friedrich, apresentou o programa Cultivando Água Boa no seminário “Território, Água, Energia e Alimento, no Pavilhão Brasil”, na Expo Milão. O tema foi comentado por Leonardo Boff, teólogo, filósofo, escritor e representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra. Boff é um dos nomes 16 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a mais respeitados nas questões de sustentabilidade e tem dado seu aval ao programa. A Itaipu foi convidada por ter relação direta com as proposições da Carta de Milão. O documento aborda quatro temas relacionadas ao direito à alimentação. Para Friedrich, “a participação de Itaipu na Expo Milão teve um significado especial porque essa foi uma edição mundial histórica, trazendo como eixos questões decisivas para a humanidade, com as quais Itaipu já trabalha com consistência e exemplaridade”. Energia Representando o governo brasileiro, a Itaipu apresentou também o setor elétrico do País como o de matriz enerIta i p u Bi na c i onal gética mais limpa do mundo industrializado, graças principalmente à utilização dos recursos hídricos. “É, sem dúvida, uma oportunidade ímpar para divulgar, em escala global, a exemplar matriz energética nacional, considerada a mais renovável do mundo industrializado, neste momento em que outras grandes nações firmam compromissos de longo prazo para prescindir ao máximo dos combustíveis fósseis em prol de energias renováveis”, diz o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek. Também participaram do seminário o superintendente de Energias Renováveis de Itaipu, Herlon Goelzer de Almeida; e o presidente da Cooperativa Lar, Irineu da Costa Rodrigues. Todo o potencial do Oeste do Paraná, especialmente na produção de alimentos, e a forma como a região vem se organizando para dar um salto na economia local, por meio de parcerias, foram mostrados na Expo Milão. O tema foi apresentado pelo presidente do Programa Oeste em Desenvolvimento, Mário César Costenaro. A região é uma das que mais crescem no Paraná e concentra uma das maiores produções de grãos do País. A região é formada por 50 municípios que, juntos, somam 1.291.492 habitantes. O PIB deverá chegar aos R$ 32 bilhões. O Oeste em Desenvolvimento reúne mais de 30 instituições, entre elas a Itaipu Binacional, o Sebrae, a Coordenadoria das Associações Comerciais e Empresariais do Oeste do Paraná, a Associação dos Municípios do Oeste do Paraná, o Parque Tecnológico Itaipu e a Federação das Indústrias do Paraná, além de cooperativas e instituições de ensino superior. Criado em agosto de 2014, o Programa Oeste em Desenvolvimento tem por desafio, de acordo com Costenaro, alçar uma das regiões que mais crescem no Brasil a um novo estágio no seu processo de desenvolvimento e de estruturação. “O programa é uma das mais recentes comprovações de que o Oeste está suficientemente preparado para empregar, com eficiência, ferramentas modernas como o planejamento, o conceito de foco nas cadeias produti- vas propulsivas, para dar um passo além e, gradualmente, multiplicar prosperidade.” O Oeste é referência na produção de grãos, e de sua transformação em proteína. O Brasil produziu, na safra 2013/14, 196,7 milhões de toneladas de grãos. O Paraná, sozinho, respondeu por 19,4% desse total, ou seja, 38 milhões de toneladas. O Oeste, por sua vez, teve uma participação de 27% da produção agrícola do Estado. Atualmente, mais de 85% da soja e de 90% do milho que a região produz são transformados em proteína animal, principalmente frango, o que faz do Oeste o campeão brasileiro em produção e em exportação desse tipo de carne. As cooperativas agropecuárias deram e ainda dão forte impulso à economia regional. Cinco figuram entre as maiores e melhores empresas do agronegócio brasileiro, segundo publicações especializadas. Juntas, faturaram R$ 13 bilhões em 2014. Leonardo Boff comenta o CAB na Expo Milão: incentivador N º 29 M arço 2 0 1 6 N º 29 M arço 2 0 1 6 J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 17 EXPO milão Water Right Foundation assina acordo de cooperação O diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek e o presidente da Water Right Foundation, Mauro Perini, assinaram, durante a Expo Milão, um acordo de cooperação que prevê a promoção conjunta de ações culturais, educacionais e de apoio à investigação e inovação. melhor prática em todo o mundo pela ONU-Água”, disse. O CAB foi reconhecido pela ONU como uma das melhores práticas mundiais de gestão da água. “Vamos desenvolver progressivamente uma rede internacional de boas práticas sobre o nexo água-energia, água-alimentos, com a participação decisiva dos ci- dadãos e das comunidades locais, que serão capazes de fazer a transição, que mais do que necessária, se tornou urgente”, disse Friedrich. Para ele, é preciso agir imediatamente a nível local “dando impulso mútuo a este movimento que o programa CAB já começou na América Latina e outros países o mundo.” “Vamos dar o impulso para a criação de redes internacionais de boa prática, mesmo em pequena escala, inspirados pela tradução concreta e operacional dos princípios da Carta da Terra, numa perspectiva de modelos locais participativos e integrados para um desenvolvimento verdadeiramente sustentável”, disse Perini. “Estamos no final do fim do mundo e se está estabelecendo uma nova consciência ambiental e planetária e a encíclica do Papa Francisco é um impulso formidável nessa direção”, disse Samek durante sua apresentação. “Em 80 anos, quando a energia do planeta vier inteiramente do sol e outras fontes limpas, a grande barragem de Itaipu sediará um museu que vai servir para advertir as gerações vindouras, mostrando-lhes o impacto causado nestes tempos tão remotos para a geração de energia”, completou. Nelton Friedrich, coordenador do programa Cultivando Água Boa, que tem papel fundamental no acordo, também participou da solenidade. “É um grande prazer, uma grande satisfação e uma grande responsabilidade anunciar a assinatura deste acordo, que segue muitos anos de amizade e de associação com esta extraordinária experiência de CAB, agora reconhecido como 18 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a Momento da assinatura do acordo de cooperação Participantes da organização Legambiente, da Lombardia, que colaboraram na organização do seminário “Energia Brasil”, na Expo Milão Ita i p u Bi na c i onal N º 29 M arço 2 0 1 6 N º 29 M arço 2 0 1 6 J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 19 DESENVOLVIMENTO Em Turim, Ban Ki-Moon diz que não haverá paz sem engajamento e ações locais Samek faz apresentação inédita na OCDE Fórum Mundial de Desenvolvimento Econômico Local, em Turim, discutiu a importância da governança Cultivando Água Bao foi apresentado como ferramenta para promover o desenvolvimento sustentável O diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek, apresentou o programa Cultivando Água Boa (CAB) à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em Paris. É repetitivo, mas é real e nunca foi tão verdadeiro: o local é a parte importante para um mundo global verdadeiramente próspero, humano e de paz Ban Ki-Moon, secretário-geral da ONU O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, declarou no 3º Fórum Mundial de Desenvolvimento Econômico Local, em Turim, na Itália, que não haverá paz e prosperidade sem políticas e engajamento pleno de agentes públicos e privados, sem os princípios baseados em ações locais de inclusão produtiva. “É repetitivo, mas é real e nunca foi tão verdadeiro: o local é a parte importante para um mundo global verdadeiramente próspero, humano e de paz”, disse. Ban Ki-Moon havia declarado que o Programa Cultivando Água Boa tem “potencial para transformar a vida de milhões de pessoas, porque apresenta possibilidades extraordinárias”. Essa declara20 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a ção foi feita quando o CAB havia sido recém-premiado pela ONU como melhor prática de gestão da água do mundo. As ações do programa são baseadas em iniciativas que respeitam a territorialidade. Segundo o secretário geral, “não haverá paz sem inclusão produtiva, daí a importância desse trabalho”. A Itaipu Binacional e representantes da região participaram do 3º Fórum Mundial de Desenvolvimento Econômico Local com vários painéis e debates. O superintendente de Energias Renováveis, Herlon Goelzer de Almeida, moderou um dos painéis. O tema foi a importância da governança para o desenvolvimento local. Participaram do Ita i p u Bi na c i onal debate representantes da Prefeitura de Araras (SP), da Organização Internacional do Trabalho (OIT), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), entre outros. Almeida também apresentou o Programa de Desenvolvimento do Oeste do Paraná com o presidente iniciativa, Mario César Costenaro. Uma das propostas do Programa Oeste em Desenvolvimento é promover o desenvolvimento local, assegurando a riqueza na região e o bem -estar das pessoas. A fórmula não chega a ser novidade. Países de primeiro mundo descobriram há tempos que investir no micro-território pode ser um grande negócio. A preocupação com o desenvolvimento da região é uma questão que sempre esteve na pauta da Itaipu Binacional e acabou ganhando uma nova amplitude em 2014, com a criação do programa. O programa é uma ação de governança regional, que tem como objetivo promover o desenvolvimento econômico do Oeste paranaense, por meio da participação coletiva, e fomentar a cooperação entre empresas públicas e privadas. Fórum 2013 Foz do Iguaçu sediou, em 2013, o 2º Fórum Mundial de Desenvolvimento Econômico Local - o maior evento já realizado pela Itaipu Binacional e parceiros, com um público recorde de 4,2 mil pessoas de 58 países. A OCDE é uma organização, criada em 1961, que reúne 34 países, a maioria com o PIB e Índice de Desenvolvimento Humano elevados também é chamada de “Grupo dos Ricos”. O programa CAB foi apresentado à OCDE como instrumento de cooperação internacional do Brasil com os demais estados-membros, no campo do Desenvolvimento Sustentável, em seus aspectos social, econômico e ambiental. Nessa atividade, Samek esteve acompanhado do embaixador do Brasil na França, Paulo César de Oliveira Campos, da embaixadora da Suécia na OCDE, Annika Markovic: Marcos Bonturi, diretor de relações globais -OCDE; Aziza Ackmouch, chefe do programa de governança hídrica-OCDE; e Ivana Capozza, chefe da unidade de revisão de performance ambiental-OCDE. Também participaram a diretora Financeira Executiva da Itaipu, Margaret Groff, e o diretor de Coordenação e Meio Ambiente, Nelton Friedrich. No evento, realizado em dezembro, o CAB foi apresentado como um exemplo de iniciativa para melhorar o bem-estar econômico e social das pessoas, o que coincide com a missão da OCDE. A organização reúne 34 países de todo o mundo (inclusive o Brasil), além dos países da União Europeia, e, entre suas funções, está a obrigação de trabalhar conjuntamente para compartilhar experiências e buscar soluções para problemas comuns. O Fórum discutiu caminhos para que cidades do mundo todo, incluindo as da região, possam se desenvolver de forma sustentável, com base em prática e projetos realizados com sucesso em outras localidades, para ampliar as oportunidades de melhorar a vida da população. Durante o evento, o ex-presidente Lula afirmou que “o Brasil acertou a mão quando acreditou no povo”. “Se o poder público, ao invés de ficar inventando a roda, tiver mais humildade e ouvir a sua população e os anseios locais vai saber implementar ações verdadeiras de desenvolvimento econômico local.” N º 29 M arço 2 0 1 6 CAB tem potencial para novos acordos, avalia diretor da Agência Brasileira de Cooperação Jair Kotz explicou a João Almino, diretor da ABC, o funcionamento do CAB e seus resultados O novo diretor da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), João Almino, esteve na Itaipu para conhecer pessoalmente o programa Cultivando Água Boa (CAB). Segundo ele, o Programa Cultivando Água Boa (CAB) é um dos que mais lhe chamou a atenção. A visita ocorreu no início de setembro, duas semanas após sua posse. “Outros países como Nicarágua e Honduras já nos pediram para verificar a possibilidade de acordos de cooperação”, informou Almino. “Se tivermos a capacidade de atender a essas demandas, acredito que o programa tem um potencial enorme de expansão.” Em 2014, o CAB se tornou uma política de cooperação do governo brasileiro através da ABC e com o apoio da Agência Nacional de Águas (ANA). Desde então, o programa foi adotado pelos governos da República Dominicana e da Guatemala, além de outras experiências de replicação no âmbito do Mercosul. Samek, Ivana Capozza, Margaret Groff e Nelton Friedrich: cooperação internacional N º 29 M arço 2 0 1 6 Segundo Almino, o que mais chama a atenção no CAB – e que tem despertado o interesse de outros países pela metodologia – é o envolvimento das comunidades. “Além disso, o Brasil é muito bem visto quanto à cooperação técnica, especialmente no âmbito Sul-Sul. Temos (na África e na América Latina) problemas parecidos. Então, é natural que haja um interesse em compartilhar soluções”, afirmou. Almino recebeu explicações sobre o CAB do superintendente de Gestão Ambiental, Jair Kotz, fez uma visita técnica e, em seguida, foi recebido pelo diretor-geral brasileiro Jorge Samek. “O tema da sustentabilidade não é modismo. Veio para ficar”, disse Samek. “E apesar de haver muitas experiências interessantes e necessárias, ainda são poucos os casos concretos com dimensão territorial, com metodologia e resultados, como é o caso do CAB. Por isso, estamos totalmente abertos à cooperação com outros países ou instituições que tenham interesse em reproduzir essa experiência bem sucedida”, completou. J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 21 Iniciativas premiadas Costa Rica também deve implantar programa Pacto das Águas com a presença de Leonardo Boff Reunião com a equipe do governo dominicano República Dominicana celebra um ano de implantação do CAB Com a presença de Leonardo Boff, padrinho do CAB, foram realizadas reuniões, visita à comunidade e palestras As comemorações pelo primeiro ano de atividades do Programa Cultivando Água Boa na República Dominicana foram marcadas por várias atividades e a presença de uma comitiva brasileira formada pelo superintendente de Meio Ambiente de Itaipu, Jair Kotz; Horácio Figueiredo da Agencia Nacional de Águas (ANA), Ana Elena, da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e pelo filósofo, teólogo e escritor Leonardo Boff. A comitiva participou de reuniões com o presidente dominicano Danilo Medina, ministros dominicanos, fez visitas a microbacias onde o CAB foi instalado, percorreu os rios Ozama e Izabela e conduziu o Pacto das Águas, na microbacia Arroio Gurabo. cana, Gustavo Montalvo. “O programa Cultivando Água Boa mostra o caminho para conduzir a uma mudança profunda para os nossos ecossistemas e nossas comunidades”, disse o ministro. Na reunião a comitiva brasileira destacou a importância de sensibilizar e informar todos os cidadãos para estimular as mudanças alinhadas ao conceito de sustentabilidade. Na República Dominicana, a comitiva de Itaipu também percorreu os rios Ozama e Isabela, onde estão localizadas as comunidades que participam do CAB, com o objetivo de compartilhar experiências sobre os progressos do programa. Pacto O CAB foi implantado em três microbacias da República Dominicana, envolvendo 150 organizações e mais de 4 mil pessoas das comunidades. Na próxima fase, o projeto deve alcançar uma das maiores microbacias do país. Mais de 30 organizações, incluindo órgãos do governo, organizações comunitárias, associações de bairro e instituições não-governamentais Assinatura da Carta de Interesse pelas autoridades da Costa Rica e Itaipu participaram do Pacto das Águas na Microbacia Arroio Gurabo, com a presença de Leonardo Boff e o ministro de Energia e Minas, Antonio Isa Conde. A atividade foi realizada no Parque Mansão do Café, uma zona ambientalmente preservada. O Pacto das Águas é uma declaração de compromisso com o desenvolimento integral e sustentável das comunidades situadas na microbacia. Leonardo Boff é condecorado pelo presidente Danilo Medina Jair Kotz, o presidente Danilo Medina e a vice-presidenta, Margarita Cedeño de Fernández Em sua fala, Boff lembrou a dimensão ecológica dos participantes do programa e convidou a todos a ver a Terra “como uma casa comum, que se ama, se cuida e se venera”. Conde disse que a presença de Boff no país permitiu semear a consciência contra a depredação, o ataque ao meio ambiente e, particularmente, à água. Oficina com uma das comunidades (acima) e percurso no Rio Ozama (abaixo) O filósofo, teólogo e escritor Leonardo Boff foi condecorado pelo presidente da República Dominicana, Danilo Medina, com a Ordem do Mérito de Duarte, Sánchez e Mella - a maior condecoração Concedida pelo governo da República Dominicana; por sua contribuição ao desenvolvimento sustentável na América Latina e Caribe. “A condecoração representa um desafio para continuar a desenvolver, resistir e persistir na luta em nome da Mãe Terra, de todos os seus filhos e filhas, especialmente os mais vulneráveis”, disse. Ele ressaltou a importância do acordo de cooperação entre a República A comitiva foi recebida pelo ministro da Presidência da República Domini- Dominicana e o Programa Cultivando Água Boa, “uma relação de amizade e de sinergia, que é o que todos nós necessitamos”. Boff fala também que o Presidente Medina cumpre a missão de governar e que leva o povo dominicano em seu coração. “Governar com justiça social é um gesto de amor pelo povo e, pelo que ouvi, o presidente está pleno dessa missão”. O governo da Costa Rica manifestou interesse em implantar o Programa Cultivando Água Boa. O documento, preparatório para um acordo de cooperação, foi assinado em janeiro, após um encontro que teve como tema o programa. A Carta de Interesse foi assinada pela ministra do Planejamento Nacional e Política Econômica, Olga Sánchez; pelo reitor da Universidade Nacional (UMA), Alberto Echeverría; o diretor de Coordenação e Meio Ambiente de Itaipu, Nelton Friedrich; e o teólogo, filósofo e escritor, Leonardo Boff. A ministra do Planejamento, Olga Marta Sánchez disse que “é importante encontrar novas fontes que nos diversifiquem e nos permitam busca um equilíbrio de nossos recursos hídricos”. Ela lembrou quae o presidente da Costa Rica declarou duas bacias hidrográficas livres de represas para atender à busca de um equilíbrio adequado. “Outro ponto importante é que temos de pensar que as decisões sobre os recursos hídricos não são somente decisões do governo, do poder ou instituições públicas, mas são, fundamentalmente, decisões que devem ser tomadas com os cidadãos.” Nelton Friedrich destacou que o programa tem por eixo fazer com que os cidadãos sintam e entendam o território em vivem. “Esse é o primeiro passo que devemos dar para poder melhorar”, disse. “Não se buscam culpados, o que se busca é diminuir o impacto das atividades dos cidadãos. A responsabilidade é de todos”, completou. O documento elenca alguns pontos CAB a serem adotados como a inclusão social, com conservação dos solos e da biodiversidade; uso de metodologias inovadoras de gestão, educação e ação ambiental; e participação comunitária. Após a homenagem falando sobre “Os desafios da América Latina e do Caribe no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, Boff finalizou a cerimônia de condecoração com uma palestra magna. Público na apresentação do CAB, na Costa Rica 22 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a Ita i p u Bi na c i onal N º 29 M arço 2 0 1 6 N º 29 M arço 2 0 1 6 J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 23 REFLEXÃO “Celebrando o Prêmio ONU-Água” é tema da 13ª edição do encontro A programação inclui debates, assinatura de convênios e premiação de boas práticas do Cidades Sustentáveis Preparação para o Encontro do CAB reuniu parceiros e atores sociais A participação e o envolvimento da comunidade são base do programa premiado pela ONU-Água Para preparar o 13º Encontro Cultivando Água Boa – programado para março de 2016 –, foram realizados três eventos em Toledo, Itaipulândia e Marechal Cândido Rondon, no mês de novembro, com o objetivo de avaliar, de forma coletiva, as principais ações do Programa Cultivando Água Boa (CAB) nos municípios, reunindo sugestões de melhoria e de políticas públicas para a região. As reuniões refletem uma das principais características do CAB, que é a governança inovadora, sustentada na participação e envolvimento dos diversos parceiros e atores sociais da região nos processos de planejamento, implementação e avaliação dos programas – entre eles, Educação Ambiental; Gestão por Bacias Hidrográficas; Desenvolvimento Rural Sustentável; Coleta Solidária; Plantas Medicinais; Sustentabilidade de Comunidades Indígenas; Valorização do Patrimônio Institucional; e 24 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a O Prêmio da ONU foi recebido no ano passado pelos diretores de Itaipu, em Nova York Atividades em Toledo e Itaipulândia Regional Produção de Peixes em Nossas Águas. Tudo melhor Durante os pré-encontros, o diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu, Nelton Friedrich, reforçou a importância das decisões coletivas e da participação dos atores sociais e parceiros no planejamento e avaliação do CAB. Segundo o prefeito de Itaipulândia, Miguel Bayerle, o CAB vai muito além do cuidado com a natureza. “O programa inclui as pessoas, que, com ele, têm um ambiente e uma vida melhores.” A 13ª edição do Encontro Cultivando Água Boa, que será realizada nos dias 17 e 18 de março, terá como tema a celebração do Prêmio ONU-Água, recebido em 2015 pelo programa. O evento será realizado no Hotel Rafain Palace Expo Center. Entre os convidados deste ano estão o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, a coordenadora do Programa Década da Água das Nações Unidas, Josefina Maestu; e o filósofo, teólogo e escritor, Leonardo Boff. O programa inclui as pessoas, que, com ele, têm um ambiente e uma vida melhores Miguel Bayerle, Itaipulândia A celebração do prêmio está especialmente reservada para um debate, no dia 18, com Josefina Maestu, Boff e o diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu, Nelton Friedrich. A abertura oficial do evento está marcada para as 15h30 do dia 17, mas as atividades já começam pela manhã com atores sociais da BP3 nas oficinas temáticas, que irão avaliar as ações realizadas no decorrer de 2015. Um outro destaque é a mesa Josefina Maestu é uma das convidadas do evento Ita i p u Bi na c i onal N º 29 M arço 2 0 1 6 N º 29 M arço 2 0 1 6 -redonda “Cultivando Água Boa: uma ferramenta para os ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável”, programada para a tarde de quinta-feira. Os debatedores serão o subsecretário-Geral de Meio Ambiente, Energia e Ciência e Tecnologia no Ministério das Relações Exteriores, José Antonio Marcondes de Carvalho; o coordenador regional do Programa Hidrológico Internacional da Unesco, Miguel Doria; Nelton Friedrich; e a especialista do Departamento de Florestas da FAO, Hivy Ortiz. A mediação será feita pelo superintendente de Meio Ambiente da Itaipu, Jair Kotz. Outro debate do primeiro dia de encontro ficará a cargo do diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek, e do engenheiro agrícola da Embrapa, Eduardo Assad. Ambos falarão sobre “Sustentabilidade territorial: água, solo, biodiversidade, produção agrícola e mudanças climáticas”. Na quinta-feira também haverá assinatura de convênios do Programa Cultivando Água Boa com os municípios da BP3. Sustentabilidade territorial: alimento e saúde é o tema de outra mesa-redonda, com Roberto de Almeida – clínico geral e professor da Universidade Federal de Integração Latino-Americana (Unila), e Alessandra Luglio, nutricionista clínica especialista em gastronomia natural. Na programação está prevista, também, a apresentação de Leonardo Boff; Regina Fitipaldi, da União Planetária; o também teólogo e escirtor, Afonso Murad; e o diretor de Itaipu, Nelton Friedrich. Eles irão falar sobre “Sustentabilidade territorial: inclusão social produtiva e cultura da sustentabilidade”. A programação do encontro prevê ainda a premiação das boas práticas do Programa Cidades Sustentáveis na Bacia do Paraná 3 e um preparativo para o Fórum Mundial das Águas de 2018. As apresentações culturais, distribuídas no dois dias de evento, ficarão a cargo de grupos da região da BP3 como Maracatu Alvorada Nova; Coral Juvenil de Marechal Cândido Rondon; Circo de Toledo; e do Programa de Integração e Incentivo ao Trabalho (PIIT) de Itaipu. Também farão apresentações Gelson Lautert (Itaipulândia), Juliana Valiati (Nova Santa Rosa) e Gladys Rosana (Puerto Iguazu, Argentina). A celebração do prêmio está especialmente reservada para um debate, no dia 18, com Josefina Maestu, Boff e o diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu, Nelton Friedrich J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 25 Referência SHOW rural O adeus a Nonô Pereira, um dos pioneiros do plantio direto Técnica criada há 40 anos revolucionou a agricultura brasileira e está presente em quase metade da área plantada no país O agricultor Manoel Henrique Pereira, Nonô Pereira, como era mais conhecido, foi um dos pioneiros da técnica do plantio direto (SPD), criada há 40 anos. “Éramos chamados de visionários, poetas, filósofos e até de loucos. Mas as novas gerações aceitaram [a nova tecnologia] e o programa avançou”, contou ele no lançamento do livro “Plantio Direto: A tecnologia que revolucionou a agricultura brasileira”, em fevereiro do ano passado, em Cascavel. O visionário Nonô Pereira, que transformou a agricultura brasileira, faleceu em setembro, vítima de câncer, aos 76 anos. O livro, uma homenagem de Itaipu, narra a saga de Nonô e de Herbert Bartz e Franke Dijkstra, que compartilham a criação da técnica, hoje presente em quase metade da área plantada do Brasil. Em artigo publicado pela revista A Granja, na edição de agosto do ano passado, o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek, disse que “foi emocionante reunir Herbert Bartz, Franke Dijkstra e Nonô Pereira no mesmo evento [em Cascavel] para homenageá-los. Os três ajudaram a transformar a agricultura brasileira e orgulham o nosso Estado. Devemos, portanto, uma enorme gratidão a esses heróis paranaenses”. O superintendente de Energias Renováveis de Itaipu, Herlon Goelzer de Almeida, que assinou a coordenação editorial do livro, ao lado de Paulino Motter, destacou que os pioneiros do plantio direto “mudaram a cara da agricultura brasileira e mundial, ao criarem um novo sistema de produção agrícola, que hoje ocupa entre 32 e 35 milhões de hectares no Brasil”. “Acima de tudo, é um sistema que auxilia sobremaneira a preservação do solo e das águas”, disse Herlon. “Convenhamos que, 40 anos atrás, os tempos eram outros, e a persistência dos pioneiros em buscar um sistema sustentável é admirável. Hoje temos que agradecer e reconhecer os benefícios conseguidos, frutos de sua perspicácia e obstinação, tanto em criar como em difundir o sistema.” A Vitrine representa uma propriedade rural com diversos conceitos de agroecologia Éramos chamados de visionários, poetas, filósofos e até de loucos. Vitrine divulga conceitos de agroecologia Espaço mostra que orgânicos são uma boa opção para a agricultura familiar e a diversificação da pequena propriedade Nonô Pereira, agricultor Os três ajudaram a transformar a agricultura brasileira e orgulham o nosso Estado. Devemos, portanto, uma enorme gratidão a esses heróis paranaenses Jorge Samek Destaques da participação de Itaipu no Show Rural Coopavel 2016, em Cascavel, a Vitrine Tecnológica de Agroecologia e o estande apresentando as vantagens do uso do biometano receberam centenas de visitantes. A vitrine, um espaço de 2.600 metros quadrados, localizado próximo ao mirante, é organizada por vários parceiros e representa uma propriedade rural com diversos conceitos de agroecologia. “O show rural é uma grande vitrine da diversidade de públicos, de vários segmentos econômicos e sociais. Um componente importante desta diversidade é a agroecologia”, afirma o diretor de Coordenação e Meio Ambienta da Itaipu, Nelton Friedrich. “A vitrine mostra que os orgânicos são uma boa opção para a agricultura familiar e para o pequeno produtor diversificar sua propriedade. Eles terão mais ganhos e vão gerar menos impacto ao meio ambiente e à saúde humana”. Nos primeiros dias da feira, a vitrine foi o espaço mais disputado. “Muita gente vem visitar. Eles têm várias perguntas”, diz a gestora do Projeto Plantas Medicinais de Itaipu, Liziane Kadi- Franke Dijkstra, Herbert Bartz e Nonô Pereira, os homens que revolucionaram a agricultura brasileira com o plantio direto 26 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a Ita i p u Bi na c i onal Estande da Itaipu com veículo movido a biometano N º 29 M arço 2 0 1 6 N º 29 M arço 2 0 1 6 ne. “Eles querem saber como é feito na prática, têm expectativa de levar estas técnicas para as lavouras deles”, completa. do biometano. Os visitantes tiveram oportunidade de conhecer o Grand Siena Tetrafuel, movido a biometano. Entre os conceitos de agroecologia mostrados na Vitrine, estão o formato de mandala e o consórcio de hortaliças. “A mandala tem a questão mística de concentração de energia, mas também facilita o sistema de irrigação. A variedade de hortaliças confunde as pragas. Nós também promovemos a rotação de cultura para não estressar o solo”, explica Ronaldo Juliano Pavlak, do Projeto de Incentivo a Produção e Consumo de Orgânicos, da Itaipu. “Há mais de dez anos participamos do Show Rural com afinco e se você analisar nossa primeira participação, a realidade era totalmente diferente. Hoje, a produção de biogás é uma realidade. Acreditamos que daqui a dez anos será comum boa parte dos produtores da região estarem familiarizados com esta tecnologia”, analisou o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek. Na vitrine, os visitantes encontram inhame, cará, azedinha e alface selvagem, entre outros alimentos que hoje caíram no gosto das pessoas. Acima, laboratório de biogás; equipe de Itaipu na Vitrine Ecológica (ao lado); Estufa feita de bambus com várias culturas (abaixo) O estande da Itaipu apresentou entre outros destaques as ações desenvolvidas pela empresa na área de energias renováveis, principalmente as vantagens do uso do biometano. A iniciativa é uma parceria com o Centro Internacional de Energias Renováveis – Biogás (CIBiogás), que também levou à feira um laboratório de biogás que simula as combinações de diferentes biomassas usadas na produção J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 27 CONCURSO Leila Alberton entrega exemplares do caderno a Friedrich, Samek e Moacir Froehlich Começou com uma receita para participar de um concurso do município e, agora, já somos reconhecidas nacionalmente Maria de Lurdes Fidélis, merendeira Todos reunidos, no estande da Itaipu, para a fotografia geral 3º Caderno de Receitas Saudáveis da BP3 traz prato premiado nacionalmente Receita de torta nutritiva ganhou concurso do MEC; caderno tem 54 receitas de profissionais de 26 municípios Marivani Frizzo, de Medianeira, representante das merendeiras O 3º Caderno de Receitas Saudáveis das Cozinheiras da Bacia do Rio Paraná 3, lançado no início de fevereiro, traz, entre outros deliciosos pratos, uma receita premiada em primeiro lugar no concurso nacional “Melhores Receitas da Alimentação Escolar”, promovido pelo Ministério da Educação (MEC) no ano passado. A torta de arroz nutritiva é de duas merendeiras de Matelândia, no Oeste do Paraná. O lançamento ocorreu no estande da Itaipu, no Show Rural Coopavel, em Cascavel. A cerimônia reuniu autoridades da região, empregados de Itaipu, além de merendeiras, nutricionistas e outros parceiros da Ação de Educação Ambiental, do Programa Cultivando Água Boa (CAB). O caderno é uma iniciativa da Itaipu e do Conselho dos Municípios 28 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a Ita i p u Bi na c i onal Lindeiros, por meio do convênio Linha Ecológica, que integra as secretarias municipais de Educação da região. O caderno reúne 54 receitas, duas de cada escola de 26 municípios, incluindo Palotina que não pertence à BP3, mas participou como convidada. No total, 110 merendeiras assinam as receitas. Os critérios foram nutrição, sustentabilidade, aceitação e promoção da agricultura orgânica e familiar, entre outros. A Itaipu patrocinou a impressão de 2 mil cadernos. Os livros serão distribuídos nas secretarias de educação dos municípios da BP3. Reconhecimento “É muito gratificante. Começou com uma receita para participar de um concurso do município e, agora, já somos reconhecidas nacionalmente”, disse Maria de Lurdes Fidélis que, junto com a colega Claudete Cassiano, assina Sustentabilidade a receita campeã. A torta nutritiva, que leva frango, brócolis, repolho e outros alimentos saudáveis, caiu no gosto dos alunos da Escola Estadual Dom Pedro II, de Matelândia. “Quando a gente coloca no cardápio, é aquela fila. Acaba rapidinho”, disse Maria de Lurdes. Para o diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu, Nelton Friedrich, o reconhecimento do MEC e a publicação do 3º caderno de receitas agregam valor ao trabalho das profissionais que antes eram conhecidas como a “tia da merenda”. “Estas profissionais fazem um resgate da alimentação saudável. Nossas crianças vão aprender desde cedo a importância de se alimentar bem e de ter hábitos saudáveis”, ressaltou o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek. Cerca de 60% da merenda das escolas na região da BP3 é de produção local. Além do lançamento do caderno, Itaipu entregou, durante a solenidade, a Cartilha de Tecnologias, que difunde aos agricultores as práticas de produção sustentável, e o Calendário Biondinâmico 2016, feito a partir de observações dos astros para mostrar como os ritmos M arço 2 0 1 6 Formação contínua O caderno é resultado de um curso de formação contínua. Ao longo de 2014 e 2015, as cozinheiras e nutricionistas passaram por uma capacitação sobre gestão da alimentação escolar, com ênfase em alimentos orgânicos. O curso foi promovido pelo Programa Cultivando Água Boa, por meio do programa de Educação Ambiental. Os municípios, então, selecionaram as receitas campeãs locais nas escolas da rede pública – 480 merendeiras participaram. Ações do projeto “Cultivando Saberes e Sabores na Alimentação da Bacia do Paraná 3” - Curso de Formação Continuada para Cozinheiras - Oficina sobre Alimentação Saudável com Agentes Comunitários de Saúde e da Pastoral da Criança - 3º Concurso de Receitas Saudáveis Primeiro módulo - visitas a propriedades agroecológicas com diversas atividades e depoimentos - Elaboração do regulamento do concurso Segundo módulo - Curso de reconhecimento de sementes - Curso sobre elaboração de massas integrais - Diálogo com nutricionistas Terceiro módulo - Oficina com as chefs Regina Tchelly, do projeto Favela Orgânica (RJ), e Amanda Marfil - Reunião dos técnicos da rede Ater com nutricionistas e coordenadoras de alimentação escolar Quarto módulo - Oficina com a chef Amanda Marfil - Diálogo com nutricionistas e coordenadoras de alimentação escolar As merendeiras Maria de Lurdes Fidélis (2ª à esq) e Claudete Cassiano (2ª à dir) foram premiadas também pelo MEC. Na foto, a nutricionista Anna Crystina Rodrigues (à esq), Jorge Samek, Ênio Alves de Oliveira e Norma Hofstaetter “Hoje, vocês podem dizer que centenas de merendeiras saíram do anonimato, têm nome e são autoras de receitas publicadas neste caderno”, disse, se dirigindo às cozinheiras que lotaram o estande de Itaipu. N º 29 astronômicos influenciam na prática agrícola. São 2 mil cartilhas e 1.500 calendários. Jaqueline Piati, representante das Nutricionistas da BP3: “O caderno melhora a relação entre nutricionistas e merendeiras” N º 29 M arço 2 0 1 6 J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 29 expansão Minas gerais Foi muito gratificante ver dois municípios importantes estarem tão motivados, comprometidos e, principalmente, com um grande número de instituições participando ativamente do Programa Gilmar Secco, gerente do Departamento de Integração Regional de Itaipu Oficinas do CAB chegam a Contagem e Igarapé Objetivo foi fortalecer os conceitos do programa e esclarecer o papel do comitê gestor nas ações O processo de implantação da metodologia do programa Cultivando Água Boa (CAB) em Minas Gerais caminha a passos largos. Em dezembro, foram realizadas oficinas com os comitês gestores dos municípios de Igarapé e de Contagem para fortalecer os conceitos do CAB e esclarecer o papel do comitê nas ações. A oficina foi ministrada pelo gerente do Departamento de Integração Regional, Gil- mar Secco, com apoio de Luiz Suzuke, e contou com a participação do diretor de Meio Ambiente de Santa Helena, Leandro Franzen. O município é um dos principais destaques do CAB e o diretor falou sobre a importância do programa, compartilhando as experiências bem-sucedidas. De acordo com Suzuke, a capacitação sobre como trabalha o comitê gestor é fundamental para o próximo passo do pro- grama que são as Oficinas do Futuro, quando a comunidade é envolvida nas ações, antes de firmar o Pacto pelas Águas. “Estamos aqui para trocar experiências sobre como vivenciamos o Cultivando Água Boa nesses 13 anos e os motivos pelos quais ele foi eleito pela ONU como uma das melhores políticas de gestão de recursos hídricos do mundo”, disse aos participantes do encontro. Segundo ele, as práticas terão resultados somente com o respeito às ca- racterísticas de Contagem e costumes da população. “Podemos potencializar o programa, mas cada núcleo terá uma resposta diferente e o que conta no final é como melhorou a vida das pessoas e o ambiente em que elas vivem”, explicou. Gilmar Secco destacou o grande número de participantes nos encontros de Contagem e Igarapé. “Foi muito gratificante ver dois municípios importantes estarem tão motivados, comprometidos e, principalmente, com um grande número de instituições participando ativamente do Programa”, avaliou. CAB em Minas O CAB Minas Gerais foi lançado em 25 de março de 2015, quando o governo de Minas Gerais publicou o decreto Nº 46.730, constituindo um Grupo de Trabalho formado por diversas instituições daquele estado, como as companhias de energia e saneamento (Cemig e Copasa), Emater, várias secretarias, entre elas Planejamento, Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Agricultura e Educação, além de institutos, fundações e outros órgãos do estado. Contagem foi a primeira cidade a aderir ao programa que é uma parceria entre a prefeitura e o governo estadual, por meio da Copasa. O objetivo é desenvolver ações com foco na proteção e preservação dos recursos hídricos do município, em especial à Vargem das Flores. Estamos aqui para trocar experiências sobre como vivenciamos o Cultivando Água Boa nesses 13 anos J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a O desafio é promover a sustentabilidade e a inclusão social e produtiva de agricultores familiares do Estado Lideranças e moradores de Sinop e de Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, conheceram a metodologia do Programa Cultivando Água Boa em oficinas realizadas em janeiro deste ano, comandados pelo superintendente de Meio Ambiente da Itaipu, Jair Kotz. Esses municípios, localizados no entorno das hidrelétricas de Manso e Sinop, foram escolhidos para serem os primeiros a receber as ações do CAB. O termo de cooperação técnica entre Itaipu e o governo daquele do Mato Grosso foi assinado em outubro. Jair Kotz ressaltou que Mato Grosso precisa aprender a planejar seus recursos hídricos que hoje são abundantes para que não entre, nos próximos 20 a 30 anos, em situação de crise, como acontece atualmente em São Paulo e em outras regiões do Brasil e do mundo, especialmente por se tratar de um grande produtor de alimentos. “Nossos relatórios apontam que não se exporta frango, carne bovina ou suína, nós exportamos água, por isso temos que cuidar dela para que não falte.” Com a atuação conjunta em diversas frentes de trabalho, é possível adotar esse novo modelo de desenvolvimento que tende a estabelecer maior conservação dos recursos naturais, entre eles, água, solo e biodiversidade. “Outro diferencial é a inclusão social que Luiz Suzuke, na palestra aos participantes da oficina em Contagem 30 Cidades do Mato Grosso recebem oficinas Ita i p u Bi na c i onal N º 29 M arço 2 0 1 6 N º 29 M arço 2 0 1 6 ele promove, por se estabelecer a partir da agricultura familiar”, diz a secretária de Estado de Meio Ambiente, Ana Luiza Peterlini. O secretário da Agricultura Familiar e Regularização Fundiária, Suelme Fernandes, explica que Mato Grosso é um gigante do agronegócio, mas a meta é, a partir desse programa e de outras iniciativas, transformar o cenário das famílias que vivem dessa atividade. Só na região de Manso, um levantamento da secretaria já identificou que apenas 5% das pessoas estão efetivamente produzindo, os demais ou são aposentados ou dependem de programas sociais. “De forma inédita, o governo do Estado está tratando de conservação ambiental, inclusão social, educação e economia de forma transversal.” O governador Pedro Taques assina o acordo de cooperação para implantação do CAB Jair Kotz durante um dos workshops ministrados no Mato Grosso, em janeiro Acordo “Nenhum país no mundo vive sem uma agricultura familiar forte, porque nós nos alimentamos da produção desse setor da economia. Estou muito convencido de que estamos dando um importante passo e na direção certa.” Na solenidade de assinatura do termo de cooperação técnica, o governador de Mato Grosso, Pedro Taques, ressaltou que seu Estado, embora se destaque pela produção agropecuária, tem o grande desafio de promover a inclusão social e produtiva de, pelo menos, 100 mil famílias de agricultores, que detêm em torno de 6 milhões de hectares com menos de 5% de aproveitamento do seu potencial produtivo. Dos 141 municípios do Estado, a maioria (126) apresenta condições precárias de desenvolvimento socioeconômico. Também durante a assinatura do termo de cooperação, o diretor de Coordenação e Meio Ambiente de Itaipu, Nelton Friedrich, destacou a importância dos governos trabalharem de forma articulada e multidimensional para enfrentar a problemática socioambiental. “O CAB é uma estratégia local de enfrentamento das mudanças climáticas, que propõe uma nova governança, com participação de todos os atores de um território”, afirmou. Apresentação de dança durante a cerimônia no Mato Grosso: participação da comunidade é pilar do CAB J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 31 CULTIVANDO SAÚDE CAMPO Moradores da região recebem orientações sobre plantas medicinais Acordo facilita comercialização da produção familiar no Ceasa Ideia é promover a saúde a partir do resgate dos saberes populares Agora, os alimentos chegam de forma direta para o consumidor na Central de Abastecimento Moradores de municípios da BP3 puderam conhecer melhor os benefícios das plantas medicinais no uso cotidiano durante os Encontros Cultivando Saúde. A ação é da Itaipu, por meio do Programa Cultivando Água Boa, em parceria com prefeituras, universidades e Conselho de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu. Foram realizado encontros em Santa Terezinha de Itaipu, Quatro Pontes, Cascavel e Marechal Cândido Rondon, no segundo semestre de 2015. Os temas tratados são resultado do diálogo com profissionais de diversas áreas, principalmente da saúde, movimentos da sociedade civil organizada – como ONGs de proteção ao meio ambiente, educação em saúde com plantas medicinais e afins –, pastorais da saúde e da criança. A ideia é promover a saúde a partir do resgate dos saberes populares sobre plantas medicinais e valorizar os resultados desta ciência na promoção da melhoria da qualidade de vida. “A proposta desta ação é compreender a saúde de forma integrativa, levando em consideração todos os fatores determinantes na condição de saúde plena de cada ser humano”, disse Lucilei Bonadeze Rossasi, da Divisão de Educação Ambiental. SAC CAIXA – 0800 726 0101 (Informações, reclamações, sugestões e elogios) Para pessoas com deficiência auditiva ou de fala – 0800 726 2492 Ouvidoria – 0800 725 7474 DE SOL A SOL. DO PLANTIO À COMERCIALIZAÇÃO. CRÉDITO RURAL CAIXA. O programa Desenvolvimento Rural Sustentável está entre os dez casos selecionados pelo Ministério da Agricultura para a 3ª edição da Gestão Sustentável da Agricultura. Disponível inicialmente apenas online, a publicação reúne as melhores práticas do país, escolhidas entre 45 casos pré-selecionados de todas as regiões brasileiras. O texto sobre o programa da Itaipu está na página 121 do documento que pode ser conferido no endereço http://migre.me/sHm0e. A proposta desta ação é compreender a saúde de forma integrativa, levando em consideração todos os fatores determinantes na condição de saúde plena de cada ser humano Lucilei Bonadeze Rossasi, Divisão de Educação Ambiental caixa.gov.br | facebook.com/caixa | twitter.com/caixa Programa está entre os melhores do Brasil Agricultores familiares da região da Bacia Hidrográfica do Paraná 3 (BP3) poderão comercializar diretamente seus produtos (alimentos in natura e processados) na Ceasa de Foz do Iguaçu. A iniciativa é resultado uma parceria entre a Ceasa, a Cooperativa da Agricultura Familiar e Solidária do Oeste do Paraná (Coafaso) e a Itaipu, por meio do programa Cultivando Água Boa (CAB). fortalecendo segmentos como a agricultura familiar e a pesca artesanal, é um dos principais objetivos do CAB, através dos projetos Desenvolvimento Rural Sustentável (DRS), Plantas Medicinais e Mais Peixes em Nossas Águas. Para Jair Kotz, parcerias como esta, com a Ceasa, só são possíveis porque a região voltou a produzir alimentos em unida- des agrícolas familiares. “Isso demonstra a decisão acertada do CAB e seus parceiros de incentivar a agricultura familiar na BP3”, afirmou. Esse incentivo tem levado a mais adesões às cooperativas. Bladimir Lazzarini informou que a Coafaso recebe, diariamente, novas propostas de filiação. Até o momento, são 383 agricultores cooperados, em 5 municípios. A maior parte da produção agrícola familiar da BP3 é destinada à merenda escolar pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Esses programas são, em grande parte, responsáveis pela permanência dessas famílias de agricultores no campo e pela expansão de sua produção. Antes, os agricultores dependiam de terceiros para vender na Central, o que reduzia suas margens. Agora, passam a fazer a venda direta em um box da Coafaso. O objetivo principal do programa é contribuir para a melhoria de renda e condições de vida de agricultores familiares na região da BP3. Boa parte das ações se dá por meio da assistência técnica gratuita, buscando a diversificação e a sustentabilidade da produção. Entre os principais resultados da iniciativa, estão a adoção da agricultura orgânica por cerca de 1.200 agricultores, a participação de 59 instituições na rede de assistência técnica e extensão rural, e a implantação de 10 agroindústrias orgânicas e um laboratório de manejo biológico de pragas, além de milhares de participantes nas feiras Vida Orgânica. O contrato foi assinado dia 16 de dezembro com a presença do superintendente de Meio Ambiente da Itaipu, Jair Kotz; do diretor de Mercado da Ceasa-Foz, Valdinei Loise dos Santos; do presidente da Coafaso, Bladimir Lazzarini; e do representante do conselho de administração da cooperativa, Antonio Bortolotto. A CAIXA oferece uma variedade de linhas de crédito para todas as etapas do agronegócio, como aquisição de insumos e vacinas, compra de máquinas e equipamentos, preparação para o plantio, ampliação de lavouras Ita i p u Bi na c i onal 32 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a e pastagens, colheita e comercialização. Acesse caixa.gov.br e saiba mais. CAIXA. A vida no campo pede mais que um banco. Promover a produção sustentável de alimentos na BP3, N º 29 M arço 2 0 1 6 TRABALHANDO JUNTOS PARA O BRASIL AVANÇAR N º 29 M arço 2 0 1 6 Jair Kotz, representando a Itaipu, assina termo de acordo com a Ceasa e a Coafaso J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 33 AQUATECNOLOGIA Nova tecnologia deve impulsionar produção de peixe no Brasil Oficina mostra produção de tilápia em ferrocimento Evento discute emprego de ferramentas que possam contribuir para o desenvolvimento sustentável da cadeia aquícola A utilização de galpões fechados na aquicultura poderá representar um futuro mais rentável para a produção de peixe no Oeste do Paraná e, por consequência, para o restante do Brasil. A metodologia, já usada em países como Chile e Estados Unidos e também no Rio Grande do Sul com eficiência e sustentabilidade, foi apresentada pelo consultor Sergio Zimmermann, que proferiu a palestra magna do Workshop Aquatecnologia 2015. O evento foi realizado no final de agosto, no Parque Tecnológico Itaipu, e reuniu produtores de peixe da região. No workshop foi discutido o emprego de ferramentas que possam contribuir para o desenvolvimento sustentável da cadeia aquícola, especialmente na Bacia do Paraná 3 (BP3). A aquicultura tem nas mãos possibilidades muito melhores que a avicultura. Acreditamos que esse [o cultivo em galpões fechados] seja o futuro da tilapicultura no mundo Sergio Zimmermann, consultor de toneladas deve ser a produção anula de peixes no Brasil em 2020 34 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a Ita i p u Bi na c i onal Como o próprio nome sugere, um tanque de ferrocimento é feito com cimento sobre estruturas de ferro, envoltos de uma tela de metal. Um tanque foi construído especial- O sistema de galpões fechados é o mesmo utilizado por avicultores. Na aquicultura, no entanto, os peixes não necessitam de antibióticos, nem de energia para aquecimento, tornando o processo mais acessível e com baixo custo. “A aquicultura tem nas mãos possibilidades muito melhores que a avicultura. Acreditamos que esse seja o futuro da tilapicultura no mundo”, disse o consultor. mente para o encontro. A técnica é uma alternativa de baixo custo para os produtores. Um tanque para a criação de peixes, de 15 mil litros, de lona plástica, custa R$ 5 mil, enquanto o de ferrocimento, com a mesma capacidade, sai por R$ 2 mil. O professor Carlos Alberto da Cruz Junior, do Centro Universitário de Brasília, foi quem ministrou a oficina. Ele mostrou os materiais utilizados e ensinou a maneira de construir um tanque de ferrocimento. A oficina teve como objetivo apresentar uma alternativa para o uso de tanques na produção de peixes, como a tilápia, na agricultura familiar. Além do baixo custo de implantação, a água do ferrocimento pode ser reutilizada no cultivo de plantas. O cultivo de peixes exóticos em águas públicas é proibido no Rio Grande do Sul, assim como era na Bacia do Paraná 3. Porém, as fazendas são licenciadas para cultivar espécies como a tilápia em galpões. “Ela [tilapicultura] não provoca impactos ambientais, e também usa áreas baratas, que na maioria das vezes não são produtivas”. De acordo com Zimmermann, a aplicação no Oeste do Paraná é viável, com aumento da renda sem prejudicar o meio ambiente. Para ele, a região conta com a infraestrutura necessária para a implantação do sistema. “Falta apenas a consciência para os produtores locais para saber que o investimento inicial é maior, mas os retornos são positivos.” 2 milhões O Workshop Aquatecnologia 2015 também discutiu o uso de tanques de ferrocimento como alternativa estrutural de baixo custo para a produção de tilápia na agricultura familiar. Outro beneficio do método é o baixo uso da mão de obra. Enquanto na aquicultura em águas públicas é preciso de, ao menos três pessoas, para retirar os peixes dos tanques-rede, o novo sistema necessita apenas de uma pessoa, sem precisar tocar nos peixes. Reutilização das águas Nos Estados Unidos, os produtores começaram a utilizar as águas dos tanques em outros processos. Na hidroponia, a água é reutilizada no cultivo de verduras em estufas. Hoje, aquele país é referência mundial na produção de maracujá orgânico, que usa os nutrientes da água e não utiliza produtos químicos nas plantas. Atualmente, o produto é exportado para países como a Turquia e Noruega. Tilápia Em abril de 2015, o então ministro da Pesca e Aquicultura, Helder Barbalho, anunciou em Itaipu a liberação do cultivo da tilápia em tanques-rede nos braços do reservatório, onde só era permitido cultivar espécies nativas do Rio Paraná. Com a liberação, a expectativa é que até 2020 a produção pesqueira anual chegue a 2 milhões de toneladas. Atualmente, com uma produção de 475 mil toneladas, o Brasil ocupa a 12ª posição no ranking mundial de produção. Evento reuniu pesquisadores e produtores na Itaipu O Workshop Aquatecnologia 2015 reuniu 120 pessoas, entre representantes de universidades, do setor industrial, de órgãos do governo, pesquisadores e produtores, durante os dias 26 e 28 de agosto, na Itaipu. Durante o workshop foram abordados temas sobre potencial das microalgas, bioflocos, piscicultura ornamental, produção de peixes e vegetais, gerenciamento hídrico e produção de tambaqui, além de duas oficinas e outros assuntos. A região Oeste do Paraná é um dos principais polos de produção de pescados do Brasil e contribui com a produção anual de 51 mil toneladas de peixes no Estado. Para André Watanabe, da Divisão de Reservatório, área da Itaipu responsável pelo workshop, o evento foi um sucesso. “A programação foi elogiada pelos participantes, principalmente pela diversificação dos assuntos, desde aquicultura até o tratamento do pescado”, disse. O workshop Aquatecnologia 2015 foi promovido pela Itaipu Binacional, Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e Centro Internacional de Hidroinformática (CIH). A liberação do cultivo da tilápia vai trazer ganhos financeiros maiores. A produção de 60 tanques-rede de pacu representa ao pescador uma renda de, aproximadamente, R$ 1.200 por mês. Com a tilápia, nesse mesmo número de tanques-redes, a renda aumenta para R$ 4 mil a R$ 5 mil mensais. N º 29 M arço 2 0 1 6 N º 29 M arço 2 0 1 6 J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 35 Vegetação EXPERIÊNCIA Pescadores comprovam na prática a eficácia do Canal da Piracema O primeiro inventário foi feito em 1976 e agora temos os primeiros dados para comparar como está o desenvolvimento de nossa área protegida Na visita, os pescadores observam espécies em risco de extinção subindo o canal para reprodução no reservatório Pescadores da colônia de Itaipulândia, Santa Terezinha de Itaipu, Pato Bragado, Foz do Iguaçu e São Miguel do Iguaçu puderam comprovar a eficácia do Canal da Piracema de Itaipu. Os visitantes foram recebidos por profissionais da Divisão de Reservatório e observaram piaus, corimbas, pintados e dourados - espécies consideradas nobres e em risco de extinção - subindo o canal até o Lago de Itaipu, para desova. Luis César Rodrigues da Silva, engenheiro florestal Áreas protegidas: inventário vai permitir estudos permanentes As visitas das colônias acontecem há dois anos, sempre no período de Defeso – entre novembro e fevereiro –, quando não é permitida a pesca devido à reprodução dos peixes (Piracema). O objetivo é atender às dez colônias de pescadores parceiras de Itaipu. “Fazemos as visitas sempre nesta época do ano quando os pescadores não podem atuar em suas atividades e têm tempo para viajar”, explica o engenheiro agrônomo Irineu Motter. “As visitam proporcionam aos pescadores a certeza de que a Itaipu cumpre o seu pa- Levantamento das árvores vai possibilitar o acompanhamento e estudos acadêmicos das áreas demarcadas Visitantes passaram pelo Canal da Piracema e comprovaram a eficácia do sistema de transposição de peixes pel de focar na sustentabilidade e conservação ambiental”, diz a gerente da Divisão de Reservatório, Carla Canzi. De acordo com Motter, as visitam proporcionam aos pescadores conhecer de perto as atividades executadas pela Divisão de Reservatório vol- tadas para a preservação dos recursos pesqueiros do reservatório, como reprodução de peixes, pesquisas de criação em tanques-rede, marcação de peixes, povoamento, além do funcionamento do Canal da Piracema. “Eles ficam impressionados com a quantidade e a variedade de peixes que vêem subindo o canal. Estes peixes chegarão ao reservatório e, em pouco tempo, poderão se reproduzir e garantir a manutenção dos estoques pesqueiros.” reservatório soltando alevinos de pacu, depois visitaram o Parque Nacional do Iguaçu. Cerca de 90% deles não conhecia as cataratas. “Estas visitas complementam o trabalho que Itaipu desenvolve em parceria com as colônias de pescadores da região, como limpeza das margens do reservatório e pontos de pesca, monitoramento da produção pesqueira e biologia pesqueira. O envolvimento dos pescadores mostra que eles agora fazem parte do trabalho coordenado por Itaipu”, conclui Motter. Os técnicos da Divisão de Áreas Protegidas estão fazendo um estudo inédito da vegetação no entorno do Canal da Piracema, no Refúgio Biológico Bela Vista. O inventário florestal fará o levantamento das árvores existentes na área protegida de Itaipu, permitirá o seu acompanhamento permanente e vai possibilitar futuros estudos acadêmicos na área demarcada. “Para conservar é preciso saber o que tem”, resume o engenheiro florestal Luis César Rodrigues da Silva, da Divisão de Áreas Protegidas, coordenador do inventário. Segundo ele, vários levantamentos já foram feitos, mas eram estudos de momento, para observar uma situação pontual. “Não havia continuidade, agora será um estudo permanente”, conclui. inventários florestais a cada cinco anos. “É apenas o início de uma série de observações que, inclusive, servirá de base para outros estudos pelas universidades regionais”, afirma. Como exemplo, ele sugere estudos sobre a saúde das árvores, sequestro de carbono e estudos da fauna, entre outros. De acordo com o engenheiro, a demarcação da área onde será feito o inventário cria a oportunidade de várias pesquisas e publicações científicas no futuro. A intenção é fazer O inventário está sendo feito em uma área de 21 hectares, dos 326,9 hectares que compreendem a vegetação do entorno do Canal da Piracema, ou seja, 6% do total. A literatura científica sugere o levantamento de 1% a 2% da área para poder extrapolar para toda a região. “Trabalhamos por amostragem, como nas pesquisas eleitorais”, compara Luis César. “A margem de erro tolerável neste caso seria de até 10%, para termos uma noção da realidade do local.” Soltura de alevinos As visitas são realizadas durante o período do defeso 36 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a Ita i p u Bi na c i onal Depois de irem ao Canal da Piracema, os pescadores fizeram uma visita panorâmica à Itaipu e foram ao Refúgio Biológico Bela Vista, para conhecer a trilha ecológica. Eles terminaram a visita no Portinho, onde participaram do processo de povoamento do por exemplo, áreas de plantio, remanescentes florestais e áreas de banhado. As informações levantadas na parcela poderão ser extrapoladas para todo o estrato. Os estudos em campo começaram em dezembro. A previsão é de acabar todo o trabalho em campo até metade do ano, para começar a análise dos dados. O levantamento é feito por quatro profissionais da Trechos, empresa contratada, e coordenado por Itaipu. As árvores com diâmetro mínimo de oito centímetros são numeradas com plaquinhas de alumínio. “As menores são ignoradas, mas nós sabemos que elas ingressarão nos próximos levantamentos”, diz Luis César. A continuidade do levantamento vai gerar uma radiografia fiel da área. “O primeiro inventário foi feito em 1976 e agora temos os primeiros dados para comparar como está o desenvolvimento de nossa área protegida”, conclui Luis César. Estratos e parcelas Antes de percorrer o canal, pescadores recebem explicações N º 29 M arço 2 0 1 6 A área florestal é dividida em partes para facilitar a contagem N º 29 M arço 2 0 1 6 A primeira parte do inventário começou a ser feita na metade do ano passado, com o planejamento do que seria mapeado. A área foi dividida em cinco estratos diferentes, que caracterizam as diferenças entre a vegetação, como, Luis César mostra árvore sinalizada: trabalho deve durar um ano J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 37 Fórum social DESENVOLVIMENTO REGIONAL Reportagem sobre o CAB vence Prêmio Amop Reconhecer o trabalho dos jornalistas do Oeste do Paraná em favor do desenvolvimento da região é um dos objetivos do prêmio Edgar Bueno e Gilmar Piolla entregam prêmio a Carlos Silva A reportagem “Boas práticas do Programa Cultivando Água Boa serão copiadas na Espanha” foi uma das vencedoras da 10ª edição do Prêmio Amop de Jornalismo, promovido pela Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (Amop), com apoio de Itaipu. O prêmio é um re- conhecimento do trabalho de jornalistas da região Oeste. A reportagem foi a ganhadora na categoria rádio e deu ao seu autor, Carlos Moreira da Silva, da Rádio Jornal de São Miguel do Iguaçu, troféu e prêmio em dinheiro. Veja os demais ganhadores no quadro ao lado. O tema do ano foi “Oeste em Desenvolvimento”. A comissão julgadora foi composta pelos jornalistas Patrícia Duarte de Brito, coordenadora do curso de Jornalismo da Univel; Ralph Williams, coordenador do curso de Jornalismo da Faculdade Assis Gurgacz (FAG); e Cristina Schossler, assessora de Imprensa da Unipar. Na cerimônia, também foi entregue o título de Cidadão Honorário do Oeste do Paraná ao empresário Jacy Scanagatta, ex-prefeito de Cascavel e exdeputado federal. Também foram homenageadas ex-presidentes da Associação das Rádio “Boas práticas do Programa Cultivando Água Boa serão copiadas na Espanha” - Carlos Moreira da Silva (Rádio Jornal de São Miguel do Iguaçu) “A obstinação de Géssica” - César Machado (Revista Aldeia) Televisão “Oeste – a união que faz crescer e desenvolver cidades” - Patrícia Sonsin e equipe (TV Tarobá) Impresso “O camarão chegou ao Oeste do Paraná” Pedro de Brito Sarolli (Revista SindiRural) Primeiras-Damas do Oeste do Paraná (Adamop). A premiação ocorreu em novembro, em Cascavel. Autoridades regionais e estaduais participaram da solenidade, entre elas, o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek; a vice-governadora do Estado, Cida Borghetti; o prefeito de Cascavel, Edgar Bueno; o superintendente de Comunicação Social de Itaipu, Gilmar Piolla; e o senador Alvaro Dias. 38 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a Ita i p u Bi na c i onal twitter.com/anagovbr Nelton Friedrich durante apresentação no Fórum Social Mundial, que teve a presença de Boaventura de Sousa Santos (abaixo) Fórum Social reúne experiências e traça desafios para as cidades Além de aproveitar a água da chuva e garantir o suprimento em épocas de escassez, as cisternas poupam as águas subterrâneas A importância das cidades e da gestão local pautada em metas baseadas em indicadores, transparência, e na prestação de contas à sociedade foi o principal ponto de convergência entre os debatedores que participaram do seminário “Os desafios da implementação e municipalização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil - A estratégia do Programa Cidades Sustentáveis para as eleições de 2016”. O evento fez parte da programação do Fórum Social Mundial Temático, que comemorou 15 anos, e foi realizado em Porto Alegre, entre 19 e 23 de janeiro. Cadastre-se no site boletimaguas.ana.gov.br/cadboletim para receber o Boletim Água em seu e-mail e fique informado sobre as principais notícias da ANA. Acompanhe a ANA no Facebook, Twitter e YouTube. facebook.com/anagovbr A implementação de políticas públicas sobre o uso de plantas medicinais e fitoterápicos na saúde pública foi o tema que conduziu o debate “As Plantas Medicinais, o Desenvolvimento, a Saúde e a Soberania Nacional”. O projeto Plantas Medicinais, do Programa Cultivando Água Boa, foi apresentado por Liziane Kadine, da Divisão de Ação Ambiental. Fotografia Notícias da ANA a um clique de distância www.ana.gov.br Debate e participação da BP3 Vencedores youtube.com/anagovbr N º 29 M arço 2 0 1 6 O encontro reuniu Oded Grajew, idealizador do Fórum Social Mundial e coordenador do Programa Cidades Sustentáveis; Boaventura de Sousa Santos, sociólogo e professor; Jairo Jorge, prefeito de Canoas (RS) e representante da Frente Nacional de Prefeitos (FNP); Eduardo Tadeu, presidente da AssociaN º 29 M arço 2 0 1 6 ção Brasileira de Municípios (ABM); Ieva Lazareviciute, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); Nelton Friedrich, diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu; e Doroty Martos, coordenadora do Cineclube Socioambiental “Em prol da vida”. Do local para o global Nelton Friedrich falou sobre a experiência do Programa Cultivando Água Boa, que há dez anos vem transformando a região da Bacia do Paraná 3, com ações baseadas na participação das comunidades. Ele destacou a formação de educadores ambientais pelos programas da Itaipu: hoje eles são cerca de 5 mil. E falou sobre o projeto de merenda escolar com produtos vindos de agricultura familiar. “Não fazemos no global sem atuar no local. Quando envolvemos a comunidade próxima, como no caso da merenda, o resultado é imediato. Hoje, 60% da merenda é produzida no próprio município e 38% dela, de forma orgânica”, disse. Friedrich falou também sobre a parceria com o Programa Cidades Sustentáveis, que teve início em 2012. “Dezenas de municípios da região estão totalmente envolvidos com o Programa Cidades Sustentáveis. Nosso foco é, sempre, máximo engajamento da sociedade no processo de implementação, monitoramento, transparência e construção de consenso éticos para as mudanças”. Uma das grandes lideranças na história do Fórum Social Mundial, Boaventura de Sousa Santos iniciou sua apresentação falando sobre o foco nas cidades. A mesa também teve a participação de Kátia Torres, consultora técnica do Ministério da Saúde; Silvia Czermainski, Secretária Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul; e Fernando Ritter, secretário da Saúde de Porto Alegre, além de lideranças locais. Além dos representantes de Itaipu, também estiveram presentes ao Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, moradores e lideranças de municípios da BP3. “Neste ano, conseguimos reunir 40 representantes de todas as comunidades atendidas pelo CAB, como pescadores, agricultores, indígenas e educadores ambientais”, disse Leila Alberton, gerente da Divisão de Educação Ambiental. O professor fez um alerta sobre o que chamou de “privatização do espaço urbano”: “As cidades estão endividadas e acabam nas mãos no capitalismo financeiro. Espaços públicos estão sendo dados como garantia pelo endividamento municipal. Essa capitalização das cidades cria ainda mais desigualdades, acentua a violência e provoca aumento das migrações ambientais”. J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 39 Referência compra de equipamentos. Segundo o prefeito de Santa Terezinha, Cláudio Eberhard, depois que a prefeitura assumiu a coleta da cidade, os catadores ganharam uma nova função, na separação, processamento e beneficiamento do material e, por isso, aumentaram a renda e dignificaram o trabalho. Cláudio Eberhard e Antônio Luiz Correa com o prêmio e participantes da solenidade Santa Terezinha de Itaipu é premiada na Expocatadores 2015 Município concorreu com 67 cidades; com um índice de 70% de reciclagem, a cidade é uma das que mais recicla no Brasil O trabalho bem-sucedido de reciclagem e o respeito aos agentes ambientais garantiram ao município de Santa Terezinha de Itaipu o Prêmio Cidade Pró-Catador, do Movimento Nacional dos Catadores de Reciclável (MNCR). A premiação foi entregue no início de dezembro, durante solenidade na 6ª edição da Expocatadores, o mais importante evento de catadores de reciclados do Brasil, realizado no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo (SP). A entrega foi feita pelo diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek. Santa Terezinha de Itaipu concorreu com outros 67 municípios. A iniciativa reuniu o MNCR, Fundação Banco do Brasil e Secretaria de Gover- no. Também foram contempladas com a mesma premiação as cidades de Cachoeira de Minas (MG), Campo Largo (PR) e Canoas (RS). Desde 2013, Santa Terezinha vem implantando ações de re- ciclagem e educação ambiental. Com um índice de 70% de reciclagem, o município é, atualmente, um dos que mais recicla no Brasil. O prêmio garantiu, além do reconhecimento, um aporte de R$ 120 mil, que será usado para a “Temos 40 famílias trabalhando diretamente com reciclagem do lixo produzido pelos 22 mil habitantes da cidade. Antes, eles trabalhavam de forma independente e tiravam R$ 500 por mês, hoje eles triplicaram a renda. Cada um deles tira cerca de R$ 1.500,00 por mês”, contou. Solenidade de entrega do prêmio na Expocatadores: catadores são agora vistos como empreendedores e prestadores de serviços ambientais Para Samek, a premiação mostra a importância desse trabalho. “Somos reconhecidos internacionalmente pela atuação voltada para mais de 2,4 mil catadores de materiais recicláveis organizados em associações e cooperativas. Esse prêmio mostra que o modelo implantado pela prefeitura com apoio de Itaipu está no caminho certo.” Essa foi uma oportunidade riquíssima, de poder compartilhar a experiência de Itaipu e conhecer também diversas experiências europeias Nelton Friedrich, diretor de Coordenação e Meio Ambiente histórica do movimento, em 2003, quando implantou, nos municípios da Bacia do Paraná 3, o Programa Coleta Solidária. Desde aquele ano, o movimento vem se expandindo nacionalmente. Presença Samek lembrou que Itaipu esteve presente na trajetória “Lembro da primeira edição da Expocatadores, quando o movimento ainda galgava espaço. Agora, eles são vistos como empreendedores e prestadores de serviços ambientais para os municípios. Hoje, a sociedade civil, catadores, empresários e o poder público estão dialogando no mesmo espaço e a maior conquista foi o protagonismo.” Longo caminho Cláudio Eberhard e Samek: prêmio mostra que o modelo está no caminho certo 40 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a Ita i p u Bi na c i onal A coordenadora do MNCR, Marilza de Lima, conta que há pouco mais de 10 anos percorria as ruas recolhendo reciclados. Atualmente, é militante nacional do movimento e quer ampliar sua luta para o Brasil. “Temos cerca de 1 milhão de pessoas que tiram seu sustento Público presente ao Pavilhão de Exposições do Anhembi N º 29 M arço 2 0 1 6 N º 29 M arço 2 0 1 6 como catadores. Desse total, apenas 100 mil estão organizados em cooperativas e associações. O restante ainda vive em lixões. Precisamos mudar isso. Queremos que os catadores fiquem fora dos lixões, que existam programas de coleta seletiva pagos pelas prefeituras e a não incineração do material.” O ministro do Trabalho, Miguel Roseto, que foi ao evento representando a presidente Dilma Rousseff, reafirmou o compromisso do governo de continuar construindo acordos positivos com movimentos sociais, como o de catadores. “Graças ao esforço das lideranças, vocês trouxeram dignidade ao trabalho, além da mensagem da importância da preservação ambiental.” Roseto destacou ainda que o setor de reciclagem gera R$ 24 bilhões por ano no Brasil, mas ainda apresenta um alto potencial de crescimento para os empresários que fabricam soluções para o setor. “Como uma ferramenta de inclusão do catador, a Expocatadores divulga ações de transformação social e ambiental, como acontece no Paraná, incentivada por Itaipu, e novas tecnologias na área de reciclagem, profissionalização do catador, colocando fornecedores e compradores face a face como proposição de futuros negócios.” abertura do evento o economista e professor Paul Singer; o secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, Eduardo Suplicy; a gerente do Departamento de Proteção Ambiental da Itaipu, Silvana Vitorassi, e a gerente da Divisão de Ação Ambiental, Marlene Curtis; e outras 30 lideranças locais dos 29 municípios que compõem a Bacia do Paraná 3. Participaram da Expocatadores 6 mil catadores e outros atores da cadeia produtiva dos resíduos recicláveis, além de representantes de 14 países da América Latina e Caribe. Também participaram da entrega da premiação e J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 41 CUIDADO AMBIENTAL SUSTENTABILIDADE Comunidade da Vila C faz mobilização para revitalizar Córrego Brasília Jovens atletas têm lição de cuidados com a natureza Em dezembro, estudantes puderam ver de perto como estão os trabalhos de recuperação da área: natureza em regeneração Participantes dos projetos Meninos do Lago e Velejar é Preciso receberam lições de cidadania e discutiram estratégias para proteger o meio ambiente Encontro representou um momento de reflexão com a comunidade As melhorias são significativas. O pessoal da Rua Aracaju [de acesso à área revitalizada] plantou árvores e fez até placas indicando para não jogarem lixo ali padre Ademar Oliveira Lins, da Paróquia Nossa Senhora da Luz Lucilei apresentou os resultados do trabalho sobre concentração dos coliformes fecais Estudantes de escolas públicas da Vila C e lideranças do bairro se reuniram com a equipe de educação ambiental de Itaipu para ver de perto o andamento da revitalização do Córrego Brasília. O encontro ocorreu no dia 10 de dezembro, na passarela entre a Vila C velha e a Vila C nova, região vizinha à usina de Itaipu. As obras de recuperação, feitas pela Itaipu com apoio da comunidade, foram iniciadas em 2015, mas as mudanças vão além dos serviços executados pela binacional, como a instalação de alambrado para proteção das nascentes e da construção das calçadas e da nova passarela. No encontro, os participantes puderam conferir a regeneração da natureza: a vegetação mudou, está mais vistosa, e a área, mais limpa. No início dos trabalhos, Itaipu extraiu o equivalente a 250 caminhões de lixo e entulho do local. “Percebemos a Uma das ações de sensibilização na Vila C: trabalho contínuo 42 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a Ita i p u Bi na c i onal alteração no comportamento da comunidade. Todos abraçaram esta causa”, disse o diretor do Conselho Comunitário da Vila C, José Antônio Guimarães. Na ação de dezembro, a educadora Lucilei Bodaneze Rossasi, da Divisão de Educação Ambiental, conversou com os estudantes e explicou a eles o resultado de testes de coliformes fecais colhidos a partir de amostras do córrego. O trabalho, feito pela profes- do córrego. Falta agora ampliar essa conscientização para outras regiões vizinhas e que a prefeitura execute a sua parte no projeto, com a limpeza das bocas de lobo, por exemplo. “As melhorias são significativas. O pessoal da Rua Aracaju [de acesso à área revitalizada] plantou árvores e fez até placas indicando para não jogarem lixo ali”, disse Lins. sora Regiane Castione, do Colégio Estadual Flávio Warken, comprova a melhoria: há menos concentração de coliformes fecais do que no passado. “Praticamente, todas as famílias que moravam ali lançavam os dejetos no córrego”, explicou Lucilei. A maioria dessas famílias já foi realocada. “Queremos que eles percebam essa mudança e como a preservação contribui com a comunidade.” Etapas O trabalho de educação ambiental com a população do entorno começou em 2012. Desde então, eles participaram das Oficinas do Futuro, reuniões de sensibilização e planejamento que marcam a implantação do Cultivando Água Boa. Em junho de 2014, os moradores selaram o Pacto das Águas. Em maio de 2015, foi oficializada a criação do Parque Brasília. Para o padre Ademar Oliveira Lins, da Paróquia Nossa Senhora da Luz, a vizinhança já assimilou seu compromisso de cuidar No início dos trabalhos, Itaipu extraiu 250 caminhões de lixo e entulho A comunidade espera a conclusão do asfaltamento da Rua Aracaju e a limpeza dos bueiros. A expectativa é que, ao final do processo de revitalização, seja criado o Parque Brasília, um espaço de lazer para as famílias, com pista de caminhada, bancos, ciclovia, praça e outras melhorias. N º 29 M arço 2 0 1 6 Domar o vento e a força das águas não foi o único desafio que os participantes dos projetos Meninos do Lago e Velejar É Preciso tiveram em 2015. Com o apoio da Divisão de Educação Ambiental de Itaipu, eles também receberam lições de cidadania e discutiram as melhores estratégias para proteger a natureza e viver em um mundo melhor. O trabalho envolveu os 160 participantes dos dois projetos e foi divido em quatro módulos – incluindo uma oficina de vídeo, com o tema consumo consciente, coordenada por alunos de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal da Integração Latino -Americana (Unila). O balanço das atividades no ano e a apresentação dos 13 vídeos produzidos pelos alunos foram feitos em novembro, no Ecomuseu de Itaipu. Desafiados a definir em uma palavra as principais lições que tiraram do trabalho, os jovens citaram exemplos como responsabilidade, união, conhecimento, comprometimento, superação e criatividade. “A gente achou que seria importante agregar às atividades esportivas um processo de formação relacionado à sustentabilidade, ao desenvolvimento humano e à cidadania”, explicou a coordenadora do projeto, Lucilei Rossasi. A gerente da Divisão de Educação Ambiental, Leila Alber- N º 29 M arço 2 0 1 6 ton, agradeceu a participação de todos e chamou a atenção para as mudanças que a reflexão ambiental pode trazer para as pessoas. “Temos um planeta bem pertinho de nós, que é o nosso corpo, a nossa vida. Por isso, levem essas lições para a vida de vocês”, disse. É uma iniciativa muito bonita esta de Itaipu, de educar os jovens a ter cuidado com o meio ambiente De velejador a diretor Há três anos no projeto Meninos do Lago, Jefferson André, de 15 anos, viu-se em uma situação inusitada fora da água: dirigir um pequeno documentário, a partir da oficina ministrada pelos alunos da Unila. “Foi o mais empolgante”, revelou, acrescentando outras lições aprendidas no processo: não jogar lixo na rua, reciclar de forma correta, não maltratar animais e ajudar o próximo. “É uma iniciativa muito bonita esta de Itaipu, de educar os jovens a ter cuidado com o meio ambiente”, definiu. Também com três anos de projeto, mas no Velejar É Preciso, Gislaine dos Santos disse que em 2015, com o trabalho de educação ambiental, aprendeu a olhar de forma diferente para a água, um bem essencial para a vida e para o esporte. “Na vela, não é só o vento que é importante. A água também. Temos que cuidar muito deste bem.” Um dos caçulas Velejar, Richard Gabriel Alves Stabeline, de 9 anos, relatou com orgulho o dia em que Jeferson André Na vela, não é só o vento que é importante. A água também. Temos que cuidar muito deste bem Gislaine dos Santos ficou com um papel no bolso durante todo um treinamen- to na água, até sair do barco e encontrar uma lixeira. “O professor sempre diz que não pode jogar o lixo fora da lixeira. Nunca!”, acentuou. Ação ampliada Lucilei Rossasi explicou que a primeira experiência com os jovens ocorreu em 2014, mas para apenas 40 atletas. Em 2015, a ação foi estendida para todos os integrantes dos dois projetos. A primeira atividade foi em março, com oficinas sobre prevenção de acidentes e primeiros socorros – fundamentais para quem pratica esporte; em maio, começaram as oficinas de cinema, dentro do projeto Na Curva do Rio, com alunos da Unila; em seguida, foi feito um estudo sobre consumo consciente e sustentabilidade, em parceria com o Conselho dos Municípios Lindeiros; por último, em agosto, foram organizadas visitas técnicas em cooperativas de catadores, aterro sanitário e estação de triagem de Itaipu. J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 43 CUIDADOS NOVOS MERCADOS cisterna com 500 mil litros de capacidade abastece por 138 dias uma propriedade com consumo diário de Nelton na inauguração da cisterna na propriedade de Délcia Osterkamp: abastecimento garantido 21 mil litros Pedro da Silva, presidente da Coofamel: “Teremos condições de alcançar mercados completos” Cisternas são estratégia para gestão eficiente da água Cooperativa agrofamiliar pretende triplicar produção de mel em três anos Com novos equipamentos, unidade de beneficiamento deve entrar em operação na primeira metade de 2016 Além de aproveitar a água da chuva e garantir o suprimento em épocas de escassez, as cisternas poupam as águas subterrâneas Três cisternas que fazem parte do projeto piloto “Aproveitamento de Água da Chuva em Zonas Rurais: Captação e Armazenamento” foram inauguradas em dezembro em Marechal Cândido Rondon. A instalação de cisternas é uma parceria da Prefeitura de Marechal; Programa Cultivando Água Boa; Itaipu Binacional, produtores e Copagril. O projeto é uma das principais estratégias defendidas pelo CAB para uma gestão mais eficiente da água. Além de aproveitar a água da chuva e garantir o suprimento em épocas de escassez, as cisternas poupam as águas subterrâneas. E a agricultura é a atividade humana que demanda mais água, respondendo por cerca de 70% do consumo (o uso doméstico corresponde a 8% e o industrial, a 22%). “Esta é uma iniciativa que contribui de forma significa- tiva para a preservação dos recursos hídricos. Esses produtores terão água em abundância sem depender da rede de distribuição, em boa parte do ano”, afirmou o diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu, Nelton Friedrich. Além de Friedrich, estiveram presentes à cerimônia o prefeito de Marechal Cândido Rondon, Moacir Froehlich; o presidente da Copagril, Ricardo Sílvio Chapla; e diversas lideranças da região. Jucerlei Sotoriva e Valoto, na máquina para produção de blister Água da chuva é captada dos telhados de aviários e outras estruturas Como funcionam As cisternas captam a água da chuva a partir dos telhados de aviários, chiqueiros e outras estruturas, através de calhas e tubulação. A água é direcionada a filtros de passagem, que fazem a limpeza antes de chegar às cisternas, com capacidade para armazenar 500 mil litros. prietários da região, que vivem principalmente da avicultura, suinocultura e bovinocultura de leite, a viabilidade técnica e econômica das cisternas. Na propriedade de Délcia Osterkamp, por exemplo, foram investidos R$ 38.180,27. Ali, há um plantel de 800 suínos e 15 mil aves, com um consuAs três propriedades escolhidas mo diário de 21 mil litros de para participar do projeto- piloágua. A cisterna deve garantir to contam com histórico de falta o suprimento por um terço do ano (138 dias). No caso de água: a propriedade de Délcia de Conrat, que Osterkamp, na litrabalha só com nha Ajuricaba; a suinocultura de Ademar Ho(atividade com fstetter, na linha menor consuEldorado, distrimo de água), to de São Roque; será possível e a de Heriberto contar com Conrat, em Iguiabastecimento porã. A ideia é demonstrar do consumo de água da cisterna por para outros pro- estão na agricultura 223 dias do ano. A Cooperativa Agrofamiliar Solidária dos Apicultores da Costa Oeste do Paraná (Coofamel), de Santa Helena (PR), pretende triplicar a produção de mel nos próximos três anos e abrir novos mercados para a venda do produto, especialmente o Estado de São Paulo, o maior do País. de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A estimativa foi feita, em dezembro, pelo presidente da Coofamel, Pedro da Silva, durante a cerimônia de entrega à cooperativa de um veículo (furgão isotérmico) e 22 equipamentos, totalizando investimentos de quase R$ 1 milhão. Os recursos foram viabilizados por meio de convênio firmado entre Itaipu Binacional, Fundação Parque Tecnológico Itaipu (FPTI) e Banco Nacional De acordo com Silva, a capacidade atual de produção é de até 50 toneladas/ano, mobilizando 162 produtores rurais de 21 municípios. A meta é chegar a 150 toneladas/ano em 2018. “Hoje nós temos que respeitar o limite de produção da unidade e não aceitar novos pedidos. Com esses equipamentos, poderemos aumentar a produção, abrir novos mercados e melhorar a ren- O objetivo é implantar na cooperativa uma unidade de beneficiamento de mel, que deve entrar em operação na primeira metade de 2016, com certificação pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF). da do produtor”, disse. A cerimônia de entrega dos equipamentos, na sede da Coofamel, teve a presença do diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek; do diretor de Coordenação e Meio Ambiente, Nelton Friedrich; do diretorsuperintendente da Fundação PTI, Juan Carlos Sotuyo; do prefeito de Santa Helena, Jucerlei Sotoriva; e do gerente-geral do Projeto BNDES/PTI/Itaipu, João José Passini. Entre os novos equipamentos, destaca-se uma máquina para produção de blister (pequena embalagem em formato de cartela), que pode levar de 4 a 6 gramas de mel e aumentar o valor do produto em até 150%. É o mesmo tipo de embalagem utilizado em hotéis para acomodar manteiga e geleia. tunidade de trabalho e, acima de tudo, um profundo respeito pela natureza”, disse. As embalagens hoje utilizadas pela cooperativa são de 1 quilo, meio quilo e 250 gramas. “O nosso produto já está em sete Estados, mas com mercado limitado. Com esse equipamento (o blister), teremos condições de alcançar mercados completos”, disse Silva, citando como exemplo a rede hoteleira de Foz do Iguaçu. Segundo ele, a recuperação de 1,6 mil quilômetros de matas ciliares no Lago Itaipu, entre Foz do Iguaçu e Guaíra, por meio do CAB, ajudou a trazer de volta as abelhas à região. “A abelha é um bioindicador importante. Onde tem abelha, tem vida.” Fator ambiental Jorge Samek estima que em menos de um ano a Coofamel poderá dobrar o faturamento. “A cooperativa vai aumentar o número de associados, trazendo renda, emprego, opor- 70% Água passa por filtros antes de ser armazenada na cisterna de 500 mil litros 44 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a Ita i p u Bi na c i onal N º 29 M arço 2 0 1 6 A recuperação das matas ciliares trouxe as abelhas de volta à região Cerimônia reuniu dezenas de produtores da região N º 29 M arço 2 0 1 6 Nelton Friedrich chamou a atenção para o fato de que a Coofavel tem menos de dez anos (surgiu em 2006) e, hoje, mais de 60% de todo o mel comercializado pela cooperativa vêm das abelhas que estão nas matas ciliares recuperadas por Itaipu. “É um ganha-ganha que casa o fator ambiental, social, econômico, cultural e, o mais importante, com um produto tão saudável.” Associado à Coofamel há um ano, o produtor Rafael Carvalho, de Diamante do Oeste, já planeja aumentar a produção para dar conta dos novos pedidos. “Estamos muito animados. Hoje, trabalhamos com 160 caixas [para criação de abelhas] e queremos aumentar para 250 ou 300. Vai melhorar para a cooperativa e para nós também.” J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 45 CONQUISTA PRÊMIO WATER FOR LIFE Marechal Cândido Rondon Projetos da BP3 são reconhecidos no Prêmio Gestor Público 2015 Quatro Pontes Itaipulândia Santa Terezinha de Itaipu A homenagem foi proposta pelo deputado Chico Brasileiro em reconhecimento às ações de responsabilidade social e ambiental premiadas pela ONU-Água Itaipulândia, Quatro Pontes, Marechal Cândido Rondon e Santa Terezinha de Itaipu foram os premiados 138 projetos, dos quais 22 foram premiados. Quatro projetos desenvolvidos na Bacia do Paraná 3 com o apoio do Programa Cultivando Água Boa (CAB), de Itaipu Binacional, foram contemplados na terceira edição do Prêmio Gestor Público (PGP-PR), promovido pelo Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita do Estado do Paraná (Sindafep). A premiação ocorreu em novembro, no plenário da Assembleia Legislativa do Paraná, em Curitiba. Os municípios da região contemplados foram Itaipulândia, Quatro Pontes, Marechal Cândido Rondon e Santa Terezinha de Itaipu. Ao todo, concorreram Itaipu recebe Menção Honrosa da Assembleia Legislativa do PR O tema do prêmio em 2015 foi “Meio Ambiente: Não Temos Tempo. O Futuro é Agora”. “Ao escolhermos o meio ambiente como tema destaque, várias considerações foram levadas em conta: 2015 foi o ano da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, e garantir a sustentabilidade ambiental é um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), que deveria ser atingido em 2015”, afirmou o coordenador-geral do PGP-PR, Laerzio Chiesorin Junior, em texto publicado no site do prêmio. Em entrevista publicada pelo jornal Correio do Lago, o prefeito de Itaipulândia, Miguel Bayerle, disse que este é um prêmio importante. “Quereremos dividir essa conquista com todos os envolvidos”, afirmou. O município foi premiado com o projeto “Conservação de Solos e Água”. O diretor-geral brasileiro da Itaipu, Jorge Miguel Samek, e o diretor de Coordenação e Meio Ambiente, Nelton Friedrich, receberam Menção Honrosa concedida pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná em reconhecimento pelo prêmio Water for Life (Água Fonte de Vida), concedido pela Organização das Nações Unidas (ONU-Água) à Itaipu, pelo Programa Cultivando Água Boa (CAB). A proposição foi do deputado Chico Brasileiro (PSD) e a solenidade foi realizada em dezembro. Samek explicou que o programa Cultivando Água Boa reúne diversas ações socio- ambientais focadas no binômio produzir e preservar. “São 2.380 parceiros e mais de 220 mil pessoas envolvidas na gestão integrada de bacias hidrográficas para garantir a quantidade e a qualidade das águas”, disse o diretor-geral da Itaipu, lembrando que o programa premiado beneficia uma região com aproximadamente um milhão de habitantes e 800 mil hectares de área, que engloba 29 municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná. Para o deputado Chico BrasiA proposição foi do deputado Chico Brasileiro, ao centro, entre Jorge Samek e Nelton Friedrich leiro é muito importante homenagear a Itaipu e sua iniciativa de responsabilidade social. “É uma empresa pública que mostra ser possível fazer ações para preservar o futuro na humanidade”, afirmou. Gestão compartilhada O programa é um sucesso porque conseguiu reunir diferentes segmentos sociais em prol de um bem comum – a água. Diversos parceiros, como dirigentes públicos das esferas federal, estadual e municipal, escolas de ensino fundamental e médio, instituições de ensino superior, associações e organizações representativas da sociedade civil, agricultores familiares, comunidades indígenas, pescadores, catadores de materiais recicláveis, jovens em situação social crítica e merendeiras das escolas públicas municipais participaram ativamente de todas as etapas do projeto. “Esta iniciativa pioneira resultou na criação da Rede Global de Boas Práticas da Gestão da Água, juntamente com outras 46 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a Ita i p u Bi na c i onal N º 29 M arço 2 0 1 6 N º 29 M arço 2 0 1 6 iniciativas premiadas pela ONU-Água, e que servirá de exemplo a outras comunidades de todo o mundo”, explicou Nelton Friedrich. “São ações planejadas para corrigir os passivos ambientais, alcançando mais de 1.300 km de cercas de proteção de matas ciliares, 850 km de estradas adequadas, 23 mil hectares de solos conservados, 167 poços/abastecedouros comunitários instalados, além de unidades de demonstração de tratamento de dejetos de animais para produção de energia, entre outros resultados”, afirmou. O CAB foi premiado pela ONU-Água na sede da ONU, em Nova York, em março do ano passado, durante as comemorações do Dia Mundial da Água (22). O programa recebeu o prêmio Water for Life na categoria um: melhor prática de gestão dos recursos hídricos. J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 47 debates Congresso reúne experiências para solução da crise hídrica e energética Estante Documento foi entregue ao Ministério do Meio Ambiente O Programa Cultivando Água Boa foi apresentado, em setembro, na sétima edição do Congresso Ecogerma, um dos principais eventos brasileiros na área de meio ambiente, energia e infraestrutura. Jornalismo ambiental em um mundo em transição Organizado pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK-SP), o congresso foi realizado na sede da Federação das Indústrias de São Paulo, com o tema “Impactos e Soluções da Crise Hídrica e Energética”. Congresso reúne profissionais e lideranças para debater questões relacionadas ao meio ambiente Viver em um “mundo em transição”. Este foi o tema que conduziu os debates do VI Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental (VI CBJA) realizado em São Paulo, entre os dias 20 e 22 de outubro, com organização da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental e Instituto Envolverde. Realizado a cada dois anos, o congresso é um dos principais eventos na área e reúne especialistas, pesquisadores e lideranças ligados a organizações sociais, governos, organizações sociais, empresas e academia de todo o país para um diálogo aberto sobre a cobertura ambiental realizada no Brasil e debates sobre temas ligados ao meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Em 2015, um dos temas em debate foi a cobertura jornalística sobre a complexa gestão dos recursos hídricos no Brasil. O diálogo teve a par- 48 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a ticipação do diretor de Coordenação e Meio Ambiente de Itaipu, Nelton Friedrich; Maria Zulmira, jornalista da Planetária Soluções Sustentáveis e criadora do Repórter Eco; e Cláudia Diani, assessora de Comunicação Social da Agência Nacional de Águas (ANA). Friedrich falou sobre a construção da hidrelétrica, seu impacto na região e sua transformação numa empresa cidadã a partir das ações socioambientais, desenvolvidas, principalmente, por meio do Programa Cultivando Água. Ele lembrou que o mundo mostra sinais de que é preciso mudar o paradigma de trabalho e, no caso da Itaipu, atuando na bacia do Rio Paraná e não apenas no reservatório da usina. “O ser humano consegue não olhar o que a natureza propõe”, afirmou. Friedrich lembrou que o CAB, Ita i p u Bi na c i onal hoje atuando em 297 microbacias, busca fazer conexões, não apenas entre água e energia, mas solo, cidades, produção e consumo de alimentos. Para isso, foi necessário estabelecer uma governança inovadora, a partir do trabalho local com a visão global e responsabilidade compartilhada. “Educação transformadora se faz com opinião pública e não apenas com reprodução de conteúdo. É preciso virar a página dos releases, retomar a conversação, deixar de trabalhar de forma pontual. Tecnologia não resolve tudo”, declarou. Maria Zulmira se mostrou preocupada com a abordagem do medo, adotada pela mídia tradicional para tratar de temas como mudanças climáticas. “O jornalista não tem que se preocupar muito com o que a sociedade quer ouvir. A partir do momento em que produzirmos algo re- Educação transformadora se faz com opinião pública e não apenas com reprodução de conteúdo ton Friedrich, integrou o painel “Crise Hídrica – Boas Práticas e Novas Tecnologias”. Para um público formado por empresários, representantes de órgãos públicos, especialistas, institutos de pesquisas e ONGs, Friedrich apresentou as ações desenvolvidas pelo CAB e a importância do envolvimento da comunidade. Para Cláudia Diani, a complexidade da governança da água no Brasil e a cultura da abundância são algumas das causas da desmobilização a respeito da gestão dos recursos hídricos na chamada grande mídia. O VI CBJA teve a participação de nomes de peso do jornalismo ambiental brasileiro como Paulina Chamorro, André Trigueiros e Amélia Gonzalez, entre outros. Título: Atividades em Áreas Naturais Autor: Caio Tozzi Editora: Ecofuturo Especialistas debatem os Seminário desafios da saúde ambiental Brasil-Japão O evento teve coordenação do jornalista Dal Marcondes, do portal Envolverde. “A chave para o desenvolvimento sustentável é a informação, o conhecimento, a inovação e o senso de responsabilidade que emana do conhecimento. O obscurantismo só interessa ao subdesenvolvimento e à opressão.” A Itaipu sediou o 1º Seminário Latino-americano de Saúde Ambiental, que trouxe como tema: “Saúde Ambiental: novos desafios na busca pela sustentabilidade”. O evento, organizado pela Fundação Nacional de Saúde, reuniu participantes de vários países da América Latina para a discussão de políticas públicas. O evento tratou sobre questões ambientais, sociais, econômicas e tecnológicas que implicam nas práticas do exercício do jornalismo ambiental A palestra de abertura foi feita pelo diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu, Nelton Friedrich, que defendeu a sensibilização no uso da água. O diretor apresentou o Programa Cultivando Água Boa. N º 29 M arço 2 0 1 6 O livro infanto-juvenil conta a história de Hermentito, um menino solitário e sem amigos apaixonado por expedições espaciais e por histórias em quadrinhos. A obra mistura ficção científica e fantasia e conta com ilustrações do artista plástico Sanzio Marden, além do aval do cartunista e jornalista Ziraldo, que escreveu o prefácio. Na abertura, o cônsul geral da Alemanha em São Paulo, Axel Zeidler, lembrou que Brasil e Alemanha possuem uma importante e estreita cooperação técnica e científica, possibilitando soluções tecnológicas para o setor do meio ambiente local. “Este Congresso é de suma importância para se conhecer soluções, em especial para resolvermos a questão da escassez de recursos naturais como a água.” A apresentação do CAB, feita pelo diretor de Coordenação e Meio Ambiente de Itaipu, Nel- levante, ela vai se interessar. Quando a gente se importa com o que faz, as coisas fazem mais sentido”, resumiu. Título: Tito Bang! Autor: Caio Tozzi Editora: Sesi-SP Editora N º 29 M arço 2 0 1 6 O programa, que apresenta várias vertentes, concentra parte de suas atividades em escolas na tentativa de tornar o cuidado com a água uma questão cultural. “Escolas são verdadeiras plataformas de sensibilização”, ressaltou Nelton. “Boas Práticas de Ações Socioambientais do Programa Cultivando Água Boa/Itaipu Binacional” também foi tema de uma das mesas de discussão. Os participantes abordaram a educação ambiental, o monitoramento e avaliação ambiental, mais peixes em nossas águas e plantas medicinais. O livro digital “Atividades em Áreas Naturais”, da ambientalista Rita Mendonça, oferece reflexões sobre os motivos que nos levam a cuidar e conservar a natureza. A publicação traz atividades vivenciais que estimulam o desenvolvimento da sensibilidade e que podem ser praticadas individualmente, em pequenos ou grandes grupos, amadores e profissionais. Itaipu foi sede do “3º Seminário Brasil - Japão de Manejo Ambiental Sustentável e Inovação Tecnológica”, promovido pela Associação Paranaense de Ex -Bolsistas Brasil Japão (Apaex), em parceria com a Itaipu. Além da apresentação do CAB, houve palestras sobre recursos pesqueiros; a conservação da Biodiversidade Regional; corredores da biodiversidade como estratégia de conservação. Esta é a terceira vez que Itaipu sedia o seminário. A primeira delas foi em 2008 e a segunda em 2009. Título: Gestão Sustentável na Agricultura Autor: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento A publicação reúne as melhores práticas do país, escolhidas entre 45 casos pré-selecionados de todas as regiões brasileiras. O texto sobre o programa da Itaipu está na página 121 do documento que pode ser conferido no endereço http://migre.me/sHm0e. J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 49 MEIO AMBIENTE eventos Congresso de Agroecologia reúne mais de 3 mil pessoas Um dos maiores eventos de discussão a cerca da agroecologia da América Latina, o IX Congresso Brasileiro de Agroecologia, foi realizado em Belém (PA) e teve a participação de professores, estudantes, agricultores representantes de povos indígenas e de povos e comunidades tradicionais de todo o Brasil. Visita tecnica de participantes do seminário sobre cidades resilientes ao Parque Guairacá, em Curitiba Cidades Resilientes: Carta de Curitiba aponta metas Documento foi discutido por especialistas e entregue ao Ministério do Meio Ambiente O cumprimento rigoroso das metas de redução nas emissões de gases do efeito estufa é um dos pontos de destaque da “Carta de Curitiba para as Cidades Resilientes”, resultado do 1º Seminário Cidades Resilientes, Comunidade e Clima, realizado em outubro. O evento reuniu especialistas brasileiros e estrangeiros e foi organizado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), com apoio da Itaipu. Os participantes do seminário discutiram, durante três dias, políticas e medidas relacionadas à resiliência (capacidade de absorver e se recuperar dos efeitos de um desastre e prevenir perdas) a 50 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a partir do compartilhamento de experiências, informações, novas tecnologias, dados relativos ao clima, tendências e estratégias de adaptação às mudanças climáticas. Experiências nacionais, com as de Natal, Rio Branco e Porto Alegre foram apresentadas, juntamente com cases da Itaipu e Caixa. A Carta de Curitiba para as Cidades Resilientes foi entregue ao diretor do Departamento de Licenciamento e Avaliação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente e coordenador do Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas, Pedro Christ. A redução de 43% das emissões de gases de efeito estufa até 2030 está prevista no Ita i p u Bi na c i onal INDC (Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas), que o governo brasileiro apresentou em dezembro na Conferência da ONU para a Mudança do Clima (COP-21), em Paris. A carta também solicita a expansão da energia solar térmica, fotovoltaica distribuída, biomassa e eólica; a conclusão do Plano Nacional de Adaptação às Mudanças do Clima até 2016, abrangendo a oferta de água durante os períodos de seca e estiagem em todo o país; práticas agrícolas que asseguram a resiliência às secas em todo o território nacional; conservação dos diferentes biomas; restauração e conservação das áreas de preservação. O documento sugere, ainda, o aprimoramento do mapeamento de risco associado a desastres naturais e sistemas de alertas prévios, planejamento da infraestrutura urbana e programas de habitação para a população de baixa renda visando evitar a ocupação irregular de áreas de risco. Pedro Christ disse que a carta de Curitiba e os temas debatidos durante o evento contribuiriam para a construção do Plano Nacional de Adaptação (PNA). O PNA é um instrumento elaborado pelo governo federal em colaboração com a sociedade civil, setor privado e governos estaduais com o objetivo promover a redução da vulnerabilidade nacional à mudança do clima e a gestão do risco associado a esse fenômeno. O congresso reuniu mais de 3 mil pessoas em 2 grandes conferências, 12 mesas-redondas, 10 rodas de conversas, 9 seminários e 22 oficinas, além de debates das apresentações orais ou escritas dos 165 relatos de experiências e outros 1.200 pôsteres de trabalhos acadêmicos, divididos em 42 diferentes espaços. Herborização vai ajudar conservação do acervo botânico do Ecomuseu A herborização é um instrumento para a divulgação da flora regional e serve de fonte para estudantes O processo de preparação de material vegetal coletado para posterior preservação, conhecido como herborização, vai auxiliar na conservação e recuperação do acervo botânico do Ecomuseu de Itaipu. É o que afirmou a conservadora do museu, Isabela da Costa Moreira, da Divisão de Educação Ambiental, durante o curso de herborização promovido por Itaipu e Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em dezembro, no Refúgio Biológico Bela Vista (RBV). Participaram do curso cerca de 30 pessoas. Pela Itaipu estiveram profissionais que atuam na área florestal do RBV, plantas medicinais e Ecomuseu. A iniciativa é das equipes das divisões de Áreas Protegidas, Ação Ambiental e Educação Ambiental da Itaipu, em parceria com a Unila. O Ecomuseu conta hoje com um herbário - coleção de plantas com espécies da região onde atualmente se encontra o Lago de Itaipu, recolhidas na década de 80, pelo engenheiro agrônomo Evaldo Buttura. Os materiais vegetais estão herborizados e acondicionados em pastas. Eles estão sendo recuperados e poderão ser usados para estudos em todo o País. “O acervo biológico do Ecomu- O Programa Cultivando Água Boa foi apresentado em uma oficina durante o evento, que teve como tema geral “Diversidade e Soberania na Construção do Bem Viver”. O Congresso Brasileiro de Agroecologia é realizado desde 2003 com participação ativa de instituições de ensino, pesquisa e extensão e os movimentos sociais populares, com as demandas da Agricultura Familiar, como um espaço de diálogo entre os conhecimentos científicos e práticos. Os participantes aprenderam diferentes técnicas: tudo anotado Entre os ensinamentos, a maneira correta do corte das plantas N º 29 M arço 2 0 1 6 N º 29 M arço 2 0 1 6 No curso, foram coletadas diferentes espécies da flora regional para o processo de herborização seu estava sendo perdido, mas graças ao processo de herborização os materiais passam por recuperação e serão difundidos nacionalmente”, disse Isabela. O curso, orientado por estudantes de Ciências Biológicas da Unila, foi baseado em palestras sobre técnicas de coletas de plantas, práticas de montagem de exsicatas (nome que se dá à planta herborizada e acondicionada em uma pasta ou folha de papel) e apresentação do banco de dados e do herbário da universidade. Os participantes viram na prática todo o processo de herborização, iniciado com a coleta e prensagem dos materiais. maneira de realizar o corte e o que pegar em campo”, explica. Com os materiais selecionados, os participantes iniciaram a prensagem das plantas. Os ramos, plantas e fungos foram colocados em folhas de papel absorvente. Em seguida, as plantas herborizadas foram expostas a uma fonte de calor, para a eliminação da umidade. Depois de passar por todo o processo, os materiais foram encaminhados para os herbários. O herbário é um im- portante instrumento para a divulgação da flora regional e, também, para a disseminação deste conhecimento, tanto nas estruturas educadoras da Itaipu (Ecomuseu e RBV, por exemplo) como nas da Unila. “Já existem algumas espécies no nosso herbário. Com o processo de herborização queremos eternizar nossas plantas medicinais e outras espécies de arbóreas e herbáceas, para divulgar nossas plantas da região”, disse Eduardo Ferraz Costa. Isabela e Tamiris: cuidados com o acervo do Ecomuseu Em campo, os alunos começaram o processo com a coleta, selecionando estruturas reprodutivas, com flores, frutos e sementes. Para Patrícia Weisbach, orientadora do curso, a coleta é um dos principais momentos do curso de herborização. “Geralmente o pessoal já sabe sobre o processo, mas há detalhes importantes que exigem atenção para não ter problemas na coleta, como por exemplo, a J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 51 BIODIVERSIDADE Pesquisadores fazem estudo inédito sobre o gato-do-mato Uma pesquisa inédita sobre o gato-do-mato (Leopardus tigrinus), realizada no Refúgio Biológico Bela Vista (RBV) vai levantar informações importantes sobre a espécie. Quatro professores e seis alunos do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS), de Realeza (PR), sob a coordenação de profissionais de Itaipu, analisaram quatro aspectos: protocolo anestésico, avaliação ocular, auditiva e cardíaca. Esse é o mais completo estudo feito sobre a espécie no mundo. O trabalho foi concluído com um check-up para verificar o estado de saúde do animal. Foi analisada a saúde bucal e foram coletadas amostras de sangue para verificar o funcionamento de órgãos, como rins e fígado, além de um radiograma do tórax. Em dois dias, em agosto de 2015, foram estudados 15 exemplares de gato-do-mato, todos do plantel do refúgio. O número de espécimes permite aos pesquisadores extrapolar 2 Conhecimento dados de forma estatística para toda espécie e criar parâmetros nos quatro temas estudados, que possam servir de base para futuros estudos. Nasce mais um filhote de anta A família de antas (Tapirus terrestris) do Refúgio Biológico Bela Vista (RBV) ganhou um novo integrante em outubro do ano passado. O pequeno mamífero, macho, com pelagem rajada que lembra uma melancia, nasceu com cerca de 8 quilos. Ele é filho do casal Nina e Antonello, formado na unidade de preservação. Com o filhote, o refúgio agora conta com um plantel de 52 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a nove antas – cinco machos e quatro fêmeas. “Esse trabalho de reprodução é importante porque fortalece o nosso banco de reserva genética e nos dá a possibilidade, no futuro, de repovoamento de algumas áreas”, explica o médico veterinário Zalmir Cubas, da Divisão de Áreas Protegidas. No Paraná, segundo o Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná (2004), a anta é considerada uma espéIta i p u Bi na c i onal 3 1 cie em perigo – embora exista registro de sua presença em áreas como o Parque Nacional A pesquisa é inédita. Antes dos estudos não existiam informações sobre as características dos olhos do gato-do-mato. “Fizemos uma avaliação oftalmológica completa”, explica o professor de clínica cirúrgica da UFFS, Gentil Ferreira Gonçalves. Para o médico-veterinário Zal- do Iguaçu, por exemplo. O trabalho de reprodução ajuda também na conscientização, no conhecimento da espécie e no esforço de preservação da biodiversidade na Bacia do Paraná 3, um dos eixos do Programa Cultivando Água Boa (CAB). Além disso, contribui com pesquisas científicas, como um projeto de avaliação seminal conduzido pelo professor Nei Moreira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Essa pesquisa, que é inédita no mundo com a espécie, existe graças à existência de uma população em cativeiro.” Segundo a bióloga Rosana mir Cubas, da Divisão de Áreas Protegidas, que o coordenou o trabalho, a parceria com a academia é fundamental para perpetuação do conhecimento. “Nós temos o plantel dos animais, mas não somos especialistas nestas áreas. Os alunos vão produzir artigos e trabalhos, serão eles que continuarão os estudos e o compartilhamento do conhecimento”, disse. Pinto de Almeida, desde que começaram os trabalhos de reprodução de anta, no final da década de 80, já nasceram no refúgio de Itaipu 12 animais, incluindo um caso raro de gêmeos, em 2011. Zalmir acrescenta que o período de gestação da anta é longo – 13 meses –, com geralmente apenas uma cria. Por isso, a espécie produz pouco. Ao nascer, o filhote se alimenta apenas do leite da mãe. Adulto, come frutas, folhas e grama. “É uma espécie herbívora, da ordem perissodáctila, como o rinoceronte e o cavalo, e todo ambiente arbustivo é bom para ela”, pontua. Local é considerado único no mundo na exposição de harpias e permite às aves voarem em seu interior Recinto coletivo de harpias é aberto para visitação O Refúgio Biológico Bela Vista (RBV) abriu para visitação o recinto que abriga cinco exemplares de harpias (Harpia harpyja), feito inédito na apresentação desta ave de rapina que, normalmente, é exibida em casal. O novo recinto é possível graças a uma inovação feita pelos profissionais do Programa de Reprodução de Harpias de Itaipu: a manuten- 4 ção de ninhos acompanhando todo o desenvolvimento dos filhotes e das aves jovens. “Em nossos estudos, percebemos que, mesmo depois da emancipação, a dependência dos filhotes pelos pais continua grande. Eles voltam para a casa de vez em quando e precisam de uma referência para isso”, explica o médico veteri- nário Wanderlei de Moraes, da Divisão de Áreas Protegidas. “A grande sacada do manejo das harpias, então, foi manter o ninho junto com a ave ao longo de toda sua vida.” As cinco harpias expostas são filhotes com menos de três anos de idade. Elas cresceram juntas e ainda não são territorialistas, o que torna possível a criação de todas em um mesmo recinto. “Esta convivência será importante para a criação das aves. Os filhotes mais jovens terão contato visual, auditivo e social com os irmãos mais velhos e isso contribui para seu crescimento”, afirma. A convivência de animais de diferentes idades só é possível graças ao grande plantel de harpias do RBV, que hoje conta com dez machos, dez fêmeas e três de sexo ainda não identificado. Desde 2007, N º 29 M arço 2 0 1 6 N º 29 M arço 2 0 1 6 1 Equipe: empregados de Itaipu e criadores terceirizados 2 25 aves nasceram no RBV: maior programa do mundo 3 Logo que chegaram, as aves já se adaptaram ao novo lar 4 Momento da soltura: cuidado na hora de liberar as aves já nasceram 25 aves no local, o que torna, atualmente, o Programa de Reprodução de Harpias da Itaipu o maior do mundo. “Sempre vamos ter animais em diferentes fases de desenvolvimento para colocar no novo recinto. No momento, estamos com três ovos sendo incubados por dois casais”, acrescenta Moraes. A harpia é uma das três maiores aves de rapina do planeta e existe em praticamente toda a América Latina. Ela é considerada em risco de extinção na América do Sul. Reprodução e educação De acordo com Wanderlei, o recinto foi criado para atender a duas demandas principais. A primeira era a necessidade de ter um ambiente mais espaçoso para os animais jovens poderem se exercitar. Com 534 metros quadrados de área plana e altura de centro de 10 metros, o chamado recinto voadeira é considerado único no mundo na exposição de harpias e permite às aves voarem em seu interior. A estrutura é feita com alambrados metálicos e arames. Anexa a ela, foi levantada uma edificação de alvenaria de 14 metros quadrados de área, usada como transição para as aves. No interior, o paisagismo recria o ambiente natural onde a espécie vive. Os poleiros guardam o ninho de cada animal. A construção foi feita em seis meses sob a coordenação do engenheiro Kléber da Silva e da técnica Michele Fracaro da Silva, ambos da Divisão de Infraestrutura e Manutenção. A segunda demanda era um desejo antigo das pessoas que visitam o refúgio biológico: o de apreciar este animal tão fabuloso. O novo recinto integrase, então, à trilha ecológica do RBV, espaço voltado para a educação ambiental. O zoológico é dividido em quatro setores didáticos que falam de cadeia alimentar, hábitos dos animais, tipos de ambientes e animais em extinção – este último espaço é onde estão expostas a onça-pintada e a harpia. J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 53 FAUNA Ecomuseu Símbolo do Refúgio Biológico, Juma ajudou na educação ambiental Arte sustentável em obras coloridas Obras de Luiz Carlos Nakasoni, feitas em papelão, reafirmam a necessidade de modificarmos nossa relação com o meio ambiente além de reduzir, reciclar e reutilizar o que consideramos lixo A onça-pintada morreu em janeiro, depois de 14 anos no RBV; animal contribuiu para pesquisas sobre a espécie O Refúgio Biológico Bela Vista (RBV) de Itaipu perdeu, no mês de janeiro, seu maior símbolo: a onça-pintada Juma. O animal foi fundamental para o trabalho de educação ambiental e ao turismo de Itaipu, e ainda contribuiu à pesquisa sobre a espécie, ameaçada de extinção no Paraná e em outros estados do País. A morte foi provocada por uma insuficiência renal severa, decorrente de infecção. O problema é comum em felinos idosos como Juma. Sua idade era estimada em 24 anos – idade equivalente a de uma senhora centenária, se comparada a um humano. Em cativeiro, as onças-pintadas podem chegar, no máximo, a 25 anos de idade. “Ela era uma guerreira, lutou muito antes de chegar até aqui”, disse Wanderlei de Moraes, veterinário da Divisão de Áreas Protegidas de Itaipu, que acompanhou toda a vida da onça no RBV. “Foi a perda de um ícone, de um animal emblemático para todo o trabalho que fizemos aqui em termos de fauna. Ela é o símbolo dessa nossa luta pela conservação”, disse o veterinário. A sensação é compartilhada pelo biólogo Marcos de Oliveira. “Ela foi a primeira onça-pintada que eu vi na minha vida”, contou. “Em qualquer documentário sobre a espécie, feito na onipresença das cores, a temática da reciclagem. Um leão tem como tela uma porta que seria descartada. A juba do mesmo leão é feita de crachás de eventos antigos. “Depende do material que tenho a mão e da ideia na cabeça”, explica o artista. região, ela era a representante”, afirmou Oliveira. Na Itaipu, nenhum animal foi mais fotografado do que Juma. Ela foi a primeira onça -pintada do RBV e também a primeira a ser exposta. Esta visibilidade foi um passo importante para o trabalho de educação ambiental e de conservação da onça-pintada. História Juma foi trazida à Itaipu em 2002, quando tinha 10 anos, desnutrida e muito debilitada. Ela vivia na região do Parque em papelão, as 16 obras reafirmam a necessidade de modificarmos nossa relação com o meio ambiente, além de reduzir, reciclar e reutilizar o que consideramos lixo. “Ele utiliza materiais que iriam para o aterro, mas que, com um colorido magnífico, consegue nos encantar e proteger o meio ambiente”, destacou o diretor de Coordenação e Meio Ambiente, Nelton Friedrich, na abertura da exposição. Nakasoni, além de Britto, se orientou na proposta da arte pop, moderna e cheia de cores. Um leão com cabelo rastafári ou um índio de óculos escuros e fone de ouvido interagem com uma onça e um peixe com a anatomia à mostra. A santa colorida tem destaque no meio da sala. O que une esta miscelânea colorida é, além da própria Para Nelton, outros artistas deveriam seguir a mesma linha de Nakasoni, ao cuidar da natureza utilizando a beleza. “Se aumentarmos em dois graus a temperatura, será impossível viver neste planeta. A reciclagem é uma forma de prorrogar esse aquecimento”. Luiz Carlos Nakasoni suas obras: “Faço parte da equipe do Cultivando Água Boa. Não poderia ter escolhido outro tema” Nacional do Iguaçu, mas estava sendo avistada fora dos limites do parque em busca de alimentação em propriedades vizinhas, o que causava um problema. Para sua segurança, e dos rebanhos das fazendas vizinhas, ela foi capturada e levada ao Refúgio, onde recebeu assistência completa dos biólogos, veterinários e tratadores. Quando começou a pintar, há pouco mais de um ano, seguindo as linhas conhecidas de Romero Britto, Luiz Carlos Nakasoni não imaginava que em pouco tempo já estaria em sua terceira exposição. Os quadros coloridos e cheios de camadas de Nakasoni formam a exposição “Arte sustentável: transformando o lixo”, em cartaz até setembro no Ecomuseu. A exposição, que tem curadoria de Tamiris Amâncio, lança um olhar sobre o que descartamos e como vemos o mundo em nossa volta. Feitas Depois da cerimônia de abertura, os convidados visitaram a exposição. Os estudantes se encantaram com as obras e participaram de uma roda de conversa com o artista, em uma sala do Ecomuseu. “Eles estavam muito interessados com o material que eu uso, e as minhas influências. Foi muito gratificante”, conta Nakasoni. Sonho Os quadros coloridos, feitos em papelões e cheios de camadas com uma “pegada” ecológica refle- tem a formação do artista. “Sou técnico em meio ambiente e faço parte da equipe do Cultivando Água Boa. Não poderia ter escolhido outro tema”, disse. Para Nakasoni, expor no Ecomuseu é a realização de um sonho dele próprio e da neta Giovanna, de cinco anos. “Um dia, eu e Giovanna estávamos pintando e eu perguntei: ‘onde vamos expor?’ E ela me disse: ‘no Ecomuseu’. Hoje estamos aqui”, relatou o artista. Ipea e BNDES: Novos olhares para o desenvolvimento coeso e sustentável tados nos anos 2000-2010, que identifica dois padrões no funcionamento das instituições que trabalharam com o desenvolvimento regional nesse período. CAB é considerado referência para o BNDES e Ipea O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) realizaram o seminário Novos Olhares para o Desenvolvimento Coeso e Sustentável, em que lançaram uma coleção de cinco livros sobre desenvolvimento em cinco 54 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a Ita i p u Bi na c i onal N º 29 M arço 2 0 1 6 N º 29 M arço 2 0 1 6 regiões: Norte, Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Amazônia. Entre os estudos apresentados no livro sobre o Nordeste está o artigo do técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea Aristides Monteiro, Desigualdades regionais no Brasil: notas sobre o padrão de intervenção dos Es- Primeiro, na década de 1990, há restrição na atuação governamental em relação ao desenvolvimento regional, com o Estado brasileiro diminuindo seu papel nas regiões. Já nos anos 2000 aconteceu o contrário. As capacidades governamentais foram retomadas e o Estado ressurge como grande investidor e promotor das bases do crescimento regional. Professores universitários e servidores do BNDES também contribuíram com suas experiências sobre desenvolvimento territorial. A série de estudos é resultado de debates realizados desde 2013. “Os livros representam um esforço da atual gestão do presidente Luciano Coutinho desde 2007 para que o banco ampliasse seu raio de atuação no conjunto do território brasileiro e não apenas no Sudeste, onde está o centro industrial brasileiro, como sempre fez preferencialmente”, explicou Aristides Monteiro. As novas perspectivas para o desenvolvimento brasileiro foram abordadas pelo presi- dente do Ipea, Jessé Souza, e pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, durante a abertura do evento. As regiões Sul e Sudeste foram analisadas por Nelton Miguel Friedrich, diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu Binacional, por Vanessa Petrelli, professora da UFU, e por José Eduardo Cassiolato, professor do IE/UFRJ. Já o estudo sobre Amazônia, o Nordeste e o Centro-Oeste foi apresentado por Maria Lucia Falcón, presidente do Incra e professora da UFSE, Sergio Duarte Castro, professor da PUC-GO e diretor da Agência Goiás Fomento, e Raimunda Monteiro, reitora da Ufopa. J o r n a l Cu l t i v a n d o Ág u a Bo a I t a i pu B i n a c i o n a l 55 56 J o r n a l C u l t iv a n d o Ág u a Bo a Ita i p u Bi na c i onal N º 29 M arço 2 0 1 6