Familia sepulcri-final_leitura
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2 Odílio Sepulcri Família Sepulcri FAMÍLIA SEPULCRI Da Itália para o Brasil 3 4 Odílio Sepulcri Participação especial: Eurides Sepulcri Maria Luiza de Pinho Sepulcri Maria Margarida Diniz Sepulcri Miriam Sepulcri Revisão: Maria Luiza de Pinho Sepulcri S479 Sepulcri, Odílio. Família Sepulcri: da Itália para o Brasil./ Odílio Sepulcri./ Curitiba, 2012. 122p. 1. Família Sepulcri Biografia. I. Título. CDD 929.2 (22.ed.) CDU 929 Família Sepulcri ODÍLIO SEPULCRI FAMÍLIA SEPULCRI Da Itália para o Brasil Curitiba 2012 5 6 Odílio Sepulcri Família Sepulcri 7 Com muito amor e carinho à minha família: esposa Maria Luiza, aos meus filhos Rodrigo e Leonardo, às minhas noras Anelise e Lais, aos meus netos Ana Maria e João Paulo. 8 Odílio Sepulcri Família Sepulcri 9 Aos meus irmãos: Eurides, Maurilia, Dagmar, Geraldo Luiz, Maria Margarida, Roberto e Juarez pelos momentos lindos que juntos vivemos. 10 Odílio Sepulcri Família Sepulcri 11 AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Agradecimentos especiais às pessoas que contribuíram significativamente para a realização desse livro, são elas: Agenor Martim Demoner e Elza Gomes Demoner Anastácia Rizzi Viganó e Leandro Viganó Antônio José Viganó Carlita Maria de Castro e Coelho Dalvina Denardi Demoner Délio Giostri Élcio Luiz Guarnieri Érlio Luiz Sepulcri e Eda De Bortoli Sepulcri Estevão Covre e Filinha Chiabai Covre Evilásio Taffner e Marlucia Souza Taffner Geni De Martim Andrade Gildo Muniz e Maria Paulina Demoner Muniz Gumercindo e Alcides Demoner Jair Mapeli Joaquim Cancian José Luiz Giostri Luiz Helvécio Fiorotti Luiz Pesente Miriam Sepulcri Olívia Cei de Araújo Walter Covre 12 Odílio Sepulcri Família Sepulcri 13 APRESENTAÇÃO Este livro foi escrito em homenagem ao casal Alexandre Sepulcri (1915-1983) e Fidélia Demoner Sepulcri (1915-1985). Eles sempre foram motivo de orgulho e exemplo para seus filhos. Trata-se da trajetória de suas vidas, começando desde a vinda dos primeiros imigrantes para o Brasil até a nossa época. Não há pretensão de ser algo grandioso, mas um texto simples, resgatando a história daqueles que tanto amamos. Alexandre e Bela manifestaram todo o seu amor para com os filhos e amigos. De acordo com o relato desses, seu amor era manifestado em toda a sua plenitude, em todas as dimensões: dignidade, solidariedade, servir e partilhar. Dignidade no sentido amplo de honestidade e ações corretas, baseadas na justiça e nos direitos humanos. Solidariedade nos momentos bons e ruins, especialmente na prática da justiça entre as pessoas. Servir ao próximo, preponderantemente nas dificuldades, quando as pessoas estavam doentes ou desamparadas. Partilhar com o semelhante não só bens, alimentos, mas, acima de tudo, conhecimento, experiências para o crescimento e a autonomia das pessoas, como observado no relato dos amigos. Segundo Padre Marcelo, o amor é a coisa mais bela de todas, porque o amor é ação. Alexandre e Bela dedicaram toda a sua vida à educação dos filhos com sabedoria e foram felizes na escolha. É na educação dos filhos que se revelam as virtudes dos pais. Além do legado educacional, dos princípios éticos e morais, Alexandre e Bela emanciparam todos os seus filhos do trabalho sofrido da roça pelo estudo. Maria Luiza de Pinho Sepulcri 14 Odílio Sepulcri Família Sepulcri 15 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 17 2 MOTIVOS PARA A MIGRAÇÃO ITALIANA.......................................... 19 3 FAMÍLIA SEPULCRI................................................................................... 29 3.1 Miriam Sepulcri Entrevistada em 19.05.2011...................................... 30 3.2 Pietro Sepulcri e Margarida Zanoni Sepulcri .......................................... 36 4 A ASCENDÊNCIA DE BELA DEMONER E COSER ........................... 39 4.1 Árvore Genealógica ................................................................................ 43 5 A FAMÍLIA ALEXANDRE SEPULCRI E BELA ..................................... 49 5.1 O Casamento de Alexandre e Bela.......................................................... 50 5.2 O Carro de Bois....................................................................................... 54 5.3 O Trator................................................................................................... 55 5.4 O Ford Bigode......................................................................................... 57 5.5 O Moinho de Pedra e a Roda Dágua...................................................... 58 5.6 Cinco Pontões.......................................................................................... 60 5.7 A Energia Elétrica ................................................................................... 61 5.8 O Plantio de Arroz .................................................................................. 62 5.9 A Charrete ............................................................................................... 63 5.10 A Criação de Abelhas.............................................................................. 66 5.11 Fidalgo, o Cão Amado ............................................................................ 66 5.12 O Plantio de Tomate................................................................................ 68 5.13 A Igreja de São Sebastião........................................................................ 72 5.14 A Televisão ............................................................................................. 73 5.15 A Organização da Família....................................................................... 74 16 Odílio Sepulcri 5.16 5.17 5.18 5.19 5.20 5.21 O Burro do Baiano .................................................................................. 79 As Férias na Roça.................................................................................... 80 O Carnaval de Itarana.............................................................................. 81 As Bodas de Prata ................................................................................... 82 A Herança ............................................................................................... 83 O Legado de Alexandre e Bela................................................................ 83 6 A PALAVRA DOS AMIGOS........................................................................ 91 6.1 Luiz Helvécio Fiorotti Entrevistado em 22.05.2011 ............................ 91 6.2 Estevão Covre Entrevistado em 20.05.2011......................................... 92 6.3 Joaquim Cancian Entrevistado em 21.05.2011 .................................... 93 6.4 Anastácia Rizzi Viganó Entrevistada em 21.05.2011 .......................... 94 6.5 José Luis Giostri Entrevistado em 05.09.2011..................................... 94 6.6 Délio Giostri Entrevistado em 23.05.2011 ........................................... 94 6.7 Walter Covre Entrevistado em 05.09.2011 .......................................... 96 6.8 Antonio José Viganó Entrevistado em 04.09.2011 .............................. 97 6.9 Élcio Luiz Guarnieri Entrevistado em 21.05.2011 ............................... 98 6.10 Mariquinha e Gildo Entrevistados em 20.05.2011 ............................... 99 6.11 Jair Mapeli Entrevistado em 04.09.2011............................................ 100 6.12 Evilásio Taffner Entrevistado em 21.05.2011 .................................... 100 6.13 Depoimento de Carlita Maria de Castro e Coelho................................. 101 7 RELATO SOBRE OS FILHOS DE ALEXANDRE E BELA .................. 107 7.1 Eurides Sepulcri .................................................................................... 107 7.2 Maurilia Sepulcri Gonçalves................................................................. 109 7.3 Dagmar Sepulcri.................................................................................... 110 7.4 Odílio Sepulcri ...................................................................................... 112 7.5 Geraldo Luiz Sepulcri ........................................................................... 114 7.6 Maria Margarida Sepulcri Diniz............................................................ 115 7.7 Roberto Sepulcri.................................................................................... 118 7.8 Juarez Sepulcri ...................................................................................... 119 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 121 Família Sepulcri 17 1 INTRODUÇÃO Os italianos começaram a imigrar em maior número para o Brasil a partir do ano de 1870. Foram impulsionados pelas transformações socioeconômicas ocorridas no norte da península itálica, que afetaram significativamente a propriedade da terra. Isto começou a ocorrer pouco após a unificação da Itália. No século XIX, ocorreu uma intensa explosão demográfica na Europa. O alto crescimento da população, ao lado da acelerada industrialização, afetou diretamente as oportunidades de emprego naquele continente. Estimase que, entre 1870 e 1920, em torno de 28 milhões de italianos emigraram o que corrrespondia, aproximadamente, a metade da população da Itália. Entre os destinos principais estavam diversos países da Europa, América do Norte e América do Sul. 18 Odílio Sepulcri Quadro 1: Emigração Italiana para o Brasil, 1876-1921 Regiões de procedência Vêneto Campânia Calábria Lombardia Abruzzi/Molizi Toscana Emília Romana Brasilicata Sicília Piemonte Puglia Marche Lázio Úmbria Ligúria Sardenha Total N. de imigrantes 365.710 166.080 113.155 105.973 93.020 81.056 59.877 52.888 44.390 40.336 34.833 25.074 15.982 11.818 9.328 6.113 1.243.633 Fonte: Brasil 500 anos de povoamento. IBGE. Rio de Janeiro, 2000. A maioria da imigração italiana para o Brasil se deu entre 18761920. Nesse período, emigraram para o Brasil 1,24 milhões de italianos. A maior parte para o estado de São Paulo. Várias publicações e sites abordam a grande leva de imigração italiana ocorrida a partir de 1875 para as Américas. No Brasil, a imigração concentrou-se nesse período, conforme se pode observar no quadro 1 (BRASIL 500 ANOS). Afinal, quais as razões ou que fatores levaram a população italiana a migrar para diversas regiões do mundo e, em especial, para o Brasil? 1 Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/brasil500/italianos/razaoimigitaliana.html>. Acesso em: 10 dez. 2010. Família Sepulcri 19 2 MOTIVOS PARA A MIGRAÇÃO ITALIANA Pouco antes do início da grande imigração (1870-1920), a Itália permanecia como um amontoado de pequenos Estados, alguns independentes, outros sob o domínio de outros países. Não havia, portanto, uma identificação comum integrando a população desses vários Estados. Esse movimento só se completou em 1870, com a unificação e ressurreição do espírito italiano da Antiguidade e da Renascença. Concluída a unificação, entretanto, a Itália passou por um período de muitas dificuldades, tais como derrotas na política externa, problemas econômicos (desemprego, inflação), políticos (ausência de lideranças legislativas, radicalismos) e baixa credibilidade do governo. Nesse momento, surgiu Benito Mussolini que chegou ao poder nos anos 1920 e 1930 e implantou uma política de cunho nacionalista, restaurando a credibilidade dos italianos no governo fascista2. A história mostra que a unificação da Itália foi uma das principais razões para que este grande número de italianos aportassem na América, especialmente no Brasil. Após a dissolução do Império Romano, em 476 d.C., a Itália ficou fragmentada em várias regiões, formando unidades políticas independentes. Após o Congresso de Viena, em 1815, essas regiões 2 Fascismo é uma doutrina totalitária, orbitando a extrema-direita, desenvolvida por Benito Mussolini na Itália, a partir de 1919 e durante seu governo (1922-1943 e 19431945). A palavra fascismo deriva de fascio, nome de grupos políticos ou de militância que surgiram na Itália entre fins do século XIX e começo do século XX; mas também de fasces, que nos tempos do Império Romano era um símbolo dos magistrados: um machado cujo cabo era rodeado de varas, simbolizando o poder do Estado e a unidade do povo. Os fascistas italianos também ficaram conhecidos pela expressão camisas negras, em virtude do uniforme que utilizavam (WIKIPEDIA). Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/brasil500/italianos/razaoimigitaliana.html>. Acesso em: 10 dez. 2010. 20 Odílio Sepulcri passaram a ser de domínio da Igreja Católica, Áustria e França. Os reinos e ducados das regiões da Lombardia-Veneza, Toscana, Parma, Modena e Romagna estavam sob o domínio austríaco. O reino das duas Sicílias pertencia à dinastia francesa dos Bourbon. O reino do Piemonte-Sardenha era autônomo, governado por um monarca liberal e os estados da Igreja pertenciam ao Papa. Fruto da revolução industrial, no início do século XIX, o norte da Itália passou por transformações sociais e econômicas, fazendo com que várias cidades italianas dessa região crescessem e o comércio se intensificasse3. A primeira tentativa de unificação da Itália iniciou-se em 1848, com a declaração de guerra à Áustria pelo Rei Carlos Alberto, do Reino do Piemonte-Sardenha. Vencido, o rei deixou o trono para seu filho Vítor Emanuel II, em cujo governo o movimento a favor da unificação da Itália foi liderado pelo seu primeiro-ministro, o Conde de Cavour. Após ter obtido o apoio da França, em 1859, Cavour deu início à guerra contra a dominação austríaca. Conseguiu anexar ao reino sardo-piemontês as regiões de Lombardia, Parma, Modena e Romagna. Outros grupos também lutavam pela unificação, com o objetivo de transformar o país em uma República. Mazzini e Garibaldi foram os líderes mais conhecidos desta corrente. Em 1860, Giuseppe Garibaldi alia-se a Cavour e, liderando um exército de cerca de mil voluntários, conhecidos como camisas vermelhas, ocupou o reino das Duas Sicílias, afastando do poder o representante da dinastia dos Bourbon, Francisco II. Em março de 1861, dominando quase todo o território italiano, Vítor Emanuel II foi proclamado Rei da Itália4. A Unificação Italiana ocorreu poucos anos antes da grande emigração para as Américas, especialmente para o Brasil, e não foi causa única. A Unificação acontece em 1861, mas Veneza foi anexada em 1866 e Roma em 1870. A região de Trento só foi incorporada à Itália Unificada depois da 1ª Guerra Mundial em 1919. Os Estados Pontifícios tiveram sua solução em 1929, com a assinatura do Tratado de Latrão5, no governo fas3 4 5 Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/brasil500/italianos/razaoimigitaliana.html>. Acesso em: 10 dez. 2010. Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em: 10 nov. 2010. O Tratado de Latrão, tratado de Santa Sé, tratado de Roma-Santa Sé é um dos pactos letaranenses de 1929 feito entre o Reino da Itália e a Santa Sé, ratificado em 07.06.1929, dando fim à Fronteira Ferroviária. Os pactos consistiam em três documentos: 1. Um tratado político reconhecendo a total soberania da Santa Sé no estado da Cidade do Vaticano, doravante estabelecida. 2. Uma concordata regulando a posição da Igreja Família Sepulcri 21 cista. Por isso, a capital do Reino da Itália de 1861-1866 foi Turim, depois Florença (1866-1870) e, só após esse período, Roma. Ainda nos anos 1860 do século XIX, antes de concluída a unificação, a inibição das alfândegas regionais, a oferta de produtos industriais a baixos preços e o desenvolvimento das comunicações haviam impactado negativamente a produção artesanal. Isto atingiu os pequenos agricultores, que complementavam as suas rendas com o artesanato familiar ou o trabalho em indústrias artesanais no campo. A unificação alfandegária incutiu a toda Itália o sistema alfandegário da Sardenha, que tinha as taxas mais reduzidas, e fez com que as economias regionais, que eram mais ou menos fechadas e equilibradas, sofressem uma acentuada queda. A evolução econômica do Norte, que se industrializou mais cedo, e do sul, predominantemente agrícola, agravou o quadro econômico do país6. O governo italiano imprimiu medidas impopulares, cuja finalidade era obter recursos para a realização de obras públicas. Em decorrência, criou o imposto sobre a farinha, que atingia em cheio a classe mais pobre. Contudo, a unificação política e aduaneira impulsionou a industrialização, intensificada no período de 1880-1890. O Estado reservou a produção de ferro e aço para a indústria nacional, favorecendo a criação da siderurgia moderna que se concentrava ao norte e era protegida pelo Estado. Mas sua produção não era suficiente, o que passou a exigir importações. A indústria mecânica cresceu mais depressa, especialmente as de construção naval e ferroviária, máquinas têxteis e principalmente motores e turbinas. A partir de 1905, a indústria automobilística de Turim conseguiu excelentes resultados. O problema mais grave estava na concentração do processo de crescimento no norte, enquanto o sul permanecia agrário. Esta situação econômica fez com que houvesse uma crise na Itália durante o período final do século XIX. Com o desenvolvimento da industrialização no norte, essa região foi a primeira área a ser atingida, deixando os agricultores que complementavam sua renda com o trabalho artesanal sem emprego e sem ter mercado para seus produtos. Por esse motivo, o norte da Itália forneceria os primeiros grandes números de emigrantes e o sul só viveria esse processo mais tarde, principalmente a partir do início do século XX7. 6 7 Católica e a religião católica no Estado italiano. 3. Uma convenção financeira acordando a liquidação definitiva das reivindicações da Santa Sé por suas perdas territoriais e de propriedade (WIKIPEDIA). Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em: 10 nov. 2010. Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana). Acesso em: 10 nov. 2010. 22 Odílio Sepulcri Figura 1: Mapa da Itália com o Número de Emigrantes para o Brasil, 1870-1920 Fonte: Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro. IBGE, 20008. O modelo administrativo de Savóia também provocou, com o tempo, o agravamento das diferenças já existentes entre as regiões da Itália, criando as condições para um grande movimento migratório de classes rurais para os países das duas Américas entre o fim do século XIX e o início do século XX, quando vários milhões de italianos emigraram. A emigração era uma das poucas saídas dos Italianos, na época, diante do desemprego e a miséria. As colônias agrícolas existentes no Brasil eram o grande atrativo para os italianos famintos, sem emprego, sem lar. A igreja incentivava seus fiéis a conhecerem a nova terra, a esperança. Em 1902, por meio do decreto 8 Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/brasil500/italianos/regorigem.html>. Acesso em: 30 nov. 2010. Família Sepulcri 23 Prinetti9, que refletia o debate provocado pela migração, foi proibida pelo Comissariado Geral da Emigração na Itália a emigração subvencionada para o Brasil10. Um grande grupo de imigrantes italianos desembarcou nos Estados Unidos, Argentina, Uruguai e especialmente no Brasil, cujos destinos seriam as fazendas de plantação de café no interior de São Paulo com o recebimento de lotes de terra e fundação de colônias no Sul, construção de ferrovias e colônias agrícolas em outros estados, sem contar que entre os imigrantes, a maioria sem instrução, também havia artistas, engenheiros, arquitetos. A imigração italiana é um capítulo da história rico em experiências sofridas, ao mesmo tempo escasso em informações legadas aos descendentes. Os navios que chegavam aos principais portos (Vitória, Rio de Janeiro, Santos e Rio Grande do Sul), por exemplo, não forneciam em suas listagens as cidades de origem. Para os italianos, não importava muito deixar isto registrado, como um legado para gerações futuras. Eles estavam começando a construir um novo Brasil, no processo de substituição do trabalho escravo dos negros pelo trabalho livre do europeu11. Com a lei de terras12 de 1850, cessou a distribuição gratuita de lotes para os imigrantes, despertando interesse da iniciativa privada. Isso fez com que, ao lado das colônias imperiais e provinciais, surgissem colônias particulares, como as de Conde d Eu e Dona Isabel, na região onde atualmente estão localizados, os municípios de Garibaldi e Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul. Essas colônias foram criadas em 1870, antes da imigração italiana no estado e com o objetivo de que quarenta mil colonos italianos fossem contratados num prazo de dez anos para ali se estabelecerem e aumentarem a produção agrícola da região. A prevenção generalizada contra o Brasil por parte da Europa, pois este era visto como um país onde imigrantes 9 10 11 12 Em 1902, o decreto Prinetti proibiu a emigração subvencionada para o Brasil, aprovado pelo Comissariado Geral da Emigração na Itália (WIKIPEDIA). Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em: 10 nov. 2010. Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em: 10 nov. 2010. No Brasil, a Lei de Terras (Lei 601 de 18.09.1850) foi uma das primeiras leis brasileiras, após a independência do Brasil, a dispor sobre normas do direito agrário brasileiro. Trata-se de legislação específica para a questão fundiária. Esta lei estabelecia a compra como a única forma de acesso à terra e abolia, em definitivo, o regime de sesmarias. Junto com o código comercial, é a lei mais antiga ainda em vigor no Brasil. A Lei de terras teve origem em um projeto de lei apresentado ao Conselho de Estado do Império Colonial, em 1843, por Bernardo Pereira de Vasconcelos. A lei de terras foi regulamentada, em 30.01.1854, pelo Decreto Imperial 1.318 (WIKIPEDIA). 24 Odílio Sepulcri sofriam provações, bem como o custo do transporte dos imigrantes até as colônias, fizeram com que apenas um número menor de colonos italianos fossem realmente assentados13. Foi a partir de 1875, sob a administração da União, que chegaram os primeiros italianos para trabalhar para Conde DEu e Dona Isabel. Esses primeiros italianos vieram das regiões do Piemonte e Lombardia e, depois, do Vêneto. Quando começou a emigração do Sul da Itália, em 1901, as terras disponíveis já estavam quase que totalmente ocupadas e, por isso, no Rio Grande do Sul predominaram os italianos vindos do norte. Os navios com imigrantes italianos atracavam no Rio de Janeiro, na Ilha das Flores, para que estes permanecessem de quarentena. A soberana Maria Teresa Cristina de Bourbon, natural de Nápoles, esposa do Imperador D. Pedro II, estimulou a vinda de imigrantes ligados ao comércio e às artes14. Além de São Paulo e estados do sul do país, receberam imigrantes italianos também Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e algumas cidades do norte e nordeste. Os italianos contribuíram muito para o crescimento e engrandecimento do Brasil15. Pela análise da história do Brasil durante o século XIX, é possível compreender a imigração italiana no Brasil. Na primeira metade deste século, a Grã-Bretanha, pressionou nosso país para acabar com o tráfico negreiro que supria as necessidades de mão de obra com a importação de escravos da África. A Lei Eusébio de Queirós proibiu o tráfico negreiro em 1850 e, a partir deste momento, começou a falta de mão de obra nas regiões em que se expandia a cultura cafeeira. Isso, em parte, foi resolvido com a transferência de escravos da Região Nordeste. Um grupo de fazendeiros do Oeste Paulista, nesse período, pressionado pela falta de mão de obra escrava, defendeu o uso da mão de obra livre nas plantações de café, divergindo-se politicamente dos fazendeiros do Vale do Paraíba, donos de grandes grupos de escravos. O Brasil, nessa época, passou por um período de grande discussão de ideias abolicionistas. Novas leis, como a Lei do Ventre Livre16 (1871) e a Lei dos Sexagenários (1885), anunciavam o fim próximo da escravidão. Com o pas13 14 15 16 Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em: 10 nov. 2010. Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em: 10 nov. 2010. Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em: 10 nov. 2010. A Lei do Ventre Livre concedeu liberdade aos escravos nascidos no Brasil após a data de promulgação da mesma. Representou mais um passo na escalada ruma à libertação de todos os negros utilizados como mão de obra escrava no país (WIKIPEDIA). Família Sepulcri 25 sar do tempo, a população escrava envelhecia sem que a reprodução natural da população fosse suficiente para suprir a necessidade de mão de obra nas lavouras que se expandiam ou para colonizar as terras ainda inexploradas no sul do Brasil. O auxílio em dinheiro para a compra de passagens de imigrantes e para sua instalação inicial no país, servia para alojamento e facilitava a imigração. Isso foi aprovado em 1871, logo após a Lei do Ventre Livre e foi, inicialmente, uma iniciativa de fazendeiros. Com o tempo, entretanto, a participação destes foi sendo transferida, cada vez mais, para os governos, provincial e imperial, até 1889, e, posteriormente, para o governo brasileiro. A imigração subvencionada se estendeu de 1870-1930 e visava estimular a vinda de imigrantes. Os imigrantes se comprometiam com contratos, não só do local para onde se dirigiam, como também das condições de trabalho a que se submeteriam. Isso motivava a vinda de famílias, e não de indivíduos isolados. Chegavam famílias numerosas e integradas por homens, mulheres e crianças de mais de uma geração. As ideias do darwinismo social e a eugenia racial, no final do século XIX e início do século XX, tiveram grande prestígio no pensamento científico mundial. Com a divulgação e aceitação dessas ideias pela comunidade científica, a massa crítica social e política passou a considerar que os brasileiros eram incapazes de desenvolver o país por serem maioria de negros e mestiços. A imigração passou, por conseguinte, a ser planejada não apenas com o propósito de suprir a mão de obra necessária ou de colonizar territórios pouco ocupados, mas também para branquear a população brasileira. Com essa teoria, negros e mestiços iriam paulatinamente desaparecer da população brasileira por meio da miscigenação com as populações de imigrantes europeus. Com isso, o imigrante italiano era considerado um dos melhores, pois além de ser branco, também era católico. Consequentemente, sua assimilação seria fácil na sociedade brasileira e ele colaboraria para o branqueamento da população. Não somente o Brasil, que implantou políticas de imigração que privilegiavam os grupos de imigrantes conforme as características racias ou religiosas desejadas, vários países do mundo preferiam até mesmo o imigrante do norte da Europa em vez dos que vinham do sul17. Para Grosselli, a Expedição de Pietro Tabachi foi o primeiro caso de imigração em massa da região norte da Itália para o Brasil. A colônia, criada no Espírito Santo pelo Governo Brasileiro, chamava-se Nova Trento, sendo a primeira, de pelo menos três, fundadas pelos trentinos no Brasil. 17 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Imigra%C3%A7%C3%A3o_italiana_no_ Brasil#A_influ.C3.AAncia_italiana_no_Brasil_e_seus_descendentes>. Acesso em: 08 nov. 2010. 26 Odílio Sepulcri Pode-se afirmar que Santa Cruz foi o berço da imigração italiana no Brasil, em 03 de janeiro de 1874. Na sequência, diversas expedições ocorreram. Atualmente o estado do Espírito Santo abriga uma das maiores populações de descendentes italianos, não em número, mas em percentual da população. Em 20.07.1895, o Governo Italiano proibiu a emigração para o Espírito Santo. Esta medida foi em consequência do relatório enviado pelo Cônsul da Itália nesse Estado, apontando as dificuldades que o imigrante era obrigado a suportar, tais como: má alimentação, abusos da polícia e justiça incerta, insalubridade do clima, deficiência de serviços médicos e escolares, demora excessiva na medição dos lotes e divisão de terras18. Por volta de 1900, aparecem na imprensa italiana notícias de péssimas condições de vida de emigrantes italianos que não podiam abandonar as fazendas de café onde trabalhavam, pois tinham dívidas, principalmente relativas ao pagamento dos custos de suas viagens. Isto fez com que, em 1902, o governo da Itália emitisse o decreto Prinetti proibindo a imigração subsidiada de cidadãos italianos para o Brasil. O fluxo de imigrantes diminuiu acentuadamente, uma vez que, a partir de então, cada cidadão italiano que quisesse emigrar para o Brasil deveria ter dinheiro para pagar a própria passagem. Foto 1: Memorial do Imigrante, Antiga Hospedaria dos Imigrantes São Paulo Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ficheiro: Memorial_do_imigrante.jpg>. Acesso em: 08 nov. 2010. 18 Disponível em: <http://spazioinwind.libero.it/coradellofamilies/storia/emigraz2.html>. Acesso em: 28 dez. 2010. Família Sepulcri 27 A língua italiana foi proibida no Brasil na década de 1930 pelo presidente Getúlio Vargas, após declarar guerra contra a Itália. Qualquer manifestação da cultura italiana no Brasil era crime. Isso contribuiu bastante para que o idioma italiano fosse pouco desenvolvido entre os seus descendentes19. A imigração italiana para o Brasil foi um dos maiores fenômenos imigratórios já ocorridos. À medida que o número de imigrantes e seus descendentes ia crescendo, o Brasil modificava os seus costumes, assim como os imigrantes se modificavam. Verifica-se que a influência italiana no Brasil não ocorreu de forma uniforme. No Sul e Sudeste do País a comunidade italiana era forte e, em certas localidades, chegou a representar a maioria da população; noutras regiões do país, a presença italiana foi quase nula. Das inúmeras contribuições dos italianos para o Brasil e sua cultura, destacam-se: Introdução de elementos tipicamente italianos no catolicismo de algumas regiões do Brasil (festas, santos de devoção, práticas religiosas). Vários pratos que foram incorporados à alimentação brasileira, como o hábito de comer panetone no Natal e comer pizza e espaguete frequentemente (principalmente no Sudeste), além da popular polenta frita. A infuência no sotaque dos brasileiros (principalmente na cidade de São Paulo, o sotaque paulistano), na serra gaúcha, no sul catarinense e no interior do Espírito Santo. Novas técnicas agrícolas foram introduzidas (Minas Gerais, São Paulo e no Sul). A criação do time de futebol Palestra Itália em 1914, para aproximar e unificar os imigrantes italianos da cidade de São Paulo. Durante a segunda guerra mundial, o time foi forçado a mudar o nome para Sociedade Esportiva Palmeiras sob ameaça do clube perder o seu patrimônio físico. Isso ocorreu por imposição da ditadura Vargas após declarar guerra contra a Itália, sendo criminalizada no Brasil qualquer manifestação cultural italiana20. A população de novos imigrantes italianos no Brasil atualmente é mínima. A maior parte são idosos, visto que as últimas concentrações de imigrantes chegaram nos anos de 1950. O número de italianos residentes no 19 20 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ficheiro>. Acesso em: 08 nov. 2010. Disponível em: <http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20070610114047AA2bIGo>. Acesso em: 03 mar. 2012. 28 Odílio Sepulcri Brasil ultrapassava meio milhão de pessoas em 1920, caindo para apenas pouco mais de 40 mil em 2000. Em 2003, segundo a Aire (lAnagrafi degli italiani residenti allestero) havia no Brasil 162.225 cidadãos italianos e, segundo os Anagrafi consolari del Ministero degli Esteri, há 284.136 cidadãos italianos no país. A maioria destes são cidadãos ítalo-brasileiros, visto que a Itália garante a cidadania italiana para os descendentes. De acordo com as leis italianas, não há diferença jurídica entre um italiano nascido na Itália ou no estrangeiro. Em São Paulo, estão inscritos no Consulado 154.546 cidadãos italianos, no Rio de Janeiro 38.736, em Porto Alegre 37.278, em Curitiba 30.987 e em Belo Horizonte 13.76921. O Brasil possui a maior população italiana fora da Itália. Não se tem o número exato, uma vez que os censos nacionais não questionam a ancestralidade do povo brasileiro. Entretanto, as estimativas oscilam entre 23 a 25 milhões os brasileiros com algum grau de ascendência italiana, representando cerca de 15% da população brasileira22. Os italianos estão integrados e sedimentados dentro da sociedade brasileira. Seus descendentes figuram nos mais diversos setores da sociedade brasileira. Conforme pesquisa de 2001, das 10.641 empresas industriais do Rio Grande do Sul, 42% estavam nas mãos de brasileiros de origem italiana. Certas localidades do Brasil meridional e do Sudeste têm uma clara maioria de brasileiros de origem italiana. Este fato é mais evidente em localidades rurais do Sul do Brasil, tomando por exemplo municípios como Nova Veneza, onde os de origem italiana somam 95% da população local. Mesmo nas grandes metrópoles a presença da coletividade italiana é enorme: São Paulo possui 60% da população com ascendência italiana e, Belo Horizonte com 2,5 milhões de moradores tem 30% de descendentes23. Nas eleições italianas de 2006, os italianos residentes no estrangeiro puderam participar. No Brasil, 62.599 cidadãos italianos votaram24. 21 22 23 24 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/imigra%>. Acesso em: 08 nov. 2010. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/imigra%>. Acesso em: 08 nov. 2010. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/viki/imigra%>. Acesso em: 08 nov. 2010. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/viki/imigra%>. Acesso em: 08 nov. 2010. Família Sepulcri 29 3 FAMÍLIA SEPULCRI Antônio Sepulcri e Constantina Perusini viveram em Bagnária Arsa, região nordeste da Itália. É uma comuna Italiana da região do Friuli-Venezia Giulia, província de Udine, com cerca de 3.470 habitantes. Estende-se por uma área de 19 km², tendo uma densidade populacional de 183 hab/km². Faz fronteira com Aiello del Friuli, Cervignano del Friuli, Gonars, Palmanova, Torviscosa, Visco (WIKIPÉDIA). Lá, Antônio e Constantina tiveram cinco filhos: Luigi (1871-1921), Pietro (1874-1960), Leonardo, Henrico e Remígio. Dos cinco filhos, três vieram para o Brasil: Luigi, Pietro e Remígio. Observe, a seguir, o relato de Miriam Sepulcri, filha de Érlio Luiz e Eda, neta de Amaro, bisneta de Luigi e tataraneta de Antônio Sepulcri. Foto 2: Antônio Sepulcri Fonte: Foto do acervo da família. 30 3.1 Odílio Sepulcri MIRIAM SEPULCRI ENTREVISTADA EM 19.05.2011 A primeira referência que Miriam teve de ligação com a família Sepulcri na Itália foi em 1987, através de Walter Sepulcri, filho de Leonardo, em Roma. Sabia falar poucas palavras em Italiano, o que dificultou um pouco a comunicação. Miriam fez uma ligação telefônica do hotel para a casa de Walter e falou com o seu filho Roberto. Ela nem sabia que ele tinha filho, disse que se chamava Miriam Sepulcri, do Brasil, sobrinha da Iolanda, que estava em Roma e gostaria de vê-lo. Percebendo que ele não havia entendido direito, no outro dia pediu para a guia de turismo, que já havia morado no Brasil e que falava bem as duas línguas, para ligar para o Walter e fornecer o endereço do hotel. Imediatamente, ele foi ao hotel onde estavam hospedados, sendo esse o primeiro contato. Foto 3: 1º Encontro de Miriam com Walter Roma, 1987 Fonte: Foto do acervo da família. Walter e Miriam foram para Campolonghetto, pequena vila. No caminho pararam para almoçar e pegaram um mapa rodoviário da Itália, que presenteou a Odílio. Próximo a esta vila está a pequena cidade de Monfalconi, onde se encontra o estaleiro com o mesmo nome desta e onde Família Sepulcri 31 trabalharam até se aposentarem os filhos de Nello, irmão de Walter, Nello Gianfranco e Ivano. Por sua vez, Nello e Walter eram os filhos de Leonardo. Nello também tinha uma filha chamada Daniela. Os dois filhos homens ainda moram lá. Foto 4: Em pé: Loreta, Daniela, Ivano, Nara e Walter Sentados: Alexia, Nello, Federica, Lina e Miriam 1987 Fonte: Foto do acervo da família. Posteriormente, em 1988, Walter, juntamente com sua filha Stefania, esteve em Vitória, na casa de Miriam e visitaram alguns parentes. Foi promovido um encontro de confraternização com todos os descendentes de Antônio Sepulcri. Quando Miriam voltou dessa viagem, foi para Itarana com o intuito de falar com os mais velhos, para resgatar a história da família. Sentou com sua tia Iolanda Sepulcri e pegou algumas informações, o mesmo fez com o Sr. Chiquinho de Martim, no Triunfo. Aí, ficou atrás de informações, procurando os mais velhos de Itarana e que conheceram seu avô Amaro (Mário) e bisavô Luigi, que haviam vindo da Itália. Érlio (Élvio), seu pai, contou alguma coisa de Luigi. Foi anotando tudo e fez um pequeno rascunho no caderno das famílias Sepulcri, Rabi, De Bortoli e Pesente que foram os seus quatro avós. Assim, há algumas informações com relação à família Sepulcri que são mais do lado de Luigi. Vieram da Itália Luigi, Pietro e Remígio. Remígio 32 Odílio Sepulcri ficou pouco tempo no Brasil. Trabalhou um pouco e retornou à Itália. Lá se casou e não teve filhos, porém adotou dois. Foto 5: Luigi e Luiza Fonte: Foto do acervo da família. Os parentes Sepulcri entraram no Brasil por Minas Gerais, e não por Vitória. Luigi nasceu em 11.09.1871 em Campolonghetto, Udine, Itália, e faleceu em 11.09.1921, em Itarana, na época, denominada Figueira de Santa Joana. Eram filhos de Antonio Sepulcri e Constantina Perusini. Luigi se casou em Udine, Campolonghetto. Em 1895, chegando ao Brasil, seguiu para Três Corações, perto de Juiz de Fora, MG, porque não tinha destino certo. Lá nasceu o filho Amaro, em 16.07.1896. Ele trabalhava durante o dia nos cafezais e, à noite, costurava em uma pequena máquina de costura manual que havia trazido da Itália. Foto 6: Eva e Amaro Fonte: Foto do acervo da família. Família Sepulcri 33 Depois mudaram para o Espírito Santo, no Limoeiro, perto de Figueira de Santa Joana, para a fazenda do Sr. Davi Frizeira, porque souberam que nessa região já havia uma colônia italiana. No Limoeiro nasceram os filhos Antônio, mais conhecido como Alci, Irene e Iolanda. O trabalho era no mesmo sistema anterior, cafezal durante o dia e, à noite, costura. Mais ou menos em 1906, foram para Figueira de Santa Joana Itarana, porque lá havia mais condições para a sua profissão de alfaiate e abriu uma alfaiataria. Foram morar na casa da família Colnago, na Rua de Baixo. Foi o primeiro alfaiate da cidade, ajudado pelos filhos, pela mulher Luiza que costurava as calças para os homens. Fez o uniforme da primeira Banda de Música, organizada por ele. Foto 7: Homenagem dos Parentes a Walter Sepulcri 1988 (Em pé: Doralice, Guerino, Iolanda, Walter, Luiz, Eda e Eurides Colnago. Abaixados: Hélio, Eurides, Hérlio, Margarida, Stefania, Mariazinha, Neném e Aida) Fonte: Foto do acervo da família. Em 1910, retornou para a Itália com toda a família. Antes, ele já havia ido sozinho e achou que as condições de vida lá haviam melhorado. Na Itália, foi morar na mesma cidade de onde veio e foi trabalhar junto com o pai como alfaiate. Os filhos Amaro e Antônio ajudavam fazendo a entrega das costuras de bicicleta. Lá moraram por cerca de dois anos. Em 1913 voltaram para o Brasil por causa da guerra. Saíram, inclusive, meio fugidos pela Áustria. Ficaram cerca de quarenta dias no mar devido a muitos problemas no navio, segundo Iolanda. Voltou para Itarana e novamente foi morar na casa dos Colnago, próximo de onde mora atualmente Vito Piasentini. Ali era um casarão só. Após o retorno continuou com a alfaiataria e, em 1914-1915, 34 Odílio Sepulcri tinha a tarefa de apagar e acender os lampiões da rua que existiam na época para iluminar a cidade. Foi, também, subdelegado de Itarana e tomou conta dos correios. Alugou por um tempo um casarão grande da família De Martim e organizou um hotel. Ele sentia necessidade de estar no meio de gente, das pessoas, porque o convívio na Itália era outro. A casa tinha quatorze quartos, duas salas grandes, cozinha e local para banho. Depois mandou construir uma casa grande para a sua família que hoje é da família do João Bento. Ali funcionavam a alfaiataria e pensão, com refeições para viajantes e hóspedes. O padre Paulo de Afonso Cláudio e outros moraram lá com ele. Morreu de pneumonia dupla sonhando em voltar para a Itália definitivamente. Foto 8: Érlio, Walter, Eda e Doralice Fonte: Foto do acervo da família. Quando Luigi morreu, Amaro (1896-1967), por ser o filho mais velho e sua mãe ainda estar viva, continuou morando com ela e levando os negócios adiante. Em 29.09.1917, Amaro Sepulcri casou-se com Eva Pesente. Tiveram os filhos: Celina, Leandro, Doralice, Olga, Érlio Luiz e Aluízio. Luiza faleceu em 06.01.1960 e Amaro em 05.05.1967. Amaro era pedreiro e construiu o Ginásio de Itarana. Foi Presidente da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG), onde Colnago era secretário e Wagner Araújo diretor. Amaro ajudou a construir a Igreja Matriz de Itarana, onde colocou o para-raios e o anjo. Em Itarana e entorno existem mais de cinquenta casas e prédios que foram construídos por ele. Família Sepulcri 35 Foto 9: Odílio e Maria Luiza Roma, 2005 Fonte: Foto do acervo da família. Em 2004 e 2009, Odílio e Maria Luiza Sepulcri estiveram em Roma e visitaram Walter e Úrsula, sua segunda esposa. Conheceram também os filhos de Walter: Roberto e Stefania. Passaram o dia juntos e foram almoçar no restaurante onde Úrsula e Walter se encontraram pela primeira vez. À noite visitaram os filhos e os netos deles. Walter faleceu em 20 de maio de 2010, em Roma. Foto 10: Maria Luiza, Walter e Odílio Roma, 2009 Fonte: Foto do acervo da família. 36 3.2 Odílio Sepulcri PIETRO SEPULCRI E MARGARIDA ZANONI SEPULCRI Pietro Sepulcri nasceu em Bagnária Arsa, Região de Friuli, Província de Udine, na Itália, em 08.05.1874. Veio para o Brasil em 1886, com 12 anos e depois em 1921 visitou a Itália e, lá, viu a morte de sua mãe, Constantina Perusini, segundo Iolanda Sepulcri. Pietro se casou com Margarida Zanoni em 23 de outubro de 1900. Tiveram nove filhos: Guerino, Remígio, Luiz, Frederica, Alexandre, Henrique, Tereza, Antônio e Maria (Neném). Pietro e Margarida, após o casamento, foram morar na propriedade de Joanim Scárdua, no Limoeiro, próximo à Figueira de Santa Joana. Trabalhava na lavoura de café; também havia dois moinhos de fubá e cultivava melancia e amendoim. Nos finais de semana sua casa ficava cheia de parentes e amigos que lá iam para desfrutar dessas delícias, conta Érlio. Segundo Érlio Sepulcri, Pietro mudou-se com a família de Limoeiro para Triunfo, município de Itaguaçu, na propriedade de Quintino Marreco. Continuou seu trabalho na lavoura de café e também produzia milho, feijão, melão e mamão. No Triunfo, terminou de criar os seus filhos. Depois, mudou-se para Itarana, onde comprou um terreno situado na Rua do Triunfo, onde faleceu sua esposa Margarida em 10.02.1945, aos sessenta anos. Católico, muito devoto e, segundo Oliva Cei de Araújo, aos domingos, quando havia procissão, ele era o responsável por conduzir a Cruz à frente da mesma e não dava moleza para a criançada, era disciplinador. Foto 11: Pietro Sepulcri e Margarida Fonte: Foto do acervo da família. Família Sepulcri 37 Depois da morte de Margarida, continuou morando por algum tempo no mesmo local e, posteriormente, foi morar juntamente com o seu filho Remígio no Bom Destino. Miriam relata que, do Bom Destino, lembra-se do terreiro de secar café, da roda dágua, do moinho de pedra e do engenho de moer cana-de-açúcar. No Bom Destino, para angariar alguns trocados, Pietro fazia artesanato de madeira, pequenos serviços de marcenaria e ajudava Remígio e Alexandre na manutenção do moinho de pedra. Quando Pietro ia visitar a família de Alexandre e Bela, já bem velhinho, aos domingos, não tinha paciência de esperar os demais para ir para Itarana de charrete. Ele levantava cedo e ia a pé para a casa de Amaro Sepulcri, seu sobrinho. Alexandre, para não deixá-lo ir sozinho, pedia para Odílio acompanhá-lo. Após ir à missa, passava o domingo na casa de Amaro e de Iolanda, irmã de Amaro. Foto 12: Guerino, Walter e Luiz Sepulcri Fonte: Foto do acervo da família. Pietro faleceu em 22 de maio de 1960, aos 86 anos. No momento de seu falecimento estavam presentes, além da família de Remígio, Alexandre, Bela e Odílio. Alexandre imediatamente encarregou Odílio de ir até Itarana, de charrete, para avisar a seus sobrinhos Amaro e Iolanda e solicitar para tocar o sino da Igreja Matriz em anúncio de sua morte. Pietro e Margarida encontram-se sepultados no Cemitério de Itarana. 38 Odílio Sepulcri Família Sepulcri 39 4 A ASCENDÊNCIA DE BELA DEMONER E COSER Giovanni Luigi De Muner e Maria Teresa Dal Piva, nascidos na Itália, eram pais de Ágata, Domenica, Moisé Natale, Amabile, Fiorinda, Guerino e Maria Catarina. Eugênio Coser e Fortunata Friz eram pais de Maria Coser. Maria nasceu em Trento Itália e veio para o Brasil com nove anos de idade. Guerino Demoner e Maria Coser se casaram em 10 de junho de 1908, em Bom Destino. Lá, constituíram a sua família e tiveram quatorze filhos, a saber: Henrique Antônio, Sabina, Geraldo, Darcisa, Fidélia (Bela), Hermínia (Arleta), Varcelino (Nego), Antenor, Geraldino, Gumercindo, Agenor, Maria Paulina (Mariquinha), Claudina e José Maria. Foto 13: Giovanni Luigi de Muner e Maria Teresa dal Piva Guerino, além de agricultor, tocava bandoneón (concertina) e seu filho caçula, José Maria, aprendeu com ele. 40 Odílio Sepulcri Foto 14: Guerino Demoner e Maria Fonte: Foto do acervo da família. Conforme o relato de Dalvina, Guerino fumava cachimbo e gostava de uns goles. Quando ia para a cidade de Itarana, montado em uma mula que fazia as paradas nos botecos, pois já estava acostumada com o caminho, quase sempre voltava embriagado e, às vezes, era até um pouco agressivo. Todos os dias, após o almoço, comia um prato de polenta com leite sempre preparado por Dalvina, sua nora. Dalvina afirma que Maria era muito religiosa, estava em constante oração. Cantava uma música religiosa em italiano para agradar os netos. Gostava de ler, o que fazia diariamente. Ganhou até um catecismo de D. Luiz Scortegagna, bispo de Vitória, quando da visita a Itarana, no ano de 1950. Todas as tardes, ela fazia brolhas25, usando sacos de trigo e açúcar. Semanalmente visitava sua parente e grande amiga, Graciosa e Pedro Zampiere, acompanhada de uma sombrinha para se proteger do sol. Era companheira, conselheira e ajudante nas tarefas da casa e educação dos netos, filhos de Antenor e Dalvina. 25 Brolhas tipo de renda de algodão ou seda feita com um emaranhado de nós sem o uso de agulhas, nas barras de toalhas, colchas e outros. Acredita-se que essa técnica é de origem árabe e tenha chegado ao Brasil com os portugueses. Nos anos 1930, era comum decorar enxovais de noivas com essa arte. Família Sepulcri 41 Foto 15: Bela na Adolescência Fonte: Foto do acervo da família. Como muitos dos descendentes de italianos, na fazenda de Guerino também havia um moinho de pedra. Além de fubá, produzia café, milho, feijão, arroz e muitas frutas, especialmente manga, goiaba, laranja e criava suínos e bovinos. Foto 16: Bela e suas Irmãs (Claudina, Mariquinha, Arleta, Bela e Darcisa) Fonte: Foto do acervo da família. 42 Odílio Sepulcri A fazenda era cortada por um riacho, onde a filharada gostava de fazer pescaria. Guerino e Maria tinham uma boa situação econômica e financeira, possuíam vastas áreas de terras que, mais tarde, dividiram com os seus filhos. Segundo Alexandre Sepulcri, seu genro, quando os filhos de Guerino e Maria eram jovens, sua casa vivia cheia de gente e era uma família muito alegre. Foto 17: Gumercindo e Alcides Demoner, Maria Luiza, Odílio, José Gomes e Eurides Bom Destino, 2011 Fonte: Foto do acervo da família. 44 Odílio Sepulcri Foto 18: José Maria, Agenor e Gumercindo Demoner Foto 19: Agenor e Elza Gomes Demoner Família Sepulcri Foto 20: Dalvina, Ana, Alcides, Gumercindo, Elza, Agenor, Claudina, Gildo e Mariquinha Foto 21: Darcisa e Geny 100 anos de Darcisa 45 46 Odílio Sepulcri Foto 22: Mariazinha, Claudina, Bela, Roberto, Eurides e Guerino (na janela) Foto 23: Mariquinha, Claudina, Guerino e Maria Família Sepulcri Foto 24: José Maria, Agenor, Gumercindo, Geraldino, Antenor, Varcelino e Henrique 47 48 Odílio Sepulcri Família Sepulcri 49 5 A FAMÍLIA ALEXANDRE SEPULCRI E BELA Na partilha e nas decisões políticas entre Itarana e Itaguaçu, a primeira ficou com a Paróquia e a segunda com a Comarca Municipal (VENTORIM, 1990). A construção da Igreja Matriz Nossa Senhora Auxiliadora de Itarana foi iniciada em 1918 e consagrada em 1951. Na construção da Igreja, por volta de 1938 e 1939, quando ainda era solteiro, Alexandre trabalhava para arrecadar dinheiro para o casamento com Bela. Participou ativamente como servente de pedreiro e também no transporte da terra escavada. A terra era colocada em cima de um couro e puxada por uma junta de bois até o local, onde seria transportada por caminhões para o destino final. Foto 25: Igreja Matriz de Itarana, Iniciada em 1918 e Consagrada em 15.07.1951 Fonte: Foto do acervo da família. 50 Odílio Sepulcri A igreja foi construída na encosta do morro, conforme se verifica na foto, e toda a escavação foi feita manualmente com o auxílio de enxadão e picareta. Nessa construção, Amaro Sepulcri, primo de Alexandre, foi um dos principais pedreiros construtores. 5.1 O CASAMENTO DE ALEXANDRE E BELA Alexandre nasceu em 28 de março de 1915. Era filho de Pietro Sepulcri e Margarida Zanoni Sepulcri. Conheceu Bela em um baile no Bom Destino. Logo se encantou por ela: foi amor à primeira vista, levando-o a terminar o noivado com Laura. Namoraram pouco tempo e logo se casaram em Itarana, na Igreja matriz de Nossa Senhora Auxiliadora, em 26 de outubro de 1940. Bela era também filha de italianos, Guerino Demoner e Maria Coser Demoner. No dia do casamento, o transporte dos noivos foi feito a cavalo, do Bom Destino até Itarana e dali até o Triunfo, comunidade onde foi a primeira residência do casal. Moraram em uma casa de madeira, durante os quatro primeiros anos conjugais, trabalhando como meeiros da família Quintino Marreco. A casa possuía muitas frestas e Bela tapava-as, para proteger-se do frio, com papel trazido pelo seu cunhado Luiz Sepulcri, que trabalhava na Souza Cruz. Bela, de filha de fazendeiro bem de vida, mudou radicalmente para essa condição, mas, contagiada pelo amor, jamais reclamou dessa mudança tão marcante. O sonho de construir um lar, ter filhos e criar uma família era mais forte. Foto 26: Alexandre e Bela Fonte: Foto do acervo da família. Família Sepulcri 51 Alexandre trabalhava na agricultura e Bela cuidava da casa, da horta doméstica e dos filhos que encheram a casa rapidamente. Em apenas doze anos de casados, já eram oito filhos. No Triunfo nasceram as suas três primeiras filhas: Eurides, Maurilia e Dagmar. Eurides, mesmo com três aninhos, era fujona. Certo dia, sua mãe, Bela, notou o seu desaparecimento e desesperada foi à sua procura e a encontrou cerca de um quilômetro de casa, em cima de uma pinguela (pequena ponte de tronco de árvore), correndo o risco de cair dentro do rio e morrer afogada. Foto 27: Eurides com Dez Meses de Idade Fonte: Foto do acervo da família. Nesse período, Alexandre conseguiu economizar algum dinheiro com o seu trabalho na agricultura e na extração de fibra de guaxuma, planta da família Malvácea, nativa da região, o que lhe possibilitou comprar a sua primeira propriedade, de quatro alqueires, de Pedro Guarnieri, na comunidade de Santa Helena, que muitos chamavam de Córrego da Barriguda, devido a uma árvore existente na comunidade, situada a seis quilômetros de Itarana. A mudança da família para Santa Helena ocorreu em 1945, foi transportada do Triunfo em carro de boi e lombo de mula. A guaxuma era colhida e amarrada em feixes de mais ou menos oitenta centímetros de diâmetro e colocada submersa na água por vários dias. 52 Odílio Sepulcri Após amolecida a casca, era extraída a fibra, lavada, colocada para secar em varais e depois era recolhida, enfardada e comercializada. Essa propriedade possuía uma grande várzea alagada e habitada por jacarés de papo amarelo. A primeira tarefa de Alexandre foi drenar a várzea para torná-la apta para o cultivo de arroz e de inhame. Todo esse trabalho foi feito manualmente e durou vários meses. Era uma área coberta com muitas plantas que continham espinhos (acúleos), denominadas de coquinho do brejo. Para realizar a drenagem, o deslocamento dentro da várzea, era feito em cima de varas para não atolar. Vez ou outra, Alexandre se desequilibrava e caía dentro do alagado e, como consequência, atolava-se no barro e enchia-se de espinhos por todo o corpo e, durante a noite, Bela levava algum tempo para extraí-los. Foto 28: Casa de Alexandre e Bela, em Santa Helena, onde Criaram Todos os Filhos Fonte: Foto do acervo da família. Nessa propriedade também nasceram os demais filhos, na seguinte ordem: Odílio, Geraldo Luiz, Maria Margarida, Roberto e Juarez, completando oito filhos, quatro mulheres e quatro homens. Com tantos filhos nascidos a cada dois anos, sendo que as três primeiras filhas tiveram um intervalo de um ano, Bela tinha muito trabalho. Família Sepulcri 53 O nascimento de Odílio foi presenciado pela sobrinha Geni De Martim Andrade, conforme seu relato, filha de Darcisa, irmã de Bela, que lecionava numa escola primária de primeira a quarta série para as crianças da comunidade. A escola era localizada na propriedade do vizinho, Arone Taffner. Essa escola, posteriormente, passou a ser na propriedade de Sebastião Taffner, filho de Arone, onde permaneceu por muitos anos e na qual Eurides, Maurilia, Dagmar e Odílio tiveram os seus primeiros ensinamentos. Nessa época, conta Geni, Alexandre adquiriu a sua primeira vaca de leite para alimentar as crianças que já eram quatro. Foi o início de um grande rebanho. Ele usava os bovinos como caderneta de poupança. Quando a situação financeira apertava, precisava de dinheiro para custear os estudos dos filhos, vendia algumas cabeças. Ele tinha um carinho especial com o rebanho. Foto 29: Alexandre, Roberto e Juarez Fonte: Foto do acervo da família. Alexandre era determinado, inteligente, muito trabalhador e objetivo, às vezes intolerante, tinha foco e sempre conseguia o que estabelecia como meta. Era um bom empreendedor. Teve muitos amigos, mas destes, dois, foram os maiores: Augusto Covre e Sebastião Taffner, com quem Alexandre confidenciava seus acertos, erros e momentos de dificuldade. Alexandre e Bela tinham apenas a segunda série primária, mal sabiam ler e escrever, mas isso não os impediu de dedicar todos os seus objetivos na educação dos filhos. 54 Odílio Sepulcri Foto 30: Adultos Darcisa, Virgínia, Bela, Ivete, Eurides e Irma. Crianças Vandinha, Marli, Maria Margarida, Roberto, Juarez e Dagmar 1954 Fonte: Foto do acervo da família. 5.2 O CARRO DE BOIS Em Santa Helena, Alexandre continuou com a exploração de guaxuma, cultivando a lavoura e adquiriu a sua primeira junta ou parelha de bois, com os nomes de Laranja e Inhapim. Posteriormente, vieram outras juntas tais como: Navio e Pintado, Jagunço e Mimoso, Retrato e Piabanha. O seu primeiro carro de bois foi construído pelo seu pai, Pietro Sepulcri, que, sendo agricultor, também era um bom carpinteiro. Foi o primeiro carro de bois de Itarana com rodas de pneus, inclusive com freio de lona, usando para isso um eixo dianteiro de um velho caminhão. Na comunidade, todos os carros de bois eram construídos de madeira, inclusive as rodas, que no seu movimento ao serem puxadas pelos bois faziam um cantado (ruído) característico. Pelo som desse ruído era possível identificar o seu dono. Juntamente com a extração de fibra e o cultivo da lavoura, Alexandre iniciou uma nova atividade no transporte de café em coco para a Fazenda Toniato, que o beneficiava e comercializava. Transportava o café de toda a vizinhança, fazia uma viagem por dia e, em cada viagem, levava cerca de 40 sacas. Devido ao calor, Santa Helena é uma região com clima tropical, os bois não suportavam o trabalho durante as horas quentes do dia. Por isso, Alexandre trabalhava de madrugada, saía sempre às duas horas da manhã e Família Sepulcri 55 lá pelas dez horas já estava de volta e dava descanso para os bois e só retornava essa atividade na madrugada do dia seguinte. Foto 31: Carro de Bois Semelhante ao Usado por Alexandre Sepulcri No inicio do transporte do café, era auxiliado pelo empregado José Bonéis, depois veio Délio Giostri e, mais tarde, por Maurilia, sua filha, quando já estava mais crescida. Para conseguir algum dinheiro, Alexandre cortava lenha e vendia no mercado local de Itarana, atendendo vários de seus amigos com esse comércio. Nessa atividade, Alexandre conseguiu capitalizar um pouco, o que o levou a adquirir um trator e mudar de atividade. 5.3 O TRATOR Em 1956, Alexandre adquiriu um trator Ford equipado com arado e grade, beneficiando-se de um financiamento do Banco do Brasil e incentivo do Governo Brasileiro, importando-o dos Estados Unidos da América. O carro de boi existente foi adaptado como carreta para o trator e utilizado para o transporte dos implementos (arado e grade) e para o transporte dos produtos da propriedade, tais como: arroz, café, milho, lenha, tomate e vários outros. Com o trator iniciou-se uma nova atividade. Além de usá-lo para preparar o solo de suas terras, especialmente para o plantio do arroz irrigado, Alexandre prestava serviço de aração e gradagem para os vizinhos e comu- 56 Odílio Sepulcri nidades adjacentes, entre elas: Sossego, Bom Destino, Lajinha, Triunfo, Cinco Pontões, Santa Rosa e outras. Foto 32: Alexandre em seu Trator, nos Anos 1950, Arando a Terra para o Plantio de Arroz Fonte: Foto do acervo da família. Na época de preparo de solo e de plantio, Alexandre passava vários dias consecutivos fora de casa prestando esse serviço. Ele gostava muito de tirar uma soneca após o almoço, enquanto isso, Odílio, seu filho mais velho, ainda adolescente, para a máquina não ficar parada nesse intervalo, pegava o trator e fazia o trabalho de gradagem, enquanto seu pai fazia a aração, que era um trabalho mais pesado. Alexandre e Bela eram católicos praticantes, sempre tiveram muita fé. Nos períodos de Semana Santa e de outras festividades, Alexandre colocava bancos especiais na carreta do trator e transportava toda a vizinhança para as festividades tradicionais, com a cobrança de um pequeno valor de cada um. Durante todas as noites da semana havia comemorações específicas e lá iam eles. Era um período de muita alegria e comemorações. Alexandre também teve o seu lado político. No final dos anos 1950 foi candidato a vereador e ficou como primeiro suplente da Câmara Municipal de Itaguaçu. Família Sepulcri 5.4 57 O FORD BIGODE O Ford bigode foi adquirido, principalmente, para dar conforto à família, ir à missa aos domingos, passear e visitar os amigos. Foto 33: Ford Bigode, Semelhante ao de Alexandre Na época, era o único veículo da comunidade, então passou a ser pau para toda obra. Além de atender à família, servia para o transporte dos vizinhos para os mais diversos motivos, especialmente quando havia necessidade de rapidez no deslocamento, principalmente no caso de acidentes e de doenças. Alexandre também o utilizava para os deslocamentos quando ia prestar serviços com o trator em distâncias maiores. Deixava o trator no local de serviço e se deslocava com a caminhonete. Odílio ajudava-o nessa tarefa: enquanto ele ia de Ford, Odílio levava o trator. Foto 34: Volkswagem Brasília 58 Odílio Sepulcri Após o Ford bigode, Alexandre teve duas VW Brasília. Uma delas adquiriu em Curitiba, quando, juntamente com Bela, foi visitar a família do Odílio e Maria Luíza Sepulcri e participar do casamento de seu filho Juarez, que se casou com Andyara. 5.5 O MOINHO DE PEDRA E A RODA DÁGUA Na casa dos pais de Alexandre, quando moravam no Limoeiro, na fazenda de Joanim Scárdua, existiam dois moinhos de pedra para moagem de milho, transformando-o em fubá ou canjica, conforme a necessidade de cada família. Alexandre, após ter drenado as suas várzeas, vislumbrou a possibilidade de também construir o seu moinho de pedra movido à roda dágua. Quando comentou essa possibilidade com os amigos e vizinhos, todos acharam uma missão impossível. Alexandre não desistiu da ideia. Contratou um agrimensor para calcular o desnível do riacho. Do local de onde pretendia instalar o moinho até à divisa de sua propriedade, o desnível foi de cerca de um metro e meio, não dando, portanto, queda suficiente para implementar o seu objetivo. Foto 35: Roda Dágua Alexandre não desanimou, negociou com seu vizinho, amigo e compadre Sebastião Taffner para avançar em sua propriedade cerca de seiscentos metros acima para captar a água, conseguindo, assim, o desnível necessário para mover o moinho. A partir daí, foi construído um canal na encosta do morro para levar a água até o local desejado. Com esse dispositivo, conseguiu-se instalar o moinho de milho. Frente a essa cortesia, Alexandre retribuiu ao Sebastião e a sua família a moagem gratuita do milho enquanto existisse o moinho e assim o fez. Família Sepulcri 59 Foto 36: Moinho de Pedra Transformando o Milho em Fubá No moinho de pedra, para que se processe a moagem de milho, existem duas pedras redondas sendo uma fixa e a outra que gira sobre a fixa, impulsionada pela força da água. De tempo em tempo, há necessidade de se fazer a manutenção nas mesmas, através da operação denominada picar a pedra, pois, com o tempo, elas ficam lisas e perdem a eficiência na moagem. Essa operação consistia em remover a pedra que girava e fazer pequenas ranhuras nas superfícies de ambas. Existe uma técnica toda especial para esse fim, com a utilização de talhadeira e marreta. Pietro Sepulcri era especialista nessa arte e, sempre que Alexandre necessitava fazer a manutenção do moinho, contava com a ajuda e a técnica de seu pai. Foto 37: Pedra de Moinho em Posição para ser Picada 60 Odílio Sepulcri Uma vez implantado o moinho, Alexandre iniciou a moagem de milho para toda a vizinhança e comunidades contíguas, a fim de fabricarem a famosa polenta italiana. Fazia esse serviço por meio da cobrança de um porcentual do fubá beneficiado. O moinho girava dia e noite, sem interrupção, à serviço da comunidade. Alexandre também produzia fubá para vender no comércio de Itarana, a fim de conseguir algum dinheiro. Periodicamente, para que o moinho de milho funcionasse bem, havia a necessidade de fazer a limpeza do canal de cerca de 800 metros que fornecia água para mover a roda dágua. Esse canal sempre era limpo com a ajuda dos vizinhos. 5.6 CINCO PONTÕES Alexandre já cultivava café em regime de meação, nas propriedades de Sebastião Taffner e Ângelo Viganó, quando adquiriu a propriedade de Cinco Pontões, município de Afonso Cláudio, com dinheiro emprestado pelo seu Compadre José Perim, sem juros e sem prazo para pagamento. Cinco Pontões era uma região de altitude elevada e com clima propício para a produção de café arábica de boa qualidade. Alexandre iniciou, nessas terras, o plantio de café em parceria com Doro Moral e Efigênio. Para isso, Alexandre pagava certo valor por pé de café plantado pelos parceiros até iniciar a produção. Foto 38: Planta de Café Arábica com Grãos Maduros, no Ponto de Colheita Família Sepulcri 61 Em poucos anos havia milhares de pés de café em produção. Era uma região de água abundante e lá, também, Alexandre construiu um moinho e uma máquina de beneficiamento de café. O café, durante muito tempo, foi a principal fonte de renda de sua família. Quando o café diminuiu a produtividade e os preços passaram a não ser compensadores, Alexandre vendeu essa propriedade e aplicou o dinheiro, em Santa Helena, adquirindo as terras dos Irmãos Taffner: Martinho, Calisto e Francisco (Alemão). Com isso, possibilitou ampliar a área de plantio e de pastagens, aumentando o rebanho bovino. Foto 39: Pedra de Cinco Pontas que Deu Origem ao Nome do Local Fonte: Foto do acervo da família. 5.7 A ENERGIA ELÉTRICA A primeira usina hidrelétrica, que gerava energia para todo o município de Itaguaçu foi instalada em Jatibocas, atualmente distrito de Itarana. 62 Odílio Sepulcri A linha de transmissão de energia que se dirigia ao Toniato passava cerca de um quilômetro da residência de Alexandre e, aproximadamente, a três quilômetros do último vizinho da comunidade. Em 1954, Alexandre liderou, juntamente com Sebastião Taffner e demais vizinhos, o movimento para ter acesso à energia elétrica. Isto implicou em conseguir os recursos com a comunidade para custear a instalação da linha de transmissão, dos transformadores e demais equipamentos. A energia atendeu toda a comunidade de Santa Helena, propiciando todos os benefícios e confortos típicos desse serviço. O primeiro deles foi a iluminação e o rádio, depois veio a água encanada bombeada pela bomba elétrica, banheiro interno (antes o banho era na bacia) geladeira, eletrodomésticos e por último, na década de 1960, a televisão. Quando caía raio na fiação e queimava o transformador era um problema, a comunidade assumia o prejuízo, e nem sempre estava preparada para arcar com esses custos. Com o tempo, a prefeitura municipal incorporou essa linha de transmissão e assumiu tais custos. Alexandre sempre teve espírito inovador e empreendedor. 5.8 O PLANTIO DE ARROZ Antes de possuir o trator, Alexandre plantava pequenas áreas com arroz e, para isso, preparava o solo com o arado tracionado pela junta de bois. O baixo rendimento desse trabalho não permitia o plantio de grandes áreas. Com a aquisição do trator, ampliou sua capacidade de trabalho e passou a preparar todas as suas áreas de várzea para o plantio de arroz. Feito isso, Alexandre dividiu o plantio de arroz em parceria com os seus vizinhos envolvendo as famílias Viganó, Cancian, Mapelli, Guarnieri, Covre, Fiorotti, Rizzi e outras. Alexandre dava a terra preparada, os insumos e a irrigação. Os vizinhos entravam com a mão de obra, pois todo o restante da lavoura era cultivado manualmente. A partir daí, Alexandre passou a colher grande quantidade de arroz e ter uma nova fonte de renda. Todo esse arroz era secado ao sol, com a utilização de lonas de caminhões. Espalhava-se a lona no terreiro e, sobre ela, colocava-se o arroz. Quando vinha chuva era uma correria danada para não deixar o arroz molhar. Era uma tarefa dura e todos da família participavam. Alexandre também foi pioneiro na irrigação do arroz. Represava o riacho para proceder a irrigação. No período de irrigação, passava os dias no meio do arrozal distribuindo a água. Ele adorava fazer esse trabalho. Família Sepulcri 63 Foto 40: Cultivo de Arroz Fonte: Foto do acervo da família. Houve uma época que desconhecidos começaram a fazer sabotagem, soltando a represa de água durante a noite. Alexandre arranjou um jeito de montar uma armadilha, somente com pólvora. Cercou toda a represa com um arame fino e conectou em uma armadilha. No escuro, as pessoas que pretendiam fazer a sabotagem, embaraçavam-se no arame, a armadilha disparava e explodia. De vez em quando, durante a noite, ouvia-se um estampido e a represa dágua nunca mais foi arrombada, mas também não foram descobertos os sabotadores. Alexandre armazenava toda a sua parte de arroz com casca e, à medida que necessitava de dinheiro, beneficiava uma parte e vendia no comércio de Itararana. 5.9 A CHARRETE A primeira charrete de Itarana foi a de Alexandre, construída pelo seu pai Pietro Sepulcri. Pietro usou para sua construção, como poderá ser observado na foto, um eixo dianteiro de uma velha caminhonete e, sobre esse eixo, idealizou e construiu a charrete. Isso a diferenciava das demais charretes. Nessa época, Délio acompanhava Dona Bela e as crianças, de charrete, pois todos ainda eram muito pequenos, nas visitas a seus pais Guerino e Maria Coser Demoner e a seus irmãos, no Bom Destino. A charrete foi o primeiro e mais importante veículo de transporte da família. Servia para ir à missa aos domingos, levar as crianças à escola e depois ao ginásio, visitar os amigos, transportar doentes, fazer as compras 64 Odílio Sepulcri das mercadorias, principalmente aves (frangos) e ovos que Alexandre revendia em Vitória, juntamente com os legumes, verduras e frutas, tomate, principalmente, pimentão repolho e mamão, produzidas em sua propriedade. Foto 41: Charrete da Família Sepulcri. Maurilia Acompanhada de suas Amigas Fonte: Foto do acervo da família. O transporte dos filhos para o colégio primário e ginasial em Itarana foi feito de charrete, a princípio, em parceria com o vizinho Sebastião Taffner, em semanas alternadas. Utilizava-se uma só charrete para o transporte dos alunos de ambas as famílias. Numa ocasião, Moacir Taffner guiava a charrete e, próximo à casa de Alexandre, esta se desgovernou e bateu no esteio da porteira, quebrando os dois varais que a prendiam ao cavalo, derrubando todos. O cavalo saiu em disparada, só parou na porteira seguinte. Felizmente ninguém se machucou gravemente, apenas pequenos arranhões. Numa das viagens para Itaguaçu, cidade vizinha a Itarana, estavam juntos Bela, Odílio e Maria Margarida. Já chegando próximo ao destino, o cavalo Baio (seu nome) tropeçou e caiu e todos caíram juntos sobre o leito pedregoso. Bela bateu com os joelhos e os cotovelos sobre essas pedras, ferindo-se profundamente. Ao cair, Bela ficou com a cabeça atrás da roda. O cavalo, ao tentar se levantar, movimentou a charrete para trás, prensando a cabeça de Bela entre o solo e o pneu. Maria Margarida, ao ver essa cena, chorava e empurrava a roda da charrete para frente a fim de proteger sua mãe. Esse fato foi extremamente emocionante. Depois, foram socorridos por Família Sepulcri 65 Maria do Sereno que era amiga da família e fez a limpeza e os primeiros curativos em Bela até que chegassem ao médico em Itaguaçu. O estudo ginasial da quinta à oitava série era no período da noite, das dezenove às vinte e três horas. No primeiro ano, Odílio estudava sozinho e fazia o trajeto de seis quilômetros da residência ao Ginásio em Itarana a pé. Dormia na cidade, na casa da tia Mariquinha, que tanto o ajudou nesse período, e retornava pela manhã do dia seguinte. Durante o dia trabalhava na roça e retornava à noite para a aula e, às vezes, dormia pelo cansaço. Certo dia, Maurilia, ao lavar sua camisa de uniforme, encontrou em seu bolso um bilhete com os seguintes dizeres lugar de burro é no pasto, mande esse burro pro pasto. Isto serviu de estímulo a Odílio, e ele disse: vou mostrar a quem escreveu esse bilhete que serei um vencedor. A partir do segundo ano, iniciaram os estudos Eurides, Geraldo Luiz e, posteriormente, Maria Margarida, e a charrete entrou em ação. A ida e o retorno era no mesmo dia, chegando em casa, todos os dias, em torno da meia noite. Odílio e Geraldo Luiz revezavam-se, uma semana para cada um, na tarefa de pegar o animal, arriá-lo, colocá-lo na charrete e prepará-lo para as viagens diárias. O vizinho e amigo da família, Vanderlei, pegava carona diariamente nesse trajeto. Vanderlei era muito medroso. Ao descer da charrete, todas as noites percorria alguns metros até entrar em sua casa, passando por algumas árvores de eucalipto que continham muitas folhas soltas ao chão. Geraldo Luiz ao perceber o seu medo, sem ele perceber, pegou uma pedra arredondada de cerca de uns dois quilos e colocou na charrete e, quando ele desceu, despediu-se e dirigiu-se à sua casa. Geraldo Luiz jogou-a, deslizando nas folhas secas, fazendo um barulho característico. Vanderlei assustou-se e saiu correndo atrás da charrete gritando socorro. Seus pais acordaram assustados. Teve-se que parar a charrete, socorrê-lo e ainda aguentar o sermão de seus pais, que não gostaram nada da brincadeira. Acidente era período de provas parciais (antigamente existia isso). Tinham levantado de madrugada para estudar, e lá foram eles, de charrete, para fazer as provas. Na estrada, encontraram o pai deles, Alexandre, que vinha de Vitória onde foi comercializar a sua mercadoria. Alguns quilômetros depois, no morro do sabão, o cavalo assustou-se com umas folhas de coqueiro que estavam estendidas no barranco da estrada. Odílio, que estava guiando o animal, não conseguiu contê-lo, e o cavalo saiu em disparada, subiu no barranco lateral do outro lado da estrada e, com o solavanco da charrete, jogou ao chão Odílio, Geraldo Luiz e Vanderlei. As duas meninas, Eurides e Maria Margarida, permaneceram em cima da charrete gritando e 66 Odílio Sepulcri fazendo as suas preces. O cavalo foi parar cerca de um quilômetro adiante. Odílio, ao cair, bateu com a cabeça no chão e perdeu a memória por alguns minutos, não sabendo o que ia fazer, e Geraldo Luiz ficou cheio de hematomas. Com Vanderlei nada aconteceu. Em seguida, passou um amigo pelo local e levou o recado do acidente a Alexandre, que veio imediatamente e levou seus filhos ao médico na cidade de Itaguaçu. Eurides, Maria Margarida e Vanderlei fizeram as provas normalmente e Odílio e Geraldo Luiz tiveram que fazer prova de segunda chamada. 5.10 A CRIAÇÃO DE ABELHAS Nas imediações de seu quintal, Alexandre possuía uma criação de abelhas europeias com cerca de vinte colmeias. Na época da florada das plantas e de produção de mel, Alexandre juntava a filharada para colher mel. Todos organizavam suas máscaras para se protegerem das picadas das abelhas e lá iam para a tarefa. Os favos de mel eram desoperculados, centrifugados e o mel era embalado em litros ou em latas com a capacidade de vinte litros e depois vendido no comércio local. Na época de safra de mel, as colmeias estavam bem povoadas com abelhas. Havia muitos pássaros que se alimentavam das abelhas, especialmente o bem-te-vi. Próximo das colmeias existia uma árvore denominada de garapa, onde os pássaros capturavam as abelhas e pousavam para descanso e preparar novo ataque. Alexandre, com o intuito de proteger suas colmeias, posicionava-se, escondendo-se debaixo da árvore com uma espingarda na mão e atirava nos pássaros. Havia tardes que chegava a abater vinte deles. Délio Giostri é que fazia a festa com uma bela fritada de passarinho ao molho com polenta. 5.11 FIDALGO, O CÃO AMADO Na casa de Alexandre e Bela sempre existiram muitos cães, como o Rex, Guarani, Chatinho, Lobo, Fidalgo e tantos outros. Esses cães tinham o papel de vigiar a propriedade e na lida do rebanho bovino. Fidalgo, cão da raça Pastor Alemão, foi doado a Odílio pela diretora do Grupo Escolar Luiza Grimaldi, Senhora Dagmar Borges (Dona Diná), quando ainda pequeno. Cresceu junto com a família. Era de uma inteligência rara, obediente. Entendia tudo o que se falava com ele, era admirado por toda a vizinhança. Muitos faziam oferta para comprá-lo. Família Sepulcri 67 Estava sempre junto no trabalho da família, seja na carreta do trator ou na carroceria do caminhão, prestando sua solidariedade, sempre atento, pronto para agir. No manejo do gado bovino era imbatível. Santa Helena, onde, moravam, era uma região de relevo muito acentuado, cheia de morros e, muitas vezes, os bovinos estavam nas pastagens sobre esses morros a mais de um quilômetro de distância. Era só chamar Fidalgo, mostrar onde estavam os bovinos e, ao vê-los, ele se dirigia ao rebanho e mordia a perna de um, o rabo de outro, em poucos minutos a boiada estava reunida em torno do curral. Foto 42: Cão da Raça Pastor Alemão Semelhante ao Fidalgo Fonte: <http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://marcelolauriano.hd1.com.br/caes/ img/pastor_ale_03.jpg>. Acesso em: 04 fev. 2012. Na frente da casa de Alexandre e Bela havia um poste com uma lâmpada que permanecia acesa todas as noites para iluminar os arredores da casa. Em torno da casa havia uma cerca de madeira, denominada gradilho, que separava os animais da residência, inclusive os cães. Certa noite, muito escura, a lâmpada da frente da casa estava queimada. De repente, iniciou-se uma briga de cachorros. Salvador, empregado da família, saiu de revólver em punho para verificar o que estava ocorrendo. No escuro, Fidalgo, ao vê-lo, veio a seu encontro para agradá-lo e Salvador se assustou e atirou no cachorro. A bala atravessou o seu coração, levando-o à morte. Foi muito triste, todos choraram, foi como se perdessem um componente da família. 68 5.12 Odílio Sepulcri O PLANTIO DE TOMATE Segundo Luiz Helvécio Fiorotti, Alexandre foi pioneiro no plantio de tomate em Itarana e em desvendar o mercado de Vitória e Colatina com os seus produtos, especialmente o tomate. O café tem característica bianual, ou seja, praticamente gerava renda a cada dois anos. Com a decadência do café, e tendo vendido a propriedade de Cinco Pontões, Alexandre começou a pensar em novas alternativas de renda, com fluxo de entrada de receitas com mais frequência nos meses do ano e que lhe desse mais segurança nos estudos dos filhos e na manutenção e qualidade de vida da família. Foi quando surgiu a ideia do plantio de tomate. Mas, como plantar essa cultura, se nada sabia de sua tecnologia e das características de seu mercado? Teve notícias que em Itaguaçu, cidade vizinha a Itarana, havia uma unidade da Associação de Crédito e Assistência Rural do Espírito Santo (ACARES), cuja finalidade era dar assistência técnica aos agricultores, especialmente aos interessados em atividades inovadoras. Alexandre entrou em contato com o Engenheiro Agrônomo, Dr. Hélio, responsável por esse trabalho, e convidou-o para visitar sua propriedade em Santa Helena. Chegando lá, Alexandre explicou os seus planos ao agrônomo que, imediatamente, prontificou-se a ensinar todos os procedimentos para o plantio do tomate. Iniciaram naquele mesmo dia, com a escolha do terreno, do local mais apropriado para a cultura, a melhor época do ano para o plantio, uma vez que Itarana possui um clima quente, o tomate deve ser sempre cultivado no inverno, em função das características dessa cultura. Orientou na aquisição de insumos tais como sementes, fertilizantes, matéria orgânica (esterco de gado curtido) e outros. Combinaram que a cada fase importante da cultura Dr. Hélio deveria estar presente. A primeira visita foi para fazer a semeadura do tomate, incluindo o preparo do canteiro, semeadura e tratos culturais iniciais. A segunda visita de Dr. Hélio foi para fazer o transplante das mudinhas da sementeira para um canteiro maior, colocando-se uma muda distante da outra, em cerca de dez centímetros e permaneceram ali até alcançarem cerca de vinte centímetros de altura. Essa tarefa era denominada de repicagem das mudas. Orientou, também, o controle de insetos e de fungos, comuns nessa hortaliça. Na terceira visita, orientou a preparar o local definitivo de plantio, incluindo o coveamento, adubação, sistema de irrigação e efetuar o plantio das primeiras mudas nesse local. Família Sepulcri 69 Foto 43: Plantio de Tomate Tutorado com Estacas de Bambu A quarta visita foi para orientar o tutoramento do tomateiro, quando as plantas atingiram cerca de quarenta a cinquenta centímetros de altura. Esse procedimento era feito com estacas de bambu com cerca de dois metros de comprimento, apoiadas em um fio de arame fixado em mourões e estendido ao centro, a cada duas fileiras. Orientou como eliminar as brotações em excesso e como conduzir as plantas em cada tutor, amarrando-as com fibra de guaxuma e, posteriormente, com fibras de bananeira, especialmente preparadas para esse fim. Ensinou a preparar a calda para combater os fungos, caso viessem a ocorrer na plantação e como manusear o pulverizador, demonstrando como fazer uma pulverização correta. A quinta visita de Dr. Hélio foi quando apareceram os primeiros frutos maduros, para orientar a primeira colheita, a embalagem, a classificação e como prepará-los para o comércio. O tomate, depois de colhido, era colocado sobre uma lona estendida ao chão, onde era classificado por tamanho e embalado, em caixas K de madeira, com a capacidade aproximada de vinte e dois quilos. Havia classificações: boca oito, seis ou dez; isso significava que cada fileira, 70 Odílio Sepulcri dentro da caixa continha esse número de tomates e servia de referência para serem estabelecidos os preços pelos compradores no mercado de Vitória e de Colatina. Foto 44: Primeiro Caminhão Chevrolet, 1952 Adquirido em 1958 para o Transporte de Tomate Fonte: Foto do acervo da família. Maria Margarida e Marli Demoner. A partir daí, Alexandre partiu para o mercado. Primeiramente, contratou transporte para os seus produtos mas, em seguida, adquiriu o seu primeiro caminhão. Dr. Hélio continuou as visitas à propriedade de Alexandre, só que de maneira mais espaçada, até concluir o ciclo do tomate. Concluído o ciclo desse primeiro plantio, Alexandre já se considerava apto a enfrentar sozinho os segredos da cultura de tomate, nos próximos cultivos e passou a dividir os seus conhecimentos com os vizinhos que iniciavam essa atividade. Itarana, em pouco tempo, tornou-se um grande pólo de produção de tomate. Alexandre continuou o plantio de tomate e outras espécies, tais como quiabo, pepino, pimentão, repolho e mamão. Alexandre fazia uma a duas viagens a Vitória, semanalmente, para levar a sua mercadoria. Além das verduras comercializava, também, aves e ovos, milho, feijão, carne e banha de porco e, algumas vezes, pimenta do reino, a qual levava no meio da mercadoria para não pagar imposto. Família Sepulcri 71 Foto 45: Os Oito Filhos de Alexandre e Bela (em pé: Maria Margarida, Dagmar, Maurilia e Eurides. Abaixados: Juarez, Roberto, Odílio e Geraldo Luiz) 1972 Fonte: Foto do acervo da família. Guerra de tomate quando Alexandre viajava às segundas feiras, o tomate era colhido, selecionado e embalado no domingo. Isso era motivo para toda a vizinhança se reunir para fazer um mutirão na colheita. Após o término, sobravam muitos tomates que não serviam para o comércio e iniciava-se a guerra de tomate entre os participantes. Era a parte mais divertida do dia. Muitos contribuíam com a colheita para poder participar dessa brincadeira. À medida que os vizinhos iniciavam o plantio de tomate, Alexandre começou a transportar suas mercadorias e, para isso, teve que comprar um novo caminhão, um Chevrolet vermelho, 1970. Nas viagens, saía sempre de madrugada para chegar ao mercado da Vila Rubim, em Vitória, ao amanhecer. Levava os vizinhos com ele para que eles mesmos realizassem o comércio de seus produtos e passassem a dominar a arte do mercado. Alexandre gostava muito do que fazia, era uma pessoa alegre, comunicativa, tinha sempre a última piada na ponta da língua, era uma pessoa que transmitia felicidade. Em 1973, Alexandre acidentou-se na Serra do Fundão com o caminhão carregado de tomate. Esse relato é feito por Antônio José Viganó, que o acompanhava nesse momento. Alexandre, para não deixar os clientes sem o transporte, foi na agência Chevrolet em Colatina, vendeu o caminhão acidentado e adquiriu outro, de cor amarela, mesmo tendo um prejuízo considerável. A sua paixão, porém, era mesmo o Chevrolet de cor vermelha, o acidentado. 72 5.13 Odílio Sepulcri A IGREJA DE SÃO SEBASTIÃO Alexandre sempre foi muito devoto de São Sebastião. Acreditava que o Santo protegia o seu rebanho de possíveis doenças. Todos os anos, na comemoração do santo, no dia 20 de janeiro, doava um novilho para as festividades. Essa devoção fez com que Alexandre, juntamente com um grupo de amigos, liderasse a construção da igreja de São Sebastião de Itarana. No local havia uma pequena capela que foi demolida para a construção da nova igreja. Para arrecadar recursos para a sua construção, foi organizado um sistema de leilões na Igreja Matriz, durante vários dias e a cada dia de leilão, uma família era indicada como leiloeira e promovia o leilão de uma noite, depois de ter percorrido toda a sua comunidade arrecadando prendas de seus vizinhos. Para Luiz Helvécio Fiorotti, Alexandre, pela sua fé, além de ser um dos líderes desse processo, era o encarregado de contatar os amigos e pessoas conhecidas para solicitar e fazer pedidos extras para a doação em benefício da construção da igreja. Assim, conseguiram realizar o objetivo final com a inauguração da Igreja. Anualmente, no dia 20 de janeiro, ocorriam as festas em homenagem a São Sebastião. Foto 46: Igreja de São Sebastião Itarana Fonte: Foto do acervo da família. Família Sepulcri 73 Segundo Luiz Pesente, Alexandre, seu compadre, transportou com ele, em seu trator, toda a areia necessária para construção da igreja. Luiz retirava a areia do Rio Santa Joana, tracionada pelos bois e a colocava onde o trator poderia chegar para o seu transporte até o local da construção. Alexandre transportou a madeira (varões) para fazer os andaimes da Igreja. Para isso, engatava duas carretas no trator, uma atrás da outra, para poder transportá-las em função de seu comprimento. Quando o Vaticano publicou a relação de Santos que eram considerados Santos, mas que não foram canonizados, São Sebastião fazia parte dessa lista. Em função disso, o vigário da paróquia de Itarana, Padre Álvaro Regazzi quis demolir a igreja, ignorando a fé, a história e a cultura do povo. Essa atitude provocou uma grande indignação em todos aqueles que se mobilizaram para a sua construção. Alexandre liderou o movimento contra a demolição e, depois de muita encrenca, de idas e vindas, o movimento conseguiu manter a igreja intacta, perdendo apenas um lote de terras que fazia parte se seu pátio, reduzindo assim o espaço disponível para as festividades. 5.14 A TELEVISÃO Em Itarana havia um técnico em eletrônica, José Vieira Malta, que colocava todo o seu conhecimento em benefício da comunidade. Por volta de 1930, surgiram em Figueira de Santa Joana, posteriormente Itarana, os primeiros aparelhos de rádio. Entre 1945 e 1946, por sua iniciativa, foi instalada a primeira rádio de Itarana, denominada Rádio Difusora de Itarana, 1500 KC (VENTORIM, 1990). No início dos anos 60, mais precisamente em 1962, com a difusão da televisão brasileira, José Vieira Malta iniciou suas ações nesse campo. Para que Itarana e comunidades adjacentes tivessem acesso ao sinal de televisão, ele fez um estudo e decidiu implantar uma antena de TV no alto da Pedra da Onça26. O empreendimento foi um sucesso. Logo depois de implantada a referida antena, todos tiveram, gratuitamente, o acesso ao sinal de TV, desde que tivessem o aparelho com os seus devidos equipamentos, que o próprio José Vieira Malta se encarregava de instalar. 26 Em 1942, Figueira de Santa Joana passou a ser denominada de Itarana. Em tupi-guarani: Pedra da Onça, referência a um monumento natural e paisagístico do mesmo nome, localizado nas cercanias da cidade. Nesta época, foi descoberta uma jazida de água-marinha no local, o que contribuiu para o desenvolvimento da região (VENTORIN, 1990). 74 Odílio Sepulcri Foto 47: Pedra da Onça Fonte: Foto do acervo da família. Alexandre e Bela foram dos primeiros a se beneficiar desse conforto. Alexandre, imediatamente, foi a Vitória e retornou com o aparelho de TV que, em poucos dias, estava instalado. Alexandre e Bela não saíam da frente da televisão e viraram fanáticos por novelas. Quando havia algum problema no sinal de TV, Alexandre pegava o carro e saía para Itarana, desesperado atrás do José Vieira Malta para resolvê-lo. Naquela época não existia telefone no meio rural e, para se ter acesso à informação, só indo atrás dela. O meio de comunicação usual era mandar recado para as pessoas ou ir até elas. Pela curiosidade que a televisão despertava, durante as noites e nos finais de semana, a casa de Alexandre e Bela se enchia de vizinhos para conhecerem a novidade. José Vieira Malta foi Prefeito de Itarana no período de 31.01.1971 a 31.01.1977. 5.15 A ORGANIZAÇÃO DA FAMÍLIA Em uma família descendente de italianos, a palavra de ordem era trabalho e mais trabalho. Todos os filhos tinham que contribuir de alguma forma, dentro de suas possibilidades. Na cultura local era comum as mulheres ajudarem os maridos no trabalho da roça. Alexandre nunca admitiu esse tipo de atitude e jamais Bela saiu de dentro de sua casa, de seus afazeres Família Sepulcri 75 domésticos para o trabalho na lavoura. Alexandre, quando não dava conta do trabalho com os filhos, pagava para que terceiros realizassem o serviço. Assim que os filhos cresceram, cada um teve a sua função. Eurides e Dagmar cuidavam da casa e da comida. Maurilia era a responsável pela ordenha das vacas, diariamente, e prender os bezerros nos finais da tarde e, também, ajudava na roça, quando necessário. Bela, além de administrar o lar em todas as suas dimensões, era uma excelente costureira. Costurava a roupa de toda a família, também respondia pela fabricação de queijo que consumiam com polenta. Odílio alimentava os suínos diariamente e, logo que completou doze anos, passou a ajudar seu pai na lida com o trator. Juntamente com Geraldo Luiz, de charrete, faziam as compras das mercadorias, principalmente aves e ovos, que seu pai comercializava em Vitória em suas viagens semanais quando ia vender tomate e outras verduras. A tarefa mais odiada por Odílio era preparar o milho para o moinho de pedra. Consistia em descascar, debulhar, peneirar e ensacar o milho. Tudo era feito manualmente, um trabalho escravizante. Mesmo no período de chuva, iam para o paiol para essa tarefa. O moinho trabalhava vinte e quatro horas por dia, era um devorador de milho. Quando não havia milho dos vizinhos para moer, utilizava-se milho próprio. Foto 48: Alexandre e Bela com os Filhos e Netos Em pé: Bela, Alexandre, Geraldo Luiz, Roberto, Juarez e Djalma. Abaixados: Maisa, Maria Margarida, Dagmar, Elizabeti, Gizeli, Maurilia e Eurides Fonte: Foto do acervo da família. Eurides, logo após terminar a quarta série primária, foi convidada para lecionar em Bom Destino, município de Itarana, por um período de seis 76 Odílio Sepulcri meses, em substituição à professora titular, Ana Herzog Demoner, sua tia, que estava grávida. Terminada essa substituição, voltou para casa e, em seguida, foi convidada para substituir Odilia Demoner de Carvalho, também em período de gravidez, em Cinco Pontões, município de Afonso Cláudio, na mesma função de professora. Retornando à sua casa, iniciou o curso ginasial em Itarana, juntamente com seus irmãos. Concomitantemente, substituiu Lourdes Toniato Rocha, na Escola de Sossego, por ocasião de sua Licença Prêmio. Como ela demonstrava ter dom para a profissão, Alexandre conseguiu, junto aos responsáveis pela educação do Município na época, que ela lecionasse na Escola Baixo Sossego, também no Município de Itarana. Essa atividade durou dois anos letivos. Depois, foi para Itaguaçu, onde fez o curso médio de professora e, posteriormente, formou-se Pedagoga em Colatina e, quando atuava na Secretaria de Estado da Educação, fez pós-graduação. Daí, continuou sua carreira profissional de professora, assumindo várias funções no Estado do Espírito Santo. Eurides é casada com Gessy Amaral. Foto 49: Gessy, Eurides, Maria Luiza e Odílio 2011 Fonte: Foto do acervo da família. Maurilia, após concluir a quinta série do primeiro grau, continuou, junto com os pais, ajudando Bela quando dispunha de tempo. Além de seu trabalho diário de ordenha das vacas, ajudou muito a família no trabalho com o trator e com o caminhão. Cada vaca tinha um nome: Açucena, Fonte Nova, Morena, Branquinha, Pintada e tantos outros. Todas atendiam pelo nome. Quando por algum motivo o bezerro perdia a mãe, era criado por Maurilia na mamadeira, como se verifica na foto a seguir. Família Sepulcri 77 Foto 50: Maurilia Alimentando o Bezerro na Mamadeira Fonte: Foto do acervo da família. Seu pai gostava muito de sua disposição. Para ela não havia tempo ruim. Todos os irmãos reconhecem que Maurilia, junto com os pais, foi quem mais contribuiu para seus estudos. Nessa época, contou com grande contribuição de Alemão Taffner, que trabalhou vários anos para a família. Maurilia casou-se com José de Souza Gonçalves em 30 de março de 1975. Dagmar, após concluir a quinta série, continuou o seu trabalho na cozinha. Era a chefe de cozinha. Para Dagmar não era tarefa fácil preparar refeições quatro vezes por dia para doze pessoas, os pais, oito irmãos e mais dois empregados. No início o almoço era pela manhã, em torno das nove horas. Posteriormente, passou para o meio-dia. Claro que Dagmar tinha o comando de Bela e o apoio das demais irmãs. Odílio afirma que era uma comida muito saborosa e não se repetia o cardápio durante a semana. O desjejum era leite com polenta e pão caseiro feito por Bela. A comida que ele mais gostava era queijo frito e polenta frita. Lembra que, em todas as férias, quando voltava dos estudos, sua mãe o esperava com sua comida preferida. Dagmar é divorciada de Djalma Venturini e casada com Arnildo Bernardes. Odílio, quando concluiu o Ginásio em Itarana, queria continuar os estudos. Numa conversa de família, Alexandre disse: Odílio, por ser o mais velho, poderia ficar me ajudando na propriedade. Bela retrucou: Nada disso, ele deverá continuar os estudos, gostaria que ele tivesse uma vida melhor do que essa que temos aqui na roça. Esse objetivo foi mantido para todos os filhos. 78 Odílio Sepulcri Tomada a decisão, Odílio foi procurar um colégio gratuito, tendo em vista que a família era numerosa e praticamente impossível pagar colégio para todos. O primeiro alvo foi o Colégio Agrícola de Santa Tereza, mas não havia vaga. Então, Odílio soube que José Carlos Fardim, residente em Itarana, cujos pais eram amigos de seus pais, estudava em um Colégio Agrícola situado em Campos, no Estado do Rio de Janeiro. Odílio o procurou e propôs pagar as suas despesas para que ele fosse a Campos verificar se havia vaga. José Carlos voltou com a vaga. Em consequência, Odílio, a partir de 1962, foi cursar o nível médio profissionalizante no Colégio Agrícola de Campos. Terminado o curso, em 1965, conseguiu vaga através da Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR) para trabalhar como Técnico Agrícola na Associação de Crédito e Assistência Rural do Paraná (ACARPA). Para a viagem até Curitiba, Odílio precisava de algum dinheiro e seu pai, Alexandre, estava sem disponibilidade na época. Alexandre pediu a Odílio que fosse até o seu compadre, Arlindo Covre, solicitar dinheiro emprestado. Arlindo prontamente emprestou cem mil cruzeiros (moeda da época), o que viabilizou a sua viagem. Na despedida, Alexandre disse a Odílio: Meu filho você sabe que o dinheiro aqui na roça é difícil de ganhar, faça economia em tudo que puder, porém jamais faça economia para se alimentar. Odílio trabalhou na Acarpa por quatro anos, indo depois cursar Engenharia Agronômica no Rio Grande do Sul, na Universidade Federal de Pelotas, no período de 1970-1973. Seu curso foi custeado pela Acarpa, por meio de bolsa empréstimo de um salário mínimo e meio mensal, por um período de quarenta e oito meses. Depois de formado, retornou à Acarpa e reembolsou esses valores na mesma proporção. Casou-se com Maria Luíza em 15.12.1973. Com a ida de Odílio para o colégio agrícola, Geraldo Luiz o substituiu em suas atividades na propriedade, até concluir o ginásio. Em 1966, seguiu para o mesmo Colégio Agrícola em que estudou Odílio que, ao sair, já havia negociado com a direção do mesmo a sua vaga. Concluído o Curso em 1968, foi cursar Medicina Veterinária na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, sendo diplomado em 1973. Maria Margarida, Roberto e Juarez tiveram uma rotina mais tranquila na família, uma vez que o caminho já havia sido desbravado pelos mais velhos. Porém, com a saída deles para os estudos, passaram a substituí-los no que eles faziam. Maria Margarida recebeu esse nome como homenagem de seus pais às avós. Enquanto ela terminava o ginásio em Itarana, continuava a ajudar Bela nos afazeres da casa. Após concluir o ginásio, foi fazer o curso Família Sepulcri 79 Magistério em Itaguaçu, tendo concluído em Itarana no ano de 1969. Iniciou a carreira de professora no mesmo município, em Baixo Sossego (1970) e Santa Helena (1971). No ano de 1972 prestou concurso público e foi trabalhar em Nova Venecia, no norte do Estado, ficando por lá dois anos. Posteriormente, fez o curso Superior de Pedagogia na Faculdade de Ciências e Letras de Colatina (1974-1977). Após alguns anos de trabalho, fez pós-graduação em Supervisão Escolar, encerrando sua carreira na Superintendência de Educação em Santa Teresa, em 2001. Casou-se com Carlos Jorge Diniz em 27/12/1975. Roberto foi quem teve a vida mais mansa. Quando pequeno, dizia que queria seguir a vida religiosa, talvez por desejo e influência dos pais. Quando solicitado, imitava o vigário celebrando a missa. Então, a família o colocou no Seminário Marista em Marilândia-ES. Terminado o ginásio desistiu da vocação e foi cursar o nível médio em Vitória. Posteriormente concluiu o curso de Ciências Contábeis. Em consequência de todas essas mudanças, escapou da roça. Juarez, o mais novo da turma, aguentou o rojão do dia a dia da propriedade, pois no seu tempo estavam lá Alexandre e Bela, Maurilia e ele. Os demais estavam estudando. Juarez concluiu o ginásio em Itarana e tomou o mesmo rumo de Odílio e Geraldo Luiz no Colégio Agrícola de Campos. Depois de formado foi trabalhar no Paraná e se casou com Andyara Tatarém, em 1980. 5.16 O BURRO DO BAIANO Maurilia sempre teve um espírito brincalhão. O burro (muar) do Baiano, vizinho da propriedade, seguidamente dava uma fugida e frequentava os pastos de Alexandre juntamente com o seu rebanho. Determinado dia, Maurilia prendeu-o no curral e amarrou em seu rabo, com muito capricho, uma lata vazia de querosene com capacidade de cerca de vinte litros. Ao soltá-lo, o burro saiu em disparada, a lata batia em suas pernas e o animal ficou desesperado. Dava pulos, coices, rabixada, fazia de tudo e a lata não soltava. Foi parar a quilômetros de distância, até que, depois de ficar esgotado de cansaço, um vizinho pegou-o e retirou a lata. Isto foi causa de muita bronca do Baiano, inclusive creditava a Maurilia de ter estragado o seu burro. Segundo ele, após esse episódio, o animal, que era utilizado para montaria, nunca mais foi o mesmo, pois se assustava com qualquer coisa e quem estivesse na montaria corria o risco de ser derrubado, se não estivesse atento. 80 5.17 Odílio Sepulcri AS FÉRIAS NA ROÇA No período letivo, todos os filhos estavam estudando em diversas localidades. Nas férias de julho e de final de ano, todos se reuniam na casa dos pais. Era uma festa total. A casa ficava cheia de colegas de estudo, amigos, vizinhos e de candidatos a genro e nora. Alexandre e Bela, apesar de pouco estudo, foram evoluindo junto com os filhos e ficavam muito felizes quando todos estavam em casa e recebiam muito bem seus colegas e amigos. Alexandre era muito alegre e comunicativo, tinha assunto para qualquer pessoa em todos os níveis. Cristina Demoner Muniz e Marcelo Colnago sempre passavam suas férias na casa de Alexandre e Bela. Foto 51: Maria Luiza, Dagmar, Gildomar, Gizeli, Elizabeti, Maurilia, Maria Margarida e Maisa 1972 Fonte: Foto do acervo da família. Em Santa Helena havia muitas frutas e várias opções para diversão: andava-se a cavalo, de charrete, de trator, de Ford bigode, jogavam-se cartas, além das brincadeiras tradicionais da cultura local. Família Sepulcri 81 Alexandre fez alguns tanques e caixas dágua para a irrigação de tomate e que, nos fins de semana, eram utilizados como piscina. Reuniam-se muitos jovens e amigos em torno da piscina e se divertiam a valer. A família Sepulcri, ora com Taffner, ora com Covre eram inseparáveis, estavam sempre juntas. Uma das coisas mais divertidas no meio rural eram os bailes nos finais de semana e as festas juninas. O forró era realizado em casas de famílias das comunidades, muitas vezes sem existir salões especiais. Os irmãos Joaquim e José Luiz Cancian também eram companheiros para essas ocasiões. Francisco Taffner (Alemão) era o gaiteiro, tocava a noite toda, fazia tudo isso por amor e prazer, sem ganhar nada em troca. 5.18 O CARNAVAL DE ITARANA O carnaval de Itarana sempre foi muito animado. Constam dos relatos de Luciano Ventorim (1990) que nos anos de 1932-1934, a cidade possuía dois blocos carnavalescos, as famílias participavam com entusiasmo e desfilavam até em Itaguaçu. Nas férias escolares, lá iam, todos mascarados, participar dos blocos de rua e depois dos bailes noturnos no Clube de Regatas do Flamengo de Itarana. No carnaval de 1970, Odílio estava de cabeça raspada, pois havia passado no vestibular de Engenharia Agronômica. Reuniram-se a família Taffner e Sepulcri: Evilásio, Eraldo, Solimar, Maria Helena, Eurides, Maurilia, Maria Margarida, Geraldo Luiz, Odílio e os amigos e primos, como Maria Cristina, que estavam passando férias na casa de Alexandre e Bela, e foram para a primeira noite de carnaval num sábado. Durante o baile transcorreu tudo bem. Já no final quebrou o pau: a turma de Itarana contra o grupo deles (de família). Foi pontapé para lá, soco para cá, um tentando proteger o outro. Geraldo Luiz e Evilásio deram soco até no vento. A confusão foi se desenrolando em direção à porta de saída do clube. De repente, era toda a cidade contra eles. Saíram correndo, pegaram o caminhão, antes conferiram se todos estavam presentes, e fugiram em disparada. Ao contar o ocorrido para Alexandre, ele ficou muito preocupado e disse se foi assim no primeiro dia, como será nos demais. No dia seguinte, encarregou-se de ir a Itarana e selar a paz com todos os envolvidos. Falou com os pais, com os envolvidos, com a polícia e a segurança, enfim, negociou para que todos se divertissem civilizadamente. Nas noites seguintes, eles também reforçaram o grupo deles com a família Cover e organizaram estratégias para enfrentar uma possível briga mas, felizmente, tudo transcorreu normalmente. 82 5.19 Odílio Sepulcri AS BODAS DE PRATA Alexandre e Bela casaram em 1940 e, em 26.10.1965, completaram os seus vinte e cinco anos de casados as Bodas de Prata. Já se relatou, em outra parte desse livro, o casamento humilde que Alexandre e Bela tiveram. Ao aproximarem-se as Bodas de Prata, Alexandre e Bela, com os filhos já encaminhados nos estudos e a situação econômica e financeira estabilizada, decidiram fazer a festa de seus sonhos nessa data. Organizaram uma grande festa em uma noite na residência onde moravam, com uma mesa farta, regada a bebidas, com a participação especial da Banda de Música Lira Zeferino Xisto Toniato, de Itarana. Para isso, foi necessário um mutirão de mulheres e homens para fazer todos os preparativos que antecederam o evento. Para a festa, foram convidados parentes, vizinhos e amigos da cidade de Itarana. Estima-se que compareceram cerca de 500 pessoas. Seu irmão Luiz Sepulcri, que residia em Belo Horizonte, também estava presente. Alexandre e Bela ficaram muito felizes por esse momento de alegria que puderam proporcionar e compartilhar com seus amigos. Família Sepulcri 5.20 83 A HERANÇA O sogro de Alexandre, Guerino Demoner, era fazendeiro bem sucedido que, além de muitos filhos, possuía muitas terras e um considerável rebanho bovino e suíno. Alexandre, embora tenha tido sucesso em seus empreendimentos, construindo um razoável patrimônio, formado e educado uma bela família, certamente alimentava a esperança de receber parte da herança de seu sogro. Guerino, seguindo a tradição italiana, doou todo o seu patrimônio em terras para os filhos homens. Cada filho que se casava recebia uma colônia. Para as filhas doou dez mil cruzeiros para cada uma. Alexandre nunca se conformou com esse fato, achava que todos os filhos deveriam ter direitos iguais. Seguidamente, recordava isso com a família, batendo na mesma tecla da igualdade. Certo dia, Odílio, sensibilizado pelos argumentos de seu pai, prometeu que doaria a parte da herança que lhe tocasse a suas irmãs, talvez, inconscientemente, querendo resgatar a justiça preconizada pelo seu pai. Quando Alexandre e Bela faleceram, os oito filhos se reuniram e distribuíram a herança entre si. Odílio cumpriu o prometido e fez a doação a suas irmãs. Nessa partilha, embora estivessem envolvidos oito irmãos, todos concordaram com os critérios de divisão e não houve reclamações, todos chegaram a um consenso. Para Maurilia, por concordância de todos, foi dado um lote de terras a mais, localizado em Vila Velha, como reconhecimento do seu trabalho junto a Bela e Alexandre, pois ela permaneceu lá na roça ajudando-os enquanto os demais estudavam em outras cidades. Não se tratou de pagamento, mas sim, de reconhecimento. 5.21 O LEGADO DE ALEXANDRE E BELA Alexandre não admitia injustiça com as pessoas. Tinha sede de justiça. Vez por outra ia ao Juiz de Direito, na Comarca Municipal de Itaguaçu, para denunciar atos de injustiça ou sair em defesa de amigos. Por várias vezes, Alexandre, por achar injusto e o prejudicado não ter condições financeiras para tal, custeou despesas de advogados para que a justiça se fizesse. Alexandre e Bela, além dos princípios de honestidade, ética, justiça, eram solidários, acolhedores e humanos. 84 Odílio Sepulcri Foto 52: Alexandre e Bela Fonte: Foto do acervo da família. Alexandre e Bela dedicaram toda a sua vida à educação dos filhos e foram felizes na escolha. Dos oito filhos, cinco concluíram o nível superior, sendo dois Pedagogos, um Engenheiro Agrônomo, um Médico Veterinário, um formado em Ciências Contábeis, um Técnico Agrícola e dois completaram a quinta série. Os estudos encaminharam os filhos para outras profissões que não a da roça. Além do legado educacional, os princípios éticos e morais podem ser observados no comportamento dos filhos na divisão da herança relatada nesse texto. Então, Alexandre e Bela eram santos? Não eram santos; tiveram seus momentos de acerto e erros como qualquer outro ser humano, mas souberam decidir, tiveram foco e persistência nesses objetivos e conseguiram transferir os valores culturais e morais a seus filhos. Em 1979, Alexandre e Bela venderam a propriedade em Santa Helena e mudaram-se para Itarana. Ambos ficaram doentes. Alexandre teve uma depressão profunda e, nesse período, foi acolhido por Wenilton Dalmonico e esposa a quem a família deve muita gratidão. Alexandre faleceu em 18 de janeiro de 1983, com sessenta e sete anos. Após a sua morte, Bela foi morar com Maria Margarida e Carlos, que dedicaram muito amor e carinho a ela nos seus momentos finais de vida. Bela, como retribuição, doou a Brasília amarela para eles. Bela faleceu em 29 de setembro de 1985, com sessenta e nove anos. Ambos estão sepultados no Cemitério Municipal de Itarana. Família Sepulcri 85 Foto 53: Maria Margarida, Odílio, Maria Luiza, Eurides e Gessy 2011 Fonte: Foto do acervo da família. Foto 54: Odílio, Carlos, Maria Margarida, Roberta, Maria Luiza, Izequiel, Gessy, Eurides 2011 Fonte: Foto do acervo da família. 86 Odílio Sepulcri Foto 55: Odílio e Maria Luiza 2011 Fonte: Foto do acervo da família. Foto 56: Em pé: Odílio, Maria Cristina, Maria Luíza e Geni. Sentados: Eurides e Maria Paulina 2011 Fonte: Foto do acervo da família. Família Sepulcri 87 Foto 57: Geni, Gerusa, Maria Cristina, Maria Luiza, Odílio, Gessy e Maria Paulina 2011 Fonte: Foto do acervo da família. Foto 58: Leila, Geni, Gerusa, Maria Cristina, Eurides, Maisa, Anna Beatriz, Maria Luiza e Odílio 2011 Fonte: Foto do acervo da família. 88 Odílio Sepulcri Foto 59: Eurides, Maurilia, Odílio e Maria Margarida 2011 Fonte: Foto do acervo da família. Foto 60: Gessy, Eurides, Maurilia, Odílio, Maria Luiza, Maria Margarida e Carlos 2011 Fonte: Foto do acervo da família. Família Sepulcri Foto 61: Gildo, Maria Luiza, Odílio, Maria Paulina, Eurides e Gessy 2011 Fonte: Foto do acervo da família. Foto 62: Gerusa, Gildo, Gizeli, Odílio, Maria Paulina, Eurides e Gessy 2011 Fonte: Foto do acervo da família. 89 90 Odílio Sepulcri Foto 63: Maria Margarida, Odílio, Maria Luiza e Carlos 2009 Fonte: Foto do acervo da família. Foto 64: Odílio, Roberto, Juarez, Dagmar, Eurides, Maurilia, Maria Margarida e Geraldo Luiz 1985 Fonte: Foto do acervo da família. Família Sepulcri 91 6 A PALAVRA DOS AMIGOS A seguir o relato de alguns amigos que conviveram com Alexandre e Bela. 6.1 LUIZ HELVÉCIO FIOROTTI ENTREVISTADO EM 22.05.2011 Segundo ele, Alexandre foi pioneiro no plantio de tomate em Itarana e em desvendar o mercado da capital, Vitória, com os seus produtos. Seu pai, José Fiorotti (Bepi) era muito amigo de Alexandre. Foi ele que construiu sua casa, aproximadamente em 1951, o curral para os bovinos, as caixas dágua para irrigação de tomate, entre outros. Todo o serviço de pedreiro da propriedade de Alexandre era feito com o apoio do pedreiro e construtor Bepi. Os materiais de construção utilizados na casa, tais como telhas, tijolos, areia, cimento, madeira, foram transportados com o carro de boi de Alexandre. Nessa época, Bepi interessou-se por uma novilha que Alexandre tinha no pasto e quis comprá-la. Alexandre, de casa nova, necessitava de uma bomba dágua para colocar água em sua residência, então, disse a Bepi: leve a novilha e me dê uma bomba, não interessando o valor do negócio e sim valorizando a amizade de longos anos de ambos. Na construção da Igreja Matriz de Itarana, na década de 1940, Alexandre, que ainda era solteiro, participou no transporte da terra escavada para a sua construção. A terra era colocada em cima de um couro de boi e puxada pelos bois até o local onde seria colocada sobre caminhões para o destino final. 92 Odílio Sepulcri Alexandre liderou, com um grupo de amigos, a construção da igreja de São Sebastião de Itarana. Para arrecadar recursos para a sua construção foi organizado um sistema de leilões na Igreja Matriz durante vários dias. Cada pedreiro existente em Itarana, inclusive Bepi, trabalhou uma semana gratuitamente na construção da igreja. Alexandre era o encarregado de contatar com os amigos e pessoas conhecidas para fazer pedidos extras para a doação em benefício da igreja. Assim, conseguiram realizar o objetivo final com a inauguração da Igreja. Certa época o vigário da paróquia de Itarana quis demolir a igreja, Essa atitude provocou uma grande indignação em Alexandre. Ele liderou o movimento contra a demolição e depois de muita encrenca, o movimento conseguiu manter a igreja intacta, perdendo apenas um lote de terras que fazia parte de seu pátio. 6.2 ESTEVÃO COVRE ENTREVISTADO EM 20.05.2011 Quando ele voltou da Itália, onde participou da Segunda Guerra Mundial, em 1945, conheceu Alexandre Sepulcri que já era amigo de Augusto Covre, seu irmão. Foi um dos maiores amigos de seu irmão. Em 1948, Alexandre teve a oportunidade de comprar uma propriedade rural em Cinco Pontões, município de Afonso Cláudio. Não tinha todo o dinheiro disponível, então pediu dinheiro emprestado a seu sogro Guerino Demoner que era fazendeiro e não o emprestou. Conseguiu o dinheiro com seu amigo e compadre José Perim, sem juros e sem prazo fixo para pagamento. Nessa propriedade, Alexandre formou um grande cafezal e ganhou muito dinheiro. No início de sua vida, quando ia se casar, Alexandre ajudou Estevão a construir a sua primeira casa em Itarana. Estava com casamento marcado, mas depois não deu certo. Depois, algumas vezes, Alexandre o levou à casa de seu sogro para conhecer as irmãs solteiras de Bela, para ver se dava namoro, mas não deu certo. Alexandre era muito trabalhador, honesto, exigente e um excelente vizinho. Quando iniciou o transporte de café com carro de boi para a Empresa Toniato, seu irmão, Augusto, emprestou-lhe a primeira junta de bois. Alexandre puxava o café de madrugada e, por essa razão, nunca cobrou o frete do transporte de Augusto. Na década de 1950, instalou um sistema de aquecimento de água através da adaptação de serpentina no fogão a lenha. Família Sepulcri 93 Foi pioneiro no plantio de tomate e iniciou a comercialização de seus produtos nos mercados de Colatina e Vitória. Por duas vezes, Alexandre tentou vender a sua propriedade e ele interviu, aconselhando-o a não vender. Em 1978, Alexandre vendeu e se arrependeu, concluiu Estevão. 6.3 JOAQUIM CANCIAN ENTREVISTADO EM 21.05.2011 Joaquim, amigo e vizinho da família, filho de José Cancian e Femínea Viganó, era a quem Alexandre recorria para fazer companhia à família que tinha medo de ficar só em suas viagens frequentes, que duravam normalmente quinze dias, quando ia a trabalho à propriedade de Cinco Pontões. Joaquim cresceu junto com a família e se tornou grande amigo e companheiro. Nos finais de ano, era sempre convidado para passar o natal junto com a família. Joaquim relata que, logo que Alexandre se mudou para lá, puxava café de carro de boi dos vizinhos para o Toniato. No transporte do café, Alexandre trabalhava sempre de madrugada. Nesse período, Alexandre administrou, via processo de meação, duas lavouras de café, sendo uma das lavouras de Ângelo Viganó e outra de Sebastião Taffner. Em 1954, Alexandre adquiriu um trator, equipado passando a prestar serviço de preparo de solo (aração e gradagem) para os vizinhos e, também, a preparar o solo de suas várzeas para o plantio de arroz. Essa área era compartilhada com os vizinhos num trabalho de parceria na produção de arroz. Quando Alexandre era mais jovem, jogou futebol no time do Toniato, juntamente com Hilário e Zeferino Toniato (Tatinha), Luiz Pesente e Sebastião Taffner. Alexandre, no seu moinho, moía milho, transformando-o em fubá para toda a comunidade, à base de troca. Para cada duas quartas de milho (vinte litros), devolvia duas quartas e meia de fubá. Tinha um apiário de abelhas europeias, produzia mel e fornecia para a vizinhança. Posteriormente, por volta de 1957, Alexandre mudou de atividade, iniciou o plantio de tomate e abriu esse comércio com os mercados de Colatina e Vitória. Vários vizinhos foram influenciados por ele e iniciaram, também, essa nova atividade na propriedade. Alexandre era muito prestativo e, quando necessário, levava os vizinhos doentes ao médico. Certa vez, Joaquim tinha uma dívida junto ao 94 Odílio Sepulcri Banco do Brasil, em função de haver financiado sua lavoura e houve frustração de safra. Não tinha alternativa para quitar o Banco, senão vender a propriedade. Alexandre, sabendo disso, fez uma proposta a Joaquim, para plantar uma lavoura de tomate em parceria. Ele forneceria o preparo do solo, todos os insumos e a irrigação, Joaquim participaria com a mão de obra. Quando terminou de colher a safra de tomate, havia pagado toda a dívida e ainda sobrou dinheiro em caixa. 6.4 ANASTÁCIA RIZZI VIGANÓ ENTREVISTADA EM 21.05.2011 Anastácia lembrou de parte da trajetória de Alexandre na parceria do plantio de arroz e na construção da Igreja, onde cada família doava uma saca de café. Falou da charrete, do transporte dos vizinhos doentes para o hospital e das festividades da Semana Santa na carreta do trator. Todos esses fatos já foram relatados detalhadamente nesse livro. Anastácia relatou que a sua família perdeu a propriedade onde morava pela execução de uma dívida junto ao banco. Ao falarem com Alexandre sobre o assunto, imediatamente ele os tranquilizou e disse que não ficariam desamparados. Cedeu um pedaço de terra para construírem a sua moradia, onde residem até hoje. 6.5 JOSÉ LUIS GIOSTRI ENTREVISTADO EM 05.09.2011 Informou que ele, sua mãe e mais três irmãos mudaram-se para as terras de Alexandre quando bem pequenos. Aos treze anos, ele começou a trabalhar na roça e sua mãe Dona Mariquinha lavava roupa para a família. Ele aprendeu a dirigir o trator com Alexandre e, a partir daí, ajudou bastante na aração e gradagem das terras. Além disso, ele também tomava conta do gado junto com Maurilia. Havia vacas muito bravas. Quando nasciam os bezerros ele os carregava e Maurilia vigiava as vacas para não atacá-lo. Antes de possuir o trator, o Sr. Alexandre tinha o carro de bois, cortava lenha e levava para vender na cidade de Itarana. 6.6 DÉLIO GIOSTRI ENTREVISTADO EM 23.05.2011 Seu pai, Gino Giostri, havia se separado de sua mãe Maria Giostri (Mariquinha) e a deixou com quatro filhos, José, Irma, Délio e Iria. Passa- Família Sepulcri 95 vam por sérias restrições financeiras e até alimentares. Alexandre, ao ser informado, foi buscá-los e alojou-os em uma pequena casa em sua propriedade em Santa Helena. Nessa época, Délio estava com sete anos. Alexandre ofereceu local para morarem e, principalmente, para plantarem arroz, mandioca, banana e milho. Arranjou trabalho para Mariquinha e José e fornecia farinha de milho (fubá) para fazer polenta. Nessa época, Alexandre levantava de madrugada e ele, quando mais crescido, acompanhava-o para transportar café com o carro de boi do Ângelo Viganó até Itarana, para a máquina de beneficiamento da Maria do Galera. Na volta, passavam na comunidade de Ferrugem e traziam cana-de-açúcar para alimentar o gado, no período de seca, quando os pastos estavam debilitados. Alexandre era honesto, trabalhador e muito sistemático. Não admitia que os animais dos vizinhos invadissem sua propriedade, especialmente os suínos que devoravam as lavouras de inhame. Avisou e reclamou com os vizinhos por várias vezes, mas nunca apareciam os donos dos animais. Depois de ter ajustado com o Juiz de Paz de Itarana, Sr. Carlito Aguiar, Alexandre decidiu prender os suínos que invadiam sua plantação e não mais soltá-los, mesmo que lhe implorassem. Aí, começaram a aparecer os donos dos animais. Dessa forma, Alexandre cevou vários suínos. Certo dia, Alexandre prendeu um porco de Arone Taffner. Ao ser procurado pelos seus filhos, Alexandre (Baiano) e Francisco (Alemão), para soltar o animal, Alexandre foi inflexível, mantendo-o preso. Certa manhã, Baiano e Alemão apareceram armados com espingarda e deram uns tiros para cima, assustando toda a família, soltaram e levaram o porco sem o consentimento de Alexandre. A primeira charrete de Itarana foi de Alexandre, construída pelo seu pai Pietro Sepulcri. Nessa época Délio acompanhava Dona Bela e as crianças de charrete nas visitas a seus pais, Guerino e Maria Demoner e a seus irmãos, no Bom Destino. O Senhor Pietro Sepulcri, já bem velhinho, fazia artesanato de madeira para que ele vendesse para as comunidades vizinhas, onde obtinha alguma renda. De tempos em tempos, para que o moinho de milho funcionasse bem, havia a necessidade de fazer a limpeza do canal, de cerca de oitocentos metros, que fornecia água para a roda dágua mover o moinho. Esse canal sempre era limpo pelos vizinhos. Certa vez, as famílias Viganó, Cancian, Mapelli e Guarnieri estavam fazendo a limpeza e havia muitos peixes (bagre, lambari, traíra e outros) e, à medida que faziam a limpeza do canal, iam capturando os peixes e colocando-os em pequenos cercados com água limpa. Numa dessas ocasiões, Délio e Odílio, sem que os outros soubessem, coleta- 96 Odílio Sepulcri ram todos os peixes e prepararam uma bela moqueca. Quando foram procurar os peixes, nada encontraram. Alexandre gostava de jogar bisca (jogo de cartas da cultura italiana) e Délio era o seu parceiro preferido, sempre jogavam juntos. Quando havia jogo na casa de Alexandre, o lanche era certo, Ficava torcendo para que esse dia logo chegasse. Nas festas de final de ano, ele sempre o convidava para a ceia do Natal que era bastante farta. Numa dessas festas, nas vésperas do Natal, Délio passou mal do intestino e teve que fazer regime, logo se privando dos comes e bebes, o que foi, segundo ele, uma de suas maiores tristezas. Na propriedade de Alexandre, Délio e família moraram por cerca de oito anos. 6.7 WALTER COVRE ENTREVISTADO EM 05.09.2011 Walter Covre informou que Alexandre Sepulcri e seu pai, Augusto Covre, eram muito amigos e estavam juntos todas as semanas. O início da vida do Sr. Alexandre foi com carro de bois. Esse carro era diferenciado dos outros, porque as rodas eram de pneus de borracha enquanto os demais eram de madeira. O carro de bois era utilizado para puxar café para a máquina de beneficiamento que era da família Toniato. Após a compra do trator, Alexandre arava terra para todos da redondeza. Um fato lembrado por Walter foi que, por ocasião de um trabalho feito com trator na propriedade de seu pai, ficou uma parte sem ser lavrada e Walter foi completar com a enxada. Quando o Sr. Alexandre viu, falou para ele. Quer ver que, com apenas uma passada com a grade, eu capino isso tudo e assim o fez. Walter se lembra dos dois caminhões, sendo um amarelo que era dirigido pelo Senhor Alexandre e um verde dirigido pelo Ernesto Blanck (Ernesto trabalhou uns seis meses). Ambos transportavam verduras para o mercado de Vila Rubim em Vitória. Certa vez, em plena Vila Rubim, um dos caminhões empinou, dando um enorme susto, pois a mercadoria de maior peso estava toda na parte traseira da carroceria, o que provocou esse fato. Nem todos sabiam, mas o Sr. Alexandre não olhava no retrovisor para dar marcha ré no caminhão e, quando o fazia, já esperava a batida no que estivesse atrás e até fazia pose. O Sr. Alexandre sempre foi muito caprichoso e se preocupava com o próximo. Toda vez que ele ia à casa deles, reclamava que tinha que passar Família Sepulcri 97 pelo curral e dizia para seu pai que ele deveria fazer um calçamento naquela entrada, pois era inadmissível ter que passar por estrumes de gado para chegar à residência. Conta, ainda, que ele e seus irmãos gostavam muito de suas visitas, pois ele levava os filhos, especialmente Odílio e Geraldo Luis e brincavam muito. Havia a charrete que era utilizada para levar os filhos do Sr. Alexandre (Eurides, Maria Margarida, Odílio e Geraldo Luis) para estudar em Itarana e ele e Nicolau, seu irmão, iam juntos. Muitas vezes, dormiam na casa da família Sepulcri e, no dia seguinte, voltavam para casa, atravessando o morro que havia entre as duas residências. O Sr. Alexandre, além de franco, era muito brincalhão. Contou que, certa vez, comeu muita jabuticaba e ficou com prisão de ventre. Foi necessário recorrer ao médico, Dr. Demócrates, que aplicou nele um supositório e que ele falou para o médico: O senhor faz isso com os pacientes e fica aí bem tranquilo, não é doutor? Além de todo o trabalho que realizava ainda sobrava tempo para pescarem, à noite, no rio que ficava próximo a sua casa. Ele e D. Bela iam de trator e pescavam muitos bagres. Eles pescavam de cima da ponte da estrada que liga Afonso Cláudio a Itarana. 6.8 ANTONIO JOSÉ VIGANÓ ENTREVISTADO EM 04.09.2011 Antônio José Viganó informou que estava com Alexandre Sepulcri quando tombou o caminhão de frete. Saíram de madrugada para chegar ao amanhecer no mercado. Alexandre havia carregado o caminhão na tarde anterior. Além dele e Alexandre, estavam na cabine do Chevrolet Jaime Muller e José Martinelli. Só ele se machucou, ficando desacordado. Alexandre, desesperado achando que ele havia morrido, pegou-o nas costas e saiu em busca de socorro. Nesse momento, passou pelo local o ex-prefeito de Itarana, Antônio de Martim, que os encaminhou ao hospital da cidade de Fundão. Antônio se recuperou em seguida, foi apenas o susto. O caminhão perdeu os freios e saiu desgovernado serra a baixo e Alexandre o jogou contra o barranco. O caminhão subiu até certa altura e capotou sobre o asfalto, despejando toda a carga de tomate. A pista ficou toda vermelha de tomate. Foi um tremendo susto. Antônio afirma que Alexandre, ao perceber que o veículo não tinha freios e aumentava a velocidade serra abaixo, gritava por todos os Santos. Ele crê que foi a fé que os salvou desse acidente. 98 Odílio Sepulcri Junto, na cabine, havia dois garrafões de pinga e não quebraram. A carga total era de 400 caixas de tomate que formavam sete pilhas de altura, sendo 190 só dele. Toda a carga foi perdida e o Sr. Alexandre propôs pagar os prejuízos, mas os donos das verduras não aceitaram, pois ninguém tinha culpa do acontecido. Somente Pirola quis receber. Alexandre era uma pessoa muito honesta e trabalhadora. Comprou suas terras com muito sacrifício, primeiro de Pedro Guarnieri e, depois, foi comprando dos vizinhos, ampliando assim o seu território e adquirindo bens. Com o primeiro carro (caminhonete verde), levava verduras para Colatina. Por ocasião dos festejos na Igreja de Itarana, ele transportava os vizinhos de carro de boi e cobrava uma pequena quantia. Os dois primeiros bois chamavam-se Laranja e Inhapim (um vermelho e outro amarelo) e os outros dois, Jagunço e Mimoso. Esses bois levavam 40 sacas de café a frete em cada viagem. Alexandre trabalhou muito na construção da Igreja Matriz de Itarana com a junta de bois, tirando terra arrastada sobre um couro de boi (escavação atrás da Igreja). Alexandre comprou uma mula do Padre José, então Vigário de Itarana, para levar café em coco do morro, próximo à casa de Ângelo Viganó, seu pai. Alexandre colhia o café no alto do morro e transportava um saco nas costas e dois sacos no lombo da mula. No pé do morro, a cerca de 500 metros de onde havia colhido, lavava-o para tirar a terra e demais impurezas, secava-o ao sol, no terreiro e colocava no carro de bois e daí para a máquina de beneficiamento. 6.9 ÉLCIO LUIZ GUARNIERI ENTREVISTADO EM 21.05.2011 Élcio recordou toda a trajetória da família de Alexandre, iniciando com o transporte de mercadoria com o carro de boi, posteriormente a aquisição do trator Ford, passando pela prestação de serviço de aração e gradeação para toda a vizinhança e comunidades do seu entorno. Na lida com o gado, Maurilia era a responsável por ordenhar as vacas diariamente. Citou o plantio de arroz compartilhado com a vizinhança. A aquisição da camionete Ford 1929 que, além de transportar a sua família para a cidade de Itarana, dava carona aos vizinhos, quando esses iam assistir à missa na cidade e atendia as emergências médicas da comunidade, transportando os doentes aos médicos e hospitais. Alexandre estava sempre pronto para servir aos vizinhos no que precisassem. Família Sepulcri 99 Fez referência da amizade de seu pai com Alexandre, inclusive era seu pai quem cortava o cabelo de toda a família. Alexandre esteve no Guarataia, comunidade onde moravam, para convidar seu pai a trabalhar no plantio de verduras, especialmente tomate, na propriedade de Lilia Demoner, em Bom Destino. Essa propriedade era administrada por Alexandre e lá permaneceram durante oito anos. Esse convite foi muito importante, pois melhoraram sua situação econômica e financeira e adquiriram a propriedade onde residem até hoje. 6.10 MARIQUINHA E GILDO ENTREVISTADOS EM 20.05.2011 Mariquinha e Gildo tiveram um papel de destaque no apoio aos estudos dos filhos de Alexandre e Bela. Quando Odílio iniciou os estudos no Ginásio de Itarana, eles o abrigaram em sua casa. Por serem as aulas no período noturno, das dezenove às vinte e três horas, Odílio ia aos finais de tarde e retornava na manhã seguinte, pernoitando na casa de Mariquinha e Gildo. Como não tinha espaço no interior de sua casa, Mariquinha colocou uma cama para Odílio em seu atelier de costura. O coração de Mariquinha era tão bondoso que ela não se importava com aquela cama, tirando toda a estética de seu local de trabalho e deixando quase sem espaço para as suas clientes. Quando mudaram para Vitória, sua casa foi passagem obrigatória de Odílio, Geraldo Luiz e Juarez para refeições, banhos e pernoites, que, por estudarem em outros estados, tinham que fazer conexão rodoviária em Vitória. Além disso, eles estavam sempre disponíveis para acolher e abrigar com todo amor e carinho em sua residência, sempre que a família de Alexandre e Bela precisassem por algum motivo de saúde, pois, em Vitória, havia mais recursos médicos. Por tudo isso, têm uma gratidão imensa por essa família que apoiou a família Sepulcri nos momentos necessários. Se tiveram êxito na sua caminhada, grande parte devem creditar a Mariqunha e Gildo. Mariquinha e Gildo relatam que: Na sala de jantar da casa de seus pais, Guerino e Maria, existia uma grande mesa para abrigar todos os familiares que eram quatorze irmãos. Foi num desses momentos de muita alegria, na hora do jantar, que foi anunciado o casamento de Bela e Alexandre. No início do casamento, quando foram morar no Triunfo, tiveram muita dificuldade pois, segundo Gildo, possuíam um só cobertor. Lá, conseguiram 100 Odílio Sepulcri algum dinheiro e, após quatro anos, foram morar em Santa Helena, com as três filhas nascidas no Triunfo. Gildo afirma que conheceu Alexandre em 1948, ele gostava de jogar bocha, era muito querido e divertido. Quando mudaram para Vitória, moravam em uma casa com pouco espaço. Sempre que Bela tinha problema de saúde, Alexandre, mesmo tendo condições de hospedá-la em outro local, fazia questão de deixá-la na casa de Mariquinha, pois sabia que seria tratada com amor e carinho e poderia retornar com tranquilidade para a sua casa e cuidar dos negócios. Quase todas as férias, Maria Cristina, sua filha, passava na casa de Alexandre e Bela. Numa dessas passagens ela foi infectada com esquistossomose, pois as águas dos rios que banhavam a comunidade eram contaminadas. Alexandre e Bela tiveram um grande mérito nos estudos e na formação dos filhos. 6.11 JAIR MAPELI ENTREVISTADO EM 04.09.2011 Jair, quando ainda adolescente, foi trabalhar com a família de Alexandre na lida com a cultura do tomate e outros legumes e verduras. Apesar de sua juventude, era trabalhador e para ele não havia tarefa difícil. Pela sua idade, próxima à de Odílio e Geraldo Luiz, era tratado com membro da família e participava das refeições juntamente com todos os componentes da casa. Jair era muito econômico, tinha uma boa noção de finanças pessoais, guardava cada centavo que ganhava, talvez a principal razão de seu sucesso após deixar os Sepulcri. Adorava chamar o Odílio de moleirão que era o seu apelido na família. Jair disse que aprendeu a trabalhar em serviço braçal com Alexandre. Recebia semanalmente e tudo era anotado em um caderno. Ele se lembra do trator, da charrete e da camionete. O Sr. Alexandre era muito positivo, segundo ele, só apoiava as coisas certas, não tolerava injustiças. 6.12 EVILÁSIO TAFFNER ENTREVISTADO EM 21.05.2011 Evilásio é afilhado de Alexandre e Bela. Cresceu juntamente com seus filhos, pois possui praticamente a mesma idade de Odílio. Da infância à juventude, juntamente com seus irmãos, foram companheiros para todas as jornadas, no jogo de bola, na escola, nas brincadeiras de crianças, companheiro de namoro, dos bailes de carnaval, entre outros. Família Sepulcri 101 Quando estavam de férias, após visitar os pais, a primeira casa que iam era a de Sebastião e D. Helena, para compartilhar seus momentos de alegria, contar as novidades e colocar a conversa em dia, depois de longo período distantes uns dos outros. Evilásio e irmãos tiveram pais maravilhosos, era a sua segunda casa. Não foi por acaso que Sebastião foi um dos maiores amigos de Alexandre. Evilásio comenta: nós fomos criados juntos, compartilhamos quase tudo, as mesmas histórias e fatos, portanto teria pouco a acrescentar nesse relato. 6.13 DEPOIMENTO DE CARLITA MARIA DE CASTRO E COELHO Em 10.11.2009 às 20:52 horas, Carlita Castro <carlita_m_ [email protected]> escreveu: Senhor Odílio, Com minhas respeitosas desculpas, ouso me dirigir ao senhor. Há muito venho tentando um contato com sua família. Hoje, graças a Deus, consegui. Pesquisei no Google o nome de seu pai e o encontrei na dedicatória de sua tese de mestrado. Sou professora, moro no município de São Tiago, MG, casada, tenho quatro filhos, participo de movimentos e pastorais católicas. Conheci seus pais em Itarana, mais precisamente em Santa Helena. Era janeiro de 1976. D. Bela, assim a chamava, era uma santa mulher. Muito caridosa, me acolheu em sua casa, sem nenhuma referência. Morei lá mais de um mês. Depois arranjaram para mim uma outra casa, próxima à propriedade do Sr. Alexandre Taffner e D. Amorilda. Todos os dias ia à sua casa buscar o litro de leite que sua mãe me dava. Seu pai, o senhor Alexandre Sepulcri, era muito alegre, jovial. Trabalhava com um caminhão amarelo no transporte da SBE, companhia que construía linhas de eletrificação. Na Santa Helena morava também o Renildo, que auxiliava D. Bela nos afazeres da fazenda e, assim como eu, era quase da família. Conheci alguns de seus irmãos que foram passear na fazenda por esse tempo, não me lembro seus nomes, nem do senhor. Lembro-me que um era veterinário, um advogado e outro engenheiro. Ou estavam estudando. Havia uma irmã sua que morava em Itarana e tinha três meninas lindas, cujos nomes também 102 Odílio Sepulcri não me lembro. Todos eram o orgulho de D. Bela e Sr. Alexandre. Esse amor fez com que eu vencesse a barreira da exclusão social e, corajosamente, acolhesse a filha que estava esperando, sozinha. Não é por coincidência que ela se chama Helena e, assim como D. Bela, hoje eu também me orgulho muito dela. Belos tempos! Fui feliz. Experimentei a acolhida e o carinho de uma família completamente estranha num dos momentos mais difíceis da minha vida. Sua mãe foi para mim, gratuitamente, o porto seguro, a conselheira, a mãe. Pensei nesses anos todos, dizer-lhes a D. Fidélia e ao senhor Alexandre pessoalmente, tudo isso. Infelizmente, li ontem na citada dedicatória, que eles já não estão entre nós. Com certeza já receberam o prêmio por essa e tantas outras caridades que fizeram. Foi por isso que, num impulso de gratidão, tomei a iniciativa de escrever-lhe. Mais uma vez, desculpe-me. Cordialmente. Carlita Maria de Castro e Coelho. ---------- Mensagem encaminhada ---------Remetente: Odílio Sepulcri <odí[email protected]> Data: 19.11.2009 16:40 Assunto: Re: GRATIDÃO! Para: Carlita Castro <[email protected]> Carlita Maria, boa tarde! É muito agradável e confortante ter boas informações de nossos antepassados. Tenho o hábito de deletar os e-mail de pessoas que não conheço. Quando vi a palavra gratidão, despertou-me a curiosidade e fiquei muito feliz com suas informações. Gostei de sua iniciativa. Um grande abraço Odílio Família Sepulcri 103 De: Carlita Castro [mailto: [email protected]] Enviada em: segunda-feira, 14 de dezembro de 2009 22:27 Para: odí[email protected] Assunto: MAIS HISTÓRIAS. Uma história de amor: Sempre fui uma garota muito mimada. Tenho mais dois irmãos, homens. Sou a filha mais velha e única mulher. Meu pai tinha verdadeira adoração por mim. Nunca me faltou nada. Tínhamos um sítio em São Tiago e meus pais trabalhavam muito. Minha mãe procurava me enfeitar com o maior bom gosto. Sonhavam para mim uma carreira brilhante de professora primária. Apesar de ter um defeito visual bem aparente um não, dois: miopia e estrabismo sempre dei conta de tudo na escola. Era o orgulho de minha família, materna e paterna. Quando tinha 14 anos 1967 meu pai faleceu, com 38 anos, de problemas cardíacos incontroláveis e incuráveis para a época. Senti-me perdida. O mundo acabou. Pensei em matar-me. Senti-me rejeitada pela família. Mas minha mãe superou tudo e venceu aquele momento. Eu não sabia o que fazer com o amor que sentia por meu pai. Tinha uma carência enorme de ser amada. Passei a procurar desesperadamente um príncipe encantado que pudesse substituir meu pai. Em todos os sentidos. Conheci muitos, mas logo se transformavam em sapos. Estudei o Curso Normal. Formei-me com 18 anos. Fui professora numa comunidade rural, em 1971. No ano seguinte trabalhei em Belo Horizonte, quando encontrei um Grande Sapo. Voltei para São Tiago. Cinderela esfarrapada. Continuei trabalhando em São Tiago, na escola estadual. Em 1975 prestei vestibular para o curso de Letras na Faculdade D. Bosco de São João Del-Rei. Estudei até setembro. Encontrei o Príncipe Encantado. Era mais velho que eu oito anos, bonito, simpático, carismático, educado, carinhoso, dançava muito bem, vinha do Rio Grande do Sul e falava gauchês. Era encarregado da SBE (Companhia de Eletrificação que construía torres de transmissão para Furnas). Ganhava muito bem e tinha um TL azul novinho. Precisava mais? Deixei faculdade, escola estadual, colégio particular onde estava lecionando Educação Artística e Educação Moral e Cívica família, amigos, alunos, raízes. Acompanhei-o quando ele foi transferido para Barroso/MG. 104 Odílio Sepulcri Minha mãe e meus irmãos quase morreram. Ficaram envergonhados. Mudaram-se de São Tiago para Oliveira/MG e não quiseram nem saber de mim. Muitos amigos também me abandonaram. Moramos dois meses em Barroso. Voltamos para São Tiago e só uma tia nos acolheu. Ele trabalhou mais dois meses e, em janeiro de 1976, foi transferido para ITARANA/ES. Fiquei alguns dias organizando algumas coisas e, no final do mês, viajei sozinha para o Espírito Santo. Já estava grávida e me achando. Para mim, não existiam barreiras nem obstáculos. Fiz uma viagem muito cansativa. À noite. São Tiago - São João Del-Rei-Belo Horizonte-Vitória-Itarana. Gastei 36 horas! Sem dinheiro. Aflita para chegar e ser recebida em minha nova casa. Às 13 horas, num domingo cheio de sol, cheguei a Itarana. Não havia ninguém na praça onde o ônibus parou. Desci e sentei-me num banco. Meia hora depois o Príncipe chegou. Cheirando álcool. Abraçamos. Ele me chamando de Tampinha de Coca-cola, disse estar muito cansado e convidou-me a sentar no gramado. Deitou-se no meu colo e dormiu. Fingi dormir também. Ouvia quando pessoas passavam e faziam comentários, penalizadas. Diziam que ele aprontava nas noites itaranenses. Claro que eu não acreditei. Por volta das 16 horas, acordou. Chorando. Pobre Tampinha! Deve estar com fome! Vou levá-la para conhecer um amigo. O amigo era um motorista contratado pela SBE. Jovial, moderno, compreensivo. Dizia ter uma esposa muito carinhosa, também compreensiva e moderna, bacana mesmo. Moravam numa fazenda que ele ainda não conhecia. Acreditei e aceitei o convite. Não estava enganado. Chegamos à casa do Sr. ALEXANDRE SEPULCRI E D. BELA. Fomos recebidos com todas as honrarias. (Depois vim saber que eles não estavam preparados para aquela visita!). No início fiquei constrangida. Mas o carinho e atenção de D. Bela logo me deixaram à vontade. Ela percebeu que eu estava com muita fome e grávida. Levou-me para a cozinha e preparou-nos UM ALMOOOOOÇO. Logo escureceu. O Príncipe desculpou-se que já era tarde. Precisava trabalhar cedo no dia seguinte. Deixou transparecer que não tinha para onde me levar. D. Bela e Sr. Alexandre insistiram para que eu ficasse. Fiquei. No dia seguinte, Sr. Alexandre saiu cedo. Ficava a semana inteira na cidade. No sábado vinha para casa. D. Bela e eu, ansiosas, esperávamos Família Sepulcri 105 os dois. Preparamo-nos. Ela fez quitandas, bebidas e comidas que seu marido gostava. A casa estava nos trinques. Sr. Alexandre chegou no caminhão amarelo. Sozinho. Não me trouxe nem uma bala. Abraços ele disse que trazia. Desculpas também. Assim aconteceu durante três finais de semana. Fiquei muito decepcionada. Ouvia e Renildo contava que Sr. Alexandre estava muito bravo com o amigo. Numa tarde de sábado o Príncipe veio. No TL azul, já não tão novo. Tinha batido. Sem mais, nem menos, me levou a morar na casa que a família tinha próximo à propriedade do Sr. Alexandre Taffner. Não deixou dinheiro, nem comida. Só lenha para que eu cozinhasse mamão verde que colhia na horta e ferver o leite que buscava todos os dias na casa de D. Bela. Nessas idas e vindas, quase sempre almoçava com ela. Que comida gostosa! Até hoje me lembro bem. Dia nove de abril de 1976, outro domingo, sem nenhum sol, fui arrancada violentamente de lá. Deixada na rodoviária de Belo Horizonte, no 6° mês de gravidez, com uma nota de cem cruzeiros e uma passagem para Oliveira/MG nas mãos, nunca mais tive notícias de Itarana, nem dos amigos que lá deixei os Sepulcri, Taffner, Fiorotti, Chiabai, Demoner muito menos do PRÍNCIPE-SAPO. UFA! Quase escrevi o livro que tenho nos meus sonhos. Foi você quem pediu. Mais abraços. Carlita Maria Castro Coelho 106 Odílio Sepulcri Família Sepulcri 107 7 RELATO SOBRE OS FILHOS DE ALEXANDRE E BELA A seguir um breve relato da trajetória dos filhos de Alexandre e Bela, após o casamento de cada um. Foto 65: Juarez, Roberto, Geraldo Luiz, Odílio, Maria Margarida, Dagmar, Maurilia e Eurides 1985 Fonte: Foto do acervo da família. 7.1 EURIDES SEPULCRI Eurides e Gessy nasceram e viveram em Itarana-ES, até a juventude. Porém, o maior contato entre eles foi quando Eurides cursava o antigo 108 Odílio Sepulcri Ginásio. Muito embora a diferença de idade entre eles seja pequena, Gessy foi professor da Eurides no Ginásio Itarana (Geografia e OSPB), assim como de outros de seus irmãos. Nessa época ele era bancário e havia feito um Curso de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário, para dar aulas no Estado do Rio de Janeiro. No ano de 1984, quando Eurides e uma colega regressavam de um trabalho realizado no Norte do Estado, precisamente da cidade de Fundão, embarcou no mesmo ônibus um velho conhecido, ex-professor e contemporâneo, Gessy Amaral. Por coincidência essa colega é parente do mesmo. Durante a conversa, Gessy informou que havia terminado o seu casamento. A partir desse dia começaram os telefonemas de Gessy com o objetivo de falar com a sua colega e aproveitava para dar umas palavrinhas com a Eurides e jogar charme. Nessas conversas ficou-se sabendo que ambos gostavam de jogar baralho. Um belo dia, ele foi convidado para ir à casa de Eurides em Laranjeiras, isto é, em 28 de outubro de 1984. A partir dessa data iniciou-se um relacionamento, faziam rodadas de jogos de baralho em finais de semana ou à noite quase sempre com o irmão Roberto, a cunhada Maria José que residiam próximo, além de outras colegas da Eurides. Havia também jogos de Canastra e Buraco com os vizinhos, Luiz Dalfine e sua esposa Conceta, os quais eram muito queridos da família. Gessy, por ter um espírito brincalhão, diz que Eurides, na época em que era estudante, ficava encantada por ele. Ele sempre se lembra do uniforme que ela usava (saia pregueada) e com isso facilitava o seu rebolado. A mãe de Eurides, bem como as irmãs que residiam em Itarana, demonstraram interesse em rever Gessy, pois o mesmo ficou por longa temporada ausente, residindo em outras cidades. O relacionamento frutificou. Era desejo de ambos viver juntos, principalmente por incentivo de parentes e amigos. Os anos foram passando e atualmente têm 27 anos de convivência. Residiram em Laranjeiras por vinte e seis anos. Gessy foi sempre um grande companheiro, apoiando Eurides na melhoria da residência e acolhendo as sobrinhas dela para residirem em sua casa a fim de estudar. Quem ficou mais tempo em sua casa foi Karla, por nove anos. Atualmente residem em Jardim da Penha, Vitória-ES e a sobrinha Gizeli mora com eles. Como estão aposentados, o hobby deles, hoje em dia, são as viagens. Frequentemente, viajam pelo Brasil e recentemente foram à Europa, ocasião em que visitaram Portugal, Espanha, França e Itália. Família Sepulcri 109 Foto 66: Eurides e Gessy Paris, 2011 Fonte: Foto do acervo da família. 7.2 MAURILIA SEPULCRI GONÇALVES Maurilia casou-se com José de Souza Gonçalves em 30 de Março de 1975, na Igreja de São Pedro, no município de Afonso Cláudio ES, em cerimônia realizada pelo mesmo padre que casou Alexandre e Bela Padre Paulo. Por causa de uma mudança de emprego de José, em 1976, mudaramse para Governador Valadares MG, onde nasceu Alessandra Sepulcre Gonçalves, primeira filha do casal, em 27 de Outubro de 1977. Após o nascimento de Alessandra, Maurilia e José mudaram-se novamente para o Espírito Santo, vivendo por um tempo em Itarana e depois se mudando para uma casa em Vila Velha, comprada por Alexandre. A vida seguiu e, em 11.03.1980, Maurilia deu à luz seu segundo filho, Alexandre Sepulcre Gonçalves, que recebeu esse nome em homenagem ao avô. Mesmo morando em Vila Velha por mais de vinte anos, Maurilia e família sempre foram muito próximos a Alexandre e Bela, indo constantemente a Itarana, proporcionando aos filhos um convívio muito próximo com os avós. Após os falecimentos de Alexandre e Bela, Itarana continuou sendo o lugar de paz e boas risadas. Os amigos, as lembranças, as raízes sempre foram muito presentes na vida de Maurilia e sua família. Em 2005, Maurilia e José voltaram definitivamente para Itarana, onde moram até hoje. 110 Odílio Sepulcri Foto 67: Hilda Márcia, José, Alessandra, Maurilia, Alexandre e Pedro 2011 Fonte: Foto do acervo da família. Alessandra é instrutora de idiomas, formada em Letras-Inglês e Português e mora com os pais. Alexandre é Tecnólogo em Perfuração de Petróleo e Gás, área na qual trabalha em Macaé RJ. Em 2011, ele casou-se com Hilda Márcia da Mota Amaral Gonçalves. Eles têm um filho, Pedro, hoje com dois anos. 7.3 DAGMAR SEPULCRI Dagmar foi a que se casou mais cedo, com Djalma Venturini, em 1963. Após o casamento foi morar em Jatibocas, município de Itarana, juntamente com seus sogros Sabina e João Venturini, que trabalhavam na Usina Hidrelétrica que fornecia energia para vários municípios. Lá nasceram as filhas Maisa, em 1965, e Elizabeth, em 1966. Gizeli nasceu em Itaguaçu-ES, em 1968. Além de cuidar das filhas e dos afazeres domésticos, também plantava, colhia e vendia mandioca para complementar a renda e o sustento da família. Após três anos, foram morar no sítio dos sogros em Guarataia, município de Itarana. Lá permaneceram com muita dificuldade, pois não havia água encanada e, quando precisava lavar as roupas da casa, levava as filhas com ela, pois não tinha com quem deixá-las. Família Sepulcri 111 Em 1972 foram residir em Itarana e continuaram a morar com os sogros. Logo após o falecimento do sogro, em 1984, divorciou-se de Djalma. Então, para continuar cuidando das filhas e lhes proporcionar estudo, Dagmar conseguiu um emprego nas Instituições Educacionais do Município de Itarana, onde se aposentou. Em 08.12.2001, conheceu Arnildo Bernardes através de uma amiga comum. Ele morava em São Paulo, namoraram durante quatro meses, casaram-se em 08.12.2001 e residem em Itarana até hoje. Viajam constantemente, pelo menos três vezes ao ano, para Cubatão-SP, onde moram os filhos, netos e bisnetos de Arnildo. Maisa, sua primeira filha, formou-se em Comunicação Social pela faculdade FAESA-ES e atua há vinte anos como bancária. Do relacionamento com Antônio Marco Valloni teve uma filha, Anna Beatriz Venturini Valloni, que nasceu em 30.10.2001. Elizabeth formou-se em Habilitação para o Magistério e Ciências Contábeis na Escola de 1º e 2º Graus Professora Aleyde Cosme, em Itarana. Atualmente, trabalha na Secretaria Escolar. Casou-se com Ivan José Gonçalves Bastos, que atua no ramo da agricultura e dessa união, nasceu Guilherme Venturini Gonçalves Bastos, em 02.09.2000. Gizeli formou-se em Comércio Exterior, em 1997, na Faculdade FAESA-ES e trabalha há dezenove como Secretária Sênior e reside em Vitória-ES. Foto 68: Gizeli, Maisa, Arnildo, Anna Beatriz, Dagmar, Ivan, Elizabeth e Guilherme 2011 Fonte: Foto do acervo da família. 112 7.4 Odílio Sepulcri ODÍLIO SEPULCRI Ao concluir o curso de Técnico Agrícola no ano de 1965, foi em busca de emprego no Paraná, na Associação de Crédito e Assistência Rural do Paraná (Acarpa). Por determinação e coordenação da Acarpa seguiu para Florianópolis junto à Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina Acaresc, para fazer o curso de pré-serviço de Extensão Rural. Ao concluí-lo, foi designado para trabalhar no escritório da Acarpa no município de Piên-PR, permanecendo lá de 1966 a 1969, prestando assistência técnica aos agricultores daquele município. No final de 1969, prestou vestibular para o curso de Engenharia Agronômica na Universidade Federal de Pelotas (Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel). Concluiu o curso em dezembro de 1973. Durante a faculdade conheceu Maria Luiza, formada em Letras (Licenciatura Plena), professora de Inglês e Português, poliglota, com quem se casou em 15.12.1973. No início de 1974, retornou à Acarpa em Curitiba. A Acarpa perdurou até 1988, sendo sucedida pela Emater Paraná e, a partir de 2005, transformou-se em Instituto Emater. Na Emater, exerceu todas as funções de extensionista a nível municipal regional e estadual. Nesse período, executou vários projetos, publicou diversos trabalhos e ministrou inúmeros cursos e palestras em todo o Paraná. Juntamente com Maria Luiza visitou mais de trinta e cinco países. Em 2000 concluiu o curso de especialização em Gestão da Qualidade na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em 2005 obteve o título de Mestre em Desenvolvimento Econômico também pela UFPR. Permanece no trabalho até o presente. Com Maria Luiza tem dois filhos Rodrigo, nascido em 1976 e Leonardo, nascido em 1978. Rodrigo é formado em Medicina, na UFPR, em 2000. É Psiquiatra, especialista em Dependência Química e Mestre em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), casado com Anelise Maria Klass Sepulcri, também médica pela UFPR, Ginecologista e Obstetra. Rodrigo e Anelise têm dois filhos Ana Maria, nascida em 2004 e João Paulo, nascido em 2007 e residem em Cascavel PR Família Sepulcri 113 Foto 69: Odílio, Lais e Leonardo (Noivos), Maria Luiza, Rodrigo, Anelise, João Paulo (Colo) e Ana Maria 2009 Fonte: Foto do acervo da família. Leonardo é formado em Engenharia Industrial Elétrica com ênfase em Eletrônica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFP-PR), em 2000. Fez especialização em Gestão de Tecnologia da Informação na FAE, em 2003, e obteve o título de mestre em Engenharia da Produção na PUCPR, em 2008. É empresário do ramo de informática. Casou-se em 2009 com Lais de Souza Aliski Sepulcri, Engenheira Civil e moram em Curitiba. Odílio, juntamente com seus filhos, é empresário da construção civil. 114 Odílio Sepulcri Foto 70: Maria Luiza e os Netos João Paulo e Ana Maria 2010 Fonte: Foto do acervo da família. 7.5 GERALDO LUIZ SEPULCRI Depois de formado em Medicina Veterinária na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, foi trabalhar na Emater-Goiás por cerca de dois anos. Posteriormente ingressou na Emater-Paraná, prestando serviço nos municípios de Lobato, Medianeira e Santa Cruz de Monte Castelo. Em Medianeira, de um relacionamento com Sueli Ragazzi, tem uma filha, Lidiane Ragazzi Sepulcri, nascida em 1986, atualmente casada e residente em Mato Grosso. Na Emater, Geraldo Luiz se aposentou. Quando trabalhava em Santa Cruz de Monte Castelo e municípios vizinhos, conheceu Lidinalva Meira Garcia, com quem se casou. Atualmente reside em sua fazenda em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul. Família Sepulcri 115 Geraldo Luiz dedica-se à pecuária de leite e, juntamente com a sua mulher Lidinalva, produz queijos, tendo como referência a produção artesanal de derivados do leite, que são vendidos na região. Foto 71: Geraldo Luiz e Lidinalva Fonte: Foto do acervo da família. 7.6 MARIA MARGARIDA SEPULCRI DINIZ Margarida e Carlos conhecem-se desde crianças, pois Carlos veio para Itarana aos seis anos de idade, filho de mãe Itaranense fixou residên- 116 Odílio Sepulcri cia na cidade. Sempre foram amigos até que, uma noite, Carlos se declarou, o que Margarida achou muito engraçado, em virtude da amizade que tinham, porém não resistiu aos galanteios recebidos. No princípio, o namoro foi bem tumultuado devido a não aceitação de seu pai, Alexandre, que via Carlos como um molecão de rua, mas com o tempo Carlos mostrou o contrário e adquiriu a amizade e confiança do sogro. Casaram-se no dia 27.12.1975 em uma cerimônia religiosa bem simples na Igreja Matriz Nossa Senhora Auxiliadora. Bela sempre viu Carlos com olhos diferentes de Alexandre, dizia que seria um bom marido, pois era de família distinta, tanto que, quando Alexandre faleceu, ela escolheu a casa de Margarida e Carlos para continuar sua vida e ficou até o seu falecimento. O casal tem três filhos biológicos, Felipe nascido em 30.03.1979, Roberta em 29.06.1980 e Karla em 20.04.1984 e um adotivo, Adriano José dos Santos nascido em 09.12.1978. A adoção de Adriano começou quando Felipe passou a frequentar o Jardim de Infância. Na escola ele se apegou muito a um coleguinha e levou-o para casa. Localizaram seus pais e solicitaram sua guarda na justiça. Adriano, casado com Mônica Rizzi Telles, morou com eles até o nascimento de suas filhas gêmeas: Maria Antonia e Maria Eduarda em 15.11.1999. Adriano é Técnico Agrícola formado na Escola Agrotécnica Federal de Colatina e mora e trabalha em Itarana. Os filhos do casal cresceram na pequena Itarana onde desfrutaram das brincadeiras de rua, banhos de chuva, quintais dos amigos e vizinhos, campo de futebol e outros. Nas férias faziam pequenos passeios a Vitória na casa de tia Eurides, tia Maurilia e tio Heriberto, irmão de Carlos, o que eles aguardavam com ansiedade. Estudaram na mesma escola pública como as demais crianças da cidade. Ao término da oitava série, todos migraram para outras cidades a fim de continuarem os estudos. Foi um tempo difícil manter quatro filhos fora de casa, mas com determinação e colaboração da tia Eurides e tio Heriberto conseguiram atingir o objetivo: todos formados. Mesmo com a separação dos irmãos, tão cedo, mais ou menos com 13 anos, motivada pelo estudo, eles sempre foram muito unidos e, até hoje, não perdem a oportunidade de estar juntos sempre que possível; e relembram os tempos de férias quando se juntavam em casa. Era uma alegria geral, a casa estava sempre cheia também com a presença dos primos; as histórias engraçadas não se esgotaram. Eles lembram com saudades da infância de brincadeiras. Havia uma pequena piscina no quintal que foi o motivo dos encontros familiares, era aquela diversão. Família Sepulcri 117 Foto 72: Izequiel, Roberta, Adriano, Mônica, Felipe, Karla, Maria Antônia, Carlos, Maria Eduarda, Yara Fonte: Foto do acervo da família. Como a família era grande, havia certa disciplina: divisão de tarefas e horários pra tudo, o que era cumprido rigorosamente. Às sextas-feiras, era dia de reunião de avaliação da semana onde todos ouviam e falavam. Adriano sempre tranquilo, Felipe era o mais levado, estava sempre preocupado com o que poderia ouvir e a Karla sempre reclamando que Roberta nunca tinha nenhuma advertência. Felipe é casado com Yara Zocatelli, residente em Linhares ES. Trabalha na agricultura da região norte, pois é Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal do Espírito Santo. Roberta é Psicóloga formada pela Universidade Vale do Rio Doce MG, casada com Izequiel Baldotto são pais de Lucas Diniz Baldotto nascido em 10.05.2011. Reside em Itarana e trabalha em Santa Teresa e Itarana. Karla, residente em Santa Maria de Jetibá onde trabalha, é Fisioterapeuta formada pela Faculdade Salesiana de Vitória ES. Atualmente, Margarida e Carlos estão aposentados e mo- 118 Odílio Sepulcri rando em Itarana, curtindo os três netos, viajando e participando de trabalhos voluntários na comunidade (igreja e Pestalozzi). Foto 73: Roberta, Lucas e Izequiel Fonte: Foto do acervo da família. 7.7 ROBERTO SEPULCRI Roberto é formado em Ciências Contábeis em Colatina-ES. Casou-se com Maria José Morandi em 18.02.1984 e fixou residência em Serra-ES. Logo após a formatura foi trabalhar em Vitória, primeiramente como empregado e depois como empresário no ramo do comércio de frutas, legumes e verduras, por último, no transporte de mercadorias. Roberto e Maria José têm três filhos: Roberto Sepulcri Junior, formado em Direito; Renata Morandi Sepulcri, com graduação em Farmácia e Rafaela Morandi Sepulcri que está cursando Engenharia Civil. Renata casouse no dia 31.03.2012, com Bruno Borges de Farias e passou a residir em Belo Horizonte MG, onde seu marido é empresário. Família Sepulcri 119 Roberto e Maria José divorciaram-se em 1999. Atualmente Roberto reside nos Estados Unidos da América. Foto 74: Roberto Jr., Maria José, Renata e Rafaela Fonte: Foto do acervo da família. 7.8 JUAREZ SEPULCRI Depois de formado, Juarez foi trabalhar no Paraná, primeiramente na cidade de Pato Branco na Ruralplan e, em seguida, em Guarapuava, onde conheceu Andyara Tataren, com quem se casou em 1980. O casal se mudou para Curitiba, Juarez tornou-se bancário e empresário do ramo de combustíveis. Têm dois filhos, Nayara, nascida em 1986, e Bruno, nascido em 1990. Bruno se mudou, em 2008, para São Paulo, realizando o sonho de cursar Administração de Empresas na Universidade de São Paulo. Nayara, formada 120 Odílio Sepulcri em Direito e já trabalhando na área jurídica, é noiva de Rodolfo de Camargo Pinto Filho, com quem namora desde 2004. Foto 75: Juarez, Nayara, Andyara e Bruno Fonte: Foto do acervo da família. Família Sepulcri 121 REFERÊNCIAS <http://pt.wikipedia.org/viki/imigra%>. Acesso em: 10 dez. 2010. <http://pt.wikipedia.org/wiki/imigra%>. Acesso em: 08 nov. 2010. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Imigra%C3%A7%C3%A3o_italiana_no_Brasil>. Categoria: Imi gração italiana no Brasil. Acesso em: 08 nov. 2010. <http://www.ape.es.gov.br/pdf/O%20Estado%20do%20Espirito%20Santo%20e%20a%20Imi gracao%20Italiana.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2012. <http://www.ibge.gov.br/brasil500/italianos/regorigem.html>. Acesso em: 30 nov. 2010. BRASIL, 500 ANOS. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/brasil500/italianos/razao imigitaliana.html>.Acesso em: 10 ez. 2010. GROSSELLI, RENZO, M. Expedição Tabacchi e Colônia Nova Trento. Artgraf. Gráfica e Editora Ltda., mar. 1991. http://pt.wikipedia.org/wiki/ficheiro: Memorial_do_imigrante.jpg. Acesso em: 08 nov. 2010. LEILA OSSOLA. Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em: 10 nov. 2010. NAGAR, CARLOS. O Estado do Espirito Santo e a imigração italiana. 1895. SBARDELOTTI, A. J. Buona Famiglia. Vitória: São José, 1991. SBARDELOTTI, A. J. Canaã de Figueira de Santa Joana. Vitória: São José, 1989. VENTORIM, L. Itarana, (1982-1964). Col. Memórias, 2. Departamento Estadual de Cultura. Vitória, Estado do Espírito Santo, 1990.