a integração entre a educação ambiental e o saneamento
Transcrição
a integração entre a educação ambiental e o saneamento
A INTEGRAÇÃO ENTRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O SANEAMENTO AMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E DO MEIO AMBIENTE SUSTENTADO Helena Ribeiro Geógrafa, Mestre e Doutora em Geografia. Livre Docente em Saúde Pública, Prof. e Pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública-USP, São Paulo, Brasil. Wanda Maria Risso Günther Engenheira e Socióloga. Mestre e Doutora em Saúde Pública, Prof. e Pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública-USP, São Paulo, Brasil. Endereço: Faculdade Saúde Pública-Univ. São Paulo, Departamento de Saúde Ambiental. Av. Dr. Arnaldo, 715, cep 01246-904 – São Paulo, SP, Brasil, tels: (11) 3082-3842, fax: (11) 3085-0681, e-mail: [email protected] e [email protected] RESUMO Atualmente, constata-se que as ações de saneamento ambiental e promoção da saúde, levadas como atividades fins, não se sustentam. Torna-se essencial a participação comunitária/institucional no direcionamento, implementação e na sustentabilidade de tais ações. Assim, um projeto de Saneamento Ambiental utilizando os conteúdos da Educação Ambiental teve sucesso e modificou o panorama sanitário-ambiental de dois pequenos municípios rurais do estado de São Paulo, e principalmente despertou questão da cidadania, melhorando as condições ambientais e a qualidade de vida e promovendo a saúde pública. Palavras chave: educação ambiental, saneamento ambiental, promoção da saúde, saúde pública. 1 Introdução As últimas três décadas representaram um importante período de transformações nas atividades agrícolas brasileiras. O processo de modernização da agricultura baseado principalmente no uso intensivo de produtos químicos como fertilizantes e praguicidas, substituiu as plantações que dependiam basicamente da fertilidade natural dos solos por monoculturas mecanizadas, cuja produtividade era mantida por meios artificiais e caros. Essas transformações em expansão no país são particularmente importantes no estado de São Paulo, onde a agricultura já teve papel impulsionador do desenvolvimento sócio-econômico. O modelo monocultor concentrador provocou mudanças sócio-econômicas e ambientais significativas. A dinâmica demográfica caracterizou-se pelo êxodo rural e forte urbanização e metropolização. As tradicionais práticas agrícolas e a agricultura familiar não resistiram, a força–de-trabalho do meio rural, transformou-se num exército de reserva, vivendo nas periferias das cidades e empregando-se apenas como mão de obra temporária ou eventual. Municípios de pequeno porte, sob o impacto da concentração demográfica e econômica nas grandes cidades e sem condições de desenvolver atividades alternativas às tradicionalmente desempenhadas, vem se defrontando com um círculo vicioso de impactos sociais adversos: estagnação econômica, desemprego e baixa remuneração do trabalho, migração da população economicamente produtiva, pobreza e degradação ambiental, aliado à falta de atenção política direcionada a essa localidades, sua população e seus problemas sanitários e ambientais. Considerando esse panorama problemático e buscando metodologias de pesquisa e de intervenção para enfrentá-lo, uma equipe interdisciplinar de pesquisadores da Universidade de São Paulo - Faculdade de Saúde Pública, Faculdade de Educação e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - e do Instituto Agronômico de Campinas, desenvolveu, de 1996 a 2001, uma extensa pesquisa-ação em dois municípios de vocação rural do Estado de São Paulo: Espírito Santo do Turvo e Vera Cruz, contando com financiamento da FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. A pesquisa-ação empreendida nos dois municípios refere-se a uma modalidade de atuação que busca desenvolver formas de investigação sobre o município e, de modo concomitante e complementar, desenvolver, com a população local, ações que levem à superação das condições vividas nas referidas localidades. Nessas localidades, as condições do saneamento ambiental caracterizaram-se como um dos principais problemas enfrentados quotidianamente, especialmente no tocante à falta de tratamento dos esgotos sanitários e à disposição final dos resíduos sólidos, expondo as populações locais ao risco de agravos à saúde e contribuindo para a degradação ambiental. Assim sendo, formulou-se, dentro da pesquisa-ação, um subprojeto para enfocar, especificamente, a situação deficiente do saneamento ambiental nas duas localidades, de forma a reduzir seus efeitos prejudiciais à saúde da população e ao meio ambiente e promover ações de promoção da saúde e de melhoria da qualidade ambiental, de forma integrada e participativa. A experiência aqui relatada refere-se aos principais aspectos desse subprojeto de Saneamento Ambiental, baseado tanto em conhecimentos técnico-científicos, levando às populações o conhecimento dos sistemas/ serviços apropriados, sua operação e funcionalidade, quanto no conhecimento e na participação das populações envolvidas, utilizando-se de conteúdos da Educação Ambiental, a fim de sensibilizar a comunidade para os temas de saneamento, saúde e ambiente, abordando-os sob a ótica da promoção da saúde e melhoria das condições ambientais e da qualidade de vida. 2 Desenvolvimento do Trabalho • Caracterização das comunidades onde a experiência foi desenvolvida Espírito Santo do Turvo-EST e Vera Cruz-VC localizam-se no planalto do oeste paulista, apresentando, respectivamente, 3.677 habitantes (88,9% na área urbana) e 11.085 habitantes (82,7% na área urbana) segundo o Censo Demográfico do IBGE, 2000. A economia rural de EST baseia-se na monocultura da cana-de-açúcar para a produção de álcool (que ocupa 21,1% de sua área total), além do cultivo de melancia, milho, café, tangerina, arroz, 2 mandioca e criação de gado de leite (61,7% das áreas totais do município são ocupadas com pastagens). Em ambos, a economia urbana baseia-se em atividades comerciais e serviços, organizadas para atender demandas locais. Em termos de saneamento ambiental, a maioria das habitações da área urbana conta com água potável proveniente de sistema poço artesiano + desinfecção e com rede coletora de esgoto sanitário, embora seu lançamento fosse executado “in natura” no Rio Turvo, pois não existia estação de tratamento no município, até 2001. Espírito Santo do Turvo gerava 1,1 tonelada/dia de resíduos sólidos em 1999 (SEADE 2001), que eram depositados a céu aberto, em uma depressão ocasionada por erosão. Vera Cruz tem sua economia rural baseada na cultura do café, milho, maracujá e seringueira, além da criação de gado (80,5% das áreas são ocupadas com pastagens). Restam apenas 5% da área recoberta por florestas tropicais e os solos sofrem acelerado processo de erosão, principalmente junto aos taludes dos rios e córregos pela total falta de mata ciliar. A maioria dos domicílios urbanos conta com sistema de abastecimento de água potável, captada no sub-solo e clorada e encontra-se ligada ao sistema de coleta de esgotos, lançados sem tratamento em corpos d’água. Áreas urbanas periféricas carecem de infraestrutura de saneamento básico, que apresentam custo elevado, devido a problemas de declividade, exigindo sistemas de bombeamento. Vera Cruz gerava, em 1999, um total de 3,6 toneladas/dia de resíduos sólidos (SEADE, 2001). A coleta de lixo cobria 100% da área urbana, mas a destinação final dos resíduos era realizada a céu a aberto, em vala resultante de erosão, na cabeceira do Córrego da Água F. Vera Cruz apresentou, no Censo de 2000, uma taxa de mortalidade infantil de 30,93, bastante elevada se comparada aos índices da Região Administrativa de Marília (16,84) e do estado de São Paulo (16,97), enquanto em Espírito Santo do Turvo o índice foi de 15,15 (SEADE, 2001). As economias de pequenos centros urbanos como estes do estado de São Paulo mantêm-se estagnadas, suas populações vêm decrescendo, simultaneamente a um processo de degradação ambiental, que tem reflexos diretos nas condições sociais, sanitárias e ambientais das realidades locais. • Caracterização do problema Os efeitos da evolução rural e urbana dos referidos municípios refletem-se diretamente em problemas sanitários e ambientais nas duas comunidades. Nesse contexto, a saúde pública tem papel relevante e a questão do saneamento ambiental adquire conotação especial. O saneamento ambiental não tem sido historicamente priorizado, seja na formulação de políticas públicas ou nas ações do setor privado da economia, resultando em condições insatisfatórias, que decorrem da sua insuficiência ou deficiência. Esse fato é agravado pela falta de informação e de educação sanitária da população para enfrentar as condições sanitárias precárias vividas, aliando-se à falta de incorporação de hábitos e práticas sanitárias e ambientais em seu quotidiano. Esse cenário agrava as já indesejáveis condições de saúde, de desequilíbrio ambiental e da baixa qualidade de vida da população. 3 Ao objetivo amplo da pesquisa-ação: contribuir para a superação das condições sociais precárias que existem nas localidades, o que dificulta a busca de melhores perspectivas de vida, a intervenção específica em Saneamento Ambiental teve por finalidade: a) difundir informações sobre saneamento, saúde e sobre instrumentos e técnicas para a melhoria das condições higiênico-sanitárias no domicílio e na comunidade; b) favorecer a compreensão da população sobre práticas e mecanismos que degradam o ambiente; c) sensibilizar a população para a mudança de hábitos e práticas que favoreçam a proteção, conservação e recuperação das condições sanitárias e ambientais locais e a promoção da saúde; e d) apoiar tecnicamente as instituições responsáveis pelos serviços de saneamento, contribuindo para a busca de soluções e a implementação das prioridades. No Sub-Projeto de Saneamento Ambiental foram enfocados os aspectos e os serviços de saneamento básico (abastecimento de água, coleta e afastamento dos esgotos sanitários, coleta e disposição final dos resíduos sólidos e controle de vetores) e controle da poluição das águas, paisagem urbana e infraestrutura de lazer. Os conteúdos da Educação Ambiental foram trabalhados como estratégia para favorecer, tanto aos pesquisadores como à população, o conhecimento sobre aspectos determinantes das condições de vida local e a identificação de medidas práticas e projetos de saneamento necessários, que emergiram das comunidades locais e foram discutidos com as instituições responsáveis e implementados com a aceitação e apoio social. • Detalhamento da metodologia e dos materiais utilizados A percepção da qualidade ambiental é um dos temas de investigação que tem apresentado grande interesse a partir do programa da UNESCO - "O Homem e a Biosfera" (MAB, 1977), pois se partindo dessa percepção é possível que programas de educação ambiental sejam realizados de forma mais condizente com o conhecimento e as preocupações das coletividades. Dessa forma, a metodologia aplicada buscou aprofundar o conhecimento sobre os ambientes em estudo, partindo-se da percepção da população local a respeito dos problemas ambientais que afetam o município e suas formas de enfrentamento e, concomitantemente, propôs o levantamento de dados técnicos de campo para verificar a relação entre a percepção e a realidade dos fenômenos. A partir desses dados, o trabalho se voltou à educação ambiental para as comunidades fora da escola e aos membros do poder público institucionalizado, tendo como objetivo o fortalecimento do capital social dos dois municípios. Foram analisados, principalmente, os problemas ambientais urbanos segundo a percepção dos moradores das cidades, entendendo-se por meio ambiente aquele natural e aquele transformado ou construído socialmente ao longo da história dos dois municípios. Partiu-se do pressuposto que a percepção da questão ambiental é uma resultante não só do impacto objetivo das condições reais dos indivíduos, mas também da maneira como sua interveniência social e valores culturais agem na vivência dos mesmos 4 impactos (JACOBI, 1999). O projeto baseou-se em pressupostos teóricos da ciência da paisagem, da ecologia humana e também no conceito de “capital social”. A valoração atribuída a certos elementos da paisagem é que acaba por determinar a escolha de prioridades a serem enfrentadas quando se indicam problemas ambientais. Assim, estudar a paisagem pressupõe a análise das percepções (elementos subjetivos) e dos elementos objetivos (características físicas do meio). Na avaliação da qualidade de uma paisagem é ilusória a separação desses dois aspectos (GONZÁLEZ BERNÁLDEZ 1992). RAFFESTIN e LAWRENCE (1990) propõem que é necessário redefinir e reconceituar as políticas públicas num esquema conceitual integrador, usando referenciais da ecologia humana, assim, buscou-se no meio ambiente o elemento integrador e catalisador das políticas públicas nos dois municípios em estudo. Segundo PUTNAM (1996 p. 177) “capital social diz respeito a características da organização social, como confiança, normas e sistemas, que contribuem para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando ações coordenadas”. A metodologia do subprojeto consistiu na realização de intervenções técnicas de controle sanitário-ambiental, no domicílio e no espaço público, privilegiando-se as medidas de saneamento ambiental, integradas às ações educativas de sensibilização, informação, discussão e esclarecimento aos agentes institucionais e moradores sobre a importância, os objetivos, o alcance e os resultados passíveis de serem alcançados com as intervenções técnicas, desde que compreendidas, integradas e endossadas pela atuação participativa desses. A participação da comunidade também foi considerada como componente do processo metodológico e foram estimuladas, durante todo o processo, as práticas organizadas, grupais, coletivas e associativas da população, incentivando a sua mobilização para melhorar as condições de saneamento ambiental e assegurar a proteção e promoção da saúde e do ambiente. Assim, as etapas metodológicas consistiram de: a) conhecimento da realidade local dos dois municípios; b) sensibilização dos atores envolvidos; c) hierarquização de problemas; d) seleção de prioridades; e) implementação de ações de saneamento; f) institucionalização das ações e controle social. O conhecimento da realidade local foi traçado a partir de dados secundários e complementado “in loco” através de contatos diretos com a comunidade: com representantes institucionais da administração municipal e estadual, com responsáveis da sociedade civil organizada e com moradores, e também mediante pesquisa domiciliar e investigação exploratória de campo. Para a pesquisa domiciliar, selecionou-se, em cada município, um bairro que apresentava condições precárias de saneamento. A partir de amostra aleatória, em 60 domicílios de cada bairro, foi levantada a percepção da população sobre os problemas ambientais a fim de identificar as prioridades. Esse levantamento resultou, em cada município, em uma hierarquização dos problemas referidos na pesquisa domiciliar, a partir de reuniões com os agentes institucionais, os representantes dos grupos organizados e a comunidade, na qual houve a sensibilização, a informação e a discussão dos aspectos importantes relacionados à saúde pública, saneamento ambiental e 5 os riscos associados. Por outro lado, os pesquisadores realizaram investigação de campo sobre os principais problemas elencados (qualidade da água dos corpos d’água, sistema de esgotos sanitários, sistema de limpeza pública, procriação de vetores de importância sanitária). Os resultados dessas investigações, analisados e discutidos em reuniões com os representantes e moradores levavam a ações de intervenção, dos próprios moradores quando lhes cabiam ou dos responsáveis institucionais (secretaria de serviços e obras, secretaria de agricultura e meio ambiente, departamento de águas e esgotos, SABESP entre outros), que tiveram grande aceitação e participação comunitária, muitas delas passando a integrar a agenda municipal anual (mutirões de limpeza e de controle de vetores), sendo cobradas e controladas pela própria sociedade. • Ações desenvolvidas e resultados alcançados Como resultado da pesquisa domiciliar sobre percepção levada a cabo nos dois bairros piloto, foram percebidos como os principais problemas ambientais: Em EST : poluição do rio (23%); lixo (17%) e desemprego ou falta de empregos (17%), enquanto que em VC encontraram-se: falta de sistema coletor de esgotos (70%); falta de asfalto nas ruas (35%); animais como porcos e galinhas nas ruas (30%); doença nas crianças (15%). Em ambos os municípios apesar de muitos falarem que não sabiam o que era meio ambiente, mais de 80% disseram que o município apresentava problemas ambientais e a grande maioria associou tais problemas e a saúde precária da comunidade. Como o principal problema ambiental citado em EST estava a poluição dos rios, visto que estão diretamente associados ao lazer dos moradores. Inicialmente, foi realizado, em ambos os municípios, o acompanhamento das condições sanitárias mediante coleta de amostras e análise físico-químicas e bacteriológicas das águas de rios e córregos municipais (Córrego do Rangel, que corta a cidade e Rio Turvo, em EST e Rio das Garças, Rio Paraguaçu, Córrego da Água F, Córrego da Escola Agrícola e nascentes do Sítio Boa Vista, onde é desaguado o esgoto sanitário da Vila da Paz, em VC). Da apresentação dos resultados à população, discussão da implicação sanitária e ambiental e busca de alternativas conjuntas para a melhoria das condições apresentadas, resultaram para EST em: caça ao lançamento clandestino de esgotos; priorização da construção de estações de tratamento de esgotos; limpeza e paisagismo do Córrego do Rangel e criação de área de lazer (prainha) com o represamento desse córrego, ações priorizadas na agenda municipal em decorrência da pressão da comunidade. Em VC contribuiu para a priorização de sistemas de tratamento de esgotos e desencadeou programa de replantio de mata ciliar no Rio das Garças, como atividade de educação ambiental dentro do curriculum da Escola Agrícola local. A apresentação e discussão dos resultados da investigação da qualidade das águas superficiais provocaram o interesse por conhecer a qualidade da água que estava sendo consumida como potável, considerando-se a possibilidade de agravos à saúde por doenças de veiculação hídrica. Isso levou a uma pesquisa domiciliar com medição de cloro residual em pontos de tomada 6 de água no domicílio (entrada, reservatório domiciliar e pia da cozinha), realizada em amostra aleatória dos mesmos bairros estudados. Nessa oportunidade, foram também levantadas, mediante a aplicação de questionários, as condições higiênico-sanitárias da moradia e entorno quanto aos sistemas de saneamento básico (água, esgoto, lixo e vetores), condições de moradia (condições de higiene, calçamento e arruamento das ruas, pontos de depósito de lixo e criadouros de vetores, presença de animais domésticos, visando ao controle das zoonoses) e o levantamento de morbidade referida, com o fim de mapear as principais doenças que acometem a população e sua relação com as condições sócio-econômicas e ambientais da área. Como ação em relação à qualidade da água no âmbito domiciliar foi realizado um mutirão de limpeza e desinfecção das caixas d’água. Em relação à proliferação de vetores e disposição inadequada de lixo foi implementado um mutirão de limpeza dos quintais e terrenos baldios, no qual foi constatado o problema de que no município não havia coleta de entulho e materiais inservíveis de grande volume. O mutirão de limpeza de quintais e caixas d'água, desenvolvido em conjunto com a campanha de controle da dengue, foi realizado em EST, em 1999. Contou com o apoio da Prefeitura Municipal, da UBS, da rádio comunitária e da população. Essa atividade foi repetida em 2000, organizada em grande parte pela própria comunidade e institucionalizouse como ação municipal programada anualmente. Quanto à questão dos resíduos sólidos foi efetuada inspeção técnica dos antigos locais de disposição de resíduos sólidos urbanos (vala de erosão em EST e cabeceira de rio em VC); discussão das implicações sanitárioambientais dessa disposição e apoio no encaminhamento de solução adequada (aterro sanitário em valas, tanto para VC como para EST). Em EST, foi trabalhada também a questão da irregularidade na coleta do lixo e do entulho (este não coletado a princípio), o que resultava em lançamento em terrenos baldios, permitindo a exalação de odores e na proliferação de vetores de doenças. Como resultado da pressão da comunidade a PM adquiriu um veículo coletor de maior capacidade de carga e redimensionou o sistema de coleta, incorporando a coleta do entulho e materiais volumosos uma vez por semana. Em VC foram melhoradas as condições de apresentação do lixo para coleta (agora todos embalados) e construída uma Usina de Triagem de materiais recicláveis a ser operada por cooperativa de catadores, já organizada e com estatuto. Em ambos os municípios foram feitos projetos para construção de aterro sanitário em valas, tendo ambos conseguido recursos de fundo estadual para as obras. Os antigos lixões foram abandonados e os resíduos passaram a ser destinados para o aterro sanitário. Mutirão de limpeza do Córrego da Água F, como atividade de educação ambiental desenvolvida junto com a Escola Agrícola: ETE Paulo Guerreiro Franco, de VC, com participação da PM VC e dos pequenos proprietários da Bacia da Água F, constituídos em Associação. Nessa atividade houve um dia de sensibilização dos participantes para a questão e um dia de coleta do lixo arrastado pelas águas pluviais e depositado no leito do rio e nos taludes da encosta. Tal evento influiu na conscientização de alunos e professores da referida escola e foram incorporadas no curriculum escolar atividades desse tipo para os próximos anos, dentro dos programas de educação ambiental. 7 3 Conclusões ou Considerações Finais Concluí-se que a aliança entre o Saneamento Ambiental e a Educação Ambiental é fundamental como estratégia nas atuais abordagens/ desenvolvimentos das questões de saúde pública e ambiente, sem a qual os programas/projetos não alcançam sucesso e não se sustentam. Nos municípios estudados, além da mudança na paisagem, instaurou-se uma prática de ações sanitário-ambientais institucionalizadas e de interlocução entre o poder público e a população. Resultou na conquista de melhores condições de saneamento, em maior grau de conscientização das comunidades, na noção de cidadania, de direito à saúde e a um ambiente mais saudável, essenciais para a promoção da saúde e para a sustentabilidade da qualidade ambiental. Academicamente, resultou numa maior aproximação entre a comunidade acadêmica e a população, possibilitando a criação de estratégias para trabalhar tais questões, que configuram metodologias replicáveis a outras realidades semelhantes. 4 Agradecimentos Agradecimentos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo–FAPESP, pelo apoio ao desenvolvimento da pesquisa, às Prefeituras Municipais e instituições envolvidas de Espírito Santo do Turvo e Vera Cruz, às organizações da sociedade civil e aos moradores de ambos os municípios. 5 Referências GONZÁLEZ BERNALDEZ, F. La percepción de la calidad del paisage. Conferencias del I Congreso de Ciencia del Paisaje. Monografies de l' equip 4. Universitat de Barcelona, 1992. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2000. http://www.ibge.gov.br/ibge/estatistica/populacao/censo2000/sinopse > pesquisa realizada em 13 set 2001. 2001. JACOBI, P. Cidade e Meio Ambiente- Percepções e práticas em São Paulo. Anna Blume, S. Paulo, 1999. MAB - Man and Biosphere. Rapport n. 9. Methodes et Interprétation de la Recherche sur la Perception de l'Environnement. Canada, 1977. PUTNAM, R. D. Comunidade e Democracia- a experiência da Itália moderna. Fundação Getúlio Vargas Ed. R. Janeiro, 1996. SEADE. Sistema Estadual de Análise de Dados do Estado de São Paulo. http://www.seade.gov.br/cgi-bin, 2001. 8